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  MARCELO RAMOS DE ALBUQUERQUE BARROS ESTUDO DA AUTOMAÇÃO DE CÉLULAS DE MANUFATURA PARA MONTAGENS E SOLDAGEM INDUSTRIAL DE CARROCERIAS AUTOMOTIVAS Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Engenharia. São Paulo 2006

TCC_ESTUDO DA AUTOMAÇÃO DE CÉLULAS DE MANUFATURA

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MARCELO RAMOS DE ALBUQUERQUE BARROS

ESTUDO DA AUTOMAO DE CLULAS DE MANUFATURA PARA MONTAGENS E SOLDAGEM INDUSTRIAL DE CARROCERIAS AUTOMOTIVAS

Trabalho de concluso de curso apresentado Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para obteno do Ttulo de Mestre em Engenharia.

So Paulo 2006

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MARCELO RAMOS DE ALBUQUERQUE BARROS

ESTUDO DA AUTOMAO DE CLULAS DE MANUFATURA PARA MONTAGENS E SOLDAGEM INDUSTRIAL DE CARROCERIAS AUTOMOTIVAS

Trabalho de concluso de curso apresentado Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para obteno do Ttulo de Mestre em Engenharia. rea de concentrao: Engenharia Automotiva

So Paulo 2006

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Este exemplar foi revisado e alterado em relao verso original, sob responsabilidade nica do autor com a anuncia do orientador So Paulo, ____ de ________________de _______

Assinatura do autor .................................................................................................. Assinatura do orientador ...........................................................................................

FICHA CATALOGRFICA

Barros, Marcelo Ramos de Albuquerque Estudo da automao de clulas de manufatura para montagens e soldagem industrial de carrocerias automotivas / M.R. de A. Barros. ed.rev. -- So Paulo, 2006. 133 p. Trabalho de curso (Mestrado Profissionalizante em Engenharia Automotiva) - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. 1.Clulas de manufatura (Automao) 2.Carroaria 3.Soldagem 4.Engenharia automotiva I.Universidade de So Paulo. Escola Politcnica II.t.

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minha mulher Nala e minha filha Beatriz, pelo amor, incentivo e compreenso.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Dr. Gilmar Ferreira Batalha , agradeo pelos conselhos e ensinamentos, pela ateno e pacincia dedicados a mim, sem os quais o presente trabalho no se concretizaria.

Volkswagen e a Phoenix Contact do Brasil, por permitir a publicao dos dados e informaes contidas neste trabalho.

Aos tios Stella e Victor, Simone e Beto, que pacientemente me receberam em seus lares durante o curso.

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RESUMOA proposta deste trabalho apresentar uma soluo de arquitetura de automao padronizada para controle de clulas de montagem de carrocerias automotivas de baixo custo e de alta performance. Obteve-se o resultado aps a anlise das propostas dos principais fabricantes de tecnologias de CLPs e redes de comunicao e controle, comparando-se as recentes instalaes em algumas plantas da rea automotiva. Apesar dos resultados financeiros ainda no serem atestados at a data de publicao deste trabalho, as vantagens tcnicas podero ser comprovadas. A busca por essa arquitetura de controle foi motivada pela implantao da nova famlia de veculos intitulada VW 23x. Entre as caractersticas da arquitetura apresentada est a estruturao do programa de CLP nas duas principais linguagens previstas na norma IEC 61131-3: a SFC (Sequenciamento Grfico de Funes) e a FB (Blocos Funcionais). A estruturao da arquitetura de software original em relao utilizao da linguagem SFC para este tipo de aplicao, e oferece um diagnstico mais preciso de falhas da seqncia operacional quando comparado a outras solues. Outra vantagem apresentada nesta arquitetura de automao, at ento indita no grupo Volkswagen, diz respeito integrao da rede de dispositivos de entradas e sadas de controle de processo e de segurana, proporcionando uma instalao mais simples.

Palavras-Chave: Automao, CLP, Clulas de Manufatura, Montagem, Soldagem, Carrocerias e Engenharia Automotiva.

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ABSTRACT STUDY ON AUTOMATION OF MANUFACTURING CELLS FOR ASSEMBLING AND WELDING OF AUTOMOTIVE BODY IN WHITEThe proposal of this work is to present a solution of standardized automation architecture for the control of assembly cells of low cost and high performance automotive body in white. The result obtained was accomplished analyzing the proposals of the main manufacturers of CLP technologies and communication and control nets and, making comparisons among recent installations in some automotive area plants. In spite of the financial results not being able to be corroborated up to the date of the publication of this work, the technical advantages will be able to be confirmed. The search of this control architecture was motivated by the implantation of the new family of vehicles named VW 23x. Among the advantages obtained with the adoption of the solution presented in this work is the structure of the CLP program in two main languages anticipated in the IEC 61131-3 norm: The FB (Futions Blocks) SFC (Structured Flow Chart). Considering the software architecture, it is original as it refers to the use of the SFC language for this type of application and brings advantages in the more accurate diagnosis of flaws when compared with other solutions. Another advantage presented in this architecture is unprecedented in the Volkswagen group and it refers to the integration between the net of discrets signals of controll devices and security devices.

Keywords: Automation, PLC, manufacturing cells, assembling, welding, body in white, automotive engineering.

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SumrioLISTA DE TABELAS LISTA DE FIGURAS LISTA ABREVIATURAS E SIGLAS LISTA DE SMBOLOS

1 1.1 1.2 2 2.1 2.2 2.3 2.3.1 3 3.1 3.1.1 3.1.2 3.1.3 3.2 3.3 4 4.1 4.1.1 4.1.2 4.1.3 4.1.4 4.1.5 4.2 5 5.1 5.2 5.3 5.3.1 5.4 5.5 5.6 6

INTRODUO Objetivos Organizao do texto PROCESSO DE MONTAGEM DE CARROCERIAS AUTOMOTIVAS Classificao dos processos de juno Cenrio dos pilares bsicos para o projeto da junta de solda Controle dimensional e geometria Conceito RPS (Sistema de Pontos de Referncia) INTRODUO TERICA AO CONCEITO DE EVENTOS DISCRETOS Conceitos gerais Sistemas discretos no tempo Sistemas de eventos discretos Propriedades e caractersticas de um SED Resumo da Classificao dos sistemas de controle Conceito de controle automtico para SVC e SED INTRODUO AOS SISTEMAS DE MANUFATURA Classificao dos Sistemas de Produo Sistemas de Produo em Massa Sistemas de Produo em Lotes Sistemas de Produo por Encomenda (Jobbing Shop) Sistemas Flexveis de Manufatura. Flexibilidade nos Sistemas de Manufatura O Conceito TPS (Manufatura Enxuta) SISTEMAS DE MANUFATURA AUTOMATIZADOS Breve Histrico Vantagens da Automao na Manufatura O Impacto Social na Implantao da Manufatura Automatizada O impacto Social no Brasil A Pirmide da Automao Industrial Sistemas de Automao Balanceada (BAS) Nvel de Automao em Linhas de Montagem AUTOMAO EM MONTAGEM DE CARROCERIAS AUTOMOTIVAS ROBOTIZADAS

1 3 4 5 7 11 13 13 16 16 17 19 20 24 27 31 33 34 35 37 37 42 45 47 47 48 50 51 53 55 57 59

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6.1 6.2 6.3 6.4 6.4.1 6.4.2 7 7.1 7.1.1 7.1.2 7.2 7.3 7.4 7.4.1 7.4.2 8 8.1 8.1.1 8.1.2 8.1.3 8.2 8.2.1 8.2.2 8.3 8.4 8.5 8.6 9 9.1 9.2 9.3 9.3.1 9.3.2 10 11

Definies de Robs Industriais Aplicaes de Robs Industriais Sistemas Flexveis de Produo e Robtica Processo de Soldagem Robotizada Soldagem com eletrodo slido contnuo sob proteo gasosa Aplicao, Escolha e Aquisio de Robs Para Soldagem A arquitetura de automao de clulas de montagem de carrocerias automotivas CLP (Controlador lgico programvel) A Arquitetura de um CLP Funcionamento de um CLP A Interface Homem-Mquina IHM Tecnologia de Rede de Comunicao para Automao Modelagem e Implementao de um Sistema de Controle Modelagem e Desenvolvimento de um Software de Programao A Simulao como Ferramenta de Modelagem e Validao do Software de Programao A NORMA IEC 61131-3 COMENTADA Elementos Comuns Tipagem de Dados Variveis Configurao, Recursos e Tarefas Unidades de Organizao de Programas Funes Blocos Funcionais FBs Programas Linguagens de Programao Os benefcios proporcionados pela norma IEC 61131-3. A contribuio da PLCopen para a norma IEC 61131-3. ESTUDO DE CASO Descrio do Processo Arquitetura de Controle da Clula Arquitetura de Software Estrutura Principal em SFC (seqencial flow chart) Blocos Funcionais (funtion bocks) CONCLUSO Referncias Bibliogrficas

59 63 65 69 70 72 76 76 77 81 83 87 94 97 99 101 104 104 104 105 107 107 107 109 112 115 117 119 121 123 124 124 126 128 129

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LISTA DE TABELASTabela 3.1 5.1. 6.1 6.2 7.1.a 7.1.b 8.1 Descrio Controle automtico SED e SVC Sistemas de produo centrado na tecnologia e no Homem Evoluo dos estoques operacionais Componentes bsicos de um sistema para soldagem robotizada Caractersticas Fsicas Caractersticas Fsicas Divises da norma IEC 61131 Pgina 29 56 66 71 91 92 101

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LISTA DE FIGURASFigura 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 3.1 3.2 3.3 3.4. 3.5 4.1 4.2 5.1 6.1 6.2 6.3 6.4 7.1 7.2 7.3 7.4 7.5 7.6 7.7 7.8 7.9 7.10 7.11 7.12 7.13 7.14 7.15 8.1 Descrio Seqncia de montagem dos subconjuntos para a formao de carroceria automotiva Classificao dos processos de juno Tcnicas de juno de carrocerias automotivas Tendncias nos processos de juno Cenrio dos pilares base para o projeto da junta soldada Curva representativa do custo X processos de conformao Sistema de Coordenada Global Exemplo de aplicao do Sistema de Coordenadas RPS Modelagem de controle de entradas de um sistema Contnuo no tempo e discreto no tempo Comparao entre trilha de amostragem de um SVC e um SED rvore de classificao de sistemas Diagrama conceitual bsico dos SVC e SED Classificao de um sistema de produo discreto pelo volume de produo Evoluo dos Sistemas de Produo ao longo do tempo Pirmide da automao Rob com seis graus de liberdade O investimento com a robotizao encontra maiores vantagens Anlise do envelope de um rob de seis eixos Fatores relevantes para projeto de automao Arquitetura que representa o modelo em CLP Vista frontal de um CLP e seus principais componentes Execuo cclica de um programa num CLP. Na tela principal, estao e principais informaes de diagnstico Tela de movimentao para movimentos em manual e verificao da posio atual dos dispositivos. Conexo atravs da rede entre o CLP e mdulos de entrada e sada Standard Fieldbus e as oito famlias de redes Tipos de redes de campo Faixa de atuao nas redes de campo Arquitetura de automao de uma estao automtica de solda Ciclo de vida de um sistema de controle Ciclo de Prototipagem Reduzindo o tempo para sanar as falhas A utilizao do software Ferramenta de modelagem e simulao do programa de CLP O Histrico da Norma IEC 61131-3 pgina 6 7 8 9 11 12 13 15 17 19 22 26 30 34 38 54 62 68 72 75 78 80 82 85 86 88 89 90 89 93 94 95 96 99 100 102

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8.2 8.3 8.4 8.5 8.6 8.7 9.1 9.2 9.3 9.4 9.5 9.6 9.7

Modelo de software, conforme definido pela norma Exemplo bsico de declarao de um bloco de funes Exemplo de seqncia de funes Exemplo de seqncia de funes alternativas As quatro linguagens descrevem a mesma lgica de programa Exemplo de aplicao em texto estruturado ST Layout da clula denominada operao 100 Dispositivos de fixao e controle de dimensional RPS Arquitetura de hardware Estrutura principal em SFC Bloco de funo FB ROB_FOL. Bloco de funo FB ROB MIG/MAG Bloco de funo FB ROB KLEBEN

105 108 109 111 112 113 121 122 123 125 116 117 117

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1.

