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Classes C e D,
Um novo mercado para o turismo
brasileiro
RELATRIO FINAL
Anlise de Dados da PesquisaQuantitativa e Qualitativa
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NDICE
1. Introduo................................................................................32. Sumrio Executivo.....................................................................5
3. Os operadores do turismo de Baixa Renda...................................12
4. Viagens de Turistas de Baixa Renda............................................22
4.1 Percepes sobre viagem.................................................23
4.2 Como se Organiza e Com Quem Viaja................................39
4.3 Motivos de viagem..........................................................51
4.4 Destinos........................................................................59
4.5 Transporte.....................................................................71
4.6 Hospedagem..................................................................78
4.7 Alimentao...................................................................84
4.8 Custos..........................................................................885. Metodologia e Perfil dos Entrevistados.........................................95
Anexo 1: Quantificao do porte desse mercado.............................100
Anexo 2: Questionrio de recrutamento.........................................112
Anexo 3: Roteiros.......................................................................116
Anexo 4: Transcrio das entrevistas em profundidade e dos grupos de
discusso..................................................................................121
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1. Introduo
Apresentamos aqui o relatrio final do projeto Classe C e D, o Novo
Mercado para o Turismo Brasileiro contratado pelo Ministrio do
Turismo junto ao IBAM. Nessa fase do projeto, apresentamos uma
sntese dos dados secundrios e dados quantitativos levantados no incio
do projeto que foram integrados aos resultados colhidos pela pesquisa
qualitativa. A fase qualitativa do projeto foi realizada, no ms de maio
de 2005, em trs metrpoles brasileiras: So Paulo, Belo Horizonte ePorto Alegre. Estas entrevistas foram feitas junto a pessoas de 18 a 25
anos, 25 a 45 anos e acima de 50 anos, pertencentes aos grupos de
renda B, C e D que viajaram no ltimo ano.1
Os leitores podero observar diversas informaes relevantes sobre o
turismo de baixa renda, alguns j apontados pela pesquisa quantitativa
e agora aprofundados pela metodologia qualitativa. De modo geral, a
pesquisa indica que esse turista tem um comportamento e uma viso
especfica passeios, viagens, excurses e turismo. Como turista,
costuma viajar em grupo e percebe a viagem como uma forma de
fortalecer laos de sociabilidade. De modo geral, viaja com muita
freqncia, especialmente nos finais de semana, percorre distncias
curtas ou mdias, fica hospedado na casa de amigos e parentes e
realiza dispndios modestos ao longo da viagem. Embora esses
resultados sejam relativamente esperados, algumas surpresas. Entre
elas, o fato do turista popular viajar com os organizadores/operadores
informais de turismo que residem no prprio bairro ou que fazem parte
de sua rede de relaes; o uso sistemtico de excurses no formato
1Para maiores detalhes sobre a metodologia ver captulo 5.
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bate e volta2 com durao curta e curta distncia menos de 24 horas e
com pernoite no nibus; identificamos um grande desconhecimento dos
pacotes tursticos em formato econmico disponveis no mercado.
No que diz respeito aos provedores de servios tursticos para este
pblico, observamos a total informalidade e falta de estrutura em seus
negcios; a dificuldade de acesso s informaes bsicas sobre
fornecedores, destinos e do modus operandi da atividade turstica
destes provedores. Entendemos que algumas dessas questes oferecem
indicaes bastante interessantes, desenvolvidas ao logo do texto, sobre
possveis polticas pblicas voltadas para rea do turismo social.
Apresentamos na prxima seo o sumrio executivo do projeto. A
seguir, analisamos o universo dos organizadores/operadores do turismo
popular. Em seguida so apresentadas informaes mais especficas
sobre o turista de baixa renda levantadas ao longo da pesquisa tais
como, suas percepes sobre a experincia da viagem, motivos,
destinos, com quem viaja, transporte, hospedagem, alimentao ecustos de viagem.
No final, apresentamos as opes metodolgicas que orientaram o
projeto. Em anexo, trazemos todos os instrumentos e transcries das
entrevistas utilizadas no levantamento dos dados, os dados secundrios
e primrios que balizaram a anlise e informaes s quais nos
referimos ao longo deste relatrio.
2 Excurso utilizada pela populao, a ser detalhada a seguir.
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2. Sumrio Executivo
O leitor poder observar nesse relatrio que, em geral, o turista de
baixa renda percorre distncias curtas ou mdias e escolhe como
destino lugares que se encontram no interior do seu prprio estado.
ele mesmo que organiza sua viajem, elaborando o roteiro e o programa
que vai realizar. Passear, descansar e visitar a famlia e amigos ou
namorados so os principais motivos para ele viajar. O nibus de
rodoviria , sem dvida, o mais utilizado como meio de transporte. Apassagem paga vista da mesma forma como a viagem na sua
totalidade. A hospedagem se d, predominantemente, em casa de
amigos ou parentes, possivelmente por ser local onde se gasta menos
dinheiro. tambm neste lugar onde fazem as principais refeies.
Apesar destas informaes serem relativamente esperadas, para o
observador do mercado turstico, essa pesquisa capaz de destacar
outros elementos relevantes. De fato, cabe indicar a ocorrncia de
questes que podem servir ao Ministrio do Turismo como indicao
para possveis iniciativas de poltica pblica. Destacamos abaixo, os
seguintes elementos:
As famlias de baixa renda gastaram 3,8 bilhes de reais com
viagens em 2003.
A maior parte desse consumo se concentra na classe C quegastaram 1,5 milhes de reais em 2003.
Corrigido monetariamente, turismo social atingiria o montante de
4,5 bilhes de reais em 2005 ou, aproximadamente 1,8 bilhes de
dlares.
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Os organizadores de turismo de baixa renda so informais,
desconhecem o universo do turismo, no tm acesso a
informaes e tm restries oramentrias que inviabilizam a
formalizao e incremento do seu negcio.
Viajam com freqncia ao longo de todo o ano, principalmente nos
finais de semana e feriados.
Deslocam-se para destinos com interesse turstico variado, que
apresentam atraes razoveis, como praias at aqueles que so
inusitados e que retratam uma situao especfica como excursespara cidades onde existem presdios, excurso de migrantes ou
mesmo as excurses de cunho religioso, por exemplo;
Observa-se a presena mesmo que modesta de pacotes tursticos,
sendo grande parte deles de natureza informal. Esses pacotes so
utilizados mais freqentemente por pessoas idosas e so de curta
durao.
recorrente o uso de excurses de curta durao no formato
bate e volta. Esta modalidade de viagem deve ser vista com
maior cuidado se formos pensar em uma poltica pblica que
dialogue de fato com o comportamento e os hbitos deste pblico.
O uso do nibus clandestino uma realidade que no pode ser
desconsiderada e acontece, sobretudo, como uma forma de
baratear os custos das excurses e viabilizar o acesso ao universodo turismo popular.
Identificamos que o recurso ao nibus clandestino era
ligeiramente mais elevado entre as pessoas de classe D e do sexo
feminino. As cidades onde ele mais comum so Belo Horizonte
(16%), Goinia e So Paulo.
3% dos turistas de baixa renda viajaram de avio.
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Esses turistas se hospedam predominantemente na residncia de
amigos e parentes, como uma estratgia que alia um lugar de
interesse e a vontade de viajar com a possibilidade de realizar
este desejo diante de um oramento restrito.
16% dos turistas se hospedaram em hotis, pousadas ou penses.
Observa-se, mesmo que de modo limitado, a presena
significativa de turistas de classes C e D hospedando-se em hotis
e pousadas principalmente os que partem de Porto Alegre e Belo
Horizonte - e alimentando-se em bares e restaurantes.
23% dos turistas se alimentaram em bares, restaurantes, hotis
ou penses.
92% das viagens realizadas por pessoas de baixa renda so pagas
vista. O pagamento vista evidencia a completa ausncia de
mecanismos institucionais (pblicos ou privados) que viabilizem o
consumo turstico nesse segmento de renda.
Desconhecem os pacotes tursticos de baixo valor disponveis no
mercado e quando colocados diante desta possibilidade vm esta
forma de viajar e os valores apresentados como possveis,
principalmente para os jovens e idosos. J o pblico que constituiu
famlia, demanda um tipo de pacote diferenciado, capaz de
atender uma demanda familiar mais extensa e que envolve um
desembolso maior de recursos.
As restries de crdito parecem constituir um aspecto crtico do
acesso de pessoas de renda mais baixa ao mercado de viagens
tursticas.
Esses elementos sugerem que existe mercado potencial para
pacotes tursticos de baixo custo, que poderiam ser viabilizados se
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combinassem formas de pagamento facilitadas para viagens de
pequenas e mdias duraes e mdias distncias.
Diante disto, apontamos para a necessidade de construir duas linhas de
trabalho voltadas para o universo dos turistas de baixa renda e do
organizador/operador do turismo social. Vale lembrar que os
organizadores/operadores tm um perfil muito similar ao dos prprios
turistas compartilhando o mesmo espao no meio urbano, a mesma
rede de relaes e as mesmas restries e dificuldades. Como umdesdobramento dos dados apresentados ao longo deste relatrio,
levantamos a seguir algumas perguntas fundamentais que podem
balizar a elaborao de uma poltica pblica voltada para um pblico
com caractersticas e demandas especficas.
Como criar uma instncia de regulamentao, que contemple a
questo da segurana, sem encarecer o produto?
Estimulando as seguradoras existentes no
mercado a criar produtos voltados para os
pequenos empreendedores do turismo popular.
Fomentando as parcerias e negcios a serem
feitos entre as seguradoras e os micro-
empresrios do turismo popular.
Estabelecendo padres de regulamentaofocados na qualidade do transporte e da
hospedagem.
Como reforar o negcio do pequeno provedor, que atua na
informalidade?
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Formalizao:
o Oferecendo condies para que o
organizador/provedor informal formalize o
seu negcio.
o Credenciando os organizadores/provedores
do turismo popular.
Informao dando acesso informao sobre
fornecedores, roteiros, cursos e eventos sobre o
turismo popular.
