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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA –
PIBIC- CNPQ
RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO
Período: Janeiro/2015 a Julho/2015.
( ) PARCIAL
(x) FINAL
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho ): O
Sacrifício Heróico Como Resistência Na Posditadura Brasileira e Portuguesa
Nome do Orientador: Tânia Maria Pereira Sarmento-Pantoja
Titulação do Orientador: Doutora
Departamento: Faculdade de Letras e Comunicação
Unidade: Campus Universitário de Belém
Laboratório: Programa de Pós-Graduação em Letras
Título do Plano de Trabalho: Faces do herói na posditadura brasileira
Nome do Bolsista: Isabela Quaresma de Sousa
Tipo de Bolsa:
( x ) PIBIC/CNPq
( ) PIBIC/UFPA
( ) PIBIC/INTERIOR
( ) PIBIC/FAPESPA
( ) PARD
( ) PARD – renovação
( ) Bolsistas PIBIC do edital CNPq 001/2007
A CONSTITUIÇÃO DO HERÓI GUERRILHEIRO EM NARRATIVAS
POSDITATORIAIS
Isabela Quaresma de SOUSA (PIBIC-UFPA)i
Tânia Maria Pereira SARMENTO-PANTOJA ((FALE/ILC/PPGL)ii
O presente estudo buscou investigar a possibilidade de um processo de
constituição dos heróis guerrilheiros - atuantes contra o regime militar no Brasil -
encontrados nas narrativas posditatoriais “Pessach, a travessia”, de Carlos Heitor Cony;
“Em câmara lenta”, de Renato Tapajós; na obra cinematográfica “Cabra-Cega”, dirigido
por Toni Venturi; e em imagens fotográficas de corpos de militantes mortos pelo braço
armado da ditadura de 1964, coletadas em acervos virtuais. Foi possível inferir que há a
presença de protagonistas que se colocam como heróis em duplo sentido: em função do
protagonismo no texto literário, e em função do homem que busca trilhar sua própria
história. Após a análise das personagens encontradas no corpus, foi possível rastrear
características em comum que constituem os heróis guerrilheiros, as quais
denominamos: apartação do cotidiano, adesão à luta armada, entrada na clandestinidade
e morte. Para dar conta das análises, contamos, principalmente, com os estudos de
Kothe (1987), Márcio Seligmann-Silva (2001) e Alfredo Bosi (2002).
1Aluna da Graduação em Letras Língua Portuguesa. Atuou no projeto de pesquisa Faces do herói na
posditadura brasileira como bolsista de iniciação cientifica, vigência 2014-2015.
1Professora Doutora da área de Estudos Literários. Coordenadora da pesquisa Faces do herói na
posditadura brasileira. Líder do grupo de pesquisa Estudos sobre Narrativas de Resistência
(NARRARES).
INTRODUÇÃO
A pesquisa investiga a possibilidade de que existe um processo de heroicização
em um corpus narrativo e iconográfico posditatorial relacionado à ditadura brasileira e
portuguesa. A hipótese inicial é a de que do ponto de vista estético esse processo vale-se
de aproximações com a narrativa trágica e com a narrativa de exemplo, possibilitando a
formulação do arquivo de temporalidades e das condições que as permeiam; do ponto
de vista ético, se baseia em um dever de resistência e de justiça, que em sua atualidade
resvala também para um dever de memória. Como segunda hipótese, consideramos as
diferentes escolhas ficcionais presentes no corpus português e no brasileiro, no que
tange à figura do herói com base em duas características: habilitação (no caso brasileiro)
e subversão (no caso português). Desse modo, os procedimentos envolvem a coleta de
dados em acervos – especificamente no que diz respeito ao material fotográfico;
levantamento das constituintes e variantes de paradigmas e a análise do corpus com
base na análise de paralelos entre os objetos que o integram.
JUSTIFICATIVA
Consideramos aqui que a resistência, por sua constituição condicionada à
oposição, à subversão, enfim, a um ethos desafiador que aponta para a exploração de
algum tipo de continuum coercivo pela construção de mecanismos de tensão e de
desacordos, opera sobre ideais de inspiração utópica. Lembrando que as utopias partem
sempre de um ato de rompimento com uma ordem em vigor em nome de um ideal que
lhes servirá de fundamento de oposição, cuja presença carrega a utopia de compromisso
com a expectativa – alguns a chamariam de esperança – de que uma ordem ou situação
ruim será substituída por outra melhor. A face mais radical dessa inspiração utópica é a
heroicização. Esses elementos tendem a estar presentes como representações em objetos
que, sobretudo, se constituem como espaços de abordagem acerca dos regimes de
exceção: testemunhos, romances, filmes e fotografias,
Nesse contexto, os processos de heroicização atingem particularmente a figura
do militante, e de maneira ainda mais singular a do guerrilheiro, que uma vez morto
pelas forças coercivas que atuam como braço armado do estado de exceção tem a
imagem do momento de sua morte e a imagem de seu cadáver transformada em
representações do sacrifício heróico, da morte por uma causa justa. Ilustrativo dessa
possibilidade é a foto do estudante Édison Lima Souto, de apenas 17 anos, que ao
participar de uma manifestação contra o regime civil-militar de 1964, realizada em
marco de 1968, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, fio atingido por um tiro
disparado por um policial.
Ainda que não fosse guerrilheiro, Souto pode ser considerado um exemplo do
que estamos argumentando. Sua morte provocou reações ainda mais exacerbadas contra
o regime. A liderança clandestina da União Nacional dos Estudantes (UNE) decretou
greve nacional. O velório e o enterro do estudante transformaram-se em eventos
públicos de grande tensão, envolvendo uma série de passeatas e novos confrontos nas
ruas. Nesse episódio, fotos do corpo de Souto circularam na mídia impressa, e
terminaram constituindo-se em ícones da luta desencadeada pelos segmentos
descontentes com o regime e, ao mesmo tempo, a figuração nua e crua da violência
perpetrada pelo estado. Um corpo de torço despido, fora de um esquife, sem o vestuário
e o tratamento costumeiramente delegado ao cadáver no momento do velório, transmite
um sentimento de desamparo e de juventude interrompida pelo braço armado do estado
de exceção.
Outro exemplo desse processo são as fotografias da militante Soledad Barrett
Viedma, que se encontraram agregadas ao romance Soledad, no Recife, de
pernambucano Urariano Mota. Soledad, companheira do agente duplo Cabo Anselmo,
estava grávida quando foi torturada e assassinada no chamado massacre da granja de
São Bento, que ocorreu no estado de Pernambuco. Seu corpo, junto com o do feto que
carregava, foi encontrado dentro de um barril. No romance, Mota vale-se da relação
entre a fotografia e a escrita para dar vazão ao testemunho do que aconteceu à Soledad.
O processo valoriza a constituição da personagem histórica, na medida em que o
ocorrido a ela é concebido como paixão (sacrifício) e resvala para uma visada heróica
da personagem histórica.
