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 Digital communication in semiotic perspective: Modellization of languages, formats, data signs, temporalitie s . Suspecting that this is no more than a “service platform ”, it is proposed here to examine the format as the design of an emerging production generically named “IT sign”. Considering that one of the elementary assumptions of technological communication is the conquest of space, it is proposed here to understand another aspect: the one in which the synthesis reproduces an experience of compaction of time. Thus it is obtained an experience of time as a projection of space that can be sized in terms of language. Key words: format, data s ign, digital communication. Desconfiando de que sea sólo una “plataforma de servicios”, se  prop one aqu í examina r el forma to como dise ño de una prod ucción emergente denominada genéricamente “signo informático”. Considerando que uno de los supuestos elementales de la comunicación tecnológica es la conquista del espacio, se plantea entender otro aspecto: aquel en el que la síntesis reproduzca una experiencia de compactación del tiempo. Se tiene, así, una experiencia del tiempo como proyección del espacio, que puede dimensionarse en términos de lenguaje. Palabras clave:  format o, signo inform ático , commu nicac ión de sínte sis. Desconfiando de que seja tão-somente uma plataforma de serviços, propõe-se aqui examinar o formato como design de uma produção emergente denominada genericamente de signo informático. Considerando que um dos pressupostos elementares da comunicação tecnológica é a conquista do espaço, propõe-se aqui entender um outro aspecto: aquele em que a síntese reproduz uma experiência de compactação do tempo. Tem-se, assim, uma experiência de tempo como projeção de espaço que pode ser dimensionado em termos de linguagem. Palavras-chave:  formato, signo informático, comunicação de síntese. revista Fronteiras – estudos midiáticos 12(2): 95-104, maio/agosto 2010 © 2010 by Unisinos – doi: 10.4013/fem.2010.122.04 Comunicação de sínteses em perspectiva semiótico-evolutiva: modelização de linguagens, de formatos, do signo informático, de temporalidades Irene de A. Machado 1 1  Universidade de São Paulo. Rua Prof. Lucio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitária, Butantã, 05508-020, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected]

Semioitca.irene Machado

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elementos de semiótica

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  • Digital communication in semiotic perspective: Modellization of languages, formats, data signs, temporalities. Suspecting that this is no more than a service platform, it is proposed here to examine the format as the design of an emerging production generically named IT sign. Considering that one of the elementary assumptions of technological communication is the conquest of space, it is proposed here to understand another aspect: the one in which the synthesis reproduces an experience of compaction of time. Thus it is obtained an experience of time as a projection of space that can be sized in terms of language.

    Key words: format, data sign, digital communication.

    Desconf iando de que sea slo una plataforma de servicios, se propone aqu examinar el formato como diseo de una produccin emergente denominada genricamente signo informtico. Considerando que uno de los supuestos elementales de la comunicacin tecnolgica es la conquista del espacio, se plantea entender otro aspecto: aquel en el que la sntesis reproduzca una experiencia de compactacin del tiempo. Se tiene, as, una experiencia del tiempo como proyeccin del espacio, que puede dimensionarse en trminos de lenguaje.

    Palabras clave: formato, signo informtico, communicacin de sntesis.

    Desconfiando de que seja to-somente uma plataforma de servios, prope-se aqui examinar o formato como design de uma produo emergente denominada genericamente de signo informtico. Considerando que um dos pressupostos elementares da comunicao tecnolgica a conquista do espao, prope-se aqui entender um outro aspecto: aquele em que a sntese reproduz uma experincia de compactao do tempo. Tem-se, assim, uma experincia de tempo como projeo de espao que pode ser dimensionado em termos de linguagem.

    Palavras-chave: formato, signo informtico, comunicao de sntese.

    revista Fronteiras estudos miditicos12(2): 95-104, maio/agosto 2010 2010 by Unisinos doi: 10.4013/fem.2010.122.04

    Comunicao de snteses em perspectiva semitico-evolutiva: modelizao de linguagens, de formatos, do signo informtico, de temporalidades

    Irene de A. Machado1

    1 Universidade de So Paulo. Rua Prof. Lucio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitria, Butant, 05508-020, So Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected]

  • Irene de A. Machado

    96 Vol. 12 N 2 - maio/agosto 2010 revista Fronteiras - estudos miditicos

    Introduo: a armao de um quebra-cabea

    Se verdade que todo conceito tem uma histria em que a formulao proposta exprime tentativas para a compreenso de manifestaes com vistas a encaminha-mentos futuros, capazes de sustentar proposies terico-conceituais mais acabadas, o moderno conceito de formato, que desencadeou as reflexes deste estudo, se insere no fluxo da produo comunicacional cujas implicaes cul-turais extrapolam o plano das formaes discursivas onde tem sido estudado. Alm de problematizar formulaes tericas consagradas, como gneros mediados, informao, transmisso, linguagem e o prprio discurso, o conceito de formato abre a discusso sobre mediaes semiticas fun-dada em experincias culturais desdobradas pelo tempo. Aquilo que parecia ser um mero recurso tecnolgico revela um potencial experimento de indagao sobre a comuni-cao na cultura. Com isso, estamos longe das formulaes que tomam o formato como plataforma de servios para a mediao de gneros discursivos em contextos tecno-lgicos. Na verdade, os termos desta formulao constam de nosso raciocnio como pergunta. Interessa saber qual a natureza e o carter especfico de uma mediao que confronta processo tcnico e cognitivo para explicitar-se como padro comunicacional no sistema da cultura.

