113
UNIMAR UNIVERSIDADE DE MARÍLIA EDGARD LOPES BENASSI OS ENSINAMENTOS DE JESUS: DA ORALIDADE À INTERNET MARÍLIA 2011

UNIMAR UNIVERSIDADE DE MARÍLIA EDGARD LOPES … · alunos e comunidade escolar. Portanto, propiciar os ensinamentos bíblicos fora do contexto religioso denominacional nas escolas

  • Upload
    dinhthu

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

UNIMAR – UNIVERSIDADE DE MARÍLIA

EDGARD LOPES BENASSI

OS ENSINAMENTOS DE JESUS: DA ORALIDADE À INTERNET

MARÍLIA

2011

1

EDGARD LOPES BENASSI

OS ENSINAMENTOS DE JESUS: DA ORALIDADE À INTERNET

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Comunicação, área de concentração “Mídia e Cultura”, linha

de pesquisa “Produção e Recepção de Mídia”, da

Universidade de Marília, como requisito para obtenção do

grau de Mestre.

Orientadora: Professora Doutora Heloisa Helou Doca.

MARÍLIA

2011

2

Benassi, Edgard Lopes

Os ensinamentos de Jesus: da oralidade a internet / Edgard Lopes

B e n a s s i - - M a r í l i a : U N I M A R , 2 0 1 1 .

116p.

Dissertação (Mestrado em Comunicação) -- Curso de Comunicação

da Universidade de Marília, Marília, 2011.

1.Veículos de Comunicação 2. Ideologia Religiosa 3. Instituição

4. Educação I. Benassi, Edgard Lopes.

CDD -- 302.23

3

Universidade de Marília

Faculdade de Comunicação, Educação e Turismo.

Reitor

Márcio Mesquita Serva

Programa de Pós-Graduação em Comunicação

Coordenadora: Profª. Drª. Suely Villibor Flory

Área de concentração

Mídia e Cultura

Orientadora

Profª. Drª. Heloisa Helou Doca

4

EDGARD LOPES BENASSI

OS ENSINAMENTOS DE JESUS: DA ORALIDADE À INTERNET

Aprovado pela Banca Examinadora:

Nota:

________________________________________________

Prof.(a) Dr.(a)

Orientadora

________________________________________________

Prof.(a) Dr.(a)

________________________________________________

Prof.(a) Dr.(a)

Marília

2011

5

Dedico este trabalho a todos que querem

Pão, Pão verdadeiro, que sacie; Água verdadeira que

estanque a sede; Luz da verdade, que não se apaga.

6

AGRADECIMENTOS

A Deus pela oportunidade da vida e saúde para seguir em frente.

Ao Governo do Estado de São Paulo e Secretaria de Estado da Educação e à Diretoria

Regional de Ensino de Ourinhos por me incluir no Projeto Bolsa Mestrado, o que permitiu a

minha permanência no Curso de Pós-Graduação e a realização deste trabalho.

Às Profª. Drª. Elêusis Mirian Camocardi e Profª. Drª. Maria Cecília Guirado de Carvalho

e Heloisa Helou Doca pela colaboração, orientação e entusiasmo.

À profª. Drª. Linda Bulik pela paciência e dedicação.

Ao Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira pela paciência e compreensão na trajetória do

conhecimento.

À Profª. Drª. Andréia Cristina Fregate Baraldi Labegalini pela atenção e contribuição.

Ao Prof. Dr. Adolpho Queiroz pelo apoio, consideração e incentivo.

À Profª. Drª. Rosangela Marçolla pelo acolhimento, incentivo e apoio.

À Profª. Drª. Suely Villibor Flory e aos docentes do Curso de Pós-Graduação em

Comunicação da Universidade de Marília e suas contribuições para o desenvolvimento do

conhecimento.

A todos os colegas do curso pelo encorajamento e incentivo.

E à minha família: esposa Eunice e filhas, Ana Carolina e Ana Paula, por compreenderem

a minha ausência neste período de estudos.

7

RESUMO

___________________________________________________________________________

Este trabalho tem o objetivo de averiguar a religião institucionalizada, que se multiplica em

várias, na época de Jesus (Fariseus, Saduceus) para angariar prestígio e poder entre as nações,

trabalhando sempre em prol das classes dominantes e oferecendo uma falsa paz a seus fiéis,

posicionando-os numa condição de submissão, para melhor serem explorados nas relações

capitalistas. Jesus não participou nem seguiu este modelo para Sua Igreja (Seu Corpo), mas o

modelo de Cristo foi velado, para realçar o modelo das instituições que usam seu nome, para

gerar lucro prestígio e poder. Fragmentos de seus ensinamentos ocupam altares e púlpitos

fazendo cumprir a ideologia institucional de cada denominação religiosa. As igrejas

institucionalizadas, formadas pela deturpação dos ensinamentos de Jesus usam os meios de

comunicação de massa (rádio, TV) para atrair novos fiéis e formarem novas instituições

religiosas denominacionais, ocultando a autêntica Igreja de Cristo. Diferente dos veículos

anteriores, a internet apresenta novas formas de acesso às informações, que são compartilhadas

com maior número de pessoas na rede mundial de computadores, tornando-se assim um veículo

facilitador para ensinar e aprender os ensinamentos de Jesus. Através de pesquisas bibliográficas

procura-se debater aqui se o trabalho realizado pelas instituições religiosas não tem afastado as

pessoas do evangelho de Cristo, sendo que hoje a internet pode ter o papel de facilitar a

aproximação dos fiéis dos ensinamentos de Jesus, quando bem utilizada.

Palavras-chave: Veículos de comunicação. Ideologia religiosa. Instituição. Educação.

8

ABSTRACT

___________________________________________________________________________

This work has the aim to discover the institutionalized religion which is multiplied in several at

Jesus time (Fariseus, Saduceus) with the purpose of recruiting prestige and power among nations,

working to the dominant classes and offering a false peace to its followers, positioning them in

submission condition for a better use in the capitalist relationships. Jesus didn‟t participate nor

followed this model to His Church (His/her Body), but Christ‟s model was veiled, to enhance the

model of the institutions that use His name, to generate profit, prestige and power to the

mercenaries. Fragments of His teachings occupy altars and pulpits enforcing the institutional

ideology of each religious denomination. The institutionalized churches, formed by the

corruption of Jesus teachings use new institutions, veiling Christ‟s authentic Church, and become

religious in a previous vehicle to teach and learn Jesus‟ teaching. Through bibliografic

rechearches oneself seeks to debate here if se work that was made for the religious institutions

has removed people from Christ Gospel, because today the internet can have a facilitador role of

approximating the faithful people of the teaching of Jesus, when well used.

Keywords: Media. Religious ideology. Institution. Education.

9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. A oralidade nos ensinamentos.............................................................................. 27

Figura 2. Templo medieval ................................................................................................... 32

Figura 3. Constantino.............................................................................................................42

Figura 4. A inquisição............................................................................................................48

Figura 5. Métodos de tortura.................................................................................................49

Figura 6. As fogueiras da inquisição.................................................................................... 51

Figura 7. Métodos de tortura (despertador).........................................................................52

Figura 8. Métodos de tortura (roda).....................................................................................53

Figura 9. Basílica de São Pedro.............................................................................................54

Figura 10. Visão da cúpula.....................................................................................................54

Figura 11. Prensa de Gutenberg............................................................................................61

Figura 12. Página da Bíblia de Gutenberg...........................................................................62

Figura 13. Imagem da página do site....................................................................................91

Figura 14. Arpanet - Tecnologia da computação.................................................................94

Figura 15. Arpanet - Tecnologia da computação.................................................................94

10

SUMÁRIO

Introdução..........................................................................................................................11

1. A oralidade como transmissão de conhecimentos.......................................................21

1.1 A divulgação da cultura pela oralidade no início da era cristã....................................23

1.2 A oralidade de Jesus – a oratura (literatura oral) nas comunidades primitivas (tribos

africanas)......................................................................................................................26

1.3 A oralidade da Idade Média.........................................................................................30

1.4 A divulgação da Palavra no Novo Testamento............................................................32

1.5 Os evangelistas.............................................................................................................34

1.6 Os evangelhos apócrifos..............................................................................................37

2. As religiões institucionalizadas....................................................................................39

2.1 A institucionalização da igreja por Constantino..........................................................40

2.2 O papa e os sacerdotes.................................................................................................44

2.3 A inquisição.................................................................................................................47

2.4 A igreja e os genocídios...............................................................................................55

2.5 Lutero e as religiões protestantes.................................................................................57

2.6 Gutenberg e a Bíblia impressa.....................................................................................60

3. A educação brasileira: o ensino religioso e a palavra áudio-visual.............................63

3.1 Visão histórica: o papel do catolicismo romano na educação brasileira.....................64

3.2 O evangelho na mídia: ideologia e usurpação.............................................................67

3.3 O uso do rádio e TV.....................................................................................................70

3.4 A religiosidade institucionalizada................................................................................77

3.5 A evangelização pelo rádio e TV.................................................................................83

4. A educação brasileira na era da internet e da interatividade........................................86

4.1 A educação brasileira e o ensino religioso na atualidade.............................................86

4.2 A internet e os ensinamentos de Jesus.........................................................................89

4.3 A interatividade como marca da educação contemporânea.........................................93

Considerações finais.....................................................................................................97

Referências.................................................................................................................101

Anexos.......................................................................................................................109

11

INTRODUÇÃO

Esta dissertação investiga o estudo do evangelho por meio da hermenêutica e da exegese,

possibilitando o ensino/aprendizagem desvinculado do sistema denominacional religioso e suas

ideologias, utilizando o site h t t p : / / w ww.es t udo sd ab i b l i a .n e t .

As múltiplas possibilidades de produções midiáticas da atualidade têm favorecido os mais

variados tipos de estudos, o que em tempos passados estava vinculado às instituições religiosas e

suas denominações, hoje está disponibilizado mundialmente por meio do ciberespaço .

Veiculados pela internet , os ensinamentos de Jesus vêm ganhando maneiras inusitadas de

propagação. Os dispositivos tecnológicos de comunicação, veiculados por meio da World Wide

Web (www.) fornecem novas formas de interações e pesquisas, socializadas nas comunidades

virtuais dispostas na rede mundial de computadores.

A religiosidade institucionalizada e suas doutrinas, quando empregadas no ambiente

escolar incitam dissensões entre alunos e professores. O fato de simplesmente citar “sou desta ou

daquela” denominação é motivo para competição, onde cada integrante procura defender a

“placa” denominacional à qual pertence, criando um desconforto e um quadro negativo para o

sistema de ensino.

O referido site desta dissertação pode ser um instrumento facilitador para o

ensino/aprendizagem dos ensinamentos de Jesus por apresentar unicamente as interpretações

bíblicas, sem apologia a instituições ou denominações religiosas.

As compilações das interpretações bíblicas, desvinculadas do sistema religioso

institucionalizado estão disponibilizadas, gratuitamente, por meio desta ferramenta, podendo ser

acessadas nas salas de informática das escolas públicas e privadas de todo país, em lan house e

pelo computador pessoal, estando em qualquer lugar de acesso a internet.

No sistema de ensino religioso atual, amparado pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da

educação nacional, na Seção III, Art. 33, vem expresso o que segue:

Dimensão ou domínio virtual da realidade, constituído por entidades e ações puramente informacionais; meio, conceitualmente

análogo a um espaço físico, em que seres humanos, máquinas e programas computacionais interagem (BUARQUE de

HOLANDA, 2004).

Qualquer conjunto de redes de computadores ligadas entre si por roteadores e gateways, como, por exemplo, aquela de âmbito

mundial, descentralizada e de acesso público, cujos principais serviços oferecidos são o correio eletrônico, o chat e a Web, e que é

constituída por um conjunto de redes de computadores interconectadas por roteadores que utilizam o protocolo de transmissão

TCP/IP (BUARQUE de HOLANDA, 2004).

12

O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das

escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres

públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus

responsáveis, em caráter:

I – confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno, ou de seu responsável

ministrada por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas

respectivas igrejas ou entidades religiosas, e

II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que se

responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa.

Tanto o ensino religioso confessional como o interconfessional são causadores de

divergências e competições no ambiente escolar. Sendo o Antigo e o Novo Testamento

parâmetros para todas as denominações cristãs no país, disponibilizar seu conteúdo desvinculado

das instituições religiosas previne controvérsias e porfias.

Entendemos que a escola tem o dever de prevenir o fenômeno violência que se desenvolve

em seu contexto, e de intervir impedindo a proliferação. Entretanto, para que isso

aconteça, seus profissionais devem ser capacitados para atuar na melhoria do ambiente

escolar e das relações interpessoais, promovendo a solidariedade, a tolerância e o respeito

às características individuais, utilizando estratégias adequadas à realidade educacional que

envolva toda a comunidade escolar (FANTE, 2005, p.169).

Usufruir gratuitamente dos ensinamentos de Jesus é tomar posse de uma herança deixada

em benefício da humanidade, a qual foi transformada em lucro financeiro pelo sistema religioso

institucionalizado. Poder estudar as religiões nas escolas públicas está previsto nas diretrizes

educacionais brasileiras, mas, suportar a apologia desta ou daquela denominação em ambiente

público é humilhação e imposição para os que não acatam as determinadas liturgias. Já, as

interpretações dos textos bíblicos vêm ao encontro da construção e formação espiritual para a

cidadania, no cumprimento dos direitos e deveres do cidadão, dando possibilidades de

compreender e optar pela aceitação ou recusa da forma bíblica de se chegar a Deus.

O momento é oportuno, as novas tecnologias propiciam tal conhecimento sem o

engajamento religioso do passado, no qual o interessado em aprender os ensinamentos bíblicos

tinha que pertencer a uma denominação religiosa, colaborando financeiramente para a

manutenção do templo e dos sacerdotes.

Atualmente, a maioria das escolas públicas do Estado de São Paulo já possui a sala de

informática e os recursos tecnológicos necessários para acesso à internet. O provedor, monitorado

pela Secretaria de Educação fornece o auxílio à pesquisa e ao desenvolvimento intelectual dos

13

alunos e comunidade escolar. Portanto, propiciar os ensinamentos bíblicos fora do contexto

religioso denominacional nas escolas é contribuir para o desenvolvimento em prol da paz.

Mas, para que a população receba tais benefícios, é necessário que a Secretaria da

Educação viabilize esta atividade no currículo escolar, libertando-a de antigos grilhões,

facilitando o acesso a este importante assunto, que esteve tão restrito às religiões, mas que

atualmente, frente às novas tecnologias torna-se acessível a todos.

Beneficiar-se do “Estado Laico” não se resume apenas na liberdade da escolher de uma

religião, mas também de compreender os parâmetros das religiosidades existente no país. Um

povo esclarecido e educado fica menos suscetível a persuasão. Na “lei geral das religiões” de

2009, no Art.11º se lê o seguinte:

O ensino religioso, de matrícula facultativa é parte integrante da formação básica do

cidadão e constitui disciplina dos horários normais da escola pública de ensino

fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em

conformidade com a Constituição e as outras vigentes, sem qualquer forma de

proselitismo.

O termo “proselitismo” neste artigo já induz à existência de uma instituição religiosa e se

refere àqueles que se desvincularam de uma para se filiaram a outras denominações religiosas.

O ensino religioso oferecido atualmente nas escolas públicas sofre forças antagônicas,

deixa de ser democrático, quando favorece a maioria, formando grupos separatistas no recinto

escolar.

Por quase dois mil anos, os ensinamentos de Jesus percorrem a terra em busca de

ouvintes. São vários os veículos que conduziram suas mensagens até nossos dias, mas nenhum

tão facilitador quanto a internet, veiculado por meio da rede mundial de computadores. Este meio

de comunicação rompeu as paredes dos templos e disponibilizou os ensinamentos de Jesus de

forma diferenciada dos veículos anteriores.

Por meio desta tecnologia os ensinamentos de Jesus alcançaram a liberdade que não

obtiveram no altar, no púlpito, na imprensa tipográfica, no rádio e na TV. Fazendo uso da

eminente necessidade espiritual, a propaganda religiosa magnetizou o povo, tornando o

conhecimento bíblico gratuito em produto rentável.

McLuhan afirma que a televisão é um meio frio, mas que causa um profundo

envolvimento nas pessoas, e acrescenta:

14

Quase todas as tecnologias e entretenimentos que se seguiram a Gutenberg não tem sido

meios frios, mas quentes; fragmentários, e não profundos; orientados no sentido do

consumo e não da produção. Muito poucas são as áreas de relação já estabelecidas - lar,

igrejas, escola, mercado - que não tenham sido profundamente afetadas em seu padrão e

em sua tessitura, A perturbação psíquica e social criadas pela imagem da TV - e não por

sua programação - provocam comentários diários na imprensa (McLUHAN, 1964, p.351).

A cultura de massa, mediante a visão da teoria culturológica do autor francês Edgar

Morin diz que esta se integra às culturas já existentes, ou seja, também se integrou na cultura

religiosa do país, confundindo e deturpando o intuito primordial dos ensinamentos de Jesus,

distorcendo o que foi estabelecido inicialmente para a gratuidade e a transformou em objeto de

consumo para a ideologia capitalista.

A cultura de massa é uma cultura: ela constitui um corpo de símbolos, mitos e imagens

concernentes à vida prática e à vida imaginária, um sistema de projeções e de

identificações específicas. Ela se acrescenta, à cultura nacional, à cultura humanista, à

cultura religiosa, e entra em concorrência com estas culturas (MORIN, 1967, p. 18).

Os sacerdotes, deixando a tarefa de ensinar assuntos concernentes ao espírito

enveredaram-se na busca de prestígio e poder pessoal, acabou oferecendo palavras de “direitos

humanos”, algo que não suprem as necessidades da alma.

A internet surgiu com o avanço das estratégias militares e a necessidade de se obter

informação cada vez mais rápida e mais eficaz, quando comparado ao rádio e à televisão.

Chegou às três últimas décadas do século XX como consequência da fusão singular de

pesquisa militar, a (ARPA) Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas do departamento de

defesa dos EUA que transmitiu mensagens sonoras, imagens e dados por meio de redes de

informações (CASTELLS, 1999, p.82).

O sistema de comunicação em rede nasceu em ampla escala, nas formas de redes de áreas

locais e redes regionais, ligadas umas às outras, começou a espalhar-se por toda parte onde

houvesse linhas telefônicas e por computadores equipados com modens, equipamento de preço

bastante baixo e acessível à população (CASTELLS, 1999, p.85).

A Teoria Culturológica parte de uma análise da Teoria Crítica e desenvolve assim um pressuposto diferente das demais teorias.

No lugar de pesquisar os efeitos ou as funções da mídia, procura definir a natureza da cultura das sociedades contemporâneas.

Conclui assim que a cultura de massa não é autônoma, como pretendem as demais teorias, mas parte integrante da cultura

nacional, religiosa ou humanística. Ou seja, a cultura de massa não impõe a padronização d símbolos, mas utiliza a padronização

desenvolvida espontaneamente pelo imaginário popular (WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa: Editorial Presença,

1995).

15

Facilitando ainda mais, em meados dos anos 70, o microcomputador foi inventado e

simultaneamente apareceram os sistemas operacionais, os softwares para um melhor desempenho

dos comandos. A internet também facilitou a vida dos estudantes, permitindo o acesso a

informações e bancos de dados dos mais variados tipos de assunto, inclusive sobre as religiões no

Brasil.

O professor, como agente participativo do conhecimento, quando se depara com o assunto

religioso em salas de aulas, depara-se com uma grande disputa. Os alunos defendem as

instituições religiosas às quais pertencem como aos times de futebol. Basta uma simples

pergunta: “Qual é a sua igreja?” para que as disputas aconteçam e esta é uma pergunta recorrente

entre os alunos. Por falta de conhecimento bíblico e por estar magnetizada e persuadida pelas

instituições religiosas, a maioria da população está equivocada sobre a concepção de igreja.

Os ensinamentos de Jesus mostram que só existe uma Igreja, que é denominada de corpo

de Cristo, composta por membros que podem estar reunidos numa casa, numa cidade ou em toda

parte. Independente do país, do estado, da cidade, da residência onde se reúna o cristão, compõe-

se o Corpo de Cristo que é a Igreja. Paulo esclarece sobre o assunto e diz: “Regozijo-me agora no

que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é

a igreja” (Colossenses 1:24) .

A palavra “igreja ” deriva do latim ecclesia e do grego ekkêsia, e significa assembleia ou

congregação de fiéis que podem estar reunidos em qualquer lugar do planeta. No Novo

Testamento, Igreja não é sinônimo de templo e sim de um grupo de pessoas dispostas a seguir os

ensinamentos de Cristo, por meio de Sua Palavra. Também é errôneo dizer que o cristão é uma

igreja, pois correto dizer é que o cristão é templo do Espírito Santo e membro do Corpo de Cristo,

que é a Igreja. (DOUGLAS, 1995, P.75).

A escola que estiver cumprindo o que diz a L.D.B. estará transmitindo a ideologia de

alguma denominação religiosa, pois ainda não existe um parâmetro de religiosidade sobre a

óptica da hermenêutica e da exegese, elaborado pelo governo (Secretaria da Educação) que possa

reger esta situação democraticamente.

Todas as citações da Bíblia foram extraídas da versão “Sociedade Bíblica do Brasil, 1969”.

Em português o vocábulo “igreja” deriva-se do latim ecclesia, que por sua vez vem do grego ekkêsia, palavra esta que, no Novo

Testamento, na maior parte de suas ocorrências, significa uma congregação local de cristãos, e jamais um edifício (DOUGLAS,

1995, p. 735).

16

Há muitas controvérsias em relação ao ensino religioso nas escolas públicas, pois se a

instituição escolar não for homogênea, ou seja, se todos os seus alunos não professarem a mesma

religião, tal ensino se torna excludente. Existem unidades escolares que não se definiram

completamente sobre como ministrarem estas aulas, alguns especialistas no assunto sugerem

horários alternativos, outros dizem que os estabelecimentos públicos não podem servir de espaço

para as pregações religiosas e outros argumentam que a escola tem a obrigação de oferecer tal

ensino dentro da proposta curricular regular, ou seja, o assunto religioso sempre causa um

comportamento agressivo e gera um desconforto no ambiente escolar.

Sobre este tipo de comportamento a autora Fante (2005, p. 168) esclarece:

O comportamento agressivo ou violento nas escolas é hoje o fenômeno social mais

complexo e difícil de compreender, por afetar a sociedade como um todo, atingindo

diretamente as crianças de todas as idades, em todas as escolas do país e do mundo.

Sabemos ser o fenômeno resultante de inúmeros fatores, tanto externos como internos à

escola, caracterizados pelos tipos de interações sociais, familiares, socioeducacionais e

pelas expressões comportamentais agressivas manifestadas nas relações interpessoais.

A escola como local de aprendizado tem o dever de proporcionar ao aluno o

conhecimento necessário para a formação da cidadania, possibilitando a liberdade de expressão,

fazendo conhecer os direitos e deveres junto ao Estado e à sociedade.

Dentre os direitos do cidadão está o de se filiar a uma denominação religiosa por sua livre

escolha, sendo assim, de igual modo, deveria ter o direito de conhecer os ensinamentos de Jesus

num contexto não religioso denominacional, oferecido pelo Estado, no cumprimento da LDB.

Na situação atual, para ensinar sobre o cristianismo na escola pública e para agir de forma

constitucional e democrática, seria necessário estabelecer dias com líderes de todas as

denominações religiosas: católicos (tradicionais, carismáticos etc...), evangélicos (tradicionais,

pentecostais, neopentecostais etc.), espíritas e tantas outras instituições existentes no país. Mesmo

assim a rivalidade permanece, pois a presença de um sacerdote católico romano em escolas onde

predominam alunos evangélicos, ou vice-versa, é conflitante, uma vez que, alunos evangélicos

não reconhecem a iconografia católica romano, como sendo mediadora no cristianismo.

De acordo com Baudrillard (1991 p.12): “Vemos assim que os iconoclastas acusados de

desprezar e negar as imagens eram os que lhes davam o seu justo valor, ao contrário dos

iconólatras, que nelas apenas viam reflexos e se contentavam em venerar Deus em filigrana”.

17

Todos os segmentos religiosos cristãos no Brasil professam ser Jesus o Cristo e creem em

parte no Novo Testamento como parâmetro para sua religiosidade, elaborando também suas

próprias normas e doutrinas específicas de cada denominação.

O Estado Laico na Constituição Brasileira foi conquistado por meio de muitos esforços,

para impedir que aconteça o que ocorreu no passado: o extermínio dos israelitas, maçons e livres

pensadores que, por não aderirem ao catolicismo romano eram exterminados em nome da “santa

inquisição”. Esta denominação religiosa praticou o maior genocídio descrito na história da

humanidade, por se achar a única deixada por Deus na terra e por se achar a única capaz de

interpretar corretamente as Escrituras. Levou também seus fiéis a perseguirem como heresia tudo

o que divergisse das suas normas, aprovadas pelos concílios do Vaticano.

E isso se fará na medida em que os professantes da fé romano-católica se reapropriarem

daquilo que foram historicamente despojados: sua capacidade de experimentar o sonho de

Jesus, de dizê-lo de forma criativa e responsável, no interior da comunidade, de confrontá-

lo solidariamente com outras experiências do Evangelho de Deus na história e articulá-lo

com o curso do mundo, onde se revela também e principalmente o desígno de

benquerença e de amor de Deus (EYMERICH, 1993, p.27-28).

O Brasil possui uma imensa diversidade religiosa que deve ser respeitada, mas há também

aqueles que não querem aderir a este contexto religioso, mas que também devem ser respeitados,

fazendo-se cumprir a democracia no país.

Deixar de esclarecer ao povo sobre os ensinamentos de Jesus é retroceder ao domínio

clerical, onde tal conhecimento esteve restrito à casta sacerdotal e não concedido à população em

geral.

O concílio da igreja reunido no ano 1229 inclui a Bíblia no índice dos livros proibidos.

Milhares de exemplares da Santa Escritura foram incinerados em todo o mundo pela igreja

romana. Ainda hoje, onde o catolicismo romano domina ocorre isto. A destruição da

Bíblia incentivada pelo Papa Leão XII, que em sua carta encíclica datada de três de maio

de 1824 escreveu dizendo: “Que a certa sociedade chamada bíblica agia com arrogância

em todo mundo contrariando os bons e conhecidos decretos do Concílio de Trento”,

trabalhando com todo o seu poder e por todos os meios para traduzir, ou melhor, perverter

a Santa Escritura na língua própria de cada nação (LEONEL, 1998, p.23).

Observando o empenho dos governantes e sabendo da predominância religiosa do país,

nota-se que há muito a fazer e a legislar em prol ao cumprimento da democracia religiosa no

Brasil.

18

O acordo jurídico entre o Governo Federal e a instituição religiosa católica romana gerou

a chamada “Lei Geral das Religiões”, projeto de Lei, nº 5598 de 2009, que no seu Art. 5º

estabelece que:

O patrimônio histórico, artístico e cultural, material e imaterial das Instituições Religiosas

reconhecidas pela República Federativa do Brasil, assim como os documentos custodiados

nos seus arquivos e bibliotecas, constitui parte relevante do patrimônio cultural brasileiro,

e continuarão a cooperar para salvaguardar, valorizar e promover a fruição dos bens,

móveis e imóveis, de propriedade das instituições religiosas que sejam considerados pelo

Brasil como parte de seu patrimônio cultural e artístico.

Se a laicidade da República Federativa do Brasil reconhece as instituições cristãs e seus

arquivos e bibliotecas como parte relevante de seu patrimônio cultural, disponibilizar o

esclarecimento do Antigo e Novo Testamento por meio da hermenêutica seria um grandioso

exercício de democracia para o país. Se já houvesse a possibilidade de conhecer os ensinamentos

de Jesus sem o vínculo religioso denominacional, certamente haveria uma complementação na

LDB, na Seção III, Art.33, dizendo nos seguintes termos: “O ensino religioso não confessional,

resultante da necessidade de oferecer o conhecimento do Antigo e Novo Testamento, que regem

as denominações religiosas cristãs no país, sem a necessidade de vínculo institucional com as

mesmas”.

