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REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA VILA VELHA (ES) v. 9, n. 1, JANEIRO/JUNHO 2008 ISSN 1518-2975 Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 9, n. 1, p. 1-162, jan/jun 2008

Scientia vol.09

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jan-jun de 2008

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REVISTA do cEnTRo unIVERSITáRIo VIlA VElhA

VIlA VElhA (ES) v. 9, n. 1, JAnEIRo/Junho 2008

ISSN 1518-2975Scientia: Rev. Cent. Univ. Vila Velha, Vila Velha (ES), v. 9, n. 1, p. 1-162, jan/jun 2008

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ScIEnTIA: REVISTA do cEnTRo unIVERSITáRIo VIlA VElhA© 2007 Centro Universitário Vila Velha (UVV)

É permitida a reprodução total ou parcial desta obra desde que seja feita sua identificação.

Editores:Danièlle de Oliveira Bresciani Luciana Dantas da S. Pinheiro Renata Diniz Ferreira

conselho Editorial:Augusto Cesar Salomão MozineDanièlle de Oliveira BrescianiDenise Maria Simões MottaMarlene Elias PozzattoRenata Diniz Ferreira

consultores ad hoc:Isabel Cristina Louzada CarvalhoMaria da Penha Smarzaro SiqueiraRachel Diniz Ferreira

Revisão:Tânia Canabarro

normalização:Gestão.Info Consultoria Ltda

capa:Juan Carlos Piñeiro Cañellas

Editoração:BIOS

Impressão:Grafitusa

Catalogação na publicação elaborada pela Biblioteca Central/UVVScientia : revista do Centro Universitário Vila Velha / Sociedade Educa-

cional do Espírito Santo, Centro Universitário Vila Velha.− Vol. 1, n. 1, (jan./jun. 2000)- . − Vila Velha : O Centro, 2000- .

v. : il.

Semestral. ISSN 1518-2975.

1. Generalidades – Periódicos. I. Sociedade Educacional do Espírito Santo. Centro Universitário Vila Velha.

CDD 000

Revista interdisciplinar semestral

Tiragem: 1.000 exemplares

Indexada nas bases de dados:• IRESIE, gerenciada pela Universidad

Nacional Autónoma de México (UNAM)• Latindexe (América Latina, Caribe,

Espanha e Portugual)

Depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei nº 10.944/2004)

Registro no CCN/IBICT

Solicita-se permuta - Exchange is solicitedSe solicita el canje - On demande I’ échange

Endereço: Rua Comissário José Dantas de Melo, 2129102-770 - Vila Velha - ES (Brasil)Tel: (27) 3421-2097E-mail: [email protected] page: www.uvv.br

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SumáRIo

EDITORIAL .............................................................................................. 5

AVALIAçãO DA IMPLANTAçãO DO CATETER CENTRAL DE INSERçãO PERIFÉRICA - PICC NEONATAL NA NEOCAREEvaluation on the implantation of peripherally inserted central catheters − Picc neonatal at neocareAndressa Freitas de Almeida; Emanuelle Oliveira Vescovi e Andreia Gomes Freitas ..... 7

DETERMINAçãO DA DL50 EM CãES INTOXICADOS POR FLUOROACETATO DE SÓDIO (FAS) COM AVALIAçãO CLÍNICADetermination of Dl50 in dogs poisoned by sodium fluoroacetate (sfa) with clínics evaluatedLuciana Felício de Paula; Michiko Sakate e Katsumasa Hoshino.............................. 21

ESCOAMENTO DE ÓLEO PESADO USANDO A TÉCNICA “cORE flOW”Heavy oil stream using “core flow” methodBruno Soares Salamon e Henri Fiorenza de Lima ..................................................... 39

NEURO-REGULAçãO HORMONAL DA SAZONALIDADE REPRODUTIVA DA ÉGUAHormonal-neuroregulation of the reproductive seasonality in mareFernando Andrade Souza; Álan Maia Borges; Igor Frederico Canisso; Vicente Ribeiro do Vale Filho; Lucas Luz Emerick e Erotides Capistrano Silva ......... 65

O CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE QUANTO AO TRABALHO FONOAUDIOLÓGICO EM PEDIATRIA NO AMBIENTE HOSPITALARThe knowledge of the professionals of the health how much to work fonoaudiologic in pediatrics in the hospital environmentNariely de Sousa Avancini; Verônica Dardengo Gava e Renata Veiga Andersen Cavalcanti ............................................................................ 73

O PROCESSO VIRTUAL NO BRASILThe virtual process in BrazilCarlos Fernando Lapenda de Moura.......................................................................... 99

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OCORRÊNCIA DE sTaPHYlOcOccUs COAGULASE POSITIVA NO “CIRCUITO CIRURGIA” DE PEQUENOS ANIMAIS DO HOSPITAL VETERINÁRIO PROFESSOR RICARDO ALEXANDRE HIPPLER E AVALIAçãO DO ESPECTRO DE SENSIBILIDADE DESTES MICRO-ORGANISMOS AOS ANTIBIÓTICOS UTILIZADOS PELA EQUIPE CIRÚRGICAOccurrence of staphylococcus coagulase positive in “surgery circuit” of small animals from the veterinary hospital teacher Ricardo alexandre Hippler, and the evaluation of sensibility of these microorganisms to antimicrobial used by the surgical teamLuciana Prata Honorato; João Damasceno Lopes Martins; Marcus Alexandre Vaillant Beltrame e Fernando Luiz Tobias .................................... 113

O TEMPO ENTRE A SUSPEITA DA PERDA AUDITIVA E O DIAGNÓSTICOThe time between the suspicion of the auditory loss and the diagnosisGleice Gonçalves Martins; Maiumy Grechi Leal e Rogério Roberte .......................... 125

INSTRUçõES EDITORIAIS AOS AUTORES .............................................. 149

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EdIToRIAl

A produção do conhecimento científico representa um desafio para as sociedades contemporâneas. Após a quebra paradigmática e a relativização da ciência cartesiana, a produção do conhecimento ex-perimenta um momento de expansão conduzida, cada vez mais, pela identificação do saber e pela correlação de ideias entre os mais varia-dos campos de estudos. Nesse sentido, a revista Scientia, apresenta mais um número, buscando agregar conhecimentos interdisciplinares e publicar contribuições que possam informar a comunidade científica acerca das inovações recentemente produzidas nos meios técnicos e tecnológicos.

Nessa perspectiva, neste número da Revista encontram-se artigos produzidos por pesquisadores do Centro Universitário Vila Velha, com o fim de divulgar e difundir na comunidade acadêmica da instituição novas práticas e técnicas clínicas e laboratoriais, como em “Ocorrência de sthaphylococcus coagulase positiva no ‘circuito cirurgia’ de pequenos animais do Hospital Veterinário professor Ricardo Alexandre Hippler e avaliação do espectro de sensibilidade destes microrganismos aos antibióticos utilizados pela equipe cirúrgica” e “Determinação da DL50 em cães intoxicados por fluoroacetato de sódio (FAS) com avaliação clínica”. Destacam-se, também, a contribuição de autores externos à Instituição que trazem à Revista amostras dos mais variados debates realizados no meio acadêmico nacional, como é o caso do artigo “O processo virtual no Brasil”, apresentando as interfaces entre as inova-ções jurídicas e a tecnologia da informação. Com isso, afirma-se um caráter de debate no cenário da produção científica, permitindo tanto a expressão das pesquisas internas como das externas à instituição.

Ainda nessa ótica, há que se mencionar a constante contribuição da área da saúde para a projeção dos debates veiculados pela revista. Neste número, destaca-se a área da Fonoaudiologia, com os artigos “O conhecimento dos profissionais da saúde quanto ao trabalho fono-audiológico em pediatria no ambiente hospitalar” e “O tempo entre a suspeita da perda auditiva e o diagnóstico”. A busca de novas tecnolo-gias nas práticas da área da saúde também foi contemplada no artigo “Avaliação da implantação do cateter central de inserção periférica

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– PICC neonatal na neocare”, que apresenta essa prática na atuação do profissional de enfermagem.

Por fim, há a divulgação de estudos envolvendo a análise de práticas e situações específicas das áreas da engenharia do petróleo e da medi-cina veterinária. Nesse contexto, o artigo “Escoamento de óleo pesado usando a técnica core flow”, vem apresentar uma forma inovadora na economia de energia nos grandes processos de escoamento de petróleo. Já o texto “Neuro-regulação hormonal da sazonalidade reprodutiva da égua” traz a contribuição da revisão bibliográfica no entendimento de questões gerais da ciência médica veterinária. Nesse contexto, a revista Scientia reafirma seu papel de divulgadora isenta e plural da produção do conhecimento, destacando, sempre, os debates acadêmicos capazes de contribuir ao progresso da ciência de da pesquisa científica.

Augusto Cesar Salomão MozineProfessor do Curso de Direito da UVV

Coordenador da Pós-Graduação Lato Sensu em Políticas Públicas de Gestão da UVV

Doutorando em Ciências Sociais na PUC-SP

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AVAlIAção dA ImplAnTAção do cATETER cEnTRAl dE InSERção pERIféRIcA - pIcc

nEonATAl nA nEocARE

Andressa Freitas de Almeida1

Emanuelle Oliveira Vescovi1Andreia Gomes Freitas2

RESumo

A introdução do Cateter Central de Inserção Periférica (PICC), realizada por enfermeiros capacitados atuantes em neonatologia vem, cada vez mais ganhando espaço. A busca por novas tecnologias proporciona segurança e qualidade de assistência aos pacientes neonatos. Avalia as implantações de quarenta Cateteres Centrais de Inserção Periférica. Os protocolos ana-lisados mostraram uma média de permanência por cateter de 9,84 dias e 4,45 punções para cada procedimento. 36% dos catetes foram retirados eletivamente, ou seja, pelo término da terapia intravenosa proposta. 49% das veias puncionadas foram cefálicas. Os resultados obtidos desses e dos outros dados encontrados demonstram a realidade de um serviço que realiza esse procedimento com técnica de inserção e manutenção eficazes, em sua maioria, necessitando apenas de alguns ajustes de natureza prática.

palavras-chave: Enfermagem. Neonatologia. Infusões intravenosas em crianças. Recém-nascidos – cuidado e tratamento. Veias – punção.

1 InTRodução

A partir da introdução do uso de cateteres venosos plásticos para a ma-nutenção de acessos vasculares por tempo prolongado em 1945, esta 1 Graduandas do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Vila Velha.2 Professora do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Vila Velha. E-mail:

[email protected].

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prática tem sido cada vez mais utilizada. Desde então, a tecnologia e a pesquisa possibilitaram o desenvolvimento de produtos e equipamentos específicos para a administração parenteral de soluções e de fármacos. Os cateteres de curta ou longa permanência, além de sistemas compu-tadorizados de infusão intravenosa, são apenas alguns dos dispositivos avançados para aplicação de terapia intravenosa de alta qualidade no século XXI (RYDER, 1993).

Sabe-se que o avanço tecnológico, a sofisticação das unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN’s) e dos recursos terapêuticos, propiciou um considerável aumento na taxa de sobrevivência dos recém nascidos (RN`s) gravemente doentes, em especial os pre-maturos, trazendo-os aos cuidados de enfermagem cada vez mais precocemente e por longos períodos (GUINSBURG, 1999).

A tecnologia ampliou, consideravelmente, as diversidades de ações da assistência médica e de enfermagem necessárias a esse tipo de clientela, levando os profissionais desta área a adquirirem melhor capacitação técnico-científica para atuar mais eficazmente frente às necessidades de atendimento aos neonatos (GAÍVA; GOMES, 2003).

O Conselho Federal de Enfermagem regulamenta, através da Resolução COFEN 258/2001, o procedimento de inserção e acompanhamento do Cateter Central de Inserção Periférica (PICC) pelo profissional enfermei-ro submetido à qualificação e/ou capacitação profissional, sendo uma conquista para a categoria.

Contudo, um fator dificultador na prestação da assistência e na terapêutica intravenosa em bebês é, sem dúvida, a limitação da sua rede venosa, visto que, o corpo deste indivíduo ainda está em fase de crescimento e desenvolvimento. Assim, o acesso venoso periférico torna-se um dos procedimentos mais difíceis de se realizar nesses pacientes. Além dis-so, a dor e o desconforto causados ao recém-nascido pelas inúmeras punções fazem com que uma das maiores preocupações do enfermeiro seja a de melhorar a qualidade dessa assistência (TOMA, 1998).

Neste sentido, faz-se necessária ao enfermeiro assistencial em UTIN, a busca por atualizações nessa área e o conhecimento das inúmeras variedades de dispositivos para acesso vascular existentes no mercado (CLINICAL..., 2000).

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O PICC, utilizado mundialmente, é um dispositivo com tempo de perma-nência prolongado e de fácil instalação, associado a um menor risco de complicações mecânicas e infecciosas. Lourenço e Kakehashi (2003), mencionam que:

A partir da década de 90, no Brasil, cada vez mais os PICC’s, têm sido implantados, principalmente em recém-nascidos, pacientes oncológicos e outros. A utilização desse tipo de cateter tornou-se viável uma vez que o dispositivo para acesso vascular faz frente às dificuldades causadas pelo corpo do recém-nascido, e se adequa às necessidades terapêuticas.

Trata-se de um cateter de silicone e/ou poliuretano de calibre variável um a dois French indicados para recém-nascidos (RN’s) implantados em bebês que deverão receber antibioticoterapia prolongada (SANSI-VERO, 1995).

Para Lourenço e Kakehashi (2003)

As veias de inserção mais indicadas são basílicas e cefálicas, porém, outras como: temporal, safena magna, retroauricular e axilar também podem ser utilizadas. Para essa escolha deve-se avaliar as condições anatômicas e fisiológicas que podem interferir na progressão do cateter.

O procedimento deve ser realizado em condições estéreis, com todos materiais necessários disponíveis, por pelo menos dois profissionais (enfermeiro e/ou médico) devidamente qualificados e treinados.

Punciona-se uma veia periférica, introduz-se o cateter até a marca previamente calculada e, após confirmação radiológica de sua posição, aplica-se um curativo oclusivo.

Geralmente, os cuidados quanto à manutenção do PICC ficam a critério do enfermeiro responsável pelo procedimento. Este pro-fissional deverá realizar os curativos quando necessário, avaliar junto à equipe médica o tempo de permanência ou a necessidade da retirada e, sobretudo, treinar a equipe de enfermagem para o uso do mesmo (PHILLIPS, 2001).

Vale ressaltar, a importância da preservação das veias escolhidas para a passagem do cateter, haja vista que os vasos previamente punciona-

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dos apresentam grande resistência dificultando ou mesmo impedindo sua progressão.

Objetiva-se que o motivo da retirada seja o término da terapia intrave-nosa, após a melhora clínica do bebê. Porém, intercorrências como, sepse fúngica não controlada, formação de trombos obstruindo o cate-ter, ou mesmo um “descuido” da equipe, pode resultar em sua retirada precoce.

1.1 O ESTADO DO ESPÍRITO SANTO E A UTILIZAçãO DO PICC EM NEONATOLOGIA

Atualmente, o Estado do Espírito Santo possui aproximadamente treze UTIN’s, sendo oito particulares e cinco do serviço público. Em cada uma há pelo menos um enfermeiro habilitado para esse procedimento, totalizando 70 profissionais.

Para a maioria desses profissionais os principais desafios quanto à utili-zação do PICC têm sido: a limitação do acesso venoso, principalmente nos RN’s que são admitidos por transferência apresentando muitos dos seus vasos periféricos já puncionados, manter toda a equipe treinada para a manutenção, manter o enfermeiro exclusivo na UTIN em tempo integral, o preço do cateter e a autorização dos convênios.

Neste contexto, justifica-se a realização deste estudo, por ser um trabalho inovador e contributivo para a enfermagem no Espírito Santo. Diante desses desafios para a utilização do PICC, o que tem sido feito para mudar essa realidade?

As variáveis quantitativas para o presente estudo foram:

1) O número de Rn’s submetidos a esse procedimento. 2) Principais diagnósticos médicos. 3) Dia de vida em que se encontra no momento do procedimento.4) Sexo.5) O número de tentativas de passagem de cateter frustradas.6) A média de tentativas de punções venosas/procedimento.7) Veia puncionada.8) Local de terminação.9) Método de confirmação.10) A média de permanência dos cateteres.

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11) A média de curativos realizados.12) Terapêutica em curso.13) Marca de cateter A x B.14) Motivos de Retirada.15) Tempo de permanência.

2 oBJETIVo

Este trabalho teve como objetivo avaliar as implantações dos Cateteres Centrais de Inserção Periférica (PICC’s), na UTIN da Maternidade Gran Mater (NEOCARE) no período de maio de 2004 a maio de 2006.

3 mETodoloGIA

Este estudo é do tipo quantitativo retroativo e segundo Oliveira (1997), pesquisa quantitativa significa quantificar opiniões, dados, nas formas de coleta de informações, assim como o emprego de recursos e técni-cas estatísticas desde as mais simples às mais complexas e retroativas comparativas.

A pesquisa foi realizada na UTIN NEOCARE, localizada na Maternidade Gran Mater, em Vitória-ES. A UTIN foi inaugurada em maio de 2004, possui nove leitos de internação, não predeterminados quanto a inten-sivos e semi-intensivos.

Escolhemos esse cenário em função de ser o local onde se concentram as nossas práticas acadêmicas e ter como rotina a passagem deste cateter em todos pacientes com indicação clínica. Antes de começar a pesquisa, foi solicitada uma autorização junto à direção da instituição para levantamento de dados.

Foram utilizados para este estudo 40 PICC’s, registrados em protocolos que foram elaborados segundo alguns critérios: média de permanência, local de terminação do cateter dentre outros, e também a experiência da enfermeira responsável pelo serviço, de RN’s internados na referida UTIN, submetidos à passagem do cateter, no período de maio de 2004 a maio de 2006. Alguns desses registros estavam incompletos, sendo necessário rever prontuários para preencher os dados não revelados. A coleta de dados foi realizada no período de março a maio de 2006.

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A análise dos dados coletados nos protocolos e a apresentação dos resultados foram feitas em gráfico no programa Excel, versão 2003.

4 AnálISE E dIScuSSão doS RESulTAdoS

Os resultados obtidos pela pesquisa promoveram uma série de conhe-cimentos sobre o PICC, e através de um protocolo de cuidados, poderá nortear e proporcionar uma assistência com qualidade no que se refere ao manuseio e manutenção do cateter garantindo, assim, maior durabi-lidade desse dispositivo venoso e segurança para o cliente.

Durante os dois anos de passagem do PICC na UTIN NEOCARE entre maio de 2004 a maio de 2006, após análise criteriosa dos protocolos, obteve-se um total de 40 procedimentos realizados. Destes, 52% foram em meninas e 48% em meninos (Gráfico 1).Gráfico 1- Distribuição da amostra segundo sexo

MasculinoFeminino

48%52%

Gráfico 1 - Distribuição da amostra segundo sexo

Os resultados indicam que 58% dos RN’s encontravam-se na 1ª semana de vida, confirmando que a rotina da instituição foi respeitada em sua maioria, ou seja, após a admissão do RN avalia-se a possibilidade de cateterização umbilical, aguarda-se sua estabilidade hemodinâmica e, assim que possível, realiza-se a passagem do PICC (Gráfico 2).Gráfico 2- Distribuição da amostra segundo dias de vida

1ª semana

2ª semana

3ª semana

4ª semana

1º mês ou mais

58%8% 11%

5%

18%Gráfico 2 - Distribuição da amostra segundo dias de vida

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Os 95% dos cateteres foram da marca A e apenas 5% da marca B (Gráfico 3). Em relação ao calibre, 77% foram de 2,0 FR, 15% de 1,9 FR. Apenas 1 cateter possuía 1,0 FR tendo sido passado em um RN prematuro extremo, pesando 700g. Para surpresa da equipe, esse ca-teter permaneceu 35 dias e foi retirado por piora clínica do paciente e suspeita de sepse fúngica. Segundo relato da enfermeira responsável pela instituição, havia um grande receio quanto à perda do cateter por obstrução o que não ocorreu, vale ressaltar que neste protocolo encon-tramos registro de apenas uma obstrução em 35 dias (Gráficos 3 e 4).

Gráfico 3- Distribuição da amostra,segundo a marca do cateter

A

B

5%

95%Gráfico 3 - Distribuição da amostra segundo a marca do cateter

Gráfico 4 - Distribuição da amostra,segundo calibre do cateter

1.0fr

1.9fr

2.0fr

Não registrado

5%77%

3%15%

Gráfico 4 - Distribuição da amostra segundo calibre do cateter

Para Wong (1999), “[...] a prematuridade é responsável pelo maior nú-mero de internações em UTIN”.

Segundo Marcondes e outros (2002), esse grupo de crianças está mais suscetível a intercorrências frequentes e graves, favorecendo ao desen-volvimento de deficiências a curto ou longo prazo. Os principais problemas associados são: insuficiência respiratória, crises de apnéia, hiperbilirrubinemia, asfixia perinatal, dificuldade de manter a temperatura corpórea, retinopatia da prematuridade, malformações congênitas, entre outros (Gráfico 5).

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Gráfico 5 - Distribuição da amostra,segundo diagnóstico médico

PIG

Enterocolite necrosante

Membrana hialina

Prematuridade

Sepse

Outros diagnósticos

5%34%

28%15%

7%11%

Gráfico 5 - Distribuição da amostra segundo diagnóstico médico

O PICC tem uma grande importância para o acesso venoso desses pacientes que, possivelmente, ficarão por longos períodos internados. Importante destacar que os diagnósticos citados foram aqueles regis-trados pelo médico no dia da passagem do PICC e os descritos como os outros são: Icterícia, pequeno para idade gestacional (PIG), etc.

O Gráfico 6 nos informa que 49% das veias puncionadas foram cefálicas, embora a literatura consultada indique a veia basílica como 1ª escolha. Na prática, as veias cefálicas são palpáveis, calibrosas e pouco tortuosas, facilitando a punção (PHILLIPS, 2001). Conclui-se que, apesar das veias basílica e cefálica serem indicadas como primeira e segunda escolha, respectivamente, a opção por outros locais tem sido uma alternativa viável eficaz, quando o recém-nascido apresenta as veias da região braquial comprometidas por outras punções, ou quando, por qualquer outro motivo, não é possível puncioná-las.

Gráfico 6 - Distribuição da amostra,segundo a veia puncionada

Veia axilar

Cefálica

Safena interna

Veias do couro cabeludo

Jugular externa

Basilica

16%

11%

49%3%

8%13%

Gráfico 6 - Distribuição da amostra, segundo a veia puncionada

A média de punção por procedimento foi 4,45, sendo que esse número variou entre 1 a 20 tentativas. Do total, 12 procedimentos (30%) obti-veram sucesso com apenas uma tentativa de punção, o que nos leva a pensar em uma equipe com boa destreza manual. Em apenas um caso

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puncionou-se 20 vezes o RN, o que ocorreu após avaliação e decisão em conjunto da equipe, prévia analgésica e sedação do paciente, sendo este um dos procedimentos que não houve êxito.

Quanto à manutenção foram, em média, realizados 2 curativos por RN, variando entre 1 a 4. O responsável pela troca de curativo é o enfermei-ro. O que mais tem sido utilizado é o oclusivo com filme transparente, sendo que o 1º possui um pequeno recorte de gaze sobre a incisão. Atualmente os curativos transparentes têm ganhado popularidade, em decorrência da sua natureza oclusiva e possibilidade de visualização do local de inserção do cateter (PHILLIPS, 2001).

Os demais membros da equipe de enfermagem são responsáveis pelos cuidados na administração de medicamentos, respeitando as limitações impostas pelo calibre do cateter, devendo observar qualquer alteração referente à resistência à infusão, alterações externas ao curativo, sinais de flebite ou obstrução. Cada técnico de enfermagem avalia, registra e comunica à enfermeira responsável pelo procedimento suas observações em relação ao cateter.

A média de permanência do PICC na amostra estudada foi 12,6 dias, variando de 1 a 57 dias. Quando comparamos o resultado encontrado com a indicação proposta pela instituição para a realização do proce-dimento (necessidade de terapia intravenosa por, pelo menos, 7 dias) considera-se satisfatória a média de permanência.

Segundo Brown (1994) “[...] o tempo de permanência do PICC, após sua instalação, varia de uma semana a seis meses, conforme o tipo ou marca do cateter escolhido, tipo de terapia, critério individual de cada paciente”.

Para Ryder (1995),

[...] não se conhece limites para o tempo de permanência dos dispositivos colocados. Na atualidade, os PICC’s são considera-dos adequados a administrações endovenosas que excedam 10 a 14 dias, e podem permanecer instaladas enquanto se fizerem necessários, sem complicações.

O método de confirmação da localização do cateter mais utilizado tem sido o RX (97%). A análise dos exames de confirmação demonstrou que 89%, ou seja, 34 cateteres posicionaram-se centralmente (7 desses em subclávia) e 11% perifericamente. Considera-se central aquele que

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atinge a veia cava superior, átrio direito ou veia cava inferior, acima ou abaixo do nível do diafragma (Gráficos 7 e 8).

Gráfico 7 - Distribuição da amostra,segundo método de confirmação

RX

Ecocardiograma

3%

97%Gráfico 7 - Distribuição da amostra, segundo método de confirmação

Gráfico 8 - Distribuição da amostra,segundo local de terminação do cateter

Central

Periférica

11%

89%Gráfico 8 - Distribuição da amostra, segundo local de terminação do cateter

Uns motivos que levaram à retirada do cateter foram, o término da an-tibioticoterapia e demais terapias intravenosas propostas, totalizando assim 36%. Em relação à retirada por obstrução do cateter encontramos um número relativamente pequeno (11%) se comparado a outros dados da literatura, como Lourenço e Kakehashi (2003) que tiveram perda de 22,9% por este motivo (Gráfico 9).

Gráfico 9 - Distribuição da amostra,segundo os motivos de retirada

Término daAntibioticoterapia + HV

Edema

Extravazamento

Obstrução

Suspeita de Sepse

Outros

21%11%

5%11%

36%

16%

Gráfico 9 - Distribuição da amostra, segundo os motivos de retirada

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A obstrução pode ser prevenida pela lavagem rotineira do cateter, não utilizando pressão excessiva. Os neonatos apresentam um número maior de tromboses arteriais e venosas comparados a crianças maiores.

Destaca que um estado de hipercoagulabilidade relativa no recém-nascido poderia resultar de diferenças no endotélio vascular, na atividade reduzida dos inibidores de coagulação, a proteína C e S estão diminuídas no RN em níveis tão baixos quanto aqueles associados com episódios trombóticos em adultos com deficiência congênita destas proteínas. Assim, o papel dessas alterações na hipercoagulabilidade do recém-nascido é incerto, pois a diminuição proporcional nos níveis dos fatores pró-coagulantes dependentes de vitamina K também está presente (MARCONDES et al., 2002).

Algumas literaturas também relatam a Síndrome de Twiddler como sendo uma das causas para a retirada precoce do cateter.

Phillips (2001) descreve esta síndrome como o deslocamento do cate-ter, provocado pela manipulação do curativo ou do cateter. Os sinais e sintomas característicos incluem edema ou drenagem e cordão palpável no local de inserção. Também relata que para prevenir essa síndrome é preciso fixar adequadamente o cateter, utilizar curativo oclusivo e transparente, evitando tração do cateter durante a manipulação.

Esse fato está ligado à manipulação do curativo. Porém, neste serviço, apenas dois cateteres foram removidos por este motivo.

Nesse caso também está incluindo a exteriorização do cateter, que pode se dar pela ineficiência em fixar o cateter à pele (FREITAS; RAPOSO; FINOQUIO, 1999).

Os 31% dos RN’s que estavam com PICC recebiam NPT, 30% antibioticote-rapia, 5% drogas vasoativas, e 34% outros medicamentos, como: diuréticos, analgésicos, sedativos, antifúngicos, prostaglandinas, anticonvulsivantes e outros (Gráfico 10). A terapia medicamentosa condiz com os respectivos tratamentos das patologias mencionadas anteriormente no Gráfico 5.

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Gráfico 10 - Distribuição da amostra,segundo a terapêutica em curso

NPT

Vasoativas

Antibioticoterapia

Outros

34%

5%30%

31%

Gráfico 10 - Distribuição da amostra, segundo a terapêutica em curso

Ao final desta análise, observa-se ainda que dois procedimentos (5%) não obtiveram êxito quanto à progressão do cateter. Os motivos relatados em protocolo foram infiltração do RN e suspeita de hipercoagulabilidade. Outros dois cateteres não foram acompanhados integralmente porque os RN´s foram transferidos para outras instituições.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados alcançados neste estudo apontam para a realidade de uma utilização do Cateter Central de Inserção Periférica eficaz em um contexto de UTI neonatal.

Sabe-se que esta experiência trouxe inúmeros benefícios à equipe in-tensivista neonatal e, principalmente, aos recém-nascidos de alto risco. Os diversos autores estudados destacam as inúmeras vantagens da utilização do PICC, pelas diminuições do número de punções e infec-ções decorrentes de processos invasivos, maior eficiência em relação ao tempo de permanência, entre outros.

Através da análise dos protocolos, encontramos uma média de per-manência por cateter de 12,6 dias, o que concluímos ser um número satisfatório comparado aos dados da literatura. 4,45 punções para cada procedimento. 49% das veias puncionadas foram cefálicas, 36% dos catetes foram retirados eletivamente, ou seja, pelo término da terapia intravenosa proposta.

Dentro deste contexto, a pesquisa compara os resultados alcançados da UTI Neonatal NEOCARE com dados da literatura. Outras vertentes, no entanto, poderiam ainda, ser analisadas, como os resultados das culturas de ponta de cateteres daqueles encaminhados a essa finalidade.

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Desta forma, recomenda-se a realização de outros trabalhos referentes ao uso do PICC, o que, certamente, contribuirá para a melhoria da qualidade da assistência prestada a esses pacientes e também da qualidade de vida pela diminuição da dor por inúmeras punções, traumas, diminuição de infecções e outras.

EVAluATIon on ThE ImplAnTATIon of PERIPHERALLY INSERTED CENTRAL CATHETERS −

pIcc nEonATAl AT nEocARE

ABSTRAcT

The introduction of Peripherally Inserted Central Catheters (PICCs) becomes more and more increasing by qualified nurses who perform in neonatology. The search for new technologies provides security and quality of insertion 40 Peripherally Inserted Central Catheters. This work examines the results obtained with the insertion of 40 catheters. The analyzed protocols indicated an average of permanence per catheter of 9,84 days and 4,45 awls for each procedure. 36% of the catheters were electively removed, that is, by ending the intravenous therapy in view. 49% of the punched veins were cefallic. The analysis of these and other found data demonstrates the reality of a service that realizes this procedure with insertion technique and efficient maintenance, in the most cases, only requiring some adjustments of practical nature.

Keywords: Nursing. Neonatology. Intravenous therapy for children. Infants (newborn) – care. Veins – puncture.

REfERêncIAS

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CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (Brasil). Resolução nº 258, de 12 de julho de 2001. Disponível em: <www.portalcofen.gov.br>.

FREITAS, L. C. M.; RAPOSO, L. C. M; FINOQUIO, R. A. Instalação, manutenção e manuseio de cateteres venosos centrais de inserção

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Correspondência para/reprint request to: Andreia Gomes FreitasCurso de Enfermagem/UVVRua Comissário José Dantas de Mello, 21Boa Vista29102-770 - Vila Velha – ES (Brasil)

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dETERmInAção dA dl50 Em cãES InToXIcAdoS poR fluoRoAcETATo dE SÓdIo (fAS) com

AVAlIAção clÍnIcA

Luciana Felício de Paula1

Michiko Sakate2

Katsumasa Hoshino3

RESumo

O fluoroacetato de sódio (FAS) é um rodenticida que causa hipocalcemia e deficiência energética pelo bloqueio do ciclo de Krebs. A ingestão aci-dental pelos animais é comum e o cão é um dos mais sensíveis, sendo que a dose letal (DL) varia entre 0,05 a 1,0mg/kg de peso vivo, o que dificulta o estudo dos possíveis antídotos. Para tanto, determinou-se a DL50 de cães intoxicados por FAS por via oral com avaliação clínica. Foram utilizados 12 caninos sadios de 10 a 15kg. Temperatura, FC, FR e alterações comportamentais foram avaliadas em sete momentos. Após administração de quatro doses, 0,6; 0,45; 0,30 e 0,20mg/kg res-pectivamente, observou-se letalidade em todas. A dose de 0,15mg/kg foi testada e a repetição de testes em oito cães mostrou 50% de óbitos e 50% de sobrevida. Seis animais apresentaram como primeiros sinais vocalização aguda, semblante de delírio, corridas desvairadas em linha reta que culminaram em queda ao chão, decúbito lateral, opistótono e convulsão tônico-clônica. A hipertermia, taquicardia, taquipnéia e midríase foram observadas nos primeiros momentos. Seis animais apresentaram crises de choros, uivos e movimentação desordenada, denominada de

1 Doutora em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected].

2 Doutora em Patologia Experimental e Comparada pela Universidade de São Paulo. Professora do Departamento de Clínica Veterinária da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. E-mail: [email protected].

