1
EngEnhArIA
CaRToGRáFiCa base da geoinformação
João Fernando Custodio da Silva
2
SOBRE O AUTOR
João Fernando Custodio da Silva, Engenheiro Cartógrafo graduado pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em 1979; mestre (1983) e doutor
(1987) em Ciências Geodésicas pela Universidade Federal do Paraná; pós-
doutorado na Ohio State University, EUA, de 1992 a 1994 (fotogrametria e
sistemas de mapeamento móvel); livre-docente (1997) e professor titular (2007)
em Fotogrametria do departamento de Cartografia, da Faculdade de Ciências e
Tecnologia (FCT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de
Presidente Prudente, onde ingressou, em 1982, para lecionar Fotogrametria no
curso de Engenharia Cartográfica e posteriormente Cartografia e Trabalho de
Síntese, tendo colaborado nas disciplinas de Desenho Geométrico e Introdução
ao Conhecimento Científico. No Programa de Pós-graduação em Ciências
Cartográficas lecionou Fotogrametria Analítica e atualmente leciona
Organização do Trabalho Científico, e Orientação de Sensores e Imagens.
Presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Cartógrafos (1988-1992),
Conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de
São Paulo (2004-2009), Vice-diretor (2002-2006) e Diretor da FCT/Unesp (2006-
2010). Estágio de pesquisa no Instituto de Geomática da Universidade
Politécnica da Catalunha e Generalitàt Cataluña, Espanha, de outubro de 2011 a
fevereiro de 2012 (estudo sobre a integração de sensores de posicionamento e
navegação para o mapeamento móvel).
NOTA AO LEITOR
Material em edição. Agradecemos a comunicação de falhas e omissões. JFCS
3
Siglas
ABEC/Associação Brasileira dos Engenheiros Cartógrafos. ACI/Associação
Cartográfica Internacional. ART/Anotação de Responsabilidade Técnica.
BCG/Boletim de Ciências Geodésicas. CAD/computer aided design. CCD/charge
coupled device. CIM/Carta Internacional do Mundo ao Milionésimo. CNPq/Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. CONFEA/Conselho Federal
de Engenharia e Agronomia. CREA/Conselho Regional de Engenharia e Agronomia.
CTI/Ciência, tecnologia e inovação tecnológica. CVL/Curriculum vitae Lattes.
DC/documento cartográfico. ECA/erro cartográfico admissível. FAPESP/Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. FIG/Féderation Internationale de
Géomètres. GIS/geographic(al) information system (ver SIG). GLONASS/(ver
GNSS). GNSS/Global Navigation Satellite System. GPS/Global Positioning System.
IAG/International Association of Geodesy. IBGE/(Fundação) Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. IES/instituições de ensino superior. IMU/inertial measurement
unit. INPE/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. INS/inertial navigation system.
ISPRS/International Society for Photogrammetry and Remote Sensing. LASER
(laser)/light amplified by stimulated emission radiation. LIDAR (lidar)/laser detection
and ranging. LTM/Local Tranversa (de) Mercator. MCF/meridiano central do fuso.
MDE/modelo digital de elevação. MDS/modelo digital de superfície. MDT/modelo
digital do terreno. MEC/Ministério da Educação. MLE/meridiano limite do fuso a
leste. MLW/meridiano limite do fuso a oeste. MMQ/método dos mínimos quadrados.
NMM/nível médio dos mares. NTCN/Normas Técnicas da Cartografia Nacional.
ONU/Organização das Nações Unidas. PEC/padrão de exatidão cartográfica.
PLC/Plataforma Lattes CNPq. RADAM/radar da Amazônia. RADAR (radar)/radio
detection and ranging. RBC/Revista Brasileira de Cartografia. RBMC/Rede Brasileira
de Monitoramento Contínuo. RN/RRNN/referência(s) de nível. RTM/Regional
Tranversa (de) Mercator. SBC/Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia,
Fotogrametria e Sensoriamento Remoto. SCN/Sistema Cartográfico Nacional.
SFT/superfície física da Terra. SGB/Sistema Geodésico Brasileiro. SIG/sistema de
informação geográfica (ver GIS). SIRGAS2000/Sistema de Referência Geocêntrico
para as Américas (realização ano 2000). SMR/superfície do modelo de referência.
SPR/superfície do plano de representação. SSP/superfície do sólido de projeção.
TIN/triangular irregular network. UGGI/União Geodésica e Geofísica Internacional.
UNESCO/United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.
UFPE/Universidade Federal de Pernambuco. UFPR/Universidade Federal do Paraná.
UNESP/Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. USP/Universidade
de São Paulo. UTM/Universal Transversa (de) Mercator. VFT/verdadeira forma da
Terra.
4
CONTEÚDO (provisório)
2 A Formação do Engenheiro Cartógrafo: Ponto, traço. Cor, coordenada. Cálculo,
limite. Geográfica informação.
Fundamentos. Núcleos de conteúdos. Carga horária mínima. Marco de Curitiba. Um
caso para exemplificar. Atividades complementares. Atividades curriculares
complementares. Atividades extracurriculares. Síntese das atividades de formação.
Eventos que contribuem com a formação do egresso: congresso, simpósio, seminário,
painel, conferência, palestra, colóquio, mesa-redonda, debate, encontro, jornada,
fórum, oficina, audiência. A comunicação oral e escrita. Componentes da comunicação
oral e escrita na Engenharia. Os atuais cursos de Engenharia Cartográfica. Os cursos de
Engenharia Cartográfica e Agrimensura. Juramento e colação do grau.
5
CAPÍTULO 2
A Formação do Engenheiro Cartógrafo
Ponto, traço.
Cor, coordenada.
Cálculo, limite.
Geográfica informação.
Fundamentos
A formação de engenheiros no Brasil é feita pelas instituições de ensino
superior (IES), que são as universidades, faculdades, institutos ou escolas de nível
superior, as quais podem ser públicas, privadas, ou confessionais. A legislação
determina que os cursos de engenharia devam ser credenciados pelo Ministério da
Educação (MEC), que detém os poderes para deliberar sobre a organização do ensino
em geral e das diretrizes curriculares em particular.
As diretrizes curriculares nacionais para o ensino de graduação em engenharia
definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de
engenheiros. A organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos
dos cursos de graduação em engenharia devem seguir as diretrizes curriculares. O
MEC, por meio do Conselho Nacional de Educação, supervisionou a elaboração da
resolução número 11, feita pela Câmara de Educação Superior. Publicada em 2002, a
resolução trata dos aspectos gerais e específicos das diretrizes curriculares. Estas
fundamentam o atual processo educacional de formação de engenheiros no País.
O curso de graduação em engenharia deve ser constituído de modo que o perfil
do egresso, ou seja, do profissional que se tornará engenheiro, tenha formação
6
generalista, humanista, crítica e reflexiva; que seja capacitado a absorver e desenvolver
novas tecnologias; que atue de modo crítico e criativo na identificação e resolução de
problemas; que os considere sob os aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais
e culturais, com visão ética e humanística, para atender às demandas da sociedade.
O perfil não terá uma caracterização exterior estereotipada. Pelo contrário, o
engenheiro será reconhecido como tal por meio de suas atuações intelectuais e
operacionais, seja pelo diálogo com as partes interessadas no seu trabalho, seja pelas
peças documentais, como projetos e relatórios, com as quais exercita a sua atuação
profissional.
A formação do engenheiro, de acordo com estas diretrizes (www.mec.gov.br),
tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício
profissional com as seguintes competências e habilidades gerais:
01 – aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais à
engenharia;
02 – projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados;
03 – conceber, projetar e analisar sistemas, produtos e processos;
04 – planejar, supervisionar, elaborar e coordenar projetos e serviços de engenharia;
05 – identificar, formular e resolver problemas de engenharia;
06 – desenvolver e/ou utilizar novas ferramentas e técnicas;
07 – supervisionar a operação e a manutenção de sistemas;
08 – avaliar criticamente a operação e a manutenção de sistemas;
09 – comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica;
10 – atuar em equipes multidisciplinares;
11– compreender e aplicar a Ética e responsabilidade profissionais;
12 – avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e ambiental;
13 – avaliar a viabilidade econômica de projetos de engenharia;
14 – assumir a postura de permanente busca de atualização profissional.
As competências e habilidades visadas na formação do futuro engenheiro
devem ser bem compreendidas pelas partes envolvidas no processo de ensino e
aprendizagem porque elas são componentes da habilitação para o exercício
profissional. As competências referem-se ao saber teórico, à constituição do cabedal
7
teórico científico que propicia ao profissional compreender e explicar o porquê das
coisas. As habilidades remetem ao saber fazer, a como pôr em prática uma solução
amparada por uma razão teórica. Compreendemos aqui a indissociabilidade da teoria
e da prática para a formação do engenheiro. As partes diretamente envolvidas no
processo de formação do futuro egresso são os professores e os próprios alunos.
Entretanto, há também o sistema nacional de educação superior, do qual
participam as IES, e as organizações empregadoras de engenheiros. Associações,
sindicatos, organizações de governo e não governamentais, a mídia e, enfim, a
sociedade acompanha com certa proximidade e com interesses variados a política de
formação de recursos humanos de nível superior na área tecnológica. Prova disso são
os rankings nacionais, geralmente promovidos pelas editoras dos grandes jornais e
revistas brasileiros, e internacionais (ARWU, 2011), com as classificações anuais ou
bienais das IES e seus cursos, que despertam viva atenção da sociedade, de modo que
as próprias IES tomam decisões estratégicas para bem figurar nesses índices.
Com tantos e variados interesses em cena, para assegurar que os egressos dos
cursos brasileiros de engenharia sejam formados em concordância com o perfil traçado,
cada curso deve elaborar um projeto pedagógico. Este documento deve demonstrar
com clareza como o conjunto das atividades previstas propiciará o perfil desejado de
seu egresso e também o desenvolvimento das competências e habilidades esperadas.
Embora em grande parte algumas alterações importantes na estrutura dos
cursos já estavam em andamento e em funcionamento, a Resolução CNE/CES-11/2002
do MEC enfatizou a urgência de se reduzir o tempo em sala de aula para favorecer o
trabalho individual e em grupo dos estudantes. Além disto, indicou a obrigatoriedade
dos trabalhos de síntese e de integração dos conhecimentos adquiridos ao longo do
curso; que pelo menos um deles devesse se constituir em atividade obrigatória como
requisito para a graduação; e que também houvesse estímulos às atividades
complementares, tais como trabalhos de iniciação científica (IC), projetos
multidisciplinares, visitas técnicas, trabalhos em equipe, desenvolvimento de
protótipos, monitorias, participação em empresas juniores e outras atividades
empreendedoras. Na prática, a resolução apenas oficializou o que já se praticava em
alguns cursos de engenharia das melhores IES brasileiras.
Núcleos de conteúdos
Todos os cursos de engenharia, independentemente de suas modalidades,
devem possuir em seus currículosos núcleos de conteúdos básicos, profissionalizantes
8
e específicos que caracterizem as respectivas modalidades. Em tempo, no âmbito das
profissões ditas tecnológicas, é oportuno esclarecer que categoria diz respeito a
Agronomia e Engenharia, modalidade refere-se às subdivisões das engenharias, e
especialidade particulariza um setor da modalidade.
Atualmente o MEC registra mais de duzentos títulos ou denominações
diferentes para cursos de engenharia, que são livremente criados e estabelecidos pelas
IES. Este assunto está sendo estudado e em análise no âmbito do MEC em sintonia com
entidades do setor profissional, como o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia
(CONFEA) para reduzir o número de títulos e denominações. Por ora, vamos aceitar
que as modalidades da engenharia: são civil, mecânica, elétrica, minas e metalurgia,
química e agrimensura (cartografia). As duas centenas de especialidades se encaixam,
ou devem se encaixar, nestas seis modalidades.
Em tempo, vale destacar que o MEC é instância de governo dedicada à
educação em todos os níveis e responde diretamente à Presidência da República,
enquanto que o CONFEA é uma autarquia criada pelo mencionado decreto para
fiscalizar o exercício profissional e responde diretamente aos profissionais registrados.
É, portanto, auto regulatório.
O núcleo de conteúdos básicos, cerca de 30% da carga horária mínima (1080
horas), versa sobre os tópicos: Metodologia Científica e Tecnológica; Comunicação e
Expressão; Informática; Expressão Gráfica; Matemática; Física; Fenômenos de
Transporte; Mecânica dos Sólidos; Eletricidade Aplicada; Química; Ciência e
Tecnologia dos Materiais; Administração; Economia; Ciências do Ambiente;
Humanidades, Ciências Sociais e Cidadania. Nos conteúdos de Física, Química e
Informática, é obrigatória a existência de atividades de laboratório. Nos demais
conteúdos básicos, devem ser previstas atividades práticas e de laboratórios, com
enfoques e intensidade compatíveis com a modalidade pleiteada.
O núcleo de conteúdos profissionalizantes, cerca de 15% da carga horária
mínima (540 horas), compreende um subconjunto coerente dos tópicos abaixo
discriminados, a ser definido pelas IES: Algoritmos e Estruturas de Dados; Bioquímica;
Ciência dos Materiais; Circuitos Elétricos; Circuitos Lógicos; Compiladores;
Construção Civil; Controle de Sistemas Dinâmicos; Conversão de Energia;
Eletromagnetismo; Eletrônica Analógica e Digital; Engenharia do Produto; Ergonomia
e Segurança do Trabalho; Estratégia e Organização; Físico-química; Geoprocessamento;
Geotecnia; Gerência de Produção; Gestão Ambiental; Gestão Econômica; Gestão de
Tecnologia; Hidráulica, Hidrologia Aplicada e Saneamento Básico; Instrumentação;
Máquinas de fluxo; Matemática discreta; Materiais de Construção Civil; Materiais de
Construção Mecânica; Materiais Elétricos; Mecânica Aplicada; Métodos Numéricos;
9
Microbiologia; Mineralogia e Tratamento de Minérios; Modelagem, Análise e
Simulação de Sistemas; Operações Unitárias; Organização de computadores;
Paradigmas de Programação; Pesquisa Operacional; Processos de Fabricação;
Processos Químicos e Bioquímicos; Qualidade; Química Analítica; Química Orgânica;
Reatores Químicos e Bioquímicos; Sistemas Estruturais e Teoria das Estruturas;
Sistemas de Informação; Sistemas Mecânicos; Sistemas Operacionais; Sistemas
Térmicos; Tecnologia Mecânica; Telecomunicações; Termodinâmica Aplicada;
Topografia e Geodésia; Transporte e Logística.
O núcleo de conteúdos específicos se constitui em extensões e aprofundamentos
dos conteúdos do núcleo profissionalizante, bem como de outros conteúdos destinados
a caracterizar modalidades. Estes conteúdos, mais os dos restantes da carga horária
total, são propostos exclusivamente pela IES. Constituem-se em conhecimentos
científicos, tecnológicos e instrumentais próprios para a definição das modalidades e
especialidades de engenharia e devem garantir o desenvolvimento das competências e
habilidades estabelecidas nas diretrizes.
Os três núcleos contêm disciplinas, que podem ser obrigatórias ou optativas.
Por certo, as disciplinas obrigatórias constituem a maior parte da carga horária
mínima. As optativas, limitadas a 180 horas, correspondem a aproximadamente 5% da
carga horária mínima e complementam a formação em tópicos selecionados de acordo
com a estratégia do conselho do curso. Cada disciplina representa uma fração do
conhecimento, de modo que o conjunto das disciplinas de todos os núcleos, somadas e
inter-relacionadas, forma o acervo teórico-prático do conhecimento técnico-científico
do futuro profissional.
Carga horária mínima
A carga horária mínima exigida para os cursos de graduação em engenharia é
de 3600 horas em um tempo mínimo de cinco anos e máximo de nove. Em cinco anos, a
carga mínima equivale a 18 horas por semana. A carga horária real da maioria dos
cursos de engenharia, em suas distintas modalidades, deve estar em torno de 4000
horas (20h semanais). Entretanto, há um número considerável de cursos de carga
horária anual média de 900 horas (total de 4500 horas). Nestes casos, tomando-se os
duzentos dias do ano letivo em quarenta semanas, os cursos de tempo integral
oferecem a média de 22,5 horas-aula por semana.
A formação do engenheiro inclui também, como atividades integrantes da
graduação, estágios curriculares obrigatórios sob a supervisão direta da IES
10
concretizada em planos e relatórios técnicos e acompanhamento individualizado
durante o período de realização da atividade. A carga horária mínima do estágio
curricular é de 160 (cento e sessenta) horas. Além disto, é obrigatório o trabalho final
de curso (TFC) como atividade de síntese e integração de conhecimento.
Compreendendo a extensão territorial brasileira e as distintas evoluções
históricas das suas macrorregiões, é fácil aceitarmos que os seus habitantes
desenvolveram padrões culturais próprios que acabam por influir também na
formação de engenheiros no Brasil. Daí entendermos que devemos seguir um roteiro
curricular mais ou menos flexível. Os currículos dos cursos de engenharia têm um
conteúdo comum dentro das suas respectivas modalidades e especialidades. Uma
segunda parte depende do interesse estratégico da IES que o molda conforme as
influências regionais de natureza cultural, econômica, ambiental ou outra.
As atuais estruturas curriculares atendem aos preceitos das diretrizes
curriculares em seus aspectos fundamentais. Entretanto, o contínuo desenvolvimento
tecnológico pressiona as IES a conduzirem estudos, avaliações e discussões que
culminam com propostas mais ou menos periódicas de reestruturação curricular. A
implantação e desenvolvimento das diretrizes curriculares devem orientar e propiciar
concepções curriculares ao curso de graduação em engenharia que deverão ser
acompanhadas e permanentemente avaliadas, a fim de permitir os ajustes requeridos
ao seu aperfeiçoamento. Os conselhos dos cursos – geralmente integrados por
docentes, discentes e em alguns casos servidores técnicos ou administrativos das IES –
devem proceder periodicamente à avaliação do curso.
