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Uso de Suplementos Nutricionais em Desportistas
Portugueses de Alto Nível das Modalidades de
Atletismo, Natação e Triatlo
Nutritional Supplements’ Use by High-Level
Portuguese Sportsmen/Sportswomen in
Athletics, Swimming and Triathlon
Mónica Vera Cruz de Sousa
Orientado por: Professor Doutor Pedro Alexandre A. S. Moreira
Tipo de documento: Trabalho de investigação
Porto, 2008
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto i
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a todos os desportistas que participaram neste estudo e a
todos os que tornaram este trabalho possível, nomeadamente o Professor Doutor
Pedro Moreira, o Dr. Vítor Hugo Teixeira, a Federação Portuguesa da Atletismo,
de Natação e de Triatlo, ao Serviço de Epidemiologia da Faculdade de Medicina
do Porto e ao Doutor Bruno Oliveira.
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto iii
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos desportistas portugueses, em especial aos das
modalidades de atletismo, natação e triatlo. Que este trabalho possa, de alguma
forma, melhorar o vosso desempenho desportivo.
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto v
ÍNDICE
Lista de Abreviaturas............................................................................................... 1
1. Resumo............................................................................................................... 2
2. Introdução ........................................................................................................... 4
3. Objectivos............................................................................................................ 6
4. Material e Métodos.............................................................................................. 7
5. Resultados ........................................................................................................ 10
6. Discussão.......................................................................................................... 19
7. Conclusão ......................................................................................................... 34
8. Bibliografia......................................................................................................... 37
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 1
LISTA DE ABREVIATURAS
SN(s) – Suplemento(s) Nutricional(ais)
vs – Versus
FPA – Federação Portuguesa de Atletismo
FPN – Federação Portuguesa de Natação
FPT – Federação Portuguesa de Triatlo
QFA – Questionário de Frequência Alimentar
SPSS – Statistical Package for the Social Sciences
DRI – Dietary Reference Intakes
EAR – Estimated Average Requirement
AI – Adequate Intake
UL –Tolerable Upper Intake Level
EROS – Espécies Reactivas de Oxigénio
Mónica Sousa
2 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
1. RESUMO
Quando tudo o resto é igual, a nutrição pode fazer a diferença entre ganhar e
perder. Uma alimentação variada e energeticamente adequada é capaz de
proporcionar quantidades apropriadas de todos os nutrimentos essenciais. Porém,
são muitos os desportistas que recorrem a suplementos nutricionais (SNs),
apesar da eficácia da maioria deles não estar demonstrada e da possível
contaminação com substâncias banidas. Os objectivos deste estudo foram, entre
outros, avaliar a prevalência de uso de SNs em desportistas portugueses de alto
nível, determinar os motivos para a toma e as fontes de informação e/ou
aconselhamento e estimar a ingestão nutricional. Para o efeito, 85 desportistas
completaram um questionário sobre o uso de SNs e outro de frequência alimentar
semi-quantitativo. As bebidas desportivas (82,5%), os fornecedores proteicos
(57,5%) e os multivitamínicos/minerais (56,3%) demonstraram ser os SNs mais
utilizados. “Acelerar a recuperação” (63,8%), “melhorar o desempenho desportivo”
(61,3%) e “ter mais energia/reduzir o cansaço” (61,3%) foram os três motivos
mais referidos para a toma de SNs. O médico (62,5%) e o treinador (52,5%)
revelaram ser as principais fontes de informação/aconselhamento. Apesar de se
verificarem ingestões acima das recomendações para a grande maioria dos
nutrimentos, a maior parte dos desportistas (94,1%) referiu tomar um ou mais
SNs. Desta forma, o consumo de SNs mostrou ser independente do facto dos
desportistas se encontrarem bem ou mal nutridos. Assim, a prescrição de SNs
apenas deve ser feita após uma avaliação do estado de saúde do desportista, da
sua alimentação e do seu status nutricional.
Palavras-chave. Alimentação, nutrição, desporto, suplementos nutricionais.
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 3
1. ABSTRACT
When everything else is identical, nutrition can make the difference between
winning and losing. A varied and adequate diet that meets the daily energy needs
it’s capable to provide all the essential nutrients in appropriated amounts.
However, there are many sportsmen/sportswomen (SMW) taking nutritional
supplements (NSs) in spite of the possible contamination with prohibited
compounds and the unproved efficacy for the majority of them. The aims of this
study were, among others, to determine the prevalence of use of NSs in high-level
Portuguese SMW, the reasons for their use, the sources of information and advice
and to estimate the nutritional ingestion. Subjects were asked to answer to a self-
reported questionnaire in order to characterise the use of NSs and a
semiquantitative food-frequency questionnaire. Regarding the type of supplement,
the most used were sport drinks (82.5%), products supplying proteins (57.5%) and
multivitamins/minerals (56.3%). The most frequently cited reasons for NSs intake
were "to accelerate recovery" (63.8%), "to improve sports performance" (61.3%)
and "to have more energy/to reduce fatigue" (61.3%). Physicians (62.5%) and
coaches (52.5%) were their main source of information and advice. Although the
estimated intakes for the majority of nutrients were above the recommendations, a
high percentage of SMW (94.1%) were found to take one or more NSs. In general,
the NSs’ consumption and SMW’s well or mal nutrition were not related.
Therefore, SNs should only be prescribed after a careful health and nutritional
status evaluation.
Key-words. Nutrition, sports, nutritional supplements.
Mónica Sousa
4 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
2. INTRODUÇÃO
Costill em 1988 (1) referiu que “com excepção do melhoramento físico associado
ao treino e dos limites impostos pela hereditariedade, nenhum factor tem um
papel tão preponderante na performance como a nutrição”. Apesar de difícil de
definir, o talento é indubitavelmente o atributo mais importante de um desportista
de elite (2). Com os programas de treino a tornarem-se cada vez mais exigentes,
qualquer ajuda possível deve ser considerada, e a nutrição é uma área que,
obviamente, pode fazer a diferença (2). Segundo Maughan (3), quando tudo o resto
é igual, a nutrição pode fazer a diferença entre ganhar e perder. A American
Dietetic Association (4) afirma que os desportistas conseguem satisfazer todas as
necessidades nutricionais através do consumo de uma alimentação equilibrada,
variada e energeticamente adequada. Como as deficiências nutricionais podem
ser difíceis de detectar nos seus estadios iniciais, os desportistas sentem-se
muitas vezes tentados a ingerir nutrimentos isoladamente de forma a prevenir o
aparecimento de uma possível deficiência (2). A maioria das pessoas acredita que
os suplementos são inofensivos, mas elevadas ingestões ou combinações de
muitos destes suplementos, a longo termo, podem ser perigosas (2, 5). Além disso,
a alta ingestão de alguns nutrimentos pode prejudicar a absorção, ou mascarar a
deficiência de outros nutrimentos (6). Por definição, suplementos nutricionais (SNs)
são produtos tomados com o intuito de suplementar a alimentação e incluem
vitaminas, minerais, ervas, aminoácidos e concentrados, metabolitos,
constituintes e extractos de qualquer um destes (5, 7). As ajudas ergogénicas, por
seu turno, são produtos cujo objectivo é melhorar a capacidade física, melhorar a
função fisiológica ou melhorar a performance desportiva (4, 8); muitas vezes os
SNs são incluídos nesta categoria.
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 5
Alguns estudos sobre a utilização individual de SNs indicam que alguns
desportistas ingerem, normalmente, um largo número de suplementos e que as
quantidades utilizadas podem ser excessivas relativamente àquelas
demonstradas como seguras (2). Tem sido descrito que o consumo de SNs é mais
prevalente em desportistas que na população em geral, e dentro do ambiente
desportivo, o seu uso é mais prevalente em desportistas de elite (9-11). Em alguns
casos, o uso de SNs entre os desportistas de elite chega a ser superior aos 85%
(8, 12-16). Porém, a informação acerca dos SNs que chega junto dos desportistas é,
ainda, limitada (2). Trabalhos recentes indicam que o nível de performance, a
idade, o tipo do desporto praticado (9, 12) e o género (7, 8, 10, 14, 15, 17, 18) influenciam a
prática de suplementação nutricional. Diversos estudos demonstraram que a
rotulagem de vários produtos não corresponde ao seu real conteúdo; alguns
produtos contêm menor quantidade, ou não contêm de todo, as substâncias
activas indicadas no rótulo (19-21), enquanto que outros produtos podem conter
mais de 150% da dose da substância activa referida no rótulo (9, 20). Descobertas
mais alarmantes provenientes de trabalhos recentes (22-26) demonstram que
suplementos aparentemente inocentes, e que de acordo com o rótulo continham
apenas substâncias inofensivas, continham quantidades farmacológicas de
substâncias proibidas. A contaminação pode chegar a 25% dos produtos (9).
