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POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise de Eficácia Fabiana Cristina Fontana Orientador: Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros Monografia apresentada a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do grau de bacharel em Ciências Econômicas. Piracicaba, Estado de São Paulo – Brasil Janeiro – 2.005

POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

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Page 1: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO

- Revisão e Análise de Eficácia

Fabiana Cristina Fontana

Orientador: Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros

Monografia apresentada a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do grau de bacharel em Ciências Econômicas.

Piracicaba,

Estado de São Paulo – Brasil

Janeiro – 2.005

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer ao meu orientador professor “Geraldo Sant’ana de

Camargo Barros” pelo apoio, confiança e incentivos constantes.

Agradeço aos meus professores, de forma especial a professora Mirian Rumenos

Piedade Bacchi pelo auxílio nas análises de dados.

Agradeço ao doutorando Humberto Francisco Spolador, pela contribuição direta

na minha monografia.

Agradeço a meus familiares pelo carinho e apoio à minha educação. Aos meus

amigos de faculdade dos quais sempre lembrarei com saudade os dias que passamos

juntos.

A todos aqueles que de alguma maneira contribuíram para esta monografia.

Muito obrigada!

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Resumo

Pretende-se nesse trabalho contribuir para a discussão sobre metas de inflação e realizar

uma avaliação de sua eficácia. Aborda-se a literatura existente de modo a verificar os

conceitos relativos a tal regime bem como sua origem. Observa-se na última década que

um grande grupo de economistas passou a defender como principal objetivo da política

monetária a estabilidade de preços. Neste contexto vários países do mundo, entre eles o

Brasil, vêm adotando o regime de metas de inflação como padrão de conduta da política

monetária. Procura-se também analisar a eficácia dessa estratégia: grau em que vem

sendo cumprida e os fatores que têm influenciado o atingimento das metas pretendidas.

Palavras-chave: metas de inflação, política monetária.

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Introdução

A estratégia de metas de inflação pretende representar um avanço nos

mecanismos capazes de garantir a estabilidade de preços. Este sistema é caracterizado

pelo anúncio oficial de uma banda para flutuação da taxa de inflação e pelo

reconhecimento explícito de que o principal objetivo da política monetária deve ser a

manutenção de uma taxa de inflação estável. (Mendonça, 2001, p. 130)

Segundo Mendonça (2001, p. 130), o insucesso de políticas adotadas nas

décadas anteriores (1970 e 1980) e o aumento do número de bancos centrais

independentes são importantes pontos para a difusão desse regime pelo mundo. Entre os

países que adotam o regime de metas de inflação podemos encontrar, conforme

Gremaud et alii (2002, p. 493), a Nova Zelândia, primeiro país a adotar em 1990, Chile e

Canadá (1991), Austrália e Suécia (1993), Hungria e República Tcheca (1998) e Polônia

(1999). Outros utilizam metas implícitas como o caso do Japão, México e EUA.

Segundo as avaliações de Mishkin & Posen (1998, p. 38), países como Canadá,

Nova Zelândia, Suécia e Inglaterra conseguiram manter a inflação em níveis bastante

baixos depois de adotado o regime de metas de inflação. Porém, conforme Pastore

(1999), o grau de certeza no sucesso das metas de inflação esmaece bastante quando se

considera a complexidade da realidade econômica e institucional brasileira.

Em função desses aspectos, o trabalho terá como objetivo revisar e conceituar a

função do programa de metas de inflação, analisando a literatura existente, já que se

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trata de uma sistemática adotada em economias desenvolvidas e em desenvolvimento,

como o Brasil, que a utiliza desde junho de 1999. Será analisada também a eficácia

dessa estratégia e serão examinados os fatores que contribuíram para o seu sucesso ou

insucesso.

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Capítulo 1

Inflação e o sistema de metas

Conforme Blanchard (2001, p. 629) inflação é um fenômeno monetário de

elevação continuada do nível geral de preços. A inflação é indesejável por elevar o custo

da moeda (taxa real de juros mais taxa esperada de inflação), levando a sociedade a

economizá-la empregando recursos econômicos para tal (sacrificando, assim, a produção

de bens e serviços e o bem estar da população). Há, assim, evidente custo social

decorrente da inflação. Segundo Gremaud et alii (2002, p. 119), o processo inflacionário

provoca ainda distorções na alocação de recursos da economia, já que os preços relativos

deixam de ser sinalizadores de escassez e dos custos relativos de produção. Gera um

efeito negativo sobre o investimento porque os agentes têm dificuldade de prever

retornos dada a instabilidade dos preços. Pode gerar efeitos negativos sobre o balanço de

pagamentos na medida que pode obscurecer as taxas de câmbio e o valor da moeda

nacional. No Brasil a inflação tem sistematicamente resultado na sobrevalorização

cambial, mormente no período anterior a flexibilização desse mercado. Sabe-se ainda

que a inflação causa efeito negativo sobre a renda, principalmente dos grupos de pessoas

que não tem como se proteger desse processo. Por estes motivos, a estabilidade de

preços se torna em muitas economias o objetivo principal da política monetária.

Segundo Gremaud et alli (2002, p. 216), a política monetária pode ser entendida

como política econômica que afeta o produto de forma indireta através das intervenções

sobre o mercado financeiro e sobre a taxa de juros. Quando a estabilidade de preços é

tomada como objetivo principal da política monetária, advoga-se que os bancos centrais

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devem ter como meta taxas baixas e estáveis de inflação, como relata Silva (2001, p. 4).

O Comitê de Política Monetária - Copom foi instituído em 20 de junho de 1996,

com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária e de definir a taxa de

juros. Formalmente, os objetivos do Copom são "implementar a política monetária,

definir a taxa de juros e analisar o 'Relatório de Inflação". A taxa de juros que é fixada

nas reuniões do Copom é a meta para a taxa Selic (taxa média dos financiamentos

diários, com lastro em títulos federais, apurados no Sistema Especial de Liquidação e

Custódia), a qual vigora por todo o período entre reuniões ordinárias do Comitê. Se for o

caso, o Copom também pode definir o viés, que é a prerrogativa dada ao presidente do

Banco Central para alterar, na direção do viés, a meta para a taxa Selic a qualquer

momento entre as reuniões ordinárias.

Nos regimes discricionários é dada autonomia à autoridade monetária na

condução da política monetária, segundo Mankiw (1999, p.768). Caracteriza-se pela

autoridade dada ao banco central de manter a ordem econômica sem lhe serem dadas

normas de procedimento pelo governo, ou seja, sem que o governo intervenha, por

exemplo, na taxa de juros. Isso é importante na formação de expectativas ao gerar maior

credibilidade, já que dessa forma a conduta da política monetária não seria influenciada

por motivos eleitorais.

O sistema de metas de inflação tem na formação de expectativas o ponto

principal. As expectativas racionais, de acordo com Blanchard (2001, p. 628), trata-se da

formação de expectativas com base em previsões racionais, em vez da simples

extrapolação do passado. A hipótese de expectativas racionais é a suposição de que as

pessoas, as empresas e os agentes dos mercados financeiros formam expectativas com

relação ao futuro ao examinar o curso a ser tomado pela política futura esperada e

imaginar as implicações dessa política para o produto e a taxa de juros futura esperada e

assim por diante. Embora seja claro que a maior parte das pessoas não faz isso por si só,

pode-se concluir que fazem de modo indireto através de jornais, TV, cujas informações

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se baseiam nas previsões elaboradas por profissionais dos setores público e

privado.(Blanchard, 2001, p. 370)

Assim, a seriedade com que as medidas para se conseguir um resultado esperado

são tomadas e a eliminação de medidas oportunistas fazem com que o sistema ganhe

credibilidade, levando os agentes econômicos a seguirem a sinalização que for dada pelo

sistema. (Neto 1999, p. 358)

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Capítulo 2

O regime de Metas de inflação

2.1. Bases para o sistema de metas de inflação

Segundo Mendonça (2001, p. 130), os primeiros teóricos a propor um regime

monetário similar ao de metas de inflação foram Marshall (1887) sugerindo um ajuste no

poder de compra, fixando um padrão absoluto e Wickesell (1898), que propunha um

padrão explícito do nível de preço para a política monetária.

