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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

¹Pós graduada em Supervisão Escolar e Educação Especial, Trabalho e Cidadania- Áreas de Deficiência DA, DM , DV, DF graduada em Pedagogia,

participante do PDE 2013. Professora Pedagoga no Colégio Estadual Dom Bosco Campo Mourão. Pr.

²Doutora em Educação, mestre em Filosofia da Educação, graduada em Pedagogia, professora nas disciplinas de Psicologia da Educação,

Fundamentos Teóricos Metodológicos da Educação de Jovens e Adultos e Estagio Supervisionado

ARTIGO PDE 2014: PEDAGOGO NA ESCOLA PÚBLICA ENTRE O PAPEL

NUCLEAR E AÇÕES QUE SECUNDARIZAM O TRABALHO PEDAGÓGICO

Autor : Zenaide Menechini¹

Orientador : Maria José Pereira²

RESUMO

O artigo aqui apresentado derivou da implementação didática pedagógica realizada

em um Colégio Estadual do Ensino Fundamental e Médio no município de Campo

Mourão – Paraná. O objetivo central do estudo foi investigar o papel do pedagogo na

escola pública diante das múltiplas funções a ele atribuídas. Utilizamos como

suporte teórico de análise, autores, como Leontiev (1978), que destaca a educação

como fator preponderante no processo de humanização. Saviani (1985. 2012), que

discute a função da escola na perspectiva da teoria histórico crítica, Libâneo (2004),

estudioso da teoria histórico-cultural. Esses pesquisadores nos forneceram subsídios

para compreensão do trabalho do pedagogo, tendo em conta a função da escola

como espaço de socialização do conhecimento científico. Para atender o objetivo

proposto, foi realizado, além da revisão bibliográfica sobre o tema, um estudo com

profissionais da escola a fim de entendermos o pedagogo na especificidade de sua

função e como se dá sua prática no contexto escolar, bem como, entrevistas com a

comunidade escolar, representada pelos pais, estudante, agente educacional I,

agente educacional II e professores. O objetivo das entrevistas foi captar a

concepção que esta comunidade tem da função do pedagogo. A pesquisa mostrou

que existe um descompasso entre o papel nuclear do pedagogo, diante da

importância da sua atuação na organização do trabalho pedagógico e o que ele

executa no dia a dia da escola.

Palavras-Chave: Pedagogo; Escola Pública; Conhecimento Científico;

Abstract The article presented here was derived from the didactic pedagogical implementation done in a State School of primary and secondary education in the city ofCampo Mourao - Paraná.The main objective of the study was to investigate the role of the teacher in the public school front the multiple functions assigned to this professional.we used like theoric support of analysis, authors, like Leontiev 1978),that highlights the education as preponderant factor in the process of humanization. Saviani (1985. 2012), who discusses the school function from the perspective of the critical historical theory.These researchers gave us resources to understand the pedagogue's work, considering the school function like socialization space of the scientific knowledge.To meet the proposed objective, was done, in addition to the bibliographic review about the theme, a study with school's professionals, in order to undestand the pedagogue in the specificity of his function and how happens his practice in the school context, as well as, interviews with the school comunity, represented by parents, studant, education agent I, education agent II and teachers. The interview's objective was capture the concept that this comunity has about the pedagogue function.The research showed that there is a mismatch among the central role of the pedagogue, front the importance of his role in the organization of the pedagogical work and what it executes in daily school. Keywords: Pedagogue; Public School; Scientific knowledge. 1 INTRODUÇÃO

O Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE ofertado pelo Governo

do Estado do Paraná objetiva a formação continuada dos professores da rede

pública estadual, em integração com as Instituições de Ensino Superior. Este

programa oferece atividades de estudo na universidade, elaboração de projeto de

pesquisa, Produção Didático – Pedagógica, Grupo de Trabalho em Rede - GTR,

implementação do projeto de pesquisa na escola, seminários e artigo final.

Este artigo resulta das ações desenvolvidas no projeto, intitulado: “Pedagogo

Na Escola Publica Entre o Papel Nuclear e as Ações que Secundarizam o

Trabalho Pedagógico”.

O referido projeto é uma das atividades do Programa de Desenvolvimento

Educacional - PDE proposto pela Secretaria de Estado de Educação do Paraná -

SEED aos professores da rede pública. Neste trabalho final, propusemos uma

reflexão sobre a educação e a função do pedagogo na escola.

