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PARABOLAS POR QUE AS PESSOAS SOFREM? — Vó, por que as pessoas sofrem? — Como é, minha neta? — Por que as pessoas grandes vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa? — Bem, minha filha, muitas vezes porque elas foram ensinadas a viver assim. —Vó... —Oi... — Como é que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal? Não consigo entender. Na minha escola a professora só me ensina coisas boas. — É que elas não percebem que foram convencidas a ser infelizes, e não conseguem mudar o que as torna assim. Você não está entendendo, não é, meu amor? —Não, Vovó. — Você lembra da estorinha do Patinho Feio? — Lembro. — Então... o Patinho se considerava feio porque era diferente. Isso o deixava muito infeliz e perturbado. Tão infeliz, que um dia resolveu ir embora e viver sozinho. Só que o lago que ele procurou para nadar havia congelado e estava muito frio. Quando ele olhou para o seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne. E, assim, se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre. — O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas? — Bem, quando nascemos, somos separados de nossa Natureza-cisne. Ficamos, como patinhos, tentando aceitar o que os outros dizem que está certo. Então, passamos muito tempo tentando virar patos. — É por isso que as pessoas grandes estão sempre irritadas? — É por isso! Viu como você é esperta? — Então, é só a gente perceber que é cisne que tudo dará certo? — Na verdade, minha filha, encontrar o nosso verdadeiro espelho não é tão fácil assim. Você lembra o que o cisnezinho precisava fazer para poder se enxergar? —O que? — Ele primeiro precisou parar de tentar ser um pato. Isso significa parar de tentar ser quem a gente não é. Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar. — Por isso ele passou muito frio, não é, vovó? — Passou frio, fome e ficou sozinho no inverno. — É por isso que o papai anda tão sozinho e bravo? — Não entendi, minha filha? — Meu pai está sempre bravo, sempre quieto com a música e a televisão dele. Outro dia ele estava chorando no banheiro... — Vó, o papai é um cisne que pensa que é um pato? — Todos nós somos, querida. Em parte. — Ele vai descobrir quem ele é de verdade?

Para Bolas

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PARABOLAS

POR QUE AS PESSOAS SOFREM?

 

     — Vó, por que as pessoas sofrem?     — Como é, minha neta?      — Por que as pessoas grandes vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa?      — Bem, minha filha, muitas vezes porque elas foram ensinadas a viver assim.      —Vó...      —Oi...      — Como é que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal? Não consigo entender. Na minha escola a professora só me ensina coisas boas.     — É que elas não percebem que foram convencidas a ser infelizes, e não conseguem mudar o que as torna assim. Você não está entendendo, não é, meu amor?      —Não, Vovó.      — Você lembra da estorinha do Patinho Feio?      — Lembro.      — Então... o Patinho se considerava feio porque era diferente. Isso o deixava muito infeliz e perturbado. Tão infeliz, que um dia resolveu ir embora e viver sozinho. Só que o lago que ele procurou para nadar havia congelado e estava muito frio. Quando ele olhou para o seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne. E, assim, se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre.      — O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas?      — Bem, quando nascemos, somos separados de nossa Natureza-cisne. Ficamos, como patinhos, tentando aceitar o que os outros dizem que está certo. Então, passamos muito tempo tentando virar patos.      — É por isso que as pessoas grandes estão sempre irritadas?      — É por isso! Viu como você é esperta?     — Então, é só a gente perceber que é cisne que tudo dará certo?      — Na verdade, minha filha, encontrar o nosso verdadeiro espelho não é tão fácil assim. Você lembra o que o cisnezinho precisava fazer para poder se enxergar?     —O que?      — Ele primeiro precisou parar de tentar ser um pato. Isso significa parar de tentar ser quem a gente não é. Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar.      — Por isso ele passou muito frio, não é, vovó?      — Passou frio, fome e ficou sozinho no inverno.      — É por isso que o papai anda tão sozinho e bravo?      — Não entendi, minha filha?     — Meu pai está sempre bravo, sempre quieto com a música e a televisão dele. Outro dia ele estava chorando no banheiro...     — Vó, o papai é um cisne que pensa que é um pato?      — Todos nós somos, querida. Em parte.     — Ele vai descobrir quem ele é de verdade?     — Vai, minha filha, vai. Mas, quando estamos no inverno, não podemos desistir, nem esperar que o espelho venha até nós. Temos que exercer a humildade e procurar ajuda até encontrarmos.      — E aí viramos cisnes?     — Nós já somos cisnes. Apenas temos que deixar que o cisne venha para fora e tenha espaço para viver e para se manifestar.      — Aonde você vai?     — Vou contar para o papai o cisne bonito que ele é!     A boa vovó apenas sorriu!

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A VERDADE

Um dia, a Verdade decidiu visitar os homens, sem roupas e sem adornos, tão nua como seu próprio nome.

     E todos que a viam lhe viravam as costas de vergonha ou de medo, e ninguém lhe dava as boas-vindas.

     Assim, a Verdade percorria os confins da Terra, criticada, rejeitada e desprezada.

     Uma tarde, muito desconsolada e triste, encontrou a Parábola, que passeava alegremente, trajando um belo vestido e muito elegante.

     — Verdade, por que você está tão abatida? — perguntou a Parábola.

     — Porque devo ser muito feia e antipática, já que os homens me evitam tanto! — respondeu a amargurada Parábola.

     — Que disparate! — Sorriu a Parábola. — Não é por isso que os homens evitam você. Tome. Vista algumas das minhas roupas e veja o que acontece.

     Então, a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola, e, de repente, por toda parte onde passava era bem-vinda e festejada.

 Os seres humanos não gostam de encarar a Verdade sem adornos. Eles preferem-na disfarçada

AS SETE MARAVILHAS DO MUNDO

  Um grupo de estudantes estudava as sete maravilhas do mundo. No final da aula, lhes foi pedido que fizessem uma lista do que consideravam as sete maravilhas.

Embora houvesse algum desacordo, prevaleceram os votos:

                    1) O Taj Mahal    2) A Muralha da China    3) O Canal do Panamá        4) As Pirâmides do Egito 5) O Grand Canyon            6) O Empire State Building          7) A Basílica de São Pedro          Ao recolher os votos, o professor notou uma estudante muito quieta. A menina ainda não tinha virado sua folha. O professor, então, perguntou à ela se tinha problemas com sua lista.

      Meio encabulada, a menina respondeu: — Sim, um pouco. Eu não consigo fazer a lista, porque são muitas as maravilhas.

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           O professor disse: — Bem, diga-nos o que você já tem e talvez nós possamos ajudá-la.

     A menina hesitou um pouco, então leu: — Eu penso que as sete maravilhas do mundo sejam:

1 — VER     2 — OUVIR     3 — TOCAR       4 — PROVAR      5 — SENTIR6 — PENSAR    7 — COMPREENDER

O LENHADOR E A RAPOSA

   Um lenhador acordava todos os dias às 6 horas da manhã e trabalhava o dia inteiro cortando lenha, só parando tarde da noite. Ele tinha um filho lindo de poucos meses e uma raposa, sua amiga, tratada como bichano de estimação e de sua total

confiança. Todos os dias, o lenhador — que era viúvo — ia trabalhar e deixava a raposa cuidando do bebê. Ao anoitecer, a raposa ficava feliz com a sua chegada.

          Sistematicamente, os vizinhos do lenhador alertavam que a raposa era um animal selvagem, e, portanto, não era confiável. Quando sentisse fome comeria a criança. O lenhador dizia que isso era uma grande bobagem, pois a raposa era sua amiga e jamais faria isso. Os vizinhos insistiam: Lenhador, abra os olhos! A raposa vai comer seu filho. Quando ela sentir fome vai devorar seu filho!           Um dia, o lenhador, exausto do trabalho e cansado desses comentários, chegou à casa e viu a raposa sorrindo como sempre, com a boca totalmente ensangüentada. O lenhador suou frio e, sem pensar duas vezes, deu uma machadada na cabeça da raposa. A raposinha morreu instantaneamente.           Desesperado, entrou correndo no quarto. Encontrou seu filho no berço, dormindo tranqüilamente, e, ao lado do berço, uma enorme cobra morta.

O CALDEIREIRO

 

     Um caldeireiro foi contratado para consertar um enorme sistema de caldeiras de um navio a vapor que não estava funcionando bem. Após escutar a descrição feita pelo engenheiro quanto aos problemas e de haver feito umas poucas perguntas, dirigiu-se à sala de máquinas. Olhou, durante alguns instantes, para o labirinto de tubos retorcidos. A seguir, pôs-se a escutar o ruído surdo das caldeiras e o silvo do vapor que escapava. Com as mãos apalpou alguns tubos. Depois, cantarolando suavemente só para si, procurou em seu avental alguma coisa e tirou de lá um pequeno martelo, com o qual bateu apenas uma vez em uma válvula vermelha. Imediatamente, o sistema inteiro começou a trabalhar com perfeição e o caldeireiro voltou para casa.            Quando o dono do navio recebeu uma conta de R$ 2.000,00 queixou-se de que

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o caldeireiro só havia ficado na sala de máquinas durante quinze minutos e solicitou uma conta pormenorizada.

      Eis o que o caldeireiro lhe enviou:

Total ................: R$ 2.000,00Martelada ..........: R$       0,50 Onde martelar ....: R$ 1.999,50

O VELHO POTE RACHADO

 

      Um carregador de água, na Índia, levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara a qual ele carregava atravessada em seu pescoço. Um dos potes tinha uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim da longa jornada entre o poço e a casa do Senhor para quem o carregador trabalhava. O pote rachado sempre chegava com água apenas pela metade.             Foi assim por dois anos. Diariamente, o carregador entregando um pote e meio de água na casa de seu Senhor. Claro, o pote perfeito estava orgulhoso de suas realizações. Porém, o pote rachado estava envergonhado de sua imperfeição. Sentia-se miserável por ser capaz de realizar apenas a metade do que lhe havia sido designado fazer.

      Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote rachado, um dia, falou para o carregador à beira do poço: — Estou envergonhado. Quero lhe pedir desculpas.           — Por que? — perguntou o homem. — De que você está envergonhado?           — Nesses dois anos — disse o pote — eu fui capaz de entregar apenas metade da minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho que leva à casa de seu Senhor. Por causa do meu defeito você não ganha o salário completo dos seus esforços.           O carregador ficou triste pela situação do velho pote, e, com compaixão, falou: — Quando retornarmos à casa do meu Senhor, quero que observes as flores ao longo do caminho.           De fato. À medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou muitas e belas flores selvagens ao lado do caminho, e isto lhe deu ânimo. Mas, no fim da estrada, o velho pote ainda se sentia mal, porque, mais uma vez, tinha vazado a metade da água, e, de novo, pediu desculpas ao carregador por sua falha.           O carregador, então, disse ao pote: — Você notou que pelo caminho só havia flores no seu lado do caminho? Notou ainda que a cada dia, enquanto voltávamos do poço, você as regava? Por dois anos eu pude colher flores para ornamentar a mesa do meu Senhor. Sem você ser do jeito que você é, ele não poderia ter essa beleza para dar graça à sua casa.

A DIFERENÇA ENTRE O PARAÍSO E O INFERNO

 

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     Conta-se que um poeta estava um dia passeando ao crepúsculo em uma floresta, quando, de repente, surgiu diante dele um dos maiores poetas de todos os tempos — Virgílio. O homem tomou o maior susto de sua vida e começou a tremer sem parar. Virgílio disse ao apavorado colega: — 'Tua alma está tomada pela covardia, que tantas vezes pesa sobre os homens, os afastando de nobres empreendimentos, como uma besta assustada pela própria sombra.' Mas, o destino estava sorrindo para ele, explicou Virgílio, pois tinha sido escolhido para conhecer os segredos do Paraíso e do Inferno.

     Utilizando seus poderes místicos, Virgílio transportou o poeta — ainda apavorado com tão insólita experiência — ao velho e mítico rio de águas pantanosas e cinzentas que circundava o submundo: O 'Rio Aqueronte'. Entraram em uma canoa e Virgílio instruiu o poeta para remar até o Inferno, já que 'Caronte' não se encontrava por ali. Quando chegaram, o poeta estava algo surpreso por encontrar um lugar semelhante à floresta onde estavam, e não feito de fogo e de enxofre nem infestado de demônios alados e criaturas nojentas exalando fogo, como ele esperava.

      Virgílio pegou o poeta pela mão e levou-o por uma trilha. Logo o poeta sentiu, à medida em que se aproximavam de uma barreira de rochas e arbustos, o cheiro de um delicioso ensopado. Junto com o cheiro, entretanto, vinham misteriosos sons de lamentações e de ranger de dentes. 'Gritos de mágoa, brigas, queixas iradas em diversas línguas formavam um tumulto que tinha o som de uma ventania.' Ao contornarem as rochas, depararam-se com uma cena incomum. Havia uma grande clareira com muitas mesas grandes e redondas. No meio de cada mesa havia uma enorme panela contendo o ensopado cujo cheiro o poeta havia sentido, e cada mesa estava cercada de pessoas definhadas e obviamente famintas. Cada uma segurava uma colher com a qual tentava comer o ensopado. Entretanto, devido ao tamanho da mesa e por serem as colheres muito grandes e com cabos três vezes mais compridos do que os braços das pessoas que as usavam, estas ficavam impedidas de alcançar a panela no centro da mesa. Isto tornava impossível, para qualquer uma daquelas pessoas famintas, de levar a comida à boca. Havia muita luta e imprecações, enquanto cada pessoa tentava desesperadamente pegar pelo menos uma gota do ensopado.

      O poeta ficou muito abalado com a terrível cena. Fechando os olhos, suplicou a Virgílio que o tirasse dali. Em um momento eles estavam de volta à canoa e Virgílio orientou o poeta como chegar até o Paraíso.

      Quando chegaram, o poeta surpreendeu-se novamente ao ver uma cena que não correspondia às suas expectativas. Aquele lugar era quase exatamente igual ao que eles haviam acabado de visitar. Não havia grandes portões de pérolas nem bandos de anjos a cantar. Novamente, Virgílio conduziu-o por uma trilha onde um cheiro de comida vinha de trás de uma barreira de rochas e de arbustos. Desta vez, entretanto, eles ouviram cantos e risadas quando se aproximaram. Ao contornarem a barreira, o poeta ficou muito surpreso de encontrar um quadro idêntico ao que eles tinham acabado de deixar: grandes mesas cercadas por pessoas com colheres de cabos desproporcionais e uma grande panela de ensopado no centro de cada mesa.

      A única e essencial diferença entre aquele grupo de pessoas e o que eles tinham acabado de deixar é que as pessoas deste segundo grupo estavam usando suas colheres para alimentar umas às outras.

O SÁBIO SAMURAI

 

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       Perto de Tóquio, vivia um grande samurai, já idoso, que agora se dedicava a ensinar Zen aos jovens. Apesar de sua idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.

       Certa tarde, um guerreiro, conhecido por sua total falta de escrúpulos, apareceu por ali. Era famoso por utilizar a técnica da provocação. Esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para observar os erros cometidos, contra-atacava com velocidade fulminante. O jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta. Conhecendo a reputação do samurai, estava ali para derrotá-lo e aumentar sua fama.

      Todos os estudantes se manifestaram contra a idéia, mas o velho e sábio samurai aceitou o desafio. Foram todos para a praça da cidade. Lá, o jovem começou a insultar o velho mestre. Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou todos os insultos que conhecia, ofendendo, inclusive, seus ancestrais. Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho sábio permaneceu impassível. No final da tarde, sentindo-se exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro desistiu e retirou-se.

       Desapontados pelo fato de o mestre ter aceitado tantos insultos e tantas provocações, os alunos perguntaram: — Como o senhor pôde suportar tanta indignidade? Por que não usou sua espada, mesmo sabendo que poderia perder a luta, ao invés de se mostrar covarde e medroso diante de todos nós?

      Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente? — perguntou o Samurai.

      A quem tentou entregá-lo — respondeu um dos discípulos.

      O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos — disse o mestre. — Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carrega consigo. A sua paz interior, depende exclusivamente de você. As pessoas não podem lhe tirar a serenidade, só se você permitir!

CONTO CHINÊS

 

     Conta-se que, por volta do ano 250 a.C, na China antiga, um príncipe da região norte do País estava às vésperas de ser coroado Imperador, mas, de acordo com a lei, deveria se casar. Sabendo disso, resolveu fazer uma disputa entre as moças da corte, inclusive quem quer que se achasse digna de sua proposta que não pertencesse à corte.

     No dia seguinte, o príncipe anunciou que receberia, numa celebração especial, todas as pretendentes e apresentaria um desafio. Uma velha senhora, serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários sobre os preparativos, sentiu uma leve tristeza, pois sabia que sua jovem filha nutria um sentimento de profundo amor pelo príncipe.

     Ao chegar à casa e relatar o fato à jovem filha, espantou-se ao saber que ela já sabia sobre o dasafio e que pretendia ir à celebração.

     Então, indagou incrédula: — Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes todas as mais belas e ricas moças da corte. Tire esta idéia insensata da cabeça. Eu sei que você deve estar sofrendo, mas não transforme o sofrimento em loucura.

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     A filha respondeu: — Não, querida mãe. Não estou sofrendo e muito menos louca. Eu sei perfeitamente que jamais poderei ser a escolhida. Mas é minha única oportunidade de ficar, pelo menos alguns momentos, perto do príncipe. Isto já me torna feliz.

     À noite, a jovem chegou ao palácio. Lá estavam, de fato, todas as mais belas moças com as mais belas roupas, com as mais belas jóias e com as mais determinadas intenções. Então, inicialmente, o príncipe anunciou o desafio: — Darei a cada uma de vocês uma semente. Aquela que, dentro de seis meses, me trouxer a mais bela flor, será escolhida minha esposa e futura Imperatriz da China.

     A proposta do príncipe não fugiu às profundas tradições daquele povo, que valorizava muito a especialidade de cultivar algo, sejam relacionamentos, costumes ou amizades.

     O tempo foi passando. E a doce jovem, como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem, cuidava com muita paciência e ternura a sua semente, pois sabia que se a beleza da flor surgisse na mesma extensão de seu amor, ela não precisaria se preocupar com o resultado.

     Passaram-se três meses e nada surgiu. A jovem tudo tentara. Usara de todos os métodos que conhecia, mas nada havia nascido. Dia após dia ela percebia cada vez mais longe o seu sonho; mas cada vez mais profundo o seu amor. Por fim, os seis meses haviam passado e nada havia brotado. Consciente do seu esforço e da sua dedicação, a moça comunicou à mãe que, independentemente das circunstâncias, retornaria ao palácio na data e na hora combinadas, pois não pretendia nada além de mais alguns momentos na companhia do príncipe.

     Na hora marcada estava lá, com seu vaso vazio, bem como todas as outras pretendentes. Mas, cada jovem com uma flor mais bela do que a outra, das mais variadas formas e cores. Ela estava admirada. Nunca havia presenciado tão bela cena.

     Finalmente, chega o momento esperado e o príncipe passa a observar cada uma das pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas, uma a uma, ele anunciou o resultado, indicando a bela jovem que não levara nenhuma flor como sua futura esposa. As pessoas presentes na corte tiveram as mais inesperadas reações. Ninguém compreendeu porque o príncipe havia escolhido justamente aquela que nada havia cultivado.

     Então, calmamente o príncipe esclareceu: — Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma Imperatriz. A flor da Honestidade. Pois, todas as sementes que entreguei eram estéreis.

INOCENTE OU CULPADO?

 

     Conta uma lenda que, na Idade Média, um homem muito religioso foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher. Na verdade, o autor do crime era uma pessoa influente no reino e, por isso, desde o primeiro momento, se procurou um bode expiatório para acobertar o verdadeiro assassino.

     O homem injustamente acusado de ter cometido o assassinato foi levado a julgamento. Ele sabia que tudo iria ser feito para condená-lo e que teria poucas chances de sair vivo das falsas acusações. A forca o esperava!

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     O juiz, que também estava conluiado para levar o pobre homem à morte, simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado para que provasse sua inocência.

    Disse o desonesto juiz: — Como o senhor, sou um homem profundamente religioso. Por isso, vou deixar sua sorte nas mãos de Deus. Vou escrever em um papel a palavra INOCENTE e em outro a palavra CULPADO. Você deverá pegar apenas um dos papéis. Aquele que você escolher será o seu veredicto.

     Sem que o acusado percebesse, o inescrupuloso juiz escreveu nos dois papéis a palavra CULPADO, fazendo, assim, com que não houvesse alternativa para o homem. O juiz, então, colocou os dois papéis em uma mesa e mandou o acusado escolher um. O homem, pressentindo o embuste, fingiu se concentrar por alguns segundos a fim de fazer a escolha certa. Aproximou-se confiante da mesa, pegou um dos papéis e rapidamente colocou-o na boca e o engoliu. Os presentes reagiram surpresos e indignados com tal atitude.

     O homem, mais uma vez demonstrando confiança, disse: — Agora basta olhar o papel que se encontra sobre a mesa e saberemos que engoli aquele em que estava escrito o contrário.

O TESOURO OCULTO: O Covarde, o Corajoso e o Ganancioso

 

     Um homem, que vivia perto de um cemitério, uma noite, ouviu uma voz que o chamava de uma sepultura. Sendo covarde demais para, sozinho, investigar o que se passava, confiou o ocorrido a um corajoso amigo que, após estudar o local de onde saíra a voz, resolveu voltar à noite para ver o que aconteceria.

     Anoiteceu. Enquanto o covarde tremia de medo, seu amigo foi ao cemitério e ouviu a mesma voz saindo de uma sepultura. O amigo perguntou à voz quem era e o que desejava. A voz, vinda de baixo, respondeu: — Sou um tesouro oculto e decidi dar-me a alguém. Eu me ofereci a um homem ontem à noite, mas ele era tão medroso que não veio me buscar. Por isso, dou-me a você que é merecedor. Amanhã de manhã, irei à sua casa com meus Sete Irmãos.

     O homem corajoso disse: — Estarei esperando por vocês, mas, por favor, diga-me como devo tratá-los. A voz explicou: — Iremos todos vestidos de monge. Tenha uma sala pronta para nós com água. Lave o seu corpo, limpe a sala e tenha Oito cadeiras e Oito tigelas de sopa para nós. Após a refeição, você deverá conduzir cada um de nós a um quarto fechado, no qual nos transformaremos em potes cheios de ouro.

     Na manhã seguinte, o homem corajoso lavou o corpo conforme lhe fora recomendado, limpou a sala como lhe fora ordenado, e ficou à espera dos oito monges. À hora aprazada, os oito monges apareceram, tendo sido recebidos cortesmente pelo corajoso homem. Depois que tomaram a sopa, ele os conduziu, um por um, aos quartos fechados, nos quais cada monge se transformou em um pote cheio de ouro.

Um homem muito ganancioso que vivia naquela mesma aldeia, ao tomar conhecimento do incidente, desejou também ter para si os potes de ouro. Para tanto, convidou os oito monges para virem até sua casa. Depois que eles tomaram a refeição, o ganancioso, esperando obter o almejado tesouro, conduziu cada um a

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um quarto fechado. Entretanto, ao invés de se transformarem em potes de ouro, os monges, enfurecidos com a cobiça do espertalhão, denunciaram o ganancioso à polícia, que o prendeu.

     Quanto ao covarde, quando ouviu que a voz da sepultura havia trazido riqueza ao seu corajoso amigo, foi até a casa dele e, avidamente, lhe pediu o ouro, insistindo que era seu porque a voz foi dirigida primeiramente a ele. Quando o medroso tentou pegar os potes, neles encontrou apenas cobras venenosas erguendo as cabeças prontas para atacá-lo.

     O rei, tomando conhecimento desse fato, determinou que os potes pertenciam ao homem corajoso, dizendo: — Assim se passa com tudo neste mundo. Os tolos cobiçam sempre os bons resultados, mas são covardes ou ineptos para procurá-los, e, por isso, estão continuamente falhando. Não têm confiança nem coragem para enfrentar as intestinas lutas que ocorrem na mente. Só com determinação, confiança e coragem se poderá dar início à Peregrinação que conduzirá à verdadeira Paz Profunda e à Harmonia Interior.

BOM CORAÇÃO

 

     No tempo do Buda vivia uma velha mendiga chamada Confiando na Alegria. Ela observava os reis, príncipes e o povo em geral fazendo oferendas ao Buda e a seus discípulos, e não havia nada que quisesse mais do que poder fazer o mesmo. Saiu então pedindo esmolas, mas, no fim do dia não havia conseguido mais do que uma moedinha.

     Levou a moedinha ao mercado para tentar trocá-la por algum óleo, mas o vendedor lhe disse que aquilo não dava para comprar nada. Entretanto, quando soube que ela queria fazer uma oferenda ao Buda, encheu-se de pena e deu-lhe o óleo que queria. A mendiga foi para o mosteiro e acendeu a lâmpada. Colocou-a diante do Buda e fez o seguinte pedido: — Nada tenho a oferecer senão esta pequena lâmpada. Mas, com esta oferenda, possa eu no futuro ser abençoada com a Lâmpada da Sabedoria. Possa eu libertar todos os seres das suas trevas, purificar todos os seus obscurecimentos e levá-los à Iluminação.

     Durante a noite, o óleo de todas as lâmpadas havia acabado. Mas a lâmpada da mendiga ainda queimava na alvorada, quando Maudgalyayana — o discípulo do Buda — chegou para recolher as lâmpadas. Ao ver aquela única lâmpada ainda brilhando, cheia de óleo e com pavio novo, pensou: 'Não há razão para que essa lâmpada continue ainda queimando durante o dia', e tentou apagar a chama com os dedos, mas foi inútil. Tentou abafá-la com suas vestes, mas ela ainda ardia. O Buda, que o observava há algum tempo, disse: — Maudgalyayana: você quer apagar essa lâmpada? Não vai conseguir. Não conseguiria nem movê-la daí, que dirá apagá-la. Se jogasse nela toda a água dos oceanos, ainda assim não adiantaria. A água de todos os rios e lagos do mundo não poderia extinguir esta chama.

      — Por que não? — Perguntou o discípulo de Buda.

     — Porque ela foi oferecida com devoção e com pureza de coração e de mente. Essa motivação produziu um enorme benefício.

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     Quando o Buda terminou de falar, a mendiga se aproximou e ele profetizou que no futuro ela se tornaria um Perfeito Buda e seria conhecido como Luz da Lâmpada.Em tudo, o nosso sentimento é o que importa. A intenção, boa ou má, influencia diretamente nossa vida no futuro. Qualquer ação, por mais simples que seja, se feita com coração, produz benefícios na vida das pessoas.

CIDADE FANTASMA

 

     Um grupo de viajantes, tendo ouvido falar de uma cidade cheia de tesouros, parte para enfrentar uma difícil jornada. Para chegar à cidade, teriam que percorrer uma estrada extremamente longa que atravessava desertos, florestas e terras perigosas. Nenhum trecho dessa estrada era seguro e os viajantes teriam de ter muita coragem e persistência para atingir sua meta.

     Haviam completado mais da metade da jornada e acabado de sair de uma densa floresta, quando o guia que os conduzia, que conhecia bem o caminho, avisou que logo iriam se aventurar por um deserto.

     O sol escaldante e as fortes tempestades de areia provaram ser demais para eles. Os viajantes estavam tão cansados que começaram a perder a coragem e a querer desistir dos tesouros em troca da segurança de seus lares que haviam deixado para trás. O guia, contudo, estava determinado a levar todos, não importando como. Ele usou, então, seus poderes místicos, fazendo surgir uma cidade monumental no meio do deserto.

     Instantaneamente, os viajantes tiveram uma visão fantástica. Apareceu 'do nada' um lindo oásis repleto de árvores, por entre as quais viram uma cidade. Imediatamente, correram até lá com grande alegria. Todo o cansaço, todas as dores e todo o desânino desapareceram em um instante, para dar lugar ao otimismo, à alegria e à esperança. Eles se banharam, saborearam comidas deliciosas e dormiram tranqüilamente. Em suas conversas, nem cogitavam a idéia de desistir da jornada e de retornar aos seus lares.

     Na manhã seguinte, logo que despertaram, ficaram estarrecidos ao ouvir o guia lhes dizer que tinham de deixar aquele lugar maravilhoso e seguir viagem.

     — Mas, este é exatamente o paraíso que procurávamos por tanto tempo! — exclamou um deles.

     Não. — respondeu o guia — Os senhores nem sequer alcançaram o primeiro terço da jornada. Este é somente um ponto de descanso, um lugar para se refrescarem. Acreditem! O destino final é muito mais belo do que esta cidade e não está tão longe. Agora que tivemos tempo para descansar e relaxar, teremos que continuar nossa peregrinação.

     Dito isso, a cidade desapareceu na areia.

O LOBO E O CORDEIRO( La Fontaine)

 

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Um cordeiro a sede matava Nas águas limpas de um regato. Eis que se avista um lobo que por lá passava Em forçado jejum, aventureiro inato.E lhe diz irritado: — Que ousadia A tua, de turvar, em pleno dia, A água que bebo! Hei de castigar-te! — Majestade, permiti-me um aparte —Diz o cordeiro. — Vede:Estou matando a sede Com água a jusante, Bem uns vinte passos adiante De onde vos encontrais. Assim, por conseguinte, Para mim seria impossível Cometer tão grosseiro acinte. — Mas turvas. E, ainda mais horrível, Foi que falaste mal de mim no ano passado.— Mas como poderia — pergunta assustado O cordeiro — se eu não era nascido? — Ah, não? Então deve ter sido Certamente teu irmão. — Peço-vos perdão Mais uma vez.Mas deve ser engano, Pois eu não tenho mano. — Então, algum parente. Teus tios, teus pais...Cordeiros, cães, pastores, Vós não me poupais; Por isso, hei de vingar-me. E o leva até o recesso da mata,Onde o esquarteja e come sem processo

UMA MANEIRA DE COMPREENDER O SIGNIFICADO DA

PAZ PROFUNDA

 

     Havia um Rei que ofereceu um grande prêmio ao artista que fosse capaz de captar em uma pintura a Paz Profunda.

     Muitos artistas apresentaram suas telas.

     O Rei observou e admirou todas as pinturas, mas houve apenas duas de que ele realmente gostou e teve de escolher entre ambas.

     A primeira era um lago muito tranqüilo. Este lago era um espelho perfeito onde se refletiam plácidas montanhas que o rodeavam. Sobre elas encontrava-se um Paraíso muito azul com tênues nuvens brancas.

     Todos os que olharam para esta pintura pensaram que ela refletia a Paz Profunda.

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     A segunda pintura também tinha montanhas. Mas estas eram escabrosas e estavam despidas de vegetação. Sobre elas havia um Paraíso tempestuoso do qual se precipitava um forte aguaceiro com relâmpagos e trovões. Montanha abaixo parecia retumbar uma espumosa torrente de água. Tudo isto se revelava nada pacífico.

     Mas, quando o Rei observou mais atentamente, reparou que atrás da cascata havia um arbusto crescendo de uma fenda na rocha. Neste arbusto encontrava-se um ninho. Ali, em meio ao ruído da violenta turbulência da água, estava um passarinho placidamente sentado no seu ninho... Em Profunda Paz!

     O Rei escolheu a segunda tela e explicou: — PAZ PROFUNDA não significa estar em um lugar sem ruídos, sem problemas, sem trabalho árduo para realizar ou livre das dores e das tentações da encarnação. PAZ PROFUNDA significa que, apesar de se estar em meio a tudo isso, permanecemos calmos e confiantes no SANTUÁRIO SAGRADO do NOSSO CORAÇÃO. Lá encontraremos a Verdadeira PAZ PROFUNDA. Em SILENCIOSA MEDITAÇÃO.

AHMAD MUSSAIN E O IMPERADOR

 

     O Imperador Mahmud El-Ghazna passeava um dia com o sábio Ahmad Mussain, que tinha reputação de ler pensamentos. O Imperador, há algum tempo, vinha tentando que o sábio fizesse diante dele uma demonstração de sua capacidade. Como Ahmad se recusava a fazer a sua vontade, Mahmud havia decidido recorrer a um ardil para que o sábio, sem o perceber, exercesse seus extraordinários dotes na sua presença.

     — Ahmad — chamou o Imperador.

     — Que desejas, Senhor?

     — Qual é o ofício do homem que está perto de nós?

     — É um carpinteiro.

     — Como se chama?

     — Ahmad, como eu.

     — Será que comeu alguma coisa doce recentemente?

     — Sim, comeu.

     Chamaram o homem e ele confirmou tudo o que o sábio havia dito. — Tu — disse o Imperador — te recusaste a fazer uma demonstração dos teus poderes na minha presença. Percebeste que te forcei, sem que o notasses, a demonstrar tua capacidade, e que o povo te transformaria num santo se eu contasse em público as revelações que me fizeste? Como é possível que continues ocultando a tua condição de sufi e pretendas passar por um homem qualquer?

     — Admito que posso ler pensamentos — concordou Ahmad — mas o povo não percebe quando faço isso. Minha dignidade e meu amor-próprio não me permitem exercer esse dom com propósitos frívolos. Por isso meu segredo continua ignorado.

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     — Mas admites que agora mesmo acabas de usar teus poderes?

     — Não, absolutamente não.

     — Então como pudeste responder minhas perguntas acertadamente?

     — Facilmente, Senhor. Quando me chamaste, esse homem virou a cabeça, o que me indicou que seu nome era igual ao meu. Deduzi que era carpinteiro porque, neste bosque, só dirigia o olhar para árvores aproveitáveis. E sei que acabara de comer alguma coisa doce, porque vi que estava espantando as abelhas que procuravam pousar nos seus lábios. Lógica, meu Senhor. Nada de dons ocultos ou especiais.

ATREVIMENTO DE BILL GATES

     Há poucos meses recebi um e-mail relatando que, em uma recente feira de informática (COMDEX), Bill Gates (de todos nós) fez uma infeliz e impensada comparação entre a indústria de computadores e uma específica indústria automobilística, e declarou: — Se a GM tivesse evoluído tecnologicamente tanto quanto a indústria de computadores, estaríamos todos dirigindo carros que custariam 25 dólares e que fariam 1000 milhas por galão. (Algo em torno de 420 km/l – UM LIGEIRO EXAGERO).

      A General Motors, respondendo na bucha o atrevimento, divulgou o seguinte comentário a respeito desta declaração:

SE A MICROSOFT FABRICASSE CARROS:

1) Todas as vezes que fossem repintadas as linhas das estradas você teria que comprar um carro novo.

2) Ocasionalmente, dirigindo a 90 km/h, de repente, seu carro morreria na auto-estrada sem nenhuma razão aparente, e você teria apenas que aceitar isso e religá-lo (desligar o carro, tirar a chave do contato, fechar o vidro, sair do carro, fechar e trancar a porta, abrir e entrar no carro, sentar-se no banco, abrir o vidro, colocar a chave no contato e ligar) e... seguir adiante.

3) Ocasionalmente, a execução de uma manobra à esquerda, poderia fazer com que seu carro parasse e falhasse. Você teria então que reinstalar o motor! Por alguma estranha razão, você aceitaria isso também.

4) A Apple faria um carro em parceria com a Sun, confiável, cinco vezes mais rápido e dez vezes mais fácil de dirigir. Mas apenas poderia rodar em 5% das estradas.

5) Os indicadores luminosos de falta de óleo, de gasolina e de bateria seriam substituídos por uma simples ‘Falha Geral ou Defeito Genérico’.

6) Os novos assentos obrigariam a todos a terem o mesmo tamanho ‘default’ de bumbum.

7) Em um acidente, antes de entrar em ação, o sistema de ‘air bag’ perguntaria: ‘Você tem certeza de que quer usar o ‘air bag?’.

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8) No meio de uma descida pronunciada e perigosa, quando você ligar ao mesmo tempo o rádio, o ar condicionado e as luzes, ao pisar no freio, apareceria uma mensagem do tipo ‘este carro realizou uma operação ilegal e será desligado’!

9) Se desligar o seu carro 98 utilizando a chave, sem antes ter desligado o rádio ou o pisca-alerta, quando for ligá-lo novamente, ele iria checar todas as funções do carro durante meia hora, e ainda lhe daria uma bronca para não fazê-lo novamente.

10) A cada novo lançamento de carro, você teria que reaprender a dirigir, voltar à auto-escola e tirar uma nova carteira de motorista.

11) Para DESLIGAR seu carro, você teria que apertar o botão ‘Iniciar’

PERDÃO DAS INJÚRIAS

 

     No Evangelho de Mateus XVIII, 21 e 22 está escrito:

     Pedro: — Senhor, até quantas vezes poderá pecar meu irmão contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?

     Jesus: — Não te digo que até sete vezes, mas até SETENTA VEZES SETE

PARÁBOLA DERUBEM ALVES

Era uma vez uma menina que tinha como seu melhor amigo, um Pássaro Encantado. Ele era encantado por duas razões:Primeiro porque ele não vivia em gaiolas. Vivia solto. Vinha quando queria. Vinha porque amava.Segundo, porque sempre que voltava suas penas tinham cores diferentes, as cores dos lugares por onde tinha voado.Certa vez voltou com penas imaculadamente brancas, e ele contou estórias de montanhas cobertas de neve. Outra vez suas penas estavam vermelhas, e ele contou estórias de desertos incendiados pelo sol. Era grande a felicidade quando estavam juntos. Mas sempre chegava o momento quando o pássaro dizia:"Tenho de partir." A menina chorava e implorava: "Por favor, não va, fico tão triste. Terei saudades e vou chorar...""Eu também terei saudades", dizia o pássaro. "Eu também vou chorar. Mas vou lhe contar um segredo: eu só sou encantado por causa da saudade que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for não haverá saudade. E eu deixarei de ser o Pássaro Encantado e você deixará de me amar."E partia. A menina, sozinha, chorava. E foi numa noite de saudade que ela teve a idéia: "Se o Passaro não puder partir, ele ficará. Se ele ficar, seremos felizes para sempre. E para ele não partir basta que eu o prenda numa gaiola."Assim aconteceu. A menina comprou uma gaiola de prata, a mais linda. Quando o pássaro voltou eles se abraçaram, ele contou estórias e adormeceu.A menina, aproveitando-se do seu sono, engaiolou-o. Quando o pássaro acordou ele deu um grito de dor."Ah! Menina...que é isso que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias. Sem a saudade o amor irá embora..."A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar.

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Mas não foi isso que aconteceu. Caíram suas plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar. Também a menina se entristeceu.Não era aquele o pássaro que ela amava. E de noite chorava pensando naquilo que havia feito com seu amigo...Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola. "Pode ir, Pássaro", ela disse." Volte quando você quiser...""Obrigado, menina", disse o Pássaro." Irei e voltarei quando ficar encantado de novo. E você sabe: ficarei encantado de novo quando a saudade voltar dentro de mim e dentro de você!

RUBEM ALVES:MILHO DE PIPOCA.

A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com gente. As grandes transformaçoes acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que é o seu jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor.Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. Pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer.Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: Bum! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, com que ela mesma nunca havia sonhado.Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria a ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo. E você o que é? Uma pipoca estourada ou um piruá?

Parábola das Sementes

Os grandes mestres da humanidade são unânimes em afirmar que somos

feitos à imagem e semelhança do Grande Arquiteto do Universo porque

refletimos seus atributos e qualidades em pequena escala (microcosmo).

Temos, assim como Ele, o poder de pensar e criar. Partindo desse

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pressuposto, somos verdadeiras sementes divinas conforme nos mostra

o texto a seguir, onde um velho eremita ensina a quatro aprendizes os

segredos da sua evolução espiritual através de uma parábola.

E assim, no outro dia subiram mais cedo que de costume, pois

segundo o mestre teriam muito o que fazer.  Chegando ao alto do monte

após descansarem por alguns minutos mestre José disse uma frase que

fez os rapazes se lembrarem de um momento do ritual católico.

- O Senhor esteja convosco!

- Ele está no meio de nós – responderam os jovens imitando o

culto católico.

- Demos graças ao Senhor nosso Deus!

- É nosso dever e nossa salvação!

Ditas estas palavras, fez-se um breve silêncio. Ninguém ousou

comentar a atitude inusitada do mestre em imitar o costume católico.

Sem dizer mais nada, o mestre foi até uma bolsa que sempre trazia junto

consigo para carregar o cantil de água e a Bíblia; objetos sempre

presentes, mesmo nos dias de jejum. Dessa vez havia algo mais na bolsa.

Uma sacola cheia de sementes das mais variadas espécies nativas da

floresta. Ainda em silêncio pegou as sementes e as espalhou pelo chão

com cuidado e até com uma certa reverência. Só então iniciou seu

discurso, dizendo:

- Vou exemplificar o segredo da minha iluminação espiritual

através de uma metáfora. Quero que prestem a máxima atenção. Estas

sementes foram colhidas de diversas espécies vegetais que habitam esta

montanha. Como elas, existem milhões de outras por essa mata afora.

Estas no entanto; simbolizarão agora, no nosso aprendizado, a

humanidade em geral. Espiritualmente falando; sementes são como os

homens que ainda não descobriram o propósito espiritual para o qual

foram criados. Apesar de terem sido criadas pela árvore mãe com o

objetivo de germinar, crescer, florescer, frutificar e cumprir a sua missão

na grande obra da criação, as sementes ainda estão adormecidas,

porque não encontraram condições propícias para isso. Nesse ínterim,

podem vir a apodrecer e servir de adubo para outras plantas, alimentar

os animais selvagens ou até servir de base para o preparo de um prato

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que alimentará o homem. Noutras palavras, podem contribuir de

diversas maneiras para a evolução da vida. Entretanto, o objetivo maior

de sua existência, será sempre o de germinar e crescer à imagem e

semelhança da árvore mãe. Conhece sua missão e sabe em sua

sabedoria de semente que existe uma grande luz lá em cima - o sol para

a planta; Deus para o homem - que pode lhe proporcionar o pleno

desenvolvimento de suas faculdades latentes e adormecidas. Necessita

para isso de condições propícias para vir a desenvolver o seu dom. Deve

isolar-se na escuridão da terra sofrer uma verdadeira morte por dentro

para o seu estado atual, receber a força dos elementos da natureza, que

a ajudarão a crescer  e encontrar a luz que lhe dará uma nova vida.

Permanecerá ainda coma as raízes fincadas na terra, mas agora poderá

contar com a energia poderosa da grande luz que a fará crescer e

produzir seus frutos. Cem, duzentos, mil por um... Quando descer à

escuridão, a semente terá de lutar contra as forças da terra que

inicialmente desejarão matá-la, para em seguida alimentar-se dela. Mas

sendo persistente e determinada; encontrará as condições propícias,

lutará e vencerá o poder da terra, pois deseja encontrar a grande luz e

crescer. E a terra não pode destruir os que buscam a luz, porque todos

os elementos, inclusive ela (a terra) foram criados e mantidos pelo poder

daquela grande luz. A terra também respeitava e temia a grande luz

porque lhe era muito superior. Dessa forma, a semente  que germinou,

encontrou na terra uma aliada que a partir de agora iria ajudá-la. Agora

a terra tornou-se sua serva, dando sua energia para ajudá-la a subir para

cima e encontrar a força edificadora da grande luz que estava lá em cima

ajudando todos os seres a cumprirem o seu papel. E, ajudada pelos

poderes da terra, iluminada pela energia e pelo poder da grande luz que

era o sol a planta cresceu e cumpriu o seu propósito sublime na Grade

Obra da Criação: multiplicar os dons que lhe foram confiados por outra

Grande Luz que comanda todas as luzes. Esse será o destino de muitas

destas sementes que aqui se encontram. E, nós somos como estas

sementes para Deus.

O mestre deu uma pequena pausa, com o objetivo de ocultar

daqueles jovens aprendizes uma lágrima que teimava em escorrer por

seu rosto.

-Entenderam a comparação e o sentido da parábola?

- Sim; responderam os jovens emocionados.

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- Dessa forma ocorreu a minha iluminação espiritual. Espero

que vocês encontrem à luz. Cada um à sua maneira. Minha história serve

apenas de exemplo. Mas lembrem-se, volto a repetir: os caminhos de

Deus são muitos e, há muitas, muitíssimas moradas na casa de nosso

Pai. Foi Jesus quem disse isso.

Os jovens realmente entenderam a mensagem. Naquele dia

todos se alimentaram felizes no alto da montanha. Era como se

houvessem adquirido uma nova maneira de ver as coisas. Carlos

particularmente entendeu profundamente a mensagem de mestre José.

Percebeu naquele instante que poderia a partir daquele momento fazer

germinar com toda a força a sua semente espiritual que ele havia

deixado adormecida por falta de cuidados simples que a mesma exigia.

Bastava regá-la e adubá-la todos os dias com bons pensamentos e boas

atitudes. Devia ser um jardineiro no Jardim do Éden. Devia cultivar a

semente que o Dono do Jardim havia lhe confiado. Compreendeu que

cada um precisava cuidar apenas de sua própria semente para que o

Jardim de Deus crescesse mais e mais. A partir de agora ele iria cuidar da

sua. Faria a sua parte. Esse era o preço que Deus cobrava de cada um.

- Faça a sua parte - Dizia a voz da sua consciência.

Após o almoço no alto da montanha todos os aprendizes

estavam com um ânimo redobrado. Parecia que as palavras do mestre

naquela manhã havia despertado-lhes algo adormecido dentro deles. A

parábola das sementes fez os jovens tomarem consciência do dever de

evolução espiritual imanente a todo ser humano.

