Upload
dangtram
View
227
Download
2
Embed Size (px)
Citation preview
1
Túmulo de Meriré I (TA 4)
Fachada
1,2 – Pl. XXV, médio inferior.
Lintel. O defunto ajoelha diante
das cartelas de Aton
Entrada da antecâmara
Espessuras
3,4 – O defunto e hinos. Pl. IV,
XLI,
Tecto – Pl. XXXIX, médio
Antecâmara
5,6 – O defunto e hinos. Pls.
XXXVIII
7, 9, 10, – Painel com cartelas.
Pl. XL /A
8,11 – Painel floral. Pl. XL/B
Entrada para a sala dos pilares
13,14 – Entrada. Lintel com
cartelas de Aton. O defunto
ajoelhado em cada canto faz
petições a respeito do seu
funeral. Pl. XXXIX esq. e dir.
15 – Espessura. A dama Tenro.
Pl. XXVI
16 – Espessura. Adoração de
Meriré I. Pl. XXXVII
Sala dos pilares 17, 18 – Entrada. Lintel. Pl.
XXXV
19 – Região superior. Inves-
tidura de Meriré I como primeiro
sacerdote de Aton. Pls. VI-IX,
região superior
20, 21 – A família real, nos seus
carros, deixa o palácio para ir ao
templo. Pl. X, XV-XX
22 – Oficiais do templo aguar-
dam a família real. Pls. X/A-XIV
23 – Parte superior. A família
real fazendo uma oferenda a
Aton. Pls. XXI-XXIV
24,26 – Oferenda no templo.
Pls. XXV (sup) XXVI_XXVII,
XXXIII
Colunas.
Pl. II
Entrada para a Câmara
interior
27,28 – Entrada. Lintel com
Meriré I adorando as cartelas de
Aton. O seu nome substitui o de
Hatiay. Pls. XXXIV
Fig. 1 – Planta do túmulo de Túmulo de Meriré I (TA 4). Localização iconográfica, segundo PORTER e MOSS,
TBAE, vol. IV, p. 210 e sua equivalência com a de DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, Pl. I.
2. Cargos:
wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn
«Grande dos Videntes de Aton na Casa de Aton em Akhetaton1
TAT(y) xw Hr wnmy
nsw
Flabelífero à mão direita do
sDAw bity
Chanceler do rei do Baixo-
Egipto2
smr-wa
Amigo único (do rei)
1 «Grande dos Videntes», título do sumo-sacerdote de Heliópolis.
2
rei
r-pa(t) HAty-a
Senhor e membro da elite
r-rxt nsw
Conhecido do rei
3. Breves notas sobre a arquitectura
A fachada é quase vertical junto da porta mas, noutros lugares, há uma considerável
inclinação para dentro (fig. 2)3. Assim sendo, o interior acabou por ser escavado até diferentes
profundidades, como se vê na extremidade esquerda da sua secção longitudinal (fig. 2). Quase ao
longo de todo o comprimento apresenta um ressalto de rocha até ao ocidente da entrada, o qual foi
removido nas extremidades4. Um recanto bem calibrado e vários nichos pequenos foram cortados
na parede do lado ocidental, o primeiro dos quais a uma boa altura do chão. A redução do declive
da rocha de modo a ganhar elevação suficiente para a fachada formou um pátio nivelado com mais
de 65 m de largura na frente do túmulo e isto foi posteriormente preenchido por uma pequena
parede de rocha no lado exterior, com uma ampla abertura no centro para a entrada5
Fig. 2 – Secção longitudinal do Túmulo de Meriré I (TA 4)
2 Esta tradução não é única, devido à intersubstituição entre os símbolos S19 e S20. Deste modo, há um
conjunto de palavras relacionadas com a ideia de tesouro: sDAwt, «tesouros, coisas preciosas»,
sDAwtyw, «tesoureiro», imy-r sDAwty, « tesoureiro-chefe» e outro
que remete para xtm «contrato» xtm, «selo» mas também «coisa preciosa», como em
sDAwty (?) bity , «tesoureiro do rei do Baixo –Egipto».
Na prática, a palavra sDAw é muitas vezes traduzida por «portador do selo real, chanceler». Neste caso
sDAw bity será «chanceler do rei do Baixo Egipto» mas tesoureiro será uma tradução igualmente
possível.
Sobre isto ver GARDINER op. cit., p. 506 e BONNAMY et SADEK op. cit., p. 613. 3 DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, p. 9. 4 DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, p. 10. 5 DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, p. 10.
3
O portal projecta-se geralmente 2,5-5 cm a partir da parede mas neste túmulo o relevo foi
aumentado cortando simplesmente um recesso à volta dele6. A sua decoração segue a forma
consagrada (fig. 3).
Fig. 3 – Moldura da entrada, batente esquerdo (Pl. XL).
Em cada umbral da porta está gravada uma saudação ao Sol, ao rei e à rainha, em quatro
colunas, sendo a fórmula oito vezes repetida e diferindo apenas na alternância dos dois nomes do
rei. Assim como noutros lados, pretendeu-se obter um efeito decorativo a partir da repetição das
cartelas. As colunas lêem-se: «Que viva o divino pai…».
Na região inferior do umbral está uma representação do morto ajoelhado atrás das colunas
de hieróglifos que constituem a sua oração. Estes pequenos textos estão quase obliterados.
6 DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, p. 8.
4
Fig. 4 – Moldura da entrada, batente direito (Pl. XXXV-C).
Espessura das paredes e antecâmara
Em todos os outros túmulos de Amarna, passa-se directamente do exterior para a câmara
principal7. Neste túmulo, porém, há uma antecâmara interior entre a entrada e a grande átrio8. Como
de costume, a parede exterior de rocha é deixada com espessura suficiente para dar lugar a uma
escultura de cada lado da porta de entrada. Aqui, estes espaços são ocupados por duas figuras de
Meriré, em relevo fundo, e pelas orações que em princípio devem estar no seu coração ou nos seus
lábios.
Fig. 5 – Espessura da parede exterior, Pl. XLI.
7 DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, p. 10. 8 DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, p. 10.
5
As suas mãos estão erguidas na atitude habitual dos orantes. Tem a cabeça rapada de um
sacerdote e não usa qualquer ornamento, senão a insígnia do seu posto lançada por cima dos
ombros, um leque, uma vez que é um «flabelífero à direita do rei» um ceptro (?) em sinal de
autoridade9.
No lado ocidental, podem ainda ver-se, no tecto e no chão, os orifícios de entrada dos eixos
da porta. Uma parte do padrão colorido do tecto pintado e na espessura da parede é recuperável. O
espaço está dividido em três compartimentos (fig. 6) separados por colunas de hieróglifos azuis em
campo amarelo e limitadas pela habitual fita de rectângulos em bandas verdes10. Dentro dele está
novamente uma bordadura mais longa de quadrados coloridos. O painel central dentro desta dupla
bordadura é preenchido com um tema bem conhecido que também se pode ver na decoração dos
tectos e derivado do fabrico de contas.
Fig. 6 – Aspecto do tecto. Espessura da parede exterior (Pl. XXXIX-D)
Nos painéis laterais há um motivo de losangos concêntricos (fig. 7).
Fig. 7 – Aspecto do tecto. Espessura da parede exterior (Pl. XXXIX-B,C)
9 DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, p. 10. 10 DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, p. 11.
6
Os hieróglifos estão quase desaparecidos mas, o que resta, mostra que continham orações
pedindo «um belo funeral»11. Noutras partes os desenhos do tecto desapareceram quase por
completo.
A antecâmara é uma pequena sala quadrada com tecto levemente arqueado que procede das
paredes oriental e ocidental. Uma cornija corre à volta das paredes e debaixo do tecto, substituída,
do lado norte pela da porta. O desenho do tecto desapareceu tal como as bandas coloridas que
decoravam o frontão norte e sul12.
Nas paredes Este e Oeste, a moldura das portas de entrada foi toscamente esboçada de
modo a pô-las em simetria com a dos outros lados da sala. Embora coberta por gesso foi deixada em
branco excepto na parede norte, onde um esboço de cinco cartelas foi traçado no lintel, a tinta
vermelha13.
O espaço fechado está apenas desbastado mas o da direita e à esquerda desta falsa porta
estão ocupados por dois painéis esculpidos (fig. 8).
A
B
Fig. 8 – Painéis da antecâmara, (Pl. XL)
O painel do lado norte, B, está decorado com um enorme ramo de flores, arranjado com
precisão geométrica. No topo, um motivo de caules de papiro e papoilas vermelhas. O corpo do
ramo é formado por cinco ramalhetes com os frutos amarelo da persea, botões e flores de lótus,
11 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 12. 12 Ibidem, vol. I, p. 12. 13 Ibidem, vol. I, p. 12.
7
centáureas e outras plantas não identificadas14. No lado sul da moldura em ambas as paredes está o
painel A, mostrando as cartelas e títulos de Ré-Horakhti e o casal régio debaixo de um sol radioso.
Os dois lados da parede sul estão ocupados pelas figuras de Meriré I, em pé, (fig. 9)
semelhantes às da espessura da parede exterior. Aqui está representado com um simples colar e uma
bracelete de ouro(?). As orações estão gravadas em hieróglifos azuis15.
Fig. 9 – Meriré I em oração. Painéis da antecâmara, parede Sul lados oriental e ocidental (Pl.
XXXVIII).
A moldura da porta Norte, que conduz ao corredor de ligação, segue o modelo habitual,
tendo largas ombreiras nas quais estão escritas quatro colunas de orações com hieróglifos em fundo
amarelo16 (fig. 10). Uma parte considerável da ombreira esquerda foi cortada por ladrões mas o
texto pode ser recuperado a partir da cópia de Nestor l’Hôte cujo texto se insere na fig. 10 a
ponteado17.
Fig. 10 – Meriré I em oração. Antecâmara. Moldura da porta Norte (Pl. XXXIX).
