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03 Magazine

Solomonos Magazine N°3 Português

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Erwin Gómez ViñalesMargarita Cid Lizondo

PamelaRiveros, Josefa Villaseca

Juan Manuel AurrecoecheaErwin Gómez Viñales

Nicolás BustamanteLaia Machado Prin

María Ignacia Pavez TravisanyLuis Carlos Herrera

Manuel Ortiz OssandónPortada

Dezembro de 2014, Santiago. Chile

Editor geral

Produtora Executiva

Jornalista

Jornalista

Artigo convidado

Designer chefe

Designer

Produção Internacional

Revisão

Tradução Português

Entrevista em vídeo a Vivienne Barry

“Valparaizoo” de Claudio Díaz

[email protected]

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A maior feira de animação no Chile teve uma bem-sucedida segunda edição, destacando a presença de produtores e profissionais de toda a América Latina. Com três jornadas de palestras e aulas, MAI! se consolidou como um evento de formação e geração de redes

MAI! NOVEMBRO/28

Pioneira do stop motion no Chile. Explorou diferentes métodos e técnicas, o que lhe permitiu desenvolver obras dignas de serem reconhecidas. Animadora consagrada, começou sua carreira na Alemanha, e, no Chile, realizou uma série que jamais será esquecida pelos adultos de hoje.

VIVIENNE BARRY/42

A produção chilena está viva, e, durante 2014, três séries de animação estrearam na televisão aberta, as quais desenvolveram temáticas e técnicas diferentes, mostrando, com isso, a diversidade que estão adquirindo os estúdios no Chile. Conversamos com os criadores de “Nano Aventuras”, “Pachapulai” e a segunda

temporada de “Hostel Morrison”.

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Séries Estreantes • MAI! • Vivienne Barry • Webséries • David Bisbano • Animação no México • Simon’s Cat

SÉRIES ESTREANTES 2014/08

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AS WEBSÉRIES CHILENAS/60

O destacado pesquisador e curador Juan Manual Aurrecochea faz uma retrospectiva da animação no México e conta a aventura por trás da criação do primeiro estúdio de animação daquele país.

ANIMAÇÃO NO MÉXICO/84

É uma tendência mundial crescente, que encontrou seu lugar no Chile. Animadores desenvolveram peças audiovisuais que se reproduzem através das redes. Conversamos com os principais atores nesta matéria: Bernardita Pastén, do Marmota Studios, e Patricio Gamonal, da ATiempo Producciones.

SIMON’S CAT/92Solomonos Magazine entrevistou Simon Tofield, criador da série Simon’s Cat. Os curtas ganharam fama internacional, cativando os amantes dos gatos e dos animais.

Simon tem quatro felinos e os observa para as novas peças de animação.

Conversamos com o diretor de “Rodência e o Dente da Princesa”, longa-metragem animado coproduzido por Peru e Argentina, que teve grande sucesso, chegando a países como a Índia. Uma de suas fórmulas para o sucesso é resgatar o latino-americano.

DAVID BISBANO/74

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“Hostal Morrison”, “Nano Aventuras”, “Pachapulai”

A segunda temporada de “Hostel Morrison”estreia com outras novas séries, “Nano Aventuras” e “Pachapulai”,

produções nacionais que ganharam espaço em 2014 na televisão aberta chilena.

Todas apresentam temáticas e gêneros diversos, que esperam cativar o público pré-escolar e adolescente.

Por Pamela Riveros Ríos

SÉRIES ESTREANTES 2014

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“Nano Aventuras”, série de Cábala Producciones

© Cábala Producciones

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Em 2014 três séries de animação chilenas invadiram a tela da televisão aberta, o que é um claro sinal de que a produção nacional está muito ativa. “Hostel Morrison” deu um grande passo ao estrear sua segunda temporada pelo canal Chilevisión (CHV). Enquanto isso, a nova série científica “Nano Aventuras” está sendo transmitida pela Televisión Nacional de Chile (TVN), junto com a ficção científica “Pachapulai”.

Todas têm o desafio de serem as únicas estreias nacionais, apostando em uma audiência que liga a televisão cedo aos finais de semana.

O porquê de uma série infantil científica

Cábala Producciones se caracteriza por sua especialidade no mundo científico. Pelo menos isso opina seu sócio fundador, Gonzalo Argandoña, que é apaixonado pela área. “É uma mistura de interesse pessoal, existe algo de estética e de satisfação intelectual, porque, além disso, pensamos que são importantes, cruciais para o desenvolvimento do país; finalmente, foi evoluindo como um nicho e uma especialização que caracteriza nossa empresa, e isso permitiu a diferença em relação à oferta das outras produtoras”, explica.

Experimentaram diferentes formatos audiovisuais para exibir esses tópicos na tv aberta, tais como documentários e séries infantis de ficção; no entanto, era a animação o que ainda não tinham explorado.

Ficaram sabendo de um jogo chamado “Kokori”, criado por um grupo de pesquisadores do Centro Tekit, da Universidade Santo Tomás, que consiste em explorar o corpo humano. Como Gonzalo Argandoña explica, o jogo foi a inspiração para continuar gerando produções com

Bernardita: “Nós tivemos excelentes relações com o Canal, tivemos o

apoio deles na transmissão, fizeram publicidade, tinham um blog – que

agora está um pouco parado – ou seja, trabalhamos muito bem com eles. E o CHV nos recebeu bem, embora eu preferisse manter a série no mesmo canal, mas não há um canal melhor

que outro”. “Nano Aventuras”, série de Cábala Producciones e transmitida pela TVN

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temáticas científicas; e, na animação, encontraram a forma de realizá-las, porque “tinha todas as possibilidades de viajar pelo interior do corpo humano, e apresentá-lo como um lugar misterioso e cheio de incógnitas. Permitia visualizar esses mundos e explorar essa sensação de viagem, do ponto de vista narrativo; e, pelo lado do conteúdo, podíamos mostrar, em poucos segundos, de forma simples e visual, conceitos científicos que são complexos e não tão triviais de explicar para uma criança”.

Dessa forma nasceu “Nano Aventuras”, com técnicas de 2D e 3D, de 13 capítulos de 13 minutos, que procuram aproximar a biologia das crianças, de forma divertida e tangível. Entraram em contato com uma equipe do Centro Tekit para o apoio de conteúdo, com o intuito de entregar dados corretos e reais com respeito ao funcionamento do corpo humano e da natureza. “Uma base de realidade e, por isso, o trabalho com eles foi importantíssimo, no sentido de verossimilhança”, esclarece Gonzalo Argandoña.

Para que a história fosse dinâmica e divertida, a equipe criativa pensou em cada capítulo como uma missão em torno de um dilema e de um conflito, partindo da ciência como tema central. Os “nanobots” servem para esse objetivo, permitindo entrar em lugares tão diminutos como o corpo humano ou uma flor, “não de forma educativa, no sentido puro da palavra, mas sim procurando despertar a curiosidade e a fascinação por esses temas, para que, depois, as crianças que assistam a série queiram procurar mais informação e não tenham medo da ciência”, completa Argandoña.

Para isso, “Nano Aventuras” conta com três personagens: Mirko (voz de Sandro Larenas): professor que inventou os “nanobots”, e usou revolucionários conceitos de nanotecnologia para poder explorar os segredos do

Gonzalo: “Começamos com um conceito básico, e depois trabalhamos com um roteirista a partir dessa linha de argumento, à qual adicionamos humor, piadas e anedotas. Como parte do processo de animação, fizemos leituras do roteiro e representações dos personagens com a equipe de trabalho, para ver o que estava bom, onde tinha excesso de conteúdo ou gerava uma certa monotonia. Foi uma evolução natural; nos primeiros capítulos foi complicado encontrar o equilíbrio entre todos esses elementos, e esse foi um ajuste que tivemos que fazer durante a produção.”

Antonia Herrera directora de arte del cortometraje.

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Bernardita: “Paka Paka é um canal que faz programas divertidos totalmente educativos, o que é bastante impressionante. E eles me disseram isso, que chegamos para refrescar um pouco a programação”.

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microscópico e invisível. Foge do estereótipo do cientista com o cabelo desarrumado e preso no laboratório. É divertido, com um toque atlético e esportivo.

Seba (voz de René Pinochet): é uma criança que não tem muito interesse pela biologia, nem pelas ciências em geral. Porém, é muito bom de videogame, e sabe como controlar um jogo de ponta cabeça. Esse talento faz com que ele seja o principal piloto dos “nanobots”.

Rocío (voz de Ximena Marchant): é uma garota enérgica e curiosa, muito interessada na ciência, mas não é muito boa operando os “nanobots”. Portanto, entre Seba e ela, nasce uma relação de cumplicidade e rivalidade fraterna ao mesmo tempo.

A primeira série de ficção científica pré-adolescente

“’Pachapulai’ foi um livro que li na escola, era leitura obrigatória, e eu lembro que adorei”, comenta Erwin “Wilo” Gómez, sobre a inspiração para sua nova série, e completa “gostei porque tinha toda essa história de cidades mágicas, viagens no tempo. E depois fiquei sabendo que a obra foi o pilar da ficção científica chilena”.

Desde então, ficou na cabeça deste realizador fazer algo com “Pachapulai”, o que se concretizaria anos depois, com a ideia de um longa-metragem. Porém, devido à complexidade que era fazer aquilo, decidiu construir uma sequência da história e traduzi-la em uma série, “acontece 300 anos depois do livro, e a história começa quando um descendente de Pachapulai (personagem chamado Inti) aparece correndo pelos desertos de Antofagasta (norte do Chile), procurando um descendente de Bello (personagem de uma lenda chilena, que conta a história do piloto Alejandro Bello que fica perdido no deserto), com

Segunda temporada de “Hostel Morrison”, da produtora Pájaro

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a missão de consertar o que seu predecessor, o Tenente Bello, começou”, comenta.

A série foi financiada por meio de um fundo do CNTV (Conselho Nacional de Televisão do Chile) de 2008, licitação que realizaram em conjunto com a TVN. Diferente das atuais séries de animação, “Pachapulai” está direcionada a um público pré-adolescente, com ações e aventuras épicas, nas quais, por meio dos 13 capítulos de 13 minutos cada um, é possível encontrar temáticas, ritmo e visual orientados a este público alvo. “Não sei se existe outra série de animação de ficção científica. Ela tem uma estética que chamamos de cyberpunk andino, que é um retrô futurista, é uma fusão artística inca e espanhola”, completa “Wilo”.

Para construir a sequência, pensaram em uma cidade perdida no tempo, junto com o mito do Tenente Bello, que, em linhas gerais, articulou o conflito social existente dentro de um povoado de Pachapulai, onde convergem os mundos dos espanhóis e dos índios. Neste último caso, os nativos são os protetores máximos da natureza.

