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Master thesis in Forensic Anthropology
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE MEDICINA
Suturas Cranianas como Indicadores
da Idade à Morte em Indivíduos
com mais de 55 anos
Ana Catarina Dias Rodrigues
MESTRADO EM MEDICINA LEGAL E CIÊNCIAS FORENSES
(4ª Edição)
Lisboa, 2011
A impressão desta dissertação foi aprovada pela Comissão Coordenadora
do Conselho Científico da Faculdade de Medicina de Lisboa em reunião de
vinte e dois de Novembro de dois mil e onze.
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE MEDICINA
Suturas Cranianas como Indicadores da
Idade à Morte em Indivíduos com mais
de 55 anos
Ana Catarina Dias Rodrigues
Orientação: Professora Doutora Eugénia Maria Guedes Pinto Antunes da Cunha
(Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra)
Co-Orientação: Professora Doutora Helena de Seabra Geada
(Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa)
Todas as afirmações efectuadas no presente documento são da exclusiva responsabilidade do autor, não
cabendo qualquer responsabilidade à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa pelos
conteúdos nela representados.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
I
“Quanto maiores são as dificuldades a vencer,
maior será a satisfação.”
MARCUS TULLIUS CÍCERO Politico/Orador/Filósofo
Ana Rodrigues 2011
II
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
III
ÍNDICE DE CONTEÚDOS
ÍNDICE GERAL III
ÍNDICE DE FIGURAS V
ÍNDICE DE TABELAS VII
LISTA DE ABREVIATURAS IX
RESUMO / PALAVRAS-CHAVE XI
ABSTRACT / KEYWORDS XIII
AGRADECIMENTOS XV
ÍNDICE GERAL
1. INTRODUÇÃO 1
1.1. Antropologia Forense 3
1.2. Perfil Biológico 5
1.2.1. Diagnose Sexual 5
1.2.2. Ancestralidade 6
1.2.3. Estatura 7
1.2.4. Estimativa da Idade 7
1.3. Estimativa da Idade à Morte 9
1.3.1. Idade Biológica vs Idade Cronológica 9
1.3.2. Metodologias de Estudo 11
1.3.2.1. Em Não-Adultos 13
1.3.2.2. Em Adultos 14
1.3.3. Algumas Noções Anatómicas do Crânio 17
1.3.4. O Crânio como Elemento de Estudo na Estimativa da Idade à Morte 23
1.3.5. Estudos Complementares 28
1.3.6. Estudos Relevantes 29
1.3.6.1. {1856-1920}: Primeiros Estudos 30
1.3.6.2. {1920-1936}: A Era de Todd & Lyon 33
Ana Rodrigues 2011
IV
1.3.6.3. {1937-1955}: Depois de Todd & Lyon 36
1.3.6.4. {1955-1957}: 2 anos, 2 Grandes Estudos 38
1.3.6.5. {1960-1984}: Análises Multifactoriais 40
1.3.6.6. {Em 1985}: Meindl & Lovejoy 43
1.3.6.7. (Antes e) Depois de Meindl & Lovejoy: Claude Masset 46
1.3.6.8. Mais recentemente: Os Últimos 16 Anos 48
1.4. Envelhecimento e Senescência 55
2. OBJECTIVOS 59
3. MATERIAL E METODOLOGIA 63
MATERIAL 65
3.1. Colecção de Esqueletos Identificados Luís Lopes 65
3.2. A Amostra Inicial 70
METODOLOGIA 72
3.3. Metodologia Antropológica 72
3.4. Metodologia Estatística 76
3.4.1. Precisão e Exactidão 80
3.5. Fase de Aprendizagem 82
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 83
4.1. RESULTADOS 85
4.1.1. A Amostra Final 85
4.1.2. Normalidade 93
4.1.3. Erro Intra-Observador 94
4.1.4. Erro Inter-Observador 96
4.1.5. Análise da Aplicação do Método Testado 97
4.1.6. Caixas de Bigodes Relativos às Observações Efectuadas 108
4.1.7. Testes de Correlação 121
4.2. DISCUSSÃO 124
5. CONCLUSÕES 137
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
V
5.1. Estudos para o Futuro 143
6. REFERÊNCIAS 145
7. ANEXOS 161
7.1. Anexo 1- Exemplo da Ficha de Registo 163
7.2. Anexo 2- Exemplo da Base de Dados em SPSS® 165
7.3. Anexo 3- Fotografias de Indivíduos da Amostra 167
7.4. Anexo 4- Fotografias do Local de Armazenamento da Amostra 169
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Intervenção da Antropologia e Patologia Forenses. 3
Figura 2: Crescimento no crânio humano. 18
Figura 3: Estrutura interna do osso craniano. 18
Figura 4: (A) Vista anterior do crânio; (B) Vista lateral do crânio. 20
Figura 5: Representações esquemáticas de: (A) uma sutura plana, (B) uma sutura denteada, (C)
uma sutura escamosa e (D) sua secção). 21
Figura 6: Vista superior do crânio. 22
Figura 7: (A) Vista anterior de um crânio de uma criança com encerramento assimétrico da
sutura coronal; (B) Vista superior do mesmo crânio. 25
Figura 8: Exemplo do desenvolvimento da sutura sagital, que passa de uma estrutura simples e
plana (a) a uma estrutura complexa, com inúmeras interdigitações (c); diferente plano das inter-
digitações (d). 26
Figura 9: Vista posterior de um crânio com dez ossículos supranumerários na sutura
lambdóide. 27
Figura 10: Sutura metópica, que se estende desde o nasion ao bregma. 28
Figura 11: Sutura metópica, que se estende desde o nasion ao bregma, exemplar da colecção
Luís Lopes. 28
Figura 12: Exemplo de dois indivíduos pertencentes à amostra estudada da Colecção Luís
Lopes, com idades muito semelhantes (indivíduo a: 67 anos; indivíduo b: 66 anos) e graus de
encerramento das suturas muito díspares. 41
Figura 13: Localização dos dez pontos de referência adoptados por Meindl e Lovejoy 45
Ana Rodrigues 2011
VI
Figura 14: Armazenamento da colecção Luís Lopes (A) armários; (B) gavetões
individuais. 67
Figura 15: Exemplo do armazenamento de um indivíduo, num dos gavetões. 67
Figura 16: Exemplo de uma ficha de registo individual da colecção Luís Lopes. 68
Figura 17: Distribuição etária dos indivíduos da amostra inicial. 70
Figura 18: Representação esquemática da divisão das suturas cranianas em segmentos (A) e dos
graus de encerramento (B). 73
Figura 19: Esquema explicativo de um gráfico caixa de bigodes: Q1 - 1º quartil; Q2 - 2º quartil;
Q3 - 3º quartil. 79
Figura 20: Esquema explicativo dos bigodes de um gráfico caixa de bigodes. 79
Figura 21: Distribuição etária dos indivíduos da amostra final. 86
Figura 22: Nova distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra estudada. 87
Figura 23: Décadas de nascimento dos indivíduos da amostra. 88
Figura 24: Décadas da data de morte dos indivíduos da amostra. 89
Figura 25: Naturalidade dos indivíduos da amostra. 90
Figura 26: Distribuição dos indivíduos da amostra em função da sua causa de morte e por
sexos. 92
Figura 27: Distribuição etária da amostra estudada. 93
Figura 28: Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para cada sutura
craniana. 97
Figura 29: Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura coronal, por
sexos. 98
Figura 30: Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura sagital, por
sexos. 100
Figura 31: Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura lambdóide,
por sexos. 101
Figura 32: Frequência de diagnósticos correctos para todas as suturas, em função dos grupos
etários. 103
Figura 33: Frequência de diagnósticos correctos, em função dos grupos etários estabelecidos
em conjunto com Vieira. 105
Figura 34: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura coronal, para os grupos etários
estabelecidos. 108
Figura 35: Indivíduo nº 74 da Colecção Luís Lopes. (A)- Vista superior do crânio, evidencian-
do as suturas coronal e sagital; (B)- Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura
lambdóide. 109
Figura 36: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura sagital, para os grupos etários
estabelecidos. 110
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
VII
Figura 37: Indivíduo nº 233 da Colecção Luís Lopes. (A)- Vista superior do crânio, eviden-
ciando as suturas coronal e sagital; (B)- Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura lamb-
dóide. 111
Figura 38: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura lambdóide, para os grupos etá-
rios estabelecidos. 111
Figura 39: Indivíduo nº 323 da Colecção Luís Lopes. (A)- Vista superior do crânio, eviden-
ciando a (quase) obliteração das suturas coronal e sagital; (B)- Vista posterior do crânio, evi-
denciando a sutura lambdóide totalmente encerrada. 112
Figura 40: Indivíduo nº 158 da Colecção Luís Lopes. (A)- Vista superior do crânio, eviden-
ciando as suturas coronal e sagital; (B)- Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura lamb-
dóide (quase) totalmente aberta. 113
Figura 41: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura coronal dos indivíduos do sexo
masculino, para os grupos etários estabelecidos. 114
Figura 42: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura coronal dos indivíduos do sexo
feminino, para os grupos etários estabelecidos. 115
Figura 43: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura sagital dos indivíduos do sexo
masculino, para os grupos etários estabelecidos. 116
Figura 44: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura sagital dos indivíduos do sexo
feminino, para os grupos etários estabelecidos. 117
Figura 45: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura lambdóide dos indivíduos do
sexo masculino, para os grupos etários estabelecidos. 118
Figura 46: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura lambdóide dos indivíduos do
sexo feminino, para os grupos etários estabelecidos. 119
Figura 47: Indivíduo nº 158 da Colecção Luís Lopes. (A)- Vista superior do crânio, eviden-
ciando a sutura coronal quase encerrada e a sagital totalmente obliterada; (B)- Vista posterior do
crânio, evidenciando a sutura lambdóide completamente fechada. 120
Figura 48: Indivíduo nº 158 da Colecção Luís Lopes. (A)- Vista superior do crânio, eviden-
ciando a ausência de vestígios das suturas coronal e sagital; (B)- Vista posterior do crânio, evi-
denciando a sutura lambdóide completamente obliterada. 120
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra inicial. 71
Tabela 2: Correspondência esperada entre os grupos etários e os graus de encerramento. 74
Tabela 3: Classificação qualitativa do valor de kappa. 77,95
Ana Rodrigues 2011
VIII
Tabela 4: Interpretação do coeficiente de correlação. 80,121
Tabela 5: Distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra estudada. 86
Tabela 6: Nova distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra estudada. 87
Tabela 7: Décadas de nascimento dos indivíduos da amostra. 88
Tabela 8: Décadas de morte dos indivíduos da amostra. 89
Tabela 9: Naturalidade dos indivíduos da amostra, por distrito. 90
Tabela 10: Causas de morte dos indivíduos da amostra. 91
Tabela 11: Estatística descritiva da amostra estudada. 93
Tabela 12: Estatística kappa entre a 1ª e a 2ª observações. 95
Tabela 13: Estatística kappa entre a 2ª e a 3ª observações. 95
Tabela 14: Estatística kappa entre observadores diferentes. 96
Tabela 15: Diagnósticos correctos e incorrectos para cada sutura craniana. 97
Tabela 16: Teste de Wilcoxon para as suturas cranianas. 98
Tabela 17: Diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura coronal, em função dos
sexos. 99
Tabela 18: Teste de Wilcoxon para a sutura coronal, em função dos sexos. 99
Tabela 19: Diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura sagital, em função dos
sexos. 100
Tabela 20: Teste de Wilcoxon para a sutura sagital, em função dos sexos. 101
Tabela 21: Diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura lambdóide, em função dos
sexos. 102
Tabela 22: Teste de Wilcoxon para a sutura lambdóide, em função dos sexos. 102
Tabela 23: Diagnósticos correctos por sutura craniana, em função das classes etárias. 103
Tabela 24: Teste de Wilcoxon para a sutura coronal, de acordo com as classes etárias. 104
Tabela 25: Teste de Wilcoxon para a sutura sagital, de acordo com as classes etárias. 104
Tabela 26: Teste de Wilcoxon para a sutura lambdóide, de acordo com as classes
etárias. 105
Tabela 27: Diagnósticos correctos por sutura craniana, em função dos grupos etários estabeleci-
dos conjuntamente com Vieira. 106
Tabela 28: Teste Qui-Quadrado, por sutura craniana. 106
Tabela 29: Correlação do encerramento entre as suturas cranianas. 121
Tabela 30: Correlação entre as suturas cranianas e os grupos etários. 122
Tabela 31: Correlação entre diagnósticos correctos e incorrectos, entre suturas . 122
Tabela 32: Correlação entre os métodos de estimativa da idade à morte: através do grau de
encerramento das suturas cranianas e o método de Suchey-Brooks. 123
Tabela 33: Teste Qui-Quadrado, para os dois métodos. 123
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
IX
LISTA DE ABREVIATURAS
ABFA: American Board of Forensic Anthropology
AF: Antropólogo Forense
CEIMA: Colecção de Esqueletos Identificados do Museu Antropológico
DNA: Deoxyribonucleic Acid (Ácido Desoxirribonucleico – ADN)
EUA: Estados Unidos da América
ICD: International Classification of Diseases (Classificação Internacional das Doenças)
IC: Intervalo de Confiança
INML, I.P.: Instituto Nacional de Medicina Legal, I.P.
SBS: Suchey-Brooks System (Sistema Suchey-Brooks)
TAC: Tomografia Axial Computorizada
TSP: Two Step Procedure
df: degrees of freedom (Graus de Liberdade)
dp: desvio padrão
dta.: direita
e.g.: exempli gratia (por exemplo)
esq.: esquerda
i.e.: id est (isto é)
n.a.: não aplicável
vs.: versus (vérsus; em oposição a)
Ana Rodrigues 2011
X
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
XI
RESUMO
A estimativa da idade à morte é uma das questões fulcrais a que a Antropologia Forense
procura dar resposta; no entanto, as metodologias para alcançar tal objectivo não são
consensuais entre a comunidade científica. Quando se trata de indivíduos mais velhos, o
problema aumenta exponencialmente. Historicamente, o crânio foi a primeira parte do
esqueleto a ser, sistematicamente, investigada para a estimativa da idade à morte, atra-
vés do grau de encerramento das suturas.
Neste trabalho estudaram-se as suturas cranianas como indicadores da idade à morte
numa amostra esquelética identificada da Colecção Luís Lopes do Museu Bocage
(Museu Nacional de História Natural de Lisboa). Foi aplicada uma metodologia simpli-
ficada de classificação do grau de encerramento das suturas exocranianas em 116 indi-
víduos, repartidos por ambos os sexos e três classes etárias, todos eles com idades supe-
riores a 55 anos.
Analisaram-se as três principais suturas cranianas (coronal, sagital e lambdóide), que
foram dividas em segmentos e estes classificados de zero a quatro. As classificações
foram registadas e, para cada sutura, calculadas as médias.
Os resultados alcançados não se conformam com as expectativas, na medida em que
mostram que não existe correlação entre o encerramento das suturas e a idade. Não se
obtiveram estimativas da idade satisfatórias para a maioria dos indivíduos da amostra. O
método apenas estimou correctamente a idade em 44 indivíduos (37,93%) através das
suturas coronal e sagital e em 36 indivíduos (31,03%), através da sutura lambdóide.
Ana Rodrigues 2011
XII
O método de estimativa da idade à morte através da obliteração das suturas cranianas
não parece ser uma metodologia precisa e fiável, quando aplicada a indivíduos com
mais de 55 anos, não sendo recomendada a sua utilização.
PALAVRAS-CHAVE: idade à morte; mais de 55 anos; suturas cranianas; encerramento.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
XIII
ABSTRACT
The estimation of age-at-death is one of the key issues to which Forensic Anthropology
seeks to address; however, the methodologies to achieve this are not always consensual
among the scientific community. When it comes to the elderly, that problem increases
exponentially. Historically, the skull was the first part of the skeleton to be systematical-
ly investigated to estimate age-at-death, using suture closure as an age indicator.
Cranial sutures as an age-at-death indicator were studied in an identified skeletal sample
from the Luís Lopes Collection of the Bocage Museum, located at the National Museum
of Natural History, in Lisbon. A simplified methodology for the classification of the
ectocranial suture closure was applied to 116 individuals from both sexes and distri-
buted by three age categories; all individuals were older than 55 years.
The three main cranial sutures (coronal, sagittal and lambdoid) were analyzed and di-
vided into segments, to these a score from zero to four, was assigned. The scores were
recorded and the averages for all the sutures were calculated.
The achieved results are not consistent with the expectations to the extent that they
show there is no correlation between suture closure and age. No satisfactory estimates
of age were yielded for most of the sample individuals. The method only correctly esti-
mated the age of 44 individuals (37.93%) through the coronal and sagittal sutures and in
36 individuals (31.03%) through the lambdoid suture.
Cranial suture closure is neither an accurate nor a reliable methodology for estimating
age-at-death in the elderly; its use is not recommended.
KEYWORDS: age-at-death; elderly; cranial sutures; closure.
Ana Rodrigues 2011
XIV
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
XV
AGRADECIMENTOS
Quero expressar o meu reconhecimento à Professora Doutora Eugénia Cunha, por ter
aceitado e orientado a presente dissertação, por todo o apoio e disponibilidade demons-
trada ao longo dos meses de trabalho e pela sua ilustre sabedoria.
À Professora Doutora Helena Geada, pela co-orientação desta dissertação e pela con-
fiança em mim depositada.
Ao Professor Doutor Jorge Costa Santos, por ter decidido aprovar o projecto subjacente
a esta dissertação e confiança demonstrada.
À Dr.ª Manuela Marques, Bibliotecária do Instituto Nacional de Medicina Legal, Dele-
gação do Sul, pela simpatia, disponibilidade e prontidão mostradas.
Ao Doutor Hugo Cardoso, curador do Museu Bocage, por ter disponibilizado o material
necessário à investigação deste trabalho.
Ao Rui Gonçalves, Secretário da Direcção da Delegação do Sul, por nos ter aturado e
se mostrar sempre disponível e bem-disposto.
Um (colossal) obrigada ao Doutor Francisco Curate, sem o seu “GPS” não teria conse-
guido chegar ao meu destino.
Aos meus pais e irmã, os três pilares que durante toda a minha vida me apoiaram, inde-
pendentemente das dificuldades que se apresentaram (e não foram poucas). Amo-vos.
Ao Pedro, o quarto pilar, sempre comigo…”LU”
Finalmente, à Joana Vieira, companheira de viagem, obrigada pelo apoio e pelas garga-
lhadas nas (muitas) horas de trabalho que passámos juntas.
Ana Rodrigues 2011
XVI
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
1
I. INTRODUÇÃO
Ana Rodrigues 2011
2
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
3
INTRODUÇÃO
1.1 A ANTROPOLOGIA FORENSE
Nos dias de hoje, bem como no passado, a Medicina Legal consagra um valor social
inquestionável para a comunidade (Schmitt et al., 2006). Como definiu o Professor Luís
Augusto Duarte Santos, a Medicina Legal é uma “Disciplina, ciência e arte, que recolhe
conhecimentos e técnicas médico-biológicas e físico-químicas que, com método e espí-
rito próprios, elabora e aplica para a codificação e execução das leis criminais, civis e
sociais, segundo as realidades desses conhecimentos.” A Patologia Forense é, prova-
velmente, uma das especialidades mais conhecida. Todavia, existe uma grande interdis-
ciplinaridade entre as diversas ciências forenses componentes da Medicina Legal,
nomeadamente, entre a Patologia Forense e a Antropologia Forense, pois ambas traba-
lham com o corpo humano como um todo (Cunha & Cattaneo, 2006; Pinheiro & Cunha,
2006; Gonçalves, 2008) (figura 1).
Figura 1 - Intervenção da Antropologia e Patologia Forenses (adaptado de Pinheiro & Cunha, 2006)
Segundo o American Board of Forensic Anthropology (ABFA) (2008), a Antropologia
Forense aplica os conhecimentos da Antropologia Biológica às contendas legais. O
Antropólogo Forense (AF) adequa as técnicas e conhecimentos desenvolvidos na
Antropologia Biológica para a identificação de restos humanos e auxílio na detecção de
possíveis crimes (Ubelaker, 2006; ABFA, 2008). Nunca é demais realçar que a identifi-
Ana Rodrigues 2011
4
cação de restos humanos esqueletizados ou muito decompostos é fundamental, seja por
razões legais, seja por razões humanitárias ou de cariz social.
Actualmente, as perícias do AF são requisitadas tanto para a análise de restos humanos
“mais ou menos” esqueletizados (como afirmou T. D. Stewart, em 1976), como (e cada
vez mais) para a identificação de indivíduos vivos, (Ubelaker, 2006; Franklin, 2010).
Numa investigação forense, o AF deve responder a dez perguntas essenciais, que o
auxiliarão na consecução do seu principal objectivo de identificação e reconstrução dos
eventos que rodeiam a morte do indivíduo (Cattaneo & Baccino, 2002; White & Fol-
kens, 2005; Pickering & Bachman, 2009):
1) É osso?
2) É humano?
3) É recente?
4) Quais os ossos presentes?
5) Quantos indivíduos estão presentes?
6) Qual é a ancestralidade?
7) Qual é o sexo?
8) Qual é a idade?
9) Qual é a estatura?
10) Características individualizantes?
Quando se tratam, efectivamente, de restos humanos, para o estabelecimento do perfil
biológico do indivíduo, são as respostas às perguntas seis a nove que fornecem essa
informação – “the big four”: diagnose sexual, ancestralidade, estimativa da estatura e
estimativa da idade à morte.
Tanto em contexto forense como paleoantropológico, é imperioso que a estimativa da
idade à morte seja realizada com a maior precisão possível (Ritz-Timme et al., 2000).
Este continua a ser um dos predicados da Antropologia Forense (Franklin, 2010).
A estimativa da idade à morte persiste, porém, como o “calcanhar de Aquiles da Antro-
pologia Forense”, tanto em cadáveres como em indivíduos vivos (Ritz-Timme et al.,
2000; Schmitt, 2002; Cunha et al., 2009:2; Franklin, 2010).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
5
1.2 PERFIL BIOLÓGICO
Ao longo do último século, as Ciências Forenses e, com maior relevância para o presen-
te trabalho, a Antropologia Forense, têm sofrido um crescimento exponencial e, com
tamanha expansão, observou-se, paralelamente, o desenvolvimento e melhoramento de
técnicas adequadas às novas exigências (Bass, 1979; Ubelaker, 2006; Cunha & Catta-
neo, 2006; Dirkmaat et al., 2008).
Os ossos contêm uma gigantesca quantidade de informação que, na ausência de técnicas
que permitam avaliá-la de forma eficaz, pouco nos poderão transmitir acerca dos indiví-
duos aos quais os esqueletos pertencem (White & Folkens, 2005).
O estabelecimento do perfil biológico terá implicações importantíssimas na identifica-
ção positiva dos restos humanos, uma vez que, caso não se tenham tido todos os cuida-
dos e seguido todos os protocolos, poderão existir fortes consequências legais.
Como mencionado anteriormente, com a informação gerada através das respostas a qua-
tro parâmetros de identificação: o sexo, a ancestralidade, a estatura e a idade; estabele-
ce-se, então, o perfil biológico de um indivíduo.
1.2.1 DIAGNOSE SEXUAL
As diferenças morfológicas entre os sexos começam apenas a ser aparentes depois da
puberdade, portanto, os métodos morfológicos de diagnose sexual são menos fiáveis
para os grupos etários mais jovens (Rösing et al., 2007). Por ser um critério comum a
todas as populações do mundo, o padrão de dimorfismo sexual do osso coxal, é o indi-
cador mais fiável para a determinação do sexo (Bruzek & Murail, 2006). No entanto, o
AF nunca deve basear-se num só indicador e não basta descrever, morfologicamente, as
diferenças sexuais do esqueleto, para se obter uma metodologia válida para efectuar a
Ana Rodrigues 2011
6
diagnose sexual. Sendo o osso coxal o mais discriminante, o crânio é o segundo elemen-
to do esqueleto com maior dimorfismo sexual, ao qual sucedem os ossos longos. Os
outros elementos do esqueleto podem ser usados para a determinação deste parâmetro,
embora com níveis inferiores de fiabilidade. Quanto maior for o número de caracteres e
ossos analisados para efectuar esta determinação, mais exacta esta irá ser (Ferembach et
al., 1979; Bruzek & Murail, 2006). “Nenhum carácter único do esqueleto humano per-
mite uma determinação do sexo fiável.” (Bruzek & Murail, 2006:226).
1.2.2 ANCESTRALIDADE
Em Antropologia Forense, a avaliação da ancestralidade é alcançada pela da observação
de características da morfologia craniofacial e dentária, através de medições, normal-
mente associadas à análise de funções discriminantes (Albanese & Saunders, 2006; Kat-
zenberg & Saunders, 2008). O crânio é o componente do esqueleto que contém um
maior número de elementos informativos acerca da ancestralidade de um indivíduo
(Albanese & Saunders, 2006; Klepinger, 2006; Katzenberg & Saunders, 2008).
Existem características observáveis: a largura da face, presença ou ausência de progna-
tismo facial, posição e altura da ponte nasal, zigomáticos recuados ou não, presença ou
ausência do osso Inca, incisivos em forma de pá, presença da cúspide de Carabelli nos
primeiros molares, persistência da sutura metópica na idade adulta. Estes elementos
distintivos nunca devem ser utilizados individualmente para atribuir determinada ances-
tralidade, i. e., o AF deve sempre ter em conta um conjunto destas características e nun-
ca basear-se numa só (White & Folkens, 2005; Klepinger, 2006; ; Albanese & Saun-
ders, 2006; Katzenberg & Saunders, 2008).
Existem três grandes grupos populacionais para classificar um indivíduo quanto à sua
ancestralidade: europeu, africano e asiático, e cada um deles possui um conjunto das
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
7
referidas características, que lhe é particular (Gill, 1986; Albanese & Saunders, 2006;
Katzenberg & Saunders, 2008).
1.2.3 ESTATURA
Este parâmetro é utilizado em Antropologia Forense com duas finalidades: construção
do perfil biológico de indivíduos não identificados; e para apoiar “investigações putati-
vas” explica Konigsberg et al. (2006:1).
É fundamental ter a noção que mesmo a estatura (registada) de um indivíduo vivo pode
não corresponder à sua estatura real, o que introduz, à partida, um factor de erro
(Konigsberg et al., 2006; Klepinger, 2006). Vários estudos (Krogman & İşcan, 1986)
estabeleceram equações de regressão para estimar a estatura de um indivíduo (caracte-
risticamente) baseadas nas proporções dos membros, sendo que os membros inferiores
são os que apresentam resultados mais fiáveis (Klepinger, 2006; Konigsberg et al.,
2006).
1.2.4 ESTIMATIVA DA IDADE
A estimativa deste parâmetro do perfil biológico depende, sobremaneira, dos elementos
do esqueleto que se encontram presentes para análise e se se está a lidar com restos de
adultos ou não-adultos (İşcan, 1989; Franklin, 2010;). Os métodos mais frequentemente
utilizados são a erupção e calcificação dentárias, para não-adultos; o crânio (encerra-
mento das suturas), a sínfise púbica (alterações na morfologia), translucidez radicular, a
superfície auricular e a quarta costela (extremidade esternal), para indivíduos adultos
(Buikstra & Ubelaker, 1994; Berg, 2008; Cunha et al., 2009; Franklin, 2010).
A maioria dos autores aconselha, quando possível, que seja efectuada uma abordagem
multifactorial para estimar a idade de um indivíduo adulto desconhecido, tentando-se
Ana Rodrigues 2011
8
assim que a estimativa obtida no final da análise seja mais precisa e fiável, quando con-
traposta a uma estimativa baseada num único critério (Rösing et al., 2007), porém,
como é natural em ciência, existem opiniões contrárias, como é o caso de Schmitt
(2002).
