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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-graduação em Administração
PROCESSOS DE LIDERANÇA NAS PARCERIAS INTERSETORIAIS:
INTERAÇÃO SOCIAL ENTRE GOVERNO, EMPRESAS E SOCIEDADE CIVIL
PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO TERRITÓRIO
DANUSA DIAS REIS COUTINHO
Belo Horizonte
2014
Danusa Dias Reis Coutinho
PROCESSOS DE LIDERANÇA NAS PARCERIAS INTERSETORIAIS:
INTERAÇÃO SOCIAL ENTRE GOVERNO, EMPRESAS E SOCIEDADE CIVIL
PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO TERRITÓRIO.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação
em Administração da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Administração.
Orientador: Prof. Dr. Armindo dos Santos de Sousa
Teodósio
Belo Horizonte
2014
Danusa Dias Reis Coutinho
Processos de liderança nas parcerias intersetoriais: interação social entre governo,
empresas e sociedade civil para o desenvolvimento sustentável no território
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais e Fundação Dom Cabral, como
requisito para obtenção do título de Mestre em
Administração.
Área de Concentração: Administração
_____________________________________________________ Orientador Prof. Dr. Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Anderson de Souza Sant’Anna
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais / Fundação Dom Cabral
_________________________________________________________________
Prof. Dr. Bernardo Monteiro de Castro
Fundação Dom Cabral
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Mario Aquino Alves
Fundação Getúlio Vargas/Escola de Administração de Empresas de São Paulo
Belo Horizonte, 28 de Fevereiro de 2014.
Oswaldo mais do que nunca fortalecemos os votos ‘[...]
na saúde e na doença, na alegria e na tristeza [...]’,
estaremos sempre juntos!
Laura e Francisco,
minha eterna gratidão por tolerarem este meu difícil percurso,
as ausências, os atropelos e a ‘falta de paciência da mamãe’.
mamãe Luiza,
por sempre acreditar que era possível
e me apoiar em cem por cento do período de estudo;
papai Darcy,
por enviar iluminadas orações que alimentaram minha alma; e
mana Deborah,
pelos abraços apertados e trocas de energia
nos breves encontros dos últimos dois anos
(‘Tempo, tempo, tempo, mana velha!’).
AGRADECIMENTOS
O mais amplo do mundo, o conhecimento, o
reconhecimento, a alegria deixada por um
presente, como um suavíssimo cometa, tudo isto e
muito mais cabem na extensão de uma palavra:
OBRIGADO!
PABLO NERUDA
Prof. Dr. Armindo dos Santos de Sousa Teodósio,
pela orientação científica. Téo...
a você, agradecer seria pouco por tudo que fez por mim.
Seu apoio, carinho, solidariedade, tolerância e até ‘broncas’
fizeram-me crescer muito e tornar possível esta vitória.
Eternamente, muito obrigada! Deus o abençoe, sempre!
Prof. Dr. Bernardo de Castro,
Prof. Dr. Anderson Sant’Anna, Prof. Dr. Mario Aquino Alves
por valorizarem o momento mais especial dessa trajetória.
FAPEMIG,
por conceder-me a bolsa parcial do mestrado,
um recurso fundamental a esta realização pessoal.
Amiga e ‘cumadi’ Alane Michelini,
pela energia positiva e inspiração constante.
Amiga-irmã Dalida Fadh,
pelos questionamentos e contribuições às minhas reflexões.
Colaboradoras do lar Jane e Diana,
pela contribuição ao êxito desta minha jornada.
Amigos da ‘Diretoria’,
Helena Shigaki, Christiane Villela, Alexandre Fabri,
Sérgio Ferreira, Andrea Lobo e Alyson Alves,
pelos momentos tragicômicos vivenciados no mestrado.
Boas lembranças se eternizam.
Amigas e companheiras de profissão,
Marisa Seoane, Luciene Araújo, Annabella Prates,
Flávia Dias, Adriana Duarte e Laura Boaventura,
sei que estiveram sempre na torcida.
Colegas do NUPEGS,
em especial, Daniele Cardoso,
Raquel Wildhagen, Júnia Guerra, Maria Flávia Diniz,
Yasmini Mansur, Daniela Viegas, Paula Pessoa e Vander Aguiar,
pelos momentos de engrandecimento profissional,
que muito contribuíram para a construção
do conhecimento motivador desta pesquisa.
Programa de Pós-Graduação da PUC Minas,
na pessoa do Prof. Dr. Antônio Neto e Equipe da Secretaria,
em especial à Jaqueline Araújo,
pela oportunidade de fazer parte desta minha história.
Sr. Francisco de Azevedo - Instituto Camargo Corrêa,
Sr. Uelton Silva - InterCement,
por me acolherem carinhosamente e permitirem,
sem restrições, o desenvolvimento do estudo de caso.
Integrantes do CDC,
por tornarem possível a construção dos conhecimentos.
Agentes da pesquisa,
pela concessão de tempo e informações à coleta de dados.
Prof a. Leila Brito,
pela brilhante revisão de língua e estilo, metodologia textual,
normalização técnica, programação visual e edição.
Como polimento em pedra bruta, sua revisão foi essencial!
E por fim... Agradeço a Deus,
pela bênção de uma trajetória livre de maiores transtornos.
“Mas sei, que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança...
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se
machucar...
Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar...”
ALDIR BLANC
RESUMO
COUTINHO, D. D. R. (2014). Processos de liderança nas parcerias intersetoriais:
interação social entre governo, empresas e sociedade civil para o desenvolvimento
sustentável no território. Dissertação (Mestrado em Administração) – Faculdade de
Administração, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Considerando a complexidade dos problemas sociais e ambientais contemporâneos, a
promoção da possibilidade do desenvolvimento sustentável pode ser realizada por meio de
parcerias intersetoriais, levando a ações conjuntas em um projeto de transformação
consciente da realidade local... Considerando a complexidade dos problemas sociais e
ambientais contemporâneos, a promoção do desenvolvimento ser realizada por meio de
parcerias intersetoriais, levando a ações conjuntas em um projeto de transformação
consciente da realidade local... E considerando, ainda, que, na busca por um posicionamento
da sociedade a favor de processos que possam auxiliar efetivamente a promoção do
desenvolvimento sustentável, a interação social, que se apresenta de forma consciente e
participativa por meio dos processos de liderança nas citadas parcerias, é tida como um dos
caminhos a ser percorrido. Com base neste entendimento, e apoiando-se teoricamente na
ampla revisão sobre os constructos ‘processos de liderança’, ‘parcerias intersetoriais’ e
‘desenvolvimento sustentável’, esta pesquisa buscou compreender como ocorrem os
processos de liderança nas parcerias intersetoriais para o desenvolvimento sustentável, a
partir de um estudo no caso do Comitê de Desenvolvimento Comunitário (CDC) de Pedro
Leopoldo/MG, alicerçado em abordagem qualitativa, tendo como ferramenta de coleta de
dados a observação direta, o diagnóstico rápido participativo (DRP) e a entrevista
semiestruturada. Como corpus de análise dos conteúdos das reuniões do CDC, foram
utilizadas três técnicas de DRP – Diagrama de Venn, Diagrama de Fluxo e Linha do Tempo
– e quatorze entrevistas, sendo entrevistados cinco representantes da prefeitura de Pedro
Leopoldo, quatro da empresa InterCement (afiliada ao Grupo Camargo Corrêa) e cinco da
sociedade civil (OSCs e voluntários). Assim, conforme evidenciado pela análise de
resultados, conclui-se que fatores que envolvem a vida humana influenciam
significativamente a interação social de atores da sociedade civil, empresas e governo,
interferindo na efetividade dos processos de liderança do CDC que, conforme apurado,
mostra-se fundamental para a criação de convergência de interesses, dinâmicas com
estruturas abertas e transparentes e participação ativa da sociedade civil do território, por
permitir, além da interação efetiva de diversos atores, a manutenção da diversidade de
vozes, e ainda, garantir a legitimidade na representação dos interesses coletivos em
movimentos que propõem alguma mudança social. Por fim, evidenciou-se que a intervenção
socioambiental das empresas, a partir de suas estratégias e ações de responsabilidade social
nos territórios, configura-se como um objeto instigante para outras investigações sobre a
interação social das esferas de governo, empresas e sociedade civil, por mostrar-se
efetivamente capaz de atuar como um elemento político essencial para a governança
compartilhada, o fortalecimento do capital social e a geração de desenvolvimento
sustentável em diferentes territórios.
Palavras-chave: processos de liderança, parcerias intersetoriais, governança,
desenvolvimento sustentável.
ABSTRACT
COUTINHO, D. D. R. (2014). Processes of leadership in intersectoral partnerships: social
interaction between government, business and civil society for sustainable
development in the territory. Dissertação (Master in Professional Administration) –
Faculdade de Administração, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo
Horizonte.
Considering the complexity of contemporary social and environmental issues, the
possibility of promoting sustainable development can be achieved through intersectoral
partnerships, leading to joint actions in a project to transform aware of local reality... And
considering also that, in the search for a positioning of the company in favor of processes that
can effectively assist the promotion of sustainable development, social interaction, which is
presented in a conscious and participatory manner through the processes of leadership in the
said partnership is regarded as one of the ways be traversed. Based on this understanding, and
supporting the theoretically broad review constructs 'leadership processes', 'intersectoral
partnerships' and 'sustainable development', this study sought to understand how leadership
processes occur in intersectoral partnerships for sustainable development from a study in the
case of the Community Development Committee (CDC) of Pedro Leopoldo/MG, based on a
qualitative approach, taking as a tool for data collection direct observation, participatory rapid
diagnosis (DRP) and semistructured interview - Venn Diagram, Flowchart and Timeline. As
part of analysis of the content of the meetings of the CDC, three techniques were used DRP
and fourteen interviews, and interviewed five representatives from the city of Pedro Leopoldo
four InterCement company (affiliated the Camargo Corrêa Group) and five civil society
organizations (CSOs and volunteers). Thus, as evidenced by the analysis of results, it is
concluded that factors involving human life significantly influence the social interaction of
actors from civil society, business and government, interfering with the effectiveness of
procedures for the leadership of CDC, which, according to the records, shows it is critical to
establishing convergence of interests, with dynamic open and transparent structures and active
participation of civil society in the territory, by allowing, in addition to the effective
interaction of different actors, maintaining the diversity of voices, and also to ensure the
legitimacy in the representation of collective interests in movements that suggest some social
change. Finally, it became clear that environmental intervention of companies , from their
strategies and social responsibility in the territories, appears as an intriguing subject for
further research on the social interaction of the spheres of government, business and civil
society, to show themselves capable of acting effectively as an essential political element to
the shared governance, the strengthening of social capital and the generation of sustainable
development in different territories.
Keywords: leadership processes, intersectoral partnerships, governance, sustainable
development.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Dimensões do capital social ......................................................... 34
Quadro 2 Evolução da noção de governo ............................................. 42
Quadro 3 Definições de estratégia coletiva, estratégia de colaboração e
meta-estratégias compartilhadas ............................................. 49
Quadro 4 Evolução e principais características do Modelo de Quebec ......... 56
Quadro 5 Inovações sociais no Modelo de Quebec e no desenvolvimento
local ............................................................................................. 57
Quadro 6 Propósitos de liderança ......................................................... 64
Quadro 7 Eixos temáticos do marco teórico ............................................. 76
Quadro 8 Dimensões de abordagem teórica ............................................. 79
Quadro 9 Perfil dos entrevistados ......................................................... 92
Quadro 10 Diretrizes de análise ..................................................................... 97
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Modelo teórico de análise ........................................................... 77
Figura 2 Diagrama dos métodos de pesquisa ............................................... 84
Figura 3 Programas estruturantes do Instituto Camargo Corrêa ........... 104
Figura 4 Relação de sucesso na visão das comunidades ....................... 106
Figura 5 Diagrama de Venn elaborado pelo Grupo A ................................... 120
Figura 6 Diagrama de Venn elaborado pelo Grupo B ................................... 120
Figura 7 Diagrama de fluxo elaborado pelo Grupo A ................................... 122
Figura 8 Diagrama de fluxo elaborado pelo Grupo B ................................... 123
Figura 9 Linha do Tempo elaborada em conjunto pelos grupos A e B ......... 125
LISTA DE SIGLAS
CDC Comitê de Desenvolvimento Comunitário
CIDA Canadian International Development Agency
CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
DPR Diagnóstico Rápido Participativo
FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
FPL Fundação Pedro Leopoldo
ICC Instituto Camargo Corrêa
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IIED International Institute for Environment and Development
LSO Licença Social para Operar
ONG’s Organizações Não-Governamentais
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PPC PIB Per Capita
RMBH Região Metropolitana de Belo Horizonte
SIDA Swedish International Development Cooperation Agency
SSVP Sociedade São Vicente de Paulo
SUS Sistema Único de Saúde
UICN International Union for Conservation of Nature
USAID United States Agency for International Development
WCED World Commission on Environment and Development
WRI World Resources Institute
WWI Worldwatch Institute
WWF World Wildlife Fund
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................... 15
1.1 Objetivos ........................................................................................... 25
1.1.1 Objetivo geral ............................................................................... 25
1.1.2 Objetivos específicos ............................................................................... 25
1.2 Justificativa ........................................................................................... 25
1.3 Metodologia textual ............................................................................... 27
2 REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................... 29
2.1 Desenvolvimento sustentável dos territórios: a articulação entre atores .. 29
2.2 Parcerias intersetoriais: modelos de análise, perspectivas e desafios ....... 43
2.3 Processos de liderança: co-produção e cooperação social .................... 61
3 METODOLOGIA ................................................................................ 81
3.1 Entre fatos e dados que deram origem à pesquisa ................................ 84
3.2 Participação nas reuniões do CDC ........................................................ 87
3.3 Aplicação de DRP no CDC .................................................................... 89
3.4 Entrevistas semiestruturadas .................................................................... 91
3.5 Pedro Leopoldo e o contexto do CDC ............................................ 99
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS .................... 109
4.1 Processos de liderança no desenvolvimento sustentável de Pedro
Leopoldo ............................................................................................ 109
4.2 Análise do diagnóstico rápido participativo ............................................ 118
4.3 Análise das entrevistas semiestruturadas ............................................ 127
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................ 137
6 REFERÊNCIAS ................................................................................ 143
APÊNDICE
A Roteiro de Entrevista – Integrantes do CDC
B Roteiro de Entrevista – Não Integrantes do CDC
C Roteiro de Entrevista – Instituto Camargo Corrêa
D Implantação do CDC
E Diagramas de Venn
F Diagramas de Fluxo
15
1 INTRODUÇÃO
O mundo vem se deparando com múltiplos desafios para o seu desenvolvimento, e
a busca da sustentabilidade vem adquirindo, cada vez mais, crucial importância. Nesse
processo evolutivo, fatores como crescimento desordenado da população, aumento do
consumo, demanda cada vez maior de espaços para habitação, baixa mobilidade urbana e o
aumento do uso de fontes de energia não renováveis são alguns exemplos dos esforços
empreendidos pela sociedade para fazer frente aos riscos socioambientais contemporâneos
(Abramovay, 2013; Ionescu-Somers, 2012).
Na busca por um posicionamento da sociedade a favor de processos que possam,
efetivamente, levar ao desenvolvimento sustentável, a interação social de forma consciente
e participativa, por meio dos processos de liderança nas parcerias intersetoriais, tende a ser
um dos caminhos considerados necessários ou desejáveis de serem trilhados, em diferentes
territórios, pelos atores sociais (Ospina, 2006).
Estudos indicam que a evolução institucional dos processos de desenvolvimento
sustentável apontam para a importância de tais atores agirem ativamente tanto na
governança como na definição de políticas públicas, nos domínios que interessam à
comunidade (Lévesque et al., 2012). Outros estudos reforçam, ainda, que essa interação
social contribui para o fortalecimento dos vários tipos de capitais1, promovendo ações
colaborativas geradoras de avanços e parcerias entre todos os atores envolvidos
(Abramovay, 2009), pois a tendência é que o crescimento econômico não mais aconteça a
qualquer custo no mundo atual e futuro (Ionescu-Somers, 2012).
1
O termo ‘capitais’ está relacionado a tipos de estoques que seriam decisivos no processo de
desenvolvimento sustentável como o ‘Capital Econômico’, que se refere ao estoque de riquezas de bens
móveis ou imóveis; o ‘Capital Social’, que tem caráter de criação e aprofundamento das redes de relações
capazes de fazer a regulação democrática (Vale, 2006; Milani, 2005); o ‘Capital Humano’, como o estoque
de conhecimentos, competências e aptidões (Milani, 2005); o ‘Capital Relacional’, “que significa o conjunto
de recursos inseridos nos laços e conexões, que vinculam os atores produtivos entre si; e com o ‘resto do
mundo’ (Vale, 2006, p. 12).
16
O termo “desenvolvimento sustentável” está presente em vários campos de
conhecimento e, também, na vida cotidiana. Neste estudo, essa noção aparece alinhada à
preservação ambiental, redução das desigualdades sociais e promoção de atividades
econômicas que preservem os patrimônios social, cultural e ambiental dos territórios, por
meio de processos participativos de envolvimento das comunidades e dos diferentes atores
sociais.
Nesse caso, o desenvolvimento sustentável precisa ser capaz de fomentar dentro de
um mesmo território atividades que promovam oportunidades economicamente rentáveis,
ambientalmente responsáveis e socialmente justas (Sachs, 2004; Dowbor, 2002). Neste
sentido, visa contribuir para o estabelecimento de diálogos, ao invés de imposições, entre
atores da esfera governamental, em todos os seus níveis, da sociedade civil e, também, dos
mercados, de forma a dar suporte e efetivar a cooperação e a ação em concertação de
diferentes atores sociais na proteção dos patrimônios ambiental, social e cultural dos
territórios (Abramovay, 2009; Sachs, 2004; Dowbor, 2002; Lélé, 1991).
Há mais de uma década, a Carta da Terra (2000, p. 15) “reconhece que os objetivos
de proteção ecológica, erradicação da pobreza, desenvolvimento econômico equitativo,
respeito aos direitos humanos, democracia e paz são interdependentes e indivisíveis”,
objetivos estes que devem, de acordo com o documento, ser alcançados para a preservação
da vida humana. Com isso, o objetivo do desenvolvimento em um determinado território
precisa também estar relacionado com a “avaliação das liberdades reais desfrutadas pelas
pessoas” (Sen, 2010, p. 77). É preciso, pois, levar em conta que a liberdade, como a
entende o autor, inclui, de forma inter-relacionada, alguns fenômenos como “facilidades
econômicas, liberdades políticas, oportunidades sociais, garantias de transparência e
segurança protetora” (Sen, 2010, p. 77).
17
No sentido mais amplo, outros estudos também indicam que, para o alcance do
almejado desenvolvimento sustentável ainda será preciso construir processos mais
vigorosos e complexos de compromisso coletivo, capazes de romper com mentalidades
individualistas e de curto prazo, a fim de provocar as mudanças sistêmicas necessárias
(Ionescu-Somers, 2012). A participação dos atores sociais na sua promoção se
configuraria, então, como um elemento essencial (Abramovay, 2009; Sachs, 2004; Lélé,
1991).
Entretanto, a forma como os processos do desenvolvimento sustentável vêm sendo
definidos e operacionalizados parece estar aquém daquilo que é idealizado em termos de
participação dos atores sociais (Baroni, 1992). Diferentes estudos denotam as contradições,
obstáculos e desafios de diferentes ordens e relacionados à diferentes interesses e formas
de ação social que limitam, dificultam e, até mesmo, inviabilizam a participação popular
nos espaços de discussão, implementação e avaliação de suas dinâmicas (Lélé, 1991;
Baroni, 1992; Milani, 2005; Levèsque, 2007). Nos limites de cada território, e diante da
complexidade de fatores que coexistem com a vida humana, o desenvolvimento sustentável
ainda necessitaria ser integrado àqueles que envolvem a vida cotidiana (Abramovay,
2009).
Considerando que deva envolver uma diversidade de fatores determinantes e que,
por consequência, depende de uma gestão articulada daqueles que são e dos que merecem
ser seus protagonistas (Abramovay, 2010), tem-se, de maneira complementar, a
necessidade do fortalecimento de parcerias intersetoriais como um caminho possível de
desenvolvimento. O que vai parecer em jogo, nesse processo, é a habilidade social de
cooperação humana (Fligstein, 2007), e a maneira como, no âmbito dessa cooperação, os
atores definem prioridades e fluxos de ação visando (ou não) o bem comum (Abramovay,
2010).
18
No presente estudo, adotou-se o pressuposto de que a vida social “gira em torno de
se obter uma ação coletiva, e isso requer que os participantes dessa ação sejam induzidos a
cooperar” (Fligstein, 2007, p. 62). Soma-se a isso o fato de que a cooperação e as
interações entre atores da sociedade civil, do Estado e de mercado estão, normalmente,
permeadas pela “complexidade e pela construção de uma práxis não linear marcada,
simultaneamente, pela ocorrência de processos de conflito e cooperação, engajamento e
distanciamento, resistência e adesão” (Teodósio, 2008, p. 8).
É preciso reconhecer a sociedade civil como um espaço de interação de atores com
uma pluralidade de interesses e divisão de poder (Alves, 2006). Em conjunto com a
diversidade de atores que integram a sociedade local, vislumbra-se a necessidade de cada
comunidade “traçar estratégias que fortaleçam suas capacidades na solução dos problemas”
(Tenório, 2004, p. 17), indo ao encontro do que desejam para seu desenvolvimento, com a
garantia de ampla participação dos diferentes atores sociais em ação, em determinado
território, seja no nível local ou mesmo na região (Rover, 2001).
O território é compreendido “como espaço das relações sociais entre agentes, os
quais interagem num contexto condicionado pelos atores sociais com interesse local”
(Cançado et al., 2013, p. 315). Portanto, o território está relacionado com a integralidade
da ocupação do local pelo homem, que age ancorado pelo sentimento de pertencer a uma
rede de relações muitas vezes conflituosas e contraditórias, que nele coexistem (Gava,
2012).
É possível observar que as parcerias intersetoriais têm assumido grande
centralidade no mundo contemporâneo, configurando-se como um fenômeno mundial, pois
nota-se uma crescente expansão tanto das iniciativas de desenvolvimento baseadas nessa
forma de concertação entre os atores sociais como das plenárias sobre esse tema, em
diferentes continentes (Skwara, 2005). Todavia, a discussão sobre parcerias intersetoriais
19
ainda é considerada um fenômeno relativamente recente nos estudos acadêmicos, e mesmo
nas avaliações de ações desenvolvidas por organismos internacionais, governos e
organizações da sociedade civil de atuação global. Seja no discurso dos atores sociais que
buscam construir parcerias intersetoriais, seja nos estudos realizados por acadêmicos,
observa-se a existência de uma verdadeira polissemia para se referenciar esse fenômeno,
tanto pelas diferentes abordagens como pelas conclusões às vezes opostas sobre a
importância, impactos e desdobramentos das parcerias intersetoriais para o
desenvolvimento sustentável dos territórios (Teodósio, 2008; Armisted, Pettigrew & Aves,
2007; Selsky & Parker, 2005).
A necessidade de se problematizar as parcerias intersetoriais a partir de modelos
teóricos que incorporem a discussão, tanto na esfera pública como na esfera privada, pode
levar à compreensão dos encontros e desencontros entre os atores nos processos de
desenvolvimento sustentável (Teodósio, 2008).
Comumente utilizada na literatura científica da administração pública, a
intersetorialidade é tratada como articulação entre diferentes órgãos de governo – federal,
estadual e municipal – e/ou órgãos dentro de um mesmo nível de governo, porém, no
espaço em que se dão as relações, essa abordagem vai além de um conceito que engloba
apenas as políticas sociais. Configura-se, também, como um mecanismo de interface com
outras dimensões, para auxiliar a organização e a regulação da interação entre diversos
segmentos sociais do território (Junqueira, 1998). A intersetorialidade pode ser
considerada, ainda, como a “articulação de saberes e experiências no planejamento,
realização e avaliação de ações para alcançar efeito sinérgico em situações complexas
visando ao desenvolvimento social, superando a exclusão social” (Junqueira, 1998, p. 14).
Apesar de apresentarem um caráter complexo, as parcerias são tidas como um
elemento essencial para o desenvolvimento sustentável, seja pelos praticantes do campo da
20
gestão social e ambientalmente responsável, seja pelos estudiosos desse fenômeno. Muitas
vezes, podem dar vazão a movimentos sociais transformadores, mas dependendo do caso,
apresentam-se reativas e pouco consensuais, além de deterem baixa capacidade operativa e
se mostrarem contraditórias em relação ao próprio avanço da sustentabilidade nos
territórios. Nessa dinâmica de diálogo e debates entre diferentes atores, a tendência é que
as parcerias não revelem somente confluência e harmonia de interesses. Pelo contrário, que
também revelem conflitos importantes, que talvez possam configurar-se como promotores
de aperfeiçoamento das relações e de compartilhamento de ideais (Huxham, & Vangen,
2003).
Ao se considerar que os meios que levam ao desenvolvimento sustentável
demandam a ação de diferentes atores sociais na construção de uma governança nos
âmbitos ambiental, social e cultural, evidencia-se a necessidade de analisar os processos de
liderança e interação social em parcerias intersetoriais (Ospina, & Foldy, 2010; Milani,
2008; Selsky, & Parker, 2005; Huxham, & Vangen, 2003).
Neste sentido, Selsky & Parker (2005) sugerem que seriam valiosas a contribuição
de pesquisas que analisassem como os parceiros superam ou exploram as diferenças
setoriais, a ponto de desenvolver um entendimento mais aprofundado de sua realidade
local, aprendendo uns com os outros e/ou incentivando a aprendizagem das partes
interessadas. A busca da compreensão de como os processos de liderança podem favorecer
as parcerias intersetoriais configura, então, um modelo alternativo de governança
participativa e democrática (Ospina, & Foldy, 2010).
A literatura existente sobre o tema da liderança vem se concentrando, normalmente,
em analisar o comportamento humano e em determinar atributos individuais dos líderes, a
partir de estudos concentrados, principalmente, em organizações do setor privado
(Armistead, Pettigrew, & Aves, 2007; Van Wart, 2013). Há décadas, uma ampla gama de
21
proposições teóricas e abordagens sobre liderança tem visado entender esse fenômeno,
considerado como um dos temas mais complexos e multifacetados já investigados em
pesquisas sobre o comportamento humano e, talvez por causa disso, observa-se a ausência
de consenso sobre definições acerca do tema (Sant’Anna et al, 2011).
Estudos indicam que a liderança vem sofrendo uma constante mutação em razão de
novos contextos, ferramentas, concepções e diferentes demandas de variados atores sociais
(Van Wart, 2013). De acordo com Ospina & Shall (2001), são comuns as pesquisas sobre
liderança que produzem listas de como ser líder e de como se comportar como líder. Com
textos curtos e privilegiando determinadas áreas profissionais das esferas pública e privada,
em geral, a literatura sobre liderança ignora os resultados alcançados, especialmente, por
minorias, como também por outros atores sociais que trabalham em comunidades e na
sociedade civil (Ospina & Shall, 2001).
Em vista disso, o presente estudo não pretende discutir a liderança tendo como
unidade de análise o indivíduo ou o comportamento humano tomado isoladamente ou em
relação a pequenos grupos existentes na sociedade. Pelo contrário, nele, a liderança é
compreendida como o processo pelo qual a colaboração de várias pessoas se interconecta
em uma governança compartilhada, não sendo atributo de indivíduos ou consequência de
habilidades específicas de determinados atores sociais colocados em ação. Supostamente,
pode-se dizer que trata-se de uma ‘liderança sem líderes’, algo ainda pouco discutido na
literatura tradicional sobre o tema.
Alinhado a essa visão diferenciada daquela de viés comportamentalista focada no
indivíduo, este estudo explora, pois, a temática do processo de liderança como
transformação social permanente, a partir de outro marco teórico-compreensivo, entendido
como uma dinâmica de construção colaborativa coletiva, operada ou não com alternâncias
de liderança entre determinadas instituições, organizações e indivíduos (Castro, 2012;
22
Crosby, & Bryson, 2010; Teodósio, 2008; Ospina, 2006; Vangen, & Huxham, 2003;
Ospina, & Shall, 2001).
Desta forma, ocorre que, apesar de alguns pesquisadores considerarem que o tema
da liderança em processos de parcerias intersetoriais tem recebido pouca atenção nos
estudos internacionais (Van Wart, 2013; Crosby, & Bryson, 2010; Ospina, & Foldy, 2005;
Selsky, & Parker, 2005; Huxham, & Vangen, 2003), nas últimas décadas, a abordagem
teórica do tema vem atraindo, cada vez mais, o interesse dos acadêmicos (Silvia, 2011;
Silvia, & McGuire, 2010; Ospina, Foldy & Goldman, 2008; Ospina, 2006; Selsky, &
Parker, 2005, Ospina, & Foldy, 2005; Ospina, & Foldy, 2010; Pettigrew, 2003; Vangen, &
Huxhan, 2003). Como uma mudança de paradigma, o ponto em comum dessas abordagens,
é que os autores consideram esse processo um tipo específico de liderança que favoreceria
a ação coletiva, e que atenderia expectativas de múltiplos atores sociais por meio da
dinamização de estruturas (Ospina, & Foldy, 2010, p.292) e habilidades sociais (Fligstein,
2007) nos territórios.
A liderança tratada aqui reflete, pois, um processo que pode ser desempenhado por
quantas pessoas puderem participar em um dado movimento, reconhecidas as diferentes
competências (Castro, 2012). De maneira metafórica, pode-se dizer, ainda, que a liderança
sai daquela
imagem heróica do maestro para a criativa e prazerosa imagem de uma roda de
chorinho ou de uma banda de jazz, onde todos podem brilhar, demonstrar suas
competências, fazer seus solos, improvisar e criar sem, qualquer que seja o instante,
perder a noção do todo (Castro, 2012, p. 1).
Mesmo ao considerar a importância da liderança nas parcerias intersetoriais e de
reconhecer a sua necessidade nas ações de desenvolvimento sustentável, alguns autores
também apontam para as dificuldades de colaboração no decorrer desses processos
(Armistead, Pettigrew, & Aves, 2007). Pesquisadores relatam que tais dificuldades incluem
23
o descompasso de agendas, a falta de confiança entre os atores e a vulnerabilidade para
lidar com manobras e/ou interesses políticos divergentes (Armistead, Pettigrew, & Aves,
2007; Vangen, & Huxham, 2003), evidenciando que, além de problemas na construção da
governança compartilhada, implementar processos de “liderança colaborativa envolve a
gestão de uma tensão entre ideologia e pragmatismo” (Vangen, & Huxham, 2003, p. 61).
No âmbito dos processos de liderança, a interação social pode, inclusive, favorecer
um tipo de governança compartilhada em contextos nos quais tanto o governo quanto a
sociedade civil e as empresas, tomados isoladamente, tendem a ser pouco eficazes. O que
se espera, como tendência da articulação ou parceria, entre atores das esferas do Estado,
sociedade civil e mercado, seria, então, a capacidade de articular com as diversas forças
sociais (Dowbor, 2002), resultando na boa governança e gestão social. Isso traria ganhos
em termos de fortalecimento do capital social presente nos territórios, caracterizado pela
confiança, formação de laços sociais e construção de realidades que podem favorecer os
valores, direitos e deveres da cidadania (Guerra, & Teodósio, 2012).
Entretanto, na construção dos processos de liderança e no exercício da cidadania,
ainda existem riscos de que o potencial de articulação e de aprendizagem pelo encontro
entre os diferentes atores seja mal compreendido, pouco associado e até mesmo decresça
na medida em que a diversidade dos saberes não seja reconhecida, valorizada e legitimada
concretamente. Investigar esses fenômenos, perceber esses riscos e tentar compreender as
possibilidades de minimizá-los constitui um interessante campo de pesquisa.
Cabe ainda destacar que o fenômeno da liderança, como processo de mudança
social, acontece de forma dinâmica, podendo ser discutido sob três níveis de análise: (i)
nível ‘macro’ – que propõe uma revolução no modelo e estrutura política (sistema
capitalista para o sistema socialista, por exemplo); (ii) nível ‘meso’ – focado nos campos e
nas esferas de convivência e interação entre diferentes atores para transformação social; e
24
(iii) nível ‘micro’ – relacionado à mobilização de um indivíduo com seus pares ou em
organizações.
O que se propõe, neste estudo, é analisar a liderança no nível ‘meso’, assumindo
que as relações sociais acontecem dentro de campos. Com base na teorização desenvolvida
por Bourdieu (1977, p. 64): “os campos se referem a situações nas quais grupos
organizados de atores se reúnem e desenvolvem suas ações recíprocas face a face”.
Neste sentido, tendo como base as ideias de Ospina et al (2001), a proposta ora
apresentada pretende ampliar a visão de liderança como um processo de mudança que
exige compreender como o desenvolvimento pode ser estimulado a partir da experiência
dos envolvidos, trazendo conteúdos ignorados pelos estudos tradicionais, por considerar
ser possível desenvolver conhecimentos novos válidos, a partir da vivência dos atores
sociais investigados.
Além disso, destaca-se nesta abordagem, a compreensão de que a liderança em
dinâmicas de articulação da sociedade civil, mesmo que em determinados momentos seja
protagonizada por determinados indivíduos, deve ser estudada não através dos atributos e
posturas desenvolvidas pelas pessoas em sua interação social, e sim pelos processos de
convergência e construção de visões de mundo comuns que inspiram e que organizam a
práxis social de múltiplos atores, favorecendo sua colaboração para a intervenção e
transformação social e ambiental das comunidades e da sociedade (Ospina, Godsoe, &
Shall, 2001).
Assim sendo, partindo de uma abordagem teórica que evidencia os paradoxos
intrínsecos no ambiente de interação social, esse estudo pretende responder à seguinte
questão: como ocorrem os processos de liderança nas parcerias intersetoriais para o
desenvolvimento sustentável de um território?
25
1.1 Objetivos
Tomando-se como pressuposto o exercício de uma ‘liderança sem líderes’,
objetiva-se, com a presente pesquisa, discutir a liderança como um processo social,
analisando até que ponto a cooperação entre os atores sociais estimularia (ou não) a criação
e a dinamização de processos integrados, que possam contribuir positivamente para o
desenvolvimento sustentável no território.
1.1.1 Objetivo geral
Investigar os processos de liderança nas parcerias intersetoriais estabelecidas no
Comitê de Desenvolvimento Comunitário (CDC) para o desenvolvimento sustentável da
cidade de Pedro Leopoldo-MG.
1.1.2 Objetivos específicos
Para o alcance do objetivo proposto, buscou-se: (i) identificar a interação de atores
da sociedade civil, empresas e governo no Comitê de Desenvolvimento Comunitário
(CDC); (ii) analisar os fatores que influenciam os processos de liderança no Comitê de
Desenvolvimento Comunitário (CDC); e (iii) discutir como os processos de liderança
afetam a construção das parcerias intersetoriais para o desenvolvimento sustentável de
Pedro Leopoldo-MG.
1.2 Justificativa
O interesse desta autora pelo tema da pesquisa surgiu da sua experiência
profissional, ao longo de quatorze anos de atividade em consultoria e treinamento na área
26
de responsabilidade social e voluntariado empresarial. Nesse período, a partir de relatos de
pessoas pertencentes às empresas e entidades do terceiro setor, observou-se como notória a
distância que separava as empresas dos diversos públicos com os quais se relacionavam.
Ao mesmo tempo, era possível perceber o seu alto potencial de articulação colaborativa
com as outras esferas da sociedade para coprodução e promoção do desenvolvimento
sustentável nos territórios.
A partir de tal observação, foi possível concluir que as fronteiras que uniam
empresas e públicos denotavam um ‘alto grau de miopia social’, impondo um desafio de
mudança que apontava para as possibilidades de uma sistematização de parcerias entre
comunidades, instituições sociais e governos, de maneira colaborativa e permanente, para
tratar das questões que envolviam governança e desenvolvimento sustentável no território.
Desta forma, para investigar, analisar e compreender os fenômenos sob a ótica dos
atores envolvidos no desenvolvimento sustentável do território onde vivem, elegeu-se
como objeto desta pesquisa o Comitê de Desenvolvimento Comunitário (CDC) de Pedro
Leopoldo-MG, um município da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH),
localizado a 42 quilômetros da capital mineira. Segundo o censo de 2012, com uma
população de 58.740 habitantes, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do
município registrou a marca de 0,807 (2013), o que o posiciona no ranking das cidades do
país com um IDH elevado. Economicamente, Pedro Leopoldo é marcado pela presença de
extração de calcário para produção de cimento, sendo considerada como a terceira maior
cidade produtora de cimento no Brasil2.
Formado por representantes do governo, empresa e sociedade civil, a saber, a
prefeitura de Pedro Leopoldo, a InterCement e representantes da comunidade, o CDC foi
constituído em 2007 como projeto piloto de investimento social privado por iniciativa do
2 Em 2010, o Brasil foi considerado o sexto produtor em cimento, atrás apenas da China, Índia, EUA,
Turquia e Irã (SNIC, 2013).
27
Grupo Camargo Corrêa, através do seu braço social Instituto Camargo Corrêa (ICC). A
proposta da empresa é construir e executar projetos voltados para interesses e demandas da
população local, a serem financiados pelo ICC, visando sua posterior transformação em
políticas públicas, a partir dos resultados alcançados.
No entanto, tem-se que, ao longo de sua presença em Pedro Leopoldo-MG, a
InterCement – empresa do grupo – vem sendo vista com ceticismo e desconfiança por
parte da sociedade civil, em razão do posicionamento adotado no espaço de sua
responsabilidade social, marcada por um histórico de impacto ambiental no território e de
desdobramentos sociais negativos, pois advindos, sobretudo, de processos de demissão em
massa após a reestruturação dessa sua unidade industrial. Após um período de
distanciamento, o diálogo com a comunidade foi retomando por meio de ações de
investimento social com foco em geração de valor compartilhado e capital social, como
estratégias de relacionamento com o poder público e a sociedade civil local (Werneck et al.
2012). Diálogo que vem sofrendo rupturas a serem avaliadas neste estudo.
1.2 Metodologia textual
Este estudo foi estruturado em três capítulos: o primeiro, aborda o
desenvolvimento sustentável no território, a partir da compreensão mais ampla de
desenvolvimento, envolvendo o diálogo e a colaboração entre os diversos atores sociais, a
ser pautado pelas dimensões econômica, social, cultural, política e ambiental da sociedade.
Na sequência, tem-se a abordagem das parcerias intersetoriais para
desenvolvimento sustentável, baseada na discussão das possibilidades, limites e desafios
como meio de construção de diálogo e interação social entre representantes do governo,
empresas e sociedade civil de forma colaborativa e participativa.
28
E o terceiro capítulo trata dos processos de liderança como dinâmica social não
linear, permeada por uma governança compartilhada entre distintos segmentos da
sociedade marcados por diferentes interesses, racionalidades e formas de ação na
promoção do desenvolvimento sustentável do território.
29
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Desenvolvimento sustentável dos territórios: a articulação entre atores
O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de
liberdade, que limitam as escolhas e as oportunidades das
pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente.
AMARTYA SEN
No preâmbulo da Carta da Terra (2000), os propósitos com relação ao amplo
compromisso com o desenvolvimento sustentável e a perpetuação da humanidade são
claros, pois não deixando dúvidas quanto à importância de se buscar a qualidade da
convivência entre os povos em seus territórios, que pode ocorrer de inúmeras maneiras,
inclusive, por meio de colaboração participativa, ao propor que:
[...] devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no
respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e
numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos
da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande
comunidade de vida e com as futuras gerações. (Carta da Terra, 2000).
Segundo Sen (2010), o desenvolvimento com sustentabilidade exigiria que os
arranjos de convivência social eliminassem as principais fontes de privação de liberdade
humana, que estariam relacionadas com a pobreza extrema, falta de oportunidade
econômica, exclusão social, intolerância, tirania e/ou repressão do Estado. No mundo atual,
verifica-se que a negligência com as liberdades elementares atinge um grande número de
pessoas, trazendo decisivos obstáculos aos processos de desenvolvimento sustentável dos
territórios (Sen, 2010). Entretanto, é recente o interesse por pesquisas sobre o
desenvolvimento na dimensão territorial ou espacial (Abramovay, 2009). Nesse cenário, a
dimensão territorial está relacionada com algo além de uma demarcação de um espaço
físico, por envolver, também, um espaço de relações entre indivíduos dos diferentes setores
da sociedade.
30
Nesse processo de inter-relações sociais dos diferentes atores, quais podem ser os
caminhos que a sociedade civil, os governos e os mercados, de maneira integrada, podem
efetivamente trilhar para gerar desenvolvimento sustentável do território? Em outras
palavras, “como obter novas formas de parceria entre o Estado, a sociedade civil e o
mundo dos negócios, de forma a fortalecer e realizar todo o potencial das iniciativas locais
e das ações civis” (Sachs, 1997, p. 223), de forma que se deflagre um movimento virtuoso
nos territórios?
Acompanhado de uma diversidade de significados e usos, o desenvolvimento
sustentável sofre com o fato de que muitas pessoas ainda o relacionam, de forma limitada,
à conservação ambiental ou redução da poluição ambiental (Lélé, 1991). Na mesma linha,
Baroni (1992) argumenta que, muitas vezes, os termos sustentabilidade ecológica,
desenvolvimento sustentável e sustentabilidade são usados com os mesmos sentidos,
embora tenham significados distintos.
Na abordagem sobre o “desenvolvimento sustentável” deste estudo, esta expressão
estará sempre associada ao exercício do diálogo e à colaboração entre os diversos públicos
de interesse (Lélé, 1991). Considerado por alguns autores como o criador do termo
ecodesenvolvimento (Baroni, 1992; Dowbor, 2001), Ignacy Sachs (1997) defende que o
desenvolvimento sustentável é um conceito abrangente, que envolveria as “dimensões
ética, política, social, ecológica, econômica, cultural e territorial, todas elas
sistematicamente inter-relacionadas e formando um todo” (Sachs, 1997, p. 216). Entende-
se, dessa forma, que o desenvolvimento sustentável pode estar relacionado à promoção da
equidade social, com a participação das comunidades por meio da governança participativa
e promoção de atividades econômicas, que fortaleçam e contribuam para a melhoria desta e
outras dimensões da vida e da convivência no território.
31
Na Conferência de Otawa, em 1986, foi divulgada a definição de desenvolvimento
sustentável adotada, então, pela World Commission on Environment and Development
(WCED), na qual se afirma que: “desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que
satisfaz as necessidades do presente sem comprometer as habilidades das futuras gerações
de satisfazerem suas necessidades” (Baroni, 1992, p. 16). Essa noção vem sendo adotada
por uma série de agências internacionais tais como: Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA), a International Union for Conservation of Nature (UICN), o
World Wildlife Fund (WWF), o Word Bank, a United States Agency for International
Development (USAID), a Swedish International Development Cooperation Agency
(SIDA), a Canadian International Development Agency (CIDA) e “organismos de pesquisa
e fomento como o World Resources Institute (WRI), o International Institute for
Environment and Development (IIED), o Worldwatch Institute (WWI) e grupos
ativistas como o Global Tomorrow Coalization” (Baroni, 1992, p. 16).
Embora alguns autores o conceituem também como desenvolvimento local, o
desenvolvimento sustentável vem sendo considerado como aquele que pode ser continuado
por tempo indeterminado (Lélé, 1991). Além disso, como o desenvolvimento em si, é
considerado um processo de mudança ou transformação.
Assim, o “desenvolvimento sustentável seria o processo de ampliação permanente
das liberdades substantivas dos indivíduos” (Abramovay, 2010, p. 35). E nessa linha,
pesquisas indicam que para promover o desenvolvimento sustentável seria preciso ações
conjuntas e participativas, convergentes para fins coletivos, voltados para a obtenção de
resultados mais abrangentes e que envolvam um projeto de transformação consciente da
realidade local (Abramovay, 2009; Dowbor, 2006; Milani, 2005; Favareto, 2004).
Milani (2005) e Favareto (2004) utilizam, em seus artigos, o termo
‘desenvolvimento local’. Mas para efeito deste estudo, ‘local será considerado com o
32
mesmo sentido conceitual de ‘desenvolvimento sustentável’, por entender que tal
desenvolvimento só acontece efetivamente no local ou no território. Dessa forma, quando
se diz que há desenvolvimento sustentável, infere-se que este é local. Além disso, cabe
destacar que apenas os territórios poderiam alcançar a sustentabilidade, e não os atores
sociais, isoladamente. Neste sentido, sustentabilidade não seria um atributo específico das
organizações, cujo alcance se daria de forma independente dos demais atores em ação na
localidade ou território.
Por mais diversificado que o termo ‘desenvolvimento sustentável’ ainda se
apresente, os seus mais diversos entendimentos destacam a necessidade do envolvimento
de diferentes atores sociais com uma proposta de transformação efetiva do território, por
meio de um processo de governança participativa que fortaleça o capital social da
comunidade (Abramovay, 2010; Dowbor, 2001; Sachs, 1997). Acredita-se que essa
associação pode se dar por meio de processos de liderança e parcerias intersetoriais que,
através da mobilização de pessoas, organizações e instituições, provocariam movimentos
com potencial de gerar resultados em termos de bem-estar coletivo nos territórios.
Para promover o desenvolvimento e a prosperidade, os laços e as conexões
presentes em uma dada região seriam fundamentais para vincular e interconectar os atores
entre si, formando as chamadas “redes territoriais” (Vale, 2006). Dessa forma, no
território, o capital social poderia se manifestar por meio das redes sociais e de condutas de
confiança que “[...] facilitam a coordenação e a cooperação, tornando possível a ação
coletiva, de natureza voluntária, para benefício mútuo, no interior dos grupos e das
organizações” (Vale, 2006, p. 138). As mobilizações, que se articulariam em um espaço
geográfico concreto, poderiam favorecer iniciativas nas quais o relacionamento direto entre
os atores promovesse articulações criativas em um bairro, cidade ou região (Dowbor,
2006).
33
Conforme citado por Miles et al. (2005), o capital social necessita de um propósito,
de um local para efetivamente acontecer. Será, então, no território, que as relações sociais
poderão acontecer, a fim de favorecer o capital social em um espaço de convergência de
interesses para alavancar o desenvolvimento sustentável?
Bourdieu (1977) define capital social como o conjunto de relações e também de
redes de ajuda mútua, que podem ser mobilizadas efetivamente para beneficiar o indivíduo
ou a classe social. O capital social também pode ser considerado como a capacidade de
organização de uma dada sociedade, ou seja, a capacidade das pessoas de estabelecerem
atitudes em torno de interesses comuns (Paula, 2001). Outros autores como James
Coleman, Michael Woolcock e Henrique Rattner também abordam o capital social como
redes de compromisso pela cidadania, de relacionamento com confiança mútua e de ricas
formas de poder associativo (Milani, 2005).
A presença de capital social, caracterizado por atributos como confiança e formação
de laços sociais, adicionado a valores cívicos em dada comunidade, pode levar à
construção de realidades sociais propícias ao desenvolvimento sustentável. Essa
dinâmica de construção de capital social encontraria lastro na ação social por meio
de fenômenos e dinâmicas de sociabilidade problematizadas pelas noções de
habilidade social (Guerra, & Teodósio, 2012, p. 26).
Nahapiet e Ghoshal (Werneck, Travassos, & Alvim, 2012) definiram três
dimensões do capital social, conforme Quadro 1.
34
Quadro 1
Dimensões do capital social
DIMENSÕES DO CAPITAL SOCIAL
DESCRIÇÃO
Estrutural: Diálogo – Talking
Configuração da rede na qual a relação se insere (bonding,
bridging, linking) - O quanto as partes se falam? O
relacionamento contribui para unir o grupo, fazer ponte entre
grupos ou vincular o nível local a outro nível?
Relacional: Confiança – Trusting
Confiança, reciprocidade e relacionamento - A relação se
caracteriza por confiança mútua, normas e obrigações
compartilhadas, reciprocidade ou identificação mútua?
Cognitivo: Pensamento – Thinking
Quadros comuns que facilitam o entendimento mútuo e o
planejamento colaborativo - As partes compartilham paradigmas,
códigos, linguagem, narrativas, valores, objetivos ou visões de
futuro?
Nota. Fonte: Nahapiet & Ghoshal (1998).
De forma complementar, o fortalecimento do capital social promoveria o sentido de
empoderamento, que pode se refletir em maior comprometimento e participação dos
envolvidos. Através do diálogo e de relações de confiança entre as pessoas e do
compartilhamento de ideais, poderia surgir um campo de cooperação para mudança social,
e isso poderia gerar, por consequência, um potencial ciclo virtuoso de comportamento
entre os envolvidos (Vangen, & Huxhan, 2003).
No decorrer dessa trajetória, entretanto, será preciso questionar: “o que deve ser
sustentável? Por quê? Para quem? São perguntas-chave que devem ser respondidas e
determinadas socialmente” (Baroni, 1992, p. 20). Será preciso considerar, ainda, que o
desenvolvimento em si não é consequência automática ou decorrência do crescimento
econômico (Sen, 2010; Milani 2005), pois é comum encontrar diferentes abordagens sobre
crescimento e desenvolvimento econômico e, também, visões de senso comum baseadas
35
no pressuposto de que se a economia de determinado território estiver bem, o avanço
social, ambiental e cultural seguirá automaticamente (Abramovay, 2010).
Como afirma Sachs, “o rápido crescimento econômico, através de seus efeitos de
propagação, deveria supostamente assegurar prosperidade” (1997, p. 214). Sabe-se, porém
que, na contra mão do desenvolvimento, há exemplos de municípios onde o aumento de
atividade econômica trouxe, também, aprofundamento das desigualdades sociais, além de
outros conflitos e externalidades negativas (Fundação Getúlio Vargas, 2010), demostrando
que tais atividades podem resultar em um “crescimento ambientalmente destrutivo, mas
socialmente benéfico, ou em crescimento ambientalmente benéfico, mas socialmente
destrutivo” (Sachs, 2004, p. 15). Diz-se, então, que uma comunidade tende a se
desenvolver, quando explora de forma dinâmica as suas competências, articulando seus
interesses em prol de objetivos comuns e compartilhando interesses em prol da promoção
da sustentabilidade dos territórios (Dowbor, 2006; Milani, 2005, Selsky, & Parker, 2005).
O alcance de resultados efetivos nas dimensões social, econômica e ambiental tem
apresentado como denominador comum tanto a necessidade como, também, a dificuldade
de se operar a transformação sociopolítica dos territórios, a partir dos marcos constitutivos
da gestão social, que se insere no campo das lutas para a democratização do poder, a
redução das desigualdades sociais e o compartilhamento de responsabilidades e direitos
(Dowbor, 2012).
Na busca do desenvolvimento sustentável, sabe-se que não basta trabalhar na
superfície dos problemas sociais, e muito menos realizar intervenções com metodologias
que possam criar, nas comunidades, a dependência de projetos sociais desenvolvidos,
apenas, pelo setor privado ou, isoladamente, pelo governo ou sociedade civil (Fisher, 2002;
Teodósio, 2008). Por isso, a ação das organizações da sociedade civil não poderia
configurar-se como uma instância substitutiva das políticas públicas, apesar de muitas
36
vezes iniciar sua ação em contextos onde o Estado e/ou a empresa estão pouco atuantes ou
não respondem adequadamente às demandas da sociedade (Dowbor, 2002).
Nesta perspectiva, o crescimento econômico não pode ser mais considerado como a
busca cega pelo crescimento por si só, e sim uma expansão das forças produtivas da
sociedade, cuja finalidade seja o alcance dos direitos civis plenos por toda a população. O
crescimento econômico torna-se, assim, vinculado a uma meta social específica que pode,
inclusive, exigir uma intervenção do Estado frente à atuação autônoma das forças de
mercado. Supostamente, esse novo contrato social daria à teoria econômica um propósito
ético, transformando-a de ciência utilitária e excessivamente individualista em ciência
deontológica (Sachs, 1997; Abramovay, 2010).
É interessante destacar que, como ciência deontológica, o pensamento econômico
ampliaria sua compreensão sobre os princípios morais que orientam os deveres e valores,
que também se tornam elementos importantes na ação social desenvolvida pelos atores de
mercado, que agiriam não necessariamente motivados por interesses autorreferenciados ou
egoístas e privados (Abramovay, 2010). Em consonância, inclusive, com os princípios da
Carta da Terra (2000), a participação social nos territórios e as parcerias intersetoriais
reafirmam sua importância, na medida em que promovem o compartilhamento de
interesses pelo bem da coletividade.
No âmbito do setor privado, a qualidade da participação social tem como pré-
requisito a maneira como as empresas se relacionam com as dimensões socioambientais,
ou seja, ampliando sua ação para além da seleção de tecnologias, preços e procedimentos
produtivos (Abramovay, 2009). Para Sachs, Lopes e Dowbor (2010, p. 14), “Já se foi o
tempo em que se acreditava em projetos ‘paraquedas’: o desenvolvimento funciona quando
é participativo, com um razoável equilíbrio entre o fomento externo e a dimensão
endógena do processo”. No mundo contemporâneo, muitas organizações empresariais
37
parecem estar mais propensas a reconhecer que existe uma dependência mútua entre
governo e sociedade civil, o que passa pela formação de valores partilhados (shared
values), de forma a abrir um caminho para reduzir os conflitos potenciais que podem
enfrentar (Abramovay, 2009).
Ao longo do processo sócio-histórico dos territórios, a construção do poder local
pode provocar disputa pelos arranjos de governança em espaços onde se organiza a vida
dos cidadãos (Spink, 2001). No contexto da responsabilidade socioambiental, as empresas
aparecem na sociedade como um componente integrado a ela própria:
A ideia de que objetivos humanos emancipadores só podem ser alcançados fora do
âmbito daquilo que se faz no mercado se apoia no mito de que a economia existe
fora da sociedade, e que a produção material é e deve ser autônoma com relação a
valores e escolhas sociais baseadas em valores. A responsabilidade socioambiental
do setor privado só pode ser compreendida à luz da inserção das empresas, do
mercado, do sistema de preços e da economia no mundo social. (Abramovay, 2009,
p. 14).
Nesse sentido, o território é assumido como um espaço de atuação dos atores e
construção de articulações que constituem etapa fundamental na promoção do
desenvolvimento sustentável (França et al., 2004). Partindo dessa visão, pode-se interpretar
o desenvolvimento sustentável como algo que venha ser completo e global, propondo uma
melhoria integral, ou seja, um desenvolvimento que envolva todas as diferentes dimensões
sócio-espaciais dos territórios, de forma inter-relacionada, sejam elas a vida social e
cultural, a dinâmica política, a atividade econômica ou o patrimônio ambiental (Sachs,
1997).
Historicamente, registros mostram que a interação em bases mais participativas e
democráticas das empresas com a sociedade civil e governos locais, nos territórios em que
atuam, vem caminhando de forma ainda tímida. Segundo Abramovay (2003), Weigand
Júnior (2003) concluiu em uma pesquisa, com base em quarenta experiências de
desenvolvimento territorial no Brasil, que apenas três delas registraram a participação de
38
empresas no processo. O mesmo se observou em experiências de desenvolvimento local na
Colômbia, no México e no Equador, mostrando que as empresas ainda não faziam parte do
universo social do desenvolvimento territorial (Abramovay, 2003).
Por essa ótica, é possível imaginar algumas vantagens na participação das empresas
situadas no mesmo território, para somar esforços que viabilizem um processo avançado de
articulação social com os demais atores das esferas de governo e sociedade civil, em prol
do desenvolvimento sustentável. Além das possibilidades de transformação social,
empresas, governo e sociedade civil, juntos, poderiam assegurar, também, mais
investimentos e geração de renda, além da possibilidade de agregar valor à comunidade,
fornecer orientação especializada e somar esforços para a sustentabilidade (Fischer,
Fedato, & Belasco, 2005). É possível dizer, ainda, que o compromisso com
desenvolvimento sustentável envolve fatores sociais, culturais e políticos que não se
regulam, exclusivamente, pelo sistema de mercado, e sim pela dinâmica sócio-espacial do
território em que se situam as organizações empresariais (Milani, 2005).
Alguns estudos demonstram, ainda, que a dificuldade em manter o diálogo entre
sociedade civil, empresas e governo reside na necessidade de se identificar lideranças
locais e promover a prática da cidadania por meio de argumentos legitimados e acessíveis a
toda sociedade, “estimulando-a a gerir e instituir mecanismos de auto-regulação por
estabelecimento de uma liderança que se fundamente em critérios transparentes, baseada
em uma forma de distribuição justa do poder local” (Fischer, Fedato & Belasco, 2005, p.
23).
Experiências em outras partes do mundo vêm mostrando, também, que o interesse
individual dos cidadãos na melhoria local só funciona, efetivamente, quando amparado no
avanço integrado do território (Sachs, Lopes, & Dowbor, 2010). Os autores afirmam,
ainda, que o acesso aos recursos para estruturação de entidades locais de promoção do
39
desenvolvimento poderia fornecer uma base organizacional para avanços mais
equilibrados. As entidades locais poderiam ser similares, por exemplo, aos Conselhos de
Direitos, às associações de bairros ou mesmo a grupos como o Comitê de
Desenvolvimento Comunitário (CDC), objeto de investigação desta pesquisa.
Nesse sentido, analisar o modo de convivência e colaboração dos atores nos
territórios torna-se relevante para o alcance do desenvolvimento sustentável, na medida em
que permite aliar parcerias intersetoriais e processos de liderança, criando mecanismos de
uma estratégia participativa de relacionamento entre diferentes grupos sociais que se
encontram no território (Clark & Full, 2010). Porém, é preciso analisar, também, a
convergência de interesses que possam alimentar os motivos que estejam influenciando
essa estratégia de colaboração participativa no território (Armistead, Pettigrew, & Aves,
2007). Essa colaboração participativa pode ser compreendida como uma dinâmica na qual
o cidadão se envolve na decisão e assume o compromisso da execução das ações, de forma
contínua e corresponsável com aqueles que também participaram do processo. Porém,
acredita-se que o desenvolvimento sustentável será alcançado, quando permitir a sua
apropriação pelas comunidades, sendo que a mobilização dessas capacidades seria vital
para, efetivamente, gerar um desenvolvimento participativo (Sachs, Lopes, & Dowbor,
2010).
Algumas abordagens e estudos no campo das ciências sociais estão adotando a
noção de governança no âmbito da participação social, destacando o papel dos cidadãos na
colaboração do processo sócio-político, desde a identificação dos problemas até a
avaliação dos resultados (Tenório, 2004). Segundo Fischer (2002), a ideia que dá
significado e caracteriza uma ‘boa gestão’ é a de governança. A noção de boa governança
vem intrinsecamente associada à capacidade governativa, passando a ser requisito
indispensável para um desenvolvimento sustentável, na medida em que permitiria a
40
incorporação ao crescimento econômico das dimensões da equidade social e da promoção
dos direitos humanos (Costa, 2008).
Originalmente, o termo governança foi utilizado, na década de 1930, em análises no
âmbito das empresas. A partir da década de 1970, a expressão foi utilizada no âmbito de
governo, para tratar de análises da capacidade de governabilidade e gestão de recursos
públicos (Cançado et al., 2013). Porém “na última década do século XX, a abordagem
ampliou-se ainda mais, passando a ser focalizada tanto na capacidade do Estado quanto da
iniciativa privada e da sociedade civil como atores do desenvolvimento” (Cançado et al.,
2013, p. 324). A governança, enfatizada pela natureza democrática, abrangeria os
“mecanismos de participação, de formação de compromissos ou pactos e de envolvimento
da sociedade civil no processo de desenvolvimento” (Cançado et al., 2013, p. 325).
Historicamente, o termo governança foi resgatado no final da década de 1980 pelas
agências internacionais de auxílio ao desenvolvimento, ligadas ao Banco Mundial
(Carrion, & Bauer, 2011). Nesse sentido, a governança tem sido considerada um termo
plural, que “compreende não apenas a substância da gestão, mas a relação entre os agentes
envolvidos, a construção de espaços de negociação e os vários papéis desempenhados
pelos agentes do processo” (Tenório, 2004, p. 2).
Pimentel e Pimentel (2010, p. 15) sugerem que a governança seja tratada, também,
como governança territorial, e enfatizam a importância da ação coletiva organizada como
uma estratégia de articulação dos atores sociais, alinhada com princípios participativos e
democráticos. Já a governança territorial, segundo os autores, pode ser vista como uma
forma de provocar os atores sob a ótica do espaço em que atuam e vivem, e articulá-los
para gerenciar coletivamente os bens públicos (Pimentel & Pimentel, 2010). Ao citar o
termo governança territorial não se está considerando somente os atores que atuam ou
residem num determinado território, e sim “os atores com poder de intervenção no
41
território, oriundos de outras escalas territoriais, que intervêm no processo de
desenvolvimento e construção do espaço local” (Cançado et al., 2013, p. 332).
Entretanto, a governança demanda maiores esclarecimentos e problematização,
particularmente, no âmbito das perspectivas de ação coletiva, que buscam romper as
fronteiras da vida privada para promover o bem comum. Trata-se de uma “categoria
analítica, associada a conceitos como participação, parceria, aprendizagem coletiva,
regulação, sinônimo de ‘bom governo’, enfim, um guarda-chuva para as boas práticas [...]
de desenvolvimento local e regional” (Fisher, 2002, p. 26).
Quando se trata de governança, refere-se a uma forma compartilhada de governo
e/ou gestão como uma nova arquitetura de articulações sociais, que pode ser associada às
parcerias de diversos tipos, convênios entre diversas instituições, consórcios
intermunicipais, acordos, contratos ou até simplesmente um espaço informal de
articulação. O fato é que o ponto chave de renovação da governança é a decisão conjunta e
participativa de atores que, até então, agiam isoladamente (Dowbor, 2002). A governança
compartilhada é interpretada, neste estudo, como um fenômeno capaz de gerar uma gestão
social pautada pelo diálogo entre os diferentes atores representantes das três esferas da
sociedade (Estado, empresas privadas e sociedade civil).
Experiências pelo mundo têm mostrado que o interesse individual das pessoas por
seu progresso opera melhor, quando ancorado no desenvolvimento integrado do território
(Sachs, Lopes, & Dowbor, 2010). Conforme o Relatório Mundial sobre o Setor Público,
elaborado pelas Nações Unidas em 2005, houve a evolução de uma visão tradicional da
administração pública para uma visão mais moderna (Tabela 2), que o relatório chama de
governança participativa ou responsive governance (Sachs et al., 2010).
A responsive governance, que traduzimos aqui por governança participativa, está
baseada numa proposta mais pública, onde as chefias escutam melhor o cidadão, e
onde é a participação cidadã, através de processos mais democráticos, que assegura
42
que os administradores sejam mais eficientes, [...] mais afinados com o que deles se
deseja. É a diferença entre a eficiência autoritária por cima, e a eficiência
democrática pela base. A eficiência é medida não só no resultado, mas no processo.
(Sachs et al., 2010, p. 10).
No Quadro 2 são apresentadas diferentes abordagens orientadoras da gestão
pública, com suas implicações para a governança e a relação estabelecida entre Estado e
sociedade.
Quadro 2
Evolução da noção de governo
Administração pública Nova gestão pública Governança participativa
Relação Cidadão-Estado
Obediência Credenciamento Empoderamento
Responsabilidade da
Administração Superior
Políticos Clientes Cidadãos, atores
Princípios Orientadores Cumprimento
de leis e regras Eficiência e resultados
Responsabilidade,
transparência e
participação
Critério para Sucesso
Objetivos quantitativos Objetivos qualitativos Processo
Atributo Chave
Imparcialidade Profissionalismo Participação
Fonte: UN, World Public Sector Report (2005, p. 7).
Na definição dos rumos do desenvolvimento do território, pressupõe-se que deve
haver um estímulo para a participação e articulação de relações intersetoriais de diálogo, de
forma a canalizar a participação dos atores em espaços públicos, como fóruns, conselhos e
assembleias, e influenciar as dinâmicas sociais para que se complementem e se reforcem
mutuamente. A partir daí, a governança participativa pode acontecer nos espaços onde há
concentração de interesses para a tomada de decisão, garantindo que a participação não se
circunscreva ao âmbito de um determinado projeto. Trata-se, pois, de
uma evolução que busca a construção de uma capacidade real de resolução de
problemas através das pactuações necessárias com a sociedade, pois realmente
existente. Esta sistematização de tendências mundiais vem dar maior credibilidade
43
aos que lutam pela reapropriação das políticas pela cidadania, na base da sociedade,
em vez da troca de uma solução autoritária por outra. (Sachs et al., 2010, p. 11).
