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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
CAMPUS JATAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
TCCG – GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA
DIAGNÓSTICO ANATOMOPATOLÓGICO EM ANIMAIS DE PRODUÇÃO E DE ESTIMAÇÃO
Edismair Carvalho Garcia
Orientador: Prof. M. Sc. Fabiano José Ferreira de Sant’Ana
JATAÍ
2006
i
EDISMAIR CARVALHO GARCIA
DIAGNÓSTICO ANATOMOPATOLÓGICO EM ANIMAIS DE
PRODUÇÃO E DE ESTIMAÇÃO
Trabalho de conclusão de curso de
graduação para obtenção do título de
Médico Veterinário junto à Universidade
Federal de Goiás
Orientador: Prof. M. Sc. Fabiano José Ferreira de Sant’Ana
Supervisor:
Prof. Dr. David Driemeier
JATAÍ
2006
ii
EDISMAIR CARVALHO GARCIA
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação defendido e aprovado em 15 de
dezembro de 2006, pela seguinte Banca Examinadora:
_______________________________________________________
Prof. M. Sc. Fabiano José Ferreira de Sant’Ana
Presidente da banca
_______________________________________________
Profa. M. Sc. Alana Flávia Romani
Membro da banca
________________________________________________
Prof. Leuton Scharles Bonfim
Membro da banca
iii
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter concedido a oportunidade de viver mais uma vez.
Aos meus pais, que apesar de todas as dificuldades durante minha
infância, mostraram honroso desprendimento no tocante à formação moral adequada
que um ser humano deve apresentar.
À minha avó Dinah (in memorian) que sempre me desejou ver formado,
apesar de suas brincadeiras que diziam que na verdade eu deveria ter feito era
“Medicina” para poder cuidar dela e não “Veterinária” para cuidar de “bichos”.
Ao Prof. M.Sc. Fabiano José Ferreira de Sant’Ana, não somente pela
indiscutível orientação durante o estágio curricular, bem como por toda orientação
conferida como professor e como amigo durante a graduação. Sempre buscando o
meu aprimoramento como futuro médico-veterinário, é a este profissional irretocável
que devo meus especiais agradecimentos.
Ao supervisor Prof. Dr. David Driemeier pelos conhecimentos
compartilhados, mas acima de tudo pelo apoio e ajuda em todos os momentos
solicitados.
Ao Prof. M.Sc. Marcos de Almeida Souza, embora não tenha sido meu
professor durante a graduação, foi quem me orientou durante o meu primeiro e
valioso estágio extra-curricular na área de Patologia Animal.
Ao Prof. M. Sc. Rogério Elias Rabelo que além do conhecimento técnico-
científico, sempre lecionou com propriedade no que diz respeito aos verdadeiros
desafios de um médico-veterinário que atua diretamente no campo.
À Profa. M.Sc. Alana Flávia Romani pela dedicação na preparação de suas
aulas, pela disposição e por estar sempre pronta a auxiliar.
À minha namorada e companheira Elisângela Luiza Malmann que
prendada de muito carinho, paciência e compreensão acompanhou-me durante
quatro anos de minha vida acadêmica.
A todos meus amigos e colegas de faculdade, em especial, “Macú”
(Leonardo Arantes Mascarenhas) e “Gordo” (Bruno Carvalho Rosa) pela parceria,
consideração, cumplicidade de idéias e é lógico pelas inusitadas passagens, dignas
de longas recordações.
iv
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 1
1.1 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO.......................................................... 1
1.2 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS...................................... 3
1.2.1 PROCESSAMENTO DE LÂMINAS NO LABORATÓRIO DE
HISTOPATOLOGIA ANIMAL..................................................................................
3
1.2.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO SETOR DE PATOLOGIA
VETERINÁRIA (SPV) ........................................................ ...................................
4
2 DESCRIÇÃO DE CASOS.................................................................................... 8
2.1 INTOXICAÇÃO POR Senecio brasiliensis EM BUBALINO.............................. 8
2.1.1 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................... 8
2.1.2 RELATO DE CASO....................................................................................... 18
2.2. COMPLEXO PÊNFIGO................................................................................... 26
2.2.1 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................... 26
2.2.2 RELATO DE CASO....................................................................................... 35
3 CONCLUSÃO................................................................................................... 42
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 43
v
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Número de necropsias com exame histopatológico e exames
histopatológicos por espécie animal, realizados durante o estágio
curricular supervisionado no SPV/FAVET/UFRGS, no período de 07 de
agosto a 01 de novembro de 2006........................................................... 5 Tabela 2 Principais doenças diagnosticadas por meio de exames necroscópicos,
histopatológicos e imuno-histoquímicos, por espécie animal, pelo
SPV/FAVET/UFRGS, no período de 07 de agosto a 01 de novembro
de 2006.................................................................................................... 6
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Quantificação das principais etiologias diagnosticadas pelo
SPV/FAVET/UFRGS, por natureza etiológica, no período de 07
de agosto a 01 de novembro de 2006.............................................. 6 Figura 2 Senecio brasiliensis em floração...................................................... 9 Figura 3 Senecio oxyphyllus em floração, Estrela/RS................................... 9 Figura 4 Fórmula estrutural de um dos principais APs isolados de S.
brasiliensis........................................................................................ 11 Figura 5 Distribuição de Senecio brasiliensis no território brasileiro.............. 12 Figura 6 Bubalino. Abomaso. Acentuado edema de parede.......................... 21 Figura 7 Bubalino. Fígado. Intensamente pálido e reduzido de tamanho...... 21 Figura 8 Bubalino. Fígado. Fibrose (seta preta), proliferação de ductos
biliares (seta vermelha) e necrose individual de hepatócitos (seta
azul). Tricrômio de Masson. Obj. 40x............................................. 22 Figura 9 Bubalino. Cérebro. Espongiose (seta) na transição cortico-
medular do cérebro. HE. Obj. 4x...................................................... 22 Figura 10 Canino. Coxins plantares. Úlcera (seta) e hiperemia....................... 37 Figura 11 Canino. Língua. Áreas claras e circulares (seta)............................. 37 Figura 12 Canino. Coxim plantar. Fotomicrografia. Acantólise suprabasilar
com formação de fenda (seta preta) e infiltrado inflamatório
mononuclear moderado saindo da derme superficial e invadindo a
epiderme (setas vermelhas). HE. Obj. 40x...................................... 38 Figura 13 Canino. Língua. Fotomicrografia. Úlcera (seta vermelha), infiltrado
inflamatório mononuclear moderado (seta preta) e
desprendimento da epiderme (seta verde). HE. Obj. 20x................ 38
vii
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
OC = Grau Celsius
g = Gramas
Kg = Quilogramas
mg = Miligramas
L = Litro
dL = Decilitro
mL= Mililitros
µm = Micrômetro
DNA = Ácido desoxirribonucléico
IgG = Imunoglobulina G
UFRGS = Universidade Federal do Rio Grande do Sul
FAVET = Faculdade de Veterinária
HE = Hematoxilina-Eosina
PV = Pênfigo Vulgar
PE = Pênfigo Eritematoso
PF = Pênfigo Foliáceo
PVe = Pênfigo Vegetante
LES = Lúpus Eritematoso Sistêmico
LED = Lúpus Eritematoso Discóide
RS = Rio Grande do Sul
1 INTRODUÇÃO
Os jovens que desejam seguir a carreira de médico (a) veterinário (a) e
não procuram informações aprofundadas sobre a profissão podem ter grandes
surpresas no desenrolar da universidade. Geralmente, os interessados acham que a
Medicina Veterinária resume-se apenas à área clínica de pequenos e grandes
animais e suas especialidades.
Entretanto, a profissão proporciona uma ampla gama de possibilidades de
trabalho nos mais diversos campos de atuação do profissional veterinário. No
decorrer do curso de graduação, a escolha por uma área em especial é um processo
que se desenvolve naturalmente. Para tanto, faz-se necessário tomar conhecimento
sobre as áreas oferecidas, fazer contato com professores, profissionais, sobretudo
realizar estágios extracurriculares e participar de cursos, palestras e outras
atividades que complementem as atividades acadêmicas. Contudo, durante o estágio
curricular há a possibilidade de dedicar-se proficuamente à rotina de trabalho da área
optada, esclarecendo a verdadeira atuação do profissional no campo em questão.
A área de Patologia Animal é um dos campos que oferecem oportunidades no
mercado de trabalho para o egresso médico veterinário, entretanto desperta pouco
interesse da maioria dos formandos no Brasil. A Patologia Animal já foi uma área que
esteve muito relacionada ao ensino, mas a busca por novas e mais eficientes
ferramentas de diagnóstico, tanto em animais de companhia como animais de
produção, tem feito esta especialidade ganhar importância peculiar nos últimos anos.
Dessa forma, o mercado de trabalho tem se tornado cada vez mais receptivo aos
profissionais que se dedicam ao estudo e compreensão das alterações
morfofisiológicas visando proporcionar melhores condições de bem-estar e produção
animal, inclusive com vistas a saúde pública.
1.1 Descrição do Local de Estágio
O estágio foi realizado no Setor de Patologia Veterinária (SPV) da
Faculdade de Veterinária (FAVET) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
2
(UFRGS), localizada na Avenida Bento Gonçalves, nº 9090 – Bairro Agronomia, na
cidade de Porto Alegre/RS. Este setor tem como objetivos gerais, oferecer ensino de
qualidade aos alunos de graduação e de pós-graduação desta instituição, contribuir
para o diagnóstico e pesquisa de enfermidades em animais domésticos e silvestres
na cidade de Porto Alegre, cidades do interior do Rio Grande do Sul e Estados
vizinhos.
A estrutura física do SPV da FAVET/UFRGS é composta por uma sala de
professores e pós-graduandos, um laboratório de histopatologia, uma sala para
necropsia, uma sala de triagem, um laboratório de imuno-histoquímica, uma sala de
microscopia, uma sala de obtenção e processamento de imagens e demais
dependências, como vestiários, sanitários, almoxarifado e cozinha.
Atualmente, o setor é constituído por seis professores, cinco doutorandos,
quatro mestrandos, um residente, oito estagiários acadêmicos e bolsistas iniciação
científica e dois técnicos administrativos (um na necropsia e outro na histopatologia).