Seligmann-Silva nos diz que toda imagem “tem algo verbal, simbólico, que pode
ser interpretado e traduzido - de “n” maneiras – pelo receptor, mas toda imagem tem
também restos não verbalizáveis. As imagens são ao mesmo tempo verbais e mudas.
Assim como existem ausências de palavras diante de certas imagens, existem também
cenas que deixaram as imagens – embaçadas, traumáticas – apenas na mente de certas
pessoas”. O pesquisador ainda atesta a ausencia de imagens da tortura referentes à
ditadura brasileira. Para ele, (2014, p.14) essa ausência “é parte do buraco negro da
memória da violência da ditadura”.
Pensamos que se existe essa ausência, há inúmeras fotografias de corpos de
militantes, quase todos apanhados em emboscadas que, enquanto restos, vem dialogar
com a ausência que a história ainda não recuperou completamente. Um caso bem
emblemático é o de Carlos Marighella, um dos principais líderes da resistência contra a
ditadura civil-militar de 1964. Maighella foi morto em 4 de novembro de 1969 em
emboscada preparada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. Seu sucessor no comando
da resistência, Joaquim Câmara Ferreira, também foi morto, em 1970, pelo mesmo
Fleury. A foto do cadáver de Marighella, tirada logo após ele ser assassinado, circula até
os dias de hoje na mídia. Essa foto cumpriu inicialmente a função de troféu para as
forças coercivas, depois ganhou outras ressignificações. Tais ressignificações estão
certamente relacionadas a uma série desses “restos não verbalizáveis” a que se reporta
Selligmann-Silva. A comunhão desses restos é parte da constituição do heroísmo de
Marighella, ao mesmo tempo em que é a ponte para o arquivo das formas de violência
perpetradas pela ditadura de 1964. Esses restos são constituintes culturais importantes e
nos permitem perceber as “formas de vida” envolvidas.
Alguns romances e filmes produzidos no calor de vário episódios e mais
recentemente, a partir de um diálogo aberto entre a ficção e a história, procuraram
especular sobre diversos aspectos relacionados aos momentos dramáticos que
envolveram, no caso brasileiro as ações de resistência ao regime. Nesse conjunto nos
chama atenção as representações do sacrifício do militante. Entre os romances que
seguem essa linha destacamos Quarup (1967), de Antônio Callado, Pessach, a travessia
(1967), de Carlos Heitor Cony, Em câmera lenta (1977), de Renato Tapajós e mais
recentemente Soledade no recife (2009), de Urariano Mota. São exemplos de romances
em que o contexto da revolução armada é um elemento patente e o militante é o
sacrificado no interior da lógica resistência x coerção. Ora, porque opta pelo
enfrentamento, embora ciente da morte iminente e/ou da impossibilidade de
sobrevivência, como é o caso de Quarup, Pessach, a travessia, em Câmera Lenta, ora
porque é tragado pelas forças coercivas (Soledad no Recife). No cinema mais recente
temos Cabra Cega como exemplo de narrativa a trabalhar o sacrifício heróico em prol
do exercício de resistência.
OBJETIVOS
1) Proceder ao levantamento bibliográfico relativo ao assunto em questão;
2) Mapear os elementos formais e temáticos no corpus;
3) Analisar as narrativas com vistas a verificar a verificação da hipóteses.
MATERIAIS E MÉTODOS: A pesquisa se dá no âmbito da literatura comparada. Os
procedimentos de pesquisa correspondem à pesquisa bibliográfica e análise dos dados
com base em estudo de caso.
1. CORPUS
Pessach, a travessia (romance), de Carlos Heitor Cony;
Em câmera lenta (romance), de Renato Tapajós;
Cabra Cega (filme de ficção), direção de Tony Venturi;
Fotografias em bases de dados virtuais e físicos.
Acervo de Jornais da Biblioteca Arthur Viana pertencente à Fundação Cultural do Pará
Tancredo Neves.
RESULTADOS
“O homem que se engaja e que se dá conta
de que ele não é apenas aquele que escolheu
ser, mas também um legislador que escolhe
simultaneamente a si mesmo e a
humanidade inteira, não consegue escapar
ao sentimento de sua total e profunda
responsabilidade”. (SARTRE, 1970)
O estudo que ora apresentamos está vinculado às investigações desenvolvidas no
projeto de pesquisa O sacrifício heróico como resistência na posditadura brasileira e
portuguesa, em fase de finalização. O corpus inicial compreendia as seguintes
narrativas: as narrativas literárias Pessach, a travessia, de Carlos Heitor Cony; Em
câmara lenta, de Renato Tapajós; o filme de ficção Cabra Cega, direção de Tony
Venturi; e fotografias de bases de dados virtuais e físicas.
Esta pesquisa busca compreender algumas nuances acerca das diferentes
constituições dos heróis guerrilheiros encontrados nas narrativas publicadas na época da
ditadura militar no Brasil. No desenvolvimento da pesquisa entendemos que o corpus
deveria abranger um conjunto de narrativas que abarcassem cenários de representações
do militante, contrário ao regime de exceção a partir de 1964. Verificar as diferentes
constituições dos heróis guerrilheiros consistiu no principal objetivo do plano de
trabalho que seguimos. Para alcançarmos esse objetivo, procedemos ao mapeamento
dos aspectos formais e temáticos e à análise das narrativas para compor um corpus final.
1. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DA RESISTÊNCIA
Alfredo Bosi em seu ensaio “Narrativa e Resistência” expõe que resistência é a
necessidade de uma força opor-se a outra força, esta alheia que busca subjugar, destruir
ou massacrar a primeira. Movimento resistente é o conjunto de ações e iniciativas
tomado por um grupo de pessoas que defendem seus ideais e valores, como a luta pela
justiça, pelos direitos fundamentais, pela dignidade e liberdade, estes que são o núcleo
dos ideais da Resistência. O ensaísta diferencia intuição e razão, esta última sendo
atrelada a um critério de realidade que a primeira não exige; e desejo e vontade, no qual
o primeiro se relaciona às necessidades primárias e persegue o mundo das satisfações, e
o segundo é regido pelas ações livres que constituem as esferas ética e política. Sendo
assim, Bosi afirma que Resistência é um valor ético e não estético, pois está atrelado às
nossas escolhas conscientes, regido pela razão e vontade. Dessa perspectiva, não deveria
ocorrer a mistura entre arte, ética e política, porém, foi nesse período que expressões
como “poesia de resistência” e “narrativa de resistência” ganharam força.
