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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O papel dos nutrientes na alimentação de jovens: o uso de uma
sequência didática sobre a temática
FABRÍCIA ELENARA CASARINI SALLES
ORIENTADORA: PROFESSORA MARIA ESTHER DE ARAÚJO CO-ORIENTADORA: PROFESSORA GISELLE BÖGER BRAND
Ribeirão Preto 2015
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O papel dos nutrientes na alimentação de jovens: o uso de uma sequência
didática sobre a temática
Fabrícia Elenara Casarini Salles
Trabalho de conclusão de curso apresentado à AVM Faculdades Integradas como requisito parcial para obtenção do título de pós-graduado em Saúde da Família. Orientadora: Professora Maria Esher de Araújo Co-orientadora: Professora Giselle Böger Brand
Ribeirão Preto 2015
AGRADECIMENTOS
Agradeço á Deus que me deu força para
realização de mais um trabalho e esteve
sempre ao meu lado.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha filha Laura que
nasceu no meio do curso, ao meu marido
Eduardo e ao meu colega de trabalho,o
dentista João, que sempre me incentivou a
fazer o curso.
RESUMO
A alimentação balanceada deveria ser a base da dieta alimentar dos jovens. Contudo, o que acontece é exatamente ao contrário, verifica-se um consumo excessivo de açucares, sódio e gorduras. Um aspecto bastante importante é que enquanto parte da população de adolescentes faz consumo de alimentos pobres em nutrientes e ricos em gorduras, outra parte da população possui pouca ou nenhuma quantidade de comida. A desnutrição é uma das possíveis causas do fracasso escolar de muitos adolescentes, visto que a alimentação interfere diretamente no desenvolvimento e crescimento do Sistema Nervoso Central. As intensas transformações da adolescência comprometem o comportamento alimentar que muitas vezes é influenciado pela mídia. Por outro lado, a obesidade é uma epidemia mundial que cresce continuamente. Conclui-se que o consumo de frutas e hortaliças é muito baixo quando comparado ao indicado pela Organização Mundial de Saúde. Propostas de intervenção, sobretudo no campo do Programa de Saúde da Família devem ser realizadas no sentido de propor espaços para que os adolescentes possam compartilhar experiências e com isso encontrar alternativas a partir do grupo de iguais. Palavras-chave: adolescência, nutrição, Programa de Saúde da Família.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................07
2. METODOLOGIA..............................................................................................09
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................10
3.1. Alimentação Saudável..........................................................................10
3.2. Alimentação Saudável X Desempenho Escolar...................................15
3.3. Alimentação dos Jovens Atualmente....................................................20
4. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................26
5. WEBREFERENCIA ........................................................................................27
INTRODUÇÃO
A adolescência pode ser descrita como um período evolutivo bastante
peculiar ao ser humano, culminando no processo de maturidade biopsicossocial do
indivíduo. De acordo com Osorio (1989), a adolescência marca um momento crucial
de desenvolvimento do indivíduo, sobretudo no que diz respeito à imagem corporal
definitiva.
A adolescência pode ser descrita, de acordo com Gambardella, Frutuoso e
Franch (1999, p. 56), como:
A adolescência, do latim adolescere (crescer) é um período de varias mudanças que acontece entre os 10 e 20 anos de idade, marcado por transformações físicas aceleradas e características da puberdade, diferentes do crescimento e desenvolvimento que ocorrem em ritmo constante na infância. Essas alterações são influenciadas por fatores hereditários, nutricionais e psicológicos.
Durante a adolescência, ocorrem intensas transformações que são
influenciadas por hábitos familiares, amizades, valores e regras sociais e culturais,
condições socioeconômicas, além de experiências individuais (LEVY et al, 2010).
As transformações na adolescência têm efeitos sobre o comportamento
alimentar, sendo que a família tem papel fundamental neste momento, pois na
maioria das vezes, é a responsável pela compra e preparo dos alimentos e, dessa
forma, transfere os hábitos alimentares familiares para o adolescente
(GAMBARDELLA, FRUTUOSO, FRANCH, 1999).
Observa-se que os adolescentes, muitas vezes, possuem hábitos alimentares
solidificados pela família, sobretudo em relação a alimentação saudável. De certa
forma, se a família possui hábitos alimentares mais adequados, espera-se que este
adolescente também possua hábitos mais saudáveis, contudo se os hábitos
familiares forem menos saudáveis, como consequência, os adolescentes terão
atitudes em relação a comida menos saudáveis.
De acordo com Levy et al (2010), estudos recentes têm apontado que os
hábitos alimentares dos adolescentes são pouco saudáveis, sobretudo, nos jovens
que vivem em camadas econômicas mais favorecidas, e que por consequência,
possuem maior acesso a informação e alimentos. De maneira geral, a dieta dos
jovens é baseada em bastante gordura, açucares e sódio, tendo uma pequena
expressão o consumo de hortaliças e frutas. Nas famílias mais pobres identifica-se
um consumo maior e mais frequente de arroz e feijão.
Com certa frequência observa-se a substituição da refeição por alimentos
pouco nutritivos como salgados, pães e bolachas, ou seja, alimentos de fácil acesso,
sem preocupação com seu preparo e que somente possuem grande numero de
calorias.
Com isso, observa-se que os adolescentes não dão muita importância para os
hábitos alimentares, que muitas vezes podem ser a ponte para o desenvolvimento
de fatores de risco para doenças crônicas e obesidade, por exemplo
(GAMBARDELLA, FRUTUOSO, FRANCH, 1999).
