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O trabalho intitula-se “Proposta de requalificação intramuros do burgo medieval de Viana do Castelo” e tem como objecto a área confinada às muralhas medievais. O seu objectivo consiste na produção de uma estratégia que vai da escala urbana à tipologia de parcelamento.
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I
Outubro de 2009
Tese de Mestrado em ArquitecturaRamo do Conhecimento: Cidade e Território
Trabalho efectuado sob a orientação do Arquitecto André Fontes
Tiago da Costa Arieira
Proposta de requalificação intramuros do burgo medieval de Viana do Castelo
Universidade do MinhoEscola de Arquitectura
Tiago da Costa Arieira
www.arieiras.com
Orientador:
Professor Arquitecto André Fontes
Ano de conclusão: 2009
Designação do Mestrado :
Mestrado em Arquitectura, Ramo do Conhecimento Cidade e Território
I
“Da relação entre o antigo e o novo nasce uma associação, um charme do lu-
gar que não se conseguiria obter se se recomeçasse tudo de raiz. Não se trata de uma
ideologia de conservação, mas sim de uma ideologia de modernização.”
Arq. Jean Nouvel
II
III
Agradecimentos
Nos meandros deste trabalho esconde-se a colaboração importantíssima de
individualidades e instituições, a quem dirijo a minha profunda gratidão:
Arq./ Eng. André Fontes, Arq. João Cabeleira, Arq. José Loureiro, Arq. Paula Santos,
Arq. Valdemar Coutinho, Arq. Manuel Gaspar, Arq. Tiago Castro, Arq. José Santos, Arq.
André Delgado, Arqª. Sofia Parente, Arq. Pedro Barbosa, Eng. Tiago Delgado, Eng. Filipe
Ferreira, Dra. Teresa Menezes, Dr. Cunha Leal, Dr. António Maranhão Peixoto, Dr. João
Alpoim Botelho, Dr. Avelino Pinto, Fotografo Vitor Roriz, Fátima Bizarro, Barbara Lomba,
população vianense que, de forma acolhedora, me facilitou a recolha de dados, Câmara
Municipal de Viana do Castelo, GTL e Junta de freguesia Santa Maria Maior. A um outro
nível reconheço o apoio da família e dos “amigos da biblioteca” que participaram comi-
go nesta longa viagem.
IV
V
Resumo
O trabalho intitula-se “Proposta de requalificação intramuros do burgo medieval
de Viana do Castelo” e tem como objecto a área confinada às muralhas medievais. O
seu objectivo consiste na produção de uma estratégia que vai da escala urbana à tipolo-
gia de parcelamento.
A tomada de consciência da problemática do burgo medieval, a nível urbano,
habitacional, social e cultural, provoca o despoletar de uma proposta, segundo uma
estratégia global de cidade, obedecendo a uma atitude contemporânea. A sua mate-
rialização efectua-se segundo um novo atravessamento, onde estão inscritos diversos
equipamentos e serviços, como resolução urbana e cultural, e com a implementação
de uma “Incubadora de Jovens”, ao nível do restante edificado, com um intuito sócio-
económico e habitacional.
A proposta desencadeia-se a partir da escala urbana, com o atravessamento,
entre o tríptico do século XVI, na Praça da República, formado pela Misericórdia, Anti-
gos Paços do Concelho e o Chafariz, e o tríptico do século XXI, na Praça da Liberdade,
constituído pela Biblioteca Municipal, Edifícios Administrativos e o Coliseu, à escala da
tipologia habitacional e comercial, com o projecto de “Incubadora de Jovens”.
Em suma, como forma de dinamização do burgo existente propõe-se “partir o
ovo medieval” e implementar uma “Incubadora de Jovens”, numa perspectiva temporal,
na qual se conjugam o passado, o presente e o futuro.
VI
VII
Abstract
The work is entitled “Proposal for a requalification within the walls of the me-
dieval borough of Viana do Castelo” and is aimed at the area confined by its medieval
walls. The goal is to produce a strategy that goes from the urban scale to the typology of
fragmentation.
The awareness of the problem of the medieval village, at the urban, housing,
social and cultural levels, causes the triggering of a draft, an overall strategy for the city,
according to a global strategy of town, complying with a contemporary attitude. Its achie-
vement is made by following a new crossing, to which various equipments and services
are attached, as urban and cultural resolution, with the implementation of an “Incubator
of Young People” at the level of the remaining buildings, with socio-economic and hou-
sing purposes.
The proposal is unleashed starting from the urban scale, with the crossing be-
tween the three pillars of the sixteenth century, in Praça da República, composed by the
former Hospital da Misericórdia, the old Town Hall and the Fountain, and the triptych of
the XXI century, in Praça da Liberdade, consisting of the Municipal Library, Administra-
tion buildings and the Coliseum, levelling the housing and commercial typology with the
project “Incubator of Young People”.
In short, as a way of boosting the existing borough, the proposal is to “break the
medieval egg”, and implement an “Incubator of Young People” in a temporal perspecti-
ve, which unites the past, the present and the future.
VIII
1
Sumário
1. INTRODUÇÃO 7
2. REFLEXÃO TEÓRICA
2.1 Visão diacrónica da revitalização urbana 13
3. ANÁLISE DO BURGO
3.1 Desenvolvimento urbano de Viana do Castelo 27
3.2 Morfologia do espaço
3.2.1 Massa construída e Espaço público 33
3.2.2 Tipologias habitacionais – processos construtivos 35
3.2.3 Estado de conservação do edificado 39
3.2.4 Nível de intervenção 41
3.3 Actual Ocupação
3.3.1 Usos 43
3.3.2 Horário das actividades 45
3.3.2 Espaços habitados ou desabitados 47
3.4 Habitabilidade
3.4.1 Frequência de transeuntes 49
3.4.2 Faixa etária dos habitantes 51
3.5 Problemática do centro histórico
3.5.1 Urbano 53
3.5.2 Tipologias 55
2
4. PROJECTO - CONCEPÇÃO:
4.1 Referências 59
4.2 Área de estudo 63
4.3 Área do plano 67
4.4 Área do projecto 73
4.4.1 Praça 75
4.4.2 Edifício central/ Museu ao ar livre 79
4.4.3 Incubadora de Jovens 83
4.4.3.1Ensaio do “conceito tipo” das células de incubação 85
5. REFLEXÃO FINAL 93
6. ANEXOS
6.1 Área de estudo 97
6.2 Área do plano 99
6.3 Área do Projecto 101
6.4 Projecto da praça 102
6.5 Projecto do edifício central/ Museu ao ar livre 108
6.6 Células de incubação 123
7. BIBLIOGRAFIA 137
8. LISTA DE IMAGENS 143
3
“ Aos instrumentos de reconhecimento do real chama-se história, a arte de cons-“Aos instrumentos de reconhecimento do real chama-se história, a arte de cons-
truir a sua transformação chama-se arquitectura. Uma sem a outra chama-se fracasso
da arquitectura moderna.”
Álvaro Siza Vieira
5
1. INTRODUÇÃO
6
Fig.1
Aerofotograma da cidade de Viana
do Castelo, 2002.
7
A presente tese enquadra-se no momento final do curso de arquitectura, assu-
mindo um cariz reflexivo e de maturação dos conhecimentos adquiridos, ao longo da
etapa da formação académica na Escola de Arquitectura da Universidade do Minho.
Antes de sermos estudantes de arquitectura, somos cidadãos do século XXI que
herdamos das gerações anteriores as suas fortunas, mas também as suas dívidas para
com o ambiente.
O actual maciço edificado, na sua maioria, caracteriza-se por médios valores
construtivos associados a um desmedido economicismo das empresas. A necessidade
do ofício, por parte destas, leva a que o património seja, muitas vezes, alvo de interven-
ções e demolições gritantes.1
Por outro lado, o planeta reclama atenções ecológicas, no que diz respeito ao
uso, transformação e desperdício de recursos, no intuito de salvaguardar a vivência das
gerações futuras.
O objecto deste trabalho, neste sentido, consiste numa proposta de requalifica-
ção da área confinada ao burgo medieval de Viana do Castelo, segundo uma lógica de
intervenção baseada na consideração da sua envolvente.
O objectivo deste trabalho é a produção de uma proposta que partirá da escala
urbana até à célula parcelar. Por outro lado, em face da falta de estudo e de intervenção
no objecto de análise, este trabalho pretende dar o seu contributo, com a produção de
peças originais, relativas à análise, obedecendo a uma investigação “in loco”. Um outro
objectivo a atingir será o de provocar o debate público sobre o tema e contribuir para
uma abertura de novos horizontes.
A metodologia adoptada no desenvolvimento do trabalho consistirá num fasea-
mento gradual, a saber: reflexão teórica, análise do núcleo urbano histórico e a concep-
ção das ideologias.
Relativamente à concepção das ideologias, vão ser desenvolvidos projectos que
respondam às necessidades detectadas. Concretizando: área de estudo, área do plano,
área do projecto, praça, edifício central/ museu ao ar livre e um ensaio do “conceito
tipo” das células de incubação.
1 Cf. RODERS, Re-architecture, p9
1. Introdução
8
Fig. 2
Plano de pormenor da frente ribei-
rinha e Campo da Agonia, 2002.
Este plano apresenta a implanta-
ção final relativa ao tríptico do XXI.
Fig. 3
Fotomontagem relativa ao con-
ceito de “partir o ovo medieval”.
Tríptico do século XVI
Tríptico do século XXI
9
O projecto elaborado é, por sua natureza, pertinente, quando consideramos a
frequência de visitantes entre o tríptico do século XXI, na praça da Liberdade, e o tríptico
edificado na Praça da República do século XVI. É igualmente relevante, quando se pon-
dera a ausência dos jovens e as condições reais de degradação dos imóveis, no espaço
em análise. Os números falam por si, à data de 16 de Outubro de 2009, conforme os
dados apresentados por Manuel Reis Campos, presidente AICCOPN2: O peso da reabi-
litação em Portugal representa cerca de 7,4% do total do sector da construção, contra
29% em Espanha e 36% na média europeia.
A tomada de consciência da problemática do burgo medieval, a nível urbano,
habitacional, sócio-económico e cultural, provoca o despoletar de uma proposta, pauta-
da segundo uma atitude contemporânea, a qual defende que, por vezes, é necessário
amputar a parte, para salvar o todo, tendo como referência projectos internacionais.
Como forma de dinamização do burgo existente propõem-se “partir o ovo me-
dieval” e implementar a “Incubadora de Jovens”, numa perspectiva temporal, segundo
a fórmula de Kandinsky, em que o amanhã é igual ao ontem mais hoje.
2 AICCOPN – Associação dos industriais da construção civil e das obras públicas
1. Introdução
10
11
2. REFLEXÃO TEÓRICA
12
Fig. 4
A Revolução Industrial consistiu
num conjunto de mudanças tec-
nológicas com profundo impacto
no processo produtivo ao nível
econômico e social.
