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Novos contributos... Cephis_6_pp.307-225.pdf

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Revista CEPIHS (Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social), 6, 2016, 307-335

Novos coNtributos para o estudo dos artistas e artífices seteceNtistas

do coNcelho de carrazeda de aNsiães

Ana Celeste Glória*

Resumo – A região norte, e em particular o distrito de Bragança, tem ganho especial interesse por parte dos historiadores e dos historiadores de arte, ex-presso na publicação de estudos que incidem sobre o seu património material e imaterial. No entanto, muito ainda se encontra por realizar no que concer-ne à divulgação de fontes documentais desse património, que nos dão pistas sobre os seus intervenientes e, em especial, sobre os seus autores. Partindo do concelho de Carrazeda de Ansiães no período setecentista, com evidente carência de estudos específicos sobre o seu património, propomo-nos, neste artigo, lançar pistas sobre os artistas e artífices que, no século XVIII, resi-diam e trabalhavam nas diversas obras deste concelho. Palavras-chave – Artistas; Artífices; Património Artístico; Carrazeda de Ansiães; Século XVIII.

Abstract – The northern region, and in particular the district of Brangança, has gained special interest by historians and art historians, expressed through the publication of studies that focus on its material and immaterial patrimony. However, much more is still to be done concerning the disclosure of sources of documentation of that patrimony, which give us clues about their partici-pants, and in particular, about their authors. Starting with the municipality of Carrazeda de Ansiães in the 18th century, with obvious lack of specialized studies about its patrimony, we propose to hint at the artists and craftsmen who, in the 18th century, lived and worked on different artistic works in this municipality.Keywords – Artists; Craftsmen; Artistic Patrimony; Carrazeda de Ansiães; 18th Century.

_______________* Investigadora do IHA – Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; Doutoranda em História da Arte na mesma faculdade, sob orientação do Prof. Doutor Carlos Alberto Moura; Bolseira de Doutoramento da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia (SFRH/BD/86280/2012).

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Introdução

Tendo como base o plano de investigação que se iniciou em 2012, no âmbito da nossa tese de doutoramento sobre a casa nobre edificada na Região Demarcada do Douro, durante o século XVIII1, elaborou-se um levantamento pormenorizado de artistas e artífices que exerceram acti-vidade naquela extensa área geográfica. Para o efeito, procedeu-se, numa primeira fase, a uma recolha bibliográfica sobre aquele território, o seu património e artistas, verificando-se que algumas das áreas já haviam sido objecto de estudo. Os diversos contributos que dele resultaram, li-gados às diferentes disciplinas artísticas – arquitectura, pintura, talha, escultura, e outras –, como aos seus artistas, tornaram-se fundamentais para a nossa investigação.

Numa segunda fase, realizou-se a pesquisa arquivística, concentrada especificamente, nos arquivos distritais de Bragança, Guarda, Viseu, Vila Real, Braga e Porto, onde se encontrou um vastíssimo fundo docu-mental. Passámos a dispor, para a extensa área geográfica em estudo, de uma grande diversidade e abundância de dados, que se prendem, nomea-damente, com a própria circulação dos artistas e artífices pelos diferen-tes distritos e concelhos. Apesar da investigação já realizada, sobretudo no Porto, Vila Real, Viseu e Lamego, constatou-se que algumas das zo-nas permanecem carentes de estudos sobre os seus pedreiros, carpintei-ros, entalhadores ou pintores e respectivo património artístico. Neste sentido, destaca-se no distrito de Bragança, o concelho de Carrazeda de Ansiães, alvo de análise por Cristiano Morais, em 2006 e 20142, a quem se deve o mérito de ter revelado grande parte dos documentos afectos

1 A nossa Tese de Doutoramento em História da Arte – especialização História da Arte Moderna, desenvolvida no Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA Lisboa, centra-se na identificação e estudo de casas nobres construídas na Região Demarcada do Douro, durante o século XVIII. Por conse-guinte, privilegiará não só o objecto edificado, mas também outros aspectos, nomeada-mente as pessoas envolvidas, isto é, proprietários e artistas.2 Veja-se Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, Carrazeda de Ansiães, Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães, 1.º vol., 2006 e idem, Por terras de Ansiães: monografias, Carrazeda de Ansiães, Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães, 2.º vol., 2014.

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àquele concelho. Não evidenciou, contudo, os homens responsáveis pela edificação do seu património, sobre os quais falta um estudo específico. Assim, centrados nesta zona geográfica e no período que nos interessa, o século XVIII, procurou-se, neste artigo, com base na informação re-colhida nas obras de Cristiano Morais, bem como as de Luís Alexandre Rodrigues3, e na confrontação das fontes documentais localizadas no Ar-quivo Distrital de Bragança (ADBGC), contribuir para um conhecimen-to mais alargado do património e dos artistas e artifícies que realizaram obras no concelho de Carrazeda de Ansiães, tanto dos naturais como dos que eram oriundos de outras localidades. Privilegiou-se, como fontes documentais, os contratos de obras, e recorreu-se, ainda, àqueles que fazem referência a obrigações, fianças e procurações.

1. Geografia e história do concelho de Carrazeda de Ansiães4

O concelho de Carrazeda de Ansiães localiza-se na região Norte de Portugal, no distrito de Bragança. Geograficamente, o concelho confronta-se com os rios Douro e Tua, respectivamente a Sul e Oeste. A Norte é limitado pelo município de Vila Flor, a Nascente confronta com o de Torre de Moncorvo, a Sul partilha o Rio Douro com Vila Nova de Foz Côa e São João da Pesqueira, e a Oeste contempla o vale do Tua.

No século XVIII era sede de concelho a antiga vila de Ansiães, perten-cente à comarca de Torre de Moncorvo. Localizada nas proximidades da actual sede do concelho, Ansiães apresentava um posicionamento geográ-

3 Consulte-se a nota anterior, e veja-se também Luís Alexandre Rodrigues, Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bragança. Documentos. Séculos XVII-XVIII, Mirandela, João Azevedo Editor, 2005.4 Sobre o concelho e vila de Carrazeda de Ansiães consultou-se: José Aguilar, Carrazeda de Ansiães e seu termo: esboço e subsídios para uma monografia, Carrazeda de Ansiães, Câmara Municipal, 1980; Ricardo Manuel Paninho Pereira, …De Ansiães a Carrazeda de Ansiães, Bragança, Escola Tipográfica, 1991; Roger Teixeira Lopes, Carrazeda de Ansiães: Patrimó-nio Artístico, Mirandela, João Azevedo Editor, 1996; Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, Carrazeda de Ansiães, Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães, 1.º vol., 2006; idem, Por terras de Ansiães: monografias, Carrazeda de Ansiães, Câmara Mu-nicipal de Carrazeda de Ansiães, 2.º vol., 2014.

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fico favorável, dadas as naturais condições de defesa, que ali proporcio-naram a edificação de um Castelo, cuja história remonta ao III milénio A.C.. Desde esse período que as características geomorfológicas do local em muito terão favorecido para uma ocupação sucessiva, privilegiada pela proximidade do Rio Douro e fronteira com Espanha.

Entre os séculos XII e XV, assiste-se a um exponencial crescimento populacional em Ansiães. No final do século XV, e particularmente no sé-culo XVI, observa-se um decréscimo demográfico, apresentando inclusive algumas das aldeias que pertenciam ao município, uma população superior à de Ansiães. Nas centúrias seguintes, esta situação agrava-se, culminando em 1734, na transferência dos Paços do Concelho para Carrazeda de An-siães. De acordo com as Memórias Paroquiais de 1758, Carrazeda possuía 173 moradores, abrangendo o concelho 36 lugares com cerca de 1626 morado-res. A freguesia tinha e tem como padroeira Santa Águeda.

Durante o século XVIII, a região possuía uma intensa actividade co-mercial, sendo que muitos dos produtos que aqui chegavam via Rio Douro, através da cidade do Porto, eram escoados por Carrazeda, para o resto da província e mesmo para Espanha. Por aqui entravam também para se-rem embarcados em Foz-Tua grande parte dos excedentes agrícolas que a região produzia. É neste contexto comercial regional que Carrazeda se transforma, quase subitamente, em sede de concelho.

Em termos territoriais5, a vila Ansiães, até à data de 1734, era constituí-da por um território que correspondia ao actual concelho de Carrazeda de Ansiães, com excepção das localidades de Vilarinho da Castanheira, que era então sede de um concelho, Pinhal do Douro, que pertencia a Vilari-nho da Castanheira, Pereiros, Codessais e Mogo da Malta que pertenciam ao concelho, depois extinto de Freixiel. Ao mesmo tempo a vila e conce-lho de Vilarinho da Castanheira era formado pelos lugares de Carvalho

5 Sobre a organização do território no século XVIII veja-se: Padre Carvalho Costa, “Cap. IV – Da Villa de Anciães”, in Corographia portugueza e descripçam topografia do famoso reyno de Portugal, Lisboa, Offician de Valentim Fernandes da Costa Deslandes, 1706, tomo I, pp.435 e ss; e P.e Luís Cardoso, “Carrazeda”, in Diccionario geografico, ou noticia historica de todas as cidades, villas, lugares, e aldeas, rios, ribeiras, e serras dos Reynos de Portugal, e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se encontraõ, assim antigas, como modernas (...), Lisboa, na Regia Officina Sylviana, e da Academia Real, 1751, tomo II, pp. 457-458.

