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8/19/2019 Par Resia
http://slidepdf.com/reader/full/par-resia 1/3
Implicações Da Parresía
O quanto mentimos para o Outro e para nós mesmos? Quantas vezes não somoscondescendentes devido à pressão sócio-cultural? O mundo humano é complexo, somos
detentores de um tipo linguagem que nos permite criar espaços-verdades a esmo ao
ponto de podermos adentrar ao puro delírio, pois, a linguagem nos permite escamotear
estruturar uma realidade impossível de ser penetrada por outro ser humano. Essa
realidade avulsamente psicótica não deveria, de modo algum, ser preterida como o é por
muitos, sentimos pena dos loucos como se a sua existência fosse desprovida de valor,
esquecemos do quão rico pode ser o mundo de tais indivíduos, talvez eles resguardem
riquezas que nem os maiores gênios da literatura seriam capazes de produzir caso
trabalhassem juntos. A parresía, amor a verdade por mais nociva que esta seja para si, a
inviabilidade da prática de tal virtude é nítida, antes de praticar a parresía o homem deve
abrir mão de qualquer verdade pretendida; só possuem verdade aqueles que são. A
parresía não pode ser apenas uma reação ao Outro, com risco de soçobrar no
esvaziamento da subjetividade do individuo, este deve antes elevar-se a um estado onde
o detrimento resultante das contradições seja o mais ínfimo possível, e mais, há a
necessidade crucial de individuação beirando o autismo inexorável indeslindável. Sim, a
parresía leva o individuo a limites perigosos, há sempre uma fresta á frente e esta pode,
a qualquer momento, se tornar um abismo ineludível.
Além de inviável, a prática indiscriminada da parresía torna o individuo
inevitavelmente superficial, facilmente tornando-o autodestrutivo. Praticá-la com
consigo mesmo é indescritivelmente mais rentável, porém, muitas vezes falar a verdade
ser sincero consigo é bem mais difícil do que dizê-la para o Outro; os homens que
mentem para si são inúmeros. Um fato caríssimo, a respeito da variação na intensidade
das respostas emocionais, algo que certamente não deve ser desprezado, para que a
parresía não seja apenas a manifestação de uma frivolidade advinda da intemperança do
individuo, é profícuo o exame das próprias reações emocionais, o perguntar-se “por que
sinto-me de tal modo em relação a tal fato?”. A parresía advinda da irreflexão não passa
da demonstração da estupidez do individuo: A parresía não pode ser apenas uma reação
ao Outro, a verdade que dirijo a ele é também uma verdade sobre mim, a irreflexão e a
intemperança fazem com que essa verdade me defina, me obrigando a ser , assim o
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Outro aprisiona o individuo através da sua própria discursividade, pois ele se torna
incapaz de produzir o atrito necessário para passar a um posicionamento contrário sem
que com isso cause furos na sua própria estrutura simbólica, dái a necessidade de uma
articulação na prática da parresía caso o individuo não queira sucumbir à
superficialidade: para escapar do ser que o individuo se tornar no momento em que
pronuncia a sua verdade, e venha novamente a não-ser e possa futuramente vir-a-ser a
articulação simbólica é imprescindível se ele não quiser abrir mão da sua subjetividade,
claro. Os que pendem para a superficialidade, estes em momento algum são, a
efemeridade das suas verdades impede-os de ser , sequer se encontram em um vir-a-ser,
estão sempre na condição de não-ser, ao menos para si mesmos, pois para o Outro eles
estão alienados a um ser e apenas ele possui a chave para libertá-los; preteridos pelo
Outro as suas palavras nunca o alcançarão e menos ainda o modificarão, as suas
verdades sobre o Outro os lançaram a uma jaula e nela não passaram de seres
irracionais, e a sua revelia será contida com o simples gesto do silencio, que para eles
soará como o inferno dantesco; tiraram-lhes, finalmente, a palavra.
A parresía também é uma ferramenta de liberdade para aqueles que vieram-a-ser
sem terem participado do processo de vir-a-ser , aniquilados sobrepujados pelo Outro a
parresía torna-se a lança com a qual o individuo se rebela, tentando libertar-se da sua prisão simbólica. Há dois percursos na irrupção do individuo, ele pode emergir e
destruir o Outro, mas isso o prenderia á condição de não-ser, ou ele pode imergir e
modificar Outro garantindo assim o seu vir-a-ser. Negar o outro e sucumbir ao autismo
ou aceitá-lo modificá-lo e ser modificado por ele? Uma vez que a nossa realidade é
simbólica e passível de alterações sem que ninguém tenha competência para negar
qualquer que seja a realidade produzida pelo individuo, o caminho pelo qual se
enveredar fica ao bel prazer de cada um. Vale assinalar que a situação descrita acima só
é possível quando o individuo possui força suficiente para imergir á existência do
Outro, fazendo-se reconhecer dialeticamente através da interação simbólica complexa,
ou simplesmente através da brutalidade onde o Outro é aniquilado, onde o simbólico é
construído através dos seus elementos mais fulcrais e singelos.
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O Percurso á Parresía Num Mundo Performático
A realidade humana não pode ser prescindida de valores estéticos, mesmo asmanifestações discursivas mais objetivas possuem um fundo estético. Dito isso, uma
vez que o homem não tem um modo de ser-no-mundo que seja universal a todos os
seres humanos, o que consequentemente significa que todo manifestação cultural é
valida, que a alteridade não pode ser negada, insurge a pergunta qual o valor simbólico-
estético-cultural da parresía e quem são os indivíduos que a praticam e por que a
praticam. O advento do humanitarismo na modernidade forçou o homem o seu potencial
destrutivo, sendo todo o fulgor deste reprovado imediatamente, sendo esse fato mais
nítido nas sociedades democráticas, onde a demagogia, a condescendência e o
pedantismo são característicos a esse regime político. No cenário traçado acima, a
parresía toma a função de fazer insurgir os potenciais, apontando a hipocrisia da
afabilidade nas relações humanas. Uma vez que a parresía é caustica ao Outro e mais
ainda ao Eu, ao invés de incorremos numa posição meramente destrutiva, vale ressaltar
que a interação e as trocas não necessitam desta dimensão extra com a qual a velamos,
pois a condição de subsistência é suficiente para garanti-las, bastaria levantarmos o véu
e vermos as condições essenciais pelas quais se dão as relações, veríamos
concretamente que a conveniência vige as nossas interações com o Outro. Infelizmente
a condição de subsistência a qual seria possível a prática de uma parresía menos nociva,
não é suficiente em uma sociedade tão numerosa quanto a nossa. Isso torna a parresía
inevitavelmente destrutiva, aqueles que a praticam como uma virtude ascética não
passam de homens tartufos, já que a prática da parresía enquanto virtude,
automaticamente, erige uma moral e ao invés de desvelar de arrancar a máscara dos
indivíduos lhes colocaria outra. Mais uma vez ressalto o fato de a parresía ser rentável
apenas sobre o manto da individuação, e também a necessidade do detrimento entre as
contradições serem ínfimos, desse modo o indivíduo pode vir-a-ser ao invés de ser ou
não-ser já que esses dois modos exigem a superficialidade ou descontinuidades
irreconciliáveis na subjetividade do individuo.