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Transcrição da entrevista Jô Ataliba.
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Jo – ele é professor linguísta... autor de uma nova gramática do português do Brasil... Ataliba
Castilho... venha pra cá...
((aplausos e música da banda, professor AC levanta da plateia e caminha em direção ao sofá
onde será ¨entrevistado¨ Uma mesa separa o professor do Jô, nela se encontram duas canecas
prateadas, um equipamento que parece ser um i-pad,a Gramática do professor e algumas
folhas soltas))
Jô – eu só não entendi o seguinte... eh:... gramática do português brasileiro... não houve uma...
inificação ai do português exatamente... pra que um sirva pra todos?
AC – não... o... a... unificação que houve foi da ortografia... só a forma escrita... mas essa... uma
legislação não consegue rearticular duas modalidades do português que estão se afastadno
progressivamente...
Jô – não... já estão bem afastadas né...
AC - [bem afastadas... bem afastadas né... então... então... desde meados
do século passado começou esse afastamento...
Jô – sempre foi uma coisa que eu achei muito curiosa... que... quando o primeiro livro que eu
escrevi O Xango... eu usava a palavra cavanhaque... em Portugal... ninguém mais sabia o que
queria dizer cavanhaque...
AC – Sei... é...
Jô- Ent/ mas qu/ porque a gente aqui falava o português... de certa forma... seiscentista...
porque parou ali né... e cresceu prum outro lado e eles cresceram prum outro... então... mas o
quiquié? é barbicha... é então... barbicha é cavanhaque SÓ::... os caras mais descolados e tal...
que conheciam bem a língua e que se lembraram... eu tenho a impressão que isso acontece...
muito... também... na gramática?
AC – há sim... isso acontece muito na gramática... (e) eu... procuro caracterizar isso nesse meu
livro você veja... o sistema de pronomes do português Europeu... é distinto do nosso agora...
Jô – vai dando exemplos
AC - [por exemplo nos ai... temos o tu... ainda mais nas regiões periféricas do Pís...
o você tomou conta do tu... o vós desapareceu... talvez na missa... não é? Mais não se usa mais
o... voz... nós usamos no lugar de vós... pode ser o nós... ou a gente... em lugar de vós você...
ou então o senhor... se houver mais formalidade... esses pronomes estão desaparecendo... se
eles desaparecem... muda a morfologia do verbo... fica mais simples... imagina (eu digo)
assim... eu falo... você fala... ele fala... a gente fala... eles falam... três formas só... não é mais
aquela morfologia complicada... no nosso tempo não é?...
Jô - [mas tem uma coisa...
AC - [das gramáticas antigas...
Jô- [é... tem uma coisa
curiosa... você falou no tu... mas o tu que se usa no Brasil é também... é... é... corrompido
porque... vamos dizer... não é... tu vai... né... também...
AC- [é...
Jô – lá no Rio Grande do Sul...
AC – [éh...
Jô – ¨não tu disse isso?¨... alguns ministros gaúchos... que foram ministros da educação que
falavam... com essa... essa modalidade vamos chamar... n4ao pode chamar de erro né...
já que é... toda uma região que fala
AC - [se as pessoas estão se falando... tão se entendendo né?...
Jô – é...
AC- a questão do erro é bem mais complicada que imaginar se a pessoa diz tu diz... não tu
dizes... então... isso já foi um erro não é?...
Jô – é...
AC- o erro... erro é quando uma pessoa fala e a outra não entende...
Jô- é... (risos dos dois) ai realmente... o outro responde em Árabe...
AC - [ai foi erro... você sabe que eu chava
que isso era café?
Jô – mas você qué um café?
AC – eu não quero... mas sempre achei que isso fosse café...
Jô – é o que o convidado quiser... você quer uisque?
AC- [ah... não... não... não... e você vai me dar uma caneca
dessa?
Jô- [só não tem miojo...
CLA:ro...
((risos da plateia))
AC- miojo não tem...
Jo- [miojo nem a sopinha da... hahaha... a sopinha de envelope da Beth.
((Beth Faria responde da plateia))
BF – eu vou tomar... de pacote...
Jô- [de pacote...
