Violência Contra a Mulher

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Matéria publicada em revista cientifica. Autores: DeSouza, Eros; Baldwin, John R.; Rosa, Francisco Heitor

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DeSouza, Eros; Baldwin, John R.; Rosa, Francisco Heitor da A construo social dos papis sexuais femininos. Psicologia: Reflexo e Crtica, 2000, vol.13, n. 3, ISSN 0102-7972. Violncia contra a mulher. O Brasil ainda permanece uma sociedade profundamente patriarcal, onde crimes cometidos contra mulheres so comuns. Entre Janeiro de 1991 e Agosto de 1992 foram registrados 205.219 casos de violncia contra a mulher no Brasil (Neto, 1996). Contudo, alguns acreditam que a maioria dos crimes contra a mulher no so sequer registrados devido falta de punio aos agressores (Americas Watch, 1991). Especificamente, a ineficincia e inadequao geral do sistema judicirio brasileiro, formada por uma mistura de preconceito e incompetncia bvia por parte da polcia faz com que as mulheres no procurem justia. Esta impunidade baseia-se em trs fatores, no mnimo: 1) os agressores tm sido absolvidos com base na "defesa da honra"; isto , um homem pode ser levado a matar a companheira infiel por ela ter insultado sua honra (Brooke, 1982). Embora a defesa da honra no seja mais empregada em nvel federal, Americas Watch (1991) nota que, em nvel estadual, a defesa da honra ganhou aproximadamente 80% das causas. 2) H problemas na linguagem da lei em si. Os cdigos so restritivos em termos de suas definies de estupro, agresso e assim por diante (Americas Watch, 1991; Thomas & Beasley, 1993). Por exemplo, o estupro consiste somente na penetrao vaginal com ameaa de violncia mulher; e, at o cdigo mais recente, a mulher deveria ser virgem, para que o caso fosse levado adiante. Alm disto, se o agressor fosse o marido, ele poderia ser visto como se estivesse simplesmente forando "relaes conjugais", o que constituiria um "problema privado" (Thomas & Beasley, 1993). 3) A polcia no lida adequadamente com os casos que so relatados (Americas Watch, 1991). os papis destas mulheres como mes, cuidadoras e professoras (em um campo onde poucos homens lem e escrevem bem), ajudou-as a obter poder. As mulheres poderiam estar ocupando as posies de liderana com base em velhas imagens estereotipadas ou arquetpicas das mulheres; mas nestas imagens me, professora que as mulheres so providas de poder. Os homens cedem a liderana dos aspectos de criao e educao s mulheres. Com o passar do tempo, contudo, o "aprendiz [vem] a tornar-se um mestre" (p.12): as mulheres acabam com mais poder do que os homens haviam proposto. Possivelmente ligadas industrializao e educao formal, tambm existem diferenas nas atitudes com relao aos papis de gnero entre brasileiros de diferentes setores, tais como urbano/rural, classe mdia/classe baixa e at mesmo entre pessoas de classe mdia que possuem curso superior e aqueles que no (Muraro, 1992). H uma "grande transformao" acontecendo entre as pessoas de classe mdia, enquanto as camponesas suportam o peso da opresso (p. 157). Ou seja, estas mulheres tm que trabalhar mais duro do que mulheres urbanas e sofrem grandes restries sobre sua sexualidade. A populao rural tende a ter vises mais tradicionais dos papis de gnero, do que as vises mais liberais das pessoas de classe mdia e, especialmente, dos universitrios (Muraro, 1983). Muitas mulheres entrevistadas em um estudo de Muraro, sentiam que os homens "tm todas as vantagens, as melhores posies e os privilgios sociais, profissionais, todos" (p. 112). Algumas percebem que os homens tm mais variedade sexual e mais liberdade para ser "dono de si mesmo", o que se liga percepo de que os homens tm uma vida melhor e mais agradvel. Estas pesquisas sugerem que o Brasil mais sexualizado do que os Estados Unidos. Esta sexualizao pode influenciar relaes sociais e a comunicao da sexualidade no trabalho. Portanto provvel que o assdio sexual seja percebido diferentemente no Brasil do que nos Estados Unidos

Vrias perspectivas tericas podem explicar diferenas de percepo entre os brasileiros, que vem assdio sexual como uma forma de seduo (Pryor e cols., 1997) e os norte americanos que vem assdio sexual como um problema social srio que merece uma punio forte (DeSouza e cols., 1998). Os brasileiros so extremamente gregrios e constantemente invadem o espao pessoal dos outros. Eles gostam de aproximao fsica. Freqentemente, tocam-se enquanto falam, ficam prximos a estranhos, abraam-se e beijam-se quando cumprimentam colegas de trabalho e conhecidos, da mesma maneira que amigos. Tanto homens como mulheres brasileiras so mais livres ou abertos, sexualmente, nas suas conversas, como na mdia (Luft, 1995; Schreiberg, 1995), do que nos Estados Unidos. Se o clima no trabalho sexualizado e tolerado pelo chefe, ou se o prprio chefe de trabalho se comporta sexualmente com os seu empregados, as pessoas se sentem sem poder para fazer queixas ou para deter possveis abusos, e os assediadores se sentem livres para assediar sem medo de punio. tem sido impossvel separar gnero de raa e classe. Isto assemelha-se a experincia das mulheres nos Estados Unidos, como exemplificado pelo argumento de West e Fensternmaker (1997) que "nenhuma pessoa pode conhecer gnero sem simultaneamente conhecer raa e classe" (p. 60) No pode ser copiado - para citar utilize a indicao no incio