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RESUMO A fotografia médica realizada de forma sistematizada e padronizada satisfaz plenamente a sua finalidade como documentação científica, principalmente em relação à sua reprodutibilidade. Uma documentação acurada é da inteira responsabilidade do autor de um trabalho, e é um pré-requisito obrigatório em publicações científicas. Na pesquisa da área cirúrgica, a Cirurgia Plástica tem estado na vanguarda da fotografia científica e, frequentemente, uma imagem torna-se mais significativa que a informação fornecida pela palavra escrita. Assim, este artigo visa transmitir os princípios desenvolvidos nessa especialidade às outras da área clínico-cirúrgica. É descrito o equipamento fotográfico básico para um pesquisador na área cirúrgica, e são propostos padrões de apresentação e posicionamento do paciente, assim como de sistematização fotográfica e enquadramento utilizando pontos de referência anatômicos.

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RESUMOA fotografia médica realizada de forma sistematizada e padronizada satisfaz plenamente a sua finalidade como documentação científica, principalmente em relação à sua reprodutibilidade. Uma documentação acurada é da inteira responsabilidade do autor de um trabalho, e é um pré-requisito obrigatório em publicações científicas. Na pesquisa da área cirúrgica, a Cirurgia Plástica tem estado na vanguarda da fotografia científica e, frequentemente, uma imagem torna-se mais significativa que a informação fornecida pela palavra escrita. Assim, este artigo visa transmitir osprincípios desenvolvidos nessa especialidade às outras da área clínico-cirúrgica. É descrito o equipamento fotográficobásico para um pesquisador na área cirúrgica, e são propostos padrões de apresentação e posicionamento dopaciente, assim como de sistematização fotográfica e enquadramento utilizando pontos de referência anatômicos.Essa padronização resulta numa fiel comparabilidade entre fotografias pré e pós-operatórias. Também são os tópicoscomo a documentação fotográfica intra-operatória, na Cirurgia Vídeo-Assistida, na fotogrametria computadorizada ena Cirurgia Experimental.Descritores: Fotografia. Processamento de Imagem Assistida por Computador. Antropometria. Fotogrametria. Documentação.

IntroduçãoA finalidade da fotografia médica não é o resultado

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sob o ponto de vista artístico, com técnicas sofisticadasde laboratório ou efeitos de iluminação de estúdio. Elarepresenta uma documentação ou um exame e, como tal,tem que ser o mais real e nítida possível. A diferençaentre a fotografia médica e a fotografia artística é que naprimeira deve-se retratar o real e não aquilo que se desejatransmitir. Em analogia, na fotografia jornalística não sepode eliminar nenhum componente do quadro. Nafotografia médica, devem-se eliminar objetos estranhosque interfiram na atenção do assunto fotografado, comopor exemplo, as mãos dos cirurgiões ou compressascirúrgicas. A maioria das especialidades cirúrgicas visao restabelecimento da função de algum órgão ouaparelho, com exceção da Cirurgia Plástica, que tem comoobjetivo também a manutenção e melhoria da forma. Porisso, desde 1954, durante o I Congresso Internacional deCirurgia Plástica em Estocolmo (Suécia), quando HaroldGuillies afirmou que o avanço mais importante daespecialidade na época era a fotografia, o cirurgiãoplástico tem estado na vanguarda da fotografia médicocirúrgica.1A documentação de imagens na pesquisa científicapode tornar seus resultados passíveis de mensuração,podendo assim ser analisados de forma objetiva e precisapela fotografia. Para isso é fundamental que o cirurgiãopadronize posições e ângulos fotográficos, de forma quepossam ser reproduzidos para o mesmo e outrospacientes, assim como no pré e pós-operatório.2,3,4 Dessamaneira, torna-se possível validar a comparação detécnicas e resultados, preservando o rigor científico. Aqualidade da fotografia transmite a seriedade do cirurgião

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e o rigor científico do seu trabalho. O presente artigovisa dar ênfase à documentação fotográfica aplicada naatividade científica, propondo uma padronização empesquisas clínico-cirúrgicas e experimentais.Finalidade da fotografia na pesquisaNa atividade científico-acadêmica, independente daespecialidade médica, a documentação fotográficapossibilita a transmissão de conhecimento e experiênciade um cirurgião à sua comunidade científica e vice-versa.A fotografia é muito útil no ensino da Cirurgia em nívelde graduação, especialização e pós-graduação.5 Afotografia intra-operatória, embora mais difícil depadronizar, é um valioso recurso para esta finalidade emtoda a área cirúrgica. Ainda, o acervo fotográficopossibilita o estudo estatístico e uma análise da evoluçãocientífica de uma equipe médica, ou dos resultadosobtidos em um serviço. Nesse contexto científicoacadêmicoa fotografia digital e o diapositivo (cromo),este gradualmente caindo em desuso, possuem maioraplicação, sendo a imagem digital ainda útil para uso naInternet.Equipamento e AcessóriosRecomenda-se, no caso de câmeras convencionais,o uso de máquinas fotográficas com zoom regulável de35 mm a 105 mm, e com recurso de macrofotografia(“macro”). As fotografias de contorno corporal, degrandes áreas corporais ou do tronco comumente podemser obtidas com ajuste do zoom em 35 mm ou 50 mm. Paraas fotografias de face, pescoço, membros ou algumdetalhe é recomendado um zoom de 105 mm.2,6,7 O recurso