3 Doutor em Bases Gerais da Cirurgia e Professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. E-mail: [email protected].

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crises pré-convulsivas. Verificou-se que a maior causa de morte foi de-vido às convulsões que ocorreram nos primeiros momentos; é possível interpretar os primeiros sinais comportamentais de intoxicação como crises pré-convulsivas; a determinação da DL50 neste estudo permitiu definir uma variável binomial em termos de sobrevida possibilitando futuros estudos na detecção de antídotos eficazes, bem como seus efeitos deletérios para a sobrevivência.

palavras- chave: Cão. Intoxicação. Fluoreto de sódio - toxicologia.

1 InTRodução

O atendimento de animais domésticos intoxicados por substâncias químicas utilizadas para outros fins é fato comum na clínica veterinária. Uma das substâncias mais tóxicas neste sentido é o fluoroacetato de sódio (FAS) (composto 1080) e a fluoroacetamida (composto 1081). Esta substância é utilizada como rodenticida devido à sua eficácia (alta toxicidade), baixo custo, facilidade de uso e estabilidade por longos pe-ríodos em diferentes ambientes. Compostos desta classe, como o ácido monofluoracético, são encontrados naturalmente na Palicourea marc-gravii (PM) (cafezinho, café bravo, erva de rato verdadeira) (PALERMO-NETO; MOREAU, 1995) e arrabidea bilabiata (trepadeira de várzea da Amazônia), plantas identificadas no Brasil que causam mortes súbitas em bovinos, principalmente na região amazônica (PALERMO-NETO; MOREAU, 1995). Foi encontrado também na planta africana Dichape-talum cymosum (gifblaar) (MARAIS, 1944) e em espécies australianas (TWIGG; KING, 1991; VICKERY; VICKERY, 1975).

O uso do FAS, pela sua alta toxicidade, é limitado por lei em alguns países e seu uso é permitido somente aos aplicadores licenciados que seguem normas técnicas como as da American Society for Testing and Materials (ASTM), ou órgãos governamentais relacionados à saúde pú-blica (PALERMO-NETO; MOREAU, 1995). De fato, a sua alta toxicidade e sua degradação, além do perigo que oferecem diretamente, afetam secundariamente a cadeia alimentar. Cães, coiotes e suínos morrem ao ingerir roedores intoxicados pelo FAS (CASPER et al., 1986), sendo que o cão é uma das espécies mais sensíveis a este agente tóxico e a ocorrência de mortes nesta espécie pode indicar o uso ilegal e de alto risco do FAS (CHENOWETH; GILMAN, 1946).

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As iscas deixadas ao ar livre perdem gradativamente a potência, à medida que o veneno é removido pela água de chuva ou lixiviação; mesmo assim, há necessidade da remoção das iscas após tentativa de extermínio dos roedores (HATCH, 1992). Deve ser considerada a intoxicação secundária de outros elos da cadeia alimentar, pois tanto cães como coiotes e suínos morrem ao ingerir roedores intoxicados pelo FAS (CASPER et al., 1986).

A dose letal (DL) em cães e gatos está entre 0,05 a 1,0mg/kg de peso vivo (LLOYD, 1983; OSWEILER, 1998). Em um trabalho para avaliação das doses letais médias, o composto 1080 (95% de pureza) foi administrado por via oral nas doses de 0,01 a 0,30mg/kg com estabelecimento de uma DL50 de 0,173mg/kg em 83 cães. Neste mesmo trabalho, a dose letal foi extrapolada para 90% (DL90) 0,216mg/kg (HUGGINS; CASPER; WARD, 1988). Já Kalmbach (1945) listou a DL50 do composto 1080 para alguns animais, citando a dose de 0,35mg/kg no cão doméstico. Foi reportado por Atzert, citado por Calver e King (1986) que a dose de 0,30mg/kg (DL50) de 1080 em cães era considerada baixa.

Em qualquer caso de exposição tóxica, observa-se um período de la-tência que, de acordo com Pattison (1959), representa o tempo neces-sário para que o fluoroacetato seja absorvido, penetre na célula e seja formada uma quantidade suficiente de tóxico para romper os processos intracelulares, causando os sinais clínicos. O período de latência varia de aproximadamente 30 minutos a 25 horas e é observado em qualquer espécie animal. Mesmo doses maciças não provocam uma resposta imediata. Por exemplo, o aumento de 50 ou até mesmo de 500 vezes a DL95 de 1080, injetada via intravenosa (IV), em coelhos albinos, di-minuiu o período de latência de 30 para 20 minutos (CHENOWETH, 1949). No trabalho feito por Hugghins, Casper e Ward (1988), os cães intoxicados por FAS tiveram um período latente de várias horas antes que os sintomas clínicos se tornassem evidentes.

O FAS é facilmente absorvido no intestino, pulmões ou feridas abertas, e é levado para todo o organismo pela circulação sanguínea. Após entrar nas células teciduais, transforma-se em fluorocitrato, que compete pelo local ativo da enzima aconitase do ciclo de Krebs, impedindo desta ma-neira a finalização do ciclo, diminuindo consequentemente a respiração celular. Esta ação ocorre em todas as células, mas as funções cerebral e cardíaca são acometidas mais gravemente (HATCH, 1992; KLAAS-SEN, 1990). Como alteração metabólica, ocorre acúmulo de amônia no

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cérebro, que pode desencadear convulsões típicas da intoxicação pelo 1080 em algumas espécies (HENDERSHOT; CHENOWETH, 1955). Outros autores acreditam que os sinais clínicos observados poderiam ser devido a uma queda acentuada do cálcio ionizado sanguíneo, pela atuação do citrato como quelante deste cálcio (HATCH, 1992; MOUNT, 1992). A hiperglicemia e acidose metabólica são achados prováveis devido também à disfunção metabólica (MOUNT, 1992).

O estudo das alterações clínicas vem sendo pesquisado por Marais desde 1944 na espécie ovina e até os dias atuais em outras espécies (camundongos, ratos, cobaias, coelhos, bovinos, gatos e cães) (CAS-PER et al.,1986; HUMPHREYS, 1988; GÓRNIAK; PALERMO-NETO; SOUZA-SPINOZA, 1989; PALERMO-NETO; MOREAU, 1995; OSWEILER, 1998). Os sinais clínicos da intoxicação por FAS em cães mais frequen-temente observados é excitação do sistema nervoso central (SNC), com apresentação de agitação, vômitos, diarreia, micção, hiperirritabilidade, hipermotilidade, corrida “desvairada” em linha reta, latidos e ganidos, convulsões tônico-clônicas intermitentes e, por fim, observa-se coma terminal e respiração ofegante, com a morte sobrevindo dentro de 2 a 12 horas. O rigor mortis ocorre rapidamente (HATCH, 1992).

As diferentes respostas clínicas envolvendo várias espécies podem ser explicadas pelas diferenças no sistema metabólico afetado (CHENO-WETH; GILMAN, 1946). Segundo Gribble (1973), a toxicidade do FAS é extraordinariamente específica para a espécie envolvida.

Vários estudos foram feitos no sentido de se obter uma terapia eficaz para reverter a intoxicação por FAS. A terapia com o monoacetato de glicerol em cães intoxicados com aplicação de FAS subcutâneo foi des-crita com relativo sucesso (CHENOWETH et al., 1951; HENDERSHOT; CHENOWETH, 1955; PETERS; MORSELLI, 1965; RAMMELL et al., 1985; GÓRNIAK et al., 1992), inclusive em um modelo experimental para o estudo das crises convulsivas tônico-clônicas com monitoramento eletroencefalográfico (HENDERSHOT; CHENOWETH, 1955). O gluconato de cálcio em associação com succinato de sódio tem efeito antidotal significativo em camundongos, porém, somente quando administrado dentro de 15 minutos após a intoxicação por FAS (OMARA; SISODIA, 1990). A eficácia do gluconato de cálcio como antídoto, administrado isoladamente, ainda não foi avaliada. Apesar deste fato, nenhum trabalho foi feito com a administração oral do FAS, que é a via mais comum nos casos atendidos na rotina ambulatorial.

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O uso do FAS no Brasil é alarmante, pois há inúmeras evidências de seu uso ilegal sem o menor critério. Atesta este fato, a grande facilidade de se obter produtos comerciais contendo o FAS e que recebem os nomes populares de era rato, mão branca ou rato branco. O aumento dos casos de envenenamento proposital de animais domésticos e a intoxicação acidental de crianças e animais de estimação nos dias atuais também corrobora esta interpretação. Este fato torna de fundamental importância o estudo para a determinação da eficácia dos tratamentos correntes preconizados para os casos de intoxicação por esta substância e, para tanto, necessita-se da determinação da DL50 do FAS por via oral em cães, já que na literatura pesquisada existe grande variabilidade desta dose, além da variabilidade do período de latência e sinais clínicos. Com esta determinação possibilitará a detecção da eficácia dos antídotos, bem como seus efeitos deletérios para a sobrevivência.

2 oBJETIVoS

A dose letal de 50% é aquela onde a letalidade ocorre com a metade de uma população exposta (OSWEILER, 1998). Este estudo tem como objetivo determinar a dose letal de 50% (DL50) de cães adultos, sem raça definida, intoxicados pelo FAS por via oral. Esta determinação permitirá a padronização da dose, do período de latência e dos sinais clínicos para futura detecção de eficácia de antídotos, bem como seus efeitos para a sobrevivência.

3 mETodoloGIA

A presente pesquisa foi realizada no Serviço de Toxicologia Veterinária do Departamento de Clínica Veterinária do Hospital Veterinário da Fa-culdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (FMVZ−UNESP−Campus de Botucatu-SP).

O fluoroacetato de sódio (FAS), que também recebe o nome de ácido monofluoracético (97% de pureza), foi cedido pelo Centro de Assistên-cia Toxicológica (CEATOX), da UNESP−Campus de Botucatu, onde foi manipulado para encapsulamento, após o cálculo da dose total do tóxico necessário para cada animal. A dosagem foi expressa em mg do tóxico por kg de peso corporal vivo (mg/kg). Após o cálculo da quantidade necessária, a substância foi pesada em balança analítica e o encapsu-

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lamento foi feito com uso de cápsulas de gelatina nº 2. Estas cápsulas foram envoltas em papel alumínio e deixadas em frasco de vidro escuro com tampa e colocadas em ambiente fresco e escuro quando seu uso não era imediato.

Foram selecionados e utilizados 12 caninos, sem raça definida, adultos (idades entre 1 a 6 anos estabelecidas pelas características da dentição segundo os parâmetros definidos por McCurnin e Poffenbarger (1991), machos e fêmeas (não prenhes e em diestro), com peso corporal va-riando de 10 a 15kg. Os animais foram examinados clinicamente de acordo com os procedimentos preconizados por McCurnin e Poffenbarger (1991), sendo selecionados para estudo somente aqueles considerados sadios e com as características de idade e peso na faixa acima citada. O exame físico constou da aferição da temperatura (T), avaliação de frequências respiratórias (FR) e cardíacas (FC), além da inspeção clínica geral. Todos os animais provieram do Biotério Central da Universidade Estadual Paulista, sediado no Campus de Botucatu.

Os animais selecionados para estudo foram mantidos em jejum de 12 horas e a água mantida adlibitum, colocados em um quarto de alvenaria (2,0 x 1,5m) revestido de azulejos e assoalho forrado com folhas de jornal. O FAS foi administrado por via oral entre 1h a 3h (manhã), facilitando-se a deglutição por mascaramento com um pedaço de pão de leite (aproxi-madamente 50 gramas) e a deglutição foi conferida sempre pelo mesmo observador, assim como o aparecimento dos sinais de intoxicação. As avaliações clínicas (T, FC, FR) foram iniciadas com os primeiros sinais de intoxicação (vocalização, marcha atípica, abalos mioclônicos, convulsões tônico-clônicas) e copiladas em ficha padronizada. Os animais com vida, após 24 horas após o início da intoxicação, foram computados dentro dos 50% com sobrevida da DL50 proposta neste estudo, já os outros 50% que vieram a óbito foram submetidos à necropsia.

Tendo em vista uma possível diversidade das latências para o apa-recimento dos sinais de intoxicação, como observação da sobrevida, dos padrões de alterações comportamentais e os dados clínicos dos 12 animais, tomou-se para análise os dados obtidos nos seguintes momentos:

Momento 0 (M0): antes da intoxicação por FAS (avaliação clínica).Momento 1 (M1): após o início dos sinais de intoxicação.Momento 2 (M2): 60 minutos após o início dos sinais de intoxicação.

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Momento 3 (M3): 120 minutos após o início dos sinais de intoxicação.Momento 4 (M4): 180 minutos após o início dos sinais de intoxicação.Momento 5 (M5): 240 minutos após o início dos sinais de intoxicação. Momento 6 (M6): 300 minutos após o início dos sinais de intoxicação.

Embora as técnicas farmacológicas preconizem que a determinação da dose letal que leva 50% dos animais a óbito seja feita por meio do uso de grupos de animais para diferentes doses, o presente estudo adaptou o método da “janela”, utilizado em outras áreas de conhecimento (Psico-física), tendo em vista sacrificar um número menor possível de animais (DE PAULA, 1999). Este método consiste em avaliar, alternadamente, uma dose (ou outra magnitude da variável em estudo) alta e outra bai-xa para observar efeito positivo e negativo, respectivamente. Em vista dos resultados, testam-se novas doses intermediárias, estreitando-se a faixa de avaliação para se localizar a dose onde ocorrem 50% de efeitos positivos e 50% dos efeitos negativos, aumentado-se o número de testes neste ponto ou dose.

O estudo das variáveis (FC, FR e T) ao longo dos momentos de avalia-ção, foram constituídos de intervalos de 95% de confiança, para a média populacional cujos limites foram apresentados pelo gráfico de linhas do grupo único (STREINER; NORMAN, 1994). A análise das variáveis tempo entre o início da intoxicação e o óbito, intervalo da crise pré-convulsiva, duração da crise pré-convulsiva, intervalo da crise tônico-clônica e du-ração da crise tônico-clônica foi realizado pelo teste não paramétrico de Kruskall-Wallis e Fridman, no nível de 5% de significância (SIEGEL; CASTELLAN, 1988).

4 RESulTAdoS E dIScuSSão

A determinação da DL50 do FAS com a utilização de 12 cães foi iniciada com uma primeira dose de O,6mg/kg de FAS que levou o animal a óbi-to, levando a reduzir a segunda dose para 0,45mg/kg e a terceira para 0,30mg/kg. Com a observação de morte nestas doses, a quarta dose testada foi de 0,15mg/kg que mostrou sobrevida. A dose de 0,20mg/kg testada subsequentemente mostrou óbito, levando a se repetir a dose anterior de 0,15mg/kg. Considerando-se que a repetição de testes nesta última dose em oito animais mostrou 50% de óbitos, ela foi escolhida para o presente estudo (Gráfico 1).

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Método da janela

cães1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

dose

mg/

kg0,650,600,550,500,450,400,350,300,250,200,150,100,050,00

ÓbitoSobrevida

Gráfico 1 – Sobrevida e óbito de cães intoxicados com diferentes doses de fluoroacetato de sódio

notas:Os animais foram testados na sequência numérica e com as doses onde os resultados estão assinalados. Note-se que na dose de 0,15mg/kg ocorreram 50% de óbitos e 50% de sobrevida. (y: dose do FAS por mg/kg; x: número dos cães utilizados).

A determinação da DL50 no presente trabalho se justifica pela possibi-lidade de se detectar uma possível ação protetora como contrária dos antídotos. Por outro lado, a DL50 está associada à probabilidade de 0,5, que permite definir uma variável binominal, permitindo assim a prova de hipótese com um mínimo de animais. Mesmo utilizando a DL50, houve variações marcantes em relação aos sinais clínicos encontrados e o tempo de latência de cada animal. O uso de um número restrito de animais em esquema de teste de uma variável binomial permite definir uma região crítica de rejeição, extremamente rigorosa, uma vez que o nível de significância pode ser atingido apenas quando todos eles conseguirem sobrevida.

A utilização do método de janela não é usual em farmacologia para a de-terminação da DL50. A fidedignidade deste método é garantida, visto que ele é rotineiramente utilizado em outras áreas de conhecimento como foi visto anteriormente. De Paula (1999) utilizou este método com sucesso na determinação da dose efetiva de 50% de estricnina para induzir pânico em ratos. A fidedignidade do método pode ser confirmada também quando se

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observa que a DL50 determinada neste estudo (0,15mg/kg) está dentro da faixa de variação encontrada na literatura. Segundo Lloyd (1983) e Osweiler (1998) a dose letal nos cães está entre 0,05 a 1,0mg/kg de PV, entretanto a DL50 aproximada, encontrada por alguns autores, variou entre 0,10mg/kg até 0,36mg/kg (KALMBACH, 1945; CHENOWETH; GILMAN, 1946; FOSS, 1948; TOURTELLOTTE; COON, 1950; HUGGHINS; CASPER; WARD, 1988). Em contrapartida, Atzert (1971) considerou a DL50 de 0,30mg/kg em cães baixa para causar 50% de óbito e 50% de sobrevida.

Estas disparidades observadas podem ser explicadas pelos dados de Chenoweth e Gilman (1946), que estudaram o FAS e demonstraram que a sucetibilidade varia muito dentro de diferentes espécies e que a via de administração não afeta a toxicidade. Esta afirmação pode ser confirmada com os trabalhos descritos na literatura sobre as diferentes vias de ad-ministração do agente tóxico (intravenosa, intraperitoneal, intracerebral, intratecal). Um outro aspecto importante sobre a toxicidade do FAS é que ele é extraordinariamente específico para cada espécie (GRIBBLE, 1973).

O período de latência dos 12 cães intoxicados por FAS variou de 2 a 16 horas, com média aproximada de 6 horas, o que está de acordo com Chenoweth (1949), que refere um período de latência que varia de apro-ximadamente 30 minutos a 25 horas, porém descreve de forma genera-lizada para qualquer espécie animal. Outro grupo de estudos utilizando cães refere um período latente de várias horas antes que os sintomas clínicos se tornassem evidentes (HUGGHINS; CASPER; WARD, 1988), não especificando a quantidade de horas como no presente estudo.

Alguns animais apresentavam crises repetidas de choros, uivos de curta duração, movimentos desorientados, midríase, semblante aparentemen-te de medo e desespero, sugestivo de delírio. Aproximadamente 70% destes episódios foram seguidos por convulsões. Os animais caiam, permaneciam em decúbito lateral, contraiam toda a musculatura do corpo manifestando a crise convulsiva tônica, com opistótono evidente, seguida de crise clônica, com abalos musculares de alta intensidade intermitentes, para, finalmente, apresentarem estado comatoso tempo-rário da depressão pós-ictal. Todos estes sinais estão de acordo com os encontrados por alguns autores (CHENOWETH, 1949; REIGART; BRUEGGEMAN; KEIL, 1975; HUGGHINS; CASPER; WARD, 1988; TRABES; RASON; AVRAHAMI, 1983; BOSAKOWSKI; LEVIN, 1986; GÓRNIAK; PALERMO-NETO; SOUZA-SPINOSA, 1989). Seis animais (cão 1, 2, 3, 5, 6 e 7) foram a óbito por parada respiratória após uma

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série de crises convulsivas, sendo que quatro deles (cão 1, 2, 3 e 5) recebeu doses do FAS acima de 0,15mg/kg (Figura 1) o que foi relatado por Hatch (1992) onde o óbito ocorria com coma terminal e respiração ofegante dentro de 2 a 12 horas com rápido rigor mortis.

As crises somente de choros, uivos e movimentação desordenada foram denominadas de crises pré-convulsivas para facilidade de exposição, sendo que seis cães apresentaram este tipo de crise (cão 4, 8, 9, 10, 11 e 12). Os cães de número 8 e 12 vieram a óbito por parada cardio-respiratória após várias crises pré-convulsivas com apresentação de taquicardia e taquipnéia. A manipulação do animal para a contenção, durante as crises, mostrou um estado de hiperexcitabilidade, com la-tidos e uivos mais intensos, como se não estivesse reconhecendo o experimentador. Somente Trabes et al. (1983) descrevem estas crises como pré-convulsivas em um trabalho envolvendo intoxicação por FAS em um ser humano.

Os seis cães que apresentaram convulsões tônico-clônicas, perfazendo um total de 27 episódios, que ocorreram predominantemente (mais de 80%) nos momentos M1 e M2, ou seja, nas primeiras horas após o aparecimento dos sinais de intoxicação e o restante nos momentos M3 e M4 (até os 180 minutos do aparecimento dos sinais de intoxicação). As crises tônico-clônicas ocorreram com intervalos médio de 119,64 ± 252,8s, quando calculados nos cães que manifestaram mais que um episódio convulsivo. A média do número de convulsões tônico-clônicas nestes cães foi de 27 ± 2,77 episódios. A duração média dos episódios de convulsão nestes cães foi de 77,18 + 76,44s, diminuindo para 35,62 ± 74,18s nos momentos M3 e M4.

As crises pré-convulsivas observadas nos seis cães restantes, caracte-rizadas pelos uivos, choros e movimentação incoordenada tiveram uma periodicidade de 254,8 + 187,4s ao longo de todo o período de registro. A duração média destes episódios foi de 20,6 + 4,7s, diminuindo para 9,5 + 13,30s nos momentos M5 e M6.

Os dados da FC, FR e T foram anotados em fichas de registro padro-nizadas para este estudo, nos momentos preconizados (M0 a M6). No M1 observou-se que a FC apresentou uma elevação representando os primeiros sinais de intoxicação, já no M3 e M4 houve aumento signifi-cativo comparado ao M0 (p< 0,05) (Gráfico 2).

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M0 M1 M2 M3Momentos

M0M1M2M3M4M5M6

G1

M4 M5 M6

freq

uênc

ia re

spira

tória

60

50

40

30

20

10

0

Gráfico 2 - Comparações das médias da FC dos 12 cães (grupo 1=G1) no momento controle e em diferentes momentos após a intoxicação pelo FAS

nota:(y: bpm= batimentos por minuto; x: momentos avaliados).

A frequência respiratória (FR) dos 12 cães analisados em M1 foi elevação significativa, principalmente em M2, mantendo-se elevada até M3, com posterior queda no M4, M5 e M6 até deparar-se com valores iguais aos do M0 (Gráfico 3).

M0 M1 M2 M3Momentos

G1

M4 M5 M6

Tem

pera

tura

40,6

40,4

40,2

40,0

39,8

39,6

39,4

39,2

39,0

38,8

38,6

38,4

38,2

38,0

Gráfico 3 - Comparações das médias da FR dos cães do G1 no momento controle e em diferentes momentos após a intoxicação pelo FAS

nota:(y: bpm= movimentos respiratórios por minuto; x: momentos avaliados).

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Os valores das médias da T mantiveram-se homogêneos até M3, com elevação significativa da T acima dos valores normais em M4 (p< 0,05), e depois apresentação de queda estatisticamente significativa no M4 que progrediu até o M6 (p< 0,05) (Gráfico 4). O aumento da T parece estar relacionado principalmente pelas crises convulsivas e pré-convulsivas com contrações musculares tônicas e clônicas.

M0 M1 M2 M3Momentos

G1

M4 M5 M6

Tem

pera

tura

40,6

40,4

40,2

40,0

39,8

39,6

39,4

39,2

39,0

38,8

38,6

38,4

38,2

38,0

Gráfico 4 - Comparações das médias da T dos 12 cães (G1) no momento controle e em diferentes momentos após a intoxicação pelo FAS

nota:(y: bpm= movimentos respiratórios por minuto; x: momentos avaliados).

Harrisson, Ambrus e Ambrus (1952) afirmaram que algumas espécies, como coelhos, bovinos, equinos e macacos, apresentam somente sinais cardíacos quando intoxicadas por FAS; outros como cão, cobaias e rãs tem somente convulsões e outros ainda, como gato, porco, galinha, macaco Rhesus, mostram tanto sinais cardíacos como neurológicos. Os dados observados neste trabalho estão de acordo com a afirmação destes autores, pois os cães apresentaram alterações neurológicas como principal sintoma de intoxicação por FAS.

5 concluSão

A determinação da DL50 de 0,15mg/kg permitiu definir uma variável binomial em termos de sobrevida, possibilitando futuros estudos na

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detecção de antídotos eficazes, bem como seus efeitos deletérios para a sobrevivência.

Verifica-se que a maior causa de morte foi devido às convulsões e que ocorreram nos primeiros momentos após o aparecimento dos sinais de intoxicação por FAS.

É possível interpretar os primeiros sinais comportamentais de intoxicação por FAS como sendo crises pré-convulsivas nos cães, com apresentação de surtos de uivos, choros, latidos de curta duração, corridas desorien-tadas, comportamento de medo e midríase.

A alta variabilidade nas latências de aparecimento dos primeiros sinais de intoxicação indica grande variabilidade na sensibilidade individual ao FAS e ao envolvimento de múltiplos fatores em sua ação.

A investigação das causas determinantes da grande variação na sensibi-lidade ao FAS parece ser um caminho promissor na procura de antídotos eficazes para o tratamento das intoxicações por este agente tóxico.

dETERmInATIon of dl50 In doGS poISonEd BY SodIum fluoRoAcETATE (SfA) WITh clÍnIcS

EVAluATEd

ABSTRAcT

Sodium fluoroacetate (SFA) is a rodenticide that causes hypocalcemia and energetic deficiency by blocking Krebs cicle. The accidental ingest of animals is common and the dog is one of the most sensible species where the letal dose variable of 0,05 to 1,0mg/kg that make difficult study of possibles antidotes. Therefore, the determination of DL50 in dogs poisoned by sodium fluoroacetate (sfa) with clinics evaluated was deed. Twelve healthy dogs from 10 to 15kg were used. Tempeture, FC, FR and behavior alterations was avaliable in seven moments. After four doses administration, 0,6; 0,45; 0,30 and 0,20mg/kg respectivily the letalidy of all was observed. The dose of 0,15mg/kg was tested and test repetition in eight dogs demostrate 50% death and 50% survive. Vocalization, delirium visage, straight running ending on lateral recumbency were

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the first behavior alterations of six animals that followed by opistho-tonus and tonic-clonic convulsion. Hypertermia, tachycardy, tachypnea and mydriasis were observed soon after poisoning. Six animals were short term outbreaks associated with crying crisis, yelling and rotational locomotion or standing attempts. The maiority causes of death was re-lated with seisures observed in the first moments; the interpretation of first intoxication behavior alterations is possible consideration of short outbreaks; the determination of DL50 in this study define one binomial variable of survive and possibility futures studies in detection of bether antidotes, as well as bad effect for survive.

Keywords: Dogs. Auto-intoxication. Sodium fluoride – toxicology.

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Correspondência para/reprint request to:Luciana Felício de PaulaRua Brasília, 40/601Itapuã29101-730 - Vila Velha – ES (Brasil)

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EScoAmEnTo dE ÓlEo pESAdo uSAndo A TécnIcA “CORE FLOW”

Bruno Soares Salamon1

Henri Fiorenza de Lima2

RESumo

O óleo pesado, que a cada ano aumenta sua importância na indústria do petróleo, constitui uma grande parte da reserva a ser produzida. Contudo, devido às suas características desfavoráveis, como densidade e viscosidade elevadas, sua produção e transporte são problemáticos, principalmente pelos enormes gradientes de pressão, motivados pela fricção. Para superar essas dificuldades, têm-se buscado métodos para produzi-lo e transportá-lo de forma econômica. Uma dessas técnicas é o core flow, caracterizado pela formação de um fino anel de água que lubrifica o óleo que se encontra na parte central da tubulação, reduzindo drasticamente a perda de carga por atrito. Este trabalho descreve expe-riências realizadas em laboratório, simulando um escoamento bifásico (óleo pesado − água) em um duto horizontal. Também é verificado o potencial de redução do consumo de energia para o bombeio ao se utilizar o método, destacando a eficiência do core flow.

palavras-chave: Oleodutos de petróleo. Escoamento de óleo. Ener-gia – conservação. Energia elétrica – racionamento. Racionamento de consumo – conservação de energia.

1 Graduado em Engenharia de Petróleo pelo Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected].

2 Mestre em Engenharia Submarina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected].

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1 InTRodução

Analisando o mercado de petróleo, sabe-se que o preço do barril deste produto é uma variável de grande impacto na economia mundial, uma vez que influencia os preços de praticamente tudo. Este depende de vários fatores, como os custos de investimento e operação para a produção, transporte e refino, e interfere diretamente na decisão de explorar ou não um campo de petróleo. Os custos envolvidos no desenvolvimento de um campo de óleo pesado tendem a ser muito maiores do que para óleos convencionais (leves). Isso ocorre, principalmente, devido à sua alta viscosidade e às dificuldades oriundas deste fato.

As principais reservas de óleo pesado e extra-pesado encontram-se no Canadá, Venezuela e Rússia. Ao todo, somam um volume aproximadamente três vezes maior que o total de óleo leve, do qual a produção já atingiu quase a metade. A distribuição destas reservas é mostrada na Tabela 1.

Tabela 1 - Reservas mundiais de óleo pesado

Região fator de Recuperação3

Reservas(bilhões de barris)

América do Norte 0,19 35,3

América do Sul 0,13 265,7

África 0,18 7,2

Europa 0,15 4,9

Oriente Médio 0,12 78,2

Ásia 0,14 29,6

Rússia 0,13 13,4

ToTAl - 434,3

Fonte: Trevisan et al. (2006).nota:3Fator de recuperação: quociente entre a produção acumulada e o volume original no reservatório.

Em 2004, do total de 25 bilhões de barris produzidos no mundo, apenas 12% corresponderam a óleos pesados.

No Brasil, as reservas de óleo pesado encontram-se nos campos do Nordeste e Sudeste, em terra e no mar. Apesar da participação dos

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óleos pesados no volume total produzido no Brasil não ser expressiva, com o aumento do preço do petróleo no mercado internacional, sua exploração tornou-se bastante atrativa.

Nos últimos anos, o Estado do Espírito Santo destacou-se no cenário nacional na produção de petróleo e gás. Com as recentes descobertas da Petrobras, o Estado saiu da quinta posição no ranking brasileiro de reservas, em 2002, para se transformar na segunda província petro-lífera do país, em 2006. Parte deste crescimento deve-se ao polo de óleo pesado em águas profundas, formado pelos campos de Jubarte e Cachalote, pertencentes à região conhecida como Parque das Baleias, localizada no litoral Sul do Estado.

Apesar de todas as dificuldades, o desenvolvimento de um campo de óleo pesado pode se demonstrar mais interessante se for considerado que reservas deste tipo de óleo podem ser enormes e os poços tendem a produzir a uma vazão constante por muito mais tempo, se comparados com os campos de óleo menos denso.

A demanda pelo desenvolvimento de novas tecnologias para facilitar e até viabilizar a produção dos hidrocarbonetos de alta densidade tem au-mentado, representando um desafio a ser vencido. Desta forma, quanto mais investimentos em meios que facilitem a produção e o escoamento de óleo pesado (sendo este o objetivo da técnica em estudo), menores serão os riscos relacionados à sua exploração e maiores serão as re-servas contabilizadas, para o futuro suprimento energético mundial.

Este trabalho pretende explicar o funcionamento da técnica core flow, analisando experimentos realizados em laboratório, convertendo os da-dos obtidos para situações reais através da aplicação de metodologias adequadas, a fim de estimar a eficiência do método no transporte de óleo pesado através de dutos.

