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7/17/2019 O Caminho Da Porta http://slidepdf.com/reader/full/o-caminho-da-porta 1/30 LITERATURA BRASILEIRA Textos literários em meio eletrônico O Caminho da Porta, de Machado de Assis Edição de referência: Teatro de Machado de Assis, de Machado de Assis Martins Fontes, 2003, São Paulo  CARTA A !UI"TI"O BOCAI#$A  Meu amio, !ou "u#licar as minhas duas com$dias de estr$ia% e não &uero fa'ê(lo sem conselho da tua com"etência) *+ uma crtica #en$-ola e carinhosa, em &ue tomaste "arte, consarou a estas duas com"osiç.es "ala-ras de lou-or e animação) Sou imensamente reconhecido, "or tal, aos meus coleas da im"rensa) Mas o &ue rece#eu na cena o #atismo do a"lauso "ode, sem incon-eniente, ser trasladado "ara o "a"el/ A diferença entre os dois meios de "u#licação não modifica o  u'o, não altera o -alor da o#ra/ 1 "ara a solução destas d-idas &ue recorro tua autoridade liter+ria) 4 u'o da im"rensa -iu nestas duas com$dias ( sim"les tentati-as de autor tmido e receoso) Se a minha afirmação não en-ol-e sus"eitas de -aidade disfarçada e mal ca#ida, declaro &ue nenhuma outra solução le-o nesses tra#alhos) Tenho o teatro "or coisa muito s$ria, e as minhas forças "or coisa muito insuficiente% "enso &ue as &ualidades necess+rias ao autor dram+tico desen-ol-em(se e a"uram(se com o tem"o e o tra#alho% cuido &ue $ melhor tatear "ara achar% $ o &ue "rocurei e "rocuro fa'er) 5aminhar destes sim"les ru"os de cenas ( com$dia de maior alcance, onde o estudo dos caracteres sea consciencioso e acurado, onde a o#ser-ação da sociedade se case ao conhecimento "r+tico das condiç.es do ênero ( eis uma am#ição "r6"ria de 7nimo  u-enil, e &ue eu tenho a imod$stia de confessar) E, tão certo estou da manitude da con&uista, &ue me não dissimulo o lono est+dio &ue h+ "ercorrer "ara alcanç+(la) E mais) Tão difcil me "arece este ênero liter+rio, &ue, so# as dificuldades a"arentes, se me afiura &ue outras ha-erão menos su"er+-eis e tão sutis, &ue ainda as não "osso -er)  At$ onde -ai a ilusão dos meus deseos/ 5onfio demasiado na minha "erse-erança/ Eis o &ue es"ero sa#er de ti) E dirio(me a ti, entre outras ra'.es, "or mais duas, &ue me "arecem e8celentes: ra'ão de estima liter+ria e ra'ão de estima "essoal) Em res"eito tua mod$stia, calo o &ue te de-o de admiração e reconhecimento) 4 &ue nos honra, a mim e a ti, $ &ue a tua im"arcialidade e a minha su#missão ficam sal-as da mnima sus"eita) Ser+s usto e eu d6cil% ter+s ainda "or isso o meu reconhecimento% e eu esca"o a esta terr-el sentença de um escritor: 9es amiti$s &ue ne r$sistent "as la franchise, -alent(elles un reret/9 Teu amio e colea, Machado de Assis)  

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Machado de Assis

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LITERATURA BRASILEIRATextos literários em meio eletrônico

O Caminho da Porta, de Machado de Assis

Edição de referência: Teatro de Machado de Assis, de Machado de Assis

Martins Fontes, 2003, São Paulo 

CARTA A !UI"TI"O BOCAI#$A 

Meu amio,!ou "u#licar as minhas duas com$dias de estr$ia% e não &uero fa'ê(lo sem conselho datua com"etência)*+ uma crtica #en$-ola e carinhosa, em &ue tomaste "arte, consarou a estas duas

com"osiç.es "ala-ras de lou-or e animação)Sou imensamente reconhecido, "or tal, aos meus coleas da im"rensa)Mas o &ue rece#eu na cena o #atismo do a"lauso "ode, sem incon-eniente, sertrasladado "ara o "a"el/ A diferença entre os dois meios de "u#licação não modifica o u'o, não altera o -alor da o#ra/1 "ara a solução destas d-idas &ue recorro tua autoridade liter+ria)4 u'o da im"rensa -iu nestas duas com$dias ( sim"les tentati-as de autor tmido ereceoso) Se a minha afirmação não en-ol-e sus"eitas de -aidade disfarçada e malca#ida, declaro &ue nenhuma outra solução le-o nesses tra#alhos) Tenho o teatro "orcoisa muito s$ria, e as minhas forças "or coisa muito insuficiente% "enso &ue as&ualidades necess+rias ao autor dram+tico desen-ol-em(se e a"uram(se com o tem"o e

o tra#alho% cuido &ue $ melhor tatear "ara achar% $ o &ue "rocurei e "rocuro fa'er)5aminhar destes sim"les ru"os de cenas ( com$dia de maior alcance, onde o estudodos caracteres sea consciencioso e acurado, onde a o#ser-ação da sociedade se caseao conhecimento "r+tico das condiç.es do ênero ( eis uma am#ição "r6"ria de 7nimo u-enil, e &ue eu tenho a imod$stia de confessar)E, tão certo estou da manitude da con&uista, &ue me não dissimulo o lono est+dio &ueh+ "ercorrer "ara alcanç+(la) E mais) Tão difcil me "arece este ênero liter+rio, &ue, so#as dificuldades a"arentes, se me afiura &ue outras ha-erão menos su"er+-eis e tãosutis, &ue ainda as não "osso -er) At$ onde -ai a ilusão dos meus deseos/ 5onfio demasiado na minha "erse-erança/ Eiso &ue es"ero sa#er de ti)

E dirio(me a ti, entre outras ra'.es, "or mais duas, &ue me "arecem e8celentes: ra'ão deestima liter+ria e ra'ão de estima "essoal) Em res"eito tua mod$stia, calo o &ue te de-ode admiração e reconhecimento)4 &ue nos honra, a mim e a ti, $ &ue a tua im"arcialidade e a minha su#missão ficamsal-as da mnima sus"eita) Ser+s usto e eu d6cil% ter+s ainda "or isso o meureconhecimento% e eu esca"o a esta terr-el sentença de um escritor: 9es amiti$s &ue ner$sistent "as la franchise, -alent(elles un reret/9

Teu amio e colea,Machado de Assis) 

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CARTA AO AUTOR

Machado de Assis,;es"ondo tua carta) Pouco "reciso di'er(te) Fa'es #em em dar ao "relo os teus"rimeiros ensaios dram+ticos) Fa'es #em, "or&ue essa "u#licação en-ol-e uma

"romessa e acarreta so#re ti uma res"onsa#ilidade "ara com o "#lico) E o "#lico tem odireito de ser e8iente contio) 1s moço, e foste dotado "ela Pro-idência com um #elotalento) 4ra, o talento $ uma arma di-ina &ue <eus concede aos homens "ara &ue estesa em"reuem no melhor ser-iço dos seus semelhantes) A id$ia $ uma força) =nocul+(la noseio das massas $ inocular(lhe o sanue "uro da reeneração moral) 4 homem &ue seci-ili'a, cristiani'a(se) >uem se ilustra, edifica(se) Por&ue a lu' &ue nos esclarece a ra'ão$ a &ue nos alumia a consciência) >uem as"ira a ser rande, não "ode dei8ar de as"irara ser #om) A -irtude $ a "rimeira rande'a deste mundo) 4 rande homem $ o homem de#em) ;e"ito, "ois, nessa o#ra de culti-o liter+rio h+ uma o#ra de edificação moral)<as muitas e -ariadas formas liter+rias &ue e8istem e &ue se "restam ao conseuimentodesse fim escolheste a forma dram+tica) Acertaste) 4 drama $ a forma mais "o"ular, a