O artigo discorre a implementação dos conhecimentos adquiridos durante o

curso, realizada na escola. O trabalho desenvolvido surgiu da preocupação com o

desenvolvimento da função e a descaracterização do papel do pedagogo nas

escolas públicas atuais do Paraná, mais especificamente no Colégio Estadual Dom

Bosco de Campo Mourão.

No estado do Paraná, as funções do pedagogo são organizadas conforme o

EDITAL Nº 37/2004 da SEED/RH, elencadas no texto que se segue. Ao tomar

conhecimento dessas funções é possível questionar como efetivar essas atribuições,

diante da realidade social que traz para o interior das escolas as mais diferentes

mazelas, estas não podem ser ignoradas, no entanto, a escola não tem dado conta

de resolvê-la.

Diante desses desafios, a problemática que se apresentou foi: de que forma o

trabalho do pedagogo acontece e qual o entendimento que a comunidade escolar

tem sobre ele?

O projeto de pesquisa e intervenção foi desenvolvido com base na realidade

de uma das unidades de ensino de Campo Mourão – Pr, Colégio Estadual Dom

Bosco – EFMP, onde também desenvolveu-se a implementação pedagógica

envolvendo a equipe pedagógica; professores dos 6º ao 9º ano e Ensino Médio;

equipe técnico administrativa e gestores, com os quais realizamos estudos e

discussões tanto do fazer do pedagogo quanto as variáveis que interferem no êxito

do trabalho pedagógico.

O texto que ora apresentamos aborda na primeira seção a relação do homem

com o conhecimento e a função da escola no desenvolvimento humano. Na segunda

seção, o pedagogo na organização do trabalho pedagógico mediante os

determinantes sociais que permeiam o espaço escolar e na terceira seção, as

atribuições da função, as concepções acerca do trabalho do pedagogo e sugestões

na reorganização do desenvolvimento dessas atribuições.

Concluímos a partir do trabalho realizado que historicamente o pedagogo tem

uma identidade difusa. Acreditamos que somente a partir de referenciais teóricos,

que embasem a reorganização do seu papel na escola pública considerando a

especificidade de sua função, este assumirá papel nuclear nas ações pedagógicas o

que certamente possibilitará mudanças conceituais necessárias na identidade

profissional.

2 A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE FORMAÇÃO HUMANA

Para compreensão da importância do papel do pedagogo na escola

precisamos primeiramente entendermos o papel da escola para o desenvolvimento

da humanidade. Através dos escritos de Leontiev (1978), esta compreensão se faz

clara quando o autor afirma que, para humanizar se o homem nescessita de passar

por um processo educativo.

Podemos dizer que cada indivíduo aprende a ser um homem. O que a

natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe

ainda preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do desenvolvimento

histórico da sociedade humana (LEONTIEV, 1978, p.267, grifo do autor).

Desta forma, entendemos que somente é possível para o homem a aquisição

da herança cultural alcançada no decurso do desenvolvimento histórico pela

educação institucionalizada. Somente pelas relações sociais informais esta

possibilidade não se concretiza, como diz Leontiev (1978), “O movimento da história

só é, portanto, possível com a transmissão, às novas gerações, das aquisições da

cultura humana, isto é, com educação (p 273)”.

É nesse processo nominado educação por Leontiev (1978), que reside a

mediação entre o homem e o conhecimento e, uma vez que o homem não se

apropria espontaneamente dos conhecimentos produzidos e acumulados

historicamente pela humanidade fez se necessário instituição formal denominado

escola para desenvolver esse processo de relação com a ciência sistematizada.

Leontiev afirma que:

[...] a criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenômenos do mundo circundante através doutros homens, isto é, num processo de comunicação com eles. Assim, a criança aprende a actividade adequada. Pela sua função, este processo é, portanto, um processo de educação.

[...] Mas o ponto principal que deve ser bem sublinhado é que este processo deve sempre ocorrer sem o que a transmissão dos resultados do desenvolvimento sócio-histórico da humanidade nas gerações seguintes seria impossível, e impossível, consequentemente, a continuidade do progresso histórico (LEONTIEV, 1978 p. 272, grifo do autor).

As duas citações acima nos remete pensar a escola como espaço privilegiado

de acesso ao conhecimento. Talvez o único a oferecer as classes trabalhadoras,

desprovida dos bens culturais produzidos historicamente condições de humanizar-se

por meio da aquisição das ciências, artes e cultura.

Desta forma, não se pode deixar em segundo plano o papel da escola como

transmissora do conhecimento elaborado, para colocar-lhe na condição de redentora

de uma sociedade permeada por múltiplas determinações.

Diante da tese defendida por Leontiev (1978) sobre a importância da

educação comprometida com o desenvolvimento humano, compreendemos a

importância da formalização do conhecimento em instituições de ensino. Portanto,

temos na escola o espaço onde ocorre o processo de apropriação do conhecimento

científico produzidos geração após geração. Sobre isso, Saviani (1985) defende

que; “[...] a escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento

espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber difuso; à cultura erudita e não à

cultura popular” (SAVIANI, 1985, p. 28).

Em conformidade com análise do autor, para que a escola possa cumprir sua

função de socializadora do conhecimento, ela deve estar organizada para isso e de

forma planejada oportunizar o processo de aquisição do conhecimento formal e

sistematizado.

3 O PEDAGOGO E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO

Nesse cenário de organização da escola torna-se imprescindível o pedagogo

na articulação e mediação do processo de transmissão do conhecimento científico. A

esse respeito Pimenta (2002) esclarece que:

[...] a escola é uma organização complexa e exige profissionais, que a partir de suas especializações, contribuam para a democratização do saber. Nesta organização complexa não é suficiente apenas a presença dos professores, mas também do pedagogo. Os Pedagogos são profissionais necessários a escola, seja na organização ou na

articulação do Projeto Político Pedagógico com a comunidade escolar (PIMENTA, 2002a, p.151).

Pensando nestas afirmações nos indagamos como o professor pedagogo

pode dar conta da articulação do processo de formação, quando este se envolve, na

escola, com os mais variados conflitos, pois quando se fala que o pedagogo é o

“apagador de incêndios” dentro da escola, nos parece a ideia figurativa que mais se

aproxima do seu fazer.

Na realidade do colégio Dom Bosco, no qual realizamos a intervenção, é

difícil desassociar a figura do pedagogo de um mediador de conflitos, em detrimento

do profissional articulador do processo de ensino e aprendizagem.

O Pedagogo se tornou sim, mediador dos mais sérios conflitos, a ponto de

temer pela própria integridade física, ao lidar com situações que fogem a sua função.

A título de exemplo, como fazer permanecer e participar das aulas alunos envolvidos

no tráfego de drogas e que veem a escola como um ponto de “negociação” e não

como uma instituição de ensino e de acesso ao conhecimento científico.

Não queremos dizer com isso, que o pedagogo deve eximir-se dos problemas

pontuados acima. Mas sim, mostrar as dificuldades que este profissional encontra na

prática cotidiana, no confronto entre o real e o ideal, qual seja, lidar com os

determinantes sociais e ao mesmo tempo cumprir com sua função de orientador do

processo ensino e aprendizagem na escola.

É prática corrente atribuir à família a responsabilidade de ajudar na educação

dos estudantes. No entanto, o modelo burguês de família, constituída de pai, mãe e

filhos não existe nos moldes esperados. A exemplo disso, descrevemos aqui uma

das práticas consideradas como solução para problemas enfrentados com alunos: “o

contato com a família”. Esta tem sido uma das práticas comuns, realizadas pela

equipe pedagógica. Destarte, a família que nos deparamos, geralmente, é

constituída de uma avó, que na maioria das vezes, nos traz problemas maiores do

que o que levamos para ela nos ajudar a resolver; um pai que não convive com a

criança, ou que foi embora, ou que matou a mãe. Por isso, está prezo. Outros que

agridem, quando deveriam proteger.

Temos consciência que se trata de uma visão simplista atribuir os problemas

da educação aos desafios enfrentados, é preciso ir além. Pensar a escola com todos

os seus determinantes sem perder de vista sua função precípua de socialização do

conhecimento. Talvez o único espaço em que a classe trabalhadora tem acesso ao

conhecimento sistematizado cientificamente.

Defendemos que a organização do trabalho pedagógico na escola deve ter

em conta seus determinantes e a partir destes atender de forma planejada as

demandas da instituição, tais como, planos de carreira dos profissionais.

Convivemos com pedagogos lotados em mais de uma escola. Isso acarreta

prejuízos no desempenho de sua função, em especial, na efetivação do Projeto

Político Pedagógico – PPP.