14 DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, p. 12 15 Ibidem, vol. I, p. 12 16 Ibidem, vol. I, p. 12 17 Ibidem, vol. I, p. 12
8
No lado este da sala há uma vala no chão que vai de norte para sul e alarga e afunda
ligeiramente. Depressões semelhantes ocorrem na câmara exterior e talvez servissem para o
escoamento de águas de lavagens ou o sangue de animais sacrificados18.
Uma parede interior de rocha separa a antecâmara da grande sala. Aqui, novamente as
paredes estão ocupadas por grandes figuras do morto. À direita, Meriré I olha para fora (fig. 11).
Está na habitual atitude de saudação e veste uma túnica drapeada. Ao pescoço usa quatro colares de
contas de ouro, sem dúvida um presente real. Na cabeça, duas borlas, semelhantes a flores19.
Na parede oposta, está a esposa de Meriré, Tenré, (fig. 11) igualmente, em atitude de oração
e descrita como «a grande favorita da Senhora das Duas Terras». Enverga um manto de linho fino
suspenso dos ombros.
A
B
Fig. 11 – Meriré I e sua esposa Tenré. A – Espessura da parede interior, lado oriental (Pl. XXXVII). B - lado
ocidental (Pl. XXXVI).
A sala hipóstila é imponente, embora empobrecida pela remoção de duas das suas quatro
colunas primitivas, quando foi aproveitada como local de habitação20. Só permanecem a arquitrave,
os ábacos que pendem do tecto e um fragmento da base da coluna. A coluna é do tipo lotiforme
fechado (fig. 12).
18 DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, p. 12 19 DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, p. 13. 20 DAVIES, Norman de G,. RTEA, vol. I, p. 14.
9
Fig. 12 – Coluna Sul (Pl. II-B).
O tecto é plano acima das arquitraves mas levemente arqueado. Uma moldura e ornamento
de cornija debaixo do tecto só interrompida na entrada. Estava originalmente pintada com plumas
vermelhas, verdes e azuis21. A decoração do lintel da porta sul segue o modelo invariável (fig. 13).
No lintel, aqui e em outros lados, uma figura semelhante do morto em oração está colocada em cada
uma das extremidades e de frente para o exterior. O espaço entre elas é sobrepujado por um dossel
celeste e ocupado por dois desenhos em duplicado nos quais duas cartelas de Ré-Horakhti com a
respectiva titulatura, ladeadas por três cartelas mais pequenas do rei e da rainha, acompanhados de
modo semelhante
Fig. 13 – Sala hipóstila, porta Sul (Pl. XXXV-A).
Os umbrais conservam o protocolo de Ré-Horakhti e o casal real em três colunas
sobrepujadas pela abóbada celeste. A inscrição é uma forma curta de que está na fachada (PP.8-9).
A figura ajoelhada do morto e a sua oração incluem-se num compartimento abaixo,
novamente um remate constituído por uma banda horizontal envolvida por duas outras. O lintel da
porta N (Pl. III, XXXIV) é tratado como noutros casos mas a superfície das ombreiras é ocupada
por orações a Aton, em favor do ka de Meriré I (trad. lns. 52-53).
21 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 15.
10
Fig. 14 – Sala hipóstila, porta Norte. Pl. XXXIV.
Os hieróglifos dão de cores variadas mas estão deteriorados. Um caso interessante é que a
frase introdutória e o nome do morto não são originais mas foram cobertos de gesso e voltados a
gravar. No topo das colunas a frase iAw n.k foi substituída por Htp di nsw. Na base da coluna
em vez do nome de Meriré encontra-se «Hatiay» que seria o proprietário original.
Efectivamente, em 1896, Georges Daressy encontrou em Sheik abd el-Qurna o tumulo de um
Hatiay e de sua esposa Henut- Uedjbu22. Hatiay ocupou os cargos «escriba, superintendente dos
celeiros da casa de Aton»23, no tempo de Akhenaton e o seu sarcófago está actualmente no museu
do Cairo. Dele existe igualmente uma estela (fig. 15) no Metropolitan Museum de Nova Iorque
Fig. 15 – Estela de Hatiay. Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque.
22 Ver o site https://sites.google.com/site/historyofancientegypt/tomb-of-hatiay-and-henut-wedjebu de 25 de
Agosto de 2016. 23 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 16.
11
Não se sabe porque razão Hatiay desagradou ao rei. O seu túmulo de Sheikh abd el-Qurna
exibe orações dirigidas ao panteão egípcio clássico.
Segunda sala e capela
O chão da sala hipóstila não está alisado e isto torna-se mais evidente, à medida que nos
aproximamos da terceira câmara. A passagem que a ela conduz é feita através de uma parede
divisória. À entrada encontramos uma sala, da qual só foi removida a rocha correspondente à nave.
Dos suportes, só dois estão quase completos. A quarta câmara ou capela está igualmente
inacabada24. O bloco saliente na parte de trás pode representar os joelhos de uma estátua sentada de
Meriré I que, de acordo com o uso, ocuparia a parte detrás da divisão25.
4. Iconografia
No túmulo de Meriré I, as cenas, que apresentaremos segundo a mesma ordem que Davies,
cobrem seis espaços murais: paredes E, W, de ambos os lados das portas de entrada nas paredes N e
S e são as seguintes:
1. Investidura de Meriré I como sumo-sacerdote de Aton (parede S, lado W)
2. Visita real ao templo (parede W e parede N, lado W
3. A família real fazendo oferenda a Aton, parede Sul, lado E
4. A família real em adoração no templo, metade superior da parede E e parede N, lado E
5. Recompensa de Meriré (metade superior do mesmo.
Investidura de Meriré I no cargo de sumo-sacerdote de Aton
(parede S, lado W). Pl. VI, Pl.VII-IX
A maior parte da parede está ocupada pela cena, enquanto a parte mais baixa de está
ocupada por uma sub-cena em que grupos de subordinados pertencentes à cena principal estão
representados a uma escala mais pequena26.
A partir do balcão de uma janela do seu palácio, Akhenaton investe formalmente Meriré I
com a dignidade de sumo-sacerdote de Aton (fig. 16 ). O exterior do balcão está decorado com
24 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 16. 25 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 16. 26 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 20.
12
motivos geométricos e padrões formados pelos protocolos de Aton e do casal régio. A cornija
que encima a parede é adornada por uraei coroadas com o disco.
As colunas são do modelo palmiforme e foram decoradas com fitas vermelhas que flutuam
ao vento27. O rei e a rainha, cujos rostos foram apagados, apoiam-se num espesso almofadão
que cobre o peitoril e que seria, talvez, de couro e de uma cor vermelho-púrpura e bordado com
filas de losangos azuis28.
Fig. 16 – Investidura de Meriré como sumo-sacerdote de Aton. Parede sul, lado ocidental.
Davies, I, (Pls. VI, VIII, IX).
A região inferior da parede está ocupada por uma sub-cena em que grupos de subordinados
pertencentes à cena principal estão representados a uma escala mais pequena.
O casal régio está acompanhado pela princesa Meritaton, cujas faces foram, igualmente,
apagadas29. Pode ver-se que a rainha tem o braço passado em volta da cintura do esposo e que a
mão direita está esticada no acto de atirar talvez mais um colar de ouro a Meriré I. Os raios de
Aton cobrem família real e um deles parece abençoar o telhado do palácio. O céu tem a forma
do hieróglifo pt e o Sol apresenta-se como um disco vermelho, em relevo fundo, adornado com
uma serpente real na sua qualidade de Aton-rei.
27 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 21. 28 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 21. 29 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 21.
13
Meriré, reconhecível pelo seu longo saiote e o seu belo cinto ornamentado, foi chamado à
presença do rei e veio acompanhado por toda a sua casa. Ajoelhou diante do soberano mas, ao
ouvir a honra que lhe vai ser conferida, os amigos ergueram-no sobre os ombros. Tem o
pescoço adornado com vários colares de ouro, como testemunho da sua nova dignidade30.
Dois grupos de oficiais menores estão ao lado da comitiva de Meriré. Quatro escribas com
paleta, penas e papiros inscrevem o registo deste importante acontecimento ou limitam-se a
apontar cada uma das oferendas do rei31. Quatro porteiros ou polícias com bastão esperam na
retaguarda bem como muitos portadores de guarda sóis32.
As dádivas estão a cargo de um grupo atento e interessado dos subalternos de Meriré. Um
cofre pintado, vasos e respectivas bases, e um colar sobre uma mesinha podem ainda ser
vistos33. Para a esquerda, além dos empregados, podemos ver uma biga e a sua parelha,
aguardando Meriré I para o conduzir de regresso a casa. O condutor espera ao lado com as
rédeas na mão e uma outra personagem ergue um punhado de forragem. Mas para além destes a
comitiva integra também flabelíferos e um grupo de dançarinas. A sua dirigente ergue um ramo
de flores e atrás dela seis mulheres batem tamborins34. Uma adolescente que as acompanha
dança agitando um ramo de palmeira. As palavras do seu canto foram obliteradas e só resta:
«Duas vezes grandes são os teus favores, que este Uaenré prodigaliza!»35.
Texto
À esquerda do signo de Aton:
1
Itn anx wr nb Hb-sd nb Snw Itn nb pt nb tA
Aton vivo e poderoso, senhor do circuito de Aton, senhor do céu, senhor da terra
2
m pr-Itn m Axt-Itn
na casa de Aton em Akhetaton36.
3
30 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 21. 31 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 21. 32 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 21. 33 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 22. 34 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 22. 35 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 23. 36 Sentido de leitura das três primeiras colunas: esquerda para a direita.
14
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn di anx
Dt (n)HH
«Viva Ré, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de A luz que
vem do disco solar», dotado de vida eternamente e para sempre37,
4
Nb-tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx nb Xaw Ax-n-Itn aA m aHaw.f
o senhor das Duas Terras Neferkheperuré Uaenré, dotado de vida, senhor das coroas, Akhenaton,
grande no seu tempo de vida
5
Hmt-nsw Nfr-nfrw-Itn Nfrt-iti anx Dt (n)HH
e a esposa real, viva eternamente e para sempre38.
