Rosmaninhal, terra do ouro. Etnomineralogia e património geológico: uma experi~encia participativa no Geopak Naturtejo, Portugal

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    XV CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE PATRIMONIO GEOLGICO Y MINERO. XIX SESIN CIENTFICA DESEDPGYM. LOGROSN, 2014. ISBN 9788469316757. Pp. 145176.

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    ROSMANINHAL, TERRA DO OURO:ETNOMINEROLOGIA E PATRIMNIO GEOLGICO: UMA

    EXPERINCIA PARTICIPATIVA NO GEOPARK NATURTEJO,

    PORTUGALROSMANINHAL, LAND OF GOLD:

    ETHNOMINERALOGY AND GEOLOGICAL HERITAGE: APARTICIPATIVE EXPERIENCE AT NATURTEJO GLOBAL GEOPARK,

    PORTUGAL

    E. CHAMBINO1,2; C. NETO DE CARVALHO2,3; J. RODRIGUES2,4

    (1) Centro Cultural Raiano, Idanha-a-Nova, [email protected](2) Geopark Naturtejo da Meseta MeridionalGeoparque Europeu e Global sob os auspcios da

    UNESCO, [email protected](3) Servio de Geologia da Cmara Municipal de Idanha-a-Nova, [email protected](4)Naturtejo, E.I.M., [email protected]

    RESUMO:So de variadas ordens os fatores que contribuem para uma identidade de paisagem onde o ouro assumeuma especial relevncia. Comecemos por referir e salientar que a pr-histria e a histria nos aportamcuriosas fontes (materiais e documentais) alusivas explorao dos recursos minerais desta regio deRosmaninhal. O rio Tejo (aurifer Tagusde Estrabo e Catulo) que circunscreve um dos limites a Sul da

    povoao congrega por si mesmo todo esse referencial histrico, literrio e lendrio ligado ao ouro. Dasexaustivas campanhas aurferas romanas ao longo dos depsitos aluviais dos terraos deste histrico rio,incluindo os seus afluentes Erges, Aravil, Ponsul e Ocreza, ficaram os densos vestgios das lavagens, as

    denominadas conheiras, conhais, gorroeiras ou gorroais, valiosas enquanto patrimnio geomineiro,histrico e cultural da regio. Pelas vias factuais supra mencionadas, de ndole diversificada, conclui-seque entre os populares se tenha divulgado um conhecimento preciso e detalhado sobre a localizaodestes lugares mineiros, assim como uma profusa circulao de histrias sobre achados de pepitas deouro, de variadas dimenses e formas, ao longo de vrias dcadas.A fama do ouro de Rosmaninhal despoletou tambm algumas migraes de prospetores de regies tolongnquas quanto a Noruega, e de garimpeiros ambulantes que se deslocavam de Penha Garcia e davizinha Extremadura para estes territrios, permanecendo na regio por longas jornadas a garimpar juntodas linhas de gua. Tal como os seus negociantes os ourivesque frequentemente se deslocavam at localidade para fazer os seus negcios de compra e venda de ouro, onde era includo este ouro nativo.So deveras notveis estes testemunhos e motivo suficientemente vlido para que se tenha desenvolvidotodo um corpus lendrio em torno do ouro, seus achados e lugares. Ou seja, casos diversos de pessoas quecom frequncia sonharam com a existncia de minas/tesouros onde estavam enterrados tesouros, potes,

    panelas, arcas, sempre repletos de ouro. Deste modo e partindo destas amplas dimenses onde o ouroassume especial destaque, procura-se neste trabalho, a partir de abordagens multidisciplinares (Geologia,Antropologia, Museologia), partilhar uma experincia participativa em torno de um projeto expositivomuseolgico, com o objetivo da salvaguarda e valorizao do futuro deste patrimnio imaterial.PALAVRAS-CHAVE: Ouro, Etnomineralogia, Patrimnio Geolgico, Geopark Naturtejo, Rosmaninhal(Beira Interior, Portugal).

    ABSTRACT:Several factors at different scales contribute for an identity of the landscape where the gold assumes aspecial relevance. We shall start to refer and highlight that Pre-history and History come up withinteresting evidences (both material and documental) related with the exploration of mineral resources inthe region of Rosmaninhal. The Tejo river (aurifer Tagusas named by Strabo and Catulo), defining thesouthern villages boundaries, is the historical, literary and legendary referential related to gold. From the

    gold extensive campaigns of the Romans across the alluvial terrace deposits of this historical river,including its tributaries Erges, Aravil, Ponsul and Ocreza, remained the vast tailing piles, called locally as

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    XV CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE PATRIMONIO GEOLGICO Y MINERO. XIX SESIN CIENTFICA DESEDPGYM. LOGROSN, 2014. ISBN 9788469316757. Pp. 145176.

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    conheiras, conhais, gorroeirasor gorroais, which are quite important as geomining, historic and culturalheritage. From the above mentioned diversified facts it is concluded that among locals a precise andcomprehensive knowledge about these mining areas, as well as the common notion of stories aboutdifferent weight and shape gold nugget findings has been circulated for several decades.The reputation of the gold from Rosmaninhal had also triggered some migrations of prospectors from

    areas as far as Norway, and gold panners coming from Penha Garcia and neighboring Extremaduravillages to these lands, staying for long periods panning in the streams. Like their buyersthe goldsmiths

    that frequently came to the village to sell and buy gold, including this native gold.These living testimonies are remarkable and the motif sufficiently valid for developing a whole corpusoflegends for the gold, its findings and places. In other words, it is reported several cases of people thatfrequently dreamed with the existence of underground mines/treasures where pots and chests full of goldhave been buried. In this way and starting from these broad dimensions where gold assumes specialrelevance, in this work we propose under multidisciplinary approaches (Geology, Anthropology,Museology), to share a participative experience that is being developed under an exhibition for a museum

    project, with the aim of rescuing and valuing this intangible heritage for the future.KEY-WORDS:Gold, Ethnomineralogy, Geological Heritage, Naturtejo Geopark, Rosmaninhal (BeiraInterior, Portugal).

    s vezes chegam a encontrar em Rosmaninhal, flor da terra, pepitas de ouro, puro de mais de cemgramas, o que deu a esta zona uma certa fama, tendo feito afluir ali, h uns trinta a quarenta anos,alguns mineiros nacionais e estrangeiros que se dedicaram a investigar os antigos trabalhos romanos, deresto, sem resultado aprecivel, no obstante algumas dezenas de registos mineiros, tomados, retomadose finalmente abandonados.

    Samuel Schwarz (1933)

    INTRODUO

    No Aurifer Tagus de Catulo, Estrabo ou Plnio s ltimas dcadas, a regio de

    Rosmaninhal sempre se destacou como um Eldorado na Lusitania. Por sculos se

    contaram lendas do seu ouro do grosso, e das mais longnquas paragens chegaram

    garimpeiros ou gandaieiros que, na poca das chuvas, percorriam exaustivamente as

    barrocas confluentes nos rios Erges ao Ponsul, at chegarem s barreirasdo Rio Tejo.

    At ao sculo passado os Rosmaninhenses conviveram de longe com esses movimentos

    pendulares e episdicos de estrangeiros, num tempo em que os esquelticos solos

    revolvidos incessantemente pelos arados e lavados pelas chuvas torrenciais eram

    perscrutados ao detalhe por quase toda a populao, desde as crianas a caminho da

    escola, os homens que acompanhavam os movimentos dos rebanhos e os ritmos do

    trabalho do campo, s mulheres que iam fonte ou lenha. Destes tempos subsistem

    lendas e histrias de achados de pepitas de quilo, cujo cruzamento de informaes entre

    os locais e visitantes recorrentes de Rosmaninhal, como os ourives, permite atestar a sua

    veracidade (Figura 1).