2 cARAcTERÍSTIcAS GERAIS do pETRÓlEo

Todos os óleos brutos são compostos primariamente por hidrocarbonetos, os quais são feitos pela combinação dos elementos químicos Carbono e Hidrogênio. Além disso, a maioria dos petróleos contém compostos sulfurosos e pequenas quantidades outros contaminantes. A diferença entre os fluidos provenientes de campos distintos deve-se à diferença

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nas quantidades de cada um dos compostos presentes e pelo tipo e peso molecular dos hidrocarbonetos que os compõem e suas devidas proporções.

a) Viscosidade: uma das propriedades mais importantes do petróleo é a viscosidade, propriedade que indica a maior ou menor dificuldade de o fluido escoar. Essa grandeza varia para cada fluido e para cada condição a ele imposta como, por exemplo, pressão e temperatura, ou seja, a viscosidade possui um valor diferente para cada fluido, podendo variar para um mesmo fluido. De forma simplificada, pode-se dizer que a viscosidade dos fluidos é originada por uma coesão entre as moléculas e pelos choques entre elas.

A viscosidade de um líquido incompressível é altamente influenciada por mudanças da temperatura, variando inversamente com a tempe-ratura absoluta e apresentando um comportamento exponencial.

b) Densidade: a densidade é outra importante variável envolvida na avaliação quanto à qualidade de um óleo bruto. Os óleos pesados são aqueles com densidade entre 0,92 e 1 (ou entre 920 e 1000kg/m3). Óleo extra-pesado é aquele com densidade superior a 1.

Na indústria do petróleo, utiliza-se uma escala definida pela American Petroleum Institute (API). O grau ApI é obtido através da Equação 1, sendo d, a densidade do óleo a 60°F e 1atm.

5,1315,141

(1)−=°d

API

Óleos pesados são, então, aqueles entre 22,3 e 10,0°API, e os extra-pesados, os com °API inferior a 10,0.

Os óleos pesados contêm baixo teor de hidrocarbonetos leves, sen-do ricos em hidrocarbonetos de cadeias mais longas, normalmente contendo enxofre, gás carbônico, nitrogênio e metais pesados como o níquel e o vanádio, entre outras substâncias. A proporção de resinas e, principalmente, de asfaltenos no petróleo (ambos compostos de alto peso molecular, pouco solúveis em solventes orgânicos) é diretamente proporcional à sua viscosidade.

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2.1 TIPOS DE FLUXO

No escoamento de fluidos, os tipos de fluxo podem ser classificados de duas formas: laminar e turbulento. O fluxo laminar é aquele em que as partículas se deslocam em lâminas individualizadas, através de linhas de corrente, retas ou curvas, paralelas à direção do escoamento, sem trocas de massa entre elas. Já o fluxo turbulento, se caracteriza pelo deslocamento caótico de pequenas massas de fluido ao longo do canal, ou seja, as partículas ou massas de fluido se movem ao acaso, isto é, as velocidades pontuais mudam de valor e direção a todo instante.

Reynolds verificou que o fato de o movimento ser laminar ou turbulento pode ser determinado através da avaliação do número adimensional dado pela Equação 2.

(2)

µρ DV ⋅⋅

=Re

Essa expressão, chamada de Número de Reynolds, mostra que o tipo de escoamento depende do conjunto das grandezas ρ (massa especí-fica do fluido), V (velocidade média do fluxo), D (dimensão do canal do escoamento) e μ (viscosidade do fluido).

Reynolds verificou, no caso de dutos, a ocorrência dos seguintes va-lores:

Re ≤ 2000 Escoamento laminar 2000 < Re < 4000 Escoamento de transição (comportamento ambíguo) Re ≥ 4000 Escoamento turbulento

Analisando a expressão, chega-se à conclusão de que o escoamento tende a se tornar turbulento com o aumento da velocidade ou com a diminuição da viscosidade do fluido.

2.2 PADRõES DE FLUXO

O fluxo de dois líquidos imiscíveis é encontrado em vários processos e equipamentos, em particular na indústria do petróleo, onde misturas de água, óleo e o gás saído de solução são transportados em dutos por longas distâncias. Durante o escoamento em um duto, as interfaces deformáveis destas três fases podem adquirir uma variedade de confi-

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gurações, as quais são denominadas padrões de fluxo. Uma previsão precisa das características do fluxo de óleo−água como o padrão de fluxo, a fração volumétrica da água e o gradiente de pressão são importantes em muitas aplicações na engenharia.

Diversos padrões de fluxo são observados, tanto em sistemas líquido−líquido quanto em sistemas líquido−líquido−gás. Estes são de-terminados pelas vazões e propriedades físicas de cada fase, além do diâmetro da tubulação em que se está trabalhando. O material de que é feito o duto também influencia os regimes de escoamento, já que sua molhabilidade (vista a seguir) pode interferir na distribuição das fases. Dependendo do material (oleofílico−hidrofóbico ou oleofóbico −hidrofílico) podem-se encontrar diferentes configurações dos padrões de fluxo.

Os padrões básicos identificados no escoamento em dutos de óleo pesado e água são:

● ESTRATIFICADO – para taxas de fluxo relativamente pequenas, ocorre uma completa separação dos líquidos, onde a diferença de densidade é dominante.

● INTERMITENTE – aumentando-se a vazão da água, podem-se for-mar bolhas alongadas ou esféricas deste líquido, gerando o fluxo intermitente, ou seja, um líquido alternadamente ocupa o duto como um líquido livre ou como uma dispersão.

● ANULAR – o óleo e a água se estabilizam no padrão anular (core flow), tendo o óleo viscoso escoando no centro, o qual é lubrificado por um filme de água no espaço anular.

● EM BOLHAS – para altas taxas de fluxo de água, toda fase de óleo se torna descontínua em uma fase de água contínua, formando então as bolhas.

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Escoamento estratificado

Escoamento intermitente

Óleo Água

Escoamento anular Escoamento em “bolhas”

Figura 1 - Padrões de fluxo bifásicoFonte: Vara (2001).

2.3 PERDA DE CARGA

A existência de atrito no escoamento do fluido provoca uma dissipação de energia também conhecida como Perda de Carga. Se for examinado o comportamento do escoamento de fluidos em dutos, será possível distinguir dois tipos de perda de carga.

O primeiro tipo é chamado de perda de carga distribuída, que acon-tece ao longo de dutos retos, de seção constante, devido ao atrito das próprias partículas do fluido entre si. Esta perda só será considerável se houver trechos longos de dutos e pode ser calculada utilizando-se a Equação de Darcy-Weisbach (3).

(3)DVLfP

⋅⋅⋅

=∆2

onde ƒ é o fator de atrito e L é o comprimento do duto.

Através da Equação 3, verifica-se que esta perda de pressão é diretamente proporcional à distância que separa os dois pontos (L) e inversamente proporcional ao diâmetro da tubulação (D).

O segundo tipo corresponde às chamadas perdas de carga locali-zadas. Elas ocorrem nos locais das instalações em que o fluido sofre perturbações bruscas no seu escoamento, como, por exemplo, em vál-vulas, mudanças de direção, alargamentos ou estreitamentos bruscos, obstruções parciais, ressaltos, e outros.

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Existem dois tipos de análise mais utilizados para incluir o efeito da perda de carga relativa à presença de singularidades. O primeiro tipo faz uma correção sobre a carga distribuída, incluindo um comprimento equivalente para cada um dos componentes presentes na tubulação. O comprimento equivalente de uma singularidade é o comprimento fictício de uma tubulação de seção constante de mesmo diâmetro, que produziria uma perda distribuída igual à perda localizada.

Assim, quando se deseja saber qual a perda de pressão pela presença de um determinado componente, é só aplicar a Equação 3, substituindo o comprimento (L) pelo comprimento equivalente (Leq).

A outra forma de análise para expressar este mesmo fenômeno foi desen-volvida a partir da formulação de Bernoulli e das expressões de volume de controle em mecânica dos fluidos, e é expressa na Equação 4.

(4)g

VKsP⋅

=∆2

2

onde Ks é o coeficiente da perda de carga localizada (número adimen-sional) e g é a aceleração da gravidade. Os valores de Ks dependem do número de Reynolds, mas para escoamentos totalmente turbulentos, eles deixam de apresentar variações, ou seja, o fenômeno da perda de carga singular passa a independer das forças viscosas.

Portanto, a perda de carga total é considerada como a soma das perdas distribuídas, devido aos efeitos de atrito no escoamento, com as perdas localizadas, devido a acessórios, mudanças de áreas entre outros.

3 TécnIcAS dE TRAnSpoRTE poR duToS

Entre as principais técnicas aplicáveis ao escoamento de óleo pesado em campos marítimos ou terrestres, podem ser destacados o controle de temperatura, o controle de padrão de escoamento e a diluição com óleo leve.

O aumento exponencial da viscosidade com o decréscimo da tempe-ratura e o aparecimento de fenômenos químicos indesejáveis, faz com que haja necessidade de um eficaz controle de temperatura, que pode ser obtido através de isolamento térmico e/ou aquecimento da linha,

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através da circulação de um líquido aquecido ou por resistência elétrica. Estes métodos elevam significativamente os custos de investimento e operacionais.

O controle do padrão de escoamento tem a finalidade de evitar que o óleo viscoso entre em contato direto com a parede do duto, devendo-se, para isso, induzir um padrão de escoamento tendo a água como fase contínua, envolvendo a fase óleo (core flow) ou utilizar surfactantes para criar uma emulsão de óleo em água. Neste segundo caso, as con-sequências irão se manifestar no momento da separação da mistura óleo−água.

A adição de diluentes ao óleo pesado requer a existência de uma fonte de óleo leve nas proximidades e uma boa compatibilidade dos fluidos que serão misturados.

3.1 INJEçãO DE ÁGUA (cORE flOW)

A técnica core flow, desenvolvida por Russel (1959) e Charles (1961), permite elevar e transportar petróleo de alta viscosidade de forma sim-ples e econômica. Este método consiste na injeção de uma pequena vazão de água à temperatura ambiente, em um determinado ponto ao longo da circunferência do duto de produção, que permanece em contato com as paredes da tubulação, formando um anel lubrificante em toda sua extensão com uma configuração anular, reduzindo drasticamente a queda de pressão.

A Figura 2 ilustra a configuração do core flow.

água

água

óleo

Figura 2 - Configuração do Core Flow em um escoamento horizontal bifásico

A perda de pressão por atrito seria, então, comparável à do escoamento de água pura pelo duto à mesma vazão do sistema óleo−água. De acordo com Bannwart (2000), que vem desenvolvendo essa tecnologia, o prin-cipal ganho é a baixa quantidade de energia necessária para bombear

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o óleo, pois, utilizando os métodos convencionais, com somente óleo no duto, o bombeamento demandaria uma energia centenas de vezes maior, tornando-se econômica ou tecnicamente inviável.

O método core flow, basicamente, consiste em um sistema de bom-beamento de óleo ultraviscoso, o duto de transferência e um tanque para a separação óleo−água (caso a técnica seja usada na exportação de óleo). Essa tecnologia é de fácil implantação nas instalações de produção de petróleo convencionais, sejam marítimas ou terrestres, por requerer equipamentos simples ou com pequenas modificações. A principal novidade é a introdução de um sistema para bombeamento de água e seu bocal injetor (Figura 3), que deve ter formato especial, a fim de assegurar a formação do anel lubrificante de água em torno do núcleo de óleo.

águaóleo

figura 3 - Bico injetor

Uma vez dada a partida circulando apenas água pelo duto de produção, aciona-se a bomba de óleo e reduz-se a vazão de água, ajustando ambas as vazões aos valores de projeto. Para esse ajuste, bem como para o bom controle de operação do sistema, é fundamental monitorar a pres-são na entrada do duto de produção, que deve manter-se próxima do valor com apenas água escoando. De acordo com Rodriguez (2002), a vazão de óleo é cerca de quatro vezes maior do que a de água. Nessas condições, o óleo e a água não tendem à emulsão, que só aconteceria se as proporções fossem muito próximas.

Em comparação com os demais métodos de produção, o sistema pro-posto tem diversas vantagens: permite altas vazões de óleo com baixo consumo de energia, devido à baixa perda de pressão; tem alta eficiência,

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pois uma pequena quantidade de água precisa ser injetada e não requer aquecimento do óleo, o que é especialmente importante quando se tratar de escoamento offshore sob lâminas d’água profundas.

Além disso, mantém a integridade física e química do óleo; torna possível o uso da própria água da formação produtora, que é recomendável por sua compatibilidade; não requer uso nem de agentes químicos nem diluentes ou emulsificantes; apresenta estabilidade através de juntas e curvas; evita a deposição de resíduos ao longo da tubulação e, por fim, os dutos que transportam o óleo ultraviscoso operam a pressões muito mais baixas, diminuindo o custo com bombas e o risco com vazamentos e acidentes.

4 ESTABIlIdAdE hIdRodInÂmIcA do CORE FLOW

Os padrões de fluxo são determinados pela estabilidade. Mudando-se os parâmetros, alguns destes fluxos perdem e outros ganham estabilidade. A teoria da estabilidade é a forma natural para analisar a transição entre cada configuração de escoamento.

Dentre os estudos feitos na área de hidrodinâmica, dois modelos clássicos explicam a estabilidade do padrão core flow: o Modelo de Lubrificação e o modelo de levitação.

MODELO DE LUBRIFICAÇÃO – O modelo de lubrificação hidrodinâmica propõe que o movimento do núcleo ondulado com respeito à parede da tubulação, gera distribuições de pressões na região anular, as quais exercem forças na direção vertical, contrabalançando as forças de empuxo (devido a diferença de densidades) sobre o núcleo do óleo. Mostra que o escoamento para ser estável deve ter ondas, sendo fundamental para a lubrificação do núcleo. Se a amplitude destas ondas é nula, o núcleo alcança a parede do duto, formando o fluxo estratificado.

MODELO DE LEVITAçãO – Este conceito apresentou como contribui-ção a inclusão dos termos inerciais, ou seja, os mecanismos inerciais também são responsáveis pela manutenção do padrão anular. Para altas velocidades, o núcleo levitaria no anel de água.

De acordo com o formato das ondulações, os autores do modelo de le-vitação hidrodinâmica identificaram os regimes onde os mecanismos de

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lubrificação ou de levitação são dominantes, e propuseram a existência de um número de Reynolds crítico (Recrit), correspondente à mudança do sentido das forças exercidas sobre o núcleo de óleo, devido aos gradientes de pressão gerados no filme de água. Para Re<Recrit gera-se a sucção do óleo para a parede do duto e para Re>Recrit gera-se a compressão do núcleo, puxando-o para fora da parede.

A tendência do fluido menos viscoso encapsular o outro fluido seria explicada através do princípio da dissipação viscosa. Foi realizada uma análise da estabilidade linear sendo mostrado que o core flow é está-vel apenas quando o fluido mais viscoso ocupa a maior parte da seção transversal do duto. Mostrou-se que o princípio da dissipação viscosa não é suficiente para explicar a estabilidade e que a fração volumétrica é um fator crucial na análise.

Outro aspecto importante é a molhabilidade, propriedade referente ao material que compõe o duto. Pode ser definida como a tendência do fluido se espalhar ou aderir sobre a superfície sólida na presença de outro fluido, podendo estes ser óleo e água. Esta pode ser quantificada em termos da medida do ângulo de contato em uma superfície sólida por um líquido. Por definição, o ângulo de contato θ (Figura 4), que pode variar de 0 a 180º, é o ângulo medido geralmente no líquido mais denso.

Quando este é menor que 90º, diz-se que o líquido mais denso molha preferencialmente o sólido; quando é maior que 90º, diz-se o contrário. Quanto menor for o ângulo de contato, mais molhável pela água será a superfície sólida, então, mais estável será o filme lubrificante de água.

água

óleo óleo

água

sólido sólidoA B

Figura 4 - Superfície molhável por: A) Água (θ < 90º) e B) Óleo (θ >90º)Fonte: Silva (2003).

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5 TEORIA DA SEMELHANÇA

A fim de simplificar as pesquisas, são construídos modelos em escala que simulam as condições do fenômeno em escala real, o qual é cha-mado de protótipo.

Um modelo, para ser útil, deve fornecer informações que possam, por meio de conversão de escalas, determinar as forças, momentos e cargas dinâmicas que existiriam no protótipo em tamanho real. Para que os resultados das grandezas medidas no modelo tenham valor prático em relação ao protótipo, certas condições devem ser cumpridas.

O primeiro requisito é que o modelo e o protótipo devem ser geome-tricamente semelhantes, ou seja, o modelo e o protótipo poderão ter dimensões diferentes, mas têm de ter o mesmo formato. As suas dimen-sões correspondentes devem ser proporcionais. O segundo requisito é que os escoamentos do protótipo e do modelo sejam cinematicamente semelhantes, isto é, as velocidades em pontos homólogos estão no mesmo sentido e relacionando-se em magnitude por meio de um fator de escala constante. O terceiro e último requisito é que entre modelo e protótipo deve existir semelhança dinâmica, isto é, as forças que agem em pontos correspondentes devem manter relações constantes. As condições de teste devem ser estabelecidas de tal forma que todas as variáveis importantes sejam relacionadas pelo mesmo fator de escala entre os escoamentos do modelo e do protótipo.

Uma ferramenta importante para isso é o Teorema Pi de Buckingham, que permite definir a relação entre uma função expressa em termos de parâmetros dimensionais e uma função correlata, de parâmetros adimen-sionais. Considerando um escoamento incompressível viscoso através de um duto horizontal, a queda de pressão (ΔP) é função do comprimento do duto (L), da velocidade média (V), da viscosidade do fluido (μ), do diâmetro do duto (D), da massa específica do fluido (ρ) e da altura média da rugosidade (ε). Aplicando o teorema chega-se à Equação 5.

(5)

=

⋅∆

DDl

VDf

VP ε

ρµ

ρ,,2

Assim, ao considerar um escoamento geometricamente semelhante do modelo e do protótipo em um duto horizontal, os escoamentos também

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serão dinamicamente semelhantes se os parâmetros independentes forem considerados constantes para modelo e protótipo, ou seja:

(6)pm VDVD

=

ρµ

ρµ

pm Dl

Dl

=

pm DD

=

εε

Se os parâmetros independentes são equivalentes, então o parâmetro dependente entre modelo e protótipo também o será, isto é:

(7)pm V

PVP

∆=

∆22 ρρ

Sendo assim, os resultados obtidos do estudo do modelo, podem ser utilizados na predição da queda de pressão no protótipo em tamanho real.

6 ESTUDO DE CASO

No experimento realizado por Vara (2001), foi simulado um escoamento bifásico (óleo pesado−água) em dutos horizontais, analisando o com-portamento dos padrões de fluxo, associando sua estabilidade com a velocidade de cada componente.

As propriedades dos fluidos utilizados no teste estão apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2 - Propriedades dos fluidos (escoamento bifásico)

propriedade água salgada Óleo

Densidade 1002 kg/m3 946 kg/m3

Viscosidade 1 cp = 0,001 Pa.s 1193 cp = 1,193 Pa.sFonte: Vara (2001).

A velocidade e a perda de carga correspondentes a cada padrão são mostradas na Tabela 3.

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Tabela 3 - Velocidade e perda de carga observadas

padrão Óleo (m/s) água (m/s) ΔPbif (Pa)Estratificado 0,1 0,12 59,17Intermitente 0,135 0,28 84,17Anular 0,76 0,04 122,88Em bolhas 0,059 0,32 71,54

Fonte: Vara (2001).

6.1 PREMISSAS E CRITÉRIOS CONSIDERADOS

Para realização do experimento, usou-se um duto de 2,84cm de diâ-metro interno, bombeando um óleo de massa específica de 946kg/m3 e de viscosidade 1,193Pa.s. De acordo com a Tabela 3, o padrão de fluxo anular (core flow) foi observado durante o experimento quando as velocidades do óleo e da água atingiram 0,76m/s e 0,04m/s, respec-tivamente. A perda de carga verificada ao longo do duto de 0,81m de comprimento a essa velocidade, foi de 122,88Pa.

Para o estudo de caso a ser realizado neste trabalho, será considerado o bombeamento de um óleo pesado com as mesmas características do experimento, em um duto com 45km de extensão de 10,5pol de diâme-tro interno, a uma vazão de 95000bbl/d (barris por dia). Para o cálculo da vazão de água, a ser injetada juntamente com o fluxo de óleo, será utilizada a mesma proporção do experimento, ou seja, 95% óleo e 5% água. Dessa maneira, chega-se a uma vazão de 5000bbl/d de água. Resumidamente, os valores usados no experimento e no estudo de caso são mostrados na Tabela 4.

Tabela 4 - Dados do experimento e do caso estudado (continua)

Variáveis Experimento caso propostoMassa espec. óleo (ρo) 946kg/m3 946kg/m3

Viscosidade do óleo (μo) 1193cp = 1,193Pa.s 1193cp = 1,193Pa.sMassa espec. água (ρw) 1002kg/m3 1002kg/m3

Viscosidade da água (μw) 1cp = 0,001Pa.s 1cp = 0,001Pa.sComprimento do duto (l) 0,81m 45000mDiâmetro do duto (D) 0,0284m = 1,118pol 0,2667m = 10,5polÁrea da seção transv. (A) 0,000633m2 0,05586m2

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Variáveis Experimento caso propostoVazão de óleo (Qo) 0,000481m3/s 95000bbl/d = 0,1748m3/sVazão de água (Qw) 0,00002532m3/s 5000bbl/d = 0,0092m3/sVazão da mistura (Qt) 0,0005064m3/s 100000bbl/d = 0,184m3/sVeloc. do óleo (Vo) 0,76m/s 3,13m/sVeloc. da água (Vw) 0,04m/s 0,17m/sVeloc. da mistura (Vt) 0,8m/s 3,3m/sPerda de carga (ΔP) 122,88Pa = 0,0012288bar a ser verificado

6.2 CÁLCULO DA PERDA DE CARGA NO ESCOAMENTO CONVENCIONAL

Para que se calcule a eficiência da técnica core flow, deve-se calcular a perda de carga em um escoamento convencional de óleo pesado, com as mesmas condições impostas no estudo de caso.

Para se obter o fator de atrito ƒ, deve-se calcular o número de Reynolds, que neste caso considera somente a velocidade do óleo, por se tratar de um escoamento monofásico:

94,661Re193,1

2667,013,3946Re =⇒××

=

o que representa um escoamento laminar. A Equação (8) define o fator ƒ nesta situação.

(8)0967,0Re64

=⇒= ff

Aplicando-se a Equação 3, obtem-se barP 1,756=∆ .

A perda de carga gerada em um escoamento monofásico de óleo pe-sado confirma a inviabilidade técnica de se transportar óleo viscoso via escoamento convencional, visto que as bombas encontradas no mercado não fornecem a pressão requerida para o caso estudado.

Tabela 4 - Dados do experimento e do caso estudado (conclusão)

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6.3 CÁLCULO DA PERDA DE CARGA USANDO cORE flOW

Para conversão dos dados do experimento para os dados reais consi-derados no estudo de caso, será utilizada a teoria da semelhança.

Para correlacionar os dados, primeiramente, equaliza-se o parâmetro dependente:

ou22pp

p

mm

m

VP

VP

ρρ

∆=

∆2

2

pp

mm

p

m

VV

PP

ρ

ρ=

∆∆

Sendo o índice m referente ao modelo (experimento), p referente ao protótipo (caso em estudo) e substituindo-se os valores, obtém-se:

2

2

3,39468,094688,122

××

=∆ pP

PaPp 9,2090=∆

Este resultado significa que para um mesmo fluido, aumentando-se a velocidade da mistura água−óleo de 0,8m/s para 3,3m/s, representa um aumento na perda de carga de 122,88Pa para 2090,9Pa.

Para correlacionar os dados de comprimento e diâmetro do duto, procede-se da mesma forma com o parâmetro independente:

oup

p

m

m

Dl

Dl

=p

m

p

m

DD

ll

=

Substituindo-se os valores, chega-se:

5,10118,181,0

=pl

ml p 6,7=

Significa que a perda de carga obtida em um duto de 0,81m de compri-mento com 1,118pol de diâmetro interno, será a mesma em um duto de 10,5pol com 7,6m de comprimento. No estudo de caso proposto neste trabalho, a extensão de dutos é de 45000m, ou seja, 5921,05 vezes maior que 7,6m. Desta forma, multiplicando-se 5921,05 pela perda de

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carga obtida com a velocidade da mistura a 3,3m/s, chega-se ao valor da perda de carga que seria obtida nas condições consideradas no estudo de caso:

barPaPP bifásicabifásica 8,1235,1238021088,209005,5921 ==∆⇒×=∆

O valor obtido representa que um escoamento de óleo pesado usando core flow, com vazões de óleo e água de 95000bbl/d e 5000bbl/d, respectivamente, em um duto com 45km de extensão e de 10,5pol de diâmetro interno, terá uma queda de pressão de 123,8bar.

6.4 CÁLCULO ANALÍTICO DA PERDA DE CARGA USANDO cORE flOW

Outro modo de se obter a perda de carga nas condições estudadas é através da equação da perda de carga distribuída (3). Neste caso não se calcula a perda de carga localizada, por considerar que não há per-turbações no fluxo ao longo do escoamento causadas por acessórios.Para tanto, é necessário utilizar uma viscosidade equivalente da mistura água−óleo, já que a equação leva em consideração o escoamento de apenas um fluido. Para tanto, deve-se utilizar a Equação 9.

(9)o

weq E−=

µ

Onde μeq é a viscosidade equivalente da mistura água - óleo, μw é a viscosidade da água, ambas em Pa.s, e Eo, a fração volumétrica de óleo, que pode ser calculada através da Equação 10.

(10)( )wo

oo QQ

QE×+

=23,1

Sendo Qo, a vazão de óleo e Qw, a vazão de água. Primeiramente, tem-se:

( ) 939,00092,023,11748,0

1748,0=⇒

×+= oo EE

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Aplicando-se a equação da viscosidade equivalente, obtém-se:

sPaeqeq .0164,0939,01

001,0=⇒

−= µµ

Dessa maneira, a mistura água-óleo com as vazões acima consideradas, pode ser representada por um escoamento de apenas um fluido com viscosidade de 0,0164Pa.s. Antes de se aplicar a equação da perda de carga distribuída, deve-se calcular o coeficiente de atrito ƒ, este de-pende da rugosidade relativa (ε/D) e do número de Reynolds. Usando a Equação (2), chega-se a:

32,50767Re0164,0

2667,03,3946Re =⇒××

=

Considerando que o duto é feito de aço galvanizado, e considerando rugosidade de 0,00015m, a rugosidade relativa fica:

000562,02667,000015,0

=⇒=DDεε

Relacionando o número de Reynolds e a rugosidade relativa no dia-grama de Moody, acha-se um coeficiente de atrito ƒ de, aproximada-mente, 0,023. Finalmente, aplicando-se a equação da perda de carga distribuída, tem-se:

barPPaPP 9,1996,1998970394622667,03,345000023,0

2

=∆⇒=∆⇒××

××=∆

Comparando-se o valor obtido pela conversão dos dados experimen-tais com o valor obtido através de equações, verifica-se uma pequena diferença, tendo, porém, a mesma ordem de grandeza. Esta diferença pode ser explicada pelo simples fato de que as equações em geral são simplificações de fenômenos reais. Sendo assim, nos próximos cálculos a serem realizados, se utilizará o resultado obtido pela conversão dos dados, pois representa mais fielmente a situação proposta no estudo de caso.

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7 EFICIÊNCIA DO CORE FLOW

No transporte de óleos pesados, a técnica core flow reduz signifi-cativamente a queda de pressão. Esta vantagem pode ser traduzida no fator de redução de potência (FRP) de bombeamento, o qual é definido como a relação entre a potência necessária para vencer as perdas de carga por atrito no escoamento convencional (monofásico) e aquela requerida para vencer as perdas de carga por atrito, usando o core flow:

(11)tflowcore

omonofásica

QPQP

FRP×∆

×∆=

Dessa maneira, aplicando-se a equação acima, obtém-se:

8,51000008,123

9500008,756=⇒

××

= FRPFRP (12)

Isto é, a potência necessária para vencer as perdas de carga por atrito no transporte de óleo pesado, a uma vazão de 95000bbl/d, pode ser reduzida em 5,8 vezes (injetando água a uma vazão de 5000bbl/d) em relação à potência requerida para vencer as perdas de carga por atrito no bombeamento de óleo pesado, à mesma vazão, em escoamento monofásico.

8 AnálISE EconÔmIcA

Como foi visto anteriormente, o método core flow é de fácil implantação nas instalações de produção de petróleo convencionais, tanto marítimas como terrestres. A principal novidade é a introdução de um sistema de bombeamento de água e seu bocal injetor.

Sendo assim, para o emprego da técnica, os custos extras com investi-mento em equipamentos na plataforma seriam compostos basicamente por uma bomba para injeção de água, um bico injetor para estimular a formação do core flow e um tanque para armazenar a água a ser injetada. Já os custos operacionais, poderiam ser resumidos em custos no tratamento da água e inibidores de corrosão. Além dos gastos na

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plataforma, seria necessário um separador bifásico ou trifásico, depen-dendo da composição do fluxo, nos terminais localizados em terra.

Apesar de todos os gastos extras para a utilização do método, o core flow é bastante vantajoso, devido a sua alta eficiência, pois consegue escoar o mesmo volume de óleo transportado em um escoamento monofásico, usando uma potência 5,8 vezes menor, resultando em um menor consumo de energia.

Para se estimar a redução no consumo de energia usando a técnica, será considerado um tempo de produção de 15 anos e como fonte energética, será utilizada a energia liberada pela queima do gás natural. A equação para o cálculo da potência (U) é:

(12)PQU ⋅=

Sendo P a pressão de bombeio (em Pa), definida como a pressão imposta ao fluxo para que este vença as perdas de carga e atinja o seu destino com uma mínima pressão para a realização dos processos seguintes e Q, a vazão do fluido (em m3/s).

A pressão mínima considerada no estudo de caso será de 15bar. Sendo assim, a pressão de bombeio P para um escoamento convencional é dada por:

PaPbarPP monmonmon 7710800008,77108,75615 =⇒=⇒+=

A potência necessária no escoamento monofásico será de:

sKcalUsJUU monmonmon /13,3219/4,134784781748,077108000 =⇒=⇒×=

Usando a técnica core flow, a pressão de bombeio P é dada por:

PaPbarPP bifbifbif 138800008,1388,12315 =⇒=⇒+=

A potência necessária no escoamento bifásico óleo-água será de:

sKcalUsJUU bifbifbif /96,609/2553920184,013880000 =⇒=⇒×=

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60

Considerando que o poder calorífico superior (PCS) do gás natural é de aproximadamente 10000Kcal/m3, o volume de gás consumido ao longo da produção é dado pela Equação 11.

(13)PCStUCGN

×=

Onde U é a potência (em kcal/s), PCS é o poder calorífico superior do gás (em kcal/m3) e t, o tempo de produção (em s). Dessa forma, o volume consumido de gás natural em 15 anos de produção, utilizando um escoamento monofásico, será de:

( ) 36103,15210000

1536524360013,3219 mCCmonmon GNGN ×=⇒

××××=

Já para o escoamento bifásico, o consumo de gás será de:

( ) 36108,2810000

1536524360096,609 mCCbifbif GNGN ×=⇒

××××=

A diferença do volume consumido nas duas situações representa uma vantagem dupla no uso da técnica core flow, uma pela redução no consumo de gás e outra pela maior disponibilidade deste produto para comercialização.

9 CONCLUSÕES

A aplicação da técnica core flow no transporte de óleo pesado por dutos, resulta em uma solução bastante eficiente e economicamente interessante.

Neste trabalho, apresentou-se um estudo teórico dos conceitos rela-cionados à técnica, através da simulação realizada por Vara (2001), de um escoamento bifásico (óleo pesado−água) em dutos horizontais, analisando-se os possíveis padrões de fluxo através da variação das velocidades de cada fase.

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Os dados experimentais possibilitaram, por meio da aplicação da te-oria da semelhança, a obtenção de um valor aproximado de perda de carga durante o escoamento, caso a técnica proposta fosse utilizada em situações reais. Em seguida, comparou-se a perda de carga obtida em um escoamento convencional com a obtida usando o método e calculou-se o consumo de gás natural necessário para fornecer ener-gia ao sistema de bombeamento, durante o período de produção, nas duas situações.