Por esse contexto, o local vem se tornando mais valorizado, e por meio da
governança, a própria sociedade vem conquistando espaços, e sendo chamada a conduzir
os próprios rumos em busca do desenvolvimento sustentável. Esse protagonismo pode
ampliar o olhar dos atores sociais para além do município, o que possibilitaria entender as
dinâmicas da cidade sob uma ótica de território. O processo contínuo de governança
poderia garantir, ainda, a transparência e a legitimidade em um sistema compartilhado, no
qual o capital social e a confiança se perpetuem e se reforcem.
Nesta busca, talvez seja possível identificar as formas de colaboração com que
diferentes atores possam desenvolver um senso de liderança e autonomia em relação às
ações desenvolvidas no território e, também, vislumbrar novas maneiras de articular
alianças, unir esforços e responsabilidades em uma governança compartilhada para
alcançar o desenvolvimento sustentável (Selsky, & Parker, 2005).
2.2 Parcerias intersetoriais: modelos de análise, perspectivas e desafios
Em vez de buscar uma unidade utópica, precisamos valorizar
relações sociais que não anulem as diferenças3.
RICHARD SENNETT
Ao longo de vinte anos, estudiosos têm notado um significativo aumento da
consolidação de parcerias intersetoriais, principalmente, nos âmbitos da governança
pública em estados e municípios (Silvia, 2011). Como resultado das falhas na prestação de
serviços sociais e da falta de boa governança em diferentes países, governos têm estado
3 Frase registrada em entrevista com Richard Sennett, por telephone, para O Globo, em 11 de agosto de 2012.
Recuperado de http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2012/08/11/temos-que-valorizar-diferenca-
entrevista-com-richard-sennett-459740.asp.
44
sob pressão, havendo expectativas, cada vez mais elevadas, para preencher tais lacunas
(Amadi, & Abdullah, 2011). Com isso, nas últimas décadas, a parceria intersetorial tem
sido considerada por organismos internacionais, governos e OSC, bem como por parte da
literatura acadêmica, como um dos principais fatores de interlocução para governança e
formulação de políticas públicas em escala local (Milani, 2008; Silvia, 2011).
O uso de termos como ‘rede’, ‘alianças’, ‘cooperação’, ‘colaboração’ e
‘participação’ aparecem em contextos bem semelhantes aos da parceria, sendo que alguns
autores consideram os termos ‘parceria’ e ‘colaboração’ também como sinônimos
(Armistead, Pettigrew, & Aves, 2007). Selsky & Parker (2005) citam que diversos autores
relacionam ‘parceria’ com diferentes denominações como ‘parcerias sociais’, ‘parcerias
intersetoriais’, ‘alianças sociais’, ‘alianças para problemas de gestão’ e ‘parcerias
estratégicas’, sendo que esses termos podem ser usados, ainda, para descrever,
ambiguamente, uma parceria com qualquer entidade ou método de trabalho (Armistead,
Pettigrew, & Aves, 2007).
Diante da multiplicidade de significados em torno do termo ‘parceria’, torna-se
importante, então, delimitar os tipos focados neste estudo. Neste sentido, para efeito desta
pesquisa, a ‘parceria’ será considerada como o mecanismo de colaboração que envolve
alguma forma de governança por meio de prática ‘intersetorial’ e ‘inter-organizacional’
(Armistead, Pettigrew, & Aves, 2007), ou seja, que envolva interação social entre atores
representantes dos múltiplos setores da sociedade (setor público, setor privado e setor da
sociedade civil) para o alcance de objetivos voltados ao desenvolvimento sustentável no
território. Assim, o termo ‘parceria intersetorial’ será tratado como o mecanismo de
colaboração que envolve alguma forma de governança construída de forma compartilhada
entre atores de esferas distintas da sociedade (governo, mercado e sociedade civil)
(Armistead, Pettigrew, & Aves, 2007). Vangen & Huxham (2003, p. 63) enfatizam: “é
45
mesmo uma terminologia de sentido básico sujeita a várias interpretações, não havendo
consenso sobre o seu significado, podendo ser entendido como parceria, aliança,
colaboração, rede ou relação interorganizacional”.
O levantamento da literatura científica indica que as parcerias intersetoriais
apresentam múltiplos sentidos, sendo que alguns pesquisadores apontam para a
necessidade de estudos sobre experiências concretas de parcerias para avançar a
compreensão desse fenômeno (Teodósio, 2008; Selsky, & Parker, 2005). Apesar desta
relevância, há relatos que apontam para a pouca informação, orientação ou evidências
sobre como as parcerias funcionam na prática, e como elas administram os problemas
internos que podem influenciar na sua eficácia (Pettigrew, 2003). Além disso, o autor
chama a atenção para a complexidade da ação dos gerentes da parceria, animadores,
facilitadores ou agentes de mudança que, normalmente, estão envolvidos na administração
dessas relações. Nesse contexto, as questões de poder, a adesão aos movimentos sociais ou
a orientação da própria natureza do trabalho das parcerias estão presentes e se mostram
como elementos relevantes de análise (Pettigrew 2003).
Selsky e Parker (2005) citam que as parcerias entre governo e organizações da
sociedade civil podem não ser suficientes para dar conta dos problemas de
desenvolvimento sustentável dos territórios. Segundo os autores, o vínculo com o setor
empresarial privado pode permitir uma maior abrangência e eficácia das parcerias. Um
estudo da Aliança Copoava (2005) concluiu que praticamente inexiste ação de
desenvolvimento social que não dependa da interação e interdependência de atores das três
esferas da sociedade. Isso justificaria a relevância de se estudar as parcerias intersetoriais,
resgatando a dimensão das três esferas nas discussões sobre desenvolvimento sustentável
(Teodósio, 2008; Selsky, & Parker, 2005).
46
A necessidade de fomentar a participação dos diferentes atores da sociedade,
conforme Milani (2008) argumenta, vem se tornando uma diretriz essencial no
desenvolvimento das políticas públicas. Para o autor, “a manutenção e o fortalecimento da
democracia passam não somente pelas estruturas da institucionalidade, como também pela
existência de cidadãos informados e atentos ao que ocorre na política” (Milani, 2005, p.
15). Naturalmente, essa participação pressupõe a realização de ações coletivas, e isso
exigirá, de uma forma ou de outra, que os participantes dessa ação sejam induzidos a
cooperar (Fligstein, 2007, p. 62). Isto porque, segundo Dowbor (2002, p. 49): “Não se trata
mais de derrotar os outros, de obter sucesso à custa dos outros, mas de somar o máximo de
proveitos para o conjunto”.
De acordo com Fligstein (2007), ao se concentrar na construção de ordens sociais
locais, a teoria dos campos se propõe analisar a maneira como grupos específicos chegam a
definir um domínio social. Assim, poderia oferecer uma visão de como as ordens locais
serão criadas, sustentadas e transformadas. Conforme esse mesmo autor, os “campos se
referem a situações nas quais grupos organizados de atores se reúnem e desenvolvem suas
ações recíprocas face a face” (Fligstein, 2007, p. 65), sendo influenciados pela ação
cultural de três maneiras: (i) pelas práticas sociais preexistentes; (ii) pelo ‘conhecimento
local’ imerso nas relações de poder entre os grupos; e (iii) pelas estruturas cognitivas,
“semelhantes ao que Bourdieu chama de habitus4, para analisar os significados das ações
dos outros” (Fligstein, 2007, p. 64).
Desta forma, Fligstein (2007) realiza uma conexão entre a teoria dos campos de
Bourdieu (1998) e a teoria da habilidade social, criando um caminho possível para a
formação e a consolidação de parcerias. Na medida em que a vida social se constrói e
4 Segundo Bourdieu, a experiência dos agentes sociais é estruturada externamente pelo campo e internamente
pelo habitus. “O conceito de habitus é definido como um sistema de disposições duráveis e transferíveis, que
incorpora todas as experiências passadas e funciona como matriz estruturante das percepções, das
apreciações e das ações dos atores sociais” (Bourdieu, 1983, p. 44).
47
reconstrói, o processo emerge e as identidades, os interesses e as ações podem ser
consolidados, pressupondo que todos os seres humanos tenham alguma habilidade social,
quando atuam em grupo (Fligstein, 2007).
Algumas parcerias, porém, ultrapassam o âmbito das organizações, provocando
turbulências e consequências inesperadas, que podem provocar, inclusive, a necessidade de
um resgate dos fatores que norteiam os processos de colaboração. É possível, que alguns
atores sejam socialmente mais hábeis em obter cooperação e colaboração do que os demais
envolvidos, construindo coalizões políticas mesmo com atores mais poderosos (Fligstein,
2007).
Neste estudo, a colaboração pode ser interpretada como “um arranjo social
temporário no qual dois ou mais atores sociais trabalham em conjunto para um fim
comum, contemplando a transferência de materiais, ideias e/ou relações sociais para atingir
esse fim” (Selsky, & Parker, 2005, p. 852). De fato, geralmente, as parcerias intersetoriais
surgem a partir da cooperação e colaboração entre os atores sociais, que devem estar
atentos para que as ações locais de desenvolvimento sustentável não ocorram com
monopólio de poder pelo setor público ou pelo setor privado (Teodósio, 2008; Tenório,
2004). Em vista disso,
[...] as melhorias na provisão de políticas e projetos sociais advindas das parcerias
intersetoriais nem sempre se fazem acompanhadas de avanços na construção da
cidadania e de uma esfera pública mais plural e democrática no cenário brasileiro.
(Teodósio, 2008, p. 8).
No desafio de alcançar níveis virtuosos de parceria entre multi-atores, Clark e Full
(2010) sugerem um modelo de processo para a gestão de colaboração estratégica,
denominado Multi-Organizational Cross-Sector Social Partnerships (CSSP). Segundo os
autores, o CSSP está se tornando cada vez mais comum como abordagem para analisar
48
problemas ecológicos e sociais complexos, que excedem a capacidade de gestão das
organizações quando assumidos isoladamente (Clark, & Full, 2010).
Neste estudo, a noção de colaboração estratégica foi adotada, a princípio, como
collaborative strategy, recebendo, em seguida, a denominação shared meta-strategy or
collaborative strategy. Trata-se de uma colaboração inter-organizacional, que pode, ou
não, ser intersetorial (Clark, & Full, 2010). Conforme os autores, collective strategy é
definida como a formulação conjunta de políticas e implementação coletiva por membros
inter-organizacionais, enquanto a collaborative strategy é definida como uma estratégia
para a parceria, consistindo de ‘meta-missão’ e ‘meta-objetivos’ (Clark & Full, 2010).
Neste sentido, o processo de gestão estratégica colaborativa apresentada por Clarke
e Fuller (2010) envolve a formação de parcerias entre organizações que desenvolvem
atividades coletivas e/ou conjuntas, formulação de um plano estratégico de colaboração e
construção de táticas de implementação, que seriam empregadas tanto no sentido da
colaboração como da análise de organização do processo. Desta forma, a formação da
parceria não necessitaria ocorrer em uma única fase, pois os parceiros poderiam ser
incluídos em qualquer fase, conforme demonstra o Quadro 3.
49
Quadro 3
Definições de estratégia coletiva, estratégia de colaboração e meta-estratégias
compartilhadas
Astley and Fombrun (1983)
Huxham (1993)
Clarke and Fuller (2010)
Termos
utilizados
Estratégia coletiva
Estratégia de meta-
estratégia
compartilhada ou
colaborativa.
(intercambiável)
Estratégia colaborativa
Definição
“A formulação conjunta de
políticas e implementação de
ação coletiva
interorganizacional pelos
membros.” (Astley, 1984, p.
526)
A declaração de
direção para a aliança
colaborativa consiste
de uma meta-missão e
de meta-objetivos.
(Huxham, 1993)
A determinação conjunta da visão e
metas de longo prazo e colaboração
para tratar um determinado
problema social, juntamente com a
adoção de dois ciclos de formação
organizacional e coletiva, ambos
com alocação de recursos para a
realização desses ciclos de ação.
Propósito
O propósito de uma
organização envolvendo-se
numa resposta colaborativa é
absorver a variação
apresentada pelo seu
ambiente
interorganizacional.
O objetivo de uma
organização
envolvendo-se é para
resolver um meta-
problema comum.
O objetivo de uma organização
envolvendo-se é para resolver um
problema social comum.
Nota. Fonte: Clarke & Fuller, 2010, p. 87.
Esse modelo de processo para a gestão de colaboração estratégica nas parcerias
intersetoriais, sugerido por Clarke e Fuller (2010), chama atenção pelo seu caráter
estrutural de agregação de esforços dos parceiros. Porém, os autores alertam para o fato de
que, no plano da colaboração, os arranjos sociais não captam tudo o que é relevante na
parceria em si, exigindo uma compreensão mais ampla de colaboração, que envolva a
apreciação do que está acontecendo, também, no nível social.
Para criar vantagem colaborativa, outros estudos indicam, ainda, que os envolvidos
precisariam se engajar em um processo contínuo de fortalecimento dessa colaboração. O
ponto central desse processo seria a confiança (Vangen, & Huxham, 2003), fator
50
fundamental para determinadas dinâmicas presentes na parceria, como a busca e
manutenção de legitimidade (Selsky, & Parker, 2005). Muitas iniciativas aspirariam ganhar
vantagem colaborativa, operando parcerias através das fronteiras organizacionais e
setoriais, no entanto, tais colaborações seriam difíceis de gerir, aumentando, nesses casos,
a probabilidade de fracassos (Vangen, & Huxham, 2003). Isso sugere que a obtenção de
uma ação coletiva deve acontecer em torno da vida social local, o que requer que os
participantes dessa ação sejam convencidos a cooperar (Fligstein, 2007).
Por vezes, a origem intersetorial de muitas parcerias articula organizações com
diferentes culturas e formas de trabalho que, se por um lado pode resultar em mais eficácia,
por outro pode gerar conflitos (Armisted, Pettigrew, & Aves, 2007). Nesse caso, os
processos de colaboração podem se tornar difíceis de ser operacionalizados e gerenciados,
porque a ação coletiva precisaria de conexão entre as diferenças, já que envolveria um
diálogo aberto para a conciliação dos vários interesses e, ainda, o respeito à diversidade, o
que nem sempre se faz presente em grupos de multi-atores (Ospina, & Shall, 2001).
Para as organizações de sociedade civil, por exemplo, os governos são considerados
parceiros fundamentais, mas difíceis de lidar. Já as empresas, embora sejam mais ágeis nos
processos, tendem a transformar os projetos sociais das OSC em produtos, e veem com
reservas a falta de transparência e a dificuldade de diálogo na gestão das organizações
sociais.
Para avançar desse estágio, respeitar as diferenças naturais entre os atores seria o
primeiro passo para uma parceria bem-sucedida (Skwara, 2005). O que se espera,
entretanto, está relacionado com a existência de um processo de liderança pautado por um
senso de responsabilidade baseado na participação direta dos atores envolvidos (Brugué,
2009), na realização de uma governança transparente e aberta (Ospina, 2006) e na geração
de laços de confiança entre os parceiros (Armisted, Pettigrew, & Aves 2007; Vangen, &
51
Huxham, 2003). Quando se considera a confiança como alicerce das parcerias
intersetoriais, torna-se necessário um exame mais detalhado da distribuição e do equilíbrio
de poder, tanto no âmbito de parcerias como em contextos de incorporação de outros
parceiros (Selsky, & Parker; 2005).
As parcerias intersetoriais tornam-se, então, o primeiro passo em direção a
conquistas de domínios políticos e estruturação de projetos para resolver questões sociais
complexas. Porém, não podem ser consideradas como uma ação simples que solucione
todos os males da sociedade (Pettigrew, 2003). Apesar de sugerir um caráter de fluidez nos
processos, é preciso considerar que há muitas formas de parceria que, normalmente, são
caracterizadas pela incerteza, ambiguidade e descontinuidade dos laços estabelecidos
(Pettigrew, 2003).
Portanto, o fato é que as dificuldades existem e as realizações através de parcerias
intersetoriais, na prática, ganham cada vez mais importância como um elemento político
essencial para a governança compartilhada e fundamental para o desenvolvimento
endógeno de um determinado território (Selsky, & Parker, 2005). Entretanto, o
engajamento entre os múltiplos atores da sociedade precisa ser construído, pois surgem
como uma demanda emergente, para resgatar a dimensão dos atores da sociedade com foco
em processos sociais mais amplos para a governança compartilhada.
Pela ótica da governança, pesquisas indicam, também, que existe pouca atenção
para o estabelecimento de regras pelas quais os processos e a governança das parcerias
devam ser realizados, alocados e apoiados, sendo que tais questões são, muitas vezes,
ignoradas ou deixadas de lado (Pettigrew, 2003). São processos que precisam ser
estudados, a fim de se compreender a forma como as iniciativas colaborativas podem
proporcionar ganhos de diferentes magnitudes e sentidos para os diferentes atores
envolvidos (Vangen, & Huxham, 2003).
52
Na verdade, ao se construir uma parceria de qualquer natureza, normalmente, tem-
se a expectativa da obtenção de alguma ‘vantagem colaborativa’ (Vangen, & Huxham,
2003). Trata-se de pessoas que se unem em parceria voluntária ou obrigatória, para
contribuir com recursos variados, alcance de metas e objetivos comuns (Armisted,
Pettigrew, & Aves, 2007), e que, em conjunto, acreditam que poderão agregar mais valor
na soma do que em separado. Contudo, considerando que as necessidades sociais e
humanas são complexas e multidimensionais, os atores sociais precisariam desenvolver a
necessária habilidade social para atuar, permitir que os grupos funcionem, induzir a
cooperação entre os atores e definir os interesses e as identidades coletivas, que
permitiriam o surgimento e a reprodução das instituições (Fligstein, 2007).
Segundo Selsky e Parker (2005), as parcerias intersetoriais podem ser
caracterizadas a partir de três plataformas conceituais, que se distinguem por seus objetivos
e orientações de resultados, denominadas: (i) Ressource Dependende Platform; (ii) Social
Issues Platform; e (iii) Societal Sector Platform. A primeira, Ressource Dependende
Platform – está relacionada com uma parceria de natureza organizacional, que visa
resolver problemas ou demandas das partes interessadas, para manter uma vantagem
competitiva e servir aos seus próprios interesses. As parcerias dessa plataforma seriam
concebidas de maneira instrumental, a curto prazo, e visariam atender uma necessidade
organizacional sob o pressuposto de atender uma necessidade social, e ainda, um status
quo (Selsky, & Parker, 2005).
A plataforma Social Issues Platform – explora a natureza e evolução das questões
sociais para a resolução de problemas que envolveriam todas as esferas da sociedade. Com
a consciência global estimulada pelas pressões de grupos de interesse e da opinião pública,
as atenções sobre a necessidade de colaboração entre governo, empresas e atores sociais se
tornariam mais eminentes (Selsky, & Parker, 2005). Nesse contexto, estariam incluídos os
53
mecanismos de colaboração e a responsabilidade social corporativa, com o intuito de
investigar o porquê e como as empresas devem contribuir com seus recursos para resolver
grandes problemas sociais e públicos. “Na origem dessa dinâmica, se encontrariam as
lacunas entre expectativas e performances das organizações frente a turbulências no
ambiente, que seriam inesperadas, porém muito frequentes” (Teodósio, 2008, p. 123),
sendo que algumas delas se manifestariam como ‘metaproblemas’, originando a
necessidade de tratá-los por meio de esforços multi-intitucionais de colaboração,
obrigatórios ou voluntários, para enfrentá-los com sucesso (Selsky, & Parker, 2005).
A terceira plataforma, Societal Sector Platform – trata das fronteiras estabelecidas
entre governo, empresas e sociedade civil, para o enfrentamento de questões sociais num
tipo de governança híbrida. “A indefinição intersetorial ocorre, quando uma organização
ou um setor adota ou captura um papel ou função tradicionalmente associado a outro setor,
como quando os governos terceirizam funções de bem-estar social para entidades sem fins
lucrativos ou empresas” (Selsky, & Parker, 2005, p. 852)5. Em síntese, essa plataforma
examina as diferenças dos principais setores sociais, tais como valores, motivações e
modos de operação, e a forma como consolidam (ou não) uma parceria através de uma
governança permanente e de longo prazo.
[...] Tal discussão fornece vetores importantes de análise sobre os papéis
tradicionais de cada ator em sua esfera, e as tensões e jogos de poder envolvendo a
mudança e/ou permanência de sua práxis em direção ao encontro ou desencontro
com organizações de outras esferas, marcadas por diferentes racionalidades e
práticas. (Teodósio, 2008, 124).
Sobre as plataformas descritas por Selsky e Parker (2005), é interessante perceber
que as parcerias podem acontecer em contextos distintos e, também, de forma
complementar, se for considerado que seus objetivos podem ser adaptados e
5 “Intersectoral blurring occurs when an organization in one sector adopts or captures a role or function
traditionally associated with another sector, such as when governments contract out social welfare functions
to nonprofits or businesses”. (Selsky, & Parker, 2005, p. 852).
54
reconfigurados para atender as demandas sociais. Na construção social da realidade, os
fenômenos serão acompanhados pela interação e reiteração de atores, dentro e fora de suas
esferas de ação (Fligstein, 2007). Quando isso é alcançado, acredita-se que a colaboração
nas parcerias pode adquirir um caráter participativo e democrático, com uma visão
interacionista e, ao mesmo tempo, estratégica, baseada na adesão de atores com motivação
para a ação coletiva (Fligstein, 2007).
O caso de Quebec, no Canadá, se destacaria por conta de seu modelo de
desenvolvimento sustentável 6
com envolvimento colaborativo de multi-atores, na
construção de uma realidade social. O modelo é conhecido como o Quebec Model
(Lévesque et al., 2012), e se caracteriza pela participação de uma pluralidade de agentes e
pela hibridização por meio de um arranjo econômico e social de empresas privadas, várias
e grandes empresas públicas e economia baseada em empresas cooperativas e sociais com
diversas formas de governança em uma ação cidadã (Lévesque et al., 2012).
Estes experimentos resultaram em uma relativa convergência de três esferas sócio-
econômicas: o privado, o público e os setores sociais. Conduzida às vezes pelo
governo, às vezes por parte dos empregadores e às vezes por organizações de base
da sociedade civil, essa convergência contribuiu para a implementação de um modo
baseado em parceria de governança. (Lévesque et al., 2012, p. 11)7.
Por meio de ‘fórmulas de cooperação’, a ação cidadã em Quebec começou quando
os cidadãos tomaram a iniciativa da criação de serviços, ao invés de simplesmente fornecê-
los, permitindo que as alianças entre os usuários dos serviços e os profissionais de cada
especificidade se reconfigurasse nas relações de produção e consumo. Essa estratégia
provocou um realinhamento das ações de cidadania e um sentido ativista da sociedade,
6 Lévesque et al (2012) utiliza, no artigo original, o termo ‘desenvolvimento local’. Mas para efeito desse
estudo, considerer-se-á o ‘local’ com o mesmo sentido conceitual de ‘desenvolvimento sustentável’, por
entender que tal desenvolvimento acontece necessariamente no território, ou seja, no local. 7 “Those experiments resulted in a relative convergence of three socio-economic spheres: the private, the
public, and the social sectors. Driven at times by the government, at times by employers and at times by civil
society based organisations, this convergence contributed to the implementation of a partnership-based mode
of governance.” (Lévesque et al., 2012, p. 11).
55
com enfretamento para solucionar as demandas sociais (Lévesque et al., 2012). Os atores
desse processo são pessoas ligadas aos movimentos sociais (grupos de mulheres, grupos
comunitários, grupos ambientalistas), aos sindicatos, às administrações públicas e
representantes das comunidades locais.
Conforme relatado por Lévesque et al. (2012), a partir da implementação da
capacidade de agir e participar nas tomadas de decisão sobre situações específicas no
contexto público e social de Quebec, duas modalidades de trajetórias de movimento social
surgiram e, mais tarde, se convergiram numa estratégia em torno da ideia de
desenvolvimento sustentável. Tais trajetórias foram o ‘movimento regional’ e ‘movimento
urbano’, considerados, pelos autores, como um exemplo de inovação social (Lévesque et
al., 2012).
Os principais resultados dessa mobilização em Quebec consistiram no
desenvolvimento de uma estratégia, definida como Economic Community Development, e
na criação de uma organização dedicada a aplicá-la em outras regiões: a Corporations de
Développement Ééconomique Communautaire (CDEC) (Lévesque et al., 2012). Os
objetivos das CDEC’s: (i) promover a colaboração entre os atores em um bairro; (ii)
colaborar para o lançamento de projetos de desenvolvimento baseados em parcerias; e (iii)
apoiar o empreendedorismo local, para facilitar a criação de empregos e promover a
empregabilidade e qualificação aos desempregados, visando reintegrá-los no mercado de
trabalho em menor tempo possível. Segundo Lévesque et al. (2012), essa estratégia
repercutiu em diversos debates, resultando em grande mudança na ação comunitária,
conforme demonstrado no Quadro 4.
56
Quadro 4
Evolução e principais características do Modelo de Quebec
Períodos dos
Eventos
eventos
principais
Modo de
Governança
Atores Centrais
Atores Locais
Espaço para Orien-
tação Estratégica
Ações baseadas na
Sociedade Civil
Antes de 1960/
Nacionalismo
Defensivo
· Governança
Autoritária
· Igreja
. Empresas
Privadas
·Paróquias
.Empresas privadas
Economia Social
Tradicional
(Cooperação e
Mutualismo)
)
· Exploração dos
recursos naturais
· Reinvidicações de
de direitos por
cidadãos e
trabalhadores
1960/
Revolução
Silenciosa
·Governança
Centrada no
Estado
·Governo
Provincial
.Empresas Estatais
e Órgãos Públicos
·Desenvolvimento
Regional orientado
para políticas
públicas
.Comunidades
Urbanas nas
principais cidades
·Regionalização
Administrativa
.Instituições de
Ensino
.Serviços de
Saúde
.Organizações de
Saúde da
Comunidade
.Cooperativas de
Habitação
.Movimento Rural
1980/
Crise do
Fordismo
· Consenso
Orientado
Coordenação e
Parceria
Colaborativa
·Governo
Provincial
.Nova Economia
Social
.Fundos
Cooperativos para
o Desenvolvimento
Econômico
.Municípios do
Condado Regional
.Colaboração e
Conselhos de
Desenvolvimento
.Centros Regionais
de Desenvolvi-
mento Local
.Descentralização
e reconversão
econômica
.Política de Quebec
para as regiões
rurais
· Desenvolvimento
Econômico
Comunitário
Criação de
Emprego
Estratégia de
Combate à Pobreza
e à Exclusão Social
2003/
.Governo
Neoliberal
.Parceria
Público-Privada
·Corporações
Privadas
.Lobbies Privados
Políticos
Empresários
Indivíduos
.Reestruturação
dos Centros de
Desenvolvimento
Local
.Prestação de
contas
Estratégia centrada
no mercado
privado e nos
consumidores
Exploração do
Meio Ambiente
.Movimentos de
protesto
.Luta contra a
pobreza e a
exclusão
.Luta contra a
exploração anti-
ecológica do meio
ambiente.
Nota. Fonte: Lévesque, Harrisson, Fontan e Klein (2012, p. 21).
A inovação social realizada a partir do Quebec Model, destacou-se por três motivos:
(i) pela governança, ou seja, o progresso em termos de consulta, cooperação, parceria,
reconhecimento das partes interessadas, democracia deliberativa e democracia direta; (ii)
pela (co)construção de políticas públicas, que se refere à participação de atores,
57
especialmente dos movimentos sociais, e ao desenvolvimento de políticas públicas; e (iii)
pelas contribuições de diversos atores para a pluralidade de formas de economia (economia
privada, economia pública e economia social), além das inter-relações e parcerias entre tais
setores econômicos (Lévesque et al., 2012), conforme demonstrado no Quadro 5.
Quadro 5
Inovações sociais no Modelo de Quebec e no desenvolvimento local
Modelo Quebec
Sub-Sistema de Desenvolvimento Local
Principais gatilhos
• crise fordista
• crise fiscal: retirada do setor público
• descentralização e responsabilização
das comunidades locais
• Adaptação à globalização
• Encerramentos, realocações e
redundâncias
• Crise de confiança no que diz respeito
ao sistema e às demandas para a
participação pública
• Exigência de autonomia para assumir o
comando
Principais atores
•Sindicatos
•Organizações de base
•Associações, Ministério Público,
administração pública, instituições
públicas
•Orientação de consenso para
entidades (fóruns, mesas redondas)
• Governo
•Negócios comunitários, empresários
• Sindicatos, economia social,
organizações comunitárias
Principais inovações
sociais
•Retorno dos movimentos sociais
• Oganizações que representam a
sociedade civil desempenha um papel
transversal e coordenação
• Papel estratégico da economia social
• Fundos da União para a criação de
emprego
• Apoio dos sindicatos a economia social
• Parceria entre empresas privadas,
estatais, fundos da União
• Governança regional e local
• Implementação de organizações
intermediárias
• Intermediação Vertical (governo /
atores locais) e horizontal (interações
inter-sectoriais)
• Serviços oferecidos por organizações
comunitárias
• Fundos da União, fundos comunitários
e fundos híbridos para o
desenvolvimento local
Principais desafios e
questões em pauta
• Transformação de parceria em
subcontratação
• Risco de aumentar a responsabilização
da comunidade, sem aumento de
recursos
• Respeito da missão das organizações
• Competição interterritorial de recursos
públicos e privados
• Polarização no desenvolvimento
territorial
• Relação entre a missão das
organizações de desenvolvimento e os
recursos atribuídos
• Integração social e territorial
Nota. Fonte: Lévesque, Harrisson, Fontan e Klein (2012, p. 24).
58
Nota-se que, para a evolução dos processos de inovação social consolidados em
Quebec, foram relatados alguns ‘gatilhos’, que provocaram a mudança de postura da
sociedade, como a crise de confiança no sistema. Essa experiência reforça, teoricamente, a
importância da participação ativa da sociedade civil para a construção, evolução e
consolidação das parcerias intersetoriais, visando o desenvolvimento sustentável. O
diferencial teria sido o desenvolvimento da capacidade dos cidadãos de atuar como
criadores e interlocutores de serviços públicos e como atores de movimentos sociais
organizados, influenciando positivamente as parcerias com os setores de governo e de
mercado (Lévesque et al., 2012).
Será que essa experiência poderia ser um exemplo que configura a presença de
habilidade social, governança compartilhada e de capital social na comunidade? Como
alcançar uma participação de cidadãos, de maneira tão engajada e eficaz, atendendo os
objetivos de diferentes campos sociais, também, em territórios de países periféricos e/ou de
desenvolvimento tardio?
Retomando o sentido da habilidade social dos atores envolvidos desenvolvido por
Fligstein (2007), é preciso considerar a influência do poder de convencimento necessário
para a mobilização daqueles que ainda se mostram distantes do foco central do movimento
social, ou que ainda não compartilham, necessariamente, dos mesmos interesses do grupo.
“Isso pode ser feito, persuadindo os outros a aceitar certos valores prioritários, ou
convencendo-os de que o que ocorrerá estará de acordo com seus interesses, pelo menos de
certa forma” (Fligstein, 2007, p. 68). É possível que se questione o uso da expressão
‘persuadir os outros’ por Fligstein (2007), o que poderia indicar meios pouco democráticos
de participação social. Porém, o autor explica que a criação de instituições surge como
resultado da interação social entre atores que, a princípio, se confrontam em campos ou
59
arenas com regras preexistentes e distribuição de recursos como fontes de poder (Fligstein,
2007).
[...] Uma vez existentes, as instituições tanto capacitam quanto coagem os atores
sociais. Atores privilegiados podem utilizar as instituições para reproduzir sua
posição. Os atores podem usar as instituições existentes para fundar novas arenas
de ação. Atores sem recursos são, na maioria das vezes, coagidos por instituições,
mas, em certas circunstâncias, podem utilizar as regras existentes de forma não
planejada para criar novas instituições. (Fligstein, 2007, p. 63).