INTRODUO

A competitividade trouxe indstria automobilstica nacional uma crescente busca por produtividade, qualidade e flexibilidade elevada para satisfazer a uma demanda crescente do mercado com produtos heterogneos e diversificados. Isso gerou investimentos em sistemas de produo automatizados de processos criando, inevitavelmente, complexidade das instalaes, exigindo cada vez mais capacitao intelectual e operacional dos profissionais que planejam o controle e a automao da linha de produo. Neste contexto h uma necessidade de sistemas de produo flexveis e de carter antropocntrico e, ainda, com ferramentas de diagnstico de fcil interao com os operadores das clulas produtivas. A reduo dos custos dos investimentos em automao para viabilizar projetos que necessitam quase engenheiros que tentam atender a essa necessidade. A automao trouxe indstria automotiva, as vantagens previstas por Castrucci e Moraes, (2001): 1. Repetibilidade e maior qualidade na produo; 2. Realizao de tarefas impossveis ou agressivas ao homem; 3. Rapidez de resposta ao atendimento da produo; 4. Reduo dos custos de produo; 5. Restabelecimento mais rpido do sistema produtivo; 6. Reduo da rea de fabricao; 7. Possibilidade de introduo de sistemas produtivos interligados. Porm, projetos de controle de clulas automticas de produo de carrocerias demandam uma abordagem de controle baseado em sistemas de eventos discretos (SED) e de modelagem de controladores lgicos programveis (CLP). Esta integralmente de importao de tecnologias, tambm tem sido um desafio para projetistas e

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necessidade d-se principalmente pela caracterstica seqencial do processo de movimentao e acondicionamento de peas e da juno das partes das carrocerias. A IEC 61131 vem tratando, ao longo dos anos, da normalizao dos controladores programveis com o objetivo de trazer aos diversos fabricantes de controladores, diretrizes para o desenvolvimento de produtos com plataformas abertas. A terceira parte desta norma (IEC 61131-3) merece notrio destaque, pois, apresenta as diferentes caractersticas de cada linguagem. A importncia do entendimento desta norma neste trabalho tem carter didtico para a compreenso da complexidade da programao de sistemas automticos e a importncia de investimentos na preparao de profissionais capacitados para a escolha da linguagem de programao mais adequada para a execuo de projetos de arquitetura de softwares com qualidade. Apesar da crescente evoluo de outras arquiteturas de hardware para soluo de sistemas de controle discreto, os controladores programveis so as mais confiveis, devido robustez e estabilidade em ambientes industriais. O avano tecnolgico proporcionado pelos fabricantes de CLP trouxe a possibilidade de operar instalaes complexas (com uma grande quantidade de entradas e sadas e de interfaces com outros sistemas) em um nico controlador exigindo em sua programao uma arquitetura de fcil manuteno e possibilidade de alteraes e otimizaes do processo controlado. Atualmente, os modelos utilizados para representar tais solues (mquinas de estados hierrquicas, Redes de Petri, ou outras) diferem muito substancialmente das metodologias e linguagens de programao mais comuns dos CLPs (diagramas de contactos, lista de instrues, etc.). Estas, porm, esto estabelecidas em processos de modelagem razoavelmente limitados e, por isso, evitados no contexto do controle moderno de sistemas de eventos discretos. A normalizao do SFC (Sequential Flow Chart) prevista na IEC (International Electrotechnical Committee), como linguagem de modelagem de solues de controle seqencial uma tentativa de facilitar esta tarefa. O SFC descreve graficamente o comportamento seqencial de um programa de controle. O SFC estrutura a

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organizao interna do programa e ajuda a decompor o problema de controle em partes gerenciveis, enquanto mantm a sua viso geral. 1.1 Objetivos O que se deseja com esse trabalho apresentar uma aplicao prtica da arquitetura de automao composta por CLPs e IHM e redes de controle . Esta arquitetura servir como padro em clulas automticas de montagem de carrocerias automotivas desenvolvidas nos conceitos modernos de sistemas de produo, e utilizando ao mximo a disponibilidade dos equipamentos, atravs de um eficiente sistema de diagnstico de falhas e interface amigvel com o operador. Outra principal vantagem da soluo proposta a criao de uma biblioteca de blocos de funo (FBs) e molduras (Templates) para servir de projeto nas futuras implantaes de programao em novas clulas de montagem de carrocerias automotivas. Espera-se, com isso, ganho qualitativo no software final assim como ganho financeiro ao projeto. Observando os problemas intrnsecos modelagem e ao projeto de software para controle de sistemas de eventos discretos (SED), este trabalho ainda prope o SFC (Sequential Flow Chart) e FB (Funtion Blocks) como as mais adequadas ferramentas de estruturao e organizao interna do programa para a aplicao proposta.

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1.2 Organizao do texto O captulo 2 refere-se ao Processo de montagem de carrocerias automotivas. O captulo 3 apresenta uma Introduo Terica ao conceito de sistemas de eventos discretos. O captulo 4 faz uma Introduo aos Sistemas de Manufatura e o captulo 5, aos Sistemas de Manufatura Automatizados. J o captulo 6, aborda a Automao em Montagem de Carrocerias Automotivas Robotizadas. O captulo 7 descreve A Arquitetura de Automao de Clulas de Montagem de Carrocerias Automotivas. O captulo 8 apresenta a Norma IEC61131-3 Comentada, no captulo 9, o Estudo de Caso e, finalmente, a Concluso no captulo 10.

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PROCESSO DE MONTAGEM DE CARROCERIAS AUTOMOTIVAS

O processo de manufatura automotiva pode ser subdividido em estamparia (Press Shop), armao de carrocerias (Body Shop), pintura (Paint Shop) e montagem final (Final Assembly). A estamparia momento em que so estampadas as peas unitrias. Na pintura encontram-se os processos de tratamento de superfcie (fosfatizao, vedao e pintura). Durante a montagem final so agregados todos os itens de acabamento final do produto (motor, bancos, vidros, rodas etc.). Em um processo de armao ou montagem de uma carroceria automotiva, as peas unitrias metlicas so posicionadas em dispositivos e soldadas entre si formando subconjuntos (ex.: longarinas, painis dianteiro e traseiro, reforos das laterais, painel interno das portas, etc.). Por sua vez, os subconjuntos so soldados formando conjuntos (ex.: assoalho, laterais, portas) e esses por sua vez formam a carroceria completa (Body in white), vide Fig 2.1. A juno ou joining Como: A ligao permanente ou uma colocao em contato de duas ou mais peas com uma determinada forma geomtrica ou at mesmo de peas com material sem forma definida. O termo juno abrange todos os processos aplicados montagem de carrocerias e no se resume soldagem. Esse termo agrupa com a solda outros processos, como por exemplo, o uso de adesivos, grafagem, clinching (solda a frio) etc.

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Figura 2.1. Seqncia de montagem dos subconjuntos para a formao de carroceria automotiva

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2.1

Classificao dos Processos de Juno

Devido complexidade de materiais de diferentes tipos e suas possveis combinaes, empregado nas peas a serem submetidas a processos de juno, torna-se interessante proceder a uma classificao preliminar destes processos. Na figura 2.2 tem-se a classificao das junes a partir dos processos de fabricao mecnica.

Figura 2.2 : Classificao dos processos de juno. Atualmente a solda a ponto por resistncia a tecnologia de juno mais empregada na montagem da carroceria e, apesar da ampliao do uso de outras tecnologias, ainda amplamente usada na indstria automobilstica, em virtude da simplicidade, fcil controle e menor investimento, com um produto de qualidade e resistncia satisfatrias. A Figura 2.3 a-d apresenta as principais tecnologias atuais de juno.

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(a)

(b)

(c)

(d)

Figura 2.3 Tcnicas de juno de carrocerias automotivas (a) solda sob presso por conformao; (b) solda sob presso resistiva com acesso pelos dois lados; (c) solda sob presso resistiva com acesso por apenas um dos lados e (d) solda a laser.

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Considerando que uma carroceria atual de um automvel possui cerca de 4500 pontos de solda, alguns metros de solda MIG/MAG e em alguns metros de cordes ou pontos LASER. A Figura 2.4 mostra as tendncias no uso das diversas tcnicas de juno de carrocerias no decorrer das ltimas dcadas. Pode ser visto uma diminuio da solda ponto por resistncia e um aumento no uso de outras tecnologias como a juno por conformao (clinching) e solda LASER.

Figura 2.4 - Tendncias nos processos de juno em carrocerias automotivas produzidas em srie, sem considerar peculiaridades especiais de construo tais como tipo de carrocerias: estrutura monobloco em ao, space-frame em liga de alumnio ou peas com concepo multi-material (IWU, 2003).

Importncia Relativa, [%]

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Constata-se que o uso da solda a laser - Figura 2.3d - vem aumentando. Empresas j manufaturam produtos com cerca de 20 a 30 metros de solda por carroceria. A Figura 2.4 permite observar que a solda a laser tambm vem substituindo a solda MIG/MAG e por solda ponto resistiva (IWU, 2003).

Uma das vantagens da solda a laser o fato dela no necessitar acesso pelos dois lados da pea, o que implica na diminuio do nmero de reforos da carroceria para obter a mesma resistncia. J que as peas no possuem aberturas ou furos para o acesso da mquina de solda, diminuindo-se o nmero de peas tem-se, ento, a diminuio do peso da carroceria. A resistncia e o modo de falhas de um ponto de solda so caracterizados como funes principalmente da espessura das chapas, resistncia mecnica do metal, dimetro do ponto aplicado e do modo de aplicao das cargas sobre esse ponto. Observa-se que o uso da solda a laser - Figura 2.3d - vem aumentando. Empresas j manufaturam produtos com cerca de 20 a 30 metros de solda por carroceria. A figura 2.4 permite observar que a solda a laser tambm vem substituindo a solda MIG/MAG, e confirma algumas empresas considerando a solda a laser substituindo a solda a ponto resistiva, como uma evoluo difcil de ser evitada (IWU, 2003). Uma das vantagens da solda a laser o fato dela no necessitar acesso pelos dois lados da pea, o que implica na diminuio do nmero de reforos da carroceria para uma mesma resistncia, j que as peas no possuem aberturas ou furos para o acesso da mquina de solda; diminuindo-se o nmero de peas tem-se a diminuio do peso da carroceria. A resistncia e o modo de falhas de um ponto de solda so caracterizados como funes principalmente da espessura das chapas, resistncia mecnica do metal, dimetro do ponto aplicado e do modo de aplicao das cargas sobre esse ponto.