Outro fator que interfere na organização e funcionamento do trabalho

pedagógico tem sido a rotatividade de profissionais na escola. Os professores não

chegam a conhecer o perfil da escola e o PPP. Por não ser efetivo perdem aulas, ou

terminam contratos. Com isso, não estabelecem vínculos com a escola.

Desta forma, as políticas adotadas para distribuição de aulas ou lotação de

profissionais nas escolas estão em descompasso com os ideais de uma educação

de qualidade. Isso mostra que esses princípios não estão expressos na organização

e estrutura do Recursos Humanos eivados das políticas governamentais do Estado

e do País.

Diante dos desafios apresentados está a figura do professor pedagogo que a

partir de suas ações medeia o processo de ensino aprendizagem e como diz Saviani

“tem que ser detentor dos métodos”

Pedagogo é aquele que possibilita o acesso à cultura, organizando o processo de formação cultural. É, pois, aquele que domina as formas, os procedimentos, os métodos através dos quais se chega ao domínio do patrimônio cultural acumulado pela humanidade (SAVIANI, 1985, p. 27).

Sobre esta responsabilidade legitimada nas palavras do autor é que se faz

necessário a atuação do pedagogo com objetivo de contribuir efetivamente no

processo de ensino e aprendizagem.

4 O PEDAGOGO E SUAS ATRIBUIÇÕES

O EDITAL Nº 37/2004/SEED/RH traz elencadas as atribuições do professor

pedagogo no Estado do Paraná, dentre elas destacamos algumas:

Coordenar a elaboração coletiva e acompanhar a efetivação do projeto político-pedagógico e do plano de ação da escola; coordenar a construção coletiva e a efetivação da proposta curricular da escola, a partir das políticas educacionais da SEED/PR e das Diretrizes Curriculares Nacionais do CNE; promover e coordenar reuniões pedagógicas e grupos de estudo para reflexão e aprofundamento de temas relativos ao trabalho pedagógico e para a elaboração de propostas de intervenção na realidade da escola; participar e intervir, junto à direção, da organização do trabalho pedagógico escolar no sentido de realizar a função social e a especificidade da educação escolar; participar da elaboração do projeto de formação continuada de todos os profissionais da escola, tendo como finalidade a realização e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar [...] (PARANA, 2004).

No intuito de atender o exposto acima, no decorrer da implementação do

projeto foi realizado com os participantes grupos de estudo dessas atribuições, e

análise dentro do contexto escolar do colégio Dom Bosco. Um dos principais

problemas levantados pelo grupo reside na infraestrutura, a inadequação entre o

porte escolar e o número de funcionários e pedagogos. O grupo reivindica, ainda,

que sejam consideradas as características da escola, pois as demandas são

baseadas no porte da escola, a partir de uma análise quantitativa, sem considerar as

idiossincrasias que permeiam o bairro onde está localizada a escola.

Os diferentes conflitos produzidos na comunidade são levados para o interior

da escola, frequentemente, requerendo do professor pedagogo atenção quase que

exclusiva nos atendimentos imediatos, secundarizando o papel de mediador do

processo ensino aprendizagem.

Nas palavras de Saviani (2012):

É nesse quadro que o pedagogo se situa. E o pedagogo tanto pode desempenhar o papel de contornar acidentes da estrutura, de impedir que as contradições estruturais venham à tona, de segurar a marcha da história, de consolidar o status quo, quanto pode desempenhar o papel inverso de, a partir dos elementos de conjuntura, explicitar as contradições da estrutura, acelerar a marcha da história, contribuindo, assim, para a transformação estrutural da sociedade. Eis aí o sentido da afirmação “a educação é sempre um ato político”, ou seja, ela está sempre posicionada no âmbito da correlação de forças da sociedade em que se insere e, portanto, está sempre servindo às forças que lutam para perpetuar ou transformar a sociedade. Claro que a educação, além da função especificamente política desempenha também uma função técnica. Essas duas funções são

distintas, mas inseparáveis, o que significa dizer que a função técnica da educação é sempre subsumida pela função política. E isso significa que a educação, ainda que seja interpretada como uma tarefa meramente técnica, nem por isso deixa de cumprir uma função política (SAVIANI, 2012, p. 02).