    Como produto da cultura de meios e de suas me-diaes, o formato se reporta tanto explorao de proces-samentos cognitivos e tecnolgicos quanto modelizao semitica de cdigos, linguagens e sistemas de signos. Focalizado em ambientes comunicacionais, se apresenta ora como formao discursiva situada na tradio dos gneros dialgicos, ora como sistema modelizante de escritas semiticas de diferentes tradies culturais. Com isso, aquilo que parecia ser representao no espao, acaba se revelando como transformao no tempo. Diante deste quadro, a construo de metalinguagens tericas para a compreenso desta variante do processo de comunicao mediada assume a configurao de um quebra-cabea, cabendo ao estudioso encaixar as peas do jogo sem ter, a priori, o desenho da figura.

    Este artigo tem como desafio montar o quebra-cabea sem conhecer a figura. Prope examinar contornos, conexes, associaes, enfim, as possibilidades do ponto de vista das relaes em jogo no sistema comunicativo evocado por um formato. Nesse caso, compreender o conceito de formato implica entender comunicao como

    processamento sistmico em que formaes e linguagens resultam de modelizaes orientadas pela lgica interna do sistema. Questiona-se, sobretudo, o processo de trans-misso que no considera as variveis do deslocamento da informao mensagem. Aqui, como no jogo, sabemos que as peas se encaixam, contudo, essa percepo no garante a formao da figura. No se pode prescindir de mediaes cognitivas e de cdigos sensoriais criadores de relaes em nveis diferenciados de complexidade. Da surge a hiptese: dependendo da conexo, articulam-se sistemas de escritas, de linguagens, de padres e mesmo de mode-los com nfase nas possibilidades interpretativas e no o resultado final. Retomando a metfora do quebra-cabea, mais importante do que conhecer a figura da superfcie armar as jogadas de modo a conjugar processo cognitivo e representao; mais importante do que a obteno de um resultado a partir de um modelo, a elaborao prag-mtica das possibilidades lgicas do sistema em jogo no seu movimento construtivo.

    Se, como regra geral, o estudo dos formatos surge no contexto da mediao tecnolgica, inserido na pers-pectiva do jogo, aproxima-se da composio da lgica interna de um processo cultural mais amplo. Assim, to importante quanto dizer que o formato resulta da mediao de cdigos culturais gerados por mquinas semiticas, reafirmar que o formato modeliza uma mquina do tempo, no exatamente a mquina de pro-duzir presente (Martn-Barbero, 2000), to ao gosto do pensamento terico contemporneo, mas as experincias das simultaneidades temporais em deslocamento (sem de-compor a escalada numa frao, por exemplo, o presente), em devir e aberto incerteza do futuro. O raciocnio que nos conduz por este caminho revela o formato inserido em experincias da comunicao de snteses voltadas para a construo das relaes espao-temporais do homem na dinmica evolutiva da cultura. E neste aspecto que se manifesta como configurao lgica aberta a formatar processos cognitivos.

    Alm de recuperar a dimenso antropolgica mais cara ao homem, que a experincia do tempo, o formato assim concebido recupera tambm a operao de design de linguagens, uma vez que pela modelizao de cdigos e de ferramentas intelectuais e tecnolgicas que se torna possvel configurar ambientes enunciativos onde so produzidos discursos sobre o mundo. Contudo, nem as operaes so apenas eminncia tcnica, nem a interao se limita formao discursiva. At onde possvel com-preender a produo da cultura audiovisual eletrnica e digital-informtica, aquilo que se apresenta como formato

  • Comunicao de snteses em perspectiva semitico-evolutiva

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    resulta de conjugaes e combinatrias de transformaes e variaes em diferentes nveis das experincias culturais. Tal a qualidade distintiva da linguagem artificial pro-cessada pelas mediaes tecnolgicas. Trata-se de comu-nicao de snteses em que linguagem e conhecimento so dimensionados por relaes que atravessam a esfera do humano para alcanar outros horizontes. Considerar esta qualidade outro desafio que, neste artigo, se insinua como um jogo de quebra-cabea.

    No limite, o que se configura na noo de for-mato em voga o processo semitico de construo de diagramas desenhados como elaboraes mentais das experincias da comunicao na cultura. Seguem-se, portanto, as armaes das jogadas, formuladas pelo vis semitico da percepo.

    Mediaes semiticas

    Os formatos podem ser entendidos tanto como produo dos meios de comunicao como formas de interao e, enquanto tais, surgem em funo de demandas especficas. Seja como processo ou como produto, os for-matos manifestam uma lgica interna em sua construo. De um lado, h o processo de interveno nos cdigos culturais; de outro, a combinatria de conhecimentos cien-tfico-tecnolgicos e a consequente criao de produtos. Ambos se conjugam para transformar a informao em mensagem. Se, do ponto de vista dos cdigos, esta trans-formao representa um processo modelizante, do ponto de vista dos conhecimentos de design de informao que se trata. Considerando as implicaes mtuas entre modelizao e design, entre o processo e o produto, a ao de transformar a informao em mensagem cumpre um movimento de articulao de signos e produz diferentes semioses e significaes. Neste funcionamento se explicita a lgica interna do sistema em suas diferentes mediaes semiticas, isto , a modelizao e o design da informao.