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2.2

Cenrio dos Pilares Bsicos Para o Projeto da Junta de Solda.

Em resumo um projeto de uma junta soldada pode ser definido como o estudo da montagem de dois ou mais componentes que so unidos por solda, segundo a RWMA (The Resistance Welding Manufacturing Alliance -1989). O objetivo bsico do projeto garantir que ela atenda os requisitos de funcionalidade, confiabilidade e segurana requeridas, e seja capaz de ser fabricada, inspecionada, transportada e posta em trabalho com os menores custos possveis. O cenrio em que deve ser desenvolvido o projeto da junta soldada mostrado na Figura 2.5. Devero ser observados sempre os requisitos dos materiais do projeto da montagem e do processo de soldagem.

Figura 2.5: Cenrio dos pilares base para o projeto da junta soldada (BATALHA, G., notas de aula). Finalmente, projeto e processo devem ser feitos de modo que no sejam necessrias solues de um alto custo varivel para o veculo. Por isso deve sempre ser levado em considerao o custo e a vantagem competitiva proporcionada pela tecnologia no processo de juno. Na Figura 2.6 tem-se um comparativo do custo relacionado aos processos de conformao e juno na montagem de carrocerias automotivas.

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Figura 2.6-Curva representativa do custo vs. processos de conformao e juno na montagem de carrocerias automotivas (STANDRING, 2004).

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2.3 2.3.1

Controle de dimensional e geometria no processo de montagem Conceito RPS (Sistema de pontos de referncia)

O Conceito RPS (Reference Points System), descrito na Norma VW 010 55, tem por finalidade garantir que as referncias dimensionais sejam idnticas em todas as fases do processo de desenvolvimento do produto e montagem. Atravs da restrio dos 6 graus de liberdade, que so as possibilidades de movimento de um corpo no espao (3,2,1), tanto para o dimensionamento, quanto para a fabricao e controle de peas unitrias e conjuntos, melhorando assim a qualidade de nossos produtos. Esse sistema baseado no Sistema de Coordenadas Globais do veculo, descrito na Norma VW 010 52, cuja origem est localizada no centro do eixo dianteiro, definindo a posio de todos os pontos de todas as peas e componentes do veculo.

Z

Z

Y

Y

Z

X

Figura 2.7-Sistema de coordenada global.

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Os Pontos de Referncia RPS so definidos por equipes de Engenharia Simultnea (SET - Simultaneous Enginnering Team), compostos por representantes das reas envolvidas com a qualidade do produto (Engenharia do Produto, Engenharia de Manufatura, Qualidade Assegurada, Manufatura e sub-fornecedores). A identificao dos pontos segue um padro de denominao e representao no desenho, que permite que suas funes sejam identificadas facilmente para determinada pea: Identificao do Ponto de Apoio: Indica qual o tipo de ponto de apoio do RPS como um apoio principal ou secundrio, e quais os sentidos de fixao que ele assegura para a pea. Tipos de Apoio Principal: So representados com letras maisculas e, normalmente, suas tolerncias de posio so iguais a 0 (zero), o que quer dizer que so pontos de partida para o posicionamento espacial da pea: H - Furo (hole); F - Superfcie (face); T - Ponto Terico; Tipos de Apoio Secundrio: So representados com letras minsculas, e suas tolerncias de posio apresentam valores prximos de 0 (zero), aproximadamente 0,2 mm. So aplicados em peas de grandes dimenses, e / ou que apresentam regies flexveis. h - Furo (hole) f - Superfcie (face) t - Ponto Terico

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Figura 2.8: Exemplo de aplicao do sistema de coordenadas RPS.

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3

INTRODUO

TERICA

AO

CONCEITO

DE

EVENTOS

DISCRETOS 3.1 Conceitos gerais.

Controle um poder tecnolgico incalculvel para o aperfeioamento de inmeros processos, seja em velocidade e preciso, seja em custo. O controle o uso deliberado de medidas das sadas do sistema a fim de melhorar o seu desempenho operacional, num esquema de realimentao ou feedback em torno do sistema original (CASTRUCCI e MORAES, 2001). Controle pode ser definido como uma ao planejada para que aquilo que se considera objeto de controle interaja com o processo, para, assim, atingir certos objetivos (MIYAGI, 1996). De fato, a idia de sistema de controle realizar a performance de uma particular funo. Para que a tal funo seja executada, o sistema necessita ser controlado selecionando a entrada correta para conseguir um comportamento desejado. Desta forma, pode-se entender que a entrada de um sistema visto, frequentemente, como um sinal de controle com o objetivo de obter um comportamento desejado (CASSANDRAS, 1993). Conceitualmente, para um simples escalar, pode-se representar este comportamento desejado como um sinal de referncia r (t), e a entrada de controle para um sistema real como: u( t )= ( r ( t ),t ) (3.1)

Este relacionamento refere-se lei de controle ou simplesmente controle. Para o sistema, o papel do controlador para uma certa funo r(t) selecionar u( t )= ( r ( t ),t ) para ser a funo de entrada. Estendendo para o universo de vetores, em que mltiplas entradas so especificadas, tm-se:

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u( t )= ( r ( t ),t )

(3.2)

A Onde descreve a coluna vetorial onde as entradas so funes:b ` a c b ` a c

u 1 t = 1 r t ,t , A ,u n t = n r t ,tObtm-se, ento, o seguinte modelo:

` a

` a

(3.3)

Figura 3.1. Modelagem de controle de entradas de um sistema. 3.1.1 Sistemas discretos no tempo. Muito embora o tempo seja uma varivel contnua, possvel desenvolver modelos baseados em equaes diferenciais que so, particularmente, atrativos do ponto de vista matemtico para se obter um modelo discreto no tempo. Caso sejam definidas em um sistema as variveis de entradas e as de sada em intervalos de tempo apenas discretos, obtm-se como resultante um sistema de tempo discreto, que, a partir desse ponto de vista, se diferencia de um sistema contnuo no tempo. H vrias razes e vantagens na utilizao deste tipo de modelo, das quais pode-se citar (CASSANDRAS, 1993):

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1. Qualquer controlador moderno baseado em microprocessadores possui internamente um temporizador pulsante clock e, por sua vez, as variveis so processadas apenas nesses instantes de tempo correspondentes aos pulsos do clock. 2. Vrias equaes diferenciais teis para os modelos contnuos no tempo podem ser resolvidas apenas com a utilizao de computadores digitais, que geram solues que so atualmente verses discretas no tempo de funes contnuas no tempo. 3. Tcnicas de controle digital, as quais so baseadas em modelo discretos no tempo, e que oferecem considervel flexibilidade, velocidade e baixo custo. Isso tudo devido aos avanos da eletrnica digital e da tecnologia computacional. Nos modelos discretos no tempo, a linha do tempo representada como uma seqncia de intervalos t0 < t1 < ... < tk < .... Desta forma, supe-se que qualquer intervalo possui o mesmo tamanho T, o qual, t k + 1 - t k = T para qualquer k = 0, 1,2, .... A constante T muitas vezes definida como o intervalo de amostragem. A varivel real t ento substituda por uma varivel inteira k, a qual incrementada de um nmero de intervalos constantes a partir de um ponto de referncia, normalmente k = 0. A Figura 3.2 ilustra como um sinal contnuo no tempo x(t) pode ser fragmentado em intervalos discretos no tempo x(k), em um perodo de amostragem T. importante notar que a discretizao do tempo no implica na discretizao do espao de estado. Na Figura 3.2 observa-se que a trilha de amostragem do tempo discreto constante em um determinado perodo, porm o estado (ou a amplitude) pode tomar qualquer valor em R(reais) assim como no caso contnuo no tempo.

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Figura 3.2. Contnuo no tempo e discreto no tempo (representado pela trilha de amostragem). 3.1.2 Sistemas de eventos discretos. Quando o espao do estado de um sistema naturalmente descrito por um conjunto discreto com a transio dos estados so apenas observados em pontos discretos no tempo, pode-se ento associar estas transies de estados como eventos e definir um SISTEMA DE EVENTOS DISCRETOS. (CASSANDRAS, 1993): A partir deste ponto possvel comear o estudo deste tipo de sistema identificando suas principais caractersticas. Desta forma pode-se definir evento como: uma ocorrncia instantnea causando transies de um valor de estado discreto para outro, pode-se exemplificar um evento como uma ao especfica: o ligar de um boto. Ou como um resultado de vrias condies, o rob finalizou sua tarefa, ou o fludo de um tanque atingiu seu limite mximo.

A definido ento um evento como e , quando considerado um sistema afetado por A diferentes tipos de eventos e um conjunto de eventos como E .

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Diferencia-se um sistema tambm pela forma como acionado, seja ele pelo tempo ou por evento ou por eventos que pode-se diferenci-los a seguir (CASSANDRAS, 1993): Acionado pelo tempo: Neste sistema as transies so sincronizadas por um temporizador pulsante clock: A cada pulso de tempo, um evento pode ou no ocorrer, e o seu estado muda. Assim, o processo se repete. O clock isoladamente responsvel por qualquer transio do estado de uma varivel.

A Acionado por evento: Neste caso todo o evento e , define um processo

distinto atravs do qual determinado o instante de tempo da ocorrncia.. As transies de estado so as resultantes de uma combinao de assncronos e concorrentes processos de eventos. Alm disso, esses eventos so necessariamente independentes uns dos outros. 3.1.3 Propriedades e caractersticas de um sistema de eventos discretos (SED). A partir dessas classificaes, pode-se definir as propriedades e caractersticas de um sistema de eventos discretos. Para isso, oportuno diferenci-lo de um sistema de variveis dinmicas e contnuas (SVDC). Como foi mencionado, o maior trunfo da engenharia de controle at a data atual, so os modelos baseados em equaes diferenciais. Porm, para utilizar-se destes modelos, necessrio que o sistema satisfaa a duas propriedades (CASSANDRAS, 1993): 1) Contnuos no tempo. 2) O mecanismo de transio de estados acionado pelo tempo. Em contraste um sistema dinmico de eventos discretos, ou resumidamente sistemas de eventos discretos (SED), devem satisfazer as seguintes condies:

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1) O espao de estados um conjunto discreto. 2) O mecanismo de transio de estados acionado por eventos. Desta forma pode-se adotar a seguinte definio: Um sistema eventos discreto (SED) um sistema de estados discretos e acionados por eventos, isto , a evoluo dos estados depende inteiramente de ocorrncias de assncronos eventos discretos ao longo do tempo. Como observado na Figura 3.3, pode-se citar as duas principais caracterstica que distingue um SED e um SVDC:

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Fig. 3.3. uma comparao entre trilha de amostragem de um SVC e um SED.

