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Solomonos Magazine N°2 Português

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Erwin Gómez ViñalesMargarita Cid Lizondo

PamelaRiveros, Ricardo Arce

Erwin Gómez ViñalesNicolás Bustamante

Laia Machado PrinMaría Ignacia Pavez Travisany

Héctor ZuritaLuis Carlos Herrera

Manuel Ortiz OssandónPortada

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Editor geral

Produtora Executiva

Jornalista

Artigo convidado

Designer chefe

Designer

Produção Internacional

Revisão

Editor de Texto

Tradução Português

Entrevista em vídeo a Carlos González, Claudio Díaz y Diluvio

“Valparaizoo” de Claudio Díaz

Novembro 2014, Santiago do Chile

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VALPARAIZOO/08

Vamos saber como Diluvio se transformou em uma produtora relevante na animação por meio de técnicas e sistemas de trabalho muito particulares, que lhe outorgaram a seus curtas-metragens de stop-motion elementos diferentes e especiais, que transformam o resultado em uma peça de arte.

DILUVIO/22

Vale a pena lembrar da sua mítica animação “Tevito”, sobre um cachorro que deslumbrou a milhares de chilenos através de TVN. González fez esse trabalho em uma época na qual não existiam processos para desenvolver o desenho animado. Nem a ditadura conseguiu parar este animador de 2D, que de alguma forma fez reviver

seu mítico personagem na televisão aberta.

CARLOS GONZÁLEZ/36

O jovem realizador Claudio Díaz fala sobre sua paixão pela cidade portuária que o motivou a dirigir seu curta-metragem “Valparaizoo”, uma história interessante que retrata a rotina daquele lugar, e como a vida de uma mulher pode experimentar uma viagem inesperada e psicodélica em um dos espaços mais comuns e tradicionais

para ela: o Mercado Cardonal.

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Valparaizoo • Diluvio • Carlos González • Annecy 2014 • René Castillo • Animação na Colômbia: • Daniel Arriaga

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ANNECY 2014/46

O renomado professor da Universidade Jorge Tadeo Lozano e animador colombiano, Ricardo Arce, faz uma profunda análise que trata o aumento da produção em seu país. Tudo parece indicar que esses números são resultado da alta participação do Estado e das políticas públicas.

ANIMACAO NA COLÔMBIA /76

Solomonos Magazine viajou ao Festival de Annecy, um dos mais relevantes certames de animação do mundo. Lá foi testemunha da presença latino-americana e de como um filme brasileiro consegue, pela segunda vez consecutiva, o grande prêmio como Melhor Longa-Metragem Animado.

DANIEL ARRIAGA/90O criador do Urso Lotso, do filme “Toy Story 3” fala sobre sua história de perseverança, após bater insistentemente nas portas da Pixar. Este jovem designer de personagens começou sua carreira fazendo produção no departamento de Simulação e Efeitos, e hoje faz parte de importantes projetos onde espera deixar seu

estilo plasmado.

Entrevistamos este artista de destaque mexicano do stop-motion e investigamos sua história e e como ele iniciou na animação.Um acontecimento traumático faria com que ele se expressasse através desse meio que iria lhe trazer muitas surpresas e prêmios no mundo.

RENÉ CASTILLO/58

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Cada fotograma é uma peça única de arte

VALPARAIZOOSão 20 mil quadros em aquarela e mil ilustrações

de fundos, que não estão em um disco duro, e sim fisicamente, em folhas de croquis. Este

intenso trabalho durou dois anos para Claudio Díaz e sua equipe, quem, através de seu

reconhecido conceito de cinema autoral, retrata a história de uma mulher que, por meio de

expressões e sensações, leva-nos a uma viagem surreal pelo Mercado de Valparaíso.

Por Pamela Riveros RíosLink para o entrevista em vídeo do Claudio Diaz

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Um dia, Claudio Díaz (39) acordou depois de um longo sono. Nele recebeu a inspiração que, às vezes, chega como iluminadora. Rapidamente pediu lápis e papel para seu cônjuge que, naquele momento dormia profundamente, para desenhar a criação que tinha como imagem fresca em sua cabeça. “Eu penso em animação o dia inteiro, no desenvolvimento do relato e quando a gente está nesse tipo de resgate, ele fica no subconsciente”, declara este artista chileno que encontrou em Valparaíso, a cidade que o acolheu em sua vida universitária, a inspiração definitiva para criar a história de um curta-metragem.

Durante muito tempo pensou em uma forma de retratar o porto de Valparaíso e refletir sua identidade, expor os principais atrativos e dinâmicas. “Sou uma pessoa que tem

muitos déjà vu, o relato em minha mente, e tenho que desenhar e plasmar ele”, agrega Díaz.

O Mercado Central de Valparaíso é, sem dúvida, uma peça chave deste curta-metragem. Por muito tempo chamou a atenção de Claudio, que encontrou nele elementos próprios que o faziam característico. É interpretado como uma verdadeira caixa de pandora. “Você não sabe com o que pode se encontrar nesse lugar, qualquer coisa pode acontecer, inclusive a quem vai regularmente”, indica o autor.

“Valparaíso, cidade portuária, bêbada de boemia”. Visitada recorrentemente por catástrofes, para depois se erguer e redimir. Dentro deste particular panorama se

encontra o Mercado Cardonal, caixa de pandora lúdica, psicodélica, alucinógena, mutação orgânica que impregna nos personagens dimensões inéditas, todos eles dotados de expressões únicas e particulares, que permite aos olhos do criador lúdico, transformar toda essa visão em insólitos personagens. Neste maravilhoso meccano tudo é possível, um leve abrir e fechar de olhos nos transporta para dimensões zoomórficas, que transitam entre a realidade e o sono alucinógeno”.

Um constante processo de criação

“Um animador deve ser um observador super potente”, é uma das primícias deste autor. Ele mantém constantes níveis de processos criativos e um deles é a “segregação”

Processo de animação de Dona Lupita

Claudio Díaz possui vários estudos relacionados com pintura em aquarela, óleo e acrílico, porque aos

nove anos estudou técnicas plásticas, que permitiram que ele obtivesse conhecimentos avançados sobre o corpo humano. Além disso, entrou no Conservatório

de Música, onde praticou e aprofundou os estudos sobre percussão, usando instrumentos como a

marimba, xilofone e vibrafone. O anterior resultou no desenvolvimento de seu lado artístico, para que

conseguisse criar peças animadas únicas, com muita força e ritmo particulares.

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da informação que será usada na produção. Depois, realiza o roteiro bem estruturado, que gera um bom ritmo e dinâmica.

Visão artística

A aposta visual de “Valparaizoo” poderia se definir como uma lembrança da base artística de Díaz. A observação se transforma no ponto de partida para começar a criação. Ele senta para ver as pessoas que circulam pelo mercado de Valparaíso; memoriza os movimentos, as conversações, gestos e ações que caracterizam este espaço e suas dinâmicas diárias.

Depois, ele desenha as expressões de quem serão seus personagens. Um dos aspectos fundamentais será, mais tarde, a pintura e as cores usadas para o desenvolvimento dos protagonistas.

Finalmente, começa a descobrir a Dona Lupita, que aparece desenhada em aquarela. Dessa forma desenvolve os outros elementos que devem ir incorporados, para que, depois, adquiram movimento. A acumulação deste trabalho tem como resultado diversos fotogramas como uma única peça. “Eu descreveria a animação documentária como uma forma de contar uma história do ponto de vista da arte. Então, é dessa forma que eu uso a ferramenta do processo artístico relacionado com a animação”, ressalta.

Amante do desenho em 2D, ele prefere esta técnica porque pode conjugá-la com o trabalho manual. Desta forma, os 20 minutos de animação deixaram um saldo de mais de 20 mil fotogramas independentes, todos pintados em aquarela, e de forma concreta, no estúdio de Díaz, com outros mil fundos ilustrados.

“Montar um conto em relação a Valparaíso é um desenvolvimento lúdico. Queria sair do típico documentário animado e fazer uma imagem mais surreal, uma mensagem que fosse além do cotidiano, que tivesse relação com certos sonhos alucinógenos. É um laço psicodélico que guarda a protagonista, que faz uma viagem imaginária ao mercado, e a partir de sua interação com os personagens cotidianos, existe essa conexão de visões subliminais”, explica Claudio Díaz.

Antonia Herrera directora de arte de “Historia de un Oso”.

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Gabriel Osorio director de “Historia de un Oso”

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Visão de Porto

Como é produzida a conexão entre dois protagonistas tão comuns de Valparaíso como o mercado e os próprios morros do porto? Tudo poderia criar-se entregando a uma mulher comum uma experiência surreal, que foge dos parâmetros do cotidiano.

