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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL TÉCNICA LAPAROSCÓPICA VERSUS TÉCNICA ABERTA PARA ADRENALECTOMIA EXPERIMENTAL EM SUÍNOS José Belarmino da Gama Filho Orientadora: Profª. Drª. Neusa Margarida Paulo EV/UFG GOIÂNIA 2009

TÉCNICA LAPAROSCÓPICA VERSUS TÉCNICA ABERTA PARA ... · iv Gama Filho, José Belarmino da Técnica laparoscópica versus técnica aberta para adrenalectomia experimental em suínos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

TÉCNICA LAPAROSCÓPICA VERSUS TÉCNICA ABERTA PARA ADRENALECTOMIA EXPERIMENTAL EM SUÍNOS

José Belarmino da Gama Filho

Orientadora: Profª. Drª. Neusa Margarida Paulo – EV/UFG

GOIÂNIA

2009

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JOSÉ BELARMINO DA GAMA FILHO

TÉCNICA LAPAROSCÓPICA VERSUS TÉCNICA ABERTA PARA ADRENALECTOMIA EXPERIMENTAL EM SUÍNOS

Tese apresentada para obtenção do

grau de Doutor em Ciência Animal

junto à Escola de Veterinária da

Universidade Federal de Goiás.

Área de concentração:

Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Orientadora:

Profª. Drª. Neusa Margarida Paulo – EV/UFG

Comitê de orientação:

Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva- EV/UFG

Prof. Dr. José Renato Junqueira Borges –

FAV/UNB

GOIÂNIA

2009

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Gama Filho, José Belarmino da

Técnica laparoscópica versus técnica aberta para adrenalectomia experimental em suínos / José Belarmino da Gama Filho. Goiânia, 2009.

88 f. : il. ; 30 cm

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Goiás, Escola de Veterinária, 2009 “Orientadora: Profª. Drª. Neusa Margarida Paulo – Escola de Veterinária”

I.Suínos. II. Adrenalectomia. III. Glândula adrenal. IV. Laparoscopia. V. Título.

CDU: 636.4:616.45

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Este trabalho é dedicado aos meus queridos filhos, Bruno Lopes da Gama e Eduardo Lopes da Gama

e à minha querida companheira Adriana dos Santos.

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vii

AGRADECIMENTOS Este estudo seria impossível de ser realizado exclusivamente com a

minha vontade. O auxílio e incentivo de muitos amigos e companheiros (as) foram

determinantes para a execução e conclusão desta tese.

Os primeiros agradecimentos devem, indiscutivelmente, ser destinados

aos familiares. Adriana e Bruno, que além de terem resistido aos inúmeros

rompantes decorrentes do estresse típico de um doutorando, auxiliaram em todos

os momentos da execução da tese. E obviamente a paciência da Caroline.

Ao irmão e amigo Marcello Rodrigues da Roza, companheiro de

viagens e incentivador do meu ingresso no programa de pós-graduação da Escola

de veterinária. Sem o seu apoio e ânimo possivelmente não teria iniciado o curso.

Minha orientadora, Neusa Margarida Paulo, pelo desafio de orientar

sobre um assunto pouco conhecido no âmbito veterinário, mas principalmente por

sua paciência em aturar-me ao longo do curso. Bem como aos amigos,

componentes do comitê de orientação, Prof. Dr. José Renato Junqueira Borges e

ao prof. Dr. Luis Antonio Franco da Silva, por sua importância na co-orientação de

todo o trabalho desde seu início.

Aos amigos do CVAS (centro veterinário Asa Sul), médicos veterinários

Paulo Henrique e Leonardo Coutinho e aos funcionários, devo, além dos

agradecimentos, desculpar-me pelos momentos de mau humor e pela ausência

do trabalho. Destacando, porém, a participação ativa da Ana Carolina, Rejane

Bernardes, Gabriela Uchoa e do Leonardo Correa em todos os momentos da

pesquisa, visto que sem eles este trabalho seria impossível de ser realizado. Sem

esquecer o Adenilson, por sua importância no auxílio para execução nos nos

procedimentos e no tratamento dos animais.

Aos companheiros do Núcleo de inspeção de Brasília Sul, pela

paciência e compreensão nos momentos de ausência e mau humor.

Durante o período de curso tive o privilégio de fazer grande amigos na

escola de veterinária. Os quais, além da amizade, retribuíram com críticas e

sugestões ao projeto e ao trabalho. Meus sinceros agradecimentos às

professoras Naida, Rosângela, Valéria e Maria Clorinda, bem como aos

professores Olízio, Adilso e Juan; e aos servidores Gerson, Apóstolo, Tiago,

Sheila, Carmita, Mônica e Vilda.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I

CONSIDERAÇÕES GERAIS...................................................................................

1

1Introdução.............................................................................................................. 1

2 Aspectos morfofisiológicos das glândulas adrenais............................................. 2

3 Afecções cirúrgicas das glândulas adrenais, abordagem clínica e

terapêutica............................................................................................................

6

3.1 Hiperadrenocorticismo........................................................................................ 6

3.2 Principais sinais do hiperadrenocorticismo ........................................................ 6

3.3 Diagnóstico de hiperadrenocorticismo ............................................................... 9

3.4 Tratamento do hiperadrenocorticismo............................................................... 10

A- Adrenalectomia farmacológica........................................................................ 10

Mitotano................................................................................................................... 10

Trilostano................................................................................................................. 11

Cetoconazol............................................................................................................. 11

Deprenil................................................................................................................... 11

B- Adrenalectomia cirúrgica................................................................................. 11

Abordagem aberta......................................................................................... 14

Abordagem laparoscópica....................................................................................... 15

3.5 Suíno como modelo experimental............................................................ 17

Procedimentos anestésicos em suínos para experimentação animal

Parâmetros fisiológicos, metabólicos e hematológicos de suínos

5 REFERÊNCIAS ....................................................................................................

18

CAPÍTULO 2 - TÉCNICA LAPAROSCÓPICA VERSUS TÉCNICA ABERTA

PARA ADRENALECTOMIA EM SUÍNOS ........................................................

25

RESUMO................................................................................................................. 25

ABSTRACT……………………………………………………………………………….. 25

INTRODUÇÃO......................................................................................................... 26

MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................... 28

RESULTADOS........................................................................................................ 34

DISCUSSÃO........................................................................................................... 38

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ix

CONCLUSÃO.......................................................................................................... 41

REFERÊNCIAS.......................................................................................................

42

CAPÍTULO 3 - RESPOSTAS HEMATOLÓGICAS E METABÓLICAS

DECORRENTES DE ADRENALECTOMIA LAPAROSCÓPICA E ABERTA EM

SUÍNOS...................................................................................................................

46

RESUMO................................................................................................................. 46

ABSTRACT.............................................................................................................. 46

INTRODUÇÃO......................................................................................................... 47

MATERIAL E MÉTODOS........................................................................................ 49

RESULTADOS........................................................................................................ 54

DISCUSSÃO........................................................................................................... 62

CONCLUSÃO.......................................................................................................... 65

REFERÊNCIAS.......................................................................................................

66

CAPÍTULO 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................

69

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1

FIGURA 1 – A - Aspecto anatômico das glândulas adrenais de cães (setas brancas). B- Glândula adrenal de cão com destaque da veia frênico-abdominal em cães (seta branca). FREEMAN (1999).........

3

FIGURA 2 – A – Posicionamento das glândulas adrenais em suínos (DALMOSE et al., 2000). B – Esquema representativo de irrigação sanguínea de glândulas adrenais em suínos da raça Hampshire. Onde de 1 a 7 artérias lombares, 8 artéria celíaca, 9 artéria mesentérica, 10 e 11 artérias frênicas e C aorta (SILVA et al., 2004)...........................

4

FIGURA 3 - Identificação das regiões cortical e medular da glândula adrenal e os tipos de hormônios produzidos conforme a região. Figura cedida pelo departamento de patologia da escola de veterinária de Universidade Federal de Goiás................................

5

FIGURA 4 - Algoritmo de orientação cirúrgica para tumores adrenais. (Adaptado de SUZUKI, 2006)...........................................................................

13

CAPÍTULO 2

FIGURA 1 – Sequência da adrenalectomia aberta em suíno. A- afastamento dos órgãos adjacentes para identificação glandular; B- identificação da adrenal esquerda, próxima ao rim esquerdo; C- dissecção com auxílio de termocautério e detalhe da calda do pâncreas; D- ligadura dos ramos renais e apresentação do leito adrenal, Goiânia-GO, 2009.............................................................

31

FIGURA 2 - A - posicionamento dos portais para adrenalectomia laparoscópica em suíno; B - instrumental utilizado em adrenalectomia laparoscópica em suíno, Goiânia- GO, 2009.........

31

FIGURA 3 - Sequência da adrenalectomia laparoscópica em suínos: A- afastamento dos órgãos adjacentes à adrenal e secção do peritônio; B- identificação da glândula; C- dissecção lateral/medial e cranial/caudal (linha branca); D- identificação de ramos da artéria e veia renal (seta amarela); E- clipagem dos ramos originários da artéria e veia renal; F- retirada da glândula pelo portal de onze milímetros (setas), Goiânia- GO, 2009.....................

33

FIGURA 4 - Representação gráfica do tempo operatório do grupo aberto (grupo G1) em relação à distribuição normal, Goiânia-GO, 2009...................

34

FIGURA 5 - Representação gráfica do tempo operatório do grupo laparoscópico (grupo G3) em relação à distribuição normal, Goiânia-GO, 2009........

34

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FIGURA 6 - Representação gráfica das diferentes médias de tempo de deambulação após adrenalectomia aberta e laparoscópica em suínos, conforme os grupos estudados, Goiânia, GO, 2009............

37

CAPÍTULO 3

FIGURA 1- Representação gráfica das médias de leucometria em suínos submetidos à adrenalectomia experimental, aberta e laparoscópica, em relação aos tempos amostrais, com intervalo de confiança de 95%, Goiânia – GO, 2009....................................................................

55

FIGURA 2- Representação gráfica dos níveis de cortisol sérico, em suínos submetidos à AA e AL em relação aos tempos amostrais, com intervalo de confiança de 95%, Goiânia - GO, 2009..........................

58

FIGURA 3 - Representação gráfica das médias dos valores de PCR sérica, em suínos submetidos à AA e AL em relação aos tempos amostrais, com intervalo de confiança de 95%, Goiânia - GO, 2009....................

59

FIGURA 4 - Representação gráfica das médias de PAM, em suínos submetidos à AA e AL com intervalo de confiança de 95%, Goiânia- GO, 2009.

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LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2

TABELA 1 - Valores médios ± desvios-padrão e mediana dos tempos operatórios de adrenalectomia em suínos, expresso em minutos, dos grupos aberto e laparoscópico, Goiânia- GO, 2009...................

34

TABELA 2 - Frequência de tipos de intercorrências operatórias em adrenalectomia laparoscópica e aberta em suínos, Goiânia – GO, 2009...................................................................................................

35

TABELA 3 - Valores médios ±desvios-padrão de hematócrito de suínos, submetidos à adrenalectomia aberta e laparoscópica em relação aos tempos amostrais, Goiânia-GO, 2009........................................

35

TABELA 4 - Valores médios ± desvios padrão e valores mínimos e máximos de temperatura corporal média de suínos, durante a realização de adrenalectomia aberta e laparoscópica, Goiânia-GO, 2009..............

36

CAPÍTULO 3

TABELA 1 - Valores médios ± desvios-padrão de hematócrito de suínos, submetidos AA e AL, em relação aos tempos amostrais, Goiânia -GO, 2009......................................................................................

54

TABELA 2 - Múltiplas comparações (Post Hoc) de contagem de leucócitos totais, dos grupos estudados de AL e AA em suínos em relação aos tempos amostrais. Com as diferenças entre as médias (I-J), Goiânia - GO, 2009..........................................................................

55

TABELA 3 - Múltiplas comparações (Post Hoc) de atividade de ALT, dos grupos estudados de AL e AA em suínos em relação aos tempos amostrais. Com as diferenças entre as médias (I-J), Goiânia - GO, 2009...........................................................................................

56

TABELA 4 - Valores médios ± desvios-padrão dos níveis de cortisol sérico de suínos, submetidos à AA e AL em relação aos tempos amostrais, Goiânia - GO, 2009............................................................................

57

TABELA 5 - Valores médios ± desvios-padrão dos níveis de proteína C-reativa de fase aguda sérica, de suínos submetidos à AA e AL em relação aos tempos amostrais, Goiânia - GO, 2009.....................................

59

TABELA 6 - Distribuição das médias ± desvio padrão e limites mínimos e máximos da saturação de oxigênio de suínos submetidos à AA e AL. Goiânia - GO, 2009....................................................................

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TABELA 7 - Distribuição das médias ± desvio padrão e limites mínimos e máximos da FC, durante AA e AL em suínos. Goiânia - GO, 2009

60

TABELA 8 - Distribuição das médias ± desvio padrão e limites mínimos e máximos da PAM em suínos submetidos à AA e AL. Goiânia - GO, 2009.......................................................................................

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Valores hematológicos, fisiológicos e metabólicos de suínos

domésticos......................................................................................

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RESUMO

Adrenalectomia é um procedimento operatório de alto grau de complexidade. Para sua execução o cirurgião deve ter conhecimento dos aspectos anatomofisiológicos das glândulas adrenais, especialmente sua diversidade vascular, deve ainda ter pleno entendimento sobre os recursos diagnósticos necessários para identificação das suas enfermidades. Adrenalectomia aberta é o método mais utilizado em medicina veterinária, enquanto na medicina humana a abordagem laparoscópica é a de eleição. O hiperadrenocorticismo, que pode ser hipófise dependente ou não, é enfermidade adrenal de maior frequência. Seu tratamento consiste na contenção da evolução dos tumores por meio de fármacos ou cirúrgico. A escolha do tratamento depende da funcionalidade, tipo e tamanho do tumor e da caracterização dos estudos de imagem. O modelo suíno mostrou-se adequado para a execução dos procedimentos operatórios, visto possuir protocolo de experimentação e parâmetros fisiológicos padronizados. Dentre os principais benefícios da adrenalectomia laparoscópica (AL) frente à adrenalectomia aberta (AA) destaca-se a rápida recuperação dos pacientes com diminuição do tempo de internação. A adrenalectomia laparoscópica é o procedimento de escolha em medicina humana, sendo caracterizada atualmente como padrão ouro. Em medicina veterinária, ainda há necessidade de melhor caracterização dos seus resultados afim de que seus benefícios em relação à adrenalectomia aberta possam ser conhecidos. Neste estudo foi comparada a AA com a AL. Foram operados 32 suínos, divididos em quatro grupos de oito animais, sendo um grupo submetido à AA e outro grupo à AL, com seus respectivos grupos controle (sham). Foram avaliados parâmetros referentes a tempo operatório, temperatura corporal, hematócrito, intercorrências operatórias e tempo de deambulação. Bem com as respostas fisiológicas, hormonais e metabólicas oriundas da adrenalectomia laparoscópica e aberta em suínos jovens. Não houve diferença significativa entre os tempos operatórios. As intercorrências mais frequentes foram acidentes em alças intestinais, lesões em vasos adrenais e hematoma renal. As perdas sanguíneas não foram significativas e apesar de ter ocorrido hipotermia esta não teve repercussão clínica. O tempo de deambulação foi maior para o grupo AA, mas sem diferença significativa em relação ao AL. As diferenças significativas encontradas se relacionaram aos valores de leucometria, os quais apresentaram elevação no grupo sham laparotômico em relação aos grupos laparoscópicos; a SpO2 do grupo G3 foi inferior aos demais grupos; os valores de PCR dos grupos laparoscópicos foram menores no pós operatório. Não houve diferença significativa na pressão arterial média dos quatro grupos. A laparoscopia para adrenalectomia experimental em suínos é uma técnica confiável podendo servir como referência para o tratamento cirúrgico nas outras espécies animais. Os parâmetros metabólicos analisados não apresentaram diferenças significativas. Estes resultados indicaram benefícios da abordagem laparoscópica em relação à aberta, podendo ser considerado um procedimento seguro para utilização em outras espécies. Palavras chaves: glândula adrenal, irrigação sanguínea, laparoscopia, modelos animais, pneumoperitôneo, pressão arterial média e resposta de fase aguda

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ABSTRACT

Adrenalectomy is a highly complex surgical procedure. In order to perform it, surgeons must have a profound knowledge of the anatomophysiologic aspects of the adrenal glands, especially their vascular diversity, as well as full understanding of diagnostic means so as to properly identify their diseases. Open adrenalectomy is the most widely used method in veterinary medicine, while laparoscopic adrenalectomy usually is the method of choice in human medicine. Hyperadrenocorticism, whether hypophysis-dependent or not, is the most the most common adrenal disease. Treatment involves stopping the growth of tumors either surgically or chemically. Treatment of choice will depend on tumor functionality, type and size, as well as on its image. The swine model has proven adequate for surgical procedures, since it possesses standardized experimentation protocols and physiological parameters. Among the main benefits of laparoscopic adrenalectomy versus open adrenalectomy is rapid recovery and diminished hospitalization time. Laparoscopic adrenalectomy is the procedure of choice in human medicine, and it is nowadays considered to be the gold standard. In veterinary medicine more research is needed so as to better establish its advantages over open adrenalectomy. In this study open adrenalectomy was compared to laparoscopic adrenalectomy. 32 swines, divided into four groups of eight animals each, underwent surgery; being it that one group underwent open and the other laparoscopic adrenalectomy, with their respective control groups (sham). Parameters such as surgical time, body temperature, haematocrit, surgical intercurrences and XXXXX, as well as physiological, hormonal and metabolic responses were evaluated in young swines, both in open and laparoscopic adrenalectomy. There were no significant differences in surgical times. Most frequent intercurrences were accidents with intestinal loops, lesions to adrenal vessels and renal haematoma. Blood losses were not significant and, even though there was hypothermia it did not lead to any unfavorable clinical outcome. Deambulation time was longer for the open adrenalectomy group, although the difference was not significant. Significant differences were found in leucometry values of the laparoscopic sham group, which were higher when compared to laparoscopic groups; SpO2 of the G3 group was lower than that of the other groups, and PCR of the laparoscopic groups were lower postoperatively. There were no significant differences in mean blood pressure in all of four groups. Laparoscopy is a reliable technique for experimental adrenalectomy in swines and can be used as a reference for surgical treatment of adrenal diseases in other animal species. Metabolic parameters did not show significant differences. These results indicated that the laparoscopic technique is beneficial over open surgery, and that it can be considered a safe procedure for other species. Keywords: acute-phase response, adrenal gland, animal models, blood irrigation, laparoscopy, mean arterial pressure, pneumoperitoneum

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CAPÍTULO I - CONSIDERAÇÕES GERAIS

1 Introdução

A adrenalectomia é um procedimento operatório com alto grau de

complexidade, recomendado para o tratamento de enfermidades adrenais não

responsivas ao tratamento medicamentoso ou em casos de tumores adrenais

grandes e ou funcionais (SCHULSINGER et al., 1999). O hiperadrenocorticismo

decorrente destes tumores resulta em diversos distúrbios metabólicos, tais como

hiperglicemia, hipercortisolismo, aumento da produção de catecolaminas e

consequentemente alterações cardiovasculares (BEHREND & KEMPPAINEN,

2001).

