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Tema: Produção e Finanças€¦  · Web viewMarx chama uma delas de manufatura heterogênea em que a produção ocorre em paralelo, e a outra de manufatura orgânica em que a produção

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Page 1: Tema: Produção e Finanças€¦  · Web viewMarx chama uma delas de manufatura heterogênea em que a produção ocorre em paralelo, e a outra de manufatura orgânica em que a produção

O Capital – Crítica da Economia PolíticaCooperação e Manufatura

Cooperação

"A produção capitalista começa ... de fato apenas onde um mesmo capital individual ocupa simultaneamente um número maior de trabalhadores, onde o processo de trabalho ... amplia sua extensão e fornece produtos numa escala quantitativa maior do que antes."

"Com respeito ao próprio modo de produção, a manufatura ... mal se distingue, nos seus começos, da indústria artesanal das corporações a não ser pelo maior número de trabalhadores ocupados simultaneamente pelo mesmo capital. A oficina do mestre-artesão é apenas ampliada."

"Na produção de valor, os muitos contam como muitos indivíduos. Para a produção de valor, não diferença que 1200 trabalhadores produzam isoladamente ou unificados sob o comando do mesmo capital. Contudo, dentro de certos limites, ocorre uma modificação. O trabalho objetivado em valor é trabalho de qualidade social média, portanto a manifestação de uma força de trabalho média.... Portanto, a lei geral da valorização só se realiza completamente para o produtor individual tão logo ele produza como capitalista, empregue muitos trabalhadores, ao mesmo tempo, pondo assim em movimento, desde o início, trabalho social médio."

"Mesmo não se alterando o modo de trabalho, o emprego simultâneo de um número relativamente grande de trabalhadores efetua uma revolução nas condições objetivas do processo de trabalho."

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1ª modificação "... [uma] economia dos meios de produção decorre apenas de seu consumo coletivo no processo de trabalho"

"A forma de trabalho em que muitos trabalham planejadamente lado a lado e conjuntamente, no mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes, mas conexos, chama-se cooperação".

2ª modificação "... a soma mecânica das forças de trabalhadores individuais difere da potência social de forças que se desenvolve quando muitas mãos agem simultaneamente na mesma operação indivisa... Não se trata aqui apenas do aumento da força produtiva individual por meio da cooperação, mas da criação de um força produtiva ... de massa."

3ª modificação ademais "... o mero contato social provoca, na maioria dos trabalhadores produtivos, emulação e excitação particular dos espíritos vitais (animal spirits) que elevam a capacidade individual de rendimento das pessoas... o homem é, por natureza, se não um animal político, como acha Aristóteles, em todo caso um animal social.”

4ª modificação Quando "... muitos que se completam mutuamente fazem o mesmo ou algo da mesma espécie..." tem-se uma forma de cooperação simples. Eis que "... essa forma mais simples de trabalho coletivo desempenha, mesmo na forma mais desenvolvida da cooperação, papel importante. Se o processo de trabalho é complicado, a ... massa ... permite distribuir as diferentes operações entre diferentes braços e, portanto, executá-las simultaneamente, encurtando o tempo para fabricar o produto global."

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5ª modificação "Em muitos ramos de produção há momentos críticos, isto é, períodos de tempo fixados pela própria natureza do processo de trabalho, durante os quais determinados resultados do trabalho têm de ser atingidos... [exigindo] o emprego simultâneo de muitas jornadas combinadas de trabalho..."

6ª modificação "... a cooperação permite estender o espaço em que se realiza o trabalho, sendo, por isso, exigida em certos processos de trabalho pela configuração espacial do objeto de trabalho". Exemplo: construção de diques.

"Em comparação com uma soma igual de jornadas de trabalho isoladas individuais a jornada de trabalho combinada produz maiores quantidades de valor de uso", ou seja, aumenta a produtividade do trabalho. Se, conforme o caso, ela obtém essa força produtiva mais elevada por aumentar a potência das forças mecânicas do trabalho, ou por estender sua escala espacial de ação, ou por estreitar o campo espacial de produção em relação à escala de produção, ou por mobilizar no momento crítico muito trabalho em pouco tempo, ou por provocar a emulação entre os indivíduos e excitar seus espíritos vitais, ou por imprimir às operações semelhantes de muitos o cunho da continuidade e da multiplicidade, ou por executar diversas operações ao mesmo tempo, ou por economizar os meios de produção mediante seu uso coletivo, ou por emprestar ao trabalho individual o caráter de trabalho social médio, em todas as circunstâncias a força produtiva específica da jornada de trabalho combinada é força produtiva social do trabalho ou força produtiva do trabalho social. Ela decorre da própria cooperação. Ao cooperar com outros de um modo planejado, o trabalhador se desfaz de suas limitações individuais e desenvolve a capacidade de sua espécie".