Para o SVDC apresentado, o espao de estado X um conjunto pertencente a R (reais), e x(t) a soluo da equao diferencial na forma genrica x(t) = f(x(t), u(t), t), onde u(t) representa a entrada. Para o SED, o espao do estado o conjunto S={s1, s2, s3, s4, s5}. A trilha de amostragem pode somente saltar de um estado para outro assim que um evento ocorre. Note que um evento pode ocorrer, porm no causa uma transio de estado, como no caso de e3. Desta forma no pode-se utilizar

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nenhum mecanismo do tipo x(t) = f(x(t), u(t), t), que possa especificar quais eventos iro interagir ao longo do tempo e como essas ocorrncias podem ser determinadas (Cassandras, 1993).

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3.2

Resumo da classificao dos sistemas de controle.

Para um melhor entendimento da classificao dos sistemas de controle e, principalmente, para posicionar os sistemas de eventos discretos, apresentado o seguinte resumo (CASSANDRAS, 1993): Sistemas estticos e dinmicos: Em sistemas estticos a sada sempre independente de valores passados da entrada. Em sistemas dinmicos a sada depende do passado dos valores da entrada. O comportamento de sistemas dinmicos pode ser descrito por equaes diferenciais.. Sistemas variveis e invariveis no tempo: O comportamento de sistemas invariveis no tempo significa que ao aplicar uma entrada especfica a um sistema sempre esperado que responda da mesma maneira. Sistemas lineares e no-lineares: Um sistema linear satisfaz a condio g(a1 u1 + a2 u2) = a1 g(u1) + a2 g(u2), onde o u1 e u2 so dois vetores de

A entrada, a1 e a2, so dois nmeros reais, e g a sada resultante. Os sistemaslineares dinmicos invariveis no tempo tm sido estudados detalhadamente na literatura da teoria de sistemas e controle. Sistemas de estado contnuo e de estado discreto: Os sistemas de estado contnuo, as variveis do estado podem admitir, geralmente, qualquer valor real (ou complexo). Em sistemas de estado discreto as variveis do estado so elementos de um conjunto discreto (por exemplo, os inteiros no negativos). Sistemas acionados pelo tempo e acionados por eventos: Em sistemas acionados pelo tempo o estado muda continuamente enquanto o tempo muda. Em sistemas acionados por evento, apenas a ocorrncia de eventos discretos gerados de forma assncrona conduz a transies instantneas de estado, entre as ocorrncias dos eventos o estado permanece no afetado.

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Sistemas determinsticos e estocsticos. Um sistema torna-se estocstico sempre que uma ou mais de suas variveis de sada uma varivel aleatria. Neste caso, o estado do sistema transforma-se um processo estocstico, e uma estrutura probabilstica requerida para descrever o comportamento do sistema. Sistemas discretos no tempo e contnuos no tempo. Um sistema dito contnuo no tempo quando todas as entradas, estado, e as variveis de sada so definidas para todos os valores possveis do tempo. Em um sistema discreto no tempo, uma ou mais destas variveis esto definidas em pontos discretos no tempo, geralmente como o resultado de um processo de amostragem.

Na Figura 3.4, pode-se apresentar como o foco de nosso estudo os SISTEMAS DE EVENTOS DISCRETOS (SED) na rvore de classificao dos sistemas de controle.

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Fig. 3.4. rvore de classificao de sistemas (CASSANDRAS, 1993):

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3.3 Conceito de controle automtico para Sistemas de variveis contnuas (SVC) e eventos discretos (SED). Investimentos em novas tecnologias, equipamentos, mquinas e sistemas de controle tm sido os realizados para atender a tais exigncias, sendo que um meio bastante efetivo para isso a introduo da automatizao. A base tecnolgica para realizar a automao o controle automtico, que pode ser dividido em duas grandes classes (MIYAGI, 1996).: De acordo com SANTOS FILHO [1993], em sistemas produtivos h um complexo conjunto de informaes qualitativas e quantitativas1. A nvel de controle interno das mquinas, dispositivos e processos, envolvendo somente variveis contnuas, realizase o controle quantitativo. Controle quantitativo: Onde, o contedo dos comandos de controle possui uma quantidade infinita de informaes, isto , informaes analgicas e/ou informaes contnuas. Controle qualitativo: Nmero finito (muitas vezes binrio) de informaes, isto informaes discretas e/ou informaes digitais. O controle de SVC uma das tcnicas mais efetivas para a implementao do controle quantitativo. Esta tcnica utilizada para controlar sistemas que possam ser governados atravs de valores mensurveis como a velocidade de rotao de um servomecanismo ou o volume de lquido em um tanque. No controle de SVC o valor real (atual) da varivel constantemente comparado ao valor de referncia, isso para que a varivel fsica (velocidade, torque, temperatura, fora, posio, campo eletromagntico, etc.) mantenha ou atinja o valor desejado.

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As informaes quantitativas referem-se ao estado de variveis contnuas que modelam o comportamento dinmico de SVCs. As informaes qualitativas referem-se aos estados discretos que modelam o comportamento dinmico de SEDs.

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A teoria de controle de SVC bem sistematizada e muito aplicada, pois muitos objetos de controle podem ser considerados de natureza contnua e linear ou podem ser linearizadas. No controle de SVC vrios conceitos e teorias foram desenvolvidos e validados, como por exemplo: A funo de transferncia de objeto de controle com uma entrada e uma sada assim como a equao dos espaos de estados que fornece a base terica para o tratamento indistinto de sistemas com uma varivel ou muitas variveis; etc. (MIYAGI, 1996). Por outro lado, no caso do controle qualitativo, a tcnica mais representativa de sua implementao o controle de SED. Nesta tcnica, considera-se que os vrios elementos (estruturais) que compem o objeto de controle podem assumir um nmero infinito de estados (MIYAGI, 1996). Por exemplo: ligar/desligar o motor da bomba, abrir/fechar a vlvula de ar, avanar/recuar o carro, subir/descer o brao, acionar/cortar a alimentao, etc. o controle de variveis descontnuas no tempo e no espao (e que normalmente considera-se que assumam valores discretos). Os vrios elementos como o motor da bomba, vlvula do tanque, volume do lquido, etc, que compe o objeto de controle e os seus respectivos estados finitos (ligado/desligado, aberto/fechado, mximo/intermedirio/mnimo), podem ser todos representados por um conjunto limitado de estados. O conjunto vlido dos estados dos vrios elementos estruturais do objeto de controle chamado de passo step do processo de controle. Portanto, neste caso, abstrair e modelar o objeto de controle significa, definir como os estados dos elementos estruturais do objeto de controle devem evoluir em funo das entradas de atuao e como combinar os estados destes elementos para resultar nos passos desejados como sada. Na tabela 3.1 abaixo, observa-se um quadro comparativo das duas principais classes de controle automtico.

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Tabela 3.1: Controle automtico SED e SVC. Controle SVC Em geral, o objeto de controle trabalha com variveis contnuas, isto , manipula informaes contnuas; Efetivo para o controle de variveis fsicas como os fludos na indstria de processos; Envolve conceitos de controle com realimentao negativa de controle de malha fechada; Controle SED Pode ser considerado um tipo de controle quantitativo; A estrutura de controle geralmente em malha fechada. Em geral, o objeto de controle trabalha com estados e eventos discretos, isto , manipula informaes discretas; Imprescindvel para o controle de processos que ocorrem, por exemplo, na indstria mecnica; Envolve o controle qualitativo e o processamento do comando de controle; A estrutura de controle no necessariamente em malha fechada.

O Conceito de Sistemas de variveis contnuas (SVC) e variveis discretas (SED) tem sua importncia no papel de controle industrial. Porm, apesar da grande experincia acumulada nas aplicaes prticas, a sistematizao e a base terica de SED ainda so muito incipientes quando comparadas com SVC. Satisfazer certos objetivos, no caso do controle SVC, geralmente corresponde a igualar o valor de certa varivel fsica (varivel de controle) a um valor de referncia. No caso de controle SED, corresponde execuo de operaes, segundo um procedimento pr-estabelecido. Simplifica-se ento os dois modelos de sistemas de controle nos diagramas apresentados nas Figuras 3.5 a e b.

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(a) Sistemas de Controle SVC.

(b) Sistemas de Controle SED. Figura 3.5 - Diagrama conceitual bsico dos sistemas de controle de SVC e SED Neste trabalho, devido natureza do processo de controle de clulas automtica, abordaremos os SED devido necessidade da interao e sincronismos dos diversos elementos e tarefas presentes no processo de montagem.. Muito embora a abordagem SVC ser sempre solicitada quando for necessrio um estudo focado nas aplicaes do processo de soldagem por exemplo.

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INTRODUO AOS SISTEMAS DE MANUFATURA

Similarmente classificao dos sistemas de controle SVC e SED, pode-se tambm realizar uma classificao de sistemas de manufatura como: Sistemas de Produo Discreta: Quando os produtos finais so compostos de partes discretas, isto , quando podem ser quantificados numa forma discreta por um nmero real, como automveis peas unitrias de carrocerias, motores. Como exemplo, podese citar o processo de manufatura de automveis. Sistemas de Produo Contnua: Quando o produto final no pode ser identificado individualmente, isto , quando ele contado em parcelas fracionrias, como litros, toneladas, metros. Como o caso das indstrias de processos em geral: lquidos, laminados, refinarias. Em clulas de montagem de carrocerias pode-se, ento, classificar como um sistema de produo discreta ou simplesmente como sistemas de manufatura que por definio so compostos por: a) Um sistema fsico; b) O layout de manufatura, que representa a forma como os recursos fsicos so distribudos no cho de fbrica e a conexo entre eles; c) Sistema de gerenciamento, tambm conhecido como sistema de controle ou sistema de tomada de deciso. (DiCESARE, 1993). Faz parte do sistema fsico o conjunto de recursos que opera sobre a matria-prima e/ou sobre o trabalho em processo, como mquinas, robs, clulas, sistemas de transporte (transportadores, AGVs), operadores, dispositivos de armazenagem, estaes de carga/descarga, estaes de controle de qualidade.

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Por outro lado, o sistema de gerenciamento aquele que se utiliza do sistema fsico para executar o trabalho de forma a otimizar alguns critrios como produtividade (que deve ser maximizada), nveis de trabalho em processo (os quais tm que ser minimizados), tempo de espera (que devem ser reduzidos a zero, se possvel). Sistema de manufatura (ou sistema de produo discreta) definido por MOREIRA (1993) como um conjunto de atividades e operaes necessrias para a produo de produtos envolvendo os seguintes elementos: insumos, o processo de transformao e os produtos fabricados. Uma diferena marcante de todo sistema de produo discreta em relao aos sistemas de produo contnua a identificao de gargalos, que so pontos no processo produtivo onde so gerados estoques que excedem a produo local. Devido flexibilidade, ao alto volume de produo e ao controle de qualidade exigida atualmente nos sistemas produtivos, o comportamento desses sistemas considerado de alta complexidade, j que desenvolvem uma srie de atividades que so realizadas em forma simultnea e concorrente. Alm disso, deve-se considerar em relao ao produto final: a sua complexidade, sua diversidade, variao na quantidade a ser produzida em funo da demanda e introduo de novos produtos aos meios existentes. Assim, a complexidade inerente ser tanto maior quanto mais complexos forem os produtos a serem fabricados, quanto mais complexa for a estrutura de produo vinculada a esses produtos e quanto mais limitadas forem as liberdades de custos e prazos para a realizao da manufatura (PORTO, 1990). Em resumo, pode-se dizer que o objetivo dos sistemas de manufatura agregar partes para compor diversos produtos, os quais precisam seguir uma determinada seqncia de operaes (roteiro de produo), sendo que cada operao pode ser realizada por uma ou mais mquinas. A forma como sero resolvidos os problemas referentes ao planejamento e programao da produo ir determinar a eficincia do sistema de manufatura como um todo. E em ambientes flexveis de produo, como o caso dos sistemas job shop em geral, objeto do presente trabalho.