O conflito começa quando o antagonista, Pizarro, quer descobrir a cidade e extrair todo o ouro que se encontra naquele lugar, para vendê-lo e se transformar no homem mais rico do mundo.

Mais monstruosa

“Hostel Morrison” é produzida pela produtora Pájaro, de Bernardita Ojeda. Agora estrearam sua segunda temporada de 13 capítulos, que sempre foi pensada dentro de um único grande ciclo. “Eu diria que as duas temporadas foram trabalhadas como uma só, porque, internacionalmente, a série tem 26 capítulos, então, nós

mantivemos a abertura, e, claro avançamos em relação à primeira”, conta a produtora.

Segundo explica, nesta temporada, os personagens enfrentaram novas situações que não foram vistas anteriormente, “é mais diversa em relação a temáticas. Chegam mais monstros de outras classes e também tiramos eles mais do hostel. Viajam pelo tempo, vão para a casa de Boris, começamos a dar mais liberadade para eles”.

“Hostel Morrison” estreou no ano de 2011, pelo Canal 13, perto da hora do almoço nos finais de semana. Tinha uns 4 pontos de audiência e seu melhor pico foi de 7 pontos. Teve uma boa aceitação do público, e a produtora pensou em criar um perfil de cada um dos personagens no Facebook, o que gerou uma retroalimentação imediata com os seguidores dos monstros. “Naquele momento, eu

escrevia alguma coisa e já tinha 100 comentários, e foi muito interessante, porque, em geral, a gente não tem feedback, porque só temos os pontos de audiência e não sabemos exatamente que coisas as pessoas gostam. E aqui falávamos diretamente [com os espectadores], e era ótimo. Tinha crianças mais deprimidas, imagino que eram mais adolescentes, e nos escreviam ‘eu também sou um monstro, por isso ninguém me dá bola’. Tinha outras que jogavam o game da série, postavam coisas, foi super recompensador”, lembra Bernardita Ojeda.

Redes televisivas

“Nano Aventuras” foi exibida na programação da TVN, o que tem sido satisfatório para a equipe da Cábala Producciones. “Nossa vontade sempre foi alcançar a maior quantidade de público, conseguir abrangência nacional,

Imagem de “Nano Aventuras”

© Cábala Producciones

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Wilo: “Esteticamente, nos perguntamos o que aconteceria se você juntasse dois mundos muito diferentes durante muito tempo, em um mesmo espaço; e sentimos que o que ia acontecer é que eles se fundiriam. Então foi criada uma linha que misturava os dois mundos, o Inca e o espanhol. Criamos suas próprias regras de design”.

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e a TVN pareceu a melhor opção, e ainda é televisão pública, e existe uma afinidade e coerência com a missão e valores, ela aposta por conteúdos de qualidade”, comenta Argandoña.

Apesar de que eles não licitaram em conjunto ao fundo que promove o CNTV, esta produtora encontrou nesta rede televisiva as melhores condições para exibir a série. E completa, “também apoiaram em redes sociais e criaram um pequeno site no portal de TVN.cl. Então, também nos permite chegar a diferentes públicos, não só na televisão aberta, mas também na internet”.

Uma situação similar aconteceu com a série “Pachapulai”, para a qual o próprio canal que passou a série mantém uma página dentro do seu site, onde é possível assistir todos os capítulos que passaram na tv aberta.

Por outro lado, para a estreia da segunda temporada de “Hostel Morrison”, a série teve que mudar de rede televisiva. Ela era passada no Canal 13, porém, desta vez, se exibe pelo sinal da CHV. “Têm tido coisas boas e coisas difíceis. É claro que a gente sempre quer manter uma série em um mesmo canal, porque as pessoas se identificam conosco. Tentamos muito e não conseguimos, por questões de direitos internacionais”, conta Bernardita Ojeda.

A série tinha financiamento graças ao CNTV, mas faltavam mais recursos. Por este motivo, a produtora Pájaro pensou na coprodução, gerando um importante acordo com o canal Paka Paka da Argentina. “É bem interessante, porque está acontecendo muito agora. Então, dessa forma, podemos trabalhar com o canal público argentino”.

Já na CHV procuraram uma boa data para estrear a

História em quadrinhos de “Pachapulai”, de Estudio Spondylus

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segunda temporada de “Hostel Morrison”, que foi durante as férias de inverno de 2014 – sábados, às 9 horas –, mesma aposta que realizou “Nano Aventuras”.

“Para ‘Hostel Morrison’ não temos expectativas de que seja um estouro, nem nada, mas encaro como um desafio. Seria ótimo que começasse a ser interessante para os canais, inclusive para a CHV, ter uma programação infantil, porque podem ter diferentes linhas editoriais. Por exemplo, a TVN, que é pública, poderia preferir ter algo mais educativo. Porém, um canal como o CHV provavelmente teria uma área infantil-comercial”, reflete Bernardita Ojeda.

Gonzalo Argandoña, por outro lado, afirma que “a oferta infantil tem estado um pouco restrita, mas nós entendemos que existe um projeto para potencializar a programação infantil nos próximos anos por parte da TVN”.

Mais temporadas?

As três séries querem continuar na tv aberta nacional, e, por isso, pensaram em mais episódios para “Hostel Morrison”, “Pachapulai” e “Nano Aventuras”.

“Nossa expectativa é que ‘Nano Aventuras’ continue crescendo. Os 13 capítulos de 13 minutos surgem de um grande esforço, mas internacionalmente, não é uma quantidade suficiente para consolidar uma marca”, comenta Argandoña, que, para isso, espera uma segunda temporada, “estamos trabalhando para levantar financiamento para continuar ampliando o universo narrativo e continuar com mais capítulos”.

Na Cábala Producciones comentam que a série teve uma boa audiência, oscilando entre o primeiro e o segundo lugar

Sandro Larenas, Mirko voz em “Nano Adventures”

© Cábala Producciones

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Gonzalo: “Para ‘Nano Aventuras’ recebemos o apoio da Universidade Santo Tomás, através do centro

TEKIT, que é um centro de desenvolvimento de tecnologias da informação e da comunicação voltado

para a educação. Então, eles criaram diferentes ferramentas tecnológicas, e, uma delas, foi o jogo

‘Kokori’, que foi realizado com o financiamento de CONICYT (Comissão Nacional de Pesquisa Científica

e Tecnológica). Isso serviu de inspiração para levá-lo a uma expressão de massas, e que obedecia a nossa

paixão que é levar a ciência para o público”.

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Imagem da série “Pachapulai”, realizada por Spondylus e transmitida pela TVN

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nesse horário na televisão aberta. “Também nas redes sociais temos bons comentários, temos nossa fanpage que supera os 3 mil seguidores”, completa.

“Agora queremos que a próxima temporada seja de 26 capítulos”, continua Bernardita em relação a “Hostel Morrison” e explica, “como para dizer ‘pronto!, esta é nossa segunda e vamos fazer certas mudanças’”. Dependendo do resultado da audiência, a CHV poderia transmitir a primeira temporada inteira. Além disso, Pájaro aposta na venda dos DVDs das duas partes, e que estão à venda em todos os quiosques e bancas do Chile e no bar The Clinic, “começa a ser um lugar interessante para mostrar as séries”, conclui Ojeda.

Já sobre a série “Pachapulai”, a expectativa é que os jovens se interessem e que caia no gosto deste tipo de público. A equipe ficou satisfeita com o resultado, com a direção artística e visual. “O look é mais cinematográfico, para um público mais acostumado com videogames, muitos códigos de câmera colocados como em RPG e Racer, que são formatos deste tipo”. Conta Wilo.

“Acredito que seja para um público chileno de animação que vai conhecer outro gênero, não habitual. E para nós, como estúdio, é interessante transitar por essa linha em nossas próximas produções”, e conclui este criador, “o que nos interessa é colocar em movimento uma série de ficção latino-americana, inaugurar este gênero cyberpunk andino. Dependendo dos primeiros resultados, pensaremos em uma segunda temporada, mas estamos mais focados em ‘Kipán’, que significaria moldar todos os conceitos trabalhados em Pachapulai”, explica. SM

Link para entrevista em vídeo do Bernardita Ojeda

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Bernardita: “Hostel Morrison terminou em março de 2013 e estreamos em agosto do mesmo ano na

Argentina. Agora recebemos muitos comentários como ‘você é um gênio’, a gente reconhece imediatamente os

comentários que vem de lá.

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ANIMA MUNDI 2014BRASILJULHO-AGOSTORIO DE JANEIRO / SÃO PAULOhttp://www.animamundi.com.br/

EXPOTOONS 2014ARGENTINASETEMBROBUENOS AIREShttp://www.expotoons.com/

CUTOUT FEST 2014MEXICONOVEMBROQUERÉTAROhttp://www.cutoutfest.com/

AXIS 2015MEXICOABRILMONTERREYhttp://axisfest.mx/

ANIMA 2015ARGENTINAOUTUBROCÓRDOBA http://www.animafestival.com.ar/

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A animação chilena está se preparando para dar mais um passoDurante os dias 26, 27 e 28 de novembro,

aconteceu a segunda versão do MAI! Mercado Animación Industria (Feira de Animação e Indústria). Este evento de

formação discutiu a indústria de animação chilena e latino-americana e as projeções

que tem para se consolidar no âmbito internacional.

Por Josefa Villaseca

MERCADO ANIMAÇÃO INDÚSTRIA

Link para o vídeo curto de Mai!

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Imágen de “Goris el Gorila”Conferência Alvaro Díaz criador do 31 Minutes Auditório TVN

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Mais de sessenta projetos de animação latino-americanos se reuniram em Santiago para participar do MAI! Mercado Animación Industria, evento de difusão e promoção da indústria de animação do Cone Sul.

O encontro foi organizado pela Fundação CHILEMONOS, com patrocínio do Conselho Nacional da Cultura e das Artes, através do Programa de Apoio para a Realização de Encontros Internacionais no Chile 2014-2015.

Sua concepção, no contexto do Terceiro Festival Internacional de Animação Chilemonos, MAI! aposta na geração de redes e coprodução entre estúdios e animadores de toda a América Latina. Por meio de suas diversas atividades, o evento se desenvolveu como um espaço de formação que já pensa em sua próxima edição.

Paco Rodríguez, produtor espanhol de animação, comentou durante o encontro que, na hora de produzir, é fundamental comparecer em eventos desse tipo, pelo valor que agregam as redes que se criam: “Existe um intercâmbio de informação que está sendo produzido, existe uma aprendizagem e, ao mesmo tempo, estou fazendo redes”.

Atividades de formação

Durante os primeiros dois dias de MAI! Mercado Animación Industria, foram realizadas residências direcionadas a profissionais e estudantes.

Estiveram responsáveis por MAI! Escola de Negócios, Leah Hoyer, produtora norte-americana por trás de sucessos como “Phineas e Ferb” e “Kim Possible”; e Paco Rodríguez, produtor espanhol dos premiados longas-metragens “O Cid: a Lenda”,

Mercados de animação

No mundo inteiro os mercados estão ganhando uma relevância extrema. É por isso que a animação não fica para trás e está fomentando uma série de eventos de interação entre os atores da área, para alimentar e difundir esta indústria.

Para Martín Rodríguez, Secretário Executivo do Conselho da Arte e da Indústria Audiovisual, a importância desses eventos é gigantesca: “Basicamente são uma dobradiça ou vasos comunicantes com o resto da indústria em nível internacional e mundial. Estes eventos são fundamentais para que exista contato humano entre a indústria internacional e a chilena. Por isso nós apoiamos o evento com o fundo de fomento; estamos criando, inclusive, novas linhas para que a efervescência que neste momento continue crescendo e se consolidando.

Grupo de participantes das conferências na Faculdade de Comunicações da Pontifícia Universidade Católica do Chile.

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“Este é o plano” de Fernanda Frick, Projecto ganhador do Prêmio DIRAC

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“Noturna”, “Pinóquio 3000” e “Pérez, o ratinho de teus sonhos”.

MAI! LAB, direcionado a estudantes, reuniu dezessete chilenos sob a direção de Martina Santoro, produtora e fundadora de OKAM Studio, empresa argentina desenvolvedora de videogames.

Além de adquirir os conhecimentos desses profissionais renomados, com anos de experiência na indústria, os participantes tiveram a oportunidade de expor seus projetos e receberam um feedback útil para reuniões e acordos com distribuidores e canais.

Além disso, duas Master Classes foram realizadas, e convocaram mais de duzentos participantes. A primeira aula foi dada por Kiko Mistrorigo, criador, produtor e diretor de

TvPinGuim, uma das companhias de animação infantil mais reconhecidas do Brasil. Por outro lado, Nicolás Matji, produtor de animação espanhol, de Lightbox Entertainment, expôs sua experiência e as chaves do sucesso de seu longa-metragem “As aventuras de Tadeo”.

O evento para fechar o encontro foi de responsabilidade de Álvaro Díaz, criador da bem-sucedida série nacional “31 minutos”, que enfatizou o compromisso dos realizadores com o público. “Trabalhamos em uma indústria que pretende divertir e emocionar. Quando trabalhamos para divertir e emocionar, o único destinatário é o público, mais ninguém”, comentou.

Indústria Latino-Americana

Durante esta feira de animação, a presença de cinco produtores latino-americanos, que se uniram aos mais de cinquenta

profissionais chilenos, foi destaque. Vindos da Argentina, Colômbia, do Equador, Peru e da Venezuela, esta participação incide na construção de relações dentro da região.

“Acho que é interessantíssimo ter o foco na América Latina, porque se não nos conhecemos entre nós, nunca vamos ter força e identidade como região, e acredito que esse é o único caminho”, comentou Marilina Sánchez, produtora argentina que participou do MAI! com seu projeto “Mystery Network”. Jimy Carhuas, de Origami Studios (Peru), destacou a importância desses eventos para entender o panorama global de como a indústria avança: “Este tipo de encontro realmente nos permite ter uma visão geral, e por isso devem continuar acontecendo”.

Para Margarita Cid, Diretora Executiva da Fundação Chilemonos, as redes entre profissionais é um dos aspectos mais valiosos

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Conferência da TV Pinguim

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que se resgatam dentro do balanço desta atividade: “Hoje em dia, mais que nunca, sentimos que existe uma oportunidade que está nos esperando e que vai ser possível concretizar o que estamos procurando: uma indústria potente de animação. E que do Chile possamos liderar a animação latino-americana, para poder entrar em um mundo global que nos permita ter casos de sucesso e que, além disso, sejamos referência para toda a região”.

Aliança com ANIMA FORUM

Durante a terceira versão do Festival Chilemonos, foi oficializada a criação de um acordo de Festivais de Animação Latino-Americanos. Nesta edição de MAI! Mercado Animación Industria, esta aliança foi concretizada e busca potencializar a produção na região.

Com a participação da DIRAC, Direção de Assuntos Culturais do Ministério de Relações Exteriores do Governo do Chile, foi premiado um projeto de residência educativa da MAI! Escola de Negócios.

“Para nós, da DIRAC é uma honra participar da feira MAI!, já que nos sentimos parte da origem do programa Chilemonos. Esta feira é importantíssima para o Chile, e acho que é uma das feiras de maior projeção em nível internacional, isso nos coloca nas grandes lideranças e, para nós, como governo, é importante”, declarou Eduardo Machuca, Chefe da Área de Cinema e Audiovisual da Direção de Assuntos Culturais.

Por meio de um acordo realizado com o ANIMA FÔRUM, evento de animação do festival brasileiro ANIMA MUNDI, o vencedor deste reconhecimento outorgado pela DIRAC, poderá participar Leah Hoyer

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Imágen de“Goris el Gorila”

Animação foi provando-se , um movimento que está no Chile que vem com grande força , que precisa do apoio e conexões. Esperamos que se mantenha constante em seu apoio , porque não temos qualquer dúvida de que

há muito talento, criatividade e muita associatividade “ Martín Rodríguez , Secretário Executivo do Conselho de

Artes e Indústria Audiovisual

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Flo de la serie “Horacio y Los Plasticines”

“Sexta-feira de mídia” na UC Signal Festa de encerramento na TVN

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Flo de la serie “Horacio y Los Plasticines”

Martina SantoroPaco RodríguezLeah Hoyer

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Kiko Mistrorigo, TV Pinguim

da edição de 2015 do encontro.

A vencedora foi Fernanda Frick, com seu projeto “Este é o plano”, um curta-metragem que conta a história de amor de um cachorro e uma gata, com os altos e baixos de seu matrimônio ao longo do tempo. O trabalho foi escolhido por Leah Hoyer, entre os concorrentes nacionais de MAI! Escola de Negócios.

MAI! Maio de 2015

Essa segunda edição do evento aconteceu como um espaço de formação, e como uma primeira etapa para a terceira versão de MAI!, que acontecerá em maio de 2015, como parte do Festival Internacional de Animação Chilemonos.

O próximo encontro contará com a presença de importantes convidados de distribuidoras, produtoras e canais de televisão da América Latina e do mundo, que participarão em rodas de negócios com a finalidade de negociar e comprar conteúdo. “O que vamos fazer é ter uma grande quantidade de convidados internacionais, compradores da mais alta qualidade, e toda a América Latina vendendo, é isso o que queremos”, comentou Erwin Gómez, diretor da Fundação CHILEMONOS.

Sem dúvida, MAI! já abriu as portas para um mercado latino-americano integrado e colaborativo. Na mesma linha, em suas futuras edições, MAI! Mercado Animación Industria continuará fazendo laços e acordos na indústria, para, desta forma, se colocar em um lugar de privilégio mundial. SM

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Kiko Mistrorigo, TV Pinguim Nicolás Matji, Lightbox Entertainment Alvaro Díaz, Aplaplac

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www.mai.cl

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M E R C A D O A N I M A C I O N I N D U S T R I A

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Por Pamela Riveros Ríos

Como nasceu a referência do stop motion chileno

Uma viagem para a Alemanha potencializou sua mente curiosa, esta experiência a transformou

em uma artista de destaque da massa de modelar, do papel e do gênero em movimento.

Levou para o Chile a técnica do stop motion nos anos 80 e, a partir daquele momento, se transformaria em referência nacional e internacional. Os adultos de hoje ainda se

lembram quando “Vovô Cores” aparecia na tela e os fazia dormir.

VIVIENNE BARRY

Link para entrevista em vídeo do Vivienne Barry

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Corria o ano 1973, e, no Chile, se realizava um filme em stop motion. A jornalista Vivienne Barry foi testemunha disso, quando visitou os estúdios de Chilefilms e se deparou com esta produção chamada “Martín e Cano”. Uma proeza para um país onde nada parecido tinha sido feito antes.

Por causa do Golpe Militar, em 11 de setembro daquele ano, não se sabe se o filme foi terminado. A jovem jornalista, sem dimensionar o que significaria esse acontecimento para sua vida profissional, teve que se exilar do país, em janeiro de 1974, com seu marido, Juan Enrique Forch. Viajaram com destino a Dresden, na Alemanha Oriental, pontapé inicial para sua carreira na animação.

“Morei cinco anos lá e, por força do acaso, naquela cidade tinha um estúdio de animação muito grande da DEFA Trickfilm Studio, que era uma empresa cinematográfica”, lembra Vivienne Barry. O lugar tinha espaço suficiente para que todo tipo de animação se desenvolvesse. “E era mágico estar naquele lugar, porque eu entrava em diferentes estúdios de filmagens, porque ali se fazia cinema e haviam cenários de mundos mágicos, de águas que corriam, palácios com princesas, com monstros e outros personagens, porque estavam sendo feitos 10 ou 15 filmes ao mesmo tempo”, comenta a artista ao descrever o gigante estúdio alemão.

Um teste com cubos de madeira

Vivienne teve seis meses para se preparar. Era apenas ela, uma câmera e uns cubos, que tinha que transformar em animação. Durante as manhãs tinha aulas de pantomima com um diretor de cinema de animação, que também era mímico. “Eu tinha que animar os movimentos que ele me mostrava, mas com os cubos, que não tinham nem pernas nem braços, foi super difícil”, comenta.

Ela tinha que mandar revelar o próprio material e, depois de um tempo conseguiu fazer os movimentos de um boneco caminhando. “Depois desses seis meses, que passei apresentando para uma comissão tudo o que eu tinha feito, fui contratada como assistente de um animador, o que era muito chato, porque eu queria colocar movimentos em marionetes, mas tinha que me preocupar com a chuva e as nuvens, então aproveitava o tempo para ver como animavam os grandes criadores que estavam ali”, resume Vivienne Barry.

Meu primeiro boneco animado

Uma de suas atribuições foi ajudar um dos diretores

do estúdio, Kurt Weilh, na realização de um filme de gangsters, animado com bonecos. O ritmo da animação se dava de forma cuidadosa, porque uma quantidade dos frames correspondia a notas musicais. “Tinha uma cena em que os pistoleiros dançavam tango e tudo tinha que ser animado ao ritmo dessa música, que era como a cada 9 frames”, comenta Vivienne Barry.

