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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
VULNERABILIDADE EXTERNA E O IMPACTO DA CRISE GLOBAL NA AMÉRICA LATINA
THAÍS KRUTMAN REZENDE
Rio de Janeiro 2010
1
THAÍS KRUTMAN REZENDE
VULNERABILIDADE EXTERNA E O IMPACTO DA CRISE GLOBAL NA AMÉRICA LATINA
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Economia do Instituto
de Economia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre
em Economia.
Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Gonçalves
Rio de Janeiro 2010
2
THAÍS KRUTMAN REZENDE
VULNERABILIDADE EXTERNA E O IMPACTO DA CRISE GLOBAL NA AMÉRICA LATINA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Economia do Instituto de
Economia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Economia.
Banca Examinadora: ___________________________________________ Prof. Dr. Reinaldo Gonçalves (orientador) - UFRJ ___________________________________________ Profa. Dr. Edson Peterli Guimarães - UFRJ ____________________________________________ Prof. Dr. Marcelo Dias Carcanholo - UFF
Rio de Janeiro, Dezembro de 2010
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço, em primeiro lugar, ao professor Reinaldo Gonçalves por todo seu apoio na
construção deste trabalho, desde o início da elaboração de seu projeto. Também devo
agradecer aos outros professores do Instituto de Economia com quem tive a oportunidade de
conviver durante este curso e foram fundamentais à minha formação acadêmica neste período.
Aos amigos que estiveram ao meu lado durante esses anos de mestrado devo agradecer
por todos os momentos juntos, dentro ou fora das salas de aula, em especial, Lívia Lima, Paula
Martins, Rodrigo Madeira e Gabriel Dib.
Finalmente, agradeço aos meus pais, Joviano e Silvia, e meus irmãos, Ana, Thiago e
Laura, pelo apoio, compreensão e paciência, bem como à minha sobrinha, Alice, por suas
incontáveis gargalhadas.
4
RESUMO A eclosão da crise internacional, no segundo semestre de 2008, gerou impactos de diferentes magnitudes nas variáveis macroeconômicas dos países da América Latina. Esta crise funcionou como um fator desestabilizador sobre as economias da região, que se beneficiavam da fase ascendente do ciclo internacional iniciado em 2003. A exposição destes países aos efeitos da crise está, em parte, vinculada à articulação e dependência de suas economias frente ao exterior. Isto evidencia as fontes de fragilidade externa de cada país a partir das esferas das relações econômicas internacionais. Com base na metodologia de Gonçalves (2005), foram calculados índices de vulnerabilidade externa para onze economias selecionadas da região: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Este trabalho busca estudar a relação entre a fragilidade externa e os impactos da crise internacional sobre o painel regional. E, por fim, testar a hipótese de que os países mais vulneráveis sofreram maiores impactos com a crise internacional. Palavras-chave: crise internacional; vulnerabilidade externa; América Latina; impacto macroeconômico. ABSTRACT The outbreak of the international crisis, in the second half of 2008, produced impacts of different magnitudes on the macroeconomic variables in Latin America. This crisis worked as a destabilizing factor on the region's economies, which had been benefiting from the upward period of the international cycle since 2003. The exposure of these countries to the effects of this crisis is partly linked to the relationship and dependence of their economies on the global economy. This highlights the sources of external vulnerability of each country in the spheres of international economic relations. Based on the methodology of Gonçalves (2005), indices of external vulnerability were calculated for eleven selected economies of the region: Argentina, Bolivia, Brazil, Chile, Colombia, Ecuador, Mexico, Paraguay, Peru, Uruguay and Venezuela. This work intends to study the relationship between the external fragility and the impacts of global crisis on the regional panel. Finally, it tests the hypothesis that the most vulnerable countries have suffered major impacts from the international crisis. Keywords: international crisis; external vulnerability; Latin America; macroeconomic impact.
5
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8
CAPÍTULO 1 VULNERABILIDADE EXTERNA E CRISE GLOBAL:
FUNDAMENTOS ANALÍTICOS.................................................................................. 10
1.1 Fundamentos analíticos ................................................................................................. 10
1.1.1 Do modelo desenvolvimentista ao modelo neoliberal ................................................ 11
1.1.2 Vulnerabilidade externa, desregulamentação e liberalização ..................................... 17
1.2 Crise global: causas, natureza e extensão .................................................................... 22
CAPÍTULO 2 VULNERABILIDADE EXTERNA DA AMÉRICA LATINA:
METODOLOGIA E EVIDÊNCIA EMPÍRICA........................................................... 29
2.1 Metodologia de análise e construção da base de dados ..............................................29
2.2 Evidência empírica......................................................................................................... 32
CAPÍTULO 3 CRISE GLOBAL E AMÉRICA LATINA: IMPACTO
MACROECÔNOMICO.................................................................................................. 46
3.1 Renda, investimento e emprego .................................................................................... 46
3.2 Inflação e finanças públicas........................................................................................... 56
3.3 Contas Externas ............................................................................................................. 66
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 89
ANEXO I – PAÍSES UTILIZADOS PARA O CÁLCULO DOS ÍNDICES DE VULN ERABILIDADE
EXTERNA ............................................................................................................................ 93
ANEXO II – ÍNDICE REFERENTE À EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS / PRODUTO
INTERNO BRUTO ................................................................................................................ 94
ANEXO III – ÍNDICE REFERENTE AO GRAU DE CONCENTRAÇÃO DAS EXPORTA ÇÕES.......... 96
ANEXO IV – ÍNDICE REFERENTE AO INGRESSO ACUMULADO DE IED / PIB........................ 98
ANEXO V – ÍNDICE REFERENTE À DÍVIDA EXTERNA TOTAL / EXPORTAÇÃO DE BENS E
SERVIÇOS......................................................................................................................... 100
ANEXO VI – ÍNDICE REFERENTE À IMPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS / RESERVAS
INTERNACIONAIS ............................................................................................................. 102
ANEXO VII – ÍNDICE DE VULNERABILIDADE EXTERNA ..................................................... 104
ANEXO VIII – DADOS REFERENTES ÀS VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS DA AMÉRICA
LATINA ............................................................................................................................ 106
6
ÍNDICE DE GRÁFICOS
GRÁFICO 2.1 ÍNDICE REFERENTE À EXPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS / PRODUTO
INTERNO BRUTO ................................................................................................................ 32
GRÁFICO 2.2 ÍNDICE REFERENTE AO GRAU DE CONCENTRAÇÃO DAS EXPORTA ÇÕES........... 33
GRÁFICO 2.3 ÍNDICE REFERENTE AO INGRESSO ACUMULADO DE IED / PIB......................... 35
GRÁFICO 2.4 ÍNDICE REFERENTE À DÍVIDA EXTERNA TOTAL / EXPORTAÇÃO DE BENS E
SERVIÇOS........................................................................................................................... 37
GRÁFICO 2.5 ÍNDICE REFERENTE À IMPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS / RESERVAS
INTERNACIONAIS ............................................................................................................... 39
GRÁFICO 2.6 RESERVAS INTERNACIONAIS (EM MILHÕES DE DÓLARES ): 2005-2008 ............ 40
GRÁFICO 2.7 PARTICIPAÇÃO DE CADA ÍNDICE NO IVE .......................................................... 41
GRÁFICO 2.8 ÍNDICE DE VULNERABILIDADE EXTERNA ......................................................... 44
GRÁFICO 3.1 TAXAS DE CRESCIMENTO DO PIB (EM %) : 2006-2009 .................................... 47
GRÁFICO 3.2 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO IMEDIATO NA TAXA DE CRESCIME NTO DO PIB
E O IVE.............................................................................................................................. 48
GRÁFICO 3.3 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO DE CURTO PRAZO NA TAXA DE CR ESCIMENTO
DO PIB E O IVE................................................................................................................. 49
GRÁFICO 3.4 TAXAS DE INVESTIMENTO (EM %): 2006-2009................................................. 50
GRÁFICO 3.5 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO IMEDIATO NA TAXA DE INVESTIM ENTO E O
IVE. ................................................................................................................................... 51
GRÁFICO 3.6 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO DE CURTO PRAZO NA TAXA DE IN VESTIMENTO
E O IVE.............................................................................................................................. 52
GRÁFICO 3.7 TAXAS DE DESEMPREGO (EM %): 2006-2009 ................................................... 53
GRÁFICO 3.8 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO IMEDIATO NA TAXA DE DESEMPRE GO E O IVE . 54
GRÁFICO 3.9 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO DE CURTO PRAZO NA TAXA DE DE SEMPREGO E
O IVE................................................................................................................................. 55
GRÁFICO 3.10 TAXAS DE INFLAÇÃO (EM %): 2006-2009....................................................... 56
GRÁFICO 3.11 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO IMEDIATO NA TAXA DE INFLAÇÃO E O IVE..... 58
GRÁFICO 3.12 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO DE CURTO PRAZO NA TAXA DE IN FLAÇÃO E O
IVE. ................................................................................................................................... 59
GRÁFICO 3.13 FINANÇAS PÚBLICAS (EM % DO PIB): 2006-2009........................................... 61
GRÁFICO 3.14 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO IMEDIATO NO RESULTADO PRIMÁR IO E O
IVE. ................................................................................................................................... 62
GRÁFICO 3.15 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO IMEDIATO NO RESULTADO GLOBAL E O IVE .. 63
GRÁFICO 3.16 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO DE CURTO PRAZO NO RESULTADO PRIMÁRIO
E O IVE.............................................................................................................................. 64
7
GRÁFICO 3.17 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO DE CURTO PRAZO NO RESULTADO GLOBAL E
O IVE................................................................................................................................. 65
GRÁFICO 3.18 BALANÇA COMERCIAL (EM % DO PIB): 2006-2009 ....................................... 67
GRÁFICO 3.19 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO IMEDIATO NA BALANÇA COMERCIA L E O IVE 68
GRÁFICO 3.20 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO DE CURTO PRAZO NA BALANÇA CO MERCIAL E
O IVE................................................................................................................................. 69
GRÁFICO 3.21 BALANÇO DE RENDAS (EM % DO PIB): 2006-2009......................................... 69
GRÁFICO 3.22 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO IMEDIATO NO BALANÇO DE RENDA S E O IVE.. 70
GRÁFICO 3.23 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO DE CURTO NO BALANÇO DE RENDA S E O IVE.. 71
GRÁFICO 3.24 TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS CORRENTES (EM % DO PIB): 2006-2009 ... 72
GRÁFICO 3.25 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO IMEDIATO NAS TRANSFERÊNCIAS
UNILATERAIS CORRENTES E O IVE................................................................................... 73
GRÁFICO 3.26 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO DE CURTO PRAZO NAS TRANSFERÊ NCIAS
UNILATERAIS CORRENTES E O IVE................................................................................... 73
GRÁFICO 3.27 TRANSAÇÕES CORRENTES (EM % DO PIB): 2006-2009 ................................. 74
GRÁFICO 3.28 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO IMEDIATO NAS TRANSAÇÕES CORR ENTES E O
IVE. ................................................................................................................................... 75
GRÁFICO 3.29 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO DE CURTO PRAZO NAS TRANSAÇÕE S
CORRENTES E O IVE ......................................................................................................... 76
GRÁFICO 3.30 CONTA CAPITAL E FINANCEIRA (EM % DO PIB): 2006-2009 ......................... 77
GRÁFICO 3.31 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO IMEDIATO NA CONTA CAPITAL E FINANCEIRA
E O IVE.............................................................................................................................. 78
GRÁFICO 3.32 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO DE CURTO PRAZO NA CONTA CAPI TAL E
FINANCEIRA E O IVE......................................................................................................... 79
GRÁFICO 3.33 INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO LÍQUIDO (EM % DO PIB): 2006-2009 ...... 80
GRÁFICO 3.34 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO IMEDIATO NO IED LÍQUIDO E O IVE............... 81
GRÁFICO 3.35 RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO DE CURTO PRAZO NO IED LÍQUIDO E O IVE... 82
ÍNDICE DE TABELAS TABELA 2.1 EXPORTAÇÃO DE COMMODITIES / EXPORTAÇÃO TOTAL DE BENS E SERVIÇOS .. 34
TABELA SÍNTESE: RELAÇÃO ENTRE O IMPACTO NA VARIÁVEL MACROECONÔMICA E O
IVE. ................................................................................................................................... 87
8
INTRODUÇÃO
A hegemonia da estratégia desenvolvimentista, de 1950 a 1980, defendia o
desenvolvimento com base em uma grande participação do Estado. No entanto, o
desenvolvimentismo entrou em crise em decorrência do não cumprimento da agenda
econômica, que deveria buscar: estabilidade, redução da fragilidade externa e crescimento.
Isto enfraqueceu a legitimidade política deste modelo de crescimento. A crença de que este
padrão se baseava em um tripé – repressão financeira no mercado internacional, protecionismo
e intervenção do Estado – que produziria uma alocação de recursos ineficiente, gerando baixo
crescimento e alta inflação ganhou espaço nos países desenvolvidos, sendo este o diagnóstico
sobre o que ocorria nos países em desenvolvimento.
A solução que trilharia um caminho rumo ao desenvolvimento estaria baseada, então,
na adoção de ‘reformas estruturais’, defendidas pelo Consenso de Washington em 1989. As
transformações macro-estruturais deste período estão associadas à mudança substancial no
grau de proteção relacionado aos investimentos estrangeiros; à expansão dos processos de
privatização; ao aumento do fluxo de comércio, decorrente de reduções unilaterais de tarifas e
barreiras por parte dos países em desenvolvimento; e à expansão dos fluxos financeiros,
essenciais ao crescimento desses países, que se apoiaram na poupança externa. Essa realidade
atinge a América Latina de forma explosiva nos anos 1990, condicionando suas estratégias e
possibilidades de desenvolvimento.
A expansão de processos de liberalização e de desregulamentação nas economias
latino-americanas faz com que fatores externos tornem-se cada vez mais influentes sobre a
evolução econômica destes países. Desta forma, a observação de mudanças concentradas em
determinados momentos e regiões demonstra que a evolução das economias, incluindo casos
de crescimento bem sucedidos e casos de colapsos, é essencialmente explicada por fatores
externos, que podem ser compartilhados entre diversos países. “A concentração de sucessos e
colapsos implica que o ‘ciclo’ ou ‘trajetória’ do desenvolvimento global tem influenciado os
padrões de crescimento dos países em desenvolvimento.” (OCAMPO e PARRA, 2007, p. 104,
aspas do original, tradução nossa)
Neste contexto, o estudo da vulnerabilidade externa na América Latina passa a ser
fundamental, ou seja, como fatores desestabilizadores e choques externos provocam impactos
9
sobre os países da região. Além disso, é necessário analisar as esferas das relações econômicas
internacionais – comercial, produtivo-real, tecnológica e monetário-financeira – por meio das
quais a vulnerabilidade externa se manifesta, tendo em vista que os países latino-americanos
se deparam com diferentes fontes de fragilidade.
O ciclo recente de crescimento da economia mundial iniciado em 2003 foi revertido
com a eclosão da crise internacional em meados de 2008. Este é um exemplo de fator
desestabilizador que influenciou o desempenho de diversos países, dentre eles os latino-
americanos. Assim, este trabalho apresenta como tema central a análise dos impactos
macroeconômicos da crise global sobre países latino-americanos selecionados: Argentina,
Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. O
objetivo específico é o estudo da relação entre a vulnerabilidade externa destes países e os
impactos da crise, de modo a observar se o impacto sofrido por países mais vulneráveis foi
maior.
A hipótese levantada por este trabalho, portanto, é que países mais vulneráveis – ou
seja, com baixa capacidade de resistência a fatores desestabilizadores e choques externos –
sofreram maior impacto da crise global, que se tornou evidente no segundo semestre de 2008.
A relevância deste estudo está em que a crise global funciona como um fator desestabilizador.
Desta forma, de acordo com definição de vulnerabilidade externa apresentada neste trabalho,
espera-se que a hipótese seja comprovada.
Do ponto de vista da estrutura, esta dissertação está dividida em três capítulos e mais
uma seção dedicada às conclusões. O primeiro capítulo apresenta os fundamentos analíticos
que suportam as análises empíricas realizadas nos capítulos seguintes. No segundo capítulo é
estudada a presença de vulnerabilidade externa nos países latino-americanos selecionados. Já o
terceiro capítulo concentra-se na observação dos impactos macroeconômicos imediatos e de
curto prazo provocados pela crise internacional sobre estes países. Para avaliar o impacto
imediato confronta-se a média das variáveis macroeconômicas para os anos de 2006 e 2007 ao
valor observado em 2008, enquanto no impacto de curto prazo compara-se o resultado de 2009
à média do biênio anterior. Desta forma, é possível examinar a relação destes impactos com os
índices de vulnerabilidade externa calculados no segundo capítulo. Na seção conclusiva, são
retomados os principais pontos da análise e verifica-se a comprovação, ou não, da hipótese
proposta nesta pesquisa.
10
CAPÍTULO 1 VULNERABILIDADE EXTERNA E CRISE GLOBAL:
FUNDAMENTOS ANALÍTICOS
O presente capítulo tem como objetivo apresentar a fundamentação teórica para dar o
suporte às análises empíricas desenvolvidas no segundo e terceiro capítulos, nos quais serão
estudados a vulnerabilidade externa nos países da América do Sul – Argentina, Bolívia, Brasil,
Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela – e no México, assim como
os impactos macroeconômicos da crise sobre esses países.
Para tanto, serão expostos os fundamentos analíticos relacionados à vulnerabilidade
externa e os motivos que contribuíram para a eclosão da atual crise internacional iniciada em
meados de 2008.
1.1 Fundamentos analíticos
A partir do início da década de 1980, o processo de globalização econômica ganha
espaço no cenário mundial. Este fenômeno apresenta características marcantes, como: (i) a
aceleração do processo de internacionalização da produção – que ocorre sempre que residentes
de um país acessam bens e serviços com origem em não-residentes, seja através de comércio,
investimento externo direto ou relações contratuais – e dos fluxos de capitais; (ii) o aumento
da contestabilidade, ou seja, do grau de concorrência do mercado mundial; e (iii) maior
interdependência entre empresas e economias nacionais. A globalização ocorre juntamente a
um aumento da desregulamentação e liberalização.
“A liberalização representa a redução das barreiras comerciais de acesso aos mercados nacionais. A desregulamentação envolve a eliminação ou afrouxamento das normas reguladoras da atividade econômica. O que o neoliberalismo faz é a troca de sinais: intervenção estatal x iniciativa privada; regulação x mercado; barreiras comerciais x liberalização; controle do investimento externo x abertura.” (GONÇALVES, 2003, p.28)
Tanto a desregulamentação quanto a liberalização são pilares do modelo neoliberal, que se
tornou hegemônico como resultado da descrença em relação ao modelo desenvolvimentista.
11
1.1.1 Do modelo desenvolvimentista ao modelo neoliberal
O desenvolvimento econômico se tornou um tema de preocupação entre os países
periféricos com o fim da Segunda Guerra Mundial. Diferente do crescimento que expressa
simplesmente “mais do mesmo”, o processo de desenvolvimento envolve transformações
estruturais. De acordo com Ocampo (2007), o pensamento da “escola estruturalista”1 latino-
americana se apoiava na idéia de desenvolvimento econômico definido como:
“Trata-se de aumentar a renda per capita, de ter sucesso na realização de transformações estruturais necessárias, e de adotar as estratégias macroeconômica e financeira adequadas, dentro das restrições que a posição de cada país na hierarquia mundial cria e com base nas estruturas internas dos países em desenvolvimento que são parcialmente funcionais a essa posição e parcialmente determinadas pelo seu próprio desenvolvimento histórico.” (p. 7, tradução nossa)
O desenvolvimento econômico não pode ser descrito como um processo contínuo, pois
se submete a processos de ruptura, ou seja, vincula-se a elementos de descontinuidade, que
necessitam do poder político e da capacitação do Estado. O dinamismo do desenvolvimento,
para a escola estruturalista, está relacionado a seguidas mudanças nas estruturas produtivas,
puxadas por algumas firmas e setores específicos, que gerem maiores efeitos de encadeamento
e maiores rendimentos de escala. Ou seja, nem todos os setores possuem este poder de liderar
um desenvolvimento dinâmico, valorizando a dimensão da transformação nas estruturas
produtivas.
Hegemônico do fim da Segunda Guerra Mundial até a década de 1970, o paradigma
desenvolvimentista, em que se pode inserir o pensamento estruturalista, defendia a
importância do papel do Estado e da intervenção direta nas transformações da estrutura
produtiva, ou seja, buscando a promoção da industrialização2. De acordo com a abordagem
estruturalista, o argumento central que justifica a necessidade de industrializar os países
periféricos é a diferença entre as elasticidades-renda do que esses países exportavam e
importavam. Em outras palavras, os produtos agrícolas exportados pelos países periféricos,
dependentes do nível de renda do “resto do mundo”, teriam uma elasticidade-renda inferior
1 Também chamada, de forma menos precisa, de “pensamento Cepalino”. Ver Fiori (2001). 2 Vale mencionar que o desenvolvimento da indústria é uma condição necessária, porém não suficiente ao desenvolvimento econômico. No entanto, esta questão está além do escopo desta dissertação.
12
aos produtos importados, dependentes do nível de renda doméstico3. Assim, a longo prazo,
para manter as contas externas equilibradas, esses países deveriam crescer a taxas menores que
os países industrializados. À luz dessa justificativa, fica clara a crítica à teoria do comércio
internacional ricardiana baseada nas “vantagens comparativas”.
O papel do Estado ganhou legitimidade acadêmica com o trabalho de Gerschenkron
(1962), de forma que o mercado não seria o guia para o desenvolvimento. Assim, não
existiriam instituições ótimas e o desenho institucional dependeria do grau de atraso do país,
de modo que podem ser consideradas diferentes trajetórias de industrialização. Defende-se que
cada país deva buscar a solução adequada aos seus problemas, pois não existem fases iguais
pelas quais todos os países devam passar a caminho do desenvolvimento, criticando a teoria de
estágios de Rostow (1964), pois, como afirmado por Furtado (1961): a história dos países em
desenvolvimento não é um reflexo do passado dos países desenvolvidos.4 Quanto maior o grau
de atraso, maior seria o papel do Estado no processo de industrialização, seja como
financiador, comprador ou produtor, em outras palavras, maior o ‘salto’ que se deveria dar em
direção à industrialização. Isso demonstra o papel de destaque conferido às políticas públicas
na industrialização das economias em desenvolvimento.
Dentre os desenvolvimentistas, podem ser observados os estudos da Comissão
Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL) que partem de uma especificidade da
América Latina, a industrialização por substituição de importações (ISI)5. A partir desta
experiência peculiar os pensadores cepalinos fazem uma generalização através de um método
que combina análise estrutural com análise histórica. É preciso ressaltar que a CEPAL buscava
dialogar com policy makers. Para estes, o planejamento seria uma técnica a serviço da política:
o fundamental é planejar.
O contexto internacional no qual a convenção desenvolvimentista perde a hegemonia é
constituído pelo fim do socialismo real e o fim do mundo organizado por Bretton Woods. O
primeiro pode ser observado através da marcha, mesmo que gradual, da China rumo ao 3 Além disso, economias com abundância de recursos naturais podem experimentar casos de doença holandesa, sendo este um argumento favorável à diversificação. Ver Palma (2007). 4 Ocampo (2007) reafirma esta idéia: “desenvolvimento econômico não é uma questão de passar por ‘estágios’ dentro de um padrão uniforme associado ao crescimento da renda per capita já seguido por países industrializados.” (p. 7, aspas do original, tradução nossa) 5 “Como afirmam Cárdenas, Ocampo y Thorp (2003, capítulo 1), este último conceito não resiste a uma análise histórica profunda, portanto, esses autores propuseram o termo ‘industrialização liderada pelo Estado’ para se referir ao período histórico que começou timidamente nos anos trinta e acabou na década de 1970.” (OCAMPO, 2005, p. 8, aspas do original, tradução nossa)
13
capitalismo, formando uma sociedade híbrida que não é capitalista nem socialista, e através da
rápida desagregação do bloco soviético. As pressões norte-americanas juntamente ao
desencanto com um projeto que não evoluiu fez com que se propusesse um conjunto de
reformas em 1985 visando a modernização do socialismo na União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas, que acabaram por romper com a autonomia de comando do Estado. Com o
desaparecimento do socialismo real, desaparece a utopia do planejamento, o que representava
a vitória do discurso defensor da desregulação e da abertura.
No mundo capitalista, nota-se, ao final da década de 1960, quando os Estados Unidos
apresentam déficit fiscal e déficit no balanço de pagamentos, o princípio do fim do mundo de
Bretton Woods, que disciplinava o desenvolvimento do capitalismo por meio da liberalização
comercial e da estabilidade cambial. Quando, em 1971, os saldos comerciais e de conta
corrente tornam-se negativos, os Estados Unidos decretam “unilateralmente a
inconversibilidade do dólar em ouro (...), como preparação para a iniciativa de desvalorização
do dólar, que começaria em 1973.” (SERRANO, 2002, p. 249)
Tendo em vista a maior volatilidade no cenário internacional, pós-Bretton Woods, o
sistema bancário começou a negociar empréstimos com taxas de juros reajustáveis, o que,
juntamente com o fim das taxas de câmbio fixas, aumentava o risco dos tomadores.
Entretanto, havia um excesso de endividamento por uma pressão do lado da oferta (loan push),
que reduzia as exigências para empréstimos, pois se tinha muito para ofertar6. Assim, a
expansão do financiamento externo privado permitia que países em desenvolvimento
observassem uma aceleração de suas taxas de crescimento econômico.
Em 1973 e 1979, os choques do petróleo, combinados com a flutuação cambial,
afetaram os preços relativos e geraram inflação. O epicentro desta crise de estagflação foram
os Estados Unidos. A mudança na política monetária norte-americana, em 1979, com o choque
dos juros de Paul Volcker, fez com que as taxas atingissem níveis sem precedentes, gerando
6 Na década de 1970 as mudanças do ponto de vista da abertura financeira foram fundamentais para os chamados países do ‘terceiro mundo’. Os Estados Unidos, no início dos anos 1970, estabeleceram impostos sobre empréstimos de instituições financeiras no exterior, o que estimulou a internacionalização do sistema financeiro americano. Isto fez com que fossem criadas operações em dólares no mercado financeiro inglês, gerando o mercado de “eurodólar”. A aplicação dos excedentes recebidos através de atividades petrolíferas no Oriente Médio, intitulados ‘petrodólares’, foi direcionada para o mercado financeiro em Londres, possibilitando a entrada de financiamento externo nos países do ‘terceiro mundo’, os quais estavam sofrendo restrição externa e foram beneficiados com esta ‘explosão’ de liquidez internacional. Além do aumento dos preços do petróleo, estiveram conjugadas neste momento outras características que favoreceram a liquidez internacional, tais quais: a fase de maturidade do paradigma tecnológico predominante e a desregulamentação do sistema financeiro.
14
recessão mundial e valorização do dólar, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos
restabeleceram sua hegemonia. Ganha legitimidade, assim, uma onda conservadora a favor de
políticas monetaristas. Como destacado por Goodhart (1995) pôde-se observar:
“(...) um retorno a visão Clássica anterior de que a economia se tornaria auto-estabilizadora, voltando ao seu equilíbrio natural, se não fosse perturbada por políticas Governamentais inadequadas. Sob essas circunstâncias, em que o Governo é pensado como incapaz de gerenciar a demanda real beneficamente, o que restava era sua capacidade de alterar a evolução monetária, para atingir o grau adequado de estabilidade dos preços.” (p. 214, tradução nossa)
Quanto aos países do chamado ‘terceiro mundo’ destaca-se a trajetória de instabilidade
e crise na América Latina com quatro choques na década de 1980. O primeiro foi o choque em
virtude da elevação da taxa de juros dos “eurodólares”, o que provocou um aumento da taxa
de juros sobre a dívida externa. O segundo foi um choque sobre os termos de troca, já que o
preço dos produtos exportados por esses países caiu. O aumento da taxa de juros norte-
americana, que fazia parte de uma política deflacionista, fez com que muitos países buscassem
uma desaceleração do seu crescimento para combater este ajuste, o que provocou uma
desaceleração das exportações mundiais, sendo este o terceiro choque. O quarto choque foi
causado em função do estoque de dívida existente, o que fez com que o financiamento externo
parasse de entrar na América Latina após a moratória mexicana em 1982. (MEDEIROS, 1997)
Esses choques fizeram com que as estratégias desenvolvimentistas de industrialização
tivessem que ser interrompidas nos países latino-americanos, uma vez que a resposta
encontrada à crise se baseou em um ajuste recessivo, para reduzir as importações, e em uma
promoção das exportações, através de fortes políticas cambiais. O resultado deste ajuste
externo foi a estagnação econômica simultânea ao aumento da inflação. É preciso enfatizar
que, dos anos 1950 a 1980, ocorreu um aumento da heterogeneidade deste ‘terceiro mundo’,
constituído por países que não eram nem do primeiro, nem do segundo mundo, eram países
não-alinhados. Isto impossibilitava a tomada de uma ação coletiva por parte desses países, já
que a maior heterogeneidade dificultava a união entre esses países.