13
2.1 Visão diacrónica da revitalização urbana
A abordagem do tema reclama, antes de mais, uma perspectiva diacrónica,
com o intuito de uma consciencialização do conhecimento da arquitectura subjacente
às revitalizações urbanas levadas a efeito, no património edificado3, permitindo uma
contextualização do ponto de vista defendido neste trabalho e, simultaneamente, um
olhar distante, sobre a história da problemática em causa, contributo essencialmente da
cultura europeia, ocasionando uma liberdade de reflexão e estabelecendo uma relação
temporal entre o passado, o presente e o futuro.
A reflexão filosófica de toda esta problemática é relativamente recente, mas com
uma extensão considerável, o que nos levará a uma opção pelos momentos de especial
relevo, a qual teve o seu início no século XIX, como consequência quer da revolução
francesa, quer da revolução industrial, que altera drasticamente o quadro organizativo
da cidade e o tecnológico relativo à construção, cujas figuras proeminentes foram John
Ruskin e Viollet-Le-Duc.
Segundo Viollet-le-Duc “(…) restaurar um edifício é restabelecê-lo num estado
completo que pode nunca ter existido num dado momento.”4
Ao contrário da perspectiva anterior, Choay apresenta-nos três momentos histó-
ricos, em que num primeiro momento, denominado “memorial”, com a figura de John
Ruskin, segundo o qual “ (…) o verdadeiro sentido do termo restauro significa a destrui-
ção mais total que uma construção pode sofrer. O projecto restaurador é absurdo. Res-
taurar é impossível. Tanto como dar vida a um morto.”5, daí a característica passiva da
sua teoria, reconduzindo à destruição progressiva e natural da ruína dos monumentos.
No segundo momento “historicista”, Camillo Sitte, tendo lamentado “a beleza
urbana” que se perdia, procurou determinar as bases de uma nova e mais qualificada
estética urbana, capaz de satisfazer as necessidades da nova era industrial.
A reflexão do legado histórico das cidades, que reclamam critérios de interven-
ção adequada, vai-se tornando uma prática, perante as grandes transformações urba-
nas que ocorrem nas cidades europeias: como Paris (1853-1869), Barcelona (iniciada
em 1859 até aos nossos dias), Viena (1859-1872), Bruxelas (1876-1881), originando o 3 Património edificado inclui monumentos (criação deliberada à priori) e monumentos históricos (não deliberado inicialmente, mas seleccionados à posteriori). Consequentemente são diametralmente opostos segundo a visão de A. Riegl.4 CHOAY, A alegoria do património, p115 CHOAY, op cit, p130
2. Reflexão teórica
14
Fig. 5
Foto da maquete do Plano Voisin
desenvolvido por Le Corbusier, em
1925.
15
pensamento Moderno do Restauro.6 Neste período, surge o contributo de grande relevo
de Gustavo Giovannoni (1873-1947), momento “integrador” com o desenvolvimento das
teorias de conservação e salvaguarda, salientando a importância das relações contextu-
ais, isto é, da chamada “arquitectura menor”. Além disso, foi o arauto da salvaguarda
dos centros históricos contra os “sventramenti” higienistas, contrapondo com a teoria
que o próprio intitulou de “diradamento”, segundo a qual se procura a salvaguarda dos
centros históricos e, simultaneamente, favorecer a sua interligação com a restante ci-
dade, recorrendo só quando necessário a demolições selectivas, ou seja, defendia uma
intervenção localizada e cirúrgica que produzisse melhorias ambientais e, simultanea-
mente, a renovação da cidade.7
Apesar de tudo, as teorias seguidas no congresso dos CIAM8 de 1933 foram no
sentido oposto, uma vez que defendiam o esventramento higienista e a demolição da
arquitectura de acompanhamento. O espírito da Carta de Atenas deveria ser observado
se o seu valor arquitectónico obedecesse a um interesse geral; se a sua conservação
não sacrificasse as populações mantidas em condições insalubres; se fosse possível
solucionar a sua presença prejudicial por medidas radicais, e incentivava a demolição
de acrescentos e construções de menor importância em torno dos monumentos, tendo
em vista a criação de “superfícies verdes”, em seu lugar.
Este espírito incompatibilizava-se com a possibilidade da recuperação da cidade
existente, nesse sentido Le Corbusier levou esta ideologia ao extremo, com o Plano Voi-
sin de Paris em 1925, o qual visava a destruição de grande parte do seu centro, dando
lugar a uma série de edifícios isolados de grande altura, principalmente destinados à
habitação, criando grandes zonas verdes entre eles, o qual não passou do papel, devido
ao arrojo que agredia o património histórico parisiense. Porém, este espírito persistiu
como imperativo, aquando de uma abordagem total da cidade, nesses tempos.9
Apesar do reformismo protagonizado, as práticas de conservação permanece-
ram quase idênticas, com base no conservadorismo histórico de recomposição estilís-
tica e formal e sempre relacionadas com a arquitectura monumental. Com a criação
do conceito de monumento histórico (cerca de 1820) até à Segunda Guerra Mundial,
aquele só visava os monumentos da Antiguidade e algumas igrejas e castelos Medievais.
6 Cf. FERNANDEZ, op cit, pp18-207 Cf. FONSECA, Histori[cidades], p15 8 CIAM - Congrès International d’Architecture Moderne9 Cf. FERNANDEZ, op cit, pp.18-20
2. Reflexão teórica
16
Fig. 6
Fotografia da praça central de
Varsóvia, após a II Guerra Mundial.
Fig. 7
Fotografia actual da praça central
de Varsóvia. Daqui podemos con-
statar a reconstrução integral das
fachadas.
17
Só com o período do pós-guerra europeu, a teorização feita anteriormente teve
substancial aplicação, partindo da destruição das cidades. Em consequência deste novo
dado, surge a necessidade do restauro de edifícios patrimoniais e históricos, da expe-
rimentação e da aplicação das teorias do movimento moderno, que aspiravam a uma
racionalização funcional da cidade, através da melhoria de sectores segregacionistas,
seguindo uma lógica higienista.
Os princípios base da arquitectura e urbanismo moderno incompatibilizavam-se
com os fundamentos da salvaguarda e recuperação da cidade existente, devido ao facto
da relação entre arquitecturas anónimas (de repetição) e a sua relação com o carác-
ter urbano, no que toca à forma física: conteúdos culturais, antropológicos e sociais,
remetendo-os para uma lógica museológica ou procedendo a uma destruição massiva
tendo como base o desenvolvimento urbano.
Mas a aplicação das ideologias foi diferente conforme as realidades em que se
estava a intervir. Exemplificando o que acaba de ser dito, podemos citar a cidade de
Varsóvia, que em 1944 tinha 75% do parque habitacional arrasado, constituído por 95%
dos seus edifícios históricos10. Neste caso procedeu-se à reconstrução integral do seu
tecido histórico, segundo a tipologia de parcelamento e a morfologia urbana anteriores,
em que as novas construções refazem as fachadas, mas modernizando a sua habitabi-
lidade. Esta intervenção reflectiu uma necessidade política e psicológica, uma vez que
se tratava de reconstruir uma nação com identidade e cultura própria.
Esta atitude de intervenção gerou uma forte polémica, por razões antagónicas.
De um lado, estavam os defensores dos ideais conservadores, apoiando uma reconstru-
ção integral, e, do outro lado, os modernistas, segundo os quais era uma oportunidade
perdida da renovação urbana.
Posteriormente, surgiram atitudes opostas, ora seguindo o caso de Varsóvia, ora
pautando-se pela Carta de Atenas.
Em 1962, Malraux concebeu a lei dos “Secteurs Sauvegardés”, hoje mais co-
nhecida por lei Malraux. Inicialmente visava a preservação museológica, mas acabou
por impedir a destruição sistemática de algumas zonas urbanas de especial relevo,
ameaçadas pela renovação, e estendendo-se ao património urbano.
10 Cf. AGUIAR, Cor e cidade histórica, p85
2. Reflexão teórica
18
Fig. 8Vista do centro urbano histórico para algumas das construções efectuadas segundo o plano urba-no de Kenzo Tange. A rejeição des-te plano deve-se à imposição de um respeito quase absoluto pela morfotipologia da cidade histórica, e pela sua arquitectura.
19
Só com a Carta Internacional sobre Conservação e Restauro dos Monumentos
e Sítios (Veneza, 1964), o conceito de monumento histórico foi abarcando progressiva-
mente novas noções como o vernacular, o menor, o industrial e mesmo os conjuntos
edificados, já proclamado por Giovannoni.11
A demolição do património urbano, durante o período de 50 e 60, provocou
uma reacção e questionamento das anteriores políticas urbanas, a que Choay denomina
ironicamente de “urbanismo negativo”, caracterizado substancialmente na retoma a
processos de requalificação da cidade consolidada, e na contenção da cidade, sendo o
caso de Bolonha exemplar. Trata-se de uma política baseada nos princípios do restauro
filológico12.
Por esta altura, despoletaram-se as iniciativas do Conselho da Europa, das quais
resultou uma série de encontros e simpósios, vindo a resultar numa série de recomen-
dações, ao nível das políticas de salvaguarda e valorização do património arquitectónico
e urbano, de abrangência mundial.
Em 1972, na Conferência Geral da UNESCO mundializaram-se os valores e
referências ocidentais, para as práticas patrimoniais. Tarefa difícil, uma vez que é inata
às referências locais.
Em 1975, a Declaração de Amesterdão surge como um documento de grande
importância para a conservação urbana, estabelecendo a conservação do património ar-
quitectónico como um dos principais objectivos do planeamento urbano e ordenamento
do território e dos factores sociais, como condicionantes de uma consideração relevante
para o êxito da conservação integrada. Desta forma estabelecem-se os princípios mais
em função dos valores sociais e urbanos estreitamente relacionados às preocupações
de uso e reapropriação do espaço da cidade histórica.
Em 1976, a UNESCO escreveu a “Recommendation concerning the Safeguar-
ding and Contemporary Role of Historic Áreas”, que ainda hoje é vista como a exposição
e defesa mais completa para a “não musealização” da cidade histórica.
Apesar destas recomendações, que retomam o enfoque na intervenção no
centro histórico como um bem a salvaguardar, a qual continua a ser o reflexo das di-
ficuldades e das contradições da sua integração na vida contemporânea, origina-se a 11 Cf. FERNANDEZ, op cit, p2712 Cf AGUIAR, op cit, p91
2. Reflexão teórica
20
Fig. 9Fotomontagem explicativa da transformação urbana efectuada no núcleo urbano consolidado, em Viana do Castelo. O plano de esventramento da Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, data de 1876, mas apenas vem a ser concretizado em 1917, a par da construção da estação de ca-minhos-de-ferro. Esta intervenção que liga este equipamento com o cais fluvial, foi desenvolvida com um intuito de desenvolvimento económico.
21
“gentrification” destes centros.
Em 1986, a Carta de Toledo, redigida pela ICOMOS13, delegação da UNESCO,
vem complementar a Carta Internacional Sobre a Conservação e Restauro dos Monu-
mentos e Sítios (Veneza, 1964) onde se dá especial atenção à conservação da imagem
da cidade e da sua memória colectiva. Dada a sua mundialização, a sua eficácia ope-
racional fica condicionada a nível regional, uma vez que pretende preservar o carácter
histórico da cidade, bem como os elementos materiais e espirituais distintivos da sua
imagem, a saber: “a forma urbana, caracterizada pelo seu cadastro; as relações contex-
tuais; as relações espaciais (cheios e vazios); a forma dos edifícios (interior e exterior),
incluindo estrutura, volume, estilo, escala, materiais e cor e por último as especifici-
dades da cidade, adquiridas no decurso da sua história.”14 A autenticidade da cidade
histórica exige a observância destes valores.
Na década de 90, associado ao conceito de conservação integrada, aparece o
conceito de Desenvolvimento Sustentável, com base numa cultura ecológica. Aos valo-
res sócio-culturais e históricos do património urbano, junta-se o económico, visto ser
um capital fixo já investido, cuja perda ou substituição implica uma parte significativa na
economia de qualquer país. Contudo, a sua manutenção tem também custos elevados
a curto prazo, donde a prevalência da aplicação desta doutrina, mais a norte da Europa.
No caso português, o que prevaleceu foi o restauro estilístico ao nível do edi-
ficado, com uma prática normalmente desligada da obra de autor, a qual prevaleceu
durante o Estado Novo, na limpeza feita aos monumentos, com a procura do estilo puro
português, apagando por completo todas as marcas da história.15 Por outro lado, as mu-
danças urbanas tiveram lugar devido ao “alargamento do conceito inicial de património
artístico ao valor económico-social da edificação antiga (de stock residencial e não só),
susceptível de recuperação física e de revitalização sócio-cultural.”16
13 ICOMOS – International Council on Monuments and Sites14 FONSECA, op cit, p2015 Cf. FONSECA, op cit, p2116 PORTAS, Nuno - Préfacio in AGUIAR, op cit, 17
2. Reflexão teórica
22
23
Dos dados expostos, como conclusão, surge a seguinte questão:
Qual a postura a adoptar no momento de intervenção no património?
A questão formulada inicialmente implica uma resposta. Da perspectiva diacró-
nica de intervenção no legado urbano, em conclusão e como resposta à citada questão,
acentuaria os seguintes aspectos, a saber:
O que se verifica, ao contrário das batalhas dos primeiros protagonistas, a filo-
sofia de intervenção tem evoluído progressivamente conquistando, como Nuno Portas
afirma, o bom senso do consenso.
Interessam a esta reflexão as teorias de Giovannoni, segundo as quais, são
importantes os elementos contextuais, a que apelida de “arquitectura menor”, o que
anteriormente se centrava somente no monumento histórico, que só se veio a vincular
na Carta de Veneza de 1964, e, simultaneamente, a defesa de demolições selectivas,
favorecendo a sua interligação com a restante cidade.
Por outro lado, do espírito da Carta de Atenas de 1933 interessa a salvaguarda
do edificado somente quando não sacrificasse as populações mantidas em condições
insalubres.
Da Declaração de Amesterdão interessa destacar a conservação integrada, se-
gundo factores sociais e urbanos estreitamente relacionados às preocupações de uso e
reapropriação do espaço da cidade histórica.
Destacamos da Recomendação da UNESCO de 1976, a “não musealização” da
cidade histórica, que provocou a “gentrification”, mas a sua adequação às necessidades
contemporâneas, no sentido de voltar a cativar a população.
Da Carta de Toledo, valorizamos o seu contributo relativo à conservação da
imagem da cidade e da sua memória colectiva.
Da década de 90 interessa o relevo dado ao valor económico, para além dos
sócio-culturais e históricos do património urbano.
2. Reflexão teórica
24
25
3. ANÁLISE DO BURGO
26
Fig. 10
Planta de Viana, Barra e Castelo,
feita em 1756, e acrescentada na
cerca do Convento dos Crúzios,
em 1978.
Fig. 11
Planta da vila de Viana, 1759.
27
3.1 Desenvolvimento urbano de Viana do Castelo
A origem do processo que desencadeou a formação do aglomerado de Viana
deve-se à ocupação romana no século II a.C. Esse acontecimento promoveu a fragmen-
tação do núcleo do povoado castrense, localizado no topo do monte de Santa Luzia,
fazendo-o descer para a encosta, como para a base da colina. A repetição deste proce-
dimento, em vários castros, é um dos factores que levou a pensar que terá dado “(…)
origem ao tipo de povoamento disperso que caracteriza o Minho”17.
Um dos aglomerados originados foi o da Foz. Mais tarde, neste local, foi cons-
truída uma pequena capela, denominada de São Salvador do Adro, anterior a 1258.
D. Afonso III18, quinto rei de Portugal, reinou segundo uma “política de novas po-
voações e de estruturação de uma rede urbana nacional”19, fruto da cultura que bebeu
no período em que residiu em França, na qual se insere a criação da vila, a que deu o
nome de Viana: “ (…) facere populum in loco qui dicitur Atrium, in foce Limie, cui popule
de novo impono nomen Viana”20. A fundação de Viana foi acompanhada pela emissão
de uma carta de foral, da qual se conhecem duas versões, a primeira em 18 de Junho
de 1258, e mais tarde, a definitiva, em 1262. Este foral marcou claramente a intenção
do rei em atrair moradores que se encontravam dispersos, para proceder à consolida-
ção do tecido urbano, através de privilégios e regalias aos moradores, nomeadamente:
isenção de portagens das mercadorias que entrassem ou saíssem da Foz do Lima, de
impostos sobre a pesca, e da décima sobre os produtos importados do estrangeiro,
conseguindo com estas medidas um grande incremento comercial de Viana.
O objectivo do rei era desenvolver um local de importância mercantil e marítima,
favorecida pelas condições de localização perto do mar, e da foz de um rio navegável,
de fácil penetração para o interior. Visto que o povoado do Adro, já existente, não reunia
as condições adequadas às intenções do rei, na perspectiva de um centro marítimo e
comercial e, tendo em conta a sua formação cultural, promoveu a criação de um novo
aglomerado e a sua urbanização, segundo um plano regular, à imagem do que se fazia
pelo resto da Europa, nas imediações do anterior. Além disso, os eixos estruturantes e 17 TEIXEIRA, O Urbanismo Português, p3118 D. Afonso III, segundo filho de D. Sancho II, como não era o sucessor do seu pai, no reino, fazia a sua vida na corte do rei Luís IX, em França, onde viveu perto de vinte anos. Durante a sua formação adquiriu pressupostos basilares a par da fundação de novas cidades, como a de Aigues-Mortes e Carcassone, ambas na década de 1240. Mas a história conta-nos que devido à morte do seu irmão, ele regressou a Portugal para governar, sucedendo ao seu irmão mais velho, devido à morte do mesmo. 19 TEIXEIRA, op cit, p3120 Ibidem, p31
3. Análise do burgo
28
Fig. 12
Plantas do desenvolvimento urba-
no de Viana do Castelo.
Fig. 12.1 Século XIII - hipótese 1
Fig. 12.2 Século XIII - hipótese 2
Fig. 12.3 Final do século XV
Fig. 12.4 Final do século XVI
Fig. 12.5 Final do século XIX
29
o traçado ortogonal visavam a adopção pragmática de princípios de regularidade e geo-
metrização no traçado da cidade, com o objectivo de tornar os processos de arruamento
de divisão da terra e do povoamento o mais racional e eficazmente possível.
A localização de Viana, num pequeno morro, tinha em vista uma estratégia de
defesa, de protecção contra as cheias e de salubridade, estando os espaços construídos
de forma a permitir o escoamento das águas.
Na primeira fase, construíram-se cinco quarteirões de forma rectangular e de
dimensões idênticas (17,6 por 104,5m), em que a maior dimensão era paralela ao rio.
A área habitacional estava voltada para o arruamento principal e os quintais orientados
para os secundários. Estes últimos foram utilizados no século XVI para a construção de
novas habitações, por falta de espaço.21 Esta primeira fase poderá ter sido amuralhada,
não gerando unanimidade na comunidade científica. No entanto, no final do século XIV,
durante o reinado de D. Fernando, concluiu-se a muralha, envolvendo uma área mais
alargada e configurando-se à de forma oval.
A muralha de Viana desempenhou um papel muito importante na concentra-
ção urbana, ainda durante o mesmo século. Mais tarde, com a densificação do espa-
ço urbano, tornou-se necessário dividir alguns dos lotes transversalmente em dois, de
forma a possibilitar a implantação de dois edifícios. Numa primeira fase de expansão
intramuros, construíram-se dois conjuntos de três quarteirões de menor dimensão e
com características idênticas ao edificado primitivo. No século XV, em função de uma
especialização funcional, vão surgindo intramuros novos espaços urbanos que se dese-
nham segundo uma geometria e uma estrutura de loteamento diferentes dos iniciais,
obedecendo à morfologia dos terrenos e do perímetro não ortogonal da muralha.
Com o desenvolvimento populacional, torna-se inevitável a sua expansão extra-
muros, que se inicia ainda durante o século XIV, com a criação do primeiro arrabalde,
que segue a configuração do edificado intramuros, vindo este a expandir-se, posterior-
mente, na direcção do rio. As expansões vão continuar no século XVI, sendo confinadas
até ao século XVIII, com a implantação de 3 conventos. Mais tarde, no século XIX, a
densificação ficou delimitada pela linha do caminho-de-ferro.
Recentemente, em Viana do Castelo, a morfologia sofreu uma clara modifica-
21 Ibidem, p32
3. Análise do burgo
30
Fig. 13
Plano de Pormenor da frente ribei-
rinha e Campo da Agonia - Viana-
pólis, 2002.
31
ção com um conjunto de intervenções, segundo o Programa Polis22, criado em 2000.
As intervenções tiveram lugar entre a Frente Ribeirinha, o Campo da Agonia e o Centro
Histórico, numa área de 157 hectares. Segundo dados da sociedade gestora, com esta
intervenção, Viana do Castelo conseguiu já um aumento da frente de rio acessível em
mais de três quilómetros, passando a área verde disponível para cerca de 300 mil me-
tros quadrados. É de referir ainda que a zona de circulação automóvel diminuiu em prol
da valorização da qualidade da vida urbana. Os novos edifícios inseridos no plano de
intervenção vieram marcar claramente uma nova fisionomia da cidade.
Na mesma linha de pensamento, o Estação Viana Shopping contribuiu para a
alteração da dita fisionomia, cuja intervenção veio a preencher um vazio urbano.
22 Programa Polis - Programa de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental das Cidades
3. Análise do burgo
32
33
3.2 Morfologia do espaço
3.2.1 Massa construída e Espaço público
Como anteriormente foi abordado, o local edificado situa-se num morro, por
razões estratégicas de habitabilidade, para facilitar o escoamento das águas fluviais,
quando havia cheias do Rio Lima. A configuração da muralha segue a geometria do
local, assim como o pensamento construtivo de então, donde a sua forma de ovo.23
Com o aumento da densidade populacional, surgiu a necessidade de construir
fora do perímetro amuralhado, acabando este por ser destruído por alguns habitantes
com propriedades contíguas, apropriando-se da pedra como sua.24
A configuração da cerca urbana de Viana localiza-se, a norte, entre o tríptico edi-
ficado na Praça da República do século XVI, formado pela Misericórdia, Antigos Paços
do Concelho e o Chafariz, e o edificado do século XXI, a sul, para contrapor ao anterior,
constituído pela Biblioteca Municipal, Edifícios Administrativos e o Coliseu. A este, pela
Praça da Liberdade e pela avenida principal, datada de 1876, mas apenas concretizada
em 1917, a par da construção da estação de caminhos-de-ferro. A oeste, encontra-se
o maciço edificado da primeira fase de expansão extramuros, a qual segue a mesma
lógica de traçado, surgindo uma via paralela às já existentes no interior do burgo.
Dentro do burgo, existe uma via que liga o rio à antiga Praça do Forno, actual
Praça da República, e outra que fazia a ligação entre Ponte do Lima e Caminha, as
quais são estruturantes, na rede viária. Actualmente, por ordem hierárquica urbana,
assinalam-se sequencialmente: a Avenida dos Combatentes da Grande Guerra e a Ave-
nida Marginal, Rua Aurora do Lima / Rua Sacadura Cabral, Rua Grande/ Rua de São
Pedro. Todas as restantes remetem-se para um plano secundário.
A lógica da construção do quarteirão do interior do burgo é diferente da do exte-
rior, em virtude da inexistência de espaços vazios interiores ao mesmo, com dimensões
consideráveis, a contrastar com a presença dos mesmos, no edificado exterior, o que
significa que não privilegiavam espaços de uso comunitário privado, à excepção de um,
que, actualmente, está fragmentado por paredes divisórias.
23 Cf. ALMEIDA, Sítios que fazem História, p82 24 Ibidem, p87
3. Análise do burgo
34
Fig. 15
Casa em reconstrução no núcleo
urbano histórico.
35
3.2.2 Tipologias habitacionais – processos construtivos
De uma forma geral, no ovo medieval e zona de primeira expansão predomina
a tipologia, em que o lote quase sempre estreito, tem uma largura que é definida pelo
comprimento das vigas de madeira (mais ou menos seis metros), limite do processo
construtivo da época.
Cada quarteirão é preenchido por um conjunto de vários edifícios que, na sua
base, se configuram estreitos, indo de rua a rua, mas, devido ao crescimento popula-
cional, o comprimento da base construtiva anterior foi dividido, devido à necessidade
do aumento do número de construções. Por outro lado, podemos assinalar que outras
coabitam com aquelas, cuja base foi o somatório, no mínimo, de duas anteriores.
O sistema estrutural destes edificados é caracterizado por paredes de meação
(paredes pertencentes a duas tipologias vizinhas, para contenção de custos) em alve-
naria de pedra da região (granito), assente em argamassa (cal, argila, areia, saibro e
pedras) que suporta toda a estrutura interior e a cobertura em madeira. A estrutura in-
terior apresenta a seguinte lógica: vigas colocadas no sentido de menor vão, recebendo
as forças provenientes dos tarugos que se encontram nos seus intervalos e em posição
perpendicular. Sobre esta estrutura assenta o soalho em sentido perpendicular às vigas,
ou seja, paralelo aos tarugos, num combinado de macho e fêmea. Em síntese, as forças
exercidas, numa lógica sequencial de descarga, recaem sobre o soalho e deste sobre
as vigas que estão apoiadas nas paredes de meação, por encastramento ou apoiadas
sobre os cachorros de pedra que, por sua vez, estão encastrados na parede. As ditas
forças, por seu lado apoiam-se nas sapatas.
Ainda sobre as paredes de meação recai a estrutura da cobertura, normalmente
com quatro águas, que, por factores de localização geográfica, possui uma pendente
pouco acentuada. A sua constituição implica os seguintes elementos, por ordem de
descarga de forças: telha de canudo (canal e coberta) rematada por telhão de beirado,
ripa, vara, madre/ fileira e os elementos que constituem a asna: perna/ pendural/
escora, linha.
Este tipo de construção permite um sistema interior de paredes flexível, sendo o
mais frequente, a taipa de fasquio: “Estas paredes compõem-se de uma estrutura feita
com tábuas de madeira, colocadas na vertical (“a prumo”) e sobre as quais se prega um
3. Análise do burgo
36
Fig. 16
Maquete de estudo dos processos
construtivos de uma habitação no
núcleo urbano histórico.
37
segundo plano de tábuas na diagonal, travadas por último, com um ripado horizontal
(“fasquio”).”25 Na sua forma mais simples, encontramos apenas um pano de tábuas
verticais revestida em ambas as faces por fasquio.
No que concerne à organização dos interiores, em geral estes dividem-se em
dois ou mais pisos que, comummente são independentes. Uma escada, próxima da por-
ta da entrada, ascende, às várias divisões da casa, sendo iluminada por uma clarabóia,
dado que as únicas fenestrações encontram-se no alçado principal, para as tipologias
com metade da base habitual. Em virtude deste facto, há divisões no interior sem luz
natural, tais como: cozinha, casa de banho e quartos, à excepção da sala. No caso de
existirem dois alçados, altera-se o esquema anterior, passando a ter luz directa a sala e
a cozinha. Pode dar-se a situação de, nalguns casos, existirem saguões que permitem a
iluminação e ventilação dos espaços mais interiores.
Relativamente aos alçados, devemos mencionar que, geralmente, nestes dese-
nham-se sempre as portas de acesso, uma para cada piso, sendo a do térreo mais larga
e muitas vezes rasgada por postigos, com o intuito de captar mais luz e arejamento.
Nos pisos superiores, a varanda é um elemento comum, sendo centrada, ge-
ralmente, quando existem três aberturas, a qual é constituída por uma pedra de granito
em consola e gradeamento em ferro.
Todos os vãos são contornados por granito aparelhado, quando as casas são
rebocadas. A divisão entre a fachada e a cobertura é feita por uma cornija em granito;
entre a fachada e o piso térreo surge um lambrim em material de igual natureza.
25 TEIXEIRA, Diálogos de edificação, p62
3. Análise do burgo
38
39
3.2.3 Estado de conservação do edificado
A primeira constatação que salta à vista, segundo o mapeamento levantado
pelo GTL (Gabinete Técnico Local), é que o estado de conservação do edificado exibido
nos cinco quarteirões, que constituem o núcleo original de Viana, apresenta-se em con-
dições mais depauperadas. Tal facto justifica-se, em virtude de o parque habitacional
ser “caracterizado por um considerado número de fogos arrendados, cujos contratos
redundam em arrendamentos antigos aliados a rendas muito baixas, e apresentam gra-
ves lacunas ao nível das condições mínimas de salubridade, habitabilidade e conforto,
provocadas na sua maioria por ausência de intervenções de conservação”26.
Por outro lado, olhando o mapa do burgo, constata-se que o maciço edificado
adjacente às antigas muralhas apresenta-se em melhor estado de conservação. Daqui
infere-se que o seu interior, para além das razões já apresentadas, relativamente á sua
degradação, ficam-se a dever ao facto de haver uma deslocação para a periferia27, em
virtude de melhores condições de habitabilidade, e também por ai se verificar a presen-
ça de comércio.
De salientar ainda que a presença de um edificado único a oeste, de dimensões
excepcionais para a área, assim como de localização, com frente de três ruas, a saber:
Avenida Marginal, Beco do Caxuxo e Rua do Vilarinho.
26 Menezes, Breve caracterização sócio económica do centro histórico de Viana do Castelo, p127 Ibidem, p1
Fig. 18Esquema demonstrativo da deslo-ção da população para as perife-rias do núcleo urbano histórico.
3. Análise do burgo
40
41
3.2.4 Nível de intervenção
O mapeamento existente, ao nível da intervenção, proposto pela Câmara Mu-
nicipal, no espaço confinado às antigas muralhas, apresenta três níveis de desenvolvi-
mento de projecto.
Podemos afirmar que estamos perante uma área caracterizada por um maior
número de edifícios (classe 3), tornando viável o seu restauro e admitindo-se a reabili-
tação.
Por outro lado, apenas dois edifícios potenciados à reconstrução, admitindo-se
construção (classe 1), podendo configurar uma intervenção mais arrojada.
Todo o restante edificado, é passível de reabilitação, admitindo-se reconstrução
(classe 2).
3. Análise do burgo
42
43
3.3 Actual Ocupação
3.3.1 Usos
Da análise da planta, referente ao actual uso da área escalpelizada, verificamos
que, em todo o espaço público, privilegia-se a qualidade pedonal urbana, em detrimento
da circulação automóvel. Por outro lado, à semelhança do resto da cidade, a maior man-
cha de ocupação destina-se à habitação. A esta mancha de ocupação segue-se a que
se destina ao comércio, associado às ruas com maior frequência, que será analisado
posteriormente, a saber: Rua Aurora do Lima/ Rua Sacadura Cabral, Rua Grande/ Rua
de S. Pedro, Rua de Viana/ Rua Prior do Crato e Rua do Poço. Depois desta, encontram-
se, gradualmente, a dos serviços, a da restauração e bebidas e, por último, a dos equi-
pamentos.
Neste contexto, merece uma nota de destaque, pela intervenção do Programa
Polis, na frente ribeirinha, a alteração da fisionomia da cidade, com a implantação do
tríptico contemporâneo, constituído por dois grandes equipamentos – biblioteca e coli-
seu – e serviços, bem como restauração e bebidas, onde sobressai a Praça da Liberda-
de. O mesmo se pode dizer com a construção da Estação Viana Shopping, localizado
sobre a estação de caminho-de-ferro, o qual se destina claramente ao comércio, restau-
ração e bebidas, com a particularidade de ser servido pelo “interface” dos transportes.
Ao nível da estratificação do edificado, em análise, o piso térreo é maioritariamente
destinado ao comércio, restauração e bebidas, e, por vezes, a serviços, tais como: imo-
biliárias e bancos. Os restantes pisos tem a funcionalidade de habitação, sendo esta
adaptada, muitas vezes, para serviços. Relativamente aos equipamentos principais, ve-
rificamos a utilização de edifícios integrais.
3. Análise do burgo
44
45
3.3.2 Horário das actividades
Da análise exaustiva do espaço do burgo medieval, relativamente ao tópico em
análise, podemos inferir algumas conclusões: a maior mancha de ocupação está reser-
vada à habitação, a qual se baliza, normalmente, entre as 19 horas e as 8 horas do dia
seguinte.