Desta forma, para além dos possíveis riscos para a saúde que podem advir da
toma destes produtos, a sua utilização pode resultar num teste de doping positivo
(20). Por outro lado, um estudo de Papadopoulos e colaboradores (27) (n=2650)
demonstrou que era quatro vezes mais provável o uso de doping pelos
desportistas que tomavam SNs. Para além disto, a eficácia da maioria dos SNs
disponíveis no mercado não está demonstrada (20).
Mónica Sousa
6 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
Dois dados importantes relacionados com a toma de SNs são as razões que
levam o desportista a fazê-lo e quem o aconselha (2). Só tendo esta informação se
conseguirá fazer uma melhor e mais correcta abordagem acerca dos benefícios e
perigos da toma de SNs. Apesar de todos os aspectos referidos, são ainda muito
poucos os trabalhos que se dedicaram ao estudo do consumo de SNs e seus
determinantes nos desportistas portugueses de alto nível.
3. OBJECTIVOS
Determinar a prevalência de consumo de vários tipos de SNs e caracterizar
essa toma em relação ao género, à idade (menores versus (vs) maiores de
idade), à modalidade (atletismo, natação e triatlo) e ao nível desportivo;
Conhecer as razões para tomar, ou para não tomar, SNs e se existem
diferenças quanto aos motivos para a toma de suplementos em relação ao
género, à idade (menores vs maiores de idade), à modalidade e ao nível
desportivo;
Saber as fontes de informação/aconselhamento para o uso de suplementos e
caracterizá-los quanto ao género, à idade (menores vs maiores de idade), à
modalidade e ao nível desportivo;
Determinar a prevalência de patrocínio ou de redução no preço da compra e
relacionar com género, idade, modalidade e nível desportivo;
Avaliar se os desportistas se sentem informados acerca do uso dos SNs;
Estimar a ingestão energética e nutricional através de um questionário de
frequência alimentar, comparando-a com recomendações internacionais;
Estudar a relação entre os aspectos anteriores.
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 7
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1. Amostra
Este estudo contou com a participação voluntária de 85 desportistas de alto nível
pertencentes às Federações Portuguesas de Atletismo (FPA) (n=18), Natação
(FPN) (n=36) e Triatlo (FPT) (n=31), representando 23,0%, 41,4% e 35,6% da
amostra, respectivamente. Relativamente aos atletas, 25,0% pertencia à disciplina
de saltos, 5% à disciplina de lançamentos, 35,0% à disciplina de velocidade e
35,0% às disciplinas de fundo e meio fundo. Quanto aos nadadores, 88,9%
praticavam Natação Pura e os restantes 11,1%, pertenciam à disciplina de Águas
Abertas.
Foram distribuídos 172 questionários e estudados 168, 85 questionários sobre o
consumo de SNs e 83 questionários de frequência alimentar (QFAs); dois QFAs
foram excluídos por preenchimento incompleto e dois atletas não devolveram os
questionários (anexo 1).
No caso dos desportistas menores de idade foi pedida uma autorização de
participação no estudo aos encarregados de educação. Todos os outros
aceitaram participar, após lhes terem sido explicados os procedimentos e
inconvenientes do estudo. Entraram neste estudo todos os atletas que recorreram
à consulta de nutrição da FPA entre os meses de Janeiro e Março de 2008, os
nadadores pertencentes às selecções nacionais de juniores e absolutos da
disciplina de Natação Pura e os nadadores maiores de idade pertencentes à
selecção nacional da disciplina de Águas Abertas, que participaram em estágios
realizados pela FPN entre Janeiro e Março de 2008 e todos triatletas pertencentes
à selecção nacional que estavam presentes no estágio realizado pela FPT no mês
Mónica Sousa
8 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
de Fevereiro de 2008. A cada desportista, foi pedido que preenchesse dois
questionários.
4.2. Questionário Sobre o Uso de Suplementos Nutricionais
Desenvolvemos este questionário, que se encontra no anexo 2, com o objectivo
de caracterizar os desportistas quanto ao tipo, frequência e quantidade de SNs
consumidos nos 12 meses anteriores, razões de uso e fontes de informação e
aconselhamento. Durante os meses de Novembro e Dezembro de 2007 foi
aplicado o questionário piloto a parte dos atletas que passaram pela consulta de
nutrição da FPA, de forma a avaliar sua adequação.
Para efeitos analíticos utilizaram-se os dez suplementos, os dez motivos para a
toma e as seis fontes de informação/aconselhamento mais escolhidos.
4.3. Caracterização da Amostra
Foi também avaliado através do questionário referido anteriormente o nível sócio-
demográfico, o nível competitivo, o tipo e volume de treino, se o desportista tinha
patrocínio ou redução no preço de compra dos SNs e se se sentia informado
acerca do seu uso.
4.4. Questionário de Frequência Alimentar
Para estimar a ingestão energética e nutricional dos desportistas utilizou-se o
QFA semi-quantitativo desenvolvido pelo Serviço de Epidemiologia da Faculdade
de Medicina da Universidade do Porto (anexo 3); o período de avaliação deste
questionário referia-se igualmente aos 12 meses precedentes. Os dados foram
introduzidos no programa Food Processor e posteriormente exportados para o
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 9
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 14.0 for Windows, para
se proceder ao tratamento estatístico dos dados. Devido à insuficiência de valores
de adequação específicos para desportistas, utilizaram-se as DRI (Dietary
Reference Intakes) (28), nomeadamente as EAR (Estimated Average Requirement)
e AI (Adequate Intake), como referência.
4.5. Avaliação Antropométrica
Para medição do peso dos nadadores absolutos de Natação Pura e dos
nadadores de Águas Abertas utilizou-se a balança Tanita BC-531. Para os
nadadores juvenis e para alguns atletas utilizou-se a balança Tanita BC-532; os
restantes atletas foram pesados na balança de ponteiro SECA 761. Para medição
da altura dos nadadores utilizou-se um estadiómetro de parede e para os atletas,
o estadiómetro da balança SECA 761. O peso e a altura não foram medidos aos
triatletas.
4.6. Análise estatística dos dados
Para a análise estatística dos dados utilizou-se o software SPSS 14.0. Valores da
significância p<0,05 foram considerados estatisticamente significativos. Os testes
estatísticos utilizados foram o teste do qui-quadrado, para avaliar a independência
de pares de variáveis, o teste t e o teste de Mann-Whitney, ambos para comparar
as médias de amostras independentes. Utilizaram-se também correlações de
Spearman e de Pearson para estudar o grau de associação de pares de variáveis.
Para avaliar a normalidade utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov. Na análise
descritiva são apresentadas frequências (%), medianas ou média desvio padrão.
Mónica Sousa
10 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
Por comodidade, ao longo do trabalho foram salientados os resultados com
significado estatístico, ainda que a totalidade possa ser consultada nos
respectivos quadros em anexo.
5. RESULTADOS
5.1. Caracterização da amostra
Dos 85 desportistas inquiridos, 62,4% eram do género masculino e 37,6% do
género feminino. Nas três modalidades foram inquiridos mais indivíduos do
género masculino (atletismo: 55,6%; natação: 61,6%; triatlo: 66,7%) que do
feminino sem diferenças estatisticamente significativas (anexo 4). As idades
variaram entre um mínimo de 12 anos e um máximo de 37 anos (19,7±5,5 anos)
sendo que a média de idades dos atletas (26,1±5,6 anos) era superior à média de
idades dos nadadores (17,3±4,1 anos; p<0,001) e dos triatletas (18,7±3,8 anos;
p<0,001) (anexo 4). A maioria dos desportistas inquiridos era estudante (82,4%),
sendo que 2 deles exerciam simultaneamente uma actividade laboral; 11,8% dos
desportistas que participaram neste estudo eram trabalhadores e 8,2% eram
desportistas a tempo inteiro. A maior parte dos desportistas frequentava ou
finalizara o ensino superior (38,8%), 37,6% frequentava ou tinha como
escolaridade o ensino secundário e 21,2% frequentava ou tinha como habilitações
máximas o ensino básico.