Como é destacado por Gonçalves (2001, p. 160), o regime de metas de inflação,

da mesma forma que outros arranjos monetários (câmbio fixo, currency board, etc.)

vincula-se ao debate acadêmico iniciado pelo importante trabalho de Kydland e Prescott

(1977), onde tais autores chamam atenção para o problema de inconsistência temporal

quando decisões do planejador central ótimas “ex-ante” passam a ser subótimas “ex-

post”. Eles mostram como, em regimes discricionários com expectativas racionais, a

economia atinge sempre um equilíbrio inferior ao equilíbrio sob regras fixas1. A figura 1

mostra a convergência para o Equilíbrio de longo prazo. O ponto D, na figura, é

especial no sentido de que a ele vai convergir a economia uma vez iniciada a estratégia

de explorar o aparente "trade-off" oferecido pela "linha de possibilidades"entre

1 Regras fixas – uma política é aplicada segundo regras fixas quando seus formuladores anunciam com antecedência as respostas a várias situações econômicas e se comprometem a seguir essas diretrizes. (Mankiw,1997, p.233)

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desemprego (u) e inflação (π). O ponto A é o ponto ótimo sob expectativas racionais e

preços flexíveis, devendo, para alcançá-lo, o banco central manter constante a oferta

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monetária. Mas erros aleatórios de política monetária sugerem que haveria uma curva

de possibilidades alternativa dada pela linha inclinada passando por A e C, que seria um

ótimo de curto prazo. No entanto, a tentativa de obter C significa aumentar a meta de

inflação para a taxa correspondente a C. Como isso seria percebido pelos agentes como

uma mudança de meta, as expectativas seriam corrigidas para essa nova meta. O

processo de mudança de metas seguiria, sempre em busca do ótimo de curto prazo, o que

conduziria e economia para um ponto como D, com inflação mais alta e mesma taxa de

desemprego observada em A (Barros, 2004).

Figura 1 - Convergência para o Equilíbrio de Longo Prazo

Os experimentos com metas monetárias restritas, em economias avançadas entre

os anos 70 e 80, foram em geral ineficientes. A instabilidade nas relações entre os

agregados monetários e variáveis como taxas de juros, renda nominal e inflação revelou-

se acentuada. Viu-se também que se, por um lado, os bancos centrais podem

razoavelmente controlar os agregados monetários mais restritos (M1), por outro, é muito

menor sua capacidade de comandar os agregados mais amplos (como M2 e M3). A

maleabilidade e as inovações nos instrumentos financeiros assim como a volatilidade nas

posições financeiras dos agentes mostram grande capacidade de subverter as duas pré-

condições para o sucesso das metas monetárias, que são:

D B

π

u

C

A

πC πB

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(i) que haja relações estáveis e confiáveis entre as variáveis objetivos da política

(inflação ou renda nominal) e os instrumentos monetários sobre os quais estabelecer

metas; e

(ii) que o(s) agregado(s) monetário(s) objeto das metas sejam efetivamente

controláveis pelas autoridades monetárias.

Na prática, depois do breve entusiasmo com as metas monetárias rígidas, a

gestão monetária voltou a focalizar as taxas nominais de juros básicas, ao alcance dos

bancos centrais e do Tesouro através dos títulos de dívida deste, bem como dos

instrumentos de redesconto e de mercado aberto. Tenta-se administrar apenas

indiretamente a liquidez, os níveis reais das taxas de juros e a inflação, assumindo

relativa passividade quanto à magnitude de agregados monetários e a sua velocidade vis-

à-vis a renda nominal. Pouco a pouco, as metas monetárias restritas foram abandonadas.

(Canuto, 2000, p. 18)

A independência do banco central na literatura sobre metas inflacionárias tem

sido discutida. A idéia fundamenta-se no conceito de independência como resultado de

outros dois: (a) independência de instrumento, que trata-se da liberdade do banco central

de atingir seus objetivos sem depender de outra autoridade política, e (b) independência

de meta, que refere-se à liberdade que o banco central possui de definir seus objetivos.

Deste modo, a independência de instrumento torna-se imprescindível para o banco

central poder utilizar seus instrumentos na busca da meta de inflação. (Mendonça, 2001,

p. 150)

Segundo o autor, apesar disso, na prática a independência do banco central não

representa condição necessária para o sucesso das metas inflacionárias. Logo, as metas

de inflação devem ser utilizadas para aumentar a independência e não o contrário. Em

países como Estados Unidos, Alemanha e Suíça, onde não se observa o uso de metas de

inflação explícitas, existe sucesso na busca de estabilidade de preços. Ou seja, não há

evidências que indiquem que países com elevado grau de independência tenham a

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necessidade de adotar metas inflacionárias.

Deste modo o insucesso da adoção de metas monetárias nos anos 70, como no

caso da experiência canadense (Canuto, 2000, p.18), o combate a inflação nos anos 80 e

o aumento do número de Bancos Centrais com independência de instrumento nos anos

90 justificam a difusão do regime de metas de inflação pelo mundo, segundo Mendonça

(2001, p. 130).

Silva (2001, p. 28) destaca que a adoção das metas de inflação deu-se após uma

mudança na atitude com relação à inflação, especialmente no começo da década de 90.

A Nova Zelândia iniciou nova postura por parte do banco central com relação ao

controle da inflação, assumindo explicitamente que o principal objetivo da autoridade

monetária é zelar pela estabilidade de preços. Desde então, vários bancos centrais

resolveram adotar o regime de metas para a inflação. O regime também é recomendado

pelo FMI em economias emergentes que adotam o câmbio flutuante e permitem a

liberdade do movimento de capitais. (Netto, 1999, p. 359)

Conforme Netto (1999, p. 358), a adoção de uma meta de inflação trata-se de

uma mudança metodológica na condução da política econômica, que talvez seja a mais

importante surgida nos anos 90. Tal mudança refere-se a um jogo entre autoridade e os

agentes, em que a primeira deve dizer clara e honestamente o que e como pretende, e os

segundos, se acreditarem nela, aceitam o objetivo e entendem como se vai atingi-lo. A

formação das expectativas é um ingrediente básico e decisivo.

2.2. Definição do Sistema de Metas de Inflação

Conforme Canuto (2000, p. 21), o sistema compreende uma estratégia de política

monetária que envolve cinco elementos básicos:

- anúncio público de metas numéricas para a inflação de médio prazo;

- um compromisso institucional para a estabilidade de preços como meta primária

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de política monetária; outras metas são subordinadas, como por exemplo, a taxa

de expansão de algum agregado monetário que apresente elevada correlação com

a taxa de evolução dos preços;

- uma estratégia de informação na qual muitas variáveis, não somente os

agregados monetários ou a taxa de câmbio, são usados para decidir um conjunto

de instrumentos de política;

- uma política monetária transparente com ênfase na comunicação com o público e

o mercado e racionalidade nas decisões do Banco Central; e

- mecanismos que tornem o Banco Central o responsável por atingir seus

objetivos de inflação, destaque para a autonomia do Banco Central.

Ainda segundo o autor, o regime de metas de inflação embute maior grau de

liberdade no tocante às instabilidades enfrentadas pelas metas monetárias rígidas, cujas

relações com a inflação e outras variáveis macroeconômicas mudam constantemente e

em direções nem sempre previsíveis – há maior adaptabilidade. Como a âncora

monetária, a meta de inflação pode incorporar considerações domésticas quanto à

adaptação a choques e outras mudanças de cenários. Ao mesmo tempo, não fica sujeita

aos problemas e choques na velocidade de circulação monetária e financeira.

Gonçalves (2002, p. 160) defende que neste novo arranjo de política econômica,

a própria inflação passa a desempenhar o papel de âncora nominal na economia. Tal

sistema naturalmente se opõe aos regimes de metas intermediárias, onde a autoridade

monetária fixa, por exemplo, a taxa de expansão de algum agregado monetário que (ao

menos em tese) apresente elevada correlação com a taxa de evolução dos preços.

Mendonça (2001, p. 134) destaca que, ao conferir ao Banco Central maior

autonomia na implementação de políticas, os defensores do regime de metas de inflação

afirmam que a utilização de metas intermediárias não é adequada, porque pode

prejudicar a credibilidade do regime, sugerindo uma mudança nas regras do sistema.

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Segundo Sicsú (2002, p. 787), os bancos centrais sob o regime de metas de

inflação têm uma elevada capacidade de influenciar as expectativas de inflação se

obtiveram sucesso no cumprimento das metas no passado. Mas as expectativas de

inflação tornam-se bastante heterogêneas quando o Banco Central acumulou má

reputação : as metas de inflação entram num processo de perda de credibilidade.

Pode-se verificar que algumas características são decisivas para o funcionamento

do regime de metas de inflação. Como destaca Mendonça (2001, p. 132 - 155), a

credibilidade dos agentes econômicos, a transparência da política monetária para que se

obtenham expectativas corretas e a obtenção de metas planejadas concisas.

É importante destacar que, de acordo com Bogdanski et alii (2000, p. 25), melhor

do que reagir aos fatos atuais, as decisões dos agentes econômicos devem ser baseadas

nas previsões condicionais da inflação futura, em trajetórias alternativas da taxa de juros

e na melhor estimativa do estado atual da economia e do desenvolvimento futuro

provável de variáveis exógenas.

Segundo Mendonça (2001, p. 149), juros altos, além de ajudar no controle da

inflação, podem ocasionar um resultado desfavorável, pois há a necessidade de

resultados fiscais primários capazes de neutralizar o serviço da dívida de modo a garantir

a sustentabilidade fiscal do país. Boas condições para a sustentabilidade fiscal são: uma

baixa relação dívida/PIB, um superávit primário elevado, uma baixa taxa de juros e uma

alta taxa de crescimento do PIB (Garcia, 2003, p.5).

Segundo o Decreto n.º 3.088 de 21 de Junho de 1999, caso as metas de inflação

não sejam cumpridas, o presidente do Banco Central deve publicar uma carta aberta

explicando os fatos pelos quais a convergência da taxa de inflação com a meta não foi

alcançada, e as principais medidas adotadas e a serem adotadas para que a convergência

se efetue, bem como o tempo estimado para tal, o que caracteriza uma forma de

transparência para com os agentes econômicos.

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A obtenção de metas planejadas concisas é um ponto importante no desenho

institucional do programa. Muitos países têm adotado como critério de avaliação o

núcleo inflacionário (core inflation), mantendo um índice livre de sazonalidades de

variáveis exógenas. Os diferentes tipos de núcleos de inflação são calculados excluindo-

se as variações que possam distorcer o índice cheio. Há três intervenções que podem ser

feitas em um índice de preços conforme Santos (2004, p. 55):

(i) retirada das variações provocadas pelas sazonalidades;

(ii) expurgo pontual, ou seja, adoção de um critério para retirada eventual de

certos aumentos do cálculo do índice;

(iii) retirada sistemática os itens específicos (os mais voláteis) do indicador de

inflação.

No caso brasileiro utiliza-se o índice cheio do IPCA. No entanto, adotou-se um

intervalo de tolerância maior (2,5% acima e abaixo da meta a partir de 2002). Conforme

Goldfajn et alli (2002, p. 39), a possibilidade de choques inesperados na economia e a

presença de defasagens nos efeitos da política monetária justificam o uso de intervalos

de tolerância por vários países. O tamanho das bandas deve ser determinado de forma a

permitir que na maioria das circunstâncias a taxa de inflação esteja dentro, mas não

demasiadamente grande para evitar uma conduta de política monetária branda.

A grande maioria dos países que adotam metas de inflação explícitas emprega o

recurso das cláusulas de escape. A taxa de inflação está sujeita a diversos fatores fora do

controle da política monetária, o sucesso da conduta não deve ser julgado

exclusivamente pelo cumprimento ou não dos alvos da inflação. Sob algumas

circunstâncias, como choques de oferta, o banco central não pode evitar o impacto

inflacionário. Com o uso de cláusulas de escape, ele ajusta a política monetária

adiantado-se para justificar o alvo visado. Há claramente um trade-off na adoção de

cláusulas de escape. Sua inclusão permite uma avaliação melhor da conduta do banco

central e pode evitar as respostas excessivas da política monetária. Entretanto, sua

adoção pode sinalizar que a autoridade monetária será fraca a algumas pressões

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inflacionarias, e seu uso excessivo pode afetar a credibilidade do regime. (Goldfajn et

alli 2002, p. 35 - 40)

Conforme Netto (1999, p. 365), o que é esperado desse sistema é que se produza

inflação baixa e de pequena volatilidade que permita o aceleramento do crescimento

econômico, melhor alocação dos fatores de produção, uma escolha ótima dos

investimentos e um aumento da produtividade, como conseqüência.

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Capítulo 3

A experiência do sistema de metas de inflação em outros países

De acordo com Santos (2004, p.56), as experiências com metas de inflação têm

sido diversas levando-se em consideração desempenho e definição. Em alguns países

trata-se de uma parte de modificações constitucionais em que se é dada ao banco central

local autonomia, tornando-o imune as modificações institucionais e, assim, garantindo

que suas decisões sejam respeitadas, ou têm sido definidas pelo respectivo governo. A

meta é especificada através de um número fixo ou uma banda de níveis mínimo e

máximo, refletindo a necessidade de ferramentas que limitem as expectativas do público.

Segundo Gremaud et alii (2002, p. 493) pode-se destacar casos como da Nova

Zelândia, primeiro país a adotar em 1990, Chile e Canadá (1991), Austrália e Suécia

(1993), Hungria e República Tcheca (1998) e Polônia (1999). Outros que utilizam metas

implícitas são Japão, México e EUA.

Conforme as avaliações de Mishkin, Posen (1998, p. 38), países como Canadá,

Nova Zelândia, Suécia e Inglaterra conseguiram manter a inflação em níveis baixos

depois de adotado esse sistema.

A tabela 1, do Banco Central do Brasil, mostra os principais países que adotam o

regime, com a data de início da utilização do regime e os resultados após a utilização.

De modo geral, vê-se que a maioria dos países citados na tabela ficou dentro das metas

inflacionarias.

Page 19: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

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Tabela 1 – Metas de Inflação em diversas economias

Fonte: Muinhos, 2001

Em geral, as experiências têm sido satisfatórias ao propiciar diminuição do ritmo

de crescimento dos preços e, com isso, uma âncora para as expectativas inflacionárias,

no momento em que o câmbio deixa de ser âncora nominal e a política monetária

Date of Adoption Fisrt Target Inflation Right Inflation 12 MonthsInflation targeting before it adoption after it adoption

Develop EconomiesAustralia Apr/93 2% - 3% 1.22 1.74Canada Feb/91 3% - 5% 6.83 1.68Iceland Mar/01 2.5%(-1.5% +3.5%) 4.05 8.72New Zealand Mar/90 3% - 5% 7.03 4.52Norway Mar/01 2.5% 3.64 1.10Sweden Jan/93 2% (+ - 1%) 1.76 1.70Switzerland Jan/00 < = 2% 1.63 0.90United Kingdom Oct/92 1% - 4% 3.57 1.35

Avarage 2.8 3.72 2.71Median 2.5 3.61 1.69

Emerging Market EconomiesBrazil Jun/99 8% (+ - 2%) 3.15 6.51Chile Jan/91 15% - 20% 27.31 19.47Colombia Sep/99 15% 9.22 9.35Czech Republic Jan/98 5.5% - 6.5% 9.98 3.50Hungary Jun/01 7% (+ - 1%) 10.78 4.87Israel Jan/92 14% - 15% 18.03 10.74Mexico Jan/99 < = 13% 18.61 11.03Peru Jan/94 15% -20% 39.49 13.71Poland Oct/98 < = 9.5% 10.44 8.82South Africa Feb/00 3% - 6% 2.65 7.77South Korea Jan/98 9% (+ - 1%) 6.57 1.46Thailand Apr/00 0% - 3.5% 1.04 2.47

Avarage 10.3 13.11 8.31Median 9.3 10.21 8.30

Initial Targets na Inflation Around Adoption of inflation TargetingTable 1

(12 Month accumulated inflation)

Page 20: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

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converte-se no único instrumento capaz de estabilizar os respectivos mercados

financeiros, conforme Santos (2004, p. 56).

Segundo Mendonça (2001, p. 15), as evidências empíricas indicam que o sucesso

dos países na obtenção das metas de inflação tem apresentado como efeito negativo o

aumento na taxa de desemprego.

3.1 Nova Zelândia

Deve-se destacar a importância da Nova Zelândia como pioneira na utilização

das metas de inflação por meio de uma reforma institucional realizada pelo Reserve

Bank Act, em 1989, outorgando, a independência do banco central e determinando a

estabilidade de preços pôr meio de fixação de metas econômicas (Policy Target

Agreements).

Em 1984, esse país conforme Santos (2004, p. 56), optou pelo câmbio flutuante

cuja desvalorização gerou inflação de 15% ao ano. O banco central da Nova Zelândia,

até então, adotava o controle sobre agregados monetários, causando forte desaceleração

de sua atividade econômica para atingir a taxa de inflação de 7% ao ano. Devido a

fatores de operacionalidade no controle desses agregados, adotou-se o esquema de metas

inflacionárias. Como medidor, utiliza-se um índice de preços ao consumidor em que são

excluídos alguns itens com forte variação cambial como os preços de energia. O câmbio

é tido como a principal variável em função do grau de abertura dessa economia.

A figura 2 mostra a queda da inflação no país depois dos anos 90 quando o

regime passa a vigorar.

Page 21: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

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Figura 2 – Evolução da taxa de inflação na Nova Zelândia

Fonte: Banco Central Nova Zelândia

Neste país o governo tem o direito de demitir o presidente do banco central caso

a inflação se desvie em 25% da taxa anunciada segundo Mishkin & Posen (1997) o que

é entendido como formalização da transparência das ações do banco central.

Apesar do êxito da aplicação do regime de metas, é necessário ressaltar, que o

sucesso somente foi alcançado graças à aplicação de uma série de reformas estruturais

de liberalização e modernização da economia.

3.2 Canadá

O Canadá assumiu o regime de metas de inflação através de uma política

coordenada entre o banco central e governo, em 1991, assegurando o compromisso de

Page 22: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

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estabilidade de preços.

Entre os anos de 1975 e 1982, mantinha metas de curto e médio prazos, baseada

no crescimento dos agregados monetários (M1). Sem nenhum instrumento que pudesse

garantir a estabilidade de preços no longo prazo, o país combinou agregados monetários

com políticas de crédito, resultando em período de desaceleração e recessão no final de

1990. A partir de 1991, o Ministério das Finanças fixou índice de preços ao consumidor

com banda de 1% para cima e para baixo da meta. Para complementar, implantou um

plano fiscal para equacionar o déficit público em 1% do PIB e realizou ampla reforma de

seu sistema financeiro.