A inscrição à direita do signo de Aton é simétrica desta
Indigitação de Meriré como sumo-sacerdote de Aton
O rei e a rainha encontram-se na janela das aparições, cujas colunas ostentam os respectivos
protocolos.
6
Dd n nsw nb-tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra n wr mAw (n) pA Itn Mry-Ra
Palavras ditas pelo rei que vive em maet, o senhor das Duas Terras, Neferkheperuré Uaenré, ao
Grande dos Videntes (de) Aton, Meriré:
7
mak.wi Hr di.k n.i r wr mAw n pA Itn
Repara, estou a fazer-te para mim (a ligar-te a mim) como Grande dos Videntes de Aton,
m pr Itn m pr-Itn m Axt-Itn
na Casa de Aton, em Akhetaton,
8
37 Segunda fórmula do nome de Aton, sentido de leitura: esquerda para a direita. 38 Sentido de leitura: direita para a esquerda.
15
ir.sw n mry.k r Dd pAy.i sDm-aS nty Hr
fazendo-o por amor de ti, porque és o meu servo
9
sDm tA sbAyt Hrw
que ouve o ensinamento quotidiano
10
wpt.k nty twk Hr irs HAty.i hri Hr.s
(Quanto) à tua missão que tu executas, o meu coração está satisfeito com ela39.
11
rdi.i n.k tA tw iAt r wnm.k pA Df(A)w
Confiro-te o cargo, para que tu possas comer as provisões
12
n pr Aa anx wDA snb pAy nb.k m pr-Itn
do faraó – vida, prosperidade, saúde – teu senhor, na Casa de Aton.
Diz a assistência:
13
sxpr.f m DAmw m DAmw pA HqA nfr
Ele faz aparecer gerações sobre gerações, o governante perfeito,
14
wbn pA Itn iw.f r nHH
enquanto Aton brilhar, ele existirá para sempre.
Fala Meriré:
15
in wr mAw n pA Itn m pr-Itn m Axt-Itn Mry-Ra mAa-Hrw Dd.f
O Grande dos Videntes de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, Meriré, justificado, ele diz:
39 ; wpt, missão. Ver GARDINER, op. cit. ,p. 618; FAULKNER, op. cit., p. 60
16
16
ASA xt diw pA Itn Hr-a (w)y m ib.f
Muitas são as coisas concedidas40 imediatamente por Aton, segundo a sua vontade41!
Diz a escolta de Meriré:
17
Dd.s aAt sp sn tAy.k Hswt pA Wa-n-Ra di.f
Ela diz: Duas vezes grande, ó Uaenré é a tua recompensa, que estás a conceder!
Visita real ao templo. Parede ocidental e parede norte, lado ocidental, Pls. X, Xa (incl. Pls.
XI-XX)
Fig. 17 – A família real visita o templo de Aton, (Pls. X, X-A).
A figura de Meriré não pode ser actualmente identificada mas é provável que estivesse
registada na cena (primeira figura da segunda fila (fig. 17) ou ocupasse um dos carros no registo
inferior da parede ocidental.
À esquerda no canto superior esquerdo está o palácio real que o faraó acaba de deixar (fig.
17). O edifício é desenhado uma segunda vez na parede oriental e há representações dele nos
túmulos de Panehesy e Meriré II. Encontra-se estudado no Capítulo II, §4.1.1.
O que resta da parede ocidental é dedicado à multidão que se dirige ao templo e cujo
avanço é mostrado em quatro registos (figs. 17-21).
40 rdi-xt, «dar presentes», BONAMY et SADEK,op. cit., p. 448. 41 Hr-a; Hr-awy ,«imediatamente» GARDINER, op. cit., p. 582; m ib.f, «segundo ele», BONAMY et
SADEK, op. cit., p. 43.Parece mais correcto traduzir como fizemos.
17
Fig. 18 – À esquerda: a família real abandonou o palácio para se dirigir ao templo. A figura mostra
ainda a retaguarda da escolta militar. (Pl. X, canto superior esquerdo e Pl. XVIII). À direita: outra
representação do palácio, Pl. XXVI, lado direito).
À direita ela é saudada por dois guardas com cimitarra e bastão (fig. 19).
Fig. 19 – Dois guardas do templo saúdam a escolta real (Pl. XVI).
O destacamento militar da escolta é constituído por três divisões, a primeira das quais é
comandada por um oficial com um espécie de mangual (Pl. X, região inferior direita, Pl. XX -
18
c)42. Segue-se outro destacamento de seis soldados com machados de lâmina quadrada, lança e
escudo na mão direita, comandados por um oficial armado de bastão.
Do outro corpo de tropas faz parte gente de todo o «Império», um arqueiro núbio vestido
com uma tanga e com uma pena no cabelo, um lanceiro semita de longas barbas, envergando
uma túnica, um líbio com o cabelo curto à frente e uma trança longa atrás da orelha e que veste
um manto largo e aberto por sobre a túnica. Está armado com um machado de lâmina redonda.
Segue-o um segundo núbio43. O destacamento é acompanhado por seis porta-estandartes
egípcios. As duas figuras abaixo dos ventres dos cavalos são possivelmente palafreneiros.
Akhenaton enverga uma túnica e um manto e usa a coroa kheprech de onde pendem fitas
vermelhas que se agitam ao vento. A túnica é segura na cinta por uma faixa franjada e a orla da
dobra pendente é decorada com uraei. O rei segura um par de rédeas em cada mão e à direita
empunha um chicote. Os cavalos estão representados a vermelho-escuro e têm as cabeças
cobertas por uma protecção atada junto à garganta e ornamentada por grandes plumas,
alternadamente vermelhas e brancas ou vermelhas e azuis vermelhas44.
A rainha, numa escala mais pequena, conduz o seu próprio carro. Tem a cabeça coberta pela
sua coroa característica e enverga um vestido apertado por uma faixa cujas pontas esvoaçam
atrás dela45. As quatro princesas seguem-na, duas em cada carro, certamente conduzido por um
homem experiente e cuidadoso, que o artista houve por bem não representar. Seguem-nas três
carros que transportam seis aias com leques de plumas. O condutor aparece debruçado numa
pequena cabina lateral, já que a sua humilde posição lhe não permite ser visto na companhia
destas damas46.
Fig. 20 – As princesas e seus acompanhantes. Parede ocidental, (Pl. XIX).
Texto
42 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 26. 43 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 26. 44 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 27. 45 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 27. 46 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 28.
19
18
sAt-nsw n Xt.f mrit.f (s)t anx(s)n pA Itn
Filha do rei, do seu corpo, Ankh(es)enpaaton,
19
msi n Hmt-nsw wrt Nfr-nfrw-Itn Nfrt-iti anx Dt (n)HH
nascida da esposa real, viva eternamente e para sempre.
Registo inferior
20
sAt-nsw n Xt.f mrit.f (s)t Nfernfrw- Itn (tA) Sri(t)
Filha do rei, do seu corpo, sua amada Neferneferuaton-a-jovem,
21
msi n Hmt-nsw wrt nb(t)- tAwy Nfr-nfrw-Itn Nfrt-iti anx Dt (n)HH
nascida da esposa real, viva eternamente e para sempre.
22
sAt-nsw n Xt.f mrit.f (s)t Mrt- Itn
Filha do rei, do seu corpo, Meritaton,
23
msi n Hmt-nsw wrt nb(t)- tAwy Nfr-nfrw-Itn Nfrt-iti anx Dt (n)HH
nascida da esposa real, a senhora das Duas Terras, viva eternamente e para sempre.
24
sAt-nsw n Xt.f mrit.f (s)t Mkt- Itn
Filha do rei, do seu corpo, a sua amada Meketaton,
25
msi n Hmt-nsw wrt nb(t)- tAwy Nfr-nfrw-Itn Nfrt-iti anx Dt (n)HH
nascida da esposa real, a senhora das Duas Terras viva eternamente e para sempre.
20
O pessoal do templo espera o rei, transportando dádivas para Aton. A cena reparte-se por
cinco registos, dos quais só o segundo e o terceiro têm legendas, parcialmente apagadas. No
segundo registo, um sacerdote exclama:
26
Iit m… … … … n an Xr … … … … … di.f tw … … … nb tAwy
Vem em (paz) … … belo, sob …. ele concedeu-te… senhor das Duas Terras
Um grupo de sacerdotes levando flores é designado por:
27
bAkw tpyw n Itn m pr-Itn m Axt-Itn
Os primeiros sacerdotes de Aton na Casa de Aton, em Akhetaton.
Nos registos superior e inferior estão doze homens armados de bordões e em passo de
corrida. O registo inferior (Pl. XX) apresenta ainda outro desfile de soldados, carros e corredores.
De acordo com N. Davies, poderia tratar-se da escolta de Meriré I47. Dois porta-estandartes abrem
caminho e seguem-se dois grupos de quatro homens: um, egípcio, armado de escudo e lança e
outro, misto, com um líbio, um núbio e dois lanceiros sírios. Segue-o um carro cujo condutor (aqui
já está presente!) parece instigar o andamento dos cavalos e quatro porta-estandartes e depois mais
quatro bigas. Toda esta gente se dirige para o templo de Aton, representado no extremo da cena (Pl.
X a, que engloba as Pls. XI-XIV). O estudo do templo foi feito no Capítulo II, §4.1.4.
Diante da sua fachada dispõe-se o pessoal que saiu em massa para receber o rei, erguendo
as mãos saúda o rei, clamando: «Bem-vindo em (paz seja o senhor das) Duas Terras!»48 Um grupo
de quatro sacerdotes leva ramos de flores, são os «Chefes dos servidores de Aton, na Casa de Aton,
em Akhetaton». Auxiliares com guarda sóis ajoelham atrás dos sacerdotes e outros conduzem gado
gordo para o sacrifício. O boi foi enfeitado de plumas entre os cornos, num arranjo elaborado e
atado com fitas.