Atendendo no horário das 8 às 18 horas e funcionando de segunda a
sexta-feira, o laboratório oferece serviço de diagnóstico anatomopatológico por meio
da realização de necropsias em animais, coleta de amostras para avaliação
microscópica; recebimento de amostras fixadas em formalina a 10% para exames
histológicos e visitas a propriedades em que se faz necessária uma melhor
investigação epidemiológica. Todos os casos submetidos ao SPV recebem, após a
avaliação, laudo anatomopatológico, sendo que em algumas situações, este pode
ser complementado com sugestões e orientações sobre o referido resultado,
auxiliando no processo de controle e profilaxia de enfermidades animais.
Desde junho de 2004 o SPV é credenciado junto ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para realização de diagnóstico das
Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis, através da técnica de imuno-
histoquímica, conforme a Portaria nº. 41/04 do Diário Oficial da União, recebendo
amostras de vários estados da Federação, sobretudo do Mato Grosso, Rio de
Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
Adicionalmente às aulas práticas e teóricas para o curso de graduação
nas matérias de Patologia Veterinária Geral e Patologia Veterinária Especial, o setor
3
ainda oferece as seguintes disciplinas para o curso de pós–graduação: Diagnóstico
"Post-Mortem" em Medicina Veterinária, Patologia Suína: Diagnóstico "Post-Mortem”,
Seminários de Diagnóstico Histopatológico em Medicina Veterinária I, Seminários de
Diagnóstico Histopatológico em Medicina Veterinária II e Métodos Complementares
no Diagnóstico "Post-Mortem”.
1.2 Descrição das atividades desenvolvidas
1.2.1 Processamento de lâminas no Laboratório de Histopatologia Animal
Todas as amostras de tecidos animais destinadas à confecção de lâminas
histológicas são identificadas e registradas no Livro de Necropsias (Livro de “N”) ou
no Livro de Anatomopatológico (Livro de “AP”), dependendo da origem dos materiais.
Necropsias realizadas pelo SPV/FAVET/UFRGS são registradas no Livro de “N”, ao
passo que materiais remetidos por clínicas veterinárias, médicos-veterinários
autônomos e de outras instituições privadas ou públicas são registrados no Livro de
“AP”. As amostras coletadas são fixadas numa proporção de 40 vezes o tamanho da
peça em solução de formaldeído a 10%, pelo período mínimo de 24 h. Posterior ao
período de fixação, os fragmentos de tecidos são destinados à sala de clivagem,
onde são recortados em medidas uniformes de três a cinco mm e colocadas em
cassetes plásticos com a respectiva identificação do registro laboratorial. Em
seguida, os cassetes são dispostos em um aparelho histotécnico processador
automático de tecidos que permite um processamento correto, padronizado e
programável do tecido. Neste aparelho, o tecido é submetido ao processo de
desidratação e clarificação ou diafanização.
A fase de desidratação consiste em passagens das amostras em soluções
de álcool em diferentes concentrações. As passagens ocorrem da seguinte maneira:
álcool a 70%, álcool a 80%, álcool a 90%, sendo as últimas passagens da
desidratação feitas no álcool absoluto (100%). Durante a fase de clarificação ou
diafanização, o material é submetido a passagens em soluções de xilol.
4
Na fase de impregnação, as amostras ficam imersas em parafina
histológica mantida a uma temperatura próxima a 56°C, apresentando-se em estado
líquido. As amostras ficam imersas em uma primeira parafina e subseqüentemente
em uma segunda parafina por duas a três horas. Posteriormente, faz-se a inclusão
do material que consiste na formação de blocos de parafina que alocam o tecido a
ser cortado posteriormente no micrótomo a 5-6 µm.
A coloração rotineiramente utilizada no diagnóstico histopatológico é a
hematoxilina de Harris e eosina (Allen, 1992). A lâmina obtida após o corte do bloco
é colocada em estufa a 56°C por 20 a 30 minutos e submetida a três passagens em
xilol, com duração de cinco minutos cada; em seguida, quatro passagens são
realizadas, uma em álcool absoluto por cinco minutos e mais três passagens de um
minuto em soluções decrescentes de álcool (90%, 80% e 70%).
Subsequentemente a essas passagens, as lâminas são lavadas em água
corrente por oito a dez minutos, coradas em hematoxilina por quatro minutos, mais
uma vez lavadas em água corrente por oito a dez minutos e permanecendo por dois
minutos em eosina. A lâmina poderá ser mergulhada rapidamente em uma solução
de álcool ácido antes da passagem em eosina caso ocorra coloração excessiva pela
hematoxilina. Ulterior a essa fase, é realizada uma nova desidratação passando as
lâminas durante um minuto em álcoois 70%, 80%, 90%; por último, permanecer em
álcool a 100% durante cinco minutos e em xilol com duas imersões de dez minutos,
cada.
1.2.2 Atividades desenvolvidas no Setor de Patologia Veterinária (SPV)
Durante o período de estágio, todas as atividades relativas à rotina do
SPV eram acompanhadas sob a supervisão do Prof. Dr. David Driemeier. O estágio
foi realizado do dia 07 de agosto a 01 de novembro de 2006 com carga horária total
de 452 horas, o que possibilitou acompanhar diversas atividades desenvolvidas no
setor, como diagnósticos necroscópico e histológico em animais, aulas práticas de
necropsia em animais nas disciplinas de Patologia Geral e Patologia Especial, visitas
a propriedades com finalidade diagnóstica, realizando necropsias, colheita e
5
processamento de materiais, investigações epidemiológicas e discussão de casos;
além de experimentos científicos, reuniões do SPV e seminários eventuais sobre
assuntos técnicos.
No período citado foram realizadas 198 necropsias com exame
histopatológico e 891 exames histopatológicos (biópsias) de diversas espécies
animais, totalizando 1089 exames, observados na Tabela 1. Dentre as principais
etiologias comprovadas, destacaram-se as doenças de origem neoplásica/
hiperplásica (Figura 1). Na Tabela 2, pode-se visualizar as doenças mais comumente
diagnosticadas pelo SPV/FAVET/UFRGS, divididas por espécie animal, durante o
período de estágio, destacando-se a Parvovirose Canina e a Circovirose Suína.
Tabela 1. Número de necropsias com exame histopatológico e exames histopatológicos por espécie animal, realizados durante o estágio curricular supervisionado no SPV/FAVET/UFRGS, no período de 07 de agosto a 01 de novembro de 2006.
Diagnóstico Patológico Espécie
Necropsia e Histopatológico Histopatológico
Caninos 85 262
Felinos 27 2
Bovinos 13 147
Eqüinos 10 9
Ovinos 6 209
Caprinos 9 7
Suínos 41 231
Outros 7 24
198 891 Subtotal
TOTAL 1089 FONTE: Livro de Registro “N” e “AP” do SPV/FAVET/UFRGS, 2006.
6
Figura 1. Quantificação das principais doenças diagnosticadas pelo
SPV/FAVET/UFRGS, por natureza etiológica, no período de 07 de agosto a 01 de
novembro de 2006.
Tabela 2. Principais doenças diagnosticadas por meio de exames necroscópicos,
histopatológicos e imuno-histoquímicos, por espécie animal, pelo
SPV/FAVET/UFRGS, no período de 07 de agosto a 01 de novembro de 2006.
Espécie Doença Número de casos Relação
doença/espécie
Bovinos
Intoxicação por Perryia flavipes
Intoxicação por Senecio spp.
Anaplasmose
6
4
4
22,2%
14,8%
14,8%
Ovinos
Intoxicação por Cobre
Eimeriose
Cetose
6
1
1
50,0%
8,3%
8,3%
Caprinos
Infestação por Haemonchus spp.
Toxoplasmose
Septicemia
2
2
1
13,3%
13,3%
6,7%
32%
4%10%2%
32%
18% 2%
Infecciosa Tóxica Metabólica/ imuno-mediada Parasitária Neoplasia/ hiperplasia
Sem diagnóstico
Traumática
(Continua...)
7
Espécie Doença Número de casos Relação
doença/espécie
Eqüinos
Endometrite
Cólica por sobrecarga alimentar
Peritonite
4
2
2
25%
12,5%
12,5%
Suínos
Circovirose
Colibacilose
Doença de Glässer
93
13
11
38,0%
5%
4,5%
Caninos
Parvovirose
Carcinoma complexo de mama
Adenocarcinoma de mama
19
14
13
6,4%
4,7%
4,4%
Felinos
Adenocarcinoma de mama
Traumatismo
Síndrome Urológica Felina
2
2
2
7,4%
7,4%
7,4% FONTE: Livro de Registro “N” e “AP” do SPV/FAVET/UFRGS, 2006.
(Continuação)
8
2 DESCRIÇÃO DE CASOS
2.1 Intoxicação natural por Senecio brasiliensis em bubalino (Bubalus bubalis) 2.1.1 Revisão de literatura
a) Introdução
O búfalo foi introduzido no Brasil no final do século passado, inicialmente
na ilha de Marajó, no Pará, porém sua importância como produtor de carne e leite no
país é fenômeno recente. Segundo estimativas recentes, o rebanho bubalino
brasileiro é da ordem de 3 milhões de cabeças, com o maior índice de crescimento
dentre todos os animais domésticos. É o maior rebanho bubalino das Américas. O
rebanho nacional vem crescendo de maneira constante e significativa em todas as
regiões do País, o que derrubou o estigma de que a criação deste animal só era
possível na região norte do Brasil na qual, de fato, encontra-se um grande rebanho
(ABCB, 2006; Romito, 2006).
Plantas do gênero Senecio, são nativas de várias regiões do mundo e
consideradas causadoras de uma enfermidade de caráter enzoótico em bovinos,
com importante reflexo na produção animal (Puschner, 2004; Basile et al., 2005). A
toxidez das plantas do gênero Senecio é amplamente conhecida e seus efeitos tanto
no homem como em animais já foram descritos em vários países sob distintas
denominações (Barros et al, 1987). No Brasil, estas plantas recebem vários nomes
populares, destacando as denominações “maria-mole” e “flor-das-almas” (Tokarnia &
Döbereiner, 1984; Barros et al. 1989; Méndez et al. 1990).
O S. brasiliensis é uma planta herbácea ou subarbusto perene, ramificado,
com ramos glabros, lisos, robustos, eretos e estriados, medindo de 80 a 160 cm de
altura. Suas folhas são simples, alternas, profundamente lobadas e densamente
agrupadas na extremidade dos ramos. Apresentam-se glabras e de coloração verde-
escura na face adaxial, e pilosas e esbranquiçadas na abaxial.
