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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 4395
PERIÓDICOS EDUCACIONAIS BRASILEIROS NA CONFORMAÇÃO DAS DISCIPLINAS OU CORPOS DE SABERES DA DIDÁTICA EM INSTITUIÇÕES
DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL: A REVISTA DIDÁTICA (1964-1975) EM FOCO1
Rosane Michelli de Castro 2
Viviane Cássia Teixeira Reis 3
Introdução
Nesta comunicação apresentamos resultados parciais da pesquisa “A história da
Didática em instituições de formação de professores no Brasil (1827-2011) –
fase II: periódicos educacionais brasileiros na conformação das disciplinas ou corpos de
saberes de Didática”, cujo objetivo geral é o de identificar, reunir, sistematizar e analisar
aspectos de periódicos educacionais brasileiros, os quais teriam contribuído para a
conformação das disciplinas ou corpos de saberes tidos como propriamente da Didática em
instituições de formação de professores no Brasil, entre 1827 e 2011.
O nosso interesse em desenvolver pesquisa histórica sobre a Didática em instituições de
formação de professores no Brasil, como corpo de saberes sobre o “como ensinar”, entre 1827
e 1930, e como disciplinas, após 1930, é decorrente, num primeiro momento, da nossa crença
de que, mediante os aspectos constitutivos da história da Didática, dos vários cursos de
formação de professores no Brasil, em funcionamento em momentos históricos distintos, é
possível se constituir o que se pode chamar de História da Didática na formação de
professores no Brasil.
Essa nossa formulação está pautada em Chervel (1990), para quem, uma disciplina
escolar,4 não existe fora da instituição e distante do saber do professor que a constituiu.
1 Esta comunicação é decorrente de pesquisa, cuja primeira fase foi financiada pela FAPESP. Processo 2012/10609-0. Dessa maneira, agradecemos esse apoio financeiro.
2 Doutora em Educação pela UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Faculdade de Filosofia e Ciências-FFC – Campus de Marília, Professor Assistente Doutor do Dep. de Didática e do Programa de Pós-Graduação em Educação-PPGE, dessa faculdade. E-Mail: [email protected].
3 Doutoranda em Educação junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação-PPGE da UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Faculdade de Filosofia e Ciências-FFC – Campus de Marília. E-MAIL: [email protected].
4 Em nossa pesquisa, as disciplinas de Didática, tanto das escolas normais de nível médio, como das instituições educacionais de formação de professores de nível superior, estão sendo tomadas como disciplinas escolares.
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Portanto, surgiu-nos a necessidade primeira de entender a relação da história das disciplinas
de Didática com a história das instituições educacionais, lócus da sua origem e
desenvolvimento. Assim, nossa pesquisa remete também ao campo de pesquisa sobre história
das instituições escolares.
Para tanto, pesquisadores em história das disciplinas escolares afirmam que é preciso ir
além de estudos legislativos, organizacionais, ou de demandas de escolarização e até mesmo
de pensamento pedagógico dessas escolas e instituições de ensino e compreender a
necessidade das práticas escolares que se materializam por meio das disciplinas, as quais
imprimem nos agentes do processo pedagógico a identidade que torna tal instituição
diferente, embora com o mesmo currículo, uma vez que os dispositivos legais buscam a
normatização e padronização das diversas instituições.
Assim, na pesquisa em Historia das Disciplinas Escolares e, neste nosso caso, na
pesquisa sobre a História da Didática nas várias instituições de formação de professores no
Brasil, é necessário, portanto, considerar que tais instituições educacionais estão inseridas
em determinado meio social, que implica em uma identidade cultural que lhe é singular e que
é, ao mesmo tempo, condicionante e condicionada por aspectos específicos das várias
disciplinas escolares que compõem a estrutura curricular de cada uma dessas instituições.