Lupita emerge como as ânsias de desenvolver um personagem que, sob essa premissa de Claudio Díaz, pudesse ser vista recorrentemente circulando pelo porto.

Seu gato será a conexão e o motivo pelo qual ela abandona seu lar. A protagonista termina realizando uma viagem até seu próprio subconsciente, a partir de sua casa que se encontra em um dos morros de Valparaíso, refletindo seus pensamentos e preconceitos com cada uma das pessoas com quem se atravessa, sob o contexto e provocações que suscita esta real caixa de pandora.

Homens com aspecto de animais

A aquarela, as dobras marcadas e os traços exagerados de seus protagonistas mantêm o espectador concentrado na tela, resultando interessante a técnica de rotoscopia usada para realizar os movimentos.

Por meio da mente de Lupita, cada integrante da peça adquire aspectos zoomórficos. “Tentei que cada personagem mantivesse uma certa ligação com os animais que representavam, com suas personalidades”, afirma Díaz e agrega: “todo o relacionado com o processo criativo foi surreal, os atores tinham que colocar máscaras, tirá-las e simular animais. Eles não entendiam nada até que assistiram o curta”, aponta Claudio Díaz. SM

Claudio Díaz guarda certos processos para realizar suas obras. Como primeiro ponto, tenta segregar a informação que realmente vai usar no curta-metragem, e procura os aspectos que outorgam identidade e cotidianidade. Com maior clareza no anterior, começa a montar o roteiro. Uma vez que a história que vai se contar está clara, realiza a Direção de Arte, com o objetivo de guiar os animadores na estrutura do desenho.

Processo de pintura de Claudio Díaz

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Anima para el mundo

www.reelday.cl

Todo el talento latinoamericano de la animación en un solo sitio

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Pintura em câmera

DiluvioSua forma de trabalhar não é das mais vistas no Chile.

Através de sua produtora Diluvio, Cristóbal León e Joaquín Cociña realizaram três curtas-metragens de

suspense em stop-motion, nos quais um quarto é capaz de contar uma história. Hoje estão realizando seu longa-

metragem, apostando por mostrar sua forma de trabalho em museus e em seu estúdio do bairro Providencia,

mantendo uma pequena equipe de trabalho.

Por Pamela Riveros RíosLink para o entrevista em vídeo do Joaquín Cociña

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Trabalhando em “Luíz” 2009

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Ao entrar no estúdio León & Cociña é claro que não nos referimos à totalidade da grande casa localizada em Marín com Condell, em Providencia. Pelo contrário, é um pequeno quarto de 10 metros quadrados, do lado esquerdo da casa. Nesse lugar eles estão realizando parte da produção de seu primeiro longa-metragem “A Casa Lobo”, seguindo a linha de suas obras anteriores, os curtas “Lúcia” e “Luíz”.

“Para falar a verdade, não sei se nos interessa muito crescer. Por que sempre tem que se assumir a priori que tem que crescer? Por que temos que crescer? Eu não entendo muito essa ideia”, aponta Cristóbal, que acrescenta: “Sinto que o artesanal é o espaço que estamos defendendo e que temos mantido”.

Isso pode ser explicado desde o início. Cristóbal León e Joaquín Cociña se conhecem da época universitária, na Universidade Católica do Chile, enquanto um fazia Design e o outro Artes, respectivamente. Tinham amigos em comum, por tanto, se conheciam de vista. No momento em que Joaquim mostrou seus desenhos feitos em carvão, Cristóbal pensou na possibilidade de poderem fazer algo juntos, já que ele tinha experimentado com animação.

Assim nasceu León & Cociña, dupla de destaque nas artes visuais e que desenvolvem conceitos audiovisuais. Devido a essa experiência, pensaram em fazer um curta-metragem baseado em desenhos em carvão, acrescentando também o uso de stop-motion para animar, isto é, quadro por quadro.“Quando a gente começou com ‘Lúcia’ tive a sensação e a certeza de que estávamos entrando em um terreno no qual eu não entendia nada, mas que eu gostava”, afirma Joaquín sobre o primeiro curta-metragem que fizeram juntos.

A técnica começou a se desenvolver como produto da experiência, ao realizar estas peças de animação,

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Decálogo de “A Casa Lobo”I. É tinta na câmera.II. Não há bonecos. II. Tudo pode se transformar como uma escultura. IV. Não ia preto.V. É um plano sequência. VI. O filme tenta ser normal. VII. A cor é simbólica. VIII. A câmera nunca está igual entre quadro e quadro. IX. Maria é bela. X. É uma oficina, não um set.

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“Cristóbal:: Nós dois trabalhamos de forma colaborativa na produção,

direção de arte. Nós trabalhamos muito duetos e assumir muitos

papéis. Ambos fazem o mesmo, como o roteiro, construir, desenhar e

fazer o som.Joaquín: funciona muito

horizontalmente pequena equipe e nós trabalhamos “.

“aconteceu que começou a funcionar bem no trabalho, a gostamos de trabalhar juntos. Aprendemos a conviver com nossas diferenças. Tem fluido nesse sentido”, acrescenta.

Como nasce Diluvio

O curta-metragem “Lúcia” é o ponto de partida para o nascimento da produtora Diluvio, que está composta por Niles Atallah, Joaquín Cociña e Cristóbal León. Depois aumentaram seu grupo de trabalho e o próximo passo foi procurar financiamento através de fundos públicos.

Da mesma forma, concordaram que o conceito por trás desta nova empresa de pequeno porte seria o de “laboratório”, isto é, ir testando resultados.

A produção “Lúcia” foi realizada em um quarto pequeno onde ela aparece desenhada em carvão. Os movimentos consistem em aparições de silhuetas e rostos nas paredes, junto com os objetos do quarto que usa para relatar sua história.

Os desenhos são feitos através de carvão, e em quadro por quadro a animação vai sendo registrada e montada, o que implica ir traçando esboços na parede e ir movendo as coisas como se criassem vida.

Dessa forma a sensação sombria dos personagens que

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Link a entrevista en video de Cristóbal León

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“Cristóbal:: O primeiro objetivo é se divertir fazendo o filme (Casa Lobo), eo segundo é fim. Por outro lado, eu sempre me complica quando as pessoas dizem ‘ei, mas você deve procurar uma fábrica de patrocínio com fita adesiva e tinta “, mas eu não quero começar a comprometer o conteúdo do filme, acho que ficar mais jovem isso melhor. “

surgem é produzida, para saber a brutal história que afeta a Lúcia.

“Originalmente postulamos a um FONDART, do qual não tivemos resposta a tempo. Como vinha a exposição de ‘Lúcia’, que iria servir para realizar o curta-metragem, a gente teve que financiá-lo do nosso bolso. Depois soubemos que nos deram o fundo, então decidimos fazer a segunda parte com aquele dinheiro”, aponta Cristóbal.Depois da realização de “Lúcia” eles receberam o Grande Prêmio do Jurado do Primeiro Festival Iberoamericano de ABC, entre outros prêmios na França, Suíça, Aústria, nos Estados Unidos, na Alemanha, Estônia e no Chile.

Forma autêntica de produção

Quando realizavam “Lúcia”, Cristóbal e Joaquín apostaram por trabalhar em sua oficina, como também levar a produção a espaços de arte, com o intuito de que o público visse in situ o trabalho que é feito por trás deste curta; entendendo, também, que sua forma de construção consiste em materiais manuais, como carvão, terra, madeira e objetos comuns da peça.

Esta maneira de trabalhar foi conseguida experimentando, e ficando longe dos estereótipos e formas que poderia dar uma escola. Para ambos, o importante é estarem presentes no processo e poder desfrutá-lo.

“Acho que as artes, em geral, em termos muito amplos, não te permitem ter uma forma de saber, mas para fazer o filme de animação que estamos fazendo não precisamos mais do que já sabemos”, afirma Joaquín, e Cristóbal afirma: “aprendemos no fazer. É a forma que eu gosto, não quero sentar e aprender metodologicamente. Finalmente, você acaba adotando o modelo de outro, que

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é algo que a gente evita”.

Da mesma forma, preferem trabalhar com equipes pequenas e, inclusive, apenas eles dois. “Existem vários motivos, mas tem um que é emocional: a gente gosta de cuidar da energia do momento. Às vezes ela se dispersa se há muitas pessoas e você se distrai. A gente se sente mais à vontade”, ressalta Cristóbal.