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de Egas, Castedo, Lousa, Mourão, Seixo de Mahoses, Valtorno, e pelas Quintas de Alagoa, Gavião, Pinhal (do Douro) e São Painho.

Os lugares e quintas pertencentes ao concelho de Ansiães transitam, em 1734, para o de Carrazeda de Ansiães. Vilarinho continua como concelho até 1853, data em que é extinto, tal como Pinhal do Douro, passando a pertencer a Carrazeda6.

Actualmente, a área administrativa do município ocupa cerca de 281, 8 km2, na qual se distribuem 14 freguesias: União de Freguesias (U.F.) de Amedo e Zedes; Carrazeda de Ansiães; Fontelonga; Linhares; Parambos; Pinhal do Norte; Seixo de Ansiães; U. F. de Belver e Mogo de Malta; U. F. de Castanheiro e Ribalonga; U. F. Lavandeira, Beira Grande e Selo-res; Marzagão; Pereiros; Pombal e Vilarinho da Castanheira7.

6 Lousa e Castedo foram integradas no de Moncorvo e os restantes no de Vila Flor. Tam-bém o concelho de Freixiel foi extinto em 1836 e as freguesias de Pereiros, Codeçais e Mogo da Malta passaram a pertencer ao de Carrazeda. Formava-se, assim o actual con-celho de Carrazeda de Ansiães, cujo número de freguesias foi variando ao longo dos anos. 7 Embora parte destas localidades não pertencesse ao concelho de Carrazeda no século XVIII, como se mencionou, preferiu-se integrar no estudo Vilarinho da Castanheira e

Fig. 2 – Freguesias do concelho de Carrazeda de AnsiãesFonte: Diário da República, Reorganização administrativa do território das freguesias, Lei n.º 11-A/2013, de 28 de janeiro. Direcção-Geral do Território, Carta Administrativa Oficial de Portugal (CAOP), versão 2013: Continente (http://www.dgterritorio.pt/ficheiros/cadastro/caop/caop_download/caop_2013_0/caop2013cont_zip_2)

Fig. 1 – Actual concelho de Carrazeda de AnsiãesFonte: Câmara Municipal de Carrazedade Ansiães - http://www.cm-carrazedad eansiaes.pt/pages/349

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2. Levantamento de artistas e artífices setecentistas no concelho de Carrazeda de Ansiães: do homem à obra construída

A investigação sobre os artistas e artífices do concelho de Carraze-da de Ansiães foi orientada de acordo com alguns critérios, de modo a facilitar a interpretação dos resultados. Optou-se por organizar o le-vantamento em três grupos distintos: pedreiros, canteiros e outros; car-pinteiros e entalhadores; e pintores. Adoptou-se a ordem cronológica, a fim de se ter uma ideia do que se ia construindo ao longo do tempo no concelho e respectivas freguesias8. Face à extensão do trabalho re-sultante do levantamento dos artistas e artífices, inclui-se somente os dados mais pertinentes sobre a vida dos artistas (naturalidade/residên-cia/mobilidade noutros concelhos), as suas obras (elementos específicos que se encontrem nas fontes), recorrendo-se não só à fonte documental como a bibliografia específica. Para ilustrar os resultados deste trabalho, socorreu-se à elaboração de tabelas que se encontram no final do artigo.

2.1 Pedreiros, canteiros e outros9

As primeiras referências que se têm em relação aos pedreiros, can-teiros e outros, do concelho de Carrazeda, no século XVIII, remon-tam ainda ao final do século XVII. Não se pode deixar de mencionar os mestres-construtores Gonçalo Vaz de Carvalho e Domingos da Silva, de naturalidade e residência desconhecida, revelados pelo Abade de Baçal10.

Pinhal do Norte, que hoje compõem o Município, e sobre as quais se possui alguns docu-mentos referentes à circulação de artistas e realização de obras.8 Optou-se, ainda, por incorporar na referência a cada artista, e a título biográfico, todas as suas obras, do seguinte modo e a título de exemplo: regista-se que o pintor António José de Araújo Sarmento estava activo em 1777, mas também em 1790. Outro artista, referenciado nas fontes é Francisco Pereira de Oliveira, professor de pintura, activo em 1783.9 Este grupo incorpora todos os que, de alguma forma, trabalharam a arte da pedra, ou seja, que estão envolvidos em obras de pedraria e cuja documentação a eles faz referência.10 Cf. Francisco Manuel Alves, Bragança Memórias arqueológicas-históricas do Distrito de Bra-gança (...) 2000, tomo IV, p. 351, 2000 (veja-se também o tomo VI, p. 87). O autor transcreve parcialmente o documento referente às obras das pontes de Marzagão e Selo-res: “«Ouvidor da da [sic?] comarca de Bragança. Hei por bem se de comprimento ao lançamento que

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De acordo com o documento que publicou, a estes mestres deve-se a edificação das pontes de Marzagão e Selores, em 1697, pelo preço de 165 000 réis11. Atendendo a que se trata de uma obra de final do século, su-põe-se que realizaram outros trabalhos nos anos posteriores, quer neste concelho, quer nas localidades vizinhas.

Já no século XVIII, o primeiro artista de que há registo é Manuel Ro-drigues, mestre-canteiro da freguesia de São Pantalião de Cornes, con-celho de Vila Nova de Cerveira. A 30 de Março de 1761, foi contratado pelo Reverendo Doutor António de Sousa Pinto, reitor da Igreja de São João, para realizar a obra de ampliação da capela-mor e sacristia da Igreja Matriz de Marzagão12, dedicada a São João Baptista. Fundada entre os séculos XV-XVI, sofreu obras de melhoramentos nos séculos seguintes, como alude a Escritura de contrato e fiança que deu o mestre canteiro Manuel Rodrigues…, que resultou no actual templo barroco. Foi pretendida pe-los moradores de Marzagão, em 3 de Fevereiro de 1758, para poderem erigir dois novos altares, um para colocar-se a imagem de Nossa Senhora da Natividade e outro para o de Nossa Senhora da Conceição e Santa Bárbara13. Para tal, deveria ampliar-se a capela-mor e a sacristia.

se fez a essa cidade, villas e logares de seu termo dos 165:000 reis que lhe couberam na repartição que se fez para o gasto da ponte dos logares de Marzagão e Selores para serem pagos os mestres della Gonçallo Vaz de Carvalho e Domingos da Silva e vos mando que façaes este lançamento com os juízes e officiaes das camaras pondo todo o cuidado em que seja com a menor opressão dos povos attenden-do-se á posibilidade que tiver cada um dos moradores das villas e logares (...) El-rei o mandou (...) Lisboa 11 de Outubro de 1697», Livro do Registo da Câmara de Bragança, fl. 187”. 11 Sobre a edificação de pontes e seus artistas consulte-se o artigo de Luís Alexandre Rodrigues, “Mestres de obras de arquitectura e sociedades. A construção de pontes na Beira Alta e em Trás-os-Montes no século XVII”, in Artistas e Artífices e a sua mobilidade no mundo de expressão portuguesa – Actas do VII Colóquio Luso-Brasileiro, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2007, pp. 273-286.12 “Escritura de contrato e fiança que deu o mestre canteiro Manuel Rodrigues, da fre-guesia de São Pantalião de Cornes, da Província do Minho, ao acréscimo da capela-mor e sacristia da Igreja de Marzagão”, Arquivo Distrital de Bragança (doravante ADBGC), Cartório Notarial de Carrazeda de Ansiães (doravante CNCA), cx. 4, lv. 21, fls. 65v-66v. Publicado e transcrito parcialmente por Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, op. cit., 2006, p. 479.13 Escritura de obrigação que fizeram os moradores de Marzagão de fabricarem dois alta-res que de novo erigem na Igreja do dito lugar, ADBGC, CNCA, 1.º of., cx.3, lv.16, fls. 38v-39v. Publicado e transcrito parcialmente por Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, p. 479.

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(...) em vertude de hum capitullo de vezita do Doutor Fellipe da Cunha vezitador ordinário que foi nesta segunda arte da Comarca da Torre de Moncorvo de cinco de Dezembro de mil setecentos cincoenta e coatro de alargar a samcrestia da mesma Igreja e fazer outras cousas conducentes para a prefeição da mesma obra para o que tinham feito apontamentos e para isso tinha dado a obra em pregam na presença de muitos mestres do mesmo oficio em dia para o cazo determinado por editais que se puzeram em varias partes desta comarca (…)”14.

Manuel Rodrigues arrematou a dita obra pelo menor lanço, e no valor de 76 000 réis.

Em Dezembro de 1761, no âmbito da escritura de fiança e abonação da obra de pedraria e carpintaria da capela-mor e sacristia da Igreja Ma-triz de Cabeça de Mouro, no termo de Torre de Moncorvo15, encon-tram-se dois artistas pertencentes ao concelho de Carrazeda. Trata-se de André Gonçalves Annes, pedreiro, natural do Minho, mas residente à data em Marzagão16; e António Viegas, mestre-carpinteiro, que será abordado adiante.