Formao:
o Fomentando as instituies a disponibilizar
bolsas de estudo ou descontos com
escolas tcnicas e/ou universidades como
forma de estimular o acesso uma
formao consistente e formal paraprovedores que queriam trabalhar com o
turismo social.
o Credenciando os provedores de baixa
renda de forma a facilitar a sua capacidade
de negociao.
o Intermediando o relacionamento comercial
entre os pequenos provedores e as
grandes empresas do setor, estimulando
parcerias.
Divulgao - Viabilizando meios de divulgao de
seus pequenos negcios, facilitando o acesso a
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mdias de baixo custo capazes de atingir seu
pblico alvo.
Como estruturar pacotes financeiramente viveis para o provedor
e para o usurio dos servios tursticos?
Viabilizando uma modalidade de crdito
diretamente para o consumidor. Com:
o Fazendo parceria com as grandes lojas de
varejo popular que operam (como
Carrefour, Lojas C&A) ou que poderiam
operar (Casas Bahia, Casas
Pernambucanas) com pacotes tursticos
para o pblico de baixa renda.
o Criando linhas de crdito junto aos bancos
que tm como foco o pblico de baixarenda, como Banco Popular, Caixa Aqui,
Banco do Nordeste, Banco Postal ou
mesmo com Ongs que operam com micro-
crdito como CEAPE, Viso Mundial, Banco
da Mulher, entre outros.
Transformando os organizadores/provedores em
agentes de crdito, onde o crdito deresponsabilidade da financeira ou banco.
Oferecendo linhas de micro-crdito especficas
para os organizadores/provedores do turismo
popular voltadas particularmente para formalizar
e estruturar a sua empresa, bem como
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oferecendo condies de formar um capital de
giro que viabilize seu negcio.
O turismo popular enquanto modalidade comercial, isto envolvendo
negcios tursticos (pacotes, hospedagem, alimentao, etc.), j uma
realidade praticada por parte dos consumidores de baixa renda, mesmo
de maneira incipiente. De certa forma, o principal desafio da promoo
do turismo popular parece implicar no estmulo organizao, ao
desenvolvimento e expanso dessa atividade.Tendo apresentado aqui o sumrio executivo do estudo, nas prximas
sees, detalharemos os principais resultados alcanados, de acordo a
seguinte organizao:
Os operadores do turismo de baixa renda
Viagens de turistas de baixa renda
Percepes sobre viagem Como organiza e com quem viaja
Motivos da viagem
Destinos
Transporte
Hospedagem
Alimentao
CustosApresentamos, de forma detalhada, esses doze elementos nas sub-
sees que se seguem.
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3. Os operadores do turismo de Baixa Renda
Raros so os operadores que trabalham com turismo popular que
exercem apenas esta atividade.
Para mim a principal atividade porque meu ganha po. Eu
vivo disto. Provedor, So Paulo.
De fato, este trabalho visto como uma atividade complementar a
outras fontes de renda. uma atividade que d para pagar algumas
contas, mas no todas e quando no conseguem retirar lucro, entendem
que pelo menos serve para viabilizar a prpria viagem. um meio de
viajar sem ter que arcar com as prprias despesas, como afirmam os
operadores:
Muitas vezes eu viajo no zero a zero, fao excurso para sair.
Acho que todo mundo passa por isso. Provedor, So Paulo.
Os organizadores/operadores do turismo popular aprendem fazendo.
Entre erros e acertos, encontram um formato prprio de fazer
excurses, como dizem. Muitos trabalham organizando excurses h
muito tempo.
A mais velha da turma sou eu, tenho 65 anos, 35 de turismo.
Provedor, Belo Horizonte.
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Comecei com uma senhora perto da minha casa. Ela foi me
ensinando porque ela j estava parando, a nos fomos para o
Paraguai e ela foi mostrando como que era, a entrei com as
cidades histricas, fui aprendendo, como bico mesmo e no como
uma profisso. Provedor, So Paulo.
Organizadora de excurses
Aqueles que fizeram algum curso ou que, no tendo uma formao no
tema, tm acesso a informaes mais consistentes e sistematizadas so
excees regra.
Ns fazemos Barretos, Ilha do Mel no Paran, Pelotas, Santos,
Mongagu, a gente procura diversificar e quando precisa sair, para
voc fazer um roteiro voc tem que preparar e no chegar e
fazer na louca, tem um estudo...Provedor, So Paulo.
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No meu caso sou Guia credenciada. Tenho curso de Guia, tenho a
credencial da EMBRATUR e eu que monto, recebe e fao tudo,
ento a minha viagem se torna um pouco mais barata.Provedor,
So Paulo.
Via de regra, os operadores de turismo popular so informais por
excelncia, raros so os casos de pessoas que tm uma empresa
constituda ou organizada. Esta informalidade se expressa de diferentes
formas, devido em grande parte ausncia de informaes,desconhecimento das formas de organizar viagens e formas de
gerenciar o negcio. Este aspecto tem implicaes importantes no
acesso destes pequenos operados a fornecedores e empresas com as
quais precisam negociar particularmente com as companhias areas e
as grandes redes hoteleiras.
Atuam principalmente junto s suas redes de sociabilidade. Operam no
bairro, no trabalho, na escola, na igreja. Neste aspecto, existemalgumas peculiaridades entre as cidades em que realizamos as
entrevistas. Em So Paulo, existe uma atuao maior junto
vizinhana, os operadores agem com maior nfase no bairro onde
moram, articulando relaes e convidando as pessoas a participar das
excurses que organizam. Isto se explica em grande parte, pelo fato dos
bairros em So Paulo terem caractersticas prprias e atuarem quase
como pequenas cidades dentro de uma grande metrpole. J em BeloHorizonte e Porto Alegre, existe tambm a atuao junto ao bairro, mas
ele tem um peso menor e no se sustenta por si s. Nestas cidades, os
organizadores de excurso atuam de uma maneira mais difusa e ampla
com a cidade, articulando de maneira mais enftica suas relaes com
pessoas do trabalho, da igreja, e da escola como forma de
complementar s investidas que faz no bairro. Nestas cidades os
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contatos esto mais espalhados pela cidade. Isto tem algumas
implicaes operacionais distintas, especialmente no que diz respeito
divulgao e organizao das viagens.
Toda vez que vou fazer um pacote j ligo para as pessoas que
esto acostumadas a viajar comigo. Provedor, Belo Horizonte.
A principal forma de divulgar uma excurso o boca-a-boca, utilizado
em todas as cidades como o principal meio para disseminar a notcia de
que haver uma excurso para tal lugar. Assim, o bairro serve como um
universo prprio em que se chamam os familiares, vizinhos e amigos e
os convites acontecem quando os organizadores os encontram na rua,
na feira, nas casas.
Eles querem confiana, bom atendimento, pr-venda e ps-venda. Isso importante para voc fidelizar o cliente. Provedor,
Belo Horizonte.
Tenho passageiro que no vai se eu no for junto. Provedor,
Belo Horizonte.
Mantm um caderno com os contatos das pessoas que costumam ir,
muitas vezes ligam para avisar e costumam colocar avisos na porta da
casa, na padaria, no mercadinho do bairro, na casa lotrica.
Minha propaganda boca-a-boca. Provedor, Belo Horizonte.
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No caso do boca-a-boca ao mesmo tempo em que te coloca l em
cima pode te derrubar.Provedor, Belo Horizonte.
Alm disso, comum anunciarem as viagens quando desempenham
outra atividade complementar como a venda porta-a-porta, o que
amplia ainda mais a sua rede de contatos.
Ah, quando comea a chegar perto eu comeo a falar, como que
, vou fazer a viagem pra tal lugar assim, a vamos? A eu j
marco os dias, a eu encontro as pessoas na feira, na rua, a onde
eu encontro as pessoas vou convidando, a eu fao aquela lista, a
j d para comear a vender passagem, n? A eu ligo para a
empresa do nibus, peo um talo e j comeo a vender a
passagem. A, eu saio na rua, encontro a pessoa, at grito, ento
desse jeito que eu consigo e sempre assim. Dona Ivani,
Campo Limpo, So Paulo.
Segundo os organizadores, o boca-a-boca o que garante que o nibus
ir fechar, lotar.
As pessoas que consigo de amizade, um indica o outro e junto
grupos para viajar. Provedor, Porto Alegre.
Tambm por meio desta rede de relacionamento que o boca-a-boca
envolve que garante de uma certa forma o pagamento, minimizando a
chance do organizador receber um calote ou enfrentar problemas com
comportamento desviante entre os participantes.
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Eu no anuncio em jornal porque tenho medo de levar quem eu
no conheoProvedor, Belo Horizonte.
Assim, o boca-a-boca, pelo seu formato, uma forma de selecionar os
participantes e reduzir os riscos do organizador.
Outra forma de divulgao acontece via e-mails, telefone, ainda
mantendo uma rede de relaes ou para os mais ousados, costumam
fazer anncios que colam em no metr, trem ou em pontos de nibus,
escolas, faculdades. Existem aqueles que anunciam em jornal do metr
ou mesmo nos grandes jornais da cidade na seo de pequenos
anncios.
A gente faz a propaganda atravs de e-mail, folhetos e vai
montando o grupo. Provedor, So Paulo.
Pode ser de baixa renda, mas todo mundo, com suas excees,
tem e-mail. Provedor, Belo Horizonte.
Quando fao uma viagem j falo da prxima e assim por diante,
j vou divulgando as viagens que vo ter at o final do ano.Provedor, So Paulo.
Eu ponho uma tabua na minha casa e nos dois carros, a eu
ponho, a data, que cidades...Provedor, So Paulo.
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grtis. Como observado em uma excurso para Ibitinga, a organizadora
contou com a ajuda de uma amiga, que vendeu dezessete passagens,
em troca essa senhora ganhou duas, a cada sete vendidas, ela costuma
dar uma ou o valor em dinheiro, nmeros esses que podem variar de
acordo com o custo da mesma.
Quando tem um conhecido ns fazemos uma cortesia: - Olha se
voc conseguir duas pessoas pra ns, a gente d uma abatidinha
na sua passagem. Provedor, So Paulo.
E tem mais, se voc consegue seis pessoas a sua grtis...