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da macrofotografia é mais utilizado para fotografar, a umadistância bem próxima, pormenores do corpo ou de umalesão. Se a opção for por câmera digital, sugere-se asque possuem uma resolução do sensor digital commínimo de 3 megapixels. As diversas câmeras existentespossuem uma correspondência própria em relação àdistância focal das câmeras convencionais. Todavia, éfundamental manter a mesma distância focal da objetivana fotografia pré e pós-operatória. O uso de um tripépara dar mais estabilidade à máquina fotográfica éopcional. Porém, em fotografias com grande aumento(macrofotografia), ou quando usa-se as leves câmerasdigitais, o tripé é mais necessário, pois a manutenção dofoco ou do enquadramento, respectivamente, é instável.A iluminação é um tópico de extrema importância e derigor técnico na fotografia científica, destacadamente naCirurgia Plástica. Uma iluminação excessiva ousuperexposição de luz pode mascarar sulcos, rugas oucicatrizes, dando uma falsa impressão visual de resultados(inadvertida ou propositalmente). Da mesma forma, umailuminação deficiente, ou subexposição da luz, podeprovocar sombras que acentuam pregas ou cicatrizes,distorcendo uma realidade.8,9Recomenda-se o flash eletrônico montado sobre acâmera fotográfica, ou adaptar uma sala como estúdiofotográfico para a tomada de fotografias pré e pósoperatórias.10 O uso do flash-circular ou ring-flash(dispositivo em formato circular adaptado em torno daobjetiva) é simples e não ocasiona sombras ou reflexos.Porém, tem o inconveniente de, às vezes, “achatar” aimagem. Tampouco é útil quando se necessita fotografarpormenores com profundidade (perspectiva) ou lesões

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com relevo. Este tipo de flash é mais recomendado paraobter fotografias intra-orais (Cirurgia Bucomaxilofacial)ou intracavitárias.11Em relação ao fundo fotográfico, o mesmo precisaser liso, uniforme e opaco para evitar reflexos. Tem-sedifundido o fundo fotográfico na cor azul e preto. Porém,o Clinical Photography Committee of the PlasticSurgery Educational Foundation, definiu a cor azulceleste como a melhor para ser usada como fundofotográfico para qualquer tipo étnico de paciente, e paraobter fotografias coloridas ou em preto e branco.12Recomenda-se, além dessa cor, um fundo tipo “focoinfinito”, ou seja, sem angulação de 90° entre a parede eo piso por atrás do fundo, sendo essa transição de formacurva, dando ao fundo fotográfico uma forma côncavanesse nível (Figura 1). Contudo, quando em fotografiasonde os pés também devam ser incluídos, e o fundo tipo“foco infinito” não estiver disponível, a cor do fundofotográfico deve-se estender sob os mesmos por meiode alguma adaptação local, mesmo em ângulo reto.FIGURA 1 - Aspecto do fundo fotográfico com fundo tipo“foco infinito”.

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Fotografia científica (II)

Terminámos o post anterior com as fotografias tiradas pela NASA a Neil Armstrong, o astronauta que ao pôr pela

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primeira vez o pé na Lua, a 20 de Julho de 1969, declarou “isto é um salto de gigante para a humanidade”, e para a NASA o início de uma nova era.

Nasa, Missão STS 41 - C James D. Hoften na alcova de armazenamento do Shuttle Challenger durante a colocação do stélite solar Max, Abril, 1984

Mas foi também a olhar para os céus, para as estrelas e constelações, que David Stephenson apontou a sua câmara fotográfica, e inspirado na Fuga de Bach e na beleza sublime da abóbada celeste vista num deserto da Austrália, local privilegiado para a observação, tirou estas magníficas fotografias.

