1. Universidade do Sul de Santa Catarina Histria da Arte
Disciplina na modalidade a distncia Palhoa UnisulVirtual 2011
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Gabinete da Reitoria Willian Corra Mximo Pr-Reitor de Ensino e
Pr-Reitor de Pesquisa, Ps-Graduao e Inovao Mauri Luiz Heerdt
Pr-Reitora de Administrao Acadmica Miriam de Ftima Bora Rosa
Pr-Reitor de Desenvolvimento e Inovao Institucional Valter Alves
Schmitz Neto Diretora do Campus Universitrio de Tubaro Milene
Pacheco Kindermann Diretor do Campus Universitrio da Grande
Florianpolis Hrcules Nunes de Arajo Secretria-Geral de Ensino
Solange Antunes de Souza Diretora do Campus Universitrio
UnisulVirtual Jucimara Roesler Equipe UnisulVirtual Diretor Adjunto
Moacir Heerdt Secretaria Executiva e Cerimonial Jackson Schuelter
Wiggers (Coord.) Marcelo Fraiberg Machado Tenille Catarina
Assessoria de Assuntos Internacionais Murilo Matos Mendona
Assessoria de Relao com Poder Pblico e Foras Armadas Adenir
Siqueira Viana Walter Flix Cardoso Junior Assessoria DAD -
Disciplinas a Distncia Patrcia da Silva Meneghel (Coord.) Carlos
Alberto Areias Cludia Berh V. da Silva Conceio Aparecida Kindermann
Luiz Fernando Meneghel Renata Souza de A. Subtil Assessoria de
Inovao e Qualidade de EAD Denia Falco de Bittencourt (Coord.)
Andrea Ouriques Balbinot Carmen Maria Cipriani Pandini Assessoria
de Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Jnior (Coord.) Felipe
Fernandes Felipe Jacson de Freitas Jefferson Amorin Oliveira
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Pimpo Tamara Bruna Ferreira da Silva Coordenao Cursos Coordenadores
de UNA Diva Marlia Flemming Marciel Evangelista Catneo Roberto
Iunskovski Auxiliares de Coordenao Ana Denise Goularte de Souza
Camile Martinelli Silveira Fabiana Lange Patricio Tnia Regina
Goularte Waltemann Coordenadores Graduao Alosio Jos Rodrigues Ana
Lusa Mlbert Ana Paula R.Pacheco Artur Beck Neto Bernardino Jos da
Silva Charles Odair Cesconetto da Silva Dilsa Mondardo Diva Marlia
Flemming Horcio Dutra Mello Itamar Pedro Bevilaqua Jairo Afonso
Henkes Janana Baeta Neves Jorge Alexandre Nogared Cardoso Jos
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Toledo Joseane Borges de Miranda Luiz G. Buchmann Figueiredo
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Tadeu Dutra Patrcia Fontanella Roberto Iunskovski Rose Clr
Estivalete Beche Vice-Coordenadores Graduao Adriana Santos Ramm
Bernardino Jos da Silva Catia Melissa Silveira Rodrigues Horcio
Dutra Mello Jardel Mendes Vieira Joel Irineu Lohn Jos Carlos
Noronha de Oliveira Jos Gabriel da Silva Jos Humberto Dias de
Toledo Luciana Manfroi Rogrio Santos da Costa Rosa Beatriz Madruga
Pinheiro Sergio Sell Tatiana Lee Marques Valnei Carlos Denardin
Smia Mnica Fortunato (Adjunta) Coordenadores Ps-Graduao Alosio Jos
Rodrigues Anelise Leal Vieira Cubas Bernardino Jos da Silva Carmen
Maria Cipriani Pandini Daniela Ernani Monteiro Will Giovani de
Paula Karla Leonora Dayse Nunes Letcia Cristina Bizarro Barbosa
Luiz Otvio Botelho Lento Roberto Iunskovski Rodrigo Nunes
Lunardelli Rogrio Santos da Costa Thiago Coelho Soares Vera Rejane
Niedersberg Schuhmacher Gerncia Administrao Acadmica Angelita Maral
Flores (Gerente) Fernanda Farias Secretaria de Ensino a Distncia
Samara Josten Flores (Secretria de Ensino) Giane dos Passos
(Secretria Acadmica) Adenir Soares Jnior Alessandro Alves da Silva
Andra Luci Mandira Cristina Mara Schauffert Djeime Sammer
Bortolotti Douglas Silveira Evilym Melo Livramento Fabiano Silva
Michels Fabricio Botelho Espndola Felipe Wronski Henrique Gisele
Terezinha Cardoso Ferreira Indyanara Ramos Janaina Conceio Jorge
Luiz Vilhar Malaquias Juliana Broering Martins Luana Borges da
Silva Luana Tarsila Hellmann Luza Koing Zumblick Maria Jos Rossetti
Marilene de Ftima Capeleto Patricia A. Pereira de Carvalho Paulo
Lisboa Cordeiro Paulo Mauricio Silveira Bubalo Rosngela Mara Siegel
Simone Torres de Oliveira Vanessa Pereira Santos Metzker Vanilda
Liordina Heerdt Gesto Documental Patrcia de Souza Amorim Poliana
Simao Schenon Souza Preto Karine Augusta Zanoni Marcia Luz de
Oliveira Mayara Pereira Rosa Luciana Tomado Borguetti Gerncia de
Desenho e Desenvolvimento de Materiais Didticos Assuntos Jurdicos
Mrcia Loch (Gerente) Bruno Lucion Roso Sheila Cristina Martins
Desenho Educacional Marketing Estratgico Rafael Bavaresco Bongiolo
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Rampelotte Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD) Roseli A.
Rocha Moterle (Coord. Ps/Ext.) Aline Cassol Daga Aline Pimentel
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Morari Eliete de Oliveira Costa Elosa Machado Seemann Flavia Lumi
Matuzawa Geovania Japiassu Martins Isabel Zoldan da Veiga Rambo Joo
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Campos Mariana Aparecida dos Santos Marina Melhado Gomes da Silva
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Ftima Martins Roseli Aparecida Rocha Moterle Sabrina Bleicher
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Multimdia Lamuni Souza (Coord.) Clair Maria Cardoso Daniel Lucas de
Medeiros Jaliza Thizon de Bona Guilherme Henrique Koerich Josiane
Leal Marlia Locks Fernandes Gerncia Administrativa e Financeira
Renato Andr Luz (Gerente) Ana Luise Wehrle Anderson Zandr Prudncio
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Pesquisa e Extenso Janana Baeta Neves (Gerente) Aracelli Araldi
Elaborao de Projeto Maria de Ftima Martins Extenso Maria Cristina
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PIBIC) Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem) Ps-Graduao Anelise Leal
Vieira Cubas (Coord.) Biblioteca Salete Ceclia e Souza (Coord.)
Paula Sanhudo da Silva Marlia Ignacio de Espndola Renan Felipe
Cascaes Gesto Docente e Discente Enzo de Oliveira Moreira (Coord.)
Capacitao e Assessoria ao Docente Alessandra de Oliveira
(Assessoria) Adriana Silveira Alexandre Wagner da Rocha Elaine
Cristiane Surian (Capacitao) Elizete De Marco Fabiana Pereira Iris
de Souza Barros Juliana Cardoso Esmeraldino Maria Lina Moratelli
Prado Simone Zigunovas Tutoria e Suporte Anderson da Silveira
(Ncleo Comunicao) Claudia N. Nascimento (Ncleo Norte- Nordeste)
Maria Eugnia F. Celeghin (Ncleo Plos) Andreza Talles Cascais
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(Ncleo Sudeste) Francine Cardoso da Silva Janaina Conceio (Ncleo
Sul) Joice de Castro Peres Karla F. Wisniewski Desengrini Kelin
Buss Liana Ferreira Luiz Antnio Pires Maria Aparecida Teixeira
Mayara de Oliveira Bastos Michael Mattar Vanessa de Andrade Manoel
(Coord.) Letcia Regiane Da Silva Tobal Mariella Gloria Rodrigues
Vanesa Montagna Avaliao da aprendizagem Portal e Comunicao Catia
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Figueiredo Rafael Pessi Gerncia de Produo Arthur Emmanuel F.
Silveira (Gerente) Francini Ferreira Dias Design Visual Pedro Paulo
Alves Teixeira (Coord.) Alberto Regis Elias Alex Sandro Xavier Anne
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Fernanda Fernandes Frederico Trilha Jordana Paula Schulka Marcelo
Neri da Silva Nelson Rosa Noemia Souza Mesquita Oberdan Porto Leal
Piantino Srgio Giron (Coord.) Dandara Lemos Reynaldo Cleber Magri
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Silva (Coord.) Abraao do Nascimento Germano Bruna Maciel Fernando
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Melo Cordeiro Avaliaes Presenciais Graciele M. Lindenmayr (Coord.)
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Relacionamento com o Mercado Alvaro Jos Souto Relacionamento com
Polos Presenciais Alex Fabiano Wehrle (Coord.) Jeferson Pandolfo
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ao Acadmico Maria Isabel Aragon (Gerente) Ana Paula Batista Detni
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Seeman Denise Fernandes Francielle Fernandes Holdrin Milet Brando
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Sousa Candido Monique Napoli Ribeiro Priscilla Geovana Pagani
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Tatiane Crestani Trentin
3. Lucsia Pereira Histria da Arte Livro didtico Design
instrucional Gabriele Greggersen 1 edio revista Palhoa
UnisulVirtual 2011
4. Copyright UnisulVirtual 2011 Nenhuma parte desta publicao
pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prvia autorizao desta
instituio. Edio Livro Didtico Professor Conteudista Lucsia Pereira
Design Instrucional Gabriele Greggersen Projeto Grfico e Capa
Equipe UnisulVirtual Diagramao Anne Cristyne Pereira Noemia
Mesquita (1 Ed. Revista) Reviso B2B Foco (1 Ed. Revista) ISBN
978-85-7817-341-8 709 P49 Pereira, Lucsia Histria da arte : livro
didtico / Lucsia Pereira ; design instrucional Gabriele Greggersen.
1. ed. rev. Palhoa: UnisulVirtual, 2011. 166 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7817-341-8 1. Histria da Arte. 2.
Arte moderna. I. Greggersen, Gabriele. II. Ttulo. Ficha
catalogrfica elaborada pela Biblioteca Universitria da Unisul
6. Apresentao Este livro didtico corresponde disciplina Histria
da Arte. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem
autnoma e aborda contedos especialmente selecionados e relacionados
sua rea de formao. Ao adotar uma linguagem didtica e dialgica,
objetivamos facilitar seu estudo a distncia, proporcionando condies
favorveis s mltiplas interaes e a um aprendizado contextualizado e
eficaz. Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, ser
acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da
UnisulVirtual, por isso a distncia fica caracterizada somente na
modalidade de ensino que voc optou para sua formao, pois na relao
de aprendizagem professores e instituio estaro sempre conectados
com voc. Ento, sempre que sentir necessidade entre em contato; voc
tem disposio diversas ferramentas e canais de acesso tais como:
telefone, e-mail e o Espao Unisul Virtual de Aprendizagem, que o
canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e recebido fica
registrado para seu maior controle e comodidade. Nossa equipe
tcnica e pedaggica ter o maior prazer em lhe atender, pois sua
aprendizagem o nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso!