Havia um homem muito rico, possuidor de vastas propriedades, que era apaixonado por jardins. Os jardins ocupavam o seu pensamento o tempo todo e ele repetia sem cessar: “O mundo inteiro ainda deverá se transformar num jardim. O mundo inteiro deverá ser belo, perfumado e pacífico. O mundo inteiro ainda se transformará num lugar de felicidade.” Suas terras eram uma sucessão sem fim de jardins, jardins japoneses, ingleses, italianos, jardins de ervas, franceses. Era um trabalhão cuidar dos jardins. Mas valia a pena pela alegria. O verde das folhas, o colorido das flores, as variadas simetrias das plantas, os pássaros, as borboletas, os insetos, as fontes, as frutas, o perfume... Sozinho ele não daria conta. Por isso anunciou que precisava de jardineiros. Muitos se apresentaram e foram empregados. Aconteceu que ele precisou fazer uma longa viagem. Iria a uma terra longínqua comprar mais terras para plantar mais jardins. Assim, chamou três dos jardineiros que contratara, Paulo, Hermógenes e Boanerges e lhes disse: “Vou viajar. Ficarei muito tempo longe. E quero vocês

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cuidem de três dos meus jardins. Os outros, já providenciei quem cuide deles. A você, Paulo, eu entrego o cuidado do jardim japonês. Cuide bem das cerejeiras, veja que as carpas estejam sempre bem alimentadas... A você, Hermógenes, entrego o cuidado do jardim inglês, com toda a sua exuberância de flores pelas rochas... E a você, Boanerges, entrego o cuidado do jardim mineiro, com romãs, hortelãs e jasmins.” Ditas essas palavras ele partiu. O Paulo ficou muito feliz e pôs-se a cuidar do jardim japonês. O Hermógenes ficou muito feliz e pôs-se a cuidar do jardim inglês. Mas o Boanerges não era jardineiro. Mentira ao se oferecer para o emprego. Quando ele viu o jardim mineiro ele disse: “Cuidar de jardins não é comigo. É trabalho demais...” Trancou então o jardim com um cadeado e o abandonou. Passados muitos dias voltou o Senhor dos Jardins, ansioso por ver os seus jardins. O Paulo, feliz, mostrou-lhe o jardim japonês, que estava muito mais bonito do que quando o recebera. O Senhor dos Jardins ficou muito feliz e sorriu. Veio o Hermógenes e lhe mostrou o jardim inglês, exuberante de flores e cores. O Senhor dos Jardins ficou muito feliz e sorriu. Aí foi a vez do Boanerges. E não havia formas de enganar. “Ah! Senhor! Preciso confessar: não sou jardineiro. Os jardins me dão medo. Tenho medo das plantas, dos espinhos, das taturanas, das aranhas. Minhas mãos são delicadas. Não são próprias para mexer com a terra, essa coisa suja... Mas o que me assusta mesmo é o fato das plantas estarem sempre se transformando: crescem, florescem, perdem as folhas. Cuidar delas é uma trabalheira sem fim. Se estivesse no meu poder, todas as plantas e flores seriam de plástico. E a terra seria coberta com cimento, pedras e cerâmica, para evitar a sujeira. As pedras me dão tranquilidade. Elas não se mexem. Ficam onde são colocadas. Como é fácil lavá-las com esguicho e vassoura! Assim, eu não cuidei do jardim. Mas o tranquei com um cadeado, para que os traficantes e os vagabundos não o invadissem.\" E com estas palavras entregou ao Senhor dos Jardins a chave do cadeado. O Senhor dos Jardins ficou muito triste e disse: “Esse jardim está perdido. Deverá ser todo refeito. Paulo, Hermógenes: vocês vão ficar encarregados de cuidar desse jardim. Quem já tinha jardins ficará com mais jardins. E, quanto a você, Boanerges, respeito o seu desejo. Você não gosta de jardins. Vai ficar sem jardins. Você gosta de pedras. Pois, de hoje em diante, você irá quebrar pedras na minha pedreira...”

“O Bom Samaritano” = “O Bom Travesti” E perguntaram a Jesus: “Quem é o meu próximo?” E ele lhes contou a seguinte parábola: Voltava para sua casa, de madrugada, caminhando por uma rua escura, um garçom que trabalhara até tarde num restaurante. Ia cansado e triste. A vida de garçom é muito dura, trabalha-se muito e ganha-se pouco. Naquela mesma rua dois assaltantes estavam de tocaia, à espera de uma vítima. Vendo o homem assim tão indefeso saltaram sobre ele com armas na mão e disseram: “Vá passando a carteira”. O garçom não resistiu. Deu-lhes a carteira. Mas o dinheiro era pouco e por isso, por ter tão pouco dinheiro na carteira, os assaltantes o espancaram brutalmente, deixando-o desacordado no chão. Às primeiras horas da manhã passava por aquela mesma rua um padre no seu carro, a caminho da igreja onde celebraria a missa. Vendo aquele homem caído, ele se compadeceu, parou o caro, foi até ele e o consolou com palavras religiosas: “Meu irmão, é assim mesmo. Esse mundo é um vale de lágrimas. Mas console-se: Jesus Cristo sofreu mais que você.” Ditas estas palavras ele o benzeu com o sinal da cruz e fez-lhe um gesto sacerdotal de absolvição de pecados: “Ego te absolvo...” Levantou-se então, voltou para o carro e guiou para a missa, feliz por ter consolado aquele homem com as palavras da religião. Passados alguns minutos, passava por aquela mesma rua um pastor evangélico, a caminho da sua igreja, onde iria dirigir uma reunião de oração matutina. Vendo o homem caído, que nesse momento se mexia e gemia, parou o seu carro, desceu, foi até ele e lhe perguntou, baixinho: “Você já tem Cristo no seu coração? Isso que lhe aconteceu foi enviado por Deus! Tudo o que acontece é pela vontade de Deus! Você não vai à igreja. Pois, por meio dessa provação, Deus o está chamando ao arrependimento. Sem Cristo no coração sua alma irá para o inferno. Arrependa-se dos seus pecados. Aceite Cristo como seu

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salvador e seus problemas serão resolvidos!\" O homem gemeu mais uma vez e o pastor interpretou o seu gemido como a aceitação do Cristo no coração. Disse, então, “aleluia!” e voltou para o carro feliz por Deus lhe ter permitido salvar mais uma alma. Uma hora depois passava por aquela rua um líder espírita que, vendo o homem caído, aproximou-se dele e lhe disse: “Isso que lhe aconteceu não aconteceu por acidente. Nada acontece por acidente. A vida humana é regida pela lei do karma: as dívidas que se contraem numa encarnação têm de ser pagas na outra. Você está pagando por algo que você fez numa encarnação passada. Pode ser, mesmo, que você tenha feito a alguém aquilo que os ladrões lhe fizeram. Mas agora sua dívida está paga. Seja, portanto, agradecido aos ladrões: eles lhe fizeram um bem. Seu espírito está agora livre dessa dívida e você poderá continuar a evoluir.” Colocou suas mãos na cabeça do ferido, deu-lhe um passe, levantou-se, voltou para o carro, maravilhado da justiça da lei do karma. O sol já ia alto quanto por ali passou um travesti, cabelo louro, brincos nas orelhas, pulseiras nos braços, boca pintada de batom. Vendo o homem caído, parou sua motocicleta, foi até ele e sem dizer uma única palavra tomou-o nos seus braços, colocou-o na motocicleta e o levou para o pronto socorro de um hospital, entregando-o aos cuidados médicos. E enquanto os médicos e enfermeiras estavam distraídos, tirou do seu próprio bolso todo o dinheiro que tinha e o colocou no bolso do homem ferido. Terminada a estória, Jesus se voltou para seus ouvintes. Eles o olhavam com ódio. Jesus os olhou com amor e lhes perguntou: “Quem foi o próximo do homem ferido?” (Correio Popular, 21 de julho de 2002)

Parábola do Semeador

Rodolfo Calligaris

"Afluindo uma grande multidão, e vindo ter com ele gente de todas as cidades, disse-lhes Jesus, por semelhança: -Saiu o que semeia, a semear a sua semente. E, ao semeá-la, uma parte caiu junto ao caminho, foi pisada e as aves do céu a comeram. Outra caiu sobre pedregulho, onde não havia muita terra; nasceu depressa; mas, logo que saiu o sol, entrou a queimar-se, e, como não tinha raiz, secou. Outra caiu entre espinhos, e logo os espinhos que nasceram com ela a afogaram. Outra, finalmente, caiu em boa terra, vingou, cresceu, e alguns grãos deram fruto a trinta, outros a sessenta, e outros a cento por um. Dito isto, começou a dizer em alta voz: - O que tem ouvidos de ouvir, ouça. Então os seus discípulos lhe perguntaram que queria dizer essa parábola, e ele, explicando-a, lhes respondeu: - A semente é a palavra de Deus. A que cai à beira do caminho, são aqueles que a ouvem; mas, depois, vem o mau e tira a palavra de seus corações, para que não suceda que, crendo, sejam salvos. A que cai no pedregulho, significa os que recebem com gosto a palavra, quando a ouvem; mas, não tendo raízes, em sobrevindo a tribulação e a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam e voltam atrás. Quanto a que caiu entre espinhos são os que ouvem a palavra; mas, os cuidados deste mundo, a ilusão das riquezas e as outras paixões a que dão entrada, afogam a palavra, e assim fica infrutuosa. Mas a que caiu em boa terra, são os que, ouvindo a palavra com coração reto e bom, a retêm e dão fruto com perseverança" (Mateus, 13:1-23; Marcos, 4:1-20; Lucas, 8:4-15).

Nesta interessante parábola, Jesus retrata magistralmente o feitio moral de cada um daqueles aos quais o Evangelho é anunciado.

Conforme a, sua má ou boa vontade na aceitação da palavra de Deus, e a maneira como procedem após tê-la ouvido, os homens podem ser classificados como "beira de caminho", "pedregal", "espinheiro" ou "terra boa" .

A primeira classificação refere-se aos indiferentes, isto é, aos indivíduos ainda imaturos, não preparados para tal semeadura, indivíduos que se expressam mais

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pelo estômago e pelo sexo e cujos corações se mostram insensíveis a qualquer apelo de ordem mais elevada.

A segunda diz respeito a. uma classe de pessoas de entusiasmo fácil, que, ao se lhes falar do Evangelho, aceitam-no prontamente, com júbilo; mas, não encontrando, dentro de si mesmas, forças suficientes para vencerem o comodismo, os vícios arraigados, os maus desejos, etc., sentem-se incapazes de empreender a reforma de seus hábitos, a melhora de seus sentimentos, e, se acontece surgirem incompreensões e dificuldades por causa da doutrina, então esfriam de uma vez, voltando, presto, ao ramerrão de vida que levavam.

Os da terceira espécie são aqueles que, embora já tenham tido "notícias" dos ensinamentos evangélicos, e os admirem, e os louvem até, sentem-se, todavia, demasiadamente presos às coisas materiais, que consideram mais importantes que a formação de uma consciência espiritual. Os medos do futuro, a luta pela conquista de garantias pessoais, vantagens e luxuosidades, sufocam, no nascedouro, os sentimentos altruísticos ou qualquer movimento de alma que implique a renúncia aos seus queridos tesouros terrestres.

Os definidos por último personificam os adeptos sinceros, nos quais as lições do Mestre Divino encontram magníficas condições de receptividade. Abraçam o ideal cristão de corpo e alma, e se esforçam no sentido de pô-lo em prática. Embora sofram tropeços e fracassem algumas vezes, perseveram, animosos, resultando de seu trabalho abençoados frutos de benemerência e de amor ao próximo.

"Quem tenha ouvidos de ouvir, ouça”.

Diante da Lei faz parte de um dos poucos livros que Kafka publicou em vida: Um Médico Rural – Pequenas Narrativas (Ein Landarzt. Kleine Erzälungen - 1919). A tradução que copio abaixo é a do escritor Modesto Carone, que foi multi-premiado no início dos 90 por suas traduções de quase todo o Kafka. Não lembro se América foi traduzido. As traduções anteriores eram insatisfatórias; tratavam de “melhorar” a estranha pontuação de Kafka e muitas não eram feitas a partir do original, mas do francês. Minha edição é da Brasiliense (1990), mas penso que a Cia. das Letras republicou tudo há uns dez anos. Lá vai.

Diante da Lei

Diante da lei está um porteiro. Um homem do campo chega a esse porteiro e pede para entrar na lei. Mas o porteiro diz que agora não pode permitir-lhe a entrada. O homem do campo reflete e depois pergunta se então não pode entrar mais tarde.

- É possível – diz o porteiro. – Mas agora não.

Uma vez que a porta da lei continua como sempre aberta e o porteiro se põe de lado o homem se inclina para olhar o interior através da porta. Quando nota isso o porteiro ri e diz:

- Se o atrai tanto, tente entrar apesar da minha proibição. Mas veja bem: eu sou poderoso. E sou apenas o último dos porteiros. De sala para sala porém existem porteiros cada um mais poderoso que o outro. Nem mesmo eu posso suportar a simples visão do terceiro.

O homem do campo não esperava tais dificuldades: a lei deve ser acessível a todos e a qualquer hora, pensa ele; agora, no entanto, ao examinar mais de perto o

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porteiro, com o seu casaco de pele, o grande nariz pontudo, a longa barba tártara, rala e preta, ele decide que é melhor aguardar até receber a permissão de entrada. O porteiro lhe dá um banquinho e deixa-o sentar-se ao lado da porta. Ali fica sentado anos e anos. Ele faz muitas tentativas para ser admitido e cansa o porteiro com os seus pedidos. Às vezes o porteiro submete o homem a pequenos interrogatórios, pergunta-lhe a respeito de sua terra natal e de muitas outras coisas, mas são perguntas indiferentes, como as que os grandes senhores fazem, e para concluir repete-lhe sempre que ainda não pode deixá-lo entrar. O homem, que havia se equipado com muitas coisas para a viagem, emprega tudo, por mais valioso que seja, para subornar o porteiro. Com efeito, este aceita tudo, mas sempre dizendo:

- Eu só aceito para você não julgar que deixou de fazer alguma coisa.

Durante todos estes anos o homem observa o porteiro quase sem interrupção. Esquece os outros porteiros e este primeiro parece-lhe o único obstáculo para a entrada na lei. Nos primeiros anos amaldiçoa em voz alta e desconsiderada o acaso infeliz; mais tarde, quando envelhece, apenas resmunga consigo mesmo. Torna-se infantil e uma vez que, por estudar o porteiro anos a fio, ficou conhecendo até as pulgas de sua gola de pele, pede a estas que o ajudem a fazê-lo mudar de opinião. Finalmente sua vista enfraquece e ele não sabe se de fato está ficando mais escuro em torno ou se apenas os olhos o enganam. Não obstante reconhece agora no escuro um brilho que irrompe inextinguível da porta da lei. Mas já não tem mais muito tempo de vida. Antes de morrer, todas as experiências daquele tempo convergem na sua cabeça para uma pergunta que até então não havia feito ao porteiro. Faz-lhe um aceno para que se aproxime, pois não pode mais endireitar o corpo enrijecido. O porteiro precisa curvar-se profundamente até ele, já que a diferença de altura mudou muito em detrimento do homem:

- O que é que você ainda quer saber? – pergunta o porteiro. – Você é insaciável.

- Todos aspiram à lei – diz o homem. – Como se explica que em tantos anos ninguém além de mim pediu para entrar?

O porteiro percebe que o homem já está no fim e para ainda alcançar sua audição em declínio ele berra:

- Aqui ninguém mais podia ser admitido, pois esta entrada estava destinada só a você. Agora eu vou embora e fecho-a.

