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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSETCE - Escola de EngenhariaTEM - Departamento de Engenharia Mecânica
PROJETO DE GRADUAÇÃO II'
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Título do Projeto:
ANÁLISE DE ESTABILIDADE LINEAR DEESCOAMENTOS EM MEIOS POROSOS
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Autor(es):
PEDRO VAYSSIÈRE BRANDÃO
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Orientador(es):
LEONARDO SANTOS DE BRITO ALVES, Ph.D.
Data: 19 de Janeiro de 2017
PEDRO VAYSSIÈRE BRANDÃO
ANÁLISE DE ESTABILIDADE LINEAR DE ESCOAMENTOSEM MEIOS POROSOS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado aoCurso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal Flu-minense, como requisito parcial para obtenção do grau deEngenheiro Mecânico.
Orientador(es):
LEONARDO SANTOS DE BRITO ALVES, Ph.D.
Niterói
19 de Janeiro de 2017
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Engenharia e Instituto de Computação da UFF
B817 Brandão, Pedro Vayssière
Análise de estabilidade linear de escoamentos em meios porosos /
Pedro Vayssière Brandão. – Niterói, RJ : [s.n.], 2017.
76 f.
Projeto Final (Bacharelado em Engenharia Mecânica) –
Universidade Federal Fluminense, 2017.
Orientador: Leonardo Santos de Brito Alves.
1. Escoamento de fluidos. 2. Teoria da estabilidade linear. 3.
Porosidade. 4. Modelagem matemática. 5. Transmissão de calor. I.
Título.
CDD 620.106
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à todos aqueles que contribuem para a existência da universidade
pública e não podem usufruir diretamente do que ela pode oferecer.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador Professor Dr. Leonardo Santos de Brito Alves pela orienta-
ção, por todos os conhecimentos à mim passados, por todo o suporte e pela disponibilidade.
Agradeço ao Professor Dr. Antonio Barletta por ter me recebido na Universidade de
Bologna por um ano, pela orientação e pelos conhecimentos passados durante esse ano.
Agradeço ao Pesquisador Dr. Michele Celli por todo o apoio, pela colaboração e pelos
conhecimentos passados.
Agradeço ao Pesquisador e amigo M.Sc. Nelson Rodrigues Braga Junior pela colabora-
ção e pelos conhecimentos compartilhados.
Agradeço aos parceiros de laboratório, Ricardo Dias e Helio Ricardo pelo companhei-
rismo.
Agradeço aos grandes amigos que fiz durante o curso que serviram de apoio em diversos
momentos, em especial ao Adolfo, Eduardo, Felipe, Mateus, Rafael e Vinicius.
Agradeço à minha namorada, Isadora, por ter sempre me apoiado nas minhas escolhas e
servido de base durante muitos momentos dessa caminhada.
Agradeço à minha Mãe e ao meu Pai por terem tornado possível a minha dedicação
exclusiva aos estudos.
RESUMO
Problemas de convecção em meios porosos vêm sendo cada vez mais estudados, e são de
particular interesse na engenharia. O presente trabalho tem por objetivo analisar o início do
escoamento secundário, a convecção mista, de escoamentos em meios porosos considerando
dois casos, o primeiro onde o sistema é aquecido por baixo e isolado termicamente na parede
superior e o segundo que também é aquecido por baixo porém com uma condição de calor
do terceiro tipo na parede superior, e em seguida confrontar qualitativamente ambos os casos
e comparar o caso assintótico onde a troca de calor por convecção tende a um isolamento
térmico. Para tal, é feita uma análise de estabilidade linear do problema. Considera-se a Lei
de Darcy a fim de modelar a penetração de um líquido em um meio poroso. Para obter o iní-
cio da convecção mista através da análise de estabilidade linear, perturba-se a solução base
do escoamento, tanto na temperatura quanto na velocidade, e observa-se o comportamento
dessa perturbação. Considera-se apenas termos lineares dessas perturbações. O problema re-
sultante então se resume a um problema de auto-valores a ser resolvido numericamente, onde
seus auto-valores são basicamente os parâmetros que se deseja obter. Resolve-se esse pro-
blema numericamente através do método do tiro. Os resultados obtidos podem ser analisados
através das curvas de estabilidade marginal, que representam os parâmetros que configuram
o limiar entre a estabilidade e a instabilidade, ou seja, a ocorrência ou não do fenômeno de
convecção mista. Além disso foi possível obter uma aproximação analítica para a solução
do segundo caso.
Palavras-Chave: Análise de Estabilidade Linear, Convecção Mista, Meios Porosos
ABSTRACT
Convection in porous media has been increasingly studied, and is of particular interest
in engineering. The main purpose of the present work is to analyse the onset of the secon-
dary flow, the mixed convection, in a porous layer with an horizontal flow considering two
cases, the first one where the system is heated from below and thermally insulated at the
top and the second one that is heated from bellow as well but with a third kind boundary
condition at the top, and then confront both cases qualitatively and compare the asymptotic
case where the heat transfer by convection tends to a thermal insulation. In order to do this a
linear stability analysis of the described problem is carried on. The Darcy law is considered
in order to model a liquid penetration into a porous medium. To determine the onset of the
mixed convection through a linear stability analysis the base solution of the flow is disturbed,
both in temperature and velocity, and the behavior of these perturbations is observed. It is
considered only linear terms of these perturbations. The resulting problem then becomes an
eigenvalue problem to be solved numerically, where the eigenvalues are basically the para-
meters that one wishes to obtain. This problem is solved numerically through the shooting
method. The results can be analysed graphically through the marginal stability curves, which
represent the parameters that configure the threshold between stability and instability, that
is, the occurrence or not of the mixed convection phenomenon. Moreover it was possible to
obtain an analytical aproximation to the second case’s solution.
Key-Words: Linear Stability Analysis, Mixed Convection, Porous Medium
LISTA DE FIGURAS
1.1 Exemplos de meios porosos naturais: (a) areia de praia, (b) arenito, (c), cal-
cário, (d) pão de centeio, (e) madeira, (f) pulmão humano. Exemplos de
materiais porosos usados na indústria da construção: esferas de 5 cm de
diâmetro e pedações de 1 cm de calcário, inferior esquerda e direita, respec-
tivamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.2 Exemplo de um Meio Poroso Irregular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.3 Condições de Estabilidade: Instável, Neutro e Estável, respectivamente . . . . 25
1.4 Linearmente Estável, Convectivamente Instável e Absolutamente Instável. . . 27
2.1 Esquema Caso 1: escoamento em meio poroso com geração de energia in-
terna, aquecido por baixo isolado em cima. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2 Esquema Caso 2: escoamento em meio poroso com geração de energia in-
terna, aquecido uniformemente por baixo e trocando calor por convecção na
parede superior. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.1 Curvas Marginais Caso 1 para Pe = 7 e φ= π2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.2 Curvas Marginais Caso 1 para Pe = 12 e φ= π2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.3 CCurvas Marginais Caso 1 para Pe = 7 e φ= 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.4 Curvas Marginais Caso 1 para Pe = 12 e φ= 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.5 Curvas Marginais Caso 2 para B = 10−1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.6 Curvas Marginais Caso 2 para B = 1010 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.7 Curvas de Valores Críticos Caso 1 para Pe = 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.8 Curvas de Valores Críticos Caso 1 para Pe = 12 . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.9 Curvas Críticas Caso 2 em função de Q para diferentes valores de B . . . . . 58
4.10 Curvas Críticas Caso 2 em função de B para diferentes valores de Q . . . . . 58
4.11 Comportamento de c3 em Funçao de B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.12 Comportamento de c4 em Funçao de B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.13 Curvas Marginais Numéricas e Analíticas Aproximadas para B = 1 . . . . . . 61
4.14 Curvas dos Valores Críticos em Função de Q Numérica e Analítica Aproxi-
mada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.15 Curvas dos Valores Críticos em Função de B Numérica e Analítica Aproxi-
mada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.16 Erro Relativo Entre Resultados Numéricos e Aproximação Analítica para
Pontos Críticos em Função de B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.17 Erro Relativo Entre Resultados Numéricos e Aproximação Analítica para
Pontos Críticos em Função de Q . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.18 Isolinhas Função Corrente Caso 1 Pe = 12, Q = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.19 Isolinhas Temperatura Caso 1 Pe = 12, Q = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.20 Isolinhas Função Corrente Caso 1 Pe = 12, Q = 100 . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.21 Isolinhas Temperatura Caso 1 Pe = 12, Q = 100 . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.22 Isolinhas Função Corrente Caso 1 Pe = 12, Q = 200 . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.23 Isolinhas Temperatura Caso 1 Pe = 12, Q = 200 . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.24 Isolinhas Função Corrente Caso 2 Q = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.25 Isolinhas Temperatura Caso 2 Q = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.26 Isolinhas Função Corrente Caso 2 Q = 100 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.27 Isolinhas Temperatura Caso 2 Q = 100 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.28 Isolinhas Função Corrente Caso 2 Q = 200 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.29 Isolinhas Temperatura Caso 2 Q = 200 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
LISTA DE TABELAS
4.1 Comparação entre os resultados obtidos numericamente e analiticamente
para o caso de kr → 0, considerando Q = 1 e φ=π/2. Como a curva marginal
de Rxkr apresenta, para algumas combinações de parâmetros, dois valores
de R para kr = 0, os subscritos i e s se referem aos valores inferiores e supe-
riores, respectivamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.2 Comparação entre os resultados obtidos numericamente através do método
do tiro e os resultados encontrados na literatura Alves and Barletta (2013)
para o início da instabilidade convectiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
NOMENCLATURA
a número de onda
B número de Biot
c calor específico do sólido
cp calor específico à pressão constante do fluido
c1−4 coeficientes de correlação
C constante
ez e ex vetor unitário em z e x
g vetor aceleração da gravidade
g módulo de ~g
h coeficiente de transferência de calor
H altura do canal
i unidade imaginária
k condutividade térmica ou número de onda
