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24 | zOOm f oto-aventura TEXTO E FOTOS: MAURÍCIO MATOS Viagem à Costa Rica Leica M9 . 1/64” . ISO 160 Latitude: 10,471495º N Longitude: 84,758823º W Quando compramos um carro novo damos um passeio maior e dizemos que fomos fazer a “rodagem”. Ora, então quando se compra uma câmara nova faz- se o quê? Viaja-se até outro continente para fazer a rodagem do novo equipa- mento? Foi isso que fez o nosso viajante de eleição, Maurício Matos, que partiu rumo à Costa Rica para experimentar a sua nova Leica.

TEXTO E FOTOS: MAURÍCIO MATOS Viagem à Costa Rica · não tive muito tempo para perceber como eram as coisas. ... e também me impede de tirar certas fotos. ... as Leicas M9 e M8

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foto-aventuraT E X TO E F O TO S : M AU R Í C I O M ATO S

Viagem à Costa Rica

Leica M9 . 1/64” . ISO 160Latitude: 10,471495º NLongitude: 84,758823º W

Quando compramos um carro novo damos um passeio maior e dizemos quefomos fazer a “rodagem”. Ora, então quando se compra uma câmara nova faz-se o quê? Viaja-se até outro continente para fazer a rodagem do novo equipa-mento? Foi isso que fez o nosso viajante de eleição, Maurício Matos, que partiurumo à Costa Rica para experimentar a sua nova Leica.

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“Esta foi a minha segunda visita à Costa Rica mas, na prática,foi a primeira vez que vi o país com olhos de ver. Na pri-meira ocasião em que lá estive a estadia foi muito breve e

não tive muito tempo para perceber como eram as coisas. Estes 10dias que lá passei, e nos quais percorri 2200 km de carro, deixaram-me com uma ideia muito mais concreta em relação ao país e às pes-soas.

Para começar, tive bastante sorte com o tempo. Arrisquei ir numaépoca em que muitas vezes chove, algumas dessas vezes uma chuvatorrencial, como ficou provado poucos dias depois de eu voltar, quan-do aconteceu uma tempestade que até pontes levou. No entanto, e noperíodo em que eu lá estive, o tempo esteve geralmente bom e só tivechuva no final da minha viagem, quando já não me atrapalhoumuito.

Apesar disto, e para quem estiver a pensar visitar, nada como ir emdezembro, janeiro ou fevereiro, quando o tempo bom é garantido. Aparte má é que é época alta e os preços sobem consideravelmente. Epor falar em preços, a Costa Rica não é um desses países baratos ondese pode passar muito tempo com pouco dinheiro, pelo menos paraquem quiser ficar em hotéis bons ou com um mínimo de qualidade.Também os restaurantes não são propriamente baratos, pelo menos

nos locais mais turísticos, que foi onde eu andei. O preço da gasolinaé igualmente alto. Não tão alto como em Portugal mas não fica tãolonge assim.

Sendo a Costa Rica um país pequeno, funciona um pouco comoPortugal. É possível, num dia, atravessar o país de um lado ao outro. Épossível acordar numa qualquer praia do Oceano Atlântico e ir ver opôr do sol numa praia do Oceano Pacífico. O estado das estradas é, emalguns locais, miserável… muito especialmente na Península deNicoya. Além disso, e devido ao perfil dessas estradas, as distânciasenganam um pouco. Mesmo aquelas estradas que são boas, têm umperfil sinuoso, devido à geografia do país. E visto que quase não exis-tem estradas com duas faixas em cada sentido, é mesmo muito com-plicado ultrapassar, em especial nas zonas onde existem as grandesplantações de bananas, que são altamente frequentadas peloscamiões que as transportam.

Apesar disto, é muito simples conduzir na Costa Rica, embora acon-selhe a utilização de um GPS para encontrar facilmente os locais avisitar. No meu caso utilizei um mapa para aparelhos Garmin e fun-cionou na perfeição. Relativamente a documentos, a Carta deCondução portuguesa é tudo o que é preciso, juntamente com o pas-saporte… e sei isso por experiência própria porque fui mandado parar

Leica M9 . 0,5” . ISO 160Latitude: 9,624416º NLongitude: 85,09717º W

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pela polícia mais do que uma vez.Em relação à beleza natural do país, penso que é visível nas fotos

que tirei, embora eu me tenha concentrado especialmente nas praias,que foi onde passei a maioria do tempo. E as praias são muitas, divi-didas pela costa do Atlântico e do Pacífico. Daquilo que visitei, gosteimais do lado do Pacífico.

E além das praias, existem os vulcões. São vários mas a jóia dacoroa é o Vulcão Arenal. Desta vez, e ao contrário do que aconteceuna minha primeira visita, consegui vê-lo e fotografá-lo, embora ape-nas por uns minutos. É preciso, de facto, ter alguma sorte para teruma visão perfeita de todo o cone do vulcão. Já os vulcões Poás eIrazú, nada! Apenas nevoeiro. Acontece. Existem ainda os diversosparques nacionais, com inúmeros quilómetros quadrados de florestatropical, onde se pode observar um enorme número de espécies defauna e flora.

Leica: “Fotografar menos, masmelhor”Poucas semanas antes desta minha viagem, tomei uma decisão

drástica e arriscada em relação ao meu equipamento. Resolvi trocaras minhas DSLR por um par de Leicas. Foi uma mudança radical que

envolvia muito mais do que uma simples troca de máquinas e objeti-vas.

Representava uma mudança completa na forma de fotografar.Agora, algumas semanas passadas, posso dizer com toda a certezaque a adaptação foi boa. A viagem foi um sucesso e estou muitosatisfeito com as fotos que trouxe comigo. Como sempre digo, qual-quer câmara é uma solução de compromisso: não há nenhuma queseja perfeita. Houve momentos em que senti a falta das minhasCanon, fosse pela focagem automática, fosse por ser à prova dechuva. No entanto, foram muito mais os momentos em que agradecio facto da Leica ser uma câmara pequena, compacta… um prazer deusar.

Vou começar por referir os aspetos mais chatos na utilização dasLeica em fotografia de viagem. Afinal de contas, o tipo de fotografiaque mais faço e que mais prazer me dá. Em primeiro lugar, e aquiloque mais me incomoda na Leica, é a sujidade no sensor, coisa à qualjá não estava habituado há uns anos. As M9 e M8 não têm qualquersistema de limpeza de sensor, comum hoje em dia em qualquerDSLR… e no meu tipo de fotografia, que usa essencialmente aberturaspequenas, qualquer partícula de pó se torna visível. Esperemos queesta questão possa ser resolvida em futuras versões da máquina.

Leica M9 . 1/1000” . ISO 160Latitude: 9,808084º N

Longitude: 84,90311º W

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Leica M9 . 1/180” . ISO 160Latitude: 9,624478º N

Longitude: 85,15075º W

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O LCD da máquina é simplesmente ridículo. Éinadmissível que uma máquina de quase 6000euros tenha um LCD tão fraco. A mim não me fazgrande diferença porque não sou muito de avaliaras fotos pelo LCD. Mas para quem tem o hábito de ofazer, é uma tragédia. Simplesmente o elo fraco daLeica M9 (e da M8 também).

Outro problema que surge quando se fotografacom uma ‘rangefinder’ é a utilização de filtros, emespecial filtros polarizadores, que eu tanto uso. Aoolhar pelo visor de uma Leica, não se tem o feed-back do filtro, visto que não se está a olhar atravésda objetiva como numa DSLR. Assim sendo não seconsegue perceber qual o efeito que o filtro está ater na imagem.

Existem basicamente duas soluções para isso.Uma, a minha preferida, é usar filtros que tenhammarcas, caso dos Heliopan, e ter um na lente e umna mão. Rodar o da mão e olhar através dele e,quando o efeito for o desejado, ver a marca e colocaro filtro que está na lente na mesma posição. Sim, échato… nada prático. A outra solução é simplesmen-te ir rodando e ir tirando diferentes fotos até obter adesejada.

O facto da máquina também não ser resistente a chuva ou pó limi-ta um pouco as condições em que podemos fotografar, especialmentetendo em conta o custo e o medo que temos de danificar a câmara dealguma forma. De certeza que não fotografava com a Leica em algu-mas das condições que cheguei a fotografar com a 1D Mark IV.

Em relação a coisas menos positivas, estamos conversados. E osaspetos que mais me agradaram? Bem… em primeiro lugar a razãoprincipal pela qual eu fiz a troca. Equipamento mais leve, mais com-pacto, mais “user friendly”.

E, após estes 10 dias na Costa Rica, posso dizer que de facto é umprazer fotografar com estas câmaras. Um pequeno saco é suficientepara levar um corpo com uma objetiva e duas ou três objetivas mais.Algo que não pesa e não incomoda da mesma forma que incomoda-

ria se fosse uma 1D, mais 3 ou 4 objetivas L.A qualidade é também visível. Em relação ao corpo

das Leica, é aquela sensação de estar a fotografar comuma obra de arte. Construção primorosa, sem falhas.Simplesmente nada a apontar (tirando o LCD, do qual jáfalei). Uma peça que, simplesmente pelo seu estilo,aumenta o prazer de fotografar. O facto de estar a foto-grafar com uma máquina diferente também dá umcerto prazer. Sim, para mim é tão importante o prazerque tenho a usar uma máquina como a qualidade dasimagens que esta produz.

Já em relação às objetivas Zeiss, que são a minhaescolha devido ao preço absurdo das Leica, a qualidadeque já esperava tendo em conta o que conhecia delas.Ótima construção, nítidas, compactas.

A respeito das fotos que saem da M9, do melhor quejá vi. Fotos nítidas, ricas em cores, com muito menosnecessidade de edição, mesmo fotografando em RAW,coisa que sempre faço. Fotos que podem ser impressasem tamanho enorme, mantendo a qualidade.

O facto de ser obrigado a lidar com a focagemmanual faz-me fotografar menos, mas melhor. Esta é asensação com que fiquei. Tiro menos fotos mas aprovei-

to mais das que tiro. Faz-me também fotografar de forma diferente,optar por coisas diferentes, e também me impede de tirar certasfotos. Mas é algo que eu já sabia quando fiz esta opção. No entanto,não são as fotos que não se tiram que importam… o que realmenteimporta são aquelas que se tiram e a qualidade com que ficam.

Em conclusão, as Leicas M9 e M8 não são máquinas perfeitas.Nenhuma é. Tem os seus problemas, as suas falhas, mas é provavel-mente a máquina com a qual tive mais prazer em fotografar até hoje.Não vou dizer que vão ser as minhas máquinas no longo prazo, por-que hoje em dia o mundo da fotografia muda quase de um dia para ooutro. Não se sabe o que aí vem.

Mas, atualmente, não há nenhuma outra máquina que eu preferis-se ter. É tão simples como isso.” !Z

Na malade viagem...

Leica M9Leica M8

Objetivas:Zeiss 21mm f/2.8 Biogon T* ZMZeiss 28mm f/2.8 Biogon T* ZMZeiss 50mm f/1.5 C Sonnar T* ZMZeiss 85mm f/4 Tele-Tessar T* ZM

Site http://www.mauriciomatos.com

Leica M9 . 1/750” . ISO 160Latitude: 9,6518º N

Longitude: 85,1736º W