Esta literatura de resistência surgiu nas décadas de 1930 e 1940 com o
engajamento de intelectuais na luta contra o nazismo, o facismo e demais regimes
políticos autoritários. Na década de 1960, com o início do regime de exceção no Brasil,
houve um alastramento do termo Resistência entre os intelectuais, que usaram de seus
conhecimentos para lutar e resistir através de canções e publicações escritas contra o
inimigo que era o regime militar. Maria de Lúcia de Barros Camargo (2010, p.5) afirma:
“Nesse período, a palavra “resistir” tem seu sentido
potencializado, inclusive pelas metáforas bélicas que transformaram
editores em partisans, livrarias e revistas em trincheiras, ou poemas
em armas, incorporando aos atos culturais plus de sentidos, imersão na
historicidade e formas de validação. Resistir culturalmente constituía
ato único e legítimo a ser empreendido pela intelectualidade brasileira
“progressista” diante do inimigo comum, o regime militar”.
Os narradores de romance teriam o poder de traçar os caminhos da resistência
em suas obras. Em meio a ideais contrários, dar vida a heróis ou vilões que lutarão por
seus valores. Sendo assim, Bosi delimita duas idéias de Resistência, a que ele
caracteriza como a resistência que é inerente à escrita, e a resistência sendo o tema da
narrativa. A resistência inerente à escrita conjectura a “vida como ela é”; trata-se de
modelos de realidade e experiência vivida, mas que não estão atados à eventos
históricos, relaciona-se com os valores e os antivalores culturalmente determinados. A
exemplo disso, Bosi seleciona A hora da estrela, de Clarice Lispector, como paradigma
da literatura de resistência inerente à escrita. Já em relação à resistência como tema, o
narrador precisa colher dados históricos advindos de determinado período em que houve
um acontecimento para desenvolver sua história, que girará em torno da resistência, seja
por meio de um regime de exceção, como é o caso do nosso corpus de pesquisa, ou por
condições de exceção que ferem os valores humanos fundamentais, como é o caso da
narrativa cinematográfica Cela 211, dirigido por Daniel Monzón, que trata sobre a busca
de presidiários por melhores condições de vida no presídio, na qual um carcereiro, que é
o protagonista da história, passa a ser aliado do movimento.
A Resistência tem início em um período datado; tem tempo e espaço. Porém, ela
não se esgota em si, sendo perpetrada mesmo após o término das lutas, permanecendo
em signos da resistência como produções artísticas, fazendo com que a memória seja
imprescindível para o movimento. Logo, podemos considerar o testemunho como
expressão da memória.
“A necessidade de contar „aos outros‟, de tornar „os outros‟
participantes, alcançou entre nós, antes e depois da libertação, caráter
de impulso imediato e violento, até o ponto de competir com outras
necessidades elementares” (LEVI, 1988, p.7)
2. QUANDO A FOTOGRAFIA NARRA A BARBARIE
O testemunho é a forma que as pessoas que passaram por um evento traumático
têm para compartilhar a experiência vivida, a sua história e, muitas vezes, a história da
sociedade, pois, segundo Selligmann-Silva, o testemunho pode ser a tentativa de reunir
os fatos para dar um contexto, um lugar e uma motivação aos acontecimentos “O
testemunho também é um momento de tentativa de reunir os fragmentos dando um nexo
e um contexto aos mesmos”. (SELIGMANN-SILVA, 2001, p.124). Schollhammer
aponta que “um dos sintomas da cultura traumática é uma espécie de inversão da esfera
publica em que a intimidade privada é exposta como o interior de um casaco virado,
exibida e vivida em público num constante curto-circuito entre o individual e a
multidão” (SCHOLLHAMMER, 2013, p. 327 e 328). Logo, o indivíduo tem a
necessidade de narrar o trauma vivido para melhor lidar com este trauma.
Segundo Eugênia Vilela (2012), o testemunho poderá possuir um registro verbal
ou um registro não-verbal, como a fotografia. Há indícios de que os militares, através de
seu controle de informações, permitiam a exposição de corpos e nomes dos assassinados
nos jornais que circulavam na época, utilizando-se desses mortos como “exemplo” para
tentar amedrontar segmentos da população que se posicionavam contra a ditadura.
Atualmente, essas fotografias também servem de exemplo: exemplo de uma terrível
época experimentada pelo país, das terríveis atrocidades que seres humanos eram
capazes de fazer pelo poder, da prisão e falta de liberdade às quais os indivíduos
estavam sujeitos caso ousassem manifestar-se contrários ao regime, da omissão e apatia
que parte da população praticava. Essas fotografias, na atualidade, podem ser prova e
exemplo daquilo que as pessoas não podem deixar acontecer de novo. Daí, a
necessidade de tomarmos a narrativa de exemplo, como categoria e ferramenta de
análise. Entendemos que a narrativa de exemplo não apenas dá conta do corpus
analisado, enquanto um corpus formado por narrativas, como também está implicada no
registro historiográfico contido nas fotografias e nesse sentido seguimos os passos de
Seligmann-Silva, para quem toda imagem:
Tem algo verbal, simbólico, que pode ser interpretado e traduzido – de
“n” maneiras – pelo receptor, mas toda imagem tem também restos
não verbalizáveis. As imagens são ao mesmo tempo verbais e mudas.
Assim como existem ausência de palavras diante de certas imagens,
existem também cenas que deixaram imagens – embaçadas,
traumáticas – apenas na mente de certas pessoas. (Seligmann-Silva,
2014, p.57).
Mediante esses aspectos e considerando as ações perpetradas pelo braço armado
do regime civil-militar de 1964, cujas ações repressivas incluíam, além das prisões e
torturas, a perseguição e assassinato de líderes e/ou militantes importantes, contrários ao
regime, fizemos um levantamento em bases virtuais, em busca de imagens fotográficas
de cadáveres dos militantes assassinados1, como é o caso de Soledad Barret Viedma,
Carlos Marighella, Maria Lúcia Petit, Jarbas Pereira Marques, Pauline Reichstul, Maria
Regina Lobo Leite Figueiredo, Eudaldo Gomes da Silva, Evaldo Luiz F. de Souza,
Vladmir Herzog, Virgílio Gomes da Silva, José Campos Barreto, Sônia Maria Lopes de
Moraes, Emanuel Bezerra dos Santos, Antônio Carlos Bicalho Lana, Antônio H. Pereira
Neto e Lamarca.
Segundo afirmação de Bóris Kossoy, a realidade da fotografia está nas inúmeras
interpretações que cada receptor faz em determinado momento. As fotografias não
devem ser analisadas presas ao seu tempo, deve-se também confrontá-las com o mundo
atual e com as diversas situações ocorridas em outros tempos, pois essas contraposições
poderão compor novos significados para essas imagens.