Esta possibilidade pode se tornar real e os ambientes já estão preparados, facilitados pela

internet e seus aplicativos de interação, tornando possível o ideal de Deus para a humanidade.

Quando Jesus disse aos seus discípulos: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda

criatura” (Marcos 16:15), não disse que seria necessário o vínculo religioso com esta ou aquela

denominação religiosa.

Para a execução desta dissertação foram utilizadas as contribuições de autores que

trataram do tema ou de aspectos correlatos, em vários veículos de comunicação até a internet.

Os autores Fernando Bastos e Sérgio Dayrell Porto, em sua proposta de análise

hermenêutica (DUARTE, J, BARROS, A., 2008 p.316) trouxeram uma contribuição quanto ao

método da hermenêutica e da exegese, nos quais dão visibilidade nos textos bíblicos, buscando

descobrir a originalidade que foi escondida ou distorcida pela tradição.

Usando a desconstrução hermenêutica, subvertendo as explicações tradicionais e seus

conceitos dogmáticos inquestionáveis, tais autores procuram revelar possibilidades ainda não

percebidas que estão nos ensinamentos de Jesus.

19

O autor Edgar Morin, em seu livro O espírito do tempo, faz uma abordagem da cultura de

massa enquanto um conjunto de culturas (também a cultura religiosa) com suas normas,

símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade.

A tradição culturológica de estudos da cultura de massa revela a integração às culturas já

existentes e as concorrências entre estas culturas e contribuiu para o entendimento sobre a

religião, a mídia e o comércio religioso.

Enquanto na época de Jesus, o comércio estava do lado de fora do templo, hoje, na

“igreja” institucionalizada e midiatizada pelo rádio e TV, as quais dispõem sobre o consumo, as

religiosidades também se tornaram mais um produto oferecido e comercializado a preço de

dízimos e ofertas voluntárias nos shows da fé.

O educador Paulo Freire, em sua pedagogia da libertação, esclarece a relação entre os

oprimidos e os opressores e a relação de poder e submissão. Faz transparecer os métodos

pedagógicos inadequados que impedem o conhecimento e as ações dos opressores na tentativa de

impossibilitar o conhecimento para a libertação.

Michel Foucault, em seu livro Vigiar e Punir esclarece a relação entre escola e aparelho

repressor do Estado, a qual impele ao ato de vigiar e punir e não ao ato de esclarecer e libertar.

Revelou ainda que as punições imputadas pelos estabelecimentos de ensino modificam-se de

acordo com o comportamento social de cada período histórico.

O autor Louis Althusser, em seu livro, Aparelhos Ideológicos de Estado, desvenda a

religião como aparelho ideológico do Estado, que produz uma falsa paz, intermediando para

induzir as classes operárias e dominadas a servirem pacificamente às classes dominantes.

Marshall McLuhan esclarece sobre o poder envolvente do rádio, a letargia e persuasão

provocada pela TV, e também a diminuição da oportunidade de interação entre receptor/emissor

existentes nestes veículos.

Na compreensão das tecnologias de comunicação, o autor Manuel Castells apresenta a

internet como um veículo rápido e de integração mundial, que auxilia a prática e interação social

e, portanto, facilitador também para a propagação dos ensinamentos de Jesus desvinculado das

instituições religiosas.

Esta dissertação busca averiguar os ensinamentos de Jesus, antes e após a abertura do

Novo Testamento, na forma oral e escrita, conforme nosso estudo situado no capítulo 1.

Menciona ainda a trajetória de seus ensinamentos ministrados pelos discípulos, a

20

institucionalização da igreja cristã pelo imperador Constantino e o domínio religioso da Idade

Média até a imprensa tipográfica de Gutenberg, no capítulo 2.

Refere-se também aos ensinamentos de Jesus por meio do áudio-visual (rádio e TV), da

palavra proclamada no altar, no púlpito e pela imprensa tipográfica como veículos facilitadores

somente para a ampliação de novas instituições religiosas, mas não como veículos facilitadores

para aprendizagem segundo a hermenêutica e exegese dos textos. Tais veículos não possibilitam

a interatividade entre emissor/receptor, agem em prol ao consumo, posicionando-se como

aparelhos ideológicos do Estado e do capitalismo, conforme abordamos no capítulo 3.

O capítulo 4 averigua o site como um possível veículo facilitador para

ensino/aprendizagem dos ensinamentos de Jesus, desvinculado das instituições religiosas,

apresentado pela www.estudosdabiblia.net e as facilidades que este site possibilita para o estudo

bíblico fora do contexto religioso denominacional. Apresenta também parte do conteúdo de

estudo e evidenciam as possíveis formas de interatividade global, as quais fornecem novas

formas de acesso às informações, as quais estiveram restritas às instituições religiosas e suas

várias denominações por séculos. Desta forma apresentada, nossa dissertação baliza, a seguir,

neste primeiro capítulo, a oralidade como transmissão de conhecimentos.

21

1- A ORALIDADE COMO TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTOS

No princípio Deus criou a luz pela Palavra. Esta unidade mínima com significado que

constrói o enunciado é também o objeto da oralidade.

A bíblia nos relata um ramo linguístico existente no Éden, pelo qual Deus se comunicava

com Adão e este com toda a criação, o qual se ramificou após o dilúvio por meio de Sem, Cão e

Jafé e suas descendências até a mistura das línguas em Babel (GENESIS 11:9).

Michel Foucault em seu livro intitulado As Palavras e as Coisas, no capítulo denominado

“A prosa do mundo” faz referência a quatro tipos de diálogos que acontece entre as coisas

criadas.

O primeiro é denominado de a convenientia, onde se refere às coisas que, se aproximando

uma das outras, vêm a se emparelhar; tocam-se e se misturam entre si.

A alma e o corpo, por exemplo, são duas vezes convenientes: foi preciso que o pecado

tivesse tornado a alma espessa, pesada e terrestre, para que Deus a colocasse nas entranhas

da matéria. Mas, por essa vizinhança, a alma recebe os movimentos do corpo e se assimila

a ele, enquanto o “corpo se altera e se corrompe pelas paixões da alma” (FOUCAULT,

1992, p.34).

O segundo é denominado aemulatio. É uma espécie de conveniência que atua, imóvel, na

distância. Exemplifica que o rosto se comunica com o universo e a ele se assemelha.

De longe, o rosto é o êmulo do céu e, assim como o intelecto do homem reflete,

imperfeitamente, a sabedoria de Deus, assim os dois olhos, com sua claridade limitada,

refletem a grande iluminação que, no céu, expandem o sol e a lua; a boca é Vênus, pois

que por ela passam os beijos e as palavras de amor; o nariz dá a minúscula imagem do

cetro de Júpiter e do caduceu de Mercúrio (Ibdem, 1992, p. 35).

O terceiro é a analogia. Familiar a ciência grega e ao pensamento medieval, superpõe a

convenientia e ao aemulatio. Esta pode tramar, a partir de um mesmo ponto, um número

indefinido de parentescos.

A relação, por exemplo, dos astros com o céu onde cintilam, reencontra-se igualmente: na

da erva com a terra, dos seres vivos com o globo onde habitam, dos minerais e dos

diamantes com as rochas onde se enterram, dos órgãos dos sentidos com o rosto que

animam, das manchas da pele com o corpo que elas marcam secretamente (Idem Ibdem,

1992, p.37).

22

E o quarto e ultimo diálogo é por meio das simpatias. Por meio desta, nenhum trajeto é

previamente determinado nem há suposições de distancia a serem percorridas. A simpatia atua

livre nas profundezas da criação.

Ela é princípio de mobilidade: atrai o que é pesado para o peso do solo e o que é leve para

o éter sem peso; impele as raízes para a água e faz girar com a curva do sol a grande flor

amarela do girasol (Idem Ibdem, 1992, p.40).

Essa forma de linguística isenta do uso da palavra pode ter uma similitude com a

linguagem a qual Paulo se refere em (I CORÍNTIOS 13:1), quando se refere a língua dos anjos.

Mas, a oralidade a qual estamos nos referindo é a transferência oral de informações

guardadas na memória humana, a qual foi utilizada para transmitir conhecimentos à posteridade e

que sempre esteve, de alguma maneira, ligada a todas as etnias desde os tempos mais remotos.

Segundo (LÉVY, 1993), existem dois tipos de oralidade: a primária, que remete ao papel

da palavra antes que uma sociedade tenha adotado a escrita e a secundária, que está relacionada a

um estatuto da palavra que é complementar ao da escrita, tal como a conhecemos hoje.

Diz ainda que, numa sociedade oral primária, quase todo o edifício cultural está fundado

sobre as lembranças dos indivíduos. Nas épocas em que antecediam a escrita, era mais comum

pessoas inspiradas ouvirem vozes do que terem visões, já que a oralidade era um canal frequente

da informação.

Bardos, aedos e griots aprendiam seu ofício escutando os mais velhos. Muitos milênios de

escrita acabarão por desvalorizar o saber transmitido oralmente, pelo menos aos olhos dos

letrados. Spinoza irá colocá-lo no último lugar dos gêneros de conhecimento (LÉVY,

1993, p.77).

A oralidade ocupa-se diretamente da memória, sendo esta de curto ou longo prazo. A

memória de curto prazo é aquela usada nas funções do cotidiano, ao memorizar de um recado

recebido no período da manhã e lembra-lo ao final da tarde e a de longo prazo é aquela que nos

lembramos do mesmo recado no momento necessário, ou seja, mesmo após ter passado vários

dias.

Os registros culturais, transmitidos pela oralidade estiveram sempre presentes tanto na

composição do Antigo e do Novo Testamento. Mesmo nos momentos mais difíceis da nação

23

israelita, seja por desertos ou cativeiros sempre a presença do onipotente foi falada e ouvida entre

o seu povo.

Segundo o autor (ONG, 1998), todos os textos escritos devem estar relacionados ao

mundo sonoro.“Ler” um texto significa converte-lo em som, em voz alta ou na imaginação, sílaba

por sílaba na leitura lenta ou de modo superficial na leitura rápida, comum a culturas de alta

tecnologia. Diz ainda que a escrita nunca pode prescindir da oralidade.

Assim como Sócrates, Jesus transmitiu seus ensinamentos pela oralidade, deixando para

seus discípulos registrarem por meio da escrita os seus feitos.

1.1 – A DIVULGAÇÃO DA CULTURA PELA ORALIDADE NO INÍCIO DA ERA CRISTÃ

O processo educacional vem desde os povos primitivos, com lições de moral e a crença

em Deus, praticada no seio da família e junto às comunidades. A constituição humana não foi

alterada desde a sua criação, mas as necessidades diárias é que passam por alterações no decurso

histórico. O homem da antiguidade também se humanizou por meio da educação, para suprir

outras necessidades importantes para sua época, o que diferem do período das invenções

tecnológicas atuais.

Dentre as tribos indígenas que se relacionam diretamente com a natureza ainda se

preserva o respeito aos genitores, a admiração ao conhecimento dos idosos, sentimento de honra

e dignidade para com o semelhante. Tais posicionamentos estão um pouco esquecidos na

sociedade contemporânea.

A cultura no antigo Egito era transmitida por meio de cânticos e hinos religiosos, mas

somente os sacerdotes tinham o poder sobre os livros herméticos, contendo o conhecimento da

religião.

O ensino superior era ministrado nos colégios sacerdotais muito bem organizado e

providos de arquivos e bibliotecas. Os mais antigos centros de estudos superiores foram os

templos de Heliópolis, Mênfis e Tebas, onde existiam cursos de religião, medicina, Leis,

Matemática, Astronomia, Gramática, etc. Os que terminavam os cursos e conquistavam os

graus acadêmicos podiam permanecer residindo nos templos para prosseguimento dos

seus estudos e investigações. Alguns desses alunos graduados dedicavam-se ao ensino nos

templos. Os príncipes eram educados numa “Escola de Faraós” onde também se podiam

matricular os filhos de sacerdotes que possuíssem mais de vinte anos de idade e se

tivessem distinguido nos estudos. Nessa escola, foi educado Moisés que era filho adotivo

de uma princesa real (SANTOS, 1967, p.53).

24

Este modelo educacional é praticado pela casta sacerdotal até os dias atuais, percorrendo

um período cronológico de aproximadamente cinco mil anos de tradição.

O vínculo da dominação sacerdotal na educação hebraica direcionou o ensino estritamente

de cunho religioso, no cumprimento da revelação de Deus ao povo de Israel.

Os israelitas diferem de outros povos da antiguidade pela sua historicidade, concernente

as doze tribos de Israel. Todos os conteúdos escolares estão direta ou indiretamente relacionados

com os textos bíblicos, desde a moral, a ética e as disciplinas de geografia, história, matemática e

ciências naturais.

Os mestres israelitas sempre foram muito eficientes nas transmissões orais de seus

conhecimentos, mas houve um período de extremas punições corporais para os jovens

insubordinados. O livro de Provérbios instrui a nação israelita a não poupar a vara na educação

dos filhos, como se comprova nos capítulos a seguir transcritos: Nos lábios do entendido se acha

a sabedoria, mas a vara é para as costas do falto de entendimento (10:13); O que não faz uso da

vara odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga (13:24); A estultícia está ligada ao

coração da criança, mas a vara da correção a afugentará dela (22:15); Não retires a disciplina da

criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá (23:13); Tu a fustigarás com a

vara, e livrarás a sua alma do inferno (23:14); O açoite é para o cavalo, o freio é para o jumento, e

a vara é para as costas dos tolos (26:3), A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança

entregue a si mesma, envergonha a sua mãe (29:15).

A Grécia, em sua educação humanística, buscou transmitir às novas gerações um ideal de

sabedoria e aperfeiçoamento dos seus conhecimentos. Suas fontes educacionais foram

construídas sobre duas bases, a de Esparta, que destinava a preparação para a guerra e a de

Atenas, que educava para a liberdade civil e desenvolvimento harmonioso da personalidade.

Os atenienses gloriavam-se de seus métodos pedagógicos, destituídos de atos violentos,

como relatado na oração fúnebre de Péricles:

Não educamos nossas crianças por meio da violência, mas deixando que as mesmas se

desenvolvam livremente até se tornarem homens. Amamos e cultivamos o belo, sem vã

ostentação. Prezamos a verdade, procuramos o conhecimento, sem nos deixar, porém,

dominar pela moleza e pela folgança. Somos audazes e temerários, mas nossa exaltação

não nos impede de avaliar o alcance de nossas empresas. Em outros, ao contrário, o

entusiasmo se baseia na ausência de educação. Sabemos julgar com perfeição, o agradável

e o penoso e, apesar disso, não nos esquivamos do perigo (SANTOS, 1967, p. 80).

25

A Grécia possuía centros de educação popular, destinados à infância e à juventude, e as

disciplinas eram ministradas por etapas entre as escolas e os ginásios. Mesmo buscando obter o

mais elevado grau de conhecimento, a educação grega também empregou algumas agressões

físicas para o ensino elementar. As crianças eram submetidas ao açoite com vara nas correções

leves e, nas faltas mais graves, o castigo era ainda maior.

Na didascália ou na palestra, a disciplina era rígida e severa. Uma passagem célebre de

Aristófanes descreve a disciplina das escolas atenienses. As crianças deviam guardar

silêncio diante dos mestres. Seguiam para a escola em grupos e, do mesmo modo,

voltavam para casa, a fim de não se desviarem do seu caminho. A disciplina na classe era

rigorosa. O professor fazia uso, freqüentemente, da vara para obter a atenção ou a

docilidade do aluno. Nos casos mais graves, lançava mão das sandálias (SANTOS, 1967,

p. 82).

A educação para os jovens acima dos dezoito anos ficava a cargo do serviço ativo do

Estado, junto aos efebos, em caráter militar e cívico, onde eram realizados vários tipos de

juramentos. Estes estudos prosseguiam para os estudos universitários, públicos e coletivos,

ministrados gratuitamente.

Já na Roma imperial, sob o domínio dos deleites e das luxúrias; pelo excesso de riquezas,

conquistadas em batalhas, a vida se deparava com o vazio. O caos religioso se instaurou mediante

aos rituais apáticos e indiferentes aos deuses mitológicos. Não existia a presença nem o vínculo

do Deus verdadeiro: criador das coisas invisíveis e visíveis. A religião romana encontrava-se em

decadência, não tinha mais o que oferecer; seus deuses ofereciam proteção em troca de oferendas

e oblações, mas não orientavam para a vida espiritual nem para a material.

Mas uma luz viva e pura já cintilava no céu negro e convulso do mundo romano. Um

grupo de humildes e rústicos pescadores provenientes da longínqua Judeia começava a

ensinar os romanos que a verdadeira virtude não brota da inteligência, nem da cultura, mas

da pureza de coração e da simplicidade de espírito; e que essa virtude consiste no amor de

Deus, no amor ao próximo, no amor ao bem. Era a doutrina de Jesus Cristo, mensageiro da

verdade eterna, que, apesar da humildade de sua origem, ia produzir a mais profunda

transformação social de todos os tempos (SANTOS, 1967, p.118).

Os ensinamentos de Jesus revelam uma nova maneira de viver, converte as atitudes de

soberba em humildade, de ódio e vingança em amor e esperança. Os rituais oferecidos aos deuses

do passado e suas pseudoproteções tornaram-se insignificantes comparadas a mensagem das Boas

Novas de salvação, oferecida gratuitamente.

26

Jesus, o maior dos educadores de toda humanidade, ofereceu um conteúdo de vida e amor

inigualável, algo tão necessário e que pode resolver os problemas de violência em todos os níveis

sociais. É o único conteúdo competente e hábil para solucionar a indisciplina, a falta de respeito e

a violência na educação atual; só que seus ensinamentos ficaram submetidos à casta sacerdotal e

à religião que impõem suas normas e doutrinas, impedindo o livre curso da Sua Palavra. As

religiões simplesmente oferecem resquícios da verdade bíblica, em troca da submissão e dinheiro

dos fiéis. Os ensinamentos bíblicos oferecidos pelas religiões são algo tão fragmentado e tão

misturado entre lei e Graça que se torna impossível de compreendê-los corretamente.

1.2 - A ORALIDADE DE JESUS – A ORATURA (LITERATURA ORAL) NAS

COMUNIDADES PRIMITIVAS (TRIBOS AFRICANAS)

Segundo os registros bíblicos, ao se aproximar dos trinta anos e, sendo responsável pelos

seus atos, Jesus iniciou seu ministério se comunicando de forma intrapessoal com o Pai e se

dirigindo ao rio Jordão onde foi batizado por João, cumprindo toda a justiça.

Ao dar início a seu ministério, Jesus, assim como João, também pediu ao povo o

arrependimento dos pecados como requisito para entrar no reino de Deus.

Quem tem ouvido ouça, disse Jesus, o perfeito comunicador diante das multidões.

Não necessitou de grandes auditórios ou de palavras difíceis, mas fez uso da montanha e

da praia e, com simplicidade, desvendou os mistérios de Deus.

27

Figura 1 – A oralidade nos ensinamentos

Não se filiou à instituição religiosa dos Fariseus ou dos Saduceus, nem se submeteu a

nenhum estatuto religioso humano, mas foi instruído pelo Espírito Santo, que desceu sobre ele na

forma corpórea de pomba. Após o batismo, saiu em direção ao deserto onde foi tentado e, tendo

resistido às tentações, iniciou os ensinamentos concernentes ao reino dos céus, ensinando os

discípulos e o povo, rompendo o isolamento com o mundo.

Ensinou coisas sublimes, comparando-as com atividades do cotidiano, como a pesca, a

agricultura e o pastoreio. Falou ao rico e ao pobre sem distinção, usou palavras como árvores e

rochas, óleo e sal para fazer compreender o reino de Deus. Ensinou mediante o recurso do

discurso primeiro, por meio do qual o Criador comunicou-se com Adão, comparando a similitude

das coisas criadas. Michel Foucault liga o conhecimento ao divino, às coisas de Deus, nos

seguintes termos:

Não há diferença entre essas marcas visíveis que Deus depositou sobre a superfície da

terra, para nos fazer conhecer seus segredos interiores, e as palavras legíveis que a

Escritura ou os sábios da antiguidade, esclarecidos por uma luz divina, depositaram nesses

livros que a tradição salvou. A relação com os textos é da mesma natureza que a relação

com as coisas; aqui e lá são signos que arrolamos. Mas Deus, para exercitar nossa

sabedoria, só semeou na natureza figuras a serem decifradas (e é nesse sentido que o

conhecimento deve ser divinatio), enquanto os antigos já deram interpretações que não

temos senão que recolher. Que deveríamos somente recolher, se não fosse necessário

aprender sua língua, ler seus textos, compreender o que dizem (FOUCAULT, 1992, p.49).

28

Jesus ao se tornar adulto direcionou primeiramente seus ensinamentos à nação israelita, a

qual aguardava ansiosa por um libertador que pudesse torná-lo livre da opressão romana e do

jugo dos altos impostos, mas a libertação oferecida foi a do pecado e poucos aceitaram.

Instruiu seus discípulos e repreendeu os religiosos que o seguiam somente no intuito de

acusá-lo perante a lei mosaica. Tendo ensinado os doze e sabendo que iria deixá-los, os enviou

para que fossem às ovelhas perdidas da casa de Israel, pois estavam como cegos, compenetrados

na ideologia religiosa da lei, transmitida pelos sacerdotes a várias gerações.

Sendo a estrutura formal de toda ideologia sempre idêntica, nos contentaremos em analisar

apenas um exemplo, acessível a todos, o da ideologia religiosa; esta mesma demonstração

pode ser reproduzida para a ideologia moral, jurídica, política, estética, etc.

(ALTHUSSER, 1985, p. 99).

Esta forma de religiosidade é caracterizada pela ideologia institucional que visa o

prestígio e poder para os sacerdotes, junto ao aparelho ideológico do Estado, que atua em prol de

uma falsa paz, somente para que os subalternos ou dominados possam servir e serem melhores

explorados pelos dominantes no sistema capitalista. Para Garcia (1985, p.12) os “Líderes

religiosos, que se propõem a orientar seus adeptos pelos caminhos da paz espiritual e da salvação

eterna, acabam empurrando-os para ações que favorecem lucros materiais e ambições terrenas”.

A comunicação para direcionar os ensinamentos de Jesus, ministrada pelos discípulos por

meio da oralidade, acontecia e ainda, em menor intensidade acontece, pelas casas e praças,

competindo com os veículos de comunicação da atualidade. Para McLuhan, antes da intervenção

da tipografia, o sentido visual estava submetido ao sentido acústico (TEMER e NERY, p.116,

2009).

Uma verdadeira comunicação em massa se instaura após a morte e ressurreição de Jesus,

a excelência do tema e a necessidade espiritual emergente fazem da população a alavanca

propulsora da mensagem salvífica. Tal mensagem foi acatada pelo catolicismo romano como uma

propaganda, conforme esclarece Garcia (1985, p.10): “A propaganda ideológica, ao contrário, é

mais ampla e mais global. Sua função é a de formar a maior parte das idéias e convicções dos

indivíduos e, com isso, orientar todo o seu comportamento social”.

Lei mosaica, seguindo as versões antigas, a maioria das traduções modernas empregam o termo “lei” para traduzir o vocábulo

hebraico tôrâ, palavra essa que ocorre mais ou menos 220 vezes no Antigo Testamento (BRUCE et. al., 1995, p. 914).

29

A comunicação interpessoal dos discípulos gerou novos grupos que organizados e

instruídos sobre o assunto concernente ao reino de Deus aumentavam a cada dia. Esta

intermediação oral e escrita teve sua base unicamente nos ensinamentos de Jesus e não em

alguma outra doutrina.

A oralidade primária remete ao papel da palavra antes que uma sociedade tenha adotado a

escrita, a oralidade secundária está relacionada a um estatuto da palavra que é

complementar ao da escrita, tal como o conhecemos hoje. Na oralidade primária, a palavra

tem como função básica a gestão da memória social, e não apenas a livre expressão das

pessoas ou a comunicação prática cotidiana. Hoje em dia a palavra viva, as palavras que

“se perdem no vento”, destaca-se sobre o fundo de um imenso corpus de textos: “os

escritos que permanecem”. O mundo da oralidade primária, por outro lado, situa-se antes

de qualquer distinção escrito/falado (LÉVY, 1993, p.77).

Na comunicação veiculada por meio da oralidade, os recursos sonoros ficam limitados à

voz humana e o fator que fez com que o número de seguidores aumentasse foi a expectação da

verdade anunciada, sendo esta reconhecida quando a palavra atinge o espírito humano.

Também houve a veiculação dos ensinamentos por meio de cartas , pergaminhos

manuscritos, enviados aos discípulos por todas as cidades onde existiam grupos de seguidores das

Boas Novas de salvação.

A Graça, o favor imerecido era anunciado pessoalmente e a massa atingida pela

comunicação oral espalhou-se rapidamente como uma chama viva e envolvente, difundindo-se

mesmo em meio a grandes perseguições e mortes dos discípulos por causa da Palavra.

A África desenvolveu através dos tempos uma magnífica e variada literatura que foi

transmitida muito mais na forma oral do que pela forma escrita.

Os contos populares, narrando histórias de animais e lendas imaginativas, transmitidas de

gerações a gerações colocam a lebre, a tartaruga, a aranha como personalidades importantes da

cultura e de alto valor expressivo que abrange todo o continente africano.

Com exceção da Etiópia cristã e de algumas áreas em que havia cronistas árabes, as

histórias locais foram transmitidas oralmente de uma geração para outra, frequentemente por

grupos de griots, poetas itinerantes os quais o povo lhes atribuía certos poderes espirituais.

A primeira literatura escrita aparece no norte da África e, assim como as obras do teólogo

cristão Agostinho e do historiador islâmico do século XIV Ibn Khaldun, as quais apresentam

fortes vínculos com as literaturas latina e árabe (ENCARTA 1993-2001).

Na segunda carta aos Tessalonicenses (2:15) diz: Então, irmãos, estais firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas,

seja por palavra, seja por epístola nossa.

30

No período inicial do cristianismo, Felipe, obedecendo ao Senhor para ficar na estrada

que descia para Gaza, a qual esta deserta teve um encontro com um etíope, o qual tinha ido a

Jerusalém levar sua oferta religiosa. Felipe anunciou-lhe Jesus e o etíope creu e foi batizado,

tendo certamente voltado para a Etiópia e evangelizado a muitos, prosseguindo a obra

missionária de Cristo.

O anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho

que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta. E levantou-se, e foi; e eis que um

homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era

superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração,

regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías. E disse o Espírito a Filipe:

Chega-te, e ajunta-te a esse carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e

disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me

ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse. E o lugar da Escritura que

lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro

diante do que o tosquia, Assim não abriu a sua boca. Na sua humilhação foi tirado o seu

julgamento; E quem contará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra. E,

respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo,

ou de algum outro? Então Filipe, abrindo a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe

anunciou a Jesus. E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o

eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? E disse Filipe: É lícito, se crês

de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E

mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou.

E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o

eunuco; e, jubiloso, continuou o seu caminho (ATOS 8:26-39).

A África também existe uma cultura cristã copta, a qual se expressa pela língua semítica

do ramo egípcio, cujas primeiras atestações datam do séc. II, e que é, atualmente, usada apenas

como língua religiosa pelos cristãos do Egito. Esta cultura se desenvolveu posteriormente no

Sudão e na Etiópia e conseguiu manter esses vínculos, embora a conquista islâmica do norte da

África no século VIII tenha deixado os cristãos etíopes isolados do restante da cristandade por um

longo período (ENCARTA 1993-2001).

1.3 – A ORALIDADE NA IDADE MÉDIA

Neste período histórico a propagação da fé ficou a cargo dos sacerdotes catolicos, por

meio de sermões: “Na Idade Média, o altar, mais do que o púlpito ocupava o centro das igrejas

cristãs. No entanto o sermão dos padres já era obrigação aceita, e os frades pregavam nas ruas e

praças das cidades, assim como nas igrejas” (BRIGGS e BURKE, 2006, p.36).

31

A ínfima divulgação dos ensinamentos de Jesus que ocorreram neste período também

contribuiu para a ampliação da denominação católica, mas não do esclarecimento dos

ensinamentos de Jesus ao povo.

A compilação dos vinte e sete livros que compõem o Novo Testamento, como se

apresentam hoje, foi acontecendo por etapas.

Os manuscritos circulavam entre os discípulos que, reunidos compunham o corpo de

Cristo por cada localidade. A carta aos Colossenses (4:16) leem-se as seguintes informações: “E,

quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e

a que veio de Laodicéia lede-a vós também”, e aos Tessalonicenses (5:27) é direcionada a

seguinte observação: “Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os santos

irmãos”.

As cartas eram lidas a todos os membros que estavam na Ásia, espalhando-se por todas as

localidades, reunindo-se em nome de Cristo.

Clemente de Roma, no ano (95 d.C.) mencionou oito livros do Novo Testamento, Inácio

de Antioquia (115 d.C.) reconheceu cerca de sete livros. Policarpo (108 d.C.) reconheceu 15

livros, Irineu (185 d.C.) fez menções a 21 livros, Hipólito (170-235 d.C.) referiu-se a 22 livros e,

no ano de 363 d.C., a assembléia de Laodicéia reconheceu os 27 livros que compõe o Novo

Testamento (CANONE, 2011).

Simultaneamente à expansão dos discursos religiosos, surgem também as grandes

construções religiosas tais como templos e catedrais. Ganham relevo também os sacerdotes, em

particular o “papa”.

Os gigantescos projetos arquitetônicos adentram a Idade Média, a arquitetura greco-

romana foi dando lugar às torres góticas que, como mãos levantadas em direção aos céus,

determinavam o teocentrismo. A instituição católica romana usou os principais arquitetos da

época e se apossou dos lugares privilegiados de cada cidade, obtendo os seus intentos de

ostentação e luxo, mostrando seu poder por meio do ouro e da prata incrustados em seus

utensílios.

32

Figura 2 – Templo medieval

1.4 – A DIVULGAÇÃO DA PALAVRA NO NOVO TESTAMENTO

Os religiosos, cumpridores da lei, e os sacerdotes que se beneficiavam com o dinheiro do

povo buscavam eliminar os divulgadores dos ensinamentos de Jesus. O sangue de animais em

holocausto continuou sendo derramado, mas, para os autênticos seguidores dos ensinamentos de

Jesus o sangue de animais ficou completamente invalidado, como também todo cerimonial da lei,

valendo somente o sangue de Jesus, perpetuamente e gratuitamente oferecido para remissão dos

pecados.

Outra figura importante relacionada à divulgação do cristianismo é Paulo, por enfatizar a

Graça e desprezar os cerimoniais da abolida lei.

Segundo Wilhelm Heitmüller (1912 apud GOPPELT, 2002, p.285) não é somente a

comunidade primitiva que separa Paulo de Jesus, existe outro elemento. A seqüência do

desenvolvimento é: Jesus - comunidade primitiva – cristianismo Helenista – Paulo.

No momento que o véu do templo se rasgou de cima a baixo, abriu-se o local onde

habitava a presença de Deus na terra, no “santo dos santos”; a partir deste momento, toda a lei foi

33

ab-rogada, anulada totalmente. No Evangelho de Mateus (27:51) tal fato é descrito da seguinte

forma: “E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e

fenderam-se as pedras”. Toda ideologia religiosa da lei mosaica foi anulada pelo Criador, o local

de habitação de Deus na terra deixou de ser o templo de pedra e passa a ser um templo não

construído por mãos humanas, mas no coração contrito que reconhece ser pecador e se arrepende

e, de livre e espontânea vontade, volta-se ao Criador.

Um dos temas éticos mais importantes com que se confrontou a igreja primitiva foi sua

relação com a lei mosaica. Como deviam observar a lei os que criam em Jesus como

Messias e Filho de Deus? O tema é complicado para leitores modernos, uma vez que se

aproximam de textos, tais como os evangelhos, com certa compreensão prévia da lei, por

exemplo, da lei moral, da lei natural. Mas, dentro do Novo Testamento, “a lei” em geral se

refere à lei mosaica, que contém regras e regulamentos que governam cada aspecto da

vida, desde regulamentações culturais e de pureza legal até o decálogo. A observância

dessa lei era o meio pelo qual o povo judeu mantinha o seu estatuto de aliança (MATERA,

1999, p.36).

Jesus viveu e anunciou o reino dos céus dentro do período da lei, mas com a sua morte,

abriu-se o Novo Testamento e entrou o período da Graça. Após sua morte, os discípulos

hesitavam entre a lei e a Graça e queriam permanecer com os ensinamentos de Jesus e também na

prática da lei, agradando os religiosos. Isto aconteceu até o correto entendimento sobre os

ensinamentos de Jesus, o qual chegou até Paulo por uma comunidade helenística , que já tinha

abolido a lei e estava na Graça de Deus por Cristo Jesus.

A imperfeita lei que fora ab-rogada caracterizou-se pela religião institucionalizada e

normas sacerdotais praticadas no templo, na espera do Messias. Na Graça, a qual se estabelece

por meio do favor imerecido de Deus para com a humanidade, a re-ligião ou a re-ligação por

meio dos sacerdotes já não existe.

Na Graça, é Cristo Jesus que liga o pecador ao Pai, sem a necessidade de uma re-ligação

ou mediação sacerdotal. Cristo é o Sumo Sacerdote.

Na lei, a purificação do pecado era feita com o sangue de animais, somente para os

sacerdotes, os quais intercediam a Deus por alguém ou por alguma causa.

Na Graça, o sangue de Cristo Jesus purifica a todos que o recebem como Senhor e

Salvador, e ainda os torna sacerdotes reais para Deus, gratuitamente.

Por volta do ano 40, surgiu em Antioquia uma comunidade de judeus e gentios que estava se separando da lei, a comunidade

matriz do “cristianismo gentílico” (GOPPELT, 2002, p.286).

34

Dessa maneira, firmam-se os preceitos religiosos praticados por Cristo e estes irão

consolidar-se nos séculos seguintes na história da humanidade.

1.5 – OS EVANGELISTAS

Evangelho provém da palavra grega euangelion , que significa "boas novas", um termo

que representa a entrega de boas noticias ou a literatura primária do Novo Testamento cristão. Os

quatros evangelhos trazem a mesma mensagem salvífica ao espírito e alma humana, que por meio

de Cristo Jesus Deus cumpriu suas promessas a Israel, abrindo o caminho da salvação a toda

humanidade, gratuitamente.

É o cumprimento do Antigo Testamento e não deve contrapor-se ao mesmo, como se

Deus tivesse desistido de seu plano inicial, antes é a confirmação onde o próprio Jesus visualizou

nos escrito de Isaias o seu ministério:

E, chegando a Nazaré, onde fora criado entrou num dia de sábado, segundo o seu costume,

na sinagoga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando

abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: o Espírito do Senhor é sobre mim, pois

que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração,

a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os

oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor. E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao

ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou

a dizer-lhes: hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos (LUCAS 4:16-21).

Os quatro primeiros livros que compõem o evangelho são atribuídos a Mateus, Marcos,

Lucas e João e são suficientes para o testemunho sobre os feitos de Cristo, ficando impedido

qualquer registro de acréscimo ou emenda para justificá-lo. O apóstolo Paulo diz em Gálatas

(1:8) "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que

já vos tenho anunciado, seja anátema".

Mateus, também era chamado de Levi, filho de Alfeu, o qual no seu próprio evangelho

recebe o complemento de "o publicano" (Mateus 10:3), estava sentado na coletoria quando foi

encontrado por Jesus, quando o pediu que o seguisse. Certamente era um homem rejeitado pelos

seus compatriotas e insatisfeito com o trabalho que realizava, não recusou o convite feito por

Jesus e logo se levantou e o seguiu.

35

Segundo (BRUCE et al, p.1003, 1995) João Marcos, o autor do segundo evangelho

aparentemente era judeu nascido em Jerusalém e carregava um nome latino, possivelmente

atribuído a influência romana em território israelita daquele período.

Sua mãe, chamada Maria tinha algum parentesco com Barnabé, segundo o relato descrito

em Colossenses (4:10) “Aristarco, que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de

Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o”; Maria,

mãe de Marcos, parece ter sido uma mulher financeiramente estruturada, pois tinha uma ampla

casa, a qual era bastante espaçosa e abrigava grande número de pessoas.

A descrição em Atos (12:12) diz que o apóstolo Pedro ao sair da prisão foi à casa de

Maria, mãe de Marcos e ali encontrou grande numero de crentes reunidos, perseverando em

oração. A bíblia não faz menção a seu pai, e isto leva a crer que já teria falecido neste período.

João Marcos aparentemente permaneceu em sua residência até ser levado por Paulo e

Barnabé para Antioquia, os quais estavam regressando á Jerusalém, como está descrito em Atos

(12:25). João Marcos também acompanhou Paulo e Barnabé em ocasião da sua primeira viagem

missionária, onde partiram para Chipre, mas, quando chegaram a Perge, João Marcos os deixou e

retornou a Jerusalém como está descrito em Atos (13:13) “E, partindo de Pafos, Paulo e os que

estavam com ele chegaram a Perge, da Panfília. Mas João, apartando-se deles, voltou para

Jerusalém”.

Paulo certamente reconheceu a atitude de João Marcos como um ato de deserção e

recusou em levá-lo, quando foi sugerido por Barnabé como integrante na segunda viagem

missionária, que se encontra em Atos (15:38): “Mas a Paulo parecia razoável que não tomassem

consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado deles e não os acompanhou naquela obra”.

Com a insistência de Barnabé em levar João Marcos consigo para Chipre, Paulo

separando-se de Barnabé preferiu seguir com Silas para outra direção. Certamente este pequeno

desentendimento foi solucionado mais tarde, quando foi escrito Colossenses (4:10) Paulo diz:

“Aristarco, que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já

recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o”.

Lucas, o evangelista, autor do terceiro evangelho, foi um médico muito educado que

acompanhou o apóstolo Paulo em suas viagens. Provavelmente nascido em Antioquia, era um

gentio que falava o grego, humilde, e muito disciplinado, o qual projetou em sua obra toda luz

para o tema central de Jesus o Salvador. O apostolo Paulo escreveu sobre ele em Colossenses

36

(4:14) chamando-o de “o médico amado” e na epístola de Filemom 24 o nomeia como um dos

seus cooperadores de viagens para o evangelismo.

Em seu aprisionamento em Roma e pouco antes de seu martírio, Paulo escreve a Timóteo

que somente Lucas estava com ele, sendo necessário que Marcos o acompanhe e o ajude em seu

ministério. “Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para

o ministério” (2 Timóteo 4:11).

Lucas, além de cooperador, foi um grande amigo de Paulo. Para escrever o evangelho

averiguou as testemunhas que evidenciaram os fatos decorrentes ao ministério de Jesus, como

está registrado:

Tendo, pois, muitos empreendidos pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se

cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio, e

foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó

excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo

desde o princípio; para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado

(LUCAS 1:1-4).

E João, o autor do quarto evangelho, filho de Zebedeu e Salomé, possivelmente primo de

Jesus por parte de mãe, ficou denominado como “aquele a quem Jesus amava”. João e Tiago

foram designados por Jesus de Boanerges, ou “filhos do trovão” por serem de temperamento

impensado e de ações súbitas.

Esse aspecto de caráter dos irmãos é demonstrado após alguns samaritanos terem

recusado a entrada e os ensinamentos de Jesus em seu vilarejo, como se encontra em Lucas (9:54)

que diz: “E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos

que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez? Além disso, suas ambições,

juntamente com a de sua mãe eram um tanto exagerado, chegaram a pedir lugares especiais no

momento que Jesus ocupasse o seu reino”.

Então se aproximou dele à mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o, e

fazendo-lhe um pedido. E ele diz-lhe: Que queres? Ela respondeu: Dize que estes meus

dois filhos se assentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino. Jesus, porém,

respondendo, disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber,

e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado? Dizem-lhe eles: Podemos. E diz-

lhes ele: Na verdade bebereis o meu cálice e sereis batizados com o batismo com que eu

sou batizado, mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence dá-

lo, mas é para aqueles para quem meu Pai o tem preparado. E, quando os dez ouviram

isto, indignaram-se contra os dois irmãos. Então Jesus, chamando-os para junto de si,

disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes

37

exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre

vós fazer-se grande seja vosso serviçal; (MATEUS 20: 20-26).

João, aquele que Jesus amava, é o mesmo que no momento da última ceia se reclinou

próximo ao seio do Senhor, o qual também ficou encarregado de cuidar de Maria após a morte de

Jesus. João estava entre os três discípulos que presenciaram ocasiões especiais com Jesus, no

momento da transfiguração, na ressurreição da filha de Jairo e no jardim do Getsêmani e de

acordo com Lucas, João e Pedro foram os discípulos enviados por Jesus para prepararem a

refeição da Páscoa. “E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a

comamos” (LUCAS 22:8).

João, juntamente com Pedro, correu, no domingo da ressurreição, até o túmulo onde Jesus

foi sepultado e foram os primeiros a ver as roupas mortuárias ainda não mexidas, deixadas pelo

Senhor, e estava também no momento que Cristo ressurreto se revelou a sete de seus discípulos,

próximo ao mar de Tiberíades.

É atribuídos a João o evangelho, três epístolas e o apocalipse, (ENCARTA 1993-2001),

depois de ter se refugiado na ilha de Patos durante a perseguição romana seguiu para Efeso, tendo

falecido no ano 101d.C.

1.6 – OS EVANGELHOS APÓCRIFOS

A palavra „apócrifo‟ provém do grego apókryphos e do latim apocryphu que significa

obra ou fato sem autenticidade, ou cuja autenticidade não se provou. Especificamente entre os

católicos romanos diz-se dos escritos de assunto sagrado não incluído no Cânon das Escrituras

autênticas e divinamente inspirado. Segundo HALLEY, 2001 a palavra testamento, conforme

empregada para designar os livros do Antigo ou Novo Testamento bíblico tem o significado de

“aliança” ou pacto solene entre Deus e os homens.

O Antigo Testamento diz respeito à aliança que Deus fez com Abraão (GENESIS 15) de

que viria a ser uma grande nação e que a terra de Canaã pertenceria a seus descendentes e que por

meio de seus descendentes o mundo seria abençoado.

O Novo testamento se refere à aliança que Deus fez com toda a humanidade, mediante a

vida, morte e ressurreição de Jesus, o qual descende de Abraão e é o instrumento da benção

prometida a Abraão com expansão para todas as nações da terra.

38

Os sessenta e seis (66) livros canônicos reconhecidos pelos evangélicos foram escritos

durante o percurso de mil e quinhentos anos. A palavra “cânon da bíblia” significa regra ou

padrão, os quais foram aceitos como a Palavra inspirada por Deus.

Os católicos os denominam de “livros deuterocanônicos” e em suas versões bíblicas estão

intercalados com os livros canônicos, totalizando setenta e três livros, os quais são: Tobias,

Judite, Sabedoria de Salomão, eclesiástico, I Macabeus, II Macabeus e Baruque. Ainda na bíblia

católica existem os acréscimos a Ester, Carta de Jeremias e acréscimos a Daniel (Oração de

Azarias, Susana, Bel e o Dragão), os quais são reconhecidos pelos evangélicos como apócrifos.

São reconhecidos pelos católicos como livros apócrifos somente: O testamento de Adão, I e II

Enoque, O testamento de Jô, III e IV Macabeus e alguns outros, os quais são denominados pelos

evangélicos de pseudepígrafos.

Diante das perseguições aos cristãos do primeiro século, muitos manuscritos foram

destruídos, restando apenas alguns poucos testemunhos sobre os livros do Novo Testamento.

Segundo HALLEY, 2001, o mais antigo é o de Clemente de Roma, na sua carta aos Coríntios (95

d.C.) cita Mateus, Lucas, Romanos, Coríntios, Hebreus, I Timóteo e I Pedro ou se refere a eles.

Policarpo, na sua carta aos Filipenses (110 d.C.) faz citações a Filipenses e reproduz frases de

nove epístolas de Paulo e I Pedro. Inácio, em suas cartas escritas durante sua viagem de

Antioquia a Roma cita Mateus, I Pedro, I João e nove das epístolas de Paulo. Suas cartas também

revelam o teor dos outros três evangelhos.

Muitos outros escritos existentes foram colocados em dúvida, até a promulgação do

“Edito de Tolerância” pelo imperador Constantino.

No capítulo 2, percorreremos os caminhos das religiões institucionalizadas desde

Constantino, perpassando pelos sacerdotes, inquisição e genocídios até Lutero, Gutenberg e a

Bíblia impressa.

39

2 – AS RELIGIÕES INSTITUCIONALIZADAS

Quando o ser humano pergunta: Quem sou? De onde venho? Para onde vou? Há sempre

uma dúvida que a ciência ainda não pode explicar. Algo que está fora do campo da materialidade

e que somente por meio da crença em Deus pode solucionar estas incertezas.

Essas são as chamadas questões existenciais, pois dizem respeito a nossa própria

existência. Muitas questões existenciais são bastante gerais e surgem em todas as culturas.

Embora nem sempre sejam expressas de maneira tão sucinta, elas formam a base de todas

as religiões. Não existe nenhuma raça ou tribo de que haja registro que não tenha tido

algum tipo de religião (GAARDER, 2000, p. 9).

As religiões institucionalizadas sempre estiveram em desavenças entre si, cada qual

posicionando-se como a única, verdadeira e correta diante de Deus, ao passo que as demais são

meras heresias.

Contudo, as religiões tentam encontrar características comuns para se unirem e se

fortalecerem, assim como supostamente deveria ser o ecumenismo .

Entre as maiores e mais antigas religiões, defrontamo-nos com a religião “mosaica”, a

qual se considera Moisés o fundador. As narrativas bíblicas começam por Adão e Eva, Noé e

Abraão, o qual saiu da cidade de Ur, na Caldéia, onde atualmente se encontra o sul do Iraque por

volta de 1800 a C. rumo à terra prometida.

O Hinduismo não apresenta um fundador, nem credo organizado, projeta-se como a

“religião eterna” e caracteriza-se pelos vários modos como de pensamento se adapta a muitas

formas de expressão religiosa. Suas raízes podem ser encontradas entre 1500 a C. quando os

nobres, denominados “arianos” começaram a dominar o vale do Indo. O “Livro dos Vedas” ou do

conhecimento consiste em quatro coletâneas, das quais datam do ano 1500 a C. e separam a

sociedade em quatro classes básicas, as quais são: os sacerdotes (brâmanes), os guerreiros, os

agricultores, comerciantes e artesões e os servos.

O Budismo surgiu por volta do século VI e V a C. no norte da Índia por meio de um

homem chamado Siddhartha Gautama, o qual disse ter atingido a “iluminação” que liberta do

ciclo da morte e reencarnação.

Movimento originado da crença de terem uma identidade substancial à doutrina e a mensagem de Cristo.

40

O Islamismo surgiu no Oriente Médio no século VII e se espalhou rapidamente para a

África e Ásia. Seus seguidores acreditam que a palavra de Deus ( Alá ) foi entregue a Maomé ou

Mohammed, as quais foram escritas no livro denominado Alcorão. O Shahada ou credo de fé

mulçumana declara haver um só Deus, o qual é Alá e Maomé seu mensageiro; também crêem no

céu, inferno e no juízo final após a morte.

O Confucionismo da China trata das condutas de ordem moral e social. Seu fundador, o

filósofo Confúcio ou K‟ung Fu-tzu viveu entre 551 a 479 a C. e ensinou a seus discípulos valores

morais sobre respeito, cortesia e generosidade.

Dentre as muitas religiões existentes, há também todas as denominações derivadas do

catolicismo romano, as quais se ramificaram com a reforma protestante em instituições

evangélicas tradicionais, pentecostais e neopentecostais e estão atuantes em nosso país.

Frente ao crescimento do pentecostalismo no Brasil, o autor se refere a três medidas

tomadas pelo catolicismo para solucionar o problema:

Dentro do quadro atual, emergem três posições principais no meio católico: 1. Uma

atitude crítica face ao pentecostalismo e a própria “ Renovação Carismática Católica” ,

julgados demasiadamente espiritualistas ou intimistas e pouco sensíveis aos graves

problemas sociais da nação. 2. Uma atitude crítica face ao pentecostalismo protestante,

mas favorável a “ Renovação Carismática Católica” , considerada inclusive como resposta

à expansão pentecostal. 3. A reafirmação da identidade católica e a busca de uma pastoral

mais adequada à modernidade e de melhor qualidade. A terceira posição não se interessa

diretamente pelo pentecostalismo, senão na medida em que pode contribuir para a

compreensão das atuais condições sócio-culturais da religião e para a tomada de

consciência de falhas da pastoral católica.( ANTONIAZZI, 1994, p.19).

As muitas religiões provenientes das subdivisões do catolicismo romano buscam uma

adequação com a verdade bíblica para ganharem espaço e atuarem juntamente como instituições

cristãs no país.

2.1 - A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA IGREJA POR CONSTANTINO

Os romanos, originários dos italiotas, descendentes dos etruscos, procedentes da Ásia

Menor e regiões periféricas habitaram a península itálica e conquistaram muitos territórios por

meio de suas habilidades para a guerra.

41

Suas representações religiosas eram definidas pelos indigetes e os novensides, as quais se

estabelecem pelo conjunto das divindades protetoras de um país ou uma determinada região e

divindades que auxiliavam nas atividades cotidianas.

Algumas dessas divindades e suas respectivas funções são: Jano, Vesta e Lares, os quais

tinham a incumbência de proteger as portas e as moradias. Pales, de proteger o rebanho; Saturno,

Ceres, Consus, Pomona e Ops protegiam a semeadura, o crescimento dos cereais, o fruto e a

colheita e tinham o domínio e o poder sobre as forças da natureza. Júpiter era o soberano entre os

deuses romanos, venerado e louvado por ajudar as granjas e os vinhedos, portador do poder sobre

a chuva, o raio, e era encarregado das conquistas militares (ENCARTA 1 9 9 3- 20 01 ) .

Havia um sincretismo junto aos deuses gregos, invocados no exercício da mesma função,

como Dionísio e Baco, agindo respectivamente como o deus do vinho e dos ébrios.

Ao proferir o nome dessas divindades, durante atividades cotidianas, os gregos e os

romanos realizavam petições e invocava-lhes proteção.

Esta é a representação da religião dos romanos antes de se apropriarem da crença no Deus

único, incentivados e favorecidos pelo imperador Constantino.

No ano 311 d.C., o imperador Constantino declara ser um discípulo e seguidor dos

ensinamentos de Jesus. Acreditou que o Deus dos cristãos havia-lhe proporcionado a vitória na

batalha da ponte Mílvia, razão pela qual proclamou o “édito de Milão”, em 313, que concedia

liberdade aos seguidores dos ensinamentos de Jesus.

Quando, no ano de 311d.C., o imperador Constantino estabeleceu a Igreja Cristã como um

poder no Estado, os problemas com que se defrontou foram enormes. Durante os períodos

de perseguição não tinha havido necessidade nem, de fato, possibilidade de construir

lugares públicos de culto. As Igrejas e salas de reunião que existiam eram pequenas e de

aspecto insignificante. Mas, uma vez que a igreja se tornara o poder supremo no reino,

todo o seu relacionamento com a arte teria que ser reexaminado. Os lugares de culto não

podiam adotar por modelos os antigos templos, já que sua função era inteiramente

diferente. O interior do templo era, usualmente, apenas um pequeno sacrário para a estátua

de um deus. As procissões e os sacrifícios tinham lugar do lado de fora. A igreja por sua

vez, tinha que encontrar espaço para toda a congregação que se reunia para o serviço

religioso, quando o padre recitava a missa no altar-mor ou proferia seu sermão. Assim,

aconteceu que as igrejas não foram modeladas pelos templos pagãos, mas pelo tipo de

vastos salões de reunião que nos templos clássicos eram conhecidos pelo nome de

“basílicas”, o que significa aproximadamente “salões reais” (GOMBRICH, 1978, p.94).

Os romanos deixaram momentaneamente de servir seus deuses, suas imagens de

esculturas representadas por meio dos indigetes e os novensides e vangloriaram-se de estarem

42

participando da nova religião do imperador. Finalizou-se a primeira fase das perseguições, pois

ser um seguidor dos ensinamentos de Jesus, neste momento, era pertencer à religião do império e

como tal digna de suas honrarias.

Figura 3 - Constantino

Constantino começa a construir grandes edifícios para abrigar as multidões que

compareciam às suas reuniões. Logo estes grandes edifícios, estas enormes basílicas foram

denominadas de igreja cristã, que difere dos ensinamentos que Jesus ministrou quanto a sua

Igreja, que se encontra no livro de Mateus (16:16-18):

E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus,

respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a

carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro,

e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra

ela.

A intenção de Jesus não foi de construir outro templo além do existente templo de

Salomão, ou de criar uma nova religião, mas sim em restaurar aquilo que a humanidade havia

perdido no Éden, a salvação da alma e a vida eterna.

A religião é vivida antes de tudo como angústia. Não é inventada, mas essencialmente

estruturada pela casta sacerdotal, que institui o papel de intermediário entre seres temíveis

43

e o povo, fundando assim sua hegemonia. Com freqüência o chefe, o monarca ou uma

classe privilegiada, de acordo com os elementos de seu poder e para salvaguardar a

soberania temporal, se arrogam as funções sacerdotais. Ou então, entre a casta política

dominante e a casta sacerdotal se estabelece uma comunidade de interesses (EINSTEIN,

1981, p. 19).

A religião acabou aliando-se a interesses econômicos, como se pode notar pelo

procedimento de Constantino, que usou uma estratégia econômica para conseguir adeptos, ou

seja, deu isenção dos impostos para todos que aderissem a sua nova religião. Houve adesão em

massa. Os romanos deixaram momentaneamente de servirem seus deuses, suas imagens de

esculturas, para aderirem à religião do imperador, praticando um pseudocristianismo, onde os

templos e basílicas são denominados de igrejas cristãs.

Simão Barjonas recebe a revelação, vinda do Pai, de que Jesus é o Cristo. Em seguida

Jesus disse a Pedro que sobre tal revelação edificaria a sua Igreja, a qual seria seu próprio corpo,

composta por membros lavados e remidos em seu sangue e não templos feitos por mãos

humanas.

A verdadeira Igreja de Cristo é composta por todos os verdadeiros praticantes de seus

ensinamentos, os quais podem estar reunidos numa determinada casa, numa cidade ou a

totalidade dos discípulos que estão por todas as nações da terra.

Segundo Althusser, o exemplo da ideologia religiosa serve como modelo para a ideologia

de todas as instituições religiosas, isto é, cabível também para todas as denominações cristãs. Ele

utiliza uma figura de retórica para recolher um discurso fictício dos dois Testamentos, através de

seus teólogos, sermões, rituais, cerimônias e sacramentos:

Dirijo-me a ti indivíduo humano chamado Pedro (todo indivíduo é chamado por seu nome,

no sentido passivo, não é nunca ele que se dá um nome) para dizer que Deus existe e que

tu deves lhe prestar contas. É Deus quem se dirige a ti pela minha voz (tendo a Escritura

recolhido a Palavra de Deus, a Tradição a transmitido, a Infalibilidade Pontifícia a fixado

para sempre quanto às questões “delicadas”). Eis quem tu és: Tu és Pedro! Eis a Tua

origem, tu foste criado pelo Deus de toda eternidade, embora tenha nascido em 1920

depois de Cristo! Eis o teu lugar no mundo! Eis o que deves fazer! Se o fizeres,

observando o “mandamento do amor”, tu serás salvo, tu Pedro, e farás parte do Glorioso

Corpo do Cristo! Etc... (ALTHUSSER, 1985, p. 100).

Neste pequeno trecho é possível identificar de que modo a instituição entra como aparelho

ideológico, pois tendo a Escritura recolhido a Palavra de Deus, a Tradição a transmitiu, a

Infalibilidade Pontifícia fixou-a para sempre quanto às questões “delicadas”, já não se pode mais

44

caracterizar o autêntico modelo dos ensinamentos de Jesus e sim um modelo de cristianismo

institucionalizado por normas religiosas do Vaticano. Neste caso, a referida instituição já entrou

em dissimilitude com os ensinamentos de Jesus e tornou-se uma religião orientada por normas

internas do catolicismo romano e seus concílios. Esta é a referida tradição, a qual também criou

normas de infalibilidade para seu sumo sacerdote humano, designando-o como único

representante de Deus na terra.

A religião institucionalizada pelo imperador Constantino, denominada de “igreja católica

apostólica romana” segue construindo seus templos pelo império romano, sorrateiramente vão se

adaptando aos velhos conceitos mitológicos, somente modificados; os quais usam do aparato dos

mártires para simularem seus deuses e fabricarem suas representações e inserem-nas nos templos

e as denominam de “santos” as quais dirigem suas preces. Fazem adaptações aos ensinamentos de

Jesus para favorecer a instituição religiosa e alegam serem os únicos detentores da verdade

imutável de Deus.

Vale ressaltar que, em relação à religião romana, como seu início fora à custa do dinheiro,

da isenção dos impostos pagos a Roma, seu intento continua neste empenho, angariando poder

por meio de riquezas perecíveis, como o ouro e a prata. Aumentaram o seu comércio com a venda

de relíquias, velas, rezas, missas, dízimos, e ofertas voluntárias. Seu comércio é o seu alimento

que a faz crescer entre as nações. Repristinaram a lei que fora ab-rogada na morte de Jesus,

construiram novamente os altares, não mais para o abate de animais, mas, como veículo de

persuasão às suas doutrinas e normas estabelecidas por meio de seus concílios.

2.2 – O PAPA E OS SACERDOTES

Em equivalência com a ab-rogada lei mosaica, o catolicismo romano criou seu sumo

sacerdote (pontífice) e lhe outorgaram autoridade máxima na terra, como um representante direto

de Deus para com a humanidade, desprezando aquele que Jesus pediu ao Pai para instruir aos

discípulos, o Espírito Santo, o Consolador, como está escrito em João (14:26): “Mas aquele

Todos falam, discutem e querem estar com a verdade. Nenhum mortal, porém, é o dono da verdade. Isso porque o problema da

verdade radica na finitude do homem, de um lado, e na complexidade e ocultamento do ser da realidade, de outro lado. O ser das

coisas e objetos que o homem pretende conhecer oculta-se e manifesta-se sob múltiplas formas. Aquilo que se manifesta, que

aparece em dado momento, não é, certamente, a totalidade do objeto, da realidade investigada. O homem pode apoderar-se e

conhecer aquele aspecto do objeto que se manifesta, que se impõe, que se desvela e isso ainda de modo humano, isto é,

imperfeito, pois não entra em contato direto com o objeto, mas apenas com sua representação e impressões que causa (CERVO,

1996, p.12).

45

Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas,

e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”.

Os romanos atribuíram as palavras “papa” ou “padre” para designarem seus sacerdotes, as

quais significam pai, contrariando o que Jesus ensinou aos discípulos, escrito no evangelho de

Mateus (23:9): “E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está

nos céus”.

Reverenciam seu sumo-sacerdote como a um deus, prostrando-se de joelhos, beijam-lhe

os pés e os anéis de ouro em suas mãos.

Lentamente este pseudocristianismo romano foi se adaptando aos velhos conceitos

mitológicos, agora um tanto modificado, usando o aparato dos mártires para simularem seus

deuses e encheram os templos de imagens de “santos” milagreiros.

Ao invés de alfabetizarem as pessoas para lerem as escrituras, contaram histórias bíblicas

por meio de imagens, aproveitando a habilidade dos grandes artistas para engendrar suas

estratégias de domínio de massa, distorcendo as escrituras e impondo as representações dos seus

acordos decididos em concílios.

As imagens dos novensides, como Marte e Quirino, deuses quase sempre identificados

entre si, reapareceram. Marte cuidava dos jovens nas atividades da guerra e Quirino era o

padroeiro dos guerreiros nos tempos de paz.

Começaram a adorar e reverenciar diante da imagem do “santo” ou “são” Zeno de

Verona, por exemplo, que nasceu no norte da África e faleceu em Verona, no dia 12 de abril de

371, outorgando-lhe poder para proteger crianças.

Na liturgia do catolicismo romano, este “santo” é representado segurando um peixe, o

qual é invocado por seus adeptos como o protetor das crianças e denominado de “padroeiro” de

Verona.

A representação feminina também foi incluída, já que na antiga mitologia os romanos

veneravam Diana, deusa da lua e da caça, guardiã das correntes e das fontes, protetora dos

animais selvagens, com sincretismo à deusa grega Ártemis. No ano 431 d.C., a religião católica

romana instituiu o culto à virgem Maria, alegando ser a mãe de Jesus e que continuou virgem até

sua morte, ascendendo ao céu, tendo poder para interceder diante de Deus, contrariando o que

está escrito no evangelho de Mateus (13:55), que diz ser Jesus o primogênito (primeiro) de Maria

e unigênito (único) do Pai, tendo Jesus outros quatro irmãos como diz nas Escrituras: “Não é este

46

o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e

Judas?”.

Esta representação religiosa não condiz com os ensinamentos encontrados no evangelho,

foi acrescentada para suprir o desejo e a necessidade dos romanos em venerar uma deusa. No

evangelho de Mateus (28:18) Jesus disse: “É-me dado todo o poder no céu e na terra”, todo o

poder está com Jesus e isto significa 100% do poder. E quanto à intercessão de Maria, que

alegam poder de intercessão e mediação entre Deus e os humanos, na primeira epístola a Timóteo

(2:5) está escrito: “Porque há um só Deus, e um só Mediador (intermediário) entre Deus e os

homens, o qual é Jesus Cristo homem”. Biblicamente só Jesus está assentado à direita do Pai

(Criador), não há outro nem outra que possa mediar ou interceder entre Deus e a humanidade.

Os romanos construíram suas imagens de esculturas em similitude com seus antigos

deuses, alegando serem as representações dos mártires, mas outorgavam-lhes as mesmas funções

da antiga crença, só que agora sem o pagamento de impostos aos cofres de Roma, e sim, aos

cofres do vaticano. Assim esta instituição foi adquirindo poder e riquezas materiais.

O catolicismo romano, no ano 503, criou a doutrina do purgatório, um lugar capaz de

purificar a alma do pecado e formar novamente o elo com o Pai Criador. Indiretamente se

compreende por este lugar que Jesus morreu debalde, contraria o que está escrito em Atos (4:12):

“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado

entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.

Queimam incenso dentro das basílicas, diante da imagem do “são” Venceslau, conhecido

também como Wenceslaus da Bohemia, nascido em Budweiss, hoje República Checa. Seus

seguidores o identificam como o “padroeiro” de Praga; sua função na liturgia católica romana é a

de proteger os fabricantes de vinho (retorno a Baco ou Dionísio), é mostrado com uma águia e

colhendo uvas.

Da maneira como foi estabelecida, por meio da isenção dos impostos, esta denominação

religiosa continuou o seu desígnio, conquistando poder por meio do ouro e da prata, expandindo

seu comércio além das vendas de relíquias, das velas e das missas. O dízimo foi repristinado e

incluído como fonte lucrativa para o seu crescimento entre as nações.

Voltaram a cobrar aquilo que no Antigo Testamento era destinado à manutenção do

templo e dos sacerdotes, na espera do Messias, o libertador.

47

Consta nos ensinamentos de Jesus que este pediu para pagar o dízimo enquanto viveu sob

a “lei de Moisés”, mas que após a sua morte, a lei foi ab-rogada, anulada totalmente, como se

encontra no livro aos Hebreus (7:18-19): “Porque o precedente mandamento é ab-rogado por

causa da sua fraqueza e inutilidade, pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou e desta sorte é

introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus”. Portanto, ao chegar o perfeito

(Cristo) o transitório (lei) foi anulado.

Nenhum testador abre o testamento enquanto vive, mas morrendo, este entra logo em

vigor. Assim também foi com Jesus, enquanto estava vivo foi cumpridor da lei, mas, com a sua

morte, o véu do templo rasgou-se, iniciando o período da Graça, o Novo Testamento.

A partir deste momento, querer cumprir a lei do sábado, do dízimo, da circuncisão é

inutilizar a Graça de Deus.

Também se encontra em Gálatas (5:4) a seguinte frase: “Separados estais de Cristo, vós os

que vos justificais pela lei; da graça tendes caído”.

Em seus altares não se oferecem animais em holocaustos, mas o tal veículo serve para

manipulação humana por meio de fragmentos da verdade de Cristo.

Como se todas essas mercadorias não bastassem, acabaram instituindo a venda de

“indulgências”, certa carta capaz de remir os pecados, total ou parcial de quem a possuísse.

2.3 – A INQUISIÇÃO

Roma avança sem oponentes e impõe a religião criada por Constantino por todo seu

império, sua religiosidade institucionalizada supera a coerção e o clero posiciona-se acima do

Estado. Seus sacerdotes determinam as normas e regras para a sociedade.

Certamente que esta instituição religiosa, que proibiu a leitura da bíblia e queimou em

praça pública a todos os que a questionaram em suas decisões tem grande poder material e

propriedades espalhadas por todas as nações.

Seus integrantes estabeleceram normas terríveis para matar em fogueiras, durante a

chamada “Santa Inquisição” todos os seus opositores. Nunca fez uso dos ensinamentos de Jesus

senão para dominar e manter sua soberania sobre a população, numa propaganda ideológica

institucionalizada e num “estranho amor cristão”.

48

Figura 4 – A inquisição.

Seus sacerdotes alegam serem os únicos capazes de empregar a hermenêutica e a exegese

para compreenderem os textos bíblicos.

O concílio da igreja reunido no ano 1229 inclui a Bíblia no índice dos livros proibidos.

Milhares de exemplares da Santa Escritura foram incinerados em todo o mundo pela igreja

romana. Ainda hoje, onde o catolicismo romano domina ocorre isto. A destruição da

Bíblia incentivada pelo Papa Leão XII, que em sua carta encíclica datada de 3 de maio de

1824 escreveu dizendo: “ Que a certa sociedade chamada bíblica agia com arrogância em

todo mundo contrariando os bons e conhecidos decretos do Concílio de Trento” ,

trabalhando com todo o seu poder e por todos os meios para traduzir, ou melhor, perverter

a Santa Escritura na língua própria de cada nação (LEONEL, 1998, p.23).

Para o católico romano, a heresia se estabelece no momento em que se demonstra uma

relação com Deus estabelecida fora dos parâmetros doutrinários da sua instituição, tudo o que é

praticado sem consonância com suas normas e concílios é considerado heresia e se torna ofensa à

fé católica.

Mas, esta instituição conduziu suas próprias normas e regras e divergindo dos

ensinamentos de Jesus e começou a perseguir e matar a todos que considerassem hereges, ou seja,

49

todos que se recusassem a cumprir suas normas e doutrinas como o único caminho entre Deus e a

humanidade.

O catolicismo romano monopolizou as informações do evangelho, transmitindo somente o

conveniente, induzindo seus seguidores a cumprirem partes da lei ab-rogada. Aboliu a

circuncisão, o sábado e a permissão de possuir mais de uma esposa, o que na lei era permissível,

mas estabeleceu o dízimo, com o objetivo de ampliar suas riquezas e aumentarem suas forças.

No entanto, foi com as vítimas da inquisição que alcançou sua maior fonte lucrativa.

Localizava o herege e decretava as penalidades para que o Estado, por meio da justiça secular,

executasse a lei e o confisco dos bens do condenado, os quais eram repassados para a instituição

católica na forma de doação. Nunca molhou diretamente suas mãos em sangue nem usou

diretamente da ilegalidade em seus atos.

Figura 5 – Métodos de tortura.

No período descrito como medieval ou período das trevas, a única luz que poderia estar

aparente era a luz das chamas abrasadoras da “Santa Inquisição”. Após o ano de 1148 d.C.

quando a inquisição foi instituída, a perseguição aos seguidores dos ensinamentos de Jesus foi

intensificada. Com o intuito de fazer calar todos que não concordavam com sua maneira de agir,

a instituição católica condenou a morte vinte e cinco milhões de pessoas por todo o mundo,

contando com israelitas, maçons e livres pensadores (LEONEL, 1998).

50

As antigas autoridades eclesiásticas desaprovavam a tortura até o momento em que esta

foi utilizada contra os hereges. Os padres não podiam praticá-la contra os acusados e

mesmo os “adeptos” deviam demonstrar especial piedade. Pouca piedade foi, no entanto,

demonstrada na supressão dos Templários. Entre 1307 e 1310, 36.000 Templários

morreram em Paris sob tortura. A prática da tortura foi reforçada pela propensão dos

juristas medievais de referir-se em medida sempre maior ao direito romano no exercício

da justiça. A seguir, tais práticas se afirmaram, principalmente na Alemanha e na Itália, e a

tortura era empregada com o objetivo principal de obter confissões de imputados

relutantes, de modo que as próprias confissões contivessem “elementos que só o acusado

podia conhecer” (GENTILI, 1996, p. 12).

Seus sacerdotes, posicionando-se como cristãos e seguidores da piedade, elaboravam

normas de torturas terríveis para que os inquisidores se orientarem. Ainda na perseguição

daqueles que não seguiam as doutrinas do catolicismo romano e suas imposições o autor pondera:

Como já vimos, a perseguição católica no mundo foi terrível, pois ela usava toda a sorte de

torturas para fustigar o corpo da vítima. Primeiro o acusado era apresentado ao juiz

ordinário da Inquisição; o interrogado já sabia qual seria o seu destino. Teria os seus bens

confiscados, seria torturado e, caso não denunciasse os parentes, poderia ser queimado

vivo. As torturas a que era submetido eram metódicas, obedeciam às gradações, umas

mais cruéis que as outras. O suplício inicial usado em Lisboa, Portugal, era de lambuzar as

plantas dos pés do torturado com banha ou manteiga. Depois de ter amarrado o corpo do

infeliz a um catre, com os pés assim besuntados; era posto sobre um braseiro e depois

dessa tortura o coitado não poderia andar. Resistindo a esse suplício, era amarrado pelos

pulsos e pernas numa espécie de cama de ripas. O inquisidor dava um solavanco, cortando

assim as carnes, separando-a dos ossos. Se passasse por mais esta tortura, a vítima era

suspensa por cordas que passavam por uma roldana presa no teto, de cabeça para baixo.

Os carrascos, inesperadamente soltavam as cordas, e o infeliz despencava com todo o peso

do corpo, sendo detido no ar quando chegava a alguns centímetros do solo. Querido

amigo, isso não parece verdade, mas, é a expressão da verdadeira realidade histórica que

nos foi ocultada durante séculos (LEONEL, 1998, p. 42).

Técnicas de suplícios extremamente cruéis, como as dilacerações de membros do corpo e

mortes por fogueiras marcaram este segundo período de perseguição aos seguidores dos

ensinamentos de Jesus.

51

Figura 6 – As fogueiras da inquisição.

As pessoas que fossem pegas com algum fragmento manuscrito do evangelho eram

torturadas e mortas, alegando ser a única maneira de se preservar os escritos bíblicos das falsas

interpretações, mas que na verdade foi um mau recurso para preservar seu monopólio.

O autor Gentili (1996, p.26) relata um instrumento denominado de “balcão de

estiramento”, usado nas salas de tortura da idade média para desmembramento do corpo. A

vítima era colocada distendida, com os pés fixados por dois anéis e os braços amarrados para trás,

presos por cordas estiradas com alavancas. Ao começar o estiramento, deslocava o ombro e as

articulações da vítima até arrancar parte da coluna vertebral, rompendo os músculos do peito e

abdômen.

Outro instrumento terrível, denominado “despertador”, usado pelos inquisidores, consistia

de uma pirâmide pontiaguda, onde a vítima era colocada sentada sobre a ponta desta pirâmide de

forma a penetrar e rasgar o ânus, quando a vítima era do sexo masculino ou a vagina, quando

fosse do sexo feminino. Os pés e as mãos eram amarrados por cordas e a pessoa ficava suspensa

sobre a pirâmide; não podia relaxar a musculatura, pois quando isto acontecia a ponta penetrava a

vítima, rasgando o seu abdômen. Quando a vítima desmaiava, no início da tortura, era reanimada

e a operação continuava até a morte.

52

Figura 7 – Métodos de tortura (despertador).

Outro instrumento temível pelas mulheres era o “esmaga seio”, semelhante ao alicate, era

usado para esmagar os seios das mulheres acusadas de participarem dos “sabbats” ou “cerimônias

satânicas” como denominavam.

Sabendo-se que a cerimônia da leitura da “Tora”, praticada pelos israelitas, acontece após

a primeira estrela da sexta-feira e, certamente os praticantes dessas reuniões eram tidos como

bruxos e bruxas, eram eliminados como hereges.

Nas penalidades brandas (GENTILI, 1996, p.44) era utilizada a “máscara de Infâmia”, a

qual era colocada nas mulheres rebeldes, beberrões e nos blasfemadores. Consistia duma armação

de ferro que se vestia na cabeça da vítima. Esta era amarrada por um gancho na porta da “igreja”,

na hora da missa, para que os fiéis pudessem praticar ofensas e agressões ao condenado.

Em casos mais graves, usava-se empalar ao contrário, e a morte era lenta e terrificante.

Atravessava-se uma estaca no ânus do condenado até sair pela boca, sem atingir os órgãos vitais;

virava-se o sentenciado de cabeça para baixo, para o sangue acumular no tórax e na cabeça,

protelando a morte e prolongando o sofrimento da vítima.

Era também usada pelos inquisidores a “roda de despedaçamento”. O réu era amarrado

com as costas na parte externa de uma roda de madeira que girava, roçando o corpo do herege em

farpas e sobre brasas, bem lentamente, matando o condenado praticamente “assado”.

53

Figura 8 – Métodos de tortura (roda).

Outro instrumento terrível era a “mesa de evisceração”, onde o carrasco abria o estômago

da vítima com uma lâmina e prendia pequenos ganchos nas vísceras, as quais eram arrancadas

por puxões até o sangramento total e a morte por esgotamento sanguíneo.

F. Gentili (1996, p.48) também relata sobre a “cadeira” inquisitória, encontrada no

Castelo de San Leo, próximo de Rimíni, na Itália.

Nesta cadeira o réu assentava-se nu e, ao menor movimento as agulhas penetravam no

corpo causando terríveis sofrimentos. Este castelo, onde foi encontrada tal cadeira era um cárcere

particular, sobre os cuidados diretos do papa.

Por estas formas de confissões, por meio das torturas e mortes, a religião católica

alcançou poder e adquiriu riquezas sem opositores.

Na cidade do vaticano, está localizada a “Basílica de São Pedro e a Praça de São Pedro”,

flanqueada pela famosa colunata de Bernini, expressando sua magnitude terrena. Em sua

retaguarda, estende-se o passeio “João XXIII”, que conduz ao centro da cidade de Roma. À

esquerda da Praça de São Pedro, está o “palácio papal”, que compreende a residência do “santo

pontífice” e outros prédios administrativos; os museus do vaticano, onde se encontram a célebre

54

biblioteca, a pinacoteca com uma magnífica coleção de pintura italiana, e a famosa capela sistina

com a pintura de Michelangelo. À esquerda deste conjunto encontram-se os jardins do Vaticano;

tudo com muito luxo e ostentação, diferente da vida simples de Jesus, que disse não ter onde

reclinar a cabeça.

Figura 9 – Basílica de São Pedro.

Figura 10 – Visão da cúpula.

Ao contrário da “Santa Inquisição”, Jesus nunca pediu para matar alguém, pelo contrário,

ressuscitou Lázaro, a filha de Jairo, o filho da viúva; em momento algum pede para eliminar

alguém em nome de Deus. Mesmo quando Tiago e João querem que desça fogo do céu e

consuma os samaritanos que não os receberam, como está escrito no Evangelho de Lucas (9:56),

Ele disse: “Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para

salvá-las”.

55

Em relação à situação do herege, é válido ressaltar que este, frente à inquisição, mesmo

estando morto, seria, pela determinação dos inquisidores, denominado de anátema (amaldiçoado)

e sua descendência, inapta aos cargos públicos, sendo possível também a transferência dos

castigos e as penitências deste para os seus herdeiros.

O que os fatos querem dizer é que a religião católica apostólica romana nunca molhou

suas mãos em sangue diretamente, mas foi a causadora do maior genocídio que já existiu. No

decurso histórico, incumbiu-se de destruir as provas e omitir os acontecimentos reais de seus

atos, destruindo ou modificando todos os documentos encontrados.

2.4 – A IGREJA E OS GENOCÍDIOS

Os atos de violência dos campos de Kulmhof (Chelmno), Belzec, Sobibor, Treblinka,

Lublin (Maydanek) e Auschwitz devem ser lembrados constantemente, para que as novas

gerações possam saber a qualidade das instituições que já existiram e a que tipo de domínio a

humanidade já se submeteu. Se o holocausto, que aniquilou entre israelitas, eslavos, ciganos,

homossexuais, testemunhas de Jeová, comunistas, e outros, totalizando mais de cinco milhões de

pessoas, deve ser sempre lembrado, porque não se lembrar constantemente e com maior

intensidade da “inquisição”, a qual exterminou vinte e cinco milhões de pessoas em todo o

mundo?

Segundo P. Godman (2007), em seu livro intitulado O Vaticano e Hitler: a condenação

secreta, ele relata que o “papa” abençoou o político ditador Adolf Hitler antes de praticar o seu

intento.

É por esse tipo de política sem escrúpulos que esta instituição religiosa adquiriu poder

entre as nações, comandando chefes de Estado e influenciando a direção dos negócios públicos

com suas estratégias funestas.

Leonel (1998, p.67) refere-se ao prefácio do livro O papa e o concílio do tribuno Rui

Barbosa (O País, Rio 29/08/25) que critica o romanismo como uma religião de fábulas senis:

O romanismo não é uma religião, mas sim uma política, a mais viciosa, a mais sem

escrúpulo e a mais funesta de todas as políticas. O romanismo tornou-se um elemento

deletério, cuja fermentação decompõe a sociedade. Olhai a América, estudai o Brasil,

por toda parte só há fanatismo, beataria e farisaísmo religioso. Uma religião de fábulas

senis.

56

A afirmação de Rui Barbosa em relação ao catolicismo romano pode ser entendida como

sendo esta uma instituição política-religiosa que interfere nos assuntos concernentes ao Estado

brasileiro, deixando de dedicar-se exclusivamente aos assuntos espirituais da nação.

Como se todo o ouro e toda riqueza acumulada durante os séculos não bastasse, esta

referida instituição ainda comercializa bebidas alcoólicas entre os seus fiéis, nas quermesses e

festas realizadas em seus templos, nos dias festivos de seus “santos milagreiros”.

Em sua sede, encravada na cidade de Roma, considerado o menor Estado independente do

mundo, onde conseguiu a separação financeira do país, sendo considerado estado independente

por sua riqueza, prestígio e domínio entre as nações, tudo é feito de forma inquestionável por

seus adeptos. O medo de ser considerado herege ou de ser excomungado permanece até os dias

atuais. Isto faz com que seus fiéis se afastem do conhecimento do evangelho e do questionamento

de seus atos, considerando a hermenêutica e a exegese de exclusividade do papa, bispos e padres

até os dias atuais.

Os documentos que se referem ao período da inquisição existentes na atualidade, são

questionados e transformados pelos seus doutores e mestres, teólogos e filósofos, integrantes

deste sistema de poder clerical, com o objetivo de preservar sua enganosa integridade.

Suas torres e cúpulas estão por toda parte, ocupam os lugares mais altos e nobres em cada

cidade do nosso país. Todo seu tesouro, incluindo suas terras, está isento de impostos aos cofres

da nação. Parece que os tesouros acumulados ao longo dos anos não são suficientes para suprir

seus luxos, necessita ainda angariar do governo brasileiro a isenção dos impostos. Talvez seja

esta uma força acima da coerção, o cheiro da fumaça de outros tempos, época em que usava o

Estado para cometer as suas atrocidades.

“Se assim é, então aqui é o pecado institucional que ganha a cena e a ocupa durante

séculos. Seu espírito vaga assustador até os dias de hoje” (EYMERICH, 1993, p.27).

Jesus não padeceu morte de cruz para ser comercializado pelas instituições religiosas ou

veio somente para a instituição católica romana ter privilégios. Sofrimento e desprezo marcaram

sua crucificação, mas vencendo a morte, ressuscitou, trazendo nova mensagem aos discípulos,

como está escrito no evangelho de Marcos (16:15): “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a

toda criatura, quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”. A referida

condenação não é praticada na carne, por homens e sim na alma e no espírito pelo distanciamento

57

do Criador, aos que recusarem seu Filho como Senhor e Salvador, o qual veio e padeceu morte de

cruz pela humanidade.

A comunicação de Jesus foi interpessoal, com abrangência “por todo o mundo”, gerando

novos grupos de discípulos que, organizados e instruídos nos assuntos concernentes ao reino dos

céus, ensinaram, não somente a nação israelita, mas, com validade para todas as nações da terra.

2.5 – LUTERO E AS RELIGIÕES PROTESTANTES

Não se pode determinar o preço da alma humana. Os pergaminhos da indulgência,

adornados com ouro e prata foram parte do protesto levantado por Lutero. Este ensinava a

população que o perdão dos pecados não pode ser comprado com dinheiro e que Jesus pagou um

alto preço (morte de cruz) para remir gratuitamente os pecados de quem se arrepende e o aceita

como o Cristo de Deus. Certamente Lutero chegou a esta conclusão após ter lido a carta aos

Efésios (2:7-9), onde se lê:

Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua

benignidade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé;

e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.

No dia 10 de novembro de 1483, em Eisleben, cidadezinha da Turíngia, no antigo

condado de Mansfeld nasceu Lutero, o reformador da Alemanha (SAUSSURE, 2004, p.9).

No verão de 1501, Martinho Lutero iniciou seus estudos na Universidade de Erfurt, onde

também lecionou. A partir de 1505, ingressou no convento dos agostinianos eremitas, na

condição de noviço, continuou seus estudos e uma maior familiarização com a bíblia. Por esta

ordem tornou se professor de teologia, lecionando e participando de assuntos concernentes ao

clero romano até o surgimento de um debate sobre as indulgências. Lutero afirmou que a justiça

de Deus agracia o pecador na fé, sem o mérito pessoal. Deus não castiga, mas é misericordioso e

concede sua justiça para os que crêem. Contrariando os ensinamentos de Jesus, os adeptos às

indulgências particularizavam o dinheiro em relação à Graça.

O dominicano Johannes Tetzel, subcomissário para a venda de indulgências na província

eclesiástica da Saxônia e que privilegiava o dinheiro em relação à penitência, defendeu,

em janeiro de 1518 em debate acadêmico realizado em Frankfurt/Oder, uma afirmação

peculiar: “Quando o dinheiro retine na caixinha, a alma salta do purgatório para o céu”.

Ele e o capítulo de sua ordem denunciaram Lutero, em Roma, como suspeito de heresia

(DREHER, 1996, p.28).

58

Lutero, após estudar o Novo Testamento e estar convicto de que a salvação não se adquire

pelos próprios esforços e méritos, mas sim pelo dom da graça de Deus, recebido pela fé, entra em

desacordo com o catolicismo romano, sendo excluído da instituição e também perseguido como

herege.

A massa religiosa dividiu-se pelo uso da hermenêutica, propiciada pelos textos bíblicos

oferecidos pela impressa tipografia. Inicia-se, dessa forma, um novo período religioso. Aquece a

comunicação escrita e a linguagem coloquial prevalece sobre o erudito. É o período da

reprodução dos livros.

Acontece uma nova chance para a propagação do evangelho a todas as nações da terra.

Entretanto, os religiosos reformadores, seguindo os moldes da instituição romana,

dividiram-se em várias outras instituições protestantes. Surgem os seguidores de Martinho Lutero

(1483-1546), de João Calvino (1509-1564), de John Wesley (1703-1791) e outros, que tentaram

se livrar das antigas amarras da ideologia institucional católica, mas não o conseguiram.

Acabaram também aderindo às normas da ab-rogada lei, nas construções de templos, na cobrança

do dízimo, no batismo de criança etc. Foi apenas uma reforma, nada de novo aconteceu para

facilitar os ensinamentos de Jesus. Permaneceu a religião, atuando por meio do relacionamento

institucional, cada qual com suas próprias normas e doutrinas.

O protesto de Lutero enfocou basicamente a venda das cartas de indulgências e o uso de

imagens de veneração. O modelo protestante eliminou a iconografia, mas consentiu nas

construções de templos, e no pagamento do dízimo que fora abolido com a lei.

As congregações dos reformadores se expandiram por vários países, valendo-se de

teólogos: o suíço Ulrich Zwingli (1484-1531), o francês João Calvino (1509-1564), o alemão

Philipp Jakob Spener (1635-1705), o alemão Friedrich Schleiermacher (1769-1834), o suíço Karl

Barth (1886-1968), até o surgimento do ecumenismo (conselho mundial das “igrejas”). Com as

várias denominações existentes, cada qual se posicionando como a verdadeira igreja de Cristo,

alicerçados do movimento ecumênico, acontece a célebre pergunta: “de qual igreja você é?” Esta

pergunta segrega, separa os membros do Corpo de Cristo e causa dissensão entre grupos.

De qual Igreja é o discípulo de Jesus se só existe uma?

Esta pergunta induz à acepção, rivalidade, emulação, impedimento, discórdia e muito

mais. Ao invés de gerar um sentimento de afeto e irmandade em Cristo, as denominações

59

religiosas, se autodenominando “igrejas” dividem e causam uma espécie de competição,

impedindo o Espírito Santo de agir e ensinar.

Estas instituições, erroneamente denominadas de igrejas, tornam-se instrumentos

ideológicos do Estado, as quais ajudam a manter a ordem social por meio de uma falsa paz.

Segundo Althusser, o Estado é uma “máquina” de repressão que permite às classes

dominantes, à burguesia e aos latifundiários assegurar a sua dominação sobre a classe operária,

para submetê-la ao processo de extorsão da mais-valia na exploração capitalista. A igreja é parte

integrante dessa máquina de repressão orquestrada pelo Estado.

O autor afirma que a ideologia religiosa assegura, diariamente, na consciência dos

indivíduos e no seu comportamento para que se sujeitem a Deus e ocupem, sem questionamento,

seus postos na divisão social-técnica do trabalho, o que lhes é designado na produção, na

exploração, na repressão, na ideologização, ou seja, a ideologia religiosa faz com que o indivíduo

seja mais atuante nas relações de produção e no que delas derivam.

Contudo, os ensinamentos deixados por Jesus, em momento algum se caracterizam por

normas institucionais religiosas, Ele não se inseriu nem pediu para alguém se inserir em alguma

denominação religiosa de seu tempo. O evangelho é o próprio Cristo, que conduz o ser humano

ao Criador, por meio da Palavra. A doutrina dos ensinamentos de Jesus não se caracteriza em

uma religião, mas uma ligação; facilmente se compreende, pela hermenêutica, que o evangelho é

o único caminho entre o humano, a remissão dos pecados e o acesso a Deus para a vida eterna e

não as instituições religiosas e suas doutrinas.

A necessidade de se filiar a uma instituição religiosa para ser um seguidor dos

ensinamentos de Jesus é uma herança cultural tradicional, iniciada com a institucionalização do

cristianismo pelo imperador Constantino e continuada após a reforma protestante.

Não consta nas Escrituras que, nos primórdios, os discípulos de Jesus perguntavam para

alguém: “de qual igreja você é? Em todos estava a consciência de que há uma única Igreja, sem

placa denominacional e destituída de templo feito por mãos humanas, a qual é o “Corpo de

Cristo” na terra, como está escrito na carta aos Colossenses (1:24): “Regozijo-me agora no que

padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu Corpo, que é a

Igreja”. Esta Igreja não faz acepção de pessoas, não olha para a aparência física, não pede

dinheiro aos fiéis, pois todos que Nela estão inseridos certamente foram lavados e remidos no

sangue de Cristo.

60

O único requisito necessário para o ingresso como membro do Corpo de Cristo é o

arrependimento dos pecados, mas a religião faz uso da verdade bíblica para enganar e lograr

todos os que não a conhecem.

O que é falso assemelha-se, quase que imperceptivelmente com o verdadeiro, sendo

necessário acautelar-se, neste caso, para aprender sobre Deus e ser direcionado somente pela

revelação da Sua Palavra.

Surpreendente se considerarmos que a ideologia religiosa se dirige aos indivíduos para

“transformá-los em sujeitos” interpelando o indivíduo Pedro para fazer dele um sujeito,

livre para obedecer ou desobedecer a este apelo, ou seja, às ordens de Deus; se ela os

chama por seu nome, reconhecendo desta forma que eles são chamados sempre/ já

enquanto sujeitos possuidores de uma identidade pessoal (a ponto de o Cristo de Pascal

dizer: “É por ti que derramei esta gota de meu sangue” (ALTHUSSER, 1985, p. 100).

Dessa maneira, faz se necessário não deixar levar-se por doutrinas denominacionais

religiosas e suas ideologias , as quais conduzem para o enriquecimento das instituições e dos

sacerdotes.

2.6 - GUTENBERG E A BÍBLIA IMPRESSA

A brutal realidade da inquisição que operou por toda Idade Média só se modificou com os

meios técnicos de impressão, ou seja, com a prensa tipográfica de Gutenberg, quando houve um

prenúncio de libertação para os ensinamentos de Jesus.

Com o advento da imprensa, o evangelho espalha-se rapidamente para fora dos muros do

clero, iniciando o grande desígnio.

Quanto ao papel, combinado com a então recente descoberta do tipo móvel, por Johannes

Gutenberg (1394-1468), por volta do ano 1440, possibilitaria conquistas jamais até então

imaginadas: golpe mortal no monopólio da Igreja Católica quanto aos textos bíblicos, o

tipo móvel permitiria a Martinho Lutero traduzir a Bíblia para o alemão e publicá-la,

desencadeando o processo do protestantismo contra o Papa, em Roma. Diversos outros

movimentos protestantes, na Inglaterra de Henrique VIII, na Suíça de Calvino, e assim por

diante, ocorreriam a partir de então, obrigando a Igreja Católica a uma forte reação,

consubstanciada nas decisões do Concílio de Trento (1545-1563), quando se fundou a

ordem dos jesuítas, ou soldados de Cristo, dispostos a restaurar o domínio católico sobre o

universo (HOHLFELDT, 2003, p.86).

Conjunto articulado de idéias, valores, opiniões, crenças, etc., que expressam e reforçam as relações que conferem

unidade a determinado grupo social (classe, partido político, seita religiosa, etc.) seja qual for o grau de consciência

que disso tenham seus portadores.

61

Johannes Gutenberg, considerado o criador do processo de impressão com tipos móveis,

pertenceu a uma família próspera, o pai e o tio trabalhavam na Casa da Moeda, aprendeu a arte da

precisão nos trabalhos em metal e, no ano de 1428, partiu para Estrasburgo, onde fez as primeiras

tentativas de imprimir com caracteres móveis.

Figura 11- Prensa de Gutenberg.

No início da década de 1450, Gutenberg iniciou a impressão da célebre Bíblia, de 42

linhas, em duas colunas. Cada letra era feita à mão, e cada página era montada juntando-se as

letras. Depois de prensada e seca, era feita a impressão no verso da página. A Bíblia tem 641

páginas, e foram produzidas cerca de 300 cópias, das quais ainda existem aproximadamente 40

cópias (GUTENBERG, 2011).

62

Figura 12 – Página da Bíblia de Gutenberg.

Com a reprodução tipográfica os ensinamentos de Jesus tiveram um prenúncio de

liberdade, mas ainda permaneceram sob o domínio das instituições religiosas, tendo sua

interpretação oferecida a preço de dízimos e ofertas entre católicos e protestantes até os dias

atuais.

Nosso próximo capítulo – Capítulo 3 - tratará da educação no Brasil, com foco no ensino

religioso e na palavra áudio-visual, como constatará o leitor.

63

3 – A EDUCAÇÃO BRASILEIRA: O ENSINO RELIGIOSO E A PALAVRA ÁUDIO-VISUAL

Segundo Arroyo, as universidades surgiram entre os árabes e depois na Europa.

A cultura árabe atinge grande altura nos séculos X, XI e XII. Primeiro em Bagdá, Bácora e

no Cairo; depois em Córdoba, Toledo e Sevilha. Suas instituições de ensino superior não

só cultivam as artes liberais; são centros de investigação científica e de alta docência; com

a Física, a Medicina, a Matemática, alternam a Filosofia e a Teologia; centros que aspiram

à universalidade do saber, de um saber, por certo, muito mais avançado, nessa época, do

que o do Ocidente (ARROYO, 1970, p.333).

O autor ainda menciona o surgimento das universidades europeias, e agrega:

Várias circunstâncias determinaram o nascimento e desenvolvimento das universidades

européias no século XIII; o desenvolvimento interno das escolas monásticas e

catedralícias, o vigoroso influxo da ciência e teologia árabes, a organização gremial da

sociedade (ARROYO, 1970, p.333).

No período em que se caracterizou a educação patrística (ciência que tem por objeto de

estudo a doutrina católica) foi que ocorreram os maiores atos de violência contra a humanidade.

À noite de mil anos da Idade Média ficou caracterizada pelo medo e pavor da inquisição. Seus

métodos brutais de tortura sentenciavam todos os opositores por toda a Europa. Tudo que não

estivesse em conformidade com a instituição católico-romana era digno de heresia e quem a

praticasse era sentenciado aos suplícios e à condenação em fogueiras.

Todos os que se posicionassem como seguidores dos ensinamentos de Jesus e não

estivessem filiados ao catolicismo romano eram perseguidos como hereges, julgados por normas

estabelecidas no manual dos inquisidores. Segundo Eymerick (1993, p.18), “Em vários lugares

do Manual os autores concedem que são mais rigorosos que qualquer outro tribunal humano. Mas

justificam: tratam dos crimes mais hediondos e terríveis, aqueles que ameaçam a salvação eterna

que são as heresias”.

Os sacerdotes católicos que chegaram na colonização do Brasil, enviados para a catequese

da contra-reforma em terras do novo mundo seguiam o Ratio Studiorium, manual contendo os

planos e métodos jesuíticos de ensino católico.

Este modelo pedagógico ficou arraigado na educação brasileira e sempre esteve se

moldando e se adaptando conforme a o governo e a constituição do país, sempre no intuito de

preservar a soberania da instituição religiosa frente à política nacional.

64

Diferente do modelo religioso institucionalizado, Jesus não demonstrou o interesse em

formar outra religião dentre as já existentes no seu tempo, nem tampouco angariar lucros

financeiros por meio de seus ensinamentos, mas oferecer gratuitamente a salvação por meio de

seu sangue, pela Graça, por meio da fé.

As castas sacerdotais, desde os tempos mais remotos, usufruem prestígio e poder junto ao

povo, usam de lisonjas e mansidão nas palavras como técnica para imporem suas doutrinas. Além

disso, associa-se à classe política dominante, conforme postula Einstein (1981, p.19).

A religião é vivida antes de tudo como angústia. Não é inventada, mas essencialmente

estruturada pela casta sacerdotal, que institui o papel de intermediário entre seres temíveis

e o povo, fundando assim sua hegemonia. Com freqüência o chefe, o monarca ou uma

classe privilegiada, de acordo com os elementos de seu poder e para salvaguardar a

soberania temporal, se arrogam as funções sacerdotais. Ou então, entre a casta política

dominante e a casta sacerdotal se estabelece uma comunidade de interesses.

Resquícios da pedagogia jesuítica ainda são encontrados mesmo dentro do Estado Laico

brasileiro, quando se impõem as festas religiosas nas escolas públicas, fazendo apologias aos

“santos” católicos no mês de junho ou decretando feriados nos dias de seus padroeiros a toda

nação brasileira.

3.1 – VISÃO HISTÓRICA: O PAPEL DO CATOLICISMO ROMANO NA EDUCAÇÃO

BRASILEIRA

Segundo o autor Dermeval Saviani, doutor em filosofia da educação, formado pela

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em seu livro História das ideias pedagógicas no

Brasil, diz que a colonização do Brasil contou com a presença de várias ordens religiosas do

catolicismo romano.

Com a chegada da caravela de Pedro Álvares Cabral ao Brasil chegou também o primeiro

grupo de religiosos da ordem dos franciscanos, os quais, juntamente com o frei Henrique de

Coimbra celebraram a primeira missa em terras brasileiras, no dia 26 de abril de 1500.

Após a Reforma protestante ter se instaurado na Europa, o Vaticano contra ataca e envia

ao Brasil, na chamada Contra-reforma, os catequistas da “Companhia de Jesus” ou “Jesuítas”

como também foram denominados. Vieram com os objetivos de ampliarem seus territórios e

implantarem seus métodos e normas religiosas nas terras do novo mundo.

65

Usaram o sistema de ensino, instaurando a pedagogia jesuítica, que é usada até hoje na

educação brasileira.

Em análise do modelo de ensino no Brasil, principalmente para o nível universitário qual

se identifica que alguns modelos europeus, tais como o jesuítico, o francês e o alemão

predominaram e ainda se fazem presentes nas universidades brasileiras até hoje

(PIMENTA, 2005, p.144).

O método de ensino jesuítico da contra-reforma é uma compilação da educação patrística

e da monástica (referente aos métodos de ensino dos mosteiros), mas especialmente a escolástica

(Doutrinas teológico-filosóficas dominantes na Idade Média, entre os séculos IX ao XVII,

caracterizadas, sobretudo pelo problema da relação entre a fé e a razão, problema que se resolve

pela dependência do pensamento filosófico, representado pela filosofia greco-romana, da teologia

cristã). Em seu percurso histórico, o catolicismo romano sempre se adaptou ao governo vigente

do país com o objetivo de preservar sua soberania, mesmo nos momentos críticos em que é

questionado.

Após o descobrimento chegaram diferentes grupos de franciscanos, beneditinos,

carmelitas, capuchinos, os quais vieram para o Brasil para atuaram no ensino e na transmissão da

fé católica, mas, nenhum grupo foi tão bem estruturado e organizado como a “Companhia de

Jesus” ou jesuítas como ficaram denominados.

Esta ordem religiosa, fundada por Inácio de Loyola em 1534 e aprovada pelo papa Paulo

III em 1540 chegou ao Brasil para difundir os ensinamentos da fé católica por meio do

ensino e pregações (ENCARTA, 1993-2001).

Os jesuítas chegaram com o apoio da Coroa portuguesa e com liberdade total para

divulgarem a religiosidade e fé católica por meio de seus métodos da contra-reforma, já que neste

período histórico a divulgação da bíblia impressa e o avanço da reforma protestante propagavam-

se por toda a Europa.

A ordem religiosa dos Jesuítas buscou implantar em seu plano de instrução um ponto de

apoio para a propagação de seu método para todas as regiões do Brasil, estabelecendo seus

ensinamentos religiosos a todos, inclusive para o sexo feminino.

A principal estratégia utilizada para a organização do ensino, tendo em vista o objetivo

de atrair os “gentios”, foi agir sobre as crianças. Para isso se mandou vir de Lisboa

meninos órfãos, para os quais foi fundado o Colégio dos Meninos de Jesus de São

66

Vicente. Pretendia-se, pela mediação dos meninos brancos, atrair os meninos índios e,

por meio deles, agir sobre seus pais, em especial os caciques, convertendo toda a tribo

para a fé católica (SAVIANI, 2010, p.43).

Impressionante é saber que semelhantes formas de atuação do modelo jesuíticas ainda

ocorrem em nosso país, mesmo diante da laicidade do governo brasileiro.

Sendo contrário às regalias concedidas ao vaticano para atuarem no Brasil e nos domínios

portugueses, Sebastião Jose de Carvalho e Melo (Marques de Pombal), agindo por meio das

idéias iluministas, no ano de 1759 contribuiu na abolição da escravatura e reorganizou o sistema

educacional dos domínios portugueses, expulsando os jesuítas, inclusive do território brasileiro.

Quando isto aconteceu já existiam vários colégios seguindo os ideais católicos da contra-

reforma, implantados no país pelos jesuítas.

A educação brasileira sempre esteve à mercê deste modelo e práticas religiosas, as quais

se transformaram e se moldaram de acordo com o momento social e político brasileiro até os dias

atuais atuando por meio da “pastoral da educação”.

Nos dias atuais, o modelo extraído dos estudos da CNBB (Conselho Nacional dos Bispos

do Brasil) dispõe sobre o perfil dos que ensinam a fé católica no país:

O desenvolvimento da sensibilidade pastoral faz parte integrante da formação do

evangelizador. A missão do evangelizador é pastoral num duplo sentido: porque é um

serviço de igreja para a educação da fé, e porque contribui, graças ao relacionamento com

as famílias, para a evangelização do meio familiar. Não basta, portanto, ao evangelizador a

competência pedagógica, o senso da educação, o amor aos irmãos, ele deve também ter a

preocupação missionária e participar de todo o esforço de evangelização da igreja local.

Tal preocupação missionária requer disposições espirituais de disponibilidade e

despojamento de mentalidades herdadas do meio de origem. (CNBB, 1976, p.263).

Da maneira como os jesuítas agiam, empenhando-se na conversão dos caciques para

catequizar toda a tribo, agora se ocupa dos chefes de Estado, contraindo acordos para facilitar sua

atuação junto à nação.

As abrangências das regras do Ratio Studiorum estão distribuídas entre 467 normas

elaboradas para o ensino (SAVIANI, 2010, p.53), dentre as quais se encontram as regras do

provincial, as regras do prefeito de estudos inferiores e as regras de professores das classes

inferiores.

Método pedagógico dos jesuítas.

67

Estas regras foram usadas em 1552 e continuam sendo adaptadas para serem usadas

mesmo diante do Estado laico brasileiro e usadas, principalmente, nas séries iniciais da educação

pública brasileira.

Se no passado, a nomenclatura era outra, a prática permanece semelhante, modificada

apenas para driblar o Estado brasileiro e sua legislação.

Estão estabelecidas como festas culturais no Brasil as comemorações dos santos e

entidades católicas, decretando feriado nacional para festejar em solenidade, segundo o

catolicismo romano, a padroeira do Brasil.

Atualmente o ensino fundamental está lentamente se desvinculando do Estado e

novamente se submetendo aos prefeitos e seus municípios, como o Ratio Studiorum previa para a

figura do prefeito, sendo assistente do reitor para auxiliá-lo na boa ordenação dos estudos.

Isto é, em muitos estados brasileiros está sendo implantado o sistema de municipalização

do ensino fundamental, retirando-se a obrigação do Governo Estadual e outorgando aos

Municípios tal encargo.

3.2 – O EVANGELHO NA MÍDIA: IDEOLOGIA E USURPAÇÃO

E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e

ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas; e disse aos que

vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda.

(JOÃO 2:15-16)

A intenção primária desta dissertação é evidenciar que o computador, por meio de um site

na internet, é um veículo facilitador para a aprendizagem dos ensinamentos de Jesus por

possibilitar a interação global entre perguntas e respostas dos estudantes. O internauta que

desejar aprender os ensinamentos de Jesus sem a verborragia que ocorre nas denominações

religiosas, basta acessar um site específico para esta finalidade, adquirir o aprendizado

interagindo entre perguntas e respostas, sem a necessidade do pagamento de dízimo ou ofertas.

Sobre a interação social, o autor Jean Piaget escreveu que: “A inteligência humana

somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais que são, em geral,

demasiadamente negligenciadas” (apud LATAILLE, 1992, p. 11).

68

A educação do século XXI caminha para o reconhecimento do cidadão pleno, ou seja,

saudável de corpo e alma, capaz de reconhecer os seus direitos e deveres perante a sociedade e

usufruir a liberdade advinda por meio do conhecimento e do saber.

Esta liberdade ainda permanece restrita, pois enquanto existir barreiras para o

conhecimento haverá uma falsa aparência de liberdade oferecida pelos opressores.

Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado

terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da

opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação?

Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo

conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela. Luta que, pela finalidade

que lhe derem os oprimidos, será um ato de amor, com o qual se oporão ao desamor

contido na violência dos opressores, até mesmo quando esta se revista da falsa

generosidade referida (FREIRE, 1975, p.32).

Para tanto, faz se necessário um olhar crítico para compreender a quem interessa que os

ensinamentos de Jesus permaneçam velados.

Necessitamos de métodos educacionais e de pedagogias que libertem das amarras da

religiosidade institucionalizada, que sejam produtoras de consciências voltadas para o amor

verdadeiro. Imbernón (2000, p.141) enfatiza que há a necessidade de uma reforma que perpasse

o pólo social:

Minha discussão sobre a questão da reforma vai por caminhos diferentes dos anteriores.

Nela adoto a posição segundo a qual a reforma (e a escolarização) é um problema de

administração social e que essa administração pretende construir (e reconstruir) a alma do

indivíduo. Na modernidade, o problema liberal da administração social é “fazer” o

indivíduo em prol da liberdade, com um significado do termo liberdade construída através

de conceitos, tais como os de automotivação, autorrealização, capacitação pessoal e voz.

Em tempos atuais, onde os pais trabalham fora e pouco tempo sobra para ensinar os

filhos, facilitar os ensinamentos de Jesus aos jovens, desvinculado de instituições religiosas e

suas ideologias contribui para a liberdade e o exercício de cidadania.

Observando a Proposta Curricular do Estado de São Paulo, em “São Paulo faz escola”,

que se posiciona num contexto repleto de significados, isenta de discriminação e em construção,

mas o tema que define a religiosidade cristã no país ainda não se fez presente. O que se apresenta

em aulas de religião é somente a apologia a determinadas instituições, que dividem e são

causadoras de intrigas e dissensões entre os alunos.

69

Os meios de massa mostram, por outras alegorias, o mesmo problema e acentuam os

fenômenos de um retorno à religiosidade. Nesse sentido, enquanto dão a impressão de agir

como termômetro que registra um aumento de temperatura, constituem, na verdade, parte

do combustível da qual a caldeira se alimenta (ECO, 1984, p.112).

Ou seja, quando existe uma efervescência na aprendizagem dos ensinamentos de Jesus,

alguma instituição religiosa está se beneficiando.

Existem acordos e leis que asseguram o ensino religioso nas escolas, mas ainda não há

uma proposta curricular que divulgue os ensinamentos de Jesus fora do contexto religioso

denominacional. Isto deixa transparecer que tais conhecimentos estão limitados as instituições

religiosas e não liberados para serem transmitidos fora deste contexto. Estaria este poder

religioso, frente ao “Estado Laico brasileiro”, ainda acima do poder do Estado?

Será que a reação religiosa contra o Estado laico no Brasil prevaleceu?

Desde as ideias pedagógicas republicanas, as quais idealizavam a educação para

transformação de indivíduos ignorantes em cidadãos esclarecidos, que a religião católica tem

usado suas estratégias pedagógicas para manter sua hegemonia no país.

Considerando a educação uma área estratégica, os católicos esmeraram-se em organizar

esse campo criando, a partir de 1928, nas diversas unidades da federação, Associações de

Professores Católicos (APCs) que vieram a ser aglutinadas na Confederação Católica

Brasileira de Educação. Com essa força organizativa, os católicos constituíram-se no

principal núcleo de idéias pedagógicas a resistir ao avanço das idéias novas, disputando,

palmo a palmo com os renovadores, herdeiros das idéias liberais laicas, a hegemonia do

campo educacional no Brasil a partir dos anos de 1930 (SAVIANI, 2010, p. 181).

Os ensinamentos de Jesus não se caracterizam por dissimilitude com as religiões cristãs

no Brasil e, sim, constituem o modelo pelo qual as denominações cristãs elaboraram seus

dogmas, estatutos e normas.

O que transparece é que, divulgar os ensinamentos de Jesus fora do contexto religioso,

desqualifica a religião institucionalizada no país, que usa os recursos do Estado e usufrui a

isenção de impostos, pelo poder ainda latente, conquistado por meio das torturas da Idade Média.

Refletir sobre as teorias educacionais brasileiras não é nada fácil, quando se está inserido

nelas. Faz-se necessário despir-se da religiosidade e de alguns pré-conceitos para visualizar

melhor seus métodos e suas consequências.

Em nosso país, a incidência do modelo pedagógico jesuítico deixa algumas interrogações

sobre as intenções de sua pedagogia; será que a instituição católica romana tem a intenção de

70

libertar por meio do conhecimento ou sua intenção é a de manter a soberania institucional

religiosa, para que a população permaneça na submissão às suas normas e seus estatutos?

A educação brasileira vivencia seus melhores momentos para a prática da liberdade, em

todos os níveis, da pré-escola ao ensino superior, comparado aos períodos históricos anteriores.

Com o advento da internet e a era da informação, na qual todos os tipos de assunto estão

disponíveis por meio dos sites de busca, esconder o conhecimento dos ensinamentos de Jesus está

ficando cada vez mais difícil. A educação para a liberdade está surgindo no espaço virtual da

internet, nas salas de bate-papo, por meio do Msn, Orkut, e-mail e outros tantos aplicativos que

favorecem a interação entre perguntas e respostas.

Essas tecnologias intelectuais favorecem: -novas formas de acesso à informação:

navegação por hiperdocumentos, caça à informação através de mecanismos de pesquisa,

knowbots ou agentes de software, exploração contextual através de mapas dinâmicos de

dados, - novos estilos de raciocínio e de conhecimento, tais como a simulação, verdadeira

industrialização da experiência do pensamento, que não advém nem da dedução lógica

nem da indução a partir da experiência. Como essas tecnologias intelectuais, sobretudo as

memórias dinâmicas, são objetivadas em documentos digitais ou programas disponíveis na

rede (ou facilmente reproduzíveis e transferíveis), podem ser compartilhadas entre

numerosos indivíduos, e aumentam, portanto, o potencial de inteligência coletiva dos

grupos humanos (LÉVY, 2000, p.157).

Portanto, o campo religioso e a divulgação dos ensinamentos de Jesus podem valer-se da

internet, propiciando um aprendizado aprofundado de tal assunto a toda população brasileira,

inclusive aos estudantes do ensino fundamental e médio por toda a nação.

3.3 – O USO DO RÁDIO E TV

Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão (MARCOS 13:31).

Diferente da linguagem verbal e escrita, o rádio e a televisão são veículos prestadores de

serviços e possibilitam induzir e persuadir, criando para seus clientes uma imagem positiva da

instituição, fazendo com que o público a considere com simpatia.

Associados às técnicas de transmissão, estes veículos impõem-se no exercício do poder e

direcionam a massa rumo às ideologias de seus produtores.

O rádio ou “tambor tribal” como foi denominado por Marshall McLuhan é um meio de

comunicação de massa explosivo. O impacto da comunicação via radiodifusão é instantâneo e

71

penetra facilmente por entre as multidões, cativando os ouvintes ao mesmo tempo em que os

colocam em uma espécie de transe letárgico.

Logo, fazendo uso deste novo recurso, centenas de emissoras, vinculadas com diversas

denominações religiosas, começaram a transmitir suas ideologias, juntamente com porções dos

ensinamentos de Jesus. Tanto a denominação católica como as demais, advindas da reforma

protestante, engajaram-se no uso deste novo veículo.

Os noticiários de jornais, rádio e televisão e os documentários cinematográficos

transmitem as informações como se fossem neutras, mera e simples descrição dos fatos

ocorridos. Mas, em verdade, essa neutralidade é apenas aparente, pois as notícias são

previamente selecionadas e interpretadas de modo a favorecer determinados pontos de

vista (GARCIA, 1985, p.11).

Com a liberdade de pesquisa e uma sucessão de avanços científicos e tecnológicos, tais

como: sinais elétricos, rádio, fac-símile, que é a transmissão elétrica de imagens, o telescópio,

culminando no surgimento da televisão. A palavra televisão significa ver à distância. Somente na

década de 1930 aconteceram as primeiras transmissões experimentais, tanto na Europa quanto

nas Américas. No Brasil, ocorreu no ano de 1950, pela emissora Tupi, canal (6) do Rio de Janeiro

e a Difusora, canal (3) em São Paulo.

Logo surgiram os evangelizadores da televisão e suas programações. Dentre eles podemos

destacar Benny Himn, Morris Cerullo, Keneth Hagin, Jimmy Swaggart e Billy Graham que,

transmitindo dos Estados Unidos, com alcance mundial, alcançaram milhões de telespectadores.

Tanto pelo rádio como na TV os assuntos abordados ficam sem questionamento, fato que

dificulta o correto aprendizado. A interação por meio de perguntas e respostas é uma maneira

prática de sanar as dúvidas, removendo os obstáculos para o correto entendimento dos assuntos

abordados, os quais não acontecem durante as transmissões radiofônicas ou televisivas.

As denominações religiosas e seus eloqüentes pregadores fazem uso do rádio e da TV

para angariarem dízimos dos ouvintes, algo que coloca impedimentos aos ensinamentos de Jesus.

Ao repristinar o dízimo, trazendo-o da lei para a graça, seria necessário para o seguidor dos

ensinamentos de Jesus praticar também a circuncisão, guardar o sábado e, supostamente, obter

permissão para viver maritalmente com mais de uma mulher, como estava predito na lei . Por

Salomão viveu no período da lei e com a permissão de Deus teve muitas mulheres, as quais adoravam deuses estranhos (I Reis

11:3): E tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração.

72

que somente o dízimo como parte da lei ultrapassa séculos?

Seria o dízimo, recolhido dos fiéis, sustentáculo para o marketing de cada entidade

religiosa?

O rádio e a TV assim também contribuem para o comércio dos ensinamentos de Jesus,

trabalhando em prol do Estado pelos empresários da fé.

Mesmo após um período de resistência aos programas radiofônicos, os ingleses e os

americanos acabaram aderindo ao fascínio e envolvimento das suas mensagens, conforme

comenta McLuhan (974, p.334): “As culturas européias, mais terra-a-terra e menos visuais, não

ficaram imunes ao rádio. A magia tribal ainda não havia desaparecido nelas e a antiga trama do

parentesco voltou a ressoar de novo com as notas do fascismo”.

Veiculado por mercenários, o rádio torna-se ferramenta de transmissão da ideologia

religiosa para a qual trabalha, conduzindo a massa religiosa que desconhece as verdades bíblicas

associarem à suas instituições. Assim, Deus continua sendo materializado e vendido como

produto, direta ou indiretamente pelos programas radiofônicos.

Segundo GARCIA (1985), as propagandas religiosas interferem nas opiniões das pessoas

sem que elas se apercebam disso. Desse modo, são levadas a agir de uma ou de outra forma que

lhes é imposta, mas que parece por elas escolhidas livremente.

Assim como as pregações de um sacerdote católico ou de um evangélico são mensagens

inquestionáveis pelo receptor no momento da transmissão, no altar ou no púlpito, tal qual é o

rádio e a TV no esclarecimento dos ensinamentos de Jesus. O receptor age passivamente sem

perguntas ou questionamentos. A mistura dos meios caracteriza uma ação morna, cumprindo o

objetivo sem oferecer a possibilidade de levantar questionamentos e, mesmo se fosse possível, o

ouvinte não o faria publicamente e no momento ideal, temendo represália por parte dos fiéis e o

constrangimento diante da eloqüência do sacerdote.

Por não oferecer recursos de interação entre o emissor e o receptor, o rádio e a TV não

divulgam os ensinamentos de Jesus da forma que por Ele foi proposta, mas divulgam em favor

das instituições e placas denominacionais as quais pertencem.

Os show-men da fé agem com eloquência, expressa-se com facilidade e vendem o seu

produto, o que é aceito pelo consumidor sem nota fiscal e sem nenhum desconto. O rádio e a TV,

como meios tecnológicos, ficaram submetidos às ideologias religiosas de tal forma que a elas se

renderam.

73

Quase todas as tecnologias e entretenimentos que se seguiram a Gutenberg não tem sido

meios frios, mas quentes; fragmentários, e não profundos; orientados no sentido do

consumo e não da produção. Muito poucas são as áreas de relações já estabelecidas – lar,

igreja, escola, mercado – que não tenham sido profundamente afetadas em seu padrão e

em sua tessitura ((McLUHAN, 1974. p.351).

O altar, o púlpito, a imprensa tipográfica, o rádio e a televisão são veículos que

conduziram os ensinamentos de Jesus facilitando para que se ampliassem novas instituições

religiosas, mas não são instrumentos facilitadores quanto à interatividade e o aprendizado entre

emissor/receptor. Estes veículos transmitem pequenas porções dos ensinamentos de Jesus em

troca de dízimo e contribuições financeiras dos fiéis.

As técnicas de retórica usadas pelas instituições religiosas nos altares e púlpitos foram se

adaptando em prol do lucro, utilizadas também nas programações radiofônicas e televisivas como

recursos de convencimento e persuasão.

De modo significativo, foi com a era do rádio que o mundo acadêmico começou a

reconhecer a importância da comunicação oral na Grécia antiga e na Idade Média. O início

da idade da televisão, na década de 1950, deu surgimento à comunicação visual e

estimulou a emergência de uma teoria interdisciplinar da mídia (BRIGGS e BURKE, p.11,

2006).

Na atualidade, o rádio e a TV auxiliam a religiosidade institucionalizada, conduzindo suas

ideologias e direcionando a massa religiosa para os mais variados fins, inclusive para o comércio

gospel.

Os ensinamentos de Jesus e sua gratuidade foram apropriados pelas religiões e

comercializados como produto cultural por meio do rádio e TV, consumido pela massa religiosa

que não alcançaram o entendimento da verdade bíblica e continuam submetidos às suas normas e

doutrinas.

Deus enviou a sua Palavra para libertar, como está escrito no Evangelho de João (8:31-32)

que diz: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; e

conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. No entanto, os religiosos usam pequenas

porções dos ensinamentos de Jesus para aprisionarem os fieis de corações quebrantados, que os

admiram e respeitam como verdadeiros mestres espirituais.

Os dirigentes das instituições religiosas, sustentados com o dinheiro dos fiéis deixam de

trabalharem em serviços seculares para viverem dos ensinamentos de Jesus, como se o evangelho

fosse fonte de renda material para alguém. Em João (6:29) está escrito: “Jesus respondeu, e disse-

74

lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou”; mas pode alguém dizer: Ele

ainda estava na prática da lei quando disse isto, pois ainda estava intacto o véu do Santo dos

Santos. Muito bem, isto é uma verdade, mas Paulo percebeu a diferença entre a lei e a Graça e

não foi contra a lei, para não ser contra Deus, pois a lei veio por Deus, e disse na primeira carta

aos Coríntios (9:12): “Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais

justamente, nós? Mas nós “não” usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos

impedimento algum ao evangelho de Cristo”. Nós não usamos deste direito. Direito por ser a lei

entregue por Deus, mas não deverá ser usada na Graça, a qual ocorre após a morte de Jesus,

porque a Graça é uma dádiva, de outra forma não seria Graça.

Se no período da lei, na religião institucionalizada, os sacerdotes tinham o direito de viver

do dízimo, na Graça, todos os que praticam os ensinamentos de Jesus é denominado de sacerdote

real de Deus (1 PEDRO 2:9), tendo que trabalhar para conseguir o seu sustento material.

O dízimo foi pago por Abraão a Melquisedeque antes da lei, como imposto pelos despojos

da cidade conquistada. Na lei foi estipulado o dízimo como forma de manutenção do templo e

dos sacerdotes que ministravam no templo, mas, na Nova Aliança, no Novo Testamento é

diferente. Todos que se voltam a Deus, por meio dos ensinamentos de Jesus, arrependendo-se dos

pecados, que é a única forma de conversão, são recebidos como um sacerdote real para Deus. O

sustento do sacerdote real é feito pelo próprio Deus, não com coisas perecíveis deste mundo, mas

com os galardões incorruptíveis e eternos do Criador após a ressurreição.

Na Nova Aliança Jesus instrui que todos os praticantes de seus ensinamentos têm que

trabalhar para o sustento material, em trabalho secular, como Paulo trabalhava e anunciava o

evangelho de Cristo, escrito na primeira carta aos Tessalonicenses (2:9) que postula: “Porque

bem vos lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga; pois, trabalhando noite e dia, para não

sermos pesados a nenhum de vós, vos pregamos o evangelho de Deus”.

O dispositivo mais usado pelos mercenários nos meios de comunicação é este: “digno é o

obreiro de seu salário”. Se Paulo recebeu salário, logo, é permissível a todos que ensinam o

Evangelho. Mas não é assim, Paulo recebeu salário para ajudar outro grupo de cristãos que

estavam passando necessidades materiais e não foi para o seu próprio sustento. Paulo sabia

perfeitamente que o seu pagamento (galardão) não poderia vir de homens e sim de Deus, como

está escrito na carta aos Colossenses (3:24): “Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da

herança, porque a Cristo, o Senhor, servis”.

75

Quanto ao salário que Paulo recebeu foi repassado a outro grupo de discípulos que

estavam passando por necessidades, como está escrito na segunda carta aos Coríntios (11:8) que

diz: “Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário; e quando estava presente

convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado”. Este versículo esclarece que o salário que

Paulo recebeu foi para suprir as necessidades de um grupo de cristãos e não para seu próprio

sustento.

Esta mensagem relata o sofrimento de Paulo, trabalhando para suprir suas próprias

necessidades, para não receber pagamento em troca de anunciar o Evangelho da Graça de Deus.

Paulo ainda coloca-se na posição de pai na fé para ensinar sobre o dinheiro, quando declara que o

pai não pede sustento ao filho e sim o filho ao pai, escrito na segunda carta aos Coríntios (12:14):

“Eis aqui estou pronto para pela terceira vez ir ter convosco, e não vos serei pesado, pois que não

busco o que é vosso, mas sim a vós: porque não devem os filhos entesourar para os pais, mas os

pais para os filhos”.

Paulo se dedicou a instruí-los a ponto de padecer necessidades. O termo “quem prega o

Evangelho, que viva do Evangelho” não serve para justificar o Evangelho como fonte de lucros

financeiros ou trabalho remunerado, e sim, viver das bênçãos espirituais que o Evangelho produz

na vida das pessoas que o pratica e também a vida eterna.

O Evangelho refere-se à palavra “pastores” no plural, para indicar as pessoas que

conduzem outras, das trevas para a Luz, que é Jesus, como está escrito na carta aos Hebreus

(13:7): “Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais

imitai, atentando para a sua maneira de viver”. Se todos os praticantes dos ensinamentos de Jesus

tiverem que imitar a vida dos sacerdotes, então todos terão que deixar do trabalho secular. Será

esta à vontade de Deus? Pois o ide de Jesus não se refere a alguns, mas a todos que o receberam

a Jesus como Senhor e Salvador.

Ao chegar à Luz, por meio do arrependimento dos pecados e do batismo nas águas, o

seguidor dos ensinamentos de Jesus recebe o bom Pastor (Jesus, o Verbo) e o Espírito Santo, o

qual ensina e faz lembrar dos ensinamentos de Jesus, como está escrito no Evangelho de João

(14:26): “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos

ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”.

Na Nova Aliança Deus não pede para prová-lo, fazer prova com Deus ou pedir

prosperidade financeira, como é ensinado nas instituições religiosas e nas mídias rádio e TV foi

76

permitido para a época da lei e não da Graça.

Somente no período da lei Deus pediu para prová-lo, antes de rasgar o véu do templo e

iniciar a Nova Aliança.

Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e

depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as

janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente

para a recolherdes (MALAQUIAS 3:10).

Graça é favor imerecido e não necessita de prova alguma. Portanto, provar Deus em

assunto concernente à Antiga Aliança é desprezar o sofrimento e morte de seu Filho.

Enfatizar os bens matérias acima da salvação é desprezar os ensinamentos de Jesus, servir

e adorar a Mamom e não a Deus. Não podeis servir a dois senhores, como está escrito em Mateus

(6:24): “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se

dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”.

Paulo disse que o deus deste século cegou o entendimento de muitos (2 CORINTIOS 4:3)

para que não resplandeçam a luz do evangelho, buscam suas alegrias nas coisas deste mundo,

onde a traça e a ferrugem tudo consome. Quem almeja riquezas nesta vida cai em laço do

maligno e fica aprisionado pelos bens materiais. Os que usam os recursos de seu trabalho secular

para divulgar os ensinamentos de Jesus terão a recompensa do galardão de Deus e não dos

homens. Os ensinamentos de Jesus revelam que para fazer discípulo não precisa construir

templos, pois, onde estiver dois ou três reunidos em Seu nome Ele se faz presente.

Tanto a denominação religiosa católica romana, quanto às demais denominações advindas

da reforma protestante, os evangélicos tradicionais, pentecostais ou neopentecostais estão

edificadas sobre uma estrutura humana que visa prestígio e poder por meio do dinheiro. Os seus

dirigentes ensinam por dinheiro, cuidando que a piedade seja causa de ganho financeiro. Quanto

à classe sacerdotal destes religiosos, contenciosos está escrito na primeira carta a Timóteo (2:5):

“Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a

piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais”.

Quanto à remuneração dos religiosos Alberto Antoniazzi tece as seguintes considerações:

Quanto ao sistema de remuneração de seus pastores, a igreja faz mistério. Temos a impressão de

que o sistema de remuneração não é uniforme e que a distribuição das receitas é bastante desigual,

criando uma “aristocracia” e um “clero menor”. Nada de novo aí na história das religiões. Mas, ao

77

contrário de situações parecidas (o judaísmo neotestamentário, a igreja católica em muitas épocas),

(ANTONIAZZI et. al., 1994, p. 145).

O dispositivo mais usado pelos mercenários é o não reconhecimento de que o Novo

Testamento só acontece após a morte de Jesus. Acrescentam o conveniente da lei na Graça, no

intuito de adquirir os benefícios financeiros da lei.

Ao contrário de possuir um templo e pedir dinheiro aos fiéis, os ensinamentos de Jesus e

sua Palavra deixam claro que, enquanto Jesus viveu não contrariou o dízimo, pois este era para a

manutenção do templo e sustento dos sacerdotes na lei, como ordenança divina, repassada por

Moisés.

Diferente da lei Mosaica, o período da Graça é o que acontece após a morte de Jesus e o

verter de seu sangue no calvário. O ensino neotestamentário se refere ao templo, como o corpo de

quem recebe o Espírito Santo, e Igreja, a reunião de todos estes, estando numa casa, numa cidade,

num país em qualquer lugar do mundo.

Pode até alguém dizer que necessita de um local para congregar, onde possa compartilhar

do pão e do vinho, relembrando a morte de Jesus até que venha, mas Ele não especificou lugar,

reuniu-se com seus discípulos num cenáculo, onde comeram a ceia, antes da crucificação.

O Novo Testamento refere-se ao trabalho secular a todos os aptos, mas, principalmente ao

que ministra a Palavra, ao que recebeu o dom para ministrar, que tenha uma profissão secular e

tenha o seu sustento do esforço de seu trabalho, seguindo o modelo de Paulo, o qual deixou

exemplo de boas obras.

3.4– A RELIGIOSIDADE INSTITUCIONALIZADA

Sobre a religiosidade institucionalizada no Brasil, a mais influente entre os burgueses e

latifundiários, segundo a linha de raciocínio de Althusser (1985), é a católica apostólica romana,

a qual firmou “acordos religiosos” por meio do presidente Luis Inácio Lula da Silva, junto ao

Governo “Laico” brasileiro.

Conforme citado anteriormente, o acordo jurídico entre o Governo Federal e a igreja

No período da Lei, o povo israelita recebeu a incumbência de sustentar os sacerdotes que cuidavam do templo, como se nota

em Malaquias: Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim

nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não

haja lugar suficiente para a recolherdes (MALAQUIAS 3:10).

78

católica apostólica romana gerou a chamada “Lei Geral das Religiões”, projeto de Lei, nº 5598 de

2009, que no seu Art. 5º preconiza que:

O patrimônio histórico, artístico e cultural, material e imaterial das Instituições Religiosas

reconhecidas pela República Federativa do Brasil, assim como os documentos custodiados

nos seus arquivos e bibliotecas, constitui parte relevante do patrimônio cultural brasileiro,

e continuarão a cooperar para salvaguardar, valorizar e promover a fruição dos bens,

móveis e imóveis, de propriedade das instituições religiosas que sejam considerados pelo

Brasil como parte de seu patrimônio cultural e artístico.

Este acordo entre o Brasil e o Vaticano prevê também a isenção fiscal e a imunidade das

instituições religiosas perante as leis trabalhistas. Em análise sobre o assunto, Hélio

Schwartsman, da equipe de articulista da Folha de S.Paulo comenta:

Como a Concordata, a Lei Geral das Religiões foi redigida de forma esperta.

Formalmente, não faz muito mais que reafirmar direitos que a Carta e a legislação

ordinária já conferem aos cultos. Na prática, porém, é provável que aquele pouquinho que

se avança acabe fazendo grande diferença. Um exemplo são os artigos que tratam do

patrimônio das instituições religiosas. Há quem afirme que a redação dada abre as portas

para que o poder público subvencione a preservação dessas propriedades.

Ainda sobre o acordo assinado pelo presidente Lula e o Vaticano em 2008, o qual

estipula a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas, a autora Fischmann diz:

É importante ressaltar que o documento assinado pelo presidente da República prevê

vários privilégios para a Igreja Católica: benefícios adicionais em termos de verbas

públicas e ações com impacto sobre a cidadania, como a supressão de direitos trabalhistas

para sacerdotes ou religiosos católicos, e a inclusão de espaços para templos católicos em

planejamentos urbanos. Nesta entrevista, nos interessa o artigo sobre a obrigatoriedade do

ensino religioso católico e de outras confissões religiosas, como está no texto. Mesmo

fazendo menção a outras crenças, o acordo manifesta uma clara preferência por uma

religião, o que obriga as escolas a adotar uma determinada confissão, e isso é

inconstitucional. O Ministério das Relações Exteriores defende a iniciativa dizendo que

não há problema, já que ela apenas reúne aquilo que já existe. Mas isso não é verdade.

Roseli Fichmann declara ainda que a população brasileira não pode aceitar gentilmente

acordos com instituições que no passado causaram danos irreparáveis a inúmeras pessoas.

Os patrimônios adquiridos pela instituição católica romana em nosso país conta com

terras, creches, editoras, colégios, universidades, que geram rendas suficiente para arcar com as

SCHWARTSMAN, H. Está na fila a Lei Geral das Religiões. Folha de S. Paulo,A9, 8 de outubro de 2009.

79

despesas de restauro em seus templos sem precisar do dinheiro público, como vem sendo feito

após ter sido sancionado pelo Ex-Presidente Lula, por meio do acordo entre Brasil e Vaticano.

Somente para a recuperação da catedral de Brasília foram investidos um milhão de reais

(LUZ, 2010), e para os templos deteriorados pelo restante do país, quanto custará aos cofres

públicos?

Esta instituição política-religiosa usa todos os meios e recursos para enfraquecer o

“Estado Laico brasileiro” e poder agir livremente no país como agiu no passado.

Na Contra-Reforma, esta denominação estabeleceu normas para superar todos os

inconvenientes causados pelos reformadores e preservar a imagem da instituição em terras

distantes. Criou-se a congregação do Index, lista dos livros proibidos para os católicos,

determinados pelo Concílio de Trento, Itália, em 1545.

Sabe-se que a Reforma protestante aconteceu por acúmulos de indignações populares

contra a autoridade máxima da instituição, relacionada com a inquisição e a venda de

indulgências. A pedagogia jesuítica foi instalada como modelo educacional no Brasil, entre o

ensino primário, secundário e superior, preservando assim a ideologia institucional e não

esclarecendo e nem libertando por meio do conhecimento dos ensinamentos de Jesus, já que a

bíblia se encontrava na lista dos livros proibidos desde o ano 1229. Somente este fato já seria

suficiente para constatar que os métodos de ensino católico não são facilitadores para o

aprendizado dos ensinamentos de Jesus.

O Concílio da Igreja, reunido no ano 1229, inclui a bíblia no índice dos livros proibidos.

Milhares de exemplares da Santa Escritura foram incinerados em todo o mundo pela igreja

romana. Ainda hoje, onde o catolicismo romano domina ocorre isto (LEONEL, 1998,

p.23).

O modelo de ensino Jesuítico, gerado nos molde da escolástica, identifica e caracteriza o

professor como um sacerdote que transmite conhecimentos teológicos e filosóficos dominantes

da Idade Média ao século XVII.

Para construir o método de ensino, os jesuítas tomaram como referência o método

escolástico, existente desde o século XII, e o modus parisiensis, como era chamado o

método em vigor na Universidade de Paris, local onde Inácio de Loyola e os demais

jesuítas fundadores da Companhia de Jesus realizaram seus estudos (PIMENTA, 2005,

p.145).

80

Não se pode esquecer de que este período na França foi de extremo pavor e medo. A

justiça secular, que agia sobre ordens diretas do clero, ainda praticava o suplício dos condenados,

conforme se verifica na passagem abaixo transcrita:

Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757, a pedir perdão publicamente diante da

porta principal da igreja de Paris [aonde devia ser] levado e acompanhado numa carroça,

nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas libras; [em seguida], na dita

carroça, na praça de Greve, e sobre um patíbulo que aí será erguido, atenazado nos

mamilos, braços,coxas e barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com que

cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre, e as partes em que será

atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e enxofre

derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado e desmembrado por quatro

cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas

lançadas ao vento (FOUCAULT, 1988, P.11).

Tanto a instituição católica como as demais instituições advindas da reforma, as quais se

autodenominam de “igrejas cristãs” são instrumentos ideológicos do Estado. São dispositivos de

controle que colaboram juntamente com o departamento de segurança pública, preservando a

ordem social por meio de normas eclesiásticas; não conduzem ao aprendizado dos ensinamentos

de Jesus da forma bíblica e sim para o cumprimento as normas estabelecidas em seus concílios.

Como é possível para um país em desenvolvimento, intitulado como “Laico” sustentar um

modelo pedagógico inspirado num período em que se praticavam tais atos ao ser humano?

Ainda, segundo o mesmo raciocínio, o autor relata que as funções da política e da escola

também servem para vigiar e punir.

É possível que a guerra como estratégia seja a continuação da política. Mas não se deve

esquecer que a “política” foi concebida como a continuação senão exata e diretamente da

guerra, pelo menos do modelo militar como meio fundamental para prevenir o distúrbio

civil (p.151). O tratamento dos escolares deve ser feito da mesma maneira; poucas

palavras, nenhuma explicação, no máximo um silêncio total que só seria interrompido por

sinal, sinos, palmas, gestos, simples olhar do mestre, ou ainda aquele pequeno aparelho de

madeira que os Irmãos das Escolas Cristãs usavam; era chamado por excelência o “Sinal”

e devia significar em sua brevidade maquinal ao mesmo tempo a técnica do comando e a

moral da obediência (FOUCAULT, 1988, p.149).

Certamente que o povo brasileiro gostaria de resolver todos os problemas relacionados ao

ensino, a começar por implantar métodos educacionais que sirvam e acompanhem o

desenvolvimento da humanidade, que sejam facilitadores para a aprendizagem e ao bem comum

da nação. Não podemos mais suportar as imposições religiosas, catastróficas e retrógradas que

81

impedem o desenvolvimento da nação, por amparar em seu hall de membros pessoas ignorantes

quanto as suas ações e práticas políticas.

Até as escolas são usadas pelas religiões para divulgarem suas ideologias mercantilistas,

incapazes de conter a violência e o desafeto; para estas instituições é inconveniente ensinar sobre

amor e afeição, melhor é mostrar o crime e a guerra, evitando assim o questionamento de seus

atos.

Pesquisadores franceses vêm se dedicando ao estudo da violência nas escolas e

esclarecem que os atos de incivilidades referem-se aos

Delitos contra objetos e propriedades (quebra de porta e vidraças, danificações de

instalações). Intimidações físicas (empurrões, escarros) e verbais (injúrias, xingamentos e

ameaças); descuido com asseio das áreas coletivas (banheiros). Ostentação de símbolos de

violência, adoção de atitudes destinadas a provocar medo (poder de armas, posturas

sexistas) e alguns atos ilícitos, como o porte e consumo de drogas. (ABRAMOVAY,

2003, p. 23 apud DÛPAQUIER, 1999).

Entendendo que entre as disputas e pelejas religiosas das instituições que se dizem cristãs,

quem perde é o povo, os ensinamentos de Jesus sobre amor ao próximo e um correto

procedimentos de vida foram desprezados. As intenções das instituições religiosas são outras,

muito longe da requerida espiritualidade, necessária para produzir no povo a paz de espírito.

Falam de direitos humanos, mas não exercitam a caridade.

O professor da atualidade, que pretende estar no exercício da sua função de “ensinar e

aprender” necessita não somente compreender e dominar a sua disciplina, mas saber lidar com a

indisciplina e a interdisciplinaridade, ou ainda, tratar a indisciplina como uma nova disciplina. Os

alunos da atualidade sejam de escolas públicas ou privadas, estão imbuídos de uma tendência à

violência e à indisciplina que, ao menor ato de provocação, a aula transforma-se em um “campo

de batalha”.

No texto que se intitula “Saber se relacionar é também questão de disciplina, competência

e habilidade” de autoria de Lino de Macedo, publicado na edição especial do caderno do gestor

de 2010 afirma que: “O resultado na prática é, de um lado, indisciplina, falta de respeito,

violência, incapacidade ou desinteresse para aprender tornou-se hoje um dos problemas mais

graves de gestão de classe e da escola”.

Macedo segue comentando o assunto sobre a indisciplina e propõe uma nova visão sobre

a atitude do professor e a equipe de gestores:

82

Cuidar dos problemas de indisciplina e falta de respeito com a mesma atenção que se

dedica ao ensino dos conteúdos escolares é, pois, fundamental na escola de hoje, já que,

felizmente, não se pode mais contar com os recursos da escola de “ontem”. Naquela escola

havia também esses problemas, mas se recorria a práticas (expulsão, castigos físicos,

isolamento), às quais não se deve ou se pode apelar. Além disso, tratava-se de uma escola

para “poucos”, para os escolhidos do sistema por suas qualidades diferenciadas

(inteligência, poder econômico ou político, escolha religiosa ou condição de gênero). Na

escola atual, obrigatórias e públicas para todas as crianças e jovens, tais problemas são

muito mais numerosos e requerem habilidades de gestão, não apenas para os professores

em sala de aula, mas para todos aqueles responsáveis por esta instituição (MACEDO,

2010, p.70)

Cuidar da indisciplina como uma nova disciplina. Talvez seja esta a necessária disciplina

do amor ao próximo, encontrada nos ensinamentos de Jesus, de monopólio ainda exclusivo da

religião. Por que os ensinamentos de Jesus, interpretados pela hermenêutica e a exegese ainda

não foram disponibilizados como parâmetros para o ensino religioso, já que este é uma realidade

amparada na lei de nosso país?

É preciso negar o fracasso e as teorias antigas que não deram certo no sistema

educacional.

Quando estudamos de perto as desigualdades diante da doença ou da morte, a justiça ou o

amor, percebemos que o papel do destino ou do acaso não é assim tão grande, que as

desigualdades aparentemente mais biológicas ou genéticas estão enraizadas nas

desigualdades sociais (PERRENOUD, 2001, p.17).

Nos países africanos, onde a população também se encontra submetida às pedagogias

católica romana, uma das causas do fracasso escolar é a seguinte:

Numa situação em que era proibido questionar sobre a origem das coisas, o futuro

professor apenas ouvia. Limitava-se apenas a acumular o saber despejado em logorréia do

orador, que cobrava tudo quanto dizia, no dia de avaliação. O futuro professor era como se

fosse um receptáculo, onde se despeja uma quantidade de objetos e os tiramos, algum

tempo depois, sem que houvesse a variação da quantidade, nem da qualidade de objetos

depositados. O receptáculo não elabora. Apenas despeja o mesmo conteúdo que lhe fora

depositado. O ensino missionário era extremamente isso. O futuro professor era levado a

decorar os conteúdos, sem entender o significado repetia, na sua relação com o aluno, o

método através do qual também fora ensinado (SAUL, 2000, p.202).

O local de aprendizado deverá estar isento de situações que favoreçam outro sistema

ideológico além do aprender e ensinar. Quando a autora Roseli Fichimann declara que escola

pública não é lugar de religião, certamente é para eliminar o sistema que gera a desigualdade e a

disputa por interesses nos lugares públicos.

83

Ser partidário desta ou daquela religião não é sinônimo de se estar com Deus; defender

esta instituição religiosa por ser a mais antiga ou a outra por ter algum outro mérito é consentir

que as rivalidades e intrigas façam parte do ensino no Brasil e que continue agindo um modelo

pedagógico ultrapassado em nosso país, o qual não contribui em prol a paz e a melhoria dos

alunos.

Lembrando que Jesus não deixou esta ou aquela denominação religiosa a ser seguida, nem

deu para alguém a sua Igreja. Portanto, para usufruir os benefícios de Deus, os quais podem sanar

os problemas de indisciplina e falta de respeito no ambiente escolar é necessário inovar e se

libertar. “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (JOÃO 8:32).

3.5 – A EVANGELIZAÇÃO PELO RÁDIO E TV

A tradição culturológica de estudos da cultura de massa mostra que a cultura religiosa foi

contaminada pela cultura de massa, a qual se integrou em culturas já existentes e se fundiu a ela,

tornando a religiosidade um produto capitalista da contemporaneidade, oferecido como tantos

outros produtos pela mídia radiofônica e televisiva.

[...] a cultura de massa é uma cultura: ela constitui um corpo de símbolos, mitos e imagens

concernentes à vida prática e à vida imaginária, um sistema de projeções e de

identificações específicas. Ela se acrescenta, à cultura nacional, à cultura humanística, à

cultura religiosa, e entra em concordância com estas culturas (MORIN, 1967, p.18).

Diferentes da oralidade e a escrita, o rádio e a TV são veículos prestadores de serviço e

possibilitam induzir, criando para seus clientes uma imagem positiva da instituição, para que o

público a considere com simpatia.

O rádio e a TV como meios tecnológicos ficaram submetidos às ideologias religiosas de

tal forma que a elas se renderam. Muitas religiões já possuem a sua própria emissora, diminuindo

os gastos e obtendo maiores lucros.

A Constituição Federal estabelece uma separação entre o Estado e as religiões, mas estas

usam até mesmo as emissoras que compõem a empresa estatal, afirma Luz (2010) em seu artigo

denominado “A ambição do latifúndio religioso”. Este autor cita a Constituição da República

Federativa do Brasil, no Capítulo I, Artigo 19 que estabelece o seguinte:

84

É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: Estabelecer cultos

religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com

eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da

lei, a colaboração de interesse público.

Ainda segundo Luz (2010), a TV Brasil, sendo um patrimônio da União, exibe o

programa “Reencontro”, produzido por evangélicos, aos sábados e transmite a “Santa Missa e

Palavras de Vida”, da igreja católica, aos domingos. Também cita outro patrimônio da União, a

rádio Nacional FM de Brasília, que transmite a missa católica aos domingos.

Pondera ainda, o mesmo autor, que não existem dados precisos sobre as emissoras de

rádio e TV que estão sob o poder dos religiosos e que o Ministério das Comunicações não dispõe

destas informações com precisão. Alega que as diversas denominações religiosas nem sempre

revelam seu credo, quando solicitam concessões. Menciona o exemplo da emissora instalada em

Petrolina, que juridicamente se apresenta como “Fundação Emissora Rural a Voz do São

Francisco”. O nome não diz nada, mas, inaugurada em 28/10/1962, faz parte do latifúndio

nacional da igreja católica e integra o imenso esquema de poder político que esta denominação

exerce por todo semi-árido nordestino.

Os religiosos, por meio do rádio e TV, materializaram Deus em produto de consumo

rentável e não transmitiram os ensinamentos de Jesus para a libertação do povo.

Segundo Paulo Freire, o direito à palavra, o questionamento e o aprendizado são direitos

do cidadão, pois agem como ferramentas na construção da cidadania.

Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão.

Mas, se dizer a palavra verdadeira, que é trabalho, que é práxis, é transformar o mundo,

dizer a palavra não é privilégio de alguns homens, mas direito de todos os homens.

Precisamente por isto, ninguém pode dizer a palavra verdadeira sozinho, ou dizê-la para os

outros, num ato de prescrição, com o qual rouba a palavra aos demais (FREIRE, 1975,

p.92).

A TV, como veículo de comunicação não oferece a possibilidade de interação, pois

submete o receptor a uma total absorção (visual e auditiva) do produto oferecido, eliminando

qualquer possibilidade de questionamento, não permite diretamente o exercício da crítica,

envolve e manipula de forma diferenciada.

Exerce seu poder por meio do imediatismo sígnico e apodera-se da atenção do

telespectador por meio da visão e da audição, enviando as mensagens diretamente ao córtex

cerebral. Segundo L. Althusser (1985), os meios de comunicação e a propaganda política

85

comandam a classe trabalhadora (operária) e a induzem a se submeter, produzir e consumir os

produtos oferecidos pelos detentores do poder.

A seguir, veremos como procede a educação brasileira na era da internet e da

interatividade.

86

4 – A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA ERA DA INTERNET E DA INTERATIVIDADE

A capacidade de interação por meio da internet se tornou algo inevitável, as inovações em

equipamentos tecnológicos e a computação estão cada vez mais capacitadas para decodificar

linguagens visuais e auditivas, traduzir, receber e enviar textos em vários formatos. Isto causou

uma revolução no ambiente físico, o modelo de sala de aula com giz e lousa como local de

aprendizado se tornaram ultrapassado e não causa mais interesse nos alunos.

Atualmente, as informações estão interligadas por redes, ou seja, por conjuntos de nós

interligados formando um imenso espaço virtual de informações, impulsionadas pela internet,

onde o internauta pode localizar as informações desejadas em segundos.

Este novo meio de comunicação inovador permite a interação entre pessoas em escala

global e em tempo muito reduzido, algo como nunca houve na história da humanidade. Não

participar deste sistema é o mesmo que impedir o conhecimento e negar a possibilidade do

avanço tecnológico, permanecer ao método peripatético e a lousa para transferência de

informações.

Atualmente, as principais atividades econômicas, sociais, políticas e culturais de todo o

planeta estão a estruturar-se através da internet e de outras redes informáticas. De fato, a

exclusão destas redes é uma das formas de exclusão mais grave que se pode sofrer na

nossa economia e na nossa cultura (CASTELLS, 2004, p.17).

Segundo o mesmo autor (CASTELLS, 2004), a internet foi desenhada premeditadamente

como uma tecnologia de comunicação livre, por uma série de razões históricas e culturais.

A educação brasileira está se adaptando a esta nova tecnologia, montando salas de

informática na rede pública de ensino, capacitando professores para o acompanhamento em

todos os níveis educacionais para oferecer uma educação de qualidade.

4.1 – A EDUCAÇÃO BRASILEIRA E O ENSINO RELIGIOSO NA ATUALIDADE

A população brasileira, usufruindo a laicidade da nação, não pode mais aceitar os métodos

pedagógicos ultrapassados ou firmar acordos com instituições religiosas para direcionarem a

educação no país, instituições que no passado causaram danos irreparáveis à humanidade. Sobre

este acordo educacional do governo brasileiro com o vaticano, Roseli Fichamann declara, numa

entrevista:

87

O acordo assinado pelo presidente Lula com o Vaticano em 2008, que estipula a

obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas, foi aprovado pelo senado. E

agora?

FISCHMANN responde: “É importante ressaltar que o documento assinado pelo

presidente da República prevê vários privilégios para a igreja católica: benefícios

adicionais em termos de verbas públicas e ações com impacto sobre a cidadania, como a

supressão de direitos trabalhistas para sacerdotes ou religiosos católicos, e a inclusão de

espaços para templos católicos em planejamentos urbanos. Nesta entrevista, nos interessa

o artigo sobre a obrigatoriedade do ensino religioso católico e de outras confissões

religiosas, como está no texto. Mesmo fazendo menção a outras crenças, o acordo

manifesta uma clara preferência por uma religião, o que obriga as escolas a adotar uma

determinada confissão, e isso é inconstitucional. O Ministério das Relações Exteriores

defende a iniciativa dizendo que não há problema, já que ela apenas reúne aquilo que já

existe. Mas isso não é verdade.

Se tais acordos políticos educacionais religiosos são tão importantes que chegam a

conduzir o Presidente da República Federativa do Brasil ao Vaticano, o que impede ao Governo

Laico Brasileiro, por meio do Ministério da Educação, oferecer o conteúdo bíblico dos

ensinamentos de Jesus fora do contexto religioso denominacional e esclarecido por meio da

hermenêutica e da exegese para o sistema público de ensino em todo o país via internet? Se o

Antigo e Novo Testamento servem de parâmetros para todas as instituições religiosas cristãs no

país, oferecer o conhecimento deste conteúdo fora do contexto religioso denominacional aos que

não pretendem aderir à religião é fazer a distribuição equitativa do poder, no exercício da

democracia, em favor da liberdade.

Estudiosos e pesquisadores da educação buscam soluções para resolver os problemas da

violência nas escolas, itens que dificultam o aprendizado e o bom relacionamento em sala de

aula. Estuda-se o caráter das agressões dentro e fora dos ambientes escolares em todos os níveis;

buscam-se projetos que promovam a construção de uma cultura de paz junto à comunidade

escolar, entretanto, não remetem ao resgate e domínio dos ensinamentos de Jesus que é, por

direito, um patrimônio mundial.

No Antigo Testamento, no período da lei, a pedagogia e a correção para o filho

desobediente eram com o uso da vara e o apedrejamento até a morte. No livro Deuteronômio

(21:18-21) está expresso que:

Quando alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedecer à voz de seu pai e à

voz de sua mãe, e, castigando-o eles, lhes não der ouvidos, então seu pai e sua mãe

pegarão nele, e o levarão aos anciãos da sua cidade, e à porta do seu lugar; e dirão aos

anciãos da cidade: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz; é

um comilão e um beberrão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que

morra; e tirarás o mal do meio de ti, e todo o Israel ouvirá e temerá.

88

Mas, no Novo Testamento, período da Graça, o favor imerecido de Deus, que entregou

seu Único Filho a morrer pela humanidade a pedagogia é outra.

Enquanto Jesus esteve na terra, Ele cumpriu a lei, mas, quando morreu, abriu-se o Novo

Testamento, anulando totalmente a lei anterior. Nenhum testador abre o testamento enquanto

vive, assim também Jesus, antes de morrer, cumpriu a lei e pediu para que a nação de Israel

também a cumprisse, mas com a sua morte, a lei foi ab-rogada. Quando o véu do templo rasgou-

se, no momento da Sua morte, entrou em vigor a Graça. No período da Graça, o método

pedagógico é com afeto, o uso da vara, agressões ou apedrejamento não fazem parte dos

ensinamentos de Jesus; a educação é feita com diálogo e advertências em amor. Na carta aos

Efésios (6:1-4) se pode ler o seguinte:

Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e

a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá bem, e vivas muito

tempo sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na

doutrina e admoestação do Senhor.

A ordem bíblica para a educação neotestamentária é direcionada aos genitores, para

exercem a instrução dos filhos na doutrina de Deus pela Sua Palavra e não mais por meio dos

sacerdotes como no Antigo Testamento. A instrução sobre ministrar os ensinamentos de Jesus

para as crianças é direcionada à família e não à outra instituição. Na falta dos genitores, a

incumbência passa ao Estado, como rege a LDB, em favorecer ao desenvolvimento pleno do

aluno em prol da cidadania.

Estudam-se, nas escolas públicas brasileiras, as várias disciplinas da grade curricular e

existem em suas bibliotecas muitos livros, contendo mitologias e religiões de várias etnias, que

são oferecidos gratuitamente aos alunos pelo Governo Federal, Estadual e Municipal. Por que não

existe a publicação da bíblia esclarecida pela hermenêutica por ordem governamental? Se o

evangelho é um livro comum a todas as instituições religiosas, ao católico, ao evangélico

tradicional, ao pentecostal, ao neopentecostal, ao espírita e todos que se autodenominam cristãos,

qual seria o inconveniente? Será que a nação brasileira ainda se encontra sobre o domínio da

religião, como esteve antes da atuação do Marques de Pombal e ainda determina as ações do

Governo em nosso país?

89

A educação do século XXI caminha para o reconhecimento do cidadão de corpo e alma,

capaz de reconhecer os seus direitos e deveres, usufruir a liberdade advinda do conhecimento e

do saber, garantida pela constituição.

Para tanto, faz se necessário um olhar crítico sobre os métodos educacionais usados nas

instituições de ensino no Brasil, pleitear uma reforma pedagógica, livre das amarras da

religiosidade institucionalizada, rumo a conquista de uma consciência voltada para a liberdade

sobre todas as áreas do conhecimento.

A educação pública brasileira precisa transmitir ensinamentos de amizade, amor, gratidão,

benevolência, paz, mansidão, todos estes requisitos e muitos mais são necessários para a

humanização e estão compilados nos ensinamentos de Jesus, e hoje, já acessíveis a todos que

pretendem educar-se pela verdade bíblica, por meio da internet.

A trajetória para o povo brasileiro adquirir uma consciência política-religiosa e romper

com as amarras do passado está sendo extremamente longa. Ainda opera a subserviência pela

falta do conhecimento dos ensinamentos de Jesus. Há necessidade de que os dirigentes deste país

possam valorizar a constituição acima de todos os preceitos humanos, inclusive os religiosos,

para que a nação possa usufruir plenamente de seus direitos como cidadãos.

4.2 – A INTERNET E OS ENSINAMENTOS DE JESUS

Na atualidade, as instituições religiosas, como qualquer outra empresa, também fazem uso

da internet e oferecem seus produtos, materiais e imateriais na rede, mas, também existem sites

que viabilizam os ensinamentos de Jesus desvinculado da religiosidade institucionalizada.

Um exemplo desta nova possibilidade de estudo pode ser encontrado no site

w w w . es t ud os d ab i b l i a .n e t ., criado por pessoas que vivem e ensinam a bíblia de acordo

com o padrão do Novo Testamento, pertencentes às congregações locais, com o único objetivo de

servirem a Cristo. Não pertencem, devido ao fato da bíblia não autorizar, a nenhuma

denominação religiosa institucionalizada.

Os autores deste site, em sua maioria não são brasileiros, Dennis Allan é norte-americano

residente em São Paulo (capital), Carl Ballard, Mike Bozeman, Allen Dvorak, Gary Fisher,

Timothy Richter, Paul Earnhart moram nos Estados Unidos ou outros países. Não defendem ou

indicam placas de instituições religiosas, nem destacam homens ou qualificações humanas

90

(formação teológica etc.), mas realçam unicamente a Palavra revelada nas Escrituras e interagem

com os usuários do site pelo endereço estudos.bí[email protected].

Em esclarecimento ao público sobre a denominação que pertencem, os autores afirmam :

“Não defendemos placas de igrejas, pois devemos toda a glória ao nosso Senhor Jesus Cristo”,

como está escrito:

Paulo (chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus), e o irmão Sóstenes, a

igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos,

com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor

deles e nosso: Graça e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Sempre

dou graças ao meu Deus por vós pela graça de Deus que vos foi dada em Jesus Cristo.

Porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento

(Como o testemunho de Cristo foi mesmo confirmado entre vós). De maneira que

nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual vos

confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus

Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo

nosso Senhor. Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que

digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em

um mesmo pensamento e em um mesmo parecer. Porque a respeito de vós, irmãos meus,

me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com

isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de

Cristo. Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado por vós? Ou fostes vós batizados em

nome de Paulo? Dou graças a Deus, porque a nenhum de vós batizei, senão a Crispo e a

Gaio, para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome. E batizei também a

família de Estéfanas; além destes, não sei se batizei algum outro. Porque Cristo enviou-

me, não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz

de Cristo se não faça vã (I CORINTIOS 1: 1-17).

De acordo com o que foi postulado por Cristo, aqueles que são responsáveis pelo site

mencionado dizem que importa somente falar a palavra de Deus, e não realçar a sabedoria

humana.

Deixam como exemplo, para estes dizeres, os seguintes versículos: “Se alguém falar, fale

segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá;

para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence à glória e poder para

todo o sempre. Amém” (I PEDRO 4 : 11).

Os autores deste site pedem para que todos os julguem pelos frutos do ensino, e

acrescentam os seguintes versículos:

Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas,

interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura se

colhem uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz

bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus

frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e

91

lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz:

Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que

está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu

nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas

maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós

que praticais a iniqüidade (MATEUS 7: 15-23).

Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda a aparência do mal (I

Tessalonicenses 5:21-22).

E pedem para examinar todo ensinamento pela palavra revelada nas Escrituras: “Ora,

estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam

a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (Atos 17:11).

O site w w w . es tu do sd ab í b l i a .n e t é um instrumento facilitador para o estudo dos

ensinamentos de Jesus porque foi criado exclusivamente para esta finalidade, portanto, é ideal

para as pessoas que desejam adquirir um conhecimento bíblico fora do contexto religioso

denominacional.

O site oferece ainda a possibilidade de participar dos estudos especiais ministrados em

várias cidades brasileiras, bastando apenas o preenchimento de um questionário para

identificação do interessado para melhor recepcioná-lo, providenciando assento e apostila

(quando houver) gratuitamente.

Figura 13 – Imagem da página do site

92

O site apresenta, localizado à esquerda da página, o link do YouTube, por meio do qual o

internauta poderá ter acesso aos vídeos dos Estudos Bíblicos, com esclarecimento de que a visita

ao site do YouTube não está sob o controle dos autores.

Logo abaixo do link do YouTube, aparecem os acessos: Pesquisar, Andando na verdade,

Andando com Deus, Mensagem em áudio, Palavras cruzadas, Estudos textuais, Fale conosco,

Livros e livrinhos, O que a Bíblia diz?, Jesus, o caminho, Boletim mensal, Quem somos? Posso

copiar?

No lado direito da página aparece um logotipo (MP3), indicando que as versões gravadas

são menores e mais fáceis de carregar e ocupam menos espaço. Contém aulas especiais em áudio

e temas como: Mensagens importantes de Ezequiel, O Espírito Santo, O que a Bíblia ensina?

Deus justo e justificador, O plano de Deus para a Igreja, Verdades Bíblicas para todos.

No link “Verdades Bíblicas para Todos”, está disponível a apostila e sete (7) mensagens

de áudio, bastando somente um clique para acessar.

Em outro acesso pode-se adquirir resumos dos livros “Gênesis e Jô” e estudo textual com

apostila e vinte e cinco (25) mensagens de áudio.

O site também oferece os recursos do TWITTER (@EstudosDaBiblia) que informa sobre

as novidades ou sobre os estudos especiais e alguma outra informação que facilite o ensinamento

do estudante.

É ofertado ainda um curso bíblico denominado “Jesus o Caminho”, com sete lições,

totalmente On-Line e acrescenta uma mensagem positiva para os que, no passado, já tentaram

fazer um curso bíblico e não conseguiram, apresentando as facilidades e comodidades de se

estudar de qualquer lugar que se tenha acesso à internet.

Para pessoas que procuram folhetos e mensagens de evangelização, o site oferece modelos

que possam incentivar outras pessoas a estudarem a palavra de Deus. São modelos prontos para

copiar e imprimir. O link “Andando na Verdade” é publicado trimestralmente e distribuído

gratuitamente a pessoas interessadas no estudo da palavra de Deus por e-mail.

Os textos com os ensinamentos de Jesus, explicados por meio da hermenêutica e da

exegese, escritos em outro idioma, são traduzidos por Arthur Nogueira Campos e por Dennis

Allan, disponibilizados com permissão de seus autores e redatores, ficando retido o direito ao

próprio trabalho.

93

Acessando somente a página do tema “Andando na Verdade”, aparecerá o título “A

Serviço do Rei - vivendo como seguidores de Cristo”, o interessado encontrará cento e um (101)

subtítulos de estudo.

Para se ter o exemplo do tipo de estudo oferecido e da facilidade de compreensão dos

mesmos, o exemplo dos três primeiros estudos do primeiro tema “Andando na Verdade” está em

anexo nas páginas (113 a 116).

4.3 – A INTERATIVIDADE COMO MARCA DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA

“Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; e

conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (João 8:31-32)

Libertando os ensinamentos de Jesus das gavetas das religiões, surge a internet.

Por quase dois mil anos os ensinamentos de Jesus percorrem a terra em busca de

verdadeiros ouvintes e são vários os veículos que conduziram suas mensagens até nossos dias,

mas nenhum tão facilitador quanto a um site na internet, veiculado por meio da rede mundial de

computadores.

A internet surgiu nas últimas décadas do século XX, como consequência da fusão

singular de estrutura militar, com a pesquisa da Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas

(ARPA), do departamento de defesa dos EUA, possibilitando a transmissão de mensagens

sonoras, imagens e dados por meio de redes de informações (CASTELLS, 1999, p.82).

Com o avanço das estratégias militares e a necessidade de se obter informação cada vez

mais rápida, a internet apresenta uma comunicação ainda mais eficaz se comparada ao rádio e a

TV por apresentar a interatividade em rede mundial.

Na atualidade, o computador, por meio da internet, tem se apresentado como um veículo

facilitador para a divulgação e aprendizagem dos ensinamentos de Jesus.

Em 1979, divulgaram o protocolo XModem, que permitia a transferência direta de

arquivos de dados entre computadores, sem passar por um sistema principal.

A nova tecnologia foi divulgada gratuitamente, pois sua finalidade era espalhar o máximo

possível a capacidade de comunicação interativa.

As redes de computadores, que não pertenciam a ARPANET (em seus primeiros estágios

reservados às universidades científicas de elite), descobriram um meio de começar a se

94

comunicar entre si por conta própria. Em 1979, três alunos da Duke University e da Universidade

de Carolina do Norte, não inclusos na ARPANET, criaram uma versão modificada do protocolo

UNIX, que possibilitava a interligação de computadores via linha telefônica comum.

Figura 14 –Arpanet - Tecnologia da computação 1

Figura 15 – Arpanet - Tecnologia da computação 2

Os usuários dessa versão modificada criaram um fórum on-line de conversas sobre

informática, a Usenet, que logo se tornou um dos primeiros sistemas de conversas eletrônicas em

larga escala.

95

Os inventores da Usenet News também divulgavam gratuitamente seu software num

folheto distribuído nos congressos de usuários de UNIX (CASTELLS, 2008, p.86).

Vinton Cerf, frequentemente descrito como um dos pais, senão o pai da internet-1970,

juntamente com Robert Kahn, produziu o primeiro artigo sobre aquilo que se tornaria a

Internet, “Um protocolo para as intercomunicações acondicionadas em rede”-, disse numa

conferência realizada em São Francisco em setembro de 2004 que o mundo ainda estava

na Idade da Pedra em termos de formação de rede (BRIGGS; BURKE, 2006, p.328).

O sistema de comunicação em rede trouxe uma forma de comunicação diferenciada dos

veículos anteriores e inúmeras facilidades com as compras on-line, auxiliando na pesquisa de

produtos e negócios, reduzindo o tempo de procura e gastos com transportes.

O grande avanço aconteceu em setembro de 1993 e março de 1994, quando uma rede até

então dedicada à pesquisa acadêmica se tornou a rede das redes, aberta a todos. A rede era

“frouxa” e não tinha proprietário, embora dependesse das agências de comunicação. No

mesmo período, o acesso público a um programa de navegação (Mosaico), descrito na

seção de negócios do New York Times de dezembro de 1993 como “a primeira janela para

o ciberespaço”, tornou possível atrair usuários - na época chamados “adaptadores” – e

provedores, os pioneiros em programas cujas origens já foram descritas (BRIGS, BURKE,

2006, p. 300).

As redes mundiais de informações desenvolveram-se, rapidamente, pelos quatro cantos da

terra, ligadas entre si por uma gigantesca teia de comunicação, possibilitando a conversa direta e

consulta de páginas sobre os mais variados tipos de assuntos. Também propiciou a transferência

de arquivos, estudos de textos e muitas outras coisas.

Com a possibilidade de interagir usando apenas uma linha telefônica comum - um

computador com o software adequado e um modem - os internautas enviam e recebem de forma

rápida e eficiente, mensagens de vários tipos e formatos. Pode-se enviar desde textos ou livros

eletrônicos, fotografias, músicas, mensagens em áudio visual até mesmo interagir entre os

conhecimentos sobre vários tipos de assuntos, inclusive sobre os ensinamentos de Jesus, isentos

de conceitos religiosos denominacionais e suas ideologias.

A internet propicia um estudo diferente, facilitando a interação dos mais diversos tipos de

assunto, entrelaçando o real e o virtual como na própria vida.

A internet é o tecido das nossas vidas. Se as tecnologias de informação são o equivalente

histórico do que foi a eletricidade na era industrial, na nossa era poderíamos comparar a

internet com a rede elétrica e o motor elétrico, dada a sua capacidade para distribuir o

96

poder da informação por todos os âmbitos da atividade humana. E mais, tal como as novas

tecnologias de geração e distribuição de energia permitiam que as fábricas e as grandes

empresas se estabelecessem como as bases organizacionais da sociedade industrial, a

internet constitui atualmente a base tecnológica da forma organizacional que caracteriza a

Era da Informação: a rede. (CASTELLS, 1999, p.15).

A internet é facilitadora, tanto para as grandes empresas como para os seus funcionários, e

não serve apenas à elite, mas também à classe trabalhadora. O custo dos equipamentos

necessários para o acesso à internet fica cada vez mais acessível à população de baixa renda,

sendo disponibilizada também para uso gratuito nos projetos estatais (acesse São Paulo) e nas

salas de informática das escolas públicas em todo país.

O acesso à internet também pode ser realizado de forma comercial, oferecido em Lan

Houses existentes por quase todo o Brasil.

Atualmente, as principais atividades econômicas, sociais, políticas e culturais de todo o

planeta estão a estruturar-se através da Internet e de outras redes informáticas. De fato, a

exclusão destas redes é uma das formas de exclusão mais grave que se pode sofrer na

nossa economia e na nossa cultura (CASTELLS, 1999, p.17).

O relacionamento do internauta com o mundo de informações e negócios acontece por

meio de aplicativos instalados no computador, como chat, Msn (Messenger,) com os quais é

possível interagir entre perguntas e respostas e trocar informações com rapidez e eficiência.

A interatividade também acontece por meio dos hipertextos, conforme observa Motta:

Veja no caso da interatividade: Bardoel e Deuze (2000) consideram que a notícia online

possui a capacidade de fazer com que o leitor-usuário sinta-se parte do processo. Segundo

eles, isso pode acontecer pela utilização de diversos recursos interativos, como a troca de

e-mails entre leitores e jornalistas, a disponibilização de opinião dos leitores em fóruns, os

chats com jornalistas. Os autores, no entanto, não contemplam a perspectiva da

interatividade no âmbito da própria notícia, ou seja, a navegação pelo hipertexto que,

conforme Machado (1997), constitui também uma situação interativa (MOTTA, 2002, p.

131).

Isto facilita a vida de quem quer estudar um determinado tipo de assunto no conforto de

seu lar ou na escola, fazendo uso das salas de informática.

A internet também é facilitadora para a propagação dos ensinamentos de Jesus sem a

necessidade de um vínculo institucional religioso. Basta somente ao interessado acessar um site

pela www. para encontrar todos os estudos relacionados com o tema que deseja estudar, podendo

perguntar, interagir e questionar os temas encontrados.

97

Nos últimos anos, assistimos a um crescimento espantoso das chamadas tecnologias

de comunicação. Essas tecnologias tornaram-se mais rápidas, mais populares e mais

instrumentalizadas no cotidiano de milhares de pessoas em todo o mundo. Passaram,

assim, a fazer parte de um conjunto de práticas sociais que permeia o século XXI,

construindo sentidos e modificando comportamentos. Dois elementos são marcantes

nesta mudança estrutural: o primeiro deles é o foco na participação, que

principalmente através da Internet, torna-se o carro chefe da popularização dessas

tecnologias. O segundo é que essa participação dá-se em uma escala global, nunca

antes proporcionada por nenhum meio de comunicação a indivíduos (RECUERO,

2010).

Em suma, esta forma de comunicação, diferenciada dos veículos anteriores, pode ser a

chance para a verdadeira Igreja de Cristo instalar-se de forma global, ofertando o reino de Deus

gratuitamente por toda a terra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A oralidade como forma de transmissão de conhecimentos usou de vários recursos no

decorrer da história. Houve um tempo em que a comunicação esteve presente na linguagem da

natureza (FOUCAULT, 1992) e agiu juntamente com a linguística para decodificar as marcas

visíveis que Deus deixou na criação.

Desde os tempos mais remotos, como constatamos no capítulo 1, a oralidade vem

servindo para transmitir as informações armazenadas na mente humana para as próximas

gerações. E fazendo referência novamente a Pierre Levy, em seu livro intitulado, As tecnologias

da inteligência, de fato, existem dois tipos de oralidade: a primária, que remete à palavra antes

que uma sociedade tenha adotado alguma forma de escrita e a secundária, a qual se relaciona e

adapta-se nos moldes da escrita, tal qual usamos hoje. O

Os evangelhos, de fato, oferecem a salvação da alma e do espírito humano gratuitamente e

para praticá-los não requer templos ou basílicas luxuosas, mas, onde estiverem dois ou três

reunidos em nome de Jesus, ali está a sua Igreja, conforme nos pautamos no capítulo 2.

Jesus disse que a salvação se recebe por meio da fé, mediante o conhecimento da doutrina

do amor e a incumbência de transmiti-la gratuitamente a todos. No entanto, não é isto que ocorre

nas instituições religiosas, também constatado. A população permanece sem o direito de

98

compreender os ensinamentos de Jesus corretamente; desvinculada do sistema religioso

institucionalizado, para elas se submetam a sustentarem seus sacerdotes em suas luxúrias.

Quando o cristão não pertence a uma instituição religiosa, fica rejeitado e tido como

herege e destituído do relacionamento das irmandades que se submetem ao comércio religioso.

Conforme nosso estudo sobre as religiões institucionalizadas, não consta nos

ensinamentos de Jesus que ele tenha participado de alguma instituição de sua época, apenas que

foi expulso da sinagoga de Cafarnaum. Não esteve ligado aos Fariseus e nem aos Saduceus,

denominou-os de túmulos caiados, limpos exteriormente, no entanto, no seu interior só havia

podridão de pecado. Nem tão pouco pediu para seus seguidores se filiarem a alguma instituição.

Compreender os seus ensinamentos é ter a oportunidade de se tornar membro do Seu Corpo, que

é a verdadeira Igreja.

Realmente, todas as nações da terra praticam uma religiosidade, é inerente ao ser humano

a ligação com o divino, ou um ser superior que gerou todo o universo.

Dentre todas as instituições religiosas existentes no mundo, somente o cristianismo

oferece a salvação por meio da “graça”, do favor imerecido e sem pagamento, quando praticado

mediante a hermenêutica e a exegese da Palavra.

Quando se remove o significado original da palavra “Igreja”, empregado por Jesus Cristo

já começa a direcionar a gratuidade para o comércio.

O apóstolo Paulo escreve sobre suas alegrias em meio às dificuldades que passou para

instruir a Igreja, a qual é o Corpo de Cristo e disse: “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e

na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a Igreja”

(COLOSSENSES 1:24).

A verdadeira Igreja de Cristo é composta por membros que praticam Sua Palavra e, para

que a pratiquem é necessário que a conheçam e, para que conheçam, é necessário quem a ensine;

foi para isto que Jesus preparou os doze discípulos e disse-lhes ide e fazei novos discípulos,

batizando-os em nome do Pai, Filho e do Espírito Santo. Contudo, seus ensinamentos ficaram

sujeito às facções religiosas, que visam lucro, prestígio e poder entre as nações e as suas

pedagogias destinam-se à submissão e não à libertação.

Após o longo período medieval que percorreu os manuscritos e por todas as dificuldades

do saber, os quais ficaram submetidos os ensinamentos de Jesus, surgiram os tipos móveis e

Gutenberg realiza a primeira impressão da bíblia.

99

A descoberta foi um enorme abalo no controle exclusivo da instituição católica, que tinha

a bíblia em seu índex (catalogo dos livros cuja leitura era proibida), as quais somente o clero

poderia ter o acesso.

O descontrole causado pela palavra impressa percorreu rapidamente vários países da

Europa e contribuiu para o sucesso dos protestos contra a venda de indulgências.

De fato, até o advento da imprensa tipográfica o povo se encontrava completamente

desprovido da capacidade de compreensão do evangelho, pois tudo que contrariasse os concílios

do vaticano era eliminado pelas fogueiras da inquisição.

Sendo o Brasil um país laico, onde vigora uma lei de diretrizes e bases para a educação, o

ensino religioso acaba sendo motivo de dissensão e discórdia ao invés de contribuir para a paz, de

acordo com o que foi constatado em nosso capítulo 3.

O fato é que esta lei impõe, para ministrar tais aulas, que o professor esteja engajado num

sistema religioso denominacional e credenciado por algum superior. Isto gera discórdia e intrigas

religiosas no recinto escolar, já que o povo brasileiro está fragmentado em várias religiões dentro

do cristianismo, ou seja, servindo várias outras formas doutrinárias que seguem parcialmente os

ensinamentos de Jesus. Se o ensino do cristianismo fosse pautado exclusivamente pela

hermenêutica e exegese dos textos bíblicos, sem fazer apologia a qualquer denominação esta lei

seria mais eficiente e democrática.

Contudo ainda tenta-se preservar a paz. Entre os acordos da política e a religião quem sai

perdendo é o povo. As leis aprovadas que favorecem isenção de impostos para estas instituições

agravam a própria educação, assim também como a saúde e o lazer.

Os recursos destinados aos restauros de templos religiosos poderiam construir escolas e

remunerar melhor os professores, pois os bens adquiridos por estas denominações (universidades,

gráficas e tantas outras) geram lucros financeiros e podem arcar com suas despesas sem o

favorecimento estatal.

Neste percurso, quando nos referimos ao Brasil como um país cristão, há de se pensar

sobre qual cristianismo nos referimos, se a um cristianismo institucionalizado e denominacional,

repleto de normas humanas e suas imposições, ou a um cristianismo conduzido unicamente pela

hermenêutica e exegese dos textos bíblicos.

As tecnologias, que poderiam transmitir a mensagem das Boas Novas de Jesus pela Graça,

estão nas mãos dos mercenários. O amor ao próximo se tornou algo frio, assim como as imagens

100

televisivas, de acordo com nossos estudos. Como se não bastasse para as instituições religiosas

possuírem apenas os veículos de comunicação rádio e a TV, também apossaram das salas de

projeção cinematográficas e as transformaram em basílicas comerciais, destinando-as ao

dispositivo religioso de suas denominações. O estudo bíblico denominacional ficou ideologizado

pelos programas radiofônicos e televisivos sem nenhuma margem para a interatividade, de acordo

com nossa pesquisa.

Diferente e inovador entre os veículos apresentados, o computador, por meio da internet, na

rede mundial, cumpre um papel facilitador para o estudo bíblico, disponibilizando os

ensinamentos de Jesus e permitindo a interação do usuário entre perguntas e respostas. Esta

interação fora do sistema religioso institucionalizado é que faz a diferença para o correto

aprendizado dos ensinamentos de Jesus.

Assim posto, por meio da internet, usando sites específicos para esta finalidade, o

estudante que queira aprender os ensinamentos de Jesus pode acessar os estudos bíblicos, estudar

e receber informações gratuitas, sem a necessidade de se filiar a alguma instituição religiosa.

Para concluir, podemos dizer que os vendilhões do templo, que agiam na época de Jesus,

continuam agindo impiedosamente, formulando suas próprias ideologias, pois, tratando-se de

dinheiro, não se satisfazem nunca. Fazendo uso de uma metáfora, encerramos afirmando, que tais

vendilhões são lobos de ventre famintos; com intenções de apascentar as ovelhas, devoram-nas.

101

REFERÊNCIAS

1. Bibliografia

ABRAMOVAY, M. Violência nas escolas: Versão resumida. Brasília: UNESCO Brasil, Rede

Pitágoras, 2003.

ALBERTO ANTONIAZZI et al. Nem Anjos Nem Demônios: Interpretações Sociológicas do

Pentecostalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

ALET, X. B. I. História da Arte. 2ª ed. Campinas: Papirus, 1994.

ALTHUSSER, L. Aparelhos Ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Circulo do Livro, 1996.

-------------- Arte Retórica e Arte Poética. Rio de Janeiro: Tecnoprint Gráfica Editora, 1969.

ARNHEIM, R. Arte e Percepção Visual. Uma psicologia da visão. São Paulo: Pioneira, 2001.

ARROYO, F. História geral da pedagogia. São Paulo: Editora Artegráfica, 1969.

AZENHA, M. Construtivismo de Piaget a Emília Ferreiro. São Paulo: Editora Ática, 2003.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

BATTISTONI, F. D. Pequena História da Arte. 9 ed. São Paulo: Papirus, 1989.

BAUDRILLARD, J. Simulacros e Simulações. Lisboa: Ed. Relógio D´Água, 1991.

BETHENCOURT, F. História das Inquisições: Portugal, Espanha e Itália - Século XV-XIX. São

Paulo: Companhia das Letras, 2000.

102

BÍBLIA SAGRADA. O velho e o Novo Testamento. Brasília - DF: Sociedade Bíblica do Brasil,

1969.

BOGDAN, R.C. & BIKLEN, S.K. – Investigação Qualitativa em Educação, uma Introdução à

Teoria e aos Métodos. Porto: Editora Porto, 1994.

BORDENAVE, J.E.D. O que é comunicação. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.

BOUGNOUX, D. Introdução às Ciências da Informação e da Comunicação. Petrópolis: Vozes,

1994.

BOURDIEU, P. As Regras da Arte. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

BRASIL. Diretrizes e Bases da Educação Nacional: LDB. São Paulo: Ed. Do Brasil, 1998.

BRIGGS A. & BURKE P. Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet. Rio de

Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2006.

BRUCE F.F. et. al. O Novo Dicionário da Bíblia. 2.ed.- São Paulo: Vida Nova, 1995.

CADERNO DO GESTOR: Gestão do currículo na escola. Secretaria da Educação. Edição

especial. São Paulo: SEE, 2010.

CASTELLS, M. A Galáxia Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade. Lisboa:

Edição da Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.

__________. A sociedade em rede. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1999.

CERVO, A. L., BERVIAN, P. A. Metodologia científica. São Paulo: MARKON Books, 1996.

COLI, J. O que é arte. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990.

103

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL Educação Religiosa nas Escolas. São

Paulo, Edições Paulinas, 1976.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚPLICA FEDERATIVA DO BRASIL. São Paulo: Editora Ipê, 1988.

DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Edições Vida Nova, 1995.

DREHER, M.N. A crise e a renovação da Igreja no período da Reforma. São Leopoldo-RS:

Editora Sinodal, 1996.

DUARTE, J. & BARROS, A. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2a ed. São Paulo:

Atlas, 2008.

ECO, H. Como se faz uma tese. São Paulo: Editora Perspectiva, 1989.

__________. Viagem na irrealidade cotidiana. 6a ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira,

1984.

EINSTEIN A. Como Vejo o Mundo. Tradução de H.P.de Andrade.-Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1981.

ELIADE, M. Tratado da História das Religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

EYMERICH, N. Manual dos Inquisidores. Brasília-DF: Editora Rosa dos Tempos, 1993.

FANTE, C. Fenômeno bullyng: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz.

Campinas: Verus, 2005.

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987.

104

__________. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo:

Martins Fontes, 1992.

__________. Vigiar e Punir. 6ª ed.Petrópolis: Editoras Vozes, 1988.

FREIRE, A.M.A. A pedagogia da libertação em Paulo Freire. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 2a ed. Rio de Janeiro. Editora Paz e Terra, 1975.

GAARDER J., HELLERN V., NOTAKER H. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das

Letras, 2000.

GAUER, M. & POZENATO, K. Introdução à História da Arte. 3ª ed. Porto Alegre: Mercado

Aberto, 1998.

GENTILI, F. Tortura - Instrumentos Medievais. Horizonte Gráfica & Editora Ltda, 1996.

GODMAN, P. O Vaticano e Hitler: A Condenação Secreta. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2007.

GOMRICH, E.H. – A História da Arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.

GOMRICH, E.H. A História da Arte. Rio de Janeiro, 13ª edição: Zahar Editores, 1978.

GUIRADO, M.C. Reportagem: A arte da investigação. São Paulo: Arte & Ciência, 2004.

HALLEY, H.H. Manual Bíblico de Halley: Nova Versão Internacional. São Paulo: Editora Vida,

2001.

HAUSER, A. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

105

IMBERNÓN, F. et al. A educação no século XXI: Os desafios do futuro imediato.Porto Alegre:

Editora Artmed, 2000.

JANSON, A.F. & JANSON, H.W. Iniciação à História da Arte. 2 ed. São Paulo: Martins

Fontes,1996.

JOHNSON, P. História do Cristianismo. Rio de Janeiro: Imago, 2001.

JUNG, C.G. Interpretação Psicológica do Dogma da Trindade. Petrópolis: Vozes, 1999.

__________. O Homem e Seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1964.

KRAMER H., SPRENGER J. O Martelo das Feiticeiras. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos

Tempos, 1995.

LATAILLE, Y; KOHL, M. O; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias psicogenéticas

em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

LEI de DIRTETRIZES e BASES da EDUCAÇÃO. São Paulo: Editora do Brasil, 1998.

LEONEL, S. A Face Oculta do Catolicismo Romano. Ed. Xama, 1998.

LÉVY, P. As tecnologias da inteligência. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.

__________. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2000.

MAHLER, J.G.; UPJOHN, E.M; WINGERT, P.S. História Mundial da Arte: Dos etruscos ao

fim da idade média. V.2. São Paulo: Circulo do Livro, 1974.

MARTINO, L. C. & HOHLFELDT, Teorias Da Comunicação – Conceitos, escolas e tendências.

Vozes, Petrópolis, 2001.

106

MATERA, F. J. Ética do Novo Testamento. São Paulo: Editora Paulus, 1999.

MATTELART, A. A Comunicação do Mundo, História das Idéias e das Estratégias. Petrópolis:

Vozes, 1997.

__________. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo,Cultrix, 1964.

MONTERADO, L. História da Arte. São Paulo: Papirus,1968.

MORIN, E. O espírito do tempo: Cultura de Massas no século XX. Vol.1. Neurose. São Paulo:

Forense Universitária, 1967.

__________. O espírito do tempo: Cultura de Massa do século XX. Vol. 2. Necrose. São

Paulo: Farense Universitária, 2006.

MOTTA, et al. Estratégias e culturas da comunicação. Brasília: Editora Universidade de

Brasília, 2002.

ONG, W.J. Oralidade e cultura escrita: A tecnologização da palavra. Campinas – SP: Papirus,

1998.

PEIRCE, C.S. Dedução, indução e hipótese, In Semiótica e Filosofia, São Paulo: Cultrix, 1984.

PERRENOUD, P. A pedagogia na escola das diferenças: Fragmentos de uma sociologia do

fracasso. 2ª ed. São Paulo: Editora Artmed, 2001.

PIGNATARI, D. Informação, Linguagem, Comunicação. São Paulo: Ateliê, 2002.

__________. Semiótica e literatura. São Paulo. Editora Cultrix, 1987.

107

PIMENTA, S.G. & ANASTASIOU, L.G.C. Docência no ensino superior. 2.ed. São Paulo:

Editora Cortez, 2005.

POPPER, K. A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix, 1975.

PROENÇA, G. História da Arte. São Paulo: Ática, 1999.

SANTAELLA, L. A Teoria Geral dos Signos. São Paulo: Ática, 1995.

SANTOS, T.M. Noções de História da Educação. 12º ed. São Paulo: Companhia Editora

Nacional, 1967.

SAUL, A. M. Paulo Freire e a formação de educadores: Múltiplos olhares. São Paulo: Editora

Articulação Universidades/Escola, 2000.

SAUSSURE, de A. Lutero: o grande reformador que revolucionou seu tempo e mudou a

história. São Paulo: Editora Vida, 2004.

SAVIANI, D. História das idéias pedagógicas no Brasil. 3a ed. Campinas: Autores Associados,

2010.

SCHLESINGER, H. Dicionário Enciclopédico das Religiões. Petrópolis: Vozes, 1995.

TEMER, A.C.R.P. & NERY, V.C. Para entender as teorias da comunicação. 2a ed. Uberlândia:

EDUFU, 2009.

WOLF, M. Teorias da Comunicação. Lisboa: Presença, 1987.

108

2. Periódicos (jornais e revistas)

Schwartsman, H. Está na fila a Lei Geral das Religiões. Folha de S. Paulo,A9, 8 de outubro de

2009.

3. Fontes digitais

CÂNONE. http://www.gotquestions.org/portugues/Biblia-canone.html. Acesso em 23.2.2011.

ESTUDOS BÍBLICOS. http://www.estudosbiblicos.net. Acesso em 21.9.2010.

FISCHIMANN,R.http://w.w.w.revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/legislacao/acordo-

ensino-religioso-504521.shtml. Acesso em 19.9.2010.

GUTENBERG.http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u401.jhtm. Acesso em 23.3.2011.

Lei das religiões. http://www.jusbrasil.com.br/noticias.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf. Acesso em

9.3.2011.

RECUERO, R. Cinco pontos sobre redes sociais na internet. Jornalistas da Web.

http://www.jornalistasdaweb.com.br/[email protected]. Acesso em 29.11.2010.

3. 1. Livros em CD

BUARQUE de HOLANDA, Aurélio Ferreira, Novo Dicionário Eletrônico Aurélio, versão 5.0,

Edição eletrônica autorizada a POSITIVO INFORMÁTICA LTDA, 2004.

ENCARTA. Microsoft Corporation, Enciclopédia Microsoft Encarta.1993-2001.

109

ANEXOS

Roubando a palavra de Deus

Roubar é um pecado lamentoso, citado com outros pecados lamentosos. Aqueles que

cometem tais pecados não herdarão o reino de Deus. “Ou não sabeis que os injustos não herdarão

o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem

efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem

roubadores herdarão o reino de Deus” (1 Coríntios 6:9-10).

Uma pessoa pode roubar de Deus segurando aquilo que é de Deus por direito –

negligenciando dar conforme prosperou (1 Coríntios 16:1-2; Malaquias 3:8-10).

Uma pessoa pode até roubar a palavra de Deus. Deus fez esta acusação contra os profetas

de Judá. “Portanto, eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas

palavras, cada um ao seu companheiro” (Jeremias 23:30). Eles roubaram a palavra de Deus

ensinado a sua própria palavra ao povo em vez de ensinar a palavra de Deus.

Isso continua hoje. Cristo, com toda a autoridade na terra e no céu, claramente disse,

“Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Marcos 16:16).

Quando alguém ensina a salvação pela fé somente, ele rouba das pessoas aquilo que Jesus

realmente falou. Jesus disse, “Quem crer ...” [mas ele não parou aqui] “... e for batizado será

salvo.” Ensinar que o batismo não é essencial para a salvação é cometer o mesmo erro pelo qual

Deus condenou os profetas de Judá.

A carta de Tiago, no Novo Testamento, apresentou dificuldades enormes para Lutero,

devido ao conceito dele de salvação pela fé somente. Ele chamou-a de uma epístola de palha. Ela

ainda dá enormes problemas aos advogados da doutrina de Lutero, pois Tiago disse, “Verificais

que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (Tiago 2:24).

Paulo disse, “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias

mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Efésios 4:28). Se isso é um

bom conselho em relação a assuntos materiais, quanto mais em assuntos espirituais quando

milhões e milhões de pessoas em cada geração precisam da salvação!

Não roube dos perdidos no mundo a palavra do Filho de Deus que lhes conta o que devem

fazer para serem salvos dos pecados e das suas conseqüências horríveis.

110

Não esqueça o que Deus disse aos falsos profetas de Judá: “Portanto, eis que eu sou

contra esses profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu

companheiro” (Jeremias 23:30).

–por Billy Norris

A queda e restauração de Pedro

Pedro havia seguido Jesus de certa distância quando Jesus fora levado para ser julgado

pelos principais sacerdotes e pelo Sinédrio. Testemunhas falsas haviam mentido a seu respeito.

Alguns haviam cuspido nele. Outros baterem nele com as mãos, zombaram dele. "Estando Pedro

embaixo no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote e, vendo a Pedro, que se aquentava,

fixou-o e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno. Mas ele o negou, dizendo: Não o

conheço, nem compreendo o que dizes. E saiu para o alpendre. [E o galo cantou.] E a criada,

vendo-o, tornou a dizer aos circunstantes: Este é um deles. Mas ele outra vez o negou. E, pouco

depois, os que ali estavam disseram a Pedro: Verdadeiramente, és um deles, porque também tu és

Galileu. Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais! E

logo cantou o galo pela segunda vez. Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera:

Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. E, caindo em si, desatou a chorar"

(Marcos 14:66-72).

Algumas horas antes, Pedro havia jurado ficar ao lado de Jesus, e até morrer com ele, se

necessário, independente do que os outros fizessem (Marcos 14:29-31). Não duvidamos da sua

sinceridade, nem questionamos suas intenções, mas como Jesus disse, "O espírito, na verdade,

está pronto, mas a carne é fraca" (Marcos 14:38).

Então quando os soldados vieram prender Jesus, Pedro tirou sua espada e teria lutado até a

morte. Naquela hora, ele ainda não entendia a natureza pacífica do reino de Jesus. Sendo

reprimido e ordenado a guardar sua espada, e vendo o Senhor milagrosamente curar o homem

que ele havia ferido deve ter o confundido bastante. E depois assistir mentirem sobre seu Senhor,

cuspirem nele, baterem nele e zombarem dele enquanto ele não dizia e nem fazia nada em sua

própria defesa. A vergonha e desgraça eram tantas que Pedro, com todas as suas boas intenções –

sucumbiu à fraqueza da carne. O homem que fora tão confiante – talvez confiante demais – de

sua devoção a Jesus, encontrava-se negando até mesmo que o conhecia. Negar seu Senhor com

uma maldição e um juramento. Assim como Jesus predisse que ele faria (Marcos 14:30).

111

Aprendemos, observando as ações de Simão Pedro, que é preciso ter menos coragem para

carregar uma espada do que para carregar a vergonha da cruz. Mas Jesus disse, "Se alguém quer

vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me." (Marcos 8:34 ).

Regozijamos que a negação de Pedro a respeito de Jesus foi uma recaída temporária. Ele

arrependeu-se e continuou em frente para tornar-se um dos cristãos mais eficazes e mais

influentes que já viveu. Que Deus permita que nós, também, possamos superar nossas fraquezas e

sermos servos fieis de Deus.

–por Clarence R. Johnson

O valor do estudo bíblico

É essencial que tenhamos um bom senso de valores. Sabemos que isso é verdade no dia-a-

dia. Sai caro ao comprar ou vender se não tivermos um senso correto de valores. A Bíblia mostra

os naufrágios de muitos que não tinham um discernimento de valores – Ló, Esaú, Balaão, Judas e

Demas. Nós reconhecemos o valor do estudo da bíblia?

A fim de ter o valor correto do estudo bíblico, temos primeiro que ter um valor apropriado

da bíblia. Para aqueles que provavelmente vão ler isso, você já sabe o valor da Bíblia. Sabemos

que é muito proveitoso como guia para esta vida e para apontar o caminho para a vida eterna.

Podemos falar da boca para fora do seu valor, mas se realmente a valorizamos, iremos estudá-la.

Vamos rever alguns motivos que nos lembram o valor do estudo bíblico.

Dá-nos fé (João 20:31). A fé é necessária para a conversão (Atos 15:7) e para agradar a

Deus (Hebreus 11:6). É essencial para o filho de Deus pois “o justo viverá por fé” (Romanos

1:17). A fé é nosso escudo (Efésios 6:16) e nos dará a vitória (1 João 5:4).

Irá fortalecer nossa esperança que pode nos salvar (Romanos 8:24). Irá estimular nosso

desejo de ir para o céu e nos dará a segurança de que estamos a caminho. Servirá de âncora nas

tempestades da vida (Hebreus 6:18-20).

O estudo bíblico nos fará sábios naquilo que realmente importa (Salmo 119:98-99). Isto é,

o estudo vai nos fazer sábios se continuarmos nas coisas aprendidas (2 Timóteo 3:14-15).

O estudo da palavra nos guarda do pecado (Salmo 119:9, 11) e nos capacitará para superar

o pecado (1 João 2:4).

O estudo da Bíblia nos ajudará a evitar a apostasia (Salmo 37:31). A falta de

conhecimento da palavra de Deus leva a destruição (Oseías 4:6).

112

Dá alegria (Salmo 19:8). O mundo enganado não acredita, mas a alegria completa se

encontra em Deus (1 João 1:4). O estudo faz-nos capazes de ter alegria mesmo nas coisas ruins

(Tiago 1:2-4; Romanos 8:28).

O estudo da Bíblia consola (Salmo 119:92). Quando um ente querido parte deste mundo,

nada pode nos consolar como a Bíblia (1 Tessalonicenses 4:18). Haverá horas na vida de cada um

em que precisaremos de consolo. O estudo nos capacitará a encontrar consolo.

Fornece alimento para a alma (Mateus 4:4). Tem uma receita apropriada para a criança e

outra para o maduro (1 Pedro 2:2). A palavra de Deus deve ser mais desejada do que ouro e todas

as coisas materiais (Salmo 19:10).

Tem bons frutos (Mateus 7:16). Tem um efeito exaltante na humanidade. Tem liberdade

avançada. Opõem-se as coisas que corrompem. Levanta a moralidade e dá dignidade às mulheres.

Salva a alma quando recebida corretamente (Tiago 1:21). Não é fria nem morta, mas é

como um fogo (Jeremias 23:29) e é viva e poderosa (Hebreus 4:12). Levou 3.000 pessoas a

procurarem a salvação em Cristo no dia de Pentecostes (Atos 2).

Se conhecermos e cremos nestas coisas, o estudo da Bíblia fará parte do nosso dia-a-dia.

–por Robert W. Goodman