Continuamente debatida (Santos, 1995) continua a ser a aplicação dos padrões de idade
determinados com base em séries osteológicas modernas a populações passadas (Mas-
set, 1982; White, 1991; Masset, 1993) e vice-versa. Como Masset (1982) afirma na sua
tese de doutoramento: acredita existir uma “tendência secular” que provocaria que o
encerramento das suturas cranianas se efectuasse mais tardiamente, nas populações pas-
sadas.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
9
1.3 ESTIMATIVA DA IDADE À MORTE
Dentro do estabelecimento do perfil biológico de um indivíduo, a determinação da idade
à morte é, definitivamente, um dos passos cruciais na análise osteológica.
Antes de mais, é imprescindível fazer a distinção entre idade biológica e idade cronoló-
gica, condicionantes da estimativa da idade à morte, para posteriormente serem aborda-
das as metodologias de estudo.
1.3.1 IDADE BIOLÓGICA vs. IDADE CRONOLÓGICA
Baer (1973:77) define idade biológica como “um agregado ou compósito de vários fac-
tores discretos de desenvolvimento”, „a maioria dos quais intimamente relacionados
entre si‟, complementam Introna e Campobasso (2006:70), considerando conjuntamente
a senescência fisiológica, química e sensorial (Acsádi & Nemeskéri, 1970; McKern,
1970; Santos, 1995). A idade cronológica refere-se à idade de calendário ou de registo
civil (a que aparece no documento de identificação pessoal) (Santos, 1995).
Como é expectável, existe uma relação estreita entre os indicadores da idade biológica e
da idade cronológica de um indivíduo, embora não se trate de uma relação “linear ou
constante” (Introna & Campobasso, 2006:71). O cálculo da idade de uma criança é pas-
sível de ser feito com relativa segurança, todavia, essa segurança vai diminuindo, consi-
deravelmente, à medida que a idade do sujeito a ser avaliado aumenta (Pickering &
Bachman, 2009). Naturalmente, quando a avaliação da idade é feita em indivíduos mor-
tos, o erro engrandece (Santos, 1995).
A idade biológica é determinada segundo os níveis de desenvolvimento sexual, dentário
e ósseo, através da análise de indicadores de maturidade, correlacionando-os depois
com a idade cronológica. Desta forma, assume-se que o desenvolvimento e maturação
Ana Rodrigues 2011
10
dentários, ósseos e sexuais se processam de forma cronologicamente análoga (Schmitt
et al., 2002).
Ora, sabe-se hoje em dia, que tal não acontece e diferenças entre as idades baseadas
nestes indicadores são muito frequentes, o que faz com que a idade biológica nem sem-
pre corresponda à idade cronológica. Uma das principais razões para que se verifiquem
estas discrepâncias é que ao realizar a estimativa da idade de um indivíduo, está-se a
avaliar a maturidade e não a idade em termos de anos ou meses (Introna & Campobas-
so, 2006).
Por vezes, sucedem situações em que investigadores inexperientes, em contextos foren-
ses, estimam a idade óssea e a idade dentária e interpretam-na como sendo a idade cro-
nológica do indivíduo (Introna & Campobasso, 2006). Contudo, isto apenas seria ver-
dadeiro se esse indivíduo, em específico, apresentasse taxas de desenvolvimento e
maturação semelhantes a indivíduos do mesmo sexo e de uma população de referência
afim (Johnston & Zimmer, 1989; Introna & Campobasso, 2006). Como a exactidão da
estimativa da idade depende grandemente da variabilidade sexual e da ancestralidade,
para que a idade óssea e a idade dentária possam ser utilizadas para avaliar o desenvol-
vimento, existe a necessidade de fazer uso de padrões sexuais e populacionais específi-
cos (Schmitt et al., 2002; Introna & Campobasso, 2006).
Introna e Campobasso afirmaram mesmo:
“A variação na idade biológica tem efeitos profundos na avaliação da idade, tanto em
indivíduos vivos, como em mortos (Schmitt et al., 2002) e, muitas vezes, a margem de
erro da correlação entre a idade biológica e a idade cronológica é demasiado elevada
para permitir conclusões forenses exactas.” (Introna & Campobasso, 2006:72).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
11
Uma das formas de atenuar esta problemática será aprofundar o estudo e conhecimento
do crescimento e desenvolvimento do ser humano ao longo das suas etapas de vida
(Bass, 1986).
1.3.2 METODOLOGIAS DE ESTUDO
Por não ser fácil encontrarem-se esqueletos completos, bem preservados e, pelo facto de
o material esquelético se poder fragmentar facilmente, tornou-se imprescindível desen-
volver técnicas para a estimativa da idade à morte com base no maior número possível
de ossos, desde que possuam indicadores de idade. De acordo com İşcan, quase todos os
ossos do corpo humano podem conter um indicador de idade, todavia, é essencial que
“saibamos onde os procurar, como os reconhecer e como os interpretar” (İşcan,
1989:14).
A pesquisa para determinar quais as regiões do esqueleto que exibem modificações
morfológicas associadas à idade tem sido extensa. Thompson e Black (2007) recomen-
dam que as modificações do esqueleto relacionadas com a idade sejam dividas em três
fases: crescimento e desenvolvimento; equilíbrio; e senescência. A fase de crescimento
e desenvolvimento inclui crianças e adolescentes; é, essencialmente, influenciada por
factores genéticos e ambientais; trata-se da fase em que, quiçá, seja mais simples efec-
tuar uma estimativa da idade mais exacta, pois os padrões de desenvolvimento para cada
idade são, razoavelmente, previsíveis e encontram-se, relativamente, bem documentados
(Thompson & Black, 2007). Na segunda fase (equilíbrio), as alterações no esqueleto
tornam-se muito mais variáveis, não só inter-populacionalmente, como também entre os
indivíduos de uma mesma população. Na última fase (senescência), o esqueleto sofre
degeneração que é, basicamente, determinada por “factores como o estado de saúde,
nutrição e funções endócrinas” (Thompson & Black, 2007:207). Esta será a fase em que
Ana Rodrigues 2011
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se torna mais difícil estimar a idade de um indivíduo e constitui um dos grandes pro-
blemas da Antropologia Forense (Klepinger, 2006; Thompson & Black, 2007; Katzen-
berg & Saunders, 2008).
Alguns autores (Rösing, et al., 2007) afirmam que métodos como a determinação da
racemização do ácido aspártico, a análise histológica do tecido ósseo e dentário ou a
contagem das camadas de crescimento no cimento dentário, são mais precisos e exactos
para a estimativa da idade à morte em adultos. Contudo, tratam-se de métodos que
envolvem equipamentos específicos que, nem sempre se encontram disponíveis, e pro-
cedimentos demasiado morosos (Martrille, 2006; Cunha et al., 2009).
Ao perscrutar a literatura, é notória a diferença de opiniões demonstrada pelos autores
acerca dos métodos a utilizar para estimar a idade à morte de indivíduos adultos desco-
nhecidos, em contextos forenses.
No decorrer da vida, todo o nosso organismo sofre modificações e adaptações – o
esqueleto não é excepção, passando por alterações cronológicas sequenciais ao longo do
tempo (Ritz-Timme et al., 2000; White & Folkens, 2005). Durante o período da infância
e adolescência, surge a dentição (posteriormente, a dentição definitiva), as epífises dos
ossos fundem-se com as diáfises; inclusivamente, depois da adolescência, a fusão dos
ossos continua, ocorrendo, também, degeneração progressiva (White & Folkens, 2005).
É nesta progressão de eventos osteológicos que se baseia a maioria dos estudos antropo-
lógicos de estimativa da idade à morte. Não obstante, é fundamental ressaltar que mes-
mo o desenvolvimento normal de um indivíduo (até o de uma criança) é “descontínuo”
(Lampl et al., 1992) e existe uma grande variação entre indivíduos diferentes no que
concerne à taxa e tempo de desenvolvimento das referidas mudanças osteológicas.
Assim, pode dizer-se que a estimativa da idade à morte de um indivíduo envolve a inter-
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
13
rupção discricionária do “continuum de crescimento” (White & Folkens, 2005:363).
Mais ainda, indivíduos que possuam a mesma idade cronológica podem exibir diferen-
tes graus de desenvolvimento (situação que é mais regra do que excepção); estes vieses
tornam a idade à morte um parâmetro altamente complexo de estimar (İşcan, 1989;
Ritz-Timme et al., 2000; Schmitt, 2005; Introna & Campobasso, 2006; Klepinger, 2006;
Katzenberg & Saunders, 2008; Cunha et al., 2009; Harth et al., 2009).
1.3.2.1 EM NÃO-ADULTOS
“De todos os parâmetros usados para identificar restos esqueléticos de crianças, a esti-
mativa da idade é o mais fiável” (Lewis & Favel, 2006:243).
Converter a idade biológica em idade cronológica, de forma exacta, é a base para efec-
tuar a estimativa da idade em indivíduos não adultos, através de aspectos do desenvol-
vimento e maturação óssea e dentária (White & Folkens, 2005; Lewis & Favel, 2006).
O desenvolvimento dentário é o indicador que melhor caracteriza a idade biológica,
uma vez que sofre menos influências externas do que outros elementos do esqueleto.
Por esta razão e, também, pelo facto de os dentes, ao serem elementos resistentes,
serem, frequentemente, encontrados em contextos forenses, arqueológicos e paleontoló-
gicos, são o indicador eleito para a estimativa da idade em não-adultos. Para estimar a
idade através da dentição podem ser aplicados métodos radiológicos, macroscópicos e
microscópicos. Os mais utilizados são a mineralização, erupção e desenvolvimento den-
tários, que seguem um padrão que “pode ser dividido em etapas” (Lewis & Favel,
2006:244). Devido à variação sexual neste indicador ser muito mais significativa para o
dente canino, não se deve ter em conta o referido dente ao proceder-se à avaliação da
idade através da erupção dentária (White & Folkens, 2005).
Ana Rodrigues 2011
14
Os métodos microscópicos de análise dentária ajudam a pelejar os erros que surgem na
interpretação da idade cronológica através da idade biológica, pois examinam marca-
ções características do desenvolvimento na microestrutura dentária, permitindo ao perito
atribuir uma “idade individual” (Lewis & Favel, 2006:247) ao sujeito em análise.
Quando os dentes não se encontram presentes, outros elementos do esqueleto têm que
ser usados para proceder à estimativa da idade em indivíduos não-adultos. O compri-
mento das diáfises dos ossos longos é um método muito empregue em fetos e recém-
nascidos. Em crianças mais velhas e adolescentes, utiliza-se a fusão das epífises com as
diáfises dos ossos do esqueleto pós-craniano, pois estas sucedem-se de forma progressi-
va e sequencial (White & Folkens, 2005; Lewis & Favel, 2006). Quando a fusão das
epífises e diáfises dos ossos longos está completa, alguns autores sugerem a sincondrose
occipital basilar para estimar a idade em adolescentes (apesar de ser fiável, unicamente,
para o sexo feminino) ou a fusão dos anéis vertebrais lombares e torácicos (Lewis &
Favel, 2006).
1.3.2.2 EM ADULTOS
Exceptuando o encerramento das suturas cranianas e a modificação da sínfise púbica
(“que se assemelha, em parte, a processos de maturação óssea” (Schmitt, 2002:54)),
para indivíduos adultos, os marcadores da idade baseiam-se, particularmente, nos indi-
cadores da senescência (Schmitt, 2002).
A sínfise púbica, a translucidez radicular, as alterações da superfície auricular, o aspecto
ventral das costelas e as suturas cranianas são dos indicadores da idade melhor docu-
mentados e mais empregues (Ferembach et al., 1979, Meindl & Lovejoy, 1985; Saun-
ders et al., 1992; Schmitt et al., 2006).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
15
Quando se fala em indivíduos adultos, pode falar-se num indivíduo com 25 anos ou
num indivíduo com 80 anos. Assim, alguns autores optaram por dividir o grupo dos
indivíduos adultos em três subgrupos, de modo a facilitar as classificações: “jovens
adultos” (até 40 anos), “adultos maduros” (mais de 40 anos) e “idosos” (mais de 65
anos) (Baccino & Schmitt, 2006:261-262).
A metamorfose da sínfise púbica é um dos métodos mais usados, senão o mais usado
para estimar a idade em indivíduos adultos. Esta estrutura sofre alterações, ao longo da
vida que são, razoavelmente, classificáveis. O primeiro sistema de classificação foi
desenvolvido por Todd, em 1920, que estipulou 10 fases, em três grandes etapas meta-
mórficas da sínfise. Em 1990, Suchey e Brooks, apoiando-se em estudos anteriores
(Brooks, 1955; Todd, 1920), dividiram essas metamorfoses morfológicas em apenas
seis fases (separadamente, para o sexo masculino e para o sexo feminino). Para facilitar
a classificação dos indivíduos, encontram-se disponíveis moldes de todas as fases para
comparação visual directa (McKern & Stewart, 1957; Suchey & Brooks, 1990; White &
Folkens, 2005; Baccino & Schmitt, 2006; Thompson & Black, 2007).
Mais recentemente, foram desenvolvidos procedimentos que fazem a conjugação de
dois ou mais métodos de estimativa da idade. Exemplo disso mesmo é o Two Step Pro-
cedure (TSP) (i.e., o método dos dois passos). Trata-se de uma metodologia que com-
plementa, “cronologicamente, não matematicamente” (Baccino & Schmitt, 2006:262) o
método de estimativa da idade através da sínfise púbica de Suchey e Brooks (SBS- sis-
tema de Suchey-Brooks) com o método desenvolvido por Lamendin, baseado na denti-
ção (Lamendin et al., 1992; Baccino & Schmitt, 2006). Primeiramente, deve examinar-
se a sínfise púbica do indivíduo, de modo a poder classificá-lo numa das fases do SBS
(seja como adulto jovem (I, II ou III) ou mais velho (IV, V ou VI)); isto permite uma
pré-escolha, pois se o indivíduo for alocado nas fases I, II ou III do SBS, será este o
Ana Rodrigues 2011
16
método usado para estimar a idade; se o indivíduo for classificado numa das fases pos-
teriores do SBS, aplicar-se-á, então, o método de Lamendin (Suchey & Brooks, 1990;
Lamendin et al., 1992; Baccino & Schmitt, 2006). O método de Lamendin não varia
para os sexos e baseia-se na translucidez dos dentes uni-radiculares (Lamendin et al.,
1992; Martrille, 2006; Baccino & Schmitt, 2006). Estes dois métodos são apenas com-
plementares e não conjuntos. Como expectável, o TSP revela um nível de eficácia mais
elevado que os métodos SBS ou de Lamendin usados em separado (Baccino & Schmitt,
2006). O TSP é de simples e rápida aplicação, não apresentando grandes variações
inter-observador e ambos os métodos que o constituem foram desenvolvidos em amos-
tras de referência “multi-regionais” (Baccino & Schmitt, 2006:268), de grande tamanho;
continuando a ser testados e avaliados com resultados satisfatórios. Apesar de ser um
bom método para estimar a idade em indivíduos adultos com idades compreendidas
entre os 40 e os 65 anos, não funciona bem para idades superiores a esta. Naturalmente,
os resultados também serão negativamente influenciados em indivíduos que exibam
doença periodontal grave (Lamendin et al., 1992; Baccino & Schmitt, 2006).
Lovejoy e colegas (1985) estudaram a superfície auricular do ilium, como indicador da
idade e defenderam que esta estrutura possuía algumas vantagens em relação à sínfise
púbica, nomeadamente, por ser mais resistente (logo, com maior probabilidade de se
encontrar bem preservada em contextos forenses e arqueológicos) e por as alterações
que nela se registam, continuarem a manifestar-se bem para além dos 50 anos de idade.
İşcan e Loth (1986) propuseram as alterações (“aparência, formato, textura e qualidade
geral”) da extremidade esternal da quarta costela como um indicador da idade, apesar de
ser variável com o sexo. Definiram nove fases, em que na primeira, a extremidade da
costela se apresenta com margens regulares e arredondadas, e plana ou ligeiramente
ondulada. Com a idade, os rebordos vão-se tornando cada vez mais irregulares e mais
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
17
finos (İşcan & Loth, 1986). Existem moldes detalhados, que facilitam a comparação
visual directa. Alguns autores criticaram este novo método devido a, por vezes, ser
impossível identificar a quarta costela quando o esqueleto se encontra incompleto; por
isso, surgiram estudos posteriores, aplicando os princípios básicos do método proposto
por İşcan e Loth às extremidades esternais de outras costelas (İşcan & Loth, 1986; Whi-
te & Folkens, 2005; Baccino & Schmitt, 2006).
Métodos histológicos, como a observação da remodelação cortical óssea (e.g.: Kerley,
1965; Singh & Gunberg, 1970; Thompson, 1979; Stout, 1992, 1996; Prieto, 1993; Stein,
Thomas, 1995, 1999; Cho, 2002; Martrille, 2003) (Martrille, 2006), contagem dos
osteões (Cunha et al., 2009), entre outros, são métodos (alguns) mais recentes e igual-
mente válidos, porém, não serão descritos, pois o tema deste trabalho não se insere nes-
sa temática.
Todavia, dos métodos supramencionados, o mais controverso e mais antigo é o encer-
ramento das suturas cranianas, que será analisado em separado, adiante.
1.3.3 ALGUMAS NOÇÕES ANATÓMICAS DO CRÂNIO
O crânio é o elemento mais complexo do esqueleto humano (Gray, 2003; Drake et al.,
2005). Na altura do nosso nascimento, o crânio é constituído por 45 elementos indivi-
duais e é bastante grande, relativamente a outras partes do corpo. Durante o desenvol-
vimento, o crânio passa por fases importantes, tais como a erupção dentária, endureci-
mento das fontanelas, encerramento das suturas, aumento do tamanho dos seios nasais
(figura 2) (Gray, 2003; Drake et al., 2005; White & Folkens, 2005).
Ana Rodrigues 2011
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Figura 2 - Crescimento no crânio humano (adaptado de White & Folkens, 2005)
No indivíduo adulto, o esqueleto craniano é composto por vinte e nove ossos (crânio e
face), sendo que oito constituem o crânio, em si: occipital, (dois) parietais, frontal,
(dois) temporais, esfenóide e etmóide (figura 4) (Sobotta, 2000; Gray, 2003; Drake et
al., 2005).
Figura 3 - Estrutura interna do osso craniano (adaptado de Drake et al., 2005)
recém-nascido
três anos
seis anos adulto idoso
jovem adulto
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
19
O osso craniano é composto por três camadas (Jaslow, 1990); as camadas interior e
exterior (respectivamente, tabula interna e tabula externa) são formadas por osso com-
pacto, e a camada intermédia (o diplöe) é constituída por osso esponjoso (figura 3)
(Sobotta, 2000; Gray, 2003; Drake et al., 2005; White & Folkens, 2005).
O osso frontal (ímpar) localiza-se na zona frontal do neurocrânio (Sobotta, 2000; Gray,
2003; Drake et al., 2005; White & Folkens, 2005). Pode apresentar, na linha média, a
sutura metópica, ou o que resta dela, em indivíduos adultos (figuras 4, 10 e 11). A
extremidade superior do osso frontal é, normalmente, denteada e articula com os ossos
parietais, através da sutura coronal. A extremidade orbitária articula com os ossos
nasais, lacrimais, zigomáticos, com o osso esfenóide e com o osso etmóide (figura 4)
(Sobotta, 2000; Gray, 2003; Drake et al., 2005)
Os ossos parietais (pares) formam o tecto e as laterais da abóbada craniana. Cada parie-
tal articula com o oposto, com o osso frontal, o occipital, o temporal e o esfenóide (figu-
ra 4). A articulação dos dois ossos parietais é feita através da sutura sagital; a sutura
lambdóide constitui a articulação entre o osso occipital e os dois ossos parietais (figura
4 (B)) (Sobotta, 2000; Gray, 2003; Drake et al., 2005; White & Folkens, 2005).
Os ossos temporais (pares) alojam os órgãos da audição, compõem a superfície superior
da articulação temporo-mandibular e formam a transição entre a parte lateral e a base da
caixa craniana. A escama do temporal articula com os parietais, através da sutura esca-
mosa (figura 4 (B)). Cada temporal articula com o temporal oposto (através da sutura
sagital), o occipital (através da sutura lambdóide), o esfenóide, o zigomático e com a
mandíbula (Sobotta, 2000; Gray, 2003; Drake et al., 2005; White & Folkens, 2005).
Ana Rodrigues 2011
20
O osso occipital (ímpar) localiza-se na região postero-inferior do crânio. Possui um
grande orifício na base, o foramen magnum, por onde passa, inferiormente, o tronco
cerebral para o canal vertebral. O occipital articula com os parietais, os temporais, o
Figura 4 - (A) Vista anterior do crânio (modificado de McKinley & O‟Loughlin, 2006). (B) Vista lateral do crânio (modificado de McKinley & O‟Loughlin, 2006).
Região escamosa do temporal
(A)
(B)
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
21
esfenóide e o atlas (primeira vértebra) (figura 4 (B)) (Sobotta, 2000; Gray, 2003; Drake
et al., 2005).1
Figura 5 - Representações esquemáticas de: (A) uma sutura plana, (B) uma sutura denteada, (C) uma
sutura escamosa e (D) sua secção (adaptado de Platzer, 1991)
Os ossos cranianos encontram-se em articulação através das suturas - bandas de tecido
fibroso conectivo (Gray, 2003; Drake et al., 2005). De acordo com a sua forma as sutu-
ras classificam-se como: planas (figura 5 (A)), como a internasal; denteadas (figura 5
(B)), como a sagital; e escamosas (figura 5 (C e D)), como temporo-parietal (Platzer,
1991). 1 Por não serem relevantes para o presente trabalho e para não tornar esta revisão de anatomia demasiado maçadora, os restantes
ossos cranianos não serão descritos.
A B
C D
Ana Rodrigues 2011
22
De acordo com a localização as suturas cranianas podem ser divididas em três conjun-
tos: as que se situam na base, as que se situam nas laterais e as que se situam na abóba-
da do crânio (Gray, 2003; Drake et al., 2005). São apenas mencionadas as suturas da
abóbada do crânio, pois foram as estudadas neste trabalho: são a sagital (interparietal), a
coronal (fronto-parietal) e a lambdóide (occipito-parietal) (figuras 4 e 6) (Gray, 2003).
Figura 6 - Vista superior do crânio (modificado de Drake et al., 2005)
Krogman e İşcan (1986) afirmaram que as suturas cranianas são análogas às articula-
ções das epífises, pois possuem bases de crescimento e timing2 de fusão similares.
2 Por não existir uma palavra em português com o mesmo conceito, optou-se pela palavra inglesa ao longo do trabalho, para definir
o “momento sincrónico”, o decorrer do tempo até à altura em que se dá determinado evento.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
23
Nos indivíduos jovens as suturas cranianas apresentam-se como estruturas simples, rec-
tas e muito largas (Singer, 1953). Os ossos cranianos, nestes indivíduos, articulam entre
si através de um tecido reticular, elástico e colagenoso. Com o avançar da idade, as
cavidades do osso esponjoso que constituem o diplöe aumentam em número e em tama-
nho e o osso cortical que forma a camada mais exterior – a tabula externa – diminui em
espessura. As fibras do tecido reticular conectivo são reduzidas, o que acarreta o estrei-
tamento da articulação (sutura), as margens dos ossos cranianos tornam-se irregulares,
devido à proliferação de espículas ósseas e, apesar de ser variável, a morfologia das
suturas, torna-se cada vez mais complexa (Sabini & Elkowitz, 2006).
Quando dois ossos adjacentes se unem, a sutura deixa de ser móvel. Tal tendência (tran-
sição de articulações totalmente abertas a articulações completamente unidas) parece
dever-se, entre outras, ao efeito de forças mecânicas (Jaslow, 1990). Em alguns indiví-
duos, no entanto, pode acontecer um fenómeno que Todd denominou de lapsed union3,
em que ocorre a acumulação de tecido ósseo na margem da sutura, não se completando
o processo de encerramento (Todd & Lyon, 1924, 1925; Rogers, 1982; Krogman &
İşcan, 1986).
1.3.4 O CRÂNIO COMO ELEMENTO DE ESTUDO NA ESTIMATIVA DA IDADE À MORTE
O aspecto relativo às suturas cranianas mais estudado é o grau do seu encerramento e,
como tal, tem tido uma história que se pode classificar de interessante (Meindl & Love-
joy, 1985).
“Poucos problemas em Antropologia suscitaram tantas afirmações contraditórias como
o da estimativa da idade à morte através da sinostose das suturas cranianas” (Masset,
3 Por não ser uma expressão traduzível, a autora preferiu mantê-la no inglês original, ao longo de todo o trabalho.
Ana Rodrigues 2011
24
1982:4). Apesar de ser um método usado desde o séc. XVI (Meindl & Lovejoy, 1985), a
sua fiabilidade e precisão são ainda bastante debatidas.
Sendo o corpo humano “altamente adaptável”, alguns autores asseveram ser improvável
que a idade seja o único factor a influenciar o encerramento das suturas cranianas (Key
et al., 1994; Sabini & Elkowitz, 2006). Apesar de existir influência de factores intrínse-
cos no encerramento das suturas, são evidentes os efeitos de factores extrínsecos ou
ambientais nas características destas, como forças de tensão, o crescimento do cérebro e
exigências de músculos activos (Sabini & Elkowitz, 2006).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
25
A variabilidade no encerramento e morfologia das suturas é muito elevada e pode
envolver diversas modificações (Jaslow, 1990; Sabini & Elkowitz, 2006), todas elas
afectando de modo diferente esse processo:
Craniossinostose (figura 7): trata-se de uma situação na qual as suturas, nas
crianças, encerram mais cedo que a idade normal esperada. O encerramento prematuro
das suturas provoca deformações no crânio e o cérebro (crescimento e desenvolvimen-
to) poderá ser afectado. A causa mais frequente da craniossinostose é a assimetria cra-
niana (Bolk, 1915; Živanoviš, 1983; Hauser et al., 1991; White, 1996).
Figura 7 - (A) Vista anterior de um crânio de uma criança com encerramento assimétrico da sutura coro-
nal (adaptado de Khanna et al., 2011);
(B) Vista superior do mesmo crânio (adaptado de Khanna et al., 2011).
Interdigitação (figura 8): as suturas cranianas são, inicialmente, estruturas sim-
ples e rectas, mas tornam-se mais complexas, desenvolvendo interdigitações através de
processos de crescimento e reabsorção óssea. Estudos demonstraram que as inter-
Ana Rodrigues 2011
26
digitações auxiliam na transmissão de forças de um osso craniano para outro. Quanto
mais complexas forem as interdigitações ou mais tempo uma sutura se mantém aberta,
maior é a força nessa sutura específica. Reciprocamente, a ausência de crescimento ou
movimento resultarão, possivelmente, na obliteração da sutura (Sabini & Elkowitz,
2006; Herring, 2008; Rice, 2008). Os resultados do estudo realizado por Jaslow (1990)
evidenciam que suturas altamente interdigitadas têm maior flexibilidade e absorvem
mais energia, devido à presença de fibras de colagénio adicionais e ao acréscimo da área
de superfície da articulação (Herring, 2008; Rice, 2008).
Figura 8 - Exemplo do desenvolvimento da sutura sagital, que passa de uma estrutura simples e plana (a)
a uma estrutura complexa, com inúmeras interdigitações (c); diferente plano das interdigitações (d). p - osso parietal; ss - sutura sagital (adaptado de Rice, 2008).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
27
Ossículos supranumerários (figura 9): são ossos pequenos e irregulares que se
desenvolvem a partir de centros de ossificação adicionais, localizados ao longo das
suturas cranianas e no interior das fontanelas (White, 1996; White & Folkens, 2005;
Rice, 2008). A presença de ossículos supranumerários é variável, mas tipicamente bas-
tante elevada, sobretudo na sutura lambdóide, com causas genéticas e ambientais (Whi-
te, 1996). Alguns estudos indicam que a presença de ossículos supranumerários impede
a obliteração das suturas (Nayak, 2008, Verma et al., 2010).