TEMPO

Conta-se que um jovem de uma aldeia não dava nenhuma importância ao tempo. Sempre deixava tudo para depois, sempre se julgava novo demais para fazer qualquer coisa naquele momento, sempre alegava que o que mais tinha era tempo. E exatamente por ter muito, não o valorizava. Certo dia, porém, esse jovem se encontrou com um velho sábio que dizia ser uma pessoa feliz, pois soube muito bem aproveitar o seu tempo e, mesmo no fim de sua vida, o que ele mais fazia era valorizar o pouco tempo que ainda lhe restava. Curioso com tamanho disparate, o jovem perguntou:

– Senhor, por que você valoriza tanto o tempo? Poderia me dizer qual é o real valor dele?

O sábio, percebendo o interesse, respondeu:

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– Para você entender o valor do tempo, vamos transformá-lo em dinheiro. Imagine que você tenha uma conta corrente e, a cada manhã, você acorde com um saldo de 86.400 moedas. Só que não é permitido transferir esse saldo do dia para o dia seguinte. Todas as noites, sua conta é zerada, mesmo que você não tenha conseguido gastar durante o dia. O que você faz?

– Eu gastaria cada centavo todos os dias, é claro! – respondeu convicto o jovem.

– Sim, gastaríamos cada centavo. Pois bem, todos nós somos clientes desse banco, que se chama tempo. Todas as manhãs, são creditados para cada um 86.400 segundos. Todas as noites, o saldo é debitado como perda. Não é permitido acumular esse saldo para o dia seguinte. Todas as manhãs, a sua conta é reiniciada, e todas as noites, as sobras do dia se evaporam. Não há volta. Você precisa gastar vivendo no presente o seu depósito diário. Invista, então, no que for melhor: na saúde, na felicidade e no sucesso! O relógio está correndo. Faça o melhor para o seu dia-a-dia.

Para perceber o valor de um ano, pergunte a um estudante que repetiu de ano.Para dar valor a um mês, pergunte a uma mãe que teve o bebê prematuramente.Para perceber o valor de uma semana, pergunte ao editor de um jornal semanal.Para conhecer o valor de uma hora, pergunte aos amantes que estão esperando para se encontrar.Para você encontrar o valor de um minuto, pergunte a uma pessoa que perdeu um trem.Para perceber o valor de um segundo, pergunte a uma pessoa que conseguiu evitar um acidente.Para você aprender o valor de um milissegundo, pergunte a alguém que recebeu a medalha de prata na Olimpíada.

Valorize cada momento que tem! E valorize mais porque você deve dividir com alguém especial o suficiente para gastar o seu tempo junto com você.

Lembre-se de que o tempo não espera por ninguém. Ontem é história. O amanhã, um mistério. O hoje é uma dádiva. Por isso, é chamado presente!

O jovem ficou pensativo e ali mesmo decidiu viver o tempo intensamente, viver como se cada segundo fosse o último de sua existência (…).

OS 12 PRATOS

Um príncipe chinês orgulhava-se de sua coleção de porcelanas, de rara e antiga procedência, constituída por doze pratos de grande beleza artística.

Certo dia, o seu zelador, em momento infeliz, deixou que se quebrasse uma das peças. Tomando conhecimento do desastre e possuído pela fúria, o príncipe ordenou a morte do dedicado servo, vítima de um golpe do destino.

A notícia tomou conta do império. Às vésperas da execução, apresentou-se um sábio bastante idoso, que se comprometeu a devolver a ordem à coleção se o servo fosse perdoado.

Emocionado, o príncipe reuniu sua corte e aceitou a proposta. O venerado ancião solicitou que os pratos restantes fossem colocados em uma mesa, sobre uma toalha de linho, e que os pedaços da porcelana quebrada fossem espalhados em volta do móvel.

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Atendido na sua solicitação, o sábio aproximou-se da mesa e, em um gesto inesperado, puxou a toalha com as porcelanas preciosas, atirando-as bruscamente sobre o piso de mármore e arrebentando-as todas.

Ante o turpor que tomou conta do soberano e de sua corte, muito sereno, o ancião disse:

– Aí estão, senhor, todas iguais conforme prometi. Agora pode mandar matar-me. Desde que essas porcelanas valem mais do que a vida das pessoas, e, considerando que sou idoso e já vivi além do que deveria, sacrifico-me em benefício dos que irão morrer no futuro, quando cada uma dessas peças for quebrada. Assim, com a minha existência, pretendo salvar doze vidas, já que elas, diante desses objetos, nada valem.

Passado o choque, o príncipe, comovido, libertou o velho e o servo, compreendendo que nada havia mais precioso do que a vida em si mesma.

Ema, ema, ema… Cada um com o seu problema…

Um sábio possuía três filhos jovens e inteligentes. Certa manhã, o pai encontrou-se discutindo calorosamente sobre qual seria o obstáculo mais difícil de vencer no grande caminho da vida.

No auge da alteração, prevendo conseqüências desagradáveis, o benevolente homem chamou-os e confiou-lhes uma curiosa tarefa.

Iriam os três ao palácio do príncipe governante, conduzindo algumas dádivas que muito os honrariam. O primeiro filho seria o portador de um rico vaso de argila preciosa. O segundo levaria uma corça rara. O terceiro transportaria um primoroso bolo preparado pela família.

Os três aceitaram a missão e, com entusiasmo, prometeram fazer um bom serviço nessa breve viagem. Já no meio do caminho, no entanto, começaram a discutir.

O que carregava o vaso não concordava com a maneira com que o responsável pelo animal advertia o que levava o bolo dos perigos de ele tropeçar e perder o manjar; o filho que transportava o bolo aconselhava o irmão que carregava o vaso valioso a cuidar para que a peça não caísse.

O pequeno séquito seguia estrada afora com dificuldade, pois cada viajante permanecia muito atento às obrigações que diziam respeito aos outros, interferindo no encargo alheio sempre com observações acaloradas e incessantes.

Em dado instante, o irmão que conduzia o animalzinho se esqueceu da própria tarefa, a fim de ajeitar a peça de argila nos braços do companheiro. Premiado pela inquietação de ambos, o vaso, de súbito, escorregou e espatifou-se no cascalho poeirento. Com o choque, o distraído orientador da corça perdeu o controle do animal, que fugiu espantado, abrigando-se numa floresta próxima. O carregador do bolo avançou para sustar a fuga, internando-se no mato, enquanto o conteúdo da bandeja prateada se perdia totalmente no chão.

Desapontados, irritados, os três rapazes tornaram à presença paterna, cada qual apresentando sua derrota e suas queixas.

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O pai sorriu e explicou-lhes: “Aproveitem os ensinamentos da estrada. Se cada um de vocês estivesse na própria tarefa, não teria colhido as sombras do fracasso. O mais intrincado problema do mundo, meus filhos, é ter a habilidade de cuidar dos próprios negócios sem intrometer-se nas atividades alheias. Enquanto nos preocuparmos com as responsabilidades que competem aos outros, as nossas viverão esquecidas.

O PODER DE UMA BOA AÇAO

Um homem foi contratado para ir à praia e pintar um barco. Trouxe consigo tinta, pincéis e começou a pintar a embarcação de vermelho, exatamente como lhe haviam pedido.

Enquanto trabalhava, percebeu que a tinta estava passando pelo fundo do barco. Havia um vazamento naquele local. Mesmo não sendo a função dele, decidiu consertá-lo. Quando terminou a pintura, recebeu seu dinheiro e se foi. No dia seguinte, o proprietário do barco procurou o pintor e presenteou-o com um belo cheque.

– O senhor já me pagou pela pintura – disse o homem.

– Mas esse dinheiro não é por isso. É por ter consertado o vazamento do barco.

– Foi um serviço tão pequeno que não quis cobrar. Certamente, não está me pagando uma quantia tão alta por algo tão insignificante.

– Meu caro amigo, você não compreendeu. Quando lhe pedi que pintasse o barco, esqueci de mencionar o vazamento. Quando a tinta do barco secou, meus filhos o pegaram e saíram para uma pescaria. Eu não estava em casa naquele momento. Quando voltei e notei que haviam saído com o barco, fiquei desesperado, pois lembrei do furo. Imagine meu alívio e alegria quando os vi retornando sãos e salvos. Então, examinei o barco e constatei que você o havia consertado! Percebe agora o que fez? Salvou a vida dos meus filhos! Não tenho dinheiro suficiente para pagar-lhe pela sua “pequena” boa ação…

Parábola: Onde você põe o sal?

O velho Mestre pediu ao seu jovem discípulo, que estava muito triste, que enchesse a mão de sal, colocasse o sal em um copo d’água e bebesse.

— Qual é o gosto? — perguntou-lhe o Mestre.

— Forte e desagradável — respondeu-lhe o jovem aprendiz.

O Mestre sorriu e pediu ao rapaz que enchesse a mão de sal novamente. Depois, conduziu-o silenciosamente até um lindo lago, onde pediu ao jovem que jogasse o sal. O velho Sábio então lhe disse:

— Beba um pouco da água desse lago.

Enquanto a água escorria pelo queixo do jovem, o Mestre perguntou-lhe:

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— Qual é o gosto?

— Agradável — disse o rapaz.

— Você sente o gosto do sal? — perguntou-lhe o Mestre.

— Não. — respondeu-lhe o jovem.

O Mestre e o rapaz sentaram-se e contemplaram a linda paisagem. Depois de alguns minutos, o Sábio falou ao rapaz:

— A dor existe. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor na alma, deve aumentar o sentido de tudo o que está à sua volta. Temos de deixar de ser do tamanho de um copo e tornarmo-nos um lago grande, amplo e sereno.

Parábola: A convivênciaQual é a melhor solução?

Na era glacial muitos animais não resistiram ao frio intenso e morreram indefesos. Mas os porcos-espinhos, para sobreviver, começaram a juntar-se mais e mais.

Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro. Juntos, aqueciam-se, enfrentando aquele inverno tenebroso. Os espinhos de cada um, porém, começaram a ferir os companheiros mais próximos. Acabaram se separando por não suportarem a dor.

Mas essa não foi a melhor solução. Afastados, começaram a morrer congelados. Os que não morreram voltaram a se aproximar pouco a pouco, com precaução. Cada qual conservava uma certa distância. Suficiente para conviver sem ferir. Assim, resistiram à longa era glacial. Sobreviveram

Parábola: O Grande Conselho de Ghandi

Certa vez na Índia, uma senhora estava desesperada, pois não conseguia fazer o filho parar de comer açúcar. Como ele era admirador de Ghandi, a mãe o levou até a presença daquele líder:

- Mestre, meu filho é viciado em comer açúcar puro. Se o senhor determinar que ele pare, tenho certeza que ele parará.

- Volte com ele, a esse local, daqui a quinze dias, falou Ghandi.

Quinze dias após ela retornou. O mestre parou diante do menino e disse:

- Pare de comer açúcar.

- Sim senhor, respondeu o menino.

- Mas se era só para falar isso, por que não o fez quando estive aqui da primeira vez?, perguntou a mãe.

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Porque naquela época eu também comia açúcar! respondeu Ghandi

- Parábola: Nas Mãos do Destino

Um grande guerreiro japonês chamado Nobunaga decidiu atacar o inimigo embora tivesse apenas um décimo do número de homens que seu oponente. Ele sabia que poderia ganhar mesmo assim, mas seus soldados tinham dúvidas.

No caminho para a batalha ele parou em um templo Shintô e disse aos seus homens:- Após visitar o relicário eu jogarei uma moeda. Se der Cara, iremos vencer; se der Coroa, iremos com certeza perder. O Destino nos tem em suas mãos.

Nobunaga entrou no templo e ofereceu uma prece silenciosa. Então saiu e jogou a moeda. A Cara apareceu. Seus soldados ficaram tão entusiasmados a lutar que ganharam a batalha facilmente.

Após a batalha, seu segundo em comando disse-lhe orgulhoso:- Ninguém pode mudar a mão do Destino!- Realmente não… - disse Nobunaga mostrando-lhe reservadamente sua moeda, que tinha sido duplicada, possuindo a Cara impressa nos dois lados.

Parábola: A cor do mundo

O ancião descansava sentado em velho banco à sombra de uma árvore, quando foi abordado pelo motorista de um automóvel que estacionou a seu lado:- Bom dia!- Bom dia! Respondeu o ancião.- O senhor mora aqui?- Sim, há muitos anos…- Venho de mudança e gostaria de saber como é o povo daqui. Como o senhor vive aqui há tanto tempo deve conhecê-lo muito bem.- É verdade, falou o ancião. Mas por favor me fale antes da cidade de onde vem.- Ah! É ótima. Maravilhosa! Gente boa, fraterna… Fiz lá muitos amigos. Só a deixei por imperativos da profissão.- Pois bem, meu filho. Esta cidade é exatamente igual. Vai gostar daqui.O forasteiro agradeceu e partiu. Minutos depois apareceu outro motorista e também se dirigiu ao ancião:- Estou chegando para morar aqui. O que me diz do lugar?O ancião, lançou-lhe a mesma pergunta:- Como é a cidade de onde vem?- Horrível! Povo orgulhoso, cheio de preconceitos, arrogante! Não fiz um único amigo naquele lugar horroroso!- Sinto muito, meu filho, pois aqui você encontrará o mesmo ambiente…

Assim somos nós…. vemos no mundo e nas pessoas algo do que somos, do que pensamos, de nossa maneira de ser. Se somos nervosos, agressivos ou pessimistas, assim será o mundo e só acharemos problemas e conflitos. Em outras palavras, o mundo tem a cor que lhe damos através das nossas lentes… da nossa maneira de ver as coisas. Se vemos o mundo com lentes escuras do pessimismo, tudo à nossa volta nos parecerá escuro… envolto em trevas. Se estamos turvados pelo desânimo, o universo que nos rodeia se apresenta desesperador. Mas, se ao

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contrário, estivermos otimistas, sentiremos que em todas as situações há aspectos positivos e cheios de entusiasmo. A cor do mundo, portanto, depende da nossa ótica… da maneira como estamos no sentindo, afinal, o exterior estará sempre refletindo o que levamos no interior. Ser otimista é ser gerador de adrenalina emocional, que estimula o sangue, impulsionando ao avanço, à alegria. Cultivando o otimismo nos sentimentos adquirimos visão para perceber o lado bom da vida que nos rodeia… temos confiança em Deus e tudo será belo e ao nosso redor teremos alegria e felicidade.

Veja o mundo com muita ALEGRIA, AMOR e SEJA FELIZ!

Parábola: A Certeza e a Dúvida

Buda estava reunido com seus discípulos certa manhã, quando um homem se aproximou:- Existe Deus? - perguntou.- Existe - respondeu Buda.

Depois do almoço, aproximou-se outro homem.- Existe Deus? - quis saber.- Não, não existe - disse Buda.

No final da tarde, um terceiro homem fez a mesma pergunta:- Existe Deus?- Você terá que descobrir - respondeu Buda.

Assim que o homem foi embora, um discípulo comentou, revoltado:- Mestre, que absurdo! Como o Senhor dá respostas diferentes para a mesma pergunta?

- Porque são pessoas diferentes, e cada um chegará à resposta por seu próprio caminho.

O primeiro acreditará em minha palavra. O segundo fará tudo para provar que estou errado. E o terceiro só acredita naquilo que é capaz de provar por si mesmo

Parábola: O Aperfeiçoamento Pessoal

Um praticante certa vez perguntou a um mestre Zen, que ele considerava muito sábio:

- Quais são os tipos de pessoas que necessitam de aperfeiçoamento pessoal?

- Pessoas como eu - Comentou o mestre. O praticante ficou algo espantado:

- Um mestre como o senhor precisa de aperfeiçoamento?

- O aperfeiçoamento - respondeu o sábio - nada mais é do que vestir-se, ou alimentar-se…

- Mas - replicou o praticante - fazemos isso sempre! Imaginava que o aperfeiçoamento significasse algo mais profundo para um mestre.