Como se pode verificar no anexo 5, a mediana dos anos a que os desportistas
estavam federados foi superior para o atletismo (atletismo: 11,5 anos; natação:
7,0 anos, p=0,007; triatlo: 5,0 anos, p<0,001), tendo a natação também
apresentado maior mediana relativamente ao triatlo (p=0,001). Não se
encontraram diferenças estatisticamente significativas para o número de
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 11
internacionalizações, sendo a mediana das três modalidades em conjunto foi de
3,0 internacionalizações, com um máximo de 65,0 e um mínimo de 0,0. Quanto ao
número de treinos e horas de treino por semana, a mediana e a média,
respectivamente, foram superiores para o triatlo (atletismo: 6,0 treinos/semana e
12,1 5,8h/semana, ambos com p<0,001; natação: 8,0 treinos/semana e
16,4 3,8h/semana, ambos com p<0,001; triatlo: 14,0 treinos/semana e
24,7 5,1h/semana), tendo a natação também apresentado maiores valores de
mediana e média relativamente ao atletismo (p=0,005 e p=0,002). A natação
apresentou, igualmente, maior mediana para o número de horas de prática de
ginásio (3,0h/semana) comparativamente ao triatlo (2,0h/semana, p<0,001), não
havendo diferenças significativas entre o atletismo (2,0h/semana) e as outras
duas modalidades (anexo 5). Para o número de internacionalizações encontram-
se correlações positivas fortes com os anos de federado ( =0,55) e a idade
( =0,63) e correlações positivas fracas com o número de treinos por semana
( =0,37), as horas de treino por semana ( =0,41) e as horas de ginásio por
semana ( =0,25).
Quanto à avaliação antropométrica dos desportistas que usavam SNs (anexo 6),
não se encontraram diferenças estatisticamente significativas, entre modalidades,
para os valores de peso e altura divididos por género. As médias de peso e altura
para os desportistas masculinos pertencentes às modalidades de atletismo e
natação foram de 74,6 9,9kg e 181 6cm e para as desportistas foram de
59,0 13,1kg e 168 8cm.
Mónica Sousa
12 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
5.2. Suplementação Nutricional
No total da amostra, 80 dos 85 desportistas inquiridos (94,1%) referiram tomar
pelo menos um SN nos 12 meses antecedentes (96,9% do género feminino e
92,5% do género masculino). Não se encontrou relação entre a toma de
suplementos e o género, ser maior ou menor de idade, a escolaridade, a
ocupação, a modalidade, a média das horas de treino por semana e a mediana do
número de treinos por semana, dos anos de federado, do número de
internacionalizações e das horas de ginásio por semana.
A mediana de anos de toma de suplementos foi de 2,0 anos, com um mínimo de 2
semanas e um de máximo 20,0 anos. Os desportistas masculinos reportaram uma
toma de SNs desde há mais tempo que os femininos (ambos com medianas de
2,0; médias de 3,75±3,81 vs 1,94±1,30 anos; p=0,035) assim como os
desportistas com idade igual ao superior a 18 anos relativamente aos menores de
idade (medianas de 3,0 vs 1,0 anos). Os atletas apresentaram uma toma de SNs
desde há mais tempo relativamente aos nadadores (medianas de 4,0 vs 2,0 anos;
p=0,006) e aos triatletas (2,0 anos de mediana; p=0,011), não se observando
diferenças entre os nadadores e os triatletas. Obtiveram-se correlações positivas
moderadas entre o tempo a que os desportistas consumiam SNs e o tempo de
federado ( =0,58) e a idade ( =0,63) e correlações positivas fracas para o
número de internacionalizações ( =0,44) e para a escolaridade ( =0,34).
Neste estudo, foi reportado um total de 410 suplementos, com uma mediana de
consumo de 4,0 suplementos por desportista, sendo o mínimo 1 e o máximo 13.
Não se encontraram diferenças entre o número de suplementos tomados e o
género. Verificou-se que os atletas (mediana de 6,5; p=0,001) e os triatletas
(mediana de 5,0; p=0,001) consumiam maior número de SNs relativamente aos
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 13
nadadores (mediana de 3,0). Verificou-se a existência de uma correlação positiva
forte entre o número de suplementos consumidos e a idade ( =0,77), de
correlações positivas moderadas com a escolaridade ( =0,63) e o número de
internacionalizações ( =0,72) e correlações positivas fracas com os anos de
federado ( =0,49) e o número de treinos por semana ( =0,43).
Dos 5 desportistas que referiram não tomar SNs, 3 eram nadadores (os 3 do
género masculino) e 2 atletas (1 do género masculino e 1 do género feminino),
sendo que todos os triatletas inquiridos tomavam algum tipo de SNs. As razões
apontadas por estes foram: “não acredito no que alegam” (n=2),
“desconhecimento do efeito” (n=1), “falta de hábito no consumo” (n=1) e “falta de
paciência para o consumo” (n=1).
5.2.1. Tipos de SNs usados. Os dez SNs mais utilizados pelos
desportistas inquiridos foram as bebidas desportivas, consumidas por 82,5% dos
indivíduos que tomavam SNs, fornecedores de proteicos (57,5%),
multivitamínicos/minerais (56,3%), magnésio (50,0%), glutamina (41,3%), géis
desportivos (40,0%), ferro (30,0%), vitamina C (18,8%), antioxidantes (15,0%) e a
creatina (13,8%) (anexo 7).
O ferro foi o único suplemento que apresentou dependência em relação ao
género (p=0,026), sendo que foram os desportistas do género masculino que
reportaram maior consumo deste SN (38,8% vs 16,1%) (anexo 8). Encontrou-se
dependência entre ser menor ou maior de idade e o consumo de fornecedores
proteicos (35,3% vs 73,9%, respectivamente; p=0,001), antioxidantes (0,0% vs
26,1%; p=0,001), glutamina (26,5% vs 52,2%; p=0,018) e ferro (17,6% vs 39,1%;
p=0,032) (anexo 9). Dividindo por modalidades (anexo 10), verificaram-se
Mónica Sousa
14 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
dependências entre a modalidade e o consumo de fornecedores de proteína
(atletismo: 68,8%; natação: 27,3%: triatlo: 83,9%; p<0,001), de bebidas
desportivas (atletismo: 68,8%; natação: 75,8%: triatlo: 96,8%; p=0,023), de géis
desportivos (atletismo: 12,5%; natação: 9,1%: triatlo: 87,1%; p<0,001), de
glutamina (atletismo: 37,5%; natação: 6,1%: triatlo: 80,6%; p<0,001), de magnésio
(atletismo: 68,8%; natação: 60,6%: triatlo: 29,0%; p=0,010) e de ferro (atletismo:
31,3%; natação: 6,1%: triatlo: 54,8%; p<0,001). A mediana do número de
internacionalizações mostrou-se mais elevada para os desportistas consumidores
de fornecedores proteicos (7,0 vs 0,0; p=0,002), de bebidas desportivas (5,0 vs
0,0; p=0,003), de antioxidantes (15,0 vs 1,0; p=0,002), de glutamina (7,0 vs 0,0;
p=0,002), de vitamina C (8,0 vs 1,0; p=0,013) e de ferro (7,0 vs 0,0; p<0,001).
5.2.2. Motivos para o uso de SNs. A análise do motivo para o uso de
suplementos revelou que “acelerar a recuperação” (63,8%), alcançar “melhor
desempenho desportivo” (61,3%), “ter mais energia/reduzir o cansaço” (61,3%),
“permanecer saudável” (45,0%), “prevenir/tratar doença ou lesões” (30,0%),
“aumentar a concentração” (17,5%), “corrigir erros alimentares” (16,3%),
“aumentar a força” (16,3%), “aumentar a resistência” (15,0%) e “ganhar massa
muscular” (15,0%), foram as dez razões mais escolhidas para o uso de SNs
(anexo 11).
Analisando as razões para a toma entre géneros (anexo 12), apenas se encontrou
dependência entre esta variável e “permanecer saudável” (p=0,019), com os
desportistas masculinos a apresentarem maior percentagem de escolha desta
opção (55,1% vs 29,0%). Encontraram-se dependências entre ser menor ou maior
de idade e “aumentar a força” (2,9% vs 26,1%; respectivamente; p=0,005),
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 15
“acelerar a recuperação” (35,3% vs 84,8%; p<0,001) e “ganhar massa muscular”
(5,9% vs 21,7%; p=0,046) (anexo 13). Dividindo por modalidades (anexo 14), as
opções “permanecer saudável” (atletismo: 31,3%; natação: 33,3%; triatlo: 64,5%;
p=0,020), “aumentar a força” (atletismo: 56,3%; natação: 6,1%; triatlo: 6,5%;
p<0,001), “acelerar a recuperação” (atletismo: 93,8%; natação: 42,2%; triatlo:
71,0%; p=0,001) e “prevenir/tratar doença ou lesões” (atletismo: 43,8% natação:
15,2%; triatlo: 38,7%; p=0,049), demonstraram ser dependentes da modalidade
do desportista. A mediana do número de internacionalizações mostrou-se mais
elevada para os desportistas que escolheram as opções “aumentar a força” (7,0
vs 1,0; p=0,006), “acelerar a recuperação” (7,0 vs 0,0; p=0,002), “prevenir/tratar
doenças ou lesões” (7,0 vs 1,0; p=0,010) e “ganhar massa muscular” (7,5 vs 1,0;
p=0,019).
