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babel Revista laboratorial do curso de Comunicação Social/Jornalismo da Ulbra/Canoas JULHO DE 2009 - ANO III - Nº 6 BARBIE cinquentona! Boneca mais famosa do planeta completa meio século e continua conquistando corações de todas as idades PÁGINAS 18 e 19 PAMPA DIVIDIDO Tradicionalistas e maxixeiros não se cruzam PÁGINA 8 GUERRA AO PLÁSTICO Embalagens que ameaçam o ambiente PÁGINA 14

Revista Babel n.º 6

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Revista produzida pelos alunos da disciplina de Produção Jornalística II do curso de Comunicação Social da Ulbra/Canoas- 2008/2:Amanda Pansera Montagna, Bruno Paim Mattos, Carlos Eduardo Andrade Garcia,Cláudia Lorscheiter, Diego Feliphe Fulaneto, Elizângela Maliszewski, Fernanda Paiva Costa, Lenemir Grillo Falk, Luciana Graciela Fao Borba, Marcelo Freitas do Nascimento, Matheus Borba dos Santos, Naiana Simioni, Saul Vargas Teixeira, Stefano Antônio Pratti Lauria, Tamires Menezes Ramos de Souza, Tatiana Pitta Nucci, Vitor Hugo Rodriguez Júnior. Diretor da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Sérgio Roberto Lima Lorenz (RPMT/RS 9250) Coordenador do curso de Jornalismo Douglas Flor (RPMT/RS 7384) Jornalista responsável Rosane Torres (RPMT/RS 5141) Projeto Gráfico Jorge Gallina (RPMT/ RS 4043) Fotografia: Arquivo Babel efotos de divulgação. Revisão: Carlos Nunes.

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Page 1: Revista Babel n.º 6

babelRevista laboratorial do curso de Comunicação Social/Jornalismo da Ulbra/Canoas JULHO DE 2009 - ANO III - Nº 6

BARBIEcinquentona!Boneca mais famosa do planeta completameio século e continua conquistandocorações de todas as idades

PÁGINAS 18 e 19

PAMPA DIVIDIDO

Tradicionalistas e maxixeiros

não se cruzam

PÁGINA 8

GUERRA AOPLÁSTICO

Embalagens

que ameaçam

o ambiente

PÁGINA 14

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Os bens de todos nósBoa parte da diversidade cultura do Brasil está alicerçada

em edificações e monumentos. Embora a Constituição Fe-deral de 1988 estabeleça os deveres do Estado e da socieda-de na preservação dos bens públicos, o que se vê nem sem-pre são ações que contam com o amparo da lei. Com fre-qüências os centros urbanos se vêem diante de situaçõesaparentemente incompatíveis: abrir espaços para o cresci-mento desenfreado das cidades ou preservar seu passadohistórico, garantindo a manutenção de antigos centros?

Claro que o olhar de quem administra não pode ser ape-nas nostálgico. É preciso pensar no crescimento das comu-nidades, na abertura de estradas, enfim, na expansão, queexige a mudança de traçado e pode comprometer este ouaquele monumento ou prédio. Por outro lado, a maioria dapopulação – envolvida na sua luta diária para sobrevivernum país marcado pela miséria, que inviabiliza acesso aosprincipais canais de conhecimento – sequer tem consciên-cia de seus deveres, sabe o que é patrimônio histórico ecultural* ou o que estabelece a Carta Magna com relação àpreservação de bens coletivos.

A despeito desta ou daquela ação, existe hoje em todo omundo, uma preocupação crescente em preservar os bensda humanidade, sejam eles material, natural ou imóvel, masque tenham significado e importância artística, cultural,religiosa, documental ou estética para a sociedade. Nestesentido, a criação de leis tem amparado aqueles que traba-lham para proteger e restaurar as características originaisde muitas relíquias espalhadas pelo planeta.

A Unesco é encarregada de definir regras que garantam apreservação do acervo histórico e cultural da humanidade.No Brasil, temos o Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-tístico Nacional (IPHAN) e o país comemora o Dia doPatrimônio Histórico em 17 de agosto, dada de nascimentodo criador do IPHAN e seu presidente por três décadas, oadvogado, jornalista e escritor Rodrigo Melo Franco deAndrade (1898-1969).

No RS, são vários os exemplos de resgate da memória his-tórica. Nesta edição, Babel aborda, entre outros temas inte-ressantes, o processo de preservação do Casarão dos Fonse-ca, patrimônio histórico, tombado pelo município deGravataí e hoje sede da Casa dos Açores do Estado (Caergs).A Caergs faz parte do Conselho Mundial de Casas dos Aço-res, que congrega 11 casas em todo o mundo e atua junto acomunidades açorianas. Boa leitura.

Reitor Ruben Eugen BeckerVice-reitor Leandro EugênioBecker Pró-reitor de Administra-

ção Pedro Menegat Pró-reitor de

Graduação da Unidade Canoas

Nestor Luiz João Beck Pró-

reitor de Graduação das Unidades

Externas Osmar Rufatto Pró-

reitor de Pesquisa e Pós-gradua-

ção Edmundo Kanan MarquesCapelão Geral pastor GerhardGrasel Ouvidoria Geral EurildaDias Roman Diretora de Comuni-

cação Social Sirlei Dias GomesCoordenador de Imprensa RosaIgnácio Leite Diretor da área de

Ciências Humanas e Sociais

Aplicadas Sérgio Roberto LimaLorenz (RPMT/RS 9250) Coorde-

nador do curso de Jornalismo

Douglas Flor (RPMT/RS 7384)

Jornalista responsável RosaneTorres (RPMT/RS 5141) Projeto

Gráfico Jorge Gallina (RPMT/

RS 4043)

Revista produzida pelos alunos da

disciplina de Produção Jornalística

II - 2008/2

Amanda Pansera Montagna,Bruno Paim Mattos, CarlosEduardo Andrade Garcia,Cláudia Lorscheiter, DiegoFeliphe Fulaneto, ElizângelaMaliszewski, Fernanda Paiva

Costa, Lenemir Grillo Falk, Luciana

Graciela Fao Borba, Marcelo Freitas

do Nascimento, Matheus Borba dos

Santos, Naiana Simioni, Saul Vargas

Teixeira, Stefano Antônio Pratti

Lauria, Tamires Menezes Ramos de

Souza, Tatiana Pitta Nucci, Vitor

Hugo Rodriguez Júnior.

Fotografia: Arquivo Babel efotos de divulgação. Revisão:

Carlos Nunes

2 REVISTA BABEL

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REVISTA BABEL 3

Jornalista fala para jovenssobre violênciaPÁGINAS 10 E 11

Moradores reclamam dodescaso das autoridadesPÁGINAS 12E 13

EDITORIAL: Os bens de todos nósPÁGINA 2

DICAS DE MESTRE: Tempos de fluidezPÁGINA 27

QUALQUER NOTÍCIA BOA: Estilo centenário. Fanáticos por Converse All Star. Use, mas não abuse!PÁGINA 27

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88888SAUL TEIXEIRA

“Solteiro sim, sozinho nun-ca”. Este clichê é a respostaque está na ponta da língua demuitos solteiros para explicar

a aparente solidão. Sersolteiro hoje é uma rea-lidade cada vez mais co-mum, embora muitos

acreditem que o fato re-vele a incapacidade de re-lacionar–se com o próxi-mo. Não é verdade. Ser

solteiro está na moda. Podeser opção. Porque não? Háquem diga que sempre es-teve. Provocados sobre o

assunto, solteiros, namoradose casados debatem o tema com

muito bom humor.Deixando o dicionário de lado e fo-

cando a questão na contemporaneidadedas relações, é preciso delimitar o terri-tório do “solteiro”: pessoa que não temcompanhia fixa, ou seja, não está fican-do com ninguém. Entre as pessoas queengordam o número de solteiros no país,está o estudante Douglas Pereira, fotoabaixo, 18 anos. Mas filosofa: a felicida-de não pode estar atrelada à presençaou não de uma namorada:

– Existem outras formas de se buscara realização. Bas-ta ocupar a vidacom outras prio-ridades, como otrabalho e o estu-do, por exemplo.

Conforme o jo-vem, a presençacada vez maismarcante da tec-nologia é uma importante ferramenta nabusca da “cara metade”, embora salien-te que seja necessária muita atençãopara evitar situações de constrangimen-to.

– A Internet é importante porque au-menta o círculo de relacionamentos econtribui com a paquera, mas é neces-sário que haja um encontro pessoalmen-te. Esta história de namoro virtual comi-go não funciona. Pretendo encontraruma namorada, mas enquanto não apa-rece a pessoa certa, eu curto a minhavida de solteiro – garante.

Para as pessoas que recém saíram deum relacionamento, é normal que optempor um período de quarentena, semenvolvimentos afetivos sérios. Neste pe-

vocêMande

flores para

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Solteiros convictos, por falta de opçãoou procurando um grande amor.

São inúmeros casos envolvendo aquelesque não tem companhia e, às vezes,

sequer sentem falta de uma.

COMPORTAMENTO

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Segundo a psicóloga paulista, Olga InêsTessari, o amor libera endorfina, uma substânciaque proporciona sensação de bem-estar, prazer ealegria, além de reduzir a ansiedade e oestresse. Controlar a depressão e melhora aauto-estima. No entanto, mesmo assim existempessoas que optam pela vida sem a presença deuma companhia amorosa. É o caso de ElmoLuiz Zani, foto, 72 anos e “solteiro desdesempre”, como orgulha-se em dizer. Pordiversas vezes, garante, teve a oportunidade deoficializar suas relações, mas nenhumacompanheira foi capaz de fazê–lo dizer “simdiante do altar”.

– As muitas que me quiseram eu disse não.Por outro lado, as poucas que eu quis, tambémnão me quiseram. É por isso que nunca casei –disse com bom humor.

Segundo ele, a opção por ser solteiro explica-se pela falta de interesse e, principalmente paradedicar-se mais aos familiares. Por ser o caçulada família de quatro filhos, coube a ele a tarefa deficar mais próximo dos pais, hoje falecidos.Atualmente, Zani mora com a sua irmã maisvelha e destaca que o convívio com os parentese amigos impede a tão temida solidão:

– Sou muito feliz sendo solteiro, mas se eupudesse voltar no tempo certamente teria me

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ríodo, sobressai-se o desejo de “apro-veitar a vida” e uma dedicação maior àsamizades, como ocorre com a comerciáriaPriscila Rocha, 20 anos.

– Eu me sinto bem, não penso em na-morar agora. Eu saio todos os finais desemana e faço muitas amizades. Ser sol-teira é muito bom e no momento não sin-to falta de ninguém ao lado afirma, sali-entando ainda que a liberdade é a maiorcompensação da vida daqueles que es-tão sem companhia fixa.

Em contrapartida, a sua colega de tra-balho, Jane Brede, 37 anos, deseja en-contrar um companheiro e deixar de in-tegrar o “time das solteiras”:

– Estou procurando uma pessoa ba-cana, mas enquanto isso estou solteirae não vejo problema algum – afirmou.

Jane busca um relacionamento maissério. Na sua opinião, passar a semanafrequentando as baladas não é a estra-tégia mais adequada, já que nestes am-bientes dificilmente as pessoas buscamuma relação duradoura.

Por outro lado, César Rocha, 17 anosé “comprometido” e se diz muito bemacompanhado. Para ele, que namora há

Solteiro há sete décadascasado. Não posso dizer que não sinta falta deuma companheira, mas é uma situação com aqual já estou acostumado – completou.

Por outro lado, o isolamento socialprejudica a saúde e pode ser tão nocivoquanto fumar, de acordo com o pesquisadorJohn Cacioppo, professor de Psicologia daUniversidade de Chicago e um dos maisrenomados pesquisadores sobre solidão dosEstados Unidos. O jornalista Milton Zani dosSantos, 66 anos (sobrinho de Elmo) é casado

há quatro décadas, mas vê com naturalidadea “solteirice” como opção. Segundo ele, éfundamental que a pessoa que queira firmarcompromisso tenha sorte e predisposição emcompartilhar a vida com um (a)“desconhecido (a)”:

– Conheço várias pessoas que jamais secasaram e nem por isso deixaram de serfelizes. Não podemos esquecer que a tuamulher é uma pessoa “estranha” no teu meio, eos maridos, também o são. É preciso muitapaciência para manter uma relação duradoura efeliz – indica o jornalista.

Casado desde 1969, Santos fala comsatisfação de sua união, da qual resultaram trêsfilhos e três netos:

– O casamento é uma eterna construção. Épreciso muita compreensão, carinho esolidariedade. Como diria meu falecido pai, aminha família é a minha mulher e meus filhos.Tolerar o que for tolerável, compreender o quepode ser compreendido, estando tudoembasado no mútuo respeito. São conselhosque, humildemente, eu transfiro a todos oscasais, principalmente aos mais jovens –finalizou.

Então, seja carinhoso e respeitoso, com osoutros e com você mesmo.