As flores são amarelas e de dois tipos: em discos, que possuem partes masculinas e
9
femininas na mesma flor, e radiadas que são exclusivamente femininas. Reúnem-se
em numerosos corimbos terminais. O fruto pequeno possui plumagem que ajuda na
dispersão pelo vento e cerdas que auxiliam na fixação. Geralmente, a floração
concentra-se nos meses de outubro e novembro e a frutificação em dezembro
(Tokarnia et al., 2000).
A intoxicação por plantas invasoras do gênero Senecio, sobretudo S.
brasiliensis (Figura 2), S. oxyphyllus (Figura 3), S. heterotrichius e S. selloi, ocorre
principalmente no Estado do Rio Grande do Sul, no outono e inverno, especialmente
em condições de pouca disponibilidade de forragem (Méndez et al., 1987; Barros et
al., 1987; Driemeier, 1991; Barros et al., 1992).
Figura 2. Senecio brasiliensis em floração. Figura 3. Senecio oxyphyllus em floração,
FONTE: Tokarnia et al. (2000) Estrela/RS. FONTE: Garcia (2006)
Gava e Barros (1997) descreveram casos de seneciose em eqüinos, em
quatro propriedades rurais do estado de Santa Catarina e em uma do Rio Grande do
Sul. Nestas propriedades, S. brasiliensis ou S. oxyphyllus ou ambos estavam
presentes em grandes quantidades.
Em bovinos, a intoxicação por espécies de Senecio provoca perdas
econômicas consideráveis pela queda na produtividade dos animais e até mesmo
10
por sua morte, uma vez que os alcalóides pirrolizidínicos (APs), princípios tóxicos da
planta, determinam lesões irreversíveis e progressivas no fígado (Pearson, 1993;
Méndez & Riet-Correa, 2000; Méndez & Riet-Correa, 2001). A intoxicação por
ingestão de Senecio spp., responsável por cerca de 50% das mortes por plantas
tóxicas em bovinos no Rio Grande do Sul, provoca perdas em torno de US$ 7,5
milhões/ano, estimando um preço de US$ 200 por animal (Riet-Correa & Medeiros,
2001).
b) Os Alcalóides Pirrolizidínicos (APs)
Os alcalóides pirrolizidínicos compreendem um grupo de substâncias
químicas que são biossintetizadas, sobretudo, por plantas das famílias
Boraginaceae, Compositae, e Leguminosae, existindo mais de 100 tipos de
alcalóides hepatotóxicos. Os APs também podem estar presentes em alimentos
como farinhas de cereais, bem como no leite de animais que consomem alguma
fonte produtora dos APs (Tokarnia et al., 2000; U.S. FDA, 2006).
Plantas contendo APs são encontradas por todo o mundo, sendo este
princípio tóxico responsável por vários relatos de intoxicação tanto em animais
domésticos e selvagens bem como no homem (Puschner, 2004). Segundo
MacLachlan & Cullen (1990) e Tokarnia et al. (2000), além de presente nas espécies
de Senecio, estes alcalóides também são encontrados em plantas tóxicas do gênero
Crotalaria (Leguminosae), Erechtites (Compositae), Heliotropium, Echium,
Trichodesma, Cynoglossum e Amsinckia (Borraginaceae). São identificados
aproximadamente 100 alcalóides, sendo os efeitos tóxicos dependentes da natureza
das toxinas presentes nas plantas (MacLachlan & Cullen, 1990).
Os alcalóides presentes nas espécies de Senecio também recebem a
denominação de pirrolizidinas (Tokarnia et al., 2000). Uma planta pode conter mais
de um alcalóide, bem como um mesmo alcalóide pode estar presente em diferentes
espécies de plantas. As principais pirrolizidinas isoladas de Senecio brasiliensis
foram a integerrimina e senecionina e secundariamente, isolou-se a retrorsina
(Figura 4). (Motidome & Ferreira, 1966 citado por Tokarnia et al., 2000). Além destas,
11
outras pirrolizidinas como a neosenkirkina e a florosenina têm sido isoladas de
diferentes espécies de Senecio comuns no sul do Brasil, Uruguai e Paraguai
(Habermehl et al., 1988).
Figura 4. Fórmula estrutural da retrorsina, um dos principais APs isolados de S.
brasiliensis. FONTE: FDA/CFSAN (2006)
c) Etiopatogenia
No gênero Senecio, S. brasiliensis é a espécie mais difundida no Brasil e
de maior importância veterinária. Como se pode observar na Figura 5, largamente
distribuída na Região Sul, a planta pode ainda ser encontrada em pequenas áreas de
maiores altitudes e menores temperaturas da Região Sudeste, ocupando campos
nativos bem como cultivados (Tokarnia et al., 2000; Basile et al., 2005).
12
Figura 5. Distribuição de Senecio brasiliensis no território brasileiro. FONTE: Tokarnia et al. (2000)
Tokarnia et al. (2000) atestaram que pertinente à espécie S. brasiliensis,
todas as partes da planta são tóxicas, tanto verdes como dessecadas. Em estudo de
análise de APs em Senecio spp. no sul do RS, Karam et al. (2004b) observaram
maiores teores na época de outono/ inverno (junho/ julho) coincidindo justamente
com a fase de maior vigor vegetativo da planta. Neste mesmo estudo, os autores
evidenciaram maiores concentrações de APs em S. brasiliensis, seguido de S.
heterotrichius e diminuindo drasticamente em S. oxyphyllus e S. selloi.
A dose tóxica é bastante variável de acordo com a espécie e seu estádio
de crescimento, com o teor de APs presentes, com o período de ingestão (Méndez et
al., 1990; Tokarnia et al., 2000) e com os fatores relacionados ao próprio animal
(MacLachlan & Cullen, 1998). Para Radostits et al. (1999), o estádio de floração é
considerado o mais rico em APs. Bovinos submetidos a administração experimental
de S. brasilinesis dessecada com doses diárias de 0,6 a 5g/Kg, por um período de
um a oito meses, apresentaram intoxicação crônica (Tokarnia & Döbereiner, 1984)
13
De acordo com Gava et al. (2004) e Basile et al. (2005), a ingestão pode
acontecer em pastejo direto ou quando a planta estiver misturada em alimentos
volumosos oferecidos aos animais (como feno ou silagem). Karam et al. (2004a)
observaram quantidade considerável de Senecio spp. associada à sobrecarga animal
e baixa cobertura vegetal, nativa ou cultivada, em propriedades onde haviam
ocorrido surtos de intoxicação.
A intoxicação por Senecio spp. pode apresentar-se clinicamente sob três
formas distintas: intoxicação crônica, a qual é relacionada com um longo período de
ingestão da planta; e a intoxicação aguda que é relatada experimentalmente
(Tokarnia et al., 2000). Em condições naturais, ocorre principalmente a intoxicação
crônica sendo que a evolução pode variar entre um e quatro dias (Méndez et al
1987), quatro e seis dias (Barros et al. 1987), dois e três dias (Driemeier et al. 1991)
ou dois a dez dias (Barros et al. 1992).
O principal efeito causado pelos APs é evidenciado no fígado,
promovendo alterações hepáticas bastante inespecíficas, assemelhando-se às
lesões observadas na aflatoxicose. Rim e pulmão também são alvos potenciais dos
APs (Tokarnia et al., 2000). Petersen & Culvenor (1983) citados por Barros et al.
(1987) afirmaram que esses alcalóides são absorvidos pelos hepatócitos e
transformados em grupos pirróis, responsáveis pela alquilação de enzimas
essenciais no processo mitótico celular promovendo assim um efeito antimitótico não
impedindo a síntese de DNA que é contínua. Deste modo, MacLachlan & Cullen
(1990) e Tokarnia (2000) descreveram a formação dos megalócitos, hepatócitos com
gigantismo nuclear e citoplasmático (Souza et al., 1997 Os alcalóides ingeridos são
convertidos pelo sistema hepático de oxigenases de função mista em ésteres
pirrólicos, agentes alquilantes que reagem com os constituintes do citosol e do
núcleo (MacLachlan & Cullen, 1990).
d) Epidemiologia
As espécies do gênero Senecio são poucos palatáveis sendo consumidas
pelos bovinos somente sob determinadas condições (Méndez & Riet-Correa, 2001).
14
A espécie bovina é mais freqüentemente afetada. A morbidade é variável entre 1% e
30%, e a letalidade é praticamente 100%. A intoxicação também foi descrita em
eqüinos, no estado de São Paulo, Paraná e Santa Catarina (Riet-Correa et al., 1993).
A intoxicação por plantas do gênero Senecio, sobretudo S. brasiliensis, S.
oxyphyllus, S. heterotrichius e S. selloi, ocorre principalmente entre os meses de
maio a agosto, período em que esta planta invasora sofre brotações, fase de maior
toxidade da planta (Karam et al., 2002), e é quando diminui drasticamente a
disponibilidade de pastagem, principalmente no Rio Grande do Sul (Méndez et al.,
1987; Barros et al., 1987; Driemeier, 1991; Barros et al., 1992; Méndez & Riet-
Correa, 2001). Gava et al. (2004) afirmaram que a intoxicação por S. brasiliensis
ocorre principalmente por erros de manejo ou por desconhecimento da toxicidade
desta planta.
Gava et al. (2004) e Basile et al. (2005) afirmaram que a ingestão pode
acontecer em pastejo direto ou quando a planta, acidentalmente, estiver misturada
em alimentos volumosos oferecidos aos animais (Méndez & Riet-Correa, 2001).
Karam et al. (2004a) observaram quantidade considerável de Senecio spp.
associada à sobrecarga animal e baixa cobertura vegetal, nativa ou cultivada, em
propriedades onde haviam ocorrido surtos de intoxicação.
Méndez & Riet-Correa (2001) relataram que a intoxicação por Senecio spp.
ocorre em pastagens onde não existem ovinos, espécie que, nas condições da
região, consome e controla a planta sem adoecer. Karam et al. (2004a) estudando os
aspectos epidemiológicos de 24 surtos de seneciose em bovinos, na região Sul do
Rio Grande do Sul, puderam observar que sempre havia quantidades consideráveis
de Senecio spp. e pouca oferta de pasto nativo ou pastagem de boa qualidade em
relação ao número de animais da propriedade.Estes mesmos autores certificaram
que em apenas uma das propriedades com seneciose havia ovinos.