Para a execução da adrenalectomia, o cirurgião deve ter conhecimento

pleno dos aspectos anatômicos e fisiológicos das glândulas adrenais, deve-se

proceder no pré e pós-operatório com rigor e avaliar minuciosamente as suas

possíveis complicações (BIRCHARD, 1998). Quanto aos aspectos fisiológicos, a

elevação dos níveis de cortisol implica em flacidez da musculatura respiratória,

atrofia muscular, doença tromboembólica pulmonar, glomerulonefrites (FRANK,

2006) e o adelgaçamento cutâneo, que irá atuar como fator dificultador da

cicatrização, aumentando assim o risco de infecções nas feridas cirúrgicas

(BIRCHARD, 1998).

O diagnóstico de enfermidades adrenais deve ser realizado utilizando-

se todos os recursos disponíveis. As avaliações clínicas, as análises laboratoriais

e os exames de imagens compostos por ecografias e tomografia (LEE et al.,

2005), devem ser utilizados em conjunto, garantindo informações precisas sobre

tamanho, tipo e localização do tumor, assegurando que a abordagem eleita

resulte em segurança para o paciente (MORANDI et al., 2007).

A abordagem aberta é o método utilizado para a adrenalectomia em

medicina veterinária, ao contrário do que ocorre na medicina humana, onde a

abordagem laparoscópica é de eleição e considerada padrão ouro, isto é,

representa um método consagrado para a execução da adrenalectomia

(LEZOCHE et al., 2008). Os métodos minimamente invasivos são pouco utilizados

em medicina veterinária, apesar dos inúmeros benefícios que proporcionam, tais

como a diminuição do trauma operatório e do período de internação, menor

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2

utilização de antibióticos e melhor recuperação pós-cirúrgica (FREEMAN, 1999).

Tais benefícios são bem evidentes em seres humanos, com apresentações

objetivas das vantagens da adrenalectomia laparoscópica em relação à aberta,

bem como a demonstração da evolução a qual a adrenalectomia laparoscópica

atingiu ao longo do tempo (CERVANTES & PATINO, 1997). Os mesmos estudos

devem ser reproduzidos com a finalidade de instrumentalizar e difundir no âmbito

veterinário os recursos e benefícios dos métodos minimamente invasivos.

2 Aspectos morfofisiológicos das glândulas adrenais

Uma das primeiras descrições anatômicas da adrenal foi a publicação,

na Opúscula Anatômica, em 1563 por Eustachius. Sua divisão em medula e

córtex foi descrita no século XIX por Curver entre 1800 e 1805. Addison, no ano

de 1855, observou a destruição das adrenais num paciente com tuberculose e

associou este fato à sua morte. Um ano mais tarde, Brown-Sequard realizou

adrenalectomias bilaterais em animais, concluindo que as adrenais eram

essenciais para manutenção da vida (ZISMAN & KERNION, 2006).

As glândulas adrenais nos cães são bilobadas, achatadas, pareadas e

se localizam no pólo crânio-medial dos rins, sendo recobertas por uma delgada

cápsula. A adrenal direita situa-se próxima da última vértebra torácica, da primeira

lombar e nas proximidades da veia cava caudal. Possui relação íntima podendo

sua cápsula ter continuidade com a túnica externa da veia cava (BIRCHARD,

1998). Já a glândula adrenal esquerda é ligeiramente caudal à direita (Figura 1-A)

e encontra-se separada da veia cava caudal por uma pequena camada de

gordura. Seu tamanho está relacionado diretamente à raça, variando em torno de

22 mm de comprimento, dez mm de largura e quatro mm de espessura

(NICHOLS et al., 2003).

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3

FIGURA 1 – A - Aspecto anatômico das glândulas adrenais de cães (setas brancas). B- Glândula adrenal de cão com destaque da veia frênico-abdominal em cães (seta branca). FREEMAN (1999)

A irrigação sanguínea das adrenais se origina de ramos da aorta e das

artérias renais, renais acessórias, lombares e frênico-abdominais. A drenagem

venosa é feita desde a veia adrenal direita, diretamente até a veia cava. A veia

adrenal esquerda se insere na veia renal esquerda. As veias adrenais também

podem terminar nas veias frênico-abdominais. Estas se encontram na superfície

medioventral de cada glândula adrenal (Figura 1-B) e a artéria frênico-abdominal

encontra-se posicionada adjacente à porção dorsal de cada glândula

(BIRCHARD, 1998).

As glândulas adrenais em suínos possuem formato cilíndrico e

alongado e estão situadas na superfície crânio-medial dos rins, anterior ao seu

hilo. Algumas podem apresentar forma cilíndrica ou triangular, porém estes

achados são raros. Estão situadas aproximadamente no mesmo plano. A glândula

direita se encontra próxima à veia cava caudal e seu pólo direito se relaciona com

a veia renal direita. A glândula esquerda é ligeiramente maior em suínos adultos,

podendo atingir até dez cm de comprimento (GETTY, 1986) (Figura 2-A). Existe

uma variedade de vasos responsáveis pela irrigação e drenagem sanguínea das

adrenais. A glândula direita é irrigada preferencialmente por ramos das artérias

aorta abdominal, abdominal cranial, última intercostal direita, frênica caudal

direita, mesentérica cranial, penúltima intercostal e renal direita, podendo ainda

receber irrigação da artéria lombar I, II, III e IV (SILVA et al., 2004). A glândula

esquerda recebe ramos das artérias aorta abdominal, mesentérica cranial,

A B

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4

celíaca, frênica caudal, abdominal cranial e a penúltima intercostal esquerda

(SILVA et al., 2004) (Figura 2-B).

FIGURA 2 – A – Posicionamento das glândulas adrenais em suínos (DALMOSE et, al., 2000). B – Esquema representativo de irrigação sanguínea de glândulas adrenais em suínos da raça Hampshire. Onde 1 a 7 artérias lombares, 8 artéria celíaca, 9 artéria mesentérica, 10 e 11 artérias frênicas e C aorta (SILVA et al., 2004)

A drenagem venosa da adrenal direita é realizada pelas veias adrenais

direitas, diretamente na veia cava caudal ou na veia abdominal dorsal. As veias

adrenais esquerdas vertem na veia abdominal dorsal ou na veia renal esquerda

(GETTY, 1986). Além destes aspectos, cada glândula é composta por duas partes

distintas: a medula adrenal e o córtex adrenal. A medula adrenal, que

corresponde aos 20% da glândula, está funcionalmente relacionada com o

sistema nervoso simpático e é responsável pela produção e liberação de

catecolaminas em resposta à estimulação simpática (GUYTON & HALL, 1997).

Em 1865, Henle observou que parte da adrenal, quando submetida ao

bicromato de potássio adquiriu uma coloração parda, sendo esta fração

pigmentada correspondente ao tecido medular do órgão. Em função da reação,

estas células contendo catecolaminas, foram denominadas células cromafínicas.

A região adrenocortical em mamíferos é tipicamente dividida em três zonas: zona

reticular, zona fasciculada e zona glomerular. A zona reticular é a mais interna e é

adjacente à medula, compreendendo células que estão dispostas de forma

aleatória. Na zona fasciculada, as células estão dispostas em colunas, enquanto

na porção mais externa do córtex, a zona glomerular, há um arranjo em alça ou

espiralado (Figura 3) que resulta em um aspecto acinar (DICKSON, 1996).

B AB

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5

FIGURA 3- Identificação das regiões cortical e medular da glândula adrenal e os tipos de hormônios produzidos conforme a região. Figura cedida pelo departamento de patologia da escola de veterinária de Universidade Federal de Goiás.

O córtex adrenal produz um grupo de hormônios inteiramente diferente

dos secretados pela região medular, chamados de corticosteróides, que são todos

sintetizados a partir do esteróide colesterol e têm fórmulas químicas muito

semelhantes, porém suas pequenas diferenças em estrutura molecular lhes

conferem funções muito distintas (VITE, 2005). Dois tipos principais de hormônios

adrenocorticais são secretados pelo córtex adrenal, os mineralocorticóides e os

glicocorticóides. Além destes, são secretadas pequenas quantidades de

hormônios sexuais, sobretudo os hormônios androgênicos, que exibem no corpo

aproximadamente os mesmos efeitos da testosterona. Mais de 30 esteróides

foram isolados do córtex adrenal, mas apenas dois são de excepcional

importância para a função endócrina normal do corpo: a aldosterona, que é o

principal mineralocorticóide, e o cortisol, que é o principal glicocorticóide

(GUYTON & HALL, 1997).

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6

2 Afecções cirúrgicas das glândulas adrenais - abordagem clínica e

terapêutica

3.1 Hiperadrenocorticismo

Também denominada síndrome de Cushing, em homenagem ao seu

descritor, Harvey Cushing, o hiperadrenocorticismo pode ser dividido em duas

classes, dependente ou independente da produção de hormônio

adrenocorticotrófico (ACTH). Nas independentes, ou doença primária das

adrenais, existem as lesões unilaterais causadas por adenomas e

adenocarcinomas, que correspondem nos seres humanos de 90 a 95 por cento

dos casos descritos. As lesões bilaterais são menos comuns e incluem a doença

nodular pigmentada das adrenais (PPNAD – primary pigmented nodular), a

hiperplasia macronodular bilateral primária das adrenais (AIMA – ACTH -

independent macronodular adrenal hyperplasia) e raramente adenomas bilaterais

(ANTONINI et al., 2004).

Em cães, 80 a 85% dos casos com hiperadrenocorticismo são

resultantes do excesso de produção de hormônio adrenocorticotrópico (ACTH),

caracterizando-se desta forma como hiperadrenocorticismo pituitária dependente

(HPD). Quando é originária de neoplasia adrenal, ocorre excessiva secreção de

cortisol autonomamente, independente do controle endógeno, resultando em

sinais clássicos como dermatopatias, poliúria, polidipsia e polifagia e alterações

oculares como catarata bilateral (LEE et al., 2005). A identificação e diferenciação

são de fundamental importância para o delineamento dos procedimentos

terapêuticos a serem adotados, que podem ser quimioterápicos, cirúrgicos ou

mesmo associados (SUZUKI, 2006).

3.2 Principais sinais de hiperadrenocorticismo

A hiperfunção do córtex da glândula adrenal foi observada por Harvey

Cushing em 1912, mas somente descrita em 1932. Cushing descreveu, em 12

humanos, um distúrbio por ele considerado como resultante de “basofilismo

pituitário”. O epônimo “síndrome de Cushing canina” (SCC) refere-se ao conjunto

de anormalidades clínicas e químicas resultantes da exposição crônica excessiva

a glicocorticóides. O termo “moléstia de Cushing”, também conhecido como

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hiperadrenocorticismo pituitário-dependente (HPD), aplica-se àqueles casos de

síndrome de Cushing onde o hipercortisolismo é secundário à inadequada

secreção de adrenocorticotropina (ACTH) pela pituitária (FELDMAN, 1997). A

síndrome está associada com altos níveis de cortisol, decorrentes da alta

concentração de hormônio corticotrópico (ACTH) produzido pela pituitária ou por

neoplasias não endócrinas ectópicas, adenoma adrenocortical funcional ou

carcinoma. A síndrome de Cushing de causa iatrogênica deve-se à administração

excessiva de glicocorticóides (TILLEY & GOODWIN, 2002).

Aproximadamente 85% dos casos de hiperadrenocorticismo são

pituitário-dependentes. Acomete cães de meia idade a idosos (em geral acima de

seis anos de idade), embora alguns casos tenham sido diagnosticados em

animais com idade inferior a um ano. Não há evidências de predisposição sexual.

As raças Poodle, Dachshund e Beagle podem apresentar maior tendência à

doença. Já os cães portadores de neoplasia adrenocortical funcional são animais

com idade variando de seis a 16 anos e média de 11 anos, sendo as fêmeas mais

susceptíveis. As raças mais comumente atingidas são Pastor Alemão, Poodle

Toy, Dachshund e Terrier (TILLEY & GOODWIN, 2002).

Os cães com SCC geralmente desenvolvem sinais clínicos que

refletem a disfunção de muitos sistemas orgânicos, embora em alguns cães

possa predominar somente um sinal clínico (NICHOLS et al., 2003). As

apresentações clínicas mais comuns para hiperadrenocorticismo são a polidipsia

e a poliúria, que são observadas em 85 a 97% dos cães com SCC. Os

glicocorticóides reduzem a reabsorção tubular renal de água por meio do aumento

da taxa de filtração glomerular e do fluxo sanguíneo renal uma vez que interfere

na inibição da ação do hormônio antidiurético (ADH) nos níveis tubulares

(BIEWENGA et al., 1989). É comum também o surgimento de polifagia,

taquipnéia, alopecia, anestro, intolerância ao exercício e letargia, aumento do

abdômen, hepatomegalia, fraqueza muscular, atrofia testicular e cutânea,

hiperpigmentação e obesidade (VITE, 2005).

Infecções urinárias do trato inferior podem ser observadas em função

do excesso do cortisol e seus efeitos associados à polaciúria, hematúria e

estrangúria (NICHOLS et al., 2003) assim como a calcificação da pelve renal

(LEE et al., 2005). Além destes sinais clínicos, o estado ofegante excessivo é

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muito comum e pode ser resultante da redução da complacência pulmonar, da

hipertensão pulmonar ou dos efeitos diretos do cortisol no centro respiratório

(NICHOLS et al., 2003). As alterações na mecânica ventilatória ocorrem devido à

fraqueza dos músculos respiratórios, acúmulo de gordura torácica (diminuição da

complacência da parede do tórax) e aumento da pressão abdominal decorrente

da presença do tecido adiposo e hepatomegalia. Frequentemente ocorre angústia

respiratória ou taquipnéia em repouso. A angústia respiratória pode ser causada

por doença tromboembólica pulmonar. Os fatores que causam tromboembolismo

pulmonar associados à síndrome de Cushing incluem obesidade, hematócrito

elevado, hipertensão e alta concentração de fatores de coagulação. Deve-se

desconfiar de tromboembolismo pulmonar em qualquer paciente com SCC com

início agudo de dispnéia ou cianose (TILLEY & GOODWIN, 2002).

É frequente animais com hiperadrenocorticismo desenvolverem

diabetes melitus e, consequentemente, acentuar os sinais clínicos associados de

poliúria, polidipsia, perda de peso e polifagia. A identificação do diabetes induzida

por esteróides é o desenvolvimento de resistência à insulina, definido

clinicamente como hiperglicemia persistente apesar das doses insulínicas de 2,5

UI/kg/administração. O cortisol antagoniza a insulina pela interferência na sua

ação em nível celular. A letargia é o distúrbio do sistema nervoso central (SNC)

mais comum e pode se associar a altas concentrações de ACTH ou a efeitos do

excesso de cortisol nas enzimas cerebrais ou na síntese de neurotransmissores.

Os sinais neurológicos tais como andadura em círculos, ataques convulsivos e

alterações comportamentais podem ser causados pelos efeitos compressivos de

grande tumor hipofisário em expansão. A fraqueza muscular é comum e resulta

da emaciação muscular secundária aos efeitos catabólicos do excesso de

glicocorticóides. A atrofia testicular e a infertilidade feminina se relacionam às

baixas concentrações de hormônio folículo estimulantes (FSH) e do hormônio

luteinizante (LH) causadas por retroalimentação negativa a partir de

concentrações altas de cortisol circulante (NICHOLS et al., 2003).

