O Supremo Tribunal

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  • 8/19/2019 O Supremo Tribunal

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    O SUPREMO TRIBUNALW.Nee

    Visto que há correlação espiritual entre asigrejas locais, nenhuma igreja pode tomar rumopróprio com base no individualismo e,aproveitando-se de sua independência, decidircoisas a seu bel-prazer. Cada uma deve, antes,cultivar relação com as demais, buscando a

    concordância delas e trabalhando com vistas aobem espiritual delas. Por outro lado, visto quecada uma é totalmente independente dasdemais, a decisão de uma igreja em dadalocalidade é absolutamente conclusiva. Não háinstância superior para a qual apelar; o tribunallocal é o supremo tribunal. Não há organizaçãoa cujo controle ela deva submeter-se, nem háorganização sobre a qual exerça controle. Elanão tem superiores nem subordinados. Sealguém é recebido ou recusado por uma igrejalocal, o juízo dela sobre a questão deve ser

    considerado, absolutamente decisivo. Mesmoque a decisão esteja errada, tudo o que se podefazer é apelar que se reconsidere o caso. Aigreja local é a suprema autoridade eclesiás-tica. Se outras igrejas fizerem objeção àsdecisões dela, tudo o que podem fazer é recorrera persuasão e exortação. Não há caminhoalternativo, pois a relação que existe entre asigrejas é puramente espiritual, e não oficial.

    Se um irmão que foi disciplinado em Nanquimmuda-se para Soochow e ali prova ser inocente

    das acusações que pesam contra ele, nesse casoSoochow tem plena autoridade de recebê-lo, adespeito do juízo de Nanquim. Soochow éresponsável por suas ações perante Deus, e nãoperante Nanquim. Soochow é uma igrejaindependente e, portanto, tem plena autoridadepara agir como melhor lhe aprouver. Mas, porcausa da correlação espiritual que tem comNanquim, é bom que o irmão em questão nãoseja acolhido antes de se apontar para Nanquimo engano que ela cometeu ao julgá-lo daquelaforma. Se a relação de Nanquim com o Senhor é

    correta, então ela prestará atenção ao queSoochow tem a dizer. Mas se ela recusar fazê-lo,Soochow não pode pressioná-la, pois, comoigreja local, Nanquim é diretamenteresponsável perante o Senhor somente, e templena autoridade de decidir e agir indepen-dentemente de Soochow. Se as igrejas sãoespirituais, não há dificuldade na relação entreelas. Mas se não são, e surgem dificuldades, nãodevemos buscar resolvê-las interferindo naindependência delas, pois isso foi ordenado porum Deus plenamente sábio.

    A organização de uma igreja não é superior à deoutra, nem a sua autoridade maior. Muitoscristãos consideram Jerusalém a igreja matriz,que possui autoridade suprema, mas tal conceitotem origem na mente humana, e não na Palavra

    divina. Toda e qualquer igreja é localmentegovernada e diretamente responsável peranteDeus, e não perante outra igreja ou organi-zação. Uma igreja local é a suprema instituiçãocristã na terra. Não há nenhuma outra acimadela a quem se possa apelar. Uma igreja local é amais inferior unidade bíblica, mas é também asuprema organização bíblica. As Escrituras nãogarantem nenhuma centralização em Roma que

    lhe possa dar autoridade sobre outras igrejaslocais. Essa é a salvaguarda divina contra toda equalquer infração dos direitos de Seu Filho.Cristo é a Cabeça da Igreja, e não há outracabeça no céu ou na terra.

    Deve haver correlação espiritual entre as igrejasse se quiser preservar o testemunho do Corpo,porém deve ao mesmo tempo haver absolutaindependência de governo se se quiser manter otestemunho da Cabeça. Cada igreja está sujeitaao controle imediato de Cristo, e é direta-

    mente responsável somente perante Ele.

