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TECNOLOGIAS, ENSINO DE GEOGRAFIA, CIDADANIA E TRABALHO
Autora: Alda Mary Santos Vainer1
Orientador: Paulo Nobukuni2
RESUMOO artigo resulta das atividades desenvolvidas junto ao PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional), uma iniciativa do Governo do Estado do Paraná,
sendo um projeto para intervir no Centro Estadual de Jovens e Adultos (CEEBJA),
de Laranjeiras do Sul. Como a problemática foi sobre as dificuldades no ensino de
Geografia, o objetivo foi avançar em relação à estas, utilizando-se um conteúdo
pertinente e procedimentos diferenciados para desenvolvê-lo. Os alunos envolvidos,
em princípio, demonstraram aversão ao uso de determinados procedimentos, para
desenvolver o conteúdo, como, por exemplo, da Internet e aplicativos de informática,
inclusive alguns argumentaram que isto não iria fazer diferença no seu cotidiano. A
grande maioria não usava ou pouco utilizava o computador e a Internet. Com o
desenvolver das ações, ocorreu uma melhor aceitação dos referidos itens. Estes,
também propiciaram a melhoria no estudo afeito à Geografia, mostarndo serem úteis
quanto ao processo ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Tecnologias, ensino de Geografia, cidadania e trabalho
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo é resultado das atividades desenvolvidas junto ao PDE,
uma iniciativa do Governo do Estado do Paraná.
No primeiro semestre de 2010, foi desenvolvido um projeto para intervir
no CEEBJA, de Laranjeiras do Sul, Paraná. Nos seis meses posteriores, preparou-
se o material didático pedagógico para intervenção na escola. No próximo semestre,
1 Autora e professora PDE da disciplina de Geografia do Município de Laranjeiras do Sul, Estado do Paraná.
2 Orientador e Professor da UNICENTRO – Guarapuava - PR
2
houve a implementação do que foi projetado e, nos últimos seis meses,
sistematizou-se as ações desenvolvidas na escola, culminando com este artigo.
Como a problemática era sobre as dificuldades no ensino de Geografia, o
objetivo geral foi quanto a avançar em relação à esta. Especificamente, procurou-se
desenvolver um conteúdo pertinente, bem como utilizar procedimentos diferenciados
para desenvolvê-lo.
2. DESENVOLVIMENTO GERAL
Perante a problemática da dificuldade no ensino de Geografia e a
pertinência em avançar em relação à esta, desenvolveu-se um conteúdo relevante à
realidade do corpo discente, que foi sobre alguns aspectos da questão urbana de
Laranjeiras do Sul.
Para desenvolver o item anteriormente referido, utilizaram-se de alguns
procedimentos diferenciados, em especial o estudo do meio, inclusive, através do
uso de equipamentos filmofotográficos e de informática.
O descrito foi composto em um processo formado de quatro partes
interligadas, sendo elas o projeto de intervenção no CEEBJA; a seleção do material,
dos equipamentos e aplicativos para lidar com o primeiro, para intervir na escola; a
implementação do projetado; bem como a sistematização das ações desenvolvidas
na unidade escolar e sua publicização.
Além de partir de algo concreto do cotidiano escolar, que foi a dificuldade
sentida no processo ensino-aprendizagem em Geografia; assim como daquilo
vivenciado fora da escola pelos alunos e professores, que é a questão urbana de
Laranjeiras do Sul; embasou-se teoricamente, para melhor avançar-se sobre a
realidade, sendo esta última parte constituída pela fundamentação teórica.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
“Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível
3
– depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar” (FREIRE, 1997, p. 26).
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A EJA
Historicamente no Brasil, as políticas para a educação de jovens e adultos
ficaram restritas ao processo de alfabetização. É recente o reconhecimento, a
conquista e a definição desta modalidade de ensino como política pública de acesso
à escolarização. Conforme Diretrizes Curriculares da EJA – Paraná (PARANÁ,
2006), como modalidade educacional que atende a alunos trabalhadores, a
educação de jovens e adultos tem como finalidade e objetivos o compromisso com a
formação humana e com o acesso à cultura geral, de modo que os educandos
aprimorem sua consciência crítica e adotem posturas éticas e compromisso político,
para o desenvolvimento da sua autonomia intelectual.