Esse cenário nos alerta para os mecanismos que podem existir entre as relações dos
atores sociais nas parcerias, pois não é raro imaginar a difícil tarefa de interagir e cooperar
com aqueles que diferem nas intenções e nos interesses de participação coletiva. Neste
sentido, é possível que a formação e experiência prévia dos integrantes que compõem as
parcerias possam favorecer a boa governança por meio de uma aprendizagem social (Reed
et al., 2010). Os autores definem a aprendizagem social como um meio para “alcançar uma
solução com ação em situações complexas e incertas". Trata-se de auxiliar a formação de
agentes sociais, para que sejam capazes de: (i) demonstrar que ocorreu uma mudança no
entendimento dos indivíduos envolvidos; (ii) demonstrar que esta mudança vai além do
indivíduo e dos âmbitos sociais; e (iii) promover interações sociais e processos entre atores
em uma rede social (Reed et al., 2010).
Weiss et al. (2002), em estudo no setor da saúde nos EUA, identificaram que a
liderança é um fator significativo para sinergia das parcerias, descrevendo o termo
‘sinergia’ como prática de colaboração que permite, inclusive, a participação de parceiros
para pensar em novas e melhores maneiras de atingir seus objetivos, para planejar e
integrar os seus programas, e para chegar a uma comunidade mais ampla (Armistead,
Pettigrew, & Aves, 2007). Para comprovar a eficiência dessa liderança nas parcerias,
algumas categorias de análise foram definidas por Weiss et al. (2002) como a capacidade
de: (i) assumir responsabilidade para a parceria; (ii) inspirar e motivar parceiros; (iii)
60
empoderar parceiros; (iv) realizar trabalhos que visem desenvolver uma linguagem comum
no âmbito da parceria; e (v) promover respeito e confiança na parceria (Armistead,
Pettigrew, & Aves, 2007). Tais fatores podem, ainda, estimular o compromisso e
evidenciar resultados importantes para o avanço das parcerias intersetoriais, possibilitando
a adaptação eficaz do processo ao longo do tempo. O processo se caracterizaria pela
convergência colaborativa dos atores em torno de determinadas agendas, inscrevendo-se
em ambientes socialmente construídos, nos quais diferentes interesses podem ser
alternados entre vários indivíduos e organizações, sem que isso resulte em desarticulação
dos processos de colaboração existentes (Teodósio, 2008).
Considerando a complexidade da realidade social na qual as parcerias são
construídas e reconstruídas continuamente (Teodósio, 2008; Selsky, & Parker, 2005), o
fenômeno da parcerias intersetoriais pode provocar uma interação entre os atores, capaz de
lidar com o discurso da colaboração e fortalecer as representações construídas em
processos de articulação social. Neste cenário, a parceria intersetorial tende a apresentar
sempre novos desafios para a participação daqueles que dela fazem parte (Ospina, 2006).
Para propiciar a construção de uma sociedade mais equitativa, uma tendência seria a
revitalização das parcerias entre Estado, empresas e organizações da sociedade civil, sem
as quais não se conseguiria reunir as competências necessárias para enfrentar problemas
sociais e ambientais complexos das sociedades contemporâneas (Aliança Copoava, 2005).
Tal visão dos fenômenos cooperativos também aparece nas abordagens sobre os
processos de liderança, quando entendida como uma construção social, e não como um
atributo do comportamento humano ou de determinadas organizações, isoladamente.
Paradoxalmente à abordagem organizacional e à dimensão restrita ao indivíduo, na
atualidade, o fenômeno da liderança tem sido ampliado e também estudado como um
processo de intervenção social que pode assumir um caráter impessoal, construído
61
coletivamente por meio de sistemas que possam alimentar parcerias intersetoriais ao longo
do tempo (Armistead, Pettigrew, & Aves, 2007). Essa abordagem será melhor elucidada e
discutida a seguir.
2.3 Processos de liderança: co-produção e cooperação social
Não acredito em líderes, acredito em pessoas.8
MANO BROWN
Há muito tempo o tema liderança vem sendo pesquisado e seus estudos podem ser
rastreados desde o final do ano de 1800, durante a Segunda Revolução Industrial (Silvia, &
McGuire, 2010). Até os dias atuais, a ênfase nos estudos sobre o tema, em grande parte da
comunidade científica, tem sido a identificação de atributos pessoais e características que
possam explicar ou prever a eficácia da liderança centrada no indivíduo (Silvia, &
McGuire, 2010). Essas abordagens atestam que um indivíduo deve ter um conjunto de
características e atributos que fará de si um líder ideal ou personalidade única.
Diferentemente desse viés, este estudo adota uma abordagem sobre liderança que
não se concentra sobre o indivíduo como protagonista, fazendo uma distinção entre os
conceitos de líder e liderança correspondentes às visões mais tradicionais do tema (Ospina,
2006). Tal perspectiva reforça a ideia da existência de um novo tipo de liderança, a saber,
aquela vista sob a ótica da participação social, distante, pois, daquela que seria remetida a
heróis em posição de autoridade (Ospina, 2006). Defensores dessa abordagem consideram,
inclusive, que a liderança com característica centrada nos atributos individuais esteja
ficando redundante e, por essa razão, a diferença entre líderes e seguidores tende a tornar-
se sem sentido (Armisted, Pettigrew, & Aves, 2007).
8 Em entrevista por Júlio Maria para o Jornal da Tarde, em 14 de dezembro de 2006. Recuperado de
http://www.assimassado.blogger.com.br/.
62
Ao longo do tempo, a abordagem da liderança esteve em constante mutação, em
razão, sobretudo, das diferentes demandas situacionais, dos novos contextos, das
concepções e das preocupações acerca do assunto (Van Wart, 2013). Com isso, o fator
liderança vem se tornando recorrente e muito pesquisado, conforme comprova o crescente
interesse acadêmico (Ospina; Foldy, 2010). Consequentemente, há uma quantidade
significativa de pesquisas sobre o tema, e uma infinidade de pessoas colocando em prática
a liderança. Porém, ainda existe desconexão entre esses dois mundos, segundo Ospina,
Godsoe, & Schall (2001). Os autores atestam, também, que os métodos de pesquisa que
dominam o campo de estudo da liderança, na atualidade, não se mostram úteis para
resolver os problemas cotidianos enfrentados pelos profissionais da área, principalmente,
em contextos que envolvem grupos com multi-atores da sociedade ou minorias que
trabalham em bases comunitárias.
Uma diversidade de pesquisadores, como por exemplo, Castro (2012), Silvia
(2011), Morris e Staggenborg (2010), Ospina e Foldy (2010), Silvia e McGuire (2010),
Ospina, Foldy e Goldman (2008), Teodósio (2008), Armistead, Pettigrew e Aves (2007),
Selsky e Parker (2005), Pettigrew (2003), Vangen e Huxhan (2003), Ospina e Shall (2001),
dentre outros, abordam os conceitos de liderança como processos não lineares, que podem
favorecer as parcerias intersetoriais, a participação social, a colaboração e a governança
participativa.
Na visão de alguns pesquisadores, a análise dos processos de liderança nas
parcerias também constitui tema recente e ainda pouco investigado (Armisted, Pettigrew,
& Aves, 2007). Os autores apontam para a existência de uma lacuna entre a teoria e a
prática dos processos de liderança no âmbito da participação social e pública e, também,
para a parca pesquisa e literatura sobre liderança em parcerias intersetoriais (Ospina,
Godsoe, & Schall, 2001; Huxhan, &, Vangen, 2001).
63
Diante das diferenças nas linhas de estudo sobre liderança, essa pesquisa adotará a
expressão ‘processo de liderança’ como uma dinâmica de construção social permanente,
criada e recriada por meio de parcerias intersetoriais que, pelo exercício do diálogo entre
grupos sociais de um determinado território, influenciam e são influenciados pela ideia de
que a liderança pode ser exercida por múltiplos atores, em vez de um indivíduo (Ospina, &
Shall, 2001). De acordo com essa proposta, a liderança será interpretada como um processo
pertencente ao sistema social que surge espontaneamente, e não como uma característica
ou um conjunto de qualidades que pertencem a um grupo de indivíduos da elite em
posições-chave no sistema. Tal concepção teórica defende que, ao invés de tudo ser da
exclusiva responsabilidade de um líder formal, a liderança se manifestaria em um grupo,
quando os seus integrantes enfrentam desafios para avançar em uma determinada agenda
ou tentam mudar alguma coisa, ou seja, surgiria como a capacidade do grupo de produzir
resultados, a partir dos processos de criação de sentido (Ospina, 2006). Sendo assim, a sua
abordagem tem como nível de análise as relações sociais em um determinado campo ou
esfera de vida social e não o comportamento dos indivíduos.
Com o objetivo de analisar as principais conclusões da literatura sobre liderança
organizacional, e identificar os importantes conhecimentos gerados para os líderes de hoje
em cargos administrativos no setor público, Van Wart (2013) cita algumas linhas de
pesquisa com diferentes nomenclaturas, tais como: (i) classical management and role
theory; (ii) transactional leadership theory; (iii) transformational leadership theory; (iv)
horizontal or collaborative leadership theory; e (v) ethical and critical leadership theory.9
Segundo o autor, embora pareça ser um campo muito discutido, cada teoria da liderança
inclui uma variedade de domínios e perspectivas que podem guardar desafios
9 (i) teoria da gestão clássica; (ii) teoria da liderança transacional; (iii) teoria da liderança transformacional;
(iv) teoria de liderança horizontal ou colaborativa; e (v) teoria da liderança ética e crítica (Van Wart, 2013).
(Tradução livre da autora).
64
investigativos que, ao longo do tempo, vêm promovendo mudanças significativas no
conceito de liderança (Van Wart, 2013). Tem-se, então, que os aspectos específicos da
liderança poderiam, por vezes, ser interpretados de forma simples se analisados
individualmente. Mas se seus elementos forem tomados sob a ótica de processos mais
amplos, a liderança se transforma, rapidamente, em um fenômeno de explicação complexa,
marcado por relações intensas e intrincadas (Van Wart, 2013). Neste sentido, a natureza da
liderança também pode surgir de forma complexa e ambígua, permeada por conflitos e
conciliações, encontros e desencontros entre os atores envolvidos (Ospina, 2006; Armisted,
Pettigrew, & Aves, 2007).
Como resultado de várias pesquisas, Van Wart (2013) apresenta um quadro da
abrangência de algumas linhas teóricas sobre liderança nas diferentes escolas, indicando os
principais autores de cada linha de pesquisa e seus legados para Academia, conforme
demonstrado no Quadro 6.
Quadro 6
Propósitos de liderança
Foco na
liderança
Alguns desafios
contemporâneos
A incidência da
escola sobre a
liderança
Teóricos e seus
modelos
Lições da Escola do
Pensamento
Liderando por
resultados
• LOSC – longo
prazo, estresse
fiscal, necessidade
de escolhas
difíceis
• A globalização e
a penetração de
altos níveis de
competição da
concorrência e os
valores de
mercado
• Teoria da gestão
• Fayol (1930), Gulick
e Urwick (1937) -
teoria da organização
• Hunt (1996) - teoria
dos sistemas
estratificados
• Vroom (1964) -
teoria da motivação.
• Há grandes
expectativas de líderes
para obter resultados.
• Liderança requer
educação e
treinamento de
desenvolvimento.
Líderes e
seguidores
• Aumento do
cinismo dos
funcionários
• Redução de
recursos para
compensar (por
Teoria da
liderança
transacional
• Hersey e Blanchard
(1972) - teoria da
liderança situacional
• House (1996; House
e Mitchell 1974) -
teoria da contingência
• Bons líderes
precisam ter certeza
de que os seguidores
têm o que precisam
para fazer o trabalho:
orientação e
65
exemplo, redução
de pacotes de
benefícios)
• Graen e Uhl-Bien
(1995) - teoria da
troca de membro líder
• Vroom e Jago
(1988) - teoria da
tomada de decisão
capacitação, incentivo
e apoio, participação,
motivação para a
realização orientada e
independência quando
altos níveis de
competência precisam
ser alcançados.
• Bons líderes não
podem se dar ao luxo
de ter grupos de
"fora".
• Os líderes precisam
incluir seguidores
tanto quanto
necessário na tomada
de decisão, e nada
mais.
Liderando nas
organizações
• A revolução
tecnológica e a
necessidade de
uma gestão virtual
e habilidades de
liderança
• Redesenhar
organizações e
sistemas para
atender
dramaticamente
diferentes
demandas públicas
Teoria da
liderança
transformacional
• Bass (1985) -
liderança de total
alcance
• Tichy e Devanna
(1986) - teoria da
mudança mestre
• Kouzes e Posner
(1987) - práticas de
liderança
• Conger (1989) -
liderança carismática
• Um papel grande e
importante dos líderes
é facilitar a mudança,
tanto a missão e visão
como os valores
culturais.
• A liderança
transformacional
raramente ocorre em
detrimento da
liderança transacional,
além de que, em geral,
é difícil de ser
alcançada, se a
transformação
transacional não
precedê-la.
• Os líderes não tem
que saber exatamente
o que mudar; devem
saber apenas que
existem diferentes
formas de alcançar a
mudança.
• Enquanto a liderança
transformacional
exige uma grande
dose de doação em
termos de paixão,
empenho, energia e
visão, há muitos
perigos para os líderes
cuja crença em si
torna-os egoísta.
Liderando
sistemas
• Desafios de
estruturas
organizacionais
baseadas em
equipe
• Desvendando o
consenso social
Teoria da
liderança
horizontal e
colaborativa
Kerr e Jermier (1978)-
teoria da liderança de
substitutos
• Katzenbach e Smith
(1993) - teoria de alto
desempenho da
equipe
• Às vezes, os líderes
se valem de sistemas
que não são
necessários. Deixá-los
atuar sozinhos,
quando estão
trabalhando bem a
delegação da liderança
66
• Crosby e Bryson
(2010) - teoria da
mudança social
• Heifetz (1994) -
teoria da liderança
adaptativa
pode ser melhor.
• A liderança
horizontal é cada vez
mais valorizada em
um mundo de
mudanças rápidas.
• A liderança
horizontal é cada vez
mais necessária
também fora da
organização, o que é
amplamente chamado
de "liderança
colaborativa".
Liderando
com valores
• Falta de
confiança nos
sistemas políticos
e administrativos.
• Confusão sobre o
paradigma a seguir
(por exemplo:
hierárquico,
baseado no
mercado ou em
colaboração).
Teoria da
liderança ética
• Ciulla (1995, 2004)
- liderança ética
• Avolio e Gardner
(2005) - liderança
autêntica
• Terry (1995) - tutela
• Kettl (2006) - teoria
da colaboração
• Cooper (1990) -
teoria da
responsabilidade
• Greenleaf (1977) -
liderança servil
• Os líderes
demonstram
integridade.
• Bons líderes sabem
de si e enfatizam o
positivo, o que é
muitas vezes chamado
de liderança
"autêntica" ou
"positiva”.
• Bons líderes sabem
como liderar através
de um serviço, com
espírito de sacrifício e
sustentabilidade.
Nota. Fonte: Van Wart (2013, p. 55).
Percebe-se, nesta abordagem, que predomina na literatura contemporânea um
entendimento de liderança ainda muito centrado no comportamento humano, com um foco
na ação dos líderes típico da sociedade industrial nos séculos XIX e XX (Ospina, 2006;
Silvia, & McGuire, 2010). Atualmente, Sant’Anna et al. (2011) vem sinalizando que as
pesquisas sobre liderança, principalmente, as relacionadas ao comportamento humano,
superam o volume de pesquisas sobre outros temas. Todavia, o essencial é que a liderança
seja vista, também, como um processo relacional, amplamente chamado de ‘liderança
colaborativa’, ‘liderança facilitadora’ ou ‘liderança adaptativa’, dentre outras
nomenclaturas (Van Wart, 2013). A “liderança colaborativa se concentra no poder de
partilha entre as organizações [...], com ênfase na necessidade de apoiar as comunidades e,
portanto, é particularmente bem adequada para os setores públicos e sem fins lucrativos”
(Van Wart, 2013, p. 554).
67
Outros estudos propõem o abandono da idealização do líder como herói e do
entendimento do fenômeno da liderança como um ‘protagonismo rotativo’10
(Castro,
2012), que implicaria no ato de assumir responsabilidades sem a imposição hierárquica
característica dos estereótipos atribuídos, principalmente, nas abordagens da literatura
científica anglo-saxônica. O ‘protagonismo rotativo’ estaria relacionado com o ato de
“identificar e reconhecer a tarefa, mas não se impor como dono do conhecimento; ter
conhecimento, mas não deixar de buscar opinião com os outros” (Castro, 2012, p. 3). Sob a
ótica da horizontalidade na liderança, Van Wart (2013) alega que todos os sistemas,
especialmente aqueles com objetivo de melhorar o bem comum, muitas vezes têm recursos
limitados, que tenderiam a ser desconsiderados, não acionados e/ou desperdiçados, quando
uma abordagem sistêmica não é aplicada.
Van Wart (2013) considera que, embora a literatura sobre liderança horizontal e
colaborativa seja atualmente a mais dinâmica, pesquisas nesta área também identificaram
que os processos de colaboração tornam-se mais difíceis, quando os atores têm que lidar
com mecanismos de descentralização, desconcentração e dispersão de energia,
principalmente, em contextos onde há grande demanda e pressão para a prestação de
contas (Van Wart, 2013). Na gestão pública, onde haveria parceiros com baixa capacidade
de eficácia nas negociações, a colaboração poderia também levantar contradições
relacionadas aos objetivos econômicos e democráticos, com a implementação de parcerias
servindo mal ao bem comum (Van Wart, 2013).
Em um mundo com poder compartilhado, onde nenhum ator social seja responsável
isoladamente pelos problemas ou pelas soluções sociais, Crosby e Bryson (2005) acreditam
que os processos de liderança colaborativa podem ser especialmente necessários para sanar
problemas, principalmente, quando envolvem o setor público. A tendência é que esses
10
Termo cunhado por Castro, B. M. Recuperado de http://www.crescentedh.com.br/lideranca-etica-1-
%E2%80%93-o-protagonismo-rotativo/ .
68
processos busquem compreender o contexto social e político através de uma governança
compartilhada para efetivamente implementar decisões políticas (Silvia, & McGuire,
2010), na qual o poder seja distribuído entre várias organizações e grupos sociais (Crosby,
& Bryson, 2005). Contudo, para o alcance da eficiência e eficácia nas políticas sociais,
seriam necessárias mudanças significativas na lógica da governança, envolvendo
organizações públicas e sem fins lucrativos (Junqueira, 2004).
Essas linhas teóricas reforçam a ideia de que o termo ‘liderança’ se mostra
paradoxal nos contextos tradicionais e contemporâneos, tanto em ambientes com múltiplos
atores como em ambiente com os atores isolados (Silvia & McGuire, 2010). Assim, sob a
ótica de processos, a liderança pode ser focada não em atores ou ações individuais, e sim
em estratégias e atividades organizacionais, que evidenciem uma liderança coletiva
(Ospina; Foldy, & Goldman, 2008). Mas “que tipo de liderança será necessária para
promover a resolução de problemas de engajamento coletivo de cidadãos?” (Ospina &
Foldy, 2010). E uma vez engajados, “que tipo de processo de liderança poderá
efetivamente gerar desenvolvimento sustentável?”
Analisando tais questões, tem-se como pressuposto que é preciso considerar a
importância da minimização das desigualdades de poder entre determinados atores, e
reconhecer o valor das diferenças nos processos de liderança para transformação social
(Ospina, & Foldy, 2010; Skwara, 2005). Pois isto conduzirá a um novo processo de
liderança para a transformação social, o que significa o reconhecimento de que convencer
indivíduos a se envolverem em mudança organizacional ou social requer a legitimação de
novas hipóteses e perspectivas em relação às normas, crenças e valores prevalecentes
(Fligstein, 2007; Ospina, Foldy, & Goldman, 2008).
Ospina & Shall (2001) atestam, ainda, que a partir do paradoxo entre a liderança
existente na literatura e a ‘nova liderança inspiradora’, passa a existir uma oportunidade
69
dos estudos sobre processos de liderança fornecerem insights interessantes, que podem
produzir novos conhecimentos úteis, também, para os envolvidos nessa práxis. No decorrer
do processo, com uma construção social contínua, as pessoas tenderiam a desenvolver uma
compreensão compartilhada do trabalho, e procurariam exercer bem as suas funções e
atribuições. Neste contexto, a liderança assumiria, ao longo do tempo, um significado
independente em relação aos envolvidos. Nesse sentido, a liderança torna-se uma
propriedade do sistema social, em vez de ser uma ideia compartilhada apenas na mente das
pessoas (Ospina, Godsoe, & Schall, 2001).
Com isso, a busca pela legitimação e construção de significados para grupos de
pessoas ou comunidades que trabalham coletivamente vem despertando, nas teorias de
liderança, o reconhecimento da promoção de parcerias entre diferentes atores da sociedade
(Ospina, Foldy, & Goldman, 2008). Como exemplo, vale citar as pesquisas de Huxham e
Vangen (2000), que por décadas de pesquisa-ação, identificaram, pelo menos, 204 formas
de exercer liderança (sem nomear todas elas) e 241 processos que podem resultar na
construção de confiança, entendimento mútuo e negociação de objetivos comuns, a partir
de uma visão holística de um processo de liderança que seja integrador.
Como atestam Armisted et al. (2007), a chamada ‘liderança distribuída’ pode
acontecer em situações onde os participantes colaboram, em diferentes níveis, para criar
um senso de propósito e de direção comum, por meio de sistemas coletivamente
construídos e incorporados. No contexto da participação e colaboração social, os processos
de liderança apontam para o potencial surgido entre os grupos, que apresentem alguma
relação com parcerias intersetoriais em qualquer território (Ospina, 2006; Vangen, &
Huxham, 2003).
Todavia, quando se trata de desenvolvimento sustentável, os processos de liderança
associados às parcerias intersetoriais (empresas, governo e sociedade civil) podem
70
enfrentar desafios significativos, principalmente, para parceiros acostumados a associar sua
prática a condutas pouco compartilhadas. Podem, inclusive, despertar visões conflitantes
em relação à complexidade que, no âmbito de parcerias intersetoriais, tais processos podem
adquirir. O fato é que cada indivíduo, grupo e organização afetados por complexos e
difíceis problemas sociais, privados ou públicos, tenderia a ter uma autonomia parcial para
agir sobre os mesmos e pouco poder para resolvê-los sozinhos (Ospina, & Foldy, 2010).
Percebe-se, então, que a ação coletiva, quando conectada com os diferentes atores
das três esferas da sociedade, pode ser, portanto, essencial na busca do desenvolvimento
sustentável. Para Ospina, & Foldy (2010), sem essa conexão haverá sempre o risco de se
alcançar uma autonomia parcial, comprometendo a efetividade das parcerias e dos
resultados esperados. Diferentemente do modelo de liderança tradicional, normalmente
presente em estratégias e atividades organizacionais, esse modelo de processos de
liderança é pautado no reconhecimento de que convencer os atores sociais a se envolverem
requer a legitimação de ações para suprir as expectativas e demandas sociais, considerando
a cultura local e os valores dos atores evolvidos (Fligstein, 2007; Ospina, Foldy, &
Goldman, 2008).
Desta forma, quando pautados pela intervenção social e constituídos de caráter
impessoal, processos de liderança podem ser construídos coletivamente por meio de
sistemas que possibilitem alimentar as parcerias intersetoriais (Crosby, & Bryson, 2010;
Armistead, Pettigrew, & Aves, 2007), de forma a ser dotado de potencial de fortalecimento
da participação do grupo, visando a condução conjunta dos aspectos que conformam a vida
em sociedade. O surgimento desse novo tipo de liderança pode estar, ainda, intimamente
relacionado com o mecanismo de reorganização das relações sociais mais amplas,
originadas na sociedade civil ou iniciativa privada, para questionar o Estado como
71
protagonista ou único ator relevante e/ou competente na resolução de problemas que
afetam a coletividade (Ospina, 2006).
Neste sentido, o termo liderança vem se configurando como um processo de
fortalecimento de vínculos com stakeholders11
, por meio de uma liderança integradora, que
possibilite que a ação coletiva atravesse as fronteiras do bem comum (Ospina, & Foldy,
2010). Tal conceito considera os processos de liderança como mecanismos que permitem
que as atividades, ações e intervenções sociais ocorram em uma engrenagem de
colaboração (Vangen, & Huxham, 2003).
Também é importante considerar que, ao contrário de sempre promover relações de
cooperação entre os vários atores, os processos de liderança podem apresentar interações
paradoxais e contradições, que combinariam confronto e diálogo dentro da mesma
dinâmica social (Ospina, 2006). Há teóricos que concordam que, dependendo do processo
estrutural de um movimento, o processo de liderança pode ficar profundamente afetado,
criando, ao mesmo tempo, oportunidades e constrangimentos que influenciariam o que os
atores poderiam e não poderiam fazer (Morris, & Staggenborg, 2010; Van Wart, 2013;
Crosby, & Bryson, 2010).
Com isso, nota-se que o trabalho de liderança, nas parcerias intersetoriais,
envolveria uma redistribuição ou mesmo a fragmentação de relações pré-existentes de
poder, fenômeno este que poderia permitir e viabilizar oportunidades e desafios, pelo
surgimento de novas formas de se relacionar coletivamente para exercer uma governança
participativa (Armistead, Pettigrew, & Aves, 2007). Os autores apontam, também, que,
muitas vezes, há dificuldade de localizar onde e como as lideranças podem ser reveladas,
11
A teoria dos stakeholders foi desenvolvida por R. Edward Freeman, em 1984, em seu livro Gestão
Estratégica. O termo foi definido como grupo de pessoas que pode afetar ou pode ser afetado pela realização
dos objetivos da organização (Amadi, & Abdullah, 2011, p. 273).
72
sugerindo que as dinâmicas sociais de liderança possam ficar invisíveis ou passar
despercebidas.
Fligstein (2007) esclarece que todos os atores sociais detêm alguma habilidade para
induzir a colaboração. No entanto, será necessário identificar quem são os principais atores
coletivos para, a partir daí, descobrir o senso de identidade no processo da socialização, e
fazer com que os outros cooperem e percebam com quem devem cooperar. O autor
caracteriza os atores sociais hábeis como “estratégicos e manipuladores das regras e
recursos” para auxiliar a reprodução das ordens locais.
Outra tática dos atores estratégicos é fazer com que os outros acreditem que eles
não estão no controle. Uma das táticas de ação mais engenhosa é armar situações
nas quais outros atores assumam a liderança e ajam de acordo com o que pensam
ser as ideias deles. Ao fazer com que os atores que estão relativamente isolados
cooperem, e ao convencê-los de que sua cooperação foi ideia deles, os atores
estratégicos conseguem a cooperação dos outros sem parecer maquiavélicos.
(Fligstein, 2007, p. 69).
A partir da abordagem de Fligstein (2007), é preciso considerar que o espaço
público não-estatal opera em um padrão heterogêneo de ação e interação, que se faz de
grande importância na influência sobre a eficácia, eficiência, efetividade, equidade e
transparência de processos que, por sua vez, moldariam o destino da sociedade para o
desenvolvimento sustentável, a democracia e a igualdade social (Ospina, 2006). A
intersetorialidade em trabalhos colaborativos, com base em processos de liderança,
normalmente se apresentaria centrada em domínios de caráter complexo, com visões
multifacetadas e pouco articuladas (Pettigrew, 2003).
Na ótica das teorias dos movimentos sociais, Fligstein (2007) afirma, também, que
a principal questão dos grupos está relacionada com as condições para obter sucesso na sua
formatação, expressar descontentamento, agir contra grupos poderosos e reorganizar a
sociedade. Além disso, o espaço grupal pode servir como uma espécie de incubadora de
processos de liderança e empreendedorismo social, visando capacitar os grupos sociais
73
para assumir um papel preponderante, no futuro, como agentes e membros ativos de uma
comunidade colaborativa.
No plano da articulação para participação nos processos de liderança, Morris e
Staggenborg (2010) definem os agentes como articuladores de decisão estratégica, que
inspirariam e organizariam os outros a participarem em movimentos sociais. Isso se daria
pelos processos de significação que seriam “incorporados em estruturas historicamente
fundamentadas de poder e [...] influenciadas pela dinâmica de inclusão e exclusão que
caracterizam as relações sociais” (Ospina, & Foldy, 2010, p. 294). Neste sentido, o vínculo
relacional entre os parceiros fortaleceria a liderança, também, entre outras partes
interessadas (Ospina, & Foldy, 2010).
O processo de liderança aparece como um vetor muito adequado para estimular e
implementar novas formas de parcerias intersetoriais, nas quais a legitimidade e a
autoridade para resolver problemas em um determinado território seriam “[distribuídas]
horizontalmente e verticalmente entre diferentes atores sociais, com a mesma liderança
para dirigir mudanças que melhoram a qualidade de vida dos cidadãos” (Ospina, 2006, p.
1).
As práticas de liderança de um grupo de organização da sociedade civil, que
atualmente tem se mostrado bem-sucedido em seus esforços para influenciar as políticas
públicas, sugerem lições interessantes para refletir sobre a natureza da relação entre Estado
e sociedade (Ospina, 2006). A partir dessa nova conduta, pesquisas sobre processos de
liderança colaborativa, em territórios da América do Norte, se destacaram ao mostrar o
quanto foram capazes de ajudar na revitalização da atenção sobre políticas e comunidades
negligenciadas, bem como, influenciaram os comportamentos de colaboração (Ospina, &
Foldy, 2010; Crosby, & Bryson, 2010; Silvia, & McGuire, 2010; Van Wart, 2013).
74
Ospina e Foldy (2010) levantam a seguinte questão: “como os atores que estão
envolvidos em processos de liderança para mudança social garantem a conectividade
necessária para promover a missão do grupo com trabalho colaborativo?” Segundo os
autores, com base em pesquisa realizada nos Estados Unidos com 38 organizações sociais,
foi possível destacar cinco práticas de liderança que promoveriam vínculos relacionais
fortes, dentro ou através das fronteiras com os setores da sociedade civil, e que, por isso,
poderiam facilitar a capacidade para o trabalho colaborativo. São elas: (i) promover
mudanças cognitivas; (ii) nomear e formar identidade; (iii) dialogar sobre as diferenças;
(iv) criar mecanismos de governança participativa; e (v) unir vários mundos por meio das
relações interpessoais. Os pesquisadores atestam, também, que tais práticas nutrem a
interdependência das relações colaborativas, por meio do estabelecimento de novas
conexões ou fortalecimento das já existentes, sendo que, no cotidiano, muitas vezes, essas
práticas se sobreporiam (Ospina, & Foldy, 2010).
Os processos de liderança estariam, pois, relacionados à criação de significados que
orientem um grupo a desejar construir uma agenda, na qual os interesses se manifestem em
paralelo com uma governança democrática e participativa (Ospina, 2006). Suas ações
tenderiam, então, a se concentrar em torno de um objetivo para mudança social, apesar de,
no caso das organizações, elas enfrentarem um alto grau de incerteza, complexidade e, até
mesmo, hostilidade nos ambientes nos quais atuam, embora compartilhem a aspiração para
encarnar os valores democráticos, buscar a dignidade humana e cidadania e trabalhar para
o bem comum (Ospina, & Foldy, 2005).
Como explica Ospina (2006), o processo de liderança para mudança social deve
estar voltado para um tipo de liderança que emergiria em um grupo, e em qualquer nível de
sistema social, como o modelo mais adequado para estimular e implementar novas formas
de governança compartilhada. A natureza dos processos de liderança para mudança social
75
se configuraria como uma forma que se constrói permanentemente, em contextos sociais e
organizacionais, fora da típica corrente de liderança individualista comum na literatura
científica. Seriam incluídas, nesse cenário, “organizações e grupos ligados a movimentos
sociais de base comunitária, assim como as redes de organização envolvidas na reforma
cívica” (Ospina, & Foldy, 2005, p. 6).
A partir desse arcabouço teórico, pode-se perceber que, de forma geral, a literatura
acadêmica está alinhada e coaduna com os princípios que envolvem os processos de
liderança no âmbito das parcerias intersetoriais. A multiplicidade de perspectivas teóricas
relacionadas às ações coletivas, entre os setores da sociedade e em diferentes fronteiras
geográficas, trouxe noções e abordagens empíricas, que podem ser utilizadas na
investigação de territórios específicos (Silvia, & McGuire, 2010). Sob a ótica de diferentes
artigos e fontes bibliográficas, pode-se sintetizar esse marco teórico em três eixos de
abordagem: desenvolvimento sustentável, parcerias intersetoriais e processos de liderança.
