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CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 15 (02): 2601.1-22 2017 2601.1 REPRESENTAÇÕES DA LUA: UMA INVESTIGAÇÃO A PARTIR DA RELAÇÃO ENTRE ARTE E CIÊNCIA REPRESENTATIONS OF THE MOON: AN INVESTIGATION FROM THE RELATIONSHIP BETWEEN ART AND SCIENCE 1 Josie Agatha Parrilha da Silva, 2 Luzita Erichsen, 3 Roberto Nardi 1 Universidade Estadual de Ponta Grossa: Av. General Carlos Cavalcanti, 4748, Bloco de História e Artes Bairro: Uvaranas. CEP 84.030-900 - Ponta Grossa PR. [[email protected]] 2 Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Ponta Grossa: Av. Monteiro Lobato - Jardim Carvalho, CEP 84016-210, Ponta Grossa PR. [[email protected]] 3 Universidade Estadual Júlio de Mesquita, Campus de Bauru: Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01, Bairro: Vargem Limpa, 17033-360 Bauru SP. [[email protected]] O ensaio apresenta uma experiência realizada para formação de professores no curso de extensão Arte e Ciência na Lua: projetos educativos interdisciplinares na prática docente a partir do tema Lua. Teve como objetivo propiciar vivências interdisciplinares para professores que fornecessem subsídios teórico-práticos de técnicas artísticas sobre a representação da Lua. O curso é parte integrante de uma pesquisa de Pós-Doutorado realizada no Programa de Pós- graduação em Educação para a Ciência e foi desenvolvido numa parceria entre Pró-Reitoria de Extensão PROEX da Universidade Estadual Júlio de Mesquita - UNESP, Campus de Bauru e a Secretaria de Estado da Educação - Diretoria de Ensino - Região Bauru (SEED-Bauru). Propiciamos referencial teórico-prático interdisciplinar ligado a observação e a construção imagética da Lua. Iniciamos nossas discussões a partir das luas galileanas e desenvolvemos técnicas artísticas para subsidiar as representações imagéticas bi e tridimensionais. Os professores puderam vivenciar a interdisciplinaridade a partir da aproximação entre Arte e Ciência e, desta forma, representar conceitos e esquemas mentais sobre o tema Lua. Palavras-chave: Ensino de Ciências; Formação de Professores; Produções Artísticas da Lua. This paper presents an experience for teacher training in the extension course entitled Art and Science in the Moon; interdisciplinaries educational projects in teacher´s practice based on the Moon´s theme. The aim was to construct interdisciplinaries experience to the teachers working with artistical techniques in a theoretical and practical way about the representation of the Moon. The course was an integral part of a post-doctoral research in the Postgraduate Program in Science Education and was developed in a partnership between Pro-Rectory of Extension PROEX OF State University Julio Mesquita UNESP, Bauru´s campus (SEED-Bauru), and the Secretary of State of Education - Board of Education. We give an interdisciplinary theoretical-practical reference to observation and the imaginary construction of the Moon. We begin our discussions from the Galilean moons and develop artistic techniques to support the bi-dimensional and three-dimensional representations. The teachers were able to experience interdisciplinarity from the approach between Art and Science and, in this way, represent concepts and mental schemes on the theme Moon. Keyboards: Science Teaching; Teacher´s Training; Artistic productions of the Moon. INTRODUÇÃO Este ensaio foi desenvolvido a partir do material teórico-prático desenvolvido no decorrer de uma pesquisa de Pós-Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência da Universidade Estadual Júlio de Mesquita - UNESP, Campus de Bauru i .Teve como principal objetivo propiciar vivências interdisciplinares para professores que fornecessem subsídios teórico-práticos de técnicas artísticas sobre a representação da Lua. Para tal, realizamos o curso Arte e Ciência na Lua projetos educativos interdisciplinares na prática docente a partir do tema Lua. Todo material teórico-prático foi elaborado exclusivamente para o curso e encontra-se em fase final de publicação no livro: Arte e Ciência na Lua: percursos na interdisciplinaridade. Apenas um dos capítulos foi organizado a partir de um material já publicado: trata-se do capítulo Lua: as variações dos

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REPRESENTAÇÕES DA LUA: UMA INVESTIGAÇÃO A PARTIR

DA RELAÇÃO ENTRE ARTE E CIÊNCIA

REPRESENTATIONS OF THE MOON: AN INVESTIGATION FROM THE RELATIONSHIP BETWEEN

ART AND SCIENCE

1Josie Agatha Parrilha da Silva,

2Luzita Erichsen,

3Roberto Nardi

1Universidade Estadual de Ponta Grossa: Av. General Carlos Cavalcanti, 4748, Bloco de História e Artes – Bairro:

Uvaranas. CEP 84.030-900 - Ponta Grossa – PR. [[email protected]]

2Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) – Ponta Grossa: Av. Monteiro Lobato - Jardim Carvalho,

CEP 84016-210, Ponta Grossa – PR. [[email protected]]

3Universidade Estadual Júlio de Mesquita, Campus de Bauru: Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01, Bairro:

Vargem Limpa, 17033-360 – Bauru – SP. [[email protected]]

O ensaio apresenta uma experiência realizada para formação de professores no curso de extensão Arte e Ciência na

Lua: projetos educativos interdisciplinares na prática docente a partir do tema Lua. Teve como objetivo propiciar

vivências interdisciplinares para professores que fornecessem subsídios teórico-práticos de técnicas artísticas sobre a

representação da Lua. O curso é parte integrante de uma pesquisa de Pós-Doutorado realizada no Programa de Pós-

graduação em Educação para a Ciência e foi desenvolvido numa parceria entre Pró-Reitoria de Extensão – PROEX

da Universidade Estadual Júlio de Mesquita - UNESP, Campus de Bauru e a Secretaria de Estado da Educação -

Diretoria de Ensino - Região Bauru (SEED-Bauru). Propiciamos referencial teórico-prático interdisciplinar ligado a

observação e a construção imagética da Lua. Iniciamos nossas discussões a partir das luas galileanas e

desenvolvemos técnicas artísticas para subsidiar as representações imagéticas bi e tridimensionais. Os professores

puderam vivenciar a interdisciplinaridade a partir da aproximação entre Arte e Ciência e, desta forma, representar

conceitos e esquemas mentais sobre o tema Lua.

Palavras-chave: Ensino de Ciências; Formação de Professores; Produções Artísticas da Lua.

This paper presents an experience for teacher training in the extension course entitled Art and Science in the Moon;

interdisciplinaries educational projects in teacher´s practice based on the Moon´s theme. The aim was to construct

interdisciplinaries experience to the teachers working with artistical techniques in a theoretical and practical way

about the representation of the Moon. The course was an integral part of a post-doctoral research in the Postgraduate

Program in Science Education and was developed in a partnership between Pro-Rectory of Extension – PROEX OF

State University Julio Mesquita – UNESP, Bauru´s campus (SEED-Bauru), and the Secretary of State of Education -

Board of Education. We give an interdisciplinary theoretical-practical reference to observation and the imaginary

construction of the Moon. We begin our discussions from the Galilean moons and develop artistic techniques to

support the bi-dimensional and three-dimensional representations. The teachers were able to experience

interdisciplinarity from the approach between Art and Science and, in this way, represent concepts and mental

schemes on the theme Moon.

Keyboards: Science Teaching; Teacher´s Training; Artistic productions of the Moon.

INTRODUÇÃO

Este ensaio foi desenvolvido a partir do material teórico-prático desenvolvido no decorrer de uma

pesquisa de Pós-Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência da Universidade

Estadual Júlio de Mesquita - UNESP, Campus de Baurui.Teve como principal objetivo propiciar

vivências interdisciplinares para professores que fornecessem subsídios teórico-práticos de técnicas

artísticas sobre a representação da Lua. Para tal, realizamos o curso Arte e Ciência na Lua projetos

educativos interdisciplinares na prática docente a partir do tema Lua.

Todo material teórico-prático foi elaborado exclusivamente para o curso e encontra-se em fase

final de publicação no livro: Arte e Ciência na Lua: percursos na interdisciplinaridade. Apenas um dos

capítulos foi organizado a partir de um material já publicado: trata-se do capítulo Lua: as variações dos

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intervalos de tempo entre as fases principais da lua e as cores da lua cheia, de Fernando Lang da Silveira

e Maria de Fátima Oliveira Saraiva, elaborado a partir da união de dois artigos dos autores.

Destacamos entre os capítulos os que enfatizam a área de ciências: As representações da Lua: dos

povos sem escrita à Cigoli-Galileo; A Lua na Física e na Matemática; A influência da Lua nos

organismos; O Crateramento Lunar na Educação Básica; Uma Lua tridimensional pela técnica da

Anamorfose. Enfim, o livro descreverá o percurso desenvolvido no curso Arte e Ciência na Lua, em

especial nos aspectos relacionados à interdisciplinaridade, à relação Arte e Ciência e às metodologias

desenvolvidas. A construção/elaboração de todo esse material possibilitou intensas trocas entre os

professores/ministrantes, colaboradores, professores/participantes e pesquisadores. Possibilitou, ainda,

uma vivência interdisciplinar ímpar a partir de um tema abrangente e comum ao nosso cotidiano: a Lua.

O curso foi cadastrado na Pró-reitora de Extensão – PROEX da UNESP e contou com a

participação de professores da rede pública estadual das áreas de Arte, Ciências, Física e Geografia.

Contamos ainda, com a participação de professores de diferentes áreas de conhecimento que ministraram

o curso. Denominaremos estes professores da seguinte forma: professores-participantes (que atuam na

Educação Básica e participaram do curso), professores-pesquisadores (que atuaram no curso como

ministrantes e/ou elaborando material teórico-prático). Desde o início do curso solicitamos que os

professores-participantes do curso observassem e representassem a Lua. A Lua é um dos temas da área de

Astronomia, área que tem uma forte relação com a observação e a representação imagética.

Apresentamos três pressupostos que norteiam nossa compreensão interdisciplinar das

representações imagéticas (dos professores) e sua importância para a Ciência:

1º - Processo de conhecimento como atividade social: pautamos esse pressuposto em Fleck (2010,

p. 82) que afirma: “[...] o processo de conhecimento não é o processo individual de uma ‘consciência em

si’ teórica; é o resultado de uma atividade social, uma vez que o respectivo estado do saber ultrapassa os

limites dados a um indivíduo”. Esse entendimento pautou nossas discussões no decorrer do curso, e

apresentamos o conhecimento sobre o tema Lua historicamente, para que os professores o

compreendessem como uma construção social e não como algo pronto e acabado.

2o - A observação é importante para pesquisas nas áreas de Ciência e da Arte - na Ciência,

colhemos dados pela observação; na Arte desenhamos por meio da observação. Panofsky (2007) defende

que o ponto em comum entre o cientista e o humanista é de que uma pesquisa se inicia com a observação.

Se a observação é importante para a Ciência, faz-se necessário aprimorar essa capacidade.

3o - A representação por meio de imagens é uma forma de apresentar conceitos e esquemas

mentais – A imagem é importante tanto para apresentar conceitos previamente formulados, quanto para

construir novos conhecimentos, tanto na área de Ciências quanto na Arte. Assim, inferimos que a área de

Ciência necessita desenvolver técnicas de representação, afinal a representação faz parte de seus códigos

comunicativos e explicativos.

A partir destes pressupostos, inferimos o valor da imagem para a Ciência e da importância de uma

aproximação com Arte. Discutiremos duas ações fundamentais que permeiam a imagem: observação e

representação.