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4.1

Classificao dos Sistemas de Produo

Existem vrias formas de classificar os sistemas produtivos (MOREIRA, 1993; PAPADOPOULOS, 1993; TUBINO, 1997). Dependendo da natureza intrnseca do material a ser transformado e a dinmica do fluxo do produto atravs da fbrica (por tipo de operaes), os sistemas de produo podem ser classificados em: sistemas discretos e contnuos. Sistemas discretos de produo ou sistemas de manufatura, objeto deste trabalho, so sistemas que podem ser classificados: a) Pelo tipo do processo de transformao; b) Pelo volume de produo. No primeiro caso, dois tipos de processos de transformao so identificados: a) Processos de montagem (assembly), onde o produto final formado a partir de diversos componentes (montagem de carrocerias automotivas); b) Processo de transformao propriamente dito (non-assembly), onde o produto final resultado de um ou de vrios processos de transformao que sofre a matria prima como por exemplo a fresagem, e o torneamento de peas. O segundo tipo de classificao o mais conhecido e divulgado na literatura. Dentro desta classificao existem trs categorias, que so mostradas na figura 4.1.

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Sistemas de ManufaturaSistemas de Produo em massa Sistemas de Produo Intermitente Lotes Encomendas

Figura 4.1 Classificao de um sistema de produo discreto pelo volume de produo. 4.1.1 Sistemas de Produo em Massa

Sistemas de produo em massa so utilizados geralmente para produzir itens altamente padronizados com demanda estvel. Neste tipo de sistemas, geralmente, os produtos fluem de um posto de trabalho para outro numa seqncia prevista (gerada pelo mesmo roteiro de fabricao para todos os produtos), sendo que as operaes realizadas nos postos de trabalho so sempre repetitivas. Em geral, linhas de montagem so exemplos tpicos deste tipo de sistema, como a manufatura de automveis e eletrodomsticos. Alm das caractersticas mostradas na figura 4.2, pode-se citar ainda: a) Obteno de altos ndices de produo devido produo em grande escala; b) Os produtos diferem apenas em termos de montagem final; c) Baixos custos de produo devido a economias de escala; d) Baixos tempos de processamento improdutivo; e) Sistemas balanceados; f) Grau de diferenciao relativamente pequeno (produo de poucos modelos);

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g) Sistemas altamente eficientes e pouco ou nada flexveis; h) O equipamento geralmente dedicado manufatura de um nico tipo de produto. Este tipo de sistema utilizado, geralmente, por empresas que procuram alta eficincia e ganhos por economias de escala para se manterem competitivos no mercado. Sistemas de produo em massa costumam ser divididos em linhas de transferncia e linhas de produo (ver figura 4.2). a) Linhas de transferncia so sistemas altamente automatizados e inflexveis

(o que limita o nmero de produtos a serem fabricados), onde a transferncia dos produtos de uma estao de trabalho para outra realizada em forma sncrona, isto , em forma simultnea. Neste tipo de sistema, os tempos das operaes so determinsticos, as estaes de trabalho so totalmente automatizadas e o sistema rigorosamente balanceado. b) Linhas de produo so sistemas onde a transferncia dos produtos de uma

estao de trabalho para outra feita de forma assncrona, isto , dentro da linha de produo os produtos se movimentam independentemente um do outro. Este fato permite incorporar estaes de trabalho operadas manualmente com variaes no ciclo produtivo. Portanto, as linhas de produo no precisam ser totalmente balanceadas. 4.1.2 Sistemas de Produo em Lotes

O que diferencia este tipo de sistema da produo em massa a sua flexibilidade, ou seja, a capacidade de produzir um grande nmero de produtos de volume mdio do mesmo item ou produto (fabricao intermitente de produtos em quantidades fixas ou lotes). Os lotes de produo podem ser produzidos apenas uma vez, ou a intervalos regulares de tempo.

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Neste tipo de sistemas, o produto flui de forma irregular de um centro de trabalho para outro sendo os equipamentos utilizados para este tipo de produo de propsito geral, mas projetados para trabalhar com altos ndices de produo. Estes tipos de equipamentos permitem grande facilidade para realizar mudanas tanto no produto como no volume de produo, o que se reflete numa perda de eficincia se comparado com os sistemas de produo em massa. Assim, este tipo de sistemas apresenta maior flexibilidade diante da produo em massa, mas perde no volume de produo. Conforme mostra a Figura 4.2, dois tipos de sistemas podem ser considerados como pertencentes produo em lotes: Sistemas Flexveis de Manufatura (FMS ); Sistemas de Montagem Flexveis (FAS ). Conforme mostra a Figura 4.2. Sistemas de Montagem Flexveis (DONATH and GRAVES, 1989) so sistemas que consistem de um conjunto de produtos cada qual com um volume especifico de montagem e um nmero fixo de clulas. FAS so caracterizados principalmente por possurem linhas de montagem no balanceadas ou assncronas, isto implica no fato do ndice de produo no ser fixo (os tempos de processamento das operaes variam de uma estao para outra) ou o ndice de produo fixo, mas no necessariamente o mesmo ndice para todas as estaes de trabalho (CHETTY and GNANASEKARAN, 1996). Nos FAS, as estaes de trabalho so separadas uma da outra e trabalham a ndices diferentes daquelas de uma linha de montagem convencional. O fato das estaes de trabalho ficarem separadas faz com que as tarefas (jobs) permaneam nas estaes at que o trabalho seja totalmente completado. Nos FAS, os tempos de processamento diferem de uma estao para outra, o que pode resultar em variaes aleatrias nos ndices de trabalho, performance das mquinas. Uma outra caracterstica importante dos FAS a sua flexibilidade de operao, isto , os trabalhos podem ser direcionados

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para qualquer clula de trabalho capaz de realizar uma mesma operao, e, em casos de reparos ou quebras nas mquinas, os trabalhos podem ser redirecionados. 4.1.3 Sistemas de Produo por Encomenda (Jobbing Shop)

A principal caracterstica deste tipo de sistema o baixo volume de produo, isto , os tamanhos dos lotes de manufatura so pequenos, frequentemente um de cada tipo. Este tipo de produo conhecido tambm como produo individual (MOREIRA, 1993) e comumente usado para atender uma necessidade especfica dos clientes. Devido ao grande nmero de tarefas realizadas neste tipo de sistema, os equipamentos utilizados na produo devem ser flexveis para atender aos diversos pedidos dos clientes. A produo de aeronaves, veculos espaciais, mquinas, ferramentas e equipamentos especiais, prottipos de produtos, so alguns exemplos de Sistemas de Produo por Encomenda. Fabricaes sob encomenda ou lotes reduzidos, tais como produo de sries especiais e/ou limitadas, apesar de serem produzidos em poucas unidades e envolver a transformao de matria-prima em produtos acabados, no podem ser identificados como jobbing shop, pelo fato de no serem produzidos dentro de uma linha de produo (GROOVER, 1987). Estes tipos de produo realizados em lugares especficos (fora da fbrica) so conhecidos na literatura como sistemas de produo por projeto (TUBINO, 1997), ou grandes projetos sem repetio (MOREIRA, 1993). A figura 4.2, resume o perfil da evoluo dos sistemas de produo ao longo do tempo.

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Figura 4.2.- Evoluo dos Sistemas de Produo ao longo do tempo 4.1.4 Sistemas Flexveis de Manufatura. Os conceitos de FMS manufatura (SFM ou FMS, do ingls Flexible Manufacturing System) devem ser sempre considerados para direcionar os projetos de automatizao da manufatura automotiva. Os FMS's representam o mais alto grau de automao das clulas de manufatura. A presena dos computadores e os meios eficazes de comunicao (como rede) e sua constante evoluo nas ltimas dcadas, proporcionaram a implantao deste conceito nos projetos de automao da manufatura. A tecnologia da informao responsvel pelo controle dos equipamentos de produo, utilizando-se de bancos de dados que so especialmente implementados com dados de manufatura, aliados a sistemas de informaes para o planejamento, seqenciamento e coordenao das operaes de forma integrada. Desta forma pode-se definir, um FMS como uma combinao de equipamentos, sistemas de controle e de comunicao integrados na manufatura, para um

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desempenho de alta produtividade, com capacidade de respostas de modo rpido e econmico a mudanas no ambiente operacional. Uma das definies mais citadas sobre FMS : um sistema que trata o processamento de dados distribudos de alto nvel e o fluxo automatizado de material utilizando mquinas controladas por computador, clulas de montagem, robs industriais e mquinas da inspeo. Segundo Rembold (1994), um sistema flexvel de manufatura formado por mquinas com comando numrico computadorizado e so interconectadas para transferncia de informaes (por um sistema de rede de comunicaes) e de materiais (por um sistema de manipulao, troca e, transporte de peas e ferramentas como: esteiras, veculos transportadores). Um FMS se distingue de outras formas de manufatura automatizada por considerar: A diversidade de produtos que se deseja produzir (flexibilidade do produto); As caractersticas adaptativas das mquinas (flexibilidade dos equipamentos); E as propriedades de similaridade dos processos (flexibilidade do processo).

Sistemas flexveis de representam o mago da automao fabril no cho de fbrica, e foram desenvolvidos especialmente para manufaturar produtos em quantidades de volume mdio (produo em lotes ou batch manufacturing), oferecendo muito da eficincia das linhas de alto volume de produo (produo em massa ou mass manufacturing) enquanto mantm muito da flexibilidade achada no tradicional sistema de produo por encomenda (produo jobbing shop) ou de baixo volume de produo. Sistemas Flexveis de Manufatura, por outro lado, so exemplos tpicos de sistema concorrente assncrono que tem a capacidade de produzir simultaneamente diversos s produtos (ou partes deles) usando vrios recursos. Para isso, os FMS utilizam um

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conjunto de estaes de trabalho flexveis (geralmente maquinas CNC e robs) interconectadas por meio de um sistema de armazenagem e transporte automtico controlado por um sistema de computador integrado e um sistema de tomada de deciso (programador), para decidir a cada momento (quando) o que deve ser feito (o que) e sobre que mquina (onde). A flexibilidade dada a este tipo de sistema permite-lhe ter a capacidade de escolher entre vrios recursos para realizar uma determinada operao, assim como escolher o roteiro que ir seguir o produto, alm de um significativo aumento na produtividade. Para conseguir estas vantagens que oferece um FMS, o programador organiza a produo, os programas, e sincroniza a utilizao das mquinas para permitir a introduo de novos produtos, evitando assim possveis paradas ou quebras de mquinas com o objetivo de aumentar ao mximo a utilizao das mquinas. Dentre as muitas vantagens que apresentam os FMS tem-se (GROOVER, 1987): Aumenta o nvel de utilizao dos equipamentos; Melhora o nvel de qualidade dos produtos; Reduz o custo de produo; Reduz o inventrio de trabalho (produtos) em processo; Reduz o lead time de manufatura; Reduz os tempos de setup; Permite controlar e rastrear produtos ao longo da produo.

