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MESTRADO EM DESIGN
DESIGN, EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO
DÉBORA MARIA DE MACEDO QUARESMA
DESIGN PARA A SUSTENTABILIDADE AMPLA DE SISTEMAS PRODUTO-SERVIÇO: Estudo de Caso de uma Empresa de Design de Acessórios de Moda
PORTO ALEGRE 2015
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DÉBORA MARIA DE MACEDO QUARESMA DESIGN PARA A SUSTENTABILIDADE AMPLA DE SISTEMAS PRODUTO-SERVIÇO: Estudo de Caso de uma Empresa de Design de Acessórios de Moda
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Design.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Heloisa Tavares de Moura
PORTO ALEGRE 2015
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DÉBORA MARIA DE MACEDO QUARESMA
DESIGN PARA A SUSTENTABILIDADE AMPLA DE SISTEMAS PRODUTO-
SERVIÇO: ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA DE DESIGN DE
ACESSÓRIOS DE MODA Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre
em Design pela banca examinadora constituída por: Aprovado em 26 de fevereiro de 2015
_________________________________________ Prof.ª Dr.ª Heloisa Tavares de Moura (Orientadora) - UNIRITTER
_________________________________________ Prof. Dr.ª Carla Pantoja Giuliano - UNIRITTER
_________________________________________ Prof. Dr.ª Cristiane Pauletti - ULBRA
_________________________________________ Prof. Dr.ª Ana Mery Sehbe De Carli - UCS
Porto Alegre
2015
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Este trabalho é dedicado ao meu marido Mario e a
minha filha Maria Antônia, assim como aos meus pais
Nilo e Lenara: companheiros das minhas longas horas
dedicadas ao Design.
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AGRADECIMENTO
Agradeço a todos os professores da turma do Mestrado em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis, pelo aprendizado e conhecimento adquirido ao longo desses dois anos, em especial ao Prof. Vinicius Ribeiro e Profª. Fabiane Wolff. A minha querida orientadora Heloisa Tavares de Moura, por acreditar em mim, fazer parte da minha Vida nos momentos bons e ruins e por ser exemplo de profissional, mulher e mãe, além de ser uma das pessoas mais humanas que conheço, a qual me passou os maiores aprendizados. Aos professores, Drª. Ana Mery Sehbe De Carli , Drª. Carla Pantoja Giuliano e Drª. Cristiane Pauletti, pelas considerações no exame de qualificação, imprescindíveis à conclusão desta pesquisa de mestrado. À empresa que foi objeto deste estudo por ter aberto as suas portas, me apoiando na realização deste trabalho. Ao meu marido Mario Morocini, que me motivou com seu carinho, força e companheirismo, e em especial a minha filha Maria Antônia, fruto brotado durante este mestrado, amor incondicional, a maior felicidade do mundo. Aos meus queridos alunos, colegas, coordenadores do GRID e Diretores da ULBRA pelo apoio em todos os momentos delicados durante minha ausência. Em especial ao Álvaro Scur, ao Felipe Weschenfelder, à Mariana Castro e à Monica Heydrich. A minha família, a qual amo muito, principalmente meu pai e minha mãe, pelo carinho, paciência e incentivo. Aos amigos que fizeram parte desses momentos sempre me ajudando e incentivando. E por fim, a Santo Antônio por me amparar nos momentos difíceis, me dar força interior para superar as dificuldades, mostrar os caminhos nas horas incertas e me suprir em todas as minhas necessidades. Mais uma vez, muito obrigada a todos!
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RESUMO
A presente dissertação tem como foco principal articular a teoria e a prática por meio de um Estudo de Caso de uma empresa de Design de Moda, cujos os produtos são acessórios feitos de sobras de couro do setor calçadista da Região do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Logo, o objetivo é sistematizar abordagens projetuais do Design para as sustentabilidades, bem como a apresentação de novas propostas de melhorias capazes de integrar as esferas ambiental, social e econômica, além de desenvolver intervenções nos Ciclos de Vida dos Sistemas Produto-Serviço envolvidos no setor da Moda. Para tanto, a metodologia utilizada teve natureza predominantemente qualitativa, combinando revisão bibliográfica, entrevista semiestruturada e um Workshop de Cocriação. Como desdobramento, os dados coletados foram analisados de acordo com a Teoria Fundamentada nos Dados (TFD), ou Grounded Theory, a partir dos quais emergiram Critérios Norteadores de Design. Por fim, foram propostos cenários e alternativas para a empresa progredir no contínuo da sustentabilidade em direção a uma atuação mais correta ecologicamente, inclusiva socialmente e viável economicamente.
Palavras - chave: Design de Moda. Design para Sustentabilidades. Acessórios de
Couro
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ABSTRACT
TITLE: DESIGN FOR SUSTAINABILITY LARGE PRODUCT-SERVICE SYSTEMS: Case Study of a Corporate Design of Fashion Accessories This dissertation is mainly focused on articulating theory and practice, through the case study of a Fashion Design company, whose products are accessories made of remains from the footwear sector of the Vale dos Sinos region, located in Rio Grande do Sul satate, Brazil. Therefore, the aim was to systematize design projective approaches for urestricted sustainability and the presentation of new improvements proposals for the company, towards the integration of the environmental, social and economic, as well as to develop interventions in the Product-Systems Life Cycles involved in the fashion industry. For this, purpose, the adopted methodology was predominantly qualitative, combining literature review, semi-structured interviews and cocreation workshop. As an extension, the data collected was analyzed according to the Grounded Theory (GT), from .which guiding criteria for design imerged. As a result, it proposed new scenarios and alternative concepts that and help the researched firm to progress in the sustainability continuum, towards a more environmentally correct, socialy inclusive and economically viable performance. Key - words: Fashion Design. Design for Sustainabilities. Leather Accessories
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LISTA DE TABELAS E FIGURAS Figura 01 - Esquema ilustrativo da metodologia do presente trabalho 21
Tabela 01 - Procedimentos para Coleta de Dados de Pesquisa 22
Figura 02 - Etapas para o Design Estratégico para o trabalho desenvolvido 24
Figura 03 - Cronograma do trabalho a ser desenvolvido 25
Figura 04 - Modelo de inovação em Design centrado no usuário 29
Figura 05 - Cronologia do papel do designer 35
Figura 06 - Cronologia do Design Sustentável 39
Figura 07 - Fluxograma geração resíduos sólidos 44
Figura 08 - Esferas e conceitos que integram o design social 46
Figura 09 - Esquema do Design de Ciclo de Vida de produto 56
Figura 10 - Esquema do Design de Ciclo de Vida de produto com
respectivas fases 57
Figura 11 - Ciclo de Vida SPSD de produto-serviço adaptado pela autora 58
Figura 12 - Caminho da Sustentabilidade - adaptado pela autora 62
Figura 13 - Ciclo de anel fechado e aberto 64
Figura 14 - Esquema para a integração de aspectos ambientais no
desenvolvimento de produtos 67
Figura 15 - Foto disponível no blog da designer Karina Michel ilustra seu
trabalho com estudantes de design na indústria Pratibha Syntex, na Índia
e uma amostra do produto mencionado no texto 73
Figura 16 - Resumo de diferentes abordagens às noções de rápido e lento 74
Figura 17 - Ciclo de Vida do couro bovino 77
Figura 18 - Características do curtimento com sais de cromo e tanino vegetal 78
Figura 19 - Fluxograma esquemático da fabricação de couros – operações de ribeira, curtimento e acabamento molhado 81
Figura 20 - Fluxograma esquemático da fabricação de couros – operações de acabamento ............................................................................................................. 82
Figura 21 - Couro da Tilápia, curtimento 100% vegetal e exemplo de produtos
com base no couro de Tilápia 83
Figura 22 - Tipos de couro ser empregados em acessórios de moda .................... 85
Figura 23 - Visão sistêmica do ciclo de Vida com esferas ambientais, sociais e econômicas 86
Figura 24 - Adaptação do ciclo de Vida de acessórios de moda 87
8
Figura 25 - Cronologia da empresa XX Acessórios de Moda 90
Figura 26 - Mapa de atores envolvidos no processo de produção e
comercialização da XX Acessórios de Moda. 92
Figura 27 - Observações na produção - transformação de materiais em
produtos 99
Figura 28 - Etapas de reaproveitamento de matéria-prima na produção de uma carteira 100
Figura 29 - Cadeia da produção para o couro vacum 101
Figura 30 - Cadeia da produção do vestuário utilizando o caprino 102
Figura 31 - Ciclo de Vida do Produto atual da XX Acessórios de Moda 103
Figura 32 - Critérios Norteadores de Design 105
Figura 33 - Etapas apresentadas para participantes durante o Workshop de Cocriação 107
Figura 34 - Ficha sobre o perfil apresentado aos participantes durante o
Workshop de Cocriação 108
Figura 35 - Regras apresentadas aos participantes durante o Workshop de
Cocriação 109
Figura 36 - Quadro de post it no processo de brainstorming no Workshop de Cocriação 110
Figura 37 - Resultados dos Critérios Norteadores de Design na pré-produção
durante Workshop de Cocriação 111
Figura 38 - Resultados dos Critérios Norteadores de Design na fase da
produção durante Workshop de Cocriação 112
Figura 39 - Resultados dos Critérios Norteadores de Design na fase do
Descarte durante Workshop de Cocriação 113
Figura 40 - Ciclo de Vida Produto-Serviço da XX Acessórios de Moda no
contínuo e na ampliação da sustentabilidade 123
Figura 41 - Hipóteses para o cenário proposto 126
Figura 42 - SDO estrutura, dimensões, requisitos e diretrizes da
Sustentabilidade ................................................................................................... 127
Figura 43 - Esquema visão sistêmica com cinco fases desenvolvida com
base nos resultados 128
Figura 44 - Sistematização da abordagem projetual juntamente com Ciclo
de Vida de Produto-Serviço de moda visando sustentabilidade ampla .................. 130
Figura 45 - Sistematização da abordagem projetual juntamente com Ciclo
de Vida de produto de moda e o possível cenário no descarte
9
visando sustentabilidade ampla 131
10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABIT - Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção
ANE - Agência de Notícias do Acre
CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento
COMMISSION – Comissão Europeia sobre Design e Inovação
DFD – Design for Diassembly
DFE - Design for Environment
DFA - Design for Assembly
DFM - Design for Manufactury
DFS - Design for Service
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FDOT - Sustainability Design Orienting Toolkit
GBS – Global Business Services
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
IED – Instituto Europeo di Design
ISO – International Organization for Standardization
ONU– Organização CEP – Comitê de Ética em Pesquisa
P&G – Proctor and Gamble
PLC – Product Life Cycle
PSS – Product Service System
SDO – Sustainability Design Orienting Toolkit
SPSD – Sustainable Product and Service Development
TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação
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TFD – Teoria Fundamentada de Dados
UNEP – United Nations Environment Programme
XX Acessórios de Moda – Nome fictício para preservar identidade da empresa
12
SUMÁRIO 12
INTRODUÇÃO 14
1.1 MOTIVAÇÃO 16
1.2 OBJETIVOS 18
1.2.1 Objetivo Geral 18
1.2.2 Objetivos Específicos 18
1.3 JUSTIFICATIVA 18
1.4 METODOLOGIA 19
1.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO 25
2 REFERENCIAL TEÓRICO 27
2.1 DESIGN E SUSTENTABILIDADE - ASPECTOS TEÓRICOS 27
2.1.1 Sustentabilidades e o Papel do Design 33
2.1.2 Do Design de Produto ao Design Sustentável 37
2.1.3 Do Design Social ao Design Estratégico 44
2.2 PRODUÇÃO E PROCESSOS DE DESIGN VOLTADO PARA A
SUSTENTABILIDADE 52
2.2.1 Ciclo de Vida do Produto e do Sistema Produto-Serviço 54
2.2.2 Metodologias, Métodos e Técnicas do Design para Análise e
Projetação das Sustentabilidades 65
2.3 DESIGN E A SUSTENTABILIDADE NA MODA 68
2.3.1 Indústria da Moda e Acessórios de Couro 73
2.3.2 Tipos de Couro 76
2.3.3.Particularidades do Ciclo de Vida do Produto da moda e
acessórios de couro 85
3 ESTUDO DE CASO 88
3.1 EMPRESA DE ECODESIGN DE ACESSÓRIOS DE MODA COM
BASE EM SOBRAS DE COURO DA INDÚSTRIA CALÇADISTA 89
3.2 ENTREVISTAS CONTEXTUAIS 92
3.2.1 Perfil dos Entrevistados 95
3.2.2 Temas Emergentes 95
3.2.3 Principais Observações 97
3.3 CICLO DE VIDA DO PRODUTO-SERVIÇO ATUAL DA XX
13
ACESSÓRIOS DE MODA 102
3.3.1 Interpretação e Oportunidades 104
3.4 APRESENTAÇÃO DO WORKSHOP DE COCRIAÇÃO 105
3.5 ANÁLISE E RESULTADOS DADOS DA PESQUISA 114
4 EM DIREÇAO A UMA METODOLOGIA E PROJETAÇAO DAS
SUSTENTABILIDADES NA INDÚSTRIA DA MODA: CICLO DE
VIDA DO PRODUTO DE ACESSÓRIO DE MODA PARA AS
SUSTENTABILIDADES 123
4.1CENÁRIO PARA AS SUSTENTABILIDADES 125
4.2 SISTEMATIZAÇÃO DE METODOLOGIA PARA ANÁLISE E PROJETAÇÃO
DAS SUSTENTABILIDADES NA INDÚSTRIA DA MODA E ACESSÓRIOS
DE COURO 127
4.2.1 Visão sistêmica 129
5 CONSIDERACOES FINAIS 134
REFERENCIAS 138
APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 145
APÊNDICE B - Solicitação de Autorização para Pesquisa em Empresa 148
APÊNDICE C - Solicitação de Autorização para Pesquisa com
Funcionários de uma Empresa 149
ANEXO A - Requisitos Relacionados que estão listados nos Anexos IV e V
da Directiva Ecodesign 140
ANEXO B - Requisitos e Diretrizes do Design para a Equidade e Coesão Social
de Carlo Vezzoli (2010) 153
ANEXO C - Eco-Design Strategies de Alastair Foud-Luke (2002) 158
ANEXO D - Lei do Resíduo Sólido 160
14
INTRODUÇÃO
A história do conceito de desenvolvimento sustentável remete à crise
ambiental no mundo – evidenciada a partir da década de 1960, e agravada ao
longo dos períodos seguintes, em função de um conjunto de desastres e
desequilíbrios ambientais. As discussões e manifestações da época apontavam
para a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento baseado no ideal de
consumo e crescimento econômico acelerado. Com a crise e crescente
reconhecimento acerca da finitude e vulnerabilidade dos recursos planetários, e
tendo em vista a garantia das necessidades de gerações futuras, foram criadas
políticas e práticas voltadas para o respeito à natureza e ao meio ambiente.
Somadas à revolução da informação e à globalização econômica, tais mudanças
contribuíram para a alteração das prioridades nas relações internacionais e das
atitudes dos países com relação aos problemas do meio ambiente.
Do final da década de 1960 até o início da década de 1970, o Design, ao
invés de contribuir para a produção de novos produtos e sistemas sustentáveis,
estava voltado para o mercado, o consumo e a obsolescência planejada
(PAPANEK, 1997). A partir daí, o paradigma dominante foi quebrado, surgindo
novas ideias sobre um Design Ecológico e Social (PAPANEK, 1994) assim como
caminhos alternativos para o designer. Com isso, pelo menos na academia, o
Design passou a dirigir o seu foco para o atendimento das necessidades do
indivíduo, do meio ambiente e da comunidade. No ambiente profissional, contudo,
tais ideias ainda ficaram distantes do padrão dominante, no qual a consciência
ecológica e social, os requisitos ambientais, e o conhecimento de ferramentas
diferenciadas de projeto não encontraram o devido espaço.
A partir do final da década de 1990, em decorrência da difusão do conceito de
sustentabilidade, a prática do Design Sustentável (HIRSCHHORN et al., 1993;
WALKER, 2003; MCDONOUGH e BRAUNGART, 2003) começou a ser difundida
no mundo, expandindo o enfoque predominantemente ambiental, de modo a incluir
as demais dimensões do conceito. Desse modo, buscava desenvolver soluções
economicamente viáveis, ecologicamente corretas e socialmente equitativas. Do
mesmo modo que o Ecodesign, ele favorecia o Ciclo de Vida do Produto
15
desenvolvido, mas também enfatizava a inclusão adicional das necessárias
considerações sociais e éticas para a sustentabilidade ampla e de longo termo.
No Design de Moda, a transformação em direção às técnicas sustentáveis
ainda está em sua infância. Em verdade, a Moda tem sido uma das áreas que mais
tem agredido o meio ambiente nos últimos anos, não apenas pelas questões de
processamento dos materiais utilizados, mas em função do consumo exagerado de
roupas e acessórios. A combinação desse consumo exagerado com a lógica do
Fast Fashion (BERLIM, 2012) – no qual a data de validade dos produtos é curta e
as relações dos indivíduos com os artigos são superficiais – está no centro desses
desafios.
Cada vez mais consciente, contudo, dos resultados do consumo desenfreado,
a sociedade tem se tornado crescentemente exigente quanto a soluções e
inovações de produtos e práticas que respeitem o meio ambiente. Para chegar a
um consumo de fato sustentável, no entanto, é necessária uma mudança extrema
nas práticas de produção e consumo vigentes. Conforme Manzini (2005, p. 98), “a
sustentabilidade exige inovações sistêmicas radicais baseadas numa redução
drástica do consumo e numa nova ideia de bem estar, cujos valores regenerem o
tecido social, econômico e ambiental”.
O desafio, por conseguinte, é crescer, em termos de desenvolvimento, ao
mesmo tempo incrementando questões relacionadas à sustentabilidade ambiental
e social, e gerando uma nova consciência a respeito do consumo de bens e
produtos. Em um contexto global de preocupação com os recursos naturais do
planeta, e influenciadas pelos esforços liderados pela Organização das Nações
Unidas (ONU), foram criadas várias instituições, organizados eventos
internacionais e produzidos documentos passíveis de preservar os valores
reputados como prevalentes conjunto de toda a humanidade (MOURA, 2013), entre
eles a Lei de Resíduos Sólidos. No Brasil, essa lei visa ao gerenciamento desses
resquícios por meio de etapas articuladas entre si, desde a não geração de novo
resíduo até a disposição final dos mesmos, com ações compatíveis entre governo,
iniciativa privada e consumidores mais conscientes quanto ao excessivo consumo.
16
Nesse contexto, pode-se afirmar que as iniciativas expostas acima
influenciam direta e indiretamente as empresas e governos na geração e produção
de matérias-primas e resíduos. Essas iniciativas auxiliaram os consumidores a se
tornarem mais conscientes com relação ao consumo ecologicamente correto e
amplamente sustentável. Assim, rotineiramente, percebe-se, nas indústrias, uma
preocupação quanto às formas de minimizar os impactos ambientais, em qualquer
segmento, além de outras questões relativa à sustentabilidade.
A presente dissertação tem como tema a Sustentabilidade Ampla na Indústria
de Acessórios de Moda e, nele, o papel e contribuição do Design, através de
abordagens projetuais sistemáticas, considerando o Ciclo de Vida Produto-Serviço.
Nessa perspectiva, o termo ampla refere-se às dimensões: ambiental, econômica e
social. O embasamento teórico, a seguir, apresenta conceitos pesquisados para o
desenvolvimento da proposta, incluindo: Sustentabilidade, Produção, Processos e
abordagens projetuais de Design para a Sustentabilidade na Moda, Ecodesign,
Ciclo de Vida de Produtos e Processos de curtentes de couro.
1.1 MOTIVAÇÃO
A partir do esgotamento do modelo atual de desenvolvimento em que as
sociedades globais estão inseridas, que tanto não sustentável como agressivo ao
meio ambiente, hoje são observados intensos processos de transformações em
todas as esferas social, cultural, econômica, política e ambiental.
Diferentes conflitos de interesse colidem na busca por um pacto mais
adequado à preservação do meio ambiente, em equilíbrio com o desenvolvimento
da sociedade. No atual sistema econômico, a apropriação dos recursos naturais
ocorre sem preocupação, fomentando a pobreza e desigualdade social no
hemisfério sul, ao mesmo tempo em que gera riqueza para o hemisfério norte.
Nesse cenário de desenvolvimento não sustentável e de frequentes crises
ambientais, um número cada vez maior de organizações reconhece a necessidade
de assumir um papel mais decisivo frente à sociedade, não apenas visando ao
lucro e à riqueza, mas tendo mais responsabilidade com a mesma em seu modo de
atuação.
17
No mundo corporativo, empresas de Design Sustentável têm sido
provocadas por essa nova realidade a desenvolver produtos inovadores que
estejam de acordo com esta visão de mundo renovada, e, com isso, assumam um
papel de maior relevância.
Diversos autores – como Williamson, Radford e Bennetts (2003), Maxwell,
Sheate e Van Der Volst (2006), OECD (Organization for Economic Cooperation and
Development - 2009) e Ramani et al.(2010) – das mais variadas áreas do
conhecimento, estão refletindo sobre metodologias de projeto voltadas para a
sustentabilidade ampla, não somente sob o ponto de vista teórico e conceitual, mas
também prático.
O Design, também, através de autores como Manzini e Vezzoli (2002),
Manzini (2006), Brow (2009), Birkeland (2002), Charter e Clark (2007), tem
buscado contribuir para a consolidação de uma abordagem de projeto sistêmica.
Em Ramani et. al. (2010) são apresentadas diversas ferramentas disponíveis para
ampliar aspectos de sustentabilidade ambiental e social relacionadas aos projetos
de design voltados para a indústria. Ainda nesse artigo são apontadas formas para
incrementar as questões de sustentabilidade durante os projetos sob
responsabilidade de designers que atuam no setor. Contudo, segue a necessidade
de se inovar nos modelos conceituais, processos e ferramentas de apoio, os quais
estejam mais sintonizados com a atividade profissional do Design inserida no
contexto do mercado atual. Adicionalmente, permanece a necessidade de adequar
tais modelos às áreas de especialização específica do Design, tais como do Design
de Moda e Acessórios em couro.
18
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
O objetivo do presente trabalho é sistematizar abordagens projetuais do
design para as sustentabilidades, considerando as esferas ambiental, social e
econômica, bem como os Ciclos de Vida de produtos de moda, em específico os
acessórios de couro.
1.2.2 Objetivos Específicos
Para atingir o objetivo geral do projeto, os seguintes objetivos específicos
deverão ser atendidos ao longo do desenvolvimento do trabalho:
· investigar aspectos do (1) Ciclos de Vida de Produto-Serviço e (2)
sustentabilidade, enfatizando aspectos teórico-conceituais;
· pesquisar as abordagens projetuais, metodologias, métodos e técnicas de
avaliação de ciclo de vida de produtos que possam ser aplicadas e
pertinentes nas especificidades da moda e acessórios em couro;
· examinar como as dimensões da sustentabilidade (ambiental, econômica e
social) são abordadas pelo Design e seus impactos na sociedade;
· realizar um Estudo de Caso de uma empresa de Design de Acessórios de
Moda; bem como contribuir com possíveis melhorias.
1.3 Justificativa
O desenvolvimento do tema deste projeto perante o Curso de Mestrado em
Design da UniRitter deve-se ao interesse na área do Design de Moda, assim como
na investigação de possibilidades para remodelar organizações, a fim de promover
um consumo mais consciente e não agressivo ao meio ambiente. Este tema está
integrado ao Design Estratégico como forma de repensar, inovar e agregar valor
aos processos produto-serviço de uma organização.
Em um sentido mais restrito, o âmbito social relaciona-se às inter-relações
19
humanas. Em um sentido mais amplo e mais normativo, o âmbito social pede uma
majoração da “equidade e da coesão social”, conforme Vezzoli (2010, p.27). Neste
contexto, a sustentabilidade pode ser vista como a grande incentivadora de
mudanças comportamentais, bem como de ações que visam a melhorar as
condições social, econômica e ambiental.
Dessa maneira, aplicando as ferramentas e os conceitos de Design
Thinking, Design Estratégico e Design de Ciclo de Vida para a sustentabilidade e
ainda revendo as questões relacionadas ao consumo da área de Moda, os
designers integram conceitos de sustentabilidade para desenvolver seus produtos.
É o papel dos designers entender e trabalhar esses conceitos sociais e das demais
esferas da sustentabilidade no desenvolvimento de produtos. Os designers estão
imersos nessa cultura material, e se baseiam em seus pensamentos. Designers
têm a capacidade tanto de "ler" e "escrever" nesta cultura; quanto eles entendem
que os objetos são mensagens a comunicar, e eles podem criar novos objetos que
incorporam novas mensagens (CROSS, 2006).
1.4 Metodologia
A pesquisa, de natureza predominantemente qualitativa, se desenvolve
através de um Estudo de Caso de uma empresa de acessórios de moda. Nesse
sentido combina revisão bibliográfica, entrevista semiestruturada e Workshop de
Cocriação. Como desdobramento, os dados coletados foram analisados de acordo
com a Teoria Fundamentada nos Dados (TFD), ou Grounded Theory (1967, 1995).
Como resultado, pretendeu-se sistematizar abordagens projetuais do Design para
sustentabilidade ampla, com foco na indústria de acessórios de moda em couro
bem como gerar novos conceitos e apresentar novas propostas para ampliação da
organização e de melhorias em seus processos.
Nesse caso, a metodologia qualitativa é a que melhor se aplica aos objetivos
deste trabalho, uma vez que permite ao pesquisador a inserção no “cenário
natural”, em que está situado o seu objeto de estudo. A pesquisa qualitativa
condiciona o pesquisador a visitar e estudar o ambiente do pesquisado. Isso lhe
permite desenvolver um nível de detalhes maior sobre o objeto de pesquisa, além
20
do fato de envolver-se nas experiências reais do pesquisado, sejam pessoas ou
lugares (CRESWELL, 2010).
Para o autor,
A pesquisa qualitativa usa métodos múltiplos que são interativos e humanísticos. Os métodos estão crescendo e cada vez mais envolvem participação ativa dos participantes e sensibilidade aos participantes do estudo. Os pesquisadores qualitativos buscam o envolvimento dos participantes na coleta de dados e tentam estabelecer harmonia e credibilidade com as pessoas no estudo. Eles não perturbam o local mais do que o necessário. Além disso, os métodos reais de coleta de dados, tradicionalmente baseados em observações abertas, entrevistas e documentos, agora incluem um vasto leque de materiais, como sons, e-mails, álbum de recortes, e outras formas emergentes (CRESWELL, 2010, p.186).
Dessa maneira, além de possibilitar uma descrição completa do cenário e dos
participantes oriundos do processo de coleta de dados, a pesquisa qualitativa
permite uma interpretação e análise destes dados, de forma que sejam
identificados temas e categorias, muitas vezes peculiares.
Para tanto, as técnicas qualitativas utilizadas para a realização deste trabalho
são: a observação contextual da referida empresa com os respectivos empresários
e funcionários da organização; entrevistas semiestruturadas com esses
colaboradores, bem como com alguns clientes e, por fim, a elaboração de um
Workshop de Cocriação envolvendo empresários, funcionários, clientes e
especialistas.
Baseado nos Estudos de Caso e de acordo com Creswell (2010), o
pesquisador explora profundamente um problema, seja referente a um processo ou
pessoas. Os casos estudados são reunidos por tempo e atividade e o investigador
faz a coleta de dados durante um considerável período de tempo, reunindo
informações detalhadas por meio de variados instrumentos de coleta.
O papel do pesquisador é contextualizar e não participar, uma vez que sua
participação ocorrerá em meio ao Workshop de Cocriação, o qual envolve alguns
de seus atores (funcionários, empresários, clientes, fornecedores), orientando a
atividade. Por meio desse Workshop se pretendeu o cruzamento instantâneo de
21
informações e dados levantados durante a observação. As entrevistas foram
semiestruturadas com perguntas-chave e face a face com os participantes, tendo o
objetivo de levantar as opiniões desses colaboradores sobre os processos que
interessam a este estudo.
Esperou-se sistematizar propostas de intervenção no modelo atual de Ciclo
de Vida Produto-Serviço, de forma a ampliar as questões relacionadas à
sustentabilidade econômica, ambiental e social da empresa em questão, para além
do conceito com o qual a empresa trabalhava, ou seja, limitado ao aspecto
ambiental, conforme demonstrado na figura 01.
Figura 01 – Esquema ilustrativo da metodologia do presente trabalho
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
O levantamento dos dados na referida empresa foi organizado conforme
detalhado na Tabela 01.
22
Tabela 01 - Procedimentos para coleta de dados de pesquisa, envolvendo a
participação de empresários, funcionários, fornecedores e clientes de empresa de
Design de Acessórios, assim como a participação de especialistas.
Tabela 01 - Procedimentos para Coleta de Dados de Pesquisa
MÉTODO OU
TÉCNICA
TIPO E NO DE
PARTICIPANTES
DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE E DA
FORMA DE DOCUMENTAÇÃO DOS
DADOS
LOCAL E DURAÇÃO
1. Observação contextual
a. Empresários (02) b. Funcionários (06)
Observação das atividades dos participantes (1a) e (1b), com mínima interferência do pesquisador nas mesmas (apenas para desambiguar ações e, quando necessário, questionar a motivação por detrás das mesmas), em um dia típico de trabalho, no ambiente da empresa, documentado através de fotos/vídeos e anotações
Ambiente de trabalho da empresa participante; durante o período de 01 dia de trabalho pré-estabelecido, no horário de acordo com a conveniência e disponibilidade de todos os participantes.
