33
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIBIC- CNPQ RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: Janeiro/2015 a Julho/2015. ( ) PARCIAL (x) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho ): O Sacrifício Heróico Como Resistência Na Posditadura Brasileira e Portuguesa Nome do Orientador: Tânia Maria Pereira Sarmento-Pantoja Titulação do Orientador: Doutora Departamento: Faculdade de Letras e Comunicação Unidade: Campus Universitário de Belém Laboratório: Programa de Pós-Graduação em Letras Título do Plano de Trabalho: Faces do herói na posditadura brasileira Nome do Bolsista: Isabela Quaresma de Sousa Tipo de Bolsa: ( x ) PIBIC/CNPq ( ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/INTERIOR ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PARD ( ) PARD renovação ( ) Bolsistas PIBIC do edital CNPq 001/2007

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

  • Upload
    lamliem

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DEPARTAMENTO DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA –

PIBIC- CNPQ

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO

Período: Janeiro/2015 a Julho/2015.

( ) PARCIAL

(x) FINAL

IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho ): O

Sacrifício Heróico Como Resistência Na Posditadura Brasileira e Portuguesa

Nome do Orientador: Tânia Maria Pereira Sarmento-Pantoja

Titulação do Orientador: Doutora

Departamento: Faculdade de Letras e Comunicação

Unidade: Campus Universitário de Belém

Laboratório: Programa de Pós-Graduação em Letras

Título do Plano de Trabalho: Faces do herói na posditadura brasileira

Nome do Bolsista: Isabela Quaresma de Sousa

Tipo de Bolsa:

( x ) PIBIC/CNPq

( ) PIBIC/UFPA

( ) PIBIC/INTERIOR

( ) PIBIC/FAPESPA

( ) PARD

( ) PARD – renovação

( ) Bolsistas PIBIC do edital CNPq 001/2007

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

A CONSTITUIÇÃO DO HERÓI GUERRILHEIRO EM NARRATIVAS

POSDITATORIAIS

Isabela Quaresma de SOUSA (PIBIC-UFPA)i

Tânia Maria Pereira SARMENTO-PANTOJA ((FALE/ILC/PPGL)ii

O presente estudo buscou investigar a possibilidade de um processo de

constituição dos heróis guerrilheiros - atuantes contra o regime militar no Brasil -

encontrados nas narrativas posditatoriais “Pessach, a travessia”, de Carlos Heitor Cony;

“Em câmara lenta”, de Renato Tapajós; na obra cinematográfica “Cabra-Cega”, dirigido

por Toni Venturi; e em imagens fotográficas de corpos de militantes mortos pelo braço

armado da ditadura de 1964, coletadas em acervos virtuais. Foi possível inferir que há a

presença de protagonistas que se colocam como heróis em duplo sentido: em função do

protagonismo no texto literário, e em função do homem que busca trilhar sua própria

história. Após a análise das personagens encontradas no corpus, foi possível rastrear

características em comum que constituem os heróis guerrilheiros, as quais

denominamos: apartação do cotidiano, adesão à luta armada, entrada na clandestinidade

e morte. Para dar conta das análises, contamos, principalmente, com os estudos de

Kothe (1987), Márcio Seligmann-Silva (2001) e Alfredo Bosi (2002).

1Aluna da Graduação em Letras Língua Portuguesa. Atuou no projeto de pesquisa Faces do herói na

posditadura brasileira como bolsista de iniciação cientifica, vigência 2014-2015.

1Professora Doutora da área de Estudos Literários. Coordenadora da pesquisa Faces do herói na

posditadura brasileira. Líder do grupo de pesquisa Estudos sobre Narrativas de Resistência

(NARRARES).

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

INTRODUÇÃO

A pesquisa investiga a possibilidade de que existe um processo de heroicização

em um corpus narrativo e iconográfico posditatorial relacionado à ditadura brasileira e

portuguesa. A hipótese inicial é a de que do ponto de vista estético esse processo vale-se

de aproximações com a narrativa trágica e com a narrativa de exemplo, possibilitando a

formulação do arquivo de temporalidades e das condições que as permeiam; do ponto

de vista ético, se baseia em um dever de resistência e de justiça, que em sua atualidade

resvala também para um dever de memória. Como segunda hipótese, consideramos as

diferentes escolhas ficcionais presentes no corpus português e no brasileiro, no que

tange à figura do herói com base em duas características: habilitação (no caso brasileiro)

e subversão (no caso português). Desse modo, os procedimentos envolvem a coleta de

dados em acervos – especificamente no que diz respeito ao material fotográfico;

levantamento das constituintes e variantes de paradigmas e a análise do corpus com

base na análise de paralelos entre os objetos que o integram.

JUSTIFICATIVA

Consideramos aqui que a resistência, por sua constituição condicionada à

oposição, à subversão, enfim, a um ethos desafiador que aponta para a exploração de

algum tipo de continuum coercivo pela construção de mecanismos de tensão e de

desacordos, opera sobre ideais de inspiração utópica. Lembrando que as utopias partem

sempre de um ato de rompimento com uma ordem em vigor em nome de um ideal que

lhes servirá de fundamento de oposição, cuja presença carrega a utopia de compromisso

com a expectativa – alguns a chamariam de esperança – de que uma ordem ou situação

ruim será substituída por outra melhor. A face mais radical dessa inspiração utópica é a

heroicização. Esses elementos tendem a estar presentes como representações em objetos

que, sobretudo, se constituem como espaços de abordagem acerca dos regimes de

exceção: testemunhos, romances, filmes e fotografias,

Nesse contexto, os processos de heroicização atingem particularmente a figura

do militante, e de maneira ainda mais singular a do guerrilheiro, que uma vez morto

pelas forças coercivas que atuam como braço armado do estado de exceção tem a

imagem do momento de sua morte e a imagem de seu cadáver transformada em

representações do sacrifício heróico, da morte por uma causa justa. Ilustrativo dessa

possibilidade é a foto do estudante Édison Lima Souto, de apenas 17 anos, que ao

participar de uma manifestação contra o regime civil-militar de 1964, realizada em

marco de 1968, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, fio atingido por um tiro

disparado por um policial.

Ainda que não fosse guerrilheiro, Souto pode ser considerado um exemplo do

que estamos argumentando. Sua morte provocou reações ainda mais exacerbadas contra

o regime. A liderança clandestina da União Nacional dos Estudantes (UNE) decretou

greve nacional. O velório e o enterro do estudante transformaram-se em eventos

públicos de grande tensão, envolvendo uma série de passeatas e novos confrontos nas

ruas. Nesse episódio, fotos do corpo de Souto circularam na mídia impressa, e

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

terminaram constituindo-se em ícones da luta desencadeada pelos segmentos

descontentes com o regime e, ao mesmo tempo, a figuração nua e crua da violência

perpetrada pelo estado. Um corpo de torço despido, fora de um esquife, sem o vestuário

e o tratamento costumeiramente delegado ao cadáver no momento do velório, transmite

um sentimento de desamparo e de juventude interrompida pelo braço armado do estado

de exceção.

Outro exemplo desse processo são as fotografias da militante Soledad Barrett

Viedma, que se encontraram agregadas ao romance Soledad, no Recife, de

pernambucano Urariano Mota. Soledad, companheira do agente duplo Cabo Anselmo,

estava grávida quando foi torturada e assassinada no chamado massacre da granja de

São Bento, que ocorreu no estado de Pernambuco. Seu corpo, junto com o do feto que

carregava, foi encontrado dentro de um barril. No romance, Mota vale-se da relação

entre a fotografia e a escrita para dar vazão ao testemunho do que aconteceu à Soledad.

O processo valoriza a constituição da personagem histórica, na medida em que o

ocorrido a ela é concebido como paixão (sacrifício) e resvala para uma visada heróica

da personagem histórica.