&ue mais se ni-ela com a alma do "o-o, a &ue mais recursos "ossui "ara atuar so#re oseu es"rito, a &ue mais facilmente o como-e e e8alta% em resumo, a &ue tem meios mais"oderosos "ara influir so#re o seu coração)>uando assim me e8"rimo, $ claro &ue me refiro s tuas com$dias, aceitando(as comoelas de-em ser aceitas "or mim e "or todos, isto $, como um ensaio, como umae8"eriência, e, se "odes admitir a frase, como uma in+stica de estilo) A minha fran&ue'a e a lealdade &ue de-o estima &ue me confessas o#riam(me adi'er(te em "#lico o &ue + te disse em "articular) As tuas duas com$dias, modeladas aoosto dos "ro-$r#ios franceses, não re-elam nada mais do &ue a mara-ilhosa a"tidão doteu es"rito, a "rofusa ri&ue'a do teu estilo) ?ão ins"iram nada mais do &ue sim"atia econsideração "or um talento &ue se amaneira a todas as formas da conce"ção)

5omo lhes falta a id$ia, falta(lhes a #ase) São #elas, "or&ue são #em escritas) São-aliosas, como artefatos liter+rios, mas at$ onde a minha -aidosa "resunção crtica "odeser tolerada, de-o declarar(te &ue elas são frias e insens-eis, como todo o sueito semalma)<e#ai8o deste "onto de -ista, e res"ondendo a uma interroação direta &ue me diries,de-o di'er(te &ue ha-ia mais "erio em a"resent+(las ao "#lico so#re a ram"a da cenado &ue h+ em oferecê(las leitura calma e refletida) 4 &ue no teatro "odia ser-ir deo#st+culo a"reciação da tua o#ra, fa-orece(a no a#inete) As tuas com$dias são "araserem lidas e não re"resentadas) 5omo elas são um #rinco de es"rito "odem distrair oes"rito) 5omo não têm coração não "odem "retender sensi#ili'ar a ninu$m) Tu mesmoassim as consideras, e reconhecer isso $ dar "ro-a de #om crit$rio consio mesmo,

&ualidade rara de encontrar(se entre os autores)4 &ue deseo, o &ue te "eço, $ &ue a"resentes nesse mesmo ênero alum tra#alho maiss$rio, mais no-o, mais oriinal e mais com"leto) *+ fi'este es#oços, atira(te rande"intura)Posso arantir(te &ue con&uistar+s a"lausos mais con-encidos e mais duradouros)Em todo caso, re"ito(te &ue fa'es #em) Sueita(te crtica de todos, "ara &ue "ossascorriir(te a ti mesmo) 5omo te mostras des"retensioso, colher+s o fruto são da tuamod$stia não finida) Pela minha "arte estou sem"re dis"osto a acom"anhar(te,retri#uindo(te em sim"atia toda a consideração &ue me im".e a tua o-em e -iorosainteliência)

Teu>) @ocai-a)

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O CAMI"%O &A PORTACom'dia em (m ato

 ;e"resentada "ela "rimeira -e' no Ateneu <ram+tico do ;io de *aneiro em setem#ro deBC2)

PE;S4?ADE?S <4T4; 54;?1=4

!AE?T=M

=?45?5=4

5A;4TA Atualidade)

 Em casa de Carlota 

GSala eleante) ( <uas "ortas no fundo, "ortas laterais, consolos, "iano, di-ã, "oltronas,cadeiras, mesa, ta"ete, es"elhos, &uadros, fiuras so#re os consolos% +l#um, alunsli-ros, l+"is, etc) so#re a mesa)H 

Cena IVALENTIM (assentado à esquerda alta);

o DOUTOR (entrando)

 !AE?T=M AhI 1s tu/

<4T4;4hI Joe $ o dia das sur"resas) Acordo, leio os ornais e -eo anunciado "ara hoe oTro-ador) Primeira sur"resa) em#ro(me de "assar "or a&ui "ara sa#er se <) 5arlota&ueria ir ou-ir a 6"era de !erdi, e -inha "ensando na triste fiura &ue de-ia fa'er em casade uma moça do tom s 0 horas da manhã, &uando te encontro firme como umasentinela no "osto) <uas sur"resas)

!AE?T=M A triste fiura sou eu/

<4T4; Acertaste) cido como uma si#ila) Fa'es uma triste fiura, não to de-o ocultar)

!AE?T=MGirKnicoH AhI

<4T4;

Tens ar de não dar cr$dito ao &ue dioI Pois olha, tens diante de ti a -erdade em "essoa,com a diferença de não sair de um "oço mas da cama, e de -ir em trae menos "rimiti-o)>uanto ao es"elho, se o não trao comio, h+ nesta sala um &ue nos ser-e com amesma sinceridade) Mira(te ali) Est+s ou não uma triste fiura/

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!AE?T=M?ão me a#orreças)

<4T4;5onfessas então/

!AE?T=M1s di-ertido como os teus "rotestos de -irtuosoI A"osto &ue me &ueres fa'er crer nodesinteresse das tuas -isitas a <) 5arlota/

<4T4;?ão)

!AE?T=M AhI

<4T4;Sou hoe mais assduo do &ue era h+ um mês, e a ra'ão $ &ue h+ um mês &uecomeçaste a fa'er(lhe corte)

!AE?T=M*+ sei: não me &ueres "erder de -ista)

<4T4;PresumidoI Eu sou l+ ins"etor dessas coisas/ 4u antes, sou% mas o sentimento &ue mele-a a estar "resente a essa #atalha "ausada e "aciente est+ muito lone do &ue "ensas%estudo o amor)

!AE?T=MSomos então os teus com"êndios/

<4T4;1 -erdade)

!AE?T=ME o &ue tens a"rendido/

<4T4;<esco#ri &ue o amor $ uma "escaria)))

!AE?T=M>ueres sa#er de uma coisa/ Est+s "rosaico como os teus li#elos)

<4T4;<esco#ri &ue o amor $ uma "escaria)))

!AE?T=M!ai(te com os dia#osI

<4T4;<esco#ri &ue o amor $ uma "escaria) 4 "escador senta(se so#re um "enedo, #eira domar) Tem ao lado uma cesta com iscas% -ai "ondo uma "or uma no an'ol, e atira s+uas a "$rfida linha) Assim asta horas e dias at$ &ue o descuidado filho das +uas

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aarra no an'ol, ou não aarra e)))

!AE?T=M1s um tolo)

<4T4;

?ão contesto% "elo interesse &ue tomo "or ti) ;ealmente d6i(me -er(te h+ tantos diase8"osto ao sol, so#re o "enedo, com o caniço na mão, a astar as tuas iscas e a tuasade, &uero di'er, a tua honra)

!AE?T=M A minha honra/

<4T4; A tua honra, sim) Pois "ara um homem de senso e um tanto s$rio o ridculo não $ umadesonra/ Tu est+s ridculo) ?ão h+ um dia em &ue não -enhas astar três, &uatro, cincohoras a cercar esta -i-a de alanteios e atenç.es, acreditando tal-e' ter adiantado

muito, mas estando ainda hoe como &uando começaste) 4lha, h+ Pen$lo"es da -irtude ePen$lo"es do alanteio) mas fa'em e desmancham teias "or terem muito u'o: outrasas fa'em e desmancham "or não terem nenhum)