Figura 9 - Vista posterior de um crânio com dez ossículos supranumerários na sutura lambdóide (adapta-
do de Nayak, 2008).
Metopismo (figuras 10 e 11): é a persistência da sutura metópica4 na idade adulta.
Normalmente, a sutura metópica encerra entre o primeiro e segundo ano de idade e
encontra-se completamente obliterada aos três anos, embora possa permanecer patente
até por volta dos sete anos (Bolk, 1915; Zumpano et al., 1999; White & Folkens, 2005).
4 A sutura metópica é a sutura que divide bilateralmente o osso frontal, à nascença. Estende-se desde o nasion até à fontanela ante-
rior. A sua fusão inicia-se no nasion e continua superiormente, de forma progressiva, até atingir a fontanela (Weinzweig, 2003)
Ana Rodrigues 2011
28
O metopismo manifesta-se em cerca de 8% da população adulta; pode ter variadas cau-
sas, como o crescimento anormal dos ossos do crânio, interrupção do crescimento, for-
ças mecânicas, disfunções hormonais, hereditariedade ou factores genéticos (Masset,
1982). Esta condição pode interferir no processo de encerramento das restantes suturas
cranianas, parecendo diminuir a propensão para a sua obliteração (Masset, 1982).
Figura 10 - Sutura metópica, que se estende
desde o nasion (A) ao bregma (B) (adaptado de
Castilho et al., 2006).
Figura 11 - Sutura metópica, que se estende
desde o nasion (A) ao bregma (B), exemplar da
colecção Luís Lopes (Rodrigues e Vieira, 2010).
Apesar se serem inúmeros os factores que podem afectar o encerramento das suturas
cranianas e a complexidade dos padrões suturais, sabe-se ainda muito pouco acerca da
exacta funcionalidade do encerramento das suturas e as suas várias fases.
1.3.5 ESTUDOS COMPLEMENTARES
Se existe um mecanismo selectivo para o encerramento das suturas cranianas, só pode
ser descoberto e estudado através da observação do encerramento das suturas em huma-
nos, restos fossilizados e primatas antropóides (Key et al., 1994). Um dos pioneiros
neste tipo de estudo foi Bolk (1915), que observou crânios de platirrinos, catarrinos e
A A
B
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
29
grandes símios. Bolk concluiu que o encerramento prematuro era um exemplo de um
fenómeno atávico. Em 1930, Krogman descreveu as sequências de obliteração das sutu-
ras cranianas e faciais em oito espécies de primatas, incluindo gorilas, chimpanzés,
orangotangos, gibões, babuínos e macacas. Obteve conclusões muito semelhantes às de
Todd e Lyon (com crânios humanos), ou seja, existia uma propensão para as suturas
iniciarem o encerramento endocranialmente.
No final da década de 1980, Falk et al. (1989) estudaram 330 moldes internos de crâ-
nios de macacos rhesus (Macaca mulatta) com idades conhecidas e compararam os
resultados com os obtidos por Todd e Lyon (em 1924 e 1925) e por Meindl e Lovejoy
(em 1985). Foi observada uma forte relação entre a idade e o encerramento das suturas
para os macacos rhesus, apesar de que, tal como se verificou nos humanos, esta relação
decrescia muito nos indivíduos mais idosos (Falk et al., 1989).
1.3.6 ESTUDOS RELEVANTES
Foram realizadas observações do encerramento das suturas cranianas, primeiramente,
no séc. IV a.C., por Hipócrates, apesar de não terem sido utilizadas como ferramenta de
identificação relacionada com a idade até muito mais tarde (Todd & Lyon, 1924;
McKern & Stewart, 1957). É a Vesalius e ao seu pupilo Fallopius, em 1542, que se atri-
bui o facto de, pela primeira vez, notarem a progressão do encerramento das suturas
cranianas com a idade (Todd & Lyon, 1924; Ashley-Montagu, 1938; Singer, 1953;
Masset, 1982; Masset, 1989; Hershkovitz et al., 1997; Beauthier et al., 2010).
Apesar de existirem algumas descrições iniciais da variação do encerramento das sutu-
ras cranianas, somente a partir do séc. XIX foram publicados estudos científicos acerca
deste assunto.
Ana Rodrigues 2011
30
Nas próximas linhas descrevem-se, cronologicamente, as metodologias e conclusões de
alguns dos mais relevantes estudos, dos últimos 160 anos.
1.3.6.1 {1856 - 1920}: PRIMEIROS ESTUDOS
Antes de 1856, não havia sido conferida grande importância à observação das alterações
a nível do crânio, motivadas pelo avançar da idade. De acordo com Todd e Lyon (1924)
e Ashley-Montagu (1938), foi somente em meados do séc. XIX que Gratiolet (1856)
descreveu, pela primeira vez, que o encerramento das suturas exocranianas progredia de
forma sequencial, com a idade (McKern & Stewart, 1957; Masset, 1982). Em 1861, o
médico francês Broca estudou crânios de indivíduos do sexo masculino, com idades
superiores a 50 anos e examinou as suturas visíveis. Desenvolveu um sistema de 4 pon-
tos para a classificação do grau de encerramento das suturas (Todd & Lyon, 1924). Em
1862, o arqueólogo alemão Welcker concluiu que o encerramento das suturas se afigu-
rava como um método promissor para a estimativa da idade, não obstante alguns resul-
tados contraditórios e uma grande insuficiência de estudos acerca do tema.
Em 1869, Pommerol constatou que o período de união para cada sutura variava entre
indivíduos, mas seguia um padrão geral (Todd & Lyon, 1924; Masset, 1982), identifi-
cando a seguinte sequência:
1) indivíduos com <35 anos tinham suturas cranianas abertas;
2) indivíduos com ≈40 anos, sutura sagital iniciava encerramento;
3) indivíduos com 50 anos, sutura coronal começava a encerrar;
4) indivíduos com >65 anos, sutura escamosa terminava encerramento (Todd & Lyon,
1924).
Sauvage (1870), explicou que o encerramento das suturas cranianas tinha o seu início
na superfície endocraniana e que o tempo de encerramento de uma sutura não era afec-
tado pelo seu grau de complexidade, pois a obliteração completa ocorria, caracteristi-
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
31
camente, aos 45 anos de idade e as suturas exocranianas raramente encerravam por
completo (Singer, 1953; McKern & Stewart, 1957).
No ano de 1885, foram dois os investigadores proeminentes no estudo das suturas cra-
nianas, Topinard e Ribbé. O primeiro estipulou que se todas as suturas cranianas se
encontrassem abertas, o indivíduo teria menos de 35 anos; se a zona posterior da sutura
sagital tivesse começado a encerrar, o crânio rondaria os 40 anos; se a sutura coronal
tivesse iniciado o encerramento junto ao bregma, o indivíduo teria 50 anos ou mais
(Sahni et al., 2005). Ribbé examinou 50 crânios com idades conhecidas, 40 dos quais
eram caucasianos e os restantes 10 seriam, presumivelmente, negróides (Todd & Lyon,
1924). Registou a primeira ocorrência de união nas suturas em indivíduos com 21 anos
e a última em indivíduos com 55 anos de idade. Servindo-se da média, Ribbé concluiu
que o encerramento das suturas se iniciava entre os 40 e os 45 anos de idade (desvio
padrão: 15-20 anos) e que, exocranialmente, as suturas sagital e lambdóide encerravam
previamente à coronal (Todd & Lyon, 1924). Em 1890, Dwight afirmou que, antes de
atingir os 30 anos, todas as suturas cranianas se encontravam abertas; que o encerramen-
to das suturas começava endocranialmente e que sucedia mais cedo nos indivíduos do
sexo masculino. Dwight concluiu que o encerramento se tratava de um processo irregu-
lar e, como tal, sem valor indicativo da idade (Dwight, 1890; Todd & Lyon, 1924;
McKern & Stewart, 1957; Masset, 1982).
Em 1905, Parsons e Box examinaram 82 crânios, masculinos e femininos, com idades
conhecidas (Todd & Lyon, 1924). Os dois investigadores concluíram que, nos crânios
saudáveis, o encerramento, raramente, ocorria em indivíduos com idades inferiores a 30
anos; a partir dos 60 anos, todas as suturas endocranianas se encontravam, completa-
mente, obliteradas. Parsons e Box (1905) determinaram que as suturas menos denteadas
(mais simples) fechavam antes que as outras e que não existiam diferenças nos períodos
Ana Rodrigues 2011
32
de encerramento entre o lado direito e o lado esquerdo do crânio. Propuseram, ainda,
que a lambdóide seria a última das suturas da abóbada craniana a encerrar completa-
mente (Todd & Lyon, 1924; Ashley-Montagu, 1938). Parsons e Box (1905) inferiram
sobre o trabalho de Dwight (1890), corroborando as suas conclusões sobre o encerra-
mento das suturas cranianas acontecer mais tarde nas mulheres, bem como de as suturas
exocranianas serem tão variáveis que não deveria ser feita qualquer estimativa da idade
baseada nestas, particularmente, quando fosse possível observar o interior do crânio
(Todd & Lyon, 1924; Ashley-Montagu, 1938; Krogman, 1962).
Frédéric, em 1906, estudou 344 crânios, tornando-se no primeiro investigador com
uma amostra de grandes dimensões. Todavia, apenas 104 crânios, de ambos os géneros,
do total da amostra haviam sido autopsiados, permitindo o estudo da superfície endo-
craniana. Frédéric (1906) apresentou a sua própria escala de classificação do grau de
obliteração das suturas cranianas, com 5 graus (figura 16 (B)): de 0 a 4, em que o 0 cor-
respondia à sutura totalmente aberta e o 4 correspondia à sutura totalmente obliterada
(Todd & Lyon, 1924; Krogman, 1962; Ferembach et al., 1979; Masset, 1982). Ao exa-
minar as suturas endocranianas, Frédéric verificou que a sutura lambdóide encerrava
posteriormente à sutura sagital e à coronal (Todd & Lyon, 1924). Frédéric deduziu,
então, que seria impossível um intervalo de precisão inferior a 10 anos na estimativa da
idade de um crânio através deste método. Determinou, também, que o encerramento das
suturas cranianas ocorria mais tarde nas mulheres, concordando, assim, com Dwight
(1890) e Parsons e Box (1906) (Todd & Lyon, 1924; McKern & Stewart, 1957; Krog-
man, 1962; Masset, 1982).
No ano de 1915, numa amostra de 1820 crânios de indivíduos jovens caucasianos, Bolk
calculou a frequência absoluta da ocorrência de encerramento prematuro. A partir desta
análise, o autor propôs uma nova terminologia para o encerramento das suturas: “preco-
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
33
ce” (encerramento antes dos sete anos de idade) e “prematuro” (encerramento após os
sete anos de idade, mas antes da idade „normal‟ para o encerramento) (Bolk, 1915).
1.3.6.2 {1920 - 1936}: A ERA DE TODD & LYON
Os resultados e conclusões, até esta data, apresentavam-se muito contraditórios, o que,
frequentemente, advinha do facto de as amostras serem, estatisticamente, desadequadas
(McKern & Stewart, 1957).
Em 1924, Todd e Lyon abordaram três condições importantes, anteriormente, negli-
genciadas: o reduzido tamanho das amostras estudadas, bem como o facto de serem
constituídas por indivíduos com a mesma ancestralidade; os indivíduos terem, geral-
mente, idades desconhecidas ou não confirmadas; e, por fim, o facto de existirem pou-
cos crânios autopsiados, não permitindo analisar a superfície endocraniana com facili-
dade e precisão. Agravando esta situação, a não especificação, por parte dos autores, se
os resultados e conclusões se referiam às suturas exo- ou endocranianas (Todd & Lyon,
1924; McKern & Stewart, 1957).
Todd e Lyon (1924) propuseram-se, então, a “apresentar os factos respeitantes ao encer-
ramento das suturas cranianas” (Todd & Lyon, 1924:326). Com o objectivo de colmatar
todos estes problemas e dificuldades, Todd e Lyon, durante os anos de 1924 e 1925,
escreveram quatro trabalhos sobre o encerramento das suturas endo- e exocranianas, em
indivíduos adultos caucasianos e negróides. Esta investigação teve o objectivo específi-
co de conceber um sistema numérico e preciso de classificação do grau de encerramento
das suturas cranianas, até à altura inexistente, na opinião dos autores (McKern & Ste-
wart, 1957; Krogman, 1962; Masset, 1982). Todd e Lyon afirmaram:
“ […] investigadores anteriores tornaram-se confusos na sua interpretação […]. Até nós
termos reunido o material datado com precisão no Museu Hamann, ninguém possuía
Ana Rodrigues 2011
34
uma colecção suficiente de crânios com idades conhecidas, para justificar a interpreta-
ção da relação do encerramento das suturas com a idade” (Todd & Lyon, 1924:355).
Inicialmente, os dois investigadores examinaram mais de 1.000 crânios, dos quais rejei-
taram os de idade desconhecida e os que não possuíam esqueleto pós-craniano, para
posterior estudo comparativo. Resultou, assim, uma amostra com 365 indivíduos cauca-
sianos e 149 indivíduos negróides. Esta amostra sofreu nova redução, ao serem excluí-
dos os crânios que os autores consideraram não-normais, ou seja, com encerramento
irregular das suturas cranianas (Todd & Lyon, 1924; Singer, 1953; Krogman, 1962;
Masset, 1982). Todd e Lyon afirmaram estar confiantes nas suas rejeições, uma vez que,
desta forma, puderam examinar o esqueleto completo e cruzar informações com a
documentação legal dos indivíduos. O intervalo de idades dos indivíduos pertencentes à
amostra final foi dos 18 aos 84 anos (Todd & Lyon, 1924).
Todd e Lyon (1924) agruparam as suturas cranianas e adoptaram métodos de estudos
anteriores: do trabalho de Broca (1861), adoptaram o arranjo da “complicação”5 das
suturas, a escala de classificação dos graus de obliteração e subdivisão de determinadas
suturas; de Frédéric (1906), a inversão da categorização da quantidade de encerramento
das suturas, de 0 a 4.
De modo a tornar os resultados gráficos mais harmoniosos, Todd e Lyon optaram por
utilizar intervalos de três anos, em vez de idades reais; eliminar crânios que apresentas-
sem progresso irregular no encerramento das suturas e com desvios no crescimento do
esqueleto pós-craniano (Todd & Lyon, 1924; McKern & Stewart, 1957). Das observa-
ções preliminares, os autores concluíram que existia “uma clara sequência ordenada de
idade no progresso do encerramento das suturas” (Todd & Lyon, 1924:333). Na parte I
5 Em inglês “complication”. Refere-se ao que, mais tarde, se denominou como tipo de sutura de acordo com a forma (denteada,
plana, escamosa), ou seja, se a sutura é mais simples ou mais “recortada”.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
35
do seu trabalho, publicada em 1924, Todd e Lyon afirmaram que o encerramento das
suturas endocranianas nos indivíduos caucasianos do sexo masculino era mais activo
entre os 26 e os 30 anos de idade; que o fenómeno de lapsed union era mais frequente
na sutura lambdóide; e que o encerramento das suturas só se correlacionava com a idade
quando a amostra possuía grandes dimensões e não a um nível individual (Todd &
Lyon, 1924; McKern & Stewart, 1957).
“Os nossos resultados apresentam um valor explícito, mas apenas quando tidos em con-
ta, conjuntamente, com indicações dadas por outras partes do esqueleto.” (Todd &
Lyon, 1924:380).
Em 1925, Todd e Lyon publicaram três trabalhos que constituíram o seguimento do
referido estudo.
Na parte II, Todd & Lyon (1925a) estudaram as suturas exocranianas em indivíduos
caucasianos adultos do sexo masculino. Deste estudo, os autores chegaram às seguintes
conclusões: as suturas exocranianas manifestavam encerramento mais lento e mais
variável; a união das suturas exocranianas nunca se mostrou tão completa como nas
endocranianas (que haviam estudado na parte I do trabalho); exocranialmente, era evi-
dente a existência de lapsed union em todas as suturas (Todd & Lyon, 1925a).
Na parte III da sua investigação (Todd & Lyon, 1925b), Todd e Lyon concentraram o
seu estudo no encerramento das suturas da superfície endocraniana em indivíduos
negróides do sexo masculino. Os dois investigadores acreditavam ser um estudo deveras
importante, uma vez que tentavam discernir se o seu primeiro trabalho sobre indivíduos
caucasianos do sexo masculino poderia ser aplicado como procedimento padrão para
diferentes ancestralidades. Todd e Lyon rejeitaram muitos crânios que, mais uma vez,
classificaram de anormais, devido a atrasos no encerramento. Ora, os dois investigado-
Ana Rodrigues 2011
36
res concluíram que existia “qualquer coisa de diferente” a acontecer no crânio dos indi-
víduos de “raça6 negra” (Todd & Lyon, 1925b:48), o que se poderia classificar como
variação genética específica da população negróide (Todd & Lyon, 1925b).
Na parte IV, Todd e Lyon estudaram o encerramento das suturas exocranianas em 79
crânios de indivíduos adultos negróides do sexo masculino. No final do estudo, os auto-
res concluíram que os padrões de encerramento das suturas exocranianas eram, essen-
cialmente, os mesmos nos indivíduos caucasianos e negróides do sexo masculino; que o
encerramento das suturas exocranianas era mais errático, mais lento e mais incompleto
do que o encerramento das suturas endocranianas, que haviam estudado em trabalhos
anteriores; que a presença de lapsed union era característica de todas as suturas exocra-
nianas, apesar de não surgir em todos os indivíduos (Todd & Lyon, 1925c).
Dos quatro trabalhos, Todd e Lyon (1924, 1925a, 1925b, 1925c) puderam concluir que
não existiam diferenças no encerramento das suturas cranianas entre indivíduos negrói-
des e caucasianos; relativamente aos sexos, inferiram que o encerramento ocorria pri-
meiramente nas mulheres, apesar de os intervalos não serem grandes.
1.3.6.3 {1937 - 1955}: DEPOIS DE TODD & LYON
Os trabalhos de Todd e Lyon (1924, 1925a, 1925b, 1925c) foram fortemente criticados,
particularmente, pela sua decisão de rejeitar todos os crânios com padrões de encerra-
mento acelerados ou retardados (“anormais”), chegando aos 40 crânios caucasianos (em
307) e 41 crânios negróides (em 120). Este tipo de rejeição provocou um inevitável viés
nos dados, levando a uma falsa homogeneidade da amostra que, por seu turno, fomen-
tou uma considerável fonte de erro (Masset, 1989). Singer (1953) e McKern e Stewart
6 O termo “raça” está referenciado aqui por ter sido transcrito do trabalho dos investigadores. Durante todo o trabalho, o termo
utilizado para referir este parâmetro de identificação é “ancestralidade”.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
37
(1957) teceram, também, críticas relativas à forma como Todd e Lyon (1924, 1925a,
1925b, 1925c) decidiram atenuar as curvas dos gráficos.
Masset (1989) realçou que os resultados contraditórios obtidos por Todd e Lyon (1924,
1925a, 1925b, 1925c) e, anteriormente, por Frédéric (1906), haviam sido negligenciados
durante décadas devido à barreira linguística, facto que não impediu muitos autores de
continuarem a citar Todd e Lyon (1924, 1925a, 1925b, 1925c) e de empregarem os seus
métodos, durante os anos que se seguiram.
Em 1937, Cattaneo estudou 100 crânios argentinos, inferindo que o encerramento das
suturas cranianas poderia apenas fornecer um mero indicador sugestivo da idade
(Krogman, 1962).
Hrdlicka, em 1939, asseverou que o encerramento das suturas endocranianas era, uni-
camente, fiável num intervalo de dez anos, acima e abaixo da idade prevista (Krogman,
1962).
Em 1952, Cobb empregou a metodologia de Todd e Lyon (1924, 1925a, 1925b, 1925c)
e, corrigindo Hrdlicka (1939), afirmou que o encerramento das suturas cranianas (não só
das endocranianas, como Hrdlicka havia atestado) era fiável, apenas, num intervalo de
nove anos, acima e abaixo da idade prevista (Krogman, 1962). O debate do tema encon-
trava-se aceso, com os autores a lutarem por uma posição de relevo na investigação
sobre o encerramento das suturas como método para estimar a idade à morte.
No ano de 1953, Singer classificou o encerramento das suturas cranianas (tanto endo-
como exocranianas) como um método dúbio e perigoso. Tendo observado as suturas da
abóbada craniana em 430 crânios de várias ancestralidades, Singer (1953) considerou
que os crânios anormais rejeitados por Todd e Lyon (1924, 1925a, 1925b, 1925c) por
Ana Rodrigues 2011
38
apresentarem padrões não usuais de obliteração das suturas eram, na verdade, muito
frequentes. Com a sua investigação, Singer concluiu que existia uma tendência, em
ambos os sexos, para as suturas cranianas nunca encerrarem completamente, ou encerra-
rem muito mais cedo que o previsto por Todd e Lyon, daí não ser possível fazer qual-
quer estimativa da idade através do encerramento das suturas, quer individualmente,
quer em conjunto; quer exo-, quer endocranialmente (Singer, 1953; McKern & Stewart,
1957).
1.3.6.4 {1955 - 1957}: 2 ANOS, 2 GRANDES ESTUDOS
Brooks (1955) foi também uma das autoras que criticou o método do encerramento das
suturas cranianas, mormente, a sua falta de aplicabilidade em paleodemografia. Brooks
utilizou os métodos de estimativa de idade à morte desenvolvidos por Todd (encerra-
mento das suturas cranianas e alterações da sínfise púbica) e a mesma amostra osteoló-
gica identificada (proveniente da Colecção Hamann-Todd), com o intuito de averiguar
se se tratavam de métodos aplicáveis a outras ancestralidades, que não a caucasiana ou a
negróide, e de determinar a correlação existente entre os dois ditos métodos, quando
aplicados a um só indivíduo. Todavia, Brooks estudou as suturas cranianas e as sínfises
púbicas isoladamente do resto do esqueleto (Brooks, 1955).
A determinação do sexo dos indivíduos era feita através do índice isquio-púbico, sem-
pre que possível, largura da chanfradura ciática, ângulo sub-púbico, morfologia geral do
crânio e da mandíbula (Brooks, 1955). A estimativa da idade era baseada numa escala
de 5 pontos (0- completamente aberta, até 4- completamente fechada) como havia, ana-
logamente, aplicado Todd (Todd & Lyon, 1924, 1925a, 1925b, 1925c). A autora afir-
mou, então, que:
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
39
“Não há forma de comprovar a eficácia, tanto da idade craniana, como da idade púbica,
sendo estas diferentes num mesmo indivíduo, excepto através de uma abordagem indi-
recta” (Brooks, 1955:571).
Brooks atestou que o encerramento das suturas cranianas tendia a possuir um desfasa-
mento (atraso) de entre 5 a 25 anos (média ±9 anos), relativamente às sínfises púbicas.
“Não é um indicador fiável, independentemente do sexo ou da raça” (Brooks, 1955:583-
586).
McKern, antropólogo físico, e Stewart, curador de Antropologia Física do Museu
Nacional dos Estados Unidos da América (EUA), publicaram, em 1957, um relatório
técnico para o exército dos EUA (McKern & Stewart, 1957). Os investigadores empre-
garam vários métodos, para a identificação de soldados mortos na guerra, dedicando
uma das secções do extenso trabalho ao método do encerramento das suturas cranianas.
Utilizaram uma fusão dos métodos dantes usados por Todd e Lyon (1924, 1925a,
1925b, 1925c) e Singer (1953): leitura das suturas exocranianas, com o sistema de clas-
sificação de 5 graus (Todd & Lyon, 1925a, 1925c), mas com o acréscimo do 4º segmen-
to na divisão da sutura coronal (Singer, 1953). Embora o intervalo de idades da amostra
fosse restrito e, relativamente, pequeno (17 aos 50 anos - pois as observações eram limi-
tadas a indivíduos do sexo masculino pertencentes ao exército dos EUA, mortos durante
a guerra), os autores analisaram 450 esqueletos identificados e afirmaram que o encer-
ramento das suturas seguia um padrão uniforme. Não obstante a sua progressão com a
idade, os autores afiançaram ser demasiado errático a fim de poder ser utilizado na
estimativa da idade à morte. Além das suturas da abóbada craniana, McKern e Stewart
estudaram, conjuntamente, as suturas faciais e verificaram que o encerramento global
das suturas provia uma estimativa da idade mais precisa do que recorrendo, somente, às
suturas da abóbada craniana. Os autores consideraram, no entanto, que este método era
Ana Rodrigues 2011
40
demasiado incerto “tanto como evidência directa, como apenas de apoio” (McKern &
Stewart, 1957:37), obtendo-se estimativas, meramente, em termos de décadas. Explica-
ram mesmo:
“São tão erráticos, o início e a progressão, que uma série adequada irá fornecer um
qualquer padrão, em qualquer faixa etária. Assim, como guia para a determinação da
idade, tal tendência é de pouca utilidade.” (McKern & Stewart, 1957:37).
No mesmo ano, McKern publicou um estudo no qual concluiu que a avaliação total do
esqueleto era a forma mais precisa e fiável de proceder à estimativa da idade e não ape-
nas a utilização de um único indicador. Porém, o investigador determinou que a sínfise
púbica era o indicador mais fiável e outros seriam, unicamente, necessários na sua
ausência (McKern, 1957). Este tipo de afirmação foi alvo de várias críticas por outros
autores (Meindl & Lovejoy, 1985).
Ainda assim, este foi um dos primeiros estudos multifactoriais, no que concerne a
estimativa da idade à morte. Tornou-se um ponto marcante na Antropologia Forense e
Física pois, a partir deste estudo, a procura de um método com uma abordagem multi-
factorial levou muitos investigadores a desenvolver novas técnicas para a análise do
encerramento das suturas cranianas
1.3.6.5 {1960 - 1984}: ANÁLISES MULTIFACTORIAIS
Por volta da década de 1960, o método de estimativa da idade à morte baseado no
encerramento das suturas cranianas era considerado pouco fiável, o que realmente não
impediu muitos investigadores de tentarem encontrar a tão procurada relação entre a
idade e o encerramento das suturas cranianas (Acsádi & Nemeskéri, 1970; Perizonius,
1984; Meindl & Lovejoy, 1985; Sahni et al., 2005; Dorandeu et al., 2008).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
41
Powers (1962), num estudo que realizou com crânios de soldados provenientes de
vários países da Europa, verificou enormes discrepâncias entre a idade cronológica
(registada) dos indivíduos e a idade estimada. Nas suas observações, o autor deparou-se
com crânios de indivíduos muito jovens nos quais as suturas já se encontravam comple-
tamente obliteradas e indivíduos com 100 anos que exibiam suturas totalmente abertas.
Estes resultados mostraram-se semelhantes aos já encontrados por Dwight, em 1890
(Dwight, 1890; Powers, 1962) (figuras 12 e 13).
Figura 12 - Exemplo de dois indivíduos pertencentes à amostra estudada da Colecção Luís Lopes, com
idades muito semelhantes (indivíduo a: 67 anos; indivíduo b: 66 anos) e graus de encerramento das sutu-
ras muito díspares (Rodrigues & Vieira, 2011).
Os húngaros Acsádi e Nemeskéri, em 1970, desenvolveram o método complexo para a
análise do encerramento das suturas cranianas (Acsádi & Nemeskéri, 1970; Krogman &
İşcan, 1986; Galera, et al., 1998). Tal como McKern tinha feito três anos antes, os
investigadores optaram por uma abordagem multifactorial, estudando, para além das
b a
Ana Rodrigues 2011
42
suturas endocranianas, também a sínfise púbica, a cabeça do fémur e a cabeça do úme-
ro. Empregaram uma versão modificada do sistema implementado por Broca dividiram
as suturas em segmentos e classificaram cada um segundo a escala de Martin (0- Sutura
aberta; […]; 4- Sutura fechada) (Acsádi & Nemeskéri, 1970; Perizonius, 1984; Galera,
et al., 1998).