São afetados bovinos de diversas categorias, mas devido à evolução
crônica da doença, vacas adoecem com maior freqüência, por serem aquelas que
permanecem mais tempo na propriedade (Méndez & Riet-Correa, 2001).
15
e) Sinais Clínicos
Em bovinos, a intoxicação por Senecio spp. pode se apresentar sob
formas clínico-patológicas distintas: aguda, subaguda e crônica (Bull, 1961 citado por
Barros et al., 1987). Tokarnia & Döbereiner (1984) descreveram que bovinos
intoxicados experimentalmente por Senecio spp. de forma aguda apresentaram
anorexia, paralisação do rúmen, eliminação de sangue nas fezes e freqüências
cardíaca e respiratória aumentadas; na intoxicação subaguda foi observado
anorexia, redução dos movimentos ruminais e fezes ressequidas, sendo que na fase
final, diarréia, icterícia e grande perda de peso; na intoxicação experimental crônica,
foi notado anorexia progressiva, perda de peso, fezes ressequidas e fortes
contrações abdominais. Poucos casos foram notados com sintomas nervosos
evidentes como andar sem rumo ou em círculo, inquietação e pressão da cabeça
contra obstáculos (Barros et al., 1987; Basile et al., 2005).
Os sinais clínicos descritos mais freqüentemente incluem emagrecimento
progressivo (Noble et al., 1994; Puschner, 2004), incoordenação motora, diarréia
intermitente, anorexia e tenesmo (Barros et al., 1987; Tokarnia et al., 2000; Gava et
al., 2004; Karam et al., 2004a; Basile et al., 2005).
f) Patologia
Os achados macroscópicos dependem da evolução do quadro clínico-
patológico. Numa evolução aguda, Tokarnia et al. (2000) destacaram a superfície de
corte hepática com aspecto de noz-moscada, edema da parede da vesícula biliar,
hemorragias em diversos tecidos e órgãos; em animais que sofreram intoxicação
subaguda, observou-se superfície de corte do fígado com áreas avermelhadas e
outras amareladas; na intoxicação crônica. Tokarnia & Döbereiner (1984)
evidenciaram edema de mesentério, leve ascite, edema da mucosa do abomaso e da
parede da vesícula biliar, hemorragias no epi e endocárdio, icterícia generalizada e,
especialmente, fígado com coloração mais clara que o normal ou coloração amarelo-
acinzentada, além de consistência mais firme que o normal.
16
Gava et al. (2004) encontraram fígado com consistência firme, de
coloração mais clara ou até alaranjada, vesícula biliar distendida e em alguns casos
havia nodulações na mucosa. Já Karam et al. (2004a) observaram hepatomegalia,
fígado mais firme que o normal e pálido, vesícula biliar com parede espessa e
dilatada pelo acúmulo de bile, petéquias endocárdicas e pericárdicas, mobilização de
gorduras, edema, sobretudo no mesentério e abomaso e aumento de líquido nas
cavidades. Barros et al. (1987) citaram o evidenciamento macroscópico tanto de
fígados reduzidos de volume e com consistência firme como de fígados que se
apresentavam aumentados de volume e com bordos arredondados e atribui este fato
a provável variação na quantidade ingerida e tempo de ingestão da planta. Fígado de
coloração verde-amarronzado e petéquias no mesentério e omento são achados
descritos por Jones et al. (1997).
As principais lesões microscópicas localizam-se, especialmente, no
fígado. A megalocitose, caracterizada pela presença de megalócitos, hepatócitos
com núcleos aumentados e que podem ter seu tamanho muitas vezes maior que o
normal, é a lesão característica na intoxicação por APs. Apesar de indicativa da
intoxicação por APs, esta alteração não é patognomônica, visto ocorrer em
intoxicações por outros agentes alquilantes como aflatoxina e nitrosamina
(MacLachlan & Cullen, 1990; Kelly, 1993; Tokarnia et al. 2000).
Outras lesões histológicas hepáticas comuns à intoxicação incluem
proliferação de tecido conjuntivo, hiperplasia de células epiteliais dos ductos biliares,
hemorragias multifocais e nódulos regenerativos (Barros et al., 1987; Jones et al.,
1997; Tokarnia et al., 2000; Karam et al., 2004a; Gava et al., 2004). Odriozola et al.
(1994) encontraram apenas proliferação de tecido conjuntivo e megalocitose em um
rebanho bovino da raça Aberdeen Angus que pastejava em campos intensamente
invadidos por S. selloi. Degeneração esponjosa ou “status spongiosus” no Sistema
Nervoso Central (SNC) também foi observado por Tokarnia et al. (2000), Gava et al.
(2004) e Karam et al. (2004a) em bovinos, o que também foi encontrado por Tokarnia
et al. (2000) em ovinos, além de nefrose tubular e acúmulo de pigmentos biliares e
férricos (hemoglobina) no citoplasma das células epiteliais e na luz dos túbulos.
17
g) Diagnóstico
Sinais clínicos, lesões macroscópicas e microscópicas características,
juntamente com os dados epidemiológicos (reconhecimento e/ou identificação da
planta com evidências de consumo da mesma) são suficientes para conclusão do
diagnóstico de intoxicação por Senecio spp. (Barros et al., 1987; Jones et al., 1997).
Para o complemento do diagnóstico definitivo pode realizar-se a determinação dos
níveis séricos das enzimas hepáticas, sobretudo ALT e AST. Para a determinação
dos níveis séricos de enzimas hepáticas é preferível enviar ao laboratório amostras
de sangue sem anti-coagulante EDTA.
Em animais vivos, suspeitos de terem ingerido Senecio spp., a realização
de testes da função hepática e avaliações histológicas de biópsias hepáticas podem
ser efetuadas no intuito de detectar casos incipientes (Tokarnia et al., 2000; Gava et
al., 2004).
Segundo Tokarnia et al. (2000), na intoxicação crônica por Senecio spp.,
as alterações histológicas são especialmente importantes para o diagnóstico,
contudo ressaltaram que o quadro hepático consumado nessa intoxicação também
pode ser observado na aflatoxicose, na intoxicação por outras plantas que possuem
pirrolizidinas e na intoxicação por nitrosaminas.
De acordo com Barros et al. (1987) e Gava et al. (2004) a presença das
plantas invasoras no pasto ou em alimentos volumosos fornecidos aos animais é um
achado que deve ser bem considerado e que colabora positivamente para o
diagnóstico da intoxicação, bem como a época em que os animais começam a
adoecer.
h) Controle e Tratamento
Para o controle das intoxicações por plantas é importante conhecer os
fatores que determinam a ocorrência e freqüência das mesmas no meio ambiente
18
(Karam et al., 2002). Contudo, Tokarnia et al. (2000) atestaram que não é conhecido
nenhum método eficaz de tratamento para a intoxicação por Senecio spp.
Apesar de os ovinos poderem adoecer de maneira espontânea (Ilha et al.
2001), a intoxicação é incomum nessa espécie devido ao fato de serem mais
resistentes aos efeitos dos alcalóides (Radostits et al., 1999). Dessa forma, podem
ser utilizados no intuito de controlar a infestação de Senecio spp. nos campos
(Méndez & Riet- Correa, 2000). Existem controvérsias sobre essa prática, pois não
se sabe a real extensão dos prejuízos causados, mesmo havendo relatos de mortes
de ovinos pela intoxicação por Senecio spp. (Bezerra et al., 1997).
Existem muitas regiões no Estado do Rio Grande do Sul onde a
ovinocultura destaca-se como atividade produtora principal e mesmo produtores que
tenham outras atividades produtivas, dificilmente não possuem criação de ovinos.
Deste modo, na intenção de reduzir ou minimizar os prejuízos da intoxicação por
Senecio spp., os criadores acabam praticando esse método profilático. Regiões em
que não há ovinos, recomenda-se que nos campos muitos invadidos por Senecio
spp. sejam colocados animais de pouco valor ou que não irão permanecer durante
muito tempo na propriedade. O uso de herbicidas é uma outra prática profilática e
nesse caso, recomenda-se a retirada dos animais do pasto durante algum tempo.
Tokarnia et al. (2000) também aconselham evitar a preparação de feno e silagem de
pastagens invadidas por Senecio spp.
2.1.2 Relato de caso
a) Histórico
O caso foi acompanhado em um rebanho de 90 bubalinos no município de
Nova Prata, região nordeste do estado do Rio Grande do Sul, há aproximadamente
200 km de Porto Alegre, durante o período de junho a agosto de 2006. O proprietário
relatou que utilizava os bubalinos no respectivo piquete de 110 hectares durante as
épocas de verão com a finalidade de limpar o campo contra a infestação de
“caraguatás” (Eryngium pandanifolium), “maria-mole” (Senecio brasiliensis) e demais
19
espécies invasoras do campo nativo. Complementando essa medida de manejo, os
bubalinos eram retirados no fim do verão e o piquete era fechado para
posteriormente ser utilizado ao pastejo de bovinos durante o outono-inverno.
Inopinadamente nesse verão de 2006, devido a forte estiagem dos últimos dois anos,
os animais permaneceram no piquete em questão, já que esse, aparentemente, era
o único que ainda apresentava alguma cobertura verde para consumo. Ainda
segundo o proprietário, depois da ocorrência de dois anos seguidos de estiagem, a
maria-mole teria brotado com uma intensidade acentuadamente maior do que as
demais espécies invasoras.
Treze bubalinos adoeceram (14,44%) e onze (12,22%) morreram. As 11
mortes ocorreram no próprio estabelecimento de junho a agosto de 2006. O
proprietário relatou que todos os animais que adoeciam apresentavam a mesma
sintomatologia até sucumbir ao óbito numa evolução clínica que oscilava entre cinco
a sete dias. Letargia, emagrecimento progressivo e diarréia eram os principais sinais
apresentados. O 10º animal morto foi necropsiado por uma veterinária de campo que
remeteu fragmentos teciduais ao SPV/FAVET/UFRGS, mas não foi possível avaliar o
material devido às más condições de conservação do mesmo. Logo, assim que
possível foi realizada uma visita à propriedade.
b) Suspeita
Com base nessas informações, levantou-se a suspeita clínica de
Seneciose.
c) Resenha
Espécie: Bubalina
Raça: Murrah
Sexo: Macho
Idade: 1 ano e meio
20
d) Avaliação clínico-epidemiológica
Não foi realizado exame clínico, tão pouco se tentou algum método de
tratamento dos animais enfermos. No dia da visita à propriedade, além da necropsia
e coleta de materiais para avaliação laboratorial, efetuou-se apenas inspeção visual
dos animais e investigação epidemiológica, obtendo-se informações junto ao
proprietário e fotos para registro.
