Zane Grey - Cavaleiros Da Vingança

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Livro.

Citation preview

ZANE GREYCAVALEIROS DA VINGANANOTA DO EDITORUm grande livro do conturbado Oeste. Jane Withersteen a proprietria de um grande rancho nas regies selvagens do Ut em 1871, rancho que faz parte da comunidade mrmon de Cottonwoods. Mas os sarilhos comeam a surgir quando os gentios comeam a aparecer. Ela sente amizade por um deles - Venters, um cavaleiro da sua propriedade. Os ancios mrmones odeiam o intrometimento de forasteiros, e a sua vingana sobre aqueles que consideram reincidentes cruel e amarga. Lassiter outra figura de vingana, um homem alto e garboso vestido de cabedal negro, que possui um cavalo igualmente negro cego pelos Mrmones. Ele conhece Jane numa estranha situao. Esta uma histria de aco, cime e violncia que se passa nos longos trilhos que cobrem uma terra selvagem, mas bela.Zane Grey foi o primeiro e um dos maiores escritores de westerns. O seu assunto preferido era a histria. Escreveu sobre a dura vida dos pioneiros que se dirigiram para as terras bravias e estreis, nos dias em que o Far-West americano era ainda selvagem e inexplorado. Sobre os homens que foram para o deserto para esquecer, para procurarem ouro, para morrerem de sede ou de cansao, para abrirem caminho queles que se lhes seguiram. Como contador de histrias, a sua capacidade para descrever paisagens naturais era excepcional, e como escritor capaz de transmitir a excitao da aco tem poticos que se lhe igualem.ZANE GREYCAVALEIROS DA VINGANANDICECaptulo I - O homem vestido de negro...............Captulo II - Cottonwoods ........................ Captulo III - Amber Spring ........................... Captulo IV - Desfiladeiro da Decepo ................ Captulo V - O cavaleiro mascarado .................. Captulo VI - A roda de moinho de novilhos......................... Captulo VII - A filha de Withersteen .............. Captulo VIII - O Vale das Surpresas..................................... Captulo IX - Abetos prateados e faias ............ Captulo X - Amor ................................. Captulo XI - F e m-f ........................... Captulo XII-A mo invisvel ...................... Captulo XIII - Solido e tempestade ................. Captulo XIV - Vento de oeste ........................... Captulo XV - Sombras na encosta de salva ............ Captulo XVI - Ouro ................................... Captulo XVII - A corrida de Wrangle .................. Captulo XVIII - O toque de finados de Oldring .......... Captulo XIX - Fay ............... ................... Captulo XX - maneira de Lassiter.................................Captulo XXI - Black Star e Night ....................... Captulo XXII - Cavaleiros da salva prpura.................... Captulo XXIII - A queda da Pedra Oscilante.........................CAPTULO IO HOMEM VESTIDO DE NEGROO som agudo de cascos ferrados desvanecia-se ao longe, nuvens de poeira amarelada levantavam-se vindas debaixo dos campos de algodo e espalhavam-se pela salva.Jane Withersteen olhava fixamente para a encosta selvagem e avermelhada com olhos sonhadores e preocupados. Acabara de receber a visita de um cavaleiro, e era a mensagem deste que a mantinha assim pensativa e quase triste enquanto esperava pelos homens da igreja que estavam a chegar para condenarem e atacarem o seu direito de ajudar um gentio.Perguntava a si prpria se os conflitos e a conturbao que ultimamente atingiam a pequena vila de Cottonwoods a iam envolver tambm. Ento suspirou, recordando-se de que fora o seu pai que fundara esta remota e marginal colnia de Ut do Sul e que lha deixara. Ela era a possuidora de todo o solo e da maior parte das casas. Withersteen House pertencia-lhe, assim como o grande rancho com as suas milhares de cabeas de gado e os cavalos mais velozes de toda a salva. A ela pertencia tambm Amber Spring, a gua que dava a verdura e a beleza vila e que tornava possvel a vida naquelas bravias terras altas. Ela no podia esperar no ser envolvida pelo que quer que fosse que acontecesse em Cottonwoods.Esse ano de 1871 marcara uma transformao que viera a entrar gradualmente nas vidas dos mrmones amantes da paz. Glaze, Stone Bridge e Sterling, vilas do Norte, levantaram-se contra a invaso de colonos gentios e contra a investida de ladres. E Cottonwoods estava neste momento a acordar e a endurecer a sua posio.Jane desejava que os dias calmos e pastorais durassem para sempre. Os problemas entre os mrmones e os gentios f-la-iam infeliz. Ela era mrmon por nascimento, mas era amiga dos pobres e infortunados gentios. Apenas desejava poder continuar a fazer o bem e ser feliz. E pensou no que o grande rancho significava para ela.Enquanto esperava, esqueceu a perspectiva da fatdica mudana.A sua viso perfeita intensificava a cor avermelhada da encosta de salva que se desenrolava sua frente. Pequenos outeiros de solo parecendo pradaria estendiam-se para oeste. Alguns cedros negros e solitrios erguiam-se em direco ao cu e ao longe viam-se runas de pedras vermelhas. Mais alm, subindo a encosta, levantava-se uma muralha partida, um enorme monumento agigantando-se negro e avermelhado e espreguiando-se no seu jeito solitrio e mstico, formando uma linha ondulante que desaparecia em direco ao norte. Para oeste, era a luz, a cor e a beleza. A norte, a encosta descia para uma sombria linha de canyons, dos quais surgia, como que emergindo do nada, uma poro de terra no montanhosa, mas uma vasta elevao de terras altas cor de prpura cercada por muralhas onduladas em forma de leque, penhascos recortados e escarpas cinzentas. Sobre tudo isto pairavam as sombras esguias e minguantes do fim de tarde.O matraquear rpido de cascos de cavalos chamou Jane realidade da questo que tinha de resolver. Um grupo de cavaleiros galopava lentamente subindo o relvado. Desmontaram e atiraram para trs as rdeas. Eram sete, e Tull, o lder, um homem alto e moreno, era um ancio da igreja de Jane.- Recebeu a minha mensagem? - perguntou concisamente.- Sim - respondeu Jane.- Eu enviei recado que daria ao cavaleiro Venters o tempo de meia hora para descer at vila. Ele no veio.- Ele no sabe nada disto - disse Jane. - Eu no lhe contei. Deixei-o no ptio.- Vem c, Jerry - chamou Tull, virando-se para os seus homens -, leva o grupo contigo e vai buscar Venters nem que tenhas de o amarrar.Os cavaleiros de botas sujas de poeira e longas esporas desapareceram na sombra.- Ancio Tull, que que isto quer dizer? - perguntou Jane.- Dir-lhe-ei - replicou Tull. - Mas primeiro diga-me por que defende este cavaleiro sem qualquer valor?- Sem valor! Ele o melhor cavaleiro que eu j tive. No existe nenhuma razo para que eu no o ajude, e todas para que o faa. Devo-lhe gratido eterna por ter salvo a vida da pequena Fay.- Ouvi falar no seu amor por Fay Larkin e ouvi tambm dizer que tencionava adopt-la. Mas, Jane Withersteen, a criana um gentio!- verdade. Adoptarei Fay se a me me der permisso.- No estou completamente contra isso. Pode dar criana uma educao mrmon - disse Tull. - Mas estou cansado de ver este sujeito, o Venters, andar sempre sua volta. Vou pr termo a isso.Voc tem tanto amor para desperdiar com estes gentios que me leva a pensar que talvez esteja apaixonada por Venters.- Talvez o ame - disse Jane. - Nunca pensara nisso. Pobre rapaz! Sem dvida que necessita de algum que o ame.- Ser um mau dia para Venters se no negar o que acaba de dizer - disse Tull duramente.Os homens de Tull apareceram por baixo dos arbustos de algodo e traziam sua frente um jovem. As suas roupas esfarrapadas eram as de um proscrito. Mas ele manteve-se firme e erecto, com os ombros puxados para trs, os msculos dos braos nus retesados e com um brilho azul de desafio no olhar que dirigiu a Tull.- Venters, sairs de Cottonwoods imediatamente e para sempre? - perguntou Tull nervosamente.Venters largou uma gargalhada de frio desprezo.- Se no partires ser a tua desgraa - disse Tull ameaadoramente.- Desgraa! - exclamou Venters apaixonadamente. - Vocs no me desgraaram j? A que que chamam desgraa? H um ano atrs eu possua cavalos e algumas cabeas de gado. Tinha um bom nome em Cottonwoods. E agora, quando eu venho vila para ver esta mulher, voc manda os seus homens atrs de mim. Nada mais tenho a perder, excepto a minha vida.- Deixars Ut?- Oh! Eu sei - prosseguiu Venters mordazmente -, vexa-os a ideia da bela Jane Withersteen ser amiga de um pobre gentio. Vocs tm ideias para ela... e para Withersteen House, para Amber Spring e para sete mil cabeas de gado!O queixo proeminente de Tull retesou-se e o sangue encheu-lhe as veias do pescoo- Mais uma vez. Partirs?- No!- Ento mandar-te-ei chicotear e se escapares com vida ser por um triz - replicou Tull cruelmente. - Mandarei largar-te na salva e se voltares ser ainda pior.Jane avanou impulsivamente para a frente.- Oh! Ancio Tull! - gritou. - No sereis capaz de o fazer! Tull ergueu um dedo para ela.- Isso ser por tua culpa. Jane Withersteen, o teu pai deixou-te riqueza e poder. Isso deu-te volta cabea. Temos tido pacincia Contigo. Espermos pacientemente. Mas no recuperaste o bom senso. Agora, de uma vez por todas, no poders ter mais nenhuma relao de amizade com Venters. Ele vai ser chicoteado, e vai deixar Ut!- Oh! No o chicoteiem! Seria ignbil!- Venters, queres receber as chicotadas aqui ou preferes ir para a salva? - perguntou Tull.- Receb-las-ei aqui, se for preciso - disse Venters. - Mas por Deus! Tull, era prefervel matar-me imediatamente. As chicotadas sair-vos-o caras, a si e aos seus mrmones. Faro de mim um outro Lassiter!- Ancio, eu... eu arrependo-me das minhas palavras - gaguejou Jane. - Poupe o rapaz! - murmurou.- Agora j no o podes salvar - replicou Tull estridentemente.A sua cabea comeava a curvar-se para o inevitvel, quando subitamente sentiu nascer nela algo novo e incompreensvel. Mais uma vez o seu olhar contemplou as encostas de salva. Em tempos de tristeza aquela vastido selvagem e prpura tinham-lhe dado fora, em tempos de felicidade a sua beleza era razo para seu deleite contnuo. No meio do seu embarao Jane deu consigo a murmurar:- De onde quer que venhas, vem em minha ajuda!Os movimentos nervosos dos homens de Tull acalmaram-se subitamente. Seguiu-se um leve murmrio, um estalido, uma exclamao de espanto.- Olhem! - disse um deles, apontando para oeste.- Um cavaleiro!Jane Withersteen virou-se e viu um cavaleiro, cuja silhueta se destacava do cu azul de oeste, cavalgando na salva e aproximando-se. Ele surgira da esquerda e o brilho do Sol encobrira-o at estar muito prximo.- Conhecem-no? Algum o conhece? - perguntou Tull apressadamente.- Ele vem de longe - disse um dos homens.- um belo cavalo - comentou outro.- Um estranho cavaleiro.- Hum! Veste de cabedal negro - acrescentou um quarto. Acenando com a mo a pedir silncio, Tull deu uns passos para a frente de forma a esconder Venters.O cavaleiro dominou o seu cavalo com as rdeas e com um estranho movimento para a frente pareceu atingir o cho com uma s passada."-Olhem! - murmurou um dos companheiros de Tull. - Ele tem dois revlveres negros... muito descados... so difceis de ver... tudo preto.A lenta aproximao do estranho pode ter sido apenas derivada da maneira cansada de andar, ou dos passos curtos de um cavaleiro que no est habituado a andar a p; contudo, poderia tambm ter sido o cuidadoso avano de algum que no confia nos homens.- Viva, estrangeiro! - cumprimentou Tull.O cavaleiro respondeu com um imperceptvel aceno de cabea. As abas largas do chapu que usava projectavam uma escura sombra no seu rosto. Durante um curto momento observou Tull e os seus homens, e depois, fazendo uma pausa na sua lenta marcha, pareceurelaxar.- Boa tarde, minha senhora - disse dirigindo-se a Jane ao mesmo tempo que tirava o chapu.Jane, saudando-o, observou aquele rosto em que instintivamente se predispusera a confiar e que atraa a sua ateno. Tinha todas as caractersticas do rosto duro dos cavaleiros do rancho - as feies secas, o queimado do sol e a estranha imutabilidade que derivava de anos de silncio e solido. Mas no foi o seu rosto que a reteve; foi a intensidade do seu olhar, um cansao vazio, como se o homem procurasse desde h muito algo que nunca iria encontrar.- Jane Withersteen, minha senhora? - perguntou.- Sim - respondeu ela.- Posso dar de beber ao meu cavalo?- Claro. O bebedouro ali.- Mas, talvez, se soubesse quem eu sou...- Estrangeiro, no interessa quem sois. D de beber ao seu cavalo. E, se tiver fome, venha at minha casa.- Obrigado, minha senhora. No posso aceitar por mim... mas pelo meu cavalo cansado...O rudo de cascos interrompeu o cavaleiro. Outros movimentos da parte dos homens de Tull romperam o pequeno crculo, expondo o prisioneiro Venters.- Parece-me que interrompi algo... por alguns momentos, talvez? - perguntou o cavaleiro.- Sim - respondeu Jane Withersteen. Sentiu o tremendo poder dos olhos dele; depois viu-o olhar para Venters e para os homens que o agarravam e, finalmente, para o seu lder.- Nesta regio, todos os saqueadores, ladres, assassinos, pistoleiros e os homens que no so bons so, por estranha coincidncia, gentios. Minha senhora, a qual destas miserveis classes pertence este rapaz?- A nenhuma delas. Ele um rapaz honesto.- Ento, que que ele fez para estar assim amarrado?- Pergunte-lhe - retorquiu Jane, falando em voz alta. O cavaleiro afastou-se dela.- Ento, rapaz, fala - disse dirigindo-se a Venters.- Oua l, forasteiro, isto no nada da sua conta - comeou Tull a dizer. - D de beber ao seu cavalo e siga o seu caminho.- Calma, calma. Eu ainda no estou a interferir - replicou o cavaleiro. O tom da sua voz era frio, seco e mordaz. - Esbarrei apenas com uma estranha questo. Sete mrmones, todos armados, um gentio amarrado com uma corda e uma mulher que afiana a sua honestidade! Esquisito, no ?- Esquisito ou no, no nada da sua conta - repetiu Tull.- No stio onde fui educado, a palavra de uma mulher era lei. Ainda no cresci o suficiente para me esquecer disso.Tull espumava.- Intruso, aqui temos uma lei um pouco diferente e que no obedece aos caprichos de uma mulher... a lei mrmon! Tomai cuidado para no a transgredir.- Para o diabo com a vossa lei mrmon!Tull engasgou-se e recuou cambaleando. O homem, Jerry, que segurava os cavalos, deixou cair as rdeas e ps-se atrs dele. Os outros, tal como postes, tomaram posies, de braos pendendo rigidamente, olhar atento, todos espera.- Fala agora, jovem. Que que fizeste para estares amarrado desta maneira?- Isto um autntico ultraje! - explodiu Venters. - Nada fiz de errado. Ofendi este ancio mrmon por ser amigo desta mulher.- Minha senhora, verdade o que ele diz?- Verdade? Sim. Completamente verdade - respondeu Jane.- Bem, meu jovem, parece-me a mim que ser amigo desta mulher algo que tu no quererias evitar e que de qualquer modo no poderias. Que que eles tencionam fazer contigo?- Tencionam chicotear-me. Sabe o que isso significa em Ut?- Imagino - replicou lentamente o cavaleiro.A tenso do momento adensou-se. Tull quebrou o feitio com uma gargalhada, uma gargalhada sem alegria, uma gargalhada que era apenas um som para esconder o medo.- Venham, homens! - gritou.Jane Withersteen voltou-se de novo para o cavaleiro.- Estrangeiro, podeis fazer alguma coisa para salvar Venters?- Minha senhora, est a pedir-me que o salve... da sua prpria gente?- A pedir-lhe? Eu imploro-lho!- Estes so mrmones e eu...- Por qualquer preo... salve-o. Eu gosto dele! Tull rosnou:- Sua louca apaixonada! Conta os teus segredos. H-de haver uma maneira de te ensinar o que nunca aprendeste. Vamos, homens, vamos embora daqui!- Mrmon, o rapaz fica - disse o cavaleiro.- Quem que o retm? Ele meu prisioneiro! - gritou Tull acaloradamente. - Forasteiro, torno a dizer... no se intrometa. J se meteu o suficiente. Siga o seu caminho agora ou...- Escutem! Ele fica. - A voz do cavaleiro denotava certeza absoluta.- Quem voc? Ns somos sete.O cavaleiro deixou cair para trs o seu chapu e fez um rpido movimento, movimento esse que o deixou ligeiramente inclinado, de braos curvados e hirtos, com os coldres negros balouando.- Lassiter! - Foi o grito de Venters que estabeleceu a inevitvel ligao entre a singular posio do cavaleiro e o temido nome.Tull estendeu uma mo trmula. Os seus olhos ensombraram-se com a nvoa tpica com que os homens vem a aproximao da morte. Mas a morte, embora pairasse sobre ele, no desceu, pois o cavaleiro esperou pelo movimento descendente da mo e pelo crispar dos dedos no gatilho, e isso no aconteceu. Tull, recompondo-se, virou-se para os cavalos e esperou pelos seus plidos camaradas.CAPTULO IICOTTONWOODSVenters parecia estar demasiadamente comovido para poder expressar a gratido que a sua face espelhava. Jane virou-se para o salvador e agarrou-lhe com fora nas mos. Neste momento Jane dirigiu-se para o cansado cavalo de Lassiter.- Dar-lhe-ei eu prpria de beber - disse, e conduziu o cavalo a um bebedouro que ficava debaixo de um velho arbusto de algodo. Com dedos geis, soltou a brida e retirou o freio. O cavalo resfolegou e curvou a cabea.- Ele trouxe-o de muito longe, hoje?- Sim, minha senhora, umas sessenta milhas ou talvez setenta.- Uma longa viagem... uma viagem que... Ah, ele cego!- verdade, minha senhora - replicou Lassiter.- Que que o cegou?- Certa vez uns homens ataram-no com uma corda e depois aproximaram um ferro em brasa dos seus olhos.- Oh! Homens? Diabos era o que eles eram! Os seus inimigos eram mrmones?- Sim, minha senhora.- Vingarem-se num cavalo! Lassiter, os homens do meu credo so estranhamente cruis. Eles foram escorraados, odiados e flagelados at que os seus coraes endureceram. Mas ns, mulheres, esperamos e rezamos para que chegue depressa o momento em que os nossos homens se tornem bons.- Com o seu perdo, minha senhora, esse momento nunca vir.- Oh, chegar, sim! Lassiter, pensa que as mulheres mrmones so cruis?- No. Eu acho que as mulheres mrmones so as melhores, as mais nobres, aquelas que mais tm sofrido e as mais cegamente infelizes mulheres da Terra.- Ah! Ento partilhar do meu po?Lassiter respondeu:- Suponho que a bondade do seu corao no a deixe ver as coisas claramente. Talvez eu no seja muito conhecido nestas paragens, mas no Norte existem mrmones que se levantariam das campas ideia de que a senhora se sentaria mesma mesa que eu.- Talvez. Mas... f-lo-? - perguntou Jane. - No tenho nenhum parente em Ut. No existe ningum com direitos a pr em causa os meus actos. - Voltou-se sorrindo para Venters. - Entra, Bern, Lassiter entrar tambm. Comeremos e seremos felizes enquanto pudermos.Ela mostrou o caminho, com as rdeas do cavalo de Lassiter por cima do brao. Entraram por um pequeno bosque e caminharam por um largo atalho ladeado por grandes arbustos de ramos baixos. A relva era espessa e verde, proporcionando um agradvel contraste aos olhos cansados da paisagem da salva.A casa de Jane Withersteen ficava no meio de um crculo de arbustos de algodo e compunha-se de uma estrutura em pedra vermelha comprida e baixa com um ptio coberto, pelo centro do qual corria um curso vivo de gua ambarina.Jane soltou o cavalo de Lassiter na espessa relva. Ao seu chamado apareceram vrias mulheres que comearam a andar apressadamente de um lado para o outro preparando a mesa. Depois Jane, pedindo desculpa, entrou em casa.Passou por uma ampla sala de tecto baixo, que parecia o interior de um forte, para uma saleta, na qual ardia um belo e brilhante fogo no centro de uma lareira aberta. Daqui passou para o seu prprio quarto.Raras eram as vezes em que Jane Withersteen entrava no seu quarto sem olhar para o espelho. Sabia que amava o reflexo daquela beleza que nunca, desde a infncia, a deixaram esquecer. Os seus parentes e amigos e mais tarde hordas de pretendentes, quer mrmones, quer gentios, atearam a chama da sua natural vaidade. Assim, j com vinte e oito anos, poucas vezes pensava na sua maravilhosa influncia para o bem que exercia naquela pequena comunidade onde seu pai a deixara e da qual era praticamente senhoria; mas ligava muita importncia ao encanto, sonho e firmeza da sua beleza.Desta vez, contudo, ela mirou o espelho com um olhar que exprimia algo mais que o seu alegre motivo habitual, sem o seu sorriso confiante e ligeiro. Pois Jane perguntava a si prpria se deveria parecer bonita aos olhos daquele Lassiter, aquele homem cujo nome cruzara as longas e selvagens plancies de salva e emaranhados de pedras, aquele homem de voz gentil e rosto triste que odiava os Mrmones. Apressou-se a trocar o seu fato de montar por um vestido branco, e depois observou longamente a calma figura de graciosos contornos, o rosto franco com o seu queixo firme e lbios cheios, os olhos azul-escuros, orgulhosos e apaixonantes.Se, seja por que meio for, eu o conseguir manter aqui durante alguns dias ou uma semana, ele nunca voltar a matar outro mrmon, disse Jane para consigo.Jane Withersteen foi juntar-se aos seus hspedes e convidou-os para a sua mesa. Dispensando a criada, ela prpria os serviu. sua direita sentou o esfarrapado e esfomeado Venters; e embora at uns olhos cegos pudessem ter visto o que ele representava na felicidade de Jane, ele tinha o aspecto sombrio do proscrito em que a sua lealdade o tornara e sobre ele pairava a sombra da runa pressagiada por Tull. sua esquerda sentou o homem vestido de negro, que mais parecia estar a viver um sonho. No tinha fome, e a calma e a vontade de falar no o habitavam. Quando se voltava em frequentes e nervosos movimentos, as suas pesadas armas, que no tirara, batiam de encontro s pernas da mesa.Jane Withersteen conversou, sorriu e riu com todo aquele espantoso jogo de lbios de que uma mulher atraente e ousada capaz quando quer atingir algum objectivo. Quando a refeio terminou e os homens puxaram para trs as suas cadeiras, ela aproximou o seu rosto do de Lassiter e, olhando-o fixamente nos olhos, perguntou:- Que que o trouxe a Cottonwoods?- Minha senhora, andei pelos estados de Ut e de Nevada procurando algo. E atravs do seu nome soube onde o encontrar... aqui, em Cottonwoods.- Do meu nome! Bem, diga-me, onde que o ouviu e quem que lhe falou nele?- Na pequena aldeia de Glaze, acho que assim que se chama, a umas cinquenta milhas a oeste daqui. E ouvi-o da boca de um gentio, um cavaleiro que disse que a senhora saberia dizer-me onde encontrar o tmulo de Milly Erne.Venters rodou na cadeira para observar com espanto Lassiter, e Jane levantou-se lentamente, ainda absorvida pelo espanto.- O tmulo de Milly Erne? - repetiu num murmrio. - Que que sabe de Milly Erne, a minha melhor amiga, que morreu nos meus braos? Que que lhe era?- Eu disse que lhe era alguma coisa? - perguntou ele. - Conheo pessoas, uns parentes, que desde h muito esto espera de saber onde ela est sepultada. tudo.- Parentes? Ela nunca me falou de quaisquer parentes, excepto de um irmo que foi morto a tiro no Texas. Lassiter, o tmulo de Milly Erne est num cemitrio secreto na minha propriedade.- Levar-me- l?- Com certeza. Mas temos de ir sem ser vistos. Talvez amanh.- Obrigado, Jane Withersteen - retorquiu o cavaleiro, e, fazendo uma vnia a Jane, fez meno de retirar-se do ptio.- No vai ficar sob o meu tecto? - perguntou ela.- No, minha senhora, e, mais uma vez, obrigado. Nunca durmo dentro de portas. E, mesmo se o fizesse, existe aquela tempestade que se est a formar na vila l em baixo. No, no. Irei para a salva. Espero que no venha a sofrer nada por causa da sua bondade para comigo. Boa noite.Ao assobio surdo de Lassiter, o cavalo negro relinchou e, cuidadosamente, veio tacteando o seu caminho at junto dele. O cavaleiro no lhe ps os arreios, limitando-se a caminhar atrs dele, indicando-lhe o caminho com a mo. Juntos entraram lentamente na sombra dos arbustos de algodo.- Jane, tenho de me ir embora - disse Venters. - D-me as minhas armas. Se eu tivesse os meus revlveres...- Ou tu ou o Ancio da minha igreja estariam mortos - interrompeu Jane.- Certamente que seria Tull.- Oh, que juventude impulsiva e selvagem! Bem, algo de divino perdoarmos aos nossos inimigos. No deixes que o Sol se ponha atrs da tua ira.- Ora! No me fales mais de religio ou de piedade depois do que se passou hoje. D-me as minhas armas.Silenciosamente, ela dirigiu-se para dentro de casa e voltou com um pesado cinto, do qual pendiam dois coldres com revlveres e uma espingarda; entregou-lhas, e enquanto ele punha o cinto, ela ficou de p sua frente num eloquente silncio.- Jane - disse ele numa voz suave -, no fiques assim. Eu no vou assassinar o vosso Ancio. Tentarei evit-lo, a ele e aos seus homens. Mas no compreendes que atingi o fim da minha corda? Jane, tu s uma mulher maravilhosa. Mas s vez as coisas num sentido. Escuta!De trs do bosque chegavam-lhes os rudos tpicos de cavalos animados num rpido trote.- Alguns dos teus cavaleiros - disse. E prosseguiu: - Est a chegar a altura de entrar o turno da noite. Vamos para o banco no bosque e conversaremos l.Debaixo de cu aberto era ainda dia, mas debaixo das prolongadas sombras dos arbustos de algodo estava j escuro. Venters conduziu Jane por um atalho ladeado de arbustos, apenas suficientemente largo para que os dois pudessem caminhar lado a lado, e fazendo um crculo levou-a para longe da casa, para um pequeno monte na orla do bosque. Aqui, num recanto isolado, ficava um banco, do qual, atravs de uma abertura nos topos das rvores, se podia ver a encosta da salva, as muralhas de rochas e as sombrias linhas dos canyons.Durante todo o caminho, Jane agarrou-se ao brao dele e, quando Venters parou e encostou a espingarda ao banco, ela assim continuou.- Jane, receio ter de deixar-te. A minha posio no boa, no posso sentir-me bem, perdi tudo...- Eu dar-te-ei tudo o que tu...- Escuta, por favor. Quando digo perder, no me estou a referir ao que pensas. Refiro-me, sim, perda do meu bom nome, da boa vontade... isso que me teria impedido de refazer a minha vida nesta vila sem amargura. Bem, muito tarde. Acho que o melhor que tens a fazer desistir de mim. Tull implacvel. Deverias sab-lo depois da sua inteno de hoje, mas tu no podes compreender. Bem, receio que uma mo invisvel faa o seu trabalho para a tua runa.- Uma mo invisvel? Bern!- Refiro-me ao vosso Bispo. - Venters dissera-o deliberadamente e no a deixaria mudar de conversa, embora ela se sobressaltasse. - Ele a lei. Foi publicado o dito para me arruinar. Bem, olha para mim! Ser agora editado outro para te submeter vontade da igreja.- No ests a ser justo para com o Bispo Dyer. Tull cruel, eu sei. Mas h anos que ele est apaixonado por mim.- Oh, tu no s capaz de compreender o que eu sei, e, se fosses capaz de o compreender, no o admitirias para salvar a tua vida. Estes ancios e bispos faro absolutamente qualquer coisa para continuarem a aumentar o poderio e a riqueza da sua igreja, do seu imprio. Pensa no que eles fizeram aqui aos gentios, a mim, pensa no destino de Milly Erne!- Olha! Um cavaleiro! - exclamou Jane, rompendo o silncio. - Ser Lassiter?Venters dirigiu mais uma vez o seu olhar para oeste. Um cavaleiro destacava-se da linha do horizonte para entrar depois na cor da salva.- Pode ser. Mas acho que no, aquele sujeito est a entrar. mais provvel que seja um dos teus cavaleiros. Sim, vejo-o agora claramente. E ali est mais um.- Tambm os estou a ver.- Jane, os teus cavaleiros parecem ser tantos como os arbustos de salva. Ontem encontrei cinco perto da trilha para o desfiladeiro da Decepo. Estavam com a manada branca.- Ainda continuas a ir quele canyon? Bem, gostaria que no fosses. Oldring e o seu bando de ladres tm o seu esconderijo para aqueles lados. Tull j fez insinuaes a respeito das tuas frequentes viagens ao desfiladeiro da Decepo.- Bem sei. - Venters deu uma curta gargalhada. - A seguir far de mim um ladro. Mas, Jane, ao sair daqui no h mais gua durante cinquenta milhas, e a mais prxima no Canyon. Tenho de beber e de dar de beber ao meu cavalo. Olha! Vejo mais cavaleiros. Vo a sair.- A manada vermelha est na encosta, na direco do desfiladeiro.O crepsculo caa rapidamente. Um grupo de cavaleiros cruzou a linha escura do solo baixo para se tornarem mais distintos medida que subiam a encosta. O silncio foi quebrado por um agudo chamado de um dos cavaleiros que ia a entrar, e, parecendo o toque de uma corneta de caa, ouviu-se a resposta. Os cavaleiros que saam moviam-se rapidamente e tornaram-se visveis ao atingirem o cume, mostrndo-se selvagens e negros por cima do horizonte, para depois descerem, desaparecendo na cor prpura da salva.- Espero que no encontrem Lassiter - disse Jane.- Eu tambm - replicou Venters.- Bem, quem Lassiter? Ele para mim apenas um nome... um nome terrvel.- Quem ele? No sei, Jane. Nunca ningum que eu conhecesse o conhece. Ele tem um pouco de pronncia do Texas, como a MillyErne. Reparaste?- Reparei. Como estranho ele ter ouvido falar nela. E ela viveu aqui dez anos e j morreu h dois. Bem, que que sabes sobre Lassiter?- Jane, eu apenas ouo coisas, boatos, histrias na maior parte das quais no acredito. Em Sterling e nalgumas vilas a norte da, h quem diga que ele aterrou esta ou aquela vila mrmon, e outros negam-no. Mas existe uma caracterstica de Lassiter sobre a qual esto todos de acordo, que ele um pistoleiro. um homem com uma extraordinria e maravilhosa rapidez e exactido no uso de um colt.- E agora que o vi ainda tenho mais essa convico. Lassiter nasceu sem medo. Nunca esquecerei o momento em que o reconheci, a partir daquilo que me contaram sobre ele, sobre a sua posio inclinada durante o saque. Foi ento que gritei o seu nome. Penso que esse grito salvou a vida de Tull.O plido resplendor crepuscular a oeste escureceu com o cair da noite. A salva estendia-se agora negra e sombria. Uma plida estrela luzia no cu de sudoeste. O som dos cavalos a trote cessara e o silncio era apenas quebrado pelo fraco e surdo marulhar das folhas dos arbustos agitadas pelo suave vento da noite.No meio desta paz e calmaria rompeu subitamente o grito agudo de um coiote, e de longe, da escurido, chegou a resposta dbil do companheiro.- Viva! Os ces da salva ladram - disse Venters.- No gosto de os ouvir - replicou Jane. - noite, por vezes, quando fico acordada na cama ouvindo os longos lamentos, o ladrar entrecortado ou o uivo selvagem, penso em ti adormecido algures na salva e o corao di-me.- Jane, no poderias escutar msica mais suave, nem eu poderia ter melhor cama.- Pensa nisto! Homens como Lassiter e tu prprio no tm lar, nem conforto, nem descanso ou um local onde pousarem as vossas fatigadas cabeas. Bem! Vamos ser pacientes. A clera de Tull pode acalmar e o tempo pode ajudar-nos. Podes fazer alguns servios na vila... quem sabe? Supe que descobres o to longamente desconhecido esconderijo de Oldring e do seu bando e que contas aos meus cavaleiros?Sabes to bem quanto eu o que nos custou arranjar as nossas pastagens nesta regio bravia. Oldring conduz o nosso gado l para baixo para aquela rede de canyons e depois leva-o para os mercados de Ut. Se tens de passar no desfiladeiro da Decepo, tenta encontrar os trilhos.- Jane, j pensei nisso. Tentarei.- Tenho de ir agora. E di-me no poder ter a certeza de te tornar a ver. Mas amanh, Bern?- Amanh, claro. Esperarei por Lassiter e irei com ele.- Boa noite. - Ela deixou-o e afastou-se, uma sombra branca e deslizante que cedo desapareceu nas sombras.Venters esperou at ouvir o bater da porta que lhe assegurava que Jane chegara em segurana a casa; e s depois, pegando na sua espingarda, deslizou, sem barulho, atravs dos arbustos em direco ao pequeno monte e junto s negras rvores em direco orla do bosque. O cu estava agora a passar de cinzento para azul-escuro; as estrelas comeavam a iluminar a anterior negritude; da vasta extenso de terras que se estendia sua frente, soprava um vento frio misturado com a respirao da salva.Mantendo-se junto orla do bosque, Venters dirigiu-se rpida e silenciosamente para oeste. O bosque era comprido, e ainda no atingira o seu termo quando ouviu qualquer coisa que o levou a deter-se. Rudos abafados disseram-lhe que vinham cavalos na sua direco. Ele afundou-se na escurido, esperando e escutando. Cavaleiros avanavam ao longo da orla da salva, e, instantaneamente, Venters soube que os cascos dos cavalos estavam envolvidos em pano.Em seguida a plida luz das estrelas proporcionou-lhe uma viso indistinta dos cavaleiros. Mas os seus olhos eram perspicazes e estavam habituados escurido, aproximando-se um pouco mais, Bern reconheceu o rosto grande, bruto e barbado de Oldring e a figura gil e servil do lugar-tenente do bandido, um cavaleiro mascarado, passaram adiante; a escurido engoliu-os. Depois, mais alm na salva aberta, um corpo de cavaleiros escuro e compacto avanava, quase sem som, quase como espectros, e tambm eles se misturaram na noite.CAPTULO IIIAMBER SPRINGVenters, coberto pela sombra dos arbustos de algodo, pensava neste encontro do acaso e vrias foram as vezes em que considerou seguro ir atrs deles. Depois, respondendo a um sbito impulso, enveredou por outro caminho e voltou para trs ao longo do bosque. Quando alcanou o atalho, resolveu descer at vila. Depois de ter deixado para trs o pequeno bosque entrou na nica rua da vila. Era larga e ladeada por choupos.Por entre as rvores tremeluziam as chamas das velas das casas, e mais alm brilhavam as luminosas janelas dos armazns da cidade. Quando Venters se aproximou delas viu alguns agrupamentos de homens em animada conversa. Mantendo-se na sombra, Venters aproximou-se at poder ouvir as vozes. Reconheceu vrios mrmones, e procurou em vo Tull e os seus homens. Concluiu, pois, que os ladres no passaram pela rua da aldeia. Sem dvida estes homens sinceros estavam a discutir a chegada de Lassiter.Vendo que havia ali pouco que aprender, comeou a voltar para trs. A igreja estava s escuras, assim como a casa do Bispo Dyer, que ficava ao lado daquela. Do mesmo modo, tambm a vivenda de Tull no estava iluminada. Por volta desta hora, era hbito haver luzes nestes locais e Venters estranhou a sua falta.Quando estava prestes a deixar a rua para contornar o pequeno bosque, novamente lhe chegou aos ouvidos o som de cascos de cavalos a trote. Divisou ento dois homens a cavalo que vinham na sua direco. Identificou a robusta figura de Tull, e, atrs dele, a figura mirrada, em forma de r, do cavaleiro Jerry. Seguiam em silncio e continuaram a cavalgar at desaparecerem.Venters seguiu o seu caminho com o crebro ocupado por pensamentos sombrios e preocupados. Passou os negros arbustos de algodo, entrou na salva e escalou a encosta. Mais frente um emaranhado de rochas erguia-se num vulto negro um pouco sua direita; virando nessa direco, Venters assobiou baixinho. Detrs das rochas saiu um co que comeou a saltar e a ganir sua volta.Subiu pelas acidentadas rochas, escolhendo cuidadosamente o caminho e depois comeou a descer. L em baixo estava mais escuro e tambm mais abrigado do vento. Um objecto branco guiou-o. Era outro co, este adormecido, enroscado entre uma sela e uma trouxa. O animal acordou e agitou a cauda saudando o dono.Venters usou a cela como almofada, desenrolou os seus cobertores e deitou-se com o rosto encarando as estrelas. O co branco enrolou-se junto dele. O outro ganiu e andou de um lado para o outro, para finalmente se sentar em guarda.Quando Venters acordou, o dia j amanhecera e o ar tinha uma fria aragem. Levantando-se, espreguiou-se para distender o seu corpo entorpecido e em seguida, reunindo alguns ramos de salva seca, acendeu uma pequena fogueira. Umas tiras de carne seca assadas ao lume alimentaram-no, assim como aos ces.,Bebeu de um cantil e sentou-se junto ao fogo de mos estendidas e esperou. E enquanto esperava falava com Ring e Whitie. Eram ces pastores, meio colhe, meio galgo escocs, de uma compleio soberba e perfeitamente treinados.A seguir Venters enrolou os cobertores e atou-os juntamente com a sua pequena trouxa e depois veio c fora procurar o seu cavalo. Viu-o um pouco afastado na salva e foi busc-lo.Depois, de costas encostadas a uma pedra, Venters olhou para este e, de lmina na mo, esperou. Finalmente, viu um cavalo aparecer no cume de um monte e sabia que era o cavalo negro de Lassiter. Subindo rocha mais alta, de modo a ficar bem vista de encontro linha do cu, esticou-se e acenou com o chapu. A curva quase instantnea do cavalo de Lassiter demonstrava bem quo perspicaz era a vista do cavaleiro. Venters desceu da rocha, selou o seu cavalo, amarrou a trouxa e decidiu esperar por Lassiter ali em terreno alto de onde podia ver tudo.J h muito que Venters no sabia o que era a amizade de um homem. E, quando sentiu o forte aperto da mo de ferro que agarrava a sua e encarou aqueles olhos cinzentos, soube que ele e Lassiter iam ser amigos.- Venters, vamos conversar um pouco antes de irmos l abaixo - disse Lassiter largando as rdeas. - No tenho pressa. Aconteceu alguma coisa desde que eu te deixei a noite passada?Venters contou-lhe o que se passara com os ladres.- Eu estava escondido na salva - replicou Lassiter - e no vi nem ouvi ningum. Supondo que Oldring tem actuado muito por aqui. - Lassiter ficou em silncio durante um momento. - Eu e Oldring no ramos propriamente estranhos h uns anos atrs quando ele conduzia o gado para Bostil's Ford na nascente do rio Virgin. Mas ele foi perseguido a e agora vai para outro lado.- Lassiter, tu conheceste-o? Diz-me, ele mrmon ou gentio?- No to sei dizer. Tenho conhecido mrmones que fingem ser gentios.- uma dura regio para qualquer um, mas principalmente para gentios. Eu quero sair de Ut. Tenho a minha me em Ilinis. Quero ir para casa. J l vo oito anos.A simpatia do homem mais velho levou Venters a contar a sua histria. Deixara Quincy, fugira para procurar fortuna nas regies do ouro, mas nunca fora alm de Salt Lake City. Vagueara por aqui e por ali, como ajudante, condutor de juntas de animais, pastor e depois navegara para sul por gua, atravessara baldios e alcanara o acidentado planalto atravs de desfiladeiros em direco s ltimas comunidades junto fronteira. Aqui, tornara-se cavaleiro da salva, conseguira algo de seu e prosperara durante algum tempo, at o acaso o ter lanado para o emprego no rancho de Jane Withersteen.- Lassiter, no preciso de te contar o resto.- Bem, isso no seria novidade para mim. Eu conheo os Mrmones. Nenhum homem se pode erguer contra eles a no ser pela fora das armas. E isto porque os Mrmones so lentos a matar. Venters, ouve o que te digo, estes Mrmones no esto no seu juzo perfeito. De outro modo como que eles podem casar com uma mulher, tendo j uma esposa, e considerar isto um dever?- Lassiter, pensas como eu - retorquiu Venters.- Ento como que se explica que nunca tenhas pegado numa arma contra Tull ou contra um dos outros? - perguntou o cavaleiro com curiosidade.- Jane pediu-me, implorou-me, para ser paciente, para no ligar. At ficou com as minhas armas. Perdi tudo antes de me dar conta disso - replicou Venters com o rosto vermelho. - Mas, Lassiter, escuta, do naufrgio consegui salvar dois Colts, uma Winchester e muitos cartuchos. Levei estas armas para o desfiladeiro da Decepo e l, durante quase seis meses, tenho treinado com a minha espingarda at o cano me queimar as mos. Pratiquei o saque, o disparar do Colt horas a fio!- Isso interessa-me - disse Lassiter, levantando rapidamente a cabea e concentrando o seu olhar cinzento em Venters. - Sabias disparar antes desse treino?- Sim, e agora - Venters fez um movimento rpido como um relmpago.Lassiter sorriu e depois as suas plpebras bronzeadas cerraram-se at os seus olhos parecerem apenas umas pequenas fendas cinzentas.- Matars Tull!- Prometi a Jane que tentaria evitar Tull. Manterei a minha palavra. Mas, mais tarde ou mais cedo encontrar-nos-emos. E o que sinto neste momento que bastar v-lo olhar para mim para sacar o meu revlver!- Imagino. Nessa altura ser o inferno l em baixo. - Fez uma breve pausa. - Venters, visto que j ests por aqui h bastante tempo, s capaz de me contar a histria de Milly Erne?- Bem, Lassiter, vou contar-te o que sei. Milly Erne j estava h anos em Cottonwoods quando eu c cheguei e a maior parte das coisas que te vou contar aconteceram antes de eu chegar. Conheci-a bastante bem. Era extremamente magra e um pouco louca no que dizia respeito a religio. Formei uma ideia acerca dela que nunca mencionei, pensava que ela de corao era mais gentio que mrmon. Mas passava por mrmon e sem dvida que possua os lbios cerrados das mulheres. mrmones.Quando veio para Cottonwoods tinha uma filhinha que amava apaixonadamente. Milly no era abertamente considerada em Cottonwoods como uma esposa mrmon. Bem, o que quer que fosse que trouxe Milly Erne at essa regio - amor ou fanatismo religioso-, ela arrependeu-se de ter vindo. Desistiu de ensinar na escola da vila. Deixou a igreja. E comeou a lutar contra a educao mrmon que queriam dar sua filha.Depois os Mrmones foram apertando o cerco, lentamente como seu hbito, e por fim a criana desapareceu. Perdida, foi o que constou do relatrio. A criana foi raptada, eu sei isso. Isso acabou com Milly Erne. Mas ela empenhou a sua vida, o seu corao e a sua alma para reaver a criana. Nunca mais tornou a ouvir falar dela. Depois foi definhando, estou a v-la, uma coisa frgil, irreal, to transparente que quase se podia ver atravs dela branca como cinzas-, e os seus olhos! Ela tinha uma verdadeira amiga, Jane Withersteen. Mas Jane no pde remendar um corao despedaado, e Milly morreu.- O homem! - exclamou Lassiter em voz rouca.- No fao a mais pequena ideia de quem foi o mrmon - replicou Venters-, assim como qualquer outro gentio em Cottonwoods.- Jane Withersteen sabe?- Sim. Mas nada deste mundo seria capaz de a fazer revelar esse nome!Sem mais conversas, Lassiter comeou a cavalgar, encaminhando o seu cavalo, e Venters seguiu-o com os seus ces. A cerca de meia milha de descida da encosta entraram num luxuriante bosque de salgueiros e logo desembocaram num espao aberto atapetado com uma relva to espessa e verde que mais parecia veludo. O correr da gua e o canto dos pssaros inundou-lhes os ouvidos. Venters conduziu o seu companheiro para um caramancho e mostrou-lhe Amber Spring. Era uma magnfica nascente de gua clara e ambarina jorrando de um buraco ladeado de pedras negras. Lassiter ajoelhou-se e bebeu, fazendo uma pausa para tornar a beber.A nascente corria em frente numa torrente marulhante e saltitava alegremente abrindo caminho ao longo de um canal orlado de salgueiros. Em baixo ficavam lagos artificiais, trs, um por cima do outro em bancos construdos de terra, e sua volta num plano mais elevado erguiam-se os troncos majestosos cobertos de folhas de um verde-escuro dos lamos.Depois, descendo a encosta, mesmo por baixo do terceiro e maior lago, ficavam cercados e um grande celeiro de pedra, telheiros, capoeiras e currais. Cavalos relinchantes batiam com os cascos de encontro s vedaes dos cercados. E pelas pequenas janelas do celeiro saam cabeas de cavalos baios, negros e cor de fogo que balanavam. Quando os dois homens entraram no enorme ptio do celeiro, houve vrios homens e rapazes que desapareceram.Venters e Lassiter dirigiam-se para a casa quando Jane apareceu montando um cavalo". Sorria, e a sua saudao foi calorosa e cordial.- Boas notcias - anunciou. - Estive na vila. Est tudo calmo. Esperava... no sei bem o qu, mas o que interessa que no h excitao. E Tull saiu da vila em direco a Glaze.- Tull foi-se embora? - perguntou Venters com surpresa.- Foi sim, graas a Deus - replicou Jane. - Agora teremos paz durante algum tempo. Lassiter, quero que veja os meus cavalos. Como cavaleiro deve ser um bom juiz de cavalos. Alguns dos meus tm sangue rabe.- Bem, minha senhora, o que monta prendeu-me a ateno - disse Lassiter enquanto dava uma volta em torno do magnfico ruo de membros esguios e canelas finas.- Onde que esto os rapazes? - perguntou Jane olhando em redor. - Jerd, Paul, onde que esto? Venham c, tragam os cavalos c para fora.O som da barra a cair era sinal para os cavalos comearem a sacudir as cabeas nas janelas, a resfolegar e a patear. Depois saram, andando pesadamente atravs da porta, uma fila de puros-sangues, para depois mergulharem no ptio do celeiro de caudas e cabeas levantadas e crinas ao vento.- Venham c, venham, venham - chamou Jane estendendo as mos.Apenas dois vieram at ela; aqueles a que quem Jane chamava Night e Black Star. O primeiro era de um negro-plido, o outro de26um negro reluzente, sendo perfeitamente iguais em tamanho, ambos altos e de longos corpos, com pernas flexveis e poderosas.- Nunca vi nenhuns que se lhes igualassem - foi o elogio de Lassiter -, e j vi um sem nmero deles, pode crer. Agora, minha senhora, se estava com vontade de cavalgar longa e velozmente atravs da salva, digamos, se quiser fugir da casa paterna...- Cuidado, Lassiter. Posso considerar isso uma proposta de fuga- replicou Jane alegremente. - perigoso propor uma fuga a uma mulher mrmon. Bem, estava sua espera. Esta uma boa hora para visitarmos o tmulo de Milly Erne. Os cavaleiros de dia j partiram e os do turno da noite ainda no entraram. Bem, que que achas?- Bem, no costume o turno da noite estar fora at to tarde- respondeu Venters lentamente.- Recuso-me a acreditar em sarilhos. Venham - disse Jane. Montaram os seus cavalos e, com Jane frente, cavalgaram em direco ao relvado e, enveredando por um trilho de gado, prosseguiram para oeste. Os ces de Venters trotavam atrs deles. Passado pouco tempo, Jane abandonou o trilho e cavalgou em direco salva. Nesse momento, desmontou e largou as rdeas. Os homens fizeram o mesmo. Em seguida, a p, seguiram-na, desembocando finalmente na orla de um pequeno talude. Jane passou por diversos pequenos montculos de terra e deteve-se em frente de uma campa que mal se notava.- aqui! - Ela parecia triste ao dizer estas palavras, mas no deu qualquer explicao para o esquecimento a que estava votada aquela abandonada sepultura sem qualquer coisa que a assinalasse. - Apenas venho aqui para recordar e orar - disse ela. - Mas no deixo rasto!Uma sepultura na salva! Quo solitrio era o lugar de descanso de Milly Erne! Os arbustos de algodo ou os campos de luzerna no se viam, nem existia qualquer rocha, elevao ou cedro para quebrar a monotonia. Encostas cinzentas, estreis e selvagens, com o vento ondulando a salva, estendiam-se ininterruptamente at ao horizonte.Lassiter olhou para a campa e depois para o espao. Nesse momento parecia uma figura de bronze.Jane tocou no brao de Venters e levou-o para junto dos cavalos.- Bern! - exclamou, quando a sua voz j estava fora do alcance de Lassiter. - Supe que Lassiter era o marido de Milly, o pai daquela pequenina que se perdeu h tanto tempo!- Pode ser, Jane. Vamos embora. Se ele quiser ver-nos outra vez, vir ter connosco.Assim, montaram e cavalgaram em direco ao trilho de gado e comearam a subi-lo. Do alto do monte, Venters olhou para trs.27No viu Lassiter, mas o seu olhar arrastou-se irresistivelmente mais para a encosta e vislumbrou uma nuvem de poeira em movimento.- Olha, um cavaleiro!- Sim, estou a ver - disse Jane.- Aquele sujeito vai com pressa, Jane. Passa-se alguma coisa.- Oh, sim! Sem dvida! Olha como ele corre!O cavalo desapareceu na salva, e depois nuvens de poeira marcaram o seu percurso.- Ele tomou um atalho, vai directamente para os cercados. Venters e Jane fizeram galopar os seus cavalos em direco aospastos. Subitamente, aparecendo como um relmpago pela entrada mais baixa, surgiu um cavalo baio.- Judkins, o teu cavaleiro gentio!.- gritou Venters. - Jane, quando Judkins galopa daquela maneira, isso significa o inferno!28CAPTULO IVDESFILADEIRO DA DECEPOO cavaleiro irrompeu como um relmpago e quase fez que o seu cavalo coberto de espuma parasse subitamente. Era um gigante de olhos destemidos.- Judkins, todo tu s sangue! - gritou Jane.- No nada de especial, Miss Whithersteen. Apanhei um estilhao num ombro.- Que que se passou? - interrogou Venters bruscamente.- Ladres, puseram-se a mexer com a manada vermelha.- Onde que esto os meus cavaleiros? - perguntou Jane.- Miss Withersteen, estive toda a noite sozinho com o rebanho. Esta manh de madrugada chegaram os ladres. Comearam a disparar contra mim. Perseguiram-me at longe sempre a disparar, mas consegui fugir.- Jud, eles tencionavam matar-te - declarou Venters.- Talvez - retorquiu Judkins. - Eles perseguiram-me arduamente. No natural que ladres de gado percam tempo a perseguir um cavaleiro.- Graas a Deus, conseguiste escapar - disse Jane. - Mas onde que esto os meus cavaleiros?- No sei. Os cavaleiros da noite no estavam l quando eu cheguei e esta manh no encontrei cavaleiros do turno de dia.- Judkins! Bem, eles foram atacados e mortos pelos homens de Oldring!- Suponho que no - retorquiu Venters. - Jane, os teus cavaleiros no foram para a salva.- Bem, esperaremos para saber o que aconteceu aos meus cavaleiros. Judkins, vem comigo at casa, a tua ferida precisa de ser tratada.- Jane, eu descobrirei para onde Oldring leva a manada - jurou Venters. - Jud, quantas cabeas existiam naquela manada?29- Duas mil e quinhentas cabeas.- Uau! Que que Oldring vai poder fazer com tanto gado? Ora, cem cabeas j um grande roubo! Tenho de descobrir.- Bern, precisas de um cavalo que saiba correr. Miss Withersteen, se no for pretenso minha dar-lhe um conselho, d-lhe um cavalo veloz ou no o deixe ir.- Claro, claro, Judkins. Ele tem de montar um cavalo que no possa ser apanhado. Qual deles, Night ou Black St ar?- Jane, no levarei nenhum deles - disse Venters enfaticamente.- Wrangle, ento?- esse o cavalo - replicou Judkins. - O Wrangle ganha ao Black Star e ao Night.- Bern, pede a Jerd tudo o que necessitares. Oh, tem cuidado, est atento, Deus te proteja!Venters foi at ao celeiro e, desmontando, chamou por Jerd. O rapaz veio a correr. Venters mandou-o buscar carne, po e frutos secos para serem metidos nos sacos da sela. Largou o seu cavalo no cercado mais prximo e depois foi buscar Wrangle. Venters tinha de o laar. O cavalo deitou abaixo uma parte da vedao, empinou-se e lutou com a corda. Jerd voltou para dar uma ajuda.- O Wrangle ainda no foi suficientemente trabalhado - disse Jerd, enquanto punha a sela. - desordeiro quando est encurralado e quer correr. Espera at ele cheirar a salva!- Jerd, este cavalo um demnio de maxilares de ferro. Ainda s o montei uma vez.Quando a bota de Venters tocou o estribo, o alazo partiu, tendo o cavaleiro de o montar em voo. Galopou para fora do relvado, descendo em direco protegida orla do bosque, e deteve-se no bebedouro, onde se empinou e mordeu o freio. Venters desmontou e encheu o seu cantil enquanto o cavalo bebia. Os ces, Ring e Whitie, vieram saltando para tomar a sua bebida. Depois Venters tornou a montar e dirigiu Wrangle para a salva.Descendo, a encosta serpenteava um largo e branco trilho. Ring trotava frente e Whitie atrs. Wrangle foi-se habituando gradualmente a um galope lento e os pensamentos de Venters puderam concentrar-se numa calma recapitulao dos ltimos acontecimentos e singulares coincidncias.Havia o passeio nocturno de Tull, o qual, visto luz dos acontecimentos subsequentes, tinha um certo aspecto de alguma maquinao encoberta; havia tambm Oldring e o seu cavaleiro mascarado e os seus salteadores montando cavalos com os cascos envolvivos em panos; a notcia de que Tull sara com o seu ajudante Jerry a caminho de Glaze; o estranho desaparecimento dos cavaleiros de Jane30Withersteen; a tentativa obstinada de matar o nico gentio ainda ao seu servio; e, finalmente, o roubo da manada vermelha. Estes acontecimentos pareciam ter uma negra relao.Que pode Oldring fazer com duas mil e quinhentas cabeas de gado?, murmurou Venters para consigo. Ser mrmon? Ter-se- encontrado com Tull ontem noite? Tudo isto me parece uma negra conspirao.Wrangle fez vinte e cinco milhas em trs horas e afastou-se pouco do caminho. Depois de ter aquecido, fora autorizado a escolher o seu prprio andamento. A tarde j ia bastante avanada quando Venters descobriu o rasto da manada vermelha e encontrou o local onde estivera pastando na noite anterior. Venters descansou ento o seu cavalo e comeou a usar os olhos.A pouca distncia estava uma vaca, um vitelo e vrios bezerros e mais adiante na salva viam-se alguns novilhos. Viu tambm de relance alguns coiotes escondidos perto do gado. O olhar perspicaz e atento do cavaleiro no conseguiu encontrar outras coisas vivas dentro do seu campo de viso. Mais ao longe, naquela vasta extenso selvagem, comeava a lenta elevao de terras altas, atravs das quais o desfiladeiro da Decepo abria o seu tortuoso caminho de vrios canyons.Venters levantou as rdeas do seu cavalo e seguiu o rasto do gado. Durante algumas milhas passou por diversas vacas e vitelos que fugiram da manada. Depois deteve-se na ltima grande elevao da encosta com o vale a seus ps. A abertura do canyon mostrava-se um intervalo da salva, e o rasto do gado seguia paralelo a ele at onde a vista podia alcanar. Aquele rasto conduzia a um ponto desconhecido por onde Oldring conduzia o gado para o desfiladeiro. Venters voltou direita em ngulos rectos em relao ao rasto e dirigiu-se para a entrada do desfiladeiro.O Sol perdia o seu calor e descia em direco ao horizonte, a oeste. Quando a chegou, a luminosidade foi instantaneamente envolvida por sombras e Venters viu uma espcie de claro incandescente sua frente.Venters enveredou pelo atalho que tomava sempre para descer at ao canyon. Desmontou, mas apenas encontrou as suas pegadas feitas h alguns dias atrs. Venters conduziu o seu cavalo at ao declive no solo.Aqui o cho do vale era nivelado e abria-se num estreito abismo, um grosseiro respiradouro de paredes de pedra amarela. O atalho, que descia os quase cento e cinquenta metros de profundidade, punha sempre prova os nervos de Venters. Wrangle, enquanto Venters o guiava, resfolegava em ar de desafio, mas no de medo. De vez em quando erguia os seus poderosos cascos ferrados e deixava-os31cair, fazendo levantar pedras e areia que faziam Venters ficar enterrado at aos joelhos; era tambm difcil esquivar-se s pedras que rolavam, e havia alturas em que no podia ver Wrangle devido poeira e por uma vez ele e o cavalo escorregaram por uma salincia amarela e desgastada da rocha.Venters respirou fundo quando aquela descida acabou e sentiu uma sbita confiana de que a sua empresa iria resultar com xito.Alguns pinheiros agrupavam-se em pequenos amontoados ao longo do cho nivelado do desfiladeiro. O crepsculo pairava debaixo das paredes. Venters cavalgou pelo atalho subindo o canyon. Gradualmente as rvores, as cavernas e os objectos l em baixo iam-se tornando negros e esta negritude ia subindo as paredes at a noite envolver completamente o desfiladeiro, embora fosse ainda dia l em cima.O cu escureceu; as estrelas comearam a mostrar-se, primeiramente plidas e depois brilhantes. Alguns entalhos do rebordo do canyon, mordendo o azul do cu, eram marcos pelos quais Venters se guiava para alcanar o seu acampamento habitual. Tinha de abrir caminho atravs de um matagal de pequenos carvalhos at chegar a uma nascente onde deu de beber a Wrangle e ele prprio bebeu. Aqui, tirou a sela a Wrangle e soltou o cavalo, no receando que este deixasse a relva espessa e fresca adjacente nascente. Em seguida satisfez a fome e alimentou Ring e Whitie. E, com os ces enroscados ao p de si, ajeitou-se para dormir.Houvera tempos em que a noite na alta altitude destas terras altas do Ut era agradvel para Venters. Mas isso, fora antes de a opresso dos inimigos ter feito que as suas ideias se modificassem. Como cavaleiro guardando os rebanhos nunca pensara na solido e desolao da noite; agora, como um foragido, ao estabelecer-se o silncio absoluto, a escurido profunda e ao contemplar comboios de estrelas brilhando frias e calmas, ele sentia um aperto no corao. Durante um ano vivera, como uma raposa negra, longe dos da sua espcie. Ansiava pelo som de uma voz, o toque de uma mo. Durante o dia havia o cavalgar de um lado para o outro, a prtica de atirar ao alvo e outras tarefas que pelo menos requeriam um pouco de aco. De noite, antes de conseguir dormir, a sua alma vivia em conflito. Ansiava deixar as infindveis encostas da salva, a desolao dos canyons; e era na noite solitria que esta ansiedade se tornava insuportvel. Era nesta altura que ele se estendia para sentir Ring ou Whitie, imensamento grato pelo amor e companhia dos dois ces.Esta noite, a mesma velha solido assediava Venters, o velho hbito de se entregar a tristes pensamentos e a inquietude tomara o seu lugar. Mas destes pensamentos evoluiu uma convico de que a sua intil vida sofrera uma subtil modificao.32Sentira-o quando Wrangle o atirara para cima da alta sela, e sentia-o agora ao jazer no porto do desfiladeiro da Decepo. No sentia a emoo da aventura, e sim uma percepo sombria de grande perigo, talvez morte. Ele pretendia encontrar o esconderijo de Oldring. Os bandidos possuam cavalos velozes, mas nenhum seria capaz de apanhar Wrangle. Venters sabia tambm que nenhum bandido poderia rastejar at ele de noite enquanto Ring e Whitie o guardavam. Quanto ao resto, ele tinha olhos e ouvidos e uma espingarda, bem assim como uma pontaria certeira que ele fazia teno de utilizar. Estranhamente o seu pressgio de mudana no inclua a morte de Tull. Relacionava-se apenas com o que lhe iria acontecer no desfiladeiro da Decepo; e tambm no podia levantar o vu daquele mistrio, assim como descobrir onde levavam os rastos naquele canyon ainda no explorado. Alm disso, tambm no se importava. E, finalmente, esgotado pela tenso dos pensamentos, adormeceu. Quando os seus olhos se abriram, o dia j chegara, e ele pde ver o rebordo da parede oposta encimada pelo dourado nascer do Sol. Bastaram alguns momentos para fazer os simples deveres matinais. Encontrou Wrangle ali perto, e para seu espanto o cavalo veio ter com ele.Venters selou-o e levou-o para fora do tapete de relva e saltando, para cima dele cavalgou subindo o canyon, com Ring e Whitie trotando atrs. Um velho atalho de relva seguia o curso de uma poa pouco profunda onde corria um delgado curso de gua. O canyon tinha uns cinquenta metros de largura, as suas paredes amarelas eram perpendiculares ao solo e estava coberto de salva e de alguns carvalhos e pinheiros. Durante cinco milhas era ladeado por um corrimo de rochas relativamente baixo e depois comeava um elevamento de paredes rugosas e um aprofundamento do solo. Para alm deste ponto, Venters nunca explorara, e aqui ficava o verdadeiro porto para os labirintos do desfiladeiro da Decepo.Venters conduzia Wrangle com cuidado, detendo-se aqui e alm para escutar e depois prosseguia cautelosamente de olhar sempre alerta. O canyon assumia propores que enfezavam as das primeiras dez milhas. Venters foi avanando sempre atravs de uma escura construo do desfiladeiro que no era mais larga que o atalho do bosque de Cottonwoods. E desembocou num grande anfiteatro, para o qual confluam vrios canyons que se interceptavam e que eram encimados por enormes torrees.Ao atravessar este anfiteatro, Venters passou pelas desembocaduras de cinco canyons, passou a vau pequenos ribeiros que confluam para um maior. Alcanando a passagem que ele tomou como sendo o desfiladeiro, aventurou-se por ela sob paredes que estavam suspensas sobre a sua cabea. Esta estreita passagem desviava-se numa cur-33va muito acentuada e desembocava num vale que surpreendeu Venters.Aqui, mais uma vez, a salva que cobria uma extensa rea era ain da mais rica que nos nveis mais altos. O vale tinha vrias milhas de largura e de comprimento e era rodeado de paredes abruptas. Nomeio da salva erguiam-se estranhos emaranhados de rochas amarelas. Ele no era capaz de dizer quais as que estavam mais perto e quais as que estavam mais longe. Montculos dispersos de pedra, imitando ondulaes de montanhas, pareciam ter rolado para formarem rampas nuas e torres.Venters cavalgou ao longo da margem do ribeiro que seguia em direco ao lado ocidental das lentas elevaes de pedra. A Venters parecia-lhe que o vale fora cheio por uma montanha de rocha em fuso que teria solidificado em estranhas formas de contornos arredondados. Seguiu o ribeiro at o perder num corte profundo da rocha. Deixou a fenda escura que impedia mais pesquisas nessa direco e saiu a cavalo ao longo da salincia curva de rocha onde havia salva. No passou muito tempo at chegar a um local baixo, e aqui Wrangle subiu prontamente.Tudo por cima dele se limitava a paredes de rocha desgastadas pelo vento e pela chuva. Nem um tufo de erva ou um arbusto de salva dava um pouco de cor quele montono amarelo. Viu que, para a direita, esta irregular elevao de rochas acabava numa parede lisa. Para a esquerda, do vale que jazia a seus ps, subia uma encosta que se ia inclinando gradualmente at atingir uma grande altura encimada por despenhadeiros ngremes e fendidos.Parecia uma vertente de montanha, cintilando ao sol como granito polido, com cedros aprumando-se como que por magia sados daquela face despida. Os ventos limparam-nas de argilas e as chuvas, de poeiras. Mais acima, as belas linhas da encosta interrompiam-se para encontrarem a parede vertical e perdiam a sua graa numa ordem e cor diferentes de rocha, um obstinado amarelo de salincias e cavernas e pretensos despenhadeiros. frente de Venters deparava-se um espectculo menos grandioso, mas mais significativo para a sua vigilncia. Uma milha para alm da rocha nua comeava o vale de salva e as desembocaduras dos canyons, uma das quais era, sem dvida, mais uma porta para o desfiladeiro.Ele desmontou, e, dando as rdeas a Ring para este as segurar, comeou a procurar a fenda por onde o ribeiro corria. No obteve xito e concluiu que a gua devia passar por uma passagem subterrnea. Em seguida voltou para onde deixara Wrangle e conduziu-o para a salva.A distncia at s aberturas dos canyons no era grande. Aquele por onde Venters enveredou era uma fenda incisiva na rocha amare-34la com uns trezentos metros de profundidade, com umas maravilhosas cavernas escavadas pelo vento e, igualmente escavados nas rochas, uns parapeitos apoiados em pilares e encimados por pequenos torrees. Mais frente, Venters chegou a uma zona onde profundos recortes marcavam a linha das paredes do canyon. Eram grandes cavidades com uma densa vegetao rasteira e algumas rvores.Venters penetrou numa destas ramificaes e, tal como esperara, encontrou relva abundante. Teve de afastar os ramos de carvalho para conseguir fazer passar o seu cavalo. Decidido a fazer desta passagem o seu esconderijo, se conseguisse encontrar gua, recuou at ao limite das paredes inclinadas. Escondida por um pequeno grupo de abetos encontrou uma nascente.Deixando Whitie com o cavalo, Venters chamou Ring para o seu lado e, de espingarda na mo, abriu caminho at campo aberto. Fotografando mentalmente os contornos das ngremes paredes, assegurou-se de que seria capaz de encontrar o caminho de regresso ao seu esconderijo mesmo no escuro.Ramalhetes de salva cobriam o centro do canyon e Venters abriu caminho por entre eles. Mais frente viu uma curva mais abrupta que qualquer das outras que at a encontrara. Prudentemente contornou-a.O canyon abria-se em forma de leque num grande espao oval de elevaes verdes e cinzentas. Era o centro de uma roda oblonga, e dele, a distncias regulares, como raios, saam os canyons que se afastavam. Aqui, predominava um vermelho contnuo sobre o amarelo descorado. Os cantos de um rosa vivo afunilavam-se em torrees, pinculos cerrados e cpulas em ogiva.Venters continuou mais cautelosamente que nunca. Em direco ao centro deste crculo os arbustos de salva eram mais pequenos e mais dispersos. Estava prestes a voltar direita, onde emaranhados de pedras cadas lhe forneceriam cobertura, quando passou mesmo por cima de rastos de gado. Os rastos estavam frescos. E o que o surpreendeu mais foi que estavam hmidos! No chovera. A nica soluo para isto residia na hiptese de o gado ter sido conduzido atravs de gua, e gua suficientemente profunda para lhes deixar as pernas molhadas.Subitamente, Ring rosnou baixinho. Venters levantou-se com cuidado e olhou por cima de salva. Um bando de cavaleiros solitrios cavalgava atravs do oval. Baixou-se e procurou com o olhar um lugar para se esconder. A pouca distncia no havia nada a no ser os arbustos de salva. No se atrevia a correr o risco de atravessar os atalhos para alcanar as rochas.Espreitou novamente por cima da salva. Os bandidos - quatro, cinco, sete, oito ao todo- aproximavam-se, mas no directamente35em linha com ele. Acocorou-se com a respirao contida e agarrou no co eriado.Ouviu o rudo do bater de cascos ferrados na pedra, o riso grosseiro de homens e depois vozes que foram morrendo gradualmente. Passaram longos momentos at se levantar. Os bandidos dirigiam-se para um canyon. Os seus cavalos estavam cansados e traziam vrias bestas de carga. Sem dvida que vieram de longe. Venters viu-os desaparecer por baixo de uma ngreme parede de um canyon.Os bandidos surgiram do lado noroeste do oval. Venters olhou fixamente nessa direco, esperando, se houvesse mais, ver de que canyon saam. Passou mais um quarto de hora at descortinar mais trs homens montados, vindos do Norte. Mas era tarde de mais para dizer de que canyon saram. Observou os trs homens cavalgarem atravs do oval e contornarem o protuberante canto vermelho por onde os outros enveredaram.L em cima, aquele canyon!, exclamou Venters. O antro de Oldring! Descobri-o!Os rastos do gado apontavam todos para oeste. O largo trilho vinha da direco do canyon por onde os bandidos entraram e, sem margem para dvidas, o gado fora trazido para fora dele atravs do oval. No havia rastos apontando no outro sentido. A que stio do desfiladeiro iria dar este largo trilho e onde que ele conduziria? Subitamente, o co ps termo s interrogaes de Venters. Ring cheirava o ar e, virando-se lentamente com um gemido, comeou a rosnar. Venters voltou-se de repente. Dois cavaleiros vinham na sua direco e estavam j a uns cem metros. Um, o que vinha mais atrs, era o cavaleiro mascarado de Oldring.Venters baixou-se, tentando confundir-se com a salva, mas o primeiro cavalo estacou, resfolegou e levantou as orelhas. O bandido inclinou-se para a frente, como que investigando cuidadosamente o que estava adiante. Em seguida, com um rpido movimento, sacou a arma do coldre e disparou.A bala passou por entre os arbustos da salva. Partculas de madeira atingiram Venters e a dor quente e aguda que provocaram fez com que Venters se levantasse de um salto. Como um relmpago, o cano azul da sua espingarda aprumou-se e ele fez fogo, uma, duas vezes.O cavaleiro da frente deixou cair o revlver e tombou, para cair depois com um p preso no estribo. O cavalo relinchou e largou a galope arrastando o bandido atravs da salva.O cavaleiro mascarado contorceu-se em cima do aro da sela, comeou a inclinar-se lentamente para um lado e, depois, com um grito fraco e estranho, escorregou da sela.36CAPTULO VO CAVALEIRO MASCARADOVenters levantou rapidamente o olhar dos cavaleiros cados para o canyon por onde os outros desapareceram. Esperou, contendo a respirao, mas no apareceram quaisquer outros cavaleiros. Venters comeava a acreditar que os estampidos dos tiros no penetraram nas profundezas do canyon.Correu apressadamente para o local onde o cavalo arrastara o primeiro bandido. O homem jazia na relva espessa, morto, de queixo cado e olhos desmesuradamente abertos - uma viso que causou nuseas a Venters. Arrastou o assaltante para entre uns grandes pedregulhos e cobriu-o com pedras. O cavalo do bandido detivera-se a uns quatrocentos metros dali e pastava.Quando Venters rapidamente se encaminhou para junto do cavaleiro mascarado nem sequer a fria nusea que o invadia era capaz de conter completamente a sua curiosidade. Sentiu um lgubre orgulho pelo seu feito.A expectativa curiosa e a ansiedade de Venters no o prepararam para o choque que recebeu quando se deteve junto frgil e negra figura. O bandido usava a mscara negra que lhe dera o nome, mas no trazia armas. Venters olhou de relance para o cavalo; no havia coldres na sela.Uma respirao ofegante e baixa e uma sbita contorso do corpo disseram a Venters que o cavaleiro ainda vivia.Est vivo! E eu alvejei um homem desarmado!Atordoado, Venters retirou o largo chapu de abas do cavaleiro e a mscara negra. Este acto ps vista um cabelo alourado com tendncia para encaracolar e uma face jovem e branca. Ao longo da linha inferior da bochecha e do queixo via-se uma clara demarcao, onde a pele bronzeada encontrava o branco que estivera escondido do sol.Oh, ele apenas um rapaz! Ser na verdade o cavaleiro mascarado de Oldring?37O rapaz mostrava sinais de recuperar a conscincia. Mexeu-se; os seus lbios moveram-se; uma pequena mo bronzeada agarrou a blusa.Venters ajoelhou-se com um horror crescente do seu acto. A bala entrara no peito do cavaleiro, perto do ombro. Com as mos a tremer, Venters desapertou um leno negro e abriu a blusa molhada de sangue.Primeiro viu um buraco aberto, um vermelho-escuro contrastanto com a brancura da pele, do qual corria um fino fio de sangue. Depois o pequeno alto do peito de uma mulher!Uma mulher!, gritou. Uma rapariga... matei uma rapariga!Ela abriu subitamente os olhos que eram de um azul enigmtico. Havia neles uma conscincia de morte, uma mistura de terror e de dor, mas no uma conscincia da viso. Ela fixava o desconhecido.Depois teve um espasmo de vitalidade. Contorceu-se numa tortura de fora nascente, e nas suas convulses quase se libertou dos braos de Venters. Foi-se descontraindo lentamente e deixou-se cair para trs. A mo sem luva pousou em cima da ferida, e fez tanta presso que o seu pulso quase se enterrou no peito. E olhou ento para Venters com olhos que o fixavam.Ele amaldioou-se mais sua inflexvel pontaria de que tanto se orgulhava.- Perdoa-me! Eu no sabia! - exclamou Venters.- Tu deste-me um tiro... mataste-me! - murmurou ela entre suspiros. A flor dos seus lbios apareceu uma espuma ensanguentada e tremente. A sua rigidez perdeu-se num longo frmito e caiu desfalecida, branca como a neve, de olhos fechados.Venters pensou que morrera. Mas a dbil pulsao do seu peito assegurou-o de que a vida ainda a habitava. Apanhou algumas folhas de um arbusto de salva, e, pondo-as por cima das feridas, passou o leno negro volta do ombro e atou-o debaixo do brao. Depois fechou a blusa.Lanou um olhar vigilante salva para norte e no viu qualquer objecto animado. Em seguida pegou no chapu e na mscara da rapariga. Meteu a sua espingarda cuidadosamente por baixo da rapariga e com a ajuda da arma levantou-a com prudncia no colo e comeou a retroceder em direco ao seu esconderijo. O co seguiu-o como uma sombra, e o cavalo, que se mantivera por ali a pastar, seguiu-o tambm sem um chamado. Venters, no seu caminho de regresso, escolheu os tufos mais espessos de relva e os grupos de arbustos de salva. Alcanando o estreito canyon, voltou e manteve-se encostado parede at atingir o seu esconderijo. Atravs da salva e da relva apressou-se para o bosque de abetos prateados.Pousou a rapariga no cho, quase receando olhar para ela. Em-38bora estivesse plida como mrmore e fria, ainda vivia. Venters sentou-se para descansar.Nesse momento Venters dirigiu-se para a abertura, apanhou o cavalo e, guiando-o atravs do matagal, tirou-lhe a sela e atou-o com uma grande corda. Sabia que no poderia descansar enquanto o cavalo do outro bandido andasse solta, por isso, pegando na espingarda e chamando por Ring, saiu.Rpido, embora cautelosamente, abriu caminho pelo canyon at ao oval e depois at ao trilho do gado. Depois comeou a rodear o cavalo do assaltante. Isto foi espectacularmente fcil. Conduziu o cavalo para terreno mais baixo ao longo da parede sombria e a seguir at ao seu solitrio acampamento.Os olhos da rapariga estavam abertos; manchas vermelhas queimavam-lhe as faces; ela gemeu algo que Venters no percebeu. Levantando-lhe a cabea, chegou-lhe o cantil aos lbios.O Sol punha-se por detrs do rebordo da garganta e uma sombra fria escurecia as paredes. Venters cortou uns ramos de abeto e fez uma espcie de alpendre para a rapariga. Depois, deitando-a gentilmente em cima de um cobertor, puxou os lados do mesmo para cima dela. Envolveu-se no outro cobertor e encontrou um confortvel assento de encontro a um abeto que sustentava o alpendrezinho.Venters temia a viglia da noite. De noite, a sua mente estava activa, e desta vez tinha de vigiar, pensar e sentir ao lado de uma rapariga moribunda a quem ele assassinara. Inventou mais de mil desculpas, mas no encontrou nenhuma que o redemisse do seu acto ou do seu arrependimento.Pareceu-lhe que depois de a noite cair conseguia ver muito mais claramente o seu rosto.Ela morrer dentro em pouco, disse para consigo, e ficar livre desta agonia, assim Deus a ajude!Em cada momento parecia-lhe ter a certeza da sua morte e isto provocava-lhe um choque; ento debruava-se sobre ela e colocava o ouvido de encontro ao seu peito. O corao dela ainda batia.A preliminar escurido da noite deu lugar fria luz das estrelas. Os cavalos no se moviam e nada perturbava o silncio mortal do canyon.Enterr-la-ei aqui, pensou Venters, e deixarei que a sua campa seja to misteriosa quanto foi a sua vida. Que seria ela para Oldring? Era m... tudo. Mas mesmo assim, bem, ela pode no ter escolhido de sua livre vontade viver na companhia de bandidos. Pergunto a mim prprio se mais alguns dos membros de Oldring sero mulheres? bastante provvel.As horas passavam. As estrelas brancas moviam-se atravs da estreita faixa de cu azul-escuro que se via pela garganta do canyon.39Venters observava a imvel face alva, e medida que a ia observando, hora a seguir a hora esperando pela morte, mais afastava da ideia a presumvel maldade da rapariga. Quem quer que ela fosse - fosse o que fosse que tivesse feito -, era jovem e estava a morrer. A ltima parte da noite arrastou-se interminavelmente. A luz das estrelas desapareceu e as trevas preencheram tudo at hora mais escura. A negritude passou para cinzento, e depois o cinzento foi em palidecendo e o dia comeou a despontar no topo oriental.Venters escutou a pulsao da rapariga. Ainda estava viva. Venters sobressaltou-se com a sua prpria pulsao.Perguntou a si mesmo se a hemorragia interna cessara. Abrindo-lhe a blusa, desatou o leno e afastou cuidadosamente as folhas de salva da ferida do ombro. Fechara. Levantando-a ligeiramente, assegurou-se de que o mesmo era verdade para o buraco por onde a bala sara. Enquanto cuidadosamente lavava o sangue seco do seu peito e refazia o penso da ferida, Venters tomou vagamente conscincia de uma estranha e grave felicidade no pensamento de que ela poderia sobreviver.A luz do dia e uma rstea de luz do Sol que penetrou pelo rebordo do penhasco l em cima levaram-no a pensar no que seria aconselhvel fazer. No seria sensato para ele permanecer mais tempo no seu presente esconderijo.Cuidadosamente limpou e recarregou as suas armas. Ao levantar-se para partir lanou um prolongado olhar rapariga que jazia inconsciente. Depois, ordenando a Ring e a Whitie que ficassem de guarda, deixou o acampamento.Ao alcanar a abertura, decidiu atravessar o oval e seguir a parede esquerda at chegar ao rasto do gado. Deslocou-se furtivamente de um esconderijo para outro, aproveitando-se das rochas e dos arbustos de salva, at alcanar os matagais debaixo da parede oposta. Uma vez a, aumentou a sua velocidade. Saindo de trs de um arbusto para trs de outro, passou pelas bocas de dois canyons, e na entrada de um terceiro atravessou um lago de gua lmpida e saltitante, para encontrar abruptamente o trilho do gado.O trilho seguia a margem mais baixa do lago, e, no o perdendo de vista, Venters seguiu junto linha de salva e de mato. Imitando as curvas de uma serpente, o canyon avanava cerca de duas milhas e desembocava num vale. Manchas vermelhas contrastavam com a prpura da salva e mais alm linhas ponteadas de vermelho conduziam parede de rocha.Depois pontos brancos e negros indicavam-lhe que existia naquele vale gado de outras cores. Oldring, o assaltante, era tambm um rancheiro. O olho calculista de Venters reparou que o gado ali existente excedia a manada vermelha.40Que pastagem!, pensou. gua e relva suficientes para cinquenta mil cabeas de gado e no so precisos cavaleiros!Venters no perdeu tempo ali, mas embrenhou-se de novo na salva seguindo o seu caminho anterior. Com a descoberta do gado escondido de Oldring, fizera-se luz sobre vrios problemas. Era aqui que o ladro guardava o seu gado; era aqui que se encontrava o gado desaparecido de Jane Withersteen; era aqui que se encontravam as cabeas de gado que desapareceram de Cottonwoods durante os dois ltimos anos. At ter roubado a manada vermelha, os roubos de Oldring limitaram-se ao suficiente para fornecer de carne os seus homens.Comeou ento a formar-se no esprito de Venters a ideia de que as intimidaes de Oldring s vilas e aldeias e o mistrio do cavaleiro mascarado e das suas alegadas aces cruis, alm da resistncia que era oferecida aos cavaleiros que se lhe opunham e do roubo de gado, eram coisas que apenas serviam de cobertura ao verdadeiro trabalho que se passava no desfiladeiro da Decepo.Parecendo um ndio, Venters rastejou atravs da salva do vale oval, atravessou trilho aps trilho no lado norte e por fim entrou no canyon do qual saa o rasto do gado, e para dentro do qual ele vira os bandidos desaparecerem.Agora ele apelava aos seus nervos para o ajudarem a manter-se alerta enquanto rastejava furtivamente. Ele rastejava de tal modo rente ao solo que apenas podia usar os olhos para ir abrindo caminho por entre as fendas e runas da parede abrupta. Contudo, de tempos a tempos, enquanto descansava, podia ver as macias paredes vermelhas crescerem e alargarem-se, mais altas e recortadas. Ele subia em ziguezagues. A salva, os amontoados de carvalhos e as silvas de amieiro deram lugar a pinheiros que brotavam do solo rochoso.Subitamente, um murmrio montono e baixo chegou-lhe aos ouvidos. Primeiro pensou que fosse um trovo, depois o escorregar de algo pela encosta desgastada pela eroso. Mas era contnuo, e, medida que ele progredia no terreno, o som aumentava e mudou de um murmrio para um rugido.gua a cair!, pensou. O som para isso. Pergunto a mim mesmo se ser o riacho que perdi.O rugido incomodava-o, pois no podia escutar mais nada. Do mesmo modo, contudo, tambm os ladres no o podiam ouvir. Animado por este pensamento, levantou-se para progredir mais rapidamente. Uma abertura nos pinheiros avisou-o de que estava perto do topo da encosta.Alcanou-o e deixou-se cair de espanto. Perante ele estendia-se um pequeno canyon com o solo coberto de pedras nuas, sem salva41ou relva, e de paredes curvas e cheias de cavidades. Um largo e ondulado riacho corria na sua direco, e no fundo do canyon brotava uma queda de gua de uma enorme fenda na rocha, e, descendo e saltando por cima de degraus verdes e alisados, acumulava-se num largo lenol branco.Se Venters no estivesse seguro de que entrara no canyon certo, o seu espanto no teria sido to grande. No notara fendas nas paredes, nenhuns canyons secundrios