!AE?T=M?ão dei8as de ter uma tal ou &ual ra'ão)

<4T4;4ra, raças a <eusI

!AE?T=M<e-o "or$m "re-enir(te de uma coisa: $ &ue "onho nesta con&uista a minha honra) *ureiaos meus deuses casar(me com ela e hei de manter o meu uramento)

<4T4;!irtuoso romanoI

!AE?T=MFaço o "a"el de Ssifo) ;olo a minha "edra "ela montanha% &uase a chear com ela aocimo, uma mão in-is-el f+(la des"enhar de no-o, e a -olto a re"etir o mesmo tra#alho)Se isto $ um infortnio, não dei8a de ser uma -irtude)

<4T4; A -irtude da "aciência) Em"rea-as melhor essa -irtude em fa'er "alitos do &ue em fa'era roda a esta namoradeira) Sa#es o &ue aconteceu aos com"anheiros de lisses"assando "ela ilha de 5irce/ Ficaram transformados em "orcos) Melhor sorte te-e Act$on&ue "or es"reitar <iana no #anho "assou de homem a -eado) Pro-a e-idente de &ue $melhor "ilh+(las no #anho do &ue andar(lhes roda nos ta"etes da sala)

!AE?T=MPassas de "rosaico a cnico)

<4T4;1 uma modificação) Tu est+s sem"re o mesmo ridculo)

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Cena IIOs mesmos INOC!NCIO (tra"#do $or um cr#ado)

=?45?5=44hI

<4T4;G#ai8o a !alentimH5hea o teu com"etidor)

!AE?T=MG#ai8oH?ão me -e8es)

=?45?5=4Meus senhoresI *+ "or c+/ Madruaram hoeI

<4T4;1 -erdade) E !) S)/

=?45?5=45omo est+ -endo) e-anto(me sem"re com o sol)<4T4;Se !) S) $ outro)

=?45?5=4Gnão com"reendendoH

4utro &uê/ AhI 4utro solI Este doutor tem umas e8"ress.es tão))) fora do -ularI 4ra-ea% a mim ainda ninu$m se lem#rou de di'er isto) Sr) <outor, !) S) h+ de tratar de umne6cio &ue trao "endente no foro) >uem fala assim $ ca"a' de sedu'ir a "r6"ria leiI

<4T4;4#riadoI

=?45?5=44nde est+ a encantadora <) 5arlota/ Trao(lhe este ramalhete &ue eu "r6"rio colhi earranei) 4lhem como estas flores estão #em com#inadas: rosas, "ai8ão% açucenas,candura) >ue tal/

<4T4;EnenhosoI

=?45?5=4Gdando(lhe o #raçoH Aora ouça, Sr) <outor) <ecorei umas &uatro "ala-ras "ara di'er ao entrear(lhe estasflores) !ea se condi'em com o assunto)

<4T4;Sou todo ou-idos)

=?45?5=49Estas flores são um "resente &ue a "rima-era fa' sua irmã "or interm$dio do maisardente admirador de am#as)9 >ue tal/

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<4T4;Su#limeI G=nocêncio ri(se soca"aH ?ão $ da mesma o"inião/

=?45?5=4Pudera não ser su#lime: se eu "r6"rio co"iei isto de um Secret+rio dos AmantesI

<4T4; AliI

!AE?T=MG#ai8o ao <outorHDa#o(te a "aciênciaI

<4T4;Gdando(lhe o #raçoHPois &ue temI 1 miraculosamente tolo) ?ão $ da mesma es"$cie &ue tu)))

 !AE?T=M5orn$lioI

<4T4;<escansa% $ de outra muito "ior)

Cena IIIOs mesmos CARLOTA

 

5A;4TAPerdão, meus senhores, de os ha-er feito es"erar))) Gdistri#ui a"ertos de mãoH

!AE?T=M?6s $ &ue lhe "edimos descul"a de ha-ermos madruado deste modo)))

<4T4; A mim, tra'(me um moti-o ustific+-el)

5A;4TAGrindoH

!er(me/ G-ai sentar(seH<4T4;?ão)

5A;4TA?ão $ um moti-o ustific+-el, esse/

<4T4;Sem d-ida% incomod+(la $ &ue o não $) AhI minha senhora, eu a"recio mais do &uenenhum outro o des"eito &ue de-e causar a uma moça uma interru"ção no ser-iço da

toilette) 5reio &ue $ coisa tão s$ria como uma &ue#ra de relaç.es di"lom+ticas)5A;4TA Sr) <outor racea e e8aera) Mas &ual $ esse moti-o &ue ustifica a sua entrada em

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minha casa, a esta hora/

<4T4;!enho rece#er as suas ordens acerca da re"resentação desta noite)

5A;4TA

>ue re"resentação/<4T4;5anta(se o Tro-ador)

=?45?5=4@onita "eçaI

<4T4;?ão "ensa &ue de-e ir/

5A;4TASim, e aradeço(lhe a sua am+-el lem#rança) *+ sei &ue -em oferecer(me o seucamarote) 4lhe, h+ de descul"ar(me este descuido, mas "rometo &ue -ou &uanto antestomar uma assinatura)

=?45?5=4Ga !alentimH Ando desconfiado do <outorI!AE?T=MPor &uê/

=?45?5=4!ea como ela o trataI Mas eu -ou des#anc+(lo, com minha frase do Secret+rio dos Amantes))) Gindo a 5arlotaH Minha senhora, estas flores são um "resente &ue a "rima-erafa' sua irmã)))

<4T4;Gcom"letando a fraseHPor interm$dio do mais ardente admirador de am#as)

=?45?5=4Sr) <outorI

5A;4TA4 &ue $/

=?45?5=4G#ai8oH=sto não se fa'I Ga 5arlotaH A&ui tem, minha senhora)))

5A;4TA Aradecida) Por &ue se retirou ontem tão cedo/ ?ão lho &uis "eruntar))) de #oca% mascreio &ue o interrouei com o olhar)

=?45?5=4Gno cmulo da satisfaçãoH<e #oca/))) 5om o olhar/))) AhI &ueira "erdoar, minha senhora))) mas um moti-o

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im"erioso)))

<4T4;=m"erioso))) não $ delicado)

5A;4TA

?ão e8io sa#er o moti-o% su"us &ue se hou-esse "assado aluma coisa &ue odesostasse)))

=?45?5=4>ual, minha senhora% o &ue se "oderia "assar/ ?ão esta-a eu diante de !) E8a) "araconsolar(me com seus olhares de alum desosto &ue hou-esse/ E não hou-e nenhum)

5A;4TAGerue(se e #ate(lhe com o le&ue no om#roHisoneiroI

<4T4;Gdescendo entre am#osH!) E8a) h+ de descul"ar(me se interrom"o uma es"$cie de idlio com uma coisa "rosaica,ou antes com outro idlio, de outro ênero, um idlio do estKmao% o almoço)))

5A;4TA Almoça conosco/

<4T4;4hI minha senhora, não seria ca"a' de interrom"ê(la% "eço sim"lesmente licença "ara iralmoçar com um desem#arador da relação a &uem tenho de "restar umas informaç.es)5A;4TASinto &ue na minha "erda, anhe um desem#arador% não sa#e como odeio a toda essaente do foro% faço a"enas uma e8ceção)

<4T4;Sou eu)

5A;4TAGsorrindoH1 -erdade) <onde concluiu/

<4T4;Estou "resenteI

5A;4TAMaldosoI

<4T4;Fica, não, Sr) =nocêncio/

=?45?5=4!ou) G#ai8o ao <outorH Estalo de felicidadeI

<4T4; At$ looI

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=?45?5=4Minha senhoraI

Cena I$CARLOTA VALENTIM 

5A;4TAFicou/

!AE?T=MGindo #uscar o cha"$uHSe a incomodo)))