Nessa perspectiva, ainda é possível afirmar que nossa pesquisa também remete e se
situa no campo de conhecimentos sobre cultura escolar.5
Para Goodson (1995, p. 118), o objeto dos estudos em História das Disciplinas Escolares
estaria mais relacionado à construção social do currículo e do conhecimento e, nesse sentido,
interessa-se em compreender como “o estatuto, os recursos e a estruturação das disciplinas
escolares empurram o conhecimento da disciplina em direções específicas [...]”. Sob essa
perspectiva, ao comporem a área da história do currículo, a História das Disciplinas
Escolares buscaria analisar no interior da instituição educacional a relação
instituição/sociedade, enfatizando como as instituições são determinantes dos e, ao mesmo
tempo, determinadas por conhecimentos da sociedade culturalmente legitimados, sendo,
portanto, algo mais do que um simples instrumento de cultura da classe dominante.
Por todo exposto, admitimos com Chervel (1990), que a constituição e o funcionamento
das disciplinas de ensino colocam ao pesquisador alguns problemas, a saber: Como a escola
começa a agir para produzi-las? Se a escola se limitasse a adaptar os conteúdos das ciências
5 Segundo Julia (2001, p. 10) cultura escolar se refere a “um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas (finalidades religiosas, sócio-políticas ou simplesmente de socialização).”
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para seu público, mediante disciplinas, seria possível fazê-lo totalmente? Para que tais
disciplinas serviriam? Quais expectativas dos pais ou do poder público, as disciplinas
atenderiam? De que maneira as disciplinas realizam a formação desejada sobre o espírito do
aluno? Qual é o resultado do ensino?
Segundo Chervel (1990), para responder esses e outros questionamentos, é preciso que
se compreenda a amplitude da noção de disciplina e que se reconheça que uma disciplina
escolar comporta não somente as práticas docentes da aula, mas também as grandes
finalidades que presidiram sua constituição e o fenômeno de aculturação da massa que ela
determina. Então, a História das Disciplinas escolares pode desempenhar um papel
importante não somente na História da Educação, mas também na História Cultural, no
âmbito da qual é possível a identificação de aspectos de uma história cultural dos saberes
pedagógicos.
Para a apreensão dessas finalidades do ensino de dada disciplina, sobretudo das
finalidades que a sociedade delega à instituição educacional, acreditamos, assim como Catani
e Bastos (1997, p. 5), que a imprensa educacional apresenta-se como fonte privilegiada, à
medida em que “[...] [permite] ao pesquisador estudar o pensamento pedagógico de um
determinado setor ou de um grupo social a partir do discurso veiculado e da ressonância dos
temas debatidos, dentro e fora do universo escolar.”
Segundo Silva (s.d., p. 1):
[...] as revistas e os periódicos constituem fontes privilegiadas, sendo uma das formas de se apreender, os modos de funcionamento do campo educacional, bem como as configurações específicas da vida e da cultura escolar. Seja enquanto imprensa educacional no seu conjunto, seja em relação a determinados impressos, ou ainda, por meio de seleções temáticas.
Para Catani e Bastos (1997, p. 7), os periódicos educacionais “[...] fazem circular
informações sobre o trabalho pedagógico, o aperfeiçoamento das práticas docentes, o ensino
específico das disciplinas, a organização dos sistemas, as reivindicações da categoria do
magistério e outros temas [...]”, afirmações que subsidiam a elaboração da hipótese
norteadora da nossa pesquisa de que, no caso da constituição dos saberes específicos do
currículo, de cada disciplina, no caso das disciplinas da Didática, os periódicos educacionais
fazem circular e dão forma aos discursos que as constituem, discursos esses resultantes de
um complexo processo envolvendo conflitos, mediações diferentes por diversos sujeitos e
instituições, diante dos papéis que, em cada época e sociedade, foram e são atribuídos a essas
instituições.
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Portanto, e com base em nosso quadro teórico, acreditamos que os periódicos
educacionais brasileiros, desde as primeiras iniciativas de sua publicação em 1832, com
Jornal da Sociedade Promotora da Instrução, mais de caráter educativo que escolar, como
discutido anteriormente, se configuram como veiculadores, disseminadores e legitimadores
do que Chervel (1990) denomina de “finalidades de objetivo”, quando de responsabilidade de
órgãos oficiais, e das chamadas “finalidades reais”, quando produzidos por grupos de
professores ou de estudantes de dada instituição, presidindo, portanto, a constituições dos
processos da instituição educativa, dentre eles da constituição das disciplinas ou corpos de
saberes em foco. Da mesma maneira, pelos motivos já expostos, acreditamos que existiram
periódicos de circulação geral, no período anterior a 1870, que tematizaram a educação e o
ensino a partir de outros campos sociais, e que também são passíveis de serem estudados
como veiculadores, disseminadores e legitimadores do que Chervel (1990) denomina de
“finalidades de objetivo” e ou das chamadas “finalidades reais”.