João Francisco, mestre-canteiro, do lugar de Marzagão, a 27 de Outu-bro de 1765, arrematou a obra de pedraria da Igreja de Santa Maria Ma-dalena de Vilarinho da Castanheira, uma das mais antigas paróquias do concelho 17. De acordo com diversas fontes, esta igreja já existia no sé-

14 Cf. “Escritura de contrato e fiança que deu o mestre canteiro Manuel Rodrigues (...)”,ADBGC, CNCA, cx. 4, lv. 21, fls. 65v-66v. Publicado e transcrito parcialmente por Cristiano Morais, ibidem.15 “Escritura de fiança e abonação que deram Francisco Domingos e mais pedreiros abai-xo declarados e o carpinteiro António Viegas este da Samorinha e outros da província do Minho e o mais abaixo declarado a factura da obra da capela mor da Igreja de Cabeça de Mouro (...)”, ADBGC, Cartório Notarial de Carrazeda de Ansiães, cx. 4A, lv. 22, s/fl (fólio cortado). Publicado por Luís Alexandre Rodrigues, “Património edificado no concelho de Moncorvo e interacções artísticas regionais”, in Fernando de Sousa (coord.), Moncorvo – da Tradição à Modernidade, Porto, Edições Afrontamento/CEPESE, 2009, pp.136-138.16 Além destes, refira-se João Alves, de Vila Nova de Cerveira, concelho de Viana do Castelo, e Francisco Gonçalves Palhares de São Julião da Silva, concelho de Barcelos (?). Infira-se os que “Francisco Domingos”, registado no cabeçalho da escritura (vide nota anterior), é Francisco Gonçalves Palhares, pois do primeiro só se encontrou aquela menção no documento.17 “Escritura de arrematação e contrato de ajuste da obra da Igreja Matriz desta vila que fez João Francisco Mestre Canteiro do lugar de Marzagão termo de Ansiães e o Reveren-

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culo XVII. De acordo com Cristiano Morais, foi destruída por completo, sendo substituída por outra mais espaçosa e ao gosto da época18. Infe-lizmente, também esta foi abandonada e arrasada durante o 3.º quartel do século XVIII, dando origem ao templo actual, construído a algumas dezenas de metros da antiga, numa cota superior19. De facto, a escritura da referida obra (1765) comprova a edificação da nova igreja, uma vez que o referido João Francisco

(…) tinha contratado com o sobredito Reverendo Abbade de lhe fazer a Igreja Matrix desta villa e Capella Mor que teria de comprido entre huma e outra cento e cincoenta palmos de comprido pella parte de dentro e trinta palmos de alto e corenta de largo (…).

Deveria seguir determinada fonte estética, isto é,

(...) o Fronteespicio será feito pella planta da Igreja de Marzagão, exceto campanario dos sinos ou torre que essa será por conta delle Reverendo Abbade na forma que melhor lhe parecer e no que respeita ao fronteespicio quando não seja melhor que o de Marzagão, não seja pior (…).

De facto, visualizam-se algumas semelhanças entre as duas igrejas, re-petindo-se o óculo e o coroamento de pináculos no desenho das fachadas.

Segundo o mesmo documento, o contrato previa, ainda, a construção da

(…) Sacristia que o dito Joam Francisco fara tambem e sera feita na pro-porção da Igreja com cornijamento de papo de rola com seo friso liso (…)”, sendo toda ela executada pelo preço “(…) de hum conto de reis em dinhei-ro corrente que lhe dará em vinte pagamentos de sincoenta mil reis cada hum ou conforme for correndo a obra (…).

do Abade Manuel Guedes Pinto da Gama desta vila um ao outro (...)”, ADBGC, CNCA, 1.º of., cx. 5, lv. 23, fls. 164-165v. Documento transcrito por Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, pp. 368 e 485.A primitiva paróquia de Vilarinho da Castanheira foi, inicialmente, dedicada a Santa Maria e, mais tarde, a Santa Maria Madalena.18 Cristiano de Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, op. cit., p. 485.19 Idem, ibidem.

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A 16 de Março de 1773, Francisco da Costa Ferreira, mestre-pedreiro, de Alganhafres, freguesia de Selores, arrematou a obra do Cabido de Santa Eufémia, actual Igreja de São Salvador da Lavandeira, no valor de 220 000 réis20.

Em 1734, a elevação da localidade de Lavandeira obrigou a que a pe-quena capela da paróquia de Santa Eufémia, fundada possivelmente no século XV, passasse a ser utilizada como Igreja Matriz, sob a invocação de São Salvador. É neste contexto que surgiram as diversas campanhas de obras, com o objectivo de lhe conferirem dignidade. As primeiras da-tam de 1743 e 1754, respectivamente, de carpintaria e de pintura, e que adiante serão mencionadas. Sobre as obras de pedraria, só se conhece a alusão a uma delas através a escritura de 177321. Porém, na escritura de carpintaria de 1743, menciona-se a realização de obras de pedraria naquelas datas22. Sobre as de 1773, incumbiu-se ao referido Francisco da Costa Ferreira a execução de um “alpendre de estrutura maneirista suportado por 12 colunas toscanas”, de acordo com um esboço que lhe havia sido entregue23. A linguagem maneirista que aqui se observa, es-tende-se à totalidade do templo, muito embora a intervenção barroca seja notória em alguns elementos, derivada da campanha decorativa do interior do período barroco.

De 9 de Agosto de 1775, possui-se o registo de uma escritura de fian-ça realizada por José Correia, de Vale de Torno [Valtorno] de Vilarinho da Castanheira24, por seu irmão, João Correia e pelo canteiro Bento José

20 “Escritura de arrematação e fiança da obra do Cabido de Santa Eufémia que fizeram o juis dela e o Mestre Francisco da Costa Ferreira” ADBGC, CNCA, 1.º of., cx. 5A, lv. 27, fls.108-110. Transcrita parcialmente por Cristiano Morais, ibidem, p. 476. Sobre a mesma igreja veja-se Hélder Rodrigues, A festa de Santa Eufémia de Lavandeira. No contex-to socio-económico e cultural de Carrazeda de Ansiães: passado e presente, Braga, 2002 e Luís Alexandre Rodrigues, “A Igreja de Lavandeira: elementos para a sua história artística”, in Brigantia, Revista de Cultura, Bragança, Assembleia Distrital, vol. XXIII, n.os 1/2, 2003, pp. 35-51.21 Veja-se a nota anterior.22 “(…) que de novo se andava fazendo de pedraria (…)”, in “Escritura de fiança que faz Manuel Homem de Vilarouco ao madeiramento da Capela de Santa Eufêmia da Lavandei-ra”, ADBGC, CNCA, cx.2, lv.11, fls. 67v-69v, 12 de Outubro de 1743.23 Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: monografias, op. cit., p. 252.24 É, eventualmente, José Correia Pavilhão Lopes, entalhador, de Vale de Torno (?).

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de Melo, natural de Pombeiro, termo de Guimarães. No mesmo docu-mento, lê-se que o

(…) dito Jose Correia que elle tinha justo e contratado com o dito Re-verendo Procurador de lhe fazer huma obra na capella mor da Igreja de Belver deste termo pertencente a toda a carpintaria e obra de escultor e de pedraria (…) em preço de duzentos e sessenta e cinco mil reis satisfeitos e pagos em tres pagamentos (…)25.

Quanto a Bento José de Melo, surge activo noutras localidade pró-ximas, nomeadamente em 1783 na vila de Mêda, concelho da Guarda, como arrematante do chafariz da fonte nova daquela vila26. Reaparece no concelho de Carrazeda, a 12 de Agosto de 1789, numa escritura de fiança sobre a obra de ladrilho da Igreja de Vilarinho da Castanheira, que arrematou pelo preço de 105 000 réis27. Tratando-se da pavimentação da igreja, é válido supor que seria possivelmente uma das últimas obras iniciadas em 1765, anteriormente citadas.

Este pedreiro surge associado, ainda, aos trabalhos de pedraria da sa-cristia da Igreja de Pombal, actual Igreja de São Lourenço de Pombal, que arrematou em sociedade com José Ferreira Simões, da freguesia de São Pedro da Cota, concelho de Viseu, a 8 de Março de 179028. Esta igreja foi edificada durante a primeira metade do século XVIII, a mando do Pe. António de Seixas, conforme atesta a inscrição da fachada poste-

25 “Escritura de fiança que deu José Correia e seu irmão João Correia e Bento José de Melo à obra de carpintaria e pedraria da Capela Mor da Igreja de Belver”, ADBGC, CNCA, cx. 5, lv. 27, fls.184v-187. Transcrito parcialmente por Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, p. 469.26 Consulte-se a referida “Escritura de arrematação que manda fazer Francisco Manoel de Abrunhosa desta vila da Meda como Esp. da obra do chafariz da fonte nova desta mesma vila ao mestre pedreiro Bento José de Melo da freguesia de Pombeiro termo de Guimarães”, Arquivo Distrital da Guarda, Cartório Notarial de Mêda, 1.º of., cx.15, lv. 212, fls. 42v-44, 1783.27 “Escritura de fiança que dá o mestre arrematante Bento José de Melo, oficial de cantei-ro à obra de ladrinho da Igreja Matriz desta vila de Vilarinho da Castanheira”, ADBGC, CNCA, cx. 8, lv. 43, fls.7-8v. Transcrito parcialmente por Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, p. 485.28 “Escritura de arrematação da obra da Igreja (…)”, 1790, 8 de Março; ADBGC, CNCA, cx. 8, lv. 44, fls. 20v-24. Publicado e transcrito parcialmente por Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, p. 482.