5A;4TA?ão) <+(me "ra'er at$) 4ra, "or &ue h+ de ser tão suscet-el a res"eito de tudo o &ue lhedio/

!AE?T=M1 muita #ondade) 5omo não &uer &ue sea suscet-el/ S6 de"ois de estarmos a s6s $&ue !) E8a) se lem#ra de mim) Para um -elho aiteiro acha !) E8a) "ala-ras cheias de#ondade e sorrisos cheios de doçura)

5A;4TA<eu(lhe aora essa doença/ G-ai sentar(se unto mesaH

!AE?T=MGsenta(se unto mesa defronte de 5arlotaH4hI não 'om#e, minha senhoraI Estou certo de &ue os m+rtires romanos "refeririam a

morte r+"ida luta com as feras do circo) 4 seu sarcasmo $ uma fera indom+-el% !) E8a)tem certe'a disso e não dei8a de lanç+(lo em cima de mim)

5A;4TAEntão sou tem-el/ 5onfesso &ue ainda aora o sei) Guma "ausaH Em &ue cisma/

!AE?T=MEu/))) em nadaI

5A;4TA=nteressante col6&uioI

!AE?T=M<e-o crer &ue não faço uma fiura no#re e s$ria) Mas não me im"orta issoI A seu lado euafronto todos os sarcasmos do mundo) 4lhe, eu nem sei o &ue "enso, nem sei o &uedio) ;idculo &ue "areça, sinto(me tão ele-ado o es"rito &ue cheo a su"or em mimalum da&ueles to&ues di-inos com &ue a mão dos deuses ele-a-a os mortais e lhesins"ira-a forças e -irtudes fora do comum)

5A;4TASou eu a deusa))

!AE?T=M<eusa, como ninu$m sonhara nunca% com a raça de !ênus e a maestade de *uno) Seieu mesmo defini(la/ Posso eu di'er em lnua humana o &ue $ esta reunião de atrati-osnicos feitos "ela mão da nature'a como uma "ro-a su"rema do seu "oder/ <ou(me "or

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fraco, certo de &ue nem "incel nem lira "oderão fa'er mais do &ue eu)

5A;4TA4hI $ demaisI <eus me li-re de o tomar "or es"elho) 4s meus são melhores) <i'emcoisas menos arad+-eis, "or$m mais -erdadeiras)

!AE?T=M4s es"elhos são o#ras humanas% im"erfeitos, como todas as o#ras humanas) >ue melhores"elho, &uer !) E8a, &ue uma alma inênua e c7ndida/

5A;4TAEm &ue cor"o encontrarei))) esse es"elho/

!AE?T=M?o meu)

5A;4TA

Su".e(se c7ndido e inênuo/!AE?T=M?ão me su"onho, sou)

5A;4TA1 "or isso &ue tra' "erfumes e "ala-ras &ue em#riaam/ Se h+ candura $ em &uererfa'er(me crer)))

!AE?T=M4hI não &ueira !) E8a) trocar os "a"$is) @em sa#e &ue os seus "erfumes e as suas"ala-ras $ &ue em#riaam) Se eu falo um tanto di-ersamente do comum $ "or&ue falamem mim o entusiasmo e a admiração) >uanto a !) E8a) #asta a#rir os l+#ios "ara dei8arcair dele aromas e filtros cuo seredo s6 a nature'a conhece)5A;4TAEstimo antes -ê(lo assim) Gcomeça a desenhar distraidamente em um "a"elH

!AE?T=M Assim))) como/

5A;4TAMenos))) melanc6lico)

!AE?T=M1 esse o caminho do seu coração/

5A;4TA>ueria &ue eu "r6"ria lho indicasse/ Seria trair(me, e tira-a(lhe a raça e a l6ria de oencontrar "or seus "r6"rios esforços)

!AE?T=M4nde encontrarei um roteiro/)))

5A;4TA=sso não tinha raçaI A l6ria est+ em achar o desconhecido de"ois da luta e dotra#alho))) Amar e fa'er(se amar "or um roteiro))) ohI &ue coisa de mau ostoI

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!AE?T=MPrefiro esta fran&ue'a) Mas !) E8a) dei8a(me no meio de uma encru'ilhada com &uatroou cinco caminhos diante de mim, sem sa#er &ual hei de tomar) Acha &ue isto $ decoração com"assi-o/

5A;4TA

4raI sia "or um deles, direita ou es&uerda)!AE?T=MSim, "ara chear ao fim e encontrar um muro% -oltar, tomar de"ois "or outro)))

5A;4TAE encontrar outro muro/ 1 "oss-el) Mas a es"erança acom"anha os homens e com aes"erança, neste caso, a curiosidade) En8uue o suor, descanse um "ouco, e -olte a"rocurar o terceiro, o &uarto, o &uinto caminho, at$ encontrar o -erdadeiro) Su"onho &uetodo o tra#alho se com"ensar+ com o achado final)

!AE?T=MSim) Mas, se de"ois de tanto esforço for encontrar(me no -erdadeiro caminho com alumoutro -iandante de mais tino e fortuna/

5A;4TA4utro/ ))) &ue outro/ Mas))) isto $ uma sim"les con-ersa))) 4 Sr) fa'(me di'er coisas &uenão de-o))) Gcai o l+"is ao chão, !alentim a"ressa(se em a"anh+(lo e aoelha nesse atoH

5A;4TA4#riada) G-endo &ue ele continua aoelhadoH Mas le-ante(seI

!AE?T=M?ão sea cruelI

5A;4TAFaça o fa-or de le-antar(seI

!AE?T=MGle-antando(seH1 "reciso "Kr um termo a istoI

5A;4TAGfinindo(se distradaH A isto o &uê/

!AE?T=M!) E8a) $ de um sanue(frio de matarI

5A;4TA>ueria &ue me fer-esse o sanue/ Tinha ra'ão "ara isso) A &ue "ro"6sito fe' esta cenade com$dia/

!AE?T=M!) E8a) chama a isto com$dia/

5A;4TA

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 Alta com$dia, est+ entendido) Mas &ue $ isto/ Est+ com l+rimas nos olhos/

!AE?T=MEu/ ora))) ora))) &ue lem#rançaI

5A;4TA

>uer &ue lhe dia/ Est+ ficando ridculo)!AE?T=MMinha senhoraI

5A;4TA4hI ridculoI ridculoI

!AE?T=MTem ra'ão) ?ão de-o "arecer outra coisa a seus olhosI 4 &ue sou eu "ara !) E8a)/ mente -ular, uma f+cil con&uista &ue !) E8a) entret$m, ora animando, ora re"elindo, sem

dei8ar nunca conce#er es"eranças fundadas e duradouras) 4 meu coração -iremdei8ou(se arrastar) Joe, se &uisesse arrancar de mim este amor, era "reciso arrancarcom ele a -ida) 4hI não ria, &ue $ assimI

5A;4TASinto &ue não "ossa ou-i(lo com interesse)

!AE?T=MPor &ue moti-o ha-ia de me ou-ir com interesse/

5A;4TA?ão $ "or ter a alma seca% $ "or não acreditar nisso)

!AE?T=M?ão acredita/

5A;4TA?ão)

!AE?T=MGes"erançosoHE se acreditasse/

5A;4TAGcom indiferençaHSe acreditasse, acredita-aI

!AE?T=M4hI $ cruelI

5A;4TAGde"ois de um silêncioH>ue $ isso/ Sea forteI Se não "or si, ao menos "ela "osição es&uerda em &ue mecoloca)