Na linha deste razoado, evidencia-se que as actividades promotoras de maior dinâ-
mica, no espaço exterior, situam-se entre as 9 horas e as 19 horas, fazendo-se notar,
para além deste horário, uma desertificação do dito espaço, pelo que se torna percep-
tível um défice de actividade comercial, lúdica, cultural, com a excepção do serviço de
restauração e/ou bebidas, em número reduzido, cujo horário de funcionamento se alar-
ga, respectivamente, até às 24 horas e 2 horas, fugindo à regra a discoteca existente.
Nesta análise, ressalta o horário de funcionamento do shopping, das 10horas às
23horas, em contraste com o comércio tradicional. Neste espaço, encontra-se um equi-
pamento cultural que alarga este horário até ás 2horas.
Como excepção, são de referir, após as 19 horas, as instalações da GNR e o espaço
híbrido de comércio e bebidas, estando o primeiro aberto 24 horas e o segundo até às
2 horas.
3. Análise do burgo
46
47
3.3.3 Espaços habitados ou desabitados
A área de desocupação do edificado é inferior à zona ocupada, cujo âmbito abrange
o parque habitacional, comercial, serviços e restauração e bebidas.
Considerando o mesmo edificado, verificamos, quanto à sua desocupação, que esta
regista uma maior percentagem, na parte habitacional. Este fenómeno fica a dever-se
“ao deslocamento da população mais jovem para as áreas periféricas da cidade forte-
mente motivada pelas melhores condições de vida das últimas décadas”28, arrastando
em simultâneo “a degradação e abandono do parque habitacional da cidade, à sua
ocupação pelo sector terciário, ao aumento da insegurança, à redução brusca da taxa
da natalidade e ao envelhecimento acentuado da população residente, que se vê agora
obrigado a permanecer no Centro Histórico em habitações degradadas, pelo facto de se
encontrarem destituídas de meios para acederem a habitações com melhores padrões
de qualidade e conforto”29.
De uma forma geral, podemos dizer que a mancha do espaço desabitado encontra-
se dispersa pela do “ovo medieval”.
28 Menezes, op cit, p129 Ibidem, p1
3. Análise do burgo
48
Fig. 23
Esquema conceptual da frequên-
cia das pessoas por rua. Quanto
maior a largura, maior é a fre-
quência.
49
3.5 Habitabilidade
3.5.2 A frequência de transeuntes
A tabela que se segue em anexo é o resultado do controlo “in loco”, segundo
o critério de contagem dos transeuntes, em cada 15 minutos, em cada rua. Daqui se
conclui que as ruas de perfil mais largo são as mais movimentadas, tais como: Rua
Sacadura Cabral/ Rua Aurora do Lima, Rua de Viana/ Rua Prior do Crato. A Rua do
Hospital Velho, em posição perpendicular à sua maioria, embora sem o perfil das ruas
citadas, insere-se nas artérias mais frequentadas.
Neste aglomerado, existem apenas uma praça e um largo, locais apenas como
espaços de passagem.
Local N.º habitantes Horário da recolha N.º Transeuntes. /15min N.º Transeuntes /Hora
Praça da Erva 6 14:40 – 14:55 50 200
Rua dos Fornos 12
Rua do Poço 19 17:35 – 17:50 37 148
Rua do Tourinho 56 17:17 – 17:32 12 48
Rua do Hospital Velho 9 15:40 – 15:55 46 184
Rua Grande 127 16:00 – 16:15 55 220
Rua Prior do Crato 117 11:25 – 11:40 38 152
Rua de Viana 29 14:25 – 14:40 85 340
Rua Sacadura Cabral 5
Rua Aurora do Lima 2 15:05 – 15:20 184 736
Rua de S. Pedro 12 16:40 – 16:55 63 252
Rua do Vilarinho 12 18:07 – 18:22 10 40
Rua da Amália 32 17:00 – 17:15 7 28
Viela Cega 9 17:52 – 18:07 1 4
Viela Cova da Onça 11 14:30 – 14:45 5 20
Viela da Parenta 19
Viela do Sequeiro 5 15:08 – 15:23 3 12
Travessa da Vitória 24 15:25 – 15:40 38 152
Travessa dos Clérigos 4 15:08 – 15:23 9 32
Beco Caxuxo 18 15:10 – 15:20 1 4
Beco dos Fornos 7 14:10 – 14:20 3 12
Largo Inst. Hist. Minho 8 15:05 – 15:20 184 736
Nota: a recolha de dados, obedeceu ao critério do funcionamento do horário laboral do comércio e dos serviços, ou seja, das 9h-12h
e das 14h-19h. A recolha durou 15 minutos, em cada rua.Fig. 24
Tabela da frequência dos tran-seuntes por rua.
3. Análise do burgo
50
Fig. 25
Gráfico conceptual da faixa etária
da população do burgo medieval.
51
3.5.1 A faixa etária dos habitantes
Feita a recolha de dados, no registo populacional da Junta de Freguesia de Santa
Maria Maior, com a finalidade de confirmar o dado adquirido de que o envelhecimento
é transversal a todos os Centros Históricos, comprova-se que Viana do Castelo não foge
à regra.30 Assim sendo, podemos afirmar que 48% dos habitantes tem uma idade igual
ou superior a 51 anos e somente 9% tem idade compreendida entre os 18 anos e os
29 anos, podendo-se esperar desta faixa etária uma diferente dinamização do espaço
analisado.
Desta mesma análise, podemos constatar que a maior concentração populacional
situa-se nas ruas Grande e Prior do Crato, respectivamente, com 127 e 117 dos 543
moradores, conforme o gráfico anexado.
Local ≤17 ≥18≤29 ≥30≤50 ≥51≤64 ≥65 Total
Praça da Erva 0 0 2 2 2 6
Rua dos Fornos 0 3 4 3 2 12
Rua do Poço 1 1 6 5 6 19
Rua do Tourinho 3 3 24 11 15 56
Rua do Hospital Velho 0 0 4 3 2 9
Rua Grande 12 12 36 29 38 127
Rua Prior do Crato 18 14 45 17 23 117
Rua de Viana 0 1 13 5 10 29
Rua Sacadura Cabral 0 0 2 1 2 5
Rua Aurora do Lima 0 0 0 0 2 2
Rua de S. Pedro 0 3 1 2 6 12
Rua do Vilarinho 1 0 2 1 8 12
Rua da Amália 5 3 13 2 9 32
Viela Cega 0 1 6 0 2 9
Viela Cova da Onça 0 1 4 3 3 11
Viela da Parenta 0 3 7 2 7 19
Viela do Sequeiro 0 1 3 0 1 5
Travessa da Vitória 3 1 10 3 7 24
Travessa dos Clérigos 0 0 3 0 1 4
Beco Caxuxo 1 1 2 7 7 18
Beco dos Fornos 0 0 1 1 5 7
Largo Inst. Hist. Minho 0 0 4 2 2 8
Total 44 48 192 99 160 543
30 Cf. Menezes, op cit, p1
Fig. 26Tabela do número de habitantes por rua.
3. Análise do burgo
52
Fig. 27
Fotografia da rua da Amália.
53
3.6. Problemática do burgo medieval
3.6.1 Urbano
A análise dos problemas existentes, na área em questão, é feita em função da
sua envolvência e segundo uma perspectiva contemporânea, a única possível.
A zona do burgo medieval apresenta uma série de problemas quer a nível físico
e estrutural, quer a nível social. A degradação e abandono do parque edificado, mais
notórios nos cinco quarteirões nucleares do burgo, são reflexos do deslocamento da
população mais jovem para as suas imediações, motivada pelas melhores condições de
vida das últimas décadas31. A situação piora, se considerarmos que não existe o acesso
e parqueamento automóvel condicionante à sua frequência e, por consequência, leva as
pessoas a frequentar as áreas comerciais que lhes oferecem tais condições, em detri-
mento do comércio tradicional que não acompanha a evolução. Ao contrário, as novas
áreas comerciais são mais apelativas, com um horário mais alargado, adaptado às
novas necessidades. De notar ainda o deslocamento do equipamento cultural, cinema,
para este espaço, o qual opera diariamente.
A série de problemas soma-se, ao percorrermos as suas ruas, tornando-se evi-
dente que não há zonas verdes, acrescidas de ausência de espaços estáticos. Sem ig-
norarmos a existência da Praça da República, onde decorrem normalmente os grandes
eventos, tomamos consciência da inexistência um espaço estático, que sirva a área em
questão. No entanto, podemos considerar a existência de uma praça exígua, Praça da
Erva, e o pequeno Largo Instituto Histórico do Minho. Igualmente, é detectada a falta de
espaços que se adeqúem às exigências da sociedade contemporânea: museu, jardim-
de-infância, ginásio. Esta situação deve-se ao facto da inexistência de condições físicas,
uma vez que este espaço tem uma matriz medieval. Se olharmos para as imediações,
verificamos que tal facto é comum.
De salientar ainda que a presença de um edificado único a oeste, de dimensões
excepcionais para a área, assim como de localização, com frente de três ruas, a saber:
Avenida Marginal, Beco do Caxuxo e Rua do Vilarinho encontra-se em estado degradado.
Concluímos que apesar da pequena dimensão da cidade, que rapidamente se
percorre, tais equipamentos impõem-se como forma revitalizadora deste espaço.
31 Cf. Menezes, Cf. Menezes, op cit, p1
3. Análise do burgo
54
Fig. 28
Inadequação às necessidades
hodiernas, de uma habitação
por recuperar no núcleo urbano
histórico, na avenida Luís de
Camões.
55
3.6.2 Tipologias habitacionais
Estudados os problemas urbanos, surge a constatação merecedora de uma
análise relativa à tipologia habitacional a qual, como já foi referido anteriormente, não
consegue satisfazer as necessidades dos jovens contemporâneos e, consequentemente,
fixá-los nesta área32.
Uma causa plausível é a falta de condições físicas, tendo como concorrente
a sua área periférica. Outros problemas que se podem elencar são, desde logo, lotes
estreitos que se fragmentam no seu interior em exíguas divisões associadas à falta de
luz natural, configurando-se um espaço sem diversidade, e à conjugação entre os pisos,
arrastando consigo a monotonia. Notamos a falta de espaços exteriores, nesta tipologia
de matriz medieval.
Outro elemento pertinente é o desaproveitamento do vão entre o espaço da
cobertura e da laje do tecto, enquanto, eventualmente, podendo ser visto como parte
do habitat, resultando na perda de um espaço potencialmente útil, característico destas
tipologias.
Acrescentam-se ainda as questões térmicas, acústicas e, em muitos casos, de
salubridade (inexistência de casas de banho condignas, falta de ventilação e o rés-do-
chão, em piso térreo).
Aliada a esta verificação está a ausência de jovens, tal como o equilíbrio dos
vários estratos sociais.
32 Cf. Menezes, Cf. Menezes, op cit, p1
3. Análise do burgo
56
57
4. CONCEPÇÃO DAS IDEOLOGIAS
58
Fig. 29
Fotografia aérea de uma zona do
bairro “El Raval”.
Fig. 30
Fotografia aérea do museu Gugge-
nheim, em Bilbão.
59
4.1 Referências
Este projecto de requalificação proposto não parte da estaca zero, ou seja, não
se trata de uma mera utopia, dado que podemos partir de alguns projectos de referên-
cia, apesar de se apresentarem com escalas e problemáticas distintas, em relação a
este trabalho.
Na cidade de Barcelona, no decurso do processo de requalificação urbana, nos
anos 80 e 90, concretizou-se uma intervenção urbana, na zona do Bairro “El Raval”,
em sentido paralelo à da “Rambla”, cujo projecto tinha como objectivo resolver um
problema social, dado que nele coexistiam a marginalidade, emigrações clandestinas,
uma densidade populacional excessiva, prostituição, tráfego e consumo de drogas. O
projecto “previa o rompimento deste bairro, de norte a sul, através de um eixo viário,
em via dupla arborizada com um espaço central alargado e ajardinado do tipo “ram-
bla”. Igualmente propunha a localização de novos equipamentos de nível metropolitano
e local, e a substituição de edifícios de habitação degradados por novas construções
de qualidade técnica.”33 Em virtude desta intervenção “O Bairro abre-se ao exterior e
deixa de ser uma “ilha” na cidade, através da melhoria da acessibilidade, de novas
infra-estruturas, de novos espaços públicos e equipamentos, da redução da densidade
populacional e da melhoria da qualidade da habitação, procurando inverter a redução
verificada no investimento de iniciativa privada e a degradação progressiva da zona”34
No mesmo sentido de criar equipamentos públicos, numa escala de atracção
bastante superior, podemos referir o caso do “efeito Guggenheim”, desenhado pelo
arquitecto Frank Gehry. O design arrojado e todo o impacto na sua envolvente poten-
cializaram, por um lado, a imagem moderna que Bilbao queria, deixando para trás a
velha visão de cidade industrial, e por outro, o efeito catalizador de novos investimentos
nas suas imediações. Em suma, partindo de um único projecto procede-se á revitaliza-
ção do todo.
Outro projecto pertinente para este trabalho é o “Höfe Fünf”, em Munique, que
era um espaço constituído por vários escritórios de entidades bancárias. Com a fusão
de vários bancos, deslocados para outros pontos, criou-se um vazio, no centro nevrál-
gico da cidade, vindo este a ser transformado num moderno centro comercial, com
restaurantes, cafés, galerias de arte, escritórios, apartamentos residências e arte públi-33 MARTINS, Jorge; UIA Barcelona, 2&3, p18934 Ibidem, p190
4. Concepção das ideologias
60
Fig. 31
Fotografia do shopping “Fünf
Höfe”, no centro do núcleo urbano
histórico, com características con-
temporâneas.
Fig. 32
Fotografia da “Hays Galleria”, na
qual se percebe a adaptação de
um vazio entre dois edifícos, para
uma galeria de arte.
Fig. 31
Fotografia do shopping “Fünf
Höfe”, no centro do núcleo urbano
histórico, com características con-
temporâneas.
Fig. 32
Fotografia da “Hays Galleria”, na
qual se percebe a adaptação de
um vazio entre dois edifícos, e
os mesmos, para uma galeria de
arte.
61
ca. O projecto da autoria do escritório Herzog and de Meuron aproveitou a área do piso
térreo, mais os cinco pátios existentes, para criar uma área comercial, aproveitando-os
para iluminação natural, tal como para utilização da restauração e bebidas, como das
galerias de arte, formando um espaço adaptado às necessidades contemporâneas.
A utilização dos interiores dos quarteirões é reflexo da escassez de área de
construção, devido à reduzida oferta associada a elevados custos. Nesta mesma linha
de pensamento, no século XIX, a par da revolução industrial, assim como da revolução
francesa, altera-se drasticamente o quadro organizativo da cidade e o tecnológico relati-
vo à construção. Nesse sentido, a necessidade de espaço leva a que se aproveitem es-
truturas existentes, assim como os seus pátios, adaptando-os a novas funcionalidades.
A título de exemplo, com a ressalva da escala das cidades em questão, podemos aludir
às intervenções ocorridas nas cidades de Paris e Londres. Concretizando, podemos alu-
dir ao caso de Londres, “Hays Galleria”, em que se aproveita o vazio entre dois edifícios
existentes, para expansão do mesmo, bastando para o efeito uma cobertura.
Conclui-se que, muitas vezes, é preciso ousadia para salvar certos espaços com
necessidade de intervenção urgente, valorizando-os e concedendo-lhes contemporanei-
dade para a época. Tudo isto contribui para que seja insuflado um novo espírito àquilo
que repousava nas cinzas da degradação e do esquecimento.
Fig. 31
Fotografia do shopping “Fünf
Höfe”, no centro do núcleo urbano
histórico, com características con-
temporâneas.
Fig. 32
Fotografia da “Hays Galleria”, na
qual se percebe a adaptação de
um vazio entre dois edifícos, e
os mesmos, para uma galeria de
arte.
4. Concepção das ideologias
62
Fig. 33
Vista aérea de Viana do Castelo.
63
4.2 Área de estudo
Partindo da análise já efectuada, define-se como limite da área de estudo a área
intramuros do “ovo” medieval. Ao nível urbano, ao verificar-se que o núcleo originário,
correspondente aos cinco quarteirões, se apresenta como a zona do edificado mais
degradado, torna-se pertinente desenvolver uma intervenção excepcional com inten-
ção catalisadora de vitalidade, a nível sócio-económico e cultural, que medeia os dois
trípticos, os quais constituem grandes pólos de frequência, dai o interesse de um novo
atravessamento. Este beneficia da Travessa da Vitória, dos cinco quarteirões citados, do
quarteirão com espaço exterior privado, incluindo a galeria comercial, desembocando
na Praça da Republica.
Esta atitude de cariz urbano pretende atrair pessoas, influenciando o desenvol-
vimento do comércio que ai venha a ser implementado.
Outra questão merecedora de atenção é um edifício que se situa a oeste, com
dimensões excepcionais para a área, assim como de localização, com frente para três
ruas, a saber: Avenida Marginal, Beco do Caxuxo e Rua do Vilarinho, com sinais de
degradação. O interesse deste edificado prende-se com a possibilidade de uma funcio-
nalidade pública, resolvendo o problema do beco do Caxuxo, sem frequência. O prédio
em si reclama uma intervenção condigna, à medida da sua localização e dimensão
excepcional.
Por outro lado, para que a proposta do projecto não se fique por uma interven-
ção pontual, mas antes se transforme numa estratégia global da cidade, na linha do
pensamento do Nuno Portas, promove-se um outro projecto atractivo, ao nível do restan-
te edificado, o qual ocupa a maior parte de intervenção. Assim, o projecto “Incubação
de Jovens” visa a atracção, promoção e fixação da criação de novas empresas.
A particularidade desta incubação está na associação do espaço empresarial e
habitacional, no mesmo edifício, contribuindo desta forma para a resolução da escassez
de jovens, residindo apenas 48 com idades compreendidas entre os 18 e os 29 anos,
objectivo primordial do projecto gizado, tendo com ele a cidade um ganho substancial.
Ao fixarem-se nesta zona os empreendedores, usufruirão de regalias franca-
mente vantajosas, que lhes são outorgadas, tais como: custos reduzidos das infra-es-
truturas e respectivo projecto arquitectónico; proximidade das instituições como dos
4. Concepção das ideologias
64
Fig. 34
Vista aérea de Viana do Castelo.
65
equipamentos; assessorias; serviços e trabalho em rede (network). Em suma, gera-se
uma “cumplicidade” benéfica, em que todos ganham, quer em termos individuais, quer
a própria colectividade.
Relativamente ao aparcamento automóvel, sugere-se a gratuidade nos parques
das imediações, uma vez que a respectiva circulação está condicionada, em prol da
qualidade de vida urbana, aumentando-se a área de circulação pedonal.
Aponta-se como mera sugestão o interesse da demarcação do “ovo” medieval,
despertando a curiosidade das pessoas, pelo dado histórico da cidade.
Campo da Agonia
Estação Viana Shopping
Dom Afonso III
Antigo mercado
Praça da liberdade
Avenida dos Combatentes
Shopping 1º de Maio e Câmara Municipal
Fig. 35
Esquema demonstrativo da pos-
sibilidade de uso dos parques de
estacionamento da envolvente, do
núcleo urbano histórico, para uso
da população residente gratuita-
mente.
Fig. 36
Maquete conceptual do burgo me-
dieval.
4. Concepção das ideologias
66
67
4.3 Área do plano
O estudo apresentado define o plano de intervenção, que norteará a sua aplica-
ção por parte do arquitecto projectista.
Neste capítulo desenvolve-se o atravessamento restrito aos cinco quarteirões,
obedecendo ao seguinte critério: primeiro foi escolhida a localização da praça preten-
dida, seguindo a lógica do aproveitamento da Travessa da Vitória, a sul, e do local de
entrada do pátio pré-existente, referente ao quarteirão 50.
Esmiuçando a ideia acima referida, a escolha do local da praça não é aleatório,
pois tem um fundamento histórico, tal como consta na Carta Cadastral da Cidade de
Vianna do Castello, 1868-186935, quando se vêem assinaladas a existência de um espa-
ço público no quarteirão 42. O mesmo se verifica, relativamente aos atravessamentos,
entre os quarteirões 46-47, e igualmente acontece, com o 45 e com o 50, demonstran-
do que não se trata de uma ideia inverosímil.
A concretização deste objectivo fundamental passa por um atravessamento,
num sentido paralelo ao da Rua Aurora do Lima/ Rua Hospital Velho. Este facto não
implica necessariamente uma linha recta, mas antes o aproveitamento dos espaços
edificados, maioritariamente em estado degradado. Desta forma, o traçado em vista
levará a que os transeuntes deambulem através dos cinco quarteirões originários, numa
linha irregular. Contudo, o projecto na sua concretização far-se-á mediante intervenções
cirúrgicas, que respeitam a tipologia parcelar, assim como a imagem do quarteirão, ou
seja, o projecto adequa-se à especificidade do local, seguindo uma lógica já defendida
por Giovannoni, nos finais do século XIX.
A fim de se evitar no burgo um mero rompimento, será implantado um novo
programa, em consonância com as necessidades deste núcleo, já apuradas em capítu-
los anteriores.
O programa constará de uma praça localizada no centro do burgo, contribuindo
desta forma para o alargamento do horário de permanência no espaço público. Natu-
ralmente, animando-se esta zona, tal como se pretende, atrair-se-á a este local todo um
conjunto de serviços de restauração/bebida, o que levará a uma maior valorização do
espaço, conforme o que já está previsto no projecto. O plano prevê que nesta centralida-
35 MARANHÃO PEIXOTO, O Litoral e a Cidade, p79
4. Concepção das ideologias
68
69
de se venha a estabelecer uma envolvência de novos serviços.