Provedor, So Paulo.
De modo geral, os organizadores/operadores do turismo popular
organizam as excurses com cerca de trs meses de antecedncia otempo mdio para a sua preparao, ao chegar ao destino final da
excurso, j deixam os clientes avisados que a prxima viagem. Ao
perceber que h um nmero razovel de pessoas interessadas na
viagem, entram em contato com a empresa de nibus, habitualmente
uma empresa de confiana conhecida h muitos anos, que envia um
talo de passagens pelo correio. Para o pagamento do nibus, tem de
ser dado um sinal de 10% do seu valor, em um prazo mximo de trsdias que antecedem a viagem, feito atravs de depsito bancrio. O
valor do fretamento da viagem em questo fica em torno de R$
1.400,00, o valor da passagem varia de acordo como pacote oferecido.
Quando no conseguem fechar o nibus costumam fazer parceria com
outros organizadores do bairro e juntam todos os participantes em um
nibus s, o que reduz custos para todos.
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Em alguns casos fazem contato com empresas maiores (CVC, BRA,
etc.), em que organizam nibus e divulgam as excurses. Contudo este
tipo de parceria s empreendido pelos organizadores mais bem
formados e informados.
Se formos listar as principais dificuldades enfrentadas pelos
organizadores/provedores do turismo popular, podemos sintetizar nas
seguintes questes:
Alto grau de desconhecimento da atividade turstica.
Falta de acesso a informaes (roteiros, atraes,fornecedores e guias locais).
Dificuldade em fazer cursos ou ter uma formao em
turismo devido ao alto preo das mensalidades.
Operam com nibus informais como forma de baratear os
custos.
Apesar de entenderem da necessidade de fazer seguros,pelo mesmo fato, prescindem de fazer seguro para as
excurses que organizam e em alguns casos s quando tm
apoio das agncias de viagem maiores. Quando voc viaja
voc tem o seguro que do nibus, mas existe o seguro
viagem que protege o passageiro em nvel de perda e
extravio de bagagem, assistncia mdica. Provedor, Belo
Horizonte.
Tenho uma agncia que d respaldo, no fao nenhuma
viagem sem seguro, todas elas as pessoas esto
seguradas.Provedor, So Paulo.
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No tm capital de giro para viabilizar pacotes maiores e
mais caros, viagens em avio. Se tivesse um financiamento
talvez ficasse mais fcil de fazer as excurses, um
financiamento do governo, do banco...Provedor, So Paulo.
No conseguem negociar com alguns hotis e companhias
areas por no serem formais.
Atrai se tu sabes que leva e busca, porque para o pessoal pegar
a malinha e ir para a rodoviria, entendeu? A no atrai mais.Provedores, Porto Alegre.
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4. Viagens de Turistas de Baixa Renda
Olhar para as atividades de lazer ou empreendidas no tempo livre das
pessoas de baixa renda fornece um amplo universo de informaes que
nos permitem entender o significado de viajar e fazer turismo para
este pblico. As viagens em especial, por se situarem entre as poucas
formas de lazer que so feitas fora do bairro, do pedao3 ou da cidade
de moradia, so aspectos privilegiados para compreender como suas
atividades de lazer se relacionam com seu comportamento e sua viso
de mundo.
3 O pedao tem um componente de ordem espacial, a que corresponde umadeterminada rede de relaes sociais. In Magnani, Jos Guilherme C. Festa noPedao: cultura e lazer na cidade. So Paulo: Editora Unesp, 2003, p.115.
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4.1. Percepes sobre viagem
Viajar um momento de lazer importante. Conhecer novos lugares ,
sem dvida, um motivo fundamental, mas ele faz parte de um conjunto
de motivaes voltadas para a necessidade de sair da rotina e fortalecer
laos de sociabilidade com seus pares tambm tem um peso
significativo.
Poder viajar tem um forte apelo e dialoga com a auto-estima de um
pblico de baixa renda que tem seu cotidiano marcado por restries e
estigmas.
Est faltando, mas o povo viaja. Deixa de comer, mas viaja.
Provedor, Belo Horizonte.
Nesta viagem agora vai uma camel, ela guardava R$ 2,00 por
dia para pagar os R$ 75,00 por ms.Provedor, Belo Horizonte.
Viajar quebra com esta percepo dura da vida, traz de volta um
sentimento de realizao em que sente eu tambm posso. neste
momento que estas pessoas se sentem importantes e valorizadas.
Ns vendemos sonhos e eles tm o sonho de conhecer tal lugar,
ento o nosso dever oferecer para ele o melhor para que o
sonho dele se torne real. onde entra a confiana. Ele est
confiando de que voc vai realizar o sonho dele. Provedor, Belo
Horizonte.
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Turista mostra fotos de viagem que realizou
Quando testamos diferentes tipos de percepo a respeito das viagens,
nos dados quantitativos apresentados no grfico 1, podemos constatar
tambm vrios outros elementos bastante interessantes:
Em geral, viagens so atividades consideradas essenciais,
sendo que 70% dos entrevistados concorda com a frase
no d para viver sem viajar e apenas 7% concorda com
viajar jogar dinheiro fora;
No entanto, existe uma parcela de entrevistados (27%) que
parece avesso a viagens concordando com a frase eu
prefiro as atraes de minha cidade mesmo;
Viajar um projeto coletivo, sendo que 85% dos
entrevistados afirma que gosta de viajar com parentes e
amigos;
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Para uma parcela significativa de informantes, as viagens
tm em princpio a ver com o acesso a algo novo,
mesmo que no totalmente desconhecido como afirmamos
acima. De fato, 67% dos informantes concorda com a frase
prefiro viajar para lugares onde nunca estive, mesmo sem
conhecer ningum.
Grfico 1
Concordncia com afirmativas sobre viagens:
Fonte: IBAM/Data Popular. Survey do Turismo Social. Abril de 2005.
Existem diferentes percepes a respeito da idia de viajar para as
pessoas entrevistadas. Estas noes sobre viajar no se encaixam
necessariamente nas classificaes ou conceitos utilizados pela
8570
67
59
27
7
Viajar jogar dinheiro fora
Eu prefiro as atraes de minha cidade mesmo
Hoje em dia mais difcil viajar do que antigamente
Prefiro viajar para lugares onde nunca estive, mesmo sem conhecer ningum
No d para viver sem viajar
Gosto de viajar para ver amigos e parentes
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academia. Diante disto, levantamos como se constroem as categorias
nativas,4 construdas e articuladas pelos turistas populares no seu
comportamento e no seu cotidiano. Normalmente, os deslocamentos
feitos fora do bairro ou cidade so organizados de acordo com uma
gradao, no que diz respeito distncia, durao da viagem, forma de
viajar e um certo esprito do viajante. Desta forma, podemos classificar
estas percepes em diferentes tipos de viagem: passeio, excurso,
viagem e turismo. Tentaremos fazer um breve esboo destes formatos
de viajar de forma a poder tipific-las.
Passeio O passeio tem a ver com uma visita a algum na
cidade, ou a ida a um parque, ou mesmo estar junto com um
namorado/a ou amigo/a. Tem a caracterstica de ser um meio
termo entre o ficar no bairro (pedao) e o sair da cidade. O
passeio diferente de uma outra categoria no exposta aqui, o
sair, que se expressa num baile, festa ou cinema. O passeio paradistrair, envolvendo uma aura de tranqilidade e descanso. Aqui
podemos classificar os passeios feitos a parques, museus,
eventos, e prdios histricos na prpria cidade. Alguns
organizadores costumam fazer este tipo de passeio para escolas e
pessoas de terceira idade.
Excurso um deslocamento sempre feito em grupo,
geralmente com pessoas do bairro ou da rede de sociabilidade.
Requer o uso de um nibus alugado. O deslocamento sempre
feito para fora da cidade e envolve um percurso de curta durao
sem pernoite no local. As excurses duram, em geral, menos de
4 Categorias utilizadas no cotidiano dos entrevistados que refletem conceitos, valores eformas de ver o mundo.
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24 horas, com sadas de madrugada e retorno noite. Estas
excurses so tambm chamadas de bate e volta. Na percepo
dos participantes, a excurso um formato parte, pois no se
trata de uma viagem e tambm no vista como turismo.
Podemos incluir neste formato as excurses de devoo ou de
cunho religioso.5
Excurso para Aparecida do Norte
Viagem Quase sempre dura mais de um dia e o local tem como
caracterstica se situar a uma mdia distncia do local de origem
com pernoite no lugar de destino, seja em casa de parente, hotel
ou no nibus. A viagem um evento que no faz parte do
cotidiano, um momento especial, envolve a preparao demalas. Pode ser para descanso ou a trabalho, mas marca uma
descontinuidade do dia-a-dia e da rotina.
5 Na pesquisa quantitativa, identificamos que aproximadamente um tero do total deviagens tinha esse perfil. Apesar das restries colocadas pelo questionrio quedefine como entrevistado aquele que passou pelo menos um dia fora da cidade.
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Turismo visto com uma viagem especial ou ideal, que envolve
total tranqilidade e desligamento do mundo. Difere da viagem
pelo formato em que se viaja. Requer um deslocamento e uma
permanncia de longa durao. Tambm requer um volume maior
de dinheiro disponvel. tnue a separao entre viagem e
turismo. Na verdade, diferem muito mais na percepo da pessoa
que viaja do que em diferenas concretas entre um e outro, sendo
que o turismo est sempre num patamar superior e idealizado de
viajar.
Diante destas formas de ver e classificar seu tempo de lazer que
envolve deslocamentos para fora do bairro ou da cidade preciso
repensar a nossa compreenso do que estas pessoas entendem por
turismo. Para falarmos em turismo, no formato praticado pela populao
de baixa renda, precisamos fazer uso da definio de Margarita
Barretto:
O turismo consiste no deslocamento de pessoas que, por diversas
motivaes, deixam temporariamente o seu lugar de residncia,
visitando outros lugares, utilizando uma srie de equipamentos e
servios especialmente implementados para esse tipo de visitao.