Observou-se que um bubalino estava afastado do rebanho, apático,
magro, letárgico e em decúbito esternal. Após seguidas tentativas de levantar o
animal, o procedimento não obteve sucesso, pois o animal, após estimulado,
demonstrava incoordenação motora e voltava ao decúbito mencionado. Em função
do prognóstico reservado e da suspeita clínica levantada, optou-se por eutanásia do
animal com overdose intravenosa de barbitúrico (Tiopental Sódico), com posterior
necropsia.
Não foi possível precisar as idades de todos os animais que morreram
com suspeita de intoxicação por Senecio brasiliensis. Notaram-se várias plantas com
sinais de consumo no piquete onde se encontrava o rebanho de bubalinos suspeitos
de intoxicação.
e) Exames complementares
Antes do procedimento de eutanásia e necropsia procedeu-se coleta de
amostras de sangue por punção da veia jugular com agulha descartável 40x12 e
acondicionadas em tubos de ensaio sem anticoagulante EDTA para realização de
exames de bioquímica sérica da função hepática.
Verificou-se um aumento das enzimas aspartato amino-transferase (AST)
- 328,7 (valores referenciais variam entre 0 e 132 mg/dL) e alanina amino-transferase
(ALT) - 53,4 (valores de referência entre 0 e 38 mg/dL). Observou-se, além das
enzimas supracitadas, aumento de bilirrubina total, encontrando-se o valor de 1,22
mg/dL, visto seus valores referenciais compreenderem no intervalo de 0,01 a 0,5
mg/dL.
21
f) Necropsia e coleta de amostras para histopatologia
Ao exame interno, notou-se edema acentuado de mesentério e parede do
abomaso (Figura 6), além de discreta presença de líquido na cavidade abdominal.
O fígado apresentou-se moderadamente reduzindo de volume, coloração
intensamente pálida (Figura 7) e consistência intensamente firme.
Figura 6. Bubalino. Abomaso. Acentuado Figura 7. Bubalino. Fígado intensamente
edema de parede. pálido e reduzido de tamanho. No
detalhe, observa-se intensa palidez da
superfície de corte.
O material coletado para exame histopatológico constituiu-se de
fragmentos de fígado, rins, abomaso, coração, pulmão e encéfalo. As amostras
coletadas foram fixadas numa proporção de 40 vezes o tamanho da peça em
solução de formaldeído a 10% pelo período mínimo de 24 horas antes do
processamento de rotina, efetuando-se coloração de HE. Tricrômio de Masson,
coloração especial para melhor visualização de tecido conjuntivo, foi também
realizada.
22
g) Avaliação histológica
Observou-se no fígado moderada proliferação de tecido conjuntivo fibroso
(fibrose), moderada proliferação de ductos biliares na região portal e necrose
individual de hepatócitos (Figura 8).
No encéfalo, notou-se espongiose acentuada na região de transição
cortico-medular (Figura 9) e na região do óbex.
Não foram observadas alterações microscópicas significativas no pulmão,
rim, coração e pulmão. Até o momento da preparação do presente relatório, as
lâminas de abomaso não estavam prontas para avaliação.
Figura 8. Bubalino. Fígado. Fibrose (seta
preta), proliferação de ductos biliares
(seta vermelha) e necrose individual de
hepatócitos (seta azul). Tricrômio de
Masson. Obj. 40X.
Figura 9. Bubalino. Cérebro. Espongiose
(seta) na transição cortico-medular do
cérebro. HE. Obj. 4X.
h) Conclusão
Os achados epidemiológicos, clínicos e anatomopatológicos são
compatíveis com Insuficiência hepática crônica causada pela intoxicação natural por
Senecio brasiliensis.
23
i) Discussão
O histórico e a avaliação clínico-epidemiológica favoreceram o
diagnóstico, embora este pareça ser o primeiro relato de intoxicação por Senecio
brasiliensis em búfalos. O proprietário relatou que os búfalos permaneceram por um
longo tempo justamente quando se notou maior surgimento da planta invasora após
um prévio ano de estiagem. Segundo Radostits et al. (1999), esta condição
ambiental parece estar relacionada a um incremento nos teores de APs presentes
nas plantas e, portanto, podendo tornar-se mais tóxica do que normalmente já é.
Driemeier et al. (1991), citado por Karam et al. (2004a), também observaram um
número maior de surtos de intoxicação por Senecio no Rio Grande do Sul em anos
precedidos por severa estiagem, encontrando uma alta invasão de Senecio nos
campos.
Os sinais clínicos observados neste animal, como incoordenação motora,
apatia, letargia, afastamento do rebanho, emaciação e decúbito esternal também
foram observados em bovinos por Barros et al. (1987), MacLachlan & Cullen (1990),
Barros et al. (1992), Noble et al. (1994), Bezerra et al. (1997), Radostits et al. (1999),
Jones et al. (1997), Tokarnia et al. (2000), Riet-Correa et al. (2001), Ilha et al. (2001),
Gava et al. (2004), Karam et al. (2004a), Karam et al. (2004b) e Basile et al. (2005).
Muitos autores citaram sintomas nervosos dentre as observações clínicas
na intoxicação por Senecio. Segundo Tokarnia et al. (2000), esses sintomas devem
ser interpretados como manifestação da chamada encefalopatia hepática, distúrbio
hepato-cerebral, cuja causa parece ser hiperamonemia devida à falha no processo
detoxificante do fígado. Os achados clínicos de depressão e irritabilidade e a lesão
microscópica de “status spongiosus” observados no bubalino em estudo corroboram
com o quadro hepatocerebral descrito acima, conforme descreve Tokarnia et al.
(2000).
No presente caso, os principais achados macroscópicos, edema de
parede do abomaso e fígado com coloração pálida e consistência firme, estão de
acordo com as descrições feitas por Barros et al. (1987), MacLachlan & Cullen
(1990), Odriozola et al. (1994), Jones et al. (1997), Tokarnia et al. (2000), Méndez &
24
Riet-Correa (2001), Karam et al. (2004a) e Gava et al. (2004). Fígado com
colorações alaranjadas ou verde amarronzadas também são descritas por Barros et
al. (1987) e Méndez & Riet-Correa (2001) na intoxicação por Senecio spp.,
respectivamente.
Megalocitose, proliferação de tecido conjuntivo fibroso, hiperplasia de
células epiteliais dos ductos biliares foram achados histológicos observados nessa
intoxicação em bovinos por Barros et al. (1987), Odriozola et al. (1994), Jones et al.
(1997), Tokarnia et al. (2000), Karam et al. (2004a) e Gava et al. (2004). Essas
lesões microscópicas também foram observadas no bubalino estudado no presente
relatório. A coloração de Tricômio de Masson foi bastante eficaz na melhor
evidenciação do tecido conjuntivo proliferado no parênquima hepático.
A presença de megalócitos é lesão característica na intoxicação por APs,
contudo esta alteração não é patognomônica, visto ocorrer em intoxicações por
outros agentes alquilantes como aflatoxina e nitrosamina (MacLachlan & Cullen,
1990; Kelly, 1993; Tokarnia et al. 2000). No presente caso, os animais não recebiam
qualquer tipo de suplementação, fosse com ração ou sal mineral, tornando pouco
provável, a possibilidade de intoxicação por aflatoxinas. Segundo o proprietário, não
havia sido realizado nenhum tratamento químico no solo fazendo com que pudesse
ser levantada a suspeita de intoxicação por nitrosaminas.
Degeneração esponjosa ou “status spongiosus” no Sistema Nervoso
Central (SNC) também foi observado por Tokarnia et al. (2000), Gava et al. (2004) e
Karam et al. (2004a) em bovinos, o que também foi encontrado por Tokarnia et al.
(2000) em ovinos e esta lesão foi observada no cérebro do animal deste caso.
Contudo, sinais de lesões renais, como nefrose tubular e acúmulo de pigmentos
biliares e férricos (hemoglobina) no citoplasma das células epiteliais e na luz dos
túbulos, não foram observados, embora sejam citadas em bovinos intoxicados por
Senecio spp. (Tokarnia et al., 2000).
Existem, além das espécies de Senecio, outras plantas tóxicas capazes
de provocar necrose de hepatócitos, tais como a Indigofera suffruticosa (Neto et al.,
2001), Melia azedarach (Méndez et al., 2002), Xanthium cavanillesii (Colodel et al.,
2000), Lantana camara var. aculeata (Tokarnia et al., 1999) e Trema micrantha
25
(Traverso et al., 2003), esta última em caprinos e as demais em bovinos. Echium
plantagineum (Borraginaceae), também conhecida como “flor-roxa”, é uma planta
hepatotóxica comum na região sul do Brasil e embora seja palatável aos animais
raramente tem sido descrita como responsável por intoxicações (Tokarnia et al.,
2000; Méndez & Riet-Correa, 2001). Nenhuma dessas plantas foi reconhecida na
avaliação realizada nas pastagens da presente investigação.
26
2.2 Complexo Pênfigo
2.2.1 Revisão de literatura
a) Introdução
As doenças auto-imunes da pele representam um grupo diversificado de
entidades nosológicas e são resultantes de uma resposta imune inadequada contra
vários componentes do organismo (Alencar et al., 1999). Ainda que a etiologia não
esteja claramente definida, estas afecções destacam-se pela variada apresentação
clínica e por uma baixa taxa de ocorrência em cães e gatos dermopatas (1,4% e
1,3%, respectivamente) (Scott et al., 1996). As dermatoses foram subdivididas em
primárias ou auto-imunes e alterações secundárias, também conhecidas como
imunomediadas. Acreditando-se que as primeiras decorram da produção de
anticorpos e/ou da ativação de linfócitos contra componentes próprios do organismo.
Por outro lado, as doenças imunomediadas são aquelas nas quais o dano tecidual
cutâneo primariamente resulte de uma resposta imunológica inadequada em que a
pele não se configure como antígeno principal de tal resposta (Scott et al, 1996; Val
et al., 2006).