Relacionando os dez suplementos mais consumidos com as dez razões mais
apontadas para o seu uso (anexo 15), encontraram-se as seguintes dependências
significativas: “permanecer saudável” e géis desportivos (p<0,001), glutamina
(p=0,048) e ferro (p=0,035), entre “aumentar a força” e fornecedores proteicos
(p=0,028) e magnésio (p=0,033), entre “acelerar a recuperação” e fornecedores
proteicos (p<0,001), bebidas desportivas (p=0,019) e glutamina (p<0,001), entre
“aumentar a concentração” e géis desportivos (p=0,042), entre “ter mais
energia/reduzir o cansaço” e multivitamínicos/minerais (p=0,034), entre
“prevenir/tratar doenças ou lesões” e fornecedores proteicos (p=0,002), géis
desportivos (p=0,027), glutamina (p=0,038) e ferro (p=0,041) e entre “ganhar
massa muscular” e fornecedores proteicos (p=0,008). Por comodidade, os valores
relativos às respostas congruentes encontram-se no respectivo anexo.
Mónica Sousa
16 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
5.2.3. Fontes de informação/aconselhamento para o uso de SNs. As
seis opções mais relatadas como fonte de informação/aconselhamento foram o
médico (62,5%), o treinador (52,5%), o próprio desportista (18,8%), os familiares
(17,5%), outros desportistas (16,3%) e o nutricionista (15,0%) (anexo 16).
Não se encontraram dependências entre a fonte de informação e o género (anexo
17). Dividindo em menores e maiores de idade (anexo 18), encontraram-se
dependências para o treinador (67,6% vs 41,3%, respectivamente; p=0,017) e os
familiares (32,4% vs 6,5%; p=0,003). Entre modalidades (anexo 19), apenas se
verificou haver dependência para o treinador (atletismo: 31,3%; natação: 30,3%;
triatlo: 87,1%; p<0,001). A mediana do número de internacionalizações mostrou-
se mais elevada para os desportistas que referiram escolher como fonte de
aconselhamento o médico (7,0 vs 0,0, p<0,001).
Relacionando a fonte de aconselhamento com os 10 suplementos mais utilizados
(anexo 20), encontraram-se dependências entre médico e o uso de glutamina
(p=0,002), vitamina C (p=0,028) e ferro (p<0,001), entre treinador e géis
desportivos (p=0,001), antioxidantes (p=0,008) e glutamina (p=0,009), e entre o
próprio desportista e os outros desportistas e o magnésio (p=0,010 e p=0,001,
respectivamente). Encontram-se também relacionados o médico com a escolha
das opções “permanecer saudável” (p=0,010) e “prevenir/tratar doenças ou
lesões” (p=0,002), entre o treinador e “aumentar a força” (p=0,021) e entre os
familiares e “acelerar a recuperação” (p=0,019) e “ter mais energia/reduzir o
cansaço” (p=0,034) (anexo 21).
5.2.4. Patrocínio ou redução no preço da compra de SNs. Dos 80
desportistas que consumiam suplementos, 12 eram patrocinados (15,0%) e 36
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 17
(45,0%) tinham redução no preço da compra. Não se encontrou dependência
entre ser patrocinado ou ter redução no preço da compra com o género. Foram
encontradas dependências entre este parâmetro e ser menor ou maior de idade
(33,3% vs 66,7%, respectivamente; p=0,026), e a modalidade (atletismo, 16,7%;
natação, 22,9%; triatlo, 60,4%; p<0,001).
Verificou-se que a mediana de internacionalizações foi superior para os
desportistas patrocinados ou com redução no preço (7,0 vs 0,0, p<0,001). Foram
também encontradas dependências entre ter patrocínio ou redução no preço e o
consumo de fornecedores proteicos (p<0,001), géis desportivos (p<0,001),
glutamina (p<0,001) e ferro (p=0,002), sendo que o seu uso foi superior nos
desportistas patrocinados ou com redução no preço.
5.2.5. Informação/conhecimento acerca do uso de SNs. Dos 5
desportistas que referiram não tomar SNs, 2 (40,0%) referiram sentir-se
suficientemente informados acerca do seu uso. Relativamente aos que tomavam
SNs, 53 (66,3%) também se sentiam suficientemente informados. Apesar da
grande maioria dos desportistas tomar suplementos, não foi encontrada
dependência significativa entre a toma destas substâncias e o facto do desportista
se sentir informado.
Não foram encontradas dependências entre este parâmetro e o género, ser
menor ou maior de idade, a modalidade e os dez suplementos mais tomados. A
mediana para o número de internacionalizações também se revelou semelhante
entre os que se sentiam informados e os que não se sentiam.
Mónica Sousa
18 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
5.3. Ingestão nutricional
A estimativa de ingestão para energia, macro e micronutrimentos dos desportistas
que tomavam SNs, divididos por classes de idade e por género, encontra-se no
anexo 22. Encontraram-se médias de ingestão abaixo das EAR para a vitamina E
para o género feminino na classe de idades dos 14-18 anos (11,4 3,2mg/dia) e
para o género masculino para as classes de idades dos 19-30 anos
(11,6 3,7mg/dia) e dos 31-50 anos (9,53 3,85mg/dia) (prevalência de
inadequação de 47,4%, no total). Médias de ingestão abaixo das AI foram
também encontradas para o potássio para a classe dos 31-50 anos para o género
masculino (3754 850mg/dia).
Valores acima do UL (Tolerable Upper Intake Level) foram encontrados para a
vitamina A e niacina para o género masculino na classe de idade dos 14-18 anos
(2821 1768 g/dia e 32,1 11,5mg/dia) e para o género feminino nas classes de
idades dos 9-13 anos (2558 1578 g/dia e 37,8 17,8mg/dia) e dos 19-30 anos
(4073 3006 g/dia e 36,9 22,6mg/dia); valores superiores ao UL também foram
encontrados para o sódio para ambos os géneros na classe de idades dos 14-18
anos (masculino: 2974 1110mg/dia; feminino: 2717 783mg/dia), para o género
masculino na classe de idades dos 19-30 anos (2753 766mg/dia) e para o género
feminino na classe de idades dos 9-13 anos (3098 1202mg/dia).
Entre modalidades (anexo 23), os praticantes de atletismo apresentaram menores
médias de consumo de glícidos (312 98g/dia) que os desportistas das
modalidades de natação (402 172g/dia, p=0,026) e triatlo (426 156g/dia,
p=0,011). Dividindo por género (anexo 24), os atletas masculinos apresentaram
menores médias de ingestão de glícidos (292 82g/dia vs 396 138g/dia, p=0,047)
e de tiamina (1,95 0,55mg/dia vs 2,65 0,86mg/dia; p=0,035) que os nadadores
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 19
masculinos, e de potássio (3917 1078mg/dia vs 5261 1698mg/dia, p=0,040) e
glícidos (292 82g/dia vs 414 170g/dia, p=0,011) que os triatletas masculinos.
Não se encontraram diferenças para as médias de ingestão entre as desportistas
femininas das três modalidades.
Quanto à ingestão de proteínas e glícidos por kg de peso corporal por dia para as
modalidades de atletismo e natação (anexo 25), verificou-se uma ingestão
proteica semelhante entre modalidades e uma ingestão de glícidos maior para os
nadadores (6,59 3,34g/kg de peso corporal/dia vs 4,60 1,53g/kg de peso
corporal/dia). Entre géneros, verificou-se, no geral, uma maior consumo tanto de
proteínas (masculino: 1,73 0,52g/kg de peso corporal/dia; feminino:
2,44 1,25g/kg de peso corporal/dia; p=0,024) como de glícidos (masculino:
5,03 2,18g/kg de peso corporal/dia; feminino: 7,18 3,56g/kg de peso corporal/dia,
p=0,023) por parte das desportistas femininas.
6. DISCUSSÃO
Ao melhor do nosso conhecimento, este é um estudo pioneiro em Portugal no que
respeita à análise da prevalência de uso de SNs, motivos para o uso e fontes de
aconselhamento em desportistas de alto nível das modalidades de atletismo,
natação e triatlo. Algumas conclusões resultantes deste trabalho, e exclusivas
desta população de desportistas, podem estimular e orientar futuras pesquisas na
área dos SNs na prática desportiva.
6.1. Prevalência de uso de SNs
Na população estudada, 94,1% dos participantes referiram tomar pelo menos um
SN, valor acima do apresentado em alguns estudos semelhantes realizados
Mónica Sousa
20 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
noutros países (7, 8, 11-13, 16, 18, 29, 30), e dentro ou abaixo do relatado noutros (14, 15).