Apesar de muitos autores serem referenciados em todo o estudo, cada eixo teve a
predominância de alguns deles, conforme demonstrado no Quadro 7.
76
Quadro 7
Eixos temáticos do marco teórico
Eixos
Temáticos
Abordagem Teórica Autores Referenciados
Des
env
olv
imen
to
Su
sten
táv
el
Mercado e Estado no mundo social
Abramovay, R. (2003,2009)
Governança territorial
Conceitos elásticos
Cançado, A. C et al (2013)
Lélé, S. (1991)
Desenvolvimento local Milani, C. (2005)
Oportunidades e desafios
Desenvolvimento como liberdade
Sachs, I. (1997, 2004, 2010)
Sen, A. (2010)
Par
ceri
as I
nte
rset
ori
ais
Governança nas parcerias multisetoriais
Poder local
Armistead, C.; Pettigrew & Aves, S. (2007)
Fischer, T. (2002)
Habilidades sociais Fligstein, N. (2007)
Plataforma de colaboração Selsky, J. & Parker, B. (2005)
Cooperação como habilidade
Colaboração e diálogo
Sennett, R. (2012)
Tenório, F. G. (2004)
Fenômeno de construção social Teodósio, A. (2008)
Pro
cess
o d
e
Lid
eran
ça
Protagonismo rotativo
Compartilhamento de poder
Liderança colaborativa e integradora
Castro, B. M. de (2012)
Crosby, B. C. & Bryson, J. M. (2010)
Ospina, S. (2001, 2006)
Liderança integradora em multi-atores
Liderança como estrutura de colaboração
Silvia & McGuire, 2010
Vangen, S. & Huxham C. (2003)
Teorias gerais da liderança Van Wart, M. (2013)
Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
As pesquisas listadas provocam várias reflexões que reforçam a inquietação oculta
por trás da questão proposta neste estudo: como ocorrem os processos de liderança nas
parcerias intersetoriais para o desenvolvimento sustentável de um território? Com base
nos argumentos apresentados neste Referencial Teórico, é possível afirmar que a proposta
ora apresentada aborda problemas sociais antigos de uma forma diferente. Nesta linha, os
elementos determinantes para a consolidação dos processos de liderança em parcerias
intersetoriais são a coprodução e a cooperação via governança compartilhada. A
coprodução baseia-se na soma das experiências de ambos os parceiros, sem privilegiar as
habilidades de um sobre o outro (Ospina, Godsoe, & Schall, 2001), e o resultado desse tipo
77
de trabalho pode ser a confiança nas pessoas, considerada “como a quinta-essência das
condutas culturais, religiosas, sociais e políticas, que exercem uma influência decisiva
sobre o desenvolvimento” (Peyrefitte, 1997).
Assim, a partir de um marco teórico compreensivo, procurou-se desenvolver uma
investigação que possa oferecer a geração de novos conhecimentos sobre a teoria e a
prática dos processos de liderança no âmbito das parcerias intersetoriais. E por meio de um
modelo teórico capaz de orientar a análise do caso, buscou-se representar o escopo dos
eixos fundamentais da abordagem proposta, como forma de facilitar a interpretação das
conexões estabelecidas neste estudo, conforme demonstrado na Figura 1.
Figura 1
Modelo teórico de análise
Nota. Fonte: Original desta pesquisa, a partir de adaptação de Sen (2010), Ospina e Foldy (2010),
Abramovay (2009), Teodósio (2008), Armisted et al., (2007), Fligstein (2007), Ospina (2006), Selsky, J. &
Parker, B. (2005), Sachs (2004), Vangen, & Huxham (2003) e Ospina, & Shall (2001).
78
Como ponto central do marco teórico, o eixo ‘desenvolvimento sustentável’ é
entendido como uma ampla proposta de interação das dimensões: meio ambiente, social,
cultural/política e econômica, representadas por esferas que se interconectam e inter-
relacionam. A partir de uma visão dialógica e cooperativa, tais relações propõem uma
reflexão sobre a necessidade do cruzamento dos diversos atores no território. Assim,
chama atenção o fato de que, apesar de apresentarem características específicas, tais
dimensões que integram o desenvolvimento sustentável não devem se apresentar
desconectadas, mas integradas num mecanismo de proliferação endógena e exógena, se
configurando e reconfigurando assimetricamente. Portanto, este esquema teórico propõe
discutir o desenvolvimento sustentável de forma dialógica e cooperativa, em dimensões
dinâmicas e integradas às demandas, nos seus respectivos territórios.
O eixo das ‘parcerias intersetoriais’ reflete a interação social entre as esferas de
governo, empresa e sociedade civil organizada e não organizada. Neste cenário, as esferas
demonstram a clara distinção entre os setores, com especificidades técnicas, interesses
singulares e ‘fronteiras cinzentas’ (Giannetti, 2007). No arcabouço dessa subjetividade,
propõe-se analisar as interfaces entre as esferas, a fim de identificar os modos de operação
e o potencial de conectividade em determinado campo de atuação.
O eixo dos ‘processos de liderança’ apresentam diferentes atores que fazem parte
da rede de relacionamentos do CDC, e que se reuniram para construir projetos sociais com
o objetivo de influenciar as políticas públicas por meio de uma governança compartilhada,
para favorecer o desenvolvimento sustentável de Pedro Leopoldo-MG. A meta proposta
será melhor explorada no capítulo seguinte, que descreve a metodologia científica utilizada
neste estudo.
79
No conjunto, os três eixos do modelo são apresentados com linhas pontilhadas
conectadas e entrepostas, demostrando que as diretrizes analisadas possuem fatores que
influenciam e podem ser influenciados ao longo do processo sócio-histórico (Spink, 2001).
Dessas dimensões extraídas do Referencial Teórico, foi possível sintetizar algumas
diretrizes que auxiliaram na definição das variáveis, viabilizando, consequentemente, a
elaboração dos roteiros de entrevista. O objetivo dessas variáveis foi promover o
alinhamento dos conteúdos com as questões da entrevista, para atender aos objetivos
propostos neste estudo, conforme demonstrado no Quadro 8.
Quadro 8
Dimensões de abordagem teórica
Eixos
Teóricos Autores Dimensões Variáveis observáveis
Des
env
olv
imen
to
Su
sten
táv
el
Abramovay, R. (2003,2009);
Lélé, S. (1991)
Milani, C. (2005)
Sachs, I. (1997, 2004, 2010);
Sen, A. (2010).
Visões e estratégias de
desenvolvimento;
Integração estratégica de
atores diversos;
Perspectiva para
desenvolvimento
considerando futuras
gerações.
Desafios para
desenvolvimento da
cidade;
Potencial transformador
do CDC em Pedro
Leopoldo para futuras
gerações;
Par
ceri
as I
nte
rset
ori
ais
Fischer, T. (2002)
Fligstein, N. (2007)
Selsky, J. & Parker, B. (2005)
Sennetti, R. (2007)
Tenório, F. G. (2004)
Teodósio, A. (2008)
Armistead, C.; Pettigrew &
Aves, S. (2007).
Senso de identidade no
processo;
Identificação das forças e
dos principais atores
coletivos;
Institucionalização e
coalizão política;
Habilidades sociais;
Compartilhamento de
interesses
Processos de cooperação.
Papel da prefeitura e das
políticas públicas e a
participação das empresas,
OSC’s e sociedade civil;
Diversidade de
representação,
envolvimento e formas de
participação coletiva no
CDC;
Dinâmica interna do CDC;
Pro
cess
os
de
Lid
eran
ça
Crosby, B. C. & Bryson, J. M.
(2010)
Ospina, S. (2001, 2006)
Silvia & McGuire, (2010)
Vangen, S. & Huxham C.
(2003).
Liderança compartilhada;
Conectividade para
trabalho colaborativo;
Participação coletiva;
Legitimidade e
distribuição de poder;
Construção de
significados;
Exercício da democracia,
do diálogo e da
colaboração no CDC;
Prática de autonomia,
independência e
transparência nas tomadas
de decisão;
Relações de poder e
representatividade entre
esferas de governo,
sociedade civil e empresa;
Como ocorrem os processos de liderança nas parcerias intersetoriais para
desenvolvimento sustentável de um território?
Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
80
Por meio de algumas perguntas, buscou-se, então, de forma indireta, identificar
como os entrevistados dos três setores da sociedade percebiam a participação dos
representantes da empresa, da sociedade civil e da prefeitura no contexto do CDC de Pedro
Leopoldo-MG, e se essa participação se configurava como processos de liderança
favorecedores do desenvolvimento sustentável daquele território.
Em suma, de acordo com o escopo teórico investigado, os principais pontos a serem
destacados como promotores de processos de liderança são: (i) a presença de uma
governança compartilhada, que se traduza em muita transparência para responder os
questionamentos comuns; (ii) o fortalecimento do capital social; e (iii) a construção de
laços de confiança entre os parceiros envolvidos (Paula, 2001; Fischer, Fedato, & Belasco,
2005; Skwara, 2005; Armistead, Pettigrew, & Aves, 2007; Teodósio, 2008; Morris, &
Staggenborg, 2010; Werneck, & Alvim, 2012).
Analisar esses fenômenos na prática, perceber os fatores que os envolvem e
visualizar maneiras para dinamizá-los, propiciam um fértil campo de pesquisa. Com
relação ao tratamento dos conteúdos deste estudo, na sequência, tem-se a descrição dos
métodos utilizados, visando uma compreensão mais abrangente da realidade investigada,
envolvendo as parcerias intersetoriais para o desenvolvimento sustentável no território.
81
3 METODOLOGIA
Com o objetivo de investigar e analisar os processos de liderança nas parcerias
intersetoriais para o desenvolvimento sustentável foi realizada uma pesquisa de natureza
qualitativa, por meio de estudo de caso (Yin, 2005), com um grupo de pessoas
representantes das três esferas da sociedade (Estado, mercado e sociedade civil), no
território de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais. Desta forma, com base em estudo de caso
único (Eisenhardt, 1989; Yin, 2005), a interpretação de depoimentos sobre os fatores que
influenciam os processos de liderança nas parcerias intersetoriais fundamentou-se na
compreensão da experiência subjetiva dos atores envolvidos.
Eisenhardt (1989) define o estudo de caso como uma estratégia de pesquisa focada
no entendimento das dinâmicas presentes nos contextos singulares, podendo envolver um
caso único (como este estudo realizado na cidade de Pedro Leopoldo-MG), ou múltiplos
casos, o que pode se configurar como tema para futuro estudo, em continuidade a essa
pesquisa.
Como afirma Meyer (2001), a vantagem ofertada pelo estudo de caso é a
oportunidade de uma visão global do processo, que permite apreender a realidade de
determinado fenômeno a partir da objetividade e da subjetividade dos atores (Goldberg,
2002; Rey, 2005; Triviños, 2007). Por isso, optou-se por este método de pesquisa, o que
possibilitou a identificação dos fatores que podem levar à compreensão da interação
estabelecida entre os atores locais, revelando a complexidade das inter-relações do caso
estudado (Greenwood,1973; Bonoma, 1985).
O objeto de estudo foi definido de forma direcionada, pois escolhido com vistas à
situação diferenciada e riqueza de públicos que atuam no contexto (Eisenhardt, 1989).
Definiu-se, então, pela investigação científica do Comitê de Desenvolvimento Comunitário
82
(CDC), atuante desde o ano de 2007, em Pedro Leopoldo-MG, cidade situada em território
localizado a 42km de Belo Horizonte.
A coleta de dados deu-se por meio de entrevistas semiestruturadas e observação in
loco das fontes de evidência, elemento importante da pesquisa qualitativa, especialmente,
quando se pretende compreender, em profundidade, uma situação social complexa, a partir
da perspectiva dos atores envolvidos, considerando-se, ainda, o contexto onde ocorre
(Eisenhardt, 1989; Bauer; Gaskell, 2002).
Para conferir maior confiabilidade e qualidade aos resultados da pesquisa, a análise
dos dados obtidos a partir das fontes primárias e secundárias permitiu comparar e
confrontar a percepção de diferentes atores acerca de um mesmo fator, bem como
possibilitou a realização da triangulação das fontes dessas evidências (Eisenhardt, 1989;
Jick,1979).
A triangulação foi utilizada como estratégia de análise de conteúdo, para auxiliar o
tratamento e a interpretação dos dados coletados. Tanto os documentos e arquivos das
fontes secundárias, como os dados obtidos por meio de entrevista e do Diagnóstico Rápido
Participativo (DRP) das fontes primárias, foram gravados, transcritos na íntegra e
analisados com vistas à interpretação do conteúdo das informações coletadas, a fim de
compreender melhor o discurso dos entrevistados.
No plano da coleta de dados primários, as principais fontes de evidências desse
estudo de caso foram: (i) a entrevista semiestruturada; (ii) o Diagnóstico Rápido
Participativo (DRP); e (iii) a participação nas reuniões do CDC, no período de dezembro
de 2012 à agosto de 2013. Para definição do público entrevistado e realização do DRP,
buscou-se obter, por meio de indicação, a participação de mais de um representante dos
três setores avaliados (governo, empresa e sociedade civil), utilizando-se o processo
conhecido como ‘bola de neve’ (Yin, 1981; Eisenhardt, 1989; Meyer, 2001).
83
A coleta dos dados secundários foi realizada por meio de pesquisas bibliográficas,
consultas em arquivos disponíveis no sítio eletrônico da empresa e em registros das
reuniões do CDC de Pedro Leopoldo12
. Pelo tempo de história do CDC, houve uma alta
expectativa de encontrar amplo acervo, porém, havia pouco material arquivado. A prática
de redação de atas, ou outro tipo de registro histórico do CDC, não é um procedimento
regular nos quatro anos de sua trajetória. Entretanto, tal circunstância não inviabilizou a
pesquisa.
Para abordagem das lacunas teóricas discutidas ao longo do segundo capítulo,
optou-se por descrever os resultados a partir da análise de três recortes do conjunto de
dados coletados. O primeiro deles foi concentrado no destaque a algumas observações e
percepções desta autora oriundas das reuniões do CDC. No segundo recorte, foram
analisados os resultados de três técnicas de DRP: Diagrama de Venn, Diagrama de Fluxo e
Linha do Tempo. O terceiro recorte foi pontuado pela análise das entrevistas individuais,
realizadas no período de julho a setembro de 2013, em Pedro Leopoldo-MG.
O diagrama a seguir (FIG. 2) apresenta a relação dos eixos temáticos com as
abordagens conceituais utilizadas e as fontes dos dados coletados.
12
A metodologia dos CDC’s foi implantada pelo Instituto Camargo Corrêa (ICC) em várias cidades nas quais
a empresa do Grupo Camargo Corrêa atua (Apêndice D). Este estudo de caso abrangeu, especificamente, o
CDC de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais. Este foi o primeiro CDC implantado como experiência-piloto
pelo ICC.
84
Figura 2
Diagrama dos métodos de pesquisa
Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
3.1 Entre fatos e dados que deram origem à pesquisa
Ao longo de quatorze anos de atividade em consultoria e treinamento na área de
responsabilidade social e voluntariado empresarial na Federação das Indústrias do Estado
de Minas Gerais (FIEMG), foi possível, a esta autora, perceber a distância entre as
empresas e os diversos públicos com os quais se relacionam e, ao mesmo tempo, certificar-
se do alto potencial de articulação colaborativa para a promoção do desenvolvimento
sustentável nos territórios. Tal visão coaduna com a experiência de assessoria ao Conselho
de Responsabilidade Social da FIEMG13
, durante o ano de 2011. Através da formação de
13
A função do Conselho de Responsabilidade Social da FIEMG é nortear a indústria, fortalecendo sua
participação nas decisões políticas de temas que afetam a competitividade empresarial. Recuperado de
http://www5.fiemg.com.br/Default.aspx?tabid=13599.
85
grupos de trabalho – GT’s – com representantes de grandes empresas integrantes do
referido conselho, propôs-se discutir suas experiências acerca do fomento ao
desenvolvimento sustentável onde atuam, estruturando diretrizes que viabilizassem o
avanço de outras empresas, inclusive, externas ao conselho, como um suposto meio
gerador de transformação local efetiva. Seria como colocar o Conselho de
Responsabilidade Social da FIEMG na vanguarda do desenvolvimento sustentável da
indústria de Minas Gerais. De certa forma, essa ideia não seria impossível, considerando-se
o potencial econômico e social das empresas que faziam parte dos GT’s, tais como:
Samarco, Gerdau, Cenibra, Usiminas, V&M, AngloGold Ashanti, Mendes Júnior, dentre
outras.
Durante os encontros mensais, duas questões se destacaram na percepção desta
autora, pois sinalizavam possíveis lacunas para futuras pesquisas, por envolver discussões,
principalmente, sobre: (i) como as empresas poderiam se articular e somar esforços para
gerar valor compartilhado e desenvolvimento sustentável com as esferas do governo e
sociedade civil, sem despertar interesse exclusivamente de ordem econômica para com
essas empresas?; e (ii) como as empresas poderiam atuar de forma mais efetiva com
políticas de investimento social privado, na governança com os três setores da sociedade,
diferentemente de participações pontuais ou em ‘projetos paraquedas’?
Por outro lado, a baixa participação de representantes do governo local e da
sociedade civil nessa dinâmica colaborativa dava a entender que não seria a empresa o ator
com maior dificuldade de relacionamento com os demais públicos. Isto porque os grandes
desafios apontados pelas empresas eram a falta de capacidade de diálogo e de interação
social dos ‘outros’ para com elas, principalmente, das prefeituras e das empresas
concorrentes. Outro desafio relatado apontava para as dificuldades de sistematizar
parcerias com comunidades, instituições sociais e governos, de maneira colaborativa e
86
permanente, para tratar das questões que envolviam governança e desenvolvimento
sustentável no território. A dificuldade de perceber as fronteiras que os uniam denotava
‘alto grau de miopia social’ entre os participantes.
Tal experiência despertou, nesta autora, a inquietação que gerou o problema desta
pesquisa, e que alavancou a busca por conhecimentos e experiências que pudessem
elucidar como poderiam ocorrer processos colaborativos nas parcerias entre governo,
empresas e sociedade civil, na busca do desenvolvimento sustentável em um território.
Numa iniciativa de buscar novos rumos profissionais, o ingresso no Programa de Pós-
Graduação da PUC-Minas possibilitou a ampliação de conhecimentos, favorecendo a
definição do objeto da pesquisa e, consequentemente, do seu marco teórico.
Feito o levantamento das experiências de parcerias intersetoriais na Região
Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a partir de sua publicação, esta autora, por
meio do seu Professor Orientador, conheceu o caso de investimento social privado do
Grupo Camargo Corrêa em Pedro Leopoldo-MG, que tem como foco principal o fomento
de parcerias intersetoriais para o desenvolvimento sustentável do território onde atua.
Diferentemente de outras empresas do ramo, a Camargo Corrêa se destacou pela
iniciativa de promover programas de investimento social privado alinhados com as
políticas públicas dos municípios onde atua, com formação de parcerias e redes de
colaboração para o desenvolvimento social dos territórios, conforme Relatório Resumido
de Atividades da Camargo Corrêa (2009). Foco considerado, por esta autora, como um
diferencial que despertou ainda mais o interesse em aprofundar seu conhecimento, a partir
de um estudo de caso.
No início da trajetória desta pesquisa, o primeiro contato estabelecido foi com o
Diretor Executivo do Instituto Camargo Corrêa (ICC)14
que, por já ser conhecido desta
14
O Diretor Executivo vigente no período da pesquisa era o Sr. Francisco de Assis Azevedo.
87
autora, em relação profissional na FIEMG, mostrou-se bastante receptivo à solicitação de
pesquisa da experiência do CDC de Pedro Leopoldo, um projeto integrante do programa de
investimento social privado do Grupo Camargo Corrêa. A contrapartida solicitada pela
empresa foi uma apresentação, ao final do estudo, dos resultados da pesquisa, tanto ao
CDC de Pedro Leopoldo como à equipe do Instituto Camargo Corrêa, com o objetivo de
que os conhecimentos gerados possam contribuir para o tratamento de futuras questões
relacionadas ao melhor desenvolvimento do referido comitê naquele e em outros
territórios15
. Missão cumprida em parte, com a apresentação dos resultados da pesquisa
para o CDC, em 28 de novembro de 2013, na Secretaria de Educação de Pedro Leopoldo.
A apresentação para a equipe do ICC tem agenda prevista para primeiro trimestre de 2014,
em sua sede, na cidade de São Paulo.
3.2 Participação nas reuniões do CDC
Após aprovação de realização da pesquisa por parte da empresa, o então Diretor do
Instituto indicou o Sr. Uelton (Diretor de Produção da unidade da empresa InterCement,
em Pedro Leopoldo, e coordenador do CDC à época), para dar suporte à investigação.
Além de ter concluído seu mestrado recentemente, Sr. Uelton mostrou-se sensível e aberto
aos objetivos desta pesquisa acadêmica, colocando-se inteiramente à disposição para
apresentar todos as informações e dados necessários à sua realização, convidando esta
autora, de imediato, para participar das reuniões mensais do CDC.
Apesar da abertura de participação, não foi possível acompanhar todas as reuniões
do conselho no período de desenvolvimento da pesquisa de campo, em razão das
15
Cidades onde há CDC’s implantados: Ipojuca-PE, Apiaí-SP, Itaóca-SP, Cabo de Santo Agostinho-PE,
Jacareí-SP, Santana do Paraíso-MG, Ijaci-MG, Pedro Leopoldo-MG, Fortaleza-CE, Bodoquena-MS. Cidades
onde serão implantados em 2014: Conde-PB, João Pessoa-PB, São Miguel dos Campos-AL, Campo
Formoso-BA, Brumado-BA, Cajati-SP, Cubatão-SP, Jacareí-SP, Candiota-RS. Dados fornecidos pelo diretor
do Instituto Camargo Corrêa, em 20 de Janeiro de 2014.
88
recorrentes mudanças no calendário do CDC, haja vista seus integrantes estarem bastante
envolvidos em conferências municipais e encontros temáticos na cidade. Tais encontros
com os demais membros do conselho, especificamente, foram considerados ocasionais, ou
seja, fora das reuniões do Comitê, razão pela qual não foram objeto de acompanhamento e
análise nesta pesquisa. As demais reuniões aconteceram, em sua maioria, pela manhã, no
prédio da Secretaria de Educação de Pedro Leopoldo, com duração de três a quatro horas.
Nas reuniões do CDC, a participação desta autora aproximou-se muito do método
de pesquisa-ação, considerando-se a solicitação, por parte de seus integrantes, de seu
envolvimento em algumas plenárias e trabalhos em grupo. A pesquisa-ação é normalmente
utilizada, quando o objetivo da investigação é conhecer uma determinada realidade, onde
os dados e as informações necessárias não são encontradas em livros ou em outros
trabalhos científicos, e sim no seio de uma comunidade, um grupo, uma organização ou um
movimento social que esteja sendo estudado (Thiollent, 1987). O método de pesquisa-ação
é considerado adequado ou recomendável, quando a investigação prevê a participação dos
sujeitos envolvidos no estudo, para se chegar a uma conclusão do que deve ser feito para
solucionar um problema real (Thiollent, 1987).
No decorrer dos encontros, na medida em que as questões no CDC foram surgindo
e as dificuldades de alinhamento de propósitos entre os participantes se faziam mais
evidentes, esta autora propôs ao comitê a realização de um Diagnóstico Rápido
Participativo (DRP), com o objetivo de promover a superação de distorções de ideais, por
meio da co-produção qualitativa de informações e promoção de uma maior interação entre
os atores, de forma colaborativa e organizada, ou seja, no contexto de um processo
dialógico.
89
3.3 Aplicação do DRP no CDC
O Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) foi aplicado, em julho de 2013, como
uma metodologia participativa, para possibilitar a compreensão, a conectividade do grupo
e a identificação dos fenômenos mais críticos. O DRP pode ser entendido como um
conjunto de métodos aplicados em grupos locais, para possibilitar compartilhamento,
aprendizagem e análise de conhecimentos, podendo, também, auxiliar o planejamento e a
ação de forma compartilhada, visando contribuir com o processo de mudança e o alcance
da sustentabilidade (Chambrers, & Guijt, 1995).
Os princípios básicos do DRP são assim definidos: (i) método de aprendizagem
rápida e progressiva, flexível, exploratória, interativa e criativa; (ii) possibilidade de
inversão de papéis entre pesquisador e pesquisado, ao ampliar os espaços de valorização e
conhecimentos da população local; (iii) favorecimento na utilização da triangulação, por
utilizar diferentes métodos, fontes e informações; e (iv) possibilidade de que a população
local se “aproprie da maior parte ou da totalidade da investigação, da elaboração de mapas,
diagramação, ordenamento, qualificação, quantificação, análise, apresentação,
planejamento, por sua própria conta, para serem donos dos resultados” (Chambrers, &
Guijt, 1995). Tem-se, pois, que as ferramentas do DRP se adaptam facilmente a diversos
tipos de realidade, e promovem um processo democrático nas tomadas de decisão,
facilitando o intercâmbio de informação e a verificação dos fatos por todos os membros do
grupo (Brose, 2001).
No âmbito do CDC, o DRP foi aplicado para um total de seis integrantes – três
representantes da empresa, dois da Prefeitura Municipal e um da sociedade civil – por
meio de três técnicas de diagnóstico, nessa ordem: Diagrama de Venn, Diagrama de Fluxo
90
e Linha do Tempo. A utilização dessas técnicas de coleta de dados ocorreu por sua
capacidade de captar a percepção, as experiências e as motivações dos indivíduos, o que as
tornam apropriadas para as pesquisas qualitativas que priorizam o entendimento do
fenômeno a partir do sujeito (Godoy, 1995).
O Diagrama de Venn é uma técnica utilizada para revelar conexões e injunções
importantes, de acordo com as diferentes percepções dos participantes dentro de um
determinado contexto, que no caso foi o CDC. Atribuem-se círculos de tamanhos
diferentes a diferentes grupos, instituições, órgãos ou programas. O tamanho dos círculos
varia de acordo com a importância do grupo ou instituição. A distância entre eles (ou a
sobreposição) indica a intensidade do relacionamento e da influência mútua (Brose, 2001).
O Diagrama de Fluxo é uma técnica que busca analisar um fenômeno relevante
para o grupo, visando a construção de um diagrama que apresente as causas e as
consequências sob a ótica de um determinado problema ou fenômeno que atinge o
contexto estudado. A partir da análise desses fatores, definem-se as ações ou atitudes que
devem ser tomadas para manutenção, alteração, reforço, combate ou mitigação do
fenômeno destacado.
A Linha do Tempo é uma técnica de DRP, que visa resgatar, de forma
compartilhada, a história da comunidade ou organização. Por meio de uma organização
cronológica dos fatos ou eventos considerados relevantes na trajetória histórica, mas sem a
necessidade de precisar datas, os participantes relatam e descrevem os acontecimentos
mais marcantes em fichas coloridas, fixando-as em um barbante, de forma a construir a
linha do tempo (Brose, 2001).
A realização do Diagrama de Venn buscou mapear a rede de relacionamentos do
CDC e a intensidade das suas conexões na percepção dos participantes. O Diagrama de
Fluxo teve como proposta analisar um fenômeno relevante, visando o alcance de resultados
91
do CDC, com a identificação do fenômeno mais crítico para aquele grupo. E a Linha do
Tempo propôs identificar os aspectos relevantes e específicos do CDC, para ampliar a
percepção das oportunidades latentes. A Linha do Tempo também se fez importante, para
que esta autora resgatasse um pouco mais dos detalhes da história do CDC desde sua
origem, obtendo informações até então desconhecidas.
Durante a aplicação do DRP, a pesquisadora contou com ajuda de duas
mestrandas16
, que atuaram como facilitadoras do processo de orientação dos participantes
do CDC. Para execução das atividades, foram utilizados materiais auxiliares como papéis
em formato de esferas e retângulos de vários diâmetros e cores, com o objetivo de auxiliar
a montagem do Diagrama de Venn e da Linha do Tempo. No Diagrama de Fluxo, foram
utilizados cartazes e pincéis coloridos.
Para a aplicação das técnicas do Diagrama de Venn e do Diagrama de Fluxo foram
formados dois grupos – A e B –, com três participantes. A Linha do Tempo foi realizada
por um único grupo formado pelos seis representantes do CDC. Toda a dinâmica foi
gravada e transcrita na íntegra, com os resultados de sua construção sendo digitalizados e
reproduzidos de forma idêntica ao material construído durante o encontro, conforme
registros fotográficos conformadores do Apêndices E e F.
3.4 Entrevistas semiestruturadas
A terceira etapa da coleta de dados utilizou a aplicação de entrevistas
semiestruturadas como método de natureza qualitativa próprio de pesquisas empíricas.
Foram realizadas quatorze entrevistas, gravadas e transcritas na íntegra, com representantes
dos três setores da sociedade – cinco pessoas do governo (representantes da Prefeitura
16
Raquel Wildhagen e Daniele Cardoso do Nascimento são atualmente mestrandas do Programa de Pós-
Graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, e integrantes do Núcleo de Estudos de Ética
e Gestão Social – NUPEGS.
92
Municipal de Pedro Leopoldo), três da empresa (representantes da InterCement) e uma do
Instituto Camargo Corrêa (ICC), além de cinco pessoas da sociedade civil (representantes
de ONG’s e cidadãos sem vínculos com organizações), tornando possível o estudo de
importantes dimensões de uma análise baseada no relato sobre os motivos pelos quais
aquele território era o alvo do estudo de caso da pesquisa.
Por meio de uma lista codificada, descreveu-se o perfil dos públicos, omitindo-se a
identificação nominal dos entrevistados, que foi substituída pelo destaque à primeira letra
dos setores representados: Governo (G), Empresa (E) e Sociedade Civil (SC). Formava o
grupo de entrevistados pessoas que, direta ou indiretamente, participavam do CDC e/ou
estavam envolvidas em algum movimento social no município de Pedro Leopoldo, que
foram selecionadas pelo método ‘bola de neve’ (Yin, 1981; Eisenhardt, 1989; Meyer,
2001), conforme exposto no Quadro 9.
Quadro 9
Perfil dos entrevistados
Setores Cod. Formação Profissional Participação no
CDC Idade
So
cied
ade
Civ
il
SC1 Engenheiro Sim 59
SC2 Juiz de Direito Sim 60
SC3 Psicólogo Sim 55
SC4 Administrador Sim 53
SC5 Assistente Social Não 40
Go
ver
no
G1 Relações Públicas Sim 32
G2 Médico Sim 64
G3 Psicólogo Sim 32
G4 Pedagoga Sim 38
G5 Pedagoga Não 45
Em
pre
sa E1 Engenheiro Sim 45
E2 Administrador Sim 45
E3 Engenheiro Sim 60
E4 Técnico em Enfermagem Sim 47
Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
93
Dentre os doze entrevistados integrantes do CDC, dois se caracterizaram como
participantes pontuais, com pouca frequência nas reuniões, porém conhecedores de todo o
processo de desenvolvimento do comitê, desde a sua inauguração na cidade. Outros dois,
identificados pelo próprio grupo como participantes ativos do CDC, foram afastados pela
instituição que representavam, após mudanças na gestão pública. Conforme relatos de
terceiros, tais afastamentos foram involuntários, mas a ligação com as causas e com os
projetos do CDC se mantiveram de forma voluntária. Por isso, entrevistar essas pessoas
tornou-se preponderante na percepção desta autora, por serem informantes com condição
de contribuir para elucidar alguns desafios intrínsecos aos processos de liderança nas
parcerias intersetoriais.
Os roteiros de entrevista (Apêndices A, B e C) foram estruturados com base em
dimensões temáticas predefinidas no planejamento do referencial teórico, contendo, a
priori, doze perguntas objetivas, questões abertas e flexibilidade para reorientar a
entrevista durante a coleta das informações (Bauer & Gaskell, 2002). No primeiro
momento, foram realizadas entrevistas com um ‘roteiro teste’ para três integrantes do
CDC, que representavam cada um dos três setores – governo, empresa e sociedade civil –
para verificar se as questões elaboradas atendiam alguns requisitos, como: (i) alinhamento
com a dimensão teórica; (ii) clareza e entendimento das perguntas pelo entrevistado; (iii)
tempo previsto para a entrevista (até uma hora de duração); (iv) respostas correlacionadas
com os objetivos específicos da pesquisa; e (v) roteiro adequado para públicos de governo,
empresa e sociedade civil, participante ou não do CDC.
A partir do teste, foi possível verificar que quase todos os requisitos estavam
atendidos, com exceção do último, ou seja, o ‘roteiro teste’ apresentou-se inadequado para
entrevistar as pessoas que não vivenciavam o dia-a-dia do CDC. Em vista disso, esta autora
precisou elaborar outros dois roteiros, a partir de adaptação do primeiro: um para pessoa da
94
sociedade civil que não participava ativamente do CDC, e outro para pessoa da empresa
que acompanhava as atividades desse comitê, mas não vivenciava a rotina interna do CDC.
Desta forma, foi possível utilizar um mesmo modelo de roteiro para doze pessoas
participantes do CDC, um segundo modelo adaptado para uma pessoa da sociedade civil
não participante do CDC, e um terceiro modelo adaptado para uma pessoa da empresa
externa ao CDC. Todos os três roteiros atenderam aos demais requisitos descritos
anteriormente e foram aplicados individualmente em Pedro Leopoldo, a partir de
agendamento prévio e em local predeterminado pelo entrevistado.
Sobre o conteúdo das perguntas, teve-se o cuidado de não utilizar os termos
‘processos de liderança’, ‘parcerias intersetoriais’ e ‘desenvolvimento sustentável’, a fim
de não provocar qualquer outra reflexão que pudesse influenciar os discursos dos
entrevistados. Porém, nas entrevistas, esta autora tomou a liberdade de intervir no roteiro,
para explorar novas questões anteriormente não identificadas, mas que se mostraram
relevantes para o estudo em questão. O roteiro de entrevistas buscou explorar, ainda no
âmbito do CDC, como os processos de liderança influenciavam as parcerias intersetoriais,
procurando também identificar como os mesmos afetavam a governança compartilhada,
considerada necessária para o alcance de desenvolvimento sustentável nos territórios
(Sachs, Lopes, & Dowbor, 2010).
O roteiro de entrevista foi elaborado com base nos três eixos teóricos, sendo
dividido em três dimensões de análise. A primeira, relacionada ao desenvolvimento
sustentável para as futuras gerações, propôs analisar os desafios para desenvolvimento da
cidade, considerando o potencial transformador do CDC em Pedro Leopoldo e a integração
dos diversos atores da sociedade (Abramovay, 2009; Sachs, 1997; Milani, 2005; Lelé,
1991).
95
A segunda dimensão, relacionada às parcerias intersetoriais, propôs a realização de
análise de contexto, identificação das formas de atuação e dos tipos de relacionamentos
entre os três setores (governo, mercado e sociedade civil), em Pedro Leopoldo. Com essa
abordagem, buscou-se conhecer o senso de identidade e forças dos atores coletivos e,
também, registrar percepções sobre os papéis da prefeitura, das políticas públicas, das
empresas locais, OSC’s e população da cidade (empresariado do comércio, cidadãos,
escolas etc.) na governança para o desenvolvimento sustentável. Além disso, ainda no eixo
das parcerias intersetoriais, esta autora interrogou sobre a proposta de trabalho que
originou o CDC, como também, sobre a diversidade de representação, envolvimento e
formas de participação coletiva, com o objetivo de verificar a presença de habilidades
sociais (Fligstein, 2007), compartilhamento de interesses (Selsky, J. & Parker, 2005) e
cooperação nas parcerias intersetoriais (Teodósio, 2008; Armistead et al., 2007).
A terceira dimensão envolveu questões possibilitadoras de uma análise dos
processos de liderança (Ospina, 2006), visando conhecer a dinâmica interna para
identificar os espaços de prática da democracia, do diálogo e da colaboração no CDC,
considerando a forma de governança e a perspectiva de ganhos em capital social (Vangen,
& Huxham, 2003). Esta autora questionou, ainda, a percepção da autonomia,
independência e transparência nas tomadas de decisão dos processos do CDC e, por
consequência, o modo como se processam as relações de poder e representatividade entre
esferas de governo, sociedade civil e empresa, buscando constatar a legitimidade e a
construção de significados para a perpetuação do movimento no longo prazo.
A interpretação do conteúdo das informações coletadas tanto no DRP como nas
entrevistas semiestruturadas serviram de base tanto para melhor analisar e compreender os
fatores que podem influenciar os processos de liderança nas parcerias intersetoriais, como
96
para discutir alternativas de construção de uma governança mais consistente, que favoreça
a colaboração para um desenvolvimento sustentável no território.
No Quadro 10, tem-se um resumo das diretrizes da trajetória percorrida neste
estudo, que possibilita confirmar se o objetivo geral e os objetivos específicos foram
contemplados tanto nas abordagens teóricas como nas dimensões analíticas. Busca-se,
desta forma, um alinhamento do estudo realizado com os métodos de análise propostos.
Quadro 10
Diretrizes de análise
97
Objetivo Geral Objetivos Específicos Eixos
Teóricos Principais Autores Dimensões Teóricas Variáveis Observáveis Breves Considerações
Investigar os
processos de
liderança nas
parcerias
intersetoriais
estabelecidas no
Comitê de
Desenvolviment
o Comunitário
(CDC) para o
desenvolvimento
sustentável de
Pedro
Leopoldo/MG.
1. Identificar a
interação de atores
da sociedade civil,
empresas e governo
no CDC.
2. Analisar os fatores
que influenciam os
processos de
liderança no CDC.
3. Discutir como os
processos de
liderança afetam a
construção das
parcerias
intersetoriais para o
desenvolvimento
sustentável de
Pedro Leopoldo.
Desenvolvi-
mento
Sustentável
Abramovay, R.
(2003,2009);
Lélé, S. (1991)
Milani, C. (2005)
Sachs, I. (1997, 2004,
2010);
Sen, A. (2010)
Visões e estratégias de
desenvolvimento;
Integração estratégica de
atores diversos;
Perspectiva para
desenvolvimento para
futuras gerações.
Governança e capital
social
Desafios para
desenvolvimento da
cidade Pedro Leopoldo;
Potencial transformador
do CDC em Pedro
Leopoldo para futuras
gerações;
Presença de conflitos de
interesses econômicos com
os interesses sociais,
ambientais e culturais;
Falta de interação social e
confiança entre parceiros.
Falta de governança
compartilhada.
Parcerias
Intersetori-ais
Fischer, T. (2002)
Fligstein, N. (2007)
Selsky, J. & Parker, B.
(2005)
Tenório, F. G. (2004)
Teodósio, A. (2008)
Armistead, C.;
Pettigrew & Aves, S.
(2007)
Senso de identidade no
processo;
Identificação das forças e
dos principais atores
coletivos;
Institucionalização e
coalizão política;
Habilidades sociais;
Compartilhamento de
interesses
Processos de cooperação.
Papel da prefeitura e das
políticas públicas e a
participação das
empresas, OSC’s e
sociedade civil na cidade;
Diversidade de
representação,
envolvimento e formas
de participação coletiva
no CDC;
Dinâmica interna do
CDC;
Enfraquecimento da
participação da sociedade
civil;
Falta de clareza do papel
do CDC no território;
Ausência de
representatividade do
social no CDC;
Alta dependência de
recursos do parceiro
privado.
Interesses coletivos
difusos.
Processos de
Liderança
Crosby, B. C. &
Bryson, J. M. (2010)
Ospina, S. (2001,
2006)
Silvia & McGuire,
2010
Vangen, S. & Huxham
C. (2003)
Liderança compartilhada;
Conectividade para
trabalho colaborativo;
Participação coletiva;
Legitimidade e
distribuição de poder;
Construção de
significados;
Governança participativa
e democrática;
Exercício da democracia,
do diálogo e da
colaboração no CDC;
Prática de autonomia,
independência e
transparência nas
tomadas de decisão;
Relações de poder e
representatividade entre
governo, sociedade civil
e empresa no CDC;
Falta de processos de
liderança;
Desequilíbrio do poder de
decisão entre parceiros.
Falta de legitimidade para
os interesses coletivos;
Ausência de construção
coletiva de projetos de
sustentabilidade no CDC.
Espaço potencial para
inovação social e
participação social ativa.
Problema: Como ocorrem os processos de liderança nas parcerias intersetoriais para o desenvolvimento sustentável de um território?
Fonte: Original desta pesquisa.
98
O desenvolvimento sustentável, as parcerias intersetoriais e os processos de
liderança constituíram os principais eixos de discussão. Várias fontes foram pesquisadas,
dentre elas, livros, artigos, sítios eletrônicos, bases eletrônicas e bibliográficas das
instituições envolvidas, porém, culminando em escasso conteúdo sobre ‘processos de
liderança’, no idioma nacional ou escritos por autores brasileiros, o que identifica um
espaço aberto à realização de outras pesquisas sobre o tema, a partir da abordagem deste
estudo. Alguns autores foram referenciados com mais frequência do que outros, mesmo
esta autora tendo buscado outros artigos publicados em datas distintas (como o caso de
Sonia Ospina), o que não deixou de enriquecer este estudo com mais informações sobre as
diferentes abordagens do fenômeno estudado.
Na medida em que esta autora entrava em contato com conteúdos de diferentes
pesquisadores, foi se impondo a elaboração de um quadro paralelo para destacar os termos
que, na sua opinião, se repetiam mais ou eram congruentes com o tema da pesquisa.
Consolidou-se, então, o uso de alguns termos para cada eixo denominado de ‘dimensões
teóricas’. A partir da construção das ‘dimensões teóricas’, foi possível identificar as
‘variáveis observáveis’, que serviram de base para a elaboração dos roteiros de entrevista
semiestruturada. O objetivo foi garantir que os mesmos subsidiassem uma coleta de dados
que pudessem favorecer uma análise coerente com a discussão teórica.
Assim, a partir dos dados coletados e das análises enunciadas, foi possível destacar
considerações que apontam para alguns resultados identificados na pesquisa de campo, que
foram melhor explorados nos capítulos Análise de Resultados e Considerações Finais. A
seguir, tem-se a descrição do perfil do território Pedro Leopoldo-MG, e do contexto que
originou o CDC naquela cidade, informações que podem reforçar a compreensão da
relevância de sua escolha como objeto do estudo de caso.
99
3.5 Pedro Leopoldo-MG e o contexto do CDC
Trata-se de um município da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH),
cujo território abriga 58.740 habitantes (Censo 2010). Situado em faixa elevada17
, seu
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal18
(IDH-M) de 0,757 (PNUD, IPEA & FJP,
2010) coloca-o dentre aqueles com população de melhor expectativa de vida ao nascer,
educação e PIB Per Capita (PPC). Os dados do Censo de 2010 mostraram que Pedro
Leopoldo ocupa a 420ª posição em relação aos 5.565 municípios do Brasil, e a 30ª posição
em melhor desenvolvimento humano dentre os 853 municípios de Minas Gerais19
.
A cidade foi fundada em 1918, quando tinha a pecuária como principal atividade
econômica. A partir da década de 1950, Pedro Leopoldo iniciou uma expressiva trajetória
industrial, com a instalação de fábricas do ramo têxtil e cimenteiro. Em 1952, foi instalada
na cidade a fábrica de cimentos Cauê, atual InterCement, afiliada do Grupo Camargo
Corrêa, atualmente considerada uma das cinco maiores produtoras de cimento no Brasil,
com atuação em 20 estados brasileiros e 19 países. Em 1974, foi inaugurada a Ciminas
que, mais tarde, passou ao controle do grupo Holcim, ocupando hoje o segundo lugar no
ranking das cimenteiras em todo o mundo.
O Grupo Camargo Corrêa é um dos maiores conglomerados privados do Brasil,
com atuação em 20 estados brasileiros e 19 países, e receita líquida consolidada de R$ 17,3
bilhões, em 2011. As empresas controladas pelo grupo atuam nas áreas de engenharia e
construção, concessão de energia e transporte, indústria têxtil e de calçados, construção
17
IDH-M entre 0,700 e 0,799 (recuperado de http://www.atlasbrasil.org.br/2013/, em 18 de novembro de
2013). 18
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mede o progresso de uma nação a partir de três dimensões:
renda, saúde e educação. O IDH tornou-se uma referência mundial e nacional, sendo utilizado pelo governo
federal e por administrações regionais através do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M).
(PNUD Brasil recuperado em http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDH. 19
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano Municipal, recuperado em http://www.atlasbrasil.org.br/2013/.
100
naval e incorporação imobiliária, além da indústria de cimento, com cerca de 60 mil
funcionários.
A cidade de Pedro Leopoldo tornou-se referência nacional e internacional na
fabricação de cimento pela alta fonte de calcário em seu território. Tal riqueza mineral, ao
mesmo tempo em que influenciou seu perfil econômico, deu novo impulso ao comércio,
indústria e transporte da região (Werneck, et al., 2012). Porém, fatores negativos
acompanharam o avanço industrial. Estudos identificaram que o município apresenta uma
maior incidência de problemas respiratórios (tosse constante, dispnéia e rinorréia),
principalmente, nas crianças que moram no entorno da cidade, principal área de produção e
trânsito das fábricas de cimento (Milanez et al., 2009).
Como curiosidade20
, há relatos de moradores da cidade que afirmam que Pedro
Leopoldo estará sempre condenada à poluição pelo pó de cimento, por abrigar indústrias
cimenteiras, principalmente, a InterCement, localizada em posição contrária ao fluxo dos
ventos das montanhas, que fluem em direção ao perímetro urbano. Esse fenômeno
desfavorece as condições do meio ambiente, intensificando a poluição por concentração de
pó de cimento no ar, nos telhados das casas e nos pulmões dos habitantes. Fato que
justifica, em parte, a percepção negativa dos moradores sobre as indústrias de cimento,
apesar de reconhecerem que são os maiores empregadores de mão de obra na cidade
(conforme relatado na entrevista do SC1).
No relacionamento com a comunidade local, a antiga Cauê adotava uma conduta de
prestação de serviços sociais e doação de insumos, de forma assistencialista, para todos
aqueles que a ela recorriam. Após a incorporação da Cauê pelo Grupo Camargo Corrêa, em
1997, tal conduta foi abortada, por não se adequar à política de investimento social privado
da InterCement. Conforme relatado pelo seu Diretor de Operações, no decorrer do
20
Não foram encontrados dados oficiais sobre esse fenômeno. Assim, ele foi considerado, por esta autora,
como ‘curiosidade’ relatada pelo entrevistado SC1 no processo de coleta de dados.
101
processo de sua adaptação às políticas do novo grupo, foi evidenciado um forte sentimento
de frustação por parte dos empregados, em razão do cancelamento das práticas
assistencialistas da empresa para a comunidade e, também, por causa do alto índice de
demissões então tidas como necessárias. Tais ações geraram um distanciamento da
comunidade e instituições sociais locais em relação à InterCement, por longo período. Em
depoimentos registrados por Werneck et al. (2012), constata-se que esse distanciamento
provocou, na sociedade local, um forte sentimento de desconfiança em relação a qualquer
iniciativa de intervenção social da nova gestão da empresa. A implantação de um programa
que pudesse quebrar a desconfiança e o sentimento de repúdio pela InterCement e, por
extensão, pelo Grupo Camargo Corrêa, configurou-se como uma necessidade de melhoria
dos laços de convivência entre empresa, governo e sociedade civil.
Dessa forma, em 2007, o Instituto Camargo Corrêa (ICC), braço social do grupo,
por meio da empresa coligada InterCement, propôs a implantação de um programa de
desenvolvimento comunitário, a ser mantido por meio de investimento social privado,
visando envolver, além do poder público, atores da sociedade civil e voluntários da
InterCement. A proposta apresentada pelo ICC pautou-se na promoção de uma gestão
participativa de projetos sociais. Os resultados almejados visavam a estruturação de
“comunidades preparadas e comprometidas com a superação de seus desafios; [...] ser um
fim em si, e não um meio para um fim” (Werneck et al., 2012, p. 16). Argumento que
reforçou a motivação desta autora para eleger o CDC de Pedro Leopoldo como sujeito
desta pesquisa, por disponibilizar um contexto que talvez se configurasse em processos de
liderança por meio das parcerias intersetoriais e governança compartilhada. Tal contexto
envolve o desenvolvimento de projetos nas áreas da infância e adolescência (Projeto
Infância Ideal) e de educação (Projeto Educação Ideal) (Werneck et al., 2012).
102
Sob a ótica empresarial, Werneck, et al. (2012) afirma que as iniciativas de
investimento social privado do Grupo Camargo Corrêa tem potencial para gerar, além de
valor compartilhado, capital social para a empresa e para a sociedade e, ainda, estabelecer
uma Licença Social para Operar (LSO). O conceito de LSO está relacionado à aceitação ou
apoio que uma empresa recebe para seus empreendimentos e iniciativas por parte de seus
stakeholders, inclusive, das comunidades diretamente afetadas por suas iniciativas
produtivas (Werneck et al., 2012). A LSO não se baseia exclusivamente em dados, mas nas
experiências, crenças, opiniões e percepções dos atores externos à empresa, o que significa
que tanto pode ser ampliada quanto retirada no decorrer do tempo, devendo ser gerida de
forma a assegurar sua manutenção (Werneck et al., 2012).
No âmbito da sociedade, os autores atestam que o investimento social privado tem a
função de criar oportunidades de desenvolvimento autônomo via organização e
participação social, considerando que a construção de capital social deve promover a
melhoria da qualidade das relações sociais, de forma a fortalecer o diálogo entre as partes
interessadas (stakeholders), gerando governança social, confiança, participação, inclusão e
parcerias. E isto porque somente por meio de intervenção social participativa seria possível
contribuir para fortalecer a cidadania, a autonomia e a criação desse capital social
(Werneck, et al., 2012).
Ainda conforme Werneck et al. (2012), na criação do programa de investimento
social privado da Camargo Corrêa, os gestores buscaram aplicar um “modelo de liderança
participativa e compartilhada”, que estaria alinhado com o princípio corporativo de
garantia do engajamento das pessoas na causa por meio de comitês e fóruns de trabalho.
Esse enfoque apresentou-se, neste estudo, como um ponto importante para algumas
análises do CDC, uma vez que essa prática não foi confirmada pelos relatos dos agentes da
pesquisa.
103
No contexto histórico, após a definição dos ideais de alcance do programa, entre o
final de 2007 e início de 2008, foi lançado, na cidade de Pedro Leopoldo, o Comitê de
Desenvolvimento Comunitário (CDC), no âmbito de um seminário com participação
especial da médica pediátrica e sanitarista brasileira Sra. Zilda Arns21
e a presença de
várias lideranças locais. O objetivo do CDC, apresentado no ato de seu lançamento, foi o
de elaborar e executar projetos que estivessem alinhados com o plano de políticas públicas
da cidade, por meio de parcerias entre a empresa, secretarias municipais e conselhos de
direito, organizações da sociedade civil e voluntários da empresa que atuam nas questões
ligadas ao desenvolvimento social na cidade (Werneck et al., 2012).
A partir de então, o CDC passou a ser integrado pelos parceiros: Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Conselho Tutelar,
Fundação Pedro Leopoldo (FPL), Fundação José Hilário, CIVICO InterCement, Instituto
Nacional de Desenvolvimento, Social e Humano, Maternidade Doutor Eugênio Gomes de
Carvalho, Pastoral da Criança, Prefeitura Municipal de Pedro Leopoldo (secretarias
municipais de Educação e Cultura, Saúde e de Desenvolvimento Social) e Sociedade São
Vicente de Paulo (SSVP), dentre outras organizações sociais. Atualmente, alguns desses
parceiros já não participam ativamente das atividades do CDC.
Conforme relato de alguns participantes, nesse seminário ocorrido em 2008, foi
apresentada a proposta de desenvolvimento de projetos, a partir de diagnóstico realizado
pelo ICC e CDC. Também foram definidas quatro frentes de atuação, com formação de
subgrupos para desenvolvimento de projetos com temática centrada em: (i) capacitação de
profissionais da educação infantil; (ii) melhoria do atendimento a gestantes e recém-
nascidos (Escola da Gestante); (iii) fomento do lazer, esporte e cultura (LEC); e (iv)
21 Irmã do arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns, Zilda Arns foi também fundadora e coordenadora
internacional da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
104
redução do índice de gravidez na adolescência (PEAS) (Werneck et al., 2012). Os projetos
seriam alinhados com as diretrizes de desenvolvimento comunitário presentes na política
de intervenção social do próprio ICC.
Institucionalmente, o programa de desenvolvimento comunitário do ICC é
composto por três frentes de atuação: (i) infância; (ii) educação; e (iii) empreendedorismo.
Nas cidades onde há unidades produtivas do Grupo Camargo Corrêa, os CDC´s são
orientados a escolher, dentro desse escopo, os focos de atuação dos projetos que serão
apresentados como propostas para financiamento pelo ICC. O CDC optou por desenvolver
projetos com foco nas áreas da infância e educação (Figura 3). O eixo ‘Futuro Ideal’ foi
destacado por ainda não fazer parte do escopo de projetos do CDC.
Figura 3
Programas estruturantes do Instituto Camargo Corrêa
Desenvolvimento Comunitário
Infância Ideal Escola Ideal Futuro Ideal
Crianças de zero a 6 anos Proteção dos direitos da
primeira infância
Crianças e Adolescentes de 6
a 16 anos Qualidade na gestão da
escola pública
Jovens de 16 a 29 anos Empreendedorismo e geração
de trabalho e renda
Ideal Voluntário Estímulo à ação cidadã
Conselho Consultivo Parceiros Estratégicos Parceiros Locais
Nota. Fonte: Instituto Camargo Corrêa (2009, p. 20).
Para elaboração e desenvolvimento do projetos, as reuniões do CDC ocorriam uma
vez por mês e, eventualmente, eram realizados encontros temáticos de pequenos grupos,
conforme o envolvimento das pessoas nos projetos desenvolvidos pelo comitê. Além de
mobilizar e financiar os projetos aprovados nessas frentes de trabalho, o ICC e a
InterCement identificaram e contrataram profissionais para capacitar os integrantes do
105
CDC, para que executassem bem as atividades planejadas, alcançando efetividade nos
projetos.
No decorrer da execução desses projetos, o resultado mais expressivo foi o
alcançado pela Escola de Gestantes22
, em 2012. A partir desse resultado positivo, o então
prefeito de Pedro Leopoldo transformou o projeto Escola de Gestantes em uma política
pública, o que permitiu estendê-lo para toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS),
mantendo-se, inclusive, os parcerias não integradas ao escopo do ICC e da InterCement
(Werneck et al., 2012).
Nesse sentido, é interessante destacar que, pela ótica da empresa, o CDC é
considerado uma experiência bem-sucedida, que estaria alinhada com os fatores de sucesso
nas relações com a comunidade, segundo Zandvliet e Anderson (2009). Em pesquisa com
empresas do ramo de mineração em diferentes continentes, os autores destacam três
condições (Figura 5) que atestam o sucesso da empresa nas relações com a comunidade.
22
A Escola da Gestante funciona na atualidade em quatorze Postos de Saúde da Família (PSFs), na
Maternidade e na Clínica de Saúde da Mulher e da Criança em Pedro Leopoldo. Nessas unidades de saúde
foram realizadas, ainda, a aquisição de equipamentos e reformas financiados pelo ICC e outros parceiros.
Dentre as ações educativas e preventivas com as gestantes e seus familiares estão discussões sobre higiene,
saúde bucal e alimentação, a modificação do organismo durante a gravidez, o desenvolvimento do feto e a
importância da amamentação. Também são abordados aspectos como a participação dos pais nos cuidados
dos recém-nascidos, planejamento familiar, vínculos familiares e direitos da mulher (Werneck et al, 2012).
106
Figura 4
Relação de sucesso na visão das comunidades
Nota. Fonte: Zandvliet & Anderson (2009).
Na avaliação de Werneck et al. (2012), o programa de investimento social privado
da Camargo Corrêa contribui efetivamente para o desenvolvimento local de Pedro
Leopoldo. O autor atesta, ainda, que os métodos de trabalho em parceria com os demais
atores estão em conformidade com práticas de justiça e respeito aos stakeholders
propaladas pela política de responsabilidade social da empresa, acrescentando que a
InterCement estaria assumindo a responsabilidade por todos os impactos decorrentes da
sua ação através do seu programa de voluntariado na comunidade. Uma indagação
acessória deste estudo, apresentada quando da análise do documento de instituição do
referido programa, é se o CDC está de fato alcançando tamanha dimensão nesses
resultados apresentados por Werneck et al. (2012): os integrantes do CDC reconhecem
esses resultados no dia-a-dia? O que se pode antecipar é que, no decorrer deste estudo,
será possível verificar que os resultados da pesquisa de campo indicam que não.
107
Outros fatores interessantes apontados na pesquisa de Werneck et al. (2012) estão
relacionados com os riscos e oportunidades criados por este programa de investimento
social privado do Grupo Camargo Corrêa. Como fatores de risco para sobrevivência das
parcerias, os autores citaram dificuldades para: (i) desenvolver projetos de forma
intersetorial; (ii) lidar com as mudanças na gestão da administração pública; (iii) definir
projetos no CDC livres de influência da Camargo Corrêa; e (iv) ajustar os limites de
intervenção entre a empresa e a sociedade civil. Como oportunidades, Werneck et al.
(2012) destacaram: (i) o avanço do diálogo com concorrentes; (ii) as mudanças
administrativas na empresa em decorrência dos processos exigidos pelo programa; e (iii) o
intercâmbio de experiências entre sociedade civil, empresa e poder público.
Desta forma, tanto os riscos como as oportunidades apresentadas por Werneck et
al. (2012) confirmam alguns conceitos discutidos no escopo teórico deste estudo,
principalmente, no que diz respeito à difícil operacionalização das parcerias intersetoriais
(Selsky, & Parker, 2005; Fligstein, 2007). Ao admitirem assimetria de poder entre
empresa, Estado e sociedade civil, Werneck et al. (2012) sugerem, também, a dificuldade
de se consolidar os processos de liderança nas parcerias intersetoriais.
A partir desses achados, reforçaram-se outras indagações originadas desta
investigação: (i) como será que as dinâmicas utilizadas na busca do desenvolvimento
sustentável podem acontecer em decorrência de processos de liderança?; (ii) será que o
‘modelo CDC’ pode ser considerado um espaço de articulação intersetorial e de
governança mais horizontal e menos tutelada por algum expoente da sociedade?; (iii) como
será que os processos de liderança no CDC de Pedro Leopoldo ocorrem, considerando os
relatos de caráter estratégico para a LSO do Grupo Camargo Corrêa?; (iv) o modelo de
‘liderança participativa’ e de ‘valor compartilhado’ adotado pelo programa da empresa está
108
reproduzindo as aspirações dos diferentes atores participantes do CDC e da própria
sociedade de Pedro Leopoldo?
Essas questões serão exploradas, em profundidade, no próximo capítulo, dedicado
à analise dos dados coletados, com o objetivo de desvelar os processos de liderança no
desenvolvimento sustentável do território em foco.
109
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1 Processos de liderança no desenvolvimento sustentável de Pedro Leopoldo
A partir da análise dos dados coletados no período de dezembro de 2012 a agosto
de 2013, serão explorados, neste capítulo, aspectos da realidade concreta vivenciada e
relatada pelos atores envolvidos com os projetos do CDC voltados ao desenvolvimento
sustentável do território de Pedro Leopoldo-MG.
Durante a primeira participação desta autora na reunião do CDC, em dezembro de
2012, o Sr. Uelton a apresentou aos integrantes desse comitê que, gentilmente, mostraram-
se interessados em participar da pesquisa. Por constar da pauta, os integrantes do comitê
apresentaram alguns resultados dos projetos desenvolvidos no período de 2008 a 2012, e
discutiram propostas dos novos projetos que gostariam de desenvolver a partir de 2013.
Ainda constava da pauta o debate sobre a transição da administração pública da Prefeitura
de Pedro Leopoldo, tendo em vista o objetivo do CDC de garantir, por mais quatro anos, a
continuidade da parceria entre a InterCement, a prefeitura e a sociedade civil. Ainda pendia
a aprovação da agenda de trabalho do CDC pela prefeita eleita e, também, pelo Instituto
Camargo Corrêa, único parceiro financiador dos projetos. Discutiu-se, então, qual seria a
melhor estratégia de apresentação do CDC à nova prefeita, quem faria a apresentação da
proposta e quais resultados deveriam ser apresentados para convencer a gestora pública a
apoiar o CDC, dando continuidade ao trabalho executado na administração municipal
anterior. Ficou decidido que um pequeno grupo formado pelo Diretor do ICC,
Coordenador do CDC, Secretária de Educação, Presidente da Fundação José Hilário e
Diretor da Fundação Pedro Leopoldo (FPL) participariam desse encontro com a prefeita
em janeiro de 2013.
110
O resultado dessa reunião do ano foi positivo, pois determinou a continuidade da
parceria da Prefeitura de Pedro Leopoldo com os demais atores do CDC. Segundo
depoimento de membros do CDC, algumas mudanças significativas ocorridas de uma
gestão para outra foram relacionadas à gestão de pessoas, como a transferência e a
exclusão de algumas equipes de trabalho nas Secretarias Executivas da Prefeitura,
principalmente, naquelas ligadas às áreas de educação, saúde e desenvolvimento social,
com maior representação no CDC. Tais mudanças imprimiram uma nova configuração de
representantes no âmbito do comitê, consequente da evasão de algumas pessoas chave, que
dele participavam desde a sua origem e, por isso, tinham um sólido envolvimento com os
projetos.
É possível confirmar tais ocorrências tanto nos relatos dos representantes que
permaneceram no CDC, como daqueles que se afastaram do comitê. De acordo com tais
depoimentos, esta alteração de pessoal pode ter contribuído para diminuir o grau de
conectividade então presente nos projetos do CDC, enfraquecendo a participação coletiva
construída durante os quatro anos de trabalho. Percepção que pode ser confirmada pelos
depoimentos a seguir:
[...] todo mundo tinham vontade de fazer alguma coisa, e aí nós conseguimos unir
as pessoas. Conseguimos construir as ações porque o grupo tinha uma vontade de
fazer, uma determinação, uma seriedade que foi contagiante para todos, sabe? Foi
uma experiência belíssima! A vontade era um diferencial do grupo [...]. Tinha
subgrupos e [...] nada impedia de um dar ‘pitaco’ lá na gestante, lá no lazer e de ir
ajudar numa ação [...]. Nós podíamos transitar entre cada grupo, dando nossa
contribuição [...]. A gente sabia que cada grupo tinha pessoas que eram
responsáveis [...]. (Entrevistado G5).
[...] naquele CDC 95% é serviço público. O dia que mudar a administração, esse
povo sai todo. O prefeito entra, quer destituir tudo que foi feito pelo outro. Dá um
constrangimento de colocar essas pessoas em contato, quem estava na
administração anterior e quem está nessa [...]. As pessoas indiretamente envolvidas
recebem essa pressão e elas se encolhem [...]. (Entrevistado SC1).
[...] agora a fase é diferente, a gente já tinha um CDC maduro, e a gente começou
tudo de novo [....]. Tinha as pessoas que estavam maduras, já sabiam discutir, já
sabiam as metas, onde queríamos chegar [...], e aí parece que a gente começou de
novo, de fevereiro (2013) pra cá [...]. Tem que explicar o tempo todo, articular o
111
tempo todo, tem que tá falando com as secretarias pra colocar gente pra participar,
mostrando que a gente vai tá junto, e eles vão fazer o que deveriam fazer mesmo.
Não tá saindo em nada da proposta de trabalho deles (secretarias). (Entrevistado
E5).
Fica nítido, portanto, que a mudança na administração pública passou de algo que
era melhor para algo “menos maduro”. Isso reflete o que Armistead et al. (2007) relataram
sobre as dificuldades das parcerias intersetoriais, incluindo descompasso de agendas, falta
de confiança e vulnerabilidade para lidar com manobras ou interesses políticos (Vangen, &
Huxham, 2003). Nessa experiência realizada em Pedro Leopoldo pelo CDC, observa-se os
desafios da intersetorialidade diante da complexidade dos problemas sociais, do declarado
descompasso dos atores na convergência dos interesses públicos e privados e da transição
de processos que envolvem a administração pública nos territórios (Dowbor, 2007).
Na reunião seguinte do CDC, em fevereiro de 2013, o ICC apresentou a lista de
projetos aprovados para receber financiamento e serem desenvolvidos durante o ano. Para
a surpresa dos demais parceiros e integrantes do CDC, havia projetos que, mesmo
apresentando bons resultados durante o período desenvolvido, seriam descontinuados por
falta de financiamento do ICC, e outros que, mesmo apresentando expressivos resultados,
seriam reavaliados nos próximos meses, ficando, portanto, na ‘lista de espera’ de uma
definição do investimento pela empresa. Com isso, alguns coordenadores passaram a ter
como pendente a continuidade dos seus projetos. Como justificativa para a indefinição, o
ICC explicou que ela decorria da redução de recursos para o CDC de Pedro Leopoldo,
naquele ano, em decorrência de uma recente aquisição de unidade operacional pelo Grupo
Camargo Corrêa em outro território. Com isso, os recursos pré-determinados no orçamento
de 2013 para Pedro Leopoldo, precisaram ser redistribuídos, considerando esse novo
investimento do grupo empresarial.
Diante dessa notícia, foi possível perceber expressões que sinalizaram
descontentamento, principalmente, das pessoas diretamente afetadas. Inevitavelmente, os
112
comentários paralelos surgiram com intensidade, confirmando, na percepção desta autora,
a presença de um forte sentimento de frustação e desaprovação pela forma com que os
processos de decisão do CDC estavam sendo conduzidos. Os participantes começaram
então, a questionar os representantes do ICC sobre os critérios de escolha de determinados
projetos em detrimento de outros que, no entendimento deles, estariam na mesma condição
de importância para o desenvolvimento comunitário. Discutiram, ainda, a falta de
autonomia do CDC para decidir sobre os projetos que receberiam investimentos pela
empresa, considerando que essa postura do parceiro privado não correspondia à proposta
original do CDC, determinada em sua instituição em 2007.
Em dado momento, um representante da sociedade civil chamou a atenção dos
presentes para pontos importantes relacionados à capacidade de governança compartilhada
do CDC, alertando o grupo sobre a necessidade de uma nova postura do comitê para
avaliar propostas de projetos que deveriam ser prioridade para a população de Pedro
Leopoldo. O que dotaria o CDC da necessária autonomia para decidir quais projetos teriam
potencial para se transformar, ou não, em política pública municipal. Após esse
comentário, houve um instante de silêncio no grupo, seguido de imediata declaração por
parte de outro ator, dessa vez, um representante da empresa. Valendo-se de habilidade
diplomática, ele tentou acalmar os ânimos, propondo que um novo debate sobre o escopo
dos projetos do CDC para 2013 constasse da pauta de uma nova reunião.
Avalizando a percepção desta autora, momentaneamente, os ânimos se acalmaram.
Porém, a frustação e a desconfiança, provavelmente, eram sentimentos que, então
reprimidos, poderiam provocar conflitos futuros. Em relação a isso, é importante
reconhecer que na evolução institucional do desenvolvimento no território, a governança e
a definição de políticas públicas em domínios que interessam à comunidade, devem ser
113
arquitetadas e estrategicamente articuladas pelos atores que representam a sociedade civil
(Lévesque et al., 2012).
Neste sentido, é fundamental tanto a identificação das divergências entre os
envolvidos como a necessidade da criação de convergência de interesses em grupos com
múltiplos atores (Ospina, & Foldy, 2010). Desta forma, manter a diversidade de vozes,
criar dinâmicas com estruturas abertas e transparentes, de forma a permitir maior e efetiva
participação dos membros do grupo em movimentos que propõem alguma mudança social,
é fundamental nos processos de liderança (Ospina, & Foldy, 2010).
É esse cenário de frustração e desconfiança, decorrente do desequilíbrio nas
decisões que envolvem a definição dos projetos do CDC, que atesta a falta de autonomia e
de governança do comitê nas tomadas de decisão e, como resultante, o enfraquecimento de
sua legitimidade como representante da sociedade de Pedro Leopoldo. Neste sentido,
necessário se faz reafirmar que uma sociedade tende a se desenvolver, quando explora de
forma dinâmica as suas competências, que se articulam em prol de objetivos comuns e
interesses compartilhados (Dowbor, 2006; Milani, 2005, Selsky, & Parker, 2005).
Essa reflexão também faz sentido, ao analisarmos alguns relatos de entrevistados
que destacaram essa questão da autonomia e da falta de independência do CDC:
Eu acho que quando ela (Camargo Corrêa) lançou isso (CDC), foi muito feliz, uma
proposta bacana, porque você chama as pessoas para sua responsabilidade, as
pessoas começam a ter um papel. Mas, eu acho que ele (CDC) não tem tanta
autonomia, porque a linha de atuação já é definida. “Nós estamos fazendo comitê
para isso, isso e isso, mas a gente só investe nisso, nisso e nisso”. Então tem que
definir? Tem. Mas tem que ser uma coisa mais flexível, a partir do diagnóstico.
Quando começou o CDC, ela (Camargo) veio com a proposta pronta, eu me lembro
porque eu estava lá. (Entrevistado SC5).
[...] “o CDC é bem democrático, porém ele tem foco definido e tem alinhamento
definido”. (Entrevistado E2).
[...] para funcionar (o CDC) tem autonomia. Agora, de rumos a tomar não tem
autonomia, porque está muito dependente dos projetos que são oferecidos pelo
Instituto, [...] então a gente está muito dependente do Instituto, [...] o CDC não tem
nenhum projeto que ele propôs independente do Instituto, [...] todos os projetos do
114
CDC, a menos que eu esteja enganada, são projetos vinculados ao Instituto
Camargo Corrêa. (Entrevistado G4).
É interessante analisar que a visão de democracia e autonomia apresentada nos
relatos poderia ser passível de contestação, quando os atores, em condições institucionais,
são levados pela definição de significados pouco compartilhados em seus campos,
principalmente, quando uma das partes atua com certo nível de habilidade social, que
minimiza ou inibe qualquer iniciativa da outra parte de contestar os sistemas de poder e
privilégio imerso no campo, porque dele depende (Fligstein, 2007).
Trata-se de uma visão estreita de democracia, que não consegue visualizar,
inclusive, a importância das liberdades políticas (Sen, 2010), fator crucial, que pode fazer a
diferença na aproximação do CDC com a sociedade de Pedro Leopoldo. Como citado por
Sen (2010), entre a liberdade política e os direitos democráticos há três considerações
básicas: (i) a capacidade ‘direta’ de participação política e social; (ii) a capacidade
‘instrumental’ de ouvir de outras pessoas reinvindicações com foco político; e (iii) o ‘papel
construtivo’ para compreender as necessidades econômicas em contextos sociais.
Evidencia-se que um Comitê mais democrático e legítimo requer diálogos mais abertos e
liberdades políticas que, como pontos centrais dessa interação, podem materializar o
desenvolvimento sustentável do território.
Na reunião seguinte do CDC, teve-se a retomada da abordagem do posicionamento
do ICC quanto a aprovação, ou veto, de projetos na área da infância e adolescência,
segundo o plano do Comitê para 2013. Os presentes também abordaram assuntos sobre o
alcance de resultados do Projeto Rede que, na opinião de alguns recém-integrantes,
inexistiam, ou seja, não se obtinha resultados. Ocorre que tais cidadãos, por
desconhecerem o Projeto Rede, em razão de seu recente acesso ao CDC, por não conseguir
captar a extensão de suas ações, não sabiam definir quais resultados poderiam ser
115
apresentados ao ICC, em curto prazo, para a manutenção de investimentos futuros no
projeto.
Em contraposição, outros integrantes, representantes da sociedade civil e da
prefeitura, destacaram a importância do Projeto Rede para a integração das ações entre os
Conselhos de Direitos e demais secretarias municipais, escolas e organizações da
sociedade civil, usando como argumento a grande necessidade e, também, a complexidade
da inter-relação desses atores para tratar, de forma ampliada e compartilhada, os problemas
sociais relacionados à infância e adolescência. Em sua maioria, os integrantes concordaram
em dar mais tempo ao Projeto Rede. Isso demostrou, portanto, o potencial do CDC como
espaço de diálogo, o que favorece a configuração de processos de liderança, na medida em
que as decisões dos rumos a tomar são realizadas em prol de objetivos comuns e interesses
compartilhados (Selsky, & Parker, 2005).
Na visão desta autora, a participação da maioria dos integrantes do CDC ainda se
apresentava mais silenciosa e menos participativa, denotando um perfil comportamental
diferente daquele de reuniões anteriores. Além da baixa representatividade da sociedade
civil no comitê, os posicionamentos se mostravam pouco críticos, considerando-se o clima
de tensão gerado na reunião anterior. Houve, inclusive, questionamentos sobre a razão de
algumas pessoas normalmente mais ‘polêmicas’ se encontrarem tão caladas. E essas se
justificaram, argumentando que gostariam de participar mais como observadores.
Essa mesma característica comportamental foi percebida na reunião posterior,
sendo a baixa participação dos atores nos assuntos da pauta, atitudes contrárias a uma
característica básica do CDC de Pedro Leopoldo, considerado, pelo ICC e pelos
representantes da InterCement, como o CDC mais polêmico e crítico de todos os demais
CDCs de outros territórios. O caráter polêmico e crítico do CDC foi também referenciado
116
nos relatos de alguns entrevistados, que demostraram sua preocupação com a legitimidade
e a distribuição de poder no CDC, conforme relatado a seguir:
[...] o CDC não tem autonomia não! E essa era a ideia, de que a gente teria. A gente
é que aprovava os projetos na proposta inicial. Pra facilitar a gestão deles (ICC),
queriam que as cidades aceitassem um pacote pronto [...]: “nós queremos fazer isso
e vai ser feito dessa forma”, e aí jogava pro CDC dar uma maquiada e falar que
aquilo teria cara do CDC local [...]. Na verdade não é assim que aconteceu [...] nós
tivemos muito problema por ser uma das cidades com um grupo de pessoas do local
que não estava aceitando muito facilmente as coisas. [...] foi quando tivemos os
embates iniciais: “nós não queremos o pacote pronto, a gente quer criar o projeto”
[...]. Pedro Leopoldo então não andou no padrão de todo mundo [...] agora eles
devem querer puxar Pedro Leopoldo para andar no padrão de todo mundo [...] acho
que é isso que tá acontecendo agora. (Entrevistado SC4).
[...] quando existe um (co)mando grande da parte da Camargo, às vezes eles acham
que são donos do pedaço. A gente fica nervoso de eles acharem que estão fazendo
um favor, essa postura assim [...] Nós estamos trocando! Eles têm que ter uma
responsabilidade social, e eles têm que ter uma licença social, e para eles terem uma
licença social, as coisas têm que estar funcionando; [...] a gente fala assim: ‘Tem
muito pó ainda; não dá para esconder debaixo do tapete não, tem que funcionar
adequadamente aqui dentro’. [...] Então isso incomoda a gente [...]. (Entrevistado
G2).
[...] para sedimentar, o grande desafio agora é ter líder de comunidade fazendo
parte do CDC, para ter legitimidade, para falar das suas mazelas. Se você não tiver
legitimidade para falar de você, você não vai me escutar. Você vai criar uma
barreira, e eu não consigo chegar onde preciso chegar. Vai ser a tendência,
legitimar as pessoas que são da comunidade, que estejam aqui dentro, para tratar os
pontos que para eles são importantes. (Entrevistado E1).
Como atestado no referencial teórico deste estudo, esse cenário contribui para
reforçar a discussão proposta por Ospina (2006), de que a liderança se manifesta em um
grupo, quando seus integrantes enfrentam desafios para avançar em uma determinada
agenda, ou quando tentam mudar alguma coisa, ou seja, quando ela surge como uma
capacidade do grupo de produzir resultados a partir dos processos de criação de sentido
(significado de decisões). Assim, o que une essa nova forma de identificação da liderança
pode ser o reconhecimento de que, convencer indivíduos a se envolverem (Fligstein, 2007)
em mudança social, requer a legitimação das crenças e dos valores (Ospina; Foldy, &
117
Goldman, 2008) para minimizar as desigualdades de poder e reconhecer o valor estratégico
das ‘diferenças’ (Ospina, & Foldy, 2010; Skwara, 2005). Daí retoma-se a questão abordada
anteriormente sobre a importância da conquista de autonomia, pelo CDC, para a
legitimidade nos processos de liderança (Lévesque et al., 2012; Ospina, & Shall, 2001),
fortalecimento do capital social (Milani, 2005), construção de significados (Ospina, 2006)
e integração dos diversos atores para desenvolvimento sustentável do território (Sachs,
Lopes, & Dowbor, 2010).
Durante um treinamento direcionado a todos os integrantes do CDC, promovido
pelo ICC e InterCement em julho de 2013, ao contrário das últimas reuniões, foi possível
perceber uma ação propositiva em relação à postura passiva anunciada. Diferentemente das
reuniões anteriores, esse encontro apresentou um maior número de atores das três esferas
da sociedade e uma produção de debates mais polêmicos e críticos sobre a governança do
comitê. Sob o comando de um consultor externo, esse treinamento, especificamente,
envolveu rodadas de diálogos e trabalhos em grupo para responder três blocos de perguntas
sobre o CDC.
Na primeira rodada, as questões trabalhadas por cada grupo estavam relacionadas
com: (i) a identificação do papel do CDC no município; (ii) a forma de tornar o programa
(CDC) sustentável; e (iii) a identificação do grau de envolvimento de cada integrante com
o CDC. Na segunda rodada de diálogo, os grupos precisavam debater e definir: (i) quais
eram as perguntas centrais do CDC; (ii) qual era a missão do CDC; e (iii) como garantir
continuidade e autonomia ao CDC. E na terceira e última rodada de conversa, os grupos
propuseram: (i) como aprimorar a comunicação interna do CDC para mobilização do
grupo; (ii) como influenciar pessoas da sociedade civil para participar do CDC; e (iii) qual
seria o ‘plano B’ para o ‘projeto CDC’ não ser interrompido ou não acabar.
118
Tais discussões serviram para abertura de diálogos que mostraram o potencial de
conectividade do CDC para o trabalho colaborativo possível gerador do fortalecimento de
capital social. Essa visão pode ser percebida nos registros dos cartazes produzidos durante
as dinâmicas desse treinamento, porém, nesse caso específico, não houve a identificação
dos representantes de forma codificada, como nas entrevistas semiestruturadas, pois trata-
se de dados produzidos por grupos de pessoas que se misturavam em cada rodada. Alguns
registros mereceram destaque a partir da visão desta autora:
[...] a importância do CDC é maior do que cada projeto individualmente [...] (Grupo
de trabalho).
[...] o papel do CDC é perceber as demandas sociais, propor, efetivar, monitorar
ações, estar a serviço da comunidade [...] (Grupo de trabalho).
[...] o papel do CDC é pensar ações que beneficiem a sociedade em suas demandas
mais específicas, buscando parceiros na iniciativa privada para construir políticas
públicas autossustentáveis [...] (Grupo de trabalho).
Tais conceitos gerados em grupo demonstram que a construção de significados nos
processos de liderança pode permitir a articulação e a aprendizagem pelo encontro de
diferentes atores (Lévesque et al., 2012; Ospina, & Shall, 2001), e também a diversidade
dos saberes tende a se tornar reconhecida, valorizada e legitimada concretamente
(Fligstein, 2007). No viés das articulações estratégicas para o desenvolvimento sustentável,
onde a identificação coletiva de propósitos impede descontinuidades ameaçadas por forças
particularistas de determinados atores sociais (Costa, & Cunha, 2002), o CDC mostra-se
como uma proposta viável para a coprodução e cooperação integrada das diversas
secretarias municipais, empresas e organizações da sociedade civil, podendo constituir um
importante vetor de inovação social no território.
4.2 Análise do diagnóstico rápido participativo
Imediatamente após a capacitação do CDC, ainda no mês de julho de 2013, foi
aplicada a ferramenta de DRP, com o objetivo de gerar uma ‘fotografia dos cenários’ que,
119
então, envolviam a trajetória do Comitê e, ao mesmo tempo, proporcionar aos seus
integrantes a possibilidade de investigar, analisar e avaliar seus desafios e oportunidades
(Brose, 2001) por meio de representação empírica dos esquemas mentais cognitivos
(Guimarães, 2002).
O local de realização do DRP foi gentilmente cedido pela Fundação Pedro
Leopoldo, na pessoa do Gerente de Suporte Corporativo, José Maurício Machado Viana,
com total apoio logístico e de infraestrutura para as dinâmicas. O convite para participação
no DRP integrou o treinamento anterior direcionado a todos os integrantes, entretanto o
número de participantes no DPR foi considerado pequeno, por contar com a presença de
apenas seis membros do CDC. No entanto, o perfil do grupo alcançou equilíbrio de
representatividade, por ser constituído de representantes dos três setores da sociedade, a
saber: três representantes da InterCement, dois representantes da prefeitura e um
representante de organização da sociedade civil organizada (Fundação de Pedro Leopoldo).
Entre os participantes, havia representação tanto de veteranos do CDC (participantes ativos
desde o lançamento do CDC), como de membros que integraram o CDC a partir da metade
da gestão anterior e de novatos que foram integrados ao comitê em 2012. Esse perfil de
participação temporal conferiu legitimidade ao grupo para abordar e descrever os
acontecimentos mais marcantes do CDC, desde a sua instituição até aquele momento,
congregando visões diferentes e proporcionando a criação de sentidos (Ospina, 2006).
No plano da evolução das dinâmicas, os grupos A e B debateram e registraram suas
visões e opiniões conforme os métodos específicos de cada técnica aplicada. Antes, porém,
esta autora fez uma breve apresentação dos objetivos dos três tipos de diagnóstico,
elucidando a forma como seriam aplicados e orientando a utilização dos materiais. As duas
figuras a seguir (FIG. 5 e FIG. 6) retratam os resultados alcançados pelos grupos A e B.
120
Figura 5
Diagrama de Venn elaborado pelo Grupo A
Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
Figura 6
Diagrama de Venn elaborado pelo Grupo B
Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
121
O Grupo A, formado basicamente por representantes da esfera privada e de
governo, elaborou o diagrama de Venn, retratando as relações entre os atores, de forma um
pouco mais dispersa que a verificada no diagrama do Grupo B. Observa-se que, na visão
do Grupo A, o CDC está com uma representação maior do poder público e das empresas,
mas reconhece que a sociedade civil tem grande importância (representado pelo tamanho
da esfera), embora ainda se mostre menos participativa do que a Prefeitura Municipal e a
InterCement (esferas mais próximas entre si). Tal falha de participação da sociedade civil
no CDC não foi representada no diagrama do Grupo B, que demonstrou, pela superposição
e tamanho das esferas, níveis mais equilibrados de parceria intersetorial. Além disso, nota-
se que ambos – grupos A e B – têm percepções semelhantes quanto a baixa proximidade e
baixa influência das OSCs, associações de classe, associações de bairros e outros parceiros
privados no CDC.
Tal representação gerou reflexões sobre a teoria dos campos que, uma vez
estabelecidos, podem predefinir as concepções culturais de um grupo, segundo o perfil dos
atores estratégicos mais atuantes.
Esses novos conceitos culturais podem reorganizar as identidades e os interesses
dos atores. Ao decidir quem e como ser, os grupos aceitam uma posição na ordem
que pode redefinir quem são e o que querem. [...] Também ocorre de essas
situações muitas vezes serem forças políticas cujos conceitos culturais unem grupos
muito diferentes [...]. (Fligstein, 2007, p. 70).
Esse processo, muitas vezes, pode evidenciar os interesses, as identidades e as
preferências (Fligstein, 2007) dos parceiros que estarão presentes no CDC. Pode, ainda,
comprometer a interação social de outros grupos que compartilham os mesmos desejos de
desenvolvimento sustentável no território. Isto porque a transformação pode estar presente
na forma como os atores sociais hábeis se encontram para construir novas ordens sociais
locais, e estabelecer estratégias de convencimento de determinados grupos a cooperar
reciprocamente (Fligstein, 2007).
122
Na identificação dos problemas apontados como prioritários e de maior relevância,
o diagrama de fluxo do Grupo A destaca a pouca participação da sociedade civil como o
fenômeno mais crítico a ser tratado pelo CDC. O Grupo B, sob outro foco não menos
importante, destaca a falta de recursos financeiros para manutenção dos projetos do CDC
como o fenômeno mais crítico. Assim, ambos atestam uma clara visão das causas e das
consequências que os dois fenômenos podem provocar no CDC (Figura 7 e Figura 8).
Figura 7
Diagrama de fluxo elaborado pelo Grupo A
Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
123
Figura 8
Diagrama de fluxo elaborado pelo Grupo B
Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
Alguns comentários extraídos nas gravações durante o DRP mostram que tanto os
integrantes do Grupo A como do Grupo B estavam preocupados com os aspectos que
envolvem a manutenção e o fortalecimento do CDC para a sua sobrevivência no longo
prazo. Na visão desses integrantes, destaca-se, ainda, a falta de uma definição clara e
compartilhada pelos atores externos do que seria o CDC, a certeza da importância de se
buscar uma autonomia nas tomadas de decisão e da necessidade de romper com a
dependência do único recurso financeiro do Grupo Camargo Corrêa, com a busca de novos
parceiros privados, conforme atestam os comentários a seguir:
[...] a gente tem que dar um jeito de divulgar o que é o CDC e quais são as
propostas de trabalho dele, para que as pessoas participem de forma voluntária e
consciente [...] não é um ajunta, ajunta; tem objetivo [...]. (Participante durante
DRP).
[...] Esse conceito de que o CDC tem que ser mais conhecido e tem que caminhar
com as próprias pernas, e o conceito de financiamento dos projetos que não têm que
ser necessariamente bancado pelo Grupo Camargo Corrêa; é uma coisa que foi dita
pra gente o tempo inteiro e nós não soubemos fazer esse dever de casa; [...] tenho
raiva que o ICC não quer injetar mais dinheiro no CDC; tenho [...] mas não posso
jogar a culpa nele o tempo todo [...]. (Participante durante DRP).
124
Nota-se a percepção sobre a necessidade de atrair mais participação da sociedade
civil e conquistar mais parceiros privados. Por outro lado, o reconhecimento de que “não
estão fazendo o dever de casa”, mostra a fragilidade em identificar, na governança
compartilhada, o potencial para gerar uma nova abordagem de desenvolvimento
sustentável (Ospina, 2006) por meio do ‘Modelo CDC’ no território.
A construção da Linha do Tempo permitiu verificar a presença de lacunas na
descrição dos momentos marcantes do CDC nos anos de 2010 e 2012. O grupo não
apresentou ou referenciou fatos marcantes nesses períodos, e não houve intervenção desta
autora sobre isso. Porém, nas manifestações orais, o representante da sociedade civil
apresentou um breve relato, argumentando que, nesses dois anos, os projetos foram
desenvolvidos de maneira tranquila e, conforme verbalizado: “estavam azeitados e bem
conduzidos”, dispensando maiores referências ou destaques na Linha do Tempo. Acontece
que a falta de referência histórica nesses períodos pode representar, também, a falta de
visão compartilhada dos diferentes projetos desenvolvidos pelo CDC, demostrando a
fragilidade tanto na sistematização dos dados como na comunicação dos resultados
alcançados, conforme atesta a Figura 9.
125
Figura 9
Linha do Tempo elaborada em conjunto pelos grupos A e B
Nota. Fonte: Original desta pesquisa.
Na análise dos discursos do DRP, pode-se destacar, também, o comentário de uma
representante de governo, argumentando que a escolha dos projetos ligados à infância no
momento da instituição do CDC, em 2007, era de necessidade urgente para o município, e
não o fruto de um diagnóstico local, conforme marcado na Linha do Tempo:
[...] eu ainda não estava no CDC, mas eu pertenço à rede (de educação) há 18 anos
[...] então, quando detectou lá (instituição do CDC) a necessidade de capacitação do
pessoal envolvido com a primeira infância – 0 a 6 anos – foi porque, exatamente
nesse período, a prefeitura teve que encampar (por determinação estadual) as
creches do município que, até então, eram filantrópicas (e não estavam sob tutela da
Prefeitura Municipal) [...]; essas creches foram municipalizadas e a própria
prefeitura não tinha a mínima infraestrutura para encampá-las [...] tinha prédio com
puxadinho, tinha creche funcionando na casa dos outros (sem registro oficial) [...].
(Participante do DRP).
Essa narrativa factual evidenciou que a definição de projetos, no momento da
implantação do CDC, pode ter sido influenciada pelo interesse particular da esfera
126
governamental, não representando, essencialmente, uma proposta originada de demanda
das demais esferas da sociedade, conforme registros anteriores. Considerando que a
proximidade com os representantes de governo e consequente acesso a informações
caracterizam hibridismo e interdependência entre as organizações privadas e o poder
público (Schommer citado por Fischer, 2002), é preciso reconhecer que o espaço de
interação social no CDC apresenta-se como oportunidade potencial para desenvolver
projetos que sejam convergentes para a demanda da sociedade civil, mas, também, que
sejam de interesse das empresas e do poder público. Ou seja, no entendimento desta autora,
por mais que o projeto que envolveu a municipalização das creches apresentasse forte
cunho político, ele representava uma demanda urgente da sociedade e, por isso, não seria
menos importante que os demais projetos de realização definida no encontro de 2007.
Este outro relato, durante o DRP, retratou a forma como o CDC vem sendo
assimilado por agentes externos da sociedade de Pedro Leopoldo – “como sendo um
comitê do poder público que executa os projetos que são discutidos no espaço do CDC”
(Participante do DRP). Assim, de forma exógena, o CDC corre o risco de adquirir um
perfil de cunho mais governamental com participação do setor privado, do que
propriamente de cunho civil, conforme demonstrado neste relato:
[...] se tiver muita gente representando a prefeitura pode passar a ideia que o CDC é
da prefeitura; [...] na medida em que a sociedade e as pessoas não vão comprando a
ideia, os que estão lá ficam desmotivados e começam a sair [...]. (Participante do
DRP).
A partir das parcerias intersetoriais nos territórios, a aplicação do princípio
participativo pode, então, contribuir para a construção da legitimidade do governo local e
promover uma cultura mais democrática (Milani, 2008). Porém, como construir coalizões
políticas, persuadir outros a participarem e criar novas identidades (Fligstein, 2007) nos
campos de atuação? Como os processos de mudança social podem garantir a conectividade
127
necessária para o trabalho colaborativo (Ospina, & Shall, 2001)? De onde virão às
oportunidades para as novas formas de ação (Fligstein, 2007)?
De forma geral, os resultados apresentados no DRP possibilitaram a identificação
de fatos relevantes para análise do contexto sócio histórico e participativo do CDC. O fato
é que, mesmo com a pequena representatividade durante o DRP, o entendimento e a
clareza de propósitos dos integrantes presentes garantiram a criação de sentidos e
compartilhamento de ideias. Os desafios são grandes, entretanto, as respostas para essas e
outras questões que envolvem os processos de liderança nas parcerias intersetoriais para
desenvolvimento sustentável poderão ser construídas e reconstruídas ao longo do tempo,
promovendo a perpetuação desse movimento social por gerações.
4.3 Análise das entrevistas semiestruturadas
Com o objetivo de conhecer a forma de envolvimento do integrante do CDC com a
cidade e o seu entendimento dos desafios de desenvolvimento do território, o roteiro de
entrevista foi iniciado com perguntas relativas à sua visão de contexto histórico. No
cômputo total, as entrevistas revelaram que, de forma geral, a maioria reside ou transita há
mais de 20 anos em Pedro Leopoldo. Para eles, a cidade passou por uma transformação
acelerada em curto espaço de tempo, involuindo de uma cidade com perfil pacífico e de
convivência ‘tranquila’, típica das cidades ‘de interior’, para uma “[...] cidade com
crescimento desordenado e graves problemas de mobilidade urbana, saneamento básico e
segurança pública, principalmente [...]” (realidade relatada por mais de um entrevistado).
Reconheceram, também, o momento de acelerado investimento econômico na região,
proveniente de incentivos do Governo Federal como as obras do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) e da Copa 2014, incentivos do Governo Estadual (Projeto do Vetor
128
Norte e Aeroporto de Confins) e incentivos privados (ramo imobiliário e construção do
maior shopping de moda da América Latina na cidade).
Esse cenário, ao mesmo tempo que mostra uma possibilidade de avanço para o
desenvolvimento local, abre uma lacuna para uma análise das consequências da falta de
estrutura da cidade para atender as demandas sociais, culturais e ambientais provenientes
desse crescimento econômico. Ao considerar que “o processo de desenvolvimento, quando
julgado pela ampliação da liberdade humana, precisa incluir a eliminação da privação da
pessoa” (Sen, 2010, p. 56), esse avanço pode mostrar-se na contra mão do
desenvolvimento sustentável, pois não se pode deixar de levar em conta que os fatores
relacionados à falta de estrutura pode refletir na privação da liberdade (Sen, 2010) dos
cidadãos pedro-leopoldenses.
Avançando para a abordagem do eixo das parcerias intersetoriais, buscou-se
informações que respondessem as perguntas: (i) como foi criado o CDC?; (ii) qual foi a
proposta original? e (iii) qual era o papel dos parceiros e a dinâmica de participação
coletiva? A maioria dos relatos, que atestou que a proposta inicial do CDC proveio “da
visão da empresa” (E3), não se alinhou com a opinião de alguns entrevistados da esfera da
sociedade civil sobre os motivos que deram origem ao comitê, como mostram os seguintes
relatos:
[...] foi criado um grupo que é o tal do CDC composto por representantes dos
seguimentos organizados [...] a proposta é que esse grupo passasse a representar os
anseios da comunidade e a trabalhar esses anseios, transformando isso em projetos
de políticas públicas, em projetos a serem desenvolvidos em uma parceria do
instituto (ICC) com o poder público e a sociedade civil, voltados para, como ele
(Diretor do ICC) colocou como lema – fazer com que as comunidades estejam
preparadas para enfrentar os seus desafios; [...] então esse grupo foi criado com esse
intuito e começou o trabalho [...]. (Entrevistado SC1).
[...] ele (CDC) não é um espaço representativo da comunidade como um todo, ele
tem um recorte focado no programa que está sendo implantado [...], ou seja, são
lideranças da comunidade, sim, porém lideranças que atuam nos temas relacionados
aos projetos [...]. Eu acho que o CDC é um espaço de fortalecimento social [...];
essa ideia surgiu pela importância de ouvir a comunidade em relação ao que se vai
129
fazer. [...] então a gente procurou criar um grupo representativo de lideranças e
organizações sociais que atuam na mesma área do programa a ser implantado na
cidade. [...] o CDC surgiu da necessidade de criar um espaço onde poderíamos
ouvir representantes da comunidade e daí veio à iniciativa de criar o CDC.
(Entrevistado E3).
Entende-se, pois, que a proposta da criação do CDC parecia interessante, no sentido
de levar a sociedade a pensar suas próprias demandas, desenvolver seus próprios projetos
de forma coletiva e transformar isso em políticas públicas, fazendo do espaço dessas
políticas um campo de benefícios à população. O que se pode perceber, no entanto, é que a
proposta do ICC não correspondeu a essa expectativa, haja vista ter se disponibilizado, na
verdade, para ser apenas um espaço de convergência de ideias, “um espaço para ouvir a
comunidade” (Entrevistado E3), de forma a atender os objetivos de um projeto pré-
definido pela empresa, com metas e diretrizes próprias, o que também não deixa de ser
interessante e legítimo, do ponto de vista da oportunidade de diálogo entre as diferentes
lideranças da cidade, para a convergência dos interesses públicos e privados.
A questão, entretanto, é analisar o senso de identidade dos atores do território em
torno do CDC e o potencial de transformação social que esse comitê pode alcançar.
Considerando as divergências apresentadas sobre a visão do foco central do CDC e a falta
de reconhecimento da amplitude de sua atuação, pergunta-se: quais seriam os significados
que devem ser perseguidos, e quais não devem, e por quê?