O complexo pênfigo (do grego penphix -: bolha) compreende um grupo de
doenças cutâneas auto-imunes que apresentam maior ocorrência em animais de
estimação (Val et al., 2006), apesar de serem consideradas raras quando
comparadas à freqüência de descrições no homem (Scott et al., 1996). Este
complexo é responsável por doenças vesiculares e vesiculopustulares, em seres
humanos e em animais, respectivamente (Val et al., 2006). Willemse (1998) afirma
que esse grupo de desordens auto-imunes (muco) cutâneas são decorrentes de uma
reação de hipersensibilidade do tipo II, podendo afetar, sem predileção racial, tanto
cães como gatos em qualquer idade. Segundo Olivry (2006), estas enfermidades
ainda podem acometer cavalos e caprinos, além de cães e gatos.
As afecções cutâneas do pênfigo caracterizam-se pela presença de auto-
anticorpos que reagem com antígeno presente nos espaços intercelulares, entre as
27
células epidérmicas. De acordo com a distribuição, tipo de lesões e achados
histopatológicos, são identificadas quatro variantes clínicas do pênfigo: foliáceo (PF),
eritematoso (PE), vulgar (PV) e vegetante (PVe) (Thompson, 1997; Willemse, 1998).
b) Etiopatogenia
Acredita-se que a etiologia das afecções cutâneas do pênfigo esteja
relacionada à secreção inadequada de auto-anticorpos que exibem especificidade
para antígeno localizado na membrana citoplasmática das células epidérmicas, ou
em suas proximidades (Thompson, 1997)
Segundo Scott et al. (1996), fatores genéticos parecem ser relevantes na
etiologia de enfermidades do complexo pênfigo em humanos e em cães, embora
outros fatores como alguns fármacos (penicilina e fenilbutazona, especialmente), luz
ultravioleta e desequilíbrios emocionais estejam envolvidos em alguns casos de
pênfigo.
Considerando tratar-se de uma reação de hipersensibilidade do tipo II
(citotóxica), o mecanismo fisiopatológico mais aceito é descrito como se segue: (1)
estímulo ainda não esclarecido, que desencadeia o processo de formação de auto-
anticorpos, IgG na maioria das vezes, (2) incorporação do anticorpo do pênfigo e
fusão deste com os lisossomos intracelulares e (3) ativação e difusão de uma enzima
proteolítica, possivelmente um ativador do plasminogênio, para o espaço
extracelular, convertendo plasminogênio em plasmina. Esta última, por sua vez,
hidrolisa as moléculas de adesão, promovendo uma lesão denominada acantólise
com descolamento de queratinócitos e formação da “bolha” no interior da epiderme
(Scott et al., 1996; Val et al., 2006).
A acantólise do pênfigo inferida pelo auto-anticorpo ilustra o efeito de
citotoxidade deste mecanismo fisiopatológico, que por sua vez não está subordinado
à formação de complemento ou ação de células inflamatórias, embora o
complemento seja capaz de potencializar a perda de coesão dos queratinócitos
experimentalmente (Scott et al., 1996).
28
Além de promover acantólise, a ligação dos anticorpos com a substância
epidérmica intercelular leva também à ativação do complemento, o qual pode sofrer
divisões liberando produtos como C3a e C5a. Tais produtos são denominados
anafilotoxinas, capazes de induzir a degranulação de mastócitos e a liberação de
aminas vasoativas. Fatores quimiotáxicos para neutrófilos e eosinófilos também são
liberados, promovendo um acúmulo focal destas células. As aminas vasoativas são
responsáveis pelo aumento na permeabilidade de capilares e pelo conseqüente
edema. É creditado que, todos estes eventos em conjunto, sejam responsáveis pelo
desenvolvimento das pústulas intra-epiteliais, abrigando neutrófilos e eosinófilos
(Thompson, 1997).
c) Epidemiologia
De acordo com Willemse (1998), desordens auto-imunes do complexo
pênfigo podem acometer tanto cães como gatos em qualquer idade, não havendo
predisposição sexual nem racial. Por outro lado, Scott et al. (1996) e Mueller (2003)
relatam a predisposição de algumas raças caninas como Akita, Chow Chow, Tekel e
Doberman Pinscher para o pênfigo foliáceo e Pastor Alemão e Collie para o PE. As
demais variantes deste complexo não aparentam demonstrar nenhuma
predisposição.
Segundo Scott et al. (1996), a variante foliácea é a forma mais comum de
pênfigo, sendo provavelmente a dermatose imunomediada mais comum de cães e
gatos, ocorrendo maior freqüência entre animais de dois e sete anos (Thompson,
1997).
d) Sinais Clínicos
Em geral, as várias formas de pênfigo possuem diferenças clínicas
relativamente distintas, porém determinadas características podem ser aplicadas a
todo o grupo (Scott et al., 1996). O sinal clínico comum apresentado consiste no
surgimento de lesões vesículo-bolhosas ou pustulares (Willemse, 1998).
29
No PV, devido à fragilidade das lesões, freqüentemente ocorrem colaretes
epidérmicos, erosões e úlceras (Scott et al., 1996; Thompson, 1997; Willemse,
1998). Esta variante é também caracterizada por acometer a cavidade oral e junções
mucocutâneas (lábios, narinas, pálpebras, prepúcio, vulva, ânus), promovendo
ulcerações epidérmicas (Thompson, 1997). Aproximadamente 90% dos animais
apresentam envolvimento oral e em 50% destes animais este envolvimento é o sinal
inicial (Scott et al., 1996), consistindo de estomatite, gengivite ou glossite ulcerativa
(Thompson, 1997) culminando em halitose ou salivação excessiva (Scott et al.,
1996). O sinal de Nikolsky pode estar presente. Scott et al. (1996) explicam que este
sinal pode ser testado aplicando-se pressão sobre uma vesícula ou na borda de uma
úlcera ou erosão, ou mesmo sobre pele normal. É tido como positivo quanto a
camada mais externa da pele for facilmente esfregada até sair ou ser retirada com
facilidade. É um indício de coesão celular deficiente. O prurido e dor são variáveis,
podendo apresentar piodermite bacteriana secundária e linfadenopatia (Scott et al.,
1996). Ocasionalmente pode haver o envolvimento do leito ungueal resultando em
paroníquia ulcerativa e onicomadese (Scott et al., 1996; Willemse, 1998). Animais
com quadro clínico mais grave podem apresentar anorexia, depressão e febre (Scott
et al., 1996), apesar de esse fato ser considerado raro por alguns autores (Willemse,
1998).
O PVe, considerado uma variante de processo patológico mais benigno do
PV, apresenta-se como uma desordem vesículo-pustular com vegetações verrucosas
e proliferações papilomatosas no tronco e extremidades (Scott et al., 1996; Willemse,
1998). Tais vegetações representam um processo de cicatrização das lesões
cutâneas ulceradas e constituem característica própria desta variante do complexo
pênfigo (Thompson, 1997).
Lesões vesículo-bolhosas ou pustulares também são lesões primárias do
PF, podendo evoluir até crostas, escamas, colaretes epidérmicos e erosões. Ao
contrário do PV, no PF raramente há envolvimento da cavidade oral ou das junções
mucocutâneas (Scott et al., 1996). Lábios, ponte nasal e as orelhas são locais
primariamente afetados. Sinais sistêmicos são ocasionalmente notados (Willemse,
1998). O PF canino e felino não apresenta fase vesicular; é uma doença pustular e
30
crostosa (Scott et al., 1996). Segundo Scott et al. (1996), existem três formas de PF
no cão. A primeira é o PF canino espontâneo que se desenvolve em animais sem
histórico prévio de doença de pele ou exposição a drogas, sendo Akitas e Chow
Chow as raças mais propensas. A segunda forma, o PF induzido por drogas é mais
comum em Labrador Retrievers e Doberman Pinschers. Já a terceira forma é notada
em cães com uma história de doença crônica, forma essa que por estar associada a
uma doença quase sempre é precedida por diversos tratamentos, fato que pode
indicar a indução por droga. O PF geralmente começa na face e orelhas, podendo
estender-se para pés, coxins e virilha, adquirindo um aspecto multifocal ou
generalizado. O sinal de Nikolsky pode estar presente. Claudicação é um sinal que
pode ser evidenciado em cães e gatos que possuem lesões nos coxins. Diversas
anormalidades das unhas (onicodistrofia, onicorrexe, onicogrifose) podem ser
notadas. O prurido e dor são variáveis, podendo apresentar piodermite bacteriana
secundária e linfadenopatia periférica. Animais gravemente acometidos podem
apresentar-se anoréxicos, deprimidos e febris (Scott et al., 1996).
Já o pênfigo eritematoso, considerado uma forma benigna do PF, é
caracterizado por lesões vesículo-bolhosas ou pustulares na cabeça e orelhas,
sendo clinicamente muito semelhante ao PF (Willemse, 1998). Thompson (1997)
descreve sinais como eritema, transudação, formação de crostas, escamas e
alopecia, que se exibem especialmente no focinho e região periocular provocados
por dermatite eritematosa. Colaretes epidérmicos e sinal de Nikolsky podem estar
presentes, sendo prurido e dor sinais bastante variáveis. O focinho freqüentemente
torna-se despigmentado, sendo a radiação solar um fator agravante. Lesões isoladas
de pele distante da face e orelhas, como nas patas e genitália, podem ser
observadas ocasionalmente (Scott et al., 1996).
e) Patologia
As alterações macroscópicas estarão localizadas de acordo com a
variante em questão. No entanto, os achados necroscópicos coincidem com as
lesões encontradas durante o exame clínico, incluindo a presença de colaretes
31
epidérmicos, vesículas, bolhas, pústulas, escamas, alopecia, crostas e erosões
(Scott et al., 1996; Willemse, 1998; Thompson, 1997).
No PV, variante caracterizada pelo acometimento da cavidade oral e
junções mucocutâneas (lábios, narinas, pálpebras, prepúcio, vulva, ânus), os
principais achados macroscópicos incluem ulcerações epidérmicas associadas à
reflexos de inflamações da cavidade oral e/ou seus componentes, como gengiva e
língua. Processos inflamatórios secundários podem ser notados, além de
linfadenopatia. Ocasionalmente, pode haver envolvimento dos coxins plantares e do
leito ungueal. Dessa forma, achados como paroníquia ulcerativa e onicomadese
poderão ser observados (Scott et al., 1996; Thompson, 1997)
No PVe, a principal lesão macroscópica apresenta-se com aspecto
vesículo-pustular com vegetações verrucosas e proliferações papilomatosas no
tronco e extremidades (Scott et al., 1996; Willemse, 1998).