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Para Marx, pois, vem a ser uma das tarefas históricas do capitalismo desenvolver a força produtiva social do trabalho.

"Se os trabalhadores não podem cooperar diretamente sem estar juntos, sendo, portanto, sua aglomeração em determinado local condição de sua cooperação, os trabalhadores assalariados não podem cooperar, sem que o mesmo capitalista os empregue simultaneamente e, portanto, compre ao mesmo tempo suas forças de trabalho".

"A concentração de grandes quantidades de meios de produção em mãos de capitalistas individuais é, portanto, a condição material para a cooperação de trabalhadores assalariados, e a extensão da cooperação, ou a escala da produção, depende do grau dessa concentração."

""... o comando do capital sobre o trabalho parecia originalmente ser apenas conseqüência formal do fato de o trabalhador trabalhar, em vez de para si, para o capitalista e, portanto, sob o capitalista. Com a cooperação de muitos trabalhadores assalariados, o comando do capital converte-se numa exigência para a execução do próprio processo de trabalho, numa verdadeira condição da produção."

Em outras palavras, aquilo que Marx chama de subsunção formal do trabalho ao capital se consolida históricamente como condição da produção.

"Todo trabalho diretamente social ou coletivo ... requer ... uma direção, que estabelece a harmonia entre as atividades individuais ... essa função, superintender e mediar torna-se função do capital, tão logo o trabalho a ele subordinado torna-se cooperativo..." E assume características específicas:

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Pois, "... o motivo que impulsiona e o objetivo que determina o processo de produção capitalista é a maior autovalorização possível do capital ... a maior exploração possível da força de trabalho. ...Cresce a resistência da massa de trabalhadores e ... cresce a pressão do capital para superar essa resistência. A direção capitalista não é só uma função específica surgida da natureza do processo social de trabalho ... ela é, ao mesmo tempo, uma função de exploração de um processo social de trabalho ... condicionada pelo inevitável antagonismo...

"... a direção capitalista é, pelo seu conteúdo, dúplice ... por um lado, é processo social de trabalho ... e, por outro, processo de valorização do capital ... ela é quanto à forma despótica.

"O capitalista não é capitalista porque ele é dirigente industrial, ele torna-se comandante industrial porque ele é capitalista. O comando supremo na indústria torna-se atributo do capital...."

" ... O capitalista [ao contratar 100 trabalhadores] paga o valor das 100 forças de trabalho independentes, mas não paga a força combinada dos 100. ... Como cooperadores ... eles não são mais do que um modo específico de existência do capital. A força produtiva que o trabalhador coletivo desenvolve como trabalhador social é, portanto, força produtiva do capital." Assim, "ela aparece como força produtiva que o capital possui por natureza, como sua força produtiva imanente..."

"... a força produtiva social do trabalho desenvolvida pela cooperação aparece como força produtiva do capital, a própria cooperação aparece como forma específica do processo de produção capitalista, em contraposição ao processo de produção de trabalhadores isolados independentes... " Dadas as formas do capital, têm-se aqui duas ilusões reais, coisas sociais que aparecem como coisas naturais.

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"... ocupação simultânea de um número relativamente grande de assalariados no mesmo processo de trabalho ... é a primeira modificação que o processo de trabalho real experimenta pela sua subordinação ao capital. Essa modificação se dá naturalmente. [Isto] constitui o ponto de partida da produção capitalista."

"Se o modo de produção capitalista se apresenta, portanto, por um lado, como uma necessidade histórica para a transformação do processo de trabalho em um processo social, então, por outro lado, essa forma social do processo de trabalho apresenta-se como um método, empregado pelo capital, para mediante o aumento da força produtiva explorá-lo mais lucrativamente".