Seligmann-Silva nos diz que toda imagem “tem algo verbal, simbólico, que pode

ser interpretado e traduzido - de “n” maneiras – pelo receptor, mas toda imagem tem

também restos não verbalizáveis. As imagens são ao mesmo tempo verbais e mudas.

Assim como existem ausências de palavras diante de certas imagens, existem também

cenas que deixaram as imagens – embaçadas, traumáticas – apenas na mente de certas

pessoas”. O pesquisador ainda atesta a ausencia de imagens da tortura referentes à

ditadura brasileira. Para ele, (2014, p.14) essa ausência “é parte do buraco negro da

memória da violência da ditadura”.

Pensamos que se existe essa ausência, há inúmeras fotografias de corpos de

militantes, quase todos apanhados em emboscadas que, enquanto restos, vem dialogar

com a ausência que a história ainda não recuperou completamente. Um caso bem

emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a

ditadura civil-militar de 1964. Maighella foi morto em 4 de novembro de 1969 em

emboscada preparada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. Seu sucessor no comando

da resistência, Joaquim Câmara Ferreira, também foi morto, em 1970, pelo mesmo

Fleury. A foto do cadáver de Marighella, tirada logo após ele ser assassinado, circula até

os dias de hoje na mídia. Essa foto cumpriu inicialmente a função de troféu para as

forças coercivas, depois ganhou outras ressignificações. Tais ressignificações estão

certamente relacionadas a uma série desses “restos não verbalizáveis” a que se reporta

Selligmann-Silva. A comunhão desses restos é parte da constituição do heroísmo de

Marighella, ao mesmo tempo em que é a ponte para o arquivo das formas de violência

perpetradas pela ditadura de 1964. Esses restos são constituintes culturais importantes e

nos permitem perceber as “formas de vida” envolvidas.

Alguns romances e filmes produzidos no calor de vário episódios e mais

recentemente, a partir de um diálogo aberto entre a ficção e a história, procuraram

especular sobre diversos aspectos relacionados aos momentos dramáticos que

envolveram, no caso brasileiro as ações de resistência ao regime. Nesse conjunto nos

chama atenção as representações do sacrifício do militante. Entre os romances que

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

seguem essa linha destacamos Quarup (1967), de Antônio Callado, Pessach, a travessia

(1967), de Carlos Heitor Cony, Em câmera lenta (1977), de Renato Tapajós e mais

recentemente Soledade no recife (2009), de Urariano Mota. São exemplos de romances

em que o contexto da revolução armada é um elemento patente e o militante é o

sacrificado no interior da lógica resistência x coerção. Ora, porque opta pelo

enfrentamento, embora ciente da morte iminente e/ou da impossibilidade de

sobrevivência, como é o caso de Quarup, Pessach, a travessia, em Câmera Lenta, ora

porque é tragado pelas forças coercivas (Soledad no Recife). No cinema mais recente

temos Cabra Cega como exemplo de narrativa a trabalhar o sacrifício heróico em prol

do exercício de resistência.

OBJETIVOS

1) Proceder ao levantamento bibliográfico relativo ao assunto em questão;

2) Mapear os elementos formais e temáticos no corpus;

3) Analisar as narrativas com vistas a verificar a verificação da hipóteses.

MATERIAIS E MÉTODOS: A pesquisa se dá no âmbito da literatura comparada. Os

procedimentos de pesquisa correspondem à pesquisa bibliográfica e análise dos dados

com base em estudo de caso.

1. CORPUS

Pessach, a travessia (romance), de Carlos Heitor Cony;

Em câmera lenta (romance), de Renato Tapajós;

Cabra Cega (filme de ficção), direção de Tony Venturi;

Fotografias em bases de dados virtuais e físicos.

Acervo de Jornais da Biblioteca Arthur Viana pertencente à Fundação Cultural do Pará

Tancredo Neves.

RESULTADOS

“O homem que se engaja e que se dá conta

de que ele não é apenas aquele que escolheu

ser, mas também um legislador que escolhe

simultaneamente a si mesmo e a

humanidade inteira, não consegue escapar

ao sentimento de sua total e profunda

responsabilidade”. (SARTRE, 1970)

O estudo que ora apresentamos está vinculado às investigações desenvolvidas no

projeto de pesquisa O sacrifício heróico como resistência na posditadura brasileira e

portuguesa, em fase de finalização. O corpus inicial compreendia as seguintes

narrativas: as narrativas literárias Pessach, a travessia, de Carlos Heitor Cony; Em

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

câmara lenta, de Renato Tapajós; o filme de ficção Cabra Cega, direção de Tony

Venturi; e fotografias de bases de dados virtuais e físicas.

Esta pesquisa busca compreender algumas nuances acerca das diferentes

constituições dos heróis guerrilheiros encontrados nas narrativas publicadas na época da

ditadura militar no Brasil. No desenvolvimento da pesquisa entendemos que o corpus

deveria abranger um conjunto de narrativas que abarcassem cenários de representações

do militante, contrário ao regime de exceção a partir de 1964. Verificar as diferentes

constituições dos heróis guerrilheiros consistiu no principal objetivo do plano de

trabalho que seguimos. Para alcançarmos esse objetivo, procedemos ao mapeamento

dos aspectos formais e temáticos e à análise das narrativas para compor um corpus final.

1. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DA RESISTÊNCIA

Alfredo Bosi em seu ensaio “Narrativa e Resistência” expõe que resistência é a

necessidade de uma força opor-se a outra força, esta alheia que busca subjugar, destruir

ou massacrar a primeira. Movimento resistente é o conjunto de ações e iniciativas

tomado por um grupo de pessoas que defendem seus ideais e valores, como a luta pela

justiça, pelos direitos fundamentais, pela dignidade e liberdade, estes que são o núcleo

dos ideais da Resistência. O ensaísta diferencia intuição e razão, esta última sendo

atrelada a um critério de realidade que a primeira não exige; e desejo e vontade, no qual

o primeiro se relaciona às necessidades primárias e persegue o mundo das satisfações, e

o segundo é regido pelas ações livres que constituem as esferas ética e política. Sendo

assim, Bosi afirma que Resistência é um valor ético e não estético, pois está atrelado às

nossas escolhas conscientes, regido pela razão e vontade. Dessa perspectiva, não deveria

ocorrer a mistura entre arte, ética e política, porém, foi nesse período que expressões

como “poesia de resistência” e “narrativa de resistência” ganharam força.

Esta literatura de resistência surgiu nas décadas de 1930 e 1940 com o

engajamento de intelectuais na luta contra o nazismo, o facismo e demais regimes

políticos autoritários. Na década de 1960, com o início do regime de exceção no Brasil,

houve um alastramento do termo Resistência entre os intelectuais, que usaram de seus

conhecimentos para lutar e resistir através de canções e publicações escritas contra o

inimigo que era o regime militar. Maria de Lúcia de Barros Camargo (2010, p.5) afirma:

“Nesse período, a palavra “resistir” tem seu sentido

potencializado, inclusive pelas metáforas bélicas que transformaram

editores em partisans, livrarias e revistas em trincheiras, ou poemas

em armas, incorporando aos atos culturais plus de sentidos, imersão na

historicidade e formas de validação. Resistir culturalmente constituía

ato único e legítimo a ser empreendido pela intelectualidade brasileira

“progressista” diante do inimigo comum, o regime militar”.

Os narradores de romance teriam o poder de traçar os caminhos da resistência

em suas obras. Em meio a ideais contrários, dar vida a heróis ou vilões que lutarão por

seus valores. Sendo assim, Bosi delimita duas idéias de Resistência, a que ele

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

caracteriza como a resistência que é inerente à escrita, e a resistência sendo o tema da

narrativa. A resistência inerente à escrita conjectura a “vida como ela é”; trata-se de

modelos de realidade e experiência vivida, mas que não estão atados à eventos

históricos, relaciona-se com os valores e os antivalores culturalmente determinados. A

exemplo disso, Bosi seleciona A hora da estrela, de Clarice Lispector, como paradigma

da literatura de resistência inerente à escrita. Já em relação à resistência como tema, o

narrador precisa colher dados históricos advindos de determinado período em que houve

um acontecimento para desenvolver sua história, que girará em torno da resistência, seja

por meio de um regime de exceção, como é o caso do nosso corpus de pesquisa, ou por

condições de exceção que ferem os valores humanos fundamentais, como é o caso da

narrativa cinematográfica Cela 211, dirigido por Daniel Monzón, que trata sobre a busca

de presidiários por melhores condições de vida no presídio, na qual um carcereiro, que é

o protagonista da história, passa a ser aliado do movimento.

A Resistência tem início em um período datado; tem tempo e espaço. Porém, ela

não se esgota em si, sendo perpetrada mesmo após o término das lutas, permanecendo

em signos da resistência como produções artísticas, fazendo com que a memória seja

imprescindível para o movimento. Logo, podemos considerar o testemunho como

expressão da memória.

“A necessidade de contar „aos outros‟, de tornar „os outros‟

participantes, alcançou entre nós, antes e depois da libertação, caráter

de impulso imediato e violento, até o ponto de competir com outras

necessidades elementares” (LEVI, 1988, p.7)

2. QUANDO A FOTOGRAFIA NARRA A BARBARIE

O testemunho é a forma que as pessoas que passaram por um evento traumático

têm para compartilhar a experiência vivida, a sua história e, muitas vezes, a história da

sociedade, pois, segundo Selligmann-Silva, o testemunho pode ser a tentativa de reunir

os fatos para dar um contexto, um lugar e uma motivação aos acontecimentos “O

testemunho também é um momento de tentativa de reunir os fragmentos dando um nexo

e um contexto aos mesmos”. (SELIGMANN-SILVA, 2001, p.124). Schollhammer

aponta que “um dos sintomas da cultura traumática é uma espécie de inversão da esfera

publica em que a intimidade privada é exposta como o interior de um casaco virado,

exibida e vivida em público num constante curto-circuito entre o individual e a

multidão” (SCHOLLHAMMER, 2013, p. 327 e 328). Logo, o indivíduo tem a

necessidade de narrar o trauma vivido para melhor lidar com este trauma.

Segundo Eugênia Vilela (2012), o testemunho poderá possuir um registro verbal

ou um registro não-verbal, como a fotografia. Há indícios de que os militares, através de

seu controle de informações, permitiam a exposição de corpos e nomes dos assassinados

nos jornais que circulavam na época, utilizando-se desses mortos como “exemplo” para

tentar amedrontar segmentos da população que se posicionavam contra a ditadura.

Atualmente, essas fotografias também servem de exemplo: exemplo de uma terrível

época experimentada pelo país, das terríveis atrocidades que seres humanos eram

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

capazes de fazer pelo poder, da prisão e falta de liberdade às quais os indivíduos

estavam sujeitos caso ousassem manifestar-se contrários ao regime, da omissão e apatia

que parte da população praticava. Essas fotografias, na atualidade, podem ser prova e

exemplo daquilo que as pessoas não podem deixar acontecer de novo. Daí, a

necessidade de tomarmos a narrativa de exemplo, como categoria e ferramenta de

análise. Entendemos que a narrativa de exemplo não apenas dá conta do corpus

analisado, enquanto um corpus formado por narrativas, como também está implicada no

registro historiográfico contido nas fotografias e nesse sentido seguimos os passos de

Seligmann-Silva, para quem toda imagem:

Tem algo verbal, simbólico, que pode ser interpretado e traduzido – de

“n” maneiras – pelo receptor, mas toda imagem tem também restos

não verbalizáveis. As imagens são ao mesmo tempo verbais e mudas.

Assim como existem ausência de palavras diante de certas imagens,

existem também cenas que deixaram imagens – embaçadas,

traumáticas – apenas na mente de certas pessoas. (Seligmann-Silva,

2014, p.57).

Mediante esses aspectos e considerando as ações perpetradas pelo braço armado

do regime civil-militar de 1964, cujas ações repressivas incluíam, além das prisões e

torturas, a perseguição e assassinato de líderes e/ou militantes importantes, contrários ao

regime, fizemos um levantamento em bases virtuais, em busca de imagens fotográficas

de cadáveres dos militantes assassinados1, como é o caso de Soledad Barret Viedma,

Carlos Marighella, Maria Lúcia Petit, Jarbas Pereira Marques, Pauline Reichstul, Maria

Regina Lobo Leite Figueiredo, Eudaldo Gomes da Silva, Evaldo Luiz F. de Souza,

Vladmir Herzog, Virgílio Gomes da Silva, José Campos Barreto, Sônia Maria Lopes de

Moraes, Emanuel Bezerra dos Santos, Antônio Carlos Bicalho Lana, Antônio H. Pereira

Neto e Lamarca.

Segundo afirmação de Bóris Kossoy, a realidade da fotografia está nas inúmeras

interpretações que cada receptor faz em determinado momento. As fotografias não

devem ser analisadas presas ao seu tempo, deve-se também confrontá-las com o mundo

atual e com as diversas situações ocorridas em outros tempos, pois essas contraposições

poderão compor novos significados para essas imagens.

De acordo com Selligmann-Silva (2014, p.57), as imagens têm algo de verbal e

podem ser interpretadas de inúmeras maneiras; elas também possuem os restos não-

verbalizáveis, que são a união de vários fatores extrapostos à imagem e que podem

constituir a nossa percepção das formas de vida desses militantes. Algo que não é visto

na fotografia em si, mas é perceptível em relação à fotografia como um todo: a vida do

militante, o lugar e as condições de sua morte. Também de acordo com Seligmann-Silva

há uma falha na memória da violência da ditadura, na medida em que há a ausência de

imagens da tortura perpetradas por representantes da ditadura brasileira. Consideramos

muito pertinente esse diagnóstico de Seligmann-Silva no que diz respeito à tortura,

1 As fotos correspondentes aos militantes citados se encontram em anexo a este estudo.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

porém, cabe ressaltar que há um número considerável de imagens fotográficas dos

assassinatos políticos da época. Imagens que circularam em meio jornalístico e que são

fundamentalmente constituídas dos corpos dos militantes, geralmente mortos durante ou

após sessões de tortura ou emboscadas policiais, como é o caso de Carlos Marighela,

um dos principais líderes das forças de resistência contra a ditadura de 1964. Em uma

emboscada planejada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, no dia 4 de novembro de

1969, Marighela foi assassinado a tiros. A imagem desse importante militante saiu nos

jornais da época como um troféu, uma grande vitória dos militares, que conseguiram

retirar da sociedade um indivíduo considerado pelo regime como criminoso, terrorista e

comunista.

A fotografia do cadáver do militante ganhou outras significações com o tempo: o

corpo de um herói da resistência, que abdicou de uma vida conveniente para lutar pelos

seus ideais, que passou por situações adversas, necessidades e viveu na clandestinidade.

De alguém que fereceu o próprio corpo à luta, tornou-se um guerrilheiro e morreu por

defender seus ideais.

Uma mártir da ditadura militar é Soledad Barret Viedma, uma comunista

paraguaia que, desde os dezessete anos já lutava e sofria por suas ideias: foi marcada à

navalha em Montevidéu por se recusar a gritar “Viva Hitler”. No Brasil, Soledad fazia

parte da Vanguarda Popular Revolucionária e foi entregue pelo próprio companheiro, o

cabo Anselmo, a Sérgio Fleury, e morreu com mais cinco militantes no que ficou

conhecido como "o massacre da granja São Bento", uma emboscada executada nas

proximidades da cidade do Recife. Soledad inspirou poemas, canções e vários livros,

dentre eles, o romance Soledad no Recife, de Urariano Mota. Mota em seu livro utiliza-

se da escrita e de imagens fotográficas para construir um testemunho ficcionalizado

sobre o que ocorreu à militante, que foi morta estando grávida. O sacrifício de Soledad é

visto com paixão e admiração, o que a transforma em uma heróica personagem

histórica.