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rior da capela-mor – “ESTA/ OBRA MANDOU/ FAZER O R(everen)DO AN/ TO(nio) DE SEIXAS 1750”. A obra da sacristia corresponderá, por isso, a uma outra fase, certamente de melhoramento e ampliação, a que se juntam os trabalhos de carpintaria e pintura que serão mencio-nados oportunamente29. Aquela obra foi arrematada por 87 000 réis.

Acrescente-se à biografia de Bento José de Melo, a obra de carpintaria da tribuna e forro da capela-mor, sacristia e caixotões da Igreja Matriz de Mós do Douro, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, em 179030.

Ao grupo de mestres-obras do concelho de Carrazeda juntam-se ou-tros canteiros e pedreiros. Em 1789, destacam-se as inúmeras obras da Igreja de Santa Águeda, matriz do concelho de Carrazeda, ocasionadas pela transferência da sede do concelho de Ansiães para aquele. Face ao aumento da povoação, a igreja não possuía as condições necessárias para a prática eclesiástica, sendo indispensável a sua reforma. Após um longo período de troca de correspondência com a Corte, para efeitos de au-torização e pedido de fundos, as obras de pedraria e carpintaria foram arrematadas a 25 de Outubro31. A que nos interessa particularmente, a de pedraria, foi arrematada por António José Domingues Castanheira, mestre-pedreiro, natural de São Pedro de Gondarém, concelho de Vila Nova da Cerveira, que ali esteve activo até à sua conclusão, entre 1791--179232. No lintel do portal da fachada principal encontra-se gravada o ano do início da ampliação da igreja – 1790. A igreja patenteia o gosto barroco da época da sua reconstrução, destacando-se sobretudo pelo trabalho da talha e pintura, a referir posteriormente.

A 21 de Novembro daquele ano, João da Cunha, natural da freguesia de Santa Maria de Paredes, província do Minho, José Ferreira Simões,

29 Na mesma escritura, são também celebradas as obras de carpintaria e pintura.30 Veja-se Arquivo Distrital da Guarda, Cartório Notarial de Freixo de Numão, 2.º of., cx. 7, lv. 84, fls.14-17v.31 Sobre a história da referida igreja consulte-se Luís Alexandre Rodrigues, “A capela do Morgado e a igreja de Santa Águeda em Carrazeda de Ansiães”, in Revista da Faculdade de Letras: Ciências e Técnicas do Património, I Série, vol. 2, pp. 473-498, Porto, 2003, onde se encontram transcritos todos os documentos relativos àquele espaço.32 “Procuração bastante que faz Anastácia Maria desta vila de Carrazeda a Manoel Fernandes de Santa Maria da Silva termo de Valença província do Minho”, ADBGC, 1.º of., cx. 8, lv. 46, fls. 82-82v. Documento transcrito por Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, pp. 485-498.

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já mencionado33, e Manuel José Martins, da freguesia de São Miguel de Fontoura, termo de Valença, todos mestres-canteiros, arremataram a obra da capela-mor e sacristia da Igreja de São Tiago de Amedo34, após vários lanços, face ao valor mais baixo de 400.000 réis. Só a 17 de Feve-reiro de 1792, a obra foi ajustada

(…) pella coantia de trezentos e cinco mil reis, pagos em coatro paga-mentos, o primeiro no inicio da obra, o segundo pelas soleiras das friestas, o terceiro pelo sima das mesmas, o coatro e ultimo no fim da obra (…)35.

O último artista do quadro dos pedreiros e canteiros e documentado nas fontes, é Domingos José Mendes, de Peso da Régua, concelho de Penaguião, embora se desconheça sua especialidade, em concreto, – pe-dreiro, canteiro ou outro. Encontramo-lo a 25 de Junho de 1799, como responsável da obra de cal e telha da capela-mor e sacristia da Igreja se-tecentista de São Miguel de Linhares36, localizada na zona mais antiga da povoação. Veio substituir outra de origem mais remota, que teria sido a primeira igreja paroquial. Segundo Rosário Carvalho,

Muito embora a única data conhecida para a cronologia de obras desta igreja seja a que está presente na cartela da fachada principal - 1773 -, e que deverá referir-se à sua conclusão, outros aspectos, de natureza arquitectó-

33 Como se referiu anteriormente, encontramo-lo a 8 de Março de 1790, na Igreja de Pombal.34 “Escritura de arrematação da obra da capela-mor e sacristia da Igreja de Santiago do lugar de Amedo (…)”, ADBGC, CNCA, 1.º of., cx. 8, lv. 42, fls.167-169v. Transcri-to parcialmente por Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, op. cit., pp. 467-468.35 “Escritura de ajuste da obra da Igreja e fiança que fazem o Juiz da Igreja e moradores da freguesia de Amedo, ao mestre canteiro João da Cunha (…)”, ADBGC, Cartório Nota-rial de Carrazeda de Ansiães, 1.º of., cx. 8, lv. 46, fls. 96-99v. Transcrito parcialmente por Cristiano Morais, ibidem, p. 468.36 Escritura de obrigação e fiança da obra de caiar e dealbar a capela-mor e sacristia da Igreja de São Miguel de Linhares deste termo de Ansiães que faz Domingos José Mendes (…), ADBGC, CNCA, 1.º of., cx. 10, lv. 55, fls. 34v-37. Sobre esta igreja consulte-se Cristiano Morais, ibidem, pp. 476-478 e 276-281 e Rosário Carvalho, “Igreja de Linha-res”, pesquisa do património http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patri-monio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/73758, consultado a 20 de Junho de 2016.

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nica, deixam adivinhar outras intervenções, ou modificações, cujo alcance e época são, hoje, difíceis de determinar, reclamando um estudo bem mais aprofundado sobre o edifício37.

De facto, entre a década de 70 e 90, ocorreram diversas obras, quer de pedraria, quer de carpintaria e pintura, como se demonstrará adiante. A passagem de Domingos José Mendes marcou o encerramento dessas campanhas de obras, justificado, provavelmente, pela necessidade de manutenção do próprio templo.

2.2 Carpinteiros e entalhadores

No extenso grupo de carpinteiros e entalhadores, os primeiros artis-tas documentados são Manuel Homem de Lima, de Vilarouco, concelho de São João da Pesqueira, e António de Sousa Pinto, de naturalidade/residência desconhecida. A 12 de Outubro de 1743, fiaram a obra de ma-deiramento da Igreja de Santa Eufémia de Lavandeira, para a construção dos altares existentes junto ao arco do cruzeiro38. Como se mencionou, esta e outras obras visaram engradecer a igreja, a par da pintura e dou-ramento do tecto do corpo, em 1754, e da edificação do alpendre, em 177339.

Segue-se António Viegas, mestre-carpinteiro do lugar da Samorinha, concelho de Ansiães, cujos trabalhos principais decorreram por todo o concelho de Carrazeda e localidades próximas. A primeira referência documental da sua actividade data de 1761, ano em que se responsabili-zou pelos trabalhos de carpintaria da capela-mor e sacristia da Igreja de Cabeça de Mouro, no concelho de Torre de Moncorvo40.

37 Idem.38 “Escritura de fiança que dá Manuel Homem de Vilarouco ao madeiramento da Capela de Santa Eufémia da Lavandeira”, ADBGC, CNCA, cx. 2, lv. 11, fls. 67v-69v. Transcrito parcialmente por Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, pp.463 e 475. Veja-se, no sub-capítulo Mestre-de-obras, as referências a esta igreja.39 Consulte-se, neste artigo, a secção de Pintores e Pedreiros, onde se menciona os artistas responsáveis, Estêvão da Silva (1754) e Francisco da Costa Ferreira (1773).40 “Escritura de fiança e abonação que deram Francisco Domingos e mais pedreiros abai-

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A 30 de Novembro de 1765, António Viegas encontra-se no concelho de Carrazeda, a celebrar a escritura de fiança da obra do forro e paine-lamento da Igreja Matriz de Marzagão41, ocasionada pela ampliação da igreja que se iniciou em 176142, conforme se mencionou anteriormente. António Viegas cumpria-se a

(…) fazer a obra do forro e apainelamento da Igreja (…) pelos bens e ren-dimentos da dita Confraria e Irmandade cento e cincoenta mil reis em tres pagamentos hum no principio da mesma obra, outro no meio della e o ultimo finda e aceite a mesma obra por elle Reverendo Juis ou por quem substituir o seu lugar e (…) ser de tudo completa e acabada perfeitamente athe dia de Sam Francisco (…) do anno futuro de mil setecentos e sessenta e sete (…).

Os tectos, com estrutura de caixotões, foram pintados com cenas da vida de Cristo, de Maria e santos do hagiólogo católico identificados por legenda.