"A cooperação simples [é] ... a forma predominante nos ramos de produção em que o capital opera em grande escala, sem que a divisão do trabalho ou a maquinaria desempenhem papel significativo. A cooperação [em geral] permanece a forma básica do modo de produção capitalista, embora sua figura simples mesma apareça como forma particular ao lado de suas formas mais desenvolvidas".

Quais são as formas mais desenvolvidas?

a) Cooperação baseada na divisão do trabalho em sua forma clássica (característica da manufatura); b) Cooperação com divisão do trabalho baseada no sistema de máquinas (característica da grande indústria); c) Cooperação com divisão do trabalho e com sistema de máquinas baseada no controle científico da lógica da produção (característica da pós-grande indústria).

Marx vai considerar a forma b) com uma forma especificamente capitalista. A forma c) poderá ser considerada uma forma socialista ainda nos limites do modo de produção capitalista? Trata-se de uma questão a ser investigada.

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Divisão do Trabalho e Manufatura

No capítulo anterior, Marx tratou da cooperação de forma abstrata; agora ele vai tratar de suas formas concretas.

1. Dupla origem da manufatura

"A cooperação baseada na divisão do trabalho adquire sua forma clássica na manufatura. Como forma característica do processo de produção capitalista ela predomina... de meados do século XVI até o último terço do século XVIII."

"A manufatura origina-se de duplo modo."

"Em um modo, trabalhadores de diversos ofícios autônomos, por cujas mãos tem de passar o produto... são reunidos em uma oficina sob o comando de um mesmo capitalista". Ler.

No outro modo, "muitos artífices que fazem o mesmo ou algo da mesma espécie ... são ocupados pelo mesmo capital simultaneamente na mesma oficina". Ler.

"A origem da manufatura, sua formação a partir do artesanato, é portanto dúplice. De um lado, ela parte da combinação de ofícios autônomos de diferentes espécies, que são despidos de sua autonomia e tornados unilaterais até o ponto em que constituem apenas operações parciais que se complementam mutuamente no processo de produção de uma única mercadoria".

"De outro lado, ela parte da cooperação de artífices da mesma espécie, decompõe o mesmo ofício individual em suas diversas operações particulares e as isola e as torna autônomas até o ponto em que cada uma delas torna-se função exclusiva de um trabalhador específico."

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"Por um lado a manufatura introduz, portanto, a divisão do trabalho em um processo de produção ou a desenvolve mais; por outro, ela combina ofícios anteriormente separados. Qualquer que seja seu ponto particular de partida, sua figura final é a mesma - um mecanismo de produção, cujos órgãos são seres humanos."

Marx trata, agora, do conceito de subsunção formal do trabalho ao capital.

Atentar: 1º) "A análise do processo de produção em suas fases particulares coincide inteiramente com a decomposição de uma atividade artesanal em suas diversas operações particulares".

2º) "Composta ou simples, a execução contínua artesanal e portanto dependente da força, habilidade, rapidez e segurança do trabalhador individual no manejo de seu instrumento. O ofício permanece a base.

3º) "Essa estreita base técnica exclui uma análise verdadeiramente científica do processo de produção, pois cada processo parcial ... é realizado como trabalho parcial artesanal".

4º) "... cada trabalhador é apropriado exclusivamente para uma função parcial e sua força de trabalho é transformada por toda vida em órgão dessa função parcial".

Em resumo: o trabalhador controla o processo de trabalho; nesse processo, em conseqüência, a ciência não pode penetrar. O trabalhador é submetido ao processo de produção, torna-se função desse processo. O processo de produção é capitalista. A subsunção ao capital é, portanto, apenas formal.

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2. O trabalhador parcial e sua ferramenta

Na manufatura "... um trabalhador... executa a sua vida inteira uma única operação simples, transforma todo o seu corpo em órgão automático unilateral dessa operação... O trabalhador coletivo combinado, que constitui o mecanismo vivo da manufatura, compõe-se, porém, apenas de tais trabalhadores parciais unilaterais".

"... produz por mais em menos tempo ou eleva a força produtiva do trabalho. O método do trabalho parcial também se aperfeiçoa, após tornar-se autônomo, como função exclusiva de uma pessoa... a produtividade do trabalho depende não da virtuosidade do trabalhador, mas também da perfeição de suas ferramentas".