A atividade do turista acontece durante o deslocamento e a
permanncia fora da sua residncia.6
6 Barretto, Margarita. O imprescindvel aporte das Cincias Sociais para oplanejamento e a compreenso do turismo. In: Horizontes Antropolgicos. PortoAlegre, ano 9, n. 20, outubro de 2003. P. 22.
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Essa definio abre espao para pensar de forma sistemtica como se
classifica alguns formatos de viagem empreendida pelos turistas
populares. Existe toda uma realidade que faz parte do cotidiano das
pessoas de baixa renda que normalmente escapa s atenes e foge do
interesse imediato das polticas pblicas voltadas para o turismo. Trata-
se do recorrente sistema de excurses populares ou a chamada
excurso de farofeiros para uns, e excurso de bate e volta para
seus integrantes que querem apenas usufruir, ainda que de forma
precria, de alguns momentos de lazer.
O pessoal prefere mais a curta por causa do dinheiro (Bate e
volta. Bate e volta ou dorme uma noite. Dois dias no mximo).
Provedor, So Paulo.
Geralmente um final de semana, ou 3 dias , sai na sexta noite
e volta segunda noite.Provedor, So Paulo.
Nestas excurses, milhares de pessoas, usando nibus s vezes
clandestinos, costumam se dirigir nos fins de semana para vrios
lugares. Partindo de So Paulo se destinam a: Aparecida do Norte,
Ibitinga, Praia Grande, Santos, Jacutinga, Serra Negra, Campos do
Jordo, Monte Sio. Partindo de Belo Horizonte, se destinam a: Santa
Isabel de Paraopeba, Sabar, Serra do Cip, Serra do Macaco. Partindo
de Porto Alegre, se destinam a: Bento Gonalves, Praia de Cidreira,
Gramado, Cambori ou mesmo So Paulo.
Pensando nos motivos que orientam as excurses, podemos afirmar que
a excurso de cunho religioso est encoberta pela idia de devoo.
Segundo muitos passageiros ouvidos nas excurses para Aparecida do
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Norte ou para Biritiba-Mirim, eles preferiam denominar o evento como
devoo. Estas excurses de devoo so vistas como aquelas em que a
falta de infra-estrutura ou o sacrifcio para chegar e estar l requer
algum tipo de percalos a serem vencidos, o que relativiza o peso dado
s restries intrnsecas da situao financeira do turista de baixa
renda. De qualquer forma, alguns chegam a afirmar que S h devoo
se h sacrifcio.
A estrada muito movimentada, cheia, voc vai no domingo evolta no domingo e quando chega a noite tem o pessoal que foi no
domingo e os que foram na sexta e a junta esse povo todo na
estrada e uma tristeza.Turista, So Paulo.
Entretanto, este aspecto no reduz o carter cansativo atribudo a este
tipo de viagem. Alguns entrevistados que participam das excurses
religiosas tambm gostariam de ter outras atividades em Aparecida doNorte, de forma a tornar a viagem mais proveitosa. Como afirma um
dos entrevistados: Seria bom vir aqui e passar um fim-de-semana,
ficar num hotel, passear no rio... Uma entrevistada por sua vez coloca
que Um dia eu quero fazer um passeio completo em Aparecida.
A excurso de negcios se enquadra em uma situao intermediria,
onde o trabalho assume um papel preponderante. Como comenta uma
participante:
J vem preocupado com as conta que faz. Lazer quando se vai
para uma praia, em uma piscina, quando vai para alguma coisa de
diverso. Gostoso quando vai para uma praia para se divertir,
isso aqui, infelizmente, o nosso passeio, a nossa diverso... Falta
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tempo, faz tudo corrido, dinheiro. Se tem dinheiro, a coisa
outra. Mulher, participante da excurso para Ibitinga, So Paulo.
Apesar de todo o estigma que as excurses de bate e volta carregam,
importante lembrar que esta uma forma de lazer muito usual na
periferia que no tem todo o glamour das sofisticadas viagens da
indstria do lazer. Desconsiderar este tipo de atividade como no sendo
turismo no estrito senso do termo, implicaria em deixar de considerar
uma parcela importante das viagens de lazer empreendidas pelo pblicode baixa renda. Seja na forma de excurses bate e volta com durao
menor de 24 horas fora de casa ou em formatos maiores, as atividades
de lazer ou as excurses em questo so eventos que utilizam um
nmero considervel de equipamentos turstico e tm alta freqncia.
Acontecem ao longo de todo o ano e fogem da alta estao.
Para mim ruim em julho porque frias de escola e eu no
trabalho com criana. O meu pblico outro. Janeiro tambm
pssimo. Provedor, So Paulo.
Minha empresa tem mais um fator, como a gente tem o
calendrio do ano inteiro, se voc divulga o calendrio, o
concorrente j joga na mesma data e com preo a menos...Provedor, So Paulo.
Este tipo de empreendimento aciona as companhias de transporte,
utiliza o transporte local e os servios de alimentao, mobiliza as redes
de diverses e as lojas de suvenires em todos os seus aspectos.
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Loja de suvenires em Aparecida do Norte
Em Poos de Caldas tem aquelas fbricas, ento quando voc
chega com o nibus no terminal, eles brigam para voc levar o
nibus todinho para a fabrica deles, eles pagam uma porcentagem
no que eles comprarem. Provedor, So Paulo.
E hoje acho que o turismo no Brasil, principalmente na baixa
temporada, quem movimenta somos ns e o pessoal da 3 idade.
Provedor, So Paulo.
Assim, vale afirmar que as excurses de baixa renda podem ser
enquadradas no conceito mais amplo de turismo, como afirma Margarita
Barretto:
O turismo, portanto, um ato praticado por pessoas que realizam
uma atividade especfica de lazer, fora de suas respectivas
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cidades, e se utilizam para atingir seus objetivos, de
equipamentos e servios cuja prestao constitui um negcio.7
Neste sentido, preciso pensar estas manifestaes de lazer e turismo
popular como empreendimentos geradores de divisas e que fomentam
atividades econmicas relevantes para as localidades receptoras do
turista popular. Esta questo amplamente justificada pelos dados
quantitativos que se seguem, um mercado turstico de baixa renda
abrangendo aproximadamente 4,5 bilhes de reais por ano (ver Anexo1).
O turismo, como entendido pelos entrevistados, uma forma de viajar
ideal que, a princpio, est distante da realidade das pessoas de baixa
renda. Entretanto, povoa seu imaginrio e implica em uma srie de
quesitos muito distintos daqueles apresentados no passeio, excurso ou
na viagem de curta durao.
Para o turista de baixa renda, fazer turismo corresponde em muitos
aspectos noo de viajar e conhecer outros lugares, como ilustram as
afirmaes a seguir:
Acho que turismo, no meu entender, ir para outra cidade, ir
viajar. Turista, Belo Horizonte.
Ser turista ter oportunidade de conhecer outras coisas. Turista,
Belo Horizonte.
7Barretto, Margarita. O imprescindvel aporte das Cincias Sociais para oplanejamento e a compreenso do turismo. In: Horizontes Antropolgicos. PortoAlegre, ano 9, n. 20, outubro de 2003. P. 24.
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Porm, vale observar que as pessoas de baixa renda normalmente no
se percebem como turistas ou fazendo turismo quando viajam. Fazer
turismo uma atividade distante da realidade das classes populares,
no porque ela no exista, mas, sobretudo porque perpassa todo um
imaginrio sobre turismo que preciso entender melhor. Quando
participam de excurses de curta durao ou fazem um passeio, as
pessoas de baixa renda no se percebem como turistas, pois para elas,
turismo outra coisa. Turismo envolve tempo, descanso, no
esquentar com dinheiro, famlia e um local tranqilo com belezas
naturais. O turismo traz em si uma noo especfica e mais ampla de
viajar. Viajar como turista faz parte de uma percepo sobre turismo e
requer alguns pr-requisitos.
Sair de casa com a mala e um roteiro.Turista, So Paulo.
Penso que turismo so 8 dias. So pacotes.Voc vai para umacidade histrica. Turistas, So Paulo.
Quando voc faz um turismo vai para as cidades marcadas,
lugares marcados, aquele povo todo junto, com muita gente
diferente, voc no conhece, tem um guia. Isso turismo, esses
outros so passeios. Turista, So Paulo.
Para sintetizar, podemos listar os seguintes atributos para uma viagem
de turismo, estrito senso:
Ir para um lugar desconhecido, novo;
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Se o lugar apresenta uma diferena cultural marcante,
sentem que so ainda mais turistas. Um exemplo est nas
pessoas de Belo Horizonte que vo para sul;
Voc indo para o Nordeste, voc indo para o Sul, voc acha
que mudou de pas. (...) O tempero na comida diferente, o
tratamento diferente, a cultura diferente. Turista, Belo
Horizonte.
Pressupe um city-tour;
So viagens de longa distncia. Neste caso, so
mencionadas as visitas a parentes, ou retorno ao local de origem;
a parentes no interior de So Paulo ou no Nordeste, onde se pode
descansar. Assim sendo, quando questionados sobre turismo,
quase sempre as respostas se referem a algum parente: na casa
da minha tia, quando eu visitei minha av, meu pai que est
no Nordeste, entre outras.
No caso de viagens curtas, a cidade deve ser foco de
interesse turstico e apresentar uma infra-estrutura prpria para
receber turistas (rede hoteleira forte, restaurantes, ter uma
arquitetura prpria, ter um certo movimento com turistas em
temporada, como Campos do Jordo, Gramado, Ouro Preto,
Diamantina, etc.);
Por isso, existem alguns formatos de viagem que so mais parecidos
com uma imagem ideal do que fazer turismo. Nesse sentido, vale a
pena tentar associar uma tipologia das viagens que articula as
informaes qualitativas com os dados quantitativos, levando em conta
a distncia do destino e o tempo de estadia. Construmos a partir dessas
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duas dimenses, nove tipos de viagens que detalhamos na tabela 2,
abaixo.
Tabela 1
Tipos de viagem, segundo nmero de dias fora e distncia aodestino.