Há diversas metodologias e critérios para acompanhamento e avaliação do
processo ensino-aprendizagem e do próprio curso. O sistema de avaliação e a dinâmica
curricular são definidos pela IES conforme a sua cultura de avaliação e sua política
estratégica de desenvolvimento. Independentemente da forma ou método é crescente o
interesse em processos que participam todos os segmentos – professores, alunos e
funcionários –, respeitadas as suas competências e responsabilidades.
Os aspectos gerais e estratégicos são de competência das instâncias superiores
das IES e os aspectos imediatos ou pontuais merecem a atenção e o cuidado dos
conselheiros dos cursos. As avaliações dos alunos de engenharia devem se basear nas
competências, habilidades e conteúdos curriculares desenvolvidos tendo como
referência as diretrizes curriculares para a Engenharia, tal como oficializado pelo MEC
e em muitos casos pactuado entre os representantes dos distintos cursos.
Marco de Curitiba
11
O objetivo central de um curso de engenharia cartográfica é oferecer ao aluno
uma formação que o prepare para o início de sua atuação profissional como
engenheiro cartógrafo. Almejamos que o egresso desempenhe suas habilitações
profissionais com sucesso, eficiência e visão ética e humanista; que atenda às
demandas da sociedade, tanto no âmbito público quanto privado, mediante a
realização de diversas atividades, tais como prestação de serviços profissionais,
desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas, seja básica, aplicada ou
inovação tecnológica, bem como a docência e pesquisas acadêmicas nas universidades.
Tal objetivo é assim posto para que a IES opere um plano de formação tal que o
egresso seja um engenheiro cartógrafo apto a elaborar, executar, acompanhar,
fiscalizar, assessorar, analisar e orientar projetos de mapeamento cartográfico e de
representação das informações geográficas.
Em setembro de 1989, em Curitiba, capital do Paraná, foi realizado o seminário
intitulado ‚Cartografia: Ação Integrada para o Desenvolvimento – Encontro sobre
Ensino na Área de Cartografia‛. Naquele evento foram debatidos temas específicos da
área, tais como o perfil do Engenheiro Cartógrafo, os currículos vigentes e a
oportunidade de reestruturação curricular. A partir de então, as cinco IES que àquela
época ofereciam a graduação em Engenharia Cartográfica passaram a individualmente
adaptar os seus respectivos currículos àquela decisão coletiva.
Na sequência daquela reunião, os responsáveis pelos cursos de engenharia
cartográfica decidiram por disciplinas obrigatórias comuns nos núcleos básico,
profissionalizante e específico, e inseriram também as optativas. Especificamente, estas
deviam ser ministradas conforme houvesse interesse ou necessidade de acordo com
especificidades regionais ou até mesmo nacionais. Funcionam como agregadoras de
novos conhecimentos e também embasam para novas competências e habilidades.
Os participantes compreenderam também que a evolução das teorias e das
tecnologias impactam de imediato os conteúdos específicos, e influem no acervo
teórico e metodológico dos conteúdos dos três núcleos. De sorte que, além das
exigências legais – diretrizes curriculares –, os docentes entenderam que, por força dos
contínuos avanços significativos, seja na introdução, seja no aprofundamento de
tecnologias de aquisição de dados e de análise de informações espaciais, a formação na
Engenharia Cartográfica requer atualização periódica.
Um caso para exemplificar
12
Para efeito de exemplificar e ilustrar a configuração de uma estrutura curricular
de curso de engenharia cartográfica, vamos tomar o Curso de Engenharia Cartográfica
da Universidade Estadual Paulista ‚Júlio de Mesquita Filho‛ (Unesp) como exemplo,
apenas por uma questão de proximidade e familiaridade com o mesmo. A Unesp foi
instituída em 1976 pela via da reunião dos institutos isolados de ensino superior do
estado de São Paulo. No ano seguinte, em julho de 1997, foi criado o curso de
Engenharia Cartográfica, que teve início em agosto de 1977, no então Instituto de
Planejamento e Estudos Ambientais (IPEA), atual Faculdade de Ciências e Tecnologia
(www.fct.unesp.br).
É sediado em Presidente Prudente e ainda é o único existente no estado de São
Paulo. A primeira turma colou grau em julho de 1982. Foi criado por iniciativas dos
professores Alvanir de Figueiredo e Marcos Alegre, ambos geógrafos especializados
em Geomorfologia e Cartografia, respectivamente. A lógica de argumentação na época
de sua criação pode ser resumida em uma equação do tipo "curso de geografia + curso
de matemática = curso de engenharia cartográfica", dado que os cursos de geografia e
matemática já existiam na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que fora
estabelecida em 1959. Teria sido uma boa oportunidade para se criar a engenharia
geomática no Brasil! Entretanto, àquela época o então neologismo não era bem
difundido no mundo ainda.
Os conselhos de curso foram instituídos em 1989 na Unesp. Desde então, os
conselheiros do curso de Engenharia Cartográfica vêm preparando e aplicando
questionários nos segmentos docente e discente para a execução das avaliações. Os
resultados deram suporte às análises e discussões em períodos que antecederam as
alterações curriculares, que visavam, em geral, reformar a grade de disciplinas e
atualizar os seus conteúdos, com respeito a pontos importantes para o
desenvolvimento das atividades do curso tais como: o projeto pedagógico, a
infraestrutura, os laboratórios e os equipamentos, entre outros.
As interpretações e as análises dos dados mais recentes resultaram em
orientações estabelecidas para fundamentar as decisões sobre a estrutura curricular.
Destacamos:
‚Expressivo conteúdo básico para proporcionar sólida formação ao egresso com
a intenção de possibilitar o aprofundamento dos conhecimentos conforme a exigência
quando da prestação de serviços de caráter regular, e também para a aquisição de
novos conhecimentos a fim de que possa atuar com segurança no desenvolvimento de
projetos tecnológicos e de engenharia‛;
13
‚Oferecer uma sequência lógica de disciplinas para desenvolver o raciocínio e a
integração entre as áreas e daí proporcionar a consolidação de todo o conhecimento
obtido‛;
‚O ensino deverá ser associado à pesquisa para que a discussão de temas e a
elaboração de projetos contribuam para o desenvolvimento das Ciências
Cartográficas‛;
‚A grade curricular terá uma carga horária equilibrada entre sala de aula e
outros ambientes para permitir que o aluno aprofunde, complemente e atualize os seus
conhecimentos, sem comprometer a sua almejada sólida formação geral, e que o
estimule a desenvolver pesquisas de iniciação científica‛.
O núcleo básico, com carga horária de 1.140 horas, é composto pelas disciplinas
Matemática Aplicada à Engenharia, Cálculo Diferencial e Integral I e II, Economia,
Administração e Planejamento, Geometria Analítica e Álgebra Linear, Algoritmos e
Técnicas de Programação, Cálculo Numérico Computacional, Probabilidade e
Estatística, Química Geral, Física Geral, Física Experimental, Direito e Legislação
Cartográfica.
O núcleo profissionalizante soma 600 horas com as disciplinas de Ciências do
Ambiente, Trigonometria Esférica, Desenho Topográfico, Topografia I e II, Geofísica,
Geologia e Geomorfologia, Física Aplicada à Engenharia.
As disciplinas do núcleo específico são Levantamentos Topográficos e
Geodésicos, Geodésia I, II e III, Cartografia I, II e III, Sistema de Informações
Geográficas, Cadastro Territorial Multifinalitário, Trabalho de Síntese, Fotogrametria I,
II e III, Introdução ao Processamento e Síntese de Imagens, Sensoriamento Remoto I, II
e III, Ajustamento de Observações, Optativas, e somam 1.680 horas.
Complementam o currículo o Trabalho de Graduação e o Estágio
Supervisionado que somam 405 horas de atividades obrigatórias. Após cinco anos, 42
disciplinas (três optativas) e estes dois complementos, o formando terá contabilizado
3.825 horas de atividades obrigatórias e estará apto a iniciar-se na profissão. Em 2012,
as três optativas oferecidas – Controle geodésico de estruturas, Empreendedorismo e
Sistemas ‚lidar‛ (light detection and ranging) –, somaram 180 horas.
As disciplinas que trabalham teoria e prática são as que dão a caracterização
profissional: Astronomia, Topografia e Geodésia oferecem aulas práticas de campo
com teodolitos, níveis, trenas, receptores GNSS (Global Navigation Satellite System) e
estações totais. Fotogrametria, Sensoriamento Remoto e Interpretação de Imagens
oferecem aulas práticas em laboratórios especializados extraindo informações de
imagens. Desenho e Cartografia também põem o aluno na prancheta e no computador.