"O período manufatureiro" - 1550-1770 - "simplifica, melhora e diversifica os instrumentos de trabalho, mediante a sua adaptação às funções exclusivas particulares dos trabalhadores parciais. Ele cria com isso, ao mesmo tempo, uma das condições materiais da maquinaria, que consiste numa combinação de instrumentos simples".

3. As duas formas fundamentais da manufatura

Marx chama uma delas de manufatura heterogênea em que a produção ocorre em paralelo, e a outra de manufatura orgânica em que a produção acontece em linha.

Isto depende da "natureza do próprio produto. Este ou se constitui por composição meramente mecânica de produtos parciais autônomos" - o exemplo que fornece é o da produção de relógios - "ou deve sua figura acabada a uma seqüência de processos de manipulações conexas" - exemplo fornecido é a produção de agulhas para costura.

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"O período da manufatura, o qual logo proclama conscientemente como princípio a diminuição do tempo de trabalho necessário para a produção de mercadorias, também chega esporadicamente a desenvolver a utilização de máquinas ... " entretanto, o seu uso permanece secundário e esporádico."

"A maquinaria específica do período manufatureiro permanece o próprio trabalhador coletivo, combinação de muitos trabalhadores parciais."

"Uma vez que as diferentes funções do trabalhador coletivo podem ser mais simples ou mais complexas, mais baixas ou mais elevadas, seus órgãos, as forças de trabalho individuais, exigem graus diferentes de formação... A manufatura desenvolve portanto uma hierarquia das forças de trabalho... A manufatura cria [também] ... em todo ofício ... uma classe dos chamados trabalhadores não qualificados, os quais eram rigorosamente excluídos pelo artesanato."

4. Divisão do trabalho na manufatura e na sociedade

"Inicialmente, analisamos a origem da manufatura, depois seus elementos simples, o trabalhador parcial e sua ferramenta, finalmente o mecanismo total. Examinaremos, agora, a relação entre a divisão manufatureira do trabalho e a divisão social do trabalho."

"Sendo a produção e a circulação de mercadorias pressupostos gerais do modo de produção capitalista, a divisão manufatureira do trabalho exige que a divisão do trabalho tenha amadurecido até certo grau de desenvolvimento, no interior da sociedade. Inversamente, a divisão manufatureira do trabalho desenvolve e multiplica por efeito recíproco aquela divisão social do trabalho."

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"Apesar das numerosas analogias, porém, a das conexões entre a divisão do trabalho no interior da sociedade e a divisão do trabalho dentro de uma oficina, ambas não são apenas gradual, mas essencialmente diferentes."

"O que estabelece... a conexão entre os trabalhos independentes do criador de gado, do curtidor e do sapateiro? A existência de seus produtos respectivos como mercadorias. O que caracteriza, ao contrário, a divisão manufatureira do trabalho? Que o trabalhador parcial não produz mercadoria."

"A divisão manufatureira do trabalho pressupõe a autoridade incondicional do capitalista sobre seres humanos transformados em simples membros de um mecanismo global que a ele pertence; a divisão social do trabalho confronta produtores independentes de mercadorias, que não reconhecem nenhuma outra autoridade senão a da concorrência, a coerção exercida sobre eles pela pressão de seus interesses recíprocos, do mesmo modo que no reino animal a guerra de todos contra todos preserva mais ou menos as condições de existência de todas as espécies."

Há nessa seção um trecho que apresenta a conexão entre a lei do valor e a distribuição do trabalho entre os diferentes ramos da produção. Ele é interessante porque mostra como Marx pensa o equilíbrio numa economia capitalista.

"As diferentes esferas de produção procuram, em verdade, constantemente, pôr-se em equilíbrio, de um lado, buscando ... satisfazer uma necessidade social qualquer... , [ou seja, procuram atender a demanda efetiva]. A extensão dessas necessidades é quantitativamente diferente e um vínculo interno concatena as diferentes massas de necessidades num sistema naturalmente desenvolvido; por outro lado, a lei do valor das mercadorias determina quanto de todo tempo de trabalho disponível a sociedade pode despender para produzir cada espécie particular de mercadoria.

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Todavia, essa constante tendência das diferentes esferas de produção de se colocar em equilíbrio atua apenas como reação contra a contínua eliminação desse equilíbrio. A regra que se segue a priori e planejadamente na divisão do trabalho dentro da oficina atua na divisão do trabalho no interior da sociedade apenas a posteriori, como necessidade natural, interna, muda, perceptível nas flutuações barométricas dos preços de mercado, subjugando o desregrado arbítrio dos produtores de mercadoria".