Seguindo esta linha, continuaram com seu segundo curta-metragem, “Luíz”, que seguia os mesmos parâmetros e técnicas de seu antecessor, e no qual o espectador pode conhecer a outra parte da história, onde é mencionada a relação deste novo personagem com “Lúcia”. Esta particular peça ganhou o “Grand Prix” e o “Audience Award” no Festival Court-Bouillon, na França, entre outros prêmios, repetindo a mesma experiência depois do primeiro curta. Em paralelo

Entre os anos 2010 e 2013, realizaram também outra série de curtas-metragens baseadas em uma técnica similar de stop-motion, muito elaborada e usando diversos tipos de materiais para sua execução, como papel, terra, tintas, fita crepe e, inclusive, incluindo outros atores. Foi chamado “O Terceiro Mundo”, composta pelas peças “Papai e Mamãe”, “O Templo”, “A Arca” e “Os Andes”. Este último tipo de trabalho teve um reconhecimento no Festival Internacional de Animação Chilemonos 2014, categoria na que ganhou o prêmio Menção Especial, por parte do jurado da categoria Curtas-Metragens Nacionais.

Uma nova experiência na animação

Diluvio está realizando seu longa-metragem “A Casa Lobo”, que, em um primeiro lugar, foi pensada como uma terceira parte da série de curtas “Lúcia, Luíz e o Lobo”. No entanto,

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desta vez opinaram que para esta parte poderiam criar um filme com uma história longa, própria e independente.“A referência que surgiu como inspiração foi ”A Bela e a Fera”. Era uma história de dominação, a fera tentava manter a Bela em casa, por meio da força, usa o remorso e a pena”, aponta Joaquín Cociña, que também explica que a evolução dessa ideia consistiu em que a historia iria se desenvolver finalmente em uma colônia no sul do Chile, onde o personagem de Maria foge do lugar e chega a uma família quem devido a sua influencia, começam a ser melhores pessoas.

Em relação ao filme, a data de estreia é para o ano de 2015, pelo que o de 2014 está pensado para realizar a produção em espaços de arte, como já foi feito no Museu de Belas Artes (no contexto da Bienal de artes visuais), na galeria A2 de Santiago, no Museu de Arte Moderna de Buenos Aires e em Kampnagel Hamburgo, Alemanha.

Sobre continuar fazendo animação, este caminho ainda não está claro para estes artistas. “Sempre estamos pensando em roteiros, sabemos que queremos fazer cinema, a animação ocupa muito de nossos corações, cabeça e tempo”, afirma Joaquín Cociña. “O primeiro objetivo é curtir fazendo o filme, e o segundo é terminá-lo. Acho que me sinto à vontade neste espaço da animação e sua periferia”, conclui Cristóbal León. SM

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2007Diluvio estreia seu primeiro curta-metragem, chamado “Lúcia”.Ganham um fundo beneficente para as artes FONDART do Conselho da Cultura e das Artes, Chile, para a realização de seu segundo curta-metragem “Luíz”, a continuação de “Lúcia”.

2008A produtora estreia sua segunda realização, chamada “Luíz”.“Lúcia” inicia seu périplo internacional e ganha o segundo lugar no Festival Fair Play Film and Video Award, na Suíça; e obtém o Literaturwerkstatt Berlin Prize, Zebra Poetry Film Festival, na Alemanha.

2009“Lúcia” ganha o Grande Prêmio no Festival de Animação da Estônia.Além disso, ganha o Primeiro Prêmio na categoria de Melhor Curta-Metragem Internacional do Festival Internacional de Animação de Fantoche, na Suíça.“Lúcia” comemora o Prêmio do Jurado na categoria Melhor Curta de Animação no Festival Iberoamericano de curtas-metragens ABC, na Espanha.

Também ganha uma Menção Especial do Jurado no Festival Internacional de Cinema de Valdivia, no Chile.Cristóbal León realiza o curta-metragem “Der Kleinere Raum” junto com Nina Wehrle.

2010“Lúcia” ganha o Asifa Austria Award, da Competição Internacional de Animação, do Festival Internacional de Curtas-Metragens Independentes de Viena, na Aústria.Também “Lúcia” ganha o Grande Prêmio do Jurado do Disposable Film Festival, San Francisco, California, nos Estados Unidos.Neste mesmo ano, “Luíz” ganha o Asifa Austria Award, da Competição Internacional de Animação, do Festival Internacional de Curtas-Metragens Independentes de Viena, na Aústria.“Luíz” também ganha o Prêmio Especial Animafest Zagreb 2010 World Festival of Animated Film, na Croácia.Niles Atallah estreia seu longa-metragem “Lúcia”, primeiro longa-metragem produzido pela produtora Diluvio.O curta “Luíz” é selecionado para a Youtube Play Biennale, que acontece no Museu Guggenheim de Nova York.

Joaquín Cociña realiza o curta-metragem “Weathervane”.

2011Criam os curtas “O Arca”, “O Templo” e “Papai e Mamãe”, que fazem parte da série “O Terceiro Mundo”.

2012Realizam a curta-metragem “Os Andes”, parte da série “O Terceiro Mundo”.

2013Começam a trabalhar na realização de seu primeiro longa-metragem “A Casa Lobo”.Participam da Bienal de Veneza, como parte da Seção de América Latina.

2014Continuam o trabalho para “A Casa Lobo”, realizando a produção em museus chilenos e nos espaços de sua produtora.

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ANIMA MUNDI 2015BRASILJULIORIO DE JANEIRO / SÃO PAULOhttp://www.animamundi.com.br/

EXPOTOONS 2015ARGENTINASETEMBROBUENOS AIREShttp://www.expotoons.com/

ESCULTURA FEST 2015MEXICONOVEMBROQUERÉTAROhttp://www.cutoutfest.com/

AXIS 2015MÉXICOABRILMONTERREYhttp://axisfest.mx/

ANIMA 2015ARGENTINAOUTUBROCORDOBAhttp://www.animafestival.com.ar/

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Tevito y el “Sigamos juntos”

Foi o criador de uma das primeiras animações que apareceram na televisão chilena: Tevito. Um cachorrinho desenhado para as crianças

que assistiam o canal TVN, e que tinha o lema “Sigamos juntos” que teve que ficar em silêncio

quando a ditadura chegou. No entanto, este personagem, fiel a sua postura, nunca foi embora e se manteve sigiloso dentro da tela e nas mentes

dos chilenos.

CARLOS GONZÁLEZ

Por Pamela Riveros RíosLink para o entrevista em vídeo do Carlos González

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Quem pensaria que um cachorro abandonado poderia chegar até a televisão e se transformar em um símbolo da animação chilena. Carlos González quis adotar a “Pachacho”, um Cocker Spaniel que resgatou da rua, e que iria servir de inspiração para a criação de Tevito.

Antes de sua experiência como animador, González era ilustrador. Os espaços nos quadros da Escola Arturo Prat em Iquique, e depois na Escola de Homens de Antofagasta ajudariam a potenciar sua habilidade nessa arte, foi quando começou a ser reconhecido em sua turma por esse talento.

“Quando fiz 15 anos decidi falar para meus pais que queria estudar no (museu de) Belas Artes em Santiago. 15 anos já! Revolução na família. Que os artistas e ilustradores morrem de fome, que isso e aquilo”, conta González, fazendo memória de sua época universitária, na qual recebeu a primeira oferta para entrar no mundo da animação.

Nesse lugar adotou “Pachacho” e o alimentava no refeitório do Belas Artes, para, depois, levá-lo para seu quarto de estudante. Naquela época, ele gostava das histórias em quadrinhos, “eu sempre sonhei desenhar em revistas, como O Pinguim”, afirma este animador, e comenta que, sem saber previamente, tinha sido capa nessa publicação. “Trabalhei em um semanário grande chamado Sete Dias. Começaram a me pedir desenhos animados e eu fazia páginas inteiras, e isso aconteceu em uns quatro números, e de repente me atravesso com uma capa minha em O Pinguim”, lembra.

A passagem do desenho para o movimento

Um dia um dos mais importantes diretores de televisão no Chile, Gonzalo Bertrán, convidou o ilustrador a fazer

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El Conejito TV.

parte do grupo de pessoas que iriam participar da primeira transmissão do canal Televisión Nacional de Chile, lugar onde iria assumir como Diretor Executivo uns dos indivíduos mais especializados na televisão aberta, Jorge Navarrete. A ideia era que González criasse a “carta de ajuste” desse meio, mas decidiu que o melhor era que esse visual, que tipicamente tem quadros de cores, fosse transformado em um desenho que tivesse movimento. Nasceu, assim, Tevito.