Por outro lado, lábios, ponte nasal e as orelhas são locais primariamente
afetados no PF (Willemse, 1998). Em caninos e felinos, não ocorre a fase vesicular;
o PF é uma doença pustular, crostosa, aumentando as chances de se encontrar
lesões como escamas, colaretes epidérmicos e erosões (Scott et al., 1996).
Thompson (1997) relatou a formação de crostas, escamas e alopecia,
especialmente no focinho e região periocular no PE. Colaretes epidérmicos também
são achados comumente. O focinho freqüentemente torna-se despigmentado e
lesões isoladas de pele distante da face e orelhas, como nas patas e genitália,
podem ser observadas ocasionalmente (Scott et al., 1996).
A principal alteração microscópica, no caso do PV é acantólise
suprabasilar resultando na formação de fendas e vesículas (Scott et al., 1996;
Willemse, 1998). Ainda segundo Scott et al., 1996, as células epidérmicas basais
mantêm-se ligadas à membrana basal como uma fileira de “lápides tumulares” e
pode haver reação inflamatória dérmica discreta e perivascular ou intensa e
intersticial.
No caso de PVe, as alterações histológicas características incluem
hiperplasia epidérmica, papilomatose e microabscessos intra-epidérmicos constituído
de eosinófilos e células acantolíticas (Willemse, 1998). Scott et al. (1996) relataram
32
diagnóstico desta variante com base histopatológica na presença de pústulas na
epiderme e infundíbulos foliculares.
De acordo com Willemse (1998), tanto o PF como o pênfigo eritematoso
caracterizam-se por acantólise subcorneal ou intragranular, promovendo a formação
de fendas, vesículas ou pústulas. Células do estrato granuloso podem ser vistas
aderidas ao estrato córneo subjacente no interior da vesícula ou da pústula, nas
quais também podem ser encontrados tanto neutrófilos como eosinófilos em
predominância (Scott et al., 1996). Segundo Thompson (1997), dependendo da
duração da acantólise, os queratinócitos podem exibir núcleos vesiculares, nucléolo
saliente e ausência de sinais de degeneração citoplasmática; ao passo que os
acantócitos degenerados exibem picnose nuclear e citoplasma eosinofílico, sendo
observados em aglomerados ou isoladamente ou aderidas ao estrato córneo ou no
lúmen da vesiculopústula.
f) Diagnóstico
Os aspectos diagnósticos mais importantes são o histórico, o quadro
clínico e os achados histopatológicos. A utilização de técnicas imunológicas, como
imunofluorescência direta ou por teste imuno-histoquímico também são úteis, no
entanto, devido aos altos custos, problemas técnicos, sensibilidade e especificidade
relativamente baixas, esses testes não tem sido indicados rotineiramente (Scott et
al., 1996).
Willemse (1998) afirmou que o diagnóstico definitivo tem por base a
história clínica, citologia dos esfregaços das lesões, histopatologia das biópsias de
pele ou membrana mucosa e testes de imunofluorescência. Este mesmo autor ainda
acrescenta que esfregaços vesículo-bolhosos ou pústulas intactas revelam
quantidades variáveis de células acantolíticas, que são características das doenças
deste complexo.
Segundo Thompson (1997), exames histológicos e imunológicos
constituem a base diagnóstica das afecções cutâneas do pênfigo, mesmo que seja
crítico a coleta de várias amostras de biópsia num estágio inicial da doença visto a
33
efemeridade das vesículas e das pústulas. O exame imunológico da biópsia cutânea
deve demonstrar a presença de IgG e/ou complemento dentro dos espaços
epidérmicos intercelulares (Scott et al., 1996; Thompson, 1997). O PE pode
apresentar depósito de imunorreagentes por toda a zona da membrana basal, além
dos espaços intercelulares. Exames laboratoriais de patologia clínica, incluindo
hemograma, bioquímica sérica, urinálise, eletroforese das proteínas séricas, não
constituem uma boa ferramenta de diagnóstico em doenças do complexo pênfigo,
demonstrando achados poucos significativos, tais como leucocitose e neutrofilia
moderada, anemia não-regenerativa moderada, hipoalbuminemia e elevações das
globulinas α2, β e γ.
Os diagnósticos diferenciais variam de acordo com a doença do grupo
dentro do complexo pênfigo. O diagnóstico diferencial de PV inclui penfigóide
bolhoso, LES, eritema multiforme, necrólise epidérmica tóxica, reação a drogas,
candidíase, linfoma epiteliotrópico e inúmeras causas de estomatite ulcerativa canina
e felina. No caso de pênfigo vegetante, o diagnóstico diferencial deve ser realizado
com os granulomas bacterianos e fúngicos, pênfigo crônico familiar benigno e
neoplasia cutânea, especialmente mastocitoma. Já no PF e no pênfigo eritematoso
deve se incluir a foliculite bacteriana, dermatofitose, demodicose, doença seborréica
de pele, pênfigo crônico familiar benigno e LES e LED, dermatomiosite familiar e
reação a drogas (Scott et al., 1996).
g) Tratamento
O prognóstico do pênfigo canino parece variar com a forma e gravidade da
doença. Com base em reduzido número de casos comprovados na literatura, o PV
parece ser uma doença grave, quase sempre fatal se não tratada; o PF, uma forma
menos grave, mas que também pode ser fatal sem tratamento; e o PE e o PVe são
geralmente variantes com caráter patológico benigno que raramente provocam sinais
sistêmicos (Scott et al., 1996).
O tratamento inicial do pênfigo canino é determinado pela apresentação
clínica da doença (Val et al., 2006), embora seja considerado difícil pela necessidade
34
de grandes doses de glicocorticóides sistêmicos, com ou sem associação com
drogas imunomoduladoras (Scott et al., 1996). São tratamentos que geralmente
devem ser mantidos durante um longo período, se não por toda vida (Scott et al.,
1996).
A administração de medicamentos imunomoduladores ou de
aurotioglicose (crisoterapia) é realizada no intuito de reduzir as doses de
glicocorticóides, contudo comumente resultam em efeitos colaterais graves. A
crisoterapia (injeções de aurotioglicose), embora dispendioso (Scott et al., 1996), é
indicada apenas em gatos que não respondem aos corticosteróides, sendo a
azatioprina contra-indicada nesta espécie (Willemse, 1998). Scott et al. (1996)
relataram que a azatioprina pode ser usada cuidadosamente em gatos, pois mesmo
pequenas doses (1 mg/Kg por via oral, a cada 48 horas) são capazes de provocar
leucopenia ou trombocitopenia fatais.
Scott et al. (1996) afirmaram que grandes doses de glicocorticóides (2 a 6
mg/Kg de prednisona por via oral, a cada 24 horas, em cães; 4 a 8 mg/Kg de
prednisona, a cada 24 horas em gatos) induzirão a remissão na maioria dos
pacientes. Contudo, acrescentaram ainda que devido aos efeitos colaterais e a
incapacidade de manter esquemas seguros em dias alternados, o uso destas drogas
torna-se inaceitável em cerca de 50% dos casos. A proteção contra a radiação solar
é uma medida terapêutica importante nos animais que já tenham apresentado
despigmentação nasal significativa (Scott et al., 1996). Em alguns casos individuais,
outros medicamentos podem ser utilizados, incluindo vitamina E e produtos contendo
ácidos graxo ômega 3 ou ômega 6 buscando benefícios, sobretudo à pele.
No caso de PV, os glicocorticóides sistêmicos, associados ou não à
azatioprina, figuram o tratamento inicial de escolha em cães, enquanto que os
glicocorticóides, sozinhos ou associados com o clorambucil, seriam de predileção em
gatos. O PVe, geralmente por se tratar de uma forma mais benigna, é tratado com a
administração de glicocorticóides, podendo ou não associar à utilização da
azatioprina (Scott et al., 1996).
Por outro lado, os tratamentos e opções terapêuticas iniciais do PF e do
PE são distintos. No PF, casos mais moderados e localizados podem ser tratados
35
com esteróides tópicos, ao passo que a doença mais extensa geralmente é tratada
com prednisona oral. A dose de indução (2,2 – 6,6 mg/Kg, a cada 24 horas por via
oral) deve ser mantida até que a doença esteja inativa, mesmo que a alopecia e
crostas residuais permaneçam (Scott et al., 1996). Após a indução, a dosagem é
modificada para um esquema de dias alternados, aplicando-se a mesma dose diária
de indução bem sucedida em uma única dose maciça em manhãs alternadas para
cães e tardes alternadas para gatos. Para terapia de manutenção, a dose em dias
alternados é reduzida de 50% a cada uma a duas semanas, até que a mais baixa
dose de manutenção satisfatória seja alcançada.
Os efeitos colaterais que podem surgir com o tratamento sistêmico com
glicocorticóides são vários. Qualquer forma de duração de tratamento pode deixar
seqüelas. Tratamento em doses elevadas de glicocorticóides em um curto período
pode provocar úlceras e perfurações gastrintestinais, miopatia e pancreatite. Outros
efeitos colaterais não relacionados à duração do tratamento incluem poliúria,
polidipsia, polifagia, mudanças de comportamento e diarréia. O risco de infecções
secundárias à baixa da imunidade do animal é uma seqüela grave que pode culminar
em várias complicações à saúde do paciente (Scott et al., 1996; Mueller, 2003).
2.2.2 Relato de caso
a) Histórico
Desde o dia 17 de setembro de 2006, o animal vinha apresentando vulva
edemaciada, desidratação, anorexia, miíase interdigital, dor ao caminhar, perda da
pele dos coxins das quatro patas e mucosas hiperêmicas com ulcerações na
cavidade oral. Estava sendo submetido à antibioticoterapia e aplicações de
antiinflamatório. Na madrugada do dia 22 de setembro de 2006, teve duas paradas
cardíacas seguidas de tentativa de ressuscitação com adrenalina, por via
intracardíaca. Essa manobra não logrou êxito e o animal morreu em seguida, sendo
encaminhado à necropsia.