    Modelizao um conceito semitico para compreender semiose, quer dizer, para que um modelo represente uma coisa diferente para algum, quanto a determinados aspectos ou capacidades, deve haver uma continuidade nos vnculos entre modelans e modelandum (Merrell e Anderson, 1990, p. 31). No mbito deste estudo, a continuidade ser verificada na modelizao de lingua-gens a partir do modelo da lngua, ainda que com ele no mantenha nenhuma similaridade. Modelizao designa,

    por conseguinte, as mediaes processadas segundo a lgica interna do sistema comunicativo do ponto de vista da semiose de seus sistemas de signos. A modelizao, tomada nesse sentido, acarreta um movimento sgnico contnuo ao longo dos trilhos do significado em direo a um fim qualquer, indefinido e indefinvel. Nada permanece imvel, nada absolutamente determinado (Merrell e Anderson, 1990, p. 35).

    como diagrama relacional que a modelizao foi forjada no contexto da comunicao de mediao homem-mquina, para explicitar como os cdigos cultu-rais, tecnolgicos e cognitivos geram linguagem e como cada uma, no limite de suas possibilidades, significam. Indaga-se sobre a transmisso de informao no sentido de conhecer, desde a interao dos cdigos envolvidos na transformao, at o desenvolvimento das possibilidades de significar o mundo, organizar a informao e compre-ender a potncia das disponibilidades dos sistemas ofer-tados. O processo modelizante visa valorizar a dimenso significante da informao. Cada sistema modelizante, por sua vez, atua num campo de possibilidades condizentes com sua lgica interna.

    O semioticista Iri Ltman (1978, 1984) en-tendeu que o crescimento e diversificao dos meios de comunicao, a exemplo dos demais sistemas de signos da cultura, realizam diferentes semioses, uma vez que a modelizao acontece num nvel tecnolgico que formula linguagens a partir de processos distintos daqueles que geram a linguagem verbal humana. Os meios eletrnicos e digitais representam uma inusitada forma de combinar signos, nada semelhante articulao da palavra, seja do ponto de vista dos fonemas ou do alfabeto. Evidentemente trata-se da combinatria entre diferentes classes de signos disponveis culturalmente: dos signos discretos (da ordem temporal, como a palavra e os sons) e signos contnuos (como a imagem e o espao). Esta possibilidade, que se torna disponvel em circunstncias especficas da cultura, no predadora (uma no elimina a outra), mas mode-lizante uma vez que redimensiona sistemas culturais que ampliam, assim, o campo das potencialidades de interao e significao.

    A proposta de estudo dos sistemas modelizantes , pois, considerar as mediaes semiticas no apenas do ponto de vista das relaes sociais, mas, sobretudo, pelos processos cognitivos da condio cultural geradora da inteligncia dos sistemas, de sua lgica interna. Re-tomando a metfora do quebra-cabea, a inexistncia da figura como modelo de superfcie no anula a lgica interna do desenho cuja emergncia no depende to-

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    somente do encaixe de peas, mas implica jogadas de raciocnio. para este nvel que o processo modelizante encaminha a investigao.

    Ao lado da semiose social, em que a interao entre pessoas mediada pela palavra oral e escrita, ocorrem outras semioses. A modelizao uma delas. Graas operao de design, o sistema modelizado com vistas significao e no apenas para emitir in-formao. Do ponto de vista da semiose, a significao no alvo externo, mas faz parte do conjunto de relaes sistmicas em sua tarefa de movimentar possibilidades interpretativas.

    Design a chave fundamental, uma vez que tor-na o contexto interpretativo imprescindvel. Reitera-se a instncia do como a mensagem pode significar; esta no uma escolha, uma vez que preciso considerar as modelizaes possveis do sistema, bem como o contexto de sua interao.

    Observa-se, ento, que, enquanto mediao semi-tica, tanto a modelizao quanto o design configuram a informao numa outra chave conceitual. Para significar, a informao no pode ser mera emisso de sinais, mas precisa ser transformada. Para isso, os cdigos cumprem seu papel modelizante. preciso, ainda, interagir em contexto interpretativo.

    S aparentemente a breve incurso sobre o pro-cesso de mediao semitica do ponto de vista da mode-lizao e do design afastou-se do assunto aqui exposto. Na verdade, definimos o campo da reflexo em que o formato se apresenta como sistema modelizante, design da comunicao de snteses, diagrama das relaes e das temporalidades simultneas. Os experimentos das anlises que se seguem foram formulados a partir de casos espe-cficos do que consideramos comunicao de sntese: os formatos audiovisuais e o signo informtico.

    Modelizaes e movimento sistmicos

    Todo esforo de compreenso de eventos ou pro-dutos culturais emergentes, como o caso do formato, no acontece nos limites especficos da sua prpria produo. Quando da emergncia de qualquer informao nova, no apenas o entorno no desaparece como o contexto interpretante aumenta sua potncia significante. No es-foro de compreender a singularidade da informao nova,

    nome-la, distingui-la e conceptualiz-la em sua variao ou mutao, nem sempre dispomos de instrumentos tericos ou desenvolvimentos cognitivos adequados para vencer o desafio. Conceituar formato enfrentar esta difi-culdade. Desde que se colocou como objeto de estudos da produo dos meios de comunicao, recorre-se noo de gnero, tal como se consolidaram os gneros discur-sivos na cultura literria. Formato, contudo, definio do ambiente miditico onde toma forma (nesse sentido, ele enforma o ambiente). Fora deste contexto, ser outro objeto. Assim formulado, o formato no redimensiona as caractersticas mais significativas dos gneros do sistema dos signos verbais.

    Enquanto o conceito de gnero nasceu como desg-nio das formas poticas e das enunciaes sociodiscursivas da lngua e da literatura, o conceito de formato nasceu para designar enunciaes da comunicao ordinria de circuitos eletrnico-digitais na cultura de meios. Trata-se de uma outra poiesis.

    Somente em um aspecto o formato se reporta aos gneros discursivos: tal como os gneros poticos e literrios, os formatos so produtos de uma voz. No se trata da voz humana, mas de vozes mediadas, as chama-das talking heads; vozes que comearam a falar, no pelo tubo do aparelho fonador, nem pela ficcionalizao das vozes narrativas mitolgicas, mas pelas vlvulas e tubos de raios catdicos de aparelhos eletrnicos, do rdio e da televiso, propagando-se por ondas magnticas e por feixes luminosos.

    Ainda que formato designe padres tipogrficos de signos do alfabeto, foi na televiso que se introduziu a palavra formato para designar as produes das vozes modelizadas pelos feixes de luz, enunciadas em tempo presente e propagadas em longas distncias. Embora na formao da palavra televiso se tenha potencializado a capacidade de alcance da viso (tele + viso), a voz que a define como linguagem do tempo presente. Prova disso a noo de televiso como meio oral. A ao que oferece a voz em tempo presente, percorrendo distncias como a luz e, por conseguinte, sendo codificada como imagem, obra da sntese audiovisual e cintica do sistema eletrnico de comunicao.

    O conceito de formato se desenvolveu no amadu-recimento da prpria linguagem audiovisual da televiso. Da, acreditar-se, durante certo tempo, que formato era apenas um termo do jargo profissional, nada alm de um cacoete lingustico de produtores da televiso. O uso consagrou o termo que entrou para o lxico e adquiriu estatuto lingustico em lngua portuguesa e tambm em

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    lngua inglesa: formato2 ou format3 - ambos derivados do termo latino format - so termos que designam formas discursivas na comunicao de sistemas audiovisuais. No apenas programas de televiso so formats, como tambm, textos produzidos pelos signos informticos, a exemplo dos cdigos da tipografia digital ou dos programas de instru-es (software). Contudo, no o termo que se tornou a variante do gnero e, sim, o conceito.

    A televiso brasileira pode no ser a melhor televiso do mundo (Leal Filho, 1997), mas, desde sua implantao na dcada de 50, tornou-se um laboratrio de experimentao da comunicao audiovisual, a partir de formas culturais desenvolvidas em diferentes prticas de nossa tradio. Do rdio ao circo; da literatura ao teatro; da msica ao disco; do jornalismo publicidade quase nada est longe o suficiente que no possa ser alcanado pelas lentes de cmeras e transformados pela chuva de eltrons da imagem de televiso (Pignatari, 1984), ambos criados para trazer para perto aquilo que est distante. A capacidade de mobilizao de tradies culturais tornou-se um exerccio fundamental das snteses que a linguagem eletrnica transformou em sistema audiovisual de co-municao, tendo no formato a modelizao das snteses tecnolgicas e das experincias culturais (seja em modelo analgico ou digital: vale insistir que no de tecnologia que estamos falando, mas de sistema semitico4).

    Com base nos depoimentos dos profissionais bra-sileiros que trabalharam na construo dessa linguagem, possvel inferir que a modelizao de partida foi dada pelo rdio. evidente que, por ser o meio de comunicao capaz de vencer as distncias continentais, o rdio cedo se consagrou, na cultura, como um eficiente meio de comu-nicao de largo alcance. Nada mais natural que a tele-viso aproveitasse essa experincia, at mesmo porque os idealizadores e realizadores dos formatos nessa linguagem passaram pela experincia radiofnica. Por isso, a tarefa

    inicial dos desbravadores foi investir no design de uma linguagem prpria ao veculo, adotando, como estratgia, a modelizao do formato radiofnico em sistema cintico-audiovisual. No se est incorporando a cintica aqui como recurso retrico. Na verdade, preciso enfatizar a ideia de movimento que organiza o processo modelizante em que as formas se transformam, mudam de um estado de coisas para outra. Kinesis quer dizer movimento e, como desgnio do meio, afirma que naquele ambiente eltrico no mais a onda magntica, mas a luz se torna som ou imagem, ela prpria dotada de movimento.

    A anlise de experincias do sistema cintico-audiovisual, a partir das modelizaes semitico-tecno-lgicas, das ondas magnticas aos circuitos eletrnicos; dos signos discretos aos signos sonoros e cintico-visuais, ou, simplesmente, da voz imagem, confronta-se com o argumento segundo o qual a televiso no inventou nada, postura do teatrlogo Dias Gomes para quem tudo que nela foi produzido viera do rdio: novelas, musicais, humor, jornalismo (Gomes, 2001, p. 91).

    No ter inventado nada foi uma oportunidade inusitada para a descoberta e experimentao de possibili-dades no ambiente cuja natureza comunicacional funda-se numa ordem semitica diferente daquela que consagrara o rdio. A experimentao envolvia aprendizagem e exerc-cio da linguagem por modelizao, ou seja, por distino do cdigo organizador de cada meio. Este exerccio de aprendizagem marcou a criao de formatos para o sistema cintico-audiovisual da televiso, tornando-se no apenas o desafio para quem atua nesta mdia, como tambm a substncia intelectual do conceito. Logo, a criao de novos formatos no quer dizer transporte de gneros da literatura, do teatro e do rdio para a televiso, mas sim modelizao da linguagem a partir dos cdigos do prprio meio, no caso, os cdigos cintico-audiovisuais. Por isso, formato no apenas a palavra mais pronunciada pelos

    2 No verbete formato, o Dicionrio Aurlio (Ferreira, 1999), nas acepes registradas nos itens 6, 7, 8, define o termo como desgnio de tamanho, tempo de durao, tipos de suporte para a produo de uma forma comunicativa: um anncio, um programa de televiso ou rdio, um encontro de discurso pblico 3 Constam do Oxford, as seguintes acepes para format, como substantivo: (i) The shape and size of a book, magazine, etc: Theyve changed the format of the newspaper to attract new readers. (ii) The general arrangement, plan, design, etc of sth: There is no set formal for these weekly meetings. The talk show format is popular with viewers. (iii) The arrangement or organization of data for processing or storage by a computer. Como verbo, to format significa to prepare a disk to receive data. 4 Como exerccio de cautela, vale insistir que no estamos falando de modelo, mas de modelizao. Nosso objeto no , por conseguinte, o padro tecnolgico de transmisso (aquilo que tem ocupado o cenrio da discusso entre engenheiros, polticos, produtores de redes e setores na sociedade brasileira deste incio de sculo). No se perdeu de vista o cdigo enquanto signo, texto e linguagem da cultura. O signo, a qualidade textual das probabilidades dos diferentes sistemas, o grande ausente deste debate. Talvez porque no se criou o hbito de compreender televiso como sistema semitico produtor de conhecimento e fonte geradora de linguagem da cultura.

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    realizadores que experimentam as linguagens da comuni-cao, mas um campo de possibilidades sobre a produo de mensagens com interveno em sistemas de signos da cultura. De um lado, exige do aprendiz conhecimento da mdia que se tem nas mos, isto , dos limites e possibi-lidades do que possvel dizer com essa linguagem seja do ponto de vista tico, esttico ou tecnolgico. De outro, preciso interagir com as produes que fazem parte do legado semitico da cultura, bem como com os contextos sociais. Assim nascem os programas de ao sem os quais nem o formato nem a linguagem se realizam.

    Reconhecemos que no este o pensamento em voga nos estudos sobre os formatos na televiso cuja pro-duo pensada em termos de programas nicos e a partir do instrumental terico dos gneros como classes isoladas, fora, portanto, da bivocalidade discursiva ou da programao modelizante de sistemas culturais. O formato fica reduzido tecnologia. o que se pode apreender do estudo dedicado especificamente aos gneros e formatos na televiso brasileira.

    Desde sua inveno at hoje, televiso sinnimo de tecnologia, por mais que se reconhea a popularidade do veculo. A televiso acelerou o desenvolvimento tecnolgico da indstria de equipamentos de transmis-so de sinais e de dados novos materiais condutores, como a f ibra ptica; microssistemas de captao, como as microondas; microfones sem fio; satlites; imagem digital; e meios de comunicao virtual.O estudo dos gneros dos programas exige a compre-enso do desenvolvimento da televiso sob vrios aspectos, inclusive o tecnolgico. A identif icao dos recursos para a produo de um gnero permite escolher a tecnologia de udio, os efeitos especiais no vdeo, o uso de equipamentos, enf im, as aplicaes tcnicas adequadas s vrias produes, em canais diferentes. Com as informaes sobre o desenvolvimento histrico de cada gnero, com a abordagem conceitual e tcnica dos recursos utilizados e tambm com os resultados alcanados no vdeo, chega-se a um perfil da produo em televiso, para compreender melhor o planejamento, a organizao, a criao, a implantao e a criao de programas (Souza, 2004, p. 30).

    Porque forte a noo de classes e categorias, a noo de formato no pensamento dos estudiosos de televiso guarda resduos do pensamento aristotlico que diferenciava gneros e espcies. Tal a orientao que leva Souza (2004, p. 46) a firmar concluses sobre o termo, sem alcanar, contudo, o conceito.

    Conclumos que o termo formato nomenclatura prpria do meio (tambm utilizada por outros ve-culos, como o rdio) para identif icar a forma e o tipo da produo de um gnero de programa de televiso. Formato est sempre associado a um gnero, assim como gnero est diretamente ligado a uma categoria.

    Abordagens como esta evidenciam diferenas de grau na compreenso das experincias. Por um lado, desenvolvem-se posturas que entendem a descoberta como modelo (sic) geral capaz de promover a anlise dos programas segundo os prottipos favorveis produo de sries. Por outro, trata-se de verificar o processo mo-delizante do modelo que no reproduz prottipos, mas desenvolve algoritmos de linguagem geradora de formas, diagramas e possibilidades. Com isso, o formato tanto pode desencadear a confeco de uma tipologia que atenda aos estudos de produo e de recepo, com foco na au-dincia e no mercado, como despertar para a focalizao dos processos cognitivos do movimento naquilo que ele produz de radicalmente inovador e de linguagem. Neste ltimo caso, o formato excede o conceito de gnero e se apresenta como mecanismo semitico.

    Se o gnero foi uma estratgia, inicialmente favo-rvel leitura dos programas, o mesmo no se pode dizer com relao compreenso dos formatos. Enquanto me-canismo semitico de linguagem, o formato pode processar os gneros, mas no pode ser expresso por meio de gneros, simplesmente porque o conceito de gnero no alcana as regies processuais em que o movimento evidencia a sntese dos elementos envolvidos. Logo, os gneros no fornecem referenciais tericos para a compreenso das snteses, mo-delizaes, semioses, design e mediaes da comunicao em contexto sistmico da cultura de meios. At mesmo a noo de gneros discursivos, dialogicamente configurada, esbarra no limite da modelizao do movimento sistmico.

    No so os gneros tampouco que orientam a condio falante e discursiva do meio televiso. A fora retrico-discursiva encontra-se intimamente vinculada ao design da visualidade e do movimento por meio do grafismo eletrnico que, por seu turno, modeliza as talking heads. A condio falante desencadeia, igualmen-te, a semiose social, uma vez que no se trata apenas de estabelecer contato, mas de mant-lo, garantindo, assim a fora dramtica e retrica, como afirma Sodr (1999, p. 72): como se o desfile contnuo dos sinais lumino-sos que formam a imagem realizassem o movimento deum dedo apontando sem parar para o movimento vivo e real.

  • Comunicao de snteses em perspectiva semitico-evolutiva

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    Os formatos desenvolvidos e implementados pelos signos informticos mostram-se completamente refratrios noo de gnero. Logo, a que as qualidades diferenciais do conceito so evidenciadas com adequao, sobretudo, porque so os prprios sistemas culturais que so modelizados para gerao dos formatos.

    Papel do signo informtico no design da comunicao de snteses

    Ao lado do alfabeto, os nmeros constituem um legado que est na base das invenes transformadoras da cultura. Os nmeros compem com os sons, as letras, os grafismos e as palavras os signos discretos da semiose cultural que provocaram a emergncia de formatos da experimentao informtica. Graas aos nmeros, os sistemas se transformam e se movimentam de um estado para outro. No contexto do sistema informtico, os n-meros modelizam os signos informticos e estes levam s ltimas consequncias as possibilidades significativas dos formatos que implementam.

    Do ponto de vista da tecnocultura, signo inform-tico se define como uma classe de signos produzida pelo processamento numrico e traduzida em mecanismos interativos que ocorrem entre instalaes ou dispositivos de processamento, leitura, escritura, armazenamento de dados e instrues ou programas de funcionamento, graas aos quais a mediao homem/mquina se realiza em nveis diversificados de relaes.

    Do ponto de vista da semitica da cultura, signo informtico designao genrica de mediaes tecnol-gicas em que o cdigo numrico apresenta, em diferentes nveis, as operaes de sua hierarquia complexa, a comear pelos programas no nvel do hardware e do software. Nmeros se transformam em circuitos e estes em coman-dos, programas e procedimentos capazes de transformar conhecimentos em linguagem numa operao de anlise e de sntese, em que as quantidades so transformadas em qualidades. Trata-se de anlise e sntese do movimento de transformao da matria bsica: a energia em suas dife-rentes configuraes de articulao eltrica, de linguagem, de conhecimentos cientficos e experincias culturais.

    O signo informtico projeta-se como processo cog-nitivo em que a singularidade no a operao de clculos,

    mas a modelizao de signos discretos e signos contnuos de diferentes ordenamentos, por meio da expanso da base numrica. Com isso, as prprias linguagens artificiais que entram na construo do processo de clculo para arma-zenar dados e produzir mensagem so modelizadas com vistas a futuras elaboraes, exponenciando a dinmica produtiva das linguagens.

    O signo informtico gera, basicamente, informa-o nova. Da ser conhecimento a palavra chave de suas operaes. No se trata de transmisso constante, mas de transformao de operaes cognitivas em modelos de conhecimento.

    Segundo Contreras (1998, p. 65-117), quem introduziu o conceito de signo informtico a partir das exploraes da semitica da cultura, a informao lida com dados e com eles se confunde. Informtica, porm, quer dizer outra coisa. Na acepo dicionarizada, significa cincia que visa ao tratamento da informao atravs do uso de equipamentos e procedimentos da rea de proces-samento de dados (Ferreira, 1999, p. 1110). Resulta de uma combinatria de saberes que, alm da matemtica e engenharia, inclui pesquisas no campo da psicologia, inteligncia artificial, cincias cognitivas. Diferentemente da ciberntica, que se ocupou da construo de mquinas que simulavam analogicamente o comportamento animal, a informtica basicamente desenha simulaes. Se a comu-nicao como comando e controle orientou a ciberntica, a informao como desenho de modelos cognitivos define a prioridade da informtica.