A maioria dos professores que participou do curso possuía formação em outras áreas que não a de

Arte. Foi necessário apresentarmos diferentes técnicas descrevendo de forma detalhada todo o processo, o

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que propiciou maior compreensão e possibilidades de realização das atividades propostas. Denominamos

essa descrição detalhada de passo-a-passo.

Como faríamos a observação da Lua com telescópio, dedicamos parte de um dos encontros a

explicar o trabalho sobre luz e sombra presente nas características mais marcantes das crateras lunares.

Quando realizamos a noite de observação, a técnica solicitada foi a de lápis ou giz branco em papel preto.

Em relação aos professores de Arte que participavam do curso, estes contribuíram com a

elaboração de diferentes técnicas de representação da Lua. Elaboraram o passo-a-passo e apresentaram ao

grupo as seguintes técnicas: aquarela, pontilhismo e nanquim colorido. Alguns professores elaboraram,

mas não apresentaram suas atividades no formato solicitado, como, por exemplo, a técnica de colagem e

argila.

No decorrer do curso apresentamos técnicas (elaboradas pelos ministrantes do curso ou

colaboradores) para todos os professores participantes. As técnicas selecionadas para a representação da

Lua foram: tridimensional (em isopor com massa e pintura ou apenas pintura); pintura com falso impasto.

Por solicitação dos professores-participantes, apresentamos a técnica de produção de vídeo em movie

maker. Ao nos referirmos às técnicas nos reportamos à essa passagem de Francastel (1987, p. 157)

“Penso que, comparado com os das técnicas, o papel da arte no século XV aparece como absolutamente

preponderante, não foi graças às técnicas, mas graças à arte, que o século XV se desenvolveu e criou

uma civilização a que chamamos o Renascimento”. Compartilhamos com esse autor sobre a importância

da Arte para o século XV e ainda completamos essa ideia argumentado que foi a Arte quem impulsionou

a Ciência no Renascimento. Esse é um dos motivos que explicam porque, ao propormos iniciativas

interdisciplinares, nos reportamos sempre a esse período histórico.

As técnicas artísticas apresentadas no decorrer do curso, tiveram a premissa de valorizar a Arte e

sua relação com a Ciência. Desta forma, estas técnicas propiciaram aos professores desenvolver e

produzir desenhos da Lua numa forma particular de representação. Alguns destes resultados foram

divulgados em duas exposiçõesii que apresentaram os trabalhos a partir de imagens fotográficas. Todos os

passo-a-passo foram disponibilizados no site do Grupo de Pesquisa INTERART - Interação entre Arte,

Ciência e Educação: diálogos e interfaces nas Artes Visuais (ver site:

http://interart2016.wixsite.com/uepg).

Na sequência, apresentaremos o material teórico-prático ligado à representação da Lua

desenvolvido no decorrer do curso. Esse material foi organizado em quatro momentos: Arte e Ciência nas

luas galileanas; Esboço, luz e sombra: primeiras aproximações; a Lua em diferentes técnicas: produções

individuais; A Lua em diferentes técnicas: produções em grupo. O resultado das produções possibilitou

que professores de diferentes áreas pudessem observar e representar a Lua de diferentes maneiras,

aproximando, nestas produções, Arte e Ciência.

ARTE E CIÊNCIA NAS LUAS GALILEANAS

Para iniciar nossas discussões sobre a relação entre Arte e Ciência no tema Lua, nos reportamos a

relação entre Galileo Galilei (1564-1642) e Lodovico Cardi (1559-1613), o Cigoli. O primeiro muito

conhecido pelas suas inúmeras contribuições para a ciência, como: método experimental,

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aperfeiçoamento do telescópio e observações astronômicas. O segundo, Lodovico Cardi, um artista do

renascimento não foi tão reconhecido como outros artistas de sua época, como Caravaggioiii por exemplo.

Esses dois personagens estudaram juntos na Accademia Del Disegno e posteriormente, partilharam

e compartilharam observações telescópicas da Lua e, ainda, elaboraram representações desta no mesmo

período.

Como Galilei estudou pintura, pode realizar com grande precisão esboços acerca da composição e

dos movimentos da Lua. Boa parte do que foi observado, foi registrado tanto em desenho quanto em

aquarelas (Figura 1). Galileo Galilei, além de aperfeiçoar o telescópio, o qual era denominado por ele de

perspicillum (tubo de perspectiva), só conseguiu observar aquilo que seriam as novas descobertas

telescópicas (os 4 satélites de Júpiter, a lua craterada, as nebulosas, as fases de Vênus, a estranha

morfologia do planeta Saturno), graças à sua mente moldada pela perspectiva nos anos da Accademia Del

Disegno. (SILVA; DANHONI NEVES, 2015).

Em 1610, Galileo Galilei, após pacientes observações realizadas com um “tubo de perspectiva”

(perspicillum), aprimorado de pequenos telescópios refratores trazidos recentemente à Veneza por

mercadores holandeses, publica o livro Sidereus nuncius - Mensageiro das estrelas. (SILVA; DANHONI

NEVES, 2015). Em relação à Lua Galileo concluiu que:

- a Lua não era lisa, mas rugosa, possuindo grandes montanhas. Aqui na Terra eram já

conhecidas as violentas forças produtoras de montanhas: o Vesúvio, o Stromboli, o

Etna, Campi Flegrei; eram alguns dos grandes vulcões ativos da Itália e delineadores

de novos relevos ao longo dos séculos.

Figura 1: Representação em aquarela das primeiras observações telescópicas da Lua atribuídas a Galileu Galilei (a) e Lua com

detalhe da cratera (b).

Fonte: Galileu Galilei, 1610.

Em um restauro realizado em 1931 na cúpula da Capela Borguese (Paolina) da Basílica Papale di

Santa Maria Maggiore, em Roma (Itália) ficou evidente a representação de uma Lua craterada. Esta Lua

está aos pés da Madonnaiv (Nossa Senhora), numa representação comum da iconografia cristã. Porém, o

incomum para a época era esta figura imaculada apoiar-se numa lua craterada, pós-copernicana e,

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obviamente, maculada, muito diferente, pois, da lua perfeita, lisa e esférica, apresentada na anteriormente

na iconografia cristã.

O afresco com a Lua craterada foi resultado da amizade entre Cigoli e Galileo, uma vez que

partilharam conhecimentos científicos que contribuíram para essa nova representação artística. O detalhe

da obra de Cigoli são as crateras contidas na Lua: as mesmas crateras como observadas e apresentadas por

Galileo Galilei em seu Sidereus nuncius. As imagens que se seguem ilustram a cúpula (Figura 3) e a

imagem da Virgem, ou Madonna como a chamaremos a partir de agora, com a Lua aos seus pés, é

conhecida como A Assunção da Virgem. (Figura 2). Localizamos uma imagem com mais detalhe,

contudo, está em preto e branco e em posição invertida. (Figura 4)

Figura 2: Madonna de Lodovico Cardi (1610-1313).

Fonte: Silva; Danhoni Neves,2015.

Figura 3: A cúpula de Santa Maria Maggiore, Roma.

Fonte: Silva; Danhoni Neves, 2015.

Figura 4: Detalhe da Madonna de Cigoli.

Fonte: Silva; Danhoni Neves, 2015.

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O livro O Codex Cigoli-Galileo: Ciência, Arte e religião num enigma copernicano (2015)

apresenta uma extensa e detalhada análise na Madonna de Cigoli. (SILVA, DANHONI NEVES, 2015).

Aqui apresentaremos apenas uma comparação destas luas que deram origem à pesquisa. Para isso,

fizemos um recorte de uma das luas de Galileo e da Lua de Cigoli e, em seguida, as deixamos com a

mesma tonalidade para melhor visualizarmos as semelhanças entre estas. (Figura 5). Importante destacar

que a imagem da Lua de Cigoli não tem a mesma nitidez, pois sofreu as intempéries do tempo, bem

como, ficou encoberta durante cerca de 300 anos antes de ser restaurada.

Figura 5: Recorte de uma das luas em Aquarela de Galileo e da Lua de Lodovico Cardi

Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

Para finalizar, destacamos que a Lua, chamada agora Lua de Cigoli-Galileo trouxe uma nova

forma de representação, não mais de acordo com dogmas religiosos e que ia além de simples observações.

Podemos inferir que a Lua de Cigoli-Galileo realizada a partir de observações, estudos, esboços e novas

técnicas, foi resultado de um olhar cientifico a artístico, reforçando a relação entre Arte e Ciência que

marcou o Renascimento.

ESBOÇO, LUZ E SOMBRA: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES

Para que os professores/participantes do curso pudessem realizar as imagens solicitadas referentes

à observação da Lua foi importante apresentar algumas questões referentes às técnicas de desenho. A

primeira questão refere-se à explicação de esboços, uma vez que no decorrer do curso foi solicitado que

os realizassem a partir da observação da Lua. Na sequência, foi fornecida uma explicação mais detalhada

sobre técnicas de sombreamento.

Os dados foram elaborados a partir do livro Materiais e técnicas: guia completo (2008). Porém,

para explicar estes conceitos e técnicas apresentamos, inicialmente, algumas informações sobre lápis

grafite e papel canson, que seriam a base para as atividades a serem desenvolvidas.

LÁPIS GRAFITE: o grafite tem em sua composição a argila e de acordo com a quantidade de

argila e grafite este se torna mais ou menos duro. No século XVIII Lothar Faber criou uma escala de

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graduação de lápis que se tornou internacional e é utilizada até hoje. (MELO, 2008). Quanto maior o

número H (referência à palavra inglesa hard/duro), mais claro e mais duro é o traço e quanto maior o

número B (referência à palavra inglesa black/preto), mais preto e macio será o traço. Existem ainda, as

graduações HB (hard e black), e F (referência à palavra inglesa fine), que apresenta um traço fino e

resistente. Podemos organizar estas graduações do grafite em três categorias, de acordo com o uso do

lápis:

* para escrita são usados os lápis de dureza mediana-HB, F, H, mais conhecidas como nº1, nº 2 e

2½, respectivamente;

* para escurecer ou fazer preenchimentos são usados os lápis mais macios: 6B, 5B, 4B, 3B, 2B, B;

* para o desenho técnico são usados os lápis mais duros: 2H, 3H, 4H, 5H, 6H (ver Figura 6)

PAPEL CANSON: O papel canson é oferecido em diversas cores e gramaturas. É usado para

pintura em geral, e suporta tintas à base de água, de secagem rápida a média. São indicados para aguadas,

aquarela, acrílico, também para grafite, lápis de cor, pastel seco e crayon.

Figura 6: Classificação dos traços de lápis grafite

Fonte: Faber Castell, 2016.

Após os professores obterem informações sobre os materiais apresentamos a explicação dos

termos: esboço e sombreamento.

* ESBOÇO: é um delineamento preliminar, uma concepção inicial de qualquer produção;

* SOMBREAMENTO: não existe um único método para realizar o sombreamento com grafite,

pode ser feito com tracejado de forma livre (7a), com hachuras (7b) ou esfumados (7c) (ver Figura 7).

* Sugerimos para os iniciantes o esfumado realizado com os dedos.

Figura 7: Sombreamento - Exemplos de sombreamentos.

Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2017.

Luz e sombra dão volume e profundidade permitindo uma ilusão tridimensional ao objeto. O

claro e escuro (chiaroscuro), é uma técnica que foi desenvolvida por Leonardo da Vinci no

Renascimento, no século XV. Foi um trabalho inovador que dava extrema importância aos contrastes de

luz e sombra. De acordo com Byinton (2009), Leonardo enaltecia a sombra como principal qualidade

artística de todas as formas. Para o artista, o relevo tridimensional era a primeira tarefa do pintor, pois,

para conseguir a ilusão tridimensional, a luz e a cor deveriam estar subordinadas à sombra.

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Apresentaremos, na sequência, o uso de sombreamento numa cratera lunar, que foi desenvolvida

também por Galileo Galilei ao representar seus primeiros registros telescópicos de observações lunares.

Sombreamento da cratera com grafite:

Para desenvolver o processo utilizaremos como modelo a Cratera Tycho (Figura 8). Utilizamos

como material: papel canson com gramatura 140, lápis 6B, 8B.

Figura 8: Cratera Tycho (86,21 km de diâmetro e 4,8 km de profundidade).

Fonte: Wikipédia, 2005.

As representações que desenvolvermos exemplificam a importância da escala tonal (Figura 9) e

ilustram a importância do claro/escuro em um sombreamento. Os sombreamentos nos desenhos estão

dispostos da direita para a esquerda (incidência da luz) para a obtenção de volume e forma.

A sequência da gradação da escala tonal, que aparece nas imagens, inicia-se do escuro para o

claro e acontece sempre na direção oposta da luz. Na imagem (9a), o sombreamento está muito claro, e na

imagem (9b) percebe-se a ausência de claro/escuro no lado direito da cratera, o que a faz perder

profundidade. Já na imagem (9c) observa-se um sombreamento suave evidenciando pouca profundidade.

O desenho da cratera da imagem (9d) apresenta o uso correto da proporção claro/escuro (luz e

sombra). Observe que nos espaços entre as formas onde a luz não atinge o interior da cratera, a sombra é

bem intensa e escura, dando volume e profundidade.

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Figura 9: crateras - sombreando crateras. Elaborado por [*].

Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2017.

A LUA EM DIFERENTES TÉCNICAS: PRODUÇÕES INDIVIDUAIS

Neste item apresentaremos as técnicas realizadas no curso em seus diferentes encontros. Algumas

destas foram elaboradas pelos professores que participaram do curso. Apresentaremos nessa sequência: 1-

Lua: Pontilhismo em Nanquim, da Profa. Patrícia Ferreira de Assis (participou do curso); 2- Lua:

nanquim colorido, da Profa. Luzia Rodrigues da Silva (participou do curso); 3- Lua: pastel e papel preto,

de Higor Gabriel de Almeida (discente do curso de Artes Visuais da UEPG que contribuiu com o

material, mas não participou do curso); 4- Lua em aquarela, do Prof. Ms Pedro Luiz Padovini

(coordenador da área de Arte da Diretoria de ensino da região de Bauru, em 2016, que participou do

curso).

1. Lua: pontilhismo em nanquim – elaborado pela Profa. Patrícia Ferreira de Assis

O pontilhismo é uma técnica desenvolvida na França, e foi muito utilizada por George Seraut, e

Paul Signac. Consiste em pequenos pontos bem próximos feitos com uma caneta nanquim sobre o papel,

diminuindo ou aumentando os espaços entre os pontos para conseguir o efeito de sombreamento.

Material: lápis 6b, papel canson, caneta preta média 2mm, caneta fina 1mm.

Passo a passo: 1º Escolha uma imagem da Lua; 2º Realize o contorno da Lua com lápis 6B; 3º

Esboce manchas no interior da Lua; 4º Inicie cobertura com pontos no esboço usando uma caneta ponta

média 2mm; 5º Continue o preenchimento da imagem com caneta de ponta média; 6º Para os traços mais

finos, área mais clara da Lua de acordo com a imagem inicial, usar caneta ponta fina 1,0mm. O contorno

da Lua foi feito com a caneta ponta média;7º Finalize a imagem com a caneta ponta fina; 8º Finalize os

detalhes da representação da Lua. (Figura 10):

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Figura 10: Lua - pontilhismo em nanquim (passo a passo). Elaborado pela Profa. Patrícia Ferreira de Assis.

Fonte: Arquivo pessoal das autoras, 2016.

2. Lua em nanquim colorido – elaborado pela Profa. Luzia Rodrigues da Silva

A técnica de pintura em nanquim consiste em umedecer pedaços do papel onde se encontra o

modelo do desenho, e posteriormente pincelar com tinta nanquim que pode ser diluída ou não para se

obter um sombreado.

Material: Nanquim na cor vermelho, amarelo, preto, e branco, pote com água, pote para a mistura

dos nanquins, prato, papel.

Passo a passo: 1º Separe os nanquins nas cores, vermelho, amarelo, preto e branco e o papel

canson; 2º Misture a cor vermelha e amarela para obter a cor laranja; 3º Pinte a área externa na cor

vermelha; 4º Complemente o fundo vermelho com a cor laranja; 5º Acrescente a cor branca; 6º Pincele o

laranja sobre a cor branca e amarela; 7º Misture os tons branco e preto para obter a cor cinza e dar à luz;

8º Forre a Lua com tom cinza escuro próximo ao tom vermelho e ir pincelando com tons cinza claro; 9º

Na superfície da Lua fazer círculos esverdeados de vários de vários tamanhos; 10º Nos círculos

esverdeados pincele tons preto, cinza e branco; 11º Nos círculos esverdeados pincele tons preto, cinza e

branco; 12º De acabamento na lateral superior direita com branco, para melhorar a claridade. (Figura 11)

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Figura 11: Lua em nanquim colorido (passo a passo). Elaborado pela Profa. Luzia Rodrigues da Silva.

Fonte: Arquivo pessoal das autoras, 2016.

3. Lua: pastel e papel preto – elaborado por Higor Gabriel de Almeida (discente do curso de

Artes Visuais da UEPG)

A técnica de giz pastel seco se aplica diretamente sobre o suporte, sem a necessidade de pincel. O

pastel é uma pasta formada por pigmento puro que dá um aspecto aveludado ao trabalho.

Material: Giz pastel preto, giz pastel branco, lápis branco, papel cartão preto.

Passo a passo: 1º Inicie com um círculo branco; 2º Faça então manchas na direita do círculo; 3º

Passe o dedo para esfumaçar o giz; 4º Marque algumas manchas menores; 5º Em duas destas manchas ou

mais, passe linhas para os lados, para dar melhor impressão das crateras (Obs.: não exagerar no número e

nem no tamanho destes elementos); 6º Passe novamente o dedo para esfumaçar os detalhes anteriores; 7º

Agora ao lado esquerdo acrescente uma mancha mais clara com o giz pastel branco; 8º Acrescente

novamente mais algumas crateras com manchas e riscos; 9º Acrescente mais algumas manchas aleatórias

e esfumace com os dedos novamente; 10º Com o giz pastel preto acrescente manchas na parte inferior

esquerda, e algumas menores aliadas a alguns pontos feitos anteriormente;11º Esfumace os detalhes em

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preto;12º Reforce com o branco em alguns lugares para dar maior iluminação e a cratera estará finalizada.

(Figura 12)

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Figura 12: Lua em pastel e papel preto (passo a passo). Elaborado por Higor Gabriel de Almeida.

Fonte: Arquivo pessoal das autoras, 2016.

4. Lua em aquarela – elaborado pelo Professor Ms Pedro Luiz Padovini (coordenador de

Arte da Diretoria de ensino da região de Bauru, em 2016)

A técnica da aquarela consiste no uso de pigmentos diluídos em água, e aplicados com pincel

sobre o papel. Sua característica é a transparência, que exige várias aplicações leves de tinta para se obter

o efeito desejado.

Material: papel canson com gramatura 90, tintas nas cores, azul marinho, azul claro, branco, preto,

amarelo ouro, ocre pincel de cerda macia, godê para as tintas, pote de água.

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Passo a passo: 1º Utilize o pincel para acrescentar mais umidade ao setor circular e inicie a pintura

misturando água com as cores, preto, branco e azul; 2º Utilize o pincel e aplique as tintas sobre o desenho

deixando que a umidade se encarregue das nuances; 3º A maior concentração de tinta será útil para

representar os relevos da superfície lunar. Evite passar o pincel em áreas onde a tinta já se concentrou; 4º

O acaso é o maior aliado nesta técnica. Molhado sobre molhado. A maior concentração de tinta será útil

para representar os relevos da superfície lunar; 5º Se alguma área de tinta não agrade pode secá-la

utilizando algodão ou pano seco; 6º Depois da aplicação da 1ª camada deixe secar deixe a tinta secar e

estabilizar por alguns segundos; 7º Aplique mais algumas camadas de tinta branca para estabilizar as

áreas de brilho; 8º Aguarde a secagem completa do setor circular e prepare o fundo que pode ser pintado

com as combinações das tintas azul marinho e azul claro. Nas últimas camadas acrescente a tinta preta; 9º

Depois de trabalhar sobre o fundo acrescente algumas pinceladas de tinta branca para representar a luz

das estrelas; 10º Alguns detalhes em amarelo ouro e amarelo ocre podem servir para representar parte da

esfera mais iluminada. Aplicação de tinta branca com escova dental para efeitos de constelação. (Figura

13).

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Figura 13: Lua em Aquarela (passo a passo). Elaborado por Pedro Luiz Padovini.

Fonte: Arquivo pessoal das autoras, 2016.

A LUA EM DIFERENTES TÉCNICAS: PRODUÇÕES EM GRUPO

Neste item apresentaremos as técnicas que foram desenvolvidas no curso por todos participantes.

Na sequência: 5.Lua tridimensional em isopor; 6. Lua a partir da técnica de impasto.

5. Lua tridimensional em isopor - elaborado por Josie Agatha Parrilha da Silva

A Lua tridimensional foi desenvolvida a partir do encontro que discutiu a relação da Lua com a

matemática. Foram desenvolvidas atividades relacionadas medidas e a distância entre a Lua com a Terra.

Os professores fizeram com massinha de modelar a representação da Lua e da Terra com a proporção real

das medidas entre elas. E, ao final, a proposta foi de que, a partir das discussões sobre o relevo da Lua,

elaborassem essa representação em uma bola de isopor.

No encontro seguinte, a representação do relevo da Lua nas bolas de isopor, foram discutidas e

analisadas. A pintura destas representações foi realizada a partir da concepção de cada professor sobre as

cores da Lua.

Material: esfera de isopor; cola massa corrida e tinta acrílica nas cores preta e branca.

Passo a passo: 1º Marque as regiões escuras e crateras na bola de isopor; 2º Inicie a perfuração e

aprofundamentos das planícies (partes escuras); 3º Marque e perfure as crateras; 4º Misture massa corrida

e cola e passe em toda a bola de isopor; 5º Crie dois tons de cinza (mais claro e mais escuro) e passe com

a massa ainda úmida; 6º Espere secar e verifique ser ficou na cor desejada; 7º Retoque as cores até chegar

ao resultado final desejado. (Figura 14).

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Figura 14: Lua tridimensional de isopor (passo a passo). Elaborado por Josie Agatha Parrilha da Silva.

Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2016.

6. Lua a partir da técnica de impasto – elaborada por Luzita Erichsen

A palavra Impasto, vem do italiano que quer dizer mistura. A tinta (em particular a de óleo) é

espalhada numa área da tela de forma tão espessa que as marcas de textura se tornam o aspecto da

superfície, áspera e ondulada.

A técnica de textura do falso Impasto consiste na mistura de pó de mármore à cola branca

formando uma massa espessa. Esta técnica é uma simulação da técnica Impasto utilizada em pintura

por artistas famosos como Van Gogh, Jackson Pollock, Leonid Afremov.

Com esta técnica será possível fazer a textura do relevo da Lua e suas crateras. Com o auxílio de

uma espátula espalhe a textura (impasto) na tela formando a Lua e ao mesmo tempo salientando as suas

crateras.

É possível criar uma tela caseira para utilizar como suporte para pintura. O tecido pode

ser lona crua ou tecido de algodão cru. Para preparar a tela misture 500 ml de tinta látex brancos e 100 ml

de cola branca. Espalhe essa mistura sobre o tecido. O ideal é passar com uma trincha, repita a operação e

deixe secar por um dia. O tecido está pronto: corte em pedaços da medida que preferir.

Material: Cola, pó de mármore, tinta nas cores, preto, azul da Prússia, azul escuro, marrom,

branco, laranja, ocre, carmim, espátula, e tela de algodão, pincel nº10 e nº14.

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Passo a passo: 1º Faça uma massa misturando pó de mármore com cola na proporção do ponto de

um bolo de massa pesada; 2º Com o auxílio de uma espátula misture bem a massa. Espalhe a massa para

formar a Lua; 3º Após a secagem, que poderá ser acelerada com secador de cabelos, inicie a pintura com

um pincel chato; 4º Inicie a pintura fazendo o fundo da tela; 5º Faça nuances de sombra e luz misturando

as cores de tinta preta e azul da Prússia; 6º Faça sobreposições de camadas de tinta para obter diferentes e

sucessivos tons claros e escuros; 7º Para um efeito de maior volume (opcional) poderá ser acrescentado

em parte desta massa um pouco de vermiculita (mineral semelhante à mica) dará uma característica mais

áspera na textura. (Figura 15)

Figura 15: Lua com a técnica de Impasto (passo a passo). Elaborado por Luzita Erichsen.

Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2016.

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Além destas técnicas, desenvolvemos ainda, no decorrer do curso, a edição de vídeo a partir do O

Movie Maker, um software gratuito de edição de vídeos da Microsoft. Atualmente faz parte do conjunto

de aplicativos Windows Live, chamado de Windows Live Movie Maker. É um programa simples e de fácil

utilização, para pessoas sem muita experiência em informática e permite adicionar efeitos de transição,

textos personalizados e áudio nos seus filmes. O Software tem uma interface simples que ajuda a realizar

capturas, vídeos, edição e compilação.

Optamos por não incluir o passo-a-passo do Movie Maker, pois, não poderíamos apresentar de

forma adequada o resultado final, uma vez que são imagens com movimento. Alguns vídeos elaborados

no decorrer do curso podem ser visualizados no site do Interart (ver -

http://interart2016.wixsite.com/uepg/videos-imagens).

RESULTADOS FINAIS: PRODUÇÕES DOS PROFESSORES

O material apresentado no decorrer desse texto apresenta algumas das técnicas artísticas

desenvolvidas no curso Arte e Ciência na Lua: projetos educativos interdisciplinares. Além do material

produzido pelos ministrantes do curso foi importante a contribuição dos professores participantes.

Destacamos a importância da imagem para a área de Astronomia. Além disso, tais imagens foram

abordadas a partir de uma visão interdisciplinar, em especial na Arte (Artes Visuais) e na Ciência

(Astronomia). Na área de Arte destacamos importantes questões sobre a forma e, na Ciência, em relação

ao tema. O tema central, recorrente do curso foi a Lua e a abordagem partiu de diferentes áreas de

conhecimento. Contudo, os mecanismos ligados às áreas de Arte (forma) e Ciência (tema), serviram de

base para que os professores pudessem observar e construir/reconstruir suas representações imagéticas.

Importante ressaltar que quando falamos em técnicas artísticas estamos nos reportando às

atividades que requerem conhecimentos teóricos e práticos, além do que cada pessoa/artista, ao

desenvolver sua produção com uma determinada técnica, inclui nesta um processo próprio de criação.

Podemos utilizar o termo apresentado por Walter Benjamin: reprodução técnicav para denominar

as produções realizadas pelos professores a partir destas técnicas. Contudo, essa reprodução não tem o

objetivo de obter produções de Lua próximas ao modelo inicial, e sim, de propiciar subsídios para que o

professor desenvolva diferentes formas de representação da Lua.

Mostraremos alguns exemplos destas representações elaboradas a partir das técnicas apresentadas

para demonstrar que, mesmo a partir de uma determinada técnica, os resultados são diversos. O primeiro

exemplo são representações das crateras, onde apresentamos 4 exemplos realizados pelos professores

(Figura 16). O segundo exemplo são construções tridimensionais da Lua em isopor ou argila, com 10

diferentes modelos criados pelos professores. (Figura 17). E, o último exemplo são 4 representações da

Lua a partir da técnica do falso impasto (Figura 18)

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Figura16: Representação de crateras – elaboradas por 4 diferentes professores no decorrer do curso. Arquivo pessoal dos autores,

2016.

Figura 17: Representação de Luas tridimensionais em isopor - elaboradas por 10 diferentes professores no decorrer do curso.

Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2016.

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Figura18: Representação de Luas com falso impasto – elaboradas por 4 diferentes professores no decorrer do curso.

Fonte: Arquivo pessoal dos autores, 2016.

Das representações acima adotamos a possibilidade de uso do termo reprodução técnica; contudo,

nas propostas aqui apresentadas relacionamos Arte e Ciência no sentido de nossa pretensão em fortalecer

e estreitar esta própria relação. Para isso incluímos um novo elemento: teknè (termo que, em grego,

refere-se etimologicamente à técnica ou arte). Poderíamos apresentar muitas definições para o termo,

entretanto, adotamos o que reporta à teknè como algo que surge da experiência, mas que é baseado no

conhecimento. Desta forma, Arte e Ciência terão agora a teknè como mais um elemento que possibilitará

a aproximação entre ambas, em especial, a partir de uma abordagem que reflita sobre as questões teóricas

e práticas que permeiam o tema Lua.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades de observação e representação apresentadas no decorrer do curso Arte e Ciência na

Lua possibilitaram o desenvolvimento da interdisciplinaridade, partindo da relação Arte-Ciência, mas

abordando aspectos plurais que a envolvem: Astronomia, Matemática, Biologia, Artes Visuais entre

outras áreas do conhecimento.

