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UNIVERSIDADE FEDRAL DE MATO GROSSO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E
MATEMÁTICA
REDE AMAZÔNICA DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA
PROCESSOS DE AUTORIA NA FORMAÇÃO DE UM PROFESSOR
PESQUISADOR
Manaus – AM
2018
WHASGTHON AGUIAR DE ALMEIDA
PROCESSOS DE AUTORIA NA FORMAÇÃO DE UM PROFESSOR
PESQUISADOR
Manaus – AM
2018
À Luciana Maia, minha companheira da vida
inteira e ao meu amado filho Carlos Eduardo,
razões das minhas lutas.
AGRADECIMENTOS
Ao final desta árdua jornada, muitos foram os que contribuíram para o êxito do
processo. Agradeço primeiramente a Deus e aos Bons espíritos por terem me dado
força nos momentos que mais precisei em toda a trajetória doutoral. Meus sinceros
agradecimentos a minha esposa Luciana, principalmente pela paciência e
compreensão durante todo o processo investigativo e por compartilhar de minhas
angústias, inquietações, como também ao meu pequeno Cadú por entender as
ausências do pai e me estimular com seus abraços e afagos.
Agradeço aos meus familiares, meu pai Raimundo Almeida, minha mãe Maria Alice
(em memória), meus irmãos Waleska e Lázaro, minha sogra Iracineide, cunhados e
sobrinhos pelo apoio incondicional sempre que precisei.
Muito obrigado ao meu orientador e amigo, professor Dr. Amarildo Menezes
Gonzaga, pela confiança depositada em mim e parceria em todo o processo, bem
como pela partilha de conhecimentos e experiências.
Agradeço aos professores (as) doutores(as) Elizeu Clementino de Souza, Rosa
Oliveira Marins Azevedo, José Moysés Alves e Maria Clara Silva Forsberg pelo tempo
disponibilizado para a leitura do trabalho e as prestimosas contribuições para o seu
melhoramento. Também agradeço aos professores (as) doutores(as) Thomaz Décio
Abdalla Siqueira, Evandro Luís Ghedin, Cleusa Suzana Araújo e Elizabeth Antonia
Leonel Martines, que muito contribuíram com a tese no período de qualificação.
Agradeço a todos os colegas e professores (as) do PPGECEM, principalmente os do
Polo UEA, pela parceria e apoio durante e depois das disciplinas, como também os
dos Seminários de Pesquisa. Meu obrigado especial à coordenadora do meu polo,
professora doutora Josefina Barrera Kalhil e ao secretário Robson Bentes por
viabilizarem todos os problemas que surgiram ao longo do doutoramento.
Por fim, meu muito obrigado aos meus pares do Colegiado de Pedagogia do Centro
de Estudos Superiores de Tefé CEST/UEA, que sempre contribuíram com esse árduo
processo formativo em serviço, em especial a Adilma Portela, Ademar Henriques,
Cilene Pontes, Dayane Lima, Ethel Oliveira, Leni Coelho, além dos colegas de outros
colegiados Manoel Domingos, Erasmo Pessoa, Viviane Fagundes, Adan Sady,
William Costa, Marcos Lúcio, dentre outros.
A narrativa mergulha a coisa narrada na vida do narrador, para, em seguida, tirá-la dela. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador como a mão do oleiro na argila do vaso.
Walter Benjamin
RESUMO
Investigação autobiográfica que trata sobre as vivências e experiências formativas de um professor pesquisador durante o seu processo de Formação Inicial e Contínua, tendo em vista o processo de autoria construído em toda a sua trajetória. Adotou-se uma abordagem de cunho qualitativo pautada no método narrativo com a utilização da técnica de Análise Compreensiva Interpretativa como forma de categorizar e estruturar os significados obtidos durante a construção da narrativa para interpretálos de maneira que evidenciassem a importância do processo de autoria na condução e ressignificação de seu fazer docente, como também na sua legitimação como professor pesquisador. A análise indicou que os processos formativos docentes, quando de fato experienciados pelo professor, podem se constituir como importantes processos de autoria docente quando caracterizados pela desconstrução, reconstrução e socialização de conhecimentos. Constatou-se que os sentimentos oriundos das tensões, anseios e necessidades presentes nas trajetórias formativas em nível de graduação, mestrado e doutorado vivenciados e experienciados pelo professor, contribuíram significativamente para que este compreendesse e valorizasse a construção do processo de autoria que o legitimou como professor pesquisador.
Palavras-chave: Formação de Professores. Narrativas Autobiográficas. Processos de Autoria. Professor pesquisador.
ABSTRACT
An autobiographical research which approaches personal and formative experiences of a researcher professor throughout his process of Initial and Continuous Preparation, aiming the authorship process built throughout his career. It was adopted a qualitative approach based on the narrative method using the Comprehensive Interpretative Analysis technique as a way of categorizing and structuring the meanings obtained during the construction of the narrative in order to interpret them, emphasizing the importance of the authorship process in conducting and resignification of his own teaching profession and in his legitimization as research professor. The analysis indicated that teacher preparations processes, when actually experienced by the teacher, could constitute important processes of teaching authorship, when characterized by the deconstruction, reconstruction and socialization of knowledge. It was observed that the feelings generated by the tensions, yearnings and needs present in the formative trajectories at undergraduate, master's and doctoral levels experienced by the educator contributed significantly to the understanding and appreciation the construction of the authorship process that legitimized him as a researcher professor .
Keywords: Teacher Preparation. Autobiographic Narratives. Authorship Processes. Researcher Professor.
LISTA DE FIGURAS
FIG. 01 Infância 5 anos FIG. 02 Infância 8 anos FIG. 03 Recém casado FIG. 04 Festa na escola do filho FIG. 05 Atividades pré-academia FIG. 06 Local de trabalho pré-academia FIG.
07 Apresentação de pôster na I.C FIG. 08 Apresentação oral na I.C
FIG. 09 Escola de estágio na Formação Inicial
FIG. 10 Ficha Genealógica
FIG. 11 Desenho do sujeito da pesquisa
FIG. 12 Colação de grau
FIG. 13 Diploma de Graduação
FIG. 14 Histórico Escolar
FIG. 15 Obra publicada na Graduação
FIG. 16 Obra resultado das orientações
FIG. 17 Publicação da dissertação
FIG. 18 Obra com as resenhas
FIG. 19 Resenha científica
FIG. 20 Revista científica
FIG. 21 Artigo publicado
FIG. 22 Pôster XVI – ENDIPE
FIG. 23 Pôster XV – ECODEQ
FIG. 24 Atividades de Estágio
FIG. 25 Atividades de Estágio
FIG. 26 Alojamentos PRONERA FIG. 27 Refeitório PRONERA
FIG. 28 Veículo do PRONERA
FIG. 29 Veículo do PRONERA
FIG. 30 Mapa do estado de Roraima
FIG. 31 BR – 174
FIG. 32 Cidade de Rorainópolis
FIG. 33 Reunião com Orientandos
FIG. 34 Reunião com Orientandos
FIG. 35 Debate e orientações gerais
FIG. 36 Debate e orientações gerais
FIG. 37 Escola do campo – Rorainópolis
FIG. 38 Escola do Campo – Caroebe
FIG. 39 Diploma de Mestrado
FIG. 40 Histórico Escolar
FIG. 41 CEST/UEA
FIG. 42 Resultado final da seleção REAMEC
FIG. 43 Sala de aula
FIG. 44 Horário do almoço
FIG. 45 Excertos teóricos
FIG. 46 Apresentação final
48
48
49
49
49
49
54
54
59
60
60
62
62
62
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66
76
76
77
77
77
77
81
81
83
83
84
84
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88
88
89
89
90
90
93
93
96
98
100
100
FIG. 47 Confraternização no 1º módulo
FIG. 48 Atividade em sala de aula
FIG. 49 Encerramento da disciplina
FIG. 50 Encerramento da disciplina
FIG. 51 Palestra de abertura do Seminário de Pesquisa I
FIG. 52 Palestra de abertura do Seminário de Pesquisa
FIG. 53 Doutorando no Seminário de Pesquisa I
FIG. 54 Doutorandos do Polo Amazonas
FIG. 55 Palestra de abertura do Seminário de Pesquisa II
FIG. 56 Palestra de abertura do Seminário de Pesquisa II
FIG. 57 Apresentação no Seminário de Pesquisa II
FIG. 58 Doutorandos do Polo Amazonas
FIG. 59 Exposição teórica
FIG. 60 Atividades dos cursistas
FIG. 61 Praia da cidade de Maués
FIG. 62 Aula passeio no museu de Maués
FIG. 63 Palestra aos professores da FSDB
FIG. 64 Folder da Mostra Científica
FIG. 65 Ementa da Disciplina Movimentos Sociais e Educação
FIG. 66 Área de convivência do CEST/UEA
FIG. 67 Área externa das salas de aula
FIG. 68 Mapa do Amazonas
FIG. 69 Vista aérea da cidade de Tefé
FIG. 70 Ementa de disciplina
FIG. 71 Ementa de disciplina
FIG. 72 Trabalhos dos acadêmicos
FIG. 73 Avaliação dos trabalhos
FIG. 74 Professores do CEST/UEA
FIG. 75 Discussão dos textos de estágio
FIG. 76 Apresentação dos estagiários
FIG. 77 Atividade de Estágio
FIG. 78 Atividade de Estágio
FIG. 79 SISPROJ/UEA
FIG. 80 Relatório de Produtividade Acadêmica
FIG. 81 Escola do PIBID
FIG. 82 Palestra do PIBID FIG.
83 Equipe do PIBID
FIG. 84 Oficina pedagógica FIG.
85 Artigo CIAIQ 2015
FIG. 86 Currículo Lattes
103
103
106
108
114
114
115
115
118
118
119
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124
124
125
125
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127
128
131
131
132
132
133
133
134
134
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137
138
138
141
141
142
142
143
143
147
147
SUMÁRIO
PRIMEIRAS IMPRESSÕES 12
1° MOSAÍCO - SUBSÍDIOS PARA O PERCURSO
19
Narrativas autobiográficas na formação de professores 19
Processos de autoria docente 32
Tendência professor pesquisador 37
2º MOSAICO – EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS INICIAIS: O DESPERTAR DA
DOCÊNCIA 47
Meus vividos em caminhos que se entrelaçam 47
O surgimento da pesquisa na docência 52
O contato com o real pedagógico 58
O professor pesquisador e o registro dos vividos 64
3° MOSAICO – EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS CONTÍNUAS: A
LEGITIMAÇÃO DA DOCÊNCIA
68
O contato com outros mestrandos 68
Professores, disciplina e novos desafios 71
As produções textuais e os registros 75
A autoria no campo de pesquisa 79
4° MOSAICO - EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS CONTÍNUAS: A
FORMAÇÃO EM SERVIÇO
95
Novos anseios e necessidades 95
A inserção no doutorado 97
O docente – aluno 99
A interface entre vivências formativas e fazeres pedagógicos 111
5° MOSAICO – EXPERIÊNCIAS DE AUTORIA DE UM PROFESSOR
PESQUISADOR
122
Minhas ações e interações docentes 122
A carreira na universidade pública 130
As ações em projetos 140
As ações intelectuais: produções teóricas 145
Os estudos em equipe: grupos de pesquisa 148
A caminhada como orientador 150
Minhas percepções autorais 153
REFLEXÕES 158
REFERÊNCIAS 163
OBRAS CONSULTADAS 169
12
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Sou professor! Licenciado em Normal Superior 1 e Mestre em Ensino de
Ciências2. Atuo, preferencialmente, nas áreas de Formação de Professores, Educação
em Ciências, Estágio Supervisionado, tendo a pesquisa como o sustentáculo de
minhas atividades docentes. Nesta pesquisa analítica-interpretativa, de cunho
qualitativo, adoto o método narrativo para abordar a minha história, especialmente no
que diz respeito aos processos formativos que vivenciei, juntamente com outros
colegas professores. Sendo assim, é uma reflexão de cunho autobiográfico.
Minhas inquietações transformadas no fenômeno investigativo e depois na tese,
começaram ainda na fase final do Estágio Supervisionado, no período da graduação
no Curso Normal Superior da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), momento
no qual comecei a despertar para a docência a partir de uma perspectiva investigativa.
Ao me deparar com a realidade pedagógica, percebi que mesmo com os problemas lá
apresentados, era ao universo da educação que me dedicaria a partir daquele
momento.
No Mestrado Profissional em Ensino de Ciências, também oferecido pela
Universidade do Estado do Amazonas (UEA), aprofundei a compreensão sobre alguns
conceitos da formação docente e ampliei os conhecimentos sobre a pesquisa em
educação, principalmente no campo de investigação, quando de fato, assumi uma sala
de aula para ministrar as disciplinas de Estágio Supervisionado e Pesquisa e Prática
Pedagógica do Curso Normal Superior, voltado para agricultores e/ou seus filhos. O
convênio entre a Universidade do Estado do Amazonas – UEA, o Instituto Nacional da
Colonização e Reforma Agrária – INCRA e o Programa Nacional de Reforma Agrária
– PRONERA3 disponibilizou cem vagas no Curso Normal Superior para trabalhadores
e filhos de trabalhadores do campo dos estados do Amazonas e Roraima.
O contexto da dissertação de mestrado foi justamente uma turma de
acadêmicos do Curso Normal Superior residentes no sul do estado de Roraima, tendo
sido um dos responsáveis pela orientação do processo de estágio e do Trabalho de
1 Professor habilitado a ministrar aula na Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental e
Segundo Segmento da EJA pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA; 2 Mestrado Profissional em Ensino de Ciências do Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências na
Amazônia da Universidade do Estado do Amazonas – PPGECAM/UEA;
3 Programa criado pelo Governo Federal com o apoio do INCRA e movimentos sociais visando formar no
Ensino Superior trabalhadores assentados em contextos campesinos;
13
Conclusão de Curso. Realizei a pesquisa de campo concomitantemente ao processo
de orientação do TCC desses acadêmicos e, logo após o período das suas defesas
também defendi a dissertação. Depois de receber o título de mestre em Ensino de
Ciências, assumi a função de professor e coordenador de Estágio no Curso de
Pedagogia da Faculdade Salesiana Dom Bosco – FSDB4, sendo essa a minha primeira
experiência, de fato, como docente contratado por uma Instituição de Ensino
Superior e não mais apenas como professor de Cursos Modulares, Cursos de
Capacitação ou contratos exclusivos para orientar TCC.
Anos mais tarde, mais especificamente em 2011, fui aprovado no concurso para
o magistério superior da Universidade do Estado do Amazonas5 para atuar no Centro
de Estudos Superiores de Tefé6 – CEST/UEA. Titulado em nível de mestrado e com
alguma experiência no Ensino Superior, assumi minhas funções de professor no
Colegiado de Pedagogia com extrema motivação e com muitas ideias para
desenvolver. As vivências que tive ao longo dos anos com dezenas de disciplinas
ministradas, vários projetos de pesquisa e extensão desenvolvidos, organização de
eventos, fizeram-me perceber o quanto eu tinha avançado no meu trabalho docente
desde a formação inicial, problematizando a realidade e propondo situações para a
sua transformação.
Ao refletir sobre todo o meu processo formativo ao longo dos anos, considero
que apenas ele não teria sido suficiente para atender as necessidades do profissional
que hoje me tornei, pois muito do que sou está estreitamente relacionado às atividades
que desenvolvi e interações que mantive no contexto acadêmico. Os caminhos que
percorri com outros professores me fizeram ser o que sou enquanto docente, por isso
a premissa de considerar importante contar essas vivências como forma de contribuir
para o fortalecimento da formação do professor pesquisador. Entendo que a narrativa
relatada legitimou meu processo de autoria docente, constituindo-se como mais um
importante elemento na formação do professor pesquisador. É nesse sentido que
elenquei a seguinte problemática:
4 Faculdade na qual atuei como docente no Curso de Pedagogia e como coordenador de Estágio
Supervisado;
5 Maior universidade multi campi do país, presente em todos os sessenta e dois municípios do Amazonas com
Centros e Núcleos;
6 Centro da UEA localizado na cidade de Tefé disponibilizando todos os Cursos de Licenciaturas;
14
De que maneira as minhas experiências docentes na formação inicial e contínua
estão relacionadas ao processo de autoria que me legitima como professor
pesquisador? Dessa forma, estabeleceu-se a seguinte tese a ser defendida:
Experiências formativas docentes, oriundas da formação inicial e contínua, fortalecem
a minha condição de autor e possibilitam a construção do processo de autoria que me
legitima como professor pesquisador.
As Questões Norteadoras foram: Que aspectos emergem da minha autoria,
durante a minha formação inicial? Em que medida o meu processo de autoria influencia
a minha condição de professor pesquisador, durante as minhas formações contínuas?
Das contribuições obtidas a partir das experiências oriundas dos meus momentos
formativos, é possível demonstrar que a narrativa autobiográfica, demonstrando
processos de autoria, contribuiu significativamente para a minha formação como
professor pesquisador?
O Objetivo Geral da investigação foi: Compreender de que maneira as minhas
experiências docentes na formação inicial e contínua estão relacionadas ao processo
de autoria que me legitima como professor pesquisador. Seus objetivos específicos
foram: Apresentar aspectos emergentes da minha autoria durante a minha formação
inicial; Refletir a respeito das influências do meu processo de autoria na minha
condição de professor pesquisador durante as minhas formações contínuas; Analisar
se as experiências oriundas dos meus momentos formativos, narrados
autobiograficamente, demonstram processos de autoria e legitimam-me como
professor pesquisador.
A trajetória percorrida ao longo de minha vida acadêmica e profissional
possibilitou a realização de um processo formativo que contribuiu, e ainda contribui
significativamente, na ressignificação do trabalho docente que desenvolvo no espaço
acadêmico. É neste sentido, que a trajetória investigativa da tese está pautado no
método narrativo, a partir de uma abordagem autobiográfica que leva em consideração
o meu percurso de autoria ao explorar os elementos subjetivos do processo, e ao
evidenciar os anseios e necessidades característicos de tais vivências. Essa
caminhada formativa que transformou vivências em experiências docentes viabilizou
momentos de formação que relembrados e analisados são entendidas como valiosas
estratégias para a formação de professores.
Em linhas gerais, também defendo que a abordagem autobiográfica em
processos de autoria docente pode contribuir de maneira significativa na formação
15
contínua de professores, pois possibilita uma constante reflexão sobre as suas ações
e vivências, além de possibilitar ao professor um espaço para ele relatar suas histórias
pessoais e profissionais, como também possuir elementos subjetivos suficientes para
ressignificar as suas práticas pedagógicas. No entendimento de Souza (2008, p.38):
[...] por meio das narrativas de profissionais que estão em formação
inicial/continuada, ao compreender a abordagem autobiográfica, expressa
através das narrativas, como metodologia de trabalho que possibilita tanto ao
formador, quanto aos sujeitos em processos de formação significar suas
histórias de vida, através das marcas e dispositivos experienciados nos
contextos de formação.
A construção do conhecimento se sustenta a partir de uma relação intensa de
retroalimentação com o outro e com o próprio contexto, na busca de conhecer as
vivências e experiências dos sujeitos, indícios que nos levam a compreender os seus
sentimentos e assim desenvolver nosso próprio processo autoral. Para corroborar
nessa discussão nos pautamos em Borges e Moreira (2004, p.459) que apresentam
valiosas considerações sobre o desenvolvimento de percursos de autoria ao enfatizar
que:
A autoria exige, sobretudo, uma responsabilidade. Mas essa responsabilidade
não se restringe apenas ao sentido jurídico, ela se estende, também, e com
igual rigor, perante a sociedade, à história e ao meio. Isto é, perante ao
contexto sócio-histórico em que se insere o autor.
Um processo de autoria significa refletir sobre o próprio processo formativo vivenciado
pelo docente ao relembrar os caminhos percorridos para compreender o seu trabalho
no contexto educativo. Ao balizar seu fazer pedagógico pela pesquisa, o docente
consegue fazer uma leitura crítica da realidade, a qual possibilita a realização de uma
significativa intervenção no contexto socioeducativo no qual está inserido. Essa
articulação entre ensino e pesquisa, aliada ao registro de suas vivências pedagógicas,
contribuem para a constante ressignificação de suas práticas caracterizando-o como
um professor pesquisador.
Dessa forma, o conhecimento é produzido na cultura em que vivemos, portanto, não
é fruto de uma revelação ou descoberta. Ele poderia ser enunciado como uma
construção pessoal que acontece na dinâmica de interações com a realidade e que
16
responde as questões e as inquietações propostas pelo professor pesquisador,
inclusive para Cunha e Prado (2007, p.25), porque para eles:
O conhecimento novo é original para o próprio pesquisador, que introduz (e
retira) suas criações da realidade. Da socialização do que é relevante para
esse sujeito, redes vão se articulando e de encontros e desencontros de
muitos sujeitos-pesquisadores, a ciência vai se ampliando, o conhecimento
incorporando novas perspectivas, diminuindo fronteiras, quem sabe até
diluindo preconceitos.
Faz-se necessário que o professor reflita sobre o próprio trabalho e assim
remonte e conte a sua trajetória autoral, evidenciando as nuances que caracterizaram
seu processo formativo inicial e contínuo com ênfase na sua formação como
pesquisador. Para esse movimento, Cunha e Prado (2007) chamam de atitude
investigativa a busca intencional por respostas a determinada problemática ou questão
a partir da interação com outros pesquisadores, ou ainda pares e os teóricos que
fundamentam o processo de pesquisa.
O professor pesquisador caracteriza-se por problematizar sua realidade e
intencionalmente buscar soluções para seus questionamentos no cotidiano
pedagógico sempre registrando e socializando os conhecimentos que constrói.
Também percebe os problemas do processo de ensino e aprendizagem ocorridos no
espaço de sala de aula, e nisso busca alternativas didático-pedagógicas para
solucioná-lo, ou mesmo amenizá-los. Nesse sentido, Cunha e Prado (2007, p.41)
apresentam duas perspectivas de professores pesquisadores:
[...] há professores/as que produzem conhecimento pedagógico na sua sala
de aula e com seus pares na escola e não são professores/as- pesquisadores/as, a despeito de poderem produzir mais do que professores
que escolhem intencionalmente ser pesquisadores/as. A diferença entre um/a
professor/a que produz conhecimentos e mantém uma postura interessada e
um professor/a-pesquisador/a é que o primeiro muitas vezes não sabe ou não
quer manejar os instrumentos e sistematizar sua produção de forma que seu
conhecimento possa ser reconhecido como pesquisa.
Entendemos que o processo formativo docente tem significativa influência na
aproximação do professor em relação a pesquisa e, concomitantemente, na sua
legitimação como pesquisador. Ao reconhecer que vivenciou um processo de autoria,
ele fortalece a sua identidade docente e compreende o seu papel no contexto
educativo no qual está inserido, sendo o seu trabalho profissional a mola propulsora
de todo esse processo. Refletir sobre os caminhos formativos percorridos requer
17
valorizar cada momento vivido e relacioná-lo as vivências docentes a partir das
interações com o outro.
Tendo em vista as características do fenômeno investigativo, aliado ao escopo
do projeto de pesquisa que estabeleci e viabilizando o percurso metodológico
construído, construo uma tessitura que vai se reconstruindo conforme o andamento do
processo investigativo, possibilitando uma relação dialógica e complementar a partir
do entrelaçamento das vivências formativas do investigador.
O trabalho divide-se em cinco partes distintas, as quais denominei de mosaicos.
Adotou-se a ideia de mosaicos para cada um dos momentos da investigação, porque
é entendido como uma parte que se encaixa a outra para dar sentido ao todo, sendo
que cada uma das partes, no caso os mosaicos, é repleta de significados próprios e
únicos que possibilitam dialogar e complementar com os demais. O eixo articulador
entre os mosaicos foi o processo de autoria que construí ao longo dos processos
formativos dos quais participei.
O primeiro mosaico do trabalho, intitulado “Subsídios para o percurso”,
apresenta os conceitos estruturadores da tese discutindo seus significados e
contextualizando as minhas vivências profissionais, no intuito de evidenciar como
estes influenciaram a minha formação como professor pesquisador. Também
evidenciarei neste mosaico as premissas metodológicas que sustentaram a tese
descrevendo as técnicas de pesquisa e os elementos de análises que possibilitaram a
interpretação dos dados produzidos.
O segundo mosaico, denominado “Experiências formativas iniciais: o despertar
da docência”, evidencia parte do processo autoral do investigador/investigado
caracterizados por minhas vivências na formação inicial, enfatizando prioritariamente
o processo de estágio e até a orientação e defesa do TCC, além da participação em
grupo de pesquisa, publicações teóricas, primeiras experiências na docência, etc.
No terceiro mosaico, “Experiências formativas contínuas: a legitimação da
docência”, demonstro o processo vivenciado na orientação da dissertação, desde a
estrutura textual até a relação com os sujeitos-orientandos, bem como as
peculiaridades do contexto de pesquisa. Além disso, apresento as atividades
desenvolvidas com os acadêmicos finalistas do curso de graduação, os quais também
eram colaboradores da investigação de mestrado. Também destacarei a participação
em eventos acadêmicos que transformaram de maneira significativa o meu trabalho
18
docente, assim como a primeira experiência como docente de uma Instituição de
Ensino Superior, além outros aspectos.
No quarto mosaico, “Experiências formativas contínuas: a formação em serviço”,
apresento as impressões sobre as minhas vivências do curso de doutorado, desde o
processo de seleção, passando pelas situações de ensino em sala de aula,
orientações da tese, participação nos seminários de pesquisa etc., evidenciando como
esses momentos legitimaram o meu próprio percurso de autoria. Também foi
destacado e refletido os pontos negativos e positivos de se passar por um processo
de doutoramento a partir de uma Formação em Serviço, destacando as implicações
dos conhecimentos adquiridos neste momento no próprio trabalho docente, que
concomitantemente desenvolvia nos cursos de formação de professores oferecidos
pelo Centro de Estudos Superiores de Tefé da Universidade do Estado do Amazonas
– CEST/UEA.
No quinto mosaico, denominado “Experiências de autoria de um professor
pesquisador”, descrevo minhas vivências pedagógicas desde os primeiros meses da
profissão até os dias de hoje, enfatizando, prioritariamente, as atividades de ensino,
pesquisa e extensão desenvolvidas como professor da universidade pública. Tais
reflexões sobre o meu processo autoral docente visam evidenciar quais as suas
implicações na minha formação como professor pesquisador.
Todas as situações narradas no decorrer do trabalho foram vivências por qual passei
desde a infância até a fase adulta, em especial na formação profissional, seja inicial
ou contínua. Todas elas retratam a minha formação como intelectual e reforçam minha
condição de autor a partir das intenções, afirmações, convicções e ações em variados
momentos da minha vida. Enfim, é a autoria que construí sobre o meu fazer
pedagógico e como esse processo resultou no profissional que sou hoje, como a
ressignifico na relação com a ressignificação de meu trabalho docente.
1º MOSAICO
SUBSÍDIOS PARA O PERCURSO
Neste mosaico, apresento os pressupostos teórico-epistemológicos que sustentaram
a construção da tese, mais especificamente os que tratam sobre os processos de
autoria docente e da formação do professor pesquisador. Além disso, evidencio as
premissas metodológicas da investigação destacando as várias nuances da pesquisa
19
narrativa e demonstrando minha opção pela abordagem autobiográfica, além de
indicar a adoção da técnica de análise interpretativa-compreensiva para encontrar as
similaridades e diferenças nas narrativas oriundas de minhas vivências enquanto
docente, como também legitimar minha condição de autor. Sendo assim, exponho as
ideias dos teóricos que discutem a respeito destes conceitos, organizando minhas
próprias definições com o intuito de relacioná-las às minhas experiências
contextualizando-as ao processo de autoria que vivenciei ao longo dos anos.
Narrativas autobiográficas na formação de professores
Pensar a formação de professores pelo prisma autobiográfico requer entender o
docente como um ser humano possuidor de uma dimensão subjetiva que legitima suas
ações em sociedade. É nesse bojo, considerar que ele(a) também é pai, mãe, filho(a),
irmão(ã), chefe de família, cidadão(ã). Enfim, um(a) indivíduo possuidor de histórias
com lutas e tensões, tristezas e felicidades que merecem e devem ser narradas,
analisadas e divulgadas como forma de contribuir para outras histórias docentes.
Diante disso, expõe Souza (2008, p.45) que:
Através da abordagem biográfica o sujeito produz um conhecimento sobre si,
sobre os outros e o cotidiano, revelando-se através da subjetividade, da singularidade, das experiências
e dos saberes. A centralidade do sujeito no processo de pesquisa e formação sublinha a importância
da abordagem compreensiva e das apropriações da experiência vivida, das relações entre subjetividade
e narrativa como princípios, que concede ao sujeito o papel de ator e autor de sua própria história.
Nesse sentido, a história das ciências humanas foi marcada decisivamente pelo uso
de métodos experimentais oriundos da Física e Biologia, os quais se caracterizavam
como o único caminho metodológico possível para validar cientificamente as
pesquisas realizadas na área. Com o passar dos anos, pesquisadores desses campos
perceberam que os métodos até então utilizados não contemplavam na sua plenitude
os fenômenos sociais e educativos evidenciados no contexto. É neste sentido que
Bueno (2002, p.13) destaca que as:
Insatisfações que vão surgindo no interior de cada uma dessas disciplinas
ensejam um movimento de rupturas e mudanças que se iniciou nas primeiras
décadas do século passado e não cessou de se desenvolver até os dias de
hoje. Tais mudanças dizem respeito não somente à busca de novos métodos
de investigação, mas, sobretudo, a um modo novo de conceber a própria
ciência.
20
Com efeito, ao renunciar os métodos experimentais, o pesquisador da educação
busca novas possibilidades metodológicas para dar conta de seu fenômeno
investigativo. Uma dessas possibilidades utilizadas na pesquisa em educação
contemporânea é a autobiografia, a qual se caracteriza por um tecido de narrativas
que remontam às histórias de vida dos sujeitos que as relatam e se conectam às
análises de investigadores que as colhem e perscrutam.
Nesse interim, Pineau (2006) destaca três momentos históricos bem definidos
no movimento narrativo: a eclosão nos anos de 1980; a fundação em 1990; e o
momento de desenvolvimento nos anos 2000. Atualmente, a pesquisa narrativa é
amplamente utilizada no contexto investigativo brasileiro sustentada em metodologias
de inúmeras dissertações de mestrado e teses de doutorado, como também
socializada em número significativo de livros e periódicos científicos.
Catani (1997) destaca que o movimento biográfico no Brasil está vinculado a
pesquisa em educação, seja na didática, educação matemática ou formação de
professores, além de outras áreas que utilizam as narrativas como abordagem de
pesquisa e formação. Por sua vez, no contexto contemporâneo a pesquisa narrativa
legitima-se como uma valiosa alternativa metodológica para contemplar fenômenos
investigativos complexos.
Ao analisar diversos trabalhos, Pineau (1999) identificou variadas terminologias
no campo da abordagem narrativa, dentre as quais: história de vida, biografia,
autobiografia, pesquisa narrativa, relato de vida, etc. Todas elas demonstram a
proximidade conceitual entre as diversas vertentes, sendo necessário uma maior
reflexão sobre as similaridades e diferenças que caracterizam cada uma delas. Vale
ressaltar que as flutuações terminológicas desses modos de pesquisas têm relação
com a temporalidade vivida pelos sujeitos em suas realidades.
Em termos conceituais considero as distinções entre as terminologias tênues,
porém precisas: a Biografia pode ser entendida como o escrito da vida do outro a partir
do entrelaçamento do tempo, memória e lembranças que dão sentido a sua própria
história; a Autobiografia é o escrito da própria vida, na qual o sujeito transita no papel
de autor e ator de suas experiências sem a intervenção do outro; a História de Vida é
uma perspectiva investigativa e formativa genérica, pois é integrante de diversas
pesquisas ou projetos, ora como método, ora como técnica; enquanto que os Relatos
de Vida não privilegiam o escrito ou o oral e, geralmente, fazem um recorte da história
vivida que pode ser utilizado em pesquisas e intervenções. Clandinin e Connelly (2010)
21
definem a narrativa como uma das maneiras de compreender os significados da
experiência na relação entre investigador e investigado, pois a narrativa está presente
em todos os contextos da humanidade. Como expõem Sousa e Cabral (2015, p.151):
A narrativa torna-se, portanto, relevante para o contexto de formação em que
se concebe o professor como narrador-personagem-escritor de histórias que
se constituem a partir de diversas situações de formação. As pesquisas
revelam que os professores, quando os falam sobre os dilemas imbricados no
seu fazer docente, transportam, ao mesmo tempo, dados de sua trajetória de
vida. Isso aponta para diferentes modos de ver, conceber a prática profissional
e promover avanços significativos na formação docente.
Em síntese, as narrativas são histórias e experiências divididas e partilhadas pelo
investigado com o investigador; o olhar sobre a realidade daqueles que a relatam.
Bueno (2002, p.20) também tece valiosas considerações a respeito dessa modalidade
de pesquisa. Para ele: “[...] ao se fazer uso do método biográfico, a situação
interacional vivenciada, isto é, o modo mediante o qual a narrativa ou as narrativas
foram produzidas, não pode ser ignorado no processo de análise”. Logo, é papel do
investigador buscar conhecer as nuances sócio-histórico-cultural que caracterizaram
as vivências do investigado no seu contexto e assim perceber sua intencionalidade.
De acordo com Barros (2012, p.8):
Narrar é configurar ações humanas específicas, mas é também discorrer
sobre significados, analisar situações. Inversamente, discorrer sobre
significados e analisar é também uma forma de narrar, e é por isto que, tal
como já foi ressaltado anteriormente, as modalidades historiográficas que se
propõem a ser analíticas não conseguem escapar de serem também
narrativas.
De certa forma, ao adotar a autobiografia como metodologia de pesquisa, o
investigador intromete-se na vida dos sujeitos. Daí a importância de uma ampla
negociação no transcorrer de todo o processo de investigação para coletar as suas
narrativas autobiográficas, suas histórias, o enredo de suas vidas. No tocante a
formação de professores, Bueno (2002, p.21) afirma que:
[...] é importante lembrar que as abordagens autobiográficas na área da
educação têm sido notadamente utilizadas na formação contínua de
professores, figurando em número menor os estudos que exploram aspectos
da vida de ex-professores. Mais escassos, porém, são os trabalhos que
empregam o método com grupos de indivíduos que ainda não ingressaram na
vida profissional, como no caso dos alunos de cursos de magistério.
22
Desse modo, as narrativas biográficas e autobiográficas como possibilidades
metodológicas na pesquisa em educação estão cada vez mais presentes nos
processos investigativos da formação inicial e contínua, especialmente, na formação
de docentes. Nesse contexto, o relato das histórias de vida docentes, os confrontos,
as tensões, as divergências e as convergências possibilitam aos professores em
formação inicial ou contínua conhecerem e refletirem sobre as nuances da profissão a
partir do próprio olhar docente. Para Souza (2014, p. 40):
No campo educacional brasileiro, as pesquisas (auto)biográficas tem se
consolidado como perspectiva de pesquisa e como práticas de formação,
tendo em vista a oportunidade que remete tanto para pesquisadores, quanto
para sujeitos em processo de formação narrarem suas experiências e
explicitarem, através de suas narrativas orais e/ou escritas, diferentes marcas
que possibilitam construções de identidades pessoais e coletivas.
As narrativas autobiográficas de professores são caracterizadas pela
subjetividade das histórias docentes que se entrelaçam com o contexto coletivo onde
ele está inserido, sendo importante ao investigador que adota essa abordagem de
pesquisa levar em consideração elementos de análises como autoformação,
autoconhecimento, autorreflexão para conseguir abstrair em sua plenitude toda a
essência das narrativas coletadas. É neste sentido que Lopes e Lima (s/d, p.03),
ressaltam que:
[...] o interesse pelos aspectos subjetivos envolvidos na vida dos atores
sociais não é apenas preocupação da área da educação, é também motivado
pelas mudanças paradigmáticas. Diante da tendência atual de utilização de
autobiografia ou histórias de vida, cabe a seguinte pergunta: como é possível
a subjetividade das narrativas de professores tornar-se objeto de
conhecimento científico?
O reconhecimento e a valorização das narrativas docentes, por si só já contemplam
parte desse questionamento, entretanto, além disso, são nos relatos dos professores
que encontramos valiosos indícios de como proceder para amenizar as dificuldades
que se apresentam no contexto educativo e também criar novas estratégias
metodológicas para a formação de docentes. De acordo com Bragança (2011, p. 158):
[...] pensar a formação traz o humano para o centro de nossa reflexão.
Enquanto sujeitos históricos, construímo-nos a partir das relações que
23
estabelecemos conosco mesmos, com o meio e os outros homens e
mulheres, e é assim, nessa rede de interdependência, que o conhecimento é
produzido e partilhado. As interações humanas vão constituindo a cultura, e a
educação consiste na apropriação/recriação desse conhecimento acumulado
pela humanidade; nesse sentido, o processo educativo permeia toda vida
humana (Grifos do autor).
Para tanto, as relações construídas nos contextos socioculturais dão sentido aos
significados construídos no ambiente educativo, que não são estanques, mas
complementares. Daí a necessidade do pesquisador em educação debruçar-se sobre
as narrativas docentes para poder entender sua história de vida e consequentemente
seus anseios, necessidades, convicções etc. Nóvoa (2009) afirma que as histórias de
vidas docentes narradas em variadas investigações têm acarretado profundas
reflexões sobre a formação de professores e contribuído com férteis abordagens
formativas no contexto socioeducativo ao integrar novas perspectivas teóricas nos
fazeres pedagógicos docentes.
A convivência com outros sujeitos em sociedade e com a própria natureza que o cerca
influenciam a visão de mundo do ser humano, levando-o a sofrer interferências e
também a interferir nas percepções do outro através de interações que nem sempre
são harmoniosas, mas sim recheadas de tensões e conflitos que possibilitam o
enriquecimento e fortalecimento das identidades do sujeito, contribuindo para se esvair
preconceitos e estereótipos. Para Bragança (2011, p.161-162):
A formação, em sua dimensão pessoal e interior, leva-nos ao encontro das
mediações entre esse conceito e os processos identitários. O sentido da
identidade do ser traduz uma questão que apresenta longa trajetória na
história da filosofia. É uma postura essencialista que perspectiva a identidade
fixa em contraste com a dialética que olha a vida como movimento e devir e,
nesse sentido, como uma identidade em permanente construção.
Dessa maneira, somos sujeitos históricos que referenciamos nossa vida a partir
dos arquétipos que nos são apresentados em nosso contexto sociocultural, como
também nos relacionamentos com outros sujeitos, lugares, instituições. Assim,
construímos novas concepções de mundo que ressignificam de maneira constante
nossas identidades. Bragança (2011) destaca que a identidade nos possibilita fazer
uma imagem de si, para si e para os outros, apresentando uma dimensão pessoal e
social carregadas de significados que caracterizam sua vida em sociedade.
A essência da identidade constrói-se em referência aos vínculos que conectam
as pessoas umas às outras e considerando-se esses vínculos estáveis. Desse modo,
24
o habitat da identidade é como um campo de batalha: ela só se apresenta no tumulto.
Não se pode evitar sua ambivalência: ela é uma luta contra a dissolução e a
fragmentação, uma intenção de devorar e uma recusa a ser devorado. Esse conflito a
um só tempo une e divide, suas intenções de inclusão e segregação misturam-se e
complementam-se. Segundo Silva et al. (2017, p.7):
A formação docente, nos últimos anos, tem voltado seu olhar para a pessoa
do professor. Ouvir suas experiências, seus pensamentos e suas ideias têm
contribuído para as pesquisas referentes à formação docente. A utilização do
método autobiográfico, no processo de formação docente, trouxe
contribuições importantes para a inserção da pessoa do professor, como parte
integrante das pesquisas em educação e no ensino.
Nesse sentido, as memórias docentes quando relatadas, apontam novos
caminhos para a formação inicial e/ou contínua de professores. Tais caminhos são
baseados a partir do conhecimento de si, descrito por cada sujeito em suas narrativas.
Dessa forma, a eles é dado o direito de se expressar. Como causa, se tornarão sujeitos
ativos do processo educativo na construção de seu próprio conhecimento e de seus
percursos metodológicos. Para Silva et al. (2017, p.7):
A utilização das memórias, no processo de formação, possibilitará um
despertar docente para uma nova forma de ver o ensino. Nesta visão, o ensino
deixa de ser algo mecânico, voltado exclusivamente para a transmissão de
conhecimentos preestabelecidos, para ser visto como algo prazeroso e
encantador, presente nas histórias de vida. Desta maneira, fica evidenciada
que a construção do conhecimento significativo ocorre e ganha significância
quando seu desenvolvimento acontece com a participação de todos.
Sendo assim, ao tornar-se construtor de seu próprio conhecimento, o professor
tem a possibilidade de romper as amarras que o prende aos currículos engessados,
bem como aos livros descontextualizados. Quando coloca em suas práticas
pedagógicas as vivências pessoais e formativas adquiridas ao longo de sua vida, o
docente as transforma em experiências que se constituem como elementos
auxiliadores dos conteúdos curriculares, e tudo isso contribui para o processo de
caracterização em um ensino e aprendizagem.
No tocante à investigação, na formação de professores, quando se adota uma
abordagem autobiográfica na pesquisa em educação, o investigador consegue
adentrar no imaginário do investigado conhecendo seus interesses e motivações.
25
Neste sentido, corroboramos com Souza (2007, p. 66-67) quando afirma que:
O papel do pesquisador não pode limitar-se a tomar notas, pois sua tarefa é
a escuta sensível na qual perceba os componentes e dimensões relevantes
na vida dos sujeitos que lancem luz sobre as problemáticas construídas. Os
relatos somente são relevantes porque respondem à historicidade e
subjetividade dos sujeitos em suas itinerâncias e formação. Desta forma,
pretendemos aprofundar a compreensão e reafirmar a utilização da pesquisa
histórica e da narrativa (auto)biográfica, como opção metodológica [...].
Ao seguir por esse caminho metodológico, o pesquisador tem uma possibilidade maior
de abarcar todas as nuances das histórias de vida dos colaboradores da investigação
desprezando os modelos convencionais de pesquisa que buscam apenas verificar os
conhecimentos obtidos a partir dos dados coletados. Concordamos com Nóvoa e
Finger (1988) ao afirmarem que as histórias de vida e o método (auto)biográfico
repensam as questões atuais da formação de professores, partindo do princípio de
que ninguém forma ninguém diretamente, pois são as reflexões sobre as histórias de
vida dos docentes que possibilitam a sua própria formação.
Ainda nessa perspectiva, baseamo-nos em Ferrarotti (2010) quando reivindica a
soberania do método autobiográfico nas pesquisas em educação, ao considerar as
narrativas autobiográficas como suficientes para contemplar o fenômeno investigativo.
Esse caminho surge como uma alternativa metodológica não-convencional aos novos
problemas que emergem na pesquisa em educação, pois baseia-se na historicidade
do indivíduo e nas suas interações no contexto em que está estabelecido. Santos e
Garm (2014) estabelecem variados tipos de narrativas na pesquisa em educação na
formação inicial ou contínua, dentre as quais destacamos as narrativas de crítica
social, aquelas que estimulam a reflexão sobre questões polêmicas na sociedade,
como: racismo, sexualidade, preconceitos de gênero; as narrativas de aprendizagem,
as que possibilitam que professores inexperientes aprendam com as histórias
daqueles mais experientes; narrativas de práticas reflexivas, cuja reflexão e
questionamento sobre as práticas docentes base; narrativas sobre trajetórias, aquelas
em que se viabiliza ao docente observar sobre sua vida e carreira levando-o a refletir
o passado e projetar o futuro; narrativas de esperança, as que estimulam o otimismo
e imaginação, como também aquelas que constroem utopias; e por fim as narrativas
de liberdade, que centram-se na crítica, na esperança, nas ações audaciosas que de
fato transformam o contexto educativo.
26
Vale ressaltar que esses tipos de narrativas não são estanques e distantes umas das
outras, se caracterizando por manterem uma relação complementar a partir de um
constante diálogo entre ambas. Cabe ao investigador conhecê-las e entendêlas para
poder utilizá-las da melhor maneira possível no transcorrer do processo investigativo,
tudo com o intuito de captar nos relatos a subjetividade das relações mantidas pelos
colaboradores nas suas vivências cotidianas.
Essa abordagem de pesquisa vislumbra descobrir a repercussão causada pelas
histórias de vida dos professores em seu trabalho docente desenvolvido no cotidiano
pedagógico. As narrativas autobiográficas constituem-se como valiosas estratégias
para a coleta de dados, sendo para isso necessário atentar-se para as características
metodológicas de uma pesquisa de cunho qualitativo voltada especificamente para a
educação. No que tange a sua organização, Santos e Garms (2014, p. 4.097) afirmam
que:
Os materiais utilizados podem ser de dois tipos: os materiais primários, isto é,
as narrativas (auto)biográficas recolhidas por um pesquisador por meio de
entrevistas, e os materiais biográficos secundários, ou materiais de toda
espécie, tais como correspondências, fotografias, documentos oficiais,
processos verbais, recortes de jornal etc. O método tradicional sempre deu
preferência aos materiais biográficos secundários por apresentarem maior
objetividade. Mas, o uso correto do método exige que o pesquisador
abandone os privilégios concedidos pelos materiais secundários.
Com efeito, é possível conciliar a utilização dos materiais primários e secundários no
processo de coleta e análise de dados pode viabilizar uma exploração mais profunda
das dimensões pessoais dos colaboradores, priorizando especialmente seus
sentimentos e percepções. Tal perspectiva metodológica extrapola a objetividade do
contexto e adentra ao arcabouço de percepções do indivíduo. Para Santos e Garms
(2014, p. 4.105):
As narrativas autobiográficas com o embasamento teórico do método
autobiográfico utilizada para compor uma análise com ênfase nas narrativas
de histórias de vida pessoais/profissionais de professores pode revelar a
constituição diversos aspectos de interesse de uma investigação educacional.
Pois, a escolha desse método qualitativo, que vai além das metodologias
qualitativas tradicionais, viabiliza o diálogo, a análise e a discussão sobre
diversos aspectos que auxiliam na formação de professores.
27
Ao entender tais nuances o investigador estabelece um panorama que de
alguma maneira contribua para apontar novos caminhos formativos baseados nas
narrativas orais e escritas coletadas no transcorrer do percurso investigativo. Segundo
Santos e Garms (2014, p. 4.101):
Com a construção das narrativas os professores reconstroem suas próprias
experiências de ensino e seus itinerários de formação. Tornam, desse modo,
explícitos os conhecimentos pedagógicos construídos por meio de suas
experiências, o que propicia sua análise, discussão e possibilidade de
modificação. A elaboração da narrativa sobre a experiência pedagógica por si
só já se constitui em poderoso instrumento de formação pessoal e
profissional, além de desencadear o questionamento de competências e
ações, a tomada de consciência de saberes, o desejo de mudança e o
estabelecimento de compromissos e metas.
Assim, o reconhecimento das histórias de vida, a partir das próprias narrativas
docentes, contribui decisivamente para a ressignificação das práticas pedagógicas de
professores que passam ou passaram por um processo de formação inicial ou
contínua. Dessa forma, ao lançar mão do método (auto)biográfico em sua pesquisa, o
investigador estará fazendo das narrativas docentes um importante elemento
formativo a ser validado no seu próprio percurso de autoria. Quando assumo a
pesquisa narrativa como a abordagem que sustenta o processo investigativo em
questão, faço a opção pela autobiografia por considerá-la uma metodologia que trata
das narrativas oriundas das experiências investigativas e formativas do professor
pesquisador, é neste sentido que corroboro com Catani (2015) quando ele enfatiza
que as escritas autobiográficas revelam as relações pessoais com a escola e podem
ser importantes na construção de conhecimentos voltados para a educação.
Por outro lado, o intelectualismo oriundo de uma maneira convencional de
compreender e fazer ciência despreza a subjetividade do contexto e dos sujeitos
desconsiderando as intuições, sensações e percepções inerentes à essência do ser.
Essas características são reais e dizem respeito ao mundo em que vivemos,
influenciando e sendo influenciadas por elementos de ordem exterior, como a
sociedade e a cultura; como também as de ordem interior, tais como, os anseios e
necessidades. Estes acabam por cristalizar a nossa visão sobre o mundo e,
consequentemente, moldar os comportamentos sociais que adotamos no contexto em
que estamos inseridos. Esse olhar sobre a realidade adotado por inúmeros
28
investigadores contemporâneos os fazem, na opinião de Schutz (2012, p.65),
considerados em alguns guetos científicos:
[...] como um vidente com bola de cristal, um metafísico ou um ontologista no
sentido mais depreciativo desses termos, ou ainda como alguém que sempre
ignora os fatos empíricos e os métodos científicos mais ou menos
estabelecidos que devessem servir para coletar e explicar esses fatos.
Logo, o novo amedronta e causa insegurança, mas nem por isso devemos nos
curvar a métodos e abordagens investigativas que não mais abarcam as nuances da
realidade contemporânea. Precisamos adentrar na essência do objeto para poder
descortinar a realidade na qual ele está inserido. O processo de autoria docente é
permeado por subjetividade em todos os momentos, sendo necessário que esse
indivíduo seja sensível aos elementos que nem sempre são visíveis no contexto
educativo. Merleau Ponty (2006, p. 280-281) reflete sobre este panorama ao comentar:
[...] como pudemos algum dia nos confundir com o nosso corpo, como
pudemos acreditar que víamos com nossos olhos aquilo que na verdade
aprendíamos por uma inspeção do espírito, como o mundo não é
perfeitamente explícito diante de nós, porque ele só se desdobra pouco a
pouco e nunca “inteiramente”, enfim como ocorre que nós percebamos? [...]
Destarte, a subjetividade é a interioridade que se relaciona com o mundo
exterior, tendo o pesquisador o dever de promover o diálogo entre as ideias que estão
em mim com os objetos exteriores do mundo, tendo em vista as percepções que
constrói sobre o ambiente a partir de sua intencionalidade. Ademais, criamos os
significados que nos possibilitam compreender a realidade em todas as suas nuances
para de fato adentrarmos a essência do fenômeno investigativo.
Em suma, o sujeito deve estar atento para as sensações que têm da realidade
entendendo que os significados por ele construídos estão atrelados a uma
intencionalidade sobre o contexto, para de fato ter a percepção de algo. A percepção
constrói o conhecimento e dá significância ao objeto tendo primeiro que adentrar na
consciência do sujeito para depois tornar-se um fenômeno fundamental da vivência,
pois é mediante uma percepção seletiva e ativa diante da multiplicidade de estímulos
externos, que o ser humano vai entrar em contato com o mundo circundante e se
orientar nele.
29
É importante que o professor pesquisador dê atenção as particularidades do
contexto numa dimensão educativa, social e cultural consoante as peculiaridades de
cada um dos sujeitos envolvidos no processo. As sensações percebidas na aquisição
de suas vivências, durante o seu fazer pedagógico e no transcorrer dos seus
processos formativos, podem contribuir para ele legitimar-se como pesquisador e
também perceber-se como produtor de conhecimento e concomitantemente como
autor de sua profissão.
Husserl (2006) afirma que a vivência é a nossa reação imediata àquilo que nos
acontece, antes mesmo que tenhamos refletido ou elaborado conceitos. Daí acreditar
que a importância da vivência reside no fato de ser uma referência fundamental na
orientação da vida, mesmo não se tendo consciência clara dela, porém, é a partir das
vivências que o processo de autoria do professor ganha sentido e o torna pesquisador.
Ao relatar minha história de vida para construção da narrativa, no transcorrer do
trabalho, me sustento principalmente nos registros fotográficos de meu acervo pessoal
como um elemento que utilizo de memórias, algumas delas adormecidas, que
possibilitaram reconstruir todo o percurso formativo vivenciado ao longo de minha vida.
Para elucidar melhor isso, recorremos a Godolphim (1995, p.175):
A integração texto-imagem, como todo processo de construção eficiente de
uma interpretação, é um empreendimento delicado. Há que saber dosar bem
pesos e medidas, em função das pretensões de cada pesquisador, da
particular natureza da mensagem que ele pretende transmitir, do público que
ele pretende atingir, além do formato do suporte escolhido (isso só para ficar
nas variáveis mais simples).
Nesse sentido, a fotografia tem uma linguagem própria e por si só demonstra a
intencionalidade do pesquisador no contexto de pesquisa constituindo-se no reflexo
objetivo da realidade. O que se chama de documentação fotográfica não se compõe
apenas por fotos esparsas ou reunidas por conveniência, mas sim fruto de uma ação
previamente estruturada e organizada para dar significado à narrativa construída.
Para Bogdan e Biklen (1982) o recurso fotográfico se constitui como uma valiosa
técnica de pesquisa qualitativa que possibilita ao investigador a coleta de dados
significativos no contexto de pesquisa. Ao estruturar e organizar com o auxílio de
fotografias as vivências que caracterizaram a minha história de vida, visava descrever
30
o relato das narrativas que dão sentido ao meu processo de autoria na formação como
professor pesquisador, que no entendimento de Guran (2012, p.68,):
Fotografar “para contar” corresponde ao momento em que o pesquisador faz
a síntese do seu trabalho, através da articulação, a partir do seu instrumental
teórico, entre as suas premissas e as informações obtidas ao longo da
pesquisa. A fotografia pode, neste momento, ser utilizada para destacar, com
segurança, aspectos e situações marcantes da cultura estudada, e para dar
suporte à reflexão apoiada nas evidências que a própria imagem apresentar.
Embora estejam aqui didaticamente apresentadas como separadas no tempo,
é importante notar que essas etapas tornam-se mais e mais concomitantes
na medida em que avança a pesquisa de campo.
Nesse interim, uma imagem retrata um determinado contexto e evidencia a sua
realidade a partir de um recorte daquele momento. Dessa maneira, ela contribui na
construção da narrativa relatada pelo sujeito ao apresentar os elementos que
caracterizaram as vivências e experiências adquiridas no contexto. Logo, para
viabilizar a estruturação da narrativa que trata das experiências decorridas de meus
processos formativos, recorri a Análise Compreensiva-Interpretativa proposta por
Souza (2014, p.45) ao estabelecer que:
A construção de critérios de análise nasce articulada aos processos de leitura cruzada, leitura analítica e leitura compreensiva-interpretativa, implicando-se no modo como
cada sujeito elege para narrar ou escrever sobre si, suas referências socioculturais, as
regularidade e irregularidades históricas dos percursos e trajetórias de vida-formação, bem
como pelo aprofundamento narrativo, frente a interioridade, exterioridade e a subjetividade de
cada narrativa.
Ao relembrar minhas vivências formativas, relembrei momentos marcantes que
também caracterizaram as minhas pessoais e ao refletir sobre elas foi possível
entender como estão imbricadas. Elas se retroalimentam e são evidenciadas na
narrativa através de mosaicos que contemplam os vários momentos de minha
formação, culminando no relato de meu trabalho docente como professor pesquisador,
que é ressignificado constantemente pelo meu próprio processo de autoria.
A narrativa autobiográfica construída está organizada em mosaícos que se
complementam e retroalimentam para dar sentido ao processo de autoria que vivenciei
ao longo de minha carreira docente. Para tanto, utilizei como técnica de análise a as
premissas da Análise Compreensiva-Interpretativa para alinhavar elementos
subjetivos presentes em cada um dos mosaicos que retrataram os meus momentos
31
formativos inicial, contínuo e em serviço como forma de viabilizar a narrativa a ser
construída. De acordo com Souza (2014, p.43):
A análise compreensiva-interpretativa das narrativas busca evidenciar a
relação entre o objeto e/ou as práticas de formação numa perspectiva
colaborativa, seus objetivos e o processo de investigação-formação, tendo em
vista apreender regularidades e irregularidades de um conjunto de narrativas
orais ou escritas, partem sempre da singularidade das histórias e das
experiências contidas nas narrativas individuais e coletivas dos sujeitos
implicados em processos de pesquisa e formação.
Ao enveredar pelas premissas metodológicas da análise interpretativa
compreensiva foi possível perceber e refletir sobre as similaridades e diferenças
presentes nas minhas vivências formativas ao longo dos anos e assim construir uma
tessitura conceitual que contemplasse o fenômeno investigativo estabelecido no
trabalho. Nesse sentido, Souza (2014, p.43) estabelece que:
[...] Narrativas (auto)biográficas, construídas e/ou coletadas em processo de
pesquisa ou em práticas de formação, centram-se nas trajetórias, percursos
e experiências dos sujeitos, são marcadas por aspectos históricos e subjetivos
frente às reflexões e análises construídas por cada um sobre o ato de lembrar,
narrar e escrever sobre si.
Assim, relembrar momentos marcantes do passado é desfiar um rosário de
sentimentos adormecidos, mas que florescem conforme as lembranças vão surgindo,
sendo impossível separar as vivências formativas da profissão das pessoais, pois
ambas mantém uma relação de complementaridade e retroalimentação que serão as
características principais de uma história de vida.
Processos de autoria docente
Ser autor requer responsabilidade, iniciativa e consciência de possuir um papel
social no contexto no qual se estabelece. A autoria possui uma dimensão objetiva
daquele que constrói algo concreto e palpável, além de uma subjetiva inerente aos
discursos linguísticos e aos modelos simbólicos presentes no contexto. No sentido
etimológico da palavra, Luft (2000) define autoria como a qualidade ou condição
daquele que elabora algo único e exclusivo a si mesmo. É importante destacar que o
32
percurso de autoria está imbrincado às histórias de vida dos sujeitos, as quais se
constroem e reconstroem a partir das interações mantidas em uma situação
específica.
A noção de autor é um momento significativo de individualização na história das
ideias, dos conhecimentos, da história, da arte, das ciências, etc. (FOUCAULT 2010).
Entendo que o processo de autoria numa dimensão balizada pelos discursos e
construções linguísticas caracteriza-se pela produção textual oriunda de um discurso
situado num momento histórico específico e carregado de significados socioculturais
que influenciam decisivamente as narrativas dos sujeitos. Para Bakhtin (2003), todo
sujeito é histórico e dialógico e se legitima a partir de suas interações com o outro, e
que ao mesmo tempo em que se faz humano também contribui na humanidade do
outro; portanto, a autoria se dá na interação, interlocução e alteridade.
Desse modo, discutir sobre a autoria incide refletir sobre os discursos numa
perspectiva histórica e cultural nas quais a condição de autor transforma-se de acordo
com os espaços que o sujeito ocupa naquele contexto. Para Foucault (2012), não
basta escrever sobre algo para o sujeito ser caracterizado como autor. É necessário
que ele passe por um processo de incessante construção marcado por continuidades
e rupturas, pois o sujeito só legitima-se como sujeito do discurso e como autor quando
assume uma posição de autonomia no contexto.
Considero que a autoria de um professor está relacionada com a sua autonomia
docente, com o seu fazer pedagógico e principalmente com as experiências adquiridas
ao longo de sua formação e profissionalização. Nesse sentido, Shulman (2005) afirma
que os relatos profissionais dos docentes incorporam os conhecimentos teóricos e
pedagógicos abstraídos no transcorrer da formação inicial.
O processo de autoria do professor sempre está relacionado com as suas
vivências pessoais, formativas e profissionais; portanto, construídas no cotidiano
pedagógico ou familiar, no contexto cultural, na formação inicial ou contínua. Com isso,
se constituem como uma importante fonte de conhecimentos para o trabalho do
docente. Ao reconhecer e valorizar tais vivências, esse indivíduo se coloca no centro
do seu processo formativo e passa de sujeito heterônomo a autônomo, capaz de
construir seu próprio conhecimento a partir da realidade em que está inserido, porém
é imprescindível atentarmos para nossas percepções sobre o real.
Nesse contexto, discurso autoral é uma produção, uma criação, um exercício
de liberdade. Ele transcende a construção de linguagens e significados e adentra nas
33
ações práticas do sujeito influenciando sua autonomia e fortalecendo sua condição de
autor. O processo de autoria docente vai legitimando-se na vida do professor a partir
da socialização dos conhecimentos construídos por ele nos mais variados espaços
educativos, sendo importante que ele exerça nesse processo os princípios de
sensibilidade, percepção e alteridade.
Em virtude disso, todas as sensações que temos do contexto são carregadas
de significados que acabam por influenciar a minha percepção sobre ele próprio e
concomitantemente também direciona o meu olhar sobre o outro a partir de como ele
se mostra para mim. Minha relação com o outro não deve ser de confronto, mas de
interdependência. Sendo ele, como nos mostra Sartre (1997, p.297), aquele que “[...]
encaro constantemente através de minhas experiências são os sentimentos do outro,
as ideias do outro, as volições do outro, o caráter do outro. É porque, com efeito, o
outro não é somente aquele que vejo, mas aquele que me vê”. É o outro quem nos
legitima enquanto ser humano. É na sua liberdade que almejo a minha liberdade, é
nele que modelo o meu ser e me faço ser, minha postura e meus posicionamentos
levam em consideração o que o outro vai achar de mim e assim construo a aparência
que quero mostrar a ele, por isso devo acolhê-lo e com ele partilhar e construir
conhecimentos.
Vivenciar o cotidiano educativo em sua plenitude é fundamental para que o
docente consiga ter consciência do seu processo de autoria no transcorrer de suas
atividades docentes cotidianas e também nos momentos de formação por qual passa,
porque percebe-se como um profissional que age com autonomia e tem condições de
conhecer o seu próprio conhecimento. Entendo que a percepção constrói o
conhecimento e dá significação ao objeto, sendo que este primeiro é percebido para
primeiro entrar na consciência e depois tornar-se fenômeno. Em suma, ela é um
elemento fundamental da vivência, pois é mediante uma percepção seletiva e ativa
diante da multiplicidade de estímulos externos, que o ser humano vai entrar em contato
com o mundo circundante e se orientar nele.
Husserl (2006) afirma que a vivência é a nossa reação imediata àquilo que nos
acontece, antes mesmo que tenhamos refletido ou elaborado conceitos. A importância
dela reside no fato de ser uma referência fundamental na orientação da vida, mesmo
não se tendo consciência clara dela. Logo, sendo a nossa intenção aliada a liberdade
de escolha que temos sobre nossas vidas, isso contribui também para sermos autores
de nossa própria história.
34
Em virtude disso, a intencionalidade está ligada as sensações obtidas na
realidade em que se vive, a qual influencia diretamente a nossa percepção sobre os
objetos. Por conta disso, interagimos com o mundo a nossa volta incessantemente. E
isto ocorre tanto na dimensão material ou na subjetiva, sendo que nossos anseios e
necessidades são baseados nas nossas percepções sobre nós mesmos e sobre os
outros. Merleau Ponty (2006, p.279) afirma que a percepção “[...] não se apresenta
como um acontecimento no mundo ao qual se possa aplicar, por exemplo, a categoria
de causalidade, mas a cada momento como uma re-criação ou re-constituição do
mundo”. Ao refletir sobre o meu próprio processo de autoria, noto o quanto ele é
carregado de emoções e sentimentos quando colocados no discurso que forma minha
narrativa, e isto acaba por dar sentido a minha vida. No entendimento de Schutz (2012,
p.16):
A experiência é a atenção voltada para os objetos, sejam estes reais ou
imaginários, materiais ou ideais; e todos estes objetos são ‘intencionados’ [...]
o objeto é construído por um processo de apercepção mediante a síntese de
diferentes ‘perspectivas’ a partir das quais o objeto é realmente visto ou
lembrado posteriormente de modo tipificado.
O mundo social está posto e já interpretado pelos grupos sociais que nele vivem
e a percepção que se tem dos objetos, diz respeito às experiências que deles se
obteve ou que pode-se obter, tendo em vista as peculiaridades e a noção de tempo e
espaço do sujeito. Desse modo, para que de fato seja possível captar o sentido do
objeto em sua plenitude é necessário olhá-lo por completo, pelo prisma da
subjetividade em uma perspectiva perceptiva e sensitiva que de fato nos envolva no
contexto, e assim ele se desvelará por inteiro.
Para tanto, as vivências adquirem status de experiência ao serem refletidas por
quem as possui. O uso das narrativas permite que o sujeito distinga as experiências
que teve coletivamente, chamadas de partilhadas e as obtidas individualmente, como
também as únicas e as em série (JOSSO, 2010). Ao contar sua história, ele se percebe
e reconhece enquanto professor, ao dividir suas vivências com seus pares e com
outros professores em formação inicial, ele as transforma em experiências possíveis
de ressignificar o seu trabalho docente. Esse movimento formativo contribui para
ampliar suas convicções educativas de que a transformação da sociedade se dá a
partir de seu papel em sala de aula.
35
Ao contar suas histórias os docentes reafirmam sua profissionalidade e expõem
seus anseios e necessidades, além disso evidenciam os percalços dos caminhos
percorridos como um norte formativo a outros docentes. Assim, quando isso reflete
sobre seus momentos formativos, o professor se percebe como autor principal de sua
formação. E mesmo entendendo que o seu processo de formação é caracterizado por
parcerias, são as suas intenções e escolhas que de fato demonstram o seu perfil
profissional.
Josso (2010) denomina de momentos charneiras as articulações que se dão
entre as vivências do sujeito e entre os momentos de sua história de vida. Quando os
acontecimentos pessoais e profissionais se conectam eles são capazes de mudar
significativamente a história do indivíduo. É assim que entendemos o processo de
autoria, aquele caminho repleto de significados construído pelo sujeito no transcorrer
de suas vivências, significados esses que se transformam em experiências que dão
sentido ao seu ofício docente.
Os momentos marcantes da vida pessoal e profissional do professor ganham
significado quando reconhecidos por ele como um acontecimento que extrapola as
suas vivências cotidianas e se transformam em experiências que dão sentido a sua
vida. Concordo com Benjamin (1993) quando afirma que vivência e experiência têm
sentidos distintos, pois o primeiro é pontual e momentâneo, enquanto que o segundo
nos inquieta, nos mobiliza, nos transforma pela força do coletivo, e pelas trocas que
mantemos com o outro.
Formar professores com base nos seus processos de autoria pode se constituir
numa importante perspectiva para despertar a sua autonomia e o entendimento de sua
profissionalização. As interações pessoais, a partilha de sentimentos e conhecimentos
no transcorrer do processo, possibilita ao professor em formação inicial ou contínua
buscarem o alimento de seu trabalho docente. Para Bragança (2011, p.159): “São as
experiências formadoras, na força do que nos atinge, que nos sobrevêm, nos
derrubam e transformam, inscritas na memória, que retornam pela narrativa não como
descrição, mas como recriação, reconstrução”. A dialética da vida e da formação nos
leva a uma incessante transformação que nos permite aflorar novos sentimentos e
perspectivas nos impulsionando a buscar e criar estratégias de ensino ainda
desconhecidas em nosso cotidiano pedagógico.
Ao perceber situações que acarretem dificuldades ao processo de ensino e
aprendizagem no contexto educativo é importante o docente ter sempre uma
36
intencionalidade pedagógica e investigativa nas suas ações em sala de aula, pois
caberá a ele amenizar, ou mesmo solucionar essas dificuldades. Nesse sentido, o
registro, a reflexão e o relato dessas experiências se caracterizarão como os principais
elementos que alimentarão o seu percurso de autoria e ressignificarão o trabalho
docente.
Ademais, o processo formativo não se caracteriza apenas pelos conhecimentos
científicos, legislativos ou metodológicos adquiridos em sala de aula, mas também,
pelos momentos vividos nas interações dos sujeitos. Sendo assim, as situações
corriqueiras do cotidiano pedagógico quando refletidas e aliadas aos conhecimentos
formais oferecidos pela academia, forjam a identidade profissional do educador,
despertando o sentimento docente e o compromisso pela profissão.
Em suma, construir o seu próprio conhecimento, seja no contexto acadêmico
ou no seu cotidianos pedagógico, e relatá-lo de maneira sistematizada e analítica
como forma de partilhar essas experiências é uma das principais atribuições para que
o sujeito em formação inicial ou contínua sinta-se professor. Para Ghedin; Oliveira e
Almeida (2015, p.88):
O desenvolvimento profissional do docente depende, de certa forma, do
discernimento que este possui para conduzir sua ação, assim como, da
compreensão profunda de cada situação vivenciada no contexto de ensino.
Um professor, por mais que tenha vivido uma situação favorável em sala de
aula, não pode generalizar esta ação porque as situações vindouras podem
ser parecidas, mas nunca são as mesmas. Apoiar-se nas experiências é
possível e acertado, porém sempre de forma renovada.
As percepções do docente sobre o contexto socioeducativo no qual está inserido sofre
significativas influências das vivências que adquiriu ao longo da vida. Suas convicções
são moldadas conforme suas experiências e essas experiências se fazem presentes
em suas narrativas quando analisadas e sistematizadas, contribuindo para a formação
de outros professores.
Com efeito, a importância da pesquisa é considerada uma prioridade na educação
contemporânea, sendo vista como uma perspectiva formativa que desenvolve a
autonomia nesses indivíduos possibilitando-lhes problematizar a sua própria realidade.
Formar professores pesquisadores é necessidade crucial para uma sociedade que
reconhece a educação como a única alternativa possível para a transformação de seu
povo. A valorização docente, desde a sua formação inicial, constitui-se como o
37
sustentáculo principal de todo o processo educativo, pois vai refletir no contexto
educativo da Educação Básica.
Tendência professor pesquisador
O modelo formativo vigente, até meados da década de 1990 nos cursos de
formação de professores no Brasil, era em sua maioria baseado na perspectiva da
Racionalidade Técnica. Esta “maquinizava” o trabalho do professor e não mais
contemplava as necessidades formativas de um novo perfil de educando que naquele
momento já ganhava contornos reais. Atualmente a formação desses indivíduos é alvo
de grandes discussões em todo os continentes do planeta, no Brasil contemporâneo
ela é caracterizada por quatro importantes tendências que influenciam decisivamente
o trabalho docente na escola. Ghedin; Oliveira e Almeida (2015) apresentam os
conceitos de pesquisa, reflexão, saberes e competências como elementos
norteadores do processo formativo docente presentes nas tendências que sustentam
a formação.
Ao iniciar o meu processo de formação inicial, tais perspectivas eram bastante
evidentes na universidade. Certas disciplinas e seus professores(as) ainda possuíam
resquícios de um perfil baseado na racionalidade técnica que se prendia em resultados
desprezando o processo e priorizando a memorização de conteúdos fragmentados e
descontextualizados. Por outro lado, estudei com docentes que priorizavam a
pesquisa e a reflexão no transcorrer das disciplinas que ministravam sempre, levando
em consideração, as particularidades de cada acadêmico ao transmitir os saberes
científicos como forma de desenvolver as competências necessárias para o
desenvolvimento futuro da docência.
Com isso, fica evidente que um processo de ensino e aprendizagem norteado
pela pesquisa só poderá ser concebido a partir do trabalho docente de um professor
pesquisador, entretanto, a formação desse perfil consiste num movimento lento e
gradual sustentado pela investigação, reflexão e problematização dos conhecimentos
científicos e da realidade vivenciada. Geralmente, enquadrado numa perspectiva
curricular que fragmenta os conhecimentos e não desperta a curiosidade investigativa
dos educandos, o professor, para agir como pesquisador, deve questionar o seu
próprio trajeto formativo desde a formação inicial como forma de problematizá-lo.
Stenhouse (1991) entende o currículo como um processo a ser elaborado por
cada escola. Propõe que os professores façam no ambiente escolar um
38
“supermercado” de currículos ao apresentarem na sala de aula os vários currículos
construídos coletivamente para que os próprios estudantes escolham qual perspectiva
adotar. Ao adotar esse modelo de currículo é necessário que ajam como
investigadores com o intuído de ressignificá-lo constantemente para adequá-lo às
necessidades do educandos.
Ainda no processo de formação inicial, algumas das disciplinas estudadas no
Curso Normal Superior me oportunizaram a participar de atividades pedagógicas que
me instigavam uma curiosidade científica que me impulsionava à pesquisa. Os
trabalhos de campo desenvolvidos nas disciplinas me propiciaram os primeiros
contatos com a realidade pedagógica e assim permitiram conhecer e refletir sobre o
contexto educativo das escolas da Educação Básica em que foram realizadas as
atividades. Desde, então, decidi que minha formação seria sempre baseada na
pesquisa, seja com os subsídios das disciplinas do curso ou não.
Nesse contexto, a teoria voltada para a formação do professor pesquisador
inicia-se com a reflexão sobre o desenvolvimento do currículo proposta por Lawrence
Stenhouse. Segundo ele, construiu-se a metáfora do professor que age tal qual um
artista que ensaia os seus diferentes materiais do cotidiano, para assim encontrar as
melhores soluções aos problemas de seu contexto, devendo fazer de sua sala de aula
um laboratório para viabilizar o processo de ensino-aprendizagem. Os teóricos
britânicos Carr e Kemmis refletem sobre a importância da criticidade no pensamento
docente como forma de problematizar a sua própria realidade. Reflexão essa que
encontra consonância nas ideias de Henry Giroux quando propõe a emancipação
docente a partir do tratamento dado ao docente como um intelectual crítico (GHEDIN;
OLIVEIRA e ALMEIDA 2015).
Ainda contribuindo na construção e consolidação do conceito de professor
pesquisador, Zeichner (1993) faz uma crítica contundente a dicotomização e
hierarquização estabelecida entre professor e pesquisador defendendo que a
pesquisa cada vez mais se aproxime da realidade dos professores. De acordo com
Ghedin; Oliveira e Almeida (2015, p.67):
O professor tem sobre si o desafio da mediação do conhecimento num
universo complexo de experiências e de visões antagônicas da realidade. Partindo do campo
educacional, ele se coloca numa perspectiva interdisciplinar, a partir da totalidade do processo
educativo e na relação dialética entre teoria e prática.
39
Desse modo, não é possível utilizar metodologias convencionais de ensino para
um contexto multidimensional, sendo necessário que o professor pesquisador
considere as peculiaridades dos sujeitos, a fim de tratá-los de maneira heterogênea e
não homogênea. Sendo assim, lançar um olhar holístico sobre o sujeito é o primeiro
passo para perceber a sua subjetividade e reconhecer os seus anseios e necessidades
com o intuito de desenvolver estratégias que o leve a problematizar a sua realidade a
partir da pesquisa.
Ser reconhecido ainda no processo Formativo Inicial como um indivíduo na sua
complexidade, com anseios e necessidades forjados na cultura do meio em que estou
inserido foi de extrema importância para que começasse a me perceber como
professor. Ao vivenciar situações formativas partindo de um currículo não
convencional baseado nas necessidades dos acadêmicos e possibilitando a esse
indivíduo liberdade pra ensinar, encontrei subsídios para problematizar a minha
realidade.
Gatti (2010) defende que os currículos da formação de professores reneguem
uma mera transmissão de conhecimentos baseado em conteúdos acumulados e
estanques. Para isso é necessário uma perspectiva curricular voltada para a pesquisa
que instigue os acadêmicos de licenciaturas à curiosidade didática e pedagógica na
busca de amenizar possíveis problemas do contexto educativo.
Participar de um grupo de pesquisa é um dos fatores decisivos no despertar
para a investigação científica por parte do professor em formação, pois ele poderá
articular as suas experiências enquanto estagiário ou docente, com as temáticas que
o grupo se propõe a investigar sempre fundamentado por referenciais teóricos e
amparado por uma metodologia consistente. É neste contexto que ele também
desenvolverá a sua criticidade e dará início a construção da sua identidade de
pesquisador, isto é, a partir da dúvida epistemológica e de uma inquietação em relação
ao processo de construção do conhecimento.
Tais tendências formativas são capazes de contemplar, em parte, as
necessidades dos educandos do contexto atual e possibilitar o surgimento de uma
nova perspectiva de desenvolvimento profissional em que os professores devem ser
críticos, autônomos e capazes de problematizar e intervir na sua realidade. O processo
de formação inicial tem o papel de desenvolver neles uma base consistente de
40
conhecimentos que os possibilitem construírem e reconstruírem os seus saberes e sua
docência na busca de legitimar sua identidade.
Com efeito, o desenvolvimento profissional docente ressignifica a prática do
professor no seu cotidiano pedagógico, pois sê-lo no século XXI é ter que lidar com
educandos que estão inseridos num vasto mundo tecnológico. Com isso, fica evidente
que a sua profissionalização está relacionada às necessidades individuais,
profissionais e organizacionais que o docente deve possuir para o êxito do seu trabalho
pedagógico, uma vez que as atividades ocorridas neste processo influenciam
decisivamente na construção da identidade docente e estão relacionadas ao modo
como os professores se percebem e percebem os seus pares.
Tardiff (2002) destaca que a prática profissional da docência não é apenas um
lugar de aplicação de teorias, é também um local de construção de saberes e
conhecimentos utilizados no seu desenvolvimento de emancipação profissional.
Nesse sentido, vale destacar que o processo de estágio com pesquisa possibilita aos
professores em formação inicial terem o contato com elementos metodológicos
característicos dos processos investigativos na educação. Dessa forma, o momento
de estágio constitui-se como um verdadeiro laboratório de pesquisa no qual os
acadêmicos têm o contato inicial com a realidade pedagógica e assim constroem a
sua identidade docente. Para tanto, estes devem ser preparados teoricamente ao
longo das disciplinas formativas, e principalmente na disciplina Estágio
Supervisionado, discutindo os conceitos teóricos relacionados a pesquisa, como
também as teorias do estágio. É por esse prisma que defendo a perspectiva de
aprendizado prático com a pesquisa, como propõem Ghedin; Oliveira e Almeida (2015,
p.37). Para eles:
[...] o problema de pesquisa evidencia-se no contexto determinado pela
formação, especificamente da formação que articula, no espaço da prática, a
teoria pedagógica e científica. De certo modo, o estágio enquanto momento
de articulação teoria-prática é formador da dimensão científica/técnica,
política, ética e estética do futuro professor. Compreende-se que é neste
tempo/espaço que o professor em formação constrói sua identidade
profissional.
Ao problematizar a sua realidade e articular preceitos pedagógicos e científicos
no campo prático do estágio, estamos contribuindo para eliminar a dicotomia entre o
conhecimento disciplinar (com os seus conhecimentos acumulados historicamente) e
o conhecimento pedagógico (com seus procedimentos e métodos de ensino). Agindo
41
assim o professor em formação inicial perceberá as nuances epistemológicos das
disciplinas científicas e ao mesmo tempo os caminhos metodológicos para o ensino.
Para tal perspectiva legitimar-se no contexto educativo devemos trabalhar o
estágio articulado à pesquisa em todos os cursos de licenciaturas como forma de
possibilitar aos professores em formação inicial uma experiência de aprender a
aprender, pois conforme Pimenta e Lima (2004, p.45) afirmam:
O estágio, ao contrário do que se propugnava, não é atividade prática, mas
teórica, instrumentalizadora da práxis docente, entendia esta como atividade
de transformação da realidade. Nesse sentido, o estágio curricular é atividade
teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade.
Logo, considero que é o processo de estágio na formação inicial que possibilita
agir como pesquisador no contexto da escola, para isso é necessário que ele
desenvolva uma visão crítica sobre o contexto em que está inserido questionando a
sociedade, a escola, o ensino; porém, ao mesmo tempo oferecendo sugestões ou pelo
menos abrindo espaço para discussão no ambiente escolar. Ao agir como
investigador, o docente será um produtor de conhecimentos e não apenas um mero
retransmissor de um conhecimento já pronto, pois ao trabalhar textos de sua autoria
em sala de aula estará abrindo espaço para a discussão de sua própria realidade
fazendo com que o aluno sinta-se inserido no contexto teórico que discute.
Tomando esta iniciativa o docente despertará o senso crítico do estudante
através da pesquisa e também estará legitimando-se na condição de pesquisador.
Portanto, ao passar por um processo de estágio vinculado à pesquisa durante a sua
formação inicial o docente adquirirá as vivências necessárias para refletir sobre a sua
atuação e então adquirir experiências reais.
Minhas vivências no estágio da graduação foram caracterizadas por atividades
didáticas-pedagógicas que visavam articular ensino e pesquisa durante todo o
processo. A pesquisa de campo para o Trabalho de Conclusão de Curso também foi
realizada no período de estágio, pois coletava os dados conforme desenvolvia as
intervenções na disciplina Estágio Supervisionado.
Concordo com Pimenta (2005) quando ressalta que é a partir de uma reflexão
sobre a prática que as vivências são transformadas em experiências dando origem a
uma epistemologia da prática, que sustentada por um processo contínuo de reflexão
sobre a reflexão-na-ação, proposta por Schon (2000), possibilita o surgimento de uma
epistemologia da práxis que busca transformar a sociedade.
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Defendo que a formação do professor na contemporaneidade seja sustentada
pela pesquisa no processo de estágio vinculado à pesquisa, para que o futuro docente
consiga refletir sobre as suas práticas e problematizar a sua realidade. Para isso são
necessárias novas abordagens teórico-epistemológicas como dimensões norteadoras
de todo o percurso.
Agir como professor pesquisador é uma atitude profissional do docente que
baliza os seus fazeres pedagógicos numa perspectiva pautada pela pesquisa, uma
prática cotidiana oriunda de uma cultura de pesquisa ainda iniciada na formação inicial.
Vale ressaltar que esse perfil não é exclusivamente aquele profissional que trabalha
no contexto acadêmico, isto é, com título de mestrado ou doutorado, como também
aquele que publica trabalhos científicos em livros ou periódicos.
Um professor pesquisador é acima de tudo um profissional sensível às
necessidades de aprendizagem dos educandos; é aquele que ao perceber o problema
no ambiente escolar vai em busca de solucioná-lo, ou mesmo amenizá-lo, através dos
livros ou da partilha de experiência com outros docentes. É aquele que após atingir
seu intuito, socializa os resultados obtidos visando que outros professores que vivem
o problema tenham um norte a seguir. Enfim, é alguém que além de profissional é um
ser humano comprometido com o seu semelhante. Para Morin (2008, p.150-151):
Todo conhecimento comporta aspectos individuais, subjetivos e existenciais.
As ideias que possuímos nos possuem. Nosso apego às nossas ideias, ainda
que não se reduza a esse único aspecto, tem caráter passional/existencial.
Como qualquer paixão, a do conhecimento pode suscitar um engajamento
total do ser. Como qualquer amor, o amor da, na, pela, com a verdade pode
proporcionar o gozo mais exaltado e conduzir ao êxtase.
As ações pedagógicas desenvolvidas pelos professores, tais como as
atividades de ensino, pesquisa e extensão, assim como as suas ações intelectuais
(publicações, projetos, orientações etc.) devem fazer sentido àqueles envolvidos no
processo. Daí a importância do docente se identificar com tudo o que desenvolve no
transcorrer do seu cotidiano pedagógico no contexto escolar.
Minha caminhada nos processos de Formação Contínuas por qual passei
legitimaram minha condição de produtor de conhecimentos sistematizados no formato
de artigos, capítulos de livro, resenhas, etc. A compreensão do conhecimento
construído leva-o a sua autonomia, mas para que isso ocorra é necessário a
autoidentificação dele com suas próprias ações. Esse percurso formativo repleto de
43
significados só acontece quando os envolvidos constroem caminhos dialógicos que
viabilizam canais horizontais de comunicação, destruindo ou amenizando as
hierarquias que geram preconceitos na relação entre professor e educando.
O processo de formação docente é permeado por sentimentos e emoções que
harmonizam e desarmonizam o seu contexto. O aspecto coletivo deste último tem sua
própria essência, porque ele sofre influências dos elementos subjetivos constituintes
das emoções de cada um daqueles que nele está estabelecido, pois o ser humano se
reconhece no outro a partir de suas similaridades e diferenças. Nesse sentido,
partilhamos e interagimos, como também nos complementamos com o outro, porém,
legitimamo-nos a partir das diferenças culturais, sociais, religiosas, sexuais, nacionais.
Um processo de formação docente sustentado pela pesquisa também deve ser
norteado pela ética nos sentimentos, mesmo que estes sejam antagônicos, tais como:
amor, ódio, fraternidade, egoísmo. Eles influenciam diretamente as relações sociais
forjando a nossa visão de mundo e possibilitando, ou não, a cordialidade que nos
caracteriza como seres civilizados. Ser ético com o outro remete considerar os seus
direitos, anseios, necessidades; enfim, respeitar a sua humanidade. É neste sentido
que Ghedin; Oliveira e Almeida (2015, p.154) entendem a formação de professores
quando afirmam que:
É por esse motivo que se entende que o desenvolvimento da profissão de
professor deve ser cada vez mais humanizado, pois ele é um ser que pensa
e tem sentimentos e por isso deve ser formado para desenvolver essas
potencialidades [...].
A atenção dada a dimensão subjetiva do docente ainda na sua formação inicial
contribui para que este desperte para a necessidade de reconhecer o indivíduo, no
caso seu futuro educando, numa perspectiva holística que extrapole o mero processo
objetivo de ensino e aprendizagem e abarque os anseio e necessidades dos
envolvidos. Para Ghedin; Oliveira e Almeida (2015, p.155-156): “[...] o professor não
deve limitar sua preocupação somente com o que se passa em sala de aula, pois os
seus estudantes antes de serem estudantes são cidadãos que têm uma vida que
antecede a vida na escola”. Formar cidadãos que consigam não apenas se inserir,
mas sim intervir na sociedade é a missão do professor pesquisador, por isso ele
caracteriza-se como um transformador da cultura. Diante disso, Ghedin, Oliveira e
Almeida (2015, p.76) afirmam que:
44
As ideias de professor-pesquisador e professor reflexivo têm se
complementado em sua fundamentação teórico-metodológica ao serem
estudadas e desenvolvidas nos cursos de formação inicial e/ou contínua de
professores. No entanto, tem sofrido duras críticas, quando são apropriadas
dentro de uma visão ingênua e imediatista como medidas salvacionistas
desvinculadas do contexto sócio-histórico, político e cultural em que o
professor e a escola estão situados.
A formação do professor pesquisador não deve ficar presa apenas nas
premissas teórica-epistemológicas que sustentam a tendência, pelo contrário é
necessário que as Instituições de Ensino Superior criem uma cultura de pesquisa nos
cursos de licenciaturas que supere as premissas impostas pela racionalidade técnica
e que engessa o currículo, o trabalho docente, desencadeando apatia e desmotivação
dos educandos que aprendem de maneira estanque e memorística. Ao refletir sobre a
atitude do professor pesquisador Alarcão (2001, p.6) comenta que:
Realmente não posso conceber um professor que não se questione sobre as
razões subjacentes às suas decisões educativas, que não se questione perante o insucesso de alguns alunos, que não faça dos seus planos de aula
meras hipóteses de trabalho a confirmar ou infirmar no laboratório que é a
sala de aula, que não leia criticamente os manuais ou as propostas didáticas
que lhe são feitas, que não se questione sobre as funções da escola e sobre
se elas estão a ser realizadas.
Vivemos um momento onde repensar a formação de professores no Brasil é
uma necessidade, principalmente no que diz respeito a sua organização curricular e
processo de estágio. É necessário que se adote no espaço educativo novas
metodologias de ensino para “abrir mão” daquelas metodologias estéreis que apenas
tratam da reprodução dos conteúdos estanques trabalhados em sala de aula, sem
estabelecer um canal de comunicação entre educador e educando. Daí a importância
dos professores em formação inicial terem contato estreito com a realidade
pedagógica. E desse modo, desde os primeiros anos do curso e não somente no
período de estágio. De acordo com Nóvoa (1999, p.6):
A profissionalização dos professores está dependente da possibilidade de
construir um saber pedagógico que não seja puramente instrumental. Por
isso, é natural que os momentos-fortes de produção de um discurso científico
em educação sejam, também, momentos-fortes de afirmação profissional dos
professores.
45
É importante que os cursos de formação inicial de professores possibilitem ao
acadêmico oportunidades didático-pedagógicas, práticas que despertem e fortaleçam
a sua identidade docente. Identidades estas construídas em diferentes espaços de
tempo e que sofrem influências diretas de dimensões política, econômicas e culturais.
Daí a importância desse indivíduo estar atento a isso para poder desenvolver
atividades que fortaleçam essas similitudes ainda na sua fase inicial de construção.
Para Ghedin; Oliveira e Almeida (2015) é necessário que se defina o papel do
professor na educação do terceiro milênio, entretanto, anterior a isso é importante
entendermos qual a sua identidade profissional e qual a sua função na sala de aula,
se a de retransmitir conteúdos elaborados por estranhos, sem nenhuma relação com
a sua realidade e com a de seus alunos ou de construir seu próprio conhecimento
através de uma produção teórica consistente pautada em métodos e teorias.
Ao professor cabe estar atento ao contexto sociocultural no qual está inserido,
acompanhando as decisões de âmbito legal que interferem diretamente na sua
autonomia e profissionalização docente, além de entender as particularidades
econômicas do país, que de uma maneira ou de outra, influencia o seu trabalho
pedagógico. No tocante a cultura, o professor pesquisador deve atuar como um
transformador cultural que problematiza a realidade e desperta a criticidade no
alunado. As vivências do cotidiano docente contribuem significativamente nos fazeres
pedagógicos do professor pesquisador, e quando refletidas e fundamentadas
alimentam o seu processo de autoria.
Os processos formativos por quais passei, tanto na graduação, como no
mestrado e doutorado, me permitiram desenvolver habilidades investigativas que
possibilitaram a sustentação de meu trabalho docente pela pesquisa. Ao me legitimar
como professor pesquisador, adquiri consciência de que poderia ser o autor principal
de minha profissão e construtor de meu próprio conhecimento. O processo de autoria
que caracterizou a minha profissionalidade se faz presente nos mínimos fazeres
pedagógicos, desde a elaboração de estratégias de ensino para amenizar situações
problemas percebidas em sala de aula, até o registro, sistematização e socialização
dessas reflexões a partir da pesquisa.
2º MOSÁICO
46
EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS INICIAIS: O DESPERTAR DA DOCÊNCIA
Após apresentar os subsídios teórico-epistemológicos e metodológicos da
trajetória investigativa. Minha intenção, neste mosaico, é contar minha história
relacionando-a com minhas atitudes profissionais, enfatizando meu percurso de
autoria como professor pesquisador. Dessa forma, partimos do princípio que
caminhamos incessantemente, formamos e somos formados, transformando e sendo
transformados. Assim, tendemos a evidenciar e refletir sobre nossas vivências e,
dependendo das circunstâncias, damos sentido analítico aos significados. Ao
reconhecer e valorizar o meu percurso autoral reencontro o passado e projeto o meu
futuro transformando a realidade na qual estou inserido.
Meus vividos em caminhos que se entrelaçam
Aprendi a aprender desde quando nasci. Sou brasileiro, amazonense e manauara de
nascimento, descendente de nordestino e caboclos amazônicos. Tive uma infância
feliz e junto com os meus dois irmãos e primos (vide figura 1 e 2), dividia meu tempo
entre o futebol no campinho de barro próximo de casa e as brincadeiras na rua ainda
sem asfalto, como também nos acampamentos próximos às arvores do quintal de casa
onde me deliciava com as variadas frutas amazônicas da época, tais como: abiu,
jambo, manga, ingá; além dos estudos escolares. Ainda pequeno, com pouco mais de
dez anos de idade, perdi minha mãe, vítima de um acidente automobilístico, o que
desestruturou toda a minha família e me fez morar com meus avós maternos. As
origens nordestina da família caracterizavam a estreita relação entre os membros da
minha família: avós, tios, primos e irmãos contribuíram para que eu suportasse o
terrível trauma da perda de minha mãe.
Figura 1: Infância – 5 anos Figura 2: Infância – 8 anos
47
Fonte: Almeida (2017) Fonte: Almeida (2017)
Estávamos na segunda metade da década de 1980, iniciando o processo de
redemocratização do país e todos sentiam uma atmosfera de esperança no futuro que
se desenhava, porém, poucos anos depois os sonhos deram lugar a desilusão, pois
vivíamos um período de forte desemprego, hiperinflação e com um presidente não
eleito no poder7. Foram tempos de dificuldades financeiras para todos os brasileiros e
minha família não fora exceção.
Aos treze anos comecei a trabalhar no período da tarde como balconista no
comércio de uma das minhas tias, dividindo aquelas atividades com os afazeres
escolares do período matutino. Estudei todo o primeiro e segundo grau, hoje
denominados Ensino Fundamental e Médio em escolas da Rede Pública de Ensino da
cidade de Manaus, sendo reconhecido como um bom aluno, pois geralmente era
aprovado ainda no terceiro bimestre do ano letivo, mesmo sem ter o acompanhamento
adequado por parte de minha família.
Sempre tive que conciliar trabalho e estudo, haja vista que precisei trabalhar
para poder contribuir nas despesas da casa. Por este motivo, ao concluir o Ensino
Médio no ano de 1992, passei a dedicar-me apenas às atividades profissionais
deixando os estudos para a posteridade. No ano de 1995, ainda jovem, construí minha
própria família, saindo da casa de meus avós; casamento esse que dura até os dias
de hoje. Muitos anos mais tarde, precisamente em 2011, após eu e minha esposa
(vide figura 3 e 4) termos concluídos os cursos de graduação e pós-graduação,
conquistamos a casa própria e emprego estável, logo tivemos nosso primeiro e único
filho.
Figura 3: Recém casado Figura 4: Festa na escola do filho
7 Com a morte do presidente Tancredo de Almeida Neves, eleito indiretamente pelo Congresso Nacional em
1985, assumiu em seu lugar o vice José Sarney.
48
Fonte: Almeida (1996) Fonte: Almeida (2016)
Por dezessete anos trabalhei com vendas de peças automotivas no comércio
de minha família paterna (vide figuras 5 e 6). Comecei a trabalhar ainda adolescente
como ajudante, tornando-me vendedor, gerente e posteriormente sócio da empresa.
Era uma empresa familiar em que trabalhava com meu pai, tios e primos prestando
serviços e comercializando produtos veiculares. Essa experiência com o público
contribuiu para que eu desenvolvesse o tom conciliador e apaziguador que caracteriza,
segundo outros, a minha personalidade e muito colabora no meu trabalho docente e
na relação com os meus pares na universidade.
Figura 5: Atividades profissionais pré-academia Figura 6: Local de trabalho pré-academia
Fonte: Almeida (1994) Fonte: Almeida (1996)
Tais atividades consumiam todo o meu tempo diário e assim inviabilizava cursar
o nível superior. No ano de 2002, então com vinte e seis anos de idade, aconteceu o
que considero como o momento de desconstrução de minha história, ou seja, quando
fui aprovado no vestibular para o Curso Normal Superior da recém-criada Universidade
do Estado do Amazonas – UEA, mais de dez anos após o término do Ensino Médio;
não tinha a menor intenção de trilhar a carreira no magistério, especialmente na
academia.
Reporto-me às reflexões de Josso (2010) sobre o que chama de momentos
charneiras, para tentar compreender esses os que vivenciei, nos quais ela, Josso,
49
destaca que durante a vida de uma pessoa, há várias circunstâncias em que o
contínuo se rompe, onde há uma mudança, uma passagem de uma etapa para a outra
da vida, algo como uma dobradiça que articula as situações significativas de nossa
vida e acabam por mudar o rumo da história do indivíduo.
Meus momentos charneiras fizeram com que eu me movesse em direção ao
novo. Mesmo sabendo que ele amedronta e causa insegurança. Nem por isso me
curvo a métodos e abordagens investigativas que não mais abarcam as nuances da
realidade contemporânea. Precisamos adentrar na essência do objeto para poder
descortinar a realidade na qual ele está inserido. O tempo, para mim, não é uma reta
solitária, mas uma rede de intencionalidades construídas a partir da maneira pela qual
vivenciamos os elementos que nos circundam, tais como: economia, cultura, política,
ciência etc.
A criação da Universidade do Estado do Amazonas, em meados do ano de
2001, foi a motivação que me faltava para pleitear uma vaga no Ensino Superior.
Dentre os inúmeros cursos oferecidos, um me chamou atenção: Curso Normal
Superior. Confesso que, no início, não fazia ideia de que o curso habilitava o egresso
para atuar nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Educação Infantil e Primeiro
Segmento da EJA.
Os primeiros semestres do curso se desenrolaram sem que eu me identificasse
com a docência, o que fui adquirindo no transcorrer do curso. Vivia um período de
cada vez e tinha planos de prestar um concurso público depois de formado, pois desde
a posse do presidente Lula, em 2003, o país vivia um momento de valorização do
servidor público com abertura de vários concursos nas esferas municipal, estadual e
federal. Caso não conseguisse, retomaria as minhas atividades profissionais no
comércio.
O desenrolar dos estudos no curso de graduação foram extremamente difíceis
devido a necessidade de conciliar a faculdade às atividades profissionais. Foram anos
de constantes lutas para conseguir ter um processo de formação inicial consistente,
tendo que me dividir entre a universidade e meu contexto profissional; situação essa
que nem sempre era bem compreendida pelos professores, mas mesmo assim
superava cada um dos períodos sem reprovação em nenhuma disciplina.
Foi no sexto período do curso que mais uma vez minha vida deu uma guinada,
agora de maneira irreversível no tocante à profissionalização. O Estágio I foi esse
divisor de águas, pois me apresentou a realidade pedagógica com todos os seus
50
desafios e complexidades. A sala de aula era algo novo para mim, despertando
sentimentos paradoxais que iam do pavor ao encantamento. As primeiras observações
se deram numa sala do segundo ano e a primeira atividade de regência aconteceu
numa sala do quinto. As vivências que ali tive, no transcorrer do processo do estágio,
marcaram significativamente toda a minha trajetória profissional, levandome a refletir
sobre como poderia contribuir na aprendizagem e na formação humana dos
educandos. A respeito disso André e Pesce (2012, p.2) comentam que:
[...] a formação do professor pesquisador representa uma possibilidade para
que o futuro professor tome consciência da necessidade de analisar sua
prática, compreendendo suas inter-relações com as condições educacionais
e sociais, e encontrando caminhos para desenvolver os saberes próprios da
docência.
O processo formativo inicial que busca formar o professor pesquisador, oferece aos
acadêmicos caminhos diversos que os levam a despertar para a problematização de
sua realidade, a partir de situações formativas balizadas pela pesquisa. Para Almeida
e Lima (2012, p.456), é no processo de formação inicial que o futuro professor adquire
a compreensão de que:
O conhecimento do conteúdo da disciplina deve envolver o conhecimento
para ensinar, ou seja, o professor deve saber, e muito bem inclusive, o
conteúdo que vai ensinar: conhecimentos relativos à natureza e aos
significados dos conteúdos, o desenvolvimento histórico, os diversos modos
de organizá-los.
Buscar e reconhecer novas vertentes formativas é uma necessidade urgente na
formação de professores, especialmente quando se trata de professores formadores
que convivem e interagem no contexto acadêmico, considerando a autoformação uma
valiosa alternativa nesse processo. Quando a pesquisa é aliada a essa característica,
ela possibilita ao professor ampliar sua visão sobre a realidade educativa e conhecer
estratégias didático-pedagógicas que contribuam na legitimação de sua identidade
docente, bem como na sua profissionalização.
Destarte, a formação inicial deve colaborar para o exercício da atividade docente, porque
esta não deve ser burocrática e voltada para a racionalidade técnica, bastando para isso aquisição
de conhecimentos e de habilidades técnicas, mas direcionada para uma humanização. É papel
dos cursos de licenciatura desenvolver
51
[...] nos alunos conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que lhes
possibilitem permanentemente irem construindo seus saberes-fazeres
docentes a partir das necessidades e desafios que o ensino como prática
social lhes coloca no cotidiano (ALTENFELDER, 2005, p.18).
É importante que o processo formativo inicial ofereça aos futuros professores
conhecimentos teóricos e práticos que os possibilitem refletir e problematizar a sua
realidade pedagógica, visando promover a construção da autonomia dos educandos
e assim contribuir na transformação do contexto onde estão inseridos. Uma formação
pela pesquisa amplia o arcabouço teórico-metodológico do docente contribuindo para
que ele desenvolva novas estratégias metodológicas que o auxiliem a amenizar os
problemas do processo de ensino e aprendizagem evidenciados no contexto
educativo.
O surgimento da pesquisa na docência
"O início não foi fácil!" Esta era a frase que me “martelava” a cabeça ao recordar
minhas vivências na formação inicial. Adentrei na universidade em meados de 2002,
e naquele momento dedicava o período matutino aos estudos na academia e durante
o vespertino cuidava de minhas atividades profissionais como microempresário.
Minhas expectativas acadêmicas se resumiam a conclusão do Curso Normal Superior,
porém, no primeiro semestre do ano de 2004, fui aceito num dos grupos de pesquisa8
da universidade, e posteriormente tornei-me voluntário no projeto de Iniciação
Científica de meu orientador, a partir daí minha vida mudou. Quanto a este fato André
e Pesce (2012, p.2) afirmam que “A formação inicial deve proporcionar ao professor
conhecimentos para saber lidar com a complexidade da profissão, preparando-o para
entender a realidade, dar respostas e projetar ações que favoreçam a aprendizagem”.
Uma das possibilidades formativas que a formação inicial me deu foi a Iniciação
Científica (I.C) a qual foi um divisor de águas na minha formação.
Antes da IC, concebia a academia unicamente como um espaço de ensino,
considerando que a pesquisa era restrita aos mestres e doutores. Ao me inserir num
grupo de pesquisa, Grupo Integrado de Pesquisa Linguagens, Culturas e Ensino no
Amazonas – LICEAM, passei a ter contato estreito com professores mais experientes
8 A Universidade do Estado do Amazonas possuía vários grupos de pesquisas consolidados que reuniam-se
separadamente todos os meses, mas mantinham-se articulados.
52
e já tinham a pesquisa como uma característica de sua formação e trabalho docente.
Desse cenário nasceu o tema de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de
graduação. A Iniciação Científica oferecia bolsas de estudo aos acadêmicos, o que me
fez criar a expectativa de ser contemplado e poder me dedicar mais à universidade,
porém a quantidade de postulantes às bolsas eram maiores que a cota disponível e
acabei tornando-me voluntário em todo o processo.
Logo no início das atividades na IC fiquei desconfortável com a obrigatoriedade
de pelo menos duas vezes por semana dedicar o horário da tarde para a participação
nas reuniões do grupo de pesquisa ou orientações individuais do TCC, pois teria que
passar três dias inteiros da semana na universidade, o que me impedia de desenvolver
as minhas atividades profissionais. Com o passar do tempo, o desconforto deu lugar
ao prazer de naquele espaço interagir com os demais pesquisadores e observar o
progresso na construção do TCC, bem como a elaboração de estratégias sólidas para
observar e coletar dados no contexto da pesquisa.
Ao final de cada semestre, cada um dos grupos de pesquisa da universidade
apresentava os resultados das investigações desenvolvidas pelos participantes (vide
figuras 7 e 8). As socializações se davam no formato de exposições orais ou
apresentação de pôsteres e aconteciam no próprio espaço da Escola Normal Superior.
Esses momentos foram de significativa importância para o meu processo formativo,
pois possibilitava a todos os membros do grupo a oportunidade de construir artigos,
papers e resumos referentes ao seu fenômeno investigativo. O momento das
apresentações se constituía num grande evento da universidade onde os professores
do curso avaliavam e faziam as recomendações necessárias a cada trabalho.
Figura 7: Apresentação de pôster na I.C Figura 8: Apresentação oral na I.C
53
Fonte: Dantas (2005) Fonte: Dantas (2005)
Outro fator vivenciado no processo de formação inicial teve relação com a
necessidade do trabalho em equipe no processo de investigação, visto que estava
acostumado a tomar decisões de maneira individual e delegar funções no meu
ambiente profissional, esse novo quadro exigiu certa adaptação. Lembro-me de que o
orientador formou uma equipe com todos os seus orientandos de graduação, o que
nos obrigava a interagir e dividir livros, fichamentos, resumos, visando uma publicação
coletiva ao final do processo. Foram atividades que se caracterizaram como
verdadeiros momentos autoformativos, mais do que ter acesso a conhecimentos
científicos inerentes a docência, adquiri uma nova postura em relação ao outro.
Os primeiros encontros de orientação do TCC foram tensos, devido aos novos
conceitos e teorias que jamais havia tido contato. Além disso, a cobrança pelo registro
constante de nossas atividades seja na forma de relatórios, fichamentos ou resumos
também nos tiravam o sono. Se, por um lado, o contato direto com os professores do
curso nas reuniões do grupo de pesquisa nos envaidecia e por si só já nos ensinava.
Por outro, a exposição rotineira em forma de leituras, debates e apresentações dos
textos estudados faziam nossa nível de adrenalina estar sempre alto.
Mesmo sendo voluntário no Programa de Fomento a Iniciação Científica da
Universidade, PROFIC/UEA9, a I.C da UEA, também estava envolvido, diretamente, na
produção de relatórios das atividades desenvolvidas e de fichamentos e resenhas dos
livros estudados. Quinzenalmente nosso grupo de pesquisa se reunia para debater os
livros selecionados na reunião anterior, concomitante ao processo de orientação do
TCC, haja vista meu orientador de TCC ser o mesmo da I.C. O trabalho era intenso
tanto no espaço da universidade, como no contexto da escola onde coletávamos dados
para a pesquisa.
9 Programa do Governo do Estado do Amazonas que viabilizava financeiramente as pesquisas da UEA na primeira
década do século XXI.
54
Construída a fundamentação teórica do TCC, durante os semestres de
graduação, definimos que o percurso metodológico que trilharíamos na pesquisa de
campo seria também baseado na técnica de História de Vida. Tal técnica possibilitou
captar as nuances do nosso fenômeno investigativo daquele momento, o qual consistia
na identidade cultural dos sujeitos da investigação. A primeira etapa aconteceu no
período de observação do contexto e dos sujeitos para em seguida adotar-se a técnica
de entrevista aliada a história de vida dos sujeitos. Tal como propõe Ruiz (1989, p.220)
quando evidencia que a técnica de História de Vida permite:
Captar a totalidade de uma experiência biográfica, totalidade no tempo e no
espaço, desde a infância até o momento presente; Captar a ambiguidade e a
mudança, longe de uma visão estática e imóvel das pessoas e de seu
processo vital lógico e racional; Captar a visão objetiva coma a que cada um
si vê a si mesmo e ao mundo; Descobrir pontos de interpretação de
fenômenos sociais de âmbito geral e histórico, possíveis de serem explicados
através da experiência pessoal dos indivíduos concretos.
No transcorrer do percurso investigativo, percebi a importância do processo de
orientação que vivenciei, principalmente da maneira como ele era estruturado, pois
conforme os obstáculos surgiam as soluções se apresentavam naturalmente. Isso me
deixava mais seguro para coletar dados mais significativos no campo de pesquisa
direcionando-os ao fenômeno investigativo estabelecido no projeto. Os projetos em
rede faziam com que todos os envolvidos colaborassem com o trabalho do colega
dividindo as dúvidas e trocando conhecimento.
Os momentos de orientação no plano individual ou com a equipe de pesquisa
articulados às leituras dos teóricos indicados pelo orientador, eram transformadores
no tocante a minha identidade de pesquisador, pois, além de me fortalecerem
intelectualmente, ante os preceitos teórico-epistemológicos que tratam da Educação,
também sustentavam as atividades de campo, possibilitando lançar um olhar
problematizador sobre a realidade do contexto, dando-me subsídios suficientes para
a análise de dados. Uma das características que marcaram este momento formativo
inicial foram as “pesquisas em rede”, estratégia pela qual o projeto do orientador se
caracterizava como um projeto guarda-chuva que acolhia e sustentava os demais
projetos dos orientandos. Além do meu projeto, outros quatro se articularam no
transcorrer do processo de pesquisa. O importante dessa metodologia era a conexão
entre os projetos que se retroalimentavam teoricamente e ainda criavam canais de
55
comunicação entre os pesquisadores, fato esse que possibilitava que a autoformação
se legitimasse no processo.
Comecei o processo de orientações com um pré-projeto de pesquisa,
construído ainda no primeiro ano do curso de graduação e sobre ele possuía alguns
fichamentos e resumos. Porém, logo nos encontros iniciais foi deixado claro pelo
orientador que nosso projeto deveria se enquadrar na temática geral do grupo, sendo
me dada a missão de estruturar uma nova proposta. O tema central era “Migração e
Educação: construindo histórias de vida de estudantes migrantes em escolas públicas
de Ensino Fundamental na cidade de Manaus”. Tornou-se necessário que a minha
pesquisa se enquadrasse na temática estabelecida. Neste instante a ansiedade e a
insegurança tomaram conta de meu ser, mas, paulatinamente, a cada reunião semanal
e sempre com a ajuda do orientador o novo foi sendo reconstruído.
Esse pré-projeto havia sido construído ainda no segundo período do curso de
graduação, sendo retomado e ampliado no quinto período durante as atividades
realizadas no grupo de pesquisa. Aos poucos, aquele esboço foi dando lugar a um
trabalho mais consistente e fundamentado teoricamente a cada reunião do grupo ou
orientações individuais.
De todos os momentos vivenciados, seja na graduação ou pós-graduação,
considero que o processo desenvolvido na IC foi o mais significativo. Naquele
momento, ainda não possuía qualquer conhecimento voltado para a Metodologia da
Pesquisa e os exercícios de leituras eram feitos de maneira informal tal como um
divertimento. Logo no início do processo de investigação, o orientador realizou uma
Oficina de Produção Textual, para demonstrar algumas técnicas de leituras que
possibilitariam aos seus orientandos uma maior compreensão do conteúdo das obras
e uma melhor organização das ideias na estruturação dos resumos e resenhas.
Uma formação sustentada pela pesquisa nos evidencia as entrelinhas do
processo vivenciado quando marca de maneira significativa nossa vida. Além do
profissional, também no pessoal, nos dá a segurança para realizar o nosso trabalho
docente. Meu perfil enquanto orientador foi definido pelas características implícitas
presentes na formação inicial, desde observar as atitudes do orientador, até se
reconhecer como orientador ainda enquanto era orientando.
O processo de pesquisa vivenciado na formação inicial, além de apresentar os
elementos teóricos que tratam da formação de professores, também me possibilitou,
dentre tantos outros conhecimentos, entender a diferença entre técnica de sublinhar e
56
fichamento analítico, resumo e síntese, tipos de relatórios, tipos de pesquisa etc.,
conteúdos de suma importância na formação do professor pesquisador. As primeiras
orientações de TCC foram relacionadas aos textos disponibilizados pelo Grupo de
Pesquisa LICEAM para a leitura dos seus membros, os quais inicialmente tratavam
sobre analogias e metáforas para o Ensino de Ciências. Tal material teórico contribuiu
para que eu conseguisse contextualizar todo aquele arcabouço de informações e
conhecimentos que recebia todas as semanas, e muitas vezes, sentia dificuldade em
abstrair de maneira significativa.
Minha condição de autor do meu próprio conhecimento muito se deve a esse período
na I.C, pois a autonomia era uma das premissas primordiais para se manter produtivo
na equipe de pesquisa. A estratégia utilizada pelo orientador visando as publicações
científicas do grupo se baseava nas produções de fichamentos analíticos das obras
estudadas que se constituíam como pequenos retalhos, estes aos poucos iam se
costurando numa tessitura maior do texto.
Na busca do caminho metodológico do TCC, primeiramente foi necessário
apreender o fenômeno investigativo, para então definir os conceitos-chave da
pesquisa e assim poder fazer uma leitura intencional com os objetivos já estabelecidos.
Feito isso, foi estabelecida uma estratégia que organizava os conteúdos selecionados
nas obras em citação, interpretação e análise propiciando que o autor comentasse e
se posicionasse de acordo com o seu tema a cada citação selecionada. Esta estratégia
textual marcou significativamente meu percurso de autoria, pois até os dias de hoje é
através dela que estruturo minhas orientações de TCC, o que evidencia a importância
das experiências vivenciadas ainda no transcorrer da formação inicial.
Foram meses de trabalho árduo de leituras, fichamentos, resumos das obras
estudadas, além da participação em diversas palestras, minicursos e oficinas
pedagógicas. Todo os conhecimentos teóricos e metodológicos adquiridos nesse
processo me possibilitou a segurança necessária para adentrar no ambiente escolar.
O contato com o real pedagógico
Desde o início do curso de graduação, a principal aflição daqueles que ainda
não tinham experiência com a docência, sendo eu um deles, era o momento do Estágio
Supervisionado. Ao começar o Estágio, demorei algum tempo para me ambientar, pois
57
percebi in loco o quanto a teoria se diferenciava da prática. Apenas quando iniciei o
processo de orientação na Iniciação Científica consegui encontrar-me naquele
contexto e tudo isso graças a perspectiva do Estágio vinculado à pesquisa, que me
permitiu visualizar e delimitar o meu objeto de estudo possibilitando fazer uma Revisão
de Literatura consistente. Nesse sentido, o estágio vinculado à pesquisa é uma das
perspectivas para formar o professor pesquisador, sendo que esse espaço se constitui
como laboratório da pesquisa. No entender de Oliveri; Coutrim e Nunes (2010, p.300):
[...] a pesquisa científica aparece como uma prática fundamental no
desenvolvimento profissional do professor e também no desenho curricular
dos cursos de licenciatura, acreditando que, em ambos os casos, só poderá
efetivar-se no contexto de um processo de articulação entre teoria e prática
que vise o desenvolvimento da criatividade científica e do espírito inquiridor.
Ao utilizar o contexto de estágio como o próprio locus de pesquisa e colher os
aportes teóricos e metodológicos necessários para a investigação, nas reuniões do
grupo de pesquisa da IC, obtive as condições investigativas necessárias para
prosseguir na pesquisa e avançar em minha formação como professor pesquisador.
As várias leituras e produções textuais, somadas as participações em eventos internos
e externos da UEA, bem como a troca de experiências com outros investigadores
experientes, contribuíram significativamente para que eu sentisse a segurança
necessária para iniciar a pesquisa de campo.
Assim, a mesma se fez presente em todo o processo de apreensão do
fenômeno investigativo tendo não apenas o orientador, mas também os demais
colegas da equipe que participava do grupo de pesquisa, um papel significativo em
todo o percurso. O processo foi árduo, porém prazeroso, pois a cada momento de
orientação individual, reunião do grupo de pesquisa ou mesmo participação nas
palestras me levava a adquirir um novo arcabouço de conhecimentos que não apenas
possibilitavam um olhar multidimensional sobre o fenômeno investigado, mas também
contribuíam na minha formação docente ampliando minha visão de mundo. No
transcorrer desse processo várias transformações eram visíveis na minha maneira de
falar, se portar e mesmo na escrita das produções científicas.
Semanas depois, o projeto que tratava sobre “Filosofia para Crianças”, oriundo
das reflexões realizadas nas disciplinas de Filosofia aliadas às discussões da disciplina
de Didática, buscou investigar como princípios filosóficos poderiam ser trabalhados
58
com crianças da Educação Infantil e Anos Iniciais no tocante a valores éticos e morais.
Esse esboço de projeto foi elaborado como uma das avaliações da disciplina
Metodologia do Trabalho Científico, tendo o seu tema oriundo de minha afinidade pela
Filosofia e também fruto de algumas leituras realizadas na academia, entretanto,
acabou dando lugar a primeira versão de nosso projeto final do TCC, denominado:
Identidade Cultural e Migração nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Com um
norte melhor definido me sentia mais seguro enquanto aguardava o momento de
adentrar ao campo de pesquisa (vide figura 9), entretanto, ainda precisava de fato
apreender o fenômeno investigativo, o que aconteceu ao longo do período de
orientação. Nossa pesquisa teve como objetivo geral Investigar como o processo
migratório influencia na construção do sentimento de identidade cultural dos
estudantes migrantes, na sala 04 da 4ª Série do Ensino Fundamental do Turno
Matutino da Escola Estadual Francisca Botinely Cunha e Silva.
Figura 9: Escola de Estágio na Formação Inicial
Fonte: Almeida (2005)
A pesquisa evidenciou a quantidade de migrantes presentes na sala de aula e
a maneira que eles se percebem nesse novo contexto cultural e como interagem com
o outro. Para isso utilizei variadas estratégias metodológicas visando coletar dados no
contexto da pesquisa (vide figuras 10 e 11).
59
Figura 10: Ficha Genealógica Figura 11: Desenho do sujeito da pesquisa
Fonte: Almeida (2005) Fonte: Almeida (2006)
No transcorrer da investigação tive dificuldades em descobrir os locais de
origem dos educandos sujeitos da pesquisa, por isso utilizamos fichas de dados
genealógicos e nas observações seguintes realizei oficinas de desenho para
conhecermos a percepção dos sujeitos sobre seus locais de origem. As atividades que
revelaram as origens dos educandos foram bastante significativas, pois de maneira
leve e informal conseguimos fazer os educandos falarem de suas vidas e das cidades
60
de origem, situação essa que a própria professora da sala desconhecia. A modalidade
de pesquisa em rede que realizamos no transcorrer do processo de formação inicial
rendeu cinco Trabalhos de Conclusão de Curso sobre a temática
“Identidade Cultural e Migração”. Nosso grupo de pesquisa teve um papel primordial
nesse processo, pois possibilitou a interação dos professores em formação inicial com
professores pesquisadores experientes e nos ampliou o olhar sobre nosso papel
naquele momento vivido na academia e também nos momentos posteriores à
formação.
Enfim, cheguei ao término do oitavo período da graduação e, com a proximidade
da defesa dos TCCs de nossa equipe de pesquisa, os acadêmicos finalistas do Curso
Normal Superior e o orientador escolheram os nomes dos professores que formariam
as bancas avaliadoras, conforme a temática de cada um dos trabalhos. Entretanto,
faltando três dias para a defesa, um dos avaliadores avisou que não poderia
comparecer e foi substituído por outra professora recém chegada a instituição e que
atuava em outra área de conhecimento. Essa situação desestabilizou todos os
acadêmicos, pois receávamos que a nova avaliadora não compreendesse a maneira
como organizamos nossas investigações.
Tendo em vista essa situação, no período que antecedia a defesa, o orientador
deixou claro para todos da equipe de pesquisa que fomos os próprios autores dos
trabalhos, portanto, ninguém poderia saber mais dele do que nós próprios. Confesso
que a compreensão e aceitação de que era o autor principal de meu processo
formativo inicial não foi fácil, pois nem sempre a universidade promove a autonomia
no ambiente acadêmico, sendo necessário que o próprio professor em formação de
fato queira ser o agente principal do processo ao problematizar a sua realidade e
inquietar-se com o status quo estabelecido.
Todas essas vivências adquiridas ainda na Formação Inicial, além de me
despertarem para a necessidade da pesquisa em minhas práticas pedagógicas,
também me oportunizaram compreender a importância da autoria durante meus
processos formativos e na minha atuação como docente na sala de aula. Ser formado
pela pesquisa e incentivado a agir autonomamente neste meu momento formativo foi
de suma importância para consolidar a minha condição de autor, e assim promover a
autoria da minha formação e prática como uma das características principais de minha
formação.
61
A defesa dos trabalhos aconteceram numa manhã do mês de junho de 2006, e
mesmo seguro da pesquisa e dominando os conteúdos teórico-metodológicos do
trabalho, eu estava imensamente nervoso antes da apresentação. Fui o terceiro
membro da equipe de pesquisa a apresentar, porém, a ansiedade pelo momento da
defesa me impediu de assistir as apresentações anteriores a minha, pois preferi ficar
na biblioteca estudando mais um pouco o material. Guardo sempre essas vivências
comigo para entender a ansiedade e o nervosismo por qual passam os acadêmicos
que oriento no cursos de formação de professores, tentando fazê-los compreender os
ensinamentos que meu orientador me passou quando dizia que ninguém conhece
melhor o trabalho que o próprio autor, nem mesmo a banca examinadora. E assim
procuro deixá-los mais confiantes e seguros.
Figura 12: Colação de Grau
Fonte: Maia (2006)
A colação de grau foi a premiação pela árdua batalha, ter o diploma em minhas
mãos foi o símbolo de minha vitória (vide figuras 12,13 e 14). Foram quatro anos de
exaustivos momentos de estudos que consolidaram a minha identidade docente e me
motivaram a adotar a docência como a profissão que eu levaria para o resto de minha
existência.
Figura 13: Diploma de Graduação Figura 14: Histórico Escolar
62
, Fonte: Almeida (2018) Fonte: Almeida (2018)
Finalizei a graduação no primeiro semestre de 2006 e, no segundo semestre do
mesmo ano, fui selecionado para o ingresso no Curso de Mestrado Profissional em
Ensino de Ciências da Universidade do Estado do Amazonas10. Desde o início do
processo de formação inicial, meu orientador repetia exaustivamente a cada reunião
e a cada orientação que nossa equipe de pesquisa deveria sempre priorizar a
retroalimentação de conhecimentos, quando assumíssemos o papel de estudantes ou
de professores, orientandos ou orientadores, pois nunca apenas ensinávamos, mas
também aprendíamos. É justamente essa troca que enriqueceria nossa formação e
legitimaria em cada um de nós os conhecimentos abstraídos.
Nesse sentido, concordo com Demo (2005) ao destacar que o professor em
formação se assume como pesquisador ao utilizar a pesquisa como um princípio de
suas atividades acadêmicas e ao entender a prática da pesquisa como um instrumento
do processo educativo que pode se constituir numa atitude cotidiana de professores e
alunos. É assim que reflito sobre como as situações vivenciadas nessa trajetória
contribuíram para que eu reconhecesse a necessidade do processo autoformativo, e
ser estimulado de todas as maneiras possíveis na formação de professores.
Os primeiros passos dados nos processos investigativos que desenvolvi tanto
na graduação como no mestrado se davam logo após as orientações iniciais. Partia
da Revisão de Literatura, no tocante de conhecer os conceitos formativos que
caracterizavam o fenômeno de pesquisa por um prisma etimológico, filosófico e
epistemológico para em seguida desenvolver os desdobramentos e as implicações de
cada um deles, tendo em vista o fenômeno a ser pesquisado.
10 O Curso de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências teve a sua primeira turma ofertada pela Universidade
do Estado do Amazonas em 2006.
63
Na formação inicial, o processo investigativo foi mais delicado e trabalhoso, em
razão de ainda não ter experiência de pesquisa suficiente. Na formação contínua,
ocorrida no período de Mestrado, a segurança era maior; porém, o grau de
profundidade das reflexões realizadas que geraram novas construções mentais e
novas produções escritas também foram mais elaboradas que as anteriores. Os anos
na formação inicial, principalmente os semestres de IC, aliado à participação no grupo
de pesquisa, me possibilitou experiência suficiente para adentrar e seguir na
pósgraduação.
A maturidade acadêmica era muito maior, assim como minhas condições para
estudo, pois havia me desligado totalmente das demais atividades profissionais que
desenvolvia e me dedicava totalmente ao curso de mestrado, inclusive recebendo uma
bolsa de estudos disponibilizada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do
Amazonas – FAPEAM11, e assim como muitos dos meus colegas de formação também
comecei a trabalhar no magistério primeiro como professor em cursos de Formação
Contínua oferecidos pela Secretaria de Estado e Educação do Amazonas e logo
depois como docente do Ensino Superior.
Outra possibilidade que a Iniciação Científica e a participação num dos grupos
de pesquisa da universidade durante a formação inicial nos permitiu realizar foram as
publicações de resumos simples, resumos expandidos e capítulos de livros com
nossas pesquisas da graduação. Ao final de todo o processo, nosso orientador
organizou um livro com os cinco TCCs que orientou e os estabeleceu como capítulos
de um livro sobre as experiências de nosso grupo de pesquisa.
O contato com a realidade pedagógica, a coleta de dados para o TCC, as
leituras para a fundamentação teórica e a participação no grupo de pesquisa foram
momentos significativos no meu período de formação inicial que marcaram
decisivamente a minha identidade docente e me legitimaram como um professor
pesquisador que reconhece-se como autor de sua formação num incessante processo
de autoria que prioriza refletir sobre as suas vivências.
11 Fundação de fomento, que até o ano de 2014 possuía status de secretaria de governo, para custear
a pesquisa no estado do Amazonas.
64
O professor pesquisador e os registros dos vividos
A sensibilidade para perceber possíveis problemas que acometem os educandos, no
transcorrer de sua formação, e a busca incessante para amenizá-los são
características do professor pesquisador. Aliado a isso, o registro constante de suas
atividades no cotidiano pedagógico possibilitam uma reflexão sobre tais problemas e
podem indicar qual sustentação teórica buscar.
O professor não deve concentrar-se apenas na produção de conhecimento a
partir dos problemas vividos no dia-a-dia da sala de aula. Não pode abrir mão do
campo teórico e científico. Deve desenvolver e colocar em contato o aluno com as
teorias, a estrutura do trabalho científico, a preocupação com metodologia e propiciar
a formulação de uma posição autêntica e independente fundamentada elaboração de
um trabalho próprio (PEREIRA, 2003).
Como evidenciamos anteriormente, nosso processo formativo inicial sempre
caracterizou-se pelo registro de nossas vivências formativas, seja nas atividades de
ensino, de pesquisa do TCC, ou mesmo no transcorrer do processo de Estágio
Supervisionado. Esses registros possibilitaram-nos entender o contexto educativo no
qual estávamos inseridos, e também a socializar nossas reflexões em outros contextos
acadêmicos e culturais.
Uma das principais características de nossa formação inicial na universidade
foram os registros analíticos de nossas vivências, as quais eram construídas em forma
de resumos, artigos, paper e pôsteres que eram apresentados nos eventos
acadêmicos disponibilizado pela instituição. Essa estratégia utilizada pelo orientador
nos aguçou o senso de pesquisador, possibilitando que problematizássemos nossa
realidade constantemente e também aprofundasse os estudos sobre as atividades
desenvolvidas no transcorrer das disciplinas cursadas com o intuito de publicá-las em
eventos científicos.
O principal registro de nosso processo de formação inicial foi o Trabalho de
Conclusão de Curso. TCC que foi fruto de uma pesquisa bibliográfica e de campo
realizada num período de cerca de dezoito meses numa escola pública dos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental. As pesquisas realizadas foram paulatinamente
organizadas em capítulos (tal como escrevemos anteriormente) e conforme se
construíam eram socializadas em eventos Brasil a fora. Ao final do processo nosso
65
orientador organizou um livro com todos os cinco TCCs divididos em capítulos
retratando todas as experiências vividas por nossa equipe de pesquisa nas quais
tinham como eixo norteador as temáticas: Currículo, Identidade Cultural e Migração
(vide figura 15).
Figura 15: Obra publicada na graduação
Fonte: Almeida (2006)
Os cinco Trabalhos de Conclusão de Curso complementavam-se e davam
sentido ao Projeto de Pesquisa do professor orientador, sendo que os TCCs discutiram
as seguintes temáticas: Diversidade Cultural, Variantes Linguísticas, Currículo e
Migração, Imaginário e Migração, além do meu que tratava da Identidade
Cultural e Migração. Ao final do processo estes trabalhos foram organizados no livro
Escola, Currículo e Migração e retrataram o resultado das vivências obtidas pelos
acadêmicos que realizaram suas pesquisas de campo em cinco escolas da Rede
Pública de Ensino da cidade de Manaus localizadas em cada uma das zonas da
cidade.
A publicação do livro foi um divisor de águas em minha formação, pois percebi
a importância do registro das atividades docente no espaço escolar e de como a sua
socialização pode contribuir com o trabalho docente de outros professores.
Posteriormente também publiquei os resultados de minha investigação na trajetória do
Curso de Mestrado e hoje, como orientador de T.C.C, também adoto a cultura de
publicações das experiências em pesquisa que orientei junto com meus pares. Dessa
maneira, vamos contribuindo com a literatura voltada para a Formação de Professores.
A cultura de registros e publicação adquirida ainda na formação inicial é
promovida por mim nas atividades docentes que desenvolvo nos cursos de formação
66
de professores. A partir dos registros das exposições teóricas que realizo em sala de
aula, os acadêmicos iniciam a construção de um texto em que refletem sobre os
conteúdos trabalhados e os relacionam ao seu contexto. Esse material costuma ser
entregue ao final da disciplina, em formato de paper, como um dos seus elementos
avaliativos.
Figura 16: Obra resultado das Orient. Figura 17: Publicação da Dissertação
Fonte: Almeida (2016) Fonte: Almeida (2015)
Desde que assumi minhas funções como professor no CEST/UEA fui responsável
pelo Estágio e TCC de duas turmas do Curso de Pedagogia. Em ambas orientei cinco
acadêmicos finalistas e organizei o material para a publicação. Os TCCs que orientei
na primeira turma, após estruturados nas normas exigidas para publicação, foram
inseridos num livro organizado pelos docentes dos variados cursos de licenciaturas do
CEST/UEA (vide figura 16). O material da dissertação de mestrado também foi
publicado em formato de livro juntamente com o trabalho de outra professora que
também cursou o Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e teve o mesmo
orientador (vide figura 17). Vale ressaltar que o material oriundo dos TCCs que orientei
na segunda turma do Curso de Pedagogia na qual fui responsável, em breve também
será publicado no formato de capítulos de livro.
Procuro sempre registrar todas as atividades de ensino, pesquisa e extensão
que desenvolvo, senão consigo em livros ou artigos científicos, deixo registrado em
formato de relatórios descritivos ou analíticos. Dessa forma, considero que o registro
dessas experiências contribuam com outros docentes que sintam as dificuldades que
67
senti e percebam os problemas que percebi; e assim consigamos de alguma maneira
intervir na realidade educativa na qual estamos inseridos.
Tão logo finalizei o processo de formação inicial, prestei seleção para o Curso de
Mestrado em Ensino de Ciências da UEA, para o qual fui aprovado e reiniciei meu ciclo
formativo agora na pós-graduação. No episódio posterior descreveremos as nuances
desse percurso de autoria que construímos a partir das vivências e experiências ali
obtidos. Descobrir-se autor e se perceber num processo constante de autoria, ainda
na formação inicial, foram dimensões que contribuíram na minha legitimação como
pesquisador e marcaram decisivamente todo o meu processo formativo inicial.
O registro de minhas experiências didático-pedagógicas é uma das características
profissionais que legitimam a minha condição de autor. Ao construir o meu próprio
conhecimento consigo problematizar a realidade e ao mesmo tempo socializo minhas
experiências profissionais, visando contribuir com o trabalho pedagógico e com a
formação contínua de outros docentes.
3º MOSÁICO
EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS CONTÍNUAS: A LEGITIMAÇÃO DA DOCÊNCIA
Após relatar no mosaico anterior as experiências obtidas no meu processo
formativo inicial, agora evidencio o percurso formativo desenvolvido no processo de
mestrado que levou-me a refletir sobre as situações vivenciadas e experienciadas em
toda sua trajetória. E isso me fez perceber em que medida a autoria estabeleceu-se
68
como um elemento balizador de todas as nuances subjetivas que ali se apresentavam.
Foram vivências que me possibilitaram conhecer e compreender estratégias
metodológicas que enriqueceram e validaram não apenas a pesquisa realizada, mas
também a minha condição de pesquisador e, concomitantemente, com meu trabalho
docente, sempre norteado pela ideia de que não existe uma certeza de um único
caminho, mas sim caminhos que fazemos ao caminharmos.
O contato com outros mestrandos
A pesquisa construída a partir das vivências estabelecidas nos quatro anos da
formação inicial contribuíram significativamente para a minha aprovação no processo
seletivo do Curso de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências oferecido pela UEA.
Era a primeira turma do primeiro programa voltado ao Ensino de Ciências no estado
do Amazonas, tendo como objetivo qualificar professores de todas as áreas do
conhecimento em nível stricto sensu com uma abordagem que visa promover o ensino
de ciências na sociedade amazônica. O processo de Formação Contínua
caracterizase por atender as especificidades dos docentes, visando a superação das
lacunas formativas deixadas na sua Formação Inicial.
Nossa turma era composta por vinte mestrandos das mais variadas áreas do
conhecimento: professores de biologia, química, matemática, pedagogos, advogados
e psicólogos. Eram profissionais de todas as regiões do país que buscavam na
formação contínua ampliar seus campos de atuação, e também aprofundar seus
conhecimentos teóricos. A homogeneidade da turma possibilitava um rico ambiente de
ensino em que a retroalimentação de conhecimentos era algo constante entre todos
os envolvidos.
Ao buscar uma formação em nível stricto sensu, meu intuito principal era
preencher lacunas formativas que entendia trazer da formação inicial. Também
buscava ampliar meus conhecimentos numa abordagem sistematizada e relacionada
a educação, visando utilizá-los no meu cotidiano pedagógico. De acordo com Lima
(2001, p.30): a “Formação contínua é a articulação entre o trabalho docente, o
conhecimento e o desenvolvimento profissional do professor, como possibilidade de
postura reflexiva dinamizada pela práxis”. Essa perspectiva formativa deve se efetivar
a partir dos anseios e necessidades dos docentes que buscam transformar seu
trabalho, no intuito de intervir na realidade pedagógica.
69
Nesse sentido, as propostas de Formação Contínua têm como meta atingir o
conjunto de professores, independente de faixa etária, tempo de experiência,
formação inicial, tendo como objetivo a sua qualificação com excelência (DAVIS et al
2011). A formação contínua permite que o docente desenvolva habilidades de ensino
e pesquisa possibilitando-o diagnosticar e avaliar o espaço educativo em que atua
(IMBERNON, 2002). Os processos devem abranger as dimensões sociais, culturais e
afetivas dos professores (GATTI, 2003).
Com efeito, vivenciá-lo é um momento significativo para que o docente encontre
subsídios suficientes para ressignificar suas práticas pedagógicas de maneira
constante. Quando reconhece e valoriza a sua caminhada formativa e profissional, o
professor também está dando atenção a sua própria condição de autor e assim amplia
as possibilidades de intervir no contexto no qual faz parte.
Optei por balizar meu percurso de autoria a partir do que Gatti (2003) apresenta,
principalmente no tocante a importância de se considerar os eventos sociais, políticos,
econômicos ou culturais que permeiam a vida grupal ou comunitária, como também
aqueles que se constituem como determinantes e moldam as concepções sobre
educação, ensino, papel profissional e as práticas a elas ligadas. Entretanto, Gatti
(2003, p.6) nos alerta que:
[...] apenas levar em consideração essas questões como premissas abstratas
não cria mobilização para mudanças efetivas. O que é preciso conseguir é
uma integração na ambiência de vida e de trabalho daqueles que participarão
do processo formativo [...].
Sentir-se professor é compreender o seu papel de professor no contexto
educativo. Logo, faz-se necessário que o processo de formação contínua de fato
obtenha o resultado esperado, pois de outra maneira ele se constituirá apenas como
mais uma atividade formativa oferecida pela academia. De acordo com Chimentão
(2010, p. 34):
A formação contínua de professores tem sido entendida, em termos de
definição, como um processo permanente de aprendizagem e
aperfeiçoamento dos saberes necessários à atividade profissional, realizado
após a formação inicial, com o objetivo de assegurar um ensino de melhor
qualidade aos educandos.
70
A primeira atividade de que participei no Curso de Mestrado Profissional em
Ensino de Ciências foi denominada Semana de Integração Acadêmica, cujo objetivo
era conhecermos o Regimento do Programa, Matriz Curricular do Curso, os docentes
que ministrariam as disciplinas, técnicos administrativos que cuidariam das questões
burocráticas do curso e os próprios colegas de trajeto. A aula magna foi ministrada
pelo renomado sociólogo português Boaventura de Sousa Santos que enfatizou a
necessidade de se pensar numa epistemologia do sul, como forma de enfrentarmos a
ideologia capitalista ocidental.
Tal atividade foi extremamente significativa para minha inserção na
pósgraduação stricto sensu dando-me mais segurança ao iniciar o período letivo, além
de me apresentar em linhas gerais às premissas teórico-epistemológicas do programa.
Por ser oriundo de um dos cursos de graduação da UEA, instituição promotora
do curso de mestrado, também fui convocado a contribuir na organização desse
evento, o que me possibilitou adquirir a experiência necessária para outros eventos
desse porte, tanto nos processos formativos contínuos dos quais participei, como em
minha carreira docente. As vivências no mestrado contribuíram para que eu
desenvolvesse habilidades investigativas que fortaleceram a minha condição de
pesquisador.
O fazer pedagógico do professor pesquisador tem uma relação simbiótica com o
seu processo de autoria, sendo o docente responsável por construir os caminhos a
serem percorridos na sua prática cotidiana. Em todo o transcorrer do Curso de
Mestrado eu buscava agir com autonomia nas atividades desenvolvidas e também as
relacionava ao que estabelecia como parâmetro formativo para a legitimação do
professor pesquisador.
Professores, disciplinas e novos desafios
O sentimento de angústia e inquietação que permeou boa parte do meu
processo de formação inicial deu lugar a uma sensação de segurança e certa
tranquilidade, trazendo-me maior firmeza nas leituras, fichamentos, coleta de dados,
registros e análises. Concomitante, também melhorava o trabalho docente que
desenvolvia como orientador de Estágio e professor formador de cursos de
capacitação para professores de Rede Estadual de Ensino.
De maneira geral, as aulas do Curso de Mestrado em Ensino de Ciências
aconteciam duas vezes por semana no turno matutino, exceto quando os professores
71
eram oriundos de outras instituições e precisavam concentrar a carga horária da
disciplina. A matriz curricular do curso estabelecia cinco disciplinas obrigatórias e duas
optativas, além disso, ainda realizamos o Estágio em Docência.
Nos doze meses estabelecidos pelo programa para o cumprimento dos créditos
das disciplinas, transitamos por várias áreas do conhecimento científico; fato esse que
marcou significativamente nossa formação. A área de concentração do mestrado é
multidisciplinar, daí a matriz curricular do curso abarcar disciplinas que tratavam dos
variados campos do saber científico, tais como: História e Filosofia da Ciência,
Tendências Investigativas Contemporâneas, Mitos e Saberes Indígenas, Pedagogia
de Projetos, até os Tópicos de Ensino de Química, Física e Biologia, o que atendia a
heterogeneidade da turma. Além disso, também estudamos disciplinas que
possibilitaram a construção da metodologia de nossa pesquisa e ampliaram nossa
compreensão sobre ciência.
2006/2 2007/1 2007/2 2008/1
Contribuições da História e Filosofia da Ciência para o Ensino
de Ciências
Tópicos de Química Pedagogia de Projetos
e Ensino de Ciências (OPTATIVA)
Atividades
Complementares
Tendências Investigativas
Contemporâneas no Ensino de Ciências
Tópicos de Física Teorias da Aprendizagem e
Ensino de Ciências (OPTATIVA)
Tópicos de Biologia Mitos e Saberes Populares Amazônicos
(OPTATIVA)
Estrutura Curricular do Curso de Mestrado
As estratégias metodológicas e avaliativas adotadas pelos professores eram as
mais variadas, pois também tivemos professores de todos os campos da ciência. A
grande quantidade de textos para leitura era uma característica comum em todas as
disciplinas estudadas, aliado a isso os docentes lançavam mão das mais variadas
metodologias de ensino para ministrar suas aulas.
Para alguns dos mestrandos, dentre os quais eu me incluo, o desenvolvimento
de atividades de campo e de laboratório nos fizeram refletir sobre a importância de
também as realizarmos quando ministrássemos aulas. Essa noção de ser autor de
minha própria trajetória profissional se legitimou no transcorrer do mestrado e marcou
significativamente minha profissionalização.
Outra situação que vale destacar diz respeito as avaliações desenvolvidas no
processo, principalmente algumas provas escritas das disciplinas específicas comum
72
a todos, tais como os Tópicos de Química, Física e Biologia. Mesmo não concordando
com esse tipo de avaliação, a experiência serviu para conhecermos novas maneiras
de avaliar nas ciências exatas e biológicas. Além dos artigos científicos obrigatórios,
também construímos resenhas e inúmeras sínteses de todo o material disponibilizado
pelos docentes, situação que não vivenciamos na formação inicial.
Nas avaliações escritas me senti de volta ao Ensino Médio. Com provas memorísticas,
sem consulta e com o professor vigilante caminhando de um lado para o outro da sala
para evitar que os mestrandos “colassem”. Numa das provas da disciplina Tópicos de
Química tive que estudar exaustivamente uma lista de exercícios disponibilizada pelo
professores para conseguir responder a prova, sendo que logo após a atividade não
mais recordava do conteúdo.
Em Tópicos de Física, a dificuldade era com alguns termos da área os quais
desconhecia, mas eram cobrados nas avaliações. Por vezes cheguei a me indispor
com os docentes que ministravam essas disciplinas devido não entender o porquê de
ter que estudar conteúdos de nível tão bacharelesco num curso de mestrado que
tratava do ensino, mas acabei tendo que aceitar e me enquadrar no contexto.
Por outro lado, algumas disciplinas foram por mim estudadas com tranquilidade
e muito contribuía com os demais colegas devido minha formação na área da
Educação, entretanto, noutras passava por algumas dificuldades que me faziam fazer
estudos paralelos em outros livros e com os colegas das áreas da Biologia, Física e
Química. Essa parceria entre os mestrandos permitiu o surgimento de uma atmosfera
acolhedora, principalmente entre os bolsistas que apenas estudavam e viviam o dia
na universidade, o que possibilitava a partilha de conhecimentos.
Nas disciplinas mais próximas das Ciências Humanas eu conseguia melhor
êxito, pois as estratégias avaliativas eram produções textuais, apresentações de
seminários e construção dos artigos científicos. Um exemplo disso ocorreu na
disciplina Pedagogia de Projetos. Nela foi pedido que cada um dos mestrandos lessem
um livro sobre a temática para fazer uma resenha científica, isto seria uma das notas.
O trabalho foi realizado em duplas de mestrandos, sendo que o professor da
disciplina escolheu as duplas conforme o nome dos orientadores, portanto, as duplas
deveriam ter o mesmo orientador da dissertação. Na disciplina Teorias da
Aprendizagem, e Contribuições da Filosofia da Ciência, aos mestrandos foi pedido um
artigo científico para ser entregue sessenta dias após o final de cada disciplina.
73
Os primeiros três semestres do Curso de Mestrado, 2006/2, 2007/1 e 2007/2,
foram dedicados ao cumprimento dos créditos das disciplinas obrigatórias e optativas
as quais contribuíram significativamente para o estabelecimento do fenômeno a ser
investigado. Ao final do primeiro ano, comecei a ficar angustiado quanto ao meu
problema de pesquisa, pois, a maioria dos colegas de turma já estava com o projeto
estruturado e a fundamentação teórica bastante adiantada e prestes a iniciar a
pesquisa de campo, e mesmo eu tendo vários caminhos em mente ainda não tinha
escolhido qual percorrer.
Lembro-me bem de um encontro com o orientador no qual este colocou todos
os seus orientandos para debaterem sobre os objetos de pesquisa e percebi que
mesmo possuindo um vasto material teórico, já produzido, ainda não tinha segurança
quanto ao fenômeno a ser investigado.
Após a delimitação do campo de pesquisa e da apreensão do fenômeno
investigativo da dissertação, aprofundei as leituras na busca de sustentar de maneira
teórico-epistemológica o processo de investigação, sendo que o primeiro passo foi
adquirir as obras que pavimentassem a trajetória a ser percorrida. Recordo-me de uma
manhã de sábado em que juntamente com o meu orientador fui até a maior livraria da
cidade para aproveitar a promoção de fim de ano e comprar tudo que encontrasse
voltado para meu tema.
O processo de leitura, fichamentos e produção textual, tendo em vista os
direcionamentos do projeto de pesquisa, constituíram-se como um rico exercício de
autoria que vivenciei neste momento formativo. A construção da tessitura teórica do
texto e a sistematização dos dados coletados na pesquisa de campo demonstraram
que eu estava sendo o autor principal de meu processo investigativo.
A presença do orientador, naquele momento, possibilitou que eu selecionasse
da melhor maneira possível todo o material teórico que utilizaríamos durante todo o
trabalho, pois ele próprio indicava as obras que seria utilizadas na pesquisa. Foram
situações como essas ocorridas no transcorrer do processo que sempre me remetiam
a pensar na autoria como um dos sustentáculos do percurso investigativo que
estávamos prestes a iniciar. Com o final das disciplinas passei a me dedicar apenas à
pesquisa, no intuito de escrever a dissertação, como também as publicações de alguns
materiais construídos no transcorrer das aulas.
74
As indicações do orientador e a autonomia que tive para a escolha das obras e
seleção dos textos a serem estudados possibilitaram o domínio da temática abordada
e também contribuíram para reconfigurar a pesquisa com maior precisão, conforme os
obstáculos iam surgindo.
Agir como o legítimo autor de sua pesquisa durante o desenrolar do processo
faz do professor pesquisador o construtor do próprio conhecimento que emerge de sua
realidade, e assim capaz de transformar o contexto no qual está inserido.
A parceria com o orientador no transcorrer da pesquisa de campo,
principalmente no que diz respeito as orientações durante os deslocamentos de
Manaus para Roraima, contribuiu significativamente para eu encontrar o caminho
metodológico que contemplasse as especificidades da pesquisa. Se por um lado, os
compromissos de meu orientador em reuniões e palestras realizadas em diversas
instituições localizadas em outros estados da federação, somados as suas atribuições
como coordenador do Curso de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências,
deixavam-me em alguns momentos sem as orientações necessárias para seguir na
investigação; por outro, isso levou-me a exercer cada vez mais a condição de autor no
transcorrer do processo.
As produções textuais e os registros
Os primeiros meses de produção teórica para a dissertação foram deveras
tranquilos, pois os livros comprados e os artigos científicos baixados no Portal de
Periódicos da CAPES eram suficientes para o desenvolvimento da pesquisa
bibliográfica. Com o passar do tempo e o avançar das leituras, outras possibilidades
teóricas foram se delineando o que se evidenciou ainda mais na reta final da pesquisa
de campo quando tive muita dificuldade em construir meu desenho metodológico,
mesmo estando coletando dados no contexto da pesquisa. Com o retorno de meu
orientador consegui estabelecer as técnicas e instrumentos mais apropriados para a
investigação.
Após cursar as disciplinas, organizei o material produzido para submeter aos
eventos científicos da área e também cumprir os prazos dos trabalhos ainda pendentes
das disciplinas. Um desses trabalhos era a construção de uma resenha científica para
a disciplina Pedagogia de Projetos, tal atividade quando mencionada pelo professor
não nos deixou preocupado, pois já havia produzido algumas resenhas na formação
inicial, porém, quando foi explicado como se daria a construção do trabalho, toda a
75
turma entrou em pânico! A resenha científica exigia um maior rigor de análise e
conhecimento da história de vida do autor da obra, o que nos levou a fazer uma vasta
pesquisa.
O professor formou duplas de mestrandos e sorteou as obras a serem
resenhadas; para a nossa dupla coube a obra “Gerência de Projetos” dos autores
David Cleland, estadunidense, e Lewis Ireland. Eles fazem uma consistente discussão
a respeito da importância do trabalho com projetos a partir de seu gerenciamento em
variadas situações profissionais. Nossa missão seria fazer uma pequena biografia da
vida dos autores, evidenciar a base epistemológica da obra, descrever seus capítulos
e analisá-los apontando seus limites e possibilidades no campo da educação.
Figura 18: Obra com as resenhas Figuras 19: Resenha Científica
Fonte: Almeida (2008) Fonte: Almeida (2007)
A leitura da obra “Gerência de Projetos” foi bastante prazerosa e muito
importante para a ressignificação de meu trabalho pedagógico, pois ampliou as
possibilidades metodológicas no meu contexto pedagógico. O trabalho com projetos
contribuiu para que eu elaborasse estratégias didático-pedagógicas no espaço escolar
e assim cada vez mais consolidasse meu processo autoral.
76
Depois da entrega das resenhas, o professor responsável pela disciplina pediu
as devidas correções do material entregue e o publicou num livro que contribuiu na
discussão ainda incipiente, naquele momento, a respeito do Ensino de Ciências na
Amazônia (vide figuras 18 e 19). Outra publicação muito importante para nosso
currículo e consequentemente nossa formação, foi a primeira produção em uma revista
científica. Meu orientador foi o responsável pela submissão do material que fazia parte
de nossa dissertação à revista e a sua aprovação deu-me a segurança necessária
para continuar a pesquisa.
Nesse artigo discuti diversos caminhos teóricos que estão presentes na
epistemologia que sustenta o Estágio. Tal discussão foi importante para validar a
fundamentação teórica de minha dissertação de mestrado e também para demonstrar
os frutos dados pelo percurso de autoria que desenvolvia.
Figura 20: Revista Científica Figura 21: Artigo publicado
Fonte: Almeida (2017) Fonte: Almeida (2017)
A participação em eventos de cunho local, regional, nacional, e até mesmo
internacional realizado no Brasil foram de suma importância na indicação de novos
caminhos a percorrer, visando a pavimentação do solo teórico-epistemológico da
dissertação. O intercâmbio de conhecimentos que realizamos com mestrandos de
outros programas e demais professores, contribuíram significativamente em nossa
formação evidenciando-nos novas abordagens de pesquisa utilizadas em outras
77
universidades brasileiras (vide figura 22 e 23). Vale ressaltar que todo esse processo
de desconstrução e reconstrução do conhecimento se deu por um processo lento e
gradual, porém, consistente finalizado com a defesa da dissertação.
Figura 22: Pôster XVI – ENDIPE Figura 23: XV – ECODEQ
Fonte: Almeida (2008) Fonte: Almeida (2007)
As viagens para participação em eventos foram um marco em meu processo
formativo, pois me possibilitou conhecer outras universidades brasileiras e interagir
com professores mestres e doutores de um contexto diferente do meu. Ressalta-se
que na maioria das vezes os mestrandos não tiveram o custeio da FAPEAM – Fundo
de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, tendo que retirar o dinheiro de nossas
parcas bolsas de estudo para custear passagens, hospedagem e alimentação em
eventos nos mais variados estados brasileiros, como: São Paulo, Paraíba, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará.
As questões políticas que envolviam a universidade e coordenação do mestrado
atingiam diretamente o nosso programa, refletindo no andamento das pesquisas. As
passagens ficaram escassas e as diárias impossíveis de serem conseguidas, mesmo
assim os mestrandos custeavam as viagens para apresentação dos trabalhos, aqueles
que não possuíam condições financeiras para se custear recebiam ajuda dos
professores e de outros mestrandos.
Ao viajar por vários lugares do país para socializar os conhecimentos
produzidos no processo de mestrado e disseminar os resultados de minha
investigação, consolidava minha condição de autor. O intercâmbio de saberes em cada
evento no qual participava, aumentava a minha segurança como investigador e me
fortalecia como um professor que constrói o seu próprio conhecimento para conseguir
78
amenizar os problemas do processo de ensino aprendizagem, como consequência,
intervir no contexto educativo.
A viagem mais complexa e cansativa foi participar do XV ECODEQ, pois saí via
aérea de Manaus até São Paulo para fazer uma conexão de várias horas até Campo
Grande – MS, de onde parti de ônibus até a cidade de Dourados – MS para o evento
na UFMS. Absolutamente todas as atividades por qual passei no contexto acadêmico
geraram vivências que contribuíram para eu me tornar o que sou hoje enquanto
profissional da educação. A mudança climática por qual passei da região norte para a
centro-oeste foi o primeiro empecilho da viagem. Aliado a isso, a distância do campus
da UFMS para a pousada onde fiquei hospedado me obrigava a passar o dia inteiro
na universidade, situação essa que me deixava extremamente cansado, porém,
enriquecidos com as inúmeras participações em mini-cursos e oficinas
disponibilizadas no evento. As lutas, tristezas, alegrias e principalmente os
conhecimentos adquiridos no transcorrer de todo o processo formativo, se por um lado,
transformaram algumas incertezas em certezas, por outro evidenciou inquietações que
até então não possuía. Nesse sentido, Chimentão (2010, p.35) afirma que:
a formação contínua representa uma oportunidade de o educador em serviço
se atualizar, repensar criticamente seu fazer pedagógico, aprimorar seus
conhecimentos, trocar experiências, refletir sobre o processo
ensinoaprendizagem, vivenciar novas leituras, pesquisas e formas de ver e
pensar a escola, possibilitando, assim, a ressignificação de seu trabalho
pedagógico e, consequentemente, a criação de novas propostas de trabalho
que contribuam para a melhoria da educação.
A socialização dos conhecimentos construídos ao longo da trajetória na
formação contínua propiciou um intercâmbio de experiências formativas que
enriqueceram o processo vivenciado. O contato com outros contextos culturais, novos
discursos acadêmicos e caminhos investigativos diferentes, levou-me a refletir sobre
minha própria realidade e buscar compreender, problematizar as dificuldades e
fortalezas que vivenciei no contexto educativo no qual estava inserido. O momento da
coleta de dados no campo de pesquisa se aproximava e as vivências até então
adquiridas me possibilitava mais segurança para agir como investigador.
79
A autoria no campo de pesquisa
Um ano depois do início do curso e com os créditos das disciplinas cumpridos,
estava chegando o momento de realizar a pesquisa de campo. Os procedimentos
metodológicos desenvolvidos durante o processo de investigação de minha
dissertação no Curso de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências foram
modificados inúmeras vezes durante o seu percurso. A primeira mudança se deu logo
no início da pesquisa de campo quando ocorreram as primeiras orientações formais
com o orientador. O fenômeno investigativo mudou completamente, pois o tempo urgia
e o prazo para qualificação diminuía a cada dia e o que nos propomos a fazer no
projeto de entrada no programa de mestrado fora completamente ressignificado.
Depois de várias possibilidades discutidas com o meu orientador para a
reconstrução do problema de pesquisa, mas convictos de que o fenômeno
investigativo surgiria do estágio, atentamos para o fato de desenvolvermos atividades
no Curso Normal Superior oferecido pela UEA em parceria com o Programa Nacional
de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), o qual ele era o coordenador geral e
eu atuava como bolsista do programa e o auxiliava em algumas disciplinas. O
PRONERA ofereceu formação inicial no magistério para agricultores e filhos de
agricultores que moravam em áreas de assentamento estabelecidos pelo INCRA.
A Universidade do Estado do Amazonas criou e organizou o projeto que
viabilizou o Curso Normal Superior para atender duzentos agricultores e/ou seus filhos
que residissem em áreas de assentamento do Amazonas e Roraima. Foram cem
vagas para cada estado e os próprios professores do Curso Normal Superior regular
eram os responsáveis por ministrar as aulas.
Tendo em vista que a linha de pesquisa da qual fazia parte no curso de
mestrado era a de “formação de professores” e o meu projeto de pesquisa tinha como
objeto de estudo o professor pesquisador, em comum acordo com o meu orientador
escolhemos uma turma do PRONERA localizada no sul do estado de Roraima para
realizarmos a pesquisa de campo.
O curso se desenvolvia na modalidade modular sempre no período de recesso
acadêmico nos meses de julho, janeiro e fevereiro e mesmo assim a cada módulo as
dificuldades eram imensas para alojar os acadêmicos. As duas turmas do Amazonas
ficavam na Escola Normal Superior da UEA ou na Escola Agrícola do IFAM; enquanto
que uma das turmas de Roraima estudava no prédio da Universidade Estadual de
Roraima – UERR na cidade de Rorainópolis e a outra na capital Boa Vista. Outra
80
particularidade do Curso Normal Superior do PRONERA/UEA era que os acadêmicos
ficavam alojados nas cidades onde aconteciam as aulas tudo custeado pelo projeto.
Era um período de muitas dificuldades, principalmente nos deslocamentos até
o campo de pesquisa que se localizava em cidades do sul de Roraima, a mais de
700km de Manaus, mas foi no acompanhamento do processo de estágio
supervisionado dos acadêmicos que de fato adentrei ao campo de pesquisa do
mestrado. Essa experiência de pesquisa com professores em formação inicial que
realizavam o período de Estágio Supervisionado, em escolas de Educação Básica de
áreas campesinas, foi extremamente significativa a todos os envolvidos, tal como
destaca Chimentão (2010, p.23) quando afirma que:
Outro ponto que merece destaque nos processos de formação inicial e
contínua diz respeito à relação entre universidade e escola de educação
básica, especialmente da rede pública, que vem a ser o segmento que mais
carece de apoio e investimento. A aproximação entre essas instituições fazse
importante e necessária para a melhoria do processo de ensinoaprendizagem
como um todo.
As atividades desenvolvidas juntamente com os estagiários nas escolas do
campo contribuíram tanto para a amenização de determinados problemas no processo
de ensino-aprendizagem dos educandos, como para viabilizar outras parcerias entre
universidade e escola (vide figura 24 e 25). Era perceptível o avanço dos estudantes
das salas que recebiam os estagiários, pois no transcorrer de dois semestres muitos
que sequer conheciam as letras já conseguiam ler, o que levou aos professores das
escolas a pedirem um rodízio de salas e turnos de trabalho dos acadêmicos. Além
disso, após terem recebido estagiários da UEA, as escolas do campo passaram a ser
mais notadas pela secretária de educação - pelo menos durante o período de estágio
dos acadêmicos.
Figura 24: Atividades de Estágio Figura 25: Atividades de Estágio
81
Fonte: Almeida (2008) Fonte: Almeida (2008)
As dificuldades vivenciadas no contexto de pesquisa, desde os problemas do
processo de ensino aprendizagem, até as péssimas condições físicas das escolas do
campo, que sequer disponibilizavam cadeiras suficientes aos educandos, ao invés de
me desmotivarem, aumentaram as minhas forças para seguir a pesquisa e ratificaram
a convicção de que escolhi o local certo para realizar a pesquisa de campo da
dissertação de mestrado.
No que se refere a investigação desenvolvida, vale ressaltar que foi a partir
deste momento que nosso fenômeno investigativo se desvelou, pois na verdade já
estava estabelecido há tempos e só agora de fato o apreendia. Portanto, o próprio
espaço formativo no qual estava inserido se constituiu como contexto de pesquisa,
tendo em vista a seguinte temática: “A fertilidade do conceito de professor pesquisador
do campo, a partir de uma experiência de estágio vinculado à pesquisa” e salvo alguns
redirecionamentos que fizemos no transcorrer do processo, em linhas gerais, essa foi
a temática que investigamos no contexto de pesquisa. Defendemos ao final do curso.
Ao mesmo tempo em que ministrava aulas nas disciplinas Pesquisa e Prática
Pedagógica e Estágio Supervisionado, orientava os TCCs e o processo de estágio dos
acadêmicos. Concomitantemente a esse momento, também utilizava esse contexto
para coletar dados para a dissertação e realizar o período de Estágio e Docência
obrigatório no Curso de Mestrado. Enfim, vivi um intenso processo formativo que tanto
contribuiu na construção da escrita dissertativa de mestrado, como possibilitou
experienciar situações formativas que transformaram irreversivelmente o meu olhar
sobre a educação.
As experiências obtidas a partir das vivências do período de coleta de dados
me exigiram sensibilidade para lidar com situações que influenciaram diretamente o
andamento da investigação. Situações como a faixa etária dos acadêmicos, problemas
financeiros, distância da família e escassez de livros eram os mais recorrentes. A
turma possuía acadêmicos(as) jovens e solteiros(as) de 18 a 22 anos, enquanto outros
eram adultos e chefes de família, além de também fazer parte senhores e senhoras
idosos(as). As distorções de idades causaram alguns transtornos no decorrer das
aulas e das orientações, pois os acadêmicos mais idosos tinham mais dificuldade com
a leitura e produções textuais, até mesmo devido as dificuldades para enxergar.
As aulas eram ministradas em módulos semestrais na cidade de Rorainópolis,
exigindo que mais da metade da turma se deslocassem de suas cidades. O PRONERA
82
disponibilizava alojamentos para os acadêmicos não residentes em Rorainópolis,
enquanto alimentação foi disponibilizada para todos (vide figuras 26 e 27). A distância
da família, principalmente daqueles que eram casados, era um fator que complicava o
processo, pois estes se preocupavam com as condições financeiras em suas
residências, haja vista quase sempre estes serem os responsáveis pelo sustento.
Conforme as situações iam aparecendo, professores e coordenadores resolviam as
demandas para garantir o bom desempenho de todos os envolvidos no curso.
Figura 26: Alojamentos PRONERA Figura 27: Refeitório PRONERA
Fonte: Almeida (2008) Fonte: Almeida (2008)
A definição final dos procedimentos metodológicos que adotaria na pesquisa se
deu apenas no período do Estágio Docência, quando fui responsável pelas disciplinas
de Estágio Supervisionado I, II e III; e Pesquisa e Prática Pedagógica I e II em uma
turma formada por acadêmicos campesinos residentes em área de assentamentos do
Curso Normal Superior da UEA. Pelas próprias características dos sujeitos e do
contexto da pesquisa, o fenômeno investigativo que se desvelou a nós foi o de
optarmos por trabalhar com a técnica de pesquisa-ação-crítico-colaborativa. Esta
permite que o investigador e os investigados interagirem constantemente
influenciando-se mutuamente. Para Oliveri; Coutrim e Nunes (2010, p.303):
Não se pode olvidar a importância da interação dos professores com os
alunos e com toda a comunidade escolar. Isoladamente, esses agentes não
são capazes de modificar a cultura escolar sedimentada na mera reprodução
de conteúdos. Assim, as escolas também têm sido chamadas a atuar como
instituições de reflexão sobre a própria prática, incorporando pais e
comunidades nesse processo de estímulo dos alunos para a reflexão e
produção do conhecimento, trabalhando coletivamente, participando
diretamente das reformas curriculares, integrando sua ação educativa em fins
83
sociais mais amplos e compreendendo os diferentes processos cognitivos dos
alunos.
O período de Estágio Docência também foi uma etapa de rica aprendizagem
para mim, pois de fato adentrei no espaço da graduação como professor. As atividades
desenvolvidas neste processo foram muito além das horas estipuladas no regimento
do curso, pois acompanhamos, ininterruptamente, durante mais de doze meses, uma
turma com cerca de quarenta professores em formação que residiam em áreas de
assentamento campesino. Essa foi a minha primeira experiência na docência,
ministrando aula e orientando TCCs; situação essa que de fato aproximoume da práxis
pedagógica. Vale ressaltar que o processo teve início no período de Estágio
Supervisionado desses acadêmicos, nas próprias escolas do campo localizadas nas
vicinais das cidades do sul do estado de Roraima.
As dificuldade apresentadas de logística, como a ausência de um espaço físico
para orientação, telefonia fraca, material didático escasso, me fizeram buscar
alternativas criativas para seguir na investigação. Levava de Manaus livros de minha
biblioteca pessoal e cópias de livros da biblioteca da UEA, além de ter digitalizado
inúmeras obras e arquivado num CD que muito contribuiu na elaboração dos TCCs.
Deslocava-me para as atividades de ônibus rodoviários, ônibus fretados, carros
alugados e mini vans, o que importava era chegar aos locais, pois muitas vezes
pernoitava em pousadas na beira da rodovia devido pontes de acesso terem
desabados.
Tais situações fizeram com que eu observasse detalhadamente o contexto e os
sujeitos para conseguir elaborar estratégias metodológicas que contemplassem as
necessidades dos estagiários e ao mesmo tempo fornecessem dados substanciais
para a construção da minha dissertação de mestrado. Agir como autor requer do
docente sensibilidade para perceber situações, muitas vezes, subliminares e que se
evidenciam no contexto pedagógico para tomar decisões que contemplem os objetivos
por ele estabelecido.
Figura 28: Veículo do PRONERA Figura 29: Veículo do PRONERA
84
Fonte: Almeida (2008) Fonte: Almeida (2008)
Quando era encarregado por ministrar as aulas de Estágio e PPP I e II, os
deslocamentos eram realizados em ônibus interestaduais que faziam linhas regulares
de Manaus para Boa Vista. No período das orientações dos TCCs e visita às escolas
do campo, as viagens eram realizas em automóveis alugados pelo PRONERA e
algumas vezes, no período do inverno, devido as condições intransitáveis das
estradas, recorríamos ao aluguel ou empréstimo de motocicletas (vide figuras 28 e
29).
Como mencionamos anteriormente, a pesquisa de campo para a dissertação
de mestrado foi realizada com uma turma de acadêmicos do Curso Normal Superior
do convênio UEA/INCRA/PRONERA, composta por cinquenta assentados ou filhos
desses, residentes nos municípios de Rorainópolis, São Luiz do Anauá, São João da
Baliza e Caroebe; localizados no sul do Estado de Roraima. Sendo que mais da
metade desses estudantes moravam nas vicinais e são oriundos de várias partes do
país, principalmente dos estados do Paraná e Maranhão (vide figura 30).
Figura 30: Mapa do Estado de Roraima
Fonte: www.roraimaemfoco.com.br
As aulas do Curso Normal Superior do convênio INCRA/PRONERA/UEA
aconteciam em módulos nos meses de janeiro, fevereiro e julho na cidade de
Rorainópolis, a qual recebia os acadêmicos residentes nas cidades do sul de Roraima.
85
A coleta de dados para a nossa dissertação acontecia quinzenalmente,
concomitantemente às orientações de estágio e TCC, como também nas visitas
realizadas a cada uma das quatro cidades onde os acadêmicos residiam para
acompanhamento do processo de Estágio e orientação dos TCCs. Para Ghedin;
Oliveira e Almeida (2015), o processo de estágio articulado à pesquisa possibilita a
formação do professor pesquisador, justamente por basear a sua trajetória na
problematização da realidade, a partir da reflexão sobre o contexto. Foi justamente
essa conexão entre a realidade vivenciada nas escolas do campo e as teorias
estudadas no período das disciplinas que fortaleceram os dados coletados na
pesquisa de campo. Ao mesmo tempo que me legitimava como professor pesquisador
também exercia minha condição de autor nas reflexões, produções e socializações
que se estabeleciam nas vivências do processo investigativo.
As cidades onde coletamos os dados foram: Rorainópolis, cidade que possui
uma população com cerca de vinte e oito mil habitantes e localizada às margens da
BR-174; São Luiz do Anauá, cidade localizada na BR-210, estrada confluente à
BR174, que têm uma população de cerca de oito mil habitantes; São João da Baliza,
localizada a cerca de dezesseis quilômetros após São Luiz do Anauá, e também
possui o mesmo número de habitantes; Caroebe, município localizado a mais de
noventa quilômetros da confluência com a BR-174 com cerca de nove mil habitantes.
Essas cidades se caracterizam por possuir uma economia baseada na
agricultura, havendo uma parcela significativa da população, em sua maioria
imigrantes do sul do país, residindo em áreas de assentamento organizado pelo
INCRA desde a década de 1970. As famílias dos acadêmicos sintetizavam de maneira
concreta a essência do PRONERA. Filhos e netos de assentados que moravam e
trabalhavam em áreas estabelecidas pela reforma agrária e produziam seu próprio
sustento, além de fornecer produtos de origem animal e vegetal para o comércio das
cidades do entorno.
As peculiaridades dos acadêmicos demonstravam suas origens, seja na
fisionomia, com pele branca e cabelos claros, pois grande parte dos assentados eram
oriundos do sul do país, seja nos hábitos alimentares que os levavam a consumir
chimarrão mesmo num clima amazônico, que por vezes chegava aos quarenta graus
célsius. Tais particularidades culturais contrastava com o estilo de vida dos nativos de
descendência indígena da região, não gerou conflitos; mas enriqueceu a cultura do
86
local a partir da miscigenação das novas famílias que ali se formaram ao longo dos
anos.
Figura 31: BR – 174 Figura 32: Cidade de Rorainópolis
Fonte: Almeida (2008) Fonte: Almeida (2008)
Rorainópolis está localizada às margens da BR-174 (vide figuras 31 e 32). Os
encontros com os estudantes dela aconteciam numa sala de aula cedida no período
matutino pelo Serviço Social do Comércio – SESC, daquela localidade, no qual um de
nossos orientandos era o coordenador. Os alunos da cidade de São Luiz do Anauá se
reuniam na cidade de São João da Baliza, na parte externa de um pequeno hotel da
localidade, pois não possuíam um local reservado para os encontros. Já as
orientandas da comunidade de Entre Rios se deslocavam até o município de Caroebe,
local em que a reunião com os orientandos daquela urbe aconteciam numa escola
pública. As dificuldade vivenciadas eram muitas, mas a motivação de todos os
envolvidos também era gigantesca, acadêmicos vinham de todos os assentamentos e
de todas as maneiras possíveis: caminhando, pilotando moto, bicicleta; era comovente
como os obstáculos eram transpostos conforme apareciam e nas dificuldades
encontrávamos razões para continuar. Tais situações vivenciadas no transcorrer do
processo são reafirmadas por Marcelo (2009, p.12) quando evidencia que:
87
A identidade profissional é um processo evolutivo de interpretação e
reinterpretação de experiências. Uma perspectiva que assume a ideia que o
desenvolvimento profissional dos professores nunca para, constituindo-se
como uma aprendizagem ao longo da vida.
Ao transformar as suas vivências cotidianas em experiências formativas, o
professor avança na sua formação contínua, o que contribui significativamente na sua
legitimação como pesquisador, propiciando-o viver situações formativas que os levam
a desenvolver novas estratégias de ensino no contexto educativo. Percebemos nas
reuniões realizadas durante a pesquisa de campo do Curso de Mestrado as reais
condições de trabalho dos professores da região e, posteriormente, dos nossos
professores em formação, especialmente no que se refere a deterioração do espaço
físico das escolas e a falta de materiais didáticos pedagógicos, como o quadro branco,
pois nas escolas da localidade ainda se usava o quadro de giz, o que segundo os
estudantes ocasionava vários problemas respiratórios nos professores mais antigos.
Uma outra carência nesse cenário eram os cadernos, já que os alunos usavam os
usados do ano anterior. Portanto, a autoformação nos possibilitou refletir sobre os
desafios características do cotidiano pedagógico na educação do campo.
As reuniões com os professores em formação, ocorridas no transcorrer da
pesquisa, eram mais que orientações, pois se tornaram verdadeiras lições de vida.
Estas reuniões com os estudantes aconteciam ao final de cada mês e para isso
percorríamos de ônibus mais de seiscentos quilômetros em estradas permeadas de
buracos, o que praticamente dobrava o tempo do trajeto (vide figuras 33 e 34).
Entretanto, o que mais me chamava a atenção eram as próprias peculiaridades de
estudantes que superavam todas as adversidades encontradas, desde a falta de livros,
computadores, espaço físico para estudos e mesmo um professor orientador presente
no seu cotidiano, pois este residia na cidade de Manaus-AM.
Figura 33: Reunião com Orientandos Figura 34: Reunião com Orientandos
88
Fonte: Lima (2007) Fonte: Lima (2007)
O planejamento das atividades de pesquisa e ensino, tanto para a orientação dos
acadêmicos, como para a coleta de dados da dissertação era realizado mensalmente
pelo motivo de meu domicílio ser na cidade de Manaus-AM, assim como a instituição
promotora do Curso Normal Superior – CNS, a Universidade do Estado do Amazonas
– UEA. A turma na qual orientei o processo de estágio e os TCCs era composta por
acadêmicos que residiam nos assentamentos do sul do estado de Roraima, daí estar
presente na primeira semana de cada mês nas cidades deste último estado citado.
Começava as visitas de orientação pela cidade de Rorainópolis que se localizava na
BR-174 e finalizava em Caroebe, que ficava no outro extremo de Roraima.
Cada momento da pesquisa de campo do mestrado (PCM) era minuciosamente
pensado devido o tempo reduzido para executá-los, motivo pelo qual os dividíamos
em quatro fases distintas, sendo elas: Percepção do Contexto (PC); Discussão do
Conteúdo (DC); Diálogo com a Realidade (DR) e Construção do Conhecimento. Essa
constante interação com outros saberes e culturas consolidaram o meu processo de
autoria em todo o percurso investigativo que vivenciamos no período do mestrado,
bem como no transcorrer do estágio dos acadêmicos, sendo que os dados coletados
para nossa pesquisa de alguma forma influenciavam as atividades desenvolvidas no
processo de estágio destes acadêmicos.
A fase denominada de Percepção do Contexto acontecia logo no primeiro dia
de nosso retorno das cidades dos orientandos. Dava-se a partir de orientações
coletivas e debates a respeito das correções dos trabalhos, que após a correção eram
organizados a partir dos problemas mais recorrentes e se dividiam em temáticas a ser
debatida com os acadêmicos (vide figuras 35 e 36). Na fase Discussão do Conteúdo,
as orientações eram individuais, onde orientador e orientando discutiam as correções
e organizavam as próximas etapas da pesquisa. Muito aprendi nesse processo, desde
as maneiras de se comportar num processo de orientação até mesmo a inserção numa
cultura campesina.
Figura 35: Debate e orientações gerais Figura 36: Debate e orientações gerais
89
Fonte: Almeida (2007) Fonte: SESC/RR (2007)
Nas fases Diálogo com a Realidade e Construção do Conhecimento, os
orientandos refletiam sobre o seu contexto de pesquisa, tendo em vista o tema
estabelecido (vide figura 37 e 38). Também construíam os relatórios analíticos das
observações no campo de pesquisa e dos fichamentos analíticos para posteriormente
redimensioná-los como parte do TCC. Tais situações nos levaram a valiosas reflexões
sobre esse processo de orientação, principalmente no tocante a importância da
interação constante entre orientador e orientandos no que diz respeito aos olhares
sobre o fenômeno investigativo, pois ao me deslocar juntamente com os acadêmicos
ao contexto da pesquisa, conseguíamos observar situações que geraram dados
significativos para o TCC.
Figura 37: Escola do Campo - Rorainópolis Figura 38: Escola do Campo – Caroebe
Fonte: Macedo (2007) Fonte: Macedo (2007)
Desde os primeiros contatos com os sujeitos da pesquisa, percebi que o processo de
retroalimentação de conhecimentos e experiências seria o sustentáculo do processo,
pois tanto ensinaríamos como também aprenderíamos com os estudantes a partir do
90
momento em que partilhávamos de seus anseios e necessidades. Para Libâneo (2013,
p.227)
[...] a formação continuada pode possibilitar a reflexividade e a mudança nas práticas docentes, ajudando os professores a tomarem consciência das suas dificuldades, compreendendo-as e elaborando formas de enfrentá-las. De fato, não basta saber sobre as dificuldades da profissão, é preciso refletir sobre elas e buscar soluções, de preferência, mediante ações coletivas.
Conforme se desenvolvia o processo investigativo na formação contínua, mais
eu conhecia e me sensibilizava com a realidade das escolas e consequentemente dos
educandos campesinos. Ao final do processo ficaram evidentes os êxitos e atropelos
ocorridos no transcorrer da trajetória de pesquisa, porém, todos os percalços serviram
para que eu avançasse em minha própria formação, para me apaixonar ainda mais
pela educação e por lutar por aqueles brasileiros esquecidos pelo poder público, como
também para compreender as sutilezas do percurso de autoria que construí ao longo
daqueles anos.
Na fundamentação teórica da dissertação de mestrado redimensionei e até
mesmo refiz, junto com o meu orientador, algumas escolhas teóricas ao perceber que
a pesquisa de campo me levava por caminhos que não havia planejado e me afastava
do meu fenômeno investigativo. No desenho metodológico preferi não ficar “preso”
numa abordagem engessada pelo planejamento, deixando que os próprios caminhos
metodológicos fossem se delineando conforme o andamento da pesquisa de campo,
mas nem por isso o planejamento foi menos valioso, haja vista este ter possibilitado a
percepção das situações vivenciadas no contexto.
A pesquisa de campo foi a etapa da pesquisa que mais sofreu ajustes durante
o seu desenvolvimento. O planejamento inicial apontava para uma temática a ser
investigada na cidade de Manaus e tratando da formação de professores pelo viés da
identidade docente articulada ao ensino de ciências. Eis que diversos fatores externos
acabaram por influenciar significativamente a mudança do tema e contexto
investigativo. Assim, reformulamos a temática para a formação de professores a partir
do estágio com pesquisa e mudamos o contexto de uma área urbana da capital do
Amazonas para áreas de assentamentos campesinos do interior de Roraima.
91
Ressalto, porém, a grande importância do planejamento realizado para o êxito
do processo investigativo desenvolvido que possibilitou rever as estratégias
metodológicas ao ajustar técnicas e instrumentos de pesquisa, conforme os dados
coletados eram analisados e transformados em relatórios de pesquisa, que
caracterizariam mais tarde a dissertação de mestrado.
Ao descrever sobre o caminho formativo desenvolvido no mestrado fez-se
necessário detalhar as peculiaridades percebidas em toda a sua trajetória, sendo
importante destacar as vivências adquiridas no transcorrer do processo como um
elemento balizador de todas as nuances subjetivas presentes nas relações e situações
presenciadas. Para de fato agir como autor de minha formação profissional foi
necessário que me permitisse fazer parte do processo, que de fato me envolvesse e
me sentisse participante das vidas dos colaboradores que comigo se relacionassem,
construindo e recebendo conhecimentos a partir do diálogo com os saberes e com as
pessoas.
As dificuldades encontradas foram, em sua maioria, de cunho logístico e
estrutural, afinal durante mais de um ano eu me deslocava cerca de 700 km
mensalmente para as orientações coletivas e individuais. No planejamento elaborado
eu pretendia, em um primeiro momento, discutir com todos os orientandos de maneira
conjunta algumas situações percebidas nos relatórios de pesquisa disponibilizados por
eles, entretanto, quase sempre não havia sala disponível, daí as reuniões acontecerem
em qualquer lugar: praças, varandas, saguões de hotéis, por exemplo.
Conforme o processo se desenvolvia, percebia a necessidade de ajustes
metodológicos para viabilizar a coleta de dados. Várias vezes elaborei pequenos
projetos de intervenção para contribuir na orientação destes acadêmicos e ao mesmo
tempo possibilitar a coleta de dados significativos que contemplassem o fenômeno
investigado. Vale ressaltar que todas as vivências que passei no processo de mestrado
possibilitou-me conhecer e compreender outros caminhos metodológicos que
enriqueceram e validaram não apenas a pesquisa realizada, mas também a minha
identidade de pesquisador e concomitantemente meu fazer pedagógico como autor de
minha profissionalidade.
Após dez meses de uma trabalhosa coleta de dados e um incessante processo
de idas e vindas do trabalho escrito para o orientador, enfim, ele autorizou a defesa da
dissertação. Neste momento os colaboradores da pesquisa que faziam parte da turma
de graduação em Normal Superior do convênio INCRA/PRONERA/UEA já haviam
92
defendido seus TCCs e aguardavam a colação de grau. A defesa foi marcada para o
segundo semestre de 2008 e as semanas que antecederam a entrega do trabalho para
a banca examinadora foi dedicada a “lapidação” do texto, revisando a parte ortográfica
e conferindo as normas da ABNT. Tudo corria bem. Trabalho entregue para a banca,
apresentação pronta e ensaiada, ainda faltando duas semanas para a grande data,
mas eis que o destino me prega uma grande peça. Faltando três dias para a defesa
minha esposa é acometida de uma forte crise de apendicite aguda, o que a obriga
fazer uma cirurgia de emergência e me deixa totalmente abalado nos dias que
antecederam a defesa.
A cirurgia foi um sucesso e minha esposa já estava em casa para reestabelecer
a sua saúde, porém não compareceu a defesa, o que nos deixou muito tristes, pois
esperamos e nos preparamos ansiosamente para esse momento. No dia da defesa,
Manaus amanheceu com uma intensa tempestade e o local onde ocorreria a defesa,
a Escola Normal Superior – ENS da Universidade do Estado do Amazonas – UEA,
estava sem energia elétrica, fato que obrigou a atrasar em mais de uma hora a
apresentação, aumentando ainda mais meu nervosismo. No momento do ritual da
defesa a sala estava lotada de amigos, mestrandos e professores que mesmo
enfrentando uma chuva incessante vieram me prestigiar. Tudo ocorreu conforme o
esperado e fui avaliado com o conceito máximo e tendo a banca recomendando o
trabalho para publicação. O recebimento do diploma foi o prêmio pelos árduos meses
de trabalho incansável de pesquisa (vide figuras 39 e 40).
Figura 39: Diploma de Mestrado Figura 40: Histórico Escolar
Fonte: Almeida (2018) Fonte: Almeida (2018)
Foram exatos vinte e seis meses a contar do dia em que recebi o resultado da
aprovação na seleção do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências, até o dia da
defesa. Muitas disciplinas cursadas, inúmeras avaliações realizadas, artigos científicos
93
publicados, trabalhos apresentados, viagens para participação de eventos,
orientações e muitas viagens para a coleta de dados. As vivências do período de
mestrado marcaram decisivamente a minha formação profissional, transformaram
irremediavelmente o meu trabalho docente e me consolidaram como o autor de minha
profissão.
Ao refletir sobre todo este percurso formativo, percebo que agir com autonomia
e criatividade na busca por solucionar as situações problemas que apareceram no
transcorrer do processo contribuiu para a proposição de novas estratégias que eram
norteadas pelo itinerário de autoria que eu próprio delineava conforme o andamento
da investigação. Consciente de minha condição de autor, reestruturava,
redimensionava e ressignificava minha prática docente de acordo com o contexto que
atuava, mas com o passar dos anos percebi que era o momento de galgar mais um
degrau formativo. A busca pelo doutoramento era mais que um simples desejo, uma
necessidade.
94
4º MOSÁICO
EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS CONTÍNUAS: A FORMAÇÃO EM SERVIÇO
No mosaico anterior narrei minhas experiências oriundas do Curso de Mestrado
Profissional em Ensino de Ciências, neste evidencio a narrativa das minhas
experiências no processo de Formação Contínua, especificamente no Curso de
Doutorado em Educação em Ciências e Matemática, tendo em vista as implicações
que uma Formação em Serviço acarreta no andamento das atividades realizadas no
decorrer do processo.
Novos anseios e necessidades
É gratificante formar professores no interior da Amazônia. A riqueza cultural
contrasta com as deficiências educacionais e o trabalho docente é sempre desafiador
por ser um importante elemento de transformação da realidade. Entretanto, a grande
distância das instituições que oferecem cursos de pós-graduação e a impossibilidade
de ser liberado para estudar, mesmo saindo sem remuneração, é um obstáculo quase
intransponível para a nossa formação. No meu caso, a Formação em Serviço
constituise como uma alternativa, pois sou um desses professores que cursam
pósgraduação, mas, concomitantemente, desenvolvem suas atividades profissionais
no ambiente educativo.
Em meados de 2014, cinco anos depois da conclusão do Curso de Mestrado e
na condição de professor efetivo da Universidade do Estado do Amazonas – UEA, no
Centro de Estudos Superiores de Tefé – CEST, percebi a extrema necessidade de
entrar num programa de doutorado para ampliar o leque de atuação na academia e
adquirir novos conhecimentos teórico, epistemológicos e metodológicos. O CEST/UEA
(vide figura 41), naquele momento, apenas possuía seis professores doutores e
nenhum no Curso de Pedagogia, curso do qual faço parte, e a universidade estava
95
criando regulamentos que excluíam os professores apenas com mestrado de várias
atividades, tais como: não mais poderiam criar ou liderar grupos de pesquisa, só
poderiam orientar no máximo dois acadêmicos na Iniciação Científica, não mais
poderiam pleitear recursos para organização de eventos, etc.
Era de suma importância que os docentes do centro tivessem autonomia para
desenvolver as atividades do cotidiano acadêmico, mas com as novas restrições
impostas pela reitoria da instituição, diga-se de passagem, por imposição da CAPES,
as dificuldades acarretadas devido a falta de doutores se multiplicaram
exponencialmente. Foi nesse contexto que comecei a pleitear uma vaga em diversos
programas de doutorados, entretanto, havia um obstáculo difícil de ser ultrapassado:
a liberação da instituição.
Por motivos econômicos, a UEA não contrata professor substituto para ocupar
o lugar dos docentes que passam na seleção de mestrado ou doutorado, sendo
necessário que os professores fizessem arranjos e acordos internos para poderem sair
em busca de sua formação, tais como: troca de horários e condensação da carga
horária das disciplinas, por exemplo. Essa situação muito dificultou meu processo
formativo, haja vista gerar uma grande sobrecarga de trabalho ao ter que conciliar as
atividades doutorais com de ensino e pesquisa na instituição.
Figura 41: CEST/UEA
Fonte: Almeida (2016)
Dentre os diversos cursos de doutorado ao qual me interessei, optei pelo do Programa
de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática da Rede Amazônica de
Educação em Ciências e Matemática – PPGECEM/REAMEC12, porque ele oferecia o
12 O PPGECEM/REAMEC visa a formação de professores pesquisadores e formadores em nível
doutoral, com o propósito de fortalecer a Educação em Ciências na região amazônica, e
concomitantemente esses novos doutores criarem e manterem programas de pós-graduação em seus
referidos estados.
96
Curso de Doutorado em Educação em Ciências e Matemática. O principal motivo da
escolha foi a minha própria formação, mestre em Ensino de Ciências, além da
estrutura curricular do curso e o período de realização das aulas, sempre em módulos
nos meses de recesso acadêmico nas IES.
O curso de doutorado da REAMEC é voltado para professores das vinte e seis
Instituições de Ensino Superior associadas na rede, sendo dividido em três polos
acadêmicos: O Polo Local de Mato Grosso, localizado na Universidade Federal do
Mato Grosso (UFMT), responsável pela coordenação geral do programa. Além de
atender os estados do Mato Grosso, Tocantins e Rondônia. O Polo Acadêmico do
Amazonas, sob a responsabilidade da Universidade do Estado do Amazonas (UEA),
atende as IES dos estados do Amazonas, Roraima e Acre; o Polo Acadêmico do Pará
é de responsabilidade da Universidade Federal do Pará (UFPA) e atende as IES dos
estados do Pará, Maranhão e Amapá.
Essa perspectiva de formação em rede visa suprir a ausência de Cursos de
Doutorados na região amazônica. A falta de doutores impede a criação de novos
cursos de doutorado, enquanto que a falta de cursos de doutorado impede a formação
de novos doutores. A REAMEC com o PPGECEM tem o intuito de transformar essa
situação ao reunir num único programa doutores de várias universidades da região
para compor o programa.
A inserção no doutorado
O processo de seleção foi longo e difícil. Dividido em três fases distintas:
inscrição, prova escrita e entrevista de defesa do projeto. Senti dificuldade desde o
envio da documentação pessoal e comprobatória do currículo lattes para Manaus, pois
justamente neste período a agência dos Correios em Tefé estava passando por uma
reforma, o que me obrigou a ter o deslocamento até capital para fazer a inscrição. O
enquadramento de um projeto que já desenvolvia no CEST/UEA nas especificidades
das linhas de pesquisa do curso também consumiu-me vários dias de elaboração, mas
tinha convicção que este causaria uma boa impressão à banca avaliadora.
Com o deferimento da inscrição comecei a preparação para a prova escrita, que
veio a acontecer na Escola Normal Superior da UEA, na cidade de Manaus. Já neste
momento percebi a dificuldade que teria no transcorrer do processo, pois a avaliação
aconteceu na semana de um evento acadêmico agendado previamente no CEST e no
qual eu havia me comprometido em ser um dos palestrantes. Passei por um transtorno
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em ter que cancelar minha participação, além de ficar incumbido pela direção do
Centro em conseguir outro palestrante para o meu lugar. Desde o início percebi que a
o processo de formação em serviço por qual passaria seria árduo e estressante.
No dia da prova, mesmo muito ansioso, nervoso e acometido de uma forte crise
de coluna, obtive a maior nota de todos os polos, fato que aumentou a confiança para
a entrevista a ser realizada quase dois meses depois no campus da Universidade
Federal do Mato Grosso – UFMT, localizado na cidade de Cuiabá. Após uma longa e
cansativa viagem aérea com várias escalas e conexões, desde Tefé até Cuiabá,
passando por Manaus, Porto Velho e Brasília, por motivos econômicos, vi-me forçado
a fazer uma otimização do tempo de estada na capital do Mato Grosso. Assim,
obriguei-me a passar o dia na faculdade. Acabei por realizar uma boa entrevista, o que
me rendeu a aprovação no programa com uma das maiores nota do processo de
seleção.
Era a terceira vez que pleiteava uma vaga neste curso de doutorado. Na
primeira vez, em 2010, fiquei de fora por falta de orientador; na segunda, em 2012,
não consegui enviar no tempo hábil os documentos para a inscrição; portanto, nessa
terceira tentativa nada poderia sair errado. Na entrevista referente ao projeto de
pesquisa me senti seguro durante a arguição da banca examinadora, o que me deixou
otimista quanto ao resultado final.
Figura 42: Resultado final da seleção REAMEC
Fonte: Almeida (2014)
Após a divulgação do mesmo (vide figura 42), comecei o processo de ajuste de
horários, cursos e disciplinas que trabalharia no semestre concomitante ao primeiro
módulo do doutoramento, pois pretendia escolher as disciplinas e os cursos que
contribuíssem na construção da tese. Naquele momento, ainda me recuperava da
tensão da primeira eleição direta para diretor do CEST/UEA, caracterizada por várias
denúncias, brigas e revanchismos entre docentes e técnicos que desfizeram amizades
98
e causaram inimizades. Portanto, foi neste contexto que tive de ajustar horários e
disciplinas para o primeiro semestre do doutorado que se aproximava, mas ao explicar
a importância do processo doutoral tanto para mim, quanto para a instituição,
apresentando um plano de trabalho para as disciplinas que ministraria no semestre,
tudo se resolveu a contento.
A atmosfera do CEST/UEA no que se refere a liberação de professores é de muito
conflito, pois a universidade apenas permite a liberação de seus docentes para
formação contínua caso outro professor do colegiado de curso assuma as suas
disciplinas, situação que dificilmente acontece. Essa atitude da reitoria coloca em
confronto o corpo docente e aumenta as tensões nos colegiados, haja vista, todos os
envolvidos considerarem justa a sua liberação. Tendo consciência de tal situação, eu
sequer cogitei uma liberação, por isso o motivo de aceitar a formação em serviço com
aulas apenas no recesso acadêmico. Mesmo assim, ainda era necessário a troca de
horários e disciplinas com os meus pares para poder realizar com o mínimo de
tranquilidade as atividades doutorais.
O docente – aluno
Ainda no final de 2014 foram divulgadas as datas do primeiro módulo de disciplinas,
a euforia inicial pela aprovação deu lugar a ansiedade e aflição, pois as datas da
primeira disciplina que anunciavam as aulas para o início de janeiro, passaram para o
final, e assim o módulo só terminaria em março, justamente na semana de formação
para os professores do CEST, a qual eu seria um dos palestrantes. Após uma
complicada negociação com a direção do centro, consegui a minha substituição na
palestra, além de protelar por quinze dias meu retorno às atividades acadêmicas.
Como previsto antes mesmo da seleção, cursar doutorado concomitantemente ao
desenvolvimento das minhas atividades de ensino e pesquisa no contexto acadêmico
seria uma árdua batalha, porém como não existia a possibilidade de liberação por parte
da universidade e tendo convicção da necessidade urgente dessa formação em minha
carreira profissional, fiz todo o esforço possível para conciliar as atividades do
doutorado com as atividades acadêmicas que desenvolvo no CEST/UEA, pois como
destaca Gobbo (2012, p.02):
Escolher uma atividade de atualização em serviço é um ato de consciência: é
a partir desse pressuposto que é possível considerar o problema da
atualização em serviço em termos de demanda de formação por parte dos
professores e não como ação hétero-direta funcional para o sistema escolar.
99
Por motivações pessoais, precisava ampliar e atualizar meus conhecimentos teóricos
e metodológicos, e coletivamente, a necessidade da criação de grupos de pesquisa e
cursos de mestrado no CEST/UEA. Estas situações me motivaram no decorrer de todo
o processo de doutoramento, fazendo-me tomar consciência da importância de agir
autonomamente para poder formar professores autônomos e críticos, pois como
destacam Souza e Tozetto (2011, p.5.885):
É o professor que tem que promover sua formação, sua valorização, refletir
sobre suas ações, apropriar-se de uma práxis que o leve a resgatar sua
dignidade profissional perante a sociedade, consciente de seu papel histórico
e comprometido com os interesses da classe trabalhadora. É o professor que
se responsabiliza e assume a construção de seus saberes, ou seja, através
da reflexão toma para si a condição de produtor de conhecimentos
necessários à docência, passa a ser sujeito de sua própria prática.
Foi baseado nesse sentimento que iniciei o primeiro módulo com as duas
disciplinas obrigatórias a todos os doutorandos: Bases Epistemológicas para a
Educação em Ciências e Matemática e, logo em seguida, Pesquisa em Educação em
Ciências e Matemática. A turma do Polo Acadêmico do Amazonas era bastante
heterogênea, composta por professores de todas as áreas do conhecimento dos
estados do Amazonas, Roraima e Acre (vide figuras 43 e 44). As aulas aconteceram
na Escola Normal Superior da Universidade do Estado do Amazonas – ENS/UEA na
cidade de Manaus, sendo as discussões teóricas no período matutino e as orientações
e produções pela parte vespertina.
Figura 43: Sala de aula Figura 44: Horário do almoço
Fonte: Vitor (2015) Fonte: Souza (2015)
100
Foram dias cansativos, com atividades das 8h às 17h e um intervalo para o almoço
nas mediações da universidade, porém o ambiente era motivador e cativante porque
os doutorandos se apoiavam e os residentes em Manaus ajudavam aqueles oriundos
de outras cidades. Essa parceria foi de suma importância para conseguirmos superar
os obstáculos que já prevíamos aparecer no processo formativo.
Quase oito anos depois voltava a ser estudante de pós-graduação. Neste
interregno entre o curso de mestrado e o curso de doutorado, dediquei-me à docência
no Ensino Superior em instituições particulares de Manaus, ao trabalho em Cursos de
Capacitação de Professores ofertados pesa Secretaria de Educação e, principalmente,
a cuidar de meu filho nascido dois anos após a conclusão do curso de mestrado.
O primeiro impacto sentido no início das aulas do curso de doutorado foi a
grande quantidade de trabalhos exigidos pelos professores das disciplinas em um
curto espaço de tempo, pois o período matutino era dedicado às atividades de sala de
aula e as tardes e noites para a produção dos resumos dos textos trabalhados, além
do power point para as devidas apresentações na aula posterior, como também a
exigência da entrega do artigo científico logo depois da finalização dos módulos. A
quantidade de atividades exigidas pelos professores, a profundidade das reflexões,
aliada a forte sustentação teórica das produções construídas, nos obrigavam a ter
dedicação total aos estudos, impossibilitando-me de dividir o tempo com as demais
atividades profissionais, daí a importância de ter conseguido trocar os horários das
disciplinas que ministraria no CEST/UEA com os colegas de trabalho.
Uma semana antes do início da primeira disciplina, Bases Epistemológicas para
a Educação em Ciências e Matemática, o professor responsável deixou na reprografia
da universidade o material teórico que seria utilizado nas aulas (vide figuras 45 e 46).
Para nossa surpresa recebemos um catálogo de apostilas, denominado “Excertos
Teóricos” com cerca de quinhentas páginas, contendo dezenas de capítulos de mais
de vinte livros diferentes que tratavam das epistemologias das ciências. Vale ressaltar
que esse material muito contribuiu com a construção da tese de alguns doutorandos,
pois muitos dos livros selecionados no excerto não eram encontrados em bibliotecas
ou para venda na internet e livrarias.
As atividades avaliativas dessa disciplina aconteceram em todos os dias de aula
a partir da produção de questões norteadoras que direcionaram a construção dos
101
papers referentes às temáticas selecionadas pelo professor, sendo que ao final, cada
doutorando apresentou o resultado dos trabalhos elaborados para em seguida
fazermos o debate. Ao retornar para o CEST/UEA, adotei as estratégias avaliativas
utilizadas pelo professor do doutorado nas disciplinas que ministraria nos cursos de
graduação e ao perceber os resultados positivos ao final da carga horária, compreendi
como meu fazer pedagógico se ressignificava ainda no início do processo de formação
doutoral.
Figura 45: Excertos Teóricos Figura 46: Apresentação Final
Fonte: Almeida (2015) Fonte: Almeida (2015)
A cada discussão com os professores, novas ideias iam surgindo e
impulsionando os doutorandos a ressignificarem os seus respectivos projetos de
pesquisas, pois em breve cada um de nós conheceríamos os nossos orientadores de
tese. Os quarenta e cinco dias de estudos, apenas interrompidos na semana do
carnaval, foram de trabalho árduo, mas também de momentos felizes e prazerosos
ocorridos a partir de uma forte interação e partilha de conhecimentos com os demais
colegas. Alguns trabalhos eram de cunho individual, entretanto, sempre estávamos
juntos para nos ajudar naquilo que fosse possível. A heterogeneidade formativa da
turma contribuía para a realização dos trabalhos em sala de aula, pois sempre algum
doutorando dominava determinado assunto explorado pelos professores.
Tal como destaca Gobbo (2012, p.11), quando diz que “[...] o professor não
pode pensar em poder desenvolver sozinho, como profissional que atua
individualmente e independentemente do contexto organizacional em que está
inserido”. Todas as situações que vivemos ao longo desse período de estudo se
constituíram como significativos momentos formativos capazes de mesmo ainda no
início do processo de doutoramento já contribuir na ressignificação de nossas práticas
docentes.
102
Figura 47: Confraternização no 1º módulo Figura 48: Atividade em Sala de Aula
Fonte: Carvalho (2015) Fonte: Castelo Branco (2015)
Era apenas o primeiro semestre do curso, com um único módulo de duas
disciplinas realizado, entretanto, já era perceptível o crescimento intelectual e
profissional em nossas vidas, principalmente devido ao contato com novos livros,
metodologias e discursos teóricos que influenciaram nosso trabalho docente no
semestre, posterior às aulas de doutoramento. Ao término de cada disciplina, os
doutorandos confraternizavam-se num coquetel em que também faziam uma
autoavaliação de suas participações, tudo com o intuito de identificar as dificuldades
encontradas (vide figuras 47 e 48).
Ao refletir a respeito desses novos conhecimentos abstraídos no processo de
doutoramento é importante distinguir as vivências adquiridas no processo das
experiências que de fato ressignificarem meu fazer pedagógico. Sobre essa questão,
Josso (2010) afirma que as vivências atingem o status de experiência a partir do
momento que fazemos certo trabalho reflexivo sobre o que se passou e o observado,
percebido e sentido.
É necessário que o docente compreenda o processo de desenvolvimento
profissional que vivencia para poder ressignificar o seu fazer pedagógico de maneira
consciente, visando promover a aprendizagem significativa e a transformação cultural
dos educandos a partir da problematização de sua própria realidade. Ainda sobre a
distinção entre vivência e experiência como forma de compreensão de nosso próprio
percurso de autoria, recorremos a Larrosa (2011, p.5). Para este autor, a experiência
é explicada como:
[...] um acontecimento ou, dito de outro modo, o passar de algo que não sou
eu. E “algo que não sou eu” significa também algo que não depende de mim,
que não é uma projeção de mim mesmo, que não é resultado de minhas
palavras, nem de minhas ideias, nem de minhas representações, nem de
meus sentimentos, nem de meus projetos, nem de minhas intenções, que não
depende nem do meu saber, nem de meu poder, nem de minha vontade. “Que
não sou eu” significa que é “outra coisa que eu”, outra coisa do que aquilo que
eu digo, do que aquilo que eu sei, do que aquilo que eu sinto, do que aquilo
103
que eu penso, do que eu antecipo, do que eu posso, do que eu quero (Grifos
do Autor).
Isto significa afirmar que ela surge do novo, do estranhamento que sentimos na
realidade em que estamos inseridos, da reflexão sobre nossas vivências cotidianas e
da problematização da realidade. O professor pesquisador se caracteriza pela
constante inquietação sobre o seu contexto, por uma busca incessante em criar
estratégias de ensino que amenizem as dificuldades de aprendizagem do alunado e
ao mesmo tempo contribuam para lhes despertar o senso crítico.
Ao retornar para minha universidade de origem foi possível colocar em prática
alguns dos conhecimentos teóricos e metodológicos com os quais tive contato no
primeiro módulo de disciplinas do doutorado. Logo, no semestre posterior em que
trabalhei no CEST/UEA as disciplinas Métodos e Técnicas do Trabalho Científico, e
Pesquisa e Prática Pedagógica I, ambas no Curso de Pedagogia, além de Didática
Geral no Curso de Química. Discuti em sala de aula novas abordagens referentes à
pesquisa em Educação em Ciências direcionadas para a formação de professores no
contexto amazônico, a partir de estratégias metodológicas baseadas em modelos
paradigmáticos de ciência legitimados em outros países. Mesmo ainda no início do
processo, as vivências adquiridas já influenciavam significativamente meu trabalho e
a minha própria história.
Nas estratégias de formação em serviço, os professores se constituem como
sujeitos do próprio processo de conhecimento em que ora são professores
“ensinantes”, ora “aprendentes”; esta modalidade por estar mais centrada no espaço
escolar acaba oferecendo ao professor plena autonomia, decorrência natural da
condição de sujeito do próprio conhecimento (BOTTEGA 2007). Esse movimento
formativo é dialético e possibilita que o docente transite ao mesmo tempo pelos
campos da docência, enquanto educador e como estudante, enquanto pesquisador
que visa ressignificar a sua própria prática. Ao agir com iniciativa e autonomia nas
atividades desenvolvidas e ao ter consciência das implicações dos objetivos do
programa com os meus objetivos pessoais, tornei-me o construtor de meu próprio
percurso formativo, autor de minha formação, podendo redimensioná-la conforme as
minhas necessidades.
O segundo módulo do curso foi composto por duas disciplinas obrigatórias para
a linha de pesquisa na qual estava vinculado, no caso a Formação de Professores
104
para a Educação em Ciências e Matemática. Neste módulo o número de doutorandos
diminuiu significativamente, pois essa linha teve apenas sete aprovados no processo
seletivo. Essa diminuta quantidade de estudantes possibilitou a adoção de estratégias
de ensino diferenciadas no transcorrer das aulas.
A disciplina Pesquisa em Formação de Professores em Ciências e Matemática
me despertou para uma possibilidade de estudo ainda pouco utilizada por mim,
principalmente devido as dificuldades de conectar a internet no interior do estado do
Amazonas: os periódicos científicos. A professora agia como mediadora das atividades
instigando os doutorandos a buscar artigos científicos sobre os temas relacionados a
seu projeto de tese e posteriormente construir uma resenha e apresentá-la aos demais
colegas.
Por motivos de agenda do professor que a ministrou, a disciplina Formação de
Professores: Tendências e Abordagens se realizou em dois momentos, sendo um
deles no período letivo do CEST/UEA, o que mais uma vez me fez sentir o peso de
uma formação em serviço, pois foi necessário fazer diversas trocas com outros
professores para que eu pudesse me ausentar da instituição para estudar. Nesta
disciplina, a turma era pequena e composta apenas por sete doutorandos (vide figura
49), os quais tiveram contato com o pensamento de diversos teóricos que tratam da
formação de professores na contemporaneidade. Nesse cenário conhecemos outras
estratégias avaliativas, como a produção de áudios referentes aos temas
estabelecidos, análise de vídeos-palestras e utilização da plataforma moodle como um
recurso de interação virtual entre todos os doutorandos que moram e trabalham em
diferentes cidades.
Figura 49: Encerramento da disciplina
105
Fonte: Gonçalves (2015)
Foram semanas de atividades intensas, com leitura de dezenas de artigos
científicos e visualização de várias palestras educacionais. O próximo passo foi
produzir um áudio com dez minutos de duração, retratando parte do material teórico
disponibilizado. Essa atividade foi extremamente trabalhosa devido o tempo curto
estabelecido para fazer a gravação. Além disso, também foi construído um texto a
respeito das vídeo-palestras e um artigo científico contemplando o restante do material
teórico, a fim de fecharmos as avaliações. As atividades desenvolvidas ampliaram meu
olhar sobre avaliação e metodologias de ensino na Educação, fazendo-me repensar
minhas práticas e ao mesmo tempo adotar esses novos aportes avaliativos e
metodológicos que tivemos contato.
Tendo em vista a dificuldade em obter livros para a sustentação teórica dos
trabalhos produzidos no CEST/UEA, ao retomar minhas atividades docentes na
disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica II, indiquei aos acadêmicos finalistas a
importância de finalizarmos a revisão de literatura dos TCCs com uma parte
considerável de artigos científicos. Essa atitude, além de superar o obstáculo da falta
de livros em nossa biblioteca, também propiciaria um conhecimento ainda mais
atualizado do que os oferecidos pelas obras, haja vista, a ágil dinâmica de publicação
das Revistas Científicas. Esse exercício de autonomia era alinhado a minha condição
de autor, porém, só foi possível graças aos conhecimentos adquiridos a respeito da
formação de professores pesquisadores por meio de vídeo-palestras ou textos
escritos. Eles contribuíram significativamente para o êxito de nosso trabalho docente
e para a construção de nossa tese.
Ao final do primeiro ano do curso de doutorado, era perceptível a minha
mudança de postura nas atividades docentes. Com a ampliação da visão a respeito
da formação de professores eu percebi a necessidade de buscar novas metodologias
de ensino que de fato instigassem os acadêmicos à pesquisa. As disciplinas que
trabalhamos na universidade no transcorrer do processo de doutoramento, tais como:
Estágio I, Pesquisa e Prática Pedagógica I, Didática, sempre finalizavam com um
106
painel de debates em que os acadêmicos relacionavam os conhecimentos adquiridos
no processo aos seus anseios e necessidades individuais, o que os levavam a uma
reflexão a respeito de sua postura na academia, enquanto eu como docente, refletia
sobre como a formação em serviço da qual participava também se caracterizava como
um claro exercício de autoria.
O processo vivenciado por mim no período de doutoramento se estendeu numa
teia de conhecimentos e estratégias metodológicas que se difundiam entre outros
professores dos cursos de formação inicial e contínua, além dos meus próprios pares.
As vivências doutorais transformaram, irremediavelmente, a minha carreira docente
não apenas por possibilitar o contato com novos discursos teóricos ou novas
abordagens metodológicas, mas principalmente, por me permitir fazer novas reflexões
referentes ao meu papel na sala de aula como um profissional que transforma vidas.
Os conhecimentos obtidos no processo de doutoramento contribuíram para que
eu ressignificasse as disciplinas da minha área de concurso no CEST/UEA: Didática,
Estágio, e Pesquisa e Prática Pedagógica I e II. A mudança das ementas dessas
disciplinas trouxeram novas abordagens teóricas a serem estudadas pelos
professores em formação. Aliado a isso, também requisitei da universidade a compra
de um material bibliográfico mais atual para a formação de professores, pois nosso
acervo do Curso de Pedagogia estava totalmente desatualizado conforme as
premissas teórico-metodológica que trata da formação docente.
Assim, quando se afronta o problema da formação em serviço, não se pode
ignorá-lo como formação que age para a mudança e o desenvolvimento
organizacional: não é somente o indivíduo que aprende enquanto tal, mas
como organização, como rede (GOBBO, 2012, p.12).
As experiências formativas oriundas do processo de formação em serviço de
professores quando reproduzidas no contexto pedagógico do docente, possibilita aos
seus estudantes e seus próprios pares a terem contato com novos discursos teóricos
e metodológicos. Esses conhecimentos quando abstraídos de maneira significativa
transformam e ampliam a visão de mundo do professor e daquele que com ele
interagem. No transcorrer do processo doutoral, por três vezes ministrei Oficinas
Pedagógicas e Mini Cursos para meus próprios pares e para professores que atuavam
no Ensino Fundamental pela SEMED/Tefé. Aos meus pares dividi a experiência do
doutorado, principalmente para os que pretendiam adentrar futuramente no programa
de Educação em Ciências, no formato de Mini Cursos, na Semana Interdisciplinar das
107
Licenciaturas e no Seminário Interdisciplinar do PIBID, enquanto que para os
professores da SEMED, palestrei na I Conferência Municipal de Educação de Tefé
discutindo a formação do professor pesquisador do campo para o Ensino de Ciências.
O segundo ano do curso de doutorado começou com o terceiro módulo de
disciplinas, dessa vez composto por disciplinas optativas, e também com a divulgação
de nossos orientadores de tese. Escolhi cursar as disciplinas Educação em Ciência,
Tecnologia e Cidadania; e Pesquisa e Tendências na Investigação em Ciências e
Matemática: pesquisas quantitativa e qualitativa (vide figura 50). Essas opções se
deram pela necessidade de conhecer as ideias dos teóricos que considerava
importante para preencher algumas lacunas de minha formação, principalmente no
tocante a CTS (Ciência Tecnologia e Sociedade) e pesquisa quantitativa,
quantiqualitativa e qualiquantitativa sobre as quais nutria certo preconceito em
utilizálas.
Figura 50: Encerramento da disciplina
Fonte: Bentes (2016)
Na disciplina nomeada Educação em Ciências, Tecnologia e Cidadania tive a
oportunidade de analisar os dados coletados pela equipe de pesquisa da professora
que a ministrou e pela primeira vez me debrucei sobre dados quantitativos da área das
Ciências Biológicas. As atividades foram se desenrolando conforme as necessidades
dos doutorandos e a maior preocupação da docente se dava com a discussão dos
conceitos da área e com a análise de dados coletados em pesquisas. Nesse contexto,
alguns dados foram a nós disponibilizados, bem como resultados de investigações
realizadas por ela e seus orientandos em algumas de suas turmas dos cursos de
graduação. Foi pedido como estratégia avaliativa que realizássemos as análises dos
dados e produzíssemos um artigo científico a partir das premissas teórica-
epistemológicas que sustentam a área de CTS.
108
Após dezoito meses de estudo, nós fechamos todas as disciplinas obrigatórias
do curso, como também as optativas. Todo o conhecimento adquirido no processo
contribuiu para a nossa formação doutoral e para o trabalho docente que
desenvolvemos em nossas instituições de ensino superior, possibilitando um olhar
mais ampliado e fundamentado sobre a realidade acadêmica. À medida que os
módulos se desenrolavam eu refletia sobre minha própria mudança individual nesse
processo e após cursar todas as disciplinas, além de já possuir orientador e com o
projeto de tese em construção, passei a também me cobrar em relação ao caminho
investigativo que percorreria, pois sabemos ser exigido do professor pesquisador um
estudo contínuo e reflexivo sobre o seu contexto acadêmico e também sobre as ações
que ele desenvolve para a transformação desse. Corroboramos com Ghedin (2009,
p.8) quando destaca que:
Um processo de reflexão significa um pensar sobre o modo de agir, sobre a
ação e também pensar se no próprio momento que se esta agindo, registrar
esta experiência em ação, torná-la significativa no sentido de atribuir sentido
ao que fazemos. Isso qualifica o trabalho docente, pois o professor torna-se
capaz de dizer porque faz aquilo que faz do modo como está fazendo, isto é,
explicamos porque fazemos, o que fazemos, do jeito de fazemos. [...] Nem
sempre o processo formativo e a nossa atuação profissional permitem, por
uma série de condições, este espaço de reflexão, enquanto elemento que
estrutura e ilumina o processo formativo.
Considero que a formação em serviço pela qual passei proporcionou-me realizar um
significativo e incessante diálogo das vivências doutorais com o trabalho docente
desenvolvido no CEST/UEA, o que me permitiu promover práticas de pesquisa mais
direcionadas para as necessidades individuais dos acadêmicos. Essa mudança em
meu fazer pedagógico ficava evidente nas minhas atividades pedagógicas cotidianas,
desde o tratamento dado às estratégias de ensino utilizadas em sala de aula, como
também na relação com meus pares e na minha própria postura docente.
Refletir sobre a maneira como conduzi todos os processos formativos que
vivenciei me remete a refletir sobre a minha própria atuação no espaço acadêmico, a
minha condição de professor pesquisador que problematiza a sua realidade, que
percebe as dificuldades em sala de aula e a busca por meios para amenizá-las a partir
das experiências sistematizadas e socializadas por outros professores pesquisadores.
Ao ministrar disciplinas pedagógicas nos cursos de formação de professores para as
Ciências Exatas, tais como: Matemática, Química e Física, principalmente, percebia
109
as dificuldades dos acadêmicos em abstrair os conteúdos discutidos em sala de aula
que eram voltados para o ensino, a maior parte deles ainda não conseguia se ver como
professor de Matemática, Física ou Química, mas sim como matemáticos, físicos e
químicos, e que estariam distantes da sala de aula. Essa situação me levava a
desenvolver estratégias metodológicas que evidenciassem aos acadêmicos que eles
eram professores em formação inicial, daí a importância de conhecerem os conteúdos
didáticos, pedagógicos e investigativos necessários a sua formação.
Ao sustentar suas práticas pedagógicas por meio da pesquisa o docente
encontra novas possibilidades para condução do processo de ensino e aprendizagem,
como também desperta a curiosidade no educando para compreender os elementos
do contexto no qual está inserido. É neste sentido que Ghedin (2009, p.11) evidencia
que:
[...] a pesquisa é aquele elemento que possibilita ao professor na relação com
o saber já consolidado e com a reflexão que ele elabora a partir da prática e
da experiência, um elemento que possibilita ao professor elaborar os próprios
conhecimentos de modo sistemático. Quer dizer que lhe possibilita construir
metódica e radicalmente um modo de compreender, de explicar e de
interpretar o mundo.
A formação do professor pesquisador se fortalece a partir da construção e
compreensão de seu próprio percurso de autoria nas várias perspectivas formativas
por qual passa. Dessa forma, o docente perceberá como as interações que mantém
no contexto propiciam uma retroalimentação de conhecimentos dele próprio, com seus
colegas de formação, pares e estudantes. Confesso que durante o processo de
formação inicial por qual passei ainda não tinha clareza dos exercícios de autoria que
realizava rotineiramente, seja nas atividades teóricas ou práticas, mas na coleta de
dados na pesquisa de campo do curso de mestrado percebi como as minhas atitudes
de pesquisador que busca viabilizar sua pesquisa se constituíam como um legítimo
processo de autoria.
No doutorado, o tempo passava e meu projeto de pesquisa se transformava
conforme o andamento das orientações, das leitura de novas obras e principalmente
após as sugestões dos avaliadores nos seminários de pesquisa. A ideia inicial teve
como fenômeno investigativo a interdisciplinaridade no trabalho docente, mas só
resistiu até o Seminário I, e logo depois das considerações da banca redirecionamos
o projeto para a Autoformação docente com base no Pensamento Complexo, o qual
110
também foi reestruturado depois das novas observações da banca no Seminário II,
que o reorganizou no sentido de tratar na tese de vivências do processo de autoria na
formação do professor pesquisador.
As várias ressignificações ocorridas no projeto de tese apenas confirmaram a
sugestão inicial do meu orientador: eu teimava em protelar como meu fenômeno
investigativo minhas próprias vivências em processos de autoria. Com os pareceres
das duas bancas avaliadoras dos Seminários Temáticos, além da banca de
qualificação que indicou o mesmo caminho; redimensionamos a tese. Confesso que
investigar as minhas próprias vivências formativas em processos de autoria como
condição à minha formação como pesquisador, num primeiro momento deixou-me
incomodado, pois não via relevância em narrar a minha própria história, porém, a
literatura contemporânea evidencia as narrativas autobiográficas como um valioso
dispositivo na formação de professores que deve ser explorado. E assim iniciei a
jornada de resgate das memórias que desvelaria sentimentos que eu próprio
desconhecia.
A interface entre vivências formativas e fazeres pedagógicos
O processo de doutoramento aproximava-se do final e mesmo assim minhas
atividades profissionais no CEST/UEA não eram amenizadas, pois continuava com
várias disciplinas na graduação, orientações de TCCs e projeto de pesquisa. O
próximo passo a ser dado no curso de doutoramento foi a defesa do projeto de tese
no Seminário de Pesquisa I com a apresentação de parte da fundamentação teórica e
dos dados até então coletados, no Seminário de Pesquisa II. A data do evento se
aproximava e eu vivia um momento de grande pressão para finalizar o projeto de
pesquisa, pois concomitantemente organizava as bancas de TCCs dos meus
orientandos.
Sem conseguir a liberação da universidade para cursar o doutorado tinha que
me desdobrar na formação em serviço, pois além de me dedicar a tese ainda
ministrava aula em três disciplinas diferentes, isto é, nos cursos de Pedagogia,
Química do CEST/UEA e outra no curso de Matemática do NESE/UEA (Núcleo de
Estudos Superiores de Eirunepé) localizado na cidade de Eirunepé-AM, distante 1.162
km de Manaus.
A princípio considerei a viagem para Eirunepé como mais um grande empecilho
colocado pela formação em serviço, pois faltavam cerca de trinta dias para o envio do
111
projeto aos avaliadores do Seminário Temático I, sendo que o produto ainda estava
em construção. Aceitei o convite para ministrar a disciplina em outra cidade porque a
turma estava desperiodizada e a falta de professores com essa formação específica
poderia impedir que os acadêmicos defendessem o TCC no prazo estipulado pelo
Projeto Pedagógico do Curso.
A quinzena que passei em Eirunepé acabou se constituindo como um
importante período da minha formação, tanto pelo fato de me permitir passar esse
tempo com uma parte do dia livre para construir a tese, como pelas vivências
adquiridas naquele contexto onde tudo que discutimos referente a pesquisa em
educação seriam os primeiros, e talvez, únicos conhecimentos trabalhado com esses
acadêmicos até o momento de construção do TCC. Essas vivências me levavam a
refletir sobre meu percurso de autoria ao contribuir com aqueles acadêmicos.
Elas fortaleceram ainda mais a tese que propunha ao programa de doutorado
do PPGECEM, porque cada vez mais ficava perceptível como os processos de autoria
que vivenciava, influenciavam diretamente na minha condição de professor
pesquisador. Se por um lado elas legitimavam a minha tese, por outro saímos muito
inquietos no que diz respeito a importância que a pesquisa era tratada naquele curso.
Para tanto, me respaldo nas reflexões de Gonzaga (2015, p.23) quando afirma que:
Infelizmente, o tipo de conhecimento que sustenta a cultura que caracteriza o
que se diz fazer pesquisa na universidade está atrelado aos fundamentos do
pedagogismo, que consideramos como arcabouço de informações que se
sustenta a partir do vício do ensino livresco, emoldurado a partir da
reprodução de conhecimentos que foram produzidos em outros contextos,
como resposta a questões que não foram formuladas pelos próprios docentes
que ali estão. Dessa maneira, é muito difícil pensar em quebrar paradigmas a
partir da refutação dos conhecimentos, como pretexto para a construção de
novos conhecimentos capazes de ajudarem na melhoria da condição dos
seres humanos e da sociedade na qual eles estão inseridos (Griffos do Autor).
As universidades brasileiras, principalmente as que estão localizadas em
regiões mais distantes dos estados do sul e sudeste do país, em geral têm uma forte
característica de ensino. A dimensão voltada para a pesquisa e extensão ainda deixa
muito a desejar, sendo que no tocante a pesquisa a falta de professores pesquisadores
impossibilita a formação de uma sólida cultura de pesquisa, e dessa maneira, desperte
nos acadêmicos o interesse por atividades investigativas. Ao ser instigado a
problematizar sua própria realidade e construir conhecimentos que o possibilitem criar
caminhos para transformá-la, o acadêmico constrói a sua identidade de pesquisador.
Entretanto, o que se percebe nos cursos de formação de professores, em especial no
112
campo de conhecimento das ciências exatas, são acadêmicos sendo formados numa
perspectiva bacharelesca que não prioriza a pesquisa nas atividades docentes.
Azevedo (2015, p. 67) destaca que:
A complexidade do trabalho do professor de Ciências tem exigido uma
formação que lhe permita condições de desenvolver saberes para atender a
diferentes realidades, interesses e formas de aprender com significado
científico, social e cultural ao que se propõe ensinar. No entanto, a atual
formação ainda não conseguiu avanços significativos para atender a essa
exigência, mantendo-se muito próxima da racionalidade técnica.
A formação do professor pesquisador requer abordagens metodológicas que
fomentem a reflexão dos acadêmicos sobre o seu contexto e que também os levem a
produzir o seu próprio conhecimento. É nessa perspectiva que tenho baseado minhas
atividades docentes nos cursos de licenciaturas em que trabalho, fazendo com que os
acadêmicos desconstruam e reconstruam os conhecimentos instituídos na academia,
ao contextualizá-los com a sua realidade.
Voltando ao Seminário de Pesquisa I, ele aconteceu na cidade de Belém-PA no
campus da UFPA (Universidade do Estado do Amazonas). Quase todos os
orientandos do programa se fizeram presentes para apresentar os seus projetos de
pesquisa para uma banca avaliadora composta por professores doutores de todas as
regiões do país. Considero que a característica de formação em rede adotada pela
REAMEC é um importante elemento para a realização da formação contínua de
professores, pois a constante interação ocorrida entre doutorandos e demais doutores
orientadores dos mais variados estados e universidades brasileiras, nos mais diversos
contextos de ensino das disciplinas e seminários de pesquisa, nos possibilitaram uma
rica retroalimentação de conhecimentos, fato que transformava as práticas docentes
de todos os envolvidos.
No evento foram apresentados projetos com as mais variadas temáticas, dentre
as quais algumas que tratavam de narrativas autobiográficas, o que contribuiu para
fortalecer a nossa ideia de reestruturar a tese nessa temática. A banca examinadora
estabelecida para avaliar o meu projeto era composta por duas professoras de áreas
distintas, ciências humanas e ciências exatas, e ao analisar os seus currículos percebi
que a proposta de tese naquele momento não era a alinhada com as suas formações.
Se por um lado essa constatação me inquietou, por outro fiquei motivado por meu
projeto ser avaliado por vários ângulos formativos.
113
As experiências adquiridas no Seminário de Pesquisa I foram transformadoras
em todos os sentidos, desde as palestras realizadas, as considerações da banca
avaliadora, sugestões do orientador ainda no evento, conversas com doutorandos e
professores de outros polos, até a observação dos projetos de outros colegas etc. (vide
figuras 51 e 52). Cheguei em Belém-PA no dia anterior à abertura do evento e três
dias antes da defesa para poder ter mais um encontro com o orientador. O primeiro
dia de atividades foi dedicado aos informes referentes ao curso pelo período da manhã
e na tarde aconteceu uma palestra sobre a formação de professores na pós-
graduação.
Figura 51: Palestra de Abertura Sem. Pesq. I Figura 52: Palestra de Abertura Sem. Pesq. I
Fonte: Almeida (2016) Fonte: Castelo Branco (2016)
No dia da defesa do projeto foram expostos os pontos nevrálgicos do trabalho
pelo o olhar de especialistas de outras áreas do conhecimento, evidenciando situações
que até então não havíamos percebidos. Questões relacionadas aos procedimentos
metodológicos da pesquisa, bem como o referencial teórico utilizado naquele momento
foram criticados, mas também foram apresentadas algumas sugestões. Logo após as
considerações da banca avaliadora, me reuni com o meu orientador no próprio saguão
do hotel onde estava hospedado para iniciarmos a organização das sugestões
fornecidas pela banca, e assim reiniciarmos os trabalhos de pesquisa.
O Seminário de Pesquisa I foi um “divisor de águas” em nossas atividades
doutorais, pois ampliou o nosso olhar em relação ao fenômeno de pesquisa que até
então investigávamos e nos mostrou novos caminhos teórico-metodológicos a
percorrer. Além dos cinco dias de atividades incessantes como palestras,
apresentações dos projetos e orientações da tese, também foram significativas as
vivências com todos os orientandos e professores doutores dos três polos acadêmicos,
quer seja em momentos de formação formal na UFPA, quer seja nas conversas e
114
confraternizações que realizadas na área de convivência do hotel (vide figuras 53 e
54). Todas essas vivências impulsionavam minha autoria no processo doutoral, pois
as experiências partilhadas com colegas de outros contextos fomentavam novas ideias
para a construção da tese. Somado a isso, meu orientador também estimulava minha
autonomia no processo sem impor suas vontades, mas apontando diversos caminhos
a percorrer e várias possibilidades metodológicas a serem consideradas, sendo que
eu tomaria a decisão final.
Figura 53: Doutorandos no Sem. Pesq. I Figura 54: Doutorandos do Polo Amazonas
Fonte: Segura (2016) Fonte: Segura (2016)
Os meses seguintes a apresentação do projeto da tese no Seminário I foram repletos
de angústias e aflições, tendo o meu orientador disponibilizado um cronograma de
trabalho que me dava um prazo mais amplo para dar conta de todas as correções,
porém com uma maior cobrança nas reflexões construídas. As atividades
desenvolvidas no transcorrer do evento impulsionaram minha condição de autor no
processo doutoral. A apresentação dos projetos de pesquisas dos doutorando me
fizeram refletir sobre outros caminhos a seguir em minha tese, além disso, as
sugestões das banca examinadoras, não apenas a minha, como as dos outros
colegas, fizeram com que eu percebesse similaridades e diferenças entre os demais
projetos que contribuiriam na organização da minha proposta. A maneira como se deu
a construção era baseada na premissa da autoria como um percurso formativo que
sempre levava em conta pesquisa como o sustentáculo do processo.
As observações realizadas pela banca examinadora convenceram-me da
importância da formação do professor pesquisador no fenômeno investigativo da tese,
afinal, o tratamento que dava ao projeto então apresentado evidenciava tal
perspectiva. Como sempre, a construção do referencial teórico da tese se dava
concomitantemente às atividades de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas no
115
CEST/UEA. Entretanto, neste semestre, visando diminuir a carga horária do semestre
posterior, o qual culminaria no Seminário de Pesquisa II, tive que assumir uma turma
extra no Curso de Pedagogia do NESC/UEA (Núcleo de Estudos Superiores de Coari).
Neste momento da pesquisa, para mim, estava claro o fenômeno investigativo e as
leituras que construíam o referencial teórico. Elas estavam muito avançadas e
balizando as reflexões realizadas a respeito de minhas próprias vivências formativas
a partir de minhas próprias narrativas, com este sentimento que no final do semestre
me desloquei até a cidade de Coari-AM, distante 366 km de Manaus, para ministrar
uma disciplina no Curso de Licenciatura em Pedagogia.
As atividades realizadas me possibilitaram discutir com os acadêmicos que ali faziam
sua formação inicial, como também a importância da pesquisa no trabalho
desenvolvido pelo professor no seu cotidiano pedagógico, pois percebemos que estes
ainda entendiam a docência apenas como transmissão de conhecimentos a partir do
ensino de sala de aula. Tais atividades desvelavam para mim a intensidade de uma
vivência em constante processo de autoria nas atividades docentes que desenvolvia
rotineiramente na universidade, pois ao buscar novas estratégias metodológicas
durante as aulas, era necessário conhecer as necessidades dos acadêmicos para
poder amenizar as dificuldades evidenciadas no contexto.
Ao mesmo tempo em que falava de pesquisa para os acadêmicos daquela turma tão
carente de discursos e atividades que os fizessem entender o sentido da docência,
explicava que ser professor é mais do que ensinar conteúdos, ser professor
pesquisador é uma necessidade para levar os educando da heteronomia à autonomia.
Questionava-me também sobre qual tratamento estava dando para a pesquisa em
meu fazer pedagógico. Como fazia, e se conseguia fazer, a transposição didática dos
conhecimentos que recebi naqueles dois anos do curso de doutoramento era feita?
Será que de fato formava professores pesquisadores? Tinha consciência do retorno
que recebia das turmas onde ministrei aula e dos orientandos que acompanhei até o
final da formação inicial na graduação e nos cursos de especializações na formação
contínua? Porém, essas reflexões me acompanharam nos meses seguintes que
antecediam o Seminário II. Sobre tal questão refletimos juntamente com Ghedin;
Oliveira e Almeida (2015, p.88) quando afirmam que:
O desenvolvimento profissional do docente depende, de certa forma, do
discernimento que este possui para conduzir sua ação, assim como, da
compreensão profunda de cada situação vivenciada no contexto o ensino. Um
professor, por mais que tenha vivido uma situação favorável em sala de aula,
116
não pode generalizar esta ação porque as situações vindouras podem ser
parecidas, mas nunca são as mesmas. Apoiar-se nas experiências é possível
e acertado, porém sempre de forma renovada.
Refletir sobre o seu trabalho a fim de ressignificar as suas práticas é uma
necessidade constante para o professor pesquisador. Dessa forma, ao fazê-lo ele terá
a possibilidade de transformar suas vivências em experiências e assim seguir
intervindo na realidade educativa com o intuito de amenizar os problemas que lá estão
presentes. Quando se percebe como sujeito ativo do processo formativo do qual faz
parte, o docente toma consciência de que vive um intento processo de autoria que se
constrói e reconstrói a partir das interações ocorridas no contexto.
A carga horária das atividades de ensino desenvolvidas no CEST/UEA, no semestre
do Seminário de Pesquisa II, foram atenuadas devido a disciplina ministrada
anteriormente na cidade de Coari-AM. Com isso, foi possível intercalar essas
atividades docentes em alternância mensais. Essa estratégia foi de suma importância
para o andamento da tese, pois assim alavancamos significativamente o trabalho
chegando até a coletar dados para serem apresentados no seminário.
O Seminário de Pesquisa II aconteceu na cidade de Manaus-AM na Escola Normal
Superior – ENS da UEA (vide figuras 55 e 56). Dessa vez minha logística foi menor,
pois tanto eu, como meu orientador, residimos no estado do Amazonas, porém, devido
o evento acontecer no polo acadêmico do qual faço parte também deveria estar
envolvido na sua organização. Após algumas reestruturações do projeto e até novas
delineações do fenômeno investigativo, enfim entregamos o material da
préqualificação pra banca avaliadora. A data de envio foi justamente na quinzena em
que ministrava a última parte da disciplina no CEST/UEA, período esse em que
ocorreram fortíssimas chuvas e que prejudicou substancialmente a qualidade da
internet impedindo-nos de anexar e enviar os arquivos com o material para a banca
avaliadora.
Isso nos obrigou a mandar por meio de lancha o pen drive com o material da
préqualificação para Manaus e, posteriormente, outra pessoa o enviou para os
avaliadores. Mesmo com esses atropelos consegui enviar o trabalho no prazo
estabelecido pela coordenação do programa.
O seminário foi planejado e organizado minuciosamente pelos grupos de trabalho do
polo acadêmico do Amazonas, tendo na abertura palestras nos dois períodos do dia
e, posteriormente, as apresentações das pesquisas dos doutorandos divididos em
117
duas salas, uma para cada linha de pesquisa. Seu início foi marcado por uma palestra
que tratava da “Pesquisa em Educação em Ciências” e no seu encerramento
aconteceu um momento cultural com uma orquestra de crianças com instrumentos
musicais recicláveis (vide figuras 55 e 56).
Figura 55: Palestra de Abertura Sem. Pesq. II Figura 56: Momento cultural do Sem. Pesq. II
Fonte: Almeida (2017) Fonte: Almeida (2017)
Mais uma vez a interação foi o ponto alto de todo esse processo, cuja partilha de
conhecimentos entre todos os envolvidos, principalmente dos professores doutores,
eram responsáveis pela avaliação dos trabalhos; e isso nos deu mais segurança e
tranquilidade para prosseguir na caminhada. Vale ressaltar a solicitude e disposição
dos professores doutores para com todos os trabalhos dos doutorandos, sendo que a
maioria não estava sob suas responsabilidades avaliativas, mas faziam questão de
assistir e contribuir com todas as apresentações que lhe eram possíveis.
Ao final de minha apresentação, mais uma vez, os avaliadores fizeram importantes
colocações que levaram-me realinhar o fenômeno investigativo e também reestruturar
o projeto (vide figuras 57). Dessa vez, ao contrário do Seminário I, apresentei meu
projeto e sua fundamentação logo no início do evento, o que nos possibilitou um tempo
maior pra conversar com os avaliadores a respeito de suas considerações. Assim,
como no primeiro seminário também fiquei incumbido de avaliar o trabalho de um dos
colegas doutorandos junto com outros dois doutores do programa, o que nos propiciou
exercitar um olhar mais criterioso sobre um trabalho de grande aprofundamento teórico
como é o doutorado, foi possível aprender com os professores doutores que
compunham a banca avaliativa conosco.
Figura 57: Apresentação no Sem. Pesq. II
118
Fonte: Oliveira (2017)
Ao final do evento todos estavam cansados, mas muito gratificados com o andamento
das atividades (vide figura 58). Era visível um semblante de saudosismo em cada um
de nós, pois era a última atividade coletiva do curso, restando a qualificação e a defesa
final da tese. E assim, aos poucos, fomos entendendo que o processo de
doutoramento estava chegando ao seu final e o próximo passo a ser dado seria a
qualificação da tese.
Todas as vivências obtidas no transcorrer desse processo marcaram
substancialmente nossas vidas e muitas dessas vivências se transformaram em
experiências formativas que dividimos com nossos acadêmicos e orientandos no
transcorrer de todo o processo de formação em serviço por qual passamos. Saí do
evento com a clareza de que o processo de autoria por mim vivenciado era de suma
importância para o êxito de minha tese, sendo que as atividades do Seminário I
fortaleceram esse processo ao motivar-me a buscar o novo, seja na minha formação,
ou na dos acadêmicos pelos quais era responsável.
Figura 58: Doutorandos do Polo Amazonas
Fonte: Castelo Branco (2017)
Tenho consciência que vivenciei um consistente processo de doutoramento que me
levou a refletir sobre como conduzir as estratégias de ensino que desenvolvo e
desenvolverei em sala de aula, tudo no intuito da criação de uma cultura de pesquisa
nas escolas e universidades. A troca de conhecimentos com os professores em
formação possibilita a construção de relações pessoais sem a hierarquização
119
autoritária tão característica de muitas instituições, e que estabelecem obstáculos
muitas vezes intransponíveis na relação professor-aluno.
Os meses seguintes foram de tensão e ansiedade, pois o prazo final para a
qualificação se aproximava e ainda faltavam algumas arestas para aparar durante a
escrita da tese. Continuava trabalhando normalmente no CEST/UEA com várias
disciplinas e orientações de TCC, mesmo assim consegui trocar alguns horários com
outros colegas de trabalho o que me possibilitou estar praticamente todas as semanas
em Manaus para reunião com o meu orientador e assim alavancar a escrita da tese
para a data da qualificação. Após a qualificação da tese consegui autorização do
colegiado de Pedagogia para ministrar as aulas das disciplinas que trabalharia apenas
no final do semestre, o que me oportunizou ficar seis meses me dedicando totalmente
à defesa da tese e assim conseguir contemplar todas as correções exigidas pela banca
de qualificação.
Vivenciei ao longo da minha vida os processos formativos inicial, contínuo e em
serviço no período de estudos na graduação, mestrado e doutorado, respectivamente.
Todos eles marcaram minha profissionalidade e contribuíram para a ressignificação
do meu fazer pedagógico a partir da compreensão de um processo de autoria que me
fez sentir-se professor pesquisador.
Ao refletir sobre o passado e vislumbrar o futuro percebo que todas as atividades
profissionais que realizei ao longo dos anos, desde os cursos de capacitação, ainda
no início da carreira docente, até as atividades de ensino, pesquisa e extensão
desenvolvidas como professor efetivo do CEST/UEA foram referendadas pela minha
iniciativa como autor de meu destino profissional. Ao vincular minha condição de
professor pesquisador ao percurso autoral que construí ao longo de minha formação,
pude compreender o próprio sentido de minha profissão.
Refletir sobre minhas vivências nos processos formativos inicial e contínuo, como
graduação, mestrado e doutorado foi uma volta ao passado. Reviver lembranças que
não mais estavam em minha memória e outras que sequer entendia como importantes
durante o processo de minha formação, me fez compreender a necessidade da
constante ressignificação de meu trabalho docente como professor pesquisador e
como essa situação era norteada pelo meu processo autoral.
120
5º MOSAICO
EXPERIÊNCIAS DE AUTORIA DE UM PROFESSOR PESQUISADOR
Nos quatro mosaicos anteriores relatei as minhas experiências formativas nos cursos
de graduação, mestrado e doutorado. Neste mosaico, descrevo como o meu processo
de autoria está relacionado às vivências docentes e experiências obtidas ao longo dos
anos no desenrolar de cada um dos processos formativos. Também evidencio como a
legitimação de minha condição de autor pode se caracterizar como um elemento
significativo no desenvolvimento de meu fazer pedagógico no contexto acadêmico,
tendo como elemento articulador desse processo os registros, as produções
acadêmicas e, principalmente, a socialização dos conhecimentos produzidos nos
momentos formativos vivenciados no processo.
121
Minhas ações e interações docentes
A minha condição de autor legitimou-me como professor pesquisador. O meu
trabalho docente é o resultado de um árduo processo de formação inicial e contínua.
Tudo isso me possibilitou um satisfatório desenvolvimento profissional. A minha
atuação em sala de aula está estreitamente ligada a trajetória formativa que percorri e
as maneiras como adquiri, interpretei e desenvolvi os conhecimentos abstraídos
durante os processos formativos que vivi.
No início de 2006, ainda recém-formado, indicado por um dos meus
professores, tive a minha primeira experiência como docente, justamente num Curso
de Capacitação para professores da SEDUC-AM. Nele ministrei 40h de aulas referente
a temática Políticas Públicas para uma turma com cerca de quarenta gestores de
várias escolas estaduais localizadas em Manaus. Foi um sufoco! Mesmo me achando
teoricamente preparado para a empreitada, as primeiras horas da atividade foram de
nervosismo, mas com a colaboração dos próprios cursistas que entenderam a minha
proposta metodológica, que era sustentada na retroalimentação de conhecimentos
para o formador e aos cursistas que ensinavam e também aprendiam. Essas situações
me tranquilizaram e deram a segurança necessária para o êxito das atividades
desenvolvidas por mim enquanto formador e para os próprios cursistas. A culminância
do curso ocorreu ao final das 40h de atividades e se deu através de apresentações
lúdicas onde cada equipe de gestores apresentavam as possíveis mudanças dos
projetos pedagógicos de suas escolas, tendo em vista os conhecimentos adquiridos
ao longo da capacitação.
Após esse “batismo” docente, ministrei outros cursos de capacitação para docentes
organizados pela SEDUC-AM, mas vale ressaltar a experiência vivida num deles
ministrado na cidade de Maués – AM em meados do ano de 2007 quando ministrei um
curso de 80h para quarenta professores da Rede Municipal e Estadual de Ensino
daquela localidade. A proposta do curso era trabalhar os conceitos de Currículo,
Avaliação da Aprendizagem e Gestão de Projetos a partir de um material teórico
construído pelos próprios formadores, tudo isso com o auxílio de metodologias de
ensino contemporâneas, tais como: Painel Integrado, Música, Teatro, Desenho.
Nesta atividade houve a participação professores, pedagogos, gestores e o próprio
secretário de educação da cidade, o que transformava a sala num ambiente fértil para
o debate de ideias e experiências, mas também propício a polêmicas e discussões
pessoais. Percebendo essa grande possibilidade tomei a iniciativa de organizar a
122
estrutura do curso com os educadores participantes, estratégia essa que os motivou e
obrigou-os a trabalhar em equipe.
Pereira (2003) destaca que o professor como pesquisador está acessível a ouvir a
turma e assumir o papel de aprendiz, entendendo que quem mais precisa aprender é
aquele que ensina, ou seja, aprender a aprender. Quando o professor está aberto a
isso continuamente, deixa de se comportar como dono da verdade e começam a
despertar a autonomia e o senso crítico do educando, propiciando um ensino com
maior eficácia e eficiência.
Logo na primeira semana percebi o quanto aprenderia com aqueles
professorescursistas, todos com vasta experiência docente e diversificadas
estratégias de ensino. Desde o momento em que apresentei o plano de ensino com a
proposta teóricometodológica do curso, os cursistas deram valiosas sugestões de qual
caminho metodológico seguir. Essa experiência foi muito enriquecedora para mim
enquanto formador, pois além de ensinar alguns novos elementos
teóricometodológicos também aprendi muito quanto as estratégias de ensino que
esses professores desenvolvem.
De acordo com Andrade e Portal (2012, p.129, Grifos das autoras):
A Formação Continuada, enquanto dimensão integral, produz um sentido
coerente ao longo de toda a vida do educador por meio das múltiplas interações com o outro e que nos liga ao nosso contexto. “Essas múltiplas
interações estão presentes também nas dimensões existencial,
experimental e didática que compõem a vida do educador como uma ação
reflexiva para a construção do autoconhecimento”.
O processo formativo contínuo é importante para a troca de conhecimentos entre os
professores envolvidos, entretanto, a formação constitui-se como uma via de
mãodupla, como em uma teia de interações e conhecimentos em que todos se
formam, ou seja, ao mesmo tempo em que se autoformam em um incessante diálogo
de saberes que se complementam.
Figura 59: Exposição teórica Figura 60: Atividades dos cursistas
123
Fonte: Dantas (2007)
Fonte: Almeida (2007)
As atividades foram se desenrolando e
tanto o professor formador, como os cursistas
aprendiam novos conhecimentos a partir da
interação entre ambos (vide figuras 59 e 60). As
apresentações finais dos trabalhos construídos
ao longo da capacitação se deram através das
mais diferenciadas estratégias de ensino. Em
uma das equipes havia três professores que
faziam poesias, daí terem apresentado seu
trabalho num lindo recital poético, ei-lo:
Quando eu era criança; Estudava
no ABC; Método tradicionalista; Que fazia assim dizer: P – A (PA) T – O (TO)
PATO; M – I (MI) L – H - O (LHO) MILHO; E o tempo foi passando; E os
métodos chegando; E eu sempre acompanhando; A transformação do saber;
O método tecnicista; De memorização; É a silabação assim; Se ouvia dizer:
PA, PE, PI, PO, PU do pato; MA, ME, MI, MO, MU do macaco; TA, TE, TI, TO,
TU do tatu; Só nos pobres questionários, provas, testes de antemão; Era
assim a avaliação [...] Hoje já é processo; E não mais resultado; Mas, se você
estudar bem; Pouca coisa foi mudado [...]Piaget e Vygotski; Que afirmam; Ter
o professor uma nova roupagem; Mediador e organizador; Da gestão da
aprendizagem [...].
Essa equipe conseguiu sintetizar numa poesia toda a parte que lhe coube estudar no
livro. Isto foi um grande aprendizado para mim enquanto docente, e até hoje, mesmo
não tendo a aptidão à poesia permito que meus educandos a utilizem como estratégia
metodológica. A autonomia dos professores que participavam do curso levou-me a
refletir sobre a minha própria condição de autor, que naquele momento ainda estava
incipiente, sendo que as vivências adquiridas nesse curso de capacitação foram
importantíssimas para que eu adquirisse a confiança necessária para seguir na
profissão.
Sendo assim, no intuito de dinamizar as atividades didático-pedagógicas,
realizamos várias aulas passeios no museu, escolas e até mesmo na praia da cidade
- atividades que motivaram os cursistas a trabalharem em suas turmas da Educação
Básica. Antes, porém em sala de aula, construímos um roteiro de observações
baseados nos conteúdos estudados no Curso de Capacitação, sendo eles: currículo,
avaliação e projetos. De posse do instrumento de coleta de dados dividi os cursistas
124
em sete equipes e nos dirigimos ao primeiro local mencionado onde tivemos contato
com inúmeros apetrechos da cultura indígena que fundou
a cidade de Maués, além de conhecermos a história das
comunidades que ali residiram décadas passadas (vide
figuras 61 e 62). Ao retornarem para a sala de aula, os
professores cursistas construíram um texto analítico
relatando as observações e relacionando às temáticas do
curso.
Figura 61: Praia da cidade de Maués Figura 62: Aula Passeio no Museu de Maués
Fonte: Almeida (2007) Fonte: Almeida
(2007)
A elaboração de situações formativas como essa contribuíam no meu contínuo
exercício autoral, o qual constantemente se retroalimentava das vivências oriundas da
realidade pedagógica. As atividades desenvolvidas nesse curso de capacitação de
professores eram caracterizadas pela interação e norteadas pelo diálogo entre os
saberes presentes no ambiente formativo. Enfim, foi uma experiência inesquecível,
porque assumi pela segunda vez uma sala de aula por 40h. Em suma, estava em outra
cidade aprendendo mais do que ensinei e ansioso para novos desafios no magistério.
Passei os anos de 2006 e 2007 envolvido com atividades de coordenação e
docência de Cursos de Formação Contínua em nível de capacitação para professores
da Educação Básica, até que em 2008, então com 32 anos de idade, e já concluído o
Curso de Mestrado, assumi três turmas como professor da Faculdade Salesiana Dom
Bosco – FSDB, trabalhando as disciplinas Metodologia da Pesquisa em Educação e
Estágio Supervisionado III. Foram mais de dois anos de uma significativa experiência
na qual ministrei variadas disciplinas, além de ter coordenado o processo de Estágio
Supervisionado do Curso de Licenciatura em Pedagogia da instituição.
125
A FSDB possuía cursos de várias áreas do conhecimento, tais como: Filosofia,
Serviço Social, Administração, Contabilidade, porém o único de licenciatura era o de
Pedagogia. Nesse sentido, minha responsabilidade se tornava maior, pois trabalhava
as disciplinas pedagógicas, e além de minhas atribuições de sala de aula, também era
constantemente requisitado para ministrar palestras aos demais docentes sobre
avaliação e currículo. Tais atividades exigiam pesquisa de material teórico e produção
de textos para serem disponibilizados aos demais docentes, o que possibilitou a
disseminação da perspectiva do professor pesquisador a fim de que eles
sensibilizassem-se da necessidade de uma formação sustentada pela pesquisa.
Dentre as várias atividades que realizei na FSDB, vale ressaltar a VI Mostra
Pedagógica do Curso de Pedagogia realizada no segundo semestre de 2010 (vide
figuras 63 e 64). Nesse evento consegui mobilizar todos os cursos da instituição,
porque disponibilizei com o apoio coletivo do colegiado do Curso de Pedagogia o
espaço para apresentação de trabalhos e publicação nos anais do evento. Para
motivar os demais acadêmicos da instituição, criamos salas temáticas numa
perspectiva interdisciplinar que atendesse aos diversos cursos da instituição.
Figura 63: Palestra aos prof. da FSDB Figura 64: Folder da Mostra Científica
Fonte: Almeida (2009) Fonte: Almeida (2010)
As vivências desse período marcaram fortemente a condição de autor que
construía na minha formação, sendo que além das experiências adquiridas ao
ministrar aulas no Ensino Superior, também coordenei o estágio, organizei eventos e
ministrei inúmeras palestras. Ao organizar a VI Mostra Pedagógica do Curso de
Pedagogia utilizei os conhecimentos adquiridos ao contribuir na organização de alguns
eventos do Curso de Mestrado ainda no período de estudos. Naquele momento
exercer a função de coordenador do estágio do Curso de Pedagogia e a coordenação
126
do curso, em comum acordo com a direção da FSDB, designou-me para ser o
organizador do evento.
A Mostra Científica exigia que eu fosse flexível ao estabelecer as normas e a
temática do evento, pois precisa motivar e criar objetivos comuns a todos os cursos da
instituição caso quisesse envolver não apenas professores e acadêmicos da
Pedagogia. Foi nesse sentido que estabelecemos uma perspectiva interdisciplinar nas
temáticas visando contemplar os interesse dos demais cursos da instituição. Tivemos
um número recorde de inscrições na Mostra e de fato conseguimos mobilizar os
demais cursos da instituição de tal modo que as aulas paralisaram no dia da palestra
de abertura. Ao final do evento, avaliei de maneira pessoal as atividades realizadas e
tive a certeza de que todos os vividos formativos que obtive no processo de graduação
e mestrado fortaleceram minha autonomia profissional e, principalmente, os processos
de autoria que tornaram-se características de minha vida profissional.
As atividades de ensino que desenvolvi na FSDB sempre foram norteadas pela
pesquisa. Aguçava a curiosidade científica dos acadêmicos a partir de atividades
teóricas que sustentavam as visitas técnicas realizadas para coletar dados nas escolas
da Educação Básica. Na disciplina Didática Geral, por exemplo, trabalhava em sala de
aula as premissas teóricas que sustentam essa área do conhecimento e
posteriormente liberava os acadêmicos para observar a prática pedagógica dos
professores para verificar como as correntes pedagógicas se faziam presentes em
suas práticas.
Logo nos primeiros meses de trabalho na FSDB fiquei incumbido de
ressignificar algumas ementas das disciplinas do Curso de Pedagogia, dentre as várias
que refiz, vale ressaltar a de Movimentos Sociais e Educação que passava a atender
demandas emergentes da sociedade no tocante as organizações da sociedade civil
(vide figura 65). Durante as atividades da disciplina, convidamos para palestras na sala
de aula militantes do movimento negro e de grupos indígenas, o que causou grande
repercussão com a turma, haja vista os acadêmicos não terem conhecimentos do
cotidiano sociocultural desses grupos sociais.
Figura 65: Ementa Disc. Movimentos Sociais e Educação
127
Fonte: Almeida (2010)
Saí da Faculdade Salesiana Dom Bosco em fevereiro de 2011, mas tenho a
convicção que deixei uma semente da perspectiva do professor pesquisador plantada
nas ementas que reestruturei. No que se refere a minha própria formação percebi que
ao observar, refletir, desconstruir e reconstruir os conhecimentos trabalhados no
contexto acadêmico, seja ministrando aula, organizando eventos, realizando palestras
ou mesmo nas reuniões com os meus pares, percebia a importância do processo de
autoria que vivenciava no fortalecimento de minha identidade de pesquisador, pois
entendo que um professor pesquisador é acima de tudo um agente produtor e
socializador de conhecimentos. Um vez contextualizados podem intervir diretamente
na realidade. De acordo com Pereira (2003), o professor tem um desenvolvimento
profissional diferente do domínio de especialistas das matérias na qual foi formado e
atua para de fato poder agir como um mediador entre a relação epistemológica do
saber, o aluno e a disciplina de estudo.
Ao longo do tempo que atuei na FSDB como professor e Coordenador de Estágio
Supervisionado do Curso de Pedagogia também atuava como professor nos cursos
modulares da UEA e assumia disciplinas e orientações de TCCs no Curso de
Especialização em PROEJA, ofertado pelo antigo Centro Federal de Educação
Tecnológico (CEFET) hoje denominado IFAM – Instituto Federal de Educação e
Tecnologia do Amazonas.
Nos mais de três anos em que trabalhei na FSDB ministrei variadas disciplinas, tais
como: Metodologia da Pesquisa em Educação, Currículo e Ensino Púbico,
Movimentos Sociais e Educação, Estágio Supervisionado, como também coordenei o
Estágio da Pedagogia e orientei mais de vinte Trabalhos de Conclusão de Curso. Todo
esse período constituiu-se numa experiência valiosa que muito contribuiu no perfil de
professor que sou hoje, pois por ser uma instituição de base católica, ela exigia dos
128
seus docentes a docência fosse caracterizada pela solidariedade e o trabalho em
equipe, características essas que adquiri e sustentam o meu trabalho no cotidiano
pedagógico por todo o sempre.
Essa primeira experiência no Ensino Superior me possibilitou conhecer de fato
o processo de formação inicial de professores desde o planejamento docente até o
andamento do processo de ensino-aprendizagem. As vivências adquiridas nessas
atividades profissionais permitiu-me refletir sobre cada uma das estratégias
pedagógicas desenvolvidas no ambiente acadêmico, no sentido de compreender que
os meus fazeres pedagógicos são elementos que caracterizam meu próprio processo
de autoria numa relação simbiótica que se retroalimenta constantemente.
Nesse interim, minhas vivências profissionais possuem uma dimensão
formativa que alimenta e ressignifica o meu trabalho docente, passando a se constituir
como uma significativa experiência. Ao conhecer e dialogar com as histórias de vida
de todos aqueles que fazem parte do ambiente acadêmico, sejam estudantes,
funcionários ou professores, reflito sobre a minha própria história e redimensiono
minha condição de autor para transformar momentos profissionais em momentos
formativos que sejam traduzidos como uma incessante formação contínua, e que
sustente e norteie os meus fazeres pedagógicos. Corroboramos com Larrosa (2011,
p.7) quando diz que:
[...] na experiência, o sujeito faz a experiência de algo, mas sobre tudo, faz a
experiência de sua própria transformação. Daí que a experiência me forma e
me transforma. Daí a relação constitutiva entre a ideia de experiência e a ideia
de formação. Daí que o resultado da experiência seja a formação ou a
transformação do sujeito da experiência. Daí que o sujeito da experiência não
seja o sujeito do saber, ou o sujeito do poder, ou o sujeito do querer, senão o
sujeito da formação e da transformação. Daí que o sujeito da formação não
seja o sujeito da aprendizagem (a menos que entendamos aprendizagem em
um sentido cognitivo), nem o sujeito da educação (amenos que entendamos
educação como algo que tem que ver com o saber), mas o sujeito da
experiência.
A retroalimentação de conhecimentos deve ser uma constante na relação
professor e educando com um dos elementos caracterizadores do processo de
formação do professor pesquisador. Este processo deve se reorganizar
constantemente para possibilitar novas alternativas formativas que possam contribuir
para o fortalecimento da identidade docente. Desse modo, percebo que todas as
situações vivenciadas se caracterizaram como um significativo processo de
129
construção autoral de minha caminhada, a qual se realizou a partir da interação entre
os sujeitos, mas que só obtém o êxito desejado quando essas interações são
baseadas na aceitação do outro e no reconhecimento e valorização de suas histórias
de vida.
A carreira na universidade pública
No ano de 2011 fui aprovado no concurso para o magistério superior da Universidade
do Estado do Amazonas para trabalhar no Centro de Estudos Superiores de Tefé
(CEST) as disciplinas Estágio I, II e III, Didática, e Pesquisa e Prática Pedagógica I e
II, mas por possuir uma formação que extrapolava a área do concurso também ministro
as disciplinas Epistemologia da Pesquisa em Educação, Estrutura e Funcionamento
do Ensino Básico, Metodologia das Ciências da Natureza, e Métodos e Técnicas do
Trabalho Científico em todos os cursos de licenciaturas oferecidos pelo CEST/UEA.
O Centro de Estudos Superiores de Tefé – CEST faz parte da Universidade do
Estado do Amazonas – UEA e está localizado na cidade de Tefé-AM. O Centro oferece
vagas nos Cursos de Licenciatura em Pedagogia, Letras, História, Geografia, Biologia,
Química, Física e Matemática. Além, dos cursos modulares de Direito, Tecnologia em
Construção Naval, Tecnologia em Gestão de Turismo, e Tecnologia em Produção
Pesqueira (vide figuras 66 e 67). No tocante a pós-graduação lato sensu, oferecemos
o Curso de Especialização em Educação Infantil e no modo stricto sensu
disponibilizamos a sociedade o Curso de Mestrado Profissional em Ciências
Humanas. O campus possui cerca de 1.400 acadêmicos matriculados e por volta de
80 professores efetivos em seus quadros.
Figura 66: Área de Convivência do CEST/UEA Figura 67: Área externa das salas de aula
Fonte: DRE/CEST-UEA (2015) Fonte: DRE/CEST-UEA (2017)
130
Tefé é um município do estado do Amazonas com cerca de sessenta e cinco
mil habitantes, sendo considerada uma cidade polo da região do Médio Solimões por
ser referência em economia, saúde e, principalmente em educação, pois recebe
inúmeros universitários oriundos de outros municípios menores ali localizados. A
cidade só tem acesso por via fluvial ou aérea e, assim como as demais cidades do
Amazonas, possui uma grande dificuldade com internet banda larga e sinal de celular.
Ela ainda pertence a mesorregião do Solimões, distante 575 km da capital Manaus.
Vale ressaltar que além de Tefé, o Campus também recebe acadêmicos de todos os
municípios do entorno, tais como: Alvarães, Fonte Boa, Uarini, Jutaí, Juruá, Maraã, o
que de certa forma transforma Tefé numa cidade universitária (vide figuras 68 e 69).
De acordo com o último censo do IBGE, realizado em 2013, Ela possui uma população
de 62.285 habitantes, pois possui hospital, inúmeros postos de saúde, serviços
bancários, aeroporto internacional (com voos diários para inúmeras capitais do país),
universidade, cursos de formação técnica e um comércio pulsante que atende a todos
os municípios da microrregião.
Figura 68 – Mapa do Amazonas Figura 69 – Vista aérea da cidade de Tefé
Fonte: www.flicke.com Fonte: www.flicke.com
Além das dificuldades logísticas e estruturais da cidade e do CEST/UEA
também senti, juntamente com outros professores oriundos de diversas cidades
brasileiras, uma certa rejeição de parte da população tefeense e até mesmo por alguns
docentes da instituição que eram naturais da cidade, pois segundo eles alguns
“forasteiros” haviam tomado o lugar dos professores da cidade, quando o que ocorreu
131
foi um concurso público com bancas avaliadoras compostas por professores doutores
de outros estados, o que garantiu a lisura do pleito e a certeza de que a competência
técnica dos candidatos as vagas seria levadas em consideração.
Com o passar do tempo, as atividades desenvolvidas pelos docentes de outras
cidade começaram a apresentar proveitosos frutos para a instituição, daí a rejeição
aos “forasteiros” amenizar, mas confesso que foram tempos difíceis, nos quais tive que
fazer valer os processos formativos vivenciados para poder ter o equilíbrio necessário
para lidar com a situação. Entretanto, todas essas vivências foram significativas para
o percurso autoral que construo a cada dia, ou seja, aquele baseado na tolerância e
aceitação do outro com todas as suas similaridades e diferenças.
As ações pedagógicas que desenvolvo no CEST/UEA percorrem todos os
cursos de licenciatura oferecidos pelo centro e junto com outros três professores, sou
responsável por ministrar as disciplinas pedagógicas de suas matrizes curriculares
(vide figuras 70 e 71). Meu fazer pedagógico no contexto acadêmico se caracteriza
por um diálogo permanente com as outras áreas do conhecimento. Considero isso um
fator de suma importância para o êxito do processo de ensino e aprendizagem, como
para a ressignificação de minhas práticas, pois tenho a possibilidade de trocar
experiências e também aprender novos elementos teóricos e metodológicos com
colegas professores e acadêmicos das áreas das Ciências Humanas, Exatas e
Biológicas.
Figura 70: Ementa de Disciplina Figura 71: Ementa de Disciplina
Fonte: Almeida (2018) Fonte: Almeida (2018)
O amplo leque de atuação no qual estou habilitado a trabalhar tem relação com
os processos formativos por qual passei ao longo dos tempos em que dialogava em
várias áreas do conhecimento, principalmente no Mestrado em Ensino de Ciências
que possibilitou-me estudar e publicar nos diversos campos dos saberes científicos.
Tais vivências tiveram um papel preponderante na construção de meu processo de
132
autoria, pois experienciei situações formativas que me prepararam para compreender
alguns elementos da realidade pedagógica que tanto podem ser caracterizados de
obstáculos ou como possibilidades de aprendizagem, cabendo ao professor qual
caminho seguir para contemplar a realidade que está inserido. Para Zabalza (2004,
p.144):
[...] o exercício da profissão docente requer uma sólida formação, não apenas
nos conteúdos científicos próprios da disciplina, como também nos aspectos
correspondentes a sua didática e ao encaminhamento das diversas variáveis
que caracterizam a docência.
As interações constantes entre docentes e discentes dos variados campos do saber
quando entendidos por aqueles que o vivenciam como mais uma possibilidade de
formação, propícia a realização de uma reflexão sobre a sua realidade e a construção
de outros caminhos formativos. Ao priorizar o diálogo entre as ciências no espaço
acadêmico, busco promover a interdisciplinaridade nas ações docentes dos
professores, para isso utilizamos a pesquisa como o elemento de consolidação desse
processo.
Costumo pedir, conforme o perfil da disciplina ministrada, que os acadêmicos façam
pesquisas bibliográficas e de campo a respeito dos conteúdos trabalhados ao longo
da disciplina e ao final do semestre apresentem para toda a comunidade acadêmica
os resultados. Os dados coletados são direcionados para a construção do Trabalho de
Conclusão de Curso de cada um dos acadêmicos matriculados, sendo que este
momento constitui-se como um dos primeiros contatos deles com a realidade
pedagógica. A socialização dos resultados se deu através de apresentação oral ou
exposição de pôsteres confeccionados artesanalmente pelos próprios estudantes com
isopor e colagem de papeis (vide figuras 72 e 73). Vale ressaltar que os avaliadores
dos trabalhos são professores de todos os cursos do CEST/UEA, assim cada trabalho
foi avaliado por olhares diferenciados.
Figura 72: Trabalhos dos Acadêmicos Figura 73: Avaliação dos Trabalhos
133
Fonte: Almeida (2014) Fonte: Almeida (2014)
Atividades como essa viabilizam o compartilhamento de informações entre os
docentes dos diferentes cursos do CEST/UEA, promovendo a troca de saberes e
aproximando acadêmicos e professores. Dessa forma é possível criar um ambiente
interdisciplinar no Centro que contribua para a promoção de um contexto formativo
amplo que ultrapassa a perspectiva de ensino-aprendizagem da sala de aula e
abrange o espaço como um todo envolvendo não apenas os acadêmicos, mas também
os próprios professores que se formam, conforme vão formando um incessante
processo retroalimentador que se renova a partir dos processos de autoria de cada
um dos docentes.
A cada evento dessa natureza adquiro novas experiências que permitem
melhorar as atividades a cada semestre, sempre com a colaboração dos meus pares
e apoio irrestrito dos acadêmicos que se motivam quando instigados a buscar os
conhecimentos de maneira autônoma fora dos muros da universidade. Ao buscar
estratégias de ensino inovadoras, alimento a minha condição de autor e fortaleço o
meu trabalho docente, tal como propõe Bragança (2011, p.159) ao afirmar que: “São
as experiências formadoras, na força do que nos atinge, que nos sobrevêm, nos
derrubam e transformam, inscritas na memória, que retornam pela narrativa não como
descrição, mas como recriação, reconstrução”.
Nós professores, somos ou pelo menos devemos ser, artesãos de ideias,
desfiar conhecimentos e tecê-los visando levar os educandos a despertar seu senso
crítico e autonomia. Para isso, o trabalho coletivo se faz necessário no ambiente
educativo e acadêmico como um articulador dos saberes docentes que são
ressignificados conforme acontece a formação dos sujeitos envolvidos no processo.
Nesse sentido, o estágio docente do licenciando torna-se o eixo articulador entre as
134
teorias estudadas no espaço acadêmico com as situações do cotidiano que permeiam
a realidade pedagógica e ao mesmo tempo desperta nele a condição de autor.
O processo de Estágio do Curso de Pedagogia, até o ano de 2017, se dividia
em três disciplinas: Estágio I, dedicado a Educação Infantil ofertado no sexto período;
Estágio II, voltado para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental oferecido no sétimo
período; e Estágio III, trata da Gestão Escolar, acontecendo no oitavo período e
somando uma carga horária total de 240 horas. Com as novas diretrizes propostas
pelo BNCC – Base Nacional Comum Curricular, a universidade capitaneou um amplo
debate a respeito dos regimentos de Estágio de todos os seus cursos de licenciatura
e bacharelado.
As primeiras reuniões com os representantes de cada curso se caracterizaram
por intermináveis discussões entre docentes das diferentes áreas do conhecimento, e
acabaram pouco contribuindo para a reformulação dos regimentos, daí a universidade
ter dado autonomia para que cada curso elaborasse o seu próprio regimento. No caso
do Curso de Pedagogia do CEST/UEA o colegiado resolveu reestruturar seu regimento
com os seus próprios professores estabelecendo uma nova carga horária total de 400
horas divididas em quatro disciplinas de estágio, sendo elas: Estágio I, II,
III e IV.
Foi uma luta árdua para convencer a reitoria a permitir que nosso próprio
colegiado reestruturasse as ementas e a carga horária do estágio, tendo em vista que
os outros cursos de Pedagogia da UEA fizeram ementas e disciplinas comuns para o
Estágio, mas considerávamos que o perfil do pedagogo do CEST/UEA precisava ter
as características que acreditávamos ser importante para a formação do professor
pesquisador. Com o apoio de outros professores dos demais colegiados do Centro,
nossas demandas foram atendidas e assim conseguimos dar uma característica
própria ao processo de estágio em nossa instituição (vide figura 74).
Figura 74: Professores do CEST/UEA
135
Fonte: Bandeira (2013)
Por ser um dos professores responsáveis pelo processo de estágio no Curso
de Pedagogia do CEST/UEA, levantei essa questão da autonomia para construção
das ementas numa reunião do colegiado de professores do curso, tendo todos os
docentes concordado com a ideia. Considero que essa conquista foi fruto da
compreensão que tenho da importância do meu processo de autoria na minha
formação, tendo em vista que é a partir dele que consigo sustentar minhas práticas
através da pesquisa e assim transformo a realidade educativa na qual estou inserido.
Geralmente começo cada uma das disciplinas de estágio com as discussões
teóricas que tratam das teorias do estágio, para então apresentar os documentos
legais obrigatórios, sendo eles: Ficha de Credenciamento, Ficha de Observação, Ficha
de Avaliação, Formulário de Relatório etc. Posteriormente, os estagiários escolhem as
escolas onde desenvolverão as suas atividades a partir de uma lista disponibilizada
pela comissão de estágio, para em seguida estabelecerem os dias da semana em que
desenvolverão as suas atividades. A primeira visita a escola é sempre realizada por
mim, onde apresento os nomes dos pretensos estagiários e dou as explicações
necessárias a respeito do projeto de estágio do curso para os professores, pedagogos
e diretores da escola.
No primeiro contato dos estagiários com a escola é produzido um diagnóstico sobre
o contexto, evidenciando elementos culturais, sociais, econômicos, geográficos, os
quais possibilitarão que eles problematizem a realidade após as observações do
contexto. O segundo momento é dedicado a observação, tempo esse em que os
acadêmicos interagem com os sujeitos da escola e realizam atividades pedagógicas
que contribuem com o processo de ensino-aprendizagem na sala de aula. Ressaltase
ainda que em todas as disciplinas de estágio é exigido um projeto de
ensinoaprendizagem de cada equipe de estagiários.
136
Figura 75: Discussão dos textos de Estágio Figura 76: Apresentação dos Estagiários
Fonte: Almeida (2016) Fonte: Almeida (2016)
Foi na perspectiva da formação do professor pesquisador que conduzi as
atividades dessa turma de estágio, sempre visando levar os estagiários a agirem com
autonomia e exercerem sua condição de autores de sua formação. Percebia que dessa
maneira conseguia inserir a pesquisa nas atividades desenvolvidas e ao mesmo tempo
os motivava as outras vindouras. A dinâmica partia de uma exposição teórica sobre as
teorias do Estágio, para em seguida realizarmos um debate a partir dos textos lidos
(vide figura 75). Com a fundamentação exposta, os estagiários elaboravam estratégias
de ensino que contemplassem os objetivos do projeto de intervenção construído por
eles nas equipes de estágio logo após o diagnóstico da escola. Dentre as várias
atividades realizadas pelas diversas equipes, a que tratava do “teatro” chamou
bastante atenção dos educandos da escola. Ela contribuiu significativamente com o
processo de ensino-aprendizagem e também na formação dos estagiários (vide figura
76).
Ao final de cada atividade desenvolvida, reuníamos com os estagiários para
uma avaliação do processo, sendo muito interessante as reflexões oriundas desse
momento. Chamou-me a atenção a fala de uma estagiária que já atuava como
professora da Educação Básica a muitos anos, ao relatar que “pela primeira vez havia
trabalhado separação de sílabas através de uma caixa mágica, construída pelos
próprios estagiários para ensinar a formação de palavras aos educandos”. Ainda
segundo a estagiária, “com essa estratégia metodológica os educandos aprenderam
numa tarde o que não aprendiam em semanas”. Uma outra equipe de estagiários ficou
encarregada de construir jogos didático-pedagógicos com material reciclável o que
levou um dos estagiários a se posicionar da seguinte maneira na avaliação final: “Deu
137
muito trabalho construir o Dominó de Palavras, mas o resultado foi ótimo, pois além
dos estudantes aprenderem ainda querem brincar com ele todos os dias” (vide figuras
77 e 78).
Figura 77: Atividade de Estágio Figura 78: Atividade de Estágio
Fonte: Almeida (2016) Fonte: Almeida (2016)
Meu papel como orientador de estágio é o de apresentar elementos teóricos e
possibilidades metodológicas para os professores em formação conhecerem e
aplicarem no contexto educativo ao qual estará inserido. Ao todo, desde o início de
minhas ações na docência, ainda no ano de 2006, já acompanhei um total de seis
turmas no processo de estágio e orientações de TCC. Devo muito do que sou
profissionalmente e também como ser humano, às experiências vivenciadas com os
meus estagiários nesses últimos dez anos, foi esse processo formativo que me fez
perceber, a partir dos projetos elaborados com os temas que eles traziam do contexto
de estágio, que um novo cenário foi estabelecido na realidade amazônica, decorrente
de sérios problemas ambientais, tais como: lixo, saneamento básico e poluição do ar
(devido principalmente a matriz energética utilizada no interior do estado) os quais
clamam por soluções a curto, médio e longo prazo. Nesse contexto ainda se
evidenciavam outras mazelas sociais como: gravidez adolescente, drogadição,
alcoolismo, dentre outras; o que torna emergencial a formação de um docente que
esteja atento ao que acontece no seu redor, como também sensível às necessidades
da população, sendo necessário lançar mão de novas possibilidades metodológicas
possíveis de contemplar essa nova realidade.
O processo de formação docente é permeado por sentimentos e emoções que
harmonizam e desarmonizam o contexto. A coletividade tem sua própria essência, a
qual sofre influências dos elementos subjetivos constituintes das emoções de cada um
dos colaboradores da pesquisa, e que são valorizadas e utilizadas em seu
desenvolvimento enquanto alternativa formativa para romper as amarras do
138
tradicionalismo que teima em separar o conhecimento. Ao tomar posição e escolher o
meu próprio caminho formativo, legitimo minha condição de autor e fortaleço as minhas
práticas pedagógicas sustentando-as em premissas investigativas como forma de
transformar a realidade.
Ser professor pesquisador é valorizar a humanidade, é estar atento as
particularidades do indivíduo e reconhecendo nas minúcias da parte para pode
compreender a abrangência do todo. Morin (2003) evidencia que o Pensamento
Complexo adentra na realidade do mundo com o intuito de compreender suas minúcias
e assim religar conhecimentos ainda dispersos em nosso meio-ambiente. A
Complexidade visa reforçar as atitudes humanas na busca de uma mundologia
cotidiana que fortaleza a nossa própria humanidade e que nos faça compreender
nossa finalidade terrestre.
A construção do conhecimento em educação tem uma estreita relação com a
formação docente, sendo os professores agentes principais de todo o processo. Ao
compreender que vivencia um constante processo de autoria, os professores deixam
de ser meros recebedores de formação e se tornam participantes ativos desse
processo. Para tanto, é necessário que ele compreenda os aportes teóricos que
sustentam os conteúdos trabalhados em sala de aula, mas, antes disso, é necessário
que conheça o próprio processo de construção da ciência ao longo dos tempos.
Faz-se necessário que a formação do professor pesquisador parta de um
estreito diálogo entre os vários campos da ciência, sendo o trabalho com projetos o
eixo articulador de todo o processo. Minha caminhada autoral baseia-se nos projetos
que desenvolvo, sejam eles informais para o cotidiano pedagógico ou mesmo formais
como forma de contemplar editais de programas institucionais.
As ações em projetos
Procuro nortear meu processo de autoria a partir do trabalho por projetos no
contexto acadêmico, sejam eles de pesquisa ou de ensino e com um cunho individual
que contemple minhas expectativas para curto e médio prazo, ou subprojetos com
uma dimensão coletiva que se enquadre no projeto institucional da universidade que
139
atende as especificidades dos editais vigentes, tais como o PIBID13, no qual atuei como
coordenador de área no período de 2014/2 até 2018/1, como também a Residência
Pedagógica14, na qual tive um subprojeto aprovado para ser executado em 2018/2.
A Universidade do Estado do Amazonas, mesmo com as dificuldades
econômicas que assolam o país e obrigaram um drástico corte de investimentos no
Ensino Superior, principalmente, no tocante aos financiamentos de pesquisas, tenta
manter com as mínimas condições possíveis as pesquisas em andamento e até
mesmo algumas novas. Criou o SISPROJ 15 para contribuir na organização e
gerenciamento das pesquisas desenvolvidas pelos professores da UEA, além de se
caracterizar como um canal direto de comunicação entre o docente e a pró-reitoria
envolvida no seu projeto (vide figuras 79 e 80).
Figura 79: SISPROJ/UEA Figura 80: Relat. Projeto de Prod. Acad.
Fonte: Almeida (2018) Fonte: Almeida (2017)
Desde que iniciei minhas atividades acadêmicas na UEA, desenvolvi diversos
projetos de pesquisa, ensino e extensão que resultaram em publicações de capítulos
de livros, Trabalhos de Conclusão de Curso na graduação e pós-graduação lato sensu,
13 Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, criado e mantido pela CAPES, e pretende
oferecer aos estudantes de licenciaturas o primeiro contato com a realidade pedagógica, oferecendo
bolsas ao professor da universidade na modalidade de Coordenador de Área, ao acadêmico na
modalidade de Iniciação à Docência e aos professores da Educação Básica na modalidade de
Supervisores. 14 Programa de Residência Pedagógica, criado e mantido pela CAPES, que visa aperfeiçoar o processo
de formação inicial de professores fortalecendo a identidade profissional dos acadêmicos e
promovendo projetos inovadores na escolas da Educação Básica, oferecendo bolsas aos professores
da universidade na modalidade de Preceptores, aos acadêmicos na modalidade de Residentes e aos
professores da Educação Básica na modalidade de Supervisores. 15 Sistemas de Projetos da Universidade do Estado do Amazonas que funciona como uma plataforma
onde os professores cadastram e atualizam os seus projetos de pesquisa, ensino e extensão.
140
e principalmente na formação de dezenas de professores pesquisadores. Atualmente,
finalizei o subprojeto do PIBID, o qual gerou a publicação de dois capítulos de livros e
5 TCCs, também estou na fase final de concluir meu projeto de produtividade
acadêmica o qual está vinculado a minha pesquisa de doutorado.
Atualmente sou o coordenador de área do subprojeto da Residência
Pedagógica do Curso de Pedagogia, sendo responsável por três
supervisorespreceptores de vinte e quatro bolsistas e seis voluntários, orientando suas
estratégias metodológicas em duas escolas dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
da cidade de Tefé, com o intuito de fortalecer a condição de professorespesquisadores
dos acadêmicos e concomitantemente amenizar possíveis dificuldades de
aprendizagem evidenciadas no contexto pedagógico.
As ações desenvolvidas como coordenador de área do PIBID (Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) e como professor orientador de
estágio do Curso de Pedagogia, permite-me atuar em mais de dez escolas da Rede
Municipal e Estadual de Ensino da cidade de Tefé-AM. Elas são atividades que me
instigam a elaborar projetos de pesquisas e extensão que levem os professores em
formação inicial a assumir uma postura de pesquisadores. Nossa equipe de pesquisa
do subprojeto de Pedagogia do PIBID/CEST/UEA reúne-se quinzenalmente para
discutir os textos que sustentam as atividades realizadas no transcorrer da semana. O
PIBID se apresenta a estes professores em formação inicial como um importante
projeto que os leva construir a sua identidade docente. Por sua vez, aos professores
da escola onde o projeto se desenvolve, visa-se refletir e problematizar o contexto
educativo (vide figuras 81 e 82).
Figura 81: Escola do PIBID Figura 82: Palestra no PIBID
Fonte: Almeida (2015) Fonte: Lima (2015)
141
Ao final do período escolar, após dois semestres de atividades incessantes no
contexto da escola, eu, juntamente com as supervisoras e os bolsistas de iniciação à
docência, realizamos uma Oficina Pedagógica na qual toda a escola participou.
Segundo o cronograma que elaboramos para o dia do evento, ocorreria uma palestra
para todos os presentes, principalmente a professores e pedagogos da escola. Para a
abertura do evento, programamos uma palestra com uma professora da
Universidade Federal do Amazonas, que nesta data estaria participando de uma mesa
redonda na cidade, entretanto, na semana anterior à realização da palestra de abertura
nossa palestrante cancelou a sua presença. Num primeiro momento pensei em não
mais realizar a palestra, mas depois de muito pensar decidi ministrá-la aos
profissionais da educação que lá estariam presentes.
Tendo em vista o público alvo da palestra, a temática escolhida foi “o trabalho
docente do professor pesquisador”. No decorrer das atividades desenvolvidas na
escola ao longo do ano, sempre instigava os professores a refletirem a respeito de
suas práticas docentes cotidianas. Certa vez, uma das professoras me respondeu:
“Pro senhor é fácil falar de pesquisa, né professor, pois desde a faculdade sempre fez
pesquisa”. Isso muito me chamou a atenção, pois fiquei refletindo em qual momento a
pesquisa passou a fazer parte de minha vida acadêmica e profissional. A resposta que
me ocorreu partiu de uma frase do poeta espanhol Antônio Machado que meu
orientador de graduação sempre mencionava: “Caminhante, o caminho se faz ao
caminhar”. Portanto, conforme dava andamento aos meus processos formativos inicial
e contínuo, as próprias vivências ali adquiridas se constituíam como valiosos
momentos que despertaram em mim a condição de autor de minha formação e ao
mesmo tempo fortaleciam a minha identidade docente.
Foi este sentimento que coloquei na palestra realizada no PIBID e relatando aos
demais docentes como as minhas vivências influenciaram a minha profissionalidade e
apontando caminhos para que eles próprios se dessem conta de suas condições de
autor. Considero que ao se perceber num incessante processo de autoria, o professor
é capaz de sustentar as suas práticas pela pesquisa e assim também vai consolidando
a sua identidade docente. Para Pimenta e Lima (2004, p.
62):
A identidade do professor é construída ao longo de sua trajetória como profissional do magistério. No entanto, é no processo de sua formação que são consolidadas
as opções e intenções do professor que o curso se propõe a legitimar.
142
É neste sentido que entendo ser de suma importância que o professor em
formação tenha contato com a realidade pedagógica através da I.D (Iniciação à
Docência) como forma de entender os ajustes e adaptações necessários nas
interações com os envolvidos e na estrutura da escola. Tanto os pibidianos16 como os
demais profissionais da escola, buscaram maneiras para se estabelecer no espaço
escolar com o intuito de colaborar para o êxito do projeto na instituição, daí a
importância das inúmeras Oficinas Pedagógicas realizadas no transcorrer do projeto
(vide figuras 83 e 84).