Na tentativa de superar a função meramente técnica do pedagogo e assumir

seu papel político pedagógico que nos propomos implementar a produção didático

pedagógica na escola, para discutir com a equipe as possibilidades de definição de

papeis no contexto da escola, mesmo convivendo com conflitos estruturais que

afligem a instituição desviando-o de seu papel precípuo de socialização do

conhecimento científico.

No decorrer da implementação pedagógica foi possível identificar as diversas

concepções que pairam sobre o papel do pedagogo na escola pública, na visão da

comunidade do colégio Dom Bosco.

Para captar cenas do cotidiano que pudessem potencializar as discussões

sobre os conceitos implícitos pelas ações desenvolvidas pela equipe pedagógica,

analisamos diferentes concepções dos segmentos que compõem a escola.

A seguir descrevemos algumas das falas que contribuíram para nossas

análises e intervenção. Dentre eles, professores, agentes educacionais alunos e

mães.

Professores:

“Pedagogo é o coordenador da escola só que antes era o

diretor quem indicava agora tem que ter concurso...”

(Professor “A”)

A fala da professora “A” reflete a história do pedagogo que ao longo de sua

história teve habilitações específicas, a saber: Administração Escolar, Supervisor

Educacional e Orientador Educacional. A formação desses profissionais é

respaldada a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96.

Na rede de ensino do estado do Paraná, o pedagogo ficou sem uma função

específica no período de 1995 a 2002, praticamente desaparecido, pois, docentes

de todas as áreas poderiam assumir este cargo, ou seja, orientador e supervisor

passaram a ser pessoas de confiança da direção, ou até mesmo indicações

políticas. Somente no período de 2003 a 2006, os licenciados em Pedagogia

assumem como professor pedagogo, inclusive aqueles professores concursados que

atuavam de 1ª a 4ª série e com isso extinguiu-se as divisões dos especialistas na

organização escolar (PARANÁ, 2012).

Conforme Lei Complementar 103/2004 da Secretaria de Estado da Educação

do Paraná especialistas da educação são transformados em professores, atuando

desde então como professor pedagogo, unida as funções de Orientador e

Supervisor, este profissional passou a enfrentar na duplicidade das funções,

dificuldades antes específicas a cada uma delas.

[...] pedagogo é responsável pela aprendizagem dos alunos

juntamente com os professores. São as que trabalham na

sala da orientação (Professor “B”).

O conceito da Professora “B”, embora se aproxime, no primeiro momento, da

função do pedagogo, traz os resquícios da fragmentação da função, quando se

refere a “sala da orientação”.

Alunos:

[...] pedagogo é quem troca os uniformes quando chegamos

na escola sem, é quem anota no livro as bagunças, os

atrasos, e nota baixa” entrega o canetão do professor “ (aluno

“A” do 6º ano)

[...] pedagogo é quem entrega o material que agente precisa

na sala de aula lápis de cor, papel, tesoura, cola e tinta, liga

para os pais quando precisa dar bronca e sair mais cedo.”

(aluno “B” 6° ano).

[...] as Pedagogas são as orientadoras que ligam para as

mães quando os alunos estão doentes e quando fazem

bagunça” (aluno “C” 9º ano).

Na fala dos alunos é claro a descaracterização do trabalho do pedagogo que

aparece apenas como um cumpridor de tarefas corriqueiras.

[...] Aqui no colégio Dom Bosco eles cuidam das notas do

conselho de classe, atendem indisciplina na sala, ligam

ventiladores, ascendem e apagam luzes, entregam chaves e

cuidam do horário de entrada e saída dos alunos, uniformes,

e ligam para famílias

[...] Na outra escola cuidavam dos alunos e das notas baixas,

aqui no Dom Bosco cuidam dos uniformes e ligam para pais

são chamadas de orientadoras na outra escola era

coordenadora” ( aluno “C” 2º ano Ensino Médio).

O aluno “C” aponta contradições na visão e atuação desses profissionais,

mesmo quando estão sob a égide das mesmas orientações pedagógicas e

administrativas. Isso mostra que existem diferenças na forma de organização das

escolas, para o desenvolvimento das funções de seus profissionais. Essas

divergências retratam as posturas, adotadas pela equipe gestora, e são

determinantes para o exercício da função social da escola.