Uma síntese das principais conclusões obtidas é:

1 Dentre os quatro padrões de fluxo básicos, o anular (core flow) apresenta maior eficiência, ou seja, transporta um maior volume de óleo consumindo menos energia.

2 Os valores da perda de carga durante o escoamento bifásico foram obtidos de duas formas: pela conversão dos dados experimentais e através de equações clássicas. Os dois resultados, ao serem confron-tados, indicaram uma pequena diferença, que pode ser explicada pelo fato de que as equações são simplificações de fenômenos reais.

3 A perda de carga durante o transporte de óleo pesado nas condições do exemplo estudado foi reduzida de 756,1bar (escoamento conven-cional) para 123,8bar (core flow). A ordem de grandeza da pressão calculada para o escoamento convencional é inviável tecnicamente, tanto do ponto de vista da bomba como do duto.

4 Mesmo com o aumento das velocidades envolvidas no escoamento em função da adição de água, a tendência ao aumento da perda de carga é compensada pela redução da fricção.

5 A potência necessária para vencer a perda de carga durante o es-coamento de óleo pesado foi reduzida em 5,8 vezes, injetando-se água a uma vazão de 5% em relação ao total.

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6 O volume de gás natural consumido para produzir a energia consu-mida durante o período de 15 anos de produção, estabelecido no estudo de caso, foi reduzido de 152,3 x 106m3 (monofásico) para 28,8 x 106m3 aplicando-se o método core flow.

7 A redução no consumo de gás natural, além de representar menores gastos operacionais, disponibiliza um maior volume de gás para a comercialização ou economiza os recursos naturais.

10 SUGESTÕES

Como sugestões para trabalhos futuros, indica-se:

1 Analisar o comportamento do gradiente de pressão com a presença do gás livre durante a aplicação do método (escoamento trifásico).

2 Fazer uma análise econômica quantitativa para utilização da técnica, levando em conta custos de investimento em equipamentos e custos operacionais.

3 Investigar quais as possíveis configurações submarinas para o uso do core flow.

4 Otimizar a redução da perda de carga, usando outras proporções de água injetada, de forma a facilitar o processo de separação e tratamento desta água ao chegar na planta em terra.

hEAVY oIl STREAm uSInG “coRE floW” mEThod

ABSTRAcT

Despite the increasing importance to the oil industry, heavy oil repre-sents a significant part of unexploited reserves. However, because of

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the unfavorable characteristics of this kind of oil, such as high density and viscosity, its production and transportation are problematic, mainly because of the huge friction pressure gradient. To handle with these difficulties, research has been focused on how to produce and transport heavy oil economically. One of these methods is the Core Flow, that is based on the lubrication of pipeline inner walls with a thin water film and thereby confining oil flow to the inner portion of the pipe, reducing drasti-cally the pressure drop. This work describes the experiments carried out in laboratory, which the two-phase flow pattern (heavy oil - water) was simulated in an horizontal pipeline. Also it was verified, the reduction of the consumption of energy when using the method, due to reduction of the friction during the flow, indicating the Core Flow efficiency.

Keywords: Oil pipelines. Oil seepage. Energy – conservation. Electrical energy – rationing. Rationing consumption – energy conservation.

REfERêncIAS

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Correspondência para/reprint request to: Henri Fiorenza de Lima Rua Inê Targino Puppim, 110/1602Praia de Itapuã29101-952 - Vila Velha – ES (Brasil)

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nEuRo-REGulAção hoRmonAl dA SAZonAlIdAdE REpRoduTIVA dA éGuA

Fernando Andrade Souza1

Álan Maia Borges2

Igor frederico Canisso3

Vicente Ribeiro do Vale Filho4

Lucas Luz Emerick5

Erotides Capistrano Silva6

RESumo

A égua é uma reprodutora poliéstrica sazonal de dias longos, com o início da estação reprodutiva ocorrendo na primavera, e o ritmo reprodutivo circanual é sincronizado com seu padrão endógeno entre as estações do ano. A sazonalidade nesta espécie é comandada por vários hormônios de ação central, dentre eles, destaca-se um produzido pela glândula pineal, a melatonina que tem papel chave como regulador da atividade repro-dutiva sazonal. Os sinais da melatonina em combinação com o histórico fotoperiódico podem providenciar as informações acerca da influência da estação, sobre a resposta hipotalâmica-hipofisária-gonadal ao longo do ano. Contudo, o controle da sazonalidade não é mediado apenas pela ação da melatonina. Em adição a esta, há uma complexa cadeia de interneurônios que envolvem diferentes neurotransmissores dentro do hipotálamo. A sazonalidade reprodutiva da égua também sofre influência de peptídeos

1 Doutorando em Ciência Animal da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected].

2 Professor adjunto da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected].

3 Mestrando em Zootecnia da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected].

4 Professor titular da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected].

5 Doutorando em Ciência Animal da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected].

6 Mestranda em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: [email protected].

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opióides endógenos e hormônios dopaminérgicos que também suprimem a secreção do GnRH hipotalâmico, diminuindo por consequência a secreção das gonadotropinas hipofisárias, influenciando, desta forma, a atividade reprodutiva sazonal. O objetivo dessa revisão de literatura é ressaltar o envolvimento da melatonina, dos peptídeos opióides endógenos e da dopamina no desenvolvimento da sazonalidade na égua.

palavras-chave: Equinos. Opióides. Dopamina. Melatonina.

1 InTRodução

A égua é poliéstrica sazonal, com o início da estação de monta ocor-rendo na primavera, associada com o aumento da luminosidade diária, temperatura e disponibilidade de alimento. Assim como em outras espé-cies sazonais, o ritmo reprodutivo circanual que sincroniza seu padrão endógeno entre o inverno e o verão (NAGY; GUILLAUME; DAELS, 2000), assegurando que o nascimento ocorra em condições climáticas favoráveis e no momento do ano apropriado (ALJARRAH, 2004).

A mudança anual no fotoperíodo é o fator ambiental primário usado para regular o ciclo reprodutivo da égua, modulando a atividade via glândula pineal por meio da melatonina, que regula, principalmente, a secreção do hormônio liberador de gonadotropina−GnRH (GERLACH; AURICH, 2000). Além da melatonina, a sazonalidade reprodutiva da égua sofre influência de peptídeos opióides endógenos (POE) (AURICH et al., 1996) e hormônios dopaminérgicos que suprimem a secreção do GnRH hipo-talâmico, diminuindo a secreção das gonadotropinas hipofisárias (NAGY; GUILLAUME; DAELS, 2000). O objetivo dessa revisão de literatura é ressaltar o envolvimento da melatonina, dos peptídeos opióides endó-genos e da dopamina no desenvolvimento da sazonalidade na égua.

2 Ação dA mElATonInA nA SAZonAlIdAdE dA éGuA

A melatonina exerce papel chave na regulação da atividade reprodutiva sazo-nal. Os sinais luminosos são recebidos pela retina e transmitidos à glândula pineal, suprimindo a síntese de melatonina por modular a atividade de enzimas biosintéticas (GERLACH; AURICH, 2000). Por mediar os efeitos diretos da luminosidade, a melatonina é responsável pela entrada no ritmo circadiano e sazonal por meio do ciclo de claro e escuro (VANECEK, 1998).

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Quando o comprimento do dia é curto (inverno), o aumento da melatonina liberada pela glândula pineal suprime a síntese e liberação de GnRH em equinos. Contudo, no verão, com os dias tendo maior comprimento da fase clara, a secreção de melatonina é menor e sua influência inibitória sobre a reprodução é removida (ALJARRAH, 2004). Durante as horas de escuro, a secreção de melatonina é estimulada pela norepinefrina secretada pelos neurônios pós-ganglionares do gânglio cervical superior. No cavalo, este conceito é suportado pela observação que o isoproterenol, agonista α-adrenérgico, estimula a secreção de melatonina (SHARP et al., 1980).

A melatonina influencia a liberação de GnRH em pontos diferentes do cérebro, segundo o modelo estudado, podendo ser encontrada próxima à área mediobasal do hipotálamo em carneiros, na área supraquiasmática em hamsters e equinos e na porção da pars tuberalis em cavalos e jumentos (GERLACH; AURICH, 2000). Apesar da divergência quanto ao local pre-ciso de atuação da melatonina, estudos realizados com ratos e hamsters, animais de dias longos, consideram que ela iniba a liberação do hormônio luteinizante (LH) hipofisário, induzida pelo GnRH, por diminuir a concen-tração intracelular de adenosina monofosfato cíclico (AMPc) e bloquear a mobilização e o influxo de Ca2+, através dos canais voltagem-regulados, nos gonadotropos (PANG et al., 1998). Essa via também pode ser passível à espécie equina, todavia, ainda depende de confirmação (SOUZA, 2007).

A atuação da melatonina é bem ampla, sendo mediada por sua ligação a receptores de alta afinidade a proteína G que ativa segundos mensagei-ros como guanosina monofosfato cíclico (GMPc), diacilglicerol, proteína quinase C ou mesmo o ácido araquidônico. Na égua, necessita-se deter-minar a principal via pela qual a melatonina atua (VANECEK, 1998).

Contudo, reconhece-se que, na égua, o sinal da melatonina em combina-ção com o histórico fotoperiódico provê informação exata e clara acerca da estação, influenciando a resposta hipotalâmica-hipofisária-gonadal durante o ano (GERLACH; AURICH, 2000).

3 pEpTÍdEoS opIÓIdES EndÓGEnoS E A SAZonAlIdAdE REpRoduTIVA dA fêmEA EQuInA

A inibição da secreção de GnRH não ocorre somente pela ação da melatonina. Há uma complexa cadeia de interneurônios que envolvem diferentes neurotransmissores dentro do hipotálamo, talvez por caminhos

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independentes, que mediam o efeito dos fatores internos e externos, tais como o ritmo endógeno, o fotoperíodo, a nutrição e a temperatura, podendo responder pela ação dos POE e a dopamina (NAGY; GUILLAU-ME; DAELS, 2000).

Na espécie equina, os dados com relação aos neurotransmissores ainda são escassos. Contudo, alguns estudos com POE (SMITH; JENNES, 2001), determinaram que sua ação ocorre, primariamente, no sistema nervoso central (SNC) por meio da sensibilização dos receptores μ-, δ- e κ-opióide, nas áreas pré-óptica e hipotalâmica, que transmitem as informações do ambiente esteroidal aos neurônios de GnRH através da inibição de interneurônios (COSGROVE; RENSIS; FOXCROFT, 1993; SMITH; JENNES, 2001), assim modulando a liberação de LH em fêmeas cíclicas (AURICH et al., 1996).

A ação inibitória dos POEs sobre a liberação de gonadotropinas é re-gulada por uma sequência de mudanças entre os hormônios esteróides gonadais. Por isso, é preciso que haja ação prolongada do estrógeno, pois a progesterona sozinha não é suficiente para ativar a regulação da secreção de LH, através do sistema opióide em éguas durante a estação de monta (AURICH et al., 1996).

Em ratos, o estrógeno induz a manifestação de receptores de proges-terona nos neurônios produtores de opióides endógenos, inibindo a liberação de GnRH. Esses neurônios são expostos ao estrógeno antes de serem ativados pela progesterona. Desta forma, este mecanismo é semelhante em equinos, e pode então explicar o mecanismo pelo qual a progesterona, por si só, não influencia a regulação da liberação de LH através dos POEs, mas, por sua vez, pode modular a atividade dos opióides em animais que foram primeiramente expostos ao estradiol (AURICH; BURGMANN; HOPPE, 1996).

Apesar de haver divergência sobre a atuação dos POEs durante a es-tação não-reprodutiva de animais sazonais, pode-se afirmar que, em equinos, ocorre inibição da secreção de LH mediado pelos POEs. Isso porque, fora da estação reprodutiva, as éguas respondem com aumento imediato da concentração plasmática de LH, após injeções de naloxone (antagonista de opióides) (AURICH et al., 1996). Este mecanismo pode contribuir para o decréscimo na concentração de gonadotropinas durante o anestro sazonal. Nesse período, a inibição do LH, por meio dos POEs, é maior devido às éguas apresentarem certo grau de atividade ovaria-

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na, com prolongada influência das baixas concentrações de estrógeno (AURICH et al., 1996; AURICH; BURGMANN; HOPPE, 1996; NAGY; GUILLAUME; DAELS, 2000).

Muito pouco se sabe sobre o modo da ação dos opióides em animais domésticos. Mas, é bem conhecido que eles modulam fortemente a secreção das gonadotropinas e os hormônios neurohipofisários em diferentes fases reprodutivas, fazendo-se presente também na espécie equina (PARVIZI, 2000).

4 Ação dopAmInéRGIcA nA SAZonAlIdAdE dA éGuA

Além do sistema opióide, os neurônios catecolaminérgicos também têm sido implicados na supressão sazonal da secreção de GnRH (NAGY; GUILLAUME; DAELS, 2000). Segundo Fitzgerald e Mellbye (1988), a administração de um agonista α-2-adrenérgico, em éguas com anestro sazonal, aumenta a frequência dos pulsos dos hormônios folículo esti-mulante e luteinizante, sugerindo a existência do mecanismo inibitório adrenérgico sobre a pulsatilidade sazonal de LH.

A dopamina, em ovelhas, parece mediar a retroalimentação negativa do estradiol sobre o anestro sazonal, por agir diretamente sobre os neurônios GnRH. Contudo, em éguas, os efeitos dos antagonistas de dopamina sobre o início da atividade reprodutiva são altamente variáveis, sendo questionável o papel da dopamina na regulação sazonal nesta espécie (NAGY; GUILAUME; DAELS, 2000).

Apesar de existirem receptores de dopamina do tipo D-2 no cérebro das éguas, trabalhos utilizando doperidone, antagonista dopaminérgico que não ultrapassa a barreira hematoencefálica, demonstraram que a dopamina pode atuar diretamente no ovário, ligando-se aos recepto-res D-2 do córtex ovariano presentes nas células da granulosa ou da teca. A descoberta da produção de uma neurotropina, gonadotropina dependente, pelos folículos antrais na ovelha, fornece evidência para o mecanismo pelo qual pode haver o controle dinâmico da proliferação neuronal da estrutura ovariana (KING et al., 2005).

A administração de antagonista dopaminérgico resulta no aumento da secreção de prolactina que pode exercer efeito em nível ovariano por elevar o número de receptores de gonadotropinas e, dessa forma,

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mediar o efeito das gonadotropinas circulantes (KELLEY, 2004). O tra-tamento prolongado com antagonista de receptores D2-dopamina induz a ciclicidade ovariana de éguas em anestro sazonal. Todavia, quando usado em éguas em anestro profundo, são necessários 50 a 60 dias para induzir a atividade ovariana (KING et al., 2005).

Os dados disponíveis na literatura indicam que os antagonistas de dopami-na aceleram o início da atividade ovariana cíclica de éguas no período de transição reprodutiva, mas o tratamento pode ser inefetivo durante o anestro profundo. Esses achados sugerem, mas não confirmam completamente, a hipótese de que a dopamina, assim como outros neurotransmissores, exerce inibição tônica no controle hipotalâmico da ciclicidade sazonal da égua. É possível que o antagonista dopaminérgico exerça seu efeito sobre a atividade ovariana incrementando a responsividade do ovário às gonadotropinas circulantes, por meio do aumento dos receptores de LH e FSH, induzidos pela prolactina (ALJARRAH, 2004).

5 CONCLUSÃO

O mecanismo neural essencial ao controle da atividade ovariana cíclica na égua, dentro e fora da estação de monta, é pouco entendido. Re-querendo, desta forma, maiores estudos na área.

hoRmonAl-nEuRoREGulATIon of ThE REpRoducTIVE SEASonAlITY In mARE

ABSTRAcT

The mare is described as a polyestrous, seasonally in long days and the beginning of the reproductive season in the spring. The circanual reproductive rhythm is synchronized with her endogenous pattern among the seasons. The seasonality in this species is commanded by several hormones of central action, among them stands up one produced by the pineal glands, the melatonin, that is an important regulator of the repro-ductive season activity. The signs of the melatonin in combination with the photoperiodic report can provide the information about the influence of the season on the hypothalamic-hypofisary-gonadal axis answer along the year. However, the control of the seasonality is not just mediated

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by the action of the melatonin. In addition, there is a complex systems interneurons that involves different neurotransmissors inside hypotha-lamus. The reproductive seasonality of mare also suffers influence of the endogenous opioid peptides and dopaminergic hormone that also suppress GRNH hypothalamic secretion, and in this way, influencing the reproductive season activity. The objective of this review was to highlight the melatonin, endogenous opioid peptides and dopaminergic hormone envelopment in the seasonality process of the mare.

Keywords: Equidae. Opioids. Dopamine. Melatonin.

REfERêncIAS

ALJARRAH, A. H. methods to induce earlier onset of cyclicity in transitional mares. 2004. Thesis (Master of Science) - Graduate Faculty, Louisiana State University and Agricultural and Mechanical College.

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Correspondência para/reprint request to: Fernando Andrade SouzaRua Desembargador Paula Mota, 30/201Ouro Preto31310-340 - Belo Horizonte – MG (Brasil)

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o conhEcImEnTo doS pRofISSIonAIS dA SAÚdE QuAnTo Ao TRABAlho fonoAudIolÓGIco Em

pEdIATRIA no AmBIEnTE hoSpITAlAR

Nariely de Sousa Avancini1Verônica Dardengo Gava2

Renata Veiga Andersen Cavalcanti3

RESumo

Investiga o conhecimento dos profissionais da área da saúde, quanto ao trabalho fonoaudiológico em pediatria no âmbito hospitalar e a im-portância desta atuação. O instrumento da pesquisa foi um questionário com cinco questões fechadas e específicas aos profissionais da saúde: fonoaudiólogos, pediatras, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, fisio-terapeutas, assistente social e otorrinolaringologistas, sendo um total de 71 profissionais, das localidades de Cachoeiro de Itapemirim, Linhares e Grande Vitória, no período de agosto a setembro de 2008. Como resultado observa que 100% dos profissionais entrevistados acham importante a atuação do fonoaudiólogo no ambiente hospitalar; 84,5% possuem em sua equipe de trabalho o profissional fonoaudiólogo e 67,6% trabalham em ambiente hospitalar. Sobre as áreas de atuação do fonoaudiólogo no setor de pediatria, 97,2% consideram a motricidade orofacial – es-timulação/disfagia a mais importante; 98,6% classificam a estimulação sensório-motora oral como sendo o benefício que o fonoaudiólogo pode trazer para o paciente pediátrico; 85,9% classificam a indicação de via alternativa de alimentação como sendo a contribuição do fonoaudiólogo nas decisões da equipe interdisciplinar e como contribuição da intervenção

1 Graduanda do Curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected].

2 Graduanda do Curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected].

3 Mestre em Fonoaudiologia pela Universidade Veiga de Almeida. Professora do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected].

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fonoaudiológica para o paciente pediátrico junto à equipe multidisciplinar, 90,1% consideram a melhoria da qualidade de vida do paciente e de sua família e 88,7% consideram a diminuição do tempo de internação desses pacientes. Este estudo, conclui que a atuação fonoaudiológica no ambiente hospitalar é fundamental, pois pode contribuir com a equipe multidisciplinar através da conduta a ser tomada com o paciente pedi-átrico, na indicação de via alternativa de alimentação, na estimulação sensório-motora oral e na introdução da dieta por via oral.

palavras-chave: Pediatria. Fonoterapia. Fonoaudiologia – prática. Pacientes hospitalizados – cuidado e tratamento. Acompanhamento terapêutico.

1 InTRodução

No início dos anos 80, surgiu no Brasil a clínica fonoaudiológica hospitalar voltada para bebês considerados de alto risco, devido à necessidade imperativa de atendimento aos problemas de alimentação desses pa-cientes. Houve, também, um grande investimento na área de terapia intensiva (tecnológico e científico), que culminou na criação de mais leitos e na inauguração de unidades de terapia intensiva pediátrica (UTIP) (PÊGO, 2005).

De acordo com Baptista (2003), o Conselho Regional de Fonoaudio-logia - 2a região, descreveu e divulgou um parecer regulamentando a atuação fonoaudiológica nesse campo. O parecer declara que a atuação fonoaudiológica pode ocorrer no período pré-natal, no berçário e/ou alo-jamento conjunto, UTI pediátrica e enfermaria pediátrica. Isto configura a importância da intervenção fonoaudiológica neste âmbito.

A UTIP dedica-se a pacientes portadores de patologias agudas, com riscos de vida devido à doença de base ou suas complicações, que re-querem cuidados e observações contínuas para controle, estabilização e preservação de suas funções vitais, desde que haja possibilidade de recuperação (AGUIAR et al., 1999).

Além da sofisticação de seus equipamentos, a qualificação do pessoal na UTIP se faz de fundamental importância. Não se restringe aqui somente à equipe médica, mas a toda a equipe multiprofissional (que inclui as equipes de enfermagem, fisioterapia, assistência social, apoio psicológico

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e outras), estas prestam ao paciente um atendimento constante nas 24 horas do dia (AGUIAR et al., 1999).

Para Rabelo et al. (2004) os profissionais da saúde devem deixar o iso-lamento de seus discursos e intermediar os saberes, para assim fazerem do trabalho isolado um trabalho coletivo. A fim de que a interdisciplina-ridade dos profissionais não se torne apenas uma linguagem estética, mas que busque a compreensão que implica correlacionar a saúde aos problemas sociais e psicológicos gerados em nossa sociedade, na qual contribuem para condições favoráveis à doença.

Tamez e Silva (2002) descrevem que durante o período crítico, ou seja, da internação do paciente, o profissional depara-se com os sentimentos da família e que, diante desta situação, encontra-se com reações de impotência, culpa, medo e angústia. Estes sentimentos criam estresse para a família e muitas vezes levam ao distanciamento entre filhos e pais, na qual estes acabam sendo divididos entre o desejo de aproximação e afastamento de seus filhos.

No período da internação, aspectos subjetivos e objetivos são importantes no atendimento do paciente pediátrico. Os aspectos subjetivos referem-se à interação da família com o profissional quanto à necessidade de manutenção do vínculo com o paciente, também aceitação do quadro clínico, que os permite encarar a dor e a possibilidade de perda, e os aspectos objetivos, incluem a intervenção fonoaudiológica específica, sendo avaliação e terapia (FRAZãO, 2008).

A demanda para a intervenção fonoaudiológica na UTIP é de pacientes que encontram-se com o quadro de disfagia, na qual o fonoaudiólogo contribui com uma avaliação, intensificando o diagnóstico e/ou início da reabilitação nos pacientes disfágicos (FRAZãO, 2008).

A disfagia é caracterizada por Giannini (2007) como a deglutição desor-denada, podendo se manifestar através de tosses, engasgos, bronco-aspiração, refluxo, afonia ou disfonia e medo de comer.

A deglutição tem por função transportar material da cavidade oral para o estômago, não permitindo a entrada de nenhuma substância na via aérea. Para que este ato seja feito de forma segura, necessita-se de uma coordenação precisa, principalmente entre as fases oral e faríngea (MARCHESAN, 2004).

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Furkim e Santini (2004), em sua obra, relatam que o manejo das disfagias orofaríngeas consiste, numa prática clínica domiciliar, porém, a atuação principal está no âmbito hospitalar e, para a avaliação e tratamento da sensibilidade/mobilidade dos órgãos fonoarticulatórios, assim como para a funcionalidade de todo o processo de alimentação, o responsável maior é o profissional fonoaudiólogo, habilitado para tal serviço.

Steimberg, Frazão e Furkim (2003) relatam, em sua pesquisa, que a avaliação e a terapêutica do paciente disfágico requerem uma equipe especializada, com profissionais que suprem à necessidade real do paciente e, não somente de sua área, buscando a interface entre as especialidades, sendo que Rosado et al. (2005), complementa que, após a avaliação clínica, o fonoaudiólogo é o principal responsável pelo manejo terapêutico deste paciente com o objetivo de obter melhor resultado na introdução de forma segura da dieta por via oral.

Segundo Stanich (2004) em vista de um quadro de disfagia de grau severo com riscos de penetração ou aspiração, se faz necessária a indicação de via alternativa de alimentação como suporte nutricional, pois, nestes casos, a alimentação por via oral não é suficiente para suprir as necessidades orgânicas e nutricionais do indivíduo sendo até mesmo contraindicada.

Rahal (1985) e Troncon (2000) (apud ROSADO et al., 2005) ressaltam que a utilização da sonda nasogástrica ou nasoentérica, por um longo período é desaconselhável por causar desconforto, trauma psíquico, aumento das secreções da árvore respiratória e irritação da nasofaringe, faringe e estômago, o que pode levar a complicações pulmonares e esofágicas. Nestes casos, faz-se a avaliação do paciente para melhor conduta terapêutica, buscando retirar a sonda e introduzir, de forma segura, a dieta por via oral.

De acordo com Levy e Rainho (2003), a indicação da via de alimentação mais adequada, da consistência, temperatura e quantidade de alimento a ser ofere-cido, utensílios a serem utilizados, o ritmo da alimentação, a postura durante e após a alimentação, são contribuições do profissional fonoaudiólogo.

Necessário se faz aqui um trabalho integrado: pediatria – fonoaudio-logia, no que se refere a dar condições sensório-motoras na região oral, e assim a criança melhor irá aceitar a introdução de alimentos (PROENçA, 1990).

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Para Furkim (1999) e Odderson (1993) (apud ROSADO et al., 2005) o ato de se alimentar constitui-se fonte de prazer para o ser humano, além de ser fonte de sobrevivência, muitas vezes, é um ato social que facilita a interação entre as pessoas. Assim Quintella, Silva e Botelho (2004) também consideram que a alimentação é um dos mecanismos inicias do desenvolvimento da comunicação da criança e da afetividade entre mãe e filho.

O especialista em fonoaudiologia aborda a alimentação de uma forma diferenciada, devido esta exercer uma forte influência positiva ou negativa sobre o crescimento craniofacial, também sobre as funções de respiração, mastigação, deglutição e fala todas envolvendo órgãos fonoarticulatórios (língua, lábios e bochechas) (SILVEIRA; GOLDENBERG, 2001).

Barros et al. (2006) ressaltam, em seu estudo, que o fonoaudiólogo tam-bém verifica a necessidade ou não de realização de exames objetivos, tais como videofluoroscopia ou nasofibrolaringoscopia, sendo contraindicado para pacientes com evidências quanto ao risco de aspiração.

Frazão (2008) acrescenta a avaliação da linguagem, realizada a partir do diálogo entre a criança e seus pais e entre a criança e o fonoaudiólogo. Com os dados da entrevista inicial e avaliação funcional da deglutição e de linguagem, serão levantadas hipóteses sobre as possíveis causas das alterações.

Porém, de acordo com o mesmo autor, a intervenção na linguagem só será intensificada nos casos de distúrbio de linguagem mais severos, como retardo de linguagem acentuado e afasias.

Desta forma, ocorre também o atendimento dos pacientes que apre-sentam distúrbio de fala, ou seja, a estimulação da fala será realizada somente em casos mais severos, como nas disartrias (PRODOCIMO; LOPES, 2003).

No estudo realizado por Ribeiro e Mitre (2004), apontam outra atuação fonoaudiológica, a triagem auditiva neonatal universal (TANU), afirmando que sua realização é de fundamental importância, pois uma vez detec-tado alteração no exame de emissões otoacústicas (EOAS) mais cedo será realizado a intervenção nessa criança, assim, com a plasticidade cerebral fica garantido um desenvolvimento, principalmente de fala e linguagem, o mais próximo do normal.

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Um outro estudo, realizado por Hilú e Zeigelboim (2007) para avaliar o conhecimento e valorização da triagem auditiva, mostra que de 32 mé-dicos entrevistados, 25% referiram-se as EOAS como sendo o melhor exame para identificação da perda auditiva, 13,5% deles referiram as EOAS como sendo o exame mais recomendado a ser realizados nos bebês, porém, 63% afirmaram conhecer, mas não souberam descrevê-las, segundo o autor, provavelmente por falta de conhecimento dos exames. Já no estudo de Soares, Marques e Flores (2008), 88,9% dos pediatras apresentaram ter conhecimento sobre a importância da realização da TANU.

Segundo Frazão (2008), o atendimento fonoaudiológico em pacientes pediátricos, vem sendo cada vez mais reconhecido, à medida que os resultados dessa intervenção na recuperação desses pacientes são constatados, e Rabelo et al. (2004) ainda conclui que a participação de uma equipe interdisciplinar para o tratamento de determinadas patologias infantis, que estão ligadas aos distúrbios da área fonoaudiológica, é de fundamental importância e a atuação em equipe irá garantir a esses pacientes uma melhor qualidade de vida.

2 oBJETIVo

O objetivo do presente estudo foi investigar o conhecimento dos profissio-nais da área da saúde a respeito da atuação fonoaudiológica em pacientes pediátricos no âmbito hospitalar e a importância desta atuação.

3 mETodoloGIA

Trata-se de uma pesquisa transversal analítica.

3.1 PARTICIPANTES

Fizeram parte desta pesquisa 71 profissionais da área da saúde que trabalham ou não em ambiente hospitalar, nas localidades de Cachoeiro de Itapemirim, Linhares e da Grande Vitória. 3.2 MATERIAL

- Termo de consentimento livre e esclarecido.

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- Questionário referente ao conhecimento dos profissionais da saúde sobre a atuação fonoaudiológica em pediatria no ambiente hospitalar (Apêndice A).

3.3 PROCEDIMENTO

Para a realização desta pesquisa, os participantes foram informados quanto aos objetivos e procedimentos e assinaram um termo de con-sentimento livre e esclarecido, autorizando a participação na pesquisa e divulgação científica dos dados coletados, sendo que, durante a análise dos dados, a identidade de cada profissional foi respeitada.

O questionário usado como coleta de dados (Apêndice A) foi aplicado com os profissionais de nível superior da área da saúde que trabalham ou não em ambiente hospitalar, no período de agosto a setembro de 2008.

Os participantes responderam ao questionário constituído de cinco questões fechadas relativas ao conhecimento desses profissionais sobre a atuação fonoaudiológica em pacientes pediátricos no ambien-te hospitalar, a marcação das alternativas era ilimitada, uma vez que todas as alternativas estavam corretas. O questionário conteve, ainda, a especialidade do profissional entrevistado, o ano de formação, se trabalha ou não em ambiente hospitalar, e se sua equipe de trabalho é composta por um fonoaudiólogo.

4 oBTEnção E clASSIfIcAção doS dAdoS

Os dados levantados dos questionários foram classificados da seguinte forma, para posterior tratamento estatístico:

a) Especialidades

Os profissionais foram distribuídos quanto às especialidades mais prevalentes.

b) Ano de formação

Foi realizada uma análise descritiva com o tempo de formação dos profissionais entrevistados, para a obtenção de uma média de tempo de formados.

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c) Trabalha ou não em ambiente hospitalar

Foi verificado se os profissionais entrevistados atuam ou não em ambiente hospitalar.

d) Se a equipe de trabalho tem fonoaudiólogo

Foi verificado se as equipes dos profissionais participantes da pes-quisa possuem ou não fonoaudiólogo.

e) Se acha importante a atuação fonoaudiológica em ambiente hospitalar

Foram consideradas as respostas SIM ou NãO, sobre as opiniões dos profissionais quanto à importância da atuação do fonoaudiólogo no ambiente hospitalar.

f) Análise das questões

• Quais benefícios o fonoaudiólogo pode trazer ao paciente pediátrico, atuando no ambiente hospitalar.

• Quais as áreas de atuação do fonoaudiólogo no setor de pediatria no ambiente hospitalar.

• Como o fonoaudiólogo poderia contribuir nas decisões da equipe interdisciplinar, quanto à conduta a ser tomada com o paciente pediátrico.

• Se a intervenção fonoaudiológica no paciente pediátrico junto à equipe multidisciplinar daria alguma contribuição.

• Nestas questões foram considerados os números de acertos das opções dadas, sendo que todas são corretas.

5 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Foi realizada a análise estatística descritiva completa e analítica. A parte analítica, segundo Spiegel (1993), constou da aplicação dos testes a seguir mencionados:

- Teste de Mann-Whitney, teste não paramétrico visando à compa-ração de variáveis para amostras independentes, duas a duas.

- Teste de Igualdade Duas Proporções, teste não paramétrico com-para se a proporção de resposta de duas determinadas variáveis e/ou seus níveis é estatisticamente significante.

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- Intervalo de Confiança para a Média, técnica utilizada para verificar o quanto a média pode variar em uma determinada probabilidade de confiança.

Foi definido para este trabalho um nível de significância de 0,05 (5%); e todos os intervalos de confiança foram construídos com 95% de con-fiança estatística.

Para a análise foram utilizados os softwares: SPSS V11.5, Minitab 14 e Excel XP.

6 RESULTADOS

Os resultados tratam da análise de um questionário constituído de cinco questões, respondido por 71 profissionais da área da saúde.

A Tabela 1 mostra a distribuição das especialidades.

Tabela 1 - Distribuição das especialidades

Especialidade Quantidade % p-valor*

Pediatria 20 28,2Fisioterapia 15 21,1 0,330

Fonoaudiologia 13 18,3 0,164Enfermagem 12 16,9 0,108

Psicologia 6 8,5 0,002**Otorrinolaringologia 3 4,2 <0,001**

Serviço Social 1 1,4 <0,001**Nutrição 1 1,4 <0,001**

* Teste de igualdade de duas proporções.** Diferença estatisticamente significante.

Verifica-se que a especialidade mais prevalente foi pediatria com 28,2%, mas que, segundo a análise estatística, não pode ser considerada di-ferente da fisioterapia (21,1%), fonoaudiologia (18,3%) e enfermagem (16,9%).

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A Tabela 2 mostra a descritiva para anos de formação.

Tabela 2 - Descritiva para anos de formação

Tempo de FormaçãoMédia 10,11

Mediana 7Desvio Padrão 8,06

CV 79,7%Min 0Max 34

N 71IC 1,87

Verifica-se que a média do tempo de formação foi de 10,11 anos.

A Tabela 3 mostra a distribuição das respostas para as questões que avaliam a opinião sobre a importância da atuação fonoaudiológica no ambiente hospitalar, a presença de fonoaudiólogo nas equipes de tra-balho e se o participante trabalha em ambiente hospitalar.

Tabela 3 - Distribuição das variáveis com respostas sim/não

Questões Não Sim p-valor*Qtde % Qtde %Acha importante a atuação do • fonoaudiólogo no ambiente hospitalar?

0 0,0 71 100 <0,001**

Sua equipe de trabalho tem • fonoaudiólogo?

11 15,5 60 84,5 <0,001**

Trabalha em ambiente • hospitalar?

23 32,4 48 67,6 <0,001**

* Teste de igualdades de duas proporções.** Diferença estatisticamente significante.

Verifica-se que 100% da amostra considera importante a atuação do fonoaudiólogo no ambiente hospitalar; e a maioria dos participantes da pesquisa possuem fonoaudiólogos em sua equipe de trabalho e também trabalham em ambiente hospitalar, sendo esses dados estatisticamente significantes.

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A Tabela 4 mostra quais seriam, para os profissionais entrevistados, as áreas de atuação do fonoaudiólogo no setor de pediatria e a Tabela 5 mostra os P-valores referentes aos resultados da Tabela 4.

Tabela 4 - Distribuição das áreas de atuação do fonoaudiólogo no setor de pediatria

Questão 3 Quantidade %• Motricidade orofacial

(estimulação – disfagia)69 97,2

• Audiologia (TANU) 56 78,9• Linguagem 50 70,4• Fala 48 67,6

Tabela 5 - P-valores da Tabela 4

Questão 3 A B CB <0,001**C <0,001** 0,247D <0,001** 0,129 0,717

* Teste de Igualdade de Duas Proporções.** Diferença estatisticamente significante.

Verifica-se que a resposta mais prevalente é a área de motricidade orofacial com 97,2% e segundo a tabela de P-valores este percentual é estatisticamente diferente de todos os demais.

A Tabela 6 mostra a análise da distribuição do percentual de acerto sobre quais benefícios o fonoaudiólogo poderia trazer, atuando no ambiente hospitalar, para o paciente pediátrico (questão 2) e a Tabela 7 mostra os P-valores referentes aos resultados da Tabela 6.

Tabela 6 - Distribuição do percentual de acerto por item da questão 2 (continua)

Questão 2 N %

C – Propiciar uma estimulação sensório-motora oral adequada. 70 98,6

A – Estimulação da interação mãe−bebê 63 88,7

E – Favorecer a transição mais rápida da alimentação por gavagem para a alimentação por via oral.

61 85,9

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Questão 2 N %

I – Detecção de crianças com problemas auditivos, ocasionando um rápido encaminhamento e tratamento precoce.

61 85,9

F – A promoção do aleitamento materno a reorganização dos estados de vigília do bebê em função dos ciclos de sono, fome e estados de atenção como uma maturação neurológica mais rápida.

58 81,7

G – Estimulação do desenvolvimento da linguagem. 57 80,3

J – Antecipação da alta hospitalar. 57 80,3

D – Propiciar ganho de peso. 54 76,1

H – Estimulação do desenvolvimento da fala. 52 73,2

B – Humanização do berçário, visando torná-lo um lugar mais adequado para o desenvolvimento do bebê.

48 67,6

Tabela 7 - P-valores da Tabela 6

Questão 2 C A E I F G J D H

A 0,016**E 0,005** 0,614I 0,005** 0,614 1,000F <0,001** 0,237 0,494 0,494G <0,001** 0,164 0,370 0,370 0,831J <0,001** 0,164 0,370 0,370 0,831 1,000D <0,001** 0,047** 0,134 0,134 0,411 0,542 0,542H <0,001** 0,019** 0,061# 0,061# 0,228 0,320 0,320 0,700B <0,001** 0,002** 0,010** 0,010** 0,054# 0,085# 0,085# 0,263 0,462

* Teste de Igualdades de Duas Proporções.** Diferença estatisticamente significante.

Verifica-se que a alternativa com maior percentual foi a alternativa C (propiciar uma estimulação sensório-motora oral adequada) com 98,6%, e este é um percentual estatisticamente significante comparando-se com as demais alternativas sugeridas.

A Tabela 8 mostra a análise da distribuição do percentual de acerto sobre como o fonoaudiólogo poderia contribuir nas decisões da equipe

Tabela 6 - Distribuição do percentual de acerto por item da questão 2 (conclusão)

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interdisciplinar, quanto à conduta a ser tomada com o paciente pediátrico (questão 4) e a Tabela 9 mostra os P-valores referentes aos resultados da Tabela 8.

Tabela 8 - Distribuição do percentual de acerto por item da questão 4

Questão 4 N %A – Na indicação de via alternativa de alimentação. 61 85,9B – Na suspensão da sonda orogástrica. 56 78,9C – Na introdução da dieta por via oral. 56 78,9D – Na antecipação da alta hospitalar. 48 67,6

Tabela 9 - P-valores da Tabela 8

Questão 4 A B CB 0,271C 0,271 1,000D 0,010** 0,129 0,129

* Teste de Igualdades de Duas Proporções.** Diferença estatisticamente significante.

Verifica-se que a alternativa com maior percentual foi a alternativa A (indicação de via alternativa de alimentação) com 85,9%, porém, de acordo com análise estatística, não apresenta diferença estatisticamente significante em relação as alternativas B e C, só apresenta diferença estatisticamente significante em relação a alternativa D.

A Tabela 10 mostra a análise da distribuição do percentual de acerto sobre como a intervenção fonoaudiológica no paciente pediátrico junto à equipe multidisciplinar poderia dar alguma contribuição (questão 5) e na Tabela 11 mostra os P-valores referentes aos resultados da Tabela 10.

Tabela 10 - Distribuição do percentual de acerto por item da questão 5

Questão 5 N %E – Melhora da qualidade de vida do paciente e de sua família. 64 90,1A – Diminuição do tempo de internação destes pacientes. 63 88,7C – Diminuição do uso da dieta nasoentérica. 59 83,1D – Melhora do quadro clínico. 55 77,5B – Redução dos gastos hospitalares. 54 76,1

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Tabela 11 - P-valores da Tabela 10

Questão 5 E A C DA 0,785C 0,218 0,335D 0,040** 0,073# 0,399B 0,025** 0,047** 0,298 0,843

* Teste de Igualdades de Duas Proporções.** Diferença estatisticamente significante.

Verifica-se que a alternativa com maior percentual de acerto foi a alter-nativa E (melhora da qualidade de vida do paciente e de sua família) com 90,1%, porém, pela análise estatística, não pode ser considerado estatisticamente diferente do percentual das alternativas A e C, mas apre-senta diferença estatisticamente significante das alternativas B e D.

A Tabela 12 mostra a distribuição dos acertos das questões 2, 4 e 5 entre as especialidades e a Tabela 13 mostra a prevalência de acertos dos profissionais em relação às questões 2, 4 e 5.

Tabela 12 - Distribuição dos acertos por especialidade nas questões 2, 4 e 5

Especialidade Média Mediana Desvio Padrão CV Q1 Q3 N IC

Que

stão

2

Enfermagem 7,75 8,5 2,63 34,0% 6,75 10 12 1,49Fisioterapia 6,87 7 2,61 38,1% 4 9 15 1,32Fonoaudiologia 8,62 10 2,10 24,4% 8 10 13 1,14Pediatria 9,30 10 1,17 12,6% 9 10 20 0,51Psicologia 7,17 7 2,56 35,8% 5,25 9,5 6 2,05

Que

stão

4

Enfermagem 3,08 3 1,00 32,3% 2,75 4 12 0,56Fisioterapia 2,53 3 1,41 55,6% 1 4 15 0,71Fonoaudiologia 3,46 4 1,13 32,5% 4 4 13 0,61Pediatria 3,60 4 0,68 18,9% 3 4 20 0,30Psicologia 2,33 2,5 1,63 70,0% 1,25 3,75 6 1,31

Que

stão

5

Enfermagem 3,67 3,5 0,98 26,9% 3 4,25 12 0,56Fisioterapia 3,80 4 1,37 36,1% 3 5 15 0,69Fonoaudiologia 4,85 5 0,38 7,7% 5 5 13 0,20Pediatria 4,40 5 0,88 20,1% 4 5 20 0,39Psicologia 3,50 3,5 1,38 39,4% 2,25 4,75 6 1,10

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Tabela 13 - P-valores da Tabela 14Especialidade Enfermeiro Fisioterapeuta Fonoaudiólogo Pediatra

Que

stão

2 Fisioterapia 0,384Fonoaudiologia 0,318 0,038**Pediatria 0,081 0,002** 0,535Psicologia 0,629 0,723 0,216 0,045**

Que

stão

4 Fisioterapia 0,356Fonoaudiologia 0,155 0,059Pediatria 0,102 0,019** 0,851Psicologia 0,353 0,775 0,075 0,043**

Que

stão

5 Fisioterapia 0,610Fonoaudiologia 0,002** 0,020**Pediatria 0,033** 0,213 0,110Psicologia 0,771 0,595 0,014** 0,116

* P-valor: Teste de Mann-Whitney.** Diferença estatisticamente significante.

Verifica-se que na questão 2 houve prevalência de acertos da pediatria sob as especialidades da psicologia e fisioterapia, e da fonoaudiologia sob a fisioterapia com diferença estatisticamente significante. Na questão 4, houve prevalência de acertos da pediatria sob a fisioterapia e a psicologia com diferença estatisticamente significante. Na questão 5, houve prevalência de acertos da fonoaudiologia sob a enfermagem, fisioterapia e psicologia, e da pediatria sob a enfermagem com diferença estatisticamente significante. Vale ressaltar que as especialidades de otorrinolaringologia, serviço social e nutrição não entraram nesta análise devido à baixa amostragem.

A Tabela 14 mostra se há diferença nas respostas dos profissionais que trabalham no ambiente hospitalar em relação aos que não trabalham.

Tabela 14 - Compara as respostas dos profissionais que trabalham no ambiente hospitalar em relação aos que não trabalham

Trabalha em AmbienteHospitalar

Questão 2 Questão 4 Questão 5Não Sim não sim não Sim

Média 7,67 8,36 2,81 3,27 4,24 4,09Mediana 8 10 4 4 5 5Desvio Padrão 2,54 2,19 1,40 1,05 1,09 1,10CV 33,1% 26,2% 49,9% 32,2% 25,7% 27,0%N 21 45 21 45 21 45IC 1,08 0,64 0,60 0,31 0,47 0,32p-valor* 0,271 0,296 0,573

* Teste de Mann-Whitney.

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Verifica-se que, embora exista diferença nas respostas entre os partici-pantes que trabalham ou não em ambiente hospitalar, essa variável não interferiu no número de acertos, ou seja, no conhecimento da atuação do fonoaudiólogo no âmbito hospitalar com pacientes pediátricos.

A Tabela 15 compara os acertos dos profissionais que possuem, em sua equipe de trabalho, fonoaudiólogos com os que não possuem.

Tabela 15 - Compara os acertos dos profissionais que possuem, em sua equipe de trabalho, fonoaudiólogos com os que não possuem

Equipe tem Fonoaudiólogo

Questão 2 Questão 4 Questão 5não sim não sim não sim

Média 6,56 8,39 1,89 3,32 3,67 4,21Mediana 7 10 1 4 4 5Desvio Padrão 2,55 2,19 1,45 1,02 1,22 1,06CV 39,0% 26,1% 76,9% 30,8% 33,4% 25,3%N 9 57 9 57 9 57IC 1,67 0,57 0,95 0,26 0,80 0,28p-valor* 0,032** 0,004** 0,156

* Teste de Mann-Whitney.** Diferença estatisticamente significante.

Verifica-se que as equipes que têm fonoaudiólogo possuem média de acerto maior do que as equipes que não têm fonoaudiólogo. Na questão 2, sobre os benefícios que o fonoaudiólogo poderia trazer para os pacientes, atuando em ambiente hospitalar, e na questão 4, referente à contribuição do fonoaudiólogo para a equipe quanto à conduta a ser tomada com o paciente pediátrico, a diferença é estatisticamente significante.

7 DISCUSSÃO

Os resultados encontrados na presente pesquisa demonstraram que os profissionais entrevistados, em sua grande maioria, têm conhecimento sobre a atuação fonoaudiológica no ambiente hospitalar, sendo que as especialidades de pediatria e fonoaudiologia mostraram ter melhor conhecimento sobre essa atuação em relação aos demais profissionais. Tal fato pode ser justificado pela maior parte dos pediatras entrevistados atuarem em ambiente hospitalar e apresentarem uma equipe composta por fonoaudiólogo.

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Nesta pesquisa, 100% dos profissionais consideraram importante a atuação do fonoaudiólogo neste ambiente, concordando assim com Aguiar et al. (1999) e Rabelo et al. (2004) que ressaltam a necessidade da qualificação dos profissionais da UTIP e a importância da interdisci-plinaridade dos profissionais de saúde, na qual se inclui o fonoaudiólogo atuando em associação com diversas especialidades médicas.

Ainda na pesquisa foi evidenciado que as equipes que possuem fono-audiólogo obtiveram maior índice de acertos quanto aos benefícios e contribuições que o profissional fonoaudiólogo, atuando em ambiente hospitalar, pode trazer ao paciente pediátrico, o que demonstra a inter-disciplinaridade desses profissionais entrevistados e o quanto isso se faz importante.

Verificou-se também que, dentre os profissionais que trabalham em ambiente hospitalar com os que não trabalham, não houve diferença nas opções assinaladas quanto a este conhecimento, pode-se supor que, diante disto, os profissionais da saúde, independente de suas es-pecialidades e subespecialidades, mostraram ter um grau de informação favorável a respeito da atuação fonoaudiológica hospitalar.

Para estes profissionais, a área de maior atuação fonoaudiológica neste ambiente se faz na motricidade orofacial (estimulação/disfagia), mais especificamente em casos de disfagia. Concordando com Steimberg, Frazão e Furkim (2003), assim como com Furkim e Santini (2004) e Rosado et al. (2005), o profissional fonoaudiólogo já tem condições de projetar com pontualidade e responsabilidade a atuação em disfagia, e Barros et al. (2006) mostrou em sua pesquisa que o fonoaudiólogo também verifica a necessidade ou não da realização de exames objetivos para pacientes sem risco de aspiração constatada em avaliação clínica.

Além da área de motricidade orofacial, a atuação fonoaudiológica no ambiente hospitalar se faz também nas áreas de audiologia – triagem auditiva neonatal universal (TANU), linguagem e fala, na qual verificou existir também uma porcentagem significativa do conhecimento dos participantes dessa pesquisa, sobre essas áreas de atuação fonoaudio-lógica no setor de pediatria no ambiente hospitalar, porém, ainda hoje se observa que esses atendimentos são pouco realizados nesse âmbito.

Assim como os demais profissionais entrevistados, a pediatria também apresentou um conhecimento respeitável sobre a área de audiologia

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(TANU), o que reafirma a pesquisa realizada por Soares, Marques e Flores (2008) em que a maioria dos pediatras neonatologistas (88,9%) apresentou ter conhecimento sobre a TANU; e que discorda da pesquisa realizada por Hilú e Zeigelboim (2007).

Para Hilú e Zeigelboim (2007), a falta de conhecimento deste exame pode justificar a significativa porcentagem de 63% do total de médicos entrevistados. E concluem em sua pesquisa que, para minimizar esse problema, os profissionais da saúde necessitam de maiores informações a respeito e, consequentemente, poderiam orientar melhor as famílias sobre a importância da realização das EOAs.

A área de linguagem foi assinalada também pela maioria dos participantes da presente pesquisa como sendo de atuação fonoaudiológica, o que mostrou um conhecimento importante sobre essa área da fonoaudiologia no ambiente hospitalar, mas vale aqui ressaltar que, de acordo com Frazão (2008), a intervenção na linguagem só será intensificada nos casos de distúrbio de linguagem mais severos, por exemplo, retardo de linguagem acentuado e as afasias, assim também, de acordo com Prodocimo e Lopes (2003), ocorre nos atendimentos de pacientes com distúrbio de fala, ou seja, a estimulação só ocorre em casos mais severos.

Dentre os vários benefícios que o profissional fonoaudiólogo pode trazer para o paciente pediátrico, foi considerado, pela maioria dos participantes desta pesquisa, o favorecimento da estimulação sensório-motora oral, concordando com Proença (1990) e, para Prodocimo e Lopes (2003), os benefícios do atendimento fonoaudiológico estão voltados principal-mente para a alta hospitalar mais rápida, assim como na introdução da dieta por via oral, visando à qualidade de vida e estado nutricional do paciente, o que concorda com Rosado et al. (2005), na qual relata que para se obter uma melhor conduta terapêutica faz-se a avaliação do paciente, com o objetivo de retirar a sonda e introduzir, de forma segura, a dieta por via oral.

Vale ressaltar que para uma alta hospitalar mais rápida e a introdução da dieta por via oral, a estimulação sensório-motora oral se faz neces-sária.

Nesses casos, segundo Proença (1990), é necessário um trabalho integrado, pediatria e fonoaudiologia, para dar ao paciente condições sensório-motoras na região oral, a fim de que esse melhor aceite a

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introdução de alimentos por via oral, assim contribuindo o profissional fonoaudiólogo, como encontrado nesta pesquisa, para a melhoria da qualidade de vida do paciente e de sua família.

Nesta pesquisa, verificou-se também o conhecimento dos profissio-nais da área da saúde, como sendo o fonoaudiólogo o profissional que juntamente com a equipe interdisciplinar determina a indicação de via alternativa de alimentação dos pacientes pediátricos, isso sempre que houver limitação do transporte do bolo alimentar e principalmente quando houver risco de aspiração, o que concorda com Stanich (2004) e Levy e Rainho (2003).

A presente pesquisa ressalta o conhecimento dos profissionais da saúde quanto à atuação do fonoaudiólogo no ambiente hospitalar, a fim deste contribuir em uma melhor qualidade de vida do paciente. Entretanto, no desenvolver da pesquisa, surgiu certa dificuldade de encontrar literatura e pesquisas sobre a atuação fonoaudiológica no ambiente hospitalar com pacientes pediátricos, o que sugere a limitação de um melhor co-nhecimento dos profissionais que participaram desta pesquisa.

8 concluSão

Com os resultados encontrados, pode-se concluir que a atuação fono-audiológica no ambiente hospitalar é de fundamental importância, pois poderá contribuir com a equipe interdisciplinar através da conduta a ser tomada com o paciente pediátrico na indicação de via alternativa de alimentação, na estimulação sensório-motora oral, e na introdução da dieta por via oral. Consequentemente, proporcionando ao paciente e sua família, uma melhor da qualidade de vida.

Constatou-se que, dos profissionais entrevistados, os pediatras e os fonoaudiólogos mostraram ter melhor conhecimento sobre essa atuação do que os demais profissionais.

Deste modo, mais estudos e investimentos em pesquisas na área da fonoaudiologia, atuando em pacientes pediátricos no ambiente hospitalar, se fazem necessários, uma vez que poucos são os estudos e pesquisas encontrados nessa área.

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ThE KnoWlEdGE of ThE pRofESSIonAlS of ThE hEAlTh hoW much To WoRK fonoAudIoloGIc In

pEdIATRIcS In ThE hoSpITAl EnVIRonmEnT

ABSTRAcT

It investigates the knowledge of the professionals of the area of the he-alth, how much to the fonoaudiologics work in pediatrics in the hospital scope and the importance of this performance. The instrument of the research consisted of 1 questionnaire with 5 closed and specific questions to the professionals of the health; fonoaudiologics, pediatrics, nurses, psychologists, nutritionists, physiotherapists and assistants social, and otolaryngologist, being a total of 71 professionals, the cities of Cachoeiro de Itapemirim, Linhares and the Grande Vitória, in the period of August setembro/2008. It was observed that 100% of the interviewed profes-sionals they find the performance of the fonoaudiologic in the hospital environment important; 84.5% possess in its team of work the fonoau-diologic professional and 67.6% work in hospital environment. On the areas of performance of the fonoaudiologic in the pediatrics sector, 97.2% had considered the motricidade orofacial − most important the disfagia stimulation/; 98.6% had classified the verbal sensor-motor stimulation as being the benefit that the fonoaudiologic could bring for the pediatric patient; 85.9% had classified the indication of by feeding alternative as being the contribution of the fonoaudiologic in the decisions of the team to interdisciplinary; e as contribution of the fonoaudiological intervention for the pediatric patient next to team to multidiscipline, 90.1% had consi-dered the improvement of the quality of life of the patient and of its family and 88.7% they had considered the reduction of the time of internment of these patients. In this study, it is concluded that the fonoaudiological performance in the hospital environment is basic, therefore will be able to contribute with the team to interdisciplinary through the behavior to be taken with the pediatric patient, in the indication of by feeding alter-native, in the verbal sensor-motor stimulation, and in the introduction of the diet for it saw verbal.

Keywords: Pediatrics. Speech therapy. Speech – practice. Hospital patients – care. Continuum of care.

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Correspondência para/reprint request to:Nariely de Sousa AvanciniRua Governador Afonso Cláudio, 66 Juparanã29.900-650 - Linhares – ES (Brasil)

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ATuAção fonoAudIolÓGIcA Em pAcIEnTES pEdIáTRIcoS no AmBIEnTE hoSpITAlAR

IDENTIFICAçãO

Nome:________________________________________________

ESPECIALIDADE

( ) Fonoaudiologia ( ) Pediatria ( ) Enfermagem( ) Psicologia ( ) Nutrição ( ) Fisioterapia( ) Serviço Social ( ) Outras especialidades médicas:____________________________________.

Ano de Formação:__________

Trabalha em ambiente hospitalar? ( ) Sim ( ) NãoSua equipe de trabalho tem fonoaudiólogo? ( ) Sim ( ) Não

Data da Entrevista:___/____/_____

QUESTIONÁRIO (A marcação das alternativas é ilimitada)

1) Você acha importante a atuação do profissional fonoaudiólogo no ambiente hospitalar?( ) Sim ( ) Não

2) Quais benefícios para os pacientes, esse profissional poderia trazer com sua atuação neste ambiente?

( ) Estimulação da interação mãe−bebê.

( ) Humanização do berçário, visando torná-lo um lugar mais adequado para o desenvolvimento do bebê.

( ) Propiciar uma estimulação sensório-motor oral adequada.

( ) Propiciar ganho de peso.

Apêndice A – Instrumento de coleta de dados

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( ) Favorecer a transição mais rápida da alimentação por gava-gem para a alimentação por via oral.

( ) A promoção do aleitamento materno a reorganização dos estados de vigília do bebê em função dos ciclos de sono, fome e estados de atenção como uma maturação neurológi-ca mais rápida.

( ) Estimulação do desenvolvimento da linguagem.

( ) Estimulação do desenvolvimento da fala.

( ) Detecção de crianças com problemas auditivos, ocasionan-do um rápido encaminhamento e tratamento precoce.

( ) Antecipação da alta hospitalar.

3) No setor de Pediatria de um hospital, quais seriam as áreas de atuação do profissional Fonoaudiólogo?( ) Motricidade orofacial – estimulação / disfagia.( ) Audiologia – TANU( ) Linguagem( ) Fala ( ) Outros_________________________________________.

4) De que forma o fonoaudiólogo poderia contribuir nas decisões da equipe interdisciplinar, ou seja, na conduta a ser tomada com o paciente pediátrico?( ) Na indicação de via alternativa de alimentação.( ) Na suspensão da sonda orogástrica.( ) Na introdução da dieta por via oral.( ) Na antecipação da alta hospitalar.

5) Para você, a intervenção fonoaudiológica no paciente pediátrico, junto à equipe multidisciplinar ajudaria em quais itens abaixo?( ) diminuição do tempo de internação destes pacientes.( ) redução dos gastos hospitalares.( ) diminuição do uso da dieta nasoentérica.( ) melhora do quadro clínico.( ) melhora da qualidade de vida do paciente e de sua família.

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o pRocESSo VIRTuAl no BRASIl

Carlos Fernando Lapenda de Moura1

RESumo

Objetiva avaliar a tecnologia da informação no âmbito do processo judicial, principalmente quanto à evolução processual, a importância da Lei nº 9.800/1999, o advento da recente Lei nº 11.419/2006, a prá-tica de atos judiciais virtuais, a segurança e autenticidade dos dados processuais e os pontos favoráveis e restritivos no processo virtual. Pontos favoráveis: ampla publicidade; máxima velocidade; fácil acesso às informações; diminuição do contato pessoal; automação das rotinas e das decisões judiciais; digitalização dos autos; aumento do poder tecnológico dos juízes; e a diminuição dos custos processuais. Pontos restritivos: a Justiça virtual é ainda inacessível para a maior parte da população e para muitos dos operadores do direito que não possuem conhecimentos em informática (analfabetos tecnológicos); preocupação constante com a segurança e autenticidade dos dados processuais; e a substituição exacerbada do foco decisório de questões processuais para técnicos de informática. Considera, porém, que a tecnologia da informação é uma verdadeira revolução no processo e as mudanças já iniciaram e caminham a passos rápidos, trazendo consigo mais bene-fícios ao processo moderno.

palavras-chave: Tecnologia da informação. Processo judicial. Prova documental. Documentos eletrônicos.

1 Mestrando em Administração e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal Rural de Pernambuco. E-mail: [email protected].

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1 InTRodução

É cada vez mais amplo o uso dos computadores na vida social e, em particular, a difusão das transferências eletrônicas, a explosão da Internet e o comércio eletrônico, o que acreditamos cedo ou tarde teremos de nos valer de algum tipo de documento proveniente de um sistema de elaboração eletrônica, seja ele o recibo de pagamento emitido por um terminal eletrônico de um banco, um empréstimo bancário on-line, a inscrição para um concurso público e tantos outros. Mesmo na prática diária dos juristas, a tecnologia da informação já representa um avanço. A maioria dos Tribunais já disponibilizou sua jurisprudência, acompa-nhamento processual pela Internet, bem como, em alguns Tribunais, já possibilita a prática de atos processuais virtuais, a exemplo do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, onde o advogado cadastrado no Sistema de Transmissão Eletrônica de Atos Processuais se habilita a utilizar o sistema, podendo peticionar sem precisar apresentar os documentos originais.

Sabemos que vários setores da vida social dependerão, em maior ou menor grau, da tecnologia da informação, uma vez que o computador é hoje a única ferramenta produzida pelo homem em condições de satisfazer as cada vez maiores e mais sofisticadas exigências de todos os segmentos sociais. A sociedade moderna estruturou-se de forma indissociável sobre a tecnologia dos computadores e dos aparelhos eletrônicos. Não é difícil prever que, em breve período de tempo, toda a atividade de armazenamento de documentação se desenvolverá, salvo casos excepcionais, de forma digitalizada. Consequentemente, o documento redigido pelas formas tradicionais perderá grande parte de seu uso e importância social, em favor do documento eletrônico.

Um fenômeno social de tal magnitude impõe análise jurídica aprofun-dada. Urge, em outros termos, indagar-se qual a relevância jurídica do documento formado por um computador, qual o valor jurídico do docu-mento eletrônico, bem como qual a sua abrangência e peculiaridades no processo.

Este exame deve levar em conta, de um lado, a necessidade de permitir a mais eficaz e vasta utilização dos novos meios tecnológicos; por outro, a necessidade de tutelar adequadamente a confiança na aplicação do processo judicial, em especial, do processo civil na segurança dos novos tipos de documento eletrônicos.

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O presente artigo debate tais questões. Sendo assim, tratamos do processo judicial virtual, a importância da Lei nº 9.800/1999, a segu-rança e autenticidade dos dados processuais, a prova eletrônica e sua fundamentação, os pontos favoráveis e desfavoráveis à aplicação da tecnologia da informação no processo. Utilizamos o apoio da doutrina, jurisprudência e legislação pátria para confecção deste trabalho. Há de salientar que encontramos alguns empecilhos tendo em vista a escas-sez de trabalhos publicados em relação ao tema abordado, porém, a partir dos conceitos, novos e clássicos, demonstraremos como já é uma realidade a utilização da tecnologia da informação no processo.

O novo direito processual que surge com o uso da tecnologia da informação é totalmente diferente do que imaginaram os grandes processualistas do século passado, pois não há papel, não há documentos físicos, não há carimbos, ou seja, tudo é ou será digital. Esse novo processo pode ser chamado de processo eletrônico ou virtual e tem características peculiares, tais como: publicidade e velocidade ampla, automação das rotinas e decisões judiciais, digitalização dos autos, reconhecimento da validade das provas digitais e expansão do conceito espacial de jurisdição.

Essas mudanças já iniciaram e caminham a passos rápidos. Inclusive, o presente artigo visa analisar a atual realidade e as futuras consequências da tecnologia da informação no âmbito do processo.

2 pRocESSo JudIcIAl VIRTuAl

2.1 IMPORTâNCIA DA LEI Nº 9.800/1999

Das mudanças propostas no direito processual brasileiro nos últimos tempos, a Lei nº 9.800/1999 foi a iniciativa mais importante, justamente por ser a primeira a vislumbrar e admitir o uso de tecnologia da informa-ção como ferramenta para a prática de atos processuais.

Este entendimento é assim explicado:

Pela primeira vez, a lei processual tentou aproveitar a funciona-lidade permitida com o avanço das tecnologias da informação. E isso tem um significado verdadeiramente revolucionário, liber-tador. Sim, porque representa o primeiro passo no caminho da

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transformação da natureza física do processo judicial (REINALDO FILHO, 1999).

De acordo com Olivo (2005), a efetivação do processo judicial se faz pelo suporte material, sendo seu lado físico suas folhas de papel agrupadas em ordem cronológica, ficando os atos documentados e acessíveis a qualquer pessoa. Com o advento da Lei nº 9.800/1999, ao permitir a transmissão de peças processuais por meio de correio eletrônico quebrou o elo da corrente de documentos materiais. Inicialmente esta ruptura não é completa, pois a petição que é enviada eletronicamente volta a assumir sua feição corpórea quando é impressa em papel e anexada aos autos. Além do mais, muitos Tribunais ainda não dispõem de sistemas informáticos que possibilitem trabalhar com documentos eletrônicos devidamente confiáveis, e até mesmo não regulamentaram a aplicação da referida Lei na sua esfera.