Em linha com trabalhos anteriores (12, 16, 31), verificou-se que os desportistas
utilizavam uma combinação de substâncias: 410 suplementos para 80 indivíduos,
com uma mediana de consumo de 4,0 suplementos por desportista, valor um
pouco mais elevado que nos estudos referidos anteriormente.
O maior consumo de bebidas desportivas (82,5%), relativamente aos outros SNs
é consistente, com resultados de outros estudos (8, 12, 31, 32), enquanto que os géis
desportivos (40,0%) apresentaram valores de consumo mais elevados
relativamente a estudos anteriores (12, 14). Estão bem relatados os benefícios de
ingestão de glícidos e de líquidos durante o exercício físico (4). Durante o exercício
o primeiro objectivo da nutrição é fornecer glícidos, para manter os níveis de
glicose sanguíneos, e repor os fluidos perdidos (4). Sabe-se que a performance é
óptima quando o desportista mantém o balanço hídrico durante o exercício (4),
estando a hipohidratação relacionada com um maior esforço cardiovascular, um
comprometimento da termorregulação e diminuição das taxas de síntese de
glicogénio e proteínas (por diminuição do volume intracelular) (33).
Os multivitamínicos/minerais (56,3%), tal como se verificou neste trabalho,
encontram-se frequentemente na listagem dos suplementos mais tomados (7, 8, 10,
14-16, 29, 31, 32, 34). Em alguns trabalhos (5, 15, 29) os valores encontrados para o
consumo de ferro (30,0%) foram muito semelhantes ao valor encontrado neste
estudo apesar de nalguns trabalhos (8, 14) o ferro pertencer ao grupo dos
suplementos menos utilizados. Os antioxidantes (15,0%) não costumam ser
referidos entre os SNs mais consumidos (11) ou, pelo menos, não costumam ser
considerados como uma categoria isolada. Para a vitamina C (18,8%),
encontraram-se valores semelhantes (10) ou inferiores (5, 8, 15, 29, 31) aos descritos
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 21
noutros estudos. Teoricamente, o exercício regular pode aumentar as
necessidades em vitaminas e minerais uma vez que estimula muitas das vias
metabólicas onde estes são necessários, aumenta o seu turnover e aumenta a
necessidade de reparação e manutenção da massa magra (4, 35). Porém, é
assumido que as recomendações de ingestão de micronutrimentos para a
população em geral (DRI) são apropriadas para desportistas, desde que haja uma
ingestão energética adequada e um consumo de variados alimentos (4). A
suplementação em determinados micronutrimentos pode mesmo ser perigosa.
Evidências sugerem que a vitamina C, especialmente quando co-suplementada
com o ferro, pode causar, iniciar ou agravar distúrbios gastrointestinais, incluindo
cancro (36) e que uma elevada ingestão de ferro pode estar relacionada com um
maior risco para o desenvolvimento da doença de Parkinson (37). Por outro lado,
alguns paradoxos têm sido descritos quanto à acção da suplementação em
micronutrimentos, nomeadamente em antioxidantes (38, 39); dois factores que
podem explicar essas contradições são, que por um lado, o efeito protector da
alimentação não é equivalente ao efeito protector da suplementação com
antioxidantes e, que por outro, para algumas funções celulares é necessário uma
oxidação localizada, ou seja, a administração de antioxidantes pode levar a um
efeito protector ou pelo contrário, a um prejuízo, dependendo do local onde
intervém numa sequência de eventos (38). É curioso constatar que, apesar dos
antioxidantes se encontram muitas vezes adicionados aos
multivitamínicos/minerais, neste trabalho, 75% dos indivíduos (9 em 12) que
referiram tomar antioxidantes, faziam co-ingestão de multivitamínicos/minerais e
33,3% (4 em 12) de vitamina C. Não existe ainda consenso acerca da maior
necessidade de antioxidantes em praticantes de exercício físico intenso, nem do
Mónica Sousa
22 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
efeito benéfico da sua suplementação em desportistas (20, 40). Está descrito que
um excesso de produção de espécies reactivas de oxigénio (EROS), resultante do
elevado consumo de oxigénio durante o exercício, pode levar a dano da célula
muscular (20, 40). Porém, deve-se também considerar que a formação de EROS,
por intervir em vias de transdução de sinal, provavelmente também contribui para
promover adaptações ao treino (20) e que um desportista treinado tem,
provavelmente, um sistema antioxidante endógeno mais desenvolvido que uma
pessoa sedentária (4). Assim, é definitivamente melhor opção incluir na dieta uma
selecção de alimentos com um alto conteúdo de antioxidantes do que fazer
suplementação em antioxidantes (20).
O magnésio (50,0%) (29, 41) encontra-se nalgumas listagem de SNs de trabalhos
semelhantes, mas ao contrário do presente estudo, representa uma pequena
percentagem dos SNs usados. O aumento da ingestão de magnésio (através de
suplementação ou da alimentação) tem demonstrado efeitos benéficos na
performance física em indivíduos com deficiência neste micronutrimento (42), mas
o mesmo efeito não tem sido demonstrado em indivíduos fisicamente activos e
com níveis de magnésio adequados (42).
Os fornecedores proteicos (57,5%), tal como os multivitamínicos/minerais,
encontram-se, na maioria dos trabalhos, na listagem dos suplementos mais
utilizados (7, 8, 12, 14, 16, 29, 31, 32, 34); porém, a ordem de uso costuma ser a inversa, ou
seja, os multivitamínicos/minerais são comummente mais usados que os
fornecedores proteicos (7, 8, 12, 14, 16, 29, 31, 32, 34). A glutamina (41,3%) (8), à
semelhança do magnésio, também se encontra nalgumas listagem de SNs de
trabalhos semelhantes, porém tem apenas representado uma pequena
percentagem dos SNs usados, ao contrário do verificado neste trabalho. Vários
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 23
efeitos ergogénicos têm sido associados à glutamina, nomeadamente a
aceleração da recuperação e a diminuição da frequência de infecções (43). A
glutamina é um substrato importante para linfócitos e monócitos e baixos valores
deste aminoácido demonstraram, in vitro, diminuir a taxa de proliferação de
linfócitos (44). Como o músculo-esquelético é o tecido mais envolvido na produção
de glutamina, tem sido proposto que a actividade muscular pode directamente
influenciar o sistema imunitário por alterar a disponibilidade deste substrato (44, 45).
Porém, a concentração plasmática de glutamina após o exercício não parece
diminuir abaixo do limiar que compromete a função linfocitária (44). A glutamina
pode também servir como substrato para a produção de energia através da sua
conversão em glutamato; durante este processo, ocorre libertação de iões de
amónio (NH4+) cuja excreção renal pode ajudar a tamponar a acidose metabólica,
incluindo a acidose láctica resultante do exercício (43). Tem sido proposto que este
efeito fisiológico pode contribuir para prolongar as sessões de treino ou promover
uma recuperação mais rápida (43). Porém, trabalhos que estudaram a relação
entre suplementação em glutamina e a recuperação do exercício físico, tendo
como base a sua capacidade de tamponamento, o tempo até à fadiga ou o
balanço proteico, falharam na demonstração consistente de um efeito ergogénico
benéfico proveniente da suplementação neste aminoácido (43).
A creatina (13,8%) apresentou neste estudo, valores mais baixos de consumo
comparativamente a outros trabalhos (5, 8, 15, 16, 29, 31) mas mais elevados
relativamente a outros (7, 10, 11, 14, 32). A creatina tem sido utilizada tanto como um
suplemento para desportos de força, como para desportos de endurance. A
maioria das revisões acerca da creatina concluiu que esta tem um efeito benéfico
na performance em exercícios de alta intensidade e de curta duração (2, 20).
Mónica Sousa
24 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
Porém, não existe ainda evidência que suporte o efeito benéfico desta
suplementação na performance em exercícios de endurance (2, 20). A ingestão de
creatina na ordem dos 15-20g/dia (fase de carga) é muitas vezes acompanhada
por um aumento da massa corporal (1-3kg em 3-4 dias) (2), resultante
provavelmente e maioritariamente de um aumento do conteúdo intracelular de
água e/ou da acumulação de glicogénio (20). Uma possível explicação para a baixa
prevalência de uso de creatina neste trabalho, comparativamente a outros, pode
dever-se ao ganho de peso associado à sua toma, que poderá prejudicar a
performance.