Tipo de Viagem Nmero dedias fora:
distancia: % Custo mdioda viagem
Excurso1. Curto prazo e curta distncia 1 a 3 At 300 km 28,89 118,182. Curto prazo e mdia distncia 1 a 3 300 a 600 km 7,54 205,11Viagem3. Curto prazo e longa distncia 1 a 3 mais de 600 km 4,94 293,774. Mdio prazo e curta distncia 4 a 10 At 300 km 17,55 213,345. Mdio prazo e mdia distncia 4 a 10 300 a 600 km 8,41 293,33Turismo6. Mdio prazo e longa distncia 4 a 10 mais de 600 km 8,54 629,837. Longo prazo e curta distncia 11 e mais At 300 km 5,47 333,338. Longo prazo e mdia distncia 11 e mais 300 a 600 km 5,07 387,889. Longo prazo e longa distncia 11 e mais mais de 600 km 13,61 838,11Total 100,00 400,02
Fonte: IBAM/Data Popular. Survey do Turismo Social. Abril de 2005.
Podemos observar que as viagens mais comuns so aquelas de pequena
durao e pequena distncia (29%). Essas viagens, provavelmente
realizadas no fim de semana, tm baixssimo custo mdio (118 reais),
isto , aproximam-se muito do conceito de bate e volta. Destacam-se
tambm as viagens de mdio prazo e curta distncia (18%), que j
implicam em um custo mdio de viagem um pouco mais elevado (213reais) que poderiam associar a categoria nativa viagem. Finalmente,
chama a ateno as viagens de longo prazo e longa distncia (13,6%)
com custo mdio da viagem bem mais elevado (838 reais). Nesse ltimo
caso, quase sempre a viagem implicava na hospedagem em casa de
amigos e parentes (75%), caracterizando a idia de turismo.
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No que diz respeito avaliao que os entrevistados tiveram da ltima
viagem, podemos observar que a grande maioria dos entrevistados no
apresentava qualquer tipo de queixa (78%). Essa elevada aprovao
das viagens realizadas se reflete tambm em outros indicadores, como a
nota mdia atribuda viagem (mdia de 8,9 para uma escala entre 0 e
10), sendo que apenas 5% dos entrevistados atriburam sua viagem
uma nota inferior a 5. Como ilustram os dados relativos presena de
problemas ou aborrecimentos durante a viagem apresentados no grfico
2 abaixo.
Grfico 2
Aborrecimentos durante a viagem
Fonte: IBAM/Data Popular. Survey do Turismo Social. Abril de 2005.
A rigor, esse grande nvel de aceitao da viagem realizada poderia ser
interpretado como reflexo de um enorme desejo de viajar,
caracterizando um discurso do tipo tudo foi bom mesmo quando se
tratam de viagens relativamente problemticas do ponto de vista de um
78
22
no sim
48
22
2211
7
4
2
informao tursticaatendimento ao turistaalimentaohospegagemestranhou os hbitos do lugarfalta de dinheiroTransporte
Teve aborrecimentos? Qual aborrecimento?
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observador de classe mdia, com pouco dinheiro, uso de nibus
clandestinos e de hospedagem no prprio nibus ou em outros locais
improvisados.
Sai no domingo de manh, passa aquele dia maravilhoso, gostoso
e chegando a tarde vai embora.Provedor, Belo Horizonte.
Tem vez que voc vai para um lugar e fica uma semana e no faz
o que faria em um dia.Turista, So Paulo.
Entre os poucos motivos de aborrecimento descritos acima, destacaram-
se mais fortemente os problemas com transporte (48% dos que tiveram
aborrecimentos), falta de dinheiro (22%) e estranhamento dos hbitos
do lugar (22%). Embora o desconforto com o transporte e com a falta
de dinheiro pode ser considerado esperado, o estranhamento com oshbitos do lugar no deixa de ser um elemento surpreendente,
sugerindo que, possivelmente, os destinos tursticos para locais no
muito familiares poderiam causar algum tipo de desconforto junto a
esse pblico.
Em resumo, os turistas entrevistados por essa pesquisa tm, em geral,
uma viso positiva das viagens realizadas recentemente e entendem as
viagens como algo necessrio s suas vidas.
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4.2 Como se Organiza e com Quem Viaja
Se fossemos delinear um perfil do turista de baixa renda, podemos dizer
que existem duas posturas distintas diante da possibilidade de viajar. O
pblico de classe D tem uma postura mais resignada diante da
possibilidade de viajar ou fazer turismo. Escolhem os destinos mais
possveis, que cabem no bolso. Certos lugares mais distantes e caros
passam a sensao de que no para mim. J o pblico de classe C,
mesmo sabendo que no cabe no bolso ou que a situao econmicaatual no permite, tem uma atitude mais positiva e entende que pode
viabilizar o seu sonho, a postura um dia, quem sabe, eu vou fazer.
Podemos ordenar as formas de organizar as viagens para o pblico de
baixa renda em duas categorias de viagens, as viagens espontneas e
as planejadas. Elas que podem ser assim descritas:
Viagens espontneas
Curta durao, geralmente final de semana
Curta distncia para praia ou lugares prximos capital
Utiliza-se o dinheiro disponvel no momento
Os jovens improvisam e decidem a viagem de um dia para
outro. Acho que a melhor viagem a de ltima hora. Marcacom o pessoal, coloca uma mochila nas costas...Turista, Porto
Alegre.
Esto mais dispostos a correr riscos (exceto os mais velhos).
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Viagens planejadas
Mdia e Longa distncia
Poupam dinheiro ao longo do ano
Com durao de aproximadamente uma semana
Pessoas em idade ativa planejam esta viagem para ocorrer
quando tiram frias no trabalho. Tenho um grupo de 10
professoras que todo janeiro elas viajam e elas escolhem
para onde querem ir.Provedor, Belo Horizonte.
Os jovens planejam a viagem para o final do ano e para o
carnaval.
Quando eu vou fazer uma viagem longa eu procuro fazer um
planejamento justamente para no sair s com aquele
dinheirinho. Turista, terceira idade, Porto Alegre.
J comea a apertar no meio do ano, chega junho j comeo a
pensar que tem que tirar aqui, apertar ali e quando chega o natal
vamos alugar uma casinha, um apartamento, uma kitinete. Tem
que j ir planejando no meio do ano at chegar dezembro. Quando
for novembro j est alugando o lugar.Turista, So Paulo.
Independentemente de quem viaja, o informante tende a afirmar que
ele mesmo organizou a viagem (74%). O mais provvel porm -
que, no caso de viagens em grupo, a organizao tambm seja coletiva,
com participao ativa do informante e de outras pessoas.
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Para este pblico, viajar uma atividade para ser feita com mais de
uma pessoa. Existe o sonho de levar a famlia e a idia de viajar implica
em uma noo de estar junto, no deixar ningum para trs. Diante
disso, se perguntam Como deixar os filhos?
Eu tenho mais 3 boquinhas, ento no d para ir e deixar eles
para trs.Turista, Belo Horizonte.
Esta percepo permeia no s o ncleo familiar. As viagens do turista
popular acontecem em grupo. Constatamos na pesquisa quantitativa, o
ato de viajar muito freqentemente uma ao coletiva. Em apenas
32% dos casos os entrevistados viajaram sozinhos. Normalmente
estavam presentes na viagem pessoas da famlia amigos e conhecidos.
Esses dados so detalhados no grfico 3, abaixo.
Grfico 3
Com quem viajou?
Fonte: IBAM/Data Popular. Survey do Turismo Social. Abril de 2005.
7
31
16
11
16
16
3
excurso
sozinho
amigos/conhecidos
esposa, marido ounamorado
outra pessoa dafamlia
toda famlia
colegas de trabalho
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Este turista, quando viaja, leva consigo a sua rede de sociabilidade -
seja do bairro, da igreja, da escola, dos companheiros de profisso, de
opo sexual, de idade ou mesmo de problemas compartidos, como o
caso de pessoas que tm parentes presos.
Estou sempre com algum, um parente, uma irm, uma colega.
Turista, So Paulo.
Vou com meu esposo, minha filha ou com os familiares que
freqentam a mesma igreja, a gente se une e sai. Turista, So
Paulo.
Me e filha na excurso para guas de So Loureno
melhor viajar com os amigos. Turista, So Paulo.
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Portanto, o turista popular no pode ser visto como um indivduo que
viaja, mas deve ser entendido e pensado com uma pessoa8, um ser em
relao com outros e que percebe a viagem como um momento
privilegiado em que estas relaes podem ser rearticuladas e
reavivadas.
Existem motivos prticos e tambm um gosto especial em viajar neste
formato. Sem dvida, esta escolha balizada por uma questo
econmica, pois mais barato viajar em grupo.
mais em conta, porque a despesa fica mais ou menos dividida
Turista, Belo Horizonte.
Ao mesmo tempo, existe uma sensao de acolhimento, de segurana e
de diverso garantida pela interao em grupo.
Com conhecidos que mais seguro. Turista, So Paulo.
Em grupo mais divertido. Se voc chega num local que por
azar voc no encontrar nada, se tiver uma turma voc vai
bagunar. Turista, Belo Horizonte.
Diante deste panorama do comportamento do turista popular, existem
peculiaridades relativas classe social ou faixa etria. Os jovens e
idosos percebem a viagem como uma oportunidade para fazer
amizades, interagir com outras pessoas, embora ainda mantenham o
8 Dumont, Louis. Homo Hierarchicus, Paris: Gallimard, 1972.
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trao de gostar de viajar com seus pares. De qualquer forma, so mais
disponveis e mais desprendidos para conhecer novos lugares. Diferem
no que diz respeito s demandas em relao infra-estrutura turstica
no destino e s programaes ou atividades de laser no local de destino,
a ser detalhada nos temas que se seguem.
Comprei minha passagem e fui. No conhecia ningum. Ai fiz
amizade com o pessoal dentro do nibus (...) eu tenho amizade
com essas pessoas at hoje. Turista, terceira idade, Porto Alegre.
Voc conhece N coisas. Voc mantm N contatos. Conhece muita
gente, faz muita amizadeTurista, terceira idade, Porto Alegre.