Os professores que participaram do curso realizaram observações e representações da Lua, a

exemplo de Galileo, os resultados foram visivelmente satisfatórios, além das expectativas. Pudemos

observar que os professores, a partir das técnicas adquiridas, representarmos conceitos e esquemas

mentais construídos anteriormente apenas de forma teórica.

Destacamos o livro O Carteggio Cigoli-Galileo: a troca de correspondência entre o artista de

Florença e o físico de Pisa (2015) que explora esta relação mediante as correspondências entre o artista

Lodovico Cardi da Cigoli e Galileo Galilei acerca da natureza, morfologia e superfície da Lua. Numa

famosa aquarela atribuída a Galileo para seu livro Sidereus nuncius, notamos o detalhe magnífico que

Galileo representa no canto superior da ilustração (Figura 1b), mostrando o jogo do chiaroscuro, num

claro sentido de mostrar a relação causa e efeito: luz e sombra, que permitiu a Galileo fortalecer seu

argumento da natureza acidentada da superfície lunar. (GALILEU GALILEI, 2010)

Galileo faz um grande esforço artístico usando a técnica davinciana da perspectiva atmosférica

para representar o relevo lunar, e a cratera como uma montanha possivelmente similar àquela do Vesúvio.

É o esforço da observação compensado na contingência artística da representação.

Foi essa a ideia que nos moveu na busca do valor da interdisciplinaridade, tanto em sua relação

íntima e última entre Arte e Ciência, quanto em seus aspectos formativos e enriquecedores para ambas as

áreas de conhecimento.

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Ao final deste ensaio, podemos afirmar que atingimos nosso objetivo principal de propiciar

vivências interdisciplinares para professores que fornecessem subsídios teórico-práticos de técnicas

artísticas sobre a representação da Lua. Enfim, nossa perspectiva epistemológica pressupõe a integração

dos saberes, a partir de diferentes áreas de conhecimento, em oposição a fragmentação disciplinar e

visando a busca da totalidade do conhecimento.

REFERÊNCIAS

BYINTON, E. O projeto do Renascimento. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

CAUQUELIN, A. Teorias da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

DANHONI NEVES, M. C. D.; NARDI, R.; SILVA, J. A. P. O Carteggio Cigoli-Galileo: a troca de

correspondência entre o artista de Florença e o físico de Pisa. EDUEM: Maringá, 2015.

FABER CASTELL. Dureza da mina grafite. Disponível em: <http://www.faber-

castell.com.br/54340/Curiosidades/Curiosidades/Como-a-dureza-da-mina-grafite-

expressa/fcv2_index.asp>. Acesso em 10 de jun. 2016.

FLECK, Ludwik. Gênese e desenvolvimento de um fato científico. Trad. George Ott e Mariana Camilo

de Oliveira. Belo Horizonte: Fabrefactum, 2010.

FRANCASTEL, Pierre. A imagem, a visão e a imaginação: objeto fílmico e objeto plástico. Trad.

Fernando Caetano. Lisboa: Edições 70: Lisboa, 1987.

GALILEU GALILEI. Luas em aquarela. Disponível em:

<https://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei#/media/File:Galileo_moon_phases.jpg>. Acesso em

20 dez. 2016.

GALILEU GALILEI. Sidereus Nuncius: o Mensageiro das Estrelas. 3 ed. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian, 2010.

MATERIAIS E TÉCNICAS. Guia completo. Trad. Joana Angélica D´Ávila Melo. São Paulo: WMF

Martins Fontes, 2008.

SILVA, Josie Agatha Parrilha, DANHONI NEVES, Marcos Cesar O codex Cigoli-Galileo: Ciência, Arte

e religião num enigma copernicano. Maringá: Eduem, 2015.

WIKIPEDIA. Cratera Tycho. Foto Nasa. 14 de abril de 2005. Disponível em:

<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Tycho_crater_on_the_Moon.jpg>. Acesso em: 20 jun.

2016.

i Financiado pela CAPES, dentro do Programa Nacional de Pós-Doutorado - PNPD.

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ii Exposição 1 - Exposição Conexão Campos Gerais, realizada no Memorial de Curitiba foram expostos os trabalhos

referentes às fotografias das luas telescópicas e representações da Lua produzidas pelos participantes/professores no

curso foram apresentados sob o título “A Lua na Arte, na Ciência e na Arte-Ciência” (ver link:

http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/agenda/memorial-de-curitiba-exposicao-conexao-campos-gerais).

Exposição 2 - Exposição “A Lua na arte, na ciência e na arte-ciência, realizada entre os dias 20 de março À 16 de abril

de 2017, no Hall da graduação Faculdade de Ciência e FAAC na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho

UNESP de Bauru (ver link - http://www.fc.unesp.br/#!/noticia/306/exposicao-a-lua-na-arte-na-ciencia-e-na-arte-

ciencia/)

Na exposição Conexão Campos Gerais, realizada no Memorial de Curitiba, os trabalhos referentes às fotografias das

luas telescópicas e de algumas das luas produzidas pelos participantes/professores no curso foram apresentados sob o

título “A Lua na Arte, na Ciência e na Arte-Ciência” – ver link:

http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/agenda/memorial-de-curitiba-exposicao-conexao-campos-gerais. iii Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio (1571-1610). iv Será utilizada a denominação Madonna para a figura da Virgem Maria que se encontra no afresco na cúpula da

Basílica de Santa Maria Maggiore, a obra é denominada pelo autor, Cigoli, como “La Vergine Immacolata e gli

Apostoli”. v Termo encontrado na obra: BENJAMIN, Walter (1994), “A obra de Arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, in

BENJAMIN, Walter, Magia e Técnica, Arte e Política: Ensaios sobre literatura e história da cultura. 7.ª ed. São

Paulo: Brasiliense. (Obras escolhidas; v. 1).