Segundo a crítica conservadora, o keynesianismo teve uma influência nefasta sobre o
terceiro mundo, pois teria introduzido nestes países uma visão pessimista a respeito do
capitalismo. O subdesenvolvimento seria, portanto, um resultado da precária implantação do
15
sistema capitalista nesses países, de modo que sem intervenção e com a devida implantação do
mercado, os problemas atuais não existiriam de acordo com os conservadores. (ERBER,
2008a)
Mesmo durante o período de hegemonia do desenvolvimentismo, seus fundamentos
teóricos baseados na excessiva intervenção estatal e na priorização dada à indústria eram alvo
de críticas dos liberais. De acordo com o paradigma liberal, o resultado desta combinação seria
o baixo crescimento e a inflação, isto é, a ineficiência, caso a eficiência alocativa fosse maior
poder-se-ia crescer mais. Diversas circunstâncias contribuíram para o fim da hegemonia
desenvolvimentista fazendo com que o ataque ao núcleo duro7 deste modelo – ou seja, a
industrialização sob intervenção estatal – fosse inevitável.
O ataque da contra-revolução neoliberal-neoclássica às idéias desenvolvimentistas foi
facilitado pela falta de um núcleo duro axiomático com elementos consistentes entre si,
enquanto os neoliberais apresentavam um corpo analítico bem estruturado, com base em
algumas escolas de pensamento. Seu núcleo duro contava com um forte apoio epistemológico:
a fé no mercado, apoiada pela revolução das expectativas racionais, individualismo
metodológico e a “invasão” das ciências políticas e sociais pela economia.8 Apesar da
supremacia acadêmica e ideológica das idéias neoliberais neste período, isso não significa que
essas idéias sejam cientificamente corretas.9 O núcleo duro apresentado por esta visão de
mundo é considerado utópico por Fiori (2001), pois acredita em:
“um capitalismo sem fronteiras, gerido por Estados nacionais reduzidos a suas funções mais elementares e a certeza de que a desregulação dos mercados e a liberalização das economias nacionais promoveriam, no médio prazo, a convergência da riqueza das nações e a redução das desigualdades entre as classes sociais.” (p. 39-40)
7 A estrutura de uma convenção é composta por um ‘núcleo duro’ de caráter axiomático, em torno deste é estabelecido um ‘cinturão protetor’, no qual é possível operacionalizar os axiomas e acomodar mudanças no contexto. O conteúdo cognitivo das convenções de desenvolvimento inclui conhecimentos tácitos e codificados. Este segundo possui diversos níveis de discussão na medida em que se dirige a públicos distintos. O primeiro grupo (V1) é formado por membros da academia, que constituem as idéias a respeito do núcleo duro; o segundo (V2) é constituído por entendedores do que é discutido no primeiro que aplicam estas idéias, são os policy makers; a terceira versão (V3) é direcionada aos estudantes através de manuais, habituando-os a pensar desta forma; a última (V4) é a que dá legitimidade à convenção, pois a mídia é a grande formadora de opinião na sociedade. As três versões seguintes ao V1 constituem o cinturão em volta do núcleo duro. (ERBER, 2008a) 8 Ver Erber (2008a). 9 Ver Medeiros e Serrano (2004).
16
Nota-se, portanto, através da prescrição de algumas medidas – tais quais: a defesa do
Estado mínimo, liberalização e políticas não-discricionárias – que os neoliberais defendiam
idéias simetricamente opostas ao que era defendido pelos desenvolvimentistas. Para os
teóricos da nova ortodoxia na ofensiva, mesmo que a intervenção estatal agisse para retirar
uma falha de mercado, geraria outras maiores, ou seja, as falhas de governo superariam as de
mercado. “Segundo o discurso padrão: quanto menos intervenção existir, mais crescimento e
melhor alocação de recursos haverá.” (GUERRIERO, 2007, p. 2)
Dentre as correntes de pensamento que constituem a base da ideologia neoliberal
podem ser ressaltadas: a nova economia institucional, a teoria política da escolha pública, os
novos clássicos e o crescimento endógeno. Dentre elas identificam-se semelhanças do ponto
de vista epistemológico: o individualismo metodológico, instituições universais e o modo de
pensar a economia com base em desejos infinitos e escassez de meios. Desta forma, observam-
se: argumentos a favor de instituições que contribuam para um bom funcionamento dos
mercados, garantindo, por exemplo, os direitos de propriedade para promover a inovação e
reduzir os custos de transação; indicações de redução do papel do Estado, que deve se
submeter a regras de conduta, e maior transparência nas suas ações, caso contrário a
interferência estatal pode criar oportunidade de rendas diferenciais; a defesa de uma maior
abertura dos países aos investimentos diretos, tecnologias e comércio internacional, visando
uma maior transferência do progresso tecnológico, considerada uma das benesses da
liberalização.
O individualismo metodológico e o institucionalismo universal dão coerência à
estrutura teórica da convenção neoliberal. Guerriero (2007) ressalta que:
“A Nova Ortodoxia oferece, então, embasamento teórico para todos os aspectos da economia e da sociedade, incluindo soluções e recomendações que os policy-makers dos países em desenvolvimento poderiam adotar. (...) Esse caráter universalista colabora para o entendimento de que a Nova Ortodoxia constitui um paradigma sólido inexaurível – e de certa forma pretensioso – ilustrado por trabalhos de grande impacto dentro e, principalmente, fora do mundo acadêmico, dentre os quais pode se destacar o ‘Consenso de Washington’, de John Williamson.” (p. 9)
Em 1989, o Consenso de Washington, também chamado de ‘convergência universal’,
representava uma lista das principais reformas estruturais indicadas pelas instituições
17
internacionais10 aos países em desenvolvimento para que estes alcançassem o nível de países
desenvolvidos, tal como um caminho à “terra prometida”11. Foi organizado em dois pilares:
inserção internacional e papel do Estado. Os dez pontos destas reformas eram: liberalização
comercial, liberalização financeira, abolição de barreiras ao investimento externo direto, taxa
de câmbio “competitiva” (para evitar distorções), privatização, desregulação, direitos de
propriedade bem definidos, prioridade para gastos públicos com alto retorno econômico
(prioridades sociais), reforma tributária e disciplina fiscal.
Este “consenso” funcionou, portanto, como a cristalização da hegemonia neoliberal, ao
dialogar com os policy makers, operacionalizando o núcleo duro deste paradigma. Williamson
(1993) defende a utilidade desta agenda para limitar o escopo de ação estatal: “Um benefício
adicional do consenso político a favor da convergência universal é que vai ajudar a limitar o
dano que pode ser feito pela hipotética máfia política, de acordo com a teoria da escolha
pública.” (p. 1330, tradução nossa)
A hegemonia das idéias neoliberais, assim como o anterior predomínio da tradição
estruturalista, esteve presente no pensamento político e acadêmico latino-americano,
demonstrando que as mudanças nas políticas econômicas atravessam as fronteiras nacionais e
são difundidas em escala global. Vale ressaltar ainda que os processos de liberalização e
desregulamentação, que têm contribuído para elevar a vulnerabilidade externa de grande parte
dos países da América Latina, estão inseridos neste contexto de mudança de paradigma
hegemônico. Ou seja, o crescente predomínio das idéias neoliberais foi essencial para
fundamentar a defesa destes processos.
1.1.2 Vulnerabilidade externa, desregulamentação e liberalização
O acréscimo das interdependências entre os sistemas econômicos não acontece de
forma simétrica, de modo que alguns países sofrem maior ou menor interferência de outros
devido à estrutura hierárquica presente no cenário internacional. O principal ator que exerce
10 Williamson (1993) explica o nome dado ao consenso: “Tem esse nome simplesmente porque eu tentei me perguntar qual era a sabedoria convencional do momento entre as influências econômicas de Washington, ou seja, o governo dos EUA e as instituições financeiras internacionais.” (p.1329, tradução nossa) 11 Ao dividir os países em históricos e pós-históricos, Fukuyama (1989) demonstra sua crença na tendência de toda sociedade ao fim da história, representando um retorno ao etapismo. Os países pós-históricos seriam os que atingiram uma situação de economia regida pelo mercado e são democracias liberais. A história terminaria por não haver alternativa melhor que o capitalismo, sistema que melhor promoveria o desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
18
poder neste cenário é o Estado, e este poder depende em grande medida do poder do outro, ou
seja, é um poder relacional. A partir de Gonçalves (2005), é possível verificar que Weber
define poder de um ator político como “a probabilidade de realizar a sua própria vontade
independentemente da vontade alheia.” (p. 125)
Deve ser sublinhado que muitos países, dentre os quais os latino-americanos, não
estavam preparados para este processo de liberalização e desregulamentação, já que tais
processos vêm provocando um aumento da vulnerabilidade externa, o que significa uma baixa
capacidade de resistência aos fatores desestabilizadores, pressões e choques externos. Lacerda
(2009) afirma que o “aumento da fragilidade, de acordo com Minsky, se manifesta na menor
autonomia do país, tanto em conduzir sua política econômica, como em contágio de crises
externas.” (p. 9)
Quando transformações em uma economia não impactam de forma significativa outros
países, observa-se a presença de vulnerabilidade unilateral no país. Isto vai de encontro à idéia
de soberania nacional, na qual o governo de um país pode realizar sua vontade
independentemente da ação de agentes econômicos de outros países.
Segundo Gonçalves (2005) a vulnerabilidade externa apresenta duas importantes
dimensões. Por um lado, deve-se avaliar os instrumentos de políticas disponíveis para se
responder às pressões externas, por outro, os custos de enfrentamento referentes a estas
pressões devem ser avaliados. Deste modo, quanto mais opções de políticas puderem ser
utilizadas, assim como quanto menores forem os custos mencionados anteriormente, menor
será a vulnerabilidade externa de um país. Como observado por Lacerda (2009):
“As limitações impostas para a autonomia das políticas macroeconômicas domésticas podem tornar instáveis o nível de atividade e os demais indicadores da economia. O resultado é que o desempenho da economia nacional tende a ficar cada vez mais dependente do que ocorre no cenário internacional.” (p. 9)
A manifestação da vulnerabilidade externa é observada em diversas esferas das
relações econômicas internacionais, são elas: comercial, produtivo-real, tecnológica e
monetário-financeira. A esfera comercial diz respeito ao comércio mundial de bens e serviços,
que envolve o deslocamento de produtos ou de consumidores. Desta forma, a abertura
comercial, reduzindo barreiras à entrada de bens e serviços ou diminuindo impostos de
19
importação, sinaliza um aumento da fragilidade externa. Além disso, quanto mais o país for
dependente do mercado externo para expandir sua demanda agregada maior a vulnerabilidade
externa da economia.
A esfera produtivo-real trata das operações de empresas transnacionais12, que através
do Investimento Externo Direto (IED) instalam filiais e subsidiárias em outro país, que não o
de sua origem. Apesar de ser um capital com um horizonte de longo prazo, a entrada de IED
resulta em uma elevação do passivo externo13 de uma economia, uma vez que é acompanhado
por remessas de lucros e dividendos para as matrizes das empresas transnacionais no exterior.
Vale ressaltar ainda que parte destes investimentos é constituído por fusões e aquisições, o que
não gera, pelo menos no curto prazo, um aumento da capacidade produtiva, modificando
apenas o proprietário da indústria.
A esfera tecnológica refere-se à movimentação de ativos intangíveis, tais como direitos
de propriedade e know how, que envolve as tecnologias do produto e as tecnologias de
produção, além das técnicas gerenciais, organizacionais e mercadológicas. Para que uma
nação não fique a margem no mercado globalizado e sua influência em outros países seja
maior é fundamental que este país apresente capacidade de produção tecnológica. Desta
forma, os efeitos da abertura desta esfera devem ser discutidos. Como Gonçalves (2003)
destaca alguns governos ao mesmo tempo em que removem barreiras à aquisição de
tecnologias no exterior, eliminam o incentivo para o avanço do sistema nacional de inovações,
levando seus países a uma trajetória de instabilidade, em decorrência da “falta crônica de
dólares” (p. 72), uma vez que estes são necessários para o pagamento dos royalties devido à
tecnologia adquirida. Esta esfera apresenta uma significativa relação com a esfera produtivo-
real, pois a maior presença de empresas transnacionais segmenta ainda mais a divisão do
trabalho, tendendo a concentrar a parcela da produção referente à pesquisa e desenvolvimento
no país da matriz.
12 A empresa transnacional é uma empresa de grande porte que, além de ser proprietária, controla ativos em pelo menos dois países e possui importantes ativos específicos de sua propriedade, tais como: tecnologia (do processo de produção e/ou do produto), capacidade gerencial, capacidade organizacional, capacidade mercadológica, capital, dentre outros. (GONÇALVES, 2003) 13 O passivo externo líquido corresponde ao “Saldo devedor dos empréstimos contraídos pelo país no exterior – Saldo credor dos empréstimos concedidos pelo país ao exterior + Estoque de capitais estrangeiros de risco investidos no país - Estoque de capitais nacionais de risco investidos no exterior + Saldo das obrigações a curto prazo do país com o exterior – Saldo das reservas internacionais” (SIMONSEN; CYSNE, 1995, p.92)
20
A última esfera das relações econômicas internacionais considerada, em que atuam os
atores nacionais e transnacionais, é a monetário-financeira. Esta esfera expressa as transações
internacionais de capitais que incluem: empréstimos, financiamentos e investimentos de
portfólio, que demonstra a busca por maior rentabilidade. Através da globalização financeira,
por exemplo, pode-se observar um aumento do fluxo financeiro entre as economias, de modo
que nota-se uma maior mobilidade de capitais, gerando uma crescente volatilidade deste fluxo,
o que aumenta a vulnerabilidade das economias em desenvolvimento. Ou seja, países
dependentes de recursos externos para cobrir suas necessidades de financiamento do balanço
de pagamentos sofrerão maiores impactos de crises iniciadas em outras economias.
“Nos momentos de turbulências, os mercados ficam mais seletivos, diminuindo as suas aplicações nos países considerados de maior risco e isso cria um campo fértil para a especulação e a fragilidade, muitas vezes inviabilizando o crescimento econômico em bases sustentadas.” (LACERDA, 2009, p. 10)
Quando as economias estão abertas financeiramente tanto do ponto de vista da entrada
como da saída, o fluxo de capitais subordina-se a vontade dos credores e investidores
internacionais. Levando em consideração que o “comportamento dos investidores num
ambiente de incerteza e informações incompletas não é condicionado pela evolução dos
valores fundamentais ou por perspectivas de longo prazo, mas pela busca de ganhos de curto
prazo e pela adoção de convenções” (PRATES, 2000, p. 36), os impactos provocados por
efeitos de ‘manada’ resultantes deste contexto não são positivos e extrapolam a esfera
financeira.
A abertura desta esfera expõe, portanto, as economias a um maior grau de
instabilidade, uma vez que o fluxo internacional de capitais apresenta volatilidade mais
elevada que o fluxo de bens ou serviços, derivada do aparecimento de novos instrumentos
financeiros e inovações tecnológicas que permitem uma elevada movimentação de ativos
monetários e financeiros. Esta conjuntura agrava os riscos e incertezas de crises econômicas,
nacionais e internacionais. (GONÇALVES, 2003)
A esfera monetário-financeira foi fortemente impactada pelo processo de liberalização.
Como mencionado na seção anterior, o mundo pós-Bretton Woods estaria calcado em uma
“maior mobilidade do capital financeiro” que “passaria a ser não só legalmente permitida
21
como incentivada.” (TORRES, 2009, p. 3) O contexto no qual se origina este processo de
liberalização apresentava regulamentação muito rígida e detalhada nos anos 1970. Observou-
se o surgimento de instituições financeiras que buscavam fugir desta regulamentação. A
política de liberalização financeira veio a reboque da desregulamentação que veio em função
da vontade das instituições financeiras, que tentavam explorar “brechas” nas regulamentações,
apontando para a ineficácia dos controles antes existentes. Assim, a presença de uma
regulamentação rígida foi o embrião para o surgimento de inovações.
A tendência à fuga das regulamentações pode ser explicada através do embate entre
eficiência macroeconômica e microeconômica. Por mais que do ponto de vista
macroeconômico o período de 1950 a 1970 possa ser considerado bom, tendo em vista o forte
crescimento sem crises financeiras, do ponto de vista microeconômico, a regulamentação
gerava – pelo menos potencialmente – perdas para as instituições financeiras. Esta fuga teve
início nos anos 1960, mas, em virtude do contexto macroeconômico, foi agravada nos anos
1970 com os choques do petróleo e do câmbio, ou seja, com a crescente instabilidade.
O aumento da desregulação e da liberalização do sistema financeiro apoia-se na
hipótese de mercados eficientes14 (HME). Esta propõe que os mercados financeiros devem ser
livres para que os vetores das taxas reais e nominais de juros sejam levados a níveis eficientes,
de forma que o crescimento alcance o máximo possível, assumindo que a informação no
mercado de ativos seja perfeita, assim como a flexibilidade de preços.
A essencialidade da HME à defesa das políticas de liberalização está em que
“mercados financeiros livres (des-reprimidos) garantem a eficiência, no sentido de Pareto.”
(CASTRO, 2008, p. 287) Ou seja, se os agentes podem escolher preços e quantidades dos
ativos livremente, atingirão o ótimo de Pareto, alocando os ativos da “melhor” forma15, não
existindo excesso de oferta ou demanda. Sob esta ótica, a intervenção governamental seria
sempre sub-ótima frente à liberalização financeira, que ao desregulamentar os mercados
financeiros tem por objetivo torná-los eficientes.
Além disso, a livre mobilidade de bens e ativos no plano internacional tem como
justificativa a busca de mercados “eficientes” na presença de economias abertas, ou seja, ajuda
14 A hipótese de mercados eficientes é formada por três enunciados: (i) o mercado é eficiente quando utiliza toda a informação disponível na formação dos preços dos ativos, em outras palavras, o preço incorpora toda informação disponível; (ii) dado um conjunto de informações relevantes, nenhuma informação deste conjunto, revelada a todos participantes, é capaz de alterar os preços; (iii) inexistem ganhos de arbitragem. 15 O ótimo de Pareto é atingido quando nenhum agente pode melhorar sua situação sem piorar a de outro.
22
a realizar o ajuste das economias. Recomenda-se, portanto, que os países estejam abertos tanto
do ponto de vista comercial quanto financeiro.
Dentre as transformações recentes no sistema financeiro deve ser destacada a maior
abertura dos mercados, favorecendo bancos como também outras instituições financeiras
concorrentes. A grande novidade, no entanto, foi no mercado de capitais que observou uma
forte expansão. Ademais, o crescente processo de securitização tem recebido grande impulso,
o que indica a necessidade de regular o mercado de capitais. Afinal, este processo tem
ampliado o risco de contágio, pois ao transformar empréstimos em títulos faz com que uma
crise tenha maiores chances de se alastrar, tal como observado na atual crise global.
1.2 Crise global: causas, natureza e extensão
O debate em torno das causas da presente crise internacional é amplo, de modo que
podem ser apontadas, fundamentalmente, duas famílias de explicações: (i) uma aposta em
processos domésticos que conduzem a este resultado e (ii) a busca da explicação em
desequilíbrios macroeconômicos, como por exemplo no balanço de pagamentos.
De acordo com Barry Eichengreen (2008), as decisões internas aos Estados Unidos,
tais quais: a desregulamentação a partir dos anos 1970 e a eliminação de restrições quanto à
atuação de instituições financeiras em diversos segmentos nos anos 1990, fazem parte das
raízes da crise. Esses são fatores estruturais que contribuem para a expansão das operações
creditícias, juntamente com o menor dinamismo do setor real, o que gerou maiores fluxos de
capital para o setor financeiro, principalmente em escala global. O autor identifica, ainda, a
falta de regulamentação sobre instituições financeiras com importante atuação nos mercados
financeiros – bancos de investimento – como parte das causas da crise.
Eichengreen, assim como Gonçalves (2008b), trata dos determinantes conjunturais da
crise mundial, mencionando a relevância do “conjunto de políticas que deu origem aos
desequilíbrios mundiais”16, uma vez que o governo Bush reduziu impostos e o Federal
Reserve diminuiu os juros. Gonçalves (2008b) aponta que a “taxa básica caiu de 6% no início
de 2001 para 1% em meados de 2004. Este fato causou a expansão da demanda por
empréstimos em geral e, por empréstimos imobiliários, em particular.” (p. 1) Nota-se,
16 EICHENGREEN, B. (2008) – “Anatomia de uma crise”, Valor Econômico. Publicado por: Coped. 23 setembro.
23
portanto, que a atual crise mundial está relacionada à “insolvência generalizada no sistema de
hipotecas imobiliárias nos Estados Unidos” (GONÇALVES, 2008b, p. 1)
Inovações financeiras, como processos de “originar e distribuir” – isto é, o agente que
origina o crédito não é o mesmo que mantém este crédito em carteira – são consideradas por
Eichengreen entre as primeiras causas da crise. Desta forma, quando as inovações financeiras
são somadas às medidas políticas, observa-se que há uma contribuição para o barateamento do
crédito e o aumento de sua disponibilidade, o que resulta em uma elevação dos gastos e
redução da poupança das famílias nos Estados Unidos. Segundo Chesnais (2007), a
manutenção de um alto nível de atividade esteve relacionada ao “poder de expansão do
crédito”, que pôde “sustentar uma demanda agregada em crescimento rápido”17,
desconectando o consumo da renda disponível.
Outra explicação para a crise internacional está relacionada à ascensão chinesa e o
declínio de investimentos em outros países da Ásia, principalmente a partir do fim dos anos
1990 com a crise financeira asiática, nota-se que a elevada poupança chinesa direcionava-se
para títulos do Tesouro norte-americano e obrigações da Fannie Mae e do Freddie Mac18. Em
outras palavras, as famílias dos Estados Unidos poderiam tomar empréstimos a baixos custos e
o dólar seria sustentado, tendo em vista a disponibilidade de poupança de outros países. De
acordo com Eichengreen, o afrouxamento das políticas junto à entrada de capital externo
gerou uma elevação do crédito que poderia ter sido controlada com maior regulamentação,
neste sentido nota-se que o autor tenta compor as explicações antes mencionadas.
A análise de Daniel Gros (2009) referente às causas da crise está focada nos
desequilíbrios de conta corrente. O autor afirma que lidar com desequilíbrios entre poupadores
e investidores é algo inerente ao sistema financeiro, no entanto, os desequilíbrios em conta
corrente criaram uma enorme crise financeira. Nesse sentido, ele indica que o aumento
insustentável do consumo nos Estados Unidos provocou o déficit em conta corrente e este
excesso de gastos domésticos foi financiado principalmente através de dívidas imobiliárias.
Por estas dívidas serem de longo prazo, ocorreu um aumento da oferta de ativos com maiores
17 CHESNAIS, F. (2007) – “Até onde irá a crise financeira”. Le Monde Diplomatique Brasil, novembro. 18 Essas entidades semipúblicas são “encarregadas de assegurar um mercado secundário para os empréstimos concedidos pelos bancos e instituições financeiras. A primeira (Fannie Mae) foi estabelecida, em 1938, para compensar os impactos políticos e sociais da grande crise. Foi preciso criar uma segunda, em 1970 (Freddy Mac), para enfrentar o aumento rápido das necessidades de transformação dos empréstimos hipotecários em ativos realizáveis. O recurso à securitização das hipotecas, portanto, é antigo e sua utilização vem aumentando sem parar.” (CHESNAIS, 2007)
24
maturidades. No entanto, as poupanças externas excedentes buscavam aplicações,
principalmente, de curto prazo, seguras e líquidas. Fazia-se necessária, portanto, uma
transformação de maturidades e riscos para “driblar” esse descasamento de oferta e demanda
de ativos.
Apesar de estar focado nos déficits em conta corrente para explicar a crise, Gros
admite que esta relação não seja tão direta. Sob outro ponto de vista, também relacionado à
existência de capitais externos, pode-se observar que o “aumento da demanda de bancos
centrais de economias emergentes pela dívida pública dos Estados Unidos levou ao menor
rendimento, forçando, assim, os poupadores nos países da OCDE, que normalmente teriam
mantido ativos governamentais, a ‘busca por retornos’ freneticamente.” (GROS, 2009, p. 2,
aspas do original, tradução nossa) Ou seja, a maior demanda por títulos públicos norte-
americanos elevava o preço destes, reduzindo sua taxa de retorno, de modo que se buscavam
aplicações em ativos seguros e com maior retorno. As “fatias” (tranches) dos títulos
empacotados classificadas como AAA19 pareciam solucionar este problema, pois seriam
seguras e com retornos maiores. No entanto, isso dependia de uma valorização contínua do
mercado imobiliário, para que os ativos baseados em hipotecas fossem pagos.
Daniel Gros (2009) afirma ainda que, buscando equilibrar a oferta e a demanda de
ativos:
“O sistema financeiro teria, portanto, que transformar milhares de bilhões de dólares de hipotecas domésticas dos Estados Unidos no tipo de ativos com excesso de demanda desses investidores, que haviam sido excluídos do mercado da dívida pública devido à acumulação de reservas pelos bancos centrais de mercados emergentes.” (p. 3, tradução nossa)
Essa transformação dependeu, principalmente, do processo de securitização, o qual tentaria
transformar títulos baseados em hipotecas em ativos líquidos e seguros. Esses títulos seriam
aparentemente seguros tendo em vista que seriam empacotados com outros classificados pelas
agências de rating como AAA, de modo que os riscos foram “mascarados”. Além disso, esses
papéis seriam comprados por instituições que emitiriam títulos de curto prazo baseados
naqueles, o que representava a transformação de maturidades. A garantia de liquidez seria
dada pelo sistema bancário, que daria uma linha de suporte de crédito.
19 Deve-se ressaltar que não se considerou o incentivo das agências de rating atribuírem uma classificação favorável aos títulos, o que seria um bom motivo para desconfiar desta classificação.
25
Gros ressalta, portanto, que é preciso observar o modo como são financiados os déficits
em conta corrente. No caso de um déficit criado pelo governo, a oferta de ativos seria do
mesmo tipo do que era (e ainda é) demandado pelos bancos centrais das economias
emergentes com recursos excedentes, diferentemente da oferta de ativos de longo prazo como
os títulos baseados em hipotecas. Questiona-se, no entanto, se uma elevação da oferta de
títulos públicos norte-americanos não seria incompatível com a manutenção do dólar como
moeda de reserva internacional, ou seja, com Bretton Woods II, entrando em choque com as
idéias da permanência deste sistema.
Segundo Michael P. Dooley, David Folkerts-Landau e Peter M. Garber (2009) o
sistema de Bretton Woods II não é a causa da crise financeira atual, em outras palavras,
acredita-se na manutenção do status quo de modo que os Estados Unidos possam continuar a
ter déficits em transações correntes, pois há quem os financiem. Assim, por mais que os
críticos de Bretton Woods II previssem uma crise financeira, esta não ocorreu em função da
interrupção do fluxo de capitais de mercados emergentes para os Estados Unidos, ou seja, não
foi provocada por desequilíbrios internacionais, mesmo porque os fluxos de capitais em
direção aos Estados Unidos não foram interrompidos.
A contribuição do estudo de Kregel (2007) sobre as origens da crise atual deve ser
destacada. Para o autor, está claro que a crise atual envolve a presença da postura Ponzi e a
redução das margens de segurança. No entanto, estas são produzidas por processos diferentes
dos descritos pela análise tradicional de Minsky. A reforma na regulação bancária em 1999
nos Estados Unidos, que permitiu a criação de holdings com todos os tipos de atividade
financeira, foi uma importante mudança para os sistemas financeiros. Além disso, com a
criação do sistema de “originar e distribuir” o banco deixa de se interessar pela avaliação do
crédito, uma vez que o principal e o juros serão pagos aos compradores finais dos ativos
colateralizados. Com isto, deixa de fazer sentido relacionar a redução das margens de
segurança à avaliação do banco quanto ao risco de crédito do tomador. A securitização de
ativos contribui para este processo de “originar e distribuir”.
Nesse cenário, a avaliação do crédito passa a ser feita por agências de rating de crédito,
rompendo-se com os processos de concessão de crédito e avaliação de risco, tornando a
avaliação e precificação dos papéis muito mais “cega”. Ademais, o uso de métodos de scoring,
que agrupa os tomadores de empréstimo de acordo com determinadas características, não
26
incorpora o acúmulo de conhecimento sobre os mutuários em condições estáveis. Assim,
utiliza-se a história de tomadores anteriores para fazer uma previsão do risco de crédito do
grupo atual. Kregel observa que a utilização de métodos de scoring no caso de hipotecas
“subprime” e “alt-a” é perigoso, uma vez que esses tipos de empréstimos são recentes, não
possuindo uma série de desempenho passada, além do que não se possui a informação
necessária para classificar os tomadores em grupos. Deve ser ressaltado, ainda, que essas
hipotecas representavam empréstimos de má qualidade no setor imobiliário.