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- O que achas que faço todos os dias? - retrucou o mestre - A cada dia, buscando o aperfeiçoamento, faço com cuidado e honestidade os atos comuns do cotidiano. Nada é mais profundo do que isso.

Parábola: Não Conheço Títulos

Um dia, o grande general Kitagaki foi visitar seu velho amigo, o superior do templo Tofuku.

Ao chegar, disse a um noviço de forma algo desdenhosa como comumente se dirigia às pessoas que considerava seus subordinados no exército:- Diga ao Mestre que o grande general Kitagaki está aqui.

O noviço foi ao seu mestre e disse:- Mestre, o Grande General Kitagaki está aqui.

O mestre respondeu:- Não conheço Grandes Generais.

O noviço voltou à presença do militar com o recado enquanto o velho sábio observava do pórtico:- Desculpe, o mestre não pode vê-lo. Ele não conhece nenhum Grande General.

O General inicialmente ficou surpreso, depois indignado, e finalmente compreendeu. Humildemente disse ao noviço:- Desculpe minha arrogância. Por favor, diga-lhe que Kitagaki deseja vê-lo.

O monge assim o fez. Logo, o mestre aproximou-se com um sorriso e cumprimentou:- Ah, Kitagaki! Há quanto tempo! Por favor, entre…

Parábola: Acerte o alvo

O iogue Raman era um verdadeiro mestre na arte do arco e flecha. Certa manhã, ele convidou seu discípulo mais querido para assistir a uma demonstração do seu talento. O discípulo já vira aquilo mais de cem vezes, mas mesmo assim resolveu obedecer ao mestre.

Foram para o bosque ao lado do mosteiro: ao chegarem diante de um belo carvalho, Raman pegou uma das flores que trazia em seu colar e colocou-a em um dos ramos da árvore.

Em seguida, abriu seu alforje e retirou três objetos: seu arco de madeira, uma flecha e um lenço branco, bordado com desenhos em lilás.

O iogue, então, posicionou-se a uma distância de cem passos do local onde havia colocado a flor e, de frente para o seu alvo, pediu que seu discípulo lhe vendasse os olhos com o lenço bordado.

O discípulo fez o que mestre ordenara.

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– Quantas vezes você já me viu praticar o nobre e antigo esporte do arco e flecha? – perguntou.

– Todos os dias – disse o discípulo. – E sempre o vi acertar a uma distância de 300 passos.

Com os olhos cobertos pelo lenço, o iogue firmou os pés na terra, distendeu o arco com toda a sua energia – apontando na direção da rosa colocada num dos ramos do carvalho – e disparou.

A flecha cortou os ares, provocando um ruído agudo, mas nem sequer atingiu a árvore. Errou o alvo por uma distância constrangedora.

– Acertei? – perguntou Raman, retirando o lenço que lhe cobria os olhos.

– O senhor errou – respondeu o discípulo. – Achei que ia mostrar-me o poder do pensamento e sua capacidade de fazer mágicas.

– Eu lhe dei a lição mais importante sobre o poder do pensamento – respondeu Raman.

– Quando desejar uma coisa, concentre-se apenas nela: Ninguém jamais será capaz de atingir um alvo que não consegue ver.

Parábola: A última corda

Era uma vez um grande violinista chamado Paganini. Alguns diziam que ele era muito estranho. Outros, que era sobrenatural. As notas mágicas que saíam de seu violino tinham um som diferente, por isso ninguém queria perder a oportunidade de ver seu espetáculo.

Numa certa noite, o palco de um auditório repleto de admiradores estava preparado para recebê-lo. A orquestra entrou e foi aplaudida. O maestro foi ovacionado. Mas quando a figura de Paganini surgiu, triunfante, o público delirou. Paganini coloca seu violino no ombro e o que se assiste a seguir é indescritível. Breves e semibreves, fusas e semifusas, colcheias e semicolcheias parecem ter asas e voar com o toque daqueles dedos encantados.

De repente, um som estranho interrompe o devaneio da platéia. Uma das cordas do violino de Paganini arrebenta. O maestro parou. A orquestra parou. O público parou.

Mas Paganini não parou.

Olhando para sua partitura, ele continua a tirar sons deliciosos de um violino com problemas. O maestro e a orquestra, empolgados, voltam a tocar. Mal o público se acalmou quando, de repente, um outro som perturbador derruba a atenção dos assistentes. Uma outra corda do violino de Paganini se rompe. O maestro parou de novo. A orquestra parou de novo.

Paganini não parou.

Como se nada tivesse acontecido, ele esqueceu as dificuldades e avançou, tirando sons do impossível. O maestro e a orquestra, impressionados voltam a tocar. Mas o público não poderia imaginar o que iria acontecer a seguir. Todas as pessoas,

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pasmas, gritaram OOHHH! Que ecoou pela abobadilhada daquele auditório. Uma terceira corda do violino de Paganini se quebra. O maestro pára. A orquestra pára. A respiração do público pára.

Mas Paganini não pára.

Como se fosse um contorcionista musical, ele tira todos os sons da única corda que sobrara daquele violino destruído. Nenhuma nota foi esquecida. O maestro empolgado se anima. A orquestra se motiva. O público parte do silêncio para a euforia, da inércia para o delírio.

Paganini atinge a glória.

Seu nome corre através do tempo. Ele não é apenas um violinista genial. É o símbolo do profissional que continua diante do impossível.

Parábola: A janela limpa

Recém-casados, eles se mudaram para um bairro muito tranqüilo. Na primeira manhã que passavam na casa, enquanto tomavam café, a mulher olhou pela janela e viu que a vizinha pendurava lençóis no varal e comentou com o marido:

– Que lençóis sujos ela está pendurando no varal!

Está precisando de um sabão novo. Se eu tivesse intimidade, perguntaria se ela precisa de ajuda para lavar as roupas!

O marido observou calado. Alguns dias depois, novamente, durante o café da manhã, a vizinha pendurava lençóis no varal e a mulher comentou novamente com o marido:

– Nossa vizinha continua pendurando os lençóis sujos! Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas! E assim, a cada dois ou três dias, a mulher repetia seu discurso, enquanto a vizinha pendurava suas roupas no varal. Passado um tempo a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis muito brancos sendo estendidos, e empolgada foi dizer ao marido:

– Veja, ela aprendeu a lavar as roupas, será que outra vizinha ensinou? O marido calmamente respondeu:

– Não, hoje eu levantei mais cedo e lavei os vidros da nossa janela!

E assim é. Tudo depende da janela, através da qual observamos os fatos.

Cada um vê o mundo de uma forma. Portanto, antes de criticar, verifique se você contribuiu em algo para resolver o problema.

Perceba seus próprios defeitos e limitações.

Olhe, antes de tudo, para sua própria casa, para dentro de você mesmo.

Lave sua vidraça. Abra sua janela!

Autor desconhecido

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Parábola: O bambu chinês

Depois de plantada a semente deste incrível bambu, não se vê nada, absolutamente nada, por 4 anos, exceto o lento desabrochar de um diminuto broto, a partir do bulbo.

Durante 4 anos, todo o crescimento é subterrâneo, numa maciça e fibrosa estrutura de raiz, que se estende em todas direções dentro da terra.

Mas então, no quinto ano, o bambu chinês cresce, até atingir 24 metros. Covey escreveu: “Muitas coisas na vida (pessoal e profissional) são iguais ao bambu chinês.”

Você trabalha, investe tempo e esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento, e, às vezes, não se vê nada por semanas, meses ou mesmo anos. Mas, se tiver paciência para continuar trabalhando e nutrindo, o “quinto ano” chegará e o crescimento e a mudança que foram processados vão deixá-lo espantado.

O bambu chinês mostra que não podemos desistir fácil das coisas… Em nossos trabalhos, especialmente projetos que envolvam mudanças de comportamento, cultura e sensibilidade para ações novas, devemos nos lembrar do bambu chinês para não desistirmos fácil frente às dificuldades que surgem e que são muitas…

Autor desconhecido

Parábola: Mude a estratégia

A história é muito antiga, mas não menos curiosa. Algumas tribos africanas utilizam um engenhoso método para capturar macacos. Como os símios são muito espertos e vivem saltando nos galhos mais altos das árvores, os nativos desenvolveram o seguinte sistema:

Pegam uma cumbuca de boca estreita e colocam dentro dela uma banana. Em seguida, amarram-na ao tronco de uma árvore freqüentada por macacos, afastam-se e esperam. Após isso, um macaco curioso desce, olha dentro da cumbuca e vê a banana.

Enfia sua mão, apanha a fruta, mas como a boca do recipiente é muito estreita, ele não consegue retirar a banana. Surge um dilema: se largar a banana, sua mão sai e ele pode ir embora livremente, caso contrário, continua preso na armadilha. Depois de um tempo, os nativos voltam e, tranqüilamente, capturam os macacos que teimosamente se recusaram a largar as bananas. O final é meio trágico, pois os macacos são capturados para servirem de alimento.

Você deve estar achando inacreditável o grau de estupidez dos macacos, não é? Afinal, basta largar a banana e ficar livre do destino de ir para a panela.

Fácil demais… O detalhe deve estar na importância exagerada que o macaco atribui à banana. Ela já está ali, na sua mão… parece ser uma insanidade largá-la.

Essa história é engraçada, porque muitas vezes fazemos exatamente como os macacos. Você nunca conheceu alguém que está totalmente insatisfeito com o emprego, mas insiste em permanecer mesmo sabendo que pode estar cultivando um enfarto? Ou alguém que trabalha e não está satisfeito com o que faz, e ainda assim faz apenas pelo dinheiro? Ou casais com relacionamentos completamente deteriorados que permanecem sofrendo, sem amor e compreensão?

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Ou pessoas infelizes por causa de decisões antigas que adiam um novo caminho que poderia trazer de volta a alegria de viver? A vida é preciosa demais para trocarmos por uma banana – que, apesar de estar na nossa mão, pode levar-nos direto à panela. Por isso pessoal:

É hora de mudar e pensar de uma maneira diferente. Se você não está obtendo o que você quer, mude a estratégia…

Autor desconhecido

Parábola: Consertei o mundo

Um cientista muito preocupado com os problemas do mundo passava dias em seu laboratório, tentando encontrar meios de melhorá-los. Certo dia, seu filho pequeno invadiu o laboratório decidido a ajudá-lo.

O cientista, nervoso pela interrupção, tentou fazer o filho brincar em outro lugar. Vendo que seria impossível removê-lo, procurou algo que pudesse distraí-lo. E deparou-se com o mapa do mundo.

Estava ali o que procurava. Recortou o mapa em vários pedaços e, junto com um rolo de fita adesiva entregou ao filho dizendo:

– Você gosta de quebra-cabeça? Então vou lhe dar o mundo para consertar. Aqui está ele todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! Mas faça tudo sozinho!

Pelos seus cálculos, a criança levaria dias para recompor o mapa. Passadas alguns minutos, ouviu o filho chamando-o calmamente. A princípio, o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível na idade dele conseguir recompor um mapa que jamais havia visto. Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança. Para sua surpresa, o mapa estava completo.

Todos os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como o menino havia sido capaz?

– Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conseguiu?

– Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel do jornal para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Quando você me deu o mundo para consertar, eu tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei a consertar o homem que eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que havia consertado o mundo!!!

Autor desconhecido

Parábola: O Ladrão Que Virou Discípulo

Uma noite quando Shichiri Kojun estava recitando sutras um ladrão com uma espada entrou em seu zendo, exigindo seu dinheiro ou a sua vida. Shichiri disse-lhe:

- Não me perturbe. Você pode encontrar o dinheiro naquela gaveta.

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E retomou sua recitação. Um pouco depois ele parou de novo e disse ao ladrão:

- Não pegue tudo. Eu preciso de alguma soma para pagar os impostos amanhã.

O intruso pegou a maior parte do dinheiro e principiou a sair.

- Agradeça à pessoa quando você recebe um presente - Shichiri acrescentou. O homem lhe agradeceu, meio confuso, e fugiu.

Poucos dias depois o indivíduo foi preso e confessou, entre outras coisas, a ofensa contra Shichiri. Quando Shichiri foi chamado como testemunha, disse:

- Este homem não é ladrão, ao menos tanto quanto me diz respeito. Eu lhe dei o dinheiro e ele inclusive me agradeceu por isso.

Após o homem ter cumprido sua pena, foi a Shichiri e tornou-se um de seus discípulos.

Parábola: O Quebrador de Pedras

Era uma vez um simples quebrador de pedras que estava insatisfeito consigo mesmo e com sua posição na vida. Um dia ele passou em frente a uma rica casa de um comerciante.

Através do portal aberto, ele viu muitos objetos valiosos e luxuosos e importantes figuras que freqüentavam a mansão.

“- Quão poderoso é este mercador!” pensou o quebrador de pedras. Ele ficou muito invejoso disso e desejou poder ser como o comerciante.

Para sua grande surpresa ele repentinamente tornou-se o comerciante, usufruindo mais luxos e poder do que jamais imaginara, embora fosse invejado e detestado por todos aqueles menos poderosos e ricos do que ele.

Um dia um alto oficial do governo passou à sua frente na rua, carregado em uma liteira de seda, acompanhado por submissos atendentes e escoltado por soldados, que batiam gongos para afastar a plebe. Todos, não importa quão ricos, tinham que se curvar à sua passagem.“- Quão poderoso é este oficial!” ele pensou. “- Gostaria de poder ser um alto oficial!”

Então ele tornou-se o alto oficial, carregado em sua liteira de seda para qualquer lugar que fosse, temido e odiado pelas pessoas à sua volta. Era um dia de verão quente, e o oficial sentiu-se muito desconfortável na suada liteira de seda. Ele olhou para o Sol. Este fulgia orgulhoso no céu, indiferente pela sua reles presença abaixo.“- Quão poderoso é o Sol!” ele pensou. “- Gostaria de ser o Sol!”

Então ele tornou-se o Sol. Brilhando ferozmente, lançando seus raios para a terra sobre tudo e todos, crestando os campos, amaldiçoado pelos fazendeiros e trabalhadores. Mas um dia uma gigantesca nuvem negra ficou entre ele e a terra, e seu calor não mais pôde alcançar o chão e tudo sobre ele.“- Quão poderosa é a nuvem de tempestade!” ele pensou. “- Gostaria de ser uma nuvem!”

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Então ele tornou-se a nuvem, inundando com chuva campos e vilas, causando temor a todos. Mas repentinamente ele percebeu que estava sendo empurrado para longe com uma força descomunal, e soube que era o vento que fazia isso.“- Quão poderoso é o Vento!” ele pensou. “- Gostaria de ser o vento!”

Então ele tornou-se o vento de furacão, soprando as telhas dos telhados das casas, desenraizando árvores, temido e odiado por todas as criaturas na terra. Mas em determinado momento ele encontrou algo que não foi capaz de mover nem um milímetro, não importando o quanto ele soprasse em sua volta, lançando-lhe rajadas de ar. Ele viu que o objeto era uma grande e alta rocha.“- Quão poderosa é a rocha!” ele pensou. “- Gostaria de ser uma rocha!”

Então ele tornou-se a rocha. Mais poderoso do que qualquer outra coisa na terra, eterno, inamovível.

Mas enquanto estava lá, orgulhoso pela sua força, ouviu o som de um martelo batendo em um cinzel sobre uma dura superfície, e sentiu a si mesmo sendo despedaçado. “- O que poderia ser mais poderoso do que uma rocha?” pensou, surpreso.