BF- [de pacotinho... ( )
Jô- Alex precisa providenciar pra ter a mão tudo aqui...
AL- ((do outro lado do palco, atrás do que parece ser um pequeno bar)) tá certo seu jô...
Jô- [a dona Beth
por exemplo deixou de tomar porque não tinha... ((plateia ri, todos riem)) professor...
BF- [que absurdo...
Jô- [tem uma coisa
que eu costumo dizer... e aplicar... alias... aqui no meu programa... desde que começou a VINte
e dois anos... hã... eu instituí que ia chamar todo mundo de você... tanto o o sapateiro como o
presidente da república... e::... no começo o Oto Lara... ligou pra mim porque eu entrevistei o
professor Bulhões... com noventa anos noventa e tantos anos... e eu chamava ele de
profeSSOR tal... mas de você... e ai... ele me ligou e falou... ¨OLha... você não pode falar... um
senhor de noventa e tanto¨... mas sabe qual é o problema? É que no Brasil o voc/ senhor não
é... é... caracteriza só uma diferença de classe... muito mais uma diferença de classe social...
quer dizer... você chama o médico de senhor e chama o acessorista... de você... quando que na
FRAnça... o ministro é chamado de vous e o acessorista também é vous...
AC- [também é vous... é...
Jô- então eu resolvi fazer isso e tal ele falou ¨ah::lha... uhn... não sei se concordo...¨ passou um
mês um mês e meio eu entrevistei o Luis Carlos Prestes... e fiz a mesma COisa... isso criou
uma... uma... soltura intimidade... de repente no meio da entrevista ele falou assim... ¨a Olga
foi o maior amor da minha vida...¨ coisa que ele nunca... nunca disse antes em entrevista
porque... quebrou uma uma formalidade... ai o Oto me ligou de novo e disse...
AC – fale você... ((risos))
Jô- é... então... porque acho que você... você não é só pelo lado do informal... é pelo Lado de
não fazer uma divisão que acaba... imagine num programa três pessoas que eu entrevisto...
uma é o presidente da república... outra é um sapateiro... ai eu chamo uma de senhor e outra
de você... acabou né?
AC – e o que é engraçado nisso... é que você teve uma origem MUito formal... ALtamente
formal... era um tratamento... era... vossa mercê...
Jô- [vossa mercê...
AC- era dado ao rei...
Jô – é...
AC – ai a burguesia lá em Portugal subiu e tal... ficou importante... e quis também ser tratada
de vossa mercê... ai o rei ficou bravo... ai então que surgiu o pronome vossa majestade... e
vossa merce virou você... vossuncê... voismicê... você... até que... me Minas ((Gerais)) já é cê...
agora calcule... vossa mercê... quatro sílabas... CÊ... uma... não é um grande progresso?
Jô- ((risos))
AC – cê vai cê fica cê fala... né?
Jô- [cê sabe...
AC - cê sabe né?... cê sabe...
Jô- eu acho curioso que em portugal ainda usa você... e você pensa que é... como se fosse mais
intimidade... não... é o contrário... é menos
AC- porque ainda guarda em Portugal esse sentido... mais cerimonioso...
que o você tinha... dada essa... sua origem né?
Jô- [agora...
AC - [então ainda fica...
Jô – eu queria perguntar professor... hã::... ai já me referindo a/ a nova ortografia... porque:
que::... o ex... antes... da palavra iniciada com aga... continua com hífem... e as outras (nã/)...
então por exemplo... e:x... e:x... herBÁrio... tem hífem... ex... o Ex honR:Ado... senador... que
não é mais... bababa... tem hífem... agora... sem se... não tem ponto... porque que cum... com
aga conservou o hífem... você sabe?
AC – sabe... essa questão da... do prefixo é muito difícil de regular... porque eles são
dinâmicos... alguns... que já grudaram vamos dizer assim... com a palavra... que vem depois...
ento esses são escritos juntos... OUtros ainda são... tem muita independência... ainda são
formas reconheCIdas como um prefixo... ai você coloca o hífem... de modo que...