Figura 83: Equipe do PIBID Figura 84: Oficina Pedagógica
Fonte: Almeida (2015) Fonte: Almeida (2015)
As atividades realizadas nas oficinas pedagógicas, por serem diferentes das
que os educandos e os professores estavam acostumados a participar no seu
cotidiano escolar, despertou a curiosidade destes. Também foram perceptíveis certas
dificuldades motoras e espaciais que algumas crianças apresentaram. Nesse
contexto, as oficinas possibilitaram que os seus professores as observassem e
planejassem estratégias para superá-las. Muito aprendo no PIBID, o contato estreito
com a escola me faz ultrapassar os muros da universidade e compreender o ambiente
educativo da Educação Básica. A parceria com os professores da escola do projeto
permite uma troca de experiências que contribui para encontrarmos soluções para
muitos problemas que atingem a escola. Infelizmente o MEC interrompeu
abruptamente um programa que contemplava cerca de 70.000 bolsistas, prometendo
reestruturá-lo em breve com o lançamento de novo edital com uma quantidade muito
inferior de bolsas, demonstrando mais uma vez o descaso com a educação no Brasil.
16 Denominação informal dada aos bolsistas de Iniciação à Docência do PIBID.
143
Morin (2007) defende que ações coletivas sejam realizadas e que a parceria com o
outro seja permanente, pois:
Nossa civilização separa mais do que liga. Estamos em déficit de religação e
esta se tornou uma necessidade vital. Não é somente complementar ao
individualismo, mas também uma resposta às inquietações, incertezas e
angústias da vida individual. Por termos de assumir a incerteza e a inquietude
e por existirem muitas fontes de angústia, necessitamos de forças que nos
amparem e unam. Precisamos de religação, pois estamos numa aventura
desconhecida. Devemos assumir que estamos aqui sem saber a razão. As
fontes de angústia existentes levam-nos a necessitar de amizade, amor e
fraternidade, os seus antídotos (288).
O pensamento complexo propõe uma ética baseada no amor, amizade e
solidariedade que integra os indivíduos numa perspectiva altruísta e fraternal onde
este se coloca no lugar do outro para entender suas dores e amores e assim lutar pela
liberdade de ambos. Entretanto, o contexto contemporâneo ainda é caracterizado pela
incompreensão e o egoísmo que afastam as pessoas e fomentam a exclusão sendo
necessário adotarmos a ética da compreensão para entendermos a incompreensão
do mundo. Daí a necessidade do professor pesquisador estar atento as questões
subjetivas do contexto escolar e ser sensível aos anseios e necessidades dos
estudantes como forma de amenizar os problemas evidenciados no processo de
ensino-aprendizagem. Além disso, os registros são os elementos que legitimam e
validam os fazeres pedagógicos do professor pesquisador ao descreverem as
estratégias metodológicas que o docente utiliza em sala de aula, relatando de maneira
sistematizada as ações objetivas e subjetivas aplicadas no contexto educativo. Enfim,
tudo isso visando contribuir com as práticas de outros professores.
As ações intelectuais: produções teóricas
O exercício da escrita sempre foi algo constante em minha formação docente. Os
primeiros passos dados nos processos investigativos que desenvolvi, tanto na
graduação como no Mestrado, se davam logo após as orientações iniciais. Partia da
Revisão de Literatura no tocante de conhecer os conceitos formativos que
caracterizavam o fenômeno de pesquisa numa abordagem etimológica, filosófica e
epistemológica para, em seguida, desenvolver os desdobramentos e as implicações
de cada um deles tendo em vista o fenômeno a ser pesquisado.
144
Na formação inicial o processo investigativo foi mais delicado e trabalhoso pela
razão de ainda não ter experiência de pesquisa suficiente. Na formação contínua,
ocorrida no período de mestrado, a segurança era maior, porém, o grau de
profundidade das reflexões realizadas que geraram construções mentais e produções
escritas também foram mais complexos e elaborados do que os anteriores. Essas
vivências impulsionaram a minha condição de autor contribuindo na ressignificação de
meu trabalho docente a partir da sua constante ressignificação, conforme as
necessidades evidenciadas no contexto.
Na formação contínua meu processo de autoria estava relacionado com as
minhas produções. Para cada categoria investigativa explorada no transcorrer da
escrita da dissertação de mestrado produzi pelo menos um artigo científico que
sustentava a sua fundamentação teórica. Antes, porém, realizava-se fichamentos
analíticos de cada uma das obras selecionadas para leitura e, consequentemente, as
suas devidas resenhas.
A cada texto trabalhado, orientação recebida, ideia construída e texto produzido
um pequeno passo era dado rumo a construção de meu próprio conhecimento. Este,
que sustenta o meu trabalho docente e contribui na minha legitimação como um
professor que pesquisa e intenciona intervir na sociedade para transformar as culturas
a partir da percepção do contexto e do reconhecimento das peculiaridades dos
indivíduos com quem me relaciono.
Foram muitas obras lidas e algumas participações em eventos que
transformaram completamente o olhar desse pesquisador ainda inexperiente. Tudo
isso influenciou decisivamente na minha relação não apenas com outros colegas
pesquisadores, mas também com meus pares e com a própria sociedade, pois hoje
nossa relação é baseada num diálogo que se caracteriza pela aceitação, respeito e
valorização do outro.
No transcorrer do processo de Mestrado fui desenvolvendo a autonomia de
pesquisa e produções científicas. A cobrança foi grande, pois era obrigatória a escrita
de um artigo científico ao final de cada disciplina, além da produção de resenhas,
fichamentos e seminários para garantir a aprovação e o cumprimento dos créditos
estabelecidos para poder defender a dissertação. Ao ter consciência de que era eu
quem deveria capitanear a minha formação, passei a aproveitar cada uma dessas
vivências formativas como sustentáculos do processo de autoria que me conduziam a
145
legitimação como pesquisador. Ao refletir sobre esse processo me reporto a Moraes
(2004, p.261) quando evidencia que:
[...] o fundamental em educação é poder viver a experiência do trajeto, da
descoberta do caminho, vivenciar o processo, o aqui e agora de cada
momento de aprendizagem, sabendo que o caminho é desvelado à medida
que é percorrido e que, qualquer que seja o caminho, não existe nenhum
caminho pronto.
Essa busca incessante por novos caminhos formativos, tanto no processo de
formação inicial, como na contínua, foram e são características próprias da minha
profissão a qual é movida pela curiosidade investigativa e pela inquietação
metodológica. Os registros construídos são resultados de percepções e reflexões
oriundas da leitura de outros vividos narrados e das vivências que adquiri ao longo dos
anos. Por sua vez, no processo de doutoramento eu estava mais maduro como
pesquisador, conseguia sistematizar melhor meus vividos e relacioná-los aos objetivos
pretendidos em cada atividade desenvolvida, sempre movido pela minha condição de
autor da minha própria formação e também na formação daqueles por quais sou
responsável no cotidiano pedagógico.
Numa perspectiva prática, posso afirmar que em minhas produções textuais
adoto a estratégia de seleção e produção de conhecimento partindo de uma
perspectiva de definições etimológicas dos conceitos e assim avançando até as
definições teóricas e até mesmo filosóficas. Num segundo momento parto para a
produção textual dos desdobramentos conceituais que possam sustentar a Revisão
de Literatura do TCC de graduação, do Referencial Teórico da Dissertação de
Mestrado e da tese de doutorado.
Tais produções teóricas geralmente são construídas no momento da coleta de dados,
a partir de relatórios analíticos oriundos de disciplinas com carga horária prática e
principalmente do período de estágio no curso de graduação em que registramos as
vivências que podem se constituir num valioso material formativo para todos os
profissionais da educação. Ao revisitar meu currículo lattes para verificar minhas
publicações e produções científicas, percebo que ao longo dos anos publiquei 04
artigos em periódicos científicos, 23 capítulos de livro, 17 trabalhos completos em
eventos e 69 resumos, além disso ainda organizei 04 livros (vide figuras 85 e 86). Todo
146
esse material foi fruto de um rico processo autoral que legitimou-me como professor
pesquisador ao longo de minha trajetória.
Figura 85: Artigo CIAIQ 2015 Figura 86: Currículo Lattes
Fonte: Almeida (2015) Fonte: Almeida (2018)
O registro de minhas vivências contribuiu decisivamente para eu me identificar com o
meu trabalho docente, encontrando sentido em minhas ações pedagógicas e assim
problematizar e transformar o meu contexto. Agindo assim, torno-me construtor de
meu próprio conhecimento, pois registro minhas ações e reflexões em forma de
artigos, livros, resumos, para socializar com outros profissionais da educação; como
também promover uma nova alternativa formativa como baseada no meu processo de
autoria.
Os estudos em equipes: grupos de pesquisa
Desde o início do meu processo formativo inicial participo de Grupos de Estudo
e Pesquisa, o que muito contribuiu para que eu permeasse minhas ações pedagógicas
por intensos processos investigativos. Ainda na formação inicial, como graduando do
Curso Normal Superior, uma das estratégias adotada por nossa equipe de pesquisa
era a disponibilização dos textos produzidos por cada um dos seus membros para que
ocorresse uma leitura coletiva, cujo objetivo era o acesso aos trabalhos para a
realização das eventuais considerações. Também apresentávamos regularmente os
resultados parciais das pesquisas, tanto nos eventos oficiais da I.C, como nas reuniões
do grupo de pesquisa.
A cada reunião do grupo alguns dos membros apresentavam os resultados de suas
pesquisas de graduação e pós-graduação, o que se constituía num importante
momento para a apreensão dos fenômenos investigados e também para a obtenção
de olhares diferenciados de cada um dos pares envolvidos nas atividades. Com efeito,
as palestras de professores mestres e doutores de variadas universidades e sobre as
147
mais diversificadas temáticas, como: Ensino de Ciências, Ética, Metodologia da
Pesquisa, Cultura, nos instigavam a ampliar nossas leituras e consequentemente
adquirir novos conhecimentos.
No transcorrer do curso de mestrado, minhas atribuições no grupo de pesquisa se
ampliaram, pois além das leituras, produções e socializações, também agia como líder
de um subgrupo estabelecido por meu orientador de mestrado que também se reunia
antes das reuniões mensais. No processo de doutoramento, minha relação com o
grupo de pesquisa foi mais sólida, haja vista que as vivências do grupo do qual faço
parte em Manaus, GEPROFET17, servem como parâmetro para as atividades que
desenvolvo, juntamente com os meus pares do CEST/UEA no grupo de Tefé, ou seja,
o EDUCA18. Este é considerado um grupo atípico junto ao CNPQ por não ser liderado
por doutores, sendo esse o motivo da urgência em se formar doutores em nossa
instituição.
As experiências adquiridas ao longo dos processos formativos vivenciados me
permitiram contribuir com os meus pares na organização de um núcleo de pesquisa,
e tem a pretensão de tornar-se um grupo formal, tão logo tenhamos um número
suficiente de doutores na instituição. Esse núcleo surgiu de uma necessidade
crescente no CEST referente a organização das pesquisas de professores e
estudantes, além de possibilitar a troca de conhecimentos investigativos entre os
docentes, a partir da socialização de suas pesquisas. Tais discussões e socializações
possibilitaram uma farta retroalimentação de conhecimentos da parte dos docentes
envolvidos na atividade, levando-nos construírem um diálogo entre os diversos
saberes. Para Leitão (2004, p.28):
As propostas de formação, além de oferecerem os já conhecidos cursos,
palestras, seminários, oficinas, aulas de atualização, devem incluir também
as necessárias condições que fomentem formas de organização dos próprios
professores em cada unidade educativa, em um processo de autoformação
partilhada, possibilitando a reflexão sobre as suas práticas, o aprofundamento
de questões a elas pertinentes, espaços de trocas e convivências, o
desenvolvimento de outras linguagens de expressão, o exercício da crítica e
da criatividade e o aprofundamento das relações entre prática/teoria/prática.
Enfim, espaços que favoreçam um exercício autônomo e sistemático das
relações entre os seus fazeres, saberes, poderes.
17 Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Processos Formativos de Professores no Ensino Tecnológico,
estabelecido no IFAM, Manaus-AM;
18 Educação em Contextos Amazônicos, estabelecido no CEST/UEA, Tefé-AM.
148
Denominamos de NUPEMS19 o nosso núcleo de estudos, o qual reunia-se no
último sábado de cada mês nas dependências do CEST/UEA com a presença dos
professores e seus orientandos. Desde o planejamento do grupo de estudo até a
execução das atividades, sempre busquei novas ideias para as atividades que
desenvolveria nos encontros, fazendo de minha própria condição de autor a
sustentação para essas atividades. Considero que as vivências no grupo de pesquisa
se caracterizam como uma rica experiência autoral, não apenas para mim, mas
também a grande parte dos professores do CEST, levando-os a refletir sobre sua
autonomia profissional e consequentemente sobre a sua própria condição de autor.
Nossos encontros produzem significativos resultados, pois serve de embrião para a
criação de outros grupos de pesquisa que hoje já buscam sua ativação, além de
também contribuir na construção de vários dos projetos de mestrado e doutorado dos
docentes da instituição, vale ressaltar que esses momentos formativos contribuem
significativamente na promoção de um diálogo consistente entre os vários campos do
saber estabelecidos na instituição.
A caminhada como orientador
As vivências do meu processo formativo inicial e contínuo marcaram de maneira
significativa, tanto a minha percepção de mundo, quanto daqueles que oriento e
orientei. Meu processo de autoria também se legitima constantemente a partir dos
processos de orientação dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) que me envolvi
na academia, pois entendo que este é um momento de suma importância na formação
de professores, sendo importante que o formando esteja inserido num contexto que
priorize a investigação científica, ao participar de grupos de pesquisas que articulem
os seus projetos a outros em desenvolvimento numa dimensão interdisciplinar. Essas
vivências pedagógicas possibilitaram que eu conhecesse a pesquisa ainda no
processo da minha graduação. Em virtude disso, no transcorrer do mestrado já me
reconhecia como pesquisador.
É nessa perspectiva que sustento minhas orientações de TCC, PIBID e demais
projetos no contexto acadêmico. Quando me deparo com o tema inicial, primeiramente
procuro delimitá-lo para, junto com o orientando, fazer o recorte do problema científico.
Tal como propõe Gil (2002) que indica a necessidade de se delimitar o locus da
19 Núcleo de Pesquisa e Ensino do Médio Solimões.
149
observação com diversos recortes espaciais. Feito isso, o passo seguinte é a
apreensão do fenômeno investigativo que será pesquisado no campo de pesquisa e
para isso são realizados vários momentos de orientações individuais e em equipe
sempre levando em consideração a retroalimentação de conhecimentos.
Em linhas gerais, depois de formalizada a parceria, o processo se inicia com
uma palestra para toda a equipe de orientandos. Nesse cenário são apresentadas as
etapas da proposta orientacional e após todos concordarem com a trajetória a ser
seguida, estabelecíamos os objetivos a serem alcançados. No momento precedente
às etapas do processo de pesquisa, os pretensos orientandos são reunidos para uma
breve palestra sobre como se dará a trajetória. A característica principal sempre é a
“pesquisa em rede”, tendo o projeto do orientador como o “guarda chuva” que acolhe
e sustenta os projetos dos orientandos, sendo eles alimentados pelas observações e
intervenções realizadas no contexto de estágio dos acadêmicos. Pesquisas que se
complementam e dialogam a partir de um eixo central que a sustenta:
Aí situo a possibilidade de autoria coletiva, integrada em rede pela pesquisa:
neste entrecruzamento, encontro do heterogêneo, nos vários âmbitos de
tensão, no interior da rede, nas zonas de instabilidade entre os conceitos; nas
fronteiras abertas do ambiente, entre o fora/dentro; no jogo entre o
texto/contexto, virtual/concreto; na brecha entre o texto como resultado e o
texto como devir [...] (AXT s/d, p.8).
O maior acesso a Internet por parte da população, a criação de mídias sociais,
sites de pesquisa, portais de notícias, jogos on line, influenciam decisivamente a
relação dos educandos com os professores no espaço escolar. Nesse interim,
tornamse evidentes novos anseios e necessidades da parte desse alunado
contemporâneo, cabendo aos docentes terem uma sensibilidade mais apurada e
atenção redobrada para explorar as nuances desse novo contexto que se instaura. Os
meios de comunicações digitais também amenizam as dificuldades impostas pela
distância entre os grandes centros e as cidades do interior. Na experiência que tive ao
orientar os TCCs do PRONERA, a maior parte das orientações eram via e-mail e pelo
antigo programa MSN da Microsoft, pois as visitas ao contexto se dava apenas na
última semana de cada mês, assim as ferramentas on line possibilitaram preencher a
lacuna deixada pela ausência física do orientados durante as outras semanas.
Essa experiência contribuiu para que atualmente utilize as redes sociais como
novas ferramentas de orientação, como: Facebook e Whatsapp, pois uma parte
considerável de meus orientandos residem em comunidades ribeirinhas e até mesmo
150
em outras cidades mais distantes de Tefé, nas quais passam os finais de semana e
feriados. Além disso, também atuo como orientador de projetos de pesquisa em
Cursos Modulares oferecidos pela UEA, em locais que ainda são Núcleos Estudos
Superiores20 e não Centros de Estudos Superiores.
Costumo dividir o processo de orientação dos meus orientandos em três
momentos distintos. O primeiro sempre trata da compreensão do projeto de pesquisa,
sendo necessário que o orientando abstraia os seus elementos constituidores antes
de adentrar ao campo de investigação. Sempre esse início evidencia angústias e
inquietações, porém, com o transcorrer dos encontros as dúvidas dão lugar a
convicções de como proceder para atender as multiplicidades do fenômeno
investigativo; o segundo momento é dedicado a Revisão de Literatura quando indico
as obras que serão lidas para elaboração dos fichamentos analíticos e resenhas das
obras e/ou resumos dos capítulos. De posse de todo o material teórico até então
construído, começamos a produção dos capítulos que tratam da revisão de literatura
do TCC; o último momento é dedicado a pesquisa de campo no próprio contexto de
estágio, pois entendemos que esse cenário deve ser um dos laboratórios de pesquisa
dos cursos de licenciaturas. Ao refletir sobre todo esse processo, percebo que
vivenciei um significativo processo de autoria e que contribuiu significativamente na
consolidação de meu trabalho docente.
O papel de orientador, seja na graduação ou pós-graduação, possibilita ao
professor pesquisador colocar em prática a autoria conquistada nos variados
processos formativos vivenciados. Em meu caso, o contato com os orientandos me
levam a refletir sobre os fazeres pedagógicos que desenvolvo no contexto acadêmico
e ao mesmo tempo repenso convicções que construí ao longo dos anos, mas que
podem não mais contemplar a realidade atual. Dessa forma, tenho plena consciência
de que o meu processo de autoria revitaliza constantemente minhas ações docentes
como orientador de TCC ao proporcionar uma aproximação com o orientando, cujos
anseios e necessidades se evidenciam para que novas estratégias metodológicas
sejam adotadas.
20 Núcleos de Estudo Superiores da UEA são locais que não possuem corpo docente, enquanto que os
Centros possuem professores efetivos.
151
Minhas percepções autorais
Há variadas maneiras de perceber e se perceber no mundo. Essa percepção
está relacionada a nossa postura e as interações que mantemos com o outro, as quais
se modificam conforme o contexto no qual estamos inseridos. A percepção que temos
desse contexto está relacionada às crenças, valores, ideologia; enfim, elementos
subjetivos que caracterizam nossa visão de mundo e influenciam nossas atitudes na
sociedade. Viver em sociedade é mais do que interagir com o outro, é também ensinar
e aprender, inserir-se e adaptar-se ao contexto. Fazer parte de um lugar é vivenciar
na plenitude todas as suas características e assim construir, desconstruir e reconstruir
a sua história num incessante processo autoral que se renova a cada vivência
adquirida.
Na formação de professores se torna imprescindível permitir que no próprio
processo de formação inicial os acadêmicos estejam abertos para transformações, a
partir das interações acontecidas no seu contexto. As situações formativas vivenciadas
pelos docentes influenciam diretamente na sua atuação educativa, ao mesmo tempo
em que se ressignificam conforme as características do contexto e dos envolvidos no
processo, pois o ser humano se reconhece no outro a partir de suas similaridades e
diferenças. De acordo com Bragança (2011, p.159):
[...] as questões do presente levam-nos a problematizar o passado e a
construir projeto sobre o futuro; a heteroformação aponta para a significativa
presença de muitos outros que atravessam nossa história de vida, pessoas
com quem aprendemos e ensinamos; a ecoformação aborda nossa relação
com o mundo, o trabalho e a cultura.
Partilhamos nossas identidades, porém nos legitimamos a partir da diferença e
da semelhança, sendo que elementos subjetivos, tais como: amor, ódio, fraternidade,
egoísmo, moldam nossas relações com o outro. Nossos sentimentos influenciam
diretamente as relações sociais, forjando a nossa visão de mundo e possibilitando, ou
não, a cordialidade que nos caracteriza como seres civilizados. Assim, isso também
caracteriza os traços de formação do professor pesquisador no seu fazer pedagógico,
como também nas suas interações profissionais que caracterizam as suas vivências
pessoais e formativas.
Ao adotar a perspectiva narrativa na construção do trabalho de tese, por um
lado, eu pretendia relatar as situações formativas que vivenciei ao longo dos anos.
152
Diante disso, enfatizando principalmente as nuances subjetivas que caracterizaram os
processos formativos inicial e contínuo, tentei evidenciar as influências dessas
vivências no meu trabalho docente e como estão relacionadas com o desenvolvimento
de meu processo de autoria, de outro lado. De acordo com (Galvão 2005, p.329):
Os conceitos de narrativa, história, biografia, são cada vez mais usados por
investigadores nas ciências sociais e em educação. A investigação pela
narrativa está, em todas as suas diferentes manifestações, profundamente
implicada em conflitos contemporâneos relacionados com teoria, metodologia
e política educativa. Mais do que um paradigma novo, representa a existência
de uma era pós-paradigmática, em que novas configurações emergem, ao
mesmo tempo que se mantêm as existentes formulações e várias versões se
desconstroem e se recombinam.
Essa perspectiva metodológica me permitiu reviver e relatar minha história de
vida com de detalhes que possibilitaram perceber como conduzi meu próprio processo
formativo docente, atentando-me para as condições daquele contexto e os anseios e
necessidades que possuía naquele momento. Vale ressaltar que os procedimentos
metodológicos baseados na Análise Textual Discursiva que estrutura a investigação
foram viabilizados no trabalho graças as premissas da Análise
CompreensivaInterpretativa. Isto me possibilitou extrair da narrativa elaborada, a partir
dos meus momentos formativos, as categorias de análise que sustentaram a tese:
Formação Inicial (vivências na graduação) e Formação Contínua (vivências no
mestrado e doutorado).
Souza (2014) destaca que a análise compreensiva-interpretativa reflete de
maneira particular e geral sobre as histórias de vida dos sujeitos, ao realizar uma
leitura interpretativa e compreensiva dos registros que possuem o intuito de suprimir a
saturação de informações geradas através das repetições colocadas pelo sujeito
quando narra a sua própria história. É neste sentido que Galvão (2005, p. 328)
corrobora com os escritos de Santos, quando afirma que:
A realidade cotidiana é percebida por cada um de nós de um modo muito
particular, damos sentido às situações por meio do nosso universo de
crenças, elaborado a partir das vivências, valores e papéis culturais inerentes
ao grupo social a que pertencemos.
As experiências pessoais e formativas dos indivíduos são organizadas de maneiras
mais significativas a partir de narrativas, pois é possível perceber como é dado
importância diferente à realidade e às experiências criadas nas várias esferas da
153
sociedade em que ele interage. A narrativa é mais do que um relato da realidade, mas
também é a aceitação dessa realidade a qual sofre fortes influências culturais,
religiosas, sexuais. É deste caldeirão de fatores concretos e subjetivos que emerge a
autoria do sujeito, no caso o docente, o qual usa de sua autonomia para construir seu
próprio caminho formativo.
A narrativa autobiográfica que caracteriza o trabalho foi construída a partir das
minhas vivências formativas retratadas em textos que se caracterizaram como
memoriais descritivos, balizados pela perspectiva da Análise
CompreensivaInterpretativa que evidenciou os momentos subjetivos presentes na
narrativa, enfatizando elementos pessoais, políticos, culturais, social e histórico.
Ao buscar novos caminhos para avançar em minha formação profissional e ao
mesmo tempo selecionar e construir novas estratégias metodológicas que contribuam
com as minhas práticas docentes, fortaleço minha condição de autor e me legitimo
como pesquisador. Quando relato as histórias oriundas dessas vivências, perpetuo as
experiências obtidas e possibilito que outros docentes possam sensibilizar-se da
importância de desenvolver o seu processo de autoria no transcorrer de sua própria
formação, como também das atividades do cotidiano pedagógico.
O trabalho com narrativas autobiográficas é uma nova perspectiva na formação
de professores e possibilita evidenciar as apropriações que os docentes fazem no seu
convívio social e profissional, levando-os a construir o seu processo de autoria. São
as vivências acumuladas no contexto educativo e formativo que evidenciam como o
docente trata o seu próprio fazer pedagógico e o processo formativo ao longo de sua
história. Lopes e Lima (s/d, p.4) destacam que:
Nessa perspectiva, entendemos que na história de vida de um professor,
marcada fortemente pela subjetividade, subjaz a noção de sociedade, de
coletivo. Mesmo o professor sendo uma pessoa, com características próprias
e individuais, as suas relações sociais transformam a sua história na história
dos outros e a história dos outros dentro da sua própria história.
A narrativa autobiográfica construída na tese revisita minhas crenças
profissionais do início da carreira e relembra os anseios e expectativas para curto,
médio e longo prazos. Esse encontro com o passado fez-me refletir sobre meu
presente e o que pretendo para o futuro como professor pesquisador, despertando em
mim novos sentimentos e me fazendo ter consciência de que vivenciei e construí um
154
processo de autoria que alimentou e sustentou meu fazer pedagógico como professor
pesquisador.
Nesse sentido, o conhecimento está na cultura e a esta está no conhecimento.
Numa perspectiva hologramática e recursiva à luz do pensamento complexo, podemos
dizer que ela está no indivíduo ao mesmo tempo em que está na sociedade, e desse
modo se constitui como uma produtora da realidade em que cada indivíduo a percebe
e a manipula. A construção do conhecimento científico ou ordinário sempre é
influenciada pelo contexto no qual o seu construtor está inserido. De acordo com Morin
(2008, p.27):
Assim, o conhecimento está ligado, por todos os lados, à estrutura da cultura,
à organização social, à práxis histórica. Ele não é apenas condicionado,
determinado e produzido, mas é também condicionante, determinante e
produtor (o que demonstra de maneira evidente a aventura do conhecimento
científico). E, sempre e por toda parte, o conhecimento transita pelos espíritos
individuais, que dispõem de autonomia potencial, a qual pode, em certas
condições, atualizar-se e tornar-se um pensamento pessoal.
Em virtude disso, o conhecimento não se constitui apenas como um objeto, mas como
um elemento que possibilita a compreensão dos objetos e de si próprio. Sendo assim,
o conhecimento por ele mesmo não se alimenta apenas daquele científico, mas
também das histórias e vivências daqueles que o constrói, e assim o ressignifica
constantemente dando sentido ao seu próprio processo autoral.
Nesse caso, o processo de autoria se configura como um momento contínuo, onde
passado e futuro são formas de viver o presente, pois o passado nos explica o presente
e indica as nuances do futuro. Ser autor requer perceber que as mudanças se dão
concomitantemente às atitudes de conservação, sejam materiais ou emocionais do
cotidiano dos sujeitos. Colaborar e compartilhar implica em participar com os outros
de um projeto comum, o que só é possível se na convivência com o outro este passa
ser visto e escutado. Enfim, ser respeitado é respeitar.
O ato de conhecer está relacionado a ação daquele que conhece a sua
percepção sobre o objeto, aliada às experiências vividas no seu contexto. O sistema
155
vivo é parte do meio e o meio é parte do sistema vivo, estando estes em constante
interação. Daí a importância de se perceber este diálogo, pois é através dele que
ocorrem as transformações, tanto no meio, quanto no indivíduo. Quando se reconhece
este momento, é dada a devida atenção às emoções e aos sentimentos do sujeito, e
não apenas para sua dimensão racional, uma vez que são elas que influenciam suas
ações e reflexões, acabando por caracterizar a sua visão de mundo. O professor
pesquisador deve estar atento as necessidades do contexto educativo e,
principalmente, aos interesses dos educandos para selecionar estratégias de ensino
que amenizem as dificuldades do processo de ensino e aprendizagem.
Nesse sentido, a construção do conhecimento em educação tem uma estreita
relação com a formação docente, sendo os professores agentes principais de todo o
processo que se ressignifica conforme o andamento dos percursos de autoria de cada
um dos envolvidos. De tal sorte, ao compreender a vivencia como uma constante no
processo de formação de sua autoria, compreende-se que é ela quem determina o
caminho a seguir aos professores, como também a concepção de que eles deixam de
ser meros recebedores de formação e se tornam participantes ativos desse processo.
A diversidade de culturas, conhecimentos, saberes e áreas da ciência são
valiosas características do processo de formação docente. Quando os próprios
professores constroem a sua formação a partir da troca de experiências nas situações
do cotidiano pedagógico, eles constroem um processo de autoria que fortalece sua
identidade docente e possibilita uma consistente reflexão de suas práticas. É neste
sentido que me considero fruto de uma proposta formativa que visa formar
professores-pesquisadores capazes de transformar a realidade. Desse modo, tento
gerar novos frutos ou pelo menos germinar novas sementes.
Ao refletir sobre minha história e construir a narrativa que desvelo, considerome
uma pequena parte de um todo infinito e multidimensional que se desconstrói e
reconstrói sucessivamente numa simbiose. Este se alimenta de sentimentos baseados
em anseios e necessidades. Assim vou atuando no grande teatro da vida como um
ator cuja peça, ato e cena se deparam com novas perspectivas de transformar sua
parte e, consequentemente, o todo ressignificando sua prática e sua própria vida,
sempre capitaneando a sua trajetória.
156
NOVAS IMPRESSÕES
Ao relembrar minha história formativa, naveguei por águas que imaginava
estarem calmas e paradas, porém um rio de emoções oriundo de minhas vivências
pessoais levaram-me por novos afluentes que despertaram sentimentos adormecidos
do passado, mas que estão entrelaçados a minha condição de autor no transcorrer do
processo de formação. Narrar a própria história significa transpor obstáculos
emocionais, até então desconhecidos. É um desafio a ser vencido por quem pretende
resgatar memórias pessoais, formativas e profissionais que interferem
significativamente na sua história de vida.
Estes escritos autobiográficos relataram as experiências formativas que
caracterizaram o meu processo de autoria e influenciaram, e ainda influenciam, a
minha formação como professor pesquisador. Ao investigar os momentos marcantes
de minha história pessoal e profissional, vivenciados nos processos formativos inicial
e contínuo dos quais fiz parte, percebo que eles próprios se configuraram como
elementos de formação que fortaleceram minha formação como professor
pesquisador. Nesse sentido, corroboramos com Souza (2010, p.17, grifos do autor):
[...] a autobiografia expressa o “escrito a própria vida”, caracterizando-se como
oposta à biografia, porque o sujeito desloca-se entre o papel de ator e de autor
de suas próprias experiências, sem que haja uma mediação externa de
outros. Dessa forma, entende-se que a abordagem biográfica e a
autobiografia das trajetórias de escolarização e de formação, tomadas como
narrativas de formação, inscrevem-se nesta abordagem epistemológica e
metodológica por serem compreendidas como processo formativo e
autoformativo por meio das experiências dos sujeitos em formação.
No decorrer das análises sobre a narrativa construída comecei a repensar o
meu próprio processo formativo docente, percebendo-a desde a lógica de estruturação
das matrizes curriculares dos cursos vivenciados e experienciados, até as interações
que mantivemos com os demais colegas de formação. As experiências oriundas das
vivências desses processos contribuem na minha condição de autor e dão sentido ao
meu trabalho docente, assim como evidencia Cunha (1997) ao destacar que ao narrar
reflexivamente suas experiências, o professor aprende e ensina: aprende, porque
organiza as ideias e sistematiza as experiências. Ensina, porque possibilita ao outro
ressignificar suas práticas a partir dos saberes da experiência do colega.
Certo de que não esgotei a narrativa e as reflexões sobre a minha história, fazse
imprescindível retomar os objetivos que direcionaram a investigação: 1) Apresentar
157
aspectos emergentes da minha autoria, durante a minha formação inicial; 2) Refletir a
respeito das influências do meu processo de autoria na minha condição de professor
pesquisador, durante as minhas formações contínuas; 3) Analisar se as experiências
oriundas dos meus momentos formativos, narrados autobiograficamente, demonstram
processos de autoria e legitimam-me como professor pesquisador.
O processo investigativo da tese passou por algumas ressignificações até ser
definido como uma pesquisa autobiográfica. Desde antes do processo de
doutoramento algumas questões ecoavam em minha mente a cada dia de trabalho na
academia, dentre elas algumas eram mais recorrentes: A formação docente deve focar
apenas nos conhecimentos teóricos? Existe lugar para as histórias de vida dos
professores no seu processo de formação? Qual a importância de uma cultura de
pesquisa na escola? É importante o professor exercer uma condição de autor no seu
trabalho docente? Como levar o professor a ser autor na sua profissão? Durante a
investigação não tive a pretensão de respondê-las, mas sim explorá-las com o intuito
de gerar novas questões que pudessem gerar novas reflexões e assim, de alguma
forma, contribuir para a mudança dos processos de formação docente.
Ao narrar minha história relembrei vivências pessoais, formativas e profissionais
refletindo sobre como elas influenciaram diretamente na minha formação como
professor pesquisador, como também evidenciando o seu papel na construção de meu
processo autoral. No trabalho lidei com a lembrança das tensões, anseios e
necessidades que permearam todo o meu processo formativo e contribuíram na
legitimação de minha identidade de pesquisador. A trajetória investigativa tentou fugir
da linearidade e cronologia ao descrever as situações num movimento dialético. E
levava em consideração os sentimentos do narrador conforme revivia suas
lembranças a partir de imagens, escritos e conversas com pessoas que partilharam de
suas emoções.
Ainda na formação inicial, compreendi que ao agir de maneira autônoma exercia
minha condição de autor e contribuía na dinamização do processo formativo que
vivenciava, o qual possibilitava uma aproximação com a pesquisa ainda na formação
inicial. Ao narrar essas vivências formativas iniciais, evidenciei aspectos emergentes
desse momento como o despertar de minha autonomia profissional, a partir de
situações práticas desenvolvidas no processo de estágio; além disso, outro fator
determinante nesse contexto de formação foi o contato estreito com elementos
158
caracterizadores da pesquisa científica que a mim foram apresentados ao fazer parte
do grupo de pesquisa de meu orientador. Conforme Lemos (2009, p.25):
Nos cursos de formação de professores é comum notarmos que muitos optam
pela docência com uma compreensão bastante variada do sentido de ser
professor, ou seja, quando inquiridos acerca das razões que os levaram a
frequentar um curso destinado à formação de professores, são evocadas
razões das mais diferentes ordens, muitas delas sem quaisquer vínculos com
o núcleo da função docente – aprender e ensinar.
Quando iniciei o curso de formação de professores ainda não tinha clareza do papel
do professor no contexto educativo, tampouco tinha certeza de que esse seria o
caminho profissional que trilharia a partir daquele momento de minha vida. Ao
relembrar minhas vivências e experiências daquele período percebo, como semestre
a semestre fui tornando-me o professor que sou hoje, e considero que ao refletir
detalhadamente sobre o desenrolar desse processo, compreendi o sentido de meu
trabalho no cotidiano pedagógico.
Ao avançar em meu processo formativo adentrei no programa de mestrado e,
posteriormente, no doutorado sentindo-me mais experiente e preparado para
desenvolver atividades como pesquisador. O período do mestrado possibilitou-me
fomentar ainda mais a minha condição de autor a partir das atividades de pesquisa
que desenvolvia durante o curso e principalmente no contexto acadêmico onde
trabalhava. Concomitante às formações por quais passei, também exercia minhas
atividades docentes na universidade e assim articulava os conhecimentos adquiridos
na formação contínua ao meu trabalho de professor na sala de aula.
Para Imbernón (2002), a formação contínua possibilita ao docente um
desenvolvimento profissional que lhe permite perceber e avaliar as necessidades do
contexto educativo e assim elaborar estratégias de ensino que amenizem as
dificuldades apresentadas, como também, ao mesmo tempo, fomentar a criticidade e
a diversidade no ambiente escolar. Numa formação em serviço, tais como as que
vivenciei, a constante retroalimentação de novos conhecimentos teóricos e
metodológicos e a sua pronta transposição para o ambiente acadêmico são primordiais
para a formação do professor pesquisador.
Foi neste período que tive as minhas primeiras experiências na docência ao
participar de cursos de capacitação de professores, aproveitando-os como momentos
159
formativos em que a pesquisa permeava o processo. Levava os professores em
formação para atividades em espaços não-formais com o intuito de despertá-los para
a importância de retirar o educando da sala de aula, para que este problematizasse a
sua realidade e registrasse suas observações para posteriormente analisá-las. Tais
atividades também contribuíram na minha legitimação como pesquisador forjando de
maneira irreversível o meu trabalho docente. Como professor pesquisador caracterizo
as minhas aulas a partir da problematização da realidade e do registro sistemático das
observações realizadas dentro e fora do espaço escolar.
Relembrar as vivências decorridas de meus processos formativos e organizálas
em uma narrativa autobiográfica, por um lado, levou-me a perceber alguns elementos
que hoje considero frágeis na minha formação; por outro, fortaleceu convicções que já
sustentavam meu trabalho docente como professor pesquisador. O meu processo de
autoria caracterizou-se como a dimensão articuladora das minhas vivências docentes
às práticas pedagógicas que desenvolvo em sala de aula, tendo a pesquisa como
sustentáculo desse processo.
O professor pesquisador que me tornei consolidou-se a partir das atividades
autorais que desenvolvi no transcorrer das vivências oriundas dos processos
formativos que vivenciei ao longo dos anos. Ainda hoje, formo-me continuamente
através das próprias experiências docentes decorrentes das interações que mantenho
com meus pares e estudantes no cotidiano pedagógico. Agindo como autor ressignifico
meu próprio trabalho docente e amplio as possibilidades formativas dos professores
que sou responsável pela formação na universidade, visando formá-los pela pesquisa,
pois entendo que o professor pesquisador é antes de tudo um transformador da
cultura. Dessa forma, consigo intervir na realidade em que estou inserido a partir de
estratégias educativas que extrapolam os muros da instituição de ensino superior e
abarcam toda a sociedade. Assim, considero que contribuo na mudança do status quo
instaurado no contexto social visando de alguma forma amenizar as desigualdades
que se reproduzem historicamente, tendo a formação de professores como a mola
propulsora de todo o processo.
Sentir-se professor pesquisador em sua plenitude! Este é o meu sentimento
após doze anos na docência fazendo o que gosto e encontrando sentido em minhas
ações pedagógicas a partir da minha condição de autor. Ao me identificar com o
160
trabalho docente que realizo, encontro a motivação necessária para cada dia procurar
fazer o melhor em sala de aula e também buscar transformar a realidade ao propor
projetos e produzir material teórico que contribuam para o êxito do processo de ensino
e aprendizagem, bem como na reflexão sobre a educação. Legitimando minha
condição de autor a partir da construção, reconstrução e socialização dos
conhecimentos, desenvolvi habilidades capazes de ressignificar o meu fazer
pedagógico. Para isso foi importante refletir sobre as vivências que adquiri durante os
processos formativos, e ao mesmo tempo, utilizar as experiências oriundas desse
processo como sustentáculo do meu fazer pedagógico.
Ao relatar minha história evidenciei vivências de minha formação profissional e
também de minha vida pessoal. Desse modo, ao analisar os processos formativos que
vivenciei, percebi como determinadas situações que sequer valorizei no momento em
que ocorreram tiveram um papel importante na minha formação como professor
pesquisador. Percebi que as atitudes que tomei enquanto estudante nas formações
iniciais e contínuas, assim como, no exercício do magistério, estavam relacionadas ao
processo de autoria que, mesmo de maneira inconsciente, se fazia presente na minha
formação, pois como mencionam Souza; Pinho; Portugal (2012, p.7): “[...] narrar a
própria vida ajuda a recuperar as experiências vividas que marcaram efetivamente a
trajetória do sujeito, ao longo do seu processo formativo”.
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