A determinação de metas críveis, bem como a promoção de informações sobre os

objetivos específicos a fim de gerar credibilidade reuniu esforços do banco central e do

governo. Nos compromissos de longo e curto prazos, procurou-se amortizar os efeitos

dos choques exógenos. Para tanto, o banco central adotou um índice de preços

subjacente, do qual foram retiradas a influência dos preços dos alimentos e de energia, e

medidas de política monetária quando esse indicador demonstrava tendência de sair da

banda. Os resultados dessa combinação sobre as expectativas inflacionárias foram

favoráveis a julgar pelas taxas de juros de longo prazo conforme Santos (2004, p. 57).

Mais uma vez é bom esclarecer que essa estratégia somente foi possível graças a

uma série de normas estruturais que permitiram maior estabilidade na economia

canadense.

3.3 Inglaterra

Em outubro de 1992, a Inglaterra adotou o sistema de metas de inflação

abandonando o mecanismo europeu de paridades cambiais e passou a Ter regime de

câmbio flutuante. Antes disso, utilizava-se a fixação do agregado monetário M3, o que

demonstrava estreita relação com a inflação.

Page 23: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

22

Neste país não existe independência do banco central, a decisão de determinar

metas pertence a Ministério do Tesouro, que tem como referência um índice de preços

ao consumidor em que são excluídos os custos hipotéticos influenciados pelas taxas de

juro oficiais.

O estabelecimento das metas até agora tem alcançado êxito, propiciando menores

expectativas inflacionárias e menor ritmo de crescimento de preços segundo (Santos,

2004, p.57).

3.4 Espanha

O banco central espanhol, em 1995, anunciou a intenção de controlar a inflação

por meio de sistema oficial de metas inflacionarias. Um dos motivos era que o controle

de agregados monetários encontrava-se cada vez menos estável.

Durante os anos de 1970 e 1980, o banco controlava a inflação através de um

mecanismo que funcionava por intermédio de controle de agregado monetário M3, que

reduziu a inflação corrente de 25% ao ano para 9% ao ano. No entanto, com as

inovações financeiras que mudaram as características de liquidez dos ativos financeiros,

a relação entre o M3 e os objetivos finais da política monetária se deterioraram (Santos

2004, p.57).

A partir de 1984, passou-se a dar importância à execução da política cambial

como instrumento de política monetária, utilizando-se cestas de moedas dos países mais

desenvolvidos em relação à moeda nacional. Depois o indicador foi substituído pelo

marco alemão. Com o ingresso do país no Mercado Comum Europeu, juntamente com a

adoção de bandas de flutuação da moeda nacional em relação às moedas fortes,

ocorreram grandes entradas de capital estrangeiro.

Em janeiro de 1995, o banco central determinou que a principal função da

Page 24: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

23

política monetária fosse o controle de preços do médio prazo, fixando o nível de inflação

de 3% ao ano. Para avaliar as pressões inflacionárias, foi escolhida uma cesta de

indicadores, que incluía índice de preços ao consumidor, índice de preços ao produtor,

índice de produtos agrícolas e índice de comércio exterior. Ainda conforme Santos

(2004, p.58), depois da adoção no curto prazo, a inflação espanhola tornou-se

decrescente e situa-se dentro da referência de curto prazo, sendo seguida pelas taxas de

juro de curto e longo prazos.

3.6. Comunidade Européia

Com o início da Comunidade Européia, pelo processo de adoção de moeda única,

a coordenação monetária só é possível através da maior convergência de fatores

econômicos básicos, em que os déficits fiscais, as taxas de juros e os índices de

crescimento estão relativamente próximos entre si. O Banco central Europeu decide a

política monetária e possui autoridade acima dos estados nacionais e de seus respectivos

bancos centrais, extinguindo a flexibilidade monetária de seus membros. A estabilidade

de preços através de metas fixas de inflação e dos mecanismos de controle dos

agregados monetários é seu principal instrumento. São utilizadas operações de open

market para influir tanto nas taxas de juro como no crescimento dos agregados

monetários.

3.7. Adoção de metas implícitas

Países como EUA, Japão, Coréia e México adotam um sistema sem âncora

nominal explícita. Essa estratégia envolve uma âncora implícita, sob a forma da

preocupação, por exemplo, em controlar a inflação de longo prazo. Uma desvantagem

desse sistema é a falta de transparência.

Page 25: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

24

Capítulo 4

O sistema de metas de inflação no Brasil

O Brasil experimentou uma série de planos de combate à inflação, cada programa

de desinflação foi seguido de um aumento inflacionário. A seqüência de planos

começou com o Plano Cruzado, em 1986, e continuou com o Cruzado 2, o Plano

Bresser, o Plano Verão, o Plano Collor e o Collor 2 que tinham como pontos comuns o

diagnóstico de que a inflação brasileira tem alto grau de inércia, dado pelos mecanismos

formais e informais de indexação. Esse elevado grau de inércia faz como que um plano

de combate à inflação baseado apenas em uma política monetária restritiva leve a um

elevado custo social em termos de desemprego e recessão e tem pouco poder de redução

das taxas de inflação. Outro ponto comum é a inexistência efetiva de uma firme

disponibilidade, pelos sucessivos governos, de arcar com os custos sociais durante os

programas o que minou a credibilidade desses planos e elevou o sacrifício necessário

para reduzir a inflação (Hillbrecht ,p. 255, 1999).

Em 1994, foi introduzido um novo plano de combate à inflação no Brasil, o

Plano Real. Reconhecendo que a inércia inflacionária e a ausência de coordenação na

formação de preços e salários aumentavam o custo de combate à inflação, as autoridades

criaram a URV – Unidade Real de Valor. Convertendo os principais preços da

economia para a relação ao dólar, fazendo com que boa parte da inércia dos preços

desaparecesse. Porém, a falta de controle sobre a demanda agregada, típica dos planos

anteriores, combinada com uma sobrevalorização cambial, que se seguiu à introdução do

Real e persistiu até o final de dezembro de 1998, levou a uma significativa piora das

Page 26: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

25

contas externas do País. Nestas condições, segundo o autor, o déficit externo foi

financiado com ingresso de capitais, e o instrumento utilizado para atrair capitais foi

uma taxa real de juros elevada, que tem o efeito colateral de reduzir as possibilidades de

crescimento econômico.

A taxa de câmbio quase fixa (com um sistema de bandas cambiais estreitas e um

sistema de minidesvalorizações para reduzir a sobrevalorização inicial) adotada era

suscetível a ataques especulativos. Após sobreviver aos distúrbios financeiros

provocados pela crise do México em 1995, pela crise da Ásia em 1997 e da Rússia em

1998, o país abandonou o regime de câmbio flutuante devido a um violento ataque

especulativo, que reduziu suas reservas internacionais e fora provocado por problemas

domésticos, após o anúncio da moratória da dívida do governo de Minas Gerais. Com a

flutuação cambial introduzida em janeiro de 1999, o Plano Real entra em uma nova fase.

Através do Decreto nº 3.088 de 21 de Junho de 1999 – estabeleceu-se o regime

de "metas para a inflação" como diretriz para determinação de conduta da política

monetária, após o regime de âncora cambial que operou durante o Plano Real. Neste

caso, as metas inflacionárias foram estabelecidas em uma base de variação de um índice

de preço amplamente conhecido IPCA (IBGE)2. As metas de inflação assim como seus

intervalos de tolerância são estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN),

em acordo com o Ministério da Fazenda e ao Banco Central é dada a responsabilidade

de implementar as políticas necessárias para obter as metas. (Decreto nº 3.088 de 21 de

Junho de 1999).

Na busca de maior transparência de suas ações (Mendonça, 2002, p. 151), o

banco central do Brasil passou a divulgar para o público, além do Boletim do Banco

Central, um Relatório de inflação trimestral.

2 Índice de preço ao consumidor ampliado (IPCA) reflete a variação dos preços das cestas de consumo de famílias, de 1 a 40 salários mínimos, disponível no site do banco central do Brasil – www.bc.gov.br

Page 27: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

26

A figura 3 mostra as metas de inflação adotadas, as quais foram estipuladas no

momento da adoção do sistema para os anos de 1999, 2000 e 2001 (Resolução 2615/99).

Mais tarde definiram-se as dos demais anos. Para os três primeiros anos definiram-se

respectivamente, 8%, 6% e 4%, para o ano de 2002 - 3,5% (Resolução 2744/00), para

2003 ocorreram mudanças na meta fixada – 3,25% (Resolução 2842/01), 4% (Resolução

2972/02) e 3,75% (Resolução 2972/02). No ano de 2004 fixou-se 5,5% (Resolução

3108/03) e para o ano de 2005 – 4,5% (Resolução 3108/03), já alterada para 5,1%. Com

a existência de um intervalo de tolerância de 2,0 pontos percentuais para os quatro

primeiros anos e 2,5 pontos percentuais nos últimos anos, para cima e para baixo do

limite central em ambos os casos. Analisando a figura 3 nota-se que em alguns anos a

meta de inflação foi alcançada, em outros a inflação (IPCA) ficou acima do limite de

tolerância.