2. Entrevista Contextual
Semiestruturada
a. Empresários (02) b. Funcionários (06) c. Clientes (6)
Entrevista individual com os participantes, no ambiente da empresa, documentada através de fotos/vídeos e anotações, estruturada de acordo com os seguintes temas, conforme tipo de participante: (2a) Histórico profissional e da empresa, missão e visão, experiências pessoais e profissionais relevantes, semana típica da empresa, atores envolvidos, perfil das empresas competidoras, perfil dos clientes, portfólio atual dos serviços e produtos, processo de criação e planejamento da coleção, influência de referências bibliográficas e outras na criação, valor e significado da sustentabilidade, valores e questões ambientais/ sociais/ econômicas/ institucionais, processo de inovação, plano de comunicação, plano de marketing, logística, papel do designer na criação dos produtos e serviços, ciclo de Vida dos produtos atuais, desde etapa da Pré-Produção,
Produção, Distribuição, Uso do
Ambiente de trabalho da empresa participante; com duração de até 2 horas, no horário de expediente ou outro horário de preferência de cada participante, de acordo com a conveniência e disponibilidade de cada uma das partes envolvidas.
23
Tabela 01 - Procedimentos para coleta de dados de pesquisa, envolvendo a participação de empresários, funcionários, fornecedores e clientes de empresa de Design de Acessórios, assim como a participação de especialistas.
Tabela 01 - Procedimentos para Coleta de Dados de Pesquisa
MÉTODO OU TÉCNICA
TIPO E NO DE PARTICIPANTES
DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE E DA FORMA DE DOCUMENTAÇÃO DOS DADOS
LOCAL E DURAÇÃO
Produto até o Descarte. (2b) Cargo, função, perfil profissional, perfil dos clientes da empresa, tipo de atendimento e serviços, participação na criação dos produtos/modelos/conceitos, valor e significado da sustentabilidade, valores e questões ambientais/sociais/econômicas/institucionais; ciclo de Vida dos produtos atuais, desde etapa da Pré-Produção, Produção, Distribuição, Uso do Produto até o Descarte. (2c) Perfil do usuário, ciclo de Vida do produto adquirido, valor do produto para o usuário, valor e significado da sustentabilidade, valores e questões ambientais/sociais/econômicas/institucionais, diário de consumo, motivações de consumo, hábitos de consumo, empresas preferenciais.
3. Workshop de Cocriação
a. Empresários (01) b.Funcionários (02) c. Clientes (02) d.Especialistas (04)
Atividade de brainstorming em grupo, precedida pela apresentação da síntese dos dados de pesquisa oriundos da Revisão Bibliográfica, da Observação Contextual e das Entrevistas Semiestruturadas, apresentou-se critérios norteadores e desafios - envolvendo participantes do tipo (3a), (3b), (3c) e (3d), com foco na sustentabilidades dos produtos, serviços e negócio da empresa participante. Como a empresa náo forncedeu o contato dos fornecedores, optou-se em convidar Especialistas do setor coureiro, para possíveis informações sobre a matéria-prima e participou convidados de diferentes áreas.
Ambiente de trabalho da empresa participante; com duração de até 3 horas, no horário de expediente ou outro horário de preferência de todos participantes, de acordo com a conveniência e disponibilidade das partes envolvidas.
24
Com o propósito de aplicar as entrevistas e estudar a empresa, a próxima
etapa consistiu na submissão do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
Os documentos encaminhados foram: projeto detalhado; termo de consentimento
livre e esclarecido; folha de rosto; solicitação de autorização para pesquisa em
empresa; termo de autorização de pesquisa em empresa com sócios e funcionários
previamente assinadas e em papel timbrado; questionário para sócios e/ou
funcionários. O presente trabalho teve aprovação do CEP.
Na fase final, os dados coletados foram analisados e sistematizados,
apresentando proposta para a aplicação das ações sustentáveis, empregando a
visão do Design Estratégico para a área de produção de acessórios de moda,
conforme Figura 02.
Figura 02 - Etapas para o Design Estratégico para o trabalho desenvolvido.
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
25
O cronograma da presente pesquisa está ilustrado na Figura 03, que detalha
as etapas de projeto e o mês de execução de cada uma delas, nos anos de 2014 e
2015.
Figura 03– Cronograma do trabalho desenvolvido
Fonte: Elaborado pela autora, 2014.
1.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
A presente dissertação está organizada em cinco capítulos. Primeiramente, a
introdução contendo tema, problema e oportunidade, objetivos geral e específicos,
motivação, justificativa e metodologia.
No capítulo dois, é apresentado o referencial teórico, em que são discutidos e
sistematizados os conceitos empregados para o desenvolvimento do trabalho. Ele
contém a revisão da literatura, e aborda os aspectos relacionados ao Design,
sustentabilidade, produção e processo de design para as sustentabilidade.
26
O capítulo três aborda o Estudo de Caso de empresa de Ecodesign de
acessórios de moda, com base em restos de couro, visando à análise e proposição
de transformações para a sustentabilidade ambiental, social e econômica. Além de
constar o histórico da empresa, inclui os dados coletados durante as entrevistas
contextuais com empresários, funcionários, e clientes e, por fim, o Workshop de
Cocriação com empresários, funcionários, clientes e especialistas.
No capítulo quatro, é apresentada a análise preliminar de resultados e os
processos de transformação que se esperavam alcançar após o desenvolvimento
do presente trabalho, enfatizando as abordagens do Ciclo de Vida de Produto-
Serviço de acessórios de moda para a sustentabilidade e uma possível
contribuição em direção a uma metodologia para análise e projeção da
sustentabilidade na indústria da moda. Por fim, é apresentado um cenário para a
sustentabilidade e possíveis sistematizações.
No capítulo cinco são apresentadas as considerações finais e destacadas as
principais contribuições, as limitações e as atividades futuras. Nesse capítulo
também são indicadas possíveis melhorias para o desenvolvimento do projeto. Na
sequência, seguem as referências bibliográficas e os anexos necessários para a
compreensão do trabalho.
27
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 DESIGN E SUSTENTABILIDADE - ASPECTOS TEÓRICOS
A palavra 'design' é um substantivo e um verbo, e pode se referir ao produto
final, ou ao processo. Lawson (2005) descreve o termo como um processo.
Preocupado com o modo de funcionamento desse processo e de que forma é
aprendido e realizado por profissionais e especialistas da área, o autor menciona
que há processos comuns, que podem variar tanto entre domínios quanto entre os
indivíduos. Por exemplo, um engenheiro estrutural pode descrever um design para
o processo de cálculo de dimensões para uma viga em um prédio.
Trata-se de um processo praticamente mecânico, em que são aplicadas
várias fórmulas matemáticas e inseridos valores para testar as diferentes cargas
conhecidas sobre a viga e coletar os resultados. Nesse contexto, é perfeitamente
compreensível que um engenheiro faça uso da palavra 'design', uma vez que o
referido processo é bastante diferente da tarefa de 'análise', na qual as cargas são
devidamente determinadas.
No entanto, um Designer de Moda responsável pela criação de uma nova
coleção pode estar ligeiramente intrigado com o uso feito pelo engenheiro da
palavra 'design'. O processo do engenheiro parece ser relativamente preciso,
sistemático e até mesmo mecânico, enquanto no Design de Moda parece ser mais
imaginativo, imprevisível e espontâneo. O engenheiro sabe mais ou menos o que é
necessário, desde o início. O conhecimento do engenheiro é muito mais
determinado do que o conhecimento que o Designer de Moda, no caso descrito.
A coleção deve atrair a atenção e vender bem e provavelmente, deverá
aumentar a reputação da empresa de Design. No entanto, isso está muito menos
relacionado à natureza do produto final do que ao processo de concepção. A Moda
não é somente a genialidade e a capacidade inventiva de um criador. A Moda é
uma importante área de produção e expressão da cultura contemporânea que
apresenta reflexos e referências dos costumes da sociedade.
28
A moda baseia-se em precisos parâmetros de gostos e consumos, em sofisticados procedimentos e estratégias empresariais, comerciais e de imagem, em profundo conhecimento das transformações e das tendências culturais e sociais em curso (SORCINELLI, 2008, p.13).
Portanto, o Design pode ser considerado como um processo. Ou seja, pode
ser considerado como uma atividade em constante desenvolvimento, e não
apenas os resultados oriundos desta atividade. No presente trabalho, o Design está
relacionado ao processo de produção.
Outro conceito importante é a relação do Design com a inovação, dado que
ele é frequentemente apontado como parte importante do processo de inovação.
Segundo o documento da Comissão Europeia sobre Design e Inovação
(COMMISSION, 2009), as organizações orientadas pelo Design (Design-driven
Organizations) são mais inovadoras do que as outras. Design é descrito como uma
abordagem holística que permite uma série de considerações, e não somente a
questão estética e visual. Isso inclui: a funcionalidade, a ergonomia, a usabilidade,
a acessibilidade, a segurança do produto, a sustentabilidade, o custo e outros
fatores intangíveis, tais como a marca e a cultura. Ainda no referido documento,
afirma-se que o Design pode e deve ser empregado não somente no
desenvolvimento do produto, mas no que tange às organizações e o seus
processos de desenvolvimento de produtos, nas suas estratégias como
organização, visando não somente as questões econômicas, mas vislumbrando o
bem social.
O Design está relacionado aos produtos, serviços, sistemas, ambientes e
comunicações. Ainda que muitos designers atuem na indústria, lidando com
produtos e projetando embalagens, o Design também deve ser estendido aos
serviços, tanto públicos quanto privados. Nesse sentido, Commission (2009) evoca
a imaginação do leitor, sugerindo que visualize o designer projetando estratégias
de atendimento urbano para as pessoas com deficiência. O documento relata que
tal atuação é pertinente, uma vez que a maioria das cidades não tem infraestrutura
para o bem estar dessas pessoas, o que as torna excluídas ou limitadas em suas
atividades, visto que não houve uma etapa de pensar a questão urbana para
atendê-las. Em consequência, é necessário promover estratégias para melhorar a
29
qualidade de vida e aumentar a autonomia desse grupo de usuários.
Todavia, conforme documento da Commission (2009), o Design é, por
natureza, centrado no usuário. A inovação orientada para o Design pode ser
graficamente representada como um sistema que coloca o usuário no centro, mas
está aberto a influências sociais, tal como ilustrado na Figura 04. Ele atua como
uma ponte entre o processo de desenvolvimento do produto e os requisitos dos
usuários, e entre o processo de desenvolvimento de produtos e as necessidades
da sociedade.
Figura 04 - Modelo de inovação em Design centrado no usuário
Fonte: Adaptado de Commission, 2009.
Uma pergunta relevante é: como o Design pode contribuir para o
desenvolvimento estratégico da organização? Nesse caso, o Design precisa ter um
papel mais abrangente do que apenas ser aplicado à área de comunicação, de
gestão da marca, ou de identidade visual da empresa.
30
O Design Estratégico apresenta uma visão sistêmica. Nos ensinamentos de
Reyes e Borba (2007) apud Pastori et al (2009), o Design Estratégico atua como
espaço de agregação de valor, com vistas ao aumento de competitividade das
organizações, ou seja, com foco na dimensão estratégica.
A inovação é importante não somente sob o ponto de vista do produto mas,
acima de tudo, do produto elaborado a partir de uma cadeia de valor que considera
as diferentes etapas. A expressão ‘Sistema Produto-Serviço’ amplia o conceito ao
aliar os serviços e a experiência ao processo de sua utilização. A visão estratégica
potencializa o sistema, que considera variáveis internas e externas à organização e
ao seu contexto na viabilização da atividade do Design.
O Design como estratégia para os negócios é uma abordagem
contemporânea e, portanto, seus conceitos ainda estão sendo formulados. Em
Castro e Cardoso (2010), são apresentados conceitos a respeito do que significa a
estratégia para a visão do Design. Para as autoras, esses conceitos estão
relacionados aos planejamentos estratégicos empresariais, dependendo do
contexto em que se inserem, mas que também abordam questões operacionais.
Assim, que apontam um enfoque no desenvolvimento de produtos; em seguida,
outro, no qual são incorporadas as questões referentes ao ambiente da empresa –
interno e externo. Por fim, um direcionamento em que são abordadas temáticas
mais amplas, como as relativas às mudanças na sociedade e no meio ambiente.
Em consequência, não existe uma relação das etapas que são necessárias para o
desenvolvimento do Design Estratégico em uma organização, mas existem
algumas características norteadoras e práticas comumente empregadas.
Na teoria
Na visão de Burkhardt (2009), o Design Estratégico está relacionado às
atividades do projeto, considerando as interações de produtos e seus processos,
com todo o sistema do usuário a quem se destina. O autor apresenta três conceitos
31
para ilustrar a abrangência do Design Estratégico. O design técnico1 como um
processo detalhado, familiar a todos os designers. Esse conceito diz respeito ao
design de elementos individuais do produto. É o papel de responsabilidade do
designer-chefe de uma unidade.
O design tático2, por sua vez, é focado na estrutura interna global do produto.
Tipicamente envolve a especificação de princípios de Design, selecionadas em
função das pesquisas anteriores, a seleção de metas e desempenho específicos,
incluindo possibilidades de progressão e, a especificação de sequências e
conexões entre materiais, equilibrando a coerência linear entre conceitos e
contextos e, permitindo investigações abertas à experiência. O design tático é uma
responsabilidade dos líderes da equipe de design e designers líderes, que atuam
com os seus colegas da equipe de projeto.
O Design Estratégico preocupa-se com a estrutura geral do conjunto de
produtos e como ele vai se relacionar com o sistema do usuário. Normalmente, ele
não envolve apenas os consumidores finais, mas todas as principais comunidades
envolvidas, que vão afetar as decisões sobre o quadro no qual os usuários atuam.
Envolve atividade s como: identificar uma oportunidade de melhoria; selecionar um
conjunto de metas para melhoria; projetar a estrutura geral de um conjunto de
ferramentas para auxiliá-los; escolher ou projetar um modelo para mudança,
juntamente com as etapas, ritmo de mudança e tempo de execução; identificar os
recursos que são necessários para realização de um trabalho (quanto esforço de
design, experimentação, suporte e de que tipos de implementação são
necessários) e os compromissos que são aceitáveis dentro do projeto; reconhecer
e questionar as restrições de estratégia do cliente (metas de desempenho;
alinhamento; modelo de mudança); e aconselhar o cliente sobre as prováveis
implicações de suas várias decisões, incluindo as suas prováveis consequências e
incertezas não intencionais - e sugerindo mudanças.
1 Design técnico é o processo detalhado com que qualquer designer é familiar, centrado na criação de elementos individuais; é focado em os usuários finais e seu meio ambiente. Citada em CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Blucher, 2008. 2 Design tático é focado sobre a estrutura interna global do produto (por exemplo, conjunto de materiais de ensino ao longo de um ano letivo; a avaliação de um ano; um desenvolvimento profissional). Citada em CARDOSO, Rafael. Uma introdução a história do design. São Paulo: Blucher, 2008.
32
Além disso, o Design Estratégico é uma responsabilidade da equipe de
liderança de um projeto. Geralmente se negocia com o cliente, como o financiador
e muitas vezes com órgãos de governo, ou com uma agência não governamental,
ou ainda com uma fundação.
Criatividade gera ideias e permite a exploração de inovações dentro do contexto de projeto, o Design de uma maneira geral permite conectar os dois, através da sua aplicação em diversas áreas de atuação, moldando-os e remodelando-os para gerar propostas práticas e atrativas para os clientes ou para os usuários de produtos e processos (BURKHARDT, 2009, p.34).
O Design, ao longo de muitas décadas, tem como missão atender às
necessidades humanas. Ele é desenvolvido para seus clientes e usuários, e, neste
contexto, são empregados múltiplos conceitos e práticas para viabilizar o produto,
considerando a sua estética e a sua funcionalidade em atender às necessidades de
seus clientes ou usuários. A expansão desses conceitos aplicados às organizações
e suas estratégias pode gerar novos modelos de negócios, sendo capaz de
influenciar na cultura organizacional, e no desenvolvimento ético da organização,
pois agrega valor ao comprometimento com o humano e com o social.
Na prática
O presente trabalho segue a visão sistêmica do Design Estratégico, ou seja,
uma visão que apresenta o todo a ser desenvolvido. Pastori et al (2009) explica
que para definir quais etapas deverão ser empregadas no desenvolvimento, são
investigadas algumas práticas sobre o tema voltadas às organizações ou práticas
aplicadas em comunidades, como inovação social. Uma vez que não existe um
consenso a respeito do assunto, destacam-se algumas dessas práticas a seguir.
Na obra de Debiagi (2012), são apresentadas as etapas do Design
Estratégico para a criação de um centro de Design para uma empresa de indústria
moveleira do Estado do Rio Grande do Sul. As etapas são divididas em dois
grupos: metaprojeto e projeto. A etapa de metaprojeto, que é constituída das
subetapas precedentes, abriga a definição do problema através do design brief, no
qual é feito o levantamento das informações através de pesquisas, apontando
33
cenários e por meio da síntese do problema, apresentando uma visão do projeto.
Por outro lado, as etapas do projeto se concentram na solução para o problema
central, partindo do conceito de Design em direção à prototipação e colocação do
produto no mercado.
O processo do Design Estratégico é aplicado no desenvolvimento de sapato
de látex produzido no Acre, de acordo com a Agência de Notícias do Acre (ANE,
2014). Nesse contexto, o Design Estratégico foi aplicado como instrumento de
transformação em uma atividade promovida pelo Instituto Europeo di Design –
IED, empregando os princípios de Design com a finalidade de incrementar as
qualidades inovadoras e competitivas de uma comunidade da região.
Representantes de comunidades de cinco cidades acreanas participaram, em Rio
Branco, de um workshop para o design do sapato de látex, criado por artesãos
acreanos com a orientação dos designers, empregando como metodologia o
Design Estratégico. Além disso, esta visão permite ampliação da sustentabilidade,
na qual o papel do designer permite sua inserção a fim de propor estratégias de
inovação para “produtos verdes”, com o objetivo de criar novos mercados para
novos produtos e serviços sustentáveis.
2.1.1 Sustentabilidades e o Papel do Design
A primeira etapa do presente estudo é dedicada a entender as
sustentabilidades nas três esferas: ambiental, econômica e social e o papel do
Design no desenvolvimento de produtos e serviços. Como a área de atuação é a
Moda, concentra-se em identificar as oportunidades as quais influenciam no
impacto ambiental e social na criação e no desenvolvimento de artefatos de Moda
ao longo de todo o Ciclo de Vida do Produto. Considera-se Ciclo de Vida do
Produto, neste estudo, a manufatura do artefato dentro da empresa estudada.
Nesse sentido, um conceito se torna central para a análise: a
sustentabilidade, no sentido amplo. Segundo o Programa para o Meio Ambiente da
Organização das Nações Unidas (United Nations Environment Programme, UNEP),
criado em 1972 a fim de coordenar ações internacionais multilaterais de proteção
ao meio ambiente e de promoção ao desenvolvimento sustentável,
34
“sustentabilidade é o atendimento das necessidades atuais, sem comprometer a
possibilidade de satisfação das gerações futuras” (UNEP, 2006). Esse
entendimento da Organização das Nações Unidas (ONU) atenta para o fato de se
repensar o desenvolvimento para além de questões relacionadas à produção dos
bens. Para o Programa de Meio Ambiente, a preocupação, de uma maneira geral,
diz respeito à construção de uma orientação global para um consumo sustentável.
Para tanto, são necessárias estratégias de inovação para “produtos verdes”,
com o objetivo de criar novos mercados para novos produtos e serviços
sustentáveis. Assim, em 1997 é lançado pela ONU (UNEP, 2006) o “Manual de
Ecodesign”, cujo objetivo principal era fomentar práticas sustentáveis na concepção
de “produtos verdes”.
O manual aborda a questão do desenvolvimento de produtos e oferece uma
metodologia para empresas que pretendem fabricar artefatos no conceito de
Ecodesign. A estrutura modular do manual permite à empresa adquirir capacitação
no campo do Ecodesign, e em seguida, executar o passo a passo na linha de
produção baseada em Ecodesign. Desta forma, a empresa pode internalizar o
desenvolvimento de produtos, e aprimorar seus produtos existentes (UNEP, 2006).
Em referência a esse tópico, para Manzini (2005), a sustentabilidade exige
inovações amplas baseadas em reduções profundas do consumo, além de uma
nova ideia de bem-estar social, cujos valores respeitem e incentivem os campos
social, econômico e ambiental. De acordo com o autor, o papel do designer é
fundamental, pois através da análise da quantidade de energia necessária à
produção, pode minimizar a utilização desta energia e dos materiais utilizados
durante os ciclos de Vida do produto. Ele pode projetar inclusive os ciclos
posteriores ao primeiro ciclo de utilização, o que acontece depois do seu primeiro
descarte, as possibilidades de reutilização e reciclagem, até a recuperação da
energia gasta nos processos. Desse modo, é preciso que o designer conecte
condições externas e internas que possibilitem mudança, levando em consideração
e dando voz às experiências locais que demonstrem conhecimento e sejam
capazes de inovar.
35
A partir disso, houve um incremento de pesquisas na área do Design Social
(SOUZA, 2007; PEROBA, 2008). De acordo com Peroba (2008, p.40), “o Design
Social se torna uma atividade econômica que conduz ao crescimento e
desenvolvimento do local onde o projeto é realizado”. Nessa linha, Whiteley (1998)
apud Peroba (2008, p.45), discorre sobre um modelo de Design para esta
realidade, no qual se inclui nas responsabilidades do designer social, "as
responsabilidades em relação às questões ecológicas, tanto em termos de
potencial do Design para garantir a sustentabilidade ambiental, quanto em termos
do papel negativo do Design como estímulo ao sistema de valores consumistas”. A
Figura 05 apresenta, de forma esquemática, uma cronologia do papel do designer.
Figura 05 - Cronologia do papel do designer
Fonte: Elaborado pela autora, 2014.
Nesse sentido, Charter e Clark (2007) debatem sobre o Design para a
Sustentabilidade (D4S3). O autor descreve que:
O Design para a Sustentabilidade parte de uma premissa fundamental que é a “eco inovação”, processo que estimula a criação de produtos, processos, sistemas, serviços e procedimentos, intervindo em seus ciclos de Vida para um uso mínimo e racional de matérias primas, com o objetivo de satisfazer as necessidades humanas, provendo uma melhor qualidade
3 Design for Sustainability Manual – D4S (Design para Sustentabilidade) é um instrumento de avaliação para empresas e governos lideram com essas preocupações. O manual inclui conceitos de Ecodesign e, em muitas economias já estabelecidas, o D4S está ligado aos conceitos mais amplos de sustentabilidade, como sistemas produto-serviço, sistemas de inovação e outros esforços baseados no ciclo de Vida dos produtos. Citada em Vezzoli e Manzini (2008).
36
de vida a todos (CHARTER E CLARK, 2007, p.54).
Esta discussão considera o Ciclo de Vida como um processo que não se
restringe somente aos bens, se estendem também aos serviços numa concepção
de “serviços verdes”. Para os autores, o caminho para a constituição de uma
cultura de consumo sustentável parte do pressuposto da orientação aos
consumidores para produtos bem como consumo sustentáveis. Para tanto, é
necessário que se executem intervenções sistêmicas (sistema-consumo) e
sistemáticas (planejamento). As intervenções sistêmicas dizem respeito ao
reconhecimento do sistema consumista não sustentável que é encontrado
atualmente para confrontá-lo com um consumo mais sustentável e criterioso. Para
esse fim, é preciso interferir nas orientações de consumo vigentes. Contudo, são
necessárias intervenções sistemáticas, ou seja, deve-se formular e executar um
planejamento estratégico que preveja de que modo demais intervenções ocorrerão,
com seus respectivos objetivos e metas.
Para Vezzoli e Manzini (2008, p.59), o papel do Design pode ser resumido de
uma maneira geral, como a atividade responsável por tornar algo
tecnologicamente viável e ecologicamente correto, e que deve refletir a origem de
novas propostas socioculturais significativas. Para ilustrar, os autores indicam
quatro níveis fundamentais de intervenção do papel do Design para a
transformação de produtos sustentáveis:
· Redesign ambiental para os sistemas existentes: o que implica na revisão
de materiais empregados e na análise das possíveis alternativas
considerando materiais que tenham baixo impacto ambiental e que
consumam menos energia no seu processo de fabricação. A busca por
produtos verdes inicia na concepção da matéria prima, de onde ela é
extraída, seu impacto no ecossistema bem como de seu impacto no
processo de tratamento e encaminhamento na indústria.
· Concepção de novos produtos e serviços: o que implica em rever os
produtos e promover a substituição de produtos antigos; a preocupação
com o impacto ambiental, o qual vem desde a revolução da indústria o qual
foi intensificado após a virada do século com o crescimento populacional.
37
Os sistemas antigos devem ser substituídos por outros mais
ambientalmente sustentáveis.
· Projetar sistemas novos de produção-consumo (oferecendo
intrinsecamente satisfação sustentável das necessidades e desejos
humanos).
· Criação de novos cenários para o estilo de vida sustentável.
É também apontada pelos autores que essa transformação deve ter em vista
não apenas na área ambiental, mas promovendo a inovação social. Qualquer ação
que promova a ampliação dos recursos naturais e que desenvolva ações de
demandas sociais na forma do pensamento do designer deve ser dinamicamente
difundida para a população. Faz parte do papel do designer repensar o
desenvolvimento dos produtos e serviços e promover mudanças para transformar
as pessoas.
2.1.2 Do Design de Produto ao Design Sustentável
O design industrial é uma atividade criativa que visa determinar as qualidades formais de um objeto industrializado. Estas qualidades formais não são apenas os fatores externos, mas principalmente as relações funcionais e estruturais que convertem um sistema a uma unidade coerente tanto do ponto de vista dos produtos quanto do usuário (Madonado apud VERGANTI, 2009, p.24).
Neste contexto, o Design industrial dá conta de todos os aspectos do
ambiente humano, que por sua vez é condicionado pela produção industrial e
assim condicionando à transformação de produtos sustentáveis.
Em Wimmeret al. (2010) é apresentado o caminho inverso, ao invés de
explicar a sustentabilidade no desenvolvimento de produtos, os autores apontam
as características para o que não é sustentável:
· O esgotamento de recursos não renováveis.
· O consumo excede a necessidade - elevado percentual de embalagens de
alimentos gerando excesso de resíduos em países industrializados.
· Produtos ou processos que desperdiçam energia, como por exemplo, o
38
consumo de stand-by de alguns equipamentos eletrônicos.
· Existem resíduos de produtos de países industrializados que são enviados
para países em desenvolvimento para uma "reciclagem" inapropriada, e
como consequência, causam danos à saúde bem como ambientais.
· Algumas empresas geram danos e riscos ambientais ou exploram
inadequadamente seus funcionários para melhorar os lucros de suas
organizações.
Para Spangenberg (2011), em termos de ciência, o desenvolvimento
sustentável requer o sincronismo entre o metassistema e seus subsistemas, que
são a natureza, a economia e a sociedade.
Como pode a Terra, os ecossistemas e as pessoas interagirem em múltipla
escala e sucessivas gerações em direção a beneficiar e sustentar a todos os
envolvidos? O desenvolvimento sustentável é um conceito global e diz respeito ao
atendimento das necessidades humanas, em particular da redução de diferenças
sociais, mas respeitando os limites ambientais existentes e a preservação dos
ecossistemas.
As agressões ao planeta têm sido praticadas desde o início da Revolução
Industrial. Antes desse período, os itens necessários para as produções nas
fazendas eram encontrados em regiões próximas. Insumos e materiais necessários
eram atribuídos aos trabalhadores da região rural. A inovação dos maquinários nas
fazendas da Europa, mais precisamente na Inglaterra, gerou uma desestabilização
na estrutura natural das áreas rurais, ocasionando a migração de pessoas para
centros próximos às indústrias. As pessoas deixaram o campo para trabalhar nas
fábricas criando novos centros urbanos. Essa transformação não se deu apenas na
Inglaterra, se replicou também nos outros países industrializados de maneira
semelhante.
Os fundadores do movimento British Arts and Crafts (1850-1914), John
Ruskin e William Morris, são apontados como pioneiros em notar as agressões
ambientais promovidas pelas indústrias. O British Arts and Crafts foi um movimento
estético surgido na Inglaterra, na segunda metade do século XIX, o qual defendia o
39
artesanato criativo como alternativa à mecanização e à produção em massa
imposta pelas indústrias. Pregavam o fim da distinção entre artesão e o artista. O
movimento fez frente aos avanços da indústria e pretendia empregar em móveis e
objetos o traço do artesão-artista, que mais tarde seria conhecido como designer. É
considerado por diversos historiadores como uma das raízes do modernismo no
Design Gráfico, Desenho Industrial e Arquitetura (FUAD-LUKE, 2002).
No ínicio da década de 1970, o Design, ao invés de contribuir para a
produção de novos produtos e sistemas sustentáveis, estava voltado para o
mercado, o consumo e a obsolescência planejada (PAPANEK, 1971) e na década
de 90, em decorrência da difusão do conceito de sustentabilidade, a prática do
Design Sustentável começou a ser difundida no mundo, expandindo o enfoque
predominantemente ambiental, ilustrada na figura 06.
A Revolução Industrial também é considerada um marco que desencadeou as
transformações severas no paradigma de consumo. Aliado a esse fator, está a
explosão demográfica, que passou de 1 bilhão de habitantes na Terra para 6
bilhões na virada dos séculos XX e XXI. Segundo a ONU, estima-se uma
Figura 06 - Cronologia do Design Sustentável
Fonte: Elaborada pela autora, 2014.