14
Sistema de Informação Geográfica contempla um pouco de cada uma das disciplinas
anteriores, reunindo, integrando e analisando as informações geográficas armazenadas
em um banco de dados e requer para isto um sistema computacional especializado.
Os laboratórios didáticos de Física, Química, Astronomia, Topografia,
Geodésia, Computação, Fotogrametria, Sensoriamento Remoto, Cartografia e SIG
devem estar convenientemente equipados para assegurar que as aulas sejam
ministradas dentro da normalidade e com a qualidade mínima para vincular teoria e
prática.
Equipar adequadamente os laboratórios tem sido um enorme desafio para o
corpo docente e a IES. Isto porque na grande maioria dos casos os instrumentos são
quase que constantemente aprimorados, tanto no nível da maquinaria (hardware),
quando no nível dos métodos e técnicas (software). Assim como ocorre nas
organizações comerciais, as IES vivem o dilema de quando, quanto e em quais bens
tecnológicos investir. Tais produtos – geralmente importados – concretizam as
aspirações de estar em dia com o mínimo de conteúdo científico e tecnológico que
qualifique as atividades das IES.
Além das aulas práticas, os professores formulam os trabalhos (exercícios)
práticos, que são feitos pelos alunos nos seus horários disponíveis. Os alunos têm
também a oportunidade de participar de projetos de prestação de serviços à sociedade
e comunidade, de forma a ter contato direto ou próximo com profissionais do mercado
de trabalho e usuários dos produtos e serviços específicos de sua futura atuação
profissional.
A relação candidato/vaga média do curso paulista oscila suavemente entre 4,5 e
5,0. Retomamos aqui a consideração de que o crescente conhecimento e divulgação da
profissão, tema que já tocamos no capítulo introdutório, explica a tendência de alta
verificada nos últimos cinco anos. Ainda assim, é um número baixo para as
características e dimensões da economia e do território brasileiro.
São oferecidas, em período integral, quarenta vagas anuais e o corpo discente,
em 2012, contava com 219 alunos matriculados. Desde sua criação foram formados 602
profissionais até o ano de 2011. Para a integralização do curso, isto é, concluir todas as
obrigações em termos de sua avaliação individual, o aluno deve totalizar 255 créditos,
ou 3.825 horas, em cinco anos no mínimo e nove no máximo.
Este modelo de formação é condizente com as diretrizes curriculares em voga,
como, aliás, o são os cursos coirmãos. As discussões se as atividades e os conteúdos
devem ser orientados prevalentemente para a pesquisa científica e tecnológica, que é
de interesse da academia, indústria e institutos de pesquisa, ou serem vocacionadas
15
prioritariamente para a sociedade, mediante a extensão universitária e prestação de
serviços, ou ainda se para o mercado de trabalho, acabam sempre indicando que o
melhor caminho é a busca do equilíbrio. Disto resulta uma dosagem mais ou menos
simétrica, tal que o egresso tenha em seu acervo de conhecimentos as ferramentas
básicas para lidar inicialmente com a sua opção dentre as que lhe forem oferecidas logo
após a conclusão do curso.
Atividades complementares
Durante o processo de aprendizagem, os alunos dos cursos de engenharia
cartográfica – como, aliás, de todas as modalidades de engenharia – participam ou
realizam atividades curriculares e extracurriculares. Que fique claro por óbvio que as
curriculares são as previstas no currículo do curso e as extracurriculares são todas as
atividades que têm relação com o tema de formação e em geral são validadas pelo
conselho do curso, embora não façam parte do rol de disciplinas.
Atividades curriculares complementares
É intuitivo que procuremos primeiro entender o processo de formação do
engenheiro, qualquer um, e particularmente do engenheiro cartógrafo, pelo estudo e
análise das atividades curriculares, como as disciplinas obrigatórias. Contudo, há dois
tipos de atividades curriculares que são também obrigatórias e complementam a
formação do futuro profissional em ambientes diferentes da habitual sala de aula e do
necessário laboratório: o TFC, o já mencionado trabalho final de curso, e o estágio
supervisionado.
O TFC pode receber outras denominações como trabalho de graduação (TG),
trabalho de conclusão de curso (TCC), projeto final (PF), ou outra denominação.
Fazendo alusão ao compromisso de Curitiba, é geralmente feito em equipe (dupla,
trios, quartetos ou quintetos). Porém, o trabalho individual é aceito em casos
excepcionais, embora algumas IES o tenham como a forma padrão.
O trabalho de graduação (TG) é uma atividade prevista nas diretrizes
curriculares. É definido em norma elaborada e regulamentada pelos conselhos de curso
e demais instâncias acadêmicas. Trata-se de uma atividade curricular obrigatória, de
caráter interdisciplinar que visa integrar os conhecimentos obtidos no decorrer do
curso, complementar a formação acadêmica e preparar o aluno para o desempenho das
16
atribuições profissionais.
Nesta atividade os alunos, em equipes, devem exercitar e pôr em ação os seus
conhecimentos teórico-práticos, sob a orientação de um ou mais professores, para a
execução de projetos e serviços de engenharia cartográfica. Este trabalho passa pelas
etapas de elaboração de um anteprojeto com custos aproximados definidos, revisão do
material publicado pertinente, definição dos materiais e métodos, redação de um
documento técnico-científico, geralmente na forma de um relatório final ou uma
monografia.
Este documento é submetido à apreciação de uma banca examinadora interna,
formada por especialistas no assunto, apresentado oralmente e defendido
publicamente pelos seus autores, na fase de arguição da comissão examinadora. Sob
todos os aspectos é uma atividade extremamente importante na formação dos alunos,
porque todas as fases do TG são definidas e executadas pelos formandos. É a última
vez, no curso de graduação, que os alunos atuam sob a orientação direta de um ou
mais professores.
O estágio curricular obrigatório é uma atividade regulamentada por uma
comissão de estágios e aprovada pelos conselhos dos cursos e instâncias superiores das
IES. É uma atividade supervisionada, que deve ser entendida como o desenvolvimento
de um programa de atividades, que visa à complementação da formação profissional
do futuro Engenheiro Cartógrafo. Pode ser realizado em IES reconhecidas, em
instituições de pesquisa, em organizações públicas e privadas produtoras e/ou usuárias
de cartografia, mediante o exercício de atividades ligadas à competência do
profissional engenheiro cartógrafo. Esta prática acontece no meio profissional, de
modo que desperta o espírito de iniciativa, incita à observação, estimula a comunicação
e o relacionamento interpessoal e ainda prepara o formando para o processo de
tomada de decisão. Distinto do TG, o aluno não está mais em grupo. Insere-se
pessoalmente em outra equipe, fora de suas hostes universitárias. É o primeiro passo
individual na profissão que abraçará.
Atividades extracurriculares
Esta seção (bem que pode ser uma chamada aos estudantes porque) informa
sobre as variadas atividades eletivas que os alunos podem exercitar. O ensino de
engenharia, em padrão de tempo integral, propicia ao corpo discente uma vasta gama
de ações fora da sala de aula. Estas constam dos planos ou projetos pedagógicos, de
modo que se a maioria das oportunidades for bem aproveitada pelo estudante a sua
17
formação será sólida, completa e variada.
As possibilidades vão do estudo individual ao projeto coletivo, do laboratório
ao campo, do seminário ao trabalho de graduação, do estágio com professores ao
estágio supervisionado, do projeto de IC à participação em congresso, da palestra
técnica à excursão didática. Enfim, a formação do estudante, futuro engenheiro, cuida
de vários e ricos aspectos muito além da sala de aula.
O estudante de engenharia deve ter em mente que sempre lhe será requisitado
que tenha as qualidades de organização, de dedicação ao estudo, do domínio da língua
pátria, se não a fluência pelo menos a capacidade de leitura e compreensão da língua
inglesa. Neste ponto, os alunos devem considerar que do primeiro ao último ano terão
contato com um corpo docente de trinta a quarenta professores de estilos variados
durante os cinco anos.
Qualquer pessoa necessita de algumas aptidões básicas para viver em
sociedade e produzir com normalidade. Quando se trata de engenharia, o rol de
qualidades pode sugerir certa arrogância como que para ser engenheiro é preciso
suplantar os demais seres humanos em qualidades intelectuais, psicológicas e
emocionais. Não se trata disso. É preciso que o estudante de engenharia entenda e
aceite que terá uma carga de trabalho técnico e científico para a qual ele deve estar bem
preparado intelectual, emocional e psicologicamente.
Síntese das atividades de formação
Atividades curriculares comuns a todos os alunos: aulas expositivas – presença
obrigatória – ministradas pelo professor; aulas práticas – presença obrigatória –
conduzidas pelo professor; exercícios e trabalhos teóricos, teórico-práticos e práticos –
passados pelo professor e são realizados pelos alunos em ambientes variados, dentro
ou fora da sala de aula, laboratórios, mapotecas, campo, e outras organizações extra
campus.