Figura 3 – IPCA e meta de inflação para o Brasil

Fonte: Banco Central do Brasil

8

6

43,5 3,25

4 3,75

5,5

4,5

8,94

5,97

7,67

12,5

8 8 8

6,17

5,1

-1

4

9

14

1999 2000 2001 2002 2003 2004 20050

2

4

6

8

10

12

Meta Inflacionária (%) Inflação IPCA (%) Limite Superior Limite Inferior

Page 28: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

27

Em princípio, a meta de inflação estabelecida não deve ser mudada para evitar a

perda de credibilidade no sistema. Não obstante, perseguir contínuos alvos que tenham

baixa probabilidade de acontecer reduz a credibilidade do banco central. Assim, o CMN

decidiu em junho 2002 revisar para cima o alvo para 2003 3.25% a 4% e ajustar o alvo

em 3.75% para 2004 que também sofrerá ajuste mais tarde. Segundo Godfajn et alli

(2002, p. 40) a revisão afetou positivamente os agentes econômicos, pois insistir em um

alvo não crível atingiria negativamente a credibilidade da política monetária.

No Brasil as cláusulas de escape não foram implantadas; a justificativa para isso

segundo o Ministro da Fazenda, é que o país necessita desenvolver credibilidade. A

introdução hoje desse recurso pode ser entendida como uma mudança de ação do banco

central o que pode ocasionar perda da credibilidade obtida conforme Mendonça (2002,

p. 153).

Segundo Pastore (1999), o sucesso das metas de inflação no Brasil depende

muito da complexidade da realidade econômica e institucional. Como relata Longo

(1990, p.110), a credibilidade tem papel crucial para reverter as expectativas

inflacionárias em planos de estabilização. Assim informações sobre as contas públicas

são atentamente levadas em consideração pelo mercado. Conforme Mendonça (2001, p.

151), o desemprego no Brasil depende de uma série de fatores que não se restringem ao

anúncio de uma meta de inflação.

Page 29: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

28

Capítulo 5

Metodologia

Segue-se uma apresentação dos procedimentos para avaliação do sistema de metas de inflação no

Brasil. Pretende-se fundamentalmente identificar a relação entre taxas de juros e taxas de

inflação. Na verdade, o sistema baseia-se, por um lado, no comportamento da inflação

para fixar taxas de juros e, por outro lado, estabelece taxas de juros na expectativa de

que levem às taxas inflacionárias desejadas. Isso sugere um sistema bicausal entre essas

duas variáveis econômicas. Por isso, será ajustado econometricamente um sistema de

equações para medir os respectivos efeitos.

Assim os passos que serão seguidos são:

- Atualizar a revisão de literatura sobre o assunto

- Analisar criticamente as atas do COPOM sobre as metas e razões para o

atingimento ou não

- Analisar a causalidade entre juros e inflação no período pós Plano Real, que será

subdividido em dois: anterior e posterior à implantação dom sistema de metas

- Ajustar regressões para explicar o comportamento dos juros e da inflação de

acordo com a análise de causalidade anterior e considerando:

- Na equação da inflação, os juros e efeitos de choques exógenos (crise da

energia, comportamento da safra, etc.

- Na equação dos juros, a inflação comparada à meta pretendida, o PIB ou

desemprego, etc..

Page 30: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

29

5.1 Teste de Raiz Unitária

A realização de testes de raiz unitária visa a identificar se as séries em questão

são estacionárias, ou seja, com média e variâncias constantes ao longo do tempo. O

procedimento seguido neste trabalho é o sugerido por Enders (1995) que tem, como

base, o teste de Dickey-Fuller.

Em linhas gerais, conforme Alves (2002), o procedimento seqüencial de Enders

(1995) é:

1. estimar um modelo auto-regressivo com defasagens determinadas pelos critérios de

Akaike e Schwarz, na forma geral expresso pela equação (1).

∑−

=−− +∆⋅+⋅+⋅+=∆

1

11

p

itititt xxtx ελγβα (1)

2. utilizando a estatística ττ, proposta por Dickey & Fuller (1981), testa-se a hipótese de

que γ = 0. No caso dessa hipótese ser rejeitada, utiliza-se a estatística τβτ para testar a

hipótese de β = 0 que, no caso de ser rejeitada, leva ao teste de γ = 0, novamente,

mas considerando-se a distribuição normal.

3. se não for rejeitada a hipótese de β = 0, assume-se um novo modelo sem tendência,

mas com intercepto, conforme a equação (2):

∑−

=−− +∆⋅+⋅+=∆

1

11

p

itititt xxx ελγα (2)

4. da auto-regressão de (2), testa-se a hipótese de γ = 0 utilizando-se a estatística τµ. A

não rejeição dessa hipótese leva ao teste de que α = 0, considerando-se a estatística

ταµ sendo que, dada mais uma rejeição da hipótese, testa-se γ = 0 com a distribuição

normal.

5. em caso de não se rejeitar a hipótese de α = 0, estima-se um modelo auto-regressivo

sem intercepto e tendência, conforme a equação (3):

∑−

=−− +∆⋅+⋅=∆

1p

1ititi1tt xxx ελγ (3)

Page 31: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

30

6. então testa-se a hipótese de que γ = 0 com base na estatística τ. Se for aceita essa

hipótese, então conclui-se que o processo gerador da série possui raiz unitária, e a série

será trabalhada nas diferenças e não em nível.

5.2 Teste de Causalidade

Embora seja muito alta a correlação estatística entre as variáveis de interesse

deste trabalho (taxa de juros e inflação), isso não implica, necessariamente, algum tipo

de causalidade entre elas.

Granger (1969) estabeleceu que uma determinada variável X causa a variável Y

se Y pode ser melhor previsto utilizando-se os valores passados não só de Y, como

também de X (nesse caso, os coeficientes das defasagens de X são estatisticamente

significantes) . Em notação algébrica temos que:

t

J

j

J

jjtjjtjt uXYY +⋅+⋅= ∑ ∑

= =−−

1 1βα (4)

∑=

− +⋅=J

jtjtjt uXX

1α (5)

A hipótese nula do teste a ser feito é: X não Granger-causa Y, ou seja,

0......21 ==== jβββ . O teste de hipótese é feito comparando-se as somas dos

quadrados dos resíduos obtidas da estimativa das equações (4) e (5), SQR(4) e SQR(5),

respectivamente:

( ) ( ) ( )

( )4

452

SQRJ

SQRSQRJnF

−⋅⋅−=

Se JnjFF ⋅−> 2, então a hipótese nula deverá ser rejeitada.

Analogamente para tratar se Y causa X faz-se a troca das posições dessas

variáveis em (4) e (5).

Page 32: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

31

Nas seções subsequente, serão realizados os testes de causalidade para as

variáveis taxa de juros e índice de preços ao consumidor amplo (IPCA-IBGE) para o

Brasil, considerando-se o período compreendido entre 1994 e 2004, pós Plano Real.

5.3 Elasticidade de Transmissão

Após serem realizados os testes de causalidade, é possível identificar tratar da

transmissão, ao longo do tempo, de choques entre as variáveis envolvidas. Para as

variáveis de interesse desse trabalho as equações relevantes são:

∑=

−− ⋅+⋅+=T

iittt ipcajurosjuros

0110 βαα (6)

∑=

−− ⋅+⋅+=T

iittt jurosipcaipca

0110 δσσ (7)

Definidas as equações para o cálculo das elasticidades de transmissão, o procedimento

padrão é testar o número de defasagens (T), que é feito através do teste F ao nível de 5%

de significância. Ao se definir a forma final das equações, os valores obtidos para as

variáveis tβ e tδ serão as elasticidades de transmissão estimadas.

Page 33: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

32

Capítulo 6

Resultados

6.1 Analise das atas do COPOM

Desde 2000, as reuniões ordinárias do Copom são mensais, em que realiza-se

uma análise da conjuntura doméstica abrangendo inflação, nível de atividade, evolução

dos agregados monetários, finanças públicas, balanço de pagamentos, economia

internacional, mercado de câmbio, reservas internacionais, mercado monetário,

operações de mercado aberto, avaliação prospectiva das tendências da inflação e

expectativas gerais para variáveis macroeconômicas. Após essa análise da conjuntura

doméstica ocorre a análise das projeções atualizadas para a inflação, apresentam

alternativas para a taxa de juros de curto prazo e fazem recomendações acerca da

política monetária. Em seguida, são apresentadas ponderações e eventuais propostas

alternativas.

Ao final, procede-se à votação das propostas, buscando-se, sempre que possível,

o consenso. A decisão final - a meta para a taxa Selic e o viés, se houver - é

imediatamente divulgada à imprensa ao mesmo tempo em que é expedido Comunicado

através do Sistema de Informações do Banco Central (Sisbacen).

A ata fornece um resumo das discussões do Copom, em conformidade com o

compromisso de transparência do regime de metas para a inflação. (Banco Central

Brasil)

Page 34: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

33

No período analisado, atas de Junho de 1.999 à Agosto de 2.004, observaram-se

os movimentos da inflação, razões do atingimento ou não da meta inflacionaria e

medidas tomadas. O anexo I trás os principais acontecimentos em cada reunião mensal

do COPOM. Segundo Mendonça (p.148,2001), deve-se destacar que os efeitos da

política monetária não são imediatos.

A tabela 2 mostra o histórico das taxas de juros fixadas pelo Copom. Verifica-se

que no período compreendido entre junho de 1999 à dezembro de 1999 ocorreu uma

redução na meta para taxa Selic que ao final do período ficou em 19%. No ano de 2000,

a trajetória de queda permanece. Mantida em 16,5% de julho a novembro, a taxa de

juros tem uma nova queda no mês de dezembro 15,75%. Nesses dois anos, a inflação

permaneceu dentro das metas de inflação fixadas.

Em 1999, a variação de 8,9% do IPCA permitiu o cumprimento da meta anual

para a inflação, diretriz da política monetária. A meta fixada para 1999 previa variação

anual de 8% para o IPCA, admitindo desvios de dois pontos percentuais para cima ou

para baixo. A inflação de dezembro de 2000, medida pelo IPCA, ficou em 0,59%, dentro

das expectativas do comitê.

Com isso, o ano 2000 a meta de 6% estabelecida pelo governo fora cumprida. O

bom desempenho do sistema de metas de inflação desses dois períodos, deve-se em

grande parte, a desvalorização cambial e a diminuição do desemprego da capacidade

produtiva. Os principais itens que contribuíram para a inflação foram o aumento das

tarifas de serviços públicos e dos preços de combustíveis.

Nos dois primeiros meses de 2001, a taxa meta da Selic permaneceu em 15%,

25% de queda em relação à taxa do mês de dezembro do ano anterior; porém, a trajetória

de queda é interrompida nos meses subseqüentes. No final do período verifica-se uma

taxa de 19%. A meta fixada em 4%, admitindo desvios de dois pontos percentuais para

Page 35: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

34

cima ou para baixo, não fora alcançada, o ano terminou com a inflação de 7,7%, medida

pelo IPCA. O cenário externo teve grande contribuição nesse resultado: através da crise

na Argentina e os ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos. Internamente, a crise

de energia, reduziu o consumo de energia elétrica, embora as implicações sejam muito

diferentes para cada consumidor individual ou setor de atividade, teve efeitos negativos

sobre a taxa de crescimento do produto. Outra conseqüência importante da crise de

energia foi alterar as expectativas, à medida que contribui para prolongar a instabilidade

política doméstica.

Em 2002, observa-se uma trajetória de queda da taxa meta Selic, interrompida

pela ata número 76 extraordinária, quando o COPOM determina uma elevação da taxa

meta Selic de 21% ante a 18%. O aumento da projeção de inflação para acima da meta

ajustada para 2003 recomendava uma política monetária mais restritiva, justifica o

Copom, mesmo que a causa primária da inflação não estivesse relacionada com um

aumento da demanda, mas sim com o efeito sobre os preços domésticos de uma

depreciação cambial significativa. No mês de dezembro a taxa sobe 3 pontos, atingindo

25%. A meta inflacionária, fixada em 3,5% pelo governo para 2002, novamente não fora

atingida. A inflação medida pelo IPCA no final do período era de 12,5%. Os principais

fatores que contribuíram para esse resultado estão relacionados ao aumento do risco

Brasil, a depreciação cambial, a evolução dos preços administrados por contrato e

monitorados e a deterioração das expectativas para a inflação justificando a rigidez nos

juros.

O aumento da taxa meta Selic continuou no ano de 2003 até o mês de maio. A

partir de abril, observa-se a queda que em dezembro chega a 16,50% ante a 17,50% do

mês de novembro. No ano de 2003, a inflação acumulada atingiu 9,30%, resultado

significativamente inferior às expectativas feitas por analistas no início do período, que

apontava crescimento dos preços próximo a 12%, levando-se em consideração o IPCA.

Porém, ultrapassando, o limite superior do intervalo de tolerância de 2,5 pontos

Page 36: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

35

percentuais acima e abaixo da meta central de 4,5%. A meta ajustada de 8,5% também

fora superada pelos 9,30%.

Os preços administrados contribuíram com 3,76 p.p. e os preços livres, com 5,54

p.p. Dentre os preços livres, destacaram-se as variações de setores oligopolizados, como

higiene pessoal (12,2%), artigos de limpeza (13.9%), móveis e utensílios (11,8%) e

remédios (11,5%), além de arroz (25,2%), com problemas de oferta desde o início do

ano.

No período compreendido entre janeiro e agosto de 2004, a taxa meta para Selic,

após registrar queda até maio, passou a ser mantida em 16% até o mês de agosto, final

do período analisado. A aceleração da inflação registrada resultou de aumentos dos

preços monitorados e alimentação. Projeta-se que a inflação ficará dentro da meta

estabelecida no ano de 2004 correspondendo a 5,5% com limite superior e inferior de

2,5%.

Tabela 2 - Histórico das taxas de juros fixadas pelo Copom e evolução da taxa Selic

Reunião Meta SELIC Taxa SELIC nº data viés

Período de vigência %a.a. % % a.a.

99 18/08/2004 19/08/2004 - 15/09/2004 16,00 1,12 15,90 98 21/07/2004 22/07/2004 - 18/08/2004 16,00 1,17 15,83 97 16/06/2004 17/06/2004 - 21/07/2004 16,00 1,46 15,79 96 19/05/2004 20/05/2004 - 16/06/2004 16,00 1,11 15,79 95 14/04/2004 15/04/2004 - 19/05/2004 16,00 1,41 15,80 94 17/03/2004 18/03/2004 - 14/04/2004 16,25 1,13 16,09 93 18/02/2004 19/02/2004 - 17/03/2004 16,50 1,08 16,28 92 21/01/2004 22/01/2004 - 18/02/2004 16,50 1,21 16,30 91 17/12/2003 18/12/2003 - 21/01/2004 16,50 1,39 16,32 90 19/11/2003 20/11/2003 - 17/12/2003 17,50 1,28 17,32 89 22/10/2003 23/10/2003 - 19/11/2003 19,00 1,38 18,84 88 17/09/2003 18/09/2003 - 22/10/2003 20,00 1,81 19,84 87 20/08/2003 21/08/2003 - 17/09/2003 22,00 1,58 21,84 86 23/07/2003 24/07/2003 - 20/08/2003 24,50 1,74 24,32 85 18/06/2003 19/06/2003 - 23/07/2003 26,00 2,21 25,74 84 21/05/2003 22/05/2003 - 18/06/2003 26,50 1,87 26,27

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36

83 23/04/2003 24/04/2003 - 21/05/2003 26,50 1,78 26,32 82 19/03/2003 alta 20/03/2003 - 23/04/2003 26,50 2,16 26,32 81 19/02/2003 20/02/2003 - 19/03/2003 26,50 1,68 26,30 80 22/01/2003 23/01/2003 - 19/02/2003 25,50 1,81 25,36 79 18/12/2002 19/12/2002 - 22/01/2003 25,00 2,05 24,90 78 20/11/2002 21/11/2002 - 18/12/2002 22,00 1,58 21,90 77 23/10/2002 24/10/2002 - 20/11/2002 21,00 1,44 20,90

76 ex. 14/10/2002 15/10/2002 - 23/10/2002 21,00 0,53 20,90 75 18/09/2002 19/09/2002 - 14/10/2002 18,00 1,18 17,90 74 21/08/2002 baixa 22/08/2002 - 18/09/2002 18,00 1,31 17,87 73 17/07/2002 18/07/2002 - 21/08/2002 18,00 1,64 17,86 72 19/06/2002 baixa 20/06/2002 - 17/07/2002 18,50 1,35 18,40 71 22/05/2002 23/05/2002 - 19/06/2002 18,50 1,26 18,07 70 17/04/2002 18/04/2002 - 22/05/2002 18,50 1,62 18,35 69 20/03/2002 21/03/2002 - 17/04/2002 18,50 1,28 18,45 68 20/02/2002 21/02/2002 - 20/03/2002 18,75 1,38 18,80 67 23/01/2002 24/01/2002 - 20/02/2002 19,00 1,25 19,05 66 19/12/2001 20/12/2001 - 23/01/2002 19,00 1,60 19,05 65 21/11/2001 22/11/2001 - 19/12/2001 19,00 1,39 19,05 64 17/10/2001 18/10/2001 - 21/11/2001 19,00 1,60 19,05 63 19/09/2001 20/09/2001 - 17/10/2001 19,00 1,32 19,07 62 22/08/2001 23/08/2001 - 19/09/2001 19,00 1,32 19,04 61 18/07/2001 19/07/2001 - 22/08/2001 19,00 1,74 18,96 60 20/06/2001 baixa 21/06/2001 - 18/07/2001 18,25 1,34 18,31 59 23/05/2001 24/05/2001 - 20/06/2001 16,75 1,17 16,76 58 18/04/2001 19/04/2001 - 23/05/2001 16,25 1,45 16,30 57 21/03/2001 22/03/2001 - 18/04/2001 15,75 1,11 15,84 56 14/02/2001 15/02/2001 - 21/03/2001 15,25 1,30 15,20 55 17/01/2001 18/01/2001 - 14/02/2001 15,25 1,13 15,19 54 20/12/2000 21/12/2000 - 17/01/2001 15,75 1,05 15,76 53 22/11/2000 23/11/2000 - 20/12/2000 16,50 1,21 16,38 52 18/10/2000 19/10/2000 - 22/11/2000 16,50 1,41 16,56 51 20/09/2000 21/09/2000 - 18/10/2000 16,50 1,16 16,60 50 23/08/2000 24/08/2000 - 20/09/2000 16,50 1,16 16,54 49 19/07/2000 20/07/2000 - 23/08/2000 16,50 1,53 16,51 48 uso/baixa 10/07/2000 - 19/07/2000 17,00 0,50 16,96

20/06/2000 baixa 21/06/2000 - 07/07/2000 17,50 0,76 17,34 47 24/05/2000 25/05/2000 - 20/06/2000 18,50 1,28 18,39 46 19/04/2000 20/04/2000 - 24/05/2000 18,50 1,57 18,55

uso/baixa 29/03/2000 - 19/04/2000 18,50 1,09 18,60 45 22/03/2000 baixa 23/03/2000 - 28/03/2000 19,00 0,28 18,94 44 16/02/2000 17/02/2000 - 22/03/2000 19,00 1,59 18,88 43 19/01/2000 20/01/2000 - 16/02/2000 19,00 1,45 18,87

Page 38: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

37

42 15/12/1999 16/12/1999 - 19/01/2000 19,00 1,74 19,00 41 10/11/1999 11/11/1999 - 15/12/1999 19,00 1,67 18,99 40 06/10/1999 baixa 07/10/1999 - 10/11/1999 19,00 1,59 18,87 39 22/09/1999 23/09/1999 - 06/10/1999 19,00 0,69 19,01 38 01/09/1999 02/09/1999 - 22/09/1999 19,50 1,00 19,52 37 28/07/1999 29/07/1999 - 01/09/1999 19,50 1,78 19,51 36 23/06/1999 baixa 24/06/1999 - 28/07/1999 21,00 1,90 20,88

Fonte: Banco Central do Brasil

6.2 Analisar a causalidade entre juros e inflação no período pós Plano Real

Nas análises de causalidade, em geral incluem-se apenas termos defasados da

variável explicativa, no sentido de captar o poder explicativo do seu comportamento

passado sobre o valor corrente da variável dependente. Quando da análise da

transmissão de impactos, é comum incluir também o termo corrente da variável

explicativa. A significância do coeficiente dessa variável não caracteriza causalidade

(no sentido temporal) de uma variável para outra; no entanto, tal coeficiente mede o

efeito imediato (contemporâneo) entre as variáveis, pode ser fundamental para a análise

de transmissão. Nos ajustamentos estatísticos realizados neste estudo, porém, não se

apuraram efeitos significativos das variáveis explicativas contemporâneas sobre as

variáveis dependentes. Ao mesmo tempo, a inclusão da variável contemporânea

distorcia os coeficientes estimados para os efeitos defasados. Por essa razão, optou-se

por considerar as regressões somente com variáveis explicativas defasadas tanto para

análise de causalidade como para análise de transmissão.

6.2.1 Período anterior à implantação do sistema de metas

Para fazer a abordagem econométrica da taxa de juros (SELIC) e do índice de

preços escolhido (IPCA), dividiu-se as séries em dois períodos distintos: janeiro de 1994

a maio de 1999, período em que inicia-se o Plano Real, anterior a adoção do sistema de

metas de inflação, e de junho de 1999 a agosto de 2004, período em que, o sistema de

Page 39: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

38

metas de inflação é adotado no país após uma forte desvalorização cambial. As figuras

4 e 5 são as séries taxa de juros (Selic) e IPCA para o primeiro período em análise.

Figura 4. Taxa de juros – Selic – Mensal – (jan.94/mai.99)

Fonte: IPEA

Figura 5. IPCA – Mensal – (jan.94/mai.99)

Fonte: IBGE

A tabela 3 contém os resultados obtidos nos testes de raiz unitária para as

variáveis índice de preços ao consumidor amplo (IPCA) e juros (SELIC) na forma

logarítmica, para o período compreendido entre junho de 1994 a maio de 1999, seguindo

00 .20 .40 .60 .8

11 .21 .4

1994

07

1994

12

1995

05

1995

10

1996

03

1996

08

1997

01

1997

06

1997

11

1998

04

1998

09

1999

02

0200400600800

1000120014001600

1994

07

1994

11

1995

03

1995

07

1995

11

1996

03

1996

07

1996

11

1997

03

1997

07

1997

11

1998

03

1998

07

1998

11

1999

03

Page 40: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

39

o procedimento sugerido por Enders (1995). Tanto para a taxa de juros, como para os

índices de preços, observou-se que todas são estacionárias no nível.

No período entre janeiro de 1994 a maio de 1999 não verificou-se uma relação

bidirecional de causalidade entre a taxa de juros e o índice de preços conforme indica a

não-significância dos testes F referentes às variáveis explicativas defasadas (tabelas 4 e

5).

Tabela 3. Resultados dos testes de raiz unitária de Dickey-Fuller para as séries

logarítmicas de juros e preços (lnselic e lnipca respectivamente) para o período pré-

metas de inflação. Valor de Modelo 1 Variáveis

p-1 ττ τβτ τµ ταµ τ

Lnselic 0 -2.92873 -0.59846 -3.30078 -3.43819# -0.24925

Lnipca 0 -2.32561 0.93245 -2.34946# 2.35030# 0.29006

Fonte: Dados da pesquisa # Significativo até 10% de probabilidade [valores críticos em Fuller (1976) e Dickey-Fuller (1981)]

* Modelo 1 → ∑−

=−− +∆⋅+⋅+⋅+=∆

1p

1ititi1tt xxtx ελγβα , nas versões com intercepto e

tendência, com intercepto e sem tendência, e, na ausência de ambos.

** Modelo 2 → ∑−

=−− +∆∆⋅+⋅=∆∆

2p

1ititi1tt xxx ελγ , definido após os testes comprovarem a

ausência de termos deterministas.

Os resultados das tabelas 4 e 5 fornecem estimativas da equação de transmissão

de variações no IPCA para a taxa de juros e vice-versa no primeiro período de análise.

Conforme já concluído pelo teste de causalidade, não há efeitos significativos nessas

equações, embora os coeficientes relativamente elevados do IPCA sobre a taxa Selic

sejam indicativos de certa preocupação do banco central com a taxa de inflação ao fixara

as taxas de juros.

Page 41: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

40

Conclui-se, assim, que até junho de 1999, as variações da taxa de juros não

afetavam significativamente o comportamento da inflação.

Tabela 4. Testes de causalidade e equação de transmissão – IPCA como variável

dependente (jan.94/mai.99) Dependent Variable LNSELIC - Estimation by Least Squares Usable Observations 56 Degrees of Freedom 52 Centered R**2 0.821631 R Bar **2 0.811340 Uncentered R**2 0.981396 T x R**2 54.958 Mean of Dependent Variable -1.109302228 Std Error of Dependent Variable 0.381962706 Standard Error of Estimate 0.165905334 Sum of Squared Residuals 1.4312781561 Regression F(3,52) 79.8435 Significance Level of F 0.00000000 Durbin-Watson Statistic 1.703008 Q(14-0) 8.262311 Significance Level of Q 0.87521731 Variable Coeff Std Error T-Stat Signif ******************************************************************************* 1. Constant 1.678027263 2.255527688 0.74396 0.46024802 2. LNIPCA{1} 4.057147515 5.303599177 0.76498 0.44774142 3. LNIPCA{2} -4.336782491 5.125623883 -0.84610 0.40137467 4. LNSELIC{1} 0.745099602 0.092933845 8.01753 0.00000000 Null Hypothesis : The Following Coefficients Are Zero LNIPCA Lag(s) 1 to 2 F(2,52)= 1.63724 with Significance Level 0.20438430 Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 5. Teste de causalidade e equação de transmissão– Taxa de juros como

variável dependente (jan.94/mai.99) Dependent Variable LNIPCA - Estimation by Least Squares Usable Observations 55 Degrees of Freedom 49 Centered R**2 0.999113 R Bar **2 0.999022 Uncentered R**2 1.000000 T x R**2 55.000 Mean of Dependent Variable 7.1911880717 Std Error of Dependent Variable 0.1147331935 Standard Error of Estimate 0.0035876148 Sum of Squared Residuals 0.0006306780 Regression F(5,49) 11035.8251 Significance Level of F 0.00000000 Durbin-Watson Statistic 2.162430 Q(13-0) 18.794735 Significance Level of Q 0.12960671 Variable Coeff Std Error T-Stat Signif ******************************************************************************* 1. Constant 0.185660439 0.056271050 3.29940 0.00181049

Page 42: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

41

2. LNSELIC{1} 0.003231243 0.003083834 1.04780 0.29987155 3. LNSELIC{2} 0.000968165 0.003288625 0.29440 0.76969731 4. LNIPCA{1} 1.547321853 0.133807542 11.56379 0.00000000 5. LNIPCA{2} -0.845193691 0.215815230 -3.91628 0.00027827 6. LNIPCA{3} 0.273448020 0.122993498 2.22327 0.03084088 Null Hypothesis : The Following Coefficients Are Zero LNSELIC Lag(s) 1 to 2 F(2,49)= 1.83900 with Significance Level 0.16978081

Fonte: Dados da pesquisa.