Equipe UnisulVirtual. 7
7. Palavras da professora Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a)
disciplina Histria da Arte! Apesar de vivermos rodeados por
manifestaes artsticas, a discusso sobre a arte sempre um assunto
inquietante. Desde a antiguidade, os juzos sobre a arte oscilam,
ora vista como coisa ftil, ora como algo sublime e intangvel. Falar
sobre arte sempre andar num terreno movedio. Neste livro,
focalizaremos especialmente as artes visuais, como a pintura,
buscando contribuir com uma reflexo mais crtica sobre o seu sistema
de significados. Entendemos que, atualmente, no embalo dos novos
meios de comunicao, como a internet, a circulao de imagens (sejam
ou no artsticas) nunca esteve to acessvel a to grande nmero de
pessoas. Paradoxalmente, fato que boa parte dos indivduos no est
preparada para efetuar uma recepo crtica destes artefatos
culturais. Mesmo ouvindo repetidamente que uma imagem vale mais do
que mil palavras, elas so vistas como algo complementar ou
meramente ilustrativo dos textos escritos. Nos tpicos, voc poder
conhecer e analisar obras artsticas de diversos tempos histricos.
Com isto, objetivamos propiciar a voc uma maior familiaridade com
os objetos artsticos que marcaram nossa cultura. As imagens
includas neste estudo so apenas uma pequena amostra de um universo
que voc poder continuar explorando. Alm da satisfao que isto pode
proporcionar, voc descobrir nele um caminho de conhecimento, uma
vez que acreditamos que, tanto no passado quanto no presente, a
arte auxilia o homem a compreender o seu lugar no mundo.
8. Universidade do Sul de Santa Catarina Lembramos que, neste
material impresso, as imagens esto em preto e branco. Para no
perder esta importante parte da criao artstica, que reside
justamente no uso da cor, consulte simultaneamente a verso on-line
do material, em que as imagens esto disponibilizadas em cores. Por
fim, alertamos que voc no vai encontrar aqui afirmaes derradeiras
ou juzos consolidados sobre a arte e seus problemas. O que voc vai
ler apenas uma proposta de abordagem entre muitas possveis.
Desejamos a voc um bom percurso de estudos. Professora Lucsia
Pereira. 10
9. Plano de estudo O plano de estudos visa a orient-lo no
desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos que o ajudaro a
conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de
estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva
em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto,
a construo de competncias se d sobre a articulao de metodologias e
por meio das diversas formas de ao/mediao. So elementos desse
processo: o livro didtico; o Espao UnisulVirtual de Aprendizagem
(EVA); as atividades de avaliao (a distncia, presenciais e de
autoavaliao); o Sistema Tutorial. Ementa Esttica: etimologia e
transformaes histricas do conceito. Funes da arte em diferentes
contextos scio-histricos. Natureza e cultura nas concepes
artsticas. Arte na antiguidade e na modernidade: diferenas
essenciais na produo e na recepo. Manifestaes de vanguarda e as
influncias exercidas nas artes brasileiras contemporneas. Arte e
tecnologia. Projeto de Prtica da disciplina.
10. Universidade do Sul de Santa Catarina Objetivos Geral:
Fomentar a reflexo crtica sobre o papel da arte em diferentes
contextos histricos. Especficos: Estimular a viso da arte como
expresso da cultura. Conhecer e identificar as diversas manifestaes
artsticas. Relacionar os principais movimentos artsticos ao
contexto histrico de sua produo. Carga Horria A carga horria total
da disciplina 60 horas-aula. Contedo programtico/objetivos Veja, a
seguir, as unidades que compem o livro didtico desta disciplina e
os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que
voc dever alcanar ao final de uma etapa de estudo. Os objetivos de
cada unidade definem o conjunto de conhecimentos que voc dever
possuir para o desenvolvimento de habilidades e competncias
necessrias sua formao. Unidades de estudo: 4 12
11. Histria da Arte Unidade 1 Arte e esttica Nesta unidade,
vamos tratar da arte e seus problemas, abordando conceitos,
significados e a institucionalizao dos objetos artsticos na
cultura. Unidade 2 A arte nas sociedades tradicionais Nesta
unidade, abordaremos a arte desde a Pr-histria at a Idade Mdia. O
intuito que voc perceba que ela teve diferentes significados ao
longo do tempo: como arte mgica para os povos caadores e coletores
no perodo Paleoltico; como instrumento de manuteno das instituies
sociais no Egito antigo ou ainda a servio dos interesses da igreja
na Idade Mdia. Unidade 3 A arte nas sociedades modernas Esta etapa
compreende o estudo da arte do Renascimento at o incio do sculo
XIX, quando, ento, descobriram-se as profundas inovaes trazidas
pelos pintores renascentistas, entre elas a retomada dos ideais
clssicos de beleza e a introduo da noo de perspectiva. Unidade 4
Arte moderna e contempornea Nesta unidade, abordaremos a mudana que
ocorre no papel social da arte e do artista a partir da arte
moderna e contempornea. Discutiremos como o capitalismo, a Revoluo
Industrial e a cultura ps-moderna estaro relacionados a estas
mudanas. 13
12. Universidade do Sul de Santa Catarina Agenda de
atividades/Cronograma Verifique com ateno o EVA, organize-se para
acessar periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorizao do tempo para a leitura, da realizao
de anlises e snteses do contedo e da interao com os seus colegas e
professor. No perca os prazos das atividades. Registre no espao a
seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA. Use o quadro para agendar e programar as
atividades relativas ao desenvolvimento da disciplina. Atividades
obrigatrias Demais atividades (registro pessoal) 14
13. unidade 1 Arte e esttica Objetivos de aprendizagem Estudar
os diferentes conceitos de esttica. Identificar e refletir
criticamente sobre o significado da arte nos diferentes contextos
histricos. Conhecer e discutir as principais propostas metodolgicas
para o estudo da histria da arte. Sees de estudo Seo 1 A esttica
Seo 2 O que arte? Seo 3 A histria da arte 1
14. Universidade do Sul de Santa Catarina Para incio de estudo
De acordo com os objetivos dessa unidade, o desafio principal fazer
um apanhado de trs campos de estudo relacionados: esttica, arte e
histria da arte. Como se trata de um livro para um curso de
Filosofia, achamos importante introduzir o assunto com a apresentao
de algumas ideias filosficas sobre a esttica. Voc notar que
pensadores como Kant e Nietzsche extrapolaram a dimenso dos prprios
objetos artsticos e em suas reflexes, encarando a esttica como
fundamento do conhecimento e da condio humana. Estudar ainda que o
objeto desta reflexo, a esttica, tem suas razes no pensamento de
Plato (aprox. 427 a.C. / 347 a.C.), vindo a assumir o sentido
moderno apenas no sculo XVIII. E que, de Plato aos dias atuais, a
sua discusso resiste mera apreciao e se constitui num assunto
inquietante e desafiador. Seja numa abordagem ancorada no
sentimento esttico, no belo como perfeio, na arte como expresso da
subjetividade do artista ou como pulso primitiva, no possvel fazer
qualquer forma de generalizao a este respeito. Voc ver tambm que,
em nosso meio, no se tem um conceito seguro sobre o que arte e
tampouco sobre os temas a ela relacionados. Por fim, discutiremos
alguns princpios e limites que regem a histria da arte. Bom estudo!
16
15. Histria da Arte Seo 1 A esttica Em Plato, o fundamento da
arte repousava sobre a ideia de mimese. Como sugere Lacoste (1986),
para se compreender o significado de arte como mimese faz-se
necessrio entender a concepo grega de ser e verdade. Segundo esta
concepo, toda arte cria apenas simulacros das coisas, ou seja,
mostra as coisas como elas aparentam ser e no como elas so na
verdade. Assim, quando afirmamos que uma pedra que est diante de ns
uma pedra, reconhecemos nela a sua essncia, ou a ideia da pedra,
que, por sua vez, permanente e no sujeita s transformaes do tempo.
A apresentao do mundo fsico, elaborada pelos pintores (Plato inclui
tambm os poetas e sofistas), cria apenas uma imitao distante em
relao a esta essncia, o ser. Esta imitao da imitao era considerada
pelo filsosfo inferior quela realizada pelos artesos que produzem
objetos concretos a partir da prpria Ideia. Plato entendia que toda
a criao era uma imitao, inclusive a criao do mundo era imitao do
mundo das ideias. Ao contextualizar a posio de Plato, Lacoste
(1986) mostra que ela no deixava de ser uma atitude crtica diante
das mudanas artsticas que se operavam na Grcia naquele momento. Ela
se dirigia tanto para o naturalismo crescente alcanado na
estatuaria grega, quanto para a skiagraphia (modernamente chamada
de trompe- loeil). Essa tcnica era usada pelos pintores para criar
no expectador a iluso de profundidade. Figura 1.1 Pintura mural da
Casa dos Vettii em Pompeia, cerca de 30 a.C. Fonte: Marshall
(1999). Unidade 1 17
16. Universidade do Sul de Santa Catarina Observe, na figura,
os falsos veios do mrmore e os elementos arquitetnicos ilusrios. Ao
reconhecer o fascnio que este mundo de iluso despertava, Plato
afirmava que a misso da filosofia era dissipar este poder exercido
sobre a sensibilidade humana, pois a verdadeira beleza estava na
apreenso intelectual das essncias. A arte de imitao se constitua
num obstculo para isto, j que permanecia no mundo sensvel. Durante
a Idade Mdia e incio da modernidade, no houve grandes abalos sobre
o pensamento elaborado sobre a esttica na antiguidade. A contribuio
mais inovadora surge no sculo XVIII, quando a esttica assume sua
acepo moderna. Foi tambm nesta poca que o termo aparece pela
primeira vez na obra do alemo Alexandre Baumgarten (1714-1762).
Tomada do grego, no qual o sentido original se relacionava sensao,
a esttica definida em Baumgarten como uma cincia do sensvel. Do
ponto de vista da filosofia, a contribuio de Baumgarten reside na
forma como ele encara o conhecimento perceptivo, ou seja, como um
caminho para se alcanar a verdade, elevando, desta forma, o sensvel
ao status de um saber elevado. Mas, em que consiste esta mudana
fundamental no entendimento da esttica antiga e moderna? De acordo
com Luc Ferry (1994), a significao desta mudana est no fato de que,
na antiguidade, a obra era pensada como um microcosmo e que,
portanto, fora dela (no macrocosmo) h um critrio objetivo do Belo.
J para os modernos, destacadamente a partir de Kant, o sentido da
obra est atrelado subjetividade, o Belo visto como um estado da
mente e no mais um objeto ideal ou um conceito puro. Ao contrrio de
Plato, a beleza, para Kant, no estava no mundo ideal ou tampouco
internamente nas coisas. Ela vista como algo interno dos seres
humanos, um espao de conciliao harmnica entre o esprito e a
natureza. Em Crtica da faculdade do juzo 18
17. Histria da Arte de 1790, Kant define a esttica como a
capacidade de fruio relacionada a outras capacidades humanas. Para
exerc-la, o sujeito no necessitaria de nenhuma faculdade
excepcional, todos os indivduos teriam a priori condies de captar e
experimentar o belo. Para Kant, a esttica um estado de vida de
direito prprio, uma capacidade de fruio intimamente relacionada a
outras capacidades cognitivas do ser humano, sem depender,
necessariamente, da aquisio de conhecimento, ou seja: para
contemplar o belo, o sujeito no se vale das determinaes das
capacidades cognitivas das faculdades do conhecimento. (VALE,
2005). Diferentemente da subjetividade de Kant, as formulaes de
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) sobre a esttica vincularo
o belo artstico manifestao do esprito. O conceito de esprito foi
desenvolvido por Hegel como a comunidade de homens que toma
conscincia de si mesma na Histria (LACOSTE 1986, p. 43). Desta
forma, em Hegel a arte toma o Belo como algo que existe na
realidade em obras reais e histricas. Para este filsofo, as obras
artsticas no so intemporais, ou mera imitao da natureza, como em
Plato, pois representam um momento do esprito na Histria. Diz
Lacoste (1986, p. 44), a respeito de Hegel, que: A arte nesse
sentido, uma das vias pelas quais o homem enquanto esprito se
separa da natureza. Uma vez que o esprito superior natureza, o Belo
artstico seria tambm superior ao belo natural. Como produto do
esprito, a arte no tem objetivo de dar prazer, ela um contedo em
busca da forma, um interior que procura exteriorizar-se, o belo a
ideia concretizada no mbito sensvel. J na Frana, por volta desta
mesma poca, escritores, msicos e pintores formavam pequenos grupos,
na maioria informais, para discutir questes relativas arte e ao
gosto. Cabe salientar que a Europa (e o mundo em geral)
experimentam, neste perodo, uma intensa transformao, tanto das
estruturas polticas, quanto econmicas e sociais. Unidade 1 19
18. Universidade do Sul de Santa Catarina Os artistas
presenciaram o surgimento de inovaes tcnicas, entre elas o advento
da fotografia, que, na sua rpida penetrao no meio social,
especialmente a partir da segunda metade do sculo XIX, retira da
arte a exclusividade de reproduzir a realidade. O relevante nestas
associaes de interesses que, alm de revelar o sentimento dos
artistas ante este contexto de mudanas, elas abriam espao para a
afirmao de posies contrrias quelas estabelecidas pelos grupos
dominantes, tambm no que se refere arte e seus saberes. Nesse
sentido, so ilustrativos os textos do pintor francs Eugene
Delacroix (1798-1863). Figura 1.2 - Delacroix, 1832 Fonte: Salavisa
[2011?]. Consta que, no espao de alguns meses, Delacroix realiza
vrios milhares de aquarelas, soltas ou s vezes reunidas em cadernos
(de sete s se conservam quatro). Registrados em grafite - de
maneira a precisar aqui uma indicao de cor, ali uma impresso que
deseja recordar -, estes desenhos so executados em aquarela a
partir de um esboo preparatrio a lpis negro. Seja na forma de
dirios ntimos, carta ou textos publicados em jornais, seus
registros no se restringiam aos aspectos tcnicos da pintura, como
era usual, mas mostravam seu posicionamento diante de questes
estticas fundamentais, as quais at ento eram discutidas apenas por
filsofos e crticos. 20
19. Histria da Arte E qual o fundamento da arte para Delacroix?
Em Delacroix, a pintura no mais algo que sinaliza um objeto do
mundo exterior e sim a expresso da emoo individual do artista, da
sua imaginao criadora. No gnio artstico estaria todo o fundamento
da beleza, pois a natureza representa apenas a base do trabalho da
criao. Os novos arranjos criados pelas necessidades interiores do
artista vo super-la pela originalidade. Assim como a descoberta da
fotografia tirou da arte a funo de documentar a realidade, os
estudos sobre a cor e o seu potencial de provocar emoes foram tambm
fatores decisivos nesta nova esttica, cujos princpios substituiro a
imitao da natureza pela expresso do artista. Outra contribuio
fundamental teoria da esttica veio do filsofo alemo Friedrich
Nietzsche (1844-1900). Em Nietzsche, a esttica se manifesta em dois
princpios bsicos, ou duas pulses artsticas que so equivalentes a
dois estados psicolgicos, o apolneo e o dionisaco. Teremos ganho
muito para a cincia esttica ao chegarmos, no s compreenso lgica,
mas tambm imediata segurana da opinio de que o progresso da arte
est ligado duplicidade do Apolnico e do Dionisaco [...]. (NIETZCHE,
2006, p. 34). Baseado nas figuras mticas dos deuses Apolo e
Dionsio. O apolneo est relacionado medida, individualidade e
conscincia e o dionisaco embriaguez, ao descomedimento e
reconciliao do homem com a natureza. A arte no seria ento uma
imitao (Plato), tampouco expresso da individualidade ou emoo como
props Delacroix, mas a identificao primria com a natureza feita
pelo artista (LACOSTE, 1986) e significa: A identificao primria com
a Natureza, que nos conduzida atravs do transe dionisaco, a
aproximao do homem da sua acepo mais pura, s suas potencialidades
diversas, a seu querer que um borbulhar incessante no eterno
dilema, na eterna ambigidade que o homem ante o seu querer, o ser e
o no-ser, o nascimento e a morte, o homem frente a seu destino, o
homem diante de si mesmo. (DOREA JUNIOR, [200-]). Unidade 1 21
20. Universidade do Sul de Santa Catarina Figura 1.3 - Dionsio
e os stiros (Interior de um vaso), 480 a.C. Fonte:
Dionsio...[2011?]. De acordo com Nietzsche, a tragdia grega era a
arte por excelncia desta comunho, pois fazia a reconciliao entre as
duas foras. Encenada na Grcia pr-socrtica, a tragdia grega era uma
apresentao teatral que fundia os dilogos com os cantos corais, de
modo que estes seriam o veculo pelo qual a emoo dionisaca se
descarregava. Figura 1.4 - Mscara do teatro grego antigo Fonte:
Retalhos...(2011). Na poca de Scrates, a tragdia deixa de ser
encenada neste formato, quando a msica substituda pelo dilogo.
Segundo Nietzsche, a rejeio do mito pela aniquilao do esprito da
msica levou atrofia dos instintos vitais e tornou o homem moderno
incapaz de viver a energia desta pulso. 22
21. Histria da Arte O problema levantado por Nietzsche traz em
seu bojo uma questo mais ampla do que apenas a discusso da esttica
em si e apontado por muitos estudiosos de sua obra. Ele questiona a
supremacia da filosofia racionalista e do esprito crtico que se
desenvolvem na cultura grega a partir de Scrates, e a sua influncia
na cultura ocidental, que impregna de desconfiana as formas de
conhecimento que provm do irracional ou do inconsciente do homem.
Nesta breve explanao sobre o pensamento esttico, esperamos que
tenha sido possvel perceber que o conceito de esttica no conclusivo
e sim um fenmeno histrico, e, como tal, no uma verdade acabada, mas
sempre em elaborao. Seo 2 O que arte? Certamente, voc j deve ter se
deparado com esta pergunta ou, no mnimo, presenciado algum debate
cuja questo central era esta. presumvel que, neste momento, no
tenha surgido uma resposta clara e objetiva, pois o tema no
simples. Como na esttica, no existe um consenso relativo ao que
venha a ser a arte. De acordo com Jorge Coli (1981, p.11), [...] se
buscarmos uma resposta clara e definitiva, decepcionamo-nos: elas
so divergentes, contraditrias, alm de freqentemente se pretenderem
exclusivas, propondo-se como soluo nica. Veja alguns exemplos,
dentro das inmeras concepes disponveis: Unidade 1 23
22. Universidade do Sul de Santa Catarina Arte uma interpretao
da vida (realidade). Vincula-se a fatores religiosos (pirmides
egpcias ou esculturas da Grcia clssica), polticos (autoritarismo de
Stlin na URSS), sociais (predomnio da burguesia no Romantismo) e
simblicos (evangelistas associados a animais na decorao das igrejas
medievais) (DAMBROSIO, 2000). Arte 1 [Do lat. arte.]S. f. 1.
Capacidade que tem o ser humano de pr em prtica uma idia,
valendo-se da faculdade de dominar a matria: A arte de usar o fogo
surgiu nos primrdios da civilizao. 2. A utilizao de tal capacidade,
com vistas a um resultado que pode ser obtido por meios diferentes:
a arte da medicina; a arte da caa; a arte militar; a arte de
cozinhar; Liceu de Artes e Ofcios. 3. Atividade que supe a criao de
sensaes ou de estados de esprito de carter esttico, carregados de
vivncia pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de
prolongamento ou renovao: uma obra de arte; as artes visuais; arte
religiosa; arte popular; a arte da poesia; a arte musica (DICIONRIO
AURLIO, 2010). A palavra arte uma derivao da palavra latina ars ou
artis, correspondente ao verbete grego tkne. O filsofo Aristteles
se referia a palavra arte como piesis, cujo significado era
semelhante a tkne. A arte, no sentido amplo, significa o meio de
fazer ou produzir alguma coisa, sabendo que os termos tkne e piesis
se traduzem em criao, fabricao ou produo de algo. (LINDOMAR, 2007).
Alguns estudiosos vo alm e afirmam que a arte sequer pode ser
compreendida pelo discurso racional, pois as palavras reduzem seu
significado, que somente pode ser apreendido pelos sentidos. O
problema que esta viso nos coloca que normalmente no exercitamos
nossa compreenso das coisas pelos sentidos e necessariamente temos
de falar da arte por meio da palavra. Se por um lado difcil
conceituar a arte, por outro no se pode negar que vivemos num mundo
rodeado por ela. Olhe atentamente ao seu redor e voc perceber que
ela est presente cotidianamente na msica, teatro, dana,
arquitetura, literatura, artes plsticas... 24
23. Histria da Arte s vezes vista como terreno das coisas
fteis, outras como algo sublime e intangvel, a arte comporta todos
os objetos aos quais se atribui um contedo esttico. Sabemos tambm
que ela provoca o sentimento de admirao por estar relacionada ao
belo. por meio da arte que o homem, desde os tempos mais remotos,
procura dar forma e funo matria. Segundo Ernst Fischer (2002, p.
57), A arte, capacita o homem para compreender a realidade e o
ajuda no s a suport-la como a transform-la. Desta maneira, todo
trabalho do artista e, por consequncia, toda imagem artstica
representa a apreenso da realidade partindo da criao de formas
sensveis. O termo imagem artstica se refere a todo material visual
feito para funcionar esteticamente. Figura 1.5 Vaso neoltico Fonte:
Gomez (2011). A vivncia pessoal do artista transmitida pelo modo
como ele organiza os dados sensveis. No caso das artes visuais, so
eles: espao, peso, volume, textura, cor e luz. Os valores estticos
so percebidos pela emoo e pela intuio e esto condicionados ao
sujeito receptivo. Para alguns estudiosos, isto se d por meio dos
elementos simblicos que realizam o contato do indivduo com seu
mundo social. Lemos estes significados por meio do contexto, da
forma e da nossa bagagem cognitiva que adquirimos pela nossa
experincia social de mundo (FREITAS, 2004). Portanto, o ato de
olhar a arte individual e est imbricado da cultura e das
experincias de cada um. Unidade 1 25
24. Universidade do Sul de Santa Catarina Ao olharmos uma
pintura, escultura ou outro objeto artstico qualquer, logo sentimos
algo que nos leva a gostar ou no do que vemos. H ainda que
considerar a tendncia de que, em geral, gostamos daquilo que
conhecemos e estranhamos o que desconhecemos. Esse fato que
explicaria em parte a rejeio que habitualmente recai sobre as
vanguardas artsticas, assunto que retomaremos mais adiante. Porm,
importante distinguir as questes relativas ao gosto pessoal e
linguagem artstica. Ou seja, o gosto pessoal definido pelas
afinidades pessoais, mas podemos definir outros critrios de avaliao
para no reduzir tudo a uma preferncia subjetiva. Estes critrios
dizem respeito ao contedo expressivo, ao modo como o artista
ordenou formalmente a obra e, por meio desta ordenao, exps seus
pensamentos e emoes. Fayga Ostrower (1983, p.62), ao abordar a
questo, definiu os limites destes dois modos de ver a arte: [...]
se o gosto condiciona o convvio de cada um com as obras de arte, no
constitui, em si, critrio de avaliao da obra. Necessariamente, o
gosto uma reao individual e subjetiva. J os critrios de avaliao
devem ser objetivos, abrangendo qualidades vlidas para todos. Os
critrios desta valorao so definidos dentro de cada grupo social.
Isto significa dizer que no existe um objeto artstico, se no for
reconhecido como tal, pelos sujeitos e grupos sociais de uma
determinada cultura. dentro do espao da cultura, portanto, que se
articulam os discursos e instrumentos de legitimao, tanto da arte,
quanto dos objetos artsticos. Mas em nossa cultura, quem determina
o que uma obra de arte? No mundo ocidental, os discursos e modelos
hierrquicos provm de trs instituies bsicas. De acordo com Ivan
Gaskell (1992), primeiramente, temos negociantes, leiloeiros e
colecionadores; em segundo, os diretores de museus e galerias
pblicas; e, por ltimo, historiadores da arte, acadmicos, editores e
crticos. Alm de 26
25. Histria da Arte determinarem o status de um objeto
artstico, a histria e a crtica da arte criaram a ideia de estilo ou
correntes. A recorrncia de constantes em uma obra definiria o
estilo, tanto nas artes plsticas, como na literatura, na msica, na
arquitetura etc. O estilo envolve a concepo e execuo da obra e pode
ser adotado na esfera individual ou coletiva. s vezes, o estilo
pode ser visto como cenrio de toda uma poca. O estilo nem sempre se
define por uma ruptura brusca, e o desenvolvimento de aspectos
novos, em geral, ocorre sobre o que j foi feito no passado. Veja a
seguir uma imagem representativa do estilo Art Noveau, que se
desenvolve entre 1890 e a Primeira Guerra Mundial (19141918) na
Europa e nos Estados Unidos, e de l se disseminando para o resto do
mundo. Sua influncia foi marcante no design, nas artes grficas e
arquitetura. Figura 1.6 Alphonse Mucha, Salom, 1897. Obra
representativa do estilo Art Noveau Fonte: My Clothing (2009).
tambm nos meios oficiais que se formaram os juzos de valor que
determinam o limite oficial entre os objetos artsticos e no
artsticos. Para alguns, um objeto pode ser considerado artstico a
partir da anlise dos aspectos tcnicos de sua execuo: composio,
forma, equilbrio etc. Para outros, o estatuto de um objeto artstico
no se resume a questes tcnicas. Unidade 1 27
26. Universidade do Sul de Santa Catarina Para voc compreender
melhor o alcance destas colocaes, tome como exemplo a situao da
arte indgena brasileira que, mesmo tendo reconhecido seu contedo
esttico, permanece numa condio subalterna no cenrio da produo
artstica. Isto ocorre porque o nosso modo de ver a arte foi
construdo com base na colonizao portuguesa, tendo sido marcado,
sobretudo, pelos valores europeus, cujos critrios esto associados
beleza e criatividade. No caso da arte indgena, no h separao entre
a questo utilitria e a artstica. Desta forma, defendem alguns
autores (PROENA, 2003, p. 191) que a arte indgena mais
representativa das tradies da comunidade do que da personalidade do
indivduo que a faz. Na arte indgena, a representao sociocultural do
grupo priorizada e aparece nos artefatos produzidos. Da pintura
corporal at a cestaria e as panelas, esta arte est mesclada no
universo da vida tribal, sendo o ornamento parte essencial de tudo
o que fabricado, contudo, no existe (ou at ento no se tem notcia
de) nenhuma palavra nas lnguas indgenas com o significado que tem
em nossa sociedade. Ao olharmos o percurso da arte em diferentes
momentos histricos, veremos que h fatores que levam tanto ao apreo
quanto ao esquecimento de um estilo ou gosto. Ao sabor destas
mudanas, recuperam-se obras, artistas e estilos do passado. Estas
oscilaes do gosto so tambm decorrentes de fatores diversos como os
socioculturais e at mesmo fatos como as descobertas arqueolgicas. A
arte medieval foi reabilitada no sculo XIX. 28 Este fluxo pode
recair sobre um artista especfico, um movimento ou, at mesmo, o
conjunto de obras de uma poca. Um exemplo, entre tantos outros,
ocorreu no Renascimento com relao arte medieval. Grosso modo,
podemos dizer que a arte medieval foi desqualificada porque estava
associada s estruturas da Idade Mdia.
27. Histria da Arte Figura 1.7 - Retbulo Medieval, de Ambrogio
Lorenzetti Fonte: Fletcher (2011). No Renascimento, o ambiente
cultural e artstico experimentava uma intensa fermentao. Os
artistas eram valorizados pelas suas realizaes e alcanaram uma
notoriedade at ento indita no meio social, diferentemente da Idade
Mdia, quando as obras eram executadas por artistas annimos. Isto
explica, em parte, o desinteresse que os renascentistas nutririam
pela arte medieval. Entre os fatores, destacam-se: a falta de
liberdade do artista, a ideia de que a arte era coisa de artesos, a
negao dos princpios clssicos, como harmonia e proporo... Unidade 1
Um retbulo composto de uma tbua central, onde aparece o santo a
quem se dedica a obra. As tbuas laterais narram os episdios mais
marcantes da sua vida, em geral distribudos em compartimentos, na
parte inferior. Muitas vezes, tambm se encontram representados
aqueles que fizeram a encomenda e emblemas herldicos. 29
28. Universidade do Sul de Santa Catarina Leon Battista Alberti
(Gnova, 18 de fevereiro de 1404 Roma, 20 de abril de 1472) foi um
arquiteto e terico de arte: um humanista italiano, ao estilo do
ideal renascentista e filsofo da arquitetura e do urbanismo,
pintor, msico e escultor. Uma clebre frase sua foi Uma obra est
completa quando nada pode ser acrescentado, retirado ou alterado, a
no ser para pior. 30 Figura 1.8 So Jernimo em seu estdio (1475-76).
Antonello da Messina Fonte: Andrade (2010). Muitos conhecimentos
sobre os princpios clssicos (da Grcia e Roma antigas) reaparecem no
Renascimento europeu, graas ao trabalho de traduo de humanistas,
como Leon Batista Alberti. O desenvolvimento do pensamento
cientfico esteve a par e passo com o movimento artstico do
Renascimento, o qual pode, inclusive, ser visto como uma das
esferas nas quais as descobertas cientficas se expressaram.
29. Histria da Arte Analise o retbulo medieval e o quadro
renascentista de Antonello da Messina, mostrados nesta seo,
buscando diferenas e semelhanas entre ambos e registre suas
observaes nas linhas disponveis Voc deve ter observado que existem
variaes iconogrficas que podem ser facilmente notadas entre as
imagens, especialmente o uso da perspectiva na imagem
renascentista, o que d a ela um aspecto mais natural. Diferente da
proposta do retbulo medieval, cujas figuras so organizadas
hierarquicamente, sem causar ao expectador a sensao de
profundidade. Isto ocorre por causa da (e tambm) diferentes
preocupaes artsticas que marcaram os tempos histricos. A seguir,
leia uma anlise sobre obra mostrada de Antonello da Messina e veja
como ela ilustra o intercmbio de ideias e influncias, entre os
artistas da poca. Unidade 1 31
30. Universidade do Sul de Santa Catarina Foi So Jernimo quem,
no sculo IV d.C., traduziu a bblia do hebreu e do grego para o
latim, sendo este o idioma vigente na Roma de sua poca. Messina o
representou em meio a livros, como um pensador intelectual
humanista. [...] Messina concilia a dimenso reduzida da obra de
arte, freqente na Escola Flamenga, com a concepo de amplitude
espacial das composies italianas. Desta forma, ele consegue nos
apresentar, em uma obra de tamanho reduzido, a idia de
monumentalidade recorrente no classicismo renascentista. Esta
apenas uma das formas que este artista encontrou de mesclar
tendncias provindas do norte e do sul europeu do sculo XV e, com
isso, traar uma linguagem artstica muito particular. [...] Por
outro lado, a exatido no uso da perspectiva linear, que fica
evidente no cho ladrilhado com motivos geomtricos, denuncia o olhar
cientificista deste artista italiano. A luminosidade difusa outro
elemento que nos remete arte dos Pases Baixos. Atravs do contraste
de luz e sombra, combinado com a tonalidade quente de suas cores,
Messina nos mostra um ambiente mgico e acolhedor. Desta mesma
forma, o artista dissimula sua organizao simtrica do espao
compositivo, quebrando em parte a rigidez que uma composio com to
forte presena de motivos arquitetnicos deveria ter. (CASTHALIA
DIGITAL ART STUDIO, 2006). Pelas consideraes feitas at aqui, voc j
deve ter notado que a arte um assunto complexo, quando tratada no
mbito do discurso formal. Entretanto, esta condio no deve ser
obstculo para que nos aproximemos dela. Este desafio da histria da
arte, assunto da prxima seo. 32
31. Histria da Arte Seo 3 A histria da arte Toda a obra de arte
um sistema de formas, um organismo. A sua caracterstica essencial
constituda pelo carcter da necessidade, no sentido de que nada pode
ser alterado ou deslocado, mas tudo deve permanecer como .
(Heinrich Wolfflin, 1984). Como to bem expressa Paul Klee (1971), o
termo Histria da Arte, em geral, designa o estudo das artes visuais
como a pintura e a escultura. O estudo de outras expresses da arte,
como a msica, a literatura, a arquitetura ou o teatro, definido por
uma terminologia mais especfica, como a histria do teatro, da
msica, da literatura... Qualquer proposta de estudo sobre histria
da arte sempre limitada. A presena da arte e, por conseguinte, dos
objetos artsticos na histria, so de tamanha recorrncia e
diversidade que impossvel abarc-los por inteiro. Por isto,
dificilmente alguma proposta de historiar a arte pode pretender a
totalidade. As metodologias para delimitar a especificidade
disciplinar da histria da arte comearam a ser esboadas nos ltimos
cem anos. Dentre elas, destacamos duas. A primeira delas privilegia
o formalismo, entendido como o resultado plstico da atividade
produtiva do artista, que possvel pela anlise da experincia formal:
linhas, texturas, cores, luzes e volumes. A segunda, que pode ser
designada de social, procura estudar a arte ou o aparecimento dos
objetos artsticos, atrelados ao contexto histrico de sua produo.
Artur Freitas (2004) afirma que esta perspectiva implica que se faa
a releitura de suas condies de produo e a genealogia de suas
recepes: a histria, enfim, de sua circularidade institucional, bem
como da cadeia de informaes e valores gerados a partir da imagem. A
histria da arte ajudaria, assim, a identificar as variaes dos
estilos, relacionando-os com os aspectos histricos mais gerais de
uma sociedade. Unidade 1 Dois grandes tericos da proposta
formalista so Henrich Wolfflin 1864/1945 e Henri Focillon
1881-1943. Esta perspectiva tem como expoentes um dos autores mais
renomados, Arnold Hauser, especialmente com a obra Histria social
da arte e da literatura. Esta obra teve bastante destaque nos anos
60/70 do sculo XX, por causa da tendncia de esquerda do autor. Veja
a referncia completa no saiba mais. 33
32. Universidade do Sul de Santa Catarina Portanto, o estudo
das obras artsticas pode ser feito inserindo-as no mbito da cultura
em que foram produzidas, desde que se admita de antemo que nenhuma
elaborao poder esgotar o seu significado, pois a linguagem no
esgota o sentido da arte. Reconhecemos, desta forma, que a
sociedade tem influncia sobre as sensibilidades artsticas e que
isto afeta o trabalho dos artistas. Procuramos, nesta unidade,
contemplar estas duas instncias, porque entendemos que isoladamente
ambas as perspectivas tm limitaes: na primeira, temos a primazia
das formas e, na segunda, a negao dos fatos visuais da imagem.
Procurou-se explicitar isto na discusso do tempo histrico, mas
tambm (dentro dos limites interpretativos) optamos pela anlise do
aspecto formal da obra, feita muitas vezes pelo recurso da
comparao. Sntese Nesta unidade, foram discutidos alguns princpios
gerais que nortearam o debate sobre a esttica, cujo incio se deu
com Plato. Procuramos mostrar que, alm dos filsofos, os artistas
tambm manifestaram suas opinies com relao esttica, arte e quanto ao
sentido do seu prprio trabalho. Para ilustrar esta importante etapa
da discusso sobre a esttica, apresentamos algumas ideias do pintor
francs Eugene Delacroix. Na continuidade, abordamos a arte como
conceito irredutvel linguagem. Discutimos brevemente o
funcionamento do sistema de arte em nossa cultura, mostrando que
ele no comporta todas as expresses da arte produzida pelo homem, a
exemplo do que ocorre com a arte indgena brasileira. Por fim,
analisamos duas metodologias propostas para a histria da arte e
como se instituem os movimentos artsticos, levando em considerao
que a cultura o espao no qual eles se desenvolvem. 34
33. Histria da Arte Atividades de autoavaliao 1) No livro A
Origem da Tragdia, o filsofo alemo Friedrich Nietzsche esboa
algumas ideias que se tornaram centrais na sua filosofia. Nesta
obra, os deuses gregos Apolo e Dionsio so considerados foras
artsticas que emergem da prpria natureza. Faa uma pesquisa em
enciclopdias ou em sites seguros da internet para descrever trs
traos do esprito dionisaco e trs do esprito apolneo. 2) Com base
nos dos estudos realizados, explique como se fundamentam os objetos
artsticos em nossa cultura. Unidade 1 35
34. Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba mais Para essa
unidade, recomendamos: HAUSER, Arnold. Histria Social da Arte e da
Literatura. So Paulo: Martins Fontes, 2000 (mencionada do texto).
Sobre a questo do gosto, leia: FERRY, Luc. Homo aestheticus: a
inveno do gosto na era democrtica. So Paulo: Ensaio, 1994. Sobre a
relao do artista com seu meio social, assista ao filme Modigliani.
Sinopse Na Paris de 1919, um grupo de artistas plsticos se rene,
com frequncia, num dos cafs do alegre bairro de Montparnasse. Entre
eles, encontram-se nomes como os de Pablo Picasso, Maurice Utrillo,
Claude Monet, Diego Rivera, Chaim Soutine, Moise Kisling e Amedeo
Modigliani. Muito brincalho, Modigliani chega danando, sobe nas
mesas, senta-se no colo do sisudo Picasso, sendo bastante
aplaudido. Embora excelente pintor e brincalho, seu temperamento, s
vezes explosivo, faz com que perca grandes oportunidades, o que o
leva a no ter uma vida financeiramente confortvel. Figura 1.9 -
Modigliani Fonte: MB (2011). 36
35. unidade 2 A arte nas sociedades tradicionais Objetivos de
aprendizagem Desenvolver a habilidade de identificar estilos
artsticos atravs dos tempos. Propiciar a discusso e reflexo crtica
acerca do objeto artstico inserido no contexto histrico de sua
produo. Conhecer obras representativas da arte, produzidas nas
sociedades tradicionais, e desenvolver a capacidade de apreciao
destas obras. Sees de estudo Seo 1 Arte pr-histrica Seo 2 Arte
egpcia Seo 3 Grcia e Roma (antiguidade clssica) Seo 4 A poca
medieval 2
36. Universidade do Sul de Santa Catarina Para incio de estudo
Nesta unidade, voc vai estudar a arte e seu papel nas sociedades
tradicionais. Iniciamos com a arte pr-histrica, examinando as
primeiras civilizaes como a egpcia e cretense e a antiguidade
clssica. Por fim, analisaremos a arte medieval e seu trajeto at o
advento da modernidade no sculo XVI. O fundamento da sobrevivncia
nas sociedades tradicionais era a agricultura e em volta dela se
organizava a vida social. Elas tm como caracterstica uma maior
proximidade com a natureza e, em virtude disto, apresentam uma
concepo de tempo, baseada nas estaes do ano, no tempo cclico. Um
outro fator que as diferencia das sociedades modernas a imobilidade
social. Via de regra, os indivduos se mantinham por toda a vida
dentro da mesma camada social em que nasciam. Nestas sociedades em
que o senso geogrfico era restrito s comunidades locais, o status
da arte esteve relacionado ao trabalho artesanal. Todos aqueles que
detinham o domnio tcnico da fabricao das coisas eram considerados
artesos. Com algumas excees, a despeito da fama de escultores
gregos, como Fdias e Praxteles na Grcia antiga, no fazia muita
diferena, em termos de prestgio social, fabricar um utenslio de uso
cotidiano ou uma escultura, pois no havia a noo de artista como
conhecemos hoje. Este cenrio s vai mudar com o Renascimento.
Entretanto, a despeito disto, um vasto conjunto artstico foi legado
desde a pr-histria at o florescimento e desenvolvimento das
primeiras civilizaes, como a egpcia e cretense. Cabe lembrar que,
apesar da organizao cronolgica dos contedos, a arte no pode ser
analisada em termos de evoluo. Os estilos artsticos, apesar das
aparentes diferenas, representam a busca dos artistas em conquistar
novas relaes a exemplo do que fizeram os artistas que os
antecederam, no significando que estas solues sejam melhores ou
piores que aquelas. 38
37. Histria da Arte Seo 1 Arte pr-histrica As manifestaes
artsticas so muito antigas. Sua importncia extrapola a mera
apreciao esttica, como a arte pr-histrica, que fornece detalhes
importantes do modo de vida dos primeiros grupos humanos. Do ponto
de vista da pesquisa histrica, a existncia destes registros ajuda a
compensar a imensa lacuna documental que recai sobre as pocas
anteriores inveno da escrita. As imagens artsticas mais conhecidas
remontam ao perodo em que o homem possua um reduzido domnio do
mundo natural, conhecido como Paleoltico Superior. Estes povos
viviam da caa e da coleta. Um dos exemplos mais destacados da sua
arte so as pinturas encontradas nas cavernas, tambm chamadas de
arte rupestre, em praticamente todas as regies do planeta. Dois
stios bem conhecidos so os de Altamira na Espanha e Lascaux na
Frana. O termo pr-histria traz consigo a noo preconceituosa de que
os povos que desconheciam a escrita no tinham histria. Esta noo no
tem mais sustentao na historiografia recente. O termo utilizado,
contudo, para organizar a longa durao temporal em trs perodos,
Paleoltico Inferior (500.000 a.C.), Paleoltico Superior (30.000
a.C.) e Neoltico (10.000 a.C.). Figura 2.1 - Caverna de Lascaux,
Frana. Cerca de 15 mil anos Fonte: Schmitz (2009). Descoberta por 4
adolescentes em 1940, a gruta de Lascaux constitui uma referncia
incontornvel no domnio da arte rupestre. Situada perto de
Montignac, na Dordonha, na Frana. A disposio da gruta, cujas
paredes esto pintadas com bovdeos (sic), cavalos, cervos cabras
selvagens, felinos etc., permite pensar tratar-se de um santurio.
As investigaes levadas a cabo durante os ltimos decnios permitem
situar a cronologia das pinturas no final do Solutrense e princpio
do Madalenense, ou seja 17 000 anos BP (antes da atualidade).
(SILVA, 2007). Unidade 2 39
38. Universidade do Sul de Santa Catarina Estas pinturas so, em
geral, de tamanho monumental e representam animais de caa. Apesar
da sua antiguidade, as imagens, sob nenhum aspecto, podem ser
taxadas de primrias. Os traos seguros e vigorosos e a integridade
das formas mostram um alto grau de elaborao esttica. Estas imagens
no foram criadas para serem apreciadas no sentido em que isto feito
em nosso meio. Era uma arte a servio da magia. Esta a explicao mais
aceita sobre o significado da arte pr-histrica. Todavia, importante
no confundir magia e religio, pois so distintas. As prticas mgicas
dos homens e mulheres pr-histricos no preenchem os requisitos que
definem aquilo que entendemos por religio: no h potncias sagradas e
tambm no h f que estabelea uma conexo com seres espirituais de
outro mundo. Observe novamente as figuras representadas na caverna
de Lascaux. Note que os animais aparecem pintados de modo mais
natural possvel. Por isto, atribui-se pintura do perodo Paleoltico
um carter naturalista, ou seja, a busca por representar as coisas
mais prximas de sua aparncia no natural. O domnio da representao
anatmica outro fator indicativo de que o artista foi um observador
atento, uma vez que as pinturas mostram uma incrvel semelhana com
os seres retratados. Este um aspecto fundamental para a compreenso
da questo mgica, pois, ao pintar um animal sendo alvejado, o pintor
deveria faz-lo o mais fielmente possvel. Isto porque no havia uma
separao reconhecida entre o objeto representado e aquilo que
efetivamente ele representava. Imagem e realidade eram inseparveis
para homens e mulheres pr-histricos. Tudo parece indicar que havia
a crena de que aprisionar o animal na pintura garantia que o mesmo
fosse feito na caada. 40
39. Histria da Arte Figura 2.2 - Caverna de Lascaux, Frana.
Cerca de 15 mil anos Fonte: Guimares (2009). Mas, como as pinturas
eram realizadas? O artista pr-histrico trabalhava em cavernas
escuras, com iluminao reduzida, fator que acabou sendo decisivo
para a preservao das imagens que hoje conhecemos. Em alguns casos,
ele fazia sulcos na parede e posteriormente os pintava com tintas
feitas do carvo, xidos minerais, substncias vegetais e sangue
animal. O sentido desta arte somente pode ser compreendido pela
rdua luta pela sobrevivncia que os homens da pr-histria tinham de
empreender para driblar as dificuldades que a sobrevivncia lhes
impunha. O que se pode apurar do seu legado artstico que j nestes
primrdios, a arte foi de fundamental importncia para que pudessem
expressar suas crenas, medos e desejos. Numa poca em que a
expectativa de vida era muito baixa, a capacidade da mulher em
gerar e alimentar uma vida era vista com admirao. Feitas de osso,
chifre ou pedra, as estatuetas femininas conhecidas como vnus so as
mais antigas representaes femininas ilustrativas desta viso.
Unidade 2 41
40. Universidade do Sul de Santa Catarina Esta denominao vem do
fato dos estudiosos julgarem que estes pequenos amuletos
correspondiam ao ideal de beleza da pr-histria. Para Camille Paglia
(1994, p. 61), A gordura da imagem um smbolo de abundncia numa era
de fome. Ela a demasia da natureza, que o homem anseia por dirigir
para sua salvao. Acreditando no seu poder mgico, o artista retinha
em sua criao os atributos que mais o interessavam, os quadris e
seios, simbolizando a fertilidade feminina. Figura 2.3 - Vnus de
Willendorf Fonte: Schmitz (2009). Na escultura Vnus de Willendorf ,
mostrada na figura 2.3, possvel identificar essas caractersticas. A
estatueta tem 11,1 cm de altura e representa estilisticamente uma
mulher. Esta estatueta foi descoberta pelo arquelogo Josef
Szombathy em um stio arqueolgico situado perto de Willendorf, na
ustria, em 1908. uma estatueta esculpida em calcrio e colorido com
ocre vermelho. (PORTAL DA ARTE, [200-]). Mesmo sendo de extrema
importncia dentro da dinmica cultural das sociedades pr-histricas,
as suas realizaes artsticas no possuam o sentido atual que damos s
obras de arte. Naquele momento, inexistia uma ideia para designar o
que arte. O processo de abstrao, ou a capacidade de destacar um ou
mais elementos de uma realidade complexa, era ainda um fator em
desenvolvimento no perodo pr-histrico. O perodo Neoltico
corresponde a ltima fase da Pr-Histria. Iniciou-se por volta de
10.000 a.C. e vai at 4.000 a. C. Todavia, esta uma periodizao
criada para facilitar o estudo, pois aspectos do modo de vida do
Neoltico persistiram em muitos grupos humanos at recentemente. 42
medida que o controle da natureza foi aumentando, a arte tambm se
transformou. Foi isto que ocorreu no perodo Neoltico, quando houve
a domesticao de plantas e animais. no Neoltico que o nomadismo d
lugar sedentarizao, fator decisivo para a prosperidade das
comunidades pr-histricas. A arte vai se modificar ao mesmo tempo em
que as organizaes sociais se tornam mais complexas, com o
surgimento da diviso do trabalho e a formao das clulas familiares.
Graas domesticao dos animais, o campons neoltico j no precisava
caar para conseguir o seu sustento. Com mais tempo para outras
atividades, a produo de bens materiais sofreu um incremento com o
desenvolvimento da cermica, da tecelagem e do trabalho com
metais.
41. Histria da Arte Figura 2.4 - Vasos neolticos encontrados na
regio da atual Bulgria Fonte: Arquivo pessoal da autora (2010).
Novas tcnicas de execuo e novos temas daro arte do Neoltico um
aspecto menos naturalista e mais geomtrico. Para muitos estudiosos,
os povos do Neoltico tm uma menor preocupao com a aparncia natural
das coisas, pois eram menos dependentes dos seus sentidos que seus
antecessores. A observao que caracterizou o Paleoltico cedera lugar
a uma maior racionalizao. Por conseguinte, os objetos passaram a
ser criados buscando a funo utilitria e tambm a beleza. Outra
mudana fundamental do Neoltico foi a separao da realidade e da
magia, que, por sua vez, substituda lentamente pelos rituais
religiosos. Mas por que as organizaes simplesmente no se
transformam em instituies que aprendem, como nos dias de hoje?
Unidade 2 43
42. Universidade do Sul de Santa Catarina Seo 2 Arte egpcia
Desde a antiguidade, as realizaes artsticas dos egpcios nunca
pararam de influenciar as sociedades ocidentais, tendo marcado,
sobretudo, a cultura grega e romana. Nos ltimos dois sculos,
arquelogos, historiadores e aventureiros se lanaram numa busca sem
precedentes pelo legado artstico dos antigos egpcios. O resultado
desta caa ao tesouro foi a disperso do conjunto de obras nas mos de
colecionadores e de museus pelo mundo inteiro. Pirmides, esfinges,
templos magnficos, esculturas, pinturas, objetos ritualsticos e
cotidianos so testemunhos de uma das mais complexas e duradouras
organizaes sociais da histria. a apreciao deste fabuloso legado
artstico que desperta e mantm a curiosidade sobre este povo antigo,
cuja principal motivao para a produo artstica, como voc vai estudar
adiante, residia na ideia de imortalidade. A civilizao egpcia
sucedeu s comunidades neolticas que se estabeleceram s margens do
rio Nilo na frica. A partir do momento em que os egpcios dominaram
a regularidade das cheias do Nilo, a fertilidade da terra garantiu
colheitas abundantes. Por volta de 3.200 a.C., ocorre a formao de
um estado centralizado, dando incio ao perodo conhecido como
Dinstico. A partir da, a sociedade do Egito antigo teve certa
estabilidade, mantida por uma monarquia teocrtica, cuja figura
central era o fara. Supremo governante, visto como Deus vivo, o
fara tinha controle sobre as instituies burocrticas, militares,
culturais e religiosas. A firmeza e solidez de seu poder so
expressas em muitas obras artsticas. Por patentear a ordem e a
estabilidade, ele era usualmente representado em atitudes nobres,
com gestos de eternidade (BAKOS e BARRIOS, 1999). Na escultura do
fara Miquerinos e sua esposa (figura 2.5), mostrada a seguir,
possvel identificar estas caractersticas. 44
43. Histria da Arte Figura 2.5 - O Fara Miquerinos e a Rainha,
V dinastia, c. 2470 a.C. Fonte: Pontes (2009). Perceba que os braos
colados ao corpo e os punhos cerrados do ao conjunto uma sensao de
imobilidade tpica da arte egpcia, em que os seres eram
representados em sua idealidade e no em sua naturalidade. Os
escultores deviam dar s imagens dos seus governantes a impresso de
fora e juventude. O pice do poder faranico ocorreu no Antigo
Imprio. Neste perodo originaram-se conhecidas manifestaes da
arquitetura egpcia, como as pirmides, construdas para abrigar em
seu centro o corpo mumificado do fara. Sendo considerado um ser
divino, o fara deveria ir para junto de seus iguais, da a altura
das pirmides Unidade 2 O imprio egpcio dividido nos seguintes
perodos: Antigo Imprio (3200 a.C. at 2300 a.C.), Mdio imprio (2000
a.C.), Novo Imprio (1500 a.C. at 525 a.C.). 45
44. Universidade do Sul de Santa Catarina Durante muito tempo,
acreditou-se que a sua construo tenha sido realizada unicamente por
mo de obra escrava, mas a historiografia recente, luz de novos
documentos, ampara tambm a hiptese do trabalho remunerado. Figura
2.6 - As Grandes Pirmides de Giz, IV e V dinastias: Miquerinos (c.
2470 a.C.), Quefren (c. 2500 a.C.) e Quops (c. 2530 a.C.),
respectivamente Fonte: Pontes (2009). As pirmides foram construdas
numa poca em que os faras exerciam mximo poder poltico, social e
econmico no Egito Antigo. Quanto maior a pirmide, maior seu poder e
glria. A vida cultural e social dos egpcios foi caracterizada
intensamente pela religio politesta, que penetrava em todos os
aspectos da vida pblica e privada. A crena na vida aps a morte,
tanto do corpo quanto da alma, foi um dos seus mais fundamentais
preceitos. Buscando isto, os egpcios desenvolveram tcnicas apuradas
de preservao, como o processo de mumificao. No de se estranhar que
boa parte do seu legado artstico seja composta de objetos voltados
aos cultos morturios. 46
45. Histria da Arte Os tesouros encontrados na tumba deste fara
deram ao mundo uma viso totalmente nova do tipo dos artefatos
egpcios que haviam sido roubados h muito tempo de todas as tumbas
faranicas e dispersos ou desprovidos de seu ouro ou pedras. (THE
METROPOLITAN OPERA GUILD, 2008). Figura 2.7 - Sarcfago de
Tutancamon, descoberto numa tumba intocada, em 1922 Fonte: El
Pas.com : La Comunidad (2010). Coube arte a misso de perpetuar as
crenas religiosas e, muito embora as mudanas fossem ocasionais, o
fato que, em centenas de anos, suas convenes pouco mudaram. A arte
egpcia manteve aspectos regulares que definem seu estilo e a torna
reconhecvel, como voc ver a seguir. Unidade 2 47
46. Universidade do Sul de Santa Catarina A pintura egpcia As
pinturas egpcias datam da pr-histria at a ltima fase do imprio
(conhecida como fase greco-romana). Encontradas em geral no
interior de tmulos e templos, elas no tinham, como ocorreu com as
pinturas nas cavernas, o objetivo de ser expostas para apreciao
pblica, mas sim, de levar para a vida aps a morte o que fosse
necessrio para garantir o conforto e o lugar social do morto. Os
temas abordados so muito amplos e narram desde cenas modestas da
vida de camponeses e operrios at o cerimonial que cercava a vida da
nobreza. Figura 2.8 - Cena do Livro dos Mortos, XVIII dinastia
Fonte: Gombrich (1999). Nos muitos exemplos da pintura egpcia, cujo
tema a figura humana, notamos uma das suas principais convenes
estilsticas, a lei da frontalidade. Ela perdurou por mais de dois
mil anos e , sem dvida, um dos aspectos que mais definem a sua
singularidade. Esta regra de representao, seguida pelos artistas
egpcios, determinava como o corpo humano deveria ser retratado.
Arnold Hauser (2000) definiu a lei da frontalidade da seguinte
maneira: 48
47. Histria da Arte [...] seja qual for (sic) posio em que o
corpo representado, toda a superfcie do trax est voltada para o
expectador, de tal forma que a parte superior do corpo divisvel por
uma linha vertical em duas metades iguais. Essa abordagem axial,
oferecendo a mais ampla viso possvel do corpo, tenta obviamente
apresentar a impresso mais ntida e menos complicada a fim de evitar
qualquer mal entendido, confuso ou encobrimento dos elementos da
pintura. Figura 2.9 - Fragmento de um Livro dos Mortos, XVIII
dinastia Fonte: Gombrich (1999). Unidade 2 49
48. Universidade do Sul de Santa Catarina Como voc pode
observar, o artista egpcio trabalhava em funo do que via e do que
no via. A impresso que temos, ao olhar atentamente para estas
obras, de que seu autor queria reter na imagem o mximo de elementos
possveis. O que importava no era a beleza, mas a clareza e
permanncia, pois, para atravessar a eternidade, o corpo (assim como
todas as outras coisas representadas) deveria estar o mais completo
possvel. Para tanto, havia algumas regras a serem rigorosamente
obedecidas: Homens representados mais escuros do que as mulheres. A
perspectiva hierrquica determinando que o fara fosse mostrado em
tamanho maior do que as outras pessoas. Os deuses aparecem
representados sempre da mesma forma. Contudo, em alguns momentos, a
arte egpcia oscilou entre conservadorismo e inovao, como no Novo
Imprio, quando as reformas religiosas implantadas pelo fara
Akhenaton resultaram em uma maior liberdade criativa para os
artistas. Algumas obras deste perodo so menos geometrizadas e mais
fluidas, abrandando a tradicional sensao de imobilidade. Amenhotep
IV, mudou seu nome para Akhenaton e tentou implantar um culto
monotesta, cujo nico deus Aton era representado pelo disco solar.
As mudanas no sobreviveram ao seu reinado (1372 1358 a.C.). Figura
2.10 - Fara Amenfis IV. Relevo em pedra calcrea. Aprox. 1370 a.C.
Fonte: Gombrich (1999). 50
49. Histria da Arte Neste relevo, voc pode identificar o que se
chamou estilo Akhenaton. Observe que, quase caricatural, a imagem
do Fara revela formas mais suaves e fluidas. Aprofunde seus
conhecimentos estudando as caractersticas histricas do Novo Imprio
em enciclopdias ou sites recomendados da internet. Seo 3 Grcia e
Roma (antiguidade clssica) A Grcia antiga era constituda por trs
partes: Grcia Continental, o Peloponeso e a Grcia insular.
Diferentemente da arte egpcia voltada para a religio, a arte grega
foi concebida para ser vista. Seja ornamentando ambientes,
adornando templos ou como oferenda para agradar aos deuses, seu
objetivo era a vida presente. Na arte grega predominam o ritmo, a
harmonia e o equilbrio embalados por caractersticas marcantes como
a busca pela beleza e o interesse pelo homem. fato que os padres
estticos de nossa cultura foram profundamente influenciados ou at
mesmo herdados da Grcia antiga. Na arquitetura, teatro, literatura,
escultura, seu legado continuou vivo no Ocidente, onde foi
continuamente reabilitado Unidade 2 51
50. Universidade do Sul de Santa Catarina As origens da
civilizao grega A regio que constituiu a antiga Grcia recebeu a
vinda de povos indo-europeus a partir de 2.000 a.C. Suas origens
esto ligadas histria da ilha de Creta, cujo apogeu ocorreu entre
2.000 a.C e 1400 a.C. Graas sua posio privilegiada na regio do
Mediterrneo, Creta manteve hegemonia comercial efetuando contatos
culturais com importantes povos da antiguidade, como os egpcios.
Inicialmente construdo a partir de cerca de 1900 A.C., tendo sido
destrudo cerca de 1700 A.C.; e reconstrudo cerca de 1600 A.C. 1500
A.C., fase a que pertencem a maior parte das runas hoje visveis, o
Palcio de Cnossos a principal atrao da ilha de Creta. O palcio
teria sido novamente destrudo cerca de 1450 A.C., na sequncia da
erupo do vulco de Santorini. (VICENTE, 2004). Os aqueus eram grupos
guerreiros originrios da regio dos Blcs. 52 Por meio das
descobertas arqueolgicas feitas no sculo XIX, algumas realizaes
artsticas dos cretenses se tornaram conhecidas, como as pinturas do
palcio de Cnossos. Figura 2.11 - Golfinhos, Palcio de Cnossos em
Creta Fonte: Pontes (2008). Em sua maior parte, a pintura minica ou
cretense tem inspirao na natureza, caracterstica que acabou sendo
exportada de Creta para outras culturas mediterrnicas. A pintura
cretense identificada tambm pela capacidade de apreenso das formas
e pelo intenso colorido e movimento. Por volta de 1.400 a.C., os
aqueus invadiram Creta, dando origem civilizao creto-micnica. Este
perodo ficou denominado como pr-homrico. Cidades importantes como
Micenas e Tirinto foram erguidas, cujas grandes muralhas
sobreviveram aos tempos. Do ponto de vista estilstico, a arte
destes povos vai ser mais pesada e formal do que a cretense. Um dos
mais conhecidos exemplos desta arte a Porta dos Lees encontrada na
cidade de Micenas.
51. Histria da Arte Figura 2.12 - Porta dos Lees em Micenas,
aproximadamente 1.500 a.C. Fonte: ALBV (2008). Aps a queda da
civilizao creto-micnica, a Grcia vai mergulhar numa poca rural, com
o enfraquecimento da vida poltica e econmica. Surgem as comunidades
gentlicas, forma de organizao social caracterizada pelo poder das
grandes famlias. Sobre estes tempos, os registros so escassos,
sendo os principais deles a Ilada e a Odisseia, ambos supostamente
de autoria do poeta Homero. Neste perodo, tambm conhecido como
tempos homricos (sc. XII a VIII), vai ser constituda a base da
civilizao grega, com o surgimento da Cidade-Estado grega (polis),
centro poltico, social e religioso autnomo. De acordo com a lenda,
o poeta cego Homero teria registrado os poemas que eram conhecidos
apenas na tradio oral. A plis surge como consequncia da crise
poltica e econmica que levou desintegrao das comunidades gentlicas
no fim dos tempos homricos. Figura 2.13 Homero, busto de mrmore,
cpia romana de original grego Fonte: Martins (2008). Unidade 2
53
52. Universidade do Sul de Santa Catarina Cada uma das cidades
gregas tinha sua classe dominante, seus deuses prprios e seu
sistema de vida diferenciado. O princpio desta autonomia foi
fundamental para o desenvolvimento econmico, cultural e artstico. A
arte grega A arte grega foi complexa e diversa. Nossa abordagem vai
seguir a organizao recorrente na maior parte dos livros de histria
da arte, situando-a entre o surgimento das Cidades-Estado at a
tomada da Grcia pelos romanos, fixando o estudo das suas
regularidades estilsticas mais constantes em trs momentos
respectivamente: perodo arcaico, clssico e helenstico. O estilo
arcaico (sc. VII a.C ao sc. V a.C) Mesmo que seja difcil
circunscrever os limites da influncia, sabemos que os gregos foram
influenciados artisticamente por outros povos e tambm pelas
civilizaes que os precederam, como a cretense e a creto-micnica,
estudadas anteriormente. Mas fato tambm que estas civilizaes
souberam ir muito alm do que aprenderam, desenvolvendo um estilo
artstico inconfundvel e sem parmetros anteriores. Como disse Hauser
(2000, p. 77), antes deles no existia o livre inqurito, nem a
investigao terica, nem o conhecimento racional, nem arte como
conhecemos hoje isto , uma atividade cujas criaes podem ser sempre
apreciadas como formas puras. Kouros e Koir so nomes dados s
esculturas de homens e mulheres jovens respectivamente. 54 No
perodo arcaico, os artistas comearam a esculpir, em mrmore, figuras
em rigorosa posio frontal, com o peso do corpo distribudo sobre as
duas pernas. Mas, j por volta desta poca que, por meio do
aprimoramento das esculturas humanas, notamos mudanas feitas com
tcnicas egpcias. Observe estes exemplos de Kouros e Koir e compare
com a imagem do fara Miquerinos, mostrada nas pginas
anteriores.
53. Histria da Arte Voc deve ter notado que as semelhanas com a
esttua egpcia so indiscutveis: posio frontal, punhos cerrados, o
peso do corpo apoiado nas duas pernas. Estas esculturas transmitem
a mesma sensao de imobilidade que encontramos na estatuaria egpcia.
Isto porque, inicialmente, a forma de esculpir em grandes blocos
foi copiada dos egpcios, mas observe que a imagem do Kouros a
seguir, j apresenta uma variao, que foi a introduo de vos entre
braos e pernas. Figura 2.14 - Koir, 530 a.C. Fonte: Arquivo pessoal
da autora (2010). Figuras 2.15 - Irmos Cleobs e Biton, 580 a.C.