Segundo uma linha de ascensão desde a Travessa da Vitória, pretende-se es-
tabelecer programa ao longo dos atravessamentos, no qual constam sucessivamente:
EP3, área desportiva ladeada por um ginásio e um spa, serviços que servem as
exigências contemporâneas.
EP2, parque infantil franqueado por uma creche e um jardim-de-infância, servi-
ços imprescindíveis para os casais que laboram na cidade.
EP1, praça que incorpora um restaurante e um café, que poderia ser denomi-
nado por “Viana gourmet”, ou seja, um espaço de venda de produtos certificados da
região;
EP4, museu ao ar livre, que incorpora o edifício central da “Incubadora de Jo-
vens”, e ao mesmo tempo museu para exposição dos artefactos produzidos por eles; do
lado direito do atravessamento um espaço de venda dos seus produtos;
EP5, espaço de lazer contornado por um quiosque e uma pequena biblioteca de
apoio ao lazer, numa zona marcadamente habitada por pessoas idosas.
Em suma, o equipamento associado ao atravessamento visa uma área de in-
fluência que se rasga para as abas que o ladeiam e, simultaneamente, contribuirá para
uma maior visibilidade do comércio local que aqui se venha estabelecer.
Com o esventrar dos edificados existentes, estes podem ser rematados com
jardins verticais, aumentando desta forma as manchas verdes.
Como elemento condutor deste atravessamento, criar-se-á elementos verdes,
que podem assumir determinadas matizes, específicas a cada local.
Fig. 39
Maquete da área do plano.
4. Concepção das ideologias
70
Fig. 40
Carta cadastral da cidade de
Vianna do Castello, 1868-1869,
escala.
Esc 1:2000
714. Concepção das ideologias
72
Fig. 42
Fotomontagem de uma vista aérea
da área do projecto.
restaurante
edifício central museu ao ar livre
cafetaria
73
4.4 Área do projecto
A área do projecto pretende ser resposta aos elementos definidos na área do
plano. Nesse sentido, desenvolver-se-á um projecto de espaço público, a praça; um pro-
jecto de carácter público, o edifício central, ladeado pelo atravessamento; e um edifício
privado, célula de incubação.
Uma vez que os vários projectos obedecem a uma lógica global, os conceitos
definidos são-lhes transversais, concretizando:
_ os processos construtivos contemporâneos são uma analogia com o edificado
pré-existente, betão e materiais leves (aço ou lajes colaborantes), madeira e pladur, res-
pectivamente, pedra, madeira, madeira, tabique.
_ a utilização do pátio central e das paredes técnicas.
Fig. 43
Maquete da área do projecto.
cafetaria
4. Concepção das ideologias
74
Fig. 44
Fotomontagem de uma vista da
nova praça.
75
4.4.1 Projecto da Praça
A localização da praça encontra-se no espaço, que, no passado assumia uma
função pública, segundo a planta já apresentada. Por outro lado, as escavações arque-
ológicas efectuadas neste local comprovam a inexistência de edificado privado.36 Nesse
sentido, o projecto contempla a demolição do prédio ai existente, sem especial interesse
arquitectónico, datado de 2003. Nesta intervenção, serão preservados e valorizados os
muros de vedação, que nos remetem para a lógica do quarteirão e, consequentemente,
para a memória do espaço.
Nesta praça, à partida de dimensões reduzidas, surgiu a necessidade de extra-
vasar para o interior dos próprios edifícios adjacentes. O desenho estabelecido apresen-
ta-se em dois níveis, com o intuito de resolução da diferença de cotas, segundo uma
geometria orgânica, possibilitando uma maior presença de pessoas sentadas. Os limites
são definidos a nascente e a poente por uma parede técnica, que, como o próprio nome
indica, incorpora os acessos ao piso superior, casas de banho, e cozinha. A sul, como
já foi citado, pelos muros ai existentes e, a norte, por uma linha de árvores que no final
permitirá uma leitura que incorpora o quarteirão. Por outro lado, estes dois últimos ele-
mentos funcionam como excepção, e, simultaneamente, como pólo apelativo.
A configuração final remete-nos para um espaço estático plurifacetado, ele-
mento inexistente nesta zona, pois nele, serão possíveis a realização de actividades no
prolongamento do programa envolvente, tais como: esplanada, apresentação de novos
produtos, feiras expositivas, assim como, cinema ao ar livre, concertos de música, tea-
tro de rua, desfiles, entre outros.
36 Cf ALMEIDA, op cit, p282
Fig. 45
Fotografia do edifício existente.
4. Concepção das ideologias
76
Fig. 46
Ensaios sobre as possíveis utiliza-
ções da praça.
Fig. 46.1 Ensaio organizativo das
áreas possíveis de utilização, per-
mitindo o seu atravessamento.
Fig. 46.2 Ensaio da utilização inte-
rior/ exterior.
Fig. 46.3 Ensaio da utilização
para: conferências, apresentação
de produtos, teatro, cinema.
Fig. 46.4 Ensaio da utilização de
passagem de modelos.
Fig. 46.5 Ensaio da utilização dos
edifícios adjacentes - café e res-
taurante.
Fig. 46.6 Ensaio da utilização para
uma feira expositiva.
774. Concepção das ideologias
78
Fig. 48
Fotomontagem de uma vista do
museu ao ar livre para o edifício
central.
79
4.4.2 Edifício central/ Museu ao ar livre
A definição do programa do projecto segue a matriz já estabelecida na área
do plano, um edifício com uma frente para a nova praça, uma outra para a Rua do
Tourinho, e ainda outra para o interior do atravessamento. Contudo, depois da análise
dos dois edifícios por onde passará o atravessamento, os quais se encontram em mau
estado de conservação, percebe-se que não se poderá perder esta oportunidade para
potenciar o projecto, criando-se aqui um espaço integral a céu aberto, onde se instalará
o museu ao ar livre.
Na mesma linha de pensamento, no local de implantação do edifício central,
encontra-se uma pré-existência, que data de 1987, com um desenho que é cópia do
que existe na sua envolvente. Por outro lado, quando analisamos a Carta Cadastral da
Cidade de Vianna do Castello, 1868-1869, apercebemo-nos, mais uma vez, de que este
espaço possuía um carácter público. Consequentemente, a atitude do projecto passa
pela construção de um novo edifício, segundo uma lógica construtiva pré-existente, que
claramente acompanha as técnicas contemporâneas, sendo estas à imagem do que se
fez na cidade de Barcelona, citado nas referências.
A nível volumétrico, parte-se de um volume monolítico, ao qual são retirados
pedaços, para se ajustar, por um lado, aos alçados envolventes, e, por outro, para criar
um pátio central, definido na lógica global de iluminação. O resultado de tudo isto é uma
“casca” construída em betão aparente e o seu interior, em materiais leves, por analogia
aos processos construtivos do edificado das imediações.
Por outro lado, a lógica de circulação do edifico central, que incorpora um pro-
grama de museu, faz sentido ser concebido, segundo um modelo de rampas, criando
um percurso expositivo, envolvido por duas “paredes museu”, uma no espaço interior
do edifício central, e outra na parede de meação. Com vista ao cumprimento do regu-
lamento REGEU, procedeu-se ao desnivelamento do programa orientado para a Rua do
Tourinho e do orientado para a praça.
O programa contemplará, no piso térreo, uma recepção comum ao museu e à
“Incubadora de Jovens”, tal como uma área com várias valências: exposições tempo-
rárias interiores e área para debates e apresentações. O segundo piso destinar-se-á ao
uso exclusivo da incubadora, localizando-se aqui toda a parte administrativa e técnica. O
4. Concepção das ideologias
80
Fig. 49
Esquemas do conceito de abor-
dagem ao desenvolvimento do
projecto.
Fig. 49.1
Volume referente à massa de im-
plantação.
Fig. 49.2
Extracção de volumes de forma a
seguir os alinhamentos da envol-
vente.
Fig. 49.3
Pele resultante da volumetria.
Fig. 49.4
Inserção do programa, com uma
lógica construtiva diferente, es-
trutura leve, em analogia aos pro-
cessos construtivos na envolvente
presente, segundo uma lógica
contemporânea.
Fig. 49.5
Introdução do sistema de circula-
ção principal, em rampa, com o
intuito de criar um circuito expo-
sitivo.
Fig. 49.6
Resultado final entre o volume
existente e o proposto.
81
último piso incluirá uma cafetaria, que disporá de um espaço exterior público inexistente
a esta cota, na sua envolvência, como culminar do percurso expositivo.
O resultado final será o de podermos perceber a tipologia de parcelamento, tal
como o corte do edifício e ainda a possibilidade de vermos os elementos artísticos, em
planos e perspectivas distintos.
Conforme o estabelecido na área do plano, incluir-se-á um jardim vertical “ver-de”, como elemento unificador do atravessamento.
4. Concepção das ideologias
82
Fig. 51
Fotografia da Incubadora de Em-
presas SpinPark.
83
4.4.3 Incubadora de jovens
O projecto “Incubadora de Jovens” que aparece como proposta neste trabalho é
fruto, em parte, da influência das Incubadoras de Empresas, e da tipologia “Loft”, oriun-
da do SoHo nova-iorquino. Em suma, a célula de incubação resulta num espaço amplo e
versátil, que conjuga a habitação e o trabalho, suportado por uma retaguarda logística.
Explicitando a ideia de uma Incubadora de Empresas, dir-se-ia que se trata de
uma organização cuja envolvência propicia o desenvolvimento de micro e pequenas
empresas, com vista a novos projectos. Além disso, podem constituir uma tábua de
salvação para as micro empresas, uma vez que a taxa de sucesso é bastante elevada,
devido a um ambiente flexível e encorajador, além de uma logística para o surgimento
e crescimento de novos empreendimentos, a um custo menor do que no mercado. Tais
facilidades podem ser descritas da seguinte forma:
_ Infra-estruturas: laboratórios, auditório, biblioteca, salas de reunião, recepção.
_ Serviços de comunicação: recepcionista, telefones e internet
_ Assessorias de contabilidade, jurídica, de gerência, e comercialização.
_ Qualificação através de formação, cursos, assinaturas de revistas e jornais.
_ Network através de contactos com entidades governamentais e investidores.
Segundo os investigadores, o aparecimento das incubadoras de empresas deu-
se em 1938, nos Estados Unidos, tendo partido da iniciativa de dois estudantes da Uni-
versidade de Stanford, sendo que os seus nomes são hoje consagrados e conhecidos
como Hewlett e Packard (HP).
Muito mais tarde, na Europa, concretamente na Inglaterra, surgiram as primei-
ras incubadoras, que se instalaram numa filial da British Steel Corporation, ocupando
o espaço agora disponível, para a criação de várias pequenas empresas. O seu apare-
cimento ganha robustez, quer nos Estados Unidos, quer na Europa na década de 70, a
par do elevado nível de desemprego industrial, em plena crise do petróleo.