Problemas concernentes a FMSs podem ser divididos em dois tipos: os que so referentes ao projeto e aqueles relacionados parte operacional. Os referentes ao projeto esto mais relacionados com a otimizao dos componentes do FMS e suas interconexes (KUSIAK, 1985).

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a) Seleo de famlia de peas; b) Seleo de paletes e acessrios (fixtures); c) Seleo dos sistemas de manuseio de material; d) Seleo do sistema de informao que liga os vrios mdulos do FMS com o resto dos mdulos da fbrica automatizada; e) Layout do FMS. Aqueles referentes parte operacional esto mais relacionados com a utilizao do FMS e incluem (SURI and WHITNWY, 1984): a) tamanho dos lotes; b) balanceamento da carga de trabalho; c) planejamento de longo e mdio prazo; d) programao e execuo; e) gerenciamento das ferramentas; f) respostas a mudanas na demanda; g) reao a quebra/ruptura de recursos. Considerando que os FMSs utilizam para o seu funcionamento uma srie de recursos relacionados entre si (que requerem um alto investimento), as decises envolvidas nas etapas de projeto e operao so consideradas complexas. Portanto, importante planejar, projetar e operar um FMS to eficientemente quanto possvel. Sendo assim, faz-se necessrio selecionar alguns mtodos que permitam a modelagem e anlise de tais sistemas e que tenham capacidade de suportar a seleo de bons projetos e polticas operacionais. Devido grande flexibilidade que apresentam os FMSs que lhes permite escolher entre diversos recursos (mquinas multifuncionais, robs), assim como diversos roteiros a serem seguidos para a fabricao de produtos (permitindo assim um aumento na produtividade). Estes sistemas impem um problema desafiador, que se traduz na correta alocao dos recursos aos diversos processos requeridos para

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produzir uma gama de produtos, assim como a programao da seqncia das atividades para se obter o melhor desempenho do sistema. Sistemas Flexveis de Manufatura (FMS) podem ser considerados, em muitos casos, como job shop automatizados (SABUNCUOGLU, 1992). As principais diferenas so: a) Em um FMS as funes da maioria dos trabalhadores so automatizadas e b) um FMS possui um sistema de manuseio de material automatizado (freqentemente veculo guiado automaticamente, robs e transportadores) que interliga as diversas estaes de trabalho dentro do FMS. Como os FMSs so sistemas dinmicos discretos, eles podem ser modelados e analisados por uma srie de ferramentas tais como Filas de Espera, Cadeias de Markov, Programao Matemtica, enquanto que a simulao freqentemente utilizada para avaliar o desempenho do sistema. Na fase operacional dos FMSs, um dos maiores problemas est relacionado com o planejamento e programao da produo. 4.1.5 Flexibilidade nos Sistemas de Manufatura

Flexibilidade um aspecto muito importante na tomada de decises manufatureiras, A flexibilidade representa uma importante vantagem competitiva para uma unidade de negcio. Pode ser definida como a capacidade de um sistema de manufatura para responder rapidamente a mudanas imprevistas (PAPADOPOULOS et ali., 1993) ou instabilidades causadas pelo ambiente (GUPTA & GOYAL, 1989). Um sistema de manufatura pode apresentar diversos tipos de flexibilidade que podem ser classificados de vrias maneiras. Uma dessas maneiras a anlise da flexibilidade partindo de uma perspectiva de curto e longo prazo dada por Browne (GUPTA & GOYAl, 1989; BARAD & SIPPER, 1988). Dentre os principais tipos de flexibilidade tem-se:

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a) Flexibilidade de mquina a capacidade de uma mquina para mudar rapidamente da produo de um tipo de pea para outro. b) Flexibilidade de processo est relacionada com a capacidade dos sistemas de variar os passos necessrios para completar uma tarefa. c) Flexibilidade de produto a capacidade para mudar rpida e economicamente de um produto para outro. d) Flexibilidade de roteiro a capacidade do sistema de mudar a seqncia de visitao de mquinas (no caso da quebra de uma delas) e continuar produzindo peas. Esta capacidade devida existncia de diversos roteiros de produo ou ao fato de que uma operao pode ser realizada por mais de uma mquina. e) Flexibilidade de Volume a capacidade do sistema (FMS) operar economicamente em diversos volumes de produo. f) Flexibilidade de Operao a capacidade para mudar a ordem das operaes de produo na fabricao de um produto. g) Flexibilidade de Produo referida capacidade para produzir rpida e economicamente qualquer um dos produtos que um sistema flexvel de manufatura capaz de produzir. Um considervel nmero de estudos foi desenvolvido sobre o gerenciamento de FMS. O National Institute of Standards Tecnology aponta trs principais aspectos de problemas abordados em FMS (Goldhar, 1984), que so: a) Como a arquitetura de controle pode ser simplificada; b) Por que FMSs so difceis de serem configurados; c) O que pode ser feito para assegurar um alto nvel de qualidade nos produtos.

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Pode-se considerar que os dois primeiros itens merecem destaque neste trabalho, uma vez que esto diretamente relacionados com o projeto da arquitetura de automao. O controle e principalmente a integrao do sistema so a chave para o desempenho de uma FMS. A integrao traduz-se em automao com sistemas de rede de comunicao. Mesmo com um equipamento de automao adequado, um FMS no pode sobreviver com sua performance comprometida devido defasagem entre o controle e a apropriada integrao de suas operaes (MAIMON, 1987). Arquiteturas, mtodos e protocolos de rede so desenvolvidos para a adequada integrao de FMS.

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4.2 O Conceito TPS (Manufatura Enxuta). O conceito TPS (Sistema Toyota de Produo), ou tambm conhecido como lean manufacturing, ou manufatura enxuta, uma referncia mundial para sistemas de manufatura, em diversos tipos de mercado. De forma resumida, a manufatura enxuta uma filosofia que busca reduzir o tempo entre a ordem de pedido do cliente de um processo de manufatura e a entrega do produto, eliminando o desperdcio. O desperdcio qualquer coisa que no adiciona o valor ao produto na perspectiva do cliente. O TPS um sistema robusto, que responde adaptativamente a adversidades internas, como problemas de matria prima ou variabilidade do produto assim como fatores externos com variao da demanda (Flinchbaugh, 1998). Podem-se resumir alguns princpios do TPS, que incluem: a) Tempo de tacto e fluxo contnuo: as operaes devem idealmente seguir o ritmo da demanda de cliente. O fluxo contnuo o ideal, construindo uma parte de cada vez, que tende a minimizar o desperdcio, com todas as operaes que seguem ao tempo do tacto. O tempo de tacto o marca passo para o fluxo contnuo. b) Sistema puxado: Esse sistema usado quando o fluxo contnuo no praticvel. Neste caso um acmulo pequeno mantido entre as operaes e reposto sempre pela operao anteriores o que consumido pelas operaes posteriores. Conceitualmente, neste caso, a programao realizada apenas na operao final, e toda a configurao antecedente reabastece ento o que foi consumido por seu cliente imediato. c) Nivelamento de produo: Em um ambiente com diversidade de produto e com uma grande variao na demanda, difcil de administrar o atendimento, a no ser com a utilizao de um grande inventrio grande de todos os produtos ofertados.

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O TPS trata essas variaes de demanda atravs da ferramenta chamada heijunka, isto , demanda nivelando criando um pequeno entoque intermedirio de e reabastecendo esse usando uma programao nivelada. O TPS foi um marco to profundo na organizao industrial quanto a criao do modelo de produo em massa do sculo 19 (VAGHEFI et al. 2001). Apesar de ser um sistema concebido originalmente para processos manuais de manufatura, o TPS prev que praticamente impossvel uma converso de um sistema de um sistema de produo convencional para um sistema enxuto sem um mnimo nvel de automao. Na verdade para o TPS necessrio determinar o nvel ideal de automao. Um nvel baixo de automao pode representar perda de eficincia, e por sua vez um nvel elevado de automao injustificado acarreta uma queda na confiabilidade devido complexidade e refletindo em menor domnio sobre o sistema. O nvel de automao ideal aquele que a manuteno e a operao no consomem recursos injustificveis devido a uma maior complexidade e desperdcio de tempo (HARIS, 2001). Consideram-se tambm as implicaes nas relaes de custo/beneficio e produtividade/qualidade de um sistema automatizado. Tal diversidade exige do processo uma grande versatilidade para lidar com diferentes combinaes operacionais e funcionais de mquinas, ferramentas e seqncias de processos.

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5 5.1

SISTEMAS DE MANUFATURA AUTOMATIZADOS Breve histrico

A automao da manufatura, como o uso de mquinas CNCs, robs, clulas flexveis de manufatura e o uso de CAD e CAM iniciou-se no final dos anos 60 e sua difuso no final dos anos 70 nos pases desenvolvidos devido aos seguintes fatores (TCHIJOV, 1989): 1. Mudana do paradigma das empresas de produo em massa para produo flexvel em lotes; 2. Aumento da importncia da qualidade nos itens produzidos aliada a produo de peas de maior complexidade exigindo a substituio do controle humano pelo controle do computador; 3. Resistncia social dos trabalhadores dos pases desenvolvidos em relao a tarefas montonas, trabalhos repetitivos, tpicos da produo em massa. Isto gerou em pases, como o Japo, um aumento considervel dos salrios para trabalhos com pouca qualificao. Porm, o fator preponderante na deciso de compra de um equipamento para a automatizao de uma tarefa foi, e ainda o custo da mo-de-obra versus o valor do investimento na compra da mquina (ISHITANI and KAYA, 1989).

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5.2

Vantagens da Automao na Manufatura

Erroneamente apontamos como a primeira e principal vantagem de investimentos em automao a economia de custo de mo-de-obra justificada pela busca por reduo nos custos da manufatura em muitos pases, inclusive o Brasil. Atualmente, os projetos de automao visam no somente obter economias de custos de mo-de-obra, mas tambm melhor qualidade dos produtos, produo e entrega mais rpida, volume da produo e reduo de custos, principalmente quando so empregados os conceitos da automao flexvel. No podemos esquecer dos fatores de segurana e insalubridade dos operadores expostos ao trabalho na manufatura manual. Pode-se citar que os principais motivos para investir em automao so: Aspectos operacionais: Reduo da ao do homem; Aumento do uso do equipamento, sem aumento da mo-de-obra; Minimiza os atrasos e interrupes provocados pelos operadores; Eliminao de erros de digitao, papis etc.; Maior grau de eficincia e flexibilidade.

Aspectos de processo: Reduo de perdas de materiais; Eliminao da variabilidade nos processos; Mudar as formulaes, parmetros, acrescentar ou alterar "receitas"; Reduo dos esforos de validao.