6.2.2 Período posterior à implantação do sistema de metas

A partir de junho de 1999 o sistema de metas de inflação é adotado. As figuras 8

e 9 mostram as séries taxa de juros (Selic) e IPCA para o segundo período em análise,

compreendido entre junho de 1999 e agosto de 2004.

Figura 6. Taxa de juros – Selic – Mensal – (jun.99/ago.04)

Fonte: IPEA

0

2

4

6

8

10

12

1994 07 1995 02 1995 09 1996 04 1996 11 1997 06 1998 01 1998 08

Page 43: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

42

Figura 7. IPCA – Mensal – (jun.99/ago.04)

Fonte: IBGE

A tabela 6 contém os resultados obtidos nos testes de raiz unitária para as

variáveis juros e índice de preços na forma logarítmica seguindo o procedimento

sugerido por Enders (1995). Observa-se que a série de taxa de juros é estacionárias no

nível. No caso do índice de preços, os resultados apontam a não estacionaridade no nível

e na primeira diferença. No entanto ela foi tomada como estacionária, uma vez que a

inspeção gráfica da série aponta para tal fato. A literatura sobre o assunto mostra que a

maioria das séries econômicas é estacionária ou torna-se estacionária após uma

diferença.

No período entre junho de 1999 a agosto de 2004 não se verificou uma relação

bidirecional de causalidade entre a taxa de juros e o índice de preços. Percebe-se, é

verdade, um impacto da Selic sobre o IPCA quatro meses após a mudança nos juros.

Mas não se pode afirmar que a Selic tenha contribuído para a previsão do

comportamento da inflação. O índice de preços, por sua vez, passou a influenciar a taxa

de juros com um período de defasagem; porém, verifica-se que no período seguinte esse

efeito é estatisticamente anulado. Ver as tabelas 7 e 8.

0500

1000150020002500

1999 06

1999 12

2000 06

2000 12

2001 06

2001 12

2002 06

2002 12

2003 06

2003 12

2004 06

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43

Tabela 6. Resultados dos testes de raiz unitária de Dickey-Fuller para as séries de

juros e preços (lnselic e lnipca respectivamente) para o período pós-metas de

inflação. Valor de Modelo 1 Variáveis

p-1 ττ τβτ τµ ταµ τ

Lnselic 0 -3.69617# - - - -

Lnipca 0 -2.13141 2.16980 0.07489 0.01650 3.21738

Fonte: Dados da pesquisa

# Significativo até 10% de probabilidade [valores críticos em Fuller (1976) e Dickey-Fuller (1981)]

* Modelo 1 → ∑−

=−− +∆⋅+⋅+⋅+=∆

1p

1ititi1tt xxtx ελγβα , nas versões com intercepto e

tendência, com intercepto e sem tendência, e, na ausência de ambos.

** Modelo 2 → ∑−

=−− +∆∆⋅+⋅=∆∆

2p

1ititi1tt xxx ελγ , definido após os testes comprovarem a

ausência de termos deterministas.

Tabela 7. Teste de causalidade e equação de transmissão – Taxa de juros como

variável dependente (jun99/ago.04)

Dependent Variable LNSELIC - Estimation by Least Squares Usable Observations 119 Degrees of Freedom 115 Centered R**2 0.882142 R Bar **2 0.879068 Uncentered R**2 0.991179 T x R**2 117.950 Mean of Dependent Variable -1.404253274 Std Error of Dependent Variable 0.401098406 Standard Error of Estimate 0.139483342 Sum of Squared Residuals 2.2373943019 Regression F(3,115) 286.9171 Significance Level of F 0.00000000 Durbin-Watson Statistic 2.058826 Q(29-0) 28.899227 Significance Level of Q 0.47032383 Variable Coeff Std Error T-Stat Signif ******************************************************************************* 1. Constant 1.095306205 0.591112746 1.85296 0.06645223 2. LNIPCA{1} 4.446720214 2.204654664 2.01697 0.04602806 3. LNIPCA{2} -4.638793104 2.209510280 -2.09947 0.03796295 4. LNSELIC{1} 0.804957029 0.050352559 15.98642 0.00000000 Null Hypothesis : The Following Coefficients Are Zero LNIPCA Lag(s) 1 to 2 F(2,115)= 4.33128 with Significance Level 0.01536133

Page 45: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

44

Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 8. Teste de causalidade e equação de transmissão– IPCA como variável

dependente (jun99/ago.04) Dependent Variable LNIPCA - Estimation by Least Squares Usable Observations 117 Degrees of Freedom 109 Centered R**2 0.999612 R Bar **2 0.999587 Uncentered R**2 1.000000 T x R**2 117.000 Mean of Dependent Variable 7.3769095611 Std Error of Dependent Variable 0.2084905439 Standard Error of Estimate 0.0042354843 Sum of Squared Residuals 0.0019553866 Regression F(7,109) 40138.2173 Significance Level of F 0.00000000 Durbin-Watson Statistic 1.931059 Q(29-0) 37.963959 Significance Level of Q 0.12313981 Variable Coeff Std Error T-Stat Signif ******************************************************************************* 1. Constant 0.004960891 0.019237975 0.25787 0.79699367 2. LNSELIC{1} 0.001563882 0.002839544 0.55075 0.58293120 3. LNSELIC{2} -0.000536345 0.003554196 -0.15090 0.88032988 4. LNSELIC{3} 0.005248540 0.003489863 1.50394 0.13548911 5. LNSELIC{4} -0.004589139 0.002572071 -1.78422 0.07717034 6. LNIPCA{1} 1.718683042 0.093472957 18.38695 0.00000000 7. LNIPCA{2} -0.783151070 0.170486503 -4.59363 0.00001176 8. LNIPCA{3} 0.064454377 0.093369916 0.69031 0.49146526 Null Hypothesis : The Following Coefficients Are Zero LNSELIC Lag(s) 1 to 4 F(4,109)= 1.31134 with Significance Level 0.27032632 Fonte: Dados da pesquisa.

Conclui-se, assim, que, no primeiro período, não existia causalidade entre

inflação e juros; no segundo período, prevaleceu apenas o efeito da inflação para os

juros.

Page 46: POLÍTICA MONETÁRIA: METAS DE INFLAÇÃO - Revisão e Análise

45

Capítulo 7

Conclusão

O programa de metas de inflação foi implantado no Brasil em 1999 no bojo de

várias mudanças no quadro institucional da política econômica, aí incluídas a

flexibilização cambial e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Tais medidas apareciam como

resposta do País ao elevado grau de exposição ao contágio a que se mostrava susceptível

a crises externas. Era necessário dar maior previsibilidade aos investidores nacionais e

estrangeiros. Uma análise geral do resultado dessas medidas aponta mostra-se positiva.

Desde então a capacidade do Brasil ultrapassar crises domésticas e internacionais

cresceu. É verdade que a freqüência de crises externas de fundo econômico se reduziu

no período que se seguiu às mudanças mencionadas, porém, o choque no quadro político

representado pela sucessão presidencial em 2002 foi bastante forte e, mesmo assim,

pode ser contido com relativa rapidez e sem demasiados custos sociais. Após o

crescimento bastante baixo em 2003, a economia pode crescer expressivamente já em

2004.

O programa de metas de inflação, implantado a partir das experiências de vários

países, tem representado um dos esteios da administração econômica. Bastante criticado

por empresários e pela classe política por ter conduzido a um cenário de juros muito

elevados, o programa vem se sustentando por um período relativamente longo. Em geral

se questiona em que medida as baixas taxas de inflação resultam do referido programa e

em que medida provêm da abertura da economia e do crescimento da eficiência e da

produtividade.

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46

Este trabalho buscou evidências a respeito de possível relação inversa entre juros

e inflação no Brasil após o Plano Real. Os resultados encontrados não favorecem a

existência de tal relação ao menos de forma direta e simples. É claro que os métodos

empregados não permitem uma rejeição taxativa da eficácia do programa no combate à

inflação. É possível que métodos mais abrangentes que considerem os efeitos de outros

fatores, como os choques fiscais (continua elevação da carga tributária), choques de

oferta (energia, agricultura, etc.) e a elevada indexação (contratos das utilidades

públicas) que remanesce na economia, possam atribuir aos juros papel mais relevante ao

processo de estabilização econômica. Mesmo, porém, que esse seja o caso, os presentes

resultados sugerem que contar apenas com os juros para o controle inflacionário pode

ser uma estratégia fadada ao fracasso. Medidas complementares tendentes a favorecer o

crescimento da produtividade (investimentos em ciência e tecnologia), o estimulo a

concorrência, e redução da indexação podem ser fundamentais para que o custo social

do combate à inflação (juros altos) possa ser suportado mais confortavelmente pela

população brasileira.

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