    Por que, então, quando surgiu uma questãosobre a circuncisão, Paulo e Barnabé subiram a Jerusalém para ver os apóstolos e presbíterosali? É porque os que eram responsáveis peloensinamento errôneo em Antioquia haviamdescido de Jerusalém. Jerusalém era o lugar ondeoriginou-se o problema; portanto, era para Jerusalém que os apóstolos foram a fim desolucioná-lo. Se um menino fosse pego ao fazertravessura, nós o informaríamos ao pai dele. Ao

    ir para Jerusalém, Paulo e Barnabé conduziram ocaso aos que tinham controle dos irmãos quecriaram o problema, e, uma vez que levaram aquestão à fonte responsável, houve soluçãorápida. Os presbíteros em questão não eram ospresbíteros em Jerusalém, mas os presbíteros de  Jerusalém; e os apóstolos não eram os apóstolosde  Jerusalém, mas os apóstolos em  Jerusalém.Os presbíteros representavam a igreja; osapóstolos, a obra. Paulo e Barnabé relataram aquestão aos apóstolos e presbíteros, pois osapóstolos eram responsáveis por ensinar nas

    igrejas, e os presbíteros, por toda e qualquerdecisão acerca de questões locais. Quando osapóstolos e presbíteros repudiaram aresponsabilidade acerca do ensinamentopropagado por esses irmãos causadores deproblemas que desceram de Jerusalém, Paulo eBarnabé, ao visitar vários lugares mais tarde,puderam mostrar às igrejas "os decretos quehaviam sido estabelecidos pelos apóstolos eanciãos em Jerusalém" (At 16:4-VRC). Nãodevemos inferir que os presbíteros de Jerusalémtinham autoridade sobre as igrejas, mas apenas

    que eles, bem como os apóstolos, repudiaram osensinamentos dos que haviam saído do meiodeles. Além disso, em Jerusalém, algunsapóstolos ocupavam cargo duplo: de presbíteroe de apóstolo.

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    COMO PRESERVAR O CARÁTERLOCAL DAS IGREJAS

    Visto que as igrejas de Deus são locais, temos detomar cuidado a fim de lhes preservar o caráterlocal, bem como a esfera e os limites locais. Umavez que uma igreja perde um desses itens, eladeixa de ser bíblica. Duas coisas demandamespecial atenção se queremos salvaguardar a

    natureza local das igrejas.Em primeiro lugar, nenhum apóstolo deveexercer controle sobre uma igreja em caráteroficial.  Isso é contrário à ordenação de Deus edestrói a natureza local da igreja, impondo-lhe ocunho de ministro extra-oficial. Nenhumapóstolo tem a autoridade de estabelecer umaigreja particular em lugar algum. A igrejapertence à localidade, e não ao obreiro. Quando as pessoas são salvas por meio de umhomem, elas pertencem à igreja no lugar em que

    vivem, e não ao homem por meio de quemforam salvas, nem à organização que elerepresenta. Se uma ou mais igrejas são fundadaspor certo apóstolo, e ele exerce autoridade sobreelas como se pertencessem a ele ou à sociedadedele, essas igrejas tornam-se facções, pois não éna base da diferença de localidade que elas seseparam de outros cristãos (salvos por meio deoutros apóstolos), e, sim, na base da diferençade quem foi usado para a salvação. Assim osapóstolos se tornam cabeças de váriasdenominações, e o âmbito deles torna-se o

    âmbito de suas respectivas denominações,enquanto as igrejas sobre as quais eles exercemcontrole tornam-se facções, cada qual com acaracterística particular do seu líder, e não deuma igreja local.

    A Epístola aos Coríntios traz luz sobre esseassunto. Havia divisão entre os crentes emCorinto simplesmente porque deixaram deperceber o caráter local da igreja e buscaramfazer de vários apóstolos (Paulo, Apolo e Cefas)a base de sua comunhão. Se tivessem entendido

    a base ordenada por Deus para a divisão daIgreja, jamais teriam dito: "Eu pertenço a Paulo",ou: "Eu pertenço a Apolo", ou ainda: "Eu pertençoa Cefas" pois, a despeito de seu amor especialpor determinados líderes, eles teriampercebido que não pertenciam a nenhumdeles, e, sim, à igreja na localidade em queviviam.

    Nenhum obreiro pode exercer controle sobreuma igreja ou atrelar a ela o seu nome ou onome da sociedade que representa.  A

    desaprovação divina sempre incidirá sobre "aigreja de Paulo", ou "a igreja de Apolo", ou ainda"a igreja de Cefas". Na história da Igrejafreqüentemente ocorreu que, quando Deus deuluz especial ou experiência a uma pessoa, essapessoa ressaltou essa verdade em particular a

    ele revelada ou por ele experimentada, e reuniuà volta de si pessoas que apreciavam o seuensinamento. O resultado disso é que o líder, oua verdade que ele ressaltava, tornou-se a baseda comunhão. Assim as facções semultiplicaram. Se o povo de Deus pudesseapenas ver que o objeto de todo o ministério é afundação de igrejas locais, e não o agrupamentode cristãos ao redor de um indivíduo, ou de uma

    verdade, ou de uma experiência, ou ainda deuma organização específica, então a formaçãodas facções seria evitada. Nós, que servimos aoSenhor, devemos estar dispostos a abandonaro nosso apego por todos aqueles a quemministramos, e deixar que todos os frutos denosso ministério passem para as igrejaslocais governadas inteiramente por irmãoslocais.  Temos de ser escrupulosamentecuidadosos em não deixar a cor da nossapersonalidade destruir o caráter local da igreja, edevemos sempre servir a igreja, sem jamais

    controlá-la. Um apóstolo é servo de todos emestre de ninguém. Nenhuma igreja pertence aum obreiro; pertence à localidade. Se os que têmsido usados por Deus através da história daIgreja vissem claramente que todas as igrejas deDeus pertencem às suas respectivas localidades,e não a um obreiro ou a uma organização usadapara fundá-las, então não teríamos tantasdenominações hoje.

    Outra coisa essencial para a preservação docaráter local da igreja é que a sua esfera não

    pode tornar-se maior do que a esfera dalocalidade. O método corrente de ligar gruposcristãos de diversos lugares que têm os mesmospontos de vista doutrinários e ajuntá-los numaigreja, não tem fundamento bíblico. O mesmo seaplica ao costume de considerar uma missão ocentro, vinculando todos os que são por elasalvos e ajudados, a fim de formar uma "igreja"dessa missão. Tais igrejas, por assim dizer, sãona verdade facções, pois estão confinadas peloslimites de um credo específico, ou de umamissão em particular, e não pelos limites, e nos

    limites, de uma localidade.A razão de Deus não aprovar o estabelecimentode igrejas que ajuntam grupos de cristãos emvários lugares é que a base divinamenteordenada para a formação de igrejas é, dessemodo, destruída. Toda e qualquer "igreja"formada tendo por centro uma missãocertamente será algo mais do que local, poisonde quer que haja um centro, há também umacircunferência; e se o centro da igreja é umamissão, obviamente a circunferência não é a

    esfera bíblica da localidade, mas a esfera damissão. Isso claramente carece da característicade uma igreja, e só pode ser considerada umafacção. No propósito de Deus, Jesus Cristo é ocentro de todas as igrejas, e a localidade é acircunferência. 

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    Sempre que um líder em especial, ou umadoutrina específica, ou algumas experiências, ouum credo, ou uma organização, torna-se umcentro que atrai cristãos de vários lugares,então, visto que o centro de tal federação deigrejas não é Cristo, acontece que a sua esfera,ou circunferência, será algo mais do que local. Esempre que a esfera divinamente designada dalocalidade é substituída por uma esfera de

    invenção humana, a aprovação divina não podeali repousar. Os cristãos em tal esfera podem defato amar ao Senhor, mas têm outro centro quenão é Ele, e é mais que natural que o segundocentro se torne o que controla. É contrário ànatureza humana ressaltar o que temos emcomum com outros; sempre enfatizamos o que énosso em particular. Cristo é o centro comumde todas as igrejas, mas todo e qualquergrupo de cristãos que tenha um líder, umadoutrina, uma experiência, um credo, ou umaorganização como seu centro de comunhão,

    descobrirá que esse centro se torna o centro,e é esse o centro pelo qual eles determinamquem pertence a eles e quem não pertence. Ocentro sempre determina a circunferência, aesfera, e o segundo centro cria uma esfera quedivide os que se ligam a ele dos que não seligam.

