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X Encontro Nacional da Anpur | 1
ST6, 3 | Novas sociabilidades: cultura, identidade e diversidade na produção do espaço
Humor como ferramenta crítica
Danielle De Marchi Tozatti
UEL - Universidade Estadual de Londrina
Palavras-chave
Humor; Lixo; Imaginário Social.
Introdução
Pelo humor o homem, livre, leve, zomba do mundo, reaprende e adquire inocênciano olhar e fluidez no pensamento, descobre analogias ocultas e ousadas combina-ções de idias, transformando sua vida num !ogo espirituoso com o mundo"
Entende-se o humor como qualquer mensagem - e#pressa por atos,pa- lavras, escritos, imagens ou m$sicas % cu!a intenç&o a de provocar o riso
ou um sorriso '(remmer e )oodenburg, *+++"Em uma das suas mais interessantes declarações sobre as questões
literrias, .ar# '/012 afirmava que se podia aprender mais sobre a situaç&o da3nglaterra contempor4nea com a leitura de certos romances do que estudar ocon!unto das anlises que tratavam desse tema" Para o autor do O Capital ,portanto, a literatura pode permitir o acesso ao conhecimento social" 5 humortambm faz parte deste meio literal de transmiss&o de informações, podendo,como estudaremos neste tra- balho, relacionar o humor enquanto ferramentacr6tica nas charges, levando a infor- maç&o ao leitor atravs de personagens querepresentam os indiv6duos sociais e fa- zendo com que estes possam refletir deforma cr6tica sobre sua realidade"
7omo freq8entemente insistia o soci9logo da literatura, Lucien:oldman, a teoria formula os conceitos, as leis, as anlises, e a obra literriaganha vida atravs dos indiv6duos, dos personagens e das situações" ;e aprimeira segue a l9gica da racionalidade cient6fica, a segunda segue a daimaginaç&o e, dessa forma, produz um <efeito de conhecimento= insubstitu6vel,iluminando, por as- sim dizer, o <interior=, os contornos e as formas darealidade social" 5 que im- plica uma complementaridade poss6vel, e
dese!vel, entre as duas formas de discurso/" 7onstata-se ainda que
conhecimento e imaginaç&o, ou ainda, pen- samento e cogitaç&o,necessariamente precedem o riso, como e#plica >lberti '/000? “(...) o quedetermina a especificidade do riso é a atividade cognitiva, é preciso conhecer ou conceber a matéria que entra na alma” (p.1!).
>ssim, surge a quest&o para 7aruso '/0@1? que seria de ser humano semo humor, sem algo que lhe alegrasse o esp6ritoA 5 que seria de n9s se n&ofossemos dotados dessa capacidade surpreendente de rir diante dosacontecimentos da vidaA B verdade que o homem nasce chorando""" .as algumashoras depois, quando ador- mece, ! começa a sorrir, talvez por instinto de
sobrevivência neste planeta">ssim, o riso acompanha toda nossa vida, desde a inf4ncia, na qual atra-
vs dele, ele e#pressa seus encantos, at a idade madura, quando rir passaa construir uma compensaç&o de seus aborrecimentos e contrariedades"
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/ ;aCre, e LoDC, *++/, p" +1"
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E o riso alm disso, uma necessidade social na medida em que nascetambm da observaç&o dos defeitos humanos, daquilo que preciso mudar nasociedade" E quando se tem clareza suficiente para compreender, atravs doespetculo dos erros dos outros, o rid6culo de si mesmo, indica-se a6 a autocr6-
tica, ponto de partida para o autoconhecimento"este sentido, o humor, s9 cumpre o seu verdadeiro papel quando
e#pressa o dom da raz&o e a consciência de que o erro n&o passa de umpobre diabo""" '7aruso"
5 humor apresenta caracter6sticas f6sicas no ser humano quando esteri, psicol9gicas por que o faz rir, irFnica derivada de processos intelectuais,cFmi- co quando o riso se torna de zombaria, e transcende todos estesaspectos quando se trata da comunicaç&o que este faz entre a realidade vividae a cena que e#emplifica esta verdade com ironia"
B neste conte#to que insere a proposta deste trabalho, estudar ohumor como ferramenta cr6tica, nas charges de Edgar Gasques, publicadas no !ornais? Holha da .anh&, )isco, 5velha egra e o Pasquim, entre /01I e /0@+"Enten- der como o humor pode servir de ferramenta para a cr6tica, e constatarcomo pe- quenos quadros de desenhos sat6ricos e irFnicos, podem levar o leitorfacilmente a uma interpretaç&o da realidade vivida, num dado momentohist9rico"
5 humor aqui estudado analisado do ponto de vista hist9rico,desde seus prim9rdiosJ filos9fico e literal, em contos e apresentações teatraisJpsi- col9gico com os relevantes estudos de HreudJ antropol9gico e suasformas mais atuais de e#plicaç&o das manifestações humor6sticas"
>lm de passar por teorias que compõem as charges, como?7omunica- ç&o, Kist9ria em uadrinhos, 7aricatura, e Personagens" Mambmforam anali- sados os temas Li#o, como significativo, pois os personagens dascharges vi- vem nos li#&o 'aterro sanitrio" E posteriormente a escolhade algumas questões, mais enfatizadas pelo autor e selecionadas paradescriç&o das char" ges, que seguem? Espcie Kumana, Home, 7ivilizaç&o3ndustrial, Nemocracia, Li#o, 3gre!a # 7onsumo, e 7riador 'Neus"
Enfim, pretende-se estabelecer a relaç&o entre humor e cr6tica, chegando
ao humor como ferramenta da cr6tica, aqui estudados nas charges,revelando a comunicaç&o e#istente entre o imaginrio dos personagens e arealidade estabelecida com o leitor"
1. Humor