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David Stephenson, Estrelas 1996/nº702, 1996

David Stephenson, Estrelas 1996/nº706, 1996

É a olhar para o céu que o homem se situa

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de novo no centro do Universo, pois é a olhar para o céu que o homem se confronta com o infinito, o melhor campo para a imaginação deambular. E a imaginação de Stephenson deambulou ao incluir o tempo_ o movimento_ o movimento aparente das estrelas - resultado da rotação da terra - e o movimento da rotação da câmara fotográfica que predeterminou.Para fotografar a constelação Orion, a primeira fotografia, Stephenson rodou a câmara fotográfica em 90º por quatro vezes, deixando em cada exposição, o tempo de cinco minutos. Na segunda, fotografou a Cruz do Sul, onde manteve a rotação da câmara mas onde o tempo foi três vezes superior.Para obter configurações mais complexas, como estas espirais,

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David Stephenson, Estrelas 1996/nº1004, 1996

Stephenson programou mais rotações para tempos de exposição mais curtos, vinte e quatro rotações de 15º para tempos de exposição de três minutos. A estrela brilhante que traça esta espiral é provavelmente o planeta Vénus, pensa Stephenson.Mais recentemente, 2005, começou uma nova série de cartas celestes, utilizando tempos de exposição que durarão uma noite inteira. Nestas duas fotografias, os títulos são explícitos sobre a posição e o dia.

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David Stephenson, Estrelas W x NW, 1-2/9/2005, Austrália Central, 2005

David Stephenson, Estrelas N x NE, 3-4/9/2005, Austrália Central, 2005

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Ao contemplar estes céus, espaço e tempo confundem-se, é a reinvenção do sublime a partir da câmara fotográfica, pois há fotógrafos que conseguem ultrapassar os limites da fotografia.

Mas foi precisamente sobre o movimento, o movimento invisível da locomoção, que Françoise Paviot inicia a sua visita guiada em “Yes Indeed”, a exposição sobre fotografia científica que montou na sua galeria e que tem inspirado estes posts.Como refere Paviot no vídeo, falar de movimento em fotografia, é falar de Étienne-Jules Marey (1830-1904) e Eadweard Muybridge (1830-1904), reparem na coincidência das datas de nascimento e morte. Ambos criaram aparelhos apropriados para o registo do movimento e deram a conhecer ao mundo movimentos imperceptíveis em observação directa. A fotografia era então utilizada como solução de vários problemas científicos relacionados com o movimento.Muybridge, instigado por Leland Stanford um rico criador de cavalos da Califórnia, consegue fotografar a corrida de um cavalo com intervalos regulares e precisos.

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Eadweard Muybridge, Galloping Horse, 1878

Através de uma técnica sofisticada e utilizando um novo tipo de câmara, Muybridge conseguia registar as fases de um movimento, que para o olho humano seriam difíceis de detectar e mais tarde alarga estas suas experiências à locomoção humana.

Eadweard Muybridge, Plate 365, do livro "Animal Locomotion", 1885

Em 1887, compilou nos seus onze volumes de “Animal Locomotion” mais de 20 000 fotografias.

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Eadweard Muybridge, Ben Bailey subindo uma escada, 1885

Marey era fisiologista, e vivia em França. Para ele as funções vitais, objecto de investigação fisiológica, eram fenómenos puramente mecânicos. Através dos aparelhos que criou, Marey conseguia traduzir em termos gráficos os movimentos do corpo e dos seus órgãos internos, como o pulsar do coração.A imagem gráfica não nos dá a realidade, não é mimética, é antes uma transformação métrica de determinados fenómenos inacessíveis aos nossos sentidos. Os registos gráficos desenvolveram-se no início do século XIX e eram uma novidade, por exemplo uma frase podia ser representada por um conjunto de curvas, (ondas

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radiofónicas) aplicadas a um aparelho vibrador que restituíam uma frase sonora e estes mecanismos de registo produziam imagens totalmente novas.

Estudo fisiológico da voz humana, M. Piltan, 1887

Marey enquanto fisiologista e homem das ciências foi dos primeiros a escrever sobre o assunto. Em 1878, publicava “La méthode graphique dans les sciences expérimentales”. Neste livro, Marey ilustrava através de gráficos, fenómenos físicos complexos, difíceis de explicar ou mostrar. De forma mecânica, através dos aparelhos que criou, Marey conseguia captar, medir e transmitir traços que constituíam os registos gráficos.

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Étienne Jules Marey, excitações sucessivas no músculo de uma rã, do livro "La Méthode Graphique"

Por fenómeno entendia Marey tudo que fosse caracterizado por variações de grandeza física, como dilatação, temperatura, pressão, velocidade do vento, corridas, bolsas de valores, estatísticas de natalidade…, cuja variação lenta ou rápida, brusca ou contínua, tinha como variável fundamental o tempo. Para ele todos os fenómenos, sejam eles económicos, metereológicos, fisiológicos, estatísticos, biológicos, físicos…eram determinados pelo tempo.