Os varredores e servos do templo ajoelham-se e prostram-se à retaguarda. À frente, os
sacerdotes, com a cabeça e o corpo rapados, de acordo com as regras de pureza. Seguem-se oficiais,
47 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 28. 48 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 29.
21
ostentando trajes de cerimónia e cabeleiras elaboradas. Dois grupos de mulheres músicas,
percutindo tamborins e longos adufes (fig. 21). Como de costume, o registo inferior está
subordinado à cena principal e contém os actores não essenciais. Aqui, um guarda ajoelha,
auxiliares apresentam oferendas com alegres decorações.
Fig. 21 – Visita real ao templo. Recepção às portas e animais para o sacrifício (Pl. X-A).
A família real, fazendo oferendas a Aton
Parede sul, lado W, Pls. XXI, XXII (incl. Pls. XXIII, XXIV).
22
Fig. 22 – Cena de oferenda a Aton. Parede sul, lado oridental. À esquerda, tal como foi reproduzida por J. C.
Wilkinson, em 1879; à direita, segundo Norman de G. Davies, em 1903, (Pl.XXII).
O grande altar de Aton está, a céu aberto, no centro do pátio exterior do templo virado para E.
Aqui se encontram três suportes contendo carne, fruta, flores e incenso49. O Sol mostra os seus raios
benfazejos os quais nesta cena parecem atravessar nuvens como num poente 50. Ao lado, Meriré e
um colega sacerdote seguram vasos de incenso que irão passar ao rei51. Este enverga uma simples
túnica branca, cingida na cintura por longas faixas, sandálias e a coroa keprech. A rainha, a seu
lado, lança bolinhas de incenso sobre a chama. Enverga um manto apertado abaixo do busto por
uma faixa cujas pontas vão até aos pés. Na cabeça uma nmS azul com fitas e debaixo da qual se
escapam pequenas madeixas adornadas por pendentes. As princesas, Meritaton e Maketaton, agitam
sistros. Usam a trança da juventude e um manto flutuante52.
O lambrim consiste em dois registos representando espectadores e cenas laterais. Os grupos
convergem para o centro. Acima e à direita, isto é, ao lado dos dois sacerdotes da cena principal
está um terceiro com um incensório. Este tem a forma de um braço em cuja palma da mão se
contem um vaso de substâncias aromáticas a arder, enquanto a cânula tem um pequeno receptáculo
para adicionar bolinhas de incenso53 (fig. 23).
49 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 31.
50 De acordo com N. G. Davies, seriam as mesmas nuvens que aparecem no signo , N28, mas em posição
invertida. Segundo Gardiner, o signo mostra antes uma colina por detrás da qual o sol nascente se ergue no
céu. Ver, respectivamente, DAVIES, RTEA, vol.I, p. 30 e GARDINER, Egyptian Grammar, p.489. 51 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 31. 52 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 31. 53 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 31.
23
Fig. 23 – Dois sacerdotes fazem uma defumação em frente aos flabelíferos. Em baixo, músicos e cantores e
condutores que aguardam os seus amos, (Pl. XXVII).
No primeiro plano do mesmo lado da cena estão quatro flabelíferos e um coro de oito
executantes, velhos e aparentemente cegos. Um deles toca uma harpa de sete cordas enquanto os
outros batem o compasso com as mãos e cantam. À esquerda, mais servidores curvados.
Na comitiva que aguarda os reis, distinguem-se dois portadores de guarda-sol, à esquerda e à
direita do rei, e oito mulheres pertencentes ao serviço da rainha e das princesas, cada uma levando
uma faixa dupla. Os carros dispõem-se na periferia do grupo.
A família real adorando Aton, no seu templo.
Parede E, parte adjacente da parede N. Metade superior da Pl. XXV, englobando Pls. XXVI-
XXVIII e Pl. XXXIII
A parte superior destas paredes mostra uma segunda visita ao templo e a parte inferior refere-se
à recompensa de Meriré I. A representação do templo de Aton ocupa a maior parte da parede E e
um lado da parede N. A acção limita-se à extremidade sul. Aqui vemos de novo o casal régio
cultuando Aton, no pátio exterior do templo entre o primeiro e o segundo pilones. A cena é quase
análoga á anterior. Diante do rei estão cinco suportes carregados de oferendas e, em frente da
rainha, dois mais baixos com um ramo de flores entre eles. Dois vasos sobre suportes contêm
bebidas. Meriré segura um vaso de libação e um incensório pronto a servir54.
54 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 32.
24
Fig. 24 – À esquerda : o casal régio faz uma oferenda a Aton. À direita: escolta e uma representação
do palácio (Pl XXVI, nível superior).
O rei e a rainha cumprem uma parte do cerimonial que prescrevia a elevação do ceptro sekhem,
diante do deus. O toucado do rei foi destruído mas mantiveram-se as grandes penas duplas e o disco
sobre a coroa da rainha55. As quatro princesas, agitando sistros, estão acompanhadas pelas suas aias
que transportam faixas e leques estão diante do pilone da entrada. Neferneferuaton ta-cherit é
explicitamente nomeada, contrariamente às outras. O vestuário das duas figuras de baixo contrasta
com a nudez das irmãzinhas e mostra que representam meninas mais velhas e com diferentes
alturas56.
Fora dos portões a comitiva aguarda a família real. Os carros do rei e da rainha estão a cargo de
um condutor. Junto dele, um palafreneiro, dois guardas e seis auxiliares esperam ordens. No registo
mais baixo, espera um terceiro carro, escoltado por quatro portadores de guarda-sóis, dois
portadores de cacetes e dois lanceiros. A guarda pessoal do rei exibe a habitual variedade de tipos:
seis egípcios, usando insígnias representando as cartelas de Aton e a barca do Sol (fig. 25), seguidos
por dois arqueiros núbios, dois sírios e dois líbios desarmados e envergando o seu traje tradicional.
No extremo direito está o palácio sob a bênção dos raios de Aton e que já aparecia na parede
ocidental (fig. ) . Deve notar-se que o céu não termina no modo habitual. A tira azul expande-se na
extremidade e é colorida a vermelho. Isto representa o ponto do horizonte onde a abóbada azul
55 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 32. 56 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 32.
25
descansa nos penhascos do deserto. A ideia é transmitida noutros túmulos desta necrópole onde as
colinas foram definidas como , , ou .
Recompensa de Meriré I
Zona inferior, da parede oriental e adjacente da parede Norte (zona inferior da Pl. XXV,
englobando Pls. XXX-XXXII).
Fazia parte dos deveres de qualquer sumo-sacerdote, e como tal de Meriré I, superintender o
fornecimento da alimentação do deus, o que pressupunha armazéns plenos de provisões. A parte
superior da cena (Pl. XXIX) mostra a região entre o portão do armazém de cereal e as margens do
rio, como ilustrando o facto de as provisões de Akhetaton chegarem principalmente por via fluvial.
Treze barcos estão representados, ligados por cabos duplos aos postes de amarração, e constituindo
uma espécie de floresta de mastros57. Uma prancha em degraus foi baixada até à beira d’água para
facilitar a descarga das mercadorias. Todos os barcos possuem um mastro com um enfeite no topo
ao qual está amarrada a enxárcia58 e, a nível superior, um dispositivo consistindo numa cabeça de
papiro suportando o que parecem ser as cartelas de Aton, pintadas ou gravadas num altar. As
cabeças dos pesados remos de direcção estão adornadas, tal como os mastros. Os anéis de borla59
estão atados ao mastro em intervalos para receber o cordame por meio dos quais as vergas60 são
elevadas e baixadas.
57 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 34. 58 Enxárcia, conjunto de cabos fixos que prendem os mastros ás amuradas dos navios. 59 Borla: rodela no topo do mastro da bandeira. 60 Verga: pau preso ao mastro do navio onde se amarra a vela.
26
Fig. 25 – Meriré I recompensado pelo rei. Câmara dos pilares, lado oriental.
Davies, I, Pl. XXV.
Como os barcos estão atracados, as velas foram enroladas. O capitão está à proa prestando
homenagem ao rei61. Três ou quatro grandes jarros, nos seus suportes, recipientes cheios de quartos
de carne, mostram o tipo de carga que transportam, os impostos de Aton. Os conveses estão cheios
de cercas para o gado miúdo, cada uma dos quais com espaço para vinte cabeças. Este já foi
desembarcado para os seus estábulos no cais. À popa está uma cabine com uma escada de convés.
O espaço acima do convés é ventilado por vigias quadradas.
O rei recebe Meriré I, acompanhado pela esposa e duas filhas, cujos nomes foram destruídos, tal
como os de seus pais, e de uma numerosa comitiva62. Na sua frente, o sumo-sacerdote mantém os
braços erguidos numa saudação. O pescoço, já carregado com seis colares de ouro, está pronto a
receber ainda mais que um superintendente63 lhe entrega, a mando de Akhenaton. E muitos mais
distintivos de ouro estão nas mãos se servos. Meriré enverga um traje festivo, brincos e um cone de
perfume seguro na testa por um filete64. É auxiliado por membros do pessoal do templo, três
sacerdotes (?) subordinados, dois flabelíferos e quatro portadores de guarda-sóis65. Um dos
flabelífero transporta o chicote e o ceptro, insígnias que provavelmente pertencem a seu amo. Os
quatro escribas estão provavelmente adidos ao superintendente do tesouro, uma vez que lhes cabe
reportar o evento e contabilizar os gastos envolvidos66.
61 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 35. 62 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 35. 63 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 35. 64 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 36. 65 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 36. 66 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. I, p. 36.
27
Texto
28
Dt nsw bit(y) anx m MAat nb tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra
O que foi dito67 pelo rei do Alto e do Baixo Egipto que vive em Maet, o senhor das Duas Terras,
Neferkheperuré-Uaenré:
29
pA imy-r pr.HD waw wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn
Ó superintendente da Casa da Prata e do Ouro, recompensa o «Grande dos Videntes» de Aton na
Casa de Aton em Akhetaton,
Mry-Ra
Meriré.