Mendência esttica e filos9fica de mostrar o rid6culo da condiç&o humana eprovocar o riso" Mermo derivado de antiga crença na influência dos fluidosdo corpo sobre o carter dos indiv6duos" 5 termo latino humor, significa <l6quido, umidade=" Na antiga crença na influência dos fluidos do corpo sobreo estado de 4nimo das pessoas veio o uso da palavra <humor= comosinFnimo de <gê- nio, temperamento=" Posteriormente, o termo voltou aevoluir quanto ao signi- ficado" 5 dramaturgo inglês (en Oonson, no final dosculo G3, utilizou a pa- lavra inglesa <humour= para definir a
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personalidade e#travagante e aplicou a
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teoria dos humores aos personagens que atuavam em sua comdia" o sculoseguinte impFs-se o uso, no francês, de <humeur= no sentido moderno de ten-dência para o grace!o" > literatura de todos os pa6ses e#ibe, no entanto, desdetempos muito anteriores ao uso da palavra humor, a tendência a mostrar de
maneira !ocosa as incoerências da sociedade e a caçoar do absurdo e do rid6-culo 'EncCclopaedia (ritannica do (rasil Publicações Ltda"" Em seu significadomoderno, foi pela primeira vez registrada na 3nglaterra em /Q@*, ! que, antesdisso, significava disposiç&o mental ou temperamento"
Ne acordo com (remmer e )oodenburg apud (urRe '/002, p" IS h uma <desintegraç&o= do humor tradicional, que começou no sculo G3? houve umareduç&o dos dom6nios, ocasiões e locais da arte cFmicaJ alm disso, o clero, asdamas e os cavalheiros ! n&o participavam de certos tipos de humor, pelomenos em p$blico" Esta troca de <fronteiras= de arte cFmica se enquadrava no
estudo de orbert Elias
*
sobre a ascens&o da <civilizaç&o=, que quase meio s-culo depois continua sendo o ponto central de referência para o estudodessa evoluç&o" o sculo G33, com o barroco, o humor encontrou terrenofrtil" > ruptura da concepç&o renascentista do mundo fez com queganhasse força uma vis&o desiludida da vida, e se impFs uma esttica naqual se destacava em grande medida a espirituosidade, que com freq8ênciasurgia para dar e#- press&o ao cFmico" 5 humor aparece muito, pore#emplo, nas obras de ;haRespeare e constituiu elemento essencial no N"ui#ote de 7ervantes" 5 humor como instrumento de cr6tica social aparecia ! no que muitos conside- ram o primeiro romance hispano-americano #l
periquillo sarniento '5 periquito sarnento, /@/0, do me#icano OoaquimHernndez de Lizardi" a )$ssia, alm de :ogol, destacou-se o humor finoe penetrante de McheRov, veiculado por uma narrativa cheia de ambig8idadee sutileza"
Essa tambm a atmosfera da obra de .achado de >ssis, no fim dosculo 3, cu!o humor penetrante repassado de um pessimismo irredut6vel"Komem de meios-termos, ambig8idades e humor sub-rept6cio, precedeu assima concepç&o moderna de humor que, segundo Luigi Pirandello, uma <l9gicasutil= e tambm <o sentimento do contrrio=" 5 parado#o o forte dos te#tos de5scar Tilde e LeDis 7arrol" >inda na virada do sculo brilharam na literatura
humor6stica o americano .arR MDain e o brit4nico (ernard ;haD" 5s franceses>uguste Gilliers de L3sle- >dam e >lfred OarrC notabilizaram-se como cultoresdo humor negro, aquele em predomina as notas c6nicas e aparece o tema damorte"
5 humor uma linguagem simb9lica porque atravs dele o mundo e#terior s6mbolo de um mundo interior, segundo Hromm '/0QQ, permite a e#press&odo mundo interior de cada indiv6duo, evoca o dilogo bite#tual, bimagtico entre oes- perado 'consciente e o inesperado 'inconsciente, provocando um confrontodial- tico rpido que aguça os sentidos, estimula o crebro, revitaliza o homemcomo su!eito social"
5 humor contempor4neo ampliou em grande medida suas fronteiras">brange tanto o sociol9gico como o hist9rico e psicol9gico, transcendendoVs fronteiras nacionais, compreende todas as manifestações da atividade do
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ho-
* Uber den Prozess Wivilisation 'vol *" (asilia, /0I0"
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mem" 5 teatro do absurdo, por e#emplo, utilizou um humor corrosivo paraapresentar sua desolada vis&o da e#istência humana" Ne maneira similar,muitos grandes romancistas, do irlandês Oames OoCce ao alem&o :unter :rasse o cubano 7abrera 3nfante, empregaram o humor como meio para
penetrar na falsidade do mundo convencional" 5s novos meios decomunicaç&o, como o cinema, o rdio e a televis&o, possibilitaram osurgimento de novas formas de humor, com linguagens espec6ficas eadequadas a esses ve6culos"
Ne relevante import4ncia Hreud '5s chistes e sua relaç&o com o 3nconsci-ente, /0+2 realizou estudos sobre os chistes, do qual trataremos neste mo-mento" este livro, o autor estuda a piada, a comicidade e o humor V luzdos princ6pios gerais da psicanlise" 5bserva que a pilhria a mais social dasfun- ções an6micas destinadas V obtenç&o de prazer" )i-se dos palhaçosporque
seus gestos parecem e#cessivos e inadequados" > comicidade
decorreria assim de um consumo de energia superior ao que !ulganecessrio" 5 riso que re- sulta da consciência dessa desproporç&oe#prime tambm o sentimento de nossa superioridade" 5 prazer cFmiconasce, portanto, do confronto entre o comportamento da pessoa observadae o do observador" Honte de comicidade tambm a relaç&o com o que iracontecer" 5s movimentos suprfluos, pro- venientes da desproporç&o entre oesforço a que se predispõe o !ogador, por e#emplo, e a leveza inesperadada bola, podem tornar-se cFmicos" Por isso Hreud cita Xant? <5 cFmico umaesperança decepcionada="