    Partindo destas amplas dimenses onde o ouro assumiu especial destaque para uma

    comunidade, procura-se neste trabalho, que culmina dez anos de experincias a partir de

    abordagens multidisciplinares (Geologia, Antropologia, Museologia), partilhar umaexperincia participativa em torno de um projeto expositivo museolgico (Chambino,

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    2011; Neto de Carvalho et al., 2006, 2012; Rodrigues et al., 2010, 2011). O objetivo

    deste estudo prende-se com a investigao, salvaguarda e valorizao do futuro do

    patrimnio geomineiro material, sob a forma de antigas minas, objetos etno-

    arqueolgicos e contextos de paisagem, assim como de um patrimnio imaterial que

    consiste em lendas, memrias, redes de vivncias e saberes-fazer, em vias de total

    esquecimento.

    Figura 1. O ouro de Rosmaninhal contado na primeira pessoa, no mbito do projeto Quando a genteandava aoMenriodo Centro Cultural Raiano, Municpio de Idanha-a-Nova.

    O Geopark Naturtejo da Meseta Meridional em Portugal rene os municpios de Castelo

    Branco, Idanha-a-Nova, Nisa, Oleiros, Proena-a-Nova e Vila Velha de Rdo, num

    territrio com 4.624 km2, numa paisagem que conta uma histria em mltiplos

    episdios com mais de 600 milhes de anos (Figura 2). Desde 2006 que o geoparque

    integra as Redes Europeia e Global de Geoparques, sob os auspcios da UNESCO, com

    o principal objetivo de conservar e promover o patrimnio geolgico, potenciando o

    desenvolvimento regional sustentvel. Para atingir estas finalidades os geoparques

    assentam em trs pilares, a conservao, a educao e o turismo, com a participao das

    comunidades locais.

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    PATRIMNIO GEOMINEIRO E A CARTOGRAFIA DA MEMRIA

    De fato, so de variadas ordens os fatores que contribuem para uma identidade de

    paisagem onde o ouro assume uma especial relevncia. Comecemos por analisar as

    origens do ouro de Rosmaninhal. Este territrio um imenso plano xistento (Domnio

    do Complexo Xisto-Grauvquico/Grupo das Beiras) cortado por files felsticos e

    quartzosos e densamente recortado pela fracturao tardivarisca, por vezes reativada

    segundo orientao Btica, como no caso da Falha de Segura. A peneplancie

    delimitada pelos vales entrincheirados dos rios Erges a oriente, Tejo a sul e Aravil a

    ocidente; os cumes so compostos por uma cobertura de depsitos detrticos cenozicos

    do tipo torrencial/fluvial fortemente retalhada pelo encaixe fluvial (Figura 2); o plano

    rebaixado progressivamente nos terraos erosivos que compem as barreiras do Tejo, no

    Vale da Morena, Couto de Santa Marina, Alares e Cubeira. Sequeira et al. (1999) refere

    que as primitivas exploraes mineiras das Veigas de Monfortinho e a SW do Vale das

    Eiras, na bacia hidrogrfica do Rio Erges, concentraram os seus trabalhos na base da

    Formao de Torre e na Formao de Monfortinho, assim como nos seus terraos

    fluviais mais antigos (Prez-Garca & Rivas, 1988). Estas formaes no afloram em

    Rosmaninhal, mas a Ribeira do Freixo e a Ribeira da Enchacana, com os seus vastos

    terraos fluviais plistocnicos, correspondem ao traado do pr-Erges controlado pelasreativaes da Falha de Segura, antes da sua captura fluvial. Os mais elevados teores de

    ouro reconhecidos na regio, at acima das 17g/tonelada, encontram-se associados a

    prfiros granticos e files quartzosos brechificados (Santos Oliveira, 2003; Romo et

    al., 2011) e zonas de cisalhamento (Pereira et al., 1993) sujeitas a reativaes mais

    recentes, com mineralizaes associadas a circulao tardia na transio e terminao de

    falhas e interseco de files, os quais so cortados pela eroso fluvial. Alis, a ausncia

    de files de quartzo em zonas de cisalhamento com concentraes de ouro porremobilizao e enriquecimento supergnico, que foram exploradas na antiguidade

    (Figura 4c), levou Schwarz (1933) a interpretar erradamente os poos e sanjas de

    Rosmaninhal como canais de lavagem de minrio fechados para fiscalizao da

    produo aurfera, a qual foi repetida por outros autores ao longo dos tempos (e.g.,

    Alarco, 1988). Tanto as mineralizaes como a forma e idade da minerao, em

    vieiros, tm paralelo com a Mina El Chivote, em Calzadilla (IGME, 2007). A

    ocorrncia das maiores pepitas de ouro associadas a perfis de solos, encontradas flor

    da terra, no pe de parte a hiptese de serem produto de alterao do substrato rochoso

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    mineralizado com posterior reconcentrao e recrescimento edfico do ouro,

    possivelmente sob ao bacteriana. do senso comum em Rosmaninhal que nas

    barrocas aparecem as mais pequenas, nas zonas lavradas apareciam as maiores. Esta

    situao de crescimento edfico excecional de pepitas de ouro ser anloga a Casas de

    Don Pedro-Talarrubias, na Extremadura, onde teve origem a pepita Doa Maria Jos,

    com 218g (Vila & Herrera, 2006; IGME, 2007; Barrios Snchez et al., 2010).

    Figura 2. Enquadramento geolgico da rea de Rosmaninhal no contexto do Geopark Naturtejo da MesetaMeridional assistido pela UNESCO.

    UM RUSH MINEIRO NA REGIO DURANTE O PERODO ROMANO

    Da pr-histria e da histria aportam-se-nos curiosas fontes (materiais e documentais)

    alusivas explorao dos recursos minerais desta regio (Figura 3). O rio Tejo (aurifer

    Tagus, designao to recorrente na Antiguidade; Fernndez Nieto, 1971) que

    circunscreve um dos limites a Sul de Rosmaninhal congrega por si mesmo todo esse

    referencial histrico, literrio e lendrio ligado ao ouro. Refere Estrabo (III, 2, 9), no

    primeiro quartel do sc. I, em relao visita do grego Posidnio de Apameia costa

    atlntica peninsular na transio dos scs. II-I a.C.:

    Acrescenta que entre os Artabros, que so os ltimos da Lusitnia, para norte e poente

    a terra tem afloramentos de prata, estanho e ouro branco (com efeito est misturado

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    com a prata); que os rios arrastam esta terra, que as mulheres amontoam com as

    enxadas e lavam em peneiros sobre um cesto.

