40
30. CARRAPATOS E ÁCAROS 30. CARRAPATOS E ÁCAROS PARASITOLOGIA MÉDICA PARASITOLOGIA MÉDICA Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde”, de Luís Rey Fundação Oswaldo Cruz Instituto Oswaldo Cruz Departamento de Medicina Tropical Rio de Janeiro

REY - Parasitologia - 30

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: REY - Parasitologia - 30

30. CARRAPATOS E ÁCAROS30. CARRAPATOS E ÁCAROS

PARASITOLOGIA MÉDICA

PARASITOLOGIA MÉDICA

Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de

Medicina e Saúde”, de

Luís ReyFundação Oswaldo CruzInstituto Oswaldo Cruz

Departamento de Medicina TropicalRio de Janeiro

Page 2: REY - Parasitologia - 30

Acari de importância Acari de importância médicamédica

Page 3: REY - Parasitologia - 30

A subclasse AcariA subclasse AcariEsta subclasse (=Acarina),

que alguns consideram umaordem de Arachnida, carac-teriza-se por seus membrosapresentarem o cefalotóraxfundido com o abdome e,também, por terem asquelíceras e demais peçasbucais reunidas em umaestrutura única - o capítulo ougnatossomo.

Muitas espécies destaclasse estão envolvidas natransmissão de agentescausadores de doenças dohomem ou de animais, devidasa vírus, rickéttsias ou espiro-quetídeos.

Algumas causam a sarna ououtras dermatoses ou alergiasrespiratórias.

Os Acari que possuem umou dois pares de estigmas sãoos Parasitiformes.

Enquanto os sem estigmas[com exceção dos Actinedida(= Prostigmata)] são da coorteAcariformes. Há outrosgrupos sem interesse médico.

Page 4: REY - Parasitologia - 30

Os carrapatos Os carrapatos de

animais domésticos sãoartrópodes de tamanhopequeno ou médio, que, emjejum ou poucoalimentados, têm o corpoachatado no sentido dorso-ventral.

O contorno é oval ouelíptico e a superfície dor-sal ligeiramente convexa.

Os segmentos do corpoestão fundidos em umapeça única ou idiossomo, eo que parece uma cabeça éo conjunto das peçasbucais bem quitinizadas edenominado – capítulo ougnatossomo.

Este fica inserido em umadepressão entalhada naborda anterior do corpo dosIxodidae.

Mas, nas as ninfas eadultos dos Argasidae, elefica na face inferior do corpo.

Ixodes Argas

Page 5: REY - Parasitologia - 30

Organização dos carrapatos (1)No capítulo, há uma

peça basal (a), cuja partemediana e ventral projeta-se numa formação impar, ohipostômio (i).

Este é liso e plano naface dorsal e traz dentí-culos ventrais, com aspontas voltadas para traz.

As quelíceras (e, f), comdentes cortantes nasextremidades, ficam dor-salmente ao hipostômio eformam com ele o canal desucção.

Dois palpos, com 4 artí-culos, integram o capítulo.

Gnatossomas (ou capítulos) dasfêmeas (vista dorsal e ventral) em: A-E,Amblyomma; B-F, Ixodes; C-G,Haemaphysalis. D, Boo-philus e H,Dermacentor.

As estruturas são: (a) base do capítulo; (b, c, d) segmentos dos palpos; (e)bainha das quelíceras; (f) dentes ou dígitos da quelíceras; (g) área porosa; (h)4º segmento do palpo; (i) hipostômio.

Page 6: REY - Parasitologia - 30

Organização dos carrapatos (2)

O corpo ou idiossomo, nas espécies dafamília Ixodidae, traz no dorso uma placabem quitinizada ou escudo (c).

Nos machos, ele cobre quase todasuperfície dorsal, ao passo que nasfêmeas só cobre a metade ou um terço,nos carrapatos não alimentados.

Nos Argasidae não há escudo.Olhos simples, quando presentes, ficam

nas margens do corpo ou do escudo (b).Sulcos diversos geram aspecto festo-

nado na margem posterior de algunsIxodidae (e).

Amblyomma cajennense, fêmea e macho; (a) capítulo; (b)olho; (c) escudo dorsal; (d) dorso do corpo separado dosfestões marginais (e) pelo sulco marginal.

Page 7: REY - Parasitologia - 30

Organização dos carrapatos (3)Ventralmente, encontram-se a

abertura genital (b); as placasou escudos quitinosos (a, c, e,g, h); as placas espiraculares(d); o ânus (f) e alguns sulcos.

A abertura genital fica sobre alinha média, anteriormente, e àsvezes logo atrás do capítulo ougnatossoma (i).