Priscila e jane

um ano e dois meses, a cumplicidade é amaior virtude da vida a dois:

– Ter uma companhia é muito melhordo que estar solteiro. Desta forma, nun-ca nos sentimos sozinhos, temos umapessoa para conversar, para comparti-lhar as alegrias, dividir segredos. Sou

muito feliz com a minha namorada – dis-se o formando do Ensino médio.

Embora jovem, parece que Rocha jáaprendeu um segredo precioso para sal-var a relação: evitar que o relacionamen-to caia na rotina é a principal fórmulapara um namoro dar certo, garante ele.

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88888DIEGO FULANETO

Lento. Esta é a velocidade do trânsitonos horários de pico. O arranca e para,na capital e na BR-116, não afetam ape-nas o meio ambiente, mas os nervos dosque estão dirigindo. Essa rotina deixaos motoristas estressados, malhumorados e irritados.

Estudos mostram que na capital o nú-mero de veículos cresce em média 6%ao ano. Em dezembro de 2007 o De-partamento de Trânsito do Rio Grandedo Sul (Detran/RS), apontou mais 591mil veículos em circulação. Em outu-bro de 2008, o número saltou para maisde 622 mil automóveis, um aumento de5,29% em menos de um ano.

Uma das alternativas para diminuir onúmero de veículos na capital seria orodízio de placas, sistema pelo qual osmotoristas tem permissão para circularcom seus carros apenas em determina-dos dias da semana. Em março de 2008,

estresseTrajeto do

Em horários de picos está impossíveltrafegar, o movimento é intenso.Há locais em que os motoristas ficamparados por um longo tempo

TRÂNSITO

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o vereador Mário Fraga, apresentou umprojeto à prefeitura de Porto Alegre paradiminuir o engarrafamento. Os moto-ristas infratores seriam punidos commulta. A medida tinha como objetivoreduzir em 20% a movimentação nasruas. A idéia era fazer com que a cadadia útil da semana correspondesse aofinal de dois números de placas, e nosfins de semanas seria livre. A EmpresaPública de Transportes e Circulação(EPTC) considerou inviável o rodíziopara a dimensão da cidade.

– Temos de ter cuidado para nãocriar uma histeria coletiva. O aumentona frota de veículos e os congestiona-mentos são consequências do cresci-mento econômico, mas isso não é mo-tivo para tomar uma medida drásticacomo essa. A saída é investir em trans-porte público, porque rodízios são cri-

ados em cida-des de propor-

ções bem

maiores do que Porto Alegre, como éo caso de São Paulo – esclareceu o se-cretário municipal da Mobilidade Ur-bana e diretor-presidente da EPTC, LuizAfonso Senna.

Quem não se programa para enfren-tar um trânsito cada dia mais caótico,corre o risco de enfrentar sérios pro-blemas de toda ordem. Amanda Melo,estudante de Farmácia da Universida-de Luterana do Brasil (Ulbra), é umadas milhares de pessoas que se utili-zam da BR 116. Moradora do bairroCristal, Zona Sul de Porto Alegre, afir-ma sai bem antes do início da aula no-turna para evitar atrasos. Para percor-rer o trajeto de 30 quilômetros ela gas-ta em média uma hora e meia. Aos sá-bados pela manhã, o mesmo percursoé feito em meia hora. A estudante lem-bra que há 5 anos o movimento eratranqüilo, bem diferentedo atual.

Problemas no trânsito são decisivospara o aumento do estresse.

– Ficar muito tempo sentado na mes-ma posição durante um engarrafamen-to contribui para desgastar o motorista.Depois de algumas horas ao volante, apessoa fica tensa, e sem perceber co-meça a contrair o pescoço e outras par-tes do corpo. A dor nessas horas funci-ona como um acréscimo de irritabilidade– avalia o professor de Educação Físi-ca e pilates de uma academia em PortoAlegre, Sérgio Freitas.

Freitas arrisca sugerir uma receitapara os motoristas e passageiros quepor força de estudos ou trabalho sãoobrigados a enfrentar longos conges-tionamentos: tente ficar calmo, ouçamúsica tranquila, relaxe e sempre quepossível faça alongamentos na regiãocervical e no pescoço.

A grandemovimentação deveículos, em horáriosde pico, deixa a saídada capital parada

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88888ELIZÂNGELA MALISZEWSKI

Em meados do século XIX, o gaúcho jáera considerado um mito. Foi estilizado ecultuado na literatura como um “centaurodos pampas” ou “monarca das coxilhas”,um semideus que galopava livre distribuin-do justiça e generosidade. Grande parte des-ta ideologia encontra-se preservada pelosCentros de Tradições Gaúchas, os CTGs.Estas organizações surgiram no final da dé-cada de 40, frutos de um desejo apaixonadode resgatar as raízes da cultura. Através desuas atividades, reproduzem com orgulhoos hábitos do homem do campo, que colo-nizou e fez crescer o Estado, mantendo sem-pre acesa a chama da história.

Para o patrão do CTG Aldeia dos Anjos,localizado em Gravataí, Francisco Peretto acultura vem sofrendo modificações ao longodos anos, mas não pode ser deixada de lado:

- Quando se fala em Tradição Gaúcha,logo pensamos em bombachas ou vestidosde prenda e esquecemos de toda a riquezaque envolve essa cultura, que vai muitoalém de um espaço geográfico e indumen-tárias. É nossa essência e sem isso o ho-mem não é completo - ressalta.

Tradição é um termo universal que signifi-ca entregar e manter o culto dos valores queos antepassados legaram. É a transmissãode fatos culturais de um povo. Logo, cadagrupo social tem sua própria escala de valo-res e características próprias que irá distin-guir um do outro. De acordo com a PrimeiraPrenda da Confederação Brasileira da Tradi-ção Gaúcha (CBTG), Edinéia Pereira da Silva,a tradição gaúcha fala mais forte em quemcultua suas origens e procura conhecê-las:

- A tradição não faz distinção entre ricos epobres, alemães ou africanos, simplesmenteporque essa não está no sangue e sim naalma. A única exigência é que cada indivíduoabrace essa causa com o objetivo de preser-var seus valores - completa.

Nem tudo é paz regada ao culto das tradi-ções entre os gaúchos. Há cerca de cinco anosa difusão de uma variação da música gaúchacom acréscimo de suingue, denominada tchêmusic, vem causando polêmicas e divergênci-as entre os tradicionalistas e os chamadosmaxixeiros, aqueles que cultuam, adotam oudançam a tchê music. O maxixe surgiu entre1870 e 1872, na África. O ritmo, que era repudi-ado pelos precon-ceitos familiares, ficou es-condido no princípio. Sua chegada ao Brasilcomeçou pelos bailes de carnaval do Rio deJaneiro e expandiu-se para os estados do Sul,impulsionado pela mídia e pela moda ditada nocentro do país.

reboladoTradição ou

Divergências nos Pampasimpedem que tradicionalistase maxixeiros dancem nomesmo fandango

TRÂNSITO

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Embora vários dançarinos, insistente-mente, venham tentando implantá-lo nomeio tradicionalista, o ritmo tem sido recu-sado em fun-ção de seus movimentos sen-suais não “condizentes com o ambientefamiliar”, justificam os gaúchos ortodoxos.O músico Teixeirinha Filho afirma não estarpreocupado com a inserção dos grupos demaxixe no Brasil e que as tradições devemser separadas deste universo:

- Não fico preocupado com o fato de oRio Grande só aparecer em nível nacio-nal com a tchê music. Não sou ninguémpara julgar nada de ninguém, mas otradicionalismo deve ser respeitado emseus propósitos, assim como osmaxixeiros. Cada qual deve seguir seupróprio rumo sem conflito - explica.

A mesma opinião não é compartilhadapelos amantes da cultura de raiz, como ocomerciante Fabiano Gerer, 53 anos. Natu-ral de Passo Fundo, ele conta que foi cria-do dentro dos padrões do CTG e, hoje, es-panta-se com a extensão que o maxixe al-cançou e critica os adeptos ao movimento

- Acho lamentável que estas pessoasganhem espaço na mídia. A verdadeiracultura gaúcha está descendo pelo ralo.A música e cultura do Sul estão seguin-do o mesmo rumo da sertaneja, que seentregou aos caubóis – desabafa.

Por outro lado, os maxixeiros de plan-tão, a cada dia, batalham por mais campode trabalho e pela integração entre as tri-bos. Em 2007 foi fundado junto à sede doClube Farrapos, em Porto Alegre, o Clu-be do Maxixe. Este funciona como pontode encontro dos adeptos ao movimento,

Figurinomaxixeiro

Gurias: calça justa, quase semprejeans de cintura baixa, quanto maisbaixa melhor mais fashion. A baby-look ou uma blusinha confortável ejusta compõe o visual. Os cabelos,sempre soltos, embelezam osmovimentos da dançarina. Os sapatosnão podem ser de salto alto e nemfino. Recomenda-se botas confortáveisou sapatilhas. Nada de tênis. Se adançarina tiver uma tatuagem nascostas, na altura da cintura, que fiqueentre a baby-look e a calça jeans,estará completo o estilo maxixeira.

Guris: Calça jeans, camiseta, bonéou boina e as tatuagens, quecomplementam o figurino. Nos pés,sapatos esportivos e confortáveis, quepermitam ao dançarino encarar nomínimo duas horas de show sem fazercara feia.

A dançaproibida

O maxixe, ou como preferem dizerseus adeptos, vanera suingada, estáligado ao movimento Tchê Music, quesurgiu no Estado no final dos anos 90e incorporou à música tradicionalistagaúcha instrumentos comopercussão, bateria e a guitarraelétrica. Os dançarinos começaram asentir o novo compasso enaturalmente incorporam à dançanovos movimentos. Este bailado,considerado sensual e modernopelos tradicionalistas, ganhou muitossimpatizantes e ao mesmo tempo a irados fiéis defensores da culturatradicional do Estado. O MovimentoTradicionalista Gaúcho (MTG) proibiuas bandas adeptas do tchê music -Tchê Guris, Tchê Garotos, TchêBarbaridades, entre outras – de seapresentarem nos Centros deTradições Gaúchas (CTGs) filiados àentidade. Logo o maxixe também foiabolido desses locais.

dando assistência aos que querem ingres-sar, aprender e encontrar pessoas comas mesmas afinidades. A promotora deeventos, Shanna Bombassaro, comentaque o número de frequentadores vemcrescendo e que o movimento não buscaapenas a sensualidade:

- Começamos tímidos e combatidos pe-los tradicionalistas. Hoje temos nosso es-paço, que aumenta a olhos vistos. Aquiaprende-se a dançar e a conviver. É algosensual, mas é profissional também. Temrespeito e amizade aqui - completa.

Mas tradicionalistas e maxixeiros nãodivergem em todos os pontos. Há quemgoste dos dois ritmos, como o estudanteRoger Mendes Paiva, 23 anos. Filho deum patrão de CTG e convivendo com astradições desde cedo, ele rendeu-se aosmovimentos rápidos e gingados do maxi-xe. Paiva relata que é possível, sim, inte-grar os dois estilos:

- Já usei e uso bombacha, participo deinvernadas e rodeios, mas também gostode sair para os bailes e dançar com maisrequebrado. Acho que o principal é res-peitar ambos os ritmos, afinal tudo é cul-tura - argumenta.

Preservar a memória cultural é tão im-portante quanto conhecer e adaptar-seàs novas manifestações que são fruto daevolução e aperfeiçoamento das mentali-dades. Conhecer suas origens é o anseiodo homem desde que nasce e a buscapelo novo, sua inquietante virtude. Comodiria o escritor Mário de Andrade: “Nadamelhor que as tradições para retemperara saúde de nossa alma brasileira”.

leganda dos gaudérios

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jornalismo

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88888ELIZÂNGELA MALISZEWSKI

Os primeiros imigrantes poloneses aquichegaram entre 1869 e 1920 e se estabele-ceram no Paraná. Depois, alguns foram tra-balhar em fazendas de Santa Catarina e doRio Grande do Sul. Na década de 20, vári-os imigrantes poloneses judeus fixaram-se na cidade de São Paulo, fugindo da de-terioração da economia polonesa, aindacom poucas indústrias, e desemprego cres-cente. Tornaram-se comerciantes, peque-

esperançaTerra da

Com suor, batalha e vitórias, osimigrantes poloneses ajudam aescrever a história do Sul do Brasilhá cerca de 140 anos

HISTÓRIA

leganda dos polacos

nos fazendeiros, operários de indústria e,principalmente, agricultores.

O território paranaense é o que apre-senta as maiores influências dessa cultu-ra europeia no Brasil. Muitos descenden-tes falam o idioma polonês como línguamaterna. Curitiba é a segunda cidade forada Polônia com o maior número de habi-tantes de origem polonesa, superada ape-nas por Chicago, nos Estados Unidos.