6.1.2. Uso de SNs e os seus determinantes. Estudos recentes indicam
que o nível de performance influencia a prática de suplementação nutricional,
assim como a idade e o tipo do desporto praticado (9, 12). Neste estudo a
prevalência de consumo de SNs foi bastante elevada, motivo pelo qual
provavelmente não se encontrou relação entre a toma de suplementos e o
género, a idade, a escolaridade, a ocupação, a modalidade, o tempo de treino, os
anos de federado e o número de internacionalizações. Noutros trabalhos, a
prevalência de consumo também demonstrou não ser influenciada pelo género (10,
11, 15, 31), idade (15, 18, 31), modalidade (18), volume de treino (15, 31) e nível do
desportista (31). Os atletas apresentaram uma toma de SNs desde há mais tempo
que as outras duas modalidades, reflectido provavelmente a média de idades
mais elevada da amostra dos desportistas desta modalidade (só se inquiriram
atletas com idade igual ou superior a 18 anos). Neste estudo, verificou-se haver
uma tendência positiva entre o tempo a que os desportistas tomavam SNs e a
idade, a escolaridade, o tempo de federado e o número de internacionalizações.
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 25
Também se verificou uma tendência positiva entre o número de suplementos
consumidos por indivíduo e a idade, a escolaridade, o tempo de federado e o
número de internacionalizações e de treinos. Noutros trabalhos (10, 12, 16, 18)
também se verificou um aumento do consumo de SNs com a idade e o nível de
performance. Ou seja, a toma de SNs não parece diminuir por os desportistas se
tornarem mais velhos, mais escolarizados, mais experientes e de maior nível
desportivo, pelo contrário, o número de SNs consumidos parece ter tendência a
aumentar.
Os padrões de consumo de SNs entre o género masculino e o género feminino
também têm sido estudados noutros trabalhos, e os resultados têm-se revelado
contraditórios (7, 8, 10, 11, 14, 15, 17, 18). Neste estudo, o consumo de nove dos dez SNs
mais utilizados foi semelhante entre géneros, sendo o consumo de ferro o único
dependente do género. Ao contrário do encontrado noutros estudos (8, 14, 29), neste
trabalho o ferro apresentou maior consumo por parte dos desportistas do género
masculino. Em linha com outros estudos (8, 46), a modalidade parece influenciar o
tipo de NSs utilizados. O nível do desportista parece também estar relacionado
com o tipo de SNs tomados, uma vez que o aumento do número de
internacionalizações está associado ao aumento do consumo de mais de metade
dos dez SNs referidos como mais usados.
6.2. Motivos para o uso de SNs
As opções mais seleccionadas, neste trabalho, para justificar a toma de SNs,
nomeadamente, “acelerar a recuperação” (63,8%), “melhorar o desempenho
desportivo” (61,3%), “ter mais energia/reduzir o cansaço” (61,3%), “permanecer
saudável” (45,0%), “prevenir/tratar doenças ou lesões” (30,0%), “aumentar a
Mónica Sousa
26 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
força” (16,3%), “corrigir erros alimentares” (16,3%) e “ganhar massa muscular”
(15,0%) também têm sido documentadas noutros estudos com populações
desportistas (não necessariamente pela mesma ordem de prioridade) (7, 8, 12, 15, 31).
Porém, ao contrário do observado neste estudo, as razões “aumentar a
concentração” (17,5%) e “aumentar a resistência” (15,0%) não são comummente
encontradas noutros trabalhos como fazendo parte das razões mais escolhidas.
Relativamente ao género, a única dependência encontrada foi para “permanecer
saudável”, sendo os desportistas do género masculino os que apresentaram
maior percentagem de escolha; este facto diverge do encontrado noutros estudos
(5, 8, 10, 15), nos quais as escolhas das desportistas femininas são as que parecem
ser dominadas pela manutenção da saúde. As opções “aumentar a força”,
“acelerar a recuperação” (esta opção também verificada por Erdman e
colaboradores (10)) e “ganhar massa muscular” parecem ser mais determinantes
para o uso de SNs pelos desportistas mais velhos que pelos mais novos. Como
também se demonstrou noutro estudo (8), verificou-se existir diferenças para os
motivos de toma entre modalidades. Também em linha com trabalhos anteriores,
o nível do desportista parece influenciar os motivos para a toma, sendo que os
desportistas com mais internacionalizações escolheram mais as opções
“aumentar a força”, “acelerar a recuperação” (12), “prevenir/tratar doença ou
lesões” (12) e “ganhar massa muscular”.
Algumas dependências foram encontradas entre o motivo para a toma e o tipo de
suplementos. Algumas destas podem não ter suporte científico estabelecido,
como a relação encontrada entre os géis e “permanecer saudável” e
“prevenir/tratar doenças ou lesões”. Como em estudos anteriores (8, 16, 32, 46, 47),
encontrou-se relação entre o consumo de multivitamínicos/minerais e a opção “ter
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 27
mais energia/reduzir o cansaço”. Apesar das vitaminas e minerais não
contribuírem directamente para o fornecimento de energia (não possuírem valor
energético), alguns micronutrimentos intervêm no metabolismo energético,
nomeadamente a tiamina, a riboflavina, a niacina e a vitamina B6 (4).
As proteínas têm um importante papel na manutenção, reparação e crescimento
dos tecidos, nomeadamente do muscular e, em menor grau, no fornecimento de
energia (4). No presente trabalho, como noutros, encontrou-se relação entre o
consumo de fornecedores proteicos e “aumentar a força” (5), “acelerar a
recuperação”, “prevenir/tratar doenças ou lesões”, talvez relacionada com o
objectivo de diminuir o dano proteico e assim o número de lesões e “ganhar
massa muscular” (32, 47). Porém, os desportistas não demonstraram ter uma
ingestão proteica alimentar abaixo das recomendações, questionando assim a
necessidade de suplementação da sua alimentação com fornecedores proteicos.
Além disso, a ingestão de proteína para além das recomendações não resulta
num aumento acrescido de massa muscular uma vez que existe um limite para a
taxa de desenvolvimento de tecido muscular (4).
Encontrou-se também dependência significativa entre o uso de bebidas
desportivas e “acelerar a recuperação”. Como discutido anteriormente, a ingestão
de bebida desportiva durante o exercício permite fornecer glícidos para a
manutenção dos níveis de glicose sanguíneos (4), atrasando o instalar da fadiga e
melhorado a performance (48). Por outro lado, as taxas da glicogenólise e
gliconeogénese hepáticas são reduzidas com a ingestão de glícidos durante
exercícios de baixa intensidade (48). Além disso, a maior taxa de reposição das
reservas de glicogénio ocorre durante a primeira hora após o exercício (49), e é
Mónica Sousa
28 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
comum os desportistas continuarem a fazer ingestão de bebida após o fim do
treino, permitindo uma melhor e mais eficaz recuperação.
O consumo de glutamina demonstrou estar dependente dos seguintes motivos:
“permanecer saudável”, “acelerar a recuperação” e “prevenir/tratar doenças ou
lesões”. Como descrito anteriormente, não existe ainda evidência conclusiva que
demonstre o efeito ergogénico da glutamina.
Relativamente ao consumo de magnésio, este apresentou estar dependente do
motivo “aumentar a força”, porém a suplementação de magnésio em indivíduos
que possuem níveis adequados, não tem demonstrado melhorar a performance
física (42).
A ingestão de ferro, como seria espectável, parece estar mais associada a
questões de saúde, uma vez que demonstrou estar relacionado com “permanecer
saudável”; porém, ao contrário do que seria de esperar e do encontrado por
Petroczi (41), o uso de ferro foi inferior nos desportistas que escolheram a opção
“prevenir/tratar doenças ou lesões”.
6.3. Fontes de informação/aconselhamento para o uso de SNs
O conhecimento das fontes de aconselhamento dos desportistas é uma
informação crucial para se poder projectar e implementar estratégias de educação
apropriadas para todos os envolvidos no treino e educação dos desportistas.
Neste trabalho, a fonte de informação/aconselhamento mais citada foi o médico
(62,5%), seguida de perto pelo treinador (52,5%); as restantes fontes de
informação revelaram percentagens de escolha bastante mais baixas, na ordem
de três vezes menos. Apesar de neste trabalho o médico ser a fonte de
informação mais procurada, o mesmo não se observou noutros estudos
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 29
realizados com desportistas (o médico chega mesmo a não fazer parte das fontes
de informação eleitas pelos desportistas) (8, 10, 11, 15, 16, 18, 46); nesses trabalhos o
treinador e a família são, geralmente, as entidades mais escolhidas como fontes
de informação/aconselhamento, apesar de geralmente não possuírem uma
educação nutricional específica. Verificou-se, neste estudo, que os desportista de
maior nível, referiram recorrer mais ao médico como fonte de informação sobre a
toma de SNs enquanto que os mais novos tendiam a recorrer mais ao treinador e
aos familiares. Entre modalidades, os triatletas foram os únicos que referiram
recorrer mais ao treinador que ao médico. Os resultados do presente estudo
poderão sugerir que os SNs começam a ser vistos por estes desportistas
portugueses, pelo menos por parte dos mais internacionalizados, mais velhos,
atletas e nadadores, como uma forma de intervenção médica, apesar de os
valores para aconselhamento por parte do nutricionista ser ainda baixo. Porém,
em Portugal também são ainda poucos os nutricionistas associados à área do
desporto. Visto que os treinadores e os familiares também demonstraram, neste
trabalho, serem importantes fontes de informação, torna-se cada vez mais
necessário que estes estejam igualmente inteirados e actualizados acerca dos
vários tipos de suplementos existentes, das suas possíveis acções e interacções
e das eventuais consequências negativas do seu uso, nomeadamente um valor
positivo num teste de anti-dopagem. Ao contrário do verificado noutros estudos (8,
10, 11, 46), neste trabalho as fontes de informação não divergiram entre os géneros.