Outra inovação essencial para que fossem financiadas hipotecas “subprime” foi o
processo de layering, que divide o pacote de títulos, tal como uma securitização secundária,
em “fatias” com diferentes margens de segurança. Mais uma vez nota-se a importância do
papel das agências de rating, que vão determinar a margem de segurança apropriada. Cabe,
neste ponto, ressaltar que o poder dado a essas agências foi excessivo. Ademais, a crescente
alavancagem dos agentes financeiros apoiou-se em uma expectativa de contínua valorização
do ativo, no caso, imobiliário.
O diagnóstico de Kregel (2007) sobre o que elevou a fragilidade pode ser sintetizado
em:
“o aumento da fragilidade não se atribuiu ao processo de desempenho positivo do crédito observado ao longo do tempo produzindo uma redução da margem de segurança, foi a simples revelação das margens de segurança insuficientes que foram produzidas pela análise estatística das correlações entre as características de crédito dos tomadores anteriores e as relações às mudanças nas condições financeiras.” (p. 13, tradução nossa)
Desta forma, a maior fragilidade na crise atual não pode ser atribuída ao comportamento dos
tomadores de empréstimos, a fragilidade e as margens de segurança insuficientes sempre
estiveram presentes, sendo reveladas com a evolução da crise.
Na data de elevação das taxas – no caso de hipotecas com taxas de juros ajustáveis –
seria observado um crescimento da inadimplência e da execução de hipotecas. Assim, a
redução na valorização de imóveis se transformaria em uma queda dos preços tamanha a
crise20. Deste modo, a alavancagem deixaria de ser sustentada. Nesse contexto de grande
alavancagem, qualquer evento que fugisse do esperado geraria problemas. A reavaliação das 20 Tal como observado por Prado (2009), o “estouro de uma bolha (um crash) é o colapso dos preços de ativos, tais como ações ou títulos negociados em bolsas de valores ou a quebra de um grande banco ou de um grupo de empresas em um setor da economia.” (p. 3, destaques do original)
27
agências de rating piorou a classificação de diversos ativos, confirmando que suas estimativas
iniciais estavam incorretas. Desta forma, investidores institucionais que só poderiam manter
em carteira ativos com certo grau de investimento tiveram que vendê-los, gerando uma
“deflação de débitos”.
Nessa análise deve ser destacado o papel dos bancos, que participavam deste sistema
não apenas originando crédito, como também comprando hipotecas originadas por outras
instituições financeiras. Além disso, o processo de deflação de débitos fez com que os ativos
que os bancos tentaram “retirar” dos seus balanços, através da securitização, retornassem, uma
vez que se esperava que o banco provesse liquidez.
A análise de Kregel indica que a insuficiência dos colchões de estabilidade era um
resultado estrutural da avaliação do crédito neste novo sistema financeiro com processos de
“originar e distribuir”. Isto revelou uma inadequação sistemática da avaliação do crédito21,
tendo em vista a separação entre os agentes que avaliam e suportam o risco, o que foi
permitido pela modernização dos serviços financeiros. Desta forma, sem que se possa afirmar
que exista um modo eficiente de avaliar o risco não se poderá dizer que exista uma forma
eficiente de distribuí-lo. Portanto, a dinâmica interna do sistema financeiro é identificada por
Kregel como essencial para explicar as origens da crise atual.
Ao estudar os diagnósticos da crise financeira atual deve ser reconhecida a importância
de mudanças em mecanismos internos ao sistema, que contribuíram para uma deterioração da
qualidade do crédito, ao absorver tomadores menos capacitados. Em função da ampla
desregulação nos mercados financeiros, observa-se uma necessidade em reformar a estrutura
regulatória. Apesar disso, não se pode afirmar que sem os desequilíbrios macroeconômicos
internacionais a crise alcançaria a mesma magnitude, uma vez que o excesso de poupança
externa também viabilizou o sobre-endividamento das famílias norte-americanas. Portanto, os
fatores internacionais devem ser levados em consideração ao explicar a dimensão da crise
econômica, que atingiu não somente os Estado Unidos, mas também se estendeu
internacionalmente. Como apontado por Gonçalves (2008b):
21 No novo sistema financeiro, o risco foi, com grande freqüência, avaliado de forma errada, tornando o crédito muito barato: “a estrutura básica do sistema financeiro (...) superestima a capacidade de solvência e subavalia o risco.” (KREGEL, 2007, p. 18, tradução nossa)
28
“A globalização envolve crescente interdependência entre os sistemas financeiros nacionais. Esta interdependência gera a extensão global da crise. De fato, a crise afeta o centro do sistema econômico (Estados Unidos), atinge o extremo oriente (Japão e Coréia do Sul), chega praticamente ao pólo norte (Islândia e Rússia) e repercute no sul das Américas (Chile e Brasil).” (p. 2, destaque do original)
29
CAPÍTULO 2 VULNERABILIDADE EXTERNA DA AMÉRICA LATIN A:
METODOLOGIA E EVIDÊNCIA EMPÍRICA
O segundo capítulo deste trabalho tem como objetivo realizar uma análise empírica da
vulnerabilidade externa dos onze países da América Latina selecionados de forma comparada
ao resto do mundo. Assim, expõe-se a metodologia de análise utilizada e os procedimentos de
elaboração da base de dados necessária ao cálculo dos índices. Na seção seguinte são feitas
análises empíricas a partir de cada um dos indicadores empregados no cálculo do índice de
vulnerabilidade externa.
2.1 Metodologia de análise e construção da base de dados
A metodologia de análise a ser utilizada no presente trabalho está baseada em
Gonçalves (2005), que utiliza índices específicos para examinar a questão do poder e da
vulnerabilidade externa. Essa metodologia foi escolhida por contemplar as diversas esferas das
relações econômicas internacionais – são elas: comercial, produtivo-real, tecnológica e
monetário-financeira. Cada um destes índices é calculado para cada país, comparando-se o
desempenho deste país com o pior desempenho de uma amostra de 113 países22, realizando
uma divisão deste valor pela diferença entre os países com o melhor e o pior resultado.
A fórmula matemática básica a ser aplicada neste estudo teve como variáveis: X, que é
a variável para cada país, ou seja, o valor calculado de cada índice; Xmáx é o maior valor
encontrado para o índice dentre o conjunto de países estudado e Xmín, o menor. Vale ressaltar
que a escolha dos valores máximos e mínimos para cada indicador esteve baseada na
utilização do sexto maior valor encontrado na série e do sexto menor valor, respectivamente.
Isto é fundamental para que se evite o emprego de valores extraordinariamente altos ou
baixos, evitando o efeito de outliers. Desta forma, o índice obteve resultados entre zero e 100,
e quanto mais próximo de 100, maior a vulnerabilidade externa do país. Exposta esta idéia, a
fórmula supracitada é:
Índice = [(X – X mín)/(X máx – X mín)] x 100
O Índice de Vulnerabilidade Externa (IVE) foi calculado com base em uma média
simples de cinco índices, que expressam a vulnerabilidade nas esferas das relações
22 Para a listagem dos 113 países ver anexo I.
30
econômicas internacionais mencionadas anteriormente. Em função da disponibilidade de
dados serão utilizados cinco indicadores, com base nos 16 indicadores apresentados por
Gonçalves (2005, capítulo 5), são eles: exportação de bens e serviços / produto interno bruto
(PIB); grau de concentração das exportações; ingresso acumulado de investimento externo
direto (IED) / PIB; dívida externa total / exportação de bens e serviços; e importação de bens e
serviços / reservas internacionais.
A análise da vulnerabilidade externa na esfera comercial está relacionada a dois
indicadores: exportação de bens e serviços sobre o PIB e o grau de concentração das
exportações. O primeiro indicador expressa o grau de abertura comercial, isto é, quanto maior
este indicador, maior o grau de dependência da expansão da demanda agregada do país em
relação ao exterior e maior a vulnerabilidade externa. O segundo indicador, também conhecido
como índice de Herfindahl-Hirschmann, possui valores de zero a um, sendo a proximidade de
um, uma indicação de que a pauta de exportações é bastante concentrada, ou seja, é um indício
de que a vulnerabilidade externa de certa economia é mais elevada. No que se refere à esfera
produtivo-tecnológica23, o estudo se baseará na proporção do ingresso acumulado de IED em
relação ao PIB, demonstrando a relevância deste tipo de investimento para o país, o que
expressa o controle do aparelho produtivo pelos não-residentes (transnacionais). Quanto à
vulnerabilidade externa a partir da esfera monetário-financeira, serão utilizados dois
indicadores: o primeiro é constituído pela dívida externa total como proporção da exportação
de bens e serviços, sugerindo um desequilíbrio de estoque gerado pelo endividamento externo;
e o segundo, a importação de bens e serviços sobre as reservas internacionais, expressando a
falta de proteção da atividade interna frente a transformações no contexto internacional. Os
cinco indicadores são diretamente proporcionais à vulnerabilidade externa, de modo que
quanto maiores eles forem, maior a vulnerabilidade externa das economias.
A base de dados utilizada no cálculo dos indicadores de vulnerabilidade externa teve
como referência bases de dados da United Nations Conference on Trade And Development
(UNCTAD) e do Banco Mundial. Dessas bases, foram retirados os dados referentes a uma
amostra de 113 países, assim como no trabalho de Gonçalves (2005, capítulo 5), tendo em
vista que o interesse da dissertação está no estudo comparativo da vulnerabilidade externa.
23 A esfera tecnológica foi agregada à esfera produtivo-real por uma questão de disponibilidade de informação.
31
O tema central da dissertação é a análise da relação entre os impactos da última crise
global e a vulnerabilidade externa das economias latino-americanas selecionadas – Argentina,
Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Por
isso, foram utilizados os indicadores referentes aos anos imediatamente anteriores ao início da
crise – 2005, 2006 e 2007 – a partir dos quais foi calculada uma média simples. Através dessa
média os 113 países foram classificados de forma decrescente e o sexto maior valor foi
utilizado como Xmáx e o sexto valor mínimo como Xmín, para que a fórmula supracitada fosse
aplicada. Assim, foi possível que os cinco indicadores fossem transformados de modo que
ficassem sem dimensão. Isso possibilitou o cálculo do IVE através da média simples desses
cinco índices referentes aos indicadores anteriormente mencionados.
No caso de valores indisponíveis para determinados anos, as informações foram
preenchidas através da média geométrica dos dois anos imediatamente anteriores ou
posteriores. O uso da média aritmética esteve restrito a casos em que havia pelo menos um
valor negativo entre um dos anos do par, em especial no caso do indicador “ingresso
acumulado de IED / PIB”, uma vez que foram acumulados valores desde 1980 até o último
ano de referência (2005, 2006 ou 2007), principalmente para países das antigas União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas e Iugoslávia.
A partir do cálculo do IVE para cada país, as economias estudadas no presente trabalho
foram classificadas de acordo com seus níveis de vulnerabilidade externa, para que depois, no
terceiro capítulo, esses níveis sejam relacionados aos impactos macroeconômicos. Dessa
forma, o estudo das variáveis macroeconômicas será essencial para verificar se os países com
maior vulnerabilidade externa foram os que sofreram maiores impactos da crise global, tal
como proposto na hipótese deste trabalho. Os dados referentes a tais variáveis
macroeconômicas foram pesquisados em base de dados da CEPAL e do Fundo Monetário
Internacional (FMI). Dentre as variáveis macroeconômicas de interesse da dissertação estão:
renda, investimento, emprego, inflação, finanças públicas e contas externas. Vale ressaltar que
foram pesquisados dados principalmente para os anos anteriores à crise e para os anos de 2008
e 2009, de modo que possam ser analisados os impactos imediato e de curto prazo da crise.
32
2.2 Evidência empírica
A construção da base de dados com os índices referentes aos indicadores mencionados
na seção anterior permite analisar a vulnerabilidade externa nas diversas esferas das relações
econômicas internacionais. Através do índice relacionado à proporção da exportação de bens e
serviços em relação ao PIB, nota-se que a média dos onze países selecionados fica 34,6%
abaixo da média dos 113 países24. Isso aponta para uma menor dependência dos países latino-
americanos em relação à demanda internacional. No entanto, deve ser ressaltado que a
distribuição da posição destes países selecionados no ranking pertinente a este índice não é
homogênea.
Gráfico 2.1 Índice referente à exportação de bens e serviços / produto interno bruto
0
10
20
30
40
50
60
70
Parag
uaiChile
Méd
ia m
undi
al
Bolívi
a
Venez
uela
Equad
or
Méd
ia do
s 11
paíse
s
Urugu
ai
Méx
icoPe
ru
Argen
tina
Colôm
bia
Brasil
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial.
Como pode ser observado no gráfico 2.1 acima, o Paraguai é o país mais vulnerável
quando se trata dos dados das exportações como proporção do PIB, seguido pelo Chile, sendo
estes os dois países dentre os onze selecionados que possuem um índice maior que a média
24 Para os resultados do índice referente à exportação de bens e serviços / produto interno bruto dos 113 países ver anexo II.
33
mundial. Mesmo que o Paraguai seja o país com a pior classificação no conjunto dos
selecionados, a sua posição no ranking mundial, com a amostra de 113 países, é a 29ª. Assim,
os onze países latino-americanos não parecem estar tão expostos a choques e impactos
internacionais no que tange a esfera comercial quando se analisa este primeiro índice.
Diferentemente do primeiro índice, quando o segundo índice utilizado na construção
do índice de vulnerabilidade externa25 é estudado, observa-se que a média dos onze países
supera a média mundial em 14,8%. Isso é uma indicação de que as pautas de exportação são
mais concentradas no caso dos países selecionados, demonstrando-se que esses países estão
mais vulneráveis a oscilações de preço e quantidade no sistema mundial de comércio.
Gráfico 2.2 Índice referente ao grau de concentração das exportações
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Venez
uela
Equad
or
Bolívia
Chile
Para
guai
Méd
ia do
s 11 p
aíses
Méd
ia mu
ndial
Peru
Urugu
ai
Colôm
bia
Méx
ico
Argen
tina
Brasil
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da UNCTAD.
Deve ser destacado que o primeiro país da América Latina a aparecer no ranking
referente ao índice de concentração das exportações, a Venezuela, apresenta uma posição
bastante ruim em termos de vulnerabilidade externa, aparecendo em segundo lugar na
25 Para os resultados do índice referente ao grau de concentração das exportações dos 113 países ver anexo III.
34
classificação dos 113 países, ficando atrás apenas da Nigéria. Isso é explicado pela
concentração da pauta de exportação venezuelana em hidrocarbonetos, que chegou a
representar em média – dos três anos imediatamente anteriores a crise: 2005, 2006 e 2007 –
83,7% das exportações de bens e serviços. Com menor intensidade, o caso se repete para
Equador e Bolívia, onde as exportações de hidrocarbonetos constituem em média 51,9% e
41,7% das exportações totais, respectivamente.
Ao comparar o gráfico 2.2 com o gráfico 2.1, ambos relacionados à esfera comercial,
pode ser sublinhado que os países que apresentam um índice inferior à média dos 11 países
são os mesmos: Peru, Uruguai, Colômbia, México, Argentina e Brasil, embora em ordem
diferente no caso do índice relacionado às exportações de bens e serviços como proporção do
PIB, com exceção do Brasil que permaneceu com o menor nível do índice dentre os onze
países do painel regional nos dois casos.
Tabela 2.1 Exportação de commodities / Exportação total de bens e serviços
Países 2005 2006 2007 MédiaVenezuela 85,7% 87,3% 86,7% 86,6%
Equador 79,7% 81,7% 78,9% 80,1%
Bolívia 73,4% 79,9% 81,7% 78,3%
Peru 73,7% 79,7% 78,8% 77,4%
Chile 66,7% 72,5% 74,6% 71,3%
Argentina 59,2% 58,4% 58,2% 58,6%
Colômbia 55,7% 54,6% 52,4% 54,2%
Uruguai 45,4% 47,9% 46,7% 46,6%
Brasil 40,9% 42,7% 44,6% 42,7%
Paraguai 38,0% 31,0% 39,3% 36,1%México 21,2% 22,6% 23,2% 22,3%
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial e da UNCTAD.
No entanto, a pauta exportadora de grande parte das onze economias selecionadas está
fortemente concentrada na exportação de commodities26, como indicado na tabela 2.1 acima.
Este fato prejudica o ajuste das contas externas dessas economias, uma vez que os preços de
tais produtos são mais voláteis do que os preços de produtos manufaturados. Além disso, a
26 De acordo com a base de dados da UNCTAD são incluídas como commodities: alimentos e animais vivos; bebidas e fumo; materiais em bruto, não comestíveis, exceto combustíveis; combustíveis minerais, lubrificantes e materiais relacionados; óleos animais e vegetais; metais não-ferrosos; pérolas, pedras preciosas e semipreciosas, trabalhadas ou não; ouro, não-monetário, exceto minérios de ouro e seus concentrados.
35
demanda por commodities apresenta menor dinamismo do que a demanda por produtos com
alta intensidade tecnológica.
A análise da vulnerabilidade externa a partir da esfera produtivo-tecnológica está
vinculada ao índice correspondente ao indicador de ingresso de IED acumulado como
proporção do PIB27. Assim como no índice referente ao grau de concentração das exportações,
a média deste índice para os onze países selecionados (48,9) supera a média da amostra
mundial de 113 países (41,2), em 18,7%. Esta é uma indicação do controle do aparelho
produtivo por empresas transnacionais nas economias latino-americanas.
O gráfico 2.3 abaixo permite a comparação entre a posição relativa de cada economia
no cenário internacional. É notório que Bolívia, Chile e Argentina apresentam grande parte do
seu aparelho produtivo controlado por empresas transnacionais, ficando em sétimo, décimo
segundo e vigésimo lugar, respectivamente, a frente da média dos onze países selecionados.
Quando o indicador de ingresso acumulado de investimento externo direto como proporção do
PIB foi calculado esses três países tiveram, respectivamente, como resultado da média de 2005
a 2007: 65,2%, 61,3% e 48,8%.
Gráfico 2.3 Índice referente ao ingresso acumulado de IED / PIB
0102030405060708090
100
Bolívia
Chile
Argen
tina
Méd
ia do
s 11 p
aíses
Peru
Colôm
bia
Méd
ia m
undia
l
Méx
ico
Equad
or
Urugu
ai
Brasil
Paragu
ai
Venez
uela
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial e da UNCTAD.
27 Para os resultados do índice referente ao ingresso acumulado de IED / PIB dos 113 países ver anexo IV.
36
O caso da Bolívia pode ser em grande medida explicado pela dependência da sua
economia em relação ao setor de hidrocarbonetos, que foi responsável, em média, por 41,7%
das exportações de 2005 a 2007. A participação de empresas transnacionais, como a brasileira
Petrobras, na extração de gás natural influencia a posição boliviana no ranking referente ao
índice de ingresso acumulado de IED como razão do PIB, mesmo que em maio de 2006 tenha
sido declarada na Bolívia a nacionalização de segmentos do setor de hidrocarbonetos, uma vez
que este índice incorpora fluxos de anos anteriores.
A posição do Chile como o segundo, dentre os onze países selecionados, com o maior
índice de ingresso acumulado de IED como proporção do PIB não surpreende, uma vez que
este foi o país pioneiro na implementação de políticas neoliberais em sua economia já na
década de 1970, tais quais: privatização, desregulação de mercados e liberalização do
comércio e entrada de IED. Deve ser ressaltado que o Chile foi o país que implementou com
maior fidelidade o programa formulado pelo Fundo Monetário Internacional e o Banco
Mundial, que seria pré-condição para empréstimos futuros.
O estudo da vulnerabilidade externa a partir da esfera monetário-financeira será
realizado, como mencionado na seção anterior, através de dois índices. Com relação ao índice
referente à dívida externa total como proporção da exportação de bens e serviços28, pode-se
observar que a distribuição da posição dos países selecionados no ranking formado pela
amostra mundial é mais homogênea do que no caso dos índices anteriores. Ou seja, dentre os
onze países estudados, cinco – Bolívia, Colômbia, Brasil, Equador e Peru – estão entre a 34ª e
a 42ª posição. Isso é evidenciado quando calculada a variância das posições das economias
sul-americanas, pois este primeiro índice da esfera monetário-financeira apresenta a menor
medida de dispersão.
É possível notar, a partir do gráfico 2.4 abaixo, que sete dentre os países selecionados
na América Latina apresentam valores para o índice referente à dívida externa total como
proporção das exportações de bens e serviços superiores à média mundial. A média dos onze
países, portanto, superou a média mundial em 28,2%, sendo este o índice formador do IVE
que exibiu maior variação positiva frente à média mundial. Esta é uma indicação de que os
28 Para os resultados do índice referente à dívida externa total / exportação dos 113 países ver anexo V.
37
países selecionados sofrem com o desequilíbrio de estoque gerado pelo endividamento
externo, o qual os torna mais vulneráveis do ponto de vista da esfera monetário-financeira.
Gráfico 2.4 Índice referente à dívida externa total / exportação de bens e serviços
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
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Urugu
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Bolívi
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Colôm
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Brasil
Equad
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Méd
ia do
s 11 p
aíses
Peru
Méd
ia m
undi
al
Chile
Para
guai
Venez
uela
Méx
ico
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial.
Da menor heterogeneidade entre os onze países selecionados e da elevada média destes
em relação à média mundial, pode-se inferir que as economias latino-americanas são, em
grande medida, dependentes de financiamento externo para o fechamento das contas do
balanço de pagamentos, o que evidencia a fragilidade financeira das contas externas
(CARCANHOLO, 2010). A dependência do fluxo internacional de capitais deixa estes países
mais vulneráveis, tendo em vista que “a esfera monetário-financeira tende a ser mais instável
do que as esferas comercial e produtivo-real”. (GONÇALVES, 2005, p. 133)
A Argentina é o primeiro país latino-americano a figurar no ranking construído para
este primeiro índice relacionado à esfera monetário-financeira, com uma dívida externa total
equivalente a 2,3 vezes suas exportações. Isso lhe conferiu a décima segunda posição, ficando
atrás de países – como: Burundi, Líbano, Ruanda, Sudão, Laos, Malauí, Nepal, Guiné,
Burkina Fasso, Nicarágua e Letônia – com menores valores exportados quando calculada a
38
média de exportação para 2005, 2006 e 2007. Ou seja, analisando este índice pode-se concluir
que a vulnerabilidade argentina está, de fato, relacionada ao montante de dívida externa da
economia. Desta forma, a média das exportações argentinas deixa o país na 43ª posição no
ranking de exportações de bens e serviços, enquanto, a Argentina apresenta a 9ª maior dívida
externa total média dos anos 2005 a 2007, com um valor de 122,8 bilhões de dólares. A frente
da Argentina estão, em ordem decrescente, China, Rússia, Turquia, Brasil, México, Índia,
Polônia e Indonésia.
O segundo índice através do qual a vulnerabilidade externa a partir da esfera
monetário-financeira é analisada é a razão entre a importação de bens e serviços e as reservas
internacionais29, que são necessárias para realizar transações comerciais no exterior. Este é o
índice de vulnerabilidade externa que apresenta maior variação negativa quando se compara a
média dos onze países do painel regional à média mundial. Apenas o Equador ficou acima da
média mundial (vide gráfico 2.5). Quando calculada a variância dos índices dos onze países,
encontrou-se a menor medida de dispersão, indicando maior homogeneidade na
vulnerabilidade externa destes na esfera monetário-financeira.
Em outras palavras, as economias selecionadas podem ser consideradas menos
vulneráveis que a amostra mundial de 113 países, tendo em vista que sua média para esse
índice fica 63,3% abaixo da média mundial. Esse resultado favorável aos países estudados tem
forte relação com a conjuntura internacional nos anos pré-crise – 2005, 2006 e 2007 – quando
a taxa de crescimento do PIB real mundial foi, respectivamente, 3,5%, 4,0% e 3,8%30. Tal
como apontado por Filgueiras e Gonçalves (2007):
“A fase ascendente do ciclo da economia mundial se expressa pela expansão da produção, da liquidez, e do comércio internacional a partir de 2003. Esta conjuntura internacional favorável tem permitido a redução de indicadores de vulnerabilidade externa conjuntural do conjunto dos países em desenvolvimento. Vale lembrar que a vulnerabilidade externa conjuntural é determinada pelas opções e custos do processo de ajuste externo.” (p. 61)
29 Para os resultados do índice referente à importação / reservas internacionais dos 113 países ver anexo VI. 30 Dados do Handbook of Statistics 2009, UNCTAD.
39
Gráfico 2.5 Índice referente à importação de bens e serviços / reservas internacionais
0
5
10
15
20
25
30
35
Equad
or
Méd
ia m
undi
al
Méx
ico
Parag
uai
Chile
Méd
ia do
s 11
paí
ses
Colômbi
a
Urugua
i
Brasil
Venez
uela
Argen
tina
Bolívi
aPe
ru
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial.
A conjuntura internacional é, portanto, a principal responsável pelo acúmulo de
reservas internacionais nos onze países em desenvolvimento selecionados no presente trabalho
(vide gráfico 2.6), uma vez que o crescimento da demanda internacional31 por commodities32 e
seus preços contribuem para a expansão dos superávits comerciais. Serrano (2008) aponta que
uma “das características marcantes do ciclo recente de crescimento da economia mundial foi o
intenso e quase contínuo aumento dos preços de praticamente todas as commodities” (p. 143).
Além disso, os fluxos de divisas para essas economias também cresceu em virtude da
ampliação da liquidez internacional, que contribuiu para a redução de taxas de juros
internacionais, e das transações de ativos financeiros, que são mais voláteis que transações
comerciais.
31 Filgueiras e Gonçalves (2007) afirmam que o “dinamismo das ‘locomotivas’ do sistema econômico internacional, a saber, Estados Unidos e China” (p. 38) é a causa mais importante do ciclo de expansão da economia mundial nos anos 2000. As demandas norte-americana e chinesa por importações geram um impacto positivo na renda mundial, ao expandir as exportações do resto do mundo tanto em volume como em preço. 32 Como evidenciado pela tabela 2.1, as commodities desempenham um importante papel na pauta exportadora das onze economias.
40
Gráfico 2.6 Reservas internacionais (em milhões de dólares): 2005-2008
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
160.000
180.000
200.000
220.000
Argen
tina
Bolívia
Brasil
Chile
Colôm
bia
Equado
r
Méx
ico
Parag
uaiPeru
Urugu
ai
Venez
uela
2005 2006 2007 2008
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial.
O bom desempenho dos países selecionados frente à amostra mundial no que tange o
índice referente à importação como razão das reservas internacionais está, portanto,
relacionado à conjuntura internacional. O Equador foi o único país, dentre os onze
selecionados, a superar a média mundial, estando em 25º lugar no ranking deste índice, com
uma média anual para o período 2005-2007 na qual as importações são 5,6 vezes maiores que
as reservas internacionais.
O estudo de diferentes índices de vulnerabilidade externa referentes às esferas das
relações econômicas internacionais contribui para a verificação das fontes de fragilidade em
cada economia estudada. Desta forma, a análise acima permite observar que os países
selecionados não estavam igualmente vulneráveis em cada uma das esferas das relações
econômicas internacionais nos anos anteriores à crise.
O impacto de cada um dos cinco índices no IVE varia, tal como demonstrado pelo
gráfico 2.7 abaixo. Para a maioria dos países – Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, México,
Peru e Uruguai –, os principais responsáveis pelo resultado final do índice de vulnerabilidade
externa são o ingresso acumulado de IED como proporção do PIB e a dívida externa total
41
como razão das exportações. Isto não surpreende já que esses foram os indicadores nos quais a
média dos países latino-americanos apresentou maior variação percentual (positiva em termos
quantitativos) frente à média mundial.
A Argentina e o Brasil são casos extremos no que se trata da influência desses dois
indicadores na composição do IVE, uma vez que a soma destes obteve como total,
respectivamente, 85,1% e 93,7%, sendo que em ambos os casos a participação do indicador
relacionado à dívida externa total na composição do IVE foi maior. Este é um resultado
problemático, pois evidencia a fragilidade dessas economias nas esferas produtivo-tecnológica
e monetário-financeira, apontando para a presença de vulnerabilidade externa estrutural33, que
é um fenômeno de longo prazo.
Gráfico 2.7 Participação de cada índice no IVE
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Argen
tina
Bolívi
a
Brasil
Chi le
Colôm
bia
Equad
or
Méx
ico
Parag
uai
Peru
Urugu
ai
Venezu
ela
Exportação/PIB Concentração das exportaçõesIngresso acumulado de IED/PIB Dívida externa total/exportaçãoImportação/reservas internacionais
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial e da UNCTAD.
33 “Vulnerabilidade externa estrutural decorre das mudanças relativas ao padrão de comércio, da eficiência do aparelho produtivo, do dinamismo tecnológico e da robustez do sistema financeiro nacional. A vulnerabilidade externa estrutural é determinada, principalmente, pelos processos de desregulamentação e liberalização nas esferas comercial, produtivo-real, tecnológica e monetário-financeira das relações econômicas internacionais do país.” (FILGUEIRAS e GONÇALVES, 2007, p. 35)
42
Duas verdadeiras exceções entre os países estudados, quando nem o ingresso
acumulado de IED sobre o PIB nem a dívida externa em relação às exportações estão entre os
dois principais explicadores do IVE, foram a Venezuela e o Paraguai. No caso desses dois
países, os índices relacionados à esfera comercial tiveram maior influência sobre o IVE de
suas economias, principalmente no caso da Venezuela, no qual o índice de concentração das
exportações é responsável por explicar 53,8% do valor do índice de vulnerabilidade externa da
economia venezuelana. Vale lembrar que a Venezuela havia sido classificada como o segundo
país no ranking dos 113 países para o índice de concentração das exportações.