5. O caráter capitalista da manufatura

"Um número relativamente grande de trabalhadores sob o comando de um mesmo capital constitui o ponto de partida naturalmente desenvolvido tanto da cooperação em geral, quanto da manufatura. Reciprocamente, a divisão manufatureira do trabalho desenvolve o crescimento do número de trabalhadores empregados numa necessidade técnica."

"O mínimo de trabalhadores, que um capitalista individual tem de empregar, é-lhe agora prescrito pela divisão do trabalho estabelecida. ... O incremento progressivo do volume mínimo de capital em mãos capitalistas individuais ou a transformação crescente dos meios sociais de subsistência e dos meios de produção em capital é portanto uma lei que decorre do caráter técnico da manufatura".

"Assim como na cooperação simples, na manufatura é o corpo de trabalho em ação uma forma de existência do capital. O mecanismo social de produção composto de muitos trabalhadores parciais individuais pertence ao capitalista."

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"A manufatura propriamente dita não só submete ao comando e à disciplina do capital o trabalhador antes autônomo, mas cria também uma graduação hierárquica entre os próprios trabalhadores. Enquanto a cooperação simples em geral não modifica o modo de trabalho do indivíduo, a manufatura o revoluciona pela base e se apodera da força individual de trabalho em suas raízes".

"Ela aleija o trabalhador convertendo-o numa anomalia, ao fomentar artificialmente sua habilidade no pormenor mediante a repressão de um mundo de impulsos e capacidades produtivas...

Marx vai agora tratar da mutilação do trabalhador e da humanização da fábrica, subtraída também do controle dos trabalhadores.

"Os conhecimentos, a compreensão e a vontade, que o camponês ou artesão autônomo desenvolve mesmo que em pequena escala, como o selvagem exercita toda arte da guerra com astúcia pessoal, agora passam a ser exigidos apenas pela oficina em seu conjunto. As potências intelectuais da produção ampliam sua escala por um lado, porque desaparecem por muitos lados. O que os trabalhadores parciais perdem, concentra-se no capital com que se confrontam. É um produto da divisão manufatureira do trabalho opor-lhes as forças intelectuais do processo material de produção como propriedade alheia e poder que os domina. Esse processo de dissociação começa na cooperação simples, em que o capitalista representa em face dos trabalhadores individuais a unidade e a vontade do corpo social de trabalho. O processo desenvolve-se na manufatura, que mutila do trabalhador, convertendo-o em trabalhador parcial. Ele se completa na grande indústria, que separa do trabalho a ciência como potência autônoma de produção e a força de servir ao capital".

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Em resumo, sob a subsunção formal o trabalhador mantém o controle do processo de trabalho, mas perde o controle do processo de produção (separação das forças intelectuais das forças de operação). Questão: isto é uma conseqüência do processo de racionalização como tal (termo de Weber) ou ocorre em face do fato de que este processo está recoberto pela dominação do capital?

A resposta de Marx:

"A divisão manufatureira do trabalho cria, por meio da análise da atividade artesanal, da especificação dos instrumentos de trabalho, da formação dos trabalhadores especiais, de seu agrupamento e combinação em um mecanismo global, a graduação qualitativa e a proporcionalidade quantitativa de processos sociais de produção, portanto determinada organização social do trabalho, e desenvolve com isso, ao mesmo tempo, nova força produtiva social do trabalho. Como forma especificamente capitalista do processo social de produção e sob as bases preexistentes ela não podia desenvolver-se de outra forma, a não ser a capitalista é apenas um método especial de produzir mais-valia relativa e aumentar a autovalorização do capital... à custa dos trabalhadores."

A divisão manufatureira "desenvolve a força produtiva social do trabalho não só para o capitalista, em vez de para o trabalhador, mas também por meio da mutilação do trabalhador individual. Produz novas condições de dominação do capital sobre o trabalho. Ainda que apareça de um lado como processo histórico e momento necessário de desenvolvimento do processo de formação econômica da sociedade, por outro ela surge como um meio de exploração civilizada e refinada".

"A Economia Política... só aparece como ciência própria no período manufatureiro...”

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