O hiperadrenocorticismo aumenta a resistência vascular em

decorrência da maior sensibilidade do músculo liso às catecolaminas e estímulo à

produção de angiotensinogênio. O cortisol aumenta a reabsorção renal de sódio e

a retenção de fluidos, resultando em maior volume vascular. Constata-se

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hipertensão em 57 a 82% dos cães enfermos. A hipertensão sistêmica pode

causar hipertrofia do miocárdio e pode exacerbar cardiopatias subclínicas

(TILLEY & GOODWIN, 2002). A endocardiose de mitral associada ao

hiperadrenocorticismo também é um achado relevante, especialmente em cães

da raça Poodle (BAUMGARTNER & GLAUS, 2004).

3.3 Diagnóstico de hiperadrenocorticismo

Muito embora o diagnóstico de hiperadrenocorticismo não seja fácil, é

de fundamental importância que seja adequadamente executado, determinando

se é uma enfermidade de origem hipofisária ou adrenal, pois deste irá depender o

respectivo protocolo e consequentemente o sucesso do tratamento (GUPTILL et

al., 1997). O primeiro passo inclui uma completa e detalhada anamnese,

compreendendo o histórico e exame físico do animal. Os exames laboratoriais

incluem hemograma completo, bioquímica sérica, urinálise com cultura e

antibiograma. Outros recursos como radiografia, ultra-sonografia, tomografia

computadorizada e ressonância magnética, quando disponíveis, são necessários

para o auxílio diagnóstico e delineamento do protocolo terapêutico. Existem

diversos testes para o diagnóstico de hiperadrenocorticismo, porém os principais

testes diagnósticos compreendem as provas de:

a- estimulação com ACTH: com sensibilidade e especificidade de 85%,

apresenta-se como um excelente teste para identificação de

hiperadrenocorticismo pituitário dependente (HPD) e também a presença de

tumores adrenais, em caso de ausência ou baixas dosagens séricas;

b- supressão com baixas doses de dexametasona: possui maior sensibilidade

que a prova de estimulação por ACTH, porém menor especificidade. É um

excelente método para verificação de hiperadrenocorticismo dependente de

adrenal (HDA) por apresentar menor probabilidade de falso negativo;

c- proporção de cortisol e creatinina urinária: possui sensibilidade e

especificidade similar ao teste de supressão por baixas doses de dexametasona.

Tem como principal vantagem a alta sensibilidade e, na maioria dos casos, em

níveis normais, descarta-se a presença de hiperadrenocorticismo (BEHREND &

KEMPPAINEN, 2001).

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3.4 Tratamento do hiperadrenocorticismo

A- Adrenalectomia farmacológica

A adrenalectomia farmacológica é amplamente utilizada na medicina

humana e veterinária, especialmente nos casos de maior complexidade onde os

procedimentos operatórios implicam em risco, seja pelo porte do animal ou pela

complexidade da enfermidade (BREUNER et al., 2000), ou ainda pela presença

de metástases em outros sistemas, com impossibilidade de tratamento cirúrgico

(LEE et al., 2005). Em medicina veterinária é usual encontrar tratamentos

exclusivamente farmacológicos, tal como o uso de cetoconazol e mitotano.

Atualmente se busca a disponibilidade de utilização do trilostano, do deprenil e da

cabergolina (CASTILLO et al., 2008), porém, serão destacados os mais eficazes

no tratamento de HPD.

Mitotano

O mitotano é a droga mais comumente utilizada, seja nos caso de HPD

ou em adenomas e carcinomas adrenocorticais com impossibilidade de resolução

por meio cirúrgico. É um agente de grande seletividade, citotóxico, com ação

atrófica e de necrose do córtex adrenal, cessando a produção de glicocorticóides.

Sua grande vantagem é expressa pela disponibilidade no mercado, com fácil

aquisição e administração. Porém, seu alto custo e efeitos adversos representam

um obstáculo ao seu uso. É frequente animais sob tratamento prolongado

apresentarem letargia, diarréia, anorexia e fraqueza (LEE et al., 2005).

Trilostano

O trilostano é uma droga com ação inibitória competitiva sobre a 3β

desidrogenase, interfere na biossíntese dos esteróides produzidos no córtex

adrenal. Possui inúmeras vantagens em relação ao mitotano, em especial pelos

menores efeitos adversos apresentados. Contudo, alguns animais podem

apresentar quadro de letargia, anorexia e, em casos mais graves, necrose de

córtex adrenal e consequente quadro de hipoadrenocorticismo, implicando na

suspensão do tratamento e reposição de glicocorticóide (RUCKSTUHL et al.,

2002).

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Cetoconazol

O cetoconazol é um inibidor esteróide usado em animais com HPD. A

dose inicial é de 15mg/kg duas vezes ao dia, sendo aumentada gradualmente

durante três semanas até a dose de 30mg/kg/dia, também duas vezes ao dia.

Não é frequentemente utilizado em cães devido à severa anorexia decorrente de

seu uso. É um importante recurso para o preparo do animal para a cirurgia ou

radioterapia. Os níveis de ACTH, após estimulação, devem estar normais

(GRECO, 2007).

Deprenil

Não existem estudos controlados comprovando a eficácia do deprenil

em cães com PDH. Age como inibidor da monoaminoxidase tipo B (MAO-B), sua

utilização deve ser disponibilizada em uma minoria de cães com HPD e em

animais com tumores da pars intermédia uma vez que estas estão relacionadas à

regulação da dopamina. Alguns autores restringem seu uso a animais com

dermatoses ou com intolerância ao mitotano ou cetoconazol (GRECO, 2007).

B- Adrenalectomia cirúrgica

Indicada quando o tratamento conservador não apresenta resposta.

Consiste na exérese de tumores adrenais, funcionais ou não, secretores ou em

casos de metástases. A principal forma de abordagem para adrenalectomia é a

aberta, transabdominal ou retro-peritoneal, executadas para a remoção de

tumores de todas as dimensões e ou que apresentem maior grau de

complexidade (KYLES et al., 2003). Outro tipo de abordagem é a laparoscópica,

que pode ser realizada por acesso transabdominal e retroperitoneal, e apresenta

inúmeros benefícios em relação à abordagem aberta, tais como menor tempo de

internação, menor trauma operatório e diminuição do uso de antimicrobianos

(SUZUKI, 2006).

As principais indicações para adrenalectomia são para tumores

adrenais primários secretores de quantidades excessivas de cortisol. Os níveis

plasmáticos circulantes de ACTH são suprimidos, resultando na atrofia cortical da

adrenal não envolvida. A secreção de cortisol por esses tumores é independente

do controle hipotalâmico-hipofisário e é aleatoriamente episódica (FELDMAN,

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1997). São diversos os tipos de tumores adrenais descritos, sendo os adenomas

e os carcinomas os mais frequentes entre todas as neoplasias relatadas em cães

e gatos. Contudo, apesar destas descrições, são poucos os estudos realizados

para identificação e classificação de tumores adrenais (LABELLE et al., 2004).

Os mais frequentemente identificados são: o aldosteronoma, que é

uma neoplasia produtora de aldosterona e não de cortisol como a grande maioria

das neoplasias do córtex adrenal (RIJNBERKA et al., 2001). Outro tumor de

origem cortical foi descrito por TURSI et al. (2005), diagnosticado em um cão da

raça Retriever do Labrador e classificado como mielolipoma, sendo esta uma

neoplasia bem diferenciada, com presença de células adiposas, megacariócitos,

células hematopoiéticas e macrófagos com deposição de hemosiderina. Ainda

sobre tumor de córtex adrenal, relatado em cão jovem, cita-se o neuroblastoma

maligno (MARCOTTE et al., 2004), o ganglioneuroma associado com adenoma

em cão da raça Pit Bull, que além dos sinais dermatológicos clássicos manifestou

quadro de taquipnéia em decorrência de flacidez diafragmática (FERREIRA et al.,

2008).

Entretanto, um tipo de tumor cada vez mais comum, seja por um

verdadeiro aumento de sua incidência, seja pela melhora da qualidade no

diagnóstico, é o tumor denominado feocromocitoma. Trata-se de uma neoplasia

de medula adrenal, produtora de catecolaminas e com características muito

particulares. Foi descrito inicialmente por Frankel em 1886 e no ano de 1895,

Oliver e Sharpey-Schafer demonstraram uma substância de capacidade pressora

proveniente da medula adrenal, nomeada adrenalina, e renomeada

posteriormente de epinefrina por Abel e Crawford, em 1897. Pick, em 1912,

formulou o termo feocromocitoma para descrever tumores de medula adrenal com

relação a suas reações cromafínicas. A indicação de cirurgia para o

feocromocitoma foi dada por J. H. Cunningham, no ano 1935 (ZISMAN &

KERNION, 2006). Em animais, especialmente em cães, o feocromocitoma

geralmente ocorre naqueles mais idosos e não tem predisposição racial ou de

gênero (NICHOLS et al., 2003).

A sintomatologia clínica do feocromocitoma se desenvolve em

consequência da sua natureza expansora e suas metástases, ou em

consequência da secreção excessiva de catecolaminas. A sintomatologia geral é

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vaga, inespecífica e facilmente associada a outros distúrbios. Os sinais clínicos

mais comuns são fraqueza, poliúria e polidipsia, ansiedade, vômito, ascite,

anorexia, diarréia, taquipnéia e episódios de hipertensão em procedimentos

cirúrgicos (KYLES et al., 2003). Já o diagnóstico de feocromocitoma, assim como

as demais neoplasias adrenais, pode ser confirmado por avaliação histológica da

massa excisada cirurgicamente. Testes bioquímicos ou farmacológicos que

demonstram produção excessiva de noradrenalina, adrenalina ou seus

metabólitos no sangue ou na urina são pouco viáveis, tecnicamente difíceis e

caros, o que limita seriamente seu uso em clínica veterinária (LOUVET et al.,

2005).

A excisão cirúrgica é o tratamento de escolha. O prognóstico depende

da presença de enfermidade concomitante, metástase do tumor e invasão local

da massa. Os locais de metástases incluem a veia cava caudal, fígado, pulmão,

linfonodos regionais, coração, baço e rim (GILSON et al., 1994). Desta forma,

para execução do procedimento operatório, deve-se obedecer rigorosamente o

critério de classificação tumoral, com vistas a dispor do melhor método de

intervenção. SUZUKI (2006), apresentou o algoritmo de orientação cirúrgica de

tumores adrenais (Figura 4), expressando de foram didática os procedimentos

para a eleição do tipo de abordagem a ser adotada em adrenalectomia

relacionada à classificação da enfermidade.

FIGURA 4- Algoritmo de orientação cirúrgica para tumores adrenais. (Adaptado de SUZUKI, 2006)

Tumor adrenal

Funcional

Tipo de tumor adrenal

Adrenalectomia Acompanhamento Considerar adrenalectomia

Imagem com características sugestivas

Jovem com algumas comorbidades

Histórico de câncer

Crescimento durante acompanhamento

O cliente opta pela ressecção

Laparoscopia

Aberta

Sim

Não

Sim

Não

3 cm 3-5 cm cm

≥5 cm

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Adrenalectomia aberta

Esta é a técnica de eleição em medicina veterinária para realização da

adrenalectomia. Caracteriza-se primordialmente pelos acessos transabdominal

pela linha média ventral e retroperitoneal. A abordagem transabdominal

apresenta-se como a técnica de maior facilidade para sua execução, uma vez que

gera um campo operatório amplo e de melhor acesso. Porém, esta vantagem

implica em grande lesão da parede abdominal, resultando em um período de pós-

operatório prolongado e com muito desconforto ao paciente (SCHULSINGER et

al., 1999).

São duas as formas de acesso transabdominal: a primeira com acesso

mediano epigástrico associado à exerese para-costal, e a segunda

exclusivamente para-costal. A grande diferença entre as duas está relacionada ao

porte do paciente. Animais de menor porte frequentemente devem ser submetidos

ao acesso de maior amplitude, uma vez que o campo operatório

consequentemente é menor (BIRCHARD, 1998). A abordagem retroperitoneal é

menos utilizada na rotina cirúrgica veterinária, mas possui a vantagem de produzir

menor injúria na parede abdominal devido ao menor trauma operatório. Contudo,

quando se tratar de tumores maiores e com necessidade de melhor visibilidade do

mesmo, deve-se optar pelo acesso mediano ventral (LEZOCHE et al., 2008).

Várias complicações são possíveis em seguida à adrenalectomia.

Hemorragia, desequilíbrios de líquidos e eletrólitos, pancreatite secundária a

traumatismo iatrogênico, infecção da ferida ou pneumonia decorrente de

comprometimento no funcionamento do sistema imune, e a cicatrização deficiente

dos tecidos são problemas possíveis. A insuficiência adrenal ocorre em seguida à

remoção bilateral das glândulas, ou à remoção unilateral decorrente de neoplasia

adrenal. Glicocorticóides são administrados no pós-operatório (prednisona, 0,5

mg/Kg de 12-12 horas; ou prednisolona, 0,2 mg/Kg de 24-24 horas) ao longo dos

sete a dez dias seguintes. A terapia com mineralocorticóides é também

necessária em seguida à remoção de ambas as glândulas adrenais (BIRCHARD,

1998).

O domínio da técnica aberta é fundamental para segurança do

procedimento. A irrigação e drenagem das glândulas adrenais são variáveis,

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podendo apresentar vasos de diversas origens, requerendo desta forma

habilidade, conhecimento e provisão de instrumental apropriado (BIRCHARD,

1998). É indicada por SUZUKI (2006) quando:

os estudos de imagem indicarem invasão vascular ou local, linfadenopatia ou

metástase. Ou ainda se demonstrarem a localização do tumor, mas com

suspeita de malignidade por apresentarem margens irregulares,

hiperdensidade e heterogeneidade;

tratar-se de um tumor cortical com tamanho entre oito e dez centímetros;

o seu desenvolvimento for rápido e o paciente apresentar virilização,

feminilização ou síndrome de Cushing;

o paciente possuir histórico familiar de feocromocitoma;

o tumor for multisecretor de hormônios.

Abordagem laparoscópica

Assim como na técnica aberta, a abordagem laparoscópica pode ser

transabdominal ou retroperitoneal, sendo aquela a de eleição, pois proporciona

um campo operatório amplo, com melhor visibilidade da vascularização e dos

órgãos adjacentes (SCHULSINGER et al., 1999). Suas principais características

são expressas por meio da conceituação como cirurgia minimamente invasiva.

Isto é, trata-se de um procedimento capaz de causar o menor trauma com o maior

benefício possível. Este caminho já é percorrido vagarosamente na ciência

veterinária ao contrário do que ocorre na medicina humana, onde a

adrenalectomia laparoscópica é o procedimento de eleição em casos de

intervenção nas glândulas adrenais (LEZOCHE et al., 2008).

Na abordagem transabdominal para a execução da adrenalectomia, a

criação do pneumoperitôneo, por meio da introdução da agulha de Veress, deve

ser criteriosa, evitando acidentes, e a pressão não deve ultrapassar os dez

mm/Hg (SRINIVASAN et al.,1999). O mesmo rigor deve ser observado na

introdução dos portais e dos instrumentais. Para a evidenciação glandular é

necessário que seja efetuado o afastamento dos órgãos adjacentes, tais como o

baço, pâncreas, estômago e alças intestinais, além de se realizar a dissecção do

peritônio parietal e afastamento do rim. Em sequência deve-se retirar a gordura

perirenal e periglandular para o início da dissecção da adrenal. A realização das

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hemostasias é considerada a etapa de maior complexidade, que requer, além do

conhecimento anatômico, habilidade do cirurgião, evitando desta forma possíveis

perdas sanguíneas (SUZUKI, 2006).

A inobservância dos quesitos básicos de segurança e falta de

planejamento para a execução do procedimento pode incorrer em lesões no baço

ou outras estruturas adjacentes. A habilidade para controlar a inserção do trocarte

e da agulha de Veress limitará a incidência de injúrias esplênicas. Durante a

passagem da agulha e do trocarte deve-se elevar a parede abdominal, afastando-

a do baço. Ocorrendo uma lesão significante no baço, a conversão do

procedimento de fechado para aberto é necessário para que se repare o dano ou

então realizar-se uma esplenectomia total ou parcial. Outra intercorrência usual é

a formação de enfisema subcutâneo, porém é considerado como uma

complicação pequena. Forma-se a partir da difusão do CO2 pelas camadas da

parede abdominal e pode prolongar o procedimento cirúrgico se não for prevenido

ou se sua ocorrência não for localizada logo. Quando acomete áreas mais

extensas, o enfisema subcutâneo se resolve em 24 horas (FREEMAN, 1999).