Mas um dia estava inspirada e, enquanto seu mestre estava fora, quis experimentar e animar. Depois, mostrou para o renomado artista o que tinha feito, “ele me disse ‘bom, agora vou fazer umas seis versões a mais da cena para escolher qual vamos usar’. É claro que a minha não ia ser escolhida”, lembra a artista sobre quão exigente e

Sketches do filme “El Sereno” origem da série “Vovô Cores”

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Imagem de “Vovô Cores”

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“Dorme, neguinho” capítulo da série “Cantamonitos”

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En los Estudios Disney (1988-1990).

perfeccionista era aquele estúdio.

Continuou experimentando, usou outros materiais, como papéis cortados e massa de modelar. Trabalhou com seu marido no meio-metragem “Lautaro”, onde conseguiu mostrar seu talento. “Foi incrível, me senti confiante porque animei como eu queria, tive que fazer coisas muito complexas, como batalhas, cavalos galopando, mapuches (nação indígena do sul do Chile). Era muito emocionante, porque, de alguma forma, você se sente embaixador da sua cultura, e fazer filmes sobre o Chile era uma forma de transmitir nossa cultura lá”, comenta.

A primeira ideia de “Vovô Cores”

Todos os dia da semana, às 18:50 horas, um senhor dava boa noite na tela da televisão da Alemanha Oriental. O personagem chamado Sandmännchen era animado em stop motion, e visitava as crianças para desejar boa noite. “Então, eu pensei que quando chegasse no Chile faria um velhinho que desse boa noite para as crianças do país”.

Regresso e inícios do stop motion no Chile

Finalmente, em 1979, Vivienne Barry volta a Santiago do Chile. Procurou emprego na área de jornalismo e do entretenimento, como cantora. A animação não passou pela sua cabeça.

Até que, andando na rua, encontrou seu amigo Santiago del Campo, do setor criativo da McCann Erickson. Ali nasceu a ideia de fazer uma propaganda para a marca Ambrosoli, chamada “Ambrosoli Striptease”, que foi realizada, finalmente, em agosto de 1980. “Isso foi incrível, abriu as portas para que eu pudesse trabalhar na área de publicidade, depois dessa propaganda pude

Capítulo da série “Uni Duni Tê”, chamado “A Vaca Leiteira”

Série “Uni Duni Tê”

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Imagem do curta-metragem “A Salsa”, 1999

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viver da animação, e durante 10 anos trabalhei nisso”, pontua esta artista, que seria reconhecida por muitas obras realizadas naquela época, como a campanha “Cuidadoso e Precavida” do Citibank.

Com este caminho a percorrer, Vivienne não esqueceu sua ideia inicial de criar o velhinho que faria as crianças do Chile dormirem. Trabalhou com Eduardo Tironi, que começava como diretor geral no Filmocentro, e a apoiou para fazer um piloto junto com Ricardo Larraín. O trabalho foi chamado “A hora do Sereno”, fazendo alusão ao personagem que percorria as ruas apagando as luzes na época da colônia chilena. “O Sereno” caminhava pelas ruas de paralelepípedo com casa de tijolo.

Tentaram vender o trabalho em vários países, sem muito sucesso. Mas a resposta chegou 10 anos depois.

Um fenômeno social

Durante o ano de 1991, a Televisión Nacional de Chile (TVN) anunciou que procurava realizar uma “despedida infantil”, para incorporá-la à programação semanal. Aqui, Vivienne Barry viu a oportunidade de levar sua ideia à telinha, e concretizou um acordo com os executivos.

Dessa forma nasceu “Vovô Cores”, onde a artista aproveitou seu material inicial de “A hora do Sereno” para modernizá-lo e atualizá-lo à época contemporânea. Todas

as noites, antes das 21 horas, um velhinho entrava em cena junto com duas crianças e um cachorro, contava um conto e eles iam para a cama.

O sucesso foi tão grande que TVN o estendeu por mais doze capítulos e os demais canais chilenos decidiram incorporar a “despedida infantil” em suas programações também.

No entanto, a TVN decidiu tirar do ar o reconhecido personagem das crianças em 1995. “Vovô Cores” foi um fenômeno social e não passou despercebido quando parou de ser transmitido. “Foi triste, houve protestos na rádio, eu coloquei um monitor na rua em uma feira de Natal, pessoas escreveram em um livro de reclamações, tenho muitas coisas escritas, muito bonitas”, relembra Vivienne Barry. “O que mais me emocionou foi saber que uma criança com paralisia cerebral tinha aprendido a reconhecer algumas palavras com o ‘Vovô Cores’, e que no túmulo de algumas crianças no Cemitério de Santiago está escrita a música de “Vovô Cores.”

Sua experiência em curtas-metragens e viagem a festivais

Sua experiência com curtas-metragens e viagens a festivais Seu primeiro curta se chama “Saudade de Dresden”, e começou a ser produzido simultaneamente a “Vovô Cores”, em 1991. Essa experiência foi um sucesso.

Com as ilustrações à mão livre de Francisca Iriarte e papel picado, a história falava de um homem torturado pelos pontos cardeais, retratando, com isso, sua própria experiência de dor, nascida das distâncias e de ter vivido no exílio. Foi feita em 35mm, e foi exibida no Festival Internacional de Cinema de Viña del Mar e no Festival Internacional do Novo Cinema Latino-americano da Havana, Cuba, onde o canal Arte da França quis comprá-

Vivienne Barry na produção do curta-metragem “A Salsa”, em 1999

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lo para exibi-lo em sua programação, e que, além disso, concedeu o financiamento para que Barry realizasse seu segunda curta-metragem.

Depois chegou “Deriva”, no ano de 1995. “’Deriva’ são sensações muito internas, minhas, do que é ser mulher, são como sonhos de uma menininha representados por meio de fotografias preto e brancas recortadas, e vestidos de papel cortado, que eu brincava quando criança, representando os papéis de mãe, dona de casa e noiva”. Dessa forma Vivienne retrata seu curta-metragem e completa, “não ganhei prêmio nenhum, mas eu acho ele lindo, demorei muito tempo para fazê-lo. Mostrei esse curta em muitos lugares, esteve em muitos festivais e também foi comprado pela Arte”.

Seu terceiro filme “A Salsa” (1999) usa em sua trilha sonora a música “Devórame Otra Vez”. A história trata de um personagem chileno, que viaja com seus amigos salseros para o Caribe e montam um grupo musical. “Passei três meses animando. Construímos cidades tropicais, um bondinho Matadero-Palma, que atravessava a Cordilheira dos Andes e chegava ao trópico. Muito divertido”, completa.

Porém, um importante evento aconteceria depois. “Como asinhas de Tico-tico”, é um dos grandes projetos que Vivienne Barry criou. “É o curta que me deu mais satisfação”, pontua e depois continua, “quando eu morava na Alemanha, soube das arpilleras (bordados feitos em juta) que as mulheres faziam na época da ditadura, uma pessoa próxima comprou na Vicaría de la Solidaridad (organização religiosa pró direitos humanos) e me chamou muito a atenção que as mulheres bordassem a realidade delas”. No ano 2000 a artista ganhou uma licitação pública para poder financiar o que estava em sua cabeça há vários anos.

“Coloquei o título ‘Como asinhas de Tico-tico’ pensando na música de Víctor Jara ‘Angelita Huenumán’, suas mãos dançam nos fios como asinhas de Tico-tico”, lembra e cantarola. A artista teve a oportunidade de conversar com essas mulheres que já levavam um tempo retratando, através dos panos e da lã, suas próprias sensações sob o golpe militar. As temáticas que bordavam eram as valas comuns, o bombardeio ao Palácio de La Moneda, as violações de domicílio, as greves de fome, o exílio, os centros de tortura.

“Eu conheci as bordadeiras naquela época, e tentei pedir que me refizessem os bordados, só que com tudo solto, mas as senhoras não entendiam que eu precisava que

eles se mexessem. Então, o filme está feito assim. No começo você vê mãos de mulher que costuram, uns panos começam a se cortar sozinhos, e isso tudo queima, com um barulho de helicóptero, que era o que eu lembrava que tinha de fundo no golpe de estado”, comenta Vivienne Barry e completa sobre este curta-metragem que “é como uma homenagem àquelas mulheres que, muitas delas com seus maridos presos, sobreviveram a essa época, graças à Igreja que as amparou, que vendeu seus trabalhos e os mandou para o estrangeiro. Eu não sabia que muitas dessas bordadeiras mandavam cartas entre os bordados para que fossem lidas lá fora e contassem suas experiências”.

Curta-metragem “Como asinhas de Tico-tico”, 2000

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Carlos González en Sabados Gigantes 1987

Víctor Jara junto a Carlos Gonzalez interpretando “Charagua” para cortinas de Tevito (1973).Materiais para a realização do curta-metragem “Como asinhas de Tico-tico”

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Materiais para a realização do curta-metragem “Como asinhas de Tico-tico”

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“Como asinhas de Tico-tico” ganhou o prêmio máximo, o Grande Coral, no Festival da Havana.

As séries de televisão

O constante trabalho de Vivienne Barry também foi transmitido na televisão aberta do Chile. Realizou a série infantil “Uni Duni Tê” (TVN, 2007), na qual cada um dos 12 capítulos correspondia a músicas infantis da tradição espanhola e latino-americana, retratadas com a técnica claymation.

Continuando nessa linha, nasceu “Cantadesenhos”, série infantil de TV, composta por 13 músicas chilenas relacionadas com crianças, e que apresentou uma dificuldade maior, já que cada capítulo tinha que ser feito com uma técnica de animação diferente. Neste projeto participaram artistas de destaque do país, como Cecília Toro, Bernardita Ojeda e Jimena Moncada, entre outros.

“Então, aí a gente tinha papéis cortados, sedas, animação de massinha de modelar corpórea, animação de massa de modelar plana, animação de cubos, animação de bonecos de pano, de lã, de madeira, ou seja, uma gama incrível de coisas, que foi um trabalho enorme porque era muito lento”, comenta Vivienne sobre “Cantadesenhos”.

A terceira aposta na televisão aberta foi “Massinho”, um menino que surge do meio das massas de modelar, e que se monta em frente às câmera de televisão. Desconhece o mundo no qual ele está entrando, então a cada capítulo ele aprende algo novo sobre a natureza, ao som da música do grupo Portugal.

“Infelizmente ‘Cantadesenhos’ e ‘Massinho’ não tiveram muito sucesso na televisão, porque passavam muito cedo,

passam poucos programas infantis na televisão aberta e, os que conhecem as séries, assistem pelo YouTube, que tem um montão de seguidores. Eu fico triste porque é trabalho perdido”, diz Barry.