Assim, é função da EJA, ao receber o indivíduo jovem e adulto,
proporcionar-lhe uma educação que permita retomar seu potencial, desenvolver
habilidades, confirmar competências adquiridas na educação extra-escolar e na
própria vida, visando torná-lo um profissional mais qualificado, atuante na sociedade.
Para esses educandos que não tiveram acesso ou continuidade da escolarização na
denominada idade própria, a modalidade em pauta é uma possibilidade de
desenvolvimento humano, intelectual, profissional e social. É uma forma de superar
a marginalização social a que normalmente encontra-se este tipo de educando.
Na década de 1990 foi promulgada a atual Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, numerada como 9394/96, onde a EJA passa a ser considerada
uma modalidade da Educação Básica nas etapas do Ensino Fundamental e Médio e
com especificidade própria. Em maio de 2000 foram promulgadas as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, elaborada pelo
Conselho Nacional de Educação, que superaram a visão preconceituosa do
analfabeto ou iletrado como inculto ou apto apenas para as tarefas e funções ditas
desqualificadas no mundo do trabalho. Além disso, reconhece que a diversidade
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cultural e regional, presente nos diferentes estratos sociais, é portadora de uma rica
cultura baseada na oralidade.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e
Adultos passaram a valorizar ainda as especificidades de tempo e espaço para seus
educandos, o tratamento presencial dos conteúdos curriculares, a importância em
distinguirem-se as duas faixas etárias (jovens e adultos) consignadas nesta
modalidade de educação e a formulação de projetos pedagógicos próprios e
específicos dos cursos noturnos regulares e os da EJA.
As diretrizes ressaltam ainda a EJA como direito e substituíram a idéia de
compensação pelos princípios de reparação e equidade. Nesse contexto, a
educação de jovens e adultos foi incluída no Plano Nacional de Educação (PNE),
aprovado e sancionado em 9 de janeiro de 2001, pelo Governo Federal do Brasil.
ALFABETIZAÇÃO DIGITAL
Atualmente pode-se afirmar que as pessoas podem estar inseridas
também no mundo digital, sendo que para tal é necessário que exista uma educação
desta modalidade, o que envolve desde a denominada alfabetização da mesma,
constituindo o início da compreensão da informática e derivando para outros níveis
deste saber.
O conhecimento em informática poderá ser uma forma de
desmarginalização, inserindo o indivíduo como cidadão no mundo contemporâneo
(TAKAHASHI, 2000).
A partir do investimento em alfabetização digital pode-se garantir um
melhor aprendizado escolar, oportunidades de futuro e emprego para a população e
maiores perspectivas para o desenvolvimento da sociedade em geral.
Takahashi (2000) afirma ainda que o indivíduo moderno está inserido na
denominada ‘sociedade da informação’, onde se exige o conhecimento em
informática, sendo este um dos critérios para que se seja cidadão de fato.
Nesse sentido, Kenski (2010, p. 64) corrobora tal afirmação ao garantir
que:
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Estar fora dessa nova realidade social – chamada de Sociedade da Informação – é estar alijado das decisões e do movimento global da economia, das finanças, das políticas, das informações e interações com o mundo. A sociedade excluída do atual estágio de desenvolvimento tecnológico está ameaçada de viver em estado permanente de dominação, subserviência e barbárie.
Este conhecimento mínimo passa por atividades corriqueiras como
movimentar a conta bancária em um terminal de auto-atendimento bancário, pela
internet; falar ao telefone; trocar mensagens com pessoas do outro lado do mundo;
verificar multas de trânsito; comprar; pesquisar ou estudar. Essas atividades
cotidianas estão presentes no mundo todo, no entanto, existe uma grande parcela
da população que não tem conhecimento para usufruir dessa tecnologia da
informação e é com essa que se deve preocupar, pois proporcionar esse
conhecimento é tarefa de toda sociedade.