O jornalista curitibano Ulisses Jarosin-ski, neto de poloneses, mora na Polônia

há sete anos e estuda a imigração no Sul doBrasil em sua tese de doutorado na Universi-dade Jagiellonski, em Cracóvia. Filho de umamineira e de um gaúcho, Jarosinski lamentanão ter tido acesso às tradições, uma vez que,perdeu o pai quando tinha dois anos de ida-de. Mas a curiosidade e as origens falarammais alto:

“ Um dia, em Curitiba, uma senhora des-cendente da quinta geração, chamou-me de“polaco estragado”, porque eu não sabianada da cultura. Hoje sei muita coisa, sei fa-lar o idioma, mais do que os filhos dela”,relembra.

Os descendentes poloneses não são tãonumerosos quanto os italianos e os alemães.Talvez, por isso, não sejam tão expostos namídia e conhecidos. Muitos produtos surgi-ram na Polônia e, no entanto, poucas pessoastêm conhecimento. Por exemplo: a cerveja foicriada lá e não na Alemanha, assim como avodca, que é polonesa e não russa. A come-moração do Natal em 25 de dezembro foramos poloneses católicos que trouxeram. Anteso Brasil dos portugueses celebravam a datano dia 6 de janeiro. A casa de madeira tambémtem suas origens no Sul da Polônia, em Lublin.

No Rio Grande do Sul, os imigrantes es-tão espalhados pelos quatro cantos. O mu-nicípio de Dom Feliciano tem, aproximada-mente, 15 mil habitantes e cerca de 95% sãode origem polonesa. As tradições ainda es-tão bem vivas na Casa de Cultura do Imi-grante Polonês. Lá são encontradas vestu-ários, utensílios, mobília e dados históricos.O presidente da Associação Brasil – Polônia(Braspol), Márcio Rosiak, conta que paramanter viva a cultura entre os jovens foicriado o Solidarnoœæ (em português Soli-dariedade). É um movimento sindical polo-nês, fundado em setembro de 1980, que em-presta o nome a um grupo de danças, pro-movendo a integração entre os povos:

“Não é apenas um grupo que leva a música.Nós promovemos os típicos powieczorek (café

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da tarde) e kolacja (janta), que reúnem apopulação e reacendem nos jovens o sen-timento dos antepassados “ completa.

Um dos moradores mais antigos deDom Feliciano, André Stawinski, 88 anos,só se comunica no idioma de origem. Elemantém um acervo de livros e jornais anti-gos, alguns trazidos na viagem deVadovice, terra do Papa João Paulo II, ou-tros recebidos pelo correio. VovôStawinski, como é conhecido, não escon-de as lágrimas ao relembrar o começo difí-cil. Ele conta que na zona rural polonesahavia muita gente pobre, sem casa e semmeios de vida. Seguidamente, bandos decrianças maltrapilhas e famintas vinhambater a porta de sua casa, pedindo um pe-daço de pão. A situação estava ficandodifícil. Foi, então, que se começou a falarem emigração. De todos os lados vinhamchegando ecos de que nas Américas ha-via terras de sobra e a disposição de quem

quisesse ir para lá. De acordo comStawinski foram tempos difíceis e, até hoje,a saudade é a pior vilã:

“Quando chegamos aqui não tinha nada.Meu pai queria voltar, mas não tínhamosdinheiro. Passei muita fome, mas conseguimeu espaço e formar minha família. O pior éa distância da Polônia. Meu último desejoseria ver aquele céu de novo”, emociona-se.

Existem raros estudos sobre a imigraçãoe costumes poloneses e a dificuldade emencontrar dados verídicos é grande. Co-nhecer sua história é o anseio do homemdesde que nasce, assim como, descobrir oporquê de suas manias. Pensando nisso aengenheira química, Silvia Parapinski, 50anos, dedica suas horas vagas a alimentarum site, pesquisar a genealogia e promo-ver encontros entre poloneses espalhadospelo país. Silvia mantém arquivos digitaisde cartas dos antepassados enviadas aosparentes na Polônia, mas que nunca che-

garam aos seus destinos. Ela relata que oobjetivo é reunir muitos descendentes etrocar histórias:

“Montei o grupo em 2003 e foram en-trando pessoas, e alguns se tornaram gran-des pesquisadores. Passamos a ajudar ou-tros, e hoje somos mais de 500 participan-tes. É nossa vida, nossa origem. Somostodos frutos da mesma árvore”, afirma.

O termo “Polaco” sofre, há pelo menos85 anos, campanha sistemática pela suaextinção da língua falada no Brasil. As ge-rações mais antigas simplesmente abomi-nam o termo. Não o aceitam de forma algu-ma como designação de nacionalidade.

O médico e pesquisador EdwinoDonato Tempski prestou vários depoi-mentos em vida procurando explicar asorigens do preconceito e a transformaçãodo termo “Polaco” para uma palavra comsentido pejorativo.

Segundo Tempski, a origem da utilizaçãoda palavra como termo depreciativo teria tidoinício no começo do século XX, na cidadedo Rio de Janeiro, quando o proprietário doCassino da Urca trouxe prostitutaseuropeias. Como estas mulheres eram, emsua maioria, loiras como as descendentespolonesas do Sul do Brasil, a populaçãocomeçou a qualificá-las de “polacas”.

Na fase de pesquisas e entrevistas paraescrever seu livro “Saga dos Polacos”,publicado em 2001, Ulisses Jarosinski ga-nhou uma bolsa do governo polonês efoi fazer mestrado e doutorado. Sua dis-sertação de mestrado aborda a questãopolaco x polonês. Para ele a palavra “Po-laco” é usada de forma errada no Brasil:

“Se em algum momento a palavra pola-co foi preconceituosa, atualmente paramim polonês é discriminatória. Em todo omundo lusitano, espanhol e italiano a pa-lavra gramaticalmente correta é polaco. Sóno Brasil tem esta bobagem chamada po-lonês”, completa.legenda dos polacos

fAMÍLIA gurginski -1897

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88888FERNANDA PAIVA

A frase pintada no muro avisa: “É proibi-do colocar lixo aqui, não insista”. A maioriadas pessoas que por ali transita não sabeler e a frase, claro, é ignorada solenemente.Do lixo amontoado logo abaixo do aviso,na entrada da Vila Chocolatão, no centrode Porto Alegre, é que sobrevivem deze-nas de famílias. No local árido de belezanatural, vez por outra se avista uma planta,capricho bem vindo da terra seca.

O lixão ao ar livre é o cartão de visitasda vila, onde moradores disputam os res-tos da cidade. Catam sobras de papel,metal e plástico. Para muitos moradoresesta é a principal, senão a única, ativida-de econômica. Diariamente, os catadoresda Chocolatão saem pelas ruas do cen-tro, à procura de sucatas para depois re-venderem. Os achados dos mais diferen-tes materiais e origens são empilhadosnas portas dos barracos.

– Não troco a minha maloquinha poroutro lugar e o lixo é a minha sobrevi-vência. Se eu sair daqui vou viver do que?– questiona a moradora Isaura ReginaGonçalves, 46 anos, mãe de três filhosque segundo ela, sustenta com a vendade sucatas.

– Depois que viemos pra cá, melhorei devida. O que consigo tirar é pouco, mas dápra viver – diz Isaura, sorridente, entre umatentativa e outra de catar algo mais valiosono meio de uma montanha de lixo.

É assim que ela e os demais moradoresencaram o trabalho, com disposição e sor-risos. Todos em volta querem falar comorgulho do que fazem. Parecem confor-mados com a ausência de condições mí-nimas de sobrevivência.

– Eu saio cedo para catar alguma coisa etodos os dias encontro coisa boa pelo cen-tro, sou a que mais tem sorte – garante Nelída Silva, de 61 anos, uma das moradorasmais antigas do local.

no lixãoProibido colocar lixo

Com suor, batalha e vitórias, osimigrantes poloneses ajudam aescrever a história do Sul do Brasilhá cerca de 140 anos

HISTÓRIA

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CONDIÇÕES DE MORADIA

Os barracos não têm instalação elétrica re-gular. É comum que a luz chegue por meio defios instalados ilegalmente, improvisados emfiações precárias, os famosos “gatos”. As-sim, alguns garantem iluminação e até a utili-zação de poucos aparelhos eletrônicos. Águaencanada ou saneamento estão longe de vi-rar realidade, embora a comunidade tenhacomo vizinhos do lado esquerdo, a Câmarade Vereadores de Porto Alegre e, do direito, oo próprio Chocolatão, edifício que dá nome àVila, onde funciona a Receita Federal. Em meioa disputa dos adultos por um lixo mais valio-so, a criançada da vila brinca, ri e joga alheiaao esgoto a céu aberto.

Do lixo, Fabiana dos Santos, 34 anos,montou a sua empresa. Dona de um depó-sito bem ao centro da Vila, ela compra doscatadores, seus vizinhos, toneladas de pa-péis, plásticos e sobras de metal. De possedas melhores sucatas, revende para gran-des depósitos na Voluntários da Pátria, quereciclam o material.

– Depois de dois ou três dias que acumulotudo o que recebi, vamos todos levar de car-rinho, até a Voluntários, tudo o que eu pudervender por lá – conta Fabiana, referindo-seao trajeto que faz com os dois filhos de 11 e13 anos, quando atravessam o centro da ci-dade, pelo acostamento, para garantir o di-nheiro que mais tarde é revertido em comidana mesa. O filho mais velho, Jonatas Leonar-do, de 19 anos, conseguiu um emprego nodepósito de latinhas de alumínio onde a mãeé uma das fornecedoras.

– Aqui sou dona do meu negócio e nãopreciso de muito para viver. Aprendi que serhonesta e não ter medo de trabalhar faz agente se sentir mais feliz - – conclui.

Quando viu o seu casebre ser destruídopelo fogo, num incêndio, o papeleiro Jorgede Lima, 37 anos, achou que seria impossí-vel recomeçar. Tinha ainda dívidas em ra-zão da construção do extinto barraco dequatro cômodos, mas logo reuniu forçasna fé. Devoto de São Jorge, ele atribui aosanto tudo de bom que ocorre em sua vida.Atualmente, com a mulher Greice KellyAmorim, 23 anos, grávida do terceiro filho,continua na batalha. Percorrem várias ruasdo centro com o carrinho para coletar tudoo que consegue carregar, e não é raro en-contrar algum “lixo bom”.

– Já encontrei muitos rádios que funciona-vam, mas vendo porque preciso do dinheiromesmo. Já o violão que dei sorte, esse virourelíquia e já estou até tocando em casa – diz oaprendiz dando uma gargalhada.

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88888TAMIRES SOUZA

Práticas e aparentemente inofensivas,as sacolas plásticas são uma ameaça aomeio ambiente. Depois de utilizadas porconsumidores dos mais diferentes perfis,é amplamente empregada no acondicio-namento do lixo doméstico. Do lixo paraas ruas, matas e rios, o caminho é curto emrazão da falta de educação ambiental damaioria dos consumidores, que não asdescartam nos lugares adequados ou daforma correta. Estima-se que o lixo acumu-lado nos mares seja o responsável diretopela morte de 1 milhão de aves e mamífe-ros marinhos por ano.

As sacolas de plástico demoram pelomenos 300 anos para sumir no meio ambi-ente. Em todo o mundo são produzidos500 bilhões de unidades a cada ano, o equi-valente a 1,4 bilhão por dia ou a 1 milhãopor minuto. No Brasil, 1 bilhão de sacolassão distribuídas nos supermercados men-salmente - o que dá 66 sacolas por brasi-leiro ao mês. Para evitar a disparada des-ses números, algumas alternativas estãosendo adotadas. Uma delas, muito popu-lar na Europa e nos Estados Unidos, masque ainda não ganhou força no Brasil, é ouso de sacolas de tecido e caixas de pape-lão.

A solução para o problema não está, noentanto, na produção de sacos plásticosoxibiodegradáveis. Elas vêm com umaditivo químico que acelera a decomposi-ção em contato com a terra, a luz ou a água.O prazo de degradação é até 100 vezesmenor - ou seja, uma sacola leva apenastrês anos para desaparecer. O governo doParaná distribui gratuitamente essas sa-colas. O vice-presidente do Sindicato dasIndústrias de Material Plástico no Estadodo RS (Sinplast) e coordenador do Pro-grama Sinplast de Consciência Ecológicae Sustentabilidade, Júlio Cézar Roedel, aler-ta que esta alternativa pode produzir ou-tro tipo de poluição ambiental:

- O que existe em oferta no mercado bra-sileiro, hoje, é um aditivo, a base de metaispesados, óxi-degradável. Misturado aoplástico convencional, este aditivo faz comque o plástico se fragmente em pedaçosde dois a cinco mililitros. Estas partículaspermanecem no meio ambiente, liberandotoxinas e metais pesados (componentesdo aditivo) para os lençóis freáticos, po-dendo causar outro tipo de .

Para ele, o problema não é o tipo ou acomposição do material utilizado na pro-dução das sacolas, uma vez que o plásti-

da vezA vilã

Com suor,batalha e

vitórias, osimigrantespolonesesajudam aescrever a

história do Suldo Brasil

AMEAÇA

AMBIENTAL

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Guerraao plástico

co “é inerte e atóxico”. O problema, res-salta Roedel, “é a falta de culturaambiental” do consumidor, que descartaincorretamente as sacolas plásticas.

