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Tema: Arte antiga, arte moderna, que arte?
(texto do bolsista)
Arte antiga, arte moderna, que arte?
Marcio Tokuiti Nomura*
O que é a arte? Sabemos o que ela é, conseguimos identificar que um
quadro exposto em um museu, uma escultura, uma partitura clássica é uma
obra de arte, mas e se não for no museu ou teatro, como identificar? O que faz
algo ser arte? Conseguir dizer o que seja a arte é coisa difícil. Um sem número
de tratados de estética debruçou-se sobre o problema, procurando situá-lo,
procurando definir o conceito. Mas, se buscarmos uma resposta clara e
definitiva, decepcionamo-nos: elas são divergentes, contraditórias, além de
frequentemente se pretenderem exclusivas, propondo-se como solução única
(O que é arte, pag. 07).Ou seja, criar um conceito único de arte é quase
impossível. O problema em entendermos o que é arte é que sua definição varia
com o passar do tempo e de acordo com a sociedade.
Podemos ver uma estátua em uma praça e não acharmos ser arte, mas
para gerações futuras pode ser, devido a apreciação estética, por ser capaz de
gerar reflexões, etc. Mas como nossa cultura define a arte?
Para decidir o que é ou não arte, nossa cultura possui
instrumentos específicos. Um deles, essencial, é o discurso
sobre o objeto artístico, ao qual reconhecemos competência e
autoridade. Esse discurso é o que proferem o crítico, o
historiador da arte, o perito, o conservador de museu. São eles
que conferem o estatuto de arte a um objeto. Nossa cultura
tambem prevê locais específicos onde a arte pode manifestar-
se, quer dizer, locais que também dão estatuto de arte a um
objeto (O que é arte, pag. 10 e 11).
Estes profissionais utilizam-se de avaliações, definindo épocas, estilos,
categorias para definir o que é a arte. O que o museu exibe tambem dá ao
objeto exposto este estatuto de arte. Mas tudo o que está dentro de um museu
é arte? Observe um mictório. Ele é uma obra de arte? Se não, o que faz da
obra A fonte (Duchamp) ser considerada arte? Tomemos por exemplo o caso
da pintura.
Durante muito tempo a arte era uma forma de se entrar em contato com
o sobrenatural, com as divindades. A arte pagã, a arte grega e outras formas
de arte pertencentes a antiguidade foram formas das pessoas entrarem em
contato com os próprios deuses: a admiração pela obra era a admiração pela
grandiosidade dos deuses. Aos poucos, a arte admite a técnica e as melhores
tecnologias de sua época (como a perspectiva e a ótica) para resultar no que
conhecemos como renascimento e iluminismo: a matemática, a geometria, a
medicina adquirem status de técnica artística e são conhecimentos obrigatórios
para os grandes artistas. Desta época são as pinturas na Capela Sistina, a
Monalisa, as esculturas de Donatello e nomes como Leonardo da Vinci e
Michelangelo.
Durante longo período, a arte foi, primeiro, a arte do
detalhe, a arte de reproduzir o detalhe ou criar detahes
imaginários. O sentido da arte estava em boa parte em seus
detalhes, um dos indícios fortes do valor do artista. Uma flor,
um relógio sobre a mesa, um sorriso constituíam a narrativa.
(Exposição “Dos Mestres do detalhe a arte sem partes”, 2014,
Masp).
Com o modernismo a arte passa a adquirir novos significados, novas
formas: a intenção deixa de ser a utilização dos detalhes e da técnica pura e
passa a ser mais abstrata, como que uma exposição não do mundo, mas da
subjetividade do artista. Não basta expor as emoções, mas a boa arte deve
fazer com que quem a observa tambem possa sentir o mesmo. Surgem novas
correntes como o cubismo, o abstracionismo. A arte reinventa-se, deixando o
passado de técnica para trás. A ausencia do detalhe passa a ser o padrão: não
se observa mais os objetos de forma separada, mas como um todo, e apenas o
todo possui significado.