K permeabilidade
p pressão
Pe número de Pèclet
P número de Pèclet modificado
Q parâmetro de geração de energia interna
q variável genérica
q ′′ fluxo de calor uniforme prescrito
q ′′′ geração de energia interna por unidade de volume
R número de Darcy-Rayleigh
t tempo
T temperatura
Ts temperatura de referência
T0 temperatura média de referência
u vetor velocidade
U vetor perturbação na velocidade
u, v, w componentes da velocidade em x, y and z
U ,V ,W componentes da perturbação na velocidade em x, y and z
U0 velocidade horizontal constante
x, y, z coordenadas Cartesianas
Símbolos Gregos
α difusividade térmica média ou número de onda
β coeficiente de expansão térmica ou número de onda
ε parâmetro de perturbação
ν viscosidade cinemática
σ razão entre capacidade térmica volumétrica do sólido e do fluido
φ porosidade ou ângulo entre direção x e direção perpendicular aos rolos de convecção
ρ massa específica
θ perturbação na temperatura
ω frequência angular
Subscritos
∗ variáveis dimensionais ou complexo conjugado
′ diferenciação em relação à z
b solução base
c valor crítico
f fluido
i inferior
m médio
n transformação de Fourier
p perturbações
r parte real
s sólido ou superior
SUMÁRIO
1. INTRODUÇAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.1 MOTIVAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.2 ESCOAMENTOS EM MEIOS POROSOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.2.1 Porosidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.2.2 Lei de Darcy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.2.3 Equação da Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.2.4 Convecção Mista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.3 ANÁLISE DE ESTABILIDADE LINEAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.3.1 Modos Normais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.3.2 Local e Paralela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.3.3 Instabilidade Convectiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.3.4 Instabilidade Absoluta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.4 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2. MODELAGEM MATEMÁTICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1 CASO 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1.1 Equações de Governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.1.2 Solução Base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.1.3 Perturbações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.2 CASO 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.2.1 Equações de Governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.2.2 Solução Base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.2.3 Perturbações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3. METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.1 CASO 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.1.1 Análise Assintótica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.1.2 Instabilidades Convectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.2 CASO 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.2.1 Transformação de Squire . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.2.2 Princípio da Troca de Estabilidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.2.3 Instabilidades Convectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4. RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.1 VERIFICAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.2 CURVAS MARGINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.3 CURVAS PONTOS CRÍTICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.4 CORRELAÇÕES APROXIMADAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.5 ISOLINHAS DE FUNÇÃO CORRENTE E TEMPERATURA . . . . . . . . . . . 64
5. CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
18
1 INTRODUÇAO
1.1 MOTIVAÇÃO
A mecânica dos fluidos de escoamentos em meios porosos é um tópico relativamente
antigo de estudo, tendo se iniciado principalmente pelos estudos em engenharia de sistemas
de irrigação. A transferência de calor por convecção em escoamentos em meios porosos,
por sua vez, é um campo de estudo relativamente novo. Exemplos de aplicação do estudo
de fenômenos de transporte em meios porosos estão presentes nas indústrias química, am-
biental, geológica, mecânica e de petróleo, incluem: Filtragem, conversores catalíticos para
redução da poluição do ar, dispersão de contaminantes no subsolo, irrigação, migração de
água e minérios, ciclo térmico de rochas, lubrificação, reatores nucleares, produção de óleo
e gás, etc. (Bejan (2013), Nield and Bejan (2006) and Kaviany (2012)).
Dados exemplos de aplicações do estudo da transmissão de calor e massa em meios
porosos, observa-se necessário o aprofundamento do estudo de fenômenos de transporte em
meios porosos a fim de compreender melhor seu fenômeno físico bem como a matemática
envolvida.
De modo geral a instabilidade térmica está associada ao gradiente de temperatura vertical
no escoamento. Sendo este gradiente podendo existir e ser influenciado devido a diversos
fatores, como diferentes condições de contorno de temperatura prescrita nas paredes superior
e inferior, ou ainda um fluxo de calor imposto na parede inferior, por exemplo. O objetivo da
análise de estabilidade então é o de obter os parâmetros que, quando combinados, propiciam
o aparecimentos das células de convecção natural, ou seja os parâmetros críticos relativos ao
início da instabilidade térmica desse escoamento.
Em um experimento, ou em uma aplicação real em uma indústria por exemplo, em que
se está presente a possibilidade da ocorrência da transição para a instabilidade térmica é
19
interessante conhecer sob que condições essa transição irá ocorrer, por isso faz-se uso da
análise de estabilidade. Seja em casos em que se deseja obter a transição, ou evitá-la, a
análise de estabilidade pode apresentar informações de extrema relevância, evitando assim
experimentações desnecessárias e/ou frustrações reais.
1.2 ESCOAMENTOS EM MEIOS POROSOS
O processo de escoamentos em meios porosos é de particular interesse de uma gama de
cientistas e engenheiros, mas também de políticos e economistas que reconhecem a impor-
tância do escoamento de água nos lençóis freáticos bem como de uma variedade de aplica-
ções na indústria do petróleo. Além disso algumas aplicações mais desconhecidas, fazem
também do estudo de escoamentos em meios porosos importante, como estudo do fluxo de
ar nos pulmões (Whitaker (1966) e Whitaker (1986)).
Figura 1.1: Exemplos de meios porosos naturais: (a) areia de praia, (b) arenito, (c), calcário,
(d) pão de centeio, (e) madeira, (f) pulmão humano. Exemplos de materiais po-
rosos usados na indústria da construção: esferas de 5 cm de diâmetro e pedações
de 1 cm de calcário, inferior esquerda e direita, respectivamente.
Fonte: Nield and Bejan (2006)
20
Por meio poroso entende-se um material consistente de uma matriz sólida com vazios
interconectados. A interconexão entre os vazios, os poros, permitem o escoamento de um
ou mais fluidos através do material. Sendo que na situação mais simples os poros estão
saturados por um único fluido (Nield and Bejan, 2006).
Em um meio poroso natural a distribuição dos poros quanto à sua forma e dimensão
é irregular. Exemplos de meios porosos naturais são areia, rochas, madeiras e o pulmão
humano. Já entre os meios porosos "artificiais"ou fabricados pelo homem encontram-se as
cerâmicas, materiais compósitos, esponjas metálicas e materiais isolantes (Nield and Bejan
(2006) e Kaviany (2012)).
Figura 1.2: Exemplo de um Meio Poroso Irregular
Fonte: Barletta (2010)
Diversas soluções para os problemas envolvendo meios porosos estão disponíveis na lite-
ratura, sendo a grande maioria destes baseados na lei de Darcy para descrever o movimento
de fluidos em meios porosos (Whitaker, 1966).
1.2.1 Porosidade
A porosidade φ de um meio poroso é definida de acordo com Nield and Bejan (2006)
como a fração do volume total do meio que é ocupada por espaços vazios. Sendo assim, 1−φé a fração que é ocupada por sólido. Para um meio isotrópico, a "porosidade superficial"será
normalmente igual à φ.
21
Definindo a porosidade φ dessa forma, assume-se que todos os espaços vazios são co-
nectados entre si. Caso se esteja trabalhando com um meio no qual alguns poros não estão
conectados aos outros, faz-se necessário introduzir uma "porosidade efetiva".
Para meios naturais, φ normalmente está abaixo de 0.6. Não uniformidades nos tamanhos
dos grãos tendem a apresentar porosidade menores em relação à grãos uniformes, porque os
grãos menores preenchem os vazios formados pelos grãos maiores.
1.2.2 Lei de Darcy
Em seus estudos acerca do sistema de abastecimento de água da cidade de Dijon, na
França, o engenheiro Henry Darcy (1856) chegou a uma correlação empírica entre a veloci-
dade de filtração e o diferencial de pressão aplicado em determinado sistema de meio poroso
(Nield and Bejan, 2006). Em termos atuais a lei de Darcy para um caso unidimensional pode
ser representada por:
u = −K
µ
∂P
∂z(1.1)
Onde ∂P/∂x representa o gradiente de pressão na direção do escoamento, µ é a visco-
sidade dinâmica e o coeficiente K depende da geometria do meio e pode ser chamado de
permeabilidade específica do meio.
Apesar de as relações propostas por Darcy serem empíricas, diversos experimentos com-
provaram a sua relação para modelos simples de escoamentos em meios porosos reais, e
diversos autores comprovaram teoricamente e propuseram modificações e extensões ao mo-
delo de Darcy.
Uma derivação mais completa para a formulação de escoamentos em meios porosos pode
ser encontrada em Whitaker (1969) e em Gray and O’Neill (1976), onde são derivadas equa-
ções gerais para escoamentos em meios porosos e a partir de algumas simplificações como
ausência dos termos inerciais e convectivos, a equação de Darcy pode ser retomada.
As extensões mais conhecidas e utilizadas do modelo de Darcy são aquelas conhecidas
como Equação de Forchheimer e Equação de Brinkman, sendo a primeira conhecida por
22
incorporar efeitos de arrasto no modelo de Darcy, e a segunda que conta agora com um outro
termo viscoso na equação, muitas vezes também chamada de "Extensão de Brinkman da Lei
de Darcy"(Nield and Bejan, 2006).
1.2.3 Equação da Energia
A equação que expressa a primeira lei da termodinâmica aplicada à meios porosos é
obtida tomando médias volumétricas da equação da energia aplicada à fase sólida e à fase
fluida e unindo ambas equações.
Para o caso mais simples, onde o meio poroso é considerado isotrópico, os efeitos de
radiação e dissipação viscosa são desprezados, e assumindo equilíbrio térmico local entre as
fases, a equações da energia para a fase sólida pode ser escrita da seguinte forma:
(1 − φ) (ρc)s∂Ts
∂t= (1 − φ)∇ · (ks ∇Ts) + (1 − φ) q ′′′
s (1.2)
e a equação aplicada à fase fluida:
φ (ρcp ) f∂T f
∂t+ (ρcp ) f u · ∇T f = φ∇ · (k f ∇T f ) + φq ′′′
f (1.3)
Onde o subscrito s se refere à fase sólida e o subscrito f à fase fluida, c é o calor específico
do sólido, cp é o calor específico à pressão constante do fluido, k é a condutividade térmica
e q ′′′ é geração de calor por unidade de volume.