Tendncias para a automao: Alinhar a estratgia da automao com as estratgias dos negcios. Atingir objetivos de desempenho, tais como:

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Melhor qualidade; Maior velocidade; Melhor confiabilidade; Maior flexibilidade; Menores custos.

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5.3

O Impacto Social na Implantao da Manufatura Automatizada

Ainda que acarrete a substituio de mo-de-obra humana ou mesmo na extino de uma funo realizada por um operador, a automao de uma indstria indicada sempre quando se detecta a necessidade de torn-la mais produtiva, mais confivel mais segura do ponto de vista de preservar a integridade fsica do homem. Em TORII (1989) analisado o nmero de trabalhadores substitudos por robs na indstria automobilstica e eletrnica na Coria do Sul. Nas empresas entrevistadas o nmero de trabalhadores substitudos por um rob de dois. Entretanto TORII (1989) ressalta que enquanto na indstria automobilstica os processos foram totalmente robotizados e nenhum trabalhador foi mantido na operao, na indstria eletrnica em mdia metade ou um tero dos trabalhadores foi mantido no processo aps a introduo do rob. TANI (1989) expe o principal uso dos robs em funo dos pases. Verifica-se que na Europa e EUA os robs foram usados principalmente na indstria automobilstica, enquanto no Japo estes foram usados principalmente na montagem de componentes eletrnicos. TANI conclui que esta diferena foi um fator chave para o avano do Japo na robtica, pois proporcionou que os mesmos passassem a produzir componentes eletrnicos mais baratos e adquirissem uma vantagem comparativa em relao aos EUA e a Europa. No Japo, uma anlise (SAITO e NAKAMURA, 1989) dos efeitos diretos e indiretos. do uso de robs na economia japonesa indica, que no perodo de 1985-1990 com a introduo de 155 mil robs no Japo, 71 mil empregos foram eliminados, como efeito direto. Por outro lado, como efeito indireto, 48 mil empregos foram gerados ligados a indstria de robs e aumento de investimentos ligados a maior lucratividade das empresas que utilizaram robs. Isso significa que, para cada 2 robs instalados uma pessoa demitida diretamente, para cada 3 robs tem-se uma contratada, e para cada 7 robs tem-se um emprego eliminado, levando em conta os empregos gerados.

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Na Alemanha, o impacto da robtica atingiu principalmente os soldadores com uma eliminao estimada de 60.000 empregos nesta categoria entre os anos de 1995 e 2000. Outros empregos principalmente atingidos pela robtica so o de empacotadores, com uma estimativa de 40.000 empregos eliminados e funcionrios de linhas de montagem, com 20.000 empregos eliminados (EDLER and RIBAKOVA,1994). Cabe ressaltar aqui que estes nmeros so estimativas feitas em 1994 a respeito de possveis demisses para os anos entre 1995 e 2000. Nos efeitos positivos na Alemanha esto empregos gerados na indstria de robs e na manuteno ligada a robtica, com aumento do nmero de vagas para engenheiros mecnicos e eltricos com uma qualificao um pouco acima da mdia. 5.3.1 O Impacto Social no Brasil O custo da mo-de-obra e a reao social causada pelo medo do desemprego foram as principais causas da automao nos pases desenvolvidos. No caso Brasil isso ocorreu de forma diferente. Apesar dos metalrgicos receberem salrios altos em relao ao resto da populao nacional e terem um baixo nvel de escolaridade, os salrios pagos no Brasil tm um custo muito pequeno em relao ao custo da mo-de-obra nos pases desenvolvidos. Nos anos 80, o custo com mo-de-obra direta representava menos que 5% do custo total do veculo para as montadoras brasileiras. O salrio pago no Brasil ficava em torno de 20% de um salrio pago nos pases desenvolvidos (TAUILE, 1986). Tauile argumenta em seu trabalho que o tempo de pagamento (pay-off time) de um rob nos anos 80 era de 32 anos, inferior a sua vida til, estimada em 10 anos. No que se refere a acordos trabalhistas, no existe aqui a rigidez encontrada nos EUA e na Europa em relao a fora de trabalho (MARQUES, 1990, pg. 66). No Brasil, comum os operadores serem deslocados de funo quando h nisso interesse da empresa.

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Sobre o papel dos sindicatos, cabe ainda ressaltar que durante o perodo da ditadura estes tiveram pouco poder de presso sobre as empresas, contribuindo para que o controle da empresa sobre o trabalhador fosse muito mais forte no Brasil que em pases que viviam uma democracia. O que de fato levou as montadoras a se automatizarem foi a estratgia mundial adotada pelas matrizes. Nos anos 80, as montadoras lanaram o conceito de carro mundial, um automvel que seria produzido em partes ou uma nica planta, mas teria como destino a comercializao internacional. Alm do carro mundial, ocorreria a especializao de algumas filiais na produo de alguns componentes. Com isso, surgiu nas plantas brasileiras a necessidade de produzir segundo padres de qualidade mais rgidos, tais quais os internacionais. Agora, duas ou mais filiais deveriam ser capazes de produzir o mesmo tipo de veculo, a mesma pea, dentro das mesmas tolerncias. A produo no poderia continuar com oscilaes na qualidade do que era produzido: era necessria uma padronizao, uma uniformidade. Tal padronizao, segundo a deciso da matriz, seria obtida com o uso de mquinas, com a automatizao. Os padres de qualidade do mercado internacional orientaram a automao das montadoras no Brasil, as principais reas automatizadas foram na montagem de carrocerias, a pintura e a fundio. Cabe destacar que, no caso dos processos de pintura e brazagem (durante a montagem de carrocerias), a automao muito justificada nos pases desenvolvidos, por ser uma atividade insalubre. Entretanto, no Brasil, somente a pintura externa foi automatizada, j que esta deveria atender aos requisitos de qualidade. A pintura interna e inferior do automvel foi mantida na forma manual. Ou seja, a eliminao de postos de trabalho insalubres no Brasil no foi uma das razes para a automatizao dos processos (MARQUES, 1990)

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5.4

A Pirmide da Automao Industrial

A automao industrial exige a realizao de muitas funes. A Figura 5.1 representa a chamada arquitetura da automao industrial, com os diferentes nveis de automao encontrados em uma planta industrial. A seguir realizada uma breve descrio de cada um dos nveis da pirmide: Nvel 1: o nvel das mquinas, dispositivos e componentes (cho de fbrica), onde a automao realizada pelo controlador programvel e seus perifricos. Ex.: linhas de processo de soldagem robotizadas, transportadores. Nvel 2: Sua caracterstica ter algum tipo de superviso associada ao processo. o nvel onde se encontram concentradores de informaes sobre o Nvel 1 e as Interfaces Homem-Mquina (IHM). Ex.: IHM de operao de uma clula de montagem de portas automotivas, sala de superviso de um laminador. Nvel 3: permite o controle do processo produtivo da planta. Normalmente constitudo por bancos de dados com informaes dos ndices de qualidade da produo, relatrios e estatsticas de processo, ndice de produtividade, algoritmos de otimizao da operao produtiva. Ex.: Avaliao e controle da qualidade de dimensional de medio on-line de carrocerias. Nvel 4: o nvel responsvel pela programao e planejamento da produo realizando o controle e a logstica dos suprimentos. Ex.: controle de suprimentos e estoques em funo dos fornecedores, gerenciamento de cadeia de fornecedores just-in-time.

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Nvel 5: o nvel responsvel pela administrao dos recursos da empresa, em que se encontram os softwares para gesto de vendas e gesto financeira; tambm onde se nrealizam a deciso e o gerenciamento de todo o sistema. Ex: Sistema ERP.

Fig.5.1: Pirmide da automao (CASTRUCCI e MORAES, 2001).

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5.5

Sistemas de Automao Balanceada (BAS):

No contexto de sistemas automatizados de produo, a automao balanceada surge como uma alternativa que engloba o conceito de um nvel apropriado de automao tecnolgica (CAMARINHA, 95), em oposio s abordagens isoladas de sistemas centrados exclusivamente no ser humano ou exclusivamente na automao total das mquinas. Considera-se, que para incrementar a produtividade na manufatura fundamental dominar as tcnicas de automao e integrao por computador das linhas de produo utilizando ferramentas como CAD, CAM, CAPP e mquinas CNC/DNC. Entretanto, necessrio ainda considerar questes como "start-up", manuteno e ocorrncia de distrbios ou situaes inesperadas (envolvendo mquinas e operadores humanos) que acontecem freqentemente numa fbrica e que no podem ser tratadas de maneira automtica na sua totalidade. Estas tarefas envolvem, geralmente, a superviso e interferncia de um operador humano. Apresenta-se, Tabela 5.1, uma comparao entre sistemas de produo entrados na tecnologia e no homem.

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Tab.5.1: Sistemas de produo centrado na tecnologia e no Homem. Centrado na tecnologia Centrado no homem Considera a introduo de novas Considera a introduo' de novas tecnologias tecnologias para reduzir o nmero para complementar as capacidades humanas e de operadores no cho de fbrica. tecnolgicas, incremento funcional da flexibilidade, Qualidade do produto e conforto dos operadores. Procura substituir as habilidades e Procura melhorar a qualidade e estabilidade experincia humana por tecnologia. do recurso humano e, atravs disto, melhorar a explorao do potencial oferecido por novas tecnologias. Considera solues tcnicas Considera solues tcnicas descentralizadas. centralizadas. Considera uma hierarquia rgida Considera a participao dos operrios na (pouca liberdade) na tomada de tomada de decises. decises. Considera uma funo operacional Considera uma autonomia operacional para passiva, isto , a simples execuo desempenhar tarefas diferentes e complexas, de tarefas. os problemas podem ser resolvidos individualmente ou em qrupo. A integrao de unidades de Considera a integrao de unidades para informao, deciso e controle da treinamento, socializao, cooperao e fbrica por meio de uma acesso informao, participao na tomada centralizao auxiliada por de decises e autocontrole. computador. Com a evoluo dos sistemas produtivos, um amplo conjunto de tarefas tem sido automatizado, deslocando os operadores para o pr e ps-processamento das mquinas. Uma razo para isto a relativa reduo dos custos de computadores e de mquinas automatizadas comparadas com os custos de treinamento e manuteno de operadores devidamente qualificados. No entanto, o conhecimento, experincia e habilidades humanas so caractersticas que na maioria das situaes dependem de mtodos no triviais para serem estruturados e/ou reproduzidos. Baseado neste fato, imprescindvel que o planejamento de sistemas produtivos considere alm dos aspectos tecnolgicos, o conjunto dos recursos humanos e a estrutura organizacional da empresa (Wobbe, 91).

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5.6

Nvel de Automao em Linhas de Montagem de Carrocerias.