De acordo com Selligmann-Silva (2014, p.57), as imagens têm algo de verbal e
podem ser interpretadas de inúmeras maneiras; elas também possuem os restos não-
verbalizáveis, que são a união de vários fatores extrapostos à imagem e que podem
constituir a nossa percepção das formas de vida desses militantes. Algo que não é visto
na fotografia em si, mas é perceptível em relação à fotografia como um todo: a vida do
militante, o lugar e as condições de sua morte. Também de acordo com Seligmann-Silva
há uma falha na memória da violência da ditadura, na medida em que há a ausência de
imagens da tortura perpetradas por representantes da ditadura brasileira. Consideramos
muito pertinente esse diagnóstico de Seligmann-Silva no que diz respeito à tortura,
1 As fotos correspondentes aos militantes citados se encontram em anexo a este estudo.
porém, cabe ressaltar que há um número considerável de imagens fotográficas dos
assassinatos políticos da época. Imagens que circularam em meio jornalístico e que são
fundamentalmente constituídas dos corpos dos militantes, geralmente mortos durante ou
após sessões de tortura ou emboscadas policiais, como é o caso de Carlos Marighela,
um dos principais líderes das forças de resistência contra a ditadura de 1964. Em uma
emboscada planejada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, no dia 4 de novembro de
1969, Marighela foi assassinado a tiros. A imagem desse importante militante saiu nos
jornais da época como um troféu, uma grande vitória dos militares, que conseguiram
retirar da sociedade um indivíduo considerado pelo regime como criminoso, terrorista e
comunista.
A fotografia do cadáver do militante ganhou outras significações com o tempo: o
corpo de um herói da resistência, que abdicou de uma vida conveniente para lutar pelos
seus ideais, que passou por situações adversas, necessidades e viveu na clandestinidade.
De alguém que fereceu o próprio corpo à luta, tornou-se um guerrilheiro e morreu por
defender seus ideais.
Uma mártir da ditadura militar é Soledad Barret Viedma, uma comunista
paraguaia que, desde os dezessete anos já lutava e sofria por suas ideias: foi marcada à
navalha em Montevidéu por se recusar a gritar “Viva Hitler”. No Brasil, Soledad fazia
parte da Vanguarda Popular Revolucionária e foi entregue pelo próprio companheiro, o
cabo Anselmo, a Sérgio Fleury, e morreu com mais cinco militantes no que ficou
conhecido como "o massacre da granja São Bento", uma emboscada executada nas
proximidades da cidade do Recife. Soledad inspirou poemas, canções e vários livros,
dentre eles, o romance Soledad no Recife, de Urariano Mota. Mota em seu livro utiliza-
se da escrita e de imagens fotográficas para construir um testemunho ficcionalizado
sobre o que ocorreu à militante, que foi morta estando grávida. O sacrifício de Soledad é
visto com paixão e admiração, o que a transforma em uma heróica personagem
histórica.
Sem perder de vista a classificação que vigora nos estudos de referência sobre o
testemunho, nossa hipótese considera que essas fotografias podem ser entendidas como
Superstes – o relato daquele que passou por um evento traumático e pode dar
testemunho do que presenciou – pois a imagem do cadáver dá o testemunho da
perseguição e da eliminação física perpetrada pela ditadura e, desse modo, esses
cadáveres podem ser vistos como corpos que “ainda organicamente inteiros, afirmam
materialmente a memória” (Eugênia Vilela, 2000, p.43). Por conta dessa condição
nomeamos essas fotografias de superstes imagéticos. Entendemos, portanto, que as
fotografias desses cadáveres servem de mediação e de suporte para que as vítimas, ainda
que mortas, continuem a narrar a sua história como militantes e, principalmente, o que
aconteceu durante a sua morte, como forma de denúncia das atrocidades cometidas pelo
regime.
3. QUANDO A ESCRITA SOBRE O HERÓI GUERRILHEIRO SE FAZ
ROMANCE
3.1 O HERÓI EM PESSACH, A TRAVESSIA: ESTUDO DE CASO
A palavra chave de nossas considerações: herói. Não somente herói, mas o
heroísmo atrelado à morte, junto com a apartação do cotidiano conhecido. Heróis
guerrilheiros que como já ressaltamos antes abriram mão de suas famílias, de seus
empregos fixos, do conforto, da segurança, de uma visada apática a respeito das
condições políticas e econômicas vivenciadas pela nação brasileira no momento em que
esse herói decide pela luta. Lutar, no nível mais radical da militância, significou muitas
vezes segurar uma arma, embrenhar-se na floresta (no caso da guerrilha rural) ou em
abrigos marcados pela provisoriedade (no caso da guerrilha urbana), resistir contra um
poder aparentemente maior, recusar a inércia, a apatia, o descaso. Esses aspectos
puderam ser encontrados nos variados corpus dessa pesquisa, como as fotografias – já
comentadas – assim como o cinema e as narrativas literárias. Dito isto, passamos para
as considerações acerca das narrativas literárias.
De Carlos Heitor Cony Pessach, a travessia é um romance que foi publicado em
1967 e reeditado em 1975, pela editora Civilização Brasileira. E em 1997 pela
Companhia das Letras. O livro se divide em duas partes, a primeira é “PESSACH (a
passagem por cima)”; a segunda é intitulada “A Travessia”. O aspecto escolhido a ser
estudado no romance Pessach, a travessia é como se dá a constituição do herói na
narrativa, priorizando o estudo das personagens Paulo (protagonista) e Macedo
(personagem secundário).
O romance se concentra na figura de Paulo Simões, um escritor de quarenta anos
sem muitas preocupações, estático, egoísta, indiferente aos problemas do mundo,
mesmo após o primeiro contato através de um amigo – Silvio – com os problemas e
lutas militantes resistente ao cenário político da época:
“ – Paulo, você, como todos nós, está na encruzilhada. O país, a
humanidade, estão na encruzilhada. Só há duas atitudes: ou ficamos
sentados, à beira da estrada, sem tomar nenhum dos caminhos, ou
optamos por um deles. Creio que você como homem, como escritor,
não gostará de ficar sentado. Afinal, você não se preparou durante
tantos anos para, na idade madura, sentar-se à beira da estrada. Assim,
só lhe restam dois caminhos, que são a outra ponta da alternativa
inicial. Pois venho propor o meu caminho, que pode ser o nosso
caminho: numa palavra simples, pequena e perigosa, a luta” (CONY,
1997. p.30)
Paulo não entende a luta de Silvio, então este enumera os problemas mais graves
do país: suspensão das liberdades públicas e individuais, empobrecimento brutal das
classes médias, a faixa maior da população vivendo na miséria absoluta, degradação da
pessoa humana, violências policiais, torturas, assassínios. Tais enumerações eram fatos
corriqueiros durante o período do regime de exceção no Brasil, a partir de 1964,
demonstrando o cuidado do autor em aproximar dados historiográficos de sua escrita
ficcional. Para Silvio é inaceitável que as pessoas sejam condescendentes a tais
situações sem fazer nada, acusando-as por isso até de cumplicidade criminosa. Porém,
para Paulo, o fato de ele ter assinado alguns manifestos contra um punhado de coisas já
lhe bastava. Silvio oferece-lhe o fuzil, a luta armada, uma honra que Paulo veemente
recusa, como é possível perceber no fragmento a seguir:
“– Pois estou dizendo agora: o plano é impossível, pelo menos naquilo
que me diz respeito. É impossível para mim. Precisaria acreditar
suficientemente numa coisa para chegar ao ponto de lutar por ela. É
simples. Creio que todo mundo seja assim”. (CONY, 1997. p.34)
Podemos notar que escritor (falamos aqui de Paulo) não crê na causa, por isso
recusa a luta. Mas a conversa com Sílvio termina por lembrá-lo dos ideais sobre os
quais escreveu quando mais jovem, deixando-nos a pista de que há um herói
adormecido dentro do, aparentemente, menos engajado homem existente. O trecho do
livro antigo do escritor era esse:
“ – “A única certeza que possuo é essa: a da minha morte. Não sei se
acabo de dar o laço dessa gravata, não sei se chego ao fim desse dia ou
se tomo conta dos cachorros do dalai-lama. Só de uma coisa eu sei:
vou morrer. Aceito a morte, seria burrice fugir dela, ou não assimilá-
la. Se é a minha única certeza, tenho de preparar-me para ela, ou, se
possível, prepará-la para mim. Não quero morrer de velhice ou de
moléstia. Os samurais japoneses consideravam a morte natural, a
morte por moléstia, como nódoa infame, abominável. Tampouco terei
motivos para o suicídio. Mas não suportarei a morte na cama, a
próstata inflamada, urinas presas ou soltas, sondas, algodões
embebidos em éter, escarros, a repugnante liturgia da morte. Não vou
esperar pelo câncer reto ou do piloto, nem o insulto cerebral. Antes
que a vida me insulte, eu insultarei a vida: me engajo numa luta – não
há cruzadas para defender o túmulo do Salvados, é pena – e a ela me
entrego com ferocidade. Talvez consiga ser herói”.” (CONY, 1997.
