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Sociedade Civil quem? Um estudo sobre a relação entre grupos de interesse e o Estado brasileiro Nayara F. Macedo de Medeiros 1 Resumo: A análise das relações entre sociedade civil e Estado é um dos elementos principais nas discussões sobre democracia no que tange aos conceitos de participação e representação. Grupos de interesse que atuam nas instituições estatais, porém, têm sido pouco abordados pela teoria política, principalmente no contexto do Brasil. O presente trabalho tem como objetivo discutir a atuação dos grupos de interesses na Câmara dos Deputados de forma a analisar quais são as contribuições teóricas que tal objeto de pesquisa pode fazer no âmbito das discussões sobre os padrões de interação entre sociedade civil e Estado no Brasil. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental acerca do lobby classista, principalmente no setor da Indústria. Palavras-chave: representação, lobby, parlamento. Abstract: The analysis of the relationship between civil society and state is one of the most relevant aspects on the discussions about the democracy in terms of the debate about the concepts of participation and representation. Interest groups that act within the state institutions are not usually approached by political theory, especially in the context of Brazil. This work has as its main goal discussing the activity of interest groups at the Brazilian Chamber of Deputies in an attempt to analyze what theoretical contributions this research object can bring about the interaction patterns between civil society and state in Brazil. In order to do so, we conducted a bibliographic and documentary research about the “classist lobby”, especially regarding the Industry. Keywords: representation, lobby, parliament. I. Introdução Outrora visto como um elemento oligárquico, o conceito de representação assume cada vez mais um papel central nas discussões sobre teoria democrática no século XX, principalmente na sua relação com a participação. Nesse sentido, uma das questões centrais nos debates sobre as possibilidades e os limites de uma representação democrática encontra-se no vínculo entre representante e representado (ver MANSBRIDGE, 2003; YOUNG, 2006). De forma semelhante, as discussões sobre a relação entre Estado e sociedade são um aspecto fundamental na análise desse vínculo, pois permite refletir 1 Mestre em Ciência Política, doutoranda na Universidade de Brasília. E-mail: [email protected] I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

Sociedade Civil quem? Um estudo sobre a relação entre ... · Uma vez que democracia está relacionada a uma distribuição igualitária do poder político2, a influência que pode

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Sociedade Civil quem? Um estudo sobre a relação entre grupos deinteresse e o Estado brasileiro

Nayara F. Macedo de Medeiros1

Resumo: A análise das relações entre sociedade civil e Estado é um dos elementosprincipais nas discussões sobre democracia no que tange aos conceitos de participação erepresentação. Grupos de interesse que atuam nas instituições estatais, porém, têm sidopouco abordados pela teoria política, principalmente no contexto do Brasil. O presentetrabalho tem como objetivo discutir a atuação dos grupos de interesses na Câmara dosDeputados de forma a analisar quais são as contribuições teóricas que tal objeto depesquisa pode fazer no âmbito das discussões sobre os padrões de interação entresociedade civil e Estado no Brasil. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica edocumental acerca do lobby classista, principalmente no setor da Indústria.

Palavras-chave: representação, lobby, parlamento.

Abstract: The analysis of the relationship between civil society and state is one of themost relevant aspects on the discussions about the democracy in terms of the debate aboutthe concepts of participation and representation. Interest groups that act within the stateinstitutions are not usually approached by political theory, especially in the context ofBrazil. This work has as its main goal discussing the activity of interest groups at theBrazilian Chamber of Deputies in an attempt to analyze what theoretical contributions thisresearch object can bring about the interaction patterns between civil society and state inBrazil. In order to do so, we conducted a bibliographic and documentary research about the“classist lobby”, especially regarding the Industry.

Keywords: representation, lobby, parliament.

I. Introdução

Outrora visto como um elemento oligárquico, o conceito de representação assume

cada vez mais um papel central nas discussões sobre teoria democrática no século XX,

principalmente na sua relação com a participação. Nesse sentido, uma das questões centrais

nos debates sobre as possibilidades e os limites de uma representação democrática

encontra-se no vínculo entre representante e representado (ver MANSBRIDGE, 2003;

YOUNG, 2006). De forma semelhante, as discussões sobre a relação entre Estado e

sociedade são um aspecto fundamental na análise desse vínculo, pois permite refletir

1 Mestre em Ciência Política, doutoranda na Universidade de Brasília. E-mail: [email protected]

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acerca de como indivíduos possuem acesso ao sistema político e, consequentemente, aos

agentes que dizem representa-los.

Uma vez que democracia está relacionada a uma distribuição igualitária do poder

político2, a influência que pode ser exercida por cidadãos/ãs ordinários/as é relevante para

definir se um regime é efetivamente democrático ou não3. Assim, uma democracia efetiva

pressupõe a existência de oportunidades para que cidadãos e cidadãs “comuns”

influenciem as decisões públicas em vez de restringi-las à atuação de elites (ver

INGLEHART & WELZEL, 2008). Uma das formas de participar das discussões políticas e

tentar influenciá-las é por meio de associações.

Não por acaso, o conceito de sociedade civil ganha destaque nas discussões sobre

democracia. Embora não seja um conceito consensual, apresentando diversas divisões

internas (YOUNG, 2000; GURZA LAVALLE, 2012; CHAMBERS & KOPSTEIN, 2008),

a categoria “sociedade civil” está relacionada de forma geral à vida associativa. Destarte,

estudar como essas associações interagem com as instituições estatais pode trazer

contribuições na compreensão do funcionamento da democracia e do papel da

representação no regime democrático.

Associações de cunho político estão relacionadas tanto ao conceito de participação

quanto ao de representação, pois enquanto seus membros participam na política também

podem agir como representantes de perspectivas ou interesses mais amplos. Nesse sentido,

muitas associações políticas tentam influenciar as políticas públicas do Estado, como, por

exemplo, as organizações de lobby ou associações de interesses especiais (YOUNG, 2000).