Aplicando a condição de equilíbrio térmico, ou seja Ts = T f = T se obtém:
(ρc)m∂T
∂t+ (ρcp ) f u · ∇T = ∇ · (km ∇T ) + q ′′′
m (1.4)
onde:
23
(ρc)m = (1 − φ)(ρc)s + φ(ρcp ) f (1.5)
km = (1 − φ)ks + φk f (1.6)
q ′′′m = (1 − φ)q ′′′
s + φq ′′′f (1.7)
1.2.4 Convecção Mista
Nos estudos iniciais de convecção em meios porosos, foi dada muita atenção à escoa-
mentos induzidos pela força de empuxo, i.e. convecção natural, e à convecção forçada. A
interação entre esses dois mecanismos não foi fortemente explorada inicialmente. Pesqui-
sas inicias em convecção mista foram motivadas principalmente pelo desejo de entender o
fluxo de água para cima, de reservatórios subterrâneos, devido ao empuxo causado por altas
temperaturas (Lai et al., 1991).
O movimento de lençóis freáticos em reservatórios geotérmicos costeiros é controlado
tanto pela concentração de sal quanto pelos gradientes de temperatura. Correntes de convec-
ção induzida por esses gradientes de temperatura, na presença de resíduos líquidos, podem
causar a migração destes resíduos a locais não desejados. Motivações para se estudar a
convecção mista também vêm da necessidade de caracterizar o processo de transporte por
convecção em reservatórios geológicos que servem para descartar lixo nuclear (Lai et al.,
1991).
Analisando o caso mais simples de convecção natural em meios porosos, ou seja, o caso
em que o fluido encontra-se em repouso, pode-se concluir, a partir da equação da quantidade
de movimento, que se a massa específica do fluido depende somente da temperatura, a con-
dição necessária para que haja equilíbrio é que o gradiente de temperatura seja vertical ou
nulo. (Nield and Bejan, 2006).
Para que ocorra convecção natural em uma camada de fluido com gradiente de tempera-
tura na direção vertical, é necessário que a força de empuxo, causada pela variação na massa
específica devido ao gradiente vertical de temperatura, seja superior à força gravitacional.
O caso especial de uma camada de fluido em meio poroso em repouso uniformemente
24
aquecida por baixo, que representa o caso análogo àquele conhecido como o problema de
Rayleigh-Bénard para meios porosos, foi inicialmente estudado por Horton and Rogers Jr
(1945) e Lapwood (1948).
Posteriormente o problema conhecido agora como Problema de Darcy-Rayleigh-Bénard,
que seria o análogo de Rayleigh-Bénard em meios porosos, foi expandido para casos con-
siderando o fluido não mais em repouso. Prats (1966) Iniciou os estudos considerando um
movimento do fluido na horizontal.
A fim de se conhecer o início da Convecção natural pode-se aplicar uma análise que é
conhecida como análise de estabilidade, para tal deve-se primeiramente conhecer a solução
de repouso do problema, ou a solução base, onde o problema é ainda puramente condutivo.
Possuindo a solução base de determinado sistema pode-se então partir para a investigação
do início da convecção natural. O mesmo ocorre para um problema de convecção mista,
primeiramente deve-se conhecer a solução estável do problema, onde está presente apenas
a convecção forçada, e partir da mesma investigar o início do movimento secundário no
escoamento, i.e. a convecção natural.
1.3 ANÁLISE DE ESTABILIDADE LINEAR
A palavra estabilidade está presente na mecânica de maneira geral para caracterizar o
equilíbrio de um corpo rígido. Onde o equilíbrio é chamado estável se o corpo retorna à sua
posição original após ter sido ligeiramente tirado de sua posição de repouso. Se após ter sido
tirado de sua posição de repouso o corpo se move a uma outra posição que não a de repouso
inicial esse equilíbrio é chamado de instável (Hahn and Baartz, 1967).
De acordo com Lyapunov um dado sistema dinâmico não linear é estável em torno de
uma solução base desse sistema se o modelo linearizado desse sistema é assintoticamente
estável e esse sistema é instável em torno dessa solução base se o modelo linearizado desse
sistema é instável.
Segundo Chandrasekhar (2013) instabilidade seria a incapacidade de um dado sistema
físico manter seu padrão ao ser submetido à pequenas perturbações.
Nesse sentido a teoria da análise de estabilidade linear busca obter sob que condições
25
determinado sistema dinâmico transiciona de estável para instável, considerando que tal sis-
tema é perturbado a partir de perturbações lineares.
O que em termos matemáticos significa escrever a solução do sistema na forma:
q(x , t ) = q b(x)+εq ′(x , t ) (1.8)
Onde q é uma variável qualquer desse sistema, q b é a solução estacionária, ou solução
base, desse sistema pra essa variável, q ′ é a perturbação dessa variável e ε é a magnitude
dessa perturbação, sendo ε << 1. Ao se escrever as equações de governo dessa forma e
tendo em conta que q b é solução do problema e os termos de ordem O(ε2) são desprezíveis,
obtêm-se então as equações linearizadas para a perturbação.
Figura 1.3: Condições de Estabilidade: Instável, Neutro e Estável, respectivamente .
A partir das equações linearizadas para a perturbação é possível analisar o comporta-
mento dessas perturbações, seja no tempo ou no espaço. Para isso, de uma maneira geral,
historicamente faz-se uso de uma análise modal.
1.3.1 Modos Normais
Tradicionalmente a instabilidade de escoamentos a partir de perturbações de baixa am-
plitude tem sido analisada fazendo uso da abordagem modal.
A abordagem modal considera que uma perturbação qualquer pode ser escrita como uma
superposição de ondas. Considerando um caso genérico bidimensional no qual a solução
base depende apenas de uma direção espacial, sendo portanto homogênea na outra direção
espacial e no tempo, a perturbação pode ser escrita como:
26
q(x , t ) = q(x2)e i (αx1−ωt ) (1.9)
Onde α é o número de onda da perturbação na direção paralela ao escoamento e ω a
frequência da perturbação, ambos os valores são, a princípio, complexos.
Lembrando que toda exponencial complexa pode ser escrita de acordo com a Fórmula de
Euler como uma combinação de funções senos e cossenos
e i (ax) = cos(a x) + i sen(a x) (1.10)
Tomando a como uma variável complexa genérica em alusão a α ou a ω, a = ar + i ai ,
sendo i o número imaginário.
e i (ar +i ai ) x = e i (ar x) e−ai x (1.11)
Percebe-se portanto que a parte real de a estaria relacionada com a parte oscilatória de
e i (ax) na direção x, como demonstrado a partir da fórmula de Euler, enquanto que a parte
imaginaria de a representa a amplificação ou amortecimento de e i (ax) em x.
Portanto, para o caso da perturbação escrita em termos de modos normais, a parte real de
α representa o número de onda da perturbação em x e a parte imaginaria de α representa a
taxa de amplificação da perturbação em x. O mesmo vale para ω, a parte imaginaria porém é
chamada de frequência oscilatória da perturbação no tempo e a parte real é chamada de taxa
de amplificação temporal.
Quando ωr = 0 diz-se que a perturbação é estacionária no tempo e quando ωi = 0 diz-se
que a perturbação é neutramente estável no tempo, ou seja, não amplifica e nem amortece
com o passar do tempo.
27
1.3.2 Local e Paralela
O termo local no que se refere à instabilidades, em oposição à global, em uma de suas
definições presentes na literatura, está relacionado ao fato da instabilidade em questão ser re-
lativa ao perfil de velocidade local ou ao campo de velocidade do escoamento inteiro (Huerre
and Monkewitz, 1990).
A análise de estabilidade local trata tanto de escoamento paralelos quanto de escoamento
que variam muito suavemente em uma direção. Diversos conceitos dentro da análise de
estabilidade local, tais como instabilidades convectivas e absolutas, são usados a fim de
intuir acerca de comportamentos encontrados em análise de estabilidade global.
Se perturbações localizadas se espalham a montante e a jusante e contaminam todo o
escoamento pararelo, o perfil de velocidade é chamado de localmente absolutamente instá-
vel. Se as perturbações, ao invés disso, crescem ao serem convectadas com o escoamento a
partir de sua fonte, o perfil de velocidade é chamado de localmente convectivamente instável
(Huerre and Monkewitz, 1990).
Figura 1.4: Linearmente Estável, Convectivamente Instável e Absolutamente Instável.Fonte: Barletta and Alves (2014)
A figura 1.4 esquematiza os diferentes tipos de instabilidade citados anteriormente. Essa
figura pode ser descrita matematicamente.
Seja F (x, t ) um pacote de ondas arbitrário que descreve a perturbação localizada de um
escoamento base. Podem-se ter três diferente condições:
28
Linearmente Estável
limt→∞ |F (x, t )|2 = 0, ao longo de todo raio xt = const ante.
Convectivamente Instávelxt = const ante, tal que limt→∞ |F (x, t )|2 =∞.
Absolutamente Instável
limt→∞ |F (x, t )|2 =∞, ao longo de todo raio xt = 0.
1.3.3 Instabilidade Convectiva
Como dito anteriormente, se uma dada perturbação cresce ao se propagar na direção do
escoamento ao ser convectada pelo mesmo, essa perturbação recebe o nome de convectiva e
o escoamento é chamado de convectivamente instável.
Como mostrado na equação 1.9, na análise de estabilidade a perturbação pode ser escrita
em termos de modos normais, onde, a princípio, o número de onda α e a frequência ω são
complexos.
A fim de se obter o início da instabilidade convectiva, ou seja a condição marginal de
estabilidade de uma dada variável, lança-se mão da análise de estabilidade temporal.
A análise de estabilidade temporal é a base clássica da análise de estabilidade linear.
Como o nome já diz, ela considera que que os modos apenas são complexos no tempo e que,
portanto, os números de onda são reais (αi = 0, i.e. α ∈ R).