Ao mesmo tempo que os índices referentes ao ingresso acumulado de IED sobre o PIB
e à dívida externa total como razão das exportações figuram como os maiores causadores de
vulnerabilidade externa para grande parte dos países estudados, o índice com menor impacto
sobre o IVE é o que diz respeito às importações como proporção das reservas internacionais.
Este é o caso de Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. O gráfico
2.7, acima, permite observar que no caso do Equador e do México este índice tem um papel
mais importante que nos outros casos.
Como resultado da média dos cinco indicadores anteriormente observados foi obtido o
índice de vulnerabilidade externa, que permite comparar o desempenho dos onze países
selecionados à amostra mundial de 113 países34. Desta forma, nota-se que o resultado final
para os países da América Latina fica 4,2% abaixo da média mundial, tendo em vista o forte
impacto negativo (em termos quantitativos) do índice relacionado às importações como razão
das reservas internacionais. No entanto, como descrito anteriormente este resultado está
associado às circunstâncias conjunturais extremamente favoráveis nos anos pré-crise.
O cálculo da variância deste painel de onze países no caso do IVE revelou o segundo
menor valor, quando comparado ao cálculo da variância para os índices individuais analisados
anteriormente. Isso aponta para um resultado final de menor heterogeneidade no conjunto dos
países selecionados, o que pode ser justificado pela explicação da vulnerabilidade externa a
partir “de fatores estruturais (por exemplo, território e população) bem como de estratégias e
políticas de Estado.” (CARCANHOLO et al., 2008a, p. 6)
Mesmo que nas décadas de 1980 e 1990 as economias latino-americanas tenham
observado diferentes processos de ajuste externo frente às crises e choques internacionais do
34 Para os resultados do índice de vulnerabilidade externa dos 113 países ver anexo VII.
43
período, os processos de liberalização e desregulamentação estiveram presentes nas diversas
esferas das relações econômicas internacionais dos países com maior ou menor profundidade,
de modo que as reformas neoliberais foram implementadas e influenciaram o atual quadro de
vulnerabilidade na região. Dentre as características fundamentais do modelo implementado
destacam-se: abertura comercial, desregulamentação financeira, privatizações e flexibilização
do mercado de trabalho. Carcanholo et al. (2008a) conclui:
“ainda que o modelo liberal tenha embasado, de uma maneira geral, as estratégias de desenvolvimento dos países na América Latina a partir dos anos 1980, as formas de implementação, a seqüência das reformas, e o caráter das políticas de estabilização, possuem especificidades de país para país.” (p.10)
Estas especificidades justificam a heterogênea distribuição das posições das onze
economias estudadas no ranking da amostra mundial. A partir do gráfico 2.8 pode-se notar que
a Bolívia é o país com maior IVE na região, aparecendo em 16º lugar no ranking, já o Brasil
apresenta o menor valor para o IVE, estando na 106ª posição.
A economia boliviana esteve entre as três primeiras posições em quatro dos cinco
índices formadores do IVE – a exceção foi o índice que relaciona importações às reservas
internacionais. Assim, a economia depara-se com a primeira posição no conjunto de países
estudados. Esta posição da economia boliviana, como observado anteriormente, é justificada,
principalmente, pelo índice relacionado ao ingresso acumulado de IED como razão do PIB,
que de acordo com o gráfico 2.7 explica 41,8% do IVE, além de ser uma economia
extremamente dependente da exportação de hidrocarbonetos, o que explica a posição da
Bolívia no que tange os índices que cobrem a esfera comercial.
Neste painel regional, o Chile aparece com o segundo maior IVE, o que tem grande
relação com a estratégia de liberalização econômica iniciada já na década de 1970. Além
disso, a dependência da pauta exportadora chilena em relação ao cobre aponta para uma
especialização da economia na produção de commodities, ou seja, com o retorno ao modelo
primário-exportador, o país passa a depender da demanda internacional para determinar o
desempenho da economia.
44
Gráfico 2.8 Índice de Vulnerabilidade Externa
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Bolívi
aChil
e
Equado
r
Venez
uela
Argen
tina
Méd
ia m
undia
l
Parag
uai
Méd
ia dos
11 p
aíses
Urugu
aiPer
u
Colôm
bia
Méx
icoBra
sil
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial e da UNCTAD.
Apesar de o IVE médio para os países latino-americanos estar abaixo da média
mundial, isso não significa que os países da região estão fortalecidos no cenário internacional
a ponto de não sofrerem com pressões, fatores desestabilizadores e choques externos. De fato,
o cenário internacional extremamente favorável iniciado em 2003 permitiu que certos
indicadores qualitativamente positivos apontassem para uma menor vulnerabilidade externa na
região.
A melhora, no entanto, não gerou resultados em termos estruturais para os países da
região, tendo em vista que alguns países ampliaram suas exportações sem diversificar sua
pauta exportadora, exportando predominantemente commodities, que apresentaram elevação
em seus preços no período, o que teve impacto positivo nos saldos das balanças comerciais.
Além disso, o acúmulo de reservas internacionais não constitui uma estratégia ativa de
inserção no cenário internacional. O aumento das reservas sozinho não é suficiente para que os
países latino-americanos estejam blindados a crises externas, visto que a liberalização
financeira ocorreu do ponto de vista da entrada e da saída de capitais, não sendo possível
controlar uma fuga de capitais.
45
Em suma, os anos que antecederam a crise mundial de 2008 fizeram parte da fase
ascendente do ciclo econômico internacional, que foi revertido com o estouro da bolha
imobiliária nos Estados Unidos. Desta forma, os países da América Latina sofreram impactos
decorrentes da reversão da conjuntura externa, que serão analisados através de variáveis
macroeconômicas, sendo possível averiguar se os países mais vulneráveis são os que sofrem
maior impacto da crise global, como será discutido no capítulo a seguir.
46
CAPÍTULO 3 CRISE GLOBAL E AMÉRICA LATINA: IMPACTO
MACROECÔNOMICO
O foco do terceiro capítulo do presente trabalho é o estudo dos impactos imediato e de
curto prazo provocados pela crise internacional nos países latino-americanos, bem como
relacionar estes impactos com a vulnerabilidade externa de cada economia a fim de examinar
se as economias mais vulneráveis sofreram maiores impactos. Para tanto serão analisadas as
seguintes variáveis macroeconômicas: taxa de crescimento do PIB, taxa de investimento, taxa
de desemprego, taxa de inflação, resultado primário e resultado global do governo central,
balança comercial, balanço de rendas, transferências unilaterais correntes, transações
correntes, conta capital e financeira, e investimento externo direto.
3.1 Renda, investimento e emprego
A análise dos impactos macroeconômicos provocados pela crise foi baseada em dados
do balanço preliminar divulgado pela CEPAL no final de 2009 e do World Economic Outlook
divulgado pelo Fundo Monetário Internacional em 201035. A primeira variável
macroeconômica estudada é a renda dos onze países selecionados. Para tanto, utilizou-se a
taxa de crescimento do produto interno bruto, através da qual pode ser observado o impacto no
ritmo de crescimento econômico.
Tendo em vista que a crise global foi evidenciada em meados de 2008, seu impacto
imediato nas onze economias destacadas será analisado através da comparação entre a média
das taxas de crescimento do PIB de 2006 e 2007 e a taxa correspondente a 2008, com o
objetivo de atenuar o efeito de um ano específico do final do ciclo de expansão. Já neste
primeiro momento pode se notar em cinco dentre as onze economias – México, Colômbia,
Argentina, Venezuela e Chile – que ocorreu uma queda no ritmo de crescimento, de modo que
se observa uma variação negativa na taxa de crescimento média de 2006 e 2007 para 2008.
No entanto, é preciso ressaltar que nenhum dos países selecionados se deparou com
uma taxa de crescimento negativa já em 2008. Ou seja, a crise internacional não provocou
imediatamente uma queda do produto interno bruto, mas sim provocou quedas nas taxas de
crescimento deste produto, como demonstrado pelo gráfico 3.1 abaixo.
35 Para os dados referentes às variáveis macroeconômicas da América Latina ver anexo VIII.
47
Gráfico 3.1 Taxas de crescimento do PIB (em %) : 2006-2009
- 8,0
- 6,0
- 4,0
- 2,0
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0A
rgen
tina
Bol
ívia
Br a
sil
Chi
le
Col
ômbi
a
Equ
ador
Méx
ico
Par
agua
i
Per
u
Uru
guai
Ven
ezue
la
2006 2007 2008 2009 Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL.
A fim de relacionar os impactos da crise internacional com a vulnerabilidade externa
dos onze países selecionados, tal como proposto no presente trabalho, foram construídos
gráficos de dispersão com os valores de cada país para o índice de vulnerabilidade externa no
eixo X e as variações relativas e absolutas36 na taxa de crescimento no eixo Y. Além disso, nos
gráficos de dispersão o eixo Y cruza o eixo X no valor da mediana do IVE, representado pelo
IVE paraguaio. Desta forma, é possível avaliar se existe uma relação de dependência entre
essas variáveis tal como proposto na hipótese do presente trabalho, ou seja, se os países mais
vulneráveis foram os que sofreram maiores impactos com a crise internacional.
Diferentemente do que seria esperado pela hipótese deste trabalho, ao traçar uma linha
de tendência no gráfico de dispersão, nota-se que os países com maiores índices de
vulnerabilidade externa, como Bolívia e Equador, não sofreram um impacto imediato com a
crise, como observado nos gráficos abaixo. A elevação da taxa de crescimento do PIB
equatoriano em 3,3 pontos percentuais da média de 2006 e 2007 para 2008 influenciou este
resultado, visto que este é o país com terceiro maior IVE, quando analisados os anos pré-crise
no capítulo anterior.
36 A variação relativa representa uma variação proporcional entre o valor atual e o valor de referência anterior. Enquanto a variação absoluta subtrai do valor atual o valor da média dos anos anteriores.
48
Gráfico 3.2 Relação entre o impacto imediato na taxa de crescimento do PIB e o IVE
(Variação na taxa de crescimento no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e da CEPAL.
Além disso, México e Colômbia, países que apresentaram o segundo e terceiro menor
IVE, respectivamente, registraram as maiores variações negativas nas taxas de crescimento
neste primeiro momento de análise, ou seja, as maiores taxas de desaceleração do crescimento
do PIB, respectivamente, 68,2% e 66,4%, que corresponderam a reduções absolutas de 2,9 e
4,8 pontos percentuais. Este fato também levou a um resultado diferente do esperado pela
hipótese. Caso esses três países – Equador, Colômbia e México – fossem excluídos da análise
gráfica, as linhas de tendência observadas nos gráficos de dispersão referente às variações
relativas e absolutas seriam positivamente inclinadas, de modo que quanto maior o IVE maior
seria o impacto macroeconômico observado, mesmo que imediato.
Traçando uma linha na seqüência de cinco países em ordem crescente de IVE – Peru,
Uruguai, Paraguai, Argentina e Venezuela – na parte mais central do gráfico, pode se observar
que há uma relação negativa entre o IVE e o impacto macroeconômico, de modo que quanto
menor o IVE menor o efeito negativo da crise sobre as economias. Isto estaria de acordo com
a hipótese levantada neste trabalho, como pode ser visto no gráfico 3.2 acima, o que pode ser
uma indicação de que em casos extremos de IVE a hipótese possa ser contestada.
Ao comparar a média das taxas de crescimento do PIB de 2007 e 2008 com a taxa de
2009, busca-se realizar uma análise dos impactos da crise global no curto prazo. Olhando para
a evolução das taxas de crescimento do PIB, nota-se que as onze economias selecionadas se
Venezuela
Uruguai
Peru
Colômbia
México
Brasil
Equador
Paraguai
Bolívia
Argentina Chile
y = 0,0184x - 0,6473
-80%
-60%
-40%
-20%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
0 10 20 30 40 50IVE
Chile
Argentina
VenezuelaColômbia
México
Paraguai
Bolívia
Equador
Uruguai
PeruBrasil
y = 0,0642x - 2,7212
-6,0
-5,0
-4,0
-3,0
-2,0
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
0 10 20 30 40 50IVE
49
depararam com uma desaceleração do crescimento em 2009, assim como evidenciado pelo
gráfico 3.1 acima. Ou seja, nenhum país deste painel regional escapou dos impactos da crise.
E dentre os países selecionados, cinco tiveram retração em seus produtos em 2009, foram eles:
Chile, Equador, México, Paraguai e Venezuela. O México foi o país com pior resultado para a
taxa de crescimento do PIB em 2009, -6,7%, sendo o país que sofreu mais intensamente em
termos de nível de atividade. Este fato não surpreende, tendo em vista a forte relação entre a
economia mexicana e a economia norte-americana, epicentro da crise internacional.
Este forte impacto sobre a economia mexicana prejudicou em grande medida a
observação de uma relação diretamente proporcional entre a vulnerabilidade externa dos
países da região e os respectivos impactos macroeconômicos negativos da crise internacional
sobre os países no curto prazo, como pode se examinar através do gráfico 3.3 abaixo.
Gráfico 3.3 Relação entre o impacto de curto prazo na taxa de crescimento do PIB e o
IVE (Variação na taxa de crescimento no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e da CEPAL.
O impacto negativo da crise internacional sobre o ritmo de crescimento econômico
provoca deterioração nas expectativas dos agentes econômicos, de modo a afetar as taxas de
investimento dos países. Através da razão entre formação bruta de capital fixo e o PIB, é
possível observar como a crise compromete o investimento. Olhando para a evolução da
formação bruta de capital fixo como proporção do PIB no gráfico 3.4 abaixo pode se observar
que a taxa de investimento não sofreu um impacto imediato – ou seja, no ano de 2008 – com a
crise internacional. Em 2008, a taxa de investimento continuou a crescer no painel regional
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
ColômbiaEquador
México
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
y = 0,0314x - 2,3174
-400%
-350%
-300%
-250%
-200%
-150%
-100%
-50%
0%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
EquadorColômbia
ChileBrasil
Bolívia
Argentina
y = 0,0867x - 9,4301
-12,0
-10,0
-8,0
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
0 10 20 30 40 50IVE
50
estudado, tal como ocorria em anos anteriores ao estouro da crise. A Venezuela foi a exceção,
pois já em 2008 apresentou uma taxa de investimento menor que a média dos dois anos
antecedentes.
Gráfico 3.4 Taxas de investimento (em %): 2006-2009
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
Argen
tina
Bolívi
a
Brasil
Chi le
Colôm
bia
Equad
or
Méx
ico
Paragu
aiPer
u
Urugua
i
Venezu
ela
2006 2007 2008 2009
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL.
De 2008 para 2009, dez dos países selecionados observaram queda em suas taxas de
investimento, sendo a única exceção o Equador, que registrou crescimento de 1,0% em sua
taxa de investimento, o que realmente representou uma elevação do investimento, uma vez
que este país apresentou queda de 0,4% do PIB em 2009. Deve ser ressaltado que o
crescimento dos investimentos no Equador foi impulsionado por investimentos públicos e de
empresas estatais.
A queda da taxa de investimento na maioria dos países deste painel regional é uma
reflexão de que o impacto da crise global sobre o investimento nas economias não acontece
imediatamente, mas pode ocorrer no curto prazo, tendo em vista que o desaquecimento da
economia provoca mudança nas expectativas sobre a demanda. Em outras palavras, é possível
afirmar que a crise gerou repercussões sobre o setor real das economias sul-americanas e sobre
o México.
51
Ao analisar a relação entre a variação na taxa de investimento a partir da média de
2006 e 2007 para 2008 e o índice de vulnerabilidade externa, no gráfico 3.5, nota-se que os
três países mais vulneráveis do painel regional – Bolívia, Chile e Equador – não sofreram
imediatamente com os efeitos negativos da crise. As taxas de investimento destas economias
apresentaram variações positivas absolutas superiores à média regional de 2,3 pontos
percentuais.
Gráfico 3.5 Relação entre o impacto imediato na taxa de investimento e o IVE
(Variação na taxa de investimento no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e da CEPAL.
Por um lado, a Venezuela foi a economia mais vulnerável que sofreu maior impacto da
crise internacional neste primeiro momento, como mencionado anteriormente, apresentando
uma variação negativa da taxa de investimento de 0,7%, equivalente a uma redução de 0,2
pontos percentuais em sua taxa de investimento. Por outro, o Brasil foi a economia com o
menor IVE que foi menos afetada pela crise, registrando uma variação relativa da taxa de
investimento de 12,3%, acima da média do painel regional (11,2%), quando se compara 2008
à média dos dois anos anteriores.
Na avaliação dos efeitos de curto prazo sobre o investimento, destaca-se o severo
impacto sobre a economia chilena, com o segundo maior IVE do painel regional, que
apresentou a maior queda da taxa de investimento em valores absolutos, 2,5 pontos
percentuais, o que expressou uma queda relativa de 8,8%. Tanto a taxa de investimento
venezuelana quanto a argentina registraram reduções absolutas de 2,1 pontos percentuais. No
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
y = 0,0009x + 0,0827
-5%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
0 10 20 30 40 50
IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
Colômbia
Chile
BrasilBolívia
Argentina
y = 0,0226x + 1,519
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
0 10 20 30 40 50IVE
52
entanto, a variação relativa foi de -7,0% na Venezuela e de -9,9% na Argentina, na
comparação entre 2009 e os dois anos antecedentes.
Como se evidencia através do gráfico 3.6, três economias exibiram crescimento em
suas taxas de investimento no curto prazo: Bolívia, Equador e Uruguai, em ordem decrescente
de IVE. É importante destacar que Bolívia e Equador estão entre os países mais vulneráveis da
amostra latino-americana e sofreram pouco com a crise internacional no que se refere ao setor
real da economia.
Gráfico 3.6 Relação entre o impacto de curto prazo na taxa de investimento e o IVE
(Variação na taxa de investimento no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e da CEPAL.
Desta forma, nota-se uma dificuldade em relacionar de forma linear os impactos sobre
os investimentos sofridos com a crise à vulnerabilidade externa. Como se pode observar, os
impactos nos países selecionados foram dispersos, de modo que a variação da taxa de
investimento no curto prazo não pode ser relacionada à fragilidade das economias sul-
americanas e do México.
O efeito negativo da crise internacional sobre o setor real nos países selecionados
também pode ser estudado através da taxa média anual de desemprego, que aponta o impacto
sobre a demanda por trabalhadores. Diferentemente das duas variáveis macroeconômicas
analisadas anteriormente, no caso da taxa de desemprego, a influência negativa da crise fica
aparente através de uma elevação na variável. Desta forma, quanto maior a variação positiva
na taxa de desemprego, maior o impacto negativo da crise internacional.
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
y = 0,0012x - 0,0737
-12%
-10%
-8%
-6%
-4%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
Colômbia
Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = 0,0156x - 1,3305
-3,0
-2,5
-2,0
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
0 10 20 30 40 50IVE
53
Nos anos anteriores à crise, a taxa de desemprego apresentava tendência de queda na
maioria dos países, o que é um sinal positivo do aquecimento econômico anterior ao estouro
da crise em meados de 2008. Através do gráfico 3.7 nota-se queda da taxa de desemprego em
seis dos onze países selecionados ainda em 2008, o que, tal como no caso da taxa de
investimento, sinaliza para o fato de a demanda por trabalhadores não sofrer um impacto
imediato da crise. A economia peruana foi a única que não sofreu alteração em sua taxa de
desemprego. Dentre os outros quatro países – Chile, Colômbia, México e Paraguai – o
impacto negativo sobre a taxa de desemprego não foi muito forte, sendo a economia chilena a
com maior variação positiva (em termos quantitativos) 9,9%, o que significou uma elevação
de 0,7 pontos percentuais na taxa de desemprego em termos absolutos.
Gráfico 3.7 Taxas de desemprego (em %): 2006-2009
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
Argen
tina
Bolívi
a
Brasil
Chi le
Colôm
bia
Equad
or
Méx
ico
Parag
uaiPeru
Urugu
ai
Venez
uela
2006 2007 2008 2009
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL.
A repercussão da crise sobre a taxa de desemprego passa a ser evidente em 2009,
quando oito das economias selecionadas se depararam com um aumento da taxa de
desemprego, que em quatro desses países – Chile, Colômbia, Equador e México – foi superior
a um ponto percentual. Desta forma, nota-se que o impacto da crise global sobre o processo de
crescimento gerou efeitos negativos no mercado de trabalho. Além disso, a redução do
54
dinamismo nas economias provoca ainda uma redução na geração de postos de trabalhos de
maior qualidade.
A economia chilena, segunda mais vulnerável, exibiu o maior impacto imediato
(confrontando o resultado de 2008 com a média dos dois anos anteriores) em sua taxa de
desemprego dentre as onze economias do painel regional selecionado neste estudo. No
entanto, outras economias bastante vulneráveis – Bolívia, Equador e Venezuela – registraram
uma taxa de desemprego inferior a média do biênio anterior, o que significa uma melhora
nesta variável macroeconômica, de modo que não sofreram um impacto imediato da crise
internacional.
Relacionando a variação relativa da taxa de desemprego ao IVE encontra-se uma linha
de tendência com inclinação negativa pouco acentuada, indicando que os países com maiores
índices de vulnerabilidade externa apresentaram uma maior redução no primeiro momento de
análise do impacto da crise, ou seja, teriam sofrido menos, como observado no gráfico 3.8a
abaixo. No entanto, a linha de tendência baseada na variação absoluta da taxa de desemprego
exibe um resultado diferente, possuindo inclinação positiva e mais acentuada que no caso
anterior, o que é um sinal de que quanto mais vulnerável um país maior seria o aumento
imediato em sua taxa de desemprego, ou menor a queda nesta taxa. Este seria um caso
favorável à comprovação da hipótese do presente trabalho (vide gráfico 3.8b).
Gráfico 3.8 Relação entre o impacto imediato na taxa de desemprego e o IVE
(Variação na taxa de desemprego no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e da CEPAL.
ArgentinaBolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
y = -0,0003x - 0,0875
-30%
-25%
-20%
-15%
-10%
-5%
0%
5%
10%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
EquadorColômbia
Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = 0,0065x - 1,1596
-3,0
-2,5
-2,0
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
0 10 20 30 40 50IVE
55
Através da análise de curto prazo (comparando o resultado de 2009 com a média dos
dois anos anteriores) é possível constatar que o impacto, em termos percentuais, sobre a
economia mexicana, a segunda menos vulnerável, ultrapassa em grande medida o impacto
médio observado no painel regional (aumento de 8,2%). O aumento da taxa de desemprego no
México foi de 40,2%, o que resultou em uma elevação de 2,0 pontos percentuais na taxa de
desemprego. O único país que apresentou uma elevação da taxa de desemprego superior em
termos absolutos – de 2,4 pontos percentuais – foi o Chile, segundo país mais vulnerável do
painel regional selecionado.
Gráfico 3.9 Relação entre o impacto de curto prazo na taxa de desemprego e o IVE
(Variação na taxa de desemprego no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e da CEPAL.
A presença de uma relação entre o impacto na taxa de desemprego e o índice de
vulnerabilidade externa, tal como esperada pela hipótese deste trabalho, torna-se evidente
através do gráfico 3.9, no qual se observa o impacto da crise no curto prazo. Ambas as linhas
de tendência geradas com base nas variações relativa e absoluta são positivamente inclinadas,
indicando que quanto maior a vulnerabilidade externa de uma economia, maior o impacto
negativo da crise. Vale lembrar que a linha de tendência projetada com base na variação
absoluta da taxa de desemprego já apresentava inclinação positiva quando analisado o impacto
imediato em 2008, porém na análise de curto prazo a linha de tendência é mais inclinada,
sugerindo que a vulnerabilidade tenha maior influência sobre o impacto na variável
macroeconômica com o transcorrer do tempo.
Argentina
BolíviaBrasil
Chile
Colômbia
Equador
México
ParaguaiPeru
Uruguai
Venezuela
y = 0,001x + 0,0498
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru Paraguai
México
EquadorColômbia
Chile
Brasil Bolívia
Argentina
y = 0,0162x + 0,0143
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 10 20 30 40 50
IVE
56
Como mencionado anteriormente, o caso mexicano é bastante particular dentre os onze
países estudados, tendo em vista sua forte dependência em relação à economia norte-
americana, assim ao excluir este país da análise as linhas de tendência baseadas nos impactos
de curto prazo sobre a taxa de desemprego se tornariam ainda mais inclinadas, de modo a
corroborar a hipótese proposta.
3.2 Inflação e finanças públicas
O primeiro efeito da crise sobre as taxas de inflação da maioria dos países estudados
foi de elevação destas taxas, o que teve forte relação com a depreciação das moedas nacionais
em relação ao dólar, principalmente com o estouro da crise no segundo semestre de 2008.
Vale ressaltar que nos primeiros oito meses de 2008, foi sustentado e intensificado o processo
de elevação no preço de alimentos e de combustíveis iniciado em meados de 2007. Mesmo
com a reversão na alta dos preços internacionais, com o início da crise, a depreciação das
moedas nacionais suavizou a queda destes preços. Assim, nove das onze economias
registraram aumento de suas taxas de inflação de 2007 para 2008 (vide gráfico 3.10), as
exceções foram as economias argentina e chilena, que apresentaram taxas de inflação 15,3% e
9,0% menores frente ao ano anterior, respectivamente.
Gráfico 3.10 Taxas de inflação (em %): 2006-2009
-5,0
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
Arg
entin
a
Bol
ívia
Bra
sil
Chi
le
Col
ômbi
a
Equa
dor
Méx
ico
Para
guai
Peru
Uru
guai
Ven
ezue
la
2006 2007 2008 2009
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL.
57
As projeções para as taxas de inflação realizadas em 2008 já esperavam uma redução
destas taxas dos países do painel em 2009. No entanto, a queda da inflação na região superou
as expectativas, uma vez que a desaceleração econômica e a redução do comércio produziram
efeitos nos preços dos alimentos e da energia, além de um maior espaço entre o PIB observado
e o potencial, contribuindo para restringir a pressão inflacionária37. A apreciação das moedas
em relação ao dólar colaborou para que a queda dos preços internacionais fosse repassada aos
preços domésticos. Desta forma, os onzes países do painel regional observaram quedas em
suas taxas de inflação de 2008 para 2009. A economia chilena chegou a registrar deflação em
2009, em virtude da contração da demanda interna e da redução de alguns preços externos.
Buscando relacionar o índice de vulnerabilidade externa com o impacto imediato
(confrontando o resultado de 2008 com a média dos dois anos anteriores) sobre as variáveis
macroeconômicas, foram encontradas relações distintas quando a variação na taxa de inflação
era relativa ou absoluta. No caso da variação relativa observa-se uma linha de tendência
negativamente inclinada, de modo que quanto maior a vulnerabilidade externa menor o
aumento observado na taxa de inflação dos países. Já quando o IVE é relacionado à variação
absoluta na taxa de inflação a linha de tendência possui inclinação positiva, ou seja, quanto
maior a vulnerabilidade externa maior o aumento observado na taxa de inflação dos países.
Quatro países sofreram variação relativa em suas taxas de inflação, superiores à média
regional de 58,4%, são eles: Equador, Peru, México e Venezuela, com variações de 183,9%,
164,0%, 64,6% e 61,5%, respectivamente. No entanto, ao realizar uma análise a partir das
variações absolutas, o México não figura entre os países mais impactados, o que contribui para
a alteração na inclinação da linha de tendência. Além disso, a Bolívia passa a figurar entre as
economias mais afetadas em termos absolutos, com uma variação de 3,5 pontos percentuais na
taxa de inflação, superando a média do painel (3,0 pontos percentuais). A presença da Bolívia
colabora para a inclinação positiva da linha de tendência do gráfico 3.11b, tendo em vista que
esta é a economia mais vulnerável da região.
Como mencionado anteriormente, esse impacto imediato de elevação das taxas de
inflação teve grande relação com a depreciação cambial observada nos momentos iniciais da
crise. Tal depreciação foi em grande medida influenciada pela redução de liquidez no cenário
internacional, que gera impactos mais rapidamente sobre as economias ao atuar através da
37 Ver CEPAL (2009b).
58
esfera monetário-financeira. Assim, países nos quais a vulnerabilidade externa decorre
principalmente desta esfera observaram elevações em suas taxas de inflação, como por
exemplo o Brasil, que registrou um aumento 55,3% em sua taxa de inflação, que correspondeu
a uma taxa 2,1 pontos percentuais maior em 2008 em termos absolutos.
Gráfico 3.11 Relação entre o impacto imediato na taxa de inflação e o IVE
(Variação na taxa de inflação no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e da CEPAL.