    Tudo que se torna um centro unificador doscristãos de vários lugares criará uma esfera queinclui todos os cristãos que se ligam a essecentro e exclui todos os que a ele não se ligam.

    Essa linha divisória destruirá o limitedivinamente ordenado da localidade, econseqüentemente destruirá a própria naturezadas igrejas de Deus. Por isso, os filhos de Deustêm de ver que não têm um centro de união quenão seja Cristo, pois uma união de cristãos queexceda a localidade em torno de um centro quenão seja o Senhor faz crescer a esfera dacomunhão para além do limite da localidade, eassim se perde a característica específica dasigrejas de Deus. Não há igrejas nas Escriturasque não sejam locais!

    OS BENEFÍCIOS DA INDEPENDÊNCIA

    O método divino de fazer da localidade a linhademarcatória entre as igrejas tem váriasvantagens óbvias:

    1) Se cada igreja é governada localmente, e todaa autoridade está nas mãos dos presbíteroslocais, não há espaço para um falso profetacapaz e ambicioso exibir seu talento organiza-dor, juntando vários grupos de cristãos numa

    vasta federação, e assim satisfazer sua ambiçãoconstituindo-se a cabeça dela. Roma jamaispoderia exercer o poder que exerce hoje se asigrejas de Deus tivessem mantido sua base local.Onde as igrejas não são afiliadas, e onde aautoridade local está nas mãos dos presbíteros

    locais, é impossível haver um papa. Onde háapenas igrejas locais, não pode haver IgrejaRomana. É a federação de vários grupos decristãos que trouxe tais males como intrometerpolítica na Igreja de Deus. Há poder numa"igreja" confederada, mas é poder carnal, e nãoespiritual. O pensamento de Deus para a SuaIgreja é que ela deve ser como um grão demostarda na terra, cheia de vitalidade,

    contudo raramente notada. Foi a federação queconduziu a Igreja de hoje à condição de Tiatira.A falha do protestantismo é que ele substituiu aIgreja de Roma pelas igrejas organizadas (tantoas estatais como as dissidentes), em vez devoltar as igrejas locais divinamente ordenadas.

    2) Além disso, se as igrejas retiverem o caráterlocal, a propagação de uma heresia ou erro seráevitada, pois se uma igreja for local, as heresiase erros serão locais também. Roma é umaesplêndida ilustração do lado oposto dessa

    verdade. O erro católico romano tem prevalecidopor causa da federação católica romana. A esferadas igrejas federadas é vasta; por conseguinte, oerro é bem difundido. É comparativamentesimples manter um erro em quarentena numaigreja local, mas isolar um erro numa vastafederação de igrejas é outro assunto.

    3)  A maior vantagem de ter a localidade comolimite das igrejas é que isso obstrui todapossibilidade de facção. Talvez você tenha suasdoutrinas especiais e eu as minhas, mas

    enquanto mantivermos o caráter bíblico dasigrejas fazendo da localidade a única linhadivisória entre elas, será impossível queestabeleçamos uma igreja a fim de propagarnossas crenças particulares. Enquanto umaigreja preservar seu caráter local, ela estaráprotegida contra o denominacionalismo, masassim que perdê-lo ela dará uma guinada emdireção ao sectarismo. Um cristão é facciosoquando pertence a alguém ou a algo que nãoseja o Senhor e a localidade. As facções edenominações só podem ser estabelecidas

    quando o caráter local da igreja é destruído.Em Sua sabedoria, Deus decretou que todas asSuas igrejas sejam locais. Esse é o método divinode salvaguardá-las das facções. Obviamente, issosó pode proteger a Igreja contra o sectarismo naexpressão. Ainda é possível que um espíritofaccioso exista numa igreja não facciosa, esomente o Espírito de Deus pode lidar com isso.Que todos aprendamos a andar segundo oEspírito e não segundo a carne, para que, tantona expressão exterior como na condição interior,

    as igrejas de Deus Lhe sejam agradáveis.

    A Vida Cristã Normal da IgrejaPágs.96/104