Atualmente, e com uma grande trajetória na animação, esta artista quer explorar outros formatos para contar suas historias. Em formato de live action – com partes animadas em stop motion –estilo documentário, reconstruirá o que seu pai vivenciou com outros seis jornalistas chilenos durante uma viajem ao Oriente, em 1941, depois de ficarem presos após o início da Segunda Guerra Mundial. “É um longa-metragem que trata da busca de minha imagem paterna, meu pai morreu quando eu ainda era criança. E aconteceram muitas coisas com eles lá, minha casa, desde pequena, tinha decoração estilo japonês. É o que mais lembro dele, e sempre quis reconstruir essa

história”, lembra Vivienne.

O primeiro livro sobre a animação chilena

Atualmente, existe apenas um livro que recopila a história da animação chilena. “A Mágica em Movimento”, que foi escrito por Vivienne Barry, quando ganhou um Fundo Audiovisual de pesquisa, e depois de adquirir um Fundo do Livro, ambos do Conselho Nacional da Cultura e das Artes (CNCA). Por meio da editora Pehuén a artista recopila, em 200 páginas, os máximos representantes encontrados até o ano de 2007, sobre obras, personagens e técnicas, tanto nacionais quanto estrangeiras.SM

Curta-metragem “Deriva”, 1994

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Imagem da série “Massinho”, 2009

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1973Vivienne Barry assiste, pela primeira vez a produção de um filme em stop motion no Chile, chamado “Martín e Cano”. Muda-se para Alemanha Oriental depois do Golpe Militar, no mesmo ano.

1975DEFA Trickfilm StudioEntra no DEFA Trickfilm Studio Dresden para aprender animação com os mais renomados da área.

1979ChileRetorno ao Chile

1980McCann Erickson Realiza sua primeira propaganda em stop motion “Ambrosoli Stiptease”, para a marca de doces Ambrosoli.

1982PublicidadeCria a campanha de cinco propagandas para crianças, sobre segurança no lar: “Cuidadoso e Precavida”, para o Banco Citibank.Realiza o piloto antecessor de “Vovô Cores” chamado “A hora do Sereno”.

1980 – 1991PublicidadeNeste período, a artista trabalha em mais de 35 propagandas animadas em stop motion (algumas usavam completamente a técnica, enquanto outras, apenas uma parte).

1991TVNEstreiam os capítulos de “Vovô Cores” (16 capítulos).“Vovô Cores” ganha vários prêmios, entre eles o “Segundo Prêmio” Concurso de Vídeo Infantil IPAL, da UNESCO e UNICEF, no Peru.Além disso, ganha o “Primeiro Prêmio Melhor Série Infantil de TV” no Festival de Cinema Infantil de Guayana, na Venezuela, e “Terceiro Prêmio” Prix Juenesse Ibero-americano.

1991Curta-metragemRealiza seu primeiro curta-metragem “Saudade de Dresden”. Animação de desenhos à mão livre. Ganha o concurso itinerante do Goethe Institut, em homenagem a queda do Muro de Berlim. Seleção Oficial no festival de Clermont Ferrant, na França.Selecionado na Exibição Especial de Animação Latino-americana no Festival de Annecy 1992.

1992Curta-metragemConcorre no Festival da Havana com seu curta “Saudade de Dresden”.

1994Curta-metragemEstreia “Deriva”, curta realizado com papéis cortados, fotocópias pintadas com tinta e fotografias.

1999Curta-metragemRealiza seu terceiro curta-metragem chamado “A Salsa”,

animação em stop motion com bonecos, e ganha o prêmio de “Melhor Animação” no Festival de Curtas-Metragens de Santiago.

2000Começa a produção de “Como asinhas de Tico-tico”, seu quarto curta-metragem animado, com o trabalho das bordadeiras chilenas, que retrataram uma crônica muda durante a época da ditadura.

2001Curta-metragem“Como asinhas de Tico-tico”, ganha o máximo prêmio, o Grande Coral, no Festival da Havana. “Prêmio Especial do Jurado” no Festival sobre Direitos Humanos Derhumalc, na Argentina. Prêmio para o Melhor Curta-Metragem no Festival Biarritz Sans frontières.

2002Realiza seu curta-metragem “Mongetún rei orelie” em honra a Orelie Antoine I, rei da Araucania. Animação de desenhos e papéis cortados.

2006TVNRealiza “Uni Duni Tê”, série infantil de TV, ganhadora do fundo CNTV, composta por 12 músicas infantis tradicionais de origem espanhol-latinoamericana, animadas com massa de modelar. Ganhadora da “Melhor Série Infantil de TV” no concurso chileno “Que vejo”,“Segundo Prêmio” Prix Jeunesse Iberoamericano.“Primeiro Prêmio” Jurado Infantil e Prêmio para a Melhor Animação no Festival de Cinema Infantil Kolibri, na Bolívia.

2007Livro sobre a animação chilena. Escreve o livro “A Mágica em Movimento” (Editora Pehuén),

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depois de ganhar um Fundo Audiovisual de pesquisa e receber um Fundo do Livro, ambos do Conselho Nacional de Cultura e das Artes (CNCA).

2008TVNRealiza a série infantil de TV “Cantadesenhos”, ganhadora do Fundo CNTV, formada por 13 músicas chilenas relacionadas com crianças e com animações feitas em técnicas diferentes.Primeiro Prêmio Prix Jeunesse Iberoamericano, categoria de 0 a 6 anos. Prêmio “Minha TV” de Melhor Série de TV Infantil no Festival Novo Olhar, na Argentina.

2009TVN Realiza a série infantil de TV “Massinho”, ganhadora do fundo CNTV. “Segundo Prêmio” Prix Jeunesse Iberoamericano para série infantil “Uni Duni Tê”

2011CORFO“Presos no Japão”, ganha fundos públicos. Projeto Ganhador CORFO Cinema e Fundo Audiovisual.“Primeiro prêmio” Prix Jeunesse Iberoamericano para “Dorme, neguinho”, da série infantil Cantamonitos.

2014Termina o longa-metragem documentário “Presos no Japão”, relacionado com a vida de seu pai e a história do jornalismo chileno, composto por gravações reais, com partes animadas em stop motion e recortes de papel.Ganha o Fundo CNTV para realizar uma nova série de TV infantil, chamada “Nuku-Nuku”.

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Produtoras chilenas demonstraram que a nova forma de exibir e distribuir séries de animação é usar a web. Esta

nova tendência ganha força no mundo e, no Chile, Marmota Studio e ATiempo

já têm experiência e bons números

WEBSÉRIES

Por Pamela Riveros Ríos

A nova forma de democratização da animação

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Websérie “Pessoas Cetáceas”, de Marmota Studio

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Imagem da série “Vovô Com”, websérie de Marmota StudioLink para entrevista em vídeo do Bernardita Pasten

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Há 19 anos a companhia criativa Bullseyes Art lançou, pela internet, a primeira websérie de animação “Porkchops”. Eram conhecidas como webisodes e não duravam mais que um minuto.

A mesma empresa lançou, ao mesmo tempo, outros produtos animados, como “Rat Chicken”, “The Animated Series” e “Miss Muffy and the Muff Mob”, todas elas voltadas a um público adolescente, mantendo roteiros irônicos e humor negro.

A terminologia evoluiu e até hoje conhecemos as web television, categoria que gerou sucessos, como a recente ganhadora do Emmy “House of Cards”, original da Netflix.No Chile, as primeiras experiências com webséries animadas nascem, principalmente, porque já estavam procurando formas de facilitar o acesso aos conteúdos. Da mesma forma, o acesso imediato aos conteúdos tem sido cada vez maior, por meio dos próprios celulares e tablets.Seguindo esta tendência estão Marmota Studios e a produtora ATiempo. Ambas têm seus próprios canais no YouTube, e dessa plataforma podem fazer um monitoramento analítico do que acontece com o público e quais conteúdos ele prefere assistir.

Livre acesso

“Decidimos que a internet seria nossa plataforma, porque é muito mais fácil chegar nela”, diz Bernardita Pastén, produtora executiva de Marmota Studio. Segundo ela aponta, uma das vantagens de estar na rede é permitir que os usuários possam ter acesso ao conteúdo de uma forma mais simples e a qualquer momento.

Patricio Gamonal, produtor executivo de ATiempo, comenta que existem alguns casos nos quais os usuários acessam

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os conteúdos fora de casa, e que, por esse motivo, é fundamental estar na internet. “Na produtora percebemos que o futuro não está na televisão, mas no Smartphone, no tablet ou celular. Os pais têm que ter algo disponível para que a criança brinque ou assista enquanto viajam, vão ao médico, e se nós preenchemos esse espaço, acho que vamos ter um bom futuro”.

Uma linha editorial original

Bernardita Pastén esclarece que, um dos principais objetivos da Marmota, foi exibir os desenhos animados originais, isto é, ter a oportunidade de mostrar um trabalho sem filtro editorial. “Não estamos presos a uma linha editorial alheia, mas à nossa própria edição. Isso facilita, por isso a internet foi um ponto chave”, comenta.

Esse sistema de trabalho permitiu a Marmota Studio ter, até hoje, duas webséries no YouTube (https://www.youtube.com/user/MarmotaStudio). No dia 29 de novembro de 2012, publicou sua primeira produção original “Pessoas Cetáceas”, curta-metragem que, tempo depois, decidiram transformar em série. A história é baseada no golfinho McClane, que se integra à sociedade e acredita que, em algum momento, conquistará os humanos. No ano de 2013, ganhou o Festival Internacional de Animação Chilemonos, na categoria WIPs (Work in Progress). A primeira temporada contou com seis capítulos, e pensam em repetir a mesma fórmula na segunda.

Depois realizaram “Avô Com”, websérie estreada 19 de abril de 2013, que conta as aventuras de um velhinho que tenta entender o uso da internet para se aproximar de seu neto Pablo. Após exibir cinco capítulos, alcançou mais de 280.000 reproduções em seu canal do Youtube.

Ambas as produções de Marmota Studio foram um sucesso e são exibidas pelo canal ETC TV do Chile. Ao mesmo tempo, entenderam que, ao transformar seus curtas em séries, conseguiam fidelizar a audiência, “fazer algo 100% original significa que temos que formar o público, aí percebemos que curtiam os curtas nesse mês, mas no próximo já tinha outra coisa [mais interessante]. Então, foi necessário começar com as séries, para manter nossos seguidores, e para que eles tivessem um personagem para seguir ao longo dos capítulos”, comenta Bernardita.

Comunidade

Ao contrário de Marmota Studios, a produtora ATiempo realizou suas séries pensando em formatos televisivos, focadas nas idades pré-escolar e escolar. No entanto, encontraram no YouTube uma forma de manter o conteúdo de “1, 2, 3 brincar!”, produção de 26 capítulos de 7 minutos, que virou uma exploração transmídia, com

músicas, discos, merchandising e reconhecimento de seu personagem principal, o “Cachorro Chocolo”.