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Étienne Jules Marey, Diferentes traços de um mesmo fenómeno fisiológico, pulsação cardíaca, 1894

Por ser eficaz e útil ao permitir a visibilidade de fenómenos invisíveis, o método gráfico tornou-se numa nova linguagem universal e foi amplamente divulgado mesmo fora dos meios científicos. No ano em que Marey publicou o seu livro, 1878, Muybridge publicava as suas primeiras sequências da corrida de um cavalo. Ao vê-las, Marey não se contenta com o seu método gráfico, e utiliza a câmara fotográfica para também ele registar de forma mecânica e precisa o movimento de um homem a correr durante um determinado tempo.

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Étienne Jules Marey, Fotografia representando as diversas fases sucessivas de um homem a correr, do livro "La photographie du mouvement"

Contudo para precisar melhor o movimento, o modelo vestia-se de preto e nos membros e articulações pertinentes à análise do movimento da locomoção, pintou linhas e pontos brancos.

Étienne Jules Marey,

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Estudo da locomoção c. 1884

Étienne Jules Marey, Análise cronofotográfica da marcha, 1883

Nestas imagens o sujeito em movimento aparece em posições múltiplas em diferentes pontos no espaço. Marey transformava também a fotografia num método gráfico, produzindo diagramas de um novo género.

Étienne Jules Marey, Marcha de um homem, trajectória de diferentes articulações, do livro "Développement de la

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Méthode Graphique par l'emploi de la photographie"

Em 1887 utiliza o termo cronofotografia, que levaria mais tarde à invenção do cinema, para designar as fotografias registadas de forma sucessiva na mesma placa fotográfica.

Étienne Jules Marey, cronofotografia, 1890

Com o desenvolvimento de placas mais sensíveis à luz, em 1888-89 Marey deixa a placa única e fotografa em vários momentos (50 fotografias por segundo), o movimento. A imagem global lê-se como uma sequência de imagens elementares que por sua vez são posições reais no espaço e no tempo.Se no virar do século, ambos os trabalhos influenciaram os futuristas italianos, como Anton Giulio Bragaglia,

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Anton Giulio Bragaglia, O estalo, 1912

também Marcel Duchamp não ficou imune a estas influências ao pintar o seu “Nu descendo uma escada”, 1912,

Marcel Duchamp, Nu descendo uma escada, 1912

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o quadro que provocou um escândalo no Armory Show, 1913, de Nova Iorque. Alguns anos mais tarde Harold Edgerton, registava o grafismo deixado pelo bastão de uma majorette,

Harold E. Edgerton, A drum majorette at the Belmont, Massachusetts, High School Twirling a baton, 1948

enquanto que Andreas Feininger, registava em desenho as curvas das pás em movimento de um helicópetro.

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Andreas Feininger, Desenho feito por helicóptero com luzes nas pás do rotor, Navy Field em Anacostia, Maryland, 1949Na actualidade, o movimento implícito de ambos os trabalhos continua a despertar a atenção dos artistas contemporâneos. No ano passado o centro Georges Pompidou adquiriu para a sua colecção fotográfica, os trabalhos do artista Olafur Eliasson, que à semelhança de Marey registou as oscilações da locomoção humana, como um registo gráfico.

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Centro Pompidou, exposição dos trabalhos adquiridos para a colecção, Dezembro 2007

Olafur Eliasson, Centro Pompidou, exposição Dezembro 2007

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Olafur Eliasson, Centro Pompidou exposição Dezembro 2007

Olafur Eliasson, Centro Pompidou exposição Dezembro 2007

Sol LeWitt, o artista conceptual que morreu no ano passado, deixou-se fascinar pelo fenómeno do movimento ao ver o livro “Animal Locomotion” de Muybridge. Se o trabalho de Muybridge facilitou a invenção do cinema, para LeWitt vai ser o modus

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operandi dos seus trabalhos seriais. Para ele as séries de Muybridge eram também interessantes por nenhuma delas ter um ponto culminante, faziam todas parte de um todo que isoladamente perdiam o seu significado principal, ou seja, o movimento implícito. Como LeWitt referiu “a corrida de um homem no livro de Muybridge foi a inspiração para todas as transformações de um cubo dentro de um cubo, um quadrado dentro de um quadrado…”. “Variações de cubos incompletos”, a série de cubos incompletos que o espectador terá de completar, é hoje um trabalho de referência. Mas "Parede de Tijolos" será talvez o trabalho fotográfico que melhor representa esta dinâmica serial. Composto por 30 fotografias, tiradas de uma das janelas da sua casa o ponto de vista é fixo, mas “sempre que olho para a parede ela muda e mantém uma beleza constante, em todos os momentos”, diz LeWitt. E em "Muybridge I, Representações esquemáticas de uma vista interior" uma homenagem ao inspirador:

Sol Lewitt, Muybridge I, 1964

Julguei no início que a fotografia científica ocuparia dois posts, afinal...