Sem perder de vista a classificação que vigora nos estudos de referência sobre o

testemunho, nossa hipótese considera que essas fotografias podem ser entendidas como

Superstes – o relato daquele que passou por um evento traumático e pode dar

testemunho do que presenciou – pois a imagem do cadáver dá o testemunho da

perseguição e da eliminação física perpetrada pela ditadura e, desse modo, esses

cadáveres podem ser vistos como corpos que “ainda organicamente inteiros, afirmam

materialmente a memória” (Eugênia Vilela, 2000, p.43). Por conta dessa condição

nomeamos essas fotografias de superstes imagéticos. Entendemos, portanto, que as

fotografias desses cadáveres servem de mediação e de suporte para que as vítimas, ainda

que mortas, continuem a narrar a sua história como militantes e, principalmente, o que

aconteceu durante a sua morte, como forma de denúncia das atrocidades cometidas pelo

regime.

3. QUANDO A ESCRITA SOBRE O HERÓI GUERRILHEIRO SE FAZ

ROMANCE

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

3.1 O HERÓI EM PESSACH, A TRAVESSIA: ESTUDO DE CASO

A palavra chave de nossas considerações: herói. Não somente herói, mas o

heroísmo atrelado à morte, junto com a apartação do cotidiano conhecido. Heróis

guerrilheiros que como já ressaltamos antes abriram mão de suas famílias, de seus

empregos fixos, do conforto, da segurança, de uma visada apática a respeito das

condições políticas e econômicas vivenciadas pela nação brasileira no momento em que

esse herói decide pela luta. Lutar, no nível mais radical da militância, significou muitas

vezes segurar uma arma, embrenhar-se na floresta (no caso da guerrilha rural) ou em

abrigos marcados pela provisoriedade (no caso da guerrilha urbana), resistir contra um

poder aparentemente maior, recusar a inércia, a apatia, o descaso. Esses aspectos

puderam ser encontrados nos variados corpus dessa pesquisa, como as fotografias – já

comentadas – assim como o cinema e as narrativas literárias. Dito isto, passamos para

as considerações acerca das narrativas literárias.

De Carlos Heitor Cony Pessach, a travessia é um romance que foi publicado em

1967 e reeditado em 1975, pela editora Civilização Brasileira. E em 1997 pela

Companhia das Letras. O livro se divide em duas partes, a primeira é “PESSACH (a

passagem por cima)”; a segunda é intitulada “A Travessia”. O aspecto escolhido a ser

estudado no romance Pessach, a travessia é como se dá a constituição do herói na

narrativa, priorizando o estudo das personagens Paulo (protagonista) e Macedo

(personagem secundário).

O romance se concentra na figura de Paulo Simões, um escritor de quarenta anos

sem muitas preocupações, estático, egoísta, indiferente aos problemas do mundo,

mesmo após o primeiro contato através de um amigo – Silvio – com os problemas e

lutas militantes resistente ao cenário político da época:

“ – Paulo, você, como todos nós, está na encruzilhada. O país, a

humanidade, estão na encruzilhada. Só há duas atitudes: ou ficamos

sentados, à beira da estrada, sem tomar nenhum dos caminhos, ou

optamos por um deles. Creio que você como homem, como escritor,

não gostará de ficar sentado. Afinal, você não se preparou durante

tantos anos para, na idade madura, sentar-se à beira da estrada. Assim,

só lhe restam dois caminhos, que são a outra ponta da alternativa

inicial. Pois venho propor o meu caminho, que pode ser o nosso

caminho: numa palavra simples, pequena e perigosa, a luta” (CONY,

1997. p.30)

Paulo não entende a luta de Silvio, então este enumera os problemas mais graves

do país: suspensão das liberdades públicas e individuais, empobrecimento brutal das

classes médias, a faixa maior da população vivendo na miséria absoluta, degradação da

pessoa humana, violências policiais, torturas, assassínios. Tais enumerações eram fatos

corriqueiros durante o período do regime de exceção no Brasil, a partir de 1964,

demonstrando o cuidado do autor em aproximar dados historiográficos de sua escrita

ficcional. Para Silvio é inaceitável que as pessoas sejam condescendentes a tais

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

situações sem fazer nada, acusando-as por isso até de cumplicidade criminosa. Porém,

para Paulo, o fato de ele ter assinado alguns manifestos contra um punhado de coisas já

lhe bastava. Silvio oferece-lhe o fuzil, a luta armada, uma honra que Paulo veemente

recusa, como é possível perceber no fragmento a seguir:

“– Pois estou dizendo agora: o plano é impossível, pelo menos naquilo

que me diz respeito. É impossível para mim. Precisaria acreditar

suficientemente numa coisa para chegar ao ponto de lutar por ela. É

simples. Creio que todo mundo seja assim”. (CONY, 1997. p.34)

Podemos notar que escritor (falamos aqui de Paulo) não crê na causa, por isso

recusa a luta. Mas a conversa com Sílvio termina por lembrá-lo dos ideais sobre os

quais escreveu quando mais jovem, deixando-nos a pista de que há um herói

adormecido dentro do, aparentemente, menos engajado homem existente. O trecho do

livro antigo do escritor era esse:

“ – “A única certeza que possuo é essa: a da minha morte. Não sei se

acabo de dar o laço dessa gravata, não sei se chego ao fim desse dia ou

se tomo conta dos cachorros do dalai-lama. Só de uma coisa eu sei:

vou morrer. Aceito a morte, seria burrice fugir dela, ou não assimilá-

la. Se é a minha única certeza, tenho de preparar-me para ela, ou, se

possível, prepará-la para mim. Não quero morrer de velhice ou de

moléstia. Os samurais japoneses consideravam a morte natural, a

morte por moléstia, como nódoa infame, abominável. Tampouco terei

motivos para o suicídio. Mas não suportarei a morte na cama, a

próstata inflamada, urinas presas ou soltas, sondas, algodões

embebidos em éter, escarros, a repugnante liturgia da morte. Não vou

esperar pelo câncer reto ou do piloto, nem o insulto cerebral. Antes

que a vida me insulte, eu insultarei a vida: me engajo numa luta – não

há cruzadas para defender o túmulo do Salvados, é pena – e a ela me

entrego com ferocidade. Talvez consiga ser herói”.” (CONY, 1997.

p.36)

Na primeira parte, “A passagem por cima”, encontramos um sujeito

desinteressado e intratável. O título da primeira parte pode significar a passagem por

cima de si mesmo, de sua vida, de suas crenças e de sua inércia. A busca pela liberdade:

“...Pessach é a festa judaica que celebra o êxodo, a passagem do mar

vermelho, a fuga do cativeiro, a procura da terá prometida, e,

sobretudo, a passagem do Anjo que poupou os primogênitos hebreus.

O Anjo passou por cima. Tem muitos significados” (CONY, 1997.

p.166)

Na “passagem por cima” é quando todas essas coisas vêm à tona e as decisões de

Paulo passam a fazer parte de algo muito maior do que a simples vida de um escritor.

Na conversa com Sílvio, Paulo acredita que apenas assinando manifestos estará

ajudando à causa. Pouco lhe preocupa a causa, sim, mas mesmo assim o faz. Mesmo

que não perceba, Ana Maria – filha de Paulo – herdou o espírito aventureiro e militante

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

que o pai possuía na juventude, aquele que o faz querer morrer por uma causa nobre, ser

herói. Silvio plantou uma semente, mas somente se o solo estiver propenso à vida é que

irá surgir uma muda, para então crescer uma árvore. A partir da Passagem Por Cima é

que a história de Paulo Simões irá se cruzar com a experiência da militância. E todas as

decisões que o herói da narrativa toma serão somente suas.

