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Par Resia

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8/19/2019 Par Resia

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Implicações Da Parresía

O quanto mentimos para o Outro e para nós mesmos? Quantas vezes não somoscondescendentes devido à pressão sócio-cultural? O mundo humano é complexo, somos

detentores de um tipo linguagem que nos permite criar espaços-verdades a esmo ao

 ponto de podermos adentrar ao puro delírio, pois, a linguagem nos permite escamotear

estruturar uma realidade impossível de ser penetrada por outro ser humano. Essa

realidade avulsamente psicótica não deveria, de modo algum, ser preterida como o é por

muitos, sentimos pena dos loucos como se a sua existência fosse desprovida de valor,

esquecemos do quão rico pode ser o mundo de tais indivíduos, talvez eles resguardem

riquezas que nem os maiores gênios da literatura seriam capazes de produzir caso

trabalhassem juntos. A parresía, amor a verdade por mais nociva que esta seja para si, a

inviabilidade da prática de tal virtude é nítida, antes de praticar a parresía o homem deve

abrir mão de qualquer verdade pretendida; só possuem verdade aqueles que  são.  A

 parresía não pode ser apenas uma reação ao Outro, com risco de soçobrar no

esvaziamento da subjetividade do individuo, este deve antes elevar-se a um estado onde

o detrimento resultante das contradições seja o mais ínfimo possível, e mais, há a

necessidade crucial de individuação beirando o autismo inexorável indeslindável. Sim, a

 parresía leva o individuo a limites perigosos, há sempre uma fresta á frente e esta pode,

a qualquer momento, se tornar um abismo ineludível.

Além de inviável, a prática indiscriminada da parresía torna o individuo

inevitavelmente superficial, facilmente tornando-o autodestrutivo. Praticá-la com

consigo mesmo é indescritivelmente mais rentável, porém, muitas vezes falar a verdade

ser sincero consigo é bem mais difícil do que dizê-la para o Outro; os homens que

mentem para si são inúmeros. Um fato caríssimo, a respeito da variação na intensidade

das respostas emocionais, algo que certamente não deve ser desprezado, para que a

 parresía não seja apenas a manifestação de uma frivolidade advinda da intemperança do

individuo, é profícuo o exame das próprias reações emocionais, o perguntar-se “por que

sinto-me de tal modo em relação a tal fato?”. A parresía advinda da irreflexão não passa

da demonstração da estupidez do individuo: A parresía não pode ser apenas uma reação

ao Outro, a verdade que dirijo a ele é também uma verdade sobre mim, a irreflexão e a

intemperança fazem com que essa verdade me defina, me obrigando a  ser , assim o

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Outro  aprisiona o individuo através da sua própria discursividade, pois ele se torna

incapaz de produzir o atrito necessário para passar a um posicionamento contrário sem

que com isso cause furos na sua própria estrutura simbólica, dái a necessidade de uma

articulação na prática da parresía caso o individuo não queira sucumbir à

superficialidade: para escapar do  ser   que o individuo se tornar no momento em que

 pronuncia a sua verdade, e venha novamente a não-ser  e possa futuramente vir-a-ser a

articulação simbólica é imprescindível se ele não quiser abrir mão da sua subjetividade,

claro. Os que pendem para a superficialidade, estes em momento algum  são,  a

efemeridade das suas verdades impede-os de ser , sequer se encontram em um vir-a-ser,

estão sempre na condição de não-ser, ao menos para si mesmos, pois para o Outro eles

estão alienados a um  ser e apenas ele possui a chave para libertá-los; preteridos pelo

Outro as suas palavras nunca o alcançarão e menos ainda o modificarão, as suas

verdades sobre o Outro os lançaram a uma jaula e nela não passaram de seres

irracionais, e a sua revelia será contida com o simples gesto do silencio, que para eles

soará como o inferno dantesco; tiraram-lhes, finalmente, a palavra.

A parresía também é uma ferramenta de liberdade para aqueles que vieram-a-ser

sem terem participado do processo de vir-a-ser , aniquilados sobrepujados pelo Outro a

 parresía torna-se a lança com a qual o individuo se rebela, tentando libertar-se da sua prisão simbólica. Há dois percursos na irrupção do individuo, ele pode emergir e

destruir o Outro, mas isso o prenderia á condição de não-ser,  ou ele pode imergir e

modificar Outro garantindo assim o seu vir-a-ser. Negar o outro e sucumbir ao autismo

ou aceitá-lo modificá-lo e ser modificado por ele? Uma vez que a nossa realidade é

simbólica e passível de alterações sem que ninguém tenha competência para negar

qualquer que seja a realidade produzida pelo individuo, o caminho pelo qual se

enveredar fica ao bel prazer de cada um. Vale assinalar que a situação descrita acima só

é possível quando o individuo possui força suficiente para imergir á existência do

Outro, fazendo-se reconhecer dialeticamente através da interação simbólica complexa,

ou simplesmente através da brutalidade onde o Outro é aniquilado, onde o simbólico é

construído através dos seus elementos mais fulcrais e singelos.

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O Percurso á Parresía Num Mundo Performático

A realidade humana não pode ser prescindida de valores estéticos, mesmo asmanifestações discursivas mais objetivas possuem um fundo estético. Dito isso, uma

vez que o homem não tem um modo de  ser-no-mundo que seja universal a todos os

seres humanos, o que consequentemente significa que todo manifestação cultural é

valida, que a alteridade não pode ser negada, insurge a pergunta qual o valor simbólico-

estético-cultural da parresía e quem são os indivíduos que a praticam e por que a

 praticam. O advento do humanitarismo na modernidade forçou o homem o seu potencial

destrutivo, sendo todo o fulgor deste reprovado imediatamente, sendo esse fato mais

nítido nas sociedades democráticas, onde a demagogia, a condescendência e o

 pedantismo são característicos a esse regime político. No cenário traçado acima, a

 parresía toma a função de fazer insurgir os potenciais, apontando a hipocrisia da

afabilidade nas relações humanas. Uma vez que a parresía é caustica ao Outro e mais

ainda ao Eu, ao invés de incorremos numa posição meramente destrutiva, vale ressaltar

que a interação e as trocas não necessitam desta dimensão extra com a qual a velamos,

 pois a condição de subsistência é suficiente para garanti-las, bastaria levantarmos o véu

e vermos as condições essenciais pelas quais se dão as relações, veríamos

concretamente que a conveniência vige as nossas interações com o Outro. Infelizmente

a condição de subsistência a qual seria possível a prática de uma parresía menos nociva,

não é suficiente em uma sociedade tão numerosa quanto a nossa. Isso torna a parresía

inevitavelmente destrutiva, aqueles que a praticam como uma virtude ascética não

 passam de homens tartufos, já que a prática da parresía enquanto virtude,

automaticamente, erige uma moral e ao invés de desvelar de arrancar a máscara dos

indivíduos lhes colocaria outra. Mais uma vez ressalto o fato de a parresía ser rentável

apenas sobre o manto da individuação, e também a necessidade do detrimento entre as

contradições serem ínfimos, desse modo o indivíduo pode vir-a-ser ao invés de  ser  ou

não-ser   já que esses dois modos exigem a superficialidade ou descontinuidades

irreconciliáveis na subjetividade do individuo.