Como se está interessado em obter o início da instabilidade, ou o caso marginal, considera-
se então que a parte imaginária da frequência é igualmente nula (ωi = 0).
1.3.4 Instabilidade Absoluta
Caso no escoamento esteja presente uma perturbação que cresce no tempo e no espaço,
contaminando todo o escoamento paralelo, essa perturbação é dita absoluta e o escoamento
recebe o nome de absolutamente instável.
A fim de se obter a transição de uma instabilidade convectiva para uma absoluta bem
como os parâmetros críticos relativos à essa transição, a análise de estabilidade espacial deve
ser levada adiante.
29
A análise de estabilidade espacial considera que apenas os números de onda da perturba-
ção são complexos, logo considera que a frequência ω é real (ωi = 0, i.e.ω ∈ R).
No presente trabalho apenas serão levadas em consideração as instabilidades convectivas
1.4 OBJETIVOS
Diversos estudos relacionados ao início da convecção natural em escoamentos estão pre-
sentes na literatura. Os primeiros estudos relacionados ao inicio da instabilidade térmica são
aqueles que foram desenvolvidos a partir do problema analisado por Rayleigh-Bénard, tam-
bém conhecido como Convecção de Rayleigh-Bénard onde o início da convecção em uma
camada de fluido em repouso aquecida por baixo é analisado (Bénard, 1901). Drazin and
Reid (2004) em seu livro analisa o problema similar porém com diferentes configurações
de fronteiras da camada de fluido. Chandrasekhar (2013) em seu livro, além de apresentar
a teoria da instabilidade térmica de Rayleigh-Bénard, apresenta o resultados de outros efei-
tos associados a este problema, como por exemplo a presença de rotação ou de um campo
magnético.
Uma variante do problema clássico de Rayleigh-Bénard do estudo de convecção em ca-
madas de fluidos livre, é o problema de Darcy-Bénard, nome este que faz referência aos
pioneiros do estudo de escoamentos em meios porosos e de convecção em camadas de flui-
dos, respectivamente (Barletta, 2010). Os pioneiros neste tipo de análise foram Horton and
Rogers Jr (1945) e Lapwood (1948). Novas variações do estudo do problema de Darcy-
Bernard vêm sendo estudadas, onde por exemplo ao invés de se considerar uma camada de
fluido em repouso, analisa-se o fluido em movimento, o pioneiro deste tipo de análise foi
Prats (1966).
Mais recentemente pesquisadores vêm desenvolvendo estudos ainda neste campo de co-
nhecimento, considerando, porém, diferentes configurações de escoamento, bem como suas
causas de aquecimento. Nield (1991) analisou um escoamento em meio poroso com um gra-
diente inclinado de temperatura. Barletta (2012) analisou um escoamento em meio poroso
submetido a fluxos de calor simétricos em suas paredes inferior e superior. Sphaier and Bar-
letta (2014) analisaram a convecção mista de um escoamento em meio poroso aquecido por
30
baixo e isolado termicamente na parede superior.
Outras variantes que vêm sendo estudadas são relativas ao tipo de fluido, onde diferentes
modelos de fluidos não-newtonianos são levados em consideração, como por exemplo o es-
tudo feito por Alves and Barletta (2013) onde o modelo de fluido não-newtoniano conhecido
como power-law é analisado. E ainda relativos à causa da instabilidade, como por exem-
plo no estudo desenvolvido por Barletta et al. (2009) em que se analisa a dissipação viscosa
como sendo o mecanismo gerador de instabilidade.
A análise de estabilidade térmica pode apresentar resultados de suma importância rela-
tivos ao comportamento de determinado escoamento devido à influência do aporte de calor
e/ou da troca de calor do mesmo com o ambiente externo, é portanto igualmente importante
que as análises sejam capazes de reproduzir o mais fielmente possível acontecimentos reais.
Sabe-se que o isolamento térmico perfeito não é possível de ser obtido, visto que uma
troca de calor por convecção, ainda que pequena, sempre ocorrerá. Por isso o presente
trabalho se propõe a analisar dois casos, um primeiro onde é considerado um escoamento
em meio poroso aquecido por baixo e isolado termicamente na parede superior com geração
de energia interna, e um segundo caso similar onde se leva em conta a troca de calor por
convecção ao invés do isolamento na parede superior, e então confrontar ambos os casos,
sabendo que o segundo caso tende assintoticamente ao primeiro à medida que a troca de
calor por convecção tende a zero.
O primeiro caso aqui estudado é uma extensão do trabalho desenvolvido por Sphaier and
Barletta (2014) onde inclui-se a geração de energia interna ao mesmo. Resultados prelimina-
res deste primeiro caso foram publicados no periódico Transport in Porous Media e podem
ser encontrados em Celli et al. (2016). Os resultados do estudo do segundo caso estão presen-
tes no artigo intitulado "Convective instability induced by internal and external heating in a
fluid saturated porous medium" submetido ao periódico internacional International Journal
of Heat and Mass Transfer.
31
2 MODELAGEM MATEMÁTICA
Um escoamento em meio poroso é analisado, considerando aqui o modelo de Darcy. A
aproximação de Oberbeck-Boussinesq é empregada a fim de modelar a força de empuxo na
equação de conservação de quantidade de movimento, a equação de Darcy.
As equações de governo para esse problema são as equações de conservação da massa ou
equação da continuidade, equação de conservação de quantidade de movimento e equação
de conservação da energia. E podem ser escritas na forma dimensional da seguinte forma:
∇·u = 0 (2.1a)
µ
Ku =−∇p + ρ g (2.1b)
(ρc)m∂T
∂t+ (ρc) f u ·∇T = km ∇2T +q ′′′ (2.1c)
2.1 CASO 1
O primeiro caso a ser considerado é o de um escoamento em um canal poroso aquecido
por baixo por um fluxo de calor constante e isolado termicamente na parte superior. As
paredes superior e inferior são impermeáveis. Sólido e fluido são homogêneos e é assumida
a hipótese de equilíbrio térmico local. O gradiente de pressão imposto na direção horizontal,
bem como a força de empuxo, originam o escoamento base.
32
g
0
z
x
Q
w = 0 -k∂T∂z
= 0
w = 0 -k∂T∂z
= q 0''
Figura 2.1: Esquema Caso 1: escoamento em meio poroso com geração de energia interna,aquecido por baixo isolado em cima.
2.1.1 Equações de Governo
As equações de governo na forma dimensional são aquelas dadas por 2.1 sendo as con-
dições de contorno dadas por:
z = 0 : w = 0, −k∂T
∂z= q ′′
0 (2.2a)
z = 1 : w = 0,∂T
∂z= 0 (2.2b)
As equações de governo 2.1 podem ser escritas da forma adimensional da seguinte forma:
∇·u = 0 (2.3a)
∇×u =∇× (T ez) (2.3b)
∂T
∂t+u · ∇T =∇2T +Q (2.3c)
Onde o operador Rotacional foi aplicado na lei de Darcy na equação adimensionalizada
a fim de simplificar a análise.
33
As condições de contorno adimensionais são escritas então como:
z = 0 : w = 0,∂T
∂z=−R (2.4a)
z = 1 : w = 0,∂T
∂z= 0 (2.4b)
Onde a velocidade é representada por u = (u, v, w), o tempo por t , e a temperatura por T . As
variáveis e os parâmetros adimensionais, tais como a geração interna de calor Q e o número
de Darcy-Rayleigh R, são definidos como:
x = x∗
H, t = t∗
α
σH 2, u = u∗H
α, T = (T ∗−T0)
g βK H
να, (2.5)
Q = q ′′′ gβK H 3
(ρc) f α2ν, R = g β q ′′
0 K H 2
ναk(2.6)
Onde os símbolos com asterisco se referem às coordenadas dimensionais, o subscrito f se
refere à variáveis relativas ao fluido, H é a altura do canal, α é a difusividade térmica média,
T0 é a temperatura média do fluido dentro do canal, g é representa a magnitude da aceleração
gravitacional g , β é o coeficiente de expansão térmica do fluido, K é a permeabilidade do
meio poroso, ν é a viscosidade cinemática do fluido, q ′′′ é a amplitude da geração interna de
calor, ρ é a densidade, c é o calor específico e k é a condutividade térmica média. σ repre-
senta a razão entre a capacidade térmica média volumétrica do meio poroso e a capacidade
térmica volumétrica do fluido.
2.1.2 Solução Base
A definição do estado base de um sistema em análise é o ponto de partida para qual-
quer problema de análise de estabilidade. Neste caso o escoamento horizontal pode ser
decomposto em dois componentes, um componente devido ao gradiente de pressão e um
outro componente devido à força de empuxo. O componente da força de empuxo é devido
à geração de calor interna e ao fluxo de calor imposto na parede inferior. O termo relativo
ao componente de empuxo depende da direção z, i.e. a única direção não homogênea do
34
escoamento. A solução base é obtida a partir das equações 2.3 e 2.4.
ub = 2Pe2 + (Q +R)(1−2z)
2Peex (2.7)
∇Tb = Q +R
Peex +
[R − (Q +R)2z
2Pe2
](z −1)ez (2.8)
Onde o número de Rayleigh R é assumido positivo, o que significa que o escoamento está
sendo aquecido por baixo. E o adimensional Q também é assumido positivo, o que significa
uma geração de calor interna.
A solução base demonstra que uma solução estacionária somente é possível na presença
de um escoamento horizontal, ou seja para valores de Pe diferentes de zero. O número de
Péclet é definido como Pe = U0H/α onde U0 é a velocidade base devida ao gradiente de
pressão imposto. Caso Pe seja nulo, existirá uma acumulação de energia interna crescente
no tempo de tal forma que uma solução estacionária não é possível. O escoamento horizontal
convecta energia suficiente à jusante de modo a balancear a geração de energia, o que faz
com que seja possível a existência de estado estacionário.