“Eu tive Pachacho bastante tempo. Eu queria fazer um personagem que fosse de raízes nacionais, então, nada melhor que um puma chileno. Mas aí fui fazendo mudanças paulatinamente até chegar a um cachorro e disse ‘Bom, está pronto, vamos colocar algo diferente nele e coloquei os óculos”. Dessa forma, este amigo fiel, que ainda nesse momento acompanhava Carlos, ficou pasmo diante de um país inteiro, simulando um chinchinero, personagem popular chileno que carrega em suas costas um bumbo que toca com umas baquetas, enquanto dança e bate nos pratos que estão na parte superior do bumbo, usando uma corda que está amarrada em seu sapato.

“Depois pedi para Víctor Jara que me fizesse uma música e fez ‘El Charagua’”, aponta Carlos González, lembrando o início do trabalho com o cantor e compositor chileno. Uma vez que o novo personagem tinha que aparecer no ar, o locutor de continuidade de TVN. Agustín Inostroza apresentou-o na tela como Tevito.

Dessa forma, o famoso cachorrinho dava as boas-vindas aos telespectadores no início das transmissões do canal público, e depois era possível vê-lo apresentando os programas que viriam a seguir, usando o lema “Sigamos jutos”.

“Tevito passou por ‘Música Livre’, pelos ‘Titans do Ring’, por ‘Sombras Tenebrosas’. Lembro que teve uma vez que

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Sequência clássica de Tetivo “Chinchinero”

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nevou aqui em Santiago, eu disse ‘Vamos fazer o Tevito de neve’. Dessa forma, quadro a quadro, começou a se acumular neve, um nariz, uns óculos e um gorro de boneco de neve. Imagine que nevou à tarde, e à noite estava sendo mostrado no telejornal, aparecia Tevito na neve”, comenta Carlos González.

Tevito teve alcances que ninguém pensou e se transformou em um dos personagens mais queridos pelos chilenos. “Eu tinha pensado que os desenhos animados eram para crianças e que tinham que cumprir uma função social. Quando Tevito estava em todo seu auge, por todo país eu recebia cartas de clubes esportivos, Centros de Madres (organizações beneficentes focadas na mulher), centros comunitários.”

De 1970 até 1973, trabalharam de forma contínua com Víctor Jara na realização de Tevito, na qual o cantor e compositor entregava as peças musicais quase três semanas antes do capítulo que se emitiria. A última entrega foi em 9 de setembro de 1973.

Quando Tevito teve que ficar calado

“Quando a autoridade militar me chama e fala que ‘Tevito não aparece mais’, então, nesse momento eu questionei a situação e disse ‘não, sou eu quem lhe dá movimento, desenha e dá vida. Portanto, sou eu o responsável, porque quem não tem que aparecer mais sou eu’, falei para ele”, aponta Carlos González com firmeza aos fardados após o Golpe Militar efetuado em 11 de setembro de 1973.

Com o Golpe de Estado, TVN foi alvo de resquícios, acertando o coração do canal público. Dessa forma foram apagados muitos materiais que poderiam prejudicar à nova autoridade. Tevito, aparentemente, representava naquela época um perigo e foi, como muitos outros,

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Carlos González em Sábados Gigantes 1987

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silenciado. Víctor Jara também teve o mesmo destino, enquanto todas as cópias deste cachorrinho ícone foram queimadas e desaparecidas.

As tentativas de trazer a Tevito à vida

Carlos González continuou trabalhando para TVN, e, de alguma forma Tevito não desapareceu. Por mandato da autoridade militar, ele teve que criar outro personagem para que fosse o protagonista da continuidade do canal. Como resultado apareceu Conejito TV, com o qual foram criados 37 spots para televisão.

O que ninguém pensou nesse momento foi que aquele cachorrinho de óculos voltaria a aparecer na tela. Resistindo a ideia de que tivesse que desaparecer, González cria um novo personagem, mas com as características similares de seu precursor, ou seja, Conejito era um Tevito disfarçado com orelhas.

“Uma maldade que fiz”

Durante o contexto do plebiscito que decidiria no Chile se o regime militar continuaria governando o país ou

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Depois de criar seu personagem Tevito, Carlos González continuou seu trabalho de animador em

Televisión Nacional de Chile na ditadura militar. Desenvolveu a Conejito TV, como também aos

pequenos “Ito e Ita”.Depois criou a “On Chilo”, um huaso (caipira

chileno) que com seus dotes na dança folclórica ensinava cueca a audiência. Mais tarde se

relacionou com a séria animada de Condorito através da produtora Grafilms.

não, a TVN como o canal da autoridade, deve realizar a campanha do “Sí”, que apostava pela continuidade do mandato do general Augusto Pinochet. Por causa do anterior, a gerência do canal pede a Carlos González realizar um storyboard para promovê-la. “E eu disse, você me conhece, por que me pede isso quando sabe que não sou a favor do Sí”? Ele falou que tinha que fazê-lo e que haveria consequências para os dois. ‘Então, falei, ‘Ok, eu vou fazer.’”, afirma o ilustrador, que não convencido com o trabalho que deveria realizar, pensa em uma forma de mostrar seu descontentamento.

“Faço um storyboard onde começo com o Sí, mas cuja ‘S’ tem uma forma muito especial e o ‘í’ do lado. A ideia era que o Sí se transformasse em uma estrela e fizesse um zoom back e era a bandeira chilena. Durava 15 segundos. Mas, onde estava o que eu fiz nesses poucos segundos? Foi na transformação do Sí, quando o ‘í’ foi para o ‘S’, e se apreciava uma suástica”, afirma González

A façanha não passaria despercebida para os olhos mais experientes, e dessa forma, duas semanas depois apareceram os militares na TVN, junto com o gerente geral do canal, para comentar que eles viram uma suástica na animação. O ilustrador teve que mostrar quadro a quadro. “É claro que quem não é familiar com o que é a sensação de movimento, a continuidade de um desenho com outro nunca vai ter imaginação de ver um desenho estático que não mostra absolutamente nada para chegar a isso daqui. É lógico que por dentro eu me sentia terrível, disse ‘Me pegaram!’, ou seja ‘O que faço agora?’. Afinal, balançaram a cabeça e foram embora. Uma sacanagem que eu fiz. Eu te diria talvez uma ingenuidade que pode ter custado muito caro”, conclui Carlos González.

O que aconteceu quando a democracia voltou

Uma vez que a democracia voltou para o Chile, no momento em que a cidadania tinha votado por maioria simples pelo

“No”, todos esperavam a primeira transmissão de TVN que já não estaria nas mãos dos militares. “E a primeira transmissão na volta da democracia foi Tevito. Foi algo que me emocionou, porque me lembrei de Víctor Jara, de tudo o que tinha acontecido, todo esse caminho tão cheio de pedras que a gente percorreu naquela época”, lembra.

Outra das surpresas que recebeu Carlos González, muitos anos depois da volta da democracia, foi saber que Tevito não tinha desaparecido. “Domingo Ulloa, um ex-funcionário de animação, chega a meu escritório e diz ‘Carlos, tenho uma surpresa para você’ Eu lhe disse, o que que é?, ‘Venha’, ele me disse. A gente se encontrou em um lugar mais tranquilo e ele falou ‘Carlos, toma, isso aqui é para você como um presente’. Eu abro e eram 10 ou 11 animações de Tevito das tantas que eu fiz. Foram as únicas que se salvaram. Não minto, eu comecei a chorar”. SM

“Ito e Ita”

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Carlos Gonzalez com Victor Jara, compondo para TevitoCortesia da fotografia da Fundação Victor Jara

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A presença latino-americana no festival

O filme brasileiro “O Menino e o Mundo” foi o grande ganhador em um dos festivais de animação

mais importantes do planeta, marcando dessa forma a presença da América Latina. O continente foi

representando na competição de curtas-metragens e em séries de televisão, somando um programa especial de stop-motion, no qual se mostrou o grande trabalho

que o México tem feito neste âmbito. Também foi realizado um importante focus entre o Brasil e o Chile,

dentro do mercado MIFA.

ANNECY 2014

Por Pamela Riveros Ríos

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Foto : G. Piel/CITIA

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Foto: E. Perdu/CITIA

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O Festival Internacional de Animação Annecy 2014 é um dos concursos mais relevantes no mundo da animação. Foram aproximadamente 350 horas de visionado, com 2.292 trabalhos provenientes de 88 países. Celebrado na cidade francesa de mesmo nome, este ano teve lugar a sua versão número 38, do 9 até o 14 de junho, onde os 7.100 inscritos tiveram a oportunidade de assistir ao redor de 500 projeções, participar de masterclasses e conferências; em outras palavras, falando em números, este festival tem se transformado em um dos mais influentes do planeta nesta área.