Todo esse conteúdo está sendo colocado em seu próprio canal chamado ATiempo Preescolar. “Temos mais de 4 milhões de visitas contando todas as músicas. Constantemente subimos material novo, de fato, estamos produzindo novas músicas e criando novas danças do Cachorro Chocolo”, diz Patricio Gamonal. O importante, esclarece, é ter conteúdo para as mães, que são nosso público alvo e que entram no site para reproduzir a playlist disponível para seus filhos pequenos, entre 0 e 4 anos.

Criado em 2009, ATiempo Preescolar alcançou, em outubro de 2014, 100 mil assinantes, superou as 100 milhões de visitas, e teve seu pico de reproduções no mesmo ano, depois que decidiram subir material constantemente em seu canal na internet. Segundo Socialblade.com, seu crescimento em seis meses é estimado em 140.542.482

Personagens de “Pessoas Cetáceas”

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Inauguración de Chilemonos 2014.Imagens da websérie “Pessoas Cetáceas”, de Marmota Studio

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“Golpea Duro Hara”

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visitas e 245.019 assinaturas, o que remete a uma grande comunidade de seguidores, mantendo-os fieis graças à renovação constante de conteúdo.

O canal de Marmota, por outro lado, foi criado em 2012 e tem 4.434 visitas diárias e 27.736 seguidores, números que aparecem no próprio site. Segundo Bernardita Pastén, um aspecto importante que existe na rede é a interação, “os assuntos da comunidade que podemos jogar na internet é o que gira ao redor do conteúdo que nós fazemos, é a interação que temos com eles. Ir promovendo isso tudo vai além de assistirem nossos vídeos e esperar nossos próximos desenhos”.

Um exemplo claro é o que estão pensando para sua próxima série, “o próximo projeto é uma cocriação com o público de Marmota, que assiste sempre nosso trabalho. Lançar uns pilotos que seriam os curtas que fazíamos no

início, mas que eles digam quais deles querem assistir na próxima websérie, porque nós fomos os primeiros a apresentar o conteúdo, mas agora queremos escutar o que eles tem a dizer, também, o que eles querem assistir”, completa a produtora executiva, enfatizando a importância que do feedback para ir criando coletivamente o conteúdo que sua audiência quer assistir.

Democratização

Um dos pontos chaves da produção exibida na internet é a democratização do conteúdo. Isto é, a possibilidade de mostrar criações próprias, sem um horário estabelecido, que gere interação e livre acesso, o que permite que esta janela de exibição se desenvolva cada dia mais.

“É muito importante saber como está a recepção”, esclarece Bernardita Pastén. Nesse sentido, o canal do YouTube

Design do personagem de Vovô Com

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Master Class “Cinemáticas de Video Juegos” de Grzegorz Kukus del Estudio Polaco Platige Image. Imagem da série “1,2,3 brincar!” da produtora ATiempoLink para entrevista em vídeo do Patricio Gamonal

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O Cachorro Chocolo, personagem da série “1,2,3 brincar!”

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permite que sua audiência veja o conteúdo e desenvolve a interação com o publico por meio de outras redes sociais, como Facebook, que permite uma retroalimentação constante com os usuários. “Também nos diz como estamos fazendo tudo, se está bom, mais ou menos, ou se há algo que possa melhorar”.

Dessa forma, aponta que os seguidores podem ter incidência nos capítulos e no conteúdo, “o YouTube também disponibiliza analitics, que são uns gráficos que dizem onde o público começa a fechar a aba, ou onde voltam e começam a ver a cena. Então, percebemos que há expressões e situações em particular que fizeram os espectadores repetir a cena, porque marca um pico nos gráficos, então, é bom saber também o que funciona com eles e o que não”.

“Acho que o YouTube é um canal democrático, livre, onde eu realmente posso colocar meu material e grande parte do meu público alvo tem acesso a esse meio”, completa Patricio Gamonal em relação a seu canal ATiempo Preescolar. Finalmente, a audiência vê o que realmente está procurando e não espera os horários que manda a programação da televisão para os capítulos, ou para ouvir as músicas que querem ouvir.

Gamonal considera que esta nova janela que democratiza o conteúdo será o negócio do futuro, “percebemos que é melhor estar no YouTube que na televisão, que já não tem espaço para conteúdo pré-escolar. É uma boa fonte de renda que paga por cada visita que você tem, e temos dois milhões de visitas por mês, o que é muito bom. E estamos produzindo mais material para mais visitas”, conclui. SM

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“Rodência e o Dente da Princesa”

DAVID BISBANOO diretor de cinema David Bisbano participou do

Festival Chilemonos 2014, onde nos contou sobre seu último filme de animação “Rodência e o

Dente da Princesa”A receita são as temáticas que resgatam o latino-

americano, sermos autênticos, contar histórias diferentes e com elementos próprios. O que todo

o mundo quer assistir, segundo Bisbano.

Por Pamela Riveros RíosLink para entrevista em vídeo do David Bisbano

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Quando David Bisbano era criança, tinha a habilidade de encher uma folha de croquis com esboços de personagens, motivados por produções como “Guerra nas Estrelas” ou “Akira”. No entanto, decidiu focar seu talento no live action. Trabalhou com publicidade na Storm Films, no Peru, e em Cinetauro da Argentina. Foi nesse caminho que Bisbano reencontrou com a animação. “Uma das formas novas que apareceu no cinema foi o 3D, foi meu grande interesse assim que apareceu, e comecei a trabalhar com na publicidade; até que um dia me chamaram para realizar um longa-metragem e daí em diante que não parei mais. “Rodência” é meu segundo filme de animação”, conta.

Ele escreveu e dirigiu “Rodência e o Dente da Princesa” que é um dois filmes latino-americanos mais importantes, estreada em mais de 20 países e nos cinemas de todo o Brasil, dublada em mais de 5 línguas, como russo, coreano, português e inglês, entre outros. Foi financiada por uma coprodução entre Argentina (Vista Sur Films) e Peru (Red Post Studios), usando elementos netamente latino-americanos, desde a sua produção até a história mesma. Para Bisbano, essa foi a receita para que o resto do mundo tivesse interesse em assistir um longa-metragem de grande nível, onde as histórias próprias da América Latina fossem resgatadas.

David, como foi sua primeira experiência na animação?

Fiz um filme de animação chamado “Valentino, o clã do clã”, que é um filme peruano para crianças. Foi minha primeira experiência na animação, e foi muito caótica para mim, porque me chamaram quando o projeto estava em andamento, o outro diretor tinha abandonado o projeto e deixou tudo na metade.

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Cena de “Rodência e o Dente da Princesa”

Eu morava na Argentina naquela época e me ligaram do Peru, por recomendações e por meus trabalhos com publicidade. A verdade é que, sim, me interessei muito e falei ‘bom, é uma oportunidade para aprender’.

Quando cheguei no Peru, encontrei um filme de baixo nível, então resolveram eliminar tudo que tinha sido feito e começar do zero. Daí, um trabalho de dois anos tinha que ser feito em 5 meses. Foi um trabalho muito árduo, muito forte.

Esse foi meu primeiro trabalho, o que, para mim, foi incrível, porque significou aprender muitíssimo, muito rápido, estar em contato com muitos animadores, estar na produtora cercado de vários artistas.

Quais são as conclusões de sua primeira experiência com um longa-metragem de animação?

Foi basicamente me deparar com uma forma de trabalhar que já tinha sido imposta pela produtora aos colegas, não aproveitavam o potencial do grupo. A produtora obrigava que cada pessoa fizesse tudo: roteirista, modelador, animador. Não eram pessoas que estudaram cinema, não sabiam da linguagem cinematográfica.

Então, nos juntamos no pátio e perguntamos o que cada um queria fazer. Virou uma espécie de escola. Eu comecei a ensinar os enquadramentos cinematográficos. Um dia, um rapaz chegou ao escritório às 3 da manhã, porque não tinha horários nessa produtora e me disse ‘eu quero ser diretor’. Então, respondi, ‘bom, você vai ser meu assistente, vai me ajudar em tudo com relação à narrativa

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do filme’. Ele começou a fazer os animatics do filme e, em troca, me ensinava a usar os programas.

E depois veio “Rodência”, que é como um conto de fadas, porque a produtora Alpamayo Entertainment pediu que terminássemos o filme “Valentino” em cinco meses, com a promessa de nos dar dois anos ou quanto precisássemos para fazer um bom trabalho com “Rodência”.

Quando chegou o momento de fazê-la, montamos um pequeno trailer com a turma que tinha aprendido animação, animavam muito melhor que antes. Mostramos para a mesma produtora aonde poderíamos chegar e ainda mais. E a produtora em troca nos deu a notícia que ia fecher... e que “Rodência” não seria feita.

Basicamente, todos ficamos na rua. Estava muito deprimido

e queria voltar para Buenos Aires, tinha acabado um projeto para o qual tinha apostado um ano da minha vida.Um mês depois de trabalhar fazendo publicidades de novo, recebo a ligação de um produtor e eu pergunto para ele ‘por que está me ligando, onde você me conheceu’ e ele disse ‘vi um trailer de uns ratos, de “Rodência”, e gostei dele, comprei e quero que seja terminada’. Foi tipo ‘uau!’. Começamos a ligar para todo o mundo, toda a turma, ninguém acreditava.

Rodência teve sucesso em muitos mercados, o que é o que chama a atenção deste longa-metragem?

Quando me propuseram fazer “Rodência”, eu tinha claro um objetivo, que era fazer um filme de animação latino-americana, no sentido não só de fazê-lo no continente, mas também que falasse dele, que contasse nossa

Cena de “Rodência e o Dente da Princesa”

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história, que mostrasse as paisagens, parte da cultura, e fizesse de toda a América Latina um único reino. Por isso Rodência fala sobre juntar tudo em um reino, está baseado em uma lenda latino-americana, que é uma espécie de fada do dente, o rato Pérez.

O segundo objetivo era fazer um filme que eu gostasse; não me interessava que o filme agradasse os produtores, os distribuidores, eu queria um filme que, quando eu assistisse, fosse sincero e que eu quisesse ir ver no cinema. E o terceiro, era que não fosse parecido com nada que eu tivesse visto. ´”Rodência” tinha que ser algo em que eu visse um fotograma e falasse ‘Ah! Isso é Rodência!’.