- O plástico é 100% reciclável, se fordescartado corretamente. A verdade é que,felizmente, temos uma matéria-prima quedura 300 anos, tendo a reciclagem a umcusto energético muito menor que qual-quer outra - conclui.

Seguindo a mesma linha de raciocíniode Roedel, a empresa Plásticos Pampacriou o programa Plastivida. A ideia é in-centivar o uso consciente das sacolas.Conforme a gerente comercial da empre-sa, Lorien Federici, diversas redes de su-permercados estão comprando sacolasmais espessas.

- Esta atitude deve resolver o problema,chamamos de três “erres”: reduzir, reutilizare reciclar - conta.

Recentemente chegou ao Estado umanova alternativa na produção de plásti-cos. A empresa Braskem deu o primeiropasso para uma linha de produção inéditano mundo, a de plásticos feitos a partir doetanol. Derivado do álcool da cana-de-açucar, mais conhecido por plástico ver-de, promete a fabricação em escala comer-cial de uma resina 100% renovável e certi-ficada. Uma vantagem apresentada peloplástico verde é que ele retira gás-carbônico do ar para se desenvolver. Tam-bém conhecido como dióxido de carbono,

o CO² é o principal causador do efeito es-tufa, responsável pela elevação da tempe-ratura no planeta. Já o plástico tradicio-nal, é feito de petróleo ou gás natural, re-cursos finitos cujo processamento não tembenefício ambiental.

Com relação ao tempo de decomposi-ção do plástico verde, é o mesmo do co-mum, algumas centenas de anos. Para oresponsável pela tecnologia de polímerosverdes da Braskem, AntonioMorschbacker, a diferença entre o plásti-co comum e o verde está no seu passadorecente.

- Um é petróleo enterrado, o outro gáscarbônico na atmosfera - explica.

O material ainda pode ter como princi-pais fontes renováveis, chamadas debiopolimeros, o amido de milho, de mandi-oca ou a fécula de batata.

Na opinião da presidente da FundaçãoEstadual de Proteção Ambiental (Fepam),Ana Pelini, esta é uma excelente alternati-va.

- Sua vantagem reside no fato de que acana-de-açúcar é renovável e não com-pete com os alimentos. Normalmente, opolietileno é fabricado a partir da nafta,um derivado do petróleo, ou do gás natu-ral. Outras soluções alternativas não usam100 por cento de recursos renováveis enão têm as mesmas características dopolietileno fabricado com o método con-vencional – diz ela.

M Símbolo da sociedade de consumo,as sacolas plásticas só serão usadasapenas uma vez antes de seremdescartadas

M Em um artigo publicado no jornalinglês The Guardian, o jornalista LeoHickman destaca um pontointeressante: “Ou estamos perdendotempo em procurar formas de proibir assacolas plásticas, ou estamos nosdistraindo com um problema ambientalrelativamente menor. É como ordenar osassentos no meio do naufrágio doTitanic, segundo descreveu o cientistaJames Lovelock”.

M A partir desde ano, as lojas esupermercados na China estãoproibidos de dar sacolas plásticas aseus clientes. A população do paísconsome 3 bilhões de bolsasdescartáveis por dia.

M Quando descartadas de maneiraincorreta, embalagens plásticasentopem canos e bueiros nas cidades,provocando alagamentos e inundaçõese também matam animais que asingerem por acidente.

M Em São Francisco, nos EUA, assacolas de plástico foram banidas.Somente as feitas de produtosderivados do milho ou de papelreciclado podem ser usadas. Outrasolução é a cobrança de uma taxa porsacola, como acontece na Irlanda desde2002. O dinheiro é revertido emprojetos ambientais.

M A indústria do plástico publicou uminforme nos jornais brasileiros. Diz otexto: “O plástico faz parte da vidacontemporânea, é 100% reciclável eestá em milhares de produtos. Sem ele,não haveria computadores, seringasdescartáveis, bolsas de soro e desangue para salvar vidas. O plásticotornou os automóveis mais leves,reduzindo a emissão de CO2, causadordo efeito estufa. As sacolas plásticassão reutilizáveis, práticas, higiênicas etêm múltiplos usos. Sãoparticularmente importantes para 80%dos consumidores que fazem compras apé ou de ônibus”.

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praças

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88888ELIZÂNGELA MALISZEWSKI

A professora Dhieila do Couto observaatenta. Um ronco ensurdece a mata. Impo-nente, cara de malvado, traços humanos euma vasta barba, de galho em galho, lávem o bugio-ruivo. Trata-se de um dossímbolos mais marcantes do Sul do Brasile apresenta uma das distribuições geo-gráficas mais amplas dentre os primatasdas Américas, do Sul do México até aoNorte da Argentina.

Dhieila mora em um sítio no interior domunicípio de Camaquã, na Região Cen-tro-Sul do Rio Grande do Sul e a cerca dedois anos observa e estuda os bugios-ruivos. Ela convive diariamente com trêsfamílias de primatas:

“ Eu jogo frutas, fico horas olhando eeles me olham também, fixamente. Gostode fotografar e pesquisá-los. Tenho a im-pressão de que me entendem, afirma.

Os bugios-ruivos passam a maior partedo tempo parados, como estratégia paraconservar energia e são importantesdispersores de sementes. Pesam em mé-dia sete quilos e vivem cerca de 20 anos.Seus membros anteriores e posteriores têmcomprimentos idênticos, e apresentamesquizodactilia, uma adaptação na posi-ção dos dedos das mãos que facilitam odeslocamento sobre as árvores.

São animais de pelos avermelhados,acentuados pela melanina, com exceçãodas fêmeas e dos juvenis, que apresentamcoloração marrom escura. Os machos so-frem mudança de cor com o desenvolvi-mento sexual pela liberação de um pigmen-to secretado por glândulas sudoríparasmodificadas. Nesta etapa, deixam de apre-sentar a coloração marrom e passam a apre-sentar a coloração ruiva característica.

Para demonstrar a sua presença ou paralocalizar o seu grupo, emitem intensos ru-ídos que pode ser ouvidas a cinco quilô-metros de distância. O médico veterinárioDilmar Alberto Gonçalves de Oliveira ex-plica que este fenômeno se dá porque osbugios são dotados de cordas vocais es-peciais bastante distintas de outrosprimatas:

-” Suas cordas vocais são espessas,gerando um som grave e intenso. A cavi-dade do hióide, que fica abaixo da gargan-ta, age como uma caixa de ressonância,amplificando o volume do som produzidonas cordas vocais, ensina.

A espécie já foi considerada ameaçadade extinção pelo decreto 1522/89 do Insti-tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

matasO roncador das

AMEAÇA

AMBIENTAL

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legenda das fotos em três linhas adf asdf asd

Recursos Naturais Renováveis (Ibama),mas desde 2006 os bugios-ruivos estãoclassificados como fora de risco. Apesardisso, existem áreas do país onde a espé-cie não pode ser mis encontrada em seuhabitat natural.

Para preservar o bugio-ruivo foi criadoem 1992 o Centro de Pesquisas Biológicasde Indaial (Cepesbi) e o Observatório dePrimatas do Morro Geisler, em SantaCatarina. São realizadas atividades de pes-quisa, educação ambiental e integração dacomunidade local com estudantes univer-sitários e pesquisadores.

A ideia do projeto surgiu quando a pro-fessora universitária Zelinda Maria BragaHirano andava de bicicleta por uma trilhano Morro Geisler e despertou a curiosida-de de cientista para vocalização intensados bugios. Munida de uma faca de chur-rasco e bússola decidiu então entrar namata e aprender sobre este primata aindapouco conhecido noEstado de Santa Cata-rina. Zelinda lembra oinício das atividades:

“Eu e outros am-bientalistas chamamosa atenção da comuni-dade local à medidaque andávamos a pro-cura de bugios. O pes-soal começou a obser-var e se perguntava o que era aquilo, con-ta.

Foi a partir de um episódio com um ani-mal intoxicado, mantido em cativeiro, tra-zido até as mãos de Zelinda que ficou ex-plícita a necessidade de um local para rea-lização de estudos científicos e ações deconservação.

Assim como para a maioria das espéci-es nativas da Mata Atlântica, as princi-pais ameaças aos bugios ruivos são a per-da de habitat, o tráfico e a caça. O criadou-ro já recebeu mais de uma centena de ani-mais e conta, atualmente, com 33. A coor-

denadora do Cepesbi Gabriele Marafon daSilva relata as ocorrências mais comuns:

“ Os funcionários do centro medicamos bugios que são encontrados pela co-munidade, vítimas de choques, atropela-mentos, ataques de cães, os trazidos peloIbama ou pela Polícia Ambiental. Tambémé feito um trabalho de campo, no morroGeisler, onde os bugios livres são acom-panhados diariamente, ressalta.

No início de 2009, três estagiários doCepesbi e estudantes de Ciências Biológi-cas da Universidade Regional de Blumenau(Furb) visitaram a localidade do Lami emPorto Alegre. Eles tiveram a oportunidadede observar as pontes de corda desenvol-vidas por pesquisadores do ProgramaMacacos Urbanos com o objetivo deminimizar os acidentes com os bugios narede de distribuição de energia elétrica.O Programa Macacos Urbanos (PMU) éum grupo multidisciplinar de pesquisa ci-

entífica e de ativismopolítico e comunitáriopara a conservação dobugio-ruivo e de seushabitats na região me-tropolitana de PortoAlegre. Foi fundado em1993, quando um gru-po de estudantes de bi-ologia da UFRGS, soborientação dos profes-

sores Helena Romanowski e Luis Flamarionde Oliveira, buscou identificar a ocorrênciae distribuição do bugio-ruivo na capitalgaúcha, fornecer subsídios para a preser-vação e manejo e levantar dados sobre asituação da espécie frente ao processo deexpansão urbana.

A coordenadora do projeto RafaelaDelacroix relata que as pesquisas eramfeitas em torno dos animais, mas com otempo foram sendo percebidos diver-sos problemas de degradação am-biental que levavam à extinção dos ani-mais:

“À medida que localizávamos os prin-cipais locais em que viviam os bugios-ruivos, também víamos desmatamentos,caça, queimadas, extrações de saibro ede plantas ornamentais, e, principalmen-te, urbanização clandestina que preju-dicavam a vida silvestre, completa.

A realidade encontrada pelos pesqui-sadores levou à expansão dos objetivose das atividades originais do projeto, jáque a necessidade da realização de es-tudos mais amplos e de iniciativas paraconscientizar cidadãos e administrado-res públicos.

Recentemente o bugio-ruivo teve detranspor outra barreira: a exterminaçãopela febre amarela. Muitas pessoasdesinformadas acabam dizimando osanimais por pensarem que eles são ostransmissores da doença. A Secretáriada Saúde do município de Dom FelicianoSolange Pereira Lopes, que registrou al-guns destes episódios afirma que atéhoje precisa promover campanhas paraalertar os moradores:

“Muitos agricultores acabam matan-do o animal a tiros com medo de pegar adoença. Nós sempre esclarecemos queo transmissor é o mosquito e que o bu-gio serve de sinal. Se aparecer mortopode ser indício de foco da febre, com-pleta.

O isolamento das áreas de mata obrigaos animais a correrem riscos para se des-locarem. As populações diminuíram bas-tante e refletem a acentuada intervençãodo homem sobre o meio ambiente.

Para a professora Dhieila o bugio-rui-vo não é apenas mais um primata perdi-do nas florestas. Ela sente como se elefosse parte de sua família:

“Quando a mãe pega seu filho e botanas costas em sinal de proteção me fazlembrar das atitudes humanas. Por es-sas e outras coisas que acho que não setrata de um ser irracional. Eles têm alma,completa.

“Muitos agricultoresacabam matando oanimal a tiros commedo de pegar a doença”

Solange Pereira Lopes – secretária

da saúde de Dom Feliciano

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88888AMANDA MONTAGNA

Ela é rica, bonita, famosa, inteli-gente e está sempre na moda.Completou 50 anos, mas ocorpinho ainda é de 20. É de darinveja em qualquer adolescente.Tem fã-clubes em praticamentetodo o mundo, inclusive no Brasil.É amada por uns e odiada por ou-tros. Mas essa beldade nao é decarne e osso. Trata-se da Barbie, éclaro. Padrão de beleza e compor-tamento, a boneca acompanhoutodas as mudanças das últimas dé-cadas. O mundo da Barbie é cor-de-rosa, uma fábrica de sonhos efantasias, onde tudo é possível. Éo que garante o slogan “beanything” (seja o que desejar). Sóque na vida real, nem tudo é pos-sível. Por essas e outras, a louri-nha sofreu críticas ferozes por re-presentar um modelo corporal ditotirânico e inalcançável. Ah, mas elanão deixou borrar a maquiagem eseguiu firme com o sorrisointocado. A longevidade invejávelvem de muitas fontes, mas uma de-las está relacionada com a polêmi-ca que a persegue. Se não fossecontroversa, seria chata, e talvezjá tivesse sido esquecida. Podero-sa, a boneca ainda é um grande su-cesso em vendas e popularidade,arrastando uma legião de admira-dores, fãs e colecionadores pelomundo afora.