Entretanto, apesar do grande avanço técnico dos procedimentos

minimamente invasivos, a opção pela laparoscopia deve estar centrada na

segurança do paciente. O paciente/cliente deve estar instruído a respeito da

possibilidade de conversão do procedimento, isto é, em caso de intercorrência, o

procedimento deve ser convertido de laparoscópico para aberto (HENDRICKSON,

2008). Com vistas a eliminar estes percalços, a opção pela laparoscopia deve ser

tomada, segundo SUZUKI (2006), no caso de feocromocitomas ou forem tumores

secretores de cortisol, esteróides sexuais ou mineralocorticóides ou quando

houver:

um tumor primário localizado, sem sinal de invasão local, nódulo ou metástase

distante;

pouca ou nenhuma indicação de malignidade nos estudos por imagem, isto é,

indicação de margens regulares, ausência de hiperdensidade e

heterogeneidade;

um pequeno tumor cortical, menor que seis centímetros;

confirmação de se tratar de um aldosteronoma ou mielolipoma;

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3.5 Suíno como modelo experimental

O modelo suíno tem sido adotado para pesquisa nas áreas biomédicas

devido a sua semelhança anatômica e fisiológica com os humanos (DALMOSE et

al., 2000). Mais especificamente em estudos relacionados à técnica operatória, o

qual apresentou expressivo aumento nos últimos anos, em substituição a outros

modelos animais, como, por exemplo, cães (SWINDLE & SMITH, 1998). Com o

advento dos métodos minimamente invasivos (MI), a necessidade de

disponibilizar um modelo que atendesse às exigências técnicas dos diferentes

métodos, resultou em maior procura da espécie suína como modelo básico para

experimentação animal (FAGUNDES & TAHA, 2004). Os procedimentos

comumente realizados no uso da laparoscopia experimental são a

colecistectomia, herniorrafias, nefrectomias e esplenectomia. Já os procedimentos

avançados, tais como a gastrojejunostomia e a adrenalectomia laparoscópica, são

executados quando os cirurgiões adquirem maior experiência (SRINIVASAN et

al., 1999).

Consolidado como modelo para uso em MI, o suíno apresenta

inúmeras vantagens além da similaridade anatomofisiológica com o homem, tais

como: facilidade de manuseio, similaridade nos procedimentos anestésicos,

disponibilidade para aquisição e baixo custo de manutenção. Por outro lado,

requer instalações adequadas e padronizadas para sua manutenção, quando há

necessidade de prolongamento das pesquisas (PARK & GAGNER,1995). Possui

ainda como característica particular a sensibilidade às diferentes fontes geradoras

de estresse, particularmente as ambientais (FAGUNDES et al., 2008),

destacando-se a necessidade de separação dos animais, na medida em que

crescem, uma vez que estes desenvolvem um comportamento agressivo,

havendo então a necessidade de manutenção em recintos separados. Estas

dificuldades são contornadas com a disponibilização de mini suínos, que possuem

similaridades anatômicas e fisiológicas com humanos e pouco desenvolvimento

corporal, facilitando seu manuseio e manutenção (SWINDLE, 2007).

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Procedimentos anestésicos em suínos para experimentação animal

Realizar anestesia em animais de experimentação requer

conhecimento do mecanismo de ação das drogas e das vias de acesso dos

anestésicos. Deve-se atentar para seu custo, viabilidade e a possibilidade de

interferência das substâncias administradas com os parâmetros que serão

analisados no experimento. O pesquisador deve dominar os procedimentos de

imobilização do animal, preparo anestésico, possuir conhecimento das vias de

acesso e dos possíveis efeitos adversos dos agentes anestésicos (SCHANAIDER

& SILVA, 2004).

Anestesia em suínos para experimentação possui seu protocolo bem

definido. A indução anestésica em suínos pode ser realizada por meio de drogas

de uso injetável, com associações de fármacos ou isoladamente, como

barbitúrica, etomidato ou propofol. O azaperone é indicado na tranquilização de

suínos para transporte ou como medicação pré-anestésica, podendo ser

empregado por via intramuscular ou intravenosa. Os tiobarbitúricos são

considerados analgésicos fracos, sendo necessária uma dose muito próxima da

que causa apnéia, para se conseguir efeito analgésico satisfatório, além do fato

de que algumas associações de fármacos promovem melhor relaxamento da

laringe do que os tiobarbitúricos, como por exemplo, as associações de

quetamina e xilazina (MARQUETI, 2008).

Amplamente utilizado como agente anestésico intravenoso, o propofol

(2,6 diisopropilfenol) age como fármaco sedativo/hipnótico em anestesiologia e

nos cuidados intensivos, e por ser lipossolúvel, possui características muito

peculiares relacionadas à sua sensibilidade a contaminação. Trata-se de um

excelente sedativo para uso em suínos, no entanto, está associada à diminuição

da pressão sanguínea, resistência vascular e da produção cardíaca e volume

sistólico, promovendo ainda vasoconstrição, diminuição do fluxo sanguíneo e

redução da taxa metabólica e de oxigênio (MARQUETI, 2008). A dose para

utilização em suínos é de 2,5 a 3,5 mg/Kg por via intravenosa em procedimentos

com duração inferior a dez minutos e 12 a 20 mg/Kg/h para infusão contínua

(ACEC, 2009).

Como droga de eleição para manutenção anestésica, o isoflurano é o

mais utilizado. Trata-se de um agente não inflamável, não explosivo e com baixo

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potencial de indução de arritmias cárdiacas. É administrado com vaporizador

sobre pressão entre dois a 4% para indução anestésica e manutenção da

anestesia entre um a 2% (KEEGAN, 2005). O isoflurano se apresenta como um

excelente anestésico, contudo, é um potente agente vasodilatador, o que pode

induzir na diminuição da pressão arterial média (ELLENBERGER et al., 2003).

Parâmetros fisiológicos, metabólicos e hematológicos de suínos

Considerado um excelente modelo para experimentação em MI, os

suínos apresentam ainda particularidades relacionadas aos parâmetros

fisiológicos, os quais podem ser alterados em decorrência de variações

ambientais, período do dia, raça, idade e estado de saúde (FAGUNDES et al.,

2008). Observa-se ainda que os valores hematológicos de suínos apresentam

algumas especificidades, como percentual de neutrófilos acima de linfócitos e

baixa concentração de hemoglobina na fase neonatal, neste caso havendo a

necessidade de administração de complemento férrico nessa faixa etária

(SWINDLE et al., 2009). Os valores referências dos parâmetros metabólicos e

fisiológicos normais de suínos domésticos são apresentados no Quadro 1.

QUADRO 1 – Valores hematológicos, fisiológicos e metabólicos de suínos domésticos

PARÂMETROS VALORES REFERÊNCIAS

Leucócitos totais (10³/mm³) 4,7 – 18,6 SWINDLE et al. (2009)

Hematócrito (%) 31 - 44 FELDMAN et al. (2006)

Plaquetas (10³/mm³) 296 -616 SANTOS (1999)

Proteína total (g/dl) 7,0 – 8,9 SANTOS (1999)

ALT (UI/L) 17 – 56 FAUSTINE et al. (2000)

Creatinina (mg/L) 1,0 – 2,7 SANTOS (1999)

Cortisol (mg/dl) 4,4 – 5,9 FAGUNDES et al. (2008)

Proteína C- fase aguda (mg/L) 10,7 ± 1,4 MADRIGAL et al. (2006)

Temperatura corporal 39,2°± 0.5°C SWINDLE et al. (2009)

Frequência cardíaca (Bpm) 70 - 120 SWINDLE et al. (2009)

Pressão arterial média (mmHg) 81 ± 17 TOURNADRE et al. (2000)

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CAPÍTULO 2 - TÉCNICA LAPAROSCÓPICA VERSUS TÉCNICA ABERTA

PARA ADRENALECTOMIA EM SUÍNOS

RESUMO

Dentre os principais benefícios da adrenalectomia laparoscópica (AL) frente à adrenalectomia aberta (AA) destaca-se a rápida recuperação dos pacientes com diminuição do tempo de internação. O objetivo deste estudo foi comparar a adrenalectomia aberta com a adrenalectomia laparoscópica Foram operados 32 suínos, divididos em quatro grupos de oito animais, sendo um grupo submetido à AA e outro grupo à AL, com seus respectivos grupos controle (sham). Foram avaliados parâmetros referentes a tempo operatório (TO), temperatura corporal (TC), hematócrito, intercorrências operatórias e tempo de deambulação. Não houve diferença significativa entre os tempos operatórios. As intercorrências mais frequentes foram acidentes em alças intestinais, lesões em vasos adrenais e hematoma renal. As perdas sanguíneas não foram significativas e apesar de ter ocorrido hipotermia esta não teve repercução clínico. O tempo de deambulação foi maior para o grupo AA, mas sem diferença significativa em relação ao AL. A laparoscopia para adrenalectomia experimental em suínos é uma técnica confiável podendo servir como referência para o tratamento cirúrgico portadores de doenças adrenais com indicações cirúrgicas nas outras espécies animais. Palavras chaves: glândulas supra-renais, irrigação sanguínea, laparoscopia modelos animais.

ABSTRACT

Among the main benefits of laparoscopic adrenalectomy (LA) compared to open

adrenalectomy (AA) highlights the rapid recovery of patients with decreased length

of stay in hospital. The objective of this study was to compare the open

adrenalectomy with laparoscopic adrenalectomy. Thirty two (32) pigs were

operated on and were divided into four groups of eight animals, one group

subjected to AA and another to AL, with their respective control group (sham).

Parameters were evaluated regarding operative time (TO), body temperature (TC),

hematocrit, postoperative complications and time to deambulation. There was no

significant difference between the operative times. The most frequent

complications were accident in bowel, damage in adrenal vessels and renal

hematoma. Blood losses were not significant and although there was hypothermia,

it had no clinical repercussion. Deambulation time was higher for the AA group,

but no significant difference in relation to the AL. Laparoscopy for experimental

adrenalectomy in pigs is a reliable technique and can serve as a reliable reference

for the surgical treatment of patients with adrenal diseases with surgical

indications in other animal species.

Keywords: adrenal glands, animal models, blood supply, Laparoscopy.

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INTRODUÇÃO

As enfermidades adrenais estão entre as principais endocrinopatias de

animais de companhia, principalmente cães e furões (LEE et al., 2005;

KAWASAKI, 2008), tendo também sido relatadas em gatos (BEHREND, 2006) e

eqüinos (MCGOWAN & NEIGER, 2003). Em pacientes humanos a

adrenalectomia laparoscópica (AL) se consolidou como o principal recurso para o

tratamento de doenças neoplásicas que requerem abordagem cirúrgica. Como

exemplo nos casos de tumores inferiores a seis centímetros que não sejam

invasivos e não apresentem sinas de metástases. Nesta categoria estão incluídos

os aldosteronomas, mielolipomas, a maioria dos feocromocitomas e dos tumores

secretores de cortisol, esteróides sexuais e mineralocorticóides. Incluem-se

também outros tumores que exibem pouco ou nenhum sinal de malignidade nos

estudos de imagem (STURGEON & KEBEBEW, 2004).

Já a adrenalectomia aberta (AA) deve ser considerada nos casos em

que os tumores sejam maiores que oito centímetros, possuam características

infiltrativas, sinais de metástases e quando os estudos de imagem sejam

sugestivos de malignidade. Esta técnica deve também ser indicada para

pacientes portadores de tumores multisecretores ou para aqueles que

apresentem histórico familiar de feocromocitoma maligno. Outras indicações da

AA incluem doenças adrenais que cursam com rápido desenvolvimento de

virilização, feminilização ou síndrome de Cushing (SUZUKI, 2006). Apesar da

resistência quanto à escolha da AL, especialmente devido à necessidade de

aprimoramento técnico (NAYA et al., 2005), esta tem se destacado como método

eletivo para intervenções em glândulas adrenais (LEZOCHE et al., 2008). Alguns

estudos indicam menor morbidade da AL em relação à AA (CORCIONE et al.,

2005).

Os estudos comparativos relacionando AA com AL indicam que o

tempo operatório são maiores em AL, bem como a similaridade nas taxas de

complicações operatórias. Destacando que a recuperação pós-operatória em

pacientes submetidos à AL é melhor em função da diminuição da dor, resultando

na antecipação da capacidade de locomoção e consequentemente a diminuição

do tempo de hospitalização (WELLS et al., 1998). Em LA o tempo operatório varia

conforme a habilidade do cirurgião e da complexidade do procedimento, sendo

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superior aos tempos registrados para a execução de procedimentos abertos

(MIKHAIL et al., 2006). Em média o tempo operatório para a ressecção de

tumores adrenais, em pacientes humanos, é de 176 minutos, podendo variar

conforme o lado abordado e a experiência do cirurgião (SMITH et al., 1999).

Dentre os principais benefícios da AL frente à AA destaca-se a rápida

recuperação dos pacientes em média o tempo de internação de pacientes

humanos é de 2,7 dias (SMITH et al., 1999), enquanto os pacientes submetidos à

abordagem aberta o período de internação é em média de 11 dias (MIKHAIL et

al., 2006). Verifica-se ainda que os pacientes submetidos à AL apresentam tempo

de convalescência menor quando comparada à AA e consequentemente menor a

necessidade de utilização de medicamentos (TIRABOSCHI et al., 2003).

As intercorrências mais frequentes em adrenalectomia laparoscópica

se relacionam às perdas sanguíneas. Tais complicações decorrem da

variabilidade vascular encontrada nas adrenais. As glândulas possuem

suprimento e drenagem de numerosas pequenas artérias e veias, que devem ser

devidamente ligadas, tanto por eletrocauterização quanto por clipagem, pois as

adrenais possuem suprimento sanguíneo extremamente rico com ramos arteriais

da aorta, artéria frênica inferior, artéria renal (TIRABOSCHI et al., 2003) e

lombares (SILVA et al., 2004).

Os estudos para disponibilização dos métodos minimamente invasivos

(MI) na rotina veterinária são crescentes. A possibilidade de uso em animais

começa a se destacar a partir do momento em que seus recursos e métodos de

intervenção transpõem a etapa de pesquisa e possam ser disponibilizados para

inúmeros procedimentos como biópsia hepática (BARNES et al., 2006), sexagem

em animais exóticos (HERNANDEZ-DIVERS et al., 2009), ovariohisterectomias

(MALM et al., 2005) e colopexias (BRUN et al., 2004). No entanto, quando se trata

de procedimentos de maior complexidade, os parâmetros operatórios e a técnica

devem possuir definição objetiva e delineamento padronizado (KOLLMORGEN et

al., 1998).

O objetivo deste estudo foi comparar a adrenalectomia aberta (AA) com

a adrenalectomia laparoscópica (AL), utilizando o suíno como modelo

experimental. Para tanto foram analisados parâmetros relacionados aos dois tipos

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de abordagem, tais como tempo (TO) e intercorrências operatórias, variação de

temperatura corporal (TC) e tempo de deambulação (TD).

MATERIAL E MÉTODOS

Antecedendo o início do estudo, o projeto foi submetido à análise do

Comitê de Ética no Uso Animal (CEUA) do Instituto de Ciências Biológicas da

Universidade de Brasília, e aprovado sob o número UnBDOC 32946/2009. A

pesquisa foi conduzida no Centro de Ensino e Treinamento Experimental em

Ciências da Saúde, Distrito Federal e na Escola de Veterinária da Universidade

Federal de Goiás entre os meses de fevereiro a abril de 2009. Utilizaram-se 32

suínos (Sus scrofa domesticus), tri-cross, do sexo masculino, com peso médio de

16 kg, oriundos de granja devidamente inspecionada pelo órgão sanitário

competente.

Os animais foram identificados por meio de tatuagem efetuada na face

interna da orelha esquerda, sob efeito de sedação. Durante o estudo foi mantidos

em instalações adequadas a espécie, providas de água potável e alimentação

automatizada à vontade. Os critérios de triagem dos animais se basearam nos

exames clínicos e resultados das análises eletrocardiográficas, hematológicas e

perfis renais e hepáticos. Aqueles aptos a serem incluídos no estudo foram

divididos em quatro grupos de oito, denominados da seguinte maneira: grupo G1-

adrenalectomia aberta, submetido à laparotomia com a ressecção da adrenal

esquerda; grupo G2 (sham aberto ou falso tratado) submetido ao procedimento

laparotômico sem a ressecção da adrenal; grupo G3- adrenalectomia

laparoscópica, submetido ao procedimento laparoscópico com a ressecção da

adrenal esquerda e grupo G4 (sham laparoscópico ou falso tratado) submetido ao

procedimento laparoscópico sem a ressecção da adrenal.

Os TO considerados para os grupos G2 e G4 (falsos tratados) foram

determinados pelas médias dos tempos dos grupos G1 e G3, os quais foram

submetidos aos respectivos tratamentos. Sendo os grupos G2 e G4

desconsiderados para análise estatística desta variável. Para avaliação das

possíveis perdas sanguíneas foram realizadas análises de hematócrito cinco dias

antes do procedimento operatório (conjuntamente com os exames de triagem) e

cinco dias após, em centrífuga hematológica para determinação de

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microhematócrito (CELM, Barueri – SP). Estas datas foram estabelecidas com a

finalidade de facilitar o manuseio dos animais e diminuir a interferência da variável

estresse.

Todos os procedimentos pré-operatórios foram padronizados e

utilizados nos grupos G1, G2, G3 e G4. Os animais foram submetidos a jejum

hídrico e alimentar por 12 horas e como protocolo anestésico foi adotado o

preconizado pelo CEUA-Unb (ACEC, 2009). Utilizou-se azaperone (Destress®,

DESFAR, São Paulo-SP) como medicação pré-anestésica na dose de 5 mg/kg,

via intramuscular (IM), 15 minutos antes da indução anestésica. Os animais foram

mantidos em infusão venosa contínua de solução salina 0,9% (Solução

Fisiológica, Baxter, São Paulo - SP) até o término dos procedimentos e

recuperação da capacidade lcomotora sem auxílio. A indução anestésica foi

realizada com propofol (Propovan, Cristália, Itapira - SP) na dose de 5 mg/kg, via

intravenosa (IV). A manutenção anestésica foi realizada com isoflurano a 3%

(Isoflurano, Instituto BIOCHIMICO, Itatiaia - RJ). O preparo do campo operatório

constou de tricotomia ampla do abdome ventro-lateral dos animais. Na sequência,

foi efetuada antissepsia com solução de iodopovidona (PVPI) a 2% e álcool

iodado a 0,1%.