Através de uma série de acasos, o protagonista da história se vê preso em um

esconderijo militante. A partir da segunda parte do livro, intitulada A TRAVESSIA, que

se passa em sua maior parte em um campo de treinamento de militantes, tomamos

conhecimento de um ser peculiar: Macedo, o líder daquela célula de guerrilheiros e

herói de caráter ambíguo.

Macedo é um homem severo, arrogante, obscuro e tão intratável quanto Paulo;

tem o corpo cheio de estigmas: cicatrizes advindas de torturas sofridas nas mãos do

braço armado do regime. Torturas que deixaram seus olhos tatuados por essas cicatrizes

e os órgãos genitais, imprestáveis, após serem queimados por maçarico, fazendo-o um

homem impotente e manco, e que sente diariamente dores constantes nas regiões

inferiores. Suas marcas de mutilação são profundas, transcendem o corpo físico, elas

dilaceram Macedo também como ser humano, nos levando a avaliar que ele representa

ao mesmo tempo o herói – líder guerrilheiro, inteligente, eficaz comandante de um

pequeno exército de militantes – quanto o anti herói, um monstro, capaz de matar um

companheiro e de abusar sexualmente de Vera (mesmo que se arrependa desse ato

posteriormente), outra guerrilheira de extrema importância para o desenrolar dos

acontecimentos na história. Vejamos como essa face autoritária e desumana de Macedo

é apresentada por Paulo, em um relato em primeira pessoa:

“Tomo distância e entro com o pé em cima da porta, arrebentando-a.

diante de mim, mais ou menos o que esperava ver, com algumas

surpresas: Macedo está nu, de chicote à mão. Entre as pernas, tem

uma coisa estorricada, disforme, sem cor. Na cama, o crioulo, também

nu, possui Vera. Há pedaços de batina vermelha em volta do leito, o

lençol sujo de sangue.” (Cony, 1997 p.194)

Com o desenrolar da trama, Paulo, Macedo, Vera e mais dois companheiros de

guerrilha se vêem sozinhos no meio de uma floresta tentando fugir para outro país, para

salvar as suas vidas. Eles vão em busca de exílio, pois se ficarem sabe que só lhes

restará a morte. Eles caminham à noite, se escondem de dia. No meio de sua fuga na

madrugada do terceiro dia, eles se deparam com umas barracas de soldados. Macedo

decide jogar uma granada entre as duas barracas e ordena para Vera e Paulo fazerem

fogo rasteiro. Após a explosão, eles descobrem que estão sendo atacados por mais

homens do que aqueles avistados nas duas barracas. Os dois homens que ainda estavam

com eles foram mortos. Os três restantes seguem o caminho, em busca de

permanecerem vivos. Eles encontram uma vala e se escondem perto o suficiente da

fronteira para a verem do alto de um galho de árvore. Macedo e Paulo notam que estão

vindo soldados do lado da fronteira à procura deles. Macedo decide que Vera e Paulo

atirarão do esconderijo, enquanto ele irá para a estrada, na frente dos soldados, e

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

explodirá uma granada. Todos sabem que ele irá morrer, mas ele se sacrifica para dar a

chance de alguém atravessar a fronteira vivo. Ele rasteja, se levanta e de braços abertos

joga a primeira granada, que explode entre as duas alas de soldados. A segunda granada

não chega nem a três metros dele quando ela explode, e os tiros de metralhadora passam

por todo o seu corpo. Desse modo, Macedo sacrifica sua vida em nome da vida dos

companheiros – maior ato heróico possível. Vera também se sacrifica por Paulo, se

colocando na frente de uma bala que pegaria nele. Ao chegar ao limite da fronteira

Paulo enterra a metralhadora e inicia a travessia do rio. De um lado a morte, do outro o

nada. Ele vai em direção ao nada, mas repentinamente, quando já estava seguro desiste,

retorna, desenterra a metralhadora e segue o caminho em direção aos soldados dos quais

fugia.

Assim termina a narrativa do romance Pessach, a travessia. No seu silêncio

final, a narrativa não nos conta o destino já selado de Paulo, mas o leitor intuí a

celebração da morte do guerrilheiro como sacrifício, como forma de honrar uma luta

perdida tanto na escrita, quanto na História.

Tudo o que aconteceu com Paulo Simões foi por escolha dele. A semente foi

implantada, mas ele a regou. Ele deu carona para Vera, ele parou o carro e decidiu

trazer o torturado para a fazenda, ele decidiu comprar as passagens para Porto Alegre,

ele aceitou resolver “o caso de Silvio”, primeiramente. Tudo faz parte de um ideário

escondido no interior de Paulo. Uma busca por uma meta, um motivo para viver ou

morrer. Aos seus quarenta anos, ele se encontrava em uma vida insignificante. Paulo foi

o último sobrevivente daquele grupo. Com uma arma na mão, ele foi caçar a sua

liberdade e a sua morte com glória. E nesse sentido cumpre algo com o qual esteve

comprometido no decorrer de sua entrega à militância: se for para morrer, que seja em

batalha, como um herói, como ele mesmo escreveu no seu livro.

3.2 HERÓIS OU ANTI-HERÓIS? OS HERÓIS GUERRILHEIROS EM

PESSACH, A TRAVESSIA E EM CÂMARA LENTA: ESTUDO COMPARADO

Como vimos no estudo apresentado no subtópico anterior o escritor Paulo

Simões – protagonista de Pessach, a travessia – é um personagem que passa por um

processo de emancipação durante a narrativa. Adorno, em seu estudo intitulado

Educação e Emancipação (1995) alega que a Emancipação é o esclarecimento. Como

essas considerações se aplicam à história de Paulo Simões? Na primeira parte da

narrativa do romance ele se mostra um homem acomodado, indiferente, sem grandes

preocupações, mas com uma vida sem sentido. No decorrer da narrativa, já na segunda

parte, toma consciência da situação política do seu país, passa a ser responsável por suas

decisões e se engaja na luta armada, tornando-se um herói ao ponto de sacrificar a sua

vida em nome de seus novos ideais. Logo, torna-se herói em dois sentidos: em função

do protagonismo na narrativa e em função da condição de herói épico que, segundo

Kothe (1987, p.15) “é o sonho do homem de fazer a sua própria história”.

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

“Ele”, protagonista da narrativa literária Em Câmara Lenta, de Renato Tapajós,

publicada em 1977 pela editora Alfa-Ômega – opositora ao regime militar -, pode ser

classificado como um anti-herói, pois, após a morte de sua companheira, e também

heroína, por meio de tortura exercida pelos militares, o discurso desse protagonista

torna-se desalentado, sem esperanças, agindo por agir, mas sem crer na mudança, para

ele a vida não faz mais sentido, a luta não faz mais sentido. “Ele” se torna um

pessimista. Seu discurso é o da saudade e da solidão. Melancólico, “Ele” passa a ser

movido apenas pelos instintos mais básicos: sobrevivência, alimentação etc. Aos

poucos, seu eu interior vai sendo derrotado. Avaliamos que esses aspectos não apenas

representam um estado melancólico, mas ao considerarmos a narrativa de Cony, podem

ser considerados como características de um anti-herói. De fato, o herói de Em Câmara

Lenta parece fazer um movimento inverso ao do herói de Pessach, a travessia. Talvez

porque o romance de Tapajós esteja mais centrado na extrema e aviltante violência a

que o militante já decididamente integrado à luta está sujeito, diferentemente do

romance de Cony, mais focado na trajetória da adesão à militância. Para o herói de

Tapajós, que testemunha a falência da luta armada e consequentemente a perda da

possibilidade de transformação das condições políticas imperantes no país, não importa

mais morrer com glória.