Mãe de aluno

[...] pedagogo é o coordenador pedagógico, que atende ao

professor e aos alunos”

[...] pedagogo é um orientador dos alunos

Agentes educacionais

[...] pedagogo trabalha para que haja disciplina nas escolas

para o professor poder dar aulas.”( agente II)

Para os funcionários da escola o pedagogo aparece como um disciplinador de

alunos. As falas acima expressam a forma que a comunidade escolar Dom Bosco

entende a figura do pedagogo, apenas como mero tarefeiro, um atendente na

escola, um disciplinador de alunos, um técnico burocrata, ou seja, funções sem

intencionalidade, não existe nenhum caráter político nas ações, exceto para alguns

professores.

Para Vasconcelos o entendimento da prática do pedagogo:

[...] reflete o desejo de redefinição da atuação do profissional [...] não é fiscal de professor, não é dedo-duro, [...] não é pombo correio (que leva recado da direção para os professores e dos professores para a direção), não é coringa/tarefeiro/quebra-galho/ salva-vidas (ajudante de direção, auxiliar de secretaria, enfermeiro, assistente social), não é tapa buraco (que fica “toureando” os alunos em sala de aula no caso de falta de professor), não é

burocrata (que fica às voltas com relatórios e mais relatórios, gráficos, estatísticas), não é gabinete [...], não é dicário (que tem dicas e soluções para todos os problemas, uma espécie de fonte inesgotável de técnicas e receitas) [...] (VASCONCELLOS, 2009, apud MENECHINI, 2013, p 13).

Como já afirmamos no projeto de nossa autoria, intitulado: “Pedagogo Na

Escola Publica Entre o Papel Nuclear e as Ações que Secundarizam o Trabalho

Pedagógico”, as concepções apresentadas acima refletem a forma como está

organizado o trabalho pedagógico, suas atribuições, e compromisso com o processo

ensino e aprendizagem.

Libâneo (2004) afirma:

Ao meu ver, a Pedagogia ocupa-se, de fato, dos processos educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas antes disso ela tem um significado bem mais amplo, bem mais globalizante. Ela é um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. O pedagógico refere-se a finalidades da ação educativa, implicando objetivos

sóciopolíticos a partir dos quais se estabelecem formas organizativas e metodológicas da ação educativa (LIBÂNEO, 2004, p.29).

A implementação da Produção Didático Pedagógica na escola culminou com

a organização do plano pedagógico. O grupo, após embasamento teórico e

discussões, a partir da realidade local, sugere que a equipe do colégio Dom Bosco

deve apropriar-se das especificidades do trabalho do pedagogo. Para isso, faz se

necessário uma reorganização dos trabalhos da equipe pedagógica, redefinindo

papeis. Não é responsabilidade do pedagogo entregar material a alunos e

professores, verificar uso e troca de uniformes, etc. Propomos que outros

profissionais sejam designados para estas funções, assim como, todas as questões

que não envolvam situações pedagógicas. A proposta é viável, pois o colégio conta

com professores readaptados de função.

A partir do momento em que o pedagogo ocupar-se com o atendimento de

casos específicos a sua função, disponibilizará tempo necessário para questões

apenas de cunho pedagógico, tanto do professor quanto do aluno, mediando o

processo ensino e aprendizagem, assumindo papel central nas ações educativas.

5 Conclusão

Consideramos com os estudos, até então realizados, que para a escola

cumprir a função para qual foi instituída deve estar organizada coletivamente em

todas as suas instâncias, e as ações a serem desenvolvidas estejam voltadas na

perspectiva da promoção humana.

O pedagogo figura como principal agente na organização do trabalho

pedagógico, portanto mesmo havendo várias discussões em torno do seu papel

este ainda passa por uma crise na identificação de sua função, não obtendo ate o

presente momento o caráter pedagógico. Pudemos notar nesta pesquisa que ele

aparece mais como um técnico e reprodutor da sociedade vigente do que um

articulador do processo de transmissão do conhecimento científico.

Dada a importância da intencionalidade de suas ações ressaltamos que não

se esgota aqui, a problemática que circunda a função e descaracterização do papel

do pedagogo na escola pública. Diante dessa constatação, apontamos para a

necessidade da continuidade de estudos, pesquisas e rediscussões no campo desta

temática e, a partir de referenciais teóricos definir papéis na escola, de tal maneira

que cada um exerça sua função, de forma intencional articuladas coletivamente, de

acordo com, o papel nuclear do pedagogo, nas ações centrais do processo

educativo.

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LIBÂNEO, J.C.Pedagogia e Pedagogos, para quê? 7ª ed. São Paulo:Cortez,

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