Para (uCtendi!R '/011, o humor tem como suporte o !ogo de funções dohomem no conte#to social" 5 humor um !ogo humano produzido atravsda linguagem e que nela se realiza, evidencia-se pela compreens&o que ohomem apresenta como resposta" Para Hreud, o humor relaciona-se aoirracional e ao obscuro dos instintos, das pai#ões, das capacidades,disposições, condições e estado de 4nimo dos seres humanos, e com oine#plicvel elemento criador" a criaç&o do humor h um fenFmeno l$dicoque implica em liberdade, num planar aparente, coerência, ambivalência,infinidade interna e atemporalidade" o humor !oga-se com imagens e estas !ogam com os indiv6duos" o entender do referido autor, imagem o modo
como se apresentam as coisas e os acontecimentos em seu carterprtico" >ssim, a esfera do !ogo a das ima- gens, ou se!a, das fantasias edas possibilidades" >travs dessas o carter imagtico escondido dei#a-sedescobrir, estabelecendo um processo dialtico circular, de est6mulo eresposta, de mover e ser movido, num vaivm que al- terne tens&o erela#amento como surpresa"
5 humor licencioso poderia ser analisado, por e#emplo, a la )adcliffe-(roD, enquanto instrumento usado para amenizar tensões latentes na estru-tura social" >s gozações tambm poderiam ter sido vistas como maneira de
designar um bode e#piat9rio, permitindo o sacrif6cio simb9lico de certos indiv6-duos para a e#piaç&o do grupo" ;egundo outra hip9tese, o humor desempe-nharia um papel de transmiss&o de valores de uma geraç&o para outra" > go-zaç&o seria uma maneira de estigmatizar desviantes, tendo com conseq8ência
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o reforço de norma vigente"
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Xoestler informa que para >rist9teles o riso relaciona-se com a fealdade eo aviltamentoJ 76cero afirmava que o rid6culo se ap9ia na vileza e nadeformi- dade" Nescartes via o riso como uma manifestaç&o de alegriamisturada a sur- presa eYou a avers&o"
7ertamente, o humor, <como o bom humor em todas as sociedades,utiliza coisas que s&o amb6guas ou que s&o tabu e brinca com isso de formasdiferentes= ';eeger, /0@+" 5 humor para ser compreendido, deve ser situadonum conte#to de prticas e valores" Em outras palavras, abraçando a cr6tica de(aRthin '/0@1 Vqueles pesquisadores que !ulgam que <o riso sempre omesmo em todas as pocas e que a brincadeira nunca mais do que umabrincadeira="
Modos n9s sabemos como uma pitada inesperada de humor capazde desfazer um clima tenso num instante" Em um conte#to mais amplo, o
carna- val e as festividades anlogas podem corromper temporariamente asregras sociais r6gidas a que todos n9s obedecemos"
2. omunicação
> construç&o da imagem e a constituiç&o do pensamento formam um parin- dissocivel" esta !unç&o, a linguagem que resulta das relações humanas,si- multaneamente forma e organiza o pensamento, permitindo aconstituiç&o da consciência dos homens" ;abe-se que na linguagem que oindiv6duo constr9i e interage com o mundo a sua volta"
5 processo de formaç&o do pensamento despertado e acentuadopela vida social e pela constante comunicaç&o que se estabelece entre aspessoas, a qual permite a assimilaç&o de e#periências"
;egundo KuCge '/01Q, dentro dos acontecimentos hist9ricos, a socieda-de antiga desmorona e o homem se dispersa no vento das descobertasnovas que revolucionam a concepç&o do homem e do universo" 5 indiv6duoreflete os caracteres pelo seu ponto de vista e !ulgamentos associados Vscircunst4ncias que o ligam V coletividade"
7om relaç&o V esta capacidade do humorismo, o cr6tico alem&o (en!amin'/0/Q, escreve? <> cr6tica das coisas espirituais consiste na distinç&o entre o
autêntico e o inautêntico" .as ela n&o concerne V linguagem" 5u concerne% porm s9 se fica oculta sob um vu? o vu do humorismo" ;9 no humorismo que a linguagem pode ser cr6tica="
>s prticas e os discursos da vida cotidiana, revelam que a obstinadapresença do humor nas trocas sociais, levam a refletir sobre a relaç&o entre oestilo da e#press&o e o valor e#presso no humor"
;egundo Xonder '/0@I, h no humor uma vocaç&o dialtica espont4nea,que o leva a questionar os princ6pios que enri!ecem, as certezas que se crista-lizam, as conclusões que se pretendem definitivas" 5 humor força a consciên-
cia para o novo, para o inesperado, para o flu#o infinitamente rico da vida,para a inesgotabilidade do real"
Para sua pr9pria natureza, o humor uma força desinibidora,libertria" Em suas e#pressões mais desenvolvidas, ele nos a!uda a perceber as
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ambigui-
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dades da condiç&o humana, as contradições disfarçadas, os anseios einsatis- fações" o n6vel mais conseq8ente da dialtica imanente, o humorn&o poupa nada, n&o respeita ningum"
>ssim, surge a charge, que tem por ob!etivo a cr6tica humor6sticaimedi- ata de um fato ou acontecimento espec6fico, em geral de naturezapol6tica" > mensagem visual 'cu!os constituintes imediatos m6nimos s&olinhas, superf6- cies e tonalidades sustentada pelos balões 'cu!osconstituintes imediatos m6nimos s&o as palavras" >parentemente amensagem ling86stica dirige a mensagem iconogrfica? o desenho ilustra ote#to" 5 registro verbal teria a funç&o de <ancorar= a mensagem, desde quequase sempre a comunicaç&o vi- sual amb6gua e decodificvel de m$ltiplasmaneiras"
!.