As linhas de tendência geradas a partir das variações relativa e absoluta na taxa de
inflação a partir da média de 2007 e 2008 para 2009 (vide gráfico 3.12) apresentam inclinação
negativa mais acentuada do que a variação relativa imediata, observada no gráfico 3.11a
acima. Como evidenciado pela linha de tendência, a queda foi mais expressiva em países mais
vulneráveis, como a Bolívia e o Chile, que registraram quedas de 93,2% e de 125,5%,
respectivamente, que, por sua vez, expressaram reduções de 11,0 e 9,4 pontos percentuais,
superando em termos absolutos a média regional para o período (-3,5 pontos percentuais). No
caso boliviano, a acentuada diminuição da inflação está vinculada à redução de preços dos
alimentos, que tem relação com a queda nos preços internacionais de produtos básicos, além
de condições climáticas que favoreceram o aumento da oferta interna de alimentos. Para a
economia chilena, tanto a queda nos preços externos como a redução na demanda colaboraram
para a queda da inflação, como mencionado anteriormente.
Dez dos onze países estudados tiveram queda em suas taxas de inflação. A exceção foi
a Venezuela, que registrou uma variação relativa positiva de 6,3% equivalente a um aumento
Argentina
BolíviaBrasil
Chile
Colômbia
Equador
México
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
y = -0,0019x + 0,6471
-50%
0%
50%
100%
150%
200%
0 10 20 30 40 50
IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
ColômbiaChileBrasil
Bolívia
Argentina
y = 0,0601x + 0,9968
-4,0
-2,0
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
0 10 20 30 40 50IVE
59
absoluto de 1,7 pontos percentuais em 2009 na comparação com a média dos dois anos
anteriores. Este fato pode ser explicado, em parte, pela redução na disponibilidade de divisas a
taxa de câmbio oficial – uma vez que a Venezuela adota um regime de câmbio fixo – o que
levou à importação de mercadorias com dólares obtidos a um preço maior no mercado
paralelo. Além disso, os agregados monetários venezuelanos registraram crescimento em
2009. A economia venezuelana se destacou por apresentar a maior taxa de inflação do painel
regional de 2006 a 2009, sendo a única a se deparar com uma taxa de inflação de dois dígitos
em 2009.
Gráfico 3.12 Relação entre o impacto de curto prazo na taxa de inflação e o IVE
(Variação na taxa de inflação no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e da CEPAL.
Países menos vulneráveis, como o Brasil e o México, observaram uma redução na taxa
de inflação inferior, em termos de módulo, do que a média das onze economias – 19,2% e
12,6%, respectivamente – quando se compara 2009 à média dos dois anos anteriores.
Analisando em termos absolutos as quedas das taxas de inflação brasileira e mexicana foram
de 1,0 e 0,7 pontos percentuais, enquanto o painel regional registrou uma queda média de 3,5
pontos percentuais. Desta forma, nota-se a presença de uma relação inversamente proporcional
entre o IVE e a variação da taxa de inflação no curto prazo.
A análise do impacto da crise internacional sobre as economias latino-americanas
também deve ser realizada a partir de variáveis macroeconômicas relacionadas às finanças
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
y = -0,0183x + 0,1127-140%
-120%
-100%
-80%
-60%
-40%
-20%
0%
20%
0 10 20 30 40 50IVE Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
Colômbia
Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = -0,2117x + 3,3969-12,0
-10,0
-8,0
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
2,0
4,0
0 10 20 30 40 50IVE
60
públicas, como o resultado primário38 e o resultado global do governo central em proporção ao
PIB, o que colabora para a comparação dos resultados entre os países. Além disso, a avaliação
das contas públicas é essencial para o estudo da capacidade de atuação dos governos através
de políticas públicas contracíclicas que visem combater os efeitos negativos provocados pela
crise, compensando em parte a redução de outros componentes da demanda e contribuindo
para a recuperação. Entretanto, estes estímulos fiscais prejudicaram a situação fiscal de grande
parte dos países não só na América Latina, como no resto do mundo.
A tendência de elevação de preços internacionais de produtos energéticos e
alimentícios, no primeiro semestre de 2008, fez com que alguns países aplicassem subsídios
ou reduções de impostos para amenizar a pressão inflacionária. Além disso, esta pressão fez
com que alguns países da região aumentassem suas taxas de juros, o que restringiu o uso da
política monetária para impulsionar o crescimento econômico. Com a eclosão da crise no
segundo semestre, os governos teriam novas responsabilidades, de modo que em 2008 são
observados impactos sobre as contas públicas, tanto no resultado primário, quanto no global.
O resultado primário de sete dentre as onze economias estudadas – Bolívia, Chile,
Colômbia, Equador, México, Uruguai e Venezuela – foi menor em 2008, quando comparado
apenas com 2007, como mostrado no gráfico 3.13a. No entanto, a piora no resultado global é
verificada em apenas cinco países, uma vez que os déficits globais da Colômbia e do Uruguai
foram reduzidos em 2008 (vide gráfico 3.13b).
A aplicação de políticas macroeconômicas contracíclicas de fato contribuiu para que a
desaceleração do crescimento em 2009 fosse inferior ao esperado, mas provocou
desequilíbrios fiscais, por um lado, porque a queda do nível de atividade gerou redução nas
receitas públicas e, por outro, porque a implementação destas políticas aumentou os gastos
públicos. Vale ressaltar que em alguns países latino-americanos a receita pública apresenta
forte dependência em relação à exportação e aos preços de commodities, que sofreram
acentuada queda com o início da crise.
Em 2009, nenhum dos onze países do painel regional escapou dos impactos sobre as
contas públicas, visto que foram registradas reduções em todos os saldos primários e globais,
quando comparado ao ano anterior. Desta forma, a média do resultado primário da região saiu
de um superávit de 2,1 pontos percentuais em 2008 para um déficit de 0,9 pontos percentuais
38 O resultado primário exclui o pagamento do serviço da dívida pública.
61
do PIB em 2009. O incremento médio no déficit global também foi observado, passando-se de
um superávit de 0,3 pontos percentuais a um déficit de 2,7 pontos percentuais do PIB.
Gráfico 3.13 Finanças públicas (em % do PIB): 2006-2009
a) Resultado primário b) Resultado global
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL.
A reversão do ciclo de expansão – em que ocorreu aumento no superávit primário e
redução do déficit global – afetou as contas públicas em grande medida, de modo que tanto o
resultado primário como o resultado global em 2009 foram piores do que nos três anos
anteriores para todos os países da região, como mostrado no gráfico 3.13 acima. Ademais, de
2006 a 2008, todos os países do painel, a exceção do Equador em 2008, registraram superávit
primário, enquanto em 2009, seis países passaram a apresentar déficits.
Ao estudar a relação entre a vulnerabilidade externa e o impacto imediato da crise
sobre as finanças públicas das economias latino-americanas é possível constatar que quanto
maior o IVE, maior o efeito negativo sobre o resultado primário. A linha de tendência
construída com a variação absoluta imediata, ou seja, de 2008 com a média dos dois anos
antecedentes, apresenta inclinação mais acentuada do que no caso da variação relativa,
sinalizando que a relação entre o IVE e o impacto em termos absolutos é ainda mais forte
(vide gráfico 3.14).
Deve ser destacado que em ambos os casos os quatro países mais vulneráveis –
Bolívia, Chile, Equador e Venezuela – foram afetados mais do que a média regional, que
registrou uma queda relativa de 16,8%, correspondente a uma redução do superávit primário
em 1,2 pontos percentuais do PIB. Dentre as quatro economias menos vulneráveis, três –
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
Arg
entin
a
Bol
ívia
Bra
sil
Chi
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Col
ômbi
a
Equ
ador
Méx
ico
Par
agua
i
Per
u
Uru
guai
Ven
ezue
la
2006 2007 2008 2009-8,0
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
Arg
entin
a
Bol
ívia
Bra
sil
Chi
le
Col
ômbi
a
Equ
ador
Méx
ico
Par
agua
i
Per
u
Uru
guai
Ven
ezue
la
2006 2007 2008 2009
62
Brasil, Colômbia e Peru – observaram aumentos em seus superávits primários ainda em 2008,
na comparação com a média de 2006 e 2007.
Gráfico 3.14 Relação entre o impacto imediato no resultado primário e o IVE
(Variação no resultado primário no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e da CEPAL.
A avaliação da relação entre o IVE e o impacto no resultado global das finanças
públicas é bastante similar ao verificado para o resultado primário, de modo que os quatro
países mais vulneráveis novamente deparam-se com reduções absolutas em seus saldos
globais superiores, em termos de módulos, à média dos onze países (vide gráfico 3.15). Nota-
se que o estudo da variação relativa é prejudicado pela presença de valores menores que uma
unidade, como o caso da economia mexicana. O México registrou uma queda de 300,0% em
seu resultado global, sendo a economia do painel mais afetada em termos relativos, o que
provoca uma redução da inclinação da linha de tendência observada no gráfico 3.15a, uma vez
que apresenta o segundo menor IVE do painel. No entanto, ao olhar para a variação absoluta a
queda no resultado global mexicano foi de 0,2 pontos percentuais do PIB.
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
y = -0,0351x + 0,9809-150%
-100%
-50%
0%
50%
100%
150%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
Colômbia
Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = -0,1546x + 3,8411-6,0
-5,0
-4,0
-3,0
-2,0
-1,0
0,0
1,0
2,0
0 10 20 30 40 50
IVE
63
Gráfico 3.15 Relação entre o impacto imediato no resultado global e o IVE
(Variação no resultado global no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e da CEPAL.
Como mencionado anteriormente, em 2009, todos os países do painel regional
registraram uma piora em seus resultados primários e globais, visto que a evolução das
receitas públicas depende da evolução do nível de atividade, que desacelerou em 2009. Além
disso, alguns países latino-americanos utilizaram como uma das medidas contracíclicas a
redução de impostos, prejudicando ainda mais a arrecadação. O aumento da despesa, com
objetivo de estimular a economia e contrabalançar os efeitos da crise internacional, contribuiu
para a piora nas finanças públicas.
Através do gráfico 3.16 abaixo torna-se evidente a queda no resultado primário dos
onze países na comparação de 2009 com os dois anos anteriores. Assim como na avaliação da
relação entre os impactos imediatos e as contas públicas, constata-se a existência de uma
relação entre o IVE e as alterações nas variáveis macroeconômicas tal como esperada pela
hipótese deste trabalho. Bolívia, Chile, Equador e Venezuela estão novamente entre os países
mais afetados do que a média regional tanto no que diz respeito à variação relativa quanto na
variação absoluta. Estes países têm em comum o fato de serem altamente especializados em
produtos básicos, que influenciam as receitas fiscais, ou seja, as contas públicas são
impactadas pela variação nos preços das commodities.
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México
Paraguai
PeruUruguai
Venezuela
y = -0,0201x + 0,2885
-400%
-300%
-200%
-100%
0%
100%
200%
300%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
UruguaiPeru
Paraguai
México
Equador
Colômbia
Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = -0,1595x + 4,4672
-5,0
-4,0
-3,0
-2,0
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
0 10 20 30 40 50
IVE
64
Gráfico 3.16 Relação entre o impacto de curto prazo no resultado primário e o IVE
(Variação no resultado primário no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e da CEPAL.
A queda nos preços médios do petróleo provocou deterioração das finanças públicas
boliviana, equatoriana e venezuelana. Realizando um estudo sobre as contas públicas da
Bolívia observa-se que, em 2009, ocorreu elevação dos gastos públicos ao mesmo tempo em
que houve diminuição das receitas, por causa da menor arrecadação alfandegária (relacionada
à redução das importações) e de impostos de renda, além da perda de receita oriunda do
imposto sobre petróleo, explicada pelo menor nível de atividade deste setor. A diminuição do
preço do petróleo influenciou direta e indiretamente as contas públicas equatorianas. Por um
lado, parte da receita pública do Equador é derivada de receitas do petróleo, por outro, a queda
dos preços afetou fortemente o desempenho da economia equatoriana, impactando
negativamente, como conseqüência, suas finanças públicas. Apesar de apresentar contenção
em seus gastos públicos, principalmente despesas de capital, a queda nas receitas públicas
venezuelanas foi ainda maior, em razão da redução das receitas do petróleo e das receitas de
imposto de renda, especialmente, derivadas do petróleo.
A economia chilena se beneficiou da construção de uma situação fiscal tranqüila nos
anos anteriores a crise, o que possibilitou a adoção de medidas contracíclicas visando à
recuperação do crescimento. No entanto, a desaceleração da atividade econômica e a redução
do preço do cobre provocaram perdas na arrecadação e geraram déficits primário e global em
2009.
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México ParaguaiPeru
Uruguai
Venezuelay = -0,0389x - 0,0768
-300%
-250%
-200%
-150%
-100%
-50%
0%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
Colômbia
Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = -0,1842x + 2,4745-12,0
-10,0
-8,0
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
0 10 20 30 40 50IVE
65
Ao examinar a relação entre o impacto de curto prazo da crise sobre o resultado global
das economias latino-americanas e seus respectivos índices de vulnerabilidade externa nota-se
que a linha de tendência construída no gráfico referente à variação relativa do resultado global
apresenta inclinação positiva, enquanto no segundo gráfico, referente à variação absoluta, tem
inclinação negativa. Ou seja, o gráfico 3.17a se depara com uma relação entre os impactos
sobre o resultado global e o IVE diferente dos casos anteriores.
Gráfico 3.17 Relação entre o impacto de curto prazo no resultado global e o IVE
(Variação no resultado global no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e da CEPAL.
Como mencionado anteriormente, a análise através da variação relativa pode ser
prejudicada em virtude da existência de valores com módulo inferior a uma unidade
percentual do PIB, que distorcem o cálculo da variação relativa e conseqüentemente sua
relação com o IVE. Ao observar os resultados para a economia mexicana, que registrou um
déficit global médio de 0,1% do PIB em 2007 e 2008 e de 2,1% do PIB em 2009, fica evidente
a distorção na relação, visto que em termos absolutos há um incremento no déficit de 2,0
pontos percentuais do PIB, enquanto em termos relativos esta variação é de 4000,0%, devido
ao valor de comparação básico (0,1%). Desta forma, a exclusão do México permitiria a
observação de uma linha de tendência negativamente inclinada no gráfico 3.17a, assim como
se verifica no gráfico 3.17b.
Olhando para a variação absoluta do resultado global, pode se constatar mais uma vez
que os quatro países mais vulneráveis foram os que sofreram impactos acima da média do
Argentina Bolívia
Brasil ChileColômbia
Equador
México
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
y = 0,2496x - 14,937-4500%
-4000%
-3500%
-3000%
-2500%
-2000%
-1500%
-1000%
-500%
0%
0 10 20 30 40 50
IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
ParaguaiMéxico
Equador
Colômbia
Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = -0,1926x + 2,8418
-12,0
-10,0
-8,0
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
0 10 20 30 40 50IVE
66
painel regional, colaborando para a comprovação da hipótese deste trabalho no que diz
respeito às variáveis macroeconômicas relacionadas às finanças públicas.
3.3 Contas Externas
A desaceleração do crescimento do nível de atividade mundial, principalmente em
países desenvolvidos, como conseqüência da crise financeira, provocou retração no comércio
mundial, repercutindo sobre as economias latino-americanas, que observaram queda na
demanda por suas exportações. Desta forma, devem ser destacados entre os canais de
transmissão da crise internacional para a região a queda: no comércio mundial, no turismo, nas
remessas de trabalhadores e nos investimentos externos. É importante sublinhar que esta
transmissão gera efeitos multiplicadores nas economias, de modo que as repercussões da crise
superam os impactos iniciais.
Até meados de 2008, antes da eclosão da crise internacional, observava-se o
crescimento das exportações latino-americanas, em grande medida explicado pelo aumento
dos preços de commodities. A elevação dos preços também contribuiu para o crescimento das
importações na América Latina. No entanto este fator não atuou sozinho, uma vez que o
aumento do volume importado é explicado pelo aquecimento interno das economias, assim
como pela apreciação cambial – observada no primeiro semestre de 2008 – em diversas
economias da região.
Com o estouro da crise internacional, houve retração no comércio mundial,
especialmente no último trimestre do ano, tendo em vista o abalo às exportações provocado
pela queda no preço das commodities, fato que também impactou as importações, além da
redução no nível de atividade. Apesar disso, a excepcional tendência de elevação nos preços
das commodities teve forte influência sobre os saldos comerciais dos países latino-americanos
em 2008.
Ao examinar a evolução da balança comercial39 como proporção do PIB, nota-se que
em seis das onze economias do painel regional o saldo comercial foi positivo em 2008. Vale
ressaltar que em oito delas observa-se uma tendência de queda no superávit comercial ou de
aumento no déficit de 2007 para 2008, como pode ser observado no gráfico 3.18.
39 Balança comercial inclui transações de bens e serviços.
67
Gráfico 3.18 Balança comercial (em % do PIB): 2006-2009
-10,0
-5,0
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0A
rgen
tina
Bo
lívia
Bra
sil
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Co
lôm
bia
Equ
ado
r
Mé
xico
Pa
rag
uai
Per
u
Uru
gua
i
Ven
ezue
la
2006 2007 2008 2009 Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL e do FMI.
O contexto internacional de crise gerou queda na demanda internacional, bem como na
demanda interna, provocando retração tanto nas exportações quanto nas importações latino-
americanas em 2009. Ao avaliar a variação na balança comercial como proporção do PIB
entre 2008 e 2009, é possível observar que apenas quatro países do painel regional – Bolívia,
Colômbia, Equador e Venezuela – apresentaram reduções em seus saldos, estes são justamente
países exportadores de petróleo, que registraram significativa deterioração em seus termos de
troca em 2009.
Quando se analisa a relação entre o impacto imediato provocado pela crise
internacional na balança comercial e o índice de vulnerabilidade externa encontram-se linhas
de tendência com inclinações diferenciadas para as variações relativas e absolutas. A linha de
tendência gerada pelas variações relativas nos saldos comerciais dos países do painel indica a
presença de uma relação direta entre estas variações e o IVE, de modo que quanto maior o
IVE, maior o impacto positivo no saldo comercial. Este resultado foi, em grande medida,
influenciado pela variação relativa verificada na economia uruguaia (queda de 13.210,8% no
saldo comercial), devido à base de comparação fundamentada na média entre 2006 e 2007,
que registrou módulo inferior a uma unidade percentual do PIB uruguaio.
A variação absoluta imediata observada nas balanças comerciais latino-americanas
sugere uma relação com o IVE diferente da variação relativa (vide gráfico 3.19). Neste caso, a
linha de tendência encontrada apresenta inclinação negativa, ou seja, quanto maior o IVE,
68
maior o impacto negativo sobre a balança comercial na comparação de 2008 com a média de
2006 e 2007. Estudando a variação absoluta verifica-se que a economia que sofreu maior
redução em seus saldos comerciais foi a chilena, segunda mais vulnerável do painel regional,
que registrou queda em suas exportações, tanto por reduções no volume das exportações de
minérios, quanto pela queda de preços das commodities nos mercados internacionais com o
estouro da crise financeira em setembro de 2008, que diminuiu ainda mais o volume
exportado.
Gráfico 3.19 Relação entre o impacto imediato na balança comercial e o IVE
(Variação na balança comercial no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD, da CEPAL e do FMI.
O estudo da relação entre o impacto de curto prazo na balança comercial das onze
economias selecionadas e seus respectivos índices de vulnerabilidade externa demonstra a
existência de uma relação tal como a proposta na hipótese deste trabalho, de modo que os
países mais vulneráveis foram os que mais sofreram com a crise internacional. Ambas as
linhas de tendência encontradas com base nas variações relativas e absolutas são
negativamente inclinadas, constatando que quanto maior o IVE, maior a queda no saldo
comercial. Examinando o gráfico 3.20b torna-se evidente que os quatro países mais
vulneráveis – Bolívia, Chile, Equador e Venezuela – são exatamente os mesmos que
apresentam maiores reduções em termos absolutos em seus saldos comerciais, registrando
efeitos negativos além da média do painel regional (queda de 1,6 pontos percentuais do PIB).
Argenti na
Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
y = 0,4138x - 26,11
-14000%
-12000%
-10000%
-8000%
-6000%
-4000%
-2000%
0%
2000%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México Equador
Colômbia
Chile
Brasil
BolíviaArgentina
y = -0,0302x - 1,3084-12,0
-10,0
-8,0
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
2,0
0 10 20 30 40 50IVE
69
Gráfico 3.20 Relação entre o impacto de curto prazo na balança comercial e o IVE
(Variação na balança comercial no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD, da CEPAL e do FMI.
A evolução do balanço de rendas como proporção do PIB permite observar que de
2007 para 2008 houve piora no saldo de seis das onze economias do painel regional, o que
significou aumento do déficit do balanço de rendas para Argentina, Brasil, Colômbia, Paraguai
e Uruguai, e redução do superávit venezuelano. Os países que sofreram maiores aumentos em
seus déficits (ou redução de seu superávit) foram: Brasil, Colômbia e Venezuela, devido às
remessas de lucros e dividendos para seus países de origem, gerando aumentos dos
pagamentos de renda ao exterior, especialmente com o início da crise internacional.
Gráfico 3.21 Balanço de rendas (em % do PIB): 2006-2009
-14,0
-12,0
-10,0
-8,0
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
2,0
Argen
tina
Bolívia
Brasil
Chile
Colôm
bia
Equad
or
Méx
ico
Paragu
aiPer
u
Urugu
ai
Venezu
ela
2006 2007 2008 2009 Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL e do FMI.
Argentina
Bolívia
Brasil
Chil e
Colômbia
Equador
México
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
y = -0,2143x + 5,0317-2500%
-2000%
-1500%
-1000%
-500%
0%
500%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
Colômbia
Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = -0,1568x + 3,551
-7,0
-6,0
-5,0
-4,0
-3,0
-2,0
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
0 10 20 30 40 50
IVE
70
Em 2009, a piora no balanço de rendas, na comparação com o ano anterior, foi
verificada em quatro das onze economias selecionadas – Argentina, México, Uruguai e
Venezuela (vide gráfico 3.21). No entanto, a média do painel regional registrou uma queda do
déficit do balanço de rendas como razão do PIB de 3,1% em 2008 para 2,9% em 2009, ou seja,
a média regional observou redução dos pagamentos de renda ao exterior, o que pode ser
explicado em parte pela redução no envio de remessas de lucros ao exterior.
Ao relacionar as variações imediatas – de 2008 contra a média dos dois anos anteriores
– nos balanços de rendas com o IVE, nota-se que quanto maior o IVE, menor o impacto
sofrido, isto é, menor o aumento do déficit de rendas. A média da variação relativa sobre os
onze países foi de 4,9%, ou seja, um aumento no saldo de rendas (queda do déficit), de modo
que apenas quatro países apresentaram resultados inferiores à média regional – Brasil,
Colômbia, Paraguai e Venezuela. Através do gráfico 3.22b, destaca-se que países mais
vulneráveis como Chile e Equador registraram as maiores quedas absolutas nos déficits de
rendas, enquanto países menos vulneráveis como Brasil e Colômbia figuram entre os que
registraram elevações em seus déficits de renda como proporção do PIB, explicados pelo
crescimento de remessas de lucros efetuadas por empresas transnacionais.
Gráfico 3.22 Relação entre o impacto imediato no balanço de rendas e o IVE
(Variação no balanço de rendas no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD, da CEPAL e do FMI.
A comparação do saldo do balanço de rendas de 2009 com a média entre 2007 e 2008
permite analisar o impacto de curto prazo da crise internacional e sua relação com o índice de
vulnerabilidade externa. As relações encontradas no caso de variações relativas ou absolutas
Argentina Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México
Paraguai
PeruUruguai
Venezuela
y = 0,0081x - 0,2159
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
0 10 20 30 40 50
IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
Colômbia
Chile
Brasil
BolíviaArgentina
y = 0,0587x - 1,3399
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
0 10 20 30 40 50IVE
71
foram diferentes, como pode se observar no gráfico 3.23. Quando se relaciona o IVE à
variação relativa chega-se a uma linha de tendência com inclinação negativa, de modo que
quanto maior o IVE, maior o aumento do déficit no balanço de rendas, o que seria esperado
pela hipótese deste estudo. No entanto, observando a variação absoluta, a linha de tendência
encontrada apresenta inclinação positiva, ou seja, quanto maior o IVE, maior o aumento no
saldo do balanço de rendas, isto é, maior a redução do déficit.
Gráfico 3.23 Relação entre o impacto de curto no balanço de rendas e o IVE
(Variação no balanço de rendas no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD, da CEPAL e do FMI.
No caso da variação relativa é possível examinar a forte influência do impacto sobre o
balanço de rendas venezuelano (queda de 193,4%) na média da variação regional, que é
negativa (queda de 9,3%). Já no caso da variação absoluta, verifica-se que a média dos onze
países é positiva (0,4 pontos percentuais), sinalizando para uma redução média no déficit no
balanço de rendas, bem como se observa em sete das onze economias.
Na conta de transferências unilaterais correntes são registradas as remessas de
trabalhadores, que emigraram, para familiares. Com os efeitos negativos da crise sobre países
desenvolvidos, como Estados Unidos e Espanha, destinos de grande parte dos latino-
americanos emigrantes, são observadas reduções nas remessas de trabalhadores. Através do
gráfico 3.24 abaixo, nota-se que a conta de transferências unilaterais correntes é mais
importante para alguns países latino-americanos do que para outros, quando examinada em
proporção ao PIB. Este é o caso justamente de economias mais vulneráveis, como Bolívia e
Equador.
Argentina
BolíviaBrasil ChileColômbiaEquador
México Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuela
y = -0,0064x + 0,1179
-250%
-200%
-150%
-100%
-50%
0%
50%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
ParaguaiMéxico
Equador
Colômbia
Chile
Brasil Bolívia
Argentina
y = 0,0207x - 0,2325-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 10 20 30 40 50
IVE
72
Gráfico 3.24 Transferências unilaterais correntes (em % do PIB): 2006-2009
-2,0
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
Argen
tina
Bolívia
Brasil
Chi le
Colôm
bia
Equad
or
Méx
ico
Parag
uai
Peru
Urugua
i
Venezu
ela
2006 2007 2008 2009
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL e do FMI.
Entre 2007 e 2008, a queda no saldo de transferências unilaterais como proporção do
PIB foi generalizada em todos os países do painel regional, uma vez que os sinais de retração
no nível de atividade começaram a aparecer nos países mais desenvolvidos. O processo de
recuperação iniciado a partir de meados de 2009 colaborou para que a redução de 2008 para
2009 nesta conta fosse atenuada. México, Paraguai e Venezuela registraram aumento neste
saldo já em 2009. No entanto, deve-se destacar que quando avaliados em termos de milhões de
dólares – ou seja, não como proporção do PIB – dez dos onze países do painel regional
observaram quedas em suas transferências unilaterais correntes de 2008 para 2009.
Verifica-se a presença de uma relação entre o impacto imediato da crise e a
vulnerabilidade externa nos países latino-americanos tal como esperada pela hipótese. As
linhas de tendência com inclinações negativas indicam que quanto maior o IVE, maior foi a
redução no saldo de transferências unilaterais correntes (vide gráfico 3.25). Os países que
observaram efeitos negativos em termos relativos além da média – que registrou queda de
29,7% – foram: Venezuela, Argentina e Paraguai, que apresentam índices de vulnerabilidade
superiores à maioria dos países. A variação absoluta média foi de uma redução de 0,5 pontos
percentuais. Países mais vulneráveis como Bolívia e Equador estão entre os que sofreram
maiores efeitos negativos de 0,6 e 1,8 pontos percentuais, respectivamente.
73
Gráfico 3.25 Relação entre o impacto imediato nas transferências unilaterais correntes e
o IVE (Variação nas transferências unilaterais correntes no eixo vertical e IVE no eixo
horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD, da CEPAL e do FMI.
Na avaliação do impacto de curto prazo da crise internacional sobre os países latino-
americanos, constata-se novamente que quanto maior o IVE, maiores os efeitos negativos da
crise sobre a variação nas transferências unilaterais correntes. Esta relação é ainda mais
acentuada no caso da variação absoluta, quando Bolívia e Equador registram as maiores
reduções no saldo desta conta (vide gráfico 3.26), que como mencionado anteriormente são
países nos quais as transferências unilaterais apresentam maior proporção em relação ao PIB.
Gráfico 3.26 Relação entre o impacto de curto prazo nas transferências unilaterais
correntes e o IVE (Variação nas transferências unilaterais correntes no eixo vertical e
IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD, da CEPAL e do FMI.
Argentina
Bolívia
Brasil
ChileColômbia
Equador
México
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuelay = -0,0054x - 0,1207
-90%
-80%
-70%
-60%
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
0 10 20 30 40 50IVE VenezuelaUruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
Colômbia Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = -0,0238x + 0,2963-2,0
-1,8
-1,6
-1,4
-1,2
-1,0
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0,0
0 10 20 30 40 50IVE
Argentina
BolíviaBrasil
Chile
Colômbia
Equador
México
ParaguaiPeru
Uruguai
Venezuela
y = -0,0009x - 0,1183-80%
-60%
-40%
-20%
0%
20%
40%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
UruguaiPeru Paraguai
México
Equador
Colômbia
ChileBrasil
Bolívia
Argentina
y = -0,0412x + 0,916-2,5
-2,0
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
0 10 20 30 40 50IVE
74
Como resultado dos saldos na balança comercial, no balanço de rendas e das
transferências unilaterais correntes chega-se à conta corrente do balanço de pagamentos. De
2007 para 2008, nove das onze economias latino-americanas registraram redução em seus
saldos de transações correntes como razão do PIB, fazendo com que países superavitários se
tornassem deficitários em 2008, como foi o caso de: Brasil, Chile, Paraguai e Peru (vide
gráfico 3.27). A deterioração no saldo das transações correntes em 2008 é explicada, em
grande medida, pela queda no saldo da balança comercial, por causa do forte aumento nas
importações, e pelo aumento nos déficits no balanço de rendas.