40
população mundial de 7.125 bilhões, dados de 2013. Essa combinação de
elevação de consumo e explosão demográfica levou o planeta a uma crise
ambiental, deflagrada após as grandes Guerras Mundiais. Com isso, cresceram as
preocupações tanto ambientais quanto sociais, gerando movimentos mundiais para
rever o desenvolvimento industrial, social e econômico, sobretudo preservando os
recursos naturais disponíveis.
Na busca do melhor compromisso, o criador seleciona e articula soluções sobre todo o ciclo de Vida do produto, integrando o conjunto dos impactos ambientais O Ecodesign é uma abordagem global que exige uma nova maneira de conceber. Primeiramente, prevendo-se o futuro do produto para reduzir o impacto ambiental por todo o ciclo de Vida: fabricação, uso, fim de Vida (KAZAZIAN, 2005, p.36).
O termo "Desenvolvimento Sustentável" foi empregado pela primeira vez em
1987, no Relatório Brundtland, documento de caráter socioeconômico elaborado
para a ONU pela Comissão Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente,
descrito como: "O desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem
comprometer a satisfação das gerações futuras". Em 1992, a ONU realizou, no Rio
de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (CNUMAD). Conhecida como a Rio 92, referenciando a cidade
que a sediou, é também conhecida como a “Cúpula da Terra” por ter mediado
acordos entre os Chefes de Estado presentes. Foram 179 países participantes que
assinaram a Agenda 21 Global, um programa de ação que constitui a mais
abrangente tentativa já realizada de promover, em escala mundial, um novo padrão
de desenvolvimento denominado “Desenvolvimento Sustentável”. O termo “Agenda
21” foi usado no sentido de intenções, desejo de mudança para esse novo modelo
de desenvolvimento para o século XXI.
A Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a
construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que
concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.
Conforme o documento existe uma ampla diferença entre os países
industrializados e os países em desenvolvimento. Ao passo que os padrões de
consumo nos países industrializados representam uma pressão elevada sobre o
ecossistema global, simultaneamente que no mundo em desenvolvimento os
41
assentamentos humanos necessitam de mais matéria-prima, energia e
desenvolvimento econômico, simplesmente para superar seus problemas básicos,
tanto econômicos quanto sociais.
A diminuição da miséria mental dos desenvolvidos permitiria rapidamente, em nossa era científica, resolver o problema da miséria material dos subdesenvolvidos. Mas é justamente desse subdesenvolvimento mental que não conseguimos sair, é dele que não temos consciência.(MORIN, 2005, p.33)
A sustentabilidade pode ser compreendida como uma série de condições
sistêmicas segundo as quais, as atividades humanas não devem interferir nos
ciclos naturais de autorregulação dos ecossistemas, preservando os recursos
naturais e de capital pertencentes ao planeta. Vezzoli e Manzini (2008)
acrescentam ainda, sobre a sustentabilidade, que todos têm o mesmo direito ao
espaço ambiental, e isto representa a quantidade de energia, de água, de território
e a matéria-prima necessária à vida, à produção e ao consumo, sem superar os
próprios limites da sustentabilidade. As propostas sustentáveis devem estar
baseadas:
· Em soluções que utilizam recursos renováveis;
· Na redução do uso de recursos não renováveis (otimização);
· No descarte de resíduos centrado na renaturalização (ou decomposição
sem agressão à natureza) dos materiais;
· E na permanência de indivíduos e comunidades em seus limites de
espaços ambientais.
Nesse sentido, para Manzini e Vezzoli (2002, pg. 17), `(...) “o Ecodesign é um
modelo projetual ou de projeto (design) orientado por critérios ecológicos”,
entretanto considerando o termo longe de apresentar uma definição precisa para
seu significado. Ainda assim, os autores julgam necessário algumas etapas de
interferência do Ecodesign:
· O redesign ambiental do existente;
· O projeto de novos produtos ou serviços que substituam os atuais;
· O projeto de novos produtos-serviços intrinsicamente sustentáveis;
42
· A proposta de novos cenários que correspondam ao estilo de vida
sustentável.
Acrescenta-se também, que não basta apenas considerar questões
ambientais. As condições sociais e econômicas também devem orientar propostas
que utilizam o termo sustentável. As boas ações aos ecossistemas perpetuam a
vida no planeta, e consequentemente, mantém os recursos naturais necessários
para as futuras gerações. Essa deve ser uma cultura permanente sustentada e
passada de geração em geração, para que as ações empregadas desde a Rio 92
sejam realmente efetivas do ponto de vista da perpetuação da espécie e do
planeta.
O desenvolvimento industrial nos últimos dois séculos impactou o planeta de forma contundente causando danos e ganhos à humanidade. Dos danos causados precisamos considerar a degradação do ambiente natural, a perda de biodiversidade, as mudanças climáticas, o aumento do efeito estufa, a chuva ácida, a deterioração dos solos, o desperdício, o uso leviano dos recursos naturais, o crescimento excessivo do lixo e geral e, em especial, a fome e a miséria (BERLIM, 2014,P.35).
De acordo com Naime et al. (2012), na segunda metade do século XIX, a
Europa foi marcada por uma explosão de consumo. Antes disso, as lojas ofereciam
uma pequena gama de opções, e muitas vezes o comércio era realizado pela
própria fábrica, uma vez que não existia ainda o conceito de loja. A partir de 1860,
surgiram as primeiras lojas de departamento, quando o consumo passou a se
transformar em uma atividade de lazer. Assim, o consumo do supérfluo começou a
se tornar uma espécie de desejo da sociedade. Nesse cenário, além do Design
incentivar o consumo por aspectos puramente visuais, este consumo também é
estimulado pela mídia, que se intensifica e ganha escala na era pós-moderna.
“A mesma abundância que era percebida pela maioria como sinônimo de luxo
e de progresso logo passou a ser condenada por alguns indicativos de excesso e
da decadência dos padrões de bom gosto” (CARDOSO, 2008 p.77). Dessa
maneira, começaram a se organizar movimentos reformistas envolvendo
arquitetos, designers e pintores, entre outros que começaram a disseminar a ideia
de produtos com um diferencial: o Design. O conceito de Design, no entanto, não
pode ser encarado apenas pela superficialidade, a ostentação, o luxo ou
43
representante de um consumo puramente supérfluo. A importância do Design está
além da estética e da funcionalidade na produção industrial, contemplando ainda,
na modernidade, as questões ambientais.
Nesse momento, surgiu o conceito de Ecodesign, percebido de duas formas:
como Design inspirado em motivação ecológica ou como Design que se preocupa
na reinserção dos materiais a novos Ciclos de Vida de Produtos, após o
esgotamento do Ciclo de Vida de um produto individual. Em Naime et al. (2012), os
autores apresentam também um histórico bem detalhado da transformação pelo
consumo e a importância do desenvolvimento de produtos com base no Ecodesign.
O desenvolvimento de produtos, serviços e soluções de Ecodesign, em sua
concepção devem considerar todas as etapas do ciclo: desde a produção, a
distribuição e o descarte. Para Papanek (1997), o Design deve ter métodos de
construção da forma a demonstrar a elegância de uma solução através de uma
possível interação criativa de ferramentas, de materiais e de processos. Projetos de
Ecodesign devem considerar todas as seis etapas descritas a seguir, as quais são
consideradas causadoras dos impactos ambientais e requerem análise com
especial atenção desde a escolha dos materiais empregados no projeto, ou seja,
sua concepção e natureza, até o descarte final do produto.
Os designers têm a chance de criar algo novo ou de refazer algo para que fique melhor, trazendo significado e padrão a um mundo que parece arbitrário e confuso. Nós, designers, devemos ser extremamente cuidadosos com aquilo que criamos e por qual motivo criamos, estando em posição de informar e influenciar o cliente de forma ética e saudável. O design deve ser a ponte entre as necessidades humanas, a cultura e a ecologia (PAPANEK, 1995, p.29).
Um produto-serviço sustentável, em todas as esferas, deverá ser entendido e
analisado como aquele que atende às necessidades humanas, respeitando as
necessidades de outras espécies e ecossistemas, de forma a prolongar a vida na
Terra. O papel do designer é identificar de que forma pode desenvolver produtos
que sejam realmente sustentáveis. Para cada projeto de Produto-Serviço, deve
considerar materiais, Ciclo de Vida, embalagem, transporte e reaproveitamento
dentro das possibilidades de redução dos impactos ambientais bem como geração
de resíduos (figura 07) no meio ambiente. Para cada área, é possível identificar a
44
forma com o qual pode ser promovido: ou no uso de materiais, ou no
prolongamento da duração dos produtos, ou na criação de um laço afetivo com os
produtos.
Figura 07 - Fluxograma geração resíduos sólidos
Fonte: Elaborada pela autora com base em Salcedo (2014).
Alguns autores na literatura apontam formas de empregar a sustentabilidade
na área de Moda e produção têxtil, as quais são analisadas nas próximas seções.
2.1.3 Do Design Social ao Design Estratégico
Incentivar uma abordagem mais ampla para a concepção de sustentabilidade
envolve o tema Design Social, brevemente abordado anteriormente. Empregar o
Design para a sustentabilidade deve fazer parte de um quadro muito maior a
respeito de desenvolvimento sustentável. Esse assunto tem tido atenção
considerável da mídia nos últimos anos devido às crises mundiais geradas com o
45
aumento da população, que se manifestaram em problemas políticos de esfera
global, tais como as mudanças climáticas, a fome, a doença e a pobreza. Os
esforços para alcançar um mundo de prosperidade, igualdade, liberdade, dignidade
e paz vão continuar de forma incessante, principalmente após o ano de 2015,
citando a ONU (2014) sobre a agenda global de desenvolvimento pós-2015. Outros
movimentos têm sido referenciados sobre sustentabilidade, sobretudo preocupados
com a redução da pobreza, os quais possuem fundamentação nos conceitos já
conhecidos de sustentabilidade social relacionada à agenda de desenvolvimento
pós-2015.
Existe um consenso geral sobre a ideia de que inovação social refere-se às
inovações que foram feitas com a intenção explícita de encontrar soluções para os
problemas sociais atuais ou futuros desafios. Emprega-se aqui esse termo
pensando no processo de transformar o Ciclo de Vida da produção de uma
organização, de forma a gerar oportunidade de negócio para comunidades
próximas da mesma organização.
A participação do designer e sua intervenção transformadora - no que diz
respeito a repensar os processos de produção empregando os conceitos
anteriormente mencionados, amplia as questões de sustentabilidade para gerar
uma nova contribuição social. Essa é uma das formas de desenvolver o Design
Social. De certa forma, está associado a como desenvolver produtos, serviços e
soluções que permitam agregar valor social nas suas ações, considerando a
responsabilidade social em seu projeto e, principalmente, gerando uma
transformação social. Projetar produtos, serviços e soluções para que a vida futura
de gerações em países em desenvolvimento tenham condições mais humanas
para a sobrevivência. Acredita-se que a redução dos impactos sociais e ambientais
promova um ambiente menos desigual para estas gerações futuras em países
ainda não industrializados.
As profundas mudanças provocadas pela industrialização têm sido examinadas considerando-se o design como fenômeno social. E, por isso mesmo, uma expressão da cultura, que convoca no designer responsabilidade e Intervenção (HESKETT, 1998 ,p.23).
46
De acordo com Peroba (2008, p.65), “o Design Social se torna uma atividade
econômica que conduz ao crescimento e desenvolvimento do local onde o projeto é
realizado”, onde também é desenvolvido através da criação de produtos que
auxiliam a população nestes países para facilitar o seu dia-a-dia, tais como
produtos para melhorar o transporte de água potável em comunidades de extrema
pobreza, conforme Bonoto (2014). Ou ainda, através de ações com base no
desenvolvimento do Design, ilustrada na figura 08, que permitam oportunidades
para uma determinada comunidade, caracterizando uma ação social ampla para
um grupo de pessoas, tais como ações de capacitação de artesões (AGÊNCIA,
2014).
Figura 08: Esferas e conceitos que integram o Design Social
Fonte: Adaptado pela autora, 2014.
No Brasil, destacam-se diversos projetos na área do Design Social.
Principalmente, os projetos para as comunidades carentes de oportunidades
profissionais. Existem projetos para a comunidade em que os designers atuam
como mediadores e capacitores para o desenvolvimento de um produto. Uma
forma de transferência de conhecimento do pensar do designer para um grupo de
pessoas, gerando aquilo já mencionado como comunidades criativas.
O Design voltado para a sustentabilidade deve englobar as questões de
Ecodesign bem como do Design Social, o que significa uma nova e mais ampla
visão de Design. Em Birkeland (2002, p.98) são apontadas as seguintes
características para o contexto de Design Sustentável:
47
· Responsável: Redefinindo metas em torno das necessidades, com
equidade eco-social e justiça.
· Sinérgico: Criando sinergias positivas; envolvendo diferentes elementos
para criar mudanças sistêmicas.
· Contextual: Reavaliando as convenções e conceitos de Design para a
transformação social.
· Holístico: Considerando o todo e levando em consideração as partes e
suas inter-relações, tendo uma visão do Ciclo de Vida para garantir um
baixo impacto, baixo custo e obter resultados multifuncionais.
· Empoderador: Fomentando o potencial humano, a autossuficiência e a
compreensão ecológica de forma apropriada.
· Reintegrador: Integrando o mundo social e natural; recultivando um
sentimento de admiração entre os dois mundos.
· Eco-eficiente: Aumentando a economia de energia, o uso de materiais
renováveis e redução de custos.
· Criativo: Representando um novo paradigma, que transcende os limites do
pensamento tradicional do Design. Superar os limites estabelecidos.
· Visionário: Concentrando-se em visões e resultados (construir hipóteses e
cenários), conceber métodos, ferramentas e processos adequados para
desenvolvê-las.
No desenvolvimento integrado, o papel do gestor é de fundamental
importância. Esse é abordado como fonte de disseminação do conhecimento, pois
é quem comandará o processo. Sua função não se restringe em apenas dividir e
organizar as tarefas e resultados. Cabe também ao gestor conduzir a equipe em
harmonia com as atividades, bem como administrar. Esse é o papel clássico de um
gestor dentro de uma organização. Nos últimos anos, têm surgido práticas e
técnicas de Design aplicados à gestão das organizações e também como método
de soluções de problemas. Portanto, uma das formas de agregar o papel do Design
nas organizações tem sido através de áreas de especialização como o Design
Thinking, Design Estratégico, Gestão de Design e Inovação.
48
Ao abordar essas demandas e a natureza das soluções que eles exigem,
torna-se evidente que, na maioria dos casos, são necessários novos modelos de
sistemas produtos-serviços mais complexos e mais contextualizados. Para
construí-los, é de crucial importância a colaboração do público envolvido, tais como
as empresas privadas, as instituições públicas, as associações de voluntários e,
direta ou indiretamente, os próprios usuários finais e a própria comunidade.
O gerenciamento através do design em uma organização deve ocorrer em etapas. A primeira delas implica em gerenciar as estratégias de design voltadas para a organização, destacando nessa fase o momento em que as iniciativas e os potenciais de design são concebidos. O foco desse primeiro contato é a identificação e a criação das condições para que os projetos de Design possam ser propostos, encomendados e promovidos (BEST, 2006, p.89).
É nessa etapa que são aplicados os conceitos de Design Thinking como visão
estratégica para a organização, identificando as oportunidades para o projeto,
interpretando as necessidades de seus clientes e olhando como o projeto de
Design pode contribuir para o negócio da empresa.
Em Mozota (2003), a autora compara o gerenciamento através do Design e o
gerenciamento pelo modelo de Taylor, indicando que a gestão tradicional é
horizontal e flexível, a qual encoraja a iniciativa individual, a independência e a
tomada de riscos. Seguindo os conceitos aplicados por designers, visa à gestão
orientada para o indivíduo ou cliente, é baseado em projeto objetivando a qualidade
por completo. Tal mudança de gestão implica em uma mudança corporativa de
comportamento e visão. Dessa forma, o gerenciamento pelo designer, implica tanto
nos aspectos de criatividade iniciativa, atenção aos detalhes e preocupação com os
pontos fortes voltados para o cliente e na maneira como os gestores podem
implantar mudanças para sustentar inovações e melhorias nos processos de
produção.
Ao integrar o que é desejável do ponto de vista humano com o que é
tecnologicamente e economicamente viável, os designers são capazes de criar os
mais variados produtos conhecidos nos dias de hoje. Debiagi (2012, p.65) afirma
que o “Design Thinking permite que as pessoas que talvez nunca tenham pensado
como designers a aplicá-los em uma diversidade de tipos de problemas”. A
49
abordagem extrai a capacidade de resolver problemas de forma intuitiva,
reconhecendo padrões, construindo ideias com significado emocional e
expressando a funcionalidade através de outras mídias e símbolos que não apenas
as palavras. Segundo Brown (2009), o Design Thinking é profundamente humano
em si, e não apenas centrado no humano. Três aspectos importantes sobre essa
abordagem devem ser destacados: o cognitivo, o afetivo e o interpessoal. Entre os
aspectos cognitivos, priorizam-se três formas de pensar: o raciocínio indutivo, o
raciocínio abdutivo e o raciocínio dedutivo.
Destaca-se que o raciocínio abdutivo é empregado nesse método, porque é
capaz de criar hipóteses e utilizá-las para fazer inferências ao que é lógico, por
consequência, enfatizando o que é intuitivo. As escolas de negócios se baseiam
nos pensamentos: indutivo, que se fundamenta apenas em fatos observáveis, e
dedutivo, que está fundamentando na lógica e análise, normalmente com base em
provas anteriores (FRISENDAL, 2012).
No entanto, deveriam dar ênfase ao pensamento abdutivo, ou seja, imaginar o
que pode ser possível de se realizar. A organização Proctor and Gamble (P&G) foi
uma das pioneiras em empregar o Design Thinking como estratégia de negócios,
estabelecendo o seu Global Business Services (GBS), em uma visão ampla que
pode ser compreendida como uma cultura orientada a projetos criados dentro da
organização e responsável por algumas das ações da empresa, a citar o caso da
Gillete suave (MARTIN, 2009).
Nos ensinamentos de Frisendal (2012), citando por Brown (2009) em seu
livro, afirma que o Design não deve ser restrito a produtos físicos, podendo e
devendo ser aplicado a processos, serviços, interações de Tecnologia da
Informação e Comunicação (TIC) em geral e de forma cooperativa. O autor
apresenta como adicionar para a lista de abordagens do Design Thinking a análise
de informações de negócios. De acordo com sua pesquisa, os empresários têm
aceitado a ideia de Design Thinking como uma abordagem bem como uma
estratégia para o desenvolvimento das atividades em geral. As atividade s em geral
englobam não apenas o desenvolvimento de produto, como também prestação de
serviços, organização, modelos de negócio, bem como todo o processo de gestão
50
empresarial, os quais devem ser "designed" e não apenas planejado.
Para Brown (2008), o conceito de Design Thinking pode ser obtido através do
conhecimento sobre o negócio da organização os quais são extraídos de uma série
de fontes potenciais, das quais merecem destaque:
· da cabeça das pessoas: aqui se destacam os atores envolvidos no
processo da organização, os empresários, fornecedores, funcionários,
designers e até mesmo os clientes;
· dos documentos da organização: os quais se destacam os modelos e
planos de negócios, as estratégias empregadas, as diretrizes
administrativas bem como quaisquer documentos que registrem
informações da organização;
Dentre as subcategorias apresentadas por Brown (2008), a forma
considerada mais eficaz bem como a mais produtiva e criativa, é a primeira opção.
A partir da cabeça das pessoas bem como trabalhando diretamente com os
empresários na análise e na síntese de tais etapas também se criam oportunidades
para:
· Criar uma nova consciência e "momentos de descoberta".
· Adquirir conhecimento real e atualizado sobre o que está realmente
acontecendo.
· Repensar terminologia.
· Descobrir "buracos" conceituais, contradições e erros.
· Ser criativo – ter novas ideias.
· Jogar com cenários.
· Obter a aceitação da estrutura, a terminologia, as definições e as regras de
negócios.
· E, sobretudo, agregar valor à organização.
As abordagens do Design Thinking empregadas no Estudo de Caso relativo à
presente pesquisa, se baseiam em brainstorming (esboços rápidos), na narrativa
visual e no diálogo dentre os envolvidos no processo.
51
O gestor com base em Design Thinking desenvolve uma atitude que prioriza a
busca de validade e avanços no conhecimento, mesmo que essa posição coloque
o designer em desacordo com a cultura da organização. Além de dominar as
ferramentas para analisar o passado e usar essa análise para prever o futuro, o
designer desenvolve a capacidade de observação, para ver características que
outros podem perder, empregando o raciocínio baseado em hipóteses e as
confrontando com as suas direções (MARTIN, 2009). Compreende, portanto, como
uma nova abordagem de pensamento auxiliará a organização colaborativa a
construir uma vantagem competitiva através do Design Estratégico.
Para Meroni (2008), esse tema é recente e em seu texto aponta os pilares
nos quais o Design Estratégico está amparado:
· Pelos Sistemas de Produto-Serviço (PSS, em inglês Product Service
System). O enfoque no PSS com orientação para diferentes tipos de atores
sociais e de mercado aborda intenção de produzir inovação bem como
enfatiza a interpretação sistematizada do desenvolvimento sustentável, no
qual:
o o sistema de produto e serviço dá à empresa uma identidade,
distinguindo-a de seus concorrentes. É a única maneira de
realmente se diferenciar, tanto no mercado quanto na sociedade,
graças à combinação de produtos, serviços e comunicação;
o é possível dizer que a inovação social é provavelmente um dos
fatores-chave para orientar a estratégia de sistema de produto-
serviço para uma identidade de organização diferenciada;
o o valor da organização deverá crescer de acordo com o "valor" que
ela pode agregar em seu sistema de produção, produto e serviço.
Existem, pois, formas de agregar as questões sustentáveis na produção e na
organização das empresas. Conforme o estudo de caso realizado, é possível atuar
nas linhas de produção (Ciclo de Vida do Produto-Serviço), promovendo avaliações
e ações que incrementem as ações sustentáveis, desde a aquisição da matéria-
52
prima até o reuso, assim como ações na linha da gestão da organização. Essas
estão mais atreladas ao desenvolvimento social das comunidades envolvidas.
Assim sendo, o Design Estratégico atende os requisitos no Estudo de Caso para o
presente trabalho, pois une o Ciclo de Vida da produção ao envolvimento das
pessoas. Desta maneira, o pensamento e mediação do designer promove a
melhoria no âmbito das questões sociais, ambientais, no modelo de negócio bem
como da organização. Como resultado, além de aplicar o modelo de
sustentabilidade, o designer agrega valor à organização e ao modelo de negócio
adotado.
2.2 PRODUÇÃO E PROCESSOS DE DESIGN VOLTADO À SUSTENTABILIDADE
As oportunidades para a concepção e a intervenção do Design em uma
organização envolvem a aproximação das unidades de negócio da mesma,
verificando de que forma ela partilha os conhecimentos e a identificação de
potenciais áreas de conexão que possam surgir a partir da análise do designer.
Dessa forma, os produtos e serviços integrados podem ser desenvolvidos
aplicando o conhecimento, as habilidades e as competências dos gestores da
empresa, de especialistas e, até mesmo dos consumidores. Em Best (2006) são
sugeridas três ferramentas para auxiliar as equipes de projeto a compreenderem as
considerações sobre os produtos e serviços das empresas dentro de uma
organização:
· O Ciclo de Vida do Produto (CVP), o qual pode ser um diagrama das
fases de vida de um produto ou serviço, desde aquisição da matéria-
prima até o seu destino final (o consumidor). Essa ferramenta pode
demonstrar o modo com o qual as vendas ocorrem de acordo com os
novos segmentos de mercado e como irá se comportar ao longo de seu
ciclo e até mesmo a sua queda como produto consumido. Esse modelo
é útil para antecipar as reações do mercado e desenvolver
mecanismos de inovação para redesign dos produtos. Auxilia também
a determinar quando deverá ser desenvolvida e lançada uma nova
versão de produtos, visando à substituição de um produto já existente.
· A matriz Ansoff desenha produtos existentes do mesmo modo que
53
desenha novos produtos, a fim de concorrer contra os mercados
existentes e novos. Por meio desta matriz, as equipes de projeto
podem entender como uma organização pode aumentar sua receita por
meio da criação de novos mercados, produtos e serviços.
· A matriz Boston é utilizada em portfólios de produtos para traçar a
relação entre participação de mercado (em relação à concorrência) e
crescimento desse. Esta matriz permite que as equipes de projeto
compreendam os diferentes produtos ou serviços constantes no
portfólio da organização e os diferentes papéis que cada um
desempenha.
Para compreender e analisar o que ocorre dentro de uma organização, é
necessário entender todo o seu funcionamento, mapeando o processo de produção
e serviços dentro do sistema de produção. Por processo, entende-se que é o fluxo
integrado de materiais, desde o início até o final da produção. Em alguns pontos
desse fluxo, podem destacar pessoas e máquinas, dependendo da atividade que
está sendo analisada. Em outros pontos de análise, se pode indicar a existência do
material que é utilizado ou de que forma este material se encontra naquele
determinado momento. Do ponto de vista de operação, essa função de análise
recai sobre as pessoas e equipamentos que fazem parte da estrutura de produção.
Consequentemente, a estrutura da produção será uma rede de processos e
operações, a partir da qual é possível identificar os elementos básicos de análise
que constituem os processos e operações de um determinado produto ou serviço
(JUNICO, 2008).
Nesta pesquisa, se emprega como ferramenta o Ciclo de Vida do Produto
para identificar os aspectos de produção da empresa analisada. Em Bellgran e
Säfsten (2010) os autores afirmam que o sistema de produção deve compreender o
todo que está envolvido: materiais, pessoas, máquinas/equipamentos e
instalações. Para os autores, há redução de risco das pessoas no sistema, quando
a organização do trabalho e o ambiente de trabalho, que são partes importantes do
sistema, são desenvolvidas em paralelo com o sistema técnico de produção.
Observando o sistema de produção com uma visão holística, se torna mais fácil de
visualizar as várias fases do Ciclo de Vida, da mesma forma que as mesmas
54
podem afetar uns aos outros e como os recursos devem ser empregados para
eliminar/reduzir os problemas.
Dessa maneira, é possível também aplicar este conceito bem como incluir
questões de sustentabilidade ao longo do Ciclo de Vida do Produto. Para isso,
foram pesquisados alguns autores que consideram a sustentabilidade no processo
de Design de Produtos e Design de Serviços. Existem outras ferramentas que
podem ser empregadas em uma análise inicial da “organização para a identificação
das potencialidades e pontos fracos dentro do processo de produção e Design”.
(BEST, 2006, p.30).
Essa ferramenta é igualmente utilizada para a compreensão do
posicionamento da empresa no mercado assim como o estabelecimento das forças
e fraquezas do modelo de negócio praticado pela mesma. Tal ferramenta pode,
então, ser utilizada na fase de planejamento estratégico e deve ser empregada
para o desenvolvimento de um novo Ciclo de Vida de Produto-Serviço (RIBEIRO,
2011).
2.2.1 Ciclo de Vida do Produto e do Sistema Produto-Serviço
Existem diversos modelos para Ciclos de Vida de Sistemas Produto-Serviço.
A questão da sustentabilidade nos processos de produção foi norteadora para a
escolha dos modelos aqui apresentados. Em Ribeiro (2011), existe uma vasta
referência sobre esse tema de desenvolvimento de produtos e serviços dentre
outros modelos existentes. Para a realização do presente trabalho, são
considerados dois modelos que empregam a análise da sustentabilidade: o modelo
proposto por Vezzoli e Manzini (2008) e o modelo apresentado por Maxwell e Vorst
(2003).
Uma maneira de conceber o desenvolvimento de novos produtos tendo como objetivo que, durante todas as fases de projeto, sejam consideradas as possíveis implicações ambientais ligadas às fases do próprio ciclo de Vida do produto (pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte) buscando assim, minimizar todos os efeitos negativos possíveis (MANZINI; VEZZOLI, 2002, p.23).
55
Vezzoli e Manzini (2008) iniciam seu livro com um conceito para Ecodesign.
Para os autores, Ecodesign é o Design com base em critérios ecológicos.
Manifesta-se através da expressão composta de um conjunto de atividades de
concepção, em que se asseguram as questões ecológicas como abordagem para
redesenhar seus próprios produtos. Esses conceitos não devem apenas ser
aplicados aos produtos (considerando material, forma e função), mas também
devem ser ampliados para os sistemas de produção, isto é, todos os processos de
bens, serviços e comunicação que são utilizados pelas organizações.
A consciência ambiental e suas atividades têm seguido uma rotina nos
sistemas produtivos: que vão desde os tratamentos da poluição (com políticas end-
of-pipe para a neutralização dos efeitos ambientais negativos causados pelos
produtos industriais), à intervenção em processos de produção que agravam a
poluição (uso de tecnologias limpas), e à reformulação dos produtos e/ou serviços
que tornam esses processos necessários (desenvolvimento de produtos de baixo
impacto ambiental). E por fim, a consciência ecológica tem trazido a discussão e a
reorientação do comportamento social, em busca da demanda para produtos e
serviços que, em última análise, motivam a existência desses processos e produtos
(um consumo sustentável). Tais processos fazem parte de uma transformação
industrial com perspectivas sociológicas. Em Elzen et al. (2004) e em Olsthoorn e
Wieczorek (2006), são apresentados os argumentos que definem estas
transformações sociais oriundas da transição da indústria. Nesse sentido,
destacam-se as questões relacionadas ao consumo e às questões da
sustentabilidade.
O projetista não tem a legitimidade e nem os instrumentos para obrigar (através de leis) ou para convencer (através de considerações morais) qualquer um a modificar o próprio comportamento. Deduz-se, daí, que ele só pode oferecer soluções, isto é, produtos e serviços que qualquer pessoa possa reconhecer como melhores do que os oferecidos anteriormente (MANZINI e VEZZOLI, 2008, p. 71).
Para Vezzoli e Manzini (2008), esses processos de transformação podem ser
resumidos nas seguintes atividades:
· Redesenhar os sistemas existentes sob o aspecto ambiental. Para isso,
56
deve-se rever a escolha de materiais de baixo impacto e redução de
consumo de energia.
· Concepção de novos produtos e serviços, o que representa a substituição
de sistemas antigos por sistemas ambientalmente sustentáveis.
· Concepção de novos sistemas de produção-consumo, proporcionando a
sustentabilidade como prioridade.
· Criação de novos cenários para um estilo de vida sustentável, promovendo
um novo conceito social com relação aos processos de produção
associados a um estilo de vida.
O Design do Ciclo de Vida ou Life Cycle Design (LCD), proposto por Vezzoli e
Manzini (2008), tem por finalidade a redução do impacto ambiental relacionado ao
Ciclo de Vida do Produto, já que considera todas as etapas do desenvolvimento de
um produto e as suas respectivas trocas com o meio ambiente. Sendo assim, para
os autores, o desenvolvimento de um produto com características sustentáveis
deve estar associado ao LCD e o idealizador do projeto deve estar atento a todas
as etapas do Ciclo de Vida do Produto, de acordo com o esquema apresentado na
Figura 09 (VEZZOLLI e MANZINI, 2008).
Figura 09 – Esquema do Design de Ciclo de Vida de produto
Fonte: Adaptado pela autora de Vezzoli & Manzini, 2008.
57
De acordo com Vezzoli (2010), no Ciclo de Vida do Produto, os processos
relativos às fases do ciclo devem ser considerados como uma unidade. Para o
autor, são analisadas cinco fases do Ciclo de Vida: (1) Pré-produção: identificação
dos recursos para suprimento; (2) Produção: processo de montagem e
acabamento; (3) Distribuição: embalagem, transporte e armazenagem; (4) Uso do
produto: como é a relação de uso do consumidor com o produto; (5) Descarte do
produto: pode ter diferentes destinos (Figura 10).
Figura 10– Esquema do Design de Ciclo de Vida de produto com respectivas fases
Fonte: Adaptado pela autora de Vezzoli & Manzini, 2008.
Na visão do o autor, é legítimo falar em um Design do Ciclo de Vida, cujo
objetivo é reduzir a utilização de matéria e energia, conforme Figura 11, assim
como o impacto de emissões ou resíduos pelos processos de cada etapa do Ciclo
de Vida do Produto. Isso ocorre porque, segundo Vezzoli (2010), os pressupostos
econômicos e ambientais de uma abordagem de desenvolvimento do Ciclo de Vida
buscam intervir na origem de forma a prevenir as emissões perigosas e reduzir o
consumo de recursos. É mais efetivo e barato prevenir os danos ao ambiente
nesse estágio de projeto do que tentar remediá-los depois que o produto já está no
mercado.
Outra proposta pesquisada foi o método Sustainable Productand Service
Development - (SPSD), ou seja, Desenvolvimento Sustentável de Produtos e
Serviços, proposto pelas autoras Maxwell e Vorst (2003). É uma abordagem que
enfatiza o Design de Produto e a sua manufatura com base na exigência de
desenvolver produtos sustentáveis. As iniciativas, principalmente através de
58
Ecodesign, evoluíram para apoiar as empresas no desenvolvimento de produtos
menos poluentes. Os autores apresentam um método para orientar o comércio e a
indústria na busca do desenvolvimento de produtos e serviços sustentáveis. Esse
método é aplicado também para ser incorporado em estratégias já existentes nas
corporações, em sistemas de produção bem como na busca pelo desenvolvimento
de produtos "limpos". A Figura 11 demonstra esquematicamente o Ciclo de Vida
SPSD.
Figura 11 - Ciclo de Vida SPSD de produto-serviço
Fonte: Adaptado pela autora de Maxwell &Vorst, 2003
O objetivo do método é produzir produtos e/ou prestar serviços, que sejam
sustentáveis e, ao mesmo tempo, atingir a funcionalidade necessária, atendendo
aos requisitos dos clientes e que sejam rentáveis. Em outras palavras, produzir
satisfazendo os critérios tradicionais bem como os requisitos de sustentabilidade,
acima de tudo.
O Ciclo de Vida proposto pela segunda abordagem avalia cada estágio de
produção do produto, ou serviço, ou Sistema Produto-Serviço. Ele parte da
avaliação do requisito funcional do produto-serviço ou combinação de produto-
serviço, verificando a otimização da sustentabilidade e redução de impactos. Seja o
produto viável de se desenvolver ou mesmo o serviço ou produto-serviço, então
59
parte-se para o desenvolvimento e análise das etapas do ciclo de fabricação. Esse
ciclo considera os resíduos gerados em cada etapa e o que eles retornam como
matéria-prima dentro do ciclo, idealizando o que ocorre no ecossistema. Até o final
da vida no ciclo, deve-se verificar o potencial de reuso e recuperação dos resíduos
gerados em cada etapa da produção. Esse esquema fica bem demonstrado na
Figura 11, através dos pontilhados, saindo das etapas e retornando como matéria-
prima. As questões de impacto social também devem ser consideradas em cada
etapa do ciclo de Vida. Os autores recomendam um checklist para cada etapa,
considerando os aspectos ambientais, econômicos e sociais.
Alguns exemplos de questões presentes no documento, sobre impactos
ambientais para a otimização dentro das etapas do ciclo considerando a matéria-
prima: é necessário verificar a origem da matéria-prima, eliminar ou reduzir uso de
materiais de natureza não renováveis, reduzir o uso de materiais empregados,
substituir materiais agressivos e poluentes, facilitar o reuso, a recuperação e a
reciclagem. Com relação aos impactos sociais, é preciso considerar se as
matérias-primas são extraídas ou provenientes dos países em desenvolvimento e
se recebem recursos por direito de uso. Com relação aos impactos econômicos, é
importante analisar o custo efetivo do desenvolvimento do produto, se o produto é
competitivo. E para cada etapa, existem diversas questões a serem observadas no
desenvolvimento do ciclo, visando sempre a otimização dos impactos sociais,
ambientais e econômicos. Na visão de Maxwell e Vorst (2003), esse modelo pode
ser incorporado aos sistemas de produção já existentes e alinhados às estratégias
das organizações.
Os estudos de processos para o desenvolvimento de produtos já estão
bastante difundidos em diversos trabalhos publicados que abordam o tema de
produto e serviço. Em Mello (2005), são apresentados outros modelos que
consideram o desenvolvimento dos processos nos Ciclos de Vida do sistema de
produção. Da mesma forma esses modelos padronizam estratégias para redução
do impacto ambiental durante o desenvolvimento de Design de Produtos,
enfatizando que as organizações devem implantar produtos com base no
Ecodesign. Outros autores tratam do tema de Sistema Produto-Serviço como
alternativa para os processos de transformação e como estratégia para
60
reorientação das organizações (HISRSCHL et al, 2003; MONT, 2002).
Considerando que essas definições foram estabelecidas a partir do ano de
1987 e que a atividade industrial vem acontecendo de forma cada vez mais
agressiva e constante, percebe-se que pensar e agir de forma sustentável é uma
atitude recente e ainda não se estabeleceu uma ação consistente. Além disso, se
questiona-se a validade dessas definições para a sustentabilidade, uma vez que
transferem a solução do problema para as gerações futuras e não considera a
qualidade de vida atual, a qual já está comprometida pelas atitudes nocivas
(Platchek, 2003).
Diante disso, se começam a buscar alternativas que sejam coerentes com a
sustentabilidade. Por outro lado, vive-se em uma dicotomia entre ações
sustentáveis e heranças insustentáveis. De acordo com Mok, Kim e Moon (1997),
quando se começa a desmontar produtos, entra-se em conflito com o fato de
muitos deles terem sido projetados há mais de 10 anos, quando não se
considerava qualquer tipo de reuso futuro. Além da reciclagem, cabe lembrar que a
desmontagem serve também para reaproveitamento, da mesma forma que a
remanufatura.
Além de manipular produtos com projetos antigos, existem outros problemas
que dificultam a aplicação de um desenvolvimento sustentável. Para Fry (2005), o
que se emprega são tecnologias de “fim de tudo”, nas quais se procura dar um
destino aos resíduos que são considerados inevitáveis. Ou seja, os projetos são os
mesmos há anos, fazendo com que seja necessário descobrir formas de eliminar
os produtos ao invés de considerar o início do processo e modificar o projeto
desenvolvido.
Fry (2005, p.53) recomenda que se “utilize a teoria de Ecologia industrial, a
qual considera retirar o mínimo possível de recursos naturais bem como repor o
mínimo deste mesmo resíduo”. Nesta sugestão, não há a perda de material, pois
se faz a circulação dos recursos materiais e energéticos, buscando a eco-
eficiência, que é a maximização dos benefícios econômicos e ambientais enquanto
reduz os custos econômicos e ambientais simultaneamente.
61
Reduzir a carga ambiental associada a todo o ciclo de Vida de um produto. Em outras palavras, a intenção é criar uma ideia sistêmica de produto, em que os inputs de materiais e de energia bem como o impacto de todas as emissões e refugos sejam reduzidos ao mínimo possível, seja em termos quantitativos ou qualitativos, ponderando assim a nocividade de seus efeitos (MANZINI e VEZZOLI, 2005, p.100).
Os referidos autores sugerem que esse fluxo de matéria seja retirado da
busca e do uso dos produtos. Para isso é necessário que as tecnologias da
informação e comunicação tenham um papel fundamental no aprimoramento de
toda a sociedade para a inserção na tecnologia industrial. Aliando as tecnologias
existentes à sustentabilidade, alguns objetivos podem ser atingidos rapidamente.
Através do uso de logística de transporte, por exemplo, é possível reduzir o uso de
combustível utilizado na distribuição de produtos, consequentemente, emitindo
menos gases poluentes na atmosfera. Além disso, a economia de combustível se
reverte em economia financeira para o distribuidor.
Muitas ações de sustentabilidade estão estritamente ligadas à economia e a
geração de lucro, tornando mais atrativo atingir determinados objetivos. Isso se
deve a metas como, a minimização de matéria-prima utilizada e a otimização dos
processos de transportes, acarretando uma economia de materiais e energia.
Assim, o Ecodesign surge para transformar os produtos, conforme visto
anteriormente na sessão 2.1.2.1, desde a concepção em direção a
sustentabilidade. Uma das indagações que podem surgir é de que forma o Design
de um produto é capaz de caracterizá-lo como um projeto sustentável.
O Design for Environment (DFE), Design para o ambiente é o Design que
prevê a sustentabilidade – o Ecodesign – e considera os seguintes conceitos
(UFRGS, 2004):
· DFA (Design for Assembly) Design para a Montagem: utiliza uma
montagem mais fácil com menor custo de manufatura, os quais reduzem
despesas e melhoram as qualidades do produto.
· DFM (Design for Manufactury) Design para Manufatura: faz uma seleção
de materiais; possui processos e projetos modulados; utiliza componentes
padronizados, multiuso de engates rápidos e montagem direcionada para
62
minimização.
· DFS (Design for Service) Design para Serviço: prevê uma vida útil maior,
maior confiabilidade do produto, fácil manutenção e reparo; Design clássico
referente ao estilo e zelo do usuário. Oferece um serviço de manutenção
durante a vida útil do produto e seu redirecionamento quando necessário.
· DFD (Design for Disassembly) Design para Desmontagem: maximiza as
fontes de reciclagem e minimiza a potencialidade de poluição de produtos.
Tem um projeto facilitado de desmonte.
Para desenvolver projetos que contemplem esse caminho da
sustentabilidade, pode-se considerar o Ciclo de Vida de produtos, ou Design para o
Ciclo de Vida. Essa análise pode ser inserida no início do projeto, para desenvolver
produtos que se adaptem às premissas do caminho da sustentabilidade, seguindo
a ordem específica na Figura 12. O Ciclo de Vida de um produto envolve a pré-
produção, produção, distribuição uso e descarte. O descarte tem se tornado muito
precoce e, sendo assim, faz-se pensar no destino dos produtos.
Figura 12 – Caminho da Sustentabilidade
Fonte: Adaptado pela autora - CD-ROM UFRGS (2004).
63
Independente do destino que o produto terá ao fim de sua vida, é possível
ressaltar a importância da desmontagem no caso, o DFD em qualquer um deles.
No caso um produto ser reutilizado, provavelmente irá necessitar de manutenção,
reparos, ou mesmo troca de peças. Para isso, a desmontagem deve ser possível.
Dessa forma, se um produto for adaptado em outra função que não original, a
desmontagem é fundamental. Por fim, para reciclar um produto, é necessário
realizar a separação de todos os seus materiais para que não ocorra contaminação
de um pelo outro, o qual pode dificultar ou impossibilitar a reciclagem.
Sendo assim, DFD se mostra como uma ferramenta determinante no final da
vida dos produtos. A possibilidade de separação ou não das partes possibilita ou
mesmo impede o concerto, bem como a reciclagem. Facilitar a desmontagem não
significa apenas que um produto incorpore a possibilidade de ser desmontado, mas
que esta desmontagem seja eficaz. No que tange à manutenção, um exemplo
dessa eficácia seria um cenário onde as peças a serem limpas ou removidas são
de acesso fácil e rápido. Já, para reutilização de partes, é necessário que cada
uma delas possa ser separada inteira e sem sofrer avarias neste processo,
conforme afirmam Manzini e Vezzoli (2002). Mesmo posteriormente, para a
reciclagem, é fundamental que cada material seja totalmente separado sem
contaminação de outros materiais, uma vez que a contaminação inviabiliza a
reciclagem.
Quanto à reciclagem, vale a pena mencionar que existem dois tipos, uma em
anel aberto e outra em anel fechado. Na primeira, os materiais recuperados são
utilizados, sem tratamento prévio, no lugar de outros materiais, isto é, “são
utilizados na fabricação dos mesmos produtos ou componentes do qual foram
derivados”, conforme Manzini e Vezzoli (2002, p.97). No segundo caso, os
materiais são encaminhados para um sistema-produto diferente do de origem.
[...] em nível regional e planetário, as atividade s humanas não devem interferir nos ciclos naturais em que se baseia tudo o que a resiliência do planeta permite e, ao mesmo tempo, não devem empobrecer seu capital natural, que será transmitido às gerações futuras. (MANZINI; VEZZOLI, 2005, p.27)
64
Os ciclos, para serem realmente eficientes, devem ser inteiramente fechados
em si, transformando a matéria continuamente e não desperdiçando nenhum tipo
de recurso, durante as várias fases dos processos de fabricação, uso e reciclagem.
Mas isso, é importante lembrar, é absolutamente impossível de acontecer, uma vez
que toda ação gera uma reação contrária, de acordo com a lei da termodinâmica.
Este momento da reciclagem é quando acontece a transformação do material
e faz parte de um ciclo que pode se repetir diversas vezes, quando se trata de um
ciclo dito “fechado” (Figura 13). Com esse termo entende-se formas, de acordo
com as características do material e das especificações do produto que esteja
sendo produzido.
Em termos de aproveitamento material e energético, esse ciclo do tipo
fechado atende com mais eficiência aos requisitos da indústria, e dependendo do
objeto em questão e dos processos produtivos envolvidos, atende também ao
modelo de produção sustentável, que agora pode se colocar como diferencial
mercadológico na competição entre as empresas.
Figura 13 - Ciclo de anel fechado e aberto
Fonte: Adaptado pela autora de Mawwell e Vosrt (2003).
65
O tipo de ciclo conhecido como “aberto” se refere àquele que, em alguma fase
do Ciclo de Vida do Produto ou embalagem ocorre um desvio, acidental ou
intencional, que o retira deste ciclo (ver Figura 13). O objeto que poderia ser
aproveitado de várias formas através dos materiais que o constituem, ou
recuperando parte da energia que se utilizou na sua conformação, acaba
esquecido, saindo do ciclo produtivo, representando uma ruptura no processo de
aproveitamento e um desperdício de recursos. Esse tipo de ciclo aberto acontece
normalmente quando os objetos são descartados de maneira inadequada ou, como
foi exemplificado, não chegam a ser definitivamente descartados, ficando por
longos períodos guardados, sem serem, de fato, utilizados ou aproveitados de
qualquer outra maneira. Os processos pelos quais os produtos passam para
chegar à reciclagem não serão aqui abordados por não serem pertinentes ao tema
abordado na dissertação.
2.2.2 Metodologias, Métodos e Técnicas do Design para Análise e Projetação
das Sustentabilidades
A ISO TR 14062 (2004), descreve os processos, ferramentas, ações que
podem ser modificáveis, bem como as revisões que podem ser empregadas nos
sistemas de produção para a incorporação de produtos voltados para o Ecodesign.
Isso inclui mudanças nos processos de gestão existentes (por exemplo, da compra
de uma cadeia de suprimentos à gestão ambiental do processo de avaliação) ou a
criação de novos processos, como retomar o processo (se necessário), análise e
avaliação ambiental, a documentação de informação ambiental, o Ciclo de Vida, a
abordagem do envolvimento dos atores envolvidos no Sistema Produto-Serviço.
Em Brandão (2007), é feita uma ampla análise das questões de
sustentabilidade relacionadas ao meio ambiente e às diferentes formas de agresão
que têm sido proporcionadas pelo homem e pelo desenvolvimento da indústria,
principalmente sob o ponto de vista ambiental.
Esta dissertação de mestrado apresenta o couro vegetal como matéria prima
sustentável e faz uma longa referência a este tema abordando as questões do
Ecodesign e demais temas relacionados à produção e uso de materiais renováveis
66
na indústria, principalmente na Indústria da Moda, que é parte integrante do
presente trabalho.
O Ecodesign como processo, pode ser integrado através das normas ISO
14001(2004), bem como na ISO 9001(1987). Requisitos relacionados estão
listados nos Anexos IV e V da Directiva Ecodesign (anexo A). Ela deve ser
analisada em detalhe para determinar quais processos ambientais já estão
instalados, além dos processos normais de proteção ambiental industrial. Os
seguintes processos são geralmente instalados de forma incompleta nas empresas
e algumas abordagens sistemáticas estão faltando:
· Produtos químicos e materiais: compras, desenvolvimento, tratamento e
armazenagem, produção, substâncias perigosas, eliminação das
substâncias perigosas, liberação de substâncias perigosas, e
disponibilidade de dados necessários. Reutilização e revenda de materiais.
Verificar se é um software de produção disponível que lida com o fluxo de
materiais e se são dados diretamente prestados pelos fornecedores
necessários.
A Figura 14 apresenta o desenvolvimento de projetos de Design para a
incorporação das questões ambientais como condutora, conforme a ISO TR 14062
(2004).
67
Figura 14 - Esquema para a integração de aspectos ambientais no desenvolvimento de produtos.
Fonte: adaptado pela autora com base na ISO TR 14062 apud Tese do Couro Vegetal de Brandão
(2007).
· Energia: análise do consumo, a metodologia de medição e medidas por
redução.
· Leve de volta, reciclagem e recuperação: coleção organizada (diferença
entre consumo e bens de capital), recicladores avaliados e selecionados,
clientes informados. Reutilização: componentes para reutilização
analisados. Verificação se há reutilização (também como novo) na própria
produção, renovação de produtos inteiros, revenda de componentes e
produtos, e aplicação de componentes reutilizáveis como peças de
reposição.
· Tendências: tendências Legais, novos padrões, a concorrência, a
68
comparação com a própria estratégia.
· Riscos: avaliação de custo, cronograma tempo potencial, medida para o
desenvolvimento e produção.
· Inovação: busca sistemática de alternativas com elevado potencial de
redução de materiais e processos, avaliação, e introdução do processo de
inovação.
· Avaliação: de tecnologias de produção: Avaliação da sustentabilidade.
2.3 DESIGN E A SUSTENTABILIDADE NA MODA
Nos ensinamentos de Berlim (2012, p 13), “o consumo exagerado de roupas e
acessórios, bem como a lógica fastfashion fazem com que a data de validade
desses produtos seja curta e nossas relações com eles superficiais”. Observa-se
um movimento em busca de melhorias no que tange a questões sociais atreladas a
essa indústria, bem como questões voltadas ao meio ambiente.
Esse é o caso da marca Dudalina, que vem multiplicando ações sustentáveis
da fabricação ao varejo, incentivando o reuso de materiais descartados, até a
inovação social, quando faz a doação de resíduos têxteis à comunidade, ao mesmo
tempo que qualificando mão de obra e evitando os impactos que ocorrem quando
do descarte inapropriado. Identificar as possíveis ações sustentáveis no campo da
moda possibilita a reflexão a respeito da formação de profissionais que atuarão
neste cenário.
Ainda sobre esse assunto, Salcedo (2012) apresenta estudos e orientações
para os designers, em relação às questões sociais e ambientais que devem ser
consideradas para o desenvolvimento de produtos da área de Moda, desde o Ciclo
de Vida dos processos até o descarte ou reuso dos produtos. A importância de uso
e escolha de materiais e fibras que agridam menos o meio ambiente, o
desenvolvimento de peças reutilizáveis, as formas de tornar o processo da moda
menos acelerado, as agressões geradas pelos Ciclos de Vida de produção têxtil, os
impactos sobre a água e solo são abordados na obra. A Indústria da Moda e
Acessórios tem o agravante de ser atrelada ao consumo exagerado de produtos. A
cada ano lança no mercado pelo menos duas coleções (inverno e verão) para cada
69
linha do vestuário.
O processamento têxtil tem grande impacto sobre a sustentabilidade. Sua
área técnica tem efeito sobre a água, a qualidade do ar, a toxicidade do solo e a
saúde das pessoas e dos ecossistemas. Fletcher e Grose (2011) afirmam que é
necessário um envolvimento maior dos designers nos processos de produção têxtil,
de forma a reduzir o impacto e os danos ambientais. A exemplo do que acontece
hoje, as questões ambientais são atacadas pela legislação e por ações
governamentais apresentando um modelo restrito de sustentabilidade baseado em
ações punitivas. O designer, hoje, tem uma proximidade muito periférica com
relação a essa questão porque se envolve muito mais no uso dos tecidos e fibras
do que no processo industrial, deixando as questões de produção para os
engenheiros têxteis.
As empresas que realmente representam um reposicionamento no mercado, em termos de tratamento dos funcionários, de relação com meio ambiente ou de ações de transformação social na comunidade não são muitas, e as que existem no Brasil ainda não desfrutam de tempo o suficiente para serem percebidas na consistência de suas relações ao longo do tempo e no reflexo do seu conjunto de crenças e valores (BERLIM, 2014,p.41).
As seguintes fases devem ser consideradas nos Ciclos de Vida de processos
de produção da área de Moda:
· A escolha de materiais: o material empregado em confecções de vestuário
e acessórios está atrelado a todo o tipo de impacto sobre a
sustentabilidade: mudanças climáticas, efeitos adversos sobre a água e
solo, poluição química; perda da biodiversidade, uso inadequado de
recursos não renováveis, efeitos negativos sobre a saúde humana, efeitos
sociais relacionados às comunidades produtoras.
Em Fletcher e Grose (2011), a maioria das inovações em sustentabilidade
podem ser agrupadas de uma forma geral, em quatro áreas interligadas:
o Interesse crescente em materiais de fontes renováveis, a citar
como exemplo, o uso de fibras têxteis de rápida renovação;
70
o Materiais com nível maior de redução de insumos de produção:
água, energia e produtos químicos, resultando em fibras sintéticas
de baixo consumo de energia ou cultivo de fibras orgânicas;
o Melhores condições de trabalho na produção de fibras para
agricultores e produtores;
o Redução de desperdício na produção de materiais, gerando o
interesse em fibras biodegradáveis e recicláveis provenientes dos
fluxos de resíduos da indústria e do consumidor.
· Os processos de produção dos materiais: na área têxtil são empregados
muitos produtos químicos, uma vez que são realizados processos de
lavagem dos tecidos, empregando inúmeros produtos químicos em
tingimentos ou em branqueamentos. Todos esses processos agridem o
ecossistema e necessitam de controle ambiental. Geram resíduos líquidos
e sólidos, necessitam do controle de descarte destes resíduos, podendo
danificar a água e aumentar a toxicidade dos solos. Destacam-se,
também, os processos de produção dos produtos que também geram
resíduos - gastam recursos não renováveis (como é o caso de lavagem
de peças), geram resíduos sólidos (provenientes da etapa de corte e
costura) e líquidos (provenientes de lavagens e tingimentos), sem
considerar os processos químicos associados aos aviamentos, que
muitas vezes associados aos metais, é um dos processos mais poluentes
da indústria têxtil. Exemplo disso é a galvanoplastia, processo que pode
ser divido em douração, cromagem, prateação ou zincagem. Consiste em
mergulhar as peças de metal a serem galvanizadas em tanques com
soluções de sais metálicos, através da corrente elétrica os íons metálicos
se depositam nas peças garantindo a sua não oxidação metálica. Após
cada etapa de processamento, é feita uma lavagem que remove o
excesso de produtos químicos e produz uma quantidade enorme de água
contaminada por ácidos, bases, cianeto, metais, agentes branqueadores,
solventes, óleo e sujeira. Essa água pode destruir a ação biológica em
estações de tratamento de esgoto e é tóxica para as espécies aquáticas.
Esse tipo de resíduo exige tratamento antes de ser descartado em aterro
sanitário, conforme resolução ambiental do Conama (1997) sobre a
71
gestão de resíduos perigosos provenientes da indústria em geral.
Exemplos de materiais modernos preocupados com a sustentabilidade são os
dois produtos da Tavex Corporation, lançados no Bureau Tavex Inverno 2012, em
São Paulo, alinhados à sustentabilidade ambiental. O Wood Denim é produzido
com algodão orgânico, cultivado sem componentes químicos e com fibras
recicladas do processo de fabricação. Certificado pelo Instituto Biodinâmico
Brasileiro e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o
algodão usado no produto é colorido naturalmente, o que deixa o jeans final com
um visual adequado às tendências da moda e com redução de produtos agressivos
ao meio ambiente. O Wood recebe, ainda, acabamento natural feito com manteiga
de cupuaçu, em substituição aos amaciantes sintéticos, conhecido no mercado
como Alsoft®Amazontex. A Tavex (2014) tem três objetivos com essas iniciativas,
sobretudo a respeito do Amazontex:
· Preservação da biodiversidade da Floresta Amazônica, evitando o
desmatamento e a exploração descontrolada de seus recursos.
· Desenvolvimento das comunidades locais através da geração de novas
alternativas de renda sustentável.
· Gerenciamento dos recursos naturais de uma forma economicamente
sustentável, aliando desenvolvimento, geração de renda e preservação.
Outro exemplo é o Jeather Denim®, que chegou ao mercado com a proposta
de ser uma substituição do couro natural, aliando a evolução da tecnologia das
resinas ao conforto do Ultra Stretch Denim®. O acabamento inovador proporciona
brilho e deixa o tecido maleável, como pode ser empregado no desenvolvimento de
roupas e acessórios em substituição ao couro (TAVEX, 2014). É possível ainda
acrescentar a fibra de garrafas de Politereftalato de Etileno reciclado (PET). Com
aplicações em diversos tipos de produtos, retira do meio ambiente as garrafas na
produção da fibra, que é aplicada à área têxtil (ECOFABRIL, 2014).
Outros pontos importantes são:
· A distribuição: redução das emissões de carbono na logística de
72
distribuição de matérias-primas, indumentárias, e produto final.
· Os cuidados com o consumidor: informações sobre os cuidados com as
peças nas etiquetas, processos de lavagem e secagem mais econômicos
sem desperdiçar energia, conforme a tecnologia de material empregada, o
qual evita o uso de ferro de passar nas roupas. Criar consciência ecológica
alertando para o uso de fibras naturais, sem uso de detergentes ou
redução de produtos químicos no Ciclo de Vida do Produto.
· Descarte: muitas vezes o destino final de roupas e acessórios é o cesto do
lixo e o aterro sanitário. O papel do designer é fundamental como
transformador nessa etapa. Pensar em um produto que, ao final, ele seja
reaproveitado, reciclado, reutilizado, restaurado ou que se torne matéria
prima para um novo produto. Gerando assim, um Ciclo de Vida fechado em
que poucos resíduos devem ser descartados na natureza. Destaca-se aqui,
o uso de resíduos da indústria como matéria prima, como é o exemplo da
empresa selecionada para o Estudo de Caso do presente trabalho - uma
empresa de Acessórios de Moda em couro que tem como matéria prima
sobras da indústria calçadista. Ou seja, é possível também na indústria
têxtil.
Resíduos têxteis podem ser transformados em peças de roupas, como o
trabalho desenvolvido pela designer Karina Michel, no qual as peças são
costuradas individualmente, demonstrando a capacidade do designer em inovar
nas questões relacionadas à sustentabilidade. O desafio imposto para a mesma,
quando chegou na Índia, era de reduzir o desperdício da indústria Pratibha Syntex,
uma indústria indiana de roupas de tricô, em que os resíduos desperdiçados
atingiam em torno de 30% incluindo rejeitos e restos de tecido. A designer atribui o
nome de Zero Waste Design (produção com desperdício zero) a esse trabalho
(FLETCHER e GROSE, 2011). A Figura 15 ilustra o trabalho realizado na Índia com
o tecido citado no texto.
73
Figura 15 - Foto disponível no blog da designer Karina Michel ilustra seu trabalho com estudantes
de design na indústria Pratibha Syntex, na Índia e uma amostra do produto mencionado no texto.
Fonte: Fletcher e Grose, 2011 e Michel, 2014.