entrando neste onde os rastos dos bandidos e o trilho do gado o guiara, e, contudo, ele no podia estar enganado. Mas o canyon acabava aqui, e presumivelmente tambm os trilhos do gado.Ele olhava agora para leste para um imenso canto redondo de canyon, descendo o qual corria um fino e branco vu de gua, com apenas uns vinte metros de largura. Os seus clculos deviam estar errados nalgum stio. Na sua ansiedade de se manter escondido devia ter-se perdido nesta ramificao do desfiladeiro da Decepo e, consequentemente, de alguma maneira ter perdido o canyon com os rastos.De repente, Venters ouviu por cima do suave rugido da queda de gua um som estranho que no podia definir. Agachou-se atrs de uma pedra e ps-se escuta. Da direco de onde ele viera elevava-se algo que se assemelhava a um estranho toque de campainhas, a um chapinhar e a um andar pesado.Apesar da sua coragem, gotas de frio suor comearam a escorrer pela sua testa. Depois, da abertura, veio o som agora distinto e diferente. Venters reconheceu o sino dos arreios de um cavalo e o estampido provocado por cascos ferrados nas pedras submersas juntamente com o chapinhar na gua.O alvio envolveu-o. Cingiu-se de novo s realidades e a curiosidade levou-o a espreitar por cima da rocha.No meio do ribeiro surgiu uma longa fila de burros de carga guiados por trs homens montados em soberbos cavalos. O olho perspicaz de Venters viu os sinais de uma longa viagem. Estes homens levavam fornecimentos de uma das vilas do Norte. Estavam cansados e os seus cavalos quase esgotados.Venters viu tudo isto num s relance. Depois disto observou com ansiedade. Direitos da queda de gua, os bandidos guiaram os burros e, a direito pelo meio do ribeiro, dirigiram-se para o stio onde a gua se espalhava numa delgada e Ianosa pelcula como se fosse fumo. Cavalgando juntos, os bandidos entraram por esta nvoa branca, sendo possvel ver ainda transparncia os seus contornos negros, para depois desaparecerem completamente.Venters deixou escapar um longo suspiro que rebentou numa exclamao:Agora sei porque que os rastos do gado estavam hmidos!42Ele voltou-se e desceu a encosta a correr para entrar no vale de salva. De vez em quando detinha-se para ver se escutava ou via alguma coisa. A relva abundante apagava as suas pegadas. Percorreu em pouco tempo a distncia at ao crculo de canyons. No sabia se o voltaria a ver outra vez; contudo, olhou para os cantos vermelhos e para as torres, fixando marcos que nunca esqueceria.Em seguida, a enorme chamin vermelha que se erguia por cima dele f-lo saber onde estava a profunda cavidade onde se encontrava escondido o seu acampamento. Ele irrompeu no acampamento assustando os ces.A rapariga estava deitada de olhos abertos, os quais se dilataram quando Venters se ajoelhou ao p dela. O claro da febre mostrava-se nas suas faces. Levantou-a com cuidado e levou gua aos seus lbios, sentindo uma inexplicvel sensao de leveza ao v-la engolir lentamente. Gentilmente tornou a deit-la.- Quem s tu? - murmurou entrecortadamente.- Sou o homem que disparou contra ti - retorquiu ele.- Que... vais... fazer... de... mim?- Quando estiveres melhor, suficientemente forte, levar-te-ei para o canyon por onde os assaltantes entram atravs da queda degua.A brancura de mrmore do seu rosto pareceu alterar-se. - No... me... voltes... a... levar... para... l!43CAPTULO VIA RODA DE MOINHO DE NOVILHOSEntretanto, no rancho, quando as notcias de Judkins fizeram que Venters fosse na peugada dos bandidos, Jane Withersteen levou o ferido Judkins para casa e com dedos experientes tratou do ferimento no seu brao.- Judkins, que que achas que aconteceu aos meus cavaleiros?- Prefiro no dizer - respondeu ele.- Diz-me. Guardarei para mim o que quer que tu me digas. Comeo a ficar mais preocupada com os meus cavaleiros que com o rebanho roubado. Venters fez umas insinuaes... mas, conta-me, Judkins.- Bem, Miss Withersteen, eu penso como Venters, os seus cavaleiros foram chamados.- Judkins! Por quem?- A senhora sabe quem comanda as rdeas dos seus cavaleiros mrmones.- Atreves-te a insinuar que os meus irmos da igreja ordenaram aos meus cavaleiros que recolhessem?- Eu no estou a insinuar nada, Miss Withersteen - respondeu Judkins com presena de esprito. - Sei do que estou a falar. Eu bem no lhe queria dizer.- Oh, no posso acreditar nisso! No acreditarei! Tull seria capaz de deixar os meus rebanhos merc dos ladres e dos lobos s porque... porque? No, no! Isso inacreditvel!- Na verdade, nunca se ouviu falar de semelhante coisa em Cottonwoods. Mas, com o devido respeito, Miss Withersteen, nunca houve outra rica mulher mrmon aqui na fronteira, e ainda por cima uma que tomou o freio nos dentes.Era uma coisa rude para o reservado Judkins dizer, mas ela no ficou zangada. A crua insinuao da sua personalidade feita pelo ca-44valeiro dava-lhe uma ideia do que os outros podiam pensar. Humildade e obedincia foram sempre os seus lemas. Mas teria ela tomado o freio nos dentes? No sabia. E em seguida, como se um jacto de sangue quente subisse as suas veias, ela pensou em Black Star, quando este tomara o freio nos dentes e correra como um selvagem pela salva. Se ela um dia comeasse a correr! Jane acalmou o ardor "que sentia, envergonhada por uma paixo de liberdade que se opunha aos seus deveres.- Judkins, vai vila - disse -, e quando souberes algo definitivo sobre os meus cavaleiros vem dizer-mo imediatamente, se fazesfavor.Depois de ele sair, Jane decidiu resolutamente aplicar o seu esprito para um nmero de tarefas que negligenciara. O seu pai ensinara-a como lidar com cerca de uma centena de empregados, como tratar dos campos e dos jardins e como fazer um registo dos movimentos do gado e dos cavaleiros. E, para alm dos muitos deveres que tinha para fazer, Jane acrescentara-lhes um outro de extrema delicadeza, um trabalho que requeria todo o seu tacto e ingenuidade. Tratava-se de uma ajuda quase secreta que ela prestava s famlias de gentios da vila. Mas se no fosse a sua inveno de um sem nmero de espcies de empregos, para os quais no existia uma real necessidade, estas famlias de gentios, que caram numa comunidade mrmon, morreriam de fome.Ao ajudar estas pobres gentes, Jane pensava que enganava os seus perspicazes homens da igreja, mas esta era uma espcie de mentira pela qual ela no esperava ser perdoada. Do mesmo modo, era igualmente difcil enganar os gentios, pois estes eram ainda mais orgulhosos que pobres. Tivera um grande desgosto ao descobrir como estas pessoas odiavam a sua gente; e fora uma grande fonte de alegria saber que atravs dela esse dio podia diminuir. Em qualquer altura este trabalho requeria uma clareza de esprito que exclua a ansiedade e a preocupao; mas, sob as presentes circunstncias, requeria todo o seu vigor e obstinada tenacidade para concentrar a sua ateno na sua tarefa.O pr do Sol chegou, trazendo com o findar do seu trabalho uma calma paciente e um poder para esperar que no foram seus durante o resto do dia. Esperou por Judkins, mas este no apareceu. Ao jantar, a sua criada, serviu-a com uma silenciosa assiduidade. Jerd veio ter com ela trazendo a chave do grande celeiro de pedra e para fazer o seu relatrio dirio sobre os cavalos. Jane perguntou-lhe se ele voltaria no dia seguinte, e Jerd assegurou-lhe que trabalharia sempre para ela.Cedo, na manh seguinte, uma das criadas de Jane trouxe-lhe recado de que Judkins lhe queria falar. Ela apressou-se a ir ter com ele45e, para sua surpresa, encontrou-o armado com uma espingarda e um revlver; isto f-la esquecer a inteno de perguntar pela sua ferida.- Judkins! Essas armas? Tu nunca usaste armas.- J altura, Miss Withersteen - retorquiu ele. - Quer vir comigo at ao bosque? No exactamente muito seguro para mim ser visto aqui com a senhora.Ela caminhou junto a ele para a sombra dos arbustos de algodo- Que que queres dizer?- Miss Withersteen, ontem noite fui at casa da minha me Enquanto ali estava, bateram porta e um homem perguntou por mim. Fui porta. Ele trazia uma mscara. Disse que era melhor para mim no montar mais para Jane Withersteen.- Sabes quem ele era? - perguntou Jane em voz baixa.- Sim.Jane no perguntou quem era; ela no queria saber; ela receava saber. Toda a sua calma se desvaneceu com um s pensamento.- por isso que estou armado - continuou Judkins. - Pois nunca deixarei de montar para si, Miss Withersteen, a no ser que a senhora me mande embora.- Judkins, queres ir-te embora?- Acha que quero? D-me um cavalo, um cavalo veloz, e mande-me para a salva.- Oh, obrigado, Judkins! s-me mais fiel que a minha prpria gente. No devia aceitar a tua lealdade, podes sofrer por causa dela. Mas que que eu posso fazer? No consigo compreender!- Miss Withersteen, tudo muito simples - disse Judkins sinceramente. - Agora oua-me por favor e com sua licena- volte para l esse ouvido mrmon e deixe-me falar claramente para o outro. Ontem dei uma volta por todos os saloons, armazns e outros lugares de lazer. Todos os seus cavaleiros esto na vila. Fala-se de um grupo de vigilncia organizado para dar caa aos ladres. Eles autodenominam-se Os Cavaleiros. este o relatrio; esta a razo que eles do para os seus cavaleiros a deixarem. Mas estranho que apenas alguns cavaleiros dos outros ranchos se tenham juntado ao bando! E o brao direito de Tull, Jerry Gard, o chefe. Vi-o mais ao seu cavalo. Ele no foi a Glaze. No me enganam facilmente quanto ao aspecto de um cavalo que andou pela salva. Tull e Jerry no foram a Glaze!Bem, encontrei Dorn e Blake, ambos bons amigos meus, pelo menos at onde as suas ideias mrmones os deixam ser. Mas estes rapazes no me conseguiram enganar e tambm no se esforaram muito para o conseguir. Perguntei-lhes directamente, de homem para homem, por que que eles a deixaram. Eles ficaram envergonhados, Miss Withersteen. E permaneceram calados, no podiam dizer nada46sobre esse assunto. E eis o segredo. Ora, tudo to simples, como a viso da minha arma aqui.- Simples! Os meus rebanhos a vaguearem pela salva, para serem roubados! Jane Withersteen uma pobre mulher! Devendo trazer a cabea baixa e o esprito destroado! Sim, Judkins, bastante simples.- Miss Withersteen, deixe-me reunir os rapazes que eu conseguir arranjar e ir guardar o rebanho branco. Esto na encosta agora, a umas dez milhas daqui, trs mil cabeas, e todas de novilhos. Eles so bravos e podem estourar ao som do estalo de uma tampa de garrafa. Acamparemos junto a eles e tentaremos ret-los.- Judkins, recompensar-te-ei um dia pelos teus servios antes de me tirarem tudo. Rene os rapazes e diz ao Jerd para te deixar escolher entre os meus cavalos, com excepo do Black Star e do Night. Mas no derramem sangue pelo meu gado e no arrisquem imprudentemente as vossas vidas.Jane Withersteen correu para a recluso do seu quarto, e para l se dirigiu cega por uma paixo que nunca antes sentira. Deitada em cima da cama, ali se deixou ficar enquanto a sua fria ardia e queimava, para finalmente a abandonar.Depois deixou-se ficar deitada a pensar no na depresso que se iria abater sobre ela, mas nesta nova revelao do seu ser. At aos ltimos dias pouco houvera na sua vida que fizesse despertar paixes. E o homem que arrastara o seu esprito calmo e pacfico para esta degradao era um homem da sua igreja, o conselheiro do seu amado Bispo.A perda da manada e das pasta