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!AE?T=MGsom#rioHSerei forteI Fraco no "arecer de aluns))) forte no meu))) Minha senhoraI

5A;4TAGassustadaH

4nde -ai/!AE?T=M At$))) minha casaI AdeusI Gsai arre#atadamente) 5arlota "+ra estacada% de"ois -ai aofundo, -olta ao meio da cena, -ai direita% entra o <outorH

Cena $CARLOTA O DOUTOR 

<4T4;?ão me dir+, minha senhora, o &ue tem !alentim &ue "assou "or mim corno um raio,

aora, na escada/

5A;4TAEu seiI =a mandar em "rocura dele) <isse(me a&ui umas "ala-ras am#uas, esta-ae8altado, creio &ue)))

<4T4;>ue se -ai matar/))) Gcorrendo "ara a "ortaH Falta-a mais estaI))) GestacaH ?ão, não se h+de matarI

5A;4TA

 AhI "or &uê/

<4T4;Por&ue mora lone) ?o caminho h+ de refletir e mudar de "arecer) 4s olhos das damas +"erderam o condão de le-ar um "o#re dia#o se"ultura% raros casos "ro-am umadiminuta e8ceção)

5A;4TA<e &ue olhos e de &ue condão me fala/

<4T4;

<o condão de seus olhos, minha senhoraI Mas &ue influência $ essa &ue !) E8a) e8erceso#re o es"rito de &uantos se dei8am a"ai8onar "or seus encantos/ A um ins"ira a id$iade matar(se% a outro, e8alta(o de tal modo, com alumas "ala-ras e um to&ue de seule&ue, &ue &uase chea a ser causa de um ata&ue a"o"l$ticoI

5A;4TAEst+(me falando reoI

<4T4;>uer "ortuuês, minha senhora/ !ou tradu'ir o meu "ensamento) !alentim $ meu amio)1 um ra"a', não direi -irem de coração, mas com tendências s "ai8.es de sua idade)

!) E8a) "or sua raça e #ele'a ins"irou(lhe, ao &ue "arece, um desses amores "rofundosde &ue os romances dão e8em"lo) 5om -inte e cinco anos, inteliente, #en&uisto, "odiafa'er um melhor "a"el &ue o de namorado sem -entura) Draças a !) E8a), todas as suas

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&ualidades estão anuladas: o ra"a' não "ensa, não -ê, não conhece, não com"reendeninu$m mais &ue não sea !) E8a)

5A;4TAP+ra a a fantasia/

<4T4;?ão, senhora) Ao seu carro atrelou(se com o meu amio, um -elho, um -elho, minhasenhora, &ue, com o fim de lhe "arecer melhor, "inta a coroa -ener+-el de seus ca#elos#rancos) <e s$rio &ue era, fê(lo !) E8a) uma fiurinha de "a"elão, sem -ontade nem ação"r6"ria) <estes sei eu% inoro se mais aluns dos &ue fre&Lentam esta casa andamatordoados como estes dois) 5reio, minha senhora, &ue lhe falei no "ortuuês mais -ulare "r6"rio "ara me fa'er entender)

5A;4TA?ão sei at$ &ue "onto $ -erdadeira toda essa hist6ria, mas consinta &ue lhe o#ser-e&uanto andou errado em #ater minha "orta) >ue lhe "osso eu fa'er/ Sou eu cul"ada de

aluma coisa/ A ser -erdade isso &ue contou, a cul"a $ da nature'a &ue os fe' f+ceis deamar, e a mim, me fe'))) #onita/

<4T4;Pode di'er mesmo ( encantadora)

5A;4TA4#riadaI <4T4;Em troca do adeti-o dei8e acrescentar outro não menos merecido: namoradeira)

5A;4TAJein/

<4T4;?a(mo(ra(dei(raI

5A;4TAEst+ di'endo coisas &ue não têm senso comum)

<4T4;4 senso comum $ comum a dois modos de entender) 1 mesmo a mais de dois) 1 umadesraça &ue nos achemos em di-erência)

5A;4TAMesmo &ue fosse -erdade não era delicado di'er)))

<4T4;Es"era-a "or essa) Mas !) E8a) es&uece &ue eu, lcido como estou hoe, + ti-e os meusmomentos de alucinação) *+ fiei como J$rcules a seus "$s) em#ra(se/ Foi h+ três anos)=ncorri-el a res"eito de amores, tinha ra'.es "ara estar curado, &uando -im cair emsuas mãos) Aluns alo"atas costumam mandar chamar os homeo"atas nos ltimosmomentos de um enfermo e h+ casos de sal-ação "ara o mori#undo) !) E8a) ser-iu(mede homeo"atia, descul"e a com"aração% deu(me uma dose de -eneno tremenda, masefica'% desde esse tem"o fi&uei curado)

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5A;4TA Admiro a sua facndiaI Em &ue tem"o "adeceu dessa fe#re de &ue ti-e a -entura de ocurar/

<4T4;*+ ti-e a honra de di'er &ue foi h+ três anos)

5A;4TA?ão me recordo) Mas considero(me feli' "or ter conser-ado ao foro um dos ad-oadosmais distintos da ca"ital)

<4T4;Pode acrescentar: e humanidade um dos homens mais teis) ?ão se ria, sou umhomem til)

5A;4TA?ão me rio) 5onecturo em &ue se em"rear+ a sua utilidade)

<4T4;!ou au8iliar a sua "enetração) Sou til "elos ser-iços &ue "resto aos -iaantes no-$isrelati-amente ao conhecimento das costas e dos "erios do curso martimo% indico osmeios de chear sem maior risco ilha deseada de 5itera)

5A;4TA AhI

<4T4;Essa e8clamação $ -aa e não me indica se !) E8a) est+ satisfeita ou não com a minhae8"licação) Tal-e' não acredite &ue eu "ossa ser-ir aos -iaantes/

5A;4TA Acredito) Acostumei(me a olh+(lo como a -erdade nua e crua)

<4T4;1 o &ue di'ia h+ #ocado &uele doido !alentim)

5A;4TA A &ue "ro"6sito di'ia/)))

<4T4; A &ue "ro"6sito/ >ueria &ue fosse a "ro"6sito da uerra dos Estados nidos/ da&uestão do alodão/ do "oder tem"oral/ da re-olução na Dr$cia/ Foi a res"eito da nicacoisa &ue nos "ode interessar, a ele, como marinheiro no-el, e a mim, como ca"itãoe8"erimentado) 

5A;4TA AhI foi)))

<4T4;Mostrei(lhe os "ontos neros do meu roteiro)

5A;4TA5reio &ue ele não ficou con-encido)))

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<4T4;Tanto não, &ue se ia deitando ao mar)

5A;4TA4ra, -enha c+) Falemos um momento sem "ai8ão nem rancor) Admito &ue o seu amio

ande a"ai8onado "or mim) >uero admitir tam#$m &ue eu sea uma namoradeira)))<4T4;Perdão: uma encantadora namoradeira)))

5A;4TA<entada de morceo% aceito)

<4T4;?ão% atenuante e ara-ante% sou ad-oadoI

5A;4TA Admito isso tudo) ?ão me dir+ donde tira o direito de intrometer(se nos atos alheios, e deim"or as suas liç.es a uma "essoa &ue o admira e estima, mas &ue não $, nem sua irmã,nem sua "u"ila/

<4T4;<onde/ <a doutrina cristã: ensino os &ue erram)

5A;4TA A sua delicade'a não me h+ de incluir entre os &ue erram)