Os jovens gostam menos do formato pacote turstico, querem
liberdade para fazer o que quiserem. Preferem o pacote em um formatomais aberto, com dias livres em que podem ter uma certa autonomia
para descobrir os lugares sozinhos. Para viagens de final de semana,
inclusive pela restrio oramentria, topam qualquer programa para
viajar. Acreditam que o pacote turstico tem vantagens quando o
destino:
Quando desconhecido, que ningum foi. Turista, jovem,
Porto Alegre.
Quando a primeira vez. Turista, jovem, Porto Alegre.
Quando para o exterior. Turista, jovem, Porto Alegre.
No entanto, quando consideram fazer um pacote turstico pretendem
fazer a viagem da vida, a mais importante ou significativa.
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J os idosos preferem os pacotes mais organizados, com uma
programao muito previsvel que apresente muito entretenimento (city
tour, jogos, bailes e festas) e com uma infra-estrutura boa e segura,
que possa atend-los em caso de algum imprevisto.
Eu gosto mais de pacote turstico, no tem aquela preocupao.
Tu vai com tudo.... Turista, terceira idade, Porto Alegre.
Na maior parte dos casos pesquisados, quem organiza a viagem o
prprio informante (91%). Vale, no entanto, destacar a presena de
pacotes tursticos (8%), nesse universo que muitos supem no utilizar
este tipo de servios para viajar. Esses dados so apresentados no
grfico 4, abaixo.
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Grfico 4
Quem organizou a viagem?
8
91
1
pacote turstico, incluindo passagem e hospedagem
um programa que voc mesmo elaborou
trabalhoFonte: IBAM/Data Popular. Survey do Turismo Social. Abril de 2005.
Se nossas estimativas de mercado turstico popular apresentadas no
relatrio 1 forem corretas (4,5 bilhes de reais) e se a proporo de
viagens em pacotes tursticos realizadas por consumidores C e D (8%)
apresentadas acima forem extrapoladas para todas as viagens
realizadas por turistas desse segmento de renda no Brasil, teramos umgasto anual de mais de 300 milhes de reais em pacotes tursticos por
parte de consumidores das classes C e D.
Dado o montante de gastos com pacotes tursticos estimado acima, vale
a pena explorar mais essa informao. Podemos constatar os seguintes
elementos:
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Existe uma participao ligeiramente maior das mulheres
entrevistadas (9,3% contra 7,0% entre os homens) na
utilizao de pacotes tursticos. Esse resultado encontra-se,
no entanto, dentro da margem de erro da pesquisa;
Existe uma maior participao de idosos na compra de
pacotes tursticos, sendo que a participao em pacotes era
de 12,5% entre os maiores de 50 anos e de apenas 6%
entre os com 30 a 49 anos; Surpreendentemente, no parecem existir claras distines
entre o consumo de pacotes tursticos nas classes C e D;
Os pacotes tursticos, na percepo do informante, so
organizados de maneira informal por amigos e pessoas do
bairro. Apenas 27% dos pacotes foram organizados por
agncias de viagem ou agentes (autnomos) de viagem;
Os pacotes tursticos mencionados por esses informantes
apresentavam curta durao (mediana de 3,0 dias e mdia
de 5,2);
Esses pacotes tambm apresentam baixo custo (mediana de
173 reais e mdia de 481 reais).
Em outras palavras, o consumo de pacotes tursticos no segmento
popular mais elevado entre os idosos e pessoas do sexo feminino, o
que provavelmente corresponde ao perfil desse produto em outros
segmentos de renda. No caso dos consumidores de classe C e D, trata-
se de viagens de curta durao, como um fim de semana, por exemplo,
e custo em torno de 150 reais, embora alguns turistas tenham
consumido pacotes muito mais caros. Alm disso, no parece ser ainda
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um mercado plenamente atendido por agncias de viagens, mas por
modelos de organizao informal.
Apesar dos valores apresentados serem baixos, trata-se de atividades
que no recebem qualquer tipo de financiamento. Se pacotes para os
segmentos de renda mais baixo pudessem ser financiados realidade
que comum para pacotes tursticos de classe mdia possivelmente
assistiramos a um incremento substancial do nmero de viagens, de
sua durao e do seu custo.
Se analisarmos os pacotes tursticos mais de perto, como foi testado nosgrupos de discusso realizados em So Paulo, Porto Alegre e Belo
Horizonte, podemos compreender com maior detalhe o olhar do
consumidor de baixa renda para esta forma de viajar.
Existem implicaes bastante claras entre a forma como este pblico
encara a viagem e a forma como lidam com os pacotes tursticos. Ver a
viagem como um empreendimento a ser feito com a famlia ou em
grupo tem um papel importante na forma como vem e noentendimento dos pacotes tursticos oferecidos pelas operadoras de
turismo ou anunciados na mdia.9
9 Para compreender melhor estas percepes, apresentamos nos grupos de discussodois pacotes tursticos anunciados em jornais locais de So Paulo e Porto Alegre. Osentrevistados foram estimulados a apontar vantagens e desvantagens destes pacotes,detalhando suas percepes sobre este tipo de propaganda.
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Este turista, ao ver tais anncios, em um primeiro momento, se
surpreende, pois tem pouco acesso a este tipo de informao. Percebe
que um formato possvel: as prestaes cabem no bolso e fcil de
pagar, pois no pesa no bolso. Contudo, quando convidado da se
imaginar comprando tais pacotes, surge um aspecto que no pode ser
desconsiderado: o pacote no s para uma pessoa. O olhar deste
turista de baixa renda um olhar que multiplica, que no se percebe
como um turista individual, mas uma pessoa que anda em grupo, como
mencionamos anteriormente.
Para trs pessoas fica pesado. Turista, So Paulo.
Diante disso, os pacotes tornam-se caros, pois so sempre
multiplicados, no mnimo, por dois. Assim, os pacotes tursticos, com um
vis mais popular trazem consigo a impresso de serem caros para este
pblico. Soma-se a isto alguns elementos que contribuem para que os
pacotes se distanciem ainda mais das possibilidades deste pblico, tais
como:
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50
Os valores a serem pagos como entrada so relativamente
altos e devem ser diludos nos valores das prestaes.
Alm disso, o pagamento de uma entrada alta compromete
a possibilidade de disponibilizar recursos para serem gastos
durante a viagem.
Preferem um parcelamento de no mximo 06 meses. Em
que exista a possibilidade de realizar a viagem quando
metade do financiamento j estiver pago. Assim, possvel
guardar recursos para viajar e, se sentem mais segurospara, caso no gostem dos servios oferecidos pela
operadora, que possam reclamar e reivindicar seus direitos.
O parcelamento a longo prazo (11 ou 12 meses), s bem
visto para viagens longas e muito caras.
De qualquer forma, os jovens e idosos de classe BC vem estes pacotescom surpresa, acham viveis e gostaria de fazer. Provavelmente porque
tm uma viso mais individualizada da viagem, principalmente pelo fato
o grupo com o qual viajam ter um recorte etrio, por idade, onde cada
um responsvel pelo pagamento de sua prpria conta, onde as
pessoas no compartilham o mesmo oramento.
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4.3 Motivos e atraes de Viagem
Se formos resumir em uma frase os motivos que levam as pessoas de
baixa renda a viajar, podemos dizer que para fugir do cotidiano.
Sair e ir para algum lugar que te proporcione alguma coisa
diferente da tua rotina. Turista, jovem, Porto Alegre.
Os jovens viajam por diverso e querem conhecer lugares diferentes.
Tm como principal objetivo da viagem encontrar uma certa sensao
de liberdade. J os idosos so os mais disponveis para viajar durante
todo o ano, a nica restrio oramentria. Topam qualquer destino,
no entanto, no querem fazer um programa de ndio. A situao da
viagem deve ser confortvel e prazerosa.
No gosto de passeio de ndio. Turista, terceira idade, Porto
Alegre.
Quando consideramos os motivos de viagem (Grfico 5), podemos
observar que o principal motivo - ao lado do genrico
passear/descansar (42%) - o de encontrar-se com pessoas da
famlia (35%). Trata-se de um dado esperado, uma vez que, a
hospedagem se d, na maior parte das vezes (como veremos frente),
na casa de amigos e parentes.
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Grfico 5
Motivos e atraes da viagem:
Motivos Atraes
Fonte: IBAM/Data Popular. Survey do Turismo Social. Abril de 2005.Obs: A pergunta sobre atraes da viagem aplica-se somente a quem viajou para passear ou visitar amigos e parentes.
Surpreendentemente, tais motivos familiares se desdobram em variadas
atraes, tais como praia, rea rural, festas e cidades histricas. Isso
indica que os turistas de classe C e D viajam muitas vezes por motivos
familiares, mas escolhem como destino lugares que tem atraes
relevantes.
Geralmente esse pessoal de baixa renda o primeiro lugar que elesquerem ir praia. Provedor, Belo Horizonte.
Esses dados indicam que a escolha por locais de destino orientada
pela presena de atraes importantes - tais como a existncia da praia,
por exemplo, mesmo observando que a escolha de locais de destino
parece estar tambm associada existncia no local de amigos e
46
34
14
1
1
2
1
passear, descansar
visitar a famlia, amigos,namorado
trabalhar
fazer compras
tratar da sade
motivo religioso
outros servios (advogados,etc)
27
11
10
8
53
2
1
1
1
praia
rea rural, roa
rio, cachoeira, pesca
festas (carnaval, so joo, etc)
cidade histrica, igreja,
monumentoscidade grande
atividades culturais
montanha
estncias hidrominerais
camping
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parentes que possam contribuir com a hospedagem. O mais provvel
que a escolha do destino turstico nesse caso atenda dupla finalidade
de, por um lado, reavivar os laos de amizade e parentesco e, por outro,
proporcionar o lazer associado ao turismo, como acontece no caso dos
turistas de qualquer outra classe social.
Em outras palavras, esses dados sugerem que o turismo das classes C e
D no meramente um reflexo das iniciativas relacionadas figura do
reencontro familiar. Aparentemente, a presena de familiares e
amigos o que viabiliza o turismo para destinos considerados
relevantes por parte desse pblico. Se isso for verdade, plausvel
imaginar que o pblico de baixa renda constitui um consumidor
potencialmente relevante de pacotes tursticos, desde que os mesmos
sejam oferecidos com preo e financiamento adequado ao seu perfil.