Para abordagem da adrenal esquerda empregando a técnica aberta

descrita por PARK & GAGNER (1995), iniciada com uma incisão para-costal de

aproximadamente 15 cm de comprimento, nos animais do grupo G1. Seguiu-se a

secção dos músculos oblíquo abdominal externo e oblíquo abdominal interno. Em

seguida, efetuou-se o afastamento do rim esquerdo, baço, alças intestinais e

ápice do pâncreas (Figura 1-A). Foi realizada a dissecção do peritônio e da

gordura periglandular com termocautério monopolar. As artérias renais acessórias

e ramos da aorta foram ligados, enquanto que as demais estruturas vasculares

foram cauterizadas (Figuras 1 B e C). A ligadura dos ramos da artéria e veia renal

foi efetuada em bloco com fio de nylon monofilamento preto, USP 3-0 (Dafilon-

Medical SA- B-Braun - Colômbia) (Figura 1). Finalizado o procedimento, foi

realizado o inventário do sítio cirúrgico (Figura 1-D) e a síntese da parede

abdominal por planos, utilizando-se pontos simples separados, também com fio

de nylon monofilamento USP 3-0.

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30

A técnica de AA adotada no presente experimento, nos animais do

grupo G3, foi a trans-abdominal descrita por KOLLMORGEN et al. (1998), com

modificação do posicionamento e da pressão de CO2, a qual foi estabelecida em

10mmHg, conforme recomendação de SOOD et al. (2006). Os animas foram

contidos em decúbito lateral direito, com um apoio na borda posterior do arco

costal direito, promovendo a elevação da área de acesso operatório. Na

sequência procedeu-se a instalação do pneumoperitôneo, com a execução de

pequena incisão cutânea seguida da tração de toda a parede abdominal e

inserção da agulha de Veress no terço médio da borda caudal da última costela.

Em seguida, foi executada a demarcação dos sítios para criação dos portais de

acesso abdominal. O primeiro portal, de 11 mm, foi criado lateralmente entre a

linha mediana ventral e a linha dorsal, permitindo a inserção da óptica de dez mm

com ângulo de zero grau. O segundo, de cinco milímetros, foi formado no terço

médio da borda caudal da última costela. O terceiro, de 11 mm, foi instalado na

região mesogástrica esquerda, e o último, um portal de cinco milímetros, na

região epigástrica esquerda. Foi utilizada uma pinça de apreensão tipo Maryland,

uma pinça de apreensão tipo grasping, um gancho para eletrocautério monopolar,

um porta agulha endoscópico de Mayo, um clipador e uma tesoura endoscópica

de Metzembaun (Figuras 2-A e B).

A abordagem da adrenal iniciou-se com o afastamento do rim

esquerdo, com auxílio da pinça de apreensão tipo grasping, para secção do

peritônio e localização da glândula (Figuras 3-A e B), seguido do afastamento das

alças intestinais, baço e pâncreas. Identificada a glândula, iniciava-se a dissecção

com o auxílio do gancho e da pinça de apreensão tipo Maryland, a partir da sua

borda lateral em sentido dorsal e cranial-caudal. Após a dissecção e hemostasia

dos vasos de origem aórtica e ramos da celíaca e lombar por meio de

termocauterização (Figura 3-C), fez-se o isolamento e clipagem dupla dos ramos

da artéria e veia renal (Figuras 3-D e E). Seguiu-se a inspeção do sítio cirúrgico e

retirada da glândula pelo portal de 11 mm (Figura 3-F). Para o processamento das

imagens foi utilizada microcâmera de dois chips, insuflador de nove litros, fonte de

luz xenon 300W, óptica e instrumentais de apreensão marca Karl Storz-

Alemanha, e gancho de termocautério marca WEN- São Paulo- SP.

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31

FIGURA 1 – Sequência da adrenalectomia esquerda aberta em suíno. A-

afastamento dos órgãos adjacentes para identificação glandular; B- identificação da adrenal esquerda, próxima ao rim esquerdo; C- dissecção com auxílio de termocautério e detalhe da cauda do pâncreas; D- ligadura dos ramos renais e apresentação do leito adrenal, Goiânia-GO, 2009

FIGURA 2 - A- posicionamento dos portais para adrenalectomia esquerda

laparoscópica em suíno; B - instrumental utilizado em adrenalectomia laparoscópica em suíno, Goiânia- GO, 2009

A

D C

B

Adrenal

esq.

Pâncreas

Rim

esq.

Adrenal esq.

Sítio adrenal

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32

Os animais foram monitorados durante os procedimentos operatórios,

tendo sido avaliadas as seguintes variáveis: tempo operatório, saturação de

oxihemoglobina (SpO2), frequência cardíaca, tipo de intercorrência operatória,

temperatura, tempo médio de deambulação e pressão arterial média (PAM). Os

valores resultantes do nível de saturação de oxihemoglobina, frequência cardíaca,

temperatura e PAM (não invasivas) foram obtidos por meio de monitor

multiparamétrico devidamente calibrado (marca Hewlett- Packard, mod. 78354c,

Alemanha). Os registros dos parâmetros operatórios foram efetuados a cada dez

minutos durante todo o TO.

Após o término dos procedimentos os animais foram encaminhados

para sala de recuperação pós-anestésica e monitorados até que seus parâmetros

fisiológicos apresentassem estabilidade. Nessa fase foi efetuado o registro de

tempo de deambulação (tempo considerado a partir do encerramento do

procedimento anestésico até que o animal se locomovesse espontaneamente).

Ao final desse período os animais foram encaminhados para o alojamento de

recuperação para o acompanhamento da ingestão de água, alimento e tratamento

das incisões cirúrgicas. Durante os cinco primeiros dias do pós-operatório foram

submetidos à terapia antimicrobiana com enrofloxacina (Enrotec®, FATEC, São

Paulo-SP) 5 mg/kg, via subcutânea (SC). A analgesia foi obtida pela

administração de cetoprofeno (Ketoprofeno®, VENCOFARMA, Londrina- PR) na

dose de 1mg/kg, via SC, uma vez ao dia, durante cinco dias e curativos diários

com solução salina 0,9%, e antisepsia com solução de iodo-povidona a 2%, até a

retirada dos pontos, ocorrida no décimo dia pós-operatório.

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FIGURA 3 - Sequência da adrenalectomia laparoscópica em suínos: A- afastamento dos

órgãos adjacentes à adrenal e secção do peritônio; B- identificação da glândula; C- dissecção lateral/medial e cranial/caudal; D- identificação de ramos da artéria e veia renal; E- clipagem dos ramos originários da artéria e veia renal; F- retirada da glândula pelo portal de onze milímetros, Goiânia- GO, 2009

A análise estatística foi realizada utilizando-se dados descritivos e o

teste T de student para avaliação de dois grupos. Para a avaliação de três ou

mais grupos foi utilizado o procedimento de análise de variância (ANOVA), e

complementarmente os testes de normalidade de Shapiro-Wilk, teste de Levene

e de Tukey para múltiplas comparações e teste de Kruskal-Wallis. Os dados

foram processados no programa de análise estatística SPSS (Statistical Package

for the Social Sciences) versão 16.0 (WAGNER et al., 2004).

Rim

Adrenal

esq.

Adrenal esq.

Ramos adrenais da veia e art.

renais

Clipador Adrenal

esq.

Trocart

11 mm

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RESULTADOS

O TO médio do grupo G1 foi de 66min75s, enquanto no grupo G3 foi

de 76 minutos, com desvio padrão de 14min03s e 16min62s, respectivamente. Os

valores das medianas foram de 68min50s para o grupo G1 e 75min50seg para o

grupo G3 (Tabela 1).

TABELA 1. Valores médios ± desvios-padrão e mediana dos tempos operatórios de adrenalectomia em suínos, expresso em minutos, dos grupos aberto e laparoscópico, Goiânia- GO, 2009

Grupo n Média ± desvio padrão Mediana Min Max

G1 8 66,75 ± 14,03 68,50 49 90

G3 8 76,00 ± 16,62 75,50 55 111

n = número de animais dos grupos

Não foram notadas diferenças estatísticas quanto aos TO em ambos os

grupos tratados, quando se utilizou o teste de Shapiro-Wilk, com grau de

significância de P<0,05 (Figuras 4 e 5). Verificou-se que a distribuição das médias

dos TO se encontra próxima à linha de referência, com distribuição normal, sem

registro de valores discrepantes.

FIGURA 4 - Representação gráfica do TO

do grupo aberto (grupo G1) em relação à distribuição normal, Goiânia-GO, 2009

FIGURA 5 - Representação gráfica do TO do

grupo laparoscópico (grupo G3) em relação à distribuição normal, Goiânia-GO, 2009

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Em cinco animais do grupo G3 ocorreram acidentes em vasos das

glândulas adrenais, resultando em pequena perda sanguínea. Enquanto no grupo

G1, apenas um animal apresentou este tipo de intercorrência. Em dois animais

ocorreram lesões em alças intestinais, sendo um animal do grupo G1 e outro do

grupo G3. Sendo a do grupo G1 em decorrência do corte pela lâmina do bisturi e

a do grupo G3, na formação do pneumoperitôneo, por meio da agulha de Veress.

Ambas foram localizadas no cólon. Em três animais do grupo G3 ocorreram

hematomas renais (Tabela 2).

TABELA 2- Frequência de tipos de intercorrências operatórias em adrenalectomia laparoscópica e aberta em suínos, Goiânia – GO, 2009

Tipos de intercorrências G1 G3 total

n % n % n %

Acidentes em vasos adrenais 1 12,5 5 62,5 6 18,8

Lesão de alça intestinal 1 12,5 1 12,5 2 6,3

Formação de hematoma renal 0 0 3 37,5 3 9,4

n = número de animais que apresentaram intercorrências operatórias Total processado considerando o somatório dos quatro grupos estudados

Em relação ao hematócrito dos animais no quinto dia pós-operatório

(PO) não foram identificadas alterações significativas. Com seus valores situados

na faixa de referência para a espécie (Tabela 3).

TABELA 3- Valores médios ± desvios-padrão de hematócrito de suínos, submetidos à adrenalectomia aberta e laparoscópica em relação aos tempos amostrais, Goiânia-GO, 2009

Hematócrito Grupo n Média/ desvio padrão

Triagem*

G1 8 34,75 ± 1,66 G2 8 33,50 ± 2,56 G3 8 33,00 ± 1,85 G4 8 32,13 ± 2,23

5° dia PO

G1 8 32,13 ± 1,35 G2 8 32,38 ± 4,89 G3 8 31,75 ± 1,28 G4 8 32,13 ± 1,45

* Triagem realizada cinco dias antes do procedimento operatório

A TC média dos animais do grupo G1 foi 36,9°C, com desvio padrão de

0.68 e variância de 0,46. Já a TC média do grupo G2 foi de 37,2°C, desvio padrão

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de 0,69 e variância de 0,48. No grupo G3 a média de TC foi de 36,5°C, com

desvio padrão de 0,38 e variância de 0,14. No grupo G4 foi registrada média de

TC de 36,8°C, desvio padrão de 0,40 e variância de 0,15. No procedimento de

análise de variância (ANOVA), no teste de Shapiro-Wilk e no teste de múltiplas

comparações de Tukey, não foi observada significância, com valor de P>0,05. As

medianas dos grupos estudados foram de 37°C para o grupo G1, de 37,4°C para

o grupo G2 e 36,7°C para os grupos G3 e G4 (Tabela 4).

TABELA 4 - Valores médios ± desvios padrão e valores mínimos e máximos de TC média de suínos, em graus Celsius (°C), durante a realização de adrenalectomia aberta e laparoscópica, Goiânia-GO, 2009

Grupo n TC Média ± desvio padrão(°C) Min Max

G1 8 36,9 ± 0,67 35,8 37,9

G2 8 37,2 ± 0,69 35,9 38,0

G3 8 36,5 ± 0,37 36,0 36,9

G4 8 36,7 ± 0,39 36,3 37,4 n = número de animais dos grupos

As médias dos TD foram de 83 minutos para o grupo G1, 76min75s

para o grupo G2, 54min25s para o grupo G3 e 45min38s para o G4. Com desvios

padrão de 40min, 12min82s, 22min46s e 22min, respectivamente. A análise de

variância mostrou diferença significativa entre os grupos com P<0,05. Esta

diferença foi identificada quando da análise comparativa entre as médias dos

grupos dois a dois. Verificou-se ainda que o grupo G4 apresentou diferença

significativa (P<0,05) em relação ao grupo G1 (Figura 6).

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FIGURA 6 - Representação gráfica das diferentes médias de tempo de deambulação após adrenalectomia aberta e laparoscópica em suínos, conforme os grupos estudados, Goiânia, GO, 2009

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DISCUSSÃO

Os TO médios encontrados no presente trabalho não foram

significativamente diferentes entre os grupos tratados. Estes resultados são

similares aos encontrados por KOLLMORGEN et al. (1998) em estudo

comparativo de adrenalectomia aberta e laparoscópica em suínos. Tal

semelhança converge somente na ausência de significância, visto que as médias

de TO no estudo conduzido por esses autores foram de 37min6s±7min para AL e

36min6s± 9min para AA, enquanto as médias registradas no presente trabalho

foram mais elevadas. Já PARK & GAGNER (1995), também em estudo

experimental de adrenalectomia em suínos, obtiveram resultados próximos aos

encontrados neste trabalho, com TO médio para AL de 60 minutos para o

procedimento na adrenal esquerda e 90 minutos para a adrenal direita, o que foi

atribuído à maior proximidade da glândula direita à veia cava e aos vasos

hepáticos, demandando um maior tempo para execução das manobras de

dissecção.

Nos estudos comparativos de adrenalectomia laparoscópica e aberta

em humanos, os TO são maiores, uma vez que se relacionam a intervenções em

tumores adrenais. Estudo retrospectivo não aleatório conduzido por MIKHAIL et

al. (2005) avaliou-se o resultado de cinco pacientes submetidos à AL e sete

submetidos à AA, verificando que o TO médio para realização de AL foi superior

ao observado na AA. Confirmando os resultados obtidos por YOSHIMURA et al.

(1998), que em seu estudo obtiveram tempo médio de 376 minutos para AL e 133

minutos para AA. É consenso que o TO representa uma desvantagem da

adrenalectomia laparoscópica em relação à adrenalectomia aberta. No entanto,

segundo ETO et al. ( 2006), na medida em que o método vai se consagrando,

maior o número de profissionais treinados, resultando na melhoria de suas

habilidades e consequente diminuição do tempo operatório da adrenalectomia

laparoscópica. Tais considerações são confirmadas por SMITH et al. (1999), os

quais avaliaram diferentes trabalhos entre os anos de 1995 e 1997 e verificaram

que o TO foi diminuindo gradualmente ao longo dos anos, com registros de 254

minutos em 1995 e de 152 minutos no ano de 1998.

As intercorrências no presente estudo foram relacionadas

primordialmente aos grupos tratados, G1 e G3. Lesões de alça intestinal

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ocorreram em um animal do grupo G1 no momento da incisão da parede

abdominal. No grupo G3 ocorreu perfuração de alça intestinal ocasionada pela

agulha de Veress no inicio da formação do pneumoperitôneo. Estes acidentes

decorreram do acúmulo gasoso no cólon. Tais ocorrências não implicaram em

prejuízo aos procedimentos, uma vez que os defeitos puderam ser corrigidos

adequadamente. HENDRICKSON (2008) relatou que, em procedimentos

minimamente invasivos, a ocorrência de acidentes no momento da formação do

pneumoperitôneo, é frequente, seja pela inserção da agulha de Veress ou pela

instalação dos portais por meio dos trocarteres. Considerações a respeito das

lesões causadas pela agulha de Veress foram feitas por BRUN et al. (2004), os

quais destacaram o baço como sendo o principal órgão afetado durante AL em

cães. Embora no presente experimento tais lesões não tenham sido evidenciadas

chama atenção o potencial risco decorrente do uso dessa agulha durante a

criação do pneumoperitôneo.

Já os hematomas formados no pólo cranial dos rins de três animais do

grupo G3 foram ocasionados pela tração exercida sobre o órgão, no momento do

seu afastamento, para a localização e exposição do sítio cirúrgico. Outras

intercorrências apresentadas no presente estudo foram os acidentes vasculares,

verificados nos grupos G1 e G3. Em ambos os grupos os vasos implicados foram

ramos das artérias renais e aorta e veias adrenais. Conforme ASSALIA &

GAGNER (2004) tais acidentes, com consequentes perdas sanguíneas e

necessidade de conversão, são de ocorrência comum nas AL. Resultados

similares foram verificados no presente trabalho, o qual apresentou maior

frequência de acidentes vasculares nos procedimentos laparoscópicos do que nos

abertos. Contudo, tanto na AA quanto AL, as perdas sanguíneas não foram

significativas, o que foi confirmado pela manutenção do hematócrito de todos os

animais dentro da faixa de referência normal para a espécie suína.