Hist"riaem
#uadrinhosParte-se do pressuposto que as charges derivam das Kist9rias em uadrinhos,passando a mensagem ao leitor de forma mais rpida" >s K constituem umainst4ncia poss6vel de anlise de formas n&o-verbais de comunicaç&o, quev&o por e#emplo, da gestualidade V e#press&o cromtica, passando do espaçoso- cial aos movimentos percept6veis do corpo" .anifestaç&o caracter6sticada chamada cultura de massa, as Kist9rias em uadrinhos introduzem umamo- dalidade de comunicaç&o 'horizontal e coletiva, cu!o fim prec6puo o deper- mitir fcil percepç&o e pronto entendimento"
>s Kist9rias em uadrinhos s&o um gênero narrativo que, em
variados graus de verossimilhança, apresentam imagens fi#as, cu!a seq8ência'sintag- mtica fornece a totalidade da aç&o" ;eus personagens s&o figurashumaniza- das, animais ou seres antropom9rficos, andr9ides, etc", quepovoam um dado espaço de ficç&o" 5s protagonistas das K <vivemintensamente= sua e#pres- s&o total <paro#6stica=" ;empre <em situaç&o= os <her9is= se manifestam em seu pr9prio nome, de maneira categ9rica" ;uaconduta intencionalmente si- gnificante e o estilo de apresentaç&o,comumente direto"
Hresnault-Neruelle '/01@, p" /I1-/21, se volta para a anlise doespaço interpessoal nos quadrinhos" Partindo da necessria verossimilhança,homolo- gia, entre o espaço representado na historieta e o espaço real" Esteautor ob- serva que um certo n$mero de relações mantidas pelospersonagens 'pala- vras, gestos e atitudes, constitui uma estrutura pr9priade comunicaç&o, isto , um micro-espaço" ele, os personagens interagempor via da vis&o, da au- diç&o e do tato" ;&o estes os sentidos pressupostoseYou mostrados pela aç&o de tais personagens"
7omo prtica significante, o quadrinho % assim como qualquerdiscurso art6stico % assume, por outro lado, a prtica ideol9gica em suaconcretude te- mtico-grfico-estrutural" Entende-se a ideologia a partir de
uma leitura >l- thusseriana 'Pratica te9rica C lucha ideol9gica, /0Q@, dessemodo os quadri- nhos seriam aparelhos ideol9gicos de Estado culturais" Estadiscuss&o remete- se sem d$vida, para uma discuss&o pol6tica" > lutaideol9gica transforma-se em luta pol6tica contra a direita e os reformistas" >
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verdade que a ideologia, nos quadrinhos, manifesta-se em todos osn6veis, em quadrinhos suposta-
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mente inocentes, em quadrinhos de aventura tradicional, em quadrinhoslibe- rais, em quadrinhos familiares, etc"
Niscurso ideol9gico, o quadrinho tambm discurso que se faz pol6ti-co 'ao n6vel de sua especificidade" >ssim como o ideol9gico manifesta-se mais n6veis de articulaç&o formal, o pol6tico manifesta-se em todos osn6- veis, se!a de modo direto, se!a de modo indireto" ;e!a de modocr6tico, se!a de modo ideol9gico"
Para 7irne '/0@*, p" */
“$a%"se necess&rio, portanto uma arte de resist'ncia, um quadrinho de resist'n"cia, sea politicamente, sea culturalmente. ma arte e um quadrinho deresis" t'ncia, inclusive ao n*vel econ+mico, devem lutar por um espao art*stico,semi" ol-gico e cultural pr-prio, ao lado daqueles que combatem qualquer espécie de imperialismo”.