No ano seguinte, a 4 de Junho de 1766, António Viegas assinou com a Confraria do Santíssimo Sacramento de Alganhafres, a escritura de fiança do madeiramento na Igreja de São Gregório de Selores43.

xo declarados e o carpinteiro António Viegas (…) a factura da obra da capela mor da Igreja de Cabeça de Mouro (…)”, ADBGC, CNCA, cx. 4A, lv. 22, s/fl (fólio cortado). Publicado por Luís Alexandre Rodrigues, “Património edificado no concelho de Mon-corvo e interacções artísticas regionais”, in Fernando de Sousa (coord.), Moncorvo – da Tradição à Modernidade op. cit., pp.136-138. Como se referiu, esta escritura faz menção a duas obras, a primeira de pedraria e a segunda de carpintaria. No que diz respeito à obra de carpintaria, seria efectivamente o mestre-carpinteiro António Viegas a assegurar a sua execução.41 “Escritura de fiança que dá António Viegas mestre carpinteiro a obra do forro e apai-nelamento da Igreja de Marzagão”, ADBGC, CNCA, 1.º of., cx. 6A, lv. 31, fls. 31-34. Transcrito parcialmente por Cristiano Morais, ibidem, p. 479.42 As obras de ampliação e melhoramentos ficaram registas numa inscrição na parede da nave junto a porta lateral: “ESTA IGREJA TRESLADOUSE AQUI/ DA PRIMITIVA EXTRA MUROS/ DA VILLA DE ANCIAENS/ NO AN/ NO DE 1575 E REFOR-MOUSSE/ NO ANNO DE 1765 SENDO/ REITOR O DOUTOR ANTONIO/ DE SOUZA PINTO DA M(esm)A FREG(uesi)A”.43 “Escritura de fiança que dá António Viegas da obra da igreja e obrigação dos oficiais da igre-ja do lugar de Selores,” ADBGC, Cartório Notarial de Carrazeda de Ansiães, cx. 6, lv. 31, fls. 61v-63v. Transcrito parcialmente por Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos mo-nográficos, op. cit., p. 484. Segundo o mesmo documento, esta e outras escrituras relativas a obras da Igreja de São Gregório de Selores encontram-se nos respectivos livros da Confraria.

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A última menção a este artista, já fora do concelho de Carrazeda, data de 19 de Outubro de 1777, segundo a escritura de obrigação da obra de madeira da capela-mor e Sacristia da Igreja de São Miguel de Castedo, no termo de Torre de Moncorvo44.

Na década de 80, avolumam-se as campanhas de obras por todo o con-celho. A 1 de Maio de 1784, João Baptista, mestre-carpinteiro do lugar de Seixo de Ansiães, celebrou a escritura de fiança da obra de carpintaria e conserto da Sacristia da Igreja de São Gregório de Selores, enquanto arrematante da mesma45. Além da carpintaria, os trabalhos abrangeram o conserto da Sacristia, e respectivo tecto, bem como a construção de

“hum caixam para os ornatos da Igreja de Sam Grigorio”. A obra tinha o valor de 50 000 réis.

No grupo de carpinteiros e entalhadores salienta-se, ainda, José Cor-reia Lopes Pavilhão, mestre-entalhador e pintor, natural do lugar de Vale de Torno de Vilarinho da Castanheira, autor de inúmeras obras no con-celho de Carrazeda e localidades vizinhas. Das obras que lhe são atribuí-das e comprovadas documentalmente, a primeira data de 24 de Maio de 1784, na qual arrematou a obra de talha dos altares colaterais da Igreja do lugar de Pereiros, no antigo concelho de Freixiel46, que foi edificada durante o penúltimo quartel do século XVIII, como atesta a inscrição na fachada – 1772. A obra dos altares colaterais segue a construção do templo e respectiva ornamentação e, segundo a escritura, tinha o preço de 160 000 réis. A mesma obra deveria ser realizada e concluída até ao final do mês de Outubro, não se indicando qualquer apontamento sobre a feição dos altares.

44 “Escritura de obrigação da obra de madeira da capela-mor e sacristia da Igreja do lugar de Castedo”, ADBGC, Cartório Notarial de Carrazeda de Ansiães, 1.º of., cx. 6, lv. 30, fls. 42v-43, 1777.45 “Escritura de fiança que dá João Baptista carpinteiro e assistente no Seixo”, Arquivo Distrital de Braga, CNCA, cx. 7, lv. 37, fls. 77-78. Transcrito parcialmente por Cristia-no Morais, ibidem, p. 479.46 “Escritura de arrematação da obra dos altares colaterais da Igreja dos Pereiros que foi arrematada em 160 000 reis, ao mestre entalhador José Correia Lopes Pavilhão, do lugar de Valtorno, termo de Vilarinho da Castanheira”, ADBGC, CNCA, 1.º of., cx. 7, lv. 35, fls. 91-92. Publicado por Luís Alexandre Rodrigues, Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bragança. Documentos. Séculos XVII-XVIII, op. cit., pp. 78-80.

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No mesmo ano, segundo o Dicionário dos artistas e artificies do norte de Portugal Lopes Pavilhão foi responsável pelo douramento e pintura do retábulo-mor e pintura dos caixotões do tecto da capela-mor da Igreja da Misericórdia de Alfândega da Fé47. No entanto, duvida-se do rigor desta informação uma vez, que a autoria dessa obra coube ao mestre Baltasar Morais, do lugar de Vale Pereiro, concelho de Castro Vicente, conforme atesta a respectiva escritura de obrigação de 25 de Julho de 178848.

Na verdade, no ano de 1788, a 24 de Novembro, Lopes Pavilhão surge noutro documento afecto a outra obra, concretamente, aos trabalhos de talha e carpintaria para a capela-mor e sacristia da Igreja de Santa Águe-da, matriz de Carrazeda 49. Especificamente, incumbia-se

(…) a fazer a talha da tribuna castiçais e crus com a imagem de Christo e dois tocheiros e as sacras e a imagem da padroeira tudo em preço de cento e oitenta mil reis e a carpintaria da capella more sacristia na forma dos apontamentos excetuando o forro da capella mor que ha de ser de tumullo e lizo e toda a telha neceçaria para a mesma capella mor e sacristia tudo acusta della outorgante [sic] esta por preço de noventa e nove mil e qui-nhentos (…)50.

Provavelmente, quando Lopes Pavilhão ultimou o trabalho, a 25 de Outubro de 1789, João Baptista Gonçalves, mestre-carpinteiro natural de Seixo de Ansiães, comprometeu-se executar a obra de carpintaria de tosco, forro, portas, ferragens e talha do corpo da igreja51.

47 Cf. “PAVILHÃO, José Correia Lopes”, in Natália Marinho Ferreira-Alves (coord.), Dicionário dos Artistas e artificies do norte de Portugal, Porto: CEPESE, 2008, p. 252. Detec-tou-se algumas incorrecções nesta publicação, face à documentação existente.48 Veja-se Luís Alexandre Rodrigues, Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bra-gança. Documentos. Séculos XVII-XVIII, op. cit., pp.17-19.49 “Escritura de fiança que dá José Correia Lopes Pavilhão mestre entalhador à obra de talha e carpintaria da igreja desta vila”, ADBGC, CNCA, 1.º of., cx. 7A, lv. 41, fls.79-80. Publicado e transcrito em “PAVILHÃO, José Correia Lopes”, in Natália Marinho Ferreira-Alves (coord.), Dicionário dos Artistas e artificies do norte de Portugal, op. cit., pp. 80-82. Veja-se ainda a nota 32 deste artigo.50 “PAVILHÃO, José Correia Lopes”, in Natália Marinho Ferreira-Alves (coord.), Dicio-nário dos Artistas e artificies do norte de Portugal, op. cit., pp. 80-82. 51 Cf. Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, op. cit., p. 480.

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A 1 de Novembro de 1793, já num concelho vizinho, Lopes Pavilhão obrigou-se a executar a obra do retábulo da capela-mor da Igreja Matriz de Castedo, termo de Torre de Moncorvo, e conserto da máquina da Igreja de Seixo de Manhoses, no concelho de Vila Flor52. A sua última obra documentada, é o altar do Senhor Ecce Homo na Igreja Matriz de Santa Maria Madalena de Vilarinho da Castanheira, que arrematou a 11 de Abril de 180153, pelo preço de 90 000 réis, e a terminar até ao final do mês de Maio do ano seguinte, aquando da celebração da escri-tura. Curiosa neste documento, é a referência à existência de um altar de pedra que foi destruído para a construção do novo altar: “(…) seram obrigados os senhores ofesseais da irmandade a mandar desfazer o altar que se acha de pedra athe o presbeterio (…)”54.

A 8 de Março de 1790, no âmbito da escritura de obra de pedraria da sacristia da Igreja de Pombal, actual Igreja de São Lourenço de Pombal, foram arrematados os trabalhos de carpintaria da sacristia55. O mestre João Lopes Velho, do lugar do Mogo da Malta (?), obrigou-se a executá--la pela quantia de 115 300 réis.

