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Preço: 100$00 // Quarta-feira, 3 de Abril, de 2019 //Número 905 //Tiragem: 3.000 Exemplares //Director: Humberto Cardoso //www.expressodasilhas.cv //6 - 7 //3 //22 - 23 //15 - 17 PARLAMENTO Regionalização adiada SAID ADEJUMOBI, DIRECTOR DO ESCRITÓRIO SUB-REGIONAL PARA A ÁFRICA AUSTRAL DA UNECA África é a nova fronteira de desenvolvimento Sónia Lopes espera encantar com “Pontas Soltas” //10 - 11 “Quando trabalhamos uma estratégia para o turismo o transporte tem de estar envolvido” Elcia Grancourt, Directora do Departamento Regional para África da OMT DESEMPREGO MANTÉM-SE NOS 12,2% Crescimento da economia sem reflexo no emprego Ser empreendedor é óptimo, mas não é para todos //4 C

Regionalização C Crescimento€¦ · Preço: 100$00 // Quarta-feira, 3 de Abril, de 2019 //Número 905 //Tiragem: 3.000 Exemplares //Director: Humberto Cardoso

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Page 1: Regionalização C Crescimento€¦ · Preço: 100$00 // Quarta-feira, 3 de Abril, de 2019 //Número 905 //Tiragem: 3.000 Exemplares //Director: Humberto Cardoso

Preço: 100$00 // Quarta-feira, 3 de Abril, de 2019 //Número 905 //Tiragem: 3.000 Exemplares //Director: Humberto Cardoso //www.expressodasilhas.cv

//6 - 7

//3

//22 - 23

//15 - 17

PARLAMENTO

Regionalização adiada

SAID ADEJUMOBI, DIRECTOR DO ESCRITÓRIO SUB-REGIONAL PARA A ÁFRICA AUSTRAL DA UNECA

África é a nova fronteira de desenvolvimento

Sónia Lopes espera encantar com “Pontas Soltas”

//10 - 11

“Quando trabalhamos uma estratégia para o turismo o transporte tem de estar envolvido”

Elcia Grancourt, Directora do Departamento Regional para África da OMT

DESEMPREGO MANTÉM-SE NOS 12,2%

Crescimento da economia sem reflexo no emprego

Ser empreendedor é óptimo, mas não é para todos

//4

C

Page 2: Regionalização C Crescimento€¦ · Preço: 100$00 // Quarta-feira, 3 de Abril, de 2019 //Número 905 //Tiragem: 3.000 Exemplares //Director: Humberto Cardoso

Director: António Monteiro Nº 550 • 13 de Junho de 2012 Preço: 100$00

Propriedade: Média Comunicações SA //Director: Humberto Cardoso //Director-Adjunto: António Monteiro//Redacção Praia: André Amaral, Dulcina Mendes, Jorge Montezinho e Sara Almeida //Paginação: Jaime Garcia, Heder Soares//Colunistas/Colaboradores: Adriana Carvalho, Chissana Magalhães, Eurídice Monteiro, José Almada Dias, Manuel Brito-Semedo, César Monteiro //Cartoonista: Yuran HenriqueContactos: PBX: 261 98 07 • Fax: 261 98 08/261 96 91 • Direcção: 261 98 05 • Comercial: 261 98 08/262 27 92 //E-mail: [email protected]; [email protected]: www.expressodasilhas.cv • Sede: Avenida OUA, N.º 21, ASA, Praia – Cabo Verde • CP 666 • Tiragem: 3.000 exemplares • Impressão: Tipografia Santos

Ficha Técnica:

PÁGINA 2 Nº 905 • 3 de Abril de 20192\\

EDITORIAL

A Lei da Regionalização continua em discussão na Assembleia Nacional. Aprovada na generalidade em Novembro de 2018 foi retomada em sede de discussão na especialidade na última reunião plenária de Março findo. Os trabalhos no parlamento foram interrompidos na sequência da não aprovação do artigo 6º sobre os órgãos da Região que exigia uma maioria qualificada de dois terços dos votos. Criou-se um impasse ao não se chegar a consenso em como proceder a partir da queda de um artigo central da lei no que respeita à organização das regiões. Segundo a RTC, o governo na pessoa do ministro dos Assuntos Parlamentares prometeu rever a redacção do artigo sexto “chumbado” e trazer de volta o diploma em Abril. Uma solução inédita e duvidosa, mas não muito diferente do que se tem visto no processo de legislar sobre autarquias supramunicipais, carregado como está de incongruências várias.

Começou-se a querer legis-lar para as regiões há cerca de dez anos atrás. O problema para quem tinha a iniciativa foi sempre conseguir os votos das outras forças políticas e a maioria qualificada necessária para passar a lei ao mesmo tempo que assegurava que fi-cava com todos os louros de ter levado avante a lei e os outros com o estigma de te-rem sido contra. Em 2010, na impossibilidade de convencer

Incongruências na lei da regionalizaçãoa oposição a aprovar uma lei de criação de regiões, o então governo de José Maria Neves fez aprovar o regime de cria-ção de regiões no quadro de uma lei da descentralização aprovada por maioria abso-luta e abstenção e voto contra das outras forças. E ficaram com os louros. Agora com o governo de Ulisses Correia e Silva avança-se com a lei das regiões, mas falta chegar a um acordo com as outras forças políticas em boa parte porque há uma disputa para saber quem tem o mérito da iniciati-va e no processo vai-se fazen-do acusações ou insinuando de que os outros são contra. Apesar de não existirem es-tudos que comprovam um sentimento maioritário da po-pulação a favor da regionali-zação, nem evidência que seja a única via para combater com eficiência e eficácia a excessiva centralização do país, todos os partidos agem nessa matéria como se tratasse do grande prémio eleitoral a conquistar a todo o custo.

Daí as múltiplas incon-gruências que se pode vislum-brar nas propostas apresen-tadas. A primeira que faz de cada ilha uma região, ou seja, uma autarquia supramunici-pal, confronta-se com a difi-culdade de nas ilhas com um único município o território e a população das duas cate-gorias de autarquias coinci-direm. Aparentemente não se está a criar regiões para ganhar escala, aumentar os

recursos materiais e humanos e elevar o nível de actuação. Uma segunda incongruência é criar excepção à regra de re-gião-ilha que tem como base o reconhecimento do percur-so histórico e cultural único de cada uma delas – e por isso força a criação de regiões mesmo em ilhas como Brava e Maio com pequena popula-ção e fracos recursos – para depois criar duas regiões em Santiago com o simples argu-mento do peso demográfico da ilha. Uma terceira incon-gruência que é consequência da segunda vê-se na quebra do princípio da igualdade na representação das ilhas em instâncias de decisão sobre a utilização de recursos do Es-tado como parece consagrar a Constituição de 1992 ao atri-buir ao Conselho dos Assun-tos Regionais, onde as ilhas são igualmente representa-das, competências na emissão de pareceres sobre o plano nacional de desenvolvimento regional e os planos regionais. Depois da revisão constitucio-nal de 1999 e a criação do Con-selho Económico e Social, a lei do Conselho de Desenvolvi-mento Regional aprovada em Julho de 2014 consagrou as mesmas competências e rea-firmou o princípio da igualda-de de representação das ilhas. Uma quinta incongruência é fazer da Praia a sede da região Santiago Sul e nessa condição centro gerador de uma identi-dade da região quando cons-titucionalmente se lhe dá um

estatuto administrativo espe-cial para se assumir em pleno como Capital da Nação.

Finalmente encontra-se uma incongruência de monta entre a intenção de fazer da regionalização o instrumento para criação de riqueza com valorização das especificidades próprias da ilha, potenciação de recursos e desenvolvimento de vantagens comparativas e competitivas e o discurso com enfase na redistribuição dos recursos do Estado pelas ilhas que tem acompanhado toda a agitação política sobre a maté-ria. Diz-se que se quer as ilhas mais autónomas, dinâmicas e voltadas para o futuro, mas de algum modo continua-se a en-corajar e a alimentar reflexos nocivos já profundos nas pes-soas e na sociedade cabo-ver-diana produzidos pelo reciclar de dádivas vindas directamen-te do exterior ou por interme-diação do poder central.

Os ganhos político-elei-torais, com vantagem para quem governa, que os par-tidos irão querer obter logo à cabeça poderá ser o maior obstáculo à substituição nas ilhas da narrativa de ressen-timento de quem até agora se se considerou discriminado pela narrativa de possibilida-de que o empoderamento das regiões deverá criar. Eleitora-lismo e dependência ficaram ligados por demasiado tempo. Custa romper a ligação exis-tente e construir outros laços entre o Poder e a sociedade no pressuposto de que é o suces-

so na promoção do desenvol-vimento para todos que asse-gura uma legitimidade maior e sustentada à governação.

Incongruências várias ca-racterizam políticas públicas em Cabo Verde devido à falta de visão e a ausência de estra-tégia que tem caracterizada a actuação dos governantes du-rante décadas Ao focar a so-ciedade na procura de meios propiciados pelos outros não se deixa espaço para encon-trar via própria de produção de riqueza nem capacidade para aproveitar oportunida-des. Não espanta que os anos passam e não se consegue confrontar adequadamente o problema do desemprego como mostram os últimos da-dos do INE mesmo face a um crescimento do PIB de 5,5%. A governação do país ao lon-go de décadas deixou a maior parte mão-de-obra em secto-res de baixa produtividade, foi incapaz de no tempo pró-prio aproveitar as janelas que se abriram à indústria virada para exportação e criação rá-pida de emprego e não se mos-trou suficientemente visioná-rio para investir na educação de qualidade necessária para a sociedade digital e de co-nhecimento que se anunciava. Incongruências nas políticas públicas levam a isso. Infeliz-mente não há muitos sinais de se querer ir mais além, como se pode depreender das últi-mas discussões na Assembleia Nacional.

Humberto Cardoso

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//3PRIMEIRO PLANONº 905 • 3 de Abril de 2019

O ministro dos Assuntos Parlamentares Fernando Elísio Freire afirmou, sexta-feira última, que o governo vai fazer uma pequena alteração ao artigo 6º para levar o diploma novamente à plenária para discussão na especialidade. “O governo vai fazer uma pequena alteração da redacção que é o que neste momento se impõe fazer para continuarmos neste caminho de diálogo, de muita concertação com todos, porque os diplomas que exigem maioria qualificada são votados pelos deputados dos vários partidos políticos”.

“Todos querem a regionalização”

À TCV Fernando Elísio Freire afirmou que não tem dúvidas que todos querem a regionalização. “O mais im-portante aqui neste momento é que já aprovamos as dez re-giões que queremos em Cabo Verde. A partir daqui são questões de pormenores”. O ministro dos Assuntos Parla-mentares expressou a convic-ção de que já neste mês a lei da regionalização será aprova-da em votação final.

A UCID, sob cuja proposta a lei da regionalização foi sus-pensa na sexta-feira passada, apontou o dedo à bancada do MpD pelo adiamento dos trabalhos. “É claro que nós acreditamos que do lado do MpD não houve uma vonta-de expressa em criar as con-dições para que se pudesse previamente limar todas as possíveis arrestas e encontrar entendimentos para minimi-zar o clima que acabou por ser um pouco tenso nas comis-sões paritárias, o MpD e o go-verno, mais governo, porque é uma proposta do governo”, frisou António Monteiro, co-mentando que esta situação não permitiu alcançar os en-tendimentos necessários para a aprovação da Lei da Regio-nalização na especialidade.

“Por ser uma matéria que exige dois terços acabamos por encalacrar num artigo que não tinha nada de especial, pois tratava-se de um artigo [artigo 6º sobre os órgãos das regiões]. O artigo não tinha nada de especial, mas acaba-mos por encalacrar nesse ar-tigo e nós da UCID acabamos por fazer a proposta para sus-pender os trabalhos para ten-

tarmos criar a possibilidade de encontro para limar as ar-restas para as coisas poderem avançar na próxima sessão”, afirmou.

Propostas da UCID chumbadas

António Monteiro disse a este semanário que a UCID tinha uma série de propostas para melhorar a Lei da Regio-nalização e que a maioria “se-não todas” não foram aceites nas reuniões que antecederam a comissão paritária. “Antes da votação na generalidade a UCID apresentou várias solu-ções que o MpD rejeitou limi-narmente. No início do debate na especialidade pelo menos nos três primeiros artigos em que a UCID avançou com pro-postas não tiveram na votação nem consenso do MpD, nem do PAICV e consequentemen-te foram chumbadas”.

“De qualquer das formas, a UCID entende que mesmo não sendo uma lei ideal é necessá-rio dar um passo em frente e esperamos que o governo es-teja aberto para analisar por-menorizadamente as suges-tões, quer da parte da UCID,

quer da parte do PAICV, para que possamos ter uma lei com menos erros possíveis e que possa servir o país”, ressaltou António Monteiro.

A proposta do MpD para criação de regiões administra-tivas foi aprovada na genera-lidade no Parlamento no dia 26 de Outubro, com votos fa-voráveis de toda a bancada da maioria, de dois deputados da UCID e dois do PAICV.

A comissão paritária (CP) criada para consensualizar as diferentes propostas de re-gionalização reuniu-se terça--feira passada pela primeira vez desde a sua criação, em Novembro do ano passado.

Para o líder da bancada Parlamentar do MpD, Rui Figueiredo Soares, “a comissão paritária está esgotada e a discussão do diploma vai acontecer no parlamento”.

Em resposta, da bancada do PAICV, o deputado João Baptista Pereira chamou a atenção para “o risco de impasse na aprovação do documento”, caso a comissão paritária não funcione.

“Se o MpD acha que não faz sentido ir à CP, então voltare-mos a próxima sessão com os mesmos riscos que estamos a correr, porque como se sabe o chumbo do artigo sobre os ór-gãos deveu-se à imprevisibili-dade com que estamos aqui a legislar, numa reforma funda-mental para o país”, alertou.

A proposta de lei da regio-nalização, apresentada pelo governo, sustentada pelo MpD, é constituída por 65 ar-tigos. Na última sessão do mês de Março foram aprovados 5. O chumbo do artigo 6.º, relati-vo ao capítulo da organização das regiões, impediu o avanço dos trabalhos.

O diploma, que precisa de uma maioria qualificada para ser aprovado, deverá voltar à plenária na primeira sessão de Abril.

Parlamento

Regionalização adiadaA sessão

parlamentar para discussão e aprovação na

especialidade da lei da regionalização,

foi suspensa sexta-feira última por

proposta da UCID que considerou

que o diploma não foi suficientemente

analisado pela Comissão Paritária.

Por sua vez o deputado da

bancada do PAICV, João Baptista

Pereira, chamou a atenção para o risco de impasse na aprovação do

documento caso a comissão paritária

não funcione. Já o ministro dos Assuntos

Parlamentares, Fernando Elísio

Freire, deixou saber que o governo vai

fazer uma pequena alteração do artigo

6º para levar o diploma novamente

à plenária para discussão na

especialidade ainda este mês.

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PRIMEIRO PLANO4\\ Nº 905 • 3 de Abril de 2019

Em Cabo Verde a convite da Embaixada dos Estados Unidos da América, o autor Patrick McGinnis esteve em conversa com jornalistas em evento organizado pela AJOC com o fim de apresentar ideias sobre empreendedorismo no jornalismo.

especialista a falar aos jorna-listas sobre empreendedoris-mo.

“Desta vez pretendemos fa-lar de projectos concretos. A embaixada dos EUA lançou o desafio à AJOC para organizar o encontro e, basicamente, ele falará sobre a sua vasta expe-riência e sobre como montar um projecto de negócio nessa área”, disse o presidente da AJOC, Carlos Santos, ao ini-ciar o encontro.

Classe empreendedora

Considerando que os jorna-listas “já não estão tão atrela-dos ao sector público”, Carlos Santos vê a classe como na-turalmente empreendedora, exemplificando com situações em que as empresas entram em falência e os jornalistas se unem a criam os seus pró-prios projectos editoriais. As-sim, a expectativa era de ouvir Patrick McGinnis apresentar ideias de como estruturar um projecto, como sensibilizar in-

vestidores e alcançar sucesso. As novas tecnologias de

comunicação foram apon-tadas por McGinnis como ferramentas essenciais para aqueles que querem criar con-teúdos que lhes permitam ter sucesso enquanto empreende-dores. Podcasts (conteúdo em áudio, disponibilizado através de um arquivo ou streaming), blogues ou newsletters foram citados como exemplo de fer-ramentas de que os jornalistas podem deitar mão para criar conteúdos pagos pelos consu-midores e/ou patrocinados.

“Nos EUA estamos a meio da transição da indústria tra-dicional das Mídias para um novo modelo. Ainda não sa-bemos ao certo o que vai ser mas, acho que algumas coisas que estamos a constatar é que, primeiro, os jornalistas têm que pensar como empreen-dedores. O jornalista hoje em dia pode ter podcast, blogue… várias formas de comunicar. Têm que ter uma relação di-recta com o público”, obser-

vou McGinnis que também defende que as empresas de Comunicação Social devem investir em inovação.

“Ou seja, pensar quais são as coisas que vão ser impor-tantes no futuro e como po-dem investir nisso”, vincou, acrescentando ainda que as empresas de Comunicação Social devem estar cientes de que o país estará diferente dentro de 10 anos e, com isso em mente, devem começar a traçar a sua estratégia.

“Há 20 anos ninguém re-cebia informação pela inter-net mas, houve mudanças rápidas, temos visto, e isso é graças às tecnologias. Há que aceitar a realidade e trazer as tecnologias aos média”, apon-tou.

Trazer novas tecnologias aos média

Para Patrick McGinnis a mudança abarca também a relação do jornalista com o público, entendendo como

vantajosa a proximidade tra-zida pelas redes sociais e a relação directa criada através do Facebook, Twitter e outras redes.

“Essa relação de proximi-dade e confiança é importante nesse tempo de fake news, etc. Gera credibilidade e confiança entre leitor e jornalista”, con-siderou o autor ressaltando que é importante que os con-teúdos, as notícias, tenham qualidade e credibilidade.

Confrontado com as parti-cularidades do mercado cabo--verdiano, a sua pequenez e os constrangimentos relati-vamente a financiamento, o mesmo aponta a diáspora e a lusofonia como potencialida-des a serem exploradas.

Já o presidente da AJOC reconheceu que a lei cabo-ver-diana para a Comunicação Social apresenta algum cons-trangimento ou limitação a que jornalistas sejam gestores ou administradores de empre-sas de comunicação.

“Mas temos o pacote legis-lativo em processo de revisão, porque não mudar para que o jornalista possa também criar o seu negócio, o seu projecto editorial?”, questionou.

McGinnis, que se destacou a nível mundial ao cunhar a expressão FOMO (fear of missing out), hoje parte do vocabulário do empreende-dorismo, defende que ser em-preendedor é óptimo mas não é para todos. “Principalmente para quem tem uma hipote-ca e filhos pequenos”, disse numa entrevista a uma publi-cação nessa área. Na mesma, o especialista diz ainda que as estatísticas de um estudo conduzido pela Universidade de Wisconsin-Madison mos-traram que as pessoas que se tornaram empreendedoras em part-time tinham 33% me-nos de probabilidade de falhar do que aquelas que deixaram os seus empregos e iniciaram start-ups a tempo inteiro.

Autor do livro “The 10% Entrepreneur: Live Your Star-tup Dream Without Quitting Your Day Job” (Portfolio, 2016), Patrick McGinnis é um antigo quadro de Wall Street que viu a sua vida mudar com a crise que em 2008 fez fechar portas várias grandes empre-sas. A crise foi a oportunidade para mudar a sua perspectiva quanto ao mundo laboral e a partir daí desenvolveu o con-ceito de empreendedor a 10%. Isto é, ser empreendedor ao mesmo tempo que se mantém o emprego, dedicando apenas 10% do tempo e recursos à sua actividade como empreende-dor.

Tendo em conta os desafios por que passam as empresas cabo-verdianas do sector da Comunicação Social e os jor-nalistas, e na linha do evento que tinha realizado em De-zembro do ano passado em que discutiu o financiamen-to do sector privado, a AJOC aceitou o repto da Embaixada norte-americana e convidou o

Especialista em empreendedorismo aconselha jornalistas a aproveitar novas tecnologias

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6\\ PRIMEIRO PLANO Nº 905 • 3 de Abril de 2019

Os indicadores do Mercado de Trabalho de 2018, apresentados pelo Instituto Nacional de Esta-tísticas esta segunda-feira, não são animadores. Não houve um aumento da taxa de desemprego, que se mantem, tal como no ano transacto, nos 12,2%. Mas a esta-tística vai muito além de um úni-co item e o mesmo estudo mostra que há menos 8.775 pessoas em-pregadas. A taxa de emprego/ocu-pação diminuiu e hoje, menos de metade da população activa está ocupada/empregada. Em percen-tagem, esta taxa baixou dos 51,9%, em 2017, para 48,8%.

Quer isto dizer que há mais gente no desemprego? Como re-ferido, os dados mostram que não. Pelo contrário, a população desempregada diminuiu quase 1.400 pessoas.

Vários indicadores têm de ser conjugados. Então: A população

Crescimento da economia sem reflexo no empregoA economia está a

crescer. As previsões do FMI vão nesse

sentido e os dados mais recentes relativos

às Contas Nacionais parecem confirmar e até ultrapassar essas

estimativas (ver notícia ao lado). Contudo, esse crescimento não parece

estar a ter reflexo no mercado do trabalho.

A taxa de desemprego mantém-se nos

12,2% e o panorama piora quando se olha

para o número de pessoas empregadas e pessoas inactivas.

Enquanto a economia cresceu, o que é certo

é que a população economicamente activa

diminuiu.

Sara Almeida

CONTAS NACIONAIS TRIMESTRAIS

PIB terá crescido 5,5% em 2018. Estimativa supera previsão do FMI.

7% é quanto o governo quer que o PIB cresça por ano no fim da legislatura. Em 2017, o aumento real foi de 4%. Entre 4,8% a 5% é quanto o FMI prevê que cresça o PIB em 2019 e 4,7% é quanto essa organização estima que tenha crescido em 2018. Números positivos anteriormente divulgados, sendo que este último, relativo ao ano passado, terá sido superado, tendo em conta os dados das Contas Nacionais. Nos últimos três meses desse ano, o PIB cresceu 7,6% em termos homólogos, diz o INE. Juntando todos os trimestres, tudo aponta para um crescimento anual do PIB na ordem dos 5,5% em 2018, acrescenta-se.

“No 4º trimestre de 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) registou, em termos homólogos, um aumento de 7,6%, em volume. Esta evolução resultou do maior contributo das despesas do consumo das famílias, do Investimento e das exportações. Do lado da oferta, o Valor Acrescentado Bruto (VAB) a preços de base, apresentou uma evolução homólo-ga positiva de 4,7% e os impostos líquidos de subsídios em 24,3%”. É este o resumo que o Instituto Nacional de Esta-tística faz dos dados aferidos nas últimas Contas Nacionais Trimestrais, relativas ao 4º e último trimestre de 2018, di-vulgadas na passada sexta-feira.

São dados que mostram uma taxa superior em 2,6 pon-tos percentuais (p.p.) relativamente à verificada no trimes-tre anterior. E também que a taxa de variação acumulada dos quatro trimestres de 2018 aponta para um crescimento anual do PIB de 5,5%, em volume.

O crescimento da economia teve como principal motor o Investimento que registou “uma variação homóloga positi-va, de 15,1%, em volume, no 4º trimestre de 2018 (7,2% no trimestre anterior)”, mas também o aumento da exportação (+6,2%). Isto do lado das despesas.

No que toca à produção, e conforme explica as activida-des que mais contribuíram para o crescimento foram os Impostos líquidos de subsídios sobre os produtos, a cons-trução e a imobiliária, como referiu o director do departa-mento das Contas Nacionais, João Cardoso.

A Pesca é a actividade que mais se destaca neste cresci-mento (30,6%), enquanto a agricultura continua em queda (-23,2%).

activa aumentou, há menos gente desempregada, mas também há mais gente sem emprego/ocupa-ção. E há mais 17.403 pessoas que entram no indicador “população inactiva”. Quer isto dizer Cabo Verde tem agora 177.560 pessoas em idade dita activa que estão “inactivas”, o que se traduz num aumento da taxa de inactividade de 40,8% em 2017 para 44,4% em 2018.

Na verdade, em 2018 a popula-ção economicamente activa dimi-nuiu em cerca de 10.170 pessoas, relativamente ao ano anterior. E há outros sinais importantes que os dados mostram.

Sem escola, formação, ou trabalho

Três em cada 10 jovens (15-34 anos) não tinha trabalho e nem estavam a frequentar um estabelecimento de ensino ou formação, no ano de 2018. Este é um dos dados mais relevantes deste “Indicadores do Mercado de Trabalho” do INE, destacado, aliás, pelo próprio instituto.

Estamos a falar de 29.967 jo-vens com 15-24 anos e 32.163 com 25-34 anos, o que representa em ambos os casos 30% do total de cada uma dessas faixas etárias.

A proporção de jovens sem em-prego e fora do sistema educativo e de formação é maior no meio rural (37,4%): 10,9 p.p. acima da proporção registada no meio ur-bano (26,5%). E a diferença entre os sexos é também mais acentua-da no meio rural (42,4% entre as

mulheres e 33,9% entre os ho-mens), pormenoriza -se.

“Com um número médio de 9 anos de escolaridade, mais de três quartos [desses jovens] estão dis-poníveis para trabalhar, indepen-dentemente de terem procurado ou não trabalho, e cerca de um terço está à procura de emprego há mais de um ano”, adianta tam-bém o documento do INE, que re-fere ainda que a maioria é do sexo feminino (54,1%).

Entre os que não procuram tra-balho, os motivos parecem pren-der-se fortemente com a idade. Assim, a frequência escolar surge como principal razão entre os jo-vens 15-24 anos (64,5%). Já na fai-xa 25-34 anos, o motivo apontado por 40,6% é o facto de considera-rem que não há emprego.

Os estudantes constituem, refira-se, cerca de um quarto dos inactivos (24,9%).

Falando ainda da “juventude”. Pela positiva, no meio deste ce-nário, uma diminuição de 2.546 jovens (15-24 anos) desemprega-dos e, consequentemente, da taxa de desemprego (que passou de 32,4% para 27,8%). Pela negativa, houve uma “um aumento do nú-mero de desempregados em 1.879 pessoas na faixa etária dos 25-34 anos, que passa de 9.848 em 2017 para 11.727 em 2018.”

Sector primário cai. Novamente.

Em mau ano agrícola e de fra-co desempenho da agricultura na economia nacional, houve um

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PRIMEIRO PLANO //7Nº 905 • 3 de Abril de 2019

Crescimento da economia sem reflexo no empregoaumento da taxa de desemprego no meio rural que passou de 8,8% em 2017, para 11,5%. Em sentido inverso, houve uma ligeira dimi-nuição do desemprego no meio urbano (12,4% vs 13,4% em 2017.

Outros indicadores apontam direcções diferentes entre rural e urbano. A taxa de activida-de, por exemplo, que, no geral, caiu 3,6 p.p. em 2018 (estabe-lecendo-se nos 55,6%), regis-tou maior queda no urbano. O aumento da população inactiva foi aqui de 17,7% (+16.346 pes-soas), enquanto no mundo rural aumentou 1,6% (1.058 pessoas). Também a diminuição de pes-soas empregadas, que aconteceu em ambos os meios, teve maior queda no meio urbano, sendo que neste a taxa de emprego/ocupação fixou-se em 52,7%, re-gistando-se uma diminuição de 4,0 p.p., enquanto no meio rural fixou-se em 40,4%, registando uma diminuição de 1,4 p.p.

Entretanto, os dados do INE em termos de sectores de activida-de mostram, efectivamente, que o Sector Primário está em queda.

“O peso relativo dos empregos no sector primário tem vindo a diminuir principalmente no meio rural. Após a queda de 6,0 p.p de 2016 para 2017, regista-se uma nova diminuição na ordem dos 1,9 p.p, (14,4% em 2017 para 12,5% em 2018), que pode ser explica-da com a diminuição de cerca de 4.798 empregos no ramo de acti-vidade da agricultura, pesca e cria-ção de gado”.

Já no top dos ramos de activi-dade que mais contribuíram para a geração de empregos encon-tramos o “comércio, reparação de automóveis e motociclos com 16,8% dos empregados, seguido do ramo da agricultura produ-ção animal, caça, floresta e pesca com 11,8%, o de construção com 10,5%, e o ramo da Administra-ção Pública e Defesa Segurança Social com 10,4%”.

Sobre a distribuição dos em-pregados, o sector empresarial privado continua a ser a situa-ção profissional mais comum (40,4 em 2018; 40,3 em 2017) seguida dos trabalhos por conta própria sem pessoal ao serviço (26% vs 25,5). Em terceiro: um dado interessante: há mais gen-te a trabalhar no público. A Ad-

ministração Pública (central ou municipal) regista também um aumento, passando de 16,3 em 2017, para 17,4% em 2018.

Sal (também) em queda

Quanto à taxa de actividade, por concelho, “Boa Vista e Sal con-tinuam a registrar as maiores ta-xas de actividade, 75,8% e 65,3%, pese embora tenham registado uma diminuição relativamente ao ano de 2017”.

Maior taxa de actividade, mas também maiores taxas de em-prego/ocupação: Sal, 62,6%, e Boa Vista, 68,8%. Mais uma vez em queda, principalmente no Sal (onde era de 71,1%).

Falando ainda taxa de activida-de, é no concelho de São Salvador do Mundo que se regista a menor taxa de actividade do país, 38,7%.

Apesar da diminuição gene-ralizada da actividade em todo o país, houve, porém, concelhos que inverteram essa tendência global. Destaque para Mosteiros (+20,3%), Santa Catarina do Fogo (+15,6) e São Filipe (+11,6%).

No que diz respeito a pessoas empregadas, “São Filipe e Mostei-ros apresentam os maiores aumen-tos de empregados em 2018, 1.367 e 1.217 pessoas, respectivamente. Por outro lado, Praia (4.389 pes-soas), São Vicente (2.470 pessoas) e Santa Cruz (2.037) apresentam as maiores diminuições relativa-mente à população empregada”, diz o documento.

Olhando a taxa de desempre-go, Santa Cruz e São Salvador do Mundo surgem novamente na lista negra registando “as maiores taxas de desemprego, 20% e 22% respectivamente, os maiores au-mentos face a 2017 (9,7 p.p. e 15,8 p.p., respectivamente)”.

No sentido ascendente (posi-tivo), as maiores diminuições da taxa de desemprego foram regis-tadas nos concelhos de São Do-mingos e da Ribeira Grande de Santiago (6,4 p.p. e 6,2 p.p., res-pectivamente).

Santa Catarina do Fogo apre-sentou a mais baixa taxa de de-semprego (3,2%) do país, mas…

Às costas do Sub-emprego

O INE realizou também a aná-lise comparativa entre as taxas de desemprego e do subemprego e concluiu que, de uma maneira ge-ral, “as duas taxas variam em sen-tido contrário”.

Ou seja, “os concelhos com menores taxas de desemprego tendem a apresentar as maiores taxas de subemprego”. E destaca o caso de Santa Catarina do Fogo que, apesar da pequena taxa de desemprego, apresenta uma taxa de subemprego de 41,3%.

Em termos nacionais, a taxa de subemprego estimada é de 14,7%, sendo maior no meio rural (22%) e entre as mulheres (16%). Com-parado com 2017 (16%), regista-se aqui uma diminuição.

Entretanto, Sal e Boa Vista são os concelhos com as menores ta-xas de subemprego (2,8% e 6,2%, respectivamente).

Homens e Mulheres

A população economicamente activa foi estimada em 222.028 pessoas, uma quebra de cerca de 10.170 pessoas como anterior-mente referido. Essa população activa é constituída maioritaria-mente por homens (55,9%), sen-do que a descida verificada em 2018 é mais acentuada no femi-nino. Diz o INE que houve menos 5.305 mulheres activas em 2018, e menos 4.865 homens.

Mais “inactivas” menos de-sempregadas. “Por sexo, o nú-mero de homens no desemprego aumentou em 468 pessoas em 2018, situando-se em 15.708 pessoas. Entre as mulheres, a diminuição de desempregados é mais acentuada, passando de 13.183 em 2017 para 11.320 mulheres desempregadas em 2018”, diz o documento. Quer isto dizer que “entre os homens a taxa de desemprego aumentou de 11,8% em 2017 para 12,7% em 2018 e entre as mulheres di-minuiu de 12,8% em 2017 para 11,6% em 2018”.

Quanto ao indicador população empregada, ”constata-se que a po-pulação empregada diminuiu em 5.332 pessoas entre os homens e em 3.442 pessoas entre as mulhe-res, face ao ano de 2017”.

Estima-se, entretanto, que em 42,8% a população empregada inscrita no INPS (um aumento de 1,8 p.p.): 49,8% no meio urbano e 23,0% no meio rural. É de realçar que a subida se deve ao aumento das mulheres inscritas (eventualmente empregadas do-mésticas e trabalhadoras por con ta própria), que passaram de 41,9% (2017) de inscritas, para 45,8% (2018). Nos homens, a percentagem manteve-se nos 40,3%.

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ECONOMIA8\\ Nº 905 • 3 de Abril de 2019

Enquanto operador turís-tico em Santo Antão, José Pedro Oliveira, viu na confe-rência realizada no Sal “uma oportunidade para todo o país” e o primeiro destaque que faz é a abertura das rotas africanas que vão ser opera-

das pela Cabo Verde Airlines “que vão concretizar o hub aé-reo do Sal».

Na opinião deste empre-sário a operacionalização do Sal “vai mexer muito com o destino turístico” que é Cabo Verde. “Parecendo que não, temos um destino que é mais dominado pelos operadores, o que cria sazonalidade, e nós com um clima bom durante todo o ano em África”, temos o mercado «para nos dar al-gum fluxo turístico durante todo o ano para termos um turismo muito mais rentável e mais produtivo».

A operacionalização do hub do Sal, defende Oliveira, pode ser benéfica mesmo para os operadores que não estão lo-calizados naquela ilha. “Vai beneficiar o turismo no seu todo, no nosso caso, de San-to Antão, já é uma questão que temos de resolver com os transportes internos”.

A construção de um aero-porto em Santo Antão “é es-sencial” e a proximidade com

São Vicente não prejudica, na sua opinião, qualquer das in-fraestruturas. “Não tem nada a ver uma coisa com a outra. De Santo Antão para São Vi-cente nunca se irá utilizar transporte aéreo. Agora, San-to Antão tem de estar ligado com as outras ilhas e com o mundo se não, não faz parte e não conseguimos que Santo Antão venha enriquecer o PIB nacional”.

“As pessoas vêm fazer bron-ze no Sal ou na Boa Vista, mas grande parte tem a curiosida-de de saber quem é o cabo--verdiano, de onde vem, quais são as suas marcas culturais. E isso encontra-se nas ilhas de cultura mais profundamente marcada como é Santiago e Santo Antão”, defendeu José Pedro Oliveira.

Taxas aeroportuárias competitivas

“Temos de aproveitar o potencial turístico que temos e a ASA tem de se posicionar

criando as condições, assu-mindo um papel aglutinador de vontade e parcerias, pondo todos os interessados a traba-lhar por um objectivo comum que é o que Cabo Verde tem para dar no Atlântico Médio e ao continente africano”, disse o Presidente do Conselho de Administração da ASA, Jor-ge Benchimol, à margem da Conferência Ministerial sobre Transporte Aéreo e Turismo.

Quanto aos aeroportos na-cionais e como torná-los com-petitivos no quadro global, o PCA da ASA, explicou que não é possível acabar com as taxas que as companhias aé-reas pagam, mas garantiu que estas são competitivas quando comparadas com as zonas em que se inserem.

“As taxas nacionais são competitivas, temos estudos que o mostram, estamos mui-to bem na sub-região, estamos muito bem no continente, no Atlântico e nos destinos que concorrem com Cabo Verde. Neste aspecto estamos muito

bem, mas claro que há sempre assimetrias, há sempre algu-ma coisa que tem de ser ajus-tada, e estamos empenhados em fazer com que esses ajusta-mentos sejam introduzidos e os resultados sejam positivos para a economia nacional”, apontou Jorge Benchimol.

Livre circulação em África

Na sexta-feira, último dia da Conferência Ministerial sobre Transporte Aéreo e Tu-rismo, o ministro dos Trans-portes e Turismo disse que a isenção de vistos entre os países de África é um tema a trabalhar.

“Não faz sentido que entre os países que pertencem às diferentes comunidades que existem em África tenham li-vre circulação”, como é o caso da CEDEAO, “mas que depois essa livre circulação não exis-ta entre países que pertencem a comunidades diferentes”, explicou José Gonçalves na

Conferência Ministerial sobre Transporte Aéreo e Turismo

Ministros chegam a acordo: é preciso liberalizar o espaço aéreo africanoA competitividade

de Cabo Verde enquanto destino

turístico, a operacionalização

do hub aéreo do Sal e a livre circulação em

África foram alguns dos

temas que foram abordados durante

a Conferência Ministerial sobre Transporte Aéreo

e Turismo que decorreu no Sal.

Na conclusão, duas ideias

ficaram assentes: é preciso passar

da teoria à prática e é urgente tornar

as viagens em e para África mais

baratas.

André Amaral

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//9Nº 905 • 3 de Abril de 2019 ECONOMIA

O ministro dos Transportes e Turismo, José Gonçalves assinou durante a Conferência ministerial sobre Transporte Aéreo e Turismo um acordo aéreo com o seu homólogo congolês e acordos turísti-cos com Angola e Portugal.

Com a assinatura do primeiro acordo fica estabelecida a possi-bilidade de ligações aéreas entre os dois países assim como a pos-sibilidade de assistência técnica no solo às companhias aéreas dos dois países.

Como explicou Fidèle Dimou, ministro dos Transportes congolês, “abre-se assim a possibilidade de aproximar os dois países e de abrir o nosso espaço aéreo”.

“Há dias, na Assembleia, perguntaram-me qual a utilidade de assinar estes acordos. Respondi que precisamos de diversificar a nossa economia para além do petróleo. Cabo Verde tem no turismo

o seu petróleo”, apontou o ministro congolês.José Gonçalves, por seu lado, assinalou que com este acordo

abre-se uma janela de oportunidade para que comecem a “realizar--se ligações aéreas entre os dois países. Porque o que esperamos é que daqui por alguns anos a Cabo Verde Airlines expanda as suas operações em África.”

Com Angola e Portugal o governante cabo-verdiano assinou acor-dos na área do turismo. Destaque, no acordo com Portugal, para o Programa Reviver, peça central do acordo entre os dois países, e que consiste num programa de recuperação de património histórico edificado por Portugal nos países lusófonos. “O objectivo é recupe-rar esse património e gerar mais turismo que, por consequência, vai criar mais emprego e também mais rendimentos”, explicou a Se-cretária de Estado do Turismo de Portugal, Ana Mendes Godinho.

Ministros chegam a acordo: é preciso liberalizar o espaço aéreo africanoconferência de imprensa que marcou o final da Conferência Ministerial sobre Transporte Aéreo e Turismo.

Quanto à evolução do transporte aéreo no continen-te, José Gonçalves não hesitou em classificá-lo como o “meio ideal para ligar os diferentes países” do continente. “Não é por estradas, vias férreas ou por via marítima, a melhor forma de viajar em África é por via aérea”.

A finalizar, o ministro ca-bo-verdiano mostrou-se es-perançado em que a Confe-rência, que decorreu entre as passadas quarta e sexta-feira no Sal, tenha sido o pontapé de saída para a efectivação da Declaração de Yamoussoukro, assinada pelos países africa-nos em 1999, e que prevê a liberalização do espaço aéreo entre os países do continente.

Para Boubacar Djalo, Di-rector do Gabinete de Trans-porte Aéreo da ICAO, o sector do transporte aéreo e o do tu-rismo têm imenso potencial de crescimento em África. No entanto, para que esse poten-cial se efective, é necessário investir em infraestruturas e equipamentos.

Como exemplo, Boubacar Djalo, apontou o caso de Cabo Verde. “Cabo Verde foi pio-neiro na aviação e tem dado o exemplo aos países africanos. Antes de conhecer o Sal já sa-bia onde era por causa da sua FIR e da sua zona de controlo aéreo”.

A Declaração do Sal

Segundo a declaração, os Estados que a aprovaram comprometem-se a garantir a que os sectores do turismo e do transporte estejam envol-vidos “no planeamento do de-senvolvimento económico dos Estados, de modo a que o tu-rismo e a aviação possam ser

usados como um impulsiona-dor eficaz do desenvolvimento económico”.

O documento apela igual-mente a que seja criada uma “forte ‘Marca de África’ num mercado cada vez mais com-petitivo” que potencie o turis-mo africano e que gere “de-manda suficiente de tráfego aéreo”.

Outro dos pontos de desta-que no documento aprovado no Sal é o apelo a que se “libe-ralizem ainda mais” os serviços de transportes aéreos “intra--africanos e intercontinentais, especialmente através da im-plementação da decisão de Yamoussoukro e da MUTAA (Mercado Único de Transpor-tes Aéreos em África).

“Não temos de ir a reuniões dizer sempre

a mesma coisa”

Annette Ferguson, ministra das Infraestruturas da Guia-na, na intervenção que fez antes da declaração do Sal ser aprovada apelou a que sejam encontradas “formas de me-lhorar as ligações e de dimi-nuir os custos. No meu caso, a viagem da Guiana até Cabo

Verde demorou quase dois dias e custou uma fortuna. Isso precisa ser mudado”.

A realização de eventos como este, como defendeu Annette Ferguson, é útil, mas “não basta pagarmos fortunas para vir a uma sala conversar. É preciso pôr as decisões que aqui tomamos em prática. Es-pero que hoje não seja um dia só para conversar. Que seja um dia de decisões práticas

para resolvermos os proble-mas das ligações aéreas entre os países”, concluiu.

Gilberto Barros, secretá-rio de Estado das Finanças apoiou as declarações feitas pela ministra da Guiana. “Não temos apenas de tratar das li-gações mas também de garan-tir que os custos das ligações aéreas diminuem. Não temos de ir a reuniões dizer sempre a mesma coisa. Temos de to-

mar decisões. Espero que da-qui por um ano falemos que realmente aumentamos as li-gações entre os países”.

Recordando que a conven-ção de Yamoussoukro, que liberaliza o acesso aos mer-cados de transporte aéreo em África foi assinada em 1999, o governante apelou a que esta seja posta finalmente em prá-tica vinte anos após a sua as-sinatura.

Cabo Verde assina acordos com Congo, Angola e Portugal

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10\\ Nº 905 • 3 de Abril de 2019ENTREVISTA

Entrevistada por André Amaral

Demonstrar que turismo e transporte aéreo têm que se desenvolver em conjunto e que a aposta noutro tipo de mercado turístico, para além do all-inclusive, deve ser considerada benéfica para o país porque os turistas “procuram por experiências autênticas, gostam de ver como os cabo-verdianos comem, como apreciam a sua música, por isso eles também vão querer estar lá com eles”. Elcia Grancourt, Directora do Departamento Regional para África da Organização Mundial do Turismo esteve à conversa com o Expresso das Ilhas durante a Conferência Ministerial sobre Transporte Aéreo e Turismo que decorreu, na semana passada, no Sal.

“Quando trabalhamos uma estratégia para o turismo o transporte tem de estar envolvido”

ELCIA GRANCOURT, DIRECTORA DO DEPARTAMENTO REGIONAL PARA ÁFRICA DA OMT

Que conclusões se podem tirar desta conferência do Sal?Foi um grande prazer ter este evento num país que é extre-mamente dependente do tu-rismo. O foco foi o turismo e a conectividade aérea e pela primeira vez fomos capazes de reunir ministros do turis-mo e ministros de transportes e aviação do continente afri-cano. Começamos com uma reunião de peritos onde estes discutiram e deliberaram em sectores chave relacionados com o desenvolvimento des-tes dois sectores. Os tópicos que foram discutidos cobrem áreas como as ligações aéreas, qual a forma mais fácil de li-gar os países africanos entre si e também com o resto do mundo. Falamos de questões

como os vistos, porque perce-bemos que não pode haver tu-rismo se não houver ligações. Abordamos a questão dos fi-nanciamentos e das políticas que sejam capazes de desen-volver tanto o turismo como o transporte aéreo e a conclusão que se tira do primeiro dia de trabalhos é que os participan-tes perceberam que, no que toca a estratégias eles, por ve-zes, trabalham de forma isola-da, sem comunicação. E esta conferência serviu, por isso, para abrir mentes de pessoas de sectores diferenciados e fazê-las perceber que quando se trabalha numa estratégia para o turismo têm sempre de ter em mente que os outros sectores como os transportes devem estar envolvidos. Isto foi uma ideia chave que todos

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//11Nº 905 • 3 de Abril de 2019 ENTREVISTA

“Quando trabalhamos uma estratégia para o turismo o transporte tem de estar envolvido”

perceberam e comentaram. Ao mesmo tempo foram feitas reuniões entre os diversos paí-ses, foram assinados acordos. Os países, sendo sempre dife-rentes, podem sempre passar de uns para os outros ideias e experiências para melhorar o que estão a fazer. Cabo Verde é um país pequeno, um arqui-pélago, e esteve cá o minis-tro das Seychelles, país com quem Cabo Verde tem muitas semelhanças. Por isso, acredi-to que esta foi a oportunidade para os países se sentarem e discutirem como podem usar as ideias uns dos outros. O debate ministerial foi a opor-tunidade para os líderes des-tes dois sectores discutirem a importância de terem a von-tade política, acima de tudo, para avançar. Quanto a Cabo Verde, ficamos muito satis-feitos ao ver que o Presidente da República se quis envol-ver no evento, assim como o Primeiro-ministro. Depois das discussões foi aprovada a Declaração do Sal sobre o de-senvolvimento da aviação e do

turismo em África. Acredito que o plano de acção vai en-volver todas as entidades que aqui estiveram como a União Africana ou o Banco Mundial. Tivemos aqui stakeholders de relevo para podermos olhar para o futuro destes sectores. O que queremos é que haja mais acessibilidade e maior facilidade para permitir a quem nos quer visitar poder chegar ao seu destino sem quaisquer constrangimentos.O mais importante agora é pôr o plano adoptado em prá-tica.

Mas por que é tão caro viajar dentro do conti-nente africano?Bem. A discussão, nos primei-ros dois dias, foi sobre os cus-tos elevados e as rotas exis-tentes. Muitas vezes o destino

é em África mas é preciso sair do continente para chegar ao destino. Vimos aquilo por que tiveram de passar muitos dos representantes de vários países para chegarem aqui. Quanto aos custos, há vários factores. Temos as taxas, os combustíveis, há muitos factores envolvidos. E esta reunião serviu para vermos quais as melhores formas de sermos capazes de tornar as viagens em África mais sim-ples e mais fáceis e espera-mos – esta é a nossa intenção porque já há decisões, como a Declaração de Yamoussou-kro, que são instrumentos que nos vão ajudar a abrir os céus – conseguir, finalmente, reduzir os custos das viagens dentro de África. Mas isso não depende apenas de um dos envolvidos. Requer ener-

gia, abordagens concertadas. Mas o facto de, pela primei-ra vez, termos conseguido juntar os sectores dos trans-portes aéreos e do turismo é muito importante.

Como pode Cabo Verde tornar-se num destino atraente para os turistas africanos?Penso que já é. Mas acredito que cada vez mais os africanos se apercebem dos valores que temos. As pessoas estão cada vez mais a dar conta dos nos-sos produtos e estamos a fazer férias em África. Não temos obrigatoriamente de viajar para fora do nosso continen-te para ter boas experiências. Cada vez se nota mais esse crescimento e penso que Cabo Verde, pelo plano estratégico que o ministro José Gonçal-ves partilhou connosco, está a tentar diversificar os merca-dos e também o produto que é disponibilizado hoje em dia para esses mesmos mercados. O all-inclusive estabeleceu--se e consolidou-se, mas hoje em dia é preciso olhar para os diferentes nichos que há no mundo, porque Cabo Verde tem muito para oferecer. É preciso tempo, porque quan-do se implementam políticas e estratégias elas têm de ter o suporte adequado e outros re-cursos para que se produzam resultados. Vai levar tempo

mas desde que a intenção e a vontade estejam lá, os passos necessários serão dados para se conseguir esse objectivo.

É o turismo all-inclusive a melhor solução para países como Cabo Verde, ou é apenas uma fase de desenvolvimento?Infelizmente não sou a pessoa mais indicada para decidir sobre isso, mas o que posso comentar é que há diferen-tes nichos no mundo. E Cabo Verde, como mencionei, es-tabeleceu e consolidou o all--inclusive. Mas hoje em dia é importante olhar de outra for-ma para esses nichos. Porquê? Porque no fim o objectivo maior é que o país beneficie, mas também o seu povo, por-que o turismo cria empregos, é um dos sectores de cresci-mento mais rápido no mundo de hoje. Contribui muito para o PIB dos países e um décimo dos empregos a nível mundial é no sector turístico. Não se podem pôr os ovos todos num só cesto, porque o mercado é muito dinâmico. As pessoas, hoje têm formas diferentes de decidir como chegam a um destino e procuram experiên-cias autênticas, gostam de ver como os cabo-verdianos co-mem, como apreciam a sua música, por isso eles também vão querer estar lá com eles. Por isso é importante con-siderar outros modelos que existem lá fora. Não tem de se aplicar sempre o mesmo modelo, porque nem sempre isso funciona. Os líderes des-te país sabem da importância que este sector tem. Vimos que a vontade existe e o tra-balho que tem sido feito para maximizar o potencial que o turismo pode trazer a Cabo Verde.

O debate ministerial foi a oportunidade para os líderes destes dois sectores discutirem a importância de terem a vontade política, acima de tudo, para avançar

Esta reunião serviu para vermos quais as melhores formas de sermos capazes de tornar as viagens em África mais simples e mais fáceis

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Nº 905 • 3 de Abril de 2019OPINIÃO12\\

Há alguns anos, de um modo quase inadvertido, tem vindo a dar-se uma aproximação paula-tina e natural entre o conjunto de países hispano falantes e de expressão oficial portuguesa do mundo. Não só os da América e da Península Ibérica – que formam a Comunidade Ibero--americana de Nações – mas também dos Estados iberófo-nos dos demais continentes, da África e Asia em particular.

Efectivamente, em 2014 abriu-se a vinculação à Or-ganização de Estados Ibero--americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), dos países de língua portugue-sa não ibero-americanos (An-gola, Cabo Verde, Guiné Bis-sau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste), na qualidade de observadores-co-laboradores. Nesse mesmo ano, a república hispano falante da Guiné Equatorial incorporou--se à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) como membro de pleno direi-to. E a partir de 2016 são vários os países hispano falantes ou ibero-americanos (Uruguai, Ar-gentina, Chile e Andorra) que se ligaram à CPLP como obser-vadores associados, tal como a própria OEI. São, igualmente, numerosas as declarações de mandatários dos nossos países e de organismos internacionais que apontam para a articulação de um “Espaço Multinacional da Iberofonia”, sem excepções geográficas; e no âmbito da so-ciedade civil, do académico ao desportivo, diversas iniciativas começam a estruturar-se como solução “pan-ibérica”.

Onde está a fundamentação profunda desta aproximação entre sociedades e países de continentes diferentes? O fun-damento essencial representa-o

benefício da maior diversidade de toda a Comunidade Interna-cional – alguns aspectos e cos-movisões homogeneizadores da globalização em curso.

Perante esta realidade, de-vemos reconhecer que, diferen-temente dos hispano falantes e brasileiros, Portugal foi his-toricamente contrário à apro-ximação dos países africanos lusófonos ao espaço hispânico e ibero-americano. Portugal não deve temer uma perda de in-fluência ou “status” se os países africanos – Estados soberanos – decidem estreitar relações com a América Latina e com o conjunto de países de língua es-panhola.

Diante deste repto e desta realidade, Cabo Verde – simul-

taneamente com Angola, Mo-çambique e outros países – pode desempenhar um papel mui-to importante, como singular país de língua ibérica de África que conta com uma particular visão geopolítica no atual con-texto crescentemente globaliza-do. Cabo Verde forma parte de uma Macaronésia que o irmana com outros arquipélagos de lín-guas portuguesa e espanhola, como Açores ou Canárias, es-paço que constitue um marco de clara convergência atlântica entre África, Europa e América. E Cabo Verde é o único Estado soberano que forma parte inte-grante da Macaronésia... A sua actuação decidida, como a de Angola e outros países, pode ser a solução para conseguir a per-feita articulação do Espaço Mul-tinacional da Iberofonia.

Dou-lhes uma pista: tanto a Organização de Estados Ibero--americanos, que, para melhor entendermos, é a “UNESCO” ibero-americana, como a Or-ganização Ibero-americana de Segurança Social (OISS), por exemplo, contam entre os seus membros de pleno direito com a república africana e hispano falante da Guiné Equatorial. Por esse motivo, não existe ne-nhuma razão de fundo para impedir que Cabo Verde, ou São Tomé e Príncipe e Timor--Leste, se possam beneficiar de uma cooperação multilate-ral prestigiosa que nos dias de hoje favorece dezenas de países de todo o mundo com os quais, além disso, mantêm afinidades linguísticas e culturais.

Sem dúvida alguma, chegou o momento de estabelecer ple-namente o Espaço Mundial da Iberofonia, e, nisso, pode cor-responder a Cabo Verde um protagonismo muito significa-tivo.

a afinidade substancial entre as duas principais línguas ibéri-cas, o espanhol e o português, os únicos dois grandes idio-mas internacionais – grandes quantitativamente – que são, ao mesmo tempo e em linhas gerais, reciprocamente com-preensíveis. Se, filologicamen-te, o espanhol e o português são línguas diferentes, em termos comunicacionais chegam a per-ceber-se como se fossem practi-camente um só idioma.

Esta realidade única faz com que, em termos geopolíticos, geolinguísticos e geoculturais, se possa falar de um grande espaço multinacional de países de línguas ibéricas que abarca todos os continentes e que está composto por uma trintena de nações e mais de 800 milhões de pessoas. Trata-se da décima parte do planeta em termos de-mográficos – cerca da quinta em superfície – e do primeiro bloco linguístico do mundo ao unir o espanhol – segunda lín-gua materna e de comunicação internacional, falada por mais de 570 milhões de seres huma-nos – e o português – segun-da língua ibérica e latina, com mais 230 milhões.

Neste contexto, é importante assinalar que a relação de inter-compreensão hispano-lusófona não é simétrica, de modo que o espanhol é compreendido quase perfeitamente nos países de lín-gua portuguesa, enquanto que o português, particularmente o de Portugal, se entende em menor grau, por razões fonéticas, nos países hispânicos. Igualmente, no interior desse grande espaço convivem uma multitude de ou-tras línguas que o enriquecem em todos os continentes. O caso da língua nacional caboverdea-na, o crioulo, é particularmente paradigmático, pois, falado por

quase toda a população, projec-ta a potência cultural de Cabo Verde no mundo inteiro. Po-rém, o denominador linguístico comum de o iberófono a nível internacional é constituído pe-los grandes idiomas veiculares ibéricos, o espanhol e o por-tuguês, ou, mais exactamente, pela base linguística comum reconhecida pela sua afinidade substantiva.

A plena articulação des-te espaço multinacional daria maior visibilidade e influência ao conjunto dos países iberófo-nos, promoveria a cooperação horizontal e triangular entre Estados e sociedades da Amé-rica, Europa, África e Ásia, e contribuiria para equilibrar em termos geoculturais – e em

FRIGDIANO-ÁLVARO DURÁNTEZ-PRADOSDoutor em Ciências Políticas pela Universidade Complutense de Madrid.

Cabo Verde e a Iberofonia

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OPINIÃONº 905 • 3 de Abril de 2019 //13

Pigikintá…Pinginkinti…Pi-gingotá… raio de nome difícil! Ehn! – Que nos idos e agitados tempos dos primórdios da inde-pendência – nem os então “ir-mãos” (1974-1980) cabo-verdia-nos o sabiam pronunciar e muito menos escrevê-lo com alguma aproximação correcta! Por muito que quisessem descrever o confli-to laboral que se passou em 1959 na cidade de Bissau, como sendo iniciativa do PAIGC.

Lembro-me então como nos ríamos às gargalhadas quando ouvíamos os políticos locais, com ares sérios e solenes, falarem ou discursarem (por ocasião do 3 de Agosto) ora de “pindgikiti,” ora de “pindgiguitá” e ora ainda de “pindgigotá”…

Sim, tão revolucionários e tão conhecedores da gloriosa luta de independência da Guiné e de Cabo Verde, a qual, ufanamen-te exibiam à época! Mas quan-do chegava a Pidgiguiti, aí, para além de não saberem pronun-ciar correctamente o nome do cais, acrescentavam fantásticas e fabulosas histórias, então con-tadas, na rádio, nos jornais e na voz dos “melhores filhos” leiam--se: os combatentes vindos do mato e os revolucionários surgi-dos nas cidades.

Isto passava-se aqui nas ilhas, após o Movimento dos Capitães de Abril em Portugal.

Na mesma linha, na Guiné, e naqueles tempos – da malfadada unidade Guiné-Cabo Verde, sob a égide do Paigc – na rádio em Bissau, escutavam-se programas e entrevistas com descrições por vezes empolgadas, sobre o triste episódio.

Tudo isto também, porque os combatentes do PAIGC, vindos da Guiné profunda e, particu-larmente aqueles ligados à an-tiga Rádio Libertação, haviam trazido na sua bagagem, uma fita contendo uma espécie de teatro radiofónico que antes passariam na referida Rádio em Conackry.

Ora bem, mal chegados a Bis-sau em 1974, toca de difundi-lo na rádio Bissau por várias vezes.

Obviamente que houve fi-guras protagonistas e secundá-rias) completamente diaboliza-das nessas – umas, reais, outras, bem efabuladas – narrações radiofónicas, sobre a revolta dos marinheiros em Bissau, há 60 anos (a 3 de Agosto de 1959) algumas delas, militares e po-liciais com intervenção directa nos acontecimentos, mas houve também gente, injustamente in-cluída.

E de entre as figuras injusta-mente arroladas, e várias vezes citadas no folhetim radiofónico, destaca-se a do nosso insigne estudioso etnógrafo, historiador, António Barbosa Carreira (1905-1988).

Pois é, foi uma das figuras mais diabolizadas nesse imbró-glio foi precisamente António Carreira.

Apenas relembrar que em 1959 – Guiné Portuguesa – aí nesse local, o porto, o cais de Pidgiguiti, em Bissau – se terá passado um conflito laboral, sangrento e violento entre mari-nheiros maioritariamente da et-nia mandjaca, ao serviço da Casa Gouveia, e a autoridade militar e policial, vigente em Bissau.

Ora bem, o conflito, (reivindi-cação dos marinheiros ao servi-ço daquela casa comercial) mais tarde, após a independência, ga-nhou novos e inventados contor-nos nas reconstituições feitas pe-los jornalistas e demais escribas e depoentes ao serviço da nova causa; ao conectá-lo como sendo emanação directa do PAIGC.

Recordo com um rasgado sorriso, a entrevista que ouvi na rádio, desse meu patrício vulcâ-nico (vulcânico mesmo!) nos idos anos de 1974, a tentar explicar ao Jornalista, que ele, Carreira nada tivera com o caso. A determina-da altura da entrevista, perden-do um pouco a paciência com as

perguntas, um pouco repetitivas que o Jornalista lhe fazia sobre um assunto que pertencera à es-fera militar e policial de Bissau, o nosso Historiador; para pôr termo à irritante, e falsa acusa-ção que queriam sobre ele fazer pender, e a maneira como o Jor-nalista queria conduzir a entre-vista, como se de réu se tratasse, Carreira soltou uma expressão mais forte e a aparentar um “pa-lavrão,” pois que ele não tinha paciência alguma com questões que considerava idiotas e deu fim à entrevista. Espírito fron-tal, directo e sem falsos rodeios, assim expressava ele a sua quase sempre, assertiva opinião.

De facto, a entrevista acabou por ser de certa forma, hilariante.

Creio que, após isso, todos, ou quase todos, mesmo aqueles que injustamente o incriminaram se aperceberam do grande erro co-metido. Só que essa gente não conhece a tão bem-vinda e es-perada expressão: Pedir descul-pas... Sim, comete-se um erro tão grosseiro! e não há um pedido de desculpa ??...

Agora, e um pouco mais seria-mente, convém situar António Carreira na Guiné portuguesa, onde fez a sua carreira de Admi-nistrador de Concelho ou de Cir-cunscrição, no interior daquele país, então denominada Provín-cia Ultramarina. Terá chegado uma altura, deduzo, que queren-do ir viver para Bissau, ou para a escolarização dos filhos possivel-mente, ou mesmo, por cansaço do mato, ou razões outras, dei-xou a administração civil, tendo passado a ser Gerente da Casa Gouveia, empresa comercial de muito peso na então Guiné. So-bretudo na comercialização do arroz.

Mais tarde, A. Carreira foi ar-quivista e investigador do então denominado Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, onde fez um meritório trabalho de inven-tariação, catalogação e de arru-

mação com metodologia e muito trabalho do vasto acervo escrito aí então existente. Deixou esse precioso legado que eu vi com lá-grimas nos olhos, a ser posto na rua (literalmente) em meados de 1975. Possivelmente por mãos e mentes que não sabiam ou, não avaliaram o valor daquilo que es-tavam a retirar das prateleiras e colocado no chão (sem cuidado) do passeio em frente à porta do aludido Centro, na altura trans-formado em outro serviço.

Pois bem, continuando, A. Carreira, imagino eu, que terá sido também desses tempos, enquanto ele foi responsável do Centro de Estudos em Bissau – possivelmente um tempo de es-tudo e de reflexão – a elaboração do seu projecto, mais tarde obras de referência sobre algumas das muitas etnias guineenses, sobre o trânsito esclavagista da chamada costa da Guiné, as migrações e, a formação da sociedade cabo--verdiana. Tudo isto versado em livros, que se tornaram de con-sulta fundamental para as teses e para trabalhos académicos.

António Carreira, como qua-dro da Administração Civil da Guiné Portuguesa, Carreira pôde frequentar a antiga Escola Colo-nial em Lisboa, mais tarde, nos finais dos anos 50, tornado Insti-tuto Superior de Ciências Sociais e Políticas Ultramarinas.

Fundamentalmente auto-didacta, estudioso empenhado, prosseguiu A. Carreira, ele pró-prio, a sua formação enquanto etnógrafo e historiador. Simples-mente espantoso!

Carreira também foi orienta-dor de teses de muitos forman-dos e académicos, mestrados e doutoramentos, daqueles que buscavam na História das antigas colónias portuguesas, temas para os seus trabalhos de fim de curso.

Nos anos 70, do séc. XX, A. Carreira encontra-se em Portu-gal, onde, a convite de Adriano Moreira, dá aulas no Instituto Su-

perior de Ciências Sociais e Políti-cas Ultramarinas, antigo ISCPU.

Para nós uma enorme admira-ção! Não é? Mas nestas ilhas ha-via gente assim, no antigamente da vida... Abro aqui um pequeno parêntesis para estabelecer uma comparação, embora desfasada em tempo, e lembrar casos simi-lares; de Guilherme Ernesto, de Guilherme Dantas, de Eugénio Tavares, de Januário Leite, de José Lopes e de tantos e tantos outros que deixaram um lega-do escrito de incontestável valor para a Literatura e para a His-tória de Cabo Verde e que não possuíam qualquer diploma de estudos superiores! Eles é que assentaram e fundaram a sua vasta cultura – através de leitu-ras e de estudos aturados – nas palavras de Arnaldo França, nas suas «Notas sobre poesia e fic-ção cabo-verdiana» 1962: “... um aceno de simpatia aqueles que sem um liceu, sem jornais lite-rários, sem rádio, sem cinema, sem viagens à metrópole, deram em seu tempo, uma nota de dig-nidade e de elevação espiritual à apagada tristeza reinante na pe-quenez dos agregados urbanos das ilhas.” Fim de transcrição. Eles criaram o seu próprio saber e o seu invulgar engenho para o difundir e o perpetuar. Fecho o parêntese.

E retomo A. Carreira mais actual, autor de obra importante na historiografia cabo-verdiana, área na qual deixou um vasto legado escrito em artigos, ensaios e livros. A sua obra mais conhecida e citada é: «Cabo Verde – Formação e Extinção de uma sociedade escravocrata (1460-1878).»

Nasceu em São Filipe, ilha do Fogo em 1905. Filho de António Carreira e Isaura Barbosa. Casou com Cármen de Medina Carreira, natural da ilha Brava. Faleceu em Lisboa, Portugal, em 1988. Os restos mortais foram trasladados para a sua ilha natal em 1995.

O equívoco de Pidgiguiti e a figura de António Carreira

ARMINDO FERREIRA

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//15Nº 905 • 3 de Abril de 2019 ENTREVISTA

Entrevistado por Jorge Montezinho

A ideia de criar um mercado económico comum em África não é nova, mas parece que é desta que vai mesmo avançar. Esta é a certeza de Said Adejumobi, actual director do Escritório Sub-Regional para a África Austral da UNECA (Comissão Económica para África das Nações Unidas). Professor de Ciências Políticas na Universidade de Lagos há mais de vinte anos e autor de vários livros com temas socioeconómicos, Adejomubi falou, em exclusivo, com o Expresso das Ilhas, durante a 52ª sessão da UNECA, que decorreu em Marraquexe.

África é a nova fronteira de desenvolvimento

Said Adejumobi, director do Escritório Sub-Regional para a África Austral da UNECA

Um dos temas, digamos assim, da conferência de Marraquexe foi, “passar de uma visão para uma acção”. Do que precisamos para começar essa acção?Penso que o que precisamos é de fazer o que já estamos a fazer. Precisamos de continuar a funcionar desta forma integrada. Num segundo nível, precisamos de ter as infra-estruturas e os processos correctos nos lugares certos, para sermos capazes de dar o salto em frente. Se olharmos para a área de comércio livre africana [AfCFTA – The

African Continental Free Trade Agreement], como exemplo, vemos que a estamos a construir. Já falávamos dela deste os anos 80, já estava no Plano de Acção de Lagos [assinado em Abril de 1980 pela Organização para a União Africana – entidade que funcionou entre 1963 e 2002 – já na altura defendia a auto-suficiência do continente e o aumento das relações comerciais entre os países africanos], se olharmos para o Tratado de Abuja de 1991, está lá a mesma ideia [assinado

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16\\ Nº 905 • 3 de Abril de 2019ENTREVISTA

O copo está mais meio cheio do que meio vazio, estamos a progredir e é nisso que nos devemos concentrar

instituições regionais. Houve alguma tensão, houve alguma aspereza entre os líderes, mas finalmente chegaram a um princípio de acordo que 2 por cento das importações servirá para financiar a União Africana (UA). Se a colecta de impostos for bem feita, a projecção é que a UA conseguirá financiar todas as suas actividades por si só, sem precisar de qualquer financiamento externo. Se o conseguir, estará em condições para ser um líder da agenda de desenvolvimento do continente.

Outro tópico é que África precisa de crescer três vezes mais para conseguir alcançar todos os seus objectivos de desenvolvimento, mas só tem 11 anos para o conseguir. Será possível?Penso que é possível, mas temos de pôr esta questão no contexto global. A economia global está a desacelerar.

A economia europeia está a crescer muito devagar. A economia americana está igualmente lenta. Por isso, temos desafios, mas também oportunidades. Entre os desafios está o facto de não podermos ser os únicos a crescer a dois dígitos. Por outro lado, temos aqui uma janela. Muitos dos países estão a avançar para a era pós-industrial, como a China, e nós podemos ocupar esse lugar da indústria, porque o mundo vai precisar sempre de indústria, vai precisar sempre de produção e alguém vai ter de fazer esse trabalho.

Mas em África estamos a assistir à passagem da agricultura directamente para os serviços.É por isso que muitas entidades regionais estão a manter a tónica da industrialização. A SADC [Southern Africa Development Community – Comunidade de Desenvolvimento da África

em Maio de 1991, estabelecia a Comunidade Económica Africana e desenhava o quadro da integração continental], a intenção de criar um mercado maior, a vontade de promover o comércio inter-regional, mas não fomos capazes de o concretizar. Passaram quase 30 anos, mas agora estamos lá. Voltando à pergunta, do que precisamos, primeiro, construir o quadro certo, termos os países necessários a ratificar a AfCFTA [falta apenas mais uma ratificação para formalizar a Área de Comércio Livre Continental]. A segunda fase será, como operacionalizar a AfCFTA? Como asseguramos que todos ganhem com ela? Como a usamos para criar um melhor ambiente para os nossos investimentos? Como criamos um melhor ambiente para que as nossas empresas possam ir para outros países do continente? É assim que passaremos da acção para a política para a operacionalização total.

Mas como referiu, uma área comum para o comércio não é uma novidade, começou há mais de trinta anos a ser falada. O que será diferente desta vez?Por que nunca aconteceu na história da União Africana qualquer acordo ou qualquer convenção ser terminada no espaço de um ano [o AfCFTA foi lançado em Março de 2018, em Kigali, Ruanda], nunca aconteceu! O tempo médio é de cinco anos. Agora estamos a consegui-lo em um ano, o que mostra o comprometimento. Temos 21 assinaturas e há outros países a discutir o acordo nos seus parlamentos para o assinar. Antes de Junho é provável que tenhamos 25 ratificações, isso mostra-nos que os líderes africanos perceberam a urgência e sem que alguém esteja a pressioná-los. Ninguém a dizer “se não assinar isto não damos qualquer ajuda”, ou “se não assinar isto não há

dinheiro”, ninguém o está a fazer. Isto é um processo que está a ser conduzido por africanos e nota-se que há um comprometimento no que se quer que aconteça. Inclusive, a sociedade civil está empenhada na discussão do AfCFTA, o próprio sector privado está a dizer que é altura de avançarmos, já chega de conversa. O que estamos a fazer, neste momento, dentro da UNECA é apoiar a capacidade dos países para poderem aproveitar o AfCFTA, a ajudá-los nas suas estratégias nacionais para beneficiarem do mercado comum, para que não haja vencedores e perdedores, todos têm de ganhar com o processo.

Acha que existe esse empenho da sociedade civil porque o crescimento do PIB em África não tem significado mais empregos e menos pobreza?Bem, o crescimento do PIB não conta a história toda. É verdade que há países com grande crescimento do PIB que têm altos níveis de pobreza. A Nigéria é a maior economia africana, por exemplo, e tem um alto nível de pobreza. Mas como disse, não conta a história toda, há outros indicadores para os quais temos de olhar para determinar a qualidade de vida das pessoas. Penso que precisamos de ir além de alguns dos indicadores que

analisamos actualmente, mas eu penso que o copo está mais meio cheio do que meio vazio, estamos a progredir e é nisso que nos devemos concentrar. Vejamos onde estava África há 20 anos e onde está hoje. Fizemos progressos consideráveis. O primeiro estádio na promoção de desenvolvimento económico é a estabilidade política, essa é a base e penso que também aí avançamos bastante e os nossos líderes estão a levar isso muito a sério. Até 2020 não haverá mais conflitos neste continente, esse é o princípio. Assim que isso estiver consolidado, podemos construir sobre isso. Temos todos os recursos, temos a capacidade, temos o capital humano para sermos capazes de liderar o processo. E assim que criarmos o ambiente certo, podemos virar-nos para a nossa diáspora e dizer-lhes para voltarem para casa. Veja o que aconteceu na Índia, o seu progresso económico foi alimentado pela diáspora que regressou para transformar a Índia, que hoje domina, por exemplo, na tecnologia digital. Se conseguirmos criar esse ambiente no continente, se conseguirmos ter estabilidade, previsibilidade, teremos o início de uma nova era económica. E é por isso que toda a gente está a correr para África, porque a nova África é a nova fronteira de desenvolvimento. E isso vai acontecer.

Outro tema recorrente desta 52ª sessão de ministros das finanças de Marraquexe é que terão de ser os países africanos a financiar o seu próprio desenvolvimento. É esse o único caminho?Absolutamente. Se olharmos para o relatório escrito por Paul Kagamé [Presidente da República do Ruanda] para a reforma da União Africana esse é o tópico central. Se não financiarmos o nosso desenvolvimento não nos poderemos unir e o mínimo que podemos fazer é financiar as nossas

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//17Nº 905 • 3 de Abril de 2019 ENTREVISTA

Até 2020 não haverá mais conflitos neste continente

O mundo vai precisar sempre de indústria, vai precisar sempre de produção e alguém vai ter de fazer esse trabalho

Austral] tem uma política industrial. A COMESA [Common Market for Eastern and Southern Africa – Mercado Comum da África Oriental e Austral] tem uma política industrial. Nós, na UNECA, temos uma agenda para a industrialização, por isso, toda a gente fala disso e os líderes começam a consciencializar-se sobre o tema. O que precisamos de definir é como é que vamos apoiar os nossos empresários nacionais, fazê-los crescer, por que serão eles que criarão os postos de trabalho e a sustentabilidade do nosso desenvolvimento futuro. Os investidores externos, quando as coisas começam a correr mal, vão-se embora. Fecham as fábricas, fecham as lojas e apanham o avião para o próximo destino mais lucrativo. Mas quando temos empreendedores nacionais eles ficam. E mesmo que mudem continuam a trazer os lucros para casa. É o

privados que sobrevivem à sombra do sector público.Sim, eles têm de mudar, mas nós também temos de os ajudar a crescer. O governo tem de desenvolver estratégias que os ajudem a crescer. Dou o exemplo da Coreia do Sul. Muitas das empresas sul-coreanas que hoje celebramos: Samsung, Hyundai, são negócios familiares. Mas se analisarmos a situação de perto, percebemos melhor, são companhias glorificadas pelo governo e incentivadas. Quando o vice-presidente da Samsung foi acusado de corrupção deram-lhe uma sentença, mas não o prenderam, porque se ele fosse para a cadeia haveria consequências para a economia. Claro que não estou a dizer que devemos permitir a corrupção, mas sim a explicar que tipo de política é posto em prática para apoiar estas empresas. Em África já provamos que temos a capacidade de ter também grandes empresas. Veja-se o caso da nigeriana Dangote [empresa de cimento] que já tem fábricas em dezasseis países do continente. Dezasseis! Mostra que podemos fazer. Do que precisamos é de quinze Dangote neste continente, é só isso que precisamos. Vamos ter políticas que permitam criar essas grandes empresas. E o que muita gente não sabe é que a Dangote teve apoio do Estado. Houve uma política direccionada para criar multinacionais na Nigéria. Deliberadamente, o governo vendeu bens do Estado aos empreendedores nacionais. Vendeu bens do Estado! Para que eles gerissem. E o Aliko Dangote foi um dos beneficiados [Aliko Dangote é o presidente e director-geral do grupo empresarial]. Na verdade, quem geria a indústria do cimento na Nigéria era o Estado e as coisas não estavam a correr bem, por isso o Presidente da Nigéria falou com o Aliko Dangote e perguntou-lhe se podia gerir essa indústria e

ele disse que sim. E então venderam-lhe a fábrica, foi assim que tudo começou. O que o ALiko Dangote percebeu é que era um negócio de muito dinheiro, porque África, essencialmente, importava o cimento que precisava. E foi isso que ele pensou, por que razão tinham os países africanos de importar cimento fora do continente? E viu a imensidão do mercado que podia fornecer. E começou a ganhar dinheiro, muito dinheiro. Por isso é que eu digo que as oportunidades são ilimitadas neste continente. Precisamos de ser capazes de encontrar essas oportunidades e precisamos de políticas que apoiem quem procura essas oportunidades. Deixa-me dar outro exemplo da Coreia do Sul. Quando lá estive, ao falar com os decisores políticos sul-coreanos, o que eles me disseram foi, se apoiamos as nossas star-ups, com muito financiamento, e se em cinquenta vinte vingarem isso para nós é um caso de sucesso. Porque essas vinte vão crescer e criar um efeito multiplicador. Por isso, se depois apoiarmos o crescimento dessas vinte, todos os anos, em cinco anos temos cem empresas e cada uma delas criou empregos.

O que me está a dizer é que em África precisamos de aprender a falhar?Sim. Sim. Porque em África, se apoiarmos cinquenta e vinte tiverem sucesso dizem-nos que falhámos. Mas o mundo empresarial não é aritmética. E o que acontece em África se

vinte em cinquenta tiverem sucesso? OS decisores políticos vêm logo dizer para pararmos essa agenda porque foi um fracasso. É por isso que precisamos de orientações estratégicas que nos digam para onde queremos ir e o que queremos fazer. Assim, se alguém nos disser que falhámos, podemos contra-argumentar que não é esse o nosso termo de comparação, que não é cinquenta em cinquenta, mas vinte em cinquenta ou quinze em cinquenta. Mas nós não, apoiamos cinquenta e queremos que no dia seguinte quarenta e nove tenham sucesso (risos). Não é assim que as coisas acontecem. Porque os negócios vivem num ambiente de risco, de muito risco, e esse ambiente é extremamente duro. E também temos de competir com as firmas a nível global. Por isso, temos de ter estratégias. Veja-se o caso das Maurícias, que é um óptimo exemplo de ter estratégias.

Nas Maurícias planeiam com uma década de antecedência.Exactamente. E hoje são um hub financeiro global. Estão agora a apostar no digital. E a próxima fase é a estratégia para África, ter negócios das Maurícias a operarem através do continente. Não só a ope-rarem como a colaborarem com os outros países africanos para acelerarem o seu desen-volvimento. Portanto, tudo depende da visão dos deciso-res políticos. Eles é que devem saber para onde querem ir.

Acha que os decisores políticos têm de ter a consciência que têm aqui a oportunidade de uma vida?Sim, têm de ser eles a liderar e a ter as melhores decisões. Têm de saber construir laços profundos com o sector pri-vado. Ouvi-los antes de tomar qualquer decisão. Temos de derrubar as barreiras entre o público e o privado. Tem de haver interacção e trabalho em conjunto.

que acontece hoje com a empresa sul-africana MTN [companhia multinacional de comunicações, sedeada em Joanesburgo e a 11ª maior operadora do mundo], está espalhada por todo o continente e fora do continente, mas a sua base continua na África do Sul. Todo o lucro regressa à África do Sul. Tem de ser esta a lógica.

Quer dizer que o sector privado africano também tem de fazer a sua parte, porque há ainda muitos

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MUNDO18\\ Nº 905 • 3 de Abril de 2019

Através da imprensa, das redes sociais e também de manifestações de rua, muitos brasileiros manifestaram a sua rejeição à ditadura e apre-ço á democracia, contrariando as recomendações emitidas pelo governo Bolsonaro de ce-lebrar o 31 de Março, data em que a partir de um golpe mi-litar foi implementada a dita-dura naquele país da América do Sul.

Dias antes do aniversário infame, Jair Bolsonaro tinha emitido oficialmente indica-ções de que o exército brasilei-ro deveria celebrar a data que instaurou a ditadura militar no país.

“O anúncio, feito pelo porta-voz do Governo, Otávio Rêgo Barros, na noite de segunda, escancarou os fantasmas que o Brasil carrega e não consegue superar apesar de todas as tentativas de se pacificar com o passado”, escreve o El País em referência aos traumas que os brasileiros ainda

guardam da época em que sequestros, tortura, violações e mortes foram usados como ferramentas de repressão e silenciamento dos opressores do regime.

As reacções ao posiciona-mento do Presidente da Repú-blica vieram de todos os qua-drantes, com alguns analistas a verem a iniciativa como um piscar de olhos aos militares da reserva do exército brasi-leiro, apontados como a ala mais radical da organização. Vítimas do regime ditatorial ainda vivas também lamen-taram publicamente e referi-ram o facto de elementos que participaram activamente no regime ainda vivos terem sido amnistiados (por lei de 1979), escapando assim ao julga-mento.

Na sexta-feira anterior à efeméride a juíza federal Iva-ni Silva emitiu um decreto a proibir quaisquer celebrações ao golpe militar porém, me-nos de 24 horas passadas uma

liminar da Justiça Federal anulou a decisão, permitindo assim que as indicações do presidente fossem seguidas pelos militares.

Entretanto, Bolsonaro ten-tou amenizar o mal-estar fa-lando em “rememorar” ao in-vés de celebrar. E de seguida ausentou-se do país em via-gem para Israel, que muitos viram como estratégica ale-gando que o presidente sabia de antemão a polémica em que o Brasil mergulharia com o seu incentivo a festejos do golpe de 64.

Foi com Bolsonaro a mi-lhares de quilómetros de dis-tância que o Brasil viveu no domingo 31 de Março um dia tenso, com manifestantes de-mocratas e de ultradireita a envolverem-se em confrontos.

Na maior avenida de São Paulo promotores de actos pró e contra a ditadura que por 21 anos oprimiu o país passaram dos insultos às vias de facto, com recurso a paus, armas

Governo de Bolsonaro encoraja celebração da ditadura

O 55º aniversário da instauração da ditadura no

Brasil foi marcado por inéditas

manifestações de saudosismo

e incentivos a festejos por

parte do governo Bolsonaro. Os

brasileiros reagiram fortemente contra a releitura da história.

de choques, gás de gengibre e também chutes e socos.

Enquanto do lado dos apoiantes de Bolsonaro hou-vesse quem tivesse levado um bolo para festejar o dia de 1964 em que os militares ocuparam o poder, do lado dos críticos da presidência do ex-militar um boneco repre-sentando o coronel Brilhante Ustra, conhecido torturador da época da ditadura, foi quei-mado.

Mais pacíficos, outros ma-nifestaram o seu repúdio ao regime que matou e torturou centenas numa caminhada silenciosa em outro ponto da cidade.

O que ninguém parecia es-perar era alguma acção vinda do Palácio do Planalto. Contu-do, na manhã de domingo, na conta da rede social Whatssap foi publicado um vídeo com uma versão elogiosa dos acon-tecimentos de Março de 64. No vídeo dito revisionista e apologista da história, um ido-

so (depois identificado como sendo um actor) aparece a tecer elogios ao exército brasi-leiro que diz ter, em 1964, sal-vado o Brasil do comunismo.

O vídeo de dois minutos, em que se diz que antes do golpe os brasileiros viviam com medo, não tem qualquer elemento que identifique os responsáveis pela sua pro-dução tendo sido no entanto enviado a jornalistas a partir da conta do Planalto no What-sapp. Porém assessoria de comunicação do palácio presi-dencial nega ter sido respon-sável pelo envio e remeteu-se ao silêncio sobre quaisquer outras informações, como por exemplo quanto custou a sua produção e quem o financiou.

Seria o vice-presidente, Ha-milton Mourão, a quebrar o blackout nesta segunda-feira ao comentar para os jornalis-tas que o vídeo “foi divulgado pelo Planalto” e que foi “deci-são dele [Bolsonaro]”.

A oposição brasileira já prometeu agir e fazer chegar os seus questionamentos e pe-didos de responsabilização à justiça.

“O WhatsApp do Governo é um canal criado ainda na gestão de Michel Temer e ad-ministrado pela equipe de co-municação do Planalto. Até o domingo, todo material envia-do por esse canal tinha a assi-natura do Governo Federal”, escreve o El País.

Sob fogo cerrado, Bolso-naro segue silencioso (inclu-sive nas redes sociais onde é sempre muito activo) sobre mais este episódio insólito da sua presidência. Para história o ex-capitão do exército fica como o primeiro presidente a negar que o Brasil tenha tido uma ditadura e ao mesmo tempo a autorizar celebra-ções à instauração do golpe militar.

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MUNDO //19Nº 905 • 3 de Abril de 2019

O Partido Republicano do Povo (CHP), principal par-tido da oposição a Erdogan, conseguiu retirar o AKP do poder em Instambul, que governava desde 2001, e em Ancara, capital em que esta-vam no poder desde 1994.

O AKP teve a maioria dos votos (51%), no total das vo-tações em todo país, mesmo assim este resultado enfra-quece o regime de Erdogan. A Turquia enfrenta uma crise económica, com uma reces-são nos últimos três meses de 2018 e a consequente des-valorização da lira.

Dos mais de 57 milhões de eleitores chamados às urnas votaram 85%.

Em Ancara, Mansur Yavas ganhou com 51% dos votos, ficando Mehmet Ozhaseki, do AKP, na segunda posição com 47%. Em Istambul a di-ferença foi de apenas 28 mil votos, o que levou o AKP, que governava a região des-

de 1994, a pedir uma recon-tagem dos votos.

Kemal Kilicdaroglu, líder do CHP, defendeu que este é um resultado que pede “uma viragem do país rumo à de-mocracia”.

Partido de Erdogan recorre

Na reacção ao resultado o partido de Erdogan anun-ciou que não aceita o resul-tado e pediu a recontagem de dezenas de milhar de boletins de voto que foram considerados nulos.

“Identificámos irregula-ridades que questionam o princípio de eleições justas”, disse o líder do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), Bayram Senocak.

Para o líder partidário, em alguns casos houve “di-ferenças exorbitantes” entre o número real de votos re-cebidos pelo candidato do

AKP e a contagem transmiti-da às autoridades eleitorais pelas diversas assembleias de voto.

De acordo com dados provisórios, as eleições nas duas maiores cidades da Turquia foram ganhas por candidatos do bloco de opo-sição, composto pelo Parti-do Republicano do Povo (de centro-esquerda) e pelo Par-tido Bom (de direita).

Em Istambul, segundo os mesmos dados provisó-rios, o candidato do bloco de oposição terá vencido com 48,79% dos votos, contra 48,25% dos votos do candi-dato do AKP, o ex-primeiro--ministro Binali Yildirim.

Istambul e Ancara eram dominadas há 25 anos pelo AKP e por formações islami-tas, pelo que esta derrota é um revés forte para Recep Erdogan, que fez uma cam-panha muito ativa para evi-tar um voto de protesto con-

tra a crise financeira que o país vive.

Na segunda-feira, diri-gentes do AKP já tinham de-nunciado “irregularidades”, tendo solicitado a revisão de dezenas de milhar de bole-tins de voto que foram con-siderados nulos.

Recep Erdogan já disse que está confiante de que uma recontagem dos votos acabará por dar a vitória ao seu partido nas duas princi-pais cidades.

Opositores assassinados

As eleições na Turquia ficaram também marcadas pelo assassinato de dois membros do partido da opo-sição numa assembleia elei-toral na cidade turca de Ma-latya, leste do país, num dos vários incidentes violentos registados enquanto decor-riam as eleições municipais.

Oposição vence eleições em Istambul e Ancara

É histórico, a oposição turca

conseguiu vencer o AKP na maior

cidade turca e na capital do país.

Os resultados das eleições locais,

que se realizaram no domingo, foram

conhecidos na manhã desta

segunda-feira.

Turquia

Num comunicado, o pre-sidente do partido “Saadet” (SP), Temel Karamollaoglu, informou sobre o incidente, quase no mesmo momento em que o ministro do Inte-rior, Soylu, declarava à im-prensa que a votação estava a decorrer pacificamente.

“Em Poturge, um distrito de Malatya (...), dois mem-bros do nosso partido, um dos quais era observador do sufrágio, perderam a vida”, indicou o líder do SP, uma formação islamita mode-rada e aliada da principal força da oposição, o social--democrata Partido Repu-blicano do Povo (CHP).

A nota explicava que o ata-que foi perpetrado por um primo do candidato do gover-namental Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), que disparou contra os observa-dores quando estes se opuse-ram a que a votação se levas-se a cabo de forma aberta.

Page 20: Regionalização C Crescimento€¦ · Preço: 100$00 // Quarta-feira, 3 de Abril, de 2019 //Número 905 //Tiragem: 3.000 Exemplares //Director: Humberto Cardoso

ARLINDO OLIVEIRA

MUNDO20\\

A julgar pelos títulos dos jornais, pelas notícias nas te-levisões e pelo que circula nas redes sociais, a democracia, a prosperidade, a qualidade de vida e o ambiente estão a dete-riorar-se a cada dia que passa. Sindicatos, ordens profissio-nais, partidos, movimentos cí-vicos e, especialmente, os me-dia tentam passar, com algum sucesso, a mensagem que tudo vai mal.

O “Brexit”, a eleição de Donald Trump e de Bolsonaro, a guerra da Síria, a crise dos refugiados, os “coletes amarelos”, o aquecimento global, a poluição dos oceanos e o colapso da Venezuela, entre outros, parecem ser sinais claros de que a civilização está a regredir, que o modelo de uma sociedade democrática e liberal está condenado e que o ambiente do planeta está a ser destruído. Em Portugal, os conflitos nas áreas da saúde, educação, ciência e transportes, entre outros, parecem indicar similares tendências de degradação das nossas condições de vida e das nossas instituições.

É, assim, fácil tornarmo--nos pessimistas, pensarmos que o passado era melhor que o presente, e recordarmos com saudade os “bons velhos tempos”. A realidade, porém, é radicalmente diferente. Os “bons velhos tempos” são uma ilusão e existem apenas na nos-sa imaginação. Nas palavras de Franklin Pierce Adams, a principal razão para a existên-cia dos “bons velhos tempos” é uma má memória.

Tanto a nível mundial, como a nível nacional, é indiscutível a mudança para melhor de to-dos os indicadores de qualida-de de vida e de bem-estar, no

A Grande Ilusão

médio e longo prazo. A evolu-ção do número de fatalidades causadas por guerras, doenças e acidentes, da esperança de vida, do nível de educação, da prosperidade dos cidadãos e até da qualidade do ambiente tem sido fortemente positiva nos últimos dois séculos. Esta evolução positiva passa facil-mente despercebida face ao dilúvio de notícias negativas com que somos constantemen-te inundados. Esta é a grande ilusão dos tempos modernos, a de que as coisas estão a piorar.

Steven Pinker argumentou que só usando números e es-tatísticas será, talvez, possível convencer as pessoas de que o mundo está melhor agora do que alguma vez esteve. Por isso, aqui ficam algumas.

Em menos de dois séculos, a esperança média de vida à nascença para os habitantes do planeta subiu de menos de 30 anos (onde terá estado desde a origem da humanidade) para mais de 71 anos, em 2018. Em Portugal, o valor é de 81 anos. Há dois séculos, mesmo nos países mais desenvolvidos, uma em cada três crianças morria antes dos cinco anos, enquanto agora isso acontece a menos de uma em cada 20. Em Portugal, a mortalidade infantil reduziu--se, só nos últimos 70 anos, de um factor de 50. Noutras fren-tes, a evolução é igualmente po-sitiva, em alguns casos de uma forma esmagadora.

O número de mortes devidas a guerras em 2016, por cada 100.000 habitantes, foi de 1,2. Para comparação, este valor foi de 300 durante os anos da II Guerra Mundial, e durante as três décadas que se seguiram oscilou entre três e 25, caindo para valores comparáveis aos de hoje apenas na década de

neta resultante do uso crescen-te de recursos.

Hoje, como no passado, não faltam arautos da desgraça, que vaticinam o esgotamento dos recursos naturais, o desastre ecológico causado pelo exces-so de população e até mesmo a possibilidade de holocausto nuclear, biológico ou informá-tico. O facto de existirem pro-blemas não é um dado novo.

Sempre existiram e sempre existirão problemas, como ar-gumenta com clareza e convic-ção David Deutsch. Mas a ca-pacidade da humanidade para resolver os inevitáveis proble-mas é, essencialmente, infinita, se devidamente guiada pelos valores do racionalismo, hu-manismo, ciência e progresso.

Se evitarmos um retrocesso aos valores que perduravam antes da idade da razão, sere-mos capazes de prolongar a evolução positiva que caracte-rizou os últimos dois séculos, em prol de uma humanidade mais próspera, saudável, feliz e pacífica. Para tal, é importan-te não nos deixarmos cair na grande ilusão de que o progres-so chegou ao fim e que tudo tem tendência a piorar daqui para a frente. Cegos e atemorizados por essa ilusão não teremos a visão necessária para tomar as decisões indispensáveis para enfrentar os problemas que o futuro sempre trará.

Nota: os argumentos apre-sentados neste artigo são for-temente baseados nas obras O Novo Iluminismo, de Steven Pinker e O Início do Infinito, de David Deutsch.

Publicado no Jornal Público, em 4 de Março de 2019.

Presidente do Instituto Superior Técnico.

mais importante é perceber-mos as razões pelas quais esta impressionante evolução teve lugar. A grande fuga (da misé-ria), como lhe chamou Angus Deaton, deveu-se, essencial-mente, às ideias centrais que caracterizaram o Iluminismo: o primórdio da razão sobre o misticismo, da ciência sobre os cânones religiosos, do conheci-mento sobre a ignorância, dos valores humanistas sobre a ar-bitrariedade dos poderosos, do progresso sobre a estagnação. Esta ideia, de que as socieda-des podem e devem progredir, é essencial.

Até à Idade Média, a ideia dominante era que o mundo do futuro seria essencialmente semelhante ao do passado, um conceito que nos parece agora tão estranho como improvável. É esta ideia de progresso que está por trás da evolução po-sitiva de todos os indicadores, a ideia de que a democracia, o conhecimento, a ciência, a tecnologia, a medicina e a en-genharia têm o potencial para melhorar significativamente o nosso futuro.

Podemos argumentar que não existem quaisquer garan-tias de que estes valores, que tão bem serviram a humani-dade nos últimos séculos, con-tinuem a ser adequados para suportar o progresso futuro. As consequências negativas que algumas tecnologias ine-vitavelmente terão têm sido amplamente noticiadas e dis-cutidas: a radicalização política causada, em parte, pelas redes sociais, os extremismos reli-giosos e o terrorismo, a perda de privacidade imposta pela exploração dos dados, o aque-cimento global causado pelas nossas crescentes necessidades de energia, a poluição do pla-

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90. A tragédia da guerra na Sí-ria não é, apesar de tudo, com-parável nos seus efeitos nefas-tos às guerras de Angola, Mo-çambique, Indochina, Índia, China, Sudão e Uganda, que aconteceram durante a segun-da metade do século XX.

No que respeita ao rendi-mento das famílias, a evolução é ainda mais impressionante. O rendimento per capita, ajusta-do da inflação, cresceu mais de quatro vezes a nível mundial, só nos últimos 70 anos. Em Portugal, o efeito é ainda mais marcado, sendo o crescimento neste período mais do dobro do crescimento médio mundial. Em alguns casos como, por exemplo, a Inglaterra é possí-vel estimar o crescimento nos últimos 200 anos, conduzindo a valores superiores a 15. Estas estimativas pecam por defei-to, porque estão compensadas do efeito da inflação mas su-bestimam necessariamente o efeito da evolução tecnológica. Ninguém poderia comprar um telemóvel, um computador ou uma televisão a cores em 1950, por maior que fosse a sua for-tuna.

Muitos outros indicadores deste tipo, dezenas deles, estão amplamente disponíveis e con-venientemente compilados em diversas páginas da Internet, entre as quais são de destacar as do site Our World in Data, mantido por Max Roser. Todos os indicadores contam a mes-ma história. A melhoria das condições de vida da humani-dade nos últimos dois séculos é incontroversa e corresponde a uma evolução sem precedentes na história da humanidade.

A divulgação destes indi-cadores é importante porque contribui para diminuir os efei-tos da grande ilusão. Porém, o

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C

A jovem Delcy Cabral vai re-presentar Cabo Verde na Miss África Havana, que acontece esta sexta-feira, 5 de Abril, no Teatro América, em Havana.

Está é a primeira vez que Cabo Verde terá representan-te neste evento de beleza, que tem como objectivo promover a cultura africana e o inter-cambio entre jovens de dife-rentes países do continente.

Para a edição deste ano vão participar 19 candidatos, dez meninas e nove rapazes. São jovens representantes de oito países como Angola, Benim, Cabo Verde, Namíbia, África do Sul, Guiné-Conacri, São Tomé e Príncipe e Congo.

“Sou a primeira candidata a representar Cabo Verde neste evento, estou muito orgulhosa de poder representar a cultura do meu país e demostrar que

a beleza africana está em Cabo Verde”, afirma Delcy Cabral.

A nossa candidata preten-de neste evento promover o nosso país e a nossa cultura. “Espero que com a minha par-ticipação e demostração da ri-queza de Cabo Verde, as pes-soas venham mostrar mais in-teresse em conhecer a história de Cabo Verde e desfrutar das nossas maravilhosas ilhas”.

Delcy Cabral, natural da ilha de Santiago, está a fre-quenta o curso de medicina em Cuba, desde o ano passado (2018).

A União de Estudantes Africanos foi fundada há 10 anos por iniciativa de jovens africanos que estudam em Cuba. O evento foi realizado, pela primeira vez, em 2013, pela União de Estudante Africana em Cuba.

Delcy Cabralvai representar Cabo Verde na Miss África Havana

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Nº 905 • 3 de Abril de 2019CULTURAC 22\\

Depois de “Azul” e “Nhá Padás”, a cantora cabo-verdiana Sónia Lopes está em estúdio a preparar o seu novo Extended Play (EP) intitulado “Pontas Soltas” que deverá estar no mercado já no mês de Junho.

Dulcina Mendes

SÓNIA LOPESespera encantar com “Pontas Soltas”

A artista, dona de uma voz suave e doce, já mostrou dois singles desse EP, “Todo Pasa” e “Nunca Mais”, e na próxima semana apresentará mais dois temas para dar a conhecer o trabalho antes do seu lança-mento.

O single “Todo Pasa” é uma fusão que contou com os arranjos de Chalo Correia, guitarra de Ivan Medina, te-clados e gaita de Khaly Raça-

mau, baixo de Vando Pereira, percussão de Galiano Neto, coro de Nilde Mulongo, cava-quinho do músico Zé Rui de Pina e mistura e masterização da XL Produções.

Já o single “Nunca Mais” que é uma bossa nova, contou com os arranjos, baixo e guitarra de Fábio Casmore, bateria e percussão de Mário Dhiniz, teclados de Giovanni Barbieri, Coros de Nilde Mulongo e a mistura e masterização foi feita por XL Produções.

Esses dois singles, já estão disponíveis no Youtube, e fa-zem parte do seu trabalho dis-cográfico intitulado “Pontas Soltas”, conforme a cantora, terá seis músicas, sendo cinco da sua autoria.

“Pontas Soltas” é um tra-balho discográfico com mis-tura e casamento entre ritmos muito alegres e vibrantes, que pretende encantar os cabo--verdianos e não só com os seus temas apaixonantes.

Segundo a cantora, este trabalho segue a mesma linha

do EP “Nhá Padás”, lançado em 2016. “Só que esse outro trabalho era mais nostálgico. Esse é mais alegre e com rit-mos mais quentes”.

Antes da saída do EP, Sónia Lopes pretende apresentar mais temas, que espera serem de agrado de todos. “Vou tirar um tema que é um bolero, rit-mo cubano que incorpora raí-zes espanholas, e tenho mais uma música que é um cazucu-ta, ritmo angolano que casei com mandinga. Este `casa-mento` que Ivan Medina fez

entre estes dois ritmos ficou muito bom. A coladeira será um último tema que irei tirar e será com chave de ouro”.

Neste trabalho onde a can-tora revela o seu lado de com-positora só tem um tema na língua cabo-verdiana, os res-tantes são em espanhol, inglês e português. “Escrever e inter-pretar o próprio tema tem um sabor especial. Consegues en-caixar o tema à tua voz. Sentes mais satisfeita pois é algo que sai de dentro de ti e as coisas acabam por se encaixar me-

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CULTURA C//23Nº 905 • 3 de Abril de 2019

“Os meus quadros mostra-vam mais como era o sofri-mento das mulheres. A colec-ção foi intitulada `Caracóis e lágrimas`, porque nós as mu-lheres mostramos muita coi-sa através do nosso cabelo”.

Dessa colecção, indica que ficou com alguns quadros que serão doados posteriormente a alguma instituição.

Assim como na música, a artista sublinha que a sua pintura também deu um salto. “Estou com uma pintura abstracta muito vibrante e colorida. Além disso criei um projecto que é trazer alegria positiva para as casas e para a vida das pessoas”.

Neste momento está a trabalhar no projecto Sónia Lopes Art. “Fiz uma colecção de quadros e cada um tem uma energia diferente e as pessoas podem identificar-se com esses trabalhos. Como muitas pessoas podem não comprar os quadros acabei por fazer réplicas nos porta-chaves, sacos e copos”.

A artista tem participado em algumas feiras de artesa-nato e disse que o seu projec-to está a correr lindamente. “É muito gratificante receber mensagens das pessoas quan-do compram os meus produ-tos e depois relatam que tive-ram sorte com eles”.

Sónia Lopes ainda não dispõe do seu próprio espaço para vender os seus produtos, mas através da sua página no Instagram os interessados podem fazer as suas encomendas. “Estou sempre a publicar e informar onde estou a vender os meus produtos e podem também entrar em contacto comigo e posso levar”.

A artista esteve no passado sábado, 30 de Março, no evento Expo Mulher que decorreu no restaurante Osteria N. 3, na Cidade da Praia, com a sua colecção “Arte, Vida e Carnaval”. Além de Sónia Lopes, também esteveram neste evento Negaroots, Criatividartes, Badia Natural Cosmetic, Ciohart, Izotika, Katu e Raizes, e a animação esteve a cargo da Dj Rita Miranda.

lhor e consegues fazer as coi-sas de uma outra forma”.

Este trabalho surgiu num período muito bom da sua vida onde conseguiu desfru-tar de bons momentos. “Foi uma celebração de renovação porque estava grávida e essa gravidez trouxe-me essa reno-vação, criatividade, coragem, abertura e liberdade musical”.

Acrescentou ainda que os seus temas fluiram num am-biente de calma e tranquili-dade, num verdadeiro retiro, onde aproveitou melhor o tempo para pensar, sentir no-vas energias e produzir novos temas. “Para este trabalho a inspiração começou em casa pois com a gravidez fiquei muito canseira e no período de amamentação foi quando as coisas começaram a fluir e até já tenho temas para um próximo EP”.

O trabalho está a ser grava-do entre Cabo Verde e Portu-gal e, conforme a cantora, está a decorrer num bom ritmo. “Desta vez as coisas estão a acontecer de uma forma mais tranquila”, acrescenta.

Lançamento

Em relação ao lançamento do seu novo EP, Sónia Lopes disse que será muito temático, sem avançar mais detalhes. “Gostaria de fazer algo bas-tante temático e criativo. Gos-to de eventos mais intimistas, quero sentir o calor do públi-co de modo a transmitir uma certa energia e haver fruição entre a artista e o público”.

Quanto à nossa música, considera que está muito cria-tiva e que os nossos artistas estão a fazer o que realmente querem. “Temos muita fusão e cabe a mim dar a minha contribuição. E é bom que tenhamos variedade porque se formos todos pelo mesmo caminho a nossa música não terá muita graça. Agora temos muita variedade, o que é mui-to bom para nós artistas cabo--verdianos”.

Sónia Lopes Art

Além da música, Sónia Lopes tem outra paixão que é

a arte, aliás ambos surgiram ao mesmo tempo. A sua primeira exposição de pintura começou na mesma época

Sónia Lopes disse que an-tes pintava com mais nostal-gia e mostrava as diferentes fases da vida de uma mulher.

em que dava os primeiros passos na música e as duas expressões culturais andaram sempre de mãos dadas.

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DESPORTO24\\ Nº 905 • de 3 de Abril de 2019

Ribeira Grande acompanha Tchadense na despromoção

Celtic faz história ao sagrar-se campeão regional em Santiago Sul

A equipa do Celtic é o novo campeão regional de futebol de Santiago Sul, referente à temporada 2018/19. Um tí-tulo histórico e inédito, que coroa a equipa de Achadinha Baixo, pelo alto nível de fute-bol praticado durante a épo-ca, neste que é o campeonato mais disputado e mais compe-titivo de Cabo Verde.

Ao cabo de 22 jornadas, a formação do Celtic saboreou o gosto da vitória no cam-peonato, ao terminar a prova

com 55 pontos, mais um que a dupla Académica e Sporting da Praia, dois dos potenciais candidatos ao título.

Em jogo da última jornada, disputado no Estádio Nacio-nal, em Achada São Filipe, na capital cabo-verdiana, a for-mação do Celtic encerrou a ronda e o campeonato.

Subiu ao relvado pratica-mente com a tarefa facilitada, já que a Académica, equipa com a qual partilhava a lide-rança, saíra derrotada no sá-bado pelo Boavista por 2-0.

Os golos da formação axa-drezada foram apontados por Lito e Clé, resultado que ci-

mentou o Boavista na quarta posição. Quem também amea-çava o campeonato era o Spor-ting ao cumprir a sua missão nesta ronda, ao vencer o Bair-ro por 2-0.

Com esta conjugação de resultados, a equipa do Celtic precisava de apenas um ponto frente ao Desportivo da Praia, para festejar o título, pelo que mal o árbitro fez suar o último apito final no 0-0, fez-se a fes-ta no relvado que se prolon-gou pelas ruas da capital.

Criado nos anos 70 no seio da família Ribeiro, comanda-do pelo falecido professor e di-rigente desportivo Carlos “Sr.

Cai” Ribeiro, o Celtic venceu o campeonato de Santiago Sul, sem dúvida, o mais competi-tivo de Cabo Verde, com um ponto de vantagem sobre os segundos classificados: Aca-démica e Sporting da Praia.

A equipa verde e branca ter-minou a prova com 17 vitórias, quatro empates e uma única derrota, tendo sido a equipa mais concretizadora da prova com 45 golos contra 13 sofri-dos, a segunda melhor defesa do campeonato, suplantado apenas pela Académica da Praia, com 8.

Nas restantes partidas desta ronda, a equipa dos

Travadores levou de vencida o Relâmpago por 3-1, o des-promovido Tchadense goleou Ribeira Grande por 6-2 e con-firmou a descida da formação da Cidade Velha, ao passo que o Benfica assegurou a manu-tenção, com uma goleada, de forma expressiva, aos Unidos do Norte por 6-0.

Cetic e Académica da Praia vão representar Santiago Sul no Campeonato Nacional. Descem ao segundo escalão o Tchadende e a Associação Desportiva da Ribeira Grande e sobem à primeira divisão o histórico Vitória e a equipa da ASA Grande.

Classificação FinalCeltic (campeão), 55 pontos, Académica (54),Sporting (54), Boavista (41), Travadores (39), Desportivo (33), Bairro (24), Relâmpago (23) Unidos do Norte (20), Benfica da Praia (15) Ribeira Grande (11),Tchadense (08).

As figuras do RegionalCampeã da primeira divisão: Celtic.Melhor Jogador: Alex (Celtic).Melhor Marcador: Clé (Boavista)Melhor Guarda-redes: Oblak (Académica da Praia)

Simão Rodrigues

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DESPORTO //25Nº 905 • de 3 de Abril de 2019

O Campeonato Nacional de Futebol, edição 2018/19, co-meça a ser disputado este final de semana, envolvendo as 11 campeãs regionais da presen-te temporada, em representa-ção de tantas regiões despor-tivas, mais a Académica da Praia, detentora do título. A “Micá” vai iniciar a defesa do ceptro que ostenta na recep-ção à Académica do Fogo, no Estádio da Várzea, em jogo inaugural do Grupo A.

O calendário desportivo fi-cou completo este domingo com a conquista dos campeo-natos regionais de Santiago Sul, do Maio e do Académi-co/83, respectivamente.

Este ano, entretanto, o Na-cional fica marcado pela entra-da inédita do Oásis, do Celtic, e do Santo Crucifixo, equipas que pela primeira vez conquis-taram o campeonato regional nas regiões desportivas do Sal, de Santiago Sul e Santo Antão Norte, respectivamente.

A formação do Celtic, equi-pa de Achadinha Baixo vai

estrear-se este sábado, no Es-tádio da Várzea, na recepção ao Varandinha do Tarrafal, o Santo Crucifixo recebe a Ul-tramarina de São Nicolau, ao passo que a jovem formação do Oásis, do Sal, desloca-se à Boa Vista para enfrentar o Onze Estelas, no Municipal Arsénio Ramos.

De acordo com o regula-mento, a primeira fase (gru-pos) vai ser disputada no sis-tema de todos contra todos a duas mãos, isto é, dentro e fora. Os vencedores de cada grupo, mais o melhor segun-do classificado qualificam-se para a fase final.

A fase de grupos, segundo a Federação Cabo-verdiana de Futebol (FCF), vai ser dis-putado de 6 de Abril a 4 de Maio, estando as meias finais calendarizadas para 19 e 25 de Maio.

A final vai ser disputada no Estádio Municipal Marcelo Leitão, na ilha do Sal, em Ju-nho.

SR

Três estreantes absolutos na luta pelo ceptro

Nacional de futebol 2018/19 começa a ser disputado este sábado

Constituição dos grupos

Grupo A

Académica do Porto Novo (Santo Antão Sul), Mindelense (S. Vicente) Académica da Praia (detentora do título) e Académica do Fogo

Grupo B

Académico/83 (Maio), Sporting (Brava), Santo Crucifixo (Santo Antão Norte) e Ultramarina (São Nicolau).

Grupo

Onze Estrelas (Boa Vista), Oásis (Sal), Celtic (Santiago Sul) e Varandinha (Santiago Norte).

Calendário 1ª Jornada 06/07 Abril

Grupo A

Estádio Porto Novo: Académica Porto Novo x MindelenseEstádio da Várzea: Académica da Praia x Académica do Fogo

Grupo B

Municipal do Maio: Académico/83 x Sporting da BravaEstádio João Serra: Santo Crucifixo x Ultramarina

Grupo C

Estádio Arsénio Ramos: Onze Estrelas x OásisEstádio da Várzea: Celtic x Varandinha.

Taça Cabo Verde começa a 10 do corrente

A Taça de Cabo Verde, edição 2018/19, começa a ser disputado a 10 do corrente, prova da Federação Cabo-verdiana de Futebol, a ser disputado em paralelo com o Campeonato Nacional. A Académica da Praia conquistou a Taça Praia ao bater na final, realizada a meio da semana, o Celtic por 1-0.

Santo Crucifixo (Santo Antão Norte), Marítimo (Santo Antão Sul), Mindelense (São Vicente) Atlético (São Nicolau), Palmeira (Sal), Sal-Rei (Boa Vista), Barreirense (Maio) Académica (Fogo), Estrelas dos Amadores (Santiago Norte), Académica da Praia (Santiago Sul e (Brava) são as equipas vencedoras das taças regionais que estrarão presente nesta edição da Taça Cabo Verde.

As eliminatórias da Taça Cabo Verde realizam-se nos dias 10 de Abril (1ª), 24 abril (2ª) e 08 de Maio (terceira eliminatória, meia-final), estando a final reservada para 18 de Maio no Estádio Nacional, na Cidade da Praia.

Calendário dos jogos da 1ª eliminatória:

Jogo 1: Santo Crucifixo x Marítimo

Jogo 2: Atlético x Mindelense

Jogo 3: Sal-Rei x Palmeira

Jogo 4: Académica da Praia x Varandinha

Jogo 5: Sporting Brava x Académica do Fogo.

Barreirense do Maio fica isenta e qualificada para a segunda eliminatória.

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DESPORTO26\\ Nº 905 • de 3 de Abril de 2019

O grau de coesão de uma equipa de futebol, sobretudo quando se trata de amadorismo, aumenta com a compreensão por parte de todos os seus mem-bros directivos, das tarefas e res-ponsabilidades que lhes compe-tem no colectivo, devendo estes perceber que a equipa/grupo está sempre em primeiro lugar e é sempre mais importante que o indivíduo.

Infelizmente a maioria dos clubes e quase todas outras enti-dades desportivas em Cabo Ver-de são dirigidas paradoxalmente pelos seus presidentes, que fazem e desfazem o que lhes infelizmen-te passar pela mentalidade. A maioria deles não presta contas ao Conselho Fiscal e Disciplinar e nem tão pouco à Assembleia Geral do clube. Fazem contratos sem critérios, recebem patrocí-nios, donativos e quotas da parte dos associados, verbas estas que não são controlados pelos órgãos sociais do clube. As Assembleias Gerais para o efeito em muitos clubes não funcionam. No caso do Clube Desportivo Travadores há vinte e tal anos que as contas não são aprovadas, enfim tudo se encontra numa banca rota. Das três últimas Direcções, a primei-ra apresentou contas à segunda que não as aprovou, sendo as restantes, incluída a Comissão de Gestão, que ilegalmente está à frente dos destinos do clube, não prestam contas. Que calamidade! Quando uma Direcção não presta contas, argumenta que a anterior não prestou, e isso constitui o motivo de não prestar as contas. Acontecem situações graves e in-corrigíveis. O Clube Desportivo Travadores possui um Estatuto de Entidade Pública, regalias que muitos outros clubes não pos-suem. Portanto quem faz gestão danosa neste clube, pode sofrer consequências penosas.

Imaginem que nos Travado-res foi levantado um cheque no valor de, mais ou menos, três

centenas de contos, pura e sim-plesmente em nome de uma pes-soa. Um clube com Estatuto de entidade pública!

Uma coisa é certa: os di-rigentes desportivos têm de compreender que no Desporto existem dois tipos de sistemas organizativos: quando o Estado controla totalmente as entida-des desportivas, por exemplo a Direcção Geral dos Desportos ou Institutos Desportivos, a or-ganização é pura e simplesmen-te governamental. Mas quando um clube, entidades como Asso-ciações, Federações, ou mesmo Confederações Desportivas caso existissem aqui, Comité Olímpi-co ou de natureza Para-olímpica, estas instituições são sempre ge-ridas por órgãos sociais, isto é, a Assembleia Geral, o Conselho Fiscal e Disciplinar e a Direcção. Neste caso trata-se de uma orga-nização não-governamental.

O Governo disponibiliza no Orçamento do Estado uma verba para o Desporto no sentido geral, o chamado Contrato Programa, que, a nosso ver, é muito pouco, e ainda por cima a referida im-portância é pessimamente mal gerida e muito mal utilizada.

Nos Travadores brevemente haverá eleições. Se nessas elei-ções forem analisados todos es-ses actos elícitos e criminosos, muita gente vai saber o que ver-dadeiramente se passa com os Travadores.

Para que tal aconteça é ne-cessário que todos os sócios que deixaram de pagar as quotas ao clube, regularizassem as situa-ções, a fim de poderem exercer o direito de voto nas próximas Assembleias, visto que os pro-blemas a serem debatidos têm de ser coletivamente analisados. Na Gestão que fazíamos parte, veri-ficamos todas essas anomalias, como patrocínios que entraram para o clube e que foram levan-tados na íntegra, sem justifica-ções da utilização, enfim não foi

apresentado nenhum documen-to comprovativo. Endereçamos uma exposição ao Presidente Cessante com conhecimento ao Presidente da Mesa de Assem-bleia Geral e não tivemos nenhu-ma resposta.

Posteriormente, a maior par-te dos membros decidiu levar o caso à justiça, mas o Presidente, Abel Mendonça, recusou redon-damente, argumentando que não veio aos Travadores para isso. Resumidamente, já há dois mandatos da parte dele, mas as contas não são apresentadas à Assembleia Geral do clube e pen-sa já na terceira candidatura. Se as coisas continuem assim, per-deremos a notoriedade e credi-bilidade e desta forma estamos a construir uma estrutura em cima de areia, conforme afirmou um amigo meu e continuando, como se tem feito, a pedir esmola para sobreviver.

O Clube Desportivo Travado-res, desde os tempos longínquos, foi uma agremiação desportiva com grande notoriedade. O Clu-be teve outrora dirigentes com-petentes e capazes, com grande amor ao clube. Entre os quais re-lembro-vos os nomes de Eduar-do Évora, Augusto Nha Critéria, Morgado Nhu Alfredo, Severino Barbosa, Nhu Lixo, Jacinto Bar-bosa Fernandes, Félix Gomes Monteiro, pessoas que soube-ram fazer do clube uma entidade de renome na arena do futebol praiense em especial e de Cabo Verde no aspecto geral.

Por outro lado, não deixamos de mencionar atletas de gran-des valores como Marino Paiva, Simplício, Homem Preta, Toca-dor, Té, Betinho, Avelino, João Carneiro, Tambrinha, Epifânio, João Carvalho, Joaquim de Tere-sa, Avelino Barbeiro, João Burgo e mais atletas como Sabino, Ber-nardino, Noco, Lula, Domingos, Funa e muitos outros mais. Des-tacou-se entre os últimos atletas o nome de Betinho Mota Gomes,

a figura que na qualidade de trei-nador de futebol, levou o clube, pela primeira vez, a conquistar o título de campeão nacional. Também é de salientar que dois anos depois, Betinho foi mais uma vez campeão nacional, dan-do desta forma o segundo cam-peonato nacional à nossa torcida encarnada. Este homem carece de uma homenagem sincera da parte do clube Desportivo Tra-vadores.

O clube Travadores não ga-nhou muitos títulos de futebol nacional, devido à teimosia dos seus dirigentes, pois só ganhou quatro títulos nacionais.

Actualmente existe uma ges-tão administrativa ilegal, funcio-nando apenas com duas pessoas dos sete eleitos inicialmente. O seu Presidente e mais um mem-bro que lhe serve de suporte nas assinaturas de cheques e mais uma ou outra coisa junto da equipa de futebol. Esta comissão administrativa não pode gerir o clube nos regimes legais, despor-tivos, financeiros ou quaisquer outros fins. De facto, algumas pessoas estão apoiando e bem, mas não são dirigentes eleitos e, portanto, não podem fazer papel de activo no clube. Conforme o Estatuto do clube pode ajudar no trabalho, mas não podem decidir nada.

A tal situação não pode con-tinuar, porque se agora não se prestam as contas, não temos legitimidade nem credibilidade de se relacionar com os bancos, pois legalmente as contas ban-cárias não deveriam ser movi-mentadas e nem temos a honra de pertencer ao grande clube que dispõe de um Estatuto Entidade Publica.

A situação financeira actual dos Travadores resulta duma parte de aluguer da sede social que, são 200 000$00 (duzentos contos), sendo 130 000$00 (cen-to e trinta mil escudos) são desti-nados à renda bancária ao BCA,

sobrando cerca de 70 000$00 (setenta mil escudos). Temos um patrocínio de 75 000$00 mensal (setenta mil escudos) da parte de uma empresa chinesa e uma verba de 80 000$00 (oitenta mil escudos) resultante da renda de mais um piso nos serviços esta-tísticos. As receitas das quotas dos sócios são insignificantes, pois poucos sócios continuam a pagar quotas. Vem uma parte substancial de ajuda monetária que os emigrantes dos EUA en-viam aos Travadores. Os subsí-dios dos EUA estavam dirigidos em nome duma pessoa, quando deviam ser enviados directamen-te para conta do clube, para uma gestão mais transparente. Até quando estivemos na Comissão de Gestão que já não tem valida-de, sugerimos que se construísse delegações para o efeito de aju-das nos EUA e em outros países.

Torna-se um tanto ou quanto ridículo, quando um Clube como Travadores, possui apenas 46 só-cios legais, isto é, pagando quo-tas mensais regularmente.

Já é altura de se realizar uma reunião Eleição Geral, para pre-paração e órgãos sociais compe-tentes e aquisição de dirigentes capazes e decentes, para colocar Travadores no seu devido lugar. Uma Direção de regime colegial e não presidencialista, insistindo em pessoas com conhecimento e capacidade, para levar Trava-dores ao pódio que é o lugar que merece, clube mais popular do nosso Arquipélago.

Por último, o que se torna es-sencialmente ridículo, é que uma comissão ilegal como a atual, ape-nas com dois dos sete elementos eleitos, já se encontra a preparar uma nova época desportiva, con-tactando novos jogadores e uma nova equipa técnica, sem eleição dos corpos sociais, isto é, sem legitimidade. Nesta óptica não se pode realizar nenhum tipo de contratos, sejam eles desporti-vos, comerciais, etc.

O C. D. Travadores encontra-se em situação ilegal

Victor Lobo

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LEITORES //27Nº 905 • 3 de Abril de 2019

Amigo é família

mais dez irmãos. Irmãos deixam Filomena viver aqui porque Filomena tratou di pai e mãe até morrer. Mãe morreu cedo. Tinha peito fichado. Pai morreu com 97 anos. – E aponta para a pa-rede roxa da casa onde, por baixo do lutador de restling, está pendurada uma foto a preto e branco desbotada e retocada de um homem ain-da jovem de camisa branca apertada no colarinho.

- Querem comer? Filomena tem banana e papaia. Co-mam, comam! Dirige-se ao pátio e tira da bacia coberta por um pano um cacho de bananas minúsculas e uma papaia. Traz também uma velha faca enferrujada e um prato esbotenado. Acei-tamos, claro, o contrário seria falta de respeito por uma dádiva tão valiosa nes-ta casa onde mora a fome.

- Amigo é família – diz-nos. Fica de repente com lágri-

mas nos olhos. Abraçamo-nos a ela e ficamos uns segundos todas caladas.

Sem nada combinarmos, a nossa “tesoureira”, abre o porta- moedas comum e da-mos-lhe umas notas que para nós não irão fazer diferen-ça, mas que serão suficientes para se comer durante mais de um mês naquela casa.

Aceita naturalmente, como alguém habituado a tanto dar e dar-se aos outros.

Acompanha-nos à porta e permanece no alpendre a sorrir e acenar até o nosso “iace” desaparecer numa curva.

Cidade da Praia, 22 Março de 2019

sia. À direita, outras cortinas semelhantes mas verde alfa-ce, que servem de porta para o seu quarto sem janela, onde se vê uma cama sem lençóis. Dorme aí com a filha. Na ca-beceira de madeira torneada, está pendurado um saco de plástico azul, velho e amar-rotado. Na parede manchada de castanho, mais fotos e pós-teres colados com fita-cola já amarelada e a descolar.

Uma outra porta em frente dá para um corredor já desco-berto, que termina num pátio. Aí há duas mesas quadradas cobertas com velhas toalhas de plástico e em cima estão poisados tachos e bacias co-bertos por um pano. No chão, inúmeras caixas, bidões para guardar água e mais bacias de plástico de todas as cores. Há ainda mais três quartos sem portas, que foram sendo acrescentados à casa inicial e dão para o pátio. Um serve de cozinha. Tem um balcão de cimento onde existe um fo-gareiro e uma panela grande de alumínio. Mais nada. Os outros dois são minúsculos e completamente ocupados por camas de casal com colchões encardidos. Mais fios elétri-cos pendurados como serpen-tinas de uma parede à outra, mais manchas castanhas em tiras do tecto ao solo de terra batida. Ratos não deve haver, porque não há que comer.

E quando chove, Filomena?- Quando chovi, Filomena

põe lona.- Esta casa é sua, Filomena? - Filomena não tem casa.

Esta casa era di meu pai. Agora é di Filomena e di

Ilha do Maio. Fomos à pro-cura de uma praia. Ribeira de D. João é uma pequenina al-deia no meio de montanhas avistando o mar. Andamos perdidas em ruinhas paralelas ladeadas por casas tipo colo-nial, pequeninas e com por-tadas coloridas, algumas já abandonadas. Passamos por um grupo de homens, mu-lheres e crianças, sentados a conversar na sombra de um alpendre.

Uma mulher dirige-se ao jipe e diz:- Estão perdidas? Filomena

ajuda. Filomena ir com vocês. – E, sem pedir, entra no jipe e senta-se ao nosso lado.Filomena é alta, mais de

um metro e setenta, seca de carnes, ombros largos, pouco peito e sem soutien, pernas altas e esguias, mãos e pés grandes. A pele é muito escura, nariz reto e fino. Adivinha-se que a comida só dá para sobreviver e que aquele corpo musculoso foi conseguido à custa de muita caminhada pela terra batida, por galgar muitas dunas, muita roupa lavada à mão, muita criança transportada às costas (bombur). Anda descalça e pisa pedras sem um ai. Tem um lenço imaculadamente branco atado à cabeça, T-shirt amarela e saia curta xadrez. Ri muito e mostra que lhe faltam os incisivos inferiores. Os outros são sãos, compridos e brancos. Vai falando numa linguagem telegráfica, mistura de português com crioulo. “Filomena fez, Filomena teve, Filomena gosta”. Tem

cinquenta e cinco anos. Nasceu e morou sempre ali. Oito filhos “quatro fiminino e quatro masculino”. Só os últimos dois nasceram no hospital. Todos vivos e sãos.

Pôs os dois homens fora de casa. “Filomena fartou. Um batia, outro bebia”. Percebo agora a falta dos incisivos....

Chegamos à praia depois de transpor umas dunas altíssimas que mais parecem pequenas montanhas.

Esqueci-me de por protetor solar no corpo e começo a espalhá-lo. Filomena pede-me o frasco e com as suas mãos grandes e musculosas massaja-me toda, espalhando o creme. Que mãos! Parece uma massagista profissional- Em que trabalha, Filome-

na?- Filomena faz di tudo.

Si pricisa, Filomena faiz. Filomena trata di cabra, Filomena lava roupa, Filomena trata di casa sinhora qui vivi na holanda. Só um pouquinho di dinheiro pra comer.

- E quando não tem dinhei-ro, Filomena?

- Vizinha dá arroz.- E os filhos onde estão,

Filomena?- Um macho e um fêmea vive

com Filomena. O macho di vinti e fêmea di quinzi.

- Eles estudam?- Fêmea sim, aprende más

midjor. Vai di iace istudar pra cidade Porto Inglês.Tomamos banho e seca-

mos. Filomena não quis ir para o mar mas diz:- Filomena sabi nadar. Dia

di festa ou dia di passeio

Filomena gosta di nadar.Está muito calor, abrigadas

pelas dunas altas. Vestimo-nos para regressar, pois temos almoço reservado para as 13 num restaurante que pertence a uma família italiana.

Quando a deixamos à porta de casa, insiste para que en-tremos. Estão lá os filhos. A rapariga é linda, alta e esguia. Tem um olhar inteligente e fala bem o português. Diz-nos que quer ser médica. A casa é de uma pobreza confrangedo-ra. O chão é de cimento esbu-racado. O tecto é de telha vã. Há fios elétricos pendurados e manchas castanhas nas pa-redes, sinais da água que por aí corre nas raras ocasiões em que chove. À entrada a “sala”, com diversas mesas cobertas por panos acetinados e colori-dos, onde ela poisou caixotes também revestidos por cetins de outras cores, de forma a fazer pequenos altares onde colocou molduras com fotos das pessoas que mais gosta: irmãos, filhos, netos e amigos que estão emigrados na Ho-landa e nos Estados Unidos. Uma das paredes da sala está pintada de roxo e aí pendurou um enorme poster emoldura-do de um lutador de restling preto, enorme e muitíssimo musculado, apenas vestido com uns minúsculos e justos calções vermelhos. A Mónica, malandra como sempre, fá-la soltar uma gargalhada des-dentada ao perguntar:- Este era o seu primeiro ma-

rido?Na janela fechada com por-

tadas, umas cortinas rosa fuc-

TERESA TELMUNDONeuropediatra

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CIÊNCIA E TECNOLOGIA28\\ Nº 905 • 3 de Abril de 2019

Muco dos peixes escorregadios abre caminho a novos antibióticosA substância viscosa protege os peixes de bactérias, fungos e vírus presentes na água. E pode ter aplicações nos humanos, revela um novo estudo.

O muco que torna os peixes escorregadios pode ser fonte de novos antibióticos eficazes contra bactérias multirresistentes, como a Staphylococcus aureus, que provoca infecções graves, defendem investigadores num novo estudo.

A substância viscosa protege os peixes de bactérias, fungos e vírus presentes na água apri-sionando os microorganismos antes que estes consigam pe-netrar nos tecidos dos peixes e, de acordo com o estudo, que será apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Química, tem também uma composição rica em polissa-

Sandra Loesgen, citada num comunicado da Socie-dade Americana de Quími-ca, adianta que uma bactéria encontrada no muco de uma espécie da família dos pargos revelou actividade contra cé-lulas cancerígenas do cólon e sublinha o potencial, ain-da pouco estudado, dos mi-croorganismos e substâncias naturalmente presentes nos animais marinhos face às des-cobertas que têm vindo a ser feitas sobre a importância das bactérias benéficas e protec-toras presentes no organismo humano, especialmente no chamado “microbioma” gas-trointestinal.

A emergência das religiões e dos seus deuses nas sociedades tem desafiado historiadores e antropólogos. Como surgem, e por que motivo? Uma hipótese geralmente aceite tem sustentado que é a crença nos deuses, enquanto entidades organizadoras dos padrões morais – e castigadoras, quando eles não são cumpridos -, que permite que as sociedades se tornem mais complexas, mas um estudo agora publicado na revista Nature, acaba de deitar esta ideia por terra.

Um grupo internacional de investiga-dores, que analisou quase 500 sociedades humanas que surgiram e desapareceram ao longo dos últimos 10 mil anos, até à revolução industrial, vem desafiar aquela velha ideia. “Não é assim”, diz o grupo coordenado por Harvey Whitehouse, do Centro de Estudos de Coesão Social da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Deuses castigadores? Só as sociedades mais complexas os criaram

com propriedades antibacte-rianas conhecidas.

Uma equipa de investiga-dores das universidades de Oregon e da Califórnia, nos Estados Unidos, liderada por Sandra Loesgen isolou em amostras de muco de peixes, retiradas tanto de espécies de águas profundas como de águas costeiras, 47 estirpes di-ferentes de bactérias, das quais cinco revelaram propriedades inibidoras da Staphylococcus aureus, responsável por mui-tas infecções hospitalares, e três manifestaram-se como inibidoras do fungo Candida albicans, que provoca doenças como a candidíase.

Cientistas passaram em revista a história de cerca de 500 sociedades e civilizações humanas, que nasceram e morreram ao longo dos últimos dez mil anos, e descobriram que só as mais complexas criaram deuses castigadores.

Ao contrário, garante o investigador, “a emergência da crença em grandes deuses castigadores só ocorre no seio de socieda-des que já eram complexas”.

Num artigo publicado quinta-feira pas-sda, os autores sustentam ainda que pare-ce ser a realização de rituais que cimenta as sociedades e lhes permite percorrer um caminho sólido em direcção a uma maior complexificação. Um caminho que passa necessariamente pela cooperação entre muitos milhares de pessoas que não se conhecem entre si, mas que apesar disso, têm essa capacidade de cooperar. Como conta o dn.pt, pensava-se que isso tinha sobretudo a ver com crenças em entida-des sobrenaturais punitivas para com os comportamentos desviantes das normas coletivas, mas afinal não é assim.

“Para nossa surpresa, os nossos da-dos contradizem completamente aquela

complexidade social, religião, cultura e outras particularidades de cerca de 500 sociedades do passado, desde há 10 mil anos e até à revolução industrial.

O projeto desta base de dados foi, aliás, lançado em 2011 por três dos autores do estudo agora publicado na Nature, entre os quais Harvey Whitehouse, justamente para tornar possível este tipo de investigações que abordam questões sociais mais complexas.

Para avaliar a emergência das entidades divinas castigadoras e guardiãs da moral, como é por exemplo o deus de Abraão, herdado depois pelos cristãos, os autores passaram em revista as cerca de 500 sociedades que constam na base de dados Seshat. E nesse conjunto, a primeira vez que ocorre um tal deus é na civilização do Antigo Egipto, na segunda dinastia dos faraós, há 4800 anos, adiantam os autores.

hipótese”, afirma o coordenador do estu-do. «Em quase todas as regiões do mun-do para as quais temos dados, os deuses moralizadores tendem a surgir depois, e não antes, de um aumento da complexida-de social», diz Harvey Whitehouse, citado pela mesma fonte, sublinhando que os re-sultados obtidos pelo seu grupo “sugerem que as identidades coletivas, [fortalecidas por rituais em comum], são mais impor-tantes para facilitar a cooperação nas so-ciedades do que as crenças religiosas”.

Uma base de dados preciosa

Para poder chegar aqui, os investigadores utilizaram a maior base de dados que hoje existe sobre sociedades humanas ao longo da história, a Seshat - Global History Databank, que reúne cerca de 300 mil dados sobre

Investigação científica

carídeos (hidratos de carbono que integram estruturas orgâ-

nicas) e peptídeos (biomolécu-las que agregam aminoácidos)

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COFFEE BREAK //29Nº 905 • de 3 de Abril de 2019

Recomendação Para Ouvir

Insólitos

Marcos Suzano fez o seu percurso como percussionista, onde desde sempre se inte-ressou pelo pandeiro brasileiro.

Passou pelas bandas do Caetano en-tre outros famosos nomes da MPB. O seu momento alto foi a participação na sober-ba banda que Gilberto Gil escolheu para o acompanhar no seu magnífico “Unplugged MTV”. Suzano era o percussionista do grupo e o seu pandeiro já se destacava.

