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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
¹Pós graduada em Supervisão Escolar e Educação Especial, Trabalho e Cidadania- Áreas de Deficiência DA, DM , DV, DF graduada em Pedagogia,
participante do PDE 2013. Professora Pedagoga no Colégio Estadual Dom Bosco Campo Mourão. Pr.
²Doutora em Educação, mestre em Filosofia da Educação, graduada em Pedagogia, professora nas disciplinas de Psicologia da Educação,
Fundamentos Teóricos Metodológicos da Educação de Jovens e Adultos e Estagio Supervisionado
ARTIGO PDE 2014: PEDAGOGO NA ESCOLA PÚBLICA ENTRE O PAPEL
NUCLEAR E AÇÕES QUE SECUNDARIZAM O TRABALHO PEDAGÓGICO
Autor : Zenaide Menechini¹
Orientador : Maria José Pereira²
RESUMO
O artigo aqui apresentado derivou da implementação didática pedagógica realizada
em um Colégio Estadual do Ensino Fundamental e Médio no município de Campo
Mourão – Paraná. O objetivo central do estudo foi investigar o papel do pedagogo na
escola pública diante das múltiplas funções a ele atribuídas. Utilizamos como
suporte teórico de análise, autores, como Leontiev (1978), que destaca a educação
como fator preponderante no processo de humanização. Saviani (1985. 2012), que
discute a função da escola na perspectiva da teoria histórico crítica, Libâneo (2004),
estudioso da teoria histórico-cultural. Esses pesquisadores nos forneceram subsídios
para compreensão do trabalho do pedagogo, tendo em conta a função da escola
como espaço de socialização do conhecimento científico. Para atender o objetivo
proposto, foi realizado, além da revisão bibliográfica sobre o tema, um estudo com
profissionais da escola a fim de entendermos o pedagogo na especificidade de sua
função e como se dá sua prática no contexto escolar, bem como, entrevistas com a
comunidade escolar, representada pelos pais, estudante, agente educacional I,
agente educacional II e professores. O objetivo das entrevistas foi captar a
concepção que esta comunidade tem da função do pedagogo. A pesquisa mostrou
que existe um descompasso entre o papel nuclear do pedagogo, diante da
importância da sua atuação na organização do trabalho pedagógico e o que ele
executa no dia a dia da escola.
Palavras-Chave: Pedagogo; Escola Pública; Conhecimento Científico;
Abstract The article presented here was derived from the didactic pedagogical implementation done in a State School of primary and secondary education in the city ofCampo Mourao - Paraná.The main objective of the study was to investigate the role of the teacher in the public school front the multiple functions assigned to this professional.we used like theoric support of analysis, authors, like Leontiev 1978),that highlights the education as preponderant factor in the process of humanization. Saviani (1985. 2012), who discusses the school function from the perspective of the critical historical theory.These researchers gave us resources to understand the pedagogue's work, considering the school function like socialization space of the scientific knowledge.To meet the proposed objective, was done, in addition to the bibliographic review about the theme, a study with school's professionals, in order to undestand the pedagogue in the specificity of his function and how happens his practice in the school context, as well as, interviews with the school comunity, represented by parents, studant, education agent I, education agent II and teachers. The interview's objective was capture the concept that this comunity has about the pedagogue function.The research showed that there is a mismatch among the central role of the pedagogue, front the importance of his role in the organization of the pedagogical work and what it executes in daily school. Keywords: Pedagogue; Public School; Scientific knowledge. 1 INTRODUÇÃO
O Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE ofertado pelo Governo
do Estado do Paraná objetiva a formação continuada dos professores da rede
pública estadual, em integração com as Instituições de Ensino Superior. Este
programa oferece atividades de estudo na universidade, elaboração de projeto de
pesquisa, Produção Didático – Pedagógica, Grupo de Trabalho em Rede - GTR,
implementação do projeto de pesquisa na escola, seminários e artigo final.
Este artigo resulta das ações desenvolvidas no projeto, intitulado: “Pedagogo
Na Escola Publica Entre o Papel Nuclear e as Ações que Secundarizam o
Trabalho Pedagógico”.
O referido projeto é uma das atividades do Programa de Desenvolvimento
Educacional - PDE proposto pela Secretaria de Estado de Educação do Paraná -
SEED aos professores da rede pública. Neste trabalho final, propusemos uma
reflexão sobre a educação e a função do pedagogo na escola.
O artigo discorre a implementação dos conhecimentos adquiridos durante o
curso, realizada na escola. O trabalho desenvolvido surgiu da preocupação com o
desenvolvimento da função e a descaracterização do papel do pedagogo nas
escolas públicas atuais do Paraná, mais especificamente no Colégio Estadual Dom
Bosco de Campo Mourão.
No estado do Paraná, as funções do pedagogo são organizadas conforme o
EDITAL Nº 37/2004 da SEED/RH, elencadas no texto que se segue. Ao tomar
conhecimento dessas funções é possível questionar como efetivar essas atribuições,
diante da realidade social que traz para o interior das escolas as mais diferentes
mazelas, estas não podem ser ignoradas, no entanto, a escola não tem dado conta
de resolvê-la.
Diante desses desafios, a problemática que se apresentou foi: de que forma o
trabalho do pedagogo acontece e qual o entendimento que a comunidade escolar
tem sobre ele?
O projeto de pesquisa e intervenção foi desenvolvido com base na realidade
de uma das unidades de ensino de Campo Mourão – Pr, Colégio Estadual Dom
Bosco – EFMP, onde também desenvolveu-se a implementação pedagógica
envolvendo a equipe pedagógica; professores dos 6º ao 9º ano e Ensino Médio;
equipe técnico administrativa e gestores, com os quais realizamos estudos e
discussões tanto do fazer do pedagogo quanto as variáveis que interferem no êxito
do trabalho pedagógico.
O texto que ora apresentamos aborda na primeira seção a relação do homem
com o conhecimento e a função da escola no desenvolvimento humano. Na segunda
seção, o pedagogo na organização do trabalho pedagógico mediante os
determinantes sociais que permeiam o espaço escolar e na terceira seção, as
atribuições da função, as concepções acerca do trabalho do pedagogo e sugestões
na reorganização do desenvolvimento dessas atribuições.
Concluímos a partir do trabalho realizado que historicamente o pedagogo tem
uma identidade difusa. Acreditamos que somente a partir de referenciais teóricos,
que embasem a reorganização do seu papel na escola pública considerando a
especificidade de sua função, este assumirá papel nuclear nas ações pedagógicas o
que certamente possibilitará mudanças conceituais necessárias na identidade
profissional.
2 A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE FORMAÇÃO HUMANA
Para compreensão da importância do papel do pedagogo na escola
precisamos primeiramente entendermos o papel da escola para o desenvolvimento
da humanidade. Através dos escritos de Leontiev (1978), esta compreensão se faz
clara quando o autor afirma que, para humanizar se o homem nescessita de passar
por um processo educativo.
Podemos dizer que cada indivíduo aprende a ser um homem. O que a
natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe
ainda preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do desenvolvimento
histórico da sociedade humana (LEONTIEV, 1978, p.267, grifo do autor).
Desta forma, entendemos que somente é possível para o homem a aquisição
da herança cultural alcançada no decurso do desenvolvimento histórico pela
educação institucionalizada. Somente pelas relações sociais informais esta
possibilidade não se concretiza, como diz Leontiev (1978), “O movimento da história
só é, portanto, possível com a transmissão, às novas gerações, das aquisições da
cultura humana, isto é, com educação (p 273)”.
É nesse processo nominado educação por Leontiev (1978), que reside a
mediação entre o homem e o conhecimento e, uma vez que o homem não se
apropria espontaneamente dos conhecimentos produzidos e acumulados
historicamente pela humanidade fez se necessário instituição formal denominado
escola para desenvolver esse processo de relação com a ciência sistematizada.
Leontiev afirma que:
[...] a criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenômenos do mundo circundante através doutros homens, isto é, num processo de comunicação com eles. Assim, a criança aprende a actividade adequada. Pela sua função, este processo é, portanto, um processo de educação.
[...] Mas o ponto principal que deve ser bem sublinhado é que este processo deve sempre ocorrer sem o que a transmissão dos resultados do desenvolvimento sócio-histórico da humanidade nas gerações seguintes seria impossível, e impossível, consequentemente, a continuidade do progresso histórico (LEONTIEV, 1978 p. 272, grifo do autor).
As duas citações acima nos remete pensar a escola como espaço privilegiado
de acesso ao conhecimento. Talvez o único a oferecer as classes trabalhadoras,
desprovida dos bens culturais produzidos historicamente condições de humanizar-se
por meio da aquisição das ciências, artes e cultura.
Desta forma, não se pode deixar em segundo plano o papel da escola como
transmissora do conhecimento elaborado, para colocar-lhe na condição de redentora
de uma sociedade permeada por múltiplas determinações.
Diante da tese defendida por Leontiev (1978) sobre a importância da
educação comprometida com o desenvolvimento humano, compreendemos a
importância da formalização do conhecimento em instituições de ensino. Portanto,
temos na escola o espaço onde ocorre o processo de apropriação do conhecimento
científico produzidos geração após geração. Sobre isso, Saviani (1985) defende
que; “[...] a escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento
espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber difuso; à cultura erudita e não à
cultura popular” (SAVIANI, 1985, p. 28).
Em conformidade com análise do autor, para que a escola possa cumprir sua
função de socializadora do conhecimento, ela deve estar organizada para isso e de
forma planejada oportunizar o processo de aquisição do conhecimento formal e
sistematizado.
3 O PEDAGOGO E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO
Nesse cenário de organização da escola torna-se imprescindível o pedagogo
na articulação e mediação do processo de transmissão do conhecimento científico. A
esse respeito Pimenta (2002) esclarece que:
[...] a escola é uma organização complexa e exige profissionais, que a partir de suas especializações, contribuam para a democratização do saber. Nesta organização complexa não é suficiente apenas a presença dos professores, mas também do pedagogo. Os Pedagogos são profissionais necessários a escola, seja na organização ou na
articulação do Projeto Político Pedagógico com a comunidade escolar (PIMENTA, 2002a, p.151).
Pensando nestas afirmações nos indagamos como o professor pedagogo
pode dar conta da articulação do processo de formação, quando este se envolve, na
escola, com os mais variados conflitos, pois quando se fala que o pedagogo é o
“apagador de incêndios” dentro da escola, nos parece a ideia figurativa que mais se
aproxima do seu fazer.
Na realidade do colégio Dom Bosco, no qual realizamos a intervenção, é
difícil desassociar a figura do pedagogo de um mediador de conflitos, em detrimento
do profissional articulador do processo de ensino e aprendizagem.
O Pedagogo se tornou sim, mediador dos mais sérios conflitos, a ponto de
temer pela própria integridade física, ao lidar com situações que fogem a sua função.
A título de exemplo, como fazer permanecer e participar das aulas alunos envolvidos
no tráfego de drogas e que veem a escola como um ponto de “negociação” e não
como uma instituição de ensino e de acesso ao conhecimento científico.
Não queremos dizer com isso, que o pedagogo deve eximir-se dos problemas
pontuados acima. Mas sim, mostrar as dificuldades que este profissional encontra na
prática cotidiana, no confronto entre o real e o ideal, qual seja, lidar com os
determinantes sociais e ao mesmo tempo cumprir com sua função de orientador do
processo ensino e aprendizagem na escola.