2.3.1 Indústria da Moda e Acessórios de Couro
A indústria têxtil é movida, em especial, pela vendas das roupas. De acordo
com Rodrigues et. al (2006), no ano de 2000 os consumidores mundiais gastaram
US$ 1 trilhão na compra de roupas e artefatos. A mão de obra envolveu cerca de
26,5 milhões de pessoas, além disso de acordo com a Associação Brasileira de
Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), o Brasil tem o sétimo maior parque
industrial têxtil e de confecção exportador de jeans e o terceiro de malha de
algodão e é o setor que compreende mais de 30 mil empresas e gera 1,65 milhões
de empregos.
Nesse novo cenário de consumo na Moda, observa-se que a Moda possui
uma dinâmica temporal na sociedade, porém existem outros fatores que
contribuem para sua expansão e este rápido e acelerado consumo.
Partindo da premissa de que uma das facetas de maior poder da moda é aquela que a reconhece como a mola propulsora do consumo, pode-se afirmar que a relação moda/responsabilidade sócio-ambiental é dicotômica e que todas as ações empreendidas no sentido de unir a moda com o conceito de sustentabilidade, como uso de materiais menos impactantes, parcerias com cooperativas, etc., seriam ilegítimas uma vez que visariam
74
sanar problemas que são parte das contradições inerentes à própria sociedade de consumo.( BERLIM,2014,p.32)
Logo, no contexto da Indústria da Moda especificamente, com referência às
redes fastfashion, estas resultam na produção de roupas em grandes escala
voltadas para o consumo frenético e mediante a tendência de moda sazonal e
efêmera. De acordo com Lipovetsky (1989), a sedução opera subordinando a
razão. Uma empresa que não cria regularmente novos modelos perde em força de
penetração no mercado e enfraquece, em uma sociedade em que a opinião
espontânea dos consumidores se traduz na superioridade do novo sobre o antigo.
Em contrapartida, segundo Fletcher e Grose (2011), o movimento
denominado slowfashion, consiste em uma abordagem voltada para o processo
criativo e produtivo da moda de maneira mais lenta, pessoal, exclusiva e menos
descartável. Com o mesmo conceito de antítese do slowfood ao fastfood, iniciado
na Itália em 1986, este sistema retoma prazeres de consumir algo tradicionalmente
local, com insumos da região e valorização do tempo de apreciação da experiência.
“Muda as relações de poder entre criadores de moda e consumidores e forja novas
relações e confiança, só possíveis em escalas menores” (FLETCHER e GROSE
(2011, p.128).
A Figura 16 mostra as abordagens conceituais que envolvem as noções
rápido e lento.
Figura 16 - Resumo de diferentes abordagens às noções de rápido e lento.
Fonte: Fletcher e Grose (2011).
75
Segundo Pereira e Nogueira (2013), todas as características alusivas ao
slowfashion são realizadas ao desenvolver uma roupa sob medida em um ateliê.
Partindo inicialmente de que nenhuma peça será confeccionada sem ter a certeza
do seu uso, como ocorre no fastfashion, da escolha dos materiais e valorização da
mão de obra local, a possibilidade de usar por diversas estações ou passar através
de gerações (como vestidos de tradições familiares) ou ainda de modificar a peça.
O projeto em questão compreende a maneira com que o trabalho de ateliê é
direcionado e enquadra-se no conceito de slowfashion, no qual o cliente concentra
boa parte da importância do produto encomendado à experiência em criá-lo e
produzi-lo de maneira particular e exclusiva.
Quando se lida com couro e Acessórios de Moda, o cenário ambiental fica
ainda mais crítico. Desde a pré-história, os animais têm sido usados como alimento
e suas peles transformadas em roupas rústicas, acessórios para proteger os pés,
portas para cavernas, utensílios domésticos e até velas de embarcações. Na visão
de Brito (2013), nos dias de hoje, cerca de 80% do couro usado no mundo é
empregado na fabricação de calçados. O remanescente é destinado a outros
setores, como o automotivo e a produção de artigos e acessórios de moda, tais
como bolsas, roupas, cintos e carteiras (Liger, 2012 apud BRITO, 2013). Nas
últimas décadas, houve um aumento mundial na produção de couros, tornando-se
o Brasil um dos líderes mundiais na exportação de couro.
Atualmente, estima-se um processamento de cerca de 42 milhões do
substrato. De acordo com Câmara e (Gonçalves F°, 2007 apud BRITO, 2013), a
Indústria de Couro no País é formada por cerca de quatrocentos e cinquenta
curtumes. Grande parte desses curtumes está localizada na região sul e sudeste
do País. Os principais fornecedores de pele para a transformação de couro são os
estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Piauí e Santa Catarina. O processo de
curtimento consiste basicamente, em tornar a pele do animal, que é uma matéria-
prima em decomposição em couro, ou seja, em um substrato imputrescível. Para
isso, o curtume faz uso de operações mecânicas e de tratamentos químicos.
Atualmente, são dois os processos de curtimento.
76
· Curtimento ao cromo: cerca de 90% das peles do mundo são curtidas com
o cromo. Suas vantagens são: a rapidez do processo de curtimento e a boa
resistência e maleabilidade do couro. Porém, o cromo é um agente
altamente poluente. O couro curtido ao cromo, quando conservado em
determinadas condições, é imputrescível e pode ser guardado por meses.
O produto desse tipo de curtimento é denominado wet-blue e pode ser
comercializado quando se fizer necessário, afinal, seu processo de
decomposição está estabilizado (LIGER, 2012).
· Curtimento vegetal à base de taninos naturais: o tanino é um elemento
muito comum na natureza, podendo ser encontrado em diversas partes de
alguns tipos de vegetais, como na casca do carvalho e da mimosa, no
tronco castanho e do quebracho, nas folhas sumagre e do lentisco, nos
frutos do valouce e do gomakie, e nas raízes do urse, entre outros (COUTO
FILHO, 1999). O couro resultante desse tipo de curtimento é rígido e
menos resistente do que aquele curtido ao cromo e também despende de
maior tempo de processamento. Por esses motivos, ele não atende às
exigências do mercado da Moda. Estima-se que apenas 10% dos curtumes
utilizem o curtimento vegetal. A grande vantagem do curtimento vegetal é
que, por tratar-se de um material orgânico natural, ele torna-se de fácil
manejo no que se refere à poluição ambiental. Essa tecnologia, que
dispensa a utilização de cromo, pode ser empregada para peles de
diferentes animais, tais como, peles e pés de frango, avestruz, rã, peixe,
carneiro, entre outras, sendo que cada uma delas possui características
peculiares e a qualidade do produto será diferenciada conforme a origem
animal (MALUF; HILBIG, 2010).
2.3.2 Tipos de Couro
A Figura 22, ao final desta sessão, apresenta um esquema dos tipos de couro
animal e vegetal que podem ser empregados no desenvolvimento de sapatos e
acessórios de moda. O objetivo é investigar as possibilidades de uso deste material
e as agressões que o processo de fabricação de cada um deles causa ao meio
ambiente. A Figura 17 demonstra o Ciclo de Vida do couro bovino.
77
Figura 17 - Ciclo de Vida do couro bovino
Fonte: adaptado pela autora do ciclo Vida bovino, 2014.
O couro legítimo ou tradicional, como pode ser chamado, sua matéria prima é
o couro de origem animal, que é submetido por processos artesanais ou industriais
(curtido com sais de cromo) para manter a mesma resistência original porém, com
design e acabamento de fábrica. A indústria de calçados de couro tem como
principal resíduo a apara de couro, que restam dos processos de produção. Esses
resíduos representam uma ameaça para o meio ambiente e para a saúde humana.
Quando se trata de curtimento com compostos de cromo para evitar o
apodrecimento da pele bovina ou de qualquer animal, usa-se o cromo trivalente ou
hexavalente. Esses resíduos são classificados como os mais perigosos. Apesar
disso, o uso de couro oriundo deste processo ainda é o mais utilizado na indústria
brasileira. O processo que foi descrito na seção anterior é extremamente agressivo
ao meio ambiente e a quantidade de resíduos gerados pelos curtumes tem de ser
acompanhados por órgãos de fiscalização, da mesma forma que os resíduos da
Indústria Calçadista. Uma alternativa é o curtimento com tanino também
mencionado na seção anterior. A Figura 18 trata das características desse
curtimento.
78
Figura 18: Características do curtimento com sais de cromo e tanino vegetal
Fonte: Adaptado pela autora baseado em MOREIRA; TEIXEIRA (2003)
Conforme o Manual de Processamento do Couro (MOREIRA; TEIXEIRA,
2003), as informações da Figura 18 servem para compreender o impacto causado
por cada uma das formas de curtume, as características e processos químicos
envolvidos, bem como o tipo de produto final a ser gerado.
Na prática, o tipo de couro desejado e que vai determinar os objetivos a serem alcançados e em que grau. Por isso, na maioria das vezes, para a consecução dos objetivos, são necessários vários compostos curtentes, operações e processos. Essas combinações ocorrem não apenas no processo de curtimento, mas nas etapas que precedem e as subsequentes, isto é, desde a retirada da pele do animal até o acabamento do couro (HOINACKI; MOREIRA; KIEFER, 1994, p. 324).
O processo de transformação de peles em couros é normalmente dividido em
três etapas principais, conhecidas por: ribeira, curtimento e acabamento. O
79
acabamento, por sua vez, é usualmente dividido em acabamento molhado, pré-
acabamento e acabamento final. A Figura 19 apresenta o demonstrativo de toda
operação, totalizando 14 processos, os quais são citados abaixo:
· Abate e esfola: realizado no matadouro ou frigorifico, onde é retirada a pele
do animal e, após um período de até 72 horas, deve receber a aplicação de
agentes bactericidas, para preservação da mesma (MOREIRA, 2003).
· Pré-molho: peles separadas por peso e coladas em máquina chamada
fulão (PACHECO, 2005).
· Remolho: com finalidade hidratar e/ou limpar as peles no que se refere à
sangue ou gordura, gerando um resíduo líquido composto por bactericidas,
sais, tenso ativos e enzimas (FIGUEIREDO, 2000).
· Pré-descarne: objetivo remover gorduras não caleadas (cebo), que por
sinal é utilizado pela indústria cosmética. Gerando nessa etapa um resíduo
que é constituído de matéria orgânica, denominada carnaga e cebo
(HOINACKI, 1994).
· Depilação: finalidade de remover o pelo, sendo esse processo um dos
principais responsáveis pela carga poluidora dos efluentes. Também são
gerados resíduos sólidos, causados pela destruição de pelos e gorduras
retirados da pele (AMARAL, 2003).
· Descarne: remover qualquer tipo de material aderido à pele, como gordura
e carnais, facilitando a aplicação de produtos químicos à pele. Gerando
assim, a carnaga, que se compõe em mais ou menos 50% do colágeno
(HOINACKI, 1994).
· Divisão: operação de separação em 2 (duas) camadas da pele. Parte de
cima chamada de flor e parte inferior de raspa. O resíduo gerado desse
processo é denominado em aparas caleadas (gelatina), que tem por
destino principal a utilização nas indústrias alimentícias e na fabricação de
produtos farmacêuticos e cosméticos (MOREIRA, 2003).
· Desencalagem: tem por objetivo a remoção da cal, e outros produtos
químicos alcalinos empregados a pele em etapas anteriores. O principal
resíduo gerado nesta etapa consiste na liberação de gases sulfídricos na
atmosfera, constituído pela ação da amônia e do bissulfito de sódio
empregados neste processo (HOINACKI, 1994).
80
· Curtimento: consiste basicamente em transformar as peles em couro,
proporcionando assim maior resistência ao calor e bactérias. Atualmente
são utilizados dois processos de curtimento de peles, curtimento mineral e
curtimento vegetal.
· Classificação: de acordo com o padrão e exigências da empresa e
mercado consumidor, o couro é classificado para ter baixo índice de
anormalidades como: manchas, riscos, carrapatos, bernes e furos
(MOREIRA, 2003).
· Rebaixamento: na etapa de curtimento os couros apresentam uma
espessura relativamente alta entre 0.10mm e 0.20mm, sendo feito um
processo de rebaixamento, ou seja, diminuição desta espessura. Os
resíduos gerados nesta etapa são conhecidos como aparas curtidas e
raspas azuis (pó de rebaixadeira). Atualmente estes resíduos são
destinados a aterros sanitários, devido ao grande risco ambiental que estes
apresentam se dispersando ao solo (PACHECO, 2005).
· Recurtimento: etapa em que se promove ao couro curtido a aplicação de
outros produtos químicos. No decorrer desta etapa, é gerado apenas
resíduo líquido, devido ao grande consumo de água e produtos químicos
empregados nestes processos (FIGUEIREDO, 2000).
· Pré-acabamento: podemos citar as etapas de estiragem, secagem,
condicionamento, secagem final estirada, lixamento e desempoar, que
preparam o couro para a etapa de acabamento. Resíduos gerados: líquidos
e sólidos. Os líquidos são provenientes de águas usadas no processo, já
os sólidos são originários dos recortes de aparas semiacabadas e do pó do
lixamento (HAINACKI, 1994).
· Acabamento: O acabamento confere ao couro aspectos físicos definitivos,
já que esta etapa é o último processo de industrialização dado ao couro,
atribuindo a este características como, maciez, estampa ou não, textura e
cor superficial que determinam sua aparência final. São gerados como
resíduos no final desse processo alguns resíduos líquidos, formados da
sobra de produtos químicos e solventes, gasosos originados da mistura de
solventes com outros produtos químicos e sólidos, provenientes de aparas
acabadas (MOREIRA, 2003).
81
Figura 19 - Fluxograma esquemático da fabricação de couros - operações de ribeira, curtimento e
acabamento molhado.
Fonte: Elaborado pela autora, 2014.
Para Moreira (2003), os curtumes são normalmente classificados em função
da realização parcial ou total destas etapas de processo. Na Figura 20 estão
demonstradas as operações, processos dos curtumes considerando os seguintes
tipos de curtumes:
· Curtume integrado: capaz de realizar todas as operações descritas nas
figuras anteriores (Figuras 20 e 21), desde o couro cru (pele fresca ou
salgada) até o couro totalmente acabado.
· Curtume de wet-blue: processa desde o couro cru até o curtimento ao
cromo ou descanso / enxugamento após o curtimento wet-blue, devido ao
aspecto úmido e azulado do couro após o curtimento ao cromo.
· Curtume de semiacabado: utiliza o couro wet-blue como matéria-prima e o
transforma em couro semiacabado, também chamado de crust. Nas
82
Figuras 19 e 20, sua operação compreenderia as etapas desde o
enxugamento ou rebaixamento até o engraxe ou cavaletes ou estiramento.
· Curtume de acabamento: transforma o couro crust em couro acabado. Na
Figura 20, corresponde as operações desde cavaletes ou estiramento ou
secagem até o final (estoque/expedição de couros acabados). Podem ser
incluídos nesta categoria os curtumes que processam o wet-blue até o seu
acabamento final.
Figura 20 - Fluxograma esquemático da fabricação de couros - operações de acabamento.
Fonte: Elaborado pela autora, 2014.
Outro couro animal, por exemplo, o couro do pescado e de outros animais
deve ser analisado conforme o tipo de processamento empregado na sua
produção. Com relação ao pescado, existe o apelo por dar um destino aos resíduos
gerados pela indústria da pesca. Em muitos lugares, esses resíduos eram
enterrados, gerando um problema ambiental, pois o material orgânico depositado
no solo causa odor e envenenamento ao mesmo. Muitos pescadores jogam o
83
material de volta ao mar ou rio e, da mesma forma, gera mau cheiro e problemas
ambientais oriundos do material orgânico depositado. A Figura 21 mostra os couros
de Tilápia e também um artefato produzido com ele.
Figura 21 - Couro da Tilápia, curtimento 100% vegetal e exemplo de produtos com base no couro de
Tilápia
Fonte: (AGUAPÉ, 2014)
No entanto, existem empresas e cooperativas engajadas em desenvolver
matéria-prima do couro do peixe com menos agressão ao meio ambiente. É o caso
da empresa Aguapé, que produz couro de Tilápia e de Rãs com curtimento à base
vegetal, não adicionando cromo ao processo de curtimento, conforme ilustrado na
Figura 20. O único agente curtente é o tanino, extraído da casca de algumas
espécies de árvores, como da Acácia. A empresa está tentando inovar no uso de
corantes para o tingimento das peles, pesquisando tipos de corantes naturais
extraídos de folhas, cascas e raízes de plantas para aprimorar o processo do couro
tingido (AGUAPE, 2014).
Seguindo essa lógica, na Ilha da Pintada, que faz parte do Bairro Arquipélago,
84
em Porto Alegre, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) de 2010, esse local possui aproximadamente cinco (5) mil moradores.
Grande parte deles sobrevive da pesca artesanal no Delta do Jacuí e da
reciclagem e triagem de resíduos sólidos da escamas de peixes. “Trata-se de uma
região com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na cidade, de acordo
com dados do OBSERVAPOA, da Prefeitura Municipal de Porto Alegre”
(QUARESMA, 2013). As artesãs dessa ilha possuem parcerias com diferentes
organizações públicas e privadas, além disso tem finalidade de aperfeiçoar o
sistema de produção do grupo. Para isso, há um calendário de capacitações com
diferentes técnicas de processamento de Acessórios de Moda, em especial joias de
prata, afora o incentivo a organização das mulheres na forma de uma cooperativa.
O Grupo Art’ Escama é composto por mulheres que pretendem resgatar a
cultura açoriana na região. Procuram executar as mesmas práticas e processos
utilizados tradicionalmente em Açores para transformar escamas de peixes em
artefatos. Os produtos criados são vendidos em feiras de artesanatos, em uma loja
própria na Colônia de Pescadores da Ilha da Pintada e no CTG que abriga algumas
de suas oficinas.
Neste contexto, parte das esposas dos pescadores decidiu aproveitar a sobra das escamas de peixe que eram inutilizadas pelos seus maridos para confeccionarem acessórios, tais como brincos e colares, visando a venda e a geração de renda para suas residências, haja vista a sazonalidade da pesca e a dificuldade cada vez maior em encontrar peixes no Delta do Jacuí (QUARESMA, 2013,p.6).
Segundo Quaresma (2013), o culto pelas flores naturais do Arquipélago dos
Açores permite que elas sejam expressas de diferentes formas, utilizando materiais
simples como o miolo das figueiras e as escamas de peixes, tudo isso feito
artesanalmente pelas esposas dos pescadores da região da Ilha da Pintada.
Além desse, existem outros tipos de couro que podem ser aplicados em
diversos segmentos, como exemplo, o couro vegetal, que é um tecido formado a
partir de duas fontes renováveis: o látex extraído das seringueiras (hevea
brasiliensis) e o algodão. Chama-se “couro vegetal” porque tem semelhança visual
com o couro animal. A produção desse tipo de material concentra-se na região
85
Norte e existem diversos projetos que atuam com as comunidades locais. As
pessoas envolvidas na produção de couro vegetal recebem treinamento em
técnicas de produção, capacitação gerencial, controle de qualidade e manejo
florestal de produção (BRANDAO, 2007).
Ainda há o couro sintético produzido em fábricas com componentes químicos
(polímeros, derivados de petróleo ou PVC reciclado), originando um material que
aparenta o couro legítimo, porém com uma menor resistência. Esse é um produto
derivado do petróleo e, portanto, agride ao meio ambiente e utiliza recursos não
renováveis, além de ter que analisar o seu processo de fabricação para identificar
as questões de resíduos e outras questões relacionadas à sustentabilidade. Na
Figura 22 são apresentados os tipos de couro que podem ser empregados em
Acessórios de Moda.
Figura 22 - Tipos de couro que podem ser empregados em acessórios de moda.
Fonte: Elaborado pela autora, 2014.
2.3.3 Particularidades do Ciclo de Vida do Produto da Moda e Acessórios de
Couro
No caso de acessórios, esse ciclo é um pouco distinto, porque não existe o
processo de lavagem. Algumas esferas essenciais para sua composição compõem
esse ciclo. A primeira etapa consiste na seleção da matéria-prima, na busca de
86
diferentes formas de extração dos materiais, sejam eles de origem vegetal e/ou
animal. Para o couro, há um tratamento por cromo ou tanino, visando a sua
produção em série. Outra etapa do processo é o Design como forma projetual de
abordagem, responsável por pensar da composição do produto até o reuso do
acessório criando o seu diferencial. Em seguida está a esfera da confecção dos
acessórios, logística, distribuição, a usabilidade dos mesmos, levando em
consideração sua Vida útil e reuso. Aqui, novamente o Design marca presença.
É possível, portanto, contar toda a vida de um produto como um conjunto de
atividades e processos, cada um deles absorvendo certa quantidade de matéria e
de energia, operando uma série de transformações e liberando emissões de
natureza diversa (MANZINI & VEZZOLI, 2005, p.91).
Figura 23- Visão sistêmica do ciclo de Vida com esferas ambientais, sociais e econômicas
Fonte: Elaborado pela autora, 2014.
Considerando o Ciclo de Vida de Produto juntamente com esfera ambiental,
social e econômica e suas fases de ciclo fechado (Figura 23), um passo na Moda
para seguir no caminho da sustentabilidade é aquele em que cada indivíduo e,
87
portanto, cada consumidor em potencial - “agindo com base em seus próprios
valores, em seus próprios critérios de qualidade e em sua própria expectativa de
Vida - fará escolhas que também sejam as mais compatíveis com as necessidades
ambientais” (MANZINI e VEZZOLI, 2008, p.65).
Por suas características, por exemplo a sazonalidade das estações, os
produtos de Moda parecem ter um Ciclo de Vida mais curto do que outros
produtos. A utilidade dos produtos de moda tem a duração enquanto estes
estiverem “na moda”, ou seja, de acordo com o padrão vigente. Assim, para uma
análise menos superficial do Ciclo de Vida de um produto da Moda, é preciso ir
além do entendimento de que o produto começa e termina apenas ao “entrar ou
sair da moda”. Dado isso, o entendimento de Ciclo de Vida com o qual que este
trabalho dialoga é ampliado, considerando em princípio a própria extração do
material da matéria-prima, com referencia ao Ciclo de Vida dos produtos de Moda,
segue o esquema apresentado na Figura 24.
Figura 24 – Adaptação do Ciclo de Vida de Acessórios de Moda.
Fonte: Elaborado pela autora, 2014.
88
3 ESTUDO DE CASO
De maneira geral, os estudos de caso não se orientam em busca de
generalizações para os seus resultados, pelo contrário têm como objetivo
compreender e interpretar mais profundamente os fenômenos específicos com os
quais a pesquisa se preocupa, sendo mais recomendados quando há o interesse
em responder perguntas do tipo “como?” e “por quê?” (YIN, 2001). De acordo com
Yin, o Estudo de Caso é uma investigação empírica de um fenômeno
contemporâneo dentro de um contexto da vida real, sendo que os limites entre o
fenômeno e o contexto não estão claramente definidos (YIN, 2001). A grande
diferença do Estudo de Caso em relação a outros métodos é a sua “capacidade de
lidar com uma ampla variedade de evidências - documentos, artefatos, entrevistas
e observações” (Yin, 2001, p.27).
O Estudo de Caso que norteia este trabalho diz respeito a uma empresa de
Acessórios de Moda que utiliza, como matéria-prima para a confecção de seus
produtos, sobras de couro da indústria do calçado da região do Vale dos Sinos e de
comércios de venda de produtos do tipo ponta de estoque, na região metropolitana
de Porto Alegre. Para preservar o anonimato dos indivíduos envolvidos na
pesquisa, suas identidades serão mantidas em sigilo, sendo utilizados, pois, nomes
fictícios. O objetivo deste projeto, no que tange à intervenção de Design na
empresa participante desta pesquisa, é incentivar ações que ampliem a
sustentabilidade da empresa nas três esferas: ambiental, social e econômica,
propondo, assim, uma ampliação do mercado consumidor. Também serão
propostas sistematizações no Ciclo de Vida do Produto-serviço, agregando valor
social à marca e promovendo um consumo consciente. Para o desenvolvimento do
Estudo de Caso, são seguidas as práticas associadas ao Design Estratégico
descritas na Seção 1.4 (figura 01) do presente trabalho.
A análise deste estudo se dará a partir de dados de documentos coletados na
sede da empresa (e referentes a ela); do referencial teórico relacionado ao Design
e à sustentabilidade, segundo uma visão ampla; de entrevistas com funcionários,
clientes, empresárias e especialistas; e um Workshop de Cocriação com a
89
finalidade de observar, em campo, a interação entre clientes, fornecedores (neste
caso, especialistas ao invés de fornecedores), empresárias e funcionários.
3.1 EMPRESA DE ECODESIGN DE ACESSORIOS DE MODA COM BASE EM
SOBRAS DE COURO DA INDÚSTRIA CALÇADISTA
A empresa objeto deste estudo será chamada de XX Acessórios de Moda,
com a finalidade de preservar seu anonimato e identidade, embora essa não tenha
feito tal requisição para participar no estudo. Todavia, atendendo às exigências do
Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, será preservada a identidade da
empresa e ela será chamada de XX Acessórios de Moda, como mencionado
previamente.
A XX Acessórios de Moda é uma micro-empresa optante pelo Simples
Nacional, composta por duas sócias-diretoras e quatro funcionários, situada em
Porto Alegre. Essa organização privada de Ecodesign de Acessórios de Moda será,
portanto, o Estudo de Caso neste presente trabalho. Em seu sítio na Internet, a
empresa se apresenta como:
[...] uma grife diferenciada, a começar pela proposta: trabalhar com o couro excedente da indústria calçadista, abraçando o desejado conceito upcycle, criando acessórios e peças de roupa. Trabalhando o couro na sua forma mais pura, tudo é produzido à mão pelas Designers e todas as peças tem edição limitada. Utilizando peles de couro que não têm mais uso pela indústria, não se cria nova demanda de material e se evita o crescimento de lixo tóxico para a natureza.
Essa empresa surgiu, no ano de 2010, a partir da vontade de duas amigas de
infância que tinham o mesmo desejo: transformar retalhos de roupas em algum
produto que fosse inovador. Desde 2012, tem sua matriz localizada em um bairro
efluente, na cidade de Porto Alegre, e uma filial em São Paulo. A empresa é
composta por duas sócias-proprietárias, e mais duas funcionárias por loja. Ainda
compõe essa equipe uma costureira, a qual está estabelecida em uma cidade
próxima, no Rio Grande do Sul. As produções são desenvolvidas no ateliê que está
situado na matriz. Essa empresa está inserida no segmento da Moda, mais
especificamente acessórios.
90
As empresárias proprietárias do negócio asseguram que as suas “vivências
foram inspiradas em cima de suas trajetórias profissionais e pessoais, pela busca
do desejo de trabalhar com produtos sustentáveis” (entrevistada A). Com esse
pensamento, se uniram com a finalidade de desenvolver a primeira coleção de
acessórios, dentre eles as pulseiras, de couro, em círculo. Posteriormente,
surgiram convites para exposições em eventos de moda, como o Donna Fashion e
a Fenin (Feira Nacional da Indústria da Moda). Para elas, esse momento foi o
marco principal de sua consolidação no mercado, alcançando, consequentemente,
uma divulgação nacional com o evento. Durante este período, as vendas dos seus
produtos foram feitas eletronicamente, via Internet, e em pequenos eventos de
moda, como os que ocorrem em algumas ruas de Porto Alegre. Essa cronologia da
implantação da empresa está demonstrada na Figura 25.
Figura 25: Cronologia da empresa XX Acessórios de Moda.
Fonte: Elaborada pela autora, 2014.
Para a XX Acessórios de Moda, o conceito principal da marca é ser
“exclusivo, com poucas peças iguais e agregando valor à marca”. A identidade
visual da empresa não é aparente em seus produtos confeccionados, e os mesmos
possuem nomes que são pensados para serem funcionais. Além disso, segundo a
empresária 2 (dois), trata-se de uma “marca inovadora de transformação social,
Trabalhando o couro excedente da indústria calçadista da forma mais pura: cru e
com acabamento a fio, em um processo totalmente sustentável”.
O seu portfólio, a partir do aproveitamento “do que sobra do couro das
fábricas de calçados, por exemplo” (entrevistada A), é composto pelos seguintes
produtos/acessórios: vestuário (camisetas, regatas, saia e vestido), carteiras,
bolsas, lixo para carro, necessaire, porta cheque, porta iPad, porta óculos, porta
91
vinho, pulseiras e colares. No início do ano de 2014, a empresa lançou sua coleção
de pulseiras infantis. A meta para 2015 é a implantação de uma “linha casa”, para
atender o mercado de decoração residencial da cidade.
A aquisição da matéria-prima é feita em fábricas e lojas da região do Vale dos
Sinos, a partir das sobras dos couros do setor calçadista que não são aproveitadas
ou de peças que possuem algum defeito. Parte da matéria-prima é adquirida,
também, em lojas que vendem peças inteiras. São utilizadas em sua produção dois
tipos de couro animal: o vacum4 e o Caprino5.
O processo de criação acontece entre as duas empresárias. Elas estão em
constante busca por novas criações e novos segmentos, nos quais seja possível a
inserção do couro. As embalagens são de papel craft, com serigrafia a base
d’água, não utilizando sacolas. Em sua produção, as peças não possuem forro nem
metal. De acordo com o que relatou uma das sócias, elas “privam por Design limpo
e cortes retos, todos os processos são intuitivos”. A XX Acessórios de Moda tem
70% dos seus produtos desenvolvidos de forma manual, utilizando técnicas de
corte a fio e balancim.6
A XX Acessórios de Moda não possui plano de negócios, missão e visão,
pois, conforme o pensamento das empresárias, “o futuro depende de maior venda
para maior produção”. A comunicação se dá por meio de mídias alternativas,
utilizando principalmente plataformas da internet. Entretanto, em São Paulo, as
sócias contrataram uma Assessoria de Imprensa. A Figura 26 mostra, de forma
esquemática, o processo de produção e comercialização da empresa estudada
com respectivos atores envolvidos na cadeia.