Apenas dois países observaram aumentos em seus saldos de transações correntes em
2008, Bolívia e Venezuela, justamente economias exportadoras de petróleo. Como ressaltado
no balanço preliminar da CEPAL de 2008: “Superávits foram alcançados nos países que são
fortemente especializados na exportação de cereais, hidrocarbonetos e certos minerais, em
outras palavras, nos produtos que se beneficiaram do acentuado aumento nos preços
internacionais das commodities.” (2008, p. 66, tradução nossa)
Gráfico 3.27 Transações correntes (em % do PIB): 2006-2009
-10,0
-5,0
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
Arg
ent
ina
Bo
lívia
Bra
sil
Chi
le
Co
lôm
bia
Equ
ado
r
Méx
ico
Pa
rag
uai
Pe
ru
Uru
gua
i
Ve
nezu
ela
2006 2007 2008 2009
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do FMI.
Diferentemente da variação anual anterior, em 2009, a conta corrente como proporção
do PIB registrou uma queda inferior, tendo em vista que a maioria dos países latino-
americanos se deparou com aumentos em seus saldos. Esta melhora relativa no saldo de
transações correntes está relacionada à redução nas importações superior a queda nas
75
exportações, explicada pela contração na demanda interna das economias latino-americanas.
As exceções foram Bolívia, Equador e Venezuela, uma vez que estes países sofreram
significativa deterioração em seus termos de troca.
Através da análise do impacto imediato sobre o saldo de transações correntes constata-
se que na comparação de 2008 com a média dos dois anos anteriores quase todos os países do
painel regional registraram quedas em seus saldos. Assim como no estudo da variação de um
ano para outro, Bolívia e Venezuela foram os únicos países a observarem aumentos em seus
saldos nesta conta. Desta forma, a relação entre as variações imediatas nas transações
correntes e o IVE pode ser verificada por meio da construção de linhas de tendência
positivamente inclinadas, indicando que quanto maior o IVE menor o impacto negativo sobre
o saldo, tal como evidenciado no gráfico 3.28. Além disso, destaca-se que em termos relativos,
o país que sofreu maior impacto negativo foi o Brasil, que apresenta o menor IVE da amostra
regional. A economia brasileira observou forte reversão em seu saldo de transações correntes
que passou de um superávit médio de 0,7% do PIB a um déficit de 1,7% do PIB em 2008,
dado o crescimento extraordinário das importações.
Gráfico 3.28 Relação entre o impacto imediato nas transações correntes e o IVE
(Variação nas transações correntes no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e do FMI.
Como observado anteriormente, os países mais vulneráveis sofreram maiores impactos
da crise internacional na análise de curto prazo – ou seja, na comparação de 2009 com a média
de 2007 e 2008 – nas contas da balança comercial e das transferências unilaterais correntes.
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia Equador
México
ParaguaiPeru
Uruguai
Venezuela
y = 0,0773x - 3,8713-400%
-350%
-300%
-250%
-200%
-150%
-100%
-50%
0%
50%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
Colômbia
Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = 0,014x - 2,7638-7,0
-6,0
-5,0
-4,0
-3,0
-2,0
-1,0
0,0
1,0
0 10 20 30 40 50IVE
76
Este mesmo resultado é verificado quando o IVE é relacionado à variação de curto prazo no
saldo das transações correntes, uma vez que as linhas de tendência apresentam inclinação
negativa (vide gráfico 3.29).
Gráfico 3.29 Relação entre o impacto de curto prazo nas transações correntes e o IVE
(Variação nas transações correntes no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD e do FMI.
Três dentre os quatro países mais vulneráveis figuram entre os países mais afetados
pela crise no curto prazo tanto em termos relativos quanto absolutos, apresentando variações
negativas que superam o impacto médio do quadro regional (queda de 15,0% e redução de 1,2
pontos percentuais do PIB), são eles: Bolívia, Equador e Venezuela, que são exportadores de
petróleo. A exceção foi a economia chilena, segunda mais vulnerável, o que pode ser
explicado pela contração na demanda interna que gerou forte redução no volume de
importações, em especial de bens duráveis e de capital, bem como pelo declínio no preço de
combustíveis. Vale ressaltar que mesmo que a queda de preços influencie o valor exportado, o
volume exportado pelo Chile não foi tão impactado em 2009. Desta forma, a conta corrente
chilena registrou uma variação positiva de 1,1 pontos percentuais do PIB da média de 2007 e
2008 para 2009, exibindo superávit de 2,6% do PIB.
Além do estudo da conta corrente deve ser avaliado o impacto da crise internacional
sobre a conta capital e financeira. Já em meados de 2007 foram observadas elevações em
diversas classificações de riscos de países emergentes, por causa da crise das hipotecas
subprime nos Estados Unidos. O cenário internacional no primeiro semestre de 2008 manteve-
se favorável. Como apontado pelo balanço preliminar da CEPAL: “Isso se refletiu nos
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México
Paraguai
PeruUruguai
Venezuela
y = -0,0203x + 0,5148
-250%
-200%
-150%
-100%
-50%
0%
50%
100%
150%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
ColômbiaChile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = -0,1906x + 5,0721-10,0
-8,0
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
2,0
4,0
6,0
0 10 20 30 40 50IVE
77
indicadores de termos de comércio, no acesso aos recursos externos e nos fluxos financeiros
para a região.” (2008, p. 68, tradução nossa)
Com o estouro da crise internacional do segundo semestre de 2008, acentuou-se a
tendência de elevação nos riscos levando a aumentos nos custos dos recursos financeiros,
assim como a reduções na entrada de capitais na América Latina, devido à incerteza
dominante nos mercados financeiros internacionais. Desta forma, saídas líquidas de capitais
foram impulsionadas, contribuindo para a queda nas bolsas de valores latino-americanas, em
especial no caso das maiores economias da região, isto é, Argentina, Brasil e México. A
contração de liquidez no sistema financeiro internacional afetou as taxas de câmbio dos países
da região, ou seja, diversas economias depararam-se com depreciações em suas taxas de
câmbio. Apesar disso, a manutenção do dinamismo na entrada de capitais no primeiro
semestre de 2008 superou o abalo financeiro em grande parte dos países do painel regional.
Examinando a evolução da conta capital e financeira como proporção do PIB, nota-se
que em 2008 cinco das onze economias do painel regional – Argentina, Bolívia, Brasil,
Colômbia e Peru – apresentaram reduções em seus superávits nesta conta, na comparação com
o ano imediatamente anterior (vide gráfico 3.30). Ainda assim, a média das variações de 2007
para 2008 apontou para um aumento no saldo da conta capital e financeira.
Gráfico 3.30 Conta capital e financeira (em % do PIB): 2006-2009
-15,0
-10,0
-5,0
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
Arg
ent
ina
Bo
lívia
Bra
sil
Chi
le
Co
lôm
bia
Equ
ado
r
Méx
ico
Pa
rag
uai
Pe
ru
Uru
gua
i
Ve
nezu
ela
2006 2007 2008 2009
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL e do FMI.
Em 2009, em especial no primeiro semestre, persistiram os elevados prêmios de risco,
as saídas de capitais e a restrição de liquidez no cenário externo, como conseqüências do forte
78
impacto da crise internacional, provocando reduções nas reservas internacionais e elevações
nas taxas de câmbio latino-americanas. A adoção de programas de ajuda ao sistema financeiro
em países desenvolvidos, bem como de políticas contracíclicas em países da América Latina,
favoreceram mudanças nas expectativas, colaborando para que os mercados financeiros
fossem normalizados, ao longo do ano, e os prêmios de risco da região fossem reduzidos.
Ainda que seis dos onze países registrem quedas em seus superávits da conta capital e
financeira em 2009, frente a 2008, apenas quatro economias apresentaram déficit nesta conta –
Argentina, Bolívia, México e Venezuela – sendo que a economia venezuelana já se deparava
com saldos deficitários em anos anteriores.
Ao analisar a relação entre o IVE e o impacto imediato da crise internacional sobre a
conta capital e financeira é possível notar, através de linhas de tendência com inclinações
positivas, que para índices de vulnerabilidade externa superiores foram registradas maiores
elevações no saldo desta conta como proporção do PIB – isto é, aumentos nas contas
superavitárias ou reduções nas contas deficitárias. Argentina e Brasil foram os dois países que
observaram piora na conta capital e financeira na comparação de 2008 com a média dos dois
anos anteriores, como pode ser examinado no gráfico 3.31 abaixo.
Gráfico 3.31 Relação entre o impacto imediato na conta capital e financeira e o IVE
(Variação na conta capital e financeira no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD, da CEPAL e do FMI.
Tanto para a economia argentina quanto para a brasileira o principal componente na
construção de seus índices de vulnerabilidade externa, como exposto no capítulo anterior, foi o
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia
EquadorMéxico
ParaguaiPeru
Uruguai Venezuela
y = 0,0195x - 0,3716
-300%
-200%
-100%
0%
100%
200%
300%
0 10 20 30 40 50IVE
VenezuelaUruguaiPeru
ParaguaiMéxicoEquador
Colômbia
Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = 0,142x - 3,3839
-8,0
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
0 10 20 30 40 50IVE
79
índice referente à dívida externa total como razão das exportações, o que evidencia a
exposição das economias argentina e brasileira na esfera monetário-financeira. A redução no
superávit da conta capital e financeira brasileira é explicada em grande parte pelo menor fluxo
de investimentos diretos externos, assim como pela redução da entrada de investimentos de
portfólio. No caso da economia argentina, as saídas de capitais provocaram impactos no
mercado cambial.
A relação entre o IVE e o impacto de curto prazo sobre a conta capital e financeira em
proporção ao PIB também aponta para a presença de uma relação diferente da esperada pela
hipótese deste trabalho, uma vez que a construção de linhas de tendência com inclinação
ascendente indica que para maiores índices de vulnerabilidade externa são observados maiores
aumentos (ou menores reduções) no saldo desta conta. Em sete das onze economias do painel
regional nota-se que, ao comparar os resultados de 2009 com a média dos dois anos
imediatamente anteriores, ocorreu queda no saldo da conta capital e financeira (vide gráfico
3.32), de modo que estas economias registraram reduções em seus superávits, que em alguns
casos se tornaram déficits. Os quatro países a registrarem melhoras em seus saldos foram
justamente Chile, Equador, Paraguai e Venezuela, que apresentam índices de vulnerabilidade
externa igual ou superior à mediana do painel regional (representada pelo IVE paraguaio).
Gráfico 3.32 Relação entre o impacto de curto prazo na conta capital e financeira e o
IVE (Variação na conta capital e financeira no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD, da CEPAL e do FMI.
Um importante componente da conta capital e financeira é o investimento externo
direto (IED), que pode ser analisado em termos líquidos, o que corresponde ao IED em uma
Argentina
Bolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México
Paraguai
Peru Uruguai
Venezuela
y = 0,1038x - 2,8647
-400%
-200%
0%
200%
400%
600%
800%
1000%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
Colômbia
Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
y = 0,0686x - 2,6773
-5,0
-4,0
-3,0
-2,0
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
0 10 20 30 40 50IVE
80
determinada economia depois que são deduzidos os investimentos realizados por residentes
deste país no exterior, inclusive reinvestimentos de lucros. O crescimento da entrada de IED
nos países latino-americanos em 2008, mesmo que menor do que em anos anteriores, está
relacionado em grande medida a elevação do preço das commodities, em especial, petróleo e
minérios. É importante destacar que as decisões de investimentos são tomadas em momentos
anteriores as suas realizações, de modo que os efeitos da crise internacional sobre esta variável
macroeconômica devem ser observados em um prazo maior.
O fluxo de IED para o exterior também cresceu em 2008, impulsionado por decisões
anteriores à eclosão da crise internacional em setembro, bem como por decisões de
investimentos em projetos com longo prazo de maturação, antecipando a recuperação da
economia global. Ainda assim, o IED líquido em 2008 manteve-se positivo e registrou
aumento quando avaliada a variação média do painel regional frente a 2007.
Gráfico 3.33 Investimento externo direto líquido (em % do PIB): 2006-2009
-2,0
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
Arg
entin
a
Bo
lívia
Bra
sil
Chi
le
Co
lôm
bia
Equ
ado
r
Méx
ico
Pa
rag
uai
Per
u
Uru
gua
i
Ven
ezue
la
2006 2007 2008 2009
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL e do FMI.
A redução no fluxo de investimentos externos diretos já era esperada para 2009, devido
a alguns efeitos provocados pela crise internacional, tais quais: a desaceleração do crescimento
em diversos países latino-americanos; o aumento da incerteza; a contração de recursos
financeiros e aumento dos custos do crédito; a redução e a lenta recuperação dos preços de
commodities; e a recessão norte-americana. (CEPAL, 2010) Através do gráfico 3.33 acima
pode se notar a retração do IED em oito das onze economias do painel regional em 2009,
81
mesmo que o fluxo de entrada de IED ainda supere o fluxo de saída em praticamente todas as
economias, com exceção da Venezuela, como se examinará mais adiante.
Na comparação da variação do fluxo de IED líquido em 2008 com a média de 2006 e
2007, é possível observar que a maioria das economias latino-americanas registrou aumentos
em seus saldos como proporção do PIB, demonstrando que o impacto da crise internacional
sobre esta variável macroeconômica não parece ser imediato. Assim, a análise da relação entre
o impacto imediato da crise internacional sobre o investimento externo direto líquido e o IVE,
leva a conclusão de que a variação positiva do IED líquido em países mais vulneráveis supera
a variação examinada em países com menor IVE. Este fato está vinculado às variações
negativas do IED líquido em economias pouco vulneráveis (com IVE inferior a mediana do
painel regional) como Colômbia e Peru, assim como às elevadas variações positivas em
economias mais vulneráveis como Chile e Equador, em especial quando observadas as
variações absolutas (vide gráfico 3.34). Deve ser ressaltado que a alta no preço das
commodities nos primeiros oito meses de 2008 contribuiu para a atração de investimentos
externos para os setores relacionados a recursos naturais, dos quais depende a maior parte dos
países com IVE superior a mediana do painel regional.
Gráfico 3.34 Relação entre o impacto imediato no IED líquido e o IVE
(Variação na conta capital e financeira no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD, da CEPAL e do FMI.
Ao examinar os impactos de curto prazo da crise internacional nota-se que em 2009 os
países latino-americanos não escaparam da contração nos fluxos de investimentos. Como pode
ser observado no gráfico 3.35 abaixo, ao confrontar o resultado de 2009 com a média dos
ArgentinaBolívia
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
México
ParaguaiPeru
Uruguai
Venezuela
y = 0,0052x + 0,2951
-50%
0%
50%
100%
150%
200%
250%
300%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
Colômbia
Chile
Brasil
BolíviaArgentina
y = 0,027x - 0,5116
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
0 10 20 30 40 50IVE
82
resultados de 2007 e 2008, registrou-se retração no IED líquido em oito das onze economias
do painel regional. Além disso, nota-se, através de linhas de tendência com inclinação
negativa, que para maiores índices de vulnerabilidade externa são observadas maiores
reduções nos superávits da conta de IED líquido, como seria esperado pela hipótese deste
trabalho.
No caso da variação relativa deve ser ressaltada a influência do resultado venezuelano,
que é distorcido pelo saldo médio de 2007 e 2008 com módulo inferior a uma unidade
percentual utilizado como base de comparação. Ainda assim vale destacar que, em 2009, a
realização de nacionalizações na economia venezuelana contribuiu para a queda no fluxo de
IED em direção ao país. Como mencionado anteriormente, a queda dos investimentos
direcionados a exploração de commodities, por causa da redução em seus preços, afetou países
mais vulneráveis, que são especializados neste setor.
A variação positiva do fluxo líquido de IED na economia brasileira, a menos
vulnerável do painel, está relacionada em parte à redução de investimentos brasileiros no
exterior, pois, bem como empresas transnacionais de países desenvolvidos, as filiais brasileiras
no exterior enviaram às matrizes pagamentos de empréstimos e amortizações, impulsionadas
pelo cenário de incerteza.
Gráfico 3.35 Relação entre o impacto de curto prazo no IED líquido e o IVE
(Variação na conta capital e financeira no eixo vertical e IVE no eixo horizontal)
a) Variação Relativa b) Variação Absoluta
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD, da CEPAL e do FMI.
ArgentinaBolívia
BrasilChile
Colômbia
Equador
México
Paraguai
Peru
Uruguai
Venezuelay = -0,0652x + 0,6156
-1600%
-1400%
-1200%
-1000%
-800%
-600%
-400%
-200%
0%
200%
0 10 20 30 40 50IVE
Venezuela
Uruguai
Peru
Paraguai
México
Equador
Colômbia
Chile
Brasil
BolíviaAr gentina
y = -0,0141x - 0,4727-2,5
-2,0
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
0 10 20 30 40 50
IVE
83
CONCLUSÃO
A reversão no cenário internacional a partir do segundo semestre de 2008, com a
eclosão da crise internacional, repercutiu sobre os países latino-americanos, mesmo que com
diferentes magnitudes. A primeira variável macroeconômica analisada é a taxa de crescimento
do PIB, que permite a avaliação da desaceleração do ritmo de crescimento do nível de
atividade. Já em 2008 cinco economias da região registraram queda no ritmo de crescimento
do PIB, mas nenhum país chegou a observar taxas de crescimento negativas. Em 2009, os
impactos da crise internacional sobre a taxa de crescimento do PIB foram generalizados na
região e alguns países apresentaram taxas negativas, uma vez que a recuperação iniciada a
partir do segundo semestre de 2009 não foi suficiente para reverter os resultados negativos do
primeiro semestre.
Ao relacionar a variação nas taxas de crescimento dos países da América Latina com
seus respectivos índices de vulnerabilidade externa não foi verificado um resultado como o
esperado pela hipótese levantada nesta pesquisa, tanto em uma análise imediata quanto em
uma análise de curto prazo. Por um lado, países mais vulneráveis, como Bolívia e Equador,
não sofreram fortes impactos. Por outro, a economia mexicana, segunda menos vulnerável, foi
fortemente abalada por causa da proximidade e da dependência em relação à economia norte-
americana.
É interessante estudar os impactos da crise internacional sobre a taxa de investimento,
pois esta variável macroeconômica não sofre impacto imediato. No entanto, o desaquecimento
da economia provoca deterioração nas expectativas, influenciando as decisões de
investimento. Portanto, a queda da taxa de investimento na maioria dos países da região só foi
observada em 2009. Assim como na relação entre o índice de vulnerabilidade externa e a
variação na taxa de crescimento do PIB, não se pode afirmar que os países mais vulneráveis
sofreram os maiores abalos em suas taxas de investimento, quando comparados com os outros
países do painel regional.
A tendência de queda na taxa de desemprego nos países do painel regional foi revertida
em 2009, quando os impactos da crise se tornaram evidentes sobre esta variável
macroeconômica. Diferente da relação examinada entre o IVE e as duas variáveis
macroeconômicas anteriores, no caso do impacto de curto prazo sobre a taxa de desemprego
foi possível observar uma relação tal como esperada pela hipótese deste trabalho. Isto é, os
84
países com maiores índices de vulnerabilidade apresentaram maiores elevações em suas taxas
de desemprego.
A elevação no preço de commodities iniciada em meados de 2007 se estendeu até o
segundo semestre de 2008, influenciando a elevação na taxa de inflação da maioria dos países
da América Latina. Além deste fator, a depreciação cambial em grande parte das economias da
região, com a eclosão da crise internacional, contribuiu para a crescente pressão inflacionária
em 2008. A relação entre este impacto imediato sobre a taxa de inflação e o IVE foi distinta no
caso da variação relativa ou absoluta, no primeiro caso observou-se menor incremento na
inflação para países mais vulneráveis, enquanto no segundo caso, o aumento da inflação foi
maior para países mais vulneráveis. Isto foi provocado pela presença da economia mexicana
entre as mais impactadas em termos relativos, mas não em termos absolutos, dentre as quais
passou a figurar a economia boliviana.
Em 2009, fatores como a desaceleração econômica e a redução do comércio atuaram
sobre o preço das commodities, ou seja, ocorreu queda nos preços internacionais. A apreciação
cambial, após o choque inicial provocado pela crise internacional, também influenciou a
redução das taxas de inflação. Desta forma, a grande maioria dos países do painel regional
registrou quedas em suas taxas de inflação. No entanto, esta queda foi maior em países com
maiores índices de vulnerabilidade externa, tais quais Bolívia e Chile. Já países como Brasil e
México, com os menores índices da região, observaram um impacto menor sobre a variação da
inflação.
Ao analisar a evolução das finanças públicas nos países da America Latina constata-se
que em 2008 há uma tendência de aumento dos desequilíbrios fiscais, tanto pela aplicação de
políticas voltadas ao combate da pressão inflacionária na primeira metade do ano, quanto pelo
início da crise que incitou a adoção de políticas contracíclicas. Assim, a elevação dos gastos
juntamente à redução das arrecadações provocaram quedas nos resultados de alguns países da
região já em 2008. No ano seguinte nenhum país escapou da piora nas contas públicas, tendo
em vista a crescente utilização de políticas contracíclicas, que levaram ao aumento de gastos e
a reduções de impostos que somadas à queda no nível de atividade prejudicaram os resultados
fiscais.
De modo geral, ao relacionar o IVE às variações imediata e de curto prazo nos
resultados globais e primários foram observadas linhas de tendência com inclinação negativa,
85
indicando que os países mais vulneráveis foram mais afetados que a média do painel regional.
Isto pode ser explicado pela especialização dos quatro países mais vulneráveis na produção de
commodities, que influenciam o resultado fiscal destas economias, uma vez que a queda nos
preços internacionais provocou redução nas receitas públicas vinculadas às exportações e ao
preço de commodities.
O impacto da crise internacional observado sobre as contas externas reflete a
importância dos canais de transmissão da crise nos países latino-americanos. A desaceleração
do crescimento do nível de atividade em países desenvolvidos em 2008 somada à retração do
comércio mundial influenciou a queda nas exportações, principalmente no último trimestre de
2008, devido à queda dos preços internacionais. O aquecimento interno da região juntamente à
alta nos preços e à apreciação cambial, na primeira metade de 2008, foi determinante para o
forte aumento das importações. Desta forma, quase todos os países registraram reduções em
seus saldos comercias em 2008. Já em 2009, a influência da redução na demanda interna
superou a queda da demanda internacional na maioria dos países, atenuando a redução do
saldo comercial. Vale notar que os países mais vulneráveis, com suas pautas de exportações
mais concentradas em commodities, sofreram maiores impactos em 2009, tendo em vista a
significativa deterioração em seus termos de troca.
A variação no balanço de rendas foi influenciada pela remessa de lucros às empresas
transnacionais, que buscavam liquidez, em especial, no último trimestre de 2008, levando à
redução do saldo desta conta em alguns países da América Latina. As remessas de
trabalhadores são contabilizadas nas transferências unilaterais correntes, assim, com o estouro
da crise em países desenvolvidos, observa-se uma redução nas remessas destes países em
direção à América Latina. Com os sinais de recuperação em 2009, a queda no saldo desta
conta foi atenuada. É relevante apontar que esta conta é mais importante para alguns países
como Bolívia e Equador, justamente países dentre os mais vulneráveis do painel. Desta forma,
tanto na análise dos impactos imediatos quanto de curto prazo, os países mais vulneráveis
sofreram as maiores quedas no saldo de transferências unilaterais correntes.
Dados estes resultados para as contas integrantes das transações correntes, a maioria
dos países latino-americanos se deparou com reduções nos saldos desta conta em 2008.
Apenas duas economias registraram elevações no saldo das transações correntes no ano de
eclosão da crise internacional, Bolívia e Venezuela, economias exportadoras de petróleo e
86
mais vulneráveis no painel regional. Desta forma, verificou-se que na análise dos impactos
imediatos da crise internacional os países mais vulneráveis não apresentaram as maiores
reduções no saldo das transações correntes. No ano seguinte, a queda no saldo das transações
foi menor em alguns países, devido à forte contração nas importações. As economias mais
afetadas no curto prazo foram as que sofreram maior deterioração em seus termos de troca –
Bolívia, Equador e Venezuela – e estão entre as mais vulneráveis da região, sinalizando para
um resultado tal como seria esperado pela hipótese desta pesquisa. Além disso, a redução na
conta de transferências unilaterais em 2009 também foi mais significativa para países mais
vulneráveis.
Estudando a evolução da conta capital e financeira nota-se que para a maioria dos
países da região, o dinamismo na entrada de capitais no primeiro semestre de 2008 superou a
instabilidade gerada pela crise internacional, de modo que em média o saldo desta conta na
América Latina aumentou em 2008. A eclosão da crise gerou mudança no cenário, ampliando
a incerteza nos mercados financeiros e contraindo a liquidez internacional, ou seja, aumentou
o fluxo de capitais para o exterior, provocando quedas nas bolsas de valores dos países da
região, bem como depreciação cambial em diversas economias. Mesmo com a normalização
nos mercados financeiros e a redução dos prêmios de risco ao longo de 2009, a maioria dos
países apresentou queda no saldo da conta capital e financeira, devido à persistência do
cenário de instabilidade financeira em parte de 2009. Ao relacionar as variações imediatas e de
curto prazo na conta capital e financeira aos índices de vulnerabilidade externa dos países do
painel regional foi observado que as economias mais vulneráveis sofreram menos,
contrariando o que se esperava por hipótese.
O impacto da crise internacional sobre o IED líquido não parece ser imediato, uma vez
que em 2008 esta variável apresentou, em média, aumento na região, influenciado pela
elevação nos preços das commodities. Já em 2009, diversos fatores gerados pela crise – a
desaceleração do crescimento na América Latina, o aumento da incerteza, a redução de
liquidez, a queda nos preços das commodities e a recessão na economia norte-americana –
atuaram para que se observasse um menor incentivo à entrada de investimentos na região,
provocando redução no saldo de IED líquido da maioria dos países da região. A variação nos
preços das commodities parece ter forte influência sobre os impactos verificados em 2008 e
2009, já que em 2008, com a alta nos preços, o aumento do IED líquido foi maior nos países
87
mais vulneráveis, enquanto em 2009 a queda do investimento líquido foi maior nestes mesmos
países, que são fortemente especializados em commodities. Assim, sinaliza-se para um
resultado tal como esperado pela hipótese na análise do impacto de curto prazo.
Através da avaliação deste conjunto de resultados é possível observar que a relação
esperada pela hipótese foi evidenciada no caso de algumas variáveis macroeconômicas latino-
americanas – taxa de desemprego, finanças públicas, balança comercial, transferências
unilaterais, transações correntes e IED líquido – e, especialmente, no impacto de curto prazo,
uma vez que os primeiros oito meses de 2008 ainda refletiam a influência do final do ciclo de
expansão. Ou seja, o dinamismo latino-americano em 2008 era explicado pela demanda
externa, bem como pelo aumento da demanda interna. Portanto, o impacto da crise
internacional sobre a América Latina foi verificado com maior intensidade em 2009.
Tabela Síntese: Relação entre o impacto na variável macroeconômica e o IVE
Coeficiente do IVE ( ββββ)
Coeficiente de Determinação
Coeficiente do IVE ( ββββ)
Coeficiente de Determinação
Taxa de crescimento do PIB 0,0184 0,1295 0,0642 0,0578Taxa de investimento 0,0009 0,0120 0,0226 0,0149Taxa de desemprego -0,0003 0,0012 0,0065 0,0050Taxa de inflação -0,0019 0,0009 0,0601 0,0243Resultado primário -0,0351 0,2887 -0,1546 0,5200Resultado global -0,0201 0,0188 -0,1595 0,5941Balança comercial 0,4138 0,0105 -0,0302 0,0085Balanço de rendas 0,0081 0,1280 0,0587 0,2347Transferências unilaterais correntes -0,0054 0,0362 -0,0238 0,1629Transações correntes 0,0773 0,3687 0,0140 0,0036Conta capital e financeira 0,0195 0,0290 0,1420 0,1303Investimento externo direto líquido 0,0052 0,0040 0,0270 0,1349
Taxa de crescimento do PIB 0,0314 0,1178 0,0867 0,1268Taxa de investimento 0,0012 0,0489 0,0156 0,0155Taxa de desemprego 0,0010 0,0034 0,0162 0,0203Taxa de inflação -0,0183 0,1982 -0,2117 0,3099Resultado primário -0,0389 0,2446 -0,1842 0,3891Resultado global 0,2496 0,0416 -0,1926 0,4192Balança comercial -0,2143 0,1059 -0,1568 0,3388Balanço de rendas -0,0064 0,0100 0,0207 0,0354Transferências unilaterais correntes -0,0009 0,0016 -0,0412 0,3397Transações correntes -0,0203 0,0370 -0,1906 0,2659Conta capital e financeira 0,1038 0,1283 0,0686 0,0531Investimento externo direto líquido -0,0652 0,0226 -0,0141 0,0246
Nota: Equação de regressão: Y = α + β (IVE)Impacto imediato: comparação dos valores observados em 2008 frente à média de 2006-2007.Impacto de curto prazo: comparação dos valores observados em 2009 frente à média de 2007-2008.