p.36)
Na primeira parte, “A passagem por cima”, encontramos um sujeito
desinteressado e intratável. O título da primeira parte pode significar a passagem por
cima de si mesmo, de sua vida, de suas crenças e de sua inércia. A busca pela liberdade:
“...Pessach é a festa judaica que celebra o êxodo, a passagem do mar
vermelho, a fuga do cativeiro, a procura da terá prometida, e,
sobretudo, a passagem do Anjo que poupou os primogênitos hebreus.
O Anjo passou por cima. Tem muitos significados” (CONY, 1997.
p.166)
Na “passagem por cima” é quando todas essas coisas vêm à tona e as decisões de
Paulo passam a fazer parte de algo muito maior do que a simples vida de um escritor.
Na conversa com Sílvio, Paulo acredita que apenas assinando manifestos estará
ajudando à causa. Pouco lhe preocupa a causa, sim, mas mesmo assim o faz. Mesmo
que não perceba, Ana Maria – filha de Paulo – herdou o espírito aventureiro e militante
que o pai possuía na juventude, aquele que o faz querer morrer por uma causa nobre, ser
herói. Silvio plantou uma semente, mas somente se o solo estiver propenso à vida é que
irá surgir uma muda, para então crescer uma árvore. A partir da Passagem Por Cima é
que a história de Paulo Simões irá se cruzar com a experiência da militância. E todas as
decisões que o herói da narrativa toma serão somente suas.
Através de uma série de acasos, o protagonista da história se vê preso em um
esconderijo militante. A partir da segunda parte do livro, intitulada A TRAVESSIA, que
se passa em sua maior parte em um campo de treinamento de militantes, tomamos
conhecimento de um ser peculiar: Macedo, o líder daquela célula de guerrilheiros e
herói de caráter ambíguo.
Macedo é um homem severo, arrogante, obscuro e tão intratável quanto Paulo;
tem o corpo cheio de estigmas: cicatrizes advindas de torturas sofridas nas mãos do
braço armado do regime. Torturas que deixaram seus olhos tatuados por essas cicatrizes
e os órgãos genitais, imprestáveis, após serem queimados por maçarico, fazendo-o um
homem impotente e manco, e que sente diariamente dores constantes nas regiões
inferiores. Suas marcas de mutilação são profundas, transcendem o corpo físico, elas
dilaceram Macedo também como ser humano, nos levando a avaliar que ele representa
ao mesmo tempo o herói – líder guerrilheiro, inteligente, eficaz comandante de um
pequeno exército de militantes – quanto o anti herói, um monstro, capaz de matar um
companheiro e de abusar sexualmente de Vera (mesmo que se arrependa desse ato
posteriormente), outra guerrilheira de extrema importância para o desenrolar dos
acontecimentos na história. Vejamos como essa face autoritária e desumana de Macedo
é apresentada por Paulo, em um relato em primeira pessoa:
“Tomo distância e entro com o pé em cima da porta, arrebentando-a.
diante de mim, mais ou menos o que esperava ver, com algumas
surpresas: Macedo está nu, de chicote à mão. Entre as pernas, tem
uma coisa estorricada, disforme, sem cor. Na cama, o crioulo, também
nu, possui Vera. Há pedaços de batina vermelha em volta do leito, o
lençol sujo de sangue.” (Cony, 1997 p.194)
Com o desenrolar da trama, Paulo, Macedo, Vera e mais dois companheiros de
guerrilha se vêem sozinhos no meio de uma floresta tentando fugir para outro país, para
salvar as suas vidas. Eles vão em busca de exílio, pois se ficarem sabe que só lhes
restará a morte. Eles caminham à noite, se escondem de dia. No meio de sua fuga na
madrugada do terceiro dia, eles se deparam com umas barracas de soldados. Macedo
decide jogar uma granada entre as duas barracas e ordena para Vera e Paulo fazerem
fogo rasteiro. Após a explosão, eles descobrem que estão sendo atacados por mais
homens do que aqueles avistados nas duas barracas. Os dois homens que ainda estavam
com eles foram mortos. Os três restantes seguem o caminho, em busca de
permanecerem vivos. Eles encontram uma vala e se escondem perto o suficiente da
fronteira para a verem do alto de um galho de árvore. Macedo e Paulo notam que estão
vindo soldados do lado da fronteira à procura deles. Macedo decide que Vera e Paulo
atirarão do esconderijo, enquanto ele irá para a estrada, na frente dos soldados, e
explodirá uma granada. Todos sabem que ele irá morrer, mas ele se sacrifica para dar a
chance de alguém atravessar a fronteira vivo. Ele rasteja, se levanta e de braços abertos
joga a primeira granada, que explode entre as duas alas de soldados. A segunda granada
não chega nem a três metros dele quando ela explode, e os tiros de metralhadora passam
por todo o seu corpo. Desse modo, Macedo sacrifica sua vida em nome da vida dos
companheiros – maior ato heróico possível. Vera também se sacrifica por Paulo, se
colocando na frente de uma bala que pegaria nele. Ao chegar ao limite da fronteira
Paulo enterra a metralhadora e inicia a travessia do rio. De um lado a morte, do outro o
nada. Ele vai em direção ao nada, mas repentinamente, quando já estava seguro desiste,
retorna, desenterra a metralhadora e segue o caminho em direção aos soldados dos quais
fugia.