A partir destas considerações, pode-se levantar a hipótese de que muitos
jovens podem adquirir problemas de saúde e escolares em função da pouca
qualidade dos hábitos alimentares. Com isso, este trabalho pretende compreender
se a utilização de um sequencia didática (SD) relacionada a uma alimentação
saudável pode influenciar no aprendizado dos adolescentes.
Para que se atinja o objetivo proposto foram trabalhados três capítulos ao
longo do trabalho. O primeiro capítulo abordou questões relacionadas à alimentação
saudável, bem como as possibilidades de alimentos ricos em vitaminas essenciais
para os adolescentes.
O segundo capítulo enfatizou a relação entre alimentação saudável e a
aprendizagem. Assim, foram identificados como a alimentação pode contribuir para
um melhor aproveitamento escolar, e ainda as implicações da baixa ingestão
alimentar para o desempenho acadêmico.
O último capítulo discutiu questões relacionadas à alimentação dos jovens na
atualidade, bem como o consumo de fast foods, refrigerantes e alto índice de
ingestão de sódio. Foram discutidas as implicações na mídia na alimentação dos
adolescentes.
Desta forma, este trabalho pode contribuir para que sejam feitas ações
efetivas que melhorem a alimentação dos jovens e assim, sejam evitados padrões
de comportamento alimentares que aumentem os fatores de risco associados a
doenças crônicas.
METODOLOGIA
A partir de um estudo empírico, e com base no levantamento e revisão
bibliográfica pretendeu-se discutir questões pertinentes à alimentação dos
adolescentes, enfatizando e conceituando a alimentação saudável e, ainda,
discutindo aspectos pertinentes a este tipo de trabalho para área da saúde.
A partir da temática foram selecionadas palavras chaves para a realização do
levantamento bibliográfico nas bases de dados SCIELO e de domínio público,
buscando delinear o conhecimento a respeito do assunto estudado. As palavras
chaves utilizadas foram: alimentação saudável e adolescentes. Os artigos foram
selecionados pela pesquisadora de acordo a contemplarem o objetivo proposto.
Discussões sobre a temática contextualizaram o trabalho na busca de reflexões para
o sucesso deste processo.
A partir dos materiais selecionados foram realizadas leituras e fichamentos,
que destacaram as principais contribuições encontradas segundo o interesse desta
pesquisa, articulando-as de modo a contextualizar e justificar sua realização.
CAPÍTULO I
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
A adolescência, como já foi mencionado acima, é um período caracterizado
por mudanças corporais e por impulsos de desenvolvimento emocional, social e
psicológico. Trata-se de um processo dinâmico que se inicia na vida intra-uterina,
modifica-se durante a infância, sempre em relação aos estímulos oferecidos pelo
meio ambiente e contexto social, terminando com a maturação sexual, definição da
personalidade, independência econômica e inserção em grupos sociais
(EISENSTEIN et al, 2000).
Em função deste dinamismo, funções como nutrição, crescimento e
desenvolvimento são fundamentais para todos os indivíduos:
(...) pois comer, crescer e desenvolver são fenomenos diferentes em sua concepção fisiológica, mas totalmente interativos, interdependentes e inseparáveis, expressando a potencialidade do ser humano. Por isso, essas mudanças de crescimento, maturação e diferenciação de tempo, forma e tamanho corporal tem sido tambem maracadas pelas transições históricas, culturais, políticas, socioeconômica, assim como pelas epidemias, múltiplas doenças, problemas ecológicos causados pela urbanização e industrialização, e também por avanços tecnológico e científicos da atual globalização (EISENSTEIN et al, 2000, p. S264).
Em função disso, as dificuldades para motivar o consumo alimentar saudável
têm sido amplamente estudadas, sendo que uma das grandes barreiras para a
mudança do consumo alimentar é a crença de que não existe a necessidade de
modificá-lo (TORAL et al, 2006).
Um estudo realizado com adolescentes apontou que, segundo suas próprias
percepções, uma das barreiras para uma alimentação saudável é o sabor e a
praticidade dos alimentos considerados menos saudáveis, como salgados e
refrigerantes. Outro aspecto pertinente, apontado na pesquisa é que estes alimentos
conhecidos como fast food não exigem habilidades culinárias, facilitando seu
consumo que, por sua vez, relaciona-se com outra barreira importante que é a falta
de tempo do adolescente (TORAL, CONTI, SLATER, 2009).
Os autores apontaram outros estudos que corroboram com a pesquisa:
Assim como observado neste estudo, Bauer et al. e Monge-Rojas et al. também identificaram que o acesso facilitado a alimentos de baixo valor nutricional e a qualidade da alimentação servida dentro do ambiente escolar foram citados como empecilhos para a adoção de uma alimentação saudável. No estudo de Gellar et al, o ambiente escolar também foi descrito como o local de maior exposição a alimentos pouco saudáveis. O reconhecimento dessa situação e a necessidade de serem estabelecidas condições propícias em âmbito nacional para a adoção de práticas alimentares nas escolas culminou na publicação da Portaria Interministerial nº. 1.010 32, que instituiu diretrizes para a promoção da alimentação saudável em todas as escolas do país (TORAL, CONTI, SLATER, 2009, p. 2391).
Isto pode acontecer em função da adolescência ser um momento onde as
relações são testadas ao extremo. Muitos conflitos permeiam o psiquismo do
adolescente, inclusive levantando questões relacionadas ao estigma do corpo. Com
isso, poucos adolescentes e familiares preocupam-se na quantidade de nutrientes
ingeridos durante o dia, bem como a sua importante relação com o desenvolvimento
físico e psíquico.