É prática corrente atribuir à família a responsabilidade de ajudar na educação
dos estudantes. No entanto, o modelo burguês de família, constituída de pai, mãe e
filhos não existe nos moldes esperados. A exemplo disso, descrevemos aqui uma
das práticas consideradas como solução para problemas enfrentados com alunos: “o
contato com a família”. Esta tem sido uma das práticas comuns, realizadas pela
equipe pedagógica. Destarte, a família que nos deparamos, geralmente, é
constituída de uma avó, que na maioria das vezes, nos traz problemas maiores do
que o que levamos para ela nos ajudar a resolver; um pai que não convive com a
criança, ou que foi embora, ou que matou a mãe. Por isso, está prezo. Outros que
agridem, quando deveriam proteger.
Temos consciência que se trata de uma visão simplista atribuir os problemas
da educação aos desafios enfrentados, é preciso ir além. Pensar a escola com todos
os seus determinantes sem perder de vista sua função precípua de socialização do
conhecimento. Talvez o único espaço em que a classe trabalhadora tem acesso ao
conhecimento sistematizado cientificamente.
Defendemos que a organização do trabalho pedagógico na escola deve ter
em conta seus determinantes e a partir destes atender de forma planejada as
demandas da instituição, tais como, planos de carreira dos profissionais.
Convivemos com pedagogos lotados em mais de uma escola. Isso acarreta
prejuízos no desempenho de sua função, em especial, na efetivação do Projeto
Político Pedagógico – PPP.
Outro fator que interfere na organização e funcionamento do trabalho
pedagógico tem sido a rotatividade de profissionais na escola. Os professores não
chegam a conhecer o perfil da escola e o PPP. Por não ser efetivo perdem aulas, ou
terminam contratos. Com isso, não estabelecem vínculos com a escola.
Desta forma, as políticas adotadas para distribuição de aulas ou lotação de
profissionais nas escolas estão em descompasso com os ideais de uma educação
de qualidade. Isso mostra que esses princípios não estão expressos na organização
e estrutura do Recursos Humanos eivados das políticas governamentais do Estado
e do País.
Diante dos desafios apresentados está a figura do professor pedagogo que a
partir de suas ações medeia o processo de ensino aprendizagem e como diz Saviani
“tem que ser detentor dos métodos”
Pedagogo é aquele que possibilita o acesso à cultura, organizando o processo de formação cultural. É, pois, aquele que domina as formas, os procedimentos, os métodos através dos quais se chega ao domínio do patrimônio cultural acumulado pela humanidade (SAVIANI, 1985, p. 27).
Sobre esta responsabilidade legitimada nas palavras do autor é que se faz
necessário a atuação do pedagogo com objetivo de contribuir efetivamente no
processo de ensino e aprendizagem.
4 O PEDAGOGO E SUAS ATRIBUIÇÕES
O EDITAL Nº 37/2004/SEED/RH traz elencadas as atribuições do professor
pedagogo no Estado do Paraná, dentre elas destacamos algumas:
Coordenar a elaboração coletiva e acompanhar a efetivação do projeto político-pedagógico e do plano de ação da escola; coordenar a construção coletiva e a efetivação da proposta curricular da escola, a partir das políticas educacionais da SEED/PR e das Diretrizes Curriculares Nacionais do CNE; promover e coordenar reuniões pedagógicas e grupos de estudo para reflexão e aprofundamento de temas relativos ao trabalho pedagógico e para a elaboração de propostas de intervenção na realidade da escola; participar e intervir, junto à direção, da organização do trabalho pedagógico escolar no sentido de realizar a função social e a especificidade da educação escolar; participar da elaboração do projeto de formação continuada de todos os profissionais da escola, tendo como finalidade a realização e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar [...] (PARANA, 2004).