Jô- [mas só se:\ só na frente da palavras com aga sem aga
sumiu
Inf.: não... pois é... pois é... sem dúvida... que sumiu foi até bom que já... sempre ajudou um
pouco mais... mas de todo modo as pessoas tem criticado muito... a reforma... por causa da
dificuldade da das regras do hífen... agora eu digo o seguinte... qualquer um que fosse fazer
aquela regra ia sofrer bastante... porque há essa questão da da da mudança das expressões...
não é? umas que já estão mais gramaticalizadas... como dizemos tecnicamente... outras
menos... então menos automatizadas... então é muito difícil... você representar na língua
escrita uma situação de mudança... eu acho que tem que ter paciência... é abrir o vocabulário
ortográfico e olhar lá...
Doc.: [é... e olhar... mas não seria mais simples... ó:: tem hífen em todas...
Inf.: [e acabou...
Doc.: pronto... porque aí não fica... tem... não tem... e tem uma frase que você chamou a
atenção... que eu acho Ótima... que eu acho que... tá até no telão... se eu não me engano...
olha aí... a:: a... remédio para libido... cumé que se tira o acento... da... palavra... PÁra...
Inf.: uhum
Doc.: ou se PÔe... foi o toMAR que trabalha conosco aqui... que escreve um português
impecável... porque assim... você não sabe se é um remédio pra parar a libido...
Inf.: uhum
Doc.: remédio para a libido... ou se é um remédio PAra... libido... não se sabe se é a favor ou
contra... nesse caso... não faz FALta... o aCENto... no pára de verbo parar?
Inf.: não... porque essa:: sentença... como todas as outras... ou essa expressão... nunca: vem
solta daquele jeito como está no telão...
Doc.: [não... sim... eu sei...
Inf.: isso vem dentro de um contexto...
Doc.: [mas no jornal... pode vim num jornal... num anúncio...
Inf.: [mas é... mas vem...
Doc.: remédio para libido...
Inf.: [pois é... mas daí vai depender da pessoa que tem ou nao tem a
libido... você não acha?
Doc.: isso... mas é isso que me assusta...
(risos)
Inf.: então...
Doc.: [imagina o velhinho que quer tomar o remedio pra ter mais libido... ele olha... rapaiz
(...) não... não quero...
Inf.: [escuta... ( ) pra mim...
(risos da platéia)
Doc.: enfim... a nossa...
Inf.: [enfim esse acento deu uma grande confusão... não?
Doc.: é::
Iinf.: a falta do acento...
Doc.: o o trema eu até:: concordo... porque realmente não tem muito sentido... só que... só
que pingüim vai ficar pinguim...
Inf.: não... não fica... não fica...
Doc.: já grudou... não tem jeito...
Inf.: você você fala um pouco de italiano? você fala...não fala?
Doc.: falo...
Inf.: você veja... o italiano fez uma reforma ortográfica há muito tempo... que que eles
resolveram? não há... acento... nenhum... pronto acabou... agora... você veja... é uma palavra
com muitas... é:: uma língua com muitas palavras proparoxítonas...
Doc: é::
Inf.: mas escuta... mas eu não sei se é doVREbero ou dovreBEro... para o verbo... ué... você...
o::... você escuta falar e você aprende... não é porque você não fala a língua... que eu vou ter
que enCHER o italiano de acento pra facilitar a sua vida... aprenda a língua... quando você ouvir
que é doVREbero... você sabe que é proparoxítona... e não põe acento nenhum...
Doc.: eu acho ótimo isso...
Inf.: então... simplifica a vida...
Doc.: não tem acento... tira fora...
Inf.: é... talvez você tenha a razão na questão do hífen... mas há algumas questões pra gente
pensar... não vou... me lembrar de exemplos agora... mas é... em algumas... é:: ques... em
alguns momentos... isso poderá causar... causar... a mesma dificuldade do (parto)...
Doc.: provavelmente... não é?
Inf: mesmo assim... mesmo não havendo libido...
Doc.: quando não há libido aí também não vale mais a pena...
Inf.: também...é::
(risos)
Doc.: o:: inglês é que eu acho uma língua... aliás o Bernatchov deixou uma parte... da sua
fortuna para fazer uma fundação... pra... melhorar um POUco a escrita da língua...