A chamada sociedade da informação pode trazer consigo uma mudança
profunda na organização de si e da economia de um local além de uma marcante
dimensão social devido ao seu elevado potencial de promover a integração entre as
regiões, ao reduzir distâncias entre as pessoas e poder aumentar o seu nível de
conhecimento.
Para atingir este objetivo deve-se partir do pressuposto que as
necessidades básicas para a vida do ser humano ultrapassam o simples saciar da
fome, das condições de moradia, assistência à saúde, etc. Aí estão inclusas também
a necessidade básica de conhecimento e domínio tecnológico através da
alfabetização digital, que poderá ser uma etapa imprescindível para a
desmarginalização social.
A tecnologia está imersa na sociedade, a realidade está posta e a escola
sendo parte daquela, não pode ficar alheia ao desenvolvimento, podendo contribuir
através da informática educativa como um dos caminhos possíveis para superar
este problema social.
A informática escolar deve ser vista como ferramenta na possibilidade de
construção do conhecimento, promovendo produção e autoria, não somente mera
possibilidade de absorção de informações.
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Assim, a escola não pode ficar alheia a essa ferramenta e buscar
alternativas para inserir os alunos neste contexto é fundamental.
EDUCAÇÃO E RECURSOS DA INFORMÁTICA
A sociedade vive atualmente um acelerado momento de mudanças e a
tecnologia está presente direta ou indiretamente na vida e assim sendo, ela não
pode estar ausente da escola.
Algumas formas de ministrar aulas estão obsoletas e ultrapassadas e esta
sensação é sentida tanto por professores quanto por alunos e, portanto, é
necessário incorporar novas ferramentas à prática pedagógica. Torna-se
imprescindível combinar momentos convencionais com outros, onde o professor
torna-se o estimulador e coordenador das ações. É claro que só as Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC’s) não resolvem o problema, pois o uso delas só
justifica-se caso contribua para a melhoria na qualidade do ensino.
Para Moran (2001, p.13), há uma preocupação com ensino de qualidade
mais do que com educação de qualidade. Segundo ele, ensino e educação são
conceitos distintos, pois:
Na educação o foco, além de ensinar, é ajudar a integrar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, a ter uma visão da totalidade. Educar é ajudar a integrar todas as dimensões da vida, a encontrar nosso caminho intelectual, emocional, profissional, que nos realize e que contribua para modificar a sociedade que temos.
Existem muitos caminhos que facilitam a aprendizagem, entre eles pode-
se falar em aprender pela necessidade, por interesse, por prazer, por preferência de
um ou outro assunto, por estímulo, desafio, etc., assim se aprende também com a
Internet, sendo esse processo permanente.
Os educadores devem adaptar-se à programação, às reais necessidades
dos alunos, incorporando o novo. Nesse sentido, Brunel (2008, p. 23) diz que “[...]
precisamos repensar o espaço escolar e desta maneira agirmos para mudar aquilo
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que não acrescenta muito e trabalharmos na construção de novas relações entre os
sujeitos que ocupam o espaço da EJA”.
Atualmente, a informação, os dados, imagens, resumos estão disponíveis
na Internet de forma atraente, colorida e dinâmica. O professor não é mais o
detentor do conhecimento. A ele cabe contextualizar, relacionar, interpretar,
problematizar, sintetizar as informações, atuando como mediador neste processo de
aquisição do conhecimento para que este seja significativo ao aluno e a informação
seja incorporada. Neste sentido MASETTO, apresenta a seguinte concepção de
mediação pedagógica:
Por mediação pedagógica entendemos a atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem – não uma ponte estática, mas uma ponte “rolante”, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos. É a forma de se apresentar e tratar um conteúdo ou tema que ajuda o aprendiz a coletar informações, relacioná-las, organizá-las, manipulá-las, discuti-las, debatê-las, com seus colegas, com o professor e com outras pessoas (interaprendizagem), até chegar a produzir um conhecimento que seja significativo para ele, conhecimento que se incorpore ao seu mundo intelectual e vivencial, e que o ajude a compreender sua realidade humana e social, e mesmo a interferir nela. (2001, p.144-145).