O ânus (f) fica para traz doúltimo par de pernas, fechadopor 2 valvas quitinosas.

As placas ao redor dosestigmas ou peritremas, são 2formações de cor castanha,situadas lateralmente, perto do4o par de pernas (d, j).

Sua forma varia conforme aespécie, podendo ser redonda,oval, triangular, em vírgula etc.;k, olho.

Aspecto ventral de: A, Ixodes; B, Rhipice-phalus; C, Argas; D, Ornithodorus.

Page 8: REY - Parasitologia - 30

Organização dos carrapatos (4)Os 4 pares de pernas dos

adultos e ninfas (3 pares naslarvas) têm 6 segmentos:coxa, trocânter, fêmur, gênu,tíbia e tarso.

Na extremidade de cadauma, há um pedúnculo no qualse inserem 2 garras. NosIxodidae, há junto às garrasuma expansão em forma dedisco ou ventosa, são ospúlvilos.

Entre o 1o e o 2o pares decoxas dos Argasidae estão asglândulas coxais destinadas aeliminar líquidos ingeridoscom o sangue e impedidos decoagular pela secreção dasglândulas salivares (f).

A cavidade bucal continua-se com a faringe (e), quefunciona como bomba aspiran-te, e o esôfago (g) que se abreno estômago (h).

Este apresenta divertículosanteriores e posteriores termi-nando em fundo cego (a, c, d),onde se opera a digestão.

O intestino posterior (i)recebe os tubos de Malpighi(b) e forma uma ampola retal(j) com divertículo (k) antes deabrir-se no ânus.

Sistema digestório e nutrição

Page 9: REY - Parasitologia - 30

Fisiologia dos carrapatos (1)A medida que o carrapato

suga sangue há distensãoconsiderável dos divertículos edo corpo do animal.

O alimento é concentradopor eliminação de líquido pe-las glândulas coxais (Argasi-dae) ou pelas glândulas sali-vares (Ixodidae).

Os carrapatos são capazesde suportar jejum prolongado(da ordem de vários meses).

A respiração das larvas écutânea. Mas ninfas e adultosrespiram através de sistematraqueal muito ramificado esemelhante ao dos insetos.

Os sexos são separados, mashá espécies partenogenéticas.

Orgãos femininos: l) vagina; m)glândulas acessórias; n) ovidutos;o) orifício genital; p) útero; e q)ovário.

Nas fêmeas dos ixodídeos, há2 áreas porosas, no capítulo,produzindo a substância anti-oxidante que envolverá os ovos.

Há também 2 fóveas dorsaisque produzem feromônios.

Nos machos, os espermato-zóides ficam envolvidos por umamembrana, o espermató-foro,até a fecundação.

Page 10: REY - Parasitologia - 30

Fisiologia dos carrapatos (2)Durante a cópula, macho e

fêmea aproximam os orifí-cios genitais e o macho (quenão tem pênis), introduz comseu hipostômio e as quelí-ceras, um espematóforo navagina da fêmea, a serestocado no receptáculoseminal.

Posteriormente, os esper-matozóides deixam suacápsula, adquirem motilidadee vão fecundar os óvulos.

O ovário, então, aumentamuito de tamanho e produzovos em todas as fases dedesenvolvimento.

A oviposição começa pou-cos dias depois da cópula eestando a fêmea repleta desangue. Durante 5 a 10 diasmilhares de ovos são postos.

Dependendo da temperatura eoutros fatores ambientais, aeclosão pode dar-se em cercade 40 dias, quando nascemlarvas com 3 pares de pernas.

Elas se alimentam-se e cres-cem durante as mudas. A 1a

muda as transforma em ninfas,com 4 pares de pernas. Elas jáse parecem com os adultos, masnão desenvolveram ainda osórgãos reprodutores.

Ovos e larva hexápode de um ixodídeo.

Page 11: REY - Parasitologia - 30

Classificação e principais espéciesClassificação e principais espécies

A ordem IXODIDA (ouMetastigmata) dos carrapatos,compreende 2 famílias fáceisde distinguir:

IXODIDAE - com gnatossomoou capítulo na extremidadeanterior do corpo, presença deescudo dorsal e estigmasdepois do 4o par de pernas.

ARGASIDAE - com o gnatos-somo ou capítulo na faceventral do corpo (exceto naslarvas), sem escudo dorsal,tegumento rugoso ou mamilo-nado e com estigmas entre o 3o

e o 4o par de pernas.

Ixodidae

Argasidae

Page 12: REY - Parasitologia - 30

Família IxodidaeFamília IxodidaeGênero Amblyomma

Ixodídeos com rostro longo ecom o 2o segmento do palpopelo menos 2 vezes mais longodo que largo.

Possuem olhos simples, escu-do e festões marginais e escudogeralmente ornamentado.

No Brasil, são 30 as espécies.

Amblyomma cajennense é omais importante por atacarinúmeros animais silvestres edomésticos (do Texas à Ar-gentina), inclusive o homem.

É conhecido por carrapato-de-cavalo ou carrapato-estrelae sua larva é o micuim,carrapatinho ou carrapato-pólvora, dado seu pequenotamanho e o número consi-derável que pode atacar umapessoa.

Acumulam-se aos milharesnos galhos de arbustos eaderem aos que passamroçando na vegetação.

Alimentadas, as larvasdeixam o hospedeiro após 3-6dias, para a ecdise no solo.

As ninfas buscam, emseguida, um novo hospedeiro.

A. cajennense

Page 13: REY - Parasitologia - 30

Família IxodidaeFamília Ixodidae

As ninfas sugam durante 5-8dias e voltam ao solo paranova ecdise.

Os adultos de A. cajennensealimentam-se sobre um 3o hos-pedeiro, durante 6-8 dias, e aícopulam. As fêmeas põem 6 a8 mil ovos, no solo.

Esta espécie é a principaltransmissora da Rickettsiarickettsii, agente da febremaculosa ou tifo exantemáticode São Paulo.

A riquetsia é encontrável emtodas as fases do artrópode,de ovo a adulto.

Outras espécies dos gêne-ros Amblyomma e Dermacen-tor também participam datransmissão, na América doNorte.

Gênero IxodesCarrapatos com rostro longo

sem olhos e sem festões mar-ginais. Apresenta sulco analanterior e, nos machos, umnúmero impar de placasventrais.

Há 10 espécies no Brasil, al-gumas das quais transmitema doença de Lyme ou eritemamigrans crônico.

Larva hexápode de A. cajennense

(micuim).

Page 14: REY - Parasitologia - 30

Família IxodidaeFamília IxodidaeGênero Rhipicephalus

Ixodídeos com rostro curto,palpos cônicos, base do capí-tulo hexagonal (visto dorsal-mente) e com ângulos proje-tando-se lateralmente (A).

São providos de olhos e defestões. Os estigmas tem aforma de vírgulas e o machoapresenta número par deplacas adanais (g). Vivem 1 anoou mais.

R. sanguineus é cosmopolita eparasita do cão; mas tabémsuga outros animais ou pessoas,podendo por isso transmitirpatógenos, como a Rickettsiaconorii da febre maculosa.

Gênero BoophilusCarrapatos (B) com rostro

curto, palpos mais curtos que asquelíceras e o capítulo combase hexagonal.

Possuem olhos, estigmas cir-culares e têm 2 pares de placasadanais (P.AD).

Vivem de preferência sobre oboi, onde fazem todas as mudas.Transmitem a Babesia (agenteda babesiose ou piroplasmose)que passa de uma geração aoutra de artrópode através deseus ovos.A B

Page 15: REY - Parasitologia - 30

Família ArgasidaeFamília ArgasidaeGênero Argas

Além de capítulo ínfero e ausência deescudo dorsal, há limites nítidos entre aface superior e a inferior do corpo.

Não possuem olhos.No Brasil, a espécie existente é Argas

miniatus (que substitui Argas persicus, umaespécie cosmopolita), sendo abundante nosgalinheiros rústicos.

Tem hábitos noturnos, escondendo-se dedia na palha dos ninhos, nas fendas dasparedes ou sob a casca das árvores.

Um total de 700 ovos, distribuídos em 8 a10 posturas, produzem larvas ao fim deumas três semanas de incubação.

Carrapato do gênero Argas (vista dorsal).

As larvas fixam-se sobre uma ave, durante 4-8 dias, e fazemsua ecdise no solo. As ninfas (2 instares) buscam outras avese, após mais 4-5 dias, geram adultos que logo copulam. Ociclo completo dura cerca de 30 dias.

Os adultos ficam sobre seus hospedeiros apenas o temposuficiente para alimentarem-se (meia hora de cada vez).

Page 16: REY - Parasitologia - 30

Família ArgasidaeGênero Ornithodoros

Espécies deste gênero têm ocorpo espesso e sem limitesnítidos entre a face dorsal e aventral. Sulcos profundos per-correm a superfície do corpo.

Olhos podem estar presentesna borda da metade anterior docorpo.

Os hábitos alimentares sãovariados: larvas de O. moubata,p. ex., não se alimentam e ou-tras o fazem rapidamente.

Mas há espécies que se fixamdurante muitos dias.

Ornithodoros rostratus é umaespécie silvestre que seadaptou ao hábitat humano,sendo encontrada em muitasáreas do Brasil.

Vive no chão dos ranchos,casas primitivas, chiqueiros eoutros lugares ocupados poranimais domésticos.

É o “carrapato-do-chão”.Sua picada é muito dolo-

rosa e pode levar a graveslesões locais, mas não parecetransmitir doenças, no Brasil.

Um Ornithodoros

Page 17: REY - Parasitologia - 30

Doenças transmitidas por Doenças transmitidas por carrapatoscarrapatos

Page 18: REY - Parasitologia - 30

Febre maculosa e outrasFebre maculosa

Patologia e clínica - Asrickettsioses do grupo dafebre maculosa apresentamquadros semelhantes e sãocausadas por espécies rela-cionadas. Nas Américas, oagente é a Rickettsiarickettsii.

Ela é conhecida tambémcomo tifo exantemático deSão Paulo ou febre maculosadas Montanhas Rochosas.

As rickéttsias atacam deinício os pequenos vasos,provocando tumefação e de-generação das células endo-teliais, formação de trombos eoclusão vascular.

Os tecidos vizinhos ficamalterados, sobretudo na pele,no cérebro, na musculaturaesquelética, nos pulmões e nosrins.

O início é súbito, com febredurante 2 ou 3 semanas, mal-estar, cefaléia intensa, doresmusculares e prostração.

Por volta do 3o ou 4o dia,aparece um exantema carac-terístico que ajuda o diagnós-tico.

Ele começa pelas extre-midades e invade centripeta-mente quase todas as partesdo corpo. São máculas róseas,de limites irregulares, com 2-6mm de diâmetro.

Page 19: REY - Parasitologia - 30

Febre maculosa e outrasFebre maculosa e outrasNos dias que se seguem, o

exantema torna-se macro-papular e, depois, petequial.

As lesões hemorrágicas po-dem tornar-se coalescentes eformar grandes manchasequimóticas.

Nos casos graves surgemdelírio, insuficiência renal echoque.

A falência circulatória podelevar à anóxia e necrose dostecidos, com gangrena dasextremidades.

Sem tratamento, a letali-dade fica em torno de 20%.Mas a morte é rara nos casosdiagnosticados e tratadosadequadamente.

O diagnóstico é sorológico,com antígenos específicospara o grupo da febre maculo-sa. Os resultados positivam-sea partir da 2a sema-na.

O tratamento é feito comdoxiciclina durante 7 dias ouaté 2 dias após cessar a febre;ou com eritromicina.

Epidemiologia - Rickettsiarickettsii circula em um ecos-sistema formado por campos ebosques, do Brasil ao Canadá.

Ela tem como reservatóriospequenos mamíferos: lebres,coelhos, esquilos, ratos silves-tres e marsupiais, assim comomantém-se em carrapatos quevivem sobre eles.

Page 20: REY - Parasitologia - 30

Febre maculosa e outrasFebre maculosa e outrasNos artrópodes a transmis-

são da rickettsiose é trans-ovariana e se mantém indefi-nidamente.

Na América do Sul, o maiortransmissor é o Amblyommacajennense; e no México,Rhipicephalus sanguineus.

As pessoas são infectadasapenas ocasionalmente pelapicada dos carrapatos.

Controle - Combater oscarrapatos com aplicação deinseticidas de efeito residuale com banhos carrapaticidaspara o gado.

Os cães devem ser tratadostambém.

Outras medidas, além deevitarem-se as áreas de risco,são: usar botas e roupas queimpeçam o ataque dos ixodí-deos; impregná-las com repe-lentes. Estes devem seraplicados também à pele.

Febre recorrenteCausada por espiroquetídeos

do gênero Borrelia é trans-mitida tanto por piolhos (formaepidêmica) como por carra-patos (forma endêmica).

Várias espécies de Ornitho-dorus veiculam a forma endê-mica que é uma enzootiaprópria de roedores silvestre,macacos e outros mamíferosinfestados pelos carrapatos.

Page 21: REY - Parasitologia - 30

Outras doenças Outras doenças devidas a ixodídeosdevidas a ixodídeos

Os carrapatos, depois deinfectados, apresentam espi-roquetídeos em todas as par-tes do corpo e os passamaos descendentes por viatransovariana.

Na febre recorrente, ainfecção dos mamíferos faz-se pela picada ou pelacontaminação da lesão coma secreção das glândulascoxais.

A infecção humana é rara.

A patologia e a sintomato-logia são as da febre recor-rente epidêmica transmitidapor piolhos.

A profilaxia é como nas ou-tras doenças transmitidaspor carrapatos.

Tratamento - Administra-ção de tetraciclina ou deeritromicina, em dose única,por via oral ou intravenosa,durante uma fase afebril ouno início de um paroxismo.

Se no fim deste, pode cau-sar reação de Herxheimer(tremores, febre, aumento dapressão arterial, seguido dequeda e risco de choque).

É contra-indicado para asgestantes e crianças.

Ornithodoros exsudando o líquido coxal.

Page 22: REY - Parasitologia - 30

Eritema migrans crônico (1)Doença de Lyme (pronun-

cia-se: laime) é o outro nomeda infecção que tem porcausa a Borrelia burgdorferi.

Esta é um espiroquetídeocom 20 a 30 µm de compri-mento a ser procurado aomicroscópio, em campo es-curo ou com contraste defase.

É transmitida por carrapa-tos do gênero Ixodes.

O período de incubação va-ria entre 3 e 32 dias, seguidode 3 fases:

1. No início, aparece napele uma mácula ou pápulaavermelhada que se expandede forma anular - é o eritemamigrans crônico.

Várias lesões semelhantespodem estar presentes.

Entretanto, esse quadro po-de faltar, ou acompanhar-sede febre, mal-estar, fadiga,cefaléia, mialgias, artralgiasmigratórias e rigidez de nuca.

Linfadenopatia pode prece-der os outros sintomas.

A fase aguda dura váriasse-manas, podendo serfrustra ou ausente.

2. Semanas ou meses de-pois, aparecem alteraçõesneurológicas comomeningite, encefalite, coréiaou ataxia cerebelar, assimcomo neuri-tes com paralisiafacial, radi-culoneuritessensoriais ou motoras emielite.

Page 23: REY - Parasitologia - 30

Eritema migrans crônico (2)

Os sintomas são variadose duram meses. Surgemaltera-ções cardíacas ecardiome-galia.

3. Dor e edema das articu-lações, principalmente dosjoelhos, podem aparecercedo ou depois de anos, comcaráter recorrente.

O diagnóstico é feito comcultura e exame microscópi-co. Mas preferem-se osméto-dos imunológicos:imunofluo-rescência indiretae ELISA, ainda que menosespecíficos.

O tratamento é feito comdoxiciclina, amoxiciclina oueritromicina, durante 10 a 21dias.

Na meningite de Lyme,usar ceftriazona, oupenicilina G. Para crianças,amoxiciclina ou penicilina V.

Epidemiologia e controle -Nos EUA e na Europa oscasos tem sido muitos; mas,no Brasil, os primeiros foramdescritos em 1990.

Os transmissores nos EUAsão Ixodes pacificus e I.dammini. Na Europa, sãomembros do complexoIxodes ricinus.

Eles vivem sobre animaissilvestres, principalmente oveado.

A prevenção é feita comona febre maculosa.

Page 24: REY - Parasitologia - 30

Os ácarosOs ácaros

Page 25: REY - Parasitologia - 30

Classificação dos AcariformesClassificação dos AcariformesFamílias desta ordem:Macronyssidae e Dermanyssidae.

2. Actinedida (=Prostigmataou Trombidiformes), com espi-ráculos situados na base dognatos-somo ou perto dele.

Grupo heterogêneo com es-pécies terrestres e aquáticas,parasitas, predadoras ou fitó-fagas. São de interesse asfamílias:

Trombiculidae, Demodicidae e Pyemotidae.

3. Acaridida (=Astigmata),sem espiráculos respiratóriose com respiração cutânea.

São de importância emmedicina as famílias:

Sarcoptidae, Acaridae, Pyro-glyphidae, Cheyletidae etc.

Os ácaros, no sentido co-mum (em inglês, mites) sãopequenos artrópodes daclasse Acari.

Os de importância médicaque não possuem estigmasestão na coorte Acariformes,enquanto os que possuemestigmas são Parasitiformes.

Há outros grupos seminteresse médico.

Os Acariformes compreen-dem as ordens:

1. Gamasida (=Mesostigma-ta), cujo par de estigmasestão nas áreas laterais docorpo, compreendidas entreas coxas II e IV, em geralassociados com peritremasalongados e sinuosos; gna-tossomo de estrtura comple-xa; hipostômio sem dentes.

São os mais próximos dosverdadeiros carrapatos.

Page 26: REY - Parasitologia - 30

Macronyssidae e Macronyssidae e DermanyssidaeDermanyssidae

Os membros destas famílias apresentamo corpo achatado e placas ou escudos notegumento. Não possuem olhos.

As peças bucais picadoras têm umhipostômio liso. As aberturasespiraculares ficam situadas próximo àinserção do 3o par de pernas. Nos tarsoshá púlvilos e garras.

Alimentam-se do sangue de pequenosroedores, morcegos e aves. Durante seudesenvolvimento passam pelas fase deovo, larva, 2 estádios ninfais e adultos.

As espécies de interesse são dosgêneros Dermanyssus e Allodermanyssus(família Dermanyssidae) e Ornithonyssus(família Macronyssidae).

Allodermanyssus sanguineus

Page 27: REY - Parasitologia - 30

DermanyssidaeDermanyssus gallinae é praga cosmopoli-

ta de galinhas, mas pode sugar outrasaves.

Durante o dia, esconde-se nas frestasdas paredes ou na palha dos ninhos,saindo à noite para alimentar-se.

O ciclo biológico, de ovo a adulto, duracerca de 7 dias, sendo que as larvas nãose alimentam.

Estes ácaros causam forte dermatite e,mesmo, um eczema papular em pessoasque são eventualmente infestadas.

A encefalite tipo St. Louis (vírus Erro) étransmitida entre as aves por Dermanyssusgallinae, mas também por Ornithonyssussylviarum e por mosquitos dos gênerosCulex, Aëdes e Anopheles.

Dermanyssus gallinae

Ornithonyssus bacoti

Page 28: REY - Parasitologia - 30

Macronyssidae e TrombiculidaeOrnithonyssus bacoti (fa-

milia Macronyssidae) vivedo sangue de ratos, mas sóas protoninfas e os adultossão encontrados sobre oshospedeiros e aí se alimen-tam.

Seu ciclo biológico com-pleta-se em 11 a 16 dias.

Pessoas que trabalhamem celeiros e armazéns,onde os ratos são abun-dantes, podem desenvolveruma dermatite urticarifor-me, com manchas, pápulase vesículas nos pontos emque os ácaros picaram.

A coceira é intensa e podelevar a escarificações e ainfecções secundárias.

Os Trombiculidae (=Trombi-diidae) são reconhecíveis porterem grande quantidade decerdas no corpo dos adultos eninfas. Idiossoma oval.

Larva de um trombiculídeo

sugarando seu hospedeiro.

As larvas, com 3pares de pernas,são esbranquiça-das mas passam avermelhas após su-garem sangue.

Os adultos e nin-fas são predadores,atacando outros ar-trópodes.

Atacam, também,as pessoas.

Page 29: REY - Parasitologia - 30

Trombiculidae e DemodicidaeAs larvas dos Trombiculidae

sugam o líquido intersticial dequalquer mamífero.

No Brasil, são freqüentes noNorte e Centro-Oeste, emboraocorram em todo o territórionacional.

Apolonia tigipioensis atacaas galinhas e o homem, naRegião Nordeste do Brasil.

Algumas pessoas picadassofrem uma dermatite comprurido insuportável.

Certas espécies são reser-vatórios da febre tsutsugamu-shi, na Ásia e no Pacífico.

Os Demodicidae são minús-culos acariformes (0,1 a 0,4mm de comprimento) de corpoalongado ou vermiforme.

No cão, Demodex canis ficaalojado nos folículos pilosos eproduz uma sarna extrema-mente rebelde ao tratamento.

Demodex folliculorum vivenos folículos pilosos daspessoas; e D. brevis, nasglândulas sebáceas do rosto.Mas não causam doença,exceto blefarite, talvez.

Demodex folliculorum

Page 30: REY - Parasitologia - 30

Família PyemotidaeNa família Pyemotidae (= Pediculoididae)

também encontramos acariformes que sóesporadicamente atacam o homem. Pyemotistritici (= Pediculoides ventricosus), p. ex., éparasita dos lepidópteros que vivem noscereais.

Tem o corpo alongado e os 2 pares depernas anteriores afastados dos posteriores(A).

A fêmea é vivípara e, quando grávida, oabdome fica grandemente distendido pelodesenvolvimento de suas crias (B).

Estão sujeitos à infestação por estes ácarosos indivíduos que manuseiam com freqüênciao trigo e outros cereais, inclusive doqueiros.

A dermatose resultante é conhecida como“sarna dos cereais”.

A, Pyemotis tritici;B, Fêmea com oabdome distendidopelo desenvolvi-mento das crias.

A

B

Page 31: REY - Parasitologia - 30

Família SarcoptidaeA família Sarcoptidae reune

ácaros muito pequenos, decorpo globoso e forma ovular.

As pernas curtas e cônicastrazem nos tarsos unhas, cer-das ou ventosas peduncula--das.

Elas se agrupam de modo ahaver 2 pares de pernasanteriores e 2 posteriores.

Várias espécies vivem comoparasitos na pele dos mamí-feros. Mas, Sarcoptes scabiei éa que habitualmente parasita ogênero humano.

A fêmea mede 0,4 mm decomprimento e 0,3 mm de lar-gura, sendo o macho poucomenor.

O tegumento mole é marca-do por sulcos finos transver-sais, geralmente interrompidospor áreas com espinhos ou pon-tuações. A respiração é cutâ-nea, sem estigmas e traquéias.

Os Sarcoptes escavam gale-rias nas camadas profundas daepiderme e durante 8 semanasas fêmeas grávidas depositamaí 3-4 ovos por dia que medem100 x 150 µm.

Sarcoptes scabiei, fêmea vistapela face dorsal (A) e ventral (B).

Page 32: REY - Parasitologia - 30

Família Sarcoptidae

A oviposição dura 4 a 7semanas. Depois de 3 dias, osovos liberam a larva hexápodeque muda para ninfa octópodeem 3-4 dias.

Novas ecdises produzemadultos em outros 3-4 dias,mas a fecundação já é pos-sível no 2o estádio ninfal.

O ciclo de ovo a ovo duraentre 10 e 17 dias.

Fêmeas recém emergidaspodem abandonar suasgalerias para abrirem novas.

A longevidade é de 3 me-ses para as fêmeas e 2 paraos machos.

A população, nesse perío-do, pode elevar-se para 50 a500 ácaros; mas, decrescedepois para 10 ou menos.

Page 33: REY - Parasitologia - 30

Sarcoptes e a escabiosePatologia e clínica

A dermatose produzida porSarcoptes scabiei, mais co-necida como “sarna”, é infes-tação cosmopolita encontradaem todos os climas e regiões.

A escabiose é adquirida pelocontato de um portador doparasitismo com as pessoassadias que coabitam, mor-mente se dormem no mesmoleito.

Como S. scabiei pode viveralguns dias no meio ambiente,a transmissão pode dar-sepela ocupação de locais antesutilizados por um portador dainfestação.

Os parasitos localizam-sede preferência nas pregas in-terdigitais, na faca anteriordos punhos e dos cotovelos,nas paredes das axilas, nostornozelos e nos pés, poden-do estender-se a infestaçãoàs virilhas, nádegas, genitaisexternos, mamas etc.

Cabeça, pescoço e dorsogeralmente são poupados.

Uma semana ou mais apóso contágio, aparece o prurido,que é mais intenso à noite, eresulta da sensibilização doorganismo aos parasitos eseus produtos.

Page 34: REY - Parasitologia - 30

Sarcoptes e a escabioseOutros dados clínicos são o

aparecimento de trajetosescuros na pele (sujeira edejeções dos parasitosacumuladas nas galerias daepiderme) e pequena pápulano fim da galeria, onde seencontra um ácaro.

Também a produção de ve-sículas perláceas que surgemcomo reação do organismo àsaliva dos Sarcoptes.

O prurido persiste e podeaumentar, mesmo depois dereduzido o número de parasi-tos ou após a cura parasito-lógica.

Algumas crianças desen-volvem a forma nodular dainfestação.

Na sarna norueguesa, que éobservada em pacientes comimunodeficiência, as lesõessão crostosas e exuberantes.

Sarna norueguesa, segundo Zilberberg.

Page 35: REY - Parasitologia - 30

Sarcoptes e a escabioseAs crostas resultam de uma

hiperceratose e paraceratose,havendo abundância extraor-dinária de parasitos.

Localizam-se de preferêncianas mãos e pés, mas pode serdisseminada, atacando inclu-sive o couro cabeludo, comqueda dos cabelos.

Diagnóstico e tratamentoÉ clínico, sendo sugerido por

outros casos na família. Masdeve ser confirmado pelo en-contro dos ácaros:

- colar sobre a pele doenteuma fita gomada transparente(os ácaros vão aderir a ela);

- colar essa fita sobre umalâmina de microscopia e exa-minar ao microscópio.

Tratar com inseticidas sus-pensos em preparações far-macêuticas, como ungüentoscontendo 1% de lindane, BHCou piretróides.

Recomenda-se um creme depermetrina a 1%, mais efi-ciente e fácil de usar.

Profilaxia e controleBaseia-se no tratamento

concomitante de todos oscasos da casa ou da institui-ção onde ocorre a escabiose.

Aplicar as medidas usuais dehigiene individual e coletiva.

Desinfetar toda a roupa ín-tima, de cama e toalhas, la-vando-as de preferência emmáquinas de lavar, acompa-nhando o tratamento.

Page 36: REY - Parasitologia - 30

Família Acaridae Os membros da família

Acaridae (= Tyroglyphidae) eoutros conhecidos como áca-ros primários de produtos ar-mazenados, têm cutícula de-licada, capítulo muito móvel equelíceras robustas com pin-ças. O corpo é geralmente lisoe provido de muitas cerdas.

As ninfas de 2o estádio nãose alimentam e aderem porseus órgãos de fixação a in-setos que lhes servem de meiode transporte (foresia).

Tyrophagus putrescentiae (=Tyroglyphus farinae, Acarusfarinae) é freqüente nosprodutos armazenados.

São organismos que vivemna farinha, em queijos velhose em vários produtos usadoscomo condimento.

Na pele, produzem irritaçãopruriginosa conhecida comosarna-dos-especieiros, dada afreqüência com que incidenos manipuladores de ali-mentos.

Quando ingeridos, podemcausar gastrenterite catarralou podem, simplesmente,atravessar o tubo digestivo,aparecendo nas fezes comoinócuos contaminantes.

Page 37: REY - Parasitologia - 30

Pyroglyphidae e CheyletidaeOs Pyroglyphidae possuem corpo ovóide e

estriado, com genitália feminina em U ou Yque é coberta por escudo genital esclerozado.

Trazem um escudo na região anterior dodorso e, nas pernas, ventosas tarsais compedicelo curto.

Várias espécies são agentes de doençasalérgicas, pois vivem no pó das casas e sãoaspiradas pelas pessoas. Tal é o caso dosDermatophagoides.

Os da família Cheyletidae, queapresentam os palpos hipertro-fiados, podem causar dermatosesdo tipo urticária, quando picam aspessoas.

Vivem sobre mamíferos ou emninhos de aves.

Cheyletus malacensis é espé-cie comum em cereais e rações.

Dermatophagoidesfarinae

Dermatophagoidespteronyssinus

Page 38: REY - Parasitologia - 30

Ácaros e doenças alérgicasAlguns acariformes são pa-

rasitos, mas os mais impor-tantes para a patologia huma-na são espécies de vida livre,comumente encontradas napoeira de colchões, travessei-ros, móveis e piso das casas.

Seu desenvolvimento é favo-recido pela umidade relativado ar (ótimo em torno de 75%),pela pouca ventilação e peloacúmulo de poeiras.

Algumas alergias respirató-rias como a asma e a rinitealérgica, bem como dermati-tes alérgicas podem serdevidas aos ácaros e seusprodutos, encontrados naspoeiras.

O exame da poeira dascasas, de 26 capitais brasi-leiras, permitiu comprovar apresença freqüente de ácarosdas famílias:

Pyroglyphidae: sobretudo ade Dermatophagoides ptero-nyssus e de D. farinae.

Glycyphagidae: Blomia tro-picalis, principalmente.

Blomia tropicalis

Page 39: REY - Parasitologia - 30

Ácaros e doenças alérgicasTambém espécies das fa-

mílias: Cheyletidae, Sapro-glyphidae e Chortoglyphidae.

Entre as medidas a tomarcontra as populações deácaros estão:

1. Desumidificação do am-biente, quer pela ventilaçãoampla dos locais, quer pormeio de aparelhos de ar con-dicionado (climatização) ououtros meios.

2. Remoção freqüente daspoeiras (com aspiradores depó), lavagem do piso ou lim-pesa com pano úmido.

3. Trocas freqüentes elavagem de fronhas, lençois,cortinas etc.

4. Utilização de colchões etravesseiros de espuma ouuso de coberturas de plásticopara eles.

5. Uso de filtros nos siste-mas de ventilação centralexistentes.

6. Rigorosa higiene pessoale ambiental, inclusive dosanimais domésticos (cujapresença no interior dascasas e dos apartamentos émelhor evitar).

7. Utilizar inseticidas senecessário.

Page 40: REY - Parasitologia - 30

Leituras recomendadasLeituras recomendadasLeituras recomendadasLeituras recomendadas

FLECHTMANN, C. H. W. ROSA, A. E. – Estudo sobre a fauna acarina de poeiradomiciliar no Brasil. Revista Brasileira de Alergologia e Imunopatologia. 2:91-94, 1980.

GALVÃO, A. B. & GUITTON, N. – Ácaros em poeira domiciliar das CapitaisBrasileiras e de Fernando de Noronha. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.81: 417-430, 1986.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNASA – Doenças Infecciosas e Parasitárias. Brasília,MS/FUNASA, 2000 [219 páginas].

MINISTÉRIO DA SAÚDE, DNERu – Endemias Rurais. Métodos de trabalhoadotados pelo DENERu. Rio de Janeiro, MS/DNERu, 1968 [278 páginas].

REY, L. – Bases da Parasitologia. 2a edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara,2002 [380 páginas].

REY, L. – Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. 2a edição,ilustrada. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2003 [950 páginas].

REY, L. – Parasitologia. 3a edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2001 [856páginas].

WORLD HEALTH ORGANIZATION – Vector Control in International Health.Geneva, WHO, 1972.