Da mesma forma como a pintura se modifica com o tempo, a arte
tambem modifica-se. Embora criada de uma forma, nós a significamos à nossa
maneira. E esses significados refletem como nos vemos, nossa cultura, nossa
sociedade. Como responder então “o que é arte?” Poderiamos entender a arte
como sendo algo com (não necessariamente todas) características:
a manifestação de alguma habilidade especial,
a criação artificial de algo pelo homem;
o desencadeamento de algum tipo de resposta no ser humano,
como o senso de prazer ou beleza;
a apresentação de algum tipo de ordem, padrão ou harmonia;
a transmissão de um senso de novidade e ineditismo;
a expressão da realidade interior do criador;
a comunicação de algo sob a forma de uma linguagem especial;
a noção de valor e importância;
a excitação da imaginação e a fantasia;
a indução ou comunicação de uma experiência-pico;
coisas que possuam reconhecidamente um sentido;
coisas que deem uma resposta a um dado problema.
Lembrando sempre que, como é nossa cultura e sociedade que define o
que é arte, alguma das características ou outras características diferentes
destas podem ser ou não parte do que consideramos, enfim, arte.
7. Anexo 2 (trechos de textos de autores):
“O conceito de obra de Arte (outro tema do qual a Estética trata) se
estendeu consideravelmente: tijolos, camas desarrumadas, mictórios, copos
são considerados obras de Arte pela comunidade especializada, expostos em
museus e alvo de olhares tanto admirados quanto espantados. Seja qual for a
nova definição de obra de Arte, ela certamente não inclui a beleza como critério
indispensável e eliminatório. (...) O segredo da Arte tradicional, que servia de
bálsamo para a vida, era a valorização da criatividade ao passo que os
movimentos artísticos atuais primam pela exaltação do banal e pela quebra de
tabus morais, o que conduz, em primeiro lugar, à impressão e depois à óbvia
certeza a que todos, nós e Scruton(o autor), chegamos: boa parte do que aí
está, e que vem sendo considerado Arte, não o é” (BARRETO, 2012, p. 27-29).
“A arte é, portanto, um fazer em que o aspecto realizativo é
particularmente intensificado, unido a um aspecto inventivo. (...) é uma
invenção tão radical que dá lugar a uma obra absolutamente original e
irreparável.(...) De modo que, pode se dizer pode dizer-se que a atividade
artística consiste propriamente no “formar”, isto é, exatamente num executar,
produzir e realizar, que é, ao mesmo tempo, inventar, figurar, descobrir”
(PAREYSON, 1997, p.32).
“Como em algum lugar teria notado Hegel, a arte é a realização sensível
do universal. Traduzindo: emoções estéticas diferem das emoções comuns por
possuirem um elemento polissêmico, de universalidade. Mas em que ele
consiste? Primeiro, elas são emoções intrinsecamente dependentes das
complexas representações estéticas que unicamente capazes de expressá-las.
Contudo, elas transcendem a essas representações que lhe são de direito,
ligando-se dinamicamente a uma multiplicidade indefinida de outras
representações, como as ondas que se afastam em círculos concêntricos na
superfície da água... Essa é a característica de elevação da emoção estética,
indissociavelmente ligada à amplitude. Por exemplo: as emoções suscitadas
pelo painel de Picasso intitulado Guernica são mais elevadas que o fato
supostamente retratado, o que as faz serem capazes de se associar a uma
grande variedade de outras representações de massacres de inocentes com
maior ou menor adequação, o que nos permite diferenciá-las valorativamente
umas das outras. Já as emoções épicas suscitadas pela Sinfonia do Destino de
Beethoven, embora não possuam qualquer objeto próprio, podem ser
associadas a uma grande variedade de representações de situações de
grandeza dramática, digamos, à revolução francesa, à queda de Roma”
(COSTA, 2005)
8. Referências Bibliográficas
BARRETO, Andre Assi. A Beleza Como Valor Universal. Revista Filosofia, São
Paulo, ano VII, n°73, p. 24-31, agosto, 2012.
COLI, Jorge. O que é arte. São Paulo, SP, Editora brasiliense, 2006.
COSTA, Claudio F. Teorias da Arte. Disponível em <
http://criticanarede.com/est_tarte.html>, visto em 10/03/15.
DISSANAYAKE, Ellen. What is art for? University of Washington Press, 1990,
p. 34-39
PAREYSON, Luigi, GARCEZ, Maria Helena Nery. Os problemas da estética.
Martins Fontes, 1997.