Excluíram todos os casos patológicos existentes na amostra inicial. Os investigadores
verificaram que o encerramento das suturas endocranianas principiava na sutura coro-
nal, seguindo-se a sagital e, finalmente, a lambdóide. Exocranialmente, registaram graus
2 de encerramento para a sutura coronal em indivíduos de todas as idades, e graus 3 e 4
apenas em cerca de um terço dos casos; a sutura sagital não encerrava completamente,
tendo registado classificações de entre 2 e 3.9, em indivíduos com idades superiores a
60 anos; para a sutura lambdóide, os investigadores indicaram que, para além de encer-
rar muito lentamente e de forma muito variável, apresentava grau 1 em indivíduos com
idades até aos 70 anos (figuras 12 e 13). Acsádi e Nemeskéri (1970) determinaram,
então, que o encerramento das suturas cranianas podia ser utilizado como método de
estimativa da idade à morte, empregando limites de idade amplos. Consideraram o
método válido e de grande importância, desde que aplicado com outros indicadores de
idade (Acsádi & Nemeskéri, 1970; Galera, et al., 1998).
Servindo-se precisamente dos mesmos métodos que Acsádi e Nemeskéri (1970), Peri-
zonius, em 1984, examinou 256 crânios de indivíduos adultos, com mais de 20 anos
(Perizonius, 1984; Sahni et al., 2005). Perizonius analisou as suturas exocranianas e as
endocranianas, com a ajuda de uma lanterna que inseria através do foramen magnum.
Não registou diferenças significativas nas médias de encerramento das suturas entre os
sexos, ou mesmo entre as duas superfícies do crânio. Ao verificar que a média de encer-
ramento parecia aumentar até cerca dos 69 anos e depois de essa idade diminuir, Peri-
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
43
zonius decidiu dividir a amostra inicial em dois grupos etários: acima e abaixo dos 50
anos de idade. Assim, depois de proceder à análise estatística dos dados obtidos, con-
firmou que apenas a sutura coronal possuía uma correlação, estatisticamente, significa-
tiva entre a idade e o encerramento, embora, unicamente, no subgrupo mais novo da
amostra. Para o subgrupo mais velho, o investigador verificou que as correlações obti-
das eram muito fracas ou mesmo inexistentes. (Perizonius, 1984; Sahni et al., 2005).
No mesmo ano, Baker (1984) estudou uma amostra total de 195 crânios com idade à
morte conhecida e de diferentes ancestralidades, recolhidos entre os anos de 1981 e
1983, de indivíduos autopsiados no gabinete médico-legal de Los Angeles, na Califór-
nia. Baker (1984) observou as três principais suturas, cujo grau de encerramento classi-
ficou utilizando uma escala muito simplificada, de apenas 3 graus: sutura aberta (O);
união parcial (P); sutura completamente obliterada (C) (Galera, et al., 1998). Observou
que o encerramento começava na superfície endocraniana e estabeleceu duas regras,
independentemente dos sexos: 1) se as suturas endocranianas se encontravam abertas, o
indivíduo teria 27 anos ou menos; 2) se as suturas endocranianas se encontravam total-
mente obliteradas, o indivíduo teria 26 anos ou mais. Baker encontrou, ainda, evidên-
cias que o sexo e a ancestralidade influenciavam a estimativa da idade (Baker, 1984;
Galera, et al., 1998).
1.3.6.6 {EM 1985}: MEINDL & LOVEJOY
Grandes críticos dos seus antecessores, Meindl e Lovejoy (1985) pretenderam mostrar
os erros cometidos no momento de pôr em prática os métodos de estimativa da idade à
morte através do encerramento das suturas cranianas.
“Se estiver disponível mais do que um critério para avaliar a idade à morte de um esque-
leto, então manifestamente, todos deverão ser empregues” (Meindl & Lovejoy, 1985:3).
Ana Rodrigues 2011
44
Esta afirmação mostra, claramente, a posição dos autores relativamente à abordagem
que deveria ser feita na estimativa da idade à morte. Examinaram, então, 236 crânios da
colecção Hamann-Todd, estudando as suturas exocranianas, contrariamente, à maioria
dos estudos anteriores, porquanto era a sua convicção que estas suturas, por se mante-
rem abertas até idades mais avançadas, seriam mais fiáveis para estimar a idade em
indivíduos idosos, para os quais eram necessários novos padrões (Meindl & Lovejoy,
1985; Galera, et al., 1998; White, 2000). Inicialmente, determinaram dezassete pontos
de referência específicos na superfície exocraniana; posteriormente, sete desses locais
foram excluídos devido a não apresentarem relação com a idade, assimetria, abertura em
idades extremas, entre outros factores. Os restantes dez pontos de referência foram divi-
didos em dois sistemas (grupos) (figura 13):
Sistema da abóbada (ponto médio da sutura lambdóide , lambda , obelion ,
sagital anterior e bregma );
Sistema lateral-anterior (ponto médio da sutura coronal , pterion , esfeno-
frontal , esfeno-temporal inferior e esfeno-temporal superior ) (Meindl & Love-
joy, 1985).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
45
Figura 13 - Localização dos dez pontos de referência adoptados por Meindl e Lovejoy (adaptado de
Meindl & Lovejoy, 1985)
Nestes dez pontos de referência específicos, observaram segmentos de 1cm, classifican-
do-os segundo uma escala de quatro graus:
0- Sutura aberta: não há evidência de encerramento;
1- Encerramento mínimo: há evidências de algum encerramento, desde uma simples
ponte óssea até 50% de sinostose da sutura;
2- Encerramento avançado: evidências de um elevado grau de encerramento, mas exis-
tem porções da sutura que não se encontram completamente obliteradas;
3- Sutura obliterada: somente algumas pontuações delatam a existência da sutura naque-
le local (Meindl & Lovejoy, 1985).
Numa fase posterior do estudo, para a determinação de qual seria a melhor combinação
dos locais que deveria ser empregue na estimativa da idade e, uma vez que, a calote é
um dos elementos do crânio com maior durabilidade, Meindl e Lovejoy (1985) confir-
maram que os 5 pontos de referência do sistema lateral-anterior eram, globalmente, os
mais eficazes, sendo o pterion o ponto que apresentou a correlação mais elevada
(Meindl & Lovejoy, 1985). Utilizando análises de co-variância, os autores concluíram
Ana Rodrigues 2011
46
que o sexo e a ancestralidade não possuíam qualquer efeito (mensurável) na estimativa
da idade através do encerramento das suturas cranianas. Não obstante, fosse através de
que método fosse, a estimativa da idade à morte deveria ter em conta indicadores pós-
cranianos, como controlos para as variações das suturas cranianas (Meindl & Lovejoy,
1985).
“Qualquer indicador que reflicta a idade biológica e cujo conteúdo informativo seja
independente de outros indicadores será útil para uma estimativa definitiva da idade,
seja sob condições arqueológicas ou forenses. […] o encerramento das suturas cranianas
é um critério com estas características. Não desejamos implicar que determinar a idade
através do encerramento das suturas cranianas não possui riscos; não é o caso…um
maior desenvolvimento do encerramento das suturas cranianas como indicador da idade
é certamente sugerido pelo presente estudo […]” (Meindl & Lovejoy, 1985:65-66).
Com esta afirmação é fácil perceber que os investigadores não rejeitaram o encerramen-
to das suturas cranianas como um indicador válido para a estimativa da idade à morte,
todavia, salientaram que se tratava de um indicador “global” da idade.
1.3.6.7 (ANTES E) DEPOIS DE MEINDL & LOVEJOY: CLAUDE MASSET
Em 1982, ao escrever a sua tese de doutoramento, sendo Masset um fervoroso crítico
dos seus colegas investigadores, deixou esse facto bem patente no seu trabalho. Assina-
lou a falta de relevância atribuída às diferenças no encerramento das suturas cranianas
entre os sexos registadas por alguns dos investigadores, que outros afirmavam ainda não
existirem. Masset considerou que a maioria dos seus colegas utilizava amostras com-
postas por indivíduos tendencialmente idosos (Masset, 1982). Segundo o autor, não se
deveria fazer uso de uma população de referência que possuísse indivíduos cuja idade
média fosse demasiado jovem ou demasiado idosa, facto que iria afectar os resultados
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
47
da estimativa da idade. De modo a evitar este viés, Masset sugeriu que fossem utilizadas
populações de referência em que existisse uma distribuição etária uniforme dos indiví-
duos, com cada classe a possuir um número de elementos equivalente (Masset, 1982).
Masset observou 849 crânios da Colecção de Lisboa e 65 da Colecção de Esqueletos
Identificados do Museu Antropológico (CEIMA), uma vez que a amostra de Lisboa não
possuía indivíduos com idades superiores a 70 anos. Dividiu as suturas coronal, sagital e
lambdóide em segmentos (figura 18 (A)) e classificou-os segundo uma escala de oblite-
ração (figura 18 (B)) de cinco graus, onde o zero correspondia à sutura totalmente aber-
ta e o quatro à obliteração completa (Masset, 1982; Masset, 1989). O investigador cal-
culou então o coeficiente de obliteração S através da fórmula:
(Masset, 1989:88).
Na qual, os valores dos segmentos pares seriam as respectivas médias e 10, o número de
segmentos suturais analisados. Este coeficiente S era, depois, utilizado na resolução de
equações de regressão, que o próprio autor estabeleceu:
Tabula externa Tabula interna NÃO METÓPICOS
Homens:
Mulheres:
METÓPICOS
Homens:
Mulheres:
(Masset, 1982:149).
As correlações obtidas levaram Masset a concluir que o encerramento era mais lento nas
mulheres, nas suturas exocranianas e nos indivíduos metópicos, daí que tenha obtido
Ana Rodrigues 2011
48
oito equações de estimativa da idade. Masset afirmou que as suturas cranianas forne-
ciam pouca informação para determinar a idade à morte, com segurança. Inferiu ainda
que, se fossem utilizadas como um conjunto, as suturas tornam-se-iam um pouco mais
úteis, mas ainda assim, mostrando resultados pouco fiáveis e pouco precisos (Masset,
1982; Masset, 1989).
1.3.6.8 MAIS RECENTEMENTE: OS ÚLTIMOS 16 ANOS
Em 1994, Buikstra e Ubelaker propuseram a combinação de diversos métodos de
estimativa da idade à morte através do encerramento de várias suturas cranianas (Todd
& Lyon 1924, 1925a, b, c; Baker, 1984; Meindl & Lovejoy, 1985; Mann, 1987) (Buiks-
tra & Ubelaker, 1994). Funcionaria? Constataram, então, que estes novos padrões pro-
duziam, ainda, “resultados antigos”, ou seja, o estudo não aportou nada de novo (Hersh-
kovitz et al., 1997).
Segundo Hershkovitz e colegas (1997), este novo método não teve em conta as baixas
correlações existentes entre a idade e os pontos das suturas referenciados para os estu-
dos (Buikstra & Ubelaker, 1994; Hershkovitz et al., 1997).
No mesmo ano, Key, Aiello e Molleson (1994) propuseram-se testar os métodos de
estimativa da idade à morte determinados por Nemeskéri (1970), Perizonius (1984) e
Meindl e Lovejoy (1985), numa amostra de 183 crânios pertencentes à colecção Spital-
fields, proveniente de um cemitério de Londres (sécs. XVIII e XIX). No final, e basean-
do-se nos resultados desta análise, as autoras pretendiam indicar uma nova técnica de
estimativa da idade com base no encerramento das suturas cranianas. Todos os indiví-
duos da amostra tinham idade e sexo conhecidos, de modo a que pudesse ser testada,
também, a variação devida ao dimorfismo sexual e às diferenças intra- e inter-
populacionais. A conclusão principal a que as autoras chegaram foi que os métodos de
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
49
estimativa da idade assentes no encerramento das suturas cranianas desenvolvidos para
uma determinada amostra não iriam gerar os mesmos resultados (idades estimadas com
a mesma precisão) noutra amostra (Key et al., 1994). Concluíram, também, que siste-
mas de análise baseados nas suturas endocranianas produziam resultados mais precisos,
quando se aplicavam em diferentes populações. Para o método de Acsádi e Nemeskéri
(1970), Key e colegas determinaram que não existiam diferenças significativas entre os
sexos; que esta técnica fornecia, somente, classes etárias muito amplas, assistindo, ape-
nas, na distinção entre indivíduos jovens, de meia-idade e idosos (Key et al., 1994). A
análise do método de Meindl e Lovejoy (1985), que usa as suturas exocranianas, sugeria
que existiam diferenças entre os sexos. Provaram-se também as diferenças inter-
populacionais, comparando as duas amostras: Hamann-Todd, através do método de
Meindl e Lovejoy (1985) e Spitalfields, através do método de Key et al. (1994); a últi-
ma exibia idades à morte mais avançadas que a primeira. Não obstante, a amostra estu-
dada por Key e colegas com o método de Meindl e Lovejoy (1985) mostrou encerra-
mento retardado nas suturas exocranianas e no sexo feminino (Key et al., 1994). Por
último, o sistema de Perizonius (1984) confirmou diferenças inter-populacionais, pois
provou ser de “uso muito limitado” (Key et al., 1994:203) para a amostra de Spital-
fields. A alocação de indivíduos da amostra no subgrupo com menos de 50 anos (divi-
são estabelecida por Perizonius, em 1984) falhou em mais de metade dos casos. O sis-
tema para os indivíduos mais velhos (Perizonius, 1984) foi aplicado aos restantes indi-
víduos da amostra de Spitalfields, mas, como Perizonius havia já concluído, em 1984,
este sistema apresentava uma fraca correlação com a idade, facto corroborado pelas
autoras, ao verificarem que o grau de encerramento das suturas cranianas não aumenta-
va, invariavelmente, com a idade (Key et al., 1994).
Ana Rodrigues 2011
50
Numa tentativa de colmatar as diferenças inter-populacionais dos métodos testados, Key
e colegas (1994) desenvolveram, então, uma nova metodologia com apenas três graus
de classificação do encerramento das suturas cranianas:
0- sutura completamente aberta;
1- encerramento em progresso (correspondentes ao valor 1 ou 2 da escala de Martin);
3- sutura quase fechada ou obliteração completa (Key et al., 1994).
Deste modo, as investigadoras esperavam, também, reduzir o erro associado à subjecti-
vidade na atribuição da classificação dos graus de encerramento. Key et al. (1994)
basearam-se nos pontos das suturas que possuíam correlações mais levadas com a ida-
de; dividiram a amostra em dois grupos: mais de 50 anos e menos de 50 anos, tornando,
desta forma, a distribuição de idades mais uniforme. A nova técnica foi testada numa
amostra de 140 indivíduos negróides provenientes da África do Sul, em que foram esti-
madas, com precisão, as idades em 70% dos indivíduos do sexo masculino e em 65%
dos indivíduos do sexo feminino. Ainda assim, Key e colegas (1994) alegaram que este
novo método seria, apenas, projectado para fornecer intervalos etários e ser usado em
conjunto com outros indicadores de idade (Key et al., 1994).
Nawrocki, em 1995, estudou as suturas exo- e endocranianas e as suturas palatinas,
aplicando técnicas de regressão e análises de variância, em 100 crânios da colecção
Terry, com idade, sexo e ancestralidade conhecidos. Classificou 27 pontos de referên-
cia, de acordo com Meindl e Lovejoy (1985): dezasseis nas suturas exocranianas, sete
nas endocranianas e quatro nas palatinas (Nawrocki, 1998). Verificou existir uma corre-
lação moderadamente forte entre a idade real e a idade estimada, apesar de o desvio
obtido ter sido de entre 9 e 21 anos. O autor concluiu que existia correlação entre o
encerramento das suturas e o sexo, mas não entre o encerramento e a ancestralidade
(Nawrocki, 1998).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
51
Hershkovitz et al. (1997) estudaram, unicamente, a sutura sagital em 3636 crânios
oriundos das colecções Terry e Hamann-Todd. Escolheram esta sutura por considerarem
que se tratava da única que permitia evitar “pseudo-encerramento” (Hershkovitz et al.,
1997:395) devido à sobreposição de ossos e por se situar na linha média do crânio, não
sendo influenciada por forças biomecânicas. Para diminuir o erro por parte dos observa-
dores, os autores optaram por atribuir estados e não graus, ao encerramento das suturas.
Assim, através da seguinte fórmula, definiram cinco estados de encerramento da sutura
(Hershkovitz et al., 1997):
(Hershkovitz et al., 1997:395)
1) Totalmente encerrada: não existiam sinais da sutura sagital desde o bregma ao lambda
( <2);
2) Parcialmente encerrada: menos de 10% do comprimento da sutura encontrava-se aber-
to (2< <10);
3) Totalmente aberta: a linha de sutura era claramente visível, quase sem interrupções
desde o bregma ao lambda (90< ≤100);
4) Parcialmente aberta: entre 10% e 90% da sutura encontrava-se aberta (10< <90);
5) Encerramento prematuro: todos os crânios com idades compreendidas entre os 5 e 18
anos, exclusive, em que se verificou encerramento total da sutura sagital (Hershkovitz et
al., 1997).
Os investigadores foram extremamente objectivos nas conclusões que retiraram do seu
trabalho, entre as quais: a sutura sagital não podia ser usada para estimar a idade à mor-
te; alguns dos padrões de encerramento das suturas são herdados geneticamente; exis-
tiam diferenças entre os sexos nesses mesmos padrões; a sutura sagital apresentava-se
totalmente aberta com maior frequência nos indivíduos do sexo feminino. Como con-
Ana Rodrigues 2011
52
clusão geral, os autores referiram que o encerramento das suturas cranianas se tratava de
um método de estimativa da idade cujo valor para aplicação em contextos forenses ou
paleodemográficos era, extremamente, limitado (Hershkovitz et al., 1997).
Galera, Ubelaker e Hayek, em 1998, examinaram uma amostra de 963 esqueletos da
colecção Terry, para estudar os métodos cranianos de estimativa da idade à morte de
Acsádi e Nemeskéri (1970), de Masset (1982), de Baker (1984), e de Meindl e Lovejoy
(1985), que aplicaram a todos os crânios da amostra. Todos os métodos empregues exi-
biram correlações elevadas com a idade, sendo aqueles que utilizavam os dados das
suturas endocranianas os que mostraram correlações mais altas. Os investigadores
encontraram diferenças no encerramento devidas à ancestralidade nos quatro métodos,
no entanto, diferenças devidas ao dimorfismo sexual surgiram, apenas, nos métodos de
Acsádi e Nemeskéri (1970) e de Masset (1982). Estes métodos, em que é necessário o
cálculo de um índice de encerramento ou um coeficiente de obliteração, respectivamen-
te, revelaram um melhor desempenho que as metodologias simplificadas de classifica-
ção dos métodos de Meindl e Lovejoy (1985) e de Baker (1984). Os autores afirmaram
que a precisão relativa dos métodos testados poderia variar, quando aplicados a outras
populações (Galera, et al., 1998).
Numa tentativa de nova abordagem ao estudo das suturas cranianas, Lynnerup e
Jacobsen (2003), por considerarem os sistemas de classificação anteriores demasiado
subjectivos, optaram por utilizar a geometria fractal para avaliar as suturas coronal e
sagital, em 31 indivíduos caucasianos identificados, da colecção Terry. Mediram as
dimensões fractais das suturas, colocando fita sobre estas, traçando toda a sutura com
um pino de feltro e usando um digitalizador, de modo a transferir o traçado para um
computador. Os investigadores concluíram que as dimensões fractais das duas suturas
analisadas, embora mostrassem correlações elevadas entre si, não se correlacionavam
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
53
com a idade. Lynnerup e Jacobsen (2003) constataram também a existência de indiví-
duos com idade avançada, nos quais as suturas se encontravam completamente abertas,
como havia já acontecido com vários autores anteriormente, desde Dwight (1890). Ape-
sar de não poderem concluir, com significância estatística, acerca da presença ou não de
dimorfismo sexual, devido ao tamanho reduzido da amostra, não verificaram diferenças
entre os sexos (Lynnerup & Jacobsen, 2003).
No ano seguinte, na Índia, Singh e colegas (2004) propuseram-se analisar a relação (ou
ausência de relação) entre o encerramento das suturas cranianas e a idade (Singh et al.,
2004). Através da realização de TACs (tomografias axiais computorizadas) a 100 indi-
víduos vivos, examinaram três cortes axiais do crânio, de modo a poderem analisar o
grau de encerramento das suturas lambdóide, coronal, escamosa e parieto-mastóide.
Todos os indivíduos da amostra tinham idades compreendidas entre os 40 e os 70 anos e
foram distribuídos por seis grupos, com intervalos de cinco anos (Singh et al., 2004).
Devido a irrevogáveis barreiras linguísticas, à falta de esclarecimento acerca do método
e dos resultados obtidos, pouco mais se pode dizer acerca deste estudo, apenas que foi
uma das primeiras tentativas em observar in vivo o encerramento (ossificação) das sutu-
ras cranianas. Porém, para um estudo desta natureza produzir alguns resultados válidos
e permitir retirar conclusões acerca da verdadeira relação idade/encerramento das sutu-
ras cranianas, seria necessário realizar TACs aos mesmos indivíduos, ao longo de toda a
sua vida, obtendo-se, deste modo, uma série cronológica de imagens progressivas do
encerramento/ossificação das suturas, com o envelhecer dos indivíduos.
Também na Índia, um dos mais recentes estudos foi levado a cabo por Sahni, Jit e San-
jeev, que originou um artigo publicado em 2005, na Forensic Science International.
Analisaram uma amostra de 665 indivíduos com idades conhecidas, para a qual classifi-
caram as suturas coronal, sagital e lambdóide, tanto endo- como exocranialmente; divi-
Ana Rodrigues 2011
54
dindo a sutura coronal e a lambdóide em três segmentos e a sutura sagital em quatro (16
segmentos no total). A classificação foi feita da seguinte forma:
“se apenas um dos segmentos da sutura sagital se encontrasse encerrado, atri-
buía-se a classificação 1;
se todos os segmentos se encontrassem encerrados, atribuía-se 4;
se todos os (três) segmentos da sutura coronal dta./esq. ou da sutura lambdóide
estivessem obliterados, a classificação seria 3;
se a sutura completa se encontrasse aberta, a classificação seria 0.” (Sahni et al.,
2005).
Os autores constataram que as suturas encerravam mais cedo nos indivíduos do sexo
masculino; que não existiam diferenças no timing do encerramento entre as suturas da
superfície exocraniana e as da superfície endocraniana e que a obliteração das três prin-
cipais suturas era tão errática, que nenhuma delas auxiliaria na estimativa da idade
(Sahni et al., 2005).
Com o desenvolvimento da tecnologia, podem e devem, ser desenvolvidas novas meto-
dologias para o estudo do encerramento das suturas cranianas. Tomando o exemplo de
Singh et al. (2004), a recolha de dados para análise é passível de ser efectuada de for-
mas muito mais eficientes e inovadoras, tentando-se assim novas abordagens para o
estudo de um indicador que conta já com centenas de anos de investigação.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
55
1.4 ENVELHECIMENTO E SENESCÊNCIA
Há 30 anos, a esperança média de vida dos portugueses rondava os 60 anos para os
homens e os 72 para as mulheres (Portal da Saúde, 2006). “Em 1987/88, a população
portuguesa tinha uma esperança média de vida à nascença de cerca de 73,8 anos, valor
que subiu para os 78,5 anos, em 2005/06” (INE, 2007).
A espécie humana é uma das espécies de seres vivos com maior longevidade, apesar de
os nossos antepassados não terem tido vidas tão longas como as que se verificam nos
indivíduos de hoje. Pelos dados expostos, é possível que a tendência do aumento da
esperança média de vida à nascença, persista. Durante toda a evolução do Homem, a
esperança de vida em todas as idades tem vindo progressivamente a sofrer alterações e a
aumentar, através da interacção das forças culturais e evolucionárias. Actualmente, o
aumento de indivíduos com mais de 55 anos de idade é de 1,2 milhões por mês, a nível
mundial (Harper & Crews, 2000).
Senescência e envelhecimento são dois termos que não possuem, ainda, definições unâ-
nimes entre os investigadores, nomeadamente, entre os especialistas em gerontologia.
Expõem-se aqui duas definições propostas por Harper e Crews:
“Envelhecimento per se, é o simples facto de se existir ao longo do tempo; enquanto
senescência é uma degeneração progressiva, a seguir ao período de desenvolvimento e
obtenção do máximo potencial reprodutivo, que conduz a uma probabilidade aumentada
de mortalidade, um processo que só os organismos vivos mostram.” (Harper & Crews,
2000:468).
Mas nem todos os aspectos fisiológicos exibem declínio com a idade. Existem aqueles
que se mantêm estáveis e outros podem ser reforçados, embora estes possam variar,
tanto entre populações, como de indivíduo para indivíduo. Os reflexos da senescência
Ana Rodrigues 2011
56
podem ser tão individualizantes como as impressões digitais ou mesmo o DNA (Harper
& Crews, 2000). Existem características obrigatórias para que uma alteração relaciona-
da com a idade possa ser considerada como um reflexo da senescência: a alteração tem
que ser cumulativa, universal, progressiva, intrínseca e deletéria entre a população; há
autores que incluem irreversível nestas características (Harper & Crews, 2000; Schmitt,
2002).
No passado, cria-se na existência de um gene responsável pela senescência que, hoje, se
sabe, trata-se de um acumular de mutações que provocam as alterações ao organismo
(Schmitt, 2002). Vistas as coisas, não é por um indivíduo morrer jovem que o seu
esqueleto vai reflectir esse facto ou, vice-versa, pois “um indivíduo idoso pode possuir
um esqueleto com aparência jovem” (Schmitt, 2002:53). Portanto e, como foi já copio-
samente referido, a idade biológica é extremamente variável entre indivíduos de uma
mesma população e entre populações diferentes (İşcan, 1989; Ubelaker, 2000), o que
faz com que esta seja, por vezes, tão diferente da idade cronológica (Schmitt, 2002;
Baccino & Schmitt, 2006; DiGangi et al., 2009; Franklin, 2010). Os processos de
senescência vêm acrescentar discrepâncias a esta relação (idade biológica/cronológica):
quanto mais velho é um indivíduo, mais problemático se torna estimar a sua idade, além
de ser, extremamente, difícil precisar a idade em que a senescência tem início (Schmitt,
2002).
Mais especificamente, no crânio, com o avançar da idade (envelhecimento), registam-se
várias alterações, tanto na forma, como na espessura dos ossos, como também nas sutu-
ras. Progressivamente, as margens dos ossos cranianos tornam-se mais irregulares e
desenvolvem projecções que se interligam, dando origem a uma estrutura, firmemente,
unida. Quando os ossos adjacentes se encontram totalmente unidos, através da oblitera-
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
57
ção completa das suturas, o crânio torna-se numa “caixa óssea sólida” (Rogers,
1982:62).
Da literatura retiram-se inúmeros exemplos, algo generalizados e bem díspares, do
fenómeno de progressão do encerramento das suturas cranianas. Desde Todd e Lyon
(1924), a Ashley-Montagu (1938), a Biggerstaff (1977) (Rogers, 1982), todos eles pos-
suíam opiniões bem diferentes relativamente à idade em que se daria o início do encer-
ramento das suturas cranianas, em qual das suturas se iniciaria e, até mesmo, se aconte-
ceria antes na superfície endo- ou exocraniana.
O encerramento das suturas cranianas como indicador da idade à morte para fins foren-
ses, tem vindo a ser, altamente, refutado (Ashley-Montagu, 1938; Singer, 1953; Krog-
man, 1962) e os erros estatísticos associados aos dados recolhidos através deste método,
fortemente, discutidos (Masset, 1989). As suturas cranianas deixam, gradualmente, de
ser articulações fibrosas, como é evidente, para se tornarem numa união óssea firme.