<4T4;Pelo contr+rio% dou(lhe um luar de honra: $ a "rimeira)

5A;4TASr) <outorI

<4T4;?ão se 'anue, minha senhora) Todos erramos% mas !) E8a) erra muito) ?ão me dir+ de&ue ser-e, o &ue a"ro-eita usar uma mulher #onita de seus encantos "ara es"reitar umcoração de -inte e cinco anos e atra(lo com as suas cantilenas, sem outro fim mais do&ue contar adoradores e dar um "#lico testemunho do &ue "ode a sua #ele'a/ Acha &ue$ #onito/ =sto não re-olta/ Gmo-imento de 5arlotaH

5A;4TAPor minha -e' "erunto: donde lhe -em o direito de "rear(me serm.es de moral/

<4T4;?ão h+ direito escrito "ara isto, $ -erdade) Mas, eu &ue + tentei trincar o cacho de u-as"endente, não faço como a ra"osa da f+#ula, fico ao "$ da "arreira "ara di'er ao outroanimal &ue -ier: 9?ão seas toloI não as alcançar+s com o seu focinhoI9 e "arreiraim"ass-el: 9Seca as tuas u-as ou dei8a(as cair% $ melhor do &ue tê(las a a fa'er co#iças ra"osas a-ulsasI9 1 o direito da desforraI

5A;4TA=a(me 'anando) Fi' mal) 5om o Sr) <outor $ intil discutir: fala(se "ela ra'ão, res"onde"ela "ar+#ola)

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<4T4; A "ar+#ola $ a ra'ão do e-anelho, e o e-anelho $ o li-ro &ue mais tem con-encido)

5A;4TAPor tais dis"osiç.es -eo &ue não dei8a o "osto de sentinela dos coraç.es alheios/

<4T4; A-isador de incautos% $ -erdade)

5A;4TAPois declaro &ue dou s suas "ala-ras o -alor &ue merecem)

<4T4;?enhum/

5A;4TA

 A#solutamente nenhum) 5ontinuarei a rece#er com a mesma afa#ilidade o seu amio!alentim)

<4T4;Sim, minha senhoraI

5A;4TAE ao <outor tam#$m)

<4T4;1 mananimidade)

5A;4TAE ou-irei com "aciência e-an$lica as suas "r$dicas não encomendadas)

<4T4;E eu "ronto a "roferi(las) AhI minha senhora, se as mulheres sou#essem &uantoanhariam se não fossem -aidosasI 1 ne6cio de cin&Lenta "or cento)

5A;4TAEstou resinada: crucifi&ue(meI

<4T4;Em outra ocasião)

5A;4TAPara anhar forças &uer almoçar seunda -e'/

<4T4;J+ de consentir &ue recuse)

5A;4TAPor moti-o de rancor/<4T4;G"ondo a mão no estKmaoHPor moti-o de inca"acidade) Gcum"rimenta e dirie(se "orta) 5arlota sai "elo fundo)Entra !alentimH

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Cena $IO DOUTOR VALENTIM 

<4T4;4hI A &ue horas $ o enterro/

!AE?T=M>ue enterro/ <e &ue enterro me falas tu/

<4T4;<o teu) ?ão ias "rocurar o descanso, meu erther/

!AE?T=M AhI não me falesI Esta mulher))) onde est+ ela/

<4T4;

 Almoça)

!AE?T=MSa#es &ue a amo) Ela $ in-enc-el) Ns minhas "ala-ras amorosas res"ondeu com a frie'ado sarcasmo) E8altei(me e cheuei a "roferir alumas "ala-ras &ue "oderiam indicar, daminha "arte, uma intenção tr+ica) 4 ar da rua fe'(me #em% acalmei(me)))

<4T4;Tanto melhorI)))

!AE?T=M

Mas eu sou teimoso)

<4T4;Pois ainda crês/)))

!AE?T=M4u-e: sinceramente aflito e a"ai8onado, a"resentei(me a <) 5arlota como era) ?ão hou-emeio de torn+(la com"assi-a) Sei &ue não me ama% mas creio &ue não est+ lone disso%acha(se em um estado &ue #asta uma fasca "ara acender(se(lhe no coração a chama doamor) Se não se como-eu franca manifestação do meu afeto, h+ de como-er(se a outromodo de re-elação) Tal-e' não se incline ao homem "o$tico e a"ai8onado% h+ de inclinar(

se ao her6ico ou at$ c$tico))) ou a outra es"$cie) !ou tentar um "or um)<4T4;Muito #em) !eo &ue raciocinas% $ "or&ue o amor e a ra'ão dominam em ti com forçaiual) Draças a <eus, mais alum tem"o e o "redomnio da ra'ão ser+ certo)

!AE?T=M Achas &ue faço #em/

<4T4;?ão acho, não, senhorI

!AE?T=MPor &uê/

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<4T4; Amas muito esta mulher/ 1 "r6"rio da tua idade e da força das coisas) ?ão h+ caso &uedesminta esta -erdade reconhecida e "ro-ada: &ue a "6l-ora e o foo, uma -e' "r68imosfa'em e8"losão)

!AE?T=M

1 uma doce fatalidade estaI<4T4;4u-e(me calado) A &ue &ueres chear com este amor/ Ao casamento% $ honesto e dinode ti) @asta &ue ela se ins"ire da mesma "ai8ão, e a mão do himeneu -ir+ con-erter emuma s6 as duas e8istências) @em) Mas não te ocorre uma coisa: $ &ue esta mulher,sendo uma namoradeira, não "ode tornar(se -estal muito cuidadosa da ara matrimonial)

!AE?T=M4hI

<4T4;Protestas contra isto/ 1 natural) ?ão serias o &ue $s se aceitasses "rimeira -ista aminha o"inião) 1 "or isso &ue te "eço refle8ão e calma) Meu caro, o marinheiro conheceas tem"estades e os na-ios% eu conheço os amores e as mulheres% mas a-alio no sentidoin-erso do homem do mar% as escumas -eleiras são "referidas "elo homem do mar, eu-oto contra as mulheres -eleiras)

!AE?T=M5hamas a isto uma ra'ão/

<4T4;5hamo a isto uma o"inião) ?ão $ a tuaI J+ de sê(lo com o tem"o) ?ão me faltar+ ocasiãode chamar(te ao #om caminho) A tem"o o ferro $ me'inha, disse S+ de Miranda)Em"rearei o ferro)

!AE?T=M4 ferro/

<4T4;4 ferro) S6 as randes coraens $ &ue se sal-am) <e-i a isso sal-ar(me das unhas destea-ião disfarçado de &uem &ueres fa'er tua mulher)

!AE?T=M4 &ue est+s di'endo/

<4T4;5uidei &ue sa#ias) Tam#$m eu + tre"ei "ela escada de seda "ara cantar a cantia do;omeu anela de *ulieta)

!AE?T=M AhI

<4T4;Mas não "assei da anela) Fi&uei ao relento, do &ue me resultou uma consti"ação)

!AE?T=M1 natural) Pois como ha-ia ela de amar a um homem &ue &uer le-ar tudo "ela ra'ão fria

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dos seus li#elos e em#aros de terceiro/

<4T4;Foi isso &ue me sal-ou% os amores como os desta mulher "recisam um tanto ou &uantode chicana) Passo "elo ad-oado mais chicaneiro do foro% imaina se a tua -i-a "odiaha-er(se comioI !eio o meu de-er com em#aros de terceiro e eu anhei a demanda)

Se, em -e' de comer tran&Lilamente a fortuna de teu "ai, ti-esses cursado a academia deS) Paulo ou 4linda, esta-as, como eu, armado de #ro&uel e cota de malhas)