Impacto de Curto
Prazo
Variação Relativa Variação Absoluta
Impacto Imediato
Variáveis Macroeconômicas
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial, da UNCTAD, da CEPAL e do FMI.
Além disso, a variação dos preços de commodities internacionais de 2008 para 2009
exerceu forte impacto nas variáveis macroeconômicas latino-americanas, expressando a
88
reversão da fase ascendente do ciclo internacional, principalmente no caso de economias
exportadoras de hidrocarbonetos, que, como examinado anteriormente, apresentam maiores
índices de vulnerabilidade externa.
Vale notar que para a maioria das economias latino-americanas o indicador com menor
participação na composição do índice de vulnerabilidade externa foi o que se refere às
importações como proporção das reservas internacionais. Isto é atribuído em grande medida
ao cenário externo extremamente favorável que contribuiu para o acúmulo de reservas
internacionais, tanto pelo crescimento das exportações quanto pela crescente entrada de
capitais externos. No entanto, o aumento da contribuição do fluxo de capitais no crescimento
das reservas internacionais fragiliza a composição das reservas, uma vez que estes recursos
são mais voláteis do que recursos advindos de superávits das transações correntes. Ademais,
se a abertura financeira funciona como solução para o desequilíbrio das contas externas no
curto prazo, em momentos posteriores implicará “elevação do passivo externo líquido e,
portanto, o crescimento do serviço desse passivo em momentos posteriores”
(CARCANHOLO, 2010, p. 118).
É possível, desta forma, que a ordenação dos países da América Latina de acordo com
seus índices de vulnerabilidade possa ter sido prejudicada pelas diferentes influências da
conjuntura externa extremamente favorável sobre os países da região, que não conseguiu
apagar, mas apenas mascarar outras fragilidades externas de algumas economias nos anos
anteriores à eclosão da crise internacional. A reversão da fase ascendente do ciclo
internacional pode, portanto, provocar a deterioração das contas externas, demonstrando que
as restrições externas continuam presentes e que o desempenho das economias latino-
americanas permanece condicionado à conjuntura internacional.
89
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93
ANEXO I – Países utilizados para o cálculo dos índices de vulnerabilidade externa
África do Sul Estados Unidos NepalAlbânia Estônia NicaráguaAlemanha Etiópia NigériaArábia Saudita Filipinas NoruegaArgentina Finlândia Nova ZelândiaArmênia França OmanAustrália Gabão PanamáÁustria Gana Papua Nova GuinéAzerbaijão Geórgia PaquistãoBangladesh Grécia ParaguaiBélgica Guatemala PeruBenin Guiné PolôniaBielorrússia Holanda PortugalBolívia Honduras QuêniaBotsuana Hungria Quirguízia, Rep.Brasil Índia Reino UnidoBulgária Indonésia RomêniaBurkina Fasso Irã, Rep. Islâmica RuandaBurundi Irlanda Russa, Fed.Camboja Israel SenegalCanadá Itália Síria, Rep. ÁrabeCasaquistão Jamaica Sri LankaCheca, Rep. Japão SuazilândiaChile Jordânia SudãoChina Laos SuéciaColômbia Letônia SuíçaCoréia, Rep. Líbano TailândiaCosta do Marfim Lituânia TanzâniaCosta Rica Macedônia TogoCroácia Madagascar Trinidad e TobagoDinamarca Malásia TunísiaDominicana, Rep. Malauí TurquiaEgito, Rep. Árabe Marrocos UcrâniaEl Salvador Maurício UgandaEquador México UruguaiEslováquia, Rep. Moçambique VenezuelaEslovênia Moldávia ZâmbiaEspanha Mongólia
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ANEXO II – Índice referente à exportação de bens e serviços / produto interno bruto Países 2005 2006 2007 Média Simples Índice
1 Malásia 117,5 116,7 110,2 114,8 100,0
2 Bélgica 86,6 87,3 88,8 87,6 100,0
3 Suazilândia 89,1 84,6 78,3 84,0 100,0
4 Eslováquia, Rep. 76,3 84,4 86,7 82,5 100,0
5 Irlanda 81,6 79,9 79,4 80,3 100,0
6 Papua Nova Guiné 73,6 82,1 81,3 79,0 100,0
7 Panamá 75,5 76,7 80,0 77,4 97,5
8 Estônia 77,7 80,2 72,8 76,9 96,7
9 Checa, Rep. 72,2 76,4 80,1 76,2 95,7
10 Hungria 66,0 77,1 80,4 74,5 93,1
11 Tailândia 73,6 73,6 72,7 73,3 91,2
12 Holanda 69,6 73,1 74,9 72,5 90,1
13 Trinidad e Tobago 69,3 68,3 64,6 67,4 82,2
14 Eslovênia 62,2 66,6 70,2 66,3 80,6
15 Camboja 64,1 68,6 65,3 66,0 80,1
16 Azerbaijão 62,9 66,5 68,1 65,9 79,9
17 Mongólia 64,3 65,3 64,3 64,6 78,0
18 Arábia Saudita 60,9 63,2 64,9 63,0 75,5
19 Gabão 64,7 61,9 62,3 63,0 75,5
20 Bulgária 60,2 64,6 63,4 62,7 75,1
21 Bielorrússia 59,8 60,1 60,9 60,3 71,3
22 Maurício 59,9 61,6 58,7 60,1 71,0
23 Lituânia 57,5 59,1 54,4 57,0 66,3
24 Áustria 54,0 56,6 59,6 56,7 65,9
25 Oman 58,0 55,8 55,9 56,6 65,6
26 Honduras 59,0 56,1 51,8 55,6 64,2
27 Jordânia 52,5 54,7 53,9 53,7 61,3
28 Suíça 48,9 52,4 55,9 52,4 59,2
29 Paraguai 51,2 53,7 50,9 51,9 58,6
30 Tunísia 49,7 50,4 54,1 51,4 57,8
31 Casaquistão 53,5 51,1 49,4 51,4 57,7
32 Dinamarca 49,0 52,0 52,3 51,1 57,3
33 Suécia 48,8 51,5 52,6 51,0 57,1
34 Costa do Marfim 51,1 52,7 47,8 50,5 56,4
35 Macedônia 45,5 48,1 53,4 49,0 54,1
36 Botsuana 48,7 50,7 47,6 49,0 54,1
37 Costa Rica 48,5 49,1 48,8 48,8 53,8
38 Moldávia 51,1 45,3 47,5 48,0 52,5
39 Ucrânia 51,5 46,6 44,8 47,6 52,0
40 Filipinas 47,6 47,3 42,5 45,8 49,1
41 Noruega 44,6 46,4 45,8 45,6 48,9
42 Letônia 47,9 44,9 42,2 45,0 47,9
43 Chile 41,3 45,8 47,2 44,8 47,6
44 Alemanha 41,1 45,4 46,9 44,5 47,1
45 Finlândia 41,9 45,2 45,7 44,3 46,8
46 Nigéria 46,5 42,9 41,0 43,5 45,6
47 Croácia 42,6 43,4 42,8 42,9 44,8
48 Israel 42,6 42,8 42,7 42,7 44,4
49 Jamaica 41,0 44,0 42,5 42,5 44,1
50 Togo 40,3 42,3 41,9 41,5 42,6
51 Quirguízia, Rep. 38,7 41,7 44,0 41,5 42,6
52 Coréia, Rep. 39,3 39,7 41,9 40,3 40,7
53 Síria, Rep. Árabe 41,5 40,1 38,5 40,0 40,3
54 Bolívia 35,6 41,4 41,8 39,6 39,6
55 Polônia 37,1 40,4 40,8 39,4 39,4
56 China 37,4 39,9 39,7 39,0 38,8
95
Países 2005 2006 2007 Média Simples Índice
57 Gana 36,5 40,2 40,0 38,9 38,5
58 Zâmbia 34,7 38,6 42,1 38,5 37,9
59 Moçambique 32,5 39,7 36,9 36,4 34,8
60 Canadá 37,8 36,0 34,7 36,2 34,4
61 Laos 33,1 38,4 35,7 35,7 33,8
62 Venezuela 39,7 36,2 31,0 35,6 33,6
63 Guiné 33,8 39,3 30,1 34,4 31,7
64 Marrocos 32,3 34,2 35,8 34,1 31,2
65 Equador 30,9 34,0 35,1 33,3 30,1
66 Russa, Fed. 35,2 33,8 30,3 33,1 29,7
67 Geórgia 33,8 32,9 31,2 32,6 29,0
68 Irã, Rep. Islâmica 33,1 32,5 32,2 32,6 28,9
69 Indonésia 34,1 31,0 29,5 31,5 27,3
70 Nicarágua 29,1 31,1 33,2 31,1 26,7
71 Romênia 32,9 29,6 30,7 31,1 26,6
72 Portugal 28,5 31,0 32,7 30,8 26,1
73 Sri Lanka 32,3 30,1 29,1 30,5 25,8
74 Egito, Rep. Árabe 30,3 30,0 30,3 30,2 25,2
75 Dominicana, Rep. 30,0 30,0 29,1 29,7 24,5
76 África do Sul 27,4 29,7 31,5 29,5 24,2
77 Uruguai 30,4 29,1 28,0 29,2 23,7
78 Madagascar 26,9 29,9 30,0 28,9 23,3
79 Nova Zelândia 27,8 29,1 29,0 28,6 22,8
80 México 27,2 28,1 28,3 27,9 21,7
81 Itália 25,9 27,7 29,0 27,6 21,2
82 Peru 25,1 28,5 28,8 27,5 21,1
83 Reino Unido 26,4 28,5 26,4 27,1 20,5
84 Quênia 28,5 26,4 26,0 27,0 20,4
85 El Salvador 26,5 27,2 27,2 27,0 20,3
86 França 26,1 26,7 26,5 26,4 19,5
87 Espanha 25,7 26,4 26,5 26,2 19,1
88 Senegal 26,9 25,6 25,4 26,0 18,8
89 Albânia 22,3 25,1 28,4 25,3 17,7
90 Guatemala 25,1 24,9 25,3 25,1 17,4
91 Argentina 25,1 24,8 24,6 24,8 17,0
92 Armênia 28,8 23,4 19,2 23,8 15,5
93 Grécia 22,0 23,3 23,0 22,8 13,9
94 Turquia 21,9 22,7 22,3 22,3 13,2
95 Líbano 21,4 21,3 22,5 21,7 12,3
96 Tanzânia 21,0 21,7 21,3 21,3 11,7
97 Índia 19,9 22,2 21,2 21,1 11,3
98 Malauí 19,6 18,8 22,3 20,2 10,0
99 Austrália 18,7 20,3 20,6 19,9 9,5
100 Bangladesh 16,6 19,0 19,8 18,4 7,3
101 Sudão 18,2 16,5 20,1 18,3 7,0
102 Colômbia 17,3 17,8 16,9 17,3 5,6
103 Japão 14,3 16,1 17,6 16,0 3,6
104 Uganda 14,2 15,3 16,7 15,4 2,6
105 Paquistão 15,7 15,2 14,2 15,0 2,1
106 Brasil 15,1 14,4 13,7 14,4 1,1
107 Etiópia 15,1 13,9 12,7 13,9 0,3
108 Nepal 14,6 13,5 13,0 13,7 0,0
109 Benin 13,5 11,4 16,2 13,7 0,0
110 Estados Unidos 10,6 11,3 12,1 11,3 0,0
111 Burundi 11,4 10,7 11,1 11,1 0,0
112 Burkina Fasso 10,0 11,5 10,7 10,8 0,0113 Ruanda 10,3 9,7 9,7 9,9 0,0
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial.
96
ANEXO III – Índice referente ao grau de concentração das exportações Países 2005 2006 2007 Média Simples Índice
1 Nigéria 1,0 0,9 0,9 0,9 100,0
2 Venezuela 0,9 0,9 0,9 0,9 100,0
3 Sudão 0,8 0,9 0,8 0,8 100,0
4 Gabão 0,8 0,8 0,8 0,8 100,0
5 Irã, Rep. Islâmica 0,8 0,8 0,8 0,8 100,0
6 Arábia Saudita 0,8 0,8 0,8 0,8 100,0
7 Botsuana 0,7 0,7 0,6 0,7 91,1
8 Guiné 0,6 0,6 0,7 0,7 85,8
9 Oman 0,7 0,7 0,6 0,6 84,2
10 Zâmbia 0,5 0,7 0,7 0,6 83,0
11 Jamaica 0,7 0,6 0,6 0,6 78,0
12 Casaquistão 0,6 0,6 0,6 0,6 75,8
13 Moçambique 0,6 0,6 0,6 0,6 75,0
14 Azerbaijão 0,5 0,6 0,6 0,6 74,3
15 Malauí 0,5 0,6 0,5 0,5 67,5
16 Equador 0,5 0,5 0,5 0,5 66,9
17 Benin 0,6 0,4 0,5 0,5 60,7
18 Ruanda 0,5 0,5 0,5 0,5 58,6
19 Burundi 0,6 0,4 0,4 0,5 57,8
20 Burkina Fasso 0,7 0,3 0,3 0,5 56,0
21 Gana 0,4 0,4 0,5 0,4 53,5
22 Mongólia 0,4 0,4 0,5 0,4 52,5
23 Noruega 0,5 0,4 0,4 0,4 51,8
24 Camboja 0,4 0,4 0,4 0,4 48,8
25 Síria, Rep. Árabe 0,6 0,3 0,3 0,4 48,6
26 Etiópia 0,4 0,4 0,4 0,4 46,8
27 Bolívia 0,4 0,4 0,4 0,4 46,6
28 Trinidad e Tobago 0,4 0,4 0,4 0,4 45,0
29 Panamá 0,4 0,4 0,4 0,4 44,9
30 Chile 0,3 0,4 0,4 0,4 42,5
31 Laos 0,3 0,4 0,4 0,4 42,0
32 Russa, Fed. 0,4 0,4 0,3 0,4 41,7
33 Israel 0,4 0,3 0,4 0,4 41,2
34 Bangladesh 0,4 0,4 0,3 0,4 41,0
35 Paraguai 0,4 0,3 0,4 0,4 40,4
36 Filipinas 0,4 0,3 0,4 0,4 40,3
37 Suazilândia 0,4 0,3 0,3 0,3 37,6
38 Togo 0,3 0,3 0,4 0,3 36,7
39 Costa do Marfim 0,3 0,3 0,3 0,3 35,7
40 Egito, Rep. Árabe 0,3 0,3 0,3 0,3 35,5
41 Tanzânia 0,3 0,3 0,3 0,3 33,0
42 Armênia 0,4 0,3 0,3 0,3 32,7
43 Papua Nova Guiné 0,3 0,3 0,3 0,3 32,7
44 Bielorrússia 0,3 0,3 0,3 0,3 31,6
45 Quirguízia, Rep. 0,3 0,3 0,3 0,3 31,1
46 Maurício 0,3 0,3 0,3 0,3 30,7
47 Albânia 0,3 0,3 0,2 0,3 26,6
48 Peru 0,2 0,3 0,3 0,3 25,4
49 Honduras 0,3 0,2 0,2 0,2 24,8
50 Nicarágua 0,2 0,3 0,2 0,2 24,7
51 El Salvador 0,3 0,2 0,2 0,2 24,5
52 Uganda 0,3 0,3 0,2 0,2 23,4
53 Irlanda 0,2 0,2 0,2 0,2 21,8
54 Paquistão 0,2 0,2 0,2 0,2 21,2
55 Senegal 0,2 0,2 0,2 0,2 20,8
56 Uruguai 0,2 0,2 0,2 0,2 18,8
97
Países 2005 2006 2007 Média Simples Índice
57 Colômbia 0,2 0,2 0,2 0,2 18,7
58 Sri Lanka 0,2 0,2 0,2 0,2 18,6
59 Quênia 0,2 0,2 0,2 0,2 18,5
60 Costa Rica 0,2 0,2 0,2 0,2 18,5
61 Madagascar 0,2 0,2 0,2 0,2 17,9
62 Líbano 0,1 0,1 0,4 0,2 17,3
63 Moldávia 0,3 0,2 0,1 0,2 16,7
64 Dominicana, Rep. 0,2 0,2 0,2 0,2 16,5
65 Geórgia 0,2 0,2 0,2 0,2 15,8
66 Macedônia 0,2 0,2 0,2 0,2 15,7
67 Malásia 0,2 0,2 0,2 0,2 15,0
68 Finlândia 0,2 0,2 0,2 0,2 14,3
69 Tunísia 0,2 0,2 0,2 0,2 14,2
70 Lituânia 0,2 0,2 0,1 0,2 13,5
71 Austrália 0,2 0,2 0,2 0,2 12,4
72 Coréia, Rep. 0,2 0,2 0,2 0,2 11,5
73 Marrocos 0,2 0,2 0,2 0,2 11,1
74 Guatemala 0,2 0,2 0,1 0,2 11,1
75 Jordânia 0,2 0,1 0,2 0,2 11,0
76 Nepal 0,2 0,1 0,1 0,2 10,6
77 México 0,1 0,2 0,2 0,2 10,3
78 África do Sul 0,1 0,2 0,2 0,1 10,3
79 Eslováquia, Rep. 0,1 0,1 0,2 0,1 9,9
80 Ucrânia 0,1 0,1 0,1 0,1 9,2
81 Japão 0,1 0,1 0,1 0,1 9,1
82 Índia 0,1 0,1 0,2 0,1 9,1
83 Suíça 0,1 0,1 0,1 0,1 8,9
84 Hungria 0,1 0,1 0,1 0,1 8,8
85 Estônia 0,1 0,2 0,1 0,1 8,5
86 Nova Zelândia 0,1 0,1 0,1 0,1 8,5
87 Argentina 0,1 0,1 0,1 0,1 8,4
88 Bulgária 0,1 0,2 0,1 0,1 8,3
89 Holanda 0,1 0,1 0,1 0,1 7,4
90 Indonésia 0,1 0,1 0,1 0,1 7,2
91 Canadá 0,1 0,1 0,1 0,1 6,2
92 Eslovênia 0,1 0,1 0,1 0,1 5,2
93 Croácia 0,1 0,1 0,1 0,1 5,2
94 Romênia 0,1 0,1 0,1 0,1 5,0
95 Suécia 0,1 0,1 0,1 0,1 4,5
96 Letônia 0,1 0,1 0,1 0,1 4,3
97 Grécia 0,1 0,1 0,1 0,1 4,2
98 China 0,1 0,1 0,1 0,1 4,1
99 Espanha 0,1 0,1 0,1 0,1 3,8
100 Reino Unido 0,1 0,1 0,1 0,1 3,6
101 Bélgica 0,1 0,1 0,1 0,1 3,3
102 Checa, Rep. 0,1 0,1 0,1 0,1 2,5
103 Portugal 0,1 0,1 0,1 0,1 2,3
104 Alemanha 0,1 0,1 0,1 0,1 2,1
105 Turquia 0,1 0,1 0,1 0,1 1,5
106 Tailândia 0,1 0,1 0,1 0,1 1,4
107 Brasil 0,1 0,1 0,1 0,1 1,3
108 Polônia 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0
109 França 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0
110 Dinamarca 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0
111 Estados Unidos 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0
112 Áustria 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0113 Itália 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da UNCTAD.
98
ANEXO IV – Índice referente ao ingresso acumulado de IED / PIB
Países 2005 2006 2007 Média Simples Índice
1 Papua Nova Guiné 0,9 0,8 0,7 0,8 100,0
2 Líbano 0,7 0,8 0,8 0,8 100,0
3 Panamá 0,7 0,8 0,8 0,8 100,0
4 Bulgária 0,5 0,7 0,9 0,7 100,0
5 Trinidad e Tobago 0,8 0,7 0,6 0,7 100,0
6 Zâmbia 0,8 0,6 0,6 0,7 100,0
7 Bolívia 0,7 0,6 0,6 0,7 99,5
8 Estônia 0,7 0,7 0,6 0,7 99,4
9 Holanda 0,6 0,6 0,7 0,6 99,2
10 Jamaica 0,6 0,7 0,7 0,6 98,9
11 Jordânia 0,5 0,7 0,7 0,6 93,8
12 Chile 0,7 0,6 0,6 0,6 92,8
13 Azerbaijão 1,0 0,6 0,2 0,6 92,5
14 Suécia 0,6 0,6 0,6 0,6 88,8
15 Irlanda 0,6 0,5 0,5 0,6 82,6
16 Malásia 0,6 0,6 0,5 0,6 82,0
17 Nicarágua 0,5 0,5 0,5 0,5 77,5
18 Suazilândia 0,5 0,5 0,5 0,5 73,8
19 Tunísia 0,5 0,5 0,5 0,5 73,7
20 Argentina 0,5 0,5 0,4 0,5 71,3
21 Bélgica 0,3 0,5 0,6 0,5 70,9
22 Checa, Rep. 0,5 0,5 0,5 0,5 70,2
23 Hungria 0,5 0,5 0,5 0,5 69,4
24 Geórgia 0,4 0,5 0,5 0,4 64,0
25 Costa Rica 0,4 0,4 0,4 0,4 62,6
26 Reino Unido 0,4 0,4 0,5 0,4 62,1
27 Casaquistão 0,4 0,4 0,4 0,4 59,4
28 Moldávia 0,4 0,4 0,4 0,4 56,3
29 Honduras 0,4 0,4 0,4 0,4 56,0
30 Camboja 0,4 0,4 0,4 0,4 55,2
31 Tailândia 0,4 0,4 0,4 0,4 52,2
32 Eslováquia, Rep. 0,4 0,4 0,4 0,4 51,8
33 Moçambique 0,4 0,4 0,4 0,4 50,0
34 Suíça 0,3 0,3 0,4 0,4 48,4
35 Egito, Rep. Árabe 0,3 0,4 0,4 0,4 48,3
36 Nigéria 0,3 0,3 0,4 0,3 47,4
37 Nova Zelândia 0,3 0,4 0,3 0,3 47,3
38 Israel 0,3 0,4 0,4 0,3 46,9
39 Togo 0,3 0,4 0,3 0,3 46,6
40 Peru 0,3 0,3 0,3 0,3 44,2
41 Croácia 0,3 0,3 0,4 0,3 44,0
42 Canadá 0,3 0,3 0,4 0,3 43,2
43 Macedônia 0,3 0,3 0,3 0,3 42,4
44 Dominicana, Rep. 0,3 0,3 0,3 0,3 42,1
45 Mongólia 0,3 0,3 0,3 0,3 41,7
46 Letônia 0,3 0,3 0,3 0,3 41,6
47 Colômbia 0,3 0,3 0,3 0,3 41,2
48 Finlândia 0,3 0,3 0,3 0,3 41,1
49 Portugal 0,3 0,3 0,3 0,3 41,0
50 Dinamarca 0,3 0,3 0,3 0,3 40,4
51 Botsuana 0,3 0,3 0,3 0,3 39,8
52 França 0,3 0,3 0,3 0,3 39,1
53 Sudão 0,3 0,3 0,3 0,3 39,0
54 Tanzânia 0,3 0,3 0,3 0,3 38,4
55 Espanha 0,3 0,3 0,3 0,3 38,3
56 Quirguízia, Rep. 0,3 0,3 0,3 0,3 38,0
99
Países 2005 2006 2007 Média Simples Índice
57 Marrocos 0,3 0,3 0,3 0,3 37,8
58 Austrália 0,3 0,3 0,3 0,3 35,7
59 México 0,3 0,3 0,3 0,3 35,6
60 Síria, Rep. Árabe 0,3 0,3 0,3 0,3 35,6
61 Equador 0,3 0,3 0,3 0,3 35,3
62 Armênia 0,3 0,3 0,3 0,3 35,2
63 Polônia 0,3 0,3 0,3 0,3 35,1
64 Uruguai 0,2 0,3 0,3 0,3 33,8
65 Costa do Marfim 0,3 0,3 0,3 0,3 33,8
66 Uganda 0,2 0,3 0,3 0,3 33,4
67 Romênia 0,2 0,3 0,3 0,3 33,3
68 China 0,3 0,3 0,2 0,3 32,5
69 Laos 0,2 0,2 0,3 0,3 31,4
70 Brasil 0,3 0,2 0,2 0,2 30,5
71 Lituânia 0,2 0,3 0,2 0,2 29,0
72 Áustria 0,2 0,2 0,3 0,2 28,6
73 Paraguai 0,3 0,2 0,2 0,2 28,3
74 Guiné 0,2 0,3 0,3 0,2 28,1
75 El Salvador 0,2 0,2 0,3 0,2 27,3
76 Albânia 0,2 0,2 0,2 0,2 26,2
77 Ucrânia 0,2 0,2 0,2 0,2 26,2
78 Gana 0,2 0,2 0,2 0,2 25,5
79 Venezuela 0,3 0,2 0,2 0,2 25,4
80 Filipinas 0,2 0,2 0,2 0,2 24,9
81 Etiópia 0,2 0,2 0,2 0,2 24,1
82 Malauí 0,2 0,2 0,2 0,2 23,5
83 Madagascar 0,2 0,2 0,3 0,2 22,2
84 Alemanha 0,2 0,2 0,2 0,2 20,9
85 Guatemala 0,2 0,2 0,2 0,2 20,5
86 Noruega 0,2 0,2 0,2 0,2 19,5
87 Arábia Saudita 0,1 0,2 0,2 0,2 19,1
88 Estados Unidos 0,2 0,2 0,2 0,2 18,9
89 Oman 0,1 0,2 0,2 0,2 17,8
90 Benin 0,2 0,2 0,2 0,2 17,4
91 África do Sul 0,2 0,2 0,2 0,2 16,6
92 Eslovênia 0,2 0,2 0,2 0,2 14,6
93 Maurício 0,1 0,1 0,2 0,1 12,4
94 Sri Lanka 0,1 0,1 0,1 0,1 11,6
95 Senegal 0,1 0,1 0,1 0,1 11,4
96 Paquistão 0,1 0,1 0,2 0,1 9,5
97 Russa, Fed. 0,1 0,1 0,1 0,1 6,7
98 Grécia 0,1 0,1 0,1 0,1 6,1
99 Itália 0,1 0,1 0,1 0,1 5,9
100 Indonésia 0,1 0,1 0,1 0,1 5,7
101 Turquia 0,1 0,1 0,1 0,1 5,5
102 Ruanda 0,1 0,1 0,1 0,1 4,3
103 Bangladesh 0,1 0,1 0,1 0,1 3,7
104 Bielorrússia 0,1 0,1 0,1 0,1 2,0
105 Irã, Rep. Islâmica 0,1 0,1 0,1 0,1 0,8
106 Gabão 0,1 0,1 0,1 0,1 0,4
107 Coréia, Rep. 0,1 0,1 0,1 0,1 0,4
108 Índia 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0
109 Quênia 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0
110 Burkina Fasso 0,0 0,0 0,1 0,1 0,0
111 Burundi 0,1 0,1 0,0 0,1 0,0
112 Japão 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0113 Nepal 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial e da UNCTAD.