A HISTÓRIA

Nunca um brinquedo refletiu tãobem o comportamento de uma épo-ca quanto a cinquentona Barbie. Ahistória oficial conta que Foi RuthHandler, esposa de Elliot Handler(fundador da empresa norte-ame-ricana Mattel) quem teve a idéia defabricar uma boneca adulta, base-ada no interesse de sua filha, Bár-bara (daí o nome), por bonecasmulheres mais velhas. O que pou-cos sabem é que a inspiração veioda bela Lilli. Tudo começou naspáginas do jornal alemão Bild-Zeitung, em 1952. Para preencheros buracos sem notícia, o ilustra-dor Reinhard Beuthien criou Lilli,uma loira que aparecia em tiras dequadrinhos com cintura fina,

barbieO mundo

AMEAÇA

AMBIENTAL é cor-de-rosa

Para lá de balzaquiana, boneca maisfamosa do mundo celebra cinco décadasde sucesso de reinventando a cada estação

maquiagem, peitos grandes e sem-pre de salto alto. O sucesso foi tãogrande que virou uma boneca parapresentear homens. O que ninguémesperava é que o brinquedo caíssenas graças das meninas. De fériasna Alemanha, o casal americanocomprou algumas exemplares e le-vou para seus engenheiros. Batiza-da de Barbie, a cópia foi lançadanos Estados Unidos em 1959. melhança era tão óbvia que a Matteltopou pagar pelo direito da‘clonagem’.

A grande sacada original daBarbie não foi somente esta apa-rência de top model, mas sim apossibilidade de trocar as rou-pas e acessórios. primeira boneca a receber ma-quiagem e acessórios, sendoesta uma idéia de Ruth que sem-pre via a sua filha brincandocom bonecas de papel que tro-cavam o figurino. foram um sucesso, o que le-vou os Handlers a adicionar umnamorado, Ken (nome de seufilho) em 1961; uma melhoramiga, Midge, em 1963, e umairmã, Skippercesso foi estrondoso, impli-cando na criação de váriosoutros itens relaciona-dos com as bone-cas como o carroe a Casa dos So-nhos da Barbie.

Ao longo dosanos, a figura volup-tuosa da Barbie temsuscitado controvér-sias. Se fosse humana, suas medi-das deveriam ser de aproximada-mente 91,5 cm de busto, 45,7 cmde cintura e 84 cm de quadril.Inviável até para manequins de pas-sarela, cujas medidas habituais sãoos clássicos 90-60-90. Por causadisso, ela tem sido acusada de in-cutir uma imagem irreal de corponas crianças. Houve também o epi-sódio do lançamento da boneca fa-lante “Teen que, entre outras coisas, dizia “aulade matemática é difícil”. Não pe-gou bem. Depois de protestos, elescortaram a frase do léxico da bo-neca. A Arábia Saudita baniu o brin-quedo, classificando-o como um

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maquiagem, peitos grandes e sem-pre de salto alto. O sucesso foi tãogrande que virou uma boneca parapresentear homens. O que ninguémesperava é que o brinquedo caíssenas graças das meninas. De férias

Alemanha, o casal americanocomprou algumas exemplares e le-vou para seus engenheiros. Batiza-da de Barbie, a cópia foi lançadanos Estados Unidos em 1959. A se-melhança era tão óbvia que a Matteltopou pagar pelo direito da‘clonagem’.

A grande sacada original daBarbie não foi somente esta apa-rência de top model, mas sim apossibilidade de trocar as rou-pas e acessórios. A Barbie foi aprimeira boneca a receber ma-quiagem e acessórios, sendoesta uma idéia de Ruth que sem-pre via a sua filha brincandocom bonecas de papel que tro-cavam o figurino. As vendasforam um sucesso, o que le-vou os Handlers a adicionar umnamorado, Ken (nome de seufilho) em 1961; uma melhoramiga, Midge, em 1963, e umairmã, Skipper, em 1964. O su-cesso foi estrondoso, impli-cando na criação de váriosoutros itens relaciona-dos com as bone-cas como o carroe a Casa dos So-nhos da Barbie.

Ao longo dosanos, a figura volup-tuosa da Barbie temsuscitado controvér-sias. Se fosse humana, suas medi-das deveriam ser de aproximada-mente 91,5 cm de busto, 45,7 cmde cintura e 84 cm de quadril.Inviável até para manequins de pas-sarela, cujas medidas habituais sãoos clássicos 90-60-90. Por causadisso, ela tem sido acusada de in-cutir uma imagem irreal de corponas crianças. Houve também o epi-sódio do lançamento da boneca fa-

een Talk Barbie” de 1992que, entre outras coisas, dizia “aulade matemática é difícil”. Não pe-gou bem. Depois de protestos, elescortaram a frase do léxico da bo-

Arábia Saudita baniu o brin-quedo, classificando-o como um

A moda dos últimos 40 anos pode ser contada atravésda Barbie e sua coleção de estilos e modelos. Sempre naúltima moda, ela reflete as mudanças do mundo feminino.Alguns de seus modelitos foram criados por estilistascomo Yves Saint Laurent, Christian Dior, Valentino, PerryEllis, Oscar de la Renta, e Bob Mackie. Desde 1959, maisde 105 milhões de metros de tecido foram usados paracriar roupas da Barbie. Um luxo!! Acompanhe um resumoda trajetória:

ANOS 60 Típica garota americana, com seu twin-set de lã efaixas no cabelo e perucas que vinham em três cores:loura, castanha e ruiva.Em 1962, se vestiu de JacquelineKennedy, com o famoso tailleur cor-de-rosa. No final dadécada, já anunciava a moda psicodélica com roupasfloridas.

ANOS 70 Barbie paz e amor! Sim, ela virou hippie. Em 1972,ganhou um trailer, passaporte para uma vida mais próximaà natureza. Já o Ken embarcou na onda dos Embalos deSábado à Noite e apareceu numa versão John Travolta.

ANOS 80 Época marcada pelo glamour. As roupas forammarcadas por transparências e mangas bufantes.Maquiagem mais do que obrigatória. Nesta década teveinício, também, a coleção étnica, com Barbies vestidas deroupas típicas de vários países como México, Chile,Jamaica, Brasil, Inglaterra, Holanda, França, Itália, Japão eNigéria.

ANOS 90 Barbie entra a década dirigindo uma Ferrari, sedivertindo e dançando. Entre os diversos estilosadotados por ela, estavam a Barbie rapper, roqueira, salva-vidas, médica, dentista, ginasta e uma super-Barbie, comcapa cor-de-rosa. Ken, o eterno namorado, não ficou paratrás, ganhou uma versão Brad Pitt em 1999.

ANOS 2000 Na virada do milênio, com o corpo maisflexível, tornou-se uma mulher moderna, que trabalha, eprecisa de computador e celular.

A moda na vida da garota

“símbolo de decadência do Oci-dente pervertido”. Hoje chamaruma mulher de “Barbie” é o mes-mo que sugerir que ela é bonita,mas falsa, vazia e burra: resu-mindo, de plástico. O lado posi-tivo é que muitas mulheres vi-ram na Barbie uma alternativaaos tradicionais padrões de com-portamento da época. Ela erauma ferramenta de ensino parafeminilidade. Além de linda, eraindependente e teve uma sériede profissões: de professora aastronauta.

A moda dos últimos 40 anospode ser contada através daBarbie e sua coleção de estilose modelos. Sempre na últimamoda, ela reflete as mudançasdo mundo feminino. Alguns deseus modelitos foram criadospor estilistas como Yves SaintLaurent, Christian Dior,Valentino, Perry Ellis, Oscar dela Renta, e Bob Mackie. Desde1959, mais de 105 milhões demetros de tecido foram usadospara criar roupas da Barbie. Umluxo!! g

PrimeiraBarbiefabricadanos EUA.Cópia daboneca alemã,Lilly.

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filmes

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Em primeiro lugar, a designer com mais de 200 bonecas recomenda não comprar tudoo que aparece, mas sim estabelecer um foco. “As coleções são enormes e muitovariadas”. Outra dica é possuir um local apropriado, arejado, e onde nao bata muito solpara guardar as bonecas, já que as roupas podem desbotar.

O ideal é começar com as Barbies de Celebridades, Barbie Silkstones, Barbie deEstilistas ou então colocar uma meta de comprar uma ou duas por mês, para a paixãonão virar um tormento. Uma Barbie de coleção custa em torno de R$ 200,00 sendo queesse valor varia muito pois elas são divididas assim:

Pink Label – tem a produção mundial sem número máximo de bonecas produzidas,são as mais baratas.

Silver Label – tem sua produção limitada até 50.000 unidades em todo o mundo, umpouquinho mais caras.

Gold Label – tem produção restrita a 25.000 unidades, mais caras.

Platinum Label – tem uma produção restrita a 1.000 unidades, bem mais caras!

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88888AMANDA MONTAGNA

Por toda esta trajetória marcante, aBarbie deixou de ser apenas um brinque-do de crianças e passou a povoar o imagi-nário de fãs mais crescidinhos. Milharesde adultos, homens e mulheres, são cole-cionadores e compradores compulsivosde Barbies. Estes apaixonados estão sem-pre sonhando com algum exemplar paraampliar a coleção, seja ela uma princesachinesa, uma bailarina ou uma estrela docinema. Vivem garimpando o universo cor-de-rosa em busca de novas bonecas. Paraos colecionadores, elas são obras de arte,de valor inestimável. Alguns são atraídospor representar um pedacinho da infân-cia. Outros são fascinados pela maneiracomo ela acompanha a moda. Há tambémquem não resista ao trabalho praticamen-te artesanal das Barbies produzidas emquantidades limitadas, edições especiaise raras.

Foi uma mistura destes fatores que ins-pirou a designer gráfica Cristina Preda, 35,há mais de quatro anos colecionadora ecriadora do site www.barbiemania.cjb.net.Na infância, como toda menina, ela tam-bém quis uma Barbie. Com 13 anos viuuma boneca pela vitrine de uma loja debrinquedos e pediu de Natal para sua mãe.E ela ainda está lá, guardada em meio auma coleção de mais de 200 bonecas cui-dadosamente expostas em uma sala de seuapartamento. O sonho é construir uma vi-trine fechada para expô-las sem as caixas.

– O problema é que gasto tudo em bo-necas e não sobra dinheiro para o móvel –diverte-se.

Quando pequena, a graça era brincar decasinha, trocar as roupas e acessórios.Mesmo apaixonada pela boneca, a idéia decolecionar só viria tempos mais tarde de-pois do nascimento de sua filha, há 9 anos:

– Passei a freqüentar lojas de brinque-do regularmente. Então, eu comprava umaBarbie para minha filha mas acabava guar-dando com medo que ela estragasse.

Nessas idas e vindas a casas do gêne-ro, Cristina percebeu que, na verdade, es-tava adquirindo Barbies para satisfazerseus próprios desejos e não os da filha,que a essa altura divertia-se com algumaboneca qualquer. Hoje a menina já come-çou sua própria coleção, com cerca de 20bonecas e também 35 bonequinhas Kelly

Brincadeira de gente grande

Cristina Preda,

Dicas para quem quer

iniciar uma coleção

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REVISTA BABEL 21REVISTA BABEL 21

Os 50 anos da estrela, comemorados em 9 de março, estãosendo festejados, mundialmente, com muita pompa. No dia 14de fevereiro, a Semana de Moda de Nova York apresentou umdesfile de roupas desenhadas por 50 famosos estilistas, queexibiram nas passarelas modelos e acessórios em tamanhoreal. Tudo inspirado na diva. Além disso, ela ganhou tambémnovos sapatos. Perfeitos e encantadores e feitos por ChristianLouboutin, uma mente criativa e autor de alguns dos sapatosmais desejados do mundo. A Barbie também chega a Xangai,com a inauguração da maior Barbie Store do mundo, com

1.500 m² e que abrigará a maior variedade de produtos da marca já lançados. NoBrasil, as comemorações incluíram a inauguração do Museu Encantado da Barbie,detalhe na foto, no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, onde mais de 500 bonecasficam em exposição até o dia 31 de julho. Outra iniciativa é o Projeto Casa da Barbie,caminhão-casa que pretende percorrer cidades de três estados brasileiros (SantaCatarina, Paraná e São Paulo) até o final do ano.

(irmãzinha da Barbie). O momento definiti-vo desta história aconteceu quandoCristina descobriu as colecionáveis(www.barbiecollector.com), fabricadaspara adultos.

– Fiquei maluca pela Water Lilly byMonet, mas aqui no Brasil elas não eramvendidas – lembra.

E teve início uma verdadeira saga peloexemplar. Passaram-se três anos até queCristina encontrou pela Internet, num sitede leilões, uma delas à venda.

– Arrematei a boneca por U$100,00, masfoi uma loucura porque eu não sabia comopagar, nem tinha cartão internacional, e eranovata nesse negócio de Internet – conta.

Mas sua irmã a ajudou a concretizar acompra, que chegaria 15 dias depois aoBrasil.

– Fiquei muito animada, parecia uma cri-ança mesmo – admite.

Também pela Internet, a designer en-controu outras ‘crianças’ grandes e foi per-dendo a vergonha e o receio de sercriticada.

– Conheci um grupo de colecionadoresadultos pela rede, então me senti mais ‘nor-mal’ por achar que eu não era a única nomundo – diz.

Desde então, Cristina compra suas bone-cas pelos sites Ebay e Mercado Livre, masressalta que hoje existem lojas que vendemalgumas colecionáveis no País. Já a contadesta paixão foi perdida há muito tempo. Elarevela que gastou boas quantias em peçascomo a Barbie Givenchy, Senhor dos Anéis,Romeu e Julieta, a coleção de Bailarinas, ouainda o Casal Arthur e Guinevere, em queprecisou economizar 3 meses para adquirirpor R$500,00. Segundo a colecionadora,“mais vale um gosto que dinheiro no bol-so”. Dito isso, há uma que considera espe-cial. “É difícil escolher uma predileta, mas aque acho mais bonita é a Barbie Ferrari Edi-ção de Luxo. Ela tem um rosto meigo, cabe-los castanhos, tem até um cavalinho da mar-ca na presilha de cabelo e o vestido verme-lho é um luxo”, derrama-se.

Para essa apaixonada, a Barbie resume-se a pura alegria, diversão e prazer. Nada afaz crer que a boneca pode ser um mauexemplo para as crianças.

– Temos que usar o bom senso e terciência que, por exemplo, as medidas daBarbie são impossíveis. Não é porque umaBarbie vem com tatuagem que vou fazeruma, ou porque ela é magra que devo seranoréxica. Transmito todas essas coisaspara minha filha e nunca tivemos nenhumproblema, acho que o problema está den-tro da cabeça das pessoas - conclui.

Diva inspiradora

l Em 1959, quando foi lançada, vestia ummaiô listrado branco e preto.

l Foram vendidas 351 mil unidades noprimeiro ano.

l As primeiras bonecas custavam US$ 3.Hoje, uma Barbie pode custar até US$ 10 mil.

l A cada segundo, duas Barbies sãovendidas em algum lugar do mundo.

l É vendida em mais de 150 paísesrepresentando 45 nacionalidades.

l A Barbie já teve mais de 1bilhão de pares de sapatose outro 1 bilhão de roupas.

l As profissões jápassaram de 80:paleontóloga,astronauta, roqueira,médica e até candidataà presidência dos EUAduas vezes, em 1992 e2000.

l A boneca e seusbichos: 21 cães, 12cavalos, 6 gatos, 3pôneis, 1 papagaio, 1chimpanzé, 1 panda, 1girafa, 1 zebra, entreoutros animais.

Curiosidades sobre a boneca famosa

l Já foi atleta olímpica. A primeiraparticipação foi em 1975. Em 2000, ela voltouà cena olímpica como nadadora.

l Em 2002, a Barbie deixou sua marca naCalçada da Fama, em Hollywood, ao lado decelebridades como Marilyn Monroe e CharlesChaplin.

l Entre os estilistas que já fizeram modelossob medida para ela estão Giorgio Armani,Christian Dior, Givenchi e os brasileirosAlexandre Hercovitch e Walter Rodrigues.

l O Ken, marido da Barbie,surgiu em 1961.

l Desde 1963, Midge é sua melhor amiga etem uma família: o marido Alan, o filho mais velhoRyan, e a menor, Nikki, que fez um ano.

l Se colocadas lado a lado, as bonecasBarbies e membros da família à venda desde1959 circulariam o mundo mais de setevezes.

l Em 1959 foram vendidas 351 milbonecas, hoje a Primeira Barbie é avaliadaem até R$ 15 mil, segundo colecionadores.

l A Barbie já usou muitas modas, foi aprimeira boneca do mundo que dobrava aperna e também a primeira a ser maquiada.

Fonte: Mattel do Brasil

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Heróis todos os dias88888LUCIANA BORBA

É domingo. O telefone toca. O 193 dasala de operações avisa o destino: Beco5 da Vila São Pedro. Em 30 segundos, atropa embarca para mais uma ocorrência.O churrasco que estava no fogo e seriaservido no almoço foi deixado para trás.A viatura segue pelas avenidas da Capi-tal. A sirene toca pedindo espaço. Nobeco, vítimas aflitas esperam a ajuda che-gar. Lombas, vielas, ruelas e curvas atra-palham o acesso. No percurso, muitosbarracos. De longe, dá para ver a fumaçaque sobe em direção ao céu. Vizinhos de-sesperados orientam a equipe. Duas man-gueiras com 30 metros cada são monta-das para chegar ao terreno. O fogo é in-tenso e exige mais uma. Outro caminhãocom 5 mil litros de água chega ao morro.As labaredas se espalham com o vento.Depois de uma hora e meia, restam as cin-zas de duas casas e a tristeza de duasfamílias.

Essa é a rotina do corpo de bombeirosde Porto Alegre que mesmo com toda adificuldade, luta contra o tempo para sal-var o patrimônio material e a vida dosmoradores da cidade. O 1º sargento Mar-co Antônio Vieria Fraga era o Comandan-te do Socorro da Seção de Combate a In-cêndio (SCI) da Silva Só que atendeu doBeco 5. A equipe – um motorista e doisbombeiros – é a responsável pela áreaque abrange toda a avenida ProtásioAlves, avenida Ipiranga e parte da ave-nida Bento Gonçalves. O foco principalestá no Hospital de Clínicas e no Hospi-tal de Pronto Socorro. O ponto da SCI éestratégico, pois tem grande mobilidadepara auxiliar na prestação de socorro aoutras regiões da cidade.

Aos 45 anos, Fraga conta que prestouconcurso para a Brigada Militar há 20anos na busca de estabilidade. Hoje, estáacostumado com a rotina de chegar às 8hno trabalho, trocar o fardamento e confe-rir se o material na viatura. O sargentorelata que no início não era fácil presen-ciar a cena de um acidente, pois a novi-dade causa ansiedade. O que é natural,já que ninguém está acostumado a lidarcom o sofrimento alheio.

– Não podemos dar bola para os gritos,se a pessoa perdeu uma perna, se tem um

AMEAÇA

AMBIENTAL

Os bombeiros colocam suas vidas emrisco para preservar a integridade e opatrimônio dos moradores da capital

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Legenda para o bombeiro não identificado

morto por perto, pois temos que ir no vivo,tentar salvar. A maior preocupação não é ofogo ou risco de morte, é o tempo–respos-ta para diminuir a angustia dos envolvidos– afirma.

Enquanto o telefone não toca, a aten-ção do bombeiro é desviada para a parteadministrativa que envolve ogerenciamento do pessoal. Nem tudo étrabalho. Em maio de 1998, viajou paraDurban, na África do Sul, para participardos Jogos Mundiais dos Bombeiros. Suaequipe conquistou o primeiro lugar nacategoria salvamento veicular, segundolugar em salvamento em altura e quartolugar na técnica de combate a incêndio.O que compensou o investimento finan-ceiro pessoal para participar da competi-ção,

A corporação também atua no resgatede potenciais suicidas.

– Vamos do céu ao inferno em segun-dos, caso a técnica de salvamento falhe– afirma.

O sentimento de solidariedade tambémnorteia o soldado Cézar Malet Rodrigues,de 27 anos, é natural de Alegrete. Ao com-pletar a maioridade entrou para o exérci-to. Aos 25 fez curso para bombeiro se-guindo a orientação de amigos. Há qua-tro meses atua na SCI da Silva Só como

motorista. O desejo era estar na linha defrente, mas como era o único do grupocom habilitação, acabou desempenhan-do a tarefa.

– Quando toca o alarme não pensamosmuito. Precisamos do nome da rua e doitinerário para fugir do trânsito congesti-onado – diz ele.

No verão, o soldado teve a oportuni-dade de trabalhar como salva–vidas napraia de Imbé. Enquanto esperava a tro-ca de turno ouviu um colega gritar “deu”,palavra que abrevia a necessidade deprestar resgate a uma pessoa que está seafogando. O soldado correu em direçãoao mar e encontrou uma mulher e o filhoabraçados tentando sair de um buracoque causava repuxo. A operação teve re-sultado positivo e dois dias depois, asvítimas foram até a guarita agradecer porsuas vidas.

– Esses momentos marcam a vida dagente e me fazem sentir vontade de per-manecer nos bombeiros, seguir carreirafazendo concurso para subir de cargo –relata o soldado Malet.

Na busca de estabilidade, o soldadoDaniel Cardoso Nunes, 25 anos, tambémprestou concurso para a BM. A opção foipelo corpo de bombeiros. A motivaçãonão foge à regra dos colegas: serviço

mais tranqüilo em relação ao policiamen-to de rua. Vindo de Arroio Grande, sen-te–se decepcionado com a perspectivade carreira, pois teria que esperar maiscinco anos para poder prestar prova paraser 2º Sargento. Nunes alega que não temesse tempo todo para esperar, ainda maisque a remuneração é baixa. O soldadoafirma que enquanto estiver nacorporação dará o melhor de si, pois quan-do sai para o combate todas as preocu-pações desaparecem.

– É gratificante saber que todo mundoespera a tua chegada. Quanto mais cedochegamos, menos prejuízo a pessoa vaiter, sem falar nas vidas que podem sersalvas – declara o soldado.

O descontentamento com o plano decarreira da corporação é uma preocupa-ção da tropa. Eric Souza, de 26 anos, ébombeiro há dois anos e sete meses e jáse arrepende de ter largado a faculdadede direito na Universidade de Santa Ma-ria, para ser brigadiano.

– O salário é baixo e não tenho con-dições de manter uma casa em PortoAlegre. O alojamento não tem confortonenhum, por isso todo dia após o expe-diente, pego um ônibus e volto paraSanta Maria, o que é muito cansativo –desabafa.

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Bolachõesdão o tom

88888LUCIANA BORBA

Os LPs retornaram às lojas do Brasile do mundo. Os bolachões deixaram deser objetos de colecionadores e hojeestão na casa de qualquer amante de boamúsica. E essa triunfante reconquistado mercado fonográfico já era esperada.Não aconteceu do dia para a noite. Deacordo com a mais recente pesquisa daNielsen SoundScan - instituição quemonitora a movimentação das vendas deCDs e LPs no mundo todo -, cerca de 1,5milhão de discos de vinil foram compra-dos em 2008. Em 2007, já haviam batidona casa de 1 milhão. Ao mesmo tempo,segundo a Associação da IndústriaFonográfica da América (RIAA), oconsumo do CD caiu 17,5% durante omesmo período. Para Getúlio Costa,dono da loja Boca do Disco, no centro dePorto Alegre, os números são novidade,mas a redenção dos bolachões não.

- Sempre afirmei para meus amigos:um dia o LP vai voltar a vender. Vaiultrapassar o CD. E a profecia secumpriu. Hoje, sai mais LP importadoque CD nacional aqui na Boca - afirmaCosta, um entusiasta do vinil.

AMEAÇA

AMBIENTAL

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Jogado às traças num passado recente,o vinil é artigo de luxo e reconquistagravadoras e lojas

Ele criou a loja no início dos anos 80,inspirado na paixão pelo rock and rollsessentista, e nunca abandonou osdiscos empoeirados.

- Nos anos 90, enquanto as outraslojas da cidade foram largando o vinil epassando unicamente a comercializarCD, eu permaneci vendendo, comprandoe trocando discos - orgulha-se Costa.

Um dos seus principais clientes éRoberto "Beto" Bruno, vocalista dabanda Cachorro Grande. Fanático porLPs, ele possui uma coleção com maisde 800 títulos, e não deixa de escutarThe Beatles e Rolling Stones com oáudio original da época.

- É uma maravilha, cara. O som éde primeira e a parte física tambémconta muito. O encarte do CD épequeno e sem graça. Já no vinil vocêpode tocar, mexer e tal, pois é bemmaior. Alguns vem até com pôsteres eencartes incríveis - comenta Beto.

Ele não deixa de ressaltar qual é seugrande sonho como músico:

- Quero lançar um álbum da Cachor-ro nesse formato clássico. Na verdade,é um desejo de toda banda. Todos sãofãs do vinil.

O sonho de Beto Bruno já setornou realidade para Thom Yorque,vocalista e compositor doRadiohead. Em 2008, a banda lançouo álbum "In Rainbows" em MP3,CD e vinil. Em recente entrevistapara a revista americana RollingStone, ele disse:

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- O CD e o MP3 são muito limita-dos em relação ao LP. O vinil teproporciona qualidade estupenda deáudio e visualmente é magnífico. OMP3 não existe fisicamente e o CDestá com os dias contados.