30
im ma nbw r xx.f pH(wy).f r rdwy.f
Coloca ouro em volta da sua garganta, do seu traseiro e dos seus dois pés!
31
Hr pA.f sDm tA sbA(yt) pr-aA anx wDA snb
Porque ele escuta o ensinamento do faraó − vida, prosperidade, saúde −
32
Hr iri pA Dd nb Hr nn
fazendo tudo aquilo que foi dito acerca disto68.
33
Swt nfrw iri n pr-aA anx wDA snb m Hwt bnbn
Os lugares belos feitos pelo faraó − vida, prosperidade, saúde − na Casa do Benben,
34
67 A grafia normal é Ddt e não . 68 De acordo com a reconstituição de Sandman. Ver SANDEMAN, op. cit., p. 2.
28
m pr-Itn n pA Itn m Axt-Itn mH xt nbt nfrt
na casa de Aton, para Aton, em Akhetaton, estão cheios de todas as coisas boas,
35
m it bty aSA pA wDHw Itm n pA Itn
de cevada e trigo, abundantes na mesa de oferendas de Aton, para Aton.
Resposta de Meriré:
36
wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn TAT(y) xw Hr wnmy nsw
O «Grande dos Videntes» de Aton na Casa de Aton em Akhetaton, o flabelífero à mão direita do
rei,
Hsi nb tAwy Mry-Ra Dd.f
o favorito do senhor das Duas Terras, Meriré, ele diz:
37
snb (Wa-n-Ra) pAy Sri nfr pA Itn
Saúde a (Uaenré), o belo filho de Aton!
38
im ma iry.f pAy aHaw(.k) im m-a sw r nHH Hna Dt
Concede-lhe o (teu) tempo de vida e (dá)-lhe conjuntamente a continuidade e a eter-nidade
Meriré regressa a casa (Pl. XXXII) e é recebido festivamente pela família e pessoal
doméstico que entoam uma saudação:
39
ii m (Htpt) … … … … … … … … … Ssp(.n).k… …
Regressa (em paz) … … … … … … … recebes(te) … …
40
pA wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn Mry-Ra mAa-xrw Dt
29
Ó «Grande dos Videntes» de Aton na Casa de Aton em Akhetaton», Meriré, justificado, para
sempre.69
Diz outra pessoa:
41
bA(k) n Itn… … … … … … … … … n pA Itn… … … … … … pt … …
servo de Aton … … … … … … … de Aton… … … … … … céu… …
A guarda real, constituída por cinco lanceiros, com escudo e machado de guerra, e dois
soldados? Transportando chicotes espera lá fora. As três bigas reais também aguardam.
Sala hipostila, porta norte. Lado esquerdo do lintel
42
iAw n.k pA Itn anx nb (n)HH iri (Dt) kA nsw nb tAwy
Louvores a ti, ó Aton vivo, senhor da continuidade que fazes a eternidade, e ao ka do senhor das
Duas Terras,
43
(Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra) aA m aHaw.f HqA iri srw
(Neferkheperuré-Uaenré), grande no seu tempo de vida, o soberano que faz os funcionários,
44
qd n nmHw Sayt x(t) di anx nb wDw dwy
e que faz os humildes, o destino de todas as coisas que dão vida, senhor daquilo que foi duas vezes
posto em decreto70.
45
di.k n.i qrst nfrt (m Dwn n Axt-Itn) in
Concede-me um belo funeral (na montanha de Akhetaton) ao
46
69 Reconstrução puramente hipotética mas que segue as de Davies e de Murnane. Ver respectivamente
DAVIES, op. cit., p. 38 e MURNANE, op. cit., p. 154. 70 dw, «colocar, pôr». Ver FAULKNER, op. cit., p. 309
30
( wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn Mry-Ra mAa-xrw)
(Grande dos Videntes de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, Meriré, justificado.)
O lado direito do lintel está praticamente ilegível. É possível distinguir:
47
iAw n… … … … .rr… … … … Itn … … … .pA …
Louvores a ti, … … … … … … Aton … … … o …
Ao centro, encontram-se uma vez mais os nomes e protocolos de Aton, do rei e da rainha.
Umbral esquerdo
1ªcoluna
48
iAw n.k
Louvores a ti:
49
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn di anx
Dt (n)HH
«Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de A luz que
vem do disco solar», dotado de vida eternamente e para sempre71.
50
di.f mAA Itn qmA xawy.f dwA.sw sDm.f r Dd.k
Concede-lhe que possa contemplar Aton, quando ele (Aton) cria as suas duas aparições em glória72.
Adora-o para que ele escute o que dizes.
51
n kA n wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn (Mry-Ra mAa-xrw)
Pelo ka do Grande dos Videntes» de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, (Meriré, justificado).
2ªcoluna
52
71 Segunda fórmula canónica do nome de Aton, sentido de leitura: esquerda para a direita. 72 Nascimento e ocaso.
31
Htp di nsw anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m
Itn
Uma oferenda que o rei faz ao «Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no
horizonte, no seu nome de A luz que vem do disco solar»
di anx Dt (n)HH
dotado de vida eternamente e para sempre.
53
di.f maHat n ir.s Htp bA Hr XAt.f n st (n)HH
Concede-lhe o túmulo que é feito (para o seu) repouso73 (a fim de que) o (seu) ba possa estar
sobre o seu corpo, no lugar da continuidade.
54
TAT(y) xw Hr wnmy nsw Mry-Ra mAa-Xrw
Pelo ka do flabelífero à mão direita do rei, Meriré, justificado
3ª coluna
55
Htp di nsw anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m
Itn
Uma oferenda que o rei faz ao «Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no
horizonte, no seu nome de A luz que vem do disco solar»
di anx Dt (n)HH
dotado de vida eternamente e para sempre.
56
di.f nmtt annt XnwHwt mAA stwt Itn wbn.f
Concede-lhe a entrada e saída do interior do túmulo, para ver os raios de Aton, quando ele nasce.
57
73 É uma tradução algo forçada. Murnane prefere: «for the one who prepared it». Ver MURNANE, op. cit.,
p.154.
32
n kA n wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn (Mry-Ra mAa-xrw)
Pelo ka do «Grande dos Videntes» de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, (Meriré, justificado).
4ª coluna
58
iAw n.k
Louvores a ti:
59
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn di anx
Dt (n)HH
«Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de A luz que
vem do disco solar», dotado de vida eternamente e para sempre.74
60
di.f anx iw.f (anx qsw.f) ssny TAw nDm n mHyt
Permita ele que as sua carne (viva nos seus ossos), respirando a doce brisa do vento norte
61
TAT(y) xw Hr wnmy nsw Mry-Ra mAa-Xrw
Pelo ka do flabelífero à mão direita do rei, Meriré, justificado
Umbral direito
1ªcoluna
62
Htp di nsw anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m
Itn
Uma oferenda que o rei faz ao «Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no
horizonte, no seu nome de A luz que vem do disco solar»
di anx Dt (n)HH
dotado de vida eternamente e para sempre.
74 Segunda fórmula do nome de Aton, sentido de leitura: esquerda para a direita.
33
63
di.f Ssp snw pri m-bAH pA Itn
Concede-lhe a recepçâo das oferendas de alimento que vêm da presença de Aton.
64
n kA n wr mAw n pA Itn
Pelo ka do Grande dos Videntes de Aton,
65
m pr Itn m Axt-Itn
na Casa de Aton em Akhetaton,
66
Mry-Ra mAa-xrw
Meriré, justificado
2ª coluna
67
Htp di nsw anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m
Itn di anx Dt (n)HH
Uma oferenda que o rei faz ao «Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no
horizonte, no seu nome de A luz que vem do disco solar», dotado de vida eternamente e para
sempre.
68
di.f qrst nfrt pA Dw n Axt-Itn
Concede-lhe um belo funeral, na montanha de Akhetaton.
69
n kA n sDAwty bity smr-wa TAT(y) xw Hr wnmy nsw Mry-Ra mAa-Xrw
Pelo ka do tesoureiro do rei do Baixo-Egipto, do amigo único (do rei), do flabelífero à mão direita
do rei, Meriré, justificado.
3ªcoluna
70
34
Htp di nsw anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m
Itn
Uma oferenda que o rei faz ao «Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no
horizonte, no seu nome de A luz que vem do disco solar»
di anx Dt (n)HH
dotado de vida eternamente e para sempre.
71
di.f wsr m tA bA(w) m dwAt pri bA sqbH.f m Hwt
Concede-lhe o poder (material) na terra e o poder espiritual na Duat. Que o seu ba entre e se
refresque no túmulo.
72
n kA n wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn (Mry-Ra mAa-xrw)
Pelo ka do Grande dos Videntes de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, (Meriré, justificado).
4ª coluna
73
Htp di nsw anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m
Itn
Uma oferenda que o rei faz ao «Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no
horizonte, no seu nome de A luz que vem do disco solar»
di anx Dt (n)HH
dotado de vida eternamente e para sempre.
74
di.f ………………..r tA …n (anxw) …Xr Hsw n nTr-nfr
Concede-lhe….. para a terra dos (vivos)… sob o favor do deus bom.
75
n kA n sDAwty bity smr-wa TAT(y) xw Hr wnmy nsw Mry-Ra mAa-Xrw
Pelo ka do tesoureiro do rei do Baixo-Egipto, do amigo único (do rei), do flabelífero à mão direita
do rei, Meriré, justificado.
35
Câmara dos pilares. Porta sul
Lintel
Ao centro, os protocolos reais e o de Aton
76
Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra
Neferkheperuré-Uaenré
77
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn
«Viva Ré, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de luz que
vem do disco solar».
Porta sul
Lintel, lado esquerdo
78
iAw n kA.k anx m mAat nb tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra
Louvores ao teu ka, ao (ka daquele) que vive em maet, ó senhor das Duas Terras, Neferkheperuré-
Uaenré,
79
pA Hpy wsr tw Hr wDw.f pAy.i kA n Ra-nb
ó Nilo (o rei) sobre cujo poder se fica próspero, meu ka de todos os dias!