No intuito de atender o exposto acima, no decorrer da implementação do
projeto foi realizado com os participantes grupos de estudo dessas atribuições, e
análise dentro do contexto escolar do colégio Dom Bosco. Um dos principais
problemas levantados pelo grupo reside na infraestrutura, a inadequação entre o
porte escolar e o número de funcionários e pedagogos. O grupo reivindica, ainda,
que sejam consideradas as características da escola, pois as demandas são
baseadas no porte da escola, a partir de uma análise quantitativa, sem considerar as
idiossincrasias que permeiam o bairro onde está localizada a escola.
Os diferentes conflitos produzidos na comunidade são levados para o interior
da escola, frequentemente, requerendo do professor pedagogo atenção quase que
exclusiva nos atendimentos imediatos, secundarizando o papel de mediador do
processo ensino aprendizagem.
Nas palavras de Saviani (2012):
É nesse quadro que o pedagogo se situa. E o pedagogo tanto pode desempenhar o papel de contornar acidentes da estrutura, de impedir que as contradições estruturais venham à tona, de segurar a marcha da história, de consolidar o status quo, quanto pode desempenhar o papel inverso de, a partir dos elementos de conjuntura, explicitar as contradições da estrutura, acelerar a marcha da história, contribuindo, assim, para a transformação estrutural da sociedade. Eis aí o sentido da afirmação “a educação é sempre um ato político”, ou seja, ela está sempre posicionada no âmbito da correlação de forças da sociedade em que se insere e, portanto, está sempre servindo às forças que lutam para perpetuar ou transformar a sociedade. Claro que a educação, além da função especificamente política desempenha também uma função técnica. Essas duas funções são
distintas, mas inseparáveis, o que significa dizer que a função técnica da educação é sempre subsumida pela função política. E isso significa que a educação, ainda que seja interpretada como uma tarefa meramente técnica, nem por isso deixa de cumprir uma função política (SAVIANI, 2012, p. 02).
Na tentativa de superar a função meramente técnica do pedagogo e assumir
seu papel político pedagógico que nos propomos implementar a produção didático
pedagógica na escola, para discutir com a equipe as possibilidades de definição de
papeis no contexto da escola, mesmo convivendo com conflitos estruturais que
afligem a instituição desviando-o de seu papel precípuo de socialização do
conhecimento científico.
No decorrer da implementação pedagógica foi possível identificar as diversas
concepções que pairam sobre o papel do pedagogo na escola pública, na visão da
comunidade do colégio Dom Bosco.
Para captar cenas do cotidiano que pudessem potencializar as discussões
sobre os conceitos implícitos pelas ações desenvolvidas pela equipe pedagógica,
analisamos diferentes concepções dos segmentos que compõem a escola.
A seguir descrevemos algumas das falas que contribuíram para nossas
análises e intervenção. Dentre eles, professores, agentes educacionais alunos e
mães.
Professores:
“Pedagogo é o coordenador da escola só que antes era o
diretor quem indicava agora tem que ter concurso...”
(Professor “A”)
A fala da professora “A” reflete a história do pedagogo que ao longo de sua
história teve habilitações específicas, a saber: Administração Escolar, Supervisor
Educacional e Orientador Educacional. A formação desses profissionais é
respaldada a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96.
Na rede de ensino do estado do Paraná, o pedagogo ficou sem uma função
específica no período de 1995 a 2002, praticamente desaparecido, pois, docentes
de todas as áreas poderiam assumir este cargo, ou seja, orientador e supervisor
passaram a ser pessoas de confiança da direção, ou até mesmo indicações
políticas. Somente no período de 2003 a 2006, os licenciados em Pedagogia
assumem como professor pedagogo, inclusive aqueles professores concursados que
atuavam de 1ª a 4ª série e com isso extinguiu-se as divisões dos especialistas na
organização escolar (PARANÁ, 2012).
Conforme Lei Complementar 103/2004 da Secretaria de Estado da Educação
do Paraná especialistas da educação são transformados em professores, atuando
desde então como professor pedagogo, unida as funções de Orientador e
Supervisor, este profissional passou a enfrentar na duplicidade das funções,
dificuldades antes específicas a cada uma delas.
