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Vinicius de MoraesUm poeta do amor.
Vida. • 1913, RJ – 1980, RJ
• Poeta, dramaturgo e compositor; jornalista ediplomata
• Diplomacia: Los Angeles-EUA, Paris-França eRoma-Itália
• Em 1968 foi aposentado compulsoriamente peloAI-5
• Foi exilado em Portugal e sua anistia post-mortemfoi concebida em 1998
• O motivo alegado pelo Regime Militar na épocade seu afastamento foi a vida boêmia do poeta
• Tinha uma íntima relação com a bebida: “Owhisky é o cão engarrafado.”
• Casou-se 9 vezes, sempre vivendo intensa eimpulsivamente os sentimentos
• Em 1958, deu início ao Movimento da Bossa Nova
Bossa Nova• O ano de 1958 marcaria o início de um
dos movimentos mais importantes damúsica brasileira, a Bossa Nova. A pedrafundamental do movimento veio com oálbum "Canção do Amor Demais",gravado pela cantora Elizeth Cardoso.
• Chega de Saudade foi a canção carro-chefe que divulgou o movimento
• A Tríade: Tom Jobim (música), JoãoGilberto (harmonia) e Vinicius (letra)
• Baden Powell foi um de seus maioresparceiros de composição
• O movimento surgiu na zona sul do RJ,na classe média e denominou-seCanção Popular Brasileira com cançãocomo Garota de Ipanema
• Antropofagia cultural: samba + jazz
Chega de SaudadeTom Jobim
Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela não há paz
Não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai
Mas se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca
Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim
Não há pazNão há belezaÉ só tristeza e a melancoliaQue não sai de mim, não sai de mim, não sai
Dentro dos meus braçosOs abraços hão de ser milhões de abraçosApertado assim, colado assim, calado assimAbraços e beijinhos, e carinhos sem ter fimQue é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim
Não quero mais esse negócio de você longe de mimVamos deixar desse negócio de você viver sem mim
Estética e Temáticas.
• Sonetos: a forma mais altiva de veneração do amor
• Alternância entre o rigor e o desapego
• Forte herança simbolista: metáforas, sugestão, rimas(musicalidade)
• Linguagem simples, vida cotidiana e uma mistura devulgaridade e delicadeza
Temáticas:
• 1ª fase: neo-simbolista, desejo de transcendência,mistério, formação religiosa e conotações místicas
• 2ª fase: canto do amor e exaltação da mulher; ocotidiano e o social e a linguagem coloquial
O ciclo do amor: flerte, sedução, conquista,convívio, medo, frustração e fim
Social: a condição humana frente aos horrores da IIGuerra Mundial, da miséria e das injustiças
Sensualidade e erotismo
Tristeza, melancolia, saudade
Misoginismo: homem que tem aversão à mulher,forte machismo
Poemas.
O whisky é o cão engarrafado.
Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partirE todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelasSerão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Receita de MulherAs muito feias que me perdoem Mas beleza é fundamental. É preciso que haja qualquer coisa de flor em tudo isso Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute coutureEm tudo isso (ou então Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa). Não há meio-termo possível. É preciso Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora. É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência. É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas No enlaçar de uma cintura semovente. Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras É como um rio sem pontes. Indispensável.(...)
A Rosa de Hiroxima
Pensem nas criançasMudas telepáticasPensem nas meninasCegas inexatasPensem nas mulheresRotas alteradasPensem nas feridasComo rosas cálidasMas, oh, não se esqueçamDa rosa da rosaDa rosa de HiroshimaA rosa hereditáriaA rosa radioativaEstúpida e inválidaA rosa com cirroseA anti-rosa atômicaSem cor sem perfumeSem rosa, sem nada.
O grupo Secos e Molhados, nadécada de 1970, musicou opoema de A Rosa de Hiroxima,uma das mais lindas cançõesbrasileiras.
Soneto da Devoção
Essa mulher que se arremessa, fria E lúbrica aos meus braços, e nos seiosMe arrebata e me beija e balbuciaVersos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancoliaQue se ri dos meus pálidos receiosA única entre todas a quem dei osCarinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclamaA miséria e a grandeza de quem amaE guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher e um mundo! - uma cadelaTalvez... - mas na moldura de uma camaNunca mulher nenhuma foi tão bela. Tom Jobim & Vinicius de Moraes
Soneto da Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atentoAntes, e com tal zelo, e sempre, e tantoQue mesmo em face do maior encantoDele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momentoE em seu louvor hei de espalhar meu cantoE rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procureQuem sabe a morte, angústia de quem viveQuem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):Que não seja imortal, posto que é chamaMas que seja infinito enquanto dure. Vinicius de Moraes & Toquinho
Soneto da Despedida
Uma lua no céu apareceuCheia e branca; foi quando, emocionadaA mulher a meu lado estremeceuE se entregou sem que eu dissesse nada.
Larguei-as pela jovem madrugadaAmbas cheias e brancas e sem véuPerdida uma, a outra abandonadaUma nua na terra, outra no céu.
Mas não partira delas; a mais loucaApaixonou-me o pensamento; dei-oFeliz - eu de amor pouco e vida pouca
Mas que tinha deixado em meu enleioUm sorriso de carne em sua bocaUma gota de leite no seu seio.
Soneto do Maior Amor
Maior amor nem mais estranho existeQue o meu, que não sossega a coisa amadaE quando a sente alegre, fica tristeE se a vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resisteO amado coração, e que se agradaMais da eterna aventura em que persisteQue de uma vida mal-aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fereE quando fere vibra, mas prefereFerir a fenecer - e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instanteDesassombrado, doido, deliranteNuma paixão de tudo e de si mesmo.
Elis Regina
Soneto da Separação
De repente do riso fez-se o prantoSilencioso e branco como a brumaE das bocas unidas fez-se a espumaE das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o ventoQue dos olhos desfez a última chamaE da paixão fez-se o pressentimentoE do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repenteFez-se de triste o que se fez amanteE de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distanteFez-se da vida uma aventura erranteDe repente, não mais que de repente
A meiga, A Mulata Maior, A exclusiva
Soneto do Amor Total
Amo-te tanto, meu amor... não canteO humano coração com mais verdade...Amo-te como amigo e como amanteNuma sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestanteE te amo além, presente na saudadeAmo-te, enfim, com grande liberdadeDentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmenteDe um amor sem mistério e sem virtudeCom um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúdeÉ que um dia em teu corpo de repenteHei de morrer de amar mais do que pude.
Operário em construção
UFRGS/2007