Olhou para baixo de si e viu a figura de um quebrador de pedras

Parábola: Talvez

Há um conto Taoísta sobre um velho fazendeiro que trabalhou em seu campo por muitos anos.

Certo dia seu cavalo fugiu. Ao saber da notícia, seus vizinhos vieram visitá-lo.

“- Que má sorte!” eles disseram solidariamente.

“- Talvez.” o fazendeiro calmamente replicou.

Na manhã seguinte o cavalo retornou, trazendo com ele três outros cavalos selvagens.

“- Que maravilhoso!” os vizinhos exclamaram.

“- Talvez.” replicou o velho homem.

No dia seguinte, seu filho tentou domar um dos cavalos, foi derrubado e quebrou a perna.

Os vizinhos novamente vieram para oferecer sua simpatia pela má fortuna.

“- Que pena!” disseram.

“- Talvez.” respondeu o fazendeiro.

No próximo dia, oficiais militares vieram à vila para convocar todos os jovens ao serviço obrigatório no exército, que iria entrar em guerra. Vendo que o filho do velho homem estava com a perna quebrada, eles o dispensaram.

Page 36: Para Bolas

Os vizinhos congratularam o fazendeiro pela forma com que as coisas tinham se virado a seu favor.

O velho olhou-os, e com um leve sorriso disse suavemente:

“- Talvez.”

Parábola: Ansiando por Deus

Um sábio estava meditando à margem de um rio quando um homem jovem, um tanto entusiasmado, o interrompeu.

“- Mestre, eu desejo ser seu discípulo!”, disse o jovem.

“- Por quê?” replicou o sábio.

O jovem era uma pessoa que sempre ouviu falar dos caminhos espirituais, e tinha uma idéia fantasiosa e romântica deles. Em sua imaturidade, ele achava que ser “espiritual” era algo como participar de um movimento, de uma crença, de uma moda, sem grandes conseqüências.

Ele então pensou numa resposta bem “profunda” e disse:

“- Porque eu quero encontrar DEUS!”

O sábio pulou de onde estava, agarrou o rapaz pelo cangote, arrastou-o até o rio e mergulhou sua cabeça sob a água. Manteve-o lá por quase um minuto, sem permitir que respirasse, enquanto o terrificado rapaz chutava e lutava para se libertar. Finalmente o mestre o puxou da água e o arrastou de volta à margem. Largou-o no chão, enquanto o homem cuspia água e engasgava, lutando para retomar a respiração e entender o que tinha acontecido.

Quando ele eventualmente se acalmou, o sábio lhe perguntou:

“- Diga-me, quando estava sob a água, sabendo que morreria, o que você queria mais do que tudo?”

“- Ar!”, respondeu o jovem, amuado.

“- Muito bem”, disse o mestre. “- Vá para sua casa, e quando você souber ansiar por um Deus tanto quanto você acabou de ansiar por ar, pode voltar a me procurar.”

Parábola: Natureza

Dois monges estavam lavando suas tigelas no rio quando perceberam um escorpião que estava se afogando. Um dos monges imediatamente o pegou e o colocou na margem. No processo ele foi picado.

Page 37: Para Bolas

Ele voltou para terminar de lavar sua tigela e novamente o escorpião caiu no rio. O monge salvou o escorpião e novamente foi picado. O outro monge então perguntou:

“Amigo, por que você continua a salvar o escorpião quando você sabe que sua natureza é agir com agressividade, picando-o?”

“Porque,” replicou o monge, “agir com compaixão é a minha natureza.”

Parábola: Certo e Errado

Quando Bankei realizava semanas de retiro de meditação, estudantes de muitas partes do Japão compareciam.

Durante um desses encontros um estudante foi pego de surpresa roubando. O assunto foi relatado a Bankei com a solicitação de que o estudante fosse expulso. Bankei ignorou o caso.

Mais tarde o estudante foi pego em ato semelhante, e mais uma vez Bankei desconsiderou a questão. Isto irritou os outros estudantes, que redigiram uma petição pedindo o afastamento do ladrão, afirmando que caso contrário eles iriam embora do grupo.

Quando Bankei leu o pedido, convocou todos para comparecer à sua presença.- Vocês são sábios - disse ele - Vocês sabem o que é certo e o que é errado. Vocês podem ir para algum outro lugar para estudar se quiserem, mas este pobre irmão não sabe nem mesmo distinguir o certo do errado. Quem lhe ensinará se eu não o fizer? Vou mantê-lo aqui mesmo que todos vocês partam.

Uma torrente de lágrimas limpou o rosto do irmão que tinha roubado. Todo o desejo de roubar havia desaparecido.

Parábola: Hora de Morrer

Ikkyu, um mestre zen, era muito inteligente até quando era apenas um menino. O seu instrutor possuía uma preciosa xícara de chá, uma peça antiga e rara. Ikkyu acabou quebrando essa xícara e ficou completamente perplexo.

Ouvindo os passos de seu instrutor, ele segurou os pedaços da xícara atrás de si. Quando o mestre apareceu, Ikkyu perguntou:

- Mestre, por que as pessoas têm de morrer?

- Isto é natural… - explicou o homem mais velho - Tudo tem de morrer e tem um tempo determinado para viver.

Ikkyu, mostrando a xícara despedaçada, acrescentou:

- Era tempo de sua xícara morrer.

Parábola: A lua não pode ser roubada

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Riokan, um mestre zen, vivia o tipo mais simples possível de vida em uma pequena cabana no sopé de uma montanha. Uma noite, um ladrão visitou a cabana e surpreendeu-se ao descobrir que não havia nada nela para ser roubado. Ryokan voltou e o pegou.

- Você provavelmente veio de longe para me visitar - disse ele ao gatuno - E não deve voltar com as mãos vazias. Por favor, tome minhas roupas como um presente.

O ladrão ficou completamente desnorteado. Ele pegou as roupas e escapuliu.

Ryokan sentou-se nu, observando a lua.- Pobre rapaz…. - ele pensou - Eu gostaria de poder ter dado a ele esta bela Lua.

Parábola: Uma xícara de chá

Nan-in, um mestre japonês, recebeu um professor universitário que o visitou para fazer perguntas sobre o zen. O professor estava cheio de idéias, e fazia muitas perguntas.

Nan-in serviu o chá. Ele encheu completamente a xícara de seu visitante e depois continuou a servir mais chá nela. O professor observou o derramamento de chá até não poder mais se controlar.

- Já está derramando! Não cabe mais nada! - Falou o professor.

- Como esta xícara - disse Nan-in - Você está cheio de suas própria opiniões e especulações. Como posso lhe mostrar o zen a menos que você primeiro esvazie sua xícara?

Parábola: O vinho e a água

Nos Alpes Italianos existia um pequeno vilarejo que se dedicava ao cultivo de uvas para produção de vinho. Uma vez por ano, acontecia uma grande festa para comemorar o sucesso da colheita.

A tradição exigia que, nessa festa, cada morador do vilarejo trouxesse uma garrafa do seu melhor vinho para colocar dentro de um grande barril, que ficava na praça central.

Um dos moradores pensou: “Por que deverei levar uma garrafa do meu mais puro vinho? Levarei água, pois no meio de tanto vinho o meu não fará falta.” Assim pensou e assim fez.

Conforme o costume, em determinado momento, todos se reuniram na praça, cada um com sua caneca para provar aquele vinho, cuja fama se estendia muito além das fronteiras do país. Contudo, ao abrir a torneira, um absoluto silêncio tomou conta da multidão.

Do barril saiu … água! “A ausência da minha parte não fará falta”, foi o pensamento de cada um dos produtores…

Muitas vezes somos conduzidos a pensar: “Existem tantas pessoas no mundo. Se eu não fizer a minha parte, isto não terá importância.” … e assim vamos beber água em todas as festas…

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Parábola: A ratoeira

Um rato olhando pelo buraco na parede vê o fazendeiro e sua mulher abrindo um pacote. Pensou logo em que tipo de comida poderia ter ali. Ficou aterrorizado quando descobriu que era uma ratoeira. Foi para o pátio da fazenda advertindo a todos: “Tem uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa.”

A galinha, que estava cacarejando e ciscando, levantou a cabeça e disse:

– Desculpe-me sr. Rato, eu entendo que é um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.

O rato repetiu a história ao porco.

– Desculpe-me sr. Rato, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar. Fique tranqüilo que o senhor será lembrado nas minhas preces.

O rato dirigiu-se à vaca e repetiu a história.

– O que sr. Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!

Então o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a ratoeira do fazendeiro. Naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua vítima. A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia. No escuro, ela não viu que a ratoeira prendeu a cauda de uma cobra venenosa. A cobra picou a mulher. O fazendeiro levou-a imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre. Todo mundo sabe que, para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal. Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la. Para alimentá- los, o fazendeiro matou o porco. Como a mulher não melhorou, muitas pessoas vieram visitá-la. O fazendeiro então sacrificou a vaca para alimentar toda aquela gente.

Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se: quando há uma ratoeira na casa, toda a fazenda corre risco.

Há alguns anos, nas Olimpíadas Para Pessoas Especiais, nove participantes, todos com deficiência mental ou física, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos. Ao sinal, todos partiram, não exatamente em disparada, mas com vontade de dar o melhor de si, terminar a corrida e ganhar. Todos, com exceção de um garoto, que tropeçou no asfalto, caiu rolando e começou a chorar.

Os outros oito ouviram o choro. Diminuíram o passo e olharam para trás. Então eles viraram e voltaram. Todos eles. Uma das meninas, com Síndrome de Down, ajoelhou, deu um beijo no garoto e disse: “Pronto, agora vai sarar”. E todos os nove competidores deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada. O estádio inteiro levantou e os aplausos duraram muitos minutos. E as pessoas que estavam ali, naquele dia, continuam repetindo essa história até hoje.

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Talvez os atletas fossem deficientes mentais… Mas, com certeza, não eram deficientes da sensibilidade… Por que? Porque, lá no fundo, todos nós sabemos que o que importa nesta vida é mais do que ganhar sozinho.

O que importa nesta vida é ajudar os outros a vencer, mesmo que isso signifique diminuir o passo e mudar de curso.

Parábola: A borboletaCertos ou errados, nós escolhemos os nossos próprios caminhos.

Havia um viúvo que morava com suas duas filhas curiosas e inteligentes. As meninas sempre faziam muitas perguntas. Como pretendia oferecer a melhor educação, elas foram passar férias com um sábio que morava no alto de uma colina. O sábio respondia todas as perguntas sem hesitar. Impacientes, as meninas inventaram uma que ele não saberia responder. Uma delas apareceu com uma linda borboleta para pregar uma peça no sábio.

– Vou esconder a borboleta em minhas mãos e perguntar se ela está viva ou morta. Se ele disser que está morta, vou abrir e deixá-la voar. Se disser que ela está viva, vou apertá-la e esmagá-la. Assim qualquer resposta estará errada!, disse uma delas.

– Tenho uma borboleta nas mãos. Diga-me sábio, ela está viva ou morta?, perguntou uma delas ao sábio, que estava meditando.

– Depende de você…ela está em suas mãos, disse ele, sorrindo calmamente. Assim é a nossa vida, o nosso presente e o nosso futuro. Não devemos culpar ninguém quando algo dá errado. Nossa vida está em nossas mãos, como a borboleta. Cabe a nós escolher o que fazer com ela.

Parábola: A árvore dos problemasAntes de entrar em casa, eu deixo meus problemas na árvore. Todas as manhãs, quando volto para buscá-los não são nem a metade do que eram.

Esta é a história de um homem que contratou um carpinteiro para ajudar a arrumar algumas coisas na sua fazenda. O primeiro dia do carpinteiro foi bem difícil.

O pneu do carro furou, fazendo com que ele deixasse de ganhar uma hora de trabalho; a sua serra elétrica quebrou, e aí ele cortou o dedo e, no final do dia, o carro não funcionou.

O homem que contratou o carpinteiro ofereceu uma carona para casa e, durante o caminho, o trabalhador não falou nada. Quando chegaram à casa, o carpinteiro convidou o homem para entrar e conhecer a sua família.

Quando os dois caminhavam para a porta da frente, o carpinteiro parou junto a uma pequena árvore e gentilmente tocou as pontas dos galhos com as duas mãos.

Depois de abrir a porta da sua casa, o carpinteiro se transformou. Os traços tensos do seu rosto transformaram-se em um grande sorriso e ele abraçou os filhos e beijou a esposa. Um pouco mais tarde, o carpinteiro acompanhou a sua visita até o carro. Assim que eles passaram pela árvore, o homem perguntou por que ele havia tocado na planta antes de entrar em casa.

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– Ah! esta é a minha planta dos problemas. Eu sei que não posso evitar ter problemas no meu trabalho, mas estes problemas não devem chegar até os meus filhos e minha esposa. Então, toda noite, eu deixo os meus problemas nesta árvore quando chego em casa e os pego no dia seguinte.

E você quer saber de uma coisa? Toda manhã, quando eu volto para buscar os meus problemas, eles não são nem metade do que eu me lembro de ter deixado na noite anterior.

Autor Desconhecido

Parábola: A Águia

Assim como a águia, o ser humano precisa passar por um lento e doloroso processo de renovação para adquirir mais sabedoria e experiência.

A águia é a ave que possui a maior longevidade da espécie. A beleza do seu vôo é sempre admirada. Chega a viver 70 anos. Mas para chegar a essa idade, aos 40 anos ela tem que tomar uma séria e difícil decisão. Afinal, nessa idade, ela vai se encontrar na seguinte situação:

1 - As unhas estão compridas e flexíveis. Por isso, não consegue agarrar as suas presas das quais se alimenta;2 - O bico está alongado, pontiagudo e se curva;3 - Apontando contra o peito estão as asas, envelhecidas e pesadas em função da grossura das penas, e voar já é tão difícil!

Então, a águia só tem duas alternativas:1 - Morrer; ou2 - Enfrentar um doloroso processo de renovação que irá durar 150 dias.

Assim como a águia, o ser humano precisa passar por um lento e doloroso processo de renovação para adquirir mais sabedoria e experiência.

Esse processo consiste em voar para o alto de uma montanha e se recolher em um ninho próximo a um paredão onde ela não necessite voar. Então, após encontrar esse lugar, a águia começa a bater com o bico em uma parede até conseguir arrancá-lo. Após arrancá-lo, espera nascer um novo bico, com o qual vai depois arrancar suas unhas.

Quando as novas unhas começam a nascer, ela passa a arrancar as velhas penas. E só após cinco meses sai para o famoso vôo de renovação e para viver mais 30 anos.

Assim como a águia, o ser humano passa por diversos momentos da vida em que precisa aprender a renascer. O processo de amadurecimento é lento e exige paciência. As mudanças são dolorosas. Mas necessárias e fundamentais para que o crescimento individual venha acompanhado de sabedoria e se transforme em experiência.

Um bom vôo a todos,

Carlos Camacho.

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O melhor lutadorE a arte de descobrir seu caminho

Um jovem atravessou o Japão em busca da escola de um famoso praticante de artes marciais. Chegando ao dojô, foi recebido em audiência pelo Sensei.

– O que quer de mim? – perguntou-lhe o mestre.

– Quero ser seu aluno e tornar-me o melhor karateca do país – respondeu o rapaz.

– Quanto tempo preciso estudar?

– Dez anos, pelo menos. – respondeu o mestre.

– Dez anos é muito tempo – tornou o rapaz.

– E se eu praticasse com o dobro de intensidade dos outros alunos?