Assim termina a narrativa do romance Pessach, a travessia. No seu silêncio
final, a narrativa não nos conta o destino já selado de Paulo, mas o leitor intuí a
celebração da morte do guerrilheiro como sacrifício, como forma de honrar uma luta
perdida tanto na escrita, quanto na História.
Tudo o que aconteceu com Paulo Simões foi por escolha dele. A semente foi
implantada, mas ele a regou. Ele deu carona para Vera, ele parou o carro e decidiu
trazer o torturado para a fazenda, ele decidiu comprar as passagens para Porto Alegre,
ele aceitou resolver “o caso de Silvio”, primeiramente. Tudo faz parte de um ideário
escondido no interior de Paulo. Uma busca por uma meta, um motivo para viver ou
morrer. Aos seus quarenta anos, ele se encontrava em uma vida insignificante. Paulo foi
o último sobrevivente daquele grupo. Com uma arma na mão, ele foi caçar a sua
liberdade e a sua morte com glória. E nesse sentido cumpre algo com o qual esteve
comprometido no decorrer de sua entrega à militância: se for para morrer, que seja em
batalha, como um herói, como ele mesmo escreveu no seu livro.
3.2 HERÓIS OU ANTI-HERÓIS? OS HERÓIS GUERRILHEIROS EM
PESSACH, A TRAVESSIA E EM CÂMARA LENTA: ESTUDO COMPARADO
Como vimos no estudo apresentado no subtópico anterior o escritor Paulo
Simões – protagonista de Pessach, a travessia – é um personagem que passa por um
processo de emancipação durante a narrativa. Adorno, em seu estudo intitulado
Educação e Emancipação (1995) alega que a Emancipação é o esclarecimento. Como
essas considerações se aplicam à história de Paulo Simões? Na primeira parte da
narrativa do romance ele se mostra um homem acomodado, indiferente, sem grandes
preocupações, mas com uma vida sem sentido. No decorrer da narrativa, já na segunda
parte, toma consciência da situação política do seu país, passa a ser responsável por suas
decisões e se engaja na luta armada, tornando-se um herói ao ponto de sacrificar a sua
vida em nome de seus novos ideais. Logo, torna-se herói em dois sentidos: em função
do protagonismo na narrativa e em função da condição de herói épico que, segundo
Kothe (1987, p.15) “é o sonho do homem de fazer a sua própria história”.
“Ele”, protagonista da narrativa literária Em Câmara Lenta, de Renato Tapajós,
publicada em 1977 pela editora Alfa-Ômega – opositora ao regime militar -, pode ser
classificado como um anti-herói, pois, após a morte de sua companheira, e também
heroína, por meio de tortura exercida pelos militares, o discurso desse protagonista
torna-se desalentado, sem esperanças, agindo por agir, mas sem crer na mudança, para
ele a vida não faz mais sentido, a luta não faz mais sentido. “Ele” se torna um
pessimista. Seu discurso é o da saudade e da solidão. Melancólico, “Ele” passa a ser
movido apenas pelos instintos mais básicos: sobrevivência, alimentação etc. Aos
poucos, seu eu interior vai sendo derrotado. Avaliamos que esses aspectos não apenas
representam um estado melancólico, mas ao considerarmos a narrativa de Cony, podem
ser considerados como características de um anti-herói. De fato, o herói de Em Câmara
Lenta parece fazer um movimento inverso ao do herói de Pessach, a travessia. Talvez
porque o romance de Tapajós esteja mais centrado na extrema e aviltante violência a
que o militante já decididamente integrado à luta está sujeito, diferentemente do
romance de Cony, mais focado na trajetória da adesão à militância. Para o herói de
Tapajós, que testemunha a falência da luta armada e consequentemente a perda da
possibilidade de transformação das condições políticas imperantes no país, não importa
mais morrer com glória.
Em Câmara Lenta apresenta uma narrativa fragmentada: ela é composta por
pedaços de histórias, organizados de forma quase que aleatória; memórias do passado,
situações que consideramos presente e outras futuras. No passado, desde muito jovem, o
protagonista já se sentia um “estranho no ninho”, com sonhos de mudar o mundo.
Buscava engajar-se em alguma luta, fazer oposição, buscar novos rumos: “A agitação
era intensa, cartazes espalhados pela parede e colunas. Procurou algum colega. Ele
pretendia se engajar em alguma coisa.” (Tapajós, 1977, p. 65)
A narrativa nos proporciona sentimentos latentes, como o desespero, a
inquietação, a desesperança, principalmente com as diversas repetições da frase “é tarde
demais”. Ela pode fazer referência a outra expressão marcante na história: a do gesto. A
inquietação de “Ele” em relação ao gesto que foi feito, deixada de lado pelo desespero
pela morte da amante.
“Não admito e não permito que ninguém admita que todos os gestos
foram sem sentido, que todas as mortes não serviram para nada, que a
morte dela foi inútil. Eu sei que o gesto estilhaçou-se, não se
completou, ficou a meio caminho. Não pode ser apagado, tornando-se
inexistente, esquecido. Mesmo errado, valeu a pena.” (TAPAJÓS,
1977. Pag. 48)
Discursos de lucidez e desespero se mesclam no decorrer da narrativa.
Constatações de que o gesto deu errado e que a morte está próxima são cenários
regulares da história. Diferentemente do discurso de Paulo (Pessach, a travessia) – que
vê na morte a esperança, o sentido da vida, um motivo para viver; “Ele” espera a morte
como quem espera para ser atendido no armazém, uma espera aparentemente
interminável e desestimulante, quase sem sentir até. “Ele” vê seu destino traçado no
encontro marcado que tinha com o companheiro Carlos, amigo esse que ele nem tem
certeza de que está vivo. Sua ira contra os militares é radical, como vemos no trecho
seguir:
“Eu sei que a repressão deve estar no ponto, talvez com ele junto. Mas
mesmo assim eu vou e quero que eles estejam lá porque quero ver
suas caras imundas, quero ver seus corpos de animal rolarem e
derramarem sangue, o sangue que eles estão devendo a ela.”
(TAPAJÓS, 1997. Pag. 173)
O protagonista busca ser leal consigo mesmo e com os demais companheiros
que deram a vida pela causa militante, decide não sair do país, como diversos colegas
fizeram, e encarar a morte iminente. Seu último gesto heróico e resistente foi morrer de
braços abertos, ainda empunhando uma arma, “A deserção definitiva tinha sido
realizada”. (TAPAJÓS, 1997. Pag. 175)
4. QUANDO O CINEMA TAMBÉM NARRA A BARBÁRIE: O CASO CABRA-
CEGA
Cabra-cega é um filme brasileiro dirigido por Toni Venturi, lançado em 2005,
com 1 hora e 7 minutos de duração, do gênero drama. A trama é baseada em
depoimentos, se passa em 1971, período do regime militar brasileiro e aborda a vida dos
militantes esquerdistas e dos simpatizantes da causa. Por mais que seja uma obra
ficcional, a trama conta com áudios de televisão, vídeos e fotos da época, criando uma
atmosfera próxima da veracidade e aproximando o filme do caráter documental.