Inf: uhum
Doc.: porque você fala de um jeito e escreve
Inf.: [de outro
Doc.: [de uma maneira inteiramente diferente...
Inf.: é::
Doc.: caugh...
Inf.: é
Doc.: caugh é com gh no final...
Inf.: é
Doc.: (sons guturais) (...)
Inf.: é... porque era... porque era assim como cê ta falando... eles estão guardando a grafia do
do inglês medieval...
Doc.: [exatamente
Inf.: então escrevia assim... não querem mudar... mesma coisa francês... não querem mudar...
e aqui... que muda bastante as pessoas aí reclamam... então... imagine... inglês... o seu
exemplo... você precisa aprender LEtra por LEtra da palavra... porque não há uma regularidade
na grafia... além do ‘’caugh’’ tem o ‘’enough’’... né... então... é que aquele gh era uma velar
espirada... ‘’enough’’... se dizia antigamente... depois a palavra mudou... mudou... ficou
‘’enough’’... mas eles continuam escrevendo como falavam antigamente...
Doc.: tem até um exemplo que eu não vou me lembrar da palavra ‘’fish’’
Inf.: hum
Doc.: escrita... de um jeito inteiramente diferente... hum... porque é o f do ‘’caugh’’... o i do...
do... enfim... de cada uma das (duas)... que tem... que teria pronúncia diferente...
Inf.: uhum
Doc.: e fica uma coisa estranhíssima...
Inf.: uhum
Doc.: agora eu... quer dizer... em português... na reforma... eu acho que ficou mais fácil
escrever... eu acho
Inf: [ ah... ficou mesmo... ficou mesmo... é:: simplificou muita coisa
Doc.: [agora... se fosse abolir todos os
acentos...
Inf.: talvez aí seria... para alguns um paraíso...
Doc.: [para alguns então... abolir uma crase seria uma benção...
Inf.: talvez fosse mesmo...
Doc.: ô jô... você perguntou tantas coisas... pra bete...
Inf.: uhum
Doc.: sobre a peça dela... você não pergunta nada do meu livro...
Doc.: a gente tá falando SÓ do seu livro... mas eu VOU perguntar...
Inf.: tá bom... tá bom... (risos)
Bete: adorei...
Doc.: [você sabe... claro... isso também parte de um... de um conhecimento... de uma
intimidade que eu tenho com a bete há muito tempo...
Inf.: não... claro... claro...
Doc.: mas ham... eu espero que essa intimidade...
Inf.: [meus parabéns... viu bete
Bete: obrigada...
Doc.: mas espero que essa intimidade... espero que a intimidade surja aqui... porque como
estou terminando de escrever um livro eu vou aborrecer você bastante pra saber
Inf.: [ah... estou às suas ordens
Doc.: [o que que
está certo ou não...
Inf.: agora... você não precisa ler tudo isso aí não... viu... porque gramática é como dicionário...
Doc.: han
Inf.: a gente não lê tudo... né... lembra daquela história do sujeito que ficou preso... 30 anos...
quando ele saiu... mas coitado... você ficou preso lá... não tinha nenhum livro pra ler? tinha...
você gostou desse livro? não... mudava muito o assunto... que livro era esse? era um
dicionário... (risos) toda... toda hora mudava o assunto... quer dizer... não é pra ser lido é pra
ser consultado né?
Doc.: é
Inf.: há uma dúvida... consulta...
Doc.: ainda bem que não deixaram a lista telefônica com ele...
Inf.: [ a lista telefônica...
Doc: que tem muito personsagem mas não tem enredo....
Inf.: ( ) mas não tem enredo...
Doc.: agora... como que você consulta o seu... já que estamos falando aqui do próprio... ahn...
como é que você consulta?
Inf.: se você tem uma dúvida pontualizada... então há um índice de matéria no final... você vai
lá... olha aquela... aquele: aquele problema que está explicado ali e aí você vai remeter à
página...
Doc.: [você tá
bonito nessa foto
Inf.: normalmente é assim... eu fiquei bonito né? Ah... isso eu era mais novinho... viu Jô...
Doc.: [não parece
Inf.: o Pierce que é o editor... é... Não parece?