Atividades curriculares distintas, porém obrigatórias a todos os alunos: estágios
obrigatórios (remunerados ou não); trabalho de graduação; apresentações em
seminários de disciplinas com temas propostos pelo professor.
Atividades extracurriculares não obrigatórias: discussão ou debate de assuntos
relacionados à formação do engenheiro cartógrafo pautados pelo professor da
disciplina, por outro professor ou pelo conselho do curso; participação em projetos de
extensão universitária com bolsa ou sem bolsa de extensão; participação em projetos de
18
IC com ou sem bolsa; monitoria de disciplinas; projetos multidisciplinares orientados
por professores; visitas e excursões técnicas a empresas e organizações públicas
(podem fazer parte do escopo de uma disciplina, daí podem se tornar obrigatórias);
grupos de estudos e pesquisas – interação com estudantes de pós-graduação (mestrado
e doutorado); grupos especiais de treinamento ou aperfeiçoamento; participação em
empresas juniores (iniciação prática ao empreendedorismo); representação discente em
órgãos colegiados; estágios não obrigatórios (remunerados ou não); atividades
esportivas e culturais; participação em eventos com ou sem apresentação de trabalhos
técnicos ou científicos.
Eventos que contribuem com a formação do egresso
Estudantes, e também profissionais, participam de reuniões organizadas por
instituições e associações com ares de eventos formais. São oportunidades de adquirir
conhecimentos técnicos e científicos, ampliar o rol de relacionamentos, observar parte
de uma comunidade profissional, enfim um aprendizado obtido em condições muito
diferentes do ensino formal e do treinamento prático em laboratórios.
Apresentamos os conceitos que visam apenas a dar uma compreensão inicial e
abrangente dos significados e funções dos eventos. Por vezes o tipo é escolhido sem se
observar a congruência entre conceito e objetivo. Daí a denominação do evento pode
diferir do escopo, conteúdo e dinâmica, pois o que parece importar mesmo é a reunião
em si.
Relacionamos quatorze tipos de eventos nos quais os estudantes e profissionais
de engenharia, em geral, e cartográfica, em particular, participam com certeza em pelo
menos alguns deles.
Congresso
Um congresso é uma reunião de especialistas na qual são apresentadas novas
ideias, novos planos, problemas a resolver, desafios a enfrentar, enfim diversas
questões de interesse comum que são debatidas antes de se deliberar sobre as possíveis
soluções e caminhos futuros. Um congresso técnico-científico, como de engenharia,
mais especificamente, é a reunião mais importante dessa comunidade de profissionais,
da qual todos os seus integrantes podem participar.
Geralmente, um congresso contém conferências e apresentação de trabalhos
científicos, tecnológicos, técnicos e de assuntos profissionais; pode haver também uma
19
área de exposição ou exibição de produtos e serviços de empresas comerciais. Pelo seu
alcance, é comum que dure vários dias e quase sempre é organizado por uma
sociedade científica ou de profissionais. As deliberações são votadas em assembleia.
Como exemplos, citamos as reuniões anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC) que, embora não tenha a denominação explícita, tem foros de
congresso; bienalmente, a SBC realiza o seu congresso. Ambos têm abrangência
nacional. E de quatro em quatro anos, as sociedades científicas ISPRS (International
Society for Photogrammetry and Remote Sensing), IAG (International Association of
Geodesy), ICA (International Cartography Association) e FIG (Féderation
Internationale des Géomètres) promovem seus respectivos congressos internacionais.
Simpósio
Um simpósio, considerada a sua origem na Grécia Antiga, era uma reunião
festiva para se beber em conjunto, após fausto banquete, com música, canto, poesia e
conversação. Da conversação, com os espíritos livres, a criatividade era imensa. Com o
passar do tempo, tornou-se um banquete para estimular uma reunião social com livre
troca de ideias. Daí para uma reunião de oradores que proferiam breves discursos
sobre um tema aglutinador. Por último, uma reunião de cientistas ou de profissionais –
engenheiros, por exemplo – para debater, analisar e deliberar sobre determinado
assunto, que é o entendimento corrente.
Sua duração, porque de temática mais específica, é menor do que a do
congresso, que também é temático, porém de maior abrangência. Por tradição, os
simposistas confraternizam-se em um jantar. Exemplos: simpósios internacionais das
comissões temáticas da ISPRS, IAG, ICA, que são bienais entre dois congressos; e
simpósio brasileiro de sensoriamento remoto.
Seminário
Um seminário, em sua essência, é caracterizado por um grupo de estudantes
adiantados (avançados ou superiores), que estuda um assunto, sob a orientação de um
professor. Cada componente do grupo faz alguma pesquisa original que semeia (sêmen,
semente) conhecimento novo e todos efetuam alguma troca de resultados, mediante
preleção, relatório ou debate.
Em sentido mais amplo, pode ser uma reunião de especialistas que apresentam
e analisam novas propostas. Pode ou não haver periodicidade e vinculação geográfica
ou institucional, como também ser parte das atividades programadas de uma
20
disciplina. É razoável durar de um a dois dias.
Painel
Imaginemos um tema projetado em um painel e várias pessoas, interessadas no
tema, reunidas para discutir e deliberar sobre questões previamente definidas ou que
sejam feitas durante o debate. Um moderador controla a dinâmica da reunião e um
relator anota os principais pontos de interesse sejam convergentes ou divergentes. Os
participantes, individualmente ou em grupos, apresentam os resultados de estudos e
pesquisas sobre o tema. Ao final dos debates, o moderador e o relator concluem com a
apresentação de um resumo das principais recomendações e conclusões.
Um painel pode ser organizado por uma ou mais instituições, de modo que seja
garantida uma eventual multiplicidade de opiniões, pontos de vista e questionamentos
diversos. Como resultado se espera um conjunto de decisões que por vezes tem força
de um pacto ou acordo entre as partes. A duração varia de acordo com a amplitude do
tema e da quantidade de participantes, contudo, pelo menos um dia.
Conferência
Embora conferências e palestras possam ocorrer dentro dos congressos, não é
raro que sejam eventos únicos e específicos. Pode ser promovida por uma IES ou uma
associação científica ou profissional. Uma conferência tem origem no ato de conferir,
dar, doar, repartir, enfim, compartilhar o conhecimento. Por isso, o conferencista deve
ser uma pessoa de notório saber. Ao ser convidado, a ele deve-se apenas indicar o tema
principal da reunião e deixar que o orador discorra livremente sobre o tema. O mestre
de cerimônias pode abrir a palavra à plateia para uma ou duas questões. Na plateia
estarão presentes cientistas, pesquisadores, professores, estudantes e público em geral,
de acordo com a natureza do tema. A conferência em si dura cerca de uma hora, que
pode ser estendida conforme a disponibilidade do preletor e do interesse da plateia.
Palestra
É muito semelhante à conferência. O palestrante pode ser pessoa de grande
destaque ou em ascensão no seu meio profissional ou acadêmico. Dado que palestrar
tem a conotação de se conversar amigavelmente, o organizador da reunião, ao
convidar profissionais ou professores para proferir palestras sobre os seus respectivos
trabalhos, deve cuidar para que o palestrante não seja confrontado severamente,
porque o convite consiste tacitamente em uma forma de modesta homenagem. O
21
mesmo vale para o conferencista. Uma hora ou pouco mais é o tempo que dura uma
palestra.
Colóquio
No sentido informal, coloquial, portanto, é uma reunião em que se apresenta,
discute e avalia um assunto sem formalidades. Como exemplos, citamos: um colóquio
entre um orientador e um orientando; um orientador e seu grupo de estudos, de
trabalho, ou de pesquisa; um coordenador e um grupo de professores ou de alunos ou
até mesmo dos dois segmentos em conjunto. Isto pode durar um período (manhã,
tarde, ou noite) ou um dia.
Com significado de reunião formal, trata-se de uma conversa ou diálogo formal,
uma discussão séria de nível superior previamente agendada. Pode ser também um
encontro para debate, discussão, argumentação, exame, análise de assuntos de
interesse de um conjunto mais restrito de professores e pesquisadores. De modo mais
restrito ainda, uma discussão de um trabalho entre pós-graduandos sob a supervisão
de um professor. Nestes casos, parece coincidir com outras formas ou denominações.
Muito relevante no Brasil, é a série de colóquios brasileiros de ciências
geodésicas, cuja organização é alternada entre a UFPr e a UNESP. Este formato requer
dois ou três dias.
Mesa-redonda
Especialistas e interessados em um assunto se reúnem, tendo um tema como o
centro das atenções. Todos expõem, debatem, avaliam e concluem em pé de igualdade.
A imagem de uma mesa redonda realmente ilustra bem este tipo de reunião.
Obviamente, uma reunião denominada de mesa-redonda pode ocorrer em um
auditório ou anfiteatro convencional, sem a disposição dos assentos em círculo, mas o
caráter da igualdade de opiniões é um requisito. Requer um período de duas a quatro
horas, conforme a quantidade de participantes e o interesse pelo tema.