A produção tem como protagonista o militante Thiago, que é ferido a bala e tem
sua companheira, Dora, apreendida pelos militares. Thiago é salvo por um militante,
dirigente do movimento, de nome Matheus, que o ajuda a se esconder na casa de Pedro,
pois tem seu rosto estampados em jornais e cartazes da cidade e precisa se recuperar do
ferimento. Pedro é arquiteto e simpatizante da causa esquerdista, porém não tem
pretensões de aderir à luta armada. A mulher encarregada de cuidar de Thiago chama-se
Rosa, e, por causa da convivência, eles acabam criando laços emocionais e uma relação
amorosa. Rosa representa a jovem e esperançosa mulher militante, que teme a prisão e a
tortura, e acredita que as lutas armadas devem terminar.
O filme aborda a revolta de Thiago por ter de ficar preso e escondido no
apartamento de Pedro, fora do campo das batalhas armadas e políticas. Sentia-se desleal
com seus companheiros já mortos ou que estão sobre tortura. Diferentemente do
protagonista “Ele” de Em câmara lenta, Thiago quer agir, tomar decisões, lutar; “Ele”
se mostrava sem esperanças de continuar lutando. O protagonista da obra
cinematográfica é constantemente desconfiado, exageradamente preocupado com a
confiabilidade das pessoas a sua volta, podendo ser comparado ao personagem Macedo,
de Pessach, a travessia, que vivia em estado de constante alerta e preocupação em
relação a todos, principalmente Paulo.
Nesse sentido, o protagonista de Cabra-Cega se aproxima do modelo de herói
guerrilheiro, tal como o encontrado no romance de Cony, aquele que abdica de tudo,
inclusive da própria vida, em nome da luta contra o regime de exceção. De acordo com
a apreciação de Thiago, Pedro (que pode ser comparado ao Paulo de Pessach, a
travessia) representa aqueles que consideram justas as lutas dos militantes, mas que não
se empenhariam ao ponto de segurar uma arma e ir à luta, mas faz sua parte ao dar
abrigo aos militantes que estavam sendo procurados pela polícia, oferecendo seu
apartamento como “aparelho”. Após um desentendimento com Thiago, Pedro faz a
seguinte afirmação: “eu sei que tua barra tá pesada, mas eu tô aqui cumprindo meu
papel. Eu posso não ser nenhum grande herói como você, mas também não sou nenhum
babaca”. A tortura também se faz presente em Cabra-Cega: a personagem Dora, a
companheira presa de Pedro, é resgatada do hospital por seus companheiros de luta após
resistir aos maus tratos, que se fazem presente em cenas no decorrer do filme.
Vale ressaltar ainda argumentos afins aos fundamentos da narrativa do filme,
presentes no discurso de dona Nenê, mãe de um militante que foi morto durante o
regime franquista e vizinha de Pedro. Nas conversas com Thiago se fazem presentes os
lamentos em relação aos dramas e as perdas, que são os mesmos nos diversos regimes
de exceção. A personagem afirma que as ditaduras só mudam de lugar.
A produção cinematográfica analisada consegue retratar a realidade vivida por
muitos dos militantes que podem ser vistos nas imagens fotográficas coletadas. Sem
contar os guerrilheiros que militaram nas guerrilhas rural e urbana, que podem ser vistos
nas duas narrativas literárias anallisadas. Retrata, também, o cenário das lutas juvenis,
como “Ele” de Em câmara lenta que desde muito novo era engajado militarmente. As
fotos que podem ser vistas no início do filme, em sua maioria, demonstram o papel do
jovem militante, presente em passeatas, segurando cartazes, entrando em combates
contra os militares.
Podemos verificar um intenso estado de transformação dos protagonistas das
narrativas literárias, que passaram do estado de apatia, ao de completa entrega à causa
militante, entrega essa de grande semelhança com o percurso e identidade de
guerrilheiros que foram atuantes na luta armada contra os regimes de exceção do século
XX, como pode ser verificado nas imagens fotográficas dos corpos desses militantes.
As imagens dos corpos podem ser consideradas como formas de narrativas testemunhais
desses heróis militantes que viveram no período da ditadura militar no Brasil, e que
sacrificaram suas vidas em nome de seus valores. Como podemos inferir também na
representação dos personagens da narrativa cinematográfica Cabra-Cega, que é repleta
de imagens, vídeos e áudios de televisão que são documentos reais daquele período
histórico.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS: É POSSÍVEL PENSARMOS EM UM
HERÓI GUERRILHEIRO COMO MODELO?
Consideramos que o nosso corpus de pesquisa apresenta diversos heróis, e estes
quase não diferem entre si, pois todos retratam o herói guerrilheiro que lutou por seus
ideais e valores contra os ideais autoritários do regime de exceção, no qual o Brasil
viveu a partir do ano de 1964. Após a análise do corpus, conseguimos rastrear em todas
as narrativas a presença de características que retratam este herói específico. São elas:
1- Apartação do cotidiano:
Primeiramente, os heróis guerrilheiros passam por um rompimento. Eles têm que
se apartar de seu cotidiano para poder se preparar e ir lutar pela causa. Deixam para trás
suas famílias, suas casas, seus empregos, seus amigos que não aderiram à luta, o
conforto que possuíam e sua liberdade. Tais características podem ser comprovadas com
a representação dos militantes pertencentes ao esconderijo liderado por Macedo,
personagem secundária de Pessach, a travessia. Tais guerrilheiros abandonaram tudo
para viverem escondidos em cabanas, quando se trata da guerrilha rural, sem energia
elétrica ou água encanada, sem hospitais e nem condições mínimas de conforto, ou
refúgios provisórios, em meio urbano.
2- Adesão à luta armada:
Tendo em vista o incômodo com as situações e em busca de mudanças, o herói
adere à luta armada e passa a dedicar sua vida em prol da materialização desses ideais.
Ao aderir à luta armada, o herói guerrilheiro passa a ter duas alternativas: matar ou
morrer; demonstrando o quão longe pode ir esse herói a procura de melhorias para a
vida de toda uma população. Os protagonistas dos Romances Pessach, a travessia e Em
câmara lenta, Paulo e “Ela”, respectivamente, são exemplos de guerrilheiros que
empunharam uma arma e lutaram por suas escolhas.