Doc.: não você... continua novinho
Inf.: ah... puxa... que susto....
(risos)
Inf..: eu mandei uma foto mais nova... é assim que a gente faz... não é?
Doc.: é? Eu acho que é... não é? (risos) eu não sei... mas eu tô aprendendo... ué
Inf.: ué... por exemplo... quando nós viemos aqui... o o pessoal aí da maquiagem andou
passando umas coisas... na cara da gente...
Doc.: ah... mas ficou tão natural...
Inf.: ficou natural? (risos) pois eu quero que você me dê... O o que você prometeu pra bete eu
também quero... eu quero a gravação desse programa...
Doc.: só? mas com o maior prazer...
Inf.: tá bom... pensei que ele fosse dizer... mas que cara de pau... heim?
Doc.: não... a cara de pau ta disfarçada pela maquiagem...
Inf.: pela maquia:gem... então foi por isso... (risos)
Doc.: professor... como é que se... então como é que se pesquisa aqui...
Inf.: então... se você tem o termo técnico... não sabe o que é... é onde você abriu... é o
glossário dos termos técnicos...
Doc.: [hum... por exe:mplo...
Inf.: se você tem um problema... e você quer saber como é que funciona a língua... aí você
procurar na continuação aí... que tem o:: índice de matérias...
Doc.: [agora... tem uma coisa que as pessoas
lorastênicas...
Inf.: uhum
Doc.: como eu... às vezes... meio obsessivas pelos... comparatistas... veja linguística histórica...
isso não é preguiça de escrever duas vezes?
Inf.: não... é porque... se você... a cada... tem histórias que é complexa... é mais de 100 anos...
renovou... e renasceu... agora no brasil desde os anos 80...
A – enTÃO... como aquilo teve vários movimentos científicos... se você dispersar aqueles
movimentos como comparatista neogramáticos estruturalistas pelo índice você não vai dar
visão do conjunto e o carinha se sente roubado... não é?
J – Perfeito...
[
A – então é isso
[
J – quer dizer é só... AH:: METAlingua... maravilha...
A – não é meta a língua é metalingua ((risos))
J – aí estamos entrando no perigoso terreno da por-no-gra-fia ((risos))
A – pornografia não te/não tem essa entrada... pornografia...
[
J – olha só... enDÓfora vê/veja voricida:...
[
A – fo...
[
J – foricidade... essa eu vou ver... porque essa eu
não tenho menor ideia do que se trata
A – você usa o tempo todo palavras fóricas palavras que retomam uma coisa que se já falou
J – hum:::
[
A – tão simples... não é... o Jô Soares tem um programa... ele faz esse programa há mais de
vinte anos ... o ele retoma Jô Soares prático né
J – isso chama-se
[
A – foricidade
[
J – foricidade
[
A – retoma né... ou então você antecipa uma coisa que vai dizer na frente
também
J – você vê... eu nunca li o seu livro eu já sabia disso...
[
A – e você (já sabia) ((risos)) não e: e mesmo sem ler o
livro você usa o português com toda adequação... não é por estar aqui na sua presença
[
J – não (muito obrigado)
[
A – ( )
[
J – fico feliz... é bom que::
[
A – não é por estar na sua presença
[
J – é bom que a gente conheça: as ferramentas que a
gente usa né?
[
A – pois claro... a: a razão desse livro está exatamente no que se acabou de falar... nós
falamos... aprendemos a falar em casa quando somos crianças... aprendemos a língua falada...
DEpois na escola aprendemos a língua escrita... e aí:: somos: apresentados a língua do estado
que é o padrão culto... bom... da língua/da língua portuguesa agora... QUANdo você aprende a
falar a sua mente trabalha de um modo incrível... pra conseguir dominar esta: realidade
humana TÃo com-pli-ca-da como é a língua porque é extremamente complicado... a gente ta...
fala o tempo todo escreve lê tudo bem... mas vai pensar um pouco... como é que eu solto os
sons aqui... este aparelinho aqui grava... vai aí para o ar... as pessoas escutem esses sons...
esCUtam esses sons... e entendem o que que eu tava pensando... mema coisa você... isso não
é um milagre? porque o som são os barulhos... os ruídos... como é que nós ligamos a esses
ruídos com as tantas ideias?