Debate
Debater é disputar no plano das ideias. Conceitos e questões conflitantes acerca
de um tema são formulados e analisados pelos debatedores, que são moderados, em
geral, por alguém que pertence ou representa a organização do evento. A plateia ou a
audiência acompanha, podendo ou não, dirigir também algumas questões aos
22
debatedores. É um evento de curta duração com cerca de algumas horas no máximo.
Encontro
Encontro é um tipo de reunião menos formal. Estudantes, engenheiros ou
profissionais se juntam em um local apropriado para relacionar questões, debatê-las e
deliberar sobre o tipo de prosseguimento. De encontros podem surgir ideias e
sugestões sobre os tipos e formatos das próximas reuniões e também sobre a maneira
de acompanhar a implantação das decisões tomadas em relação a algum assunto que
tenha sido objeto da apreciação dos participantes. A duração pode ser de um a dois
dias.
Jornada
É uma reunião entre pares que, em um esforço concentrado, apresentam,
debatem e decidem sobre planejamento, coordenação, organização etc. de atividades
de interesse de uma categoria. Por isso, questões estratégicas inspiram o programa das
jornadas. Pode ter caráter científico ou administrativo. Duração de no máximo um dia
ou uma noite. Noturno quando os interessados da categoria estão ocupados durante o
dia com os seus afazeres profissionais.
Fórum
Antigamente, uma praça pública era o foro, o lugar, para uma discussão
pública. Hoje em dia, trata-se de uma reunião com um tema central, aberta ao público,
mas que ocorre em um recinto aberto ou fechado que ofereça condições de conforto e
segurança. Os temas são de interesse público e, portanto, assuntos científicos,
tecnológicos, de engenharia etc. são arrolados. Recentemente, o termo foi estendido
para uma reunião virtual onde se discutem e esclarecem dúvidas de um determinado
assunto. Reuniões presenciais duram horas e as virtuais podem se estender ou serem
permanentes.
Oficina
Oficina é um exercício de treinamento para se aprender a como fazer.
Atualmente, vem sendo utilizada em atividades um pouco mais amplas, por força de
uma tradução aproximada da palavra inglesa workshop, porém de influência americana.
Em seu escopo original, workshop seria uma feira de trabalhos. Pode ser um lugar (no
23
caso de ser perene) ou método (quando transitória) de criação e recriação com livre
discussão e troca de ideias.
Em uma oficina, um curso de cunho prático pode ser conduzido por um
instrutor sobre um método, produto ou sistema, com demonstração de técnicas,
habilidades e aplicações. Em geral, é destinada principalmente a profissionais e
estudantes da área objeto da oficina. Duração: algumas horas ou um ou dois dias.
Audiência
Autoridades, ou seus representantes, ouvem os interessados no tema com o
propósito de levantar demandas e colher sugestões para a formulação de políticas
públicas: ciência, tecnologia, engenharia, por exemplo. Trata-se de uma consulta
pública com duração de algumas horas.
É muito comum observarmos a organização de eventos que combinam vários
tipos de reuniões. Um congresso pode conter uma sessão de abertura, seguida de uma
conferência, que motiva o tema de uma mesa-redonda que ocorre dentro do mesmo
congresso. Este padrão pode ser repetido ou aceitar variações ao longo dos dias em que
os congressistas se reúnem, como por exemplo, conter um debate sobre um assunto
palpitante. Conferencistas e palestrantes podem ser convidados a abrilhantar
seminários, painéis, colóquios ou qualquer outro tipo de reunião, ainda que o modelo
formal, quase obrigatório, seja estarem presentes em congressos e simpósios
preferencialmente.
A comunicação oral e escrita
As sociedades democráticas incentivam a prática dessas distintas formas de
reunião e comunicação entre as partes interessadas, particularmente, profissionais e
estudantes. Qualquer que seja o tipo, uma reunião requer planejamento, organização e
execução, e geralmente são produzidas e patrocinadas por instituições de ensino,
associações científicas e profissionais, e outros tipos de organizações.
Sempre que se objetiva conhecer algo novo ou, ainda que não seja novidade,
mas de interesse de uma comunidade de engenheiros ou da sociedade, o tema é
apresentado para o debate. A finalidade maior é a de dirimir dúvida, esclarecer o
público geral ou específico, analisar, criticar, tomar posição, enfim, dar prosseguimento
24
ao trabalho científico e de engenharia. Estudantes que participam destes eventos
compreendem a inserção da engenharia no contexto social, além dos ganhos de
conhecimento mais específicos nos temas tratados para a sua formação educacional
extracurricular.
Com o intuito de difundir na sociedade o valor da ciência e da tecnologia, as
agremiações de engenharia incentivam os seus associados a divulgar com clareza,
objetividade e responsabilidade os benefícios de suas obras, produtos e serviços, tanto
para o dito público interno ou especializado, quanto para o público geral. As
linguagens variam então conforme o público-alvo. Para os pares, os profissionais
recorrem ao uso da linguagem técnica própria da área, o chamado jargão. Quando se
dirigem ao público em geral, os profissionais devem compor a comunicação, seja oral
ou escrita, com palavras adequadas para que a compreensão seja a mais ampla
possível.
Não raro, estudantes de engenharia não manifestam interesse pela qualidade da
comunicação oral e escrita. Este viés geralmente é constatado nos primeiros anos da
formação. Já ouvimos de alguns alunos que, se eles quisessem ou preferissem a leitura
e a escrita, eles teriam optado por um curso próprio ou afinado com textos e não por
uma carreira na engenharia. Entretanto, durante o transcurso das disciplinas, a grande
maioria dos estudantes revê este ponto de vista, porque os professores lhes solicitam a
elaboração de propostas e projetos, os quais, uma vez realizados, são detalhados em
relatórios técnicos e científicos. É comum também que os conselhos de curso exijam
estes documentos. Nestas atividades, além dos conteúdos técnicos e científicos
inerentes a cada uma delas, é dada ênfase à Comunicação e Expressão em língua
portuguesa, conforme consta nos conteúdos básicos das Diretrizes Curriculares. À
medida que se avança no curso, as exigências crescem quanto ao conteúdo técnico-
científico e à qualidade da apresentação, seja escrita ou oral.
A razão desta exigência é que o resultado do trabalho do engenheiro não se
esgota em si mesmo. Deve ser posto em prática para servir a sociedade. Vejamos
novamente o item 9 das competências e habilidades. Disto resulta que outros partícipes
têm de se informar, em nível introdutório ou em minúcias, sobre o fundamento, o
andamento e a conclusão da atuação do engenheiro. Recomendamos, portanto, que os
interessados em qualquer engenharia devem se acostumar, e principalmente saber, a
perguntar e consequentemente a responder nove questões muito importantes: o que,
para que, como; por que, onde, quando, quem, quanto e para quem.
Componentes da comunicação oral e escrita na Engenharia
25
Começando pelo título, é desejável que o mesmo seja um resumo do resumo,
isto é, que com poucas palavras evidencie os aspectos principais da comunicação. A
estrutura do texto ou da apresentação oral deve conter as perguntas e respostas que
esclarecem a essência e os complementos, todo o núcleo e o envoltório do trabalho. É
evidente que não precisa ter a forma explícita de perguntas e respostas. Estas são aqui
evidenciadas apenas para definir toda a abrangência dos documentos técnicos e
também da apresentação oral.
O que – refere-se ao objeto da atenção principal, ao tema de interesse. Para que
– informa qual é exatamente o objetivo que se quer atingir ou alcançar. Como –
descreve os caminhos da ação, portanto o método e a técnica que serão usados. Estas
três questões configuram a base da informação a ser claramente colocada no
documento de comunicação (projeto ou relatório, e apresentação oral).
Continuando, o documento de informação (projeto ou relatório) deve ser
complementado com as demais questões:
Por que – justifica a atenção e o interesse no objeto e a relevância do objetivo da
decisão. Onde – informa o local das atividades. Quando – é informado no cronograma,
que é a discriminação das atividades ao longo do tempo. Quem – constitui a equipe e o
responsável. Quanto – tem a ver com o orçamento, o montante de recursos financeiros
estimados ou contabilizados para assumir as despesas de realização. Para quem –
aponta para o demandante, o interessado, o contratante.
Projeto e relatório constituem o par conjugado básico da comunicação do
estudante e do engenheiro. São dois tipos de documentos essenciais para a
comunicação na engenharia. O projeto contém as informações que respondem às
questões acima em um momento anterior à execução da atividade. Portanto, o seu
autor comunica a intenção de realizar uma atividade com base no seu conhecimento
técnico-científico. O relatório complementa a atividade em momento posterior à sua
realização, quando o seu autor apresenta, detalha, explica, argumenta e conclui a
respeito das etapas realizadas do projeto.
Os atuais cursos de Engenharia Cartográfica
Éramos seis. Agora somos apenas cinco. Mas crescemos. Como assim?