O interesse dos pesquisadores, tanto brasileiros, quanto estrangeiros, tanto pela
imprensa de circulação geral, quanto pela imprensa periódica educacional já possui uma
tradição e importantes resultados de pesquisas para a história da Educação.
Sobre a temática, Catani (1994) elaborou reflexões sobre a constituição desse campo de
pesquisa, fazendo um retrospecto das produções a respeito do tema e destacando os
trabalhos desenvolvidos nos centros de pesquisa do estado de São Paulo. De acordo com essa
pesquisadora, pesquisas sobre imprensa periódica educacional, imprensa de ensino ou
imprensa pedagógica como vêm sendo denominadas, vêm sendo realizadas desde meados de
1900 na França, logrando continuidade com os trabalhos de Pierre Caspard. Em Portugal,
destacam-se os trabalhos de Antonio Nóvoa, direcionados para a elaboração de um repertório
analítico da imprensa de ensino, além de trabalhos desenvolvidos na Bélgica, Itália e outros
países da Europa.
Assim, em continuidade às ações iniciadas com a fase I do projeto integrado
mencionado, esperamos buscamos atingir o objetivo central de identificar, reunir,
sistematizar e analisar aspectos de periódicos educacionais brasileiros, os quais teriam
contribuído para a conformação das disciplinas ou corpos de saberes tidos como
propriamente da Didática em instituições de formação de professores no Brasil, por meio da
análise de aspectos da produção acadêmico-científica brasileira sobre as revistas de
educação, do ensino, ou que os tematizaram, que remetem às disciplinas ou corpos de
saberes tidos como propriamente da Didática, entre 1832 e 2011.
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Trata-se de pesquisa histórica, documental quanto às fontes, norteada pelo
estabelecimento de repertório destinado a informar e oferecer condições para uma análise,
dentro outros aspectos, da predominância e recorrência das temáticas que remetem às
disciplinas ou corpos de saberes tidos como propriamente da Didática das instituições de
formação de professores no Brasil, entre 1827 e 2011, bem como informações sobre
produtores, colaboradores e leitores supostamente perspectivados, nos vários periódicos
localizados.
Como resultados parciais obtivemos 26 revistas educacionais com temáticas que
remetem às disciplinas ou corpos de saberes tidos como propriamente da Didática das
instituições de formação de professores no Brasil, no recorte temporal da pesquisa.
Neste texto, apresentamos temáticas centrais que remetem ao corpo de saberes da
Didática de uma dessas Revistas, da Didática (1964 – 1984).
Centralmente, apresentamos temáticas que foram abordadas na primeira publicação
dessa Revista, inaugurando o que se buscou constituir como sendo próprio da Didática.
A Revista Didática foi uma iniciativa dos docentes do departamento de Didática da
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Marília, porém, conseguiu reunir artigos de
pesquisadores de todo o Brasil e exterior, a fim de contribuir para a formação de professores
do Ensino Primário e Secundário, Curso Normal e Superior, enfim para todos aqueles que,
direta ou indiretamente, estavam ligados por meio de seus professores às Faculdades de
Filosofia.
A formação de professores na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e a Revista Didática: aspectos históricos
Em 1957, o então governador de São Paulo, Jânio da Silva Quadros, assinou a Lei n.
3.871, de 25 de janeiro de 1957, criando a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – FAFI de
Marília. A FAFI de Marília passou a funcionar em outubro de 1958, obteve a autorização para
iniciar o seu funcionamento em 16 de janeiro de 1959, sob o Decreto Federal n. 45.262, e o
seu reconhecimento ocorreu apenas em 16 de janeiro de 1965, sob o Decreto n. 44.528
(CASTRO, 2009).
Segundo Vaidergorn (1995, p. 176-177 apud CASTRO, 2009, p. 57), o primeiro diretor
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília foi José Quirino Ribeiro, professor da
Universidade de São Paulo nomeado pelo governador do estado, como ocorreu com as
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demais faculdades de filosofia, ciências e letras – institutos isolados de ensino superior do
interior paulista, com exceção da Faculdade de Presidente Prudente.
Os primeiros cursos instalados, até o ano de 1964, foram os cursos de História,
Pedagogia, Letras e Ciências Sociais, sendo que os três primeiros iniciaram sua atividade em
1959 e o último, em 1963 (CASTRO, 2009, p. 57).
Segundo o Guia da Faculdade, publicado em 1962 e considerado o primeiro meio
impresso sistematizado, publicado com o objetivo de oferecer uma visão do conjunto de tudo
o que constituía a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília, os três objetivos que
nortearam a criação dessa Faculdade foram:
Desenvolvimento da alta cultura e da pesquisa original; especialização filosófica, literária e científica, bem como preparação de candidatos para o magistério secundário, normal e superior; e habilitação para o exercício das profissões liberais, científicas e técnicas relacionadas com os seus cursos (GUIA..., p. 11-12).
No sub-título do Guia da Faculdade (1962), “Estruturação Geral do Ensino”, são
apresentados os tipos de cursos organizados e instalados – os ordinários e os extraordinários
– e das instâncias por eles responsáveis.
Especialmente sobre os chamados cursos ordinários, as informações são as de que eles eram de responsabilidade dos três Departamentos da Faculdade: História, Letras [Anglo-Germânicas] e Pedagogia. Informa-se ainda que o currículo de bacharelado compreendia as três primeiras séries desses cursos, e, o de licenciatura compreendia um quarto ano, em que o bacharel recebia a formação didática (Didática Geral, Didática Especial, Psicologia Educacional e Administração Escolar). (CASTRO, 2009, p. 84).
Observa-se que tal formação didática mencionada ficou a cargo do então Departamento
de Pedagogia.
Sob a responsabilidade do Departamento de Pedagogia começaram a funcionar a
Escolinha de Arte de Marília e Laboratório de Biologia.
A “Escolinha de Arte de Marília” foi uma das iniciativas considerada em um dos pontos
altos da trajetória da faculdade.
Durante a décima primeira reunião da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília, realizada em 11 de março de 1960, ainda com Michel Pedro Sawaya na direção da Faculdade, a professora Maria Luíza de Barros apresentou, pelo Departamento de Pedagogia, planos para a organização de uma “Escolinha de Arte”, “[...] do tipo orientada no Rio pelo Prof. Augusto Rodrigues” (ATA da 11ª reunião de professores da Faculdade de Filosofia,
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Ciências e Letras de Marília, 1960, p. 18-20), iniciador das Escolinhas de Arte no Brasil.6 (CASTRO, 2009, p. 225-226). A “Escolinha de Arte de Marília” foi fundada em 21 de setembro de 1960, anexa à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília, como parte integrante do Laboratório Psicopedagógico, sob o patrocínio da cadeira de Psicologia. Recebia crianças de diversos níveis de idade, estabelecendo mais um elo entre a Faculdade e a comunidade mariliense, e proporcionava aos alunos da cadeira, em situação de estágio, circunstâncias especiais de observação da “[...] tarefa precípua da natureza infantil – o crescimento.” (GUIA, 1962, p. 46 apud CASTRO, 2009, p. 226).
No ano de 1962, foi organizado outro Departamento, o de Didática, cujo planejamento
e execução da instalação couberam à Nelly Novaes Coelho, professora da cadeira de Didática
Geral do Departamento de Pedagogia.
Sob a responsabilidade do Departamento de Didática foi criada, em 1964, a Revista
Didática.7 Ao lado da Revistas Alfa (1962-1975) – do Departamento de Letras – e da Revista
Estudos Históricos (1963-1975), a Didática (1964-1975) – iniciada no Departamento de
Didática, foi uma publicação que, segundo Castro (2009, p. 31) contemplou a divulgação das
atividades acadêmico-científicas e as produções delas resultantes do Departamento ao qual
esteve vinculada. Mas, a Didática, diferentemente da Alfa e da Estudos Históricos, também
contou, conforme Castro (2009, p. 31), “[...] com as produções do curso de Ciências Sociais,
criado em 1963, a pedido do Departamento de História; de Filosofia, que teve início em 1967;
de licenciatura em Ciências, instalado em 1968, e, suas habilitações em Ciências Biológicas e
Matemática, que tiveram início em 1975.”
Posteriormente, e considerando que as iniciativas para a criação do Departamento de
Didática couberam, como mencionado, a uma docente da cadeira de Didática Geral do
Departamento de Pedagogia, foi organizado o Departamento de Educação da Faculdade, com
a união do Departamento de Pedagogia com o de Didática. Assim, já no ano de 1966, na
publicação de n. 3 da Revista Didática, a informação é a de que essa Revista era de
responsabilidade do Departamento de Educação. Também em anos posteriores, o
Departamento de Letras Anglo-Germânicas perdeu essa denominação e constituiu o
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas e o Departamento de Letras Modernas.
6 Enquanto na Ata mencionada o professor iniciador do movimento das Escolinhas de Arte no Brasil foi apresentado pelo nome de Augusto Rodrigues, na fotografia tomada por ocasião da visita desse professor à “Escolinha de Arte” de Marília, contida no Guia (1962, p. 47), ele foi apresentado pelo nome de Milton Rodrigues.
7 A composição e a impressão do primeiro número da Didática datou de 1965 e a sua última publicação foi a que reuniu o n. 11 e o n. 12, referentes, respectivamente, aos anos de 1974 e 1975, ainda com a Faculdade funcionando como instituto isolado, sob a denominação de Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília (CASTRO, 2009, p. 105).
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Em 1964 foi criado o “Centro de Orientação Didática”, sob a responsabilidade do
Departamento então de Didática da FFCL de Marília, o qual possuía biblioteca própria,
material mimeografado e ‘slides’ de orientação aos professores. Pela sua projeção esse centro
constituía uma das seções da Revista Didática.
Desde a sua criação, a FAFI, em atendimento aos compromissos assumidos pelos seus
docentes, teve todas as suas atividades voltadas para: “produzir e disseminar o conhecimento
novo, sobretudo daquele a serviço da educação, em todos os seus níveis e modalidades; e
prestar contas e mostrar a viabilidade da Faculdade aos órgãos reguladores e fiscalizadores
dos recursos e à comunidade local.” (CASTRO, 2009, p. 214).
Com relação ao Departamento de Pedagogia, depois Didática e, até 1975, de Educação,
a Revista Didática procurou demonstrar em suas páginas, aquele que foi o compromisso para
o qual esse Departamento foi criado, ou seja, o atendimento às demandas do ensino. Daí que
a Didática foi constituída por:
[...] “secções” para os professôres que militam no ensino primário e secundário, para que ensinam no curso normal e superior, enfim para todos aqueles que, direta ou indiretamente, estão ligados através de seus professôres às Faculdades de Filosofia. (DIDÁTICA, 1964, p.6).
Nesse sentido, foi organizada em 1964, sob a responsabilidade do Departamento de
Didática, a “V Semana da Faculdade” que teria contado com cerca de 500 professores de
todos os graus de ensino, o que teria acarretado a publicação da sua Revista “[...] aberta
àqueles que se interessam pelos problemas do ensino e, especialmente, àqueles que são
professôres militantes no magistério.” (DIDÁTICA, 1964, p. 5).
A Revista Didática (1964) e o campo de saberes da Didática no Ensino Superior
O período em que foi organizado o n. 1, de 1964, da Revista Didática foi um período
ainda caracterizado pela discussão, sobretudo entre pesquisadores da educação, sobre
aspectos do campo de estudos e práticas da Didática, da posição da Didática e dos seus
agentes no interior das faculdades (Garcia, 2000).
Conforme Quadro 1, da sequência, é possível percebermos tal situação apontada por
Garcia (2000).