J – agora hum:: professor por exemplo... tem línguas que são mais... ah:::... apropriadas pra
filosofia como o grego: antigo: e o e o alemão pelo fato de de repente juntarem tudo numa
palavra só... não é?
A – não... não é por isso... qualquer
[
J – (não facilita) a expressão ó ( ) a coisa que se:: explica por si mesmo
pra falar isso em português a quantidade de palavras é enorme... em alemão é uma só.
A – é que há muitos filósofos que escreveram em alemão... muitos filósofos que escreveram
em grego... mas: ah:: os nossos colegas que tem descrito as línguas dos índios aqui no Brasil
mostram que eles tem... eh:: concepções por exemplo sobre numeração quantidade
ALTAmente sofisticadas mas como eles não escrevem....
[
J – (é claro:)
[
A – a gente não vai dizer que aquela língua é boa pra filosofia SEria se eles
escrevessem
[
J – porque são chamadas de línguas bárbaras né alemão inglês e tal...
[
A – é: ai também o bárbaro...
[
J – ( )
[
A – o bárbaro também tem um sentido que se perdeu...
[
J – eh::
[
A – bárbaro significa o que balbucia então sabe mal falar a
língua... era isso... depois se tomo/tomou esse outro sentido de não não civilizado mas não é
esse o sentido não
[
J – não não
[
A – mas mas viu::
[
J – sentido da época dos romanos que o cara chegava só blabla
[
A – é: não falava:: não falava o latim... esse ai é um bárbaro ta balbuciando não
fala a minha língua né... então como esses eram os germanos entre outros (então diziam) que
os germanos eram os bárbaros no sentido de gente brutal sem civilização... bom... as palavras
mudam de/ mudam de sentido né... mas uma coisa que eu... fiz... nessa gramática foi
justamente levar as pessoas a penSArem sobre o uso que ELAs estão fazendo o tempo todo...
cada vez que eu escrevo ou que eu falo a minha mente trabalhou muito... e o nosso trabalho
de linguistas é explicar ou tentar explicar o que se sabe porque não se sabe tudo... tentar
explicar o que aconteceu na sua mente na sua inteligência quando você produziu uma dada
expressão... é esse que é o interesse maior da linguística é você explicar como a mente
funcionou... por exemplo tava conversando com uma das suas auxiliares eh:: você veja como
que é a a o a nossa língua e uma outra língua qualquer... uma pessoa bate na minha parte e diz
da licença e eu falo pois não e a pessoa entra... mas eu falei não... ou então vem um aluno no
fim do no fim do do curso... um aluno que não estudou direito e fala professor e aí eu passei
de ano? eu falo pois sim... eu falei sim mas era não... isso é que é precisa ser explicado e que
eu explico aí
J – (pois não::)
[
A – quer dizer sim
J – sim... e pois sim:: quer dizer não
A – quer dizer não... veja lá
J – em Portugal também ou em::?
A – também...
J – também?
A – mesma coisa mesma coisa
J – é?
A – isso aí não é diferente
[
J – igualzinho
[
A – é... o que é diferente das duas modalidades são as inferências que são
feitas... quer dizer quando nós falamos nós não estamos colocando só no ar a: alguns sentidos
que não foram antes elaborados na nossa mente... que nós temos uma linguagem interna
conosco mesmos antes de por a linguagem no ar através dos meios físicos e falando ou então
escrevendo... então... você veja o o o o o modo como a gente ao falar eh:: revela que fez várias
comparações e:: e analisou a situação inferiu algumas coisas naquela situação e ai pôs aquela
expressão no ar aconteceu um enorme trabalho mental prévio... o trabalho da linguística é
mostrar que trabalho é esse
J – bom professor... uma aula né um papo maravilhoso... eu conversei com o professor Ataliba
T de Castilho... está lançando a nova gramática do português brasileiro pela editora com-tex-
to... professor... muito obrigado
[
A – obrigado eu
[
J – de verdade... daqui a pouco a gente volta ( ) ((aplausos))