Isso foi uma luta e uma busca de um estilo de imagem, um estilo de narrativa, e um estilo da história em si, que fosse muito daqui. E quando, terminamos o filme, percebemos que todo mundo estava interessado em “Rodência”, porque

eu falava de algo tão local. Quando os coreanos assistiam falavam ‘Nossa! É ver a América Latina em 3D!’, ninguém nunca tinha feito isso, sempre vejo os Estados Unidos, ou Londres, mas nunca Cuzco ou o México. “Rodência” mistura tudo e qualquer pessoa da América Latina pode encontrar elementos que a identifiquem. Esse foi o maior trabalho que fizemos na arte.

E entendemos isso, que os franceses gostavam, porque falava da América Latina. Quando estávamos fazendo o filme escutávamos o contrário ‘não, ninguém vai se interessar porque é muito latino-americano’.

O filme foi vendido em mais de 20 países de forma comercial, e para mim foi uma alegria incrível. Viajei até a Índia, e via reação do público, e depois as perguntas das pessoas que queriam saber onde ficava esse lugar. Para eles a América Latina é o outro lado do mundo, como é,

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para nós, a Índia. E perguntam ‘o que é isso dos dentes?’ porque eles não conhecem essa lenda. E existia um interesse sobre esse lado do mundo, que era muito bom. Essa era a ideia de “Rodência” desde o início.

Em quais projetos você trabalha agora? Continua resgatando o latino-americano?

Estou trabalhando em dois projetos, mas um deles é de animação, onde estou juntando toda minha experiência no cinema, voltando a ter uma imagem especial. Então, estou trabalhando com maquetes, um mundo meio estranho, e fala basicamente da literatura latino-americana, dos contos fantásticos, da imaginação de nossos autores. Trabalho nisso há vários anos. Antes de terminar “Rodência”, já estava trabalhando nisso.

Estou trabalhando no roteiro e na arte, ao mesmo tempo, escrevo e desenho, vou me complementando dessa forma. Estamos fazendo um trailer para arrecadar fundos e ver como o podemos financiar. O filme já tem uma coprodução, porque estamos associados com o Peru, com o estúdio Golem, que surgiu a partir de “Rodência”, então os animadores se juntaram e formaram um estúdio de animação próprio, e assim que surgiu a Idea desse filme, eu fiz a proposta.

Como se desenvolverá na América Latina uma indústria de animação? A coprodução é o caminho?

América Latina está a um passo de explodir, de fazer um boom e ser livre novamente. Em “Rodência” meu maior interesse era a história, porque falava da chegada dos

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espanhóis, de uma conquista, eu ainda sinto esse peso, que não podemos nos libertar.

Na animação, nos mantêm parados, de alguma forma, e para mim a maneira de sair disso é não copiar, não querer algo que não seja nosso, que não seja próprio, e procurar uma forma nossa de fazer filmes. Eu sempre tento falar para as pessoas que encontro ‘não copie o que está sendo feito nos Estados Unidos, o que se faz na Europa, faça seu próprio estilo’. O que precisamos é ter histórias boas, projetos bons e pessoas que realmente coloquem seu coração, que leve [os projetos] para frente e os termine.É o que falta na América Latina, esquecer e ser fiel, ser autêntico e falar do que acontece com o vizinho, que é o que o mundo quer escutar, não quer ver ou escutar uma cópia de algo que já viu em outro lado do mundo. SM

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A invenção dos desenhos animados no cinema mexicano

ANIMAÇÃO NO MÉXICONa nova era da civilização, tudo tem que

ser inventado, ou no mínimo, tudo tem que ser mexicanizado. O exemplo irresistível, e

incomparável, vem dos Estados Unidos e de suas fortes industriais culturais.

E, dessa forma, é como se os outros tivessem que inventar a rádio mexicana, o cinema

mexicano, o swing mexicano, as histórias em quadrinhos mexicanas, os sovertes mexicanos,

é o otorrinolaringologista que vai inventar os desenhos animados mexicanos.

Por Juan Manuel Aurrecoechea

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Equipe de animadores de AVA - Color, primeiro estúdio de animação do México

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Os primeiros desenhos animados produzidos no México datam dos anos 30 do século XX, e, os pioneiros nacionais do gênero, são Salvador Pruneda, Bismark Mier, Salvador Patiño e Carlos Manríquez, todos eles formados em estúdios dos Estados Unidos, como o dos irmãos Fleisher, a Metro Goldwin Mayer e Walt Disney.

Carlos Manríquez e as primeiras tentativas de um estúdio de animação

Entre 1928 e 1930, Carlos Manríquez trabalha para Disney como assistente de Emil Flohri, que era nessa época chefe do departamento de cenografia. Depois, em 1934, tenta fundar um estúdio de animação no México, com apoio do governo: escreve para o presidente na época, Lázaro Cárdenas, solicitando “fundos para empreender no México o negócio dos desenhos animados”. Dias depois recebe um telegrama informan do que a solicitação fora remetida para a Secretaria de Governo.

Nada se sabe do assunto, de forma que este artista permanece em Hollywood até finais da década de 50, onde colabora com Disney e outros estúdios, como Warner Brothers. Vão passar muitos anos até que ele volte para o México, nos anos sessenta, quando se incorpora à Gamma Productions, empresa maquiladora da televisão norte-americana, responsável pela lendária série “As aventuras de Rocky e Bullwinkle”.

Salvador Pruneda, um filme que ficou na tentativa

Em 1919, Salvador Pruneda tem seu primeiro contato com desenhos animados em Hollywood, onde conhece outros mexicanos que também trabalhavam na indústria, como Bismarck Mier e Salvador Patiño.

Dois anos depois, volta para o México e cria a história em quadrinhos “Seu Catarino e sua apreciável família”, que publica no jornal El Heraldo. Mas, devido a sua postura

política, ele é forçado ao exílio e se estabelece em Los Angeles, onde ficaria durante cinco anos.

Em 1923, assiste, em Hollywood, às primeiras provas de sonorização para cinema, e colabora com Walt Disney. Quando volta para o México, em 1928, tinha aprendido a perícia técnica necessária para estabelecer um estúdio que produz notícias, vinhetas, títulos e trailers para a indústria cinematográfica; colaboram com ele, seus companheiros de Hollywood, Bismarck Mier e Salvador Patiño. Aqui, Pruneda começa a adaptação para o cinema em desenho animado para a sua história em quadrinhos “Seu Catarino”. Afirma para a imprensa da época, “Não é um desafio o que vamos fazer, pois já fizemos o suficiente para estar seguros de que, o trabalho que será produto deste estúdio, será tão bom quanto o melhor norteamericano […] uma sinfonia tonta à mexicana [pode] ter um sucesso louco ”.

Apesar de Moisés Viñas afirmar em seu “Índice Cronológico do Cinema Mexicano” que a estreia do curta foi em 1934, o mais provável é que ele ficou sem terminar. Carlos Sandoval – que conhece Pruneda e seus colaboradores no momento preciso em que estão produzindo esta peça – afirma que chegou a ver “de 8 a 10 segundos” do experimento, “que, infelizmente, só ficou na tentativa”.

Alfonso Vergara Andrade e o nascimento de AVA

Em 1935, Alfonso Vergara Andrade, um médico de origem Vasco, especializado em otorrinolaringologia, e viciado em desenho, pintura, fotografia e cinema, abre o que acabaria sendo o primeiro estúdio de animação de sucesso da Cidade do México: o Estúdio AVA, batizado pelas iniciais do seu promotor.

Filme “Noite Mexicana”

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Imagem do filme “Os Cinco Cabritinhos”

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O médico Alfonso Vergara pertence a uma geração formada nos anos antecedentes à fase armada da Revolução Mexicana; uma geração que deseja a paz e confia nas promessas de modernização que o Século XX anuncia.

Na nova era da civilização, tudo tem que ser inventado, ou no mínimo, tudo tem que ser mexicanizado. O exemplo irresistível, e incomparável, vem dos Estados Unidos e de suas fortes industriais culturais. E, dessa forma,é como se os outros tivessem que inventar a rádio mexicana, o cinema mexicano, o swing mexicano, as histórias em quadrinhos mexicanas, os sovertes mexicanos, é o otorrinolaringologista que vai inventar os desenhos animados mexicanos.

Imagem do filme “Os Cinco Cabritinhos”

Com os recursos arrecadados curando narizes, ouvidos e gargantas, o doutor Vergara estabelece sua oficina de desenhos animados no sótão do prédio, onde também estava seu consultório e sua casa-quarto.”Nunca soubemos de onde surgiu essa vontade de fazer desenhos animados no doutor. Não tinha conhecimentos técnicos, nem capital”, conta Carlos Sandoval, que se junta à empresa no ano de 1936.

Seus primeiros aliados são Antônio Chavira – com experiência no meio como produtor de títulos e créditos – e Francisco Gómez, um jovem intrigado pela química da fotografia. Devemos a esses pioneiros as primeiras revelações em cores na Cidade do México, realizadas em 1936, justamente no quarto escuro construído em cima da clínica.

“O Tesouro de Moctezuma”, 1935

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O doutor Vergara e Francisco Gómez construíram juntos a primeira câmera de animação “mexicana”, adaptando uma velha Pathé de manivela, à qual juntaram um motor de 1/4 de cavalo de potência. Como nem passa pela cabeça deles as mesas de luz fria; para “sincronizar” seus desenhos, acoplam uns marcos de madeira com cristais incrustados e iluminados com focos incandescentes, que, quando se esquentam, obrigam a parar o trabalho toda hora. Até que descobrem, por causa de uma fotografia publicada na imprensa, que o registro dos desenhos se faz por meio de réguas de animação: os pupilos do médico param de usar os clipes que rusticamente usavam para esse propósito.

No início, os animadores não trabalhavam com folhas de celuloide, mas com papel manteiga. Porém, graças a um paciente do doutor, que era executivo de Columbia Pictures, que empresta para eles uns curtas de Charles Mintz, os trabalhadores de AVA têm fitas autênticas de desenhos animados para seu estúdio. Armados com lupas começam a examiná-la. “Era como fazer a dissecação de um corpo. A revelação dos mistérios que nos cercavam estava ali!”, conta Carlos Sandoval. Sua principal descoberta é que não são necessários 24 desenhos para cada segundo de filme, 12 eram suficientes.

Completam suas lições observando várias vezes os filmes de Popeye, Betty Boop, Mutt e Jeff, o Coelho Osvaldo, o Gato Félix ou os de Mickey Mouse, que na época eram exibidos nos cinemas da capital mexicana.

E, com esses recursos e essas influências, o Estúdio AVA produz “Paco Perico em premier”, o primeiro filme mexicano de desenho animado. O filme pioneiro do gênero dura cinco minutos, está realizado em preto e branco, e é concluído entre 1934 e 1935. Compartilha a atmosfera surreal característica das animações norte-americanas da época; e carece, quase por completo, de

referências mexicanistas, uns dos elementos centrais do humor da época.