$. aricatura
>travs das cr6ticas da imprensa, que vem e#pressa em editoriais raivosos, emquadrinhos humor6sticas e nas caricaturas que, pouco a pouco, vai secons- truindo a imagem das figuras caricaturadas"
> caricatura apareceu pela primeira vez numa srie de desenhos dosir- m&os 7aracci, de (olonha, 3tlia, nos fins do sculo G3" >caracter6stica de e#agerar as feições humanas, ridiculariz-las ou fazê-lascFmicas, porm vem de pocas imemoriais" as pinturas rupestres,estudiosos acreditam descobrir nos artistas com que representavam seusinimigos" > caricatura a represen- taç&o da fisionomia humana comcaracter6sticas grotescas, cFmicas ou humo- r6sticas, n&o necessrio queeste!a ligado apenas a formas humanas, mas necessita-se como referência"Entre outras formas de arte, a caricatura apre- senta peculiaridade de ter umob!etivo espec6fico? o artista estar realizando uma caricatura toda vez que suaintenç&o principal por representar qualquer figura de maneira n&o convencional,e#agerando ou simplificando os seus traços, acentuan- do de maneiradespropositada um ou outro detalhe caracter6stico, procurando re- velar umponto n&o percebido, ressaltar um m qualidade escondida, apresentar umavis&o cr6tica e quase sempre impiedosa do seu modelo, provocando com isso oriso, ou um momento de refle#&o no espectador"
Ne acordo com a >ssociaç&o dos 7aricaturistas do (rasilI, ap9s a chegadada 7orte Portuguesa, tem in6cio as artes grficas no (rasil" >t ent&o, n&o erapermitido qualquer meio de impress&o na colFnia e a partir de /@I/, que setem not6cia da primeira referência sobre a caricatura no (rasil" Esta caricaturafoi publicada na primeira pgina do terceiro e $ltimo n$mero de 5 7arcund&o,de /Q de maio de /@I/, )ecifeYPE"
5 humor sempre foi uma marca da imprensa brasileira" .esmos as folhas
mais tradicionais do sculo 3, com sua pssima paginaç&o, seuamontoado
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X Encontro Nacional da Anpur | 1I 3nformaç&o retirada do site DDD"terraav i sta"com"br <Charge dos 2++ anos do (rasil= >ssociaç&o dos 7aricaturistas do(rasil" *+Y+IY*+++"
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de colunas e de notas, sem manchetes e sem fios a destac-las,reservaram sempre um espaço, ainda que pequenino, para a quadrinha, anota maliciosa sobre as figuras importantes do tempo, ou mesmo para a purae simples ane- dota"
Ne acordo com Lustosa '/00@, a caricatura, no entanto, s9 começa a setornar freq8ente a partir de /@I1, com a publicaç&o da anterna /&gica,re- vista ilustrada, de >ra$!o Porto >legre" Na6 em diante, multiplicar-se-&o aspu- blicações do gênero, quase todas de vida efêmera"
> chegada ao )io de Oaneiro, em /@Q1, do italiano Zngelo >gostini, repre-sente uma nova força na arte da caricatura" >gostini, antes de criar suapr9- pria revista, colabora com vrios peri9dicos, dos quais o mais famosofoi O /osquito '/@Q0-/@12" Praticamente at o final do sculo 3 acaricatura bra- sileira ser produzida por estrangeiros ou por sua inspiraç&o"
>lm de >gostini, o )io acolhe outro italiano Luigi (orgomaniero'precocemente falecido, v6tima de febre amarela, em /@1Q e o português)afael (ordalo Pinheiro" os $lti- mos anos do sculo, Ouli&o .achado, outroportuguês, promovera a verdadeira revoluç&o da caricatura brasileira"
o decorrer do tempo, a caricatura brasileira n&o conseguiu fugir a umparado#o que acompanha esse tipo de arte desde sua origem" >o deformara realidade para criticar, ela simplifica e pode se tornar manique6sta" >oprivile- giar o rid6culo, pode ser conservadora" > campanha sanitria de5svaldo 7ruz no in6cio do sculo, por e#emplo, foi demolida pelosdesenhistas da poca" >pesar dessa limitaç&o a forma de e#press&o art6stica
que traça o panorama mais original da hist9ria do pa6s" Para revitalizar suacrueldade, Kermen Lima observou? <&o a caricatura que torna os homensrid6culos" Eles s&o rid6cu- los por si mesmos= ')evista Ge!a, /000"
7ordial, alegre, are!ada, a caricatura brasileira foi uma das maisfortes e#pressões culturais do pa6s" Ko!e, estrategicamente menos importantedo que foi no seu apogeu, a caricatura se encontra, no entanto,estabelecida como uma das formas de e#press&o da imprensa" Ela seperpetua, at ho!e, en- quanto quadro obrigat9rio da pgina central de quasetodos os grandes !ornais do pa6s" 5 caricaturista, ao registrar o momentohist9rico, o fato pol6tico signi- ficativo do dia, compõe, de certa maneira, um
aspecto da personalidade de seu !ornal, identifica uma tendência, firma umaposiç&o"
a caricatura basta concluir que a funç&o do desenho ! n&o aparececomo a de mera <ilustraç&o= do te#to, ela acrescenta alguma coisa, distorce,deforma a realidade no n6vel mesmo da mensagem denotada"
%. har&e
Charge, vem do francês, que significa carga" 5 ob!etivo da charge a cr6ticahumor6stica imediata de um fato ou acontecimento espec6fico, em geral de
natureza pol6tica" 5 conhecimento prvio, por parte do leitor, do leitor, doas- sunto de uma charge , quase sempre, um fator essencial para a suacompre- ens&o" Uma boa charge, deve procurar um assunto momentoso, eir buscar direto aonde est&o centrados a atenç&o e o interesse do p$blico
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leitor" > men-
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sagem contida numa charge eminentemente interpretativa e cr6tica e, peloseu poder de s6ntese, pode ter Vs vezes o peso de um editorial" >lgumas char"ges, usam os elementos da caricatura na sua primeira acepç&o, o que nuncaacontece com o cartum, onde os bonecos s&o a representaç&o de um tipo
de ser humano e n&o de uma pessoa espec6fica":eralmente a charge composta por caricatura e fato social, devendo
ser reproduzida na proporç&o adequada, integrando a figura com o con-te#to, para que a s6ntese n&o pre!udique a compreens&o" <7omo chegar auma s6ntese t&o perfeita que a caricatura ! a charge A= 'Ger6ssimoapud 7aruso e .endes, /0@1"
;egundo Nante apud ;chaitza '/0@0, a charge o gatilho rpido do !or-nalismo" um tiro seco faz um editorial profundo, de cr6tica e#pl6cita masso- bretudo impl6cita" 5 desenho na charge acha e#pl6cita demais, ruboriza"
Gendo os impl6citos, o leitor esboça um sorriso e pensa"B importante fazer pensar" .ostrar o irFnico, ou o mentiroso, muitas ve-
zes o desimportante das situações que o editorial trata com uma dignidade% se n&o hip9crita % quase sempre um pouquinho chata" > charge faz c9cegasno crebro, o editorial d marteladas" > charge veio compor na fisionomiagrfica na pgina dos !ornais" ue passou a ser uma vitrine colorida dehumor, indu- zindo o leitor V curiosidade do que mais havia dentro desse !ornal"
Para Nante apud >ssis '/0@0, uma foto vale mil palavras" E uma chargevale uma opini&o" 5pini&o que muitas vezes, nem mil palavras
conseguiram transmit6-la, com tanto efeito e compreens&o"Ne acordo com as afirmações do mesmo autor, a charge !ornal6stica n&o
apenas um cartum cercado por quatro linhas" 5 desenho envolve toda a p-gina, emoldurando manchete, fotos e te#tos" 7hegando alguns trabalhosa <agredir= o pr9prio logotipo do !ornal" 5bra evidentemente, de umchargista que tambm la0outman, diagramador, editor"
[ vlido ressaltar que a charge !ornal6stica ! ocupou vrios espaços dentrodo !ornal, como na capa, na primeira pgina, no editorial e em cadernos especiais"
'.(i)o *tema si&nificativo
Este tema abordado por Edgar Gasques, demonstra a total e#clus&o social queos indiv6duos sofrem ao sobreviverem nos aterros sanitrios, vulgo <li#ões=" 5autor ilustra as cenas com e#atid&o real, ironia, criatividade e cr6tica, mostran-do como seus personagens vivem dos produtos descartveis da sociedadeca- pitalistaYsociedade de consumo"
5 autor procura enfatizar que seus personagens moram, se vesteme comem produtos que sobram ou ! foram utilizados por outras pessoas,reve- lando assim, que neste per6odo entre /01I e /0@+, ainda n&o havia otrabalho dos catadores de materiais reciclveis"
> sociedade brasileira na dcada de /0@+ 'posterior aos quadrinhos en-trou na hiperdin4mica do consumo, dividindo-se em duas espcies degeraç&o da demanda espont4nea de consumo, que est&o intimamente ligadas"
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Esses produtos descartveis e sua relaç&o com a sociedade ganham si-gnificante peso nos estudos de (audrillard '/002, p" I@ que esclarece?
“ao n*vel mais simples, o da pr&tica do obeto, como as diferenas, longe de
marcarem uma hierarquia social progressiva, provocam uma discriminaoradi" cal e uma segregao do fato, que votam certas classes e no outras adetermi" nados signos , a determinadas pr&ticas, e as condu% nesta vocao eneste des" tino segundo toda uma sistem&tica social.”
> posseYn&o posse de determinados ob!etos reforça as diferenças sociais,consolida e e#pressa a estrutura hierrquica? esses ob!etos designam a classesocial do seu possuidor" Por outro lado, o desfazer-se de tais ob!etos-quando perdem sua significaç&o social, devido a sua doaç&o por parte de outraclasse, ou por estarem fora de moda % assume a mesma relev4ncia que tem
sua pos- se" Modos esses ob!etos $teisYin$teis, ruinsYbons, formam um sistemasem4n- tico, um discurso de classe, atravs do qual cada grupo e indiv6duoreafirma o seu lugar numa ordem social, comunicando concomitantementesua relaç&o com as outras classes, produzindo e reproduzindo distinções ediferenças" 7onsideramos este estudo ainda representativo de um fenFmenosocial am- plamente difundido no (rasil, sobretudo nos grandes centrosurbanos"
“Os catadores “catam” os deetos culturais supostamente desprovidos devalor, que antes setores da sociedade pretendem devolver 2 nature%a. #ssetipo de atividade ligada a uma economia de subsist'ncia, poderia ser caracteri%ada como um tipo de coleta urbana, no mais inserida na vida docampo e no ciclo das esta3es, mas integrada ao processo de produo ecirculao industrial e comer" cial dos grandes centros urbanos. 4oderia ser considerada uma forma de e5trativis" mo, um processo de e5trao do material
produ%ido por uma nature%a culturali%ada, que neste processo lhe incorpora trabalhoe produ% valor”. ':rossi, /00@, p" 1I
o (rasil, onde as classes se distanciam economicamente a cada dia,falta emprego e sobram desafios" E dar continuidade a vida o desafioque muitos brasileiros enfrentam criativamente tirando do li#o sua
sobrevivência" ;eparando o reciclvel, esses catadores de vida subtraem doambiente quanti- dades de li#o para a reciclagem industrial, devolvendo Vsfontes naturais de recurso ritmo para sua sustentabilidade"
+. Persona&ens
5 chargista Edgar Gasques criou sete personagens caracter6sticos? )ango, 5Hilho, (aba, 7haco, Prvio e (oca I" Procurou-se descrever as relações sociaisque vinculam os vrios personagens, e atravs de seu conte$do mostrarque elas hierarquizam os moradores do li#&o por meio de uma escalaimpl6cita de valores e pensamentos, fundada na figura do capitalismo,sistema pelo qual s&o marginalizados" Essa escala de valores, por meio dadefiniç&o do autor, procura incutir nos personagens noções morais de bom,rid6culo, delinq8ente, louco, cr6tico, pensante, entre outras" Mal interpretaç&o
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seria imposs6vel sob a
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constataç&o preliminar de que cada personagem , antes de tudomercadoria, que se vende e se compra"
5 local de moradia e vivência dos personagens no li#&o da cidade, quese localiza em pontos perifricos, sub$rbio, da mesma, devido ao mau cheiro ea poluiç&o visual que pre!udica o ambiente urbano, alm doconstrangimento causado aos cidad&os"
5 personagem )ango, alm de suas e#centricidades, tem filho eamigos" 7ada um possu6do por suas pr9prias caracter6sticas" )ango o $nicopersona- gem que serve de referência na definiç&o e constituiç&o de todosos outros" Em suma, )ango e seus amigos est&o a margem da sociedade,passam por uma desigualdade social ca9tica"
6ango? o marginal-s6ntese, su!o, doente, desbocado, cabeludo, barbaapontando, nu e famintoJ desprovido at de aparência humana" 7onserva
apenas o crebro e a voz" Personagem principal nas charges, o $nico que inti-mamente conversa com o 7riador 'Neus" O $ilho? um menor abandonado, fi-lho de marginal" ;em chances, nem perspectivas, s9 um observador, passivoe inocente, de toda circunst4ncia" >parenta uma criança subnutrida, com olhosfundos, cabeça grande e corpo magro, sempre faminto" 7aba? adepto da $nicasoluç&o imediata? fugir da realidade adversa 'via cachaça, e pelo menos nisso altamente competente" (aba representa um bêbado, magro, su!o e maltra-pilho" Chaco? a fome da >mrica Espanhola" Mem o temperamento ora ingê-nuo, ora esperto do 6ndio" B um imigrante, e seu nome lhe conferem$ltipla nacionalidade" 4révio? negro letrado mas que sofre de uma doença
intermi- tente que !ustamente nas horas mais indicadas tira-lhe a fala" 8eum? o pe- queno Oe!u6no, por motivos 9bvios apelidado Oe!um")epresenta o mundo do subemprego e tambm filho de maioresabandonados" >pesar de tudo acre- dita em sua raça e tem esperanças de umfuturo melhor" 7oca 9? o cachorro vira-lata, amigo fiel mas c6nico 'afinal, um c&o do marginal" 7hama-se bocaI porque foi a terceira boca que apareceu para 'n&o se alimentar" 7enrio? amaioria das cenas s&o retratadas no li#o, local de moradia dospersonagens, nas ruas da cidade, ou favelas"
,. Temas das char&es
Edgar Gasques, em suas charges nos remete a realidade da dcada de /01+,levando o leitor a refletir sobre essa poca, os problemas enfrentados pela so-ciedade, os acontecimentos nacionais e internacionais relevantes, alm doco- tidiano dos indiv6duos menos favorecidos" B importante ressaltar que nesteper6odo era grande a repress&o oriunda do regime militar, que o autor pormeio de suas charges procurava criticar de forma e#pl6cita"
5s temas e#plorados por Gasques, s&o refletidos por seus personagens,que questionam e criticam o mundo em que vivem" 5 autor satiriza os aconte-cimentos e#plicitando a realidade vigente" 5s personagens de Gasques moram
no li#&o, sobrevivem de produtos descartveis da sociedade capitalista Y socie-dade de consumo" B not9rio o crescimento econFmico da classe mdia brasi-leira, enquanto as classes menos favorecidas aumentam suas porcentagens">lguns temas ganharam maior destaque nas charges de Gasques, foram eles?
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Espcie Kumana, Li#o, Home, 7ivilizaç&o 3ndustrial, Nemocracia, 3gre!a # 7on-sumo, 3gre!a e 7riador 'Neus
Estas charges foram retiradas dos Oornais? Holha da .anh&, )isco, 5 Pas-quim, e 5velha egra, editados no Estado do )io :rande do ;ul, no per6odo de/01I a /0@+, e posteriormente foram selecionados e distribu6das em colet4ne-as? )ango /,* e I '/01I % /011, )ango S '/01Q, )ango 2 '/01Q %/0@+, )ango1 '/01Q - /0@+"
onclusão
5 presente estudo relata, como o humor pode servir de ferramenta para a cr6-tica, utilizando-se das charges de Edgar Gasques" >s charges s&ocompostas por vrios elementos, entre eles o humor e a cr6tica, passadasatravs de um desenho sat6rico" 5 leitor cotidiano, colocado num plano de
vivência imediata com a mensagem grfica <charge=, recebe o mosaico designificações como um !ato de gua fria" Est longe de apreender-lhe osparado#os, longe mesmo de aprendê-la com totalidade" .as a imagem vaiacompanh-lo pelo dia aden- tro, num trabalho paciente de sedimentaç&odas significações digeridas e diri- gidas" '.atos, /01*, p" */@
Mradicionalmente associados ao humor e ao entretenimento, as chargespodem parecer uma opç&o pouco convencional para discutir temas delicados,
pol6ticos e sociais, entre outros" Ooe ;accoS '*++/ acredita que a linguagemda hist9ria em quadrinhos se!a capaz de superar o bloqueio do grande p$blicocom temas poucos palatveis" “Os quadrinhos t'm muito apelo em ra%o
das imagens. :ssim, conquista"se a ateno do leitor, é capa% de contar a elehis" t-rias dif*ceis e introdu%ir a informao”.