Relacionando a fonte de informação com a toma de SNs e os motivos para a
toma, parece haver uma tendência para o médico estar relacionado mais com as
questões relativas à saúde (relação com vitamina C, ferro, “permanecer saudável”
e “prevenir/tratar doenças ou lesões”), o treinador com o desempenho desportivo
Mónica Sousa
30 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
(relação com géis desportivos e glutamina) e os familiares com questões
relacionadas com outras actividades de uma rotina normal (relação com “ter mais
energia/reduzir o cansaço”).
6.4. Patrocínio ou redução no preço da compra de SNs
É curioso constatar que mais de metade dos indivíduos que colaboraram neste
estudo tinha patrocínio ou redução no preço da compra de SNs, sendo os
desportistas mais velhos e com maior número de internacionalizações os que
tinham acesso mais facilitado a SNs por esta via. Tanto o patrocínio como a
redução de preço poderão ser fortes razões para o consumo de suplementos e,
possivelmente, para um consumo de um maior número de SNs. A corroborar esta
ideia, encontram-se as relações verificadas entre ser patrocinado e o uso de
fornecedores proteicos, géis desportivos, glutamina e ferro.
6.5. Informação/conhecimento acerca do uso de SNs
Um melhor conhecimento acerca das características e das limitações dos vários
tipos de SNs poderá constituir um importante factor na redução do seu uso (11). De
facto, Massad e colaboradores (50) identificaram uma diminuição do uso de SNs
com o aumento do conhecimento na área da nutrição. Alguns estudos
demonstraram que 60 a 84% dos desportistas tinham um conhecimento limitado,
ou não tinham conhecimento, acerca dos SNs (12, 15, 31). Neste trabalho, a maioria
(66,3%) dos indivíduos que tomavam SNs, referiu sentir-se suficientemente
informada quanto ao seu uso, apesar de algumas das associações entre SNs
utilizados e motivos para a toma terem revelado alguma incongruência, sugerindo
falta de conhecimento ou de compreensão do efeito do SN. Este acontecimento
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 31
poderá ser explicado pelo facto de no presente estudo os desportistas serem
interrogados sobre a sua percepção de conhecimento acerca do uso de SNs,
enquanto que no trabalho de Massad e colaboradores se avaliou directamente os
conhecimentos em nutrição.
6.6. Ingestão nutricional
Através da análise do QFA verificou-se que os desportistas tinham, para a maioria
dos nutrimentos analisados, estimativas de ingestão superiores às EAR/AI (28)
(anexo 22). As estimativas de ingestão de cálcio, ferro e zinco, nutrimentos
referidos como os principais em défice em desportistas, nomeadamente, do
género feminino (4), encontravam-se, nesta amostra, acima das EAR/AI para as
classes de idades estudadas e para os dois géneros. Por outro lado, verificou-se
que a estimativa da ingestão de potássio para os desportistas masculinos com
idade igual ou superior a 31 anos (n=6) se encontrava abaixo das
recomendações, resultado também documentado noutro estudo (51). A
especialidade de quatro dos seis desportistas acima referidos enquadra-se no
meio-fundo e fundo, modalidade de atletismo. Desportistas desta especialidade
recorrem muitas vezes a restrições alimentares, por vezes agressivas, como
forma de controlar o peso corporal, factor que pode causar carências nutricionais.
Verificou-se também que a estimativa de ingestão de vitamina E estava abaixo do
recomendado pelas EAR, para vários desportistas de ambos os géneros, facto
igualmente documentado noutros trabalhos (51-53). No caso destes desportistas,
poder-se-ia pensar numa suplementação neste nutrimento específico ou apelar ao
consumo de alimentos ricos em vitamina E, como é o caso do azeite e de outros
óleos vegetais, frutos gordos, como a amêndoa, o amendoim e a avelã e de
Mónica Sousa
32 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
alguns peixes como a cavala, a garoupa, o peixe espada e o salmão (54). Assim
sendo, e tendo em conta que a suplementação em vitaminas e minerais apenas
poderá melhorar a performance e o estado nutricional daqueles com deficiência
ou que consumam quantidades marginais de micronutrimentos (16), a grande
maioria dos desportistas estava provavelmente a tomar de forma desnecessária
multivitamínicos/minerais e outros suplementos como o ferro, magnésio, vitamina
C e antioxidantes, uma vez que a sua alimentação fornecia os nutrimentos nas
quantidades necessárias. Desta forma, a suplementação em micronutrimentos
deve ser apenas prescrita após a avaliação do status nutricional do desportista.
O uso de alimentações muito ricas em proteínas tem uma longa história na
nutrição do desporto (2). Apesar de neste momento não existir consenso acerca da
necessidade do aumento da ingestão proteica em desportistas relativamente à
população em geral (0,8g/kg de peso corporal/dia) (55), têm sido descritas
recomendações de 1,2-1,4g/kg de peso corporal/dia para desportistas de
endurance e de 1,2-1,7g/kg de peso corporal/dia para desportistas de força e
velocidade (55). Para nadadores (56) e atletas (57) estão descritas recomendações
de ingestão proteica entre 1,2-1,7g/kg de peso corporal/dia. Em linha com
trabalhos anteriores (52, 58) as estimativas de ingestão proteica, para ambos os
desportos, revelaram-se acima dos intervalos recomendados, com os atletas a
apresentarem uma média de ingestão de 2,02 1,18g/kg de peso corporal/dia e os
nadadores uma média de 2,03 0,85g/kg peso corporal/dia. É de notar que estes
valores não têm em consideração a proteína proveniente dos suplementos e que
77,6% dos desportistas inquiridos referiu utilizar fornecedores proteicos,
aminoácidos e/ou aminoácidos de cadeia ramificada. Desta forma, torna-se claro
que é possível atingir níveis elevados de ingestão proteica apenas através do
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 33
consumo de alimentos. Curiosamente, as desportistas femininas tinham uma
média de ingestão proteica superior aos desportistas masculinos. Burke e Deakin
(59) sugerem que as recomendações proteicas para as mulheres praticantes de
desportos de endurance deverão ser 10-20% mais baixas, comparativamente às
para os homens.
Os glícidos são a maior fonte de energia durante o exercício e a sua
disponibilidade como substrato para o músculo e o Sistema Nervoso Central
torna-se um factor limitante para a performance, principalmente em sessões
prolongadas (>90 minutos) de exercícios de alta intensidade a nível submáximo
ou intermitentes (49). Trabalhos têm sugerido que a depleção das reservas de
glícidos podem diminuir a endurance e a performance (59). Para desportistas, têm
sido recomendadas ingestões na ordem dos 5-10g/kg de peso corporal/dia (60).
Para a maioria dos tipos de treino é recomendada uma ingestão de 5-7g/kg de
peso corporal/dia e para desportistas de endurance ou para períodos de maior
treino ou de competição são sugeridas necessidades entre 7-10g/kg de peso
corporal/dia (60). Para os praticantes de atletismo a média da estimativa de
ingestão de glícidos foi de 4,60 1,53g/kg de peso corporal/dia, valor abaixo do
mínimo recomendável para desportistas; para os nadadores, a média da
estimativa de ingestão foi de 6,59 3,34g/kg de peso corporal/dia, valor que se
encontra dentro do intervalo recomendado para um treino que não de endurance.
Mais uma vez, é de ter em conta que, para esta estimativa, não se teve em
consideração o consumo de bebidas energéticas, géis desportivos e suplementos
de glícidos.
Desta forma, e em geral, o consumo de SNs foi independente do facto dos
desportistas se encontrarem bem ou mal nutridos.