Depois de “Paco Perico em premier”, segue uma primeira versão de “O tesouro de Moctzuma”. Paco já tem companheira: Catita, um periquito com um sensual corpo de mulher, inspirada na Betty Boop dos tempos anteriores à supressão da sexualidade na animação estadunidense. A aventura, onde os periquitos procuram um tesouro azteca, que estaria oculto nas pirâmides de Teotihuacán, estreia na quarta-feira 25 de dezembro de 1935, no cinema Mundial.Propositalmente, escreveu o crítico Luis Cardoza y Aragón em sua coluna na revista TODO:“Surpresa foi nos deparar com o primeiro filme mexicano de desenhos animados [...] terrivelmente idiota, muito

mal desenhado! [...] Argumento ruim! É verdade que é um dos primeiros ensaios, lamentável em todo sentido. A mediocridade é tanta que te faz sentir pior que nos filmes com atores”.

Trata-se de um curta totalmente mexicanista, que se desenvolve na tradicional pousada de natal dos Perico. Uma vez que os anfitriões abrem a porta para seus convidados, são tirados da cena por uma variada fauna de clara origem disneyana; especificamente, por um mal encarado e selvagem macho mexicano. Na sequência mais célebre do filme, e uma das mais irreverentes da história de nosso cinema, as águias do escudo nacional, que enfeitam uns vasos de cerveja, ganham vida e, usando como canudos as cobras do emblema, bebem o fermento,

Filme “Noite Mexicana”, do estúdio AVA

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ficando patrioticamente bêbadas.

Parece que a crítica não teve muito efeito nos entusiastas pioneiros. A terceira produção do Estúdio AVA é “Noite Mexicana”.

Para a realização do curta, os ilustradores Leopoldo Salas e Bismarck Mier se juntam ao estúdio. A experiência do último artista, tanto em Los Angeles ,quanto no estúdio de Pruneda, justifica a técnica mais acabada deste filme.Mier dirige o quarto filme de AVA: “Os cinco cabritinhos e o lobo”, versão mexicana de “Os três porquinhos” de Walt Disney (1933). Este primeiro filme a cores do doutor Vergara é produzido por meio de um processo chamado “Cinecolor” ou “Bicolor”, que, diferente do Technicolor, baseado em combinações das cores primárias – verde, vermelho e azul – só registra as duas últimas.

A partir deste curta, o estúdio muda seu nome para AVA Color. O jornalista Glieb, anuncia orgulhoso, em sua coluna da revista TODO, em outubro de 1937, que o México era o primeiro país do mundo a produzir um “cartoon” a cores fora dos Estados Unidos; e destacava o nacionalismo do filme: expressado não apenas pela presença cenográfica do Popocatépetl e Ixtaccíhuatl, “é mexicana a cabana dos cabritinhos, com o chão de tijolo, cadeiras de Cuernavaca, armários com jarras de Oaxaca”. Como em outras áreas da arte e da cultura dos anos trinta, o nacionalismo é o caminho.

A seguinte produção de AVA Color é “A vida das abelhas”. O primeiro desenho animado nacional com pretensões educacionais, já mistura humor, didática e uma história edificante, que serão os elementos característicos deste gênero. O filme de oito minutos explica ao público infantil como o mel e a cera são produzidos, sendo, ao mesmo tempo a história de um zangão preguiçoso e oportunista, que, depois de uma série de eventos, se transforma em um trabalhador entusiasmado.

Dois curtas publicitários da popular Sal de Uvas de Picott (marca de sal de frutas para azia e indigestão), realizados entre 1938 e 1939, completam a obra de AVA: “O Rodeio” e uma segunda versão de “O Tesouro de Moctezuma”, ambos protagonizados por Chema e Juana, o casal rancheiro criado por César Berra, em 1932, para o musical que editava a cada ano o efervescente. A linha básica do argumento consistia em que, depois de uma série de selvagens banquetes e divertidas aventuras, Chema terminava sofrendo uma tremenda indigestão, que Juana alivia com o sal de frutas do patrocinador.

Apesar de que a que a técnica dos últimos curtas foi bastante melhorada, AVA Color fecha suas portas, em 1939, e o doutor Vergara deixa os desenhos animados. Da

lendária equipe, apenas Bismarck Mier e Carlos Sandoval continuam no gênero cinematográfico.

Em 1941, ambos se juntam à companhia Producciones Don Quijote, fundada pelo empresário espanhol Julián Gamoneda. O estúdio realiza algumas sequências de dois projetos: “Uma corrida de touros em Sevilha” e “O Charro García”. Após esta aventura, Bismarck Mier abandona o cinema de animação para se dedicar completamente às histórias em quadrinhos, no entanto, persistiria, participando de praticamente todas as empresas importantes de desenhos animados que se desenvolveram no século XX, até a sua aposentadoria, em meados da década de 80. SM

“A Vida das Abelhas”, do estúdio AVA

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A websérie que encantou os amantes dos gatos no YouTube

SIMON’S CATNo ano de 2007, a carreira de Simon Tofield foi

às nuvens. A publicação do primeiro episódio de Simon’s Cat no YouTube somou milhões de

reproduções. Simon’s Cat se transformou em uma marca

que gerou publicações de livros e um extenso catálogo de produtos.

Por Pamela RiverosLink para o site oficial do Simon´s Cat

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Simon Tofield e o gato de “Simon’s Cat”

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El público que asistió a la inauguración del Festival Internacional de Animación Chilemonos 2014, no pudo contener la risa. En una muestra especial se exhibió el

capítulo “Cat Man Do” de Simon’s Cat, dejando a la audiencia contagiada con este éxito. Todos conocieron la historia detrás de este fenómeno luego que se mostrara “The Simon’s Cat Story (A Draw my Life)”, donde es el

propio Simon Tofield quien relata su vida como animador y cómo llegó a crear esta serie.

Cena de “Pawtrait”, episódio 38 da websérie Simon’s Cat

Simon Tofield (43) tem duas paixões. A primeira nasce quando criança, ao receber seu primeiro gato. E a segunda é seu amor pela ilustração. A mistura de ambas levou o animador até o topo.

De nacionalidade britânica, é formado em animação pela Universidade de De Montfort (Reino Unido). Em 2007, enquanto tentava aprender por si só como usar o Adobe Flash, um de seus quatro gatos, o pequeno Hugh, subiu até a escrivaninha onde trabalhava para pedir comida. Tofield teve uma ideia. Resolveu criar uma história para aprender melhor como se usava o software. Ele se desenhou em sua cama enquanto seu gato tentava acordá-lo, surgindo os primeiros esboços do capítulo “Cat Man Do”.

O vídeo ficou dentro de seu reel de animação na web. Um usuário viu que esse estudo existia, e decidiu subi-lo no

YouTube. Dessa forma começa o sucesso de Tofield como animador, “Cat Man Do” foi visto mais de 50 milhões de vezes, o que permitiu o nascimento da série Simon’s Cat.

Para Simon Tofield, seus quatro gatos foram a inspiração constante para as histórias que ele tem criado. Eles são: Hugh – sua inspiração primária –, Maisy, Jess e Teddy. Simon os observa o tempo todo, desenvolvendo um olho especialista em felinos. Conhece seus movimentos, atitudes e dinâmicas, e os catlovers que circulam na rede se sentem realmente identificados com Simon’s Cat.

A série se soma ao fenômeno social que se está nascendo na internet com os vídeos de bichos de estimação, que a cada dia aumenta o número de reproduções.

Seu canal no YouTube conta com 58 vídeos (39 capítulos da

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Cena de “Cat man Do”, vídeo que iniciou o fenômeno na internet

série), com mais de 3 milhões de assinantes e mais de 500 milhões de reproduções. Este gato é animado com Adobe Flash, quadro a quadro, levando de 7 a 9 semanas para a finalização de um capítulo de dois minutos.

Seus fãs fizeram dele ganhador de vários prêmios, e já publicou quatro livros de Simon’s Cat, criando um mundo de merchandising.

Solomonos Magazine conversou com Simon, sobre sua vida e carreira, e as dimensões que o fenômeno alcançou.

Simon, quais são seus desenhos animados favoritos relacionados com gatos? Algum deles tem influência em Simon’s Cat?

Minhas principais influências para Simon’s Cat são meus quatro gatos. Gosto de inspirar a maior parte da animação puramente com a observação, porque lá é onde mora a maior parte do encanto. Porém, nos elementos forçados é onde estão os gags mais divertidos, tais como o taco de beisebol no capítulo “Cat Man Do”.

Acho que se tivesse que decidir qual é meu desenho animado favorito de gatos seria: ThunderCats!

Segundo sua opinião, qual é a origem do fenômeno global de gatos na rede?

Os gatos são amados no mundo inteiro. Na Inglaterra têm um comportamento similar, nos Estados Unidos, no Japão, na França e na Alemanha, e em todos os lugares. Grande parte do sucesso de Simon’s Cat se deve a que são animais

extremamente populares.

Que significa para você que Simon’s Cat tenha fãs em lugares tão distantes quanto o Chile?

É um prazer saber que Simon’s Cat tem fãs no mundo inteiro. Eu acredito que tem a ver com o fato de ter poucos diálogos nos capítulos, o que permite que pessoas de diferentes nacionalidades possam desfrutá-lo.

Agora você está em uma campanha de crowdfunding com a finalidade de financiar um curta-metragem de Simon’s Cat. Por que decidiu realizar uma versão mais extensa sobre a história deste gato?

Hospedamos, com muito sucesso, nosso curta-metragem “Off to the Vets”, no Indiegogo. Este filme é muito mais

longo que nossos atuais capítulos da série, com mais ou menos 11 minutos de duração. Está baseado em uma história que eu sempre quis fazer. Levar um gato ao veterinário é uma situação que só os donos de felinos passam, e sentimos que existe muito material para incluir isso em um capítulo de 1 a 2 minutos.

Você tem pensando em produzir um longa-metragem sobre Simon’s Cat?

Um longa-metragem poderia ser algo extenso demais para Simon’s Cat. No entanto, gostaria de fazer, algum dia, séries de televisão. Manteria este formato curto e poderia experimentar, desenvolvendo outros personagens dentro do universo de Simon’s Cat. SM

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Cena de “The Simon’s Cat Story” .

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Diseño

motion graphics

identidad gráfica

post producción

[email protected] | www.krft.tv | Regina Humeres 230 · Recoleta

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Este projeto foi financiado pelo Fundo de Fomento Audiovisual CHILEMONOSSolomonos Magazine reserva-se os direitos de publicação. Proibida a reprodução sem autorização. Os comentários transcritos nos artigos de Solomonos correspondem às opiniões de seus autores e não necessariamente coincidem com as da Solomonos Magazine.

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