Os atuais cursos de graduação em Engenharia Cartográfica, no Brasil, conforme
a ordem de antiguidade, são os que seguem:
26
IME – Instituto Militar de Engenharia (www.ime.eb.br). Criado em 1960 com as
denominações iniciais de Engenharia Geográfica e Engenharia de Geodésia e
Topografia. Atualmente Engenharia Cartográfica. Turmas pequenas dirigidas
prioritariamente ao atendimento das Forças Armadas e particularmente do Exército
Brasileiro. Capítulo 1, seção contribuição militar.
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (www.uerj.br). Foi iniciado
em 1965 como Curso Superior de Cartografia e formou a primeira turma de cartógrafos
em 1968. Posteriormente, Curso de Engenharia Cartográfica, ainda que com quatro
anos de duração. Em 1980, conformou-se a cinco anos, como todos de engenharia no
Brasil. Funcionava exclusivamente no período noturno, mas desde meados da década
1990-2000 tornou-se um curso parcialmente vespertino.
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco (www.ufpe.br). Criado em 1971,
foi o primeiro a ser reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) e é o único curso
de Engenharia Cartográfica existente no Nordeste do Brasil.
UNESP – Universidade Estadual Paulista ‚Júlio de Mesquita
Filho‛(www.unesp.br; www.fct.unesp.br). Criado em 1977. Usado como ilustração,
conforme seção ‘Um Caso para Exemplificar’, deste capítulo.
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (www.ufrgs.br). É o curso
de Engenharia Cartográfica mais recente. Com esta denominação, é o único na região
Sul. Criado oficialmente em 1995, a primeira turma foi selecionada em 1996 e iniciou o
curso em 1997. Graduou a sua primeira turma em 2001 (Silva; Santos, 2008).
Exceto o curso do IME, todos os cursos civis foram criados por propostas de
professores cujas graduações não eram de engenharia cartográfica. Isto remete a
responder às necessidades e demandas do desenvolvimento do País com a formação de
um profissional característico – o engenheiro cartógrafo – para estar presente diante
das questões de ocupação do território de um país continental, cuja economia e
população vêm buscando o seu interior desde a metade do século passado.
Cinco ou seis cursos eram poucos para a realidade brasileira. Felizmente,
embora tardiamente, vem ocorrendo uma expansão de cursos de Engenharia
Cartográfica e (de) Agrimensura. Há muitas décadas esta integração era almejada por
muitos engenheiros cartógrafos e agrimensores. Mas havia embaraços causados por
resistências à aproximação entre as duas profissões.
Citando uma reunião ocorrida em 2003, na Diretoria de Hidrografia e
Navegação (DHN), órgão da Marinha do Brasil, sob os auspícios da SBC, empresários,
27
professores, pesquisadores e profissionais representantes das áreas de Cartografia e de
Agrimensura debateram de uma maneira muito proveitosa a possível integração entre
os dois cursos. Nada ficou decidido naquele momento. A reunião, porém, funcionou
como um sinal de que novos tempos estariam por começar. Percebia-se que a
fragmentação fragilizava e a integração fortaleceria a ambos.
Naquela oportunidade, listamos cinco dimensões que entendemos ser
realmente importantes que justificam a integração:
Ampla formalização no aspecto educacional, pois aumentaria a consistência e a
intensidade dos fundamentos na formação do estudante, porque uma base maior
tenderia a gerar maior confiabilidade, mediante as trocas de ideias e análise dos
processos de formação. Cursos melhores avaliados projetariam para os cursos com
avaliação inferior indicações de referência. E isto só poderia ser efetivo e significativo
se houvesse ampliação da base, do número de cursos;
Representação profissional, porque a dimensão profissional seria beneficiada
por uma representatividade unificada no sistema de fiscalização do exercício
profissional, que conta um número da ordem de dez mil registros nesta modalidade de
engenharia nos conselhos regionais. Mais IES formando doravante engenheiros
cartógrafos e agrimensores unificados seriam mais profissionais se filiando às
associações profissionais e aos sindicatos. Daí, com maior potencial de pleitear e
efetivamente representar esta classe de profissionais no sistema regulador do exercício
profissional. Particularmente, os engenheiros cartógrafos, e em menor grau os
agrimensores, sofrem com deliberações injustas, às vezes até equivocadas, porque são
tomadas por outros profissionais de outras modalidades, pois ainda há muitos CREA
que não têm instaladas as câmaras de agrimensura;
Densidade científica e tecnológica, pois na dimensão científica a profissão
integrada forneceria um número maior de pesquisadores, o que acarretaria maior
visibilidade da profissão e das correspondentes áreas de pesquisa no Sistema Nacional
de Ciência e Tecnologia, que inclui as IES com programas de pós-graduação nas
ciências geocartográficas ou geomáticas;
Na vertente econômica teríamos melhor compreensão da extensão dos negócios
referentes à informação geográfica e dados mais precisos sobre a participação agregada
do setor no conjunto da economia do País. Isto é relevante, sobretudo, em um estágio
da tecnologia eletrônica e digital dedicada às geotecnologias, como um dos grandes
temas de negócios do mundo, que obriga a repensar e a realinhar os processos de
produção e uso da infogeo;
E finalmente a visibilidade na dimensão social, que proporcionaria à sociedade
28
melhor e maior percepção do novo profissional e sua função na sociedade. Esta maior
clareza acerca do perfil do egresso e do profissional beneficia a todos, e
particularmente aos jovens que escolherão esta profissão, integrada e unificada, à qual
se dedicar. Esta vertente fecha diretamente com a educacional, a primeira que o futuro
estudante absorverá.
A SBC sabiamente mediou as intenções de seus sócios cartógrafos e
agrimensores. Estimulada pela crescente vertente dos que queriam a integração dos
cursos de engenharia cartográfica e engenharia de agrimensura, a Universidade
Federal de Viçosa iniciou o processo de integração. Para isso, estendeu a denominação
de seu antigo Curso de Engenharia de Agrimensura para Curso de Engenharia de
Agrimensura e Cartográfica e tomou as providências pedagógicas para a adequação.
Os cursos de Engenharia Cartográfica e Agrimensura
Em 2008, a Universidade Federal de Viçosa (www.ufv.br) decidiu transformar o
então curso de Engenharia de Agrimensura, que havia sido estabelecido em 1976, para
o curso novo e integrado de Engenharia de Agrimensura e Cartográfica. Usando da
prerrogativa constitucional de liberdade acadêmica e educacional, foi a primeira IES a
fazer a integração e mostrar o caminho tão almejado por tantos para integrar
pacificamente as duas profissões coirmãs.
A UFPR – Universidade Federal do Paraná – iniciou o curso de Engenharia
Cartográfica no mesmo ano do curso unespiano, em 1977, um pouco depois de ter
iniciado o mestrado em Ciências Geodésicas em 1971. Situa-se em Curitiba, onde há
muitas empresas de aerofotogrametria de pequeno, médio e grande porte,
dinamizadas inicialmente – anos sessenta e setenta –, pela intensa atividade florestal do
estado do Paraná e pela ocupação e colonização do interior. Foi um dos primeiros
estados a ter um Instituto de Terras e Cartografia, provável embrião dos atuais
institutos estaduais de terra para a política e gestão fundiária. Atualmente, é mais um
dos novos e atuais cursos de Engenharia Cartográfica e (de) Agrimensura, cuja
alteração de nome diminuiu a quantidade de cursos de engenharia cartográfica.
Além destas IES, as universidades federais da Bahia (UFBA) e de Uberlândia
(UFU), as federais rurais do Rio de Janeiro (UFFRJ) e da Amazônia (UFRA, nesta a
partir de 2013), e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos/RS) constituíram
diretamente cursos de engenharia cartográfica e de agrimensura. Foi um crescimento
vertiginoso desde a iniciativa da UFV.
29
Tal movimento pressiona e praticamente obriga a que as IES que continuam
oferecendo cursos de engenharia cartográfica (cinco) e cursos de engenharia de
agrimensura (oito) se adequem a esta nova realidade. Somemos a esta integração
quinze cursos sequenciais e tecnológicos de Geoprocessamento e Agrimensura em
vários institutos educacionais instalados na última década por todo o Brasil.
Por isso é correto dizer que crescemos por meio da unificação. Parece que a
nova denominação, doravante, será o referencial e tende a prosperar. Há, no momento,
vinte IES que ministram engenharia cartográfica e/ou de agrimensura e mais quinze
que oferecem cursos em nível tecnológico superior. Juntas abrem duas mil vagas
anuais para futuros engenheiros e tecnólogos. Tirando proveito de que os custos de
instalação desses cursos são proporcionalmente menores na atual era digital, quando
comparados com os custos da extinta era analógica, vemos que algumas das IES
brasileiras estão em sintonia com as demandas das comunicações e da informação, pois
mapa é informação.
