Um Relato Efêmero

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UM RELATO EFMERO SOBRE SOCIALIZAES DE DRAG QUEENS EM FLORIANPOLIS

PARA ENTRAR AQUI BASTA SER DRAG QUEEN: UM RELATO EFMERO SOBRE SOCIALIZAES DE DRAG QUEENS EM FLORIANPOLIS

Vitor de Amorin Gomes Rocho

Acadmico do curso de Antropologia

Universidade Federal de Santa Catarina

[email protected] sabe esta etnografia no seja sobre a famlia tradicional brasileira, aquela dos grandes engenhos aucareiros do qual Mariza Corra (1981) ironiza no sentido de ter sido a histria una do que seria o modelo de famlia brasileira, a nica legitimada como possvel, verdadeira e resistente dos apagamentos da prpria histria. Mas sem sombras de dvida, esta tentativa de etnografar o estranho naquilo onde tudo muito familiar para mim, perceber seus cdigos de conduta e, principalmente, perceber a existncia de uma rede de trocas de informaes e prticas sobre o corpo, arte, msica, gnero, performance e afetos em que colocam um pequeno grupo de besha classe mdia universitria metropolitana em uma categoria que chamarei aqui de famlia Drag na impossibilidade de pensar um termo menos cafona e mais purpurinado. CORRA, Mariza (1981: 8)

Entretanto, no por uma simples impossibilidade de lembrar termos melhores que chamarei esse grupo de famlia. Observando, pude perceber que alguns cdigos muito presentes nas formaes das famlias tradicionais esto presentes nessa famlia Drag tambm, entre eles as posies de hierarquia simblica (a Drag me, as manas, as mona) e zonas geogrficas de formao (o espao fsico da casa). Na expectativa e afetao que sofri, tentei observar os cdigos que mais se assemelhavam nos cdigos de famlia que temos, na medida que s pude fazer um dia de campo e no conhecia as besha da casa em que fui, tentarei ser o mais detalhada possvel e tentando sempre analisar o que vi em uma perspectiva de gnero, raa, sexualidade e classe, que entre tantas foram as que eu mais consegui observar.Quem so as Drags?

Pensar no contexto de uma Famlia Drag tambm nos exige entender o que so Drags, de quais drags estou falando e ainda mais perceber como elas prprias veem o mundo Drag.Nesse sentido, poderamos dizer que o que marca o sujeito Drag no Brasil inicialmente os concursos de disputa Drag que aconteciam principalmente nas casas GLS de So Paulo, Rio de Janeiro e Salvador nas dcadas de 80 e 90. Entretanto, com um advindo de uma homossexualidade com padres mais masculinos e higienizados, a cultura Drag ficou reclusa poucos lugares no pas. Aqui em Florianpolis tivemos algumas casas de show que tinham semanalmente shows de Drag e que aos poucos foram no acontecendo mais at desaparecerem, nota-se aqui o fechamento da boate mix caf que foi uma das boates mais famosas de Floripa nos anos 90 e que era reconhecida por seus shows de Top-Drag.Com esse intensivo ataque ao que seria uma homossexualidade afeminada, os circuitos de socializao Drag ficaram muito reclusos espaos domsticos e familiares, formando pequenos grupos que se renem para se montarem e sair pela noite. Nesse grupo ao qual observei tinham 5 viados que se reuniam h aproximadamente seis messes na casa de uma delas e ficavam desde o fim da tarde at a noite se produzindo para darem o bafo.

nesse espao de produo Drag que a etnografia se localiza, foi nesse espao de trocas, ajudas e dores compartilhadas que pude perceber o lao familiar que se constitua entre aquelas viadas e que por meio de marcadores de dor e violncia que aqueles corpo-performances se constituam. Apesar de eu no relatar aqui sobre esses marcadores como a angstia, violncia, depresso, eles aparecem muito no contexto das conversas, sendo marcado principalmente pela caracterizao do que seria nas teorias bio-psicologizantes como disforia de gnero. Essa observao parte de um contexto extremamente universitrio e de classe mdia, sendo que as festas que as Drags geralmente vo esto no contexto que envolve boates intituladas gayfriendly, alternativas e at gls. Essas festas possuem o valor da entrada geralmente alto, entretanto uma das maneiras de no pagar a entrada justamente indo de Drag, causando e trazendo bapho para a festa. nesse sentido que a percepo delas prprias passa por um crivo social de inteligibilidade, nesse crivo das pessoas da boate que suas identidades Drags so legitimadas, contempladas e at mesmo finalizadas.

Se o contexto ao qual me refiro est marcado por um avano tecnolgico e cyberntico, as concepes que marcam o intercurso dos discursos (no sentido foucaultiano) dessa produo Drag o mais conhecido programa GLS americano, chamado Rupauls Drag Race. Foi atravs desse programa que os espaos de ateli Drag tiveram uma ascenso miditica e quantitativamente nos contextos atuais. O que no programa conhecido como academia de Drags, do outro lado da tela o momento onde as beshas se renem, se montam, se divertem, cantam, danam, socializam e aprendem em aspectos bem familiares o significado As posies que ocupam numa teia familiar e suas construes simblicasComo j mencionei, aps passarem o dia na universidade as beshas se reuniram na casa de uma do grupo para assistirem o tal programa da Rupauls e fazerem sua prpria academia de Drag. O espao da casa (mais precisamente do quarto) propicia no s uma transformao, como a criao de uma personagem Drag em cada uma ali presente, mas tambm define papis dentro do grupo. Geralmente, a dona da casa ocupa uma posio mais respeitada dentro do grupo, no s devido ao seu conhecimento sobre as disposies dos objetos de transformao na configurao da casa (onde esto as escovas, os cosmticos, cremes depilatrios, etc.) Nesse sentido, acho propcio levantar uma questo que acredito ser anloga e potencializa expanses tericas de pensarmos a localidade: que a questo da matrifocalidade. Se formos pensar no caso das Drags, essa postura de me construda junto com sua casa, ou seja, atribudo um valor de me devido possuir a localidade, tambm se expressa fortemente, cria relaes de saber-poder.Alm disso, a construo de posies familiares como mana tambm est muito presente nessas socializaes Drag. Esse lugar da irm, representa a figura ao qual uma Drag se v na outra, so irms pois so parecidas, possuem a mesma criao, so irms Drag Queen.

REEFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

CORREA, Mariza. Repensando a Famlia Patriarcal Brasileira in Colcha de Retalhos- Estudos sobre a famlia no Brasil (Arantes, Antonio Augusto, org), Campinas, Ed UNICAMP, 1994, pp 15-42.

FONSECA, Cludia. De Afinidades a Coalizes: uma reflexo sobre a transpolinizao entre gnero e parentesco entre dcadas recentes da Antropologia. In: Ilha Revista de Antropologia. Florianpolis: UFSC. v. 5, n. 2, Dez. 2003.AMARAL, Marlia dos Santos. Essa boneca tem manual: prticas de si, discursos e legitimidades na experincia de travestis iniciantes. Florianpolis: UFSC. 2012. Disponvel em: