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artigo sobre transporte público coletivo
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ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAO PBLICACENTRO DE FORMAO ACADMICA E PESQUISACURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAO PBLICA
QUALIDADE DE VIDA E TRANSPORTE PBLICOURBANO: ESTRATGIAS PARA MELHORAR AQUALIDADE DO SERVIO DE TRANSPORTEPBLICO URBANO POR NIBUS
KOFFI DJIMA AMOUZOU
Rio de Janeiro, 2000
ii
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAO PBLICACENTRO DE FORMAO ACADMICA E PESQUISACURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAO PBLICA
QUALIDADE DE VIDA E TRANSPORTE PBLICO URBANO: ESTRATGIAS PARAMELHORAR A QUALIDADE DO SERVIO DE TRANSPORTE PBLICO URBANO POR
NIBUS
Dissertao de Mestrado Apresentada porKOFFI DJIMA AMOUZOU
EAprovada em 06/07/2000Pela Comisso Examinadora
ASSINATURA
ENRIQUE JERONIMO SARAVIA Professor Titular da EBAP/FGV
ASSINATURA
VALDEREZ FERREIRA FRAGAS Dra. Em Educao
ASSINATURA
MOEMA MIRANDA SIQUEIRA Ps-Dra. Em Planejamento e Economia da Sade
iii
RESUMO
O transporte exerce sobre a sociedade uma influncia muito maior do que aquela
comumente percebida. A grande mudana da urbanizao que vem ocorrendo no mundo,
mostra no somente que maior nmero de pessoas vo morar e trabalhar em grandes
cidades mas tambm, que o cidado vai precisar percorrer longas distncias para satisfazer
suas necessidades econmicas, sociais e culturais no espao urbano.
Contudo, o crescimento do nmero de pessoas que dependem de veculo particular
em grandes cidades no Brasil est se tornando muito mais evidente. Isso ocasiona
obstculos como congestionamento das estradas, que diminui a produtividade econmica do
pas; aumento do nvel de consumo de energia e elevados custos socioeconmicos e
culturais sobre a vida cotidiana na cidade.
Outrossim, a operao do servio de transporte pblico urbano por nibus, uma das
modalidades mais teis para a maioria da populao de baixa renda (por favorecer o contato
entre pessoas, a mobilidade para o trabalho, o acesso educao, hospital, lazer, etc.)
passa pelas mos de empresas privadas e sofre muito mais quanto qualidade do servio
prestado.
Deste modo, o presente estudo exploratrio constitui uma contribuio para a
compreenso dos fenmenos de excluso social, um dos problemas socioeconmicos e
culturais do deslocamento urbano, possibilitando examinar as caractersticas genricas do
planejamento urbano com relao interdependncia entre cidade, sociedade, qualidade de
vida e transporte pblico urbano, a partir do exemplo de duas cidades brasileiras: Rio de
Janeiro e Curitiba.
iv
ABSTRACT
If urban planning is to support the equitable distribution of public goods and services,
it must recognize and address the dismal condition of millions of poor people who are living in
a city. The primary focus of contemporary planners and planning students should be on
finding and advocating solutions that help eliminate the problems of todays cities. Any
meaningful solution will need to be grounded in a thorough understanding of the social class
inequities of citizens.
With the rapid development of national economy and urbanization process in Brazil
over the last two decades, the number of vehicles and their travels are dramatically
increased. This is particularly evident in all large cities. Traffic congestion becomes more and
more severe. Inadequate parking facilities often result in difficulty to find a parking space in
large cities and many illegally parked vehicles can be seen on the crowed streets. These
illegally parked vehicles further intensify traffic congestion and also pose a traffic safety
hazard. The process of urbanization and motorization in Brazil is likely to continue in a rapid
pace.
The urban public passengers transport modes problems in large cities are likely to get
even worse. There is an urgent need for the development of policy and criteria for public
service of urban public passenger transport by bus in large cities. The purpose of survey is to
develop policy guidelines for public transport services planning, design, construction and
mobility management, that meet community needs for accessibility in large cities.
So this thesis will present major comparative characteristics of urban mobility
management, urban public passengers transport by bus services planning and the quality of
social life in two towns of Brazil: Rio de Janeiro and Curitiba. The study case has been
vfocused on Rio de Janeiro and Curitiba because of the major different results of the survey
presented by the two cities.
The objectives of this thesis are: a) to analyze and discus existing urban mobility
related accessibility and economic development problems in large cities; b) to provide an
overview of the relationship within city quality of social life urban mobility in Rio and
Curitiba; c) to analyze and discuss existing urban mobility management related public
transport services in Rio and Curitiba; d) to analyze and discuss existing quality of bus public
transport services problems in Rio. Some preliminary recommendations for mobility
management policies will also be presented.
vi
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Memu e Kodjo, ao estar to longe de vocs para buscar mais um objetivo da
minha vida, h certas circunstncias que surgem, que proporcionam oportunidades raras
para meditao e reflexo. Esta uma oportunidade preciosa.
Ao meu orientador acadmico, Prof. Enrique Saravia, padrinho e amigo que me deu a
oportunidade de definir o assunto e esclarecer minhas idias nos momentos crticos a fim de
realizar o presente trabalho e que sempre me incentivou e tem parcela relevante na minha
vida acadmica.
A Profa. Deborah Moraes Zouain, Coordenadora do Curso de Ps-graduao e Chefe do
Centro Acadmico da Escola Brasileira de Administrao Pblica da Fundao Getulio
Vargas, por sua pacincia, e o apoio moral que sempre me incentivou e certamente tem
parcela relevante na minha formao acadmica.
A Profa . Valderez F. Fraga e Profa Moema M. Siqueira por aceitarem fazer parte da banca
examinadora e por suas relevantes contribuies que tornaram este trabalho realizvel.
A todos os professore(a)s da EBAP/FGV, por participarem da minha formao acadmica.
Aos funcionrios da EBAP, especialmente meu irmo Joarez de Oliveira e da Biblioteca
Mrio Henrique Simonsen da FGV pela pacincia que tiveram comigo, nos momentos
difceis de comunicao com a lngua portuguesa.
Ao Prof. Orrico Rmulo do Programa de Engenharia de Transporte da COPPE-PET/UFRJ,
por indicar alguns livros sobre o tema deste trabalho.
A todos meus colegas da EBAP/FGV e amigo(a)s, por seu apoio moral e especialmente as
irms Elaine e Vnia Souza Da Silva, por dedicarem seu tempo a reviso deste trabalho.
Ao Governo Brasileiro, especialmente CAPES, pela bolsa de estudo que me permitiu
realizar as despesas necessrias durante o perodo do curso.
A todos que de alguma forma, direta ou indireta, participaram da realizao deste trabalho.
vii
Mais um dia mais um nibus que eu peguei no Rio
/.../ o rap do 175 que eu peguei na Central
E de repente o nibus comeou a encher / Entrou mais gente
Houve um tumulto. / Mas a viagem prosseguiu
E a raiva que subiu na cabea dos passageiros
/.../ Esta triste situao t parecendo o fim do mundo
Pra quem t de carro / Pra quem t de nibus
E o pior de tudo que nessa grande viagem
Nada disso do que aconteceu foi novidade
Pro que acontece ao cidado brasileiro no seu cotidiano
O revoltante retrato da vida urbana do brasil
E eu no me refiro s ao 175 ou qualquer linha da Central
GABRIEL o Pensador
Autntico, 1993.
viii
APRESENTAO
Mesmo que este trabalho de dissertao para o ttulo de Mestre no seja do tipo a
resolver, todos os problemas de excluso social ou de segregao espacial causados pelo
crescimento da tecnologia dos meios de transporte urbano e da expanso espacial e
temporal das cidades, ou que no me permita revelar totalmente todos os problemas
socioeconmicos e culturais relevantes da interdependncia entre cidade, sociedade,
qualidade de vida e deslocamento urbano, fico satisfeito e feliz da experincia e da
oportunidade de mais uma conquista na minha formao acadmica.
Porm, este trabalho, com certeza, est dando alguma contribuio humanidade e
ao mesmo tempo, que contribui ao treinamento e amadurecimento da minha alma.
Desenvolve-se, no presente trabalho, qualidade de vida e transporte pblico urbano:
estratgias para melhorar a qualidade do servio de transporte pblico urbano por nibus
uma abordagem de polticas pblicas da interdependncia entre cidade, sociedade,
qualidade de vida e transporte pblico urbano.
O primeiro captulo identifica o problema, coloca a relevncia do estudo, delimita o
estudo e prope metodologia para alcanar o objetivo: identificar os elementos fundamentais
genricos, que caracterizam um adequado funcionamento do servio de transporte pblico
por nibus.
Salienta-se no captulo 2 os fatores socioeconmicos e culturais do deslocamento
urbano para analisar a interdependncia entre cidade sociedade, e deslocamento urbano
com identificao do impacto dos meios de deslocamento sobre a qualidade de vida do
usurio.
ix
No captulo 3, fazem-se consideraes quanto a busca de alguns fatores de excluso
social, do impacto da reestruturao do mercado de trabalho e outros indicadores
socioeconmicos e culturais (como por exemplo, nmero de estabelecimentos escolares,
comerciais, hospitalares, de centros culturais e de lazer por regio administrativa) sobre
grupos sociais urbanas do Rio de Janeiro e de Curitiba.
Algumas experincias internacionais de implementao de gesto da mobilidade ao
nvel regional e local para um planejamento urbano de transporte so identificadas no
captulo 4, salientando-se a importncia e a grandeza do planejamento do servio de
transporte coletivo e o modo de deslocamento das populaes do Rio de Janeiro e de
Curitiba.
O captulo 5 analisa a qualidade do servio de transporte por nibus propondo
medidas ou estratgias serem tomadas para melhoria da qualidade do servio a partir da
avaliao de oito indicadores de qualidade de servio de transporte pblico urbano.
Finalmente, no captulo 6, em sntese, abordam-se consideraes especficas de
qualidade de vida na estrutura da cidade explicitando que a trade pessoas espao e
tempo formam a base para se compreender a dinmica existencial de um bom ambiente
urbano, onde o primeiro conta para a percepo de se viver, com sentido de pertinncia e
integrao numa cidade. Contudo, a qualidade de vida depende fundamentalmente de uma
organizao social, pois, nas cidades a vida muito mais poltica, e as formas de gesto,
materializadas em instituies concretas e em uma cultura administrativa, tornaram-se
essenciais.
xFIGURAS E TABELAS
Figura 2.1 Interdependncia: cidade sociedade deslocamento urbano e meios de
transporte........................................................................................................ 38
Tabela 3.1 Repartio dos estabelecimentos de educao, sade, lazer e cultura por
regio administrativa....................................................................................... 77
Mapa 1 Municpio do Rio e Janeiro Bairros 1997..................................................... 78
Figura 3.1 Curitiba Diviso de Bairros e Regionais....................................................... 84
Tabela 3.2 Indicadores de qualidade de vida em Curitiba................................................ 86
Figura 4.1 Gerenciamento da mobilidade nvel regional urbano e nvel local........... 93
Figura 4.2 Distribuio das viagens................................................................................. 102
Tabela 4.1 Distribuio de deslocamentos por atividades socioeconmicas na RMRJ... 102
Tabela 4.2 Fluxo de passageiros em horrio de pico....................................................... 103
Tabela 4.3 Parcela das viagens de coletivos no pico matutino........................................ 103
Figura 4.3 Modo de deslocamento da populao segundo a renda familiar mensal (R$)........... 108
Figura 4.4 Repartio no transporte de passageiros da regio Metropolitana do Rio de
Janeiro............................................................................................................ 109
Tabela 4.4 Tipo de linhas e capacidade do nibus.......................................................... 113
Tabela 5.1 Tempo mdio de viagem................................................................................ 127
Tabela 5.2 ndice de passageiros por quilmetro............................................................ 132
xi
SUMRIO
INTRODUO............................................................................................................................ 14
1.1 OBJETIVO FINAL............................................................................................................... 151.1.1 Objetivos intermedirios...................................................................................... 16
1.2 DELIMITAO DO ESTUDO................................................................................................. 161.3 RELEVNCIA DO ESTUDO .................................................................................................. 171.4 METODOLOGIA ................................................................................................................ 19
1.4.1 Tipo de pesquisa .................................................................................................. 191.4.1.1 Justificao dos fins da pesquisa .................................................................... 201.4.1.2 Justificao dos meios da pesquisa................................................................. 20
1.5 JUSTIFICAO DA ELEIO DAS CIDADES DO RIO DE JANEIRO E DE CURITIBA PARA A ANLISE DECASO 201.6 COLETA DE DADOS........................................................................................................... 211.7 TRATAMENTO DOS DADOS................................................................................................. 221.8 LIMITAES DO MTODO .................................................................................................. 22
TRANSPORTE NA CIDADE: UMA ANLISE SOCIOECONMICA DO CONCEITO DEDESLOCAMENTO URBANO E DOS IMPACTOS DE TRANSPORTE PBLICO URBANO....... 23
2.1 INTRODUO................................................................................................................... 232.2 CONCEPES TERICAS DA MOBILIDADE E DE TRANSPORTE URBANO.................................... 24
2.2.1 A percepo socioeconmica e filosfica da mobilidade urbana ..................... 242.2.1.1 Viso socioeconmica da mobilidade urbana................................................... 252.2.1.2 Viso filosfica da mobilidade urbana .............................................................. 25
2.2.2 Polissemia do termo transporte urbano .......................................................... 262.2.2.1 Viso poltica do termo transporte ................................................................... 272.2.2.2 Socioeconomia de transporte urbano .............................................................. 27
2.3 INDICADORES DE DEMANDA DE TRANSPORTE URBANO......................................................... 292.3.1 Espao-tempo ...................................................................................................... 29
2.3.1.1 Agrupamentos de trabalho .............................................................................. 322.3.1.2 Agrupamentos de populao........................................................................... 34
2.3.2 Produo de valores socioeconmicos pelo deslocamento urbano................. 362.4 PROBLEMAS DE TRANSPORTE NA CIDADE ........................................................................... 39
2.4.1 Acidentes de trnsito ........................................................................................... 402.4.2 Congestionamento de trfego ............................................................................. 422.4.3 Contribuo para poluio do meio ambiente e uso de energia ....................... 442.4.4 Contribuo para as discriminaes socioeconmicas .................................... 46
ANLISE DA ESTRUTURA URBANA E DOS INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA NOSMUNICPIOS DO RIO DE JANEIRO E DE CURITIBA................................................................. 49
3.1 INTRODUO................................................................................................................... 493.2 ORIGENS DA ESTRUTURA URBANA E DAS CARACTERSTICAS SOCIOECONMICAS DO MUNICPIO DORIO DE JANEIRO......................................................................................................................... 50
3.2.1 Ocupao e uso do solo no Municpio do Rio de Janeiro.................................. 513.2.1.1 Surgimento de Regies Administrativas no incio do sculo XX ....................... 523.2.1.2 Legislao urbanstica do Municpio do Rio de Janeiro .................................... 533.2.1.3 Os regulamentos de zoneamento .................................................................... 553.2.1.4 Impactos socioeconmicos do zoneamento sobre a estrura urbana................. 56
3.2.2 Qualidade de vida e indicadores socioeconmicos das principais regiesadministrativas do municpio do Rio de Janeiro .............................................................. 59
3.2.2.1 rea Central e Periferia do Centro................................................................... 603.2.2.2 Regies administrativas de Botafogo, Copacabana e Lagoa............................ 633.2.2.3 Regies administrativas do Rio Comprido, Tijuca e Vila Isabel ........................ 653.2.2.4 Regio Administrativa de Santa Teresa........................................................... 663.2.2.5 Regio administrativa de So Cristvo .......................................................... 673.2.2.6 Zona dos bairros ao longo da Estrada de Ferro Leopoldina ............................. 683.2.2.7 Regies administrativas do Mier, Engenho Novo, Iraj e Madureira............... 703.2.2.8 Regio administrativa de Anchieta................................................................... 71
xii
3.2.2.9 Regio administrativa de Bangu, Campo Grande e Santa Cruz ....................... 723.2.2.10 Regio administrativa de Jacarepagu ............................................................ 743.2.2.11 Regio Administrativa da Ilha do Governador.................................................. 743.2.2.12 Regio administrativa da Barra da Tijuca......................................................... 753.2.2.13 Regio administrativa de Paquet ................................................................... 76
3.2.3 Origens e caractersticas socioeconmicas de Curitiba .................................... 793.2.3.1 Zoneamento de uso do solo ............................................................................ 803.2.3.2 As princiapais divises administrativas e suas funes.................................... 813.2.3.3 Caractersticas socioeconmicas da cidade de Curitiba................................... 84
GESTO DA MOBILIDADE E REGULAO DO TRANSPORTE COLETIVO POR NIBUS .... 87
4.1 INTRODUO................................................................................................................... 874.2 CONCEITOS E APLICAES DA GESTO DA MOBILIDADE........................................................ 89
4.2.1 Histrico do Gerenciamento da mobilidade ....................................................... 894.2.2 Teoria do gerenciamento da mobilidade............................................................. 91
4.2.2.1 Gerenciamento da mobilidade no nvel urbano e regional................................ 914.2.2.2 Gerenciamento da mobilidade no nvel local.................................................... 924.2.2.3 Processo de aplicao do MM......................................................................... 944.2.2.4 Exemplo MM em nvel urbano: Mnster, Alemanha ...................................... 954.2.2.5 Exemplo de MM em nvel local: Leicester, Inglaterra ..................................... 97
4.3 IDENTIFICAO E ANLISE DA SITUAO DO TRANSPORTE COLETIVO POR NIBUS NOS MUNICPIOSDO RIO DE JANEIRO E CURITIBA................................................................................................... 98
4.3.1 Deslocamentos no espao urbano do Rio de Janeiro........................................ 994.3.1.1 Fluxos das linhas de nibus............................................................................. 994.3.1.2 Situao atual dos transportes urbanos por nibus no Rio de Janeiro ........... 1014.3.1.3 Situao dos nibus ...................................................................................... 1034.3.1.4 Fluxos de passageiros em horrios de picos ................................................. 1034.3.1.5 Problemas operacionais atuais do subsistema de nibus............................... 1044.3.1.6 nibus especiais........................................................................................... 1054.3.1.7 Qualificao do usurio de nibus especiais ................................................. 1074.3.1.8 Principais dificuldades do subsistema de nibus especiais ............................ 1074.3.1.9 Problemas setoriais de integrao intermodal no Rio de Janeiro ................... 1084.3.1.10 Quadro institucional de transporte coletivo do Rio de Janeiro ........................ 110
4.3.2 A rede integrada de transporte coletivo (RIT) de Curitiba................................ 1114.3.2.1 Os componentes do sistema ......................................................................... 111
4.3.2.1.1 As linhas .................................................................................................... 1124.3.2.1.2 Os terminais de integrao......................................................................... 1134.3.2.1.3 Linhas complementares ............................................................................. 114
4.4 O PAPEL DAS AGNCIAS REGULADORAS .......................................................................... 116
ESTRATGIAS DE MELHORIA DA QUALIDADE DO SERVIO............................................. 118
5.1 INTRODUO................................................................................................................. 1185.2 INFORMAO NOS TRANSPORTES COLETIVOS POR NIBUS................................................ 120
5.2.1 Informao Prvia ao Deslocamento ................................................................ 1205.2.2 Informao atualizada no percurso da viagem ................................................. 1215.2.3 As placas de sinalizao na cidade................................................................... 122
5.3 A CIRCULAO DOS NIBUS ............................................................................................ 1225.3.1 Melhoramento da velocidade comercial dos nibus e sua regulao ............. 1245.3.2 Promoo de circulao suave e mais satisfatria .......................................... 127
5.4 A INTERMODALIDADE OU INTEGRAO DA REDE DE TRANSPORTE........................................ 1285.4.1 O sistema fsico.................................................................................................. 130
5.5 O CONFORTO................................................................................................................ 1305.5.1 O conforto fsico ................................................................................................ 1315.5.2 O ambiente e o acolhimento reservado aos usurios ...................................... 133
5.6 SEGURANA/ISENO DE PERIGO/CIVILIDADE/SADE......................................................... 1335.6.1 Fatores humanos e psicolgicos ...................................................................... 1355.6.2 Fatores ambientais............................................................................................. 1365.6.3 Comportamentos incmodos dos automobilistas ........................................... 1365.6.4 Sade.................................................................................................................. 137
xiii
5.7 O NVEL DO SERVIO E DA OFERTA .................................................................................. 1375.7.1 Freqncia, amplitude e volume da oferta do servio ..................................... 138
5.8 A ACESSIBILIDADE DAS PESSOAS COM MOBILIDADE REDUZIDA (PMR).................................. 1395.8.1 Inovao e readaptao das vias interurbanas ................................................ 1415.8.2 Servios especializados .................................................................................... 141
5.9 TARIFAO E RELAO QUALIDADE/PREO NOS TRANSPORTES COLETIVOS POR NIBUS........ 1425.9.1 Inadaptao da tarifao do servio em alguns tipos de usurios ou declientela ............................................................................................................................ 1435.9.2 Compreenso do sistema tarifrio, das modalidades de venda e de controlepelos usurios.................................................................................................................. 144
6 CONCLUSO E CONSIDERAES FINAIS..................................................................... 145
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................ 150
14
1 INTRODUO
O transporte exerce sobre a sociedade uma influncia muito maior do que aquela
comumente percebida. A grande mudana da urbanizao que vem ocorrendo no mundo,
mostra no somente que maior nmero de pessoas vo morar e trabalhar em grandes
cidades mas tambm, que o cidado vai precisar percorrer longas distncias para
satisfazer suas necessidades econmicas, sociais e culturais no espao urbano.
A maneira como as cidades enfrentam esse problema de demanda de
deslocamento urbano, vem causando grandes impactos sobre o meio ambiente, a
eficincia da economia e a dignidade humana nas grandes metrpoles. Tradicionalmente,
as cidades costumam responder s demandas de viagens com aumento das ofertas de
meios de transporte.
Em pases desenvolvidos, isso provocou a construo de estradas para prover o
crescente nmero de uso de veculos, criando assim uma forma moderna do espao
urbano expandindo as metrpoles. Contudo, "o uso de veculos a motor oferece
excelentes vantagens tais como a rapidez e o conforto" (Shalizi, 1994 p.16). Todavia, o
crescimento do nmero de pessoas que dependem de carros em grandes cidades no
mundo est se tornando muito mais evidente. Isso ocasiona obstculos,
congestionamento das estradas que diminui a produtividade econmica, o alto nvel de
consumo de energia com elevados custos econmicos, sociais e sobre o meio ambiente,
o aumento das poluies do ar e sonora, acidentes de transito e a excluso social,
conseqncia do desconforto do servio de transporte oferecido aos pobres.
Estes problemas de transporte apresentam-se de vrias formas em todos os
pases do mundo, mas tornam-se particularmente crticos nos pases em
desenvolvimento, onde a populao urbana cresce rapidamente e a demanda de
mobilidade por meio de transporte coletivo ultrapassa a oferta do servio.
15
Nesses pases, a organizao do sistema de transporte pblico urbano apresenta
muita complexidade, pelo fato de que precisa integrar aspectos fundamentais tais como:
a densidade da populao, a ineficincia dos transportes de massa, a insuficiente
ateno prestada ao trfego no motorizado e aos pedestres, e a segurana pessoal.
Porm, o transporte pblico um dos mltiplos servios que as autoridades municipais e
governamentais precisam organizar para garantir o desenvolvimento econmico e social.
Para tanto, as suas capacidades de gesto (explorao e manuteno) das diferentes
modalidades deste setor so muito limitadas.
De fato, a gesto do transporte pblico urbano por nibus, uma das modalidades
mais teis para a maioria das populaes de baixa renda (por favorecer o contato entre
pessoas, a mobilidade para o trabalho, o acesso educao e sade) passa pelas
mos de empresas privadas e sofre muito mais quanto qualidade do servio prestado.
Nesta perspectiva, faz-se necessrio que tal sistema, to importante para economia, seja
vivel, conforme as regras do meio ambiente e socialmente adaptvel s exigncias das
classes sociais urbanas.
Assim, a questo que se pe como desencadeadora da pesquisa a ser levada a
efeito : como solucionar os principais estrangulamentos da qualidade do servio de
transporte pblico urbano por nibus?
1.1 Objetivo final
Este trabalho tem como objetivo final, identificar os elementos fundamentais
genricos, que caraterizam um adequado funcionamento do servio pblico de transporte
urbano por nibus.
16
1.1.1 Objetivos intermediriosa) Analisar o sistema moderno de servio pblico de transporte urbano por nibus
referenciado na literatura. Especialmente aqueles fatores relacionados com a
qualidade do desempenho.
b) Analisar os novos conceitos de planejamento e controle de gesto de servio
pblico referenciados na literatura.
c) Analisar as variveis ambientais que afetam diretamente ou indiretamente a
demanda do servio pblico de transporte por nibus de duas cidades: Curitiba
e Rio de Janeiro.
1.2 Delimitao do estudo
Entre as inmeras variveis que podem revelar o grau de importncia de um
planejamento estratgico de servio pblico de transporte por nibus, esse estudo estar
centrado, fundamentalmente, naquelas relacionadas implementao de um sistema de
gesto da mobilidade urbana.
Deste modo, ser dada nfase a uma abordagem qualitativa de variveis referidas
qualidade de servio do transporte pblico, tais como: a) o valor econmico e social do
tempo de viagem; b) os impactos socioeconmicos dos meios de transporte sobre a
qualidade de vida do usurio; c) a relao cidade sociedade qualidade de vida e
deslocamento urbano; d) os fenmenos de excluso social; d) os tipos de deslocamento
urbano.
No que se refere aos aspectos sociais e culturais, uma abordagem qualitativa ir
enriquecer os resultados do estudo, possibilitando examinar os impactos das variveis
estudadas, sobre a qualidade de vida do usurio.
Este estudo pretende elaborar um esboo de planejamento estratgico genrico
que possa tambm ser aproveitado em pases da frica. Nele sero explicitadas os
impactos socioeconmicos e culturais a partir de um estudo comparativo do caso do Rio
17
de Janeiro e de Curitiba. Neste ponto, ser possvel assumir uma postura
fenomenolgica para explicitar o sentido do planejamento urbano esboado.
Este trabalho concentra-se no contexto atualmente vigente no Brasil (relao
usurio operador com a participao do Estado) e busca identificar oportunidades de
melhoria do sistema atravs dos conceitos de sistema integrado de transporte pblico
urbano.
1.3 Relevncia do estudo
Os governos dos pases em desenvolvimento enfrentam atualmente o desafio de
se desenvolver e de buscar nveis de qualidade de vida similares aos dos pases
economicamente avanados. Um tal desenvolvimento passa a ser produto de uma
adequada qualidade de servios pblicos tais como: sade, educao, segurana,
moradia e transporte coletivo. Este ltimo permite aos cidados cumprir em tempo real
com liberdade e facilidades seus deveres cotidianos de trabalho, educao, atendimento
hospitalar alm de permitir o seu lazer.
Nessa direo, este estudo alm de realizar uma pesquisa acadmica que
subsidie reflexes e aes governamentais de planejamento urbano, poder estimular os
governos a promoverem pesquisas de opinio entre usurios em busca de necessidades
e de sugestes que contribuam para a soluo e a antecipao de problemas de
transporte urbano, por nibus.
A realizao de atividades no tempo previsto um elemento fundamental da
ativao do processo de desenvolvimento econmico, social e cultural. Nas grandes
cidades dos pases em desenvolvimento, onde se concentram as atividades
socioeconmicas e culturais do pas, fcil de constatar que o vasto nmero de
deslocamentos dirios da populao feito por meio do servio de transporte pblico de
massa. Ainda pode-se observar que nesses pases os cidados gastam mais tempo do
18
que os dos pases de economia avanada para chegar ao trabalho, escola e aos
centros comerciais e de lazer.
Segundo o socilogo Hermes Ferraz, a durao desse movimento produto de
trs fatores inevitveis: espao percorrido, tecnologia empregada e liberdade de faz-lo
na presena de outros. Mas do ponto de vista poltico e administrativo, a perda de tempo
devida ausncia de polticas de planejamento estratgico de servio de transporte de
massa e uso do solo. Para tanto, deve-se buscar um planejamento coerente ao
crescimento demogrfico, urbano e econmico com o surgimento de novas
oportunidades de trabalho e de atividades sociais e culturais num mercado globalizado.
Essas por sua vez, exigem do cidado o deslocamento dirio entre dois pontos diferentes
(casa e trabalho) em um determinado tempo.
Para tentar resolver o problema de transporte urbano de massa nos pases em
desenvolvimento, os administradores ao invs de analisar o problema a partir de
pesquisas cientificas a serem feitas em parceria com as grandes Escolas de
Administrao, tomam iniciativas sem embasamento cientfico, no alcanando as
causas profundas do problema. Todos somos bem intencionados, mas boas intenes
carentes de mtodos adequados a uma boa execuo, podem levar, conforme conhecido
provrbio, ao caminho do inferno.
O mtodo "Value Analysis" de Lawrence D. Miles, aplicado na General Eletric,
que investiga a funo, demonstrou que melhores resultados so obtidos quando
examinamos o que realmente est acontecendo e no o que pensamos estar se
passando. A anlise de valor permite resultados melhores que simples estudos de
melhoramento da qualidade, apresentao ou reduo de custos.
De fato, a falta de um planejamento estratgico do sistema de transporte afeta a
produtividade do trabalhador na economia global do pas, o rendimento do estudante e a
19
criatividade cotidiana que so considerados pelos analistas de pensamento econmico
como fatores determinantes de crescimento e de desenvolvimento de um pas.
Contudo, um estudo que d um tratamento especial questo da qualidade do
servio de transporte pblico urbano por nibus, certamente contribuir para um
desenvolvimento permanente e aumentar a qualidade de vida nos pases em
desenvolvimento.
1.4 Metodologia
A histria do desenvolvimento da Europa e da Amrica do Norte no sculo XIX e a
do Leste asitico no fim do sculo passado demostrou as recompensas econmicas da
formao de um setor pblico efetivo. A edificao de instituies privadas para um setor
de transporte pblico de massa imensamente difcil como relata o relatrio 1997 do
Banco Mundial.
A evidncia oriunda de um leque de pases demostrou que uma burocracia quefunciona bem pode promover o crescimento e reduzir a pobreza. Pode oferecerslidos insumos normativos e oferecer, ao menor custo, bens e servios pblicosessenciais. (World Development Report, 1997 p.35).
Mesmo nos casos em que existam incentivos para melhorar o desempenho do
setor de transporte pblico por nibus, formidveis limitaes de informao e
capacidade muitas vezes frustram a tentativa. Considerando assim essas dificuldades, a
metodologia pretende, ento, descrever as limitaes quanto aos meios e fins a serem
utilizados para uma credibilidade do objetivo final da pesquisa.
1.4.1 Tipo de pesquisa
Considerando-se o critrio de classificao de pesquisa proposto por Vergara
(1990), quanto aos fins, a pesquisa foi especificamente, explicativa e descritiva. Quando
aos meios, ela foi bibliogrfica, documental e de anlise de caso.
20
1.4.1.1 Justificao dos fins da pesquisa
Quanto aos fins a pesquisa foi:
a) Descritiva, porque pretende identificar as caractersticas de um sistema
eficiente e efetivo de prestao de servio de transporte pblico urbano por
nibus.
b) Explicativa, porque tenciona explicar a interdependncia entre cidade,
sociedade, qualidade de vida e deslocamento urbano formulao e
coordenao de novas polticas de gesto da mobilidade e da integrao do
sistema de servio de transporte pblico urbano.
1.4.1.2 Justificao dos meios da pesquisa
Quanto aos meios a pesquisa foi:
a) Bibliogrfica, porque para a fundamentao terica e metodolgica do trabalho,
foram realizadas investigaes sobre a modernizao do sistema de transporte
pblico urbano referenciado na literatura.
b) Documental, porque foi feito uso de documentos de trabalho e relatrios de
consultorias privadas, no disponveis para consultas pblicas.
c) Anlise de caso, porque privilegia duas cidades: Curitiba e Rio de Janeiro.
1.5 Justificao da eleio das cidades do Rio de Janeiro e de Curitibapara a anlise de caso
Um aspecto importante a se considerar na anlise das caractersticas da
demanda de transporte para organizao da prestao do servio que os critrios,
segundo os quais ela feita, variam conforme as diferenas urbanas e scio-econmicas
das cidades brasileiras.
notrio que as cidades do Rio de Janeiro e de Curitiba se estruturam do ponto
de vista urbano, com diferenas de uso e ocupao do solo, com conseqncias na
distribuio da populao e das atividades econmicas. De fato, os padres de
deslocamento, os resultados operacionais, derivados da prestao do servio de
21
transporte pblico por nibus e sua rentabilidade, so, na maioria das vezes,
diferenciados.
A cidade de Curitiba especialmente eleita neste estudo por ser uma cidade
moderna, segundo as regras das organizaes internacionais de urbanizao e por ter
um sistema de transporte urbano moderno, conforme as regras de planejamento urbano.
No caso da cidade do Rio de Janeiro, a evoluo nos meios de transporte pblico
tem uma forte ligao com a dinmica de urbanizao. De fato, o Estado do Rio de
Janeiro sempre desempenhou funes de regio central, tendo sido capital do Imprio e
da Repblica por quase 140 anos; necessitando, assim, de um sistema de transportes
condizentes.
At o incio do sculo XIX o deslocamento urbano da populao era realizado a
partir do uso da energia animal (carros de boi e cavalos) e da energia humana (leiteiras
carregadas por escravos e a p). Em 1808, com a vinda da famlia real para a cidade do
Rio de Janeiro, os deslocamentos urbanos ganhariam novas tecnologias, com a
introduo de veculos a roda, que tiveram forte expanso at 1849, com linhas para
Botafogo, Tijuca, Jardim Botnico e So Cristvo.
As duas cidades apresentam, ento, todos os elementos fundamentais que
caracterizam uma estrutura urbana velha (Rio de Janeiro) e nova (Curitiba), para um
estudo genrico da qualidade de servio de transporte pblico urbano por nibus.
1.6 Coleta de dados
A coleta de dados foi da seguinte forma:
a) Pesquisa bibliogrfica em livros, em revistas especializadas, em relatrios de
rgos especializados e em jornais com dados pertinentes ao transporte
pblico urbano. Foram levantadas as principais caractersticas de um sistema
moderno de transporte coletivo por nibus, a fim de que sejam identificados e
22
analisados os elementos fundamentais para o adequado desempenho do
sistema de transporte pblico urbano.
b) Pesquisa documental nos arquivos do Instituto Brasileiro de Administrao
Municipal, da Confederao Nacional de Transporte (CNT), do Instituto de
Pesquisa e Planejamento de Curitiba (IPPUC), da Associao Nacional de
Transporte Pblico (ANTP), da Secretria de Transporte do Estado do Rio de
Janeiro e de Curitiba, da Secretria Nacional de Trnsito, etc.
1.7 Tratamento dos dados
Para melhorar a qualidade do servio de transporte pblico urbano por nibus os
dados foram tratados de forma qualitativa, para analisar os dados bibliogrficos e as
sugestes de alguns especialistas de transporte urbano, e dos usurios de transporte
coletivo para avaliar a gesto racional e participativa do servio integrado de transporte
pblico urbano.
1.8 Limitaes do mtodo
O mtodo escolhido para a pesquisa, apesar de nos parecer o mais adequado
para apresentar solues para os estrangulamentos do sistema de transporte pblico
urbano por nibus, apresenta como qualquer outro, algumas dificuldades referidas
coleta e ao tratamento dos dados.
Acreditamos que a primeira dificuldade esteja relacionada amostra escolhida.
Havia a impossibilidade de realizarmos pesquisa direta com usurios, pois isso a tornaria
abrangente demais, correndo-se o risco de no terminar no prazo previsto ou implicar
perda de profundidade. Recorremos, ento, a artigos de jornais que contemplassem
apenas opinies pblicas de usurios de transporte coletivo por nibus resultantes de
alguns fatos pertinentes ocorridos no trnsito.
23
2 Transporte na cidade: uma anlise socioeconmica do conceito dedeslocamento urbano e dos impactos de transporte pblico urbano
2.1 Introduo
Observando a mobilidade humana, podemos concluir que existem duas vises
fundamentais do fenmeno de deslocamento quotidiano. A primeira a da felicidade,
cada vez mais rara, baseada no cumprimento da democracia, na criatividade social,
cultural e econmica. A segunda a viso pessimista que faz da cidade um lugar de
poluio, de excluso e de mal-estar social.
Enquanto o avano da tecnologia de informao, sob a forma de teleservio,
teletrabalho, teleconferncia, telepresena etc., est acabando com a noo de espao e
tempo, fazendo retornar a cidade na sua forma original de Cidade Compacta, os
cidados continuam majoritariamente sentindo a necessidade de deslocar-se.
O transporte urbano, cuja concepo est inseparavelmente ligada da cidade,
est exposto tambm a duas caractersticas distintas. O automvel, instrumento de
liberdade, est acusado de todos os pecados urbanos (Amar Georges, 1998): poluente,
individualista e devorador de espao, torna-se o smbolo de embolia e de egosmo
urbano. O transporte coletivo, que deveria estar fora deste tipo de acusao, suspeito
de provocar a dissociao e a extenso espacial da cidade, de promover distncias
geogrficas e sociais sem oferecer eqidade e qualidade de vida.
A irregularidade da maior parte das concepes da cidade est na maneira como
tratam da ligao cidade - transporte ou da significao do transporte na cidade.
Segundo o urbanista francs Amar Georges, porque no se pensa a cidade como
sendo um sistema de movimento onde se difcil tratar de problemas de deslocamento
urbano.
24
Partindo da concepo da cidade como um sistema de movimento, este captulo
pretende abordar, a partir de um estudo exploratrio, os aspectos sociais, culturais e
econmicos do deslocamento quotidiano, possibilitando examinar as caractersticas da
demanda de transporte coletivo para a qualidade de vida dos usurios.
2.2 Concepes tericas da mobilidade e de transporte urbano
Durante muito tempo, a cidade foi considerada um conjunto de atividades
econmicas localizadas no espao e o transporte, um elemento ativo de sua extenso.
Atualmente, o zoning, ou plano urbano, mostra a cidade sob a forma de uma tabela na
qual as diversas atividades so enumeradas de maneira distinta. Residncias, indstrias,
comrcio, escolas, pontos de lazer so dispostos em forma de plano geogrfico. Assim, o
transporte aparece tanto como conseqncia deplorvel quanto como condio inevitvel
do crescimento da cidade e distribuio espacial das atividades, funes e servios que a
constituem.
Desta forma, est claro a existncia de uma interao entre mobilidade humana e
transporte urbano. Assim, desenvolveremos, nessa parte, a teoria da mobilidade e de
transporte urbano, possibilitando analisar as diferentes percepes do conceito de
movimento ou deslocamento quotidiano em uma cidade.
2.2.1 A percepo socioeconmica e filosfica da mobilidade urbana
Partindo de uma anlise descritiva do contato do homem sujeito mvel com seu
prprio movimento no espao e no tempo, ser considerado nessa percepo, a
causalidade do dinamismo e das transformaes do movimento para dar um sentido
socioeconmico e filosfico mobilidade.
25
2.2.1.1 Viso socioeconmica da mobilidade urbana
Segundo o francs Pierre Lassave, especialista em questes urbanas, o
conhecimento das prticas e dos significados do deslocamento no espao e seus
determinantes constituem, sem dvida, o eixo mais visvel e o mais durvel de pesquisa
em socioeconomia de transporte. Os problemas encontrados neste campo giram,
essencialmente, em torno de uma nica idia central: a da mobilidade. Ela constitui um
objeto especfico e consubstancial ao campo dos transportes.
Assim, grandes pesquisadores da socioeconomia do transporte perceberam
quatro fenmenos fundamentais da mobilidade ligados aos conceitos de espao e tempo.
a) Em uma viso marxista, a mobilidade interpretada como um instrumento
de mobilizao da mo-de-obra. Esta percepo foi encontrada nos
estudos realizados sobre a cidade de Dunquerque, na Frana;
b) Segundo a Escola Escandinava de Geografia, a mobilidade percebida
como um instrumento de realizao de um programa de atividades
localizadas no espao e no tempo;
c) Sob o ponto de vista econmico, a mobilidade percebida em termos de
modo de vida e de diviso social do espao;
d) Os socilogos possuem uma viso psicolgica ou psicanaltica da
mobilidade, a qual determina o comportamento e o sentimento do
indivduo submetido ao deslocamento.
2.2.1.2 Viso filosfica da mobilidade urbana
Filosoficamente analisando, a mobilidade constitui um conceito produtivo que
integra o mvel e o imvel, o movimento e o repouso ou a tranqilidade do esprito. Esta
observao do filosofo Deleuze coloca em questo duas dimenses opostas: o
26
movimento e a tranqilidade. Considere tambm o acontecimento de um fato de
produo.
Desta forma, a mobilidade transforma-se em produo. Ela no envolve mais
somente o conceito temporal ou espacial, mas tambm o de produtividade ou de
produo. A mobilidade chega ento a questo de criao de valor para todos os nveis:
material, fsico, poltico, cultural, econmico e outros.
Este aspecto da mobilidade como um dinamismo de produo nasceu de uma
concepo americana do progresso, que segundo a qual reside na motorizao que
permite o crescimento do potencial das atividades dos indivduos.
Na Europa, especialmente na Sua, Frana, Inglaterra e Alemanha, o tema da
mobilidade tomou um lugar importante nos programas nacionais de pesquisas sobre
cidade e transporte por meio de estudos relativos ao tratamento dos custos sociais da
mobilidade e da no mobilidade. Sob este prisma, permitida ento uma articulao
entre a oferta e a demanda de transporte.
2.2.2 Polissemia do termo transporte urbano
Pesquisas em socioeconomia de transporte mostram que h dificuldades de
interpretao na difuso dos conhecimentos neste setor notavelmente pelos
responsveis polticos. O socilogo Alain Bieber revela que tudo que faz uma diferena
de tratamento social dos grupos na rea de transporte no uma mercadoria fcil para
vender (Alain Bieber, 1998).
Esta confuso poltica da difuso e interpretao dos conhecimentos sobre o
transporte dificulta muito a metodologia de pesquisa nesta rea.
27
importante ento analisar a polissemia ou o sentido negativo, dado por
interpretaes polticas, e o sentido positivo, considerado pela socioeconomia do termo
transporte, a fim de possibilitar as limitaes da pesquisa.
2.2.2.1 Viso poltica do termo transporte
Durante uma anlise cientifica sobre o transporte, o pesquisador precisa tomar
conscincia do fato de que as instituies da rea de transporte s podem perceber os
resultados simples, no por no terem capacidade intelectual de analis-los, mas por
estarem na obrigao de traduzir estes resultados em termos polticos. Outrossim, uma
transformao dos resultados impe uma simplificao considervel da realidade.
De outro lado, preciso lembrar que na rea de transporte o modo de introduo
de dados estatsticos na cena poltica no anedtico porque alguns so simplesmente
esquecidos ou interpretados no sentido doloso.
Quando os eleitos lem que a poro de carro no mercado de 95%, este dadovai reforar a potncia de carro na sua percepo e quando um relatrio depesquisa revela que uma modalidade forte, esta informao torn-la muito maisforte ainda e quando se diz que ela fraca, ela se torna muito mais fraca. (AlainBierber, 1998).
2.2.2.2 Socioeconomia de transporte urbano
As literaturas sobre o transporte mostram, alm da dimenso poltica que dificulta
as delimitaes do estudo, diversas dimenses muito mais abrangentes que abordam o
aspecto socioeconmico ou positivo do termo transporte. Esta viso aquela percebida e
comentada por gegrafos, socilogos, antroplogos e urbanistas que revelam a
importncia do transporte como um fator determinante na eqidade e na qualidade de
vida do cidado.
Neste sentido, existem vrias definies de transporte em relao s atividades e
funes de uma cidade que foram percebidas, por vrios pesquisadores em
socioeconomia de transporte:
28
a) O transporte o que liga as funes urbanas ao centro e periferia;
b) Os transportes, como novas tcnicas de comunicao, constituem uma
tentativa de criar novas interaes, de criar novos modos de relao entre
as infra-estruturas estticas. uma tentativa desesperada de colocar o
espao em movimento, de tornar o espao dinmico;
c) Os transportes so um meio de comunicao das classes sociais;
d) Os transportes so uma pequena sociedade que oscila durante um
movimento determinado e que empenha uma negociao permanente de
si com outros;
e) Os transportes so um meio de socializao que permite passar de um
modo de vida a um outro, de uma forma de civilidade a uma outra forma de
civilidade;
f) Os transportes esto no centro da organizao da vida familiar; eles esto
no lao de uma dupla jornada de trabalho para as mulheres;
g) Os transportes articulam no somente o centro e a periferia, mas tambm
so uma passarela entre o interior e o exterior; esta distino cobre o
espao privado e o pblico;
h) Os transportes interpretam a evoluo dos valores individuais e coletivos.
Todas estas definies de transporte, em geral, colocam em questo a dimenso
social da vida humana. E quando se pensa em transporte, se pensa ento em um lugar
e em algum ou alguma coisa que vai de um lugar a outro. Segundo a sociloga Sylvia
Ostrowetsky, toda nossa reflexo reside, parece-me, na capacidade de mexer com a
polissemia e a manter os dois plos de significado das formas espaciais e sociais (Sylvia
Ostrowetsky, 1998).
29
2.3 Indicadores de demanda de transporte urbano
A partir da anlise anterior, podemos concluir que a teoria de transporte e de
mobilidade urbana envolve, principalmente, os conceitos de espao e tempo, que so
fatores constitutivos da vida social e das relaes humanas de uma cidade.
A mobilidade espacial exprime mais do que um modo de uso dos espaos, um
deslocamento de atividade atividade, de origem desatinao. Ela assinala as
hierarquias sociais, os reconhecimentos, as convivncias identitrias que do fora e
poder ao espao urbano. Ela revela as modalidades de inscrio do conjunto das
populaes no espao urbano. Nesta inscrio esto ameaadas as ordens e hierarquias
sociais estabelecidas.
O estudo de transporte urbano que envolve a mobilidade urbana nos convida a
uma antropologia do movimento que precisa tomar conta, simultaneamente, de trs
nveis de relaes espao-tempo que caracterizam a mobilidade: os deslocamentos de
proximidade, expresso dos ritmos sociais de quotidianeidade e incentivadores
permanentes do vnculo social especfico; as mudanas de casa no interior do espao de
acolhimento ou de recepo, no tempo de uma existncia, e a extenso das vizinhanas
e de fidelidade identitria.
Essa antropologia do movimento nos conduz a uma reviso de conceitos que a
teoria de transporte e de mobilidade urbana envolve, com os indicadores da demanda de
transporte.
2.3.1 Espao-tempo
As primeiras pesquisas aprofundadas sobre a mobilidade quotidiana realizadas na
dcada de 50 em grandes cidades como Paris, Londres, Nova York e outras s tomavam
conta dos deslocamentos de trabalho com a inteno de reduzi-los. Mas nesta poca,
30
tudo se passava como se o horizonte fosse o da sociedade sedentria, cada um no seu
bairro, e o nvel da mobilidade era quase inexistente. Logo no incio da dcada de 60,
duas representaes se acrescentaram e finalmente se confundiram: o mito histrico de
bairro e o mito moderno de racionalizao econmica da densa povoao das cidades.
Os deslocamentos quotidianos aumentavam, diversificavam-se e alongavam com o
desenvolvimento funcional das cidades; o impulso da periferia urbana amplificou tanto
bem quanto mal. Da vem a idia de organizao territorial e dos transportes coletivos
nas sociedades onde o deslocamento tornou-se importante. Os administradores pblicos
comearam a pensar de maneira autnoma sobre o deslocamento, o movimento, os
meios de mobilidade com relao estabilidade na manuteno do espao urbano. Mas,
de fato, o que representa ento um espao-tempo na dimenso urbanstica?
O espao urbano primeira vista considerado um espao de passagem, de
muito trnsito, do viajante; um espao onde indivduos embora no se conheam, podem
coabitar (Sylvia Ostrowetsky, 1998). O espao urbano percebido ento como um lugar
de encontro, de pluralidade e no de circulao e conexo ao sentido estrito. Portanto,
nossa anlise pretende pensar o espao-tempo na sua dimenso urbanstica com relao
sociedade de consumo.
Na sociedade de consumo, os indivduos, as famlias e os grupos sociais no
pedem somente os bens e os servios pelo uso que deles fazem, mas tambm porque
so signos de prestgios e de distino de classe social. Esse ponto de vista esclarece a
atual ocupao do espao urbano e da repartio dos deslocamentos quotidianos que
no podem mais ser explicados pela teoria da necessidade.
Nesta sociedade anteriormente citada, a necessidade estrita existe somente
quando a execuo ou realizao de uma atividade depende de um deslocamento.
Enquanto no houver viagem quotidiana, no haver trabalho; enquanto no houver
deslocamento escolar, no h escola, no havendo deslocamento para lazer, no h
31
diverso, no existindo deslocamento para o supermercado, no haver compras, no se
fazendo deslocamento hospitalar, no existir consulta do doente e assim por diante.
Este nvel de embarao existe sempre, com suas sanes imediatas, mas isso no
permite explicar os deslocamentos dependentes das estratgias de consumo ou de
constituio de capital cultural e social. As compras em um supermercado X em vez de Y,
ir escola X ao em vez de Y, visitar um cento de lazer X ao em vez de Y. Nestes casos,
so os deslocamentos que dependem dos objetivos e desejos que os indivduos fixam.
No mbito da planificao como atitude profissional, o elemento humano
habitualmente considerado como algo que apenas necessita ser alojado e deslocar-se do
e para o trabalho e para as compras. Estas tornam-se cada vez mais concentradas em
supermercados gigantes, raramente acessveis seno de automvel, configurando o
desaparecimento da forma tradicional de abastecimento em pequenas lojas de bairro,
substituda pelo mtodo impessoal de venda e retalho ao estilo das linhas de montagem.
Na cidade do Rio de Janeiro, grande parte da planificao sofre os efeitos
profundos de no levar em considerao que a comunidade carioca no apenas
constituda por indivduos de classe alta e mdia, que podem dispor de grande nmero
de prprio meio de deslocamento para seu acesso ao trabalho e lazer. Mas tambm por
crianas, mulheres que trabalham principalmente em casa ou cuja carreira se reparte
entre perodos fora de casa, desempregados, pessoas idosas e impossibilitadas, pessoas
para quem o acesso a todo o tipo de atividade socioecomica e cultural no espao urbano
depende de transporte pblico coletivo.
Como se passa com a habitao, as polticas de transporte pblico tambm pouco
consideram os efeitos que podem ter sobre a qualidade de vida do usurio. Assim, uma
boa rede de transporte coletivo permite mais opes, quer aos usurios, quer aos no
usurios de automvel (que sero as mesmas pessoas em horas diferentes); reduz o
congestionamento de trnsito e diminui os danos ecolgicos; facilita o escoamento das
32
mercadorias e liberta os utentes e outros viajantes de uma certa presso psicolgica
(Itopkin e Pickup, 1985).
O tempo, to fundamental quanto o espao, encerra a essncia e toda a realidade
da vida; constitui uma durao que estabelece uma consonncia entre o tempo do
homem material e concreto, com o tempo natural, tornando-se uma quantidade e, como
no pode ser separado da vida, esta se submete s suas regras (Elul, 1968, pp. 335-
336), pois ao contrato do espao sobre o qual se pode atuar, o tempo caminha
inexoravelmente, fugindo ao controle do homem (Hermes, 1998, p.11).
Na atual organizao da vida urbana industrial, em que o homem exerce suas
atividades econmicas em lugares diferentes, trabalhar e morar, ele se desloca
diariamente entre esses dois pontos dentro de um determinado tempo e a durao desse
movimento produto de trs fatores inevitveis: o espao percorrido, a tecnologia
empregada e a liberdade de faz-lo na presena de outros (Hermes, 1998, p.11).
Partindo dessa observao de Hermes, consideraremos o conceito de espao-
tempo como indicador de demanda de transporte, e a seguir, analisaremos, dois
principais fatores que explicam a heterogeneidade das origens e destinos dos
deslocamentos urbanos da populao: os agrupamentos de trabalho determinados pelo
espao econmico e os agrupamentos de populao determinados pelo espao social
residencial.
2.3.1.1 Agrupamentos de trabalho
Os agrupamentos de trabalho so definidos como: nmero de centros comerciais,
industriais, escolares e de lazer, considerados aqui como um conjunto de espao
econmico.
33
Contrrio cidade histrica, o espao urbano hoje funcionalmente dividido em
grandes distritos por diferentes uso, tais como residenciais, educacionais, comerciais, de
lazer e de cultos.
Na verdade, a constituio de agrupamentos de trabalho, por fins econmicos ou
no, exige a reunio de seus integrantes presidentes, diretores, chefes, auxiliares,
trabalhadores, estudantes, professores, fregueses, domsticos de qualquer idade em
um dado local e em uma determinada hora, procedentes de todos os locais, dispersos
por toda a rea urbana. Essa reunio tem incio nas primeiras horas do dia e seus
componentes servem-se de todos os meios de transporte colocados sua disposio:
metr, nibus, barcas, txis, bondes, caminhada a p, e carros particulares no caso da
cidade do Rio de Janeiro.
Tais meios, nesta hora, exercem uma ao centralizadora provocando
congestionamentos e perdas de tempo. Segundo uma pesquisa da conjuntura
econmica, nas grandes cidades brasileiras a perda de tempo chega at 1.400 horas por
ano e no Rio, por exemplo, uma viagem em nibus do Centro da cidade a Copacabana,
que nos anos 80 podia ser concluda em 15 minutos, estende-se atualmente por mais de
45 minutos ou uma hora, dependendo das condies de trnsito nas praias do Flamengo
e Botafogo e na avenida Atlntica. (Teixeira, 1999, pp. 35-38).
Os agrupamentos de trabalho dissolvem-se nas ltimas horas do dia, utilizando-se
dos mesmos meios de transporte que ento exercem funes integrantes pelos diversos
locais de suas moradias.
evidente que cada agrupamento de trabalho no tem seus objetivos voltados
para si mesmo, porm, todos eles atuam em relaes uns com os outros, mtuo
relacionamento esse que, para ser eficaz, deve ser levado a efeito no mesmo tempo.
34
2.3.1.2 Agrupamentos de populao
Nesse caso, os agrupamentos de populao so definidos pelo nmero de
residncia por bairro, com equipamento de unidade de vizinhana1, tratando-se de uma
repartio geogrfica da populao urbana.
Dando prioridade s necessidades bsicas humanas tais como sade e abrigo, no
que concerne implementao do modelo racionalista e generalista, outras
necessidades humanas foram ignoradas no planejamento urbano da cidade do Rio de
Janeiro. Nas cidades modernas, industrializadas, onde o homem vive sem amigos,
annimo e s na multido, em permanente estado de estresse, torna-se um introvertido
para aliviar suas tenses (Ferrari, 1979, p. 299). Essa introverso, em forma extrema,
origina a esquizofrenia. O individualismo acentuado do urbanista, caracterizado pelo
cada um para si e Deus para todos na desenfreada luta pela vida, , pois, uma
inevitvel conseqncia do processo de urbanizao. O sonho suburbano de morar em
casas isoladas, amplas, em locais afastados da cidade uma fuga realidade e uma
forma de introverso que pode ser o incio de uma liberdade.
Desde os meados da dcada de 30, os planejadores urbanos, pretendendo
restituir cidade os grupos primrios2, imaginaram fazer dela um somatrio de
pequenas comunidades criadas base da idia de vizinhana. Surge ento a cidade
polinucleada, que, imitando o crescimento dos tecidos vivos, sadios, deve crescer sempre
1 Inspirada em EBENEZER HOWARD, a idia de unidade de vizinana foi, pela primeira vez,explicitamente proposta por Clarence A. Perry, em 1923.2 A sociologia distingue entre os diversos grupos humanos ebsicos: primrio ou comunidade esecundrio ou sociedade. O primrio um agregado social em nmero relativamente reduzido,cujos membros esto intimamente relacionados e que se caracteriza por um intenso grau decooperao e associao. Este grupo caracterizado pela homogeneidade cultural entre seuscomponentes e um gnero de vida caracterstico.O grupo secundrio um aglomerado social cujos componentes, em elevado nmero, associam-se em virtude de interessados, instrumentais e impesseais e, muitas vezes indiretos, hheterogeneidade cultural entre seus componentes. So exemplos de agrupamentos depopulaes definidos de acordo com os critrios sociais.
35
pela agregao de novas clulas (novos ncleos urbanos) e no pela inchao ou
crescimento ilimitado de uma nica clula original.
Dos escales urbanos, a unidade de vizinhana (U.V.), neihbourhood unit por
assimilar-se, estruturalmente, ao tradicional bairro e por comportar, at certo ponto, uma
vida autnoma, tornou-se o ncleo bsico da cidade polinucleada.
A U.V. predominantemente residencial, sendo definida e delimitada por seu
equipamento bsico: a escola primria (que comporta crianas de 7 a 14 anos). Outro
equipamento importante da U.V. o comrcio local representado modernamente pelo
shopping center. O arquiteto americano Perry A. Clarence em sua obra Housing for the
machine age em 1929, delimitava e dimensionava a U.V. em funo da escola primria
e, consequentemente, da capacidade fsica de a criana locomover-se com segurana e
sem cansar-se, para alcan-la. Fixava a distncia mxima de qualquer ponto da U.V.
escola, em torno de 800m a 1.200m, o que lhe daria uma rea mxima oscilando entre
200 e 450 hectares. Para dar segurana caminhada da criana rumo escola,
recomendava que vias de trnsito de passagem no adentrassem a U.V., devendo
apenas tangenci-la. Segundo ainda Perry A. Clarence, a U.V. deveria ter, alm da
escola primria, um centro comunal para uso das crianas e adultos, composto de: clube,
cinema, biblioteca, casa paroquial, recreao, etc.
O equipamento de uma U.V. funo de seu tamanho, dos hbitos sociais da
comunidade e de sua distncia ao centro do escalo imediatamente superior ou da
cidade. Se est prxima de um centro que tenha cinemas, biblioteca, postos de sade,
etc., no ser necessrio que possua tambm esses equipamentos. Naturalmente,
excluem-se da U.V. os equipamentos que exigem para seu pleno funcionamento
populaes maiores que a sua, tais como: teatro, museus, colgios, escola superior,
estdio esportivo, grandes lojas, comrcio especializado etc.
36
No h populao tima para a U.V., pois deve ser tal que permita, no mnimo, a
instalao de uma escola primria cujo tamanho excessivo no provoque sua
desintegrao, pela duplicao de equipamentos comunais.
As dimenses espaciais da mobilidade adquirem uma significao social quando
se analisa o movimento que conduz dia-a-dia pessoas da periferia ao centro.
2.3.2 Produo de valores socioeconmicos pelo deslocamento urbano
Ao lado do tempo e das prticas culturais, o trabalho uma tarefa de primeiro
plano no comportamento humano, visto que representa um tempo comprometido, com
seus efeitos induzidos pelos transportes. O trabalho representa tambm a expresso de
compromisso social atravs dos pequenos chefes, do patro, da folha de pagamento, do
medo de desemprego (Franois Lapoix, 1991, p.122).
Bem recentemente, pesquisadores mostraram que todos os cansaos do ser
humano eram da mesma natureza e tenham uma dimenso social. Porm, o indivduo
mais cansado durante um processo de produo aquele que depende de um trabalho
mal- remunerado e que usurio de transporte coletivo de longa distncia porque, alm
de tudo, mora na periferia.
Os transportes tm uma influncia importante, muitas vezes ignorada, sobre as
questes socioeconmicas. No ponto de vista econmico, o sistema de transporte urbano
o aparelho respiratrio e circulatrio do rgo econmico urbano porque contribui para
a distribuio da mo-de-obra, dos bens e servios nos centros industriais e comerciais
do espao econmico.
Assim, o acesso aos transportes coletivos, como evidente, tem uma grande
influncia nas distncias para o trabalho nos centros industriais, comerciais e, por
conseguinte, nas possibilidades de trabalho para as pessoas que vivem em zonas
37
perifricas, embora, em si mesma, a mobilidade do trabalho no espao econmico faz
com que um grupo de pessoas desloquem-se livremente do local onde se encontram
para o stio onde trabalham. Portanto, na realidade, as pessoas ponderam com cuidado
as perdas decorrentes das deslocaes do trabalho para casa, especialmente quando se
trata de um novo trabalho sem garantia de segurana. Isso indica claramente que a
mobilidade da mo-de-obra necessria como um fator de produo de valor
socioeconmico.
Na cidade do Rio de Janeiro por exemplo, a populao das periferias urbanas e
dos subrbios trabalha no Centro da cidade e depende em sua totalidade de transporte
coletivo por nibus. E ao fio do tempo, empregos de fabricao e de servios foram
criados nas periferias, em proximidade s estaes das diversas redes de transportes
coletivos mas, mesmo assim, isso no suscitou uma diminuio notvel da mobilidade de
trabalho.
Pressionada pelas tarifas excessivas e pelo prolongado tempo de viagem, a
populao mais carente ocupa as reas de risco de propriedade estatal ou indefinidas
mais prximas dos centros comerciais. "No Rio de Janeiro, muitas pessoas dormem na
rua porque a passagem entre o local de trabalho e o de moradia absorveria grande parte
do salrio (Saravia, 1997 p. 72).
Simultaneamente, acontece um fenmeno inverso: nas regies metropolitanas do
Brasil h um crescimento assustador de uso de carros prprios ocasionado pelo aumento
da renda familiar do brasileiro de classe mdia, no incio do plano real, em 1994, pelo
comportamento de liberdade do povo brasileiro ao dispor de seu prprio meio de
deslocamento e pela m qualidade do servio de transporte coletivo por nibus. H
tambm, uma degradao do uso de transporte coletivo por nibus no Rio de Janeiro,
bem como aumento do congestionamento, que favorece um desperdcio de tempo e de
energia de trabalho.
38
A mobilidade considerada por alguns autores como resultante de um estado de
desenvolvimento, um consumo final devido aos recursos disponveis que se medem por
meio de indicadores tipo PIB ou um fator de desenvolvimento atravs da funo de
cmbio.
Uma anlise sociolgica leva a pensar que os deslocamentos dos trabalhadores
so mais penalizados pelo tempo do que pelo gasto operado sobre o oramento familiar.
O desenvolvimento econmico de um pas medido pela rapidez e densidade de
deslocamento das pessoas, dos bens e servios no seu organismo. Este deslocamento
pressupe que um esforo e certa durao entre o momento de partida e o de chegada
requerem um custo, chamado custo de transferncia, que deve ser tomado em conta na
produtividade.
A palavra produo, no sentido econmico, envolve toda atividade que gere
utilidade e, por conseqncia, cria um valor. A funo principal do transporte mover
passageiros ou bens do local onde esto para onde preferem estar ou para onde seu
valor relativo alto. Esta anlise dos diferentes aspectos socioeconmicos do transporte
ou do deslocamento na cidade poder ser resumida da seguinte forma na figura 2.1.
Figura 2.1 Interdependncia: cidade - sociedade - deslocamento urbano e meios de transporte
Cidade
TRANPORTE OUDESLOCAMENTO
URBANO
Sociedade
A PBICICLETACARRONIBUSTXIMETRBARCASTRENSHELICPTERO
TRABALHOLAZERESCOLAHOSPITALCULTOCOMPRASVISITASFAMILIARES
VALORECONMICO
VALOR SOCIAL
TEMPOESPAO
(DISTNCIA)
CLA
SS
ES
OC
IAL
39
2.4 Problemas de transporte na cidade
O objetivo tcnico e a tarefa bsica de um sistema de transporte deslocar
pessoas e cargas de um lugar a outro (Hermes Ferraz, 1998). No mbito de transporte
pblico urbano por nibus, esta finalidade assume uma importncia singular na medida
em que atende parcela significativa da populao urbana que cativa deste transporte
para realizar os seus deslocamentos entre moradia e trabalho.
Segundo Antonio L. Lindau, professor da Escola de Engenharia da UFRGS3, o
setor de transportes de passageiros tem grande dependncia do Estado na medida em
que este fixa polticas, certifica, estabelece contratos, normas, procedimentos e tarifas,
gerencia e at mesmo opera vrios sistemas de transporte pblico. No setor de
transporte pblico urbano por nibus, percebe-se uma gama de problemas que leva
deteriorao dos nveis de servio ofertados aos usurios e que influencia negativamente
tanto a qualidade de vida do cidado quanto os nveis de produo econmicos, sociais e
culturais. Nos pases em desenvolvimento, as mltiplas facetas da m qualidade do
transporte pblico incluem a manuteno imprpria do material rodante, a falta de
cumprimento de horrios, a pavimentao deficiente e insuficiente das rotas por onde
circulam as linhas de nibus etc.
O enfoque de uma pesquisa de qualidade precisa ento ser muito detalhado. Faz-
se mister detectar, por exemplo, o que os diferentes grupos de usurios tm como
expectativa ao transitarem pelos vrios trechos de uma determinada linha operada por
uma empresa privada ou estatal. Como afirma Creighton (1970, p. 6): "at any given time,
then, we can fairly define transportation problem as the summation of the things which
people dont like about transportation", em outras palavras em qualquer momento
oportuno podemos amplamente definir, o problema de transporte como a soma de todas
as coisas que as pessoas no gostam do transporte.
40
Assim a seguir sero analisados de forma genrica, alguns destes problemas
inerentes qualidade do servio de transporte pblico urbano por nibus.
2.4.1 Acidentes de trnsito
No mundo inteiro, o acidente de trnsito considerado como o pior dos problemas
de transporte. Em 1993, cerca de 885.000 pessoas morreram de acidente de trnsito4. A
maioria das mortes ocorrem nos pases em desenvolvimento e "o acidente de trnsito a
causa mais importante da morte no grupo da populao economicamente ativa do
mundo" (Alan Ross and Mukami Mwiraria, 1992, p.4). Em geral, o ndice de acidentes de
trnsito e de pedestres continua sendo mais alto nos pases em desenvolvimento (Alan,
1992, p.1). Segundo um relatrio do Banco Mundial na ndia, por exemplo, a taxa de
morte nas estradas (por 1.000 veculos) 18 vezes mais alta do que a do Japo,
aproximando 60.000 mortes por ano5.
A cada ano, na Unio Europia, 55.000 pessoas morrem, 1,7 milhes ficam
feridas e 150.000 tornam-se permanentemente incapacitadas por causa dos acidentes de
trnsito.6
Nas ltimas dcadas, o ndice de acidente de trnsito tem crescido muito nas
reas urbanas da frica Ocidental. Assim confirma uma pesquisa feita pela revista Jeune
Afrique Economie: "La route en Afrique tue davantage que le SIDA, voire le paludisme."7
(Ali Biyo, 1998, p.24). Ainda a mesma pesquisa revela que no Senegal 2.825 pessoas
morreram de acidente de trnsito em 1995. Porm, neste pas o nmero de vtimas
3 Por referncia da UFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul4 WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). The World Health organization report 1995:
Bridging the Gaps. Geneva WHO, 1995, p. 19.5 THE WORLD BANK. India Transport sector: Long Term Issues. Report N 13192- In
infrastruture Operations Division, Country Department II, Washington, D.C., the World Bank,1995, p.iv.
6 ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD) AND THEEUROPEAN CONFERENCE OF MINISTERS OF TRANSPORT (ECMT). Urban Travel andSustainable Development. Paris, OECD and ECMT, 1995, p.31
41
multiplicou-se ao longo dos anos. Desde o dia 19 de maro de 1958, data do primeiro
acidente registrado, o nmero de 778 mortes passou para mais de 13.000 em 1994. Em
1996, a freqncia chegou a mais de sete acidentes registrados por dia. Em Benin, em
1996, 412 pessoas morreram de acidente de trnsito, contra 321 no ano anterior e o
nmero de feridos passou de 1.406 para 2.251 no mesmo perodo. Togo o pas que
registra maior nmero de acidentes de trnsito por ano, cerca de 3.000 a 4.000, com
maior nmero de mortes.
No Brasil, apesar dos esforos de responsabilidade administrativa dos governos
de Estados e Chefes de Municpio, o ndice de acidentes de trnsito continua sendo alto.
Segundo um relatrio da ANTP8, em 1994, o Departamento Nacional de Trnsito
registrou mais de 22 mil mortes e mais de 330 mil feridos no trnsito do pas inteiro. Nas
grandes cidades, o maior nmero de mortes, cerca de 60%, est na condio de
pedestres, "atestando assim a violncia do trnsito brasileiro"9.
De maneira geral, dois fatores podem explicar a causa dos problemas de
acidentes de trnsito: a questo da irresponsabilidade administrativa dos governos e a
questo da falta de conscientizao coletiva dos motoristas e pedestres. A
responsabilidade administrativa se demonstra pela incapacidade financeira e as
carncias de todas as ordens dos pases em desenvolvimento: a falta de infra-estruturas
rodovirias adequadas ou submetidas a uma degradao acelerada; a velhice da
tecnologia empregada especialmente na frica; impossibilidade de controle de alto nvel;
falta de coordenao das aes entre pases; falta de rigor no controle das polticas de
preveno e de represso; falta de dispositivos mais sofisticados de sano; falta de
sensibilizao pontual e provavelmente falta de vontade dos governos em fazer da
segurana rodoviria um elemento-chave da poltica de modernizao.
7 Isto quer dizer que, na frica, as estradas matam mais do que o HIV e muito mais que a dengue.Tirado do Jeune Afrique Economie, du 19 jan au 1 fev. 1998. P.168 Por referncia a ANTP: Associao Nacional de Transporte Pblico. ( No Brasil)
42
Alm da contingncia devido responsabilidade administrativa, o comportamento
humano ligado ao elemento de conscientizao dos motoristas e pedestres muito
relevante. Os motoristas so freqentemente submetidos a horrios exorbitantes de
trabalho. Enquanto que o servio baseado na solicitao dos clientes, nos pases da
frica, por exemplo, um motorista passa 18 horas por dia ao volante (Paye Moussa,
1998, p.26). preciso lembrar que nestes pases os motoristas de veculos de transporte
coletivos no tm a oportunidade de participarem de programas de treinamento e de
aprendizagem regulares.
2.4.2 Congestionamento de trfego
O congestionamento de trfego uma das manifestaes mais visveis das falhas
do planejamento de transporte urbano, seja nos pases economicamente avanados ou
nos economicamente atrasados. O congestionamento enfraquece ento a finalidade do
uso do automvel: facilitar o contato entre pessoas e o livre acesso aos bens e servios.
As estradas congestionadas ou lotadas de automveis afetam negativamente a
produtividade econmica, alm de agravar a poluio do ar e sonora.
Nos pases economicamente avanados, o congestionamento das grandes e
pequenas cidades muito semelhante. Um estudo das cidades dos pases do OECD
mostra que o movimento de trfego nos centros comerciais diminuiu dramaticamente
desde a dcada de 70 (Peter Midgley, 1994, p.15). Em 1990, nos distritos comerciais de
grandes cidades tais como: Manchester, no Reino Unido; Milo, na Itlia e Utsunomiya,
no Japo, a velocidade do trnsito no perodo de intenso movimento pela manh era de
20 quilmetros ou menos por hora.10
9 Ver relatrio ANTP 1997, p.21.10 OECD & ECMT. Urban Travel and Sustainable Development. Paris, 1995, p 31.
43
No caso dos pases da frica Ocidental, o congestionamento aumentou
dramaticamente a partir da dcada de 90 devido ao boom dos carros usados
importados da Europa e falta de uma infra-estrutura adequada e de um cdigo
adequado de trnsito.
No Brasil, assim como em vrios pases da Amrica Latina, so incontveis as
horas desperdiadas por dia nos deslocamentos em relao ao que seria possvel com
um adequado e eficiente sistema de trnsito. No caso externo da Regio Metropolitana
de So Paulo, estima-se que sejam desperdiadas cerca de 2,4 milhes de horas por dia
nos deslocamentos (Rogrio Belda, 1997, p. 96). O exemplo mais notvel da sia o de
Bangkok, onde a velocidade de trfego nos centros urbanos baixou at dois quilmetros
por hora todos os anos. Como resultado, em Bangkok, o tempo desperdiado no trfego
por cada carro estimado em mdia de 44 dias por ano (Peter Midgley, 1995, p.16).
O impacto econmico e social do congestionamento avaliado em funo do
custo das operaes ou atividades que poderiam ser feitas durante o tempo
desperdiado. A dimenso do problema de um grande desastre. O congestionamento
freqentemente considerado como resultado de um insuficiente network de estradas. De
fato, mesmo um menor nmero relativo de carros pode causar engarrafamento. E,
mesmo assim, uma expanso do network de estradas raramente uma soluo.
Do ponto de vista econmico, em muitos pases em desenvolvimento, a melhoria
da qualidade de trnsito vai alm das capacidades financeiras. De fato, a construo de
novas estradas requer espao desocupado. Em vrias cidades da frica, especialmente
nas capitais, a construo de novas infra-estruturas rodovirias exige a destruio dos
imoveis existentes e transferncias sociais informais.
44
2.4.3 Contribuo para poluio do meio ambiente e uso de energia
A degradao do meio ambiente um dos problemas importantes que a
humanidade enfrenta como conseqncia de suas atividades socioeconmicas em reas
urbanas. Uma deciso internacional sobre a degradao do meio ambiente (Framework
Convention on Climate Change)11 promulgou uma lei para reduzir e estabilizar a emisso
do bixido de carbono - CO2 no meio ambiente. Entretanto, nos pases em
desenvolvimento esta poltica no entra intensivamente nos programas de proteo do
meio ambiente, especialmente nos pases da frica.
Os diferentes meios de transporte automotor das grandes regies urbanas so
considerados como a principal origem da emisso de poluentes. A poluio do ar ocorre
pela emisso de materiais poluentes, como produto final da transformao de energia
consumida pelo parque automobilstico e mquinas industriais. "O monxido de carbono
representa a metade dos poluentes do ar nos Estados Unidos" (Zachary A. Smith, 1994
p.68).
O uso de veculos de transporte requer uma grande quantidade de energia. Uma
pesquisa do Departamento Internacional de Energia mostrou que 20% de toda a energia
produzida no mundo usada para o setor de transporte e que 60% a 70% dela
destinada ao deslocamento de pessoas e o restante para cargas12. Nos pases da OECD,
segundo a mesma pesquisa, o sistema de transporte usou cerca de 31% de toda a
energia produzida em 1991.
O consumo de energia pelo setor de transporte tem crescido nos pases
desenvolvidos tanto quanto nos pases em desenvolvimento na ltima dcada da virada
do milnio devido ao aumento do uso de carros prprios. Segundo um relatrio de World
11 Ver, Intergovernnamentel Panel on Climate Change (IPCC), World Meteorological Organization(WMO) and United Environment Programme (UNEP).
45
Energy Council, de 1971 a 1992 a quantidade mundial de energia usada, no setor de
transporte cresceu cerca de 2,7% por ano, mais rpido do que o setor da industria e
outros.13
Este consumo de energia contribui para a poluio do ar do meio ambiente local e
global e, ainda, representa um custo econmico especialmente alto para pases
importadores de energia. Um estudo do Departamento Tcnico Africano do Banco
Mundial mostrou que, nos centros urbanos, em perodo de movimento intenso de trfego,
o congestionamento responsvel por 90% a 95% da emisso de monxido de carbono,
80% a 90% de oxido de nitrognio e uma grande quantidade de partculas poluentes,
ameaando assim a sade humana e os recursos naturais.14
Nos pases desenvolvidos, a emisso de poluentes pelos carros tem a maior
ameaa sobre a qualidade do ar. Nos Estados Unidos por exemplo, em 1993, os meios
de transporte foram responsveis por 77% da emisso de bixido de carbono, 45% de
xido de nitrognio, 36% de partculas orgnicas volteis e 22% de outras partculas15.
Na Unio Europia, a Comisso Europia do Meio Ambiente iniciou medidas de controle
de poluio nos 20 ltimos anos para reduzir o nvel de emisso de poluentes de
automotores, mas os resultados foram malsucedidos por causa do nmero crescente de
usurios de carros particulares.16 No Reino Unido, por exemplo, a quantidade de bixido
12INTERNATIONAL ENERGY AGENCY. world Energy. Outlook, 1995 . Paris, OECD, 1995,p.24813WORLD ENERGY COUNCIL. Energy for Tomorrows World: the realities, the real options,
and the Agenda for Achievement. Kogan Page. New York, London and St. Martins Press,1993, p.51
14THE WORLD BANK. Nairobi Action Plan for Urban Mobility and Non-Motorized Transport.In Proceedings of the SSATP Seminar on Urban Mobility and Non-MotorizedTransport in Sub-saharan Africa. Africa Technical Department. Nairobi, Kenya, the WorldBank, 1994, p.20
15 U.S ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY (U.S EPA). National Air Quality andEmissions. Trends Report, 1993. Washington, D.C., U.S. EPA, 1994, p.2, 6, 46, 52.
16COMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES. The state of the Environment in theEuropean Community: Overview. Belgium, Brussels, Commission of the EuropeanCommunities, 1992 Vol.3, p.17
46
de nitrognio emitida cresceu 35% no perodo de 1986 a 1991, como resultado do
aumento do uso de veculos prprios.17
No caso dos pases em desenvolvimento, a poluio de ar em grande parte um
problema devido ao aumento de trfego nas grandes reas urbanas. Assim, "nos
importantes centros urbanos tais como: Cidade do Mxico, Bangkok e Lagos, a poluio
de ar , um problema crucial" (Asif Faiz and Surhid Gautam, 1994, pp.20-21).
2.4.4 Contribuo para as discriminaes socioeconmicas
A expanso geogrfica rpida do espao econmico das grandes cidades,
possibilitada pelo crescimento do nmero de automveis privados, discrimina muito as
populaes perifricas e suburbanas de baixa renda. Esta discriminao social
apresenta-se sob vrias formas como as limitaes de acesso, as oportunidades de
trabalho para populaes pobres das periferias urbanas proporcionalmente ao alto custo
das viagens. Este tipo de fenmeno socioeconmico presente tanto em pases
desenvolvidos quanto em pases em desenvolvimento, apesar de as causas e os sinais
apresentam-se de diferentes formas.
Mesmo assim, a discriminao cada vez maior nas grandes cidades que
apresentam vrios segmentos de grupos sociais de baixa renda, pelo fato de as
oportunidades de emprego, de edu