Dentro da seleção que o diretor artístico deste festival realizou, Marcel Jean, junto com sua equipe de planejamento de programação, foram escolhidos para a competição de curtas-metragens 43 filmes que correspondem a 23 países. Nesta área, a mexicana “Pickman’s Model” de Pablo Ángeles entrou nesta categoria em ganhar o troféu, assim como seu companheiro de lista, o argentino Santiago Bou, que foi selecionado por seu trabalho “Padre” e também participou do festival Chilemonos 2014 ganhando a categoria e Curtas-Metragens Latino-americanos.

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Curta-metragem “Papai” de Santiago Bou

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Em Annecy, no entanto, o vencedor desta categoria foi “Man on the Chair” uma co-produção franco-coreana.

Seguindo com a grande lista de números que deixou o festival, foram em torno de 12 jurados que participaram em 6 categorias, que viram a classificação que já tinha sido feita pela equipe de Annecy 2014, depois que selecionaram 230. Dentre eles, houve 9 longas-metragens em concorrência, onde participaram dois filmes brasileiros, um deles ganhou o Cristal, o grande prêmio do festival.

A presença latino-americana e um ganhador

Além da presença latino-americana na concorrência de curtas-metragens, “História de um Urso”, do chileno Gabriel Osorio e pertencente à Punkrobot, foi exibida na seção oficial não competitiva de curta-metragem, entregando uma grande visibilidade em um dos festivais mais importantes da animação. Da mesma forma, teve como companheiro a “Mundo”, dirigida pelo cubano Alien Ma.

Os seriados também têm ganhado força na América Latina e cada vez vemos mais produções realizadas com recursos próprios e por meio de co-produções. Relacionado ao anterior, a Colômbia e a Espanha apresentaram “Contos de Velhos”, que foi exibido na seção de concurso de seriados.

Os que puderam ter um espaço exclusivo para mostrar seu talento foram os mexicanos, já que a Annecy os convidou para formar parte do Programa Especial de Stop-Motion, onde tiveram a oportunidade de apresentar todo seu talento perante os outros países participantes,

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Série documentária colombiana “Contos de velhos”

Os ganhadores do Festival de Annecy 2014

como a França, Croácia, Canadá e Estônia. René Castillo, animador mexicano, é quem levou o estandarte de batalha nesta área em seu país, o anterior, porque já ganhou duas vezes o Cristal por seus curtas-metragens “Sem Sutiã” e “Até os Ossos”, peças que de forma aguda retratam a solidão e a morte. Também apresentou Karla Castañeda, talentosa animadora realizadora de “O Engenho” e Juan José Medina, autor de “Gaiolas”.

Um dos grandes premiados foi o brasileiro Alê Abreu, diretor do filme “O Menino e o Mundo”, que ganhou o Cristal como “Melhor Longa-Metragem”, categoria na qual estavam nominadas 9 produções. “Da seleção se confirmou o aumento da animação brasileira. A dupla coroa de ‘O Menino e o Mundo’ envia um forte sinal à vitalidade deste filme”, comentou o diretor artístico de Annecy, referindo-se também ao outro prêmio que recebeu este filme que foi a seleção do público.

“O Menino e o Mundo” se transformou, então, no segundo filme brasileiro que, de forma consecutiva, recebe este galardão em Annecy, já que o ano passado o Cristal foi entregue ao seu conterrâneo “Uma História de Amor e Fúria” de Luíz Bolognesi.

Mifa, o maior mercado da animação

É sabido que o Festival traz grandes cifras e que seu mercado não fica atrás. Há 25 anos que o Marché International du Film d’Animation (Mercado Internacional do Filme de Animação), MIFA, é realizado dentro do contexto deste festival.

Dentro do mercado deste ano participaram aproximadamente 60 países, 2.450 inscritos, dentro dos

Curta-metragem “O Modelo de Pickman” de Pablo Ángeles Zuman

Photo : G. Piel/CITIA

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“O engenho”, curta-metragem de Karla Castañeda

Curta-metragem “Prita Noire”, de Sofía Carrillo

“Gaiolas”, Curta-metragem de Juan José Medina Dávalos

“Chuva nos olhos”, curta-metragem de Rita Basulto

Curta-metragem chileno “História de un Urso” fue exhibido en Annecy 2014

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Carlos González en Sabados Gigantes 1987 quais se encontravam canais de televisão, distribuidoras e casas produtoras. A presença latino-americana foi representada pelo Brasil, México, Chile, a Argentina e a Colômbia.

Dentro dos 513 expositores que teve este mercado, o Brasil e o Chile fizeram parte do “Territory Focus”, onde produtores de diferentes estúdios de ambos os países puderam compartilhar suas experiências em relação à animação, e como tem funcionado a co-produção para levantar a indústria de suas nações.

Da mesma forma Señal Colombia participou em “Share with” como canal de televisão, enquanto que o Chile e a Argentina participaram de pitchings, tanto para longas-metragens quanto curtas-metragens, respectivamente.

Segundo o editorial da MIFA, Mickaël Marin, Head of Economic Development & Mifa, comentou sobre como este mercado tem crescido captando novas áreas de produção e criação, sendo um reflexo da viabilidade que possui este setor da animação, “o melhor exemplo é a América do Sul e o crescimento da participação de companhias que impactam na indústria vai ter um papel decisivo nos próximos anos”. SM

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Realizaram-se aproximadamente 500 projeções neste festival.

As longas filas eram comuns em Annecy, devido à grande assistência de público às atividades.

Aproximadamente 14 conferências se realizaram dentro do MIFA, tanto de produção e negócios quanto de criação.

Filmes ao ar libre, em Annecy 2014.

Foto : G. Piel/CITIA

Foto : D. Bouchet/CITIA

Foto : G. Piel/CITIA

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A morte renasce através do stop-motion

RENÉ CASTILLOUma experiência próxima da morte foi o

que motivou a este artista a se aproximar da animação. René Castillo é, sem dúvidas, um dos

grandes expoentes do stop-motion no México, ganhador de inúmeros prêmios depois dos seus

dois curtas-metragens. Uma experiência intensa que hoje o mantém afastado desta técnica.

Por Pamela Riveros Ríos

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Não há dúvidas que René Castillo é um dos principais expoentes da animação no México. Seus dois curtas-metragens em que usou a técnica de stop-motion estão entre os mais premiados, acumulando mais de 50 prêmios internacionais.

A intensidade de seu trabalho faz com que ele seja merecedor desta recepção mundial. Depois de uma experiência que o aproximou da morte, ele soube que a vida era breve, que não tinha que perder tempo e sim, fazer o que me apaixona. Uma artista chilena iria lhe mostrar o caminho que lhe permitiria se aproximar da animação e produziu dois curtas-metragens em stop-motion: “Sem Sutiã” (1998) e “Até os Ossos” (2001). Nestas duas realizações encarnou as sensações e sentimentos que rondaram após seu acidente automobilístico; emoções que são representadas por um homem que está sozinho e que procura uma explicação da vida.

Ele diz que “a melhor forma de se conectar com os outros é sendo honesto com o que você está fazendo”.

René, conte-nos, como foi a experiência de entrar no mundo da animação?

Eu me aproximei da animação de uma forma pouco natural através do material, fiquei fascinado com a massinha de modelar. Desde criança brincava muito com isso.

Quando cresci e tinha que decidir o que queria estudar, a animação não era uma opção no México. Não existia escola. Então, comecei a fazer Administração de Empresas. E talvez eu tivesse ficado ali por muitos anos, mas... Essas coisas acontecem na vida. No segundo período tive um acidente, e decidi deixar de estudar. E naquela época percebi que não queria fazer isso, que tinha que procurar algo que eu realmente gostasse, porque você percebe que não consegue acordar no dia seguinte.

Imagem do curta-metragem “Até os Ossos”, de René Castillo

Curta-metragem “Até os Ossos”

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Curta-metragem “Até os Ossos”

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Imagem do curta-metragem “Até os Ossos”

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E bateu uma necessidade de achar o que realmente era minha paixão. Demorei vários anos para me recuperar do acidente, foi muito forte. Mas um dia, nessas coisas da vida, escutei no rádio que ia ter um curso de animação com massinha de modelar. Disse: ‘há anos não pego em uma massinha de modelar, mas eu sei que posso fazer o que for’. Quem deu o curso em Guadalajara foi uma chilena, Vivienne Barry.