Lévy (2000, p. 158) diz também que
“todas as tecnologias intelectuais da cibercultura disponíveis atualmente favorecem a aprendizagem personalizada e a aprendizagem coletiva em rede e ao professor reserva-se o papel de“animador da inteligência coletiva de seus grupos de alunos em vez de um fornecedor direto de conhecimentos”.
Diante do exposto, cabe ao professor integrar as tecnologias disponíveis
ao seu cotidiano de maneira adequada para cada situação ou grupo de aprendizes,
ajudando os alunos a aprender melhor e nesse sentido, Gasparin (2002, p.144)
afirma que:
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“Professor e alunos modificam-se intelectual e qualitativamente em relação a suas concepções sobre o conteúdo que reconstruíram, passando de um estagio de menor compreensão científica a uma fase de maior clareza e compreensão dessa concepção dentro da totalidade”.
O ENSINO DA GEOGRAFIA
Durante muito tempo o ensino da Geografia limitou-se a explicitar a
realidade de um espaço praticamente fixo, como se o homem fosse um ser alheio
àquele ambiente. Exigia-se do aluno que memorizasse nomes de rios, capitais,
acidentes geográficos, etc., esquecendo seu dinamismo. Era a chamada Geografia
Clássica, que enfatizava a observação e a descrição minuciosa do local em estudo.
A partir da década de 1930 deu-se a institucionalização da Geografia no
Brasil quando as pesquisas procuravam compreender e descrever o território
brasileiro com o intuito de servir aos interesses políticos e econômicos do Estado.
Era necessário um levantamento detalhado sobre os recursos naturais do país, além
dos dados demográficos, para efetivar objetivos tais como a exploração mineral e
desenvolver a indústria de base e políticas sociais.
Essa forma de abordagem do conhecimento em Geografia perdurou até os anos de 1950-1960, caracterizando-se, na escola, por um ensino de compêndio e pela ênfase na memorização de fatos e informações que refletiam a valorização dos conteúdos em si, sem levar, necessariamente, a compreensão do espaço (PARANÁ, 2008).
O foco do ensino de Geografia consistia na descrição do espaço, na
formação e fortalecimento do nacionalismo. Esse modo de ensinar ficou conhecido
como Geografia Tradicional.
Contrapondo-se ao método da Geografia Tradicional surge a Geografia
Crítica, que propõe uma análise crítica do espaço geográfico, compreendido como
sendo um espaço social, produzido e reproduzido pela sociedade humana.
A Geografia Crítica propõe valorizar os aspectos históricos e a análise dos
processos econômicos, sociais e políticos constitutivos do espaço geográfico,
utilizando o método dialético, sendo que segundo esse, nenhum fenômeno pode ser
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entendido isoladamente, só é possível conhecer o particular quando situado na
totalidade.
Ainda, de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de
Geografia (PARANÁ, 2008, p. 53), a disciplina Geografia tem um papel importante
na formação dos alunos e
entende-se que, para a formação de um aluno consciente das relações socioespaciais de seu tempo, o ensino de Geografia deve assumir o quadro conceitual das abordagens críticas dessa disciplina, que propõem a analise dos conflitos e contradições sociais, econômicas, culturais e políticas, constitutivas de um determinado espaço.
Conforme as referidas diretrizes, para a análise dos conflitos e
contradições sociais, há necessidade que o aluno tenha conhecimento e
compreenda a realidade, que seja capaz de comparar crenças e certezas anteriores
e reformular suas posições. O conhecimento da realidade faz-se de forma contínua
e gradual e nesse processo o professor tem papel vital, mediando o processo de
ensino aprendizagem, sendo necessário que este esteja preparado para
desempenhar este papel. Esse é o maior desafio, tendo sempre uma nova postura
enquanto educadores da escola contemporânea.
Os grupos humanos desde suas primeiras formas de organização sempre
estabeleceram relações com a natureza como parte estratégica para garantir sua
sobrevivência. Observar e conhecer a dinâmica das estações do ano, a direção dos
ventos, o movimento das marés ou as variações climáticas, permitiu às sociedades
se relacionarem com a natureza e modificá-la em benefício próprio.