Segundo Vezzoli (2010), no mapa de atores, os atores são inseridos na
medida em que há necessidade dentro dos estágios de solução, sendo assim
representados por ícones e de forma gráfica, alocando em posições estratégicas.
4 Vacum: de gado. Citada em MOREIRA, M.V.; TEIXEIRA, R.C. Estado da Arte Tecnológico em Processamento do Couro. SENAI, 2003. 5 Caprino: de cabra. Citada em MOREIRA, M.V.; TEIXEIRA, R.C. Estado da Arte Tecnológico em Processamento do Couro. SENAI, 2003. 6 Balancim: Equipamento Industrial de corte de acordo com definição da empresa Maquinas Klein disponível <www.maquinasklein.com.br>
92
Por conseguinte, os atores centrais que atuam no sistema, são representados
dentro, e os atores secundários, fora. Da mesma forma, a XX Acessórios de Moda
se encontra no centro e, em seguida, os demais atores.
Figura 26 - Mapa de atores envolvidos no processo de produção e comercialização da XX
Acessórios de Moda.
Fonte: Elaborada pela autora, 2014.
3.2 ENTREVISTAS CONTEXTUAIS
A metodologia empreendida para o desenvolvimento dessa pesquisa, que
utiliza uma abordagem qualitativa, aprofunda-se na compreensão dos fenômenos,
interpretando-os de acordo com os fatos em evidência, sem ter a preocupação com
a representatividade numérica ou generalizações estatísticas, além de contar com
a mínima interferência do pesquisador. A pesquisa foi impulsionada pela
interpretação do respondente em relação aos seus comportamentos, motivos e
interesses de uma empresa de Acessórios de Moda voltada para a
sustentabilidade. Desta forma, verificou-se a necessidade de realizar uma pesquisa
de campo, com os atores envolvidos neste processo. Foram entrevistadas uma
empresária, duas funcionárias e três clientes, a fim de captar respostas mais
objetivas e consistentes no que se refere às questões abordadas.
93
As entrevistas foram fundamentais para o mapeamento das práticas, crenças
e valores em um ambiente específico. O conteúdo das entrevistas foi pensado para
verificar o conhecimento das partes envolvidas nos processos, sobre os diversos
aspectos da XX Acessórios de Moda.
Os depoimentos ocorreram na sede da empresa, constituída por ateliê e loja.
As opiniões foram coletadas através de um diálogo, baseado em um protocolo pré-
definido para cada segmento de público, documentado através de fotos, vídeos e
anotações. Ao realizar as entrevistas individuais, pretendeu-se propiciar situações
de contato direto, de forma a provocar um discurso livre, mas que atendesse aos
objetivos da pesquisa.
O plano inicial de entrevistas contava com clientes, funcionários, empresárias
e fornecedores, porém, dada a inviabilidade da empresa em contatar estes últimos,
optou-se por substituí-los por especialistas da área. Alegando “questões
estratégicas de mercado”, a empresa não forneceu os contatos com fornecedores.
As entrevistas foram realizadas com as duas empresárias, sendo que uma fica em
Porto Alegre e a outra em São Paulo. A empresa conta com 05 (cinco) funcionários
no total.
Para esta pesquisa, além das funcionárias, entrevistou-se, ainda, 06 (seis)
clientes. Na referida ausência dos fornecedores, optou-se por entrevistar dois 02
(dois) especialistas da área. A justificativa da empresa em não dar o contato dos
fornecedores foi em virtude de problemas estratégicos que a divulgação desses
dados poderia causar aos negócios. A entrevista foi realizada ao longo de uma
semana, uma vez que havia a necessidade de conversar com os integrantes da
filial de São Paulo, ou seja, com uma funcionária e uma das sócias.
As entrevistas ocorreram em momentos diferentes com as funcionárias e
sócias para que não houvesse nenhum tipo de constrangimento entre ambas.
Cumpre salientar, todavia, que todas foram realizadas dentro da empresa e no
horário de expediente. Por sua vez, os especialistas da área que aceitaram
participar das entrevistas têm experiência no setor coureiro calçadista. Um deles
possui, ainda, experiência acadêmica, na área dos processos curtentes do couro
94
como matéria-prima. A sua participação foi importante para este projeto uma vez
que ofereceu uma visão mais técnica sobre o assunto.
Os especialistas da área foram entrevistados fora da empresa. Faz-se
destacar que a não participação dos fornecedores nas entrevistas tornou
necessária a consulta a especialistas para obtenção de subsídios sobre os
processos relativos ao curtimento do couro, assim como a respeito de assuntos
relacionados ao setor da Indústria Calçadista, além de aspectos relacionados ao
meio ambiente e às esferas social e econômica.
3.2.1 Perfil dos entrevistados
Abaixo segue uma breve exposição do perfil dos entrevistados.
● Empresárias: A empresária A tem sua formação em Negócio de Moda
e foi influenciada por seu pai – um Designer de calçados; a empresária
B formou-se em Design de Produto e trabalhou por 04 (quatro) anos
com uma artista plástica na área do Design Ecológico. Uma das
empresárias teve experiência anterior no setor coureiro calçadista, por
conta de negócios familiares. Sua experiência anterior no ramo foi de
08 (oito) anos.
● Funcionárias: A empresa possui 03 (três) estagiárias de Design de
Moda na sua sede de Porto Alegre, uma (1) costureira na Região do
Vale dos Sinos, uma (1) Designer de Produto e uma (1) funcionária em
São Paulo.
● Especialistas: Um (1) especialista possui experiência de trabalho na
cadeia coureiro-calçadista da Região do Vale dos Sinos e o outro é
docente de ensino superior com experiência de pesquisa na área dos
processos curtentes e do calçado.
● Clientes: Entrevistaram-se 06 (seis) mulheres de diferentes faixas
etárias, sendo que três 03 (três) eram clientes fidelizadas da marca,
cujas entrevistas foram agendadas; e 03 (três) delas, selecionadas ao
longo da semana em que ocorreram as entrevistas. Estavam visitando
a loja pela primeira vez.
95
3.2.2 Temas Emergentes
Os temas surgidos ao longo da pesquisa, fora a opinião dos especialistas,
possibilitaram demonstrar, de maneira geral, a visão das empresárias, funcionárias
e das clientes consonante com a visão da cultura da empresa, ou seja: a aposta
em práticas sustentáveis na confecção de seus produtos, bem como no manejo
dos materiais. A visão geral dos participantes da pesquisa é de que a empresa
utiliza processos sustentáveis de produção.
Defendem que o processamento dos resíduos de couro e do próprio couro,
enquanto matéria-prima que recebem, não é agressivo ao meio ambiente. Ainda,
afirmam que o couro já fora processado uma vez, sendo apenas reutilizado nessa
etapa. As clientes, igualmente acreditam que estão consumindo produtos
“ecologicamente sustentáveis” (cliente 1), pois a empresa utiliza “restos de couros
das fábricas de calçados que iriam parar no lixo e não teriam uso nenhum” (cliente
2).
Outro tema relevante, surgido ao longo do processo qualitativo, foi o “estilo
das peças”, que apesar de serem feitas com o couro enquanto matéria-prima (de
certa maneira um insumo rústico), “são extremamente delicadas e bonitas” (cliente
3). O fato das donas do negócio serem Designers também foi apontado como
diferencial pelas clientes, uma vez que “as gurias não são simples vendedoras,
elas são Designers!” (cliente 3).
Os temas emergentes, conforme a visão dos especialistas, dizem respeito
aos processos químicos de tratamento do couro antes dele se transformar em
sobra. Sendo assim, aquela sobra que “parece tão singela, na verdade, é
carregada de produtos químicos provenientes do curtimento” (especialista 1).
Assim, alguns temas especiais surgiram. Quais sejam: Criatividade, Ciclo de
Vida, Preocupação geral com a sociedade, Desenvolvimento Sustentável, Rotina e
Experimentação, Valores, Questões Instrucionais, Políticas e de Ambiente Social,
Ética e Responsabilidade Social.
96
Dessa forma, os insights ou achados surgidos ao longo do processo de
pesquisa dizem respeito à (1) Pré-produção, (2) Produção, (3) Distribuição, (4) Uso
e (5) Descarte, podendo, na visão de Manzini e Vezzoli (2008), ser agrupados da
seguinte maneira:
Pré-produção:
a. A empresa desconhece a procedência dos insumos que adquire dos
fornecedores;
b. A empresa potencializa ao máximo o aproveitamento dos insumos;
c. A empresa utiliza como insumo um material já descartado.
Produção:
a. A empresa desenvolveu técnicas não agressivas na confecção dos
produtos;
b. Há interferência industrial na montagem dos produtos;
c. A Distribuição é feita com caixas de papelão doadas de parceiros;
d. A empresa possui um baixo estoque de produtos;
e. As caixas, onde os produtos são acondicionados para envio, são
doadas;
f. A empresa minimiza a utilização de embalagens
Uso:
a. As informações da empresa sobre critérios de sustentabilidade
concentram- se no topo da hierarquia organizacional.
Descarte:
a. Após a sua utilização, os produtos não retornam a empresa;
a. Os resíduos resultantes da produção são doados a uma escola de
samba de uma comunidade carente.
97
3.2.3 Principais observações
O processo teve início na observação contextual, a partir do
acompanhamento, ao longo de dois dias, de uma semana típica na empresa.
Nessa etapa, foi possível notar que as entrevistas serviram como um filtro para
identificar os dados que tiveram maior ocorrência e que posteriormente foram
tabulados com a finalidade de serem utilizados como roteiro para o Workshop de
Cocriação. Com base nos ensinamentos de Manzini e Vezzoli (2008), os dados
foram organizados de acordo com as seguintes fases do Ciclo de Vida do Produto:
(1) Pré-produção, (2) Produção e (3) Descarte. De maneira geral, para
empresárias, funcionárias e clientes, a sustentabilidade dessa empresa se dá por
meio da utilização de sobras de couro, e pela imagem dos produtos, que parecem
associar o rústico do couro, apesar da delicadeza de diversas peças, a um produto
de certa forma “natural”.
Parece haver certa congruência na imagem que a empresa constrói para si,
enquanto empreendedora responsável e sustentável e o padrão de respostas de
que clientes e funcionárias sustentam. Apesar da sustentabilidade da empresa ser,
de certa forma, limitada, está no “contínuo da sustentabilidade7” realizando “ações
sustentáveis”, assim como as apontadas neste trabalho, tais como a discussão em
relação à amplitude possível para o conceito, uma vez que o entendimento das
clientes, e mesmo das funcionárias, sobre o tema parece igualmente limitado.
Os especialistas entrevistados ressaltaram que cerca de 90% da indústria do
couro no Brasil realiza o processamento do couro com cromo e tanino, revendendo,
inclusive, muitos dos seus produtos inacabados. Esse fato, para os especialistas,
diminui a sustentabilidade dos produtos e da produção da empresa. Portanto,
apesar dos produtos serem confeccionados a partir de um recurso que seria
totalmente descartado, a elaboração desses, com esse tipo de insumo, pode conter
vestígios do processamento do couro. Além disso, foi evidenciada a importância do
conhecimento sobre o processo químico na superfície de acabamentos finais.
7 Contínuo da sustentabilidade - com relação ao mesmo definido como: um contínuo que não tem um ponto final, que está sistematicamente em direção a algo, a caminho, a um fim sem limites de interrupções finais. Elaborado e definido pela autora desta dissertação.
98
Ademais, compreende-se um esforço da empresa em agregar valor aos seus
produtos por meio do uso de determinadas variáveis de sustentabilidade em parte
de seus processos, como, utilizar sobras de couro na confecção de suas peças
comercializadas. Ainda, há a participação direta de Designers na linha de
produção. O fato de haver Designers por trás das coleções valoriza a imagem da
empresa perante os funcionários e clientes, como uma organização inovadora, que
está apta a criar as próprias coleções.
Quanto à segunda fase do Ciclo de Vida, a produção, especificamente na
transformação de materiais em produtos, observou-se no ateliê o desenvolvimento
de um acessório para brinde institucional (Figura 27) e logo se constatou que o
processo é manual, utilizando materiais tais como: couro vacum e cabra, ferragens,
gorgorão, fita de reforço, linhas, elástico, zíper, cola, cursor de couro, fita carimbo,
pulseira de ferro (para cabelo) e cera para lustrar. A empresa afirma que “no
processo criativo, o Design é limpo”. As técnicas utilizadas na montagem
privilegiam um aproveitamento máximo da pele, conforme será visto nas figuras 29
e 30 no próximo item. Ainda, as peças não contêm forro, gerando uma redução na
utilização de insumos. Com relação ás máquina e equipamentos utilizados,
destacam-se: tesoura, cartolina, alicate, fita métrica, fita crepe, caneta riscador,
régua, borracha, crepe, ferro de passar, balancim, máquina de costura, navalhas
de corte e faca, máquina de carimbo.
99
Figura 27: Observações na produção - transformação de materiais em produtos
Fonte: Elaborada pela autora, 2014
Além do mais, é possível estabelecer uma média estatística na produção das
peças, nas quais 1% da produção é cortada a laser com maquinário específico,
sendo que 90% dos produtos tem seu fechamento através do emprego de
maquinário. As Figuras 27-01 e 27-02 demonstram o momento de cortar as peles
com estilete; a Figura 27-03 apresenta o processo em desenvolvimento; e a Figura
27-04, uma técnica pouco usual, mas improvisada, no momento para desenvolver
um molde para o brinde institucional.
O processo de aproveitamento de matéria-prima na XX Acessórios de Moda
ocorre na medida em que, no desenvolvimento criativo, há sobras de diversos
tamanhos, conforme mostra a Figura 28. Ao visualizar essa foto, é possível notar
que a partir de uma determinada sobra de couro, realizaram-se cortes para fabricar
uma carteira, criada como um brinde institucional. As etapas desse processo de
aproveitamento de matéria-prima foram as seguintes: (1) matéria-prima como é
adquirida nos fornecedores; (2) o produto após alteração inicial, neste caso o
molde finalizado da carteira, faltando o fechamento e costura; (3) sobras de couro
100
durante o corte dos moldes do brinde da carteira; (4) o descarte das sobras da
criação é enviado para uma escola de samba de uma comunidade carente.
Figura 28: Etapas de reaproveitamento de matéria-prima na produção de uma carteira.
Fonte: Elaborada pela autora, 2014
Dentro do seu portfólio de produtos, ao longo dos processos de criação, o
couro, como um todo, é aproveitado ao máximo, fazendo com que sempre um novo
produto seja criado com base em uma sobra gerada a partir da criação de um
produto anterior. Aqui, a lógica seguida na linha de produção é a de que um
mesmo couro servirá de insumo para diferentes produtos, do maior ao menor.
A XX Acessórios de Moda utiliza dois tipos de matérias-primas provenientes
da Indústria Calçadista: O caprino e vacum. Na cadeia de produção do vacum, o
primeiro produto produzido são bolsas, pois essas necessitam de maior quantidade
de matéria-prima. Em seguida, é produzida carteira do tipo clucht8, demonstrado no
esquema da Figura 29.
8 Termo inglês para designar uma bolsa de mão pequena e estruturada, geralmente sem algas ou com apenas um encaixe para os dedos, como bolsas de couro. Citada em SORCINELLI, Paolo (org.). Estudar a Moda: corpos, vestuários, estratégias. São Paulo: SENAC, 2008.
101
Figura 29: Cadeia da produção para o couro vacum.
Fonte: Elaborada pela autora, 2014.
Na produção com a matéria-prima de couro caprino são confeccionadas
peças do vestuário no início da cadeia, haja vista o insumo ser menor. Além do
mais, ocorre o mesmo em relação à utilização do couro vacum no que tange ao
aproveitamento máximo do couro. A empresa afirmou que esse tipo de pele animal
foi escolhido em virtude do “caimento do tecido” quando transformado em
vestimenta. Ainda, foi salientado que esta cadeia não é rígida, uma vez que,
dependendo da demanda, essa pode ser flexibilizada. Por fim, nesse quesito, o
couro caprino é utilizado em menor escala do que o vacum na linha de produção,
uma vez que a empresa vende mais acessórios (vacum), do que roupas (caprino).
Na figura 30 apresenta a produção a partir do desenvolvimento do vestuário e seus
respectivos produtos.
102
Figura 30: Cadeia da produção do vestuário utilizando o caprino
Fonte: Elaborada pela autora, 2014.
3.3 CICLO DE VIDA DO PRODUTO-SERVIÇO ATUAL DA XX ACESSÓRIOS
DE MODA
Os dados provenientes das entrevistas e da observação contextual
possibilitaram o cruzamento das informações levantadas com o Ciclo de Vida do
Produto-Serviço apresentado por Manzini e Vezzoli (2008). Por conseguinte, foi
elaborada uma sistematização das informações de modo que fosse fornecido
fidedignamente o cenário atual da XX Acessórios de Moda. Assim, as fases do
Ciclo de Vida do Produto, que atualmente abrangem a empresa, foram
apresentadas e, posteriormente, através de critérios norteadores do Design,
potencializados em uma ampliação deste ciclo no sentido de expandir o seu
entendimento sobre sustentabilidade. Isto é, as fases atuais foram ampliadas
considerando-se outros aspectos além do apresentado inicialmente pela empresa e
que a caracteriza. Tal intento foi possível por conta da compilação realizada na
literatura sobre as possíveis dimensões de sustentabilidade em Ciclos de Vida dos
Produtos.
Nesse sentido, pode-se considerar o cenário atual do Ciclo de Vida do
Produto-Serviços da XX Acessórios de Moda da seguinte forma (figura 31):
103
104
3.3.1 Interpretação e oportunidades
Cada fase do Ciclo de Vida do Produto-Serviço é apresentada com seus
respectivos critérios norteadores de Design, sistematizados de acordo com o
referencial teórico discutido anteriormente, tais como os textos de Manzini (2005),
Manzini e Vezzoli (2008), Souza (2007), Peroba (2008), Berlin (2012), Salcedo
(2014), Maxwell e Vorst (2003), e Fletcher e Grose (2011), os temas da Rio+20
nesta área, o entendimento da Comissão Europeia de Design e Inovação em 2009,
entre outros.
Estes critérios norteadores de Design foram debatidos no Workshop de
Cocriação e inseridos no Ciclo de Vida do Produto-Serviço com a finalidade de
serem expandidos, considerando-se as respostas e dados obtidos na pesquisa.
Dessa forma, pôde-se intervir pontualmente em todas as fases do Ciclo de Vida do
Produto da empresa no sentido de torná-lo mais sustentável. Observaram-se,
ainda, oportunidades relacionadas às fases, principalmente nas de Pré-produção,
Produção e Descarte.
A figura 32 demonstra a sistematização das fases do Ciclo de Vida do
Produto-Serviço, com seus respectivos critérios norteadores de Design, da mesma
forma como foram apresentados para discussão no Workshop de Cocriação.
105
Figura 32: Critérios Norteadores de Design
Fonte: Elaborada pela autora, 2014
3.4 APRESENTAÇÃO DO WORKSHOP DE COCRIAÇÃO
Como ponto de partida, antes da apresentação da dinâmica desta etapa, cabe
salientar o objetivo, de maneira geral, de um workshop e de suas práticas, uma vez
que o termo é relatado em formatos variados. Buscou-se uma definição relativa à
área do Design, auxiliando no posicionamento deste trabalho. Foram, pois,
seguidos os ensinamentos de Scaletsky (2008, p.4), que descreve um workshop
como “um momento de imersão criativa”, em cuja utilização de técnicas variadas,
permite o alcance e a concepção de múltiplos conceitos. Tal definição é condizente
com o objetivo deste trabalho, pois promove a geração coletiva de novas ideias.
Porquanto, nessas características reside a aproximação com a cocriação, uma vez
que ambos estão baseados no compartilhamento de conhecimentos, bem como em
pilares criativos.
A cocriação é uma forma de operacionalizar a inovação aberta. Segundo
Prahálad e Ramaswamy (2004), a cocriação de valor é particularmente centrada
nas estratégias que promovem interações entre organizações e usuários ao longo
106
de toda cadeia de criação de valor. Dessa forma, revela a capacidade de utilizar
processos, sistemas e produtos que valorizem a capacidade de interação entre
diferentes atores envolvidos na cadeia. Logo, um Workshop de Cocriação é uma
ferramenta de interação entre a organização e os atores internos e externos, assim
como a geração de ideias colaborativas, com o intuito de promover troca de
experiências, além de familiarizar os participantes com os conceitos, processos e
métodos. Para Moura (2010), é uma prática para utilização do pensamento,
tornando colaborativo, considerando tanto aspectos humanos como os de negócio,
aumentando a competividade da empresa e consequentemente ampliando a
sustentabilidade. Além disso, há a utilização do Design Thinking na prática.
Nesse sentido, as ferramentas, instrumentos e táticas utilizadas ao longo
deste workshop foram determinantes para o direcionamento do resultado do
processo de ampliação da sustentabilidade nas esferas ambiental, econômica e
social. O Workshop de Cocriação ocorreu dentro da loja/ateliê, na parte dos fundos,
em dia de expediente normal, com duração de 3 (três) horas. As seguintes pessoas
estavam presentes no Workshop: 1 (uma) empresária da XX Acessórios de Moda;
1 (uma) funcionária dessa empresa; 1 (uma) cliente; e 4 (quatro) especialistas da
área, entre os quais (I) um especialista em processos curtentes, com experiência
na cadeia calçadista da Região do Vale dos Sinos (RS); (II) um administrador de
empresas com experiência em comercio exterior; (III) uma artista plástica; e (IV)
uma Designer de Moda, ambas professoras de uma universidade da região
metropolitana de Porto Alegre, nas disciplinas de Design e Design de Moda e
Materiais e Processos têxteis, respectivamente.
A partir da negativa da empresa quanto à participação dos seus fornecedores
nesta dinâmica, foi preciso suprir esta carência com convidados que pudessem
oferecer experiência técnica ao empreendimento de pesquisa. O papel dos
convidados especialistas no processo de cocriação foi essencial, pois as
contribuições foram baseadas em sua experiência em relação às práticas de
trabalho na área. Esse tipo de informação específica era justamente a que se
esperava obter junto aos fornecedores.
107
Houve uma divisão de dois grupos multidisciplinares, visando a troca de
experiências das diversas áreas presentes, sendo que se procurou dividir
igualmente a presença dos especialistas nos grupos. Inicialmente, cada grupo
recebeu instruções sobre a atividade e uma folha A3 com o Ciclo de Vida do
Produto atual e o contínuo na sustentabilidade da XX Acessórios de Moda. Cada
etapa do Workshop de Cocriação foi apresentada e explicada detalhadamente,
ratificando como seria a prática da dinâmica. O material produzido foi apresentado
em um “PowerPoint”, com a projeção de 60 (sessenta) lâminas, conforme a figura
33. Os participantes foram estimulados a sentar-se em forma de círculo para a
apresentação, a fim de que a interação entre os elementos fosse facilitada.
Figura 33: Etapas apresentadas para participantes durante o Workshop de Cocriação
Fonte: Print screen da tela do PowerPoint, elaborada pela autora e apresentado durante o
workshop, 2014
108
Em um primeiro momento, durante o referencial teórico, foram abordados
alguns temas concernentes ao trabalho, tais como: a Rio+20, o relatório de Burtland,
discussões que indicam que a grande questão atual para empresas ao redor do
mundo é reduzir impactos ambientais. Além disso, o conceito de Design Sustentável,
que retrata a importância da ampliação do Design para esferas social, política e
econômica, contrastando-o com o entendimento sobre o Ecodesign, Design
Estratégico e Design Social. Além disso, foi exposto o Ciclo de Vida dos Produtos-
Serviços, segundo a concepção de Vezzoli (2010) e Manzini & Vezzoli (2008).
Discutiram-se, ainda, os tipos de processos curtentes, tipos de curtumes, a logística
reversa, Lei do Resíduo Sólido e Design for Diassembly (DFD), a diferença entre
slowfashion e fastfashion e o emprego de diferentes processos e matérias-primas
menos poluentes e agressivas ao meio ambiente, por exemplo, o couro da Tilápia9.
Na etapa seguinte, foi apresentado um modelo de Ciclo de Vida do Produto-
Serviço atual da XX Acessórios de Moda, de acordo com a Figura 31, com base nos
dados levantados nas entrevistas com empresárias, funcionários e clientes, bem
como na observação contextual. Em um terceiro momento foi ilustrado um Ciclo de
Vida do Produto no contínuo da sustentabilidade, com possíveis ampliações a partir
das esferas: ambiental, política e econômica. Em seguida apresentou-se um mapa
de atores envolvidos no processo para ressaltar que o mesmo não se inicia no couro
pronto enquanto matéria-prima. Há uma trajetória a ser considerada na cadeia como
um todo, desde o começo com o pecuarista. Na sequência foram exibidos os
critérios norteadores com placas identificadoras, impressas em A3 para serem
coladas no papel pardo que servia de fundo à atividade e onde os post its10 seriam,
igualmente, colados.
O passo seguinte foi à entrega de uma ficha para ser preenchida sobre o perfil
típico de clientes – Figura 34. Nesse momento, além da ficha, a empresária presente
relatou sobre o tipo padrão de clientes, ocorrendo, assim, uma discussão sobre os
principais perfis de clientes. Esta atividade oportunizou a construção de perfis
extremos de possíveis clientes, ou seja, da mais jovem a mais velha; daquela com
9 Espécie de peixe de água doce. 10 post its: Papel adesivo pequeno e colorido, geralmente utilizado para pequenas anotações.
109
poder aquisitivo mais elevado, até a de menor poder aquisitivo; daquela que sabia
mais sobre sustentabilidade, àquela que desconhecia o contexto, por exemplo.
Figura 34: Ficha sobre o perfil apresentado aos participantes durante o Workshop de Cocriação
Fonte: Elaborada pela autora, 2014
Para esse momento, a partir do cruzamento das informações das clientes, foi
denominado o nome fictício de “Mônica” para uma cliente de 45 anos, empresária,
mãe de família, bem sucedida pessoal e profissionalmente, que procurava um
produto sem marca aparente, produtos leves, sem ferragem, preocupada com
questões ambientais. A outra cliente foi denominada “Simone”, cliente de 25 anos,
que acredita na causa dos movimentos ecológicos, empreendendo um pensamento
mais consciente, na busca por inovação, produtos coloridos e multifuncionais. Na
etapa seguinte, foi realizado um brainstorming com regras pré-estabelecidas (Figura
35), uma ferramenta comumente utilizada e que auxilia no processo de Design. Para
incitar um pensamento visual, utilizaram-se post its.
110
Figura 35: Regras apresentadas aos participantes durante o Workshop de Cocriação
Fonte: Print screen da tela do PowerPoint, elaborada pela autora e apresentado durante o workshop,
2014
Dessa forma, foi realizado um recorte no Ciclo de Vida do Produto-Serviço da
XX Acessórios de Moda, dando ênfase a Pré-Produção, Produção e ao Descarte,
pois, percebeu-se através dos dados levantados, que estas fases poderiam ser
ampliadas pela empresa em direção ao Desenvolvimento Sustentável (VEZZOLI,
2010). Cada grupo recebeu blocos de post its de diferentes cores e tamanhos, com
o objetivo de que ali fossem escritas suas ideias sobre cada um dos critérios
apresentados pela mediadora. Ainda, foi realizada uma seleção de alguns Critérios
Norteadores de Design para serem apresentados para o grupo. A Figura 36 exibe os
post it relacionados ao brainstorming.
111
Figura 36: Quadro de post it no processo de brainstorming no Workshop de Cocriação
Fonte: Elaborada pela autora, 2014
A partir disso, foi possível discutir as fases do Ciclo de Vida do Produto-Serviço
em relação aos Critérios Norteadores de Design, segundo os resultados levantados
com a dinâmica. Logo, na fase da Pré-Produção foram aplicados dois Critérios
Norteadores de Design, são eles: (1) Alternativas de novas matérias-primas com
menos impacto ambiental, pois a empresa somente utiliza couro vacum e caprino.
Seria possível, ainda, explorar outras alternativas já mencionadas, o couro de peixe,
por exemplo; e (2) Fornecedor com procedência da matéria-prima, uma vez que a
empresa desconhece a origem da matéria-prima que lhe e fornecida. Os resultados
são apresentados na Figura 37.
112
Figura 37: Resultados dos Critérios Norteadores de Design na Pré-produção durante Workshop de
Cocriação
Fonte: Elaborada pela autora, 2014
Na fase da Produção foram aplicados cinco Critérios Norteadores de Design,
são eles: (1) Minimização dos insumos na produção, pois é possível diminuir a
utilização de insumos e equipamentos na produção, assim como a empresa faz com
o não uso de forro; (2) Multiplicação de conhecimento com funcionários, porque os
funcionários, apesar de estarem bem informados sobre questões relativas à
sustentabilidade, não conhecem os processos curtentes; (3) Identidade cultural, em
virtude de os produtos não possuírem aspectos simbólicos culturais, apesar de
serem confeccionados levando-se em conta a demanda pontual dos clientes; (4)
Envolvimento com grupo em vulnerabilidade social, pois a empresa pode fazer
parcerias visando à produção, em especial alguma comunidade próxima ou com
quem já haja algum tipo de parceria; (5) Ligação emocional entre produto e usuário,
pois poderia potencializar o valor agregado da marca ao fortalecer o vínculo com o
consumidor final.