De acordo com Fligstein (2007), a busca de habilidade social exige identificar
quem são os principais atores coletivos, e como eles podem criar uma coalizão política em
torno de sua nova ‘identidade’. A partir desse processo de construção de significado para
influenciar políticas públicas (Ospina & Shall, 2001), tende-se à possibilidade de buscar
uma forma de liderança como mecanismo que faça as coisas acontecerem num contexto de
colaboração (Huxham, & Vangen, 2003). Para ser eficaz, essa forma de participação requer
mudanças dentro da própria administração (Brugué, 2009), sendo os caminhos para essa
130
trajetória, muitas vezes, divergentes e complexos, pois, ora o CDC é considerado um grupo
mobilizador, ora é interpretado como órgão financiador de projetos, ora é visto como
gestor de políticas públicas ou executor dos interesses privados, como apontam os relatos
sobre o papel do CDC:
[...] o CDC só funciona se estiver alinhado com as políticas públicas, e esse
alinhamento tem demonstrado que fortalece seu papel; [...] O CDC funciona como
incentivador, funciona como motivador, funciona como captador de recurso, [...]
busca alinhar as políticas públicas com investimento privado e com as OSCs.
(Entrevistado E2).
[...] o trabalho intersetorial é possível, o trabalho com público-privado é possível
[...] é outra grande transformação transitar nessas áreas. A educação estar dentro da
saúde, estar dentro da área social, é o ideal dentro de uma comunidade hoje. [...] a
escola é uma grande mobilizadora, é a creche, é a instituição educacional [...] que
mobiliza as famílias [...] chega à criança, chega aos pais, chega aos irmãos, ela
chega aos avós, ela é o canal [...]. (Entrevistado G5).
[...] não é que a InterCement seja boa fazendo isso (CDC), na verdade uma parcela
desses recursos que a InterCement usa é dinheiro do governo que ela teria que
pagar; [...] o governo dá como incentivo, ‘aplica como social e não me paga’
(governo). [...] aliás foi elaborada essa legislação, exatamente, para dar um
incentivo aos empresários para eles se voltarem para a questão social (Entrevistado
SC2).
Na análise do terceiro eixo teórico – os processos de liderança – muitos
comentários reforçaram a falta de autonomia, independência e transparência nas tomadas
de decisão do comitê. Além disso, destaca-se a percepção de alguns entrevistados, no que
diz respeito à influência da política sobre a capacidade reivindicatória das classes sociais
dominantes, nos processos participativos em Pedro Leopoldo. Numa análise empírica, tem-
se que, em uma cidade pequena, as relações de poder acabam influenciando o modo como
as pessoas enfrentam as diferenças de opinião sobre determinados aspectos da cidadania, o
que pode minimizar a capacidade de contestação em domínios que refletem a coletividade
(Fligstein, 2007). Essa consequência é atestada pelos seguintes relatos:
[...] o que mais me assusta em Pedro Leopoldo é que as camadas mais ricas são
altamente dependentes de interesses do poder público; [...] eles morrem de medo de
contestar o prefeito; [...] ninguém quer mexer com a organização da sociedade,
131
porque na hora que você mobiliza a sociedade você mexe nesses vínculos, nessas
conexões; [...] e o povo da sociedade não quer mexer nessas conexões.
(Entrevistado SC1).
[...] existe uma representatividade dentro do CDC de um assunto que é mais ligado
à criança e ao adolescente, mas a polícia, por exemplo, que lida diretamente com
essas questões, não tem representante; [...] não tem ninguém do Ministério Público,
não tem nenhum representante dessa área que tenha poder legal para discutir sobre
aquele assunto [...] existe muita gente envolvida nos projetos, poucas no CDC.
(Entrevistado G1).
Como romper com os interesses particularistas de determinados segmentos sociais,
a fim de construir uma compressão compartilhada e alinhada com os interesses da
sociedade civil? De acordo com Huxham, & Vangen (2003), para uma compreensão global
do exercício da liderança no âmbito da colaboração, é preciso considerar três meios
importantes: (i) estruturas; (ii) processos; e (iii) participantes, a partir da interação
produtiva e propositiva dos atores envolvidos (Silvia, 2011), para ganhos de capital social.
O capital social “manifesta-se por meio das redes sociais e das normas de
confiança que facilitam a coordenação e a cooperação, tornando possível a ação coletiva,
de natureza voluntária, para benefício mútuo, no interior dos grupos e das organizações”
(Vale et al., 2006, p. 46). Partindo desse conceito, e traçando um paralelo com relatos
extraídos das entrevistas, tem-se que o enfraquecimento do capital social pode ser
exemplificado com um fato ocorrido quando dos primeiros encontros do CDC, em 2008.
Conforme relatos, houve muitos conflitos e divergência de opiniões entre os atores
parceiros, o que provocou o afastamento da representação da Maçonaria do CDC e, por
consequência, o enfraquecimento da representatividade dessa e de outras organizações de
classe.
A questão dos conflitos de interesse político e particularista também pode ser
exemplificada por outro caso relatado por representante de governo (G5) na entrevista, ao
contar sobre a repercussão do êxito da implantação do Sistema de Gestão Integrada (SGI)
132
nas escolas de Pedro Leopoldo, “programa que trouxe as ferramentas de gerenciamento
para a educação” (Entrevistado G5), por meio de treinamento dos professores e servidores
públicos das escolas com investimento social privado da Camargo Corrêa. Os resultados
alcançados nesse projeto resultaram em reconhecimento nacional pelo então Ministro da
Educação, Aloízio Mercadante, que convidou os coordenadores do programa SGI, em
Pedro Leopoldo, para mostrar seus resultados em uma reunião em Brasília-DF, sendo
considerado pelo ministro, como exemplo a ser seguido em âmbito federal (Entrevistado
G5).
Entretanto, o SGI foi paralisado após mudança de gestão na administração pública,
pois a nova prefeita não priorizou o que foi construído ao sugerir que, a partir do seu
mandato, o SGI tivesse continuidade apenas por motivações voluntárias daqueles que
foram capacitados nas escolas (Entrevistado G5). De acordo com reflexões do entrevistado
G5, a partir dessa postura ‘flexível’ no acompanhamento dos programas de interesse
público, ocorreu um relaxamento das pessoas envolvidas com o SGI na execução dos
planos de ação e, consequentemente, no alcance das metas predeterminadas para cada
escola. O entrevistado G5 considera, então, que o alto investimento da Camargo Corrêa na
capacitação de professores e servidores públicos, e todo o tempo e material (planos de
gestão em escolas de educação pública) construído durante anos, foram desperdiçados,
“jogados para lata de lixo” (Entrevistado G5). Esse fato ilustra o que os estudos já
apontaram, ou seja, que o desequilíbrio de interesse dos gestores na transição de processos
que envolvem a administração pública nos territórios, pode prejudicar o avanço de
determinadas ações sociais, comprometendo gerações.
Outra questão ainda sobre os conflitos de interesse está relacionada com a
inflexibilidade, por parte da empresa, na definição dos projetos do CDC, apontada como
um fator crítico no plano da autonomia do comitê em relação à capacidade de definição
133
dos rumos que o grupo deseja ou deve tomar. No sentido de melhorar essa condição, a
tendência pode ser o estabelecimento de um projeto estratégico e criativo de
desenvolvimento (Costa, & Cunha, 2002) de longo prazo, por meio da governança aberta e
democrática, a fim de construir a confiança necessária e promover a troca informações
(McGuire, 2006). Os relatos a seguir refletem a condição da falta de autonomia no CDC:
[...] A proposta era que esse grupo discutisse os problemas de Pedro Leopoldo,
estabelecesse um conjunto de prioridades e formulasse projetos para tratar essas
prioridades, e que esses projetos fossem ligados à atuação do poder público. Então
essa foi a base estrutural da proposta da criação do CDC [...] que esses projetos
estivessem ligados aos três programas deles (empresa): Infância Ideal, Escola Ideal
e Futuro Ideal. (Entrevistado SC1).
[...] Porque querendo ou não, tem certa liderança (no sentido de condução) do
grupo da Camargo. [...] a hora que a gente quer não tem a reunião que a gente quer;
[...] continua um paternalismo em termos da condução intelectual, apesar de saber
que a ação é nossa. [...] mas eu acho que a gente vai ter que aprender muito em
termos dessa organização da gente. [...] mas hoje a gente não aceita mais ficar sem
o CDC. [...] eu acho que a gente não aceita, porque é onde a gente pode caminhar, é
onde a gente pode estar montando os passos que a gente vai seguir. [...] a gente tem
muito medo de parar os projetos. (Entrevistado G2).
[...] eu reconheço os dois papéis com muita clareza, tanto o papel do ICC enquanto
poder e enquanto vontade de não querer aparecer como poder, e do CDC a mesma
coisa [...] equilibrar isso é o que a gente tem que tentar fazer [...]. (Entrevistado
SC4).
A partir dos relatos, é possível verificar que, se por um lado a empresa propõe um
projeto aberto e dialógico, por outro define os projetos nos quais deseja investir, sendo os
mesmos formulados pela corporação. Percebe-se, também, que as pessoas do CDC
reconhecem sua capacidade de ação como protagonista, porém acabam se “encolhendo”
diante dos domínios corporativos por receio da descontinuidade do projeto, fato que
claramente gera desconforto (Entrevistado G2). A falta de autonomia para decidir os temas
dos projetos entre o ICC e o CDC, o “paternalismo em termos de condução intelectual”
(G2) sobre os atores envolvidos e o difuso reconhecimento “dos dois papéis com muita
clareza” (SC4) sugerem que existe um entendimento, por esses entrevistados, dos limites e
das oportunidades do CDC na atual formatação.
134
A construção de significados e a distribuição de poder pressupõem entender como a
interação social se constrói ou se transforma na configuração das instituições. As
instituições podem ser interpretadas como ambiente onde “regras e significados
compartilhados definem as relações sociais [...], e podem afetar as situações dos atores
com ou sem seu consentimento ou compreensão” (Fligstein, 2007, p. 64).
Elas são intersubjetivas (podem ser reconhecidas pelos outros), cognitivas
(dependem das habilidades cognitivas dos atores) e, em certo nível, requerem a
autorreflexão dos atores. [...] o processo de construção de instituições ocorre no
contexto de atores poderosos tentando produzir regras de interação, para estabilizar
sua situação em relação a outros atores poderosos e menos poderosos. [...] É
importante reconhecer que a construção de instituições pode fracassar. Diferentes
interesses e identidades de grupos podem impedir o surgimento de instituições
estáveis. (Fligstein, 2007, p. 64).
Nesse contexto, a citação de Fligstein (2007) esclarece sobre o tipo de relações e os
riscos que determinados tipos de conexões podem estabelecer em campos
institucionalizados, como o CDC de Pedro Leopoldo. Conforme Bourdieu (1984 citado por
Milani, 2005), as redes de relações de conhecimento e reconhecimento mútuos podem
gerar fatores potenciais resultantes de pertencimento para, efetivamente, se mobilizar em
torno de um campo ou território. Esses elos podem ser estabelecidos pelo potencial de
conexão que está sempre presente nos seres humanos (Ospina, & Foldy, 2010), e isso pode
provocar mudanças sociais no contexto, e a partir daí promover uma teia por meio das
relações interpessoais (Ospina 2006).
A busca do capital social no CDC encontra-se no campo dos desejos de algo que
poderia vir a ser, mas que, de fato, ainda não se realizou por meio dos processos de
liderança ou governança participativa. Um caminho já anunciado será buscar soluções dos
problemas públicos de maneira inter e intra-organizações (Clark, & Full, 2010) para a
configuração de relações positivas de trabalho colaborativo, a fim de garantir a
135
conectividade necessária para os processos de mudança social (Ospina, 2006). Nos relatos
a seguir, a sobrevivência do CDC e sua perpetuação no longo prazo foram evidenciados:
[...] Uma coisa importantíssima para a sobrevivência do CDC, para mim, o
requisito número um está no primeiro degrau da escada, chama-se confiança. [...]
Se você quebrar a confiança que existe entre os integrantes do CDC, aí acaba tudo.
[...] nós já tivemos várias etapas em que isso aconteceu e a gente demandou muito
tempo para reverter a situação. [...] então quebrou o grau de confiança, quebrou o
alinhamento, e a reversão é muito mais trabalhosa. (Entrevistado E2).
[...] eu acho que o CDC poderia ser [...] um espaço de apresentação de soluções
reais para a própria população [...], para dar pertencimento à população, aquilo que
pertence a nós, pertence a mim; eu que sou beneficiado [...]. isso não pertence à
prefeitura, não pertence a Camargo Corrêa, porque quando aquilo é meu, eu cuido,
eu não deixo aquilo acabar... (Entrevistado G1).
[...] Eu penso que essas questões sociais não devem ser discutidas no município,
mas ‘nos municípios’. [...] precisa sempre buscar uma região, sempre buscar
interligação [...], porque as cidades estão crescendo e, cada vez mais, vai ligar uma
na outra [...]. por exemplo, violência, é uma questão que permeia todo mundo. [...] a
droga permeia todo mundo; saúde permeia todo mundo [...]. (Entrevistado SC2).
O relato do entrevistado SC2 apontou para uma questão interessante e estratégica
na definição dos campos de atuação nos territórios. Na geografia dos espaços de
convivência, alguns problemas sociais ultrapassam as fronteiras imaginárias do território,
como o combate ao uso de drogas, o combate a dengue, entre outros, indicando que o
desenvolvimento sustentável no território não pode se limitar aos bairros “do município”,
mas sim “dos municípios”. Como afirma Milton Santos (2006, p. 4): “uma indispensável
premissa de base é que não existe meio ambiente diferente de meio, [...] o locus desses
problemas é o lugar [...]”, ou seja, é todo o território.
A proximidade das cidades também se repercute na proximidade dos problemas e
das soluções sociais, culturais, ambientais e econômicos. Assim, a liberdade do
desenvolvimento não pode ter fronteiras, mas é preciso dialogar com os diversos
segmentos para soma dos potenciais. Para o alcance de desenvolvimento sustentável, é
pressuposto que os processos de liderança se configurem como o elo que, pela prática do
136
diálogo entre grupos de pessoas, possa promover a construção permanente de interação
social, criada e recriada pelas parcerias intersetoriais, pela ideia de que a liderança pertence
a uma comunidade, e não a um indivíduo (Ospina, & Shall, 2001).
137
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final do presente estudo, que se baseou na análise da liderança como um
processo dinâmico, democrático, compartilhado e dialógico, característico de grupos em
convivência em um território e não como atributo de indivíduos ou organizações
específicas, infere-se que o fenômeno de liderança se efetiva pela participação direta e
ativa de pessoas imbuídas com um tipo de cooperação em que as partes produzam
benefícios públicos, como demonstrado na pesquisa dos processos de liderança nas
parcerias intersetoriais do Comitê de Desenvolvimento Comunitário (CDC) em Pedro
Leopoldo-MG, para o desenvolvimento sustentável daquele território.
Tal conclusão é atestada, neste estudo, pela comprovação de que as parcerias
intersetoriais consideradas, tanto pela literatura acadêmica quanto pelos documentos de
orientação de política de organismos internacionais, governos e organizações da sociedade
civil de atuação global, como uma estratégia desejável e consistente para a promoção do
desenvolvimento sustentável dos territórios, cumpre a sua finalidade. Isto porque,
conforme observado, diante da complexidade dos problemas sociais é fundamental
articular parcerias intersetoriais em bases efetivamente participativas, convergentes para
fins coletivos e voltadas para o alcance de resultados mais abrangentes em um projeto de
transformação consciente da realidade local de um território. E também, que é preciso
estimular e implementar novas formas de governança compartilhada, nas quais a
legitimidade e a autoridade para resolver problemas sociais possam ser conduzidas por
meio de processos de liderança. Verificou-se, por outro lado, que é nesse processo de
governança compartilhada por meio de parcerias intesetoriais, que se destaca o problema
da liderança para a transformação social.
138
Ao se explorar o desenvolvimento do processo de interação social dos atores da
sociedade civil, empresas e governo no CDC, tanto por suas participações nas reuniões do
comitê, por meio de diagnóstico rápido participativo (DRP), como da análise dos dados,
por meio das entrevistas semiestruturadas, foi possível abstrair os fatores que influenciam
os processos de liderança no CDC, que afetam a construção das parcerias intersetoriais
para o desenvolvimento sustentável.
Neste sentido, a análise dos dados confirmou a percepção de que o CDC tem um
histórico positivo, por ter um de seus projetos transformado em política pública. Em
decorrência, demonstrou-se que o diferencial do CDC é agregar capacidade às forças
políticas da cidade, públicas e privadas, a partir da coprodução de projetos e articulação de
interesses com as esferas da sociedade (governo, empresa e sociedade civil). Tem-se, pois,
como uma promessa na concepção de desenvolvimento de projetos nas áreas da infância e
educação, que, quando transformados em políticas públicas, podem vir a atender as
demandas sociais da cidade e, por consequência, promover o desenvolvimento sustentável
desse território.
Assim, constatou-se que, de fato, as parcerias intersetoriais podem decorrer de
ações coletivas nas quais seus participantes estejam motivados a cooperar por meio de
habilidades sociais, e que as dificuldades no estabelecimento dessas parcerias incluem
descompasso das agendas, falta de confiança e vulnerabilidade para lidar com manobras ou
interesses políticos. Assim, constata-se, por extensão, que a ação dessas parcerias
dependem da disposição que os governos e parceiros têm para dialogar, pois o
compromisso com o desenvolvimento sustentável pressupõe considerar fatores sociais,
culturais e políticos do contexto em questão, que não se regulam exclusivamente pelo
sistema econômico.
139
Outro fator considerado, ao final deste estudo, como determinante nos resultados
alcançados pelo CDC após quatro anos de sua implantação no seu território de
abrangência, foi a mudança de gestão pública da Prefeitura Municipal entre os anos de
2012 e 2013, ou seja, após quatro anos de sua implantação. Constatou-se que o Comitê
apresentou, desde então, uma significativa diminuição dos participantes que atuavam desde
a sua criação, com redução considerável de atores da sociedade civil, o que pode estar
comprometendo o potencial de consolidação dos projetos no longo prazo, e colocando em
xeque a sua representatividade com os demais atores do território.
É possível inferir também, considerando os relatos das entrevistas, que esteja
havendo uma maior condução dos processos por parte do Instituto Camargo Corrêa, a
partir do momento em que se anuncia a aplicação de investimentos no CDC voltada para
projetos sociais que estariam mais alinhados com a política de desenvolvimento social
corporativa, contrariando, assim, a proposta original de construção coletiva de projetos
voltados para as demandas sociais locais visando o fortalecimento das políticas públicas.
Tem-se, pois, que a redução de participantes, principalmente da sociedade civil no
CDC, comprometeu a evolução do processo de liderança, uma vez que é a criação de
convergência de interesses e de dinâmicas com estruturas abertas e transparentes em
grupos como proposto pelo CDC, que tende a permitir um maior grau de participação
efetiva de diversos atores, a promoção da diversidade de vozes e, por consequência, a
obtenção de legitimidade para representar os interesses coletivos em movimentos que
pressupõem alguma mudança social.
Ressalta-se, também, que a aplicação do DRP, estratégia de pesquisa participativa,
favoreceu a análise de outros aspectos relevantes do fenômeno investigado, como o senso
de identidade sócio-histórica do CDC (Linha do Tempo), a identificação das forças e
principais atores coletivos no CDC (Diagrama de Venn) e a presença de visão estratégica
140
para o desenvolvimento do CDC (Diagrama de Fluxo). No conjunto, foi possível perceber
que existe uma clareza dos propósitos que unem os diferentes participantes do CDC.
Porém, é fato que, tanto os problemas levantados como as soluções apontadas durante a
aplicação do DRP estão ainda presentes somente no campo das ideias, evidenciando a falta
de planos de ação integrada e de eficácia e efetividade das práticas de governança
compartilhada em gestação no CDC.
Assim, constatou-se que o enfraquecimento da participação da sociedade civil e a
falta de representantes de classe, de associações de bairros e de outros parceiros privados
acabaram refletindo: (i) a total dependência de investimentos da Camargo Corrêa; (ii) a
identidade difusa desse comitê; e (iii) a ausência de reconhecimento e representatividade
do papel do CDC na cidade de Pedro Leopoldo-MG. Neste sentido, fica clara a
necessidade de interação e de conectividade, por meio de processos de liderança, tanto para
a consolidação de habilidades sociais e construção de significados, como para a integração
estratégica dos diversos atores em torno do desenvolvimento sustentável no território.
Entretanto, conclui-se que a iniciativa de desenvolvimento comunitário promovido
pela Camargo Corrêa diferencia-se de muitas ações de responsabilidade social empresarial
de outras empresas nacionais, por propor políticas de investimento social privado de forma
integrada com outras esferas (governo e sociedade civil) e em articulação com as políticas
públicas nos territórios onde opera. Tem-se, pois, que na medida em que o diálogo entre
esses atores ocorrer de forma harmônica, as parcerias podem trazer entendimentos
compartilhados e promover respeito pela diferença. Porém, ressaltando-se que, para a
integração estratégica no âmbito das parcerias intersetoriais, o papel da empresa ainda
necessita ser reconfigurado, com o objetivo de minimizar possível desequilíbrio de poder e
influências em processos que podem atropelar os interesses coletivos. Isto porque, como
demonstrado neste estudo, o descompasso de intenções pode gerar falta de interação social
141
e desconfiança entre os diversos atores, confirmando-se que a construção de processos de
liderança em parcerias intersetoriais somente se dão pela convergência de ideias e ideais
entre os parceiros.
Diante do cenário de desequilíbrio de atuação nas parcerias intersetoriais e a falta
de governança compartilhada, a partir da análise formulada neste estudo, é possível
reconhecer que os processos de liderança para a mudança social no CDC de Pedro
Leopoldo-MG ainda estão por ser construídos e implementados, concluindo-se por sua
configuração em um grupo com potencial ainda limitado para a geração de
desenvolvimento sustentável no território. Porém, considerando que os processos de
liderança e as parcerias intersetoriais vêm ganhando cada vez mais importância como
elemento político essencial para a governança compartilhada, pois fundamental ao
desenvolvimento endógeno de um determinado território desde que se reconfigure em sua
atuação, o ‘Modelo CDC’ apresenta-se com um potencial promissor.
Assim, para avançar no processo de liderança com interação social, tanto os
investimentos privados do Grupo Camargo Corrêa como de outros parceiros locais
precisam ser menos tutelados por aquela empresa e alocados em frentes de ação de
interesse público que possam potencializar a capacidade dos CDC´s de agir livremente,
articulando as forças locais com uma desprendida habilidade social que favoreça a
influência das políticas públicas, dotando-as de legitimidade por garantir a governança
compartilhada.
Dessa forma, novos campos e novas agendas de investigação sobre a liderança
como processo para mudança social ainda precisam ser construídos, principalmente, no
âmbito nacional, visto que os registros científicos que tratam do tema em cenários da
realidade sociocultural brasileira ainda são tímidos e pouco expressivos. Outros caminhos
apontam para a investigação científica de casos que, essencialmente, articulem a
142
participação dos três setores da sociedade em defesa de causas de interesse coletivo que
estejam alinhadas com a busca de sustentabilidade, tanto em pequenos quanto em médios e
grandes territórios.
Assim sendo, diferentes veios temáticos podem ser investigados com base no
próprio tema deste estudo, como por exemplo, a determinação dos indicadores que podem
refletir a eficácia das políticas públicas no território de Pedro Leopoldo-MG, a partir da
liderança de um CDC. Propõe-se ainda, como desdobramento deste estudo, mais pesquisas
no CDC de Pedro Leopoldo-MG e, inclusive, nos demais CDC’s implantados pelo Grupo
Camargo Corrêa no Brasil e exterior. Tais sugestões atestam o vasto campo de
investigação científica em territórios com alta diversidade de fatores que, certamente,
favoreceriam a ampliação do conhecimento nessa área de estudo.
Na relação dialética entre o homem e seu mundo, os desafios são grandes e as
alternativas de contorná-los também. Diante da complexidade dos fatores que envolvem a
vida humana, a busca por mecanismos que possam romper as fronteiras entre diferentes
atores da sociedade torna-se cada dia mais urgente e fundamental. Espera-se, assim, que
esta pesquisa possa servir de inspiração e fonte para futuros pesquisadores do campo de
conhecimento da gestão social, voltando-se para os processos de liderança nas parcerias
intersetoriais tanto no Brasil quanto no exterior.
143
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150
Yin, R. K. (1981). The case study crisis: some answers. Cornell University, 1-26.
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privado: aprendizagens de uma experiência – o investimento social da Camargo
Corrêa em Pedro Leopoldo. Publicações Casos Fundação Dom Cabral.
Recuperado em 23 de agosto, 2013, de http//www.fdc.org.br/pt/publicações
151
APÊNDICE
A Roteiro de Entrevista – Integrantes do CDC
Q1. Fale sobre sua trajetória de vida e seu envolvimento com Pedro Leopoldo. Como
Pedro Leopoldo se desenvolveu ao longo de sua história?
Q2. Quais são os desafios de desenvolvimento de Pedro Leopoldo atualmente? Como você
analisa o papel da prefeitura e das políticas públicas? E das empresas? E das organizações
não governamentais? E da população de Pedro Leopoldo?
Q3. Como surgiu o CDC? Inicialmente, qual foi a proposta de trabalho quando o CDC foi
criado?
Q4. Como você se envolveu com o CDC (convite, quem convidou, já saiu...)?
Q5. Como o CDC funciona? Como é a sua dinâmica interna?
Q6. Como são tomadas as decisão no CDC? O CDC é um espaço democrático de
discussão?
Q7. Quais são os temas que geram maior consenso dentro do CDC? E quais são os temas,
mais polêmicos e controversos? Como são superados os impasses, dificuldades de diálogo
e colaboração dentro do CDC?
Q8. As forças da cidade estão representadas no CDC? Existem grupos, pessoas e
organizações que deveriam participar do CDC e não participam? Por que isso acontece?
Como o CDC pode conseguir maior representação dos interesses de Pedro Leopoldo?
Q9. Como é a independência do CDC (nas decisões sobre projetos, propostas, rumos a
tomar...)? Você considera o CDC um grupo autônomo?
Q10. Como você avalia a relação da InterCement com o CDC? E do Instituto Camargo
Corrêa? E das ONGs de Pedro Leopoldo? E da prefeitura? E das outras empresas de Pedro
Leopoldo? E da população de Pedro Leopoldo?
Q11. O CDC consegue provocar transformações em Pedro Leopoldo? Por quê?
Q12. Quais são as tendências para o futuro de Pedro Leopoldo? Como será a atuação do
152
CDC no futuro? Você acha que os projetos e conquistas de desenvolvimento em Pedro
Leopoldo serão mantidos no longo prazo? De que forma isso pode acontecer?
Q13. Você gostaria de acrescentar mais alguma informação?
Dados Gerais: Setor da sociedade, idade, escolaridade, tempo de moradia em PL,
profissão, local de Trabalho.
153
B Roteiro de Entrevista – Não Integrantes do CDC
Q1. Fale sobre sua trajetória de vida e seu envolvimento com Pedro Leopoldo. Como
Pedro Leopoldo se desenvolveu ao longo de sua história?
Q2. Quais são os desafios de desenvolvimento de Pedro Leopoldo atualmente? Como você
analisa o papel da prefeitura e das políticas públicas? E das empresas? E das organizações
não governamentais? E da população de Pedro Leopoldo?
Q3. Quais são os espaços para discussão do desenvolvimento de Pedro Leopoldo? A
Holcim participa desses espaços?
Existem grupos, pessoas e organizações que deveriam participar das discussões sobre o
desenvolvimento de Pedro Leopoldo e não participam? Como se pode conseguir obter
maior representação desses grupos nas discussões sobre o desenvolvimento de Pedro
Leopoldo?
Q4 Quais são os temas sobre o desenvolvimento de Pedro Leopoldo que geram maior
consenso? E quais são os temas mais polêmicos e controversos? Como poderiam ser
superados os impasses, dificuldades de diálogo e colaboração?
Q5. Você conhece o CDC? Como você ficou sabendo da existência do CDC? Você acha
que as forças da cidade estão representadas no CDC?
Q6. Como é o envolvimento de outras empresas da cidade com o CDC? Como você avalia
a relação da Holcim com o CDC? O que poderia ser feito para aproximar outras empresas
do CDC?
Q7. Como você avalia a proposta do CDC? E a dinâmica de funcionamento do CDC? Você
percebe que o CDC é um espaço democrático de discussão? Como você avalia a autonomia
do CDC (nos projetos, propostas, na independência para decidir os rumos a tomar)?
Q8. Como você avalia a relação da InterCemente com o CDC? E do Instituto Camargo
Corrêa? E das ONGs de Pedro Leopoldo? E da prefeitura? E das outras empresas de Pedro
Leopoldo? E da população de Pedro Leopoldo?
154
Q9. Como você acha que os projetos e conquistas de desenvolvimento em Pedro Leopoldo
serão mantidos no longo prazo? De que forma podem ser sustentáveis?
Q10. Como você imagina ver o CDC no futuro? E a cidade de Pedro Leopoldo?
Q11. Você gostaria de acrescentar mais alguma informação?
Cidades com CDC:
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C Roteiro de Entrevista – Instituto Camargo Corrêa
Q1. Fale sobre sua trajetória de vida e seu envolvimento com a Responsabilidade Social
Empresarial e seu envolvimento com a cidade de Pedro Leopoldo? Como você percebe o
desenvolvimento de Pedro Leopoldo ao longo de sua história?
Q2. Quais são os desafios de desenvolvimento de Pedro Leopoldo atualmente? Como você
analisa o papel da prefeitura e das políticas públicas nesse desenvolvimento? E das
empresas? E das organizações não governamentais? E da população de Pedro Leopoldo?
Q3. Como surgiu a ideia de trabalhar a partir de CDCs? Inicialmente, qual foi a proposta
de trabalho quando os CDCs foram criados? O que se espera com o trabalho dos CDCs?
Quais os avanços que os CDCs representam? E os desafios a superar?
Q4. Em sua opinião, o CDC consegue ser um espaço efetivamente democrático de
discussão? Quais são os avanços nesse ponto? E os desafios a superar?
Q5. Quais são os temas que geram maior consenso dentro do CDC? E quais são os temas,
mais polêmicos e controversos? Como são superados os impasses, dificuldades de diálogo
e colaboração dentro do CDC?
Q6. As forças de Pedro Leopoldo estão representadas no CDC? Existem grupos, pessoas e
organizações que deveriam participar do CDC e não participam? Por que isso acontece?
Como o CDC pode conseguir maior representação dos interesses de Pedro Leopoldo?
Q7. Como você analisa a independência e autonomia do CDC nas decisões sobre projetos,
propostas (rumos a tomar...?). Quais os avanços? E os desafios a superar?
Q8. Como você avalia a relação da InterCement com o CDC?
E do Instituto Camargo Corrêa? E das ONGs de Pedro Leopoldo? E da prefeitura? E das
outras empresas de Pedro Leopoldo? E da população de Pedro Leopoldo?
Q9. O CDC consegue provocar transformações em Pedro Leopoldo? E nas outras cidades
nas quais ele opera? Por quê?
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Q10. Quais são as tendências para o futuro de Pedro Leopoldo? Como você vê a atuação
do CDC no futuro? Você acha que os projetos e conquistas de desenvolvimento em Pedro
Leopoldo e nas outras cidades nas quais opera a empresa serão mantidos no longo prazo?
Q11. Você gostaria de acrescentar mais alguma informação?
157
D Implantação do CDC
Cidades onde há CDC implantado:
1. Ipojuca-PE
2. Apiaí -SP
3. Itaóca-SP
4. Cabo de Santo Agostinho-PE
5. Jacareí-SP
6. Santana do Paraíso-MG
7. Ijaci-MG
8. Pedro Leopoldo-MG
9. Fortaleza-CE
10. Bodoquena-MS
Cidades onde serão implantados em 2014:
1. Conde-PB
2. João Pessoa-PB
3. São Miguel dos Campos-AL
4. Campo Formoso-BA
5. Brumado-BA
6. Cajati-SP
7. Cubatão-SP
8. Jacareí-SP
9. Candiota-RS
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E Diagramas de Venn
(Fotos dos cartazes elaborados durante o DRP)
E1 Diagrama de Venn (Grupo A)
E2 Diagrama de Venn (Grupo B)
159
F Diagramas de Fluxo
(Fotos dos cartazes elaborados durante o DRP)
F1 Diagrama de Fluxo (Grupo A)
F2 Diagrama de Fluxo (Grupo B)