A possibilidade da completa virtualização processual judicial e as vantagens decorrentes da utilização da Lei nº 9.800/1999 é assim justificada:

Já pensou a economia de tempo e praticidade que representa, por exemplo, para um advogado, remeter sua petição por e-mail, diretamente de seu escritório, sem precisar de intermediários? E o que é melhor, a lei 9.800 estabelece que ‘os juízes poderão praticar atos de sua competência à vista de transmissões efetu-adas na forma dessa lei’. Isso significa que, ao receber a petição transmitida via e-mail, o juiz imediatamente poderá decidir a res-peito do que nela se contém, deferindo ou não uma providência, por exemplo. Não é preciso esperar a juntada de documento original para, só então, manifestar-se sobre o assunto objeto da petição transmitida eletronicamente. Não, o juiz está autorizado a conhecer de logo da petição e proferir sua decisão sobre o pedido formulado (REINALDO FILHO, 1999).

Porém, para que este ciclo se complete é necessário que o próprio Poder Judiciário se equipe de tecnologia no sentido de que os atos processuais venham a ser naturalmente praticados através dos meios eletrônicos, regulamentados pela Lei nº 9.800/1999 e que, inexplicavelmente, no seu art. 5º, desobriga o Judiciário a dispor de equipamentos para recepção de petições eletrônicas. Provavelmente, o intuito do legislador tenha sido fazer com que a aplicação fosse feita dentro da realidade administrativa, financeira e tecnológica de cada Tribunal, haja vista que o Brasil é um país imenso com várias diferenças.

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Há de salientar-se que o art. 5º não deve servir de pretexto para que o sistema não seja implantado, até porque a utilização dos meios eletrô-nicos constitui o único caminho para a democratização da Justiça e o seu ajustamento ao ritmo da sociedade informatizada, razão pela qual o correio eletrônico é assim justificado:

O correio eletrônico é instrumento de nossa vida cotidiana. Já é possível passar e receber mensagem de correio eletrônico até por meio de telefones celulares. Mesmo quem não tem com-putador pode ter endereço eletrônico, acessar sua caixa postal de qualquer lugar. [...] O fax hoje é muito menos utilizado do que o correio eletrônico. Em breve estará para o e-mail como a máquina de escrever para o computador pessoal (REINALDO FILHO, 1999).

Alguns Tribunais, atentos à evolução tecnológica, já dispensam a apresentação física da petição original, bastando a remessa da petição eletrônica. Exemplo disso é a iniciativa do Tribunal Regional Federal da 1ª Região chamada e-Jufe, onde o advogado se cadastra no Sistema de Transmissão Eletrônica de Atos Processuais da Justiça Federal (JF) da 1ª Região e se habilita a utilizar o sistema, podendo peticionar sem precisar apresentar os documentos originais.

2.2 PRÁTICA DE ATOS JUDICIAIS VIRTUAIS

O magistrado mineiro Marques (1999), faz interessante observação sobre a disparidade entre as formas de registro de atos processuais depen-dendo do rito processual seguido. Recorda que, enquanto o art. 279 do CPC fala da validade da utilização da taquigrafia, estenotipia e qualquer outro meio hábil de documentação dos atos realizados em audiência nos processos de rito sumário, o art. 13, § 2º, da Lei nº 9.099/1995, diz da validade da solicitação de realização de ato processual em outra Comar-ca por qualquer meio idôneo de comunicação e o § 3º, diferenciando a forma de registro dos atos processuais em essenciais e demais atos, diz que os primeiros podem ser manuscritos, datilografados, taquigrafados ou estenotipados, enquanto que os segundos podem ser gravados em fita magnética ou equivalente. Para ele, o legislador esqueceu-se de que o processo é, essencialmente, um só. E afirma que se o legislador processual pátrio quiser agilidade dos processos e soluções judiciais rápidas, deve adequar as normas processuais aos modernos meios de comunicação e de registro.

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Porém, com o advento recente da Lei nº 11.419, de 19 de dezembro de 2006, no seu art. 1º, § 1º, ficou regulamentado o uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e tramita-ção de peças processuais, indistintamente, aos processos civil, penal e trabalhista, bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição.

2.3 CITAçãO E INTIMAçãO VIRTUAL

Conforme define o art. 213 do Código de Processo Civil brasileiro, ci-tação “é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender”. Quanto à efetivação, a citação pode ocorrer (art. 221): I – pelo correio; II – por oficial de justiça; III – por edital.

Tanto a citação quanto a intimação – que são típicos atos processuais realizados sob a forma escrita, alicerçados nos cuidados com a segurança e a garantia das partes a fim de não lhes tirar a validade na medida em que podem ser realizados pelo correio convencional, indubitavelmente, também o podem pela via do correio eletrônico, via e-mail ou sistema de transmissão de dados on-line. Notadamente, para os advogados que se encontrarem cadastrados perante os tribunais ou juízos e que enviarem suas petições com base na Lei nº 9.800/1999, deve ficar im-plícito que a citação ou a intimação – ou qualquer outro ato, mesmo os interlocutórios – poderão ser realizados via correio eletrônico. O órgão expedidor do ato terá registrado em seu sistema o texto da mensagem enviada, o exato momento em que foi repassada e o endereço do destinatário. Em caso de divergência sobre a validade da citação ou da intimação, tais informações serão publicadas. Se enviadas para o endereço correto e público do advogado, a este caberá a abertura de sua caixa postal eletrônica com frequência. Não poderá alegar que não recebeu a comunicação oficial em função de não ter acessado sua caixa eletrônica. A desatenção, neste caso, depõe contra o citado ou intimado. Caso a mensagem tenha sido enviada com falha ou se efetivamente se tornar inteligível, o advogado não terá maiores dificuldades de provar, através de corriqueira perícia técnica, o erro do órgão expedidor. Com a popularização da criptografia e da regulamentação da assinatura digital, esta questão deverá ser pacificamente resolvida.

Assim, não se justificará mais a recusa da aceitação de que tais atos venham a ser realizados pelo correio eletrônico, conforme permissivo legal constante da Lei nº 9.800/1999.

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O mesmo raciocínio se aplica para as partes que sejam funcionários públicos, órgãos públicos ou mesmo o Ministério Público (MP). A restri-ção contida no parágrafo 2º, do art. 236, do Código de Processo Civil brasileiro, de que a intimação do MP, em qualquer caso, será feita pes-soalmente, não mais se justifica, visto que a informatização e a utilização dos recursos da Internet no MP alcançam níveis elevados.

É bom destacar que a lei dos Juizados Especiais Federais (Lei nº 10.259/2001) já permite que os Tribunais Regionais Federais organizem serviços de intimação das partes e de recepção de petições por meio eletrônico. Na prática, a tecnologia da informação já vem ocorrendo em inúmeros Juizados Especiais Federais.

2.4 SEGURANçA E AUTENTICIDADE DOS DADOS PROCESSUAIS

Nos autos tradicionais, em papel, não são muito comuns os casos de falsificação de documentos processuais. Porém, é mais fácil falsificar um documento de papel do que um documento digital protegido com mecanismo de segurança, tais como: assinatura digital, criptografia, senha e biometria. Até pela existência dos modernos scanners e im-pressoras, qualquer pessoa, com um mínimo de habilidade com os referidos equipamentos, é capaz de reproduzir com fidelidade docu-mentos em papel.

A preocupação em torno da segurança e autenticidade dos dados na comunicação virtual dos atos processuais seria sem sentido, já que são raros os casos de falsificação dos autos em papel e, portanto, seriam também raros os casos de falsificação/adulteração de documentos digitais. Porém, no mundo virtual, existe um submundo em que vivem pessoas cuja maior diversão é violar sistemas de segurança. A preocu-pação com a segurança deverá estar sempre na pauta de discussões dos processualistas.

A Medida Provisória nº 2.200, de 24 de agosto de 2001, instituiu a infra-estrutura de chaves públicas, visando garantir a autenticidade de docu-mentos eletrônicos, mediante certificação digital e assinatura digital,

[...] possibilitando vislumbrar em um futuro próximo, certa esta-bilidade aos documentos transmitidos (e contidos) por computa-dores e, via de conseqüência, autorizando o seu uso como meio

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de prova confiável, protegida de fraudes e erros normais nas transmissões de dados.

Com a emenda constitucional que restringiu o uso de medidas provi-sórias, a MP nº 2.200, já na segunda versão, não mais pôde ser ree-ditada, passando a vigorar por tempo indeterminado, até que o Poder Legislativo a aprecie.

Recentemente a Lei nº 11.280/2006 alterou o Código de Processo Civil no Parágrafo único, do art. 154, que diz:

Os tribunais, no âmbito da respectiva jurisdição, poderão disci-plinar a prática e a comunicação oficial dos atos processuais por meios eletrônicos, atendidos os requisitos de autenticidade, inte-gridade, validade jurídica e interoperabilidade da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP – Brasil.

Em termos legislativos, o ideal é que a autorização para uso de meios eletrônicos para a prática de atos processuais fosse genérica, sem vin-cular a obrigatoriedade restrita a qualquer sistema, técnica ou método. Neste sentido, em carta aberta sobre a regulamentação de procedimentos digitais, o Instituto Jurídico de Inteligência e Sistemas (IJURIS) sugere que a lei processual apenas autorize a utilização de meios eletrônicos na prática de atos processuais e procedimentais e disponha sobre os requisitos mínimos de segurança no trânsito de documentos e infor-mações.

Desse modo, o credenciamento, que já vem funcionando em diversos tribunais e, posteriormente, com a consolidação do sistema de chaves públicas e privadas, já que atualmente é a mais recomendada, tendo em vista a segurança. E se, posteriormente, viesse uma solução melhor, adotava-se sem precisar a toda hora estar mudando a lei.

3 dIScuSSão SoBRE ponToS fAVoRáVEIS E RESTRIToS

O objetivo do presente trabalho é também enfatizar os pontos favorá-veis e restritivos do processo virtual. Segundo Lima (2003), esse novo processo, na onda dos modismos cibernéticos, pode ser chamado de e-processo (processo eletrônico).

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3.1 PONTOS FAVORÁVEIS

O processo digital tem trazido grandes avanços ao processo judicial, razão pela qual destacamos os seguintes pontos favoráveis:

a) Ampla publicidade − Com o desenvolvimento da tecnologia da in-formação, a publicidade processual atingirá patamares universais. Qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, por exemplo, poderá acompanhar uma determinada audiência judicial, desde que tenha acesso à Internet. A publicidade, enfim, será plena. Isso permitirá não apenas o acompanhamento do processo por qualquer interessado, mas uma maior fiscalização pública dos atos judiciais e administra-tivos praticados pelos membros do Poder Judiciário.

b) Máxima velocidade – Se atualmente a patológica morosidade pro-cessual é o calcanhar de Aquiles do Judiciário brasileiro, em breve, com o processo digital, essa doença estará curada, pelo menos em parte. A comunicação dos atos processuais ocorrerá em tempo real. Não haverá, em regra, citações, intimações e notificações no mundo real. Tudo será pela Internet. O correio eletrônico (e-mail) é infinitamente mais eficiente para comunicação dos atos processuais do que o correio convencional. A lei dos Juizados Especiais Federais (Lei nº 10.259/2001) já permite que os Tribunais Regionais Federais organizem serviços de intimação das partes e de recepção de petições por meio eletrônico. Na prática, isso já vem ocorrendo em inúmeros Juizados.

c) Fácil acesso às informações – Com a Internet, o acesso às infor-mações jurídicas foi enormemente facilitado. Sem muita dificuldade e perda de tempo, são encontrados precedentes jurisprudenciais, doutrina nacional e estrangeira (artigos, livros, monografias), modelos de petições e contratos, legislação sobre os mais diversos temas.

d) Diminuição do contato pessoal – O contato pessoal com o juiz também será, gradativamente, substituído pelas comunicações virtuais. Há uma tendência, do mesmo modo, de diminuir o contato dos advogados com os servidores. O peticionamento eletrônico, o acompanhamento processual através da Internet, a publicação on-line do inteiro teor das decisões e as intimações via e-mail são exemplos disso.

e) Automação das rotinas e das decisões judiciais – A tendência é auto-matizar boa parte do impulso processual, sobretudo a comunicação dos atos processuais, a exemplo do mecanismo de intimações pelo

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sistema push. Além disso, algumas decisões serão proferidas com auxílio de programas dotados de inteligência artificial. Já existem softwares capazes de elaborar decisões, mediante o preenchimento de campos previamente estabelecidos. Por exemplo, no âmbito da Justiça do Trabalho, há um programa que filtra a subida de recursos ao TST, permitindo a elaboração de despachos-padrão de admissi-bilidade de recursos.

f) Digitalização dos autos – Os autos físicos em papel serão gradativa-mente substituídos pelos autos digitais até chegar ao ponto de todos os autos serem digitais. Por enquanto, vive-se uma fase transitória. O Supremo Tribunal Federal, por exemplo, disponibiliza o inteiro teor de todas as petições iniciais das Ações Diretas de Inconstitucionalidade e Ações Declaratórias de Constitucionalidade, bem como o inteiro teor das respectivas decisões, em sua página na Internet. Qualquer pessoa pode visualizar os referidos documentos sem precisar sair de casa.

g) Aumento do poder tecnológico dos juízes − Com a tecnologia da informação muitas atividades são realizadas diretamente pelo juiz ou através de sua delegação. Por exemplo, se o juiz determinar a penhora de um automóvel, ele próprio (ou um servidor a seu man-do) irá efetuar o bloqueio do referido veículo através do seu próprio computador. Com o Bancen Jud, que é um sistema de solicitação de informações via Internet, o magistrado pode enviar ordens judiciais ao Sistema Financeiro Nacional com uma facilidade impressionante. Com isso, os bloqueios de contas correntes de pessoas físicas e jurídicas são efetivados com alguns cliques. Obviamente, sem uma plena consciência tecnológica e sem um efetivo conhecimento técnico poderá haver inúmeros abusos dos poderes cibernéticos do juiz.

h) Diminuição dos custos processuais – A informatização dos proces-sos significa redução de custos operacionais e administrativos, que poderão ser verificados na economia de papel e horas de trabalho.

3.2 PONTOS RESTRITIVOS

O processo judicial é, tradicionalmente, um ambiente pouco propício à participação popular. Conforme Lima (2003), apesar de todos os be-nefícios trazidos com a informatização do processo, sem uma política social séria de inclusão digital aumentará ainda mais o abismo entre o povo e a Justiça. A população de menor renda, que já sente dificul-

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dade de compreender o funcionamento da Justiça tradicional, ficará totalmente excluída da Justiça virtual. Em razão deste fato e de outros, passamos a destacar os pontos restritivos da tecnologia da informação no processo civil:

a) Acesso ainda restrito – Atualmente a Justiça on-line é uma Justiça de elites, totalmente inacessível para a maior parte da população e para muito dos operadores do direito, em razão dos mesmos não possuírem conhecimentos em informática (analfabetos tecnológicos) e não possuírem as ferramentas básicas, por exemplo, o computa-dor.

b) Preocupação constante com a segurança e autenticidade dos dados processuais. A preocupação com a segurança deverá estar sempre na pauta de discussões dos processualistas, pois, caso contrário, poderá inviabilizar o processo virtual.

c) Substituição do foco decisório de questões processuais para técnicos de informática. A substituição exacerbada é também um ponto restri-tivo, já que, com o avanço da aplicação da tecnologia da informação no processo judicial, as decisões sobre questões processuais serão resolvidas, em regra, com auxílio de um técnico em informática, ra-zão pela qual há uma necessidade dos juízes passarem a adquirir conhecimentos básicos da tecnologia da informação para que de-cidam corretamente a lide, não se baseando, exclusivamente, nas informações fornecidas por técnicos de informática.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tecnologia da informação é uma verdadeira revolução no processo. Com ela, a publicidade processual ganha contornos jamais imaginados. A comunicação dos atos processuais ocorre em tempo real. O impulso processual é automático. O novo direito processual que surge é to-talmente diferente do que imaginaram os grandes processualistas do século passado, pois não há papel, não há documentos físicos, não há carimbos, ou seja, tudo é ou será digital. Essas mudanças já iniciaram e caminham a passos rápidos, trazendo consigo mais benefícios ao processo moderno. Inclusive, com o advento da recente Lei nº 11.419, de 19 de dezembro de 2006, a informatização do processo judicial consolidou-se de vez, já que a referida norma é mais detalhada e eficaz, fazendo com que o uso de meio eletrônico na tramitação de processos

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judiciais, comunicação de atos e transmissão de peças processuais seja aplicado, indistintamente, aos processos civil, penal e trabalhista, bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição. Assim, o processo virtual já é uma realidade.

ThE VIRTuAl pRocESS In BRAZIl

ABSTRAcT

It was objectified with this study to evaluate the technology of the infor-mation in the scope of the action at law, mainly how much to the proce-dural evolution, the importance of Law 9.800/1999, the advent of recent Law 11.419/2006, the practical one of virtual judicial acts, the security and authenticity of the procedural data and the favorable and restrictive points the virtual process. Favorable points: ample advertising; maximum speed; easy access to the information; reduction of the personal contact; automation of the routines and the sentences; computerization of files of legal documents; Increase of the technological power of the judges; e the reduction of the procedural costs. Restrictive points: virtual Justice is still inaccessible for most of the population and many of the operators of the right who do not possess knowledge in computer science (illite-rate technological); constant concern with the security and authenticity of the procedural data; e the exacerbated substitution of the power to decide focus of procedural questions for computer science technician. We consider, however, that the technology of the information is a true revolution in the action and the changes already had initiated and walk the fast steps, bringing I obtain more benefits to the modern action.

Keywords: Information technology. Judicial process. Documentary evidence. Electronic records.

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REfERêncIAS

LIMA, G. M. e-Processo: uma verdadeira revolução procedimental. Jus navigandi, Teresina, ano 7, n. 64, abr. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/ texto.asp?id=3924>. Acesso em: 13 nov. 2006.

MARQUES, L. G. A utilização de novas tecnologias no processo civil. Disponível em: <http://www.neofito.com.br/artigos>. Acesso em: 10 nov.1999.

OLIVO, L. C. C. de. Processo digital civil e penal sob a ótica da lei 9.800/99. Tubarão: Editorial Studium, 2005.

REINALDO FILHO, D. R. Lei 9.800 – Caminhamos para a virtualização do processo judicial? 1999. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/ index.php/buscalegis/article/view/3599/3170. Acesso em: 9 out. 2009.

Correspondência para/reprint request to:Carlos Fernando Lapenda de MouraJoão Ramos, 286/602Graças52011-080 - Recife – PE (Brasil)

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ocoRRêncIA dE STAPHYLOCOCCUS coAGulASE poSITIVA no “cIRcuITo cIRuRGIA” dE pEQuEnoS AnImAIS do hoSpITAl VETERInáRIo pRofESSoR RIcARdo AlEXAndRE hIpplER E AVAlIAção do

ESpEcTRo dE SEnSIBIlIdAdE dESTES mIcRo-oRGAnISmoS AoS AnTIBIÓTIcoS

uTIlIZAdoS pElA EQuIpE cIRÚRGIcA

Luciana Prata Honorato1 João Damasceno Lopes Martins2

Marcus Alexandre Vaillant Beltrame3 Fernando Luiz Tobias4

RESumo

Avalia a ocorrência de staphylococcus coagulase positiva, coletados em diferentes ambientes do circuito cirurgia do Hospital Veterinário Professor Ricardo Alexandre Hippler e o perfil de sensibilidade destas bactérias à antimicrobianos utilizados pela equipe cirúrgica. De 39 colheitas realizadas foram isolados staphylococcus de 22 amostras (56,4%) sendo, 17 (77,3%) staphylococcus coagulase negativa e 5 (22,7%) staphylococcus coagulase positiva. O perfil de sensibilidade à antimicrobianos encontrado para estes últimos micro-organismos se mostrou de ampla resistência, revelando eficiência somente à vancomi-cina, o que justifica a condição destas cepas bacterianas como sempre presentes em ambiente hospitalar e apresentando um elevado espectro de resistência à antimicrobianos.

palavras-chave: Hospitais veterinários. Estafilococos. Bacteriologia veterinária. Testes microbiológicos. Infecção hospitalar.

1 Graduanda do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected].

2 Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected] Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected] Doutorando em Ciência Animal da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy

Ribeiro. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected].

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1 InTRodução

Os estafilococos são bactérias isoladas com muita frequência de amostras biológicas. Estas bactérias estão amplamente distribuídas na natureza e podem ser isoladas de ambientes ou como comensais da pele, mu-cosas e outros sítios corpóreos tanto dos homens quanto dos animais (KONEMAN et al., 2001).

Pertencem à família Micrococcaceae, gênero staphylococcus, sendo composto de trinta e três espécies, onde as mais importantes são: s. aureus, s. intermedius, s. epidermidis e s. saprophyticus (BROOKS; BUTEL; MORSE, 2000; CAVALCANTI; COUTINHO, 2005).

São bactérias esféricas, gram-positivas, que se apresentam como gru-pamentos irregulares em forma de cachos de uva. São imóveis, não formam esporos, são anaeróbias facultativas, crescem bem em ágar-sangue e quando incubadas a 37°C por 24 horas formam colônias de um a dois milímetros de diâmetro, circulares, úmidas de cor variando do branco ao caramelo (MURRAY et al., 2004).

Apresentam ainda, capacidade de produzir catalase; fermentar, len-tamente, muitos carboidratos produzindo ácido lático; algumas cepas apresentam atividade proteolítica, hemolisam sangue e promovem coagulação do plasma in vitro. Essa característica de formar coágulo em presença de plasma permite a divisão do gênero staphylococcus em dois grupos: os que apresentam capacidade de coagular o plasma são chamados de staphylococcus coagulase positiva (s. aureus e s. intermedius) e os que não coagulam o plasma são denominados sta-phylococcus coagulase negativa (s. epidermidis e s. saprophyticus). Além disso, eles têm relativa resistência ao ressecamento, ao calor (suportam uma temperatura de 50°C durante 30min), a concentrações elevadas de cloreto de sódio (7,5%), ao fenol a 2% por 15min e ao formol à 10% por 10min (BROOKS; BUTEL; MORSE, 2000).

Os staphylococcus coagulase positiva, assim como os staphylococ-cus coagulase negativa estão associados a muitos casos de infecção, tais como, respiratórias, urinárias e bacteremias. Estas são infecções hospitalares frequentes e importantes decorrentes, provavelmente, de procedimentos invasivos, rompimento do equilíbrio do ecossistema cutâneo, uso prévio de antibioticoterapia e falha na resposta imune do

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hospedeiro (CAVALCANTI; COUTINHO, 2005; CUNHA et al., 2002; DIENER; COUTINHO; ZOCCOLI, 1996).

Podem causar infecções tipicamente oportunistas, especialmente nos animais imunossuprimidos, e têm sido descritas como as mais preva-lentes em levantamentos realizados sobre infecção de feridas ósseas (FOSSUM et al., apud SIMIONATO; RAMOS; COUTINHO, 2003). Além destas, foram relatadas por Cunha et al. (2002) outras infecções causadas por estes micro-organismos isolados de diferentes fluidos corpóreos, podendo ser indicativo de bacteremia.

Na década de 40 e 50, estes micro-organismos eram os principais agentes etiológicos de inúmeras epidemias de infecções hospitalares, enquanto que, na década de 60, esse posto foi assumido pelos bacilos gram-negativos, visto que a descoberta da penicilina teve um grande sucesso no combate a infecções causadas pelos estafilococos. Entretanto, hoje, o papel desempe-nhado pelos estafilococos, no que diz respeito à infecção hospitalar, volta a ser de grande importância devido a uma reemergência de staphylococcus multirresistentes a antibióticos, passando a ser um problema cada vez mais frequente em diferentes países (MARANGONI, 1997).

Estes micro-organismos resistentes têm acesso ao paciente através de fluidos corporais, que contaminam superfícies do hospital, equipamentos médicos e mãos de pessoal técnico (JOHNSON, 2002). Em alguns fluidos corpóreos como, por exemplo, no pus dissecado e em crostas de feridas, os staphylococcus sobrevivem vários meses, o que explica sua perma-nência nestes ambientes contaminados (CORRÊA; CORRÊA, 1992).

O surgimento de cepas de staphylococcus aureus multirresistentes e o aumento da frequência de infecções causadas por bactérias gram-positivas estimulam a busca por drogas antimicrobianas mais eficientes.

Por isso, apesar de se conhecer os glicopeptídeos há mais de 35 anos, estes surgem como um ótimo recurso nos dias atuais para o tratamento de infecções, especialmente hospitalares, por esses micro-organismos (JELJASZEWICZ; MLYNARCZYK; MLYNARCZYK, 2000).

Portanto, para se evitar a seleção de bactérias resistentes, a escolha de um antimicrobiano na terapia de qualquer doença é uma decisão com-plexa e de grande responsabilidade do médico veterinário e envolve a avaliação de algumas variáveis clínicas. Além disso, na escolha dessas

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substâncias, deve também ser levado em consideração o resultado da cultura e sensibilidade do micro-organismo a essas drogas (BUDSBERG; KEMP, apud SIMIONATO; RAMOS; COUTINHO, 2003).

A incidência de infecções nosocomiais em hospitais veterinários não é bem investigada, porém, fatores como aumento de procedimentos invasivos, tempo de internação, permanência em unidades de terapia intensiva e aumento no uso de drogas antimicrobianas, que contribuem para o aumento das infecções nosocomiais em hospitais humanos, estão se tornando mais comuns em medicina veterinária (JOHNSON, 2002).

2 oBJETIVo

O objetivo deste trabalho foi verificar a ocorrência de staphylococcus coagulase positiva no circuito cirurgia de pequenos animais e avaliar o perfil de sensibilidade destes micro-organismos a antibióticos utilizados no hospital universitário.

3 mATERIAl E méTodoS

3.1 ESCOLHA DOS AMBIENTES PARA COLETA DAS AMOSTRAS

Os ambientes escolhidos para coleta do material foram o Ambulatório de Cirurgia (3 pontos de coleta: duas paredes e a mesa de procedimento), o Centro Cirúrgico de Pequenos Animais (3 pontos de coleta: duas paredes e a mesa cirúrgica) e a Sala de Fluidoterapia (7 pontos de coleta: duas paredes; três boxes − n° dois, quatro e cinco; um colchão e uma maca), cujo conjunto dos ambientes foi denominado circuito cirurgia. Em cada um destes ambientes, foram selecionados locais para realização das coletas do material hospitalar.

3.2 COLHEITA DE MATERIAL PARA ANÁLISE

As colheitas foram realizadas uma vez por semana, durante três semanas consecutivas entre os meses de agosto e setembro de 2005, na parte da manhã, sempre dez minutos após a limpeza dos ambientes.

Foram selecionados, aleatoriamente, cinco pontos para cada local de co-lheita, os quais foram demarcados com moldes estéreis de 10cm² e colhidos

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através da técnica de esfregaço de superfície aplicando um swab em cada um destes pontos, descrevendo-se movimentos primeiro da esquerda para direita e depois de cima para baixo, rodando-o, continuamente, para que toda a superfície do algodão entrasse em contato com a amostra. Em seguida, os cinco swabs foram colocados em um mesmo frasco contendo 25ml de solução salina 0,85% estéril. Este procedimento foi utilizado para todos os pontos de colheita (SILVA; JUNQUEIRA; SILVEIRA, 2001).

3.3 SEMEADURA DAS AMOSTRAS

Uma alíquota de 100µl de cada amostra foi retirada e semeada em duplicata em placas de Petri contendo Agar BHI (Brain Heart Infusion) acrescido de 8% de sangue (AS) de carneiro. Em seguida, o material foi espalhado com uma alça de Drigalsky nos quatro quadrantes da placa, depois de seco, incubado em estufa bacteriológica em aerobiose a 37°C por 48 horas (SIMIONATO; RAMOS; COUTINHO, 2003).

3.4 IDENTIFICAçãO DE STAPHYLOCOCCUS

Todos os cocos gram-positivos encontrados foram isolados em culturas puras e estas submetidas a testes bioquímicos para identificação destes micro-organismos. Os testes realizados para caracterização desse grupo foram: Catalase, Coagulase em tubo e fermentação de Manitol, permi-tindo a separação em staphylococcus coagulase positiva e coagulase negativa (KONEMAN et al., 2001).

3.5 TESTE DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

Para avaliação da sensibilidade das bactérias isoladas aos diversos agentes antimicrobianos, foi realizada a técnica de difusão em ágar com discos de papel filtro impregnados com antibióticos (BAUER et al., 1966).

Amoxicilina, Ampicilina, Enrofloxacina e Vancomicina foram os agentes antimicrobianos testados, sendo a seleção destes antibióticos baseada no critério de maior uso dos três primeiros pela equipe de cirurgia do Hospital Veterinário Professor Ricardo Alexandre Hippler.

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4 RESulTAdoS E dIScuSSão

De um total de 39 colheitas realizadas, ocorreu crescimento de bactérias do gênero staphylococcus em 22 (56,4%) sendo, 17 staphylococcus coagulase negativa (77,3%) e 5 staphylococcus coagulase positiva (22,7%).

Dos staphylococcus coagulase positiva, 80% foram isolados na sala de Fluidoterapia (box dois, colchão e maca) e 20% estavam presentes no ambulatório. O Centro Cirúrgico não apresentou crescimento destes micro-organismos (Gráfico 1).

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Ambulatório Centro Cirúrgico Fluidoterapia

SCP (%)SCN (%)

Gráfico 1 - Ocorrência de Staphylococcus coagulase positiva (Scp) e Staphylococcus coagulase negativa (SCN) nos diferentes ambientes de coleta

Os staphylococcus coagulase positiva representam um risco tanto no am-bulatório, quanto na sala de fluidoterapia, apresentando esta última um grau maior de contaminação, quando comparada aos outros ambientes, tornando-se um local mais propício para esses micro-organismos se desenvolverem e causarem infecções oportunistas ou não em animais que tenham acesso a esse ambiente. Isso se deve, principalmente, ao fato de haver neste local grande fluxo de pessoas e animais, que albergam esses micro-organismos na pele, roupas e outros equipamentos, servindo como fonte direta de contaminação para o ambiente e para os animais internados.

Em trabalho desenvolvido por Seguin et al. (1999), onde se avaliou a ocor-rência de staphylococcus aureus Meticilina Resistente, foi demonstrada a presença destes micro-organismos em equinos submetidos a procedimentos cirúrgicos. Conseguiu-se relacionar, como fonte de contaminação destes animais, o pessoal da equipe cirúrgica através da realização de swabs nasais dessas pessoas encontrando, em ambos, cepas de mesmo biotipo.

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No Centro Cirúrgico, apesar do animal ficar muito exposto aos patóge-nos hospitalares, uma vez que os procedimentos cirúrgicos rompem a barreira normal da pele e membranas mucosas, estando os animais mais suscetíveis a adquirirem infecção, se mostrou um ambiente que oferece pouco risco.

Além disso, a presença de tecidos desvitalizados, formação de hemato-mas, traumatismos tissulares, presença de espaço morto, formação de seroma e presença de corpo estranho, limitam a habilidade fisiológica normal de defesa e controle do organismo animal, predispondo a colo-nização bacteriana. Por isso, a técnica cirúrgica é importante, pois, uma vez bem realizada, diminui o trauma sofrido pelos tecidos, a formação de seromas e riscos de hemorragia, evitando o uso indiscriminado de antibióticos profiláticos, assim como o risco de desenvolvimento de resistência antimicrobiana (JOHNSON, 2002).

local de coleta AntimicrobianosAmoxicilina Ampicilina Enrofloxacina Vancomicina

Ambulatório R R R Scentro cirúrgico R R R Sfluidoterapia R R R S

Quadro 1 - Padrão de sensibilidade à antimicrobianos dos Staphylococcus coagulase positiva isolados do “circuito cirurgia” do hospital Veterinário

Professor Ricardo Alexandre Hipplernota:R = bactérias resistentes e S = bactérias sensíveis.

local de coleta AntimicrobianosAmoxicilina Ampicilina Enrofloxacina Vancomicina

Ambulatório S S S Scentro cirúrgico S S S Sfluidoterapia S S S S

Quadro 2 - Padrão de sensibilidade a antimicrobianos dos Staphylococcus coagulase negativa isolados do “circuito cirurgia” do hospital Veterinário

Professor Ricardo Alexandre Hipplernotas:Algumas bactérias isoladas apresentaram resistência à Ampicilina (Ambulatório e Fluidoterapia), Amoxicilina (Fluidoterapia) e Enrofloxacina (Centro Cirúrgico).S = bactérias sensíveis.

Os stahylococcus coagulase negativa e coagulase positiva foram isola-dos dos ambientes em todas as coletas, o que indica sua persistência

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no ambiente hospitalar. Estes micro-organismos apresentaram perfis de sensibilidade a antimicrobianos diferenciados. Enquanto a maioria dos stpahylococcus coagulase negativa (Quadro 2) se mostraram sensíveis aos antimicrobianos utilizados, os coagulase positiva (Quadro 1) reve-laram sensibilidade somente à vancomicina (Gráfico 2).

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Ampicilina Amoxicilina Enrofloxacina Vancomicina

SCP (%)SCN (%)

Gráfico 2 - Porcentagem de sensibilidade in vitro das cepas de Staphylococcus coagulase positiva (SCP) e coagulase negativa (SCN) frente a antimicrobianos

Atualmente os glicopeptídeos, como a vancomicina, constituem a melhor opção terapêutica segura contra infecções causadas por estes micro-organismos, especialmente, os staphylococcus resistentes à meticilina. Em todo o Brasil, staphylococcus aureus é o principal agente etiológico das infecções hospitalares, com elevados percentuais de resistência à meticilina. Em 1994, foi descrito um isolamento de staphylococcus aureus na corrente sanguínea e outros sítios, em paciente submetido à transplante hepático. De todos os antimicrobianos utilizados, esta cepa era sensível apenas à vancomicina e à teicoplanina (MARANGONI, 1997).

O primeiro relato de resistência à vancomicina e à teicoplanina, foi descrita para enterococos no final da década de 80. A origem dessa resistência é controversa e existem duas teorias. A primeira sugere o surgimento de cepas destas bactérias resistentes devido ao intenso uso do antibiótico vancomicina. A segunda associa a ideia do uso de um glicopeptídeo (avoparcina), como promotor de crescimento, pela indústria agrícola (AMYES; GEMMELL, 1997).

A transferência de genes resistentes de enterococos para estafilococos já foi demonstrada em laboratório, mas não foi reportado de isolados

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clínicos, fato que vem causando grande apreensão ante a expectativa deste fenômeno acontecer na prática clínica (JELJASZEWICZ; MLY-NARCZY; MLYNARCZYC, 2000).

5 CONCLUSÃO

Os staphylococcus coagulase positiva ocorreram em pequena porcen-tagem, quando comparados aos staphylococcus coagulase negativa. Sendo a Fluidoterapia, o local de maior presença destas bactérias e, por estes micro-organismos apresentarem sensibilidade somente à vancomicina, representam um risco potencial à saúde do animal.

occuRREncE of STAPHYLOCOCCUS coAGulASE poSITIVE In “SuRGERY cIRcuIT” of SmAll AnImAlS fRom ThE VETERInARY hoSpITAl

TEAchER RIcARdo AlEXAndRE hIpplER, And ThE EVAluATIon of SEnSIBIlITY of ThESE

mIcRooRGAnISmS To AnTImIcRoBIAl uSEd BY ThE SuRGIcAl TEAm

ABSTRAcT

It was evaluated the occurrence of staphylococcus coagulae posi-tive, coleted in different environments from the Surgery circuit in the Veterinary Hospital Teacher Ricardo Alexandre Hippler and the profile of sensibility of these bacterias to antimicrobial used by the surgical team. Of the 39 samples colleted, 22 examples (56,4%) of staphylococcus were isolated, where 17 (77,3%) were staphylococcus coagulase negative and 5 (22,7%) were staphylococcus coagulase positive. The profile of sensibility to antimicrobial found for these microorganisms showed ample resistance, revealing efficacy only to vancomycin, which justifies the condition of these bacterial strains as always being present in hospital environments and presenting na elevated espectrum of resistance to antimicrobial.

Keywords: Veterinary hospitals. staphylococcus. Veterinary bacteriology. Microbiological assay. Nosocomial infections.

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Correspondência para/reprint request to: Marcus Alexandre Vaillant BeltrameRua Carolina Leal, 65Centro29123-220 - Vila Velha – ES (Brasil)

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o TEmpo EnTRE A SuSpEITA dA pERdA AudITIVA E o dIAGnÓSTIco

Gleice Gonçalves Martins1

Maiumy Grechi Leal2 Rogério Roberte3

RESumo

O diagnóstico precoce da deficiência auditiva oportuniza melhores pos-sibilidades de aquisição da linguagem, podendo propiciar o emprego de tecnologias e técnicas que visam o adequado desenvolvimento das habilidades auditivas e um melhor prognóstico, evitando prejuízos decor-rentes da falta de estimulação nos primeiros anos de vida. Deste modo, esta pesquisa tem como objetivo verificar o tempo entre a suspeita e o diagnóstico da perda auditiva. A partir de um questionário com perguntas fechadas para os responsáveis das 52 crianças do programa de Alta Complexidade da Policlínica de Referência do Centro Universitário Vila Velha (UVV)/ES, analisou que o tempo entre a suspeita e o diagnóstico da perda auditiva foi inferior a um mês em 15,4% dos casos pesquisa-dos e até 6 meses em 46,1% dos casos, ou seja, em 61,5% dos casos o tempo entre a suspeita e o diagnóstico é inferior a 6 meses. Conclui, com base na amostra pesquisada, que as crianças tiveram o período entre a suspeita e o diagnóstico diminuído em relação a outros estudos relatados na literatura científica.

1 Graduanda do Curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected].

2 Graduanda do Curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected].

3 Mestre em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor do Centro Universitário Vila Velha. E-mail: [email protected].

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palavras-chave: Audição (fisiologia). Distúrbios da audição nas crian-ças – diagnóstico. Distúrbios da audição – prevenção.

1 InTRodução

A detecção e o diagnóstico precoce da deficiência auditiva vêm sendo muito discutidos nos últimos anos, estimulando estudos e pesquisas, pois quanto mais cedo a criança for diagnosticada melhor será seu desenvolvimento social e educacional.

Verificando os estudos no Brasil, pode-se analisar que a estimativa é de 3:1.000 crianças que apresentam surdez, ou seja, a perda auditiva ao nascimento é muito mais frequente do que em outras patologias como a fenilcetonúria em que a incidência é de 1:10.000, o hipotireoidismo 2,5 para 10.000 e anemia falciforme 2:10.000 (AZEVEDO, 2005; GRUPO DE APOIO À TRIAGEM AUDITIVA NEONATAL UNIVERSAL, 2008; HILÚ; ZEIGELBOIM, 2007; NÓBREGA, 2004; RIBEIRO; MITRE, 2004).

Como a incidência de perda auditiva é muito grande no país e o custo para a identificação dessa deficiência é baixo, é importante que se façam campanhas informativas sobre o diagnóstico, pois crianças que tiveram o diagnóstico da perda auditiva e intervenção antes dos 6 meses de idade desenvolveram-se mais do que aquelas diagnosticadas após 1 ano, minimizando ou até mesmo eliminando as dificuldades encontradas por elas (RIBEIRO; MITRE, 2004).

Diversos autores salientam que os primeiros anos de vida da criança são considerados os mais importantes para o desenvolvimento das habilidades auditivas e da linguagem e é nesse período que ocorre a maturação neurológica que é de fundamental importância para o desen-volvimento possibilitando, assim, uma melhor maturação socioemocional da criança (BEVILACQUA; FORMIGONI, 1998; HILÚ; ZEIGELBOIM, 2007; MAGALHãES; OLIVEIRA; ASSENCIO-FERREIRA, 2001).

A importância do diagnóstico precoce é fundamental pela particularidade das vias auditivas, cuja maturação ocorre da periferia para o córtex au-ditivo, na dependência dos estímulos sonoros e cujo período engloba os fatores pré, peri e pós-natais. Segundo Ruben e Rapin e também Katz (apud NOBREGA et al.,1998), esses fatores afetam o desenvolvimento das crianças e, consequentemente, o resto de suas vidas.

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O hábito de fumar e de beber, bem como o de usar todas as outras drogas, é prejudicial ao recém-nascido. Também vale a pena notar que o que uma mãe introduz no seu corpo não é o único perigo, altos níveis de estresse e prolongados períodos de depressão também se mostraram danosos a crianças ainda não nascidas. Todas essas tendências podem ter implicações muito sérias para as crianças depois do nascimento. Alguns dos hábitos são mortais não só para o bebê, mas também para a mãe (JACOB, 2005).

Dados do Joint Committee on Infant Hearing (2007) ressaltaram alguns indicadores de risco para deficiência auditiva que são história familiar de deficiência auditiva neurossensorial congênita ou de aparecimento tardio, infecções congênitas relacionadas à suspeita de associação com deficiência auditiva neurossensorial, anomalias cranianas, UTIN recém-nascido internados por mais de 5 dias, baixo peso ao nascimento (inferior a 1.500g), hiperbilirrubienemia, medicação ototóxicas, meningite bacteriana, anóxia severa ao nascimento, ventilação mecânica e síndro-mes que possam estar relacionadas à perda auditiva neurossensorial (ex.: Waadenburg ou Usher).

De acordo com o Comitê, todas as crianças devem ser diagnosticadas até 1 mês de vida ou, no mais tardar, até os 3 meses, pois aquelas que não passarem na triagem devem fazer uma avaliação audiológica mais profunda.

Se não passarem na avaliação audiológica, os lactentes com perda audi-tiva confirmada deverão receber adequada intervenção em até 6 meses de idade a partir dos cuidados com a saúde e com a educação.

Pois, quando a perda auditiva se dá na infância, acarreta impacto negativo no desenvolvimento nas habilidades de linguagem, fala, desempenho escolar, desenvolvimento emocional e social e dinâmica familiar. Segundo Yoshinaga-Itano et al. (2001), crianças com defi-ciência auditiva de grau leve a profundo não conseguem adquirir a linguagem no mesmo período e velocidade que uma criança que ouve. Melo, Moret e Bevilacqua (2008) ressaltam que as perdas auditivas severas e profundas são as que mais apresentam alterações de fala e linguagem.

O aprendizado da linguagem é um evento essencialmente auditivo e as alterações da linguagem interferem no processo educacional e, conse-

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quentemente, vão afetar as habilidades de leitura e escrita, provocando repetições nas séries escolares (AZEVEDO, 2005).

Quanto mais prolongado for o tempo para diagnosticar a perda auditiva, pior será a evolução da criança, pois o diagnóstico precoce favorece um tratamento correto e evita lesões mais sérias no ouvido e em outros orgãos do corpo (NORTHERN; DOWNS, 2005).

Além do mais, o diagnóstico precoce é um dos fatores decisivos para o melhor desenvolvimento da criança deficiente auditiva, permitindo saber o tipo e o grau da perda, a intervenção adequada com o uso do aparelho de amplificação sonora favorecendo o aproveitamento da au-dição residual, possibilitando, assim, atuar de forma preventiva sobre os problemas secundários de deficiência auditiva em vez de remediá-los (BEVILACQUA; FORMIGONI, 1998).

Diferentes autores destacam que a audição é fundamental para o desenvolvimento da lingua gem oral, pois se sabe que, durante o quinto mês de gestação, o feto já tem as estruturas da orelha média e internas formadas, porém, durante o sexto mês de gestação, as fibras do nervo auditivo começam a se mielinizar, fazendo com que o feto, ainda no útero materno consiga ouvir determinados sons espe-cialmente as batidas do coração da mãe (HILÚ; ZEIGELBOIM, 2007; NOBREGA, 2004; PUDO; CICCA; ASSENCIO-FERREIRA, 2002; RIBEIRO; MITRE, 2004).

Northern e Downs (2005) ressaltam um aspecto muito importante que afeta os resultados da identificação e da intervenção precoce que é o intervalo de tempo entre a idade de detecção da perda auditiva e a idade na qual se dá início aos procedimentos. Eles relatam em seus estudos que esse intervalo de tempo diminuiu durante os últimos 25 anos, pois, embora a idade média da suspeita dos pais quanto à surdez tenha sido de dez meses, demorou-se vinte e um meses até que o diagnóstico médico de perda auditiva fosse confirmado.

Um diagnóstico tardio muitas vezes tem a ver com a descrença ou a negação dos pais quanto à perda auditiva, com a demora no agenda-mento do médico para encaminhar para outro especialista e com bebês que têm outra patologia associada e, por isso, a audição não é a única da preocupação dos pais (BOSCOLO; SANTOS 2005).

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Para Ceschin e Roslyng-Jensen (2002), um ponto principal durante o levantamento da sus peita é o diagnóstico precoce, pois o mais importante nessa etapa é bus car um atendimento adequado o mais rápido possível, visto que quanto mais cedo começar o processo de estimulação auditiva, melhor será o desenvolvimento da criança.

As mães geralmente são as primeiras a suspeitarem da perda auditiva, pois, durante os primeiros anos de vida, elas passam a maior parte do tempo com seu filho, essa interação irá fazer com que ela acompanhe, de forma minuciosa, o desenvolvimento de seu filho, estando atenta a qualquer alteração no desenvolvimento da criança (BOSCOLO; SAN-TOS, 2005).

Segundo Ceschin e Roslyng-Jensen (2002); Boscolo e Santos (2005), a confirmação da perda auditiva é o momento mais complicado. Esse período é caracterizado por muitos sentimentos, além da dor pela confirmação da deficiência, é o momento em que se deve escolher um caminho a ser tomado. Para enfrentar essa dor, algumas estratégias têm-se mostrado úteis para que não ocorra um desequilíbrio familiar.

Os cônjuges devem fazer um esforço no sentido de olharem para dentro de si, analisarem seus sentimentos mais profundos e compartilhá-los, devem fazer um estudo das regras e papéis que permeiam a sua relação, procedendo às modificações necessárias e, em determinados períodos, os cônjuges precisam estar juntos apenas como marido e mulher, e não como pai e mãe (BRITO; DESSEN, 2008).

Qualquer que seja a classe social da família, ela não tem como se pre-parar antecipadamente para receber uma criança com necessidades especiais. As modificações necessárias somente vão ocorrer à medida que houver convivência com a criança. As perspectivas atribuídas ao filho se diferem nas famílias pertencentes a diferentes contextos socio-culturais (SIXEL; FROTA; GOLDFELD, 2006).

Segundo as mesmas autoras, a grande incidência da surdez na popula-ção de baixa renda relaciona-se às etiologias como rubéola congênita, toxoplasmose e outras, já que essas doenças acometem com mais frequência à população que não tem acesso a medidas preventivas como vacinas, assistência pré-natal ou exames laboratoriais. Naeye et al. (apud NOBREGA et al., 1998) relatam que o sexo masculino é mais sensível a intercorrências neonatais graves como hemorragia cerebral,

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membrana hialina, infecções e outras, favorecendo uma maior predis-posição à deficiência auditiva.

Com relação às diferenças sociais, é pertinente informar que cada família tem sua história particular. É preciso esclarecer que o contexto socioeco-nômico dos pais e da criança surda precisa ser levado em consideração e que existe uma grande diferença entre os valores e as percepções de pessoas letradas com boas condições econômicas e pessoas iletradas, vivendo em condições de pobreza. É preciso que o acolhimento e as orientações oferecidas sejam diferenciados de acordo com a realidade de cada família (SIXEL; FROTA; GOLDFELD, 2006).

Para Azevedo (2005) a dinâmica e o relacionamento familiar podem ser afetados em decorrência da dificuldade de interação, das rejeições, sentimentos de culpa. Outro fator importante é a carga econômica gerada pelo custo do tratamento, bem como da necessidade de disponibilidade para acompanhar a criança na terapia fonoaudiológica sistemática e nos serviços médicos impedindo, em muitos casos, que a mãe trabalhe. Essas consequências serão piores quanto mais tardio é o diagnóstico.

Segundo Bevilacqua e Moret (2005); Tochetto e Gatto (2007), além da maturação biológica e dos processos de aprendizagem, que se encontram intimamente ligados durante os períodos de desenvolvimento, o diagnós-tico é influenciado por vários fatores, tais como, idade do diagnóstico, aquisição do aparelho auditivo e idade que se inicia a terapia.

Logo que ocorre o diagnóstico, muitas crianças permanecem em filas de doação por mais de 2 anos para adquirir sua prótese auditiva. Outro problema é que, após adquirir a prótese, a criança tem dificuldade de encontrar vaga para terapia fonoaudiológica, prorrogando ainda mais sua reabilitação (FERNANDES et al., 2002).

Nobrega et al. (1998), em um estudo com 200 crianças e adolescentes portadores de deficiência auditiva, selecionadas em um ambulatório de otorrinolaringologia, concluíram que para 13% dos casos estuda-dos a confirmação do diagnóstico foi até os 2 anos de idade, a mãe foi a primeira pessoa a suspeitar da deficiência auditiva de seu filho, a suspeita ocorreu em 56% das crianças antes dos dois anos e 42% das crianças passaram mais de dois anos entre a suspeita e a confirmação do diagnóstico da perda auditiva.

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Ferro, Gonçalves e Cieri (2002), em seus estudos, com 46 pais de crianças portadoras de deficiência auditiva, com idade entre 3 e 20 anos, consta-taram que o tempo médio decorrido entre a suspeita e o diagnóstico foi de 1 ano e 3 meses, e a mãe foi quem primeiro suspeitou da deficiência auditiva. Já Fernandes et al. (2002) em seus estudos fizeram um levan-tamento dos prontuários dos pacientes atendidos em uma clínica-escola. Concluíram que 67% dos indivíduos foram diagnosticados entre 1 e 2 anos, a suspeita ocorreu entre 1 ano e 1 mês a 2 anos e, em 92% dos casos, a suspeita partiu dos pais. No estudo feito por Heck e Raymann (2003) foi possível comparar os dados de um estudo realizado em 1980 com os resultados encontrados em 2001, analisando 146 questionários e demonstrar que a média de idades da suspeita da perda foi de 1 ano e 3 meses, da ida ao profissional pela primeira vez a idade foi de 1 ano e 11 meses, no diagnóstico a idade foi de 2 anos e 2 meses, o sexo masculino teve maior incidência de perda auditiva e a mãe foi a primeira a suspeitar da perda auditiva. Observou-se, na amostra, que o grau da perda auditiva profunda foi a que mais apareceu. Os dados demonstram que houve uma diminuição nos tempos obtidos por Raymann em 1980. No entanto, isto não significa que estão em níveis aceitáveis.

Nóbrega (2004), em seu estudo com 200 crianças e adolescentes por-tadores de deficiência auditiva atendidas na Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM), teve como objetivo comparar as principais etiologias da deficiência auditiva, e as crianças selecionadas foram do ano de 1990 a 2000. No entanto, no es-tudo comparativo, a rubéola congênita, as causas genéticas e as causas desconhecidas levaram mais tempo entre a suspeita e a confirmação da deficiência auditiva no ano de 1990 a 1994 do que se comparada ao período de 1994 a 2000, a deficiência auditiva de grau profundo foi a que mais apareceu na amostra, gastou-se em média mais de um ano entre a suspeita e a confirmação da deficiência. Concluiu-se que a confirmação do diagnóstico da deficiência até os dois anos de idade ocorreu em apenas 13% dos casos.

2 oBJETIVo

O presente estudo teve como objetivo verificar o tempo entre a suspei-ta da perda auditiva até o diagnóstico e demonstrar a importância do diagnóstico precoce.

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3 mATERIAl E méTodoS

Neste capítulo, foi apresentado a casuística, o critério de seleção e de procedimento, bem como o critério de análise de resultados.

3.1 CASUÍSTICA

A casuística do presente estudo foi constituída de 52 indivíduos com perda auditiva acompanhada pelo programa de alta complexidade de saúde auditiva da Policlínica de Referência UVV, com faixa etária entre 0 e 22 anos.

3.2 CRITÉRIOS DE SELEçãO DOS INDIVÍDUOS

Serem portadores de deficiência auditiva.

3.3 PROCEDIMENTOS

Os pais das crianças com perda auditiva acompanhadas pelo programa em questão responderam ao questionário onde constava identificação, informante, ano de estudo do responsável, rendimento mensal familiar, grau da perda auditiva, quem suspeitou da perda, idade da suspeita, idade da confirmação do diagnóstico da surdez, idade da adaptação da prótese auditiva.

O questionário (Anexo A) foi montado com base no protocolo utilizado por Lanzetta (2008) em sua dissertação de mestrado.

Foi apresentado um termo de consentimento (Apêndice A), abordando todos os procedimentos que foram feitos e deixando claro que o respon-sável pela criança poderá, a qualquer momento, retirar o consentimento de participação na pesquisa e, assim, deixar de participar do estudo. Esta atitude não terá nenhum prejuízo à continuidade de assistência que a criança possa vir a necessitar.

As crianças selecionadas realizaram avaliação audiológica básica ou eletrofisiológica, e são acompanhadas pelo setor de audiologia educa-cional e pediatria da Policlínica de Referência UVV.

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3.4 CRITÉRIO DE ANÁLISE DOS RESULTADOS

As informações registradas foram coletadas em questionários e transferi-das para o banco de dados do programa Excel, SPSS 11.5 for Windows, utilizado para tratamento estatístico.

Para análise estatística dos resultados, foram utilizados os testes es-tatísticos descritivos (distribuição de frequências), inferenciais (teste qui-quadrado) e o teste exato de Fisher.

Nas Tabelas 9 a 11, foi utilizado o teste não paramétrico qui-quadrado ( )2χ para verificar uma possível associação entre as variáveis do estu-do. O nível de significância foi de 5%, assim o “valor-p” menor que 0,05 indica que existe uma associação (relação) entre as variáveis.

4 RESulTAdoS E dIScuSSão

Nas tabelas a seguir, são mostradas distribuições de frequências para as variáveis estudadas no questionário aplicado às crianças com perfil epidemiológico de surdez.

Tabela 1 - Distribuição de frequências, segundo a idade dos pacientes

IdadeFrequência %

1 ano - 1 ano e 11 meses 4 7,72 anos - 3 anos 10 19,24 anos - 6 anos 15 28,87 anos - 9 anos 8 15,410 anos - 12 anos 8 15,413 anos - 15 anos 4 7,7A partir de 16 anos 3 5,8Total 52 100,0

Quanto à idade dos pacientes estudados, observou-se, na Tabela 1 que os pacientes entre 2 a 3 anos e 4 a 6 anos representam os mais estudados, respectivamente, 19,2% e 28,8%.

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Tabela 2 - Distribuição de frequências, segundo o sexo dos pacientes

SexoFrequência %

Feminino 19 36,5Masculino 33 63,5Total 52 100,0

Com relação ao sexo, na Tabela 2 pode-se verificar que nesta amostra há uma maior incidência dos pacientes com perda auditiva no sexo masculino com 63,5% enquanto que o feminino 36,5%, relação bem próxima à encontrada por Heck e Raymann (2003).

Segundo Naeye et al. (apud NOBREGA et al., 1998), o sexo masculino é mais suscetível a intercorrências neonatais graves, favorecendo uma maior predisposição de desenvolver deficiência auditiva.

Tabela 3 - Distribuição de frequências, segundo grau de perda auditiva

Grau de perda auditivaFrequência %

Moderada 10 19,2Moderadamente Severa 1 1,9Severa 7 13,5Profunda 33 63,5Severa Profunda 1 1,9Total 52 100,0

Observou-se na Tabela 3 que o grau da perda auditiva profunda é o que mais aparece na amostra com 63,5%, correlacionando assim com os estudos de Heck e Raymann (2003) e Nobrega (2004).

As perdas auditivas de qualquer tipo podem acarretar prejuízo no desem-penho da criança, porém, Melo, Moret e Bevilacqua (2008) ressaltam que as perdas auditivas de grau profundo são as que mais trazem prejuízo no desenvolvimento da linguagem, fala e desempenho escolar.

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Tabela 4 - Distribuição de frequências, segundo a suspeita da deficiência

Suspeita de deficiênciaFrequência %

Pai 5 9,6Mãe 20 38,5Outro Parente 9 17,3Desconhecido 18 34,6Total 52 100,0

Os dados coletados na Tabela 4 mostram que 38,5% da suspeitas par-tiram das mães e 34,6% de profissionais da saúde e a da educação, que foram enquadrados como desconhecidos na tabela.

É importante, porém, chamar a atenção para o fato de que os primeiros anos de vida, a criança está muito ligada aos pais, principalmente à mãe, e essa ligação faz com que a mãe fique atenta a qualquer alteração no seu desenvolvimento (BOSCOLO; SANTOS, 2005). Com relação aos profissionais da saúde e a da educação, eles são os próximos a suspeitarem do problema, por serem melhores capacitados e melhores preparados para identificação da perda auditiva.

A pesquisa correlaciona-se com os estudos de Nobrega et al. (1998), Fernandes et al. (2002) e Heck e Raymann (2003).

Tabela 5 - Distribuição de frequências, segundo a idade da suspeita da perda auditiva

Idade de suspeita auditivaFrequência %

0 - 6 meses 15 28,86 meses - 1 ano 12 23,11 ano - 1 ano e 11 meses 8 15,42 anos - 3 anos 15 28,84 anos - 7 anos 2 3,9Total 52 100,0

A partir dos dados analisados observou-se na Tabela 5 que a idade da suspeita da perda auditiva foi de 28,8% até os 6 meses e de 6 meses a 1 ano e onze meses foi de 38,5%, ou seja, suspeita da perda auditiva ocorreram em crianças menores de dois anos de idade.

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Como já mencionado por Ceschin e Roslyng-Jensen (2002), não adianta suspeitar precocemente da perda auditiva. É necessário que se faça o diagnóstico, pois o mais importante nessa etapa é bus car um atendimento adequado o mais rápido possível, visto que quanto mais cedo começar o processo de estimulação auditiva, melhor será o desenvolvimento da criança.

Esse estudo correlaciona-se com os trabalhos de Nobrega et al. (1998). Das crianças pesquisadas, 56% tiveram a suspeita antes dos dois anos. Na pesquisa de Fernandes et al. (2002) a suspeita ocorreu entre 1 ano e 1 mês a 2 anos. Heck e Raymann (2003) relatam que a idade da sus-peita das crianças foram com 1 ano e 3 meses. Já Ferro, Gonçalves e Cieri (2002) relatam que a suspeita da perda auditiva ocorreu até os 2 anos em 82,6% das crianças.

Tabela 6 - Distribuição de frequências, segundo a idade da confirmação do diagnóstico da surdez

Idade do diagnóstico da surdezFrequência %

0 - 6 meses 15 28,86 meses - 1 ano 10 19,21 ano - 1 ano e 11 meses 6 11,52 anos - 3 anos 15 28,8A partir de 4 anos 6 11,5Total 52 100,0

Na Tabela 6, a idade da confirmação do diagnóstico da deficiência au-ditiva é de 28,8% nas crianças de 0 a 6 meses e nas crianças de 2 a 3 anos. Sabe-se que os primeiros anos de vida são considerados os mais importantes para a criança, pois é quando ocorre a maturação cerebral. Assim, o diagnóstico precoce pode proporcionar melhores condições de desenvolvimento das habilidades auditivas, linguagem, fala e favorecer a interação da criança com outras pessoas.

As idades da confirmação do diagnóstico dos pacientes deste trabalho não estão de acordo com as recomendações de Joint Committee on Infant Hearing (2007) que preconiza o diagnóstico até os 3 meses de idade e a intervenção até os 6 meses de idade.

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Como já citado anteriormente por Ribeiro e Mitre (2004), o diagnóstico e intervenção antes dos seis meses de idade proporcionam um melhor desenvolvimento do que o diagnóstico depois de um ano de idade.

Nesse estudo, pode-se observar que 40% dos 52 indivíduos pesquisa-dos tiveram seu diagnóstico confirmado entre um e três anos de idade, corroborando os resultados encontrados por Ferro, Gonçalves e Cieri (2002), que referiram à média da confirmação do diagnóstico da deficiên-cia auditiva por volta de 2 anos e 10 meses. O mesmo podemos afirmar em relação aos trabalhos de Fernandes et al. (2002), que encontraram, em seus estudos, 67% dos casos diagnosticados entre 1 e 2 anos, e de Heck e Raymann (2003), cuja idade da confirmação diagnóstica foi de 2 anos e 2 meses.

Tabela 7 - Distribuição de frequências segundo o tempo entre a suspeita e a idade da confirmação do diagnóstico da perda auditiva

Tempo entre a suspeita e a idade do diagnóstico da perda auditiva (meses)Frequência %

,0 8 15,4,5 1 1,91,0 4 7,72,0 2 3,83,0 4 7,74,0 3 5,85,0 2 3,86,0 8 15,48,0 1 1,99,0 3 5,811,0 2 3,812,0 5 9,617,0 1 1,918,0 2 3,822,0 1 1,924,0 1 1,936,0 2 3,860,0 1 1,972,0 1 1,9Total 52 100,0

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A partir dos dados coletados na Tabela 7, pode-se observar que o intervalo entre a suspeita e o diagnóstico da perda auditiva ocorreu em 15,4% das crianças antes de um mês, 46,1% em um período de seis meses, ou seja, o intervalo de zero a seis meses foi observado em 61,5% dos casos pesquisados.

De acordo com os dados da Tabela 7, pode-se observar que o tempo entre a suspeita e o diagnóstico foi no período de 6 meses, o que não garante um diagnóstico precoce, principalmente em casos de perda auditiva de grau leve e moderado, devendo ser alvo de outra pesquisa, associando tempo da suspeita e diagnóstico ao grau da perda auditiva.

Esse estudo difere das pesquisas de Ferro, Gonçalves e Cieri (2002), no qual o intervalo de tempo entre a suspeita e o diagnóstico foi de 1 ano e três meses. No estudo de Nobrega et al. (1998) em 42% das crianças passaram mais de dois anos entre a suspeita e a confirma-ção do diagnóstico da perda auditiva. Nóbrega (2004) em seu estudo gastou em média mais de um ano entre a suspeita e confirmação da deficiência auditiva.

Tabela 8 - Distribuição de frequências segundo, idade de adaptação da prótese auditiva

Idade de adaptação da prótese auditivaFrequência %

0 - 6 meses 2 3,81 ano - 1 ano e 11 meses 6 11,52 anos - 3 anos 14 26,94 anos - 6 anos 9 17,37 anos - 9 anos 5 9,6A partir de 10 anos 6 11,5Sem AASI 3 5,8Não usa 1 1,9Não foi adaptado 1 1,9Não soube responder 5 9,6Total 52 100,0

Na Tabela 8, observou-se que a maioria das crianças foram adaptadas entre 2 e 3 anos (26,9%). Esse estudo se correlaciona com os trabalhos de Fernandes et al. (2002), no qual a idade da adaptação da prótese

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auditiva foi no período de 2 anos e 1 mês a 3 anos. Já no estudo Ferro, Gonçalves e Cieri (2002), a idade média da adaptação da prótese foi de 3 anos e 11 meses.

Tabela 9 - Distribuições de frequências observadas, segundo a idade da confirmação do diagnóstico da surdez e o grau da perda auditiva

Grau da perda autitiva

Moderadamente Moderadamente Severa Severa Profunda Severa e

Profunda Total

Idade

do di

agnó

stico

da su

rdez

0 - 6 meses Frequência % do Total

59,6%

00%

11,9%

917,3%

00,0%

1528,8%

6 m - 1 ano Frequência % do Total

00%

00%

11,9%

917,3%

00%

1019,2%

1 ano - 1 ano 11 meses

Frequência % do Total

11,9%

00%

00%

59,6%

00%

6,011,5%

2 anos - 3 anos Frequência % do Total

11,9%

11,9%

35,8%

1019,2%

00,0%

1528,8%

A partir de 4 anos Frequência % do Total

35,8%

00%

23,8%

00%

11,9%

611,5%

Total Frequência % do Total

1019,2%

11,9%

713,5%

3363,5%

11,9%

52100,0%

qui – quadrado: 25,220, valor-p: 0,008

De acordo com a probabilidade de significância (valor-p = 0,008<0,05), verifica-se que na Tabela 9 há associação entre idade do diagnóstico da surdez e o grau da perda auditiva.

Quanto à idade da confirmação do diagnóstico da surdez e o grau da perda auditiva, pode-se observar na Tabela 9 que as crianças com perda profunda apresentaram 19,2% entre a idade da confirmação do diagnóstico da surdez de 2 anos a 3 anos e 34,6% apresentam surdez profunda entre as idades do diagnóstico de 0 a 1 ano.

Visto isso pode-se perceber que o diagnóstico precoce entre essa idade é mais comum, pois criança que tem perda auditiva profunda terá mais dificuldade de responder aos estímulos apresentados do que uma criança que tem perda moderada. Essa dificuldade pode interferir na aquisição da linguagem como já foi dito por Yoshinaga-Itano et al. (2001), crian-ças com deficiência auditiva de grau leve a profundo não conseguem adquirir a linguagem no mesmo período e velocidade que uma criança que ouve. Melo, Moret e Bevilacqua (2008) também ressaltam que as

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perdas auditivas severas e profundas são as que mais apresentam alterações de fala e linguagem.

Tabela 10 - Distribuições de frequências observadas, segundo a idade de adaptação da prótese auditiva e a idade da confirmação do diagnóstico da surdez

Idade do diagnóstico da surdez

0 - 6 meses 6 m - 1 ano 1 ano - 1 ano e 11 meses

2 anos - 3 anos

A partir dos

4 anosTotal

Idade

de ad

aptaç

ão da

próte

se au

ditiva

0 - 6 meses Frequência % do Total

11,9%

00%

11,9%

00%

00%

23,8%

1 ano - 1 ano e 11 meses

Frequência % do Total

35,8%

11,9%

11,9%

11,9%

00%

611,5%

2 anos - 3 anos Frequência % do Total

35,8%

35,8%

47,7%

47,7%

00%

1426,9%

4 anos - 6 anos Frequência % do Total

11,9%

23,8%

00%

611,5%

00%

917,3%

7 anos - 9 anos Frequência % do Total

23,8%

23,8%

00%

00%

11,9%

59,6%

A partir dos 10 anos

Frequência % do Total

23,8%

00%

00%

11,9%

35,8%

611,5%

Sem AASI Frequência % do Total

11,9%

11,9%

00%

11,9%

00%

35,8%

Não usa Frequência % do Total

11,9%

00%

00%

00%

00%

11,9%

Não foi adaptado Frequência % do Total

00%

00%

00%

00%

11,9%

11,9%

Não soube responder

Frequência % do Total

11,9%

11,9%

00%

23,8%

11,9%

59,6%

Total Frequência % do Total

1528,8%

1019,2%

611,5%

1528,8%

611,5%

52100,0%

qui – quadrado: 38,814, valor-p: 0,095

De acordo com a probabilidade de significância (valor-p = 0,095>0,05), verifica-se que na Tabela 10 não há associação entre a idade de adap-tação da prótese auditiva e a idade do diagnóstico da surdez.

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Tabela 11 - Distribuições de frequências observadas, segundo a idade da adaptação da prótese auditiva e a idade da suspeita auditiva

Idade da suspeita auditiva

0 - 6 meses 6 meses - 1 ano

1 ano - 1 ano e 11 meses

2 anos - 3 anos

4 anos - 7 anos Total

Idade

de ad

aptaç

ão da

próte

se au

ditiva

0 - 6 meses Frequência % do Total

23,8%

00%

00%

00%

00%

23,8%

1 ano - 1 ano e 11 meses

Frequência % do Total

35,8%

35,8%

00%

00%

00%

611,5%

2 anos - 3 anos Frequência % do Total

47,7%

35,8%

59,6%

23,8%

00%

1426,9%

4 anos - 6 anos Frequência % do Total

11,9%

11,9%

23,8%

59,6%

00%

917,3%

7 anos - 9 anos Frequência % do Total

23,8%

00%

11,9%

11,9%

11,9%

59,6%

A partir dos 10 anos

Frequência % do Total

11,9%

11,9%

00%

11,9%

35,8%

611,5%

Sem AASI Frequência % do Total

00%

11,9%

11,9%

11,9%

00%

35,8%

Não usa Frequência % do Total

00%

11,9%

00%

00%

00%

11,9%

Não foi adaptado Frequência % do Total

00%

00%

00%

11,9%

00%

11,9%

Não soube responder

Frequência % do Total

00%

23,8%

11,9%

11,9%

11,9%

59,6%

Total Frequência % do Total

1325,0%

1223,1%

1019,2%

1223,1%

59,6%

52100,0%

De acordo com a probabilidade de significância (valor-p = 0,093>0,05), verifica-se que na Tabela 11 não há associação entre a idade da adap-tação da prótese auditiva e a idade da suspeita auditiva.

5 CONCLUSÃO

A partir dos dados da análise das 52 crianças estudadas com perda auditi-va, acompanhadas pelo programa de Alta Complexidade da Policlínica de Referência UVV, pode-se concluir que 38,5% das mães foram as primeiras a suspeitarem da deficiência auditiva de seus filhos, uma vez que a interação entre elas e as crianças é mais intensa e contínua. Com relação ao sexo dos pacientes, 63,5% são do sexo masculino e o grau da perda auditiva profunda é o que mais aparece na amostra com 63,5%. A idade da suspeita da perda auditiva foi de 28,8% até os 6 meses, e de 6 meses a 1 ano e

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onze meses foi de 38,5% em crianças menores de dois anos de idade. A idade da confirmação do diagnóstico da deficiência auditiva é de 28,8% nas crianças de 0 a 6 meses e nas crianças de 2 a 3 anos. O intervalo entre a suspeita e o diagnóstico da perda auditiva ocorreu em 15,4% das crianças antes de um mês e 46,1% em um período de seis meses. Ou seja, em 61,5% dos casos o tempo entre a suspeita e o diagnóstico foi inferior a 6 meses. Pode-se concluir, com base na amostra pesquisada, que houve uma diminuição entre o tempo da suspeita e o diagnóstico da perda auditiva em relação aos estudos de Ferro, Gonçalves e Cieri (2002); Nobrega (2004) e Nobrega et al. (1998), o que não pode garantir um diagnóstico precoce, principalmente em casos de perda auditiva de grau leve e moderado, devendo ser alvo de outra pesquisa, associando o tempo da suspeita e o diagnóstico ao grau da perda auditiva.

ThE TImE BETWEEn ThE SuSpIcIon of ThE AudIToRY loSS And ThE dIAGnoSIS

ABSTRAcT

The precocious diagnosis of the auditory deficiency provide better language acquisition possibilities, being able to propitiate the application of technologies and techniques that aim at the adequate development of auditory abilities and a better prognostic preventing decurrent damages of the stimulation lack in the first years of life. In this way, this research has as objective to verify the time between the suspicion and the diagnosis of the auditory loss. From a questionnaire with closed questions for the responsible ones of 52 children of the Centro Universitário Vila Velha (UVV)/ES of Reference Polyclinic High Complexity program. It was analyzed that the time between the suspicion and the diagnosis of auditory loss was inferior to one month in 15,4% of the searched cases and up to 6 months in 46,1% of the cases, that is, in 61,5% of the cases the time between the suspicion and the diagnosis is inferior to 6 months. It can be concluded, on the basis of the searched sample, that children had the period between the suspicion and the diagnosis diminished in relation to an others studies related in the scientific literature.

Keywords: Hearing. Hearing disorders in children – diagnosis. Hearing disorders – prevention.

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RIBEIRO, F. G; MITRE, E. I. Avaliação do conhecimento sobre triagem auditiva neonatal de pacientes no pós-parto imediato. cEfAc, São Paulo, v. 6, n. 3, p. 294-299, jul./set. 2004.

SIXEL, A.; FROTA, S.; GOLDFELD, M. Acolhimento e orientação às famílias de crianças surdas. In: FROTA, S.; GOLDFELD, M. (Org.). o ouvir e o falar: enfoques em audiologia e surdez. São Paulo: Am3, 2006. cap.16, p. 344-372.

TOCHETTO, T. M.; GATTO, C. I. Deficiência auditiva: implicações e solu-ções. cEfAc, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 110-115, jan./mar. 2007.

YOSHINAGA-ITANO, C. et al. Neonatologia: linguagem das crianças com deficiência auditiva identificada precocemente e tardiamente. pRonAp: correios de SBP, Rio de Janeiro, ano 7, p. 24-26, 2001.

Correspondência para/reprint request to: Rogério RoberteRua Comissário José Dantas de Mello, 21Boa Vista29102-770 - Vila Velha – ES (Brasil)

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Anexo A - Questionário Montado com Base no Protocolo Utilizado na dissertação de mestrado de lanzetta (2008)

crianças Surdas

1 Identificação

1.1 Nome:

1.2 Data de Nascimento: / /

1.3 Idade de Adaptação da Prótese Auditiva:

1.4 N° do Prontuário:

1.5 Informante: 1 ( ) mãe 2 ( ) pai 3 ( ) mãe e pai 4 ( ) outros:

1.6 Classes de Rendimento Mensal Familiar (IBGE, 2000): 1 ( ) Até 1 salário mínimo 2 ( ) De 1 a 2 salários mínimos 3 ( ) De 3 a 5 salários mínimos 4 ( ) De 5 a 10 salários mínimos 5 ( ) De 10 a 20 salários mínimos 6 ( ) Mais de 20 salários mínimos 7 ( ) Sem Rendimento

1.7 Mãe - Anos de Estudos (IBGE, 2000): 1 ( ) Sem instrução e menos de 1 ano 2 ( ) 1 a 3 anos 3 ( ) 4 a 7 anos 4 ( ) 8 a 10 anos 5 ( ) 11 a 14 anos 6 ( ) 15 anos ou mais

1.8 Número de Filhos: 1 ( ) 1 a 2 2 ( ) 3 a 4 3 ( ) acima de 4

1.9 Estado Civil da Mãe (ou responsável): 1 ( ) Solteiro 2 ( ) Casado 3 ( ) Separado 4 ( ) Viúvo

1.10 Condições de Trabalho da Mãe? 1 ( ) Sim 2 ( ) Não

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2 Idade do Diagnóstico da Surdez 1 ( ) 0 a 6 meses 2 ( ) 6 meses a 1 ano 3 ( ) 1 ano a 1 ano 11 meses 4 ( ) 2 anos a 3 anos 5 ( ) A partir de 4 anos

3 Grau da perda Auditiva

3.1 Caracterização da perda auditiva quanto ao grau da perda: Média dos limiares de 500, 1000 e 2000 Hz – Lloyd e Kaplan (1978), acrescentar a frequência de 4000Hz na média de crianças menores Northern e Downs (1991).

1 ( ) Leve 2 ( ) Moderada 3 ( ) Moderadamente severa 4 ( ) Severa 5 ( ) Profunda

4 Suspeita da Deficiência

4.1 Quem suspeitou a deficiência auditiva pela primeira vez? 1 ( ) Pai 2 ( ) Mãe 3 ( ) Outro parente 4 ( ) Desconhecido

5 Sexo 1 ( ) Feminino 2 ( ) Masculino

6 Idade da Suspeita da Deficiência Auditiva 1 ( ) 0 a 1 ano e 11 meses 2 ( ) 2 anos a 3 anos 3 ( ) A partir de 4 anos

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ApêndIcE ATermo de consentimento

I Dados de identificação do sujeito da pesquisa ou responsável legalNOME DO PACIENTE: SEXO: [ ] M [ ] F DATA DE NASCIMENTO: / /

II Dados sobre a pesquisa científica TÍTULO DO PROTOCOLO DE PESQUISA “O Tempo entre a Suspeita da Perda Auditiva e o Diagnóstico”

Pesquisadoras: Gleice Gonçalves Martins e Maiumy Grechi Leal Gradu-andas do curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário Vila Velha.

AVALIAçãO DA PESQUISA:[ ] Sem Risco [ ] Risco Mínimo [ ] Risco Médio[ ] Risco Baixo [ ] Risco Maior

III Esclarecimentos dados pelos pesquisadores sobre garantia do sujeito da pesquisaO responsável pela criança poderá a qualquer momento retirar o consentimen-to de participação na pesquisa e, assim deixar de participar do estudo. Esta atitude não terá nenhum prejuízo à continuidade de assistência que a criança possa vir a necessitar.

Todos os dados obtidos, bem como identidade de cada sujeito participante da pesquisa, serão mantidos em sigilo e somente as pesquisadoras responsáveis pelo estudo terão acesso aos dados para análise de discussão.

Declaro que, após convenientemente esclarecido pelos pesquisadores e ter entendido o que me foi explicado, consinto em participar do presente protocolo de pesquisa.

Assinatura do responsável legalVila Velha - 2008

centro universitário Vila Velha

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INSTRUÇÕES EDITORIAIS AOS AUTORES1

1 pRopoSTA EdIToRIAl

Neste momento em que a acessibilidade à informação se tornou uma questão central no ambiente científico e acadêmico é fundamental que professores, pesquisadores, alunos e demais profissionais disponham de canais de informação adequados que viabilizem e estimulem a difusão de questões vinculadas ao saber científico.

Nessa perspectiva, Scientia: Revista do centro universitário Vila Velha é uma publicação interdisciplinar editada pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão do Centro Universitário Vila Velha, instituição de ensino superior mantida pela Sociedade Educacional do Espírito Santo, com vistas à divulgação semestral de produções científicas e acadêmicas inéditas nos formatos: editorial, artigo original, artigo de revisão, relato de experiência ou de técnica, resenha e/ou resumo de tese, de dissertação e de monografia de pós-graduação.

Na avaliação dos originais é adotada a prática do peer review, conjugada com o blind review, com a submissão a dois ou mais membros do Conselho Editorial e/ou a assessores ad hoc, especialistas na temática da contribui-ção recebida, procurando assegurar isenção, agilidade e objetividade no processo de julgamento dos originais.

A visibilidade da produção científica publicada na revista Scientia tem se consolidado a partir da indexação de seu conteúdo nas bases de dados IRESIE e LATINDEX (UNAM/México) e da disponibilidade no site do Centro Universitário Vila Velha (<www.uvv.br>).

2 pÚBlIco-AlVo REAl E poTEncIAl

Pesquisadores, professores, alunos de graduação e pós-graduação e demais profissionais do Centro Universitário Vila Velha, da Faculdade de Vitória, da Faculdade Guaçuí e de outras instituições de ensino superior do Brasil e do exterior, associações de estudantes e de profissionais de

1 Versão aprovada em 10 de outubro de 2005.

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ensino e pesquisa, além de dirigentes de agências de fomento e de política em Ciência e Tecnologia.

Com uma tiragem de 1.000 exemplares, Scientia é distribuída como doação para parte do público interno do Centro Universitário Vila Velha e como permuta para instituições de ensino superior, inclusive bibliotecas, do Brasil e de outros países.

3 ORIENTAÇÕES GERAIS

As contribuições para publicação, redigidas em português, espanhol ou inglês, com a devida revisão lingüística, podem ser enviadas por pes-quisadores, professores e alunos do Centro Universitário Vila Velha e de outras instituições de ensino superior, bem como por outros profissionais, independente de vinculação institucional, do Brasil e do exterior.

Os conceitos e opiniões expressos nas contribuições publicadas são de total responsabilidade dos autores (Anexo B), que deverão providenciar permissão, por escrito, para uso de qualquer tipo de ilustração publicada em outras fontes.

Os autores poderão retirar o original enviado, segundo seus critérios de conveniência, a qualquer momento antes de ser selecionado pelo Conselho Editorial.

Os originais aprovados poderão sofrer alterações de ordem normativa, ortográfica e/ou lingüística, a serem executadas pela equipe da revista, com vistas a manter o padrão culto do idioma e adequação às normas ado-tadas por Scientia, respeitando, porém, o estilo dos autores. Os originais publicados não serão devolvidos aos autores nem as provas finais serão reapresentadas, exceto em caso de extrema necessidade.

As contribuições recusadas ficarão à disposição do autor responsável pelo contato com Scientia pelo prazo de 90 dias, a contar da data de comuni-cação do resultado da avaliação. Após esse prazo, as contribuições serão eliminadas, garantindo-se nesse processo a total destruição do suporte (papel, disquete, CD-ROM, etc.)

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As contribuições publicadas passam a ser propriedade de Scientia (Anexo C), ficando sua reimpressão, total ou parcial, sujeita à autorização expressa dos Editores da revista. A transferência de direitos autorais mencionada refere-se, única e exclusivamente, à contribuição encaminhada para pu-blicação na revista Scientia.

Cada autor receberá, gratuitamente, dois exemplares do fascículo que inclui sua contribuição.

As contribuições enviadas deverão se enquadrar em uma das seguintes seções:

• Editorial: comentário crítico e aprofundado dos editores ou profissionais convidados com reconhecido domínio sobre o tema.

• Artigos originais: relatos inéditos e completos de estudos e pesquisas científicas, representando 60% das contribuições publicadas.

• Artigos de revisão: estudos que fornecem visão sistematizada e crítica de avanços do conhecimento em determinadas áreas/temáticas, a partir da literatura disponível.

• Relatos de experiência ou de técnica: descrições criteriosas de práti-cas de intervenções e vivências profissionais que possam interessar à atuação de outros profissionais.

• Resenhas: revisões críticas de livros, artigos, teses ou dissertações, com opiniões que possam nortear interesse para leitura ou não da publicação na íntegra.

• Resumos: descrições sucintas e de caráter informativo do conteúdo de teses, dissertações ou monografias de pós-graduação.

Dentre as tipologias anteriormente descritas, exceto para os artigos originais, as contribuições podem ser produzidas por pesquisadores/profissionais de renome, a convite da UVV.

Excepcionalmente serão aceitas contribuições que já tenham sido publi-cadas em periódicos estrangeiros, condicionadas aos mesmos critérios de avaliação dos trabalhos inéditos e à apresentação, por parte do autor, da autorização por escrito do editor da revista em que o texto tenha sido publicado como original.

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A critério do Conselho Editorial de Scientia, poderão ser publicados números especiais e/ou temáticos com objetivo de atender à demanda das linhas de pesquisa implantadas nos cursos oferecidos pelo Centro Universitário Vila Velha.

4 coRpo EdIToRIAl

A estrutura editorial de Scientia está constituída pelos editores, conselho editorial e assessores científicos ad hoc com as seguintes responsabilidades e representatividade:

4.1 EDITORES

Responsáveis pelo gerenciamento da revista, incluindo seus aspectos admi-nistrativos, financeiros e controle de qualidade. Sua representatividade envolve o Vice-Reitor, o Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, o Co-ordenador de Pesquisa – todos do Centro Universitário Vila Velha –, além de um profissional, a convite da UVV, que possa contribuir para o aprimoramento das variáveis intrínsecas e extrínsecas da publicação.

4.2 CONSELHO EDITORIAL

Sua constituição evidencia a participação de colaboradores do Centro Universitário Vila Velha e da comunidade científica nacional e, dentro do possível, estrangeira, a saber:

• Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, membro nato e seu presidente;

• Coordenador de Pós-Graduação lato sensu, membro nato;

• Coordenador de Pesquisa, membro nato; e

• Diretor da Biblioteca Central, membro nato.

• Cinco membros da comunidade acadêmica, representando diferentes áreas do saber com, no mínimo, o título de mestre. Tais representan-tes, com mandato de dois anos, devem ser indicados pelos membros natos do Conselho Editorial.

Suas responsabilidades envolvem a discussão da política editorial de Scientia; a avaliação da adequação das contribuições ao escopo e ao

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formato da revista, o que envolverá o parecer de dois a três membros; e a indicação dos assessores científicos ad hoc.

4.3 ASSESSORES CIENTÍFICOS aD HOc

A adequação da contribuição, além de ser atestada pelo Conselho Edi-torial, pode ser comprovada por um processo de avaliação realizado por assessores científicos ad hoc, especialistas na área de conhecimento das contribuições recebidas, que desempenham a função de emitir pareceres elucidativos das questões e/ou pareceres conflitantes que possam ter emergido no processo de avaliação dos membros do Conselho Editorial, bem como de avaliar as contribuições que não sejam de pleno domínio daquele Conselho.

5 ACEITAÇÃO E PUBLICAÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES

A publicação da contribuição está condicionada ao parecer favorável do Conselho Editorial e/ou dos assessores científicos ad hoc.

Do resultado da avaliação podem derivar três situações, a saber:

• contribuição aceita, sem restrições;

• contribuição aceita, com restrições passíveis de revisão, que deverão ser atendidas/cumpridas pelo autor;

• contribuição recusada, o que não impede sua reapresentação para nova avaliação, exceto se a recusa tiver ocorrido por duas vezes.

6 ENCAMINHAMENTO

A contribuição deve atender ao disposto no item 7 destas Instruções (Estrutura das contribuições) e ser encaminhada aos editores da revista, acompanhada de:

• Carta de encaminhamento (Anexo A) assinada por todos os autores, explicitando: a concordância com as condições e normas adotadas pela revista; e a indicação de apenas um autor como responsável pelo contato com Scientia, incluindo seu endereço completo, inclusive telefones e endereço eletrônico;

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• Declaração de Responsabilidade (Anexo B);

• Termo de Transferência de Direitos Autorais (Anexo C);

• Procedência do artigo com entidade financiadora;

Considerando sua periodicidade semestral, far-se-á o esforço para que as contribuições recebidas, depois de submetidas ao processo de avaliação, revisão e de possíveis adaptações, sejam publicadas com base no seguinte cronograma:

• Contribuições recebidas até setembro de cada ano – publicação no 1º número do ano seguinte;

• Contribuições recebidas até abril de cada ano – publicação no 2º número do ano.

Essa proposta de cronograma poderá ser modificada levando-se em conta a necessidade de alterações pelos editores e/ou autores.

Endereço para envio das contribuições:

Centro Universitário Vila Velha – Scientia

Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão

Rua Comissário José Dantas de Melo, 21

CEP 29102-770 - Vila Velha - ES (Brasil)

Telefone: (27) 3421-2097

E-mail: [email protected] ou [email protected]

7 ESTRUTURA DAS CONTRIBUIÇÕES

É recomendável que a contribuição enviada esteja de acordo com as normas da ABNT referentes a artigos em publicação periódica científica impressa (NBR 6022:2003); citações em documentos (NBR 10520:2002); numeração progressiva de documentos (NBR 6024:2003) e resumo (NBR 6028:2003), bem como com a norma de apresentação tabular do IBGE, publicada em 1993 (última edição).

A contribuição deve ser redigida em português, espanhol ou inglês, com estilo de redação claro e coerente na exposição das idéias, observando o

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uso adequado da linguagem. Deve ser digitada em extensão “.doc” (Word, versão 6.0 ou superior) ou “.rtf” (Rich Text Format), impressa em três vias e gravada em disquete (3½) ou CD-ROM. Na etiqueta do disquete ou CD-ROM deverão constar: título do trabalho, autoria e versão do software.

O texto deve estar configurado para papel A4, digitado em fonte Arial 11, com margens superior, inferior, direita e esquerda de 3cm, folhas devidamente numeradas no canto superior direito, alinhamento justificado, parágrafo em bloco e entrelinha com espaço 1,5.

Na primeira lauda do texto devem ser informados:

a) título, em português e inglês, expressando de forma concisa, clara e precisa o conteúdo da contribuição. O título deve ser centralizado, em negrito e todo em letras maiúsculas;

b) nome completo dos autores, titulação e vinculação institucional (so-mente um título acadêmico e uma afiliação por autor);

c) endereço postal completo, telefones e endereço eletrônico dos auto-res;

d) resumo, em português e inglês (abstract), explicitando objetivo(s), metodologia, resultados e conclusões, mesmo que parciais, deve ser redigido com o verbo na voz ativa e terceira pessoa do singular, com um mínimo de 150 e um máximo de 250 palavras. Não será permitido o uso de expressões tais como “Este artigo apresenta...”; “O objetivo deste estudo foi...” e similares (Anexo D);

e) palavras-chave, em português e inglês (keywords), que representem o conteúdo da contribuição. Apresentar de três a cinco palavras-chave. A Biblioteca Central do Centro Universitário Vila Velha (tel.: (27) 3320-2022; e-mail: [email protected]) deve ser consultada para orientar a adoção das palavras-chave. O autor deve entrar em contato com a Biblioteca com antecedência e enviar uma cópia do trabalho, juntamente com sugestões de palavras-chave. O prazo para entrega é de 48 horas a contar da data de solicitação.

Na segunda lauda deverá ser iniciado o texto da contribuição propriamen-te dita, com identificação apenas do título, o que garantirá a prática do blind review.

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A estrutura das contribuições deverá atender aos seguintes requisitos:

• Artigos originais deverão apresentar introdução, objetivos, metodo-logia, resultados, discussão e conclusão (ou seções similares) e sua extensão estará limitada, no máximo, a 30 laudas.

• Artigos de revisão, com exceção da introdução, discussão e conclusão, terão sua estrutura a critério do autor. Sua extensão estará limitada, no máximo, a 30 laudas.

• Relatos de experiência ou de técnica terão sua organização a critério do autor, mas deles deverão constar, no mínimo, introdução, descri-ção da experiência ou da técnica e discussão. Sua extensão estará limitada, no máximo, a 10 laudas.

• Resenhas devem ser breves, ter título próprio e diferente do da obra resenhada, sendo desnecessária a apresentação do resumo na primeira lauda. Sua extensão não deve ultrapassar 4 laudas e é obrigatória a inclusão da referência completa da obra objeto da resenha, como cabeçalho.

• Resumos devem ser iniciados com a referência completa da obra na estrutura de cabeçalho e ter, no máximo, 1 lauda de extensão.

Os artigos encomendados deverão, de acordo com sua tipologia, atender a uma das estruturas definidas anteriormente.

Nas citações diretas devem ser observados os seguintes critérios de estrutura:

• com até 3 linhas, devem estar incluídas no corpo do texto, respeitando o tamanho da fonte do texto e entre aspas;

• com mais de três linhas, devem vir em parágrafo isolado, recuado da margem esquerda em 2cm, fonte tamanho 9, sem aspas e com entrelinha espaço simples.

Na identificação da fonte da qual foram retiradas as citações diretas ou indiretas deve ser adotado o sistema de chamada autor-data (sobre-nome do autor, seguido do ano de publicação da obra e paginação, se for o caso), que poderá estar incluída no texto (ex.: Segundo Severino (2000, p. 23) ou no final da frase (SEVERINO, 2000, p. 23).

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As notas de rodapé ou notas no final do texto devem ser evitadas. Somen-te na primeira lauda recomenda-se o uso de nota de rodapé para indicar origem de apoio financeiro ou logístico e indicação de apresentação em eventos, quando necessários. Não é permitido o uso de notas de rodapé de referências.

As ilustrações devem ser numeradas consecutivamente com algarismos arábicos, na ordem de citação no texto e de acordo com sua tipologia (tabelas, gráficos, quadros, desenhos, etc.) e apresentar título conciso. Devem ser utilizadas somente quando indispensáveis à compreensão e clareza do texto e na sua legenda deve ser usada fonte Arial tamanho 9 e entrelinha simples.

A lista de referências deve ser estruturada atendendo às regras da NBR 6023:2002, sendo de inteira responsabilidade do autor sua exatidão e adequação, devendo constar da lista apenas as obras que foram citadas no corpo do texto.

Na indicação de autoria das obras citadas, o sobrenome dos autores deve ser em caixa-alta, com os nomes e prenomes apresentados de forma abreviada.

As referências poderão sofrer alterações de ordem normativa, com vistas a manter o padrão mínimo exigido pela NBR 6023:2002 e deverão estar à dis-posição da revista para caso de consulta pela equipe de normalização.

Exemplos de referências:

a) livros QUINET, A. um olhar a mais: ver e ser visto na psicanálise. Rio de

Janeiro: J. Zahar, 2002.

b) Capítulos de livro ou partes de coletânea CARVALHO, I. C. L. A tecnologia e sua expansão no espaço-tempo.

In: ____. A socialização do conhecimento no espaço das biblio-tecas universitárias. Niterói: Intertexto, 2004. p. 45-76.

WEFFORT, F. Nordestinos em São Paulo: notas para um estudo sobre cultura nacional e classes populares. In: VALLE, E.; QUEIROZ, J. J. (Org.). A cultura do povo. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1984. p. 12-23.

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c) Artigos em periódicos CHAUÍ, M. Ética e universidade. universidade e Sociedade, São

Paulo, ano 5, n. 8, p. 82-87, fev. 1995.

d) Textos da Internet CHANDLER, D. An introduction to genre theory. Disponível

em:<http://www.aber.ac.uk/~dgc/intgenre.html>. Acesso em: 23 ago. 2000.

Para acessar o site da Biblioteca, digitar <http://www.uvv.br/biblioteca/>, e em seguida, clicar em: Normalização de Trabalhos Acadêmicos.

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AosEditores de Scientia: Revista do Centro Universitário Vila Velha

Encaminhamos, em anexo, o artigo intitulado (indicar o título do artigo), por nós produzido, ao mesmo tempo que declaramos nossa concordância com as condições e normas adotadas por essa revista, e indi-camos o(a) Sr(a). (nome do indicado) como responsável pelo contato com Scientia.

, de de .

Nome e assinatura do autor 1 Nome e assinatura do autor 2

Nome e assinatura do autor 3 Nome e assinatura do autor 4

Endereço do representante dos autores:

Rua/Av.

nº - complemento - Bairro

CEP: - - Município

Estado/País

Telefones: E-mail:

Anexo A – Carta de Encaminhamento e Declaração de Concordância

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Título da contribuição:

Autores: (informar o nome de todos os autores)

Certificamos a participação na concepção do trabalho a ser publicado por Scientia para tornar pública nossa responsabilidade pelo seu conteúdo, pela não-omissão de quaisquer ligações ou acordos de financiamento entre os autores e empresas que possam ter interesse na publicação deste artigo.

Certificamos ainda que a contribuição é original e que seu conteúdo, em parte ou na íntegra, não foi enviado a outra publicação e não o será en-quanto estiver sendo avaliado por Scientia, quer no formato impresso quer no eletrônico.

, de de .

Assinatura(s):

Anexo B – Declaração de Responsabilidade

Título da contribuição: Autores: (informar o nome de todos os autores)

Declaramos que caso o trabalho em anexo seja aceito para publicação, Scientia passa a ter os direitos autorais a ele referentes, tornando-se sua propriedade exclusiva.

Sua reprodução, total ou parcial, em qualquer outra fonte ou meio de divul-gação impressa ou eletrônica dependerá de prévia e necessária autorização por escrito dos editores de Scientia. Nesse caso, deverá ser consignada a fonte original, com identificação da edição, respectiva data de publicação e devidos agradecimentos.

, de de .

Assinatura(s):

Anexo C – Termo de Transferência de Direitos Autorais

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Anexo D – Exemplo de um Resumo

Investiga se as bibliotecas universitárias têm contribuído para o pro-cesso de socialização do conhecimento. Alicerça sua metodologia no enfoque qualitativo e emprega o questionário como instrumento de coleta de dados. Resgata o caminho percorrido pela tecnologia, inclusive a ampliação de seu conceito e reflexos em nosso cotidia-no. Evidencia a biblioteca universitária como instituição partícipe do processo que concebe a escola e a universidade em uma postura crítico-reflexiva e focaliza o conhecimento e os espaços para sua socialização, destacando a biblioteca como fórum de interatuação e comunicação do saber e como espaço de múltipla comunicação com a missão de buscar alternativas para compartilhar informações e contribuir para que, nas comunidades de troca (salas de aula e laboratórios), haja realmente produção e socialização do conheci-mento. Numa perspectiva que procura evidenciar os campos de possibilidades sugeridos pela temática, toma como referencial teórico as concepções de Pierre Lévy, Michel Authier e Manuel Castells para articular discussões nas categorias socialização do conhecimento e tecnologias da informação; e de Gilles Deleuze e Félix Guattari para construir a imagem de rizoma como forma de organização mais apropriada às bibliotecas no enfrentamento das transformações que emergem e modelam a Sociedade da Informação. Sintetiza os re-sultados reconhecendo que as bibliotecas universitárias brasileiras devem se revestir como catalisadoras, como espaços de comunicação pedagógica para promover a cooperação entre pessoas e grupos, canalizando o potencial das tecnologias da informação e comunicação no sentido de acelerar a socialização do conhecimento estocado em seus ambientes, quer no tradicional, quer no virtual.

Palavras-chave: Socialização do conhecimento. Bibliotecas univer-sitárias – automação.

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