    O espectro semntico se amplia quando se recu-pera o campo conceitual da palavra criada por Philippe Dreyfus, em 1962. Numa analogia com matemtica, informtica nomeia o processo de manipulao no ape-nas de nmeros, mas tambm de toda sorte de smbolos, mediante tcnicas de modo a criar uma linguagem programada, no para transmitir informao, mas para gerar informatividade e, sobretudo, programar possibi-lidades. Para isso, a anlise e processamento de dados tornam-se operaes interligadas e elementares sem a qual seria impossvel a manipulao tcnica dos dados como tarefa para a construo e desenho de modelos para ulteriores modelizaes. No contexto informtico, em vez de ser to somente codificada, a informao modelizada por um processo de anlise e processamento de dados que pressupe a sntese ou compactao num modelo cognitivo. Os dados cumprem a tarefa de dese-nhar a informao nova, funcionando, para isso, como se fossem parte de um crebro dotado de memria e de inteligncia.

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    O campo de desenvolvimento da informtica tambm foi favorvel s atividades de experimentao da linguagem, sobretudo no processo de traduo com a ajuda de programas informticos, o que permitiu o surgimento de termos como modelizao e modelizar, usados para designar a construo tcnica da informao.

    Por mais paradoxal que possa parecer, a com-pactao se distingue da transmisso, uma vez que o conceito de informao em pauta no se confunde com unidade de medida. O binarismo no implica apenas duas unidades ainda que 0 e 1 sejam consideradas unidades binrias ou bit. Na verdade, trata-se de um mecanismo probabilstico cuja base binria pode ser exponenciada. Se assim no fosse, o signo informtico, a exemplo do signo verbal, seria igualmente signo discreto, decomponvel em subunidades (elementos, molculas ou partculas), criando relaes estruturais em que a menor partcula encontra-se intimamente vinculada configurao do conjunto maior que o constitui de modo a se tornar um pressuposto da prpria unidade. Contrariamente, o signo informtico insere-se na classe dos signos no discretos, indecompo-nveis e, portanto, caracterizados pela continuidade no sequencialidade temporal.

    A natureza no discreta do signo informtico se encarrega de operar uma radical transformao nos algo-ritmos fundamentais da semiose: em vez de significante e significado, os algoritmos da semiose informtica so a modelizao de zeros e uns. A base deste signo no discreto no , portanto, a informao, mas, sim, o pro-cessamento de dados, a anlise e a sntese.

    O contexto do raciocnio desenvolvido por Contreras (1998) para propor o signo informtico no esconde a presena das formulaes de Ltman (1998,p. 11-24), sobretudo no que diz respeito: (i) transformao da informao em texto por meio da criao de cdigos; (ii) desenvolvimento de memria por meio de desenvol-vimento de programas de ao; (iii) produo de inteli-gncia com a emergncia da informao nova. Nesse caso, o signo informtico cria uma inteligncia cultural capaz de integrar, transformar e gerar signos qualitativamente diferenciados. Atente-se, contudo, para o fato de ser uma inteligncia artificial, capaz de modelizar, mas dela no se pode esperar mecanismos semelhantes aos do raciocnio humano (Ltman, 1998, p. 24).

    Compreender a comunicao de sntese gerada pelo signo informtico implica no exatamente tratar da

    tecnologia menos ainda de seus efeitos sobre comporta-mentos previsveis de seu controle social , mas examinar sua lgica interna como processo semitico-cognitivo ou como inteligncia da cultura. Os discursos a construdos deixam de ser to-somente fruto das interaes inter-pessoais e, portanto, propriedade dos ambientes naturais e passam a ser design de linguagens artificiais. No so, evidentemente, realizaes de uma lngua, mas das lingua-gens desenhadas por cdigos culturais. O fundamental a necessidade de educao na linguagem. Introduzem um novo tempo e obriga-se a redimensionar conhecimentos desenvolvidos na e pela cultura humana. A operao com as linguagens artificiais exige conhecimento das lingua-gens elaboradas por diferentes sistemas da cultura.

    A experincia radical da comunicao de snteses a vivncia do tempo, no do tempo sequencial, mas das temporalidades simultneas. Ainda que se abra o dilogo com as experincias contemporneas de compactao do tempo, sobretudo as chamadas vivncias do presente pro-piciadas pelas interaes da comunicao em rede e pela Internet, no apenas este o objeto da anlise. No se trata de negar a to anunciada presentidade da comunicao de redes, mas de apreend-la, no pela ptica da convergncia do tempo, mas, sim, pelo conflito de temporalidades e consequente estratificao das simultaneidades. Em vez de delimitar, espera-se ampliar a vivncia do tempo, fazendo valer o alerta de Bakhtin5 (1982), segundo o qual, a cultura vive na grande temporalidade e tudo que se encerra no presente morre com ele.