O presente trabalho tem como objetivo analisar a atuação dos grupos de interesses

na Câmara dos Deputados. Teoricamente, a expressão “grupos de interesses” distingue-se

de grupos de pressão, pois esse segundo termo refere-se a grupos de interesse que

2 Democracia, desde sua origem, esteve relacionada ao governo do povo ou das massas. Na Antiguidade, quando surgiu o termo, era uma forma de governo que prezava pela igualdade política, expressada na escolha do sorteio como método de alocação de cargos públicos (ver, por exemplo, Manin, 1997).

3 Por efetivamente democrático, entende-se um regime em que há uma distribuição igualitária do poder político, demonstrada pelas oportunidades que cidadãos e cidadãs detêm em influenciar as questões públicas. Esse modelo opõe-se, portanto, às teorias minimalistas da democracia, as quais identificam o regime democrático apenas com uma série de condições institucionais e considera a questão da igualdade apenas no momento do consentimento do poder.

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realmente exercem pressão política no sistema político. Já os lobbies constituem-se em

“grupos de pressão que instrumentalizam recursos de poder em busca de influência”

(SANTOS, 2007, p. 83). Para os fins desse trabalho, a expressão “grupos de interesses”

será utilizada de forma genérica para tratar de lobbies que atuam na Câmara dos

Deputados, tendo em vista o seu papel na defesa de interesses4.

O foco do trabalho está nos grupos que atuam nos setores da Indústria,

principalmente por meio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), tendo em vista a

importância dessa área para a economia e a constante atividade das Comissões sobre essa

temática na Câmara. O objetivo é identificar quais são os principais grupos de interesses

que atuam na Câmara e discutir o acesso às instituições políticas por parte da sociedade

civil. Pretende-se, portanto, analisar quais são as organizações presentes nessa instituição

política de modo a discutir os conceitos de participação e representação no âmbito das

relações entre sociedade civil e Estado, visto que tais grupos podem atuar simultaneamente

como veículos de participação e de contato com representantes.

Embora geralmente esse tipo de grupo não seja considerado como parte da

sociedade civil possivelmente devido à sua expressão econômica, aqui se argumenta que é

possível encaixá-los nessa categoria devido a grande parte deles pertencer ou ser

financiada por associações com objetivos políticos, as quais estão enquadradas no conceito

de sociedade civil. Questiona-se, portanto, a própria contraposição presente em parte

relevante da literatura acerca das categorias sociedade civil, Estado e economia.

Assim, a discussão teórica apresentada nesse artigo divide-se em três eixos: em um

primeiro momento, apresenta-se o debate sobre variações no conceito de sociedade civil e

na sua relação com o Estado, mostrando como os grupos de interesse se inserem nesse

debate; em um segundo, discute-se o papel dos grupos de interesses na democracia por

meio da oposição teórica entre pluralismo e neomarxismo; por fim, propõe-se uma reflexão

sobre a concepção de representação democrática.

Assim, o artigo está dividido em quatro tópicos, além da introdução: a) Sociedade

civil, Estado e Representação, em que se pretende discutir as distinções analíticas dos

conceitos utilizados no estudo; b) Grupos de interesse e democracia, em que são analisadas

4 Mesmo considerando a diferença conceitual, pode-se argumentar que “grupos de interesses” são, na verdade, uma categoria mais ampla que inclui os lobbies. Assim, é possível utilizar essa expressão sem causar graves problemas terminológicos.

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as perspectivas teóricas acerca da relação entre grupos de interesse e regime democrático;

c) Os bastidores da Câmara dos Deputados, demonstrando o funcionamento da instituição

e a atuação dos grupos de interesse da indústria; e d) Conclusões, em que são apresentadas

as reflexões finais sobre a concepção de representação democrática.

Um conjunto variado de técnicas foi empregado para se adquirir conhecimento

sobre os grupos que atuam na Câmara dos Deputados. Grande parte das informações foi

adquirida diretamente na Câmara dos Deputados por meio de pesquisa documental sobre

registro de entidades de representação de classe. Parte relevante dos dados também pôde

ser acessada diretamente nos websites e boletins informativos dessas organizações. A

análise da pauta prioritária da CNI, por exemplo, é útil para construir hipóteses acerca de

seu sucesso em influenciar instituições políticas, além de servir de comparação em relação

aos interesses dos sindicatos5. Por fim, em fase posterior da pesquisa, recorrer-se-á à

observação participativa, a qual tem início previsto para junho de 2015.

Embora careça de fortes pretensões causais por se constituir em uma pesquisa não

concluída6, o artigo pretende contribuir para as discussões teóricas sobre participação e

representação, além de auxiliar na construção de novas hipóteses sobre a relação entre

grupos de interesse e Estado no contexto brasileiro.

II. Sociedade civil, Estado e representação

Um dos aspectos centrais nas discussões que permeiam os estudos sobre a

sociedade civil é justamente sua relação com o Estado e as implicações dessa interação

para os conceitos de representação, participação e democracia. De fato, o que se

5 A pauta prioritária de 2014 da CNI é utilizada aqui como ponto de partida para analisar as diferenças nos posicionamentos do empresariado e dos trabalhadores relativos às matérias prioritárias da indústria. O posicionamento das entidades sindicais foi analisado a partir da agenda legislativa do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP). Há algumas proposições que não possuem posicionamento por parte dos sindicatos, pois se referem majoritariamente a temáticas de interesse da indústria e não a demandas trabalhistas. Assim, a escolha metodológica apresenta alguns limites em termos de inferência, mas pode auxiliar a promover uma análise inicial do problema estudado.

6 O trabalho apresentado nesse artigo faz parte de pesquisa em andamento para fins de tese de doutorado, no âmbito do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. A intenção é analisar os lobbies da Indústria e da Agropecuária na atual legislatura da Câmara dos Deputados, abrangendo os conflitos entre os atores que fazem parte desses setores.

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convencionou por “sociedade civil” na Ciência Política é uma categoria analítica utilizada

muitas vezes em contraposição às instituições ligadas ao Estado e à economia

(CHAMBERS & KOPSTEIN, 2008). Assim, afirma Young (2000, p. 157):

No uso clássico moderno, “sociedade civil” se referia à totalidadeda vida social fora das instituições do Estado. Sociedade civil denotava avida social diversa e as atividades particulares, instituições e associaçõesreguladas e unificadas pelo aparato coercitivo e legal do Estado7.

A vida associativa se distinguia do Estado e da economia por compreender formas

diferentes de ação coordenada (YOUNG, 2000). Na visão predominante na década de 90, a

sociedade civil era vista como uma categoria que se contrapunha simultaneamente ao

Estado e ao mercado. Inspirando-se na teoria de Habermas, essa perspectiva apontava para

uma sociedade civil cujo estatuto normativo centrava-se em uma instância privilegiada

capaz de racionalizar demandas e pressionar o Estado. Essa perspectiva, como outras que

tiveram influência na América Latina, desembocou em uma visão da sociedade civil como

inerentemente virtuosa, em contraposição ao Estado, o qual era visto como uma entidade

naturalmente perversa (ver GURZA LAVALLE, 2012).

Mesmo Young (2000), quando tenta fugir de uma perspectiva de fronteiras nítidas

entre sociedade e Estado, retoma uma lógica dualista baseada na separação habermasiana

entre mundo da vida e sistema. A autora argumenta que em vez de “esferas distintas”, há

diferentes tipos de atividades, as quais podem estar inclusas em uma mesma instituição. No

entanto, na perspectiva da autora, à sociedade civil ainda é atribuída uma lógica discursiva

enquanto o Estado é enquadrado em uma forma sistêmica de coordenação de ação.

Dessa forma, a sociedade civil era vista como inerentemente democrática e sua

atuação era estudada em razão do seu potencial transformativo, principalmente em termos

da ampliação da participação. Essa visão da sociedade como inerentemente “positiva” em

contraposição a um Estado que seria o oposto tem sido amplamente questionada e revisada

pela literatura mais recente, em que Estado e sociedade são apontados como atores não

monolíticos (ver DAGNINO, 2004; CORNWALL & COELHO, 2007).

7 Tradução própria do original: “In classical modern usages ‘civil society’ referred to the entirety of social life outside state institutions. Civil society denoted the diverse and particular activities, institutions, and associations regulated and unified by the general legal and coercive apparatus of the state”.

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Destarte, há um consenso acerca da heterogeneidade da sociedade civil, o que

representa uma correção nas formulações de 1990 (GURZA LAVALLE, 2012). Assim,

argumenta-se que a sociedade civil pode até conter elementos reacionários e

antidemocráticos (CORNWALL & COELHO, 2007). De toda forma, o interesse

contemporâneo pela sociedade civil como categoria analítica está centrado na vida

associativa, que abrange diferentes tipos de associações tais como movimentos sociais e

organizações não governamentais (CHAMBERS & KOPSTEIN, 2008).

A sociedade civil é, portanto, geralmente identificada com “associações humanas

não coercitivas”, ou seja, associações cuja adesão baseia-se no voluntarismo em vez de

uma obrigação (ver YOUNG, 2000). Todavia, a ênfase no voluntarismo gera problemas

quando usada meramente para contrapor sociedade ao Estado, uma vez que as fronteiras

são mais fluidas. Ademais, cria-se uma visão da sociedade civil como unitária, quando

existiriam diversas “sociedades civis”, nas palavras de Gurza Lavalle (2012).

Destarte, mantém-se aqui a definição de vida associativa, mas com a ressalva de

que há diferentes tipos de organização formados por atores diversos, os quais estão em

constante processo de construção e interação mútuas com o Estado e a economia. Nesse

sentido, os grupos de interesses são não apenas enquadrados na definição de sociedade

civil, mas podem até auxiliar na compreensão de como as diferentes sociedades civis

interagem com o Estado.

Tais grupos são formados ou ao menos financiados por associações e atuam

ativamente em instituições estatais, manifestando uma estrita relação tanto com membros

da sociedade civil quanto com os do Estado. Dessa maneira, pode-se argumentar que

grupos de interesse tendem a agir tanto como mecanismos de participação da sociedade

civil como representantes de seus membros ou de interesses específicos de um setor mais

amplo.

Entretanto, cabe discutir como essa dupla interação com o Estado e a sociedade

pode ser chamada de “democrática”. Tendo em vista que participação e representação

aparecem tanto na sociedade civil como no Estado, debates em relação à democracia nesse

caso permeiam a própria evolução dessas duas concepções. De forma semelhante, indaga-

se como participação e representação estiveram ligadas ao que se entende por democracia.

No que tange à participação, é importante ressaltar novamente que as próprias

fronteiras entre Estado e sociedade passaram a ser vistas de outra forma pela teoria política

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desde que as revisões das formulações da década de 90. Embora tenham papéis distintos,

destaca-se uma necessidade de simbiose entre Estado e sociedade sem que haja a

prevalência de um sobre o outro. Assim, fala-se em “fronteiras borradas” (“blurred”), por

meio das quais a sociedade civil adentra no Estado (CORNWALL & COELHO, 2007).

Enquanto a participação pode promover modificações significativas na estrutura do

Estado, a atuação da sociedade em arenas participativas também tende a sofrer com os

limites dessa estrutura. Assim, a principal preocupação é em que medida os mecanismos de

participação reproduziriam a dinâmica de desigualdade da representação (ver

CORNWALL & COELHO, 2007). Nesse sentido, a consideração dos grupos de interesse

como forma de participação da sociedade civil parece estranha à literatura da participação.

Provavelmente, a negação da literatura de participação e sociedade civil em relação

aos grupos de interesses deve-se à suposição de que eles não são mecanismos de

participação disponíveis a grupos marginalizados ou à relação intrínseca e imbricada

desses grupos com a esfera econômica. Entretanto, a falta de discussões sobre o assunto

não mitiga o fato de que grupos de interesses existem e influenciam instituições políticas

causando uma responsividade desigual por parte do Estado em relação a grupos

econômicos diversos da sociedade8. Essa é uma realidade que precisa ser encarada pela

literatura sobre democracia, participação e representação, pois envolve a própria

construção desses três conceitos e suas operacionalizações na prática cotidiana.

Ademais, o lobby no Brasil pode ser exercido por entidades de classe, as quais, sem

dúvida, podem ser enquadradas no conceito de sociedade civil. Dessa maneira, cidadãos e

cidadãs podem se filiar a diversas associações que atuam como lobbies no Congresso ou

em outras instituições políticas com o objetivo de influenciar determinadas propostas

legislativas. De forma semelhante, membros de associações podem tentar exercer a

atividade de lobby diretamente entrando em contato direto com os parlamentares.

Ao tratar de repertórios de interação entre Estado e sociedade, Abers, Serafim e

Tatagiba (2014) destacam a “política de proximidade” como um tipo de repertório. Tal

8 Possíveis alternativas para maior equiparação, por exemplo, seriam ampliar o acesso a esse tipo de grupo ou destituí-los completamente. Por outro lado, a divisão tradicional entre Estado, economia e sociedade civil é bastante questionável. A relação do lobby com a esfera econômica definitivamente merece ser analisada, pois há razões plausíveis para argumentar acerca de uma predominância de grupos econômicos fortes nas instituições políticas.

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política de proximidade é descrita como uma forma de interação propiciada pelo contato

direto entre atores da sociedade e do Estado. O lobby poderia ser enquadrado nessa

categoria. Há, assim, diferentes meios de relacionamento entre Estado e sociedade civil.

Argumenta-se aqui que o lobby se constitui em um deles, pois pode ser uma prática

importante até mesmo na atuação de movimentos sociais (ver ABERS. SERAFIM &

TATAGIBA, 2014).

Assim, os grupos de interesses constituem-se em oportunidades que os indivíduos a

eles filiados dispõem de influenciar as políticas públicas. Mesmo que a literatura de

participação não discuta sobre grupos de interesses, poderia se argumentar que eles se

constituem em potenciais mecanismos de participação da sociedade, pois através deles é

possível entrar em contato direto com os representantes de forma a influenciar o

direcionamento das políticas públicas.

Todavia, essa potencialidade traz incerteza devido a problemas derivados de dois

tipos de acesso: o acesso aos grupos em si e dos diferentes grupos às instituições políticas.

Não são todos os membros da sociedade que tem condições de participar ou direcionar as

ações de um grupo de interesses. Esse tipo de organização geralmente envolve uma série

de custos que são bancados por seus membros. É plausível supor que a influência exercida

por membros dentro desses grupos varie segundo as diferenças no seu financiamento.

Ademais, a literatura sobre representação democrática está mais preocupada com a

inserção de grupos marginalizados, os quais provavelmente não tem acesso aos grupos de

interesses ou tem pouca voz.

Também é razoável supor que nem sempre a estrutura desses grupos seja

democrática, podendo conter hierarquias que incidam sobre as decisões tomadas no interior

dos próprios grupos. Seria o caso de pesquisar quem financia o lobby no Brasil e como os

grupos de interesse são estruturados internamente, se há diferença na influência exercida

pelos seus membros no que tange ao direcionamento e execução de suas ações.

Por outro lado, é inegável que grupos de interesses tradicionalmente tiveram acesso

às instituições políticas. Entretanto, ao considerar a variedade desses grupos – que podem

incluir também organizações não governamentais, sindicatos e associações formadas por

movimentos sociais – é imprescindível indagar se todos eles têm igual acesso a essas

instituições, principalmente no que tange ao contato com os parlamentares.

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Nesse contexto, seria pouco plausível argumentar que os representantes respondem

de maneira igualmente responsiva às demandas de diferentes grupos de interesses. No

âmbito da Indústria, por exemplo, poderíamos indagar: Os representantes são, na maioria

das questões, mais responsivos à CNI ou aos sindicatos? Quais são as variáveis que

incidem sobre essa diferença de responsividade? Como é a relação da CNI com o setor que

a Confederação pretende representar?

Dessa forma, geram-se inúmeros debates acerca da própria qualidade da

representação exercida pelos membros dessas associações, pois algumas delas se

distanciam do modelo eleitoral devido à falta de um momento de autorização por parte dos

representados. Assim, trata-se de um tipo diferenciado de representação, em que os

representantes são “autoautorizados”. Exige-se, portanto, critérios distintos de legitimidade

em comparação com a representação eleitoral que dispõe de momento específico de

autorização.

Se por um lado a discussão sobre representação democrática constrói-se pelo debate

sobre legitimidade, de outro ela está ancorada às discussões sobre a relação entre

representação e participação. A própria relação entre participação e representação sofreu

substanciais modificações ao longo do tempo. Se tradicionalmente essas duas categorias

foram vistas como contrapostas (ver PATEMAN,1992), posteriormente elas passaram a ser

entendidas como complementares (URBINATI, 2006; PLOTKE, 1997; WAMPLER,

2012). O argumento da complementariedade baseia-se no pressuposto de que o oposto à

representação é a exclusão em vez de participação, a qual seria oposta à abstenção

(PLOTKE, 1997).

Grupos de interesses podem auxiliar na compreensão desses conceitos, pois atuam

simultaneamente com mecanismos de participação e de representação. Para responder,

porém, se a atuação desses grupos pode ser considerada democrática, é necessário recorrer

à teoria democrática, principalmente em relação a perspectivas conflitantes sobre a relação

entre grupos de interesse e democracia – o que será feito no próximo tópico.

III. Grupos de interesse e democracia: confronto entre perspectivas teóricas

A relação entre grupos de interesse e democracia pode ser enxergada

fundamentalmente através de duas perspectivas opostas no que tange à teoria democrática:

o pluralismo e o neomarxismo. Schlosberg (2006) argumenta que a maior preocupação do

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pluralismo, em suas origens, era a questão da pluralidade e da diversidade em uma crítica

substancial à estrutura do próprio Estado como unificador de demandas9. Assim, o

reconhecimento da diferença e da pluralidade teria levado às tentativas pluralistas de

redesenhar instituições políticas de modo que a diferença na sociedade civil fosse

reconhecida.

Entretanto, essa primeira geração de pluralistas teria sido substituída por uma

vertente mais próxima das instituições liberais, as quais passaram a ser vistas como

universais (SCHLOSBERG, 2006). A preocupação central dessa nova geração de

pluralistas passou a ser o conflito entre facções, as quais indicam conjuntos de indivíduos

voltados para interesses particularistas. Presente de forma majoritária no liberalismo norte-

americano, a preocupação com as facções data de muito antes do surgimento do

pluralismo, permeando discussões presentes nas obras de Aristóteles, Platão e Rousseau.

Entretanto, o pluralismo veio com uma solução célebre ao conflito, semelhante

àquela apresentada pelos federalistas (ver MADISON, 1787): a fragmentação do poder.

Segundo essa vertente pluralista, a disseminação dos recursos políticos entre os atores

sociais permite que eles atuem como freios e contrapesos às ambições uns dos outros

(MANCUSO, 2003). Assim, a existência de múltiplos grupos atuando na política impediria

a concentração de poder por uma maioria. Consequentemente, a representação é um meio

de lidar com o conflito, em que os interesses são desarmados e controlados.

Uma obra paradigmática dessa perspectiva é o estudo de Robert Dahl (1962) sobre

a política em New Haven. Em “Who governs? Democracy and Power in an American

City”, a questão central analisada por Dahl é como os ideais democráticos e de igualdade

persistiram nos Estados Unidos em um contexto de desigualdade de condições, as quais

eram vistas como necessárias à democracia. Por meio da análise da história política de

New Haven, o autor mostra que a cidade se transmutou de uma oligarquia a uma poliarquia

devido à dispersão de recursos causada pelas mudanças advindas da indústria moderna.

Em contraposição a Wright Mills (1962), a perspectiva de Dahl é que diferentes

atores sociais detêm recursos diversos, mas essa posse gera um equilíbrio, pois os recursos

estão dispersos e não concentrados em um único grupo. Os recursos políticos estariam,

portanto, disseminados entre os atores sociais, o que implicaria na dispersão da influência e

9 Até mesmo essa primeira geração de pluralista enfrenta certas críticas, cujo um dos motivos seriaa falta de atenção do pluralismo à relação entre identidade e diferença (ver Connolly, 1994).

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consequentemente na atuação desses atores como freios e contrapesos às ambições uns dos

outros (MANCUSO, 2003). A subvertente norte-americana do pluralismo sofreu diversas

críticas, pois teria falhado em explicar a realidade da diferença (SCHLOSBERG, 2006)10.

Um de seus grandes problemas está no sistema de poder equilibrado que negligencia a

diferença entre grupos mais favorecidos e grupos desfavorecidos.

Um dos focos do neomarxismo, por outro lado, reside justamente no diferencial de

acesso ao Estado por parte desses dois grupos. Um ponto fundamental no neomarxismo é a

permeabilidade do Estado às classes capitalistas (ver POULANTZAS, 2000 [1978]). Em

outras palavras, essa permeabilidade indica que o Estado é mais aberto a determinados

grupos em detrimento de outros em razão de posições socioeconômicas que esses grupos

ocupam. Destarte, haveria um viés nas decisões públicas voltado aos grupos com maiores

recursos econômicos que contesta o pressuposto de neutralidade do aparato estatal.

Embora tratando especificamente de ocupação de cargos na burocracia

(POULANTZAS, 2000 [1978]) ou da dependência estrutural do Estado em relação aos

investidores (OFFE, 1984 [1972]), os conceitos de permeabilidade e seletividade tais como

concebidos pelo neomarxismo podem oferecer uma luz às questões levantadas pelo acesso

diferenciado de grupos de interesse às instituições políticas, trazendo implicações

importantes no que tange à relação entre sociedade civil e Estado. Estendendo o conceito

de permeabilidade, é possível questionar quais são os grupos que possuem mais acesso ao

Estado e quais variáveis incidem nessa abertura.

Seguindo os pressupostos neomarxistas, classes e frações de classes dominantes

teriam mais acesso ao Estado por meio de grupos de interesses, pois possuem mais

condições em termos de recursos para mantê-los. Como esclarece Santos (2007, p. 283):

Segundo Offe e Wiesental, as diferenças de posição de um grupo naestrutura de classes não somente conduzem a diferenças no poder que asorganizações podem adquirir, mas também a diferenças nas práticas associativase lógicas da ação coletiva, através das quais as organizações do capital e dotrabalho tentam melhorar sua posição respectiva uma em relação a outra (Offe eWiesental, 1984:68). Assim, assinalam, desde logo, que enquanto o capital temtrês diferentes formas de ação coletiva (a própria firma, a cooperação informal, ea associação dos empregados ou de empresas), os trabalhadores têm somenteuma (o sindicato).

10 Schlosberg (2006) destaca que o foco na multiplicidade tem voltado em discursos nominados por vezes de diferença ou de multiculturalismo, ressaltando as preocupações iniciais do pluralismo.

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Assim, aqui reside a maior diferença entre pluralistas e neomarxistas: enquanto o

pluralismo norte-americano enxerga a atuação de grupos de interesses como equilibrada

em resultado da dispersão de recursos, o neomarxismo salienta a diferença de acesso entre

grupos privilegiados e desfavorecidos. Esse acesso diferenciado se pautaria na posse de

certos recursos e na posição na estrutura de classes. Resta saber, porém, qual das duas

alternativas teóricas consegue explicar as características do contexto brasileiro.

IV. Os bastidores da Câmara dos Deputados no Brasil

Embora o lobby não seja uma atividade regulada pela legislação do Brasil, a falta

de um marco legal não implica sua total inexistência. A interlocução com órgãos do

Legislativo e Executivo pode ocorrer de diversas formas, seja diretamente ou por meio de

intermediários. Uma dessas formas consiste nas associações de representação de classe, as

quais podem agir por meio da articulação direta com os parlamentares e das atividades de

supervisão e acompanhamento de matérias legislativas em tramitação no Congresso

Nacional.

Isso não significa que essas entidades representativas de classe sejam a forma

predominante pela qual os grupos de interesses atuam. Na classificação de Oliveira (2004),

existem quatro tipos de lobby:

a. Lobby público, feito por órgãos do Poder Público, em que se destacam as

assessorias parlamentares dos Ministérios, Agências Reguladoras e

Autarquias;

b. Lobby privado, exercido por empresas e consultórios especializados nessa

área;

c. Lobby institucional, feito pelas próprias empresas por meio de seus

representantes de relações governamentais; e

d. Lobby classista, feito por entidades de classe (Oliveira, 2004; Santos,

2007).

Aqui será analisado o lobby classista, principalmente na atuação da CNI e do DIAP,

assim como abordado também por Oliveira (2004) e Santos (2007). Ao todo, existem 99

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entidades de representação de classe formalmente credenciadas na Câmara dos

Deputados11. O conjunto dessas instituições engloba diversos setores com interesses

distintos. O Gráfico 1 mostra quais são esses setores, conforme informações coletadas

mediante próprios veículos institucionais das entidades.

Aqui, é importante ressaltar que embora se tenha dividido em categorias segundo o

setor predominante de cada uma das entidades, algumas instituições poderiam ser

encaixadas em mais de uma categoria. Por exemplo, muitas entidades que visam

representar carreiras no serviço público também poderiam ter sido enquadradas no campo

do “Direito” visto que essas profissões são exclusivamente ocupadas por pessoas com

diploma em Direito.

Porém, para simplificar a análise, optou-se por enquadrar cada entidade em apenas

um setor, conforme objetivos principais estabelecidos pelas respectivas instituições.

Também vale esclarecer que, no gráfico, “setor público” distingue-se de “serviço público”

porque a primeira expressão é usada para caracterizar entidades que representam os órgãos

do setor, enquanto a outra designa entidades que representam as carreiras em si.

Gráfico 1 – setores representados pelas entidades12

11 Informação adquirida diretamente da instituição por meio de documento com nome e endereço de todas as 99 entidades.

12 Embora haja sindicatos em vários setores do gráfico, a categoria “trabalho” foi aqui utilizada para designar entidades sindicais mais amplas que não se referem a setores específicos (a associação sindical dos aposentados, por exemplo).

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Agropecuária; 4%

Indústria; 26%

Serviços/Comércio; 14%

Serviço Público; 11%Setor Público; 6%Terceiro Setor; 7%

Polícia Federal; 4%

Forças Armadas; 1%

Direito; 5%Trabalho (amplo); 3%

Saúde; 4%Educação; 4%Outros ; 10%

Setores representados

Fonte: Elaboração da autora, mediante lista de entidades credenciadas na Câmara ewebsites das próprias entidades.

Nota-se que, apesar da diversificação de setores representados, a Indústria é o setor

que mais possui entidades representativas de classe credenciadas na Câmara dos

Deputados (27% do total). Dentro das entidades que fazem parte da Indústria, é

significante a diferença no número de instituições que representam empresariado e as que

representam os trabalhadores, como mostra o gráfico 2.

Possivelmente, isso ocorre devido à maior facilidade de organização política por

parte das empresas em detrimento da classe trabalhista. Nesse contexto, os recursos

econômicos seriam uma variável muito importante, visto que as atividades dos grupos de

interesses geram despesas com contratação de pessoal, infraestrutura, entre outros gastos

utilizados nas tarefas desempenhadas por esses grupos.

Gráfico 2 – Entidades e interesses representados13

13 No caso dos interesses representados, as categorias principais foram “empresariado”, “trabalhadores” e “exercício profissional”. “Exercício profissional” difere-se de trabalhadores pois correspondem a profissões e cargos específicos, diferente da categoria mais ampla referente à classe trabalhista.

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05

101520

Número de entidades (setor: Indústria)

Número de en-tidades (setor: Indústria)

Fonte: Elaboração da autora, mediante lista de entidades credenciadas na Câmara ewebsites das próprias entidades.

Grande parte das entidades da indústria refere-se a algum subsetor, como a indústria

do aço ou do alumínio. A maior entidade que congrega a indústria como setor amplo é a

Confederação Nacional da Indústria (CNI). No que tange especificamente à CNI, a Tabela

1 mostra a pauta prioritária, que detém 13 proposições legislativas de grande relevância

para o setor. A Tabela traz a proposição e sua temática, além do posicionamento da CNI,

representando o empresariado, e o DIAP, representando os trabalhadores. As propostas

destacadas são as que já passaram por algum tipo de resultado, seja aprovação ou rejeição

em uma das casas, ou transformação em norma jurídica.

Tabela 1 – Pauta Prioritária da CNI (2014)14

PROPOSTA AUTORIA ASSUNTOPOSIÇÃO

CNIPOSIÇÃO

DIAPTRAMITAÇÃO

RESULTADOESTÁGIO ATUAL

PEC231/1995

Dep. InácioArruda -PCdoB/CE

Redução da cargahorária de trabalho

Divergente Convergente

ComissãoEspecial(aprovadoparecerfavorável) /Plenário

Pronta para a Pauta doPlenário

14 Na tabela, “n.a” refere-se a “não se aplica”, quando não foi encontrada a informação ou o DIAPnão apresentava posicionamento, tendo em visto que o assunto não era de importância para as centrais sindicais. As siglas são relativas às Comissões da Câmara: Comissão de Finanças e Tributação (CFT), Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP), Comissãode Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC), Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (CDEIC).

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PLP 51/2007

Dep. JoséCarlosMachado-DEM/SE

Extinção doadicional de 10%do FGTS

Convergente n.a.

CFT (Pareceranterior pelaaprovação) /CTASP / CCJC

Aguardando Parecerdo Relator naComissão de Finançase Tributação

PL 4330/2004

Dep.SandroMabel -PMDB/GO

Terceirização Convergente DivergenteCCJC / CDEIC /CTASP

Aprovado na Câmara.AguardandoApreciação peloSenado Federal

MSC 59/2008PoderExecutivo

Vedação à dispensaimotivada

Divergente ConvergenteCREDN /CTASP / CCJC

Aguardando Parecerdo Relator na CCJC

PL 37/2011

Dep.WelitonPrado -PT/MG

Novo Código deMineração

Convergentecom ressalvas

n.a.ComissãoEspecial /Plenário

Pronta para Pauta naComissão Especial

PL 2126/2011PoderExecutivo

Marco Civil daInternet

Convergentecom ressalvas

n.a.ComissãoEspecial /Plenário

Transformado na LeiOrdinária 12965/2014

MPV627/2013

PoderExecutivo

Normas detributação delucros e dividendosde controladas ecoligadasestrangeiras noexterior

Convergentecom ressalvas

n.a.Comissão Mista /Plenário

Transformada na LeiOrdinária 12973/2014

PL 6530/2009

SenadorFranciscoDornelles –PP/RJ

Crédito financeirodo IPI

Convergente n.a.

CFT (Aprovadoparecerfavorável) /CCJC (Pareceranterior erafavorável)

Aguardando Parecerdo Relator na CCJC

PL 6647/2013Dep. JorgeCôrte Real– PTB/PE

Prorrogação doReintegra até 2016

Convergente n.a.

CDEIC(Aprovadoparecerfavorável) / CFT(Parecer pelainadequaçãoorçamentária) /CCJC

Pronta para Pauta naCFT

PLP 237/2012Dep. PedroEugênio –PT/PE

Limitação àsubstituiçãotributária de MPEse inclusão denovas categoriasno SIMPLES

Convergentecom ressalvas

n.a.ComissãoEspecial /Plenário

Declarado prejudicadoem face da aprovaçãoda SubemendaSubstitutiva Globalapresentada peloRelator da ComissãoEspecial ao Projeto deLei Complementar nº221/2012

PL 3401/2008Dep. BrunoAraújo –PSDB/PE

Desconsideraçãoda personalidadejurídica

Convergente n.a. CDEIC / CCJC

Aprovado na Câmara.AguardandoApreciação peloSenado Federal

PLS 222/2013

SenadorVital doRêgo –PMDB/PB

Uniformização denormas sobreprocessoadministrativofiscal

Convergente n.a. CCJ

Aprovado no Senado.AguardandoApreciação pelaCâmara dos Deputados

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PL 3729/2004

Dep.LucianoZica –PT/SP

Normas para olicenciamentoambiental

Convergentecom ressalvas

n.a.

CPADR(Aprovadoparecerfavorável) /CMADS / CFT /CCJC

Aguardando Parecerdo Relator na CMADS

Fonte: elaboração da autora, mediante dados fornecidos pela CNI, DIAP e Câmara dos

Deputados.

Embora não se possa extrair inferências causais conclusivas pelos dados

apresentados na Tabela 1, é possível construir alguns hipóteses sobre algumas tendências.

Primeiramente, é notável que parte das propostas compartilha o mesmo rito de tramitação:

Comissão Especial e Plenário. Nesse sentido, a Comissão Especial pode se constituir em

uma alternativa estratégica para acelerar a tramitação dos projetos, os quais geralmente

demoram nas casas legislativas. A Comissão Especial pode tornar a tramitação mais ágil,

pois esse tipo de Comissão é instalado em situações em que mais de três comissões devem

se pronunciar quanto ao mérito da matéria (RICD, art. 34, II).

Tendo em vista que elas podem ser constituídas por iniciativa do Presidente da

Câmara ou de líder partidário ou ainda de Presidente de Comissão interessada (RICD, art.

34, II), é plausível supor que os grupos ajam no sentido de pressionar tais atores para

instalar Comissão Especial e, consequentemente, acelerar o trâmite dos projetos de

interesse.

Em segundo lugar, nota-se que todas as proposições relativas à legislação

trabalhista dentro das prioridades da CNI apresentam uma divergência de interesses entre

as entidades que dizem representar o empresariado e os trabalhadores. Isso não significa

que tais entidades estejam sempre em conflito, mas a diferença nos posicionamentos é uma

evidência de que, em se tratando especificamente de legislação trabalhista, o empresariado

e os trabalhadores se situam em um jogo de soma zero em relação a seus respectivos

interesses.

Nesse sentido, vale ressaltar que a CNI também congrega sindicatos, o que poderia

fragilizar a dicotomia entre empresariado e classe trabalhadora. Todavia, o número de

empresas que fazem parte da CNI é substancialmente superior ao número de sindicatos:

350.000 empresas contra 1.250 entidades sindicais15. Isso explicaria a preponderância dos

15 Informação adquirida pela página eletrônica da própria CNI.

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interesses do empresariado na estrutura interna da CNI em detrimento das demandas dos

trabalhadores que fazem parte desses sindicatos.

Por fim, cabe discutir o sucesso do empresariado em alcançar seus interesses.

Apesar de a maior parte das proposições prioritárias de 2014 estar em processo de

tramitação nas Casas Legislativas, as que obtiveram algum tipo de resultado mostra um

balanço favorável às empresas. O PL 4330/2004, que versa sobre a terceirização, foi

aprovado na Câmara dos Deputados mesmo com a campanha maciça contra o projeto por

parte das entidades sindicais. O PL 2126/2011, que trata do marco civil da Internet, foi

transformado em norma jurídica trazendo uma vitória e uma derrota para a Indústria: ao

passo que a neutralidade da rede foi mantida, a obrigatoriedade dos datacenters, à qual a

CNI se opunha explicitamente, foi retirada da redação final durante as negociações. De

forma semelhante, o PL 3401/2008 e o PLS 222/2013 foram aprovados em suas

respectivas casas legislativas.

Analisando apenas essas informações, não é possível afirmar que as “vitórias” do

empresariado foram decorrência exclusivamente da atuação da CNI no Congresso. Para

analisar essa relação de causalidade , seria necessário estudar diretamente como os lobistas

agem no Legislativo e se essa ação possui um real impacto sobre o rumo que as

proposições legislativas tomam. Para isso, é imprescindível recorrer a um desenho

qualitativo de pesquisa, por meio da observação participativa e da realização de entrevistas,

como ocorre com parte da literatura brasileira sobre lobby (BEZERRA, 1999; OLIVEIRA,

2004).

Grande parte da literatura historicamente aponta, contudo, que existe sim uma

porosidade maior do Estado em relação a grupos economicamente privilegiados.

Historicamente, o empresariado obteve mais canais de interlocução com o Estado em

detrimento da classe trabalhadora (ver DINIZ, 1992; BRESSER-PEREIRA, 2007). Isso

seria consequência dos próprios padrões de clientelismo e corporativismo que marcaram os

repertórios de interação entre Estado e sociedade no Brasil.

Em relação especificamente ao lobby, o marxismo é menos utilizado como marco

teórico, o qual se restringe às discussões sobre corporativismo, elitismo e principalmente

pluralismo. Afirma-se que o Brasil apresenta uma situação de “pluralismo limitado” (ver

SANTOS, 2007), pois suas instituições não funcionam de forma plena em termos

democráticos. Entretanto, a discussão teórica e a pouca informação aqui obtida mostram

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que, na realidade, o pluralismo é uma perspectiva limitada, pois se concentra em regras

formais e na fragmentação do poder por meio da dissipação de recursos (e não de sua

eliminação).

Tais recursos, porém, não podem ser analisados fora de sua interação mútua:

diferentemente do que Dahl (1962) previa, renda, riqueza e popularidade não tendem a se

dissipar e se anular, mas a incidir uma sobre a outra. Assim, renda e riqueza contribuem

para um aumento na popularidade e vice-versa. De forma semelhante, riqueza incide sobre

classe social, a qual tem impacto na aquisição de recursos políticos. Nesse sentido, tanto o

pluralismo quanto o marxismo podem explicar algumas características do Brasil. No caso

do pluralismo, pode-se afirmar que o poder se encontra, de certa forma, fragmentado. Não

há um único grupo que controla todas as ações do governo, tampouco o empresariado pode

ser visto como um grupo totalmente homogêneo embora possua interesses comuns.

Entretanto, o número de grupos e indivíduos que possuem maior acesso ao governo

ainda é diminuto em comparação às classes e aos setores que estão excluídos das decisões

políticas. Assim, o marxismo ainda se apresenta como uma alternativa teórica viável, visto

que a divisão entre classes sociais continua sendo um instrumento analítico relevante,

mesmo em uma realidade mais complexa.

V. Considerações finais sobre representação democrática

Terminologicamente, democracia significa “governo do povo”. No entanto, essa

definição suscita uma série de questões porque não existe uma unidade homogênea

intitulada de “povo”, o qual é composto por diferentes indivíduos com interesses e

perspectivas sociais diversas. Assim, há um desafio na impossibilidade da realização da

generalidade social (ver ROSANVALLON, 2011), tendo em vista a inexistência de um só

povo.

De forma semelhante, não existe uma única sociedade civil, mas várias sociedades

que apresentam, em grande parte dos casos, visões conflitantes. Essa perspectiva quebra

com a divisão clássica entre sociedade civil e Estado, a qual pressupunha uma separação

mais nítida entre os dois. O estudo de grupos de interesses pode auxiliar no

aprofundamento da análise dos padrões dessa interação entre sociedade e Estado. Surgem,

porém, várias questões.

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Primeiramente, é imprescindível indagar “grupos de interesse fazem parte da

sociedade civil”? A resposta aqui encontrada é que sim, não há razão teórica para exclui-

los devido à sua posição na esfera econômica, pois as fronteiras não são nítidas quanto a

literatura de outrora previa. Mesmo mecanismos e organizações tradicionalmente vistos

como fontes de participação da sociedade civil – como movimentos sociais e o Orçamento

Participativo (OP) – apresentam interação constante e mútua com agentes estatais

(WAMPLER, 2012; SILVA, 2011). Ademais, grupos de interesses são formados ou

financiados por associações de cunho político, as quais são geralmente enquadradas na

categoria de sociedade civil.

É claro que há diferentes tipos de associações e sociedades civis, mas negar os

grupos de interesses nessa categoria é adotar a posição maniqueísta de que a sociedade

civil é uma virtuosa esfera autônoma e independente da economia e do Estado. Indivíduos

e grupos fazem parte de diferentes organizações sociais, as quais podem se situar no

âmbito das esferas econômica e estatal. Da mesma forma que uma pessoa pode pertencer

simultaneamente a instituições do Estado e da sociedade, certas associações podem atuar

mutuamente na sociedade e na economia. De forma semelhante, muitas demandas pelas

quais associações lutam surgem da esfera econômica. A separação é, portanto, ilusória,

visto que mesmo movimentos sociais dependem de recursos econômicos.

Em segundo lugar, podemos questionar “qual a relação entre grupos de interesse e

representação democrática?” Assume-se aqui uma perspectiva de que há diferentes

sociedades civis. Grupos de interesses não são necessariamente benéficos ou maléficos à

democracia, a relação depende das desigualdades existentes no contexto e das condições

institucionais. Grupos de interesses podem gerar representação democrática na medida em

que aumentam o contato entre representados e representantes e ampliam a responsividade.

Entretanto, podem também comprometer a democracia quando o acesso aos grupos é

diferenciado gerando um potencial de influência dependente do poder econômico. Nesse

sentido, o marxismo ainda parece ser uma alternativa teórica relevante, principalmente

tendo em vista contextos marcados por fortes desigualdades de renda, como no caso do

brasil.

Nota-se que a definição de “representação democrática”, se recorremos às origens

terminológicas do termo democracia e ao objetivo da representação, não está dissociada da

ideia de responsividade igualitária. Assim, a representação é democrática quando vários

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grupos, inclusive minoritários, tem acesso às instituições políticas e certo controle sobre os

seus representantes. No contexto do Brasil, a hipótese central é de que há um diferencial de

responsividade devido à influência exercida pelo empresariado em detrimento a outros

segmentos. A principal variável independente em relação à influência seria a

disponibilidade de recursos econômicos, tanto por uma questão de dependência estrutural

do Estado capitalista (OFFE, 1984 [1972]) quanto por um aspecto operacional, já que os

canais de acesso ao Estado pressupõem a capacidade de arcar com algumas despesas.

Destarte, o grande problema é que geralmente a literatura está centrada

exclusivamente nos resultados: se representantes aprovam ou não determinados conteúdos.

Entretanto, é nos processos que encontramos mais respostas concernentes às questões

feitas. É preciso, portanto, analisar os próprios bastidores da política para ter uma visão

mais aprofundada sobre como a sociedade interage com o Estado, inclusive sobre que

outros fatores além do econômico influenciam as decisões políticas. A pesquisa aqui

apresentada caminha nessa direção.

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