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ISSN 2236-1855 4403
Autor Título Comentários Eurípedes Simões de Paula
“A pré-história e a origem do alfabeto” (p. 9-33).
Resumo da palestra proferida no salão nobre da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília, em 3 de outubro de 1963, por ocasião da “V Semana da Faculdade”, por Eurípedes Simões de Paula, professor de História da Civilização Antiga e Medieval da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, com o objetivo de demonstrar [..] como o alfabeto derivou da pictografia e que essa evolução se deu mais ou menos contemporaneamente em diversas regiões da terra. (p.33). Possui ilustrações.
Oswaldo Frota Pessoa
“O ensino das Ciências” (p. 35-45).
Artigo do livre-docente da cadeira de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, que fez a seguinte afirmação:
[...] Acho que a responsabilidade do professor de Ciências, portanto, tem de ser vista de um ângulo todo especial. Êle não é mais, apenas, a fonte de conhecimentos a serem transmitidos para a outra geração, êle é, principalmente, quem vai orientar a maneira pela qual os indivíduos usam os seus recursos mentais da maneira mais eficiente. Êste é o verdadeiro objetivo das ciências no curso secundário. (p.44).
Joel Martins
“Os fundamentos psicológicos do Curriculum” (p. 47-63).
Artigo do professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que afirmou que um “[..] estudo dos fundamentos psicológicos do Curriculum deveria sempre ser precedido de uma análise filosófica dos fundamentos ou das idéias que constituem o conceito de curriculum.” (p.47).
Quadro 1 – Produções da “Conferências”, da Didática de n. 1, de 1964. Castro (2009, p. 215-216).
No Quadro 1, é possível afirmarmos que as temáticas acolhidas, tanto para o evento
científico promovido pelo Departamento de Didática, quanto pela Revista Didática remetem
a ideia da necessária formação de professores com base nos fundamentos da educação.
Segundo Garcia (2000), com a criação dos Colégios de Aplicação, sob a
responsabilidade da Cadeira de Didática, previsto pelo Decreto n. 9.053, de 12 de março de
1946, destinados à prática docente dos alunos matriculados no curso de Didática, teria
havido um movimento para articulação entre a teoria e a prática, e para a integração da
“Didática Geral” com as “Didáticas Especiais” ou Práticas de Ensino.
Entretanto, Garcia (2000) afirma que, ainda era possível perceber o caráter
instrumental e normativo da Didática no Ensino Superior, sob abordagem experimental,
sobretudo na década de 1960 que, segundo a autora, teria atingido o seu auge com o
movimento das escolas e classes experimentais.
Esse caráter instrumental e normativo da Didática também esteve presente nas
produções da “Mesas Redondas” da Didática, em seu n. 1, de 1964, conforme quadro 2.
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ISSN 2236-1855 4404
Autor Título Comentários Relatores: João Décio e Nelly Novaes Coelho (ambos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília)
“Mesas-redondas acerca do ensino de literatura no curso Secundário” (p. 67-72).
Pontos localizados e debatidos: - O problema da escolha dos autores e das obras; - História da literatura; - Como orientar a leitura e a análise dos textos
literários; - Esquema de ficha de leitura (para o curso
secundário); - A dosagem da matéria; - Sobre como superar a inexistência de bibliografia
especializada para o preparo do professor para orientação dos seus alunos.
Relatores: Jesus Belo Galvão da Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, e
Ataliba T. de Castilho da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Marília
“Mesas-redondas sobre metodologia da composição” (p. 73-79).
Sumário: - Introdução geral: 1. A “V Semana da Faculdade” e o
papel da Faculdade de Filosofia de Marília; - A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a
renovação do Ensino de Português: 1. Amplitude do Ensino de Português;
- Metodologia da composição: 1. A composição oral; 2. A composição escrita; 3. Bibliografia seletiva;
- Sugestões e conclusões. Relatores: João
Fonseca da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da USP; Joel Martins, da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras “Sedes Sapientiae” da PUC de São Paulo e Dorothea Severino, da FFCL de
Marília
“Mesa-redonda sobre ‘O ensino de Inglês’ ” (p.81-85).