A adolescência é um período onde ocorre um acentuado crescimento físico,
sendo que o peso aumenta cerca de 50% e a estatura aproximadamente 15%. Este
crescimento acelerado vem acompanhado de alto desenvolvimento psicossocial e
intensa estimulação cognitiva, e por este motivo, o corpo precisa de nutrientes e
energia em quantidade elevada (CARVALHO et al, 2001).
O crescimento deve ser compreendido como um conjunto de mudanças que
resultantes de interações entre genótipos, características hereditárias e meio
ambiente. Pode ser um indicador de alimentação adequada, além de medir a saúde
do indivíduo e, ainda, é considerado um bom indicador socioeconômico
(EISENSTEIN et al, 2000).
Existem alguns limites adotados para avaliar os parâmetros do crescimento e
nutrição, além de alguns indicadores mais usados na adolescência:
Os limites cronológicos, por exemplo, permanecem flexíveis e confusos, de acordo com os costumes e as culturas locais. Para a Organização Mundial de Saúde, os limites cronológicos da adolescência são as idades entre 10 e 20 anos, e para a Organização das Nações Unidas, ocritério usado para fins estatísticos engloba o conceito de juventude (youth, termo usado em inglês) e as idades entre 15 e 24 anos4. Na maioria dos países, o conceito de maioridade do ponto de vista legal é estabelecido aos 18 anos, inclusive no Brasil. A lei 8.069 do Estatuto da Criança e do Adolescente define a adolescência como a faixa etária entre 12 e 18 anos (EISENSTEIN et al, 2000, p. S265).
Para avaliar o crescimento do adolescente usa-se indicadores
antropométricos, como altura para idade, peso para idade e peso para altura. Nos
dias atuais, o índice de Quetelet (massa corporal para idade ou peso/altura²),
também, tem sido utilizado para avaliar o crescimento, sobretudo em estados de
magreza, desnutrição, sobrepeso e obesidade socioeconômico (EISENSTEIN et al,
2000).
Alguns estudos desenvolvidos no Brasil apontaram que os adolescentes
consomem, em geral, excesso de gordura e açucares, e baixa ingestão de produtos
lácteos, frutas, hortaliças e alimentos ricos em proteínas e ferro (CARVALHO et al,
2001).
Uma das possíveis causas deste baixo consumo de produtos nutritivos é o
pouco ou nenhum tempo para preparo das refeições, e o grande consumo das fast
foods. Muitos jovens se arriscam em fazer alimentações sem valor nutricional e com
excesso de calorias, na busca de facilidade e representando pouca preocupação
com alimentação. Sabe-se que a adolescência é uma fase de extremos, e pode-se
observar uma conduta extremista, também, na alimentação, ou seja, ou o
adolescente consome alimentos sem nutrientes em excesso, ou faz dietas extremas,
ou em último caso, segue rigorosamente uma dieta nutricional em função da imagem
midiática.
Alguns estudos têm levantado a grande questão de como melhorar a
alimentação destes jovens, além de aprimorar os fatores que determinam o estado
nutricional, de crescimento e desenvolvimento. Dessa forma, há uma grande
necessidade de propiciar intervenções de baixo custo que possam atender grande
parte da população, estimulando o potencial de crescimento dos jovens
(EISENSTEIN et al, 2000).
Eisenstein et al (2000) descrevem a Pesquisa Nacional sobre Saúde e
Nutrição realizada em 1989, onde verificou-se que 54,7% dos jovens apresentavam
baixa estatura, 26, 3% tinham um déficit intelectual ponderal e 19% apresentava
sobrepeso.
Sichieri et al (2000, p. 229) afirmam do ponto de vista da alimentação
saudável, conforme recomendações para a população brasileira:
Sugere-se que as recomendações devem basear-se em alimentos mais do que em nutrientes. Assim, a Organização Mundial de Saúde, em publicação recente (9), sugere o estabelecimento de metas realísticas de consumo de alimentos específicos, sendo estes alimentos identificados em função dos nutrientes que se pretendam abranger.
As recomendações para a nutrição de adolescentes encontrada na literatura
apontam para o ajuste da dieta em relação à realidade social, além de uma
avaliação sobre individual sobre crescimento e desenvolvimento (EISENSTEIN et al,
2000).
Observa-se que muito deve ser feito para avançar nesta situação. No Brasil,
há pouco incentivo ao consumo de frutas, hortaliças e alimentos integrais. Grande
parte da população faz refeições cheias de sódio, açucares e gorduras.
Em relação às necessidades nutricionais na adolescência, Eisenstein et al
(2000) afirmam que:
• Energia: as necessidades calóricas podem varia de acordo com o sexo e a
idade, para o sexo feminino, o consumo máximo é de 2.200 kcal, enquanto
que para o sexo masculino é de 3.400 kcal. Estas necessidades também
podem ser calculadas com base na equação para taxa metabólica basal com
o acréscimo do fator de crescimento mais o de atividade por faixa etária;
• Proteínas: são estimadas em torno de 12% a 15% do total calórico para o
sexo feminino, e 15% a 20% para o sexo masculino. Deve-se considerar este
valor, sobretudo para adolescentes que se exercitam bastante e que fazem
constantemente dietas restritivas;
• Gorduras: as gorduras servem como uma fonte concentrada de energia, e
ainda como veículo para as vitaminas lipossolúveis e de graxos essenciais.