!AE?T=M1 o &ue te "arece) Podem acaso as ordenaç.es e o c6dio "enal contra os im"ulsos docoração/ 1 &uerer redu'ir a o#ra de <eus condição da o#ra dos homens) Mas #em -eo&ue $s o ad-oado mais chicaneiro do foro)

<4T4;E "ortanto, o melhor)

!AE?T=M?ão, o "ior, "or&ue não me con-enceste)

<4T4; Ainda não/

!AE?T=M?em me con-encer+s nunca)

<4T4;Pois $ "enaI

!AE?T=M!ou tentar os meios &ue tenho em -ista% se nada alcançar tal-e' me resine sorte)

<4T4;?ão tentes nada) Anda antar comio e -amos noite ao teatro)

!AE?T=M5om ela/ !ou)

<4T4;?em me lem#ra-a &ue a tinha con-idado)

!AE?T=MEs"ero &ue hei de -encer)

<4T4;5om &ue contas/ 5om a tua estrela/ @oa fiançaI

!AE?T=M5onto comio)

<4T4; AhI Melhor aindaI

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Cena $IIDOUTOR VALENTIM INOC!NCIO

 =?45?5=44 corredor est+ deserto)

<4T4;4s criados ser-em mesa) <) 5arlota est+ almoçando) Est+ melhor/

=?45?5=4m tanto)

!AE?T=MEste-e doente, Sr) =nocêncio/

=?45?5=4

Sim, ti-e uma lieira -ertiem) Passou) Efeitos do amor))) &uero di'er))) do calor)

!AE?T=M AhI

=?45?5=4Pois olhe, + sofri calor de estalar "assarinho) ?ão sei como isto foi) Enfim, são coisas &uede"endem das circunst7ncias)

!AE?T=MJou-e circunst7ncias/

=?45?5=4Jou-e))) GsorrindoH Mas não as dio))) nãoI

!AE?T=M1 seredo/

=?45?5=4Se $I

!AE?T=M

Sou discreto como uma se"ultura% faleI=?45?5=44hI nãoI 1 um seredo meu e de mais ninu$m))) ou a #em di'er, meu e de outra"essoa))) ou não, meu s6I

<4T4;;es"eitamos os seredos, seus ou de outrosI

=?45?5=4!) S) $ um "ortentoI ?unca hei de es&uecer &ue me com"arou ao solI A certos res"eitos

andou a-isado: eu sou uma es"$cie de sol, com uma diferença, $ &ue não nasço "aratodos, nasço "ara todasI

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<4T4;4hI 4hI!AE?T=MMas !) S) est+ mais na idade de morrer &ue de nascer)

=?45?5=4

 A"re l+I 5om trinta e oito anos, a idade -irilI !) S) $ &ue $ uma criançaI!AE?T=MEnanaram(me então) 4u-i di'er &ue !) S) fora dos ltimos a #eiar a mão de <om *oão!=, &uando da&ui se foi, e &ue nesse tem"o era + taludo)))

=?45?5=4J+ &uem se di-irta em caluniar a minha idade) >ue ente in-eosaI 4nde -ai, <outor/

<4T4;!ou sair)

!AE?T=MSem falar a <) 5arlota/

<4T4;*+ me ha-ia des"edido &uando cheaste) Jei de -oltar) At$ loo) Adeus, Sr) =nocêncioI

=?45?5=4Feli'es tardes, Sr) <outorI

Cena $III

VALENTIM INOC!NCIO=?45?5=41 uma "$rola este doutorI <elicado e #em falanteI >uando a#re a #oca "arece umde"utado na assem#l$ia ou um cKmico na casa da 6"eraI

!AE?T=M5om trinta e oito anos e ainda fala na casa da 6"eraI

=?45?5=4Parece &ue !) S) ficou enasado com os meus trinta e oito anosI Su".e tal-e' &ue eu

sea um Matusal$m/ Est+ enanado) 5omo me -ê, faço andar roda muita ca#ecinha demoça) A "ro"6sito, não acha esta -i-a uma #onita senhora/

!AE?T=M Acho)

=?45?5=4Pois $ da minha o"iniãoI <elicada, raciosa, eleante, faceira, como ela s6))) AhI

!AE?T=MDosta dela/

=?45?5=4Gcom indiferençaHEu/ osto) E !) S)/

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!AE?T=MGcom indiferençaHEu/ osto)

=?45?5=4Gcom indiferençaH Assim, assim/

!AE?T=MGcom indiferençaH Assim, assim)

=?45?5=4Gcontentssimo, a"ertando(lhe a mãoH AhI meu amioI

Cena I)VALENTIM INOC!NCIO CARLOTA

!AE?T=M Auard+-amos a sua cheada com a sem(cerimKnia de "essoas ntimas)

5A;4TA4hI Fi'eram muito #emI Gsenta(seH

=?45?5=4

?ão ocultarei &ue esta-a ansioso "ela "resença

5A;4TA AhI o#riada))) A&ui estouI Gum silêncioH >ue no-idades h+, Sr) =nocêncio/

=?45?5=45heou o "a&uete)

5A;4TA AhI Goutro silêncioH AhI cheou o "a&uete/ Gle-anta(seH

=?45?5=4*+ ti-e a honra de)))

5A;4TAPro-a-elmente tra' notcias de Pernam#uco/))) do c6lera/)))

=?45?5=45ostuma a tra'er)))

5A;4TA!ou mandar -er cartas))) tenho um "arente no ;ecife))) Tenham a #ondade de es"erar)))

=?45?5=4Por &uem $))) não se incomode) !ou eu mesmo)

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5A;4TA4raI tinha &ue -er)))=?45?5=4Se mandar um escra-o ficar+ na mesma))) demais, eu tenho relaç.es com aadministração do correio))) 4 &ue tal-e' ninu$m "ossa alcançar + e +, eu me encarreode o#ter)

5A;4TA A sua dedicação corta(me a -ontade de im"edi(lo) Se me fa' o fa-or)))

=?45?5=4Pois não, at$ +I G#eia(lhe a mão e saiH 

Cena )CARLOTA VALENTIM 

5A;4TA

 AhI ahI ahI

!AE?T=M!) E8a) ri(se/

5A;4TA Acredita &ue foi "ara des"edi(lo &ue o mandei -er cartas ao correio/

!AE?T=M?ão ouso "ensar)))

5A;4TA4use, "or&ue foi isso mesmo)

!AE?T=MJa-er+ indiscrição em "eruntar com &ue fim/

5A;4TA5om o fim de "oder interro+(lo acerca do sentido de suas "ala-ras &uando da&ui saiu)

!AE?T=MPala-ras sem sentido)))

5A;4TA4hI

!AE?T=M<isse alumas coisas))) tolasI

5A;4TAEst+ tão calmo "ara "oder a-aliar desse modo as suas "ala-ras/

!AE?T=M

Estou)5A;4TA<emais, o fim tr+ico &ue &ueria dar a uma coisa &ue começou "or idlio))) de-ia assust+(

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lo)

!AE?T=M Assustar(me/ ?ão conheço o termo)5A;4TA1 intr$"ido/

!AE?T=Mm tanto) >uem se e8".e morte não de-e temê(la em caso nenhum)

5A;4TA4hI 4hI "oeta, e intr$"ido de mais a mais)

!AE?T=M5omo lord @Oron)

5A;4TA

Era ca"a' de uma seunda "ro-a do caso de eandro/!AE?T=MEra) Mas eu + tenho feito coisas e&ui-alentes)

5A;4TAMatou alum elefante, alum hi"o"6tamo/

!AE?T=MMatei uma onça)

5A;4TAma onça/

!AE?T=MPele malhada das cores mais -i-as e es"lêndidas% arras laras e "ossantes% olhar ful-o,"eito laro e duas ordens de dentes afiados como es"adas)

5A;4TA*esusI Este-e diante desse animalI

!AE?T=MMais do &ue isso% lutei com ele e matei(o)

5A;4TA4nde foi isso/

!AE?T=MEm Doi+s)

5A;4TA5onte essa hist6ria, no-o Das"ar 5orreia)

!AE?T=MTinha eu -inte anos) And+-amos caça eu e mais aluns) =nternamo(nos mais do &uede-amos "elo mato) Eu le-a-a comio uma es"inarda, uma "istola e uma faca de caça)4s meus com"anheiros afastaram(se de mim) Trata-a de "rocur+(los &uando senti

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"assos))) !oltei(me)))

5A;4TAEra a onça/ !AE?T=M

Era a onça) 5om o olhar fito so#re mim "arecia dis"osta a dar(me o #ote) Encarei(a, tireicautelosamente a "istola e atirei so#re ela) 4 tiro não lhe fe' mal) Proteido "elo fumo da"6l-ora, acastelei(me atr+s de um tronco de +r-ore) A onça foi(me no encalço, e durantealum tem"o andamos, eu e ela, a dançar roda do tronco) ;e"entinamente le-antou as"atas e tentou esmaar(me a#raçando a +r-ore, mais r+"ido &ue o raio, aarrei(lhe asmãos e a"ertei(a contra o tronco) Procurando esca"ar(me, a fera &uis morder(me em umadas mãos% com a mesma ra"ide' tirei a faca de caça e cra-ei(lhe no "escoço% aarrei(lhede no-o a "ata e continuei a a"ert+(la, at$ &ue os meus com"anheiros, orientados "elotiro, chearam ao luar do com#ate)

5A;4TA

E mataram/)))!AE?T=M?ão foi "reciso) >uando laruei as mãos da fera, um cad+-er "esado e t$"ido caiu nochão)

5A;4TA4ra, mas isto $ a hist6ria de um &uadro da AcademiaI

!AE?T=MS6 h+ um e8em"lar de cada feito her6ico/

5A;4TAPois, de-eras, matou uma onça/ !AE?T=M5onser-o(lhe a "ele como uma rel&uia "reciosa)

5A;4TA1 -alente% mas "ensando #em não sei de &ue -ale ser -alente)

!AE?T=M4hI

5A;4TAPala-ra &ue não sei) Essa -alentia fora do comum não $ dos nossos dias) As "roe'asti-eram seu tem"o% não me entusiasma essa luta do homem com a fera, &ue nosa"ro8ima dos tem"os #+r#aros da humanidade) 5om"reendo aora a ra'ão "or &ue usados "erfumes mais ati-os% $ "ara disfarçar o cheiro dos filhos do mato, &ue naturalmenteh+ de ter encontrado mais de uma -e') Fa' #em)

!AE?T=MFera -erdadeira $ a &ue !) E8a) me atira com esse riso sarc+stico) 4 &ue "ensa então&ue "ossa e8citar o entusiasmo/

5A;4TA4ra, muita coisaI ?ão o entusiasmo dos her6is de Jomero% um entusiasmo mais condino

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nos nossos tem"os) ?ão "recisa ultra"assar as "ortas da cidade "ara anhar ttulos admiração dos homens)

!AE?T=M!) E8a) acredita &ue sea uma -erdade o a"erfeiçoamento moral dos homens na -ida dascidades/

5A;4TA Acredito)

!AE?T=MPois acredita mal) A -ida das cidades estraa os sentimentos) A&ueles &ue eu "udeanhar e entreter na assistência das florestas, "erdi(os de"ois &ue entrei na -idatumultu+ria das cidades) !) E8a) ainda não conhece as mais -erdadeiras o"ini.es)

5A;4TA<ar(se(+ caso &ue -enha "rear contra o amor/)))

!AE?T=M4 amorI !) E8a) "ronuncia essa "ala-ra com uma -eneração &ue "arece estar falando decoisas saradasI =nora &ue o amor $ uma in-enção humana/

5A;4TA4hI

!AE?T=M4s homens, &ue in-entaram tanta coisa, in-entaram tam#$m este sentimento) Para dar ustificação moral união dos se8os in-entou(se o amor, como se in-entou o casamento"ara dar(lhe ustificação leal) Esses "rete8tos, com o andar do tem"o, tornaram(semoti-os) Eis o &ue $ o amorI

5A;4TA1 mesmo o senhor &uem me fala assim/

!AE?T=MEu mesmo)

5A;4TA?ão "arece) 5omo "ensa a res"eito das mulheres/

!AE?T=M A $ mais difcil) Penso muita coisa e não "enso nada) ?ão sei como a-aliar essa outra"arte da humanidade e8trada das costelas de Adão) >uem "ode "Kr leis ao mar/ 1 omesmo com as mulheres) 4 melhor $ na-ear descuidadamente, a "ano laro)

5A;4TA=sso $ le-iandade)

!AE?T=M4hI minha senhoraI

5A;4TA5hamo le-iandade "ara não chamar des"eito)

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!AE?T=MEntão h+ muito tem"o &ue sou le-iano ou ando des"eitado, "or&ue esta $ a minha o"iniãode lonos anos) Pois ainda acredita na afeição ntima entre a descrença masculina e))) d+licença/ A le-iandade feminina/

5A;4TA

1 um homem "erdido, Sr) !alentim) Ainda h+ santas afeiç.es, crenças nos homens, e u'o nas mulheres) ?ão &ueira tirar a "ro-a real "elas e8ceç.es) Some a rera eral e h+de -er) AhI mas aora "erce#oI

!AE?T=M4 &uê/ 5A;4TAGrindoH AhI ahI ahI 4uça muito #ai8inho, "ara &ue nem as "aredes "ossam ou-ir: este não $

ainda o caminho do meu coração, nem a -alentia, tam"ouco)!AE?T=M AhI tanto melhorI !olto ao "onto da "artida e desisto da l6ria)))

5A;4TA<esanima/ Gentra o <outorH

!AE?T=M<ou(me "or satisfeito) Mas + se -ê, como ca-alheiro, sem rancor nem hostilidade) Gentra=nocêncioH

5A;4TA1 arriscar(se a no-as tentati-as)

!AE?T=M?ão)

5A;4TA?ão sea -aidoso) Est+ certo/

!AE?T=MEstou) E a ra'ão $ esta: &uando não se "ode atinar com o caminho do coração toma(se ocaminho da "orta) Gcum"rimenta e dirie(se"ara a "ortaH

5A;4TA Ah ( Pois &ue -+I ( Esta-a a Sr) <outor) Tome cadeira)

<4T4;G#ai8oH5om uma ad-ertência: J+ muito tem"o &ue mo fui "elo caminho da "orta)

5A;4TAGs$riaHPre"araram am#os esta com$dia/

<4T4;

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5om$dia, com efeito, cua moralidade !alentim incum#iu(se de resumir: ( >uando não se"ode atinar com o caminho do coração, de-e(se tomar sem demora o caminho da "orta)Gsaem o <outor e !alentimH

5A;4TAG-endo =nocêncioH

Pode sentar(se) Gindica(lhe uma cadeira) ;isonhaH 5omo "assou/=?45?5=4Gsenta(se meio desconfiado, mas le-anta(se looHPerdão: eu tam#$m -ou "elo caminho da "ortaI Gsai) 5arlota atra-essa arre#atadamente acena) 5ai o PanoH

Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística