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Caso Clínico TRATAMENTO ENDODÔNTICO DE DENTE INVAGINADO COM HISTÓRICO DE TRAUMATISMO Maria Antonieta Veloso Carvalho de Oliveira 1 , Alexia da Mata Galvão 2 , Nayara Rodrigues Nascimento Oliveira 3 , Rodrigo Antônio Faria 4 , Renata Pereira Georjutti 4 ,Dardânia Beatriz Espíndula Pereira 5 1 Professora Doutora da Área de Endodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU) - MG. 2 Mestranda em clínica integrada na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU). 3 Especialista em Endodontia, mestranda em clínica integrada na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU). 4 Professor(a)Mestre da Área de Endodontia do Centro Universitário do Triângulo(Unitri) - MG. 5 Cirurgiã Dentista e Especialista em Endodontia, Uberlândia -MG. Introdução O dente invaginado é uma anomalia de desenvolvimento (malformação) de dentes resultante de uma invaginação da papila dentária durante o desenvolvimento do dente1 e se assemelha radiograficamente a um dente dentro do outro, por isso o termo dens in dente2. Na literatura existem outras denominações de dens in dente, densinvaginatus e odontoma dilatado entre outros, em decorrência de diferentes opiniões no que se refere a sua etiologia3. O tratamento do dente invaginado abrange distintos procedimentos clínicos. Em dentes hígidos aconselha-se a aplicação de selante de fóssulas e fissuras para proteção física da invaginação do tecido dentário. Na presença de cárie, sem exposição pulpar, deve-se restaurar o dente. Quando ocorrer exposição da polpa, a abordagem pode variar de um tratamento mais conservador (pulpotomia ou capeamento pulpar direto) a endodontia do dente, dependendo da condição de comprometimento do tecido. O tratamento endodôntico pode ser com ou sem apicectomia adjunta a obturação retrógrada4. Vários fatores podem afetar o prognóstico no tratamento não cirúrgico dos casos de invaginação dental. O Agregado de Trióxido Mineral (MTA) tem sido usado para a obturação em casos de anatomia apical anormal. Suas propriedades, tais como a capacidade de tomar presa em meio úmido, biocompatibilidade e uma vedação superior, o tornam uma possível opção para selar invaginações invasivas5. Assim, é de fundamental importância que o cirurgião-dentista detenha o conhecimento clínico e radiográfico sobre essa anomalia para a obtenção do diagnóstico, estabelecendo assim um plano de tratamento, selecionando materiais adequados e realize o devido acompanhamento do paciente. RELATO DE CASO CLÍNICO Paciente de 24 anos, gênero feminino, compareceu a Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU) para avaliação do dente 12, com estória prévia de dor espontânea intensa, o qual passou por uma consulta de emergência anterior. A paciente apresentava reabsorção externa do dente 12, histórico de trauma nos dentes anteriores e já havia realizadoortodontia. Clinicamente o dente apresentava restauração provisória (Figura 1), leve mobilidade de canino a canino, sem fístula e assintomático. Foi realizado teste de sensibilidade pulpar térmico frio com resultado negativo (Endo-Ice, Maquira, Paraná, Brasil). Ao exame radiográfico (Figura 1), foi observada extensa área radiolúcida apical, reabsorção óssea periapical e lateral e presença de dois canais radiculares.De acordo com os achados clínicos e radiográficos da primeira consulta

TRATAMENTO ENDODÔNTICO DE DENTE INVAGINADO COM HISTÓRICO DE … · 2018-01-16 · hipoclorito de sódio a 2,5% os canais foram secos com cones de papel absorvente (Maillefer, Dentsply)

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Caso Clínico

TRATAMENTO ENDODÔNTICO DE DENTE INVAGINADO COM HISTÓRICO DE TRAUMATISMO Maria Antonieta Veloso Carvalho de Oliveira1, Alexia da Mata Galvão2, Nayara Rodrigues Nascimento Oliveira3, Rodrigo Antônio Faria4, Renata Pereira Georjutti4,Dardânia Beatriz Espíndula Pereira5

1 Professora Doutora da Área de Endodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU) - MG.

2 Mestranda em clínica integrada na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU).

3 Especialista em Endodontia, mestranda em clínica integrada na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU).

4 Professor(a)Mestre da Área de Endodontia do Centro Universitário do Triângulo(Unitri) - MG.

5 Cirurgiã Dentista e Especialista em Endodontia, Uberlândia -MG.

Introdução

O dente invaginado é uma anomalia de desenvolvimento (malformação) de dentes resultante de uma invaginação da papila dentária durante o desenvolvimento do dente1 e se assemelha radiograficamente a um dente dentro do outro, por isso o termo dens in dente2. Na literatura existem outras denominações de dens in dente, densinvaginatus e odontoma dilatado entre outros, em decorrência de diferentes opiniões no que se refere a sua etiologia3.

O tratamento do dente invaginado abrange distintos procedimentos clínicos. Em dentes hígidos aconselha-se a aplicação de selante de fóssulas e fissuras para proteção física da invaginação do tecido dentário. Na presença de cárie, sem exposição pulpar, deve-se restaurar o dente. Quando ocorrer exposição da polpa, a abordagem pode variar de um tratamento mais conservador (pulpotomia ou capeamento pulpar direto) a endodontia do dente, dependendo da condição de comprometimento do tecido. O tratamento endodôntico pode ser com ou sem apicectomia adjunta a obturação retrógrada4.

Vários fatores podem afetar o prognóstico no tratamento não cirúrgico dos casos de invaginação dental. O Agregado de Trióxido Mineral (MTA) tem sido usado para a obturação em casos de anatomia apical anormal. Suas propriedades, tais como a capacidade de tomar presa em meio úmido, biocompatibilidade e uma vedação superior, o tornam uma possível opção para selar invaginações invasivas5.

Assim, é de fundamental importância que o cirurgião-dentista detenha o conhecimento clínico e radiográfico sobre essa anomalia para a obtenção do diagnóstico, estabelecendo assim um plano de tratamento, selecionando materiais adequados e realize o devido acompanhamento do paciente.

RELATO DE CASO CLÍNICO

Paciente de 24 anos, gênero feminino, compareceu a Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU) para avaliação do dente 12, com estória prévia de dor espontânea intensa, o qual passou por uma consulta de emergência anterior. A paciente apresentava reabsorção externa do dente 12, histórico de trauma nos dentes anteriores e já havia realizadoortodontia.

Clinicamente o dente apresentava restauração provisória (Figura 1), leve mobilidade de canino a canino, sem fístula e assintomático. Foi realizado teste de sensibilidade pulpar térmico frio com resultado negativo (Endo-Ice, Maquira, Paraná, Brasil). Ao exame radiográfico (Figura 1), foi observada extensa área radiolúcida apical, reabsorção óssea periapical e lateral e presença de dois canais radiculares.De acordo com os achados clínicos e radiográficos da primeira consulta

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na FOUFU, o diagnóstico clínico provável foi tratar-se de um dens in dente com Periodontite Apical Crônica, sendo indicado o tratamento endodôntico radical.

Na mesma sessão foi iniciado o tratamento endodôntico no dente 12, foi realizada a confecção do isolamento absoluto modificado. A abertura coronária foi realizada com broca esférica diamantada #1014 (FAVA, Pirituba, SP, Brasil) e brocamultilaminada de ponta inativa (Endo Z, Angelus Indústria de Produtos Odontológicos S/A). Os dois canais (um mesial e outro distal) foram acessados e explorados inicialmente com lima manual do tipo K-File #15 (Maillefer, Dentsply, Tulsa, Oklahoma, EUA). A odontometria mostrou que o canal mesial possuía 22 mm de comprimento e o distal apresentou comprimento de 15 mm.Após a odontometria, foi realizada a instrumentação dos canais radiculares pela técnica escalonada utilizando limas do tipo K-File (Maillefer, Dentsply) usando lima #15 até a memória de #40 no mesial e de #45 no distal, recuando em seguida até a lima #70. Toda instrumentação foi acompanhada de irrigação com hipoclorito de sódio a 2,5%. Os canais foram preenchidos após a instrumentação com medicação intracanal de pasta de Hidróxido de Cálcio associado ao PMCC (Callen, SSWHITE, São Cristóvão, RJ, Brasil) e selados com cimento provisório a base de óxido de zinco e eugenol.

Figura1. Aspectos clínico e radiográfico do dente 12

Após um mêscom a medicação foi realizada a obturação dos canais radiculares e restauração definitiva. Antes da obturação, fez se irrigação com EDTA por 3 minutos, seguida de irrigação com hipoclorito de sódio a 2,5% os canais foram secos com cones de papel absorvente (Maillefer, Dentsply). A obturação do canal mesialfoi feita por meio da técnica de condensação lateral e vertical com cimento a base de MTA (MTA Fillapex,Angelus Indústria de Produtos Odontológicos S/A) e cones de guta percha (Odous de deus). Em seguida, o canal distal foi totalmente preenchido com cimento reparador a base de MTA (MTA Repair HP,Angelus Indústria de Produtos Odontológicos S/A) (Figuras 2 e 3).

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Figura 2. Materiais utilizados para a obturação dos canais radiculares

Figura 3. Radiografia e aspecto clínico após a obturação

Após seis meses de proservação, foi possível observar o início de processo de reparação da lesão periapical, o dente encontra-se em função, assintomático e com ausência de bolsa periodontal e mobilidade (Figura 4).

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Figura 4. Radiografia após 6 meses Após seis meses também foi realizada tomografia computadorizada Cone Beam para acompanhamento e verificação de prognóstico (Figuras 5 e 6). Nos cortes coronais observou-se a presença de área hipodensa (radiolúcida) no terço médio do lado distal (canal distal, invaginação) e na região periapical do canal mesial (Figura 5). Nos cortes sagitais, observou-se presença de extravasamento de material obturador na vestibular do terço médio do canal distal e de área hipodensa (radiolúcida) na região periapical do canal mesial (Figura 6). Aparentemente, o tamanho da lesão periapical do canal mesial reduziu.

Figura 5. Cortes coronais do dente 12

Figura 6. Cortes sagitais do dente 12

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CONCLUSÃO

Após o término do caso clínico e diante da literatura pesquisada, concluimos que dentes invaginados geralmente ocorrem em incisivos laterais superiores e necessitam de tratamento endodôntico, uma vez que a invaginação predispõe ao desenvolvimento de cárie e consequente inflamação pulpar. A complexidade da anatomia de dentes invaginados gera dificuldades no tratamento endodôntico, desde a visualização do real formato de sua anatomia interna, a completa limpeza dos canais até a escolha do material de obturação para um selamento efetivo, como é o caso do MTA-Fillapex e o MTA Repair HP.

REFERÊNCIAS

1. Hülsmann M. Dens invaginatus: aetiology, classification, prevalence, diagnosis, and treatment considerations. IntEndod J.1997; 30:79-90.

2. Luberti R. Dente invaginado coronário. Rev AssocOdontArgent. 1987; 75(2):52-8.

3. Pécora ID, Vansan LP, Gariba Silva R, Aiello JSS: Densinvaginatus: Tratamento endodôntico em uma sessão. Rev Ass Paul Cirurg Dent (in press) 1990.

4. 4. Canger EM, Kayipmaz S, Celenk P. Bilateral dens invaginatus in the mandibular premolar region. Indian J Dent Res 2009; 20(2):238-40.

5. Alani A, Bishop K. The use of MTA in the modern management of teeth affected by dens invaginatus. Int. Dent. J., Swansea. 2009; 59(6):343-348