Fonte: Gombrich (1999). Isto acaba transmitindo uma sensao mais
leve e dinmica, artifcio que atingir culminncia nas obras do perodo
clssico, que voc estudar a seguir. Unidade 2 55
54. Universidade do Sul de Santa Catarina O perodo clssico (sc.
V a.C. ao sc. IV a.C) medida que os artistas gregos vo aprimorando
as tcnicas de execuo, o mrmore, material usado desde o sculo VII,
passa a ser substitudo pelo bronze. A questo que os escultores
buscavam resolver com esta substituio era conseguir fazer partes do
corpo sem necessariamente ter de apoi-las, coisa que o mrmore no
favorecia, j que tinha propenso de quebrar com o prprio peso. A
esta altura, voc deve estar se perguntando, ento, por que a maioria
das estatuas gregas que conhecemos parece ser de mrmore? O fato que
muitos exemplares originais feitos em bronze foram perdidos,
destrudos ou transformados em materiais blicos ao longo do tempo.
Mron foi um escultor grego (sculo V a.C.), nascido em Elutras. Foi
o mais velho dos trs grandes escultores do sculo de Pricles: Mron,
Fdias e Policleto. Duas de suas obras chegaram at ns, em cpias
romanas: Atena e Mrsias, e mais O Discbolo uma das esculturas mais
famosas da histria da arte. (NUNES, 2008). O que sobrou foram cpias
em mrmore feitas pelos romanos a partir dos originais gregos. Graas
a isto, podemos conhecer obras importantes, como a cpia feita de um
original de Mron, conhecida como discbulo. Figura 2.16 - Discbulo.
Cpia romana, de um original em bronze de Mron. Aproximadamente 450.
a.C. Fonte: Gombrich (1999). 56
55. Histria da Arte Como voc pode notar nas esculturas aqui
mostradas, os gregos buscavam representar um ser humano perfeito.
Isto somente foi conseguido por meio de processos racionais que
levaram ao conhecimento das propores anatmicas e da simetria.
Escultores como Policleto codificaram medidas perfeitas, por
exemplo, determinando que o corpo deveria medir sete vezes e meia o
tamanho da cabea. Os principais mestres da escultura clssica grega
so: Praxteles, celebrado pela graa das suas esculturas, pela
lnguida pose em S (Hermes com Dionsio menino). Ele foi o primeiro
artista que esculpiu o nu feminino; Policleto, autor de Dorforo -
condutor da lana, criou padres de beleza e equilbrio usando o
tamanho das esttuas, que deveriam ter sete vezes e meia o tamanho
da cabea; Fdias, talvez o mais famoso de todos, autor de Zeus
Olmpico, sua obra-prima, e Atenia. Realizou toda a decorao em
baixos-relevos do templo Partenon: as esculturas dos frontes,
mtopas e frisos; Lisipo, representava os homens tal como se veem e
no como so (verdadeiros retratos). Foi Lisipo que introduziu a
proporo ideal do corpo humano, com a medida de oito vezes a cabea.
(MARTINS; IMBROISI [200-]). Estas convenes, criadas h tanto tempo,
mostrando homens e mulheres sempre jovens, belos e de expresso
ausente, foram admiradas e amplamente usadas Figura 2.17 -
Praxteles Hermes com o jovem Dionsio, 350 a.C. pelos grandes
mestres do Renascimento e Fonte: Gombrich (1999). ainda regem
padres de beleza atuais. Unidade 2 57
56. Universidade do Sul de Santa Catarina A escultura deste
perodo tem como caracterstica o naturalismo idealista, entendido
como a tentativa do artista de melhorar a natureza. Marilena Chau
(2001, p. 362) definiu este padro nos seguintes termos: Na verdade
mostra o mundo como desejaramos que fosse, melhorando e
aperfeioando o real. Para sua pesquisa e reflexo Tendo por base os
dados aqui apresentados e pesquisas nos materiais de sua
preferncia, analise a escultura de Hermes com o jovem Dionsio e
anote suas impresses acerca da composio, procurando avaliar questes
formais, como equilbrio, proporo, movimento e a atmosfera que dela
emana. Aps registrar suas impresses nas linhas seguintes, compare
suas concluses com aquelas apresentadas no saiba mais desta
unidade. Ainda na poca clssica, temos a era de ouro de Atenas,
quando as artes ganharam um impulso, resultando em obras clebres da
escultura e da arquitetura, entre elas, o Partenon. Construdo na
parte alta da cidade chamada de Acrpole, este templo foi consagrado
deusa Atenas, protetora da cidade. 58
57. Histria da Arte Figura 2.18 O Partenon, Acrpole, Atenas,
447-432 a.C Fonte: Gombrich (1999). A poca helenstica (sc. III ao
sc. II a.C). Durante o perodo conhecido como helenstico, as
transformaes histricas vo interferir profundamente no fazer
artstico. Esta poca foi marcada pelo domnio macednico sobre as
Cidades-Estado, iniciado por Felipe II e continuado por seu filho
Alexandre (356-323 a.C.), que estendeu seu imprio at a ndia. Aps a
sua morte, este foi transformado em uma srie de Estados
independentes. Entretanto, a consequente mescla de culturas, do
Ocidente e o Oriente, que resultou do processo expansionista, gerou
uma nova cultura definida como helenstica. O Partenon provavelmente
o mais conhecido de todos os templos gregos da antiguidade.
Construdo entre 480 e 323 a.C., ele representa todo o refinamento e
estilo da arquitetura de Atenas nesse perodo. (STUART, 2006). Como
resultado da nova condio social e poltica da Grcia, vamos perceber
um naturalismo mais acentuado nas esculturas. O idealismo dos
tempos clssicos vai desaparecer e, em seu lugar, teremos mais
realismo com a tentativa de atribuir caractersticas psicolgicas s
esculturas. Unidade 2 59
58. Universidade do Sul de Santa Catarina Figura 2.19 - O gauls
moribundo, 230 a.C. Autor desconhecido Fonte: Portal So Francisco
[200-]. Sentimentos, como a dor e o sofrimento, passam a ser
incorporados s imagens, resultando em obras de teor dramtico, como
o caso da escultura acima. O grupo mostrado a seguir, conhecido
como Laocoonte e seus filhos, narra um episdio mtico da Guerra de
Troia. Produzido no sculo I a.C., ele sintetiza a filosofia
artstica da fase helenstica. 60
59. Histria da Arte Figura 2.20 - Laocoonte e seus filhos. Ca.
175 - 50 a.C. Fonte: Gombrich (1999). Paulatinamente abandonada, a
atitude contemplativa do perodo clssico suplantada pela realidade
destes novos tempos. Uma vez invadida e fragmentada a civilizao
grega, o artista se distancia do idealismo de outrora, a arte fica
mais prxima da condio humana, como o envelhecimento, o sofrimento e
a morte. Unidade 2 A esttua representa Laocoonte e seus dois
filhos, Antiphantes e Thymbraeus, a serem estrangulados por duas
serpentes marinhas em um episdio dramtico da Guerra de Tria.
Laocoonte, um sacerdote de Apolo, foi o nico que pressentiu o
perigo que o cavalo de Tria representava para a cidade e que
protestou contra a ideia de o levar para dentro das muralhas.
Segundo a lenda, Poseidon, um deus que favorecia os gregos, enviou
ento duas serpentes para calar a voz da oposio. Apesar de
provavelmente datar do perodo posterior ao sculo I a.c, esta
escultura considerada uma escultura helenstica. (RAMALHETE, 2009).
61
60. Universidade do Sul de Santa Catarina A arte romana Por
arte romana definimos o conjunto das manifestaes que surgiram na
pennsula itlica do incio do sculo VIII a.C. at o sculo IV d.C.
Neste perodo, ocorreram a ascenso e o declnio do Imprio Romano,
cuja histria normalmente divida em trs perodos: Monarquia, que vai
da fundao (cuja data imprecisa, sendo a mais usual 753 a.C.) at 509
a.C; Repblica, que vai de 509 a.C. at 27 a.C. Imprio, que vai de 27
a.C. at a tomada de Roma por povos germnicos em 476 d.C. Os romanos
foram conquistadores e agregaram longas vastides da Europa e do
Oriente aos seus domnios. Para manter este imprio, foi necessrio
criar uma eficiente estrutura militar e administrativa, o que
influenciou no desenvolvimento de uma arte pragmtica e utilitria.
Quanto s influncias que absorveram de outras culturas, devemos
considerar, sobretudo, a etrusca e a grega. Dos gregos, os romanos
tomaram o alfabeto, conceitos religiosos e muito da sua arte. De
acordo com Proena (2000), a influncia dos etruscos pode ser notada
pelo aspecto realista que a arte romana assumir. Dos etruscos, os
romanos aprenderam tambm conhecimentos de engenharia, como o uso do
arco. Este elemento acabou se tornando uma especialidade da
arquitetura romana, que o utilizou na construo de obras pblicas,
como pontes, aquedutos e monumentos. A ele, os romanos misturaram o
fronto e colunas, tpicos da arquitetura grega. Parte destas
construes, espalhadas pela Europa e Oriente, ainda permanecem de p,
atestando a excelncia construtiva alcanada pelos romanos. Alguns
dos monumentos mais caractersticos eram os arcos comemorativos
presentes em todas as provncias do imprio. 62
61. Histria da Arte Figura 2.21 - Arco triunfal de Tibrio.
Reinou entre 14 a 37 d.C. Orange, sul da Frana Fonte: Gombrich
(1999). Outro tipo de monumento comemorativo apreciado pelos
romanos eram as colunas. Uma das mais representativas a de Trajano,
erigida em 113 d.C., e narra a vitria deste imperador em uma
campanha realizada na Dcia (atual Romnia). A altura da coluna
equivalente a um prdio de dez andares e tem toda a sua superfcie em
mrmore talhado. A partir de baixo, ela vai se desenrolando em
espiral, levando ao leitor uma narrativa contnua e clara por 150
episdios sucessivos. Unidade 2 63
62. Universidade do Sul de Santa Catarina Figuras 2.22 e 2.23 -
Respectivamente Coluna de Trajano, 113 d.C. Roma Coluna de Trajano,
pormenor, 113 d.C. Roma. Fonte: Flauzino (2008). A cidade de
Pompeia foi soterrada juntamente com Herculano e Estbias. Elas
ficavam situadas aos ps do vulco Vesvio. Este entrou em erupo em 24
de agosto do ano 70 d.C. e despejou uma chuva de cinzas e depois
lava. O desenvolvimento da narrativa se d num pergaminho que tem
por volta de 180 metros de comprimento e 2500 figuras humanas. Os
relevos so rasos e seu objetivo parece ter sido impressionar o
observador, pela mincia dos detalhes. A figura do imperador Trajano
d unidade composio, aparecendo diversas vezes ao longo da narrativa
repleta de cenas violentas. A pintura de murais foi muito comum nas
casas dos romanos mais abastados. Muitas destas pinturas foram
encontradas em bom estado de conservao nas cidades de Pompeia,
Herculano e Estbias. Em virtude