Quem estava com os dias contados,na verdade, era a única fabricante de

“Eu quero lançar um

álbum da Cachorro nesse

formato clássico.

Na verdade, é um desejo

de toda banda. Todos são

fãs do vinil”.BETO BRUNO,

DA BANDA CACHORRO GRANDE

Tirandoa poeira do vinil

Não é preciso correr até um sebo e seengalfinhar em prateleiras quase semprepoeirentas. Existem lojas quedisponibilizam vasto catálogo pela Web eenviam o LP com garantia total para todoBrasil via Correios. Confira algumas lojas:

Boca do Discowww.bocadodisco.com.br – Loja dePorto Alegre, no RS. Destaque para asraridades do rock sessentista.

Stoned Discoswww.stoneddiscos.com.br – Loja dePorto Alegre, também no RS. Lá, os discosmais procurados são de Elvis Presley eChuck Berry.

E–baywww.e–bay.com – Famoso siteamericano de venda de produtos pelaInternet. Tem de tudo, do Hip–Hop ao Folk.

Mercado Livrewww.mercadolivre.com.br – Site devendas de produtos pela Internet. Possuivariedade semelhante ao E–bay. É precisoficar atento com os golpistas. Acesse ohistórico do vendedor e veja se ele temboas referências.

LPs no Brasil, a Polysom,de Belford Roxo, no Rio deJaneiro. Funcionando emcondições precárias desde1999 e atolada em dívidascausadas por má administra-ção, agora a Polysom comemo-ra o renascimento do formato.Devido à grande procura dosbrasileiros por LPs, a grava-dora DeckDisc(www.deckdisc.com.br)comprou a fábrica de BelfordRoxo e agora lançará álbunsde artistas de seu cast, comoPitty e Dead Fish, também emvinil.

- Produziremos LPs deponta, com a mesma qualidadedos discos importados e porum preço bem menor. Hoje umLP novo, produzido na Ingla-terra ou nos Estados Unidoscusta em torno de R$ 100, osda Polysom custarão R$ 60 -afirma João Augusto, presi-dente da gravadora Deckdisc eagora proprietário da fábricade vinis Polysom.

LPs no Brasil, a Polysom, deBelford Roxo, no Rio deJaneiro. Funcionando emcondições precárias desde1999 e atolada em dívidascausadas por má administra-ção, agora a Polysom comemo-ra o renascimento do formato.Devido à grande procura dosbrasileiros por LPs, a grava-dora DeckDisc(www.deckdisc.com.br)comprou a fábrica de BelfordRoxo e agora lançará álbunsde artistas de seu cast, comoPitty e Dead Fish, também emvinil.

- Produziremos LPs deponta, com a mesma qualidadedos discos importados e porum preço bem menor. Hoje umLP novo, produzido na Ingla-terra ou nos Estados Unidoscusta em torno de R$ 100, osda Polysom custarão R$ 60 -afirma João Augusto, presi-dente da gravadora Deckdisc eagora proprietário da fábricade vinis Polysom.

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azul88888AMANDA MONTAGNA

O dia é 11 de dezembro de 1983. Ne-nhum gremista esquece desta data, nemmesmo aqueles que sequer eram nasci-dos. Após 80 anos de fundação, o Grê-mio Futebol Porto-Alegrense conquistoua taça mais importante de sua história: otítulo do Mundial Interclubes. A partir deagora a façanha pode ser vista e revistaeternamente com o lançamento dodocumentário "1983 - O Ano Azul", pro-duzido por Carlos Gerbase, GustavoFogaça e Augusto Mallmann.

O Grêmio chegava a esta decisão pelaprimeira vez. O adversário era a forte equi-pe alemã do Hamburgo, com jogadores jáacostumados a disputar grandes tornei-os, e que tinha na frieza e calma de jogaruma de suas principais características.Com este currículo, o time chegou ao Ja-pão como favorito ao título. Mas, comose sabe, o tricolor gaúcho não queria sercoadjuvante nesta história e, aos 38 mi-nutos do primeiro tempo, Renato Gaúchomarcou 1 a 0 para o Grêmio. O empate doHamburgo veio aos 41 minutos do térmi-no da etapa complementar, com gol deSchröder. Na prorrogação, brilhou maisuma vez a estrela de Renato. O ponteirogremista marcou logo aos 3 minutos, emjogada genial. Com garra, o Grêmio segu-rou o resultado e sagrou-se campeão domundo.

O "Ano Azul" revive os momentos queantecederam a partida e traz depoimentosde jogadores que estavam em campo navitória por 2 a 1. Entre eles, Renato Gaú-cho, o melhor jogador do elenco. "Quemé gremista, quem é campeão do mundo,

AMEAÇA

AMBIENTAL

Documentário conta a saga da conquista da CopaLibertadores e do Mundial de 1983 pelo Grêmio

O ano

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tem que conhecer essa história", anunciaRenato. Para Fábio Koff (ex-presidente doGrêmio), outros títulos virão, mas o pri-meiro será sempre lembrado como o maisimportante.

Diretor e roteirista da geração de cine-astas gaúchos surgida nos anos 80 egremista fanático, Carlos Gerbase é inte-grante da Casa de Cinema de Porto Ale-gre, professor, escritor e músico (ex-vocalista da banda Replicantes para quemnão sabe). Dentre as obras mais conheci-das destacam-se Verdes Anos (1984), To-lerância (2000), Sal de Prata (2005) e 3 Efes(2007). Nesta entrevista, ele descreve de-talhes deste novo trabalho.

Como surgiu a idéia do filme? Foi umaproposta do Grêmio, ou fazia parte dosteus projetos pessoais?

A idéia surgiu em 2006, por iniciativa dadiretoria Paulo Odone. Eu já havia feitoum vídeo para o Grêmio - "Coração e Raça"- em 1997. Queríamos lançar em dezem-bro de 2008, no dia do aniversário de 25anos, mas acabou atrasando, e só lança-mos agora.

Como ocorreu o desenvolvimento da pes-quisa (acesso ao acervo) e o processo defilmagem?

Foram quase 20 entrevistas, em 2007 e2008, algumas delas feitas fora do Esta-do. Depois, houve um processo de pes-quisa de imagens - vídeos, jornais,internet, memorial do Grêmio e outras fon-tes. Por fim, um longo pro-cesso de edição, que levouseis meses.

Quais foram as principaisdificuldades para a realiza-ção do documentário?

Havia poucas imagensem movimento do jogo, alémdo próprio jogo, é claro. Aspoucas que existiam eramde má qualidade técnica.

Você acredita que o filme"Inacreditável - A Batalha dos Aflitos", oprimeiro a fazer sucesso, abriu um filãopara filmes do gênero?

Sem dúvida. É um filme pioneiro.

"Inacreditável" bateu recordes de au-diência contando a história de um re-torno à primeira divisão. Já "O Ano

Azul" retrata a conquista de um títu-lo mundial, mais importante. Apesardisso, você acredita que tem tanto po-der dramático quanto o anterior?

Não. É um título que faz parte da histó-ria do Grêmio, é muito dramático, mas nãotem o poder de mobilização do torcedorque o "Inacreditável" teve. Acredito, emcompensação, que "1983 - O Ano Azul"será vendido por muitos anos daqui parafrente. Não perderá a atualidade nunca.

A proposta inicial do documentário erabuscar um resgatejornalístico do fato ou focardiretamente o sentimento dotorcedor gremista? Algunscríticos disseram que o fil-me é unilateral por não ouviro outro lado.

Essa idéia de "ouvir ooutro lado" só pode ser dequem não conhece o ramo,o mundo do documentáriode esportes, nem a manei-ra como esses filmes sãofeitos. Nosso orçamento

era muito limitado, tínhamos seis diá-rias para gravar todas as entrevistas.Queríamos emocionar o torcedorgremista e ainda contar histórias iné-ditas, ou seja, ter um lado documen-tal. Fizemos exatamente o que foi pla-nejado, tanto pelo Grêmio, quanto pelaequipe do filme.

Você comentou que o filme traz à luzmuitas novidades. Pode destacar alguma?

O desentendimento entre PauloCésar Lima e outros jogadores do Grê-mio, principalmente Renato Gaúcho,resolvida com muita sensibilidade einteligência pelo Espinosa (ValdirEspinosa, técnico do Grêmio).

E alguma destas novidades te surpreen-deu como gremista?

Sim. Mas eu já tinha pistas da maio-ria, como a multa de Renato. (Há pou-cos dias da decisão, numa entrevista àESPN, Renato contou que o Grêmio ha-via lhe multado em 40% do salário. Ojogador fez então uma proposta a Fá-bio Koff: se ele não fizesse nenhumgol no Mundial, aceitaria a multa. Seele fizesse um gol, ganharia 40% deaumento. Se fizesse dois gols, ganha-ria 80%.)

Ser gremista fanático ajudou ou atrapa-lhou na hora de relatar fielmente os fa-tos?

Ser gremista ajuda em qualquer si-tuação

Qual a recordação que tu tens da con-quista?

Nunca fui dormir tão feliz. Lembrei domeu pai, que morreu um ano antes, e queera ainda mais fanático do que eu souatualmente.

leganda das fotosgremistas. time posado,abaixo, de leon com ataça e momento do chutede renato gaúcho parafazer o primeiro golgremista

“1983 - O AnoAzul" serávendido pormuitos anosdaqui parafrente. Nãoperderá aatualidadenunca”.

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88888CLÁUDIA LORSCHEITTER

O Western surgiu com filmes de aven-tura, no início do século 20. A obraintitulada O grande roubo do trem, de1903, foi considerado o primeiro filme dogênero, que retratou a luta entre o bem eo mal, além de explicitar a figura do índiocomo personagem irracional e selvagem,e ao mesmo tempo um re-presentante da dignidadeamericana.

Uma das característicasvisíveis do gênero é a his-tória que, prioritariamente,narra o conflito entre a lei eos foras da lei. O ambienteé outra particularidade quedeve ser ressaltada. As fil-magens ocorrem no oestedos Estados Unidos, naspradarias e montanhas.Além disso, o período his-tórico é definido entre osanos de 1850 e 1900.

Um dos principais representantes dogênero é o diretor John Ford. O longa Notempo das diligências, da década de 30,foi seu primeiro filme a ter destaque. Foicom este filme, que o ator John Wayne

CINEMAClássicos do

leganda das fotos gremistas. time posado, abaixo, de leon com a taça e momento do chute de renatogaúcho para fazer o primeiro gol gremista

à linguagem cinematográfica. O gênerofoi o primeiro a gravar em lugares exter-nos.

O pesquisador paulista na área de ci-nema, literatura e cultura, Leonardo Cam-pos afirma que o western foi fonte de ins-piração para muitos filmes de samuraisjaponeses, indianos, russos e mexicanos,e salienta:

– Hollywood imortalizou a imagem decowboy ao criar o tipo vestido com cole-te folgado, chapéu de abas, lenço no pes-coço e portando um revólver num coldre,geralmente de couro.

Os cowboys normalmente tem destinocerto nos filmes de Western. Ou eles seri-am os vilões incorrigíveis, ou seriam osapaixonados que deixam de ser vilões embusca do amor da heroína. Já os heróistambém têm relações muito demarcadas.Os personagens podem ser devotos aoseu cavalo ou os protetores da honra epureza de suas irmãs.

O Western entrou em fase de satura-ção após a Segunda Guerra Mundial. Asnarrativas foram se tornando repetitivase as limitações caracterizadoras do gêne-ro fizeram com que os filmes de faroestefossem se tornando desatualizados e como tempo desaparecessem.

Westernsaiu do anonimato para ser consideradoum dos principais atores da história docinema. Outro filme marcante foi lançadono fim da carreira de Wayne. O longa éintitulado Rastros de Ódio.

O professor do curso de Cinema daUniversidade Federal de Santa Catarina,criado em 2003, Jair Fonseca ressalta aimportância do Western para o cinema.

– O gênero é muito im-portante para a históriado cinema, por vários mo-tivos. Um deles é a po-pularidade. Os filmes defaroeste são conhecidosmundialmente, e isso é nomínimo estranho, pois eletem em suas característi-cas diversas limitações,como os Estados Unidoscomo cenário, e mesmoassim, despertou interes-se do mundo inteiro. Ogênero tem papel funda-

mental no imaginário das pessoas, prin-cipalmente, do público masculino, querepresenta a maioria dostelespectadores.

Outra revolução causada pelo Westernna historiografia da sétima arte refere-se

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88888CLÁUDIA LORSCHEITTER

Imagine como é aprender a escrever ede repente ter de reaprender tudo nova-mente? Muitos brasileiros, especialmen-te as crianças, estão passando por estasituação com a implantação do acordoortográfico.

No colégio de Ensino Fundamental eMédio, La Salle, em Esteio, Região Me-tropolitana de Porto Alegre, no Rio Gran-de do Sul, as novas regras já estão sendoadotadas. A Supervisora Educativa daescola, Denise Targa, 40 anos, afirma queo grupo de professores das séries iniciaisjá tem a disposição o material atualizado,em caráter informativo. Mas ressalta:

– Nós não vamos exigir do aluno queele utilize as novas regras nesse períodode transição. Estamos, por enquanto, ape-nas mostrando como era antes e comoficou após a reforma.

Nas séries mais avançadas e no Ensi-no Médio estão sendo utilizados ma-nuais com dicas das principais mudan-ças. Além disso, no site do colégio épossível fazer o download de um polí-grafo com o acordo ortográfico comple-to. Para que o aprendizado não perca aqualidade nesse momento em que atéprofessores estão em dúvida de comoescrever determinadas palavras, Deniseexplica que a escola tem uma estratégia.

– O colégio irá oferecer um curso paratodos os professores, para que eles te-nham uma preparação mais específicaquanto a essas regras – ressalta asupervisora.

As alunas Paula Betiatto, 10 anos, ePauliana Mior, 11 anos, ambas da sextasérie, têm opiniões diferentes sobre o as-sunto. Paula afirma que terá dificuldades,

ORTOGRAFIA Idéia ou

ideiapois está acostumada com as regras anti-gas. Já Pauliana acredita que não será tãocomplicado, pois aprendeu a falar outraslínguas e acredita ter facilidade para ab-sorver mudanças.

Catiane Medeiros Emerich, 35 anos, émãe de um aluno da primeira série. Elanão demonstra grande preocupação,pois o filho teve contato restrito com asregras antigas. No entanto, revela apre-ensão:

– Em casa ele já possui uma coleção degibis. Eu terei que atualizar nosso acervoparticular, para que ele não aprenda naescola de um jeito e veja em seus livros aspalavras escritas de outra maneira.

Já na Escola Estadual de Ensino Mé-dio Cônego José Leão Hartmann, deCanoas, também da Região Metropoli-tana de Porto Alegre, a situação é dife-rente. A vice-diretora, Dar-lene de Paula dos Santos, 38anos, afirma que o materialutilizado em sala de aula, for-necido pelo Ministério daEducação, não está atualiza-do. Mesmo assim, a escolanão deixa de trabalhar com asregras novas.

– Cada professor está pro-duzindo um material especialcom as novas regras, para osalunos não perderem tempo,explica a vice-diretora.

Além disso, os profissionais participa-ram de encontros com a professora delíngua portuguesa, Vera Regina Vila Nova,disponibilizados pela escola, para que osprofessores se qualificassem.

Além das crianças, os futuros univer-sitários também estão em uma situaçãodifícil diante do vestibular.

O professor de literatura do Objeti-vo Vestibulares, Altair TeixeiraMartins, 34 anos, afirma que procuraescrever nas aulas sempre de acordocom as novas regras. Além disso, oprofessor diz que os vestibulandosdeste ano estão mais confortáveis,pois a maioria das universidades ain-da aceita as regras antigas, como é ocaso da Universidade Federal do RioGrande do Sul.

Martins acredita que a evolução dalíngua é algo natural e que já faz algumtempo que as regras estavam oscilan-tes.

– As diferenças culturais não depen-dem da grafia. Não acredito que a cultu-ra do paí se perca com as mudanças, ex-plica o professor.

O acordo ortográfico entrou em vi-gor em janeiro desteano. No entanto, até ofinal de 2012, as duasescritas serão aceitas.E quando somente asregras novas estiveremem vigor, o que fazercom as inúmeras publi-cações existentes?

O coordenador edito-rial da Editora UFRGS,Paulo Silveira, 51 anos,afirma que as publica-ções produzidas pela

editora que estejam na segunda oumaior edição, estão mantendo a lingua-gem antiga. Ele explica que o processode reedição requer muito trabalho, tem-po e dinheiro. Sendo assim, a publica-ção das obras iria atrasar e consequen-temente os alunos ficariam sem materi-al didático nas salas de aula.

Até o final de 2012, as duas escritas serãoconsideradas corretas. Mas até lá, comoas escolas privadas e estaduais estarãoplanejando esse período de transição?

“Asdiferençasculturais nãodependemda grafia.”

Professor de literatura,Altair Teixeira Martins

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88888AMANDA MONTAGNA

Vestindo um paletó surrado, com de-senhos em caneta hidrocor, e as unhaspintadas de roxo. É assim que FabrícioCarpinejar se apresenta para um bate-papo em Canoas, durante a Feira do Li-vro da cidade. As crianças, curiosas,olhavam desconfiadas. Mas logo enten-deram que estavam diante de um poetaem pleno processo de criação. Carpinejarprende a atenção dos jovens utilizandoa fantasia como estratégia para fazer arealidade emergir com mais força. Poeta,blogueiro, jornalista. Exótico, feio,performático. Gaúcho, talentoso e sedu-tor. Entre os adjetivos que reserva a simesmo e outros que lhe são atribuí-dos, transita sem se atrapalhar. Masantes de qualquer coisa, é um criadorde imagens. Carpinejar utiliza as pala-vras para soprar ao leitor, masculinoou feminino, a pujança da vida. Sua

PERFIL

Um poeta com fome de

Fabrício Carpinejar utilizaas palavras para soprar aoleitor a pujança da vida

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A professora de alfabetização, que qua-se desistiu do aluno que só tirava D nosditados, deve olhar com orgulho o rol deprêmios que vem conquistando. “Eu cho-rava em cima do telhado de casa. Um diao papel secou e comecei a entender aspalavras. Até hoje não sei se elas me es-cutam.” conta Fabrício em “Biografia deum poeta com a intromissão do autor”,publicada em seu site. Carpinejar contaque se fez poeta pelas deficiências. Aosofrer gozação na escola, aprendeu a sedefender defendendo os outros.

– Quando havia algum colega sendodiscriminado, me tornava seu melhor ami-go. Estar do lado mais fraco é poesia –afirma.

Desde 2004, é editado pela BertrandBrasil por onde lançou Cinco Marias (po-emas), Como no céu/ Livro de Visitas(2005, poemas e prosa poética), O AmorEsquece de Começar (2006, crônicas),entre outros mais recentes – sendo esteúltimo uma compilação de textos a partirdo seu blog na internet. Mantém ainda acoluna semanal Consultório Poético, nosite da revista Superinteressante. E juraque não tem medo de ser lembrado comocolunista dos corações solitários. O poe-ta acredita que a internet é o suporte idealpara a contundência e para a concisão doverso, mas lamenta que a rede esteja in-festada de pseudônimos. Pai de dois fi-lhos, lançou, em 2007 “Meu Filho, MinhaFilha”, onde busca resignificar a figurapaterna na atualidade. A partir de um lon-go poema conversado, a obra lança umolhar lírico sobre a nova composição dafamília moderna – feita de várias casas,de finais de semana alternados, da pre-sença de madrastas e padrastos – , emque a educação rígida cedeu ao diálogo,em que as cobranças são mais naturais econstantes, em que os pais são tão crian-ças desnorteadas quanto suas própriascrianças.

– A paternidade me fez querer ser filhode novo – comenta.

O poeta segue desafiando rótulos, bus-cando apagar o estigma de que a poesia édifícil e pouca lida. Carpinejar é filho cons-ciente destes tempos de esbanjamentopropondo novo paradigma: utilizar e con-sumir o necessário sem perda de qualida-de. Assim também lida com os vocábu-los, trançando-os com a destreza de quemjá nasceu poeta e a cada dia cresce, formae transforma a sua poesia. E deixa claro:literatura não substitui a vida.

– Escrever só me dá mais fome de viver.

fala desenha, esculpe e traça contor-nos com uma narrativa que, através demetáforas e brincadeiras, aborda oamor, família, esperança, temas da suaobra literária.

– Narrar nossas vidas nos ajuda a nãoesquecer dela – recomenda.

Nasceu em Caxias do Sul (RS), em 1972.Filho dos poetas Carlos Nejar e MariaCarpi, hoje separados, juntou os sobre-nomes em sua estréia poética, As Solasdo Sol (1998). “Mudei o nome para nãodesonrar a família”, brinca. Jovem poeta.Trabalhador da palavra: tendo a inspira-ção por cinzel, esboça poemas enraiza-dos de significados simples e complexos.De vida e de morte. De jogo e de sedução.Poeta premiado: Prêmio Nacional OlavoBilac, Prêmio Cecília Meirelles, PrêmioAçorianos, Prêmio Destaque Literário da46ª Feira do Livro de Porto Alegre, PrêmioFernando Pessoa. E a academia Brasileirade Letras que lhe reserve vaga.

viver

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BOAç Laowai, palavra chinesa usada notratamento informal para designar estran-geiro, dá nome ao relato divertido, in-tenso e delicado de Sônia Bridi, sobre aque talvez tenha sido sua mais fascinan-te missão: fincar a bandei-ra da emissora na distan-te China. Sua jornada porterras asiáticas durou de2005 a 2006 e o resultadoda experiência é este livroreportagem, ou uma aulade jornalismo em forma dediário de viagem.

O espírito aventureiro(como convém a um repór-ter) tirou a corresponden-te internacional da TV Glo-bo da zona de conforto conquistada emanos de trabalho como na Europa e nosEstados Unidos e a colocou diante dosdesafios de montar a primeira base da emis-sora no Oriente e desbravar terrenos ricosem histórias em um país que lentamenterompe décadas de rigidez do regime co-munista.

Com paciência para enfrentar os limi-tes do governo chinês à circulação da in-formação, bom humor para interpretar asdiferenças, e uma narrativa capaz de fazero leitor viajar pelo desconhecido, a repór-ter revela o país. Os temas são ricos e va-riados, passando por política, economia,educação, meio ambiente, tecnologia, tra-balho, energia, agricultura, saúde, costu-mes, tradições, culinária, burocracia, cen-sura, consumo, hábitos de higiene, enfim,a vida na potência chamada China.

As histórias contadas pela perspec-tiva da repórter laowai com alma de via-jante resultam em um livro enriquecedor,no qual a sociedade chinesa é retratadacom respeito e admiração. O cotidiano deSônia e de sua família, o filho Pedro e omarido Paulo Zero, enriquecem os rela-tos. Zero é repórter cinematográfico daTV Globo e assina as fotos do “álbum deviagem”, imagens imperdíveis que com-pletam o livro de 384 páginas, editadopela Letras Brasileiras.

Dica de mestreRosane Torres

Histórias da China

Rosane Torres é jornalistae professora da Ulbra/Canoas

Seja em ruas, viagens, dentro de shoppings centers, ou mesmo nosveículos de comunicação sempre há um anúncio, comercial ou propagandaem busca de atenção. O objetivo é um só: estimular o consumo. Mas, o quechamamos de consumo é muito mais amplo do que o simples ato de adquirirum produto ou serviço. No entanto, a maioria dos consumidores não sabedisso. Em busca do maior esclarecimento dessa população, foi criado hácerca de dez anos o Instituto Akatu. A organização não governamentaltrabalha pela mobilização do consumo consciente, que avalia o impacto doconsumo além de ser voltado à sustentabilidade, explica sua gerente deoperações, Heloísa Torres de Melo. O objetivo central é amenizar problemasambientais, sociais e econômicos gerados pelo aumento populacional e peloconsumo desenfreado. (Cláudia Lorscheitter)

Mais de 4 mil carroças circulam pelas ruas da Capital com animais quepassam sede, fome, e são sobrecarregados de peso. Os maus tratoscontinuam ocorrendo pela falta de orientação e de fiscalização da EmpresaPública de Transporte e Circulação (EPTC). Esse dado deve ser muito maior,pois não existe nenhuma penalidade para quem não se cadastra. Segundo oórgão, na Região Metropolitana existem aproximadamente 8 mil carroças. Acapital é o local preferido dos carroceiros. A equipe responsável pelafiscalização é insuficiente, pois é composta por três agentes. Segundo aEPTC há um trabalho de conscientização junto aos carroceiros orientandosobre condução e o tratamento que o cavalo deve receber paradesempenhar esse papel sem prejudicar sua saúde. (Luciana Borba)

Q U A L Q U E R N O T Í C I A

Que tipo de consumidor você é?

O grande avanço da ciência na área da nutrição transformou o simples atode comer em uma ferramenta poderosa na promoção da saúde. A escolhacerta dos alimentos, disciplina na quantidade do que se come e nos horáriosdas refeições podem ser um dos segredos da boa forma e da felicidade. Maso que fazer quando as roupas já não cabem mais e a imagem vista no espelho

está longe de ser aquela dos seussonhos? Poucos sabem, mas afitoterapia, (utilização de vegetais empreparações de remédios) pode auxiliar

no tratamento de várias doenças,ajuda na manutenção erecuperação da saúde.

Em 92% dos casos deobesidade, a origem é puramente

emocional – afirma médico ortopedista, especialista em emagrecimento, ediretor da clínica de emagrecimento Nuova Vitta, Paulo Sérgio Motta.(Fernanda Paiva)

Plantas medicinais

Maus tratos

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