2.1.3 Perturbações
As soluções bases são então perturbadas a fim de se desenvolver uma análise de estabili-
dade linear. Considera-se perturbações infinitesimais e pode-se escrever da seguinte forma:
u = ub + εU , T = Tb + εθ (2.9)
onde U = (U ,V ,W ) e ε responsável por representar a amplitude da perturbação, sendo
ε<< 1. Então 2.3 se torna:
35
∇·ub + ∇·εU = 0 (2.10a)
∇×ub + ∇×εU =∇× (Tb ez) + ∇× (εθ ez) (2.10b)
∂Tb
∂t+ ∂εθ
∂t+ub · ∇Tb +ub · ∇εθ+εU · ∇Tb +εU · ∇εθ =∇2T +∇2εθ+Q (2.10c)
Linearização
Como ε<< 1, os termos não lineares, ou seja O(ε2), nas equações de governo perturbadas
são desprezados. Além disso os termos que juntos recuperam a solução base do problema,
lembrando que a solução base é independente do tempo, são também nulos pois satisfazerem
as equações. Logo as equações 2.3 perturbadas e linearizadas se tornam:
∇·U = 0 (2.11a)
∇×U =∇× (θ ez) (2.11b)
∂θ
∂t+ub · ∇θ+U · ∇Tb =∇2θ (2.11c)
Abrindo as equações:
∂U
∂x+ ∂V
∂y+ ∂W
∂z= 0 (2.12a)
−∂V
∂z+ ∂W
∂y= ∂θ
∂y(2.12b)
∂U
∂z− ∂W
∂x=−∂θ
∂x(2.12c)
−∂U
∂y+ ∂V
∂x= 0 (2.12d)
U∂Tb
∂x+W
∂Tb
∂z+ ∂θ
∂t+ub
∂θ
∂x= ∂2θ
∂x2+ ∂2θ
∂y2+ ∂2θ
∂z2(2.12e)
36
Modos Normais
Considera-se então que as perturbações possuem um comportamento modal, e assume-
se que esses modos normais têm um comportamento periódico, a princípio, nas direções
homogêneas x e y e no tempo t .
U =Un(z)e i (αx+βy−ωt ) (2.13)
V =Vn(z)e i (αx+βy−ωt ) (2.14)
W =Wn(z)e i (αx+βy−ωt ) (2.15)
θ = θn(z)e i (αx+βy−ωt ) (2.16)
Onde α, β e ω são variáveis complexas, sendo portanto decompostas entre parte real e
imaginária, ou seja α=αr + iαi , β= βr + iβi e ω=ωr + iωi . Aqui αr e βr representam os
números de onda e αi e βi a taxa de crescimento espacial nas direções x e y , ωr representa a
frequência angular e ωi a taxa de crescimento temporal. Substituindo então as perturbações
nas equações 2.12 e reorganizando tudo em termos de apenas 2 variáveis, tem-se:
W ′′n − (α2 +β2)(Wn −θn) = 0 (2.17a)
θ′′n + (iω − iαub − α2 − β2)θn − Wn∂Tb
∂z− iα
α2 +β2W ′
n∂Tb
∂x= 0 (2.17b)
z = 0,1 : Wn = 0, θ′n = 0 (2.17c)
O resultado é o que é conhecido como relação de dispersão, que é o sistema de equações
diferenciais complexas que representam a dispersão das ondas de perturbação, cujas variá-
veis são Wn e θn , onde os apóstrofos representam as derivadas em relação à direção não
homogênea z. Esse sistema é também um problema de autovalores, onde as autofunções são
37
representadas por Wn e θn e os autovalores ω, α ou β dependendo do tipo de análise levada
adiante.
2.2 CASO 2
g
0
z
x
Q
w = 0 -k∂T∂z
= h(T - Ts)
w = 0 -k∂T∂z
= q 0''
Figura 2.2: Esquema Caso 2: escoamento em meio poroso com geração de energia interna,aquecido uniformemente por baixo e trocando calor por convecção na paredesuperior.
O segundo caso a ser considerado trata de um escoamento em um canal poroso aquecido
por baixo por um fluxo de calor constante e trocando calor por convecção na parede supe-
rior. As paredes superior e inferior são impermeáveis. Sólido e fluido são homogêneos e é
assumida a hipótese de equilíbrio térmico local assim como no caso anterior. O gradiente de
pressão imposto na direção horizontal origina o escoamento base.
2.2.1 Equações de Governo
As equações de governo deste caso na forma dimensional são as mesmas do Caso 1 e
podem ser vistas em 2.1, sendo as condições de contorno dadas por:
z = 0 : w = 0, −k∂T
∂z= q ′′
0 (2.18a)
z = 1 : w = 0, −k∂T
∂z= h(T −Ts) (2.18b)
38
As equações de governo 2.1 podem ser escritas da forma adimensional para o Caso 2 da
seguinte forma:
∇·u = 0 (2.19a)
∇×u = R ∇× (T ez) (2.19b)
∂T
∂t+u · ∇T =∇2T +Q (2.19c)
Onde o operador Rotacional foi aplicado na lei de Darcy na equação adimensionalizada
a fim de simplificar a análise.
As condições de contorno adimensionais são escritas então como:
z = 0 : w = 0,∂T
∂z=−1 (2.20a)
z = 1 : w = 0,∂T
∂z+BT = 0 (2.20b)
Onde a velocidade é representada por u = (u, v, w), o tempo por t , e a temperatura por T . As
variáveis e os parâmetros adimensionais, tais como a geração interna de calor Q e o número
de Darcy-Rayleigh R, são definidos como:
x = x∗
H, t = t∗
α
σH 2, u = u∗H
α, T = (T ∗−Ts)
k
q ′′0 H
, (2.21)
B = hH
k, Q = q ′′′H
q ′′0
, R = g β q ′′0 K H 2
ναk(2.22)
Onde os símbolos com asterisco se referem às coordenadas dimensionais, o subscrito f se
refere à variáveis relativas ao fluido, H é a altura do canal, α é a difusividade térmica média,
g é representa a magnitude da aceleração gravitacional g , β é o coeficiente de expansão
térmica do fluido, K é a permeabilidade do meio poroso, ν é a viscosidade cinemática do
fluido, q ′′′ é a amplitude da geração interna de calor, ρ é a densidade, c é o calor específico
39
e k é a condutividade térmica média. σ representa a razão entre a capacidade térmica média
volumétrica do meio poroso e a capacidade térmica volumétrica do fluido.
2.2.2 Solução Base
A definição do estado base de um sistema em análise é o ponto de partida para qualquer
problema de análise de estabilidade. Neste caso o escoamento horizontal é devido unica-
mente ao gradiente de pressão imposto, a solução é obtida através da resolução das equações
2.19 e 2.20.
ub = Pe (2.23)
Tb = Q
2+1+ Q +1
B− z − Q
2z2 (2.24)
Onde o número de Rayleigh R é assumido positivo, o que significa que o escoamento está
sendo aquecido por baixo, o adimensional Q também é assumido positivo, o que significa
uma geração de calor interna e o número de Biot B também é positivo, o que significa perda
de energia através da troca de calor por convecção na parede superior.
A solução base demonstra que uma solução estacionária somente é possível no caso de
B > 0 pelo fato de que no limite de B → 0 a solução da temperatura vai ao infinito. Nesse
limite a parede superior se torna adiabática e retorna-se ao Caso 1. O número de Péclet é o
mesmo definido para o Caso 1.
2.2.3 Perturbações
As soluções bases são então perturbadas, do mesmo modo que foi feito com as equações
para o Caso 1, a fim de se desenvolver uma análise de estabilidade linear. Consideram-se
perturbações infinitesimais.
u = ub + εU , T = Tb + εθ (2.25)
40
onde U = (U ,V ,W ) e ε responsável por representar a amplitude da perturbação, sendo
ε<< 1. Então 2.19 se torna:
∇·ub + ∇·εU = 0 (2.26a)
∇×ub + ∇×εU = R ∇× (Tb ez) + R ∇× (εθ ez) (2.26b)
∂Tb
∂t+ ∂εθ
∂t+ub · ∇Tb +ub · ∇εθ+εU · ∇Tb +εU · ∇εθ =∇2T +∇2εθ+Q (2.26c)
Linearização
Como ε<< 1, os termos O(ε2) nas equações de governo perturbadas são desconsiderados.
Além disso os termos que juntos recuperam a solução base do problema, lembrando que a
solução base é independente do tempo, são também nulos pois satisfazerem as equações.
Logo as equações 2.19 perturbadas e linearizadas se tornam:
∇·U = 0 (2.27a)
∇×U = R,∇× (θ ez) (2.27b)
∂θ
∂t+ub · ∇θ+U · ∇Tb =∇2θ (2.27c)
Abrindo as equações:
41
∂U
∂x+ ∂V
∂y+ ∂W
∂z= 0 (2.28a)
−∂V
∂z+ ∂W
∂y= R
∂θ
∂y(2.28b)
∂U
∂z− ∂W
∂x=−R
∂θ
∂x(2.28c)
−∂U
∂y+ ∂V
∂x= 0 (2.28d)
U∂Tb
∂x+W
∂Tb
∂z+ ∂θ
∂t+ub
∂θ
∂x= ∂2θ
∂x2+ ∂2θ
∂y2+ ∂2θ
∂z2(2.28e)
Modos Normais
Considera-se então que as perturbações possuem um comportamento modal, e assume-
se que esses modos normais têm um comportamento periódico, a princípio, nas direções
homogêneas x e y e no tempo t .
U =Un(z)e i (αx+βy−ωt ) (2.29)
V =Vn(z)e i (αx+βy−ωt ) (2.30)
W =Wn(z)e i (αx+βy−ωt ) (2.31)
θ = θn(z)e i (αx+βy−ωt ) (2.32)
Analogamente ao Caso 1, α, β e ω são variáveis complexas, sendo portanto decompostas
entre parte real e imaginária, ou seja α=αr + iαi , β=βr + iβi e ω=ωr + iωi . Aqui αr e βr
representam os números de onda e αi e βi a taxa de crescimento espacial nas direções x e y ,
ωr representa a frequência angular e ωi a taxa de crescimento temporal. Substituindo então
as perturbações nas equações 2.28 tem-se:
42
W ′′n − (α2 + β2)(Wn − θn) = 0 (2.33a)
θ′′n + (i ω − i αub − α2 − β2)θn − Wn∂Tb
∂z= 0 (2.33b)
As condições de contorno para o Caso 2, são também diferente daquelas consideradas no
Caso 1, e podem ser escritas como:
Wn(0) = 0, Wn(1) = 0 (2.34)
θ′n(0) = 0, θ′n(1) + B θn(1) = 0 (2.35)
O resultado, analogamente ao Caso 1, é conhecido como relação de dispersão, que é o
sistema de equações diferenciais complexas que representam a dispersão das ondas de per-
turbação. Que ao mesmo tempo é também um problema de autovalores, onde as autofunções
são representadas por Wn e θn e os autovalores ω, α ou β dependendo do tipo de análise le-
vada adiante. O problema de autovalores pode ser resolvido de diferentes formas, a maneira
aqui explorada, que será explicada no próximo capítulo, é conhecida como método do tiro.
43
3 METODOLOGIA
O método numérico empregado a fim de se resolver as relações da dispersão é o método
conhecido como método do tiro. Este método consiste em transformar um problema de valor
de contorno, que é o caso das presentes equações, em um problema de valor inicial, impondo
novas constantes como condições iniciais adicionais deste novo problema, utilizando um
método de marcha para marchar de um contorno a outro e então através de um método de
busca de raízes se encontra o valor ideal dessas novas condições iniciais definidas.
3.1 CASO 1
Pode-se reescrever as equações 2.17 com base em um novo número de onda k onde
α= k cos(φ) e β= k sen(φ), ou seja k2 =α2 +β2.
3.1.1 Análise Assintótica
Observou-se que as equações da relação da dispersão para o Caso 1 possuíam uma so-
lução analítica se analisadas no regime assintótico em que k → 0. Para isso se reescalou a
autofunção Wn da seguinte forma: Wn → Wn/k. O número de Rayleigh R, a velocidade
de fase c =ω/k e as autofunções Wn e θn são escritas como séries expandidas em torno do
número de onda k.
R = R0 +k2R2 +k4R4 +·· ·+k2n R2n (3.1)
c = c0 +k2c2 +k4c4 +·· ·+k2n c2n (3.2)
Wn = ˆWn,0 +k ˆWn,1 +k2 ˆWn,2 +·· ·+kn ˆWn,n (3.3)
θn = θn,0 +kθn,1 +k2θn,2 +·· ·+knθn,n (3.4)
44
Substituindo as 3.4 em 2.17 a resultante será um sistema de equações diferenciais de
diferentes ordens em k. As equações de ordem 0 e 1 em k resultam em ˆWn,0 = 0, ˆWn,1 = 0 e
θn,0 = 1. Da equações de segunda ordem em k se pode concluir que
5Pe2 (24−R0)+2(Q +R0)2 cos2(φ)+ (Q +R0)2 = 0 (3.5)
Onde as raízes de R0 são dadas por
R0 =5Pe2 −2Q
(cos(2φ)+2
)±√5Pe2
[5Pe2 −4(Q +24)
(cos(2φ)+2
)]2(cos(2φ)+2
) (3.6)
A condição para que exista valor real para R0 é que o argumento da raiz da equação de R0
seja positivo. Caso não seja, significará que a não existe um valor de Rayleigh para número
de onda α igual a zero, o que significa que a curva de estabilidade marginal (R x α) não toca
o eixo das ordenadas.
Resolvendo-se a equação 3.6 serão obtidos dois resultados para R0, um representará o
valor inferior e o outro o valor superior de Rayleigh relativo ao encontro da curva marginal
com o eixo das ordenadas.
3.1.2 Instabilidades Convectivas
Quando se deseja obter o início da instabilidade convectiva lança-se mão de uma análise
temporal, que quer dizer que o número de onda α é tratado como sendo real. A frequência
ω é tratada ainda como sendo uma variável complexa, porém como se está interessado no
início da instabilidade, o que se busca é o limiar entre estabilidade e instabilidade, ou seja, a
condição na qual a taxa de crescimento é nula(ωi = 0).
Desta forma o problema de autovalor resultante é aquele representado por 2.17, sendo
Wn e θn as autofunções do problema e ω o seu autovalor, que será obtidos atavés da solução
do problema para cada número de onda α prescrito.
A fim de se resolver o sistema de equações diferenciais de 2.17 foi desenvolvida uma ro-
45
tina no programa de computador Wolfram Mathematica. Como o problema foi transformado
em um problema de valor inicial, as condições de contorno em z = 1 foram desconsideradas
e foram então impostas novas condições iniciais (z = 0).
W ′n(0) =Cr + iCi , θn(0) = 1 (3.7)
Onde Cr e Ci são parâmetros reais a serem determinados e a condição inicial para a
autofunção θn foi imposta a fim de se fixar a escala das autofunções Wn e θn . O sistema
de equações diferenciais é então resolvido através da função NDSolve, que trata de resolver
numericamente equações diferenciais ordinárias, presente no software Mathematica com as
novas condições impostas em z = 0.
As duas condições impostas, até então desconhecidas, podem ser encontradas agora jun-
tamente de ω e do número de Rayleigh (R) através da função FindRoot do Mathematica,
que possui programado internamente diferentes algoritmos de encontrar zeros de funções. A
partir disso é possível obter o número de Rayleigh (R) associado a cada número de onda (α)
da perturbação e então através da curva de estabilidade neutra (R x α) obter o valor crítico
de Rayleigh para uma dada combinação de parâmetros (Pe e Q).
3.2 CASO 2
3.2.1 Transformação de Squire
Sem nenhuma perda de generalidade é possível aplicar a transformação de Squire à esse
problema a fim de simplificar a resolução do mesmo. A transformação de Squire transforma
o atual problema 3D em um 2D equivalente. Aplicando a transformação k2 = α2 +β2 e
kP = αPe nas equações 2.33, onde P é o número de Peclèt modificado e k é o número
de onda modificado. Dessa forma somente modos transversais serão calculados, o que não
é um problema visto que os modos longitudinais podem ser recuperados revertendo-se a
transformação.
46
3.2.2 Princípio da Troca de Estabilidades
O princípio conhecido como "princípio da troca de estabilidades"(em tradução livre do
inglês principle of exchange of stabilities) afirma que as primeiras perturbações instáveis são
estacionárias, ou seja possuem a parte real da frequência ω nula (ω= 0).
A relação da dispersão representada pelo sistema de equações 2.33a e 2.33b pode ser
sintetizado em uma única equação. Escreve-se θn em função de Wn a partir da equação
2.33a e substitui-se na equação 2.33b, o resultado será uma única equação com Wn como
autofunção.
(i kP + k2 − i ω)
(Wn(z)
R− W ′′
n (z)
k2 R
)−
Wn(z) − Q z Wn(z) −(
W ′′n (z)
R− W (4)
n (z)
k2 R
)= 0 (3.8)
Essa equação é então multiplicada por W ∗n (z), que é o complexo conjugado da autofun-
ção Wn(z), e integrada no domínio da direção não homogênea z.
(i kP + k2 − i ω)
(∫ 1
0Wn(z)W ∗
n (z)dz + 1
k2
∫ 1
0W ′
n(z)W ∗′n (z)dz
)−
R∫ 1
0Wn(z)W ∗
n (z)dz − R Q∫ 1
0z Wn(z)W ∗
n (z)dz+∫ 1
0W ′
n(z)W ∗′n (z)dz + 1
k2
(∫ 1
0W ′′
n (z)W ∗′′n (z)dz − W ∗′
n (z)W ′′n (z)
∣∣∣1
0
)= 0 (3.9)
As condições de contorno para W ∗n (z) são análogas àquelas para Wn . Como o produto
entre uma função e o seu complexo conjugado é sempre um número positivo, todas as inte-
grais contendo tais produtos são número positivos por definição. A princípio, o termo repre-
sentado por W ∗′n (z)W ′′
n (z)∣∣∣1
0é complexo, ou seja, pode assumir tantos valores reais quanto
valores imaginários, porém foi verificado numericamente que esse termo assume somente
valores reais. Consequentemente, a parte imaginária da equação 3.9 é escrita como:
47
(kr P − ωr )
(∫ 1
0Wn(z)W ∗
n (z)dz + 1
k2r
∫ 1
0W ′
n(z)W ∗′n (z)dz
)= 0 (3.10)
Onde os subscritos r e i significam real e imaginário, respectivamente. Assumindo que
Wn é não nulo, a equação 3.10 só pode ser satisfeita se
ωr = kr P = αr Pe (3.11)
O que significa que todos modos transversais e oblíquos possuem velocidade de fase c
(c =ω/α) constante, para um número de Peclet Pe constante, e que todos os modos longitu-
dinais são estacionários. Por outro lado, a parte real da equação 3.9 considerando ωi = 0 é
escrita como:
(R −k2r )
∫ 1
0wn(z) w∗
n (z)dz + R Q∫ 1
0z wn(z) w∗
n (z)dz
− 2∫ 1
0w ′
n(z) w∗′n (z)dz − 1
k2r
(∫ 1
0W ′′
n (z)W ∗′′n (z)dz − W ∗′
n (z)W ′′n (z)
∣∣∣1
0
)= 0 (3.12)
O que implica que R é independente de P. Considerando c1, c2, c3 e c4 como os co-
eficientes representando as três integrais consecutivas na equação 3.12 e a união da última
integral com o termo W ∗′n (z)W ′′
n (z)∣∣∣1
0, é possível escrever:
R = c4 +2c3 k2r + c1 k4
r
(c1 + c2 Q)k2r
(3.13)
Onde os mínimos (kcr , Rc ), conhecidos como os pontos críticos que representam o início
da instabilidade convectiva, são dados por:
kcr = 4
√c4
c1(3.14a)
Rc = 2c3 +p
c1 c4
c1 + c2 Q(3.14b)
48
O que significa que Rc tende a zero quando Q se torna suficientemente grande, uma vez que
os coeficientes c1, c2, c3 e c4 devem depender fortemente de B e fracamente de Q. Portanto
Q é muito provavelmente um parâmetro desestabilizador. A mesma tendência que se observa
para Rc pode ser observada também para R, exceto em casos onde kr é muito pequeno onde
a equação 3.13 pode ser aproximada como
R ' c4
(c1 + c2 Q)k2r+ 2c3
c1 + c2 Q+ O(k2
r ) , (3.15)
ou em casos onde kr é muito grande onde a equação 3.13 pode ser aproximada por
R ' c1 k2r
c1 + c2 Q+ 2c3
c1 + c2 Q+ O(k−2
r ) (3.16)
Tais resultados são validos para B > 0, onde um valor muito pequeno, mas não nulo, de
B representa um isolamento imperfeito na parede superior.