    Para Plnio o Tejo aurfero era um dos quatro rios referenciais para ouro no mundo

    antigo, sendo os restantes Padusou P (Itlia), Hebro (na actual Bulgria), Pactolo (na

    atual Turquia) e Ganges (India). Das exaustivas campanhas aurferas romanas ao longo

    dos depsitos de terraos fluviais deste histrico rio e sua bacia hidrogrfica, ficaram os

    numerosos vestgios das exploraes, as denominadas conheiras, valiosas enquanto

    patrimnio geomineiro da regio (Calado & Calado, 2002; Sequeira & Proena, 2004;

    Neto de Carvalho et al., 2006). De um total conhecido de 91 conheiras (corrigido a

    partir dos stios inventariados em Batata et al., 2011), as arrugias mais extensas

    correspondem a Belgais, no Rio Ponsul (200ha), s Veigas de Monfortinho, no Rio

    Erges (104ha) e ao Conhal do Arneiro, no Rio Tejo (70ha). A sua origem romana, ou do

    tempo dos mouros, faz parte da cultura local h sculos e j relatada como tal nas

    Memrias Paroquiais de 1758. A origem romana das exploraes existentes no Erges,

    Aravil e Rosmaninhal confirmada pelo Baro dEschwege (1825) e afirmadapara o

    territrio do Geopark Naturtejo da Meseta Meridional nos rios Erges, Ribeira de

    Arades, Aravil, Ponsul, Tejo, Ocreza, Tripeiro, Ribeira de Pracana e Ribeira da Sert,

    em trabalhos e estudos monogrficos subsequentes (Schwarz, 1933; Emmons, 1937;Carvalho & Ferreira, 1954; Allan, 1965; Almeida, 1970; Carvalho, 1975, 1979; Firmat

    & Bento, 1977; Domergue, 1987, 1990; Prez-Garca & Rivas, 1988; Alarco, 1988;

    Veigas & Martins, 1992; Henriques et al., 1995; Sequeira et al., 1999; Calado &

    Calado, 2002; Snchez-Palencia & Prez-Garca, 2005; Snchez-Palencia et al., 2013;

    Neto de Carvalho et al., 2006, 2010; Batata, 2006, 2011; Batata et al., 2011; Martins,

    2008; Deprez, 2009; Deprez & De Dapper, 2008; Deprez et al., 2009; Romo et al.,

    2010; Encarnao et al., 2011; Rodrigues et al., 2011; Cardoso et al., 2011; Pipino,2013). A mesma tipologia de desmonte descrita por Plnio na sua Naturalis Historia,

    datada do sc. I, era ainda aplicada na cadeia central da Serra Nevada, durante a corrida

    ao ouro do Oeste Americano, em meados do sc. XIX (Neves Cabral, 1862). Na

    conheira da Fonte Santa (Figura 4a), encontram-se vestgios da aplicao do ground

    sluicing, atravs de canal talhado no bedrockxistento de acordo com a orientao da

    xistosidade, perpendicular e subjacente frente de desmonte preservada (Figura 4b).

    Em Idanha-a-Velha, Encarnao et al. (2011) redescobriram uma lpide estudada por

    Almeida (1970), a qual refere na inscrio que possui em honra de Jpiter, que Tibrio

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    Cludio Rufo, feito cidado romano possivelmente no tempo de Cludio, recolheu 120

    libras de ouro (Almeida, 1970; Carvalho, 1975), ou o equivalente a 39,28kg. As Veigas

    de Monfortinho tero produzido 818,2 a 982,1kg de ouro para uma mdia de 226 a 261

    mg de Au/m3 (Prez-Garcia & Rivas, 1988). Mas tambm o Rio Ponsul ou o

    Rosmaninhal podero ter sido a origem da fortuna de Rufo.

    O REFERENCIAL HISTRICO REGIONAL DAS TERMAS DE MONFORTINHO

    Nas Termas de Monfortinho, os vestgios desta explorao antiga so ainda visveis em

    alguns locais, nomeadamente na Veiga do Cravo e na zona ribeirinha espanhola a sul da

    localidade das Termas, com frentes de desmonte, pilhas de estreis (as gorroeiras),

    canais de abastecimento e tanques de acumulao de gua (Prez Garca & Rivas,

    1988). A maioria dos vestgios das frentes de explorao e outras estruturas mineiras

    foram, no entanto, alteradas pelas construes urbanas que deram origem s Termas de

    Monfortinho a partir dos finais da dcada de 30. A partir de 1889 foram estabelecidas

    formalmente quatro concesses mineiras na rea das Veigas de Monfortinho, em

    terrenos do Visconde de Proena-a-Velha e dos herdeiros de Francisco Tavares Proena.

    No entanto, o permanente movimento de gandaieiros de Monfortinho e de localidades

    vizinhas, onde se reporta a obteno de 2 a 4 g dirias de ouro e o achado de pepitascom 30 a 40g (Schwarz, 1933), levou a que entrassem 118 declaraes de descoberta de

    minas na Cmara Municipal de Salvaterra do Extremo e, mais tarde em Idanha-a-Nova,

    no perodo de 1869 a 1951. Industriais franceses e espanhis foram os primeiros a

    instalarem-se em 1871, tendo chegado a construir na Veiga do Cravo casa de habitao,

    escritrios e armazm. Em Agosto de 1887 constituda a Companhia das Minas de

    Ouro de Monfortinho, com sede em Lisboa. A partir de 1933 a histria da explorao

    mineira de ouro em Monfortinho v-se condicionada por outro recurso geolgico, agua das nascentes termais. Um grupo de empresrios liderado por Julio Anahory

    Calheiros, Conde da Covilh (1900-1970), pede as concesses mineiras em Julho de

    1936. J em 1934, o Conde da Covilh entrara em fora na Companhia das guas da

    Fonte Santa de Monfortinho, fundada em 1907 pelo Dr. Jos Gardette Martins. Em

    1938 construdo o hotel e em 1939, o novo balnerio. O processo arrasta-se at 1948

    sem inteno de iniciar a explorao mineira. Ao encontrarem-se no novo permetro

    reservado s nascentes da Fonte Santa de Monfortinho as concesses so anuladas em

    Junho de 1949.

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    No final dos anos 80 ainda foram feitos estudos de prospeo para a abertura de uma

    explorao mineira de ouro na envolvente das Termas de Monfortinho, pela empresa

    espanhola Sociedade de Informao e Explorao Mineira Mina Krystina, S.A., onde

    foram avaliadas as caractersticas do minrio. O ouro nativo aparece nos terraos do rio

    Erges em partculas pequenas, de forma laminar, raramente com mais de 1 mm, com

    valor mdio de pureza de 92,2% (Prez-Garca & Rivas, 1988). Pretendia-se fazer a

    explorao de uma frente ribeirinha de 7 km de extenso por 1 km de largura, em ambos

    os lados da fronteira, para a extrao de 484 kg de ouro, que nunca chegou a ser

    concretizada por questes ambientais, de comunicao viria na fronteira e de

    salvaguarda do aqufero das Termas de Monfortinho.

    A HISTRIA MODERNA E CONTEMPORNEA DO OURO DE ROSMANINHAL

    Da notoriedade histrica, embora vaga, das areias de ouro do Tejo, Leo (1785) faz

    referncia ao seguinte:

    Mas o ouro que em suas areias se tirava era to puro, que querendo El-rei D. Joo III,

    deste reino, que lhe fizessem um ceptro, mandou que lhe buscassem o ouro nas areais

    do Tejo.

    Num perodo histrico em que o pas se encontrava em insolvncia e D. Joo III sevoltava para o Brasil patrocinando uma intensa busca por minas de ouro, que no seu

    reinado se revelou pouco frutfera, as minas portuguesas, como o Rosmaninhal, tero

    servido como garantia visvel (o cetro real) aos emprstimos vindos do exterior. No

    seguimento da centralidade deste lugar-comum na bibliografia histrica, Viterbo (1904)

    refora que:

    D. Joo III possua um sceptro de ouro, para o qual dera o desenho Francisco de

    Hollanda, e cuja matria prima, segundo a tradio exarada em Andr de Resende,fora extrahida das areias do Tejo. Esta tradio, porm, destituda de fundamento,

    devendo prevalecer o testemunho de Hollanda, que assevera terminantemente que o

    precioso objecto fora feito com uma barra de ouro tirada de uma mina descoberta por

    Ayres do Quental. Ayres do Quental foi feitor-mr dos metaes nos reinados de D.

    Manuel e D. Joo III, e parece ter sido um dos portuguezes mais notveis nesta

    especialidade. A mina que elle descobriu foi a do Rosmaninhal, na provncia da Beira,

    prximo da raia.

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    Salienta-se atravs da pontualidade desta referncia histrica, a identificao de uma

    mina de ouro em Rosmaninhal, na sua ribeira e noutros lugares onde dizia ter

    aparecido ouro em gros e pedaos grandes,a partir de 1534 e por um perodo de, pelo

    menos, 5 anos (Campos, 1957; Figura 4e). Provavelmente engolida pelo tempo onde

    ainda possvel, pelo menos, localizar inmeros vestgios de explorao mineira,

    principalmente poos verticais com galerias entulhadas, que se encontram disseminados

    pelo amplo territrio (Figura 4d). Tambm ecoa entre os populares que a coroa da

    Rainha D. Amlia, a esposa do Rei D. Carlos I, foi feita com ouro proveniente do

    Cabeo Mouro (Pinheirinho, 2001). Ainda na confluncia desta bibliografia, nas

    Memrias Paroquiais de 1758, do Padre Lus Cardoso, pergunta 15 do inqurito ,

    Quais so os frutos da terra, que os moradores recolhem com maior abundncia? a

    resposta foi: Os frutos que d a terra em mais abundncia so: trigo, centeio, cevada e

    algum mel, e para a parte do Meio-Dia, folha do Vale da Morena, terra estril, produz

    alguns gros de ouro perfeito, uns maiores outros menores (Rego, 2003).

    Figura 3. Distribuio das reas mineiras no concelho de Idanha-a-Nova no espao, no tempo e de acordocom os recursos explorados.

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    As Memrias Paroquiais aludem a ocorrncia eventual ou recorrente de garimpeiros em

    Rosmaninhal, como em outros lugares do territrio do Geopark Naturtejo, como em

    Salvaterra do Extremo, Idanha-a-Velha, Toules, Malpica do Tejo, Escalos de Baixo,

    Sarzedas, Vila Velha de Rdo, Fratel, Amieira do Tejo, Almaceda, S. Vicente da Beira

    e Oleiros. Nos finais do sc. XIX-princpios do sc. XX diversos garimpeiros

    estrangeiros, espanhis, noruegueses, alemes, ingleses e belgas fizeram registos de

    minas. Alguns, como o alemo Afred Rost ou o belga Georges Boucher, permaneceram

    na regio por anos. O terceirense Moses Zagory tambm por aqui esteve muitos anos a

    partir de 1900.Ainda no mbito desta documentao mineira, nos Livros de Registos de

    Descoberta de Minas do Municpio de Idanha-a-Nova, Rosmaninhal congrega mltiplos

    registos de ouro, sendo o mais antigo do ano 1868 e estendendo-se at 1955, num total

    de 285 pedidos de direitos de pesquisa registados na Comarca de Idanha-a-Nova. Logo

    antes, em 1854, D. Francisco Clemente de la Pena e D. Loureno Huertas, presidente e

    secretrio da Sociedad Exploradora Aurfera de Madrid, obtiveram uma concesso

    provisria de uma mina de ouro na freguesia de Rosmaninhal, concelho de Salvaterra do

    Extremo, junto da capela de Santo Antnio, sob reclamao do Visconde de Asseca

    (Dirio do Governo de 30 de Maro, n 75), tendo a permanecido, pelo menos, at

    1875.Pela via da documentao mineira, o engenheiro de minas e arquelogo Samuel

    Schwarz, a trabalhar para a Empresa Minero-Metalrgica, com sede em Lisboa e

    numerosos interesses mineiros na regio, descrevia:

    Pelo que diz respeito Beira-Baixa, e principalmente ao Distrito de Castelo Branco,

    verificamos, com efeito, e estudamos muitos vestgios de exploraes aurferas romanas

    nos concelhos de Penamacor e Idanha-a-Nova, nas aluvies dos rios Basgueda,

    Erges, Aravil e Ponsul e dos diversos afluentes do Erges e do Tejo, nos stios deMonfortinho, Salvaterra do Extremo, Rosmaninhal, etc. Estes vestgios de trabalhos

    romanos podem-se dividir em duas categorias: 1 - Trabalhos a cu aberto; e 2 -

    Trabalhos subterrneos. Aos primeiros pertencem as grandes escavaes existentes no

    sitio da Carreira de Tiro, perto de Penamacor, e os montes de pedras aluviais

    alinhados nas beiras do Erges, no sitio das Caldas do Monfortinho, numa extenso de

    alguns quilmetros. Aos segundos pertencem as antigas galerias subterrneas que

    existem na regio de Rosmaninhal, nos stios do Cabeo Mouro, Couto, Minas, Santa

    Marinha, Algarves, Fonte Santa, Cubeira, etc.

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    Ainda hoje os locais identificam estas paisagens mineiras ancestrais, nomeadamente

    Vale da Morena, Couto de Santa Marina, Corgos, Cabeo de Joo Pires, Barroca da

    Mina (Goulo), Cabeo Mouro, Devesa e Poupa. Nos livros de Registos de Minas

    foram identificados 54 locais na freguesia de Rosmaninhal, sendo que a Tabela 1 faz o

    mapeamento dos topnimos mais pesquisados e, portanto, potencialmente mais

    produtivos (Fonte: Arquivo do Municpio de Idanha-a-Nova).

    Tabela 1. Representao grfica de Registos de Minas pelos lugares mais intensamente prospetados aolongo do perodo 1868-1955.

    Pelas vias factuais supra mencionadas, de ndole diversificada, conclui-se que entre os

    populares se tenha divulgado um conhecimento preciso e detalhado sobre a localizao

    destes lugares mineiros ancestrais, assim como uma profusa circulao de um conjunto

    alargado de histrias sobre achados de pepitas de ouro de variadas dimenses. A fama

    do ouro de Rosmaninhal despoletou tambm algumas migraes de garimpeiros

    ambulantes que se deslocavam de Penha Garcia, Monfortinho e alguns lugares da

    vizinha Extremadura para estes territrios de Rosmaninhal, permanecendo na regio por

    longas jornadas a garimpar junto das linhas de gua.

    AQUI TEM MUITO OURO, CAMARADA!: O OURO PRESENTE NACULTURA LOCAL

    Os registos das memrias que serviram de base e complemento a este trabalho retratam

    um quadro histrico do territrio de Rosmaninhal em conformidade com as suas

    profundas modificaes (Figura 5). Face sua base temporal, posicionam-se de forma

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    gradual em meados da segunda metade do sculo passado, em plena expanso da cultura

    do trigo (1930/1960). No esquecendo o permanente dilogo que ora se ope, ora se

    articula, com o presente e o futuro deste mesmo territrio, onde emergem ecos de um

    territrio j quase dissociado das prticas agrcolas. O Rosmaninhal naquilo que a sua

    espessura e expresso identitria das suas paisagens teve sempre uma profundssima

    relao com os gados (cabras, ovelhas, porcos, vacas) e os cereais de sequeiro (trigo,

    aveia, centeio, etc).

    Figura 4. Patrimnio geomineiro de Rosmaninhal. ABench placer explorado no terrao mais baixo doRio Tejo numa extenso de 600m (Conheira da Fonte Santa); bGround sluicing: canal escavado nosfilitos para lavagem de sedimentos (Fonte Santa); cSanja aberta ao longo de planos de cisalhamento

    (Cabeo Mouro); eVestgios da lavagem de terras em Corgos; fAntiga mina da Devesa (ou dos

    Engenheiros), concedida por D. Joo III a Aires de Quental, feitor-mor do reino e provedor-mor dosmetais.

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    Onde a agricultura tradicional (cereais de sequeiro) e o pastoreio extensivo (ovelhas,

    cabras, porcos, vacas) ligado propriedade aberta (latifndio) davam sentido e definiam

    o livre-trnsito de homens e animais. Deixando marcas e caratersticas histricas,

    econmicas, politicas e sociais vincadas numa sociedade rural outrora dividida por uma

    acentuada estratificao social constituda quase exclusivamente por duas classes, os

    ricos e os pobres. Dentro dos ricos destacavam-se os grandes senhores da terra, os

    proprietrios. Na classe dos pobres incluam-se todos os assalariados rurais (pastores,

    ganhes, etc.). Orlando Ribeiro, o gegrafo que calcorreou com profundidade estas

    terras raianas e lhes sentiu o pulsar, d-nos um retrato bastante lcido e caraterizador

    desta geografia social do espao:

    As povoaes, grandes, escassas e afastadas, para alm de um mbito de culturas

    mimosas e resguardadas de muros (os ches), vivem afogadas pelas enormes unidades

    agrrias, chamadas coutos () A cada uma preside uma casa de lavoura, gados e

    acomodao de ganhes ou jornaleiros, a que se do respectivamente os nomes de

    arraiais e montes (Ribeiro, 1995).

    Por outro lado, refletindo sobre o ambiente social da poca, nomeadamente a carncia

    de trabalho cujos sintomas se difundiam por todo o concelho, o etngrafo Jaime Lopes

    Dias escreve sobre a situao quotidiana da vila de Idanha-a-Nova:Naquele tempo, tiradas as ceifas, a sementeira e a colheita da azeitona, os

    trabalhadores de Idanha-a-Nova vagueavam todo o santo dia, por no terem trabalho

    (Dias, 1968).

    Foi dentro deste quadro histrico de enormes dificuldades econmicas, pautado pelo

    trabalho sazonal nos campos, que alguns destes ganhes e pastores, se evidenciaram no

    conhecimento minucioso de uma paisagem e dos seus ritmos vitais. A consequente

    descoberta de pepitas de ouro, uns por golpe de sorte, outros por graus de especializaomais elevados, surgia amide mediante esta partilha de proximidade com os trabalhos

    dos campos. Ou ento, nos perodos intercalares em que escasseavam estes mesmos

    trabalhos, muitos dedicavam-se a percorrer as linhas de gua na esperana de

    encontrarem alguma pepita de ouro que minimizasse as carncias a que estavam

    submetidos.

    Mas a nossa terra to rica em ouro o que no h quem explore. Aqui para o lado

    dos Corgos, antigamente havia pouco que fazer, os homens quando era no tempo que

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    chovia, iam para o campo pelos ribeiros a ver se encontravam ouro(Maria Mendes, 95

    anos, Rosmaninhal).

    Figura 5. Recolhas e testemunhos vivos: a - Trabalho de campo, Mina da Fonte Fria, Rosmaninhal; b -Albano Quaresma, 96 anos, Rosmaninhal; c - Jos Manuel Seborro, 90 anos, Rosmaninhal; d - AntnioClaro, 84 anos, e Maria Antunes, 82 anos, Penha Garcia. 2005 ; e - Antnio Claro e sua bacia do

    garimpo de ouro. 2005 .

    TERRA (LAVRADA), GUA (DA CHUVA) E OURO (EM PEPITASEXCEPCIONAIS)

    na zona do Rosmaninhal onde o povo se dedica ainda, actualmente, apanha de

    pepitas de ouro, qusi superfcie da terra, aps as pocas de chuva(Schwarz, 1933).

    Nas memrias das pessoas que descobriram pepitas de ouro recorrente ouvir-se a

    conjugao de dois fatores (um de ordem natural e outro de ordem tcnica), que

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    contribuam, de fato, para a respetiva descoberta: as chuvas fortes (enxurradas) e as

    lavras frequentes das terras.

    Com as enxurradas abrem-se frequentemente sulcos na superfcie das terras, permitindo

    ao jeito de canais a sua consequente lavagem. J as lavras, ao revolver frequentemente

    as terras, contribua e facultava essa circulao, atravs das chuvas, de sedimentos

    plausveis de conterem ouro.

    Quando andava gente a lavrar, lavrava com as juntas de vacas e parelhas de matchos

    [machos] edescobriam muitodescobriam muito ouroe ato a terra vinha

    lavadavinha e lavava e a gente via aqueles bocadinhos de ouro (Ti Z Manel, 90

    anos, Rosmaninhal; Figura. 5c).

    NOME PESO LOCAL DA DESCOBERTA VENDA | OURIVES

    Ti Z Cabao 1,100/1,200g Devesa(Fontinha dos Engenheiros)

    Do tamanho de umamo/alegadamentesonegada por importante

    personalidade local

    Ti Manuel Charra >1,000g Vale da Morena(ao p da Fraguinha)

    Vendida a ourives

    Chico Cgado 925g Soalheiras

    (Portela da Mouca Ll,terreno de olival)

    Vendida em pedaos a

    vrios ourives, incluindoValdemar (CasteloBranco) por 20 contos

    Joo AntnioPecado

    125/9 gr Moinho da Figueira Gato (Mealhada?)Foi vendida por 3 milescudos

    Ti Artur Robalo >200g Couto de Santa Marina(Barragem do HenriquesMoura)

    -

    Z Pingaroto >100g Herdade da Poupa(Cabeo das Gazes)

    -

    Ti Abel Russo Vrios, incluindo>100g

    Vrios locais Do tamanho de tangerina

    Ti Z ManelMenteroso

    >50g Couto de Santa Marina Do tamanho de castanha;perdida

    Manel da Barra 50g Vale da Morena -

    Tabela 2. Descobridores e descobertas. Registo das pepitas excepcionais atravs da memria local.

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    J o romano Plnio, na sua obra Naturalis Historia (XLIV, III) menciona Justino que

    refere como o arado era suficiente, s vezes, para obter ouro. Traduzindo tambm a este

    nvel essa memria da relao fecunda dos camponeses com a terra, onde a terra para

    alm de ser suporte e meio de produo, era de igual modo fundamento das relaes

    sociais e vitais da aldeia. Cedo se aprendia a sondar e perscrutar a terra, a avali-la, a

    revolve-la, a mold-la. E atravs desta proximidade emprica de relacionamento com a

    terra, desenvolveram-se essas capacidades de observao, tidas como critrios

    essenciais para a explorao e preservao do solo.

    Desta forma emprica se desenvolveram conhecimentos, familiaridades, relaes para

    com os recursos minerais da terra, tais como o ouro, conjuntamente com as suas

    complexidades e associaes em termos fsicos de avaliao da composio de solos

    (etnomineralogia na assero de Lvi-Strauss, 1962 e Haugricourt in Poirier, 1968). As

    riscas como so conhecidas localmente as fendas sulcadas na terra pelas enxurradas,

    participam entre os habitantes locais, desse lugar-referencial onde se encontram as

    maiores probabilidades de encontrar ouro. Alis, do conhecimento generalizado dos

    populares o mapeamento dos lugares onde existe de fato ouro, tal como a memria dos

    mais relevantes descobridores e suas descobertas (Tabela 2).

    O achado de grandes pepitas recorrente em Rosmaninhal. Estas encontram-se entre asmaiores pepitas de ouro registadas na Pennsula Ibrica ao longo da histria (Vila &

    Herrera, 2006; Pipino, 2013). Soler (1883) assinala na provncia de Len pepitas com

    113 a 1120g. As maiores pepitas de ouro encontradas em Portugal, ainda que sem

    confirmao, foram assinaladas no incio do sc. XX, na regio de Gis, com 3 e 7 kg;

    no se sabe, no entanto, qual a proporo de ouro que verdadeiramente continham.

    Todos estes achados, no obstante, encontram-se muito aqum da maior pepita de

    aluvio alguma vez encontrada, a Welcome Stranger de Victoria, Austrlia, com umpeso de 71,018kg. De uma forma geral, o registo destes grandes achados conhecido

    com preciso por toda a comunidade e pela ordem do peso das ocorrncias. Muitas

    extravasaram o domnio do conhecimento da prpria comunidade. A pepita de Chico

    Cgado apareceu nos jornais h quase 60 anos. O seu achado confirmado pelo ourives

    de Castelo Branco que a comprou (Carvalho, 1980). Na dcada de 90, o ouro de

    Rosmaninhal foi novamente noticiado aquando do ltima tentativa da sua explorao no

    Vale da Morena, Querem levar o ouro da Raia! (Gazeta do Interior, 16 de Abril de

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    1993), no Jornal Raiano em Fevereiro do mesmo ano, bem como na televiso pblica

    nacional.

    MEMRIA DOS GARIMPEIROS DE PENHA GARCIA

    Em 1901, o engenheiro Alfredo Augusto Freire de Andrade, ento diretor de minas dos

    territrios administrados pela Companhia de Moambique, e futuro Ministro dos

    Negcios Estrangeiros, faz uma visita de dez dias regio encarregado de avaliar a

    possvel utilizao dos jazigos aurferos de aluvio to frequentes na provncia da

    Beira Baixa (Castro e Solla, 1971). Este engenheiro reporta um nmero elevado de

    garimpeiros nas Veigas e descreve os utenslios utilizados na lavagem de sedimentos:

    A conca no difere da bateia normal seno na forma, proximamente a uma calota

    esfrica e de madeira e no seu manejo tm os adiceiros grande destreza. A caixa

    rectangular, de 0,25m a 0,35m de largo, e o fundo coberto por uma tbua perfurada

    por grande nmero de buracos. Colocada a caixa num ribeiro, de modo a que a gua

    corra para dentro dela (). Os adiceiros lavam em geral as areias que se depositam

    entre os interstcios dos afloramentos do xisto, que retm o ouro naturalmente na

    ocasio das cheias e a que fazem as suas maiores colheitas. (Castro e Solla, 1971).

    De acordo com Neves Cabral (1862), a caixa (calha, cale, caleiraou escalo tambmso designaes locais) ou sluice aumenta em 43,75 vezes a eficcia da lavagem de

    sedimentos, em relao bateia ou coucha/concaoubacia, denominaes locais.

    Ficou enraizado na memria local a presena ambulante dos garimpeiros de Penha

    Garcia na paisagem envolvente. Deslocavam-se a p, com um burro carregado com os

    utenslios, entre estes a conca e a caixa, e merenda, escolhiam os itinerrios que

    acompanhassem os rios (Erges, Aravil, Ponsul) e ribeiras, at chegarem ao territrio de

    Rosmaninhal, onde permaneciam longas temporadas a lavar terras na senda do ouro.Destacavam-se pelas tcnicas e algum saber-fazer especializado relacionado com o

    garimpo e apuramento do ouro.

    Homens que vinham praai de propsito a cavar terra a cavar terra assim nas

    barrocaslavavamlavavamtraziam umas bacias prprias e lavavam a terra,

    ficavam l aquelas falhinhas no fundoeles apoi com um bocadinho de coso que

    tinhamazougue [mercrio] ou o que era ajunteva, pegava-as a todas umas s

    outrasohhouve homens que atcharam ai uma riqueza, atcharam ai uma riqueza

    (Ti Z Manuel, 90 anos, Rosmaninhal).

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    Garimpeiros de Penha Garcia, Monfortinho, Toules e at de Brozas faziam

    regularmente temporadas nos seus lugares preferidos como os Corgos, Vale da Morena

    e Cabeo Mouro. Estas migraes/deambulaes associadas ao garimpo do ouro

    inscreviam-se regularmente nessas estratgias que as populaes locais encontravam

    para fazer face s dificuldades dos tempos.

    Tinha 13 anos quando comecei a andar ao ouro. Fui o primeiro a andar ao ouro.

    Trabalhei no Rosmaninhal com 14 anos, no Couto do Badacha, Alares e Cegonhas. 9

    gramas foi a pepita mais grossa e 30 gramas aqui em Penha Garcia. Em primeiro

    amos os dois [mulher, Maria Antunes], levvamos tudo cabea, amos a p at ao

    Rosmaninhal. Levvamos o farnel para toda a semana e a ferramenta para trabalhar.

    Dormamos pelas malhadas [habitaes agrcolas]. s vezes andvamos aqui por

    Penha Garcia. Os do Rosmaninhal andavam s s pepitas, a olho, aquelas que ficavam

    vista com a gua.(Antnio Claro, 85 anos, P. Garcia; Figura 5d,e).

    MINAS ESCONDIDAS E TESOUROS. A DECIFRAO DE UMAGEOGRAFIA MTICA LOCAL

    certo e sabido que os tesouros existem. Perdem-se no tempo as infinitas histrias

    sobre tesouros, sua revelao, oferecimento, descoberta ou perda que circulam atravs

    da tradio oral, tornando-se assim num dos seus temas mais fecundos e recorrentes.

    Nestas histrias sobre tesouros participam seres imaginrios, que no fundo so os seus

    cientes guardies permanentes: mouros, mouras, fadas, anes, serpentes, etc.

    Quando os mouros, pela fora das armas crists, se viram obrigados a largar as nossas

    terras, deixaram lindas mouras encantadas em guarda a seus tesouros, at que um dia,

    vencedores, pudessem vir tomar conta deles, como diz a mitologia popular (Alves

    1934).

    Mediante o rol destas histrias, estes supostos guardies habitam o subsolo, onde

    construram cidades, palcios, onde criam animais, tm alfaias agrcolas, fiam, dobam e

    tecem os seus panos, lavam e pem a secar a sua roupa, enfim, em termos imaginrios,

    vivem uma vida subterrnea paralela vida humana. O encantamento faz parte das suas

    estratgias de ocultamento e s mediante a quebra deste que se tem acesso a este

    mundo subterrneo repleto de tesouros. A sinalizar na paisagem estas evidncias esto

    buracos, salincias, pedras, grutas, antigas minas, rvores de grande porte, fontes, runas

    antigas.

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    Algumas das mltiplas formas de revelao destes tesouros ocultos, esto associadas

    mera casualidade, a alguns sinais que o evidenciam, aos roteiros de tesouros ou mesmo

    atravs dos sonhos. Ou seja, o respetivo sonho tem que se repetir trs vezes.

    Recolhemos em Rosmaninhal alguns destes exemplos:

    -Houve um senhor que sonhou que ali mesmo ali ao lado onde est aquele coiso [anta]

    ali no cabecinho onde estavam os gorres que lhe chamavam forcaento o velhote

    disse que havia l uma mina e o qu que pensou, andava variado da cabea e mandou

    vir ali uma mquina, uma buldoza, falou comigo se podia l cavar () v l a cavar,

    mas quando ao fim quero isso tapadol andou, andou ali uma mquina mais de

    quanto tempo a escavarfez ali uma buracano apareceu nada () sonhou que

    havia l uma minaque havia l qualquer coisa, um tesouro, tanto cavou, tanto

    cavouque convenceu-se, aqui de facto no h c nadae ns quando foi ao fimo

    da mquina fechou aquilofechou aquele Buracoo homem sonhou, andava variado

    da cabea(Jernimo Folgado, 75 anos, Rosmaninhal);

    - O meu sogro que Deus tem tambm sonhou com uma () ali ao p onde est o poo,

    ali na estrada () era ali em frente do povo () diz que detrs de uma oliveira que

    estava uma mina vir aqui a cavar que ali est uma mina! Mas os filhos diziam que

    estava l uma serpenteos filhos nunca l quiseram ir a tirar a mina. (Maria Mendes,95 anos, Rosmaninhal);

    - () estava uma e dizia assim eu ando a sonhar que est ali uma minaum dia

    disseram assim Vamos l a ver?! estava l uma talha da beira mas estava

    arrancada. Foi um senhor que veio de foraveio de fora, eu at nomeavaisto no

    do meu tempo() e a outra era ali naquele cabeo quando a gente vai para a

    Santa, ali esquerda direita quando a gente vaialm num cabecinho daqueles

    havia muita gente que l ia a cavar que sonharam com aquela minamas ningum lqueria ir porque diz que estava l um drago o no sei que tudo tinha medo de l ir!

    Ainda l cavaram muitos! (Ins Manjerica, 78 anos, Rosmaninhal);

    - Voc no conhece aquela ponte que est ali no Arrabalde, ali naqueles ches

    [terrenos] ali disseram que tiraram uma mina com uma mo cheia de ouro que l

    estavauma panela cheia de ouro que l estavae foi de dia!(Ti Z Manel, 95 anos,

    Rosmaninhal);

    - Olhaest uma senhora, onde o m homem achou o ouroalm para l do

    ringuechamam-lhe alm a Forcaela sonhava que estava l uma mina com

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    XV CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE PATRIMONIO GEOLGICO Y MINERO. XIX SESIN CIENTFICA DESEDPGYM. LOGROSN, 2014. ISBN 9788469316757. Pp. 145176.

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    Os seus nomes esto assim intrinsecamente ligados aos circuitos destas descobertas e

    seus posteriores desenvolvimentos. O ouro ainda era transacionado regularmente h 50

    anos (Carvalho, 1980).

    Nessa altura at vinham c muitos ourives. Tanto o Valdemar, o Preguia dali da

    Idanhaos tios deles, pais(Jernimo Folgado, 75 anos, Rosmaninhal).

    Os ourives so reconhecidos por todos atravs do seu nome prprio, apelido ou alcunha.

    O Valdemar e o Catarino de Castelo Branco, a famlia Preguia de Cantanhede e o Gato

    so os ourives mais reconhecidos (Figura 6).

    Faziam a troca do ouro cascalho, chamvamos ns o ouro cascalho. E ele [sogro,

    Antnio Conceio, ourives] quando vinha para a nossa loja, era assim daquelas

    pessoas que contava-me o que fazia, o que vendia, o que comprava e depois pousava l

    em cima do balco e quando trazia assim aquele ouro (ouro cascalho), por vezes at

    duvidasse no no frente do cliente mas depois em casa, ele pegava numa mo

    cheia de ouro e comeava a cheirar, a cheirar, a cheirar o ouro e ele dizia que estava

    puroque era bom. (Maria Manata, esposa de Elias Preguia, ourives, 60 anos,

    Cantanhede).

    Numa sociedade e num perodo em que o dinheiro escasseava, os ourives obtinham um

    bom lucro (at 92,5%) com a compra das pepitas. Numa poca em que o preo do ouroestava fixado entre os 35$00 e os 40$00/g (actualmente 17-20 cntimos; Carvalho,

    1979), a pepita de Joo Folgado valeu sua famlia apenas 3 contos e a de Chico

    Cgado, 20 contos (15 e 100 euros, respetivamente; ver Tabela 2).

    A venda c, ali parece-me que foino sei quantos escudos a gramabom eu sei que

    o nosso foram 129 gramas e deram-nos 3 mil escudos por ele, naquela altura. Bom j

    l vocinquenta e tal anos quase sessenta. O ourives foi o Gato. (Joo Antnio

    Folgado, 68 anos, Rosmaninhal).Porm, havia tambm quem juntasse pequenas quantidades e aproveitasse vend-los aos

    garimpeiros ambulantes que circulavam pelo territrio. O pai de Maria Augusta, 83

    anos, natural de Idanha-a-Nova e residente em Rosmaninhal, recolhia as lendilhinhas de

    ouro numa pena de grifo; quando juntava cerca de 1g vendia aos ourives para comprar

    tabaco. Jos Mendes encontrou uma pepita do tamanho de uma noz. Conta Maria

    Mendes (95 anos), Olhe foram os primeiros brincos que eu pus nas orelhas, foi com o

    dinheiro do ouro do meu pai.

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    QUANDO A GENTE ANDAVA AO MENRIO: INVESTIGAO EDIVULGAO PARTICIPATIVAS DA CULTURA IMATERIAL DOSRECURSOS GEOLGICOS

    A relao do Homem com o substrato geolgico particularmente evidente na cultura

    mineira. No territrio do Geopark Naturtejo, mais de 3 000 anos de trabalhos mineiros

    deixaram uma marca profunda na paisagem e na memria (Neto de Carvalho et al.,

    2010). As Buracas da Moura nas cristas quartzticas so reminiscncias lendrias que

    nos chegam da Idade do Ferro. As conheiras, conhais ou gorroais (Arneiro, Charneca,

    Foz do Cobro, Termas de Monfortinho, Ponsul) testemunham a magnitude

    quilomtrica dos desmontes mineiros de aluvio durante o Perodo Romano. Nos

    ltimos dois sculos existiram 112 concesses mineiras em todo o territrio do Geopark

    e s em Idanha-a-Nova, em 116 anos, foram feitos 1960 registos de descoberta de

    minas. Num territrio mineiro, a febre do ouro negro ou do volfrmio teve as suas

    especificidades, associadas s migraes de mo-de-obra agrcola, s iluses da

    Revoluo Industrial, s vivncias dir ao minrio e ao contrabando de volfrmio e

    estanho. Mas o ouro que marca a paisagem cultural da regio. O ouro de Rosmaninhal

    lendrio. Associado ao modo de vida pastoril, o ouro nmada, movendo famlias

    exclusivamente dedicadas gandaia do ouro, ou comunidades inteiras, quando o

    trabalho e o alimento escasseavam. Os eixos da gandaiaeram e sempre foram o Tejo,

    assim como os seus afluentes e subafluentes, nomeadamente o Erges, Ocreza, Ponsul,

    Aravil e Sert. esta cartografia da memria que se procura hoje conhecer e potenciar

    em lgicas inovadoras de desenvolvimento, assentes no turismo (Neto de Carvalho et

    al., 2010).

    O patrimnio industrial a evidncia de atividades socioeconmicas transformadoras

    que tiveram e continuam a ter profundas consequncias histricas (The Nizhny Tagil

    Charter for the Industrial Heritage, 2003). A atividade mineira depende dageodiversidade local e todas as atividades de interpretao devem incluir a histria

    geolgica dos jazigos, alm da histria local da minerao e do patrimnio industrial.

    Atualmente, a sociedade totalmente dependente mas pouco consciente dos recursos

    minerais usados como matria-prima na maioria dos objetos do quotidiano e, nesse

    sentido, as atividades de divulgao contribuem para a promoo da utilizao

    sustentvel dos recursos minerais.

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    Figura 7. Divulgao do Patrimnio imaterial do ouro. aRecolha flmica de testemunhos vivenciais; bApresentao de documento flmico aos informantes, familiares e autoridades locais; cFesta do Ouro

    na Foz do Cobro; dPepita de ouro encontrada na borrada conca de madeira durante a Festa do Ouro;eAnimao turstica durante o Festival Salva a Terra, Salvaterra do Extremo; fGeologia no Vero,

    com o apoio do Centro de Cincia Viva da Floresta e patrocinado pela Fundao para a Cincia eTecnologia; gWorkshop Do Ouro Jia no mbito da aco j referida, com o ourives Paulo Dias, da

    escola de Febres; hNova vida nos espaos da memria mineira, Rio Ocreza.

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    Neste contexto, as atividades desenvolvidas pelo Geopark Naturtejo tm por base a

    cultura mineira que privilegia a evoluo das tcnicas, o estilo de vida e os impactos

    sociais da minerao, pelo que a participao das comunidades locais, designadamente

    de antigos mineiros, fundamental nas fases de investigao mas tambm na

    dinamizao de atividades com pblico (Neto de Carvalho et al., 2006; Rodrigues et al.,

    2011, Figura 7c). Qual o significado de uma concase os visitantes no sabem como

    que esta era utilizada e rentabilizada? A contribuio de antigos mineiros permite

    enriquecer os objetos com a sua histria e modo de utilizao. Neste sentido, o

    patrimnio geomineiro intangvel uma das maiores riquezas do Geopark Naturtejo

    sendo, porm, a mais vulnervel, dado que os peritos, fonte destas valiosas informaes

    e experincias tm mais de 70 anos. Estes testemunhos tm vindo a ser recolhidos, sob a

    forma de entrevista gravada e filmada, constituindo a base para a interpretao do

    patrimnio geomineiro (Neto de Carvalho et al., 2012; Figuras 5a e 7a,b).

    Em 1986, o Grupo dos Amigos da Foz do Cobro, Vila Velha de Rdo juntou antigos

    garimpeiros locais e a comunidade para a Festa do ouro em Foz do Cobro, a recreao

    de uma pesquisa de ouro (Catarino, 2003). Esta festa foi recriada 20 anos depois com os

    mesmos garimpeiros, com o apoio da Associao de Estudos do Alto Tejo e do Geopark

    Naturtejo, patrocinado pelo Programa das Aldeias de Xisto (Figura 7c,d).

    Este evento, com enorme repercusso nos media nacionais, impulsionou o

    desenvolvimento de programas tursticos pelas empresas de animao turstica e de um

    estudo mais sistemtico, multidisciplinar, dos antigos territrios mineiros e sua

    valorizao (Rodrigues et al., 2011; Figura 7).

    A exposio Quando a gente andava ao menrio assenta sobretudo numa planificao

    onde a mobilidade desta mesma tm uma redobrada relevncia (Chambino, 2011).

    Assim, partindo da gnese da sua definio, ou seja, de um entendimento em relao

    sua estrutura, desenho e ideia finalizada, como um corpo nmada, que percorre as

    aldeias com passado mineiro do concelho de Idanha-a-Nova, reconfigura-se

    efetivamente com novos contedos e materiais temticos relacionados com os

    respetivos contextos locais mineiros. Por esta via e de uma forma sistemtica, est a

    acrescentar-se valor a um importante corpusde materiais (tangveis e intangveis), fruto

    das respetivas investigaes efetivadas em cada uma destas aldeias.

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    Ou seja, em termos de equacionamentos de valorizaes, para alm das mais-valias

    imediatas do usufruto dos contedos da prpria exposio para a histria da

    comunidade e de toda a dinmica de eventos criados em seu redor, as aldeias passam a

    contar ainda com um conjunto de ferramentas de utilizao futura, tais como: materiais

    flmicos, udio e documentais produzidos no mbito desta mesma investigao, para

    alm de uma rede de informantes e uma maior proximidade entre investigador e a

    comunidade.

    A convivncia dos povos de Idanha com uma explorao mineira que, embora com um

    relevo econmico relativo foi sempre um contributo precioso para a subsistncia diria,

    prolongou-se por milnios. As suas prticas tero deixado marcas no legado cultural

    popular, sob a forma de lendas, cantigas e modos de vida, agora quase esquecidos. Este

    legado, face avanada idade dos seus protagonistas, caminha para o total

    esquecimento se no for recuperado pela via documental, de estudos de arqueologia

    mineira e de inquritos orais, com a reconstituio fsica das suas prticas pelos antigos

    mineiros que ainda subsistem nas aldeias. O projeto sobre o patrimnio geolgico de

    Idanha demonstra vrias valncias que o torna pioneiro: conhecida a riqueza histrica

    e etnogrfica destas regies e cada vez mais se promove a qualidade e raridade dos seus

    georrecursos; trata-se de um trabalho cientfico multidisciplinar, que pretende fundir

    reas do conhecimento to distintas quanto a antropologia e a geologia; apresenta como

    aplicao prtica e como objetivo final, a reconstituio do espao da mina e das

    vivncias em torno do minrio, as suas perspetivas face ao seu mundo em rpida

    mutao e os impactes scio-econmico da atividade mineira (formal e informal) ao

    longo dos tempos. O projeto do patrimnio mineiro de Idanha surgiu em 2005, no

    mbito do Inventrio do Patrimnio Geolgico e Mineiro para a constituio do

    Geopark Naturtejo da Meseta Meridional. A aposta num filme de apresentao e numarquivo audiovisual permitir relatar a histria geolgica de Idanha e as estrias dos

    seus mineiros de uma forma muito mais apelativa e abrangente (Figura 7b). A

    exposio constitui uma coleo de referncia dos utenslios, ferramentas, mapas,

    estudos histricos, fotografias, bem como dos minrios explorados, sendo enriquecida

    medida que se desloca de localidade em localidade, ao mesmo tempo sensibilizando,

    relembrando e envolvendo os protagonistas locais.

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    NOTAS FINAIS

    Vastas ocorrncias aurferas, porventura as de maiores dimenses entre ns, onde

    proliferam vestgios de antiqussimas exploraes(Carvalho, 1975).

    So inmeras as linhas de investigao que este tema em redor do ouro projeta, tal como

    num sentido mais alargado o prprio patrimnio geo-etno-mineiro do territrio do

    Geopark Naturtejo da Meseta Meridional. Foi com estes propsitos em mente que esta

    equipa com uma viso multidisciplinar (antropologia e geologia) foi para o terreno

    conhecer e inventariar por um lado e por outro, estudar, preservar e colocar em

    valorizao este mesmo patrimnio, tanto em relao os seus vestgios materiais

    (documentao relacionada, caraterizao das paisagens mineiras romanas a

    contemporneas, infraestruturas, tecnologias, objetos,) como imateriais (linguagens

    prprias, gestualidades, repertrios de saberes, modos de organizao formal e informal

    e afins). O estudo decaso do ouro de Rosmaninhal precisamente o continuar duma

    longa investigao e deambulao pelos territrios de maior relevncia mineira do

    concelho de Idanha-a-Nova. O itinerrio de uma exposio nmada que est nas bases

    desta investigao iniciou-se em 2011 no Centro Cultural Raiano (Idanha-a-Nova),

    posteriormente em S. Miguel de Acha (2012), Termas de Monfortinho, Medelim

    (2013), Proena-a-Velha e Salvaterra do Extremo. Na linha conceitual destesargumentos, revisitou-se esta paisagem mineira conjuntamente com alguns

    protagonistas locais do ouro, que serviram simultaneamente de guias destas paisagens e,

    enquanto suporte metodolgico, elaborou-se um registo flmico, no sentido prioritrio

    de salvaguardar uma parcela significativa destas memrias do ouro, face avanada

    idade dos principais intervenientes. Por outro lado, a exposio tambm d a conhecer

    os profundos impactos sociais que estas prticas tiveram no territrio e suas

    consequentes ligaes identitrias legadas. Em paralelo, fizeram-se registos fotogrficosno sentido de documentar de forma criteriosa e ampla o universo do presente deste

    patrimnio em Rosmaninhal, tanto as configuraes fsicas (antigas minas, trajetos,

    linhas de gua e locais de evidencias mineiras diversas) como as humanas

    (informantes). Numa segunda fase, com o intuito da partilha experiencial com a

    comunidade do decorrer dos trabalhos e respetiva valorizao de uma memria social,

    seus principais traos identitrios a uma paisagem fsica e humana, convidaram-se os

    participantes e restante comunidade a visualizar o resultado do trabalho final da

    montagem das imagens flmicas e nesta sequncia preparou-se um workshop de

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