E foi muito importante para mim, porque basicamente exibiu para a gente curtas-metragens de animação em stop-motion da melhor animação do mundo, a maioria europeus e eu que não tinha visto nada disso. Então, estava vendo a tela e pensando ‘isso é o que eu quero fazer’. E acabando essa exibição eu já não tinha dúvidas: eu tinha que virar animador. No dia seguinte já estava começando a produção do meu primeiro curta-metragem.

E o que veio depois dessa decisão? Como você começou a fazer esse curta-metragem?

No dia seguinte, voltei para a faculdade para fazer Ciências da Comunicação, que era o mais próximo da animação. O que realmente me interessava era ter acesso às câmeras e luzes para poder explorar esse universo todo. Mas me ajudou muito estudar, porque te ensinam sobre a mensagem, discurso, de como narrar uma história.

E tem sido uma viagem bem linda. Não tenho parado de descobrir, de aprender e de curtir. Acho que realmente encontrei o que me apaixona. Sinto que sou um homem de sorte por ter descoberto isto. A animação é muito ampla, existem milhares de formas de fazer coisas, e existem milhares de histórias para contar. O importante é descobrir quais são suas histórias, quais suas obsessões e de alguma maneira, tentar ser honesto.

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Quando você descobriu o stop-motion, quais foram as temáticas de seus curtas-metragens?

Quando me formei tinha que mostrar a mim mesmo que eu tinha sim potencial para ser animador. Então, meu primeiro curta-metragem se chamou “Sem Sutiã”, e foi um curta de animação com massinha de modelar. Realmente os recursos eram zero. Pensei que ia fazê-lo em três meses e demorei um ano e meio para terminar. Reunimos uma equipe com muita paixão, porque era a primeira vez que eu fazia um curta-metragem para o cinema, com uma câmera dos anos 40, com 35 milímetros.

A estreia foi no Festival de Cinema de Guadalajara, onde ganhou todos os prêmios que você pode receber. Mas, dois meses depois, a gente estava no Festival de Cannes, no tapete vermelho, concorrendo pela Palma de Ouro, foi o primeiro festival internacional no qual fui. Gostei muito de estar lá e nunca tinha considerado estar em festivais de cinema, nem sabia que existiam.

Depois disso, voltei e tinha que fazer meu segundo curta-metragem que é “Até os Ossos”. E de alguma forma, esses dois curtas-metragens têm a ver com algo muito pessoal, que foi essa experiência próxima da morte, esse acidente foi uma experiência que me marcou e que, de alguma maneira, tinha que aflorar, tinha que contar algo sobre aquilo.

“Sem Sutiã” é o que acontece no momento em que você morre, e “Até os Ossos” é uma exploração do que acontece quando você já está morto, ambos com muito destes elementos da cultura mexicana sobre a morte, que são muito ricos.

Com “Até os Ossos” a gente demorou três anos para terminar. Foi emocionante e intenso. A animação quadro por quadro, cada shot, cada desafio que a gente tinha que conseguir em termos de narração e animação.

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Link para o entrevista em vídeo do René Castillo

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Imagem do curta-metragem “Sem Sutiã”

Mas também havia toda a aventura de conseguir o dinheiro, de não parar, de manter a equipe unida e de chegar até o final, porque um projeto como esse não chega até você, mas foge de você. Ganhei todas as bolsas que alguém poderia ganhar, todos os apoios que alguém poderia conseguir, começamos a dar cursos de animação para conseguir o dinheiro e para não parar. Fiz os primeiros comerciais.

Agora, há mais projetos, há mais desafios...

Como você vê o stop-motion no México e o desenvolvimento desta área em seu país? Você se consideraria um pioneiro nela?

Olha, acho que sim. A verdade é que eu nunca me propus a fazê-lo, foi algo novamente circunstancial. Quando me engajei com a animação não existiam mais animadores, não havia muitas pessoas fazendo, no máximo duas. Procurei eles para que me ensinassem e não queriam compartilhar muito.

Durante todos esses anos muitas pessoas se envolveram com a gente no processo, alguns estavam conosco uma semana, um ou dois anos e, de alguma forma, muitos deles continuam fazendo animação e são os que fizeram os curtas importantes no México, o que me dá uma sensação muito boa. Sinto que é mérito deles.

Também vejo que as coisas mudaram. A tecnologia aproximou a animação para todo o mundo. Eu me surpreendo, mas no telefone tenho ferramentas para animar muito melhores das que tinha em meus anos de aprendizado. Então, tem cinco ou seis anos que as escolas começaram a oferecer cursos de animação, o que me provocou uma sensação muito boa, porque quando estava começando não só não havia animação, como ela era vista até de forma pejorativa.

Lembro que a metade dos alunos do curso de comunicação foi para a Cidade de México para explorar os cursos de cinema, porque queriam aprender de uma maneira

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mais formal, mas com foco em animação, e fiquei muito decepcionado porque quando cheguei tinham a visão de ‘nós fazemos cinema, não desenhos animados’. Mas a animação também é uma forma de se fazer cinema!

Com o tempo isso foi mudando, e as escolas de cinema foram me ajudando, os festivais começaram a abrir seções de animação, é uma indústria em potência muito grande. Eu gosto muito disso, no México tem muitas pessoas fazendo animação e acho bacana que as pessoas cheguem perto de mim e falem que decidiram fazer animação porque assistiram um trabalho que eu fiz. Sei lá... mas é bom saber que de alguma forma você ajudou e que tem muito para se fazer ainda.

Que aspectos latino-americanos podemos encontrar em seus dois curtas-metragens?

“Sem Sutiã” é a história deste personagem triste, que decide acabar com sua vida, mas não é um lugar definido. E a narrativa da história é ‘temos esses referentes como o ideal, como o homem e a mulher ideal’, e a gente não é assim, na América Latina a gente tem modelos que nós aspiramos a ser. O personagem não gosta de quem ele é, de sua situação, de sua vida e, de repente, ele decide mudá-la e consegue. Tem certo drama e muita ironia

“Até os Ossos” tem toda uma carga simbólica de elementos muito mexicanos e que sinto que são comuns com a América Latina. É bom que a gente olhe e procure nossas histórias, o que temos em volta. Além disso, acho que a melhor maneira de se conectar com o resto é sendo honesto com o que você está fazendo.

Têm muitos modelos que se repetem uma e outra vez, que são clichê, que são lugares comuns, que a gente tem que tentar evitar, tentar pensá-los outra vez e preenchê-los com esses sabores também, isso vai ser mais interessante para um público global.

Em quais projetos você está trabalhando atualmente?

Depois desses curtas-metragens, que foram muito intensos, percebi que não podia voltar a fazer curtas-metragens desse jeito, é necessário muito dinheiro e de alguma forma não tem mercado para ele o que é o mais triste, não posso planejar minha vida fazendo curtas porque não posso viver de bolsas. Amo o stop-motion, amo o material, amo a massinha de modelar, eu pensei que ia morrer com massinha nas unhas.

Estou fazendo um filme em 3D. Minha busca é tentar continuar fazendo animação, que é minha paixão, e tentar entender a indústria. Se você conta uma história bonita e se conecta com as pessoas pode alcançar sua distribuição e conseguir chegar a vários países.

Fazer um longa-metragem não é fácil. Percebi que é muito complicado conseguir que a história se sustente, que mantenha você envolvido, engajado, emocionado o tempo todo e que no final impacte você ainda mais.

Estamos produzindo meu primeiro longa-metragem de animação. Há uma aventura que você vê na tela, mas talvez há uma aventura maior atrás, muitas pessoas envolvidas, conseguindo dinheiro, aprendendo, tentando conseguir essa magia.

Se alguém senta para assistir meu filme, quero entregar uma experiência cinematográfica grande. Para mim é importante que tudo esteja ao máximo possível, que quando o filme acabar as pessoas digam ‘uau, que bom que estou assistindo isso’. Para mim, essa é a meta que você tem que conseguir com música, com história, com design, com arte. Tudo se envolve e tudo pesa para conseguir o objetivo.

Eu devo a animação a Vivianne, uma chilena que, gosto muito. A vida vai embora rápido, espero fazer cinco filmes antes de morrer, não é? SM

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Notas sobre a evolução da animação colombiana

ANIMACAO NA COLÔMBIA Hoje em dia são muitos os olhos que estão

focando nas dinâmicas que estão sendo desenvolvidas no campo da animação

colombiana. É um rápido crescimento e visibilidade internacional que tem ganhado em um espaço curto de tempo, principalmente em

se tratando de um país com um mercado interno incipiente que tem tido que gerar políticas para

fortalecer a formação de públicos.