[...] pedagogo é responsável pela aprendizagem dos alunos
juntamente com os professores. São as que trabalham na
sala da orientação (Professor “B”).
O conceito da Professora “B”, embora se aproxime, no primeiro momento, da
função do pedagogo, traz os resquícios da fragmentação da função, quando se
refere a “sala da orientação”.
Alunos:
[...] pedagogo é quem troca os uniformes quando chegamos
na escola sem, é quem anota no livro as bagunças, os
atrasos, e nota baixa” entrega o canetão do professor “ (aluno
“A” do 6º ano)
[...] pedagogo é quem entrega o material que agente precisa
na sala de aula lápis de cor, papel, tesoura, cola e tinta, liga
para os pais quando precisa dar bronca e sair mais cedo.”
(aluno “B” 6° ano).
[...] as Pedagogas são as orientadoras que ligam para as
mães quando os alunos estão doentes e quando fazem
bagunça” (aluno “C” 9º ano).
Na fala dos alunos é claro a descaracterização do trabalho do pedagogo que
aparece apenas como um cumpridor de tarefas corriqueiras.
[...] Aqui no colégio Dom Bosco eles cuidam das notas do
conselho de classe, atendem indisciplina na sala, ligam
ventiladores, ascendem e apagam luzes, entregam chaves e
cuidam do horário de entrada e saída dos alunos, uniformes,
e ligam para famílias
[...] Na outra escola cuidavam dos alunos e das notas baixas,
aqui no Dom Bosco cuidam dos uniformes e ligam para pais
são chamadas de orientadoras na outra escola era
coordenadora” ( aluno “C” 2º ano Ensino Médio).
O aluno “C” aponta contradições na visão e atuação desses profissionais,
mesmo quando estão sob a égide das mesmas orientações pedagógicas e
administrativas. Isso mostra que existem diferenças na forma de organização das
escolas, para o desenvolvimento das funções de seus profissionais. Essas
divergências retratam as posturas, adotadas pela equipe gestora, e são
determinantes para o exercício da função social da escola.
Mãe de aluno
[...] pedagogo é o coordenador pedagógico, que atende ao
professor e aos alunos”
[...] pedagogo é um orientador dos alunos
Agentes educacionais
[...] pedagogo trabalha para que haja disciplina nas escolas
para o professor poder dar aulas.”( agente II)
Para os funcionários da escola o pedagogo aparece como um disciplinador de
alunos. As falas acima expressam a forma que a comunidade escolar Dom Bosco
entende a figura do pedagogo, apenas como mero tarefeiro, um atendente na
escola, um disciplinador de alunos, um técnico burocrata, ou seja, funções sem
intencionalidade, não existe nenhum caráter político nas ações, exceto para alguns
professores.
Para Vasconcelos o entendimento da prática do pedagogo:
[...] reflete o desejo de redefinição da atuação do profissional [...] não é fiscal de professor, não é dedo-duro, [...] não é pombo correio (que leva recado da direção para os professores e dos professores para a direção), não é coringa/tarefeiro/quebra-galho/ salva-vidas (ajudante de direção, auxiliar de secretaria, enfermeiro, assistente social), não é tapa buraco (que fica “toureando” os alunos em sala de aula no caso de falta de professor), não é
burocrata (que fica às voltas com relatórios e mais relatórios, gráficos, estatísticas), não é gabinete [...], não é dicário (que tem dicas e soluções para todos os problemas, uma espécie de fonte inesgotável de técnicas e receitas) [...] (VASCONCELLOS, 2009, apud MENECHINI, 2013, p 13).
Como já afirmamos no projeto de nossa autoria, intitulado: “Pedagogo Na
Escola Publica Entre o Papel Nuclear e as Ações que Secundarizam o Trabalho
Pedagógico”, as concepções apresentadas acima refletem a forma como está
organizado o trabalho pedagógico, suas atribuições, e compromisso com o processo
ensino e aprendizagem.