    O aspecto fundamental do convvio com tempo-ralidades simultneas, a partir do signo informtico, a possibilidade de incorporao das incertezas do futuro mediado pelas experincias do passado ou do presente. O signo informtico projeta possibilidades para um devir e, ao faz-lo, revela-se como diagramas relacionais de pen-samentos; para o futuro que desenvolve suas operaes. Contudo, no se trata de prever o futuro, pelo contrrio, trata-se de incorporar sua incerteza. Em vez de eliminar o rudo do processo, caso da teoria da informao, o signo informtico elabora possibilidades em que seja possvel corrigir o diagrama, a prpria linguagem, bem como o modelo (Merrel e Anderson, 1990, p. 39) e, com isso, gerar um padro operativo, tcnico e cognitivo capaz de colocar em evidncia a lgica interna de seu funcionamento. Um padro comunicativo atuante no sistema da cultura.

    5 No corpo do texto, uso a transcrio do portugus (Bakhtin) e nas referncias, uso a grafia da obra consultada (Bajtn).

  • Comunicao de snteses em perspectiva semitico-evolutiva

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    Consideraes finais

    A proposta que toma o formato como sistema mo-delizante para analisar a lgica interna de sua organizao a partir da modelizao e do design decorre da necessidade de formular conceitualmente processos comunicacionais no contexto das produes e das tradies culturais. Se, num primeiro momento, o imperativo valorizar a inte-grao, numa perspectiva mais ampla, trata-se de organizar as manifestaes culturais como processos evolutivos e no apenas como derivaes de condies sociais imediatas.

    nesse contexto que o design se apresenta como dispositivo de distino, de agregao e de projeo. No campo da comunicao na cultura, o design opera na es-fera em que as intervenes no cdigo contribuem para o aumento das possibilidades interpretativas. Com isso, no se pode ignorar que as relaes em pauta, mesmo aquelas processadas num nvel operativo como as configuraes tecnolgicas, revelam-se como verdadeiros mapas ou diagramas de pensamentos em que a elaborao de racio-cnios mantm uma vinculao orgnica com as formas comunicativas elaboradas como formatos.

    Entende-se, ento, que o estudo dos formatos chamou a ateno para se pensar sobre a lgica da ex-perincia comunicacional do ponto de vista evolutivo onde, no os meios, mas as mediaes e modelizaes em diferentes nveis e graus se apresentam como a dinmica mantenedora das organizaes interativas. Nessa linha de raciocnio, o processo de transmisso da informao problematizado em nome do redimensionamento das significaes, dos confrontos entre temporalidades, das transformaes das quantidades em qualidades diferen-ciadas, enfim, do movimento que tempo desdobrado em temporalidades.

    O exame dessas inferncias tarefa de anlise e conceptualizao dos processos envolvidos. Depende, por conseguinte, de elaboraes cognitivas e de aprendizagem das linguagens dos meios e do potencial significativo de suas snteses. Em argumento mais valioso, defende-se a assimilao, o convvio e a interao como atividades da alfabetizao semitica que, desencadeada pela modeli-zao de signos grficos e visuais do sistema verbal e na cultura letrada, constituem a dinmica das experincias comunicacionais rumo a outras snteses modelizantes, tais como as que foram observadas a respeito dos formatos cintico-audiovisuais e dos signos informticos.

    Na perspectiva da evoluo, as formas culturais no apenas progridem na continuidade de outras, como

    tambm so modelizadas por elas. A percepo deste processo depende de encaminhamentos educativos, uma vez que os sistemas culturais no so dados, mas sempre construes com diferentes nveis de complexidade. Gra-as ao poder de sntese de toda modelizao, os sistemas culturais manifestam-se, assim, como discurso dentro de discurso; linguagem dentro de linguagem; texto dentro de texto; cdigo dentro de cdigo.

    A experincia do formato e dos signos informticos valiosa para o contexto desta investigao pelo frescor da novidade cognitiva que ela desperta: a possibilidade de pensar a comunicao de snteses em perspectiva semitica e tambm evolutiva, quer dizer, em suas vrias tempo-ralidades. A experincia do tempo , por conseguinte, a varivel desafiadora de nossa condio antropolgica. Mas pelo confronto que esta experincia dimensionada em sua diversidade. Ao mesmo tempo em que os processos de comunicao de snteses tecnolgicas enfatizam o presente das relaes, desenvolve-se um sentimento difuso sobre a temporalidade condio do homem no planeta, explicitando a coerncia com a conscincia do pertenci-mento evolutivo. A sntese dessas vrias temporalidades o desafio que merece compreenso.

    Como acreditamos que a cultura vive num grande tempo em que a linguagem segue seu caminho evolutivo de expanso, vale lembrar que cientistas como Galileu Galilei, agora reintegrado, revolucionaram a cincia ao compreenderem a natureza por meio de uma modeliza-o especfica: a escrita derivada da linguagem dos n-meros (Bind e Goux, 2003, p. A-3). O mesmo processo de modelizao retoma seu curso quando se entende que a cincia e a tecnologia revolucionaram o pensamento quando passaram a codificar o mundo em blocos de 0 e 1. Esse no apenas o algoritmo fundamental do signo informtico processado por mquinas semiticas, mas a configurao a partir da qual os discursos produzidos sobre o mundo se oferecem comprimidos num deter-minado formato.

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  • Irene de A. Machado

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    Submetido em: 08/09/2009Aceito em: 04/10/2009