Por Ricardo Arce

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“Imagen y sonido”, Fernando Laverde, 1975

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Alguns apontam à atual Lei de Cinema Colombiano como um dos principais elementos neste desenvolvimento, legislação que, inclusive, está sendo estudada em diferentes países, não só da América Latina, como referência de um marco normativo para o formato de uma cinematografia local; enquanto outros aduzem que não é este o conjunto de leis, mas uma soma de particularidades na forma de conceber, planejar e produzir projetos o que caracteriza os animadores colombianos, graças ao tipo de perfis profissionais envolvidos, uns dizem, à forma como se conformam a maioria dos estúdios de animação no país e como eles assumem dinâmicas próprias de mercado, argumentam outros, ou a uma relativa homogeneidade geracional, embora não seja de estilos, técnicas ou influências que definem os atuais criadores de conteúdos de animação no país, afirmam outros.

No entanto, estabelecer aqui essa discussão não é o objetivo principal desse artigo, tema que poderia e deveria, sem dúvida, estar presente em tantos espaços quanto for possível, ainda mais quando estamos falando da construção de canais de cooperação internacional para a produção de animação na América Latina. O que aqui vamos fazer é apenas tentar construir um pequeno contexto que permita que entendamos como tem sido a evolução na Colômbia neste campo de criação, só como o primeiro passo para a tarefa de discutir as condições do momento atual que estamos vivendo e do possível futuro próximo para a animação colombiana.

Um início modesto

Garras de ouro de P.P. Jambrina (1926) e Colômbia vitoriosa de Gonzalo e Álvaro Acevedo (1933) são

dois filmes de imagem real nos quais se encontram os primeiros exemplos de uso da animação com uma grande carga política. Em ambos foram usadas trucajes quadro a quadro para conseguir o que a mera imagem de registro não podia mostrar: a bandeira colombiana exibindo suas cores quando o cinema era em branco e preto – graças à colorização manual fotograma por fotograma – em Garras de ouro, e o avanço das tropas, aviões e barcos dos exércitos da Colômbia e do Peru na Selva Amazônica durante o conflito bélico entre os dois países em 1932, no filme dos Acevedo, usando pequenas figuras sobre um mapa com técnicas básicas de stop-motion. Esses dois casos, junto com outras pequenas produções de pequenos comerciais para cinema em desenhos animados, e uns quantos experimentos isolados com técnicas de animação é o pouco que se conhece até hoje sobre as animações

“¿Y vos a qué le temés?” Claudia Solano y Carolina Restrepo, 2011

colombianas realizadas durante a primeira metade do século XX.

Outra história é o que acontece a partir da chegada da televisão em 1954, já que começaram, a se produzir comerciais em desenhos animados com estilos gráficos muito similares aos desenvolvidos pela UPA nos Estados Unidos de América. Animadores estrangeiros como os espanhóis Manuel Mundó. Pedro Morán ou o francês Robert Rossé, são alguns dos primeiros diretores de animação na Colômbia, e em seus estúdios se formaram os que seriam os primeiros colombianos em criar seus próprios estúdios de animação, como Nelson Ramírez e Luis Enrique Castillo na década dos 70. No entanto, a realização de animações tanto para as publicidades quanto para o cinema e para a televisão era, naquela época, relativamente sólida e o curta-

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“Carga” Yenny Santamaría, 2010

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“Mi cuerpo mi territorio”, Sergio Mejía, 2010

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A Colômbia também começou a produzir, neste período, comerciais animados para televisão, principalmente em técnicas de desenho animado, com uma qualidade muito boa que, inclusive, foram realizadas em outros países da região. Nelson Ramírez, Juan Manuel Agudelo, Álvaro Sanabria e o catalão Alberto Badal são alguns dos animadores mais destacados desse meio, no qual predominavam basicamente as influências dos estúdios Disney, Warner e a UPA.

Outro tipo muito diferente de animadores neste período são aqueles que procuraram nos curtas-metragens de animação um caminho de expressão mais próximo da plástica ou da experimentação, mais do que dos sistemas da indústria

metragem animado apenas começava a ocupar um lugar no campo cinematográfico no país. Antes dessa década foram realizados poucos curtas-metragens experimentais a partir de iniciativas independentes e que circularam apenas em circuitos especializados mais próximos da arte que da indústria cinematográfica, como o caso de Faustino e sua vida atormentada, um curta-metragem experimental claramente influenciado pelo Neighbours de Norman McLaren (1952) realizado em 1964, na cidade de Cartagena por Gastón Lemaitre e Luis Mogollón, com técnicas de titilación, ou como acontece com As Janelas de Salcedo (1966) e inclusive com AZILEF (1971), dois curtas produzidos pelo barranquillero Luis Ernesto Arocha, nos quais se misturam filmagens de imagem real com objetos animados e nos que intervêm a obra de dois artistas plásticos colombianos, Bernardo Salcedo e Feliza Bursztyn.

Um momento de prosperidade

A situação do curta-metragem animado na Colômbia mudou radicalmente a partir da construção de umas plataformas para a criação, produção e distribuição conhecidas em conjunto como “O sobrepreço”, antecedentes da atual Lei de Cinema Colombiano, que receberam seu nome por um superfaturamento no preço regular da bilheteria das salas de cinema que era destinado para o financiamento de filmes nacionais. Graças a esta e outras iniciativas foi possível conseguir uma relativa constância na produção de curtas-metragens durante duas décadas e, inclusive, a criação de três longas-metragens animados, dirigidos por Fernando Laverde: A pobre velinha (1978), Cristóvão Colombo (1983) e Martín Fierro, o último filme sendo realizado em co-produção com a Argentina e Cuba.

“Mi cuerpo mi territorio”, Sergio Mejía, 2010

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fílmica ou televisiva, como é o caso de Carlos Santa, María Paulina Ponce ou Phillippe e Magdalena Massonnat, entre outros tantos realizadores que encontraram principalmente no “Sobrepreço” um espaço de financiamento alternativo ao dos mecanismos de mercado tradicionais.

Então, sendo um setor muito dependente dos mecanismos do “Sobrepreço”, quando nos primeiros anos da década dos 90 foram revogadas as leis que o definiam e o organismo do Estado criado para a implementação e vigilância destas políticas, Focine, é liquidado, houve uma abrupta queda na produção de curtas-metragens animados, que acontece também devido a uma série de eventos políticos, sociais, tecnológicos e econômicos que mudaram drasticamente o panorama conhecido que chegou a afetar também a realização de comerciais para a televisão: junto com a implementação de políticas de livre mercado para as que o país não estava preparado, chega à Colômbia a televisão digital, que ofereceu um conjunto amplo de novos referentes visuais e narrativos, junto com a implementação de tecnologias digitais de produção de animação. Na frente desse novo horizonte, a maioria dos realizadores que tinham conquistado nas décadas anteriores um terreno no campo da animação no país não conseguiu se adaptar em tempo às mudanças e foram, aos poucos, substituídos por uma geração de animadores jovens, em sua maioria empíricos, que não só controlavam os novos sistemas de produção, mas que foram se apropriando dos estilos e das linguagens que os novos públicos desejavam encontrar na tela, cuja pauta foi marcada pela animação japonesa e a influencia de canais como Locomotion ou MTV.

Já para o ano de 2004 foi sancionada a primeira versão da atual Lei de Cinema Colombiano, que mesmo sendo

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“Rojo Red”, Juan Manuel Betancourt, 2008

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“Corte Eléctrico”, María Arteaga, 2008.

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baseada em grande parte nas legislações anteriores que se desenvolveram no país, foi se elaborando em concordância com os diferentes atores, tanto públicos quanto privados, do meio cinematográfico colombiano, sob a premissa de construir um conjunto de dinâmicas para a produção e distribuição que permitissem um desenvolvimento ao longo prazo para o campo, sem cair nos vícios que foram gerados com as políticas adotadas em outros momentos.

Outras iniciativas de fomento e fortalecimento para setores considerados de alto impacto para o país, entre os que estão incluídos a animação, desenvolvidas por outras instancias como o Ministério de Tecnologias da Informação e Comunicações, Proexport ou Câmara de Comércio de Bogotá, entre outros, permitiram a construção de plataformas não só para o fílmico, mas também para outros mercados como a televisão, web, dispositivos portáteis e videogames. Mais do que nunca em sua história estão se fortalecendo os mecanismos de co-produção internacional que para o setor da animação colombiana, que são resultados longas-metragens como Aninha, co-produção uruguaia e colombiana, dirigida por Alfredo Soderguit, séries como Contos de Velhos e Migrópole, produzidas por Hierro Animación, A grande pergunta ou Dr. W, ou curtas como I Hate You Red Light, dirigida por Juan Manuel Urbina y M.R. Horhager em 2012.

Com um número de produções animadas em aumento por ano, junto com uma presença também maior em festivais e mercados internacionais, a animação colombiana pareceria ir alcançando, depois de muitos altos e baixos, um certo ponto de amadurecimento que iria lhe permitir se consolidar como um eixo de criação relevante no mercado regional, desde que soubesse aprender dos erros

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de momentos passados e fosse capaz não só de dialogar eficazmente com os públicos, tanto de seu próprio território quanto dos países latino-americanos e do resto do globo, mas também que continue no caminho da criação de conteúdos animados para circuitos tão heterogêneos como os da televisão, cinema, festivais especializados como os da animação experimental, por exemplo, com o que poderá seguir enriquecendo seu rico repertório de expressões que, até o momento, o caracterizam. SM

Ricardo Arce: Animador e pesquisador é Acadêmico Associado da Universidade Jorge Tadeo Lozano, instituição onde coordena a área de Animação dos programas de Design Gráfico e da Tecnologia em Realização de Audiovisuais e Multimídia. É membro fundador e atual presidente do capítulo colombiano da Associação Internacional do Filme de Animação, ASIFA Colômbia e membro da Diretoria de ASIFA Internacional. Ele estudou Design Gráfico na Universidade Nacional da Colômbia, fez Especialização em Televisão da Pontifícia Universidade Javeriana e o Mestrado em Estética e História da Arte na Universidade Jorge Tadeo Lozano. É coautor do livro A Animação na Colômbia até finais dos 80, publicado pela UJTL.

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Carlos González en Sabados Gigantes 1987 Série “Migrópolis”, 2013

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A história por trás do criador do reconhecido Urso Lotso de Toy Story 3

DANIEL ARRIAGAMuitas vezes ficou na frente da porta de Pixar

esperando alguma oportunidade de trabalho. Quando conseguiu a vaga, procurou conselhos com os mais

experientes para desenvolver seu potencial artístico. Dessa forma avançou até chegar ao departamento

de design de personagens, onde seu potencial e habilidade se plasmaram na grande quantidade de

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Por Pamela Riveros Ríos

Page 91: Solomonos Magazine N°2 Português

Daniel Arriaga ©DISNEY/PIXAR

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O que você pode falar sobre seu projeto “The Pixar Storyline” e como

nasceu a ideia?”Nasceu de um trabalho como

freelancer que fiz para uma companhia chamada Collectors Editions.

Era uma peça original que iria incorporar todos os filmes da Pixar feitos até esse momento em uma

ilustração. “Não queria misturar os mundos, pelo

contrário, coloque uma ao lado da outra e dessa forma consegui criar algo com a linha de cor de todos os filmes.”

Enquanto estudava Animação e Ilustração na Academy of Art College (da primavera de 1999 até 2001) em São Francisco, Estados Unidos, Daniel Arriaga queria trabalhar e fazer o que era sua paixão: desenhar. Por esse motivo, fez três tentativas para entrar o mais rápido possível naPixar. E foi isso o que aconteceu.

Assim que ele entrou, deixou a escola porque sentiu que estava aprendendo muito mais nesse estúdio. Ele trabalhou durante um longo período como assistente de produção no departamento de Simulação e Efeitos, mas ele queria criar e desenhar. Pensando nisso, pediu um guia para o destacado Tony Fucile (“O gigante de ferro”, “Os incríveis”), quem, além de ensinar a ele o que é a animação, também mostrou o que um animador de

coração deve ter: constância.

Sua persistência fez com que ele desse um pulo em sua carreira, do departamento de Simulação e Efeitos ao de Arte, trabalhando como assistente de produção. No entanto, um dos passos mais importantes para ele foi se tornar em Sketch Artist, do mesmo estúdio, onde desenvolveu uma de suas criações mais conhecidas no mundo: o Urso Lotso, do filme “Toy Story 3”.

Somando em sua trajetória, Daniel Arriaga participou de vários filmes de animação, dentre eles “Monster Inc.”, “Ratatouille”, “Up - Altas aventuras!” e “Wall-E”, entre muitos outros.

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Durante 2009 teve uma breve passagem pelos estúdios da Disney, onde realizou trabalhos para “Fix it Felix” e no design do personagem de Ralph em “Detona Ralph”.

Entretanto, ele volta para o estúdio que o acolheu, Pixar, onde recentemente foi promovido como Diretor de Arte de Personagens para o próximo filme de Lee Unkrich.

Diante deste extenso portfólio, Solomonos Magazine quis entrevistá-lo e perguntar sobre sua trajetória, e a receita para se tornar no destacado animador que hoje ele é.

Daniel, você poderia contar qual animação tem sido um referencial para você e para suas criações? Você tem algum filme que tenha sido influente em sua vida de animador?

Todos os clássicos da Disney e da Warner Brothers. Adoro o estilo clássico dos desenhos desses filmes. Um dos meus animadores favoritos da Disney e que influenciou em grande parte da minha carreira de animador é Milt Kahl.

Tenho que destacar que meu filme de animação favorito é “O gigante de ferro”. Adoro o desenho desse longa-metragem que Teddy Newtoin e Tony Fucile fizeram. Uma grande inspiração para mim!

Como foi entrar na Pixar? Você tentou muitas vezes trabalhar com eles? Como foi passar do departamento de Simulação e Efeitos, onde você era assistente, para o lado artístico?

Tentei três vezes com a Pixar enquanto estava na escola e fui finalmente contratado temporariamente por eles em maio de 2001, no departamento de Simulação e Efeitos, como assistente de produção para “Monsters Inc.”.

Eu queria ficar no estúdio, então eles encontraram um espaço para mim em “Os Incríveis”, como assistente de produção no departamento de Arte. Depois de três anos de determinação e trabalho duro, fui finalmente enviado como Sketch Artist em “Ratatouille”, onde trabalhei com Harley Jessup.

Há algum artista ou colega da Pixar ou da Disney que deslumbre você e que tenha sido uma referência para sua carreira?

Adoro muitos dos meus colegas. Muitos foram uma parte importante da minha carreira. O mais destacado é Tony Fucile. É um animador gênio e um designer espetacular. O conheci em “Os incríveis”, onde foi diretor de Arte de

Personagens e animador mentor quando fui assistente de produção no departamento de Arte.

Tony me colocou do lado dele e me inspirou, fez com que eu sentisse que poderia fazer o que eu quisesse fazer. Muito do meu processo de design vem dele.

Sobre seu trabalho como animador, como você começa seu processo criativo para chegar ao design do personagem definitivo?

Meu processo criativo para ter um design final depende de uma extensa busca de referências, com foco em encontrar um design de personagem autêntico e único. Depois de desenhar bastante e procurar por referências,

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apresento meus desenhos ao diretor do filme e ele me dá um feedback, que uso para continuar com o design de personagens.

Que coisas positivas você aprendeu com a Pixar e a Disney?

Aprendi que não é algo individual, mas que é trabalho em equipe. A colaboração é uma das coisas mais poderosas em um ambiente laboral.

Além disso, eu percebi que tudo é possível com trabalho duro e muita dedicação. Vivo minha vida através de três “estados” que tenho observado ao longo da minha vida: “Seja positivo, seja faminto e seja humilde”.

Quais personagens você criou para esses dois estúdios?

Já criei vários personagens, porém o mais reconhecido que fiz é o Urso Lotso (Huggin Bear) de “Toy Story 3”. Nesse filme também fiz as crianças da creche, o zelador, a mãe de Bonnie e seus brinquedos e a turma de Lotso.

Na Disney trabalhei em “Fix it Felix” e em Ralph com “Detona Ralph”.

Agora voltei para Pixar, onde trabalhei em “Divertida mente” no design de Riley, sua mãe e seu pai, junto com o personagem de Disgust, uma das emoções de Riley.

Recentemente fui promovido a diretor de Arte de Personagens no próximo filme de Lee Unkrich, no qual estarei supervisionando todo o design de personagens. Estou realmente emocionado com este novo projeto.

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Como podemos ver você gosta de ensinar. Como isso influencia na sua carreira como animador?

Ensinar me educa tanto que não posso explicar com palavras. Quando ensino os outros, sinto que também estou ensinando para mim mesmo. Como disse anteriormente, sempre sou humilde e nunca me sinto satisfeito.

A energia que os estudantes trazem na aula me lembra quando eu estava na escola, e o quão abençoado sou de poder fazer em minha carreira o que eu amo.

Me ajuda a apreciar minha vida, e de uma forma menor, sinto que estou entregando de volta uma luz de esperança à próxima geração de artistas, para que consigam melhorar. SM

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