Durante o estirão, os adolescentes necessitam de muita energia, mas é
fundamental diminuir as porcentagens de gorduras totais saturadas e, com
isso, influenciar os benefícios dos lipídios na dieta. Por outro lado, o exagero
dos petiscos fora de hora podem, associados a comportamentos sedentários,
contribuir para a epidemia da obesidade;
• Carboidratos: principal fonte de energia, aproximadamente 55%da ingestão
calórica diária. Este tipo de alimento atua, principalmente, na saciedade
hipotalâmica, afetando a ingestão de alimento subsequente. É encontrado
nos doces, frutas e vegetais e liberam insulina, contudo a frutose é
metabolizada no fígado e, muitas vezes, responsável pelo aumento de peso
dos adolescentes;
• Minerais: na adolescência, a necessidade dos minerais é duplicada,
principalmente, em relação ao ferro, zinco e cálcio. Dietas restritivas podem
influenciar a mineralização óssea, podendo causar osteoporose, amenorreia e
atraso puberal. O conteúdo de cálcio depende da estatura, portanto,
adolescentes mais altos necessitam de maiores quantidades deste mineral. O
ferro, também, aumenta com o crescimento do músculo, e sua falta pode
comprometer o estirão puberal. O zinco, atualmente, tem sido associado a
retardo no crescimento, diminuição do paladar, além de queda de cabelos;
• Vitaminas: a necessidade de vitaminas está aumentada nesta idade, em
função do aumento do anabolismo do gasto energético. Algumas vitaminas
são fundamentais para o estirão como a vitamina A, C, D e do complexo B. A
deficiência de vitaminas pode ocorrer em adolescentes que não tem em seus
hábitos diários o consumo de frutas, vegetais, leites e cereais;
Dessa forma, pode-se afirmar que comer bem não significa comer muito ou
comer pouco, mas alimentar-se com todos os grupos de alimentos necessários para
a idade, fazendo escolhas saudáveis que mantenham o equilíbrio entre ganhos e
perdas calóricos e, com isso, garantir o crescimento e desenvolvimento adequado
(EISENSTEIN et al, 2000).
Para finalizar, devem-se propor algumas medidas importantes para o sucesso
e manutenção de um esquema alimentar saudável, como o acompanhamento do
desenvolvimento e crescimento dos jovens, a avaliação rotineira do estado
nutricional, adequando os hábitos alimentares de acordo com as necessidades
alimentares e, com isso, adaptando ao estilo de vida de cada individuo. O
profissional deve, ainda, considerar as principais doenças associadas aos jovens,
como desnutrição crônica, anorexia, bulimia, sobrepeso e obesidade (EISENSTEIN
et al, 2000).
A participação e colaboração em atividades comunitárias sobre orientações
em relação à alimentação devem ser priorizadas, sobretudo em grupos
populacionais mais vulneráveis. A capacitação das equipes de saúde deve ser
frequente e, ainda, deve ser promovida a participação direta com os adolescentes,
promovendo, assim, uma rede de apoio e atenção social (EISENSTEIN et al, 2000).
O trabalho realizado junto a população tem reflexo direto na melhoria da
condição alimentar das pessoas. As ações podem ser desenvolvidas em Unidades
de Saúde da Família, onde a relação entre equipe e comunidade está mais intima,
de modo que as informações são mais bem aceitas e realizadas pelas famílias. O
contato mais próximo da equipe de saúde com o paciente favorece o vínculo
terapêutico que propicia avanços significativos nas ações de saúde propostas pelo
Programa.
CAPÍTULO II
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL X DESENVOLVIMENTO ESCOLAR
De acordo com Fisberg et al (1997), as estatísticas de mortalidade e
morbidade apontam que o binômio desnutrição-infecção como o principal
responsável pelas condições desfavoráveis da saúde da população brasileira. Todo
dia, no Brasil morrem aproximadamente 1.000 crianças entre 1 e 6 anos por
desnutrição e, ainda, das que sobrevivem cerca de 50% sofre de subnutrição.
Durante o primeiro ano de vida, o crescimento é acelerado, sobretudo o
cerebral, deixando as crianças extremamente vulneráveis aos efeitos da
desnutrição. Desse modo, para que isso não aconteça é fundamental uma
alimentação adequada, que forneça todos os nutrientes para a criança (FISBERG et
al, 1997).
Neste momento, a intervenção médica na saúde alimentar do bebê, sobretudo
em relação a amamentação materna contribuem para um melhor desenvolvimento
global do bebê. A avaliação médica adequada sobre a necessidade de complemento
lácteo durante o período destinado a amamentação exclusiva é de grande
importância, bem como a orientação à mãe em relação a introdução alimentar
sólida. Sabe-se que uma boa orientação associada ao cuidado da mãe em relação
ao primeiro ano de vida do bebê são fundamentais para boas experiências futuras
da criança e do adolescente em relação a comida.
Dantas (1979) aponta a definição de Ana Maria Popovic de que existe uma
“marginalização cultural” que engloba aspectos ambientais que atuam nos níveis
socioeconômicos mais baixos e desencadeiam um fracasso vital dos indivíduos. É
evidente que a desnutrição ocorre com mais frequência em camadas menos
privilegiadas, sendo que esta população também apresenta um alto índice de
fracasso escolar.
Alternativas alimentares devem ser sugeridas às mães no sentido de
contribuir para o desenvolvimento global da criança, de modo que não tenham
interferências na sua aprendizagem escolar. A proximidade com a mãe e a equipe
contribuem para o sucesso deste trabalho.
O reconhecimento e os estudos em relação aos efeitos da desnutrição sobre
o desenvolvimento psíquico do individuo tem sido motivo para diversos estudos.
Alguns estudiosos, a partir de experimentos em animais, puderam comprovar que a
privação severa alimentar nos primeiros anos de vida de um indivíduo tem relação
direta com a maturação biológica, e consequente capacidade de aprendizagem
(DANTAS, 1979).
Alguns estudos realizados em países da América Latina têm apontado
anemias nutricionais causadas, sobretudo, por deficiência de ferro, vitamina B12 e
ácido fólico. Contudo, verifica-se que grande parte dos problemas que afetam o
crescimento das crianças acontece nas classes menos privilegiadas, com situação
econômica desfavorável. Isso faz com que os estudos compreendam a desnutrição
como uma doença social (FISBERG et al, 1997).
No Brasil, a maioria das crianças com idade entre 1 e 6 anos alimentam-se
em creches e escolas. As creches passaram a suprir questões relacionadas ao
desenvolvimento total da criança que vão desde a alimentação, passando pelos
cuidados com higiene pessoal, até o desenvolvimento da autonomia e segurança
(FISBERG et al, 1997).
O Governo deve ter como uma de suas prioridades a melhoria da alimentação
das crianças em creches, visto que, em muitas famílias, esta é a única fonte de
alimentação da criança. Políticas Públicas devem priorizar e favorecer a alimentação
adequada dentro do ambiente escolar.
A desnutrição pode e deve ser considerada um dos problemas mais graves
do Brasil, e um dos principais problemas relacionados ao rendimento escolar.
Sawaya (2006) aponta que estudos demonstraram que na década de 1950
aproximadamente 50% das crianças estudantes da primeira série eram reprovadas.
Alguns testes de inteligência e ausência de comportamentos esperados para a idade
fizeram com que se levantasse a hipótese da desnutrição ser a consequência destas
dificuldades escolares.
Neste momento, deve-se fazer uma distinção entre fome e desnutrição:
A fome é a necessidade básica de alimento que, quando não satisfeita, diminui a disponibilidade de qualquer ser humano para as atividades cotidianas e também para as atividades intelectuais. Porém, uma vez satisfeita a necessidade de alimentação, cessam todos os seus efeitos negativos, sem quaisquer seqüelas. A desnutrição, por sua vez, ocorre quando a fome se mantém em intensidade e tempo tão prolongados, que passam a interferir no suprimento energético do organismo. Para manter seu metabolismo em funcionamento, o corpo adota uma série de medidas
de “contenção de gasto”. Nos casos mais leves (a chamada desnutrição grau I ou leve), o organismo diminui a taxa de crescimento: o corpo mantém todo o metabolismo normal à custa do sacrifício na velocidade de crescimento (SAWAYA, 2006, p. 135).
Malta et al (1998) corrobora com a ideia de Sawaya e descreve que, dentre os
fatores responsáveis pelo baixo rendimento escolar está a desnutrição que age de
forma direta no cérebro podendo modificar sua estrutura bioquímica ou anatômica
resultando, assim, em baixa resposta da criança ao ambiente e consequente
lentidão para questões relacionadas ao aprendizado.
Com isso, na criança:
Todas as funções corticais mudam sua expressão clínica de acordo com a faixa etária, acompanhando o amadurecimento cerebral, o que faz com que o exame das funções corticais seja dinâmico, como é o desenvolvimento da criança. A maturidade cerebral depende da idade da criança. Caso essa maturidade não tenha sido adquirida plenamente, as funções neurológicas estarão alteradas (GUARDIOLA, EGEWARTH, ROTTA, 2001, P. 190).
Para que aconteça o pleno desenvolvimento e crescimento cerebral, a criança
deve ser bem nutrida. A nutrição é um fator que afeta o crescimento, saúde e
desenvolvimento da criança, principalmente da gestação até o segundo ano de vida,
onde há maior risco de dano permanente (GUARDIOLA, EGEWARTH, ROTTA,
2001).
Os autores corroboram com a ideia de que a criança mal nutrida terá como
uma das consequências o fracasso escolar, em função do atraso no
desenvolvimento do sistema nervoso central que a desnutrição pode ocasionar
(GUARDIOLA, EGEWARTH, ROTTA, 2001).
Abreu (1995, p. 9) afirma que a fome, que é uma condição transitória,
interfere diretamente na aprendizagem da criança e adolescente por uma “questão
fisiológica relacionada à concentração sobre uma necessidade primaria e do próprio
déficit energético”.
Deve-se repensar a questão da avaliação diagnóstica médica para explicar
problemas de ordem educacional. Observa-se que o baixo rendimento escolar, tem
levado, muitas crianças a realizarem tratamentos psiquiátricos e, por isso,
destinadas a atendimentos especializados por condutas inadequadas de
comportamento, ou então, observa-se classes apáticas e confusas em função do
uso de medicações sem que se tenha um diagnóstico comprovado (SAWAYA,
2006).
Deve-se remeter a epidemiologia social, em que não se pode deixar de lado
as condições de vida do indivíduo, e como elas interferem nas relações que estes
estabelecem com os grupos sociais que pertencem. Assim, é necessário propor um
atendimento integrado e contínuo, a partir da lógica do paciente e dos sentidos
produzidos nesta relação.
Alguns fatores podem ser considerados como causas dos índices de
desnutrição e pobreza, como o pouco recurso cognitivo materno, problemas
familiares e pouca estruturação familiar (SAWAYA, 2006).
Diante disto, a merenda escolar não pode ser vista como a solução do
problema da desnutrição no Brasil, pois é uma forma de alimentar e nutrir o
adolescente enquanto está na escola. Contudo, no Brasil, a merenda escolar pode
ser a única refeição do dia daquele adolescente, e frente a isso a merenda pode
influenciar no rendimento escolar, pois o adolescente não sente fome durante o
período na escola e assim, aumenta sua capacidade de aprendizado (ABREU,
1995).
Moyses e Colares (1995) apontam que de acordo com a UNESCO, o Brasil
apresenta o pior desempenho em todo mundo. Alguns trabalhos realizados na
década de 1990 confirmam esta teoria descrevendo que o tempo médio de
permanência na escola fundamental é de 8,6 anos, e o tempo médio para completa-
lo é de 11,7 anos.
Segundo Mafioletti (2001), a característica mais marcante da pobreza
brasileira é o baixo índice educacional que limita, dentre outras coisas, o acesso a
um trabalho mais qualificado com melhor remuneração. A autora afirma que, entre
os adolescentes, a frequência escolar vem crescendo consideravelmente.
Alguns estudos apontam que o estado nutricional da família está intimamente
ligado a renda e ao tamanho da família, de modo que as deficiências nutricionais
podem possibilitar o desenvolvimento de distúrbios físicos e mentais que influenciam
a capacidade de aprendizagem escolar (MALFIOLETTI, 2001).
Sawaya (2006, p. 141) aponta que não se pode deixar de lado a importância
da pobreza na vida das pessoas, no entanto, deve-se legitimar ações sociais que
possibilitem a construção de recursos para estas pessoas:
Longe de afirmar que a miséria não tem efeitos devastadores sobre a vida dos indivíduos, estamos chamando atenção tanto para os mecanismos de exclusão social, como também para as estratégias utilizadas pelas famílias pobres na sua luta diária para sobreviver e ter uma vida digna. A compreensão dos processos sociais que geram exclusão e das formas de enfrentar condições adversas de vida das famílias de camadas populares deve ser, nessa perspectiva, o ponto de partida para as ações sociais de combate à pobreza e à desnutrição.
Nas últimas décadas houve uma melhora na taxa de desnutrição em crianças
com menos de 5 anos. Isto pode ser explicado aos serviços de saúde que
diminuíram a taxa de desnutrição melhorando o acesso ao serviço (SAWAYA, 2006).
Não se pode esquecer a importância da família no processo de nutrição da
criança e do adolescente. Em relação ao adolescente pode-se afirmar que alguma
condição tem interferência direta no estado nutricional, segundo Jacobson, Eisentein
e Coelho (1998), como:
• A ingestão de conteúdo alimentar inadequado;
• Condição socioeconômica;
• Doenças nutricionais específicas;
• Fatores psicossociais;
• Estilos de vida.
Dessa forma, uma das possibilidades de melhorar a nutrição de adolescentes
e consequentemente, melhorar os aspectos relacionados à aprendizagem escolar é
uma avalição nutricional feita por um profissional de saúde, como um médico do
Programa de Saúde da Família. Este atendimento em saúde tem como principio o
reconhecimento e a identificação das particularidades territoriais da comunidade e,
com isso, desenvolver uma dieta alimentar possível para aquela condição
socioeconômica específica.
As explicações da relação existente entre nutrição e aprendizagem devem
passar, necessariamente, pelo entendimento do processo de exclusão social e por
assim, orientar e direcionar as práticas e ações de saúde no Programa de Saúde da
Família. A proximidade com a população menos favorecida deve pautar o
planejamento de práticas, sobretudo na compreensão, por parte dos profissionais,
dos meios de como esta camada populacional contorna a fome e, assim, consegue
sobreviver. Para isso, uma das possibilidades é a construção de projetos que
propiciem aos profissionais de saúde a reflexão sobre os mecanismos institucionais
que podem gerar processos de exclusão social, e continuar com este ciclo viciante
(SAWAYA, 2006).
CAPÍTULO III
ALIMENTAÇÃO DOS JOVENS NA ATUALIDADE
Os fatores culturais e sociais estão relacionados ao ato de comer, pois
alimentar-se vai além de ingerir um alimento, perpassando sobre as relações
pessoais, sociais e culturais. Contudo, o ato de alimentar-se possui um conjunto de
rituais que são influenciados pela cultura. A identidade de um grupo social também é
expressa no ato de se alimentar.
De acordo com Mendes (2009, p. 22):
Os povos e os distintos grupos sociais expressam suas identidades também por meio da alimentação. A escolha dos alimentos, sua preparação e consumo estão relacionados com a identidade cultural – são fatores desenvolvidos ao longo do tempo, que distinguem um grupo social de outro e que estão intimamente relacionados com a história, o ambiente e as exigências específicas impostas ao grupo social pela vida do dia-a-dia (MENDES, 2009, p. 22).
O caráter social da alimentação se manifesta nas refeições familiares,
podendo criar espaços prazerosos ou não. A formação de gostos e hábitos
alimentares também pode ser moldado culturalmente, e podem interferir nas
preferencias por doces, salgados, azedos ou picante. O Brasil é o país que mais
consome açúcar no mundo (MENDES, 2009).
Nós comemos o que aprendemos a comer e, por isso, hábitos alimentares
familiares inadequados contribuem para implantar comportamentos alimentares
inadequados entre os adolescentes.
Dessa forma, de acordo com Ramos (2010, p. 8):
O hábito alimentar individual expressa a ligação cultural e social que este indivíduo estabelece com o meio em que vive. A escolha dos alimentos, a forma como são preparados, como são os momentos das refeições e onde são realizadas também são elementos importantes na definição do comportamento alimentar das pessoas e sua relação com os alimentos.
O processo de globalização reflete na alimentação contemporânea, conforme
aponta Mendes (2009). Pode-se observar o aumento do consumo do modelo
americano baseado na substituição de carboidratos complexos por carboidratos
simples, simbolizado pela expansão em ascensão das redes de fast food.
Os fast foods têm sido o maior fenômeno de consumo, sobretudo entre os
adolescentes, que acabam por adquiri hábitos de alimentar-se com sanduiches e
refrigerantes, em função da rapidez e praticidade (RAMOS, 2010).
Verifica-se que, muitos adolescentes, fazem refeições somente com
carboidratos, principalmente pelo baixo custo e fácil acesso. As pessoas têm a
crença de que uma alimentação equilibrada requer muito tempo de preparo, e
possuem alto custo.
Mendes (2009) aponta que tem sido realizado estudos epidemiológicos para
estimar a prevalência de obesidade entre crianças e adolescentes. O estudo
constatou que há uma prevalência de excesso de peso para meninos de 2,6% e
para meninas de 5,8%. Outra pesquisa nacional sobre nutrição e saúde realizada
em 1989, indicou que 54,7% dos adolescentes apresentaram peso adequado para
altura, 26,3% possuíam um déficit ponderal e 19% apresentaram peso acima do
esperado.
Conforme descrito por Ramos (2010, p. 9), os adolescentes estão mais
susceptíveis a comportamentos displicentes em relação à alimentação:
Alertam para a susceptibilidade dos adolescentes às deficiências nutricionais específicas e para o comportamento displicente com relação às conseqüências de suas práticas alimentares para a vida futura. Deve-se ressaltar, também, que a adolescência consiste em um período em que ocorrem, com extrema facilidade, mudanças e incorporação de novos hábitos na alimentação, sendo um momento decisivo na consolidação do hábito alimentar. A influência dos amigos sobre os adolescentes pode fazer com que estes adotem hábitos alimentares inadequados pela necessidade de serem aceitos nos grupos sociais.
Observa-se que no Brasil por conta do fast food, os padrões alimentares
estão se redelineando, apontando grandes prejuízos para a dieta alimentar. Com
isso, alimentos calóricos e produtos ricos em féculas, proteínas animais e lipídios
têm aumentado na dieta dos brasileiros, enquanto que ocorre a diminuição de
alimentos como laticínios, frutas e legumes frescos (MENDES, 2009).
Poucos estudos descrevem os hábitos alimentares dos brasileiros,
principalmente em relação ao adolescente, no entanto, um estudo feito em São
Paulo nos anos de 1974 a 2003 apontou um excesso do consumo de açúcar e
pouco consumo de frutas e hortaliças, aproximadamente 1/3 do estimado como ideal
pela Organização Mundial da Saúde (RAMOS, 2010).
Os poucos estudos podem ser reflexo da pouca importância direcionada a
esta situação pelo poder Público. A população, muitas vezes, utiliza de benefícios
concedidos pelo Governo para se comprar alimentos que não eram consumidos
anteriormente, como pizzas, deixando de consumir alimentos nutritivos, como frutas
e hortaliças.
As transformações que ocorrem na adolescência repercutem nos hábitos
alimentares, pois o processo de se alimentar implica em relações de amizades,
identificações de valores sociais, bem como adoção de hábitos e estilos de vida
(MENDES, 2009).
O consumo de alimentos ricos em gorduras, principalmente na adolescência
podem ser os responsáveis pelo aumento do tecido adiposo que se persistir na vida
adulta pode ser fator desencadeante de uma série de doenças como câncer de
colón, por exemplo (MENDES, 2009).
Vários autores pontam para o risco da obesidade na infância que pode ter
repercussões importantes na saúde na vida adulta:
A obesidade se caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura corporal a nível tal que a saúde possa ser prejudicada. Além de ser considerada como uma doença, é também fator de risco importante para diabetes mellitus tipoII, hipertensão arterial, dislipidemias, doenças cardiovasculares, osteoporose, entre outras, patologias que antes eram comuns somente em adultos ou idosos e que agora estão se manifestando em adolescentes (MENDES, 2009, p. 45).
A obesidade na infância e adolescência é considerada uma epidemia
mundial, tendo um aumento de prevalência de 50% na ultima década. Este fato deve
ser observado com cautela, visto que destes jovens, cerca de 50% se tornarão
adultos obesos (MENDES, 2009).
Uma das explicações para o alto índice de jovens obesos é o aumento do
sedentarismo associado a praticas alimentares nada saudáveis, conforme aponta
Toral, Slater e Silva (2007).
Poucos são os incentivos à atividade física na adolescência, visto que nesta
fase, os indivíduos optam por ficarem sedentários a participarem de alguma
atividade física. Este é um período bastante conturbado na vida dos indivíduos e
algumas situações podem contribuir para o sedentarismo, como o trabalho e a falta
de interesse por diversos motivos, como por não pertencer a um grupo que faz
atividade física:
Este fato chama a atenção para a necessidade de desenvolvimento de medidas que identifiquem, combatam e/ou controlem precocemente os desvios ponderais e nos propõe a pensar em ações de baixo custo e alta efetividade que devem ser tomadas para prevenir e contribuir para a melhoria deste quadro. Dentre elas, pode-se citar a diminuição do sedentarismo através do estímulo à prática de atividades físicas e, principalmente, a melhoria da qualidade alimentar dos adolescentes através do estímulo ao aumento do consumo de frutas, legumes e verduras e diminuição de alimentos ricos em gorduras e açúcares (MENDES, 2009, p. 48).
O comportamento alimentar dos adolescentes é fortemente influenciado pelo
grupo a qual pertence, não sendo apenas um reflexo de hábitos aprendidos na
família, mas de comportamentos adquiridos na escola e na mídia. A família pode,
em alguns momentos, participar da construção destes hábitos alimentares de forma
errônea, como forma de superproteção (MENDES, 2009).
A mídia tem forte influência sobre os hábitos alimentares dos jovens,
construindo imagens corporais ideais que valorizam o culto ao corpo, e por outras
vezes incentivando o consumo de alimentos calóricos e bem pouco nutritivos
(MENDES, 2009).
A indústria do marketing encontra no adolescente uma pessoa susceptível a
suas mensagens, oferecendo alimentos como mercadorias-símbolos. Isso é possível
devido ao tempo que o adolescente pode gastar entretendo-se em atividades que
destacam este tipo de marketing. A publicidade quase sempre é dirigida a produtos
supérfluos, fontes de calorias vazias, gorduras, óleos, açucares, sódio (MENDES,
2009).
Muitos são os prejuízos causados por uma exposição excessiva em frente a
televisão desde os estabelecimentos de hábitos alimentares pouco saudáveis,
passando pela influencia negativa dos veículos de comunicação para o
comportamento alimentar e culminando no aumento da possibilidade de desenvolver
a obesidade:
(...) a televisão exerce influência significativa no consumo alimentar — aumento de calorias vazias — e tal consumo é influenciado pela propaganda de alimentos veiculada. (...) o tempo que as crianças passam assistindo à TV representa um período de baixa atividade física, além de fator de competição com outras atividades de lazer em que se consumiria mais energia (ANSALONI, 2007, p. 13).
Atualmente, a alimentação dos jovens é baseada em grande quantidade de
lanches e fast food, comidas prontas, bolachas recheadas, salgadinhos
industrializados e refrigerantes, sendo que a ingestão de produtos lácteos, frutas e
hortaliças são bastante baixo.
Alguns estudos no Brasil descrevem características da alimentação dos
jovens. Carvalho et al (2001) afirmaram que, em Teresina (PI), os meninos
consomem mais alimentos energéticos (pizzas, lasanha) e construtores (frangos e
ovos) em relação as meninas.
Um estudo feito em Fernandópolis (SP) apontou que não fazer uma refeição é
uma pratica bastante comum entre os jovens, sobretudo o café da manhã. Durante o
intervalo escolar, a preferência é por alimentos como salgados, refrigerantes e sucos
artificiais (VIDOTTI, 2008).
Outro estudo foi realizado para estimar o consumo de fibras pelos jovens,
apontando dados alarmantes. A insuficiência de fibras consumidas pelas meninas foi
de 69% e dos meninos foi de 49% (VITOLO, CAMPAGNOLO, GAMA, 2007).
No Recife foi feito um estudo onde se verificou que o grupo de alimentos mais
consumido foi o de açucares e doces cerca de 90%, os óleos e gorduras foram
descritos como os preferidos, enquanto que o mais rejeitado foi o das hortaliças,
55,5%. Dos entrevistados aproximadamente 65% realizava as refeições em casa
com a família (XIMENES et al, 2006).
Estes estudos têm em comum a descrição de um quadro geral da
alimentação dos jovens em todo o país, ou seja, rica em alimentos gordurosos,
refrigerantes, salgados, doces e frituras, além de descreverem que a omissão de
uma refeição é uma prática bastante comum (MENDES, 2009).
De acordo com Mendes (2009), estudos apontam que o volume da ingestão
alimentar associado a qualidade e composição da dieta tem relação direta com a
obesidade. Dessa forma, o aumento continuo do tecido adiposo associado ao pouco
consumo de alimentos nutritivos, como frutas e hortaliças, e incrementados pelo
exagerado consumo de açucares e guloseimas são consequências das mudanças
no padrão alimentar.
A educação nutricional é um processo educativo que a partir de experiências
e conhecimento teórico tornam os sujeitos protagonistas do seu próprio
comportamento nutricional:
Do ponto de vista de importância, a educação nutricional é apontada como estratégia de ação, no campo da educação em saúde, a ser adotada prioritariamente em saúde pública para conter o avanço da ocorrência de doenças crônico degenerativa uma vez que a alimentação de má qualidade é considerada um fator de risco par inúmeras doenças (CAMOSSA, 2005, p. 249).
Dessa forma, o trabalho do Programa de Saúde da Família torna-se
fundamental para identificar e desenvolver ações que modifiquem o comportamento
alimentar do grupo de adolescentes daquela territorialidade, e assim, minimize o
risco do desenvolvimento de doenças futuras.
Ações podem ser desenvolvidas no sentido de proporcionar espaços onde os
jovens tenham voz ativa e possam construir juntos alternativas de sucesso para a
modificação deste comportamento. Os jovens se fortalecem a partir das experiências
dos outros jovens, uma vez que na adolescência há uma tendência a fazer parte do
grupo de iguais.
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