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A Sangria - Antes e em Galeno Arte da Medicina 2010/2011 Tutoria 1

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A Sangria - Antes e em Galeno –

Arte da Medicina2010/2011

Tutoria 1

Sangria – extracção de sangue com fins explicitamente médicos

• Praticada durante mais de 2000 anos, sobrevivendo ao desenvolvimento das bases científicas da medicina moderna, a partir do século XVI, incluindo o conhecimento preciso da circulação sanguínea estabelecido por Harvey em 1627.

• Extinta apenas em meados do século XIX.

• Praticada na Mesopotâmia (especialmente pelos babilónios, por volta de 1800 a.C.) juntamente com práticas mágicas, como exorcismos e encantamentos. Tinha em conta os dias bons e maus de cada mês e baseava-se num sistema de procedimentos mágicos, com a ideia de que o movimento das estrelas influenciava o destino e todos os acontecimentos humanos.

• Usada no Egipto (1550 a.C) em conjunto com rezas cujo objectivo era afastar os demónios causadores de doenças.

Mas…

Foi na Grécia clássica que se construíram os conceitos fundamentais que levaram a adopção da sangria como prática médica.

Na Grécia clássica, a sangria deixa de ser usada como ritual e a sua utilização passa a ser claramente terapêutica (apesar de a medicina e a divindade continuarem intimamente interligados).

Apenas no final do século VI a.C., a medicina, (juntamente com as suas práticas terapêuticas, como a sangria), devido à acção dos filósofos pré-socráticos (que procuravam racionalizar os fenómenos naturais), iniciou o seu percurso no sentido da ciência. Tal levou a uma autonomia, sendo que por volta do século IV a.C., a sua separação da filosofia já era perceptível.

Empédocles (492 – 432 a.C.)

Formulou pela primeira vez a teoria dos quatro elementos como constituintes de todos os seres

existentes na natureza

“Todos estes elementos estão em harmonia, o sol, a terra, o céu e o mar, - nas suas partes, que são lançadas bem longe em

coisas mortais”

Platão

Fogo, Água, Terra, Ar

DEUS

Corpos mais belos e puros

Hipócrates, 460-377 a.C.

Conhecimento indirecto do interior do corpo humano › Ex: urina, suor, sangue deteriorado, pus, etc.

Aceitação dos quatro elementos de Empédocles “Da Natureza do Homem”, tratado que descreve com

exactidão a Teoria Humoral Saúde e doença correspondem ao equilíbrio e

desequilíbrio dos humores, respectivamente Dois importantes princípios hipocráticos:

› Primum non nocere, não prejudicar o doente› Contraria Contrariis, provocar efeitos contrários aos sintomas

Associação entre elementos, qualidades e fluidos corporais

a água, fria e húmida , relacionava-se com a linfa

o ar, húmido e quente, correspondia ao sangue

o fogo, quente e seco, ligava-se à bílis amarela

a terra, quente e fria, era associada à bílis negra

Objectivo da prática da sangria(a partir do século V a.C, com fins médicos)

Sangria derivativa (hipocrática)› realizada próximo da zona doente, de forma a expulsar os

maus humores aí presentes

Extrair os excessos de humores corruptos› Os gregos acreditavam que a menstruação era um mecanismo

para expulsar do corpo os maus humores

Mobilizar o sangue no interior do organismo “Arrefecer” o sangue excessivamente “quente” Diminuir a sua quantidade Sangrar até perder os sentidos (desmaiar) era

uma forma de relaxar e de evitar a dor

Galeno (séc. II d.C.)

Empédocles (492-432 a.C.)

Teoria dos 4 elementos

Hipócrates (460-377 a.C.)

Teoria Humoral

Doença: Resultado de um desequilíbrio entre os humores

Cura: O equilíbrio é retomado pelo tratamento

GA

LEN

O

Definição da relação: elementos/humores/qualidades/estrutura corpo humano

Estabelecimento de 4 tipos de temperamento:

Sanguíneo: natureza quente, vivo e fogoso;

Bilioso: ágil mas com humor acabrunhado;

Fleumático: frio e calculista;

Melancólico: pesado e triste.

Ideias de Galeno do Movimento do Sangue Prática Sangria

1. Sangue produzido no fígado;

2. Percurso: fígado - veias cavas - tecidos periféricos;

3. Sangue era consumido nos tecidos periféricos;

4. Não havia circulação do sangue;

5. Movimento: sentido único, centrífugo, atraído pelos tecidos.

Finalidade: retirar humores corruptos da zona infectada

do doente

Encaminhar para o exterior

Através da propriedade atractiva dos tecidos

Galeno apresenta uma teoria complexa, mas

irrealista, no que diz respeito à estrutura e ao papel do

coração no organismo, bem como relativamente ao

movimento do sangue:

O sangue era produzido no fígado;

O sangue estava animado de um certo movimento de

deslocamento no organismo; o sangue seguia pelas veias,

para os tecidos, mas sem retorno e, na desembocadura

destas, transformava-se no próprio corpo.

Fígado ↓

Coração: aurícula direita ↓

Ventrículo direito ↓

Pulmões (onde era consumido)

Ventrículo esquerdo(onde sofria uma

dilatação prodigiosa e adquiria um espírito

vital) ↓

Todas as partes do corpo

Princípios de Galeno relativamente às sangrias:

Operava-a, preferencialmente, no início da doença;

Não a aplicava a doentes menores de 14 anos; Abria as veias dos braços, a jugular ou as

safenas; Utilizava a técnica da sangria revulsiva:

realizada longe da zona doente ou no lado oposto, para que o humor corrupto se afastasse do local afectado;

Objectivo: diminuir a pletora (volume sanguíneo), para que os humores corruptos fossem eliminados do organismo.

Estas ideias de Galeno foram marcantes e

pautaram, durante muito tempo, toda a

actividade médica.

Apesar de hoje reconhecermos os perigos e,

em muitos caos, a inutilidade das sangrias, esta

técnica foi a forma de tratamento mais utilizada

em toda a história da medicina, adaptando-se às

teorias médicas vigentes em cada época.

Prática da Sangria

perdura no tempo

Poder da Igreja

Paradigmas vigentes

Conhecimento anatómico rural

Como a prática da sangria e as concepções galénicas foram mantidas durante séculos?

Conclusão

A prática de sangria deve ser perspectivada segundo a época e as circunstâncias.

A sangria, enquanto forma de tratamento médico, seguiu um fio condutor através dos tempos, pois foi sendo adaptada às teorias médicas e aos paradigmas vigentes.

O sangue teve sempre um especial estatuto e significado na cultura de todos os tempos, seja em termos antropológicos, sociais ou intelectuais.

Bibliografia

Marques L. “Saberes efémeros duradouros – O caso da sangria”. In: Cadernos de Cutltura “Medicina na Beira Interior da pré-história ao século XXI. Castelo Branco (2004)

“sangria", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2010, http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=sangria [consultado em 2010-10-15].