36
b) Suspeita
Não foi informado na ficha clínica do animal em questão suspeita clínica
de sua morte.
c) Resenha
Espécie: Canina
Raça: S.R.D.
Sexo: Fêmea
Idade: 06 anos
d) Necropsia e coleta de amostras para histopatologia
Ao exame externo era possível evidenciar hiperemia associada à secreção
purulenta nos coxins palmares e plantares (Figura 10), vulva edemaciada e
ulceração na mucosa oral. Nos coxins plantares, evidenciou-se também úlceras que
mediam aproximadamente 2 cm de diâmetro. Na língua, notou-se áreas claras
circulares com dimensões variando de puntiformes a 2 mm de diâmetro (Figura 11).
No baço, notaram-se manchas claras e aumento de volume moderado. No
estômago, mucosa levemente congesta e presença de úlceras foram observadas. No
intestino, evidenciou-se edema na mucosa, aumento nas placas de Peyer e presença
de conteúdo intensamente avermelhado, sugestivo de melena. Nos rins, estrias
corticais, esbranquiçadas e paralelas foram notadas, além de congestão moderada
na região medular. Bexiga apresentava-se congesta. Pulmão com áreas
esbranquiçadas, aumentadas de volume e hipercrepitantes localizadas nos bordos
(enfisema); além de superfície lisa e brilhante e ao corte, notou-se moderada
quantidade de líquido espumoso e esbranquiçado (edema). No coração, foi possível
observar dilatação bilateral.
Para avaliação histopatológica coletaram-se fragmentos de pulmão,
coração, fígado, rim, língua, coxim plantar, pele, intestino, estômago, baço, encéfalo,
37
adrenal e vulva. Previamente ao processamento de rotina, as amostras coletadas
foram fixadas numa proporção de 40 vezes o tamanho da peça em solução de
formaldeído a 10% pelo período mínimo de 24 horas.
Figura 10. Canino. Coxins plantares. Úl - Figura 11. Canino. Língua. Áreas claras,
cera (seta) e hiperemia. circulares e despigmentadas (seta).
e) Exame histológico
As principais lesões microscópicas localizaram-se nos coxins e língua,
consistindo de alterações no arranjo epidérmico. No coxim plantar observou-se
infiltrado mononuclear na derme, presença de bactérias na epiderme e acantólise
suprabasilar com formação de fenda (Figura 12). Na língua, evidenciaram-se áreas
multifocais de ulceração, degeneração hidrópica do epitélio e presença de infiltrado
mononuclear (Figura 13). No fígado, tumefação hepatocelular foi o achado
microscópico mais relevante. No estômago, notou-se área focal de ulceração com
associada à formação de tecido de granulação. No pulmão, havia áreas de enfisema
crônico. Os demais órgãos encontravam-se sem alterações.
38
Figura 12. Canino. Coxim plantar.
Fotomicrografia. Acantólise suprabasilar
com formação de fenda (seta preta) e
infiltrado inflamatório mononuclear
moderado saindo da derme superficial e
invadindo a epiderme (setas vermelhas).
HE. Obj. 40X.
Figura 13. Canino. Língua.
Fotomicrografia. Úlcera (seta vermelha),
infiltrado inflamatório mononuclear
moderado (seta preta) e desprendimento
da epiderme (seta verde). HE. Obj. 20X.
f) Conclusão
Os achados anatomopatológicos são sugestivos de doença auto-imune,
compatível com Pênfigo Vulgar.
g) Discussão
É importante ressaltar que o animal em questão foi enviado ao SPV após
ser avaliado em caráter emergencial no Hospital Veterinário da FAVET/UFRGS em
virtude de duas paradas cardíacas. Dessa forma, fica claro que a doença auto-imune
não foi fator primordial que levou o animal ao óbito, impossibilitando o
acompanhamento da apresentação e evolução clínica, bem como do tratamento.
39
A claudicação, um dos poucos sinais clínicos observados, também foi
descrita por Scott et al. (1996) que afirmaram que tanto cães como gatos, com
acometimento dos coxins, podem apresentar este sinal.
Thompson (1997) descreveu que o PV tem por característica clínica
principal o envolvimento da cavidade oral e junções mucocutâneas (lábios, narinas,
pálpebras, prepúcio, vulva, ânus), promovendo ulcerações epidérmicas. Scott et al.
(1996) atestaram que aproximadamente 90% dos animais com PV apresentam
envolvimento oral e em 50% destes animais este envolvimento é o sinal inicial, fato
este que não pode ser observado no presente caso, tão pouco presença de
estomatite, gengivite, glossite ulcerativa, halitose e sialorréia como relataram
Thompson (1997) e Scott et al. (1996). Não observou-se nenhuma lesão nas unhas,
conforme explicitado por Scott et al. (1996) que citam o envolvimento ungueal como
achado presente no PV.
Não foi encontrada nenhuma lesão cutânea na cabeça. Val et al. (2006)
descreveram que em casos de PF, essas lesões iniciam neste local, contudo estes
autores mencionaram que é freqüente o envolvimemto de patas e coxins plantares,
conforme visualizado na presente investigação.
Os achados macroscópicos de envolvimento da cavidade oral e junções
mucocutâneas, além de coxins corroboram com os relatos de Scott et al. (1996) e
Willemse (1998).
Contudo, as lesões microscópicas encontradas foram os achados mais
contundentes para o diagnóstico. Assim como descrito por Scott et al. (1996),
Thompson (1997) e Willemse (1998), a acantólise suprabasilar com resultante
formação de fenda ou vesícula pôde ser observada nos coxins e na língua, porém
vale ressaltar que para a conclusão definitiva do diagnóstico é necessária a
realização de testes imunológicos, sendo a imunofluorescência direta e
imunohistoquímica, os de eleição.
Doenças do complexo pênfigo possuem como os principais diagnósticos
diferenciais o LES, dermatomiosite familiar, dermatofitose e demodicose.
O LES é uma doença rara em cães, não havendo predileção de idade,
raça ou sexo. Úlceras e hiperqueratose nos coxins, lesões vesículo-bolhosas nas
40
junções mucocutâneas são descritos por Scott et al. (1996) e que coincidem com os
achados deste caso. Contudo, lesões na face e orelhas são descritas por Scott et al.
(1996), lesões essas não observadas no presente caso. O teste do anticorpo
antinuclear é atualmente considerado como teste sorológico mais específico e
sensível para o LES (Willemse, 1998; Scott et al., 1996). Histologicamente, essa
suspeita diagnóstica foi eliminada, uma vez que não se notou incontinência
pigmentar, dermatite interfacial com degeneração hidrópica ou liquenóide de células
basais e/ou mucinose dérmica, conforme observada no LES (Scott et al., 1996;
Willemse, 1998).
A dermatomiosite canina familiar é uma doença hereditária idiopática que
acomete a pele e os músculos de animais da raça Collie e Shetland sheepdogs em
idades de dois a três meses (Willemse, 1998). Scott et al. (1996) afirmaram que as
lesões encontram-se principalmente na face e ao redor dos olhos. Tais informações
divergem do caso, no qual um animal sem raça definida, com seis anos de idade
com ausência de lesões na face e ao redor dos olhos foi relatado. O envolvimento
muscular, sobretudo os músculos da mastigação, citado tanto por Scott et al. (1996),
Willemse (1998) e Mueller (2003) não foram evidenciados segundo relatos do
proprietário que afirmava que o animal ingeria normalmente o alimento. Algumas
lesões histológicas são comuns à dermatomiosite e ao pênfigo, entretanto
degeneração hidrópica de células basais ocorre somente na dermatomiosite e,
portanto, não foi evidenciada no presente caso.
Dermatofitose é uma doença fúngica caracterizada pela infecção de
estruturas queratinizadas como unhas, pêlos e camada córnea da pele, causada por
Microsporum sp. e Trichophyton sp. (Willemse, 1998). O sinal clínico mais
consistente é uma ou mais manchas circulares de alopecia com formação variável de
caspa, sinal este que não foi evidenciado no presente caso.
A demodicose, doença cutânea, parasitária e inflamatória de cães, ocorre
quando há proliferação destes ácaros na pele, que pode ser desencadeado por
distúrbio genético ou imunológico (Scott et al., 1996). A face, mais uma vez, figura-se
como o principal local de apresentação das lesões. Alopecia, eritema, escamas
seguidos de prurido ou não, constituem nos principais sinais desta enfermidade,
41
segundo Scott et al. (1996). O diagnóstico definitivo da demodicose é firmado por
exame microscópico de raspados profundos de pele, observando-se os ácaros que
podem apresentar-se sob diversas formas evolutivas. No presente caso, mesmo sem
a realização de exame de raspado cutâneo profundo para eliminação da suspeita de
Demodicose, essa hipótese foi prontamente descartada em função da localização
das lesões, que ocorrem com muita freqüência na cabeça na infestação por
Demodex sp., o que não ocorreu no cão avaliado na presente investigação. Ademais,
as lesões microscópicas presentes nesse trabalho são típicas de doenças do
Complexo Pênfigo e não ocorrem nessa ectoparasitose incluída no diagnóstico
diferencial.
42
3 CONCLUSÃO
O estágio curricular supervisionado realizado no SPV/FAVET/UFRGS sob
orientação do Prof. M. Sc. Fabiano José Ferreira de Sant’Ana e sob supervisão do
Prof. Dr. David Driemeier foi de grande importância no que diz respeito ao
aperfeiçoamento em diagnóstico anátomo e histopatológico, envolvendo o
reconhecimento de alterações macro e microscópicas de enfermidades de diversas
espécies animais.
Durante o período, o estágio possibilitou o acompanhamento da rotina de
um Laboratório de Diagnóstico na área da Patologia Animal, evidenciando-se o quão
importante se faz esta área no contexto do diagnóstico veterinário definitivo de várias
enfermidades, bem como a maneira correta de se coletar e remeter amostras ao
laboratório.
O estágio certamente proporcionou uma excelente experiência
complementar na área da Patologia Animal. Os conhecimentos adquiridos nesta
oportunidade certamente serão agregados à minha conduta profissional permitindo a
realização de procedimentos essenciais ao diagnóstico clínico-patológico em
diversas situações.
43
REFERÊNCIAS
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em: http://www.bufalo.com.br/home.htm Acesso em: 20 nov. 2006.
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