113
Figura 38: Resultados dos Critérios Norteadores de Design na fase da produção durante Workshop
de Cocriação
Fonte: Elaborada pela autora, 2014
Na fase do Descarte foram aplicados três Critérios Norteadores de Design, são
eles: (1) Aproveitamento na última fase do resíduo, pois se pode aproveitar ainda
mais os resíduos antes de descartá-los; (2) Extensão do Ciclo de Vida do Produto-
Serviço, porque há outros usos possíveis para as sobras; e (3) Pós- venda: aumento
da fidelização dos clientes, pois, entre outros, a empresa não realiza a Logística
Reversa.
114
Figura 39: Resultados dos Critérios Norteadores de Design na fase do Descarte durante Workshop de
Cocriação
Fonte: Elaborada pela autora, 2014
3.5 Analise e Resultados dados da pesquisa
Na análise desenvolvida pontuaram-se as atuais ações da empresa com seus
respectivos Produtos-Serviços, confrontando-as com o escopo teórico utilizado.
Assim, através de uma triangulação entre o observado pela pesquisadora, a fala da
empresa XX Acessórios de Moda e dos especialistas junto com à teoria, foi possível
sugerir algumas intervenções visando a melhorias para que a organização, como um
todo, esteja completamente alinhada com a concepção de uma sustentabilidade
115
ampla. A metodologia empregada, assim como as técnicas que envolveram a
presente pesquisa, sobretudo o Workshop de Cocriação, forneceu um panorama
geral da empresa analisada no Estudo de Caso (CRESWELL, 2010) a ponto de ser
possível mapeá-la quanto a questões relativas às sustentabilidades.
Desse ponto, o trabalho orientou-se por meio das visões do Design Estratégico
(BURKHÁRDT, 2009) em relação ao Ciclo de Vida do Produto-Serviço, discutindo
novas alternativas de processos, técnicas e/ou produtos a fim de obter resultados na
esfera ambiental, social e econômica do Ciclo, ampliando a concepção desses e
tornando a organização mais competitiva e diferenciada em relação a concorrentes.
Nesse sentido, o Design Estratégico é empregado, pois representa um novo
paradigma em relação à concepção do produto para algo além de um bem concreto.
O contexto do Design Estratégico é justamente a maior complexidade e
competitividade dos mercados, que exigem soluções cada vez mais criativas e
inovadoras (ZURLO, 2010).
Segundo Francesco Zurlo (2010),
Il design strategico opera in ambiti collettivi, ne supporta l’agire grazie alle proprie capacita e finalizza la propria operativita alla produzione di un effetto di senso. Il risultato di tale operazione si concretizza in sistemi di offerta piu che in soluzioni puntuali, in un prodotto-servizio piu che in un semplice prodotto, rappresentazione visibile della strategia.11 (ZURLO, 2010, p. 2)
Por conseguinte, soluções criativas e inovadoras utilizadas por Designers
procuram interferir no Ciclo de Vida do Produto com métodos e processos que
potencializem as questões ambientais, sociais e econômicas. Segundo Manzini e
Vezzoli (2008, p.100), o objetivo desse empreendimento é “reduzir a carga ambiental
associada a todo o Ciclo de Vida de um produto”. Ainda, na visão dos autores,
Um produto que é mais durável que o outro, determina geralmente um impacto ambiental menor, se um produto dura menos,de fato não só gera precocemente mais lixo, mais determina também outros impactos indiretos, como a necessidade de ter que substitui-lo. (VEZZOLI, 2005, p. 182)
11 “O Design Estratégico opera no âmbito da coletividade, apoia as ações as suas capacidades e finaliza suas ações para a produção de um efeito de sentido. O resultado dessa operação se concretiza em sistemas que oferecem alem de soluções pontuais, em um produto-servi9o que representa mais do que um simples produto, representação da estratégia”. Tradução da autora.
116
O Designer assume um papel de maior protagonismo nesse processo ao
propor as alternativas de um Design para Sustentabilidade. Por meio do seu trabalho
é possível concretizar o ideal de uma sociedade mais justa, igualitária e que respeite
o meio ambiente. A sua maneira de se comunicar e o projeto que realiza.
O projetista na o tem nem a legitimidade e nem os instrumentos para obrigar (através de leis) ou para convencer (através de considerações morais) qualquer um a modificar o próprio comportamento. Deduz-se, dai, que ele só pode oferecer soluções, isto e, produtos e serviços que qualquer pessoa possa reconhecer como melhores do que os oferecidos anteriormente. (MANZINI & VEZZOLI, 2008:71).
Esta pesquisa insere-se nesse cenário. Assim sendo, a partir dos dados
provenientes das entrevistas, definiram-se as seguintes etapas do Ciclo de Vida do
Produto utilizadas no Workshop de Cocriação e posteriormente analisadas: (1) Pré-
produção, (2) Produção e (3) Descarte, considerando-se um Ciclo de Vida fechado
do produto. Além disso, a sistematização baseou-se, em especial, nas propostas de
Manzini e Vezzoli (2005; 2008), Vezzoli (2008) e de Maxwell e Vorst (2003), por
ponderar-se que seriam as mais apropriadas para um projeto como este.
1) Pré-produção:
Nesta fase identificaram-se novas possibilidades quanto à utilização de outras
matérias-primas, além do couro vacum e caprino, assim como a necessidade de
averiguar-se a procedência do fornecedor da matéria-prima atual. Na esfera
ambiental, o couro de peixe, por exemplo, não é explorado. Ainda, existem
cooperativas engajadas em desenvolver produtos, como acessórios de moda,
artesanato e outros, a partir do couro do peixe como matéria-prima. É o caso da
Art’Escama, situada na Ilha da Pintada em Porto Alegre12. A entidade utiliza a
escama e o couro de peixes provenientes do Delta do Jacuí para elaborar seus
produtos. Começou com a confecção de artesanato e hoje produz também
acessórios de moda. A organização apresenta-se da seguinte maneira:
Começa assim uma produção com base na matriz de eco desenvolvimento do Bairro Arquipélago Porto Alegre RS, ao serem utilizados como matéria
12 Para ver mais sobre a organização: http://artescama.blogspot.com.br
117
prima as escamas e o couro de peixe, até então jogados fora. Surgem dessa produção bio joias, bordados, luminárias, porta guardanapos, dentre outros, que se constituem numa possibilidade estratégica de ampliação das oportunidades de trabalho e de melhoria de renda dos pescadores, num contexto onde as oportunidades de emprego e de trabalho para a maioria das famílias, são cada vez mais escassas.13
Ainda, outro couro que também poderia ser utilizado é o de rã. Já que existem,
inclusive, empresas especializadas no curtimento desse tipo de pele.
A Aguapé é uma empresa brasileira que se especializou no curtimento de peles exóticas (peixes e rã), atualmente com foco no curtimento, tingimento e acabamento de peles de tilápia.[...] Alguns anos de desenvolvimento e pesquisas nos trouxeram reconhecimento por oferecer um couro de peixe de extrema qualidade, com ampla diversidade de cores e acabamentos, sempre aliado a um processo de curtimento 100% vegetal. Este tipo de processo não utiliza cromo ou outro metal em nenhuma etapa de curtimento das peles; o único agente curtente é o tanino, pó extraído da casca de algumas espécies de árvores, como a Acácia.14
Além do mais, existe também a possibilidade de serem utilizados outros
materiais afora os couros, como, as fibras vegetais. Apesar de os recursos naturais
de nosso planeta serem limitados, florestas e produtos cultivados são renováveis,
desde que respeitados seus períodos de regeneração. De acordo com Fletcher e
Grose (2011, p.14), “o segredo para a inovação com materiais é fazer perguntas - a
fornecedores, clientes e compradores - sobre a adequação de determinada fibra
para um fim específico e sobre as alternativas existentes”. Citam ainda que “Vincular
uma peça de roupa a seu usuário é o primeiro passo para que pequenas alterações
nos materiais possam se traduzir em grandes efeitos sobre os produtos e o
comportamento dos consumidores” (idem). Por fim, nesse sentido afirmam que
“Fibras cultivadas, como o algodão e o cânhamo, ou feitas da celulose das arvores,
como o liocel15, podem estabelecer o equilíbrio crucial entre velocidade de colheita e
velocidade de reposição e são renováveis” (idem).
Na esfera econômica, de outra maneira, conhecer a procedência da matéria-
prima do fornecedor, como nesse caso a empresa desconhece, configura-se em um
13 Site da instituição, disponível em: http://artescama.blogspot.com.br/p/quem-somos.html 14 Sítio da instituição, disponível em: http://águapele.com.br/curtume-processo/) 15 O liocel ou lyocel é mais comumente conhecido como tencel, que é uma fibra artificial obtida da celulose da polpa da madeira de árvores de florestas autossustentáveis. Citado em MOREIRA, M.V.; TEIXEIRA, R.C.. Estado da Arte Tecnológico em Processamento do Couro: Revisão Bibliográfica no âmbito Internacional. SENAI, 2003.
118
pressuposto importante para a Pré-Produção porque, de certa maneira, apesar de o
insumo utilizado ser de outra produção anterior, a sustentabilidade deste insumo
pode ser prejudicada caso ele tenha passado por um curtimento não vegetal, por
exemplo, no caso do couro. Dessa forma, Moreira e Teixeira (2003) explicam que as
características e processos químicos envolvidos, bem como o tipo de produto final a
ser gerado, implicam diretamente nos impactos ambientais do Ciclo de Vida.
No caso da empresa estudada, não considera uma análise dos processos de
curtimento do couro vacum, pois a matéria-prima é adquirida de fornecedores em
armazéns (ponta de estoque), assim sem procedência e conhecimentos dos
processos químicos utilizados na transformação de peles em couros e seus
respectivos acabamentos (citados no referencial teórico na sessão 2.3.1.1).
2) Produção:
Nessa fase, na esfera econômica, constataram-se alternativas que dizem
respeito à minimização dos insumos na produção, a maior multiplicação de
conhecimento com os funcionários, a aspectos de identidade cultural que podem
estar presentes nos produtos, formas de envolvimento com grupos em situações de
vulnerabilidade e enfoques de ligação emocional entre os produtos e seus usuários.
O fato de a empresa não utilizar o processamento convencional para a
produção dos seus bens, tais como forro, cola, e aviamentos em excesso, já a
diferencia. Nesse caso, alguns ajustes ainda poderiam ser realizados, como o uso
de resina vegetal, ou mesmo uma modelagem das peças que minimizasse o uso de
certos metais e zíperes, por exemplo.
Nessa lógica, seguindo na esfera econômica, a XX Acessórios de Moda
possibilita que o cliente desenvolva um acessório sob medida no ateliê. Assim,
conforme Fletcher e Grose (2011), se enquadra no conceito de slowfashion, no qual
o cliente concentra boa parte da importância do produto encomendado a experiência
em criá-lo e produzi-lo de maneira particular e exclusiva.
119
Segundo Debiagi (2012, p.37) apud VERGANTI (2009), “um aspecto relevante
que diferencia a inovação por meio do Design da inovação que ele chama de técnica
é que o conceito de inovação técnica está fortemente ligado aos processos
industriais, às mudanças de equipamentos de produção, à descoberta de novos
materiais, ou seja, aos aspectos tecnológicos, à otimização de recursos e
processos”.
Quanto à identidade cultural, na esfera social, a empresa poderia explorar mais
seus laços com culturas regionais que utilizam o couro em seus artefatos, incluindo
aqui, a possibilidade de uma linha especifica para tal. Ao mesmo tempo, as peças
seriam capazes de assumir um papel educativo com os seus consumidores sobre
temas das sustentabilidades. Essa ênfase no desenvolvimento de uma identidade
cultural a empresa caracteriza-se como uma estratégia de diferenciação no
mercado.
Desta maneira, “a posse ou o consumo de produtos, sejam eles materiais ou
imateriais, representam para o sujeito moderno muito mais do que simples
aquisições. Os valores atribuídos aos produtos transcendem eles próprios e as
motivações do seu consumo de moda vão além da clássica explicação da busca por
status” (BERLIM, 2014, p.46). Ademais,
Mais preocupado com o “ser” do que com o “ter”, o novo consumidor e mais responsável com relação ao meio ambiente e consigo mesmo. Ele se expressa não pela posse de bens, mas principalmente pela riqueza de valores interiores. (COBRA, 2007, p.62)
Ainda na esfera social, outra dimensão importante dessa fase diz respeito ao
envolvimento da empresa com a comunidade para a qual faz as doações das sobras
das matérias-primas que utiliza. Essa atitude, em si, é louvável e apresenta certa
sustentabilidade na relação da organização com o entorno. Entretanto, é um pouco
limitada esta ação, se consideradas as diferentes possibilidades existentes. As
doações são realizadas para uma escola de samba de um bairro distante da sede da
empresa. A empresa, em virtude dos produtos com os quais trabalha poderia
realizar outras ações, seja com essa escola de samba, seja com a comunidade a
sua volta. A fim de ampliar as sustentabilidades no que diz respeito a esse ponto, a
120
XX Acessórios de Moda seria capaz de, por exemplo, capacitar os interessados
desta escola a manusear tecnicamente estas sobras, com tecnologias de
transformação do couro ou algo similar. Assim, de acordo com Peroba (2008, p.40),
“o Design Social se torna uma atividade econômica que conduz ao crescimento e
desenvolvimento do local onde o projeto é realizado”. Ademais, em termos sociais,
seria possível instrumentalizar essas pessoas, desde que interessadas, a gerar
renda a partir dos materiais doados.
Em Santa Catarina, por exemplo, é o que faz o Núcleo de Gestão de Design da
Universidade Federal de Santa Catarina (FIGUEIREDO; MERINO; MUNIZ;
MERINO, 2009, p.1511):
No ano 2002 fez-se um convênio de parceria entre o governo do estado de Santa Catarina (Brasil), através do Centro de Estudos de Safras e Mercados (EPAGRI) vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e Política Rural do Estado de Santa Catarina no desenvolvimento de projetos na área de Valorização de Produtos da Agricultura Familiar. Ao longo destes anos foram realizadas inúmeras ações em diversos municípios do estado de Santa Catarina, incorporando o Design no processo de valorização dos produtos inicialmente no que se referem a embalagens, rótulos, informações nutricionais, dentre outras, juntamente com ações no processo de gestão dos produtores (no aprimoramento, bem como nos aspectos legais e normativos). [...] Isto tem gerado alguns impactos considerados positivos, a modo de exemplo pode se citar o reconhecimento por parte dos produtores rurais da importância do Design, a geração e melhoria da renda (verificado através de pesquisa de mercado após a incorporação do Design), novas oportunidade de desenvolvimento e crescimento no local de origem, auxiliando na diminuição do êxodo, melhora na autoestima, reconhecimento de órgãos de fomento e apoio (criação de planos governamentais na valorização de produtos deste setor) e principalmente a ativa participação das comunidades, aportando ideias, discutindo as propostas, com uma postura considerada proativa e altamente positiva.
Outros exemplos na esfera econômica, também podem ser citados, como as
ações da marca de roupas Dudalina, em especial no que diz respeito ao reuso de
materiais descartados e na qualificação de mão de obra de determinadas
comunidades para o mercado de trabalho.
Sob a coordenação do Instituto Adelina, são produzidas ecobags com sobras de embalagens e de tecidos da própria produção de camisas da marca. Além de fornecer esses materiais, a Dudalina doa máquinas de costura e oferece capacitação para as costureiras que participam do projeto, que já atua em estados como Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Rio de Janeiro, Paraíba e Ceará. Esse ciclo sustentável se completa com a compra, pela Dudalina, de todas as sacolas produzidas para a distribuição
121
em eventos e lojas. 16
Por fim, é preciso citar que, na fase da produção, a empresa desempenha um
importante papel com enfoque na ligação emocional entre o produto e o cliente. Na
XX Acessórios de Moda, os clientes, de maneira geral, participam do processo
criativo através de diálogos prolongados e intervenção direta na modelagem das
peças e alocação de acessórios.
3) Descarte
Por fim, na fase do Descarte, as alternativas que surgiram estão relacionadas
ao aproveitamento na última fase do resíduo, a extensão do Ciclo de Vida do
Produto-Serviço e ao pós-venda, pretendendo-se o aumento da fidelização dos
clientes. Na esfera ambiental, a empresa tem empreendido esforços importantes
quanto a dimensões da sustentabilidade para o descarte, entre as quais, nota-se a
preocupação da organização na separação do lixo em seu ambiente de trabalho.
Existem diferentes recipientes para acomodar tipos diferentes de resíduos, como,
papel, plástico, vidro, couro. A XX Acessórios de Moda desenvolveu, também, ações
para diminuir o descarte das sobras da sua produção. Lançou recentemente, em
2014, uma nova linha de acessórios infantis e, neste ano de 2015, lançará uma linha
de produtos de decoração para residências.
Entretanto, pensando na esfera ambiental, neste momento a empresa não
emprega a Logística Reversa. A Lei do Resíduo Sólido17 presente neste trabalho no
anexo D, estabelece a definição de Logística Reversa:
instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. (Capítulo II - Definições, art. 3°, XIII)
16
Blog Glamurama. Disponível em: http://glamurama.uol.com.br/dudalina-investe-em-trabalhos-sociais-desde-2006- 17 Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Disponível no Anexo D do presente trabalho.
122
Essa dimensão oferece vantagens competitivas às organizações com relação à
esfera econômica. Nesse contexto, Soares e Soares (2009, p.124) afirmam que, no
DFD (Design for Disassembly), a desmontagem permite uma maximização nas
fontes de reciclagem e minimiza a potencialidade de poluição de produtos,
facilitando de desmonte do produto. Como exemplo, pode-se tomar o caso da
empresa de tecidos e confecções Levi Strauss e Co. (LEVI’S), conhecida
mundialmente pela fabricação de calças jeans. Ao praticar uma estratégia de
“retorno liberal” de seus produtos, a LEVI’S experimentou um aumento de 50% do
total retornado. Através de uma parceria com o operador logístico GENCO,
companhia americana especializada em logística reversa, a empresa constitui um
centro especializado em Atlanta (EUA) para “retorno, seleção e destino”. Esses
retornos são enviados a mercados secundários da LEVI’S, como outlets, uma vez
que nestes lugares os clientes preocupam-se menos com cores, tamanhos. (LEITE,
2009, p.26).
Para Vieira, Soares & Soares (2009, p.124),
O verdadeiro papel da logística reversa, que é de facilitar o retorno do produto ao ciclo produtivo ou remanufatura, reduzindo desta forma a poluição da natureza e o desperdício de insumos. A logística reversa possibilita a devolução do produto pelo consumidor não apenas para o fornecedor direto, mas também para seu fabricante. O fabricante, por sua vez, se encarregará pela reciclagem ou reutilização do produto como insumo. Dada a destinação adequada ao produto, o mesmo poderá ser remetido novamente ao mercado consumidor quando possível.
Assim, a Logística Reversa caracteriza-se como um processo que auxilia na
redução dos impactos ambientais no Ciclo de Vida do Produto, ao passo em que
oferece vantagens econômicas competitivas no mercado.
123
4 EM DIREÇAO A UMA METODOLOGIA E PROJETAÇAO DAS
SUSTENTABILIDADES NA INDUSTRIA DA MODA: CICLO DE VIDA DO
PRODUTO DE ACESSORIO DE MODA PARA AS SUSTENTABILIDADES
O mapeamento ampliado do Ciclo de Vida Produto-Serviço da empresa XX
Acessórios de Moda foi realizado a partir de reuniões com as empresárias,
funcionárias, clientes e de acordo com as pesquisas de estudos de casos realizadas
e descritas e analisadas no Capítulo 3 do presente trabalho. Este levantamento leva
em consideração o sistema de produção atual da empresa e como são identificadas
as interfaces com a sustentabilidade nas três esferas, enfatizando principalmente as
fases da Pré-produção, Produção, Descarte. A partir dessas informações, em
conjunto com os temas emergentes, Critérios Norteadores apontados e
consequentemente suas resposta com intuito de ampliar a sustentabilidade da
empresa, pretende-se desenvolver os cenários para a empresa de forma a ampliar
as possibilidades nesta linha, agregando valor social à marca, que atualmente atua
no segmento de acessórios e utiliza resíduos de couro como matéria-prima. A figura
40 apresenta o Ciclo de Vida do Produto-Serviço da XX Acessórios de Moda no
contínuo da sustentabilidade, ampliando seu modelo atual para as esferas: sociais,
econômicas e políticas, além dos critérios norteadores e suas possibilidades de
respostas a cada fase.
124
125
4.1 CENÁRIO PARA AS SUSTENTABILIDADES
Os propósitos da utilização dos cenários são os mais diversos, no entanto,
aplicam-se em geral, em situações de difícil previsão. Parece contraditório, mas o
que pode ser previsto não necessita de cenários, ou seja, para a previsão o fato já
está dado na sua base. Celaschi e Deserti (2007) afirmam que os cenários são
projeções e que lidam com a incerteza do ambiente futuro e não com a
previsibilidade evidente. Sendo assim, considera-se a diversidade das ocorrências
futuras por mais estranhas que elas pareçam. Os cenários são construídos cruzando
os conceitos do Gráfico de Polaridades e com uma História que simula a situação
futura. “O planejamento de cenários se estabelece por meio de hipóteses nas quais
existem riscos, incertezas causas e efeitos, bem como as possibilidades reais de
cada cenário” (MORAES, 2010). Assim, com base em uma análise pautada no
reconhecimento de cenários potenciais, evidencia-se de forma mais explícita uma
oportunidade. Logo, no Design Estratégico, o planejamento de cenários representa a
construção de mundos possíveis, ou possibilidades de contextos que possam
antecipar as possibilidades do projeto.
Normalmente, a representação de um cenário está embasada em uma visão de
futuro constituída por vários elementos que emergem ao contexto do problema.
Dessa forma, neste trabalho, após análise do Ciclo de Vida do Produto e Serviço e o
Workshop de Cocriação, além da avaliação da sustentabilidade nas três esferas
mencionadas, vislumbrando um cenário para agregar e ampliar as questões
ambientais, econômicas, sociais e a novas frentes de mercado para a XX Acessórios
de Moda.
Esse cenário faz parte de uma etapa analítica com base em constatações na
fase do Ciclo de Vida, especificamente no descarte, pois foi constatado que há
preocupação em resolver problema com o ciclo conhecido como “aberto”, se
referindo aquele que, em alguma fase do Ciclo de Vida do Produto-Serviço ou
embalagem ocorre um desvio, acidental ou intencional, que o retira deste Ciclo (ver
Figura 13). Dessa forma, a empresa fazendo um reuso das peças para uma nova
coleção estaria previamente alterando seu formato aberto, assim não representando
126
uma ruptura no processo de aproveitamento e um desperdício de recursos. Com os
resultados do cenário, podem-se aprofundar estratégias de melhorias para empresa.
• Cenário 01
Na etapa do Reuso, onde há alternativas para estratégias visando a
sustentabilidade ampla, ocorre uma alternativa de criação para uma nova coleção
com doação de peças da XX Acessórios de Moda que não são mais utilizadas pelos
clientes. Sendo assim, seria possível, ainda, a partir da disponibilidade de
recebimento de material, que não será utilizado, fazer uma doação? Em caso
positivo, poderíamos considerar a possibilidade de a partir de uma coleção de peças
de reuso, desenvolver uma nova coleção para linha casa trabalhando outras
técnicas?
Desafio:
É possível criar uma coleção sobre um produto já manufaturado e reaproveitá-
lo em uma nova coleção?
Com base neste cenário, é possível propor algumas hipóteses visando à
ampliação da sustentabilidade, criando estratégias pontuais conforme figura 41: (1)
Catálogo de produtos da empresa; (2) Oficinas de consertos de peças; aquelas que
não são mais aproveitadas; (3) Catálogo de possíveis tratamentos e processos de
revitalização; (4) Glossário com especificações técnicas sobre processos curtentes e
tratamentos; (5) Trabalho na superfície em peças prontas, como a utilização de
resina, material menos agressivo ao meio ambiente; e (6) Workshop, ou seja, um
curso de reuso para outras possibilidades de desenvolvimentos de outros produtos.
127
Figura 41 – Hipóteses para o cenário proposto
Fonte: Elaborado pela autora, 2014.
4.2 SISTEMATIZAÇÃO DE METODOLOGIA PARA ANALISE E PROJETAÇÃO
DAS SUSTENTABILIDADES NA INDÚSTRIA DA MODA E ACESSÓRIOS DE
COURO
Fuad-Luke (2002), em seu Sourcebook para EcoDesign, no Anexo C do
presente trabalho, apresenta diversas sugestões e estratégias para lidar com a
questão do vestuário de moda e acessórios. As sugestões vão desde o uso de
outros materiais menos poluentes e de origem vegetal, até soluções de produtos de
moda que sejam mais flexíveis, funcionais e reaproveitáveis.
No caso, do couro, é possível o emprego de materiais de couro vegetal para a
confecção de bolsas e acessórios. Esses diferentes materiais, além de menos
poluentes, normalmente são oriundos ou beneficiam de alguma forma as
comunidades criativas que dependem do desenvolvimento destes materiais como
fonte de recursos para a sua subsistência.
Nesse sentido, o papel do Design é direcionar as alternativas para a ampliação
das sustentabilidades dentro da organização, demonstrando e avaliando a situação
128
atual de desenvolvimento dos produtos e como esta ampliação pode ser realizada.
Uma ampla discussão deverá ser conduzida de forma a esclarecer os atores
envolvidos no processo de cada etapa e o que está relacionado a isso. Em Anicet et
al. (2012) é apresentado um estudo com a quantificação da sustentabilidade
aplicada ao Design Têxtil. Neste trabalho é empregado o FDOT (Sustainability
Design Orienting Toolkit), que funciona através de checklist que, conforme o artigo,
possui três objetivos. Quais sejam: 1) identificar as prioridades de sustentabilidade
para a empresa de Design; 2) gerar ideias sustentáveis; e, 3) visualizar a melhoria
alcançada. A figura 42 demonstra um exemplo utilizando as dimensões com
requisitos e diretrizes.
Figura 42 - SDO estrutura, dimensões, requisitos e diretrizes da sustentabilidade.
Fonte: Vezzolli(2010), adaptada pela autora.
A ferramenta está disponível na Internet e livre para ser utilizada. Esse
programa auxilia na tomada de decisões apontando para as soluções mais
sustentáveis com base em requisitos e diretrizes apresentadas no anexo B do
presente trabalho. Segundo Vezzoli (2012), ele pode ser utilizado tanto na
exploração de oportunidades (na análise estratégica), como durante a fase de
geração de ideias sustentáveis e até mesmo na fase de desenvolvimento do projeto.
No estudo de Anicet et al. (2012), por exemplo, foi empregado para avaliação de
produtos da área têxtil, porém para o presente projeto em decorrência da aplicação
129
sistêmica do Design Estratégico, assim como da Grounded Theory, não se realiza a
análise somente dos produtos em termos de sustentabilidade, uma vez que realiza-
se mais apropriadamente uma avaliação do Ciclo de Vida do Produto, com base nos
Critérios Norteadores de Design na sessão 3.3.4.
Dessa forma, a ferramenta é baseada no Ciclo de Vida do Produto-Serviço de
Vezzoli e Manzini (2008), e, portanto, poderá ser empregada para o fechamento da
dissertação proposta neste documento. Ainda há a possibilidade de uma viabilidade
de aplicar esta sistematização na Indústria da Moda e do Couro e não somente na
empresa estudada.
4.2.1 Visão sistêmica
Para que fosse possível o entendimento amplo das sustentabilidades no Ciclo
de Vida do Produto-Serviço, fez-se uma releitura do mesmo a partir da referência
teórica discutida ao longo deste trabalho em contraste com o Estudo de Caso. Nesse
diapasão, como parte do processo de discussão aqui dirigida, apresenta-se uma
alternativa de visão sistêmica do processo Ciclo de Vida do Produto-Serviço aplicado
ao desenvolvimento de Acessórios de Moda, empregando o couro como matéria-
prima e baseando-se em uma ampliação dos conceitos de sustentabilidade. Para
construir essa visão sistêmica (figura 43), foi utilizado o Design Estratégico.
Figura 43 – Esquema visão sistêmica com cinco fases desenvolvida com base nos resultados
Fonte: Elaborado pela autora.
Na figura 44 são apresentadas, em primeiro plano, a sistematização com Ciclo
de anel fechado partindo de uma extração consciente, uma produção consciente,
após um consumo consciente, depois uma distribuição consciente e por fim um
reuso consciente. Tal sistematização compreende uma conjuntura de processos de
130
Ciclo de Vida Produto-Serviço de Manzini e Vezzoli (2008), Ciclo de Vida de
Produtos de Moda de Berlim (2012) e particularidades do setor do couro animal
compreendendo as esferas ambientais, sociais e econômicas. Além de conceitos e
referenciais de Design Thinking, ISSO 14001, slowfasion, Design Social, Logística
Reversa e DFD.
Na Sistematização de Metodologia para Análise e Projetação das
Sustentabilidades na Indústria da Moda e Acessórios de Couro podem ser inseridos
cenários em qualquer uma das etapas do Ciclo de Vida Produtos-Serviços. Portanto,
neste trabalho foi inserido, na sistematização, a etapa do Descarte (conforme figura
45), a qual apresenta os resultados e estratégias para possíveis melhorias na
empresa. Nesse caso simboliza: (a) Catálogo de produtos da empresa, (b) Oficina
de consertos de peça, (c) Catálogos de possíveis tratamentos e processos de
revitalização, (d) Glossário técnico da empresa, (e) trabalho na superfície em peças
prontas, (f) workshop e curso de reuso.
131
Figura 44 – Sistematização da abordagem projetual juntamente com Ciclo de Vida de Produto-Serviço de moda visando sustentabilidade ampla
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
132
Figura 45 - Sistematização da abordagem projetual juntamente com ciclo de Vida de produto de moda e o possível cenário no descarte visando sustentabilidade ampla
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
133
5 CONSIDERACOES FINAIS
A interpretação dos resultados obtidos na etapa do Workshop de Cocriação
é responsável por gerar modelos e projetações para sustentabilidade ampla.