Em Câmara Lenta apresenta uma narrativa fragmentada: ela é composta por

pedaços de histórias, organizados de forma quase que aleatória; memórias do passado,

situações que consideramos presente e outras futuras. No passado, desde muito jovem, o

protagonista já se sentia um “estranho no ninho”, com sonhos de mudar o mundo.

Buscava engajar-se em alguma luta, fazer oposição, buscar novos rumos: “A agitação

era intensa, cartazes espalhados pela parede e colunas. Procurou algum colega. Ele

pretendia se engajar em alguma coisa.” (Tapajós, 1977, p. 65)

A narrativa nos proporciona sentimentos latentes, como o desespero, a

inquietação, a desesperança, principalmente com as diversas repetições da frase “é tarde

demais”. Ela pode fazer referência a outra expressão marcante na história: a do gesto. A

inquietação de “Ele” em relação ao gesto que foi feito, deixada de lado pelo desespero

pela morte da amante.

“Não admito e não permito que ninguém admita que todos os gestos

foram sem sentido, que todas as mortes não serviram para nada, que a

morte dela foi inútil. Eu sei que o gesto estilhaçou-se, não se

completou, ficou a meio caminho. Não pode ser apagado, tornando-se

inexistente, esquecido. Mesmo errado, valeu a pena.” (TAPAJÓS,

1977. Pag. 48)

Discursos de lucidez e desespero se mesclam no decorrer da narrativa.

Constatações de que o gesto deu errado e que a morte está próxima são cenários

regulares da história. Diferentemente do discurso de Paulo (Pessach, a travessia) – que

vê na morte a esperança, o sentido da vida, um motivo para viver; “Ele” espera a morte

como quem espera para ser atendido no armazém, uma espera aparentemente

interminável e desestimulante, quase sem sentir até. “Ele” vê seu destino traçado no

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

encontro marcado que tinha com o companheiro Carlos, amigo esse que ele nem tem

certeza de que está vivo. Sua ira contra os militares é radical, como vemos no trecho

seguir:

“Eu sei que a repressão deve estar no ponto, talvez com ele junto. Mas

mesmo assim eu vou e quero que eles estejam lá porque quero ver

suas caras imundas, quero ver seus corpos de animal rolarem e

derramarem sangue, o sangue que eles estão devendo a ela.”

(TAPAJÓS, 1997. Pag. 173)

O protagonista busca ser leal consigo mesmo e com os demais companheiros

que deram a vida pela causa militante, decide não sair do país, como diversos colegas

fizeram, e encarar a morte iminente. Seu último gesto heróico e resistente foi morrer de

braços abertos, ainda empunhando uma arma, “A deserção definitiva tinha sido

realizada”. (TAPAJÓS, 1997. Pag. 175)

4. QUANDO O CINEMA TAMBÉM NARRA A BARBÁRIE: O CASO CABRA-

CEGA

Cabra-cega é um filme brasileiro dirigido por Toni Venturi, lançado em 2005,

com 1 hora e 7 minutos de duração, do gênero drama. A trama é baseada em

depoimentos, se passa em 1971, período do regime militar brasileiro e aborda a vida dos

militantes esquerdistas e dos simpatizantes da causa. Por mais que seja uma obra

ficcional, a trama conta com áudios de televisão, vídeos e fotos da época, criando uma

atmosfera próxima da veracidade e aproximando o filme do caráter documental.

A produção tem como protagonista o militante Thiago, que é ferido a bala e tem

sua companheira, Dora, apreendida pelos militares. Thiago é salvo por um militante,

dirigente do movimento, de nome Matheus, que o ajuda a se esconder na casa de Pedro,

pois tem seu rosto estampados em jornais e cartazes da cidade e precisa se recuperar do

ferimento. Pedro é arquiteto e simpatizante da causa esquerdista, porém não tem

pretensões de aderir à luta armada. A mulher encarregada de cuidar de Thiago chama-se

Rosa, e, por causa da convivência, eles acabam criando laços emocionais e uma relação

amorosa. Rosa representa a jovem e esperançosa mulher militante, que teme a prisão e a

tortura, e acredita que as lutas armadas devem terminar.

O filme aborda a revolta de Thiago por ter de ficar preso e escondido no

apartamento de Pedro, fora do campo das batalhas armadas e políticas. Sentia-se desleal

com seus companheiros já mortos ou que estão sobre tortura. Diferentemente do

protagonista “Ele” de Em câmara lenta, Thiago quer agir, tomar decisões, lutar; “Ele”

se mostrava sem esperanças de continuar lutando. O protagonista da obra

cinematográfica é constantemente desconfiado, exageradamente preocupado com a

confiabilidade das pessoas a sua volta, podendo ser comparado ao personagem Macedo,

de Pessach, a travessia, que vivia em estado de constante alerta e preocupação em

relação a todos, principalmente Paulo.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

Nesse sentido, o protagonista de Cabra-Cega se aproxima do modelo de herói

guerrilheiro, tal como o encontrado no romance de Cony, aquele que abdica de tudo,

inclusive da própria vida, em nome da luta contra o regime de exceção. De acordo com

a apreciação de Thiago, Pedro (que pode ser comparado ao Paulo de Pessach, a

travessia) representa aqueles que consideram justas as lutas dos militantes, mas que não

se empenhariam ao ponto de segurar uma arma e ir à luta, mas faz sua parte ao dar

abrigo aos militantes que estavam sendo procurados pela polícia, oferecendo seu

apartamento como “aparelho”. Após um desentendimento com Thiago, Pedro faz a

seguinte afirmação: “eu sei que tua barra tá pesada, mas eu tô aqui cumprindo meu

papel. Eu posso não ser nenhum grande herói como você, mas também não sou nenhum

babaca”. A tortura também se faz presente em Cabra-Cega: a personagem Dora, a

companheira presa de Pedro, é resgatada do hospital por seus companheiros de luta após

resistir aos maus tratos, que se fazem presente em cenas no decorrer do filme.

Vale ressaltar ainda argumentos afins aos fundamentos da narrativa do filme,

presentes no discurso de dona Nenê, mãe de um militante que foi morto durante o

regime franquista e vizinha de Pedro. Nas conversas com Thiago se fazem presentes os

lamentos em relação aos dramas e as perdas, que são os mesmos nos diversos regimes

de exceção. A personagem afirma que as ditaduras só mudam de lugar.

A produção cinematográfica analisada consegue retratar a realidade vivida por

muitos dos militantes que podem ser vistos nas imagens fotográficas coletadas. Sem

contar os guerrilheiros que militaram nas guerrilhas rural e urbana, que podem ser vistos

nas duas narrativas literárias anallisadas. Retrata, também, o cenário das lutas juvenis,

como “Ele” de Em câmara lenta que desde muito novo era engajado militarmente. As

fotos que podem ser vistas no início do filme, em sua maioria, demonstram o papel do

jovem militante, presente em passeatas, segurando cartazes, entrando em combates

contra os militares.

Podemos verificar um intenso estado de transformação dos protagonistas das

narrativas literárias, que passaram do estado de apatia, ao de completa entrega à causa

militante, entrega essa de grande semelhança com o percurso e identidade de

guerrilheiros que foram atuantes na luta armada contra os regimes de exceção do século

XX, como pode ser verificado nas imagens fotográficas dos corpos desses militantes.

As imagens dos corpos podem ser consideradas como formas de narrativas testemunhais

desses heróis militantes que viveram no período da ditadura militar no Brasil, e que

sacrificaram suas vidas em nome de seus valores. Como podemos inferir também na

representação dos personagens da narrativa cinematográfica Cabra-Cega, que é repleta

de imagens, vídeos e áudios de televisão que são documentos reais daquele período

histórico.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS: É POSSÍVEL PENSARMOS EM UM

HERÓI GUERRILHEIRO COMO MODELO?