Temas debatidos: - Estruturação do Curso de Inglês no Ensino
Secundário; - Problema da adoção do livro didático adequado à
série; - Demonstração prática; - Problema do livro didático para o Curso Colegial; - Objetivo do Ensino de Inglês no Curso Secundário.
Coordenador: José Roberto do Amaral
Lapa, da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Marília
“Mesa-redonda sobre a História no curso secundário” (p. 87-88).
Pontos principais debatidos: - Fornecimento por parte das Faculdades de Filosofia
de recursos audio-visuais ao professorado de nível médio;
- O isolamento em que muitos professores de nível médio trabalham;
- Defesa do diálogo permanente e articulação entre o licenciado e a faculdade;
- Proposição de um planejamento regional para que cada Faculdade de Filosofia pública sirva a região com os recursos audio-visuais;
- Defesa da publicação de periódicos; - Trabalhos desenvolvidos pelos professores da
Faculdade objetivando a publicação de textos históricos para uso dos professores e alunos de nível médio.
Relator: Sylvia Magaldi, do Colégio de Aplicação
e da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da USP
“Mesa-redonda sobre o ensino da História” (p. 89-108).
Sessões dos dias 05 e 06/09/1963. Reflexões sobre alguns problemas suscitados pelo ensino da história: - Necessidade de uma tríplice perspectiva; sobre o
conteúdo histórico; adaptação do Ensino da História às condições do mundo moderno; história e educação cívica; a necessidade de despertar a imaginação e a razão durante o ensino médio; a variedade de métodos.
Seguem transcritos os programas de História propostos para o Curso Ginasial - Sylvia Magaldi.
Relator: Erasmo D’Almeida Magalhães
“Mesa-redonda sobre a Geografia no
Considerando os dispositivos regimentais da “V Semana da Faculdade”, o tema teve o seguinte desenvolvimento:
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ISSN 2236-1855 4405
da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da USP
curso secundário” (p. 109-124).
- Objetivos; - Apresentação para apreciação de três programas
para as quatros séries ginasiais; - Diferentes métodos de ensino; - Adoção de compêndios.
Relator: Oswaldo Sangiorgi, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade
Mackenzie
“Mesa-redonda sobre introdução da Matemática Moderna no ensino de qualquer grau” (p. 125-140).
Programa: - Objetivos; - Conteúdo e método; - Apreciação de proposta de assunto mínimo para um
moderno programa de Matemática para o Ginásio; - Idem para o Curso Colegial em 3 anos; - Demonstração prática com um classe de 1º série
Ginasial do Ginásio Estadual de Marília. Relator: Oswaldo Frota-Pessoa, da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
USP
“Mesa-redonda sobre o ensino da Biologia e da Biologia Educacional”. (p. 141-153).
Aspectos discutidos sobre a metodologia da biologia e da biologia educacional: - Objetivos de ensino; - Método expositivo x método de problemas; - O uso das atividades práticas; - O uso do livro didático; - Técnicas de motivação; - O treino do pensamento científico.
Relator: Joel Martins, da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras “Sedes
Sapientiae” da PUC de São Paulo.
“Mesa-redonda sobre o ensino da Psicologia”. (p. 155-165).
Contribuições da psicologia à seção de educação das escolas normais – seminário conduzido no dia 06/09/1963 na faculdade de filosofia, ciências e letras de marília, sob os auspícios da cadeira de didática; - Problemática apresentada; - Discussão da problemática apresentada.
Relator: Maria Aparecida Rodrigues Cintra, da Cadeira de
Didática Geral da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Marília.
“Mesa-redonda sobre a formação do professor primário”. (p. 161-165).
Pontos apresentados pelo relator: - Objetivos da Escola Normal – sua função como
escola profissional; o exame de admissão para as escolas normais – a clientela escolar;
- Formação do professor para as escolas normais – as Faculdades de Filosofia;
- Concurso de ingresso ao Magistério para o Curso Normal;
- A estrutura do Curso Normal: o currículo escolar, as matérias do curso e sua distribuição, o programa das matérias;
- A teoria e a prática: a escola de aplicação. Quadro 2 – Produções da “Mesas Redondas” da Didática de n. 1, de 1964. Castro (2009, p. 216-218).