Conforme previsto no objetivo geral, este estudo apresentou sistematizações e
abordagens projetuais do Design para as sustentabilidades, considerando as esferas
ambiental, social e econômica, bem como os Ciclos de Vida de produtos de Moda,
observando especificamente acessórios de couro. Os resultados deste estudo são
influenciados através de estratégias em ambas esferas tornando a empresa
analisada mais competitiva no mercado assim como ampliando sua sustentabilidade.
Nesse sentindo, é percebido que as organizações estão procurando inovar e
transformar seus modelos de negócio para garantir a eficiência, ao mesmo tempo
em que buscam uma marca responsável, gerando novos valores sociais aos seus
negócios. As atividades organizacionais devem ser transparentes para atender o
interesse de diferentes públicos, incluindo: o mercado, os trabalhadores, as
organizações não governamentais, os investidores e os pesquisadores. Para
alcançar esse objetivo, ou seja, para um melhor cuidado com o planeta, novos
conhecimentos e inovações em tecnologia, em modelos de gestão e em políticas
públicas desafiam as organizações nas suas escolhas em busca de desenvolver
suas operações, novos produtos, melhorar e ampliar os serviços e promover as
atividades sobre as economias e as pessoas. A sustentabilidade passa a constituir-
se em requisito padrão, incorporando-se nas estratégias das organizações.
Logo, salienta o próprio papel das empresas como organizações
exclusivamente econômicas e colocadas em debate, destacando seu potencial como
forças capazes de gerar soluções positivas para os desafios sociais. A cocriação e a
coinovação em todas as esferas e instâncias da ação humana pedem por formas
inovadoras também no modo como a cooperação interinstitucional ou interatores
pode se dar. A atividade que promove o elo entre esses temas é a gestão e os
processos que o descrevem. É a gestão que constitui o processo que promove as
escolhas, a aquisição, alocação e otimização de recursos, inclusos aÍ o esforço
humano e os recursos físicos, priorizando valores e estabelecendo padrões para
ação.
Um importante procedimento do presente trabalho foi a realização do
134
Workshop de Cocriação, empregado como ferramenta avaliativa do Ciclo de Vida
Produto-Serviço segundo alguns Critérios Norteadores de Design. Nesse Workshop
foram tratadas questões sobre como ampliar a sustentabilidade nas três esferas:
ambiental, social e econômica de forma a ampliar o valor social agregado à marca
da organização. A pesquisa realizada apresentou algumas limitações, entre elas
destaca-se a negativa da empresa XX Acessórios quanto a participação dos
fornecedores no processo como um todo. Procurou-se amenizar esta ausência
através dos convites realizados às especialistas da área, que de alguma maneira
pudesse oferecer uma opinião técnica para a discussão. Além disso, a avaliação do
Ciclo de Vida do Produto/Serviço de Moda é relativamente incipiente, carecendo de
mais pesquisas e, consequentemente, referencial teórico conceitual.
A primeira etapa para o Ciclo de Vida do Produto-Serviço é a Pré-produção,
como o produto é extraído. A relevância de saber onde é extraído o material que
será utilizado em cada peça. Aqui, deve-se observar de onde são extraídas as
matérias primas, que comunidades são envolvidas, verificar se agrega valor à
inovação social, e se é um produto que, caso colocado em aterro sanitário, gerará
toxicidade dos solos, dentre outras coisas. Analisando as questões de
sustentabilidade ambiental para essa etapa: seleção de matéria-prima, redução de
uso de materiais poluentes e agressivos ao meio ambiente, considerar a pré-
produção de materiais e o nível de agressão ao meio ambiente e as questões
sociais. Como por exemplo, devem-se utilizar resíduos da indústria do calçado como
matéria-prima, apenas os resíduos de couro animal? Considerar outros resíduos no
processo de fabricação, como visto em resposta no Workshop de Cocriação, o
emprego do couro da tilápia como uma alternativa de matéria-prima mais limpa.
Além disso, foram analisados quais os materiais empregados no desenvolvimento de
cada peça e avaliado o impacto ambiental gerado no próximo passo, que é o
desenvolvimento do produto.
A fase seguinte é da transformação dos materiais, montagem e criação das
peças. Nessa fase devem-se aplicar as recomendações da ISO 14001 para o
desenvolvimento de produtos verdes. E, dessa forma, garantir o desenvolvimento de
produtos com base no Ecodesign. Mas isso não é o suficiente para se alcançar a
sustentabilidade nas demais esferas: econômica e social. Para o desenvolvimento
135
das peças, avaliar o que será gerado como resíduo da produção. No caso de recorte
de matéria-prima, como o couro, por exemplo, buscar soluções que inovem no
sentido de usar mais do mesmo e desperdiçar menos. A forma de descartar o
material que sobra da produção deverá agredir menos o ambiente, buscar o uso de
material que possa ser reciclado ou reutilizado. Reduzir a quantidade de resíduos
sólidos e líquidos depositados no meio ambiente. No caso de utilização de material
galvanizado, procurar o uso de forma consciente, pois é um material extremamente
poluente em sua forma de produção.
A questão social é presente nas etapas de Pré-produção e Produção, além no
descarte, assim sendo associadas às comunidades de entorno, exemplos de
conceitos do Design Social, de onde são extraídas as matérias-primas, por exemplo.
No caso de uso de resíduos, é possível mobilizar pessoas a formar cooperativas e
realizar a pré-seleção de material a ser utilizado na área da moda. E, dessa forma,
criar uma ação de inovação social, oportunizando uma nova fonte de renda para as
pessoas que vivem próximas das áreas de Indústria de Calçados e que possam ter
uma nova fonte de renda. No caso de uso do couro do peixe, se beneficiam as
comunidades que dependem em uma finalização aos resíduos da pesca. É possível
ainda, capacitar as pessoas com formas de uso de resíduos no sentido de promover
as comunidades criativas nas dependências das indústrias de calçados. Ainda no
descarte, conclui-se que o ciclo da empresa estudada é de “anel aberto”, pois ocorre
um desvio durante a fase de retorno dos produtos à empresa. Assim, sugere-se
implantar a Logística Reserva utilizando o DFD no processo de produção para
facilitar desmontagem no reuso da peça.
Com relação à questão da sustentabilidade econômica, analisou-se e conclui-
se que a organização pode ampliar seu negócio e agregar valor social à marca, e
realizar uma ampliação das peças e materiais empregados. Considerando que o
mercado responde positivamente às empresas que usam como valor agregado o
comprometimento ambiental e social, visar o posicionamento do mercado da
organização e sua marca. Para cada uma das etapas anteriores, é possível criar
cenários de melhorias econômicas em função do valor agregado ao tema de
sustentabilidade nas três esferas.
136
Na Distribuição consciente desenvolve-se através da inspiração dos processos
de que eram realizados antes da chegada da indústria. Nessa época, utilizavam-se
os serviços e mão de obra mais próximos aos locais, evitando a busca de
fornecedores em grandes distâncias. Aconselha-se fazer um levantamento do que é
necessário em termos de fornecedores e buscar os mais próximos. Tentar reduzir os
gastos com logística para a distribuição dos produtos. Essas duas ações beneficiam
questões sociais e ambientais. Nessa fase, a empresa já desenvolve ações
sustentáveis no momento que reaproveita caixas doadas por parceiros.
Como dito anteriormente, o consumo é o vilão da área da Moda, considerado
como fastfashion. Aqui, deve-se valorizar o tempo de produção, o cuidado com cada
peça, fomentar questões sociais e ambientais. Convencer o consumidor que está
adquirindo um produto diferenciado e de certa forma desenvolvido na filosofia
"orgânica". Cada peça tem de ser especial na sua maneira de ser. E por isso tem
valor, vida longa e o comprometimento social. Em contra partida percebeu-se a
presença do conceito slowfashion na produção, uma vez que prioriza a qualidade
em vez da quantidade.
Além disso, constatou-se a importância de empregar na criação das peças, um
laço mais afetivo de consumidores com o seu produto adquirido. Criar peças que
possam ser reutilizadas. Criar um mecanismo de comunicação através de portal da
organização em que os clientes possam devolver as peças sob forma de doação e
que as mesmas gerem uma nova coleção que pode ser revertida para as
comunidades criativas que estão atreladas ao processo de produção e extração de
matéria-prima. Partindo desse pressuposto, ocorreram recomendações pontuais à
empresa a partir da sistematização dos dados da pesquisa na análise apresentada
anteriormente.
Por fim, avalia-se que apesar dos esforços da empresa em adequar-se às
exigências do mercado em relação a processos e produtos sustentáveis, existem
pontos específicos que podem sofrer ações de ampliação, de acordo com o
sistematizado acima. Em particular, o descarte poderia oferecer novas
oportunidades à empresa, se potencializado, como através da logística reversa, a
exemplo do que foi visto em relação a LEVI’S. Ademais, os possíveis
137
desdobramentos futuros desta pesquisa parecem indicar uma expansão para outros
segmentos, onde se permita a avaliação do Ciclo de Vida do Produto-Serviço para
além dos paradigmas atuais. Além disso, esse tipo de empreendimento permitirá que
se discutam as sustentabilidades além da concepção final dos produtos. Ainda,
indica novos desafios e oportunidades quanto à aplicação sistêmica do Design
Estratégico.
Diante de tantas inquietações em explorar toda a cadeia, desde as fases, os
ciclos, as esferas, esta pesquisa descobriu uma forma através das sistematizações
com finalidade de ampliar a sustentabilidade da empresa estudada, além de uma
projetação de um cenário visando estratégias para agregar valor social, ambiental e
econômico. A adaptação do Ciclo de Vida de Mazini e Vezzoli (2008) acrescentado
com Maxwell e Vorst (2003) foram essenciais e serviram de base para a projetação
de um novo Ciclo de Vida Produto-Serviço visando sistematizações para a
sustentabilidade ampla. Ainda vale o aproveitamento desta pesquisa a fim de
possibilitar a criação e novos cenários nas diversas fases do Ciclo de Vida visando
produtos e serviços. E por fim, retifica-se que os resultados obtidos muito se devem
pela interação dos atores no processo de criação conjunta durante o Workshop.
Considerando a possibilidade deste estudo ser um auxílio para outros
pesquisadores, assim como para outras empresas que tenham o objetivo em ampliar
a sustentabilidade, reforça-se a necessidade de continuar investigando as possíveis
esferas em suas variadas fases.
138
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145
APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
APRESENTAÇÃO DO ESTUDO:
Você está sendo conVidado a participar da pesquisa da dissertação de conclusão do Curso de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), da
mestranda Débora Maria de Macedo Quaresma17. O pesquisador responsável é a professora e
orientadora doutora Heloisa Tavares de Moura18, e o pesquisador assistente é a aluna de mestrado
Débora Maria de Macedo Quaresma, que integram a dupla de pesquisa do presente projeto, cujo
título é “Design para a Sustentabilidade Ampla: Estudo de Caso de uma Empresa de Design de
Acessórios de Moda”
I. O objetivo da presente pesquisa é apoiar empresas de Design de produtos, em específico,
no setor da Moda e Acessórios, no desenvolvimento de soluções ambientalmente corretas,
economicamente viáveis, socialmente justas e institucionalmente estratégicas. Para esse
fim, pretende, através de abordagem predominantemente qualitativa, realizar um Estudo de
Caso, mapeando e avaliando o Ciclo de Vida do sistema produto-serviço de uma empresa
de Design de Acessórios, assim como seu processo de inovação, considerando os
diferentes aspectos da sustentabilidade (ambiental, econômica, social e institucional). Nele,
em sequencia à realização de Revisão Bibliográfica, com foco multidisciplinar, serão
combinados diferentes métodos e técnicas para coleta dos dados (como a Observação
Participante, a Entrevista Contextual Semiestruturada e o Workshop de Cocriação –
envolvendo, conforme procedimento, empresários, funcionários, fornecedores, clientes e
especialistas), para sua documentação pelos pesquisadores, e para análise dos mesmos
(como Teoria Fundamentada nos Dados) – todos descritos, em detalhes, a seguir. Como
resultado, o estudo pretende sistematizar contribuições de diferentes campos do
conhecimento, principalmente do Design, referentes a abordagens projetuais para a
sustentabilidade ampla ou irrestrita, através do Ciclo de Vida de sistemas produto-serviço.
Em adição, a partir da articulação entre teoria e prática, ele almeja desenvolver novos
modelos conceituais, processos e ferramentas de apoio ao Design no sentido amplo.
II. A participação dos sujeitos de pesquisa no presente projeto será da seguinte forma,
conforme descrição apresentada.
III. A análise e síntese dos dados será efetuada com base em metodologia qualitativa nomeada
Teoria Fundamentada nos Dados, ou Grounded Theory – a qual visa compreender a
realidade a partir da percepção ou significado que determinado contexto ou objeto tem para
o ator social, identificando categorias de significado a partir do agrupamento e triangulação
dos dados coletados.
IV. O projeto não apresenta nenhum desconforto ou risco físico aos participantes. No entanto,
146
como habitualmente ocorre em pesquisas qualitativas, poderá existir desconforto ou
incômodo em compartilhar informações. Nesse sentido, o participante tem garantia de
liberdade para responder ou não a qualquer pergunta, e para passar ou não uma
informação, em parte ou integralmente, quer por motivos pessoais, de confidencialidade ou
quaisquer outros. Do mesmo modo, é garantida a liberdade do mesmo interromper a
participação no estudo em qualquer momento que desejar.
V. Dentre os benefícios da presente dissertação destacam-se: a articulação entre teoria e
prática; a contribuição teórica para o campo do Design na forma de revisão bibliográfica, de
sistematização das contribuições de diferentes campos do conhecimento, de
desenvolvimento de novos modelos conceituais/processos/ferramentas de apoio ao Design
no sentido amplo, e de sistematização de abordagem projetual para a sustentabilidade
irrestrita; a contribuição prática para empresas de Design de produtos, em específico, no
setor da Moda e Acessórios, na forma de Estudo de Caso e de aplicação de abordagem
projetual para o desenvolvimento de sistemas produto-serviço ambientalmente corretos,
economicamente viáveis, socialmente justos e institucionalmente estratégicos, durante todo
o seu Ciclo de Vida.
VI. O acesso às informações e dados coletados será feito, exclusivamente, pelo pesquisador
responsável – professora e orientadora doutora Heloisa Tavares de Moura – e pesquisador
assistente – mestranda Débora Maria de Macedo Quaresma.
VII. O presente projeto não possui patrocinadores.
LEIA COM ATENÇÃO ANTES DE ASSINAR O TERMO:
Pelo presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, declaro que autorizo a minha
participação neste projeto de pesquisa, pois fui informado(a), de forma clara, detalhada e livre de
qualquer forma de constrangimento ou coerção, dos objetivos, da justificativa, dos procedimentos
que serei submetido(a), dos riscos e desconfortos, e dos benefícios, assim como das alternativas as
quais poderia ser submetido(a), todos acima listados. Manifesto, igualmente, que fui adequadamente
informado(a):
1. Da garantia de receber resposta à pergunta ou esclarecimento de dúvida acerca dos
procedimentos, riscos, benefícios e outros assuntos relacionados com a pesquisa;
2. Da liberdade de retirar meu consentimento, a qualquer momento, e deixar de participar do estudo;
3. Da garantia de que não serei identificado quando da divulgação dos resultados e que as
informações obtidas serão atualizadas apenas para fins científicos vinculados ao presente projeto de
pesquisa;
4. De que os dados que estão sendo coletados serão acessados apenas pelos pesquisador
responsável e assistente – Heloisa Tavares de Moura e Débora Maria de Macedo Quaresma – e
utilizadas por esta dupla de pesquisa; e
5. Do compromisso de proporcionar informação atualizada obtida durante o estudo, ainda que esta
possa afetar a minha vontade em continuar participando.
O contato com o pesquisador responsável – Heloisa Tavares de Moura – poderá ser efetuado, no
147
caso de eventuais dúvidas, pelo telefone (51) 32303323 (Ramal 3323), ou pelos endereços
eletrônicos (emails) [email protected] e [email protected].
O presente documento deve ser assinado em duas vias de igual teor, ficando uma com o
participante da pesquisa ou seu representante legal e outra com o pesquisador responsável.
O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UniRitter, responsável pela apreciação do presente
projeto de pesquisa, pode ser consultado a qualquer momento, para fins de esclarecimento, por
meio do telefone (51) 3092.5699 (Ramal 9024), ou pelo endereço eletrônico (email) CEP@
uniritter.edu.br.
Eu, ______________________________________________________(nome completo) declaro ter
lido e discutido o conteúdo do presente Termo de Consentimento, e concordo em participar deste
estudo de forma livre e esclarecida. Também declaro ter recebido cópia deste Termo.
________________________________________RG: ________________
(Assinatura do Participante)
Data ____/___/______
Heloisa Tavares de Moura _____________________ RG: ______________
Data ____/___/______
17 Mestranda em Design pela UniRitter (2013), especialista em Gestão de Negócios pela ULBRA (2011) e Designer pela ESPM (2006). Atualmente é professora e coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda da ULBRA Canoas. 18 Pós-doutora em Ciência da Computação pela PUC-Rio (2011), doutora em Design pelo Illinois Institute of Technology (2008) e mestre em Educação pela UERJ (1998). Atualmente é professora do Programa de Mestrado em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis, UniRitter.
148
APÊNDICE B – Solicitação de Autorização para Pesquisa em Empresa
SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA EM EMPRESA
Eu, HELOISA TAVARES DE MOURA, Ph.D., professora associada do Centro Universitário Ritter dos
Reis – UniRitter, e pesquisadora responsável pelo projeto de pesquisa para o desenvolvimento de
dissertação de conclusão de curso de Mestrado em Design, sob o título Design para a
Sustentabilidade Ampla: Estudo de Caso de uma Empresa de Design de Acessórios de Moda,
da aluna DÉBORA MARIA DE MACEDO QUARESMA, pesquisadora assistente do presente projeto,
venho, pelo presente, solicitar, respeitosamente, a autorização da empresa de Design de Acessórios
XX ACESSÓRIOS DE MODA, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, para realizar coleta de
dados com os seus funcionários no período de 1° de junho a 1º julho de 2014, através de
entrevistas, bem como para publicar os resultados do estudo em trabalhos, artigos e similares, com
fins exclusivamente científicos e vinculados ao presente projeto de pesquisa, mantendo o anonimato
da empresa e seus participantes. O objetivo do presente estudo é mapear e avaliar o ciclo de Vida
do produto da empresa de Design, com foco na inovação e sustentabilidade ampla ou irrestrita – ou
seja, ambiental, econômica, social e institucional. Utilizando métodos como Observação Participante,
Entrevista Contextual Semi-Estruturada e Workshop de Cocriação, o intuito do projeto é sistematizar
contribuições de diferentes campos do conhecimento, principalmente do Design, referentes a
abordagens projetuais para a sustentabilidade irrestrita através do ciclo de Vida de sistemas produto-
serviço. A partir da articulação entre teoria e prática, pretende-se desenvolver novos modelos
conceituais, processos e ferramentas de apoio ao design no sentido amplo. Desde já agradeço a
atenção e, contando com a sua autorização para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa que
intenciona contribuir para o diálogo científico do Design enquanto área de conhecimento, coloco-me
à disposição para qualquer esclarecimento.
________________________________
Heloisa Tavares de Moura
Pesquisadora Principal
______________________________________
Nome e assinatura do Responsável pela empresa
Cargo: CPF:
Data ____/___/______
149
APÊNDICE C – Solicitação de Autorização para Pesquisa com Funcionários de
Uma Empresa
SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA COM FUNCIONÁRIOS DE UMA EMPRESA
Eu, HELOISA TAVARES DE MOURA, Ph.D., professora associada do Centro Universitário Ritter dos
Reis – UniRitter, e pesquisadora responsável pelo projeto de pesquisa para o desenvolvimento de
dissertação de conclusão de curso de Mestrado em Design, sob o título Design para a
Sustentabilidade Ampla: Estudo de Caso de uma Empresa de Design de Acessórios de Moda,
da aluna DÉBORA MARIA DE MACEDO QUARESMA, pesquisadora assistente do presente projeto,
venho, pelo presente, solicitar, respeitosamente, a autorização dos funcionários da empresa de
design de acessórios XX ACESSÓRIOS, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, para
realizar coleta de dados com os seus funcionários no período de 1° de agosto a 1º dezembro de
2014, através de entrevistas, bem como para publicar os resultados do estudo em trabalhos, artigos
e similares, com fins exclusivamente científicos e vinculados ao presente projeto de pesquisa,
mantendo o anonimato da empresa e seus participantes. O objetivo do presente estudo é mapear e
avaliar o ciclo de Vida do produto da empresa de Design, com foco na inovação e sustentabilidade
ampla ou irrestrita – ou seja, ambiental, econômica, social e institucional. Utilizando métodos como
Observação Participante, Entrevista Contextual Semi-Estruturada e Workshop de Co-Criação, o
intuito do projeto é sistematizar contribuições de diferentes campos do conhecimento, principalmente
do Design, referentes a abordagens projetuais para a sustentabilidade irrestrita através do ciclo de
Vida de sistemas produto-serviço. A partir da articulação entre teoria e prática, pretende-se
desenvolver novos modelos conceituais, processos e ferramentas de apoio ao design no sentido
amplo. Desde já agradeço a atenção e, contando com a sua autorização para o desenvolvimento
deste projeto de pesquisa que intenciona contribuir para o diálogo científico do Design enquanto
área de conhecimento, coloco-me à disposição para qualquer esclarecimento.
________________________________
Heloisa Tavares de Moura
Pesquisadora Principal
_____________________________ _____________________________
Nome e assinatura do funcionário 01 Nome e assinatura do funcionário 02
Cargo: CPF: Cargo: CPF:
Data ____/___/______
150
ANEXO A - Requisitos relacionados estão listados nos Anexos IV e V da
Directiva Ecodesign.
ANNEX IV - Official Journal of the European Union - L 285/30 - 31.10.2009
Internal design control
(referred to in Article 8(2))
1. This Annex describes the procedure whereby the manufacturer or its authorised representative who
carries out the obligations laid down in point 2 ensures and declares that the product satisfies the
relevant requirements of the applicable implementing measure. The EC declaration of conformity may
cover one or more products and must be kept by the manufacturer.
2. A technical documentation file making possible an assessment of the conformity of the product with
the requirements of the applicable implementing measure must be compiled by the manufacturer
The documentation must contain, in particular:
(a) a general description of the product and of its intended use;
(b) the results of relevant environmental assessment studies carried out by the manufacturer, and/or
references to environmental assessment literature or case studies, which are used by the
manufacturer in evaluating, documenting and determining product design solutions; (c) the ecological
profile, where required by the implementing measure; (d) elements of the product design specification
relating to environmental design aspects of the product; (e) a list of the appropriate standards referred
to in Article 10, applied in full or in part, and a description of the solutions adopted to meet the
requirements of the applicable implementing measure where the standards referred to in Article 10
have not been applied or where those standards do not cover entirely the requirements of the
applicable implementing measure; (f) a copy of the information concerning the environmental design
aspects of the product provided in accordance with the requirements specified in Annex I, Part 2; and
(g) the results of measurements on the ecodesign requirements carried out, including details of the
conformity of these measurements as compared with the ecodesign requirements set out in the
applicable implementing measure. 3. The manufacturer must take all measures necessary to ensure
that the product is manufactured in compliance with the design specifications referred to in point 2 and
with the requirements of the measure which apply to it. EN L 285/28 Official Journal of the European
Union 31.10.2009.
ANNEX V - - Official Journal of the European Union - L 285/30 - 31.10.2009
Management system for assessing conformity
(referred to in Article 8(2))
1. This Annex describes the procedure whereby the manufacturer who satisfies the obligations of point
2 ensures and declares that the product satisfies the requirements of the applicable implementing
measure. The EC declaration of conformity may cover one or more products and must be kept by the
manufacturer.
2. A management system may be used for the conformity assessment of a product provided that the
manufacturer implements the environmental elements specified in point 3.
151
3. Environmental elements of the management system
This point specifies the elements of a management system and the procedures by which the
manufacturer can demonstrate that the product complies with the requirements of the applicable
implementing measure.
3.1. The environmental product performance policy
The manufacturer must be able to demonstrate conformity with the requirements of the applicable
implementing measure. The manufacturer must also be able to provide a framework for setting and
reviewing environmental product performance objectives and indicators with a view to improving the
overall environmental product performance.
All the measures adopted by the manufacturer to improve the overall environmental performance of,
and to establish the ecological profile of, a product, if required by the implementing measure, through
design and manufacturing, must be documented in a systematic and orderly manner in the form of
written procedures and instructions.
These procedures and instructions must contain, in particular, an adequate description of:
(a) the list of documents that must be prepared to demonstrate the product’s conformity, and, if
relevant, that have to be made available;
(b) the environmental product performance objectives and indicators and the organisational structure,
responsibilities, powers of the management and the allocation of resources with regard to their
implementation and maintenance; (c) the checks and tests to be carried out after manufacture to verify
product performance against environmental performance indicators; (d) the procedures for controlling
the required documentation and ensuring that it is kept up-to-date; and (e) the method of verifying the
implementation and effectiveness of the environmental elements of the management system. 3.2.
Planning The manufacturer must establish and maintain: (a) procedures for establishing the ecological
profile of the product; (b) environmental product performance objectives and indicators, which
consider technological options, taking into account technical and economic requirements; and (c) a
programme for achieving these objectives. 3.3. Implementation and documentation EN 31.10.2009
Official Journal of the European Union L 285/29
3.3.1. The documentation concerning the management system must, in particular, comply with the
following:
(a) responsibilities and authorities must be defined and documented in order to ensure effective
environmental product performance and reporting on its operation for review and improvement;
(b) documents must be established indicating the design control and verification techniques
implemented and processes and systematic measures used when designing the product; and
(c) the manufacturer must establish and maintain information to describe the core environmental
elements of the management system and the procedures for controlling all documents required.
3.3.2. The documentation concerning the product must contain, in particular:
(a) a general description of the product and of its intended use;
(b) the results of relevant environmental assessment studies carried out by the manufacturer, and/or
references to environmental assessment literature or case studies, which are used by the
manufacturer in evaluating, documenting and determining product design solutions; (c) the ecological
152
profile, where required by the implementing measure; (d) documents describing the results of
measurements on the ecodesign requirements carried out including details of the conformity of these
measurements as compared with the ecodesign requirements set out in the applicable implementing
measure; (e) the manufacturer must establish specifications indicating, in particular, standards which
have been applied; where standards referred to in Article 10 are not applied or where they do not
cover entirely the requirements of the relevant implementing measure, the means used to ensure
compliance; and (f) copy of the information concerning the environmental design aspects of the
product provided in accordance with the requirements specified in Annex I, Part 2. 3.4. Checking and
corrective action 3.4.1. The manufacturer must: (a) take all measures necessary to ensure that the
product is manufactured in compliance with its design specification and with the requirements of the
implementing measure which applies to it; (b) establish and maintain procedures to investigate and
respond to non-conformity, and implement changes in the documented procedures resulting from
corrective action; and (c) carry out at least every three years a full internal audit of the management
system with regard to its environmental elements.
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ANEXO B - Requisitos e diretrizes do Design a equidade e coesão social de
Carlo Vezzoli (2010)
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ANEXO C – Eco-Design Strategies de Alastair Foud-Luke (2002)
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ANEXO D – Lei do Resíduo Sólido
LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010.
Art. 1º Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.
§ 1º Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou
privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos.
§ 2º Esta Lei não se aplica aos rejeitos radioativos, que são regulados por legislação
específica. Art. 2º Aplicam-se aos resíduos sólidos, além do disposto nesta Lei, nas Leis nos 11.445, de 5
de janeiro de 2007, 9.974, de 6 de junho de 2000, e 9.966, de 28 de abril de 2000, as normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro).
CAPÍTULO II DEFINIÇÕES Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: I - acordo setorial: ato de natureza contratual firmado entre o poder público e fabricantes,
importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de Vida do produto;
II - área contaminada: local onde há contaminação causada pela disposição, regular ou
irregular, de quaisquer substâncias ou resíduos; III - área órfã contaminada: área contaminada cujos responsáveis pela disposição não sejam
identificáveis ou individualizáveis; IV - ciclo de Vida do produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a
obtenção de matérias-primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final; V - coleta seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua
constituição ou composição; VI - controle social: conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade
informações e participação nos processos de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos;
VII - destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a
reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;
VIII - disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em aterros,
observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;
161
IX - geradores de resíduos sólidos: pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que geram resíduos sólidos por meio de suas atividade s, nelas incluído o consumo;
X - gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente,
nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei;
XI - gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas para a busca de
soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável;
XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por
um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;
XIII - padrões sustentáveis de produção e consumo: produção e consumo de bens e serviços
de forma a atender as necessidades das atuais gerações e permitir melhores condições de Vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o atendimento das necessidades das gerações futuras;
XIV - reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de
suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;
XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento
e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada;
XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividade s
humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;
XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de Vida dos produtos: conjunto de atribuições
individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de Vida dos produtos, nos termos desta Lei;
XVIII - reutilização: processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação
biológica, física ou físico-química, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;
XIX - serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividade
s previstas no art. 7º da Lei nº 11.445, de 2007. ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado
dos resíduos sólidos. Art. 5º A Política Nacional de Resíduos Sólidos integra a Política Nacional do Meio Ambiente e
articula-se com a Política Nacional de Educação Ambiental, regulada pela Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, com a Política Federal de Saneamento Básico, regulada pela Lei nº 11.445, de 2007, e com a Lei no 11.107, de 6 de abril de 2005