Contornar os obstáculos representados pela diversidade vascular das

adrenais representa um grande desafio, tanto em AA quanto em AL. Neste estudo

o uso do recurso óptico promoveu melhor visibilidade vascular facilitando a

hemostasia no procedimento laparoscópico, ao contrário do ocorrido no

procedimento aberto, onde a identificação vascular e hemostasia foram efetuadas

com maior grau de dificuldade, implicando em perda sanguínea. No entanto,

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PARNABY et al. (2008), em estudo retrospectivo, demonstraram que a drenagem

venosa de adrenais humanas apresenta grande variabilidade, principalmente nos

casos de feocromocitomas. Destacaram ainda que a complexidade operatória

resultante desta estruturação vascular é resolvida pela maior precisão da AL,

principalmente pela facilidade de identificação vascular ser favorecida pelos

recursos ópticos disponíveis para a execução da técnica.

Durante os procedimentos operatórios, todos os grupos estudados

apresentaram diminuição da TC, com temperatura média de 36,9°C no grupo G1

e a maior, 36,5°C no G3. Estas variações, além de não terem apresentado

significância clínica, caracterizam um padrão normal para suínos submetidos a

procedimentos experimentais, conforme salientou SWINDLE (2007). As variações

de temperatura corporal podem estar relacionadas ao tipo de anestesia, à

temperatura ambiente da sala cirúrgica (ATAYDE, 2008) ou mesmo à ação do

CO2 na cavidade abdominal durante a permanência do pneumoperitôneo,

podendo ser esta a justificativa para que os grupos laparoscópicos tenham

apresentado médias de temperatura inferiores às dos grupos abertos

(DIEMUNSCH et al., 1999).

O TD dos animais dos grupos G1 e G3 foi similar, podendo ser

correlacionados aos achados de MALM et al. (2005) que verificaram em estudo

comparativo de ovariohisterectomias aberta e laparoscópica em cadelas, que o

tempo para locomoção espontânea foi o mesmo entre os grupos tratados. Em

humanos esses resultados se apresentam diferentes, com tempo de locomoção

espontânea significativamente menor para os pacientes submetidos a AL. Esta

afirmação vai ao encontro dos relatos de ELASHRY et al. (1997), que

demonstraram que o TD em pacientes humanos submetidos à AL foi

significativamente menor quando comparado com AA.

No período de convalescença dos animais foram avaliados parâmetros

relacionados à ingestão de água, alimento e evolução das feridas cirúrgicas.

Verificou-se que duas horas após a recuperação da capacidade de locomoção,

todos voltaram a se alimentar espontaneamente. Resultados similares foram

encontrados por MALM et al. (2005) demonstrando que após os procedimentos

operatórios a maioria dos animais retornaram a se alimentar normalmente. Já em

pacientes humanos submetidos à AL e à AA o tempo médio para retorno da

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alimentação espontânea pode ser de até 24 horas até três dias, (ELASHRY et al.,

1997; ETO et al., 2006).

As feridas cirúrgicas no presente estudo foram monitoradas

diariamente até a retirada dos pontos. Deiscências de feridas ocorreram em dois

animais do grupo G1 e um do grupo G2. O mesmo padrão de complicação em

feridas cirúrgicas foi verificado por KOLLMORGEN et al. (1998), quando

avaliaram à AA em suínos. Tais achados foram associados por esses autores às

grandes incisões necessárias para execução da AA, podendo também justificar as

deiscências das feridas cirúrgicas encontradas no presente trabalho.

CONCLUSÕES

Conclui-se que a laparoscopia para adrenalectomia experimental em

suínos:

Apresentou tempos operatórios semelhantes à adrenalectomia aberta;

não promoveu alteração significativa na temperatura corporal quando

comparada à técnica aberta;

pode estar relacionada ao aumento do quantitativo de intercorrências

operatórias;

apresentou tempo para início da deambulação similar à adrenalectomia

aberta;

conferiu melhor recuperação das feridas cirúrgicas em relação à

adrenalectomia aberta;

é uma técnica confiável podendo servir como referência para o tratamento cirúrgico de animais portadores de doenças adrenais com indicações cirúrgicas.

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REFERÊNCIAS

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4. BARNES, R. F.; GREENFIELD, C. L.; SCHAEFFER, D. J.; LANDOLFI, J.; ANDREWS, J. Comparison of biopsy samples obtained using standard endoscopic instruments and the harmonic scalpel during laparoscopic and laparoscopic-assisted surgery in normal dogs. Veterinary Surgery, Philadelphia, v. 35, n. 3, p. 243-51, Apr. 2006.

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CAPÍTULO 3 - RESPOSTAS HEMATOLÓGICAS, FISIOLÓGICAS,

HORMONAIS E METABÓLICAS DA ADRENALECTOMIA LAPAROSCÓPICA E

ABERTA EM SUÍNOS.

RESUMO

A adrenalectomia laparoscópica é o procedimento de escolha em medicina humana, sendo caracterizada atualmente como padrão ouro. Em medicina veterinária, ainda há necessidade de melhor caracterização dos seus resultados afim de que seus benefícios em relação à adrenalectomia aberta possam ser conhecidos. Neste contexto, inserem-se as alterações hematológicas e metabólicas decorrentes de ambos os procedimentos. No presente trabalho foram estudadas as respostas fisiológicas, hormonais e metabólicas oriundas da adrenalectomia laparoscópica e aberta em suínos jovens, divididos em quatro grupos, sendo dois grupos abertos e dois laparoscópicos, destes, dois foram denominados controles ou falsos tratados (sham). As diferenças significativas encontradas se relacionaram aos valores de leucometria, os quais apresentaram elevação no grupo sham laparotômico em relação aos grupos laparoscópicos; a SpO2 do grupo G3 foi inferior aos demais grupos; os valores de PCR dos grupos laparoscópicos foram menores no PO. Não houve diferença significativa na pressão arterial média dos quatro grupos. Os parâmetros metabólicos analisados não apresentaram diferenças significativas. Estes resultados indicaram benefícios da abordagem laparoscópica em relação à aberta, podendo ser considerado um procedimento seguro para utilização em outras espécies. Palavras chaves: Adrenal, modelo animal, pneumoperitôneo, pressão arterial média e resposta de fase aguda

ABSTRACT

Laparoscopic adrenalectomy is the procedure of choice in human medicine and is currently featured as the gold standard. In veterinary medicine, there is still need for better characterization of its results in order that its benefits compared to open adrenalectomy may be known. In this context it is inserted the hematological and metabolic changes resulting from both procedures. In this study, the physiological, hormonal and metabolic alterations from the open and laparoscopic adrenalectomy in young swine were divided into four groups, two groups open and two laparoscopic procedures, these two were called control or false treated (sham). The significant differences found were related to the values of leukocytes, which showed an increase in sham laparotomy compared to laparoscopic groups; SpO2 group G3 was lower than the other groups, the CRP values of laparoscopic groups were lower in the PO. There was no significant difference in mean arterial pressure of the four groups. Metabolic parameters analyzed showed no significant differences. These results show benefits of laparoscopic approach in relation to open and can be considered a safe procedure for use in other species. . Keywords: Keywords: Adrenal, animal model, acute phase response, average arterial pressure and pneumoperitoneum.

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INTRODUÇÃO

No humano, a adrenalectomia laparoscópica (AL) é o procedimento

cirúrgico de eleição quando existe a necessidade de intervenção em tumores

adrenais benignos, sejam eles funcionais ou não. Os estudos de THOMPSON et

al. (1997) e SUBRAMONIAN et al. (2004), demonstraram que as pesquisas

comparando a adrenalectomia aberta (AA) com a AL, vem se multiplicando desde

sua primeira descrição em 1992 por Gagner e colaboradores (GAGNER et al.,

1992). Tais estudos evidenciam os benefícios da AL em relação à AA, expressos

pela diminuição da permanência hospitalar, do trauma cirúrgico e do desconforto

pós-operatório com consequente diminuição da dor (ASSALIA & GAGNER, 2004).

A determinação dos parâmetros de seleção dos pacientes para

adrenalectomia, tanto em humanos como em animais, baseia-se primordialmente

nos estudos de imagem (MORANDI et al., 2007; LEE et al., 2005.), exames

laboratoriais complementares que incluem a mensuração de níveis hormonais,

avaliações cardiopulmonares e dimensionamento dos tumores (LAL & DUH,

2003). A conduta a ser seguida, adrenalectomia por abordagem laparoscópica ou

aberta, depende dos resultados desses exames. Tal delineamento caracteriza-se

como uma das principais linhas de estudo em avançados centros de pesquisa.

Assim, a formulação desses parâmetros de diagnóstico e seleção se afirma como

fundamental para o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos procedimentos

minimamente invasivos (MI) (JESCHKE et al., 2003).

No âmbito da medicina veterinária, os procedimentos para o

diagnóstico e classificação das enfermidades adrenais são semelhantes aos

executados em humanos (GALAC et al., 2008). Contudo, os estudos

comparativos de AA e AL são escassos e, por conseguinte, a análise das

respostas fisiológicas decorrentes de ambos os métodos. Essa insuficiência de

trabalhos implica na necessidade de execução de pesquisas que objetivem o

conhecimento das alterações decorrentes do estresse operatório resultante de

intervenções abertas e laparoscópicas, tais como mudanças metabólicas,

processo inflamatório e valores hematológicos (BYRNE et al., 2000).

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Dentre as principais complicações resultantes da AA, encontram-se os

processos infecciosos que podem ocorrer na parede ou na cavidade abdominal

(CASTILHO et al., 2000). Frequentemente, as complicações associadas a

grandes incisões são negligenciadas, especialmente em pacientes com síndrome

de Cushing, que devido aos efeitos do hipercortisolismo, tornam-se susceptíveis

ao aparecimento de hematomas e deiscência de feridas, além de apresentarem

diminuição da quimiotaxia de macrófagos, da formação do tecido de granulação,

da regeneração da epiderme, da síntese de colágeno e de prostaglandinas

(KOLLMORGEN et al., 1998).

A quantificação fisiológica do estresse operatório é um processo

fundamental para avaliação de intervenções cirúrgicas. Porém, trata-se de um

conjunto de análises complexas e caras. Em humanos algumas citocinas podem

cumprir essa função (BYRNE et al., 2000). Já em suínos as avaliações dos

valores de cortisol representam um importante instrumento para determinação do

nível de estresse. Contudo, a variação em seus níveis pode ser determinada por

outros fatores que não o cirúrgico, tais como o estresse térmico, idade

(FAGUNDES et al., 2008), período do dia e pelo tipo de alimentação

(KOOPMANS et al., 2005).

Outro importante parâmetro disponível para a avaliação do estresse

cirúrgico é a resposta de fase aguda, com especial destaque para a proteína C

reativa (PCR) (MADRIGAL et al., 2006). Este processo se trata de um complexo,

não específico de reações sistêmicas que ocorrem em consequência de

infecções, processos inflamatórios ou trauma. Liberadas pelo fígado, as proteínas

de fase aguda sofrem alterações em horas ou dias após a instalação de

processos inflamatórios (CARPINTERO et al., 2007). Sua quantificação é

relevante para a avaliação do estresse, uma vez que suas taxas podem ser

monitoradas por mais de três dias (SORRELLS et al., 2006).

Embora os procedimentos MI resultem em menor estresse devido à

diminuição da ferida cirúrgica e a menor manipulação tecidual, outros

componentes são determinantes na elevação da resposta ao estresse. Dentre

estes se destacam o tempo operatório, nível da pressão abdominal (PAB) e o tipo

de gás utilizado para manter o pneumoperitôneo (PNP). Estes fatores influenciam

as variáveis metabólicas e a resposta hemodinâmica (MENDONÇA-SAGAON et

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al., 2000). A formação do PNP está relacionada diretamente ao aumento da pré-

carga cardíaca, assim como o aumento da PAB se relaciona à diminuição da

complacência pulmonar e ao aumento da pressão arterial média (TOURNADRE et

al., 2000).

O objetivo deste estudo foi avaliar as respostas fisiológicas,

hematológicas, metabólicas, enzimáticas e hormonais decorrentes da AA e da AL,

por meio de análises hematológicas (leucometria, plaquetometria e volume

globular médio), níveis séricos de creatinina, atividade de alanina amino

transferase (ALT), cortisol, proteína C reativa de fase aguda (PCR) e avaliações

hemodinâmicas básicas como pressão arterial média não invasiva - PAM,

saturação de oxihemoglobina - SpO2 - e frequência cardíaca - FC.

MATERIAL E MÉTODOS

Antecedendo o início do estudo, o projeto foi submetido à análise do

Comitê de Ética no Uso Animal (CEUA) do Instituto de Ciências Biológicas da

Universidade de Brasília, e aprovado sob o número UnBDOC 32946/2009. A

pesquisa foi conduzida no Centro de Ensino e Treinamento Experimental em

Ciências da Saúde, Distrito Federal e na Escola de Veterinária da Universidade

Federal de Goiás entre os meses de fevereiro a abril de 2009.

Utilizaram-se 32 suínos (Sus scrofa domesticus), raça tri-cross, do sexo

masculino, com peso médio de 16 kg, oriundos de granja devidamente

inspecionada pelo órgão sanitário competente.

Os animais sob sedação foram identificados por meio de tatuagem

efetuada na face interna da orelha esquerda. Durante o estudo foram mantidos

em instalações adequadas para a espécie, providas de água potável e

alimentação automatizada à vontade. Os critérios de triagem dos animais se

basearam nos exames clínicos e resultados das análises eletrocardiográficas,

hematológicas e perfis renais e hepáticos. Aqueles aptos a serem incluídos no

estudo foram divididos em quatro grupos de oito, denominados da seguinte

maneira: grupo G1- adrenalectomia aberta (AA), submetido à laparotomia com a

ressecção da adrenal; grupo G2 (sham aberto ou falso tratado) submetido ao

procedimento laparotômico sem a ressecção da adrenal; grupo G3-

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adrenalectomia laparoscópica (AL), submetido ao procedimento laparoscópico

com a ressecção da adrenal e grupo G4 (sham laparoscópico ou falso tratado)

submetido ao procedimento laparoscópico sem a ressecção da adrenal.

Todos os grupos foram submetidos aos mesmos procedimentos pré-

operatórios, tendo sido adotado um jejum hídrico e alimentar por 12 horas. O

protocolo anestésico adotado foi o sugerido pelo CEUA-Unb (ACEC, 2009).

Utilizou-se azaperone (Destress®, DESFAR, São Paulo-SP) como medicação

pré-anestésica na dose de 5 mg/kg, via intramuscular (IM), 15 minutos antes da

indução anestésica. Os animais foram mantidos em infusão venosa contínua de

solução salina 0,9% (Solução Fisiológica, Baxter, São Paulo - SP) até o término

dos procedimentos e recuperação da capacidade de locomoção espontânea. A

indução anestésica foi realizada com propofol (Propovan, Cristália, Itapira - SP)

na dose de 5 mg/kg, via intravenosa (IV). Para manutenção anestésica foi

utilizado o isoflurano a 3% (Isoflurano, Instituto BIOCHIMICO, Itatiaia - RJ). O

preparo do campo operatório constou de tricotomia ampla do abdome ventro-

lateral dos animais. Na sequência, foi efetuada a antissepsia com solução de

iodopovidona (PVPI) a 2% e álcool iodado a 0,1%.

Para abordagem da adrenal esquerda empregando a técnica aberta

descrita por PARK & GAGNER (1995), iniciada com uma incisão para-costal de

aproximadamente 15 cm de comprimento, com os animais contidos em decúbito

lateral direito. Seguiu-se a secção dos músculos oblíquo abdominal externo e

oblíquo abdominal interno. Em seguida, efetuou-se o afastamento do rim

esquerdo, baço, alças intestinais e ápice do pâncreas. Foi realizada a dissecção

do peritônio e da gordura periglandular com termocautério monopolar. As artérias

renais acessórias e ramos da aorta foram ligados, enquanto que as demais

estruturas vasculares foram cauterizadas. A ligadura dos ramos da artéria e da

veia renal foi efetuada em bloco com fio de nylon monofilamento preto, USP 3-0

(Dafilon- Medical SA- B-Braun - Colômbia). Finalizado o procedimento, foi

realizado o inventário do sítio cirúrgico e a síntese da parede abdominal por

planos, utilizando-se pontos simples separados, também com fio de nylon

monofilamento.

A técnica de adrenalectomia laparoscópica adotada no presente

experimento foi a laparoscópica trans-abdominal descrita por KOLLMORGEN et

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al. (1998), com modificação do posicionamento e da pressão de CO2, a qual foi

estabelecida em 10mmHg, uma vez que estudos recentes recomendam a

utilização de pressões entre oito e 10mmHg (SOOD et al., 2006). Os

procedimentos cirúrgicos foram realizados com os animais em decúbito lateral

direito, com um apoio na borda posterior do arco costal direito, promovendo a

elevação da área de acesso operatório. Na sequência procedeu-se a instalação

do pneumoperitôneo, com a execução de pequena incisão cutânea seguida da

tração de toda a parede abdominal e inserção da agulha de Veress. Em seguida,

foi executada a demarcação dos sítios para criação dos portais de acesso

abdominal. O primeiro portal, de 11 mm, foi criado lateralmente entre a linha

mediana ventral e a linha dorsal, permitindo a inserção do endoscópio rígido de

dez mm com ângulo de zero grau. O segundo, de cinco milímetros, foi formado na

borda posterior do arco costal. O terceiro, de 11 mm, foi instalado na região

mesogástrica esquerda, e o último, um portal de cinco milímetros, na região

epigástrica esquerda. Foi utilizada uma pinça de apreensão tipo Maryland, uma

pinça de apreensão tipo grasping, um gancho para eletrocautério monopolar, um

porta agulha endoscópico de Mayo, um clipador e uma tesoura endoscópica de

Metzembaun.