António Correia Lopes, entalhador, natural da povoação do Toural, em Carrazeda arrematou a obra de carpintaria e talha da capela-mor e sacristia da Igreja de São Tiago de Amedo, 12 de Março de 179256. Entre os apontamentos sobre a sua execução evidencia-se

52 “Escritura de fiança e abonação que dá o mestre entalhador José Correia Lopes Pavi-lhão”, ADBGC, CNCA, cx. 8, lv. 43, fls. 72-74. Transcrito por Luís Alexandre Rodri-gues, Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bragança. Documentos. Séculos XVII-

-XVIII, op. cit., pp. 171-175. 53 “Escritura de arrematação da obra do altar do Senhor Ecce Homo da igreja matriz de Santa Maria Madalena desta vila de Vilarinho da Castanheira ao mestre entalhador José Correia Lopes Pavilhão (…)”, ADBGC, CNCA, cx. 9, lv. 52, fls. 52-52v. Transcrito por Luís Alexandre Rodrigues, Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bragança. Do-cumentos. Séculos XVII-XVIII, op. cit., pp. 96-99. Consulte-se ainda, sobre a mesma igreja e paróquia, Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, pp. 366-368.54 Cf. Luís Alexandre Rodrigues, Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bragança. Documentos. Séculos XVII-XVIII, op. cit., p. 97.55 “Escritura de arrematação da obra da igreja (…)”, ADBGC, CNCA, cx. 8, lv. 44, fls. 20v-24. Transcrito parcialmente por Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos mono-gráficos, p. 482.56 “Escritura de arrematação da obra da carpintaria e talha da capela-mor da sacristia

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“(…) a obra da tribuna seis castiçais triangulares com as astes com alguma talha bem feita e todos os faxiados com suas meias canas nas mesmas faxas na forma dos da igreja do Pombal (…)57.

Assim, supõe-se que António Correia Lopes conhecia a igreja e obra efectuada em Pombal. O trabalho de carpintaria foi complementado pelo de pedraria já ajustado em Fevereiro, como atrás se referiu aquando da apresentação dos seus respectivos mestres-pedreiros58.

Ainda no concelho de Carrazeda, surge Anacleto Alves, mestre-car-pinteiro de Favaios, concelho de Alijó. A 3 de Setembro de 1797, este artífice ajustou e fiou a obra de carpintaria das “Cazas feitas de nouo”, de D. Maria de Sampaio e Vasconcelos, no lugar de Tralhariz, freguesia de Castanheiro do Norte59. Este documento agora revelado, traz novos dados para o entendimento desta casa que foi alvo de estudo por Francis-co Queiroz e Margarida Portela60. A habitação de D. Maria de Sampaio e Vasconcelos, viúva de Carlos José de Sampaio Coutinho, igualmente conhecida como “Casa de Tralhariz”, foi reconstruída no final do século XVIII, conforme a referida escritura atesta. Segundo os autores citados, D. Maria de Sampaio terá sido a impulsionadora das obras de melho-ramento que se realizaram na casa, dando maior dignidade à mesma61, podendo integrar-se nesse contexto os trabalhos de carpintaria.

da igreja do Amedo que faz o sargento mor de Pinhel Jacinto José Xavier Pereira da Silva a António Correia Lopes do Toural”, ADBGC, Cartório Notarial de Carrazeda de Ansiães, cx. 8, lv. 42, fls. 233v-239. Trancrito por Luís Alexandre Rodrigues, Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bragança. Documentos. Séculos XVII–XVIII, op. cit., pp.82-87.57 Idem, p. 83. Veja-se também a escritura referente à nota 55.58 Veja-se o texto referente à nota 35.59 Escritura de ajuste e fiança da obra de carpintaria das casas de D. Maria de Sampaio e Vasconcelos que faz o mestre Carpinteiro Anacleto Alves, ADBGC, CNCA, 1.º of., cx. 9, lv. 53, fls. 18v-19.60 Consulte-se Ana Margarida Portela e Francisco Queiroz, “A casa de Tralhariz. Um es-tudo monográfico”, in Douro. Estudos & Documentos, n.º 17, 2004, n.º 17, pp. 59-129; idem, A casa de Tralhariz e a capela do Bom Jesus, Porto, Instituto de Genealogia e Heráldica da Universidade Lusófona do Porto, GEHVID – Grupo de Estudo, 2008 e ainda Cristiano Morais, ibidem, pp.178-181.61 Cf. Ana Margarida Portela e Francisco Queiroz, “A casa de Tralhariz. Um estudo mo-nográfico”, op. cit., p. 77.

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O último mestre-entalhador de que há registo nas fontes documentais, é José António Machado, natural do lugar de Pedras, freguesia de Cever, concelho de Santa Marta de Penaguião62. A 24 de Junho de 1799, arre-matou não só a obra de carpintaria da capela-mor e sacristia da Igreja de São Miguel de Linhares, como também se obrigou a executar a obra de talha do retábulo e tribuna da capela-mor63. A primeira foi arrema-tada pela quantia de 700 000 réis e deveria ser principiada, segundo a escritura “no apontamento das madeiras logo que se principiar a de pe-draria e finda dentro de hum anno depois de acabada a de pedraria (…)”; e, a segunda por 400 000 réis. Ambas são tardias, no contexto sete-centista, acusando por isso já uma influência da linguagem neoclássica, através de linhas rectas e outros elementos, visíveis na capela-mor por denotar uma maior atenção decorativa. Deduz-se que estas obras foram complementadas pelas do pintor António José de Araújo Sarmento, res-ponsável pela pintura da capela-mor e sacristia, a que se aludirá a seguir.

2.3 Pintores

No grupo de pintores identificados no levantamento, o primeiro de que se tem referência é António Teixeira, mestre-pintor do julgado de Linhares, que a 17 de Julho de 1751 assina a escritura de fiança da obra de pintura e douramento da tribuna da capela-mor da Igreja de São Se-bastião, do lugar do Seixo de Ansiães64. Tal como as restantes igrejas do

62 Consulte-se “Machado, José António”, in Natália Marinho Ferreira-Alves (coord.), Di-cionário dos Artistas e artificies do norte de Portugal, op. cit., p. 198.63 Respectivamente: “Escritura de arrematação e fiança que faz José António Machado do lugar das Pedras, concelho de Penaguião, da obra de carpintaria da capela-mor e sacristia da Igreja de São Miguel de Linhares deste termo de Ansiães”, ADBGC, CNCA, 1.º of., cx. 10, lv. 55, fls. 27v-34v e “Escritura de obrigação e fiança que faz José António Ma-chado do concelho de Penaguião da obra de talha do retábulo e tribuna da capela-mor da Igreja de São Miguel de Linhares (…), ADBGC, CNCA, 1.º of., cx. 10, lv. 54, fls. 49v-52. A última foi publicada e transcrita por Luís Alexandre Rodrigues, in Arte da talha dou-rada e policromada no Distrito de Bragança. Documentos. Séculos XVII-XVIII, op. cit., pp. 90-92.64 Escritura de fiança que deu António Teixeira, mestre pintor do julgado de Linhares a pintar e dourar a tribuna da Igreja de São Sebastião do lugar do Seixo, ADBGC, CNCA, cx. 3, lv.14, fls.74-76. Transcrito por Luís Alexandre Rodrigues, in Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bragança. Documentos. Séculos XVII–XVIII, op. cit., pp. 75-76.

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concelho, esta resulta de uma série de obras de ampliação, realizadas no século XVIII. Como tal, o trabalho de pintura e douramento do inte-rior emerge dessa fase de melhoramentos, e da qual se evidencia a talha dourada barroca do altar-mor, ornada de “graciosos anjos” e tribuna re-matada por dossel.

O pintor Estevão Silva, natural de Braga, assina, a 26 de Abril de 1754, data em que reside em Fontelonga, a escritura de fiança da obra de pin-tura e douramento do tecto do corpo da Igreja Matriz de Santa Eufémia, em Lavandeira, a que já se aludiu65. A sua obra, evidentemente de feição barroca, veio dinamizar o espaço maneirista. O tecto da nave foi forrado com caixotões e outras áreas foram revestidas de talha dourada. Obser-vam-se motivos hagiográficos pintados nos caixotões e, em particular a Árvore de Jessé, ou seja, a árvore da descendência de Jesus66.

Ainda no que a Carrazeda de Ansiães respeita, assinale-se a presen-ça de António José de Araújo Sarmento, mestre-pintor, natural de Vila Flor, comarca de Moncorvo, a quem se atribui diversas obras neste e nos concelhos próximos. A primeira das suas três obras documentadas data de 5 de Outubro de 1777, na qual se comprometeu a realizar a obra de pintura do retábulo da Capela de São Lourenço, em Arco, Vila Flor67.

A 19 de Março de 1798, encontra-se já no concelho de Carrazeda, mais precisamente em Castanheiro do Norte, onde arrematou a obra de pintura do tecto e coro da Igreja de São Brás68. Também este templo

65 “Escritura de fiança que deu Estevão da Silva (…) de pintar e dourar o teto do corpo da igreja da Mártir Santa Eufémia do lugar de Lavandeira (…)”, ADBGC, CNCA, cx. 3, lv. 16, fls. 43-43v. Transcrito por Luís Alexandre Rodrigues, in Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bragança, pp.76-78.66 Consulte-se Henrique Manuel S. Pereira, “A Árvore de Jessé - um exemplar da igreja de Lavandeira”, in Brigantia, Revista de Cultura, Bragança, Assembleia Distrital, vol. XII, n.º 3, 1992, pp. 221-240.67 “Escritura de fiança que da a obra de São Lourenço António José de Araújo mestre pintor desta vila (…)”, ADBGC, Cartório Notarial de Vila Flor, cx. 2, lv. 14, fls.1v-2. Transcrito por Luís Alexandre Rodrigues, in Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bragança pp.181-182. 68 “Escritura de arrematação da obra de pintura da igreja do lugar de Castanheiro que faz António José de Araújo Sarmento (…)”, ADBGC, CNCA, cx. 9, lv. 53, fls. 69-71. Transcrito por Luís Alexandre Rodrigues, in Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bragança, pp. 87-89. Veja-se também Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, op. cit., pp. 473-474 e 2014, pp.172-173.

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sofreu diversas obras de ampliação, dado o aumento populacional, que decorreram no penúltimo quartel do século XVIII. A data de 1767, ins-crita sobre o portal de entrada, poderá indicar o ano de abertura ao culto da actual igreja, após a conclusão das obras. Por outro lado, o trabalho de António José, fez parte dessa campanha que visou valorizar a igreja e dotá-la de todas as condições, indo de encontro aos apontamentos da escritura, que incluiu a pintura do padroeiro e dos quatro evangelistas69. A obra deveria principiar no mês de Abril, terminando no fim do ano, e importaria em 180 000 réis.

A última obra deste pintor de que há referência, data de 24 de Junho de 1799, e respeita a toda a pintura da capela-mor, retábulo e sacristia da Igreja Matriz de São Miguel de Linhares70. Como se referiu, na mes-ma data e escritura celebrou-se, igualmente, a obrigação dos trabalhos de douramento do retábulo e tribuna da capela-mor da mesma igreja, arrematados pelo entalhador José António Machado. No trabalho de An-tónio José de Araújo Sarmento distinguiu-se em particular, a pintura de toda a capela-mor, pelo efeito visual que enriqueceu a igreja, em conjun-to com o altar de talha dourada.

No corpo de pintores do concelho de Carrazeda, assinale-se, ainda, Francisco Pereira de Oliveira, “professor de pintor”, morador no lugar de Seixo, termo de Ansiães, que a 19 de Março de 1783 assinou a escri-tura de fiança da obra de pintura e douramento da capela-mor da Igreja Matriz de Pousadas, do termo da vila de Mirandela, que havia arrema-tado71.

69 “(…) pintura do teto e coro da mesma igreja e colunas pias e pedestais, tudo bem aparilhado com tres mãos de aparelhos a olio de linhaça em alvaide em qual se pimtara (…), e no teto se pintara huma perspetiva conforme o risco metendo nela os quatro evangelistas e no meio huma targe com seu caixilho ornado com ornato e o santo padroeiro no meio, e o pé do oculo e do arco cruzeiro se metirão dois rapazes com fostoins de flores (…)”, Transcrito por Luís Alexandre Rodrigues, in Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bragança, p.88.70 “Escritura de arrematação obrigação e fiança que faz Antonio Jose de Araujo Sarmento de Vila Flor comarca de Moncorvo à obra de pintura da capela-mor da Igreja de São Mi-guel de Linhares e sacristia da mesma (…)”, ADBGC, CNCA, 1.º of., cx.10, lv. 56, fls. 30v-33. Transcrito por Luís Alexandre Rodrigues, in Arte da talha dourada e policromada no Distrito de Bragança, pp. 93-96.71 “Escritura de fiança que da Francisco Pereira de Oliveira professor de pintor a obra da Igreja das Pouzadas (…)”, ADBGC, Cartório Notarial de Carrazeda de Ansiães, 1.º of., cx. 28, lv. 196, fls. 102-103.

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Com obra realizada no concelho, e última referência neste grupo ar-tístico, surge José António Ferreira de Andrade, mestre-pintor do lugar de Castanheiro, do termo de Ansiães, que a 8 de Março de 1790, arre-matou a obra de douramento e pintura da capela-mor da Igreja de São Lourenço de Pombal72. Esta enquadrou-se no âmbito da arrematação da sacristia e supõe-se que correspondeu à fase final de trabalhos artísticos nesta igreja que a favoreceram esteticamente. Evidencia-se, na capela-

-mor, o retábulo de talha azul, vermelho e dourado, ornado com inúme-ros motivos, e com a imagem de São Lourenço. O tecto possui caixotões pintados com motivos ornamentais geométricos e vegetalistas a azul e vermelho, semelhantes aos que se encontram na nave, e nas quais foram esboçadas diversas figuras acompanhadas de legenda. A obra tinha o va-lor de 119 000 réis.

Conclusão

O levantamento dos artistas e artífices naturais e residentes no con-celho de Carrazeda de Ansiães, no século XVIII, levou-nos a diversos resultados que certamente abrirão caminho a novos estudos face aos da-dos agora disponibilizados. Em primeiro lugar, as fontes documentais revelaram os seguintes números: 16 mestre-de-obras, 10 carpinteiros e entalhadores e 5 pintores, para um período de 1697 a 1801. Note-se que apesar destes números, relativamente baixos para um largo perío-do de tempo, os mesmos deverão ser comparados aos apresentados na tabela da “População, indústrias e vida social no distrito de Bragança em 1796”, publicada pelo Abade de Baçal, in Bragança Memórias arqueoló-gicas-históricas do Distrito de Bragança (…)73. No caso de Carrazeda, num universo de 2921 homens, o Abade de Baçal contabilizou 14 pedreiros,

72 “Escritura de arrematação da obra da Igreja (…), 1790”, 8 de Março; ADBGC, Car-tório Notarial de Carrazeda de Ansiães, cx. 8, lv. 44, fl. 20v-24. Documento transcrito parcialmente por Cristiano Morais, Por terras de Ansiães: estudos monográficos, p. 482.73 Francisco Manuel Alves, Bragança Memórias arqueológicas-históricas do Distrito de Bragança (...), Bragança, Câmara Municipal de Bragança/Instituto Português de Museus/Museu do Abade de Baçal, 2000, tomo IV, 2000, Documento n.º 222, pp. 626-627.

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10 carpinteiros, não havendo quaisquer pintores, caiadores, ensambla-dores e/ou ourives. No caso de Vilarinho da Castanheira, num total de 1760 homens, existiam à data 14 pedreiros, 24 carpinteiros, 1 pintor, não havendo registo dos restantes artífices. Conclui-se que, embora os números do levantamento que se efectou para este artigo sejam ainda menores que os apresentados pelo Abade de Baçal para uma data em concreto, a nosso ver, verifica-se que se tratam de números mais do que razoáveis, atendendo à área geográfica incidente, em zona rural do país, e com reduzida taxa populacional. Ressalve-se, ainda, que estes números remetem para uma melhor compreensão das questões da naturalidade, residência e mobilidade dos artistas do concelho de Carrazeda. Se por um lado intentou-se constituir um corpus restrito aos artistas naturais e residentes, cedo constatou-se que o mesmo deveria ser alargado, face à presença de artistas provenientes de outras localidades, sobretudo da província do Minho e dos concelhos próximos de São João da Pesqueira, Alijó, Régua, ou Viseu.

Por outro lado, este estudo permitiu reconhecer a qualidade artística do património edificado no concelho de Carrazeda, no âmbito da arqui-tectura, escultura e pintura, que tem sido alvo de estudo por parte de al-guns historiadores74. No entanto, constatou-se que continua incompleto o inventário do património de Carrazeda de Ansiães75.

Neste levantamento, destacam-se os seguintes artistas: Bento José, canteiro; António Viegas, mestre-carpinteiro; e José Lopes Correia Pa-vilhão, mestre-entalhador, cujo percurso e trabalho artístico é extenso, com inúmeras obras um pouco por todo o concelho e localidades vizi-

74 Destaca-se a presença de inúmeros de tectos de caixotão, na sua maioria pintados e de grande qualidade, e que recentemente foram objecto de estudo por parte de Ana Rita Carqueja Rodrigues, in As pinturas de tectos em caixotões no norte de Portugal: séculos XVII e XVIII: estudo técnico, material e de conservação, Porto, Escola das Artes da Universidade Católica do Porto, 2015. Tese de Doutoramento em Conservação e Restauro de Bens Culturais (texto policopiado). 75 Disponibilizados pela Direcção Geral do Património Cultural, in http://www.patri-moniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classi-ficado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/e no Sistema de Informação para o Patrimó-nio Arquitectónico da antiga Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, in http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c-

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nhas. Supõe-se que a determinada altura seriam já conhecidos na região, sendo, por isso, requisitados mais vezes em detrimento de outros artí-fices.

Por fim, espera-se que este artigo desperte o interesse pelo patrimó-nio da região geográfica de Carrazeda de Ansiães, e estimule, conse-quentemente, novos estudos.