O mtodo de graduao do nvel de automao em um processo de produo muito particular para cada rea de manufatura, e mesmo para processos similares, no h normalizao ou regras estabelecidas. H ainda variaes entre empresas pertencentes aos mesmos setores da indstria. Focando no nosso estudo, pode-se citar que os critrios para a escolha do nvel de automao de um processo de montagem de carrocerias automotivas levam em considerao alguns pontos descritos abaixo: a) Quantidade a ser produzida; b) Qualidade exigida; c) Processos envolvidos na montagem; d) Fatores sociais e estratgicos. O Clculo utilizado na engenharia de manufatura de armao de carrocerias da Volkswagen para calcular o nvel de automao em uma linha de montagem de carrocerias descrito abaixo:

MEGR =

tarefas automticas tarefas manuais + tarefas automticasautomao ou grau de

(5.1)

Onde: MEGR: Nvel de mecanizao/automao (Mechanisierungsgrad)

Tarefas manuais: Somatrio de todas as tarefas manuais, onde 1 tarefa= a umoperador que exera uma tarefa direta na aplicao do processo de juno e ou movimentao.

Tarefas automticas: Somatrio de todos os robs dispostos no layout.

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Obs.: Deve ser considerado um ndice proporcionalidade de acordo com a tecnologia de com a aplicao do rob na referente tecnologia de juno: Exemplo: Aplicados no processo de Solda Ponto, MIG/MAG, aplicao de Cola, e = 1; Rob aplicado ao processo de grafagem (conformao) = 2; Aplicaes de solda LASER (devido velocidade da aplicao)= 2,5. Exemplo de clculo: Contabilizando todas as tarefas em uma linha de produo obtm-se: - Soma das tarefas automticas: 423 Robs. - Soma das tarefas manuais: 100 Trabalhadores diretos ligados ao processo de manufatura.

MEGR =

423 * tarefas automticas 100 * tarefas manuais + 423 * tarefas automticas

(5.2)

Logo o grau de automao na linha de produo exposta neste exemplo de: MEGR= 81%.

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6

AUTOMAO

EM

MONTAGEM

DE

CARROCERIAS

AUTOMOTIVAS ROBOTIZADAS No prisma dos sistemas de manufatura flexveis (FMS), destacam-se as seguintes tecnologias aplicadas na automao de clulas de montagem de carrocerias automotivas: Robs, Controladores Programveis e Interfaces (vide captulo 7). 6.1 Definies de Robs Industriais

Um rob industrial pode ser definido como um sistema mecnico articulado que tem como objetivo principal executar operaes pr-definidas. Isso realizado atravs da unidade de controle, que indica o que o manipulador far para que o rob realize as tarefas especificadas. Normalmente, ele constitudo de seis (6) graus de liberdade. Sua trajetria definida atravs de um conjunto de ngulos/translaes, associados ao movimento angular/linear de cada grau de liberdade do rob, que, aps um algoritmo de interpolao, servir como sinal de referncia para o controlador de posio de cada junta robtica, que realizar uma comparao com os sinais provenientes dos transdutores de posio das juntas. Diversas aplicaes industriais exigem que o rob trabalhe de acordo com a posio e orientao de seu elemento terminal em relao ao sistema de coordenadas de trabalho. Por exemplo: um rob trabalhando em conjunto com uma mquina de comando numrico, numa clula automatizada com outros robs; ou ainda quando o rob dotado de um sistema de viso. Nesse ltimo caso, a interpretao das imagens ser efetuada em relao ao sistema de coordenadas de trabalho (em duas ou trs dimenses), e as informaes extradas sero transmitidas ao sistema de superviso aps tratamento apropriado. O supervisor de controle, ou unidade de controle, responsvel pela gerao dos sinais de referncia individuais ao longo do tempo, para cada junta do rob. Atravs

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de uma malha de controle de posio independente para cada junta, esses sinais so comparados aos valores atuais (obtidos atravs dos sensores de posio articular). Entretanto, os valores das variveis articulares utilizados como sinal de referncia na malha de controle de posio das juntas, quando comparados com os valores reais de posicionamento, podem traduzir um erro que aumenta com a velocidade de operao. Conseqentemente, a implementao de um controlador de posio para um rob industrial exige o conhecimento da preciso cinemtica do movimento do manipulador. Para estabelecermos estratgias de controle de posio de juntas robticas eficientes e precisas, (erro prximo de zero), o movimento do rob descrito atravs de equaes diferenciais, levando-se em considerao sua arquitetura construtiva, a massa dos diferentes elementos, as inrcias e o tensor de inrcia, relativamente carga transportada, e considerando-se tambm a modelagem completa de seu sistema de acionamento (motor-redutor) (PAUL, 1981). Um rob industrial definido como um manipulador multifuncional reprogramvel, projetado para movimentar materiais, partes, ferramentas ou peas especiais, atravs de diversos movimentos programados, para o desempenho de uma variedade de tarefas (RIVIN, 1988). Uma definio mais completa apresentada pela norma Robotic Industries

Association (RIA) 10218: uma mquina manipuladora, com vrios graus deliberdade, controlada automaticamente, reprogramvel, multifuncional, que pode ter base fixa ou mvel para utilizao em aplicaes de automao industrial.

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Define-se um sistema robtico em (SCIAVICCO, 1996): a) Manipulador: uma seqncia de corpos rgidos (elos) conectados atravs de articulaes (juntas). b) Atuadores: para posicionar o manipulador, as juntas so movimentadas atravs de atuadores. Os motores utilizados so tipicamente eltricos, mas ocasionalmente hidrulicos e pneumticos. c) Sensores: para medirem a posio, o status do manipulador e, se necessrio, o

status do ambiente.d) Sistema de Controle: permite o controle e a superviso da movimentao do manipulador. O manipulador formado por elos ligados atravs de juntas (OLIVEIRA, 2004): O nmero de juntas determina os graus de liberdade de um manipulador (SPONG, 1989). Tipicamente, um manipulador deve possuir no mnimo 6 graus de liberdade independentes: trs para posicionamento e trs para orientao do efetuador final. Um manipulador com menos de 6 graus de liberdade no consegue atingir todos os pontos de seu espao de trabalho com uma orientao arbitrria (Figura 6.1). J um manipulador com mais de seis graus dito redundante, pois pode atingir qualquer ponto com uma orientao arbitrria atravs de infinitas configuraes.

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Figura 6.1 Rob com seis graus de liberdade (componente bsico de um sistema flexvel para soldagem de carroceria).

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6.2

Aplicaes de Robs Industriais

A prpria definio de rob industrial j fornece uma idia das variadas aplicaes que podem ser realizadas com esse equipamento: um manipulador multifuncional reprogramvel, projetado para movimentar materiais, partes, ferramentas ou peas especiais, atravs de diversos movimentos programados, para o desempenho de uma variedade de tarefas", J foi dito que as caractersticas operacionais de um rob industrial dependem essencialmente de sua configurao, das indicaes de desempenho apontadas nos catlogos dos fabricantes e das tarefas planejadas a serem realizadas. Para cada tarefa, geralmente se faz uso de diferentes atuadores, os quais so selecionados especialmente para promover a correta interao entre a extremidade terminal do manipulador mecnico e o objeto a ser trabalhado. Os principais fabricantes de robs industriais oferecem aos usurios diferentes configuraes de manipuladores. Entretanto, alguns deles se especializaram em produzir robs para aplicaes especficas, obtendo assim melhores desempenhos operacionais. Entre as mais importantes empresas que fabricam robs industriais encontram-se:

ABB Robotics AB, Adept Technology Inc., Comau SPA, Daihen Co., Fanuc Ltd, Kawasaki Robotics Inc., Kuka Roboter GmbH, Motoman Inc., Nachi Co., e Stubli AG.Uma das aplicaes mais comuns de robs industriais a soldagem. Aproximadamente 25% dos robs so empregados em diferentes aplicaes de soldagem. Na montagem de carrocerias automotivas os processos de soldagem por resistncia e brazagem representam, aproximadamente, 80% do tempo de fabricao da carroceria bruta. A montagem de componentes corresponde a aproximadamente 33% das aplicaes de robs (1997) que so empregados pelas indstrias automobilsticas e, principalmente, na rea de montagem de carrocerias. A maioria das atividades relacionadas a robs industriais em processos de produo envolvem operaes de movimentao, processamento e controle de qualidade.

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A seguir, so apresentadas algumas destas atividades: a) Movimentao:

Movimentao de peas entre posies definidas; Transporte de peas entre esteira transportadora e mquinas operatrizes; Carregamento e descarregamento de peas em mquinas operatrizes; Carregamento e descarregamento de peas em magazines:b) Processamento:

Soldagem por resistncia eltrica (pontos) ou a arco (contnua); Fixao de circuitos integrados em placas; Pintura e envernizamento de superfcies; Montagem de peas; Acabamento superficial; Limpeza atravs de jato de gua e abrasivos; Corte atravs de processo de plasma, laser, oxi-corte ou jato de gua; Fixao de partes com parafuso, deposio de cola, rebites; Empacotamento.c) Controle de qualidade:

Inspeo por viso; Verificao dimensional de peas atravs de sensores.

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6.3

Sistemas Flexveis de Produo e Robtica de Manipulao Industrial.

A robtica trata de mquinas multifuncionais e reprogramveis que podem executar tarefas normalmente associadas a seres humanos, possuindo tambm a capacidade de identificar alteraes nas condies e restries colocadas pela tarefa e/ou pelo ambiente, decidir quais as aes que devem ser tomadas e planejar a sua execuo (PIRES, 2002). O desenvolvimento deste tipo de mquinas introduziu um elevado grau de flexibilidade nos ambientes de produo atuais, dada a sua flexibilidade de utilizao em diferentes tarefas atravs de simples adaptaes: mudana de ferramenta e reprogramao. Atualmente, os sistemas de produo automatizados so fundamentais para as economias modernas, visto que a sua riqueza (o seu Produto Nacional) depende essencialmente das suas instalaes de produo: a riqueza cultivada ou extrada emprega tipicamente menos de 10% da populao ativa e contribui muito pouco para a riqueza nacional (PIRES, 2002). Por isso, os sistemas de produo atuais, so cada vez mais sistemas flexveis. A automatizao rgida que caracterizou as dcadas 50-80 (denominado perodo de ouro para a produo industrial), constituda por mquinas dedicadas de elevada capacidade de produo, no se adapta aos novos tempos. Atualmente, a enorme diversidade de produtos, o desaparecimento das fronteiras comerciais, aliada exigncia de maior qualidade e de menor preo, torna o ciclo de vida dos produtos muito curto. Assim, as empresas funcionam geralmente com produes em pequena/mdia escala (small/medium batch manufacturing) em que a definio do produto feita muitas vezes pelo cliente (job-shop manufacturing). Isso incompatvel com sistemas de produo rgidos, direcionados para produo em larga escala de um determinado produto ou tipo de produto. Para alm disso, as caractersticas de mercado favorecem a denominada Zona da Robtica, e por isso que se tem assistido a uma robotizao crescente das estruturas produtivas. Na tabela 6.1 observamos a crescente evoluo dos estoques operacionais de robs.

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Tabela 6.1 a Evoluo dos estoques operacionais desde 1995 a 1999, com previso para 2003.

O que esses nmeros mostram e que devido a reduo do custo e surgimento de novas motivaes, tem viabilizado novos projetos de automao robotizada nos ltimos anos. As motivaes, apesar de interessantes, ainda so limitadas e os custos so ainda grandes no plano econmico e, essencialmente, no plano operacional. Podemos citar as principais motivaes para o investimento em automao robotizada: Motivaes:

Exigncia de maior qualidade a menor custo; Diversidade de prod