3.2.3 Instabilidades Convectivas
Da mesma forma que foi feita para o Caso 1, considera-se um problema temporal onde
α assume um valor real e ω um valor complexo, onde o que se busca é o limiar entre a
ocorrência ou não da instabilidade, ou seja, a condição na qual a taxa de crescimento é
nula(ωi = 0).
Desta forma o problema de autovalor resultante será aquele representado por 2.33, sendo
Wn e θn as autofunções do problema e ω o autovalor.
A fim de se resolver o sistema de equações diferenciais de 2.33 foi desenvolvida uma
rotina no programa de computador Wolfram Mathematica seguindo o mesmo raciocínio da-
quela desenvolvida para resolver o Caso 1, porém ligeiramente diferente visto que as condi-
ções de contorno são outras e a solução base também. Como o problema foi transformado
em um problema de valor inicial, as condições de contorno em z = 1 foram desconsideradas
e foram então impostas novas condições iniciais (z = 0).
49
W ′n(0) =Cr + iCi , θn(0) = 1 (3.17)
Onde Cr e Ci são parâmetros reais a serem determinados de modo que as condições
de contorno originais em z = 1 sejam satisfeitas, e a condição inicial para a autofunção θn
foi imposta a fim de se fixar a escala das autofunções Wn e θn . O sistema de equações
diferenciais é então resolvido através da função NDSolve presente no software Mathematica
com as novas condições impostas em z = 0.
As duas condições impostas, até então desconhecidas, podem ser encontradas agora jun-
tamente de ω e do número de Rayleigh (R) através da função FindRoot do Mathematica.
A partir disso é possível obter o número de Rayleigh (R) associado a cada número de onda
(α) da perturbação e então através da curva marginal (Rxα) obter o valor crítico de Rayleigh
para uma dada combinação de parâmetros (Pe, Q e B).
50
4 RESULTADOS
Primeiramente serão apresentados os resultados de algumas validações que foram feitas
a fim de se verificar a metodologia numérica. Em seguida serão apresentados os resulta-
dos da análise de estabilidade propriamente através das curvas de estabilidade marginal, e
posteriormente através das curvas relativas ao pontos críticos para dada combinação de pa-
râmetros. Os resultados da correlação aproximada proposta e levada adiante também serão
apresentados nesse capítulo. E por fim serão confrontados as isolinhas de função corrente e
temperatura referentes aos casos 1 e 2 para semelhantes configurações de parâmetros no caso
em que o número de Biot tende a zero, onde em teoria o problema se tornaria termicamente
isolado.
4.1 VERIFICAÇÃO
A metodologia numérica foi validada de maneira diferente para ambos os casos. consi-
derando o Caso 1, é possível observar na tabela 4.1 a comparação do resultado numérico e
aquele obtido através da aproximação assintótica pro caso em que o número de onda tende a
zero. Para a combinação de parâmetros analisadas, a curva marginal apresenta o aspecto de
um C invertido, assim sendo, existem dois pontos em que a curva toca o eixo para número de
onda nulo. Por isso pode-se observar que ambos valores são verificados e apresentam uma
considerável semelhança.
51
Tabela 4.1: Comparação entre os resultados obtidos numericamente e analiticamente parao caso de kr → 0, considerando Q = 1 e φ = π/2. Como a curva marginal deRxkr apresenta, para algumas combinações de parâmetros, dois valores de Rpara kr = 0, os subscritos i e s se referem aos valores inferiores e superiores,respectivamente.
Ri Rs
Pe Numérico Analítico Numérico Analítico5 33.549150 33.549150 89.450850 89.4508506 29.000000 29.000000 149.00000 149.000007 27.259616 27.259616 215.74038 215.740388 26.335008 26.335008 291.66499 291.664999 25.769382 25.769382 377.23062 377.23062
10 25.393202 25.393202 472.60680 472.60680
Considerando o segundo caso, os resultados numéricos do presente trabalho foram veri-
ficados com resultados já presentes na literatura, e é possível observar na tabela 4.2 que os
resultados convergem razoavelmente.
Tabela 4.2: Comparação entre os resultados obtidos numericamente através do método dotiro e os resultados encontrados na literatura Alves and Barletta (2013) para oinício da instabilidade convectiva.
kr R (Alves and Barletta (2013)) R1.152254 40.46992 40.469781.603469 30.42835 30.428233.592764 31.64865 31.648474.860074 41.64435 41.644095.810938 51.64392 51.643586.617453 61.64381 61.643397.333037 71.64377 71.643267.983780 81.64376 81.643168.585012 91.64375 91.64307
52
4.2 CURVAS MARGINAIS
Na análise de estabilidade, as curvas marginais são aquelas em que estão representadas
a estabilidade marginal de determinado problema, ou seja, a iminência de um sistema passar
de uma configuração estável para instável. Em geral essa condição de estabilidade é repre-
sentada através de uma curva tendo como variável no eixo das ordenadas um parâmetro de
controle e no eixo das abscissas o número de onda.
Q = 0
Q = 10
Q = 20
Q = 30
Q = 35
2 4 6 8 100
50
100
150
200
250
300
350
kr
R
Figura 4.1: Curvas Marginais Caso 1 para Pe = 7 e φ= π2
As figuras 4.1, 4.2, 4.3 e 4.4 são referentes ao primeiro caso onde as duas primeiras se
referem ao caso longitudinal e as duas últimas ao transversal, e representam a estabilidade
marginal para diferentes valores de Q. Foi verificado que os modos longitudinais são os
mais instáveis para o caso 1, isto é, transicionam de uma configuração estável para uma
configuração instável para um valor menor de R.
53
Q = 0Q = 35Q = 150Q = 200Q = 250
5 10 15 20 250
200
400
600
800
1000
1200
kr
R
Figura 4.2: Curvas Marginais Caso 1 para Pe = 12 e φ= π2
Q = 0Q = 2Q = 4Q = 5Q = 6
1 2 3 4 5 6 70
50
100
150
200
250
kr
R
Figura 4.3: CCurvas Marginais Caso 1 para Pe = 7 e φ= 0
No segundo caso estudado, foi verificado que não existe uma dependência de Pe na es-
tabilidade marginal, dependência esta que se manifesta somente na frequência de oscilação
das perturbações. Além disso, os modos longitudinais, transversais e oblíquos se manifes-
tam igualmente, não sendo necessário portanto diferenciação quanto à direção do modo.
Estão representadas pelas figuras 4.5 e 4.6 dois casos de estabilidade marginal considerando
54
Q = 0Q = 35Q = 125Q = 200Q = 230
2 4 6 8 10 12 14 160
200
400
600
800
kr
R
Figura 4.4: Curvas Marginais Caso 1 para Pe = 12 e φ= 0
dois diferentes número de Biot e em cada curva diferentes valores para a geração de energia
interna Q.
Q = 0Q = 100
Q = 101
Q = 103
0 1 2 3 4 5 6 70
10
20
30
40
50
60
kr
R
Figura 4.5: Curvas Marginais Caso 2 para B = 10−1
55
Q = 0Q = 100
Q = 101
Q = 103
0 1 2 3 4 5 6 70
10
20
30
40
50
60
kr
R
Figura 4.6: Curvas Marginais Caso 2 para B = 1010
56
4.3 CURVAS PONTOS CRÍTICOS
A análise de estabilidade pode ser uma importante ferramenta a se consultar e considerar
em um experimento por exemplo, além de aplicações reais. Seja em um experimento ou
em uma aplicação real estão presentes ruídos e perturbações de todos os números de onda
e que se propagam em todas as frequências. Por isso é importante definir o que seria uma
curva dos valores críticos ou dos pontos críticos. Um ponto crítico seria aquele relativo ao
parâmetro de controle de menor valor em uma curva marginal, pois dado que estão presentes
esse tipo de ruído, o valor crítico de um parâmetro de controle seria o menor valor no qual
pode ocorrer a transição de um sistema estável para um instável.
As figuras 4.8 e 4.7 representam o menor valor de R onde para determinado Q pode
ocorrer a transição para a instabilidade, para o caso 1.
57
ϕ = 0
ϕ =π
2
5 10 15 20 25 30 35 400
50
100
150
200
250
Q
Rc
Figura 4.7: Curvas de Valores Críticos Caso 1 para Pe = 7
ϕ = 0
ϕ =π
2
0 50 100 150 200 250 3000
200
400
600
800
1000
Q
Rc
Figura 4.8: Curvas de Valores Críticos Caso 1 para Pe = 12
Para o caso 2 as curvas dos valores críticos são representadas tanto em função de Q
quanto de B .
58
B = 10-1
B = 100
B = 101
B = 102
0 2 4 6 8 100
5
10
15
20
25
30
Q
Rc
Figura 4.9: Curvas Críticas Caso 2 em função de Q para diferentes valores de B
Q = 0Q = 1Q = 2Q = 5Q = 10Q = 200
10-3 10-2 0.1 1 10 1000
5
10
15
20
25
30
B
Rc
Figura 4.10: Curvas Críticas Caso 2 em função de B para diferentes valores de Q
59
4.4 CORRELAÇÕES APROXIMADAS
Através da tentativa de demonstrar que o princípio da troca de estabilidades era válido
para o problema considerado no caso 2, observou-se a possibilidade de se obter uma aproxi-
mação analítica para a estabilidade marginal deste problema, e consequentemente para obter
os pontos críticos também. Como já dito anteriormente sobre a importância de se obter os
pontos críticos relativos à possibilidade de transição para instabilidade de um determinado
problema, obter tais valores analiticamente seria de grande valor para experimentos, pois
seria possível verificar e prever resultados com certa facilidade.
Através dos resultados numéricos buscou-se então obter os coeficientes c1, c2, c3 e c4 re-
presentadas em 3.13. Para tal buscou-se interpolar diversas curvas de estabilidade marginal,
cujos valores foram obtidos numericamente, com a cara dada pela equação 3.13. Analisando
a forma dos coeficientes e as equações, considerou-se que os coeficientes seriam pratica-
mente constantes com Q e que variariam fortemente com B . Posteriormente foi verificado
ser verdade o pressuposto, de fato os coeficientes eram praticamente constantes com Q, e
para alguns existiria uma forte variação com B . Até pelo fato de B não estar presente na
equação e somente nas condições de contorno, deveria existir uma dependência com B de
alguma forma.
A fim de reduzir o número de coeficientes e possíveis erros numéricos no momento da
interpolação, os coeficientes foram normalizadas pelo coeficiente c2. Assim sendo, para cada
par B e Q os valores marginais foram interpolados e os valores dos coeficientes foram obtido,
foi observado que de fato para cada B os valores dos coeficientes variavam pouco ou quase
nada com Q, portanto foi retirada a média dos coeficientes com Q para cada valor de B .
É possível observar o comportamento dos coeficientes c3 e c4 com B nas figuras 4.11 e
4.12, onde o c representa o coeficiente c normalizado com c2.
60
10-3 0.1 10 1000 10512
13
14
15
16
17
18
19
B
c˜3
Figura 4.11: Comportamento de c3 em Funçao de B
10-3 0.1 10 1000 1050
20
40
60
80
B
c˜4
Figura 4.12: Comportamento de c4 em Funçao de B
O coeficiente c1 se comportou quase constante tanto em relação à B quanto à Q. As
funções utilizadas para fitar o comportamento de c3 e c4 podem ser observados em 4.1b e
4.1c respectivamente.
61
c1 = 1.97238 (4.1a)
c3 = 5.76841+7.91351atan[0.356272(3.21869+B)] (4.1b)
c4 = 4.52859×106 atan[20969.4(2.99968+B)] − 7.11342×106 (4.1c)
As figuras 4.13, 4.14 e 4.15 representam o confronto entre a curva de estabilidade mar-
ginal para B = 1, a curva crítica em função de Q e a curva crítica em função de B e suas
respectivas aproximações analíticas obtidas através da correlação, sendo a aproximação re-
presentada pela curva tracejada.
■
■
■
■■■■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■
■■■■■■◆
◆
◆◆◆◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆ ◆
▲
▲
▲▲▲▲▲ ▲ ▲ ▲ ▲ ▲ ▲ ▲ ▲ ▲ ▲ ▲ ▲ ▲
Q = 0■ Q = 100
◆ Q = 101
▲ Q = 103
0 1 2 3 4 5 6 70
10
20
30
40
50
60
kr
R
Figura 4.13: Curvas Marginais Numéricas e Analíticas Aproximadas para B = 1
É possível observar que o erro relativo entre as curvas críticas obtidas numericamente e
aquelas obtidas através da correlação aproximada é baixo, estando sempre abaixo de 10%
exceto por aquele relativo à Q = 0. As figuras 4.16 e 4.17 representam as curvas dos valores
críticos em função de B e Q respectivamente.
62
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B = 10-1
■ B = 100
◆ B = 101
▲ B = 102
0 2 4 6 8 100
5
10
15
20
25
30
Q
Rc
Figura 4.14: Curvas dos Valores Críticos em Função de Q Numérica e Analítica Aproximada
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Q = 1
■ Q = 2
◆ Q = 5
▲ Q = 10
▼ Q = 200
10-3 10-2 0.1 1 10 1000
5
10
15
20
25
30
B
Rc
Figura 4.15: Curvas dos Valores Críticos em Função de B Numérica e Analítica Aproximada
63
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Q = 0■ Q = 1◆ Q = 5▲ Q = 10▼ Q = 100
10-3 10-2 0.1 1 10 100 1000
10-3
10-2
10-1
B
ΔRc
Rc
Figura 4.16: Erro Relativo Entre Resultados Numéricos e Aproximação Analítica para Pon-tos Críticos em Função de B
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B = 10-1
■ B = 100
◆ B = 101
▲ B = 1010
0 5 10 15 20 25 3010-4
10-3
10-2
10-1
Q
ΔRc
Rc
Figura 4.17: Erro Relativo Entre Resultados Numéricos e Aproximação Analítica para Pon-tos Críticos em Função de Q
64
4.5 ISOLINHAS DE FUNÇÃO CORRENTE E TEMPERATURA
Nesta seção serão apresentados os resultados das isolinhas da função corrente e da tem-
peratura confrontando-se ambos os casos, considerando B = 10−4, ou seja o caso em que
a troca de calor por convecção tende ao isolamento. É possível observar que os resultados
entre os casos são substancialmente distintos, apesar de se ter em conta que a solução base
para ambos os casos eram também distintas. Para o caso 1 foram consideradas as soluções
longitudinais por terem sido verificadas como sendo as mais instáveis para tal problema. O
valor de Pe escolhido foi Pe = 12 para o caso 1, já que a solução do caso 2 é independente
de Pe. Para ambos os casos foram considerados os mesmos número de onda k e os mesmos
valores de Q. No caso foi considerado k = 5 e Q = 0,100,200.
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
x
z
Figura 4.18: Isolinhas Função Corrente Caso 1 Pe = 12, Q = 0
65
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
x
z
Figura 4.19: Isolinhas Temperatura Caso 1 Pe = 12, Q = 0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
x
z
Figura 4.20: Isolinhas Função Corrente Caso 1 Pe = 12, Q = 100
66
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
x
z
Figura 4.21: Isolinhas Temperatura Caso 1 Pe = 12, Q = 100
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.20.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
x
z
Figura 4.22: Isolinhas Função Corrente Caso 1 Pe = 12, Q = 200
67
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
x
z
Figura 4.23: Isolinhas Temperatura Caso 1 Pe = 12, Q = 200
68
As figuras de 4.18 a 4.23 representam as isolinhas para função corrente e temperatura,
alternadamente, para o caso 1 para Q = 0,100,200. Já as figuras de 4.24 a 4.29 representam
as isolinhas de função corrente e temperatura para o caso 2 para os mesmos valores de Q.
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
x
z
Figura 4.24: Isolinhas Função Corrente Caso 2 Q = 0
69
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
x
z
Figura 4.25: Isolinhas Temperatura Caso 2 Q = 0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
x
z
Figura 4.26: Isolinhas Função Corrente Caso 2 Q = 100
70
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
x
z
Figura 4.27: Isolinhas Temperatura Caso 2 Q = 100
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
x
z
Figura 4.28: Isolinhas Função Corrente Caso 2 Q = 200
71
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
x
z
Figura 4.29: Isolinhas Temperatura Caso 2 Q = 200
72
5 CONCLUSÃO
O ínicio das instabilidades convectivas de duas configurações semelhantes do problema
de Darcy-Bènard foi estudado. Os casos considerados foram de escoamentos em um canal
poroso, aquecido por baixo e com uma fonte de geração de energia interna, com a diferença
que em um caso a parede superior foi considerada termicamente isolada e no outro foi con-
siderada a troca de calor por convecção na parede superior. Os resultados foram obtidos
numericamente, sendo que no primeiro caso foi possível obter uma solução analítica con-
siderando o caso assintótico em que o número de onda tende a zero, e no segundo caso foi
possível chegar a uma correlação empírica para a solução do problema de estabilidade, en-
volvendo os parâmetros de controle do problema e o número de onda das perturbações. Além
disso os resultados foram confrontados qualitativamente, dado que o caso em que considera-
se a troca de calor por convecção tende ao caso isolado à medida que a troca por convecção
se torna suficientemente pequena. Os principais objetivos foram de obter as combinações
de parâmetros sob as quais é induzido o início de um escoamento secundário em ambos os
casos. As principais conclusões alcançadas podem ser resumidas em:
• No caso 1 todos os parâmetros de controle influenciam a transição para a instabili-
dade, sendo que Q tem o papel de estabilizar o problema enquanto Pe tem o papel de
desestabilizar
• Já no caso 2 Q tem o papel de desestabilizar o problema, enquanto B tem o papel
de estabilizar o sistema. O que pode ser facilmente compreendido a um primeiro
momento visto que Q adiciona energia no sistema, enquanto B tem o papel de retirar
energia do mesmo. A diferença do papel de Q entre o primeiro caso e o segundo pode
ser explicada pela diferença entre as soluções base.
• No caso 1 os modos longitudinais são os mais instáveis, enquanto no caso 2 os modos
73
são igualmente instáveis.
• Até onde se sabe o uso do princípio de troca de estabilidades, a fim de se obter uma
correlação empírica para o comportamento de R crítico em função dos parâmetros de
controle, se deu pela primeira vez nesse trabalho. E apresentou um desvio em relação
ao resultado numérico sempre menor que 10% exceto para o erro em Q = 0.
• O caso limite em que B → 0 no segundo caso apresenta uma descontinuidade dado que
a solução base do mesmo explode. Este fato foi verificado ao se comparar essa condi-
ção limite e o caso 1, que representa justamente o caso físico em que B = 0. Ambos
os casos apresentam soluções base diferentes devido também à essa descontinuidade,
porém os resultados qualitativamente divergem significativamente.
• Dado que é fisicamente impossível obter um isolamento térmico perfeito (B = 0), os
resultados do segundo caso aqui analisado se mostram ainda mais importantes, visto
que devem coincidir ainda mais com a realidade.
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