100
ANEXO V – Índice referente à dívida externa total / exportação de bens e serviços
Países 2005 2006 2007 Média Simples Índice
1 Burundi 14,58 14,32 15,40 14,76 100,0
2 Líbano 5,00 5,27 4,54 4,94 100,0
3 Ruanda 6,20 1,52 1,75 3,16 100,0
4 Sudão 3,48 3,03 2,06 2,86 100,0
5 Laos 3,15 2,47 2,86 2,83 100,0
6 Malauí 5,70 1,46 1,04 2,73 100,0
7 Nepal 2,68 2,78 2,69 2,72 99,3
8 Guiné 2,91 2,75 2,48 2,71 99,2
9 Burkina Fasso 3,68 1,69 2,42 2,60 95,0
10 Nicarágua 3,49 2,49 1,80 2,59 94,8
11 Letônia 1,89 2,55 3,24 2,56 93,6
12 Argentina 2,72 2,19 1,98 2,29 83,9
13 Paquistão 1,93 1,85 2,00 1,93 70,5
14 Togo 1,98 1,91 1,89 1,93 70,5
15 Tanzânia 2,81 1,30 1,64 1,92 70,1
16 Jamaica 1,64 1,73 2,36 1,91 69,9
17 Benin 3,19 1,51 0,95 1,89 69,0
18 El Salvador 1,98 1,94 1,72 1,88 68,8
19 Quirguízia, Rep. 2,13 2,00 1,50 1,88 68,6
20 Uruguai 2,10 1,73 1,69 1,84 67,3
21 Etiópia 3,34 1,08 1,07 1,83 66,9
22 Bangladesh 1,90 1,75 1,62 1,75 64,1
23 Uganda 3,46 0,83 0,78 1,69 61,8
24 Casaquistão 1,42 1,79 1,86 1,69 61,8
25 Turquia 1,59 1,72 1,72 1,68 61,4
26 Guatemala 1,61 1,63 1,70 1,65 60,2
27 Moldávia 1,34 1,58 1,52 1,48 54,2
28 Croácia 1,59 1,48 1,23 1,43 52,5
29 Romênia 1,19 1,49 1,62 1,43 52,4
30 Armênia 1,30 1,34 1,64 1,43 52,3
31 Costa do Marfim 1,43 1,40 1,46 1,43 52,2
32 Sri Lanka 1,43 1,37 1,49 1,43 52,2
33 Madagascar 2,58 0,90 0,77 1,42 51,9
34 Bolívia 2,04 1,22 0,91 1,39 50,8
35 Moçambique 2,09 1,04 1,01 1,38 50,5
36 Colômbia 1,51 1,32 1,25 1,36 49,8
37 Brasil 1,40 1,24 1,30 1,31 48,1
38 Indonésia 1,50 1,17 1,12 1,26 46,2
39 Equador 1,47 1,19 1,08 1,25 45,6
40 Tunísia 1,24 1,19 1,08 1,17 42,8
41 Filipinas 1,31 1,09 1,08 1,16 42,3
42 Peru 1,45 1,08 0,93 1,16 42,3
43 Senegal 1,65 0,80 0,90 1,12 40,9
44 Quênia 1,20 1,10 1,04 1,12 40,8
45 Bulgária 0,96 1,03 1,31 1,10 40,2
46 Zâmbia 2,17 0,55 0,57 1,10 40,1
47 Lituânia 0,77 1,04 1,39 1,07 39,0
48 Macedônia 1,12 1,07 0,98 1,06 38,7
49 Polônia 0,96 1,01 1,13 1,03 37,7
50 Gana 1,72 0,62 0,75 1,03 37,7
51 Jordânia 1,16 0,99 0,91 1,02 37,4
52 Albânia 0,98 1,03 0,90 0,97 35,5
53 Ucrânia 0,75 0,99 1,15 0,96 35,3
54 Egito, Rep. Árabe 1,09 0,91 0,83 0,94 34,5
55 Russa, Fed. 0,85 0,75 0,94 0,85 31,0
56 Dominicana, Rep. 0,72 0,82 0,87 0,80 29,3
101
Países 2005 2006 2007 Média Simples Índice
57 Marrocos 0,84 0,79 0,76 0,80 29,2
58 Geórgia 0,88 0,77 0,72 0,79 29,0
59 Chile 0,93 0,72 0,73 0,79 29,0
60 Índia 0,75 0,71 0,82 0,76 27,7
61 Camboja 0,87 0,71 0,67 0,75 27,4
62 Panamá 0,79 0,79 0,66 0,75 27,3
63 Mongólia 0,88 0,68 0,63 0,73 26,7
64 Honduras 0,92 0,69 0,53 0,71 26,1
65 Paraguai 0,84 0,69 0,57 0,70 25,7
66 Venezuela 0,78 0,66 0,65 0,69 25,4
67 México 0,73 0,61 0,67 0,67 24,4
68 Costa Rica 0,67 0,63 0,65 0,65 23,8
69 Síria, Rep. Árabe 0,56 0,83 0,54 0,64 23,5
70 Gabão 0,69 0,71 0,40 0,60 21,9
71 Papua Nova Guiné 0,63 0,51 0,43 0,52 19,1
72 África do Sul 0,47 0,46 0,49 0,47 17,3
73 Tailândia 0,41 0,37 0,34 0,37 13,6
74 Estônia 1,04 0,00 0,00 0,35 12,7
75 China 0,34 0,31 0,28 0,31 11,3
76 Malásia 0,32 0,30 0,30 0,31 11,2
77 Hungria 0,91 0,00 0,00 0,30 11,1
78 Bielorrússia 0,26 0,24 0,37 0,29 10,7
79 Irã, Rep. Islâmica 0,34 0,27 0,23 0,28 10,3
80 Nigéria 0,42 0,12 0,13 0,22 8,2
81 Trinidad e Tobago 0,25 0,22 0,19 0,22 8,1
82 Azerbaijão 0,25 0,19 0,16 0,20 7,2
83 Suazilândia 0,19 0,18 0,17 0,18 6,6
84 Oman 0,19 0,18 0,15 0,18 6,4
85 Maurício 0,21 0,16 0,15 0,17 6,2
86 Eslováquia, Rep. 0,51 0,00 0,00 0,17 6,2
87 Checa, Rep. 0,44 0,00 0,00 0,15 5,4
88 Botsuana 0,09 0,07 0,07 0,08 2,8
89 Alemanha 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
90 Arábia Saudita 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
91 Austrália 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
92 Áustria 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
93 Bélgica 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
94 Canadá 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
95 Coréia, Rep. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
96 Dinamarca 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
97 Eslovênia 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
98 Espanha 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
99 Estados Unidos 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
100 Finlândia 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
101 França 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
102 Grécia 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
103 Holanda 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
104 Irlanda 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
105 Israel 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
106 Itália 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
107 Japão 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
108 Noruega 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
109 Nova Zelândia 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
110 Portugal 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
111 Reino Unido 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
112 Suécia 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0113 Suíça 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial.
102
ANEXO VI – Índice referente à importação de bens e serviços / reservas internacionais
Países 2005 2006 2007 Média Simples Índice
1 Irlanda 161,5 184,9 193,8 180,0 100,0
2 Grécia 33,2 30,6 28,7 30,8 100,0
3 Bélgica 26,0 25,0 23,9 24,9 100,0
4 Espanha 20,3 20,9 25,1 22,1 100,0
5 Holanda 19,1 18,4 19,1 18,9 100,0
6 Reino Unido 15,6 16,4 14,6 15,5 100,0
7 Eslovênia 2,7 3,7 31,7 12,7 80,3
8 Bielorrússia 13,3 17,1 7,3 12,6 79,6
9 Áustria 12,9 12,9 10,9 12,2 77,3
10 Guiné 10,6 11,5 14,5 12,2 76,9
11 Canadá 11,7 12,2 11,4 11,8 74,1
12 Alemanha 9,8 10,4 9,7 10,0 61,6
13 Finlândia 6,5 11,2 11,9 9,9 61,0
14 Estados Unidos 10,8 10,1 8,5 9,8 60,6
15 Panamá 8,8 8,9 7,6 8,4 51,1
16 Portugal 6,7 7,7 7,8 7,4 44,1
17 Malauí 7,6 9,5 3,9 7,0 41,4
18 França 7,8 6,5 6,4 6,9 40,4
19 Itália 7,0 7,0 6,6 6,9 40,4
20 Dominicana, Rep. 6,5 6,4 6,4 6,5 37,5
21 Suazi lândia 9,7 6,3 3,0 6,3 36,6
22 Suécia 6,0 6,1 6,6 6,2 35,9
23 Sudão 4,1 6,0 8,0 6,1 34,8
24 Estônia 6,0 5,5 5,5 5,7 32,1
25 Equador 5,5 6,8 4,5 5,6 31,5
26 Geórgia 6,9 4,8 4,3 5,3 29,8
27 Síria, Rep. Árabe 5,3 5,3 5,3 5,3 29,4
28 Etiópia 4,2 6,4 4,8 5,1 28,3
29 Togo 6,2 3,7 3,6 4,5 23,9
30 Zâmbia 4,7 4,5 3,7 4,3 22,7
31 Austrália 3,3 2,9 6,7 4,3 22,6
32 El Salvador 4,1 4,5 4,3 4,3 22,5
33 Costa do Marfim 5,4 4,1 3,3 4,3 22,4
34 Hungria 4,0 4,1 4,5 4,2 22,1
35 Irã, Rep. Islâmica 4,2 4,2 4,2 4,2 21,8
36 Bangladesh 4,9 4,0 3,5 4,1 21,6
37 Madagascar 4,3 3,9 4,1 4,1 21,2
38 Dinamarca 3,3 4,3 4,5 4,1 21,1
39 Costa Rica 4,7 4,0 3,4 4,0 20,8
40 Gana 3,5 3,7 4,8 4,0 20,6
41 Moldávia 4,6 4,0 3,2 3,9 20,3
42 Eslováquia, Rep. 3,2 4,6 3,9 3,9 19,9
43 Lituânia 4,4 3,6 3,4 3,8 19,3
44 Sri Lanka 3,7 4,1 3,6 3,8 19,3
45 Azerbaijão 5,9 3,3 2,2 3,8 19,3
46 Laos 4,3 3,6 3,1 3,7 18,3
47 Nicarágua 3,9 3,5 3,5 3,6 18,2
48 Camboja 3,9 3,9 2,9 3,6 17,9
49 Arábia Saudita 3,0 3,7 3,9 3,5 17,5
50 México 3,3 3,7 3,5 3,5 17,1
51 Letônia 4,2 2,9 3,1 3,4 16,7
52 Honduras 3,2 3,2 3,8 3,4 16,5
53 Quênia 3,7 3,4 3,0 3,4 16,4
54 Checa, Rep. 2,9 3,3 3,7 3,3 16,0
55 África do Sul 3,3 3,3 3,0 3,2 15,2
56 Maurício 3,0 3,6 2,8 3,2 14,9
103
Países 2005 2006 2007 Média Simples Índice
57 Guatemala 3,0 3,1 3,3 3,1 14,7
58 Senegal 3,1 3,0 3,3 3,1 14,6
59 Gabão 3,6 2,7 3,1 3,1 14,5
60 Burundi 3,6 3,3 2,2 3,0 14,0
61 Paraguai 3,2 3,2 2,7 3,0 13,9
62 Papua Nova Guiné 4,2 2,6 2,1 2,9 13,4
63 Jamaica 2,7 2,7 3,3 2,9 13,1
64 Polônia 2,7 3,0 2,8 2,8 12,6
65 Nova Zelândia 3,7 2,4 2,3 2,8 12,4
66 Suíça 2,7 2,7 2,6 2,7 11,7
67 Tunísia 3,2 2,4 2,5 2,7 11,5
68 Albânia 2,7 2,5 2,8 2,6 11,3
69 Quirguízia, Rep. 2,3 2,7 2,9 2,6 11,3
70 Moçambique 2,6 2,7 2,5 2,6 11,2
71 Casaquistão 3,6 1,7 2,5 2,6 11,2
72 Chile 2,3 2,3 3,2 2,6 11,2
73 Armênia 3,2 2,3 2,2 2,6 10,7
74 Macedônia 2,7 2,3 2,5 2,5 10,4
75 Burkina Fasso 3,2 2,8 1,4 2,5 10,1
76 Mongólia 3,7 1,8 1,9 2,4 9,8
77 Filipinas 2,8 2,5 1,8 2,3 9,3
78 Turquia 2,3 2,3 2,3 2,3 9,1
79 Ucrânia 2,2 2,4 2,2 2,3 8,8
80 Croácia 2,5 2,2 2,2 2,3 8,7
81 Israel 2,1 2,1 2,6 2,2 8,6
82 Indonésia 2,5 2,2 1,9 2,2 8,2
83 Bulgária 2,4 2,2 1,9 2,2 8,2
84 Tailândia 2,5 2,2 1,8 2,2 8,1
85 Colômbia 2,0 2,3 2,1 2,1 7,9
86 Oman 2,2 2,3 1,8 2,1 7,7
87 Paquistão 1,9 2,3 1,9 2,1 7,3
88 Jordânia 2,2 1,9 2,0 2,0 7,0
89 Nepal 1,5 1,8 2,1 1,8 5,6
90 Noruega 1,8 1,7 1,9 1,8 5,5
91 Romênia 2,0 1,6 1,8 1,8 5,4
92 Uruguai 1,6 2,0 1,7 1,8 5,3
93 Malásia 1,9 1,8 1,6 1,8 5,3
94 Ruanda 1,6 1,8 1,7 1,7 4,7
95 Tanzânia 1,9 1,7 1,4 1,7 4,6
96 Uganda 1,7 1,6 1,5 1,6 4,0
97 Coréia, Rep. 1,5 1,5 1,6 1,5 3,7
98 Benin 1,7 1,2 1,4 1,4 3,1
99 Brasil 1,9 1,5 0,9 1,4 2,9
100 Egito, Rep. Árabe 1,3 1,3 1,4 1,4 2,4
101 Marrocos 1,4 1,3 1,4 1,3 2,3
102 Venezuela 1,0 1,1 1,7 1,2 1,7
103 Argentina 1,3 1,3 1,2 1,2 1,6
104 Índia 1,3 1,3 1,1 1,2 1,6
105 Bolívia 1,7 1,0 0,8 1,2 1,3
106 Trinidad e Tobago 1,2 1,1 1,1 1,2 1,1
107 Nigéria 1,2 1,0 0,8 1,0 0,0
108 Peru 1,1 1,1 0,9 1,0 0,0
109 China 0,9 0,8 0,7 0,8 0,0
110 Russa, Fed. 0,9 0,7 0,6 0,7 0,0
111 Japão 0,7 0,7 0,7 0,7 0,0
112 Líbano 0,6 0,5 0,6 0,5 0,0113 Botsuana 0,5 0,4 0,4 0,5 0,0
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial.
104
ANEXO VII – Índice de Vulnerabilidade Externa
Países Índice X/PIBÍndice
Concentração das X
Índice IED acumulado/PIB
Índice DET/X Índice M/RI IVE
1 Guiné 31,7 85,8 28,1 99,2 76,9 64,32 Panamá 97,5 44,9 100,0 27,3 51,1 64,23 Irlanda 100,0 21,8 82,6 0,0 100,0 60,94 Jamaica 44,1 78,0 98,9 69,9 13,1 60,85 Holanda 90,1 7,4 99,2 0,0 100,0 59,36 Zâmbia 37,9 83,0 100,0 40,1 22,7 56,77 Sudão 7,0 100,0 39,0 100,0 34,8 56,28 Bélgica 100,0 3,3 70,9 0,0 100,0 54,89 Azerbaijão 79,9 74,3 92,5 7,2 19,3 54,610 Casaquistão 57,7 75,8 59,4 61,8 11,2 53,211 Papua Nova Guiné 100,0 32,7 100,0 19,1 13,4 53,012 Suazilândia 100,0 37,6 73,8 6,6 36,6 50,913 Estônia 96,7 8,5 99,4 12,7 32,1 49,914 Malauí 10,0 67,5 23,5 100,0 41,4 48,515 Nicarágua 26,7 24,7 77,5 94,8 18,2 48,416 Bolívia 39,6 46,6 99,5 50,8 1,3 47,617 Trinidad e Tobago 82,2 45,0 100,0 8,1 1,1 47,318 Bulgária 75,1 8,3 100,0 40,2 8,2 46,319 Líbano 12,3 17,3 100,0 100,0 0,0 45,920 Camboja 80,1 48,8 55,2 27,4 17,9 45,921 Laos 33,8 42,0 31,4 100,0 18,3 45,122 Chile 47,6 42,5 92,8 29,0 11,2 44,623 Moçambique 34,8 75,0 50,0 50,5 11,2 44,324 Togo 42,6 36,7 46,6 70,5 23,9 44,125 Malásia 100,0 15,0 82,0 11,2 5,3 42,726 Gabão 75,5 100,0 0,4 21,9 14,5 42,527 Arábia Saudita 75,5 100,0 19,1 0,0 17,5 42,428 Jordânia 61,3 11,0 93,8 37,4 7,0 42,129 Equador 30,1 66,9 35,3 45,6 31,5 41,930 Mongólia 78,0 52,5 41,7 26,7 9,8 41,831 Hungria 93,1 8,8 69,4 11,1 22,1 40,932 Letônia 47,9 4,3 41,6 93,6 16,7 40,833 Nigéria 45,6 100,0 47,4 8,2 0,0 40,234 Costa do Marfim 56,4 35,7 33,8 52,2 22,4 40,135 Tunísia 57,8 14,2 73,7 42,8 11,5 40,036 Moldávia 52,5 16,7 56,3 54,2 20,3 40,037 Bielorrússia 71,3 31,6 2,0 10,7 79,6 39,038 Quirguízia, Rep. 42,6 31,1 38,0 68,6 11,3 38,339 Checa, Rep. 95,7 2,5 70,2 5,4 16,0 38,040 Eslováquia, Rep. 100,0 9,9 51,8 6,2 19,9 37,641 Botsuana 54,1 91,1 39,8 2,8 0,0 37,542 Honduras 64,2 24,8 56,0 26,1 16,5 37,543 Suécia 57,1 4,5 88,8 0,0 35,9 37,244 Reino Unido 20,5 3,6 62,1 0,0 100,0 37,245 Venezuela 33,6 100,0 25,4 25,4 1,7 37,246 Argentina 17,0 8,4 71,3 83,9 1,6 36,547 Oman 65,6 84,2 17,8 6,4 7,7 36,348 Eslovênia 80,6 5,2 14,6 0,0 80,3 36,249 Costa Rica 53,8 18,5 62,6 23,8 20,8 35,950 Síria, Rep. Árabe 40,3 48,6 35,6 23,5 29,4 35,551 Gana 38,5 53,5 25,5 37,7 20,6 35,252 Áustria 65,9 0,0 28,6 0,0 77,3 34,453 Burundi 0,0 57,8 0,0 100,0 14,0 34,454 Ruanda 0,0 58,6 4,3 100,0 4,7 33,555 Geórgia 29,0 15,8 64,0 29,0 29,8 33,556 Lituânia 66,3 13,5 29,0 39,0 19,3 33,4
105
Países Índice X/PIBÍndice
Concentração das X
Índice IED acumulado/PIB
Índice DET/X Índice M/RI IVE
57 Paraguai 58,6 40,4 28,3 25,7 13,9 33,458 Tailândia 91,2 1,4 52,2 13,6 8,1 33,359 Etiópia 0,3 46,8 24,1 66,9 28,3 33,360 Filipinas 49,1 40,3 24,9 42,3 9,3 33,261 El Salvador 20,3 24,5 27,3 68,8 22,5 32,762 Finlândia 46,8 14,3 41,1 0,0 61,0 32,663 Irã, Rep. Islâmica 28,9 100,0 0,8 10,3 21,8 32,364 Macedônia 54,1 15,7 42,4 38,7 10,4 32,365 Espanha 19,1 3,8 38,3 0,0 100,0 32,266 Burkina Fasso 0,0 56,0 0,0 95,0 10,1 32,267 Canadá 34,4 6,2 43,2 0,0 74,1 31,668 Tanzânia 11,7 33,0 38,4 70,1 4,6 31,569 Croácia 44,8 5,2 44,0 52,5 8,7 31,070 Benin 0,0 60,7 17,4 69,0 3,1 30,071 Dominicana, Rep. 24,5 16,5 42,1 29,3 37,5 30,072 Uruguai 23,7 18,8 33,8 67,3 5,3 29,873 Armênia 15,5 32,7 35,2 52,3 10,7 29,374 Egito, Rep. Árabe 25,2 35,5 48,3 34,5 2,4 29,275 Israel 44,4 41,2 46,9 0,0 8,6 28,276 Bangladesh 7,3 41,0 3,7 64,1 21,6 27,577 Madagascar 23,3 17,9 22,2 51,9 21,2 27,378 Maurício 71,0 30,7 12,4 6,2 14,9 27,079 Peru 21,1 25,4 44,2 42,3 0,0 26,680 Alemanha 47,1 2,1 20,9 0,0 61,6 26,481 Ucrânia 52,0 9,2 26,2 35,3 8,8 26,382 Suíça 59,2 8,9 48,4 0,0 11,7 25,683 Sri Lanka 25,8 18,6 11,6 52,2 19,3 25,584 Noruega 48,9 51,8 19,5 0,0 5,5 25,285 Uganda 2,6 23,4 33,4 61,8 4,0 25,186 Polônia 39,4 0,0 35,1 37,7 12,6 25,087 Grécia 13,9 4,2 6,1 0,0 100,0 24,888 Guatemala 17,4 11,1 20,5 60,2 14,7 24,889 Colômbia 5,6 18,7 41,2 49,8 7,9 24,690 Romênia 26,6 5,0 33,3 52,4 5,4 24,591 Dinamarca 57,3 0,0 40,4 0,0 21,1 23,792 Albânia 17,7 26,6 26,2 35,5 11,3 23,593 Nepal 0,0 10,6 0,0 99,3 5,6 23,194 Portugal 26,1 2,3 41,0 0,0 44,1 22,795 Marrocos 31,2 11,1 37,8 29,2 2,3 22,396 Paquistão 2,1 21,2 9,5 70,5 7,3 22,197 México 21,7 10,3 35,6 24,4 17,1 21,898 Russa, Fed. 29,7 41,7 6,7 31,0 0,0 21,899 Senegal 18,8 20,8 11,4 40,9 14,6 21,3100 França 19,5 0,0 39,1 0,0 40,4 19,8101 Quênia 20,4 18,5 0,0 40,8 16,4 19,2102 Indonésia 27,3 7,2 5,7 46,2 8,2 18,9103 Nova Zelândia 22,8 8,5 47,3 0,0 12,4 18,2104 Turquia 13,2 1,5 5,5 61,4 9,1 18,2105 China 38,8 4,1 32,5 11,3 0,0 17,3106 Brasil 1,1 1,3 30,5 48,1 2,9 16,8107 África do Sul 24,2 10,3 16,6 17,3 15,2 16,7108 Austrália 9,5 12,4 35,7 0,0 22,6 16,0109 Estados Unidos 0,0 0,0 18,9 0,0 60,6 15,9110 Itália 21,2 0,0 5,9 0,0 40,4 13,5111 Coréia, Rep. 40,7 11,5 0,4 0,0 3,7 11,3112 Índia 11,3 9,1 0,0 27,7 1,6 9,9113 Japão 3,6 9,1 0,0 0,0 0,0 2,5
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial e da UNCTAD. Nota: Índice X/PIB refere-se às exportações como razão do PIB. Índice concentração das X refere-se à concentração das exportações. Índice DET/X refere-se à dívida externa total como proporção das exportações. Índice M/RI refere-se à relação entre importações e reservas internacionais.
106
ANEXO VIII – Dados referentes às variáveis macroeconômicas da América Latina
Países 2006 2007 2008 2009 Países 2006 2007 2008 2009Argentina 8,5 8,7 6,8 0,7 Argentina 19,5 20,4 20,9 18,6Bolívia 4,8 4,6 6,1 3,5 Bolívia 14,0 15,1 16,9 16,5Brasil 4,0 5,7 5,1 0,3 Brasil 15,7 16,9 18,3 16,3Chile 4,6 4,7 3,2 - 1,8 Chile 24,0 25,7 29,8 25,3Colômbia 6,9 7,5 2,4 0,3 Colômbia 21,8 23,4 23,9 22,5Equador 3,9 2,5 6,5 - 0,4 Equador 26,8 26,8 29,2 29,5México 5,0 3,4 1,3 - 6,7 México 22,3 23,1 23,9 22,8Paraguai 4,3 6,8 5,8 - 3,5 Paraguai 16,2 17,3 19,3 17,1Peru 7,7 8,9 9,8 0,8 Peru 21,2 24,0 28,7 25,7Uruguai 7,0 7,6 8,9 1,2 Uruguai 15,2 15,1 16,4 16,3Venezuela 9,9 8,2 4,8 - 2,3 Venezuela 26,4 30,6 28,3 27,4
Taxa de crescimento do PIB (em %) Formação bruta de capital fixo (em % do PIB)
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL.
Países 2006 2007 2008 2009 Países 2006 2007 2008 2009Argentina 10,2 8,5 7,9 8,8 Argentina 9,8 8,5 7,2 6,5Bolívia 8,0 7,7 6,7 6,8 Bolívia 4,9 11,7 11,8 0,8Brasil 10,0 9,3 7,9 8,1 Brasil 3,1 4,5 5,9 4,2Chile 7,8 7,1 7,8 9,8 Chile 2,6 7,8 7,1 -1,9Colômbia 13,1 11,4 11,5 13,0 Colômbia 4,5 5,7 7,7 2,7Equador 8,1 7,4 6,9 8,6 Equador 2,9 3,3 8,8 3,5México 4,6 4,8 4,9 6,8 México 4,1 3,8 6,5 4,5Paraguai 8,9 7,2 7,4 7,3 Paraguai 12,5 6 7,5 2,8Peru 8,5 8,4 8,4 8,3 Peru 1,1 3,9 6,6 0,7Uruguai 11,4 9,6 7,9 7,7 Uruguai 6,4 8,5 9,2 6,5Venezuela 9,9 8,3 7,4 8,0 Venezuela 17 22,5 31,9 28,9
Taxa de desemprego média anual (em %) Taxa de inflação (em %)
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL.
Países 2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009Argentina 2,7 2,7 2,8 1,4 1,0 0,6 0,7 -0,8Bolívia 5,3 3,5 0,8 -1,4 3,5 2,3 0,0 -3,2Brasil 2,1 2,3 2,5 0,9 -2,9 -1,9 -1,3 -2,9Chile 8,4 9,4 5,8 -3,1 7,7 8,8 5,3 -3,6Colômbia 0,1 1,0 0,9 -0,6 -3,5 -2,7 -2,3 -3,7Equador 5,4 4,0 -0,2 -3,1 3,3 2,1 -1,5 -3,8México 2,1 1,9 1,6 0,1 0,1 0,0 -0,1 -2,1Paraguai 1,5 1,8 3,3 0,0 0,5 1,0 2,6 -0,7Peru 3,2 3,5 3,6 -0,1 1,5 1,8 2,2 -1,4Uruguai 3,2 2,1 1,7 0,6 -1,0 -1,6 -1,0 -2,1Venezuela 2,1 4,5 0,1 -4,1 0,0 3,0 -1,2 -5,5
Resultado globalFinanças públicas (em % do PIB)
Resultado primário
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL.
107
Países 2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009Argentina 6,3 5,0 4,4 5,6 -2,9 -2,3 -2,3 -2,8 0,2 0,1 0,0 0,0Bolívia 7,7 6,1 7,6 2,5 -3,4 -3,7 -3,2 -3,0 7,1 9,5 7,7 6,6Brasil 3,4 2,0 0,5 0,6 -2,5 -2,1 -2,5 -2,0 0,4 0,3 0,3 0,2Chile 15,0 13,8 4,8 7,5 -12,6 -11,3 -8,5 -7,3 2,2 1,9 1,7 1,6Colômbia -1,1 -1,5 -0,9 -1,0 -3,7 -3,7 -4,4 -3,7 2,9 2,5 2,4 2,0Equador 1,1 1,0 -0,5 -5,1 -4,7 -4,5 -2,9 -2,6 7,4 7,1 5,5 4,7México -1,2 -1,6 -2,2 -1,6 -1,5 -1,8 -1,6 -1,6 2,5 2,6 2,3 2,5Paraguai -2,7 -0,1 -3,8 -2,7 -0,6 -1,3 -1,3 -1,3 4,6 3,1 2,4 2,6Peru 8,8 6,6 0,9 2,3 -8,2 -7,8 -6,4 -5,2 2,4 2,3 2,2 2,0Uruguai -0,5 0,5 -2,6 0,7 -2,2 -1,4 -1,5 -1,6 0,6 0,6 0,5 0,4Venezuela 15,4 7,1 12,0 3,2 -0,6 1,1 0,2 -0,6 0,0 -0,2 -0,2 -0,1
Balança comercial (em % do PIB) Balanço de rendas (em % do PIB) Transferências unilaterais (em % do PIB)
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL e do FMI.
Países 2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009Argentina 3,2 2,3 1,5 2,0 3,2 1,6 -3,3 -2,7 1,4 1,9 2,3 1,1Bolívia 11,3 12,0 12,1 4,6 1,0 2,7 2,2 -1,9 2,4 2,7 3,1 1,8Brasil 1,2 0,1 -1,7 -1,5 1,5 6,3 1,9 3,5 -0,9 2,0 1,5 1,8Chile 4,9 4,5 -1,5 2,6 -3,3 -6,3 5,8 0,6 3,1 5,8 5,8 3,5Colômbia -1,9 -2,8 -2,9 -2,2 1,9 5,0 4,0 3,2 3,5 3,9 3,6 1,5Equador 3,9 3,6 2,2 -0,7 -4,2 -0,6 -0,3 3,1 0,6 0,4 1,8 1,2México -0,5 -0,8 -1,5 -0,6 0,1 1,8 2,1 -0,2 1,4 1,9 2,0 1,0Paraguai 1,4 1,8 -2,5 -1,0 2,8 4,3 5,0 7,3 1,8 1,4 1,4 1,7Peru 3,1 1,3 -3,7 0,2 0,0 7,8 5,7 2,9 3,8 5,1 3,2 3,5Uruguai -2,0 -0,9 -4,8 0,7 14,1 4,6 10,8 5,6 7,5 4,8 6,6 4,0Venezuela 14,8 8,8 12,0 2,6 -12,0 -10,5 -9,0 -5,4 -1,5 0,4 -0,3 -0,9
Transações correntes (em % do PIB) IED líquido (em % do PIB)Conta capital e financeira (em % do PIB)
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL e do FMI.