Logo no artigo decorrente das “Mesas-redondas acerca do ensino de literatura no curso
Secundário”, o que temos é a prescrição quanto ao como orientar a leitura e a análise dos
textos literários, a ideia da possibilidade da ficha de leitura esquematizada e o quanto
desenvolver com relação ao conteúdo.
Em “Mesa-redonda sobre ‘O ensino de Inglês’”, o que temos é a instrumentalização do
como estruturar o Curso de Inglês no Ensino Secundário, aspectos referentes à adoção e aos
objetivos e, até, um exemplo de demonstração prática.
Em “Mesa-redonda sobre a História no curso secundário”, há a proposição de um
planejamento regional para que cada Faculdade de Filosofia pública sirva a região com os
recursos audio-visuais. A ideia do modelar, do prescrito, também aqui está posta.
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Em “Mesa-redonda sobre o ensino da História”, já há transcritos os programas de
História propostos para o Curso Ginasial, de Sylvia Magaldi.
Esse tom de prescrição acaba sendo amenizado apenas em “Mesa-redonda sobre a
formação do professor primário”, em que a necessidade da integração da teoria com a
prática: é abordada, ao se discutir aspectos da escola de aplicação.
Breves Considerações Finais
É possível afirmarmos, assim como em Castro (2009, p. 20) que os artigos publicados
possuía “[...] tom de recomendação, e, em alguns casos, até mesmo de prescrição de
procedimentos, atividades e ações aos professores.”
Observa-se que esse tom de prescrição presente nas produções do n. 1, de 1964, da
Didática também encontrava respaldo nas demandas dos próprios professores, dos vários
níveis, decorrentes das suas práticas pedagógicas.
Outro aspecto que também se sobressai nas produções do quadro 2, diz respeito ao que
Garcia (2000, 72) se refere quando à indefinição da Didática. De acordo com Garcia (2000,
p. 72), o campo da Didática “[...] viveu nesses tempos, em relação ao seu objetivo e
conteúdos, dificuldade que se evidencia na diversidade e abrangência das temáticas [...]” (p.
72).
Observa-se também, assim como afirma Garcia (2000, p. 81), que se tratou de um
período que as preocupações da Didática situava-se em “[...] questões mais gerais da
Pedagogia e da Didática, tais como sua importância na profissionalização do magistério e
questões relativas ao ensino-aprendizagem, e sua finalidades e objetivos”.
Finalmente, na Revista Didática, os discursos sobre os saberes da Didática, mesmo
buscando firmar-se nos fundamentos, “[...] unificava-se em torno de uma concepção que
privilegiava a dimensão técnica dessa disciplina [...]” (GARCIA, 2000, p. 90).
Referências
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CATANI, Denice Barbara. Ensaios sobre a produção e circulação dos saberes pedagógicos. São Paulo, 1994. Tese (Livre Docência) – FEUSP, São Paulo. ______; BASTOS, Maria Helena Câmara. Apresentação. In: _______. Educação em Revista: a imprensa periódica e a história da educação. São Paulo: Escrituras, 1997. p. 5-10. CHERVEL, Andre. “História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa”. Teoria e Educação, Porto Alegre, n. 2, p. 177-229, 1990. DIDÁTICA. Departamento de Didática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília. São Paulo: Secção Gráfica da Universidade de São Paulo, n. 1, 1964: Gráfica Canton Ltda. GOODSON, Ivor. Currículo: teoria e história. Petrópolis: Vozes, 1995. GUIA da Faculdade. Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Marília. Marília, S.P., 1962. 57p. Impr. JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da Educação. Campinas-SP, n. 1, p. 9-43, jan./jun., 2001. SILVA, Cláudia Panizzolo Batista da. Imprensa periódica educacional: entre roteiros e compêndios; um estudo sobre a revista Atualidades Pedagógicas (1950-1962). s.d. Disponível em: http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema3/0387.pdf. Acesso em: 01 de setembro de 2015.