A abordagem da adrenal iniciou-se com o afastamento do rim

esquerdo, com auxílio da pinça de apreensão tipo grasping, para secção do

peritônio e localização da glândula, seguido do afastamento das alças intestinais,

baço e pâncreas. Identificada a glândula, iniciava-se a dissecção com o auxílio do

gancho e da pinça de apreensão tipo Maryland, a partir da sua borda lateral em

sentido dorsal e cranial-caudal. Após a dissecção e hemostasia dos vasos de

origem aórtica e ramos da celíaca e lombar por meio de termocauterização, fez-se

a clipagem dupla dos ramos da artéria e veia renal. Seguiu-se a inspeção do sítio

cirúrgico e retirada da glândula pelo portal de 11 mm. Foi utilizada microcâmera

de dois chips, insuflador de nove litros, fonte de luz xenon 300 W, óptica e

instrumentais de apreensão marca Karl Storz-Alemanha, e gancho de

termocautério (WEN- São Paulo- SP).

Os animais foram monitorados durante os procedimentos operatórios,

tendo sido avaliadas as seguintes variáveis: tempo operatório, saturação de

oxihemoglobina (SpO2), frequência cardíaca (FC), tipo de intercorrência

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operatória, temperatura e pressão arterial média (PAM). Os valores resultantes do

nível de saturação de oxihemoglobina, FC, temperatura e PAM (não invasivas)

foram obtidos por meio de monitor multiparamétrico devidamente calibrado

(marca Hewlett- Packard, mod. 78354c, Alemanha). Os registros dos parâmetros

operatórios foram efetuados a cada dez minutos durante o procedimento

operatório.

Após o término dos procedimentos os animais foram encaminhados

para sala de recuperação pós-anestésica e monitorados até que seus parâmetros

fisiológicos apresentassem estabilidade. Nesta fase foi efetuado o registro de

tempo de deambulação (tempo considerado a partir do encerramento do

procedimento anestésico até que o animal se locomovesse espontaneamente).

Ao final deste período os animais foram encaminhados para o alojamento de

recuperação para o acompanhamento da ingestão de água, alimento e tratamento

das feridas cirúrgicas. Durante os cinco primeiros dias do pós-operatório foram

submetidos à terapia antimicrobiana com enrofloxacina (Enrotec®, FATEC, São

Paulo-SP) 5 mg/kg, via subcutânea (SC). A analgesia foi obtida pela

administração de cetoprofeno (Ketoprofeno®, VENCOFARMA, Londrina-PR) a

1mg/kg, via SC, uma vez ao dia, durante cinco dias e curativos diários com

solução salina 0,9%, e antisepsia com solução de iodo-povidona a 2%, até a

retirada dos pontos, ocorrida no décimo dia pós operatório .

As colheitas de sangue para análises laboratoriais foram efetuadas

cinco dias antes (triagem) e cinco, 15 e 25 dias do pós-operatório (PO) com os

animais sedados com azaperone (Destress®, DESFAR, São Paulo) na dose de 5

mg/kg via intramuscular. Para o hemograma, foram colhidos 2mL de sangue em

tubo contendo EDTA (VACUETTE®, Greiner Bio-One Brasil, Americana – SP) e

para as análises bioquímicas, foram colhidos 4mL de sangue em tubos sem

anticoagulante (VACUETTE®, Greiner Bio-One Brasil, Americana – SP). As

amostras foram mantidas sob refrigeração e as análises foram realizadas no

prazo máximo de 24 horas. Os exames para quantificação de cortisol e de

proteína C reativa (PCR) foram realizados a partir dos soros obtidos da

centrifugação do sangue sem anticoagulante, os quais foram congelados em

tubos de coleta de sangue sob temperatura de 20 graus negativos em período

não superior a dois meses.

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Para contagem da série branca foi utilizando a coloração Panóptico

(Instant-Prov, NEWPROV, Pinhais - SP). Já para contagem de plaquetas foi

utilizado oxalato de amônio e água destilada. Ambas análises foram realizadas

em câmara de Newbauer. A proteína total foi quantificada por refratometria

(Refratômetro-Quimis) e hematócrito em centrífuga hematológica para

determinação de microhematócrito (CELM, Barueri – SP).

As análises de creatinina e alanina amino transferase (ALT) foram

realizadas por fotometria de reflectância (Reflotron-plus, Rhoche-Alemanha). Para

análise de PCR, foi utilizado o sistema para determinação quantitativa e semi-

quantitativa no soro (PCRTEST, DOLES, Goiânia-GO). Os exames para

determinação de valores de cortisol sérico foram efetuados pelo método de

eletroquimioluminescência (ELECYS® 2010, Roche Diagnostics, Mannhein,

Alemanha). Todos os exames foram realizados por um único profissional

devidamente habilitado. Foram adotados os parâmetros de referências descritos

por FAGUNDES et al., (2008), FAUSTINE et al. (2000), FELDMAN et al. (2006),

MADRIGAL et al. (2006), SANTOS (1999), SWINDLE (2007) e TOURNADRE et

al. (2000).

A análise estatística foi realizada utilizando-se dados descritivos e o

procedimento de análise de variância (ANOVA). Foram ainda utilizados, em

caráter suplementar, o teste de Kruskal-Wallis e o teste de Tukey (post Hoc) para

múltiplas comparações. Os dados foram processados no programa de análise

estatística SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 16.0

(WAGNER et al., 2004).

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RESULTADOS

O hematócrito no momento da triagem não apresentou diferença

estatística entre os grupos. No quinto dia PO não foram identificadas alterações

significativas. Contudo, no décimo quinto dia PO, os valores dos grupos G3 e G4

foram menores em relação aos demais grupos, com média de 30,38 (±0,52) para

ambos. Tais valores mostraram-se também menores em relação aos valores

obtidos das amostras da colheita anterior, mas sem diferença significativa (Tabela

1).

TABELA 1 - Valores médios ± desvios-padrão de hematócrito de suínos, submetidos AA e AL, em relação aos tempos amostrais, Goiânia -GO, 2009

Hematócrito Grupo n Média/ desvio padrão

Triagem

G1 8 34,75 ± 1,66 G2 8 33,50 ± 2,56 G3 8 33,00 ± 1,85 G4 8 32,13 ± 2,23

5° dia PO

G1 8 32,13 ± 1,35 G2 8 32,38 ± 4,89 G3 8 31,75 ± 1,28 G4 8 32,13 ± 1,45

15° dia PO

G1 8 32,88 ± 3,27 G2 8 33,38 ± 2,66 G3 8 30,38 ± 0,51 G4 8 30,38 ± 0,51

25° dia PO

G1 8 33,38 ± 1,92 G2 8 30,63 ± 1,50 G3 8 31,75 ± 1,66 G4 8 32,25 ± 1,66

n= amostra

Os resultados da contagem total de leucócitos demonstraram diferença

significativa entre os grupos estudados na fase de triagem, com valor de P<0,05.

A identificação destas diferenças foi efetuada com o teste de Post Hoc de

múltiplas comparações (Tukey), evidenciando as diferenças do grupo G2 em

relação aos grupos G3 (P= 0,02) e G4 (P=0,047). No quinto dia PO, foi

identificada diferença significativa do grupo G2, o qual apresentou média de

20.012 (± 5.605), em relação aos grupos G3 (P= 0,042) e G4 (P=0,016) (Tabela

2), que obtiveram médias de 13.912 (± 1764) e 13.087 (± 703), respectivamente

(Figura 1).

Aos quinze dias se observou que os grupos G1 e G2 apresentaram

diferenças significativas em relação aos grupos G3 e G4 (P<0,05), com valores de

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médias para o grupo G1 de 14.250 (± 3.169), para o grupo G2 de 14.100 (±

1.638), para o grupo G3 de 11.175 (± 1.681) e para o grupo G4 de 10275 (± 544).

No vigésimo quinto dia novamente as diferenças foram do grupo G2 em relação

aos grupos G3 (P=0,028) e G4 (P=0,43), com média de total de leucócitos de

14.025 (± 1608) para o grupo 2, 10.950 (± 1.046) para o grupo 3 e 11.125 (±

1.170) para o grupo 4 (Figura 1).

TABELA 2- Múltiplas comparações (Post Hoc) de contagem de leucócitos totais, dos grupos estudados de AL e AA em suínos em relação aos tempos amostrais. Com as diferenças entre as médias (I-J), Goiânia - GO, 2009

Leucometria nos tempos amostrais

Grupo (I) Grupo (J) Dif. entre as médias

(I-J) P

95% IC

Lim inf Lim sup

Triagem G2 G3 4050

* 0,02 479 7620

G4 3600* 0,047 29 7170

5° dia PO G2 G3 6100

* 0,042 152 12047

G4 6925* 0,016 977 12872

15° dia PO

G1 G3 3075

* 0,02 302 5847

G4 3975* 0,002 1202 6747

G2 G3 2925

* 0,03 152 5697

G4 3825* 0,003 1052 6597

25° dia PO G2 G3 3075

* 0,02 236 5913

G4 2900* 0,04 61 5738

*Diferença de média é significante ao nível de P<0,05,

IC intervalo de confiança

FIGURA 1- Representação gráfica das médias de leucometria em suínos submetidos à adrenalectomia experimental, aberta e laparoscópica, em relação aos tempos amostrais, com intervalo de confiança de 95%, Goiânia – GO, 2009

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Em relação à contagem de plaquetas, as diferenças estatísticas

verificadas ocorreram no quinto dia PO, do grupo G1, o qual apresentou média de

364.750 (± 82.039), em relação ao G4 (P=0,016), que obteve média de 261.000 (±

19.552). Nos demais tempos amostrais não foram verificadas diferenças, assim

como não se identificou valores discrepantes da faixa de referência da espécie

suína. Nas avaliações de proteína total e creatinina, no procedimento de análise

de variância não foi identificada diferença significativa entre os grupos estudados

nos quatro momentos de colheita (P>0,05), estando os valores médios situados

na faixa de referência de normalidade para a espécie suína.

Na verificação da atividade de ALT no momento da triagem, verificou-

se diferença do grupo G1 em relação ao grupo G4 (P=0,037) e do grupo G2 em

relação G4 (P=0,023), sendo as médias dos valores de ALT para o grupo G1 de

50,78 (± 12,22), para o grupo G2 de 51,87 (± 10,74) e de 33,52 (± 4,98) para o

grupo G4. No quinto dia PO, foi identificada diferença estatística do grupo G2 em

relação ao grupo G3 (P=0,04), com médias de 47,73 (± 6,51) e 34,37 (± 7,86),

respectivamente. No décimo quinto dia PO, constatou-se diferenças significativas

do grupo G2 em relação ao G3 (P=0,02) (Tabela 3) com médias de 50,92 (±

14,11) para o grupo G2 e 33,23 (±4,72) para o grupo G3.

TABELA 3 - Múltiplas comparações (Post Hoc) de atividade de ALT, dos grupos estudados de AL e AA em suínos em relação aos tempos amostrais. Com as diferenças entre as médias (I-J), Goiânia - GO, 2009

*Diferença de média é significante ao nível de 0,05, PO= pós-operatório, IC intervalo de confiança

Os valores das médias dos níveis de cortisol sérico no momento da

triagem não apresentaram diferenças estatísticas entre os grupos. No entanto,

todos apresentaram valores elevados em relação à faixa de referência de 4,4 –

5,9 mg/dL, para a espécie suína. No quinto dia PO, não foram verificadas

diferenças estatísticas entre os grupos, porém nos grupos G3 e G4 as médias dos

ALT (I) Grupo (J) Grupo Dif. entre as médias (I-J)

P 95% IC

Lim inf Lim sup

Triagem G1 G4 17,26

* 0,037 0,74 33,77

G2 G4 18,35* 0,023 1,83 34,86

5° dia PO G2 G1 13,36* 0,043 0,28 26,44

15° dia PO G2 G1 17,68* 0,027 1,44 33,93

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níveis de cortisol situaram-se acima da faixa de referência. No décimo quinto dia

PO, verificou-se diferença significativa do grupo G2 (P=0,001), com média de 9,51

(± 3,63), em relação ao grupo G3, o qual apresentou média de 3,80 (± 1,52). No

vigésimo quinto dia PO, as diferenças estatísticas constatadas foram do grupo

G2, o qual apresentou média de 10,35 (± 3,10), em relação aos grupos G1

(P=0,01) e G3 (P=0,001), com médias de 6,84 (± 1,18) para o primeiro e 5,70 (±

2,32) (Tabela 4 e Figura 2).

TABELA 4 - Valores médios ± desvios-padrão dos níveis de cortisol sérico de

suínos, submetidos à AA e AL, em relação aos tempos amostrais, Goiânia - GO, 2009

Tempo de coleta Grupo n Média / desvio padrão Min. Max.

Triagem G1 8 9,97 ± 3,60 5,40 16,86

G2 8 12,38 ± 5,25 7,42 22,41

G3 8 8,85 ± 2,36 6,06 13,09

G4 8 8,77 ± 2,35 6,11 13,12

5 dia PO G1 8 5,17 ± 1,63 3,05 7,81

G2 8 5,38 ± 3,98 2,11 14,68

G3 8 6,63 ± 1,68 4,04 9,14

G4 8 6,86 ± 1,12 4,82 8,27

15 dia PO G1 8 5,94 ± 2,26 2,63 9,56

G2 8 9,51 ± 3,63 6,15 17,00

G3 8 3,80 ± 1,52 0,44 5,37

G4 8 6,93 ± 1,78 4,54 10,60

25 dia PO G1 8 6,84 ± 1,18 5,17 8,50

G2 8 10,35 ± 3,10 6,80 15,05

G3 8 5,70 ± 2,32 1,03 9,21

G4 8 8,12 ± 0,66 6,87 8,84

n= quantitativo da amostra, min= menor valor encontrado, max= maior encontrado PO= pós-operatório,

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FIGURA 2- Representação gráfica dos níveis de cortisol sérico, em suínos submetidos à AA e AL em relação aos tempos amostrais, com intervalo de confiança de 95%, Goiânia - GO, 2009

Na análise de Proteína C-Reativa de fase aguda a única diferença

estatística constatada ocorreu no décimo quinto dia PO, entre o grupo G1

(P=0,03), o qual apresentou média de 24,00 (± 11,11) em relação ao grupo G3,

que apresentou média de 12,75 (± 5,00) (Figura 4). Nos demais momentos de

análise não ocorreram diferenças entre os grupos. No entanto, os valores de PCR

no 5° dia PO apresentaram-se elevados, com médias superiores aos valores de

referência (9,0 ± 6,1 mg/L). Nesta fase os grupos abertos apresentaram valores

de PCR superiores aos dos grupos laparoscópicos. Já no 15° dia PO, os valores

de PCR apresentaram queda, em todos os grupos, sendo que os grupos

laparoscópicos se encontravam situados na faixa de referência de valores de

PCR para a espécie suína (Tabela 5 e Figura 3).

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FIGURA 3 - Representação gráfica das médias dos valores de PCR

sérica, em suínos submetidos à AA e AL em relação aos tempos amostrais, com intervalo de confiança de 95%, Goiânia - GO, 2009

TABELA 5 - Valores médios ± desvios-padrão dos níveis de proteína C-reativa de fase aguda sérica de suínos submetidos à AA e AL, em relação aos tempos amostrais, Goiânia - GO, 2009

Tempo de coleta Grupo n Média/desvio padrão Min. Max.

Triagem

G1 8 12,75 ± 7,48 6,00 24,00

G2 8 8,25 ± 3,11 6,00 12,00

G3 8 7,50 ± 2,78 6,00 12,00

G4 8 9,00 ± 3,21 6,00 12,00

5 dias PO

G1 8 28,50 ± 12,73 12,00 48,00

G2 8 25,50 ± 10,01 12,00 48,00

G3 8 21,00 ± 12,42 12,00 48,00

G4 8 18,00 ± 13,98 6,00 48,00

15 dias PO

G1 8 24,00 ± 11,11 12,00 48,00

G2 8 16,50 ± 6,21 12,00 24,00

G3 8 12,75 ± 5,01 6,00 24,00

G4 8 15,75 ± 7,13 6,00 24,00

25 dias PO

G1 8 14,25 ± 8,45 6,00 24,00

G2 8 15,00 ± 14,70 6,00 48,00

G3 8 7,50 ± 2,78 6,00 12,00

G4 8 9,00 ± 3,21 6,00 12,00

n= quantitativo da amostra, min= menor valor encontrado, max= maior encontrado

A média de saturação de oxigênio (SpO2) do grupo G1 foi de 96,26%

(± 1,46). No grupo G2, a média foi de 95,82% (± 2,96). No grupo G3, a média

anotada foi de 91,25% (± 2,73) e no grupo G4 de 95,20% (± 3,71) (Tabela 6). No

teste de Tukey foi possível identificar a diferença ocorrida entre o grupo G3 e os

demais grupos, sendo esta significativa para P<0,05 (Tabela 6).