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Anexo 1Tabelas de artistas e artificies setecentistas do concelho de Carrazeda de Ansiães

Pedreiros e canteiros Data Nome do artista Obra documentada

1697Gonçalo Vaz de Carvalho

Pontes de Marzagão e SeloresDomingos Silva

1761

Manuel Rodrigues Acréscimo da capela-mor e sacristia da Igreja de Marzagão

André Gonçalves AnesPedraria da capela-mor e sacristia da Igreja de Cabeça de Mouro (Torre de Moncorvo)

João Alves

Francisco Gonçalves Palhares

1765 João Francisco Pedraria da Igreja Matriz de Vilarinho da Castanheira

1773 Francisco da Costa Ferreira Alpendre da Igreja de Santa Eufémia de Lavandeira

1775

José CorreiaPedraria da capela-mor da Igreja de Nossa Senhora das Neves de Belver

João Correia

Bento José de Melo

1789Bento José de Melo Ladrilho da Igreja de Vilarinho da Castanheira

António José Domingues Castanheira

Pedraria da Igreja de Santa Águeda de Carrazeda de Ansiães

1790

Bento José de MeloSacristia da Igreja de Pombal/Igreja de São Lourenço

José Ferreira Simões

João da Cunha

Capela-mor e sacristia da Igreja Matriz de AmedoJosé Ferreira Simões

Manuel José Martins

1799 Domingos José MendesCal e telha da capela-mor e sacristia da Igreja de São Miguel de Linhares

Carpinteiros e entalhadoresData Nome do artista Obra documentada

1743Manuel Homem de Lima

Altares da Igreja de Santa Eufémia de LavandeiraAntónio de Sousa Pinto

1761

António Viegas

Carpintaria da capela-mor e sacristia da Igreja de Cabeça de Mouro (Torre de Moncorvo)

1765 Forro e painelamento da Igreja Matriz de Marzagão

1766 Madeiramento na Igreja de São Gregório de Selores

1777 Carpintaria da capela-mor e sacristia da Igreja de São Miguel de Castedo

1784 João Baptista Carpintaria e conserto da sacristia da Igreja de São Gregório de Selores

1786José Correia Lopes Pavilhão

Talha para os altares colaterais da Igreja de Pereiros

1788 Talha e carpintaria da capela-mor e sacristia da Igreja Matriz de Santa Águeda de Carrazeda de Ansiães

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1789 João Baptista Gonçalves Carpintaria de tosco, forro, portas, ferragens e talha do corpo da Igreja de Santa Águeda de Carrazeda de Ansiães

1790 João Lopes Velho Carpintaria da sacristia da Igreja de Pombal

1792 António Correia Lopes Carpintaria e talha para a capela-mor e sacristia da Igreja de São Tiago de Amedo

1797 Anacleto Alves Carpintaria das “cazas feitas de nouo” de D. Maria de Sampaio e Vasconcelos em Tralhariz

1799 José António Machado

Talha do retábulo e tribuna da capela-mor da Igreja Matriz de Linhares

Carpintaria da capela-mor e sacristia da Igreja Matriz de Linhares

1801 José Correia Lopes Pavilhão Altar do Ecce Homo da Igreja Matriz de Vilarinho da Castanheira

PintoresData Nome do artista Obra documentada

1751 António Teixeira Pintura e douramento da tribuna da capela-mor da Igreja de São Sebastião do Seixo

1754 Estevão Silva Pintura e douramento do tecto do corpo da Igreja de Santa Eufémia, em Lavandeira

1777 António José de Araújo Sarmento Pintura do retábulo da Capela de São Lourenço em Arco (Vila Flor)

1783 Francisco Pereira de Oliveira Pintura e douramento da capela-mor da igreja de Pousadas (Mirandela)

1790 José António Ferreira Andrade Douramento e pintura da capela-mor da Igreja de São Lourenço de Pombal

1799 António José de Araújo Sarmento Pintura da capela-mor e sacristia da Igreja de São Miguel de Linhares

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Anexo 2

Escritura de ajuste e fiança da obra de carpintaria das casas de D. Maria de Sampaio e Vasconcelos que faz o Mestre Carpinteiro Anacleto Alves, ADBGC, Cartório Notarial de Carrazeda de Ansiães, 1.º of., cx.9, lv. 053, fl.18v-1976

[fl.17v]Escritura de ajuste e fiança da obra de Carpintaria das Cazas de D. Maria de Sampaio e Vasconçellos que fas o Mestre Anacleto Alves Saybam os que este publico Jnstromento virem que Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil Setecentos noventa e Sete aos tres Dias do mes de Setembro do dito anno neste Lugar de Linhares termo da villa da Carrazeda de Anciaens e Cazas de Rezidencia do Capitam Mor deste Concelho Luis Manoel de Sampaio e Silva aonde eu Taballiam vim para efeito de fazer a prezente escritura a Requerimento de partes e por me ser Destreboida pelo Destreboidor deste Conçelho Domingos Pereira de Sampaio Como Constava do Bilhete que Se me aprezentou por elle feito e aSignado do theor e forma seguinte // A Pimentel hu[m]a Escritura de ajustete [sic] da obra de Carpintaria que fazem Dona Maria de Sampaio e Vasconcellos de Tralhariz e Anacleto Alves da Villa de Favios [sic] em Dois de Setembro de Setecentos nouenta e Sete // Sampaio // Cujo fica Copiado do proprio na uerdade a que me Reporto e ao Livro de Donde Se estrahio e Sendo aSim Logo apareceram prezentes em Suas propias [sic] pessoas Donna Maria de Sampaio e Vasconcellos do Lugar de Tralhariz deste termo de Ancjaens e AnacLeto Alves da villa de favaios Comarqua de villa Real e Sendo Reconhecidos e de mim Taballiaõ pellos mesmos que por Seus nomes Se nomejam [fl.18] Se nomejam de que Dou fe por elles todos Juntos e Cada hum de per ssi Jn Sollidum foi dito parante [sic] mim e das testemunhas ao diente nomeadas e no fim desta Nota aSignadas a Saber por elle dito Anacleto Alves Mestre Carapinteiro que elle tinha aJustado toda a obra de Carapintaria das Cazas feitas de nouo da SobreDita Donna Maria de Sampaio e Vasconçellos na forma dos Apontamentos que Se acham feitos da mesma obra e por elles aSignados em poder delle dito Mestre e da Senhora da dita obra que foram lidos e decLarados a façam desta escritura os quais teram força e vigor como Parte excencial desta Escritura que elle Se obriga a fazer a dita obra Com boa Satisfaçam e aCeitaçam Dentro do tempo de outo Mezes da data desta e que Se obriga a dala Completa de tudo na forma de Seu Contrato e ditos apontamentos tudo pella Coantia Certa de trezentos e vinte mil Reis em Dinheiro Corrente deste Reyno huma Pipa de vinho hum Almude de Azeite e outo Alqueires de Castanhollas tudo pago em tres pagamentos o primeiro de Cento e Vinte mil Reis no principio da obra e o Segundo a propoçam no mejo da mesma e o terceiro no fim della depois de aprovada e aCeite e que para mais Segurança deste Contrato a que Se obrigava elle dito AnacLeto Alves por sua pessoas e bens prezentes e feturos aprezentava por seu fiador e abonador a Lourenço da [fl. 18v] Lourenço da Costa do Lugar de Arnal

76 Documento transcrito pela autora e revisto pelo Doutor José Jorge Gonçalves a quem agradecemos. Na transcrição respeitou-se o documento original.

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Neste Concelho o qual Sendo prezente em sua propria pessoa e Reconhecido de mim dito Taballiaõ pello mesmo por elle foi dito que fiaua e abonava ao Dito mestre da obra de Sua Livre e espontania Vontade ao Complemento della e Seus pagamentos a que Se obrigava por Sua pessoa e bens como fiador e principal pagador de que outroSim dou fé e Logo pella dita Donna Maria de Sampaio e vasconçellos foi dito que aceitava esta escrictura Com todas as Suas Clazullas e Condiçoens e Se obrigava a Satisfazer ao dito mestre a ditas Coantias de Dinheiro e mais Vibres77 declarados em Seus Competentes pagamentos e que a dita obra Sera no fim Louvada por dois Mestres da Arte a uysta dos apontamentos pa Sua aceitação a que tambem Se obrigava por Sua pessoa e bens e nesta Forma Disseram hum e outro que haviam esta escrictura por bem feita firme e vallioza em Juizo e fora delle a todo o tem con todas as circonstancias nella DecLaradas e que della faltasse aLguma cLauza ou condiçam das que Se Requerem em direito a hauiam por expressada pella cLauza geral a que tudo Se obrigavam Como dito fica e de como aSim o Disseram outorgaram pediram e aceitaram Dou minha [fl.19] Dou minha fé Sendo testemunhas prezentes Francisco Luis da Cruz e Manoel Lourenço Alves deste mesmo Lugar que aSignaram com o dito Mestre e por ella outorgante naõ Saber escreuer de Seu Rogo e Licença Luis Manoel de Sampaio e Silva do mesmo Lugar Lido Por mim Cristova[m] Jozé de Sampaio Souza Pimentel escrivam que o escreuj.A Rogo Luis Manoel de Sampaio e SilvaAnacleto AlvesLourenço da CostaFrancisco Luis da CruzManoel Loureço AluarezCristova[m] Joze de Sampaio Souza Pimentel

77 Víberes, ou Víveres.