– Vinte anos – disse o mestre.

– Vinte anos! E se eu praticar noite e dia, dedicando todo o meu esforço?

– Trinta anos – foi a resposta do mestre.

– Mas eu lhe digo que vou dedicar-me em dobro e o senhor me responde que o tempo será maior? – espantou-se o jovem.

– A resposta é simples, disse o mestre:

“- Quando um olho está fixo onde se quer chegar, só resta o outro para encontrar o caminho.”

Parábola: A cenoura o ovo e o caféComo reagimos e o que aprendemos diante das adversidades

Uma filha se queixou ao pai sobre a vida, que estava muito difícil. Ela já não sabia mais o que fazer e queria desistir. Estava cansada de lutar e seguir em frente. Parecia que quando um problema estava resolvido, um outro surgia. Calmamente, seu pai, que era um talentoso e sábio “chef”, levou-a até a cozinha. Encheu três panelas com água e colocou cada uma delas em fogo alto. Logo a água começou a ferver. Em uma, ele colocou cenouras; em outra, ovos; na última, pó de café. Deixou que tudo fervesse, sem dizer uma palavra.

A filha deu um suspiro e esperou impacientemente, imaginando o que ele estaria fazendo. Cerca de vinte minutos depois, ele apagou o fogo. Retirou as cenouras e depositou-as numa tigela. Com cuidado, pegou os ovos e deixou-os em outra tigela. Então pegou o café com uma concha e despejou-o numa xícara. Virando-se para ela, perguntou:

– Querida, o que você está vendo?– Cenouras, ovos e café, ela respondeu.

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Ele a trouxe para mais perto e pediu-lhe para experimentar as cenouras. Ela obedeceu e notou que as cenouras estavam macias. Então, pediu-lhe que pegasse um ovo e o quebrasse.

Ela obedeceu. Depois de retirar a casca, verificou que o ovo endurecera com a fervura. Finalmente, ele lhe pediu que tomasse um gole do café. Ela sorriu ao provar seu aroma delicioso. Ela perguntou humildemente:

– O que isto significa, pai?

Ele explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma adversidade, água fervendo, mas que cada um reagira de maneira diferente.

A cenoura entrara forte, firme e inflexível. Mas depois de ter sido submetida à água fervendo, ela amolecera e se tornara frágil.

Os ovos eram frágeis. Mas sua casca fina protegia a clara e a gema. Mas depois de terem sido colocados na água fervendo, seu interior se tornou mais rijo.

O pó de café, contudo, era incomparável. Depois que fora colocado na água fervente, ele havia mudado a água.

– Qual deles é você?, perguntou o pai a filha. Quando a adversidade bate à sua porta, como você responde? Você é uma cenoura, um ovo ou um pó de café?

O ANEL

Todos somos como uma jóia. Valiosos e únicos. Mas andamos pela vida pretendendo que pessoas inexperientes nos valorizem.

–“Venho aqui, professor, porque não tenho forças para fazer nada. Dizem-me que não faço nada bem, que sou lerdo e muito idiota. Como posso melhorar? O que posso fazer para que me valorizem mais?”

O professor, sem olhá-lo, disse:

– “Sinto muito meu jovem, mas não posso te ajudar. Devo primeiro resolver o meu próprio problema. Talvez depois.” E fazendo uma pausa, falou:

– “Se me ajudasse, eu poderia resolver este problema com mais rapidez e depois, talvez, possa te ajudar.”

– “C…claro, professor”, gaguejou o jovem, que se sentiu outra vez desvalorizado. Então, o professor tirou um anel que usava no dedo, deu ao garoto e disse:

– “Vá até o mercado. Venda esse anel porque tenho que quitar uma dívida. É preciso que obtenhas pelo anel o máximo possível, mas não aceite menos que uma moeda de ouro.”

O jovem pegou o anel e partiu. Mal chegou ao mercado, começou a oferecer o anel aos mercadores. Quando o jovem mencionava a venda do anel por uma moeda de ouro, alguns riam, outros saíam sem olhar para ele. Só um velhinho foi amável e explicou que uma moeda de ouro era muito valiosa para se comprar um anel. Tentando ajudar o jovem, chegaram a oferecer uma moeda de prata e uma xícara

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de cobre, mas o jovem não aceitava menos que uma moeda de ouro. Depois de oferecer a jóia a todos que passaram pelo mercado, abatido pelo fracasso, retornou.

– “Professor, é impossível conseguir o que me pediu.

Talvez pudesse obter 2 ou 3 moedas de prata, mas não se pode enganar ninguém sobre o valor do anel.”

– “Importante o que disse, meu jovem”, contestou sorridente o mestre. “Devemos saber primeiro o valor do anel.Vá até o joalheiro. Diga que quer vendê-lo e pergunte quanto ele te dá por ele. Mas não importa o quanto ele te ofereça, não o venda. Volte aqui com meu anel.” O jovem foi ao joalheiro e lhe deu o anel para examinar. O joalheiro observou-o com uma lupa e disse:

– “Diga ao seu professor que, se ele quiser vender agora, não posso dar mais que 58 moedas de ouro pelo anel.”

O jovem, surpreso, exclamou:

– “58 MOEDAS DE OURO!!!”

– “Sim”, replicou o joalheiro, “eu sei que poderia oferecer 70 moedas , mas se a venda é urgente…”

O jovem correu emocionado para contar ao professor.

– “Sente-se”, falou o professor depois de ouvir tudo que o jovem lhe contou. E disse:

– “Você é como esse anel, uma jóia valiosa e única, que só pode ser avaliada por um expert. Pensava que qualquer um podia descobrir o seu verdadeiro valor?” Dizendo isso, voltou a colocar o anel no dedo:

– “Todos somos como esta jóia. Valiosos e únicos. Mas andamos pelos mercados da vida pretendendo que pessoas inexperientes nos valorizem.”

SOMENTE DE PASSAGEM

Conta-se que, no século passado, um turista americano foi ao oriente, com o objetivo de visitar um famoso sábio.

O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco.

“- Onde estão os seus móveis ?” - perguntou o turista.

“- Os meus ??” - surpreendeu-se e perguntou também:

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“- E onde estão os seus…?”.

“- Os meus??” - surpreendeu-se o turista.

“- Eu estou aqui só de passagem!”. Disse o turista.

“- E eu também.” - concluiu o sábio.

A vida na Terra é somente uma passagem… No entanto, alguns vivem como se fossem ficar aqui eternamente e se esquecem de ser feliz.

Parábola: O Samurai

A quem pertence um presente? A quem dá ou a quem recebe? Quando o ofenderem, o insultarem ou gritarem com você, não aceite provocações. Jamais permita que lhe roubem sua paz interior.

Perto de Tokyo vivia um grande samurai, já idoso, que agora se dedicava a ensinar a filosofia zen aos jovens. Apesar da idade, corria a lenda que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.

Certa tarde, um jovem guerreiro conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu por ali. Era famoso por utilizar a técnica da provocação: esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para identificar os erros cometidos pelos outros, contra-atacava com velocidade fulminante. Impaciente, o guerreiro jamais havia perdido uma luta. Conhecendo a reputação de um samurai mais experiente, estava ali para derrotá-lo, e com isso aumentar ainda mais sua fama. Todos os seus alunos se manifestaram contra a idéia, mas o velho samurai aceitou o desafio. Foram todos para a praça da cidade, e o jovem começou a insultá-lo.

Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou todos os insultos conhecidos, ofendendo inclusive seus ancestrais. Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível. No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se.

Desapontados pelo fato de que o mestre tinha aceitado tantos insultos e provocações, os alunos perguntaram: “Como o senhor pôde suportar tanta humilhação? Por que não usou sua espada, mesmo sabendo que podia perder a luta, em vez de mostrar-se covarde diante de todos nós?”

“Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente?”, perguntou o samurai. “A quem tentou entregá-lo”, respondeu um dos discípulos. “O mesmo vale para a inveja, a raiva, e os insultos”, disse o samurai. “Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo. A sua paz interior depende exclusivamente de você. As pessoas não podem lhe tirar a calma, só se você permitir

Parábola: O Cavalo Soterrado

“Um fazendeiro, que lutava com muitas dificuldades, possuía alguns cavalos para ajudar nos trabalhos em sua pequena fazenda. Um dia, seu capataz veio trazer a notícia de que um dos cavalos havia caído num velho poço abandonado.

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O poço era muito profundo e seria extremamente difícil tirar o cavalo de lá.O fazendeiro foi rapidamente até o local do acidente, avaliou a situação, certificando-se que o animal não havia se machucado. Mas, pela dificuldade e alto custo para retirá-lo do fundo do poço, achou que não valia a pena investir na operação de resgate.Tomou, então, a difícil decisão: Determinou ao capataz que sacrificasse o animal jogando terra no poço até enterrá-lo, ali mesmo.E assim foi feito. Os empregados, comandados pelo capataz, começaram a lançar terra para dentro do buraco de forma a cobrir o cavalo.Mas, à medida que a terra caía em seu dorso, o animal a sacudia e ela ia se acumulando no fundo, possibilitando ao cavalo ir subindo.Logo os homens perceberam que o cavalo não se deixava enterrar, mas, ao contrário, estava subindo à medida que a terra enchia o poço, até que, finalmente, conseguiu sair!”

A arte de ser feliz

Por Cecília Meireles - "A arte de ser feliz"

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser

feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas

todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio, ia atirando com a

mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma regra: era uma espécie de

aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para

o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração

ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro

nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo

muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas

brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre

me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes um

avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto

completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada

janela, uns dizem que as coisas não existem, outros que só existem diante das

minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para vê-las

assim."

A casa queimada

Page 47: Para Bolas

Autor desconhecido

Um certo homem saiu em uma viagem de avião.

Era um homem temente a Deus, e sabia que Deus o protegeria.

Durante a viagem, quando sobrevoavam o mar, um dos motores falhou e o piloto

teve que fazer um pouso forçado no oceano.

Quase todos morreram, mas o homem conseguiu agarrar-se a alguma coisa que o

conservou em cima da água.

Ficou boiando à deriva, durante muito tempo, até que chegou a uma ilha não

habitada.

Ao chegar à praia, cansado, porém vivo, agradeceu a Deus por tê-lo salvo da morte.

Ele conseguiu se alimentar de peixes e ervas.

Conseguiu derrubar algumas árvores e com muito esforço conseguiu construir uma

casa para ele.

Não era bem uma casa, mas um abrigo tosco, com paus e folhas. Porém significava

proteção.

Ele ficou todo satisfeito e mais uma vez agradeceu a Deus, porque agora podia

dormir sem medo dos animais selvagens que talvez pudessem existir na ilha.

Um dia ele estava pescando e, quando terminou, havia apanhado muitos peixes.

Assim, com comida abundante, estava satisfeito com o resultado da pesca. Porém,

ao voltar-se na direção de sua casa, qual não foi sua

decepção ao vê-la toda incendiada. Ele se sentou em uma pedra, chorando e

dizendo em prantos:

"Deus! Como é que o Senhor podia deixar isto acontecer comigo? O Senhor sabe

que eu preciso muito desta casa para poder me abrigar, e o Senhor deixou minha

casa se queimar todinha. Deus, o Senhor não tem pena de

mim?"

Neste momento uma mão pousou no seu ombro e ele ouviu uma voz dizendo:

"Vamos, rapaz?"

Page 48: Para Bolas

Ele se virou para ver quem lhe falava, e qual não foi sua

surpresa quando viu à sua frente um marinheiro todo fardado e dizendo:

"Vamos rapaz, nós viemos buscá-lo".

"Mas como é possível? Como vocês souberam que eu estava aqui?"

"Ora, amigo! Vimos os seus sinais de fumaça pedindo socorro. O capitão ordenou

que o navio parasse e me mandou vir buscá-lo naquele barco ali

adiante."

Os dois entraram no barco e assim o homem foi para o navio que o levaria em

segurança de volta para os seus entes queridos.

A cidade dos resmungos

Extraído de O Livro das virtudes II – O Compasso Moral, William J. Bennett, Editora Nova Fronteira.

Era uma vez um lugar chamado Cidade dos Resmungos, onde todos resmungavam,

resmungavam, resmungavam. No verão, resmungavam que estava muito quente.

No inverno, que estava muito frio. Quando chovia, as crianças choramingavam

porque não podiam sair. Quando fazia sol, reclamavam que não tinham o que fazer.

Os vizinhos queixavam-se uns dos outros, os pais queixavam-se dos filhos, os

irmãos das irmãs.

Todos tinham um problema, e todos reclamavam que alguém deveria fazer alguma

coisa.

Um dia chegou à cidade um mascate carregando um enorme cesto às costas. Ao

perceber toda aquela inquietação e choradeira, pôs o cesto no chão e gritou:

- Ó cidadãos deste belo lugar! Os campos estão abarrotados de trigo, os pomares

carregados de frutas. As cordilheiras estão cobertas de florestas espessas, e os

vales banhados por rios profundos. Jamais vi um lugar abençoado por tantas

conveniências e tamanha abundância. Por que tanta insatisfação? Aproximem-se, e

eu lhes mostrarei o caminho para a felicidade.

Ora, a camisa do mascate estava rasgada e puída. Havia remendos nas calças e

buracos nos sapatos. As pessoas riram que alguém como ele pudesse mostrar-lhes

como ser feliz. Mas enquanto riam, ele puxou uma corda comprida do cesto e a

esticou entre os dois postes na praça da cidade.

Então segurando o cesto diante de si, gritou:

Page 49: Para Bolas

- Povo desta cidade! Aqueles que estiverem insatisfeitos escrevam seus problemas

num pedaço de papel e ponham dentro deste cesto. Trocarei seus problemas por

felicidade!

A multidão se aglomerou ao seu redor. Ninguém hesitou diante da chance de se

livrar dos problemas. Todo homem, mulher e criança da vila rabiscou sua queixa

num pedaço de papel e jogou no cesto.

Eles observaram o mascate pegar cada problema e pendurá-lo na corda. Quando

ele terminou, havia problemas tremulando em cada polegada da corda, de um

extremo a outro. Então ele disse:

Agora cada um de vocês deve retirar desta linha mágica o menor problema que

puder encontrar.

Todos correram para examinar os problemas. Procuraram, manusearam os pedaços

de papel e ponderaram, cada qual tentando escolher o menor problema. Depois de

algum tempo a corda estava vazia.

Eis que cada um segurava o mesmíssimo problema que havia colocado no cesto.

Cada pessoa havia escolhido os seu próprio problema, julgando ser ele o menor da

corda.

Daí por diante, o povo daquela cidade deixou de resmungar o tempo todo. E

sempre que alguém sentia o desejo de resmungar ou reclamar, pensava no

mascate e na sua corda mágica.

A Águia e a Coreixa

Esopo

A Águia tomou nas unhas um Cágado para cevar-se, e trazendo-o pelo ar, e dando-

lhe picadas, não podia matá-lo, porque estava mui recolhido em sua concha.

Embravecia-se muito com isso a Águia, sem lhe prestar, quando chega a Coreixa, e

diz:

- A caça que tomastes é em extremo boa, mas não podereis gozar dela senão por

manha.

Disse a Águia que lhe ensinasse a manha e partiria com ela da caça. A Coreixa o fez

dizendo:

- Subi-vos sobre as nuvens, e de lá deixai cair o Cágado sobre alguma laje, quebrará

a concha e ficar-nos-á a carne descoberta.

Page 50: Para Bolas

A Águia assim o fez; sucedendo como queriam, comeram ambas da caça.