Nas entrevistas da fase qualitativa do projeto, identificamos as
seguintes atraes mais mencionadas e destinos freqentados de
maneira recorrente pelos turistas e organizadores de turismo popular: Jogos de futebol (assistir e jogar)
Circuito histrico-cultural (especialmente para escolas, mas
para o pblico de baixa renda de Minas Gerais: Mariana,
Congonhas, So Joo Del Rei, Tiradentes, Diamantina, Ouro
preto).
Shows Viagens de formatura
Pescaria
Presdios (pessoas que tm parentes presos e se deslocam para
cidades que tm presdios). Comecei quando meu filho mais
velho foi preso e ficou muito apertado para mim e eu pegava
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nibus clandestino. Ofereci-me para ser Guia porque
descontado o dinheiro da passagem do guia e por coincidncia
meu marido motorista de nibus. Provedora, So Paulo.
Apesar de no ter ningum preso, trabalho com um pastor que
faz um trabalho em presdio. Sou professora aposentada e
sempre gostei de trabalhar com presdio, ento comecei a fazer
as viagens para o presdio, levando as pessoas da nossa
igreja. Provedora, So Paulo.
Estaes de guas (Poos de Caldas, Arax, Caldas Novas,
Olmpia)
Festas e comemoraes (festa do doce em Pelotas, festa do
morango em Atibaia, festa da flor em Holambra, Oktoberfest
em Santa Catarina). Festa do Peo Barretos e Jaguarina.
Turismo GLS (Parada Gay, Circuito de bares e boates para este
pblico). Um outro mercado que d dinheiro, eu no trabalho,
mas j ouvi falar e vejo que est crescendo muito o mercado
de GLS. Provedor, Belo Horizonte.
Eco-turismo (Mau, So Tom das Letras, etc.. Ecoturismo.
Normalmente o pblico que me procura de 18 a 30 anos.
Provedor, Belo Horizonte.
Viagens religiosas (Aparecida do Norte, Bom Jesus da Lapa,
Biritiba-Mirim). Eles gostam de ir para Aparecida cumprir
promessa. Provedor, Belo Horizonte.
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Aparecida do Norte
Circuito de compras (Ciudad del Este, Santa Catarina (malhas),
Ibitinga, Monte Sio, Foz do Iguau, etc.). Em compras voc
praticamente leva s sacoleiros. Paraguai sofrimento.
Provedor, Belo Horizonte.
Viagens com migrantes (Interior-So Paulo). Tenho outras
atividades, mas trago muitas pessoas de Sertozinho para c.
Ento entrei nesse ramo porque tem pessoas que no
conhecem, no sabiam nem como chegar aqui e tambm tem
lugares l que eu nem imaginava que existia na face da terra.
Ento tipo a sociedade de l para c e daqui para l.
Provedor, So Paulo.
Se fizermos um recorte por faixa etria, estes motivos e atraes se
segmentam de acordo como perfil do pblico em questo.
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Jovens
Para os jovens a escolha dos motivos e destinos depende da companhia
com a qual pretendem viajar. Quando viajam com amigos, preferem
lugares badalados, com programas noturnos, ou lugares descontrados
onde eles possam viver algo inusitado, diferente. Agora, quando a
viagem tem um tom mais romntico, como viajar com a namorada ou o
namorado, preferem lugares mais aconchegantes. Nestas situaes
preferem se hospedar em pousadas ou hotis.
Eu agora em julho, tenho frias e vou com minha namorada, ficar
na Serra. Turista, jovem, Porto Alegre.
Em geral, os motivos e atraes mais citados pelos jovens foram:
Praias (Santa Catarina: Tubaro, Florianpolis, Cambori;
Rio Grande do Sul: Cidreira; Porto Seguro)
Trilhas
Shows (especialmente os grandes organizados em So
Paulo)
Festas regionais (Oktoberfest, Festival de inverno, Vesperata
em Diamantina, etc.)
Terceira idade
As atraes mais freqentes que motivam as pessoas de terceira idade a
viajar costumam ser:
Fazendas
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Serra (Nova Petrpolis, Beto Gonalves, Canela, Gramado,
Garibaldi, Campos do Jordo, Serra Negra, Sul de Minas)
Estaes termais
Festas e comemoraes
Festa Junina em guas de So Loureno
Parque temtico (Beto Carrero e Hopi-Hari)
As pessoas de terceira idade procuram sair da rotina e esse o principal
motivo pelo qual eles viajam. Gostam de visitar lugares que lhes
ofeream atraes, no gostam de estar parados e quando isso
acontece, eles organizam alguma atividade para que tudo fique animado
novamente.
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A semana passada eu fui para Bento, eu e minha mulher, fomos
passear em Bento. Fomos passear na Maria Fumaa. Turista,
terceira idade, Porto Alegre.
Gostam de eventos danantes. Provedor, Belo Horizonte.
Este pblico no gosta de destinos ou programas que causem
desconforto. Eles precisam de um mnimo de comodidade para se sentir
a vontade.
Eu quero ter uma boa cama e um bom chuveiro. Turista,
terceira idade, Porto Alegre.
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4.4 Destinos
Para contextualizar melhor a discusso sobre os destinos das viagens
das pessoas entrevistadas, importante apontar, antes de qualquer
coisa, para os destinos ideais, que iriam se tivessem oportunidade, e os
destinos reais, das ltimas viagens que realizaram. Esta distino nos
permite entender as prticas de viagem deste pblico e os desejos e
aspiraes destas pessoas se tivessem condies para realizar uma
viagem.
O destino Ideal
Sobre os destinos que o pblico de baixa renda quer ou sonha em
visitar, todos eles se encontram dentro do Brasil. Eles preferem destinos
nacionais aos destinos internacionais.
Se eu tivesse condies, queria conhecer primeiro o Brasil
todinho primeiro, para depois comear ir para fora. Turista, Belo
Horizonte.
Destaca-se nesse caso a importncia de viagens a locais novos, mas
relativamente familiares como outras capitais do Brasil, que
interessam a 50% dos que gostariam de conhecer novos lugares numa
prxima viagem. Alm disso, boa parte deles gostaria no futuro de
voltar a viajar, tendo como principal destino de desejo outras capitais
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brasileiras que ainda no conhecem. Alm disso, tais viagens deveriam
ser realizadas, em tese, com a famlia e ou com os amigos.
Quando questionados sobre os destinos que gostariam de conhecer, nas
entrevistas e grupos de discusso, os destinos nacionais mais
mencionados foram os seguintes:
Nordeste: Fernando de Noronha, Salvador, Fortaleza
Serra gacha
Pantanal
Amaznia
O Nordeste sem dvida o destino mais apontado como o destino para
se realizar a viagem dos sonhos, de um sonho possvel, realizvel.
Interessante observar que no se trata do interior do nordeste, do
serto, para onde de fato estas pessoas viajam como aponta dos dados
da pesquisa quantitativa, mas da costa, que carrega uma viso mgica
de nordeste, quase paradisaca10.
O nordeste parece um paraso, tem os coqueiros, aquelas areias
branquinhas, o mar azul, as dunas... A gente v na TV e d
vontade de conhecer. Turista, So Paulo.
O turismo no seu formato idealizado refere-se quase sempre s praiasdo Nordeste brasileiro. Como mais difcil de ser realizado, tal meta
beira sempre o sonho e a idealizao do local de destino. Fernando de
Noronha o aspiracional de todos os grupos, independente da classe
social ou faixa etria, a diferena encontra-se na disponibilidade
10Cabe ressaltar que esse destino dialoga com um passado familiar dos entrevistados que, em
sua maioria, so provenientes do Nordeste.
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financeira que o pblico tem para realizar este sonho tornando-o mais
ou menos accessvel. Sonhar com essas praias uma forma de evocar
um lugar idealizado e que expressa, no seu melhor formato, uma viso
muito prxima do que entendem por fazer turismo.
Fortaleza, o nordeste inteiro, Fernando de Noronha e a voltava
fazendo Minas e Bahia. Turista, So Paulo.
Natal e Fernando de Noronha no mesmo pacote. Turista, So
Paulo.
O gosto por viajar no prprio pas mais acentuado entre as pessoas de
baixa renda. No por acaso, como confirmam os dados quantitativos,
24% do total de entrevistados deseja voltar a um local conhecido na
prxima viagem e apenas 12% dos que gostariam de conhecer outroslugares teriam a inteno de viajar para o exterior. Destacamos esses
elementos no grfico 6, abaixo.
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62
Grfico 6Tipos de destino mais desejado
Fonte: IBAM/Data Popular. Survey do Turismo Social. Abril de 2005.
O desejo de viajar para o exterior mais forte junto ao pblico mais
jovem. Este pblico o que tem maior tendncia a querer conhecer
novas culturas e se aventurar pelo mundo.
Eu queria ir para Roma, ndia, Estados unidos, Canad. Turista,
jovem, Porto Alegre.
Os Destinos reais
A maior parte das viagens realizadas por pessoas de classes C e D - nas
cinco regies metropolitanas consideradas nesse estudo - teve como
24
76
voltar a um lugar conhecido
viajar para lugares novos
50
23
13
12
exterior
prprio estado
outro estado do brasil (interior)
outra capital do barsil
Tipo de destino desejado Novos destinos
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63
destino localidades no prprio Estado onde aconteceu a entrevista. De
fato, podemos observar no grfico 7, abaixo, que 68% das viagens
tinham como destinos locais no prprio Estado. Nesse tipo de viagem
intra-estadual, o interior aparece como um destino majoritrio (66%),
seguido de viagens para o litoral (26%).
Grfico 7
Principais Destinos de Viagem
Fonte: IBAM/Data Popular. Survey do Turismo Social. Abril de 2005.