>ssim, temos o estudo do humor, do que cFmico, provocando o riso, oufazendo c9cegas no crebro, segundo .asetti '*++/ ao e#plicarmos o cFmicoou ao tentarmos med6-lo e classific-lo, o tiramos da sua condiç&o natural"5 cFmico tem seu lugar garantido por obrigar uma l9gica diferente da docon- ceito cient6fico tradicional" 5 humor se !unta aos conceitos de agruparidias in- coerentes ou absurdas, duplo sentido, irracionalidade, comple#idade">diciona-se mais uma quest&o? o riso pede um novo conceito de ciência" >omenos para ocupar seu lugar de origem" ;e quisermos compreendê-loprecisamos de um modelo que possa descrevê-lo com suas caracter6sticas"5 riso, como tantos outros eventos do nosso mundo, carece de conhecimentoJn&o porque mereça e sim porque n&o sabemos como lidar 5 riso, comotantos outros eventos do nosso mundo, carece de conhecimento? n&oporque mereça e sim porque n&o sabemos como lidar com ele" uestões comoa do humor e do riso em nossas vidas, nos recolocam diante de um mistrio,
de uma condiç&o de humildade com relaç&o ao quanto devemos caminhar"2
Edgar Gasques, nos relata a realidade da poca de suas criações'/01+-
/0@+, seus personagens moravam no <li#&o= e sobreviviam dos restos, alidescartados pela sociedade de consumo" >tualmente essa situaç&o n&o a
S Ooe ;acco, 8ornalista, em entrevista dada ao 8ornal $olha de ;o 4aulo, caderno mundo, :1<, 1=>!>?1.2 http?YYDDD"doutoresdaa legr i a"org"br" /2Y+SY*++/"
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mesma" o (rasil milhares de indiv6duos tem como meio de sobrevivênciaa venda de materiais reciclveis, que antes eram garimpados no pr9prioaterro sanitrio" Em !aneiro de *++/, o :overno Hederal promulgou uma leique pro6- be qualquer pessoa de freq8entar os aterros municipais, a partir da
data de vi- gência da referida lei, estas pessoas passaram a catar o li#o narua, ou s&o amparadas por 5ng\s, prefeituras municipais, ou outras entidades"Hoi realiza- do o /] 7ongresso acional dos 7atadores de .ateriais )eciclveis,em (ras6lia nos dia S, 2 e Q de !unho de *++/, com /"2++ participantes, eapresentado ao 7ongresso acional um antepro!eto de lei que regulamenta aprofiss&o 7ata- dor de .ateriais )eciclveis e determina que o processo deindustrializaç&o 'reciclagem se!a desenvolvido, em todo o pa6s,prioritariamente, por empre- sas sociais de catadores de materiais reciclveis,estes dados mostram na atu- alidade a grande diferença da dcada de 1+"
Este tipo de humor imita as deformidades, os erros, da sociedade atravsde personagens representativos do cotidiano social, assim o leitor, levado pelaironia e pelo humor afligido pelas provocações da charge e consegue obterprazer, levado por um humor rebelde, que o faz rir de suas caracter6sticas re-ais" 5 humor promove o pensamento, aumenta-o, guarda-o para a cr6tica que aguçada pelo instinto e torna o indiv6duo mais acess6vel a ela"
efer.ncias /i0lio&r1ficas
>L(E)M3, G" O riso e o ris*vel@ na hist-ria do pensamento" )io de Oaneiro? Oorge Wahar, /000"
()E..E), O" )55NE(U):, K" ma hist-ria cultural do humor " )io de Oaneiro? )ecord, *+++"
()>UN3LL>)N, O" 4ara uma cr*tica da economia pol*tica do signo" )io de Oaneiro? Elfos, /002"
(U^MEN3OX, H" O" O" O ogo humano" ;&o Paulo? Epu-udesc, /001"
7>)U;5, 7" .ENE;, M" Aova 6epBblica Aovo Destamento" ;&o Paulo? (rasiliense, /0@1"
7>)U;5, 7" 7>)U;5, P. in Eumanas" Pontif6cia Universidade 7at9lica de .inas :erais? E#tens&o, /002"
73)E, ." ma introduo pol*tica aos quadrinhos" )io de Oaneiro? >chiam, /0@*"
N>ME, O" ." Flbum de $igurinhas G $igur3es" 7uritiba? 5 Estado do Paran, /0@0"
H)E;>ULM-NE)EULLE, P" #l espacio interpesonal en los comics" (arcelona? :ustavo :ili, p" /I1-/21, /01@"
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H)EUN, ;" Obras psicol-gicas completas@ Os chistes e sua relao com o Hnconsiente" )io de Oaneiro? 3mago,/012"
:lmanach" 3mago, /012"
H)5.., Erich" : inguagem #squecida" I_ Ed"? )io de Oaneiro, /0QQ"
:)5;;3, :" Os 7adameiros@ a descoberta do li5o" ;alvador? 7adernos do 7E>;, n] /@* OulY>gosto, /000" P"+/-+0"
KU^:KE, )" O 4oder da Hmagem" ;&o Paulo? Edições 1+, /01Q"
X5E;MLE), >" 8ano" ;&o Paulo? .elhoramentos, /0@/"
X5NE), L" 7aro de Htararé" ;&o Paulo? (rasiliense, /0@I"
LU;M5;>, 3" Dirania e Eumor no 4a*s deo Eomem Cordial " Universidade Hederal do 7ear? 7iências ;ociais,/00@"
.>WW5LE3, :" Eomo 6idens@ O 6iso como Hnstrumento Cultural " ;&o Paulo? Perspectivas, /0@0Y0+"
.>), X" O Capital " Gol" /" )io de Oaneiro? 7ivilizaç&o (rasileira, /012"
)>N7L3HHE-()5T, >" )" ;tructure and $unction in 4rimitive ;ociet0 " Londres, /02*"
;>^)E, )" .37K>EL, L" 6eitificao e Consumismo Ostent-rio no Iatsb0 O /agn*fico" >raraquara, n] //,ano Q, *++/"
;EE:E), >" Os velhos nas sociedades tribais. Hn@ Os *ndios e n-s@ estudos sobre sociedadestribais brasileiras" )io de Oaneiro? 7ampus, /0@+"
G>;UE;, E" Caras 4intadas" Porto >legre? L`P., /00I"
6ango /, * e I" Porto >legre? L ` P."
6ango S" Porto >legre? L ` P."
6ango 2" Porto >legre? L ` P."
6ango 1" Porto >legre? L ` P."
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