Em Portugal, tal facto vai ter lugar numa fase posterior. Actualmente, contam-se
17 unidades.37
37 Cf. Apresentação da SOGISTFIPP - Sociedade de Incubação Sectorial, à data de 4 de Junho de 2009
4. Concepção das ideologias
84
Fig. 52
Fotomontagem do interior do se-
gundo piso, da célula de incuba-
ção.
85
4.4.3.1Ensaio do “conceito tipo” das células de incubação
A par da captação de pessoas feita na proposta urbana, com a “Incubadora de
Jovens”, pretende-se fixar esta faixa etária empreendedora, o que implica uma tipologia
adequada, visando equilibrar os estratos sociais aí vigentes38.
A versatilidade destas células de incubação aplica-se quer a nível de organização inter-
na, quer a nível de expansão, tanto no plano vertical como no horizontal e longitudinal,
adaptando o espaço às necessidades de cada utilizador,
Após análise das tipologias traçadas, verificou-se a necessidade do aumento da
luz interna, nesse sentido introduziu-se um pátio, acrescendo o número de fachadas, e
possibilitando a introdução de elementos verdes, a par da sua ventilação, aumentando
a qualidade de vida habitacional
Ao nível da organização interna, em razão da sua versatilidade, criou-se uma
parede técnica, que, como o nome indica, incorpora os elementos indispensáveis a
esta tipologia: cozinha, casas de banho, acesso ao piso superior, coretes e instalação
eléctrica.
Os processos construtivos, como anteriormente foi citado, respeitam os existen-
tes, ou seja, dependendo do estado de conservação dos materiais do edificado, em que
se actua. A título de exemplo, podemos dizer que, se a estrutura está em bom estado
de conservação e que não comprometa as condições de salubridade, a mesma será
mantida, caso contrário será substituída por uma estrutura equivalente contemporânea,
laje colaborante ou estrutura em aço.
Defende-se, na requalificação do edificado, o uso das novas tecnologias do
mercado: painéis solares e gás natural, em virtude da “não musealização” da cidade
histórica e de acordo com a “Recommendation concerning the Safeguarding and Con-
temporary Role of Historic Áreas” da UNESCO, em 1976.
38 Cf, MENEZES, op cit, p1
4. Concepção das ideologias
86
Fig. 53
Conceito de intervenção
na célula de incubação.
Fig.53.1
Aparência genérica do existente.
Fig. 53.2
Rasgamento vertical com o intuito
de aumentar: a luz solar; a ventila-
ção e a área verde.
Fig. 53.3
Introdução de elementos verdes
para uma melhor qualidade es-
pacial.
Fig. 53.4
Ensaios sobre as possíveis utiliza-
ções das células de incubação.
Utilização mutável do espaço com
o intuito de permitir a adaptação
do espaço às necessidades de
cada utilizador, tanto a nível verti-
cal como horizontal e longitudinal.
874. Concepção das ideologias
88
Fig. 55
Ensaios sobre as possíveis utiliza-
ções das células de incubação.
89
PROCESSO CONSTRUTIVO EXISTENTE PROCESSO CONSTRUTIVO PROPOSTOFig. 56
Proposta de intervenção
EXISTENTE:paredes de meação em pedra
PROPOSTObetão quando for necessário
regularizar
EXISTENTE:vigas de madeira
PROPOSTOvigas metálicas quando não é
possível aproveitar as existentes
EXISTENTE:tarugos de madeira
PROPOSTOperfis metálicas quando não é
possível aproveitar os existentes
EXISTENTE:soalho em madeira
PROPOSTOlage colaborante quando não é possível aproveitar o existente
revestido em soalho
EXISTENTE:normalmente taipa de fasquio
PROPOSTOmadeira, gesso cartonado ou tijolo
4. Concepção das ideologias
90
91
5. REFLEXÃO FINAL
92
93
Reflectindo sobre o progresso teórico da revitalização urbana, podemos daí extrair
algumas considerações importantes, sempre que quisermos intervir no edificado, dado
que aquele já sofreu uma evolução, ao ser posto em prática.
Podemos inferir alguns conceitos pertinentes como as demolições selectivas,
que promovem a manutenção dos centros históricos, adequados às novas necessida-
des, conforme a Carta de Veneza de 1964. Outro tema muito actual é as condições
insalubres de que muita da população é vítima, devido à “musealização” dos centros
históricos, que veio a provocar a “gentrification” da população, deixando para trás a
camada social com menos recursos materiais e mais envelhecida, cujos conceitos cons-
tam, respectivamente, na Recomendação da UNESCO de 1976 e na Carta de Atenas
de 1933, sendo estes conceitos contestados nestes documentos. Nesse sentido, mais
tarde a Declaração de Amesterdão veio defender as intervenções integradas, ou seja, a
associação de factores urbanos e sociais. Posteriormente, devido a demolições incon-
troladas, segundo critérios economicistas, a Carta de Toledo veio em defesa da conser-
vação da imagem e da memória colectiva. Mais recentemente, deu-se a integração do
valor económico, aos valores sócio-culturais e históricos do património urbano. Resu-
mindo, segundo Nuno Portas, a recuperação dos centros só é possível numa estratégia
global da cidade.
Na aplicação dos conceitos mencionados, à área de estudo, com problemas
ao nível urbano, habitacional, social e cultural, tornou-se inicialmente inviável, devido
à excessiva regulamentação e legislação, facto contornado com a premissa de que é
preferível prescindir da parte em prol do todo, como Giovanonni já defendia, e retoman-
do a ideia de Nuno Portas, atrás referida. Contudo, constata-se que o PPCH39 de Viana
do Castelo não contempla nenhuma intervenção, referente à área do burgo medieval.
É preocupante o facto do desequilíbrio das intervenções entre a frente ribeirinha, onde
tem havido grandes investimentos, e o núcleo originário, que se encontra com sinais de
acentuado estado de degradação.
Em suma, como tem sido defendido ao longo do trabalho, a viabilidade dos nú-
cleos urbanos históricos passa pela sua adaptação às necessidades contemporâneas,
evitando-se a sua “musealização”, “(…) pois o que torna vivo o velho é o contacto com
o novo ”40.
39 Plano de Pormenor do Centro Histórico40 FONSECA, op cit, p21
4. Reflexão final
94
95
6. ANEXOS
96
esc: 1:2000
6.1 Área de estudo
97
98
esc 1:500
6.2 Área de estudo
99
100
esc 1:500
6.3 Área de projecto
101
102
Planta
Esc: 1:200
6.4 Projecto da praça
103
104
Alçado norte e sul
Esc: 1:200
6.4 Projecto da praça
105
106
Alçado nascente e poente
Esc: 1:200
6.4 Projecto da praça
107
108
Planta 0
Esc: 1:200
6.5 Projecto do edifício central/ museu ao ar livre
109
110
Planta 1
Esc: 1:200
6.5 Projecto do edifício central/ museu ao ar livre
111
112
Planta 2
Esc: 1:200
6.5 Projecto do edifício central/ museu ao ar livre
113
114
Planta cobertura
Esc: 1:200
6.5 Projecto do edifício central/ museu ao ar livre
115
116
Alçado norte e sul
Esc: 1:200
6.5 Projecto do edifício central/ museu ao ar livre
117
118
Corte cc e corte aa
Esc: 1:200
6.5 Projecto do edifício central/ museu ao ar livre
119
120
Corte bb
Esc: 1:200
6.5 Projecto do edifício central/ museu ao ar livre
121
122
Planta do rés-do-chão
Esc: 1:100
6.5 Células de incubação
123
124
Planta do 1º piso
Esc: 1:100
6.5 Células de incubação
125
ALMEIDA, Carlos; ALMEIDA, Pedro – Sítios que Fazem História: Arqueologia do Co
126
Planta cobertura
Esc: 1:100
6.5 Células de incubação
127
128
Alçado norte e alçado sul
Esc: 1:100
6.5 Células de incubação
129
130
Corte aa
Esc: 1:100
6.5 Células de incubação
131
132
Corte bb
Esc: 1:100
6.5 Células de incubação
133
134
135
7. BIBLIOGRAFIA
136
137
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141
8. LISTA DE IMAGENS
142
143
Fig. 01 In: MARANHÃO, 2007, p.123; Fig. 02 In: MARANHÃO, 2007, p.127; Fig. 03 Fotomon-
tagem do autor; Fig. 04 In: http://faculty.umf.maine.edu~waltersweb%20104industrial%20
steel.jpg; Fig. 05 In: http://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha188.jpg; Fig. 06
In: http://polishpress.wordpress.com/tag/second-world-war; Fig. 07 In: http://polishpress.
wordpress.com/tag/second-world-war; Fig. 08 In: http://bellquel.bo.cnr.it/attivita/ecomove/
images/fiera.jpg; Fig. 09 In; google earth; Fig. 10 In: MARANHÃO, 2007, p.45; Fig. 11 In:
MARANHÃO, 2007, p.47; Fig. 12 Plantas do autor; Fig. 13 In: MARANHÃO, 2007, p.126;
Fig. 14 Levantamento do autor; Fig. 15 Fotografia do autor, 2009; Fig. 16 Maquete pro-
duzida por Pedro Matos, 2008; Fig. 17 Levantamento do GTL; Fig. 18 Esquema do autor;
Fig. 19 Levantamento da Câmara Municipal; Fig. 20 Levantamento do autor, 2009; Fig. 21
Levantamento do autor, 2009; Fig. 22 Levantamento do autor, 2009; Fig. 23 Esquema do
autor, 2009; Fig. 24 Levantamento do autor, 2009; Fig. 25 Gráfico do autor, 2009; Fig. 26
Levantamento da junta de freguesia de Santa Maria Maior; Fig. 27 Fotografia do autor; Fig.
28 Fotografia do autor; Fig. 29 In: http://geographyfieldwork.com/images/ElRaval/Google1.
gif; Fig. 30 In: http://olhares.aeiou.pt/gug_1_foto693107.html; Fig. 31 Fotografia do autor,
2008; Fig. 32 http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/ba/Hay%27s_Galleria_-_
September_2007.jpg; Fig. 33 Fotografia da autoria de Vitor Roriz; Fig. 34 Fotografia da autoria
de Vitor Roriz; Fig. 35 Esquema do autor; Fig. 36 Maquete do autor; Fig. 37 Esquemas do
autor; Fig. 38 Esquemas do autor; Fig. 39 Maquete do autor; Fig. 40 In: MARANHÃO, 2007,
p.79; Fig. 41 Proposta do autor; Fig. 42 Fotomontagem do autor; Fig. 43 Maquete do autor;
Fig. 44 Fotomontagem do autor; Fig. 45 Fotografia do autor; Fig. 46 Esquemas do autor;
Fig. 47 Proposta do autor; Fig. 48 Fotomontagem do autor; Fig. 49 Esquemas do autor; Fig.
50 Plantas do autor; Fig. 51 Fotografia do autor; Fig. 52 Fotomontagem do autor; Fig. 53
Esquemas do autor; Fig. 54 Proposta do autor; Fig. 55 Esquemas do autor; Fig. 56 Regula-
mento do autor.