Assim, ao pensar o ensino de Geografia para jovens e adultos, que
atenda a educandos-trabalhadores, com características e histórias de vida
diferenciadas e na maioria das vezes excluídos da escola por razões diversas, deve-
se ter em mente uma maneira de ensinar dinâmica e crítica, interligada com a
realidade próxima, que permita aos alunos apropriarem-se dos conceitos
fundamentais da Geografia compreendendo o processo de produção e
transformação do espaço geográfico como um processo histórico.
10
O ensino da Geografia, portanto, pode e deve contribuir para a formação
de um sujeito capaz de interferir na realidade de maneira consciente e crítica,
alterando assim sua condição social. Nessa perspectiva de ensino, Soek (2009, p.
25) confirma o descrito quando nos diz que:
os conteúdos de Geografia podem auxiliar no desenvolvimento mental do educando, uma vez que esse desenvolvimento serádeterminado pelo contexto histórico e cultural no qual ele está inserido. Isso permitirá que ele entenda a realidade em que vive para nela agir.
Conforme Takahashi (2000, p. 45), no Livro verde, no que diz respeito à
função de educar para a sociedade da informação,
trata-se de investir na criação de competências suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e serviços, tomar decisões fundamentadas no conhecimento, operar com fluência os novos meios e ferramentas em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. Trata-se também de formar os indivíduos para “aprender a aprender” de modo a serem capazes de lidar positivamente com a contínua e acelerada transformação da base tecnológica.
4. A INTERVENÇÃO NO CEEBJA – PASSO A PASSO
Em um primeiro momento, apresentou-se a proposta de trabalho aos
discentes do ensino médio, esclarecendo que a mesma era de conhecimento da
direção e equipe pedagógica do CEEBJA de Laranjeiras do Sul.
Destacou-se Destacou-se que a problemática a ser tratada seria a da
dificuldade no ensino de Geografia, bem como da pertinência em avançar em
relação à mesma.
Ainda, esclareceu-se que para desenvolver o trabalho, seria desenvolvido
um conteúdo relevante à realidade do corpo discente, sendo este sobre alguns
aspectos da questão urbana de Laranjeiras do Sul.
11
Também, destacou-se que o desenvolvimento do tema referido no
parágrafo anterior, seria através de determinados procedimentos, utilizando-se, por
exemplo, do estudo do meio, da Internet, aplicativos de informática, dentre outros,
que surgiriam posteriormente.
Quanto ao estudo do meio, esclareceu-se aos alunos, que seria através
de atividade prática, como a observação de pessoas, dos fluxos e itens que
compõem a paisagem. Isto seria filmado e apresentado, inclusive com algumas
conclusões. Para tanto, usariam-se equipamentos filmofotográficos e de informática.
Finalizando esta primeira fase, explicitou-se aos educandos que o estudo
do meio, é importante, pois é no local que o indivíduo age mais diretamente, o que
propicia melhorar a cidadania. Ainda, esclareceu-se que o uso de equipamentos,
como aqueles relacionados à filmofotografia e informática, potencializam a
desmarginalização de parte da população quanto ao uso destes e de outros
semelhantes, como aqueles dos caixas eletrônicos.
Iniciando a segunda etapa, após comentários sobre a importância da
tecnologia no cotidiano, aplicou-se um questionário sobre o uso do computador e da
Internet pelos alunos, tendo-se resultados importantes, como aquele que uma
maioria absoluta necessitava de um apoio para lidar com o aparato em pauta. Os
mesmos são descritos de forma mais minuciosa, nas considerações finais.
Diante de tais resultados, foi proposto e aceito pelos educandos as
denominadas “oficinas de alfabetização digital”, em contra-turno, trabalhando-se
também os conceitos básicos da Geografia.
Após a etapa anterior, iniciou-se a aplicação do material didático
pedagógico denominado “Problemas urbanos de Laranjeiras do Sul”, preparado no
segundo semestre de execução do PDE.
Vale lembrar que foi escolhido o conteúdo “meio urbano”, por ser possível
trabalhalhá-lo sob diversas dimensões, como a econômica, política, cultural,
demográfica e ambiental.
No laboratório de informática da escola os alunos acessaram o texto
“Planeta urbano”. Ele permitiu analisar a dinâmica urbana atual e a necessidade de
políticas públicas que venham a amenizar os problemas urbanos brasileiros.
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Após a leitura do texto no computador, os educandos receberam-o
impresso, para destacar os termos que desconheciam. Como era de se esperar,
foram os específicos da disciplina geográfica, que após as explicações, foram
pesquisados na Internet. Ainda, acessaram-se mais informações, através de vídeos
e imagens, sobre algumas megacidades.
Ainda, na Internet, analisaram-se o mapa-mundi, com destaque às
cidades, bem como gráficos, sendo que estes mostram claramente que a maioria
das pessoas está optando por morar em cidades, contribuindo para o processo de
urbanização. Nesta ação foi possível trabalhar os conceitos de metrópole,
megalópole, regiões metropolitanas, êxodo rural, etc.
Em seguida, os alunos produziram texto de opinião sobre o porquê das
pessoas estarem optando por viver nas cidades e as principais consequências ou
problemas decorrentes deste processo. Na sequência, os educandos foram
incitados a pensar sobre os problemas da cidade de Laranjeiras do Sul,
comparando-os com aqueles do restante do Brasil.
Dando continuidade aos trabalhos, acessou-se o site do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) para se trabalhar dados geográficos, históricos
e do censo de 2010, sobre o município de Laranjeiras do Sul. Em seguida, utilizando
o BrOffice Calc, montaram-se gráficos sobre a população total, urbana e rural do
local.
Foi apresentado aos educandos slides sobre as transformações ocorridas
em Laranjeiras do Sul, com imagens das décadas de 1940, 50, 60 e 1970 e os
mesmos espaços, atualmente. Com estas pranchas, foram levantados muitos
questionamentos sobre os espaços públicos, a importância dos mesmos, o
patrimônio cultural, vestígios ou marcas antigas que resistiram ao tempo, etc.
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Ilustração 1: Imagens de diversos momentos, de Laranjeiras do Sul.
Em seguida, como atividade prática, os alunos escolheram um espaço
público, observaram as pessoas, os fluxos e atividades que compõem a paisagem,
sendo que alguns filmaram com celular o observado, para apresentarem suas
conclusões para a turma, posteriormente.
Na sequência, em sala de aula, os educandos visualizaram fotos do lixão,
dos bairros mais carentes, cemitério, etc; de Laranjeiras do Sul, levantando-se
questões de como melhorar a infraestrutura e amenizar os problemas ali detectados,
além da importância da participação de cada um, para tentar solucionar as questões
problemáticas.
Foram realizadas visitas in loco no referido lixão e em alguns locais
considerados mais carentes. Durante a visita puderam entrevistar alguns catadores
e abordar-se a questão do preço dos recicláveis; a condição de vida das pessoas; a
segurança no trabalho quanto à contaminação a que estão expostas, uma vez que
no local avistaram-se mulheres grávidas trabalhando, cães e gatos doentes, todos
dividindo o mesmo espaço.
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Após a visita, na sequência dos trabalhos, os alunos produziram textos
sobre o assunto e declararam que “ficou fácil escrever” sobre o assunto,
demonstrando a forte diferença entre informação repassada e conhecimento
significativo.
Na próxima etapa, o recurso tecnológico utilizado no desenvolvimento das
atividades foi o Google Earth. Inicialmente, propunha-se utilizar o espaço de
informática para realização desta ação, porém não foi possível, devido ao laboratório
PR Digital não permitir que se instalasse o referido programa.
Para contornar o problema foram utilizados notebooks emprestados dos
colegas de trabalho e foi possível trabalhar com o referido recurso devido a escola
contar com wirelles.
As atividades desenvolvidas através do referido programa iniciaram-se
com a apresentação do mesmo e um levantamento sobre o que os educando
conheciam do assunto. Esclareceu-se que o aplicativo tem, entre suas funções, a
apresentação de um modelo tridimensional do globo terrestre, construído a partir de
imagens de satélite obtidas de variadas fontes, possibilitando identificar lugares,
entre outros elementos.
Devido à utilização do programa como recurso pedagógico atender ao
propósito de desenvolver habilidade de localizacão espacial bem como compreender
e interpretar realidades locais e globais, inclusive de Laranjeiras do Sul, foram
produzidos textos em sala de aula, bem como um breve documentário sobre o
município e uma áudionovela.
A áudionovela teve o formato de uma novela, abordando temas ligados ao
dia-a-dia das pessoas, possuindo conteúdos educativos, que convidaram à reflexão.
Para produção do documentário e da áudionovela foram selecionados os
principais problemas detectados em Laranjeiras do Sul, quais sejam, a falta de UTI,
IML e superlotação do cemitério. Após a produção do roteiro, divisão dos papéis aos
“atores” e ensaios referentes aos diálogos entre os personagens, iniciou-se a
gravação.
Para finalizar o trabalho foi apresentado o programa Audacity, que é livre
e gratuito, de código fonte aberto, para edição de áudio digital, sendo disponível
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para Mac OS X, Microsoft Windows, GNU/Linux e outros sistemas operacionais; com
o qual foi produzida a radionovela. O outro aplicativo utilizado foi o Avidemux, que
lida com vídeo.
5. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Na apresentação da proposta de trabalho aos discentes do ensino médio,
ao destacar-se que a problemática observada foi a dificuldade no ensino de
Geografia e que, portanto, seria pertinente avançar em relação à mesma, isto foi
aceito por toda a turma. O mesmo ocorreu quando se explicitou que o tema seria
sobre a questão urbana de Laranjeiras do Sul.
No que diz respeito ao uso de determinados procedimentos, para
desenvolver o conteúdo, ao explicar que se utilizaria, por exemplo, da Internet e
aplicativos de informática, alguns alunos demonstraram aversão a tais itens,
argumentando que isto não iria fazer diferença no seu cotidiano.
Quanto à aversão anteriormente citada, iniciou-se um trabalho, que de
uma forma ou outra, tratou sobre a mesma. Isto ocorreu, aplicando-se um
questionário sobre o uso do computador e da Internet pelos alunos, tendo-se que
66,66% não tinham nenhum conhecimento sobre o assunto; bem como 33,33 % só
dominavam o básico, conforme é notado na ilustração 2.
Ilustração 2: Dados coletados em levantamento realizada no CEEBJA de Laranjeiras do Sul, em agosto de 2011.
Após comentar sobre a importância da tecnologia no cotidiano, bem como
esclarecer que o uso de equipamentos, como aqueles relacionados à filmofotografia
e informática, potencializam a desmarginalização de parte da população quanto ao
16
uso destes e de outros semelhantes, como aqueles dos caixas eletrônicos; ocorreu
uma melhor aceitação dos referidos itens.
Inclusive, aceitou-se bem a realização das denominadas “oficinas de
alfabetização digital”, em contra-turno, trabalhando-se também a partir delas, alguns
conceitos básicos de Geografia.
A ação das citadas oficinas desdobrou-se para o laboratório de
informática da escola, sendo que nele, os alunos puderam analisar a dinâmica
urbana atual e a necessidade de políticas públicas que venham a amenizar os
problemas urbanos brasileiros, após o acesso ao texto “Planeta urbano”.
Após a leitura no computador, do texto citado, ao receberam o mesmo
impresso, os educandos destacaram os termos que desconheciam, assim ampliando
seu conhecimento, ao pesquisá-los na Internet, bem como, ainda, ao acessarem
mais informações, quer seja através de vídeos e imagens, sobre algumas
megacidades.
O trabalho anterior, permitiu que os educandos entendessem que a
maioria das pessoas está optando por morar em cidades, contribuindo para o
processo de urbanização, inclusive, lidaram com conceitos, como de metrópole,
megalópole, regiões metropolitanas, êxodo rural, etc.
Outra questão positiva, foi que os alunos opinaram sobre o porquê das
pessoas estarem optando por viver nas cidades e as principais consequências ou
problemas decorrentes deste processo, inclusive, produzindo texto sobre o tema.