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

Consideramos que o nosso corpus de pesquisa apresenta diversos heróis, e estes

quase não diferem entre si, pois todos retratam o herói guerrilheiro que lutou por seus

ideais e valores contra os ideais autoritários do regime de exceção, no qual o Brasil

viveu a partir do ano de 1964. Após a análise do corpus, conseguimos rastrear em todas

as narrativas a presença de características que retratam este herói específico. São elas:

1- Apartação do cotidiano:

Primeiramente, os heróis guerrilheiros passam por um rompimento. Eles têm que

se apartar de seu cotidiano para poder se preparar e ir lutar pela causa. Deixam para trás

suas famílias, suas casas, seus empregos, seus amigos que não aderiram à luta, o

conforto que possuíam e sua liberdade. Tais características podem ser comprovadas com

a representação dos militantes pertencentes ao esconderijo liderado por Macedo,

personagem secundária de Pessach, a travessia. Tais guerrilheiros abandonaram tudo

para viverem escondidos em cabanas, quando se trata da guerrilha rural, sem energia

elétrica ou água encanada, sem hospitais e nem condições mínimas de conforto, ou

refúgios provisórios, em meio urbano.

2- Adesão à luta armada:

Tendo em vista o incômodo com as situações e em busca de mudanças, o herói

adere à luta armada e passa a dedicar sua vida em prol da materialização desses ideais.

Ao aderir à luta armada, o herói guerrilheiro passa a ter duas alternativas: matar ou

morrer; demonstrando o quão longe pode ir esse herói a procura de melhorias para a

vida de toda uma população. Os protagonistas dos Romances Pessach, a travessia e Em

câmara lenta, Paulo e “Ela”, respectivamente, são exemplos de guerrilheiros que

empunharam uma arma e lutaram por suas escolhas.

3- Entrada na clandestinidade:

Devido ao fato de terem aderido à luta armada, os heróis guerrilheiros passam a

ser taxados como criminosos, fazendo necessário com que se escondam e vivam à

margem da sociedade. Eles passam a ser caçados e tem seus nomes pregados em

cartazes pela cidade, seus nomes viram notícia nos jornais, são caracterizados como

anarquistas e meliantes altamente perigosos à população. Podemos constatar essa

clandestinidade da imagem do protagonista Thiago, da obra cinematográfica Cabra-

Cega, ou até mesmo em Macedo, personagem secundário da narrativa literária Pessach,

a travessia.

4- Sacrifício da Vida:

Os heróis guerrilheiros empenharam mais do que seus tempos e esforços para

lutar contra o braço armado da ditadura militar de 1964. Eles sacrificaram suas vidas

pelos valores e ideais que possuíam, sendo mortos pelos militares. Paulo, Vera, Macedo

(Pessach, a travessia), “Ele”, “ela”, Martha, o Venezuelano (Em câmara lenta) e muitos

outros personagens retratam os heróis militantes que deram suas vidas na luta contra o

regime de exceção brasileiro. As fotos dos militantes que morreram nessa luta, que

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

podem ser entendidas como narrativas testemunhais, são provas documentais do

sacrifício heróico desses militantes guerrilheiros.

Os heróis, ao se depararem com situações que ferem seus ideais ou valores,

passam por essas circunstâncias ou estágios repletos de sacrifício, que os formam, como

podemos constatar, verdadeiros Heróis Guerrilheiros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (do relatório)

ADORNO, Theodor. Crítica cultural e sociedade, in:_. Prismas. São Paulo: Ática,

1998.

ADORNO, Theodor. Teoria estética. Lisboa: Martins Fontes, 1988.

AGAMBEN, Giorgio. Idéia da prosa. Lisboa: Cotovia, 1999

AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemuha (Homo

Sacer III). Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008.

AGAMBEN, Giorgio. Profanações. Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo:

Boitempo Editorial, 2007.

AVELAR, Idelber. Alegorias da derrota. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.

AUERBACH, Erich. Figura. Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Ática, 1997.

BOSI, Alfredo. Literatura e Resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. 11ª Ed. Editora Pensamento. 1995.

CHAUÍ, Marilena. Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Perseu Abramo,

2000.

CHIAPINI, Lígia. Ficção, cidade e violência no Brasil pós-64: aspectos da história

recente narrada pela ficção. In: LEENHARDT, Jacques & PESAVENTO, Sandra,

orgs. Discurso histórico e narrativa literária. Campinas: Unicamp, 1998.

CONY, Carlos Heitor. Pessach, a travessia. Companhia das letras, 1997.

DALCASTAGNE, Regina. O espaço da dor. O regime de 64 no romance brasileiro.

Brasília: Ed. UNB, 1996.

DE MARCO, Valéria. A literatura de testemunho e a violência de estado. Lua Nova:

Nº 64, São Paulo, 2004.

ECHEVARRÍA, Roberto González. Mito y archivo: uma teoria de La narrativa

latinoamericana: Fondo de Cultura Económico, Cidade do México, 2000.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

FERNANDES, Fabrício Flores. A escrita da dor: Testemunhos da ditadura militar.

Tese de doutorado, Campinas: UNICAMP, 2008.

FOUCAULT, Michel. A sociedade punitiva. In: ______. Resumo dos cursos do

Collége de France. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; p.25-44.

FINAZZE-AGRO, Ettore e VECCHI, Roberto. Pior do que ser assassino... Disponível

em http://www.red.unb.br/index.php/estudos/article/view/2007. Acesso em 4 de abril de

2011. Originalmente publicado em Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea,

n.29, Brasília, Janeiro-Junho de 2007, p.67-86.

FRANCO, Renato. Itinerário político do romance pós-64: A festa. São Paulo: Ed.

UNESP, 1998.

GINZBURG, Jaime. Literatura Brasileira após Auschwitz. Alea estudos Neolatinos,

Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 117-126, 2001.

GINZBURG, Jaime. Escritas da tortura: diálogos latinoamericanos. Universidade de

Aarthus: Aarthus, 2001. nº 003, p. 131-146.

HOBSBAWM, E. Era dos extremos. São Paulo. Companhia das Letras, 1995.

KOTHE, Flávio R. O Herói. 2 ed. Editora Ática. 1987.

RIBEIRO, Roberto Janini. A dor e a injustiça. In: COSTA, J. F. Razões Públicas,

emoções privadas. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

ROSENFELD, Anatol. Arte e Facismo. In: ___. Texto/contexto II. São Paulo:

Perspectiva/ Edusp/ Ed Unicamp, 1993.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. “Zeugnis” e “Testimonio”: um caso de

intraduzibilidade entre conceitos. Trabalho apresentado no “Germanistentreffen

südamerika”. São Paulo, 2001.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. Fotografia como arte do trauma e imagem-ação:

jogo de espectros na fotografia de desaparecidos das ditaduras na América Latina.

RESGATE - Vol. XVIII, No. 19 - jan./jul. 2010 – p.46-66.

TAPAJÓS, Renato. Em câmara lenta. São Paulo, Alfa-Ômega. 1977.

VILELA, Eugênia. Do testemunho. Natal: Princípios revista de filosofia, v.19, n. 31.

Janeiro/junho de 2012, p.141-179.

VILELA, Eugênia. Corpos inabitáveis. Errância, Filosofia e Memória. Enrahonar 31,

2000.

FILMOGRAFIA

Cabra-Cega. Direção: Toni Venturi. Produtor: Toni Venturi. Distribuição: Europa

Filmes. Brasil, 2005. (107 min).

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (da pesquisa)

ADORNO, Theodor. Crítica cultural e sociedade, in:_. Prismas. São Paulo: Ática, 1998.

ADORNO, Theodor. Teoria estética. Lisboa: Martins Fontes, 1988.

AGAMBEN, Giorgio. Idéia da prosa. Lisboa: Cotovia, 1999

AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemuha (Homo Sacer

III). Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008.

AGAMBEN, Giorgio. Profanações. Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo:

Boitempo Editorial, 2007.

AVELAR, Idelber. Alegorias da derrota. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.

AUERBACH, Erich. Figura. Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Ática, 1997.

BOSI, Alfredo. Literatura e Resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

ECHEVARRÍA, Roberto González. Mito y archivo: uma teoria de La narrativa

latinoamericana: Fondo de Cultura Económico, Cidade do México, 2000.

CHAUÍ, Marilena. Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Perseu Abramo,

2000.

CHIAPINI, Lígia. Ficção, cidade e violência no Brasil pós-64: aspectos da história

recente narrada pela ficção. In: LEENHARDT, Jacques & PESAVENTO, Sandra, orgs.

Discurso histórico e narrativa literária. Campinas: Unicamp, 1998.

DALCASTAGNE, Regina. O espaço da dor. O regime de 64 no romance brasileiro.

Brasília: Ed. UNB, 1996.

DE MARCO, Valéria. A literatura de testemunho e a violência de estado. Lua Nova: Nº

64, São Paulo, 2004.

FERNANDES, Fabrício Flores. A escrita da dor: Testemunhos da ditadura miliar. Tese

de doutorado, Campinas: UNICAMP, 2008.

FOUCAULT, Michel. A sociedade punitiva. In: ______. Resumo dos cursos do Collége

de France. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; p.25-44.

FINAZZE-AGRO, Ettore e VECCHI, Roberto. Pior do que ser assassino... Disponível

em http://www.red.unb.br/index.php/estudos/article/view/2007. Acesso em 4 de abril de

2011. Originalmente publicado em Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea,

n.29, Brasília, Janeiro-Junho de 2007, p.67-86.

FRANCO, Renato. Itinerário político do romance pós-64: A festa. São Paulo: Ed.

UNESP, 1998.

GINZBURG, Jaime. Literatura Brasileira após Auschwitz. Alea estudos Neolatinos, Rio

de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 117-126, 2001.

GINZBURG, Jaime. Escritas da tortura: diálogos latinoamericanos. Universidade de

Aarthus: Aarthus, 2001. nº 003, p. 131-146.

HOBSBAWM, E. Era dos extremos. São Paulo. Companhia das Letras, 1995.

RIBEIRO, Roberto Janini. A dor e a injustiça. In: COSTA, J. F. Razões Públicas,

emoções privadas. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

ROSENFELD, Anatol. Arte e Facismo. In: ___. Texto/contexto II. São Paulo:

Perspectiva/ Edusp/ Ed Unicamp, 1993.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

SELIGMANN-SILVA, Márcio. “Zeugnis” e “Testimonio”: um caso de

intraduzibilidade entre conceitos. Trabalho apresentado no “Germanistentreffen

südamerika”. São Paulo, 2001.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. Fotografia como arte do trauma e imagem-ação: jogo

de espectros na fotografia de desaparecidos das ditaduras na América Latina. RESGATE

- Vol. XVIII, No. 19 - jan./jul. 2010 – p.46-66.

VILELA, Eugênia. Do testemunho. Natal: Princípios revista de filosofia, v.19, n. 31.

Janeiro/junho de 2012, p.141-179.

VILELA, Eugênia. Corpos inabitáveis. Errância, Filosofia e Memória. Enrahonar 31,

2000.

PUBLICAÇÕES:

• Apresentação de pôster no XIV Encontro da ABRALIC (Associação Brasileira de

Literatura Comparada) em julho do ano 2014 em Belém do Pará, UFPA.

• Trabalho completo publicado nos Anais IV SELCIR (Seminário Nacional de

Literatura e Cinema de Resistência) em dezembro ano 2014 em Belém do Pará, UFPA.

• Comunicação apresentada no IV SELCIR (Seminário Nacional de Literatura e Cinema

de Resistência) em dezembro ano 2014 em Belém do Pará, UFPA.

• Apresentação de pôster no XIV Congresso da ABRALIC (Associação Brasileira de

Literatura Comparada) em junho do ano 2015 em Belém do Pará, UFPA.

• Trabalho completo encaminhado aos Anais XIV Congresso da ABRALIC (Associação

Brasileira de Literatura Comparada) em junho do ano 2015 em Belém do Pará,UFPA.

• Comunicação apresentada no II ENELF (Encontro Nacional de Estética Literatura e

Filosofia) em julho ano 2015 em Fortaleza - Ceará, UFC.

• Trabalho completo encaminhado aos Anais do II ENELF (Encontro Nacional de

Estética Literatura e Filosofia) em julho ano 2015 em Fortaleza - Ceará, UFC.

CONCLUSÃO

Podemos perceber que o plano de trabalho se desenvolveu bem. A recepção

do corpus de narrativas foi realizado, assim como a análise visando a confirmação das

hipóteses levantadas. Procedemos também com levantamento das imagens fotográficas

nos acervos virtuais e físicos, porém este último se mostrou infrutífero e teve de ser

deixado à margem. As leituras teóricas foram realizadas regularmente e com isso a

produção referente aos resultados da pesquisa deu-se de forma cada vez mais sólida.

PARECER DO ORIENTADOR: Manifestação do orientador sobre o

desenvolvimento das atividades do aluno e justificativa do pedido de renovação se for o

caso.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

Avalio que a bolsista atingiu os objetivos previstos em seu subprojeto.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: Em caso de aluno concluinte, informar o

destino do mesmo após a graduação. Informar também em caso de alunos que seguem

para pós-graduação, o nome do curso e da instituição.

Não se aplica.

DATA : 10/08/2015

_________________________________________

ASSINATURA DO ORIENTADOR

___________________________________________

ASSINATURA DO ALUNO

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

ANEXOS

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

Anexo das Imagens fotográficas dos corpos de militantes eliminados pelo braço

armado do regime militar brasileiro, coletadas em acervos virtuais.

- Militante Soledad Barret Viedma

https://erickfigueiredo.wordpress.com/2010/01/10/soledad-barret-viedma-vitma-ou-

duas-vezes-culpada/

- Militante Carlos Marighella

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

http://www.nucleomemoria.org.br/noticias/internas/id/407

- Militante Maria Lúcia Petit

http://www.documentosrevelados.com.br/geral/petit-da-silva-familia-dizimada/

- Militante Jarbas Pereira Marques

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

http://www.documentosrevelados.com.br/geral/jarbas-pereira-marques-assassinado-

na-tortura-pela-ditadura/

- Militante Pauline Reichstul

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/inedito-sobrevivente-relata-

detalhes-de-chacina-em-que-morreram-seis-militantes-da-resistencia-a-ditadura/

- Militante Maria Regina Lobo Leite Figueiredo

http://www.mepr.org.br/noticias/nacional/337-mortos-e-desaparecidos.html

- Militante Eudaldo Gomes da Silva

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

http://www.documentosrevelados.com.br/geral/eudaldo-gomes-da-silva-

assassinado-na-tortura-pela-ditadura/

- Militante Vladmir Herzog

http://averdade.org.br/2012/10/justica-reconhece-herzog-morreu-sob-torturas/

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

- Militante Evaldo Luiz F. de Souza

http://www.documentosrevelados.com.br/geral/sobrevivente-da-chacina-da-chacara-

de-sao-bento-aparece-e-faz-novas-revelacoes-sobe-o-caso-parte-1/

- Militante Virgílio Gomes da Silva

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/virgilio-gomes-da-silva-

operario-brasileiro-revolucionario/

- Militante José Campos Barreto

http://www.documentosrevelados.com.br/midias/algumas-fotos-de-militantes-

presos-e-assassinados-resgatados-dos-arquivos-da-ditadura/attachment/corpo-de-

jose-campos-barreto-o-zequinha-militante-do-mr-8-morto-com-lamarca-no-mesmo-

dia/

- Militante Sônia Maria Lopes de Moraes

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE … · emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964

http://sindromedeestocolmo.com/2010/08/

- Militante Emanuel Bezerra dos Santos

http://averdade.org.br/2015/02/ditadura-militar-uma-longa-noite-de-terror/

- Militante Antônio Carlos Bicalho Lana