Todavia e, como referido, a escala temporal dos acontecimentos é totalmente inespecífi-
ca e variável, tanto de indivíduo para indivíduo, como entre populações, envolvendo
ainda diferenças entre sexos e ancestralidades (Rogers, 1982). A acrescentar a todas as
variantes, pode ainda dar-se o fenómeno de lapsed union, onde acontece o amontoamen-
to de tecido ósseo nas margens das suturas e o encerramento nunca é completado. Na
superfície externa, com a progressão da idade, o crânio torna-se mais granular, com uma
textura mais grosseira, o que pode, por vezes, dificultar a observação e classificação do
grau de encerramento das suturas (Rogers, 1982).
Ana Rodrigues 2011
58
Como Rogers afirmou:
“Na idade adulta e com o envelhecimento, adquirem-se as qualidades protectoras da
firmeza e rigidez do crânio, em troca da flexibilidade e maleabilidade vitais durante os
anos de formação e desenvolvimento da vida” (Rogers, 1982:65).
Por tudo o exposto, torna-se impreterível que a investigação no âmbito da estimativa da
idade se foque, também, sobre os indivíduos idosos (+ 65 anos), pois a Humanidade
(não só nos países desenvolvidos) está a viver cada vez mais tempo, existindo uma
grande lacuna nas metodologias actuais para análise forense deste tipo de casos.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
59
II. OBJECTIVOS
Ana Rodrigues 2011
60
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
61
OBJECTIVOS
O presente trabalho de investigação tem como objectivo primordial determinar se as
suturas cranianas podem ser utilizadas como indicadores para estimar a idade à morte
em indivíduos com idades superiores a 55 anos.
A partir do primeiro objectivo, esta investigação pretende poder responder a várias
questões com as quais o AF se depara quando se trata de estimar a idade de um indiví-
duo à morte, designadamente:
1. Existe alguma mais-valia em basear as leituras do encerramento das suturas crania-
nas nas três principais suturas (i. e. coronal, sagital e lambdóide)?
2. O AF deve fazer a leitura das três suturas e combinar os resultados obtidos? Ou,
pelo contrário, será mais fiável utilizar cada sutura, individualmente?
3. É alguma das três suturas mais fiável para o sexo feminino ou masculino, ou para
um grupo etário específico?
4. É efectivamente expectável que um indivíduo com mais de 75 anos possua suturas
cranianas com grau de obliteração quatro?
5. A experiência do investigador na utilização do método influencia os resultados
finais?
6. Deve o AF continuar a utilizar as suturas exocranianas elemento de estudo para a
estimativa da idade à morte em indivíduos com mais de 55 anos?
Ana Rodrigues 2011
62
Concomitantemente ao presente trabalho, Vieira (2010) realizou um estudo de estimati-
va da idade à morte, igualmente em indivíduos com mais de 55 anos, mas com uma
metodologia diferente: análise das sínfises púbicas através do método de Suchey-
Brooks. Desta forma, esse estudo radica objectivos adicionais aos já mencionados para
o presente trabalho, nomeadamente, depreender a fiabilidade e proficiência da combina-
ção dos dois métodos de estimativa da idade à morte (encerramento das suturas crania-
nas e análise das sínfises púbicas); discernir se algum dos dois métodos é mais eficaz
em determinado grupo etário e qual dos dois será mais fiável para homens e mulheres.
Implicitamente, verificar-se-á qual dos métodos se mostra mais eficaz para estimar a
idade à morte em indivíduos idosos e, assim, assistir o AF no estabelecimento do perfil
biológico, de forma mais rigorosa e precisa.
Por fim, após análise exaustiva dos resultados e discussão dos mesmos, espera-se poder
recomendar, ou não, a continuação da aplicação do referido método, como forma de
estimar a idade à morte em indivíduos idosos.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
63
III. MATERIAL E METODOLOGIA
Ana Rodrigues 2011
64
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
65
MATERIAL
3.1 COLECÇÃO DE ESQUELETOS IDENTIFICADOS LUÍS LOPES
“Os restos humanos são interessantes, não apenas devido à sua materialidade e tangibi-
lidade, mas também porque revelam, mesmo que truncada e imperfeitamente, as histó-
rias e as vidas dos indivíduos a que pertenceram.” (Curate, 2010:11).
Os ossos são dos elementos integrantes do corpo humano aqueles que fruem de maior
durabilidade, o que facilita a sua colecção e estudo.
John Hunter, Samuel Morton, William Turner ou Pierre Paul Broca são nomes associa-
dos ao surgimento das primeiras colecções osteológicas, em meados do séc. XIX
(Giraudi et al., 1984; Tobias, 1991; McDonald & Russell, 2005; Cunha & Wasterlain,
2007). As colecções de restos esqueléticos têm potenciado a investigação antropológica,
arqueológica, médica, histórica, na medida em que representam fontes de informação
valiosa, onde cada indivíduo é identificado e dispõe de documentação com dados pes-
soais que, geralmente, incluem data e causa da morte, filiação, origem, entre outros
(Cunha & Wasterlain, 2007). Os elementos que compõem uma série esquelética podem
provir de diversos locais, como escolas médicas, casos forenses, baixas de guerra e
cemitérios (de vários períodos) (Cardoso, 2005; Cunha & Wasterlain, 2007; Curate,
2010). Deste modo, e citando Curate, “uma colecção de esqueletos é social e cultural-
mente determinada, não biologicamente.” (Curate, 2010:12), podendo não retratar os
padrões originais da população da qual deriva. Logo, “reflecte apenas a singularidade de
um grupo de indivíduos que foi incluído nessa série” (Curate, 2010:13; Saunders et al.,
1995).
Ana Rodrigues 2011
66
A Colecção Luís Lopes (também conhecida por Colecção de Lisboa ou Nova Colecção
de Lisboa) encontra-se no Museu Bocage (Museu Nacional de História Natural) em
Lisboa (figura 14). Começou a ser coligida no final de 1980, pelo Professor Luís Lopes,
quando o referido museu requereu à Câmara Municipal de Lisboa a colecta de esquele-
tos que, de outra forma, seriam destinados à incineração ou a valas comuns. Os cemité-
rios do Alto de São João, Benfica e Prazeres foram as três fontes dos restos esqueléticos
que compunham a colecção, originalmente. A informação disponível nos livros de
registo de cada cemitério incluía, acerca de cada indivíduo, o número de registo, número
da sepultura, número do ossário, nome, filiação, local de nascimento, estado civil, pro-
fissão, morada, idade à morte, causa, data e hora da morte, a freguesia da morte, data e
hora do enterro. Através dos certificados de óbito, que eram propriedade do cemitério,
era possível obter qualquer informação adicional que não constasse dos mencionados
livros, através de acesso ao registo civil.
Em 1991, o processo de colecta cessou, pois Luís Lopes reformou-se do seu trabalho no
Museu, o que acarretou também um substancial abrandamento na conservação e admi-
nistração da colecção. Presentemente, a colecção é composta por 16927 esqueletos e 75
indivíduos não identificados. Destes, 1552 indivíduos identificados foram colectados
por Luís Lopes, entre finais de 1980 e 1991; os restantes 140 indivíduos representam já
aquisições efectuadas por Hugo Cardoso, o novo curador desta colecção, desde 2000.
Por razões de organização e documentação, apenas 699 indivíduos se encontram dispo-
níveis para estudo (figuras 14 e 15); não obstante, esta amostra é bem ilustrativa da
colecção como um todo (Cardoso, 2005; Cardoso, 2006; Cunha & Wasterlain, 2007).
7 Os dados constantes do presente trabalho são relativos ao ano de 2005 e encontram-se, naturalmente, desactualizados. Devido a
processos de organização, classificação e numeração, não foi possível ao Museu Bocage fornecer à autora dados actualizados da
Colecção.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
67
Figura 14 - Armazenamento da colecção Luís Lopes (A) armários; (B) gavetões individuais (Rodrigues
& Vieira, 2010)
Figura 15 - Exemplo do armazenamento de um indivíduo, num dos gavetões (Rodrigues & Vieira 2010)
B A
Ana Rodrigues 2011
68
Atendendo à informação biográfica disponível (figura 16), os indivíduos da colecção
são, maioritariamente, de nacionalidade portuguesa (incluindo as ex-colónias) e morre-
ram entre 1880 e 1975. Como não constam dos registos as datas de nascimento dos
indivíduos, foi feita uma simples subtracção da idade à morte do indivíduo ao ano de
morte, obtendo desse modo, os anos de nascimento dos indivíduos, que se situam entre
1805 e 1972.
Numa colecção onde o sexo feminino se encontra ligeiramente sobre-representado,
estão documentados 92 não-adultos (menos de 20 anos) e os grupos etários com maior
frequência representativa são os que albergam indivíduos com mais de 50 anos. Os
indivíduos exibem idades à morte entre o nascimento e os 98 anos (Cardoso, 2005; Car-
doso, 2006).
Figura 16 - Exemplo de uma ficha de registo individual da colecção Luís Lopes (Rodrigues & Vieira,
2010)
A causa de morte é uma das informações que consta na maioria dos registos biográficos
individuais e, a partir destes, nota-se que as doenças relacionadas com o sistema circula-
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
69
tório constituem a causa de morte mais frequente (33%). A tuberculose (pulmonar, na
sua maioria; 15%) e as neoplasias (13%) são as causas que se seguem (Cardoso, 2005;
Cardoso, 2006).
A colecção Luís Lopes reflecte, muito provavelmente, as camadas socioeconómicas
baixa e média, de uma população, manifestamente, urbana, onde as mulheres eram
donas de casa (domésticas) e os homens, trabalhadores do comércio (Cardoso, 2005;
Cardoso, 2006).
Ana Rodrigues 2011
70
3.2 A AMOSTRA INICIAL
Como Fuller (2009) afirmava, a amostra revela-se como um subconjunto com as mes-
mas características do conjunto maior do qual provém, pelo menos, em teoria. É natural
que se fale em teoria, uma vez que é nela que têm, obrigatoriamente, que assentar os
estudos que efectuamos, pois como refere Curate: “por necessidade, lidamos com um
grupo de indivíduos mortos e não de pessoas vivas” (Curate, 2010:20).
Antes de se proceder à escolha final dos indivíduos para o estudo, foi realizada uma pré-
selecção de acordo com critérios conjuntos com o já mencionado trabalho executado por
Vieira (2010). Apenas foram incluídos na amostra indivíduos com idades superiores a
55 anos, em que o crânio se encontrasse em bom estado de conservação8, em que as
sínfises púbicas não se encontrassem patologicamente alteradas9, fracturadas ou ausen-
tes em ambos os lados.
Desta pré-selecção resultou uma amostra inicial com 200 indivíduos, masculinos e
femininos, distribuídos como se mostra na figura 17.
Figura 17 - Distribuição etária dos indivíduos da amostra inicial.
8 Em que as suturas estudadas fossem perfeitamente observáveis e classificáveis.
9 Alterações que pudessem enviesar os resultados.
0
10
20
30
40
50
60
55-64 65-74 ≥75
Fre
qu
ên
cia
Grupos etários (anos)
Masculino
Feminino
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
71
Na tabela 1 coligiu-se a distribuição dos indivíduos dessa amostra, pelas classes etárias
estabelecidas e por sexos.
Tabela 1 - Distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra inicial.
Classe etária
(anos)
Sexo Total
Masculino
Feminino
n %
n % n %
55-64 21 50,00
21 50,00 42 21,00
65-74 32 45,71
38 58,29 70 35,00
≥75 29 32,95
59 67,04 88 44,00
Total 82 41,00
118 59,00 200 100,00
Posteriormente, esta amostra inicial sofreu nova redução, para se adequar aos requisitos
do trabalho de Vieira (2010). Os resultados são apresentados mais adiante, no subcapí-
tulo 4.1.1 A amostra final.
Ana Rodrigues 2011
72
METODOLOGIA
3.3 METODOLOGIA ANTROPOLÓGICA
Todos os crânios seleccionados para este estudo foram observados macroscopicamente
e, quando necessário, utilizou-se uma lupa de magnificação, para melhor se poder
observar a sutura em análise. As três suturas observadas foram divididas em segmentos
(figura 18 (A)) (Ferembach et al., 1979):
Coronal direita - C1, C2 e C3 e Coronal esquerda - C1, C2 e C3;
Sagital - S1, S2, S3 e S4;
Lambdóide direita -L1, L2 e L3 e Lambdóide esquerda - L1, L2 e L3.
A cada um dos segmentos avaliado individualmente foi atribuída uma classificação de
zero a quatro, consoante o grau de encerramento (figura 18 (B)) (Frédéric, 1906;
Ferembach et al., 1979).
As descrições dos graus de encerramento são as seguintes:
Grau 0- 0% de encerramento (sutura totalmente aberta);
Grau 1- Até 49% de encerramento (menos de metade do segmento está encerrado);
Grau 2- 50% de encerramento;
Grau 3- Mais de 75 % de encerramento;
Grau 4- 100% de encerramento (sutura obliterada).
(Ferembach et al., 1979).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
73
Figura 18 - Representação esquemática da divisão das suturas cranianas em segmentos (A) e dos graus
de encerramento (B) (adaptado de Ferembach et al., 1979).
Os resultados obtidos foram, sucessivamente, arrolados em fichas de registo, previa-
mente, elaboradas pela autora (anexo 1). Em cada ficha de registo consta, além da clas-
sificação do grau de encerramento do segmento, também, a média das classificações
para cada sutura, o número de identificação do indivíduo e o número e data da observa-
ção.
Para cada sutura foi calculada a média dos respectivos segmentos e foi com essa infor-
mação que se realizou análise estatística, uma vez que trabalhar com o valor de cada
segmento por separado seria um trabalho demasiado moroso e extenso para uma disser-
tação de mestrado.
Ana Rodrigues 2011
74
Foram estabelecidos três grupos etários: dos 55 aos 64 anos, dos 65 aos 74 anos e supe-
rior a 75 anos. De acordo com os estudos estabelecidos, as expectativas seriam que aos
indivíduos pertencentes ao grupo etário mais jovem fosse atribuída uma classificação de
entre 1,5 e 2,4 do encerramento das suturas; aos indivíduos do grupo etário intermédio,
esperar-se-ia atribuir um grau de encerramento de entre 2,5 a 3,4; os graus 3,5 a 4
seriam, presumivelmente, atribuídos aos indivíduos mais idosos (do terceiro grupo etá-
rio). A tabela 2 facilita a compreensão dessas previstas correspondências.
Tabela 2 – Correspondência esperada entre os grupos etários e os graus de encerramento.
Grupo Etário Idade do Indivíduo (anos) Grau de Encerramento
1 55 - 64 1,5 – 2,4
2 65 - 74 2,5 – 3,4
3 ≥75 3,5 – 4,0
Como a amostra não possuía indivíduos com idade inferior a 55 anos, não seria expec-
tável encontrar suturas (segmentos) com graus de encerramento inferiores a 1.4, daí que
estes valores não constem desta tabela.
Assim, o procedimento empregue em todos os crânios foi: se o indivíduo possuísse uma
média de encerramento de 3,1 para a sutura sagital (por exemplo), seria alocado no
segundo grupo etário (65-74 anos). Seguidamente, comparar-se-ia este resultado com o
grupo etário real (folha de registo individual) a que o indivíduo pertencia, atribuindo-se,
depois, um diagnóstico correcto ou incorrecto, conforme os grupos etários fossem coin-
cidentes ou não.
Foram efectuadas três observações em cada crânio, com intervalos temporais suficien-
temente alargados, de modo a não haver qualquer cruzamento da informação obtida
entre observações.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
75
Com o intuito de avaliar a variação inter-observador, Vieira (2010) efectuou uma análi-
se a 46 crânios da amostra (aproximadamente, um terço) seleccionados, aleatoriamente.
Não foi facultada qualquer informação acerca do perfil dos indivíduos ou dos resultados
obtidos nas observações levadas a cabo pela autora.
Nesta altura, torna-se pertinente referir que não foram consideradas as observações da
superfície endocraniana, por serem em número não significativo, estatisticamente. Uma
das razões para tal se ter verificado foi a exclusão de muitos dos indivíduos, previamen-
te, seleccionados (em que era possível a observação das suturas endocranianas) por
danos nas sínfises púbicas, danos esses que não haviam sido considerados importantes
inicialmente, mas que se revelaram limitantes para o estudo de Vieira (2010). Porque
ambos os trabalhos tinham de ser efectuados na mesma amostra de indivíduos, se hou-
vesse danos no crânio ou nas sínfises, o indivíduo seria, obrigatoriamente, excluído da
amostra (comum aos dois trabalhos), mesmo que apenas uma das estruturas se encon-
trasse danificada.
Ana Rodrigues 2011
76
3.4 METODOLOGIA ESTATÍSTICA
Os dados recolhidos ao longo do estudo foram compilados numa base de dados, no pro-
grama informático SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences), versão 17.0,
com o auxílio do qual foi feita grande parte da análise estatística.
A normalidade dos parâmetros estatísticos referentes à amostra seleccionada foi avalia-
da através dos testes de Kolmogorov-Smirnov.
A estatística descritiva foi realizada através do Microsoft Office Excel®.
Dada a elevada importância do cálculo do erro intra-observador em estudos deste tipo,
esta foi uma das primeiras análises estatísticas a ser efectuada, porquanto possibilita ao
investigador considerar o prosseguimento ou cessação do seu trabalho.
A avaliação da concordância na atribuição dos graus de encerramento das suturas cra-
nianas (pelo mesmo observador, em três ocasiões diferentes) foi realizada através da
estimativa da percentagem de concordância (%C) e da estatística kappa (Cohen, 1988).
Ao terem sido realizadas três observações, foram calculados dois valores para cada um
destes parâmetros.
A percentagem de concordância (%C) define-se como:
onde N corresponde ao número total de comparações emparelhadas e N’ ao número de
pares discordantes (Cardoso, 2005).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
77
A estatística kappa (reiterabilidade10
) (Curate, 2005) é utilizada para medir o grau de
concordância para variáveis categóricas (Sá, 2007), relativamente ao que é esperado,
por simples acaso (Landis & Koch, 1977; Sá, 2007); se existe concordância total entre
observadores, então, κ=1; se não existir concordância entre os observadores, além da
que seria esperada pelo acaso, então, κ=0 (Sá, 2007).
A estatística kappa foi calculada a partir da seguinte fórmula:
Obtendo-se, deste modo, os intervalos de kappa. A descrição dos valores de kappa obti-
dos, foram conferidas segundo a proposta de Byrt (1996) (tabela 3), embora o autor refi-
ra que seria preferível se aqueles que apresentam os valores de kappa e aqueles que
lêem os trabalhos que contêm esses valores conseguissem fazê-lo sem termos explicati-
vos como “boa”, ”razoável” e outros, e desenvolvessem antes uma intuição em relação
ao coeficiente, em si, respeitando a prevalência e vieses. Mas o autor considera, tam-
bém, que alcançar tal feito seria extremamente difícil, sobretudo para aqueles investiga-
dores que possuam pouca experiência com a estatística kappa (Byrt, 1996).
Tabela 3 - Classificação qualitativa do valor kappa (Adaptado de Byrt, 1996).
Valor de kappa Descrição
≤ 0 Não há Concordância
0,01 - 0,20 Concordância Fraca
0,21 - 0,40 Concordância Ligeira
0,41 - 0,60 Concordância Razoável
0,61 - 0,80 Concordância Boa
0,81 - 0,92 Concordância Muito Boa
0,93 - 1,00 Concordância Excelente
10
Do inglês repeatability, s.f. Qualidade do que é reiterável, repetível [Etim. Lat. reitéro, repetição] (Houaiss & Villar, 2003:3134).
Ana Rodrigues 2011
78
Para estimar o erro inter-observador procedeu-se, precisamente, da mesma forma que
para a avaliação do erra intra-observador.
De modo a compreender se existiam diferenças entre os sexos, relativamente à frequên-
cia de diagnósticos correctos e incorrectos, recorreu-se à utilização do teste do Qui-
Quadrado (χ2), com um nível de significância de 95% (p<0,05; i.e., para todos os valo-
res de p superiores a 0,05, o teste não apresenta significância estatística) (Maroco,
2007).
Porque a categorização do encerramento de cada uma das suturas se traduz em variáveis
ordinais ou de ranking, foi aplicado o teste não-paramétrico de Wilcoxon. Este teste
permite comparar duas observações diferentes de variáveis emparelhadas, feitas através
de métodos diferentes, no mesmo indivíduo. Neste caso, em particular, através dos
registos individuais de cada indivíduo (“método 1”) e através das observações efectua-
das pela autora (“método 2”) (McKillup, 2005; Maroco, 2007; Sá, 2007). A aplicação
do mencionado teste de Wilcoxon permitiu aferir se as observações efectuadas através
do método do encerramento das suturas produziram resultados similares aos fornecidos
pelos registos individuais, i.e., se a alocação dos indivíduos nas classes etárias foi a cor-
recta (produzindo diagnósticos correctos).
Foi feita uma análise de distribuição em relação a diversos parâmetros, através de caixas
de bigodes (ou box plots). Estes gráficos são compostos por caixas rectangulares bem
distintas; uma para cada grupo, que corresponde aos 50% centrais dos casos → distân-
cia inter-quartil. A linha central, no interior de cada caixa, corresponde à mediana (valor
abaixo do qual se incluem 50% dos casos). Assim, abaixo da mediana tem-se o 1º quar-
til e acima, o 3º quartil (figura 19). Os “bigodes” são as linhas que se prolongam para o
exterior da caixa, abrangendo os casos que não excedem a distância inter-quartil num
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
79
factor de 1,5x. Se for o caso, os gráficos de caixas de bigodes exibem, também, os valo-
res atípicos e extremos, através de marcações específicas (figuras 19 e 20) (Attwood et
al., 2000; Sá, 2007).
Figura 19 - Esquema explicativo de um gráfico caixa de bigodes: Q1 - 1º quartil; Q2 - 2º quartil; Q3 - 3º
quartil (Apontamentos de Estatística, Universidade de Aveiro, 2010).
Figura 20 - Esquema explicativo dos bigodes de um gráfico caixa de bigodes (Apontamentos de Estatís-
tica, Universidade de Aveiro, 2010).
O teste não-paramétrico mais utilizado para a análise de correlação, neste tipo de casos,
é o teste de correlação de Spearman (McKillup, 2005). Este foi usado para avaliar a
existência e tipo de correlações que existiriam entre o encerramento observado nas três
Mínimo da amostra,
mas não menos de
Q1–1.5(Q3-Q1)
Máximo da amostra,
mas não mais de
Q3+1.5(Q3-Q1)
Ana Rodrigues 2011
80
suturas avaliadas, entre as suturas cranianas e os grupos etários, e entre diagnósticos
correctos e incorrectos, entre as suturas.
Na tabela 4 mostra-se a forma de interpretação, segundo Cohen (1988), dos valores do
rho de Spearman (coeficiente de correlação).
Tabela 4 - Interpretação do coeficiente de correlação (Adaptado de Cohen, 1988).
Coeficiente de Correlação Interpretação
(0,0 – 0,09) Não há Correlação
(0,1 – 0,3) Correlação Fraca
(0,3 – 0,5) Correlação Moderada
(› 0,5) Correlação Elevada
Valores entre parênteses são positivos ou negativos.
Com a finalidade de perceber se existia algum tipo de relação entre o método empregue
pela autora no presente trabalho e o método de Suchey-Brooks, empregue por Vieira
(2010) no supramencionado trabalho, procedeu-se ao teste de correlação de Spearman
para os diagnósticos correctos e incorrectos. De modo a apurar se os métodos apresen-
tavam diferenças significativas entre si, recorreu-se uma vez mais ao teste do Qui-
Quadrado.
3.4.1 PRECISÃO E EXACTIDÃO
Precisão é o grau de refinamento com que uma estimativa é feita, em estatística é medi-
da pelo desvio padrão; é uma medida do grau de concordância entre valores dos dados
determinados independentemente, sob determinadas condições. Exactidão é o grau com
o qual uma estimativa se ajusta com a realidade; é uma medida do grau de concordância
entre a melhor estimativa e o valor real (Sá, 2007; Drosg, 2009; Antonisamy et al.,
2010).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
81
A precisão e a exactidão num processo de identificação encontram-se dependentes de
determinados factores:
Da composição da amostra: a identificação de restos isolados, ou de indivíduos singu-
lares diminui, à partida, a exactidão do processo de identificação, isto porque o AF vê-
se, normalmente, obrigado a comparar a sua amostra com padrões estimados para outras
populações. Além disso, se a amostra for composta por indivíduos de grupos etários
muito díspares, a análise estatística irá sofrer vieses, que impedirão a precisão e a exac-
tidão de serem, minimamente, significativas (McKillup, 2005; White & Folkens, 2005;
Drosg, 2009).
Dos métodos analíticos: quando são aplicados diferentes métodos de análise são pro-
duzidos diferentes resultados, com diferentes graus de confiança entre uns e outros.
Apoiando-se em resultados estatísticos relativos, tanto à precisão, como à exactidão de
estudos anteriores, o investigador deve escolher aquela metodologia que melhor se
adapta ao tipo de estudo que pretende executar, podendo evitar, também, vieses desne-
cessários (White & Folkens, 2005; Drosg, 2009; Antonisamy et al., 2010).
Da aplicabilidade dos métodos analíticos seleccionados: a maioria dos padrões existen-
tes para proceder à identificação de um indivíduo desconhecido, ou de uma amostra,
foram estabelecidos com base em séries esqueléticas europeias ou americanas. Portanto,
tais padrões possuem uma utilização muito limitada, uma vez que parecem não se apli-
car de forma semelhante a outras populações. Porém, este facto pode ser atenuado se
forem aplicados procedimentos estatísticos correctos que permitam aproximar e adaptar
os resultados de uma população a outra, como por exemplo, o estabelecimento de equa-
ções de regressão (Maroco, 2007; Sá, 2007; Drosg, 2009; Antonisamy et al., 2010).
Ana Rodrigues 2011
82
3.5 FASE DE APRENDIZAGEM
Previamente à análise realizada nos indivíduos seleccionados para o estudo em questão,
a autora despendeu cerca de um mês, numa fase de aprendizagem intensiva, durante a
qual foram analisados indivíduos de casos forenses pertencentes à Delegação do Sul do
Instituto Nacional de Medicina Legal, IP (INML, IP).
Na análise efectuada a estes indivíduos foi empregue a exacta metodologia que, mais
tarde, se aplicou nos crânios dos esqueletos identificados da colecção Luís Lopes.
Com esta fase indispensável de aprendizagem, a autora adquiriu experiência e familiari-
zou-se com o tipo de observação a efectuar, posteriormente, no estudo, propriamente
dito.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
83
IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ana Rodrigues 2011
84
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
85
4.1 RESULTADOS
4.1.1 A AMOSTRA FINAL
A amostra seleccionada inicialmente para este estudo era composta, como foi de resto já
referido, por 200 indivíduos (figura 17), que faleceram entre 1891 e 1969, com idades
iguais ou superiores a 55 anos e com ausência de qualquer tipo de patologia ou
deformação que pudessem influenciar os resultados do estudo.
Conforme dito, Vieira (2010) realizou um estudo titulado “Estimativa da idade à morte
em indivíduos idosos: Estudo da Sínfise Púbica”, com a mesma amostra esquelética. De
modo a tornar exequível a comparação entre os dois métodos, o ajustamento da amostra
esquelética inicial mostrou-se impreterível. Principiou-se o estudo com a dita amostra
de 200 indivíduos, da qual foram, posteriormente, excluídos todos os indivíduos metó-
picos (alegadamente, a velocidade de obliteração das suturas é diferente nestes indiví-
duos) (Masset, 1982) e todos aqueles que exibiam alterações (sobretudo fracturas post-
mortem) na zona da sínfise púbica, bem como aqueles cuja sínfise não se encontrava
presente.
Portanto, a amostra final é composta por 116 indivíduos (N), sendo 49 (42,24%) do
sexo11
masculino e 67 (57,76%) do sexo feminino (tabela 5, figura 21).