Mónica Sousa
34 Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
6.7. Limitações do estudo
São limitações da utilização do QFA o seu preenchimento ser dependente da
memória (a ingestão actual influencia a recordação da ingestão no passado) e da
lista de alimentos ser limitada, apesar de haver um local de resposta aberta. Para
comparações mais precisas e para trabalhos futuros sugere-se a utilização de
registos alimentares, o método considerado como o de referência. O
preenchimento do questionário acerca do uso de SNs também era dependente da
memória e da sinceridade do desportista. Como os dois questionários eram de
administração directa, poderá existir em ambos tanto sub como sobre registo. Os
questionários eram preenchidos junto do inquiridor, o que pode ter levado a um
enviesamento das respostas, apesar de ter possibilitado uma maior amostra. O
peso corporal foi obtido através de três balanças diferentes; apesar de duas
serem similares e da mesma marca pode haver um erro associado diferente para
cada balança. Por impossibilidade, não foram incluídos neste estudo atletas
menores de idade nem foram recolhidos os dados antropométricos dos triatletas.
7. CONCLUSÃO
Este trabalho é um dos primeiros estudos realizados com desportistas
portugueses de alto nível que recolheu informação detalhada acerca do uso de
SNs e informação demográfica correspondente. É inequívoca a larga utilização de
SNs por esta amostra, apesar da utilidade da maioria ser ainda questionável. O
género, a idade, a modalidade e/ou o nível desportivo demonstraram influenciar,
de alguma forma, o tipo de suplementos utilizados, os motivos para a toma e as
fontes de informação. Apesar de se verificaram ingestões acima das
recomendações para a maior parte dos nutrimentos, a grande maioria dos
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 35
desportistas tomava um ou mais SNs. Desta forma, o consumo de SNs
demonstrou-se independente do facto dos desportistas se encontrarem bem ou
mal nutridos. Sugere-se, então, que a prescrição de SNs seja apenas ser feita
após uma revisão cuidada do estado de saúde do desportista, incluindo o status
de alguns nutrimentos, da sua alimentação, do uso de fármacos e das suas
necessidades energéticas. Os SNs devem ser utilizados com precaução e
somente após uma avaliação cuidada da sua segurança, eficácia, potência e
legalidade. Treinadores, familiares, médicos, nutricionistas e todos os outros que
intervêm no processo educativo e desportivo, mais que promoverem o uso de
SNs, devem dar particular atenção aos hábitos alimentares do desportista. Assim,
um desportista que queira optimizar a sua performance deve seguir uma
alimentação adequada, ingerir variados alimentos em quantidades adequadas
para manter o peso corporal, fazer uma hidratação apropriada e, se necessário,
utilizar SNs.
Mónica Sousa
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 37
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Mónica Sousa
Anexos aiii
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo 1. Caracterização dos questionários distribuídos e devolvidos ................. a1
Anexo 2. Questionário sobre o consumo de suplementos nutricionais ................ a3
Anexo 3. Questionário de Frequência Alimentar .................................................. a9
Anexo 4. Caracterização do total da amostra quanto à idade e ao género ........ a17
Anexo 5. Caracterização do total da amostra quanto ao tempo federado,
internalizações e treinos...................................................................................... a19
Anexo 6. Caracterização antropométrica dos desportistas que usavam
suplementos das modalidades de atletismo e natação ....................................... a21
Anexo 7. Tipos de suplementos nutricionais usados.......................................... a23
Anexo 8. Tipos de suplementos nutricionais usados por géneros...................... a25
Anexo 9. Tipos de suplementos nutricionais usados por idades ........................ a27
Anexo 10. Tipos de suplementos nutricionais usados por modalidades ............ a29
Anexo 11. Motivos para o uso de suplementos nutricionais ............................... a31
Anexo 12. Motivos para o uso de suplementos nutricionais por géneros........... a33
Anexo 13. Motivos para o uso de suplementos nutricionais por idades ............. a35
Anexo 14. Motivos para o uso de suplementos nutricionais por modalidades ... a37
Anexo 15. Associações entre os motivos para o uso e os tipos de suplementos
nutricionais utilizados .......................................................................................... a39
Anexo 16. Fontes de informação/aconselhamento sobre suplementos nutricionais
............................................................................................................................ a41
Anexo 17. Fontes de informação/aconselhamento sobre suplementos nutricionais
por géneros ......................................................................................................... a43
Mónica Sousa
aiv Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
Anexo 18. Fontes de informação/aconselhamento sobre suplementos nutricionais
por idades............................................................................................................a45
Anexo 19. Fontes de informação/aconselhamento sobre suplementos nutricionais
por modalidades ..................................................................................................a47
Anexo 20. Associações entre as fontes de informação/aconselhamento e os tipos
de suplementos utilizados ...................................................................................a49
Anexo 21. Associações entre as fontes de informação/aconselhamento e os
motivos para o uso de suplementos nutricionais .................................................a51
Anexo 22. Estimativa de ingestão diária de macro e micronutrimentos por
géneros e por classes de idades para os desportistas que usavam suplementos
nutricionais ..........................................................................................................a53
Anexo 23. Estimativa de ingestão diária de macro e micronutrimentos por
modalidades para os desportistas que usavam suplementos nutricionais ..........a55
Anexo 24. Estimativa de ingestão diária de macro e micronutrimentos por
géneros e por modalidades para os desportistas que usavam suplementos
nutricionais ..........................................................................................................a57
Anexo 25. Estimativa de ingestão diária de proteínas e glícidos (g/kg de peso
corporal/dia) para os desportistas que usavam suplementos nutricionais das
modalidades de atletismo e natação ...................................................................a59
Mónica Sousa
Anexos a1
Anexo 1. Caracterização dos questionários distribuídos e devolvidos. FPA,
Federação Portuguesa de Atletismo; FPN, Federação Portuguesa de Natação;
FPT, Federação Portuguesa de Triatlo; QS, Questionário sobre o uso de
suplementos nutricionais; QFA, Questionário de Frequência Alimentar.
Questionários
Distribuídos
Questionários
Devolvidos
FPAQS: 20 18 (2 – não entregaram os questionários)
QFA: 20 18 (2 – não entregaram os questionários)
QS: 36 36FPN
QFA: 36 36
QS: 31 31FPT
QFA: 31 29 (2 – preenchimento incompleto)
QS: 87 85TOTAL
QFA: 87 83
Mónica Sousa
Anexos a9
Anexo 3. Questionário de Frequência Alimentar, do Serviço de Epidemiologia da
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Mónica Sousa
Anexos a17
Anexo 4. Caracterização do total da amostra (n=85) quanto a idade e ao género.
Resultados expressos em média±desvio padrão ou percentagem.
Atletismo (n=18)
Natação (n=36)
Triatlo(n=31)
Total(n=85)
Género Masculino 55,6% (n=10) 61,1% (n=22) 67,7% (n=21) 62,4% (n=53)
Feminino 44,4% (n=8) 38,9% (n=14) 32,3% (n=10) 37,6% (n=32)
Idade<18 anos 0% 55,6% (n=20) 48,4% (n=15) 41,2% (n=35)
18 anos 100% (n=18) 44,4% (n=16) 51,6% (n=16) 58,8% (n=50)
Média±DP (anos) *bc 26,1±5,6 17,3±4,1 18,7±3,8 19,7±5,5
*a
*a, p<0,001; *b, p<0,001 entre atletismo e natação; *c, p<0,001 entre atletismo e
triatlo.
Mónica Sousa
Anexos a19
Mónica Sousa
Anexo 5. Caracterização do total da amostra (n=85) quanto ao tempo federado,
internacionalizações e treinos. Resultados expressos em média±desvio padrão,
mediana ou percentagem. AIQ, amplitude interquartil.
Atletismo (n=18)
Natação (n=36)
Triatlo(n=31)
Total(n=85)
Tempo federado (anos) *abc
Mediana 11,5 7,0 5,0 7,0
Máximo 20,0 18,0 15,0 20,0
Mínimo 6,0 2,0 1,0 1,0
AIQ 6,3 6,0 5,0 7,0
N.º internacionalizações Mediana 6,5 0,0 5,0 3,0
Máximo 50 60 65 65
Mínimo 0 0 0 0
AIQ 12,0 17,3 12,0 13,5
N.º treinos/semana *abc
Mediana 6,0 8,0 14,0 9,0
Máximo 14 11 20 30
Mínimo 5 5 10 5
AIQ 1,3 2,0 2,0 6,0
Horas de treino/semana *abc
Média±DP 12,1±5,8 16,4±3,8 24,7±5,1 18,5±6,7
Máximo 28 25 33 33
Mínimo 6 1 18 1
Horas de ginásio/semana *c
Mediana 2,0 3,0 2,0 2,0
Máximo 15,0 7,0 3,0 15,0
Mínimo 0,0 0,0 0,0 0,0
AIQ 5,0 2,8 3,0 2,5
*a, p<0,05 entre atletismo e natação; *b, p<0,05 entre atletismo e triatlo; *c,
p<0,05 entre natação e triatlo.
Ane
xos
a21
Ane
xo 6
. Car
acte
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