No entanto, este tipo de viagens relativamente heterogneo e varia
segundo o tipo de regio metropolitana considerada. Se para os
pesquisados em So Paulo, as viagens para o litoral eram quase to
comuns quanto s viagens para o interior e as viagens para fora do
Estado eram as mais importantes. Para os entrevistados em Porto
Alegre, Belo Horizonte e Salvador, as viagens com destino ao interior
eram vistas como muito importantes. No caso de Belo Horizonte e
Goinia, por no existirem praias, destacam-se ainda mais as viagens
realizadas para o interior e para fora do Estado. Em todos os casos, as
viagens para municpios da prpria regio metropolitana so inferiores a
10% e as viagens para fora do estado eram muito significativas (exceto
32,3
67,7
Em outro Estado No proprio Estado
7,6
66,0
26,42
R. metropolitana Interior do estado Litoral
Destino Onde, no prprio Estado?
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no caso de Salvador). Essas informaes so apresentadas no grfico 8,
abaixo.
Grfico 8
Destinos de viagens segundo local de entrevista
Fonte: IBAM/Data Popular. Survey do Turismo Social. Abril de 2005.
Frente a esses resultados podemos afirmar que, de modo geral as
viagens voltadas aos destinos localizados no interior do prprio Estado
onde reside o viajante constituem o tipo de viagem mais freqente para
os turistas de baixa renda.
Alm disso, nos estados que possuem praia (So Paulo, Rio Grande do
Sul e Bahia) as viagens para o litoral tambm so importantes.
Naqueles estados onde no tem litoral (Minas Gerais e Gois), as
viagens para outros Estados tambm tm peso significativo. Nota-se
ainda, no caso de So Paulo, a importncia das viagens para outros
6
29 28
37
6
59
35
7
44
25 25
3
57
25
15
1
53
46
so paulo belo horizonte porto alegre salvador goiania
na prpria regio metropolitana no inte rior do es tado litoral fora do Estado
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Estados. Provavelmente, isso est relacionado presena de uma
grande populao migrante nesse local. Esta caracterstica abre espao
para a existncia de pacotes tursticos voltados para trazer e levar
migrantes do interior de Minas Gerais para a capital do estado de So
Paulo, como citado nos grupos de discusso com operadores.
Como mencionado, quando consideramos apenas as viagens para fora
do estado de residncia que correspondem a um tero do total de
viagens - podemos verificar tambm certo predomnio de viagens mais
curtas. A maior parte das viagens, nesse caso, se destina aos Estados
prximos, limtrofes ao estado de residncia.
As viagens para Estados limtrofes so majoritrias no caso de Goinia,
com 81% (Tocantins, Mato Grosso, Braslia, Minas Gerais e So Paulo);
Belo Horizonte, com 86,4% (Bahia, Rio de Janeiro, Esprito Santo, So
Paulo e Gois), Salvador (50%) e Rio Grande do Sul (48,3%).
Resumimos essa informao na tabela 2, apresentada abaixo.
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Tabela 2
Distribuio das viagens interestaduais segundo origem edestino.
Origem
Estado de destino So Paulo Belo Horizonte Porto Alegre Salvador Goinia
AM 0,0 0,0 1,7 0,0 0,0
PA 0,0 0,0 0,0 0,0 5,7
TO 1,0 0,8 0,0 0,0 13,2
MA 0,0 0,0 0,0 0,0 3,8
PI 1,0 0,0 1,7 0,0 1,9
CE 4,3 0,8 1,7 6,3 0,0RN 1,0 0,0 0,0 0,0 0,0
PB 3,8 0,0 0,0 3,1 0,0
PE 14,8 0,0 0,0 12,5 0,0
AL 7,2 0,8 1,7 6,3 0,0
SE 1,0 0,8 0,0 21,9 0,0
BA 17,7 17,1 3,4 18,9
MG 20,6 0,0 3,1 9,4
ES 1,0 20,9 0,0 6,3 3,8
RJ 8,1 24,0 3,4 9,4 1,9
SP 23,3 8,6 12,5 15,1
PR 10,5 3,1 12,1 3,1 1,9
SC 3,3 0,0 48,3 3,1 0,0RS 0,0 0,8 0,0 0,0
MT 0,0 0,0 0,0 0,0 11,3
GO 2,9 1,6 0,0 6,3
DF 0,0 3,1 1,7 3,1 13,2
Exterior 1,9 3,1 15,5 3,1 0,0
Total 100 100 100 100 100
Estados limtrofe 39,2 86,8 48,3 50,0 81,1
Fonte: IBAM/Data Popular. Survey do Turismo Social. Abril de 2005.
Alm dessa tendncia mais geral das viagens interestaduais se
destinarem aos Estados limtrofes, existem alguns outros aspectos que
merecem ateno:
As viagens destinadas ao Nordeste so bastante
importantes no caso de So Paulo e, secundariamente,
Minas Gerais. Esse resultado provavelmente fruto dos
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movimentos migratrios, induzindo a fortes
deslocamentos que esto associados presena de redes
familiares (ver seo 3.4);
As viagens ao exterior so significativas apenas no caso
de Porto Alegre, provavelmente devido proximidade
com o Uruguai e Argentina;
O Estado de So Paulo um destino importante para
todas as localidades consideradas. Isso se deve,
provavelmente grande capacidade de polarizaogerada por essa economia e, em particular, pela Regio
Metropolitana de So Paulo. O Estado do Rio de Janeiro
tambm se constitui em um destino importante
particularmente para os residentes em Belo Horizonte -
mas menos significativo para as pessoas localizadas em
Porto Alegre e Goinia.
Esse dado fica caracterizado na fala dos entrevistados:
Florianpolis, Montevidu, Beto Carreiro, fao muito Porto
Seguro, fao passeio da Maria Fumaa toda semana, todo
sbado tem sada para o circuito dos vinho. Provedor, Porto
Alegre.
Alm disso, quando consideramos as distncias percorridas, o quadro
geral apresentado acima parece se repetir. De modo geral, as viagens
realizadas tm curta distncia, sendo que 52% delas tinham menos de
300 km e 73% menos de 600 km. Embora este dado se refira
percepo que o informante tem da distncia e no necessariamente
distncia efetivamente percorrida, ele parece ser bastante consistente
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com as informaes obtidas acima relativas ao local de destino. A rigor,
as viagens muito longas (mais de 1.500km) s podem ser consideradas
significativas no caso dos moradores de So Paulo, o que pode ser
explicado pela freqncia de viagens ao Nordeste discutido acima. Esses
resultados so apresentados no grfico 9, abaixo.
Grfico 9
Distncia ao destino, segundo local de entrevista
Fonte: IBAM/Data Popular. Survey do Turismo Social. Abril de 2005.
Os resultados apresentados acima indicam que os turistas de baixa
renda se deslocam em geral para destinos no prprio Estado e, quando
realizam viagens para fora de seus Estados, se destinam aos estados
limtrofes. Este dado tambm foi levantado nas entrevistas qualitativas e
tem como justificativa o fato destes destinos serem mais baratos:
25
31
15
8
22
14
26
30
26
4
18
38
23
16
5
22
39
21
11
7
13
36
18
23
10
so paulo belo horizonte porto alegre salvador goiania
0 a 100 km 101 a 300 km 301 a 600 km
601 a 1500 km 1501 e mais
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Minas muitas vezes mais procurado porque as pessoas que aqui
moram no conhecem e fica mais barato. Provedor, Belo
Horizonte.
Outro aspecto que vale a pena ser mencionado na questo dos destinos
de viagem que 81% das viagens tm um destino nico, isso o
viajante vai a um nico destino e volta, como podemos verificar no
grfico 10, abaixo.
Grfico 10
Quantidade de locais visitados, segundo local da entrevista
Fonte: IBAM/Data Popular. Survey do Turismo Social. Abril de 2005.
Em suma, a maior parte das viagens observadas por essa pesquisa teve
destino nico e de curta distncia. No entanto, as viagens interestaduais
no podem ser consideradas insignificantes, correspondendo em
80
20
80
20
85
15
81
19
81
19
so paulo belohorizonte
portoalegre
salvador goiania
um nico destino mais de um
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mdia - a um tero dos casos. Os lugares com maior freqncia de
viagens interestaduais so Goinia, Minas Gerais e So Paulo. Nessa
ltima localidade, muitos entrevistados viajaram para o Nordeste em
viagens de longo percurso. Isso se deve, provavelmente, a existncia de
uma significativa populao de origem nordestina em So Paulo,
caracterizando um fluxo substancial entre essa metrpole e Estados
como Bahia, Pernambuco e Alagoas. Em outras palavras, isso no
configura como se poderia pensar a realizao da viagem ideal
discutida anteriormente.
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4.5 Transporte
Como esperado, o nibus foi o meio de transporte mais utilizado. Em
64% dos casos, as viagens foram realizadas predominantemente por
nibus. Os automveis foram tambm bastante utilizados (24%), sendo
que em metade desses casos o automvel utilizado era de terceiros.
Eu viajo pela CVC quando eu vou para longe. Mas quando vou
para Ouro Preto, a gente vai de carro. Turista, Belo Horizonte.
De nibus turismo, porque a tu passas em cada cidade.
Turista, jovem, Porto Alegre.
O ideal ir de nibus e ter um carro l tambm. Isso seria oideal. Turista, jovem, Porto Alegre.
Os outros meios de transporte responderam, em conjunto, por apenas
12% das respostas, sendo que o transporte por avio atendeu apenas a
3% dos usurios desse segmento.
A vigem de avio vista como uma possibilidade inacessvel para este
pblico. De fato, existe uma falta de informao generalizada sobre
possibilidades, condies e preos para usar este meio de transporte.
Existe um entendimento de que um meio de transporte prprio de
outra classe social. Existem barreiras que so simblicas em relao a
viajar de avio que precisam ser melhor entendidas.
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Avio pra rico. Turista, Belo Horizonte.
Esta percepo no se restringe ao turista, mesmo os organizadores,
salvo raras excees, pensam em fazer viagens de longa distncia
utilizando este meio de transporte, pois demanda um capital de giro alto
ou mesmo a formalizao de um negcio que por princpio informal.
Diante disso, estes operadores informais costumam fazer parcerias com
as empresas maiores, como atesta um entrevistado:
Quando fao areo eu vendo pra a CVC ou VRA. Provedor, Porto
Alegre.
Esses dados podem ser ilustrad
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