11 O termo sexo refere-se à divisão biológica entre machos e fêmeas enquanto o género corresponde às construções sociais que se
criam em redor das diferenças biológicas. No decorrer do trabalho, os termos sexo e género serão utilizados de forma indiscrimina-
da.
Ana Rodrigues 2011
86
Figura 21 - Distribuição etária dos indivíduos da amostra final.
Para uma visualização optimizada da amostra estudada e de forma a cinzelar os coteja-
mentos finais entre os dois estudos sincrónicos, distribuíram-se os indivíduos por quatro
grupos etários, nomeadamente: dos 55 aos 64 anos, dos 65 aos 74 anos, dos 75 aos 84
anos e dos 85 aos 94 anos. Na tabela 5 estão agrupados os dados referentes às frequên-
cias dos indivíduos de cada sexo, pelos grupos etários citados.
Tabela 5 - Distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra estudada.
Grupo etário
(anos)
Sexo Total
Masculino
Feminino
n %
n % n %
55-64 16 13,80
12 10,34 28 24,14
65-74 21 18,11
16 13,79 37 31,90
75-84 11 9,48
28 24,14 39 33,62
85-94 1 0,86
11 9,48 12 10,34
Total 49 42,25
67 57,75 116 100,0
Posteriormente, (e com o intuito de melhor avaliar o método que envolve o encerramen-
to das suturas cranianas) a amostra sofreu uma nova subdivisão etária: dos 55 aos 64
anos, dos 65 aos 74 anos e superior a 75 anos. Estes grupos foram criados com o objec-
0
5
10
15
20
25
30
55-64 65-74 75-84 84-94
Fre
qu
ên
cia
(N)
Grupos etários (anos)
masculino
feminino
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
87
tivo de tentar averiguar a performance diferencial do método, nos indivíduos mais ido-
sos. Na tabela 6 está representada a frequência dos indivíduos, por sexos, para essas
mesmas classes etárias.
Tabela 6 - Nova distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra estudada.
Classe etária
(anos)
Sexo Total
Masculino
Feminino
n %
n % n %
55-64 16 13,80
12 10,34 28 24,14
65-74 21 18,10
16 13,80 37 31,90
≥75 12 10,34
39 33,62 51 43,96
Total 49 42,24
67 57,76 116 100,00
A figura 22 viabiliza uma melhor percepção da distribuição dos indivíduos pelas classes
etárias estabelecidas e torna, facilmente, observável a existência de alguma discrepância
entre os sexos, muito mais acentuada na classe dos indivíduos mais idosos.
Figura 22 - Nova distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra estudada.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
55-64 65-74 ≥75
Fre
qu
ên
cia
(N)
Grupos etários (anos)
masculino
feminino
Ana Rodrigues 2011
88
Apesar de nas folhas de registo não constarem as datas de nascimento dos indivíduos, as
mesmas foram deduzidas segundo a fórmula: ano da data de morte – idade à morte.
Todos os indivíduos da amostra nasceram entre 1826 e 1913; a maior frequência de nas-
cimentos situa-se entre 1871 e 1880, equivalendo a 25% do total da amostra (29/116)
(tabela 7; figura 23).
Tabela 7 - Décadas de nascimento dos indivíduos da amostra.
Década de Nascimento n %
1821 - 1830 1 0,87
1831 - 1840 4 3,46
1841 - 1850 7 6,05
1851 - 1860 21 18,12
1861 - 1870 22 18,97
1871 - 1880 29 25,00
1881 - 1890 23 18,83
1891 - 1900 7 6,05
1901 - 1910 1 0,87
1911 - 1920 1 0,87
Total 116 100,00
Figura 23 - Décadas de nascimento dos indivíduos da amostra.
1
4 7
21 22
29
23
7
1 1 0
5
10
15
20
25
30
35
1821 - 1830
1831 - 1840
1841 - 1850
1851 - 1860
1861 - 1870
1871 - 1880
1881 - 1890
1891 - 1900
1901 - 1910
1911 - 1920
Fre
qu
ên
cia
(N)
Décadas de nascimento
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
89
Os indivíduos estudados tiveram datas de morte conhecidas e registadas, entre os anos
de 1891 e 1969, como exposto, anteriormente. Observando os dados relativos a essas
datas, pode destacar-se que a maioria dos óbitos (≈27%; 31/116) ocorreu entre as déca-
das de 1940 e 1950 (tabela 8; figura 24).
Tabela 8 - Décadas de morte dos indivíduos da amostra.
Década de Morte n %
1891 - 1900 2 1,72
1901 - 1910 1 0,86
1911 - 1920 7 6,03
1921 - 1930 13 11,21
1931 - 1940 23 19,83
1941 - 1950 31 26,73
1951 - 1960 35 30,17
1961 - 1970 4 3,45
Total 116 100,00
Figura 24 - Décadas da data de morte dos indivíduos da amostra.
A amostra esquelética da Nova Colecção de Lisboa é, na sua maioria, proveniente de
cemitérios da zona de Lisboa e, como seria expectável, aproximadamente 39% (45/116)
da amostra seleccionada possui naturalidade registada em Lisboa. Não obstante, quase
2 1
7 13
23
31
35
4 0
5
10
15
20
25
30
35
40
1891 - 1900
1901 - 1910
1911 - 1920
1921 - 1930
1931 - 1940
1941 - 1950
1951 - 1960
1961 - 1970
Fre
qu
ên
cia
(N)
Décadas de morte
Ana Rodrigues 2011
90
todos os outros distritos do país se encontram representados, incluindo a Madeira e os
Açores. Da totalidade dos indivíduos, apenas quatro são de nacionalidade não portugue-
sa, sendo três de nacionalidade espanhola e um de nacionalidade brasileira. A amostra
inclui ainda quatro indivíduos em que o campo “naturalidade” não se encontrava preen-
chido na folha de registo e é, portanto, desconhecida (tabela 9; figura 25).
Tabela 9 - Naturalidade dos indivíduos da amostra, por distrito.
Distrito n % Distrito n %
Açores 1 0,86 Guarda 4 3,45
Aveiro 4 3,45 Leiria 6 5,17
Beja 3 2,59 Lisboa 45 38,79
Braga 1 0,86 Portalegre 3 2,59
Bragança 1 0,86 Porto 2 1,72
Castelo Branco 5 4,31 Santarém 5 4,31
Coimbra 6 5,17 Setúbal 5 4,31
Évora 3 2,59 Viana do Castelo 2 1,72
Faro 3 2,59 Vila Real 3 2,59
Funchal 1 0,86 Viseu 5 4,31
Não Registado 4 3,45 Outros Países 4 3,45
Total
116 100,00
Figura 25 - Naturalidade dos indivíduos da amostra.
91%
1% 1%
4% 3% Portugal Continental
Arquipélago Açores
Arquipélago Madeira
Outro País
Não Registado
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
91
Uma das últimas análises efectuadas à amostra com base nos registos dos indivíduos
concerne à causa de morte. Estes dados indicam-nos que as doenças do sistema circula-
tório (Capítulo IX) são, claramente, a causa de morte mais comum (33,62%; 39/116),
seguindo-se as neoplasias (Capítulo II) (tumores, na maior parte dos casos, cancerosos)
(19,83%; 23/116) (tabela 10).
As causas de morte foram classificadas em conformidade com o sistema ICD-1012
(International Classification of Diseases, 2007) (tabela 10; figura 26).
Tabela 10 - Causas de morte dos indivíduos da amostra (ICD-10).
Causa de Morte
(Capítulos ICD-10)
Sexo Total
Masculino
Feminino
n %
n % n %
I 5 4,31
1 0,86 6 5,17
II 11 9,48
12 10,34 23 19,83
III 0 0,00
1 0,86 1 0,86
IV 1 0,86
0 0,00 1 0,86
VI 1 0,86
4 3,45 5 4,31
IX 15 12,93
24 20,69 39 33,62
X 5 4,31
8 6,90 13 11,21
XI 2 1,72
2 1,72 4 3,45
XII 1 0,86
0 0,00 1 0,86
XIV 3 2,59
3 2,59 6 5,17
XVIII 2 1,72
9 7,76 11 9,48
XIX 0 0,00
1 0,86 1 0,86
XX 1 0,86
0 0,00 1 0,86
Não Registado 2 1,72
2 1,72 4 3,45
Se se fizer uma análise, desagregando o sexo masculino do feminino, os dados revelam
uma patente predominância de causas de morte associadas ao sistema circulatório
(Capítulo IX) entre os indivíduos do sexo masculino (15 ind./116), registando-se uma
12
Capítulo I- Certas doenças infecciosas e parasitárias; Capítulo II- Neoplasias; Capítulo III- Doenças do sangue e dos órgãos
hematopoiéticos, e certos distúrbios que envolvem o mecanismo imunitário; Capítulo IV- Doenças endócrinas, nutricionais e
metabólicas; Capítulo VI- Doenças do sistema nervoso; Capítulo IX- Doenças do sistema circulatório; Capítulo X- Doenças do
sistema respiratório; Capítulo XI- Doenças do sistema digestivo; Capítulo XII- Doenças da pele e do tecido subcutâneo; Capítulo
XIV- Doenças do sistema genito-urinário; Capítulo XVIII- Sintomas, sinais e achados clínicos e laboratoriais anormais, não classi-
ficados noutra parte; Capítulo XIX- Lesões, envenenamentos e outras consequências de causas externas; Capítulo XX- Causas
externas de morbilidade e mortalidade.
Ana Rodrigues 2011
92
situação análoga para os indivíduos do sexo feminino (24 ind./116); relativamente às
doenças dos sistemas genito-urinário (Capítulo XIV) e digestivo (Capítulo XI) assinala-
se uma similitude entre o número de indivíduos dos dois géneros. Dos problemas asso-
ciados ao capítulo III (doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos, e certos distúr-
bios que envolvem o mecanismo imunitário) e ao capítulo XIX (lesões, envenenamen-
tos e outras consequências de causas externas), apenas se registou mortalidade nos indi-
víduos do sexo feminino; verificando-se o contrário para os capítulos IV (doenças
endócrinas, nutricionais e metabólicas) e XX (causas externas de morbilidade e mortali-
dade), nos quais só existe registo de indivíduos do sexo masculino. Nas causas de morte
associadas aos capítulos VI (doenças do sistema nervoso) e XVIII (sintomas, sinais e
achados clínicos e laboratoriais anormais, não classificados noutra parte) é visível a
predominância de mortalidade dos indivíduos do género feminino sobre os do género
masculino; o predomínio de mortalidade do sexo masculino sobre o feminino registou-
se no capítulo I (certas doenças infecciosas e parasitárias) (tabela 10; figura 25).
Figura 26 - Distribuição dos indivíduos da amostra em função da sua causa de morte e por sexos. (As
causas de morte foram classificadas em conformidade com o sistema ICD-10, 2007).
5
11
1 1
15
5 2 1 3 2 1 2
1
12
1 4
24
8
2 3
9
1 2
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Causas de Morte
Fre
qu
ên
cia
(N)
feminino
masculino
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
93
4.1.2 NORMALIDADE
A distribuição etária da amostra é gaussiana ou “normal” (figura 27; Kolmogorov-
Smirnov=0,964; p=0,311).
Figura 27 - Distribuição etária da amostra estudada.
A média de idade da amostra total é de 72,28 anos (72,28 ± 9,92 anos). Os indivíduos
do sexo feminino exibem uma média de idade de 75,04 anos (75,04 ± 9,99 anos),
enquanto que os indivíduos do sexo masculino apresentam uma média de 68,51 anos
(68,51 ± 8,56 anos) (tabela 11).
Tabela 11 - Estatística descritiva da amostra estudada
Sexo N Média Moda Mediana Desvio Padrão
Masculino 49 68,51 75 67 8,56
Feminino 67 75,04 68 76 9,99
Total 116 72,28 65 72 9,92
Fre
qu
ên
cia
(N
)
Ana Rodrigues 2011
94
4.1.3 ERRO INTRA-OBSERVADOR
Completaram-se três observações em cada um dos indivíduos que compõem a amostra,
de forma a poder ser determinado o erro intra-observador. A avaliação deste parâmetro
é de extrema importância porquanto possibilita ao investigador aquilatar o prossegui-
mento ou término do seu trabalho.
Compararam-se as primeiras observações com as segundas e as segundas com as tercei-
ras. Este procedimento permitiu determinar e quantificar os diagnósticos discordantes
entre as diferentes observações (% Concordância) (tabelas 12 e 13).
Por se tratarem de três leituras, totalmente, independentes entre si, todos os cálculos
foram efectuados para cada sutura, individualmente. Por conseguinte, o método empre-
gue para a estimativa da idade à morte através da sinostose das suturas cranianas aduziu
um erro intra-observador de 13,79% para a sutura coronal, entre a 1ª e a 2ª observações,
decrescendo ligeiramente entre a 2ª e a 3ª observações para 9,48%. O erro intra-
observador obtido para a sutura sagital entre a 1ª e a 2ª observações foi bastante mais
alto que o obtido para a sutura anteriormente referida, tendo sido de 20,69%, decaindo
para 9,48%, entre a 2ª e a 3ª observações. Já para a sutura lambdóide, a percentagem do
erro intra-observador entre a 1ª e a 2ª leituras atingiu os 16,38% e, seguindo a tendência
das precedentes, baixou para 6,03% entre a 2ª e a 3ª observações. Todos os valores
finais (i. e., entre as 2as
e 3as
observações) se situaram abaixo do valor limite, pré-
estabelecido, de 10%.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
95
Tabela 3 - Classificação qualitativa do valor kappa (Adaptado de Byrt, 1996).
Valor de kappa Descrição
≤ 0 Não há Concordância
0,01 - 0,20 Concordância Fraca
0,21 - 0,40 Concordância Ligeira
0,41 - 0,60 Concordância Razoável
0,61 - 0,80 Concordância Boa
0,81 - 0,92 Concordância Muito Boa
0,93 - 1,00 Concordância Excelente
A estatística kappa (Cohen, 1988) sugere uma boa progressão na concordância do valor
do grau de sinostose atribuído pela observadora em momentos diferentes, para as três
suturas cranianas estudadas. Considerando, então, a classificação qualitativa da estatísti-
ca kappa (tabela 3), as observações progrediram de “Boa” para “Muito Boa”, nas sutu-
ras sagital e lambdóide; e de “Razoável” para “Boa” na sutura coronal. Os dados encon-
tram-se coligidos nas tabelas 12 e 13.
Tabela 12 - Estatística kappa, entre a 1ª e a 2ª observações.
Sutura %C kappa (95% IC) Interpretação do valor kappa
Coronal 86,21 0,541 (0,340 – 0,684) Razoável
Sagital 79,31 0,781 (0,685 – 0,877) Boa
Lambdóide 83,62 0,696 (0,592 – 0,800) Boa
Tabela 13 - Estatística kappa, entre a 2ª e a 3ª observações.
Sutura %C kappa (95% IC) Interpretação do valor kappa
Coronal 90,52 0,791 (0,675 – 0,907) Boa
Sagital 90,52 0,871 (0,795 – 0,947) Muito Boa
Lambdóide 93,97 0,831 (0,749 – 0,913) Muito Boa
Ana Rodrigues 2011
96
4.1.4 ERRO INTER-OBSERVADOR
Quando se fala em erro inter-observador há que ter em mente uma afirmação habitual:
observadores equipados com os mesmos instrumentos podem obter resultados comple-
tamente díspares (Curate, 2010). De facto, foram exactamente assim os resultados regis-
tados entre as duas observadoras. De mencionar que o procedimento para a avaliação do
erro inter-observador é em tudo idêntico ao, precedentemente, relatado para a determi-
nação do erro intra-observador.
As percentagens de erro inter-observador obtidas nas observações praticadas pelas duas
investigadoras, de forma integralmente independente, foram de 15,91% para a sutura
coronal, 13,64% para a sutura sagital e de 36,36% para a sutura lambdóide (tabela 14),
sendo que os três valores se encontram além do limite estipulado de 10%, o que, conse-
quentemente, correspondeu a percentagens de concordância muito baixas.
Conferindo, então, uma classificação ao valor da estatística kappa obtido, explica-se que
para as suturas coronal e sagital essa classificação foi “Boa” e para a sutura lambdóide
foi “Razoável”. Os dados encontram-se resumidos na tabela 14.
Tabela 14 - Estatística kappa, entre observadores diferentes.
Sutura N %C kappa (95% IC) Interpretação do valor kappa
Coronal 46 84,09 0,689 (0,487– 0,891) Boa
Sagital 46 86,36 0,774 (0,609– 0,939) Boa
Lambdóide 46 63,64 0,483 (0,287– 0,679) Razoável
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
97
4.1.5 ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO MÉTODO TESTADO
Na amostra total, a percentagem de diagnósticos incorrectos foi superior à percentagem
de diagnósticos correctos, i.e., em que o grupo etário atribuído ao indivíduo através do
método empregue neste trabalho coincidiu com o grupo etário real a que o indivíduo
pertence (figura 28).
Figura 28 – Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para cada sutura craniana.
Analisando as três suturas estudadas, verifica-se que todas registaram percentagens
similares de diagnósticos correctos, percentagens essas, que se revelaram muito baixas.
Para as suturas coronal e sagital, foi mesmo igual: 37,93% (44/116); na sutura lambdói-
de essa percentagem caiu para os 31,03% (36/116) (tabela 15).
Tabela 15 - Diagnósticos correctos e incorrectos para cada sutura craniana.
Sutura Diagnósticos Correctos
Diagnósticos Incorrectos
Total
n %
n %
n %
Coronal 44 37,93
72 62,07
116 100
Sagital 44 37,93
72 62,07
116 100
Lambdóide 36 31,03
80 68,97
116 100
0
20
40
60
80
100
120
Coronal Sagital Lambdóide
Fre
qu
ên
cia
(N)
Suturas
Diagnósticos Incorrectos
Diagnósticos Correctos
Ana Rodrigues 2011
98
As diferenças entre as percentagens de diagnósticos correctos e incorrectos são apenas,
estatisticamente, significativas na sutura lambdóide (Wilcoxon Ζ=-5,736; p=0,000;
tabela 16). Na leitura desta sutura, o método empregue registou uma propensão para
subestimar a idade dos indivíduos, ou seja, a classificação do grau de encerramento des-
ta sutura atribuiu, tendencialmente, aos indivíduos idades mais baixas que as reais. No
caso da sutura coronal e da sutura sagital, as percentagens obtidas não foram significati-
vamente diferentes (coronal: Wilcoxon Ζ=-1,925; p=0,054; sagital: Wilcoxon Ζ=-0,059;
p=0,953; tabela 16). De realçar que a similitude entre as percentagens não se trata de um
aspecto positivo, pois demonstra que o método não foi capaz de classificar correctamen-
te os indivíduos.
Tabela 16 - Teste Wilcoxon para as suturas cranianas.
Sutura Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos
Coronal -1,925 0,054 44 42 30
Sagital -0,059 0,953 44 32 40
Lambdóide -5,736 0,000 36 66 14
Procede-se, agora, à análise de cada sutura, individualmente, atendendo às diferenças
entre os sexos.
Figura 29 - Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura coronal, por sexos.
0
20
40
60
80
100
120
masculino feminino total
Fre
qu
ên
cia
(N)
Sexo
Diagnósticos Incorrectos
Diagnósticos Correctos
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
99
No que concerne à sutura coronal, a comparação entre os sexos mostra que existe uma
proximidade nas percentagens dos diagnósticos, sendo que 38,78% (19/49) dos indiví-
duos do sexo masculino e 37,31% (25/67) dos indivíduos do sexo feminino foram clas-
sificados correctamente (tabela 17; figura 29). Estas percentagens de acerto13
são extre-
mamente baixas para um método de estimativa da idade à morte que se pretendia com
aplicação forense.
Tabela 17 - Diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura coronal, em função dos sexos.
Sexo Diagnósticos Correctos
Diagnósticos Incorrectos
Total
n %
n %
n %
Masculino 19 38,78
30 61,22
49 100,00
Feminino 25 37,31
42 68,69
67 100,00
O sexo masculino apresentou resultados, estatisticamente, não significativos no teste de
Wilcoxon, no entanto, é de referir que, para este género, o método testado tanto subes-
timou como sobrestimou a idade dos indivíduos. No sexo feminino observou-se uma
leve tendência para o método subestimar a idade (tabela 18).
Tabela 18 - Teste Wilcoxon para a sutura coronal, em função dos sexos.
Sexo N Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos
Masculino 49 -0,522 0,602 19 13 17
Feminino 67 -2,799 0,005 25 29 13
Total 116 n.a. n.a. 44 32 30
Embora não significativa, na sutura sagital registou-se uma pequena diferença nos diag-
nósticos correctos atribuídos para o sexo feminino e masculino (figura 30).
13
Quando se faz referência a percentagem de acerto, não é mais do que outra forma de referir percentagem de diagnósticos correc-
tos.
Ana Rodrigues 2011
100
Figura 30 - Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura sagital, em função dos sexos.
No sexo masculino a percentagem de diagnósticos correctos foi de apenas 36,73%
(18/49), ao passo que para o sexo feminino, subiu, muito ligeiramente, para os 38,81%
(26/67) (tabela 19; figura 30). A percentagem de acertos conseguida através deste méto-
do continua a ser muitíssimo baixa.
Tabela 19 - Diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura sagital, em função dos sexos.
Sexo Diagnósticos Correctos
Diagnósticos Incorrectos
Total
n %
n %
n %
Masculino 18 36,73
31 63,27
49 100,00
Feminino 26 38,81
41 61,19
67 100,00
Comparativamente à sutura coronal, quando, para a sagital se testaram os diagnósticos
correctos e incorrectos, em função dos sexos com o teste de Wilcoxon, nenhum dos
sexos mostrou significância estatística (sexo masculino: Wilcoxon Ζ=-1,932; p=0,053;
sexo feminino: Wilcoxon Ζ=-1,491; p=0,136; tabela 20).
0
20
40
60
80
100
120
masculino feminino total
Fre
qu
ên
cia
(N)
Sexos
Diagnósticos Incorrectos
Diagnósticos Correctos
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
101
Tabela 20 - Teste Wilcoxon para a sutura sagital, em função dos sexos.
Sexo N Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos
Masculino 49 -1,932 0,053 18 8 23
Feminino 67 -1,491 0,136 26 24 17
Total 116 n.a. n.a. 44 32 40
Apesar disso, o comportamento do método empregue no presente estudo provou ser
diferente para os dois sexos: no sexo masculino exibiu tendência clara para sobrestimar
a idade; no sexo feminino, tanto sub- como sobrestimou a idade dos sujeitos. Estes
resultados demonstram a inconstância nas avaliações do método.
A sutura que pior discriminou a amostra, em termos de idade, foi a sutura lambdóide.
No entanto, é necessário enfatizar que, nesta amostra, todas as suturas foram péssimas
indicadoras da idade à morte.
Figura 31- Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura lambdóide, em função dos
sexos.
0
20
40
60
80
100
120
masculino feminino total
Fre
qu
ên
cia
(N)
Sexos
Diagnósticos Incorrectos
Diagnósticos Correctos
Ana Rodrigues 2011
102
Para a sutura lambdóide, a percentagem de diagnósticos correctos foi (uma vez mais)
muito reduzida; fazendo a comparação entre os sexos, verificou-se que apenas 42,86%
(21/49) e 22,39% (15/67) dos indivíduos do sexo masculino e feminino, respectivamen-
te, foram correctamente alocados nos grupos etários (tabela 21; figura 31).
Tabela 21 - Diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura lambdóide, em função dos sexos.
Sexo Diagnósticos Correctos
Diagnósticos Incorrectos
Total
n %
n %
n %
Masculino 21 42,86
28 57,14
49 100,00
Feminino 15 22,39
52 77,61
67 100,00
O teste de Wilcoxon tornou patente que, em ambos os géneros, a classificação dos indi-
víduos baseada na observação da sutura lambdóide foi, efectivamente, a mais errónea: o
método usado subestimou a idade em 66 dos 116 indivíduos da amostra, sendo 20 des-
tes homens e 46 mulheres (sexo masculino: Wilcoxon Ζ=-2,518; p=0,012; sexo femini-
no: Wilcoxon Ζ=-5,155; p=0,000; tabela 22).
Tabela 22 - Teste Wilcoxon para a sutura lambdóide, em função dos sexos.
Sexo N Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos
Masculino 49 -2,518 0,012 21 20 8
Feminino 67 -5,155 0,000 15 46 6
Total 116 n.a. n.a. 36 66 14
Concretizando a análise estatística de cada sutura em função dos grupos etários estabe-
lecidos, pode verificar-se que, independentemente, destes e da sutura, a percentagem de
diagnósticos incorrectos atribuídos de acordo com a metodologia empregue neste traba-
lho foi muito (demasiado) elevada (tabelas 23 e 27; figura 32).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
103
Figura 32 - Frequência de diagnósticos correctos para todas as suturas, em função dos grupos etários.
Na distribuição resumida na tabela 23, verifica-se que para a sutura coronal o maior
número de acertos correspondeu à classe etária dos 65-74 anos de idade (25/116;
67,57%); para a sutura sagital, foi a classe etária dos sujeitos mais idosos (23/116;
45,10%); e na sutura lambdóide, o maior número de diagnósticos correctos registou-se
nas classes etárias mais jovens, com uma pequena vantagem na classe dos 55-64 anos
(16/116; 57,14%) (tabela 23).
Tabela 23 - Diagnósticos correctos por sutura craniana, em função das classes etárias.
Sutura
Classe etária (anos)
55 - 64
65 - 74 ≥75
n %
n % n %
Coronal 6 21,43
25 67,57 13 25,49
Sagital 5 17,86
16 43,24 23 45,10
Lambdóide 16 57,14
13 35,13 7 13,73
Total 27 n.a.
54 n.a. 43 n.a.
Como seria expectável, a classe etária para a qual se registou o maior número de diag-
nósticos correctos foi a dos 65-74 anos, classe que pode ser considerada intermédia. A
classe dos indivíduos mais jovens foi aquela que revelou maior porção de diagnósticos
0
10
20
30
40
50
60
Coronal Sagital Lambdóide Total
Fre
qu
ên
cia
(N)
Suturas
55-64
65-74
≥75
Grupos etários:
Ana Rodrigues 2011
104
incorrectos, aferidos pelo método de estimativa da idade à morte através do encerramen-
to das suturas cranianas (tabela 23).
Particularizando a análise por sutura, verifica-se que no grupo etário dos mais jovens, a
metodologia empregue na sutura coronal revelou uma grande propensão para sobresti-
mar a idade dos sujeitos (55-64: Wilcoxon Ζ=-4,960; p=0,000); na classe etária dos
indivíduos mais idosos (≥75) a tendência foi oposta (Wilcoxon Ζ=-5,855; p=0,000); na
categoria etária que compreende às idades dos 65 aos 74 anos, o teste não mostrou sig-
nificância estatística, o método tanto sub- como sobrestimou a idade dos indivíduos (65-
74: Wilcoxon Ζ=-0,775; p=0,439) (tabela 24).
Tabela 24 - Teste Wilcoxon para a sutura coronal, de acordo com as classes etárias.
Classe etária N Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos
55 - 64 28 -4,960 0,000 6 0 22
65 - 74 37 -0,775 0.439 25 4 8
≥75 51 -5,855 0,000 13 38 0
Total 116 n.a. n.a. 44 42 30
Ao analisar o método aplicado no presente trabalho para a sutura sagital, de um modo
geral, este mostrou uma tendência para sobrestimar a idade dos indivíduos da amostra,
exceptuando na classe etária dos mais idosos, em que exibiu uma tendência antagónica
(55-64: Wilcoxon Ζ=-4,344; p=0,000; 65-74: Wilcoxon Ζ=-2,082; p=0,037; ≥75: Wil-
coxon Ζ=-4,774; p=0,000; tabela 25).
Tabela 25 - Teste Wilcoxon para a sutura sagital, de acordo com as classes etárias.