Libâneo (2004) afirma:
Ao meu ver, a Pedagogia ocupa-se, de fato, dos processos educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas antes disso ela tem um significado bem mais amplo, bem mais globalizante. Ela é um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. O pedagógico refere-se a finalidades da ação educativa, implicando objetivos
sóciopolíticos a partir dos quais se estabelecem formas organizativas e metodológicas da ação educativa (LIBÂNEO, 2004, p.29).
A implementação da Produção Didático Pedagógica na escola culminou com
a organização do plano pedagógico. O grupo, após embasamento teórico e
discussões, a partir da realidade local, sugere que a equipe do colégio Dom Bosco
deve apropriar-se das especificidades do trabalho do pedagogo. Para isso, faz se
necessário uma reorganização dos trabalhos da equipe pedagógica, redefinindo
papeis. Não é responsabilidade do pedagogo entregar material a alunos e
professores, verificar uso e troca de uniformes, etc. Propomos que outros
profissionais sejam designados para estas funções, assim como, todas as questões
que não envolvam situações pedagógicas. A proposta é viável, pois o colégio conta
com professores readaptados de função.
A partir do momento em que o pedagogo ocupar-se com o atendimento de
casos específicos a sua função, disponibilizará tempo necessário para questões
apenas de cunho pedagógico, tanto do professor quanto do aluno, mediando o
processo ensino e aprendizagem, assumindo papel central nas ações educativas.
5 Conclusão
Consideramos com os estudos, até então realizados, que para a escola
cumprir a função para qual foi instituída deve estar organizada coletivamente em
todas as suas instâncias, e as ações a serem desenvolvidas estejam voltadas na
perspectiva da promoção humana.
O pedagogo figura como principal agente na organização do trabalho
pedagógico, portanto mesmo havendo várias discussões em torno do seu papel
este ainda passa por uma crise na identificação de sua função, não obtendo ate o
presente momento o caráter pedagógico. Pudemos notar nesta pesquisa que ele
aparece mais como um técnico e reprodutor da sociedade vigente do que um
articulador do processo de transmissão do conhecimento científico.
Dada a importância da intencionalidade de suas ações ressaltamos que não
se esgota aqui, a problemática que circunda a função e descaracterização do papel
do pedagogo na escola pública. Diante dessa constatação, apontamos para a
necessidade da continuidade de estudos, pesquisas e rediscussões no campo desta
temática e, a partir de referenciais teóricos definir papéis na escola, de tal maneira
que cada um exerça sua função, de forma intencional articuladas coletivamente, de
acordo com, o papel nuclear do pedagogo, nas ações centrais do processo
educativo.
6 REFERÊNCIAS
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Brasília. MEC, 1996.
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NauraSyriaCarapeto (orgs.). Para Onde vão a Orientação e a Supervisão
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LEONTIIEV, Alexis O Desenvolvimento do Psiquismo. ed. Lisboa: Livros
Horizonte, 1978.
LIBÂNEO, J.C.Pedagogia e Pedagogos, para quê? 7ª ed. São Paulo:Cortez,
2004.
MENECHINI, Zenaide. Pedagogo na escola pública entre o papel nuclear e as
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PIMENTA, Selma Garrido. O pedagogo na escola pública. 4a ed. São Paulo:
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PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Edital No 10/2007 – GS/SEED.
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PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação.
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emhttp://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/cadernos_tematicos/cadern
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PARANÁ. Lei Complementar nº 103/04. Institui e dispõe sobre o Plano de
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SAVIANI, Demerval. Sentido da pedagogia e o papel do pedagogo. In: Revista
ANDE, São Paulo, nº 9, p. 27-28, 1985.
SAVIANI, Dermeval. O papel do pedagogo como articulador do trabalho
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março de 2012. Disponível em: http://faficp.br/noticias/2012/1204/n101-
040.pdf
VASCONCELOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico: do
projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo:
Libertad, 2002.