80
bw nm(H) n pA sDm sHrw.k wHmw.f m ib.f
Não fica pobre o que escuta as (tuas) directivas e as repete no seu coração.
81
wADwwy pA aHa m-bAH.k di ib.f n sbAytw(.k)
Quão próspero é o que está de pé na tua presença e entrega o seu coração aos os teus ensinamentos,
82
Xr di.k n.f iAwt n ddi.k n nw nfr Hr sxmw.k
36
pois tu concedes-lhe a velhice, que te pertence dar, e um bom tempo (de vida) sob o teu poder75.
83
in wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn TAT(y) xw Hr wnmy nsw
Pelo «Grande dos Videntes» de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, o flabelífero à mão direita do
rei,
Mry-Ra (mAa-xrw)
Meriré, (justificado).
Lado direito
84
iAw n kA.k pA Itn anx sHD tAwy m nfrw.f
Louvores ao teu ka, ó Aton vivo que ilumina as Duas Terras com a sua beleza,
85
kA nsw anx m mAat nb xAaw Ax-n-Itn aA m aHa(w).f
e ao ka do rei que vive em maet, o senhor das coroas, Akhenaton, grande no seu tempo de vida.
86
ntk (HqA wADw) tw m SAw sxpr srw(dw)
Tu é que és o soberano próspero pelo teu destino, que traz à existência e faz revigorar
Haw (bw nb)
todos os corpos76.
87
Haai ib.i m mAA nfrw.k anx.i n sDm r Ddw.k
O meu coração rejubila ao ver a tua beleza e vivo de escutar os teus ditos.77
75 nw, «tempo». 76 Reconstrução com base em Murnane. 77 No sentido de «ensinamentos».
37
88
di.k n(.i) iAw bn wAt r r.k
Concede-(me) a velhice, (coisa) que não está longe da tua boca78
89
qrs(t) nfr(t) m (Axt-Itn)
e um belo funeral em Akhetaton.
90
in wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn TAT(y) xw Hr wnmy nsw
Pelo Grande dos Videntes de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, o flabelífero à mão direita do
rei,
Mry-Ra (mAa-xrw)
Meriré, (justificado).
Em baixo e à esquerda
Reconstrução de acordo com o lado direito:
91
iAw n kA.k pA Itn anx sHD tA m nfrw.f
Louvores a ti, ó Aton vivo que ilumina a terra com a sua beleza,
92
kA nsw anx m mAat nb xAaw Ax-n-Itn aA m aHa(w).f
e ao ka do rei que vive em maet, o senhor das coroas, Akhenaton, grande no seu tempo de vida.
93
di.f qrst nfrt pA (m) Dw n Axt-Itn st n Hsiw
Que ele conceda um belo funeral na montanha de Akhetaton, o lugar dos favoritos,
78 É o rei que concede aquilo que podemos chamar «pensões de velhice», através de um decreto especial «que
sai da sua boca». Veja-se o texto que está gravado nas paredes do túmulo de Nebamon, em Cheikh abd el-
Gurna. Trata-se de um oficial que serviu nos reinados de Tutmés IV (c. 1400-1390 a. C.) e Amen-hotep III (c.
1390-1353). Ver LALOUETTE, Thèbes, p. 463.
38
94
wnn.k im.s n kA Hsy n nb tAwy
onde tu estás, nele mesmo. Pelo ka do favorito do senhor das Duas Terras
95
wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn TAT(y) xw Hr wnmy nsw
o Grande dos Videntes de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, o flabelífero à mão direita do rei,
Mry-Ra (mAa-xrw)
Meriré, (justificado).
Lado direito
96
iAw n kA.k pA Itn anx sHD ta nb m wbn.f
Louvores a ti, ó Aton vivo que ilumina toda a terra, quando se ergue,
97
kA nsw anx m mAat nb xAaw Ax-n-Itn aA m aHa(w).f
e ao ka do rei que vive em maet, o senhor das coroas, Akhenaton, grande no seu tempo de vida.
98
di.f aHa(w) Awi m anx Xpr r iAwt
Concede um longo tempo de vida que se manifeste até à velhice
99
n ddi.f n kA n Hsy n nb tAwy wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn
e manda fazer isto pelo ka do favorito do senhor das Duas Terras, o Grande dos Videntes de Aton,
na Casa de Aton em Akhetaton ,
TAT(y) xw Hr wnmy nsw Mry-Ra (mAa-xrw)
o flabelífero à mão direita do rei, Meriré, (justificado).
39
Moldura da entrada.
Inscrição do umbral direito. Reconstituição de Sandmann:
100
iAw n kA.k anx m mAat nb xAaw Ax-n-Itn aA m aHa(w).f
Louvores ao teu ka, (ó tu) que vive(s) em maet, o senhor das coroas, Akhenaton,
grande no seu tempo de vida.
101
HqA nfr mr rmT … … … n r m Htpw nfrw …
Soberano perfeito que ama o povo … … … em pacíficos e perfeitos …
102
… anx … … … Haw.i nt tw iri.i
… vida … … … os meus membros, todas as vezes que eu faço …
103
… tp … ..r di.k n.i iAwt nfr(t) … .f
… … concede-me uma boa velhice …
104
n wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn TAT(y) xw Hr wnmy nsw
Pelo «Grande dos Videntes» de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, o flabelífero à mão direita do
rei,
40
Mry-Ra (mAa-xrw)
Meriré, (justificado).
Túmulo de Meriré (I). Espessura da parede interna, lado ocidental, (Pl. XXXVI).
Túmulo de Huya. Vão ocidental, (Pl. III)
Túmulo de Ahmés. Vão ocidental, (Pl. XXIX)
Hino ao Sol nascente
105
Wbn.k nfrw
Tu ergues-te em beleza
106
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn di anx
Dt (n)HH
«Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de luz que
vem do disco solar» e dotado de vida eternamente e para sempre.
107
pA Itn anx nn ky wpw-Hr.f ssnb irtwy
Ó Aton vivo − não há outro excepto ele − (o) que dá saúde aos dois olhos,
m stwt.f
com os seus raios,
108
pA ir wnnt nbt
o que fez tudo o que existe.
109
Haai.k m Axt iAbtt n pt r sanxt n.k nbt
Tu apareces em glória no horizonte oriental do céu, para fazeres tudo vivo (para conceder a vida a
todos) a partir de ti,
110
41
m rmT awt pAyt xnnt
nomeadamente: seres humanos, rebanhos, os que voam e pousam
111
m Ddft nbt nty m tA
e todos as serpentes que (se movem) na (sobre a) terra.
112
Anx.sn mAA.sn tw nma.sn xft Htp.k
Eles vivem quando te vêem e vão dormir quando repousas.
113
di.k sA.k mri.k anx m mAat Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra iw anx
Tu fazes com que o teu amado filho, que vive em maet, Neferkheperuré-Uaenré esteja vivo,
114
Hnk nHH iw Hmt-nsw wrt mryt,f nbt tAwy
fazendo oferendas para sempre, (com) a grande esposa real, sua amada, a senhora das Duas Terras,
115
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anxt Dt nHH r gs.f
Neferneferuaton-Nefertiti, viva eternamente e para sempre ao lado dele.
116
(di.k ) Hr irt hri rt ib.k Hr mAAw iry.k ra-nb
(Tu fazes com que ele) esteja a fazer o que alegra o teu coração e a ver o que tu fazes todos os dias
117
Haai.f n mAA n nfrw.f imi n.f (n)HH m nsw n tAwy
e ele (o rei) exulta ao ver a tua beleza. Garante-lhe a continuidade, como rei das Duas Terras79
Dedicatória da esposa de Meriré:
118
79 No túmulo de Meriré, o hino termina aqui, mas é continuado nos de Ahmés e de Huya.
42
Hsyt aAt n nbt tAwy Tnra mAat Hrwt Dd.s
A grande favorita da senhora das Duas Terras, Tenré justificada, ela diz:
119
iAw n.k pA iri rnpwt qmA Abdw
Louvores a ti, ó (senhor) que fazes os anos, crias os meses,
120
Iri hrw hsb wnnwt
fazes os dias e contas as horas.
121
nb aHa(w).f Hsb tw ink di.k aHa(w).k m Itn
Senhor do tempo de vida, pelo qual a contagem é feita. Concede o teu tempo de vida, em Aton80,
n sA.k Wa-n-Ra
ao teu filho Uaenré.
Continuação do Hino ao sol nascente, segundo os túmulos de Ahmés − Vão ocidental (Pl. XXIX) −
e de Huia
122
, Haai.f n mAA n nfrw.f imi n.f (n)HH m nsw n tAwy
Ele (o rei) exulta ao ver a tua beleza.
123
imi n.f anx wDA sxm ib THHwt Snni n.k … di r…
Garante-lhe vida, prosperidade e poder (no seu) coração, exultação em todos os que estão dentro do
teu círculo … …
124
… Axt Hr … xrpw st n kA.k
…horizonte para… (ele faz a) administração (delas) para o teu ka.
80 Um número infinito de anos.
43
125
pAy Sri wtt n.k Ds.k rx(w) mi Itn…
Um filho engendrado por ti, por ti próprio, reconhecido como Aton…81
126
Rsy mi mHtt imnt iAbty
(os povos que estão a) Sul, a Norte, e a Ocidente, (os povos que estão a) Oriente
127
iw Hry-ib WAD-wry m hnw n kA.f
e as ilhas que estão no meio do mar (aclamam) em júbilo o seu ka.
128
t(A)S.f rsy raw TAwy mHtt r sHD tw Itn
O seu limite do sul estende-se até às duas brisas e o do norte (vai) até onde brilha Aton.
129
HqAw.sn nbw m (spdd)yt
Todos os seus chefes são tributários,
130
bdS n bAw.f
desfalecendo diante do seu poder.
131
pA kA nfr sHb tAwy iri Xrt tA miqdnw Hw
O seu belo ka traz a festa às Duas Terras, cumpre o seu dever na terra, na totalidade do poder.