Classe etária N Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos
50 - 59 28 -4,344 0,000 5 0 23
60 - 74 37 -2,082 0,037 16 4 17
≥75 51 -4,774 0,000 23 28 0
Total 116 n.a. n.a. 44 32 40
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
105
Prosseguindo com a análise dos resultados do teste de Wilcoxon obtidos para a sutura
lambdóide, verifica-se que a tendência da metodologia usada em sobrestimar a idade
dos indivíduos no grupo etário dos indivíduos mais jovens foi bastante vincada (Wilco-
xon Ζ=-2,392; p=0,017; tabela 26). Nas duas classes etárias mais velhas, a tendência
incontestável foi para o método subestimar a idade dos indivíduos, particularmente, no
grupo 60-74 (60-74: Wilcoxon Ζ=-3,321; p=0,001; ≥75: Wilcoxon Ζ=-5,913; p=0,000;
tabela 26). Foi através da leitura desta sutura que se registou o menor número de empa-
tes (diagnósticos correctos), uns meros 36, em 116 indivíduos totais (tabela 26).
Tabela 26 - Teste Wilcoxon para a sutura lambdóide, de acordo com as classes etárias.
Classe etária N Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos
50 - 59 28 -2,392 0,017 16 2 10
60 - 74 37 -3,321 0,001 13 20 4
≥75 51 -5,913 0,000 7 44 0
Total 116 n.a. n.a. 36 66 14
Na distribuição dos grupos etários criados em conjunto pela autora e por Vieira (2010),
observa-se que para a sutura coronal, o grupo dos 65-74 anos foi aquele que registou um
número superior de acertos nos diagnósticos atribuídos (25/37) (tabela 27; figura 33).
Figura 33 - Frequência de diagnósticos correctos, em função dos grupos etários estabelecidos em conjun-
to com Vieira (2010).
0
10
20
30
40
50
60
Coronal Sagital Lambdóide Total
Fre
qu
ên
cia
(N)
Suturas
55-64
65-74
75-84
85-94
Grupos etários:
Ana Rodrigues 2011
106
Os grupos etários dos indivíduos mais jovens e dos mais idosos foram aqueles que mos-
traram resultados mais fracos, com apenas 6 e 3 acertos, respectivamente (tabela 27;
figura 33).
Tabela 27 - Diagnósticos correctos por sutura craniana, em função dos grupos etários estabelecidos, con-
juntamente, com Vieira (2010).
Sutura
Classe etária (anos)
55 - 64
65 - 74 75 – 84 85 - 94
n %
n % n % n %
Coronal 6 21,43
25 67,57 10 25,64 3 25,00
Sagital 5 17,86
16 43,24 17 43,59 6 50,00
Lambdóide 16 57,14
13 35,13 7 17,95 0 0,00
Total 27 n.a.
54 n.a. 43 n.a. 9 n.a.
Para a sutura sagital não se verificou qualquer padrão nos diferentes grupos etários. No
grupo etário dos 55-64 anos, a percentagem de diagnósticos correctos para esta sutura
foi de 21,43% (5/28); para o grupo dos 65-74 anos, foi de 43,24% (16/37); para o grupo
etário dos 75-84 anos, foi de 43,59% (17/39); e no último grupo etário definido, a per-
centagem de acertos foi de 50% (6/12) (tabela 27; figura 33).
A percentagem de diagnósticos correctos atribuídos com base na sutura lambdóide mos-
tra um padrão: varia inversamente com a idade dos indivíduos (57,14% → 35,13% →
17,95%). No grupo etário dos mais idosos, o método de classificação do grau de encer-
ramento das suturas cranianas, não alocou nenhum indivíduo correctamente, através da
sutura lambdóide (tabela 27; figura 33).
Tabela 28 - Teste Qui-Quadrado, por sutura craniana.
Sutura N χ2 de Pearson df p
Coronal 116 0,026 1 0,873
Sagital 116 0,052 1 0,820
Lambdóide 116 5,540 1 0,019
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
107
Na tabela 28 estão sintetizados os resultados do teste Qui-Quadrado, através do qual se
pode constatar que a percentagem de diagnósticos correctos e incorrectos não difere de
forma significativa entre os sexos, nas suturas coronal e sagital (coronal: Pearson χ2
=0,026; df=1; p=0,873; sagital: Pearson χ2
=0,052; df=1; p=0,820). O mesmo não se
verificou para a sutura lambdóide, para a qual o teste Qui-Quadrado foi estatisticamente
significativo, mostrando que existem diferenças entre os sexos, no que concerne a diag-
nósticos correctos e incorrectos (Pearson χ2
=5,540; df=1; p=0,019) (tabela 28).
Ana Rodrigues 2011
108
4.1.6 CAIXAS DE BIGODES RELATIVOS ÀS OBSERVAÇÕES EFECTUADAS
Iniciou-se a análise de dispersão dos dados com as observações efectuadas das três sutu-
ras estudadas para os grupos etários.
Numa apreciação geral das caixas de bigodes obtidas, confirma-se que os resultados não
estão de acordo com o que seria expectável. Em todas as suturas há registo de valores
atípicos ou extremos; a distribuição das caixas de bigodes não se mostra de acordo com
a distribuição dos graus de obliteração dos indivíduos para os grupos etários estabeleci-
dos; e a dispersão dos bigodes é muito elevada, na maioria das caixas.
Figura 34 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura coronal, para os grupos etários estabeleci-
dos.
Na sutura coronal, particularmente, os indivíduos 74 e 42 constituem dois valores atípi-
cos, embora por razões distintas. O indivíduo 74 (figura 35) tinha 67 anos de idade à
morte (grupo etário 2: 65-74 anos), mas foi-lhe atribuído um grau de obliteração de 0,3
(média das classificações14
atribuídas aos segmentos da sutura coronal) que o alocaria
14
Todos os valores de encerramento obtidos pela autora referidos ao longo do trabalho resultam da média das classificações atri-
buídas aos respectivos segmentos da sutura a que tais valores se reportam.
Gr. Et. N
55-64 28
65-74 37
>75 51
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
109
num grupo etário correspondente a indivíduos com idades inferiores a 55 anos (grupo
inexistente na amostra deste trabalho). Por outro lado, o indivíduo 42 destaca-se da cai-
xa por se encontrar correctamente alocado. A maioria dos indivíduos do grupo etário 1
(55-64 anos) apresentou graus de obliteração mais elevados do que seria de esperar.
Portanto, o indivíduo 42, com 56 anos de idade à morte e grau de encerramento 2,0, foi
correctamente alocado no grupo etário 1 (55-64 anos). Neste grupo etário, os valores
dispersaram um pouco entre: ligeiramente acima do grau 2 e o grau 3,5; a caixa mani-
festa uma grande assimetria das distâncias inter-quartil. A dispersão da caixa de bigodes
correspondente aos dados obtidos para o grupo etário 2 é mais elevada, apesar de a dis-
tância inter-quartil dos 1º e 3º quartis não ser muito grande, os bigodes dispersam-se
desde o grau 2 ao 4. O grupo etário 3, que corresponde aos indivíduos com idades supe-
riores a 75 anos, deveria apresentar a caixa entre os valores 3,5 e 4, o que também não
se verifica, facto que demonstra que a maioria dos indivíduos apresentou graus de obli-
teração mais baixos e com maior variação que o esperado para as suas idades (figura
34).
Figura 35 - Indivíduo nº 74 da Colecção Luís Lopes. (A) - Vista superior do crânio, evidenciando as
suturas coronal e sagital; (B) - Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura lambdóide (Rodrigues &
Vieira, 2011).
B A
Ana Rodrigues 2011
110
Figura 36 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura sagital, para os grupos etários estabeleci-
dos.
O gráfico da sutura sagital é muito semelhante ao obtido para a sutura coronal. Nesta
sutura, as caixas de bigodes dos três grupos etários exibem dispersão pelos graus de
obliteração 2 a 4, sendo que as medianas das três caixas se situam, sensivelmente, no
grau 3. Registam-se, similarmente, dois indivíduos correspondentes a valores atípicos:
novamente, o indivíduo 74 (67 anos) (figura 35) pertencente ao grupo etário 2 e o indi-
víduo 233 com, exactamente, a mesma idade (figura 37). Os graus de encerramento
atribuídos a estes indivíduos foram 0,0 para o 74 e 1,0 para o 233; com estes valores de
encerramento seriam alocados num grupo etário com indivíduos com idades inferiores a
55 anos. É de relembrar que a amostra não conta com nenhum exemplar com 54 anos ou
menos (figura 36).
Gr. Et. N
55-64 28
65-74 37
>75 51
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
111
Figura 37 - Indivíduo nº 233 da Colecção Luís Lopes. (A) - Vista superior do crânio, evidenciando as
suturas coronal e sagital; (B) - Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura lambdóide (Rodrigues &
Vieira, 2011).
Figura 38 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura lambdóide, para os grupos etários estabe-
lecidos.
Gr. Et. N
55-64 28
65-74 37
>75 51
B A
Ana Rodrigues 2011
112
Uma vez mais, a caixa de bigodes permite confirmar que os graus de obliteração atri-
buídos à sutura lambdóide não corresponderam, na generalidade dos casos, ao que seria
de esperar. Todas as caixas apresentam uma dispersão elevada, mais marcada no grupo
etário 2, onde esta abrange os graus 1 a 4. No primeiro grupo etário, a caixa de bigodes
mostra que, em grande parte dos casos, a idade foi sobrestimada, havendo uma pequena
porção em que ocorreu subestimação deste parâmetro. Já no grupo etário 2, a situação
foi, praticamente, antagónica. Com excepção de uma pequena minoria de indivíduos, no
grupo etário 3 as idades foram, copiosamente, subestimadas. Em cada grupo etário
regista-se um valor atípico. Analogamente ao que aconteceu nas duas outras suturas, um
destes é o indivíduo 74 (figura 35), com 67 anos de idade (grupo etário 2: 65-74 anos),
que recebeu grau de encerramento 0,0 que o classificaria como tendo idade inferior a 55
anos. No grupo etário 1, é o indivíduo 323 (figura 39) com 57 anos que, ao obter um
grau de obliteração de 3,8, constituiu o valor atípico. Este grau de obliteração seria
esperado num indivíduo com 75 anos ou mais, correspondendo ao grupo etário estabe-
lecido 3 (figura 38).
Figura 39 - Indivíduo nº 323 da Colecção Luís Lopes. (A) - Vista superior do crânio, evidenciando a
(quase) obliteração das suturas coronal e sagital; (B) - Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura
lambdóide totalmente encerrada (Rodrigues & Vieira, 2011).
B A
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
113
Por último, ao indivíduo 158 (figura 40) pertencente ao grupo etário 3, pois possui 76
anos de idade, foi atribuído um valor 0,2 para o grau de obliteração da sutura lambdói-
de, valor que o alocaria num grupo de indivíduos com idades inferiores a 55 anos. A sua
idade foi largamente subestimada (figura 38).
Figura 40 - Indivíduo nº 158 da Colecção Luís Lopes. (A) - Vista superior do crânio, evidenciando as
suturas coronal e sagital; (B) - Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura lambdóide (quase) total-
mente aberta (Rodrigues & Vieira, 2011).
De forma a avaliar se a dispersão foi ou não similar entre os sexos para cada sutura,
construíram-se caixas de bigodes para ambos os sexos, separadamente. Os resultados
obtidos foram um pouco distintos dos anteriores (na avaliação geral das suturas), não
sendo, no entanto, positivos, uma vez que continuam a não se coadunar com os espera-
dos.
É possível ver que o sexo feminino, independentemente da sutura, exibe uma maior
tendência para registar valores atípicos, facto que também é passível de ser constatado
através da análise dos gráficos expostos acima (figuras 34, 36 e 38), onde todos os casos
de valores atípicos, com uma única excepção, representam indivíduos do sexo feminino.
B A
Ana Rodrigues 2011
114
Figura 41 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura coronal dos indivíduos do sexo masculino,
para os grupos etários estabelecidos.
No grupo sexual masculino, para a sutura coronal, apesar de não terem sido detectados
valores atípicos, os resultados obtidos continuam longe dos previstos. No grupo etário 3,
as idades dos indivíduos foram, incontestavelmente, subestimadas; apenas uma ínfima
parte no extremo do bigode superior foi correctamente classificada. O grupo etário 2 foi
aquele em que os graus de obliteração melhor se conformaram às idades reais dos
indivíduos, visto que a caixa se encontra mais concentrada junto ao grau 3. Não
obstante, foi aquela que apresentou, também, a maior dispersão, com os valores dos
extremos a extenderem-se desde o grau 2 ao grau 4. As idades dos indivíduos do grupo
etário 1 foram, maioritariamente, sobrestimadas, com a maior frequência de casos a
iniciar-se no grau de obliteração 2,5, que corresponderia já ao grupo etário 2 (65-74
anos) (figura 41).
Gr. Et. N
55-64 28
65-74 37
>75 51
♂: 49
♀: 67
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
115
Figura 42 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura coronal dos indivíduos do sexo feminino,
para os grupos etários estabelecidos.
Registam-se três valores atípicos na caixa de bigodes do sexo feminino para a sutura
coronal. Dois destes, localizam-se no grupo etário 1 e correspondem aos indivíduos 42 e
384, ambos com 56 anos. Estes obtiveram graus de encerramento de 2,0 e de 2,3,
respectivamente; facto que os tornou nos únicos casos correctamente alocados em todo
o grupo etário 1. Todos os outros indivíduos deste grupo etário obtiveram graus de
obliteração que os colocariam no grupo etário seguinte tendo, portanto, ocorrido
sobrestimação da idade. O restante valor atípico é, de novo, o indivíduo 74 (figura 35)
que, com 67 anos, situado no grupo etário 2 e com um grau de encerramento de 0,3,
seria alocado num grupo etário com indivíduos de idades inferiores a 55 anos. Uma vez
mais se refere que a amostra não apresentava indivíduos com essa característica. O
grupo etário 2 foi aquele em que o “esperado” e o “obtido” estiveram mais próximos.
Apenas a extremidade do bigode superior se encontra fora do intervalo dos graus de
obliteração correspondentes a este grupo etário (2,5 - 3,4). Já no grupo etário 3, obteve-
Gr. Et. N
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65-74 37
>75 51
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♀: 67
Ana Rodrigues 2011
116
se registo antagónico: a maior frequência dos casos localiza-se abaixo do limite inferior
do grau de encerramento estabelecido para este grupo etário (3,5) (figura 42).
Figura 43 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura sagital dos indivíduos do sexo masculino,
para os grupos etários estabelecidos.
No sexo masculino, para a sutura sagital, as classificações nos três grupos etários foram
bastante semelhantes entre si, situando-se entre o grau 2 - grupo etário 1, ou 2,5 - grupos
etários 2 e 3, e o grau 4. Logicamente, estes resultados não são os expectados. Esta foi a
única sutura que exibiu, para o sexo masculino, um valor atípico. Este localiza-se no
grupo etário 2 e representa o indivíduo 233 (figura 37), de 67 anos, mas que obteve um
grau de obliteração de apenas 1,0, valor que corresponderia a indivíduos com idades
inferiores a 55 anos (que não se encontravam representados na amostra). As caixas de
bigodes apresentam uma elevada distância inter-quartil (figura 43).
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Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
117
Figura 44 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura sagital dos indivíduos do sexo feminino,
para os grupos etários estabelecidos.
Como foi já indicado, para o sexo feminino verificaram-se casos de valores atípicos. Na
sutura sagital, esse valor é apenas um, correspondente ao já usual indivíduo 74 (67 anos,
grupo etário 2:65-74 anos) (figura 35), que obteve, novamente, grau 0,0 de
encerramento, que o alocaria num grupo etário inexistente nesta amostra, de indivíduos
com idades inferiores a 55 anos. Comparando com o sexo masculino, os resultados do
sexo feminino foram, ligeiramente, melhores: as caixas revelam-se mais pequenas, não
apresentando distâncias inter-quartil tão elevadas. Os valores das medianas, por outro
lado, tornam-nas um pouco mais assimétricas. As idades dos indivíduos do grupo etário
1 foram largamente sobrestimadas. O grupo etário 2 foi aquele em que, apesar de terem
ocorrido muitos casos de alocações incorrectas, se registou um maior número de
indivíduos com classificações correctas (entre 2,5 e 3,4). Já no grupo etário 3 surgiram,
como se tem vindo a constatar, bastantes casos de indivíduos em que a classificação do
encerramento das suturas subestimou as suas idades reais (figura 44).
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Figura 45 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura lambdóide dos indivíduos do sexo mascu-
lino, para os grupos etários estabelecidos.
Na sutura lambdóide, para o sexo masculino, não houve registo de valores atípicos. No
entanto, as caixas de bigodes apresentam uma enorme dispersão. A caixa do grupo etá-
rio 1 dispersa-se desde o grau 1 de encerramento até ao grau 3,5; porém, a maior fre-
quência de casos localizou-se perto dos valores esperados (1,5 – 2,4). Tanto no grupo 2
como no grupo 3, houve subestimação da idade dos indivíduos, discernível através da
posição das maiores frequências de casos das caixas de bigodes (abaixo dos valores
previsíveis: 2,5 para o grupo etário 2; 3,5 para o grupo etário 3).
Gr. Et. N
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Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
119
Figura 46 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura lambdóide dos indivíduos do sexo femini-
no, para os grupos etários estabelecidos.
Para o sexo feminino, o gráfico da sutura lambdóide mostra cinco valores atípicos, dois
no grupo etário 1, dois no grupo etário 2 e um no grupo etário 3. O já recorrente indiví-
duo 74 e o indivíduo 158 (67 e 76 anos, respectivamente) (figuras 35 e 40), que foram
classificados com graus de obliteração de 0,0 e 0,3. Ora, nenhum destes graus atribuídos
alocaria estes indivíduos nos grupos etários a que realmente pertencem, uma vez que
estes valores seriam expectáveis em indivíduos com idades inferiores a 55 anos. Quanto
aos indivíduos 223 (61 anos) (figura 47), 323 (57 anos) (figura 39) e 456 (68 anos)
(figura 48), seriam os três alocados no grupo etário 3 (≥75 anos), pois obtiveram graus
de encerramento de 3,5, 3,8 e 4,0, respectivamente, mas obviamente isso não aconteceu.
As caixas de bigodes dos dois últimos grupos etários mostram uma dispersão elevada
(desde perto de 1 até cerca de 4) e as maiores frequências destas situam-se abaixo dos
valores dos limites inferiores dos graus de encerramento previstos para os grupos etá-
rios. A caixa de bigodes do grupo etário 1 correspondeu, na sua totalidade, aos valores
esperados (figura 46).
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Ana Rodrigues 2011
120
Figura 47 - Indivíduo nº 223 da Colecção Luís Lopes. (A) - Vista superior do crânio, evidenciando a
sutura coronal quase encerrada e a sagital totalmente obliterada; (B) - Vista posterior do crânio, eviden-
ciando a sutura lambdóide completamente fechada (Rodrigues & Vieira, 2011).
Figura 48 - Indivíduo nº 456 da Colecção Luís Lopes. (A) - Vista superior do crânio, evidenciando a
ausência de vestígios das suturas coronal e sagital; (B) - Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura
lambdóide completamente obliterada (Rodrigues & Vieira, 2011).
B A
B A
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
121
4.1.7 TESTES DE CORRELAÇÃO
A tabela que se segue (tabela 4) mostra como interpretar os valores obtidos nos testes de
correlação empregues neste estudo.
Tabela 4 - Interpretação do coeficiente de correlação (Adaptado de Cohen, 1988).
Coeficiente de Correlação Interpretação
(0,0 – 0,09) Não há Correlação
(0,1 – 0,3) Correlação Fraca
(0,3 – 0,5) Correlação Moderada
(› 0,5) Correlação Elevada
Valores entre parênteses são positivos ou negativos.
Os testes de correlação de Spearman aplicados demonstram que existem correlações
significativamente elevadas entre o encerramento observado nas três suturas avaliadas.
Não obstante, esta interpretação não se traduz numa boa avaliação para o método do
encerramento das suturas cranianas, uma vez que os valores das correlações se encon-
tram bastante afastados do valor ideal 1 (coronal-sagital: Spearman rho=0,613;
p=0,000; coronal-lambdóide: Spearman rho=0,572; p=0,000; sagital-lambdóide:
Spearman rho=0,675; p=0,000). Na tabela 29 encontram-se compilados todos os valo-
res.
Tabela 29 - Correlação do encerramento entre as suturas cranianas.
Suturas N Spearman rho p Interpretação
Coronal - Sagital 116 0,613 0,000 Correlação Elevada
Coronal - Lambdóide 116 0,572 0,000 Correlação Elevada
Sagital - Lambdóide 116 0,675 0,000 Correlação Elevada
Entre a sutura coronal e os grupos etários, previamente, estabelecidos existe uma corre-
lação, estatisticamente, significativa, mas fraca (Spearman rho=0,240; p=0,000). Tanto
Ana Rodrigues 2011
122
para a sutura sagital, como para a lambdóide, verifica-se que não existe correlação entre
os scores obtidos para estas suturas e os grupos etários estabelecidos no início do estudo
(sagital: Spearman rho=0,032; p=0,731; lambdóide: Spearman rho=0,112; p=0,233)
(tabela 30).
Tabela 30 - Correlação entre as suturas cranianas e os grupos etários.
Suturas N Spearman rho p Interpretação
Coronal 116 0,240 0,000 Correlação Fraca
Sagital 116 0,032 0,731 Não Há Correlação
Lambdóide 116 0,112 0,233 Não Há Correlação
Registou-se uma correlação elevada entre as suturas coronal e sagital (coronal-sagital:
Spearman rho=0,669; p=0,000; tabela 31); as correlações entre a sutura lambdóide e as
outras duas suturas foram moderadas (coronal-lambdóide: Spearman rho=0,482;
p=0,000; sagital-lambdóide: Spearman rho=0,427; p=0,000; tabela 31). Uma vez mais,
deve sublinhar-se que estas correlações nada logram de positivo, pois continuam a ser
valores muito distantes de 1,00.
Tabela 31 - Correlação entre diagnósticos correctos e incorrectos, entre suturas.
Suturas N Spearman rho p Interpretação
Coronal - Sagital 116 0,669 0,000 Correlação Elevada
Coronal - Lambdóide 116 0,482 0,000 Correlação Moderada
Sagital - Lambdóide 116 0,427 0,000 Correlação Moderada
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
123
Os resultados obtidos nos testes de correlação de Spearman sugerem que não existe cor-
relação entre o método utilizado neste trabalho e o método adoptado por Vieira (2010)
no estudo realizado paralelamente (Spearman rho=-0,129; p=0,190; tabela 32).
Tabela 32 - Correlação entre os métodos de estimativa da idade à morte: através do grau de encerramento
das suturas cranianas e o método de Suchey-Brooks.
Métodos Spearman rho p Interpretação
Suturas cranianas vs. Sínfise púbica -0,129 0,190 Não há correlação
Com o auxílio do teste de Qui-Quadrado apurou-se, também, que os dois métodos não
apresentam diferenças, estatisticamente, significativas entre si (tabela 33), ou seja,
ambos falham.
Tabela 33 - Teste Qui-Quadrado, para os dois métodos.
Métodos N χ2 de Pearson GL p
Suturas cranianas vs. Sínfise púbica 116 1,742 1 0,187
Estes resultados significam que ambos os métodos se comportaram da mesma forma no
que concerne à estimativa da idade à morte em indivíduos idosos, i. e., ambos foram
falíveis e pouco úteis para este fim.
Pelo facto de os dois métodos se basearem em indicadores da idade diferentes, que
geram tipos de dados diferentes (ordinais e não ordinais), não foi possível a realização
de mais testes estatísticos para uma comparação mais extensa dos referidos métodos. No
entanto, foi possível efectuar comparações entre os resultados obtidos em cada um dos
estudos, expostas e analisadas no subcapítulo Discussão e no capítulo Conclusões, do
presente trabalho.
Ana Rodrigues 2011
124
4.2 DISCUSSÃO
Efectuar estimativas de idade à morte em indivíduos adultos é um dos passos fundamen-
tais no estudo de restos esqueléticos humanos. Mas é, igualmente, um dos maiores e
mais difíceis problemas da Antropologia Biológica e, sobretudo, da Antropologia
Forense (Masset, 1982), pois, para que a estimativa seja fiável, é necessário que as
metodologias aplicadas sejam válidas (i.e., precisas, exactas e reprodutíveis). Os estudos
em que os investigadores ignoram, ou preferem ignorar, que não existe uma relação
linear entre a idade cronológica e os indicadores da idade num indivíduo, descurando a
variabilidade complexa dos processos de envelhecimento, são demasiado frequentes.
Naturalmente, estes procedimentos irão introduzir erros logo no processamento dos
dados, uma vez que os métodos estatísticos seleccionados irão ser, à partida, desade-
quados (Corsini et al., 2005).
A reiterabilidade dos resultados obtidos pelo mesmo investigador que afere, estatistica-
mente, dois ou mais conjuntos de observações, realizadas em alturas distintas, aponta
para o erro intra-observador. O erro inter-observador remete, por sua vez, à reiterabili-
dade dos dados alcançados por investigadores diferentes, que observaram as mesmas
quantidades (Cardoso, 2000; Weinberg et al., 2005).
O erro intra-observador obtido entre a primeira e a segunda leitura alcançou, de uma
forma geral, valores demasiado elevados (13,79%; 20,69% e 16,38%, para as suturas
coronal, sagital e lambdóide, respectivamente). Porém, estes valores diminuíram signi-
ficativamente entre a segunda e a terceira leituras, situando-se, assim, dentro do limite
proposto de 10% (9,48% para as suturas coronal e sagital e 6,03% para a lambdóide),
permitindo à autora continuar com o trabalho de investigação. Este facto comprova, não
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
125
só que a experiência do investigador é útil, mas verdadeiramente indispensável. Houve,
pois, uma progressão positiva na análise das suturas por parte da investigadora, evo-
luindo de “Razoável” para “Boa”, na leitura da sutura coronal; e de “Boa” para “Muito
Boa” na leitura das suturas sagital e lambdóide. As referidas classificações foram atri-
buídas através da interpretação do valor de kappa calculado.
Apesar da melhoria entre observações, os elevados valores das percentagens de erro
intra-observador obtidos indicam, desde logo, que o método empregue é subjectivo.
Quando se faz a avaliação do erro entre dois observadores diferentes, os valores obtidos
corroboram as noções relatadas anteriormente, i.e., devido ao facto de Vieira (2010) não
possuir o mesmo período de treino que a autora, que acabou por se provar essencial,
registou-se uma percentagem de concordância (%C), substancialmente, menor. Os valo-
res do erro ficaram bem acima do limite de 10% (previamente estipulado): 15,91%;
13,64% e 36,36% para a suturas coronal, sagital e lambdóide, respectivamente. Este
facto, associado à subjectividade inerente ao próprio método, tornam-no pouco útil para
ser empregue por investigadores com pouca experiência neste tipo de observações.
Como Lovejoy e colegas (1985) constataram, existem duas grandes fontes de erro em
qualquer estimativa da idade à morte: a variação inerente ao processo biológico de
envelhecimento e a perícia do investigador em estimar a idade biológica do indivíduo
desconhecido. Com tão-somente duas análises estatísticas (cálculo do erro intra- e inter-
observador) foi possível verificar isso mesmo.
A classificação atribuída aos valores da estatística kappa obtidos por Vieira (2010) foi
de “Boa” para as suturas coronal e sagital, e de “Razoável” para a sutura lambdóide,
numa gama de interpretações que vai desde “Nula” até “Excelente”, permitindo afirmar
que não são resultados nada positivos.
Ana Rodrigues 2011
126
Pelos fundamentos expostos, é possível inferir que o método de estimativa da idade à
morte através do encerramento das suturas cranianas possui fraca reiterabilidade (tanto
por investigadores diferentes, como pelo mesmo investigador, em observações diferen-
tes).
No total da amostra, a percentagem de diagnósticos incorrectos foi bastante superior à
de diagnósticos correctos, o que, numa abordagem muito superficial, mostra a falibili-
dade e baixa precisão da metodologia empregue.
Objectivando por sutura, a percentagem de diagnósticos correctos foi muito próxima
para as três suturas observadas, o que indica que o método se comportou de forma idên-
tica nas três, i.e., produziu demasiados erros de diagnóstico etário. Todavia, o encerra-
mento nas suturas coronal e sagital mostrou ser, ligeiramente, mais congruente com a
idade à morte real, que na sutura lambdóide; tendo-se obtido 44 acertos contra 36 desta
última, do total de 116 indivíduos que compõem a amostra. Não obstante as duas sutu-
ras (coronal e sagital) terem apresentado maior número de acertos que a sutura lamb-
dóide, estas não se mostraram úteis ou suficientemente exactas, para poderem ser consi-
deradas bons indicadores da idade à morte.
Com a aplicação do teste de Wilcoxon pretendeu-se aferir se as observações efectuadas
pela autora providenciaram resultados semelhantes aos dados fornecidos pelas folhas de
registo individual dos indivíduos facultadas pelo Museu, ou seja, se as classes etárias
que foram atribuídas através da observação e classificação do encerramento das suturas
cranianas correspondem às classes etárias reais a que os indivíduos pertencem.
Obtiveram-se, então, valores não significativos no teste de Wilcoxon quando se testou a
diferença entre diagnósticos correctos e incorrectos, nas suturas coronal e sagital. Estes
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
127
resultados podem ser explicados devido à proximidade entre os empates (ties) e os
ranks positivos, na sutura sagital; e entre os empates e os ranks negativos, na sutura
coronal.
Este teste estatístico permite ainda averiguar quantos indivíduos foram correctamente
classificados através do método do encerramento das suturas (empates) e em quantos
este método subestimou (ranks negativos) ou sobrestimou (ranks positivos) a idade.
Na sutura lambdóide, o método mostrou uma tendência muito vincada para subestimar a
idade dos indivíduos, o que se traduziu na atribuição de uma idade inferior à idade real
destes. Esta sutura encontrava-se, na maioria das vezes, aberta e foi a única sutura à qual
foi atribuído um grau 0 (zero) de encerramento, o que não corresponde ao esperado,
pois, em indivíduos com idade superior ou igual a 55 anos, é expectável que esta sutura
se encontre quase, ou totalmente, obliterada. Pode inferir-se que esta sutura não é, de
todo, um bom indicador da idade, porque a sua observação conduziu a uma elevada per-
centagem de diagnósticos erróneos. Acsádi e Nemeskéri (1970) atestaram isso mesmo,
ao verificarem que esta sutura se encontrava aberta em indivíduos com 70 anos, por
exemplo.
Um método que apresenta uma percentagem de diagnósticos errados superior a 60% não
pode tratar-se, evidentemente, de um bom método de análise. Se se tivesse procedido à
distribuição dos indivíduos, ao acaso, pelas três classes etárias estabelecidas, a probabi-
lidade de acerto seria de 33%, não muito longe da que, efectivamente, se obteve com o
método do encerramento das suturas cranianas. Acrescente-se, ainda, que este valor se
situa acima de vários dos resultados obtidos com algumas suturas, para determinados
grupos etários.
Ana Rodrigues 2011
128
A inconsistência existente entre estudos anteriores relativamente à presença, ou não, de
dimorfismo sexual no encerramento das suturas cranianas, parece tornar-se bem clara
neste trabalho. A sutura coronal e a sutura sagital não mostraram diferenças entre os
sexos, i.e., não classificaram de forma mais eficaz o sexo feminino ou o masculino, ape-
sar de não funcionarem bem em nenhum dos casos. A sutura lambdóide mostrou indí-
cios de dimorfismo sexual. É de notar que os diagnósticos errados rondaram os 65%
(em média) para ambos os sexos, fazendo sobressair, uma vez mais, a falibilidade do
método empregue. Estes resultados levam a concluir que a diferença entre sexos é
meramente estatística e não tem relevância biológica. Entre os investigadores que afir-
mam que existe dimorfismo sexual no encerramento das suturas cranianas encontram-se
Welcker e Dwight, ainda no séc. XIX; no séc. XX, Parsons e Box (1905), Frédéric
(1906), Baker (1984), Hershkovitz e colegas (1997), Masset (1982) e Nawrocki (1998).
Singer (1953), Perizonius (1984) e Key e colegas (1984), obtiveram resultados consis-
tentes com a não existência de diferenças entre o sexo feminino e o sexo masculino.
De uma forma geral, o método aplicado neste estudo, através da observação da sutura
lambdóide, mostrou uma tendência muito vincada para subestimar a idade dos indiví-
duos, tanto nos homens como nas mulheres. Quer através da sutura coronal, quer da
sagital, o método exibiu uma propensão para subestimar a idade dos indivíduos do sexo
feminino. Os indivíduos do sexo masculino foram sobrestimados em termos de idade,
quando se aplicou o método do encerramento das suturas cranianas à sutura sagital;
porém, através da leitura da sutura coronal, a idade destes indivíduos tanto foi sobresti-
mada como subestimada.
Ao fazer-se a abordagem do estudo em questão por grupos etários, os resultados conti-
nuam a demonstrar que a metodologia usada é extremamente ineficaz, pois a percenta-
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
129
gem de diagnósticos correctos, independentemente da classe etária a que se refira, foi
diminuta.
Registou-se, para cada uma das classes etárias, uma sutura (diferente) que pode ser con-
siderada como a menos falível (pois, apesar disso, os resultados apresentados foram
igualmente medíocres). Na classe etária dos 55-64 anos, a sutura lambdóide classificou
57% dos indivíduos correctamente, ficando acima das percentagens das duas outras
suturas. Pode-se explicar este resultado se se tiver em conta a tendência que a sutura
lambdóide mostrou em encerrar mais tardiamente que as outras, daí que tenha sido no
grupo etário dos mais jovens que esta sutura obteve os melhores resultados. A sutura
coronal registou 67% de diagnósticos correctos no grupo etário intermédio (65-74
anos), enquanto nos indivíduos com mais de 75 anos, foi a sutura sagital a menos má,
com 45% de acertos.
Nos grupos etários dos indivíduos mais jovens, o método aplicado denotou tendência
para sobrestimar a idade dos indivíduos, resultados verificados em todas as suturas. O
método subestimou a idade de todos os sujeitos com mais de 75 anos, a classe etária dos
mais idosos, também nas três suturas. Para os indivíduos pertencentes ao grupo etário
intermédio (65-74 anos), o encerramento das suturas cranianas tanto subestimou (no
caso da lambdóide), como sobrestimou (no caso da sagital) a idade. A sutura coronal,
para o grupo intermédio, não mostrou resultados com significância estatística, o que
poderá, porventura, dever-se ao facto de o número de sobrestimações ser bastante pró-
ximo do número de subestimações.
Este padrão de antagonismo entre as sobrestimações da idade nos indivíduos jovens e
subestimações nos mais idosos, pode ser compreendido se for levado em consideração
que o grau de encerramento das suturas, nos grupos mais jovens, tende a ser muito simi-
Ana Rodrigues 2011
130
lar ao grau de encerramento encontrado em sujeitos mais velhos, com variações insigni-
ficantes; e o método adoptado para esta investigação não possui precisão suficiente para
que seja possível fazer a correcta estimação.
O método de avaliação do grau de encerramento das suturas cranianas revelou-se pouco
específico, resultado que advém, também, do facto de as classes etárias serem excessi-
vamente amplas. Parafraseando Corsini et al. (2005:1):
“Existe uma tendência sistemática para sobrestimar a idade dos jovens e subestimar a
dos idosos. Dado que a correlação entre os dados biológicos e a idade é baixa, represen-
ta uma limitação fundamental a esta técnica preditiva.”
Uma vez mais, se observa que a técnica estudada não se comportou de forma similar em
diferentes grupos etários; a tendência para errar na estimativa da idade à morte foi uma
constante.
A divisão em segmentos das suturas pode constituir uma fonte de erro, pois para além
da subjectividade na atribuição do grau de encerramento do segmento, existi também a
subjectividade associada aos limites exactos do referido segmento. Desvios de um
milímetro num segmento podem introduzir um erro que se vai estender a outros seg-
mentos, e assim sucessivamente.
A escala de cinco graus aplicada para a classificação do encerramento das suturas reve-
lou-se, identicamente, muito subjectiva e pouco precisa. Por exemplo, a atribuição de
um grau 1 implica que exista até 49% de encerramento, o grau 2 deve ser atribuído a um
segmento que possua 50% de encerramento. Mas, de que forma é possível ao observa-
dor fazer a distinção entre 49% e 50% de encerramento e atribuir, sem erro, o grau cor-
recto ao segmento?
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
131
São demasiadas as potenciais fontes de erro associadas a esta metodologia particular.
A correlação é uma técnica exploratória usada para testar se os valores de duas variáveis
estão relacionados significativamente, i.e., se os valores de ambas variam juntos de for-
ma consistente (McKillup, 2005).
As três suturas avaliadas no presente trabalho exibem correlações classificadas como
“elevadas” entre si (segundo a escala de Cohen, 1988), o que, manifestamente, indica
um padrão de encerramento similar para todas elas. Claro que se se atender aos valores,
per se, verifica-se que estes se encontram bastante afastados do valor ideal igual a um,
onde as correlações seriam perfeitas. Esta análise de correlação significa, simplesmente,
que o encerramento das suturas cranianas observadas se correlaciona entre elas,
demonstrando assim que existe um padrão de encerramento comum a todas suturas.
A correlação entre os scores obtidos através da observação do grau de encerramento das
suturas cranianas e a alocação dos indivíduos nos grupos etários pré-determinados, pro-
vou ser inexistente no caso das suturas sagital e lambdóide e “fraca” no caso da sutura
coronal.
Na verdade, a fraca ou inexistente correlação entre o encerramento das suturas cranianas
e a atribuição de um grupo etário aos indivíduos com base neste, encontram-se bem
documentadas na literatura, sendo vários os autores que concordam com esta premissa.
Logo no ano de 1862, o alemão Welcker, apesar de ter considerado o método de estima-
tiva da idade à morte com base no encerramento das suturas cranianas promissor, julgou
que produzia resultados altamente contraditórios. Topinard (1885) mostrava-se céptico
em relação à existência de uma correlação entre a idade e o encerramento das suturas e
Dwight (1890) considerou que se tratava de um processo irregular e sem valor indicati-
Ana Rodrigues 2011
132
vo da idade. Já no séc. XX, Parsons e Box (1905) mostraram-se concordantes com os
seus antecessores; em 1906, Frédéric afirmava ser impossível fazer estimativas com
graus de precisão inferiores a 10 anos. Cattaneo (1937) concluiu que o grau de encerra-
mento das suturas cranianas se tratava apenas de um indicador sugestivo da idade e dois
anos depois, Hrdlicka (1939) explicou que sim, era uma técnica fiável, mas apenas para
intervalos de 9 anos acima e abaixo da idade prevista. Singer, em 1953, foi mais longe e
classificou o método de perigoso e duvidoso. No estudo de 1957, McKern e Stewart,
concluíram que era uma técnica demasiado errática e incerta e que possuía pouca utili-
dade, tanto como evidência directa da idade, como apenas para mero indicador de apoio.
Masset (1982), seguindo esta torrente de dúvidas e cepticismo, obteve no seu estudo,
resultados pouco fiáveis e pouco precisos, com correlações baixas. Também Perizonius
(1984) obteve correlações muito fracas, ou mesmo, inexistentes nos indivíduos idosos, o
que corrobora os resultados obtidos pela autora, no presente trabalho. Mais recentemen-
te, Hershkovitz (1997) e Nawrocki (1998), consideraram a aplicação do encerramento
das suturas cranianas como muito limitada na estimativa da idade e, apesar de Nawrocki
ter obtido correlações moderadas, os desvios associados foram entre 9 e 21 anos. Até
mesmo Todd e Lyon (1955), fervorosos adeptos da utilização deste método, considera-
ram existir correlação com a idade, somente, quando a amostra é grande e não a nível
individual.
Analisando as relações entre as suturas de outra perspectiva, o teste de correlação de
Spearman permitiu averiguar que existem correlações, estatisticamente, significativas
entre todas as suturas estudadas, no que se refere aos diagnósticos correctos e incorrec-
tos. As suturas que melhor se correlacionam são as suturas coronal e sagital, provavel-
mente, por os segmentos destas suturas possuírem graus de encerramento mais próxi-
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
133
mos entre si, do que os segmentos da sutura lambdóide, que se correlacionou de forma
moderada com as outras duas suturas. Porém, apesar de a sutura sagital e a sutura coro-
nal terem apresentado o mesmo grau de precisão (mesmo número de diagnósticos cor-
rectos), não avaliaram correctamente os mesmos indivíduos, o que se traduz num factor
negativo a acrescer aos já imputados ao método estudado.
Torna-se claro que, apesar de a escala de classificações considerar os valores das corre-
lações obtidas pela autora como elevadas ou moderadas, estas estão muito longe do que
seria conveniente para se poder sugerir que esta metodologia é fiável na estimativa da
idade à morte.
De uma forma geral, os dados não se coadunam com as expectativas iniciais. Seria, por
exemplo, expectável que um indivíduo com idade superior a 75 anos possuísse as sutu-
ras cranianas completamente obliteradas, não obstante, tal não se verificou na maioria
das observações feitas para este trabalho; houve registo de indivíduos com graus de
encerramento 0 ou 1 e idades reais superiores a 70 anos; situação análoga constatada por
Perizonius, no seu estudo em 1984, por exemplo. Da mesma forma, surgiram indivíduos
com idades inferiores a 60 anos que apresentavam suturas com graus de encerramento
de 3 ou 4, valores que se encontram muito distanciados dos esperados. O subcapítulo
4.1.6 deste trabalho, onde foi feita a análise do método através de caixas de bigodes,
comprova, estatisticamente, estas observações, de resto, pouco prováveis. Todos os tes-
tes estatísticos aplicados aos dados recolhidos corroboram a asserção que o método de
estimativa da idade à morte através do encerramento das suturas cranianas se trata de
um método pouco específico, demasiado subjectivo e não fiável. As suturas cranianas
são estruturas com características muito variáveis que seguem um padrão de encerra-
mento inconstante e mutável de indivíduo para indivíduo.
Ana Rodrigues 2011
134
O método aplicado neste trabalho revelou-se menos falível para grupos etários intermé-
dios (como, de resto, mostram os resultados), onde os valores estimados se aproximam
mais dos registos reais dos indivíduos. Este tipo de resultado em nada é surpreendente,
pois as suturas apresentam-se, mais frequentemente, com algum grau de abertura, ou
seja, nem totalmente abertas, nem totalmente encerradas. Desta forma e, como a maioria
dos indivíduos pertence a grupos etários intermédios, será, certamente, mais plausível
que os indivíduos sejam posicionados nestes mesmos grupos etários. Se a alocação dos
indivíduos tivesse sido efectuada de forma aleatória, os resultados obtidos não teriam
sido, possivelmente, muito diferentes, porquanto o método, em nenhuma das análises,
se mostrou preciso ou exacto.
Aquando da realização do presente trabalho, bem como do estudo simultâneo de Vieira
(2010), um dos objectivos primordiais estabelecido foi perceber se os dois métodos
empregues tinham uma qualquer relação entre si e, em caso afirmativo, qual seria. Fina-
lizados os dois trabalhos, verificou-se que não existe correlação entre os dois métodos
aplicados.
A associação dos dois métodos significaria somar os erros próprios de cada um deles,
diminuindo ainda mais a sua capacidade de estimar a idade à morte, de resto, já bastante
limitada. Portanto, não existe benefício em conjugar os resultados do encerramento das
suturas cranianas com os do método de Suchey-Brooks, utilizando os métodos de forma
individual, para proceder à estimativa da idade à morte em indivíduos com mais de 55
anos.
Analisando os grupos etários, aquele que obteve piores resultados nas estimativas da
idade efectuadas através de um e outro método foi o grupo dos 85 aos 94 anos (para
ambos os métodos). Aqui, uma vez mais, os resultados combinados sugerem que o
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
135
diagnóstico da idade à morte é extremamente difícil, sobretudo nos grupos etários dos
indivíduos mais idosos. Quanto ao grupo etário que registou maior número de diagnós-
ticos correctos, não foi o mesmo para o métodos das suturas cranianas e para o método
de Suchey-Brooks. De qualquer forma, saber para qual dos grupos etários os métodos
funcionam melhor é, de certa forma, irrelevante na prática forense, pois, se o objectivo é
estimar a idade, não se irá, certamente, utilizar um método que funcione (e, mesmo
assim, mal) exclusivamente para um determinado grupo etário, uma vez que, tal envol-
veria saber de antemão a que grupo etário pertenceria o indivíduo a ser analisado.
Fica por responder a questão se seria benéfico empregar os dois métodos, mas na medi-
da em que um complementasse o outro na estimativa da idade do mesmo indivíduo, ou
seja, aplicando os dois métodos conjuntamente, fazendo uso dos aspectos mais positivos
de cada um, de forma a que pudessem superar mutuamente as grandes falhas que ambos
apresentam. Recorrendo à literatura, sugere-se que tal seria teoricamente possível, pois
são inúmeros os investigadores que recomendam uma abordagem multifactorial quando
se trata de estimar a idade em restos esqueléticos (e.g. Brooks, 1955; McKern, 1957;
Acsádi & Nemeskéri, 1970; Meindl & Lovejoy, 1985; Key et al., 1994)
São muitos os métodos existentes, actualmente, para a estimativa da idade à morte,
sobretudo em indivíduos adultos. Porém, todos eles, sem excepção, apresentam limita-
ções. Estas tornam-se, efectivamente, patentes quando as técnicas são testadas fora da
população na qual foram desenvolvidas. Os métodos que, inicialmente, poderiam apre-
sentar bons resultados e boas relações com a idade, tornam-se falíveis, pouco fiáveis e
inexactos (Maples, 1989). Como já foi citado, Todd e Lyon (1955) alegaram mesmo
Ana Rodrigues 2011
136
que a metodologia usada no presente estudo não devia ser aplicada a amostras indivi-
duais. Tudo isto se agrava quando se trata de estimar a idade à morte em indivíduos com
mais de 55 anos (Perizonius, 1984; Schmitt, 2002; Martrille et al., 2007; Cunha et al.,
2009).
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
137
V. CONCLUSÕES
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138
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
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CONCLUSÕES
O encerramento das suturas cranianas é um método relativamente simples de empregar,
mesmo por observadores inexperientes (Schmitt et al., 2006), mas a conclusão que
Masset retirou do seu estudo é muito debatida: a relação entre a idade cronológica e o
encerramento das suturas é meramente estatística (Masset, 1982). A veracidade desta
afirmação pode ser questionada, mais ainda se a metodologia aplicada para procurar
esse graal da Antropologia que é a determinação da idade à morte, for diferente da de
Masset (e, mesmo, da da própria autora).
Este trabalho representou uma tentativa de trazer alguma luz à relação idade/ encerra-
mento das suturas cranianas. Quando aqui se faz uso do pretérito e da palavra tentativa,
talvez seja porque as perguntas ainda suplantem as respostas.
Schmitt et al. (2006 referem que se trata de um método simples; de facto, é um método
extremamente simples, porém, conclui-se que a experiência do investigador é um factor
fundamental para que as estimativas finais sejam precisas e exactas, visto que o método
se comporta de forma pouco fiável, per se, mesmo quando aplicado por investigadores
experientes. As percentagens de diagnósticos correctos obtidas para qualquer uma das
suturas foram de tal forma fracas, que, por si só, se tornam num parâmetro desencoraja-
dor para a utilização desta técnica de estimativa da idade.
Embora seja uma ajuda imprescindível, a experiência do observador não elimina todas
as fontes de erro (Ferembach et al., 1979).
Porém, há sempre que se ter uma certa prudência quando se fazem reflexões deste géne-
ro, pois a actualidade e os estudos efectuados mais recentemente provaram que o encer-
ramento das suturas cranianas se encontra, verdadeiramente, relacionado com a idade,
Ana Rodrigues 2011
140
existindo, efectivamente, uma tendência para a obliteração com o decorrer da vida. Mas
qual é o teor dessa relação? Qual é a forma do tão procurado graal? Será essa relação
assaz significativa para que a Antropologia confie nela a tarefa de estimar a idade à
morte em contextos forenses?
O conjunto dos resultados alcançados com o método de estimativa da idade à morte em
indivíduos idosos com base no encerramento das suturas cranianas, permitiu ainda
alcançar as seguintes conclusões:
A existência de dimorfismo sexual no encerramento das suturas cranianas foi um
parâmetro para o qual o método revelou grande incongruência, não sendo possível reti-
rar conclusões que se possam estender a toda a amostra.
As três suturas avaliadas revelaram-se muito fracas para a estimativa da idade, não
havendo nenhuma delas que se evidenciasse de forma positiva, ou seja, nenhuma das
suturas funcionou de modo aceitável para as classes etárias da amostra, mormente nos
indivíduos mais idosos, para os quais as suturas exibiram resultados que se podem qua-
lificar de miseráveis.
O processo de divisão das suturas por segmentos pode revelar-se ambíguo, pois, por
um lado, permite ao investigador ser mais minucioso na avaliação da sutura, uma vez
que esta estrutura não apresenta um grau de encerramento uniforme de extremidade a
extremidade. Mas, por outro lado, pode tornar-se noutra fonte de erro e desviar os resul-
tados da realidade, ao existirem mais medições (dados) a serem consideradas. Existiria,
portanto, na opinião da autora, vantagem em segmentar as suturas, porém, este processo
e a sua leitura têm, indubitavelmente, de ser executados com a maior precisão possível.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
141
O crânio, nomeadamente as suturas, como elemento de pesquisa da idade à morte em
indivíduos com mais de 55 anos deve continuar a ser examinado, no entanto, os méto-
dos utilizados para efectuar essas pesquisas devem ser aperfeiçoados, se não mesmo,
renovados e, sobretudo, inovados.
Ainda que, no presente trabalho tenham sido observadas as três principais suturas
cranianas, foi claramente conclusivo que três funcionam melhor que uma e, quantos
mais indicadores forem observados, mais exacta será a estimativa da idade efectuada.
De uma forma geral, a grande conclusão que se retira da elaboração deste trabalho de
investigação é que o encerramento das suturas cranianas se trata de um método tíbio,
impreciso, inadequado e pouco exacto para a estimativa da idade à morte em indivíduos
com mais de 55 anos.
Com isto, não se recomenda a utilização do método do encerramento das suturas crania-
nas para estimar a idade em indivíduos com idades superiores a 55 anos.
Portanto, a procura do graal continua. As metodologias para a estimativa da idade em
Antropologia Forense são técnicas que devem estar em contínua adaptação, conforman-
do-se às exigências crescentes dos novos e tecnológicos tempos.
A comparação entre os dois métodos (das suturas cranianas e de Suchey-Brooks) permi-
tiu concluir que ambos são extremamente falíveis, funcionam mal na estimativa da ida-
de, falhando até nos mesmos grupos etários (o dos indivíduos mais idosos: 85-94 anos);
Ana Rodrigues 2011
142
apesar disso, os grupos etários em que funcionaram menos mal já não se tratam dos
mesmos.
Relativamente aos sexos, o método de Suchey-Brooks mostrou-se menos mau para os
indivíduos do sexo feminino, embora o método do encerramento das suturas cranianas
não exiba diferenças significativas entre os dois sexos, como referido.
Mas porque existem tantas diferenças nas estimativas realizadas pelos dois métodos, se
ambos são métodos de estimativa da idade à morte?
Em teoria, o padrão geral de envelhecimento deveria ser similar entre estruturas orgâni-
cas diferentes, num mesmo indivíduo. No entanto, as diferentes estruturas esqueléticas
possuem ritmos de maturação e envelhecimento dissemelhantes, facto que os diferentes
métodos deveriam levar em conta, de modo a que, no final, a idade estimada para o
mesmo indivíduo, baseada em estruturas diferentes, fosse semelhante. Evidentemente,
os dados sugerem que tal não é o caso, ou seja, na prática, qualquer um dos métodos se
afasta bastante a realidade.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
143
5.1 ESTUDOS PARA O FUTURO
São muitos os métodos desenvolvidos e testados em amostras esqueléticas do passado,
com grandes dimensões ou não, mas sempre com mais de dois ou três indivíduos. Nes-
sas amostras, os referidos métodos, provavelmente, apresentarão bons resultados e
poderão até funcionar em contextos paleontológicos. Contudo, quando se tenta transpor
o mesmo método para um caso forense, este falha rotundamente.
Esta seria, pois, uma das áreas a desenvolver num futuro próximo, pois a Antropologia
Forense encontra-se, verdadeiramente, em falta de metodologias fiáveis, exactas e apro-
priadas para a estimativa da idade à morte, sobretudo em indivíduos com mais de 55
anos.
Sugere-se, portanto, uma ideia já alentada por muitos investigadores: o futuro da esti-
mativa da idade à morte encontra-se numa abordagem multifactorial (Ferembach, et al.,
1979; Meindl & Lovejoy, 1985; Maples, 1989; Brooks & Suchey, 1990; Klepinger, et
al., 1992). Recomenda-se a observação e análise do maior número possível de indicado-
res de idade, no maior número possível de ossos; ainda que não sejam todos eles os
indicadores principais para a estimativa, podem funcionar como auxiliares por forma a
que a estimativa da idade do indivíduo seja mais exacta. Idealmente, seria assim, apesar
de que na realidade forense, tal facto quase nunca seja praticável. Ainda assim, é uma
ideia que não se devia desatender, mesmo que, meramente, para a elaboração de méto-
dos de estudo. Com este tipo de abordagem é necessário ser-se muito cuidadoso em
termos de não permitir que, em vez de funcionarem como auxiliares, os indicadores
funcionem como acúmulos de fontes de erro (Schmitt, 2002). Também a selecção dos
indicadores a conjugar deve ser feita com a maior prudência, pois há imensos factores a
ter em conta, designadamente, a variabilidade dos fenómenos de senescência das dife-
rentes partes do esqueleto.
Ana Rodrigues 2011
144
A abordagem multifactorial é um terreno ainda muito casto, requer ainda muita investi-
gação para que se possam aperfeiçoar as técnicas e os indicadores utilizados, e maximi-
zar de forma positiva a sua conjugação.
Fica também a sugestão para o estabelecimento de padrões baseados em populações de
referência mais recentes, melhor documentadas – colecções osteológicas identificadas
mais aproximadas à população e hábitos actuais, com a utilização de técnicas mais fiá-
veis e amostras de maiores dimensões.
O encerramento das suturas cranianas como indicador da idade à morte não comportou,
apesar de toda a controvérsia e opiniões divergentes, um decréscimo no interesse do seu
estudo. Mais ainda, todo o antagonismo subjacente a este indicador conduziu as novas
gerações a empenharem-se na procura de explicações. Uma das grandes razões para esta
contínua busca baseia-se na falta de conhecimento das relações estruturais e funcionais
das suturas. Investigações nesta área poderiam, com certeza, impulsionar os métodos de
estimativa da idade baseados nestes indicadores e, além disso, trazer alguma informa-
ção/conhecimento à relação entre a idade e o encerramento das suturas.
A aplicação da tecnologia à Antropologia Forense e a este problema, em específico,
como por exemplo, a utilização de tomografias computorizadas ou imagens digitais,
pode ser uma ferramenta muito útil para que haja uma (necessária) evolução.
Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
145
VI. REFERÊNCIAS
Ana Rodrigues 2011
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Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
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VII. ANEXOS
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Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
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7.1 ANEXO 1- EXEMPLO DA FICHA DE REGISTO
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Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos
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7.2 ANEXO 2- EXEMPLO DA BASE DE DADOS EM SPSS®
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7.3 ANEXO 3- FOTOGRAFIAS DE INDIVÍDUOS DA AMOSTRA
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7.4 ANEXO 4- FOTOGRAFIAS DO LOCAL DE ARMAZENAMENTO DA AMOSTRA
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NOTAS:
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