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TABELA 6 - Distribuição das médias ± desvio padrão e limites mínimos e máximos da saturação de oxigênio de suínos submetidos à AA e AL. Goiânia - GO, 2009

Grupos n Média Min. Max

G1 8 96,26 ± 1,46 94,14 98,83

G2 8 95,82 ± 2,96 91,00 99,40

G3 8 91,25 ± 2,73 86,06 93,76

G4 8 95,20 ± 3,71 90,82 100,00

n= quantitativo da amostra, min= menor valor encontrado, max= maior valor encontrado

A FC média aferida no grupo G1 foi de 140 batimentos por minuto

(bpm) (± 34). O grupo G2 apresentou média de 147 bpm, (± 32). No grupo G3 a

média foi de 120 bpm (±10) e no grupo G4 a média foi de 119 bpm (± 28), sendo

considerado o intervalo de confiança de 95% (Tabela 7). O nível de significância

verificado na análise de variância foi de 0,11 entre os grupos combinados e no

teste de Kruskal-Wallis com valor de P=0,134. Não foram observadas diferenças

significativas entre as médias. Estes resultados foram confirmados quando se

utilizou o teste de Tukey. Verificou-se que as médias das frequências cardíacas

nos grupos G1 e G2 foram superiores às da faixa de referência para espécie

suína.

TABELA 7 - Distribuição das médias ± desvio padrão e limites mínimos e máximos da FC, durante AA e AL em suínos. Goiânia - GO, 2009

Grupos n Média e desvio padrão Min Max

G1 8 140 ± 34 91 192

G2 8 147 ± 32 92 179

G3 8 120 ± 10 110 137

G4 8 119 ± 28 92 169

n= quantitativo da amostra, min= menor valor encontrado, max= maior valor encontrado

Durante os procedimentos operatórios a PAM não apresentou

diferença significativa entre os grupos (P=0,351). Na avaliação individual dos

grupos, identificou-se o aumento da PAM nos grupos laparoscópicos em relação

aos grupos abertos, com as médias de 68,40 (± 4,81) para o grupo G1, de 72,55

(± 6,61) para o grupo G2, de 76,46 (± 16,51) para o grupo G3 e 83,12 (± 23,81)

para o grupo G4. (Tabela 8 e Figura 4). A média discrepante foi registrada no

grupo G4.

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FIGURA 4 - Representação gráfica das médias de PAM, em suínos submetidos à AA e AL com intervalo de confiança de 95%, Goiânia- GO, 2009

TABELA 8 - Distribuição das médias ± desvio padrão e limites mínimos e máximos da PAM em suínos submetidos à AA e AL. Goiânia - GO, 2009

GRUPOS n Média /desvio padrão Min Max

G1 8,00 68,40 ± 4,81 51,43 97,67

G2 8,00 72,55 ± 6,61 63,80 84,33

G3 8,00 76,46 ± 16,51 52,67 107,67

G4 8,00 83,12 ± 23,81 51,00 124,00

n= quantitativo da amostra, min= menor valor encontrado, max= maior valor encontrado

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62

DISCUSSÃO

As perdas sanguíneas de todos os grupos avaliados foram

consideradas quantitativamente insignificantes, mesmo quando se considera a

diminuição dos valores de hematócritos no décimo quinto dia, ocorrida nos grupos

G3 e G4, não tiveram significado clínico, indicando que neste quesito, tanto a AA

quanto a AL não são acompanhadas de uma importante lesão vascular.

Resultados similares foram também obtidos por PARK & GAGNER (1995), em

estudo de modelo suíno para adrenalectomia, com perdas sanguíneas inferiores a

100 mL de sangue por animal. As perdas sanguíneas reduzidas, neste

experimento, podem estar relacionadas à ausência de enfermidades adrenais nos

animais estudados, o que certamente aumentaria a complexidade do

procedimento, podendo resultar no aumento das perdas sanguíneas.

Neste trabalho, os valores de leucometria indicaram a ocorrência de

processos infecciosos nos grupos submetidos a tratamentos abertos, sendo mais

acentuada no grupo falso tratado (grupo G2). A leucocitose apresentada pelos

animais destes grupos pode ser creditada ao trauma cirúrgico da parede

abdominal, bem como a formação de abscessos na incisão cirúrgica de quatro

animais do grupo G2 e dois animais do grupo G1. Nestes animais foi necessária a

continuidade da terapia antimicrobiana por mais cinco dias, o que contribuiu para

a diminuição dos valores de leucócitos totais nos tempos seguintes.

KOLLMORGEN et al. (1998) encontraram elevação da contagem leucocitária no

PO em relação ao pré-operatório, porém os valores encontrados se apresentaram

elevados em relação à faixa de referência, mas sem diferença significativa entre

os grupos submetidos à LA e à AA.

As diferenças entre os valores de contagem de plaquetas e de outros

parâmetros hematológicos e metabólicos, tais como a quantificação de proteína

total, creatinina e ALT, foram inexpressivos para fins de avaliações comparativas

entre os grupos estudados e o trauma cirúrgico, não sendo possível determinar as

respostas fisiológicas. Tais variáveis formam um conjunto de elementos

alternativos capazes de demonstrar os níveis de estresse fisiológico decorrente

de procedimentos operatórios (BYRNE et al., 2000). Neste estudo seus valores

não apresentaram relevância analítica e clínica. Neste mesmo sentido foram os

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63

achados de KOLLMORGEN et al. (1998), em estudo comparativo de

adrenalectomia em suínos, os quais destacaram que o tempo operatório

relativamente pequeno, em ambas as abordagens, foi insuficiente para causar a

resposta inflamatória necessária que determinasse alterações nos valores das

variáveis metabólicas, capazes de indicar diferença estatística entre os grupos.

Embora considerado um ótimo indicador de estresse cirúrgico, os

valores de cortisol se apresentaram situados na faixa de referência em relação à

linha de base, para espécie, nas avaliações pós-operatórias. Esta estabilidade

das médias se justifica em decorrência do longo intervalo entre a operação e

colheita subsequente, prejudicando o objeto da investigação. Em estudo

conduzido por BYRNE et al. (2000), estes autores verificaram que os valores de

cortisol, como indicador de estresse, possui importância significativa quando

realizada nas primeiras 48 horas de PO. Já a elevação dos níveis de cortisol, na

fase de triagem, pode ser creditada ao estresse relacionado ao transporte e à

mudança de alojamento ocorrida poucos dias antes da primeira colheita de

sangue, conforme relatam FAGUNDES, et al. (2008). Ao mesmo tempo, pode-se

observar que os valores de cortisol, nas fases amostrais subsequentes ao PO,

não apresentaram diferenças significativas. Este resultado indica a imediata

resposta dos animais adrenalectomizados, na compensação de cortisol pela

glândula contralateral.

Os valores de PCR não apresentaram diferenças significativas entre

os grupos nas diferentes fases amostrais. No entanto, no pós-operatório imediato

os valores de PCR indicaram aumento expressivo, acima da faixa de referência

da espécie, comprovando ser um excelente indicador de processo inflamatório e/

ou infeccioso. Pode-se observar ainda que os grupos com os maiores valores de

PCR corresponderam aos grupos G1 e G2, os quais apresentaram os maiores

valores de contagem de leucócitos. Tais resultados foram similares aos

observados por KOLLMORGEN et al. (1998), indicando valores de PCR no PO

elevados em relação à fase anterior. Mesmo sem ter havido diferenças

estatísticas entre os grupos, ocorreram picos em todos os grupos tratados, com

destaque para os submetidos aos procedimentos abertos, coincidindo ainda com

a leucocitose apresentada no PO imediato.

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64

A diminuição da SpO2 no grupo G3, em relação aos demais grupos,

possivelmente não está relacionada com a formação do pneumoperitôneo.

YAVUZ et al. (2001), verificaram que a SpO2 não apresentou alteração

significativa em suínos submetidos a diversas pressões de PNP. A diferença

encontrada pode ser creditada à operação propriamente dita e à necessidade de

manter ventilação positiva na execução de procedimentos laparoscópicos,

conforme afirmou QUANDT (1999).

A FC não apresentou diferença significativa entre os grupos. Os

quadros taquicárdicos ocorreram nos grupos G1 e G2, podendo, no grupo G1, ter

se relacionado com a operação propriamente dita, pois conforme demonstrado

por CHENG et al. (2008), nos procedimentos onde há manipulação adrenal,

espera-se a ocorrência de alterações cardiovasculares oriundas da liberação de

catecolaminas. Quanto ao quadro apresentado no grupo G2, deve-se considerar

que durante o procedimento anestésico, episódios taquicárdicos podem ocorrer

pela ação de fármacos e pela estimulação cirúrgica (SLATTER, 1998). Nos

grupos laparoscópicos, a FC se manteve no limite fisiológico para a espécie, sem

evidência de alteração clínica significativa.

O padrão de PAM observado no presente estudo não caracterizou

diferença significativa entre os grupos. Porém, demonstrou que os grupos

submetidos ao PNP, grupos G3 e G4, apresentaram aumento da PAM em relação

aos demais. Este resultado coincide com os observados em suínos submetidos a

colecistectomia aberta e laparoscópica por MENDOZA-SAGAON et al. (2000), em

que avaliaram o comportamento dos parâmetros hemodinâmico de 12 suínos

jovens submetidos a colecistectomia aberta e laparoscópica, comparando com o

grupo controle e o grupo submetido apenas ao pneumoperitôneo. Os autores

concluíram que apesar de não ter havido diferença entre os grupos ocorreu um

discreto aumento da PAM nos grupos submetidos ao PNP. No mesmo sentido, os

resultados encontrados por YAVUZ et al. (2001), mostraram que o aumento da

PAM ocorria no momento da insuflação do pneumoperitôneo, mas com tendência

de estabilidade. Em humanos, o aumento da PAM ocorre com frequência devido à

manipulação adrenal na presença de tumores secretores, com destaque para os

feocromocitomas (SOOD et al., 2006).

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65

CONCLUSÕES

Conclui-se neste estudo que a laparoscopia para adrenalectomia

experimental em suínos:

apresenta menor risco de infecção e de perdas sanguíneas, não acarretando

ainda distúrbios de coagulação;

não altera os parâmetros metabólicos e enzimáticos;

promove alterações nos níveis de PCR, mas inferiores aos da AA;

Pode diminuir a SpO2;

não altera a FC e a PAM;

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66

REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todos os recursos tecnológicos necessários para execução dos

procedimentos minimamente invasivos em humanos, encontram-se disponíveis

há muito tempo. As primeiras adrenalectomias laparoscópicas foram realizadas

no início da década de 90 e a partir dos seus relatos, os trabalhos se

multiplicaram nos principais centros de pesquisa e naqueles onde os recursos

financeiros não representavam impedimento à execução de pesquisas ou

aquisição de equipamentos. Reflexo destes estudos, o método minimamente

invasivo (MI) foi aperfeiçoado e na atualidade pode-se intervir em tumores

grandes com enormes benefícios para os pacientes. No entanto, existem algumas

particularidades em relação ao MI que devem ainda ser aperfeiçoados, para que

se obtenha a diminuição do tempo operatório. Hoje, o tempo gasto para a

execução de MI é maior quando comparados aos métodos abertos. Esta variável

em muitos casos representa fator impeditivo para a sua execução. Outro desafio é

a garantia do controle das perdas sanguíneas decorrentes da adrenalectomia

laparoscópica, o que deve ser obtido por meio do aperfeiçoamento técnico.

A adrenalectomia laparoscópica pode representar para a medicina

veterinária um importante salto qualitativo, uma vez que agrega benefícios para

profissionais, clientes e principalmente para os pacientes, pois diminui: o tempo

de recuperação, risco de infecções, dor e tempo de internação. Os métodos

minimamente invasivos expressam inovação e modernidade. Contudo, deve-se

destacar que não devem ser tratados como uma especialidade, mas sim como

uma forma diferente de operar. O cirurgião deve ter conhecimento profundo dos

métodos convencionais para se habilitar na execução dos procedimentos

laparoscópicos. A capacitação não representa para o veterinário necessariamente

uma barreira, a partir do momento em que as técnicas podem ser exercitadas em

cadáveres e outros animais de experimentação.

Como modelo, respeitando-se as particularidades morfológicas, o suíno

apresenta-se como alternativa, uma vez que possui características similares a

outras espécies. Sua principal distinção em relação à adrenal canina refere-se à

sua vascularização. A adrenal de cães possui aspecto bilobado e irrigação

ligeiramente diferenciada, especialmente a veia frênico-abdominal, que é mais

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calibrosa e ventral à glândula, enquanto nos suínos jovens esta é pouco visível e

quase imperceptível. A adrenal do cão possui formato acinar enquanto a glândula

suína possui forma cilíndrica. No entanto, estas variações não se apresentam

como fatores impeditivos para a realização de estudos ou treinamentos de

adrenalectomia laparoscópica ou outros procedimentos que envolvam técnicas

minimamente invasivas.

Considerando estas particularidades, o delineamento deste estudo foi

traçado no sentido de obter um quantitativo de informações que subsidiassem o

desenvolvimento da adrenalectomia laparoscópica no âmbito veterinário, por se

tratar de uma técnica factível de ser empregada. Depreende-se que a utilização

do modelo suíno, para a execução de adrenalectomia laparoscópica, respeitando-

se as particularidades, é passível de adoção. Neste sentido, o projeto foi

desenhado com a finalidade de responder inúmeras questões relacionadas aos

procedimentos operatórios propriamente ditos, avaliando e comparando os

resultados em grupos tratados e falsos tratados correspondentes às respectivas

intervenções, possibilitando elencar parâmetros técnicos inerentes aos

procedimentos abertos e laparoscópicos que poderiam ou não estar associados à

adrenalectomia.

A primeira foi a variável tempo, considerada um dos fatores limitantes

na opção pela abordagem laparoscópica, a qual não apresentou diferença entre

os grupos. Esta variável obterá resultados diferentes quando os estudos forem

efetuados em animais portadores de tumores adrenais. Pode-se inferir que os

resultados obtidos no presente estudo, possivelmente seriam divergentes dos

encontrados, caso houvesse a presença de enfermidade adrenal, a qual atuaria

como complicador na execução do procedimento e consequentemente

aumentando o tempo operatório. Complementarmente, foram avaliados os

componentes hematológicos e metabólicos resultantes de ambas as abordagens,

caracterizando desta forma as respectivas diferenças. Este segmento do estudo

foi de imenso valor, pois possibilitou a verificação das diferentes abordagens com

melhores detalhes. Com destaque para as infecções decorrentes dos abscessos

apresentados nos animais submetidos aos procedimentos abertos, tanto o tratado

quanto o grupo sham apresentaram leucocitose. Este resultado expõe claramente

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o benefício dos MI em relação aos procedimentos abertos, visto terem todos os

grupos sido submetidos aos mesmos tratamentos pré e pós-operatórios.

Já a quantificação do trauma operatório, causado pelo procedimento

aberto, foi possível por meio da dosagem de proteína de fase aguda (PCR), que

apesar de não ter apresentado diferenças estatísticas entre os grupos, foi

visivelmente maior nos grupos abertos (tratado e falso tratado), tendo os

resultados dos testes superados as expectativas pela sua alta sensibilidade e

especificidade. As análises dos níveis de cortisol sérico tiveram o mesmo objetivo,

mas foram prejudicadas em decorrência do longo período para avaliação pós-

operatória, comprometendo em parte a avaliação da variável estresse, mas por

outro lado indicando a rápida resposta da glândula contralateral na produção do

hormônio.

Os objetivos deste estudo foram atingidos, e passam não apenas pelos

determinados no projeto de pesquisa, mas pela possibilidade de iniciar uma linha

de trabalho que instrumentalize outros profissionais para a execução de novos

estudos, da mesma forma que oferta no âmbito profissional alternativa terapêutica

para resoluções de enfermidades adrenais. As limitações e particularidades deste

estudo não invalidaram seus resultados, tampouco deixaram dúvidas a propósito

dos benefícios da adrenalectomia laparoscópica. Contudo, é patente a

necessidade de continuidade dos estudos, aos moldes dos desenvolvidos na

medicina humana. Diversos outros estudos podem ser desenvolvidos a partir

deste, incluindo a pesquisa de citocinas, análise de fibrinogênio, resposta à

produção de cortisol de animais adrenalectomizados, confrontar os valores de

PAM com método invasivo, além de pesquisar técnicas complementares, como a

abordagem retroperitoneal, por Notes, técnicas de congelamento glandular ou

outro método que surja como resultado de estudos. Alguns centros já iniciaram

esse trabalho no âmbito veterinário, mas ainda são poucas linhas de pesquisa.

Mesmo porque os métodos minimamente invasivos disponibilizam inúmeros

recursos intervencionistas e de diagnóstico, ampliando as alternativas de estudos

sobre o assunto.

Seguramente, a contextualização do tema foi positiva em dois

aspectos. O primeiro relaciona-se a importância acadêmica do assunto,

destacando três linhas: as enfermidades adrenais, os métodos minimamente

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invasivos e o uso do modelo suíno em experimentação. A segunda relaciona-se à

factibilidade de uso na rotina profissional. Todos os assuntos foram devidamente

contemplados neste estudo. Alguns com maiores detalhes que outros. Mas as

principais questões foram respondidas. Restando então a semente para os

próximos estudos.