132
im-ma sw Hna.k r nHH
Coloca-o a teu lado para sempre,
133
81 Ver SANDMAN, op. cit., p. 8.
44
mi mrri.f mAA n.k imi n.f
porque ele gosta de olhar para ti. Concede-lhe
134
Hb-sdw aSA wrt m rnpwt Htpw(t)
numerosos e grandes jubileus em anos pacíficos.
135
imi n.f mrt ib.k mi aSA Say nw w(A)Dbw
Concede-lhe aquilo que é amado pelo teu coração (em tal quantidade) como as incontáveis areias
das praias,
136
mi nSmwt n rmw Hr itrw Snyw nA n iAw
como as escamas dos peixes sobre as águas e os pêlos dos bois 82.
137
imi masw (w)dy aA r km nxnt rt HD snfrw
Concede-lhe ser posto(= mantido) aqui (na terra), até que (a plumagem da ave) nekhenet fique negra
(e a da ave) seneferu fique branca83,
138
r aHat Dww r Smt r xnty mty
enquanto as montanhas estiverem de pé para irem fazer face à inundação84.
82 No original, .
83 Frase difícil de traduzir pela condensação das palavras como wdi, «pôr, colocar»; e
aA, «aqui». As aves nxnt e snfrw são desconhecidas. Apaenas sabemos que a primeira é uma
ave pernalta de plumagem branca e a segunda a tem negra. O escriba recorre à antinomia, uma ave negra
nunca será branca e vice-versa, para dar uma ideia de eternidade.
Murnane traduz os nomes das duas aves por «cisne» e «corvo» respectivamente, o que não é evidente. Ver
MURNANE, op. cit., p. 157.
84 xnty, «diante de»; mty, «cheia, inundação». Não é esta a opção de Murnane, que
prefere ler xnty como , «navegar para montante» e traduz «enquanto o rio flui para montante». A
tradução de mty por «inundação» está bem documentada em BONNAMY e SADEK, op. cit., p. 294.
45
139
Iw.i m Smsy nb tAwy
Eu sou o companheiro do senhor das Duas Terras.85
Final do hino, no túmulo de Ahmés
140
Iw m Smsy nTr-nfr wADw.f qrst n di.f
Eu sou o seguidor do deus bom até ele (Ahmés) ser rejuvenescido no túmulo da sua dádiva86.
Dedicatória de Huya
141
n kA n Hsy n wa-n-Ra imy-r ipt-nsw imy-r prwy n Hmt-nsw wrt Tiy
Pelo ka do favorito de Uaenré, intendente do harém real, administrador (lit. duplo intendente das
duas casas) da grande esposa real Tié
Huya mAa-xrw
Huya, justificado.
Dedicatória de Ahmés
142
sS-nsw(t) mAat mry.f TAT(y) xw Hr wnmy nsw imy-r rwyt
O verdadeiro escriba real, seu amado, o flabelífero à mão direita do rei, o intendente do lugar do
julgamento (lit. «do portão, da dupla porta»)
143
Imy-r pr n pr Ax-n-Itn aA m aHaw,f Iams mAa-xrw Dd.f
(e) mordomo da casa de Akhenaton, grande no seu tempo de vida, Ahmés, justificado, (tal como)
diz.
Antecâmara, parede sul, lado ocidental, (Pl. XXXVIII)
Hino ao rei
144
85 Final do hino, tal como aparece no túmulo de Huya. 86 No túmulo que o rei lhe concedeu.
46
iAw n.k pA wa-n-Ra di.i iAw n qAw n pt
Louvores a ti, ó Uaenré. Prodigalizo-te louvores até à altura do céu,
145
sHtp.i anx m mAat nb Haw Ax-n-Itn aA m aHaw.f
e apaziguo o que vive em maet, o senhor das Duas Coroas, Akhenaton, grande no seu tempo de
vida.
146
pA Hapy wsr tw Hr wDw.f kA(w) wSAw n Kmt
Ó poderoso Hapi, por cujas ordenações (existe) a comida e a gordura do Egipto,
147
HqA nfr qd.i irw.i sxpr.i di.n.f Sbi.n.i srw
bom soberano que modela a minha forma e me traz à existência, que ordenou que eu fosse
associado aos nobres.
148
pA Sw anx.i n ptr.f pAy.i kA n ra-nb
Ó luz, à vista da qual eu vivo, meu alimento de todos os dias!
149
In wa Hsy n nb tAwy saA n nsw n sHsy n bity iri n nb tAwy
Pelo favorito único do senhor das Duas Terras, que o rei do Alto Egipto promoveu e foi favorecido
pelo rei do Baixo Egipto, que o senhor das Duas Terras fez,
150
m kA.f wr-mAw n pA Itn m pr-Itn m Axt-Itn
por meio do seu ka, «Grande dos Videntes» de Aton na Casa de Aton em Akhetaton,
151
TAT(y) xw Hr wnmy nsw Mry-Ra mA-.xrw Dd.f
e flabelífero à mão direita do rei. Meriré, justificado, ele diz:
152
47
Di n.k iAw sbi.i nfrw.k
Presto-te adoração, proclamo a tua beleza
153
sqAy.i sxrw.f nfrw
e exalto os teus belos projectos,
154
pAy.i nb di n.i iAw bn wAt r.k bn HHy irt.i
ó meu senhor. Concede-me uma velhice que não esteja afastada de ti, sem (me ver obrigado a)
procurar, com o meu olho,
155
Hr nfrw.k r xpr imAx m Htp m xAst Spsy n Axt-itn
a tua beleza, até alcançar o estado de venerável, em paz, na augusta montanha de Akhetaton.
Lado ocidental
2ª Oração
156
iAw n.k anx m mAat nb nt nbt nb tAwy
Louvores a ti que vives em maet, senhor de tudo o que existe, senhor das Duas Terras
157
Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx Sri nfr n pA Itn anx
Neferkheperuré Uaenré, dotado de vida, belo filho do Aton vivo.
158
wnn pt wnn.k iw.k r iri rnpwt SAw(t) Hfnw m Hb-sdw
Enquanto o céu existir, tu existirás (também)! Alcançarás inúmeros anos e centenas de milhares de
jubileus
159
iw.k dy dy r nHH Dt
48
Tu estás aqui para sempre e eternamente!
160
tA nb rmT Hr hAyw n kA.k
Toda a terra e o (todo o) povo rompem em aclamações ao teu ka.
161
iw tw n.k pA.sn HqA r iAw.sn nm.k r
Eles pertencem-te, (és) o soberano das suas aclamações quando percorres (o teu caminho?) para87
162
Irt bAw mi Itn anx msi tw.k mi msw Itn aHaw.k m Dt
exercer o poder, como Aton vivo. Tu és nascido tal como Aton é nascido e o teu tempo de vida é a
eternidade,
163
aHaw Ra m nsw n nb tAwy rnpwt Itn m pt
o tempo de vida de Ré, como rei das Duas Terras, os anos de Aton no céu
164
iw.k Hmsw m Axt-Itn st nfr
enquanto tu és residente (= resides) em Akhetaton, o lugar belo
165
ir.k n Ra iw n.st wbn nbw
que fizeste para Ré vir a ele e aparecer a toda a gente.
166
in wa iqr mr r nb.f Hsy n nb tAwy Hr bit.f
Por um que é único e excelente, preferido pelo seu senhor, favorecido pelo senhor das Duas Terras
pelo seu carácter,
167
87 Poderá ser uma alusão ao percurso de Akhenaton na grande avenida de Akhetaton, réplica terrestre do
percurso solar.
49
wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn Mry-Ra (mAa-xrw)
o «Grande dos Videntes» de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, Meriré.
Diante de Meriré:
168
sDAwty bity smr-wa Hsy n nb tAwy
Chanceler do rei do Baixo-Egipto, amigo único (do rei), favorito do senhor das Duas Terras,
169
wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn Mry-Ra mAa-xrw
«Grande dos Videntes de Aton», na Casa de Aton em Akhetaton, Meriré, justificado.
Antecâmara. Suportes dos umbrais da porta norte88, (Pl. XXXIX)
À esquerda
Coluna 1
170
iAw n.k pA Itn anx
Louvores a ti, ó Aton vivo,
171
kA nsw anx m mAat nb tAwy
e ao ka do rei89 que vive em maet, o senhor das Duas Terras
172
Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx
Neferkheperuré-Uaenré, dotado de vida.
173
di.f iAwt nfrt Smt Xr Hsiw r Dw n Axt-itn
Concede-lhe (a Meriré) uma boa velhice e uma partida em favor, para a montanha de Akhetaton,
88 O lintel está destruído. 89 Considerando a ausência da conjunção copulativa «e», a tradução desta frase põe problemas: louva-se a
Aton e ao ka do rei ou a Aton que é o ka do rei?
50
St.k n Dt
o teu lugar de eternidade
174
n kA n wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn Mry-Ra mAa-xrw
Pelo ka do «Grande dos Videntes» de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, Meriré, justificado.
Coluna 2
175
iAw n.k pA Itn anx kA nsw anx m mAat nb xAaw Ax-n-Itn aA m aHaw.f
Louvores a ti, ó Aton vivo e ao ka do rei que vive em maet, o senhor das coroas, Akhenaton, grande
no seu tempo de vida.
176
di.f qrst nfrt m-xt iAwt Hr tA Hsyw
Que ele conceda um bom funeral, depois da velhice, na terra dos favoritos.
177
n kA n sDAwty bity smr-wa TAT(y) xw Hr wnmy nsw Mry-Ra mAa-xrw
Pelo ka do chanceler do rei do Baixo-Egipto, amigo único (do rei), flabelífero à mão direita do rei,
Meriré, justificado.
Coluna 3
178
iAw n.k pA Itn anx Hmt-nsw wrt mrit.f nbt tAwy
Louvores a ti, ó Aton vivo e à grande esposa real
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anxt Dt nHH
Neferneferuaton-Nefertiti, viva eternamente e para sempre.
179
di.f aHaw qAi Hr mAA nfrw.k nn iri Ab m ptri.k
Que ela me conceda um longo tempo de vida a contemplar a sua beleza, sem cessar,
51
ra-nb
todos os dias
180
n kA n wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn Mry-Ra mAa-xrw
Pelo ka do «Grande dos Videntes» de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, Meriré, justificado
Coluna 4
181
iAw n.k pA Itn anx
Louvores a ti, ó Aton vivo,
182
kA nsw anx m mAat nb tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx
e ao ka do rei que vive em maet, o senhor das Duas Terras Neferkheperuré-Uaenré, dotado de vida.
183
di.f Ssp snw prt m-bAH qbHw xAt
Concede-lhe que receba as oferendas de alimentos e as libações que vêm diante da mesa de
oferendas
m pr Itn
na casa de Aton
184
n kA n sDAwty bity mri r nb.f Hsy aA n nb tAwy Mry-Ra mAa-xrw
pelo ka do chanceler do rei do Baixo-Egipto, amado pelo seu senhor, o grande favorito do senhor
das Duas Terras, Meriré justificado.
À direita
Coluna 1
185
52
iAw n.k pA Itn anx
Louvores a ti, ó Aton vivo,
186
kA nsw anx m mAat nb tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx
e ao ka do rei que vive em maet, o senhor das Duas Terras Neferkheperuré-Uaenré, dotado de vida.
187
di.f aq Hsw pri mrw Ssp Hsiw n nb tAwy
Permite que o favorito possa entrar e sair amado (para) receber os favores do senhor das Duas
Terras
(r)dit n ra-nb
(que são) concedidos todos os dias
188
n kA n wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn Mry-Ra mAa-xrw
Pelo ka do «Grande dos Videntes» de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, Meriré, justificado
Coluna 2
189
iAw n.k pA Itn anx
Louvores a ti, ó Aton vivo,
190
kA nsw anx m mAat nb xAaw Ax-n-Itn aA m aHaw.f
e ao ka do rei que vive em maet, o senhor das coroas, Akhenaton, grande no seu tempo de vida.
191
di.f Hwt.k nHH st.k n Dt nn xpr smx tw rn.i.k
Permita ele que (eu habite) na tua casa para sempre, o teu lugar de eternidade, sem que o meu nome
seja esquecido por ti.
192
r-pa(t) HAty-a sDAw bity
53
Pelo ka do senhor e membro da elite, chanceler do rei do Baixo-Egipto, amado pelo seu senhor,
Meriré, justificado.
Coluna 3
193
iAw n.k pA Itn anx Hmt-nsw wrt mrit.f nbt tAwy
Louvores a ti, ó Aton vivo e à grande esposa real
194
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anxt Dt nHH
Neferneferuaton-Nefertiti, viva eternamente e para sempre.
195
di.f rd(.k) htp(w).k m isy.k dm tw rn.k nHH Dt
Permita ele (Aton, que tu) prosperes com as tuas oferendas no teu túmulo e seja pro-nunciado o teu
nome, para sempre e eternamente
196
n kA n wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn Mry-Ra mAa-xrw
Pelo ka do «Grande dos Videntes» de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, Meriré, justificado.
Coluna 4
197
iAw n.k pA Itn anx
Louvores a ti, ó Aton vivo,
198
kA nsw anx m mAat nb tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx
e ao ka do rei que vive em maet, o senhor das Duas Terras Neferkheperuré-Uaenré, dotado de vida.
199
di.f qbHw n.k mswy n pr.k r r n isy.k
Concede-lhe uma libação (vinda) de ti, pelos meninos da tua casa, à porta do teu túmulo
200
54
n kA n Hsy sDAw bity smr-waty TAT(y) xw Hr wnmy nsw Mry-Ra mAa-xrw
pelo ka do chanceler do rei do Baixo-Egipto, do amigo único (do rei), do flabelífero à mão direita
do rei, Meriré, justificado.
Espessura da parede exterior, (Pl. XLI)
Lado ocidental
201
sDAw bity mri r nb.f Hsy wr sxpr n nb tAwy wr mAw n pA Itn
O chanceler do rei do Baixo-Egipto, amado pelo seu senhor, o favorito que o senhor das Duas
Terras faz existir (concedeu a existência a)o «Grande dos Videntes» de Aton,
202
m pr Itn m Axt-Itn TAT(y) xw Hr wnmy nsw Mry-Ra Dd.f
na Casa de Aton em Akhetaton, o flabelífero à mão direita do rei, Meriré, ele diz:
203
dwA Itn m xaa(i).f m Axt iAbtt n pt
Adoração a Aton quando ele aparece no horizonte oriental do céu.90
204
Nfrw wbn.k
Quão belo é o teu nascimento,
205
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn di anx
Dt (n)HH
ó «Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de luz que
vem do disco solar», dotado de vida eternamente e para sempre.
206
sHD n.k tAwy m nfrw.k Sni n.k
Tu iluminaste as Duas Terras com a tua beleza e percorreste
207
90O verbo é xai, «aparecer, nascer do Sol, aparecer em glória»; note-se a grafia particular no texto.
Daqui deriva o substantivo. xaw, «aparição em glória, coroação».
55
Idbwy m Itn … … nb xrw.s wAD.k st n sA.k mri.k
as duas margens, como Aton… a todos os que estão perto dela tu fazes prosperar para o teu amado
filho.
208
wD.k n.f iaw (n) ib.f im.sn
Ordenaste para ele as terras, para alegrares (lit. «lavares») o seu coração com elas
209
r irt hr(w) rmT kA.k xrp.f n.k st m ib
e para fazer felizes a Humanidade e o teu ka. Ele governa-as para ti, com o coração…
210
tA Xr.f mi wn.k Xr psDt m-bAH Hmt.f
A terra está sob ele, tal como estava sob ti91. Os Nove Arcos estão diante de Sua Majestade
211
w.sn dmd Xr tbty.f
e os seus chefes amontoam-se debaixo das suas sandálias.
212
di.k iry.f Haw.k m nsw n iw.f dy Hna.k nHH
Concede que ele cumpra o teu tempo como rei, estando aqui contigo para sempre92
213
Hr mAAw stwt.k ra-nb di.k n.f Hb-sdw rnpw aSAw
como espectador dos teus raios, todos os dias. Concede-lhe numerosos anos e jubileus
214
Snw.k nb r Xr st- Hr.f
91 Isto é: a terra que estava sob o domínio de Aton está agora sob o domínio do rei. Houve portanto uma
transferência de soberania do deus para seu filho Akhenaton. 92 Isto corresponde a pedir que o reinado Akhenaton dure o mesmo que o tempo de vida do deus Aton isto é,
a eternidade.
56
(e que) tudo aquilo que tu rodeias93 esteja sob a sua supervisão,
215
pAy.k Sri pri m Haw.k
(a do) teu filho que saiu do teu corpo,
216
nb tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx Dt (n)HH
o senhor das Duas Terras Neferkheperuré-Uaenré, dotado de vida eternamente e para sempre.
Lado oriental
217
sDAw bity smr-wa mty n nsw bit(y)
O chanceler do rei do Baixo-Egipto, amigo único (do rei) e seu favorito, (um que é) leal ao rei do
Alto e do Baixo Egipto,
218
wr mAw n pA Itn m pr Itn m Axt-Itn Mry-Ra mAa-xrw
o «Grande dos Videntes» de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, Meriré, justificado. Ele diz:
219
dwA Itn m htp.f m Axt imntt n pt
Adoração a Aton quando ele repousa no horizonte ociental do céu.94
220
Htp.k nfr
Quão belo é o teu poente,
221
93 Tudo o que está dentro da curva fechada que é definida pelo movimento aparente do Sol. 94 Reconstituição possível. Ver SANDMAN, op. cit., p.20.
57
anx Ra HqA m Axty Hay m Axt m rn.f m Sw (nty) ii m Itn di anx
Dt (n)HH
ó «Ré vivo, soberano dos dois horizontes, que rejubila no horizonte, no seu nome de luz que
vem do disco solar», dotado de vida eternamente e para sempre.
222
wAD.k Hr pt m Htpw tAwy tmw rmT
Tu atravessas o céu, em paz. As Duas Terras e toda a Humanidade
223
Hr hAy n Hr.k (Hr-a) iAw n wbn.k
aclamam a tua face (e, de imediato)95 (te dirigem) louvores quando te ergues
Hr.sn
sobre elas,
224
sA.k mri.k m mtt wpw-Hr.k m nsw r nHH
e o teu amado filho também. Tu és rei para sempre.
225
Haai.k. stHnt m inmw.k
Apareces, feito resplandecente nas tuas cores,
226
Iri irty n qmA n.f nb… … sanx n.f
fazendo os olhos de tudo que criou … Ele dá vida
227
Awt nbt snb snb tw n mAA stwt.k
a todo o gado miúdo, saúde aos que vêem os teus raios.
228
95 Segundo a reconstituição de Sandmann, que propõe Hr-rat para completar o espaço em falta. A
pl XLI mostra que não há espaço para o signo X1, pelo que teremos, quando muito, Hr-a ,«sem demora,
imediatamente».
58
Anx … HAtyw m ptry.k
Os corações vivem ao contemplar-te!
229
wnn sA.k mry.k
O teu amado filho existe
230
nsw-bit(y) anx m mAat nb tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di anx Dt (n)HH
como rei do Alto e do Baixo-Egipto que vive em maet, senhor das Duas Terras Neferkheperuré-
Uaenré, dotado de vida eternamente e para sempre.
Fig. Fig. Túmulo de Meriré I, TA 4. Entrada, lado ocidental.
Foto do autor, em 27 de Março de 2015. Correspondente a Davies, RTEA, vol. I, Pl. X.
59
Fig. Túmulo de Meriré I, TA 4. Parede sul, lado oeste.
Foto do autor, em 27 de Março de 2015. Correspondente a Davies, RTEA, vol. I, Pl. VI.
.
Fig. Túmulo de Meriré I, TA 4. Parede sul, lado este. Foto do autor, em 27 de Março de
2015.Correspondente a Davies, RTEA, vol. I, Pl. XXIII.