3- Entrada na clandestinidade:
Devido ao fato de terem aderido à luta armada, os heróis guerrilheiros passam a
ser taxados como criminosos, fazendo necessário com que se escondam e vivam à
margem da sociedade. Eles passam a ser caçados e tem seus nomes pregados em
cartazes pela cidade, seus nomes viram notícia nos jornais, são caracterizados como
anarquistas e meliantes altamente perigosos à população. Podemos constatar essa
clandestinidade da imagem do protagonista Thiago, da obra cinematográfica Cabra-
Cega, ou até mesmo em Macedo, personagem secundário da narrativa literária Pessach,
a travessia.
4- Sacrifício da Vida:
Os heróis guerrilheiros empenharam mais do que seus tempos e esforços para
lutar contra o braço armado da ditadura militar de 1964. Eles sacrificaram suas vidas
pelos valores e ideais que possuíam, sendo mortos pelos militares. Paulo, Vera, Macedo
(Pessach, a travessia), “Ele”, “ela”, Martha, o Venezuelano (Em câmara lenta) e muitos
outros personagens retratam os heróis militantes que deram suas vidas na luta contra o
regime de exceção brasileiro. As fotos dos militantes que morreram nessa luta, que
podem ser entendidas como narrativas testemunhais, são provas documentais do
sacrifício heróico desses militantes guerrilheiros.
Os heróis, ao se depararem com situações que ferem seus ideais ou valores,
passam por essas circunstâncias ou estágios repletos de sacrifício, que os formam, como
podemos constatar, verdadeiros Heróis Guerrilheiros.
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FILMOGRAFIA
Cabra-Cega. Direção: Toni Venturi. Produtor: Toni Venturi. Distribuição: Europa
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PUBLICAÇÕES:
• Apresentação de pôster no XIV Encontro da ABRALIC (Associação Brasileira de
Literatura Comparada) em julho do ano 2014 em Belém do Pará, UFPA.
• Trabalho completo publicado nos Anais IV SELCIR (Seminário Nacional de
Literatura e Cinema de Resistência) em dezembro ano 2014 em Belém do Pará, UFPA.
• Comunicação apresentada no IV SELCIR (Seminário Nacional de Literatura e Cinema
de Resistência) em dezembro ano 2014 em Belém do Pará, UFPA.
• Apresentação de pôster no XIV Congresso da ABRALIC (Associação Brasileira de
Literatura Comparada) em junho do ano 2015 em Belém do Pará, UFPA.
• Trabalho completo encaminhado aos Anais XIV Congresso da ABRALIC (Associação
Brasileira de Literatura Comparada) em junho do ano 2015 em Belém do Pará,UFPA.
• Comunicação apresentada no II ENELF (Encontro Nacional de Estética Literatura e
Filosofia) em julho ano 2015 em Fortaleza - Ceará, UFC.
• Trabalho completo encaminhado aos Anais do II ENELF (Encontro Nacional de
Estética Literatura e Filosofia) em julho ano 2015 em Fortaleza - Ceará, UFC.
CONCLUSÃO
Podemos perceber que o plano de trabalho se desenvolveu bem. A recepção
do corpus de narrativas foi realizado, assim como a análise visando a confirmação das
hipóteses levantadas. Procedemos também com levantamento das imagens fotográficas
nos acervos virtuais e físicos, porém este último se mostrou infrutífero e teve de ser
deixado à margem. As leituras teóricas foram realizadas regularmente e com isso a
produção referente aos resultados da pesquisa deu-se de forma cada vez mais sólida.
PARECER DO ORIENTADOR: Manifestação do orientador sobre o
desenvolvimento das atividades do aluno e justificativa do pedido de renovação se for o
caso.
Avalio que a bolsista atingiu os objetivos previstos em seu subprojeto.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS: Em caso de aluno concluinte, informar o
destino do mesmo após a graduação. Informar também em caso de alunos que seguem
para pós-graduação, o nome do curso e da instituição.
Não se aplica.
DATA : 10/08/2015
_________________________________________
ASSINATURA DO ORIENTADOR
___________________________________________
ASSINATURA DO ALUNO
ANEXOS
Anexo das Imagens fotográficas dos corpos de militantes eliminados pelo braço
armado do regime militar brasileiro, coletadas em acervos virtuais.
- Militante Soledad Barret Viedma
https://erickfigueiredo.wordpress.com/2010/01/10/soledad-barret-viedma-vitma-ou-
duas-vezes-culpada/
- Militante Carlos Marighella
http://www.nucleomemoria.org.br/noticias/internas/id/407
- Militante Maria Lúcia Petit
http://www.documentosrevelados.com.br/geral/petit-da-silva-familia-dizimada/
- Militante Jarbas Pereira Marques
http://www.documentosrevelados.com.br/geral/jarbas-pereira-marques-assassinado-
na-tortura-pela-ditadura/
- Militante Pauline Reichstul
http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/inedito-sobrevivente-relata-
detalhes-de-chacina-em-que-morreram-seis-militantes-da-resistencia-a-ditadura/
- Militante Maria Regina Lobo Leite Figueiredo
http://www.mepr.org.br/noticias/nacional/337-mortos-e-desaparecidos.html
- Militante Eudaldo Gomes da Silva
http://www.documentosrevelados.com.br/geral/eudaldo-gomes-da-silva-
assassinado-na-tortura-pela-ditadura/
- Militante Vladmir Herzog
http://averdade.org.br/2012/10/justica-reconhece-herzog-morreu-sob-torturas/
- Militante Evaldo Luiz F. de Souza
http://www.documentosrevelados.com.br/geral/sobrevivente-da-chacina-da-chacara-
de-sao-bento-aparece-e-faz-novas-revelacoes-sobe-o-caso-parte-1/
- Militante Virgílio Gomes da Silva
http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/virgilio-gomes-da-silva-
operario-brasileiro-revolucionario/
- Militante José Campos Barreto
http://www.documentosrevelados.com.br/midias/algumas-fotos-de-militantes-
presos-e-assassinados-resgatados-dos-arquivos-da-ditadura/attachment/corpo-de-
jose-campos-barreto-o-zequinha-militante-do-mr-8-morto-com-lamarca-no-mesmo-
dia/
- Militante Sônia Maria Lopes de Moraes
http://sindromedeestocolmo.com/2010/08/
- Militante Emanuel Bezerra dos Santos
http://averdade.org.br/2015/02/ditadura-militar-uma-longa-noite-de-terror/
- Militante Antônio Carlos Bicalho Lana
http://www.forumverdade.ufpr.br/blog/2015/07/13/fragmentos-da-ditadura-seus-
corpos-com-perfuracoes-no-ouvido-na-testa-e-na-face-teriam-sido-expostos-no-doi-
codisp-como-trofeus/
- Militante Antônio H. Pereira Neto
http://aluiziomoreira.blogspot.com.br/2012/06/padre-henrique-na-pauta-da-
verdade.html
- Militante Carlos Lamarca – duas imagens.
http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/exercito-matou-lamarca-sombra-de-
uma-arvore-em-setembro-de-1971-9981822
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/07/foto-de-carlos-lamarca-liberada-
pelo-arquivo-nacional.html