Ainda, ao acessarem o site do IBGE os educandos tiveram a
oportunidade de pesquisar dados históricos, geográficos e do censo de 2010, sobre
o município, comparando com outros locais da região e do Brasil. Também puderam
trabalhar com mapas interativos disponíveis no endereço eletrônico.
A atividade anterior foi bastante significativa, por vários motivos. Um
deles, é que para muitos alunos, foi a primeira vez que lidaram com a informática.
Também, foi eficaz, pois os educandos passaram a entender que, por exemplo, em
todo o Brasil, a população é majoritariamente urbana.
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Os educandos utilizaram-se do BrOffice Calc, para montarem gráficos
sobre a população total, urbana e rural, percebendo que a representação gráfica é
importante para se entender a realidade.
No procedimento metodológico seguinte utilizou-se do programa Google
Earth, entendendo-se que o mesmo é um poderoso instrumento auxiliar para
desenvolverem-se conteúdos geográficos.
Com o auxilio do referido software os educandos puderam desenvolver
habilidade de localização espacial, visualizar o globo terrestre tridimensionalmente, o
que, para a maioria deles, foi uma experiência única, uma vez que não conheciam
essa possibilidade de poder “ver” sua rua, sua cidade, enfim, o seu espaço de
vivência.
Um ponto positivo desta experiência, utilizando a Internet, o computador e
as imagens de satélite como mediadores do processo ensino-aprendizagem de
Geografia, está no fato dos alunos perceberem que estes recursos podem ser
usados não só para o entretenimento, mas também para obter e construir novos
conhecimentos, além de possibilitar que se tornem cidadãos mais participativos e
críticos, pois, dependendo de como são trabalhados, além de despertarem o
interesse para novas possibilidades, propiciam a construção de aprendizagens
significativas.
Um dos pontos fundamentais deste trabalho foi o educando compreender
e interpretar realidades locais e globais, fazendo comparações inclusive delas, com
Laranjeiras do Sul, produzindo textos em sala de aula, bem como um breve
documentário sobre o município e uma áudio novela que enfocou os principais
problemas deste.
No processo descrito, os discentes selecionaram os problemas
relacionados à falta de UTI, IML e a superlotação do cemitério. Desenvolveram o
roteiro, ensaiaram e partiram para a gravação e edição do documentário e da áudio
novela.
A utilização do programa Audacity, com o qual foi editada a radionovela
despertou o interesse de alguns alunos que trabalham com sonorização de festas e
eventos, destacando que o mesmo será de grande valia para seu trabalho. O outro
18
aplicativo utilizado foi o Avidemux, que trabalha com edição de vídeo, despertando
curiosidade, inclusive quanto à aplicação no cotidiano.
6. REFERÊNCIASBRUNEL, Carmem. Jovens cada vez mais jovens na educação de jovens e adultos. Porto Alegre: Ed. Mediação, 2004.FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997. (Coleção Leitura).GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 3. ed. Rev. Campinas, SP: Ed. Autores Associados, 2002.KENSKI, Vani Moreira. Educação e Tecnologias: O novo ritmo da informação. 6. ed. Campinas, SP: Papirus, 2010.LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34, 2000.MASETTO, Marcos. Mediação pedagógica e o uso da tecnologia. In: José Manuel, Marcos T. Masetto, Marilda Aparecida Behrens. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 3. ed. São Paulo: Papirus, 2001.MORAN, José Manuel, Marcos T. Masetto, Marilda Aparecida Behrens. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 3. ed. São Paulo: Papirus, 2001.PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Educação Básica. Diretrizes curriculares da educação básica – Geografia. Curitiba: SEED, 2008.PARANÁ. Secretaria de Estado Educação/Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação de jovens e adultos no Estado do Paraná – DCE. Curitiba: SEED. 2006.SOEK, Ana Maria (Org.). Mediação pedagógica na Educação de Jovens e Adultos: ciências humanas. Curitiba: Positivo, 2009. TAKAHASHI, Tadao (Org.). Sociedade da informação no Brasil: livro verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000.