Em tempo é oportuno e necessário registrar que o IME não pretende proceder a
mudança porque os objetivos do Exército Brasileiro, nesta questão, são de medir para
mapear (Cartografia) e não medir para dividir (Agrimensura).
A título de exemplo, apresentamos o elenco de disciplinas do Curso de
Engenharia de Agrimensura e Cartográfica da UFV (UFV, 2008):
Núcleo ou conteúdo básico: Matemática, Estatística, Física, Fenômenos dos
Transportes, Informática, Expressão Gráfica, Administração, Economia, Metodologia
Científica e Tecnológica; Humanidades, Ciências Sociais e Cidadania; Química,
Ciências do Ambiente; Comunicação e Expressão; Eletricidade Aplicada; Mecânica dos
Sólidos; Ciência e Tecnologia dos Materiais.
Núcleo ou conteúdo profissionalizante: Algoritmos e Estrutura de Dados;
Hidráulica, Hidrologia Aplicada e Saneamento Básico; Pesquisa Operacional;
Transporte; Saneamento Básico; Topografia; Cartografia; Fotogrametria; Sensoriamento
remoto.
Núcleo ou conteúdo específico: Topografia; Geodésia; Astronomia de Posição;
Fotogrametria; Sensoriamento remoto; Cartografia; Geoprocessamento; Sistemas de
Informação Geográfica; Direito Agrário e Legislação de Terras; Divisão e Demarcação
de Terras; Loteamento; Traçado de Cidades; Projeto Geométrico de Estradas; Cadastro
Técnico Imobiliário.
Juramento e colação do grau
30
Os momentos que precedem a formatura são cheios de ansiedade e êxtase. É
natural que aflore a alegria por uma etapa do plano de vida que está prestes a ser
concluído, mas também é normal que estejamos apreensivos. Chegamos à
Universidade ao final da adolescência e a estamos deixando para darmos início à vida
adulta; produtiva, porque queremos nos inserir no sistema econômico; responsável,
porque tomaremos decisões que importam em consequências para nós mesmos, para
as organizações e até mesmo para a sociedade. Após a colação de grau adentra-se uma
fase da vida em que a margem de erro diminui.
Ao sabermos dessa passagem, tememos que seja tormentosa, mas temos
esperança que seja amena. Temos consciência que estudamos e que aproveitamos as
oportunidades para dominar alguns conteúdos. Entretanto, receamos que a formação
acadêmica não nos tenha preparado para enfrentar o mercado de trabalho. Parece que
faltou alguma coisa. Deixaremos a nossa escola superior com a sensação de que a
formação acadêmica, por melhor que ela tenha sido feita, não nos preparou
adequadamente. Nem tudo isso é verdade ou mentira, ou melhor, verdadeiro ou falso,
correto ou incorreto. Há casos que sim e há casos que não. E aqui retornamos ao ponto
do compromisso entre quem ensina e quem aprende. Os dois lados têm de ser
parceiros o tempo todo na graduação.
Quando entramos no mercado de trabalho, o que nos diferencia dos
profissionais que lá estão há mais tempo é a experiência. Os novatos são a nova
energia, a renovação, os que trazem os novos conhecimentos, as novas perguntas. Ao
se mesclarem com os experientes, o resultado tende a ser uma equipe equilibrada com
gente madura e neófitos ansiosos por fazer uma carreira. Com modéstia e confiança,
venceremos a sensação da incompletude e perceberemos que aos poucos, de projeto
em projeto, sabemos um tanto que nos credencia a continuar e saberemos muito mais
se pusermos a curiosidade pessoal em favor das necessidades sociais.
E então juramos e recebemos o grau de engenheiro cartógrafo, como fizemos na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, na noite de 17 de dezembro de 1979:
‚Comprometo-me, no exercício da profissão de engenheiro cartógrafo, a cumprir sagradamente
os deveres inerentes ao grau que me é conferido, só executando atos e assumindo atitudes
ditadas pela consciência de meu dever, subordinando-os aos preceitos da ética e honrando os
ensinamentos ministrados, trabalhando e esforçando-me para contribuir no desenvolvimento
técnico e cultural do Brasil e o bem-estar da humanidade‛.
O juramento em si é uma promessa duradoura, até mesmo eterna, que os
formandos declamam pública e solenemente diante das autoridades universitárias, e
31
outras eventualmente presentes, bem como diante dos colegas, familiares, amigos e
convidados.
Colar o grau é uma obrigação da IES e um direito dos formandos, que, após um
período, passaram pelas provas a que foram submetidos e, em razão disso, se
equivalem a outros que os antecederam, e que igualmente obtiveram êxito nas mesmas
provas. O grau, documentado pelo diploma, é então o nível de formação superior que é
atribuído ao formando, que o recebe após ter pronunciado publicamente o seu
juramento.
Podemos dizer que o grau fica estampado no indivíduo, porque colado
publicamente, para que todos saibam que ele passou pelas exigências e obrigações.
Desse modo, os concluintes adquirem direitos legais para pleitear e exercer a profissão,
bem como passam a responder aos deveres da profissão para com os seus pares e a
sociedade.
Tempo de elaboração dos currículos pessoais, os curriculum vitae, e de
preparação para as entrevistas, dinâmicas de grupo, provas de concursos, e ainda
atender a uma enxurrada de requisitos que os futuros empregadores exigirão. São
extras que as IES possibilitaram – na verdade, algumas mais do que outras – na forma
de exercício de variadas atividades, como vimos, e outras qualidades que são próprias
e inerentes a cada indivíduo. Teremos de demonstrar algum nível de habilidade com
uma língua estrangeira, quase que obrigatoriamente o inglês; conhecimento de uma
linguagem de programação ou facilidade de uso e manuseio de alguns softwares
específicos, sobretudo, claro, os que tratam com dados e informações geográficas, seja
na aquisição, análise ou aplicação; boa comunicação escrita e oral na língua pátria, pois
teremos de redigir projetos e relatórios, quando não apresentá-los oralmente à equipe e
superiores ou clientes; liderança e capacidade de trabalho em equipe; ambição e
equilíbrio emocional; estilo de vida e relacionamento interpessoal; disponibilidade
para viajar; etecetera e tal, e nós só queríamos ser engenheiros!
Parece código de moral, e de certo modo é, no mundo profissional atual. São
alinhamentos para os normais, porque os gênios, ..., bem os gênios podem quase tudo,
(os que estiveram próximos de Steve Jobs que o digam!), inclusive superam as suas
limitações físicas, como Stephen Hawking.
Contudo, os formandos também têm as suas expectativas e, portanto, devem
procurar na cultura das organizações as condições de desenvolvimento pessoal; as
oportunidades de carreira e crescimento profissional; as experiências e os novos
conhecimentos que podem adquirir para se manterem atualizados; reconhecimento e
valorização profissional; a existência de um saudável ambiente proporcionado pelas
32
equipes e colegas de trabalho; a possibilidade de equilíbrio entre vida pessoal e
profissional; igualdade de oportunidades sem distinção de raça, faixa etária, credo, e
gênero; boas condições de segurança no trabalho; as qualidades dos líderes da
organização; conhecer a inserção da organização no mercado, suas práticas e seus
objetivos; se se mantém atualizada e investe em inovação tecnológica.
Não nos esquecemos dos rendimentos e benefícios. Propositalmente os
deixamos por último, porque, em geral, são os primeiros a serem procurados, porém
fizemos questão de antecipar todos os outros que compõem o pacote do que pode ser
um bom emprego.
E então vem o primeiro emprego ou relação trabalhista. Faremos planos,
elaboraremos projetos, desenvolveremos soluções, entregaremos produtos e serviços.
Mas isto é assunto para o exercício profissional no mercado de trabalho.
Referências (abreviadas) para o capítulo 2
ACADEMIC RANK OF WORLD UNIVERSITIES. Rankings. <www.arwu.org>.
ALLAN, A.L. Maths for map makers.
AZEVEDO NETTO, J.M. Como preparar um relatório.
BAZZO, W.A.; PEREIRA, L.T.V. Introdução à engenharia.
BRASIL. .... IME. Ensino. Graduação. Cartografia. http://www.ime.eb.br.
BRASIL. <www.mec.gov.br>.
CASTILHO, J.R.F. Coletânea de legislação de interesse cartográfico.
CASTILHO, J.R.F. O direito na cartografia.
FERGUSON, K. Stephen Hawking.
ISAACSON, W. Steve Jobs.
LUCCA, N. Notas sucintas sobre alguns elementos orientadores da ação magisterial.
MAGALHÃES, G. Introdução à metodologia da pesquisa.
UERJ. Engenharia cartográfica. <www.uerj.br>.
UFPE. <www.ufpe.br/decart>.
UFRGS. Apresentação eng. cart. <http://www6.ufrgs.br/engcart/apres_engcart.html>.
UFV. <www.ufv.br>.
UNESP. <www.unesp.br>.
UNESP. FCT. Engenharia Cartográfica. Projeto pedagógico. <www.fct.unesp.br>.