Estudioso profundo de tudo o que se relacionava com o pandeiro, desde a sua história até os seus mestres, Suzano quis ir mais longe…descobre então uma nova técnica de tocar. Basicamente o pandeiro para além de ser tocado com as mãos sobre a pele, tem também nos movimentos com o pulso (até então quase que se usava o pulso fixo, quando se tocava…) mais espaço para a exploração de sons e batidas. Assim, o nú-mero de seguidores do “mestre” foram sen-do cada vez maiores.

Lenine e o pandeiro de Suzano em “Olho de Peixe”Por Paulo Lobo Linhares

EUA//Detido por drogar os colegas de trabalho que estavam “muito nervosos”

O alerta foi dado depois de o ge-rente da loja ter chamado a polícia ao reparar que dois dos funcionários não se estava a sentir bem e demonstra-vam comportamentos estranhos.

De acordo com o portal “WLSAM”, o gerente, de 27 anos, reparou que um dos funcionários, de 19 anos, ti-nha colocado algo na água de dois co-legas, os mesmos que demonstraram não estar bem.

Um funcionário de uma empresa de aluguer de automóveis, no Estado do Missouri, nos EUA, foi detido depois de ter colocado LSD nas garrafas de água dos colegas.

Questionado pela polícia, o rapaz confessou que tinha adulterado a bebida dos seus colegas. “Estavam muito ner-vosos e precisavam de uma nova energia”, justificou.

Apesar de ter sido detido, já foi colocado em liberdade, mas perdeu o posto de trabalho.

Fonte: JN

Assim, proponho como amostra o álbum “Olho de Peixe”, segundo álbum do músico Lenine, com a participação de Suzano. À so-noridade de Lenine junta-se a inovação do pandeiro de Suzano para uma mistura su-blime.

Não tem jeito, a Marvel domina o mercado quando o assunto é cinema. E depois do fenômeno que foi Guerra Infinita este ano, o que o grande público que lota as salas dos multiplex pelo mundo mais quer saber é: o que diabos aconteceu com os super-heróis da casa? Igualmente ainda sem título, o quarto Vingadores deve ser o divisor de águas para personagens icônicos e uma nova fase de filmes da empresa.

A Disney está em seu caminho de dominação mundial. Ao menos no que diz respeito a produções cinematográficas. O estúdio segue transformando seus clássicos animados em versão live-action de centenas de milhões de dólares. Para que criar algo novo se os fãs estão comendo histórias requentadas com farinha? Em 2019, a Disney lançará nada menos do que três filmes seguindo esta veia. O mais interessante é o Rei Leão – versão digital da clássica animação. Simba e toda a turma estarão de volta para encantar novas gerações. Hakuna Matata voltará às paradas de sucesso.

2 | O Rei Leão

1 | Vingadores: UltimatoDois dos Filmes MAIS ESPERADOS de 2019

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COFFEE BREAK30\\

//Colorir e descobrir as 7 Diferenças

Nº 905 • de 3 de Abril de 2019

//Sudoku

A Imortal de Carlos Torre

A vida xadrezística do melhor jogador mexicano de todos os tempos, Carlos Torre (Mérida, México, Novembro de 1904 – Março de 1978, Mérida) é parecida com a de outras estrelas fugazes, como Paul Morphy e Rudolf Charousek, os quais por uma ou outra razão, só deixaram uma breve amostra (ainda que brilhante) do seu enorme potencial.

Se levarmos em conta que Torre abandonou o xadrez aos 21 anos, é legítimo perguntar onde poderia ter chegado em circunstâncias normais, e não será de todo ousado pensar que poderia ter aspirado ao mais elevado ceptro mundial, não fossem os proble-mas de saúde que obrigaram-no a vol-tar as costas ao jogo dos reis.

Numa entrevista da época, o mexi-cano disse que o jogador que mais o influenciou foi sem dúvida Emmanuel Lasker, mas que guardava respeito e reconhecimento por Capablanca e Alekhine. Sobre Alekhine opinou que “era o melhor calculador de variantes e que nenhum outro campeão se lhe po-dia igualar em profundidade de cálcu-lo. Tinha uma enorme capacidade de trabalho, e uma memória prodigiosa”.

O estilo de Carlos Torre era mais parecido ao de Capablanca de quem afirmou: “Tenho a impressão de que jogava com vista à final; ele via, ou sentia, o que era necessário fazer em qualquer posição”. Embora tenha pro-duzido na sua curta carreira brilhantes

combinações à la Alekhine, o estilo de Torre tem sido comparado ao do cuba-no Capablanca. Sobre a sua partida mais conhecida e comentada em que tinha como adversário Lasker, tinha o mestre mexicano uma opinião pou-co convencional. Escutemos o que diz Torre da sua imortal partida, cuja con-dução é um modelo e uma delícia para os olhos.

“Não a considero uma boa partida. Ambos cometemos vários erros, essa foi uma das minhas piores partidas,

e também a pior de Lasker”. Acredite quem quiser.

Na partida que ao lado reproduzi-mos Carlos Torre com apenas 21 anos enfrenta Emanuel Lasker que tinha sido campeão do mundo durante qua-se trinta anos. Torre não se deixa inti-midar. Sacrifica a Dama e produz uma combinação devastante com bispo e torre que na literatura xadrezística se chama bateria ou “Moinho de Vento”, nome pelo qual é conhecido nos ma-nuais de xadrez.

Carlos Torre vs Emanuel Lasker“Moinho de Vento”

Moscovo (1925)

Posição após 25.Bf6

1.d4 Nf6 2. Nf3 e6 3. Bg5 c5 4. e3 cxd4 5. exd4 Be7 6. Nbd2 d6 7. c3 Nbd7 8. Bd3 b6 9. Nc4 Bb7 10. Qe2 Qc7 11. O-O O-O 12. Rfe1 Rfe8 13. Rad1 Nf8 14. Bc1 Nd5 15. Ng5 b5 16. Na3 b4 17. cxb4 Nxb4 18. Qh5 Bxg5 19. Bxg5 Nxd3 20. Rxd3 Qa5 21. b4 Qf5 22. Rg3 h6 23. Nc4 Qd5 24. Ne3 Qb5 25. Bf6 Qxh5 26. Rxg7+ Kh8 27. Rxf7+ Kg8 28. Rg7+ Kh8 29. Rxb7+ Kg8 30. Rg7+ Kh8 31. Rg5+ Kh7 32. Rxh5 Kg6 33. Rh3 Kxf6 34. Rxh6+ Kg5 35. Rh3 Reb8 36. Rg3+ Kf6 37. Rf3+ Kg6 38. a3 a5 39. bxa5 Rxa5 40. Nc4 Rd5 41. Rf4 Nd7 42. Rxe6+ Kg5 43. g3 1-0

António Monteiro

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AGENDANº 905 • de 3 de Abril de 2019 //31

BOA VISTABombeiros 2511141 | Hospital 2511167Polícia 2511132BRAVABombeiros 2851313 | Hospital 2851130Polícia 2851132Fogo //MosteirosBombeiros 2831038 | Hospital 2831034Polícia 2831073Fogo //São FilipeBombeiros 2811313 | Hospital 2811130Polícia 2811132MaioBombeiros 2551335 | Hospital 2551130Polícia 2551132SalBombeiros 2411131 | Hospital 2421130Polícia 2421132Santiago //CalhetaBombeiros 2731132 | Hospital 2731130Santiago //PraiaBombeiros 133Hospital 130Polícia 132Santiago //Santa CatarinaBombeiros 2651307 | Hospital 2651130Polícia 2651132Santiago //São DomingosBombeiros 2681240 | Hospital 2681130Santiago //Santa CruzBombeiros 2691313 | Hospital 2691330Polícia 2691332Santiago //TarrafalBombeiros 2661155 | Hospital 2661130Polícia 2661132Santo Antão //PaulHospital 2231130 | Polícia 2231292Santo Antão //Ponta do SolHospital 2251130 | Polícia 2251132Santo Antão //Porto NovoBombeiros 2221223 | Hospital 2221130Polícia 2221132Santo Antão //Ribeira GrandeHospital 2251130 | Polícia 2251132São NicolauBombeiros 2361162 | Hospital 2351130Polícia 2351132São VicenteBombeiros 2325231 | Hospital 2327355Polícia 2314631

FARMÁCIAS DE SERVIÇOPraia São Vicente03/04 Farmácia Sta. Isabel04/04 Farmácia A. S. Filipe05/04 Farmácia Universal

06/04 Farmácia 200007/04 Farmácia Moderna08/04 Farmácia Central

09/04 Farmácia A. S. António 03/04 Farmácia Avenida04/04 Farmácia Leão05/04 Farmácia Nena

06/04 Farmácia Higiene07/04 Farmácia Jovem08/04 Farmácia Mindelo

09/04 Farmácia Avenida

telefonesúteis

responsabilidades incompatíveis que condu-zem ao fracasso.

BALANÇA (24 Setembro/ 23 Outubro)

Seria de esperar uma natureza plácida e sos-segada com esta bela configuração de plane-tas, mas nem sempre é assim e podem acon-tecer actitudes temerárias. Com esta posição é normal a ascensão económica e relações sociais benéficas.

ESCORPIÃO (24 Outubro/22 Novembro)

Influências associadas aos sentimentos mais primitivos marcam fortemente seus temas e estão destinados a transformar comporta-mentos enraizados. Atenção: deve proteger--se contra manipulações tendentes a preju-dicar-lhe com enganos.

SAGITÁRIO (23 Novembro/21 Dezembro)

Esteja prevenido contra falsos profetas que prometem muito através de menos e menos. O seu poder mental costuma ser bom mas não o emprega de forma produtiva. Com esta posição está sujeito a tendências extremas e contrárias.

CAPRICÓRNIO (22 Dezembro/ 20 Janeiro)

A posição astral continua triste e estancada. Pode dizer-se que há inconsistência e não controlada energia nervosa. Necessita acla-rar ideias e decidir-se. No amor você alimen-ta a vaga angústia de ser considerado aborre-cido e sem encantos.

HORÓSCOPOAQUÁRIO (21 de Janeiro/20 Fevereiro)

Condições activas e felizes animam a vida profissional, mas o sentido poderoso da proporção e da equidade dificulta às vezes a tomada de decisões. A sua Lua continua a brilhar e pode dirigir a vida de conformidade com seus projectos pretendidos.

PEIXES (21 Fevereiro/ 20 Março)

Tendência a recorrer a práticas espirituais resultante do desejo inacto de se elevar e transcender os interesses terrenos. Aspectos que induzem à obsessão. Às vezes tende a se deixar influenciar pelos outros e não apro-veita as situações.

CARNEIRO (21 Março/20 Abril)

Seu mapa astral vai mudar. Comece desde já a abandonar o hábito de querer terminar as coisas antes de as haver principiado. Os últi-mos tempos foram períodos de preparação, mas vai sendo hora de aplicar os conheci-mentos aqueridos.

TOURO (21 Abril/21 Maio)

Apresenta-se um panorama muito interes-sante, apoiado na capacidade de expressão e objectivos ambiciosos. Em breve disporá da força que parece faltar-lhe agora. É vulgar confundir amor com possessão, tendendo

explorar a capacidade alheia em benefício próprio.

GÉMEOS (22 Maio/21Junho)

Os efeitos desta adversa configuração astral podem tornar-se violentos, embora o normal é que a travessia deste período se resuma a lamentações sem consequências. A posição é desvavorável para certas actividades, mas nos momentos mais perigosos uma mão oculta virá em sua ajuda.

CARANGUEJO (22Junho/23 Julho)

Está enfrentando oposições que de algum modo perturbam o desenvolvimento da sua vida. Os temas femininos estão menos fa-vorecidos sobretudo os relacionados com o amor e a felicidade.

LEÃO (24 Julho/ 23 Agosto)

Convém desconfiar de quantos lhe sugerem atalhos para alcançar o êxito ou pintam tudo cor-de-rosa. Às vezes é tentado por coisas de boa aparência mas pouco plausíveis – os re-sultados podem ser graves e destruir o con-seguido.

VIRGEM(24 Agosto/23 Setembro)

Inteligência aguda de manifestação beli-cosa, utilizando expressões incorrectas em momentos impróprios. Mantém-se alerta e desconfiado, com receio de ser a sua es-pontaneidade mal interpretada. Aparecem

As taxas aqui retratadas são as praticadas nas operações entre o BCV e as instituições de crédito. As taxas praticadas por estas últimas nas operações com os seus clientes estão liberalizadas, com excepção do câmbio com o Euro que é fixo.

Data06/06/201706/06/201706/06/201721/12/201806/06/2017

Data19/11/201827/11/201803/12/201812/12/201817/12/201826/12/201803/01/2019

Data09/10/201812/10/201816/10/201805/11/201808/11/201811/12/201814/12/201821/12/2018

Moeda Unid.USD 1GBP 1CAD 1CHF 100JPY 100DKK 100NOK 100SEK 100ZARCNYBRLXOF 100

Obs: Para mais informações, consulte WWW.BCV.CV

1,5000

Taxa (%)Tipo

Bilhetes do Tesouro 30 dias 1,0000Obrigações do Tesouro 8 anos

Títulos da Dívida Pública - Últimas Emissões

Títulos de Intervenção Monetária (182 dias)

4,2500

Títulos de Intervenção Monetária (180 dias) 1,5000Títulos de Intervenção Monetária (180 dias) 1,5000

Obrigações do Tesouro 9 anos

96,444ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

3,9375Bilhetes do Tesouro 90 dias 1,0000

Obrigações do Tesouro 5 anos 3,8125Obrigações do Tesouro 9 anos 3,8125

Obrigações do Tesouro 10 anos 3,8125Bilhetes do Tesouro 121 dias 1,0000

123,051

País

INGLATERRA

Taxas de Câmbio de 08-01-2019Venda

122,748

Compra 96,242

1 077,116NORUEGA 1 123,601

72,229

88,9329 815,025 9 827,801SUÍÇA

1 126,291DINAMARCAJAPÃO

1 477,9431 475,25489,059

72,088CANADÁ

16,81026,074

1 079,973

CHINABRASIL

SUÉCIA

16,81026,074

ÁFRICA DO SUL1 406,065

SENEGAL

1 406,0657,0516,849

Títulos de Regularização Monetária (14 dias) 1,5000

Títulos de Intervenção Monetária (182 dias) 1,5000Taxa (%)Tipo

Títulos de Intervenção Monetária (181 dias) 1,5000Títulos de Intervenção Monetária (182 dias) 1,5000

Banco de Cabo Verde

Taxa Directora 1,5000

Títulos do BCV - Últimas Emissões

As taxas aqui retratadas são praticadas nas operações entre o BCV e as instituições de crédito. As taxaspraticadas por estas últimas nas operações com os seus clientes estão liberalizadas, com excepção docâmbio com o Euro que é fixo.

Taxas de JuroTipo Taxa (%)

Absorção de liquidezCedência de liquidez

0,10004,50005,5000Redesconto0,9090Taxa Base Anual

Data06/06/201706/06/201706/06/201701/03/201906/06/2017

Data22/02/201927/02/201901/03/201912/03/201918/03/201925/03/2019

Data18/02/201926/02/201901/03/201905/03/201912/03/201919/03/2019

Moeda Unid.USD 1GBP 1CAD 1CHF 100JPY 100DKK 100NOK 100SEK 100ZARCNYBRLXOF 100

Obs: Para mais informações, consulte WWW.BCV.CV

Títulos de Intervenção Monetária (182 dias) 1,5000Títulos de Intervenção Monetária (182 dias) 1,5000

Obrigações do Tesouro 6 anos 3,8750

Taxa (%)Tipo Títulos da Dívida Pública - Últimas Emissões

Obrigações do Tesouro 7 anos 3,8750

Obrigações do Tesouro 7 anos 3,8750

Títulos de Intervenção Monetária (180 dias) 1,5000Títulos de Intervenção Monetária (180 dias) 1,5000

Obrigações do Tesouro 3 anos 3,8125

Títulos de Intervenção Monetária (180 dias) 1,5000Títulos de Regularização Monetária (14 dias) 1,5000

Bilhetes do Tesouro 180 dias 1,2500

128,879

País

INGLATERRA

Taxas de Câmbio de 02-04-2019Venda

128,576

Compra 98,034 98,236ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

73,551

88,3759 856,313 9 869,089SUÍÇA

73,410CANADÁ

NORUEGA 1 142,720 1 145,410DINAMARCAJAPÃO

1 478,6161 475,92788,502

SENEGAL

1 462,2077,0286,826

1 056,777

1,0035Taxa Base Anual

Taxa (%)Tipo

16,81025,311

1 059,634

CHINABRASIL

SUÉCIA

16,81025,311

ÁFRICA DO SUL1 462,207

Obrigações do Tesouro 8 anos 3,8750

Banco de Cabo Verde

Taxa Directora 1,5000

Títulos do BCV - Últimas Emissões

As taxas aqui retratadas são praticadas nas operações entre o BCV e as instituições de crédito. As taxaspraticadas por estas últimas nas operações com os seus clientes estão liberalizadas, com excepção docâmbio com o Euro que é fixo.

Taxas de JuroTipo Taxa (%)

Absorção de liquidezCedência de liquidez

0,10004,50005,5000Redesconto

Data06/06/201706/06/201706/06/201701/03/201906/06/2017

Data22/02/201927/02/201901/03/201912/03/201918/03/201925/03/2019

Data18/02/201926/02/201901/03/201905/03/201912/03/201919/03/2019

Moeda Unid.USD 1GBP 1CAD 1CHF 100JPY 100DKK 100NOK 100SEK 100ZARCNYBRLXOF 100

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Títulos de Intervenção Monetária (182 dias) 1,5000Títulos de Intervenção Monetária (182 dias) 1,5000

Obrigações do Tesouro 6 anos 3,8750

Taxa (%)Tipo Títulos da Dívida Pública - Últimas Emissões

Obrigações do Tesouro 7 anos 3,8750

Obrigações do Tesouro 7 anos 3,8750

Títulos de Intervenção Monetária (180 dias) 1,5000Títulos de Intervenção Monetária (180 dias) 1,5000

Obrigações do Tesouro 3 anos 3,8125

Títulos de Intervenção Monetária (180 dias) 1,5000Títulos de Regularização Monetária (14 dias) 1,5000

Bilhetes do Tesouro 180 dias 1,2500

128,879

País

INGLATERRA

Taxas de Câmbio de 02-04-2019Venda

128,576

Compra 98,034 98,236ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

73,551

88,3759 856,313 9 869,089SUÍÇA

73,410CANADÁ

NORUEGA 1 142,720 1 145,410DINAMARCAJAPÃO

1 478,6161 475,92788,502

SENEGAL

1 462,2077,0286,826

1 056,777

1,0035Taxa Base Anual

Taxa (%)Tipo

16,81025,311

1 059,634

CHINABRASIL

SUÉCIA

16,81025,311

ÁFRICA DO SUL1 462,207

Obrigações do Tesouro 8 anos 3,8750

Banco de Cabo Verde

Taxa Directora 1,5000

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Taxas de JuroTipo Taxa (%)

Absorção de liquidezCedência de liquidez

0,10004,50005,5000Redesconto

Page 32: Regionalização C Crescimento€¦ · Preço: 100$00 // Quarta-feira, 3 